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Impressão gerada em 04/02/2011
Artigo - Federal - 2010/1892
Consultório médico, clínica médica ehospital. Conceitos.Kiyoshi Harada*
Elaborado em 01/2010
1. Introdução
A falta de definição legal do que sejam consultório médico,
clínica médica e hospital vem trazendo insegurança jurídica
aos contribuintes prestadores de serviços.
Tanto a legislação tributária federal (IRPJ e CSLL), quanto a
legislação tributária municipal (ISS) conferem tratamentos
tributários diferenciados, resultando em maior ou menor
carga tributária, dependendo da conceituação que venha a ser
dada a cada um desses estabelecimentos. Senão vejamos.
a) Na área do IRPJ e CSLL
Dispõem os artigos 15, § 1º, III, a e 20 da Lei nº 9.249/95:
"Art. 15. A base de cálculo do imposto, em cada mês, será
determinada mediante a aplicação do percentual de oito por
cento sobre a receita bruta auferida mensalmente, observado
o disposto nos arts. 30 a 35 da Lei nº 8.981, de 20 de janeiro
de 1995.
§ 1º Nas seguintes atividades, o percentual de que trata este
artigo será de:
(...)
III - trinta e dois por cento, para as atividades de:
a) prestação de serviços em geral, exceto a de serviços
hospitalares."
"Art. 20. A base de cálculo da contribuição social sobre o
lucro líquido, devida pelas pessoas jurídicas que efetuarem o
pagamento mensal a que se referem os arts. 27 e 29 a 34 da
Lei nº 8.981, de 20 de janeiro de 1995, e pelas pessoas
jurídicas desobrigadas de escrituração contábil,
corresponderá a doze por cento da receita bruta, na forma
definida na legislação vigente, auferida em cada mês do
ano-calendário, exceto para as pessoas jurídicas que
exerçam as atividades a que se refere o inciso III do § 1º do
art. 15, cujo percentual corresponderá a trinta e dois por
cento."
b) Na área do ISS
A lei de regência nacional do ISS, LC nº 116/2003,
contempla sob o item 4 os serviços de saúde, assistência
médica e congêneres abrangendo 23 subitens, dentre os
quais, hospitais, clínicas, laboratórios, sanatórios,
manicômios, casas de saúde, prontos-socorros, ambulatórios
e congêneres (subitem 4.03), acupuntura (subitem 4.05),
enfermagem, inclusive serviços auxiliares (subitem 4.06),
obstetrícia (subitem 4.11), odontologia (subitem 4.12) etc.
A lei do Município de São Paulo, Lei nº 13.701/2003,
reproduz todos os subitens do item 4 constante da LC nº
116/2003 fazendo incidir a alíquota de 2% sobre tais
serviços.
Entretanto, nem todos os municípios adotaram alíquota
uniforme para os diferentes serviços abrangidos pelo item 4
da lista de serviços anexos à LC nº 116/2003.
É o caso, por exemplo, da Lei nº 10.630/2003 do Município
de Juiz de Fora que tributa os serviços de medicina e
biometria (consultas médicas) abrangidos pelo subitem 4.01
em 5%, ao passo que, os serviços prestados por clínicas
médicas abrangidos pelo subitem 4.03 são tributados em 3%.
Daí a relevância da correta conceituação do que sejam
consultórios médicos, clínicas médicas e estabelecimentos
hospitalares.
2. Conceito de estabelecimento hospitalar para finsde IRPJ e CSLL
O conceito de hospital para fins de tributação não é preciso.
Não há definição legal em sentido estrito.
O que existem são normas complementares editadas pela
RFB que periodicamente vêm sendo modificadas para
restringir o alcance e o conteúdo da expressão "serviços
hospitalares".
2.1 Evolução legislativa
A IN nº 306/2003 da RFB, pelo seu art. 23 adotou, para fins
de incidência do IRPJ, um conceito bastante amplo do que
sejam serviços hospitalares abarcando todos os serviços
prestados por pessoas jurídicas, diretamente ligadas à atenção
e assistência à saúde, que possuam estrutura física condizente
para execução de uma das atividades ou a combinação de
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uma ou mais atribuições de que trata a Parte II, do Capítulo
2, da Portaria GM nº 1.884, de 11 de novembro de 1994, do
Ministério da Saúde, relacionadas nos incisos seguintes.
Seguem-se as enumerações das atividades em cinco incisos,
cada um deles contendo inúmeros itens e subitens,
abrangendo, dentre outros, os serviços de imunizações;
atendimento domiciliar; ações de educação para saúde
mediante palestras, demonstração e treinamento in loco,
campanhas; vigilância sanitária; atendimento eletivo de
assistência à saúde em regime ambulatorial; assistência em
regime de internação; prestação de assistência nutricional e
de assistência alimentar aos recém-nascidos etc.
Percebe-se, pois, que o conceito de serviços hospitalares está
vinculado à finalidade dos diversos serviços médicos
prestados.
Essa IN nº 306/2003 foi substituída pela IN nº 480/2004,
cujo art. 27 considerou como serviços hospitalares apenas
aqueles prestados por estabelecimentos hospitalares. O § 1º
desse artigo considerou como estabelecimentos hospitalares
aqueles estabelecimentos com pelo menos 5 (cinco) leitos de
internação de pacientes, que garantam o atendimento básico
do diagnóstico e tratamento, com equipe clínica organizada e
com prova de admissão e assistência permanente prestada
por médicos, que possuam serviços de enfermagem e
atendimento terapêutico direto ao paciente, durante 24 horas,
com disponibilização de serviços de laboratório e radiologia,
serviços de cirurgia e/ou parto, bem como registros médicos
e organizados para a rápida observação e acompanhamentos
dos casos.
Percebe-se, pois, que houve mudança de critério na
conceituação de serviços hospitalares que passou a basear-se
no local da prestação do serviço em contraposição ao critério
anterior baseado na finalidade do serviço prestado.
O art. 27 da IN nº 480/2004 sofreu modificações sucessivas
pelas INs ns 539/2005 e 791/2007.
A IN nº 791/2007, para conceituação de serviços
hospitalares, mantém o critério do local da prestação de
serviços (estabelecimento hospitalar) adotado pela IN nº
480/2004 em sua redação original, porém, conjugando o
disposto no caput do art. 27 com o seu § 1º. O parágrafo
único do art. 27 da IN nº 480/2004, com a redação conferida
pela IN nº 791/2007, incluiu nos serviços hospitalares
aqueles prestados por pessoas jurídicas: a) prestadoras de
serviços pré-hospitalares, na área de urgência, realizados por
meio de UTI móvel, instaladas em ambulâncias de suporte
avançado (Tipo "D") ou em aeronave de suporte médico
(Tipo "E"); b) prestadoras de serviços de emergências
médicas, realizados por meio de UTI móvel, instaladas em
ambulâncias classificadas nos Tipos "A", "B", "C" e "F", que
possuam médicos e equipamentos que possibilitem oferecer
ao paciente suporte avançado de vida.
Essas duas equiparações não implicam alteração do critério
do local da prestação de serviços, pois essas UTIs móveis
podem ser consideradas extensão do estabelecimento
hospitalar.
Finalmente, o ADI da RFB nº 19/2007, para efeito de
enquadramento no conceito de serviços hospitalares a que se
refere o art. 15, § 1º, III, a, da Lei nº 9.249/95, adotou na
integra o conceito previsto no art. 27 da IN nº 480/2004 com
a nova redação conferida pela IN nº 791/2007 retro
mencionada.
Quer nos parecer que a conceituação mais adequada do que
sejam serviços hospitalares é a que leva em conta a
finalidade do serviço prestado, ou seja, a de promover o
atendimento à saúde que, na dicção do art. 196, da CF é
direito e dever de todos e do Estado. A adoção do conceito
previsto no ADI nº 19/2007 implica exclusão das clínicas
médicas, das sociedades civis de prestação de serviços
odontológicos e de cirurgias maxifaciais de serviços
odontológicos e de micro cirurgia ocular, bem como de
serviços de apoio a diagnóstico médico por imagem
(radiologia, ecografia, tomografia computadorizada etc).
2.2 Da jurisprudência
A jurisprudência do STJ, refletindo os dois critérios previstos
nas normas complementares editadas pela RFB, abriga duas
correntes: a que conceitua os serviços hospitalares tendo em
vista o local da prestação (no estabelecimento do hospital) e
a que leva em conta a finalidade dos serviços prestados.
Entre os julgados que partilham a tese do local da prestação
do serviço podemos citar o Resp nº 786.569/ RS, cuja ementa
é a seguinte:"TRIBUTÁRIO. IMPOSTO DE RENDA. CONTRIBUIÇÃO
SOCIAL SOBRE O LUCRO. BASE DE CÁLCULO.
ATIVIDADES HOSPITALARES.
1. O art. 15, § 1º, III, "a", da Lei nº 9.249/95, que reduz a
base de cálculo e resulta em menos valor a recolher de
pessoas jurídicas que desenvolvem atividades hospitalares,
deve ser interpretado restritivamente, para abranger, além
dos próprios hospitais, apenas os estabelecimentos que
dispõem de "estrutura material e de pessoal destinada a
atender a internação de pacientes" (Resp nº 786.569/RS,
Primeira Seção, Rel. Min. Teori Albino Zavaski, DJU de
30.10.06).
2. Recurso especial provido".
No mesmo sentido: Resp nº 901.813/ PR e Resp nº
841.131/RS.
Acolhendo a critério da finalidade da prestação de serviço
para conceituação do que sejam serviços hospitalares
podemos citar o Resp nº 951.251/PR cuja ementa é a
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seguinte:"PROCESSUAL CIVIL E TRIBUTÁRIO. IMPOSTO DE
RENDA. LUCRO PRESUMIDO. CONTRIBUIÇÃO SOCIAL
SOBRE O LUCRO. BASE DE CÁLCULO. ARTS. 15, § 1º, III,
"A", E 20 DA LEI Nº 9.249/95. SERVIÇO HOSPITALAR.
INTERNAÇÃO. NÃO-OBRIGATORIEDADE.
INTERPRETAÇÃO TELEOLÓGICA DA NORMA.
FINALIDADE EXTRAFISCAL DA TRIBUTAÇÃO.
POSICIONAMENTO JUDICIAL E ADMINISTRATIVO DA
UNIÃO. CONTRADIÇÃO. NÃO-PROVIMENTO.
1. O art. 15, § 1º, III, "a", da Lei nº 9.249/95 explicitamente
concede o benefício fiscal de forma objetiva, com foco nos
serviços que são prestados, e não no contribuinte que os
executa. Observação de que o Acórdão recorrido é anterior
ao advento da Lei nº 11.727/2008.
2. Independentemente da forma de interpretação aplicada,
ao intérprete não é dado alterar a mens legis. Assim, a
pretexto de adotar uma interpretação restritiva do dispositivo
legal, não se pode alterar sua natureza para transmudar o
incentivo fiscal de objetivo para subjetivo.
3. A redução do tributo, nos termos da lei, não teve em conta
os custos arcados pelo contribuinte, mas, sim, a natureza do
serviço, essencial à população por estar ligado à garantia do
direito fundamental à saúde, nos termos do art. 6º da
Constituição Federal.
4. Qualquer imposto, direto ou indireto, pode, em maior ou
menor grau, ser utilizado para atingir fim que não se resuma
à arrecadação de recursos para o cofre do Estado. Ainda que
o Imposto de Renda se caracterize como um tributo direto,
com objetivo preponderantemente fiscal, pode o legislador
dele se utilizar para a obtenção de uma finalidade extrafiscal.
5. Deve-se entender como "serviços hospitalares" aqueles
que se vinculam às atividades desenvolvidas pelos hospitais,
voltados diretamente à promoção da saúde. Em regra, mas
não necessariamente, são prestados no interior do
estabelecimento hospitalar, excluindo-se as simples
consultas médicas, atividade que não se identifica com as
prestadas no âmbito hospitalar, mas nos consultórios
médicos.
6. Duas situações convergem para a concessão do benefício:
a prestação de serviços hospitalares e que esta seja
realizada por instituição que, no desenvolvimento de sua
atividade, possua custos diferenciados do simples
atendimento médico, sem, contudo, decorrerem estes
necessariamente da internação de pacientes.
7. Orientações da Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional e
da Secretaria da Receita Federal contraditórias.
8. Recurso especial não provido". (Resp nº 951251/PR, Rel.
Min. Castro Meira, DJe de 3/6/2009).
Na verdade essas posições divergentes do STJ refletem a
alteração de critérios para conceituação de serviços
hospitalares feitas por normas complementares baixadas pela
SRF por meio de inúmeras INs retro citadas.
2.3 Alteração da Lei nº 9.249/95
Entendo que aquelas INs que se apegam ao critério do local
da prestação de serviços (no prédio do Hospital) perderam
base legal a partir do advento da Lei nº 11.727, de
23-6-2008, referida na ementa retro transcrita, que conferiu
nova redação ao inciso III, do § 1º, do art. 15, da Lei nº
9.249/95, in verbis:"III- trinta e dois por cento, para as atividades de:
a) prestação de serviços em geral, exceto a de serviços
hospitalares e de auxílio diagnóstico e terapia, patologia
clínica, imagenologia, anatomia patológica e citopatologia,
medicina nuclear e análises e patologias clínicas, desde que
a prestadora destes serviços seja organizada sob a forma de
sociedade empresária e atenda às normas da Agência
Nacional de Vigilância Sanitária - ANVISA".
Como se vê, o novo texto não mais se apegou ao critério
físico (local da prestação do serviço) para definir o que são
serviços hospitalares, nem atribuiu competência à RFB pra
tanto.
3. Conceitos de consultório médico e de clínicamédica para fins do ISS
Examinemos, agora, os conceitos de clínica médica e de
consultório médico para efeito de tributação pelo ISS.
3.1 Consultório médico
Conforme de início esclarecido alguns municípios tributam
com alíquotas diferenciadas as clínicas médicas e os
consultórios médicos, razão pela qual imprescindível a
conceituação correta dessas atividades de saúde.
Consultório médico é o local (sala, conjunto, prédio) onde se
exerce as atividades previstas no subitem 4.01 da lista anexa
à LC nº 116/2003 (medicina e biomedicina). Medicina é o
ramo do conhecimento científico voltado para saúde. É um
conceito em aberto, pois a cada dia vem surgindo novas
descobertas no campo da saúde dando origem a novos ramos
específicos da ciência médica. A biometria é o ramo da
ciência médica que se dedica à mensuração dos seres vivos,
mais especificamente, ao cálculo da duração provável da
vida.
Esses atos médicos são praticados em consultório médico
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onde o profissional limita-se ao exame clínico do paciente
(consulta médica) prescrevendo as receitas ou requisitando
exames laboratoriais, ou ainda encaminhando o paciente para
clínicas ou hospitais especializados.
3.2 Clínica médica
Clínica médica difere de consultório médico por conter no
seu estabelecimento (prédio, conjunto) aparelhos de
diagnósticos, de radiologia, de ecografia, de tomografia
computadorizada etc. que requerem instalações próprias
diferenciadas das de um simples consultório médico. A
atividade ambulatorial é própria de uma clínica médica.
Difere, também, de estabelecimento hospitalar que abrange
as atividades de internação e de alimentação inexistentes nas
clínicas médicas.
Na prática, verifica-se o enquadramento das clínicas médicas
em consultórios médicos (alíquota mais elevada) a pretexto
de não existir leitos e serviços de alimentação próprios de
hospitais, sustentando que ambos (clínicas médicas e
hospitais) estão contidos no mesmo subitem 4.03.
Ora, laboratórios e pronto-socorros, também, estão elencados
no mesmo subitem 4.03 e notoriamente não fornecem
alimentação, nem dispõem de leitos como os hospitais, as
casas de saúde, os manicômios e os sanatórios.
4. Considerações finais
A caracterização de um consultório médico, de uma clínica
médica e de um hospital está, na verdade, relacionada com
os custos diferenciados na prestação de serviços de saúde. As
atividades realizadas em um consultório médico envolvem
custo menor que as realizadas em uma clínica médica, onde
se faz necessária a existência de aparelhos para diagnóstico
por meio de imagens (radiologia, ecografia, tomografia
computadorizada etc.). Os serviços hospitalares, por sua vez,
implicam custo maior que os das clínicas médicas por
necessitarem de uma infra-estrutura maior, inclusive, para
promover serviços de internação e de alimentação dos
pacientes.
Esses conceitos para fins de ISS só se revelam importantes
em municípios onde a legislação tributa com alíquotas
diferenciadas essas três atividades ligadas ao serviço de
saúde. Não é o caso do Município de São Paulo que tributa
todas elas com a mesma alíquota de 2%.
Nota: Kiyoshi Harada
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