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MÓDULO
DA DIFERENÇA DE
COMPORTAMENTOS
À DIFERENCIAÇÃO
DA INTERVENÇÃO
1. DIFERENÇA: DELIMITAÇÃO E PROBLEMATIZAÇÃO
2. ALGUMAS DIFERENÇAS PERANTE A
EDUCAÇÃO E FORMAÇÃO
3. DIFERENÇAS NO ACESSO AO TRABALHO: INSERÇÃO DE POPULAÇÕES COM ESPECIAIS DIFICULDADES
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OLHAR GLOBAL
[Capítulos] [Questões centrais] [Ideias-chave]
1. • Ser diferente significa não integrar uma dada categoria ou não apresentar
Diferença: O que significa ser uma correspondência com uma referência num processo de comparação.
Existem diferenças entre indivíduos, entre grupos e entre comunidades.
delimitação e diferente?
Frequentemente, as diferenças convertem-se em desigualdades.
problematização
2. • A igualdade de acesso formalmente estabelecida nem sempre é garantia
Algumas diferenças Quais são as da igualdade de sucesso. O género, a trajetória social e escolar anterior, as
dificuldades de aprendizagem, entre outros, são diferenças importantes
perante a educação principais diferenças
quando falamos no acesso à educação e formação.
no acesso à educação
e a formação
e formação?
3. • O acesso ao emprego/mercado de trabalho apresenta barreiras para uma
Diferenças no acesso Quais são as larga franja da população: jovens (pouco qualificados ou
sobrequalificados), desempregados de longa duração, mulheres,
ao trabalho: inserção principais diferenças
membros de grupos étnicos minoritários, pessoas portadoras de
no acesso ao
de populações com
deficiência, entre outros. Vários passos têm sido dados no sentido da
mercado de
especiais dificuldades
trabalho? igualdade, mas muito há ainda por fazer.
A PSICOLOGIA VAI AO CINEMA
Título original: Big Fish
Realização: Tim Burton
O Grande Género: Fantasia/Drama
Duração: 125’ (Reino Unido, 2003)
Peixe Sinopse: O filme dá conta da difícil relação entre um homem de
imaginação delirante, Edward Bloom, um contador de
histórias incapaz de as distinguir da realidade, com o
seu filho Will, de quem vive afastado há vários anos.
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DESAFIO DO MÓDULO
A narrativa de Edward Bloom constrói-se em contextos diversos e envolve personagens que fogem
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S à normalidade. Apesar da diferença lhe permitir sentir-se especial, ela é a principal razão da relação
distante do contador de histórias com o seu filho. O que significa ser diferente? Ilustra com exem-
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L plos do filme.
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48 DA DIFERENÇA DE COMPORTAMENTOS À DIFERENCIAÇÃO DA INTERVENÇÃO
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Diferença: delimitação e
problematização
QUESTÃO CENTRAL
O QUE SIGNIFICA SER DIFERENTE?
DOC. 1 – As diferenças
• «Nós não somos iguais, tal como os nossos dedos: temos 5 dedos que não são
iguais. É como é. Cada um de nós tem as suas características, conhecimentos,
possibilidades e apti-dões. É isso que me torna diferente dos outros» (Mali).
• «Eu não sou diferente por estar numa cadeira de rodas. Há outros como eu. A
diferença depende daquilo a que nos comparamos. Se me comparam com uma pessoa
sem deficiência, sou diferente porque não consigo andar. Se me compraram com uma
pessoa idosa, sou dife-rente porque sou mais nova» (França). • «As pessoas gozavam comigo por causa da minha pele. Não gostavam de mim e eu não era
socialmente aceite. Na escola ninguém falava comigo porque eu era pobre» (Camboja).
• «Os meus pais são diferentes na sua aparência. O meu pai é tatuador e a minha mãe
aplica piercings. Vestem-se de forma diferente. Eu sou gótica. Sou uma ovelha negra no sítio
onde que vivo. Chamam-me bruxa e todo o tipo de nomes porque são muito fechados. De-
víamos ser mais abertos e não julgar os outros pela sua aparência física. Um homem de fato
e gravata pode ser, quem sabe, pior pessoa do que alguém com verniz preto» (Espanha).
• «Mesmo que tenhas nascido na América e tenhas crescido com eles, se falares
outra língua passas a ser tratado de forma diferente. As pessoas perguntam-me: De
onde és? Daqui. Não, qual é a tua naturalidade? Los Angeles, eu nasci aqui. Mas quais
são as tuas raí-zes? Sei exatamente o que perguntam. Nasci cá, mas os meus pais são
mexicanos. Ah! Então és mexicano. Não, eu sou norte-americano, os meus pais é que
são mexicanos. Assim que falas nas tuas raízes familiares, deixas de ser norte-
americano. Vão continuar a ser teus amigos. Mas, por algum motivo, foi traçada uma
linha que mostra que tu és diferente» (EUA).
• «Ser homossexual é um motivo de discriminação, por mais que a sociedade evolua. Foi
mais difícil quando era mais novo, porque era inseguro. Aprendes a aceitar-te e tornas-te
mais forte. Neste caso não procuras mostrar que és diferente, mas que és igual» (Espanha).
Transcrição de vídeo-testemunhos disponíveis na página em linha do projeto 7 mil milhões de outros, in
http://www.7billionothers.org/pt/thematic_voices/differences-ingles [consultado a 19-1-2014] (adaptado).
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MÓDULO 6 49
Criado em 2003 por Yann Arthus-Bertrand, com o apoio da Fundação GoodPlanet, Curiosidades
o projeto 7 mil milhões de outros (http://www.7billionothers.org/pt/) reúne • Ao longo de 4 anos (de 1996 a
mais de 6 mil entrevistas nas quais pessoas de 84 países respondem a cerca de 2000), o fotógrafo alemão Uwe
40 perguntas. Ommer viajou pelos diferentes
continentes retratando várias fa-
Acabaste de ler alguns excertos dos vídeo-testemunhos sobre o tema as mílias com o objetivo de criar um
álbum para o nosso planeta. Este
diferenças.
projeto ajuda-nos a descobrir as
Escolhe um dos testemunhos para explicar o que significa para ti ser dife- semelhanças e as diferenças entre
a nossa família e muitas outras em
rente. Se tivesses de apontar características que te tornam diferente dos ou-
todo o mundo (www.1000families.
tros, o que destacarias? Ser diferente será sinónimo de desigualdade? eu/).
Objetivos de aprendizagem
Delimitar o conceito de diferença
Ter uma diferença, ser diferente, significa, de forma simples, não integrar- por referência ao contexto e ao
mos uma categoria ou não apresentarmos uma correspondência com uma espaço relacional em que a
referência num dado processo de comparação. Existem tantas variáveis possí- mesma ocorre.
Explicitar situações em que a dife-
veis nesta equação que o mais certo será encontrarmos simultaneamente as-
rença cria desvantagens ou difi-
petos que nos aproximam e aspetos que nos distinguem quando nos compa-
culdades.
ramos com alguém. Se, por exemplo, podemos comparar características
físicas e traços de personalidade, tradições culturais, indivíduos, grupos, co- Diferença
munidades, regiões/espaços e épocas/tempos, então a diferença será sempre
um resultado relativo. E poderia ser de outro modo num mundo onde vivem 7 Característica não comum a outro
mil milhões de pessoas?! ou outros.
Mas então porque é que prestamos mais atenção às diferenças do que às
semelhanças? Embora ambas sejam importantes nas nossas relações com o
mundo e construção da nossa identidade, as semelhanças tendem a fornecer-
-nos estabilidade, a validar os nossos comportamentos, ideias e valores. Pelo
contrário, as diferenças conduzem-nos ao questionamento e à dúvida sobre
os nossos pontos de referência.
TU TENS UMA PRECISAMENTE.
GAIOLA DE AÇO
EU?!
CONSIGO VER AS
À VOLTA DA BARRAS!
CABEÇA .
Nina Paley, Mimi & Eunice – Steel Cage, 2011.
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50 DA DIFERENÇA DE COMPORTAMENTOS À DIFERENCIAÇÃO DA INTERVENÇÃO
Diferenças entre indivíduos – «O Roberto e o Tiago são diferentes porque…»
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Características físicas Estilos de Ideias, crenças Orientação sexual
Interesses Etc.
e comportamentos pensamento e valores e aspirações
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Albert Einstein, Alexander Bell e Thomas Edison…
Ludwig van Beethoven, Frida Kahlo e Christy Brown…
Diferenças entre grupos – «As mulheres e os homens são diferentes porque…»
Com base nas nossas características, tendemos a considerar Nos endogrupos encontramos indivíduos que, no geral,
que fazemos parte de certos grupos (endogrupos) e não de partilham mais aspetos em comum connosco do que
outros (exogrupos). diferenças, acontecendo o inverso nos exogrupos.
Diferenças entre comunidades – «Os portugueses e os chineses são diferentes porque…»
Mesmo que na nossa comunidade existam vários grupos com os quais não nos identifiquemos, tendemos a criar
pontos de união para representar um grupo maior, uma comunidade, sociedade ou país. Com base nessas características gerais, criamos linhas que separam o nosso lado do lado que consideramos ser o dos outros.
Sabes o que têm em comum estes intelectuais, inventores e artistas?
Pode-mos dizer que todos eles são diferentes dos demais por dois motivos:
• Primeiro, porque não foram cidadãos comuns no mundo do seu tempo,
pelo contrário, destacaram-se, em diferentes áreas, pela sua genialidade.
• Segundo, porque se conseguiram evidenciar, independentemente
das suas dificuldades (crê-se que todos tinham algum tipo de problema
de apren-dizagem ou deficiência).
Como seriam os seus resultados em testes de inteligência? Traduziria
o seu QI a genialidade que os tornou célebres? Muito provavelmente
não, até por-que muitas das escalas foram construídas tendo por base
resultados de uma população de indivíduos com características mais ou
menos semelhantes ou normalizadas. Fará sentido utilizar medidas
estandardizadas em casos que se mostram, à partida, fora do que
consideramos ser a normalidade? Provavel-mente não.
Outro dos temas que continua a marcar presença em artigos de
revistas científicas e não científicas diz respeito às diferenças de grupo
que distin-guem homens e mulheres.
Género
Curiosidades • Sabias que atualmente a pessoa mais típica do planeta é um homem de 28 anos e com nacionalidade chinesa? De acordo com um vídeo produzido pela National Geogra- phic, o indivíduo mais comum do planeta é ainda destro, tem tele- móvel, não tem conta bancária e ganha mensalmente pouco mais do que 600 euros. • A Escala de Inteligência Wechsler para Adultos (conhecida como WAIS) corresponde a uma ferra- menta de avaliação da inteligência que é comumente utilizada com adultos, envolvendo itens que per- mitem aferir a nossa compreensão verbal, organização percetual, me- mória operacional e velocidade de processamento, entre outros as-
No que se refere às diferenças individuais, um dos temas mais
aprofunda-dos pela psicologia diz respeito à inteligência. Todos nós temos
curiosidade em saber o quão inteligentes somos e, com muita frequência,
assumimos que alguém é certamente menos (ou mais) dotado ou esperto do
que nós. Mas, como já tiveste oportunidade de estudar na disciplina de
psicologia, a inteli-gência é um conceito difícil de definir e avaliar. Não se
traduz, como o peso ou a altura, numa medida exata que nos permita
classificar rápida ou objetiva-mente uma pessoa como mais ou menos
inteligente do que outra. Neste sen-tido, será sempre relativo dizer que o
Roberto é mais inteligente que o Tiago (ou o inverso).
Ainda assim, como sabes, muitos psicólogos dedicaram as suas investiga-
ções à construção de escalas que permitissem apurar um resultado
(quociente de inteligência – QI) que traduzisse o nosso desempenho em
termos de capa-cidades intelectuais. Muito utilizadas em vários contextos da
prática psicoló-gica, estas escalas encontram-se frequentemente associadas
a uma de mui-tas formas de perspetivar a inteligência.
Se as expressões «sexo feminino» e «sexo masculino» se referem a dife-
renças biológicas entre homens e mulheres, a palavra género, em contrapar-
tida, é usada quando pretendemos chamar a atenção para as disparidades entre
homens e mulheres que são estabelecidas na e através da socialização.
Assim, podemos afirmar que ter uma vagina ou um pénis são características
que se prendem com diferenças sexuais, enquanto, por exemplo, a divisão das
tarefas domésticas está muitas vezes associada ao género.
Termo que põe em evidência as
diferenças socialmente construí-
das entre homens e mulheres,
distinguindo-as das diferenças
estritamente biológicas.
petos.
Existem inúmeras abordagens que, mais abrangentes (menos focadas em
capacidades intelectuais aritméticas ou linguísticas) e mais permeáveis à di-
versidade, procuram compreender como cada um de nós se adapta, com dife-
rentes recursos, aos contextos. Estas abordagens permitem-nos, por exem-plo,
dizer que o Roberto apresenta um melhor desempenho em atividades que
envolvem capacidades lógico-matemáticas e que o Tiago se destaca quando
confrontado com desafios que exigem competências interpessoais.
Shadi Ghadirian, Like Everyday, 2000-2001.
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52 DA DIFERENÇA DE COMPORTAMENTOS À DIFERENCIAÇÃO DA INTERVENÇÃO
MÓDULO 6 53
DOC. 2 – Diferenças entre sexos
As primeiras teorias sobre a origem das diferenças entre os sexos debatiam a questão de
saber se essas diferenças eram determinadas por fatores biológicos (nature) ou por fatores
sociais (nurture). As explicações baseadas na influência da natureza considera-vam as
diferenças físicas ou fisiológicas, inclusive as diferenças no desenvolvimento do cérebro ou
as diferenças hormonais. As explicações baseadas na influência da cultura apontavam para o
papel da socialização, salientando que a sociedade tem diferentes ex-pectativas em relação
aos comportamentos apropriados aos homens e às mulheres, que são aprendidos pelas
crianças através dos processos de reforço e de imitação. Na maioria das vezes, estas duas
formas de explicação coexistiam enquanto alternativas competiti-vas e opostas, havendo
pouco esforço para desenvolver uma teoria inclusiva. (…)
As teorias desenvolvidas a partir dos anos 1980, nomeadamente pela psicologia
so-cial, consideram geralmente que as diferenças entre os sexos, mesmo as
diferenças de natureza cognitiva, são o produto da interação entre as pessoas num
contexto social mais abrangente. (…) Sem negar a influência da biologia ou da
socialização, considera-se que os homens e as mulheres têm um repertório de
comportamentos relativamente igual, mas que as suas expectativas sobre a maneira
como se devem comportar produzem «scripts interacionais» que são traduzidos
pela seleção de comportamentos diferencia-dos.
Olhando para a origem e o desenvolvimento da investigação sobre as diferenças entre os
sexos, pode-se achar surpreendente que esta linha de investigação continue a mobili-zar
tanta energia, apesar dos inúmeros resultados que apoiam a opinião de que a variabi-lidade
dentro de cada um dos grupos sexuais é superior à variabilidade entre os grupos. (…) Um primeiro facto surpreendente é que o esforço para comparar os sexos não tem
equivalente noutras categorias sociais, apesar de alguns autores sugerirem que as dife-
renças entre outros grupos sociais, nomeadamente as classes sociais e os grupos étnicos
são provavelmente mais importantes. No entanto, se as primeiras classificações dos seres
humanos comparavam, de facto, raças e classes sociais, estes procedimentos tor-naram-se
politicamente incorretos, ao passo que as comparações entre homens e mu-
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Façamos uma síntese dos principais aspetos do texto:
• Existem diversas teorias que procuram explicar a origem das
diferenças entre homens e mulheres.
• Embora inicialmente se tendesse a concentrar a atenção em explicações
mais centradas ou em fatores biológicos ou em fatores culturais, as teo-
rias mais recentes assentam na interação entre os dois tipos de fatores.
• Observam-se mais diferenças dentro de cada um dos grupos do que
entre homens e mulheres.
Não obstante inúmeros estudos apontarem para a ausência de diferenças
significativas, existe na sociedade um vasto consenso no que se refere às
crenças sobre as características que é suposto os homens e as mulheres
pos-suírem. Segundo alguns autores, estes significados sociais atribuídos
aos dois sexos e as expectativas a eles associadas (os estereótipos e papéis
de género de que falaremos no próximo capítulo) são parte da explicação
das variâncias que frequentemente se estabelecem entre os sexos a vários
níveis. Ou seja, acreditam estes especialistas que se nos nossos processos
de socialização os estereótipos de género fossem mitigados, então a
questão não seria colocada em termos de sexo («Os homens e as mulheres
são diferentes porque…»), mas sim em termos de variações individuais. No
entanto, por diversos moti-vos, incluindo os relacionados com a influência e
o poder, continua a existir nas várias sociedades a tendência para perpetuar
as crenças sobre as diferen-ças entre os sexos e, consequentemente, para
distinguir os direitos e os deve-res atribuídos a homens e a mulheres.
Quando procuramos perceber se somos iguais ou diferentes dos outros
podemos comparar-nos individualmente, podemos comparar-nos utilizando
os nossos grupos de pertença e podemos ainda comparar-nos recorrendo a
referências mais abrangentes avaliando as diferenças entre comunidades.
• Em 2005, a psicóloga Jane Hyde,
da Universidade de Wisconsin,
descobriu que homens e mulhe-res,
da infância à adultícia, são mais
parecidos do que diferentes no que
se refere à maioria das va-riáveis
psicológicas. Com base numa meta-
análise que integrou estudos
realizados desde 1980, esta
investigadora procurou aferir o
impacto do sexo em traços psi-
cológicos e capacidades intelec-
tuais, mas o resultado obtido indi-
cou que as diferenças sexuais
nenhum ou pouco efeito tinham nas
variáveis em análise.
lheres parecem não colocar o mínimo problema [pelo menos na perspetiva de muitos].
Objetivos de aprendizagem
Um dado também interessante é que se poderia esperar que fosse fácil fazer uma lista de
diferenças entre os sexos numa sociedade onde existem tantas desigualdades de esta-tuto e
de poder (…). Porém, a constatação de que é tão complicado evidenciar diferenças tão fracas
entre os sexos e que os resultados obtidos são tão inconsistentes não deixa de ser
surpreendente. Por último, pode perguntar-se porque é que, mesmo quando os auto-res
procuram salientar as origens sociais das diferenças encontradas, se atribui mais im-
portância aos 5% de variância explicados pelo sexo do que aos 95% de variância explica-dos
por outros fatores. (…) Neste sentido, pode-se compreender que alguns autores questionem
globalmente a investigação sobre as diferenças entre os sexos, pergun-tando-se se
realmente as nossas instituições «continuam a fornecer enormes esforços
Como muitos países nesta era de globalização, e em consequência de fortes
movimentos de emigração e imigração, Portugal apresenta uma inquestionável
riqueza em termos de diversidade étnica e cultural. Esta multiculturalidade
conduz frequentemente a processos de aculturação. O termo aculturação re-
fere-se ao processo de contacto entre culturas diferentes e às suas conse-
quências. O processo de aculturação pode decorrer de uma das seguintes for-
mas: assimilação, integração, separação e marginalização.
Refletir sobre a multiplicidade
de estratégias para lidar com
as dife-renças.
para apoiar generalizações estereotipadas, apesar do facto de as predições baseadas
so-mente no sexo serem muitas vezes inexatas, com o objetivo de manter e de justificar
a existência de esferas separadas para os homens e para as mulheres».
POESCHL, G., MÚRIAS, C. & RIBEIRO, R. (2003). As diferenças entre os sexos: mito ou realidade?, in
Análise Psicológica, 2 (XXI): pp. 213-328.
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Assimilação
Abandono da própria
identidade cultural em
favor da identidade
cultural da comunidade
dominante.
Integração Separação Marginalização
Manutenção parcial da Preservação da Perda da identidade cultural identidade cultural do grupo identidade cultural e da comunidade minoritária,
minoritário e participação ausência de que não tem o direito a
cada vez maior na estabelecimento de participar na comunidade
sociedade dominante. relações com a dominante, devido a práticas comunidade dominante. discriminatórias.
54 DA DIFERENÇA DE COMPORTAMENTOS À DIFERENCIAÇÃO DA INTERVENÇÃO
Num processo de aculturação há sempre a possibilidade de existirem
ten-sões entre as culturas em presença. Assim, um dos principais
desafios que se coloca nestes processos diz respeito à adoção de
práticas integradoras, pre-ventivas de situações de racismo e xenofobia.
Estas práticas devem assentar num diálogo e comunicação intercultural
que reconheça, afirme e estimule a diferença e pluralidade culturais.
DOC. 3 – Dificuldades no processo de aculturação
As pessoas de diferentes culturas ou subculturas perante as mesmas
realidades podem atribuir diferentes significados e produzir diferentes
perceções sociais. A cultura influencia o modo como cada um de nós sele-
ciona, avalia e organiza as informações e os estímulos que nos rodeiam,
levando a que se produzam mais perceções do mundo exterior. Os nossos
sistemas de valores, crenças e atitudes, o modo como olhamos e com-
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MÓDULO 6 55
Façamos uma síntese dos principais aspetos do texto:
• A ausência de significações comuns entre culturas conduz à
necessidade do diálogo intercultural.
• Uma das dificuldades do ser humano é a descentração, ou seja, ser
capaz de se colocar no lugar do outro.
• O etnocentrismo refere-se à tendência para julgar/apreciar os
valores, atitudes, comportamentos e características de outros grupos
culturais tendo como referência características e pontos de vista da
cultura do ob-servador.
As diferenças entre culturas não podem ser negadas, mas, para
compreen-dermos essas diferenças, temos de ser capazes de nos
descentrarmos e utili-zar novas referências, libertas tanto quanto
possível de estereótipos e pre-conceitos relativamente aos outros.
Objetivos de aprendizagem
preendemos o mundo e os outros têm influência sobre as nossas perce-
ções. Quando o universo de significações não é partilhado, a comunicação
é estabelecida com mais dificuldade. Desse modo, as pessoas com dife-
rentes culturas ou subculturas de origem são forçadas a aprender a inte-
grar as regras culturais e a descentrarem-se em relação à sua própria cul-
tura, numa situação de comunicação intercultural. No âmbito da
comunicação e das relações interculturais uma das dificuldades do ser
humano é a descentração, ou seja, ser capaz de sair do etnocentrismo.
O etnocentrismo refere-se à tendência para julgar/apreciar os valores,
atitudes, comportamentos e características de outros grupos culturais
tendo como referência características e pontos de vista da cultura do ob-
servador. A cultura, os quadros de referência e o seu próprio conjunto de
valores é o contexto que o observador utiliza para julgar todos os outros.
Estes são considerados mais ou menos desenvolvidos conforme estão
mais ou menos próximos dos padrões culturais do observador. O etnocen-
trismo constitui um obstáculo à comunicação intercultural e é uma ati-tude
típica dos assimilacionistas, os quais advogam que a assimilação implica o
abandono da própria identidade cultural dos grupos minoritários em favor
da cultura da comunidade dominante (…).
Quando as representações sociais e significados atribuídos à realidade
são diferentes entre as pessoas que estabelecem a comunicação, esta é
afetada através dos juízos etnocêntricos, das perceções, dos preconcei-tos
e dos estereótipos. Em muitas situações, as atitudes etnocêntricas dos
cidadãos da sociedade recetora podem causar preconceito e discrimina-
ção em relação a pessoas vindas de outros países.
ARAÚJO, S. (2008). Contributos para uma educação para a cidadania:
professores e alunos em contexto intercultural, pp. 43-45. Lisboa: Alto-Comissariado para a Imigração e Diálogo Intercultural.
A história está repleta de situações nas quais o confronto com a diferença
con-duziu a posturas intolerantes, segregacionistas e aniquiladoras.
É frequente exemplificar esta perspetiva aludindo à situação que se verifi-
cou com a conquista e colonização de várias regiões do globo por parte de
países europeus, entre eles Portugal e Espanha. Um dos mais graves
exemplos da história recente correspondeu à perseguição e extermínio de
mais de me-tade dos judeus da Europa, entre 1933 e 1945, durante o regime
nazi liderado por Adolf Hitler. Em resposta, e na sequência das duas guerras
mundiais, as várias nações do mundo uniram-se em defesa dos direitos
humanos funda-mentais, adotando, em 1948, a Declaração Universal dos
Direitos Humanos. O documento, constituído por 30 artigos, enuncia os
direitos fundamentais – civis, políticos e sociais – que devem gozar todos os
seres humanos, sem dis-tinção de raça, sexo, nacionalidade, religião, etc.,
qualquer que seja o país que habitem ou o regime político nele instituído.
Inventariar as situações de
risco e a multiplicidade de
aspetos que as caracterizam.
Curiosidades • Estima-se que tenham
morrido às mãos dos nazis mais
de 5 mi-lhões de judeus, 3
milhões dos quais em campos
de extermínio, 1,4 milhões em
operações de fuzi-lamento e
mais de 600 mil nos guetos. • Para além da comunidade ju-
daica, muitos foram os grupos alvo
da política de terror nazi, entre eles
os ciganos, os homossexuais e os
opositores políticos.
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Eleanor Roosevelt presidiu a Comissão de Direitos Humanos das Nações Unidas, que elaborou a Decla -
ração Universal dos Direitos Humanos.
56 DA DIFERENÇA DE COMPORTAMENTOS À DIFERENCIAÇÃO DA INTERVENÇÃO
DOC. 4 – Declaração Universal dos Direitos Humanos
Artigo 1.º – Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e direitos. Dotados de
razão e de consciência, devem agir uns para com os outros em espírito de fraternidade.
Artigo 2.º – Todos os seres humanos podem invocar os direitos e as liberdades proclamados na
pre-sente Declaração, sem distinção alguma, nomeadamente de raça, de cor, de sexo, de língua, de
religião, de opinião política ou outra, de origem nacional ou social, de fortuna, de nascimento ou de
qualquer outra situação. Além disso, não será feita nenhuma distinção fundada no estatuto político,
jurídico ou interna-cional do país ou do território da naturalidade da pessoa, seja esse país ou território
independente, sob tutela, autónomo ou sujeito a alguma limitação de soberania.
Artigo 3.° – Todo indivíduo tem direito à vida, à liberdade e à segurança pessoal.
Artigo 4.° – Ninguém será mantido em escravatura ou servidão; a escravatura e o trato dos
escravos, sob todas as formas, são proibidos.
Artigo 5.º – Ninguém será submetido a tortura nem a penas ou tratamentos cruéis, desumanos ou
de-gradantes.
Artigo 6.° – Todos os indivíduos têm direito ao reconhecimento, em todos os lugares, da sua
personali-dade jurídica.
Artigo 7.° – Todos são iguais perante a lei e, sem distinção, têm direito a igual proteção da lei.
Todos têm direito a proteção igual contra qualquer discriminação que viole a presente Declaração e
contra qual-quer incitamento a tal discriminação.
Artigo 8.° – Toda a pessoa tem direito a recurso efetivo para as jurisdições nacionais competentes
con-tra os atos que violem os direitos fundamentais reconhecidos pela Constituição ou pela lei.
Artigo 9.° – Ninguém pode ser arbitrariamente preso, detido ou exilado.
Artigo 10.° – Toda a pessoa tem direito, em plena igualdade, a que a sua causa seja equitativa e
publi-camente julgada por um tribunal independente e imparcial que decida dos seus direitos e
obrigações ou das razões de qualquer acusação em matéria penal que contra ela seja deduzida.
Artigo 11.° – 1. Toda a pessoa acusada de um ato delituoso presume-se inocente até que a sua
culpa-bilidade fique legalmente provada no decurso de um processo público em que todas as
garantias necessá-rias de defesa lhe sejam asseguradas. 2. Ninguém será condenado por ações ou
omissões que, no mo-mento da sua prática, não constituíam ato delituoso à face do direito interno ou
internacional. Do mesmo modo, não será infligida pena mais grave do que a que era aplicável no
momento em que o ato delituoso foi cometido.
Artigo 12.º – Ninguém sofrerá intromissões arbitrárias na sua vida privada, na sua família, no seu
domi-cílio ou na sua correspondência, nem ataques à sua honra e reputação. Contra tais intromissões
ou ataques toda a pessoa tem direito a proteção da lei.
Artigo 13.° – 1. Toda a pessoa tem o direito de livremente circular e escolher a sua residência no
inte-rior de um Estado. 2. Toda a pessoa tem o direito de abandonar o país em que se encontra,
incluindo o seu, e o direito de regressar ao seu país.
Artigo 14.° – 1. Toda a pessoa sujeita a perseguição tem o direito de procurar e de beneficiar de asilo
em outros países. 2. Este direito não pode, porém, ser invocado no caso de processo realmente existente
por crime de direito comum ou por atividades contrárias aos fins e aos princípios das Nações Unidas.
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MÓDULO 6 57
Artigo 15.° – 1. Todo o indivíduo tem direito a ter uma nacionalidade. 2. Ninguém pode ser
arbitraria-mente privado da sua nacionalidade nem do direito de mudar de nacionalidade.
Artigo 16.° – 1. A partir da idade núbil, o homem e a mulher têm o direito de casar e de constituir
famí-lia, sem restrição alguma de raça, nacionalidade ou religião. Durante o casamento e na altura da
sua disso-lução, ambos têm direitos iguais. 2. O casamento não pode ser celebrado sem o livre e
pleno consenti-mento dos futuros esposos. 3. A família é o elemento natural e fundamental da
sociedade e tem direito à proteção desta e do Estado.
Artigo 17.° – 1. Toda a pessoa, individual ou coletiva, tem direito à propriedade. 2. Ninguém pode
ser arbitrariamente privado da sua propriedade.
Artigo 18.º – Toda a pessoa tem direito à liberdade de pensamento, de consciência e de religião;
este direito implica a liberdade de mudar de religião ou de convicção, assim como a liberdade de
manifestar a religião ou convicção, sozinho ou em comum, tanto em público como em privado, pelo
ensino, pela prá-tica, pelo culto e pelos ritos.
Artigo 19.° – Todo o indivíduo tem direito à liberdade de opinião e de expressão, o que implica o
direito de não ser inquietado pelas suas opiniões e o de procurar, receber e difundir, sem
consideração de frontei-ras, informações e ideias por qualquer meio de expressão.
Artigo 20.° – 1. Toda a pessoa tem direito à liberdade de reunião e de associação pacíficas. 2.
Ninguém pode ser obrigado a fazer parte de uma associação.
Artigo 21.° – 1. Toda a pessoa tem o direito de tomar parte na direção dos negócios públicos do
seu país, quer diretamente, quer por intermédio de representantes livremente escolhidos. 2. Toda a
pessoa tem direito de acesso, em condições de igualdade, às funções públicas do seu país. 3. A
vontade do povo é o fundamento da autoridade dos poderes públicos; e deve exprimir-se através de
eleições honestas a rea-lizar periodicamente por sufrágio universal e igual, com voto secreto ou
segundo processo equivalente que salvaguarde a liberdade de voto.
Artigo 22.º – Toda a pessoa, como membro da sociedade, tem direito à segurança social; e pode legiti-
mamente exigir a satisfação dos direitos económicos, sociais e culturais indispensáveis, graças ao esforço
nacional e à cooperação internacional, de harmonia com a organização e os recursos de cada país.
Artigo 23.° – 1. Toda a pessoa tem direito ao trabalho, à livre escolha do trabalho, a condições equitati-
vas e satisfatórias de trabalho e à proteção contra o desemprego. 2. Todos têm direito, sem discriminação
alguma, a salário igual por trabalho igual. 3. Quem trabalha tem direito a uma remuneração equitativa e
satisfatória, que lhe permita e à sua família uma existência conforme com a dignidade humana, e comple-
tada, se possível, por todos os outros meios de proteção social. 4. Toda a pessoa tem o direito de fundar
com outras pessoas sindicatos e de se filiar em sindicatos para defesa dos seus interesses.
Artigo 24.° – Toda a pessoa tem direito ao repouso e aos lazeres e, especialmente, a uma
limitação ra-zoável da duração do trabalho e a férias periódicas pagas.
Artigo 25.° – 1. Toda a pessoa tem direito a um nível de vida suficiente para lhe assegurar e à sua famí-
lia a saúde e o bem-estar, principalmente quanto à alimentação, ao vestuário, ao alojamento, à assistência
médica e ainda quanto aos serviços sociais necessários, e tem direito à segurança no desemprego, na
doença, na invalidez, na viuvez, na velhice ou noutros casos de perda de meios de subsistência por cir-
cunstâncias independentes da sua vontade. 2. A maternidade e a infância têm direito a ajuda e a assistên-
cia especiais. Todas as crianças, nascidas dentro ou fora do matrimónio, gozam da mesma proteção social.
58 DA DIFERENÇA DE COMPORTAMENTOS À DIFERENCIAÇÃO DA INTERVENÇÃO
Artigo 26.° – 1. Toda a pessoa tem direito à educação. A educação deve ser gratuita, pelo menos a cor-
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respondente ao ensino elementar fundamental. O ensino elementar é obrigatório. O ensino técnico e pro-
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fissional dever ser generalizado; o acesso aos estudos superiores deve estar aberto a todos em plena
igualdade, em função do seu mérito. 2. A educação deve visar à plena expansão da personalidade humana
e ao reforço dos direitos humanos e das liberdades fundamentais e deve favorecer a compreensão, a tole-
rância e a amizade entre todas as nações e todos os grupos raciais ou religiosos, bem como o desenvolvi-
mento das atividades das Nações Unidas para a manutenção da paz. 3. Aos pais pertence a prioridade do
direito de escolher o género de educação a dar aos filhos.
Artigo 27.° – 1. Toda a pessoa tem o direito de tomar parte livremente na vida cultural da comunidade,
de fruir as artes e de participar no progresso científico e nos benefícios que deste resultam. 2. Todos têm
direito à proteção dos interesses morais e materiais ligados a qualquer produção científica, literária ou
artística da sua autoria.
Artigo 28.° – Toda a pessoa tem direito a que reine, no plano social e no plano internacional, uma ordem
capaz de tornar plenamente efetivos os direitos e as liberdades enunciados na presente Declaração.
Artigo 29.° – 1. O indivíduo tem deveres para com a comunidade, fora da qual não é possível o livre e
pleno desenvolvimento da sua personalidade. 2. No exercício deste direito e no gozo destas liberdades
ninguém está sujeito senão às limitações estabelecidas pela lei com vista exclusivamente a promover o
reconhecimento e o respeito dos direitos e liberdades dos outros e a fim de satisfazer as justas exigências
da moral, da ordem pública e do bem-estar numa sociedade democrática. 3. Em caso algum estes direitos
e liberdades poderão ser exercidos contrariamente aos fins e aos princípios das Nações Unidas.
Artigo 30.° – Nenhuma disposição da presente Declaração pode ser interpretada de maneira a envolver
para qualquer Estado, agrupamento ou indivíduo o direito de se entregar a alguma atividade ou de praticar
algum ato destinado a destruir os direitos e liberdades aqui enunciados.
Declaração Universal dos Direitos Humanos, Organização das Nações Unidas.
MÓDULO 6 59
SOCORRO!
ESTOU PRESA NUM
BURACO! O QUÊ?
.PERSPETIVA MUDA A TUA
Nina Paley, Mimi & Eunice – Perspective, 2010.
Usa o pensamento crítico
L A B
Atenta no que o Google sugere quando realizas pesquisas sobre homossexuais (pesquisa
para «gays need to» ou «gays shouldn’t», por exemplo).
Curiosidades • Sabias que, segundo as
Nações Unidas, cerca de 10% da
popula-ção mundial, ou seja, 700
milhões de pessoas, vivem com
uma defi-ciência, sendo esta a
maior mino-ria do mundo? • Sabias que as mulheres e
rapari-gas com deficiência estão
parti-cularmente expostas a maus
tra-tos? Um estudo realizado em
Orissa, em 2004, mostrou que
quase todas as mulheres e rapari-
gas com deficiência residentes
neste Estado da Índia foram agre-
didas fisicamente em casa, 25%
das mulheres com uma deficiên-
cia mental foram violadas e 6%
das mulheres com deficiência
foram esterilizadas à força.
A Declaração Universal dos Direitos Humanos proclama um mundo de
dig-nidade, onde todos, sem exceção, nascem livres e iguais. Mas esta é
apenas uma proclamação, pois não é concretizada para muitos milhões de
seres hu-manos. Ainda que exista um acordo generalizado sobre os direitos
que não podem ser negados a cada um de nós pelo simples facto de sermos
humanos, e apesar de todos os Estados-membros das Nações Unidas
serem signatários da Declaração, muitos são os Estados que, alegada ou
comprovadamente, continuam a não respeitar estes princípios.
Todos os dias escutamos notícias que nos dão conta de situações nas
quais as liberdades fundamentais não são garantidas e o direito à diferença
é des-respeitado. Por exemplo, machismo, homofobia, racismo, xenofobia,
intole-rância religiosa, entre outras, são realidades muito presentes no nosso
quoti-diano. Elas representam formas de pensar, sentir e comportar que
tornam as diferenças uma desvantagem, reduzindo o nível de participação
social, o bem-estar e o exercício dos direitos. Frequentemente afetam
grupos minori-tários e/ou sub-representados em órgãos de poder e decisão.
A campanha Livres e Iguais, promovida pelo Escritório do Alto Comissário das Nações
Unidas para os Direitos Humanos para a Defesa dos Direitos das Lésbicas, Gays,
Bissexuais e Transgéneros (LGBT), chama a atenção para o preconceito com base na
orientação sexual. A campanha usou resultados de pesquisas reais no Google para
evidenciar ideias discriminatórias e sexistas ainda predominantes na sociedade.
1. Por que razão são estes os resultados das pesquisas no Google?
2. Seleciona um dos artigos da Declaração Universal dos Direitos Humanos e pesquisa
exemplos de discriminação e preconceito que demonstrem a sua violação.
3. Identifica quem são as pessoas e os grupos em maior risco de serem vítimas de
discriminação e preconceito e os motivos que estão na sua base.
4. Apresenta os exemplos aos teus colegas e reflete com eles sobre a possível existência
desse tipo de discriminação e preconceito na tua escola e/ou comunidade.
Ideia-chave
Ser diferente significa não integrar uma dada categoria ou não apresentar uma cor-
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S respondência com uma referência num processo de comparação. Existem diferenças
entre indivíduos, entre grupos e entre comunidades. Frequentemente, as diferenças
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convertem-se em desigualdades.
60 DA DIFERENÇA DE COMPORTAMENTOS À DIFERENCIAÇÃO DA INTERVENÇÃO
MÓDULO 6 61
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Algumas diferenças perante
a educação e a formação
QUESTÃO CENTRAL
QUAIS SÃO AS PRINCIPAIS DIFERENÇAS NO ACESSO À EDUCAÇÃO E FORMAÇÃO?
O género, a trajetória social e escolar anterior, as dificuldades de aprendiza-
gem, entre outras, são diferenças importantes quando falamos no acesso à
educação e formação. Procuremos explicitar o que caracteriza cada uma des-
tas diferenças.
Objetivos de aprendizagem
Referir as principais diferenças no
acesso à educação e formação. Comum a muitas sociedades parece ser o facto de homens e mulheres de-
Explicitar os fatores subjacentes a sempenharem atividades distintas, acederem de modo diverso aos recursos
essas diferenças, assim como as existentes e participarem diferenciadamente na tomada de decisões. Na
dinâmicas que os caracterizam.
maioria das sociedades é também frequente esta diferença traduzir-se em
desigualdade, em que as mulheres, enquanto grupo, saem prejudicadas: têm
menor acesso aos recursos existentes, às oportunidades e à tomada de deci-
sões. Esta desigualdade, designada como desigualdade de género, caracteriza
globalmente as sociedades, da pré-história aos dias de hoje, e enraiza-se nas
nossas crenças e expectativas sobre as características e os papéis dos homens
e das mulheres.
Por exemplo, é muito provável que acredites que ser pugilista ou eletricista
são ocupações masculinas, enquanto educar crianças ou dançar são ofícios
eminentemente femininos. Apesar de serem já muitas as pessoas que rejei-
tam crenças como estas, a verdade é que elas persistem.
Quando somos crianças vamos analisando o mundo circundante e desen-
volvendo expectativas em relação a homens e a mulheres. Estas expectativas
são construções que se realizam à medida que observamos os nossos familia-
res, professores, pares e todos aqueles com quem nos relacionamos no dia a
dia ou interagimos socialmente. Meios de comunicação social, como a televi-
são, por exemplo, são também importantes neste processo. Em conjunto, os
diversos agentes de socialização (família, pares, escola, meios de comunica-
ção social, etc.) têm uma forte influência no desenvolvimento das caracterís-
ticas que associamos ao ser-se homem e ao ser-se mulher.
A diferenciação dos modos de pensar, sentir e agir consoante o
género re-sulta assim de expectativas socialmente incutidas em cada um
de nós desde a infância, no sentido de desempenharmos diferentes
papéis, ou «masculinos» ou «femininos» (papéis de género).
Consegues apontar uma boa razão para que um homem não possa
ser edu-cador de infância ou uma mulher não possa ser eletricista?
É verdade que a maioria dos presidentes de república são homens, a
maioria dos pilotos de aviação são homens, a maioria dos mecânicos de
automóveis são homens e assim por diante. Estes retratos a propósito do
trabalho desem-penhado por homens e mulheres que vamos
observando, seja em casa, na es-cola, nos meios de comunicação social
ou na sociedade em geral, contribuem para criar estereótipos de
género. Estes são frequentemente divididos em dois níveis:
• Estereótipos de papéis de género – crenças solidamente partilhadas a
propósito das atividades apropriadas para homens e mulheres.
Por exemplo, as afirmações «Na minha opinião os rapazes têm
maior aptidão para a prática desportiva» e «No meu entender as
raparigas têm menos sucesso na engenharia» expressam
estereótipos de papéis de género.
• Estereótipos de traços de género – generalizações relativas a característi-
cas psicológicas que diferencialmente se atribuem a homens e mulheres.
Por exemplo, as afirmações «Penso que as raparigas são mais sensíveis
do que os rapazes» e «Na minha opinião as raparigas são mais organi-
zadas que os rapazes» expressam estereótipos de traços de género.
Um estereótipo, recordemo-nos, é uma categoria partilhada por um grupo
social ou cultural que se refere a características pessoais, especialmente a
tra-ços de personalidade, ou a comportamentos de um grupo de indivíduos.
Se o primeiro objetivo dos estereótipos é o de simplificar e organizar o meio
social, eles servem, muitas vezes, como vimos, para justificar a
discriminação de gru-pos e gerar preconceitos. A maioria dos estereótipos
de género não tem qual-quer fundamentação empírica.
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Em 2014 Helena Costa (1978-) foi
convidada para ser a treinadora
principal da equipa francesa de fu-
tebol masculino Clermont-Foot.
Com este feito, Helena Costa ter--
se-ia transformado na primeira
mulher a treinar uma equipa de fu-
tebol profissional europeia. O con-
vite, que acabou por ser declinado,
teve um mérito importante: mos-trar-
nos que não existem mulheres a
treinar equipas profissionais mas-
culinas de futebol. Conheces uma
boa razão para uma mulher não
poder ser treinadora de equipas
masculinas?
62 DA DIFERENÇA DE COMPORTAMENTOS À DIFERENCIAÇÃO DA INTERVENÇÃO
Exemplos de estereótipos de género
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Os homens são… relativamente comuns As mulheres são… ©
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• Independentes
• Dependentes
• Racionais • Emocionais
• Analíticos • Verbais
• Assertivos • Compassivas
• Dominantes • Submissas
• Decididos • Indecisas
• Desmazelados • Vaidosas
• Desorganizados • Organizadas
• Seguros • Inseguras
• Aventureiros • Medrosas
• Rebeldes • Dóceis
• … • …
A psicóloga norte-americana Sandra Bem (nascida em 1944) refere
que são três as crenças fundamentais relativas a homens e a mulheres
que percor-rem a cultura ocidental desde sempre. São elas:
• Os homens e as mulheres têm naturezas psicológicas distintas.
• Os homens são inerentemente superiores ou dominantes.
• As diferenças entre homens e mulheres acima descritas são naturais.
Estas crenças e os estereótipos de género que as acompanham
funcionam como filtros através dos quais as pessoas veem o mundo, fazem
julgamentos e tomam decisões. É como se, imagina, usasses em
permanência um par de lentes verdes. O mundo seria percebido e descrito
por ti como sendo em grande parte verde ou esverdeado. Terias certamente
muita dificuldade em detetar as tonalidades de azul, amarelo, castanho,
roxo… O mesmo acontece com os estereótipos de género, dos quais os
indivíduos têm dificuldade em libertar-se, sendo muitas vezes limitadores das
opções relativamente a per-cursos pessoais, curriculares ou profissionais.
Como se constroem e fixam os estereótipos de género? Estarão eles
ape-nas presentes nas situações do quotidiano quando assumimos que
uma dada tarefa é «trabalho de homem» ou «trabalho de mulher»? Ou
estarão também presentes ao nível de instituições como a escola?
Consideremos o conteúdo do documento que se segue, na tentativa
de en-contrar respostas para estas questões.
MÓDULO 6 63
DOC. 5 – As raparigas e as «tarefas de rapazes»
Whitelegg refere-se a um estudo levado a cabo por Burn (…) que permi-tiu
verificar que os rapazes e as raparigas (numa faixa etária entre os 5 e os 9
anos) conseguem usar o mesmo brinquedo de forma diferente – neste caso
específico o Lego – e que, mesmo quando colocados numa sala comum com
rapazes e raparigas, a tendência de cada indivíduo é partilhar a brincadeira
com os colegas do mesmo sexo. Acresce a esta tendência uma outra: as
raparigas tiram pouco prazer das atividades de construção com Lego e sentem-
se pouco confiantes naquilo que estão a fazer acabando por brincar, sim, mas
seguindo muitas vezes as regras que os rapazes impõem. O seu estudo indica
também que raramente as raparigas escolhem um brin-quedo de construção,
enquanto os rapazes o fazem com grande frequência.
Um outro estudo, citado por Whitelegg, revela que mesmo quando algu-mas
raparigas mostram interesse por atividades de construção, o facto de os
rapazes se apoderarem primeiro dessas tarefas leva-as a procurar uma
atividade junto do grupo de raparigas (…). A falta de confiança no desem-
penho de «tarefas de rapazes» origina uma situação de evitamento. Neste
sentido, não basta oferecer as mesmas oportunidades a rapazes e a rapari-
gas, é preciso desafiar as próprias conceções e definições das atividades que
estão estereotipadas consoante o género. Neste estudo de Skelton é feita
referência a uma reveladora experiência levada a cabo em algumas escolas
primárias, que atuou no sentido contrariar essa falta de confiança feminina na
utilização de brinquedos de rapazes: durante uma hora por dia as raparigas
tinham acesso à sala onde estavam os brinquedos sem a pre-sença dos
rapazes. O que se verificou foi que muitas delas acabaram por escolher os
brinquedos que habitualmente são utilizados pelos rapazes, sentiram-se mais
confiantes e desenvolveram aptidões que até aí lhes es-tavam vedadas.
Determinado projeto levado a cabo em Manchester, que pretendia cativar as
raparigas para a ciência e a tecnologia em contexto escolar e melhorar o seu
aproveitamento nestas áreas, concluiu que tanto os alunos como os
professores contribuem para reproduzir uma imagem masculinizada da ciência,
ao mesmo tempo que as imagens dos livros e de outros recursos escolares
também reforçam essa conceção de ciência. Por outro lado, existe a perceção
de que a maioria dos cientistas são homens e que a ciência incorpora uma
«visão masculina do mundo» (…). Whitelegg concluiu então que alterar o modo
como as raparigas interagem com a ciência não se revela uma medida
suficiente, pois o problema reside na pró-pria conceção de ciência, que é
histórica e culturalmente determinada (…).
CARDANA, I. (2005). “Eletrotecnia e Informática: Dinâmicas de Género em Ciência
e Tecnologia”. Revista de Antropología Experimental. 5, Texto 14, p. 6. Disponível em:
http://www.ujaen.es/huesped/rae/articulos2005/cardana05.pdf [consultado a 17-01-2014].
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64 DA DIFERENÇA DE COMPORTAMENTOS À DIFERENCIAÇÃO DA INTERVENÇÃO
Façamos uma síntese dos principais aspetos do texto:
• Rapazes e raparigas usam o mesmo brinquedo de forma diferente.
• Alguns estudos revelam falta de confiança feminina na utilização
de brinquedos ditos de rapazes.
• Se forem criadas condições para tal, as raparigas escolhem
brinquedos tradicionalmente classificados como masculinos.
• Alunos, professores, manuais e escola em geral contribuem para
repro-duzir estereótipos de género.
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Os investigadores preocupados com as questões de género
partem frequentemente de dois pressupostos principais:
As posições ocupadas na sociedade pelos homens e pelas mulheres não
são apenas diferentes, são também desiguais.
A desigualdade social entre homens e
mulheresulta, principalmente, da
organização da sociedade e não de
diferenças biológicas ou psicológicas
significativas entre os mesmos.
Curiosidades • Em muitos países o acesso de
homens e mulheres à educação
é desigual. Prova disso são as
taxas de analfabetismo. Em
2013 exis-tiam cerca de 800
milhões de analfabetos em todo
o mundo. Destes, dois terços
eram mulhe-res.
No mundo ocidental de hoje, as raparigas entram na escola em
igualdade formal de acesso com os rapazes, dando, nos últimos anos,
provas de maior excelência escolar: têm, em média, melhores resultados
e vão mais longe no percurso académico do que os rapazes.
Ao contrário do que acontecia, por exemplo, no nosso país há algumas dé-
cadas, o ensino público já não é oficialmente segregacionista: não existem
escolas, nem tão pouco currículos, distintos para rapazes e raparigas. Apesar
disto, a presença feminina na escola continua a ser diferenciada e desigual-
mente valorizada: os rapazes orientam-se preferencialmente para o campo das
ciências e tecnologias (que lhes permite o acesso a formações social-mente
mais valorizadas e, por consequência, mais bem remuneradas) e as ra-parigas
maioritariamente para o campo das línguas e humanidades (que estão na base
de formações socialmente menos valorizadas e, por consequência, pior
remuneradas). É desta polarização que falamos quando nos referimos ao
processo de escolarização do estereótipo.
A dicotomia, que conduz à feminização de certas áreas e à masculinização de
outras, não se baseia em fatores naturais, como alguns pretendem, mas sim em
generalizações sem fundamento empírico a propósito de homens e mulheres.
Estas generalizações estão profundamente enraizadas na lingua-gem e cultura
ocidentais e são reproduzidas em casa, na escola e na sociedade em geral por
uma boa parte dos seus atores.
MÓDULO 6 65
Apenas 64,4% da população portuguesa com idades entre os 20-24 anos tinha, em 2011, concluído
pelo menos o ensino secundário (esta percentagem representa, porém, um aumento de cerca de 21
pontos percentuais relativamente a 2001). O valor médio deste indicador na UE era de cerca de 80%.
As mulheres obtêm resultados superiores aos homens em todos os países da UE (exceto na Bulgária),
sendo essa tendência mais expressiva em Espanha, Malta, Portugal e Dinamarca
Fonte: http://observatorio-das-desigualdades.cies.iscte.pt.
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Muitos jovens que frequentam o ensino profissional optam ainda por
car-reiras que refletem os tradicionais papéis de género. Considera a
lista de cur-sos profissionais:
• Curso profissional de secretariado
• Curso profissional de metalomecânica
• Curso profissional de desporto
• Curso profissional de cozinha
• Curso profissional de multimédia
• Curso profissional de fotografia
• Curso profissional de turismo
• Curso profissional de informática
• Curso profissional de assuntos jurídicos
Estarão rapazes e raparigas equilibradamente representados em cada um
destes cursos? Talvez em alguns casos, mas não certamente em todos. Se na
tua escola existirem cursos profissionais de desporto, por exemplo, é natural que
concluas que esta é uma das áreas onde as raparigas estão em minoria,
66
Curiosidades • Sabias que os estudos revelam
que, por exemplo, é possível baixar
resultados dos testes de matemá-
tica das raparigas pedindo-lhes
apenas que indiquem o seu sexo na
primeira página do exame ou
aumentá-los pedindo-lhes que,
antes do exame, se lembrem de
mulheres que tenham alcançado
grandes feitos?
DA DIFERENÇA DE COMPORTAMENTOS À DIFERENCIAÇÃO DA INTERVENÇÃO
pois o desporto é um domínio claramente marcado pela diferenciação e este-
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reótipos de género, dentro e fora da escola. O mesmo acontecerá com os
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cursos profissionais de informática ou de eletrotecnia, cujos contextos profis-
sionais são fortemente masculinizados. Em contrapartida, os cursos profissio-
nais de secretariado ou de assuntos jurídicos serão, provavelmente, frequen-
tados maioritariamente por raparigas.
O primeiro computador digital do mundo foi o ENIAC (Electronic Numerical Integrator and Compu-ter), construído entre 1943 e 1945 para fins militares. Seis mulheres foram
escolhidas para serem as primeiras a testá-lo, programando e reprogramando o ENIAC.
Este trabalho não era um simples tra-balho rotineiro: exigia uma compreensão completa do modo de funcionamento da máquina. Até 1955, o ENIAC foi sucessivamente
programado por equipas essencialmente de mulheres da Univer-sidade da Pensilvânia.
Aplica o que aprendeste L
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I Considera o texto.
Portugal é um país cada vez mais desigual para homens e mulheres e voltou a cair na avaliação
feita pelo Fórum Económico Mundial, ocupando agora o 51.º lugar no ranking sobre igualdade de
género – o que o coloca como o 11.º país com um pior resultado dentro da União Europeia.
O resultado português é o pior desde 2006, o primeiro ano em que o Fórum Económico
Mundial publicou este documento [The Global Gender Gap Report] e em que o país ficou em
33.º lugar. Em 2007 caiu para 37.º, em 2008 para 39.º e em 2009 para 46.º. Em 2010,
Portugal conseguiu melho-rar e subir para a 32.ª posição, mas em 2011 já voltou a perder em
algumas categorias e voltou para 35.º e em 2012 desceu ainda mais, para a 47.ª posição. No
período de apenas um ano a situação agravou-se e no relatório lê-se que o resultado pode
ficar a dever-se à «quebra nos rendimentos» do trabalho a que se assiste no país. (…)
A redução da desigualdade na Europa apresenta uma polarização, com um grande
contraste entre a Europa ocidental e do norte, por um lado, e a Europa do sul e oriental, por
outro lado, diz o Fórum Económico Mundial.
MÓDULO 6 67
Aplica o que aprendeste (continuação)
Olhando apenas para a União Europeia, a lista é encabeçada pela Finlândia (que é aliás a
número dois a nível mundial), seguindo-se Suécia, Irlanda, Dinamarca, Bélgica, Letónia,
Holanda, Alemanha, Reino Unido, Áustria, Luxemburgo, Lituânia, Espanha, Eslovénia,
Bulgária, França e Croácia, que é o último país a ficar à frente de Portugal, em 49.º lugar.
Pior que os portugueses estão dez países: Polónia, Estónia, Roménia, Itália, Eslováquia,
Chipre, Grécia, República Checa, Malta e, por fim, Hun-gria, na 87.ª posição.
O resultado português vai em linha contrária à tendência mundial. A nível global, os
países con-seguiram reduzir as desigualdades entre homens e mulheres, com exceção do
Médio Oriente e África do Norte, sendo o Iémen o país com um pior desempenho. (…)
Aliás, a lista dos países onde existem menores diferenças é encabeçada pela Islândia,
seguida da Finlândia, Noruega e Suécia. Mas logo na quinta posição surgem as Filipinas,
seguidas pela Ir-landa, Nova Zelândia, Dinamarca, Suíça, Nicarágua, Bélgica, Letónia,
Holanda, Alemanha, Cuba, Le-soto, África do Sul, Reino Unido, Áustria e Canadá.
Pela negativa, na cauda da lista, entre os últimos países estão, antes do Iémen, Paquistão,
Chade, Síria, Mauritânia, Costa do Marfim, Irão, Marrocos, Mali e Arábia Saudita. Perto do fim da
lista também se encontram países como a Turquia (120.º lugar) ou a Hungria (87.º). (…)
«Tanto nos países emergentes como nos desenvolvidos há poucas mulheres ocupando
cargos de liderança económica, comparativamente com o número de mulheres no ensino
superior e no mercado de trabalho em geral», salienta o documento. «É imprescindível que
os países comecem a desenvolver uma visão diferente do capital humano – inclusive na
maneira como impulsionam as mulheres para os cargos de liderança. Esta revolução mental
e prática não é uma meta para o fu-turo, é um imperativo para hoje», sublinha Klaus Schwab,
fundador e presidente executivo do Fórum Económico Mundial, no mesmo comunicado.
BORJA-SANTOS, R., “Portugal volta a cair em ranking sobre igualdade de género”, Público em linha, 25-
10-2013, http://www.publico.pt/sociedade/noticia [consultado a 19-1-2014].
1. A que documento se refere a notícia?
2. O que avalia o documento em causa?
3. Com base no que acabaste de ler, estabelece a distinção entre «diferença» e «desigualdade».
4. Com base em pesquisa relevante, aponta os indicadores que servem de base a este ranking.
5. Que posição ocupa Portugal no documento citado?
6. Que conclusões podemos retirar dos resultados portugueses entre 2006 e 2009?
7. Que países ocupam a base da lista? Consegues apontar razões para esse facto?
8. Relaciona as palavras de Klaus Schwab com o que aprendeste sobre esteriótipos de
papéis de género.
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68 DA DIFERENÇA DE COMPORTAMENTOS À DIFERENCIAÇÃO DA INTERVENÇÃO
Aplica o que aprendeste (continuação)
II Depois do visionamento do filme Billy Elliot, responde às questões.
Título: Billy Elliot
Realização: Stephen Daldry
Género: Drama
Duração: 111’(França, Reino Unido, 2000)
1. Considerando o que aprendeste sobre a
desigualdade de género no acesso à educação e
formação, elabora um relatório crítico sobre o filme.
2. Com base no filme, mostra o que se entende por estereótipos de papéis de género.
3. Com recurso a exemplos do filme, descreve o que são estereótipos de traços de género.
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DOC. 6 – Exclusão no interior das escolas
Apesar das tentativas de proporcionar maior igualdade de oportunida-
des – tanto ao nível das condições de acesso como das condições
escolares, de modo a garantir igualdade de oportunidades a nível também
dos resulta-dos – os processos de segregação escolar não têm deixado de
se fazer sen-tir, assumindo, nesta fase de ampla escolarização de todos,
diversas formas no interior do próprio sistema de ensino. (…) Para os
alunos oriundos dos meios sociais mais desfavorecidos (que só nas últimas
décadas tiveram acesso à oferta proporcionada pelo sistema de ensino) a
escola conquista--se e «perde-se», pois, estando nela, são, ao mesmo
tempo, relegados para os lugares mais indesejáveis, para as fileiras menos
prestigiadas, para os diplomas de menor valor económico e simbólico.
Assim, a escola exclui como sempre, mas agora exclui de uma maneira
permanente e subtil, atra-vés de uma seleção cada vez mais precoce,
realizada em torno da diversifi-cação de fileiras associadas aos processos
de orientação – são práticas de exclusão doces, ou melhor, insensíveis, no
duplo sentido de contínuas, gra-duais e impercetíveis, despercebidas.
As diferenças sociais que se têm revelado associadas à
desigualdade de trajetórias escolares são as condições sociais dos
progenitores do aluno, a origem étnico-nacional do próprio e/ou dos
seus ascendentes, o território de residência (rural, urbano, centro da
cidade, subúrbios) e, mais recente-mente, a condição de género.
SEABRA, T. (2009). “Desigualdades escolares e desigualdades sociais”, in
Sociologia, Problemas e Práticas, n.º 59, pp. 75-106.
MÓDULO 6 69
A desigualdade de género no acesso à formação e à educação tem
conse-quências diretas no mercado de trabalho, como veremos no
próximo capítulo. Mas o género é apenas um dos fatores que influencia o
acesso à formação e à educação. A trajetória social e escolar anterior
é, também, uma fonte de de-sigualdade sobre a qual importa refletir.
Embora não existam dados concretos que evidenciem a expressão dos efeitos
das condições sociais nas trajetórias escolares dos alunos em Portugal, é
inegável que contextos mais exigentes obriguem a uma maior capacidade de
adaptação por parte de todos os atores envolvidos no ecossistema educa-tivo e,
em algumas situações, a uma menor capacidade de resposta por parte dos
atores fragilizados. Esta relação tende a perpetuar-se no tempo e a criar ciclos
viciosos com os quais se torna cada vez mais difícil quebrar.
Sabendo que na atualidade as desigualdades sociais tendem a
agravar-se, sobretudo na sequência da crise económica internacional,
será expectável que os fenómenos de pobreza e exclusão (indissociáveis
dos rendimentos mais baixos e associáveis a comportamentos de risco)
se façam sentir tam-bém na escola.
Curiosidades • O estudo Growing Unequal? In-
come Distribution and Poverty in
OCDE Countries mostra que, desde
meados dos anos 1980 até à pri-
meira década de 2000, a desigual-
dade de rendimento das famílias
aumentou na generalidade dos
países ocidentais. Países como os
EUA e o Reino Unido apresentam--
se no topo da lista no que se re-fere
à maior taxa de transmissão
intergeracional de desigualdades de
rendimento.
Isabel tem agora 6 anos e ainda não faz ideia que faz parte da geração dos últimos. Nada sabe
acerca da taxa de abandono escolar, que ronda os 40% antes do 12.º ano. Nada sabe de um
país que para atingir os níveis de educação dos seus concidadãos europeus precisa de 89
anos. Quase um século. Não sabe que, por este andar, e se nada fizermos, podemos muito
bem estar a olhar para uma última geração de técnicos, empresários e académicos portugueses
e competentes. Ela não sabe mas você sabe. Não vamos deixar que isto aconteça, pois não? Cartaz da EPIS – Associação de Empresários pela Inclusão Social.
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70 DA DIFERENÇA DE COMPORTAMENTOS À DIFERENCIAÇÃO DA INTERVENÇÃO
Aplica o que aprendeste L A B
I Considera o texto.
Lucie tem 22 anos e prossegue com êxito estudos na faculdade. O caminho percorrido é
imenso, desde o tempo em que ainda criança tratava dos 3 irmãos e, com frequência,
também da própria mãe que tentava sobreviver entre a depressão e os comas alcoólicos. Em
criança, a mãe de Lucie havia sido colocada numa instituição na sequência da perda do
poder paternal, por maus tratos e abuso sexual. Foi-lhe impedido qualquer contacto com a
família natural durante o tempo em que esteve institucionalizada. Irá confessar mais tarde à
filha que na instituição foi também vítima de sevícias e abuso. O pai de Lucie, descrito como
imaturo e instável, não vivia em casa mas vinha de tempos a tempos ver a família. Por diversas vezes Lucie havia pensado encontrar a mãe morta ao vê-la estendida e inconsciente;
depois habituou-se a chamar os bombeiros quando as síncopes se prolongavam. Para além do
alcoo-lismo, a mãe alternava estados de ausência depressiva com manifestações de agitação
maníaca e comportamentos agressivos para com os filhos. Lucie faltava muito à escola porque
como a mãe muitas vezes não estava em condições de tratar dos filhos ela tinha de se
desenrascar a arranjar de comer e cuidar dos mais pequenos. Além disso, Lucie não gostava de ir
à escola, porque tinha de en-frentar a troça das outras crianças que riam das suas roupas, diziam
que ela estava nojenta e não queriam brincar com ela. Cerca dos 10 anos, após ser seguida em AEMO (Ação Educativa em Meio Aberto) e constatadas as
carências mais diversas do meio familiar, Lucie foi entregue a uma família de acolhimento com os ir-
mãos. (…) No contexto escolar faz amigos e recupera com facilidade do atraso, descobrindo o gosto e o
prazer de aprender. Lembrar-se-á que se atirava aos livros, lendo todo o tempo e tudo o que lhe
passava pelas mãos. Por outro lado, estabelece uma rede de relações de amizade e sociais com adul-
tos do meio extrafamiliar e liga-se a certos professores. A sua inteligência viva aliada a uma grande
sensibilidade emocional conduzem-na por vezes a situações de confusão e as intensas relações afeti-
vas com os que a rodeiam explicam o estabelecimento de uma psicoterapia, no fim da adolescência (a
seu pedido). Passa no Bac (exames finais do ensino secundário) e prossegue estudos superiores.
O desenvolvimento das capacidades de adaptação e de inteligência (nomeadamente social)
e os re-cursos psíquicos que Lucie revela parecem demonstrar um funcionamento resiliente
perante a ad-versidade.
ANAUT, M. (2005). A Resiliência – Ultrapassar os traumatismos, pp. 72-73. Lisboa: Climepsi.
1. Considerando a história de Lucie, comenta a frase:
As causas do insucesso escolar são múltiplas e, por vezes, contraditórias, mas quase todas
se relacionam com fatores ligados ao próprio aluno, ao nível socioeconómico e cultural da
sua fa-mília, à escola enquanto instituição e aos elementos que nela trabalham.
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A par das condições sociais, a origem étnico-nacional do próprio e/ou dos
seus ascendentes integra o conjunto de variáveis que frequentemente surgem
associadas a diferentes percursos educativos e formativos. Tomemos como
exemplo a comunidade cigana, presente em Portugal há mais de 5 séculos, da
qual fazem parte, por toda a Europa, estima-se, 6 milhões de pessoas (no nosso
país, a população cigana deve rondar 40-60 mil pessoas).
MÓDULO 6 71
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Curiosamente, pouco sabemos sobre esta comunidade e as suas caracterís-
ticas. As evidências deixam-nos pistas claras sobre um povo excluído e discri-
minado (a minoria mais discriminada da Europa, segundo a Amnistia Interna-
cional), fenómenos de pobreza e marginalidade, mas também sobre sólidas
tradições culturais e estilos de vida fortemente enraizados. Por exemplo, sa-
bemos que rapazes e raparigas de etnia cigana abandonam cedo a escola. Em
toda a Europa, apenas 1 em cada 7 completou a educação secundária (em
Portugal a relação é de 1 para 20) e 7 em cada 10 não concluíram o primeiro
ciclo. O abandono escolar feminino é superior ao masculino, verificando-se que
as raparigas saem do sistema educativo quando se inicia a puberdade.
Existem muitos fatores que conduzem a este afastamento e eles
surgem as-sociados tanto às famílias (medo e proteção das crianças,
rigidez das tradições, itinerância), mas também à própria escola
(desvalorização cultural, discrimina-ção por parte dos colegas e agentes
educativos) e à ausência de políticas e me-didas europeias adequadas.
Quer o enfoque esteja nas diferenças sociais, quer esteja nas diferenças étni-cas
(ou mesmo em outras variáveis, como o território de residência, por exemplo),
importa colocar a questão sobretudo no sucesso da participação nos processos
educativo e formativo e não tanto no acesso. Isto significa que, embora o ensino
obrigatório beneficie formalmente todos, nem todos encontram as mesmas con-
dições potenciadoras do sucesso de um percurso escolar não diferenciador.
Neste contexto, salienta-se ainda a especificidade das trajetórias de
alunos com dificuldades de aprendizagem e com necessidades
educativas especiais (NEE), assunto já por nós anteriormente referido.
Comecemos por clarificar os conceitos.
DOC. 7 – O que se entende por Necessidades Educativas Especiais?
O princípio orientador deste Enquadramento da Ação consiste em afir-mar
que as escolas se devem ajustar a todas as crianças independente-mente das
suas condições físicas, sociais, linguísticas ou outras. Neste conceito, terão de
incluir-se crianças com deficiência ou sobredotadas, crianças da rua ou
crianças que trabalham, crianças de populações remotas ou nómadas, crianças
de minorias linguísticas, étnicas ou culturais e crian-ças de áreas ou grupos
desfavorecidos ou marginais. Estas condições colo-cam uma série de
diferentes desafios aos sistemas escolares. No contexto deste Enquadramento
da Ação, a expressão «necessidades educativas es-peciais» refere-se a todas
as crianças e jovens cujas carências se relacio-nam com deficiências ou
dificuldades escolares. Muitas crianças apresen-tam dificuldades escolares e,
consequentemente, têm necessidades educativas especiais em determinado
momento da sua escolaridade. As escolas terão de encontrar formas de educar
com sucesso estas crianças, incluindo aquelas que apresentam incapacidades
graves.
Enquadramento da Ação sobre Necessidades Educativas Especiais, UNESCO, 1994, p.
3. http://redeinclusao.web.ua.pt/files/fl_9.pdf [consultado a 18-01-2014].
Curiosidades • Sabias que, segundo a Amnistia
Internacional, dezenas de milhares
de estudantes ciganos na Eslová-
quia, Grécia e República Checa são
obrigados a frequentar escolas
apenas para população cigana? • Em novembro de 2007, a Repú-
blica Checa foi condenada pelo
Tribunal Europeu dos Direitos Hu-
manos por violar os direitos das
crianças de etnia cigana à educa-
ção livre de discriminação. O go-
verno checo colocou estas crian-
ças em «escolas especiais» para
crianças portadoras de deficiên-
cias mentais, que oferecem uma
educação de qualidade inferior.
72
Curiosidades • No início do século XIX, a assis-
tência a pessoas portadoras de
de-ficiência passou por separá-
las, institucionalizando-as. Nesse
sen-tido, em Portugal foi criado,
em 1822, o Instituto de Surdos,
Mudos e Cegos, a que se
seguiram dois asilos para cegos,
dois institutos para cegos e dois
institutos para surdos. • Segundo a UNICEF, 30%
dos jo-vens que vivem na
rua são defi-cientes. • Nos países em desenvolvimento,
90% das crianças com deficiência
não frequentam a escola, segundo a
UNESCO.
DA DIFERENÇA DE COMPORTAMENTOS À DIFERENCIAÇÃO DA INTERVENÇÃO
Façamos uma breve síntese do conteúdo do texto:
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ITO
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• A expressão «necessidades educativas especiais» refere-se a todas as
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crianças e jovens cujas carências se relacionam com deficiências ou difi-
culdades escolares.
• O conceito «necessidades educativas especiais» terá de ser alargado a
todas as crianças e jovens que, num dado momento da sua escolaridade,
apresentam dificuldades.
• As escolas terão de encontrar formas de educar com sucesso todas as
crianças com necessidades educativas especiais, incluindo as que apre-
sentam incapacidades severas ou profundas.
Sebastian Errazuriz, Life Swings Both Ways, 2011.
Até aos séculos XIX-XX, o abandono das pessoas portadoras de deficiência,
especialmente das portadoras de deficiência mental, foi total (exclusão). A par-
tir desta altura, as pessoas portadoras de deficiência foram sendo inseridas em
instituições de cariz marcadamente assistencialista e passos importantes foram
dados no sentido da sua educação diferenciada. Reconheceu-se o direito das
crianças portadoras de deficiência ao apoio terapêutico e à educação especiali-
zada, mas as instituições que desempenham este papel foram muitas vezes
construídas longe das povoações, fazendo com que estas pessoas fossem afas-
tadas da família e dos vizinhos e permanecessem incomunicáveis e privadas de
liberdade (segregação). Com o final da Segunda Guerra Mundial e a publicação
da Declaração Universal dos Direitos Humanos (1948), a diferença é perspeti-
vada de uma nova forma, no sentido de as crianças com necessidades educati-
vas especiais serem integradas em turmas e escolas regulares (integração).
Seguindo as práticas de países europeus de referência no que se
refere ao combate da exclusão e de práticas segregacionistas, Portugal
inicia o pro-cesso de integração escolar a partir dos anos 70 do século
passado. É criado o necessário enquadramento legal para o regime
educativo especial, isto é, o conjunto de medidas legislativas destinadas
aos alunos com NEE, a implemen-tar no contexto de ensino regular.
MÓDULO 6
Ao contrário das expectativas iniciais, o processo de integração não se di-
ferenciou tanto quanto seria desejável da segregação. A principal distinção
consistiu no facto de, ao invés de ocorrer uma separação entre instituições,
passar a observar-se uma segregação dentro da mesma instituição. A
criação de subsistemas dentro das escolas de ensino regular, com alunos
com NEE e professores de educação especial, torna-se uma realidade
frequente. Na dé-cada de 1990, face às evidentes fragilidades das políticas
integradoras, Portu-gal, juntamente com mais 92 países e 25 organizações
internacionais, assina a Declaração de Salamanca (1994) e compromete-se
com uma perspetiva in-clusiva, a favor da educação para todos, mais lata e
alinhada com os direitos da criança e do ser humano (inclusão).
Com a Declaração de Salamanca, a educação em contexto regular passa
a ser reconhecida como um direito de todas as crianças e jovens, mesmo da-
queles que têm problemas mais complexos (como é o caso da multideficiên-
cia, da surdo-cegueira e das perturbações do espectro do autismo). Mais, as
escolas regulares inclusivas passam a ser consideradas como os meios mais
capazes para combater todas as atitudes discriminatórias, na medida em que
refletem a comunidade como um todo e são acessíveis a todos.
73
Inclusão Movimento educacional, mas
também social e político, que de-
fende o direito de todas as pes-
soas desenvolverem e concretiza-
rem as suas capacidades através
de uma escola regular de quali-
dade para todos, pensada tendo
em conta as suas necessidades,
interesses e características.
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Integração
• Inserção parcial e condicional.
• São pedidas concessões ao sistema.
• Transformações que beneficiam prioritariamente
os portadores de deficiência.
• As pessoas portadoras de deficiência adaptam-se aos modelos existentes na sociedade.
• Defendem-se os direitos das pessoas portadoras de deficiência.
≠
Inclusão
• Inserção total e incondicional.
• São exigidas ruturas no sistema.
• Transformações que beneficiam toda e qualquer pessoa.
• A sociedade adapta-se para atender às necessidades das pessoas portadoras de deficiência, tornando-se
mais atenta às necessidades de todas as pessoas.
• Defendem-se direitos de todas as pessoas, portadoras ou não de deficiência.
Exclusão, segregação, integração e, nos tempos atuais, inclusão, marcam um percurso da escola regular, ao qual estão subjacentes diferentes conceções e práticas face aos alunos com necessidades educativas especiais.
74 DA DIFERENÇA DE COMPORTAMENTOS À DIFERENCIAÇÃO DA INTERVENÇÃO
Aplica o que aprendeste L A B
I Lê atentamente o texto que se segue.
No que respeita à educação, a Declaração Universal dos Direitos Humanos (DUDH) é particu-
larmente interessante. Isto porque proclama no seu artigo 26.º, n.º 1: «Toda a pessoa tem di-reito à
educação (…)». Logo no parágrafo 2 postula: «A educação deve visar à plena expansão da
personalidade humana e ao reforço dos direitos humanos e das diferentes liberdades funda-mentais
e deve favorecer a compreensão, a tolerância e a amizade entre todas as nações e todos os grupos
raciais ou religiosos (…)». Entende-se o grande alcance e a ambição deste ar-tigo: o de outorgar a
todos os seres humanos (sublinho «todos», independentemente de serem pobres, estrangeiros, do
seu género, da sua deficiência, etc.) o direito a uma educação que vise o desenvolvimento pleno da
personalidade e o reforço dos direitos do ser humano. É este úl-timo aspeto – «reforço dos direitos
do ser humano» – que gostaria de realçar nesta reflexão.
Parece inequívoco que a DUDH atribui à educação um estatuto que não é a de um simples
direito («Toda a pessoa tem direito à educação…»), mas também lhe atribui o papel de ser uma
ferramenta, um meio, para que todos os outros direitos proclamados na declaração sejam de-
senvolvidos e efetivados («A educação deve visar (…) o reforço dos direitos humanos…»). Este
duplo papel da educação enquanto direito em si próprio e um meio indispensável para que se
concretizem todos os outros direitos é extraordinariamente ambicioso e responsabilizador. Desafia-
nos a conceber um sistema educativo que possa cumprir aquilo que a declaração pro-clama e que
cada país subscreveu: uma educação que para além de ser verdadeiramente uni-versal possa
contribuir decisivamente para concretizar todos os outros direitos humanos.
Se a educação deve «reforçar os direitos humanos (…), as liberdades (…) e favorecer a
compreensão, a tolerância e a amizade (…)», será que ela se pode organizar fora dos valores
da inclusão? Pareceria muito estranho que pudesse ser favorecida a «compreensão, a
tolerância e a amizade entre todas as nações e todos os grupos raciais ou religiosos» sem que
estes deside-ratos pudessem ser desenvolvidos fora de uma perspetiva inclusiva. É absurdo
pensar que se pode encorajar o conhecimento da diferença criando os ambientes restritivos e
homogéneos. Como se poderia conhecer e compreender o outro limitando o convívio com as
diferenças? Lembraria a este propósito que a inclusão tem como base princípios educacionais,
a valorização da aprendizagem de todos os alunos num mesmo contexto educacional
(agrupamento, escola, turma), sendo por isso fundamental que a escola possa diversificar os
conteúdos, as estratégias e as experiências de aprendizagem para que ninguém fique privado
da melhor educação a que tem direito.
Defender que a qualidade educacional se atinge através da constituição de grupos homogé-
neos de alunos e que os alunos aprenderiam mais e melhor, se não tivessem que lidar com as
diferenças dos outros (isto é, que todos aprendessem tudo ao mesmo tempo) é completa-
mente irreal. Se alguém tem dúvidas sobre a excentricidade desta opinião que peça a qualquer
professor para ele lhe relatar a sua experiência com turmas «homogéneas»…
Diria, como corolário, que uma educação que não respeite a diversidade e que não
valorize o convívio, a interação e a cooperação entre alunos naturalmente diferentes nas
suas personali-dades e nos seus percursos de aprendizagem é uma educação antiética,
porque é contrária à DUDH.
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MÓDULO 6 75
Aplica o que aprendeste (continuação)
Os direitos humanos proclamados na DUDH, apesar de serem «velhinhos» de 65 anos, con-
tinuam a constituir-se como um baluarte de defesa contra as injustiças sociais e educacionais.
Termino relembrando a majestosa primeira frase do artigo 1.º da declaração: «Todos
os seres humanos nascem livres e iguais em opinião e em direitos». A partir daqui parece
«fácil»: é só construir uma educação que, nos seus valores e práticas, não seja contrária
aos direitos humanos.
RODRIGUES, D., “Os direitos humanos e a educação inclusiva”, in Público em linha, 03-01-2014, http://www.publico.pt/sociedade/noticia [consultado a 19-01-2014].
1. O que se entende por educação inclusiva?
2. De que forma a educação inclusiva se distingue dos modelos baseados na segregação
e na inte-gração?
3. Que relação é estabelecida entre a Declaração Universal dos Direitos Humanos e a
educação inclusiva?
4. Concordas com a posição defendida pelo autor? Justifica.
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Campanha do grupo Pais 21 com o objetivo de sensibilizar para as dificuladades sentidas pelas pessoas com
trissomia 21 (síndrome de Down). Ideia-chave A igualdade de acesso formalmente estabelecida nem sempre é garantia da
igual-dade de sucesso. O género, a trajetória social e escolar anterior, as
dificuldades de aprendizagem, entre outros, são diferenças importantes
quando falamos no acesso à educação e formação.
76 DA DIFERENÇA DE COMPORTAMENTOS À DIFERENCIAÇÃO DA INTERVENÇÃO
Diferenças no acesso
3 ao trabalho: inserção
de populações com
especiais dificuldades
QUESTÃO CENTRAL
QUAIS SÃO AS PRINCIPAIS DIFERENÇAS NO ACESSO AO MERCADO DE TRABALHO?
Em épocas de crise económica e financeira como aquela que
atravessamos, o acesso ao emprego e ao mercado de trabalho torna-se
particularmente difí-cil, nomeadamente para grupos que são vítimas de
discriminação e precon-ceito, por exemplo, as mulheres, os grupos
étnicos e culturais minoritários, as pessoas portadoras de deficiência, os
toxicodependentes (ou ex-toxicode-pendentes), os ex-reclusos, etc.
A discriminação e marginalização (que não estando diretamente relaciona-das
com o trabalho nele se refletem) repercutem-se em indicadores objetivos:
• Menores taxas de emprego.
• Maiores taxas de desemprego.
• Diferenças salariais.
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Objetivos de aprendizagem
Caracterizar as diferentes popula-
ções com especiais dificuldades
de acesso ao trabalho.
ESTE É O MEU EU TAL
COMO É QUE TE ATREVES
A NÃO CORRESPONDER
VERDADEIRO COMO SOU ÀS MINHAS
EU. REALMENTE. EXPECTATIVAS?!
Nina Paley, Mimi & Eunice – Expectations, 2011.
MÓDULO 6 77
Face a taxas de desemprego particularmente elevadas, como as nossas
atualmente, outros são também os grupos especialmente vulneráveis: jovens
(pouco ou sobrequalificados), desempregados de longa duração e pessoas
com baixas qualificações. A estes devem ainda acrescentar-se dois segmen-
tos transversais a todos os grupos anteriormente referidos: os que estão for-
malmente no mercado de trabalho, mas em situação particularmente débil,
isto é, os trabalhadores precários, cuja fragilidade (ou ausência) de vínculos
contratuais nos permitem incluí-los no conjunto daqueles que têm dificulda-
des no acesso ao emprego e ao mercado de trabalho, e os trabalhadores de
facto mas não de direito, ou seja, os trabalhadores ilegais.
Como podes concluir, o acesso ao emprego e ao mercado de trabalho
re-presenta dificuldades para uma larga franja da população.
Grupos
étnicos
Mulheres e culturais
Jovens minoritários
Pessoas com
baixas
qualificações
Detidos e Desempregdos
reclusos
Toxicodependentes
de longa duração
e ex-toxicodependentes
Pessoas
portadoras de
deficiência
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População ativa, inativa, empregada, desempregada são conceitos
econó-micos com os quais já te deves ter cruzado, por exemplo, em
notícias da co-municação social.
Se falamos de acesso ao emprego e ao mercado de trabalho, é
importante termos presente o significado de cada uma destas noções.
Comecemos por delimitá-las.
• População ativa: incluem-se nesta categoria os indivíduos (empregados,
desempregados e à procura do primeiro emprego) com idade mínima de 18
anos que constituem mão de obra para a produção de bens e serviços.
• População inativa: diz respeito ao conjunto de indivíduos que, indepen-
dentemente da idade, não são considerados economicamente ativos,
não estando empregados nem desempregados: crianças, estudantes
em geral, domésticos, inválidos, reformados, etc.
78 DA DIFERENÇA DE COMPORTAMENTOS À DIFERENCIAÇÃO DA INTERVENÇÃO
• População empregada: população com 18 ou mais anos que
desempenha uma atividade económica (população a exercer uma
profissão, a fazer formação profissional e que mantém um vínculo
com a entidade empre-gadora, bem como militares de carreira). • População desempregada: população ativa sem emprego e que se
encon-tra disponível para trabalhar, fazendo diligências nesse sentido.
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O desemprego é uma realidade estrutural do atual mercado de
trabalho. Os jovens (pouco qualificados ou sobrequalificados), cujas
taxas de desem-prego se situam muito acima da média do desemprego
total, são uma das faces mais adversas desta realidade.
A escolarização em massa substituiu, especialmente depois da Segunda
Guerra Mundial, um modelo de participação precoce na vida adulta e de en-trada
rápida no mercado de trabalho por uma instituição onde os jovens, ao longo de
vários anos, se desenvolvem e preparam para a vida ativa: a escola. Em
consequência, alongou-se progressivamente o período que medeia entre a
infância e a autonomia face à família de origem. O alargamento da escolari-
zação gera, por um lado, jovens cada vez mais qualificados e com expectativas
profissionais elevadas à saída do sistema educativo. Estas expectativas não
encontram, muitas vezes, correspondência ao nível das oportunidades de tra-
balho que o mercado oferece. Por outro lado, o insucesso e abandono escola-
res precoces fazem chegar ao mercado de trabalho um outro grupo de jovens, o
dos indivíduos pouco qualificados profissionalmente e desmunidos dos sa-beres
essenciais. Uns (os jovens pouco qualificados) e outros (os jovens so-
brequalificados) esbarram, à saída do sistema educativo, com um mercado onde
a procura de trabalho excede largamente a oferta.
Distribuição (2011) dos jovens
atualmente classificados como
NEET (Neither in Employment,
Education or Training): fora de em-
prego, educação ou formação.
MÓDULO 6 79
DOC. 8 – NEET – Fora de emprego, educação ou formação
De acordo com dados do Eurostat, na Europa, em 2011, cerca de 7,5
milhões de jovens com idades compreendidas entre os 15 e os 24 e perto
de 6,5 milhões de jovens entre os 25 e 29 anos não estavam inseridos no
mercado de trabalho nem no sistema de educação. Correspondendo aos
jovens atualmente classificados como NEET (sigla para a expressão
inglesa «Neither in Employment, Education or Training»), estes números
preocu-pantes alertam para um fenómeno em crescimento (…) com custos
sociais muito elevados. Com uma expressão muito significativa em países
como a Bulgária, Irlanda, Itália e Espanha, onde as taxas de NEET se
posicionam acima dos 17%, o fenómeno em questão apresenta um perfil
muito variável nos Estados-membros. Por exemplo, no Luxemburgo e na
Holanda as taxas ficam abaixo dos 7%.
Também o perfil dos NEET é muito heterogéneo, incluindo um
subgrupo representativo de jovens que se encontram em situação de
desemprego, outros subgrupos vulneráveis, como jovens portadores de
deficiência, e ainda subgrupos não vulneráveis (referentes a jovens que
estão envolvidos em outras atividades, como artes performativas).
Todos têm em comum o facto de não estarem a acumular capital
humano através dos canais formais (educação, formação e emprego).
Alguns jovens correm maior risco que outros de se tornarem NEET. Por
exemplo, aqueles que apresentam menores níveis de escolaridade/forma-
ção têm 3 vezes maior probabilidade de pertencer a este grupo comparati-
vamente com os jovens que concluíram o ensino superior. Por outro lado,
os jovens com raízes imigrantes têm mais 70% de probabilidade quando
com-parados com os jovens sem este enquadramento. Também os jovens
porta-dores de deficiência ou problemas de saúde são mais vulneráveis,
sendo 40% maior a probabilidade de se tornarem NEET.
European Foundation for the Improvement of Living and Working Conditions (2012), “NEETs – Young people not in employment, education or training:
characteristics, costs and policy responses in Europe”, pp. 1-2, in http://www.eurofound.europa.eu/pubdocs/2012/54/en/1/EF1254EN.pdf
[consultado a 23-1-2014].
Os jovens portadores de deficiên-cias correm maior
risco de se tor-narem NEET.
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Façamos uma síntese dos principais aspetos do texto:
• Na Europa, em 2011, existiam cerca de 14 milhões de jovens (7,5
milhões com idades entre os 15 e os 24 anos e perto de 6,5 milhões
entre os 25 e 29 anos) que não estavam inseridos no mercado de
trabalho nem no sis-tema de educação. • Estes jovens são atualmente classificados como NEET (Neither in
Employ-ment, Education or Training) ou, na expressão em
português, geração nem-nem. • Alguns jovens correm maior risco de se tornarem NEET do que outros, por
exemplo, aqueles que têm menores níveis de escolaridade ou formação.
80 DA DIFERENÇA DE COMPORTAMENTOS À DIFERENCIAÇÃO DA INTERVENÇÃO
Aplica o que aprendeste L A B
I Considera a imagem e a respetiva legenda.
Em 2013, o Instituto Nacional de Estatística (INE) contabilizava a existência de cerca de 166 mil jovens entre os 15 e os 24 anos que, pertencendo à população ativa (não estudavam e procuravam emprego), estavam desempregados. Empregados com a mesma idade havia cerca 229 mil jovens.
Público em linha, 09-05-2013, in http://www.publico.pt/economia/noticia/
(consultado a 22-04-2014).
1. Realiza pesquisa relevante sobre as dificuldades de acesso ao emprego e ao mercado
de traba-lho por parte da população jovem.
2. Compara a situação nacional com a situação internacional.
3. Discute, em grupo, as causas, consequências e possíveis soluções para o desemprego
jovem (pouco qualificado e sobrequalificado) em Portugal.
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MÓDULO 6
Quando olhamos para as estatísticas, encontramos um peso muito signifi-
cativo do desemprego de longa duração (pessoas que procuram emprego
há pelo menos 12 meses) e muito longa duração (pessoas que procuram
em-prego há mais de 25 meses). O desemprego de longa duração
correspondia, em 2013, a mais de 60% do desemprego em Portugal.
Pessoas com mais de 35 anos (o tempo de desemprego aumenta
proporcionalmente à idade) e pessoas com poucas qualificações (quanto
mais baixas são as qualificações, maior a probabilidade de cair no
desemprego de longa duração) constituem a maioria dos desempregados de
longa duração e muito longa duração. O fenó-meno tem, contudo, crescido
entre os jovens e a população com mais anos de escolaridade.
O desemprego de longa duração acentua o sentimento (partilhado por
quase todos os desempregados) de que a pessoa se tornou inútil e que não
há soluções para o seu problema. Os desempregados de longa duração têm,
por outro lado, uma maior probabilidade de sofrer penalizações salariais se
conse-guirem regressar ao trabalho, pois quando se reingressa no mercado
de traba-lho é frequentemente em piores condições do que aquelas que
vigoravam quando dele se saiu. Quanto maior for a duração da situação de
desemprego, maiores serão a desatualização, a dificuldade de reintegrar o
mercado de tra-balho e os riscos de exclusão social.
Tal como podes verificar pelo que foi referido até aqui, pessoas com baixas
qualificações encontram especiais dificuldades no acesso ao emprego e ao
mercado de trabalho e são também particularmente vulneráveis quando em-
pregadas, auferindo, muitas vezes, salários que não lhes permitem viver acima
do limiar de pobreza. A esse nível, Portugal tem ainda, apesar dos progressos
dos últimos anos, um longo caminho a percorrer.
DOC. 9 – Há meio milhão de portugueses analfabetos
Cerca de 500 mil portugueses não sabem ler nem escrever,
segundo os resultados definitivos do Censos 2011 (…). A taxa de
analfabetismo caiu de 9% para 5,2% na última década, uma diminuição
acentuada, que ainda assim não é suficiente para tirar Portugal do
último lugar da tabela a nível europeu.
Realizado pelo Instituto Nacional de Estatística (INE), os resultados
do Censos 2011 refletem o progresso registado ao nível das
qualificações. Em apenas dez anos, o número de portugueses com
mais de 23 anos com en-sino superior quase duplicou (passou de 9%
para 15%). Entre os licencia-dos, 60% são mulheres.
Metade da população com 15 ou mais anos concluiu, pelo menos, o 9.º
ano de escolaridade, o que representa um aumento de 12 pontos percen-
tuais em relação a 2001. Lisboa e Algarve apresentam os maiores níveis
de qualificação da população, com 60,4% e 52,7%, respetivamente.
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RE
AL
ED
ITO
RE
S BASTOS, J. P., “Meio milhão de portugueses não sabem ler nem escrever”, Expresso em linha,
20-11-2012, in http://expresso.sapo.pt/ [consultado a 21-1-2014].
81
Curiosidades • Sabias que não existe uma rela-
ção direta e imediata entre idade
e produtividade? A diminuição do
processamento de informação,
que decorre do envelhecimento, é
compensada por melhor antecipa-
ção das tarefas e pela
experiência, ou seja, a perda de
rapidez é com-pensada por
melhor qualidade do trabalho.
82
Curiosidades • Em 2013, Portugal ocupava a 43.ª
posição (entre 187 nações) do
Índice de Desenvolvimento Hu-
mano (IDH) das Nações Unidas. O
ranking do IDH – calculado a partir
da ponderação de indicadores em
três áreas (uma vida longa e sau-
dável, acesso à educação e um pa-
drão de vida decente) – é liderado
pela Noruega. • Em Portugal, 48% dos indivíduos
que sabem ler e escrever sofrem de
analfabetismo funcional, o que quer
dizer que não percebem o que
estão a ler ou têm dificuldade em
entender parte da informação. • Por outro lado, dados de 2013
permitem concluir que as mulhe-
res da União Europeia trabalham,
em média, 64 horas por semana,
enquanto os homens trabalham
53. Esta diferença pode ser expli-
cada pelo facto de as mulheres
gastarem 26 horas, em média,
com tarefas de prestação de cui-
dados, contra apenas 9 gastas
pelos homens neste tipo de tare-
fas. Os homens dedicam, todavia,
mais tempo ao trabalho remune-
rado (41 horas contra as 34
gastas pelas mulheres).
DA DIFERENÇA DE COMPORTAMENTOS À DIFERENCIAÇÃO DA INTERVENÇÃO
Os estereótipos de género e o preconceito sexista estão, como vimos, na
ED
ITO
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origem de fenómenos de desigualdade e de risco de discriminação objetiva
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das mulheres em diversas esferas da vida, entre as quais se inclui o mercado
de trabalho. Se é verdade que, em Portugal, não existem diferenças muito
acentuadas nas taxas de desemprego de homens e mulheres, isso não signi-
fica que não persistam, a este nível, desigualdades no acesso ao emprego e ao
mercado de trabalho. Destaquemos três:
• Desequilíbrio entre homens e mulheres no plano da distribuição
por setores de atividade/profissionais.
• Disparidade de remunerações salariais entre homens e mulheres
no setor privado.
• Reduzido número de mulheres a aceder a cargos de chefia.
A inserção de homens e de mulheres no mercado de trabalho não se faz de
forma idêntica. O mercado de trabalho português apresenta, em termos de
emprego por setores profissionais, um desequilíbrio entre homens e mulheres
dos mais pronunciados da União Europeia. Uma boa parte do emprego femi-nino
concentra-se em setores de atividade amplamente feminizados (saúde e ação
social, educação, alojamento e restauração), o mesmo acontecendo em relação
às profissões, sugerindo que o emprego feminino é uma espécie de continuidade
das tarefas domésticas assumidas pelas mulheres. Em 2011 (e a realidade não
se terá desde então alterado muito) existiam cinco profissões com taxas de
feminização elevadas que absorviam mais de dois terços do em-prego feminino:
trabalhadores de limpeza, vendedores em loja, empregados de escritório,
professores dos ensinos básico e secundário e trabalhadores de cuidados
pessoais nos serviços de saúde.
No que diz respeito a salários, a desigualdade entre homens e mulheres con-
tinua a ser uma realidade difícil de combater em todos os países da União Eu-
ropeia. Em média, as mulheres da UE recebem menos 16% que os homens
(dados de 2011), o que significa que trabalham 59 dias por ano gratuitamente,
tendo em conta os padrões de remuneração auferidos pelos homens. Segundo
dados da CITE (Comissão para a Igualdade no Trabalho e no Emprego), em
2013 as mulheres em Portugal ganhavam, em média, menos 18% do que os
homens, o que significa que, para acederem a um rendimento igual, teriam de
trabalhar mais 65 dias por ano. A diferença de salários entre homens e mulhe-
res (favorável aos homens) é, em Portugal, no setor privado, uma constante que
não revela tendência a diminuir, antes pelo contrário: tem aumentado, desde
2007, de forma persistente. Ao contrário do que se poderia supor, é nos níveis
de qualificação mais elevados que as desigualdades salariais entre ho-mens e
mulheres surgem mais acentuadas, atingido níveis próximos dos 30%.
Não obstante os progressos feitos nos últimos anos, as mulheres continuam a
estar sub-representadas em cargos de poder e de tomada de decisão, mesmo
nos setores em que a sua presença é maioritária. Por exemplo, se é verdade
que a maioria dos enfermeiros são mulheres, é igualmente verdade que a
maioria dos diretores hospitalares são homens. Esta desigualdade é es-
pecialmente acentuada em cargos de topo das instituições ou organizações.
MÓDULO 6 83
No capítulo anterior abordámos a dificuldade de acesso à educação e for-
mação por parte de alguns grupos étnicos e culturais minoritários,
nomeada-mente dos membros da comunidade cigana. Esta dificuldade
prolonga-se e reflete-se no acesso ao emprego e ao mercado de trabalho.
Entre 2007 e 2009 foi realizado um estudo pelo Instituto Português de Ad-
ministração e Marketing (IPAM) com o objetivo de perceber a forma como o
género, a etnia, a religião e a nacionalidade condicionam a integração no mer-
cado de trabalho. O estudo permitiu concluir que, em Portugal, são os cida-dãos
de etnia cigana e as pessoas portadoras de deficiência (especialmente os
invisuais) os que têm mais dificuldades em encontrar emprego.
São muitos os membros da etnia cigana que se encontram em
situação de desvinculação estrutural face ao mercado de trabalho ou
inseridos nos seus segmentos mais precários. Elevadas taxas de
analfabetismo e de abandono escolar, baixas qualificações profissionais,
forte discriminação social face aos membros do grupo étnico e ausência
de políticas eficazes de combate à ex-clusão, entre outros fatores,
constituem uma acumulação de desvantagens que ajuda a explicar taxas
de desemprego e de pobreza muito superiores à média nacional.
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DOC. 10 – A situação dos ciganos
Um estudo [da Agência de Direitos Fundamentais da União Europeia]
sobre a situação dos ciganos em 11 países europeus concluiu que esta mi-
noria vive um «quadro sombrio». Muitos ciganos continuam a ser vítimas
de discriminação e exclusão social em toda a União Europeia.
Portugal é um dos países europeus com mais ciganos em risco de
po-breza: perto de 95 por cento, segundo o relatório.
A discriminação dos ciganos a viver em Portugal é comum na altura
em que procuram emprego, mas também em outros momentos do dia
a dia. Mais de 50 por cento relataram casos deste tipo.
A Agência dos Direitos Fundamentais da União Europeia baseia-se
em dois inquéritos sobre a situação social e económica dos ciganos e
dos não--ciganos a viver em áreas próximas.
A percentagem de ciganos portugueses que dizem estar
desemprega-dos, 55%, é o dobro daquilo que acontece na população
vizinha. E pouco mais de 10% trabalham por conta de outro.
As diferenças também se sentem na educação. Apenas 1 em cada
20 ciganos portugueses tem o ensino secundário completo.
A fome também é um problema muito mais comum nestas famílias. Um
em cada cinco ciganos vive numa casa sem pelo menos uma condição bá-
sica: tem falta de cozinha, casa de banho, chuveiro ou eletricidade.
GUEDES, N., “Mais de metade dos ciganos portugueses dizem ser discriminados”, TSF em linha, 23-05-2012, in http://www.tsf.pt/PaginaInicial/Vida [consultado a 21-
01-2014].
84 DA DIFERENÇA DE COMPORTAMENTOS À DIFERENCIAÇÃO DA INTERVENÇÃO
Usa o pensamento crítico L A B
I Considera a imagem e a respetiva legenda.
No mundo, cerca de 386 milhões de pessoas em idade de trabalhar são portadoras de alguma forma de deficiência, se-gundo a Organização Mundial do Trabalho (OIT). No caso das pessoas portadoras de
deficiência, o desemprego atinge os 80% em alguns países. Os empregadores partem, com frequência, do
princípio que estas pessoas não são capazes de trabalhar.
1. Realiza pesquisa relevante sobre as dificuldades de acesso ao emprego e ao mercado
de traba-lho por parte dos cidadãos portadores de deficiência.
2. Compara a situação nacional com a situação internacional.
3. Discute, em grupo, as causas, consequências e possíveis soluções para as dificuldades
de acesso ao emprego das pessoas portadoras de deficiência.
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Objetivos de aprendizagem
Justificar a necessidade de res-
postas diferenciadas para cada
uma das problemáticas identifi-
cadas, educação/formação e
acesso ao trabalho.
A discriminação que acontece no acesso à educação e formação e no
acesso ao emprego e ao mercado de trabalho é um reflexo de fenómenos
so-ciais e culturais mais vastos, como estereótipos e preconceitos
fortemente enraizados. Tratando-se de um fenómeno que colide com os
direitos funda-mentais dos cidadãos, que inibe a coesão social e que
acarreta elevados cus-tos económicos para as nações, vários passos têm
sido dados no sentido da criação de quadros normativos promotores da
igualdade (através, por exem-plo, da revogação de leis discriminatórias, mas
também da promulgação de medidas positivas em defesa da igualdade).
Os quadros normativos em questão são concebidos e acolhidos a diferentes
níveis, incluindo dispositivos internacionais, comunitários e nacionais, sendo que
neste último caso se destacam documentos fundamentais como a Cons-tituição
da República Portuguesa, a Lei de Bases do Sistema Educativo e o Código do
Trabalho. Os vários níveis estão interrelacionados, na medida em
MÓDULO 6 85
que os quadros normativos nacionais integram princípios defendidos pelos
Estados-membros da União Europeia que, por sua vez, se encontram alinha-
dos com os assumidos a nível internacional por diversas nações.
Internacionais Princípios e Direitos Fundamentais no Trabalho (OIT, 1988)
Comunitários Diretiva 2006/54/CE relativa ao
princípio da igualdade entre homens
e mulheres no trabalho (CE, 2006)
Nacionais Código do Trabalho
Exemplos de dispositivos legais e Exemplos de diretivas e estratégias
convenções internacionais comunitárias
• Declaração Universal dos Direitos
• Diretiva 2006/54/CE relativa à aplicação
do princípio da igualdade de
Humanos (ONU, 1948)
oportunidades e igualdade de tratamento
• Declaração Universal dos Direitos da entre homens e mulheres em domínios
Criança (UNICEF, 1959) ligados ao emprego e à atividade
• Convenção sobre a Eliminação de Todas
profissional (CE, 2006)
as Formas de Discriminação contra as • Educação e Formação para 2020 (CE,
Mulheres (ONU, 1979) 2009)
• Declaração Sobre os Direitos das Pessoas • Tratado da União Europeia, Tratado sobre
Pertencentes a Minorias Nacionais ou o Funcionamento da União Europeia e
Étnicas, Religiosas e Linguísticas (ONU, Carta dos Direitos Fundamentais da União
1992) Europeia (CE, 2010)
• Declaração de Direitos das Pessoas • Europa 2020: estratégia para o
Deficientes (ONU, 1975) crescimento da União Europeia (CE,
• Declaração Mundial sobre a Educação
2010)
para Todos (UNESCO, 1990) • Estratégia Europeia para a Deficiência
• Declaração de Salamanca (UNESCO,
2010-2020 (CE, 2010)
1994) • Recomendação do Conselho da Europa
• Princípios e Direitos Fundamentais no
relativa a medidas eficazes para a
integração dos ciganos nos Estados-
Trabalho (OIT, 1998)
-membros (CE, 2013)
Curiosidades • Em 1976, Gabrielle Defrenne, uma
hospedeira de bordo belga,
instaurou uma ação junto do Tri-
bunal de Justiça da União Europeia
contra a sua entidade patronal, a
Sabena, contestando o facto de
ganhar menos do que os seus co-
legas homens que faziam o mesmo
trabalho. O Tribunal deu razão a
Gabrielle, tendo este pro-cesso
lançado as bases da legisla-ção
europeia em matéria de igual-dade
entre homens e mulheres.
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Visando mitigar a expressão e efeitos nefastos do incumprimento dos di-
reitos reconhecidos e da discriminação nas várias esferas da vida em socie-
dade e procurando dar seguimento aos compromissos assumidos junto das
instâncias internacionais e nacionais, os sucessivos governos têm desenvol-
vido programas e estratégias que incluem medidas concretas. Embora
alguns destes planos se dirigiam a todos os cidadãos, outros apresentam
públicos--alvo que integram grupos particularmente vulneráveis.
86 DA DIFERENÇA DE COMPORTAMENTOS À DIFERENCIAÇÃO DA INTERVENÇÃO
Programa Principais objetivos Estrutura
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Plano Nacional para
a Igualdade de
Género, Cidadania e
Não-discriminação
(2014-2017)
Plano Nacional de
Prevenção e
Combate à
Violência
Doméstica e de
Género (2014-2017)
Plano Nacional de
Prevenção e
Combate ao Tráfico
de Seres Humanos
(2014-2017)
Estratégia Nacional
para a Integração
das Comunidades
Ciganas (2013-
2020)
Plano para a
Integração dos
Imigrantes
(2010-2013)
Corresponde ao quinto plano nacional enquadrado nos compromissos assumidos
por Portugal a nível internacional no que se refere à promoção da igualdade de género e ao combate às discriminações em função do
sexo e da orientação sexual. Coordenado pela Comissão para a Cidadania e
a Igualdade de Género (CIG), o Plano pretende
dar continuidade às políticas nacionais adotadas
no domínio em questão, bem como dar
cumprimento ao Pacto Europeu para a Igualdade
entre Mulheres e Homens (2011-2020).
Trata-se do quinto plano nacional enquadrado
nos compromissos assumidos por Portugal nas
várias instâncias internacionais, alargando o
âmbito de aplicação a vários tipos de violência
de género além da violência doméstica,
nomeadamente a mutilação genital feminina e
as agressões sexuais. O Plano em questão, que passa a integrar o
terceiro Programa de Ação para a Prevenção
e Eliminação da Mutilação Genital Feminina
(2014-2017), é coordenado pela CIG.
Refere-se ao terceiro plano nacional
enquadrado nos compromissos assumidos por Portugal nas várias instâncias internacionais no que se refere à prevenção
e combate ao tráfico de seres humanos. A CIG é reconhecida como entidade
responsável pela coordenação do Plano, que visa pôr em marcha respostas às
recomendações relativamente à luta contra o tráfico de seres humanos. Trata-se do primeiro plano nacional integrado
dirigido a estas comunidades vulneráveis e foi
desenvolvido pelo Alto Comissariado para a
Imigração e Diálogo Intercultural (ACIDI).
Representa a resposta do Governo ao convite
endereçado pela Comissão Europeia a todos
Estados-membros no sentido de promover uma
intervenção europeia concertada junto das
comunidades ciganas, privilegiando como áreas
prioritárias o acesso à educação, ao emprego,
aos cuidados de saúde e à habitação. Constituiu-se como segundo plano nacional
com vista à plena integração dos imigrantes em áreas fundamentais como a cultura e a língua, o emprego e a formação profissional
e a habitação. A coordenação do plano foi da responsabilidade
do ACIDI, prevendo-se que esta mesma entidade
assuma a responsabilidade pela implementação
das medidas que venham a integrar o terceiro
plano.
O Plano prevê a adoção de 70 medidas
estruturadas em torno de sete áreas estratégicas,
incluindo a integração da perspetiva da igualdade
de género na Administração Pública, a promoção
da igualdade entre mulheres e homens nas
políticas públicas, a independência económica,
mercado de trabalho e organização da vida
profissional, familiar e pessoal, a orientação
sexual e identidade de género, as organizações
não governamentais, a comunicação social e a
cooperação.
As propostas que fazem parte do Plano estão
organizadas em cinco áreas estratégicas que
abrangem 55 medidas. Essas áreas
correspondem a grandes objetivos e são as
seguintes: prevenir, sensibilizar e educar, proteger
as vítimas e promover a sua integração, intervir
junto de agressores(as), formar e qualificar os
profissionais, investigar e monitorizar os
fenómenos de violência de género.
As 53 medidas que estão previstas no Plano
estão organizadas em torno de cinco áreas estratégicas que refletem os seguintes
objetivos de intervenção: prevenir, sensibilizar, conhecer e investigar; educar, formar e
qualificar; proteger, intervir e capacitar;
investigar criminalmente; cooperar. A estrutura da estratégia inclui quatro eixos que
vão ao encontro das orientações europeias
(educação, habitação, emprego e formação e
saúde), bem como um eixo transversal (ligado a
diferentes áreas, incluindo a justiça e segurança,
a igualdade de género, a segurança social, a
educação para a cidadania, a mediação e o
combate à discriminação). No total, a estratégia prevê um conjunto de 40 prioridades. O plano abrangeu 17 áreas de intervenção,
destacando-se as associadas à diversidade e interculturalidade, à proteção e integração
dos imigrantes em situação de desemprego e à dos idosos imigrantes. No total, o plano envolveu 90 medidas.
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MÓDULO 6 87
Como podes constatar, a coordenação destas ações concertadas em docu-
mentos orientadores é da responsabilidade de entidades diretamente ligadas ao
Estado, que têm um papel fundamental no combate às diferentes formas de
discriminação. Para além destes suportes institucionais, outros com objetivos e
valências relevantes para as temáticas em análise merecem igual destaque.
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Suportes institucionais
DGSS (Direção
Geral de
Segurança Social)
Sítio na web: http://www4.seg-
social.pt/
IEFP (Instituto do Emprego e
Formação Profissional) Sítio na web:
http://www.iefp. pt/
CITE (Comissão para a Igualdade
no Trabalho e no Emprego)
Sítio na web:
http://www.cite. gov.pt/
CIG (Comissão
para a Cidadania
e Igualdade de Género)
Sítio na web: http://www.cig. gov.pt/
ACIDI (Alto Comissariado para a Imigração
e Diálogo Intercultural)
Sítio na web: http://www.acidi. gov.pt/
Objetivos e valências Tem por missão a conceção,
coordenação e apoio nas áreas
dos regimes de segurança
social, bem como o estudo, a
negociação técnica e a
coordenação da aplicação dos
instrumentos internacionais
relativos à legislação de
segurança social e ação social. Tem como missão promover a
criação e qualidade do emprego e
combater o desemprego,
dispondo de serviços
desconcentrados e de uma
estrutura que apoia todos os seus
utentes no território nacional.
Tem como principais atribuições
prosseguir a igualdade e a não
discriminação entre mulheres e
homens no mundo laboral, a
proteção na parentalidade e a
conciliação da vida profissional,
familiar e pessoal.
Tem como missão garantir a
execução das políticas públicas
no âmbito da cidadania e da
promoção e defesa da igualdade
de género.
Tem como missão colaborar na
conceção, execução e avaliação
das políticas públicas relevantes
para a integração dos imigrantes
e das minorias étnicas, bem
como promover o diálogo entre
as diversas culturas, etnias e
religiões.
Exemplos de distinções
Entre 2001 e 2009 recebeu o Prémio
Engenheiro Jaime Filipe, que distingue a
melhor conceção inovadora e promotora
de autonomia nas áreas tecnológicas e
de design, na defesa do exercício de
cidadania e integração social das
pessoas em situação de dependência.
Em 2012, o IEFP foi laureado com o
prémio Mercúrio (da Câmara de
Comércio e Indústria Luso-Alemã),
distinguindo-se pelo apoio ao sistema dual de formação profissional (modelo de dupla
certificação: escolar e profissional).
Em conjunto, a CITE e a CIG atribuem
bianualmente o prémio Igualdade é
Qualidade, uma distinção de prestígio
que tem como objetivo estratégico
combater a discriminação e promover a
igualdade entre mulheres e homens no
trabalho, no emprego e na formação
profissional, bem como a conciliação da
vida profissional, familiar e pessoal.
Entre outros, a CIG atribui, em parceria
com o Instituto Português do Desporto e
Juventude, o prémio Jovens pela
Igualdade, destinado a associações de
jovens e grupos informais de jovens com
boas práticas na integração da dimensão
da igualdade de género, cidadania e não
discriminação, quer na sua organização
ou funcionamento, quer nas atividades
por si desenvolvidas.
O ACIDI venceu em 2012 a categoria
Prémio de Empreendedorismo
Responsável e Inclusivo, no âmbito
dos Prémios Europeus de Promoção
Empresarial 2012, atribuídos pela
Comissão Europeia.
88 DA DIFERENÇA DE COMPORTAMENTOS À DIFERENCIAÇÃO DA INTERVENÇÃO
A par das entidades governamentais, da gestão centralizada ou
descentra-lizada do Estado, existem inúmeras outras que, sendo não
governamentais, mantêm um papel ativo na defesa dos direitos
fundamentais, no fim de todas as formas de discriminação e na promoção da
coesão social. Em seguida, apresentamos-te algumas dessas entidades.
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Curiosidades • O Espaço t – Associação para
Apoio à Integração Social e Comu-
nitária – foi a entidade que rece-beu
mais menções honrosas, desde
2002, no âmbito do prémio
Igualdade é Qualidade. Trata-se de
uma Instituição Particular de Soli-
dariedade Social (IPSS) que tem
como missão promover a mu-dança
social com vista à aceitação da
diferença pela sociedade, utili-
zando, para isso, a divulgação da
cultura.
Organizações não governamentais
Amnistia Internacional Sítio na web: http://www.amnistia-internacional.pt/
EAPN – European Anti Poverty Network (Rede
Europeia Anti-Pobreza) Sítio na web: http://www.eapn.pt/
APAV (Associação Portuguesa de Apoio à Vítima) Sítio na web: http://apav.pt/
Objetivos e valências
Organização não governamental
de defesa dos direitos humanos
cuja missão é investigar e agir de
modo a prevenir e a pôr fim a
abusos dos direitos humanos e a
exigir justiça para aqueles cujos
direitos tenham sido violados.
Organização sem fins lucrativos cuja missão é contribuir para a
construção de uma sociedade
mais justa e solidária, em que
todos sejam corresponsáveis na
garantia do acesso dos cidadãos a uma vida digna, baseada no
respeito pelos direitos humanos e no exercício pleno de uma
cidadania informada, participada
e inclusiva.
Instituição Particular de
Solidariedade Social (IPSS) que
tem como missão promover e
contribuir para a informação,
proteção e apoio aos cidadãos
vítimas de infrações penais.
Objetivos de aprendizagem
Referir boas práticas nas áreas da
promoção da igualdade e da inte-
gração de grupos com especiais
dificuldades de acesso ao em-prego
e à educação/formação.
A intervenção direta e indireta do Estado, através das entidades públicas,
e as ações desenvolvidas por organizações não governamentais, de
solidarie-dade e economia social assumem um caráter determinante no que
se refere ao combate à criação de obstáculos e à escalada das
desigualdades, particu-larmente penosa para grupos vulneráveis. Aliás,
como decerto te deste conta, alguns grupos (os membros de grupos étnicos
minoritários, por exemplo) estão simultaneamente representados nos que se
debatem com dificuldades no acesso à educação e à formação e nos que
encontram barreiras no acesso ao emprego e ao mercado de trabalho.
MÓDULO 6
De facto, as estratégias, os programas e o modelo de atuação de
várias en-tidades têm sido reconhecidos como boas práticas, a nível
nacional e interna-cional, constituindo soluções bem-sucedidas e
transferíveis para outros con-textos com características similares.
Vejamos o exemplo do programa Escolhas.
O programa Escolhas (programa governamental de âmbito nacional criado
em 2001, promovido pela Presidência do Conselho de Ministros e integrado
no ACIDI) tem como missão promover a inclusão social de crianças e jovens
de contextos socioeconómicos vulneráveis, visando a igualdade de
oportunida-des e o reforço da coesão social. Atualmente na sua 5.ª geração,
o Programa é considerado uma das políticas públicas mais eficazes e
eficientes na promo-ção da inclusão social de crianças e jovens em risco,
nomeadamente dos des-cendentes de imigrantes e minorias étnicas.
A significativa evolução entre a 1.ª e 4.ª gerações do
programa Escolhas está refletida nos dados sobre os
locais de intervenção (passaram de 50 para 134), os
destinatários (de 6 mil para quase 90 mil), os téc- nicos (equipas com 170 técnicos transforma-
ram-se em equipas com 850), concelhos do
país abrangidos (inicialmente 17, aumenta-
ram para 71) e dos parceiros envolvidos
(perto de uma centena na 1.ª geração e mais
de mil na 4.ª geração).
Organizando-se em torno de cinco áreas
estratégicas de intervenção (inclusão escolar e
educação não formal, formação profissional e
empregabilidade, dinamização comunitária e
cidadania, inclusão digital e empreendedorismo e
capacitação), o Programa procura, com a sua 5.ª
geração, consolidar os resultados positivos já
alcança-dos, tendo os mesmos sido alvo de
reconhecimento in-ternacional ao longo dos anos:
• Foi selecionado, em 2002, pelo Conselho da Europa como Boa Prática
no Combate à Violência Quotidiana e venceu o Prémio Europeu de Pre-
venção da Criminalidade, atribuído pela União Europeia em 2003.
• Foi referenciado como boa prática na integração (fazendo parte do
Manual de Integração, publicado pela Comissão Europeia em 2007),
como uma das sete boas práticas mundiais no combate à
criminalidade (identificadas no Relatório Mundial sobre Segurança
nas Comunidades, publicado pelo Centro Internacional de Prevenção
do Crime em 2008) e como boa prática no combate ao abandono
escolar precoce (prémio atribuído pela Comissão Europeia em 2011).
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89
Boa prática Resultado de uma ideia, prefe-
rencialmente inovadora, que se
apresenta como solução para
um determinado problema num
de-terminado contexto.
Boas notas foi uma campanha pro-
movida pelo programa Escolhas no
âmbito da Estratégia Nacional para a
Integração das Comunidades Ciga-
nas e procurou sensibilizar crianças e
jovens (ciganos e não ciganos), os
seus familiares e professores para a
importância da escola enquanto
instituição de socialização e de pro-
moção de aprendizagens relevantes
para a inclusão social e profissional.
90 DA DIFERENÇA DE COMPORTAMENTOS À DIFERENCIAÇÃO DA INTERVENÇÃO
Usa o pensamento crítico L A B
I Considera o documento.
A transferência e replicação na Colômbia do trabalho desenvolvido em Portugal pelo
Pro-grama Escolhas, na inclusão social de crianças e jovens de contextos sociais
vulneráveis, é uma possibilidade deixada em aberto no seguimento do convite feito ao
Programa para se fazer representar no Fórum Internacional de boas práticas na
prevenção da criminalidade ju-venil, em Bogotá.
O Programa Escolhas foi convidado a apresentar a sua experiência e a partilhar as suas
apren-dizagens, resultantes de 12 anos de intervenção no terreno, que tem sido
reconhecida em várias instâncias nacionais e internacionais na sequência da sua
seleção pelo EUROsociAL II, da Direção-Geral EuropeAid da União Europeia, entre as
melhores práticas internacionais na prevenção da criminalidade juvenil.
As práticas selecionadas serão um contributo importante para a construção de uma
Política Nacional de Prevenção da Delinquência Juvenil na Colômbia, existindo neste
momento um importante compromisso político e institucional, criando um momento
favorável para a con-ceção de uma política coerente e efetiva, com base em
experiências regionais, nacionais e de sucesso internacional.
Recorde-se que em 2011 o Programa Escolhas foi selecionado enquanto boa prática
portu-guesa no âmbito da prevenção da delinquência juvenil, pelo Ministério da
Administração In-terna no âmbito do European Crime Prevention Award, sendo que em
2012 a sua prática foi referenciada como exemplo no Empowerment Handbook do
Fundo Social Europeu, no segui-mento do convite para participar na Rede Europeia de
Aprendizagem sobre o Empowerment e a Inclusão.
O EUROsociAL II destina-se a promover a coesão social, mediante o fortalecimento de
políti-cas públicas dos 18 países da América Latina, envolvidos neste programa de
âmbito regional financiado pela DG EuropeAid, da União Europeia.
A Colômbia, um dos países que participam deste eixo, solicitou apoio internacional no desen-
volvimento de medidas eficazes para a prevenção da delinquência juvenil no seu país.
Notícia publicada na página oficial do programa Escolhas
(http://www.programaescolhas.pt/) em abril de 2013.
1. Recolhe informação adicional sobre o programa Escolhas.
2. Identifica três razões que justifiquem o facto de o Programa ser um caso de sucesso
reconhe-cido a nível mundial no que se refere à prevenção da criminalidade.
3. Descreve a 5.ª geração do Programa e explica a sua relevância a nível nacional.
4. Avalia o contributo do Programa para a redução do abandono escolar.
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MÓDULO 6 91
Aplica o que aprendeste L A B
I Assinala com um F as afirmações falsas.
A. Alguns grupos, por exemplo os ex-reclusos e os ex-toxicodependentes, enfrentam
dificuldades no acesso ao emprego e ao mercado de trabalho.
B. A população ativa inclui o conjunto de pessoas a exercer uma profissão, a fazer
formação pro-fissional e que mantém um vínculo com a entidade empregadora.
C. Os jovens pouco qualificados e desprovidos dos saberes essenciais encontram-se entre
os gru-pos com menores taxas de desemprego.
D. O desemprego de longa e de muito longa duração acentua o sentimento de inutilidade e
de au-sência de soluções.
E. Pessoas de todas as idades com baixas qualificações são particularmente vulneráveis
ao de-semprego.
F. A discriminação das mulheres no mercado de trabalho não é visível quando falamos de
cargos de topo.
G. As mulheres continuam a estar sub-representadas em cargos de poder e de tomada de
decisão, mesmo nos setores em que a sua presença é maioritária.
H. Pertencer a um grupo étnico e cultural minoritário só é uma desvantagem no acesso ao
em-prego e ao mercado de trabalho se os próprios assim quiserem.
I. Os quadros normativos internacionais, comunitários e nacionais constituem instrumentos im-
prescindíveis para combater a desigualdade no acesso ao emprego e ao mercado de trabalho.
Ideia-chave O acesso ao emprego/mercado de trabalho apresenta barreiras para uma larga
franja da população: jovens (pouco ou sobrequalificados), desempregados de
longa dura-ção, mulheres, membros de grupos étnicos minoritários, pessoas
portadoras de de-ficiência, entre outros. Vários passos têm sido dados no
sentido da igualdade, mas muito há ainda por fazer.
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DESAFIO DO MÓDULO
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te proposto um desafio: O que significa ser diferente? Uma possível forma de
resolveres esse desafio seria a seguinte: > Cada um de nós é um ser singular e, por isso, diferente dos demais. A diferença é precisa-
mente aquilo que define a nossa unicidade e nos torna distinguíveis dos demais, física, psico-
lógica e culturalmente. Ela é, pois, a base da diversidade e riqueza humanas. > Ser diferente significa muitas vezes aparecer aos olhos dos outros como estranho ou
bizarro, à semelhança do gigante bom (personagem interpretada por Matthew
McGregory, um homem de 2,3 metros de altura), da bruxa Helena Bonham-Carter, do dono do circo e das gémeas chinesas.
92 DA DIFERENÇA DE COMPORTAMENTOS À DIFERENCIAÇÃO DA INTERVENÇÃO
ORGANIZAR IDEIAS
1 Capítulo 1 – Diferença: delimitação e problematização
> Ser diferente significa, de forma simples, não integrar uma dada categoria ou não apresentar uma
correspondência com uma referência num processo de comparação. Cada um de nós é diferente
no sentido em que possui características que nos distinguem dos outros.
> Podemos falar em diferenças entre indivíduos («A Rita é diferente da Joana porque…»), entre grupos («Os heterossexuais são diferentes dos homossexuais
porque…») ou entre co-munidades («Os ciganos são diferentes dos não ciganos porque…»). Muitas vezes as dife-renças convertem-se em desigualdades.
> A Declaração Universal dos Direitos Humanos assegura a todos os seres humanos o
direito à diferença, condenando a desigualdade e qualquer discriminação com base nas caracterís-ticas que nos distinguem uns dos outros.
2 Capítulo 2 – Algumas diferenças perante a educação e formação
> O género, a trajetória social e escolar anterior, as dificuldades de aprendizagem, entre
ou-tros, são diferenças relevantes quando falamos no acesso à educação e formação, pois são, muitas vezes, geradoras de estereótipos, preconceitos e discriminação.
> Os estereótipos de género funcionam como filtros através dos quais as pessoas veem o
mundo, fazem julgamentos e tomam decisões. Podemos falar em estereótipos de
traços de género («Os homens são muito mais independentes e seguros que as mulheres») e em es-tereótipos de papéis de género («As mulheres são melhores
cuidadoras dos filhos do que os homens»).
> Os estereótipos de género são adquiridos ao longo do processo de socialização, sendo que uma larga maioria não tem qualquer fundamentação empírica.
> Apesar de rapazes e raparigas entrarem na escola em igualdade formal de acesso, a pre-sença feminina na escola continua a ser diferenciada e desigualmente valorizada, podendo--se, por isso, falar em escolarização do estereótipo.
> A trajetória social e escolar anterior e a origem étnico-nacional do próprio e/ou dos seus
ascendentes integram o conjunto de variáveis que frequentemente surgem associadas a
desigualdades nos percursos educativos e formativos. Um bom exemplo disto é a comuni-
dade cigana, com taxas de abandono escolar muito superiores às médias nacionais e euro-
peias. Na Europa, apenas 1 em cada 7 jovens ciganos concluiu o ensino secundário.
> Em relação às dificuldades de aprendizagem e às necessidades educativas especiais,
Portu-gal, juntamente com mais 92 países e 25 organizações internacionais, é signatário da De-claração de Salamanca (1994), estando por isso comprometido com
uma perspetiva inclu-siva, a favor da educação para todos, mais lata e alinhada com os direitos da criança e do ser humano.
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> Uma educação que não respeite a diversidade e não valorize o convívio, a interação e a coo-peração entre alunos naturalmente diferentes é uma educação contrária à Declaração Uni-versal dos Direitos Humanos.
3 Capítulo 3 – Diferenças no acesso ao trabalho: inserção de populações
com especiais dificuldades > O acesso ao emprego e ao mercado de trabalho apresenta barreiras para grupos que são
frequentemente vítimas de marginalização e/ou preconceito e discriminação: mulheres, gru-
pos étnicos minoritários, pessoas portadoras de deficiência, toxicodependentes (ou ex-toxi-
codependentes), ex-reclusos, etc. A marginalização, o preconceito e a discriminação reper-
cutem-se em menores taxas de emprego, maiores taxas de desemprego, desigualdades na
repartição setorial do emprego e diferenças salariais.
> Jovens (pouco ou sobrequalificados), desempregados de longa duração, pessoas com
bai-xas qualificações, trabalhadores precários e trabalhadores ilegais são também segmentos da população especialmente vulneráveis quando falamos de acesso ao emprego e ao mercado de trabalho.
> Vários passos têm sido dados no sentido da criação de quadros normativos promotores
da igualdade (através da revogação de leis discriminatórias, mas também da promulgação de medidas positivas em defesa da igualdade). Os quadros normativos
em questão são conce-bidos e acolhidos a diferentes níveis, incluindo dispositivos
internacionais, comunitários e nacionais.
PALAVRAS-CHAVE
> diferença
> género
> inclusão
> boa prática
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