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Comunicação e Expressão Estratégias de leitura e técnicas de apresentação I – Estratégias de leitura: Aspectos teóricos: Podemos considerar o texto como um elemento que procura alterar as competências do leitor por meio do conteúdo e da forma com que expressa as ideias. As competências podem ser esquematizadas como a seguir: As competências ou falta delas geram sentimentos de completude ou de incompletude nos sujeitos: O sujeito quer, deve, pode e sabe fazer algo: Competência garantida; Sentimentos de completude: felicidade, confiança e satisfação. O sujeito quer, mas não deve; ou pode, mas não sabe fazer algo: Competência comprometida; Sentimentos de incompletude: angústia, desconfiança e insatisfação. Os textos propõem esquemas de manipulação do sujeito: Essas estratégias estão ligadas a formações ideológicas, que são sistemas (conjunto complexo) cujas características são:

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Comunicação e Expressão

Estratégias de leitura e técnicas de apresentação I – Estratégias de leitura: Aspectos teóricos: Podemos considerar o texto como um elemento que procura alterar as

competências do leitor por meio do conteúdo e da forma com que expressa as ideias. As competências podem ser esquematizadas como a seguir:

As competências ou falta delas geram sentimentos de completude ou de

incompletude nos sujeitos: • O sujeito quer, deve, pode e sabe fazer algo:

• Competência garantida; • Sentimentos de completude: felicidade, confiança e satisfação.

• O sujeito quer, mas não deve; ou pode, mas não sabe fazer algo: • Competência comprometida; • Sentimentos de incompletude: angústia, desconfiança e insatisfação.

Os textos propõem esquemas de manipulação do sujeito:

Essas estratégias estão ligadas a formações ideológicas, que são sistemas

(conjunto complexo) cujas características são:

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• de representações, normas, regras e preceitos, que procuram explicar a realidade e regular o comportamento dos homens;

• sociais, articulados por classes e reúnem valores, que categorizam o mundo;

• que possuem regularidade de valores; • que ditam deveres, quereres, poderes e saberes aos indivíduos; e • que refletem interesses e conflitos entre classes.

Etapas que devem ser consideradas na leitura do texto:

1) Determinar as oposições semânticas mínimas: elementos desejáveis e

indesejáveis que o texto propõe.

2) Identificar a forma como o texto tenta manipular o sujeito ou alterar a competência dele com base nas formações ideológicas:

Provocação: imagem negativa do destinatário .

Sedução: imagem positiva do destinatário

Intimidação: castigo para o destinatário

Tentação: prêmio para o destinatário.

3) Avaliar os recursos que o texto usa para fabricar ilusão de verdade e das fontes

de que ele extrai os elementos que usa para convencer o leitor/interlocutor.

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Aplicação prática – leitura de textos Texto I

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Texto II

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Texto III

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Texto IV:

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Texto V Pra que discutir com madame?

RUY CASTRO

RIO DE JANEIRO - Deu no jornal: João Gilberto, o cantor, está ameaçado de despejo do apartamento alugado em que mora no Leblon. A proprietária é uma senhora da sociedade carioca e internacional, com título de condessa e dona de vários imóveis. O problema não envolve dinheiro, mas o que a senhoria acha um abuso: ele não deixa ninguém entrar ali, nem para fazer obras que ela julga necessárias.

O que, para muita gente, pode ser uma surpresa é a revelação de que João Gilberto, que fará 80 anos em junho próximo, não tem casa própria. Não tem, nunca teve. É verdade que, em mais de uma ocasião, fez contratos que lhe teriam permitido comprar à vista o que quisesse e resolver o problema. Mas a volúpia da propriedade não é seu estilo.

Nem de outros do seu círculo. Vinicius de Moraes passou a vida morando nas casas de sua família na Gávea ou pagando aluguel. Lucio Alves, um dos dois ou três maiores cantores da história deste país, estava sendo despejado no ano em que morreu, 1993. E não me consta que, algum dia, João Donato, Johnny Alf, Newton Mendonça, fossem proprietários - a ideia de assinar escrituras, pagar imposto predial e votar em reuniões de condomínio parecia não combinar com o ideário da bossa nova.

João Gilberto não gosta de interferências no seu dia a dia. Eu também não gosto, assim como você e todo mundo. João Gilberto talvez apenas radicalize esse gosto pela reclusão, no que está no seu direito. Em compensação, nunca processou jornalistas ou escritores que ousaram "violar" sua intimidade.

A condessa devia conhecer João Gilberto quando o aceitou como inquilino. Cabe-lhe, portanto, relaxar e, no futuro, orgulhar-se de que ele morou num de seus imóveis, entre cujas paredes quantas maravilhas não criou ao violão. Mas, se madame não vê isto, diria o samba, pra que discutir com madame?

Folha de São Paulo, 29/01/2011.

Com base na terminologia proposta e nos textos analisados, responda: a) Quais são os elementos desejáveis e indesejáveis que o autor do texto apresenta aos leitores? b) Procure identificar no texto uma estratégia de manipulação que o autor utiliza. c) Identifique elementos referentes a regras, preceitos, formas de agir que são postos em conflito no texto e procure relacioná-los com outros textos que façam parte da memória coletiva.

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Exercícios de argumentação

Relação lógica e refutação: Seja a relação A é a causa de B e pode ser traduzida por: A limitação da velocidade é a causa da diminuição do número de acidentes. Alguém pode não compartilhar desse ponto de vista, caso se trate de um adepto

da velocidade nas estradas. Podemos ver maneiras de se refutar essa afirmação: Mesmo sem A teria havido B, ou seja, mesmo sem a limitação de velocidade teria

havido a diminuição do número de acidentes.

Retomada da tese do adversário:

Queriam convencer-nos de que a redução do número de acidentes registrados nos três primeiros meses do ano teria sido consequência das medidas de limitação de velocidade.

Você não aceita esta explicação e apresenta a sua:

Na realidade, teria havido certamente o mesmo número de acidentes se, durante esse período, não se tivesse observado uma nítida redução do tráfego e se as pessoas não tivessem utilizado o cinto de segurança.

Conclusão: A explicação pela qual a limitação da velocidade nas estradas seria a causa da diminuição do número de acidentes não pode, pois, ser sustentada.

Outras maneiras de se apresentar essa refutação: Ora, todos sabem de sobra que de qualquer maneira os acidentes teriam

diminuído, porque o tráfego registrou uma certa redução nesse período e porque as pessoas começaram a usar o cinto de segurança.

Ou então: Mesmo se esta medida não tivesse sido tomada, os acidentes teriam diminuído de qualquer modo, já que o tráfego experimentou uma certa redução nesse período e as pessoas começaram a usar o cinto de segurança.

Segunda maneira de marcar objeção: A não está na origem de B, ou seja, mesmo

com A não houve B, ou seja, mesmo com a limitação de velocidade nas estradas não houve a diminuição do número de acidentes.

Retomada da tese do adversário:

Queriam convencer-nos de que a redução do número de acidentes registrados nos três primeiros meses do ano teria sido consequência das medidas de limitação de velocidade.

Você não aceita esta explicação e apresenta a sua:

Ora, as reduções de acidentes semelhantes já foram registradas em outras épocas quando não era obrigatória a limitação de velocidade. Também em outros países nos quais esta limitação foi adotada não houve diminuição do número de acidentes.

Conclusão: Não se pode, pois, considerar esta medida como a causa da

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redução do número de acidentes. Deveríamos antes considerar a redução do tráfego nesse mesmo período e no fato de que as pessoas começaram a fazer uso do cinto de segurança como causas da redução do número de acidentes.

Exercício: O quadro a seguir apresenta uma sequência de mecanismos de conexão de ideias acompanhados de argumentos.

Seguindo esta sequência

E colocando em ordem os argumentos do prefeito

1) É verdade que prefiro que as compras sejam feitas em nossa cidade

2) Mas me

surpreendo com o fato de

o pequeno comércio enfrentará dificuldades

3) Todo mundo sabe muito

bem que

acusaram de desejar acabar com os pequenos comerciantes,

4) Mesmo que cada vez mais, as pessoas se dirigirem aos supermercados dos municípios vizinhos para suas compras.

5) De qualquer

modo

aceitei a instalação de um supermercado em nosso município,

6) Com efeito, não há razão para inquietação

7) Não se trata, pois, de apenas tirar dos pequenos comerciantes sua clientela,

8) Mas de haja a atração, com esse grande mercado, de consumidores de outras localidades para cá

9) Afinal, não só [os pequenos comerciantes] terão a chance de reconquistar os clientes antigos aprimorando os serviços,

10) Como ainda conservar aqueles que habitualmente fazem compras em outras cidades,

11) Além de conquistar os que forem atraídos para cá de outros lugares,

Caso I: O Prefeito deve redigir um documento destinado a uma Associação de Consumidores favoráveis à instalação de um supermercado no município. Organize os argumentos da coluna 2 de forma adequada para a ocasião, seguindo a sequência dada de operadores argumentativos na coluna 1.

Aceitei a instalação de um supermercado em nosso município. É verdade que me acusaram de desejar acabar com os pequenos comerciantes, mas me surpreendo com o fato de cada vez mais as pessoas se dirigirem aos supermercados dos municípios vizinhos para suas compras. Todo mundo sabe muito bem que o pequeno comércio enfrentará dificuldades mesmo que haja a atração, com esse grande mercado, de consumidores de outras localidades para cá, de qualquer modo prefiro que as compras sejam feitas em nossa cidade. Com efeito não há razão para inquietação. Não se trata, pois, de apenas tirar dos pequenos comerciantes sua clientela, mas de conservar os clientes que habitualmente fazem compras em outros locais, afinal, não só os pequenos comerciantes terão a chance de reconquistar os clientes antigos aprimorando os serviços, como ainda conquistar os que forem atraídos para cá de outros lugares, além de conservar aqueles que habitualmente fazem compras em outras cidades. Portanto, o supermercado representa um bem para os consumidores de nossa cidade.

Caso II: Os comerciantes de uma pequena cidade souberam, por acaso, que seria instalado um grande supermercado na sede do município. Revoltados, dirigiram-se à

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prefeitura. O prefeito recebeu-os e argumentou em favor do supermercado. Organize os argumentos da coluna 2 de forma adequada para a ocasião, seguindo a sequência dada de operadores argumentativos na coluna 1.

Seguindo esta sequência

E colocando em ordem os argumentos do prefeito

1) É verdade que prefiro que as compras sejam feitas em nossa cidade

2) Mas me

surpreendo com o fato de

o pequeno comércio enfrente algumas dificuldades no início

3) Todo mundo sabe

muito bem que

acusarem-me de desejar acabar com os pequenos comerciantes

4) Mesmo que cada vez mais, as pessoas se dirigem aos supermercados de localidades vizinhas para suas compras

5) De qualquer

modo

aceitei a instalação de um supermercado em nosso município,

6) Com efeito, não vejo razão para inquietação

7) Não se trata, pois, de apenas tirar dos pequenos comerciantes a sua clientela,

8) Mas de atrair, com esse grande mercado, consumidores de outros lugares para cá

9) Afinal, não só vocês terão a chance de reconquistar seus clientes antigos aprimorando os serviços,

10) Como ainda poderão conservar aqueles que habitualmente fazem compras em outras cidades,

11) Além de conquistar os que forem atraídos para cá de outros lugares

É verdade que _____________________________________, mas me surpreendo com o fato de __________________________________________________________. Todo mundo sabe muito bem que, _____________________________________________________________. Mesmo que _____________________________________________________, de qualquer modo ___________________________________________________________. Com efeito, ______________________________________________________. Não se trata, pois, de _____________________________________________________________, mas de _____________________________________________________________. Afinal, não só _______________________________________________________________, como ainda _________________________________________________________________, além de _________________________________________________________________________.

Exercício de argumentação: Alguns empreiteiros desejam explorar uma pedreira e isso significa a destruição de

uma linda colina de uma cidadezinha não menos encantadora. Para protestar contra a realização desse projeto e lutar pela preservação da colina, constituiu-se uma comissão de defesa do meio ambiente.

O Diretor da empresa vai defender-se enviando comunicados à imprensa e respondendo aos membros da Associação.

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O diretor está seguro de si, sua posição é sólida (pretende dar a entender que não economizará dinheiro para minimizar os danos).

Retomada dos fatos A crítica da Associação, O desejo de prestar esclarecimentos.

Reconhecimento dos fatos acompanhado de um desmentido

A empresa causará transtornos à população A empresa reduzirá esses transtornos ao mínimo.

Provas Caminhões equipados com dispositivos que impedem a disseminação de poeira. O tráfego será feito fora do ambiente urbano. As áreas no entorno da obra serão reflorestadas.

Conclusão Surpresa com a acusação de destruição. Esforço para preservar o meio ambiente.

O diretor da empresa procura conciliar-se com seus adversários (quer gastar menos com estratégias para minimizar os danos).

Retomada dos fatos Habitantes da cidade apreensivos quanto à instalação da obra

Reconhecimento dos fatos

A obra ameaça causar transtornos à população

Provas Caminhões equipados com dispositivos que impedem a disseminação de poeira. O tráfego será feito fora do ambiente urbano. As áreas no entorno da obra serão reflorestadas.

Conclusão Reconhece que os resultados ainda são imperfeitos. Aponta um nítido progresso em relação ao passado.

Numa terceira situação, o diretor da empresa deverá, com os mesmos

argumentos, convencer os sócios de que a exploração da pedreira é lucrativa e, portanto, eles devem continuar a investir no negócio.