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20ª Compós – Porto Alegre, 2011 Valores, ordenamentos de conduta e subsistência do jornalismo Rogério Christofoletti – UFSC http://www.christofoletti.com

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Apresentação de texto na Compós 2011

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20ª Compós – Porto Alegre, 2011

Valores, ordenamentos de conduta e subsistência do jornalismo

Rogério Christofoletti – UFSC

http://www.christofoletti.com

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O artigo e a pesquisa

Parte da investigação “Redimensionamento de valores éticos no Jornalismo a partir de impactos tecnológicos”, financiada pelo CNPq e com período 2010-2013

Além de códigos de ética nacionais, documentos deontológicos internacionais, normas editoriais empresariais para uso de novas mídias e “ocorrências” no mercado e na categoria: estágio atual das “frentes”

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A propalada crise dos impressos em particular e do jornalismo em geral

Crise de negócios, de legitimidade e de confiança

Crise sistêmica

Cenário de terra arrasada

Sob o signo da crise Tensão financeira,

instabilidade política, adaptação a novos paradigmas culturais e adoção de novos modelos tecnológicos

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Complicadores atuais

Sistemas facilitadores de produção e publicização de conteúdos digitais Novos atores no cenário Perda de exclusividade: blogueiro = jornalista? Rechaço inicial das novas mídias “Aceitação” da nova situação Absorção e tentativa de reordenamento de práticas e condutas

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Mais complicadores

Fortalecimento de uma cultura de compartilhamento de arquivos/conteúdos Sites de relacionamento + império das redes Barateamento e popularização de PCs Aumento da oferta de internet em banda larga Emergência de dispositivos móveis de comunicação: convergência e mobilidadeMultimidialidade e conectividade

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Debate sobre a subsistência

Aspectos da técnica podem ser menos fundamentais hoje para definir o que é Jornalismo

Necessário um deslocamento no debate da crise

Fundamentos da atividade passam a “valer mais” na discussão

Conjunto de valores que sustentam uma identidade profissional, um ethos jornalístico

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Grupos, condutas e valores

Coletivos se organizam, fixam valores Regras: tensões e negociações na comunidade Profissionais e organizações avaliam as condutas de seus pares, definem objetivos e papeis, apontam balizas para comportamentos Processo com dinâmica própria Construção simbólica coletiva, assunção de valores comuns Contrato coletivo de conduta = códigos de ética

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A natureza dos códigos

Regramento: funcionam como gramáticas Definem padrões de ação Circulam publicamente: preocupações sociais Têm legitimidade corporativa Têm relevância social Muito limitados na aplicação e funcionamento Instrumentos de aconselhamento/orientação Não garantem melhores atitudes Dependem da consciência/fator humano

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Estudos e abordagens

Os códigos de ética representam só uma parte dos esforços coletivos para dar mais retidão às condutas pessoais

Levantamentos referenciais:Bruun (1979), Goodwin (1993), Laitila (1995), Christians (1998), Bertrand (2002), Son (2002), Himelboim & Limor (2008), Christofoletti (2003; 2008), Tóffoli (2008)

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Um retorno ao objeto Apesar dos estudos anteriores, a necessidade de retornar ao objeto, agora com o foco nos valores

As novas mídias abalam os valores historicamente consolidados nas redações? O ingresso de novos atores fragiliza o ethos de repórteres e editores? É preciso reformar códigos de conduta?

Perguntas ainda latejantes...

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As minhas questões aquiFoco da pesquisa: valores que ajudam a sustentar códigos no Brasil e apropriações das novas mídias pelos grupos de comunicação tradicionais

Quais são os valores de base dos códigos? Como as empresas estão adaptando as instruções de conduta de seus jornalistas às novas mídias?

Propósito: Fazer emergir os valores específicos dos documentos jornalísticos e entrever possibilidades de novos ordenamentos éticos

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Método: critérios e etapas

Amostra: 4 códigos de ética classistas nacionais ANJ + ANER + Abert + Fenaj Critérios da amostra: legitimidade, representatividade, abrangência, reconhecimento público Leitura dos códigos e extração dos valores com base na Análise de Conteúdo (BARDIN, 1997) Cotejamento das categorias (valores)

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O que são valores, então?

Viés da filosofia moral Juízos das ações humanas, com base em definições de bem e mal, certo e errado Balizas para tomada de decisão em dilemas Marcos de orientação de conduta Vetores para boas escolhas, boas ações, bons resultados ou consequências dos atos Ligeiramente distintos de virtudes (qualidades positivas), embora correlacionados

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Códigos: aproximações 1

Documentos da ANJ e ANER: muito semelhantes, superficiais e meramente indicativos de valores; concordam em vários aspectos ANJ: genérico, sucinto, 10 instruções apenas ANER: sintético, nem se intitula um “código” e lista apenas 8 princípios recomendados aos seus filiados

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Códigos: aproximações 2 Abert: código efetivo, com 6 capítulos e 34 artigos. Bem detalhado, prevê até mesmo funcionamento de comissão de ética e trâmite de processos ético-disciplinares Como radiodifusão envolve entretenimento também, considerei apenas capítulos dos princípios gerais (1) e dos noticiários (4) Fenaj: 4ª versão do documento, recente, abrangente, voltado ao profissional e não à empresa. Tem cinco capítulos e 19 artigos

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Valores identificados (1)Valor Código ANJ Código ANER Código Abert Código

Fenaj

Independência editorial X X X

Liberdade de imprensa X X X X

Verdade nas informações X X X

Interesse público X X

Direitos Humanos X X X

Democracia X X X X

Livre iniciativa X X X

Diversidade de opinião X X X

Pluralidade informativa X X X

Direito ao contraditório e direito de resposta X X X

Sigilo de fontes X X X X

Respeito à privacidade X X X

Correção de erros X

Diferenciação do material jornalístico do publicitário X X X

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Valores identificados (2)Valor Código ANJ Código ANER Código Abert Código Fenaj

Unidade nacional X

Convivência pacífica com comunidade internacional X

Concorrência X

Responsabilidade pelos conteúdos veiculados X

Zelo pelos conteúdos X

Direito à informação X

Precisão e Correção X

Responsabilidade social do jornalista X

Contra arbítrio, opressão, autoritarismo, e corrupção X

Respeito ao direito autoral e intelectual do jornalista X

Oposição à morbidez e ao sensacionalismo X

Não a conflitos de interesse X

Presunção de inocência X

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O que se “vê” pelos códigos Preocupações dos grupos sobre as condutas de seus membros Como essas comunidades se enxergam no campo ético-moral e como definem seus limites de atuação

Busca de integração às novas mídias, redes sociais

Incentivo à participação da audiência, aproximação mais efetiva com esses públicos, adoção de ferramentas que intensifiquem um relacionamento mais informal com as pessoas.

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Netiquetas e mais ordenamentos A vida em rede exigiu o estabelecimento de regras de comportamento dos usuários para um convívio mínimo: netiqueta Ética computacional + ética geral + ética da comunicação >>>>> netiqueta Primeiras: ainda na época da Usenet (1970-80) Fixação de regras não só por questões culturais, sociais, morais, políticas. Técnicas também (largura de banda, restrições de navegação...) Também coletiva, colaborativa e legitimada. Funcionou como direito consuetudinário...

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Guidelines internacionais Grupos de comunicação percebem a necessidade de orientar condutas nas redes BBC é um dos melhores exemplos. Dispõe de guidelines, produzidas por seu staff, discutidas e revisadas a cada 5 anos. Versão mais recente: 2010. BBC Editorial Guidelines: valores e padrões para o grupo e suas mídias. Versão anterior, capítulo à parte. Agora, reabsorvido. Orienta uso de webcams, reuso de material da web, oferta de links de terceiros em sites/blogs... Reuters também dispõe. NYT avança em regras.

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Normas em O Estado de S.Paulo

Mercado brasileiro de mainstream media desperta para esta necessidade: país é o segundo em adeptos de redes sociais no mundo. Maio de 2007: Estadão cria normas de condutas para blogs ligados ao portal. Responsabilidade Online. Não remete a práticas jornalísticas e mais se assemelha a uma netiqueta. Ainda não evoluiu para ser uma política editorial, daí a dificuldade de se extrair dessas normas valores para esta pesquisa.

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As orientações da Folha Setembro de 2009: direção da Folha de S.Paulo envia a seus profissionais um comunicado com regras para uso de blogs e redes sociais: Seguir princípios do Projeto Folha, “evitando assumir campanhas e posicionamentos partidários” Não devem colocar na rede conteúdos de colunas e reportagens exclusivas. “Esses são reservados apenas para os leitores da Folha e assinantes do UOL”. Blogs podem fazer menção... Sucintas as regras reforçam 3 valores: imparcialidade, isenção e exclusividade.

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Normativas da Globo Setembro de 2009: Rede Globo lançou normativa para uso de blogs e redes sociais. Proibia “divulgação ou comentários sobre temas direta ou indiretamente relacionados às atividades ligadas à Globo, ao mercado de mídia ou qualquer outra informação e conteúdo obtidos em razão do relacionamento com a Globo”. Nenhum de seus contratados pode ter blog, contas no Twitter ou análogos, vinculados a outros veículos de comunicação. Reações dos artistas principalmente.

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“Diálogo com iguais” Tentativa de apagar focos de incêndio: diretor de CGC Luis Erlangher envia mensagem a influentes da blogosfera brasileira, reforçando o “canal de diálogo com os formadores de opinião desse novo universo”, argumentando que as regras “já se aplicam a qualquer mídia tradicional”, e que elas atuam para “proteger nosso conteúdo”. Tática reforça valores como exclusividade, propriedade intelectual, mas reconhece também tratamento igualitário com blogueiros. Aproximação

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Manual para as eleiçõesJunho de 2010: manual O Globo para coberturas eleitoraisInvoca valores como equilíbrio, independência e pluralidadeVeta participação em campanhas eleitorais, manifestações de preferência política em roupas, automóveis ou contas pessoais online: “qualquer conteúdo publicado nas redes pode ser associado à linha editorial do jornal”. Proíbe RTs com "conteúdos publicados por partidos políticos ou candidatos". Nos sites de relacionamento, jornalistas devem ser “equilibrados” ao adicionar perfis políticos.

Esses valores não são próprios das novas mídias, mas reconhecem nelas planos de sua realização.

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Valores e atualização do ethos. Esforços iniciais para enfrentar desafios éticos. Cuidados gerais. Tendem a ser aperfeiçoados a curto e

médio prazo, fazendo emergir valores para uma deontologia jornalística

. Demandas da redação + público pressionam as empresas a criar soluções para jornalismo mais aberto, plural, ligado aos interesses das audiências

. Subsistência: diálogo mais horizontalizado com público, novos pactos de confiança/credibilidade, convivência com outros é processo irreversível.

Novos valores podem atualizar o ethos e contribuir com novos capítulos para esta história

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Referências

BARDIN, L. Análise de Conteúdo. Lisboa: Edições 70, 1997BERTRAND, Claude-Jean. O arsenal da democracia. Bauru: Edusc, 2002BRUNN, L. Profesional Codes in Journalism. Viena: International Organization of Journalists, 1979 CHRISTIANS, Clifford. Media Ethics: cases and moral reasoning. New York: Longman, 1998CHRISTOFOLETTI, Rogério. Ética no jornalismo. São Paulo: Contexto, 2008CHRISTOFOLETTI, Rogério. Monitores de Mídia: como o jornalismo catarinense percebe seus deslizes éticos. Florianópolis-Itajaí: Ed.UFSC-Ed.Univali, 2003CHRISTOFOLETTI, Rogério. A preocupação com a ética: tradição e futuro. IN: BALDESSAR, Maria José; CHRISTOFOLETTI, Rogério. Jornalismo em Perspectiva. Florianópolis: Insular, 2005GOODWIN, Eugene H. Procura-se ética no jornalismo. Rio de Janeiro: Nórdica, 1993HIMELBOIM, Itai; LIMOR, Yehiel. Media perception of freedom of the press: a comparative international analysis of 242 codes of ethics. Journalism, 2008, 9 (3): 235-265LAITILA, T. Journalists Codes of Ethics in Europe. European Journal of Communication, 10 (4)MOUNIER, Pierre. Os donos da rede: as tramas políticas da internet. São Paulo: Loyola, 2006SON, T. Leaks: How do codes of ethics adreess them? Journal of Mass Media Ethics, 17 (2): 155-173TÓFOLI, Luciene. Ética no jornalismo. Petrolis: Editora Vozes, 2008