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MARCOS LINHARES JABOUR Orientador: Werther Holzer Monografia apresentada ao Curso de Pós-Graduação em Meio Ambiente da Pró-Reitoriade Pós-Graduação e Pesquisa do Instituto Nacional de Desenvolvimento das Ciências da Saúde da Universidade Cândido Mendes como requisito parcial para obtenção do título de Especialista em Meio Ambiente. COMPORTAMENTO DOS VISITANTES E REPRESENTAÇÃO SOCIAL NO JARDIM ZOOLÓGICO DA CIDADE DO RIO DE JANEIRO Rio de Janeiro 2010

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MARCOS LINHARES JABOUR

Orientador: Werther Holzer

Monografia apresentada ao Curso de Pós-Graduaçãoem Meio Ambiente da Pró-Reitoriade Pós-Graduaçãoe Pesquisa do Instituto Nacional de Desenvolvimentodas Ciências da Saúde da Universidade CândidoMendes como requisito parcial para obtenção dotítulo de Especialista em Meio Ambiente.

COMPORTAMENTO DOS VISITANTES

E REPRESENTAÇÃO SOCIAL NO JARDIM

ZOOLÓGICO DA CIDADE DO RIO DE JANEIRO

Rio de Janeiro

2010

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FICHA CATALOGRÁFICA

Jabour, Marcos Linhares

Comportamento dos Visitantes e Representação Social no JardimZoológico da Cidade do Rio de Janeiro / por Marcos Linhares Jabour – 2010

194 f.:il.

Digitado (original)Monografia (especialização em Meio Ambiente) - Universidade Cândido

Mendes Instituto Nacional de Desenvolvimento das Ciências da Saúde. Riode Janeiro, Rio de Janeiro. 2010. Orientação: Prof. Werther Holzer. Cursode Pós-Graduação em Meio Ambiente.

1. Introdução 2. Base Histórica 3. Base Científica 4. BaseFenomenológica 5. Base Semiológica 6. Base Comportamento-Ambiente7. Desenvolvimento 8. ResultadoMonografia Acadêmica. I. Werther Holzer (orientador) II. UniversidadeCândido Mendes, Instituto Nacional de Desenvolvimento das Ciências daSaúde.I. Título. Mon. Acad. CDD- BN obt.reg. 010610

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MARCOS LINHARES JABOUR

COMPORTAMENTO DOS VISITANTES E REPRESENTAÇÃO

SOCIAL NO JARDIM ZOOLÓGICO DA CIDADE DO RIO DE

JANEIRO

Rio de Janeiro, 1o de agosto de 2010.

BANCA EXAMINADORA

Professor Werther Holzer(Universidade Federal Fluminense)

Monografia apresentada ao Curso de Pós-Graduaçãoem Meio Ambiente da Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa do Instituto Nacional deDesenvolvimento das Ciências da Saúde daUniversidade Cândido Mendes como requisito parcialpara obtenção do título de Especialista em MeioAmbiente.

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DEDICATÓRIA

Dedico à minha família: Ana Carolina, Octávio, Vitória e a vovó

Ana, mãe da minha voluntariosa esposa Aurora, que

além de me convencer a fazer Pós-graduação

foi minha maior incentivadora e inseparável

companheira de curso, me emprestando

com a sua singela presença,

confiança, determinação,

dedicação, paciência

e perseverança.

Enfim, todo

o seu

amor.

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AGRADECIMENTOS

Primeiramente, gostaria de destacar que a maior motivação desta pesquisa foi um

inestimável sentimento de gradidão pelo Jardim Zoológico, onde em 1986, o autor, ainda

garoto, passou a trabalhar. Lá tornou-se um homem, conheceu sua esposa e constituiu sua

amada família. Por isso, agradeço a todos os funcionários, sobretudo, aos velhos amigos

tratadores, que compartilham com o autor a gratificante sensação de cuidar dos animais e

trabalhar neste ambiente sagrado. Mas, a elaboração desta Monografia não seria possível

sem a orientação do Professor Wether Holzer, o qual sou especialmente grato. Também

agradeço, a Cláudia Magnanini (FPJ) pela doação de valiosos artigos históricos, a Zilda

Araújo, Verônica de Almeida, Jorge Amaral e Pedro Farah, pelo apoio no setor educacional,

a repórter oficial da Rio-Zoo Esther Nazareth e a historiadora Rosangela Gabriel de Melo.

Um agradecimento especial aos carismáticos instrutores juvenis do Grude (Grupo de Defesa

Ecológica), Josiane, Tatiana, Thiago Luiz, Saulo, Rafaela, Eduardo, Thiago Dias e a Sérgio

Luiz, educador do Grude. Agradeço a Carlos Esberard e ao colega Miguel Ângelo Brück

Gonçalves, biólogo da Fundação Oswaldo Cruz, pela gentil doação do excelente e inspirador

artigo de Marcelo Bizerril. Agradeço as jornalistas Cejana Montelo (Máquina), Ines Amorim

(O Globo), Ana Sá (Correio Braziliense) e a Etienne Jacintho (O Estado de São Paulo) pelo

espaço e pelas informações qualificadas, transmitidas em seus respectivos veículos de

comunicação. Sou muito grato, a Patrícia Almeida dos Santos, pela colaboração no

planejamento e execução das ações educacionais e pelo apoio à pesquisa de etologia aplicada.

Agradeço a Paulo Celso Martins Brandão, primeiro presidente da Rio-Zoo, pelos relatos

de pitorescas passagens históricas do Zoológico e ao amigo Roberto Rocha, membro do

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atual Conselho Curador da Rio-Zoo, pelas fotos, comentários pertinentes, participação das

discussões e citações de experiências. Pelo apoio, sou especialmente grato ao ex-estagiário,

ex-chefe e grande amigo, Geraldo Soriano Espínola. Pelo incentivo, expresso minha gratidão,

a Neiva Guedes, a Ana Laura Valente Seco Freire, a Vania Chuairi Cruz e Jeanne Almeida

da Trindade. Agradeço também, aos inseparáveis companheiros da Diretoria Técnica do

Zoo: Luis Paulo Luzes Fedullo, Marcus Delgado Borges, Anderson Mendes Augusto, Denise

Wilches Monsores, Vera Lúcia de Oliveira, Carla Cristina Cunha de Alencar, Josephine

Pritchard da Cunha, Daniel de Almeida Balthazar, Alex Spadetti, Rodrigo Cerqueira da

Costa, Fernando Troccoli e Denise Pan. Pelo apoio total na execução do Projeto

“Humanizoo”, agradeço aos tratadores de répteis Rodolfo Mariano Loureiro, Mayara Neves

de Souza, Márcio M. Dias. Expresso um agradecimento especial a William Medeiros Prado

do Instituto Iguaçu, por tornar factível a participação dos dedicados estagiários de biologia,

que participam com entusiasmo do Projeto “Humanizoo”: Sília Almeida da Conceição,

Wladmir dos Santos, Vanessa de Fátima da Rocha F. de Mendonça, Rodrigo da Silva de

Oliveira e Ohana Ferreira da Silva. Agradeço também às estagiárias da educação ambiental

que muito colaboraram nas ações educacionais, Alessandra Pobel, Alessandra Santos e

Carla Granville. Finalmente, pelo apoio dispensado, agradeço aos amigos Paulo Roberto

Fernandes de Souza e Vera Lopes da Silva Ferreira Oliveira.

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EPÍGRAFE

“Estudar é desocultar, é ganhar a compreensão mais exata do objeto, é perceber suas

relações com outros objetos. Implica que o estudioso, sujeito do estudo, se arrisque, se

aventure, sem o que não cria nem recria”

Paulo Freire

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RESUMO

Duas situações motivaram esta monografia: os resultados de uma pesquisa quantitativa

anterior, cujo objetivo foi avaliar o nível de conhecimento do público do Zoo, a respeito do nome e da

origem de animais brasileiros e estrangeiros e, a execução de uma pesquisa de etologia aplicada,

desenvolvida com os visitantes durante o período de visitação, com o propósito de avaliar o

comportamento do público em relação aos animais e ao ambiente. Para tanto, foram visitados os mais

vastos e diversificados continentes do saber, desde os fundamentos científicos da etologia aplicada,

passando pelo estudo das Memórias do Jardim Zoológico no Rio de Janeiro, ao pragmatismo lógico

peirciano, até os fundantes da gestão ética das organizações e a multidisciplina Comportamento-

Ambiente. Por meio da exegese do material histórico de espessa densidade, referente à origem e a

evolução dos Zoos no mundo, inferiu-se que o surgimento dos Zoos na Europa foi influenciado por

movimentos científicos e sociais do Século XVIII, indicando que além dos animais e da comunidade

científica, a presença do público foi e continua sendo fundamental para a existência dos Zoos. No

tocante à etologia, seguiu-se a risca a metodologia científica com a formulação de hipóteses, teste de

modelo hipotético e registro em etograma de amostragens por observações livres cronometradas.

Contudo, nos intervalos entre as amostragens, a interação com o ambiente propiciou um outro olhar

sobre a pesquisa, revelando faces e dimensões da realidade não consideradas pelo método etológico.

Momento pelo qual, a pesquisa caminhou para além da análise científica, sendo submetida à investigação

fenomenológica, por intermédio da escuta atenta das especulações e deliberações dos visitantes,

biólogos e tratadores de animais. A fenomenologia foi adotada aqui, enquanto método, com o propósito

de realçar valores, crenças e representações. Nesse sentido, foi invocada a teoria da significação

peirciana e apropriado o saber da multidisciplina Comportamento-Ambiente, com o fito de subverter

paradigmas e ressignificar a nomenclatura popular dos animais, a ambientação dos viveiros, os roteiros

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de visita e a valorização dos pontos de referência institucionais. Nesse percurso, foram analisados os

motivos e valores dos visitantes e tratadores, em contraponto à motivação dos técnicos, o que possibilitou

a verificação de cientificismo e de um consequente descaso dos biólogos em relação à revisão da

nomenclatura popular dos animais, como forma de racionalizar as ações educacionais, apesar do

recorrente clichê nos meios acadêmicos, de que "é preciso conhecer para conservar". Por representar

a gênese do conhecimento, ser convencional e constituir um pré-requisito à percepção da rica diversidade

faunística do Brasil, inadvertidamente, despercebida pelo público, as denominações populares de várias

espécies de répteis foram ressignificadas, considerando-se uma nominação com signos bem

desenvolvidos, em detrimento, de uma nomenclatura normalmente imposta, pobre em significado e,

em vários casos, depreciativa às espécies. Ademais, os resultados da pesquisa de etologia aplicada

foram comentados e apresentados através de gráficos, vários viveiros foram ressignificados e rotas de

visitação propostas, tendo como referencial e ponto de partida, o subutilizado Portão Monumental e,

prosseguimento, por roteiros em áreas de circulação hierarquizadas. Finalmente, por ter sido permeada

por fenômenos sociológicos, como a linguagem e a transmissão de saberes e valores, toda a prospecção

de conhecimentos foi socialmente partilhada, através da divulgação em congressos, nas universidades,

na mídia e pela execução de um projeto de educação ambiental, destinado ao público e implementado

por tratadores de animais, nos dias de maior movimento, justificando o viés da representação social.

PALAVRAS CHAVE

Educação ambiental, comportamento-ambiente, etologia, zoológico, representação social.

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ABSTRACT

Two situations motivated this monograph: the results of a previous quantitative research

executed in Rio de Janeiro's Zoo, in order to evaluate the level of knowledge of the public as to

the name and the origin of Brazilian and foreign animals and, the execution of an applied ethology

research, developed with the visitors during the visitation, whose objective was to evaluate the

behaviour of the visitor regarding the animals and to the environment. For so much, there were

visited the vastest and diversified continents of the knowledge, from the bases scientific of the

applied ethology, passing by the study of the Memories of the Zoo in the Rio de Janeiro and from

the theory of Pierce's signification, to the bases of Environment-Behavior studies up to the study

of the management ethics of the organizations.Through exegesis of the historical material of thick

density of the origin and evolution of Zoos in the world, it was inferred that the appearance of the

zoos in Europe was influenced by scientific and social movements of the Century XVIII, indicating

that besides the animals and of the scientific community, thenpresence of the public was and remains

fundamental to the existence of zoos. In relation to ethology, followed by the scratch the scientific

methodology to the formulation of hypotheses, test of the hypothetical model and registration in

ethogram sampling by free timed observations. However, in the intervals between samples, the

interaction with the environment provided a different view about the research, revealing faces and

dimensions of reality not considered by the ethological method. Moment for which, the research

way beyond scientific analysis and was submitted to phenomenological research, through attentive

listening to the speculations and deliberations of the visitors, biologists and animal keeper.

Phenomenology was adopted as a method, in order to emphasize values, beliefs and representations.

Thus, it was claimed the theory of Pierce’s signification and appropriate the knowledge of

multidiscipline Behavior-Environment-studies, in order to subvert paradigms and re-signify the

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popular nomenclature of animals,the environment of the vivariums, the naming of public roads, roadmaps

of access and the appreciation of the Zoo’s landmarks. Along the way, was analyzed the motives and

values of the layman and animal keeper as opposed to the biologist, which allowed the determination of

scientism and a consequent neglect of the technicians in the revision of the nomenclature of the popular

animals as a way to streamline the educational practices, despite the recurring cliche academic circles,

that "we need to know to conserve". By representing the genesis of knowledge, be conventional and be

a prerequisite to the perception of the rich biodiversity of Brazil, inadvertently overlooked by the

public, the popular names of several species of reptiles were re-signified, considering a nomination with

signs of well-developed, appreciated the knowledge by common sense and, of course, the shape or

behavior of animals at the expense of a nomenclature imposed usually poor in meaning and in many

cases, diminishing species. Moreover, the results of applied ethology research were discussed and and

presented through graphs. Several ponds were re-vitalized and tours of visitation have been proposed,

taking as point of reference and departure, the Monumental Gate and continued failure by scripts in

circulation areas ranked. Finally, having been permeated by sociological phenomena, such as language

and transmission of knowledge and values, all mining was socially shared knowledge through the

dissemination at conferences, universities, the media and the implementation of an environmental education

project, for the public and implemented by animal keeper, these days large presence of public, justifying

the bias of social representation.

KEY WORDS

Environmental education, Environment-Behavior studies, ethology, zoo, social representation.

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1. INTRODUÇÃO 20

1.1.0 - Considerações Iniciais. 20

1.2.0 - Jardim Zoológico: O que é e para que serve? 22

1.2.1 - Características Físicas. 23

1.2.2 - O Jardim do Zoo. 24

1.2.3 - Roteiros de Visitação. 25

1.2.4 - Qual a Expectativa do Público? 26

1.2.5 - Gigante Pela Própria Natureza. 27

1.2.5.1 - O Brasileiro Conhece a Fauna do Brasil? 28

1.2.6 - Etologia e o Fenômeno Aperceptivo. 29

1.2.7 - A Lógica do Zoo e a Mensagem Institucional. 31

1.2.8 - Ponto de Referência e Roteiros. 33

1.2.9 - A Educação Ambienal e a Gestão Ética das Organizações. 33

1.3.0 - Projetos Educativos. 35

1.3.1 - A Origem e a Evolução dos Zoos. 38

1.3.2 - Um Portão para Inglês Ver? 40

1.3.3 - Um Ponto Referencial para o Público Conhecer. 41

1.3.4 - Do Barão ao Macaco Tião - Memórias do Zoo no Rio de Janeiro. 45

1.3.4.1 - Tupi or Not Tupi? 48

1.3.4.2 - A Passagem do Primeiro para o Terceiro Setor. 49

SUMÁRIO

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1.4.0 - Bases Científicas. 51

1.4.1- Breve Histórico sobre a Etologia e sua Importância em Zoos. 51

1.5.0 - Bases Filosóficas. 52

1.5.1 - A Fenomenologia. 52

1.5.2 - Teoria da Significação e o Pragmatismo Lógico Peirciano. 54

1.6.0 - Comportamento-Ambiente. 58

1.6.1 - A Percepção. 58

1.6.2 - Fatores Interferentes. 59

1.6.3 - Princípios da Percepção - Psicologia da Forma. 61

1.6.4 - Forças Integradoras da Percepção Humana. 64

1.6.5 - A Psicologia Ecológica Gibsoniana . 65

1.6.6 - Quanto Mais Temido, Mais Apelo Popular. 67

1.6.7 - Filtros de Percepção do Mundo Real. 68

1.6.8 - Mapas Cognitivos. 69

1.6.9 - Organização Espacial em Zoos. 70

1.7.0 - Bases Educacionais. 71

1.7.1 - Conhecimento Quantitativo. 72

1.7.2 - Conhecimento Qualitativo. 74

2 - DESENVOLVIMENTO 75

2.1.0 - Bases Científicas. 75

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2.1.1 - Etologia Aplicada ao Público da Rio-Zoo. 75

2.2.0 - Abordagem Qualitativa. 79

2.2.1 - Algumas Considerações. 79

2.2.2 - Onde Está a Cobra? As especulações dos visitantes. 81

2.2.3 - O Discurso dos Técnicos. 82

2.2.4 - O Pragmatismo Aplicado à Nomenclatura Popular dos Animais. 83

3. RESULTADOS 84

3.1.0 - Análise das Hipóteses. 84

3.2.0 - Interpretações dos Comportamentos. 86

3.2.1 - Jogar objeto no animal ou lixo no viveiro. 87

3.2.2 - Cutucar, oferecer alimento ou jogá-lo ao animal. 89

3.2.3 - Procurar ler a placa informativa. 90

3.2.4 - Olhar para outro animal ou pessoa e se afastar, distração e passar direto. 91

3.2.5 - Curiosidade e especular sobre o animal. 92

3.2.6 - Apontar e procurar o animal. 93

3.3.0 - Análise dos Viveiros. 93

3.3.1 - Lago dos Jacarés - Jacaré-de-Papo-Amarelo. 94

3.3.2 - Viveiro da Arara-Azul-Grande. 95

3.3.3 - Ilha do Macaco-Aranha-de-Cara-Vermelha. 96

3.3.4 - Viveiro do Gavião Real. 98

3.3.5 - O Lago do Hipopótamo. 99

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3.3.6 - A Ilha do Iguana. 100

3.3.7 - O Viveiro do Tigre-Siberiano. 101

3.3.8 - O Viveiro do Urso-de-Óculos. 101

3.4.0 - Comportamento dos Animais. 102

3.5.0 - Comportamento dos Grupos Etários Amostrados. 104

3.6.0 - Pesquisa Qualitativa. 105

3.6.1 - Conjunto dos Motivos do Grupo Social. 105

3.6.2 - Roteiro - Ponto de Partida Monumental. 108

3.6.3 - Rotas de Visitação. 109

3.6.4 - Cobras Aqui! Espaço "Cobras e Lagartos". 112

3.6.5 - Muito mais do que um viveiro . 113

3.6.6 - O Macaco e o Anti-Macaco. 114

3.6.7 - Pojeto Humanizoo. 115

3.6.8 - Discussão. 119

3.6.9 - Consideraçãoes Finais. 121

3.7.0 - Projetos Educativos. 122

3.7.1 - Projeto Monitores de Viveiro. 122

3.7.2 - Projeto Bicho Fala Sério! 126

3.7.3 - Projeto “Álbum de Família”. 129

3.7.4 - Projeto BatiZoo. 132

3.7.5 - Projeto ViaZoo. 134

3.7.6 - Projeto “Brasil Fauna Já”. 136

3.7.7 - Projeto Zoo é Lógico! 138

3.8.0 - Visitas Orientadas Não-Convencionais. 139

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3.8.1 - "Plantio de Gongolo” - Orientando a Criançada. 139

3.8.2 - Projeto “Pulando a Cerca”. 141

3.8.3 - Projeto Zoo à Noite - “Zoo by Night”. 142

4 - REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 143

5 - APÊNDICES 148

Anexo I Descrição dos comportamentos. 148

Anexo II Etograma. 149

Anexo III Prevalência relativa dos comportamentos do público amostrado. 150

Anexo IV Roteiro do Jardim Zoológico na Quinta da Boa Vista, 1958. 151

Anexo V Índice dos Animais - Setembro de 1958. 152

Anexo VI Planta de Situação do Zoológico - 2004. 153

Anexo VII Índice dos Animais - Maio de 2010. 154

Anexo VIII Sugestões para ressignificar a entrada do público no Jardim Zoológico. 155

Anexo IX Planta de ampliação da área de visitação da Fundação Rio-Zoo. 156

Anexo X Gráficos da pesquisa quantitativa - 2001. 157

Anexo XI Desempenho do público sobre o conhecimento dos animais no Zoo. 158

Anexo XII “Ranking” dos animais mais conhecidos pelo público da Rio-Zoo. 159

Anexo XIII Esqueceram dos bichos brasileiros - O Globo. 160

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Anexo XIV - Eles também querem ser celebridades - Correio Braziliense. 161

Anexo XV - Que Pena! Nossos animais são pouco conhecidos - Correio Braziliense. 162

Anexo XVI - Que Pena! Nossos animais são pouco conhecidos II - Correio Braziliense. 163

Anexo XVII - Ele não é brasileiro - O Estado de São Paulo. 164

Anexo XVIII -Você conhece a nossa fauna? - O Estado de São Paulo. 165

Anexo IXX - Animais em extinção nos Zoológicos - O Estado de São Paulo. 166

Anexo XX - Estrangeiros - O Estado de São Paulo. 167

Anexo XXI - Brasileiros - O Estado de São Paulo. 168

Anexo XXII - Os bichos que só gostam da noite - Correio Braziliense. 169

Anexo XXIII - Os corujões - Correio Braziliense. 170

Anexo XXIV - Os corujões II - Correio Braziliense. 171

Anexo XXV - Boa-noite, bichinhos! - Correio Braziliense. 172

Anexo XXVI - Cartilha Zoo à Noite. 173

RELAÇÃO DAS FIGURAS

Figura 01 - A Evolução dos Zoos. 39

Figura 02 - O Portão Monumental - Entrada Principal. 41

Figura 03 - Transformações na arquitetura da residência real na Quinta da Boa Vista. 43

Figura 04 - Paço do Imperador do Brasil em São Christovão. 44

Figura 05 - O Barão de Drummond. 45

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Figura 06 - Painel “Floresta Amazônica” de Cândido Portinari. 50

Figura 07 - A Logomarca da Fundação Rio-Zoo. 50

Figura 08 - Três Momentos da Vida do Macaco Tião. 51

Figura 09 - Charles Sanders Peirce (1839-1914). 54

Figura 10 - Imagem Ambígua - a "percepção mutável". 62

Figura 11 - Macacos se entreolhando ou um vaso? 62

Figura 12 - Iguanas mimetizando os ramos de uma árvore. 63

Figura 13 - Sapo-de-Chifre e a serrapilheira de uma floresta. 63

Figura 14 - O modelo dos filtros de percepção do mundo real. 68

Figura 15 - O intenso movimento nos viveiros dos grandes felídeos. 82

Figura 16 - Modelo da placa informativa do Espaço “Cobras e Lagartos”. 90

Figura 17 - Visitantes diante do viveiro recém-reformado do Jacaré-de-Papo-Amarelo. 94

Figura 18 - Um Socó sendo observado pelo Jacaré-do-Pantanal. 95

Figura 19 - Viveiro da Arara-Azul-Grande. 96

Figura 20 - Diferentes categorias etárias podem ser visualizadas na “Ilha dos Macacos”. 97

Figura 21 - O Viveiro do Gavião-Real. 98

Figura 22 - O Lago do Hipopótamo em 2004 e 2009. 99

Figura 23 - Descobrindo os Iguanas. 100

Figura 24 - A “Ilha dos Iguanas” em 2007 e em 2009. 100

Figura 25 - Viveiros do Tigre Siberiano e do Urso-de-Óculos. 101

Figura 26 - Marco de Entrada. 109

Figura 27 - Para que Serve um Zoo? 110

Figura 28 - Panoramas e Detalhes do espaço Cobras e Lagartos. 112

Figura 29 - Detalhe do Antigo Viveiro da Sucuri em 1979 no Zoo do Rio. 113

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Figura 30 - O Jacaré-do-Pantanal apresando uma cobaia diante do público. 115

Figura 31 - Demonstrações do manejo alimentar de grandes répteis - Projeto Humanizoo. 116

Figura 32 - O hábito arborícola da Píton Reticulada na “Ilha das Serpentes”. 117

Figura 33 - Placa informativa ressignificada com linguagem iconográfica. 120

Figura 34 - Portal “ZOOéLÓGICO”. 138

Relação das Tabelas e Gráficos.

Tabela 1 - Diversidade de vertebrados no Brasil e no mundo. 28

Tabela 2 - Faixas Etárias Amostradas. 76

Tabela 3 - Animais escolhidos e suas localizações no Zoológico por setores e viveiros. 78

Gráfico 1 - Tempo médio de observação dos visitantes diante dos animais. 88

Gráfico 2 - Prevalência relativa dos comportamentos dos visitantes na Rio-Zoo. 150

Gráfico 3 - Local de origem dos visitantes do Zoo do Rio de Janeiro. 157

Gráfico 4 - Correlação (%) da frequência de visitação com o conhecimento. 157

Gráfico 5 - Desempenho do público sobre o conhecimento dos animais exóticos. 158

Gráfico 6 - Desempenho do público sobre o conhecimento dos animais brasileiros. 158

Gráfico 7 - “Ranking” dos animais mais conhecidos pelo público da Rio-Zoo. 159

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1 - INTRODUÇÃO

1.1 - Considerações Iniciais.

Pertence ao senso comum, a noção de que somente enfrentando e ultrapassando barreiras,

se consegue vencer na vida. No trabalho do educador, isso significa subverter paradigmas para dar

exequibilidade à educação, uma das principais finalidades de um Jardim Zoológico. Ao longo de sua

trajetória no Zoo, como educador e como técnico de biologia, o autor se deparou com uma ampla

gama de esquemas impostos e de condições situacionais desfavoráveis ao processo educacional. Uma

facticidade expressada através de diversas maneiras, tais como: a organização da exposição dissociada

de roteiros representativos à educação ambiental, a sobre-enfatização da linguagem científica nas formas

de comunicação pública, a desvalorização de pontos referenciais históricos, de funcionários técnicos e

do próprio departamento educacional, tradicionalmente sub-dimensionado, numa instituição com uma

extraordinária missão cultural e educacional. Esta pesquisa já estava em curso, quando o autor foi

convidado a trabalhar em outro setor de maior estabilidade, por impor um relativo respeito às constantes

interferências político-partidárias. Aceitando o convite, foi transferido, em julho de 2007, do Centro

de Educação Ambiental e Pesquisa - CEAP, para a Diretoria Técnica - DTE, a fim de atuar como

Subgerente do Núcleo de Répteis, fato fundamental para sua valorização profissional e que possibilitou

uma visão da instituição por meio de outra dimensão, propiciando a percepção de que o Setor de

Répteis - SUART, tal qual o CEAP, experimentou uma trajetória de desatenção institucional. Com

efeito, a SUART permaneceu sem um curador por três anos. Ao iniciar as novas atribuições, o autor

se deparou com instalações sucateadas, tratadores desmotivados e descrentes, além de uma cultura

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de que os répteis são animais que requerem pouca atenção, podendo ser mantidos em qualquer

lugar e até, com sobras de alimento.

A pesquisa como um todo, pode ser considerada uma crítica refletida, através de uma

síntese dos opostos, seja na interface animal-visitante ou, mais especificamente, entre grupos

sociais com valores e motivações bem distintas. De um lado, os técnicos de biologia, via de regra,

empenhados em desenvolver uma imagem perante os demais funcionários, além de uma

preocupação constante em atualizar e aperfeiçoar os seus conhecimentos. Do outro lado, o público,

um mero desconhecido. Segundo concepção dos técnicos; aquele que só é lembrado quando

causa problemas, atrapalhando o nobre trabalho do especialista ou então, quando comumente

interpreta de forma deformada os fenômenos ambientais. À margem de todo processo, encontra-

se o tratador de animais, um constituinte sócio-ambiental da maior relevância à transmissão da

mensagem institucional, mas que vem sendo subutilizado para este último fim. No que tange ao

público, se destacam as crianças, movidas por um forte sentido de descoberta, que vêm ao Zoo para

ver e conhecer os animais. As crianças são trazidas pelos adultos, que procuram reviver, com os seus

entes queridos, os emocionantes momentos que passaram no Zoo na sua tenra idade. Por seu turno, o

Zoológico enquanto organização, apesar de ter sido esquecido pelo poder público, necessita

transmitir sua mensagem institucional, que é inerente a sua própria existência e que está diretamente

relacionada aos princípios éticos e culturais da instituição (Seção 1.2.7). Esta pesquisa procurou

avaliar se essa mensagem está chegando ao visitante. Para tanto, partindo de uma pesquisa de

etologia aplicada que estudou o comportamento do público em relação aos animais e ao

ambiente, o autor realizou amostragens à paisano, propiciando aos visitantes, o

comportamento natural de considerar o pesquisador como parte do público. E assim, imerso

nesse contexto social, o autor percebeu a existência de outras faces e dimensões da apreensão

da realidade não consideradas pelo método científico, ocasião em que passou a adotar a

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abordagem fenomenológica. “Esta tese refere-se a algo, que embora não ausente, se mostra

silenciado, interdito, velado, o qual a fenomenologia deve ‘fazer ver’ até tornar-se fenômeno

quando desvelado” (HEIDEGGER, M., 1997). Enquanto método, a fenomenologia foi adotada

nesta pesquisa com o propósito de descortinar significados, motivações e representações de um

grupo social formado, principalmente, por visitantes, técnicos e tratadores, por meio da

interpretação das suas respectivas especulações, deliberações e potencialidades. Nesse percurso,

tornou-se claro, que o ambiente do Zoo não é constituído apenas por animais, plantas e fatores

abióticos. Segundo Enrique Leff, o ambiente é uma dimensão social (LEFF, E., 2003). Ademais,

no exercício de suas ações, o ser humano não é um ser isolado, pois, convive numa teia social,

permeada por fenômenos sociais, como a linguagem, e a transmissão de conhecimentos e valores.

Assim, naturalmente, os seres humanos, enquanto seres sociais e liguísticos, movidos por desejos,

preferências e emoções, manifestam avidez por interações ambientais, na busca da evolução de

sua pessoalidade, onde o conhecer e o sentir são ações indissociáveis. Nesse sentido, a proposta

desta pesquisa é promover a prospecção e a transmissão de conhecimentos objetivos e subjetivos,

orientados pelas dimensões espaço e tempo, de modo a externalizar um saber sócio-ambiental, pertinente

a evolução da coletividade-alvo e à missão institucional da Fundação Rio-Zoo.

1.2 - Jardim Zoológico: O que é e para que serve?

Os Zoos são instituições históricas e culturais que se ocupam da gestão e do manejo

de animais selvagens e domésticos, visando, além da conservação das espécies em

confinamento, a exposição pública de sua coleção viva de animais, tendo como principais

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atribuições; a conservação, a pesquisa e, sobretudo, o compromisso de contribuir com a educação

ambiental dos visitantes e da comunidade. Vale ressaltar, que a noção desses princípios, está restrita

aos técnicos e gestores de Zoos. Escassamente debatido no tecido social, os Zoológicos são instituições,

que antes mesmo do seu surgimento no Século XIX, percorreram trajetórias relevantes na história da

humanidade, desde as elitizadas coleções particulares de animais da Antiguidade, passando pelas

menageries1 das monarquias européias, igualmente frequentadas exclusivamente pela nobreza, mas já

suficientemente influenciadas pelos avanços científicos da Idade Moderna e pelas revoluções sociais,

que subverteram o poder dos nobres e transformaram suas respectivas coleções particulares em bens

públicos, nascendo assim os Zoológicos (KOEBNER, L., 1994). Os Zoos, portanto, surgiram no

Século XIX, por influências de movimentos científicos e sociais do final do Século XVIII. No Século

XX, os Zoos experimentaram as revoluções industriais e os consequentes impactos aos sistemas

ecológicos e a fauna selvagem, condicionando algumas dessas instituições a uma mobilização relacionada

à causa ecológica e ao bem-estar contínuo das espécies cativas. Com advento do século XXI, o tema

principal dos Zoos passou a ser o ambiente, o que implica, numa tentativa de readaptação do ser

humano à natureza2 .

1.2.1 - Características Físicas.

O Jardim Zoológico está localizado na Quinta da Boa Vista no Bairro Imperial de São

1. Palavra de origem francesa e do gênero feminino, que significa coleção de animais em gaiolas.

2. Para os pré-socráticos a natureza é a physys, ou seja, a essencialidade e a totalidade, tudo que envolve todo omundo, inclusive o próprio homem (COLLINGWOOD, R.G., 1945. Apud. EUNAUDI, Enciclopédia, 1990).

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Cristóvão. Atualmente, ocupa uma área de 132 mil m2 , podendo ganhar mais 100 mil m2 quando

concretizar sua ampliação (Anexo IX). Situa-se a 44 m de altitude, a 23o 54'S e 043o13'W, a 2 km de

distância da Baía de Guanabara e a cerca de 7 km do Sumaré na vertente norte do Maciço da Tijuca.

O clima predominante enquadra-se no tipo Aw de Koppen, clima tropical quente e úmido, com verão

chuvoso e inverno seco. Há poucas precipitações na estação seca que vai de junho a meados de

setembro e possibilidade de precipitações intensas na estação chuvosa, de dezembro a abril. No

verão, a temperatura é elevada e o mês mais quente é fevereiro. A exemplo do que acontece com

outros bairros voltados para a vertente norte do Maciço da Tijuca, o clima de São Cristóvão é mais

quente no verão. Com efeito, além de receber os primeiros e os últimos raios de sol do dia, o maciço

bloqueia os ventos oriundos do quadrante sul e as constantes brisas carregadas de umidade vindas do

mar, esses fatores em conjunto, podem resultar numa incidência de calor maior do que a vertente sul.

Acrescente-se a isso, o fato das vias e alamedas do Zoo serem asfaltadas, o que possibilita no verão,

uma sensação térmica de cerca de 45 a 50o C nos horários de maior incidência solar.

1.2.2 - O Jardim do Zoo.

Nos idos de 1868, o eminente paisagista francês Auguste François Marie Glaziou,

apresentou a Dom Pedro II, um plano para a organização de um jardim e um pomar na então

Imperial Quinta da Boa Vista (CASADEI, T. de O.,1985). Em 1895, já no estado republicano,

instalou-se ali a Inspetoria Geral de Matas, Jardins, Arborização, Caça e Pesca, um órgão do

governo federal. Em 1910, este local, que ficava entre uma antiga escola municipal e o morro dos

Telégrafos, foi escolhido para instalação do Jardim Zoológico. Em 1930 esta área passou ser

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o Horto Florestal da Prefeitura (GABRIEL DE MELO, R. A. e outros, 1991).

Realmente, salta aos olhos, a grande concentração de árvores do Jardim do Zoológico, em

comparação à arborização da Quinta da Boa Vista que tem uma área bem maior. Ademais, há

consideráveis similaridades na composição florística. Ocorre que, algumas dessas árvores, prá lá de

centenárias, encontram-se adoentadas, seja por infestação de cupins, pela ação das intempéries, pela

poda inoportuna ou mal-concebida. Por conta dos aguaceiros de verão, regularmente algumas delas

caem e danificam as edificações e viveiros.

1.2.3 - Roteiros de Visitação.

Desde o Século XIX, vários Zoos foram surgindo na Europa e nas Américas. De lá para

cá, essas instituições vêm evoluindo tanto na modernização da concepção dos viveiros, quanto no

manejo das espécies, no desenho de suas áreas de exibição e no paisagismo. Isso naturalmente se

refletiu nas suas respectivas concepções e organizações espaciais. O desenho da área de visitação

do Jardim do Zoo do Rio de Janeiro é considerado de origem francesa, em virtude do

traçado das suas vias e caminhos prevalecer uma ordem geométrica e harmônica,

característico do jardim francês. Em relação a organização da exposição, o Jardim Zoológico,

representa um Zoo do tipo lineano, pois, na disposição da sua área de visitação, ainda se

observa uma organização por classes animais. Essa organização, pode ser observada na

classe dos répteis, ainda alojados em setores restritos e contínuos (Anexo VI). No tocante aos

roteiros de visitação, em publicações da década de cinquenta (REV. JARD. ZOOL., 1958), os

gestores do Jardim Zoológico do então Distrito Federal, criaram um roteiro de visita único, com

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uma circulação marginal, conectando numerosas regiões de visitação com vias não hierarquizadas e

muito parecidas (Anexo V). Esse tipo de roteiro, com ligeiras modificações ainda prevalece, sendo

demasiadamente extenso e cansativo. Em virtude das vias serem muito parecidas umas com as outras,

o visitante fica confuso e, comumente, passa pelo mesmo local por várias vezes, dificultando a sua

orientação. Dessa forma, não é proprorcionado ao público, uma experiência coerente, que guie o

mesmo, harmônicamente, através das várias regiões hierarquizadas de exibição (Seção 1.6.9),

conforme preconizado pelas modernas configurações de circulação do público em Zoológicos

(COLLADOS, G. S., 2004).

1.2.4 - Qual a Expectativa do Público?

Não há como refutar, que os animais estrangeiros, sobretudo, os africanos, devido

principalmente, a uma associação concomitante de qualidades da forma3, provocam motivações

externas incoercíveis nos visitantes. Na verdade, não é possível deixar de se impressionar com o

tamanho e a forma bizarra de um Elefante, uma Girafa, um Leão, uma Zebra, um Rinoceronte e

um Hipopótamo. É fácil constatar a expressiva popularidade desses animais, basta perguntar a

qualquer visitante, antes da entrada do Zoo, quais animais ele pretende ver, que ele imediatamente

responderá que quer ver, no mínimo, três dos animais mencionados. Isso é uma verdade, contudo,

3 - Na estética de um animal destacam-se as qualidades da forma, tais como: a extensão, o volume e a excentricidade,que provocam a motivação externa nas pessoas. Quando essas qualificações estéticas estão presentes em umamesma espécie, o animal expressa fortísimo apelo visual e torna-se extremamente popular. É o que acontece com oElefante que além do tamanho, tem uma tromba bizarra, a Girafa tem o pescoço comprido, o Leão a juba e a Zebra aslistras.

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o “Brasil tem muito de superlativo, quando o assunto é fauna” (MITTERMEIER, R., 1998), tanto em

tamanho quanto em exotismo, mas, sobretudo, em diversidade4 (Tabela I).

1.2.5 - Gigante Pela Própria Natureza.

Embora, a fauna brasileira não conte com mamíferos de grande porte, como aqueles

encontrados nos países africanos, engana-se quem pensa que no Brasil não existam grandes animais

selvagens. Em nosso país, além do mais possante gavião do globo, o Gavião Real, encontramos

a maior arara existente, a Arara-Azul-Grande. Nadam pelos rios brasileiros, o maior peixe com

escamas conhecido, o Pirarucu e o maior jacaré das Américas, o Jacaré-Açu. Na Amazônia, no

Pantanal e em outros biomas, vivem: a Sucuri, a mais pesada serpente do planeta5 e o maior

roedor do mundo, a Capivara. No Cerrado, encontramos o Lobo-Guará e o Tatu-Canastra, o

primeiro, o mais alto canídeo conhecido e o segundo, o maior tatu do globo. Compõem

ainda a fauna brasileira, o maior primata e o maior felídeo das Américas, respectivamente, o

Muriqui e a Onça-Pintada ou Jaguar6. “Nossos risonhos, lindos campos têm mais flores,

Nossos bosques têm mais vida" - Joaquim Osório Duque Estrada. Conhecido como o país da

4 -Toda nação tem três tipos de riqueza, quais sejam: riquezas material, cultural e biológica. Biodiversidade, diversidadebiológica ou riqueza biológica constitui a riqueza e variedade do mundo natural. É importante considerar este termoem dois níveis diferentes: todas as formas de vida, assim como os genes contidos em cada indivíduo, e as interrelaçõesentre estes seres, vez que, nos sistemas ecológicos a existência de uma espécie afeta diretamente muitas outras.Estima-se que o Brasil detenha cerca de um quinto de todas as espécies existentes no mundo.

5 - Segundo (VIZOTTO, L.D.,2003) p.148-9, já foi abatida, uma Sucuri (Eunestes murinus) com 12 metros, mas, não foiregistrada no Guinness Book, onde consta desde 1912, uma Píton (Python reticulatus) com 10 metros.

6 - Digno de nota, foi a adoção pelos EUA do termo Jaguar de origem Tupi-guarani. Já no Brasil, por influência doeuropeu, foi adotada a designação Onça, originada de Uncia uncia, um felídeo exótico (FEDULLO, L.P., com. pess.).

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megadiversidade, o Brasil reúne o mais elevado número de espécies de animais selvagens do mundo.

Só de vertebrados, são mais de seis mil espécies já identificadas pela ciência. O Brasil, no "ranking"

mundial da biodiversidade, ocupa a primeira posição em número de espécies de peixes de água doce,

de mamíferos e de anfíbios, a segunda colocação em répteis e a terceira em aves (Tabela 1).

1.2.5.1 - O Brasileiro Conhece a Fauna do Brasil?

Refletindo sobre essa questão, foi desenvolvida uma avaliação cognitiva para aferir o

Tabela 1 - Diversidade de vertebrados (em nº de espécies descritas) no Brasil e no mundo -percentual de espécies endêmicas do Brasil, e posição no “ranking” mundial de diversidade(modificado de SABINO, José e Prado, Paulo Inácio, 2000)*- a,b,c (2010)

CLASSES

Peixes semmandíbula

Peixescartilaginosos

Peixes ósseos

Anfíbios

Répteis

Aves

No de espéciesno mundo

No de espéciesno Brasil

Endemismo Brasil (%)

“Ranking” dadiversidade no

Brasil

Mamíferos

83

960

ca. 23.800

6.709

4.580

9.823

4.715

TOTAL

1

137 marinhos

857 marinhos

ca. 1.800 água doce

875*(a)

719*(a)

1.800*(b)

589*(c)

ca.10%

57%(8)

37%(8)

11%(8)

25%(11)

1o

1o (a)

2o (a)

1o

3o

_ _

_ _

_ _

ca. 50.658* 1o_ca.6.778*

Fontes: 1. a. SEGALLA, Magno, 2010; b. GOERK, Jaqueline, 2010; c. COSTA, L.P. e outros, 2010.

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nível de conhecimento do público sobre os animais da fauna brasileira (JABOUR, M., 2001).

Como esperado, dentre os resultados desta pesquisa probabilística foi revelado que, a maioria

dos visitantes do Zoo do Rio, demonstra uma grande dificuldade de identificar as espécies da

fauna brasileira de regular penetração na mídia e, portanto, de ampla visibilidade social, em

detrimento, de um excelente desempenho na identificação das espécies originadas de outros países

(Anexo XI), principalmente, as espécies africanas citadas, presentes na maioria dos Zoos.

Além disso, a mesma pesquisa indicou que os visitantes com maior frequência de visitação

no Zoo, quando comparados àqueles menos assíduos, apresentam um desempenho semelhante

em relação ao conhecimento do nome e da origem dos animais brasileiros (Anexo X). Dentre as

várias interpretações, essa tendência reforça a noção, de que o conhecimento é socialmente

construído. Mas também sugere, que apesar do plantel do Zoo, estar muito bem representado

por espécies da fauna nacional, as informações sobre os animais brasileiros não estão atingindo o

grande público.

1.2.6 - Etologia e Fenômeno Aperceptivo.

Mister considerar, que a maior parcela do público doméstico é motivado, principalmente,

pelo lazer com os animais popularmente considerados os mais famosos e atraentes,

preferencialmente os exóticos. Segundo James Gibson, (apud. OLIVEIRA, F. I. S. e

Rodrigues, S. T., 2006) “as pessoas querem ver aquilo que já conhecem”. Não obstante,

naturalmente, acontece do público estrangeiro, ao visitar um Zoológico brasileiro, dar

preferência em observar às espécies da fauna brasileira, que em geral, o turista, só

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conhece através de fotografias e vídeos. Contudo, uma desafiante questão persiste:

considerando que o Brasil é a nação que reúne o mais elevado número de espécies de

vertebrados do mundo (MITTERMEIER, R., 1998), por que ocorre esse desconhecimento,

logo num Jardim Zoológico da segunda maior cidade brasileira, considerada a capital cultural

da nação? Curioso e preocupado com essa questão, o autor se debruçou no estudo da

etologia aplicada e, como resultado, desenvolveu uma pesquisa comportamental com o

público do Zoo. Para tanto, partiu de uma metodologia adaptada da eficiente e pioneira

pesquisa de etologia aplicada desenvolvida no Pólo Ecológico Jardim Zoológico de Brasília

por um ecólogo, (BIZERRIL, M., 2000), que analisou o comportamento do público em

relação aos animais selvagens daquele Zoológico.

No trabalho desenvolvido no Zoo do Rio, o autor aplicou o método etológico de

forma contextualizada, valendo-se de sua especial experiência como educador e biólogo de

Zoológico. Dessa forma, modificou, ajustou e ampliou o alcance da metodologia aplicada

no Zoo de Brasília. Contudo, nos intervalos entre as amostragens, a interação com o

ambiente, transformou o autor em sujeito e objeto de seu próprio procedimento investigativo.

Vale destacar, que do olhar atento e regular para o comportamento do ser humano

surgiu o fenômeno aperceptivo, ou seja, a sensação de se colocar no lugar do outro, ou, no

caso específico desta monografia, de perceber o ambiente do Zoológico com os olhos do

visitante, do biólogo e do tratador. Além do exercício de superação humana peculiar ao

fenômeno mencionado, o ato de colocar-se no lugar do outro, trouxe à tona, detalhes

normalmente imperceptíveis ao biólogo, em geral preocupado, exclusivamente, com o

conhecimento objetivo. Por conta disso, em várias ocasiões, a visão estereotipada da maioria

dos técnicos em relação ao público e aos próprios tratadores de animais, foi submetida à

epistemologia e a análise fenomenológica.

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1.2.7 - A Lógica do Zoo e a Mensagem Institucional.

Pode aparentar apenas um jogo de palavras. No entanto, vale esclarecer, que para

Pierce7 em suas Ciências Normativas, a ética determina a lógica e estas últimas, são

estabelecidas pela estética. No contexto de um Jardim Zoológico, isso equivale ao seguinte

raciocínio: a percepção de um mundo paisagístico representado por um Jardim, remete ao

sentido de maravilha da natureza proporcionada por um ambiente modificado, concebido

pela humanidade ou pelo criador8. Por conta disso, constitui um pensamento correto, a

necessidade de cuidar desse Jardim, no caso, do Jardim Zoológico, portanto, o próprio

ambiente do Zoo é gerador da ética que lhe cabe. Vem daí a expressão, o Zoo é lógico, ou

seja, a estética representada pelo ambiente construído determina a sua própria ética, e, por

conseguinte, constitui um raciocínio correto e, portanto, lógico conservar este ambiente.

No entanto, para dar sentido a tudo e conduzir o raciocínio em ação, como preconiza

o método do pragmatismo lógico peirciano (Seção 1.5.2) é necessário subverter uma série

de paradigmas e cuidar de transmitir a mensagem institucional que tem tudo haver com o

raciocínio lógico acima.

8 - Segundo interpretação do mito religioso Cristão, textualizado na Bíblia, Deus, criador do mundo e da vida,entregou ao homem um jardim e um pomar, cuja história, revela a existência de uma metáfora do fruto proibido, cujoconsumo por Adão, através da interferência da serpente, causou a sua expulsão juntamente com Eva desse JardimParadisíaco, condicionando ambos a uma vida de contínuo sofrimento pela perda do paraíso. A crença da recuperaçãoda paz e da harmonia do paraíso perdido, seja, através de sonhos, da arte ou da criação paisagística, remete,mitologicamente, as pessoas ao resgate daquilo que pertence ao homem.

7 - Charles Sanders Peirce (1839-1914) foi responsável pelos fundamentos da semiótica (estudo dos símbolos,significados e representações) e pela criação de um método filosófico, o pragmatismo. Para se ter uma idéia da suacontribuição, Peirce está para semiótica, assim como Lineu está para biologia e Mendelev está para a química.

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Num ambiente construído, como é o Jardim Zoológico, o Portão Monumental, representa

uma forma de expressão humana, simbolizando com a sua estética neoclássica, aspectos culturais que

recaptulam valiosos trechos da História do Brasil e do Rio de Janeiro. Seguindo uma linha de raciocínio,

no mínimo razoável, seria esperado que o mencionado Portão continuasse sendo usado pela instituição

como a entrada para o público (Figura 2), o que na prática não procede. Um outro exemplo, constitui

a subutilização do tratador de animais no processo de transmissão da mensagem institucional9. Dessa

forma, a teoria da significação peirciana e seu pragmatismo lógico, se ajustaram perfeitamente à finalidade

desta monografia, que é subverter paradigmas a fim de resgatar o sentido de vários aspectos institucionais.

Há ainda, outros aspectos relacionados à mensagem institucional que são negligenciados, como a

nomenclatura popular dos animais. Com efeito, a gênese do conhecimento sobre os animais ocorre

através do nome popular de cada espécie, no entanto cerca de 20% das espécies do plantel apresentam

denominações populares de reduzido significado, inclusive, há diversos casos de animais com nomes

depreciativos ou pejorativos, que sob a óptica educacional, contribuem com crendices, preconceitos e

devalorizam essas espécies. Contudo, essa carência esbarra na indiferença dos técnicos de biologia.

Nesse sentido, considerando a racionalidade, o simbolismo, o caráter convencional da linguagem e,

finalmente, a prerrogativa de Subgerente de Répteis, foram ressignificados os nomes vulgares de várias

espécies de répteis. Vale dizer, que isso foi levado a efeito, visando possibilitar ao público à percepção

da diversidade da fauna brasileira, uma peculiaridade marcante da riqueza faunística nacional,

inadvertidamente, imperceptível para o público no Zoológico.

9 - (...) gostaríamos de chamar a atenção para um grupo de participantes do cenário zoológico que nãocostuma ser percebido como autêntico educador: o tratador de animais. Estamos mais acostumados a reconhecero técnico de nível superior como o “responsável” pela educação ambiental. Nem sempre “vemos” o tratadorcomo um educador, mas ele assim o é, através de seu trabalho, durante suas rotinas diárias. Programasde zoo-educação devem incluir a capacitação regular de seus tratadores como educadores ambientais,visando assim o seu aperfeiçoamento (ROCHA-E-SILVA, R. da, 2004).

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1.2.8 - Ponto de Referência e Roteiros.

Enquanto linguagem e, sob a óptica da multidisciplina Comportamento-Ambiente, a mais

pública das artes, a arquitetura, introduziu a pesquisa na coordenada espaço, propiciando a

percepção de como o roteiro de visitação do Jardim Zoológico pode ser otimizado, com a

nominação das ruas e alamedas da área de exposição dos animais (Seção 3.7.5), através da

simbologia vigente no meio urbano e com um mais eficiente uso dos pontos de referência da

instituição ou “landmarks” (LYNCH, K., 1960. Apud SOUZA, C. L.,1995). Particularmente,

este é o caso do Portão Monumental, o maior monumento arquitetônico institucional, relegado,

literalmente, a último plano. Para subverter esse esquema imposto, uma proposição relativamente

simples foi apresentada (Anexo VIII). Ademais um roteiro de visitação foi sugerido (Anexo VI),

considerando a necessidade de criação de zonas de visitação hierarquizadas e de configurações

que observem os três elementos básicos que organizam a experiência do público: um acesso, um

espaço de distribuição e os roteiros de visitação, que devem ser coerentes com todos os aspectos

da mensagem instituciomal (COLLADOS, G. S., 1997).

1.2.9 - A Educação Ambienal e a Gestão Ética das Organizações.

A abordagem da monografia que aqui se alinha, teve forte influência da educação

ambiental. Nesse sentido, o ambiente foi considerado em sua totalidade, ou seja, em seus aspectos

natural, social, econômico, histórico, cultural, físico, estético, ético e político. O autor não tem

dúvida, de que o contexto político é o que mais interfere. Com efeito, a sucessão das várias

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castas administrativas, legitimadas pelos pleitos municipais e estabelecidas pela política partidária,

subverteu o sentido de uma série de aspectos do Zoo ao longo de suas respectivas gestões10. Via de

regra, essas castas administrativas ingressavam no Zoo com objetivos exógenos e investidos em cargos

de segundo e terceiro escalões da administração municipal. Raramente, os grupos políticos-partidários

valorizavam ou, simplesmente escutavam os antigos funcionários, muito pelo contrário, eles enxergavam

os servidores mais experientes como adversários e então, perseguiam, desqualificavam, constrangiam,

transferiam e exoneravam, os servidores com mais de 20 anos de casa, em detrimento de inexperientes

grupos técnicos-administrativos, que ao longo dos anos, ofuscaram a imagem do Zoológico no âmbito

da administração municipal.

A presente pesquisa, se apropriou dos fundamentos do modelo antropológico para gestão

ética das organizações (LOPEZ, Perez, 1991). Segundo este autor, os entraves na evolução das

instituições e a maior parte de seus problemas, não são os de caráter econômico e tecnológico, mas

sim, os antropológicos e sociológicos, pensamento que guarda semelhanças com a filosofia

fenomenológica e com a epistemologia ambiental, que aponta, com muita propriedade, que “a crise

ambiental é o resultado da crise do conhecimento” (LEFF, E., 2006). Perez Lopes, considera

ainda, que o ser humano se dirige sempre para fora de si mesmo, por intermédio de sua

autotranscendência, assim, a conduta humana, só é realmente humana, na medida em que signifique

“agir no mundo”. “O homem é um ser no mundo” (HEIDEGGER, M., 1997), e este salto humano

para fora de si mesmo, ou seja, a superação pessoal, constitui a essência desta monografia.

10 - Para se ter uma idéia, a Fundação Rio Zoo, já esteve subordinada: a Secretaria de Obras Públicas; a Secretaria deMeio Ambiente (SMAC); a Secretaria Especial de Proteção e Defesa Animal; a Secretaria da Casa Civil (2009), sendoque, em apenas um ano da nova gestão municipal (2009-10), a instituição já está no seu tercerio presidente e,recentemente, retornou a SMAC . Na verdade, quando comparada, as cobiçadas pastas de governo, com orçamentosastronômicos, uma fundação municipal como é a Rio-Zoo, desperta pouco interesse do partido majoritário instituído,que, via de regra, acaba destinando para partidos de menor expressão, a própria sorte da administração do Zoo.

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1.3.0 - Projetos de Educação Ambiental.

Essa monografia não constitui um projeto de educação ambiental, mas sim, uma associação

rara de abordagens de pesquisas, que visa propiciar subsídios à educação. Não obstante, devido a

necessidade de contextualização dos fundamentos das ações educacionais, o autor entende que, na

Rio-Zoo, educação ambiental deve ser um processo permanente de construção de um campo comum

de experiências e vivências entre funcionários e visitantes, sobre o ambiente local, de modo despertar

na coletividade uma convivência consequente, salutar, e útil com a fauna, flora e, obviamente, com os

animais cativos, através do desenvolvimento de oportunidades de aprendizagens sobre os saberes do

mundo animal, com destaque para às espécies brasileiras, sem contudo, desprestigiar os animais exóticos.

A valorização do que é nosso, não deve ser considerado apenas em termos de objetividades,

daí a necessidade de valorizar a memória institucional e de ilustres brasileiros esquecidos pelo tempo11,

mas que foram pioneiros nas suas idéias ambientalistas.

Um exemplo clássico diz respeito a crítica ambiental no Brasil, que não é recente ou

importada, foi simplesmente esquecida pela maioria dos intelectuais e dos livros de educação

ambiental nacionais. O pioneirismo do Movimento Ambientalista Brasileiro, que durou 102 anos

(de 1786 a 1888), foi contextualizado e muito mais profundo do que a obra da escritora

“Destruir matos virgens,... e sem causa, como até agora se tem praticado no Brasil, éextravagância insofrível, crime horrendo e grande insulto feita à natureza. Que defesaproduziremos no tribunal da Razão, quando nossos netos nos acusarem de fatos tãoculposos?” - José Bonifácio, 1821 (Apud. PÁDUA, J. A., 2004).

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norte-americana Rachel Carson, através do livro "Silent Spring", publicado em 1962 e considerado

como o pioneiro marco da educação ambiental no Brasil (PÁDUA, J. A., 2004).

Segundo Paulo Freire "não existe ensinar sem aprender (...) o ato de ensinar exige a existência

de quem ensina e de quem aprende". E acrescenta:

Constituiu uma circunstância feliz, saber que as reflexões que culminaram com a escolha

do caminho fenomenológico, foram motivadas por descobertas oriundas da enriquecedora relação

professor-aluno12. Com efeito, paralelamente a pesquisa de etologia, a veia educativa do autor

pulsava forte com uma nova e valiosa dinâmica infantil, balisada em recortes da pedagogia de

Piaget, segundo a qual, "o jogo é um tipo de atividade particularmente poderosa para o exercício

da vida social e da atividade construtiva da criança" (PIAGET, J. e INHELDER, B., 1978).

(...) O aprendizado do ensinante ao ensinar se verifica à medida em que oensinante, humilde, aberto, se ache permanentemente disponível a repensar opensado, rever-se em suas posições; em que procura envolver-se com acuriosidade dos alunos e dos diferentes caminhos e veredas, que ela os fazpercorrer (FREIRE, Paulo, 1993).

12 - Foi a partir do trabalho com crianças e pré-adolescentes, que a atenção do autor foi despertada no sentido depesquisar a Fenomenologia, a Semiótica peirciana e a multidisciplina Comportamento-Ambiente. Tudo para subverter,pelo menos aqui no Zoo, a dicotomia existente entre os saberes do senso comum e do conhecimento científico, comopreconizava o renomado e pragmático educador Paulo Freire. Portanto, as ações educativas e considerável parcelada pesquisa qualitativa foram balisadas também em Jean Piaget e Paulo Freire.

11 - Além de José Bonifácio de Andrade e Silva outros intelectuais, destacavam-se, quais sejam: Joaquim Nabuco,Alexandre Rodrigues Ferreira, José Vieira Couto, André Rebouças e mais 49 escritores e intelectuais brasileiros queproduziram cerca de 150 textos iluministas e antropocêntricos que, com uma vantagem em relação a literatura estrangeirade mais de 120 anos, denunciavam a agricultura predatória, as queimadas e os modelos econômicos baseados nolucro imediato a qualquer preço, nas consequências nefastas da falácia do modelo escravagista e da inexoráveldestruição da riqueza natural do território brasileiro ( PÁDUA, J. A, 2004).

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Além de visitas orientadas não-convencionais (Seção 3.8), os projetos educativos

foram levados a efeito através de jogos como o “Brasil Fauna Já!” (Seção 3.7.6), onde as

crianças, favorecidas por esquemas cognitivos peculiares ao procedimento científico puderam

associar nomes populares de animais brasileiros às suas respectivas imagens, propiciando

um aprendizado concomitante à ludicidade. As imagens de animais, também foram usadas

para criação de vínculos afetivos com as espécies ameaçadas de extinção por meio do

Projeto “Álbum de Família” (Seção 3.7.3) , que ainda utilizou a linguagem teatral, usada

intensamente no Projeto “Bicho Fala Sério!” (Seção 3.7.2), no qual um educador encarnava

um papagaio repórter, o Louro Lourival, que entrevistava espécies carismáticas e ameaçadas

da fauna brasileira, difundindo conhecimentos e valores de forma lúdica.

Por intermédio do Projeto “Via Zoo” (Seção 3.7.5), buscou-se valorizar as

personalidades científicas e históricas do passado, através da nominação das ruas e alamedas

da área de exposição, que além de orientar o visitante agrega saberes relacionados ao

ambiente. Considerando que a preocupação com a conservação ex-situ dos animais não se

esgota com o bem-estar e com o enriquecimento ambiental, foi desenvolvida uma eleição

pública na área de exposição (Seção 3.7.4), visando à nominação de uma espécie híbrida

de jabuti, destituída de nome popular e originada de duas espécies amplamente encontradas

no território brasileiro e, portanto, bem populares, mas precariamente diferenciadas pelos

visitantes, que inadvertidamente, não percebem a diversidade da fauna brasileira.

Dentre todos os projetos educacionais, os mais relevantes à transmissão da

mensagem instucional são os Projetos; “Monitores de Viveiros” (Seção 3.7.1) e “Humanizoo”

(Seção 3.6.7), idealizados respectivamente, com o objetivo de orientar universitários e

tratadores para, nos finais de semana, atuarem no Zoo, junto ao público, como multiplicadores

das atividades técnico-educacionais, através de ações preventivas, instrutivas e orientadoras.

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1.3.1 - A Origem e a Evolução dos Zoos.

Os Jardins Zoológicos são instituições históricas cuja trajetória, desde as primeiras

coleções particulares de animais selvagens, até o surgimento dos Zoos, foi bem reconstruída por

estudiosos de história, antropologia, filosofia e arquitetura. As pesquisas revelaram, que desde a

Antiguidade, se não todas, mas certamente, a maioria das grandes civilizações manteve animais

em confinamento, normalmente, nos centros de riqueza das cidades. Proibido para o homem

comum, colecionar e contemplar animais selvagens eram privilégios da nobreza e das classes

governantes, que mantinham engaiolados animais perigosos e incomuns, como forma de

manifestação de poder, ostentação e de um suposto domínio sobre a natureza. As pioneiras coleções

eram agrupamentos fortuitos, os animais, quando não permaneciam confinados na própria

armadilha, eram alojados em fossos escuros ou em jaulas muito pequenas, cercadas por barras

de metal. O número de animais que morria sob essas condições era muito grande, mas isso não

representava um grande problema para aquela época, pois, expedições de coleta de novos animais

eram muito comuns (KOEBNER, L., 1994).

Como resultado das navegações e expedições científicas da Idade Moderna (séculos

XVI a XVIII), foi ampliado o hábito dos conquistadores de levar animais exóticos ao Velho

Mundo como forma de comprovação do descobrimento de novas terras (SICH, H.,1997). Entre

os séculos XVII e XVIII, o conhecimento científico sobre zoologia, usando espécies selvagens

mantidas em confinamento, atingiu níveis nunca antes alcançados através dos estudos de anatomia,

sistemática e do comportamento animal. Isso possibilitou um direcionamento especial às coleções

de animais selvagens. Apesar de até o século XVIII, as coleções de animais constituírem um

privilégio da classe dominante, a nobreza foi perdendo poder e controle sobre as pessoas comuns

em diferentes partes do Velho Mundo e as exposições de animais foram se tornando mais acessíveis

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para o público. À medida que o espírito científico foi aumentando nos séculos XVII e XVIII,

as menageries foram adotando uma concepção distinta. As coleções de animais passaram a

ser encaradas de forma diferente, tornando-se um meio de estudo e pesquisa e não apenas,

locais para a diversão. Essas novas concepções constituíram os pilares para um novo tipo

de instituição popular e científica que viria surgir no século XIX, os Zoológicos. A partir do

século XX, com advento da Revolução Industrial e dos constantes e progressivos impactos

sobre o ambiente, o espírito ecologista tomou conta dos Zoos que passaram a ter relevante

função na conservação da fauna e na educação ambiental. Com o advento do século XXI, a

evolução dos Zoológicos caminha para a implementação dos grandes centros de conservação

(KOEBNER, L., 1994). Nesses espaços, também abertos a visitação pública, os viveiros

são concebidos no próprio ambiente e as espécies animais nativas são conservadas no próprio

hábitat, favorecendo sobremaneira as ações de educação ambiental e de conservação dos

sistemas ecológicos regionais.

Figura 1 – A Evolução do Zoos (KOEBNER, L., 1994).

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1.3.2 - Um Portão para Inglês Ver?

Nos idos de 1759, como resultado do confisco dos bens dos padres da Cia. de

Jesus, que foram expulsos e deportados por ordem do Marquês de Pombal, as terras dos

jesuítas foram divididas passando ao domínio de diversos arrematantes que aos poucos se

estabeleceram. Várias chácaras e lavouras de cana-de-açúcar e de café foram surgindo

nessas propriedades, dentre as quais, a Chácara de São Cristóvão, adquirida por Elias

Antônio Lopes, um hábil e abastado negociante português. Na época, Elias construiu uma

confortável mansão na sua propriedade.

Com a chegada da família real portuguesa ao Rio de Janeiro, inicialmente instalada no

antigo palácio dos vice-reis anexado ao convento das Carmelitas, onde nos arredores havia muita

sujeira e barulho. Elias, intencionando ser generosamente recompensado, resolveu oferecer à

Família Real no final de 1808, o seu casarão de campo. O presente de ano novo foi prontamente

aceito por Dom João, que sem demora, lá se instalou com a família e as armas reais da Casa de

Bragança (FERREZ, G., 2000). Através da incorporação de outras chácaras, a Quinta Imperial

foi bem ampliada e passou a se estender do rio Maracanã até o cais do porto.

Ao ser transformado em habitação da Família Real, a mansão passou por uma ampla

reforma para ter um aspecto mais condigno de uma residência monárquica. O arquiteto inglês

John Johnson em 1816, trouxe consigo um elegante portão. Mas logo que chegou, chamou a

atenção pelas críticas ao palácio, dizendo que o mesmo tinha apenas um andar, era perfeitamente

plano, não tinha pretensão alguma de elegância ou de aparência de qualquer espécie de

arquitetura e nada podia ostentar senão a beleza de sua situação, podendo ser confundido,

à distância, com uma fábrica, devido suas janelas serem tão juntas (FERREZ, G., 2000).

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1.3.3 - Um Ponto Referencial para o Público Conhecer.

Figura 2 - O Portão Monumental - Entrada Principal (REV. JARD. ZOOL., 1958).

Dentre outras versões, o portão trazido por John Johnson foi encomendado por Dom João

ao Duque de Northumberland, General Lorde Percy, por 800 (oitocentas) libras esterlinas, mas nunca

foi pago. Então o embaixador da Inglaterra resolveu dar de presente para Dom Pedro I, por ocasião

do seu casamento com a Imperatriz Leopoldina em 1817. A vinda de John Johnson ao Brasil foi

precisamente para montar o portão. Contudo, havia muito o que fazer no antigo "Casarão do Elias",

tanto foi, que o arquiteto inglês acabou sendo nomeado por Dom João em 8 de janeiro de 1818, para

o cargo de Reposteiro. No final de maio do ano seguinte, chega ao Rio de Janeiro, o escritor James

Henderson que dois anos mais tarde, em 1821, publicaria em Londres "A History of the Brazil" revelando

o presente do nobre inglês ao monarca português (FERREZ, G., 2000).

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O mais curioso de tudo, foi que o Portão Monumental13 apesar de ter sido colocado em

frente ao paço imperial, não havia como passar por ele, pois, o mesmo ficava num local inacessível. Foi

justamente por esta condição de inacessibilidade, que ao ser indagado do motivo desta localização do

pórtico, um dos fidalgos, pela primeira vez no Brasil (Paulo Celso Martins Brandão14, com. pess.),

teria respondido: “está neste canto aí para os inglêses verem”! Realmente nas obras de Debret e do

Barão de Planitz (Figuras III e IV), percebe-se claramente que o Portão não era usado como entrada.

Quase um século mais tarde, em 1909, já no estado republicano e, por ordem do Presidente Nilo

Peçanha, responsável por grandes reformas na Quinta, iniciou-se as providências para tranferência do

Portão Monumental9 para a frente do terreno destinado a construção do Zoo (1.2.2), e lá está até

hoje. Atualmente, no momento em que termina o passeio, o visitante dá, literalmente, as costas para o

Portão e a rica História do Brasil e da Cidade do Rio de Janeiro, que em muitos aspectos se confundem

com as Memórias do Jardim Zoológico do Rio de Janeiro.

Integrante da Missão Artística Francesa, Jean Baptiste Debret, divulgou na sua valiosa obra

Viagem pitoresca e histórica ao Brasil (MILLAN, J. H., 1998), as transformações na arquitetura da

residência real na Quinta da Boa Vista: o paço com os dois torreões em estilos distintos em 1831, o

paço com o Portão Monumental e com o acréscimo do primeiro torreão em estilo gótico (torreão

norte) em 1822 e o casarão do Elias em 1808 (Figura 3).

14 - O arquiteto Paulo Celso Martins Brandão foi o Diretor-Presidente do Zoo do Rio de Janeiro na transição daadministração direta para indireta. Inaugurou a Fundação Rio-Zoo em primeiro de agosto de 1985 e administrou aFundação até 1990 passando o cargo para Guilherme Tardin Barbosa que presidiu a Rio-Zoo até 1994.

13 - O Portão do Zoológico, O Portão Monumental, também chamado “Pórtico Dórico”, foi um presente de casamentodo General Lorde Percy, Duque de Northumberland a D. Pedro I. O maior monumento existente no Jardim Zoológicodo Rio, constitui uma cópia do existente na “Sion House”, residência do citado Duque e foi inspirado no pórtico deRobert Adams. É moldado numa espécie de terracota, a “Coade stone”, da empresa inglesa Coade & Sealealy. Afotografia do Portão Monumental da página anterior, (Figura 2) mostra, claramente, que os visitantes tinham oprivilégio de entrar no Zoo através da sua entrada principal (REV. JARD. ZOOL., 1958).

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Embora a pedra fundamental das obras do Zoo tenha sido lançada em 1913, o seu Portão

Monumental só foi aberto ao público em 18 de março de 1945, numa solenidade inaugural onde

estavam presentes: o prefeito Henrique Dodsworth; o representante do presidente da república; o

Capitão Bruno Pereira; além de ministros de estado; secretários municipais e órgãos da imprensa. A

inauguração do Jardim Zoológico na Prefeitura do então Distrito Federal do Rio de Janeiro transcorreu

em meio a uma alegre festa, na qual participaram mais de cem mil cariocas, que precisaram esperar por

cinco anos para voltar a visitar um Zoo, devido ao fechamento da Cia. Jardim Zoológico em 1940

(GABRIEL DE MELO, R. A. e outros, 1991).

Figura 3 - Transformações na Arquitetura da Residência Real na Quinta da BoaVista (MILLAN, J. H., 1998).

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Figura 4 - Paço do Imperador do Brasil em São Christovão (FERREZ, Gilberto, 2000).

15 - No prédio do Palácio Imperial de São Cristóvão nasceram D. Pedro II, D. Maria da Glória, que foi coroadarainha de Portugal e a princesa Isabel. Lá foram decididos fatos relevantes da História do Brasil, tais como: aIndependência, a 1ª Constituição do Brasil, a Abdicação, a Abolição da Escravatura e a República. Atualmente,o prédio abriga o Museu Nacional.

O pintor Karl Robert Barton von Planitz, aristocrata alemão, também conhecido como

Barão de Planitz,viveu no Brasil desde 1833 até o fim de sua vida. Esta litografia aquarelada

intitulada Paço do Imperador15 do Brazil em S. Christovão Rio de Janeiro (18,8x26,8cm), foi

pintada entre 1835 e 1840, destaca o carro de bois, o Portão Monumental e o palacete real e o

pico da Tijuca ao fundo (FERREZ, Gilberto, 2000). Nota-se na obra, que o acesso de animais e

pessoas ocorre à esquerda da entrada do Paço.

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1.3.4 - Do Barão ao Macaco Tião - Memórias do Zoo no Rio de Janeiro.

Humanitário, abolicionista, católico praticante e grande empreendedor, o mineiro João Baptista

Vianna Drummond (01.5.1825 - 07.8.1897), foi diretor da Companhia de Ferro-Carril de Vila Isabel,

bairro que ele próprio fundou no Rio de Janeiro em homenagem a Princesa Isabel. Ganhou o título de

Barão de Dom Pedro II em 19.08.1888, por ter alforriado todos os escravos da Fazendo do Macaco,

propriedade com cerca de dez hectares que adquiriu da Duquesa Leopoldina segunda filha de Dom

Pedro II. Lá , montou, comprovadamente, o primeiro Jardim Zoológico do Brasil16.

16 - O Conde Maurício de Nassau, que governou Recife (PE) de 1637-1644, fundou o Gabinete de História Natural –onde era mantida uma coleção de objetos raros e curiosos dos três reinos da natureza. Nesse Gabinete não existia umZoológico e sim uma coleção de animais exclusivamente para pesquisa. Lá, o médico Wilhelm Piso, e o naturalistaalemão Georg Marggraf realizaram os pioneiros estudos da farmacopéia local, das doenças tropicais e, da fauna e daflora de um modo geral. Atribui-se, às vezes, a Emílio Goeldi a criação do pioneiro zoológico do Brasil, mas não passade especulação. Nos idos de 1897, o então naturalista, chegou a trabalhar como ornitólogo no Museu Nacional(SICK, H., 1998), mas, a inauguração do Zoo do Barão, data de janeiro de 1888.

Figura 5 - Barão de Drummond (MOYA, S. de, 1939).

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“Flores são lindas. Mas animais são subúrbios do homem, nossos parentes”, dizia o

barão manifestando sua notável afeição pelos animais. Recém-chegado de Paris, Drummond,

tomou conhecimento, através da imprensa, ou da ótima relação que mantinha com a família imperial,

do “Plano de Melhoramentos” do Ministério da Agricultura, cujo relatório de 1874 previa a criação

de um Jardim Zoológico na corte. Insatisfeito com o retorno do emprendimento hípico que criara,

o “Prado de Vila Isabel”, o então Comendador Vianna Drummond, inclinado a iniciativas de

impacto, apresentou oficialmente em 20.02.1885, o projeto de criação de um Jardim Zoológico.

Situado à rua Visconde de Santa Isabel, com uma área de 300.000 m2. Tratava-se de uma empresa,

a Compahia Jardim Zoológico, que tinha ao todo 37 acionistas, dentre os quais: a Companhia

Arquitetônica, que detinha a maioria das ações, a Cia. Ferro Carril de Vila Isabel, várias firmas

comerciais e personalidades da corte.

Com o passar de poucos meses de funcionamento, a diretoria da Cia. Jardim Zoológico se

deu conta das altas despesas de um Zoo e dos escassos recursos oriundos da bilheteria. Na tentativa

de equilibrar as finanças, o barão buscou apoio na Câmara dos Deputados. Não logrando êxito,

insistiu e conseguiu subvenção de dez contos de reis por ano do Ministério da Agricultura. Contudo,

com a queda da monarquia e a instalação do governo republicano em 1889, a subvenção foi

perdida e a Cia. Jardim Zoológico entrou em acentuada e progressiva crise financeira. Decidido

“A Directoria da Companhia Jardim Zoológico attendendo a constantes pedidos dopublico para visitar o Jardim, onde já se podem ver muitos animaes, boas construcçõese grande parte do terreno ajardinado, deliberou franquear a entrada todos os dias (...) Opreço será para pessoas maiores de 12 annos, 500rs.;de 6 a 12 annos 200rs. e gratis aosmenores de 6 anos.” (GABRIEL DE MELO, R. A. e outros, 1991).

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a reverter a situação, o Barão em suas andanças pelos arredores da rua do Ouvidor, conheceu uma

jogatina nova, um tal “jogo das flores”, inventado e explorado por um mexicano chamado Manoel

Ismael Zevada. Nessa ocasião, o mexicano, futuro gerente da Cia. Jardim Zoológico, propôs ao

Barão a criação de jogos no Zoo, como forma de aumentar a compra de ingressos. Empolgado o

Barão criou, juntamente com o mexicano o “jogo do bicho”. Obtendo em 13.10.1890, a permissão

oficial do Conselho de Intendência Municipal, para explorar o “jogo do bicho” no interior da Cia.

Jardim Zoológico (GABRIEL DE MELO, R. A. e outros, 1991).

Considerado desde sua origem, como fator de progresso e civilização urbana, uma vez

que nas grandes capitais da Europa e dos Estados Unidos os Zoos já eram populares. A idéia de

criar um Jardim Zoológico Municipal na Cidade do Rio de Janeiro é bem antiga e teve início em

1909, quando o então Presidente Nilo Peçanha determinou a transferência do Portão Monumental

da frente do Museu Nacional para a entrada do Jardim Zoológico do Distrito Federal, o que foi

efetivado em 1910 (GABRIEL DE MELO, R. A. e outros, 1991).

Segundo o Sr. Carlos Drummond, sobrinho-genro do Barão, “o jogo do bicho, não foiinvenção de Drummond, mas sim de Manoel Ismael Zevada, um mexicano que criou ojogo na Rua do Ouvidor. Originalmente o tal jogo era das flores, contudo, não lograndoêxito, o tal mexicano propôs ao Barão a criação do jogo do bicho no Jardim Zoológicocomo incentivo para aumento da venda de entradas. E assim foi feito. A série era de 25bichos e as entradas que tivessem a estampa do bicho sorteado, recebiam vinte vezes ovalor do ingresso. O processo do seu início até a premiação do jogo do bicho era oseguinte: - Em uma grande caixa colocada da ponta de um mastro, próximo à entrada doZoo, estava a “estampa” do animal, que era ali colocada as sete ou oito horas da manhãe assim ficava sob a vigilância do público. À tarde, a caixa era descida e na presença dosconcorrentes, verificava-se qual era o animal premiado. A lisura do processo convenceuo público, daí a sua extraordinária projeção”. Não tardou a sua transformação em jogode azar e com isso veio a proibição oficial. A partir de então, o antigo Jardim Zoológicofoi aos poucos se extinguindo e acabou fechando suas portas na década de 40”(GABRIEL DE MELO, R. A. e outros, 1991).

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1.3.4.1 - Tupi or Not Tupi?

A densa história do Jardim Zoológico do Rio de Janeiro revela, que antes mesmo

da sua inauguração em março 1945, uma acirrada polêmica envolvendo a imprensa e a

Prefeitura do então Distrito Federal era deflagrada.

Por fim, prevaleceu a vontade do governo. A razão para tamanha polêmica foi decorrente

do indeferimento de um projeto de Guilherme Guinle pela prefeitura. Guinle queria presentear os

cariocas com um Zoológico formado exclusivamente por espécies da fauna nacional. Entretanto,

vale ressaltar, que no plantel do Zoológico carioca sempre houve predomínio numérico de espécies

brasileiras.

Nos idos de 18 de março de 1944, ainda na gestão do Prefeito Henrique Dodsworth,

foram iniciadas as obras na Quinta da Boa Vista. Precisamente um ano depois, em 18 de março

de 1945 o Jardim Zoológico do Rio foi inaugurado. Depois de abrir o seu portão ao público, com

uma área inicial de 90 mil m2, o Zoo passou a funcionar às terças, quintas, sábados e domingos de

11 às 18 horas expondo uma rica coleção de aves e cerca de 194 espécies de mamíferos, apenas

se ressentindo de uma coleção completa de animais de grande porte em virtude das dificuldades

provenientes da guerra (GABRIEL DE MELO, R. A. e outros, 1991).

De um lado, a mídia acusava as autoridades municipais de “demonstrar mentalidadeatrasada e colonial e ainda julgar a preocupação e o conhecimento das coisasestrangeiras em detrimento do que é nosso sinônimo de desenvolvimento”. Dooutro lado, a prefeitura alegava que: “um zoológico que não possuísse elefantes eursos brancos não seria digno de uma grande capital” (GABRIEL DE MELO, R. A.e outros, 1991).

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1.3.4.2 - A Passagem do Primeiro para o Terceiro Setor.

A partir de 1945, o Zoo experimentou toda a sorte de transformações político-

administrativas condicionadas por sua vinculação as diversas esferas burocráticas do poder

instituído, quer do Estado ou do Município. Por conta disso, a liberação de recursos

financeiros estava associada a diversos interesses políticos. Com a instalação do governo

municipal do Rio de Janeiro, em consequência da extinção do Estado da Guanabara, o

Jardim Zoológico passou a ser subordinado a Secretaria de Municipal de Obras. Apesar de

um benefício imediato revelado em reformas e reformulações do espaço interno, o Zoo

ainda carecia de autonomia administrativa e financeira (GABRIEL DE MELO, R. A. e outros,

1991).

Quarenta anos após a inauguração, em 1o de agosto de 1985, o Jardim Zoológico

foi transformado em uma Fundação Municipal, a Fundação Rio-Zoo, com a expectativa de

ampliar a agilidade, a eficiência administrativa e financeira. Na época o Diretor da Fundação

Rio-Zoo, o arquiteto Paulo Celso Martins Brandão, recebeu a doação de uma réplica de

um painel de Cândido Portinari. A doação foi feita por João Cândido Portinari, filho do

renomado pintor expressionista. Nos idos de 1985, o carioca João Cândido fazia parte do

conselho curador da Fundação Rio-Zoo e coordenava o Projeto Portinari desde agosto de

1979.

Consciente da acentuada popularidade do Zoo e da influência de uma obra do maior expoente

das artes plásticas do país, numa instituição em fase embrionária. João Cândido acertou em parte, a

obra de Portinari inspirou a criação da logomarca da Rio-Zoo, com a figura estilizada de um Tamanduá-

Bandeira, contudo, raríssimos são os cariocas que conhecem este pitoresco

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detalhe da história do Jardim Zoológico. Pintado em 1957, o painel apresenta cinco dos mais

característicos representantes da fauna nacional17. Contudo o animal campeão em populariade e o

mais famoso foi um Chimpanzé, o Macaco Tião. O Macaco Tião, irreverente como bom carioca, se

notabilizou, dentre outras peripécias, por jogar água em personalidades políticas. Em 23 de dezembro

de 1996, o então prefeito Cesar Maia decretou oito dias de luto pelo falecimento do renomado macaco,

que chegou a ser noticiado no Jornal Francês “Le Mond”. Antes disso, nos idos de 1988, Tião foi

lançado como candidato a prefeito do Rio pela turma do “Casseta e Planeta”. E obteve expressivos

400 mil votos, ultrapassando políticos de peso, num pleito vencido por Marcelo Alencar, até hoje, o

prefeito mais presente e popular do Zoo. Da irreverência, às peripécias, cuspindo água nos políticos

como o próprio Marcelo Alencar, o deputado Otávio Leite e o presidente do Zoo Guilherme Tardin,

Figura 6 - Painel Floresta Amazônica (CATÁLOGO RAISONNÉ "Portinari - Obra Completa. 2003).

17 - Painel de Cândido Portinari à óleo e madeira, intitulado Floresta Amazônica de 1957 (85 x 445cm). Dentre osanimais são retratados nesta obra, a Cutia, a Paca, a Anta o Araçari e o Tamanduá-Bandeira, que foi escolhido peloConselho Curador como símbolo da Fundação Rio-Zoo (CATÁLOGO RAISONNÉ "Portinari - Obra Completa. 2003).

Figura 7 - Logomarca da Fundação Rio-Zoo.

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à devoção, na última homenagem do tratador Waldomiro Silva, o inesquecível Zarur (Figura 8).

1.4 - Bases Científicas.

1.4.1 - Breve Histórico da Etologia e sua Importância em Zoos.

Na Antiguidade, o famoso filósofo Aristóteles (cerca de 380 a 330 d.C.), por

intermédio de seu livro “A História dos Animais”, foi o primeiro a descrever alguns traços

comportamentais de mamíferos selvagens, como aqueles relacionados à territorialidade e às

brigas dos machos de veados durante o período da reprodução (KOEBNER, L., 1994).

No século XVII, durante a Idade Moderna, coube ao filósofo francês René Descartes, o

pioneirismo de conceber o mecanismo natural do reflexo como uma explicação do

comportamento animal (BIZERRIL, M., 2000).

Figura 8 - Três momentos da vida do Macaco Tião (JORNAL O Globo, 1996).

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Nos últimos anos, os biólogos têm se dedicado à tarefa de descrever e tentar explicar os

complexos comportamentos dos animais. Estudos de etologia18 vêm sendo implementados com uma

grande variedade de animais, tanto no hábitat das espécies (in-situ) quanto em confinamento (ex-situ).

Muito do que se sabe hoje, sobre comportamentos reprodutivos, alimentares e sociais de animais

selvagens, sobretudo, aqueles de hábitos arborícolas e noturnos, foi derivado de pesquisas realizadas

em Zoos. O Enriquecimento comportamental ou ambiental19 proposto pelo psicólogo americano Robert

Yerkes em 1920 (YERKES, R.M., 1932), procurou aprimorar a construção de viveiros, a fim de

incentivar a manifestação do comportamento natural dos animais, visando à melhoria do bem-estar

físico e psicológico das espécies, resultou na concepção de viveiros mais adequados.

1.5 - Bases Filosóficas.

1.5.1 - A Fenomenologia.

A fenomenologia20 propõe a superação da dicotomia da clássica relação sujeito-

18 - A ciência das relações comparadas entre o comportamento animal e humano, a criação dessa nova ciência só foireconhecida a partir dos trabalhos dos zoólogos austríacos Konrad Lorenz (1903-1989), Karl von Frisch (1886-1982)e do holandês Nikolas Tinbergen (1907-1988). Os trabalhos desses cientistas foram tão marcantes, que os trêspesquisadores foram laureados com o prêmio Nobel de Fisiologia e Medicina em 1973 (BIZERRIL, M., 2000).

19 - Enriquecimento ambiental constitui um conjunto de ações de manejo que visam ampliar a complexidadeambiental dos viveiros e recintos dos animais de modo a estimular a manifestação de condutas também maiscomplexas e mais próximas do comportamento natural das espécies (SARIEGO, G.. C., 1997).

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objeto, oriunda da teoria do conhecimento cartesiano, onde é enfatizado o papel atuante do

sujeito que conhece (racionalismo), em contraponto ao empirismo, onde o enfoque se dá na

determinação do objeto conhecido.

Os Fenomenólogos partem do princípio que não há objeto em si, já que o objeto está

sempre voltado para um sujeito que lhe dá significado, assim, toda consciência é intencional. Isso

significa que, contrariamente ao que afirmam os racionalistas, não há pura consciência, separada

do mundo, mas toda consciência tende para o mundo; toda consciência é consciência de alguma

coisa. Por meio do conceito de fenômeno21 e de intencionalidade, a fenomenologia se contrapõe

à filosofia positivista do século XIX, aprisionada sobremaneira, à visão objetiva do mundo e a

crença na possibilidade de um conhecimento científico cada vez mais neutro e destituído de

subjetividade e, portanto, mais distante do homem (GARNICA, A. V. M, 1997).

A fenomenologia propõe a retomada da "humanização" da ciência, estabelecendo

uma nova relação entre sujeito-objeto e homem e mundo. A consciência é doadora de sentido,

fonte de significado para o mundo. Conhecer é um processo que nunca acaba22, é uma

exploração exaustiva do mundo (LISBOA, F., 2001).

20 - A Fenomenologia é “um nome que se dá a um movimento cujo objetivo precípuo é a investigaçãodireta e a descrição de fenômenos que são experienciados conscientemente, sem teorias sobre a suaexplicação causal e tão livre quanto possível de pressupostos e de preconceitos.” (MARTINS e BICUDO,1997).

21 - (...) o próprio conceito de, Fenômeno, da expressão grega Fainomenon, derivada do verbo Fainestai,ou mostrar-se a si mesmo, ou aquilo que se mostra ou se manifesta. Faino provém de Fa ou raiz, ou Fos,a qual significa luz, pode-se compreender melhor que a fenomenologia aborda os objetos doconhecimento tais como aparecem, isto é, como se apresentam à consciência (MARTINS e BICUDO,1989. Apud GARNICA, A. V. M, 1997).

22 - "Pensar é 'inquirir', 'procurar' por uma dada coisa, pensar que tal coisa foi encontrada, agir 'como se'fosse essa a coisa que procurávamos, antes de recomeçarmos esta 'busca' pela verdade a que Peircechama de falibilismo" (DELEDALLE, Gerard, 2000. Apud LISBOA, F., 2001).

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1.5.2 - Teoria da Significação e o Pragmatismo Lógico Peirceano.

A linha filosófica da significação, está basicamente fundamentada nos estudos

desenvolvidos pelo cientista, filósofo e lógico norte-americano Charles Sanders Peirce. Suas obras

originais somente foram publicadas de forma reunida a partir de 1931, sob o título de Obras

Escolhidas. Segundo Peirce, para solucionar os problemas filosóficos, ou ao menos encaminhar

suas soluções, impunha-se descobrir métodos apropriados que conferissem significados às idéias

filosóficas em termos experimentais e organizassem essas idéias para que pudessem ser estendidas

a novos fatos. A esse projeto geral foi dado o nome de “pragmatismo”, conceito que se tornou

cada vez mais específico em seu pensamento. Definindo o pragmatismo como a concepção na

qual as coisas são aquilo que elas podem fazer. Peirce formulou o pragmatismo, concebendo-o

como um método. Em outras palavras, o pragmatismo não seria a solução para este ou aquele

problema, mas constituiria uma técnica auxiliar, capaz de encaminhar a compreensão de problemas

de natureza científica e filosófica (D’OLIVEIRA, A. M., 1983).

Figura 9 - Charles Sanders Peirce -1839-1914 (D’OLIVEIRA, A. M. ,1983).

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Peirce fundamentou como resultante de seu pragmatismo lógico, a teoria da significação,

ou seja, o conceito de signo e suas categorizações. Para Peirce o objeto é quem determina o

signo. Esse recorte conceitual é de relevância seminal na teoria de significação peirciana e, como

consequência, representa a base para toda crítica em curso, referente a nomenclatura popular

vigente dos animais no Zoo. Nesse sentido, é preciso sublinhar que, no que tange a nominação de

uma espécie do plantel do Zoo, são as características presentes na aparência e no comportamento

animal, que devem determinar o nome popular de uma espécie. Nem sempre um signo é aquilo

que indica. Se o rugido de um leão, por exemplo, é um sinal da presença deste felídeo, o rugido

não é idêntico ao próprio leão, mas, tão-somente o indica.

De acordo com Peirce, os signos podem ser divididos em três espécies principais:

ícones, índices e símbolos. O ícone é um tipo de signo em que o significado e o significante

apresentam uma semelhança de fato. O desenho de um animal seria um exemplo de ícone; o

desenho significa o animal, simplesmente porque se parece com ele.

Um índice é um signo que não se assemelha ao objeto significado, mas indica-o

casualmente, é um sintoma dele, porque experimenta-se uma contiguidade entre os

“(...) Eu defino um signo como uma coisa que é tão determinada por qualqueroutra coisa, que chamo seu Objeto, e assim determina um efeito em uma pessoa,que efeito eu chamo seu interpretante, que o posterior é assim mediadamentedeterminado pelo precedente (Peirce 1908 - “Letter to Lady Welby” ApudD’OLIVEIRA, A. M., 1983).

Um signo ou “representamen” é algo que sob certo aspecto ou de algum modorepresenta alguma coisa para alguém ou dirigi-se a alguém, isto é, cria na mente daquelapessoa um signo equivalente ou, talvez, um signo melhor desenvolvido - Peirce. (ApudD’OLIVEIRA, A. M., 1983).

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dois. Nuvens carregadas, por exemplo, constituem o índice de chuva, como a fumaça é

índice de fogo. O símbolo, ao contrário, opera segundo uma contiguidade instituída, ou

seja, dependente de uma adoção de uma regra de uso. As bandeiras constituem símbolos

das nações e entre as bandeiras e as nações, não há qualquer relação causal necessária,

trata-se apenas de uma convenção. A quase totalidade da linguagem usual, falada e escrita,

é de natureza simbólica.

Assim pode-se dizer que, dentro desta relação triádica (objeto-signo-interpretante)

o conceito genérico de signo seria uma representação mental do objeto real. Segundo Peirce,

não é possível qualquer ato de cognição que não seja determinado por outra cognição prévia,

na medida em que todo pensamento implica a interpretação ou representação de alguma

coisa por outra coisa23.

Dependendo da perspectiva com a qual o objeto é abordado, Peirce distingue o

objeto enquanto pertencente a realidade, o objeto dinâmico, e o objeto enquanto pertencendo

a razão, objeto imediato ou semiótico. Essa distinção é fundamental em qualquer tentativa

de aplicação da semiótica de Peirce, seja como método interpretativo ou, como ferramenta

epistemológica (LISBOA, F., 2001).

O objeto peirceano é pensado de duas maneiras simultâneas: como objeto semiótico,

que aparece como um dos três termos da relação de representação e o objeto por si mesmo,

independente do modo como é representado, que Peirce designa como objeto dinâmico ou

real. Um exemplo clássico, da leitura das diferentes dimensões concomitantes em que Peirce

considera o objeto é o que acontece com os jacarés no Zoo do Rio.

23 - Os outros animais são capazes de entender ícones e índices. O cachorro, por exemplo, utiliza o signo indicialcheiro. Ele é capaz de reconhecer o cheiro do dono numa roupa, num lugar. E o cheiro indica a presença do objeto (odono) que ele procura. Ele reconhece, ainda, o tom de voz, as ações que indicam passeio, hora de comer etc.

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No Zoo, normalmente, tanto os visitantes quanto os funcionários interagem com o ambiente,

captando informações ambientais. Mas, as interações com o ambiente, entre esses dois tipos de agentes

se processa de maneira bem distinta. Por exemplo, nenhum funcionário da Rio-Zoo que não seja

técnico, se impressiona com a expressiva imobilidade dos jacarés, enquanto a maioria dos visitantes

manifesta surpresa ou mesmo indignação com a "estranha" sonolência dos crocodilianos. Ao longo do

tempo, os funcionários adquiriram informações ambientais suficientes para concluir, que o comportamento

de escassa mobilidade desses répteis é normal, enquanto as informações dos visitantes são impregnadas

por filtros sociais (Seção 1.6.7), oriundos das produções cinematográficas, que proporcionam ao

telexpectador, a noção de que os crocodilianos são muito ativos e ferozes, deferindo botes rápidos e

fatais. Apesar de fazer parte do repertório comportamental dos crocodilianos, esses comportamentos

são esporádicos. Portanto, entre os visitantes há a expectativa de comportamentos compatíveis com

aquelas noções deformadas da realidade. Diante de um jacaré, um “objeto imediato”, expressando

comportamento natural, o visitante interpreta como anormal, acreditando que algo de errado está

acontecendo com réptil, inclusive, em significativas vezes, ele chega a expressar indignação, pois, a

imagem acaba remetendo a um esquema mental de que, aquilo que não se mexe, não pode estar bem,

ou vivo. Nesse exemplo, torna-se clara a noção de que, o objeto imediato pode induzir o observador

ao erro e que, o objeto dinâmico é necessário para a noção de verdade. Vale ressaltar, no melhor estilo

peirciano, quatro relevantes inferências deste exemplo, a primeira; que um funcionário leigo tem a

precisa percepção nocional do comportamento do jacaré, não porque ele enfiou a cara nos livros,

mas, pelo fato dele, através de sua percepção visual, constatar repetidas vezes a relativa imobilidade

dos jacarés e julgá-la plenamente normal; a segunda, que a percepção visual prevalece entre o público,

a terceira, que o visitante apresenta idéias deformadas sobre o comportamento animal e, a quarta, que

essas noções necessitam ser retificadas, através de mudanças no comportamento ambiental dos viveiros

da Rio-Zoo, onde encontram-se quatro, das seis espécies de jacarés da fauna brasileira (Seção 3.6.7).

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1.6 - Comportamento-Ambiente.

A multidisciplina Comportamento-Ambiente, “Environment Behavior-studies”,

constitui a confluência dos estudos oriundos da arquitetura, filosofia, psicologia ambiental,

ciências ambientais e neurociências. Com efeito, a colaboração entre várias fontes teórico-

conceituais, representa condição fundamental para aprofundar os enfoques e possibilitar a

evolução dos estudos dos processos mentais do conhecimento humano, até a relação do ser

humano com o ambiente, que doravante será estudada amiúde.

1.6.1 - A Percepção.

O termo percepção vem do latim percipere, que significa compreender, dar-se conta.

Embora, há séculos tenha ocorrido uma profunda discussão relativamente aos aspectos conceituais

deste termo, não é objetivo aqui, recaptular os principais pontos desse debate histórico.

Considerando o termo de forma ampla, pode-se definir percepção como uma função cerebral doadora

de significado aos estímulos sensoriais, a partir de um histórico de vivências passadas. Em outras

palavras, por intermédio da percepção o indivíduo adquiri, organiza, seleciona, interpreta e avalia as

informações obtidas pelos sentidos para atribuir significado ao ambiente. Embora a visão seja o sentido

dominante nos seres humanos, fornecendo bem mais informação do que todos os outros sentidos

combinados (PORTEOUS, 1996. Apud REIS, A.T.da L. e LAY, M. C. D., 2006), optou-se por

duas formas clássicas conceituais: a percepção sensorial e a percepção nocional.

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A percepção sensorial está relacionada à interação entre o espaço e o visitante,

exclusivamente, através dos sentidos básicos e a outra, a percepção nocional é aquela, que

além de estar ligada à interação espaço-visitante, por intermédio dos sentidos, sofre a

influência de outros fatores tais como memória, visão de mundo e cultura (REIS, A.T.da L.

e LAY, M. C. D., 2006).

1.6.2 - Fatores Interferentes.

A percepção se inicia com a atenção, que nada mais é do que um processo de seleção

daquilo que está sendo percebido. Todo ser humano é condicionado por fatores que interferem

no processo perceptivo, que em última análise resultam na percepção de alguns objetos em

detrimento de outros. Nesse sentido, pode-se categorizar o processo perceptivo segundo dois

fatores interferentes: os fatores externos, próprios do ambiente e os fatores internos, próprios do

indivíduo. Considerando, que na evolução da espécie humana a visão e a audição foram, e continuam

sendo, os sentidos fundamentais para sobrevivência, os fatores externos ou ambientais de maior

relevância relativos à atenção são: intensidade; movimento; contraste e incongruência. Ao ouvir o

estridente rugido de um leão ou o esturro de um jaguar, imediatamente, o visitante deixa

de fazer o que for e se dirige frenéticamente em direção a esses animais24. Espécies

24 - É interessante notar, que ao ouvir o estridente rugido de um leão, a primeira sensação que se tem é o medo,manifestado pelo sujeito na forma de susto, que dispara seu metabolismo preparando-o para a luta pela sobrevivência,mas, ao invés de se afastar do predador e do perigo iminente, como faria nosso ancestral, o visitante, em segurançano Zoológico, se aproxima feliz da vida, pela sorte de presenciar esta maravilhosa manifestação natural.

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zoológicas de maior atividade, normalmente, despertam mais atenção do que as de menor atividade.

De forma semelhante, animais com formas e cores contrastantes podem despertar a atenção do visitante,

assim como aqueles com aparência bizarra, como as serpentes, animais destituídos de pernas, braços

e orelhas, mas, que mesmo assim, podem se deslocar com rapidez e abater presas proporcionalmente

maiores de que a sua cabeça. A incongruência também pode-se dar, com espécies alojadas em ambientes

não-convencionais, conforme paradigmas nocionais do público, um exemplo típico é o caso dos pinguins,

em que o visitante normalmente associa a ave ao ambiente gélido, como no Rio de Janeiro não se sente

aquele frio polar, sua atenção é fortemente despertada, da mesma forma, em que uma pessoa com

terno e gravata, chama muito mais a atenção na praia, onde a maioria encontra-se com trajes de

banho, caracterizando um outro caso de incongruência.

O conjunto dos motivos de cada visitante, constitui a causa principal dos fatores internos que

interferem na percepção do ambiente. Especificamente, isso se refere aquele estado de espírito e força

interior, que leva o indivíduo a fazer, a falar e a agir, ou seja, a motivação25, que por seu turno é

ancorada em valores e normalmente, está associada a uma dada emoção (Seção 1.7.2). Com efeito,

o visitante presta mais atenção naquilo que o motiva e lhe dá prazer, em detrimento do que não lhe

interessa (GIBSON, J.,1979. Apud OLIVEIRA, F. I. da S e Rodrigues, S. T., 2006. Seção

1.6.5). Dessa forma, os visitantes adultos e idosos manifestam mais atenção, pelos animais que já

conhecem e que, normalmente, num passado distante, lhe proporcionaram momentos de emoção, que

os mesmos desejam reviver com seus entes queridos.

25 - São reconhecidos três tipos de motivação: a extrínseca, relacionada à satisfação do indivíduo desde fora, nocaso do visitante, p. e., o preço do ingresso, o atendimento, as promoções e brindes etc. A motivação extrínseca,detém-se à satisfação do visitante com a visita; já a motivação intrínseca, está vinculada à auto-estima e à satisfaçãodas necessidades relativas à evolução da pessoalidade do visitante, tais como, a aquisição de conhecimentos evalores sobre os animais e ao funcionamento do Zoo e, finalmente, a motivação transcendente, que ocorre, quandoa preocupação do visitante se dirige para o outro, seja na forma de explicar algum saber a uma criança ou acompanhante,ou depertar num ente querido, a relevância de um valor humano relacionado com os animais ou com o ambiente.

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1.6.3 - Princípios da Percepção - Psicologia da Forma.

A psicologia da forma, ou Gestalt se fundamenta na moderna teoria da percepção,

segundo a qual, um objeto é percebido como um todo organizado e o todo, têm

características que não podem ser inferidas das partes isoladamente. A teoria da Gestalt

sugere uma resposta ao porquê de certas formas agradarem mais que outras, sem ser balizada

no subjetivismo do “Feio x Bonito”, mas sim estruturada, na fisiologia do sistema nervoso,

sempre através de rigorosos experimentos e pesquisas. Segundo a Gestalt não há excitação

sensorial isolada, mas complexos em que, o parcial é função do conjunto. Isso significa que

o objeto não é percebido em suas partes, para depois ser organizado mentalmente, mas se

apresenta primeiro na sua totalidade, ou seja, na sua forma e na sua configuração, para à

posteriori o indivíduo atentar para os detalhes (GOMES FILHO, J., 2000).

O conjunto é mais que a soma das partes, e cada elemento depende da estrutura a

que pertence. Durante a interação dinâmica com o ambiente, o visitante controla suas

atividades em geral, através da captação de informação pelo sistema visual. Tal captação é

determinada pelas suas intenções, capacidades e pelas informações disponíveis no ambiente

que o envolve. Nesse sentido, é fundamental para psicologia ambiental a compreensão de

quais informações disponíveis para o agente são efetivamente percebidas e contribuem para

a regulação do comportamento.

Com efeito, quando uma pessoa foca o olhar com o fim de enxergar a tridimensionalidade

ilusória de estereogramas, via de regra, não consegue ver a figura de imediato. Diversos experimentos

com percepção visual demonstram que à medida que se adquiri novas informações a percepção é

alterada. Algumas imagens ambíguas, das experiências da psicologia da

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forma possibilitam ao observador ver objetos diferentes de acordo com a interpretação que se faz.

Na famosa "imagem mutável" ilustrada a seguir, não é o estímulo visual que se altera, apenas a

interpretação que se faz desse estímulo.

No princípio figura e fundo, percebe-se um vaso ou duas faces de macaco se

entreollhando? Como no estereograma abaixo criado pelo autor (vide capa).

Figura 10 - Imagem ambígua - "percepção mutável" (JASTROW, J., 1899). Apud (KUHN, T.S.,1969).

Figura 11 - Macacos se entreolhando ou um vaso?

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Assim como um objeto possibilita múltiplas interpretações, pode acontecer de um objeto não

gerar percepção alguma e, apesar de estar presente diante do observador, não ser percebido,

caracterizando uma percepção deficiente. Isso ocorre com muita frequência no caso de mimetimo

críptico, modo de defesa não ofensiva de várias espécies animais, que se camuflam ou imitam

perfeitamente o ambiente. É o que acontece com os iguanas, que dificilmente são visualizados pelos

visitantes, apesar de serem lagartos corpulentos, como algumas espécies de sapos (Figuras 12 e 13).

Figura 12 - Iguanas mimetizando os ramos de uma árvore.

Figura 13 - Sapo-de-Chifre na serrapilheira de uma floresta (IZECKSOHN, E. e Carvalho-e-Silva, S.P., 2001).

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1.6.4 - Forças Integradoras da Percepção Humana.

Embora cada indivíduo tenha sua própria maneira de perceber o ambiente, a sensação da

forma pelo cérebro é sempre uma percepção global dos estímulos, ou seja, o cérebro não enxerga

elementos isolados, e sim as relações entre eles. Portanto, enxergamos o todo e não partes de um

objeto ou imagem. A hipótese da Gestalt para explicar estas forças integradoras é uma estruturação

natural do sistema nervoso, que tende a organizar as formas em todos coerentes e unificados, em

busca de sua própria estabilidade. Para percepção humana, não existe qualidade absoluta de cor ou

forma, há apenas relações. Através dos estudos, os gestaltistas perceberam a presença de certas

constantes nessas forças integradoras, que explicam porque vemos as coisas de certa maneira, quais

sejam: unificação e segregação; fechamento; boa continuação; proximidade; semelhança e pregnância

da forma (GOMES FILHO, J., 2000). A Pregnância da Forma abrange todos as forças integradoras.

Segundo a Gestalt, as forças de organização tendem a se dirigir sempre à melhor forma possível, no

sentido da clareza, unidade e equilíbrio, ou seja, quanto melhor a forma, mais pregnância ela terá, e

melhor será sua relação com o cérebro. Uma imagem de boa Gestalt é enxergada com muito mais

clareza pelo cérebro, e consequentemente de forma harmoniosa. Finalmente, deve-se observar a

importância da noção de unidade da Gestalt na psicologia da percepção, incluindo a relevante relação

sujeito-objeto, que indica que cada imagem percebida é o resultado da interação das forças externas

com as forças internas26, a tendência de organizar da melhor forma possível os estímulos externos

(GOMES FILHO, J., 2000).

26 - Essa abordagem da Gestalt corrobora e agrega mais fundamento aos fatores que interferem noprocesso de percepção ambiental descrito na Seção 1.6.2.

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1.6.5 - A Psicologia Ecológica Gibsoniana.

A Teoria Ecológica dos psicólogos James Gibson e Eleanor Gibson (Gibson, 1960. Apud

REIS, A. T. da L. e Lay M. C. D., 2006), tem este nome por ter sido desenvolvida a partir da

informação ambiental. Ao contextualizar essa abordagem, pode-se dizer, categoricamente, que ela

busca responder às questões de como os visitantes conhecem o ambiente e quais relações existem

entre ambos. Dada a complexidade dessa linha de pensamento e, a despeito de todas as divergências

que a mesma expressa pela teoria representacionista, as convergências também presentes, corroboram

relevantes aspectos do pragmatismo peirciano e se coadunam perfeitamente à exequibilidade da cognição

ambiental nos viveiros dos animais. O processo de percepção ambiental é entendido por Gibson em

termos da natureza das propriedades dos estímulos ambientais. A atenção é seletiva, ou seja, os indivíduos

prestam atenção no que já é conhecido e naquilo em que estão motivados a reconhecer, o que depende

de suas experiências anteriores. A percepção é guiada por um esquema mental27 antecipatório: indivíduos

percebem aquilo que sabem como encontrar. O esquema mental direciona a exploração, enquanto a

experiência pode modificar o esquema mental. De acordo com a teoria ecológica, os significados

dependem de associações aprendidas pelos indivíduos, assim como as atitudes destes em relação aos

significados também são aprendidas.

De acordo com hipótese gibsoniana, o ambiente pode ser entendido como: "as superfícies

27 - Esquema constitui a rede de conhecimento generalizado baseado em experiência prévia que funciona através deestruturas cognitivas pelas quais os indivíduos intelectualmente organizam o ambiente, p. ex. o esquema antecipatóriomanifestado por um visitante ao se dirigir a um viveiro já conhecido ou, um aluno antes de uma aula futura, simplesmenteanunciada pelo professor, que surge no dia da aula, com anotações pertinentes ao tema proposto (Seção 3.9.6),ou,os esquemas do procedimento científico ou da teoria piagetiana da equilibração (Seção 1.7.1).

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que separam as substâncias do meio no qual os animais vivem", inclusise o ser humano.

Além disso, o ambiente, ao disponibilizar informações suficientes para o comportamento do

visitante, possibilita superfície de locomoção, manuseio de alguns objetos, de outros animais

e de interações sociais. O ambiente construído é considerado como um meio de comunicação

não verbal, provendo pistas para o comportamento. Um ponto alto dessa teoria constitui o

conceito de affordance (GIBSON, J.,1979. Apud OLIVEIRA, F. I. da S e Rodrigues, S.

T., 2006), que significa aquilo que é proporcionado pelo ambiente, e o conceito de ambiente

comportamental, referindo-se às propriedades físicas da configuração de um ambiente, que

o capacitam a ser usado de uma forma particular, por determinado grupo de usuários,

significando aquilo que o ambiente oferece de positivo ou negativo em função das

propriedades físicas de sua configuração, limitando ou estendendo as escolhas estéticas e

comportamentais do usuário. Portanto, além de reconhecer a importância do ambiente em

determinar oportunidades e restrições, em função de suas características, o viés gibsoniano

assume que, diferentes padrões ambientais podem proporcionam distintos comportamentos

e experiências estéticas.

A aplicabilidade da teoria gibsoniana no processo de cognição ambiental da área de

exposição de répteis foi fundamental e se amalgamou perfeitamente ao pragmatismo lógico

peirciano, através da transformação do comportamento ambiental dos viveiros de répteis, durante

os dias e horários de maior movimentação do público no Zoo. Em outras palavras, os estímulos

proporcionados pelo ambiente foram propositadamente ampliados ao extremo, por intermédio

do uso de agentes ambientais motivadores, viveiros com propriedades físicas e de configurações

estéticas favoráveis e que, tradicionalmente, despertam os esquemas mentais antecipatórios dos

sujeitos. Com efeito, a “Ilha das Serpentes” e o “Lago dos Jacarés” que, geralmente provocam

acentuado magnetismo no público, passaram a possibilitar aos visitantes uma notável

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ampliação da percepção ambiental e da manifestação de comportamentos diferenciados e

compatíveis à apropriação de saberes ambientais (Seção 3.6.7).

1.6.6 - Quanto Mais Temido, Mais Apelo Popular.

O medo é um sentimento importante quando encarado como um dos fatores para a manutenção

da vida. O problema para a natureza e para o indivíduo é a distorção e os exageros advindos de

informações irreais, que acabam gerando pânico e consequente desejo de extermínio do agente causador.

As conversões entre sonho e realidade e vive-versa constituem uma prática social corrente. Nesse

sentido, os animais28 que estimulam, naturalmente, o imaginário popular, estão entre as espécies que

despertam maior curiosidade. Expressadas, principalmente, por meio de sensações antagônicas como

temor e admiração. Por este motivo, as serpentes estão entre os animais mais procurados pelo público

visitante (Seção 3.5.6). Recordista zoológico na quantidade de lendas, superstições e preconceitos29

(VIZOTTO, L. D., 2003), as cobras, além de serem, literalmente amaldiçoadas pelo mito religioso

cristão, têm o formato corporal bizarro. Trata-se também, de um dos grupos zoológicos mais poderosos

e temidos, anseios naturais do ser humano.

28 - Existem grupos de animais que despertam grande antipatia e nojo das pessoas. Por exemplo, animais comominhocas e caramujos e também as rãs e pererecas, possuem tal estigma em virtude de serem moles, frios e pegajosos.As pessoas têm notável dificuldade em lidar com objetos que não estejam claramente definidos ou classificados,como é o caso dos anfíbios que ora encontra-se na terra ora na água (RODRIGUEZ, J. C., 1983). Ademais, a consistênciamole do corpo desses animais encontra-se entre o sólido e o líquido o que provoca o mesmo tipo de reação humana.Acrescente-se a isso o fato desses animais apresentarem “sangue frio”, com efeito, o ser humano associa o quentea vida e o frio a morte (RODRIGUEZ, J. C., 1980).

29 - Normalmente, animais de atividade noturna são também estigmatizados (Anexo XXVI).

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1.6.7 - Filtros de Percepção do Mundo Real.

A construção dos viveiros e recintos de animais selvagens são concebidas conforme padrões

estritamente científicos que sistematicamente encontram-se apoiados em evidências objetivas e fatores

fisicamente mensuráveis. Dessa forma, os técnicos que projetam os alojamentos dos animais são

influenciados por “filtros de percepção” (Figura 14). Segundo o modelo dos filtros de percepção do

mundo real de Amos Rapoport, a cultura e as características individuais atuam como filtros na percepção,

de modo que situações iguais podem ser percebidas diferentemente pelos indivíduos.

(...) É evidente que o contexto cultural e as tendências intelectuais do observadorafetam muito à percepção dos arquétipos e esquemas. (...) Há tendência a sobrevaloraros dados rigorosos e a considerar a informação externa ao observador como a maisobjetiva. De fato, esta informação é filtrada pelo projetista, (...) Seus objetivos e acultura à qual pertencem filtram a informação, sendo este filtro da maior importância naconfiguração total. (RAPOPORT, A., 1975).

Figura 14 - O modelo dos filtros (RAPOPORT, A.,1997. Apud FREIRE, G., 2001).

ImagemCultural

Filtro

Filtro

Mundo

ImagemCultural

ImagemPessoal

ImagemPessoal

Mundo

Filtro

Filtro

Mundo

^

^ ^

^

Pessoa B

Pessoa A

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1.6.8 - Mapas Cognitivos.

Por mapa cognitivo, entende-se o processo no qual a mente humana adquire, codifica, relembra

e decodifica as infomações advindas do ambiente espacial, ou seja, a representação interna que o

indivíduo faz relativamente ao ambiente que o cerca. A orientação espacial só se torna uma tarefa

possível através da formação de um mapa cognitivo. Entende-se mapa cognitivo como um modelo

estrutural interno a todo indivíduo onde se forma este processo de representação mental do ambiente

físico externo.

Lynch definiu cinco elementos essenciais presentes no ambiente urbano que induziriam a

formação de uma imagem mental daquele espaço: vias (caminhos ou rotas percorridas usualmente pelo

indivíduo); limites (elementos definidores de limites de uma área qualquer); cruzamentos (elementos

estratégicos do espaço que consituam um foco de atenção, tipo interseção de duas alamedas ou ruas)

e landmarks, elementos de referência facilmente identificáveis pelo indivíduo que “parecem adquirir

um significado crescente à medida que as deslocações vão tornando-se cada vez mais familiares. Na

Rio-Zoo, além de vários cruzamentos entre as vias (Seção 3.7.5), existem alguns “landmarks”, o

Portão Monumental, a “Casa da Ararajuba”, a “Ilha dos Macacos”, o “Viveirão”, a atual “Ilha das

Serpentes” e o “Lago das Aves Pernaltas”.

Para Lynch “as pessoas formam uma imagem mental do ambiente construído.Assim, no processo de orientação, o elo estratégico constitui a imagem ambiental,ou seja, a imagem mental generalizada do mundo exterior que o individuo retém.Esta imagem é o produto da percepção imediata e da memória da experiência passadae ela está habituada a interpretar informações e a comandar ações. A necessidadede conhecer e estruturar o nosso meio é tão importante e tão enraizada no passadoque esta imagem tem uma grande relevância prática e emocional no individuo”(LYNCH, K., 1960. Apud SOUZA, C. L.,1995).

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1.6.9 - Organização Espacial em Zoos.

Conforme as características de cada Zoo, as áreas de exposição devem organizar-

se segundo uma linha condutora, de modo a gerar alguma estrutura lógica de circulação. Em

virtude das circulações constituírem um dos elementos principais que definem a experiência

do público ao visitar um Zoológico, estas devem ser desenhadas para possibilitar uma

experiência interessante e coerente, que guie os visitantes de um zona de exibição ou conjunto

de viveiros, a outra, de acordo com a organização temática planejada. Historicamente, os

Zoológicos são organizados sob vários conceitos: segundo o parentesco entre as espécies,

segundo regiões geográficas onde os animais habitam, e nos últimos anos, segundo o bioma

ao qual eles pertencem (COLLADOS, G. S., 1997).

Considerando que cada Zoo tem sua própria história de desenvolvimento, há diversos

tipos de configuração, no entanto, os Zoos apresentam alguns esquemas básicos que tendem

a se repetir. Estes esquemas, têm em comum pelo menos três elementos básicos que organizam

a experiência do público: um acesso, um espaço de distribuição e um ou mais corredores de

exibições.

A opção de organização mais vista em Zoológicos que vem tendo um desenvolvimento

pouco planificado ao longo do tempo, é aquela sem hierarquia, apresentando muitas

circulações aleatórias que conectam diferentes zonas de exibição. Neste caso, não é possível

apresentar uma roteiro instrutivo e coerente aos visitantes, sendo difícil a orientação do público

no Zoo de forma eficiente. Dentro das opções de organização com hierarquia, o caso mais simples

é o que tem um só roteiro, que começa e termina no mesmo ponto de distribuição, que funciona

bem para um Zoológico pequeno com um tema único, por exemplo, uma coleção de animais

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endêmicos de uma região particular. O tema a ser apresentado tem continuidade total, nesse

caso, é recomendado incentivar a circulação em uma só direção mediante o desenho. Este

esquema é impraticável para zoos medianos e grandes, vez que, um roteiro único se tornaria

demasiadamente extenso e cansativo.

Para o caso de Zoos maiores, com temas mais complexos, funciona melhor o esquema de um

ponto central de distribuição com vários roteiros que começam e terminam no mesmo ponto. Este

esquema facilita a criação de zonas temáticas, tais como, regiões zoogeográficas, com um praça cen-

tral, que teria um caráter urbano e de transição entre uma zona e outra. Os visitantes podem escolher

quantos roteiros deseja visitar, segundo o tempo e a energia que tenham, sempre passando pela praça

central, que oferece os serviços públicos. Outras vantagens deste tipo de organização é que as circulações

de serviço podem realizar-se de forma periférica, evitando múltiplos cruzamentos com a circulação do

público (Collados, G. S., 2004).Uma outra opção de organização com hierarquia é a que substitui

a praça central por um eixo principal, que distribui os diferentes roteiros e contém os serviços ao

público. Este esquema é especialmente prático para Zoos grandes, de médio porte ou complexos, nos

quais é necessário dispersar ao máximo tanto os visitantes como as zonas de exibição, este é o caso da

Rio-Zoo (Anexo VIII).

1.7 - Bases Educacionais.

Todo o esforço técnico-científico voltado para a conservação da fauna resultará em vão

caso não haja participação popular. Esse pensamento, tornou-se um jargão, amplamente adotado

no meio acadêmico e que, continua presente como temática de congressos e nos mais eloquentes

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e competentes discursos políticos. Na óptica educacional, que motivou todo o esforço científico-

filosófico desta monografia, o pensamento citado não passa da mais pura verdade e a educação

ambiental constitui o principal caminho para tornar factível a desejada participação. Com efeito,

a educação é uma das atribuições fundamentais dos Zoos e, portanto, deve fazer parte de um

plano estratégico institucional que incorpore um programa de educação definido. Contudo, a

árdua missão de educar o público, não cabe exclusivamente ao setor educacional do Zoo e essa

pesquisa irá provar isso. Considerando a temática da significação e percepção ambiental desta

monografia, a abordagem será desenvolvida de acordo com as teorias de Jean Piaget e Paulo

Freire.

Refetir globalmente e agir localmente, de forma contextualizadora e permanente constituem

características marcantes da educação ambiental, que, no caso específico do Zoo tem um enfoque

centrado nas relações entre o ser humano e os animais. Considerando atitudes e preferências das

mais antigas e amplas até os valores e padrões de comportamento mais recentes e especicíficos.

Tendo em vista, o caráter holístico na abordagem da educação ambiental se faz necessário considerar

todos os aspectos que compõem o ambiente, desde os prevalentes fatores ecológicos e técnico-

científicos, aos aspectos sócio-culturais. A presente monografia irá deter sua abordagem

considerando especificamente os visitantes em geral ou público pagante.

1.7.1 - Conhecimento Quantitativo.

"O observador escuta a natureza, o experimentador a interroga e a força a se desvendar

(...) " Curvier. A todo o momento, os visitantes estão observando os animais e seus viveiros,

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mas esta observação é com frequência fortuita e dirigida por propósitos aleatórios. Já a observação do

técnico, orientada através do método científico, é precisa, criteriosa e voltada à percepção das

regularidades do comportamento animal. Portanto o conhecimento quantitavo está relacionado ao

pensamento racional. Nesse sentido, além de utilizar instrumentos para tornar mais precisa suas

observações, por trás do olhar do cientista, existem pressupostos teóricos que lhe permitem ver o que

o leigo não percebe. O conhecimento construído pelos cientistas aspira à objetividade, pois, as suas

conclusões devem ser verificadas por qualquer outro membro da comunidade científica. Para tanto, a

linguagem do técnico necessita ser rigorosamente precisa, objetiva, desprovida de emoções e impessoal.

Condicionados pelos rigores da ciência, os técnicos geralmente se expressam para as pessoas leigas e

para o próprio público, da maneira pela qual eles estão acostumados, ou seja, com um linguajar

baseado na terminologia científica. Não obstante, vale destacar que a linguagem científica é baseada

no latim e no grego.

Embora todos reconheçam o trabalho dos técnicos e admirem suas realizações,

decididamente, não dá para falar grego com o público. A mente das pessoas têm uma dinâmica

própria e só assimila o que ela julga ser relevante e necessário, a fim de ela própria, construir o

seu conhecimento. Com efeito, aprender significa comparar a nova noção com conceitos e crenças

já existentes, que se encontram associadas ao sistema de valores de cada indivíduo. Por isso, é

natural que os conhecimentos que integram o indivíduo sejam sempre repassados, comparados

Segundo a leitura piagetiana, o indivíduo possui um sistema cognitivo que funcionapor um processo de adaptação, assimilação e acomodação, que pode ser perturbadopor conflitos e lacunas e reequilibrado através de compensações. Quando uma novainformação surge, o conhecimento anterior pode sofrer questionamento e perturbação,gerando lacuna ou conflito. A partir dessas perturbações o indivíduo procuramecanismos compensatórios que levem a um equilíbrio maior que o anterior (PIAGET, J.e Inhelder, B., 1978).

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e classificados. Isso torna o sistema pessoal de valores cada vez mais coerente. Em síntese, os

conhecimentos são primeiramente julgados para serem posteriormente adotados ou rejeitados.

1.7.2 - Conhecimento Qualitativo.

Constitui a a abordagem educacional associada ao sentimento e a emoção. O

raciocínio qualitativo, busca fomentar a consciência e a sensibilidade do indivíduo, de modo

a levar o mesmo a questionar seus próprios padrões de conduta, visando o ajuste de seus

valores à nova realidade sócio-cultural. Um sistema pessoal de valores reflete a totalidade

dos conhecimentos, claros ou obscuros, intuitivos, metafísicos ou racionais, acumulados

pelo indivíduo ao longo da vida. De acordo com seus valores, as pessoas fazem juízos,

compram coisas, escolhem seus amigos, namoram, criam seus filhos e votam nas eleições.

Os valores estão estreitamente associados com crenças e atitudes e se manifestam através

de preferências e escolhas. Sendo assim, ele é fonte de poder, pois permite ao indivíduo

manifestar opiniões, travar discussões, tomar decisões e, eventualmente, convencer os outros.

Embora cada indivíduo tenha seu próprio “modelo de mundo”, na dimensão social, existem

valores culturais amplamente aceitos e compartilhados pela maioria dos membros da

coletividade. Certos valores estão tão profundamente enraizados no tecido social, que são

aceitos pelas pessoas, sem que elas tenham consciência de que existem alternativas. Muitas

coisas continuam sendo feitas, porque sempre tem sido feitas dessa forma, ou porque, todos

fazem desse modo (BERKMÜLLER, K., 1984). No Zoo, é possível desenvolver variadas

ações educativas pertinentes ao saber qualitativo.

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2 - DESENVOLVIMENTO

2.1 - Bases Científicas.

2.1.1 - Etologia Aplicada ao Público do Zoo.

Enquanto método científico, o trabalho etológico se iniciou por meio da formulação de hipóteses.

No caso específico desta pesquisa, as hipóteses foram as seguintes: o comportamento do visitante é

alterado em função da aparência do animal? O comportamento do visitante se modifica de acordo

com o tamanho do animal? O comportamento do público se altera em conformidade com o

comportamento do animal? O comportamento do visitante está relacionado a organização da coleção?

Viveiros mais amplos ou de configuração complexa, tendem a aumentar a permanência do visitante

diante do animal?

Foi adotado o método de amostragem de observação livre (ad libitum) porque,

este é um método não-estruturado de amostragem, não existindo portanto, constrangimentos

sistemáticos em relação ao que é registrado ou quando é registrado, por conta disso, nenhuma

obrigação é imposta com respeito às categorias comportamentais, à ordem das observações, ou

aos períodos da observação. Ademais, as observações "ad libitum" são geralmente aplicadas

para definir um rol de comportamentos a serem registrados durante um período de observações

não sistemáticas, o que torna possível o ajuste do procedimento. Esse método é especialmente

adequado para efetuar observação de eventos visíveis, mas, podem superestimar dadas categorias

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comportamentais mais notáveis e comportamentos manifestados pelos indivíduos mais visíveis

ou, de visibilidade mais fácil, o que favorece a visualização dos atores na periferia de um

grupo (DEL-CLARO, K., 2004). Por conta dessa última característica, procurou-se não

apenas definir horários e dias da semana favoráveis às observações, mas também, selecionar

viveiros que facilitassem as observações. Ademais, tendo em vista que há maior frequência

de crianças e de adultos entre o público visitante, foi definida uma ordem para a amostragem

aleatória, de modo a manter um equilíbrio entre as faixas etárias. No caso da passagem

concomitante de dois indivíduos pelo ponto de seleção, a pessoa mais próxima do guarda-

corpo foi amostrada. A pesquisa de etologia foi precedida por um amplo período de

laboratório para captar de forma mais eficiente, as observações e perscutar as expressões

do comportamento dos visitantes.

Dada a relevância, da noção do tempo de retenção do visitante diante dos animais,

foram cronometrados com precisão de segundos, através de cronômetro esportivo, o tempo em

que os visitantes permaneceram diante dos viveiros pré-selecionados. Dessa forma, partindo da

Tabela 2 – Faixas Etárias Amostradas.

1º. Criança Indivíduo com cerca de 1,20 metros e aparentando até 10 anos.

2º. Adolescente Pessoa em idade escolar aparentando de 11 até cerca de 20 anos.

3º. Adulto Pessoa com filho(s), com companheiro(a), ou aparência de adulto.

4º. Idoso Pessoa com cabelo branco ou com aparência de pessoa idosa.

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menor faixa etária o primeiro visitante que chegou a um ponto demarcado e específico de um

recinto anterior ao viveiro escolhido, foi selecionado e, assim que o mesmo passou ou dirigiu sua

atenção a um animal pré-estabelecido, o cronômetro foi acionado e o indivíduo foi amostrado.

Definido o procedimento de observação, procedeu-se o necessário estabelecimento

de um rol dos mais frequentes tipos de comportamentos esperados pelo visitante, no momento

da observação de uma espécie animal em seu viveiro (Anexo II).

Foram organizados e elencados os traços comportamentais esperados dos visitantes

diante dos viveiros, o etograma, visando registrar detalhadamente um repertório de atitudes

e reações dos indivíduos diante dos animais. A importância de se estabelecer o etograma,

foi relacionar e quantificar os comportamentos dos visitantes diante dos diferentes animais

no ambiente criado pelo homem, de modo a testar as hipóteses estabelecidas. Nesse sentido,

julgou-se satisfatório utilizar, com algumas modificações, o modelo e a metodologia proposta

por Marcelo Bizerril, (BIZERRIL, M., 2000). Esse autor organizou o repertório de reações

e atitudes do visitante em seis categorias, quais sejam: agressividade, temor, desinteresse,

interação, curiosidade e admiração. Cada categoria foi associada a 25 comportamentos

esperados pelo visitante. Nesta pesquisa foram acrescentadas mais duas categorias

(preocupação e interesse) e ampliado para 30, o número de comportamentos, incluindo

aqueles relativos às placas de informações e aos viveiros (Anexo II).

Os itens comportamentais foram detalhadamente agrupados em sete categorias quais

sejam: a) desinteresse; b) interesse; c) preocupação; d) curiosidade; e) admiração; f)

agressividade; g) interação; h) temor (Apêndice II). Foi aplicado no etograma o método

sim-não, para registrar a ocorrência ou não de cada comportamento no momento da

observação. Apesar da estratégia para equilibrar as faixas etárias, os visitantes foram

amostrados de maneira aleatória.

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A fim de facilitar a análise dos resultados, foram estabelecidos os seguintes objetivos: propor

a adequação da comunicação visual da Fundação Rio-Zoo em conformidade com o comportamento

do público e dos animais; sugerir variações no modo tradicional de apresentação da exposição e na

ambientação dos viveiros, de maneira a propiciar ao visitante uma ampliação do tempo de observação

das espécies, sobretudo, aquelas da fauna brasileira; detectar as causas do pouco interesse do público

por setores e viveiros específicos e, propor sugestões para dar maior visibilidade às espécies com

comportamentos desfavoráveis à observação pública.

Foram amostradas as três classes principais de vertebrados tradicionalmente encontradas em

Zoológicos, quais sejam: répteis aves e mamíferos. Adotou-se os seguintes critérios para a escolha de

viveiros: aqueles que facilitassem as observações e fossem diferentes quanto ao tamanho, configuração

e qualidade. Julgou-se importante também, a seleção de espécies com marcantes diferenças de tamanho,

de aparência e de comportamento. Ademais, foram selecionados viveiros com distintas localizações

no Zoo, ou seja, recintos próximos ou distantes da entrada.

Tabela 3 - Animais escolhidos e suas localizações no Zoológico por setores e viveiros.

Arara-Azul-Grande (Anodorhynchus hyacintinus) S06 V39

Macaco-Aranha-de-Cara-Vermelha (Ateles paniscus) S07 V11

Gavião Real (Harpia harpija) S03 V33

Hipopótamo (Hipopotamus amphibios) S02 V17

Iguana (Iguana iguana) S02 V16

Jacaré-de-Papo-Amarelo (Caiman latirostris) S01 V02

Tigre-Siberiano (Pathera tigris altaica) S08 V13

Urso-de-Óculos (Tremarctus ornatus) S07 V02

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2.2. - Abordagem Qualitativa.

2.2.1 - Algumas Considerações.

Ainda durante o amplo período de laboratório da investigação de etologia aplicada,

que requeria uma atenção redobrada do autor para melhor captar as expressões do

comportamento dos visitantes, de modo a buscar as mais eficientes formas de observação e

registro. Nessa fase incipiente, no viveiro do Macaco-Aranha-de-Cara-Vermelha surgiu a percepção

sobre as limitações do método etológico. Não havia como não se impressionar com as curiosas

especulações dos visitantes. Embora estivesse previsto no etograma o registro de duas especulações

pré-definidas e um espaço para observações, a escuta atenta dessas especulações requeria um tratamento

metodológico próprio, pois eram muito variadas, densas e representavam a visão do visitante. Na

realidade, naquele momento, numa forma popular de dizer, caiu a ficha! Uma das especulações que

mais chamaram e, ainda continuam a chamar a atenção do autor, até pela intermitente frequência com

que ocorre, é aquela que diz respeito ao nome popular do primata em questão. Com efeito, se não

todos, mas certamente, a maioria esmagadora dos visitantes conhece essa espécie de símio simplesmente

por macaco. Os próprios funcionários confirmam esta designação ao nomear o viveiro do animal de

(...) as pessoas, ou grupos delas, deixam um conjunto de traços verbais dos pensamentosque devem ser decifrados, tanto quanto possível, na sua vivacidade representativa (...).Assim, os conceitos sobre os quais as Ciências Humanas se fundamentam, em umplano de pesquisa qualitativa, são elaborados pelas descrições. (MARTINS eBICUDO,1989. Apud GARNICA, A. V. M., 1997).

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“Ilha dos Macacos”. Mas, em destaque na placa informativa o que se lê é “Coatá-de-Cara-Vermelha”,

embora entre os tratadores de animais e mesmo no meio acadêmico, o gênero Ateles seja comum e

popularmente chamado de macaco-aranha ou de aranha, de forma abreviada. Por conseguinte, inferiu-

se que a pesquisa tinha que investigar esse fenômeno e buscar métodos que fudamentassem uma

convenção institucional, para implementar uma nomenclatura convencional que propiciasse a adoção

de designações populares dos animais com significados bem desenvolvidos de modo a possibilitar ao

público o início do processo de conhecimento sobre os animais, sobretudo os da fauna brasileira.

Comparada a abordagem científica, a pesquisa qualitativa apresenta outro significado, passando

a ser concebida como uma trajetória circular entorno do que se deseja compreender, deixando de se

preocupar unicamente com princípios, leis e generalizações, mas voltando o olhar à qualidade. O

pesquisador procura por unidades de significado, o que faz após várias leituras de cada uma das

descrições. As leituras prévias fazem parte de uma primeira aproximação do pesquisador em relação

ao fenômeno, numa atitude de familiarização com o que a descrição coloca. As unidades de significado,

por sua vez, são recortes julgados significativos pelo pesquisador, dentre os vários pontos aos quais a

descrição pode levá-lo. Para que as unidades significativas possam ser recortadas, o pesquisador lê os

depoimentos à luz de sua interrogação, por meio da qual pretende ver o fenômeno, que é olhado de

uma dentre as várias perspectivas possíveis (GARNICA, A. V. M., 1997).

Segundo Lüdke e André as características básicas de uma pesquisa qualitativa são asseguintes: 1. A pesquisa qualitativa tem o ambiente natural como sua fonte direta dedados e o pesquisador como seu principal instrumento. (...) 2. Os dados coletados sãopredominantemente descritivos. (...) 3. A preocupação com o processo é muito maior doque com o produto. (...) 4. O ‘significado’ que as pessoas dão às coisas e à sua vida sãofocos de atenção especial pelo pesquisador. 5. A análise dos dados tende a seguir umprocesso indutivo (LÜDKE e ANRRÉAS, 1986. Apud GARNICA, A. V. M., 1997).

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2.2.2 - Onde Está a Cobra? As Especulações dos Visitantes.

Onde está a cobra? Senão todos, mas sem dúvida, a grande maioria dos funcionários

do Zoo, já ouviu esta pergunta. Difícil foi saber quantas vezes isso ocorreu com cada servidor.

O certo é que uma parcela considerável dos visitantes, diariamente, faz a mesma pergunta.

Não obstante, o que poucos sabem desta questão, é que existe muito mais do que um

simples e recorrente caso de desorientação. Repleta de significados, a pergunta revela um

costume cognitivo do visitante e aguçou o poder de interpretação do pesquisador. Com

efeito, enquanto manifestação espontânea, representou um valioso estudo de fenômeno

situado. Ora, apesar de o autor ter perguntado a dezenas de visitantes sobre o motivo da

visita ao Zoo, nunca ouviu dizer dos entrevistados que os mesmos tenham vindo ao Zoo

para ver as cobras, contudo, é público e notório que isso constitui um desejo incontido da

maioria deles, inclusive, vários visitantes adultos e idosos sabem, precisamente, a localização

pretérita desses animais no Zoo e reclamam, com razão, da sua ausência. É o caso da “Ilhas

das Sucuris” único viveiro conhecido em Zoos do Brasil e do exterior, que chegou a expor Sucuris

ao ar livre. Com efeito, na ausência de um grupo significativo de Sucuris, foram tranferidos para

a atual “Ilha das Serpentes” cinco Pitões Burmesas e dois Pitões-Arco-Íris.

O pesquisador é visto “como aquele que deve perceber a si mesmo e percebera realidade que o cerca em termos de possibilidades, nunca só de objetividadese concretudes, a partir do que a pesquisa qualitativa, dizem, dirige-se afenômenos, não a fatos. (...) quando o pesquisador se despe de referenciaisteóricos prévios. Ficam, é claro,os pressupostos vivenciais - ou o pré-vivido,pré-reflexivo -, que ligam pesquisador e pesquisado, o que impede o cômododistanciamento que possibilita a neutralidade. (MARTINS e BICUDO, 1989.Apud GARNICA, A. V. M., 1997).

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2.2.3 - O Discurso dos Técnicos.

Situados os fenômenos, recolhidas as descrições, iniciam-se os momentos das análises

Ideográfica e Nomotética. Na análise Ideográfica, buscou-se o afloramento da ideologia presente

na descrição ingênua dos sujeitos e na Nomotética, análisou-se as divergências e convergências

expressas na interpretação das especulações de visitantes e técnicos. Em relação aos técnicos, a

fim de captar, com maior eficiência as opiniões dos mesmos, o autor representou o que é de fato,

um educador idealista e, supostamente, submisso ao técnico, considerado, no meio institucional,

muito mais poderoso e sagaz. Nessa condição e, em diversas ocasiões, os técnicos se sentiram

bem à vontade durante os diálogos. Em certa passagem, diante de um técnico de biologia e de um

conjunto de viveiros composto por animais carismáticos, mas com um espaço para fluxo de visitantes

ora mais estreito, ora mais largo, o que é relativamente complexo para roteiros de visitas orientadas,

o autor explicou ao técnico a limitação daquele espaço de visitação e sugeriu a transferência de

uma espécie de maior apelo educacional para um outro viveiro, de modo que o acesso e o trânsito

de visitantes favorecessem o trabalho do professor. Foi então, que o técnico respondeu para

surpresa do autor, que aquele conjunto de viveiros fora organizado por ele, segundo a distribuição

geográfica daquelas espécies no território brasileiro, assim, ele alojou as espécies do Sudeste no

início do roteiro e as outras das Regiões Nordeste e Norte, respectivamente, do meio para o fim

do roteiro, o que tem uma certa lógica. Contudo, além de negar, a troca sugerida, o técnico deu

a entender que a sua lógica era prevalente, demonstrando quanto o seu pensamento era convergente

quando o assunto tratado versava sobre a organização da coleção, e também, o quão este

pensamento estava dissociado da educação e da finalidade de um Zoológico. As escutas das

especulações e deliberações dos técnicos foram conduzidas dessa forma.

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2.2.4 - O Pragmatismo Aplicado à Nomenclatura Popular dos Animais.

Dizia Peirce; “as coisas são o que elas podem fazer”. Essa síntese do pragmatismo lógico

peirceano foi aplicado no processo de ressignificação na nomenclatura popular, presente nas

placas informativas adotadas na Rio-Zoo. Isso foi levado a efeito com o desenvovimento de uma

nominação alternativa para várias espécies de reptilianos, sobretudo, no caso dos répteis dotados

de casco, os quelônios. Segundo o senso comum, esses animais são as tartarugas, mas de acordo

com pressupostos téoricos biológicos, são os cágados. Esse último nome é uma palavra de origem

espanhola e significa, medroso e assustado, o que realmente se verifica no comportamento desses

animais. Contudo, no português essa palavra é extremamente parecida a outra, cujo o significado

representa um objeto abjeto ou torpe, por ser repugnante para a maioria das pessoas. Foi por

conta disso e por estar enraizada no senso comum, como preconiza a Semiótica, que foi adotado

o termo tartaruga, apesar de ser uma palavra de origem italiana.

Ademais, foi realizada uma crítica ao outro paradigma relacionado a imagem institucional

(Seção 3.4.5). Com efeito, a instituição recorre, sistematicamente, as eleições com o público para

escolha de nomes para “batizar” animais. Essa prática, que originalmente ajuda o tratador no trabalho

com manejo de mamíferos, foi banalizada, assim como, as festas de aniversário de alguns animais,

servindo para atrair a mídia e fazer propagando gratuita, para gerar grandes arrecadações. Dessa

forma, é reforçada regularmente, nos veículos de comunicação de massa, a noção de que essas são

práticas correntes e representam o resultado do trabalho educativo do Zoológico do Rio de Janeiro

ou, em outras palavras, esses eventos “educativos”, devido a maior visibilidade, podem estar sendo

interpretados pela opinião pública, como a finalidade única da Fundação Rio-Zoo, o que se choca

frontalmente com a moderna concepção de um Zoológico (Seção 3.6.3).

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3 - RESULTADOS

3.1 - Análise das Hipóteses.

No que se refere as cinco hipóteses estabelecidas na fase inical da pesquisa de

etologia aplicada, a primeira delas, qual seja: o comportamento do visitante é alterado em

função da aparência do animal? Vale ressaltar inicialmente, que a aparência se refere a

coloração da espécie e a forma corporal. Essa hipótese se confirmou, mas curiosamente,

através de dois comportamentos antagônicos. Com efeito, animais com formas anatômicas

bizarras ou excêntricas alteram o comportamento do visitante, atraindo o público. Animais

como o jacaré e o hipopótamo causam um verdadeiro magnetismo nos visitantes. Contudo

quando, as espécies são aparentadas, ou seja, apresentam forma corpórea semelhante,

somente se diferenciando pelas cores, ocorre um desinteresse do visitante. É o que acontece

com araras, papagaios, jandaias e afins, que na Rio-Zoo encontram-se alojados lado-a-

lado numa bateria de dezenas de recintos. Isso foi constatato até mesmo com as araras, que

são as maiores representantes desta família de aves (psitacídeos), via de regra, quando os

visitantes percebem que a diferença entre essas aves é principalmente a coloração, se

contentam em observá-las rapidamente e de longe. No que tange a segunda hipótese: o

comportamento do visitante se modifica de acordo com o tamanho do animal? Também se

confirmou, mas, na Rio-Zoo, apenas com animais de grande porte. Em relação a terceira

hipótese, o comportamento do público se altera em conformidade com o comportamento

do animal? Isso foi plenamente verificável, mas também, com comportamentos antagônicos.

Quando o comportamento expressado foi a mobilidade ocorreu também antagonismo,

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ou seja, animais como os macacos-aranha, de acentuada movimentação, em contraponto,

ao jacaré, com notável imobilidade. Assim como, a pesquisa do Polo Ecológico de Brasília

(BIZERRIL, M., 2000), ambos foram os animais que reteram os visitantes por mais tempo

em seus respectivos viveiros (Gráfico 1). Quando o comportamento foi a vocalização o

antagonismo pôde ser verificado em certos casos. A intensidade da vocalização do Tigre

Siberiano causou um verdadeiro furor no público, enquanto a voz estridente da Arara-Azul-

Grande provocou tanto a atração quanto a repulsa do visitante.

O comportamento do visitante está relacionado a organização da coleção? Sim, houve

relação, no entanto, vale esclarecer, que essa hipótese foi estabelecida tendo em vista uma

característica herdada do Zoológico do Rio, a organização lineana da coleção, ou seja, aqueles

conjuntos de viveiros e baterias de recintos com espécies aparentadas, como por exemplo, os

viveiros dos primatas do Velho Mundo, dos felídeos de grande e pequeno portes e os recintos

dos psitacídeos. Com efeito, no que se refere aos mamíferos, houve atração, mas, com as aves

ocorreu pouco interesse. As explicações desse reduzido interesse pelos psitacídeos, em detrimento

de uma maior atenção aos primatas e aos felídeos, não estão relacionados apenas a aparência, já

que tanto as espécies de primatas são semelhantes quanto as de felídeos são parecidas entre si.

Isso sugere que haja outros fatores atuando. Sem dúvida, o tamanho do animal interfere, já que

mesmo os maiores representantes da família dos psitacídeos, podem ser considerados pequenos

em comparação as espécies de felídeos e primatas analisados. Isso é corroborado, por exemplo,

pela maior procura dos visitantes por viveiros ocupados por espécies de felídeos de grande porte,

que normalmente atraem mais a atenção do público quando comparado às espécies de pequenos

felídeos (Figura 15). Ademais, vale considerar, que os mamíferos despertam mais o interesse dos

visitantes do que as aves. Portanto, o reduzido interesse do público pelos psitacídeos estão

realacionados a vários fatores que atuam em conjunto. Finalmente, a última hipótese, qual seja:

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os viveiros mais amplos ou, de configuração complexa, tendem a aumentar a permanência

do visitante diante do animal? Não foi confirmada na pesquisa, isso sugere, que a observação

do visitante é focada principalmente no animal.

3.2 - Interpretações dos Comportamentos.

Optou-se por uma ordem crescente na análise dos comportamentos prevalentes,

(Anexo III). Considerando que quatro dos comportamentos previstos no etograma, não

tiveram a ocorrência verificada, a saber: jogar objeto no animal; jogar objeto ou lixo no

viveiro; cutucar o animal; oferecer alimento ou jogar alimento ao animal, a análise se iniciará

por estes traços comportamentais.

Figura 15 - O intenso movimento nos viveiros dos grandes felídeos.

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Sempre que possível, procurou-se analisar conjuntamente os comportamentos

correlatos ou do mesmo grupo, bem como, buscou-se uma analogia dos resultados obtidos

na Rio-Zoo com as conclusões verificadas no Pólo Ecológico - Jardim Zoológico de Brasília

(BIZERRIL, M., 2000). Além disso, quando a análise científica não foi satisfatória, buscou-

se a interpretação através da pesquisa qualitativa.

3.2.1 - Jogar objeto no animal ou lixo no viveiro.

Embora, o técnico em seu discurso competente, atribua sistematicamente ao visitante,

a culpa por todas as mazelas de seu trabalho, esta noção, não passa do mais puro

preconceito. A ocorrência de atos de agressividade, mais especificamente, jogar objeto no

animal, não constitui uma ação corriqueira, embora não se possa desprezar, pois basta um

único visitante, entre centenas de milhares efetivar uma agressão para gerar grande repercussão,

mais por indignação do técnico, do que por resultado negativo ao bem-estar animal. No trabalho

realizado no Zoo de Brasília (BIZERRIL, M., 2000), foram registradas duas ocorrências com o

mesmo animal, o “Jacaré”. Com efeito, animais que exibem movimento limitado durante o dia,

como o animal citado e outras espécies de hábitos noturnos, como corujas, felídeos e

canídeos, constituem os grupos de vertebrados mais vulneráveis a este tipo de agressão,

efetivada com uma maior frequência por pré-adolescentes acompanhados de adultos e por

adultos movidos pela necessidade incontida de comprovar se o animal está dormindo ou

doente, vivo ou morto.

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Gráfico 1 – Tempo médio de observação dos visitantes diante dos viveiros da Rio-Zoo.

O comportamento de atirar objeto ou lixo no viveiro, apesar de não ter sido verificado na

pesquisa, pode ser considerado um ato de ocorrência bem maior do que o comportamento anterior.

Neste caso, cumpre esclarecer, que o trabalho etológico não registrou este comportamento pelo fato

da pesquisa de etologia aplicada não ser uma pesquisa probabilística, que exige uma amostragem

proporcional a uma dada população, incluindo o grau de confiabilidade, margem de erro, variância.

A fim de estimar de forma objetiva o impacto deste comportamento nos viveiros, foram

contados e pesados os objetos atirados nos viveiros dos jacarés, após o feriado de 12 de outubro. Em

2007, foram contados 389 objetos pesando 1,69 kg, constituídos sobretudo por palitos de picolé,

canudos, copos de plástico, garrafas plásticas, embalagens de picolé. Vale ressaltar que, em muitas

ocasiões, os detritos não eram jogados propositadamente, mas, apenas caiam das mãos de crianças

que estavam no colo dos pais. A grande maioria dos detritos foram encontrados na periferia do

viveiro, onde a tela do guarda-corpo é mais baixa. Os detritos aí encontrados eram constituídos

por objetos muito leves, indicando que não havia intenção de atingir o animal. No entanto, os

objetos encontrados, em partes mais centrais do viveiro tinham a clara intensão de atingir o animal.

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Esses objetos eram bem mais pesados do que aqueles encontrados nas áreas periféricas.

Além do aumento do comércio de alimentos e bebidas entre as ruas e alamedas da área de

visitação do Zoo, verificou-se que os coletores de lixo da Rio-Zoo, localizados no entorno

dos viveiros dos jacarés estavam superlotados. No ano seguinte com a obrigatoriedade de

cada barraca portar o seu próprio coletor de detritos, houve uma sensível redução, o que

sugere que o aumento de coletores reduz a quantidade dos detritos sólidos dentros dos

viveiros. Vale ressaltar, que viveiros de maior retenção do público (Gráfico 1), necessitam

de maior número de coletores de detritos, o que não foi verificado do viveiro em questão.

3.2.2 - Cutucar, oferecer alimento ou, jogá-lo ao animal.

Agrupada no item interação, cutucar o animal, seja com as mãos ou com um objeto,

não foi verificado nesta pesquisa, bem como na pesquisa realizada no Zoo de Brasília

(BIZERRIL, M., 2000). Apesar disso, o autor já constatou este tipo de comportamento nos

viveiros de micos e sagüis e nos psitacídeos. O ato de oferecer alimento ou jogá-lo ao

animal, também foi verificado com maior frequência no micário. Originado por um desejo

incontido de interação do visitante com os animais, trata-se de um comportamento indesejável

por todos os funcionários. Sabe-se que os animais mais assediados além dos já citados são:

os Macacos-Aranha e os Barrigudos e praticamente todos os primatas exóticos. Tendo em

vista, que trata-se de um desejo incontido expressado por considerável parcela dos visitantes,

uma das formas de mitigar este impacto seria redimensionar o Projeto “Pulando a Cerca”

(Seção 3.4.9.2), associando-o ao antigo Projeto “Alimentando os Animais”.

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3.2.3 - Procurar ler a placa informativa.

Embora seja algo casual, até que o visitante procura ler a placa informativa. Na

pesquisa de etologia aplicada percebeu-se muito pouco este comportamento. Contudo, os

resultados da pesquisa qualitativa demonstraram, que este comportamento é mais comum

em viveiros coletivos ou constituídos por espécies variadas. Com efeito, em recintos “in

doors”, onde as placas informativas são diferenciadas, senão todos, mas com certeza a

grande maioria dos visitantes olham e lêem as informações. Isso pôde ser verificado no

espaço Cobras e Lagartos, devido a um projeto bem concebido de iluminação e comunicação

visual. Percebe-se, nitidamente, que num ambiente que mescla iluminação difusa com uma

ligeira penumbra, as placas informativas iluminadas ganham destaque (Seção 3.6.4). Além

das exigências estabelecidas pela Normativa no 04 (IBAMA, 2002), incluiu-se um espaço

para o tópico curiosidades, com linguagem acessível sobre animais excêntricos por

excelência. Esta concepção de placa (Figura 16), chama sobremaneira a atenção dos

Figura 16 - Modelo da Placa Informativa do Espaço Cobras e Lagartos.

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visitantes em virtude, principalmente, dos seguintes fatores: presença de letreiro luminoso,

ou seja, a placa é iluminada por trás; as placas ocupam a metade do comprimento da maioria

dos terrários e estão bem localizadas, facilitando a visualisação.

Na área de exposição ao ar livre, não existem critérios para a localização das placas

informativas e nem uma relação proporcional entre o tamanho da placa e o tamanho do

viveiro. Dessa forma, utiliza-se placas com a mesma dimensão para viveiros e recintos com

áreas completamente distintas.

Um outro detalhe que não é levado em consideração é quanto a forma da placa.

Para viveiros de grandes dimensões com a “Ilha das Serpentes”, que tem cerca de 1000 m2,

e concepção arredondada, por que não usar, placas grandes e arredondas como o próprio

viveiro? Ademais o nome do viveiro poderia ser destacado numa texteira, para ser encontrado

com maior facilidade e assim, falicitar a orientação do público.

3.2.4 - Olhar para outro animal ou pessoa e se afastar, distração e passar direto.

O ambiente do Zoo é acentuadamente dispersante, pois os estímulos ambientais são muito

variados e, via de regra, concomitantes. Assim o visitante pode estar contemplando uma Arara e, de

repente, o Pavão lança sua vocalização, abre sua cauda e os visitantes literalmente deixam a Arara de

lado e se dirigem para o viveiro do Pavão. Além da ação dispersante dos animais e seus viveiros, que

aqui na Rio-Zoo são situados um ao lado do outro, existem outros fatores que interferem na observação

aleatória do visitante, como por exemplo, a interferência dos acompanhantes durante a visita, definido

na pesquisa como “olhar para outra pessoa e se afastar”.

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Dessa forma, inferiu-se que, no interior do Zoo, quanto menor o número de visitantes de um

grupo, maior a atenção é direcionada ao animal, ademais, o visitante manifesta lampejos desordenados

da realidade, gasta muito pouco tempo observando os animais. O comportamento de “passar direto”

está relacionado em parte, à reduzida percepção ambiental do visitante, a carência de uma comunicação

visual mais eficiente da instituição e de uma mudança no comportamento ambiental do viveiro.

3.2.5 – Curiosidade e Especular sobre o animal.

Cerca de 20% dos visitantes manifestaram um olhar curioso para com os animais. Além das

crianças, esse comportamento é geralmente manifestado por idosos e adultos do sexo feminino. O

idoso por seu turno, favorecido pela experiência de vida e pelo fato de visitar o Zoo geralmente

sozinho e as mulheres, pelo fato de estarem mais preocupadas do que os homens na educação dos

filhos e, por conta disso, com os seus sentidos mais aguçados e com disposição para orientar e educar.

Em geral as especulações dos visitantes sobre os animais são baseadas em crenças infundadas

e interpretações equivocadas do comportamento animal, fruto do total desconhecimento sobre a vida

dos animais e do funcionamento de um Zoo. Via de regra, as pessoas apresentam noções deformadas

da realidade e transmitem essas noções aos outros membros do grupo, que raramente as contestam. O

preocupante é que os visitantes saem do Zoo com essas noções equivocadas que, em geral, são

depreciativas ao trabalho desenvolvido pelo corpo técnico. Em relação ao Macaco-Aranha-de-Cara-

Vermelha, por exemplo, escuta-se alto e em bom tom, os seguintes comentários: “Olha lá, tá se

coçando, isso é piolho! Olha a barriga desse aí, deve tá cheio de verme. Os macacos tão magros,

não dão é comida direito pra eles”. No que tange aos felídeos, em que a maioria das espécies apresentam

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hábitos noturnos, os visitantes reclamam: “o tratador dá calmantes prá eles; estão todos

dopados, os bichos não aguentam nem levantar, isso é fome!” Quando os comentários incidem

sobre o jacaré e seu lago, sistematicamente ouve-se o seguinte: Olha só nem pisca, só pode

estar morto; esse bicho não está bem não vai nem pra água; o Zoo dá calmante pra eles

ficarem mansos”. Portanto, existe uma ideologia por trás da interpretação equivocada do

comportamento animal, a depreciação do trabalho do técnico e do tratador.

Todos os comentários são infundados, mas, podem inclusive formar opinião entre o

público leigo. Por isso, é fundamental, incluir nesses viveiros, monitores ambientais e/ou

tratadores para rebater essas idéias irreais, a utilização de placas informativas para este fim,

decididamente, não atinge o grande público.

3.2.6 - Apontar e procurar o animal.

Esses itens comportamentais, além de correlatos, são peculiares aos indivíduos que

visitam o Zoo em grupos. Com exceção da maior parcela dos idosos, praticamente a

totalidade do público visitante chega ao Zoo em grupos. Vem daí a explicação para a

prevalência destes itens em relação aos demais. Normalmente esses comportamentos estão

associados à ação de procurar o e posteriormente de apontar animal ao outro componente

do grupo. Em geral, a manifestação deste comportamento se dá com animais de fácil

visualização, mas, quando a descoberta é efetivada com animais dotados de mimetismo

críptico, ou seja, que se camufam usando o ambiente como pano de fundo, a descoberta,

revela uma emoção distinta e interessante sob o ponto de vista da cognição ambiental.

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3.3 - Análise dos Viveiros.

Na pesquisa, os viveiros foram classificados como regulares ou de concepção simples e

irregulares ou de concepção complexa. Os regulares são os viveiros clássicos de Zoo, ou seja, de

concepção mais antiga, onde o visitante só têm acesso visual por uma, duas ou três faces de visualização,

já nos irregulares o público pode contorná-los, visualizá-los de cima e por diversas faces.

É preciso sublinhar, que para a análise de um viveiro deve-se considerar o atendimento das

exigências de adequação do ambiente para o animal, de adaptação estrutural para facilitar o manejo

do tratador, de tratamento paisagístico e de comunicação visual para atrair e instruir o visitante.

3.3.1 - Lago dos Jacarés - Jacaré-de-Papo-Amarelo.

Figura 17 - Visitantes diante do viveiro recém-reformado do Jacaré-de-Papo-Amarelo.

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Viveiro de concepção ondulada onde os animais podem ser visualizados de vários pontos e

de distintos ângulos, o “Lago dos Jacarés”, apesar de amplo e bem equilibrado em termos de proporção

terra-água, apresentava antes da pesquisa, um comportamento ambiental que não propiciava ao visitante

percepções sensoriais que proporcionasse uma noção positiva do comportamento do Jacaré e do

próprio trabalho desenvolvido pelo corpo técnico. Ademais, a forma de manutenção anterior do viveiro

favorecia sobremaneira certa parcela do público a lançar detritos sólidos, tanto sobre a água quanto

sobre o leito de concreto armado. A composição do lixo encontrado indicava que, excetuando-se

algumas chupetas, tampa de caneta e batom, os detritos prevalentes eram da indústria alimentícia.

Na verdade, são dois viveiros de jacarés (S02V01 e S02V02), os mesmos foram reformados

e revitalizados, adquirindo maior profundidade e tiveram sua paisagem, manutenção e comportamento

ressignificados, com a introdução da Lentilha D’água Lamna minor e o Aguapé Eichornia crassipes,

plantas aquáticas depuradoras. Além disso, peixes larvífagos e detritívoros, como o Barrigudinho

Phalloceros caudimaculatus e a Tilápia Tilapia rentali foram introduzidos e passaram a atrair aves

predadoras e oportunistas com o Socó Nicticorax nicticorax (Figura 18).

Figura 18 - Um Socó (Nycticorax nictycorax) sendo observado pelo Jacaré-do-Pantanal (Caiman yacare).

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3.3.2 - Viveiro da Arara-Azul-Grande.

Viveiro de concepção tradicional e pouco atraente, cujo acesso se dá por um aclive afastado

cerca de 300 metros da entrada do Zoo, localizado ao lado de outros recintos do mesmo tipo e

também constituídos por araras, 16% dos visitantes que passam pelo viveiro deste psitacídeo não

percebem a ave. Durante as amostragens a arara não era facilmente avistada, o que pôde ser confirmado

pelo número elevado do itens comportamentais “procurar “e “apontar o animal”. Além da constatação

de que os visitantes dispensam mais atenção a Arara-Vermelha do que a Arara-Azul, percebeu-se que

vários grupos de visitantes preferem contemplá-las de longe e por pouquíssimo tempo, afastando-se

em seguida. Isso sugere, que a diferença de cores entre os animais não é determinante para a atração

do visitante. É preciso considerar, entretanto, que outras espécies de araras representam um dos

“cartões de visita” da Rio-Zoo, vez que, há muitos anos, essas aves se situam logo na entrada da Zoo

e, portanto, logo ao chegar, já são vistas pelo visitante, que satisfeito, não necessita vê-las de novo.

Figura 19 - Viveiro da Arara-Azul-Grande.

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3.3.3 - Ilha do Macaco-Aranha-de-Cara-Vermelha.

Constitui um viveiro de configuração irregular, em função de sua concepção e localização

privilegiada. Trata-se de um viveiro constituído de um lago que contorna uma área construída de forma

curiosa formando uma ilha artificial. No que se refere à paisagem inserida, em nada se assemelha ao

hábitat da espécie, mas possibilita adequações de manejo que enriqueceram o viveiro de tal modo, que

o grupo de primatas ali alojados, manifesta todas as características de uma espécie bem adaptada ao

estado de confinamento, com reprodução regular e a consequente presença de todas as categorias

etárias possíveis. Pode se considerar, que o Macaco- Aranha e o Jacaré empatam nos quesitos: tempo

médio de observação (cerca de 2 min.) e tempo total (cerca 60 min.), com 26 registros em etograma

para o primata contra 28 do crocodiliano. Mas, considerando a riqueza de comportamentos

expressados, número de especulações e a amplitude de tempo (quase 25 min.), o Macaco supera o

Jacaré. Não há dúvida, “A Ilha dos Macacos”, constitui um dos melhores e mais atraentes viveiros do

Jardim Zoológico. Com efeito, além das semelhanças humanas de postura, comportamento e aparência,

esses primatas têm expressivo apelo lúdico e, efetivamente, divertem o público.

Figura 20 - Diferentes categorias etárias podem ser visualizadas na “Ilha dos Macacos”.

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A “Ilha dos Macacos” é dos mais eficientes viveiros do Zoo. Durante a pesquisa, ficou claro

que mesmo depois de se divertir, observando por vários minutos as peripécias dos símios, o visitante

quando questionado sobre o nome do animal, responde sem titubear: macaco. Inadvertidamente,

conforme acontece com os jacarés, cobras e tartarugas o visitante generaliza o nome desses animais e

deixa de perceber a característica mais marcante da fauna brasileira, a imensa diversidade de espécies.

Foi interessante notar que os visitantes preferem ver o animal em dois pontos principais e que a placa

informativa fica localizada justamente no ponto onde o visitante, na maioria das vezes, não se dirige.

3.3.4 - Viveiro do Gavião Real.

O viveiro do Gavião Real, o maior gavião do mundo, é um exemplo clássico de viveiro

projetado para atender as exigências da espécie, mas que é deficiente quanto a visualização pública. O

viveiro é bem alto e fica a cerca de cinco metros acima do campo de visão do visitante. Com efeito, os

viveiros que o antecedem têm até dois metros de altura (Figura 21). Por conta disso, foi verificado que,

Figura 21 - O Viveiro do Gavião-Real.

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Figura 22 - O Lago do Hipopótamo em 2004 à esquerda e em 2009 à direita.

3.3.5 - O Lago dos Hipopótamos.

Apesar da antiga concepção do viveiro, com a última reforma, associada a um

manejo eficiente, a água do lago tornou-se cristalina e o Lago dos Hipopótamos foi

revitalizado (Figura 22). Este viveiro se mostra bem eficiente, prova disso é a regularidade

na reprodução desta espécie.

a cada quatro visitantes que passam por este viveiro, um não consegue avistar a ave. Isso

poderia ser até considerado algo normal, devido a uma carência de percepção ambiental do

visitante ou comunicação visual do Zoo, contuto, como trata-se do maior representante

mundial da família dos gaviões, se faz necessário chamar a atenção do público.

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Figura 24 - A “Ilha dos Iguanas” à esquerna em 2007 e à direita em 2009.

De cada dez visitantes que passam pelo viveiro do iguana, sete não visualizam o lagarto muito

bem camuflado. Os visitantes expressam um comportamento de alegria, quando descobrem o lagarto

mimetizado nos ramos da Manguba Pachira aquatica. Ressignificado de forma semelhante aos viveros

dos jacarés. Na “Ilha do Iguana”, além da poda regular, o piso de concreto armado foi substituído por

terra de jardim e areia, de forma a ampliar a área para postura do Iguana, mas também, da Tartaruga-

Amarela Acantochelys radiolatta e da Tartaruga-do-Paraíba Ranacephala hogei, aí introduzidas,

juntamento com a Lentilha D’água Lamna minor e o Barrigudinho Phalloceros caudimaculatus.

Figura 23 - Descobrindo os Iguanas.

3.3.6 - A Ilha do Iguana.

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3.3.7 - Viveiro do tigre siberiano.

3.3.8 - Viveiro do Urso-de-Óculos.

Figura 25 - Viveiros do Tigre Siberiano e do Urso-de-Óculos.

Embora tenham concepção tradicional, todos os viveiros dos felídeos de grande porte foram

ampliados. São viveiros em sequência que despertam muita atenção do público, que nos dias de

domingo, lotam sua única via de acesso. Contudo, a retenção que se verifica atualmente, dificulta uma

visualização adequada dos animais.

Um detalhe interessante deste viveiro é que o mesmo foi concebido para o Urso Polar e

planejado para ter uma grande câmara frigorífica que nunca foi instalada, porque, urso polar nunca fez

parte do plantel da Rio-Zoo. Um outro detalhe é que apesar do tamanho do viveiro e do animal, nem

sempre o animal é avistado, devido a interferência de um vizinho relativamente próximo, a Girafa.

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3.4 - Comportamento dos animais.

Cumpre considerar, que o comportamento de cada animal selecionado para pesquisa

de etologia aplicada, foi analisado, principalmente, durante as amostragens, ou seja, com a

interferência da presença do visitante.

No que se refere ao Tigre Siberiano, durante o período das observações, apenas

em duas amostragens o felídeo, caminhou e saltou pelo viveiro, também em duas ocasiões

permaneceu deitado com os olhos fechados, o que pode ser intepretado como período de

sono, neste caso o visitante passou direto pelo viveiro ou foi indiferente. Por se tratar de um

animal de hábito noturno, no restante das observações o animal permaneceu deitado de

olhos abertos ou descansando, numa posição do viveiro bem próxima da área de visitação,

favorecendo a visualização do público. Verificou-se, que nessa posição, normalmente, nos

momentos de apelos de atenção por parte do visitante, o animal interagiu com o visitante,

repondendo através de um fechar e abrir dos olhos, concomitante, a emissão de uma audível

expiração nasal.

No “ Lago dos Hipopótamos” acontece algo bem interessante, quando o animal se

encontra fora da água, mesmo com o seu porte avantajado, desperta pouca atenção. Contudo

quando o animal se dirige para o lago, os visitantes chegam a correr na direção do viveiro

para observar o mamífero. Como as amostragens foram realizadas em horários variados, o

animal pôde ser visualizado, no momento da submerção, retornando à tona, flutuando na

água e se deslocando em direção ao cocho de alimentação ou retornado deste último.

O Urso-de-Óculos, na maioria das amostragens se mostrou ativo, seja na água ou

na terra firme, nesse último caso, frequentemente, foi observado o comportamento

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estereotipado de andar de um lado para outro com virada rápida da cabeça e, apenas uma

única vez, esteve inativo, provavelmente dormindo.

O Jacaré-de-Papo-Amarelo, com exceção de uma ocasião em que saiu da terra em

direção a água, em todas as demais amostragens permaneceu imóvel, tanto assoalhado sobre

a margem do lago, em dias ensolarados, como flutuando sobre a água em dias com temperatura

mais baixa, onde mantém apenas parte da cabeça fora d’água e permanece sem se mexer.

O Macaco-Aranha-de-Cara-Vermelha, em virtude da presença de diversas

categorias etárias (presença de filhotes, jovens, adultos e fêmeas em gestação ou lactação),

expressou uma grande variedade de comportamentos, saltou entre as cordas que imitam

cipó, se coçou, coçou outro indivíduo, olhou para o visitante, correu e saltou brincando

com o outro, se abraçou e puxou o outro, descansou e demonstrou afeto e proteção ao

outro e, finalmente, se alimentou exibindo muita graça diante do visitante.

Os dois indivíduos de Gavião Real permaneceram empuleirados nos puleiros mais

altos do viveiro observando o ambiente sem olhar para o visitante e vocalizar, em apenas

uma amostragem o macho foi visto passando de um puleiro para outro.

O Iguana durante as amostragens permaneceu imóvel sobre os ramos e galhos da

árvores expondo o corpo ao sol.

A Arara-Azul-Grande não esteve sempre visível na maioria das amostragens, em três

oportunidades esteve escondida em seu abrigo. No mais, foi avistada no chão do viveiro ou,

principalmente, sobre os poleiros. O que chamou a atenção foi a constante vocalização verificada

em mais da metade das observações, sendo que, em apenas duas amostragens vocalizava baixo e nas

demais, produzia sons extremamente estridentes, inclusive, no exato momento em que o visitante se

aproximava do viveiro, parando de vocalizar assim que o visitante se afastava, esse último comportamento,

verificado, indicou que a ave, durante a pesquisa, reagiu negativamente à presença do público.

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3.5 - Comportamento dos Grupos Etários Amostrados.

A categoria etária “idoso” constitui a que mais interage com os animais e manifesta maior

riqueza de comportamentos e de tempo de observação (a maior amplitude de tempo foi verificada

com um idoso). Considerando que o idoso, na maioria das vezes, visita o Zoo sozinho ou

acompanhado de uma a duas pessoas, isso sugere que o tempo de permanência diante dos animais

e a quantidade de comportamentos expressados é inversamente proporcional ao número de

indivíduos de cada grupo de visitantes.

No que se refere as crianças, elas se destacam por uma percepção visual mais aguçada

do que a dos adultos que a acompanham. A curiosidade é bem desenvolvida e as mesmas estão

sempre dispostas a conhecer novidades, mas, os pais normalmente são quem conduzem a visita e

direcionam a atenção da criançada e nem sempre atendem aos reclames das crianças.

De forma semelhante aos idosos, a presença de adolescentes é bem menor, quando

comparada aos adultos e crianças. Esta faixa etária se identifica com as espécies de grande

porte e de alto apelo estético. Por conta disso, os jovens podem permanecer por vários

minutos admirando a beleza, a força e a habilidade física de uma espécie.

Entre os adultos, pode-se identificar claramente uma diferença de comportamento

de acordo com o sexo. As mulheres mais atentas a educação das crianças, discretamente,

demonstram o desejo de atenção dos animais, caso algum desses animais, principalmente

os mamíferos, não respondam aos seus apelos de atenção, ela deixa de observar o mesmo

e se afasta reclamando do animal. Os homens são mais descontraídos na visita, mas,

normalmente se preocupam em realizar uma visita mais objetiva, por isso, normalmente,

lideram o grupo de visitantes.

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3.6 - Pesquisa Qualitativa.

3.6.1 - Conjunto dos Motivos do Grupo Social.

O que realmente significa fazer o bem para instituição? Buscar um entendimento

entre as várias áreas competentes do Zoo, a fim de sensibilizar o poder municipal, pode ser

um bom caminho. Contudo, quando ingressou na Diretoria Técnica o autor se deparou com

um grupo técnico rachado, com posicionamentos contrários acerca do serviço técnico e

que se fazia notar por vaidades, atitudes radicais e pela busca do poder. Em conjunto, essa

situação repercutia sobre um relevante grupo funcional do Zoo, os tratadores de animais.

Sistematicamente, as desavenças dos técnicos geraram divisões entre os tratadores que se

agravaram na razão direta da necessidade de substituição dos mais antigos devido a

aposentadoria, ou da troca dos não adaptados através do advento da terceirização. Com

efeito, os novos tratadores ingressaram na Rio-Zoo, por meio de três categorias, a saber:

tratador 1 (o mais elementar), tratador 2 e tratador técnico, todas com faixas salarias

"A verdadeira comunidade humana, [...] é a daqueles que procuram a verdade, [...]quer dizer, em princípio de todos os homens na medida que tenham o desejo desaber. Na verdade, porém, formam pequeno grupo, o dos autênticos amigos, comoPlatão o era de Aristóteles no mesmo instante em que discordavam acerca danatureza do bem. A preocupação que lhes era comum pelo bem os guia; o desacordoem torno do bem provava que precisavam um do outro para compreende-lo" -Allan Bloom (Apud. REIS, A. T. da e L. LAY, M. C. D., 2006).

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diferenciadas que vieram a se somar as três categorias já existentes com salários igualmente

discrepantes e mais baixos do que os terceirizados, quais sejam: o tratador estatutário (mais

antigo), o tratador do quadro da Rio-Zoo e os tratadores contratados (que substituíram os

primeiros a se aposentar). A complexidade para admininstrar um grupo tão heterogêneo foi

tamanha, que o Departamento Pessoal passou a fiscalização dos tratadores terceirizados

para a Diretoria Técnica, o que resultou numa demasiada burocratização e politização do

serviço técnico, acirrando ainda mais as divergências, sobretudo, entre os biólogos, mas

também, entre os veterinários. Corolário lógico dessa condição situacional, a nobre tarefa

de desenvolver projetos de conservação e de pesquisa ficaram para segundo plano e a

imagem da instituição também.

O que passa pela mente de um biólogo quando ele adota um nome popular para um

animal? A busca por uma referência, que nesse caso constitui o uso de um nome popular da

região, a escolha de um nome adotado nos livros ou pela maioria dos técnicos. No entanto,

na rotina de um técnico há pouco espaço para discussão deste assunto, pois, não aparenta

ser algo relevante, até porque há uma linguagem científica própria, regularmente atualizada

que lhe confere embasamento. Interpretando-se o modo de agir e o foco do trabalho de um

biólogo de zoológico, percebe-se que existem outros temas bem mais importantes do que

uma simples adoção ou discussão para escolha de um nome popular.

Enquanto responsáveis pelo manejo das classes de animais típicas de Zoos, os

biólogos de zoológicos, via de regra, se preocupam em se impor perante seus subordinados,

primam pela sua imagem de servidor respeitado, sempre ocupado e dotado de uma cultura

zoológica restrita a poucos, que associada a uma preocupação rotineira com o bem-estar

dos animais e a um linguajar científico, emprestam a este profissional, uma certa pompa

intelectual, além de uma posição de funcionário com função nobre, que em muitas

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circunstâncias atrai o interesse da mídia, lhe proporcionando preciosos minutos de fama.

Essa preocupação com a própria visibilidade, típica da motivação extrínseca, constitui uma

característica marcante entre os biólogos. Ademais, vivendo no mundo extremamente competitivo, há

entre esses profissionais, a necessidade de estar periodicamente atualizando-se. Essa vontade de estar

sempre se aperfeiçoando o conduz para um crescimento interno, caracterítico da motivação intrínseca.

E quanto a motivação transcendente? Como e em que circunstância ela ocorre? Considerada a motivação

mais básica do ser humano (FRANKL, V., 1998) a motivação transcendente é normalmente pouco

observada, ou mesmo praticamente inexistente entre os técnicos.

Na outra ponta e, ao mesmo tempo no cerne desse processo, está o educador, cuja

prevalência da motivação transcendente no conjunto de seus motivos, constitui a consequência do seu

trabalho, direcionado que é para as outras pessoas.

Com efeito, quando uma pessoa se move por uma motivação transcendente, significa que ela

além de visar o atendimento às necessidades alheias, visa também, à sua melhoria enquanto ser humano,

independentemente da reação do seu ambiente e da sua própria satisfação pessoal. Essa capacidade

possibilita ao educador reconhecer os motivos dominantes dos indivíduos, de modo a oportunizar a

retificação dos motivos distorcidos ou incorretos, inclusive, buscando nos indivíduos, motivos mais

elevados. No âmbito do Zoo, o conjuntos dos motivos dos profissonais que aqui trabalham precisam

estar alinhados à mensagem e a imagem do Zoológico enquanto instituicão. Contudo, valores como a

fraternidade e a solidariedade passam longe dos técnicos. Portanto é preciso retificar e equilibrar o

conjunto das suas motivações. No que tange a esse tema, foi desenvolvido o Projeto “Humanizoo”,

que em linhas gerais, é um projeto que se destina a valorizar, equilibrar os motivos e dar visibilidade ao

trabalho e a experiência técnica do tratador de animais, através das concomitantes ações automativas,

cognitivas e afetivas destinadas ao visitante, de modo a propiciar ao mesmo, no momento da visita, a

percepção do papel do tratador, do funcionamento do Zoo e da mensagem institucional (Seção 3.6.7).

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3.6.2 - Roteiro - Ponto de Partida Monumental.

A pesquisa qualitativa, destituída de preconceitos, de pressupostos teóricos e de qualquer

constrangimento metodológico, desocultou as motivações do visitante antes da sua entrada no Zoo. A

partir desse ponto, foi percebida que a análise fenomenológica deveria ser desenvolvida a partir do

Portão Monumental, até porque, o Portão poderia ser um ponto de encontro e de referência institucional

ou “landmarks” (LYNCH, K., 1998). Impregnado pela História do Brasil e de inestimável valor

arquitetônico, tanto o Portão quanto o seu entorno é subutilizado pela Rio-Zoo. Considerando a imensa

riqueza em significados do Portão Monumental, a entrada oficial do Zoológico deveria ser realizada

através dele e, a saída poderia ser ao lado da bilheteria que ficaria no mesmo local. Nessa nova

concepção, as roletas seriam deslocadas para o lado do Portão de Entrada (Anexo VIII), limitadas

por cercas, com o estacionamento e com as vias da Quinta da Boa Vista . Nessa nova concepção, o

visitante teria tempo não somente para admirar o Portão e conhecer sua história, mas para pensar em

como poderia ser sua visita e escolher um roteiro (Seção 3.6). Atualmente o visitante entra caminha

uns dois metros e já está diante de várias espécies animais, do assédio de comerciantes e, em dias de

maior movimento, do trânsito dificultado e do tumulto. Essas condições podem causar desorientação,

desordem ou insegurança psicológica. Comparando-se esta última condição com a alternativa de entrada

estendida, onde o visitante enxergaria o portão de longe, havendo espaço suficiente para o mesmo

contemplá-lo e conhecer alguns serviços do Jardim Zoológico. Além desse aspecto, é relevante a

criação de um ponto de orientação para turistas, constituído por quiosques com guias de visitação,

inclusive para pessoas com necessidades especiais, uma maquete do Zoo, dicas e sugestões de roteiros

e uma texteira chamativa com informações sucintas, atraentes e em vários idiomas, incluindo o Braile,

sobre os direitos e deveres do visitante e as finalidades de um Zoo moderno (Figura 27). Dessa forma,

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antes mesmo da entrada do público, a asssociação da rica história de vida do Jardim Zoológico do Rio

valorizaria sobremaneira o capital cultural do carioca. Além de tudo, resolveria uma situação que é

imposta ao visitante, na verdade um direito natural das pessoas, o direito de ir e vir, que é literalmente

cerceado na Passarela da Fauna. Subvertendo-se essa imposição de "mão única", o visitande ganharia

de presente um novo roteiro, podendo entrar no Zoo pela Passarela ou pelo Portão Monumental e

escolher um roteiro (Seção 3.6.3).

3.6.3 - Rotas de Visitação.

Constitui um raciocínio lógico começar um roteiro de visitação pelo marco de entrada, ou seja,

pelo Portão Monumental. Nada mais pertinente para uma instituição cultural, com a sua rica história de

vida, que recaptula diversos aspectos da memória da cidade, que precisa ser recontada ou, ao menos

Marco

Espaço

Roteiros

Figura 26 - Marco de entrada.

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lembrada. No caminho em direção a entrada do Zoo, o visitante tomando conhecimento dos

roteiros de visita disponíveis, teriam plenas condições, ao cruzar o marco de entrada, de escolher

um roteiro de sua preferência. O Portão Monumental além de ser um ponto de referência, constitui

a linha demarcatória entre a entrada e a saída. O espaço disponível após a entrada representa

tudo o que o visitante espera encontrar e também, os roteiros de visitação (Anexo VI).

¿Para qué sirve un Zoo? Hoy en dia los zoos ya no son como los de antes. Hacemuchos años servín para que todos pudiéramos ver animales exóticos que de otraforma nunca hubléramos conocido. La situación crítica de muchas especies en sumedio natural, el desconocimento de la biologia de gran parte de ellas y la falta deinformacíon por parte de la sociedad, hacieron a los zoos replantearse su missión.Los “zoos modernos” tienen, hoy, otra finalidad. Utilizan sus instalaciones y supersonal especializado para desarrollar tres funciones importantissimas:Conservación, Investigacón y Educación (Zoo-Aquarium de Madrid).

Figura 27 - Para que serve um Zoo?

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Considerando que a área de exposição de animais do Jardim Zoológico é

suficientemente extensa e complexa, até pelo fato de ser uma instituição histórica e, portanto,

antiga, o Zoo apresenta muitas vias e caminhos que com o passar do tempo perderam sentido,

mas que continuam sendo usadas, vários viveiros foram surgindo inicialmente como novas

atrações, mas com o correr dos anos e manutenção precária, tornaram-se, lamentavelmente,

obsoletos.

Por conta do exposto, os estudos de Comportamento-Ambiente se detiveram no

roteiro definido aqui com “Rota Norte”, onde encontra-se a grande maioria dos viveiros e

recintos do Núcleo de Répteis, que foram revitalizados e ressignificados em virtude da legítima

prerrogativa de Subgerente da Suart. Nesse sentido, conforme mostra os anexos VI e VIII,

a Rota Norte tem início nos viveiros de araras e papagaios, que tem reduzida retenção de

visitantes, e segue em direção ao espaço “Cobras e Lagartos”, onde o visitante gasta um

tempo médio de 14 minutos. Esse novo espaço de visitação propõe um “loop” que a princípio,

questiona a hierarquia da via principal, a “Alameda Macaco Tião”, mas, possibilita na saída

o retorno ao sentido natural leste-oeste. Contudo, a proposta esbarra na idéia equivocada

que o público deve seguir o caminho que quiser. E a maioria retorna pela entrada, causando,

em dias de maior movimento, um fluxo confuso e indesejado, sobretudo, por se tratar de um

espaço de visitação localizado na atual entrada do Zoo. Na verdade, a instituição deve

estabelecer os roteiros de visita, que, naturalmente podem ser escolhidos. Quando isso for

resolvido, a sequência do roteiro segue pelo viveiro do Calau e depois pelos Tucanos e

Araçaris, até chegar a Arara-Azul-de-Lear, Capivara, Tamanduá-Mirim e Bandeira e Lagos

dos Jacarés, depois segue para Creche e em seguida faz um “loop” por uma passarela sobre

o viveiro das Aves Pernaltas e chega à “Ilha das Serpentes”, Reptário, Iguana, Hipopótamo,

Aves de Rapina e finda nos Primatas Brasileiros e daí segue para a Rota Sul.

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3.6.4 - Cobras Aqui! Espaço "Cobras e Lagartos".

O espaço "Cobras e Lagartos" foi criado em substitução ao "Exoticum", antiga área

de exposição Serpentes, Lagartos, Tartarugas, Sapos e Aranhas, que continuam presentes

na exposição. Vale esclarecer, que o nome escolhido, está relacionado a uma expressão

popular e não, a composição dos recintos. Embora esta expressão seja comum e signifique

algo de ruim, o visitante ao ler o nome sabe perfeitamente o que vai encontrar lá,

diferentemente da denominação "exoticum" que além de apresentar duplo significado é um

termo latinizado. Todo o espaço foi ressignificado, desde a pintura da área de exposição,

que passou a ser caramelo ao invés de negro, passando pelas chamativas placas informativas até

a nova entrada, com uma passarela que, além de subverter totalmente o esquema anterior, sugeriu

uma nova hierarquia da rota de visitação do Zoo. Com um total de dezesseis recintos pintados de

forma intercalada nas cores areia, camurça e verde, procurou-se alojar em sequência, espécies

bem diferentes quanto ao tamanho, coloração, adaptação ambiental e comportamento.

Figura 28 - Panoramas e Detalhes do espaço Cobras e Lagartos.

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3.6.5 - Muito mais do que um viveiro.

"Aqui não ficavam aquelas cobras enormes? (...) Não tem mais cobra aqui? (...)

Para onde foram as cobras?". A análise dessas especulações descortina emoções que foram

reprimidas no público, causada pela visão unilateral tecnocrata, que só se preocupa com

dados objetivos e, por conta disso subtraiu o sentido de viveiros tradicionais. Sob a luz do

Comportamento-Ambiente, percebeu-se que os visitantes mais antigos expressam noções

precisas sobre a localização pretérita de viveiros e de seus ocupantes. É o caso do antigo

viveiro das Sucuris no Zoo. Verificou-se, que quando um antigo visitante se depara com

outro animal ocupando o viveiro que, historicamente, foi destinado para as grandes serpentes,

isso remete o mesmo para uma condição de insegurança, porque ele percebe que não conhece

mais o ambiente, e segundo, porque o viveiro que no passado lhe proporcionou emoção,

não pode mais ser revivenciado com os seus entes queridos. Portanto, este espaço é muito

Figura 29 - Detalhe do antigo Viveiro da Sucuri em 1979 no Jardim Zoológico do Rio - Foto Roberto Rocha.

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mais do que um viveiro é na realidade um ponto referencial da instituição e, portanto, deve ser resgatado

e assim foi feito (Seção 3.6.7).

3.5.6 - O Macaco e o Anti-Macaco.

Diante de um macaco, os visitantes percebem semelhanças físicas e comportamentais que

resultam em atração, evocando nelas, por uma questão de identidade, comportamentos de admiração

e comparação. Por outro lado, quando se está diante de uma serpente, a situação é bem distinta. Com

efeito, as primeiras sensações são de respeito e medo. Não há como refutar, que as serpentes, enquanto

animais de excentricidade extremada, por não possuírem membros, pálpebras e orelhas, estimulam

comportamentos bem diferentes nas pessoas provocando medo e repulsa na maioria dos visitantes,

contrastando com os macacos. O macaco é o animal preferido dos visitantes, por ser divertido é

admirado e provoca fortes emoções no público. Essa afirmação não chega a surpreender, mas e

quanto ao animal preterido pelas pessoas, aquele que provoca repulsa e medo nos visitantes, esse é

representado pelo "antimacaco". As cobras, encontram-se presentes no imaginário popular e são as

recordistas em história fantasiosas e crendices injustificadas. Em várias pesquisas realizadas em Jardins

Zoológicos europeus, o antagonismo entre macaco e cobra foi cientificamente comprovado. Segundo

pesquisa de Surinová (SURINOVÁ, M.,1971) as cobras lideraram o "ranking" dos animais mais

rejeitados em Zoos com 22% enquanto os macacos com 26% foram os mais queridos. Em Zoos

europeus, o panorama foi o mesmo (MORRIS, D., 1960). Na pesquisa qualitativa desenvolvida

após a etologia aplicada, constatou-se que os visitantes, ao observar uma serpente, permanecem um

tempo médio duas vezes maior do que do diante de um Tigre Siberiano. Com efeito, as serpentes

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remetem as pessoas para uma condição de percepção nocional, distintamente, quando as mesmas

estão diante de um macaco. Com efeito, quando estão frente-a-frente a uma cobra, o visitante procura

bem mais do que do que uma simples diversão ou percepção visual, o visitante busca a apropriação

de uma noção, não apenas dos motivos da cobra ser tão poderosa, um anseio natural do ser humano,

mas, como um animal destituído de pernas e braços pode ser tão perigoso e, como ele deve se

proteger desse animal. Por conta disso, o visitante gasta mais tempo observando e especulando com

outros visitantes e, finalmente, lendo as curiosidades incluídas na placa informativa, o que é muito raro

com outros animais.

3.6.7 - Pojeto Humanizoo.

As análises das especulações dos visitantes revelaram uma série de interpretações equivocadas

Figura 30 - O Jacaré-do-Pantanal apresando uma cobaia diante do público.

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sobre o comportamento das espécies em exposição, sobretudo, em relação aos répteis, animais,

normalmente, de pouca mobilidade. Se não todos, mas com certeza, na maioria dos casos, essa noção

comportamental deformada sobre os reptilianos, depõe contra o trabalho de excelência realizado pelo

corpo técnico. Ciente de que a missão educativa de um Zoológico não se esgota com o trabalho do

setor educacional, o núcleo de répteis desenvolveu um projeto de educação ambiental, com o objetivo

demonstrar para o público, em horários de maior movimento dos finais de semana e, em grandes

viveiros, o manejo alimentar de serpentes e jacarés de portes avantajados. Tendo em vista, que esse

trabalho é rotineiramente implementado pelo tratador de animais e que, naturalmente, resulta numa

série de questionamentos por parte dos visitantes, os próprios tratadores executam a ação educativa,

que se desenvolve da seguinte forma: dois tratadores portando equipamento específico (pinça ofídica)

ofertam roedores previamente abatidos1 às serpentes e em seguida para os jacarés, no interior de seus

respectivos viveiros, ao mesmo tempo, no interior do viveiro um grupo de monitores e tratadores,

também munidos de equipamentos e previamente treinados pela equipe técnica, explica para o público

Figura 31 - Demonstrações do manejo alimentar de grandes serpentes - Projeto Humazizoo.

1 - Os animais são abatidos por meio de inalação de gás carbônico e são acondicionados em caixa de isopor.

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o comportamento natural dos répteis e responde as muitas dúvidas dos visitantes. Esse projeto,

demonstra o compromisso da Rio-Zoo com a educação ambiental. A atividade além de atrair um

grande número de visitantes, que acompanham as demonstrações de um viveiro ao outro, desperta a

autoestima do tratador e estimula, não apenas as especulações entre os visitantes, mas, principalmente,

a relação do público com os tratadores e monitores ambientais, que além de participarem da instrução

dos visitantes, anotam as principais dúvidas e especulações dos mesmos, a fim de adequar as respostas

e elaborar relatórios do comportamento do público participante e dos animais. Os comportamentos

observados nos visitantes foram os seguintes: - Curiosidade em saber o que está sendo feito; interesse

aguçado; a aglomeração de pessoas atraindo as demais; espanto em relação às pessoas que estão

dentro do viveiro fazendo a alimentação; pena das presas; interesse em saber a área de estudos dos

estagiários; muitas perguntas sobre o animal; elogios em relação ao projeto; satisfação em ter as

respostas para seus questionamentos; registro da alimentação através de foto e filmagem por parte

dos visitantes; empolgação com a situação; vontade dos visitantes de ter contato com os animais.

Ampliando sobremaneira a área de visualização do viveiro (Figura 32), a Píton Reticulada

escala palmeiras com mais de vinte metros e torna-se uma atração à parte.

Figura 32 - O hábito arborícola da Píton Reticulada na “Ilha das Serpentes” - Fotos Esther Nazareth.

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As demonstrações do manejo alimentar geraram uma série de perguntas, cuja as mais frrequentes

são as seguintes: O que os animais estão comendo? Os ratos estão vivos? Quantos ratos as cobras

comem por dia ? Não é perigoso para vocês (estagiários e tratadores) ficar dentro do viveiro? Vocês

não têm medo? As cobras são venenosas? Os jacarés comem as tartarugas ? As cobras comem os

sapos que estão no mesmo viveiro? Como as cobras matam os ratos? As serpentes matam as presas

quebrando os ossos? Nós podemos entrar no viveiro? Tem fotos no site do zoológico sobre este

projeto de alimentação? Qual a espécie das cobras ? Qual é a maior serpente? Qual é o tamanho

dessas cobras? Quantos animais têm no viveiro? As cobras não são nojentas? Quando vai ser feito a

alimentação dos felinos? Como os ratos foram mortos? Se elas engolem o rato inteiro, como as cobras

fazem a digestão? A cobra consegue comer um animal maior do que ela? Como? As serpentes não

atacam vocês (estagiários e tratadores)? Como uma píton consegue subir na árvore? Qual a idade

dessas cobras? Quanto tempo elas vivem? Elas se reproduzem no viveiro?

3.6.8 - Discussão.

Na pioneira pesquisa de etologia aplicada realizada no Polo Ecológico de Brasília,

desenvolvida por Marcelo Bizerril (BIZERRIL, M., 2000), única referência desta monografia,

tanto o jacaré-de-papo-amarelo, quanto um primata, no caso um Bugio, foram

respectivamente os animais que reteram os visitantes por maior tempo quando comparados

aos outros animais amostrados. Um resultado semelhante foi obtito na pesquisa aplicada na

Rio-Zoo, muito embora o primata adotado na pesquisa daqui tenha sido o Macaco-Aranha.

O que reforça a noção de que os primatas, por questão de semelhança com o ser humano,

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constitui o grupo de mamíferos mais procurado em Zoos. No que tange ao réptil, segundo

interpretação daquele autor, os visitantes permanecem por mais tempo diante do jacaré, na

expectativa do crocodiliano se mexer, o que na prática, em dias ensolarados aqui na Rio-

Zoo, normalmente, pode variar de 20 a 30 minutos, com doze espécimes em exposição, o

que para a maioria dos visitantes representa muito tempo. Portanto, considerável parcela

do público pode terminar a visita com a noção irreal de que há algo de errado com o

comportamento dos jacarés.

Com efeito, os debates mais acalorados foram pertinentes a crítica da vigente

nomenclatura popular dos animais na Rio-Zoo e as propostas para nominações alternativas.

Tendo em vista, que a principal divergência nesse assunto, está relacionado com designação

cágado (do espanhol cagado = assustado). Considerando que foi verificado na pesquisa

qualitativa, o não aceite do termo cágado, além de casos de depreciação, devido a incoercível

associação do termo cágado com a palavra cagado (pretérito perfeito do verbo cagar). O

grupo transdisciplinar de técnicos das áreas de zoologia, veterinária e zootecnia, argumentou

que tartaruga é uma palavra de origem italiana e que teria mais significado o uso do dialeto

Tupi-guarani, o que sem dúvida é uma grande e legítima alternativa. Contudo, pertence ao

senso comum, a noção de que, os animais providos de casco são as tartarugas, sejam elas

marinhas ou continentais, o que sob a óptica da multidisciplina Comportamento-Ambiente,

representa um nome já aceito e que constitui uma marca psíquica ou um laço cognitivo da

mente das pessoas. O grupo contra-argumentou que a placa informativa deveria incluir,

além do nome adotado na instituição, um espaço para as denominações regionais e também,

aqueles de origem Tupi-guarani. Ficou acordado que o nome adotado continuaria em destaque

na placa, mas, acrescidas das demais denominações, que seriam apresentadas no rodapé, inclu-

sive, quando fosse o caso, com explicações dos significados dos termos em Tupi-guarani.

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No que diz respeito a nova concepção da entrada do Zoo do Rio, não houve muito

debate, no entanto, a maioria dos técnicos entende, que seria uma mudança interessante e

alguns deles concordaram que a entrada pelo Portão Monumental facilitaria a criação de

roteiros de visita.

A posição do Iphan em relação a proposta foi comentada com arquitetos, que

ressaltaram que o órgão federal, somente discordaria de qualquer edificação situada na

frente do Portão Monumental, como a construção seria realizada ao lado, em teoria, o

Iphan não discordaria da idéia, até porque, o objetivo é propriciar maior visibilidade a esse

patrimônio histórico da Cidade do Rio de Janeiro, que à noite seria iluminado para possibilitar

maior destaque e valorização.

Quanto a criação de áreas de visitação, que foram sugeridas conforme o que preconiza

a moderna concepção de Parques Zoológicos, segunda a qual, os roteiros de visitação se

desenvolvem através de regiões e vias hierarquizadas, se reveste da maior relevância, a

busca de consenso entre os técnicos e o corpo administrativo, de modo a estabelecer roteiros

e, por que não um novo plano diretor? Já que o último foi implementado, nos idos de 1984,

na administração do arquiteto Paulo Celso Martins Brandão.

Figura 33 - Placa informativa ressignificada com linguagem iconográfica.

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3.6.9 - Considerações Finais.

"A tarefa não é contemplar o que ninguém ainda contemplou, mas meditar, como ninguém

ainda meditou, sobre o que todo mundo tem diante dos olhos". Nas sábias palavras de Arthur

Schopenhauer, está a síntese do exercício reflexivo do autor, que em essência, resultou num verdadeiro

processo de superação pessoal, por ter conseguido compatibilizar abordagens qualitativas e quantitativas

numa mesma temática. Uma verdadeira aventura para uma monografia, irrefutavelmente, com a dimensão

de uma dissertação de doutorado. Com efeito, a prevalência dos comportamentos evocados pelo

público, objeto de estudo da etologia aplicada, indicou tendências e preferências. O método

fenomenológico, levado a efeito, através da escuta atenta das especulações de um grupo social formado

por visitantes, tratadores e técnicos, desvelou crenças, ideologias, valores e motivos, que foram

fundamentais para o aprofundamento dos enfoques pertinentes à multidisciplina Comportamento-

Ambiente. O pragmatismo lógico peirciano, ressignificou vários aspectos relativos à missão institucional

de um Jardim Zoológico e o alinhou ao mais genuíno pensamento de Paulo Freire, o maior educador

deste Continente, que sempre lutou para subverter a barreira existente entre o conhecimento técnico e

os saberes do senso comum, atualmente, um dos principais reclames da epistemologia ambiental (LEFF,

E., 2003). Tendo a consciência de que, novos pensamentos e posicionamentos, normalmente, se

chocam com o comportamento conservador, próprio do ser humano, o autor entende, que diante

de eventos planetários como a Copa do mundo de 2014 e as Olimpíadas de 2016, o poder

público precisa de um Plano Diretor para o Jardim Zoológico do Rio de Janeiro, pois, trata-se de

uma instituição cultural que deve fazer parte do roteiro turístico da Cidade do Rio de Janeiro.

Para tanto, a Fundação Rio-Zoo carece de atenção e investimento, a fim de que, nos anos vindouros

possa evoluir juntamente com a Cidade Maravilhosa e todo o povo carioca.

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3.7 - Projetos Educativos.

3.7.1 - Projeto “Monitores de Viveiro” - 2002.

Apresentação

Contando com o plantel mais rico em aves e primatas do Brasil, a Rio-Zoo, sempre

buscando a excelência de suas atribuições, vem implementando com êxito há mais de 15

anos, visitas orientadas com escolas e o público em geral, através do Centro de Educação

Ambiental e Pesquisa - CEAP. Isso vem sendo realizado em parceria com a Diretoria Técnica

- DTE, cujo objetivo maior é propiciar de forma contínua, a conservação dos animais em

cativeiro. Nesse sentido, foi criado o "Programa de Enriquecimento de Recintos", cuja

finalidade é promover atividades e dinâmicas com as espécies, a fim de aprimorar o bem-

estar dos animais em seus viveiros.

Tendo em vista que, sem a participação do público, qualquer iniciativa técnico-

científica voltada para conservação, pode resultar em vão. Nossa finalidade, com o projeto

que aqui se alinha, é conquistar o apoio de um grande parceiro, o visitante, de modo a

tornar factível a macro-função da Rio-Zoo, a conservação ambiental.

Ciente dessa realidade, o CEAP com o apoio da Presidência e da DTE, está

desenvolvendo o Projeto Monitores de Viveiro, objetivando capacitar graduandos de biologia

para, nos finais de semana, atuarem na Rio-Zoo, junto ao público, como multiplicadores

das ações técnico-educativas.

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Objetivos

- Despertar no visitante a importância da sua participação na conservação ambiental;

- Oportunizar aos visitantes a apropriação de conhecimentos e valores voltados à conservação

dos viveiros e do bem-estar animal;

- Implementar ações de educação ambiental com ênfase na valorização da biodiversidade

da fauna brasileira e culminância na conservação do ambiente local;

- Possibilitar ao público oportunidades de interagir de forma salutar e útil com o binômio

animal-viveiro

- Difundir conhecimentos e valores para os visitantes através de uma equipe de universitários

capacitados por educadores com experiência em ações técnico-educacionais.

Justificativa

Cercadas e sensibilizadas por agradável espaço natural e pelos carismáticos animais

em exposição, as crianças, ao entrarem no Zôo, emprestam as pessoas de maior idade,

curiosidades e motivações próprias da infância. Em conjunto, essas sensações originam um

campo comum de experiências e motivações entre as diversas faixas etárias.

Esses aspectos, associados a uma visita orientada por universitários treinados torna

um simples passeio ao Zoo, numa divertida e estimulante maneira de aquisição de

conhecimentos e valores relacionados à fauna e a conservação do ambiente local.

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Nesse sentido, a utilização técnico-educativa dos recursos ambientais em roteiros

planejados de visitas monitoradas, tem ampla possibilidade de lograr êxito e retorno positivo

para a imagem do patrocinador.

Desenvolvimento

Numa fase inicial, o Projeto Monitores de Viveiro, será desenvolvido através de

dois roteiros compactos, tendendo a um progresso metodológico e a um aumento na variação

dos roteiros de visita. Para tanto, será realizada uma pesquisa de opinião pública, para

analisar o perfil dos visitantes e suas preferências. Para cada roteiro, três conjuntos de

viveiros foram selecionados em função dos seguintes aspectos: - Ser considerado

problemático pelos técnicos, devido à ação negativa do público; despertar notável atração

dos visitantes, em função do carisma das espécies e por permitir ao visitante saciar o incontido

desejo de alimentar os animais. Nesse sentido, foram criados dois roteiros, o Roteiro Norte

e o Roteiro Sul.

A visita a cada roteiro teria duração média de duas horas, limite mínimo de dez e

máximo de vinte pagantes e uma relação de um monitor para cada dez visitantes. Distribuídos

em duplas pelos viveiros, monitores fixos aguardariam os visitantes nos viveiros. Já os

monitores mais experientes, considerados volantes, serão orientados para formar os grupos,

conduzir os visitantes pelos roteiros e supervisionar a atuação dos monitores fixos, que

terão uma atuação instrutiva no momento da visita, e, uma função preventiva, juntamente ao

público em geral, quando for encerrada a orientação das visitas programadas.

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Metodologia

A data mais indicada para o lançamento do Projeto MONITORES DE VIVEIROS

seria a mesma da inauguração da nova sinalização da RIOZOO, prevista para o primeiro

semestre de 2003.

Após divulgação na mídia, os grupos de visitantes interessados no roteiro de visita,

poderiam participar de uma promoção, qual seja: os quarenta primeiros visitantes a chegarem

ao Zoo no mês de outubro teriam direito a um roteiro de visita gratuito.

Os demais visitantes para participar do roteiro necessitariam adquirir o “Zoocard”,

que é um cartão diferenciado que retorna para o visitante ao passar na roleta.

Tendo em vista que, considerável parcela dos visitantes manifesta o desejo incontido

de alimentar os animais - prática indesejada pelo corpo técnico por representar sério risco

à saúde das espécies selvagens infere-se que o melhor caminho para se enfrentar o problema,

seria tornar possível a estes visitantes, em um setor controlado pelos MONITORES DE

VIVEIRO, a desejada sensação de alimentar animais associada à recepção de conhecimentos

e valores pertinentes à conservação ambiental e posse responsável de animais domésticos.

Nesse sentido, se reveste da maior relevância, uma visita orientada à Mini-fazenda,

espaço educativo destinado às crianças, situado numa área central da Rio-Zoo, onde se

encontram: bois, ovelhas, patos, marrecos, galinhas, coelhos etc. Em função da sua

importância, a visita a este setor seria contemplada nos dois roteiros oferecidos segundo

horários pré-estabelecidos.

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3.7.2 - Projeto “Bicho Fala Sério!”

Trabalho apresentado no XXVII Congresso da SZB em Bauru, São Paulo. 2003

Apresentação

A Prefeitura do Rio de Janeiro juntamente com a Secretaria de Meio Ambiente

(SMAC) e a Fundação RIOZOO, através do Centro de educação Ambiental e Pesquisa -

CEAP, realizam regularmente ações lúdico-educativas com os visitantes. Nos últimos anos,

refletindo sobre os resultados de pesquisas de avaliação cognitivas com o público, as

peculiaridades da ambiência local e dos eventos de promoção institucional, fomos exercitando

e aperfeiçoando procedimentos didáticos que resultaram no desenvolvimento deste projeto

de educação ambiental.

Objetivos

Popularizar aspectos didaticamente relevantes da biologia das espécies carismáticas

da fauna brasileira; ajustar os métodos de recriação da realidade aos usos e costumes da

clientela e às características do Zoológico do Rio; criar um campo comum de experiências

afetivas e cognitivas com o público infantil e entre a própria equipe de criação.

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Desenvolvimento

A partir a escolha do animal a ser entrevistado e, da disponibilidade de fantasias, a

equipe parte em busca fontes variadas para prospecção do máximo de dados da espécie,

consultando artigos científicos, páginas na internet, entrevistando tratadores e especialistas.

Em seguida, tendo como referência à exposição de crendices populares e peculiaridades

comportamentais e dramáticas da espécie, elaboramos perguntas, respostas, idealizamos

os sotaques e o cenário. Após a digitação das falas seguem os ensaios e preparação do

cenário. Um informativo com bastante espaço para pintura e no formato de história em

quadrinhos é distribuído às crianças no final da apresentação (um pouco antes da fase de

participação da platéia).

Utilizando dois microfones, um deles auricular, plugado a uma caixa amplificada, o

animal-repórter dá início ao evento anunciando: Hoje O Programa “BICHO FALA SÉRIO”

vai entrevistar o maior felino das Américas, Dona Onça fala sério! Perguntas e repostas

bem-humoradas dão o tom da entrevista, com duração entorno de 20 minutos. Finalmente,

o repórter-animal faz perguntas à platéia, a primeira criança que responder corretamente é

chamada pelo animal-repórter para dizer o seu nome, idade e responder a pergunta através

do microfone para todos da platéia ouvirem, um momento muito especial somente superado,

quando a própria criança faz a pergunta para o animal, um desfecho de acentuado valor

educacional. Vale sublinhar que os agentes de educação ou monitores ambientais devem ser

dinâmicos para registrar as perguntas bem como distribuir os informativos e brindes no

momento adequado, auxiliar no manejo das crianças e na elaboração e manutenção da

propaganda voltada aos visitantes.

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Resultados e Discussão

O Programa teve a duração de 20 meses, durante esse tempo foi apresentado na maioria dos

sábados - só nos dias de mau tempo não era executado. A equipe de técnicos e monitores da época

abraçou o projeto com entusiasmo e obteve um acentuado retorno para formação afetiva, cognitiva e

automativa (psicomotora). Digno de nota foi a interação e troca de experiências com as crianças. Com

efeito, as perguntas inusitadas das crianças, via de regra, provoca uma singela noção das suas dúvidas,

curiosidades e referenciais, conhecimentos e pensamentos....

Considerações Finais

Refletindo o sobre projeto percebe-se que ele além de ser um poderoso instrumento para

difusão de conhecimentos e valores, constitui eficiente ferramenta para desenvolver o desembaraço, a

criatividade, o domínio de classe e o espírito de equipe. A escolha dos animais-repórteres foi precedida

por uma competição de peso Venceu o mais leve! No início do Projeto e das apresentações e durante

todo o "tempo de cartaz", o fator limitante foi a disponbilidade de fantasias. Embora o primeiro animal-

repórter tenha sido a ararajuba, surgiu a oportunidade de adquirir, por doação, uma fantasia de um

elefante cor de rosa. De posse da fantasia pintamos a mesma de cinza e o elefante foi promovido a

apresentador do Programa "Bicho Fala Sério!" no lugar da ararajuba. Mas não deu certo, as crianças

ao invés de fazer perguntas para o animal da fauna brasileira, faziam para o elefante. Então o “Papagaio

Lourival” entrou, roubou a cena e foi mantido.

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3.7.3 - Projeto “Álbum de Família”.

Trabalho apresentado no XXVIII Congresso da SZB, Rio de Janeiro. 2004. (Co-autoria com Patrícia A. dos Santos)

Podemos definir como Álbum de Família, qualquer coleção de imagens de domínio

familiar. Surgidos na Europa no século XIX com o nome de “cartes de visite” e popularizados no

começo do século XX, quando a fotografia foi colocada ao alcance do amador, os álbuns de

família transmitem informações de forma semelhante a da linguagem falada, mas com uma expressiva

carga de emoções, realizações e lembranças.

Introdução

Partindo do pressuposto de que a imagem é um dos principais instrumentos para o

conhecimento e para a ação e norteados por uma necessidade de associar as ações de educação

ambiental promovidas pela Fundação Rio-Zoo, aos usos e costumes do carioca, desenvolvemos

o projeto-piloto “Álbum de Família dos Animais Brasileiros Ameaçados de Extinção”. O projeto

promove um enriquecimento das ações educacionais, mas tem um caráter complementar e por

isso está associado a outros projetos (Bicho Fala Sério! e Roteiro Fauna Brasileira). Escolhemos

a arara-azul (Anodorhynchus hyacinthinus) devido a diversos fatores: trata-se de uma espécie

carismática; temos dois casais em exposição na RIOZOO; tivemos acesso a um excelente acervo

fotográfico (gentilmente cedido por Neiva Guedes - Projeto Arara Azul/UNIDERP) e havia

disponibilidade de fantasias.

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Objetivos

Nosso principal objetivo é dar aos participantes a oportunidade de conhecer melhor

não só os detalhes da biologia mas, sobretudo, os problemas que afetam a vida das espécies

brasileiras ameaçadas de extinção, criando um vínculo afetivo entre visitante e animal.

Material e Métodos

Para o projeto-piloto utilizamos dois álbuns de 30 x 23cm, cada um com 8 folhas

duplas autocolantes. Cada álbum contava com 40 fotos ampliadas que procuravam mostrar:

o hábitat das araras; ninhos, ovos e filhotes; seus alimentos preferidos; outras espécies de

araras e ações conservacionistas em prol da espécie.

O piloto contou com duas “sessões”, cada uma apresentada de forma divertida e

interativa por um casal de Arara-Azul-Grande (dois monitores fantasiados) que contava as

experiências vividas em cada momento retratado: o crescimento dos filhotes, a ajuda dos

pesquisadores no Pantanal, etc. As “sessões” foram apresentadas de duas formas:

a) Como parte integrante do Bicho Fala Sério! - apresentado para um grupo de 20 crianças

e 12 adultos, durante o evento de adoção da Arara-Azul-Grande, pela empresa Genzyme

do Brasil.

b) Como parte integrante do Roteiro Fauna Brasileira

- apresentado para um grupo de 15 crianças e 3 professores.

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Resultados e Discussão

O resultado imediato da apresentação foi a acentuada atenção e participação das crianças e

dos adultos. Todos se identificaram plenamente com a forma de exposição, o que aumentou ainda mais

seu interesse pelas araras. Mesmo já tendo recebido informações nos viveiros, muitos voltaram e

começaram a fazer observações relativas aos assuntos abordados na exposição (“Olha só que legal!

Elas estão usando o bico para descascar o coquinho que nem vocês falaram!”) além de formularem

novas perguntas mais específicas (“Essas aqui são um casal também? Elas vieram do Pantanal que nem

vocês? ”).

Conclusão

Por se tratar de um projeto-piloto, julgamos que os resultados apresentados são o

suficiente para indicar que estamos na direção correta. Entretanto, ainda que estejamos satisfeitos

com estes resultados preliminares, para comprovar a eficiência do projeto tornou-se relevante

promover algum tipo mais objetivo de avaliação. Assim poderíamos avaliar comparativamente o

conhecimento adquirido pelos participantes acerca das araras e dos animais do RFB, dividindo-

os em 2 grupos: Grupo A - composto por aqueles que participaram o RFB e do “Álbum de

Família”. Grupo B - composto por aqueles que participaram somente do RFB. A avaliação dos

resultados da dinâmica mostraria qual grupo conseguiu assimilar mais informações e que tipo de

informações foram melhor assimiladas. AGRADECIMENTOS ESPECIAIS: Projeto Arara Azul/

UNIDERP / Genzyme do Brasil.

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3.7.4 - Projeto “BatiZoo”.

BATIZOO - VALORIZAÇÃO DA CULTURA POPULAR E DA PARTICIPAÇÃO DO PÚBLICO

DA RIOZOO NA NOMINAÇÃO VERNACULAR DO JABUTI HÍBRIDO Geochelone

carbonaria (Spix, 1824) X Geochelone denticulata (Linneus, 1766)

Trabalho apresentado no XXXII CONGRESSO DE ZOOLÓGICOS DO BRASIL, realizado em

Sorocaba - São Paulo. 2008.

A preocupação com a conservação e a defesa dos animais não se esgota com o

manejo adequado e o enriquecimento ambiental. É preciso ir além, desenvolvendo a cognição

ambiental da área de exposição, como por exemplo, fomentando a adoção de uma

nomenclatura popular dos animais através de motivos cognitivos, ou seja, que considere a

lógica e a ética, ao invés do aceite de nomes pejorativos e\ou formados por signos pouco

desenvolvidos, que podem estar depreciando os animais, mas certamente estão transmitindo

aos visitantes noções e representações de reduzido significado. Geralmente, isso ocorre na

nomenclatura popular dos répteis, vertebrados, cujo os representantes exibem qualidades

da forma, como a extensão e a excentricidade, que promovem acentuado apelo estético aos

visitantes. Além disso, os reptilianos expressam comportamentos que estimulam a curiosidade

e a percepção nocional, não remetendo o visitante somente para uma condição de

divertimento. Ciente dessa realidade, a Fundação RIOZOO está valorizando

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os répteis através de reformas nos viveiros e da viabilização de parcerias para criação de

novos espaços de visitação. Nesse sentido, a SUART, da Gerência de Biologia da Diretoria

Técnica, em parceria com o CEAP da Diretoria Executiva, desenvolveu o Projeto BATIZOO,

objetivando propiciar ao público a inusitada oportunidade de participar de uma eleição,

destinada à escolha de um nome para uma forma híbrida de jabuti destituído de denominação

popular e originado de duas espécies amplamente encontradas no território brasileiro e,

portanto, bem populares, mas precariamente diferenciadas pelos visitantes, que

inadvertidamente, não percebem a diversidade da herpetofauna brasileira, manifestando uma

indesejada generalização, ao denominar qualquer espécie de quelônio de tartaruga.

O projeto foi desenvolvido durante doze dias, inclusive nos finais de semana, para

ademais, destacar os Testudines Continentais e seu novo viveiro. A cada aplicação

normalmente participavam: um técnico e dois estagiários treinados, munidos de urna, mesa,

canetas, cédulas e painel informativo ilustrado com fotos e mapas, explicando sucintamente

as principais características das espécies, a razão da eleição e dos significados dos sete

nomes sugeridos.

Com efeito, a aplicação desta metodologia tornou factível a participação do visitante

na gênese do conhecimento da forma resultante do cruzamento de G. carbonaria e G.

denticulata, aumentou o tempo médio de observação dos Testudines e do viveiro, confirmou

a tendência do público de generalizar o nome popular dos répteis dessa ordem e ampliou as

possibilidades de aprendizagem sobre aspectos relacionados à bionomia das espécies, ao

ambiente e a função de um Zoo. Além disso, oportunizou as crianças o raro sabor do exercício

da cidadania, encorajadas que foram pelos seus acompanhantes, que participaram com

entusiasmo, cobrando resultados e a elaboração da nova placa informativa com o nome

mais votado, o jabuti bicolor.

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3.7.5 - Projeto VIAZOO.

Justificativa

Recentes pesquisas comportamentais e qualitativas, desenvolvidas junto ao público visitante

do Jardim Zoológico da Cidade do Rio de Janeiro - Fundação RIOZOO, revelaram a necessidade de

ressignificação da sinalética, da forma de comunicação, dos roteiros de visitas, bem como o uso de

uma diversidade de linguagens associadas aos usos e costumes dos visitantes, geralmente oriundos dos

grandes centros urbanos. Dentre as propostas apresentadas, destaca-se o Projeto VIAZOO, cuja

principal finalidade constitui a nominação das vias públicas da RIOZOO.

Com efeito, o inédito ato de dar nomes às alamedas, ruas e travessas de um Zoo, uma

instituição extremamente popular, homenageando e valorizando nomes do meio científico e

personalidades da densa história do Jardim Zoológico do Rio de Janeiro, não apenas trará mais

popularidade às instituições interessadas, mas, também, facilitará a orientação do visitante e propiciará

o primeiro passo para o desenvolvimento do processo de cognição ambiental na área de exposição;

propiciando um amplo e contínuo acesso à cultura, e também um estreitamento das relações entre a

Fundação RIOZOO e as demais organizações científico-culturais.

Objetivos

- Ampliar a oportunidade de acesso do visitante à cultura; valorizar as personalidades científicas e da

história, envolvidas com animais e com o Jardim Zoológico do Rio de Janeiro; estreitar o

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relacionamento entre a RIOZOO e instituições afins; facilitar a orientação do público na área de

exposição; acentuar a popularização da instituição, do conhecimento zoológico e da obra e contribuição

de nossos antepassados.

Desenvolvimento

"Fiz uma parte do muito que gostaria de fazer pela humanidade. Não tenho orgulho da minha

pobre ciência, mas estou satisfeito com minha alma e o meu coração. Para uma alma bem

formada não há (nada) como fazer bem aos outros, o bem que conseguir fazer é que conforta e

tranquliliza o meu velho coração." - Vital Brazil Mineiro de Campanha.

As instituições interessadas precisam apenas contactar o Centro de Educação

Ambiental e Pesquisa e a Assessoria de Comunicação, a fim de pactuar parcerias em eventos

promocionais com a participação da mídia.

Nesse sentido, a Diretoria Técnica - DTE, através da Assessoria de Comunicação

- ASCOM e do Centro de Educação Ambiental e Pesquisa - CEAP aproveitou uma mostra

de animais peçonhentos em parceria com o Instituto VITAL BRAZIL, desenvolvido em

agosto de 2007 e tomou a iniciativa de sugerir à diretoria do setor de serpentários do

mencionado instituto, a inauguração da primeira via pública, a RUA VITAL BRAZIL. Na

solenidade de inauguração da RUA VITAL BRAZIL, foi lançada uma placa informativa com

a logomarca institucional, além da foto do cientista e de sua contribuição para a ciência e a

para a sociedade.

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3.7.6 - Projeto “Brasil Fauna Já!”

Uma das características mais relevantes do jogo é a associação do prazer com a aprendizagem.

Com efeito, o jogo ativa e desenvolve os esquemas de conhecimento que favorecem a aprendizagem

de saberes peculiares a praxis das ciências como a zoologia e a etologia, como p. e. observar e

identificar, associar, comparar e classificar, relacionar e inferir. Além disso, a dinâmica pode possibilitar

aos educandos a oportunidade para manifestação voluntária de procedimentos que potencializam os

esquemas de conhecimento como por exemplo: a previsão e a antecipação. Trata-se de uma dinâmica

voltada para percepção da diversidade da fauna brasileira. A dinâmica compreende uma competição

em grupos, precedida por avaliação inicial (exposição de fotos de 5 animais para pelo menos 5 crianças),

aplicação de roteiro de visita orientada contemplando uma média de 16 animais da competição, jogo

da memória e avaliação final (mesmo procedimento da avaliação inicial). Durante o roteiro quando o

número de animais iniciados pelo prefixo “já” chegava a 4 ou 5 perguntava-se aos alunos: Quantos

animais nós já vimos com o prefixo “ja”? Como a maioria não se lembrava de todos, surgia uma

necessidade e uma pergunta pertinente: O que deve ser feito para não esquecermos mais os nomes dos

animais já identificados? A culminância da dinâmica relaciona 40 nomes populares de animais da fauna

brasileira iniciados pelo prefixo “JA” e incluídos na exposição da RIOZOO às suas respectivas fotos.

As imagens, produzidas por jato de tinta e plastificadas foram fixadas em um quadro de cortiça situado

abaixo de um globo giratório, tipo bingo, com bolinhas numeradas de 1 a 50 correspondentes aos

nomes de uma lista numerada. Cada grupo de competidores teve que relacionar corretamente o número

sorteado a imagem de um animal dentre 40 fotografias possíveis. Para facilitar, se o número sorteado

fosse múltiplo de 5, a criança era ajudada pelo orientador, com ao menos uma reveladora dica sobre

o animal. Então, após girar o globo, o educador podia dizer: um, dois, três e

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Jardim Zoológico, no caso do número ser múltiplo de 5, ou então, um, dois, três e jacaré-coroa, nesse

último caso, a criança apontava para um dos quatro jacarés possíveis do plantel da Fundação Rio-

Zoo. Cada grupo tinha até três chances de movimentar a roleta numerada e em seguida apontar a

imagem associada ao nome correto sorteado. No caso de equívoco, o sorteio das bolinhas passava

para o outro grupo e assim sucessivamente. No fim ou, no caso de desempate, cada grupo teve até 20

minutos para encontrar o animal na exposição e apontá-lo para os monitores. Sendo bem sucedido, o

grupo teve direito a valiosos pontos para vencer a competição. Ao final todos os grupos faziam pesquisas

e elaboravam murais ou cartazes para divulgar o que aprendeu para as outras turma da escola.

OBJETIVO: Perceber e valorizar a diversidade da fauna brasileira

FAIXA ETÁRIA: De sete a doze anos

LOCAL e DURAÇÃO: Sala de aulas e Jardim Zoológico, um tempo de aula é suficiente para instigar

os aprendentes e uma visita ao Jardim Zoológico com cerca de 120 minutos.

MANEJO DE CLASSE & INCENTIVAÇÃO INICIAL: Formar de três a cinco grupos (dependendo

do tamanho da turma). Artigo de revista, jornal ou documentário de TV ou DVD exaltando a riqueza

da fauna brasileira.

PROCEDIMENTO DIDÁTICO: Aplicar uma aula sobre biodiversidade, em seguida divulgar a turma

a proposição do jogo e a visita ao Jardim Zoológico.

MATERIAIS: Globo giratório ou outra forma de sorteio, imagens de animais impressas em jato de

tinta e plastificadas.

Comentários:

Sem que sejam solicitados, quase todos os alunos aprecerão na próxima aula com uma

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lista dos animais cujo nome se inicia pelo prefixo "ja". O professor ouve todos os nomes, corrige outros

e faz comentários. Em seguida explica as regras do jogo concentra a atenção em apenas 40 dentre 140

nomes existentes e promove a formação dos grupos. Com 3 a 5 conjuntos de 30 a 40 imagens pareadas

dos animais pode-se aplicar o jogo da memória, o jogo do mico, usando o JAVALI como mico (o

javali é um animal exótico).

* As imagens, o jogo da memória e o globo da sorte podem ser emprestadas pelo CEAP\RIOZOO, através do e-

mail: [email protected]

3.7.7 - Projeto “Zoo é lógico”.

Figura 34 - Portal “ZOOéLÓGICO” (http://marcosjabour.vilabol.uol.com.br/HTML/zooelogico.html)

“ZOOéLÓGICO” é um portal de divulgação de projetos educacionais e de pesquisas

realizadas na Fundação RIOZOO sob responsabilidade do professor Marcos Jabour, biólogo

da Gerência de Biologia, da Diretoria Técnica da Fundação RIOZOO. Trata-se de uma

página destinada a alunos, professores, técnicos da área ambiental e ambientalistas em geral,

cujo os objetivos principais são: transmitir conhecimentos e valores sobre a fauna brasileira,

bem como divulgar estratégias educacionais de vanguarda e resultados de pesquisas

quantitativas e qualitativas relacionadas à fauna e a educação ambiental. Muito utilizado

após palestras e cursos.

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3.8 - Visitas Orientadas não-convencionais.

3.8.1 - "Plantio de gongolo” - Orientando a Criançada.

As visitas orientadas mais eficientes aplicadas pelo autor foram aquelas efetivadas com

crianças e com o público em geral. A abordagem dessas visitas foi centrada na interpretação dos

fenômenos relacionados ao binômio animal-ambiente. Dessa forma, apesar de valorizar a

investigação científica é válido economizar na difusão de conceitos, e no uso exagerado da

terminologia técnica. Nesse sentido, se faz necessário à utilização de alguns instrumentos técnicos

tais como lupas, binóculos e peças anatômicas de vertebrados e invertebrados e animais

taxidermizados. A finalidade desde instrumental científico e das peças anatômicas é promover

Certo dia, numa visita orientada com crianças de idade entre 10 a 12 anos, iniciava avisita no antigo “Exoticum”. Apesar de todos os atrativos desse conjunto de viveiros,constituído principalmente por serpentes, a fabulosa percepção ambiental das criançasfoi mais forte e, de repente, uma delas me interpelou: - Ali tio, tem uma cobra solta! Naverdade, um gongolo em suas andanças. Reconhecendo a importância daquele momentopara o educando e, do consequente retorno ideológico para o educador, peguei oanimalejo e o coloquei nas mãos para que a criançada adquirisse confiança e sentisse agraça do bichinho. Toda a turma então se aproximou espontaneamente. Alguns, contavamo número de perninhas, outros, observavam as antenas e ao mesmo tempo faziamperguntas. Algumas foram respondidas, mas deixamos bem claro que muitos adultostinham medo exagerado do bicho e normalmente pisavam nele. Logo, o animal passou acaminhar de mão em mão entre as crianças. O orientador então indagou: - Será que osoutros animais conhecem o gongolo? Então, propositadamente, conduzimos o animalaté o viveiro do mico-leão-dourado, que prontamente ficou excitadíssimo. Gente o micoconhece o gongolo? Por que? Aproveitamos a estimulante demonstração como gancho,para falar sobre os hábitos alimentares do mico-leão e do gongolo, teia alimentar etc. Emseguida, fizemos a última pergunta: - O que fazemos agora com o gongolo? Solta tio! Elá foi o bichinho nas suas andanças e nós prosseguimos com a visita que acabara decomeçar. Refletindo sobre o ocorrido, resolvemos fazer ensaios (simulações) com outrasturmas da mesma faixa etária, ‘plantando’ um gongolo no caminho das crianças e, paranossa felicidade, tudo deu certo como continuará dando, basta ter confiança" - MarcosJabour, 2002.

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uma abordagem interpretativa baseada em demonstrações do procedimento científico e de simulações,

que a rigor, acabam funcionando como experiências concretas. São requeridos também, no mínimo

dois estagiários, sendo um do sexo masculino e outro do feminino. Quando no grupo houver crianças

e adolescentes de ambos os sexos é válido que os orientadores do sexo masculino orientem os

aprendentes do sexo oposto e as estagiárias orientem os meninos e rapazes. Além disso, é necessário

a inclusão de pelo menos um orientador bem treinado, à paisana, que se passaria por “visitante

questionador e polêmico" que faz perguntas pertinentes à temática, normalmente não efetivadas pelos

educandos. Esse procedimento estimula a promoção de discussões, de modo a aflorar o potencial

dialético do público-alvo sobre assuntos relacionados à fauna e ao ambiente. Cumpre ressaltar, que as

perguntas e situações são previamente planejadas de modo a promover simulações. As mais eficientes

maneiras ocorrem através da exposição de uma crendice. Um técnico infiltrado no grupo em dado

momento do roteiro, quando o assunto for propositalmente direcionado pelo guia para borboletas,

convida os visitantes a examinarem com a lupa as asas de uma borboleta2, então, o técnico à paisana

faria a seguinte interpelação: - Mas tem que ter cuidado porque o pó que ela solta cega! Neste

instante, um dos estagiários com a mochila de peças anatômicas, chama em bom tom a atenção do

grupo para uma demonstração que em seguida é efetivada do seguinte modo: - pega-se um recipiente

com asas de borboleta esfrega o dedo nelas e, em seguida, passa-se o dedo nas próprias pálpebras

para provar o contrário. Além de despertar uma forte emoção do visitante em relação à atitude e a

segurança do educador, este procedimento didático, serve para levar o visitante a concluir que, ele e

muitas outras pessoas apresentam idéias irreais e infundadas sobre os animais.

2 - É preciso ter o cuidado de informar que a demonstração só pode ser feita com as borboletas criadas ou que sejamencontradas mortas, mas, não com as mariposas (algumas poucas espécies possuem escamas maiores que podemcausar pequena irritação) e mesmo assim, o pó das asas deve ser passado só nas pálpebras e nunca no globo ocular.

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3.8.2 - Projeto “Pulando a Cerca”.

Quando foi lançado o Projeto “Pulando a Cerca”, pensou-se que os visitantes fossem

ter acesso ao interior da Minifazenda, mas a equipe do CEAP foi mais criativa e fez o

contrário, os animais que ultrapassaram os limites desse espaço destinado ao atendimento

de escolas.

É público e notório o desejo do público de visitar a simpática “Fazendinha do Zoo”,

mas para visitar esse espaço, somente com agendamento prévio para grupos escolares. É

como fazer um gramado perfeito para a prática do futebol no meio de peladeiros e expor a

plaquinha “Proibido Pisar na Grama”! Da mesma forma acontece com o antigo espaço de

exposição “Casa da Ararajuba”, que foi criado para atender o público, mas com o tempo

também perdeu o sentido, hoje é usado para as animadas e pouco instrutivas festas de

aniversário. O autor diverge por entender que numa instituição cultural, a expectativa era de

que a Minifazenda atendesse o público dentro e fora de seus limites, mostrando a vida e a

conservação dos animais domésticos e de produção e a Casa da Ararajuba retornasse com

as exposições sobre as temáticas ambientais pertinentes à fauna, atuando de forma integrada

ao Anfiteatro, enfim que todo esse equipamento educacional funcione a todo vapor, pois,

com certeza há um árduo e permanente trabalho pedagógico a ser desenvolvido.

Novos projetos precisam ser reconstruídos e redimensionados, como o interessante

Projeto “Alimentando os Animais”, que começa com a preparação das dietas dos animais

domésticos na Cozinha dos Animais e segue até a Minifazenda, onde os visitantes se passam

por tratadores e fornecem a alimentação para touros, vacas, jumentos, coelhos, galos e

galinhas e assim tem a oportunidade de saciar o desejo incontido de cuidar dos animais.

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3.8.3 -Projeto Zoo à Noite - “Zoo by Night”.

O Roteiro de visitas noturnas foi criado em 1999 através do Presidente Márcio Martins,

após pesquisa de opinião pública realizada pelo setor de Assessoria de Comunicação da RIOZOO,

cujo resultado indicava que a visita noturna era um desejo do visitante. Intitulado de “Zoo by

Night” o roteiro sempre apresentava surpresas especiais para os visitantes, via de regra, um ou

mais animais, mostrados na intimidade.

Apresentado em 2000 ao público e à mídia, no ano de 2001 foi ressignificado, ganhando

nova metodologia com maior ênfase para as espécies da fauna brasileira e na exposição de crendices

injustificadas, incluindo demonstrações para subverter temores exagerados e preconceitos. Em

2004 foi criado um de material didático com linguagem atraente e enfoque voltado para as especiais

adaptações das espécies de hábitos noturnos com enfoque no funcionamento dos apurados órgãos

dos sentidos das espécies noturnas, sempre destacando exemplos bem ilustrados das espécies

brasileiras. A então Cartilha “Animais Noturnos” (Anexo XXVI) esgotou-se em pouco tempo.

Em 2007, o Projeto passou a se chamar Zoo à Noite. Longe de atender a demanda, o projeto

por ser não-convencional, causava verdadeiro magnetismo nos veículos de comunicação de massa,

que eram utilizados pelos técnicos do Centro de Educação Ambiental e da Diretoria Técnica,

para transmitir mensagens de valorização da fauna brasileira, tais como: o Brasil é o país mais rico

do mundo em número de espécies de mamíferos, mas três quartos dessas espécies, são ativas

durante a noite.

Em 2009 o roteiro de visita do Zoo à Noite, ficou conhecido com “o caminho das tochas”,

devido ao belo cenário formado pela presença de luminárias de fogo.

Neste ano (2010) completa 10 anos de realização do Zoo à Noite.

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5 - APÊNDICES

Descrição dos comportamentos - modificado de (BIZERRIL, M., 2000) - * Comportamentos acrescentados.

Distração. Desinteresse ao passar na frente do recinto olhando para outras direções;. Passar direto pela frente do recinto, sem parar para observar o animal;. Olhar com indiferença o animal sem tecer comentários e demonstrar interesse;. Olhar para outro animal próximo e em seguida se afastar.. Olhar para outra pessoa próximo e em seguida se afastar.

Interesse*. Demonstrar interesse ou cobiça em possuir o animal*;. Manifestar o desejo de ingerir o animal*;

Preocupação*. Demonstrar preocupação com a solidão do animal ou com o status da espécie*;. Manifestar preocupação com um suposto mal-estar do animal*.

Curiosidade. Olhar curiosa e fixamente o animal, observando suas formas e atitudes;. Apontar a presença do animal com o dedo;. Procurar o animal com os olhos ao parar diante do recinto;. Ler a placa informativa;. Especular sobre a placa informativa*;. Especular sobre o animal, a espécie, o parentesco, a dieta etc.

Admiração. Elogiar a beleza, a força, a agilidade do animal.

Agressividade. Jogar objetos (pedras, latas, madeiras) tentando atingir o animal;. Cutucar o animal com a mão ou usando outro instrumento;. Depreciar o animal usando termos pejorativos como feio e fedorento;. Gritar ou fazer comentários pejorativos em voz alta, dirigindo-se ao animal ou imitá-lo de modo ameaçador.

Interação. Estender a mão como se fosse cumprimentar;. Oferecer objetos como papel, galho ou outro objeto;. Oferecer alimento ou atirá-lo ao animal;. Bater palmas a fim de atrair a atenção do animal;. Chamar o animal por um apelido ou pelo próprio nome da espécie;. Cumprimentar verbalmente o animal ou acenar para ele;. Imitar o som do animal, buscando uma interação ou resposta;. Rir das ações do animal.

Temor. Assustar-se, ficar alerta, dando um pulo ou passo para trás·;. Alertar para o perigo, invocando atenção e cuidado.

ANEXO I

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ANEXO II

Etograma (modificado de BIZERRIL, M., 2000).

no. de reg.: Data: / / Animal:

Hora: Dia: Duração:

Sexo: M ( ) F ( ) - F. E.: Criança ( ) Adolescente ( ) Adulto ( ) Idoso ( )

Condições do tempo: _____________________________________________________________________

Comportamento do animal: ________________________________________________________________

ÍTEM COMPORTAMENTO SIM NÃO

01 Distração ( ) ( )02 Passar direto ( ) ( )03 Olhar indiferente ( ) ( )04 Olhar para outro animal e se afastar ( ) ( )05 Olhar para outra pessoa e se afastar ( ) ( )06 Especular sobre interesse em possuir o animal ( ) ( )07 Especular sobre interesse em ingerir o animal ( ) ( )08 Curiosidade ( ) ( )09 Preocupação com a solidão do animal ( ) ( )10 Preocupação com mal-estar do animal ( ) ( )11 Apontar o animal ( ) ( )12 Procurar o animal ( ) ( )13 Procurar ler a placa informativa ( ) ( )14 Especular sobre a placa informativa ( ) ( )15 Especular sobre o animal ( ) ( )16 Elogiar o animal ( ) ( )17 Jogar objeto no animal ( ) ( )18 Cutucar o animal ( ) ( )19 Jogar objeto ou lixo no viveiro ( ) ( )20 Depreciar o animal ( ) ( )21 Gritar ( ) ( )22 Estender a mão para o animal ( ) ( )23 Oferecer alimento ou atirá-lo ao animal ( ) ( )24 Bater palmas ( ) ( )25 Chamar o animal ( ) ( )26 Cumprimentar o animal ( ) ( )27 Imitar o som do animal ( ) ( )28 Rir do animal ( ) ( )29 Assustar-se com animal ( ) ( )30 Alertar para o perigo ( ) ( )

Obs:

___________________________________________________________________________

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Gráfico 2 - Prevalência relativa dos comportamentos do público visitante na Fundação RIOZOO.

ANEXO III

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ANEXO IV

Roteiro do Jardim Zoológico na Quinta da Boa Vista, 1958.

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ANEXO V

Índice dos Animais - Setembro de 1958.

01A

raras e cacatuaspagaios, Jandaias etc. proxi-

41G

uanaco02

Biguás etc

midades da G

ruta de N. S

. de42

Em

us e Casuares

03M

arabusFátim

a.42.A

Chim

panzés – Lulu, L

ili e04

Micos, sagüis etc.

21F

aisões, mandarins, A

raras,B

abá.05

Urubu rei

Caranchos, C

orujas etc.43

Hipopótam

os06

Aves canoras, P

roximidade do

22Z

ebras44

Recintos da F

erasR

estaurante Público.

23G

irafas e Avestruzes

Leões

07Jacam

ins, Calao, P

ombas etc.

24M

acacos TotaJaguar C

anguçu08

Filhotes de jacarés e tartaru-

25E

lefantesH

iena pintadaG

ás pequenas.26

Rinoceronte e cria (P

ata Choca)

Gato dourado

09Jacarés

27C

amelos

Onça parda (S

ussuarana)10

Lagartos

28M

acacos Babuinos (G

rupo)L

obo europeu11

Iguanas29

Ursos E

uropeusU

rso europeu12

Sucuris30

Drom

edáriosU

rso preto – Em

blema do E

s-13

Jibóias – poucos passos da Se-

31F

aisões, Calao pequeno, G

alin-Tado da C

alifórnia – USA

.pultura da saudosa M

acacaha d’A

ngola, Vulturina, L

óris.D

e posse desse Estado, foram

Catarina.

32F

aisões, Pom

bas-Goura, U

ru-doados no dia 9 de janeiro de

14A

ves Paludícolas

Mutum

etc.1956 ao S

r Prefeito da C

idade15

Periquitos, papagaios, cacatuas

33L

ontrasdo R

io de Janeiro, pelaetc.

34U

rsos Him

alaiosE

mbaixada do C

ontra Costa

16G

aviões, abutre-do Congo etc.

35C

olheireiros, Arapapás, G

aivo-C

ountry Sheriff’s, na sua

17B

abuino sagrado e Chacm

a. Atoes, G

uarás e Flam

ingos.visita.

direita alojamento do m

acaco36

Ouriço-cacheiro, M

angabei,45

Peixes Fluviais Brasileiros

Resus, usado na produção de

Uanderu

46A

quário – Proxim

idadeV

acinas, contra a paralisia37

Orangotangos – B

iriba e Belin-

Cangurus

InfantilH

á e ao lado Mandris (F

amília

47G

rande Lago, C

isne Real,G

an-18

Águias, condores, gaviões e

Teixeira...).so C

hinês, Irerês, Pelicano.

Mutuns.

38T

igre Real de B

engala48

Ilha dos Macacos

19Q

uatis, pelicano, tamanduá

39L

eões49

Fosso das O

nçasJabutis, seriem

a etc.40

Paca, C

otia Am

arela,50

Cervo D

ama, A

udad, Anta

20M

aracanã, ararinha-azul, Pa-

Mangusto etc.

Moufflon e E

mas.

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153

ANEXO VI

Planta de Situação do Zoológico - Esquema por Setores e Localização dos Animais.

A

B

CD

E

12

3

4

56

78

9

10

11

12

13

14

15

16

17

18

21

22

2324

25

2627

28

2930

31

32

33

34

35 36

37

38

39

40

41

42

434445

19

20

Iguanas

Jacarés

Cobra

s &

Lagart

os

Tartarugas

Continentais

Rep

tário

Ilhas das

Serpentes

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154

ANEXO VII

Índice dos Animais - Maio de 2010.

A Tartaruga-de-PenteB Gaivota, Atobá, Biguá, SocóC Apaiari, Pirarara, Piranha, PirapotangaD Lobo-MarinhoE Cervo-Sambar, Anta, Ema, Capivara1 Araras e Marrecos2 Papagaios, Mutuns, Pavão, Seriema3 Jiboia, Sucuri, Sapo, Camaleão4 Calau, Tucanos, Araçari5 Arara-Azul, Capivara, Tamanduás6 Jacaré-do-Pantanal, Jacare-Coroa

Jacaré-de-Papo-Amarelo, Jacaretinga7 Tartarugas,Tracajá, Jabutis8 Creche9 Garças, Socós, Marabus,10 Pinguim, Tartaruga Mordedora

Aperema, Filhotes de Jacarés11 Píton-Arco-Íris, Píton-Albina12 Iguanas, Tartaruga do Paraíba13 Hipopótamos14 Lhama15 Gaviões, Carcará, Casaca de Couro

Acauã, Gavião Pombo,Carrapateiro16 Corujão, Harpia, Urubu Rei

Condor dos Andes17 Coatás ou Macacos Aranha18 Jacutinga, Jacuaçu, Macuco, Aburria

Pomba-Goura, Pomba Ducula,Faisão Dourado, Faisão-da-Malásia,Faisão Costas de Fogo, Anacã.

19 Coleiro, Azulão, Sabiá Laranjeira,Tico-Tico, Picapau-Branco.Jacamim, Ararajuba, Gralhas,Cancã, Mutuns,

20 Murucututu, Suindara, Quiriquiri,Coruja-Buraqueira, Mocho NegroMocho Orelhudo, MarrecãoGavião-As-de-Telha.

21 Macaco-da-Savana, Macaca-Rabo-de-Porco Babuínos,

22 Lontra23 Mandril, Chimpanzé Pipo,

Chimpanzé Paulinho,Orangotango24 Jaguarundi, Lince, Serval, Sussuarana25 Onça Pintada, Leopardo, Leão

Tigre de Bengala, Tigre Siberiano26 Jabuti Vermelho27 Jumento, Boi, Vaca, Poneis, Porco

Coelho, Galinha, Galos, Perus.28 Urso-de-Óculos29 Casuar30 Cisnes e Marrecos31 Cachorro-do-Mato32 Elefantes33 Girafas, Zebras, Avestruzes

Nyala34 Búfalo35 Urso-Pardo36 Ilha dos Macacos-Aranha37 Íbis Sagrado, Guará, Colheireiro

Flamingo, Garça Moura, Aracuão, Irerr38 Cuxiú, Macaco-da-Noite, Preguiça-Real

Parauacu,Ouriço-Caicheiro, Sauá, Guariba39 Curicas, Marianinhas,

Papagaios, Sabiá-Cica, Anacãs,40 Arara Militar, Arara-Azul , Arara-Canga

Arara-Candindé-Verdadeira, Arara-da-Bolívia,Tiribas, Periquitos, Jandaias,

41 Cuiú-Cuiús e Caturrita.42 Sagui-Una, Sagui-Bigodeiro, Mico-Leão

Sagui-de-Santarém, Sagui-Leãozinho43 Macacos-Prego, Caiararas, Mico-de-

Cheiro, Macaco-Barrigudo, Bugio, Mão-Pelada, Coati

44 Raposa-do-Campo, Jaguatirica, IraraCachorro-do-Mato-Vinagre,

45 Cutia-de-Rabo, Coendu, Jupará.

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155

ANEXO VIII

Sugestões para Ressignificar a entrada do público no Jardim Zoológico.

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156

ANEXO IX

Planta de ampliação da área de visitação da Fundação Rio-Zoo.

Iguana

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157

ANEXO X

Gráficos da pesquisa quantitativa - 2001.

Gráfico 3

Gráfico 4

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158

ANEXO XI

Desempenho do público sobre o conhecimento dos animais na Rio-Zoo.

Gráfico 5

Gráfico 6

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159

ANEXO XII

“Ranking” dos animais mais conhecidos pelo público da Rio-Zoo.

Gráfico 7

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160

ANEXO XIII

Esqueceram dos bichos brasileiros - O Globo.

Pense no zoológico. Agora pense numbicho que você vai ver lá. Pensou emelefante, leão ou girafa? Se pensou, não estásozinho. A maioria dos frequentadores dozoológico da cidade do Rio se lembraprimeiro dos animais exóticos, quer dizer,que não são originários do Brasil. Osrepresentantes da fauna verde-amarela,coita-tados, estão em baixa.

Os biólogos do Centro de EducaçãoAmbiental e Pesquisa (CEAP), da FundaçãoRio Zoo, já desconfiavam disso e, paracomprovar a tese, fizeram uma pesquisa com 720visitantes do parque, entre adultos e crianças.Os biólogos mostravam 20 cartões com fotosde bichos — dez estrangeiros e dezbrasileiros — e as pessoas tinham que dizer onome dos que mais conheciam.

Deu elefante na cabeça. Em segundo lugarveio o rei das selvas, o leão, seguido por donagirafa. O primeiro animal brasileiro a ser citadofoi o tucano, em sexto lugar. Logo depoisvieram o mico-leão-dourado e a onça.

O resultado não surpreendeu os biólogos,mas não agradou. Por isso, eles acharam queera hora de encher a bola da bicharada verde-amarela.

— Os brasileiros têm que valorizar mais anos-sa fauna. No programa de educaçãoambiental Bicho Fala Sério, as crianças têm umaaula di-vertida sobre animais brasileiros —diz o biólogo Marcos Jabour.

O Bicho Fala sério começou no anopassado e acontece todos os sábados, às 11 h,no anfiteatro do Jardim Zoológico. O mestrede cerimonias é o repórter-papagaio Lourival,que “entrevista” um bicho. Os primeiros foramonça e lobo-guará. A partir desta semana é avez da arara-azul.

Você vai aprender, por exemplo, que existemquatro tipos de arara-azul: arara-azul pequena(já extinta), ararinha-azul (que existe só emcativei-ro), arara-azul de Lear e arara-azulgrande (que na última lista do Ibama passouda categoria critica-mente ameaçada de extinçãopara vulnerável, is-to é, corre menos risco dedesaparecer).

A arara-azul grande inaugura um novoprojeto, o Álbum de família. Depois do FalaSério, os vi¬sitantes vão conhecer o viveiro daaves, onde es¬tará um grande álbum com fotosque mostram como é a vida do animal na natureza.

Ines Amorim

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161

ANEXO XIV

Eles também querem ser celebridades - Correio Braziliense.

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162

ANEXO XV

Que Pena! Nossos animais são pouco conhecidos - Correio Braziliense.

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163

ANA SÁ ___________________________________________

DA EQUIPE DO CORREIO

ocê sabia que os animais africanos, como o tigre e a zebra, são mais conhecidos que o mico-leão e o lobo-guará,espécies originalmente brasileiras? É o que revela pesquisa feita pela Fundação Jardim Zoológico do Rio de Janeiro.A pesquisa resultou em um ranking em que constam as 20 espécies mais lembradas pelas 720 pessoas entrevistadas. O

tucano foi o animal brasileiro mais reconhecido, mas ele aparece em 6° lugar no ranking. A ave aparece atrás do elefante, do leão, girafa,tigre e zebra, todos originários da África. O lobo-guará, animal típico do Cerrado, também é pouco conhecido pelos brasileiros,ocupando a 16aposição no ranking (veja gráfico).

Para o biólogo Marcos Jabour, o desconhecimento sobre a fauna brasileira deve-se a vários fatores. Um deles é que o elefante,a girafa, a zebra, o rinoceronte, o hipopótamo e o leão sempre estiveram presentes nos filmes, livros e documentários de tevê.As espécies brasileiras começaram a aparecer na mídia nos últimos cinco anos. Outro fator apontado pelo biólogo é o tamanhodos animais que vivem principalmente nas savanas da África.

O elefante africano, por exemplo, pesa o equivalente a 100 pessoas, podendo chegar a 7.500 quilos. A girafa é o animal maisalto do mundo. Além do pescoço comprido, ela possui pernas longas para alcançar as árvores. O rinoceronte asiático ou indianochega a pesar 4 mii quilos. Um leão adulto — com três anos — mede aproximadamente l m de altura por 2m de comprimento,fora a cauda, e pesa em torno de 250 quilos. Sua pata é a maior de todos os felinos.

Mas Jabour alerta para o fato de que a fauna brasileira tem animais de grande porte, sim! Ele cita, por exemplo, a sucuri, acobra mais pesada; a capivara, o maior roedor do mundo. Do focinho ao rabo, uma capivara adulta mede mais ou menos l metro.Ela é parente do rato, porém grande como um cão. “O tatu-canastra é o maior tatu do mundo”, diz , Jabour, para mostrar que oszoológicos brasileiros também não dão destaque aos animais brasileiros.

Adivinhe por quê? É que 75% das espécies brasileiras têm atividadé noturna. E aí, quando o visitante chega ao zoológico, elesestão dormir|Éfo dentro das jaulas. Já a maioria dos animais estrangeiros tem hábitos diurnos.

V

ANEXO XVI

Que Pena! Nossos animais são pouco conhecidos II - Correio Braziliense.

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164

ANEXO XVII

Ele não é brasileiro - O Estado de São Paulo.

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165

ETIENNE JACINTHO

É claro que você conhece o elefante, o leão e a girafa. Eles foram os três animais maislembrados peias pessoas em uma enquete realizada pelo biólogo Marcos Jabour da FundaçãoRioZôo do Rio de Janeiro, Um único detalhe: todos esses bichos são africanos! No rankingdessa enquete, feita com visitantes do Zoológico do Rio de Janeiro e da qual participaram720 pessoas, o primeiro animal brasileiro citado foi o tucano, em 6.° lugar.

O resultado da enquete você pode conferir nas fotos ao tado. À esquerda estão os cincobichos mais lembrados pelos participantes. Todos eles são estrangeiros. Já à direita estão osoutros oito animais mais citados. Entre esses, cinco sãoencontrados no Brasil.

Mas por que as pessoas conhecem mais os animais africanos e asiáticos? Para Jabour,vários fatores contribuem para o sucesso desses bichos, “A visão é o principal sentido do serhumano. Animais como o elefante, a girafa, o rinoceronte, o hipopótamo impressionam pelotamanho”, diz o biólogo. “Mas existem outros fatores. As pessoas gostam de uma boahistória e esses animais trazem consigo variadas e divertidas aventuras originadas das fábulas.das histórias em quadrinhos e do cinema,”

Riqueza - Apesar de os bichos africanos serem as “celebridades” da enquete. o Brasil possuimais espécies de mamíferos do que a África. O problema é que 75% dessas espécies sàomais ativas à noite e é bem

mais difícil de avistá-las. “Por isso, os próprios zoológicos brasileiros contribuem para afama dos estrangeiros. Com exceççao dos felinos e dos hipopótamos, a maioria dessesanimais tem hábitos diurnos, assim como os visitantes dos zôos”, explica Jabour.

O Brasil reúne ainda, o maior número de espécies de animais selvagens. Só entre osvertebrados, são mais de 6 mil identificados. Mas, afinal, quais são os bichos maiscaracterísticos da fauna brasileira? Na Amazônia reinam aves como a ararajuba e o uirapuru,além dos pri matas - diferentes espécies de sagúis e de macacos - e cobras como a sucuri, amais pesada serpente conhecida. A jaguatirica, um felino parecido com a onça, também morana região. Os dois “gigantes” da Amazónia são a ariranha - um mamífero

parente próximo da lontra, que adora tomar um banho de rio - e o pirarucu, o maior peixe comescamas do mundo.

Capivara, lobo-guará e tamanduá - A famosa ave tuiuiú, a capivara, o maior roedor do mundo, eas temidas piranhas são alguns dos habitantes do Pantanal. Já o bugio (primata),o lobo guará, otamanduá-bandeira e o tatu-canastra, o maior do planeta, são típicos do cerrado brasileiro.

O sudeste do País é coberto pela mata atlântica. Os micos-leões são figurinhas fáceisnessa paisagem, assim como o tamanduá-mirim e o quati - os animais preferidos do biólogoMarcos Jabour Bichos-preguiça e beija-flores moram na mata atlântica.

ANEXO XVIII

Você conhece a nossa fauna? - O Estado de São Paulo.

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É verdade que os animais encantam e que. muitas vezes, temos vontade de levar uma coloridaave ou um esperto macaco para casa. Mas é preciso lembrar que os animais silvestres vivemmais felizes soltos na natureza. O desejo das pessoas de ter um bicho diferente em casaalimenta o tráfico de animais. Para chegar às mãos dos compradores, os animais apreendidospor traficantes sofrem muitos traumas. Muitos morrem antes mesmo de chegarem ao seudestino. O comércio ilegal é uma das principais causas que levam animais como a ararinha azula serem ameaçados de extinção. “A ararinha-azul é o vertebrado mais ameaçado do mundo”,conta o biólogo Marcos jabour. Além dela, a arara-azul-de-lear também está à beira dodesaparecimento, assim como o pavó e o pato-merguihão. Os micos também estão nessa lista.Umadas espécies, o mico-leâo-de-cara-preta, foi descoberta em 1990 e já está ameaçada,assim como o mico-leâo preto, original de São Paulo. “O tatu canastra e o tatu-bolaencontranvse também criticamenteameaçados”. fala o biólogo. (E.J.)

Se o elefante não é brasileiro, muito menos o leão, como esses bichos sobrevivem noszoológicos do País? “Com muito esforço”, responde o biólogo Marcos Jabour. “Dá muitadespesa, gasta-se muito com água, alimentação e pessoal (funcionários).” Para queos animaisse sintam quase em casa, os espaços onde eles vivem são adaptados. “Isso é feito a partir depesquisas no habitat dasespécies e no estudo do comportamentoanimal, sobretudo o alimentar e o reprodutivo”,fala Jabour. (EJ.)

ANEXO IXX

Animais em extinção nos Zoológicos - O Estado de São Paulo.

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ANEXO XX

Estrangeiros - O Estado de São Paulo.

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168

ANEXO XXI

Brasileiros - O Estado de São Paulo.

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169

ANEXO XXII

Os bichos que só gostam da noite - Correio Braziliense.

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170

Super

ANEXO XXIII

Os corujões - Correio Braziliense.

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ANEXO XXIV

Os corujões II - Correio Braziliense.

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172

ANEXO XXV

Boa-noite, bichinhos! - Correio Braziliense.

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173

Cartilha “Zoo by Nigth”.

ANEXO XXVI

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174

Fundação Jardim Zoológico da Cidade

do Rio de Janeiro - RIOZOO

ANIMAIS NOTURNOS

Série Didática

Tiragem: 3.000

Rio de Janeiro- RJ - Brasil - dezembro/2003

FICHA CATALOGRÁFICA

Jabour, MarcosAnimais Noturnos24 p. il. (Série Didática)Fundação Jardim Zoológico da Cidade do Rio de JaneiroParque da Quinta da Boa Vista s/nº - São CristóvãoRio de Janeiro - RJ - Brasil - Tele-FAX 021XX 2567-9732www.rio.rj.gov.br/riozoo - [email protected]

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Com raras exceções, a maioria das regiões do nosso país não apresenta invernorigoroso, favorecendo a vida dos animais noturnos. No Brasil, a maioria das espécies deinsetos, aranhas, centopéias, anfíbios, serpentes, jacarés, corujas, bacuraus e mamíferos énoturna. Mas, nós, seres humanos, realizamos a maioria das nossas atividades durante o dia,por isso, estamos mais acostumados com os hábitos dos animais diurnos do que com osnoturnos. Isso acontece porque é principalmente através da visão que o ser humano seorienta e percebe o ambiente.

Na escuridão da noite, as pessoas, sem poder classificar o que existe ao seu redor, tornam-seinseguras e então surge o medo e suas fantasias. Não é à toa que a maioria das superstiçõese crendices populares tem a noite como cenário. Assim, de geração em geração, o mundoimaginário das pessoas foi despertando temores exagerados e uma antipatia populargereralizada e sem fundamento pelos animais de hábitos noturnos.

Considerado pela ciência o país mais rico do mundo em biodiversidade, o Brasil é também anação com a maior diversidade de espécies de mamíferos, grupo de animais do qual o serhumano faz parte e está mais familiarizado. Contudo, três quartos das espécies de mamíferosbrasileiras encontram-se ativas durante a noite.

Ciente dessa realidade, a Fundação RIOZOO, demonstrando seu compromisso com aeducação, desenvolveu um roteiro especial de visita noturna, o “Zoo by Night” , visandodifundir conhecimentos e valores relativos aos animais noturnos.

Marcos Jabour - RIOZOO/DEAP (Diretoria de Educação Ambiental e Pesquisa)

Quinta da Boa Vista s/nº São Cristóvão - Rio de Janeiro - RJ CEP 20.940 040 (021) 2569-5869 TELEFAX 2567-9732 - http://www.rio.rj.gov.br/riozoo e-mail: [email protected]

APRESENTAÇÃO

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176

ÍNDICE

Adaptações 2

A campeã da audição 3

Silenciosa como a brisa 4

Enxergando com o tato 6

Localização por eco 7

Morcegos X Mariposas 8

Existe luz à noite? 9

“Linguagem dos cheiros” 11

Localização elétrica 12

“Enxergando ondas de calor” 13

“Cupinzeiros luminosos” 15

Cruzadinha 16

Jogo dos 7 erros 17

Bibliografia 18

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177

Para nós pode parecer estranho, mas a adaptação dos animais à vidanoturna tem uma razão de ser.

Há dezenas de milhões de anos, quando dinossaurospredadores do tamanho do Tyranossauros rex, permaneciamativos durante o dia em busca de alimento, era mais seguropara os outros animais esconder-se de dia e sair à noite.

Essa divisão de turnos entre os grandesr épte i s e o s an imai s menore s ,estabeleceu um tipo especial de vidaque existe até hoje.

Com o passar do tempo, para procuraralimento, defender-se, fazer ninhos, cuidar dos filhotes,

e encontrar abrigo seguro antes do Sol nascer, os animais noturnosforam apurando seus sentidos, aperfeiçoando a camuflagem e adequandoseu comportamento.

Com a extinção em massa dos grandes répteis e a contínuadiferenciação dos mamíferos, o número de espécies de animais noturnos foiaumentando e a disputa por espaço e por alimento foi ficandocada vez maior.

Os pesquisadores supõem que essa competição acirradae a busca por um clima mais ameno, resultou no aparecimento de

espécies ativas algumas horas em ambos os turnos e animaisespecializados em iniciar suas atividades ao amanhecer e ao entardecer,

os animais crepusculares.

Introdução

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178

Adaptações

A luta pela sobrevivência condiciona os animais noturnos a travar, a cadanoite, batalhas sem trégua para encontrar alimento, o caminho de volta parao abrigo e escapar de perigos geralmente imperceptíveis.

A competição mais notável é a que acontece entre presas e predadores.Algumas vezes os predadores saem ganhando, em outras, as presas conseguemescapar, o que é fundamental para manter o equilíbrio, pois, se os predadoressempre obtivessem êxito, muitos deles entrariam em extinção por falta dealimento.

Alguns animais têm órgãos especificamente adaptados para certos tipos de presa. Otamanduá-mirim é um desses caçadores especializados. À noite ele é capaz de distinguiro cheiro de cupins de diferentes castas, dos quais se alimenta. Depois de achá-los,procura evitar os cupins-soldados, pois além de terem sabor desagradável, são dotados

de poderosas mandíbulas com as quais atacamqualquer intruso. O tamanduá introduz sua

língua flexível e pegajosa nas galeriaspara comer o máx imo de cup ins -

operár ios que puder , antes dossoldados aparecerem. Quando

i s so acontece , e l e p rocuraquebrar com suas fo r t e s

gar ras o outro lado docupinzeiro.Em geral ,

a s egundainvestida dura pouco tempo,pois os cupins-soldados repelem

o tamanduá que bate em retirada. Dessa maneira, o equilíbrionatural entre presa e predador é garantido.

2 2 2 2 2

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179

o l h oo l h oo l h oo l h oo l h o

ouvidoouvidoouvidoouvidoouvido

d i s c od i s c od i s c od i s c od i s c ofac ia lfac ia lfac ia lfac ia lfac ia l

Campeã da Audição

O ouvido interno das corujas é extremamentedesenvolvido. Ele permite que a coruja localizeuma presa na total escuridão. A presa pode serum pequeno camundongo roendo um alimento avários metros de distância do local onde se encontrapousada.

Essa acuidade auditiva é possível por causa de discos faciais que funcionam como sefossem parábolas (refletor sonoro) que amplificam o som e o transmite ao ouvido,facilitando a localização da presa.

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4A B

Silenciosa como a brisa

As corujas apresentam uma estrutura especial de penas, que elimina qualquer tipode ruído no seu deslocamento e permite um vôo silencioso.

As partes externas das penas da coruja, apresentam pequenas ondulações chamadasdentaduras, que tornam o vôo das corujas, exclusivamente noturnas, muito silenciosoe geralmente imperceptível para a maioria das suas presas.

Disposição das unhas da coruja no momento do ataque (A), após a captura a corujaprega o roedor no chão (B)

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Esta é a suindara, nome originadodo tupi-guarani e quer dizer: “aquelaque não come”. Os índios tupis achamavam assim, porque dificilmentepresenciavam a ave comendo.

Ih sai pra lá,passarinho que anda com

morcego amanhece de cabeça prabaixo!

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esqueleto de morcego

Assim como gatos e macacos, a coruja enxergaem três dimensões, ou seja, focaliza o mesmoobjeto usando parte do campo visual de ambosos olhos, o que possibilita uma excelentepercepção de distância e profundidade, vitaispara quem necessita voar com poucaluminosidade, o que é muito difícil. Apesar deser incapaz de focar objetos próximos, ela contacom o recurso de dilatação da pupila durante anoite, captando qualquer fração disponível deluz, o que torna sua visão muito mais apuradado que a do ser humano. Mas, ela tem poucamobilidade nos olhos, o que é compensado pela

acentuada flexibilidade do pescoço, capaz de girar num ângulo de 270 graus.

Dona coruja me dá cá um abraço!

Fala sério! isso aí éuma ratoeira viva!

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“Enxergando com o tato”

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Os pêlos do bigode (vibrissas) dos felinos e outros mamíferos são tão sensíveis como aspontas dos nossos dedos. Os pêlos espalhados pelo corpo da aranha-caranguejeira (2),os tentáculos de peixes noturnos como a pirarara (1) e as cerdas dos bacuraus (3)funcionam como órgãos táteis. Podemos dizer que esses animais tendem a perceber ocaminho, igual a uma pessoa que utiliza as mãos quando anda no escuro.

Um outro interessante grupo de aves noturnas é representadopelos curiangos, bacuraus, e urutaus. O urutau ou mãe-de-lua

(figura ao lado), por exemplo, tem duas fendas na pálpebra superior,que lhe permite observar ao seu redor sem abrir os olhos. Essemecanismo é de fundamental importância para perfeita camuflagem

do urutau durante o dia, sua principal forma de defesa. O urutauimita galhos de árvore como nenhuma outra ave consegue fazer.Insetívoro, este grupo de aves possui boca larga para a captura deuma grande quantidade de insetos.

Embora os sentidos e os reflexos dos animaisnoturnos sejam bem melhores do que os nossos, na

luz do dia, eles se tornam pouco ativos e atéindefesos. Isso é facilmente verificado com gambás. Tipicamentenoturnos, se forem despertados durante o dia, mostram-seinofensivos, com um andar lento e desajeitado.

fenda em detalhe

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Alguns animais noturnos são dotados de um ouvido muito apurado, com o qual captamaté sons de alta freqüência, que os ouvidos humanos não percebem.

Os morcegos, voam na escuridão semse chocar com os obstáculos, porqueemitem ondas sonoras de a l taf r eqüênc ia que a l cançam osobstáculos e voltam na forma deeco. Ao ouvir este eco, o morcegoobtém informações sobre otamanho, localização e texturado ob j e to . Essa fo rma deorientação é conhecida porlocalização por eco ou eco-localização.

Apesar dos morcegosserem animais pequenos,

eles precisam ingerirdiariamente uma quantidade de

alimento equivalente ao seu própriopeso, o que entre as espécies comedoras de

insetos (insetívoras) resulta numa eficienteação reguladora da quantidade de insetos.

Além disso, pelo fato de possuírem uma digestãomuito rápida, (cerca de 25 minutos de duração)

as espécies comedoras de frutos (frugívoras)ajudam a disseminar as sementes das frutas que

comem, espalhando-as através das suas fezes, o quenormalmente aumenta a capacidade de germinação das

sementes, contribuindo assim para o aparecimento denovas árvores.

Localização por eco

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Morcegos X Mariposas

As mariposas possuem ouvidos sensíveis aos ruídos dos morcegos. Aoperceberem a presença desses animais, elas ficam transtornadas e voamsem nenhuma direção. Mas o que surpreendeu os pesquisadores foiencontrar esse órgão num grupo de borboletas primitivas chamadas

Hedyloidea. Como a maioria das borboletas voa durante o dia, não se imaginava queelas tivessem ouvidos especiais para captar gritos de morcegos, animais exclusivamentenoturnos. Isso reforça a teoria de que há milhões de anos certas mariposas foramtrocando a noite pelo dia, transformando-se em borboletas. Essa recente descoberta

serviu para revelar também o motivo da troca de turno, o grupo demariposas estava fugindo de seus predadores, os morcegos insetívoros.

Entre os morcegos existem algumas espécies que se alimentam de néctardesempenhando uma função semelhante à do beija-flor: polinizar as plantas. Ao se alimentarem donéctar, esses mamíferos voadores sujam seu pêlocom o pólen (gameta masculino). Visitando outras

plantas da mesma espécie, o pólen aderido a suapelagem pode fertilizar uma outra flor. Ao longo

da evolução surgiram plantas amigas dos morcegos(quiropterófilas) elas desenvolveraminteressantes adaptações. Além de suas floresse abrirem à noite, elas ficam bem expostasacima da copa ou pendentes dos ramos parafacilitar o acesso dos morcegos, já que eles sãoincapazes de recuar em vôo como os beija-

flores. Algumas dessas flores produzem odores semelhantes aos de frutas emfermentação ou cheiro parecido com o das glândulas de mamíferos, incluindo ospróprios morcegos. O pequi, a dedaleira, o maracujá, a unha-de-vaca, o imbiruçu e ocuietê, são algumas plantas que atraem morcegos, algumas delas chegam a produzir20 ml de néctar por flor.

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Existe luz à noite?

A luminosidade noturna, pode variar desde noites bem clarasde lua cheia, passando pelas noites de céu claro, fase emque os animais só podem contar com a escassa luminosidadedas estrelas, até as noites de céu nublado onde em certoslugares predomina a total escuridão. Além disso, no Brasil,existem duas estações bem marcadas, o verão chuvoso, comnoites mais curtas e o inverno seco com noites mais longas.

Nas noites muito escuras, alguns animaisutilizam o tato para “ver”. O mão-pelada ou guaxinim, por exemplo,pesca com a mão em águas poucoprofundas. Sentindo a presença dopeixe, agarra-o com um golpecerteiro.

Únicos símios noturnos, os macacos-da-noite (noBrasil existem 5 espécies) passam o dia dentrode buracos de árvores e dificilmente são vistos.

Os biólogos supõem que a mudança de turnodesses macacos seja um caso de adaptação parapreservação da espécie. Assim, eles evitam a

competição com as aves e primatas frugívoros,que durante o dia seriam mais aptos. Paragarantir o sucesso de sua sobrevivência eletem uma visão noturna perfeita. O macaco-da-noite apresenta na retina depressões que

concentram grande quantidade de bastonetesque aumentam a acuidade visual durante a

noite.

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A visão é determinada por dois tipos de fotossensores: os cones e os bastonetes. Osanimais noturnos possuem visão especializada, com a predominância de fotorreceptoreschamados bastonetes, que são células presentes na retina que aproveitam ao máximoas menores quantidades de luz. Os cones são elementos especializados para o máximode aproveitamento da luz intensa. Normalmente os animais exclusivamente noturnosnão apresentam cones na retina.

Com escassa luminosidade omúsculo dilatador da írisaumenta o diâmetro dapupila, para permitir aentrada do máximo deluminosidade possível. Ànoite é conhecido o brilho nosolhos dos felídeos. Mas os

olhos dos curiangos, quatis, guaxinins, juparás, jacarés e até de mariposas parecemfosforescentes quando são alcançados pelo brilho da luz, como de uma lanterna, porexemplo. Isso acontece porque seus olhos percebem cada raio de luz duas vezes.

Primeiro a luz atravessa o cristalino e incide em um elemento das membranas daretina (bastonetes). Em seguida, se reflete no fundo do olho, como em um espelho esensibiliza novamente os bastonetes. Este espelho chama-se tapetum lucidum.

pupila contraída pupila dilatada

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“Linguagem dos cheiros”

A água na forma de vapor presente no ar, também chamada umidade relativa do ar, seresfria ao entrar em contato com as superfícies frias e se condensa, passando para oestado líquido. Assim, durante noite, o ar fica menos denso favorecendo a propagaçãodo som e a retenção de odores por mais tempo. Geralmente os animais noturnos têm oolfato mais apurado do que os diurnos.

Sempre ativas, seja no breu do formigueiro ou nos deslocamentos noturnos, as formigascortadeiras (saúvas e quenquéns) apresentam um verdadeiro “idioma olfativo”. Atravésde suas antenas, essas formigas captam odores que revelam desde a presença de umaoutra companheira ou de inimigos, até a distância, a localização e o tamanho de umafonte de alimento. A variação na quantidade de substâncias odoríferas (feromônios) eseus componentes químicos tornam mais precisas e variadas as informações. As mensagensde cheiros de alarme são lançadas no ambiente através de substâncias que se espalhamrapidamente pelo ar.

Não fazer barulho é essencial para os predadores noturnos,porque as presas têm um ouvido excelente. Por isso, os felinostêm pêlo espesso e almofadas na planta dos pés. Assim, podempegar suas presas sem serem ouvidos.

Pererecas arborícolas tem uma visão especial para localizar e caçar insetos à noite empleno vôo através de uma língua protáctil e pegajosa.

É com essemovimentode língua,que uma pererecaconsegue capturarinsetos.

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A B C

Localização elétrica

Encontrado nos rios e lagos do Pantanal até a Amazônia, o poraquê ou peixe-elétrico,apresenta olhos ao nascer, mas com o passar do tempo eles se atrofiam e a sua percepçãovisual se limita apenas a sensações de clareza e obscuridade.

Dotado de um sistema sensorial elétrico denominado eletrolocação, o poraquê, alémde criar campos elétricos ao seu redor para orientá-lo (A), emite fortes descargaselétricas (de 500 a 700 V) para se defender e paralisar pequenos peixes que lheservem de alimento, vem daí seu nome popular de origem tupi: pora‘kê pora‘kê pora‘kê pora‘kê pora‘kê = o que fazdormir.

Provido apenas de uma nadadeira anal, que se estende por quase todo o abdome, oporaquê mantém seu corpo em linha reta, pois, isso favorece a emissão dos impulsoselétricos. Pesquisas em laboratório demonstraram que as emissões dessas descargaselétricas são desviadas em corpos mau-condutores de eletricidade (B) e atravessamos corpos bom-condutores (C), é dessa forma que o poraquê percebe o ambiente.

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Com cobra noturna tem que ter cuidado, diz o dito popular. No Brasil isso procede.Com exceção das cobras-corais, todas as serpentes peçonhentas do país apresentamhábitos noturnos.

Localizada entre o olho e a fossa nasala fosseta loreal de uma cascavel(serpente da família dos viperídeos)tem uns cinco milímetros deprofundidade com a abertura maisestreita do que o interior.

A direção do sensor de temperatura de uma jararaca é indicada pela localizaçãode duas fossetas situadas na cabeça da serpente à frente dos olhos. Sendosensibilizada pela emanação de calor de suas presas (geralmente roedores) umaserpente pode estabelecer a direção em que se encontra a presa movendo acabeça como se estivesse usando os olhos.

“Enxergando Infravermelho”

Detalhe da cabeça de uma cascavelDetalhe da cabeça de uma cascavelDetalhe da cabeça de uma cascavelDetalhe da cabeça de uma cascavelDetalhe da cabeça de uma cascaveld e s t a c a n d o a f o s s e t a l o r e ad e s t a c a n d o a f o s s e t a l o r e ad e s t a c a n d o a f o s s e t a l o r e ad e s t a c a n d o a f o s s e t a l o r e ad e s t a c a n d o a f o s s e t a l o r e a l

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cérebrocerebelo

lobo

lobo

nervos sensoriais

Lábios Sensíveis

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Embora não sejam peçonhentas as jibóias e sucuris são ativas durante a noite sendotambém sensibilizadas pelas ondas de calor.

Abaixo da camada de escamas que cobre as mandíbulas (superior e inferior) da jibóiaexiste uma complexa rede de nervos sensoriais, a fosseta labial. Essa estrutura detectaradiação infravermelha (ondas de calor). Um breve impulso de radiação provoca umaresposta cerebral em menos de um segundo.

Durante a noite, com o ar menos denso, apropagação das v ib rações sonoras éotimizada. Assim, o som chega com maisnitidez aos aguçados sistemas auditivostanto de presas como de predadores. Fazerbarulho pode ser fatal para uma presa edesastroso para um predador. Ao longo daevolução, alguns mamíferos desenvolveramadaptações interessantes. O nosso lobo-guará,por exemplo, apresenta além de orelhasgrandes e móveis, almofadas plantares parareduzir o ruído do seu caminhar na mata.

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“Cupinzeiros luminosos”

A bioluminescência é produzida por órgãos especiais chamados fotóforos. Ela é originadapela oxidação de uma proteína, a luciferina. Esse processo possibilita que a energia químicaseja convertida em energia luminosa sem produção de calor (luz fria). A emissão acontecequando a luciferina, depois de ser excitada pela presença de uma enzima (luciferase) e ATP,volta ao estágio menos excitado liberando fótons de luz.

Os verdadeiros vaga-lumes são pequenos besouros da famíliados lampirídeos. No Brasil são mais de 300 espécies, massomente poucas espécies emitem luz. Nos vaga-lumes o esqueletoexterno é mole e a emissão de luz, de tonalidades esbranquiçadae amarelada, é piscada. Macho e fêmea da mesma espécie emitemsinais diferentes mas, ambos, normalmente, reconhecem asinalização do parceiro que serve para atração sexual. Agrupadosna família dos elaterídeos, os pirilampos são besouros maiores,de esqueleto externo duro e que emitem luz de forma quasecontínua. Ao serem manuseados eles dobram o corpo com força ese soltam. No chão, o inseto articula o corpo de um jeito queconsegue saltar e produzir um som característico “tec-tec“, nome

pelo qual também é conhecido.

Nosso país oferece um dos maiores espetáculos de bioluminescênciado mundo. São os famosos “cupinzeiros luminosos”. Eles são

encontrados na região amazônica e no cerrado, principalmenteno Estado de Goiás. No período de outubro a abril, nas

primeiras horas de noites quentes e úmidas, uma grandequantidade de cupinzeiros torna-se repleta de pontos

luminosos, como se fosse um jardim de árvores de natal.Isso acontece porque inúmeras fêmeas depois defecundadas, depositam os ovos no pé dos cupinzeiros.

Dos ovos nascem centenas de larvas luminosas dopirilampo Pyrearinus termitilluminans. À noite, em

galerias próprias, elas “acendem” suas luzes,atraindo insetos voadores como cupins,

mariposas e formigas aladas, quesão então devorados pelas larvas.

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VAGA-LUME

PIRILAMPO

FOTÓFOROS

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1- Amplifica a audição das corujas2- Fotorreceptor predominante nos animais noturnos3- Aquela que não come4- Não come cupim-soldado5- Tipo de orientação dos morcegos6- Reflete a luz no fundo do olho7- Elimina o ruído no vôo das corujas8- Principal sentido das formigas-saúvas9- Mão-pelada usa para pescar10- Morcegos ficam agoniados com11- Sentido do poraquê12- Favorece a propagação do som à noite13- Principal sistema sensorial das corujas

Cruzadinha animal

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CRUZADINHA1 – DISCO FACIAL; 2 – BASTONETES; 3 – SUINDARA; 4. ECOLOCALIZAÇÃO5 – TAMANDUA-MIRIM; 6 – TAPETUM LUCIDUM; 7 – DENTADURA; 8 - OLFATO9 – TATO; 10. - LUA; 11 - ELÉTRICO; 12 - SERENO; 13 - AUDITIVO

RESPOSTAS:

SETE ERROS:SUMIRAM AS NUVENS QUE ESTAVAM NA FRENTE DA LUA; UMA DAS FORMIGAS SUMIU; ORATO SELVAGEM QUE ESTÁ DE PÉ VIROU DE LADO; A CORUJA SUMIU DE TRÁS DA MOITA;O SENTIDO DA TRILHA DE FORMIGAS FOI INVERTIDO; A PONTA DO RABO DO LOBOFICOU PRETA; APARECEU A CAUDA DO RATO PRÓXIMO A COBRA JIBÓIA.

Jogo dos sete erros

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