20
40 COMPETÊNCIA INFORMACIONAL NO ENSINO FUNDAMENTAL DA REDE PÚBLICA DE ENSINO: UMA EXPERIÊNCIA COM ALUNOS DE 5ª. SÉRIE DE UMA ESCOLA PÚBLICA DE MARÍLIA-SP Helen de Castro SILVA 1 Marta Leandro da MATA 2 Andressa de Souza RAMALHO 3 Resumo: O desenvolvimento de competências informacionais visa propiciar a socialização do acesso à informação, ao conhecimento e ao aprendizado, enfatizando a aprendizagem baseada em recursos para a construção do conhecimento, possibilitando o aprendizado independente a ser desenvolvido ao longo da vida e que sirva para a resolução de problemas. A pesquisadora norte-americana Carol Kuhlthau desenvolveu um programa que se alicerça nos estágios cognitivos de Jean Piaget, visando o desenvolvimento de competências informacionais a partir das séries iniciais do ensino fundamental. Fundamentando-se nesta proposta, foram desenvolvidas atividades com 17 alunos da 5ª série do ensino fundamental de uma escola da rede pública de Marília – SP, divididos em dois grupos, sendo que 12 apresentavam dificuldade de aprendizagem e cinco possuíam deficiência auditiva. Durante um período de seis meses, os participantes se reuniam com as pesquisadoras e desenvolviam atividades visando ao desenvolvimento das seguintes habilidades: identificar, caracterizar e diferenciar os diversos tipos de fontes de informação para a realização de pesquisas escolares e de interesse pessoal e fazer buscas em mais de uma fonte para a realização de atividades de pesquisa escolar. As atividades foram divididas em quatro módulos, conforme a temática trabalhada. Ao término de cada módulo as habilidades referentes aos aspectos trabalhados na pesquisa foram avaliadas através de testes de caráter lúdico. Pode-se concluir que as atividades possibilitaram aos participantes adquirirem as habilidades informacionais almejadas e sua iniciação ao processo de competência informacional, também, espera-se ter contribuído para a mudança de paradigma dos participantes em relação à biblioteca e às fontes de informação. Verificou-se que é possível adaptar e utilizar com êxito a proposta de Carol Kuhlthau na realidade brasileira em escolas da rede pública de ensino fundamental e com alunos que apresentem dificuldades de aprendizagem e deficiência auditiva. Palavras-chave: competência informacional; ensino fundamental; biblioteca escolar; dificuldade de aprendizagem; deficiência auditiva. 1. INTRODUÇÃO A sociedade da informação ou do conhecimento caracteriza-se pela multiplicidade de informações, pela aceleração dos seus processos de produção e de disseminação. Neste contexto torna-se necessário formar cidadãos capazes de selecionar, avaliar, interpretar e utilizar as fontes de informação, conhecendo seus mais variados suportes e formatos. Esse conjunto de habilidades necessárias para lidar com a informação tem sido denominado competência em informação, que, de forma sintetizada, significa o “domínio do 1 Docente do Depto de Ciência da Informação FFC/ UNESP - Marília, coordenadora do projeto. 2 Mestranda do Programa de Pós-graduação em Ciência da Informação, ex-bolsista do Núcleo de Ensino, UNESP- Marília. 3 Aluna do curso de Biblioteconomia FFC/UNESP- Marília, bolsista do Núcleo de Ensino.

COMPETÊNCIA INFORMACIONAL NO ENSINO · PDF filede paradigma dos participantes em ... bibliotecários é fundamental para que a atividade iniciada em sala de aula com o ... com os

  • Upload
    ngoanh

  • View
    214

  • Download
    1

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: COMPETÊNCIA INFORMACIONAL NO ENSINO · PDF filede paradigma dos participantes em ... bibliotecários é fundamental para que a atividade iniciada em sala de aula com o ... com os

40

COMPETÊNCIA INFORMACIONAL NO ENSINO FUNDAMENTAL DA REDE PÚBLICA DE ENSINO: UMA EXPERIÊNCIA COM ALUNOS DE 5ª. SÉRIE DE UMA ESCOLA PÚBLICA

DE MARÍLIA-SP

Helen de Castro SILVA1 Marta Leandro da MATA2

Andressa de Souza RAMALHO3

Resumo: O desenvolvimento de competências informacionais visa propiciar a socialização do acesso à informação, ao conhecimento e ao aprendizado, enfatizando a aprendizagem baseada em recursos para a construção do conhecimento, possibilitando o aprendizado independente a ser desenvolvido ao longo da vida e que sirva para a resolução de problemas. A pesquisadora norte-americana Carol Kuhlthau desenvolveu um programa que se alicerça nos estágios cognitivos de Jean Piaget, visando o desenvolvimento de competências informacionais a partir das séries iniciais do ensino fundamental. Fundamentando-se nesta proposta, foram desenvolvidas atividades com 17 alunos da 5ª série do ensino fundamental de uma escola da rede pública de Marília – SP, divididos em dois grupos, sendo que 12 apresentavam dificuldade de aprendizagem e cinco possuíam deficiência auditiva. Durante um período de seis meses, os participantes se reuniam com as pesquisadoras e desenvolviam atividades visando ao desenvolvimento das seguintes habilidades: identificar, caracterizar e diferenciar os diversos tipos de fontes de informação para a realização de pesquisas escolares e de interesse pessoal e fazer buscas em mais de uma fonte para a realização de atividades de pesquisa escolar. As atividades foram divididas em quatro módulos, conforme a temática trabalhada. Ao término de cada módulo as habilidades referentes aos aspectos trabalhados na pesquisa foram avaliadas através de testes de caráter lúdico. Pode-se concluir que as atividades possibilitaram aos participantes adquirirem as habilidades informacionais almejadas e sua iniciação ao processo de competência informacional, também, espera-se ter contribuído para a mudança de paradigma dos participantes em relação à biblioteca e às fontes de informação. Verificou-se que é possível adaptar e utilizar com êxito a proposta de Carol Kuhlthau na realidade brasileira em escolas da rede pública de ensino fundamental e com alunos que apresentem dificuldades de aprendizagem e deficiência auditiva.

Palavras-chave: competência informacional; ensino fundamental; biblioteca escolar; dificuldade de aprendizagem; deficiência auditiva.

1. INTRODUÇÃO

A sociedade da informação ou do conhecimento caracteriza-se pela

multiplicidade de informações, pela aceleração dos seus processos de produção e de

disseminação. Neste contexto torna-se necessário formar cidadãos capazes de selecionar,

avaliar, interpretar e utilizar as fontes de informação, conhecendo seus mais variados suportes

e formatos.

Esse conjunto de habilidades necessárias para lidar com a informação tem sido

denominado competência em informação, que, de forma sintetizada, significa o “domínio do

1 Docente do Depto de Ciência da Informação FFC/ UNESP - Marília, coordenadora do projeto. 2 Mestranda do Programa de Pós-graduação em Ciência da Informação, ex-bolsista do Núcleo de Ensino, UNESP- Marília. 3 Aluna do curso de Biblioteconomia FFC/UNESP- Marília, bolsista do Núcleo de Ensino.

Page 2: COMPETÊNCIA INFORMACIONAL NO ENSINO · PDF filede paradigma dos participantes em ... bibliotecários é fundamental para que a atividade iniciada em sala de aula com o ... com os

41

universo informacional e seus processos” (DUDZIAK, 2002, p. 2). Como a competência em

informação teve sua origem nos Estados Unidos, originalmente foi designada Information

Literacy. Há várias traduções do termo para o português, como “alfabetização informacional,

letramento, literacia, fluência informacional, competência em informação” (DUDZIAK, 2003, p.

24). Este último tornou-se o mais mencionado na literatura da área e, por conseguinte, o mais

consolidado.

A pesquisa aqui relatada foi desenvolvida sob o enfoque da competência em

informação voltada para a educação, conforme será detalhado mais adiante, e teve os

seguintes objetivos:

• Contribuir para o desenvolvimento de habilidades informacionais dos

participantes da pesquisa;

• Verificar a aplicabilidade da proposta de Carol Kuhlthau junto à realidade da

escola pública brasileira;

• Verificar a aplicabilidade da proposta de Carol Kuhlthau junto a alunos com

necessidades especiais (surdos) e ouvintes da rede pública de ensino

fundamental.

2. CONSTRUÇÃO E CONCEPÇÃO DA COMPETÊNCIA EM INFORMAÇÃO

A origem do termo competência em informação remonta ao início da década de

70. Um relatório elaborado para a National Commission on Libraries an Information Science

dos Estados Unidos, Paul Zurkowski sugeriu que fosse realizado um movimento nacional em

direção à competência em informação devido ao cenário de mudanças que estavam por vir, no

qual as tecnologias de informação e comunicação se tornariam mais complexas (DUDZIAK,

2003).

Na década de 80 houve a publicação do documento intitulado A National at Risk:

the Imperative Education Reform, o qual apresentava um diagnóstico da situação em que

estava o ensino público nos Estados Unidos. Embora ele enfatizasse necessidade da

aprendizagem de habilidades informacionais, não mencionava a biblioteca. Após a publicação

deste documento, houve uma mobilização da classe bibliotecária para mostrar o papel

educacional das bibliotecas e uma intensa publicação de documentos sobre o tema. A partir de

então, o conceito de competência informacional, por força dos bibliotecários, passou a incluir a

contribuição das bibliotecas para a aprendizagem dos indivíduos, para o uso das fontes de

informação e para o uso da própria biblioteca. O termo foi usado então para designar “[...] o

conjunto dessas habilidades, que se faziam necessárias, especialmente em uma sociedade

caracterizada por um ambiente informacional complexo” (CAMPELLO, 2006, p. 65).

Page 3: COMPETÊNCIA INFORMACIONAL NO ENSINO · PDF filede paradigma dos participantes em ... bibliotecários é fundamental para que a atividade iniciada em sala de aula com o ... com os

42

Em 1987 Carol C. Kuhlthau3 publicou uma monografia que lançou as bases para

a competência em informação voltada para a educação (Information Literacy Education - ILE).

Segundo a autora deveria haver uma integração da competência informacional ao currículo,

devendo estar em harmonia com o universo informacional dos aprendizes a partir da

proficiência em investigação e ao amplo acesso aos recursos informacionais através das

tecnologias de informação.

A ILE é entendida como aquela que socializa o acesso à informação, ao

conhecimento e ao aprendizado. Incentiva a participação ativa da comunidade (ou seja, seu

comprometimento) na definição de metas e objetivos educacionais Busca o aprendizado,

enquanto processo, de conteúdos significativos (DUDZIAK, 2002). Enfatiza a integração

curricular (o trabalho conjunto entre professores, bibliotecários e demais membros da equipe

pedagógica da instituição) e a educação baseada em recursos. Adota práticas pedagógicas

voltadas para a construção do conhecimento, o aprendizado independente e o aprendizado ao

longo da vida, a partir da elaboração de projetos de pesquisa e a resolução de problemas.

A Information Literacy Education fixa-se em processos, nos quais o aprendiz é o

centro das atividades e a informação um insumo primordial, utilizando-se de metodologias que

valorizem esta percepção. Pode-se considerar que a monografia de Kuhlthau influenciou de

forma significativa o conceito de Information Literacy atual, desfazendo a noção, recorrente à

época, de que as habilidades informacionais se restringiam ao ambiente da biblioteca e aos

materiais bibliográficos científicos (DUDZIAK, 2003). A autora ampliou o seu enfoque,

procurando mostrar as vantagens que o ensino com a ILE poderia trazer.

No final da década de 80, no ano de 1989, houve um trabalho conjunto entre

bibliotecários e educadores para a produção do Relatório da American Library Association

(ALA), no qual foi incluído o conceito a seguir:

Para ser competente em informação, uma pessoa deve ser capaz de reconhecer quando uma informação é necessária, e deve ter a habilidade de localizar, avaliar e utilizar efetivamente a informação [...] Resumindo, as pessoas competentes em informação são aquelas que aprendem a aprender. Elas sabem como aprender, pois sabem como o conhecimento é organizado, como encontrar a informação e como usá-la de modo que outras pessoas aprendam a partir dela (ALA, 1989).

Este tornou-se o conceito mais utilizado na literatura da área de Ciência da

Informação. Na década de 90 buscou-se implantar programas de competência em informação

nas instituições de educação, de acordo com Dudziak (2001, p. 73) “[...] novos projetos

educacionais passaram a ser planejados e implementados em todo o mundo, buscando

estabelecer uma educação centrada no aprendiz, em seus processos de construção de

conhecimento e de cidadania”. O ensino prático da competência em informação tornou-se

realidade, no entanto, a busca atual é por uma fundamentação teórica e metodológica mais

consistente.

Page 4: COMPETÊNCIA INFORMACIONAL NO ENSINO · PDF filede paradigma dos participantes em ... bibliotecários é fundamental para que a atividade iniciada em sala de aula com o ... com os

43

Pode-se perceber que a competência em informação continua sendo difundida

em diversos países, sendo que cada qual tem adaptado o termo à sua realidade. Há, porém

uma problemática em relação ao termo, devido às suas traduções e suas conceituações. Em

cada país onde foi difundido, ele foi adaptado, tanto no que diz respeito à tradução como à

conceituação (MATA, 2006).

Nos Estados Unidos o termo encontra-se mais consolidado, devido à época em

que surgiu e pela classe bibliotecária ter assumido a competência para si, implantando diversos

programas. Em outros países o termo ainda é incipiente, cada qual adapta o conceito de

competência à realidade do país. Parece que a competência em informação é “[...] uma

metáfora cheia de conotações, [pois] o conceito ainda tem um longo caminho a percorrer até se

consolidar como um tópico teórico e praxiológico” (DUDZIAK, 2007).

No Brasil o termo aparece no ano de 2000, como alfabetização informacional e,

em 2001, como competência informacional na dissertação da Dudziak (2001). A partir destes

documentos, este conceito passa a ser discutido por vários autores no país.

3. PROGRAMAS DE COMPETÊNCIA INFORMACIONAL

Pensando numa sociedade voltada para a informação, a escola deve repensar

que tipo de educação vai oferecer aos seus alunos, deve procurar capacitá-los para viver

nesse ambiente, no qual o ensino da escrita e da leitura é muito pouco desenvolvido. Por isso,

a escola deve utilizar-se de todos os recursos disponíveis para alcançar o seu principal

objetivo: a educação. Para Campello (2005, p. 11), “[...] educar é uma tarefa complexa. Exige

que todos os recursos e conhecimentos sejam mobilizados”, possibilitando que crianças e

jovens adquiram conhecimentos que lhes permitam inserção social e realização como ser

humano.

Para a escola alcançar suas metas, é necessário um trabalho em conjunto entre

todos os seus membros na elaboração do projeto educativo. A parceria entre professores e

bibliotecários é fundamental para que a atividade iniciada em sala de aula com o professor

continue na biblioteca escolar.

Idealmente, os programas de competência informacional devem ser implantados

nas escolas desde o período pré-escolar até chegar ao nível superior, em um processo de

aprendizagem contínua. Para Campello (2006, p. 64) é “[...] possível levar os alunos a se

familiarizar desde cedo com o aparato informacional do mundo letrado, desde que respeitando

seu estágio de desenvolvimento”.

O programa proposto pro Carol C. Kuhlthau inicia-se com o contato da criança

com os suportes informacionais, através de contação de histórias, motivando-a a interessar-se

pelos livros e a iniciar o processo de leitura. O período de alfabetização (1ª a 4ª série), quando

Page 5: COMPETÊNCIA INFORMACIONAL NO ENSINO · PDF filede paradigma dos participantes em ... bibliotecários é fundamental para que a atividade iniciada em sala de aula com o ... com os

44

aluno está sedimentando o ato de ler e escrever, é o momento ideal para a aplicação intensiva

de programas de IL, fazendo a aproximação da criança com a biblioteca, com o incentivo à

leitura; ensinado-a a manusear os recursos ali existentes, fazendo da biblioteca um espaço

para o desenvolvimento de habilidades artísticas, de percepção e de criatividade.

No período no qual o aluno passa a ter o domínio da leitura e fluência no ato de

ler (5ª a 8ª série) a autora propõe que se trabalhe com as crianças as atividades de busca,

seleção e a utilização dos materiais para a pesquisa escolar, levando-os a fazer uma leitura

crítica da informação para a construção de seus trabalhos. Assim, o aluno aprende a estruturar

suas idéias e aplicá-las. Segundo Macedo (2005, p. 173) “[...] esse momento é o considerado

propício ao estudante para o aprendizado de normas que visam ao preparo de trabalhos de

pesquisa, bem como para sedimentar a utilização adequada dos multiformes recursos e

serviços da biblioteca, para enfim capacitá-lo a ser um usuário da informação”.

A biblioteca escolar torna-se o cenário propício para a implementação de um

programa de competência em informação devido à quantidade de pessoas que pode alcançar

na comunidade.

4. PROCEDIMENTOS E MÉTODOS

Tomando como base no livro Como usar a biblioteca na escola, da pesquisadora

americana Carol Kuhlthau (KUHLTHAU, 2002), mais especificamente os módulos I, II e III de

sua obra, propôs-se a aplicação do programa de competência informacional junto a alunos da

5ª série do ensino fundamental de uma escola da rede pública de ensino da cidade de Marília-

SP.

Os participantes da pesquisa foram divididos em dois grupos:

- G1: 12 alunos ouvintes, sendo uma menina e 11 meninos4, com idade entre 11

e 15 anos.

- G2: cinco alunos surdos, sendo uma menina e quatro meninos, com idade

entre 13 e 15.

4 Um dos participantes deixou a escola durante o período de realização da pesquisa.

Page 6: COMPETÊNCIA INFORMACIONAL NO ENSINO · PDF filede paradigma dos participantes em ... bibliotecários é fundamental para que a atividade iniciada em sala de aula com o ... com os

45

O critério de escolha dos alunos ouvintes foi estabelecido pela coordenadora da

escola, que não permitiu a realização do sorteio dos alunos. Foram indicados alunos com relato

de dificuldade de aprendizagem e hiperatividade pelos respectivos professores. Considerando

o envolvimento dos pesquisadores e colaboradores com a área da surdez, foi proposta a

realização do trabalho também com um grupo de alunos surdos. Como o número era pequeno

(cinco ao todo) foram incluídos todos os alunos surdos matriculados nas diferentes turmas de

5.a série da escola. Deve-se ressaltar também que, para desenvolver o trabalho junto aos

alunos surdos, havia a necessidade de que o grupo fosse menor, já que eles precisavam de

um acompanhamento mais intenso das pesquisadoras.

A pesquisa foi desenvolvida da seguinte forma:

1) diagnóstico inicial: com questionário aplicado junto aos alunos participantes;

2) planejamento e desenvolvimento das atividades em módulos seguidos de avaliação do aproveitamento;

3) avaliação final do aproveitamento do programa.

Primeiramente foi realizada uma conversa entre a equipe do projeto e os

professores de 5ª série, a fim de que eles conhecessem a equipe e a proposta do projeto.

Também para conhecer os alunos participantes foi aplicado um questionário que continha

questões de múltipla escolha e questões abertas, que permitiam a caracterização dos

indivíduos, a verificação de sua vivência com fontes de informação (revistas, jornais,

dicionários, enciclopédias, por exemplo), bibliotecas e as suas práticas de busca e uso da

informação.

Passada esta primeira etapa, os participantes e as pesquisadoras se reuniam

semanalmente para desenvolver atividades que visavam o ensino das seguintes habilidades:

identificar, caracterizar e diferenciar os diversos tipos de fontes de informação para a realização

de pesquisas escolares e de interesse pessoal; obter informação utilizando diferentes tipos de

fontes de informação; fazer buscas em mais de uma fonte para a realização de atividades de

pesquisa escolar. O ensino de cada recurso informacional e das habilidades previstas foi

ministrado em módulos específicos, conforme segue:

Módulo Conhecendo e usando os livros

Neste módulo foi trabalhado o livro, sua estrutura, características e uso de suas

partes para localizar informações. Para desenvolver habilidades previstas neste módulo foram

realizadas as seguintes atividades:

Page 7: COMPETÊNCIA INFORMACIONAL NO ENSINO · PDF filede paradigma dos participantes em ... bibliotecários é fundamental para que a atividade iniciada em sala de aula com o ... com os

46

1. Exposição das pesquisadoras acerca dos elementos do livro, suas partes e

finalidades. Em seguida foram desenvolvidas atividades lúdicas visando à

fixação do conteúdo trabalhado. Estas atividades foram: caça-palavras,

charadas sobre as partes do livro, construção de um “livrão” em conjunto, o

qual possuía capa, folha de rosto, sumário, capítulos apresentando o

conteúdo e as referências do material consultado para a sua elaboração.

2. Para avaliar se o conteúdo a respeito dos elementos do livro havia sido

assimilado, foi aplicado um teste, no qual os alunos deveriam identificar as

partes do livro indicadas pelas pesquisadoras.

Módulo conhecendo e utilizando as revistas e jornais

Este módulo foi realizado para que as crianças se familiarizassem com as

revistas e com os jornais, fixando-se a idéia de que a biblioteca possui outros materiais além de

livros e para que conhecessem melhor essas fontes.

Do mesmo modo que no módulo anterior, foram apresentadas pelas

pesquisadoras as características das revistas e dos jornais, tais como a periodicidade, a

atualidade das informações; foram mostrados o sumário e as seções contidas nos periódicos,

tais como editorial, cartas dos leitores, artigos, foram ressaltadas as diferenças entre jornais e

revistas. Em seguida, os alunos apreciavam exemplares de revistas de vários tipos e jornais e

conversavam com as pesquisadoras sobre as características de cada um deles.

Na seqüência, foram realizadas atividades lúdicas, tais como associações entre

exemplos de trecho de jornal e/ou revista nome de parte ou seção que o contém e construção

em conjunto de uma revista. Também ao final foi aplicado um teste com as mesmas

características dos anteriores.

Módulo Conhecendo e Usando a Coleção de Referência

Neste módulo a coleção de referência existente no acervo da escola foi

apresentada e foi explicada a sua finalidade. A coleção de referência, da qual fazem parte as

enciclopédias e os dicionários, é utilizada, normalmente, para a realização da pesquisa escolar,

para saber o sentido das palavras e para maiores aprofundamentos a respeito de algum

assunto. Foi mostrado o local em que elas ficavam na biblioteca da escola, evidenciando que

normalmente este tipo de material fica separado do acervo, a fim de que possam as localizadas

rapidamente. Em seguida, foram realizadas as seguintes atividades:

Page 8: COMPETÊNCIA INFORMACIONAL NO ENSINO · PDF filede paradigma dos participantes em ... bibliotecários é fundamental para que a atividade iniciada em sala de aula com o ... com os

47

1. Apresentação do dicionário e da enciclopédia, suas funções, estrutura e

manuseio de exemplares de cada tipo de fonte.

2. Foi aplicado um teste a respeito dos dicionários, que continha quatro

questões de múltipla escolha, a primeira referia-se à localização de

informações e as outras três referiam-se aos tipos de dicionários.

3. Também foram distribuídos exercícios para os participantes para que

localizassem dez verbetes nas enciclopédias. A primeira atividade consistia

em localizar uma palavra e verificar como era a sua entrada (pelo nome ou

sobrenome) e dizer qual era a enciclopédia consultada. No segundo

exercício, os alunos tinham que verificar em qual volume se encontrava o

verbete e em qual a página e coluna que estavam.

4. Ao final, foi aplicado um teste com questões referentes às enciclopédias.

Módulo Usando o acervo da biblioteca

Neste módulo procurou-se preparar os alunos para lidar com as rotinas e

procedimentos relacionados ao empréstimo de materiais, mostrando o funcionamento da

biblioteca da escola. Foi mostrada a necessidade de realização de um cadastro e confecção de

uma carteirinha, foram explicados os prazos para devolução de materiais e os cuidados com o

manuseio do livro. Alguns dos participantes fizeram suas carteirinhas e passaram a realizar

empréstimos de materiais.

A biblioteca da escola era composta por diversos tipos de livros, revistas,

coleção de referência, dentre outros, possuindo um acervo rico e diversificado para os alunos.

No entanto, os livros não estavam organizados de forma adequada, pois não possuíam sistema

de classificação. Eram separados em estantes por assunto e organizados de acordo com a

ordem de chegada, ou seja, pelo número de tombo. Havia revistas de contexto geral e

especializada para crianças, que eram adquiridas através de assinatura. A responsável pela

biblioteca era uma professora readaptada. Um dos maiores problemas da biblioteca estava no

fato da mesma permanecer fechada no período de intervalo dos alunos, pois a responsável

alegava que os alunos iriam “bagunçá-la” se a mantivesse aberta.

Ao final do programa de atividades, os participantes fizeram uma visita à

Biblioteca da FFC/Unesp, para conhecer a sua estrutura e organização do acervo, forma de

empréstimo, serviços oferecidos, dentre outros.

Page 9: COMPETÊNCIA INFORMACIONAL NO ENSINO · PDF filede paradigma dos participantes em ... bibliotecários é fundamental para que a atividade iniciada em sala de aula com o ... com os

48

Ao término do programa, foi realizada uma avaliação final, através do qual foi

mensurado o conjunto de habilidades ensinadas ao longo do projeto, através de um teste final.

Na análise dos resultados foram comparadas as habilidades esperadas e as demonstradas

pelos participantes. Também foram comparados os resultados obtidos no início e no final do

programa para verificar o nível de progresso dos participantes. Por fim, comparou-se as

habilidades adquiridas pelo G1 (ouvintes) e pelo grupo G25 (surdos).

Para planejamento das atividades e condução da pesquisa, eram realizados

encontros semanais entre os membros da equipe do projeto (no grupo 1, a pesquisadora, aluna

do 4º ano do curso de Biblioteconomia e uma colaboradora, aluna do 2º ano do curso de

Pedagogia; e no grupo 2, a pesquisadora, aluna do 2º ano do curso de Biblioteconomia e uma

colaboradora, aluna do 2º ano de Pedagogia com fluência em LIBRAS – Língua de Sinais

Brasileira, além da orientadora e demais colaboradores da pesquisa).

As atividades com os alunos eram realizadas semanalmente, em concomitância

com o período de aula, ou seja, os alunos eram dispensados pelos professores para

participarem da atividade. Os encontros tiveram a duração de uma hora e vinte minutos,

durante um período de seis meses. As atividades ocorreram em sala de aula e/ ou na biblioteca

da escola.

5. APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS

Analisamos também os questionários entregues aos participantes para saber a

vivência deles com a biblioteca e com as fontes de informação. Realizamos a análise de cada

atividade dada aos participantes para saber se eles adquiriram as habilidades informacionais

almejadas.

Diagnóstico inicial

Foi perguntado aos alunos se costumavam ler. Sete dos doze participantes do

G1 responderam afirmativamente. Quanto solicitados a indicar o material que costumavam ler,

os participantes indicaram em primeiro lugar os gibis e os livros com 25% das respostas, em

seguida os jornais com 20% e as revistas com 15%, entre outros materiais.

Metade dos alunos participantes declarou freqüentar bibliotecas, sendo que a

biblioteca da escola é a mais freqüentada, indicada por oito dos 12 participantes, dois

declararam freqüentar a biblioteca pública; um respondeu freqüentar outras bibliotecas, porém

sem especificá-las e um participante declarou que não freqüenta bibliotecas.

5 É importante ressaltar que a mesma metodologia foi aplicada aos dois grupos, mas ambos não trabalhavam juntos.

Page 10: COMPETÊNCIA INFORMACIONAL NO ENSINO · PDF filede paradigma dos participantes em ... bibliotecários é fundamental para que a atividade iniciada em sala de aula com o ... com os

49

Quando questionados a respeito do que vão fazer na biblioteca, os participantes

indicaram que: costumam ir à biblioteca para ler 53,4%, ou seja, nove participantes (sendo que

26,7% deles não exemplificaram o tipo de leitura que fazem, 20% lêem livros e 6,7% gibis);

cinco indicaram que fazem pesquisa escolar; um participante indicou que faz empréstimos. Um

participante indicou que não freqüenta bibliotecas.

Com relação às possíveis dificuldades de leitura, os participantes costumam

encontrar todos os materiais que buscam na biblioteca com 91,7% e um participante não

respondeu esta questão, que corresponde a 8,3%.

No que se refere à vivência dos alunos com o computador, verificou-se que sete

dos doze responderam que usam computador e, destes, seis também indicaram ter acesso à

Internet.

Na questão referente à solicitação da pesquisa escolar pelo professor, todos

responderam que já foram solicitados a fazerem um trabalho de pesquisa escolar. Na opinião

deles, fazer esta atividade é “legal”. Perguntamos se eles se lembravam de um tema de

pesquisa já realizado. Oito responderam afirmativamente e quatro não souberam indicar.

Dos participantes que se lembram do tema pesquisado, 37,5 % responderam

que era sobre a copa do mundo, 37,5% responderam que era sobre tabagismo, 12,5%

responderam que era sobre futebol e 12,5% sobre os vulcões, o que coincide com as respostas

dos professores.

Na questão referente à fonte de informação utilizada para a realização do

trabalho de pesquisa, a mais citada pelos participantes foi a Internet com 33,3% (quatro), 8,3%

(um) disseram que vão à biblioteca e 58,4% (sete) não responderam esta questão.

Quanto ao G2, dois participantes afirmam ter costume de ler e três indicaram ler

às vezes. O único tipo de material que eles afirmaram ler são os livros. Dois dos cinco

participantes deste grupo afirmaram que costumam freqüentar bibliotecas, sendo a biblioteca

da escola a única freqüentada por eles. O tipo de atividade realizada por eles na biblioteca são

pesquisa escolar, leitura e empréstimo de materiais.

Três dos cinco participantes indicaram que fazem uso do computador e também

têm acesso a Internet. Todos os cinco participantes responderam que já realizaram um trabalho

de pesquisa solicitado pelo professor, porém apenas um se lembrava de um tema pesquisado.

Nenhum dos participantes soube relatar que fontes utilizaram para realizar suas pesquisas.

Page 11: COMPETÊNCIA INFORMACIONAL NO ENSINO · PDF filede paradigma dos participantes em ... bibliotecários é fundamental para que a atividade iniciada em sala de aula com o ... com os

50

Resultados do Módulo Conhecendo e usando os livros

Os resultados obtidos neste módulo foram positivos, os dados mostram que os

participantes assimilaram o conteúdo sobre o livro e suas características.A seguir são

apresentados os resultados:

Na atividade de caça-palavras os participantes do G1 e do G2 acertaram 100%

e, na das charadas, os componentes do G1 participaram ativamente e acertaram 90% das

respostas e, para o G2 foi necessária a criação de sinais para algumas palavras. A atividade

proporcionou para ambos os grupos maior interação e enfatizou o trabalho em grupo.

O G1 e o G2 construíram um “livrão”, cada grupo, de 100 x 80, fizeram a capa,

folha de rosto, o sumário, arrumaram os capítulos de acordo com a ordem estabelecida no

sumário e colocaram as referências.

Como resultados da avaliação sobre o livro aplicado ao G1, tiveram tais

participantes uma percentagem de acertos como, 4 com 50%; 3 com 63%; 1, 2 e 5 com 75%; 7,

8, 11 e 12 com 88% e, por fim, 6, 9 e 10 com 100%. A média geral é de 83 %. No G2 os

resultados foram similares, o participante 2 com 50%; 4 com 75%; 5 com 88% e os

participantes 1 e 3 com 100%.

Figura 1: Montagem do livro produzido pelos participantes

Resultados do Módulo Conhecendo e Utilizando as revistas e jornais

Todos os participantes da pesquisa tiveram um aproveitamento positivo neste módulo,

pois conseguiram apropriar-se das informações referentes ao uso e manuseio das revistas e

dos jornais, adquirindo habilidades para o uso dos mesmos. A média deste módulo foi

realizada com os resultados do exercício sobre as revistas, na atividade três, com a avaliação

sobre as revistas, na atividade 6 e, por fim, com a avaliação dos jornais, na atividade oito. A

seguir os resultados de cada atividade:

Page 12: COMPETÊNCIA INFORMACIONAL NO ENSINO · PDF filede paradigma dos participantes em ... bibliotecários é fundamental para que a atividade iniciada em sala de aula com o ... com os

51

Figura 2: Sumário de revista produzida pelos participantes

Na atividade de caracterização das revistas, os participantes do G1 e do G2

acertaram 100% das respostas. Neste exercício, os participantes do G1 tiveram os seguintes

percentuais: 4 com 29%; 6, 8 e 9 com 57%; 3 e 10 com 72%; 1, 2, 5, 7, 11 e 12 com 100%.

Um participante conseguiu assimilar apenas metade das informações sobre as partes do livro e

os outros apropriaram-se de todo o conteúdo. No caso do G2, alguns participantes sentiram um

pouco de dificuldade na realização desta atividade, mas com uma nova explicação

conseguiram compreender e acertar os exercícios, um participante acertou 60%, este foi o que

mais sentiu dificuldade, porém depois de uma explicação individual compreendeu melhor e

conseguiu terminar a atividade e os demais acertaram 100%.

Os participantes foram divididos em duplas. No caso do G1, os resultados gerais

demonstram que, os participantes 4, 5, 7, 8, 12 seguiram a estrutura da revista com todas as

suas particularidades, já os 1, 2, 6, 9, 10, 11 seguiram a estrutura, mas esquecendo-se de

alguns detalhes da revista, no entanto, fizeram a atividade corretamente. O participante 3 (que

fez individualmente a revista por ter faltado a vários encontros) desenvolveu a atividade com

pouco comprometimento, mas empregou um pouco do que aprendeu.

No caso do G2, a revista foi construída individualmente pelos participantes. Eles

seguiram a estrutura utilizada como modelo, todas ficaram muito boas e, cada um fez um

desenho livre na capa. Pode-se concluir que todos foram bem na atividade de construção da

revista, pois conseguiram estruturá-la de acordo com o que foi solicitado.

Page 13: COMPETÊNCIA INFORMACIONAL NO ENSINO · PDF filede paradigma dos participantes em ... bibliotecários é fundamental para que a atividade iniciada em sala de aula com o ... com os

52

Os participantes do G1 e do G2 conseguiram verificar o que era uma revista de

contexto geral e o que era uma especializada, a que público era destinado cada tipo de revista;

no entanto, o G2 teve um pouco mais de dificuldade, pois eles não compreendem muitas

palavras, devido ao fato de seu vocabulário ser mais restrito e da falta de um sinal para

designar certos conceitos. Por exemplo, como explicar para o surdo o que é “periódico” e

“atualidade de informações”. Estas são questões simples, porém na realidade dos surdos

torna-se difícil. Devido a estas dificuldades este grupo caminhou mais devagar em relação ao

outro.

Na avaliação sobre as revistas, os participantes do G1 tiveram como resultados:

o participante 8 com 25% percentual de acertos; 10 com 48%; esses dois participantes

conseguiram acertar menos da metade da avaliação, no entanto, foram bem nas outras

atividades sobre a revista, tendo um desempenho médio. Os participantes 4 e 7 com 55%; 5

com 65%; 11 com 80%; 3 e 12 com 90%; 1, 2 e 6 com 100%. No caso do G2 um participante

acertou 90% dos itens da avaliação, os demais participantes acertaram 100% da avaliação.

Na avaliação sobre os jornais aplicada ao G16, o participante 8 com 70%

percentuais de acertos; 4, 6 e 11 com 75%; 5 e 12 com 80%; 10 com 90%; 1, 2, 3 e 7 com

100%, todos tiveram um desempenho acima dos 50% de acertos. No G2 o participante 2

acertou 88%, os demais acertaram 100%. O participante 2 obteve uma média um pouco menor

em relação aos outros participantes por ter faltado no dia da explicação. Então tivemos que

explicar o conteúdo e aplicar o teste para ele sozinho, em um dia diferente do grupo, com um

tempo um pouco mais curto.

Resultados do Módulo Conhecendo e Usando a Coleção De Referência

Neste módulo foi trabalhada a coleção de referência da biblioteca da escola.

Havia diversos tipos de dicionários e enciclopédias, dando oportunidade aos participantes de

conhecerem essas fontes de informação. Alguns participantes tiveram um pouco mais de

dificuldade ao trabalhar com a coleção de referências, mas a média foi positiva, a maioria deles

conseguiu assimilar as atividades deste módulo, resultando no bom uso delas. A Média foi

realizada com base na avaliação dos dicionários, na atividade 2, nos exercícios de procurar

informações nas enciclopédias, na atividade 4 e, na avaliação das enciclopédias, conforme os

resultados apresentados a seguir:

Na avaliação sobre os dicionários, o G1, como os participantes 8 e 11

tiveram 25% de acerto; os participantes 1, 2, 3, 6 e 10 50%, 5 e 12 75% e 4 e 7 com 100%.

6 O participante 9 parou de freqüentar a escola, portanto, parou de desenvolver as atividades da pesquisa. No teste final com as revistas ele já havia parado de ir.

Page 14: COMPETÊNCIA INFORMACIONAL NO ENSINO · PDF filede paradigma dos participantes em ... bibliotecários é fundamental para que a atividade iniciada em sala de aula com o ... com os

53

Percebe-se que dois participantes tiveram menos de 50% de acertos, portanto não

conseguiram apropriar-se de algumas informações sobre os dicionários. Quase a totalidade

dos participantes do G2 acertaram 100%, exceto o 5 com 75%.

Nos exercícios sobre enciclopédias aplicados ao G1, dizia respeito a busca de

informações, os participantes 4, 11 e 12 ficaram com 90% de acertos; 1 e 2 com 95%; 3, 5, 6,

7, 8 e 10 com 100%. No caso do G2 estes exercícios não foram aplicados, apenas trabalharam

com a enciclopédia informalmente.

1) Na avaliação sobre as enciclopédias, os participantes do G1 obtiveram

bons resultados, tais como: o 8 com 63% de acerto; 4 e 11 com 75% e os demais, (os

participantes 1, 2, 3, 5, 6, 7, 9 e 10) acertaram 100%. No caso dos primeiros, constatou-se que

os erros cometidos decorreram da distração dos participantes. No caso do G2, o participante 4

acertou 67% os demais acertaram 100% da avaliação.

Figura 3: Participantes do G2 em uma das atividades

Resultados do Módulo conhecendo e usando o acervo da biblioteca

Para a realização desta atividade, foram realizadas visitas a duas bibliotecas: a

biblioteca da escola, na qual era desenvolvida a maioria das atividades, e a biblioteca da

Faculdade de Filosofia e Ciências da Unesp, campus de Marília. Observou-se que os

participantes já haviam se acostumado com o acervo da biblioteca da escola, conseguindo

localizar os materiais que queriam. Na biblioteca da universidade os participantes ficaram

impressionados com seu tamanho e com a quantidade de materiais que possuía. Observaram

como se realizava a busca no catálogo online e também procuraram as obras através dele.

Localizaram as informações no acervo através da Classificação Decimal de Dewey.

Page 15: COMPETÊNCIA INFORMACIONAL NO ENSINO · PDF filede paradigma dos participantes em ... bibliotecários é fundamental para que a atividade iniciada em sala de aula com o ... com os

54

As atividades sobre os catálogos foram aplicadas durante a visita orientada à

biblioteca universitária, pois na biblioteca da escola não havia uma organização dos itens

através do catálogo. Uma intérprete de LIBRAS foi convidada para acompanhar o G2 durante a

visita. Todos apreciaram a visita à biblioteca e quando percorriam o local iam identificando os

itens que foram trabalhados durante todo o projeto e observando suas diferenças.

Figura 4: Pesquisadora e aluna em atividade na Biblioteca da Escola

O balanço dos resultados obtidos pelos dois grupos nos módulos foi reunido e

será apresentado nas tabelas a seguir.

Page 16: COMPETÊNCIA INFORMACIONAL NO ENSINO · PDF filede paradigma dos participantes em ... bibliotecários é fundamental para que a atividade iniciada em sala de aula com o ... com os

55

Tabela 1: Desempenho geral dos participantes do G1

*o participante 9 desistiu da escola durante a realização da pesquisa

Participantes G1

Módulo I Módulo II Módulo III Média

1 75% 100% 82% 86%

2 75% 100% 82% 86%

3 63% 87% 83% 78%

4 50% 53% 88% 64%

5 75% 82% 92% 83%

6 100% 77% 83% 87%

7 88% 85% 100% 91%

8 88% 51% 63% 67%

9*

10 100% 70% 83% 84%

11 88% 85% 64% 79%

12 88% 90% 88% 89%

Page 17: COMPETÊNCIA INFORMACIONAL NO ENSINO · PDF filede paradigma dos participantes em ... bibliotecários é fundamental para que a atividade iniciada em sala de aula com o ... com os

56

Os participantes do G1 tiveram bom desempenho, todos tiveram uma média

acima dos 60% de acertos no cômputo geral.

Tabela 2: Desempenho geral dos participantes do G2

Participantes G2 Módulo I Módulo II Módulo III Média

1 100% 100% 100% 100%

2 50% 94% 100% 81%

3 100% 100% 100% 100%

4 75% 95% 84% 85%

5 88% 100% 88% 92%

Os participantes do G2 tiveram também um bom desempenho nas atividades,

com um aumento de média progressivo, no decorrer dos módulos. Pode-se verificar que ambos

os grupos apresentaram resultados. Notamos que os dois grupos conseguiram assimilar os

conteúdos previstos, o que os diferencia é que o primeiro grupo não teve auxílio na realização

das atividades de avaliação e o segundo grupo realizou todas as atividades com o auxílio da

pesquisadora e da colaboradora, mas isso se deveu às características específicas deste grupo.

6. CONCLUSÕES

A competência em informação ressalta a integração curricular e a educação

baseada em recursos, preparando as pessoas para o processo de utilização da informação,

como o acesso, a análise, uso efetivo e ético da informação e sua comunicação quando

necessário, possibilitando, assim, o saber aprender a aprender e o aprendizado ao longo da

vida.

A proposta da educadora Carol Kuhlthau mostrou-se adequada para a realidade

brasileira, levando-se em consideração que todas as atividades foram adaptadas para a

possível aplicação com alunos da escola da rede pública e, principalmente, por estes

possuírem dificuldade de aprendizagem (G1) e deficiência auditiva (G2). A pesquisa, também,

obteve êxito, devido à colaboração da coordenação, dos professores e demais membros

atuantes na escola, que possibilitaram a participação dos alunos nas atividades propostas e

cederam à biblioteca e, quando necessário, as salas de aula.

Os participantes relataram, através dos questionários, não freqüentar muito as

bibliotecas, conseqüentemente, não sabiam de sua relevância para a sua formação pessoal e

cultural. Com o desenvolvimento das atividades mostramos a importância, a estrutura e a forma

de organização da biblioteca e, os materiais que é possível encontrar e utilizar através dela,

Page 18: COMPETÊNCIA INFORMACIONAL NO ENSINO · PDF filede paradigma dos participantes em ... bibliotecários é fundamental para que a atividade iniciada em sala de aula com o ... com os

57

contribuindo para uma mudança de paradigma dos participantes em relação à biblioteca e às

fontes de informação nela disponíveis. Mostramos, também, como a biblioteca pode auxiliá-los

no processo de aprendizagem.

Atualmente, os participantes estão habilitados para usar as fontes de informação

trabalhadas, como os livros, as revistas, os jornais, os dicionários e as enciclopédias. O

programa também possibilitou a realização de um trabalho em conjunto em um ambiente de

aprendizado, em que todos tinham que ouvir e opinar no momento adequado, o que foi

bastante interessante para os grupos.

Nos dados obtidos através do questionário, os participantes não relataram fazer

uso da enciclopédia para a realização da pesquisa escolar, nem dos jornais, nem das revistas.

Provavelmente, não sabiam como utilizar essas fontes para localizar a informação de que

necessitavam e não tinham interesse em aprender a usá-las.

O desenvolvimento desse trabalho na escola contribuiu para o início de uma

mudança em relação ao modo de aprendizagem dos educandos, possibilitando desse modo a

abertura de um espaço para a aplicação de projetos desse nível e a conscientização dos

professores de que os educandos estavam aprendendo algo que iria lhes beneficiar na

realização das demais atividades escolares.

Na sociedade da informação os indivíduos precisam estar habilitados para usar a

informação, precisam ser competentes em informação e para serem competentes precisam de

orientações para o uso da informação. Pois a sociedade é denominada atualmente com muitos

adjetivos que, pela repetição sem reflexão, acabam se desgastando e/ou perdendo sua

essência. Dois desses adjetivos são: sociedade inclusiva e sociedade da informação

(CONEGLIAN, 2006).

Assim, esta pesquisa tentou habilitar os educandos com dificuldades de

aprendizagem e com deficiência auditiva para se posicionarem na sociedade da informação,

pois com a valia da informação, todos devem estar preparados para viver nesta sociedade.

Este estudo também foi uma oportunidade de trabalho conjunto entre futuros

bibliotecários e pedagogos. Esta integração é importante, pois na atuação profissional, a

integração entre os membros da equipe pedagógica e entre os bibliotecários é muito

importante. A troca de informações e a participação do bibliotecário no projeto pedagógico são

fatores que propiciam vantagens para os educandos, além de possibilitar a preparação da

aplicação da pesquisa escolar com a colaboração dos bibliotecários e a devida orientação do

professor.

Desta maneira, as bibliotecas escolares e os bibliotecários precisam posicionar-

se na sociedade da informação, oferecendo as diversas fontes de informação para os

educandos e habilitando-os na sua utilização. Os membros da equipe da escola precisam estar

Page 19: COMPETÊNCIA INFORMACIONAL NO ENSINO · PDF filede paradigma dos participantes em ... bibliotecários é fundamental para que a atividade iniciada em sala de aula com o ... com os

58

atentos aos processos de ensino-aprendizagem para contribuir com a formação de cidadãos

capazes de pensar de forma crítica para o convívio escolar, individual e social. Para descobrir

oportunidades para a melhoria de vida pessoal e social, acarretando em mudanças na

comunidade em que vivem.

As atividades possibilitaram aos participantes adquirirem habilidades

informacionais e a iniciação no processo de competência informacional, que nada mais é do

que usar essas habilidades informacionais para o aprendizado independente e ao longo da

vida, procurando manter-se sempre atualizado e disposto a aprender. Observa-se que a

competência informacional ainda é um tema incipiente no Brasil e em diversos países, mas

cada vez mais os profissionais estão atentando para este tema e para este propósito que é

habilitar os indivíduos a serem competentes em informação.

AGRADECIMENTOS:

Aos professores Sandra Eli S. Martins e Paulo S. Teixeira do Prado, colaboradores na

pesquisa e às alunas Maryana M. Pereira e Janaina Saraiva Miron, André Luis O. Coneglian

colaboradores no planejamento e na execução das atividades da pesquisa.

Page 20: COMPETÊNCIA INFORMACIONAL NO ENSINO · PDF filede paradigma dos participantes em ... bibliotecários é fundamental para que a atividade iniciada em sala de aula com o ... com os

59

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

AMERICAN LIBRARY ASSOCIATION. Report of the Presidential Committee on Information Literacy: Final Report. [S. l.], 1989. Disponível em: <http//:www.ala.org/acrl/nili/ilit1st.htm. Acesso em: 03 fev. 2007.

CAMPELLO, Bernadete dos Santos. A escolarização da competência informacional. Revista de Biblioteconomia de Biblioteconomia e Documentação: Nova Série, São Paulo, v. 2, n. 2, p. 63-77, dez. 2006.

CAMPELLO, Bernadete. A competência informacional na educação para o século XXI. In: CAMPELLO, Bernadete et al. A biblioteca escolar: temas para uma prática pedagógica. 2. ed. Belo Horizonte: Autêntica, 2005. p. 9-12

CONEGLIAN, A. L. O. A mediação da informação e o surdo: distâncias reais, aproximações necessárias. Marília, 2006 (Artigo apresentado à disciplina Mediação da informação: usuários, tecnologias e sociedade, do Programa de Pós-graduação de Ciência da Informação, da Faculdade de Filosofia e Ciências, Universidade Estadual Paulista “Júlio Mesquita Filho”).

DUDZIAK, Elisabeth Adriana. A Information literacy e o papel educacional das bibliotecas. 2001. 173 f. Dissertação (Mestrado em Ciências da Comunicação) - Escola de Comunicação e Artes, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2001.

______. Information literacy: princípios, filosofia e prática. Ciência da informação, Brasília, v. 32, n. 1, p. 23-35, jan./abr. 2003.

______. Information Literacy Education: integração pedagógica entre bibliotecários e docentes visando a competência em informação e o aprendizado ao longo da vida. In: SEMINÁRIO NACIONAL DE BIBLIOTECAS UNIVERSITÁRIAS, 12, 2002, Recife. Anais eletrônicos.... Recife: UFPE/SIB, 2002. Disponível em: http://www.sibi.ufrj.br/snbu/snbu2002/oralpdf/47.a.pdf. Acesso em: 11 abr. 2005

______. O bibliotecário como agente de transformação em uma sociedade complexa: integração entre ciência, tecnologia, desenvolvimento e inclusão social. Ponto de Acesso, Salvador, v. 1, n. 1, p. 88-98, jun. 2007.

KUHLTHAU, Carol C. Como usar a biblioteca na escola: um programa de atividades para o ensino fundamental. Tradução e adaptação de Bernadete Santos Campello et al. Belo Horizonte: Autêntica, 2002. 303 p.

MATA, Marta Leandro da. A competência informacional no âmbito escolar: um projeto para o desenvolvimento de habilidades informacionais no ensino fundamental. 2006. 127 f. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Biblioteconomia) – Faculdade de Filosofia e Ciências – UNESP, Marília, 2006.

MACEDO, Neusa Dias de. Fórum de debates sobre a biblioteca escolar brasileira, com base no Manifesto da UNESCO/IFLA. In: ______ (Org.). Biblioteca escolar brasileira em debate: da memória profissional a um fórum virtual. São Paulo: Senac, 2005. p.167-403.