315
UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO INSTITUTO DE EDUCAÇÃO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO LETÍCIA VANIN CONCEPÇÕES DE PROFESSORES EXPRESSAS NOS CONTEÚDOS E NAS METODOLOGIAS PROPOSTAS PARA O ENSINO E APRENDIZAGEM DA MATEMÁTICA NA 1ª E 2 a ETAPAS DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS EM ESCOLAS MUNICIPAIS DE CUIABÁ-MT CUIABÁ MT 2012

CONCEPÇÕES DE PROFESSORES EXPRESSAS NOS … · metodologia de investigação adotada foi a abordagem qualitativa de cunho interpretativo, na qual nos fundamentamos em Bogdan e Biklen

  • Upload
    dothu

  • View
    213

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: CONCEPÇÕES DE PROFESSORES EXPRESSAS NOS … · metodologia de investigação adotada foi a abordagem qualitativa de cunho interpretativo, na qual nos fundamentamos em Bogdan e Biklen

0

UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO

INSTITUTO DE EDUCAÇÃO

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO

LETÍCIA VANIN

CONCEPÇÕES DE PROFESSORES EXPRESSAS NOS

CONTEÚDOS E NAS METODOLOGIAS PROPOSTAS PARA

O ENSINO E APRENDIZAGEM DA MATEMÁTICA NA 1ª E 2

a

ETAPAS DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS EM

ESCOLAS MUNICIPAIS DE CUIABÁ-MT

CUIABÁ – MT

2012

Page 2: CONCEPÇÕES DE PROFESSORES EXPRESSAS NOS … · metodologia de investigação adotada foi a abordagem qualitativa de cunho interpretativo, na qual nos fundamentamos em Bogdan e Biklen

1

LETÍCIA VANIN

CONCEPÇÕES DE PROFESSORES EXPRESSAS NOS CONTEÚDOS E

NAS METODOLOGIAS PROPOSTAS PARA O ENSINO E

APRENDIZAGEM DA MATEMÁTICA NA 1ª E 2

a ETAPAS DA

EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS EM ESCOLAS MUNICIPAIS

DE CUIABÁ-MT

Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de

Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal

de Mato Grosso como requisito para obtenção do

título de Mestre em Educação na área de concentração

Teorias e Práticas Pedagógicas da Educação Escolar

Matemática, e da Linha de Pesquisa Educação em

Ciências e Matemática.

Orientadora: Profa. Dra. Marta Maria Pontin Darsie

Cuiabá - MT

2012

Page 3: CONCEPÇÕES DE PROFESSORES EXPRESSAS NOS … · metodologia de investigação adotada foi a abordagem qualitativa de cunho interpretativo, na qual nos fundamentamos em Bogdan e Biklen

2

Dados Internacionais de Catalogação na Fonte

Ficha Catalográfica elaborada pela Bibliotecária Ana Cláudia P. Rubio CRB- 2361

Permitida a reprodução parcial ou total desde que citada à fonte

V258c

Vanin, Letícia.

Concepções de professores expressas nos conteúdos e nas

metodologias propostas para o ensino e a aprendizagem da Matemática

na 1ª e 2ª Etapas da Educação de Jovens e Adultos em escolas

municipais de Cuiabá-MT./ Letícia Vanin. -- Cuiabá (MT): Instituto de

Educação/IE, 2012.

314 f.: il.; 30 cm.

Dissertação (Mestrado em Educação). Universidade Federal de Mato

Grosso. Instituto de Educação. Programa de Pós - Graduação em

Educação.

Orientadora: Profª. Drª. Marta Maria Pontin Darsie.

Inclui bibliografia.

1. Educação de jovens e adultos (EJA). 2. Educação de Jovens e

Adultos – Matemática – Ensino. 3. Educação de Jovens e Adultos –

Matemática – Conteúdo. I. Título.

CDU: 374.7:51

Page 4: CONCEPÇÕES DE PROFESSORES EXPRESSAS NOS … · metodologia de investigação adotada foi a abordagem qualitativa de cunho interpretativo, na qual nos fundamentamos em Bogdan e Biklen

3

Page 5: CONCEPÇÕES DE PROFESSORES EXPRESSAS NOS … · metodologia de investigação adotada foi a abordagem qualitativa de cunho interpretativo, na qual nos fundamentamos em Bogdan e Biklen

4

DEDICATÓRIA

AO MEU ESPOSO,

Victor de Souza Maccarini, registro aqui minha

gratidão por seu incentivo, companheirismo,

paciência e amor em todos os momentos dessa

caminhada.

AOS MEUS PAIS,

Marli Salete Vanin e Elton Antônio Vanin, pelo

exemplo de vida, amor, coragem e determinação e que

me legaram como herança, me fazendo acreditar que

tudo é possível...

Page 6: CONCEPÇÕES DE PROFESSORES EXPRESSAS NOS … · metodologia de investigação adotada foi a abordagem qualitativa de cunho interpretativo, na qual nos fundamentamos em Bogdan e Biklen

5

AGRADECIMENTOS

A Deus e a Nossa Senhora Aparecida, fontes de toda inspiração e sabedoria, obrigada

pela proteção e saúde nesta caminhada. Obrigada pela oportunidade de ter desenvolvido este

trabalho e pela força nos momentos mais difíceis.

Ao meu querido esposo, Victor, pelo amor, compreensão e apoio incondicional.

Obrigada pelo companheirismo constante nesses seis anos juntos...

Aos meus pais Marli e Elton e ao meu irmão Pablo, obrigada por todo amor,

incentivo, cuidados e pelos esforços que não foram dispensados para que eu pudesse chegar

até aqui, contribuindo para ser quem eu sou.

À Prof.ª Dr.ª Marta Maria Pontin Darsie, minha orientadora, pela orientação no

desenvolvimento deste trabalho, pela rica contribuição para a minha formação Profissional e

pela confiança. Muito Obrigada!

Ao Prof. Dr. Cristiano Alberto Muniz e à Prof.ª Dr.ª Rute Cristina Domingos da

Palma, pela leitura respeitosa e criteriosa, e pelas sugestões que muito contribuíram para a

construção e conclusão deste estudo.

À professora Maria da Conceição Ferreira Reis Fonseca, da Universidade Federal de

Minas Gerais, por ter colaborado comigo em uma apresentação de uma versão do trabalho no

XV EBRAPEM.

Às famílias Vanin, Possel, Maccarini, Nazari, Lopes de Souza e a todos os amigos e

ex-colegas de trabalho e da graduação que residem em minha cidade natal Passo Fundo-RS,

que mesmo distantes sempre incentivaram e torceram por mim em mais esta etapa de minha

vida. Mesmo estando longe, nunca me esqueci de vocês. Obrigada pelo carinho!

A grande amiga e colega Osinéia Albina Brunelli, por ter lido, contribuído e

acompanhado de perto as diversas versões deste trabalho, ajudando-me a vencer os meus

medos, minhas dificuldades e minhas angústias. Obrigada por tudo!

Aos amigos e amigas que fiz aqui no mestrado: Euguidson, Eliane, Izolda, Daltron,

Jacqueline, Eliana... Especialmente gostaria de agradecer a Michelle pelo apoio e pelos

Page 7: CONCEPÇÕES DE PROFESSORES EXPRESSAS NOS … · metodologia de investigação adotada foi a abordagem qualitativa de cunho interpretativo, na qual nos fundamentamos em Bogdan e Biklen

6

momentos de descontração que foram muito importantes nessa caminhada. Com vocês, o

mestrado foi mais divertido e enriquecedor!

A todos os colegas do Grupo de Estudos e Pesquisas em Educação Matemática

(GRUEPEM), pela acolhida, pela amizade, companheirismo e contribuições na pesquisa.

Aos colegas do Projeto Observatório da Educação com Foco em Matemática e

Iniciação às Ciências- Polo UFMT no qual fiz parte como bolsista. De modo especial aos

colegas Aloísio, Gresiela, Peterson, Maria do Socorro, Janíbia, Rogério, colaboradores e a

todos os professores das Escolas Estaduais Leovegildo de Melo e Dione Augusta Silva Souza.

Obrigada pelos momentos que passamos juntos, pelas trocas de experiências e pela amizade!

Ao amigo Emerson da Silva Ribeiro que prontamente leu este trabalho e muito

contribuiu com suas valiosas sugestões.

À amiga Eliane Dolens Almeida Garcia, pela revisão de texto da versão final da

dissertação.

Aos amigos professores e funcionários do Colégio Portal, em especial, Toninho e

Regina. Nunca vou me esquecer o quanto vocês me apoiaram e foram importantes para que eu

conseguisse chegar até aqui...

Aos Professores do Programa de Pós Graduação em Educação - Mestrado da UFMT,

pela partilha de seus preciosos conhecimentos e experiências.

Aos professores sujeitos desta pesquisa e todos os envolvidos na coleta de dados, cuja

disponibilidade e vontade de colaborar foram indispensáveis na concretização desta

investigação.

Enfim, a todos os outros amigos que, direta ou indiretamente, de perto ou de longe,

contribuíram intelectualmente e/ou afetivamente na realização desse trabalho. E como são

tantos, deixo os nomes no anonimato para que cada um se sinta importante, nem mais, nem

menos, simplesmente importante, neste processo.

Page 8: CONCEPÇÕES DE PROFESSORES EXPRESSAS NOS … · metodologia de investigação adotada foi a abordagem qualitativa de cunho interpretativo, na qual nos fundamentamos em Bogdan e Biklen

7

CONSTRUINDO A EDUCAÇÃO

DE JOVENS E ADULTOS

A EJA é um ensino diferenciado

Que precisa de acolhimento, carinho e proteção,

Para fazer dos alunos

Verdadeiros cidadãos.

Os gestores necessitam

Olhar, com mais atenção,

Esses brasileiros

Que precisam da Educação.

Pois são trabalhadores

Que constroem a nação,

Necessitam de mais recursos

Para uma total inclusão.

A Educação Municipal também precisa

Mudar a matriz curricular,

Facilitar a vida do professor

Para a Educação melhorar.

Prof.ª Maria da Graça B. Camargo

(CUIABÁ, 2010, p. 11)

Page 9: CONCEPÇÕES DE PROFESSORES EXPRESSAS NOS … · metodologia de investigação adotada foi a abordagem qualitativa de cunho interpretativo, na qual nos fundamentamos em Bogdan e Biklen

8

RESUMO

O trabalho que apresentamos trata-se de uma pesquisa de mestrado que teve como objetivo

investigar e compreender que concepções revelam os conteúdos e as metodologias propostas

pelos professores que trabalham a Matemática na 1ª e 2ª Etapas da Educação de Jovens e

Adultos em Escolas da Rede Municipal de Cuiabá-MT. A pesquisa foi direcionada pela

seguinte questão: que concepções revelam os documentos escolares e as falas dos

professores sobre os conteúdos e as metodologias propostas para o ensino e

aprendizagem da Matemática na 1ª e 2ª Etapas da Educação de Jovens e Adultos em

Escolas municipais de Cuiabá-MT? Levando em consideração a natureza desta pesquisa, a

metodologia de investigação adotada foi a abordagem qualitativa de cunho interpretativo, na

qual nos fundamentamos em Bogdan e Biklen (1994), Bourdieu (1997), Baraldi (1999),

Furasté (2008), Triviños (1987) e Fiorentini e Lorenzato (2006). A pesquisa foi realizada em

dois momentos: no primeiro momento realizamos um levantamento de pesquisas brasileiras

que discutem a Educação Matemática no Primeiro Segmento da Educação de Jovens e

Adultos, com o intuito de conhecer os autores que discutem Educação Matemática na EJA de

forma a nos auxiliar na construção de categorias conceituais referentes à Educação de Jovens

e Adultos e à Educação Matemática. Desse modo, a base teórica deste trabalho referente à

Educação de Jovens e Adultos é constituída por Arroyo (2007), Brasil (1997), Cuiabá (2010),

Darsie (1999), Di Pierro (2005), Fonseca (2005, 2007), Freire (1989, 2000), Gadotti (1996),

Haddad (2003), Haddad e Di Pierro (2000), Ribeiro (2001), dentre outros. Em relação à

Educação Matemática, utilizamos para nos apoiar e enriquecer nossas reflexões os teóricos:

Ausubel et al (1980), Bassanezi (2002), Brasil (2001), Borba (1999, 2001), Burak (1987,

1998), Coll (1999), D’Ambrosio (1991, 1996, 1998, 2005, 2007), Darsie (1998), Fonseca

(2005, 2007), Fiorentini (1995), Freire (1987), Grando (1995, 2000), Huizinga (1971), Miguel

e Miorim (2004), Brasil (1997), entre outros. A partir do referencial teórico citado e dos dados

coletados, instituímos como categorias de análise, a perspectiva Bancária e Emancipadora de

Educação. O segundo momento de nossa investigação estabeleceu-se por pesquisa de campo,

reconhecida também como empírica, com quatro professores que lecionam a Matemática na

1ª e 2ª Etapas da EJA, em duas escolas municipais de Cuiabá-MT, doravante denominadas

Escola Caju e Escola Bocaiúva. Como instrumentos de coleta de dados, utilizamos

questionários, análise documental e entrevistas. A relevância dessa pesquisa se revela,

principalmente, pela busca de caminhos que informem de maneira mais esclarecedora como

se dá o processo de organização de conteúdos e metodologias pelos professores que trabalham

o ensino de Matemática na 1ª e 2ª Etapas da EJA. Em resposta à questão investigada,

podemos dizer que, as análises dos documentos escolares e das falas dos professores nos

indicam que as concepções dos sujeitos transitam entre as duas perspectivas de Educação que

elegemos como categorias de análise, ou seja, Bancária e Emancipadora. Entretanto,

observamos maior aproximação a uma delas, sendo possível dizer que as concepções dos

sujeitos investigados aproximam-se mais da concepção Bancária de Educação.

Palavras - Chave: Educação Matemática. Educação de Jovens e Adultos. Conteúdos.

Metodologias.

Page 10: CONCEPÇÕES DE PROFESSORES EXPRESSAS NOS … · metodologia de investigação adotada foi a abordagem qualitativa de cunho interpretativo, na qual nos fundamentamos em Bogdan e Biklen

9

ABSTRACT

The work presented attends a master`s degree research that had the main purpose on

investigate and understand what are the conceptions that reveals the contents and the

methodologies proposed by teachers that teach Math in the 1st and 2

nd Stages for Young and

Adults at Public Schools of Cuiabá-MT. The research was directed by the following question:

which conceptions reveal the scholars documents and the teachers’ speech about the

subjects and the approaches and methods in Math the 1st and 2

nd Stages for Young and

Adults at Public Schools of Cuiabá-MT? Considering the main nature of this research, the

investigation methodology adopted was the qualitative approach of interpretation, in which

we substantiate in Bogdan and Biklen (1994), Bourdieu (1997), Baraldi (1999), Furasté

(2008), Triviños (1987) and Fiorentini and Lorenzato (2006). The research performed in two

moments: in the first one we did a resurgence of Brazilian research that discuss Math teaching

in the First Stage for Young and Adults, expecting to know the authors that discuss the Math

Education in EJA to help us to build conceptual categories related to Young and Adults and to

Math teaching. Thus, the theoretical basis of this work on the Young and Adult Education

consists of Arroyo (2007), Brasil (1997), Cuiaba (2010), Darsie (1999), Di Pierro (2005),

Fonseca (2005, 2007) Freire (1989, 2000), Gadotti (1996, 2001), Haddad (2003), Haddad and

Di Pierro (2000), Ribeiro (2001), among others. In relation to mathematics education, used to

enrich our thinking, theorists, Ausubel et al (1980), Bassanezi (2002), Brasil (2001), Borba

(1999, 2001), Burak (1987, 1998), Coll (1999), D 'Ambrosio (1991, 1996, 1998, 2005, 2007)

and Darsie (1998, 2001), Fonseca (2005, 2006, 2007) and Fiorentini (1995), Freire (1983),

Grando (1995, 2000), Huizinga (1971 ), Michael and Miorim (2004), Brasil (1997), among

others. From the mentioned material and data collected we used as analyzing categories, the

Bank and Emancipating of Education. The second moment of our investigation was made a

field research with four teachers that manage Math in two schools for 1st and 2

nd Stages for

Young and Adults at Public Schools of Cuiabá-MT, named to this work as Caju and Bocaiúva

School. As instruments to collect data we made written questions, analyses and interviews.

The importance of this research is, mainly, to look up for paths that reveals the most

enlightening on how does the organization process of control subjects worked in class with

students from the 1st and 2

nd degrees of EJA. Answering to the question of this work

investigation, we can tell that, the analysis says that both categories we chose as reference to

this research, were adopted by the teacher, or in other words, Bank and Emancipatory.

However, we notice a bigger contact with the conception Bank Education.

Key words: Math Teaching. teaching Young and Adults. Subjects. Methodology.

Page 11: CONCEPÇÕES DE PROFESSORES EXPRESSAS NOS … · metodologia de investigação adotada foi a abordagem qualitativa de cunho interpretativo, na qual nos fundamentamos em Bogdan e Biklen

10

LISTA DE QUADROS

Quadro 1 – Síntese da Trajetória Histórica da Educação de Jovens e Adultos no Brasil.......47

Quadro 2 – Programas de apoio disponíveis aos estudantes da EJA ................................ .....62

Quadro 3 – Características da Educação de Jovens e Adultos nas perspectivas da educação

Bancária e da Educação Emancipadora ...................................................................................67

Quadro 4 – Características da Educação Matemática nas perspectivas da Educação Bancária

e da Educação Emancipadora ..................................................................................................86

Quadro 5 – Pesquisadores em Educação Matemática na EJA, no período de 1988 a Abril de

2010 no Brasil ..................................................................................................................... .....91

Quadro 6 – Síntese analítica dos conceitos e conteúdos matemáticos para o Primeiro

Segmento da EJA ...................................................................................................................101

Quadro 7 – Vantagens e Desvantagens no trabalho com jogos nas aulas de Matemática

.................................................................................................................................................138

Quadro 8 – Caracterização das escolas investigadas ............................................................153

Quadro 9 – Caracterização pessoal e acadêmica dos sujeitos da pesquisa ...........................154

Quadro 10 – Caracterização das experiências profissionais dos sujeitos da pesquisa .........155

Quadro 11 – Questionários e suas finalidades ......................................................................157

Quadro 12 - Relatos dos professores Ricardo e Ana em relação à Educação de Jovens e

Adultos ................................................................................................................................ 166

Quadro 13 - Relatos dos professores Ricardo e Ana sobre o Ensino de Matemática no

Primeiro Segmento da Educação de Jovens e Adultos...........................................................169

Quadro 14 - Relatos dos professores Ricardo e Ana sobre a Formação Inicial e Continuada

para atuar na EJA ...................................................................................................................171

Quadro 15 - Relatos das professoras Isabel e Maria em relação à Educação de Jovens e

Adultos ...................................................................................................................................219

Quadro 16 - Relatos dos professores Ricardo e Ana sobre o Ensino de Matemática no

Primeiro Segmento da Educação de Jovens e Adultos ..........................................................221

Quadro 17- Relatos das professoras Isabel e Maria sobre a Formação Inicial e Continuada

para atuar na EJA ...................................................................................................................223

Page 12: CONCEPÇÕES DE PROFESSORES EXPRESSAS NOS … · metodologia de investigação adotada foi a abordagem qualitativa de cunho interpretativo, na qual nos fundamentamos em Bogdan e Biklen

11

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Pesquisas brasileiras com a temática Educação Matemática na EJA entre 1988 e

abril de 2010 .............................................................................................................................93

Tabela 2 – Pesquisas brasileiras com a temática Educação Matemática no Primeiro Segmento

da EJA entre 1998 e abril de 2010 ...........................................................................................94

Tabela 3 – Universidades que realizam pesquisas em Educação Matemática na EJA entre

1988 e abril de 2010 .................................................................................,,,,,,,,,,,.....................95

Tabela 4 – Temas encontrados nas pesquisas do Primeiro Segmento da EJA ........................96

Tabela 5 – Metodologias utilizadas pelos autores das pesquisas brasileiras em Educação

Matemática no Primeiro Segmento da EJA..............................................................................97

Tabela 6 – Matrícula Inicial dos alunos da EJA em Cuiabá-MT ..........................................311

Tabela 7 – Atendimento Programa Brasil Alfabetizado .......................................................311

Tabela 8 – Quantidade de alunos e de Escolas que ofertam a modalidade EJA em Cuiabá-MT

................................................................................................................................................311

Tabela 9 – Rendimento e movimento da Educação de Jovens e Adultos em Cuiabá no ano de

2009 .......................................................................................................................................311

Tabela 10 – Quantidade de Docentes que atuaram na EJA em Cuiabá em 2007, 2008 e 2009

.................................................................................................................................................312

Tabela 11 – Funções Docentes existentes na Rede Municipal de Ensino – 2009 .................312

Tabela 12 – Formação dos professores que atuaram no Primeiro Segmento da EJA na Rede

Municipal de Ensino em 2009 ...............................................................................................312

Page 13: CONCEPÇÕES DE PROFESSORES EXPRESSAS NOS … · metodologia de investigação adotada foi a abordagem qualitativa de cunho interpretativo, na qual nos fundamentamos em Bogdan e Biklen

12

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Ilustração gráfica de uma atividade de Matemática que envolve subtração ........184

Figura 2 – Ilustração gráfica de uma atividade de Matemática que envolve a operação

subtração.................................................................................................................................184

Figura 3 - Ilustração gráfica de exercícios considerados “problemas” .................................185

Figura 4 - Ilustração gráfica de atividade que envolve a operação subtração .......................185

Figura 5 – Ilustração gráfica de atividade que envolve a operação divisão ..........................186

Figura 6 - Ilustração gráfica de atividade que envolve o bloco de conteúdos “Introdução à

Estatística” .............................................................................................................................189

Figura 7 - Ilustração gráfica de um exercício infantilizado considerado como problema

matemático .............................................................................................................................193

Figura 8 - Ilustração gráfica de atividade envolvendo embalagem de alimentos .................230

Figura 9 - Ilustração gráfica de atividade envolvendo informações numéricas em contas de

Água e Luz .............................................................................................................................231

Figura 10 - Ilustração gráfica de atividades envolvendo a operação de adição ....................231

Figura 11 - Ilustração gráfica de exercícios ......................................................................... 239

Figura 12 - Ilustração gráfica de exercícios “mecanizados” .................................................239

Figura 13 - Ilustração gráfica de exercícios considerados “problemas matemáticos” pela

professora investigada.............................................................................................................240

Figura 14 - Ilustração gráfica de exercícios relacionados com a Língua Portuguesa ...........243

Figura 15 - Ilustração gráfica de exercícios envolvendo as quatro operações ......................244

Figura 16 - Ilustração gráfica de problemas padrões ............................................................245

Page 14: CONCEPÇÕES DE PROFESSORES EXPRESSAS NOS … · metodologia de investigação adotada foi a abordagem qualitativa de cunho interpretativo, na qual nos fundamentamos em Bogdan e Biklen

13

LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1 – Comparativo entre o percentual de teses e dissertações produzidas na Educação

Matemática na EJA no período entre 1988 a abril de 2010 ...............................................92

Gráfico 2 – Lócus de investigação das teses e dissertações produzidas na Educação

Matemática na EJA, por segmento, no período entre 1988 a abril de 2010 ....................... .....94

Gráfico 3 – Distribuição dos blocos de conteúdos nos cadernos dos alunos do professor

Ricardo ...................................................................................................................................192

Gráfico 4 – Distribuição dos blocos de conteúdos nos cadernos dos alunos da professora Ana

.................................................................................................................................................194

Gráfico 5 – Distribuição dos blocos de conteúdos nos cadernos dos alunos da professora

Isabel ......................................................................................................................................242

Gráfico 6 – Distribuição dos blocos de conteúdos nos cadernos dos alunos da professora

Maria ......................................................................................................................................244

Page 15: CONCEPÇÕES DE PROFESSORES EXPRESSAS NOS … · metodologia de investigação adotada foi a abordagem qualitativa de cunho interpretativo, na qual nos fundamentamos em Bogdan e Biklen

14

LISTA DE SIGLAS

CES - Centros de Estudos Supletivos

CNE – Conferências Nacionais de Educação

CNE – Conselho Nacional de Educação

CONFINTEA – Conferência Internacional de Educação de Adultos

EBRAPEM- Encontro Brasileiro de Estudantes de Pós-Graduação em Educação Matemática

EDUCAR – Fundação Nacional para a Educação de Jovens e Adultos

EJA – Educação de Jovens e Adultos

ENEJAs – Encontros Nacionais de Educação de Jovens e Adultos

FNEP- Fundo Nacional de Ensino Primário

FUNDEB – Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização

dos Profissionais da Educação

FUNDEF – Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de

Valorização do Magistério

GRUEPEM – Grupo de Estudos e Pesquisas em Educação Matemática

IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

INEP - Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais

LDBEN – Leis de Diretrizes e Bases da Educação Nacional

MEC – Ministério da Educação

MOBRAL – Movimento Brasileiro de Alfabetização

MOVA/SP - Movimento de Alfabetização de Jovens e Adultos de São Paulo

ONU – Organização das Nações Unidas

PCNs – Parâmetros Curriculares Nacionais

PDDE - Programa Dinheiro Direto na Escola

PDE – Plano de Ações Articuladas

PEI — Programa de Educação Integrada

PNAC- Programa Nacional de Alfabetização e Cidadania

PPP- Plano Político Pedagógico

PUCRS - Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul

PUC-SP - Pontifícia Universidade Católica de São Paulo

SECAD – Secretaria de Alfabetização, Educação Continuada e Diversidade

SEDUC/MT – Secretaria de Estado de Educação de Mato Grosso

SEJUSP/MT- Secretaria de Segurança Pública de Mato Grosso

Page 16: CONCEPÇÕES DE PROFESSORES EXPRESSAS NOS … · metodologia de investigação adotada foi a abordagem qualitativa de cunho interpretativo, na qual nos fundamentamos em Bogdan e Biklen

15

SME – Secretaria Municipal de Educação

UCB – Universidade Católica de Brasília

UFES – Universidade Federal do Espírito Santo

UFF – Universidade Federal Fluminense

UFJF – Universidade Federal de Juiz de Fora

UFMG – Universidade Federal de Minas Gerais

UFMT – Universidade Federal de Mato Grosso

UFPA – Universidade Federal do Pará

UFPE – Universidade Federal de Pernambuco

UFPR – Universidade Federal do Paraná

UFRGS – Universidade Federal de Rio Grande do Sul

UFRN – Universidade Federal do Rio Grande do Norte

UFRPE – Universidade Federal Rural de Pernambuco

UFSCAR – Universidade Federal de São Carlos

UFSM – Universidade Federal de Santa Maria

UneSC – Universidade do Extremo Sul Catarinense

UNESCO - Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura

UNESP – Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho

UNICAMP – Universidade Estadual de Campinas

UNICSUL – Universidade Cruzeiro do Sul

UNIFRA – Centro Universitário Franciscano

UNISINOS – Universidade do Vale do Rio dos Sinos

UNIJUÍ – Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul

UNISO – Universidade de Sorocaba

UNIVALI – Universidade do Vale do Itajaí

UPC- Universidade Popular Comunitária de Cuiabá

USF – Universidade de São Francisco

USP – Universidade de São Paulo

Page 17: CONCEPÇÕES DE PROFESSORES EXPRESSAS NOS … · metodologia de investigação adotada foi a abordagem qualitativa de cunho interpretativo, na qual nos fundamentamos em Bogdan e Biklen

16

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ..................................................................................................................... 18

1. EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS: BREVE TRAJETÓRIA HISTÓRICA NO

BRASIL E EM CUIABÁ-MT, CONCEPÇÕES E PARTICULARIDADES ................... 25

1.1 PRINCÍPIOS NORTEADORES DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS NO

BRASIL: TRAJETÓRIA HISTÓRICA A PARTIR DA DÉCADA DE 30 ........................ 25

1.2 ESPECIFICIDADES DA EJA NA ATUALIDADE BRASILEIRA ............................. 49

1.3 PARTICULARIDADES DA EJA NA CAPITAL MATO-GROSSENSE .................... 58

1.3.1 Política Educacional e Diretrizes para a Educação de Jovens e Adultos na cidade de

Cuiabá-MT ....................................................................................................................... 58

1.3.2 O atendimento da Educação de Jovens, Adultos e Idosos no município de Cuiabá 61

1.3.3 Formação Continuada para Professores da Educação de Jovens e Adultos da Rede

Municipal de Ensino de Cuiabá-MT ................................................................................ 63

1.3.3.1 Projeto “Roda de Conversa” ................................................................................. 64

1.3.4 Diagnóstico Educacional da Educação de Jovens e Adultos em Cuiabá-MT ......... 67

2. A MATEMÁTICA NA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS ............................... 70

2.1 A MATEMÁTICA NA PERSPECTIVA DA EDUCAÇÃO BANCÁRIA ................... 70

2.2 O SIGNIFICADO DO ENSINAR E APRENDER MATEMÁTICA NA EDUCAÇÃO

DE JOVENS E ADULTOS EM BUSCA DE UMA EDUCAÇÃO EMANCIPADORA. .. 76

2.3 PESQUISAS BRASILEIRAS DESENVOLVIDAS NO PRIMEIRO SEGMENTO DA

EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS ........................................................................... 88

2.3.1 Pesquisadores que desenvolveram trabalhos em Educação Matemática na EJA no

Brasil no período de 1988 a abril de 2010 ........................................................................ 90

2.3.2 Distribuição temporal da produção de pesquisas brasileiras em Educação

Matemática na EJA ........................................................................................................... 93

2.3.3 Lócus de investigação das pesquisas realizadas em Educação Matemática na

Educação de Jovens e Adultos no período de 1991 a abril de 2010. ................................ 93

2.3.4 Distribuição temporal, espacial, temáticas e metodologias de pesquisas brasileiras

em Educação Matemática no Primeiro Segmento da EJA ............................................... 94

3. O QUÊ E O COMO ENSINAR MATEMÁTICA NA 1ª E 2ª ETAPAS DA

EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS ............................................................................ 99

3.1 O QUE SE ENSINA DE MATEMÁTICA PARA A 1ª E 2ª ETAPAS DA

EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS ........................................................................... 99

3.2 TENDÊNCIAS EM EDUCAÇÃO MATEMÁTICA PARA O ENSINO DA

MATEMÁTICA NA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS ...................................... 105

3.2.1 Modelagem Matemática ........................................................................................ 106

3.2.2 Resolução de Problemas ........................................................................................ 110

3.2.3 Estratégias Metacognitivas .................................................................................... 115

3.2.4 A Etnomatemática ................................................................................................. 120

Page 18: CONCEPÇÕES DE PROFESSORES EXPRESSAS NOS … · metodologia de investigação adotada foi a abordagem qualitativa de cunho interpretativo, na qual nos fundamentamos em Bogdan e Biklen

17

3.2.5 Recursos Tecnológicos: computador, softwares educacionais, a calculadora e o

smartphone ..................................................................................................................... 124

3.2.6 Jogos ...................................................................................................................... 134

3.2.7 História da Matemática .......................................................................................... 139

3.2.8 Projetos de Trabalho .............................................................................................. 143

4. METODOLOGIA DA PESQUISA ................................................................................. 148

4.1 A OPÇÃO METODOLÓGICA ................................................................................... 148

4.2 PERCURSO METODOLÓGICO ................................................................................ 150

4.3 CONTEXTO E SUJEITOS DA PESQUISA ............................................................... 151

4.3.1 Critérios de seleção das escolas ............................................................................. 151

4.3.2 Caracterização das escolas..................................................................................... 152

4.3.3 Critérios de seleção dos sujeitos ............................................................................ 153

4.3.4 Caracterização dos sujeitos .................................................................................... 153

4.4 OS PROCEDIMENTOS E OS INSTRUMENTOS DA COLETA DE DADOS DA

PESQUISA ......................................................................................................................... 155

4.4.1 Procedimentos ....................................................................................................... 155

4.4.2 Instrumentos da Coleta de Dados da Pesquisa ...................................................... 156

4.4.2.2 Análise Documental ........................................................................................... 157

4.4.2.3 Entrevistas .......................................................................................................... 158

4.5 – ORGANIZAÇÃO PARA A LEITURA DOS DADOS ............................................ 161

4.6 – CATEGORIAS PARA A ANÁLISE ........................................................................ 161

5. APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS DA PESQUISA ................................. 165

5.1- ESCOLA BOCAIÚVA ............................................................................................... 166

5.1.1 – Bloco 1- Concepções Gerais dos Professores Investigados ............................... 166

5.1.2 Bloco 2 - Análise Documental sobre os Conteúdos e as Metodologias ................ 175

5.1.3 Bloco 3- Concepções Expressas nas Falas dos Professores .................................. 198

a) Conteúdo .................................................................................................................... 198

5.1.4 Bloco 4- Concepções Expressas nas Análises dos Documentos e das Falas dos

Professores da Escola Bocaiúva ..................................................................................... 215

5.2- ESCOLA CAJU .......................................................................................................... 218

5.2.1 Bloco 1- Concepções Gerais das Professoras Investigadas ................................... 218

5.2.2 Bloco 2- Análise Documental sobre os Conteúdos e as Metodologias ................. 225

5.2.3 Bloco 3- Concepções Expressas nas Falas das Professoras .................................. 249

5.2.4 Bloco 4- Concepções Expressas nas Análises dos Documentos e das Falas das

Professoras da Escola Caju ............................................................................................. 268

CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................... 272

REFERÊNCIAS ................................................................................................................... 286

APÊNDICES ......................................................................................................................... 300

Page 19: CONCEPÇÕES DE PROFESSORES EXPRESSAS NOS … · metodologia de investigação adotada foi a abordagem qualitativa de cunho interpretativo, na qual nos fundamentamos em Bogdan e Biklen

18

INTRODUÇÃO

A Educação de Jovens e Adultos (EJA) é uma modalidade de ensino da Educação

Básica, amparada por lei, que envolve a formação de jovens e adultos que por algum motivo

não tiveram a oportunidade de iniciar ou concluir os estudos em idade apropriada. Essa

modalidade é considerada muito importante, pois têm por finalidade proporcionar aos sujeitos

uma nova oportunidade de frequentarem os ambientes escolares, na busca para conquistar

melhores condições de vida e de trabalho.

No entanto, muitas vezes, a Educação de Jovens e Adultos ainda é confundida com o

antigo ensino supletivo, caracterizada como um modelo de suplência, que se propõe a

recuperar o atraso e acelerar a escolaridade, bem como formar mão de obra (HADDAD e DI

PIERRO, 2000). Além disso, nessa concepção, essa modalidade é muitas vezes vinculada ao

ensino de baixa qualidade, o que para nós, é um grande equívoco.

A concepção atual de EJA não se limita apenas a obtenção de certificação de

escolaridade. Essa modalidade visa integrar os educandos na sociedade, garantindo o direito à

educação e escolarização para os mesmos. Assim, tem como objetivo preparar os estudantes

para o exercício da cidadania e desenvolver seus sensos críticos para que reconheçam seus

papéis no interior da sociedade em que estão inseridos.

O Parecer 11/2000, documento que normatiza a educação de pessoas Jovens e Adultas

em todas as suas modalidades apresenta para a EJA três funções principais: reparadora -

possibilitar aos sujeitos Jovens e Adultos a restauração do direito a uma escola de qualidade

que foi negado durante a infância, ou seja, em idade regular; equalizadora - garantir à

igualdade de oportunidades a trabalhadores e outros segmentos sociais de inserir-se no

sistema educacional, além de possibilitar maiores condições de acesso e permanência na

escola; qualificadora - propiciar a todos os sujeitos atualização de conhecimentos ao longo

da vida.

Diante disso, compreendemos a Educação de Jovens e Adultos como uma modalidade

necessária, que tem por finalidade proporcionar aos educandos uma efetiva participação na

sociedade, considerando a diversidade e as especificidades de seu público, além de

compreender que a Educação é um direito de todos, atuando com a finalidade de reparar,

equalizar, qualificar e emancipar. Sendo assim, entendemos que a EJA deve valorizar as

experiências, os conhecimentos prévios e os tempos de aprendizagem dos estudantes.

Nessa perspectiva, a Matemática desempenha um importante papel na formação do

caráter sócio-educacional dos educandos da EJA, pois atualmente caracteriza-se como “uma

Page 20: CONCEPÇÕES DE PROFESSORES EXPRESSAS NOS … · metodologia de investigação adotada foi a abordagem qualitativa de cunho interpretativo, na qual nos fundamentamos em Bogdan e Biklen

19

forma de compreender e atuar no mundo e o conhecimento gerado nessa área do saber como

um fruto da construção humana na sua interação constante com o contexto natural, social e

cultural” (BRASIL, 1998, p. 24). Ademais, de acordo com a Proposta Curricular para o

Segundo Segmento da EJA, a importância da Matemática na formação dos estudantes Jovens

e Adultos é indicada, pois “aprender matemática é um direito básico de todos e uma

necessidade individual e social de homens e mulheres. Saber calcular, medir, raciocinar,

argumentar, tratar informações estatisticamente etc. são requisitos necessários para exercer a

cidadania” (BRASIL, 2002, p. 11).

Diante disso, o ensino da Matemática na Educação de Jovens e Adultos deve

preocupar-se com a promoção da cidadania e com o desenvolvimento intelectual dos

educandos, de modo a incluí-los no processo sócio-educacional. Para isso, é necessário

aproveitar as experiências de vida, a diversidade e as especificidades de seu público jovem e

adulto, a fim de tornar o ensino dessa disciplina mais relevante e significativo.

Assim, compreendemos a Matemática como uma ciência viva, dinâmica e

historicamente construída pelos homens a favor dos interesses e das necessidades sociais. Ao

abordar a problemática envolvida nessa questão, a Proposta Curricular para o Segundo

Segmento da EJA (2002) afirma que a Matemática é uma ciência viva, não apenas no

cotidiano das pessoas, mas também nas universidades e centros de pesquisas, onde atualmente

estão sendo desenvolvidos novos conhecimentos que têm sido instrumentos indispensáveis na

solução de problemas científicos e tecnológicos da sociedade. Além disso, acreditamos que o

conhecimento matemático não é pronto e acabado, mas sim, estabelecido pela interação do

homem, com o meio e com as relações sociais.

Portanto, entendemos que a Educação Matemática na Educação de Jovens e Adultos

deve constituir-se como um processo emancipatório dos estudantes, cujo objetivo inicial “é a

produção de conhecimentos mediante a ativação de processos emocionais, físicos e cognitivos

dos educandos para o desenvolvimento de suas potencialidades reflexivas, críticas e criativas,

tornando-os capazes de contribuir para a construção de uma sociedade democrática e para o

exercício pleno da cidadania” (DARSIE apud MATO GROSSO, 2000, p. 155).

Desse modo, o meu interesse em discutir a Educação Matemática na EJA e inclusive

desenvolver uma pesquisa nessa área não surgiu por acaso. Tal interesse se revelou no ano de

2008, ao iniciar a docência como professora de Matemática da Educação de Jovens e Adultos

em uma Escola Estadual na cidade de Cuiabá- MT, onde trabalhei com a 1a e a 2

a fases do

Segundo Segmento, e também com a 1a fase do Ensino Médio da EJA.

Page 21: CONCEPÇÕES DE PROFESSORES EXPRESSAS NOS … · metodologia de investigação adotada foi a abordagem qualitativa de cunho interpretativo, na qual nos fundamentamos em Bogdan e Biklen

20

No decorrer do processo, percebi o quanto estava despreparada para trabalhar com o

público da EJA, pois não havia recebido no curso de licenciatura em Matemática, há pouco

tempo concluído, nenhuma formação específica para trabalhar com essa modalidade de

educação repleta de especificidades. Fiquei muito preocupada e então comecei a ler e a buscar

informações sobre quais conteúdos e metodologias eram indicadas no que se refere ao ensino

da Matemática na Educação de Jovens e Adultos.

Durante aquele ano, por meio do convívio com os professores em reuniões e

discussões referentes ao planejamento de aulas, percebi que algumas dificuldades que eu

encontrava para trabalhar a Matemática no Segundo Segmento e no Ensino Médio da EJA,

também foram destacadas por professores do Primeiro Segmento da Educação de Jovens e

Adultos. Assim sendo, passei a me questionar: Qual a formação inicial e continuada que os

professores tiveram para trabalhar a Matemática na EJA? Como ocorre o processo de ensino-

aprendizagem da Matemática no contexto dessa modalidade? Os conteúdos matemáticos

trabalhados pelos que os professores trabalham na EJA são os mesmos que são contemplados

no Ensino Regular? Quais os conteúdos que os professores priorizam ao trabalhar a

Matemática na EJA? De que forma os docentes trabalham o ensino da Matemática na

Educação de Jovens e Adultos? A maneira de ensinar a Matemática para o público da EJA

deve ser diferente do modo como essa disciplina é lecionada no Ensino Regular?

Diante desse cenário, fui tomando consciência e percebendo que precisava

compreender melhor essa modalidade de ensino. Assim, decidi buscar formação específica e

então realizei a inscrição para participar do processo seletivo do mestrado em Educação da

Universidade Federal de Mato Grosso, em que inicialmente apresentei uma proposta de

investigação voltada para o Segundo Segmento da EJA.

Ao ingressar no Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal

de Mato Grosso, na linha de pesquisa em Educação em Ciências e Matemática, encontrei o

Grupo de Estudos e Pesquisas em Educação Matemática (GRUEPEM), coordenado pela

professora Drª Marta Maria Pontin Darsie, que realiza pesquisas sobre a temática “Educação

Matemática na Educação de Jovens e Adultos”.

Dessa forma, redirecionei meu projeto para o Primeiro Segmento1 da EJA, adequando

minha investigação à pesquisa do GRUEPEM, no qual ganhei respaldo e apoio no grupo.

1 O Primeiro Segmento da EJA corresponde às primeiras quatro séries do Ensino Fundamental. Essa

nomenclatura é utilizada no estado de Mato Grosso. No entanto, nessa pesquisa, utilizamos também a

terminologia 1ª e 2ª Etapas pois realizamos a investigação em Escolas Municipais da cidade de Cuiabá-MT em

que essa nomenclatura é utilizada.

Page 22: CONCEPÇÕES DE PROFESSORES EXPRESSAS NOS … · metodologia de investigação adotada foi a abordagem qualitativa de cunho interpretativo, na qual nos fundamentamos em Bogdan e Biklen

21

Nesse sentido, o apoio recebido pelos membros do GRUEPEM fortaleceu a escolha

pelo desenvolvimento da pesquisa na Educação de Jovens e Adultos, além do que, ao

consultar a literatura relacionada ao tema em questão e por meio de levantamentos de

pesquisas realizados por Leite e Darsie (2009) e Vanin e Darsie (2010), foi possível constatar

a pouca produção de pesquisas realizadas em Educação Matemática na Educação de Jovens e

Adultos no Brasil, principalmente voltadas especificamente para o Primeiro Segmento da

EJA, bem como, que a produção existente não é suficiente para auxiliar os professores

atuantes numa efetiva melhoria da qualidade do fazer e aprender Matemática no contexto da

EJA.

Assim, amadureci meus questionamentos e sob orientação da professora Dr.ª Marta

Darsie, estabelecemos nosso problema de pesquisa que propõem investigar: que concepções

revelam os documentos escolares e as falas dos professores sobre os conteúdos e as

metodologias propostas para o ensino e aprendizagem da Matemática na 1ª e 2ª Etapas

da Educação de Jovens e Adultos em Escolas municipais de Cuiabá-MT?

Não acreditamos que a prática docente se restrinja apenas ao o quê e o como ensinar,

ou seja, aos conteúdos e metodologias. Entendemos que ela acontece em múltiplas relações,

como por exemplo, nas relações entre professores e alunos, aluno-aluno e aluno-escola. Ela

também se constitui nas diversas concepções de Educação, de Escola, de Professor, de Aluno,

de Avaliação dentre outros. Desse modo, defendemos a prática docente como parte de um

processo social e de uma prática social maior, que envolve a dimensão educativa não apenas

na esfera escolar, mas na dinâmica das relações sociais que produzem aprendizagens, ou seja,

que produzem o ato “educativo”. Como seria impossível realizar uma investigação que

contemplasse todo esse entendimento, optamos por fazer um recorte em nossa investigação, e

assim, pesquisar os elementos referentes aos conteúdos e metodologias.

Assim sendo, para o desenvolvimento da pesquisa nos amparamos na abordagem

qualitativa da pesquisa em Educação. Realizamos a coleta de dados, na perspectiva de Bogdan

e Biklen (1994), em duas escolas da Rede Municipal de Ensino de Cuiabá-MT, onde

investigamos dois professores de cada escola, sendo eles licenciados em Pedagogia (com

exceção de uma professora) e que trabalham a Matemática na 1ª e 2ª Etapas da EJA,

totalizando quatro sujeitos da nossa pesquisa.

Nosso objetivo geral foi investigar e compreender que concepções revelam os

conteúdos e as metodologias propostas pelos professores que trabalham a Matemática

na 1ª e 2ª Etapas da Educação de Jovens e Adultos em Escolas da rede municipal de

Cuiabá-MT.

Page 23: CONCEPÇÕES DE PROFESSORES EXPRESSAS NOS … · metodologia de investigação adotada foi a abordagem qualitativa de cunho interpretativo, na qual nos fundamentamos em Bogdan e Biklen

22

Diante disso, traçamos alguns objetivos específicos para nos aproximarmos do

entendimento em relação ao nosso problema de pesquisa:

Selecionar quatro professores que lecionam a Matemática no Primeiro Segmento da

EJA;

Investigar e compreender por meio de questionários e entrevistas os conteúdos e as

metodologias propostas para o ensino e aprendizagem da Matemática na 1ª e 2ª

Etapas da EJA;

Realizar análise documental do Projeto Político Pedagógico, Planejamento Anual de

Matemática, Plano de Aula, Matriz Curricular, Livros Didáticos e Cadernos de

alunos;

Organizar e analisar os dados coletados.

Desse modo, cumprindo com esses objetivos específicos, almejamos levantar dados

suficientes que nos permitam atingir o nosso objetivo principal. Ao mesmo tempo, é intenção

deste trabalho avançar e produzir conhecimento científico com o intuito de auxiliar os

educadores que lecionam na 1ª e 2ª Etapas da EJA compreenderem quais conteúdos e

metodologias podem ser utilizadas no ensino e aprendizagem da Matemática nessa

modalidade de ensino.

Em seguida, apresentamos uma pequena síntese sobre os três capítulos teóricos

elaborados para nossa dissertação, incluindo o aporte teórico que nos proporcionou

embasamento ao nosso pensamento e argumentação no que se refere às metodologias e

conteúdos propostos pelos professores no ensino e aprendizagem da Matemática na 1ª e 2ª

Etapas da Educação de Jovens e Adultos. Dessa forma, ressalta-se que os capítulos teóricos

foram muito importantes na preparação e estruturação dos quadros referenciais para análise e

triangulação dos dados. Logo após, trazemos o resumo do capítulo metodológico e do

capítulo no qual desenvolvemos a análise de nossa pesquisa. Assim, o trabalho ficará

estruturado da seguinte forma:

No capítulo 1 - A Educação de Jovens e Adultos: breve trajetória histórica no

Brasil e em Cuiabá-MT, concepções e particularidades, com o intuito de compreender o

atual contexto da Educação de Jovens e Adultos, reconhecemos os princípios norteadores da

EJA no Brasil, bem como fazemos uma breve retrospectiva histórica, distinguindo as

perspectivas em que foram desenvolvidas as propostas de ensino para essa modalidade de

Educação e os distintos entendimentos sobre a EJA que ocorreram em nosso país ao longo

dos últimos anos.

Page 24: CONCEPÇÕES DE PROFESSORES EXPRESSAS NOS … · metodologia de investigação adotada foi a abordagem qualitativa de cunho interpretativo, na qual nos fundamentamos em Bogdan e Biklen

23

Além disso, buscamos nesse capítulo descrever as especificidades da EJA,

principalmente na 1ª e 2ª Etapas dessa modalidade, bem como realizar alguns esclarecimentos

sobre a organização da EJA na capital mato-grossense.

Na construção deste capítulo teórico dialogamos com os seguintes autores: Arroyo

(2007), Alvares (2010), Brasil (1997, 2006), Cuiabá (2010), Darsie (1999), Di Pierro (2005),

Fonseca (2005, 2007, 2008), Freire (1989, 2000), Gadotti (1996, 2007), Haddad (2003),

Haddad e Di Pierro (2000), Ribeiro (2001) e Ribeiro (2007).

No capítulo 2 – A Matemática na Educação de Jovens e Adultos, discutimos e

esclarecemos a Matemática na EJA. Nesse sentido, destacamos duas perspectivas no

tratamento dado à Matemática em sala de aula: uma baseada no modelo tradicional de ensino,

a qual identificamos como Matemática na perspectiva da Educação Bancária, e a outra, em

uma Educação Matemática constituída por um novo significado, em que a Matemática é

colocada a serviço de uma Educação preocupada em promover a cidadania, refletindo assim a

perspectiva de uma Educação Matemática de Jovens e Adultos, reconhecida por nós como

Emancipadora. Além disso, buscamos nesse capítulo reconhecer as pesquisas brasileiras em

Educação Matemática que já foram desenvolvidas no Brasil com o foco de investigação no

Primeiro Segmento da Educação de Jovens e Adultos.

São suscitados para enriquecer nossas reflexões neste capítulo, os teóricos: Ausubel et

al (1980), Brasil (1997, 2001, 2002), Caraça (1998), Coll (1999), D’Ambrosio (2005), Darsie

(1998, 1999), Duarte (1995), Fonseca (2005, 2007), Fiorentini (1995), Freire (1987), Ribeiro

(2007), Silva (1991) e Vanin e Darsie (2010).

No capítulo 3 - O quê e o Como Ensinar Matemática na 1ª e 2ª Etapas da

Educação de Jovens e Adultos, com o intuito de nos aproximarmos da interpretação de quais

concepções os documentos e as falas dos professores revelam sobre os conteúdos e

metodologias propostas para o ensino e a aprendizagem da Matemática na 1ª e 2ª Etapas da

Educação de Jovens e Adultos, analisamos os conteúdos de Matemática que devem ser

trabalhados na 1ª e 2ª Etapas da Educação de Jovens e Adultos segundo a Proposta Curricular

para o Primeiro Segmento da EJA (2001). Ademais, fazemos uma discussão sobre as

tendências em Educação Matemática que podem ser utilizadas no ensino de Matemática para

a Educação de Jovens e Adultos.

Trazemos para dialogar conosco nesse capítulo, os teóricos: Bassanezi (2002), Brasil

(1997, 2001, 2002), Borba (1999, 2001), Burak (1987, 1998), D’Ambrosio (1991, 1996, 1998,

2002, 2007), Darsie (1998), Fantinato (2009), Fonseca (2005, 2007), Fiorentini (1995), Freire

Page 25: CONCEPÇÕES DE PROFESSORES EXPRESSAS NOS … · metodologia de investigação adotada foi a abordagem qualitativa de cunho interpretativo, na qual nos fundamentamos em Bogdan e Biklen

24

(1983, 1994), Grando (1995, 2000), Huizinga (1971), Miguel e Miorim (2004), Borba e

Penteado (2001), Ribeiro (2007) e Silva (1991).

No capítulo 4 – Metodologia da Pesquisa, apresentamos a opção metodológica

adotada para o desenvolvimento desta investigação, o percurso metodológico, o universo e os

sujeitos da pesquisa, bem como os critérios de seleção dos mesmos. Além disso, explicitamos

os procedimentos e os instrumentos da coleta de dados, bem como a organização para a

leitura dos dados e suas categorias de análise. Dessa forma, fundamentamos tal capítulo,

ancorados nos seguintes teóricos: Bogdan e Biklen (1994), Bourdieu (1997), Fiorentini e

Lorenzato (2006), Furasté (2008), Ludke e André (1986), Severino (2007) e Triviños (1987).

No capítulo 5 – Apresentação e Análise dos Dados da Pesquisa, os dados coletados

são apresentados e interpretados seguidos de reflexões sobre que concepções revelam os

documentos escolares e as falas dos professores sobre os conteúdos e metodologias propostas

para o ensino e aprendizagem da Matemática na 1ª e 2ª Etapas da Educação de Jovens e

Adultos em Escolas municipais de Cuiabá.

E, por fim, nas Considerações Finais, divulgamos os resultados apontados para a

problemática levantada nessa investigação. Além disso, almejamos que os resultados

decorrentes das reflexões que foram constituídas a partir do diálogo constante entre os dados e

o referencial teórico construído de nossa investigação venham a contribuir para futuras

reflexões e pesquisas, que como esta, propõe aprofundar a compreensão da Educação

Matemática no contexto da 1ª e 2ª Etapas da Educação de Jovens e Adultos.

Page 26: CONCEPÇÕES DE PROFESSORES EXPRESSAS NOS … · metodologia de investigação adotada foi a abordagem qualitativa de cunho interpretativo, na qual nos fundamentamos em Bogdan e Biklen

25

1. EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS: BREVE TRAJETÓRIA HISTÓRICA NO

BRASIL E EM CUIABÁ-MT, CONCEPÇÕES E PARTICULARIDADES

“A educação sozinha não transforma a sociedade, sem ela tão pouco a

sociedade muda”.

(FREIRE, 2000, p. 31)

Com o intuito de compreender o atual contexto da Educação de Jovens e Adultos,

pretendemos neste primeiro capítulo reconhecer os princípios norteadores da EJA no Brasil,

fazer uma breve retrospectiva histórica a partir da década de 30, analisar as perspectivas em

que foram desenvolvidas as propostas de ensino a partir de então para essa modalidade de

Educação, bem como as distintas concepções de EJA que ocorreram em nosso país ao longo

dos últimos anos.

Além disso, buscamos neste capítulo descrever as especificidades da EJA,

principalmente na 1ª e 2ª Etapas dessa modalidade de Educação, bem como realizar alguns

esclarecimentos sobre a organização da EJA na capital mato-grossense.

1.1 PRINCÍPIOS NORTEADORES DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS NO

BRASIL: TRAJETÓRIA HISTÓRICA A PARTIR DA DÉCADA DE 30

O campo da educação de jovens e adultos tem uma longa história. Diríamos que é

um campo ainda não consolidado nas áreas de pesquisa, de políticas públicas e

diretrizes educacionais, de formação de educadores e intervenções pedagógicas. Um

campo aberto a todo cultivo e onde vários agentes participam. De semeaduras e

cultivos nem sempre bem definidos ao longo de sua tensa história. Talvez a

característica marcante do momento vivido na EJA seja a diversidade de tentativas

de configurar sua especificidade. [...] Um olhar precipitado nos dirá que talvez tenha

sido esta uma das marcas da história da EJA: indefinição, voluntarismo, campanhas

emergenciais, soluções conjunturais (ARROYO, 2005, p. 19).

Nesse sentido, para melhor compreendermos a situação atual da Educação de Jovens e

Adultos no Brasil, precisamos, inevitavelmente, refletir a respeito da história desta

modalidade de ensino, suas implicações no contexto atual, seus desafios e perspectivas, pois

no decorrer da história a EJA foi configurada em nosso país por várias concepções que

sofreram modificações no decorrer dos anos.

Sendo assim, iniciamos uma breve retrospectiva histórica da Educação de Jovens e

Adultos no Brasil a partir da década de 30, momento em que o Sistema Público de Educação

Page 27: CONCEPÇÕES DE PROFESSORES EXPRESSAS NOS … · metodologia de investigação adotada foi a abordagem qualitativa de cunho interpretativo, na qual nos fundamentamos em Bogdan e Biklen

26

começou a ser consolidado em nosso país, bem como a Educação Básica de adultos, que passa

a demarcar seu lugar no cenário da história da Educação brasileira.

Tal década se revelou como um período de extrema importância da evolução histórica

do Brasil, onde no plano político, ocorreram as eleições e a nova Constituição. Por outro lado,

no plano econômico, os novos rumos pela criação de mecanismos institucionais voltados para

a sustentação do crescimento industrial. No plano ideológico, foi proposta a criação do Estado

Nação, onde sobressai à criação de um sistema de Educação que deveria se articular com a

organização do trabalho (SILVA2).

No ano de 1932, foi lançado o Manifesto dos Pioneiros da Escola Nova, que difundia a

reconstrução social da escola na sociedade urbana e industrial. A esse respeito, Beatrici

acrescenta que esse Manifesto

[...] criticava a escola tradicional, pois esta vinha mantendo o indivíduo isolado em

sua autonomia, resultado da doutrina do individualismo e de uma concepção

burguesa de sociedade. O Manifesto defendia o direito de cada indivíduo à educação

integral, como também estipulava a obrigatoriedade de seu ingresso. O ensino

primário estendia-se progressivamente até uma idade conciliável com o trabalhador

produtor, ou seja, até os 18 anos (2009, p. 18).

A partir de então, as ideias do Manifesto foram aproveitadas e empregadas na

Constituição de 1934, na qual propôs a criação de um Plano Nacional de Educação, de

responsabilidade da União, que instituiu nacionalmente o ensino primário integral, obrigatório

e gratuito aos adultos. Nesse momento, a Educação de Jovens e Adultos passou a se firmar

como questão de política nacional.

Sabe-se ainda que, nessa época, a sociedade em geral passava por várias e

significativas transformações principalmente decorrentes dos processos de industrialização e

urbanização que ocorriam no Brasil. Diante disso, a oferta de ensino básico gratuito foi

ampliada consideravelmente, acolhendo diversos setores sociais (BRASIL, 2001)

principalmente, porque nesse momento, havia a necessidade de promover a Educação do povo

que até então se encontrava num processo de marginalização, para acompanhar a fase de

desenvolvimento que se instalava no Brasil. Desse modo, era necessário aperfeiçoar e

qualificar a mão de obra para atender ao crescimento das indústrias. Além disso, nesse

momento visava-se ampliar as bases eleitorais do país.

Com a sedimentação do Estado Novo e o reconhecimento de que a Educação poderia

ser um instrumento de manutenção ou transformação social, o próprio governo, como

2 SILVA, S. P. Situação da educação de jovens e adultos em uma escola da rede pública de ensino. Acervo Virtual Multimídia- Fóruns

EJA do Brasil. Disponível em: < http://www.psicopedagogia.com.br/artigos/artigo.asp?entrID=461›. Acesso em: 15-04-12

Page 28: CONCEPÇÕES DE PROFESSORES EXPRESSAS NOS … · metodologia de investigação adotada foi a abordagem qualitativa de cunho interpretativo, na qual nos fundamentamos em Bogdan e Biklen

27

representante de um grupo que detém o poder, passou a utilizar o sistema educativo e a

Educação escolar como forma de difusão ideológica através de um currículo homogêneo,

tradicional e conservador. Nesse contexto, os movimentos populares em oposição tentaram se

utilizar, como instrumento de transformação, dos meios de trabalhos e de cultura popular,

através dos centros culturais. Um exemplo de oposição e resistência que aconteceu neste

período foi a fundação da União Nacional dos Estudantes (UNE), em 1937, que passaria a ter

grande importância no meio educacional (SILVA3).

A década de 40 foi marcada pelo início das primeiras iniciativas governamentais que

visavam tratar dos índices elevados do analfabetismo entre adultos no país (cerca de 60%),

pois nessa ocasião, se entendia que era necessário erradicar o analfabetismo para que o Brasil

pudesse crescer economicamente. Dessa forma, o analfabetismo era visto como origem e não

como efeito da real situação cultural, econômica, social e política que o país atravessava.

Ademais, o analfabetismo na época, era considerado um mal social e o analfabeto, por sua

vez, um sujeito incapaz, desprovido de saberes e de cultura, responsáveis pelo atraso do país.

Gadotti (2007) esclarece que até a Segunda Guerra Mundial tal Educação era

concebida como uma extensão da Educação formal para todos, integrada a Educação Popular,

ou seja, educação para o povo que não era atendido pela educação oferecida pelo governo,

voltada especialmente para as periferias urbanas e das zonas rurais.

Nesse contexto, as campanhas contra o analfabetismo, fundamentadas em um sentido

de emergência e de mobilização social intensificaram-se. Entretanto, essas campanhas não se

preocupavam com a qualidade dos processos de ensino e aprendizagem e muito menos com a

formação dos educadores envolvidos na alfabetização dos adultos. O que interessava era

alfabetizar, ou seja, fazer os adultos lerem e escreverem, pois uma das preocupações naquele

momento era com a produção de massa votante, já que a Lei Eleitoral da época concedia

direito ao voto somente às pessoas alfabetizadas. Ao abordar a problemática envolvida nessa

questão, a Proposta Curricular para o Primeiro Segmento da EJA enfatiza:

Com o fim da ditadura de Vargas em 1945, o país vivia a efervescência política da

redemocratização. A Segunda Guerra Mundial recém terminara e a ONU —

Organização das Nações Unidas — alertava para a urgência de integrar os povos

visando à paz e a democracia. Tudo isso contribuiu para que a educação dos adultos

ganhasse destaque dentro da preocupação geral com a educação elementar comum.

Era urgente a necessidade de aumentar as bases eleitorais para a sustentação do

governo central, integrar as massas populacionais de imigração recente e também

incrementar a produção (BRASIL, 2001, p. 19-20).

3 SILVA, S. P. Situação da educação de jovens e adultos em uma escola da rede pública de ensino. Acervo Virtual Multimídia- Fóruns

EJA do Brasil. Disponível em: < http://www.psicopedagogia.com.br/artigos/artigo.asp?entrID=461›. Acesso em: 15-04-12

Page 29: CONCEPÇÕES DE PROFESSORES EXPRESSAS NOS … · metodologia de investigação adotada foi a abordagem qualitativa de cunho interpretativo, na qual nos fundamentamos em Bogdan e Biklen

28

Diante da necessidade política de pessoas alfabetizadas para a retomada do processo

de democratização pós Vargas, em 1947, a Educação de Adultos foi lançada em forma de

campanha nacional de massa, definida como Campanha Nacional de Educação de

Adolescentes e Adultos Analfabetos. Desse modo, na primeira etapa dessa campanha

almejava-se “uma ação extensiva que previa a alfabetização em três meses, e mais a

condensação do curso primário em dois períodos de sete meses” (BRASIL, 2001, p. 20). Em

seguida, seguiria uma etapa de “ação em profundidade”, que seria a responsável pela

capacitação profissional e pelo desenvolvimento comunitário.

A esse respeito, Beisiegel (1997, apud BEATRICI, 2009, p. 19) destaca que, “dentre

outros aspectos, essa Campanha alimentou a reflexão e o debate em torno do assunto do

analfabetismo e suas consequências psicossociais, já que até então ele era visto como causa e

não efeito da situação econômica, social e cultural do país”.

Ademais, nesse período, havia uma concepção preconceituosa sobre os adultos

analfabetos, que eram considerados um problema de definição social, incapazes e marginais,

além de serem identificados psicologicamente e socialmente com as crianças. Desse modo,

eram vistos como despreparados para as atividades referentes à vida adulta, não sendo

permitido tomarem decisões comuns.

No entanto, no decorrer da Campanha de 1947, essas ideias preconceituosas

começaram a ser criticadas, e aos poucos, transformadas. Dessa forma, os conhecimentos e as

capacidades dos adultos passaram a ser reconhecidos, principalmente pelo desenvolvimento

de teorias mais modernas da psicologia, que alegavam que a capacidade de aprendizagem dos

adultos não era inferior à capacidade de aprendizagem das crianças (BRASIL, 2001).

Nesse sentido, a Campanha Nacional de Educação de Adolescentes e Adultos

Analfabetos influenciou, de forma inédita no país, o Ministério da Educação a desenvolver e

produzir material didático específico para o ensino da leitura e da escrita para os adultos até

então analfabetos. Referente a essa temática, Ribeiro complementa que:

O Primeiro guia de leitura, distribuído pelo ministério em larga escala para as

escolas supletivas do país, orientava o ensino pelo método silábico. As lições

partiam de palavras-chave selecionadas e organizadas segundo suas características

fonéticas. A função dessas palavras era remeter aos padrões silábicos, estes sim o

foco do estudo. As sílabas deveriam ser memorizadas e remontadas para formar

outras palavras. As primeiras lições também continham pequenas frases montadas

com as mesmas sílabas. Nas lições finais, as frases compunham pequenos textos

contendo orientações sobre preservação da saúde, técnicas simples de trabalho e

mensagens de moral e civismo (2001, p. 22).

Page 30: CONCEPÇÕES DE PROFESSORES EXPRESSAS NOS … · metodologia de investigação adotada foi a abordagem qualitativa de cunho interpretativo, na qual nos fundamentamos em Bogdan e Biklen

29

Entretanto, de acordo com Beatrici (2009, p. 19) “a Campanha não produziu nenhuma

proposta metodológica específica para a alfabetização de adultos, nem um paradigma

pedagógico próprio para essa modalidade de ensino”.

Ainda na década de 40, no ano de 1949, aconteceu na Dinamarca a primeira

CONFINTEA (Conferência Internacional de Educação de Adultos). Nessa ocasião, em que se

reuniram 33 países e 79 representantes, a Educação de adultos foi concebida como uma

Educação moral. Dentre as principais recomendações desta Conferência, destacou-se:

[...] que os conteúdos da Educação de Adultos estivessem de acordo com as suas

especificidades e funcionalidades; que fosse uma educação aberta, sem pré-

requisitos; que os problemas das instituições e organizações com relação à oferta

precisariam ser debatidos; que se averiguassem os métodos e técnicas, com auxílio

permanente; que a educação de adultos fosse desenvolvida com base no espírito de

tolerância, devendo ser trabalhada de modo a aproximar os povos, não só os

governos; que se levasse em conta as condições de vida das populações de modo a

criar situações de paz e entendimento (BEATRICI, 2009, p. 20).

Por sua vez, a maioria dos enviados que participaram da CONFINTEA representavam

países europeus. Assim, as discussões dessa Conferência voltaram-se especialmente para os

problemas desta modalidade relativa aos países desenvolvidos. Por outro lado, essas

discussões realizadas no interior da primeira CONFINTEA também serviram para chamar a

atenção sobre a importância da continuidade dessa Conferência em razão das urgentes

questões a serem tratadas sobre a educação de adultos em nível mundial.

Em linhas gerais, a década de 40 foi considerada, de acordo com Paiva (1973), um

período áureo para a Educação de Adultos no Brasil, período em que aconteceram inúmeras

iniciativas políticas e pedagógicas consideradas de grande importância, tais como:

a regulamentação do Fundo Nacional de Ensino Primário (FNEP), em 1942, com o

objetivo de incluir o ensino supletivo para adolescentes e adultos analfabetos;

a criação do Instituto Nacional de Estudos Pedagógicos (INEP);

o Serviço de Educação de adultos, em 1947, com o objetivo de orientar e coordenar os

planos anuais do ensino supletivo para adolescentes e adultos analfabetos;

lançamento da Campanha de Educação de Adolescentes e Adultos Analfabetos, em

1947;

o surgimento das primeiras obras especificamente dedicadas ao ensino de adultos.

Na década de 50, de acordo com a Proposta Curricular para o Primeiro Segmento da

EJA (2001), a Campanha Nacional de Educação de Adolescentes e Adultos Analfabetos

começou a receber críticas que se dirigiam tanto às suas falhas administrativas e financeiras,

Page 31: CONCEPÇÕES DE PROFESSORES EXPRESSAS NOS … · metodologia de investigação adotada foi a abordagem qualitativa de cunho interpretativo, na qual nos fundamentamos em Bogdan e Biklen

30

quanto à sua orientação pedagógica, principalmente pelo caráter superficial do aprendizado

que se efetivava no curto período da alfabetização, bem como a inadequação do método para

a população adulta e também da utilização do método com as mesmas características para as

diferentes regiões do país. Desse modo, antes do final dessa década a campanha iniciada em

1947 foi extinta, onde resistiu apenas à rede de ensino supletivo por meio dela implantada.

Ainda na década de 50, tiveram destaque como políticas educacionais para a Educação

de Jovens e Adultos, a Campanha Nacional de Educação Rural (1952) e a Campanha

Nacional de Erradicação do Analfabetismo (1958). Porém, ambas apresentaram poucas

concretizações, além de curta duração. Ademais, nesse período, de acordo com Beatrici:

Visando à educação popular em geral e reconhecendo a ineficácia das campanhas

anteriores, os educadores mobilizaram-se em busca de novas soluções para o

problema do analfabetismo: iniciou-se o estudo dos problemas da educação e das

ciências sociais; firmou-se a necessidade de estudos experimentais que oferecessem

métodos de atuação pedagógica de rentabilidade assegurada, a fim de evitar novos

fracassos (2009, p. 22).

Sendo assim, no final da década de 50, tais críticas foram direcionadas para um novo

olhar sobre o problema do analfabetismo no país, o que impulsionou a concretização de um

novo paradigma pedagógico para a Educação de Adultos, baseado fundamentalmente nas

ideias e contribuições do educador pernambucano Paulo Reglus Neves Freire. Além disso, de

acordo com Ribeiro (2001, p. 22), o pensamento pedagógico de Freire, “assim como sua

proposta para a alfabetização de adultos, inspiraram os principais programas de alfabetização

e educação popular que se realizaram no país no início dos anos 60”.

Sabe-se que o pedagogo brasileiro Paulo Freire foi um dos poucos educadores que

contribuíram na reflexão do homem e seu papel diante da sociedade, de forma que tal

contribuição promoveu seu destaque nacional e até mesmo internacional. Suas principais

ideias visavam orientar o processo de formação docente no que se refere à reflexão crítica da

prática pedagógica dos educadores, no que implica saber dialogar e escutar, e o que supõe o

respeito pelos saberes dos educandos, o reconhecimento da identidade cultural e dos

conhecimentos prévios dos mesmos.

Dessa forma, aproximadamente no início da década de 60, com ideias contrárias ao

modelo tradicional de Educação, surge então uma nova perspectiva de Educação, denominada

Pedagogia Libertadora, conhecida também como Educação Libertadora ou Emancipadora,

cujo principal líder foi Paulo Freire. A tendência libertadora surge em oposição aos métodos

de ensino da época que não eram capazes ou não se preocupavam prioritariamente em formar

Page 32: CONCEPÇÕES DE PROFESSORES EXPRESSAS NOS … · metodologia de investigação adotada foi a abordagem qualitativa de cunho interpretativo, na qual nos fundamentamos em Bogdan e Biklen

31

cidadãos, muito menos, críticos. Neste período, Freire iniciou seus trabalhos na área da

educação popular, voltados tanto para a escolarização e alfabetização de adultos como para a

formação da consciência crítica dos mesmos.

Por conseguinte, Freire, ao utilizar a ideia de dialética proposta por Marx, entende a

Educação como um processo que deve, necessariamente, levar o indivíduo a reconhecer não

só a sua condição de sujeito no mundo, mas também a sua condição de agente que cria e

transforma o mundo. Além disso, Freire procurou mostrar o papel da educação na construção

de uma sociedade democrática e formada de sujeitos dotados de pensamento crítico.

Em 1962, aproximadamente, surge o revolucionário Método de Alfabetização de

Paulo Freire, desenvolvido inicialmente no interior do Movimento de Cultura Popular de

Recife, no Estado de Pernambuco, e que posteriormente deu origem aos “Círculos de

Cultura”. Os Círculos de Cultura eram chamados dessa forma, pois os alunos, chamados por

Freire de “educandos”, sentavam-se em forma de círculos, o que facilitava a visualização e a

interação de todos. Não havia professores, mas sim “animadores”, como Freire os chamava,

que participavam das atividades comuns em que todos aprendiam e ensinavam, além de

promoverem o diálogo entre o grupo.

O método Paulo Freire, cujo princípio básico era “a leitura do mundo precede a leitura

da palavra” (FREIRE, 1989, p. 9), criticava o sistema tradicional de ensino para Jovens e

Adultos, principalmente por utilizar a cartilha como ferramenta basilar na alfabetização de

Adultos. Dessa forma, Freire designou o modelo tradicional da prática pedagógica de

Educação Bancária, como uma forma também de criticar a Educação existente no sistema

capitalista, pois entendia que esse modelo visava apenas à transmissão de conteúdos pelo

professor, em que a memorização mecânica dos conteúdos era privilegiada. Ao abordar a

problemática envolvida nessa questão, Freire destaca que:

As cartilhas, por boas que sejam, do ponto de vista metodológico ou sociológico,

não podem escapar, porém, à uma espécie de “pecado original”, enquanto são o

instrumento através do qual se vão “depositando” as palavras do educador, como

também seus textos, nos alfabetizandos. E por limitar-lhes o poder de expressão, de

criatividade, são instrumentos domesticadores (1981, p. 14).

Desse modo, as cartilhas ensinavam pelo método da repetição de palavras soltas ou de

frases criadas desvinculadas do contexto dos educandos, caracterizando assim uma concepção

Bancária de Educação de Jovens e Adultos. Entretanto, além da utilização das cartilhas no

ensino de Adultos, podemos citar outras características dentre tantas que se destacam no

modelo tradicional de ensino compreendido por Freire, e por nós, como Educação Bancária:

Page 33: CONCEPÇÕES DE PROFESSORES EXPRESSAS NOS … · metodologia de investigação adotada foi a abordagem qualitativa de cunho interpretativo, na qual nos fundamentamos em Bogdan e Biklen

32

- Há um afastamento entre os papéis dos educandos e dos educadores, pois nessa

concepção de Educação, os educadores são considerados os detentores do saber, e os

educandos, por sua vez, os que não sabem nada. Desse modo, tal modelo considera os Jovens

e Adultos analfabetos ou de baixa escolarização como seres incapazes, desprovidos de

conhecimentos e cultura;

- A ideologia da opressão, em que os educandos são oprimidos pelos seus educadores

e assim, o desenvolvimento da criatividade e da criticidade dos educandos é anulada ou

minimizada;

- A Educação é concebida como compensatória, cuja finalidade é suprir a oferta de

ensino para os Jovens e Adultos que não estudaram em idade regular;

- Somente a educação formal, ou seja, a educação concebida na escola é admitida.

Assim, as experiências e os conhecimentos prévios dos educandos Jovens e Adultos não são

considerados no processo de ensino-aprendizagem;

- O diálogo entre educadores e educandos é negado. Dessa forma, a dialogicidade não

é reconhecida nessa concepção como a essência na construção de conhecimentos;

- O currículo é proposto de forma sequencial e rígida, sem flexibilidade;

- A proposta pedagógica para a alfabetização de adultos não é direcionada às

especificidades da sua clientela e as Campanhas são fundamentadas em um sentido de

emergência e de mobilização social.

Por sua vez, Paulo Freire concretizou a alfabetização específica para adultos baseado

nos ideais de uma Educação Emancipadora, cujos objetivos buscavam adequar o trabalho às

especificidades dos educandos, começando dessa forma surgir à consciência de que

alfabetizar adultos exigia o desenvolvimento de um trabalho diferenciado do que era

designado às crianças com idade regular nas escolas, e não em um ensino infantilizado e de

certa forma constrangedor que era oferecido até então aos adultos. À luz desse entendimento,

Nogueira acrescenta:

Freire descobrira que a forma de trabalhar o processo do ato de aprender era

determinante em relação ao próprio conteúdo da aprendizagem. A participação do

sujeito da aprendizagem no processo de construção do conhecimento não é apenas

algo mais democrático, mas demonstrou ser também mais eficaz (2010, p. 26).

Nesse sentido, o método “acelerava” o processo de alfabetização de adultos, pois

respeitava que os educandos eram portadores de conhecimentos e experiências consideráveis

Page 34: CONCEPÇÕES DE PROFESSORES EXPRESSAS NOS … · metodologia de investigação adotada foi a abordagem qualitativa de cunho interpretativo, na qual nos fundamentamos em Bogdan e Biklen

33

do cotidiano adquiridas ao longo de suas vidas. Além disso, o método utilizava-se desses

conhecimentos como forma de potencializar o ensino e a aprendizagem dos educandos.

Para tanto, Freire defendia que a alfabetização de Adultos deveria ser um processo de

conscientização, em que o homem seria capaz de se perguntar o porquê de sua existência e de

questionar-se sobre a sua realidade no sentido de desvelá-la, o que possibilitou ao homem

emergir da sua condição de oprimido, de “hospedeiro” do opressor e o fez perceber que o

futuro não é algo dado, definido, mas possível de ser transformado, de ser construído.

Ademais, o pedagogo brasileiro “defendia uma educação que estimulasse à colaboração, a

decisão, a participação e a responsabilidade social e política dos Jovens e Adultos” (MINAS

GERAIS, 2005, p. 7).

No entanto, de acordo com Freire, para que isso ocorresse, a Educação e a

Alfabetização de Adultos deveriam partir da identificação da realidade dos educandos e da

origem de seus problemas. Sobre esse aspecto, Nogueira pontua que “o objetivo era, antes

mesmo de iniciar o processo escolar, levar o educando a assumir-se como sujeito de sua

aprendizagem e, para isso, os materiais didáticos produzidos contemplavam à realidade

imediata dos adultos, problematizando-a” (2010, p. 27).

Dessa forma, o método sugerido por Freire destacou-se e contribuiu imensamente para

a Educação de Jovens e Adultos, principalmente por reconhecer e utilizar os conhecimentos

prévios dos educandos, além de problematizar a partir do contexto e da realidade vivida por

eles. Ademais, as ideias de Freire implicaram na aprovação do Plano Nacional de

Alfabetização, em 1964, cujo principal objetivo era difundir programas de alfabetização em

todo território nacional, orientados pela proposta do educador brasileiro, que defendia uma

aprendizagem reflexiva, crítica e contextualizada (BRASIL, 2001). A elaboração do Plano

contou com forte engajamento de estudantes, sindicatos e diversos grupos estimulados pela

efervescência política da época.

No entanto, a proposta educacional libertadora e conscientizadora de Paulo Freire foi

uma das experiências que foram interrompidas pelo Golpe Militar de 1964, pois era vista

como uma ameaça à ordem. Desse modo, durante o regime militar (1964-1985), seus

integrantes e defensores foram duramente castigados e perseguidos pelos órgãos do Governo

Federal, além do que muitas lideranças foram torturadas, mortas, presas ou exiladas, como é o

caso do próprio Paulo Freire, que em 1964 foi preso por 72 dias, e em seguida foi exilado para

o Chile.

Page 35: CONCEPÇÕES DE PROFESSORES EXPRESSAS NOS … · metodologia de investigação adotada foi a abordagem qualitativa de cunho interpretativo, na qual nos fundamentamos em Bogdan e Biklen

34

Diante disso, a ditadura militar que se estabeleceu no país modificou a ideologia

política, a forma de governo e a Educação no Brasil. Referente à Educação de adultos, de

acordo com Cunha e Góes (1994, apud BEATRICI, 2009):

[...] os dois primeiros anos de ditadura foram anos em que não se falou nem se

investiu em educação de adultos no país, pois na verdade, o que se pretendia com

esse silêncio era fazer uma intervenção na educação que apagasse a prática dos anos

anteriores ao golpe e disseminasse a ideia de neutralidade política da educação (p.

23-24).

Contudo, em 1967, o governo assumiu o controle da alfabetização de Adultos no qual

autorizou somente a realização de programas de caráter assistencialista e conservador. Assim,

neste mesmo ano, em resposta à grave situação do analfabetismo ainda instalada no país, o

governo criou pela Lei nº 5379/67 o MOBRAL – Movimento Brasileiro de Alfabetização,

embora só tenha iniciado suas atividades em 1969. Por sua vez, o MOBRAL além de

erradicar totalmente o analfabetismo no Brasil, visava preparar mão de obra necessária aos

seus fins e aos interesses capitalistas do Estado. Ademais, de acordo com as Diretrizes

Curriculares da EJA, “sua proposta pedagógica desconsiderava a migração rural-urbana,

intensa naquele período, e dava primazia a um modelo industrial-urbano com padrões

capitalistas de produção e consumo” (BRASIL, 2006, p. 18).

Desse modo, Freitag (1986), Kaercher (1997) e Pereira (2007) afirmam que o

entendimento da proposta de alfabetização para Adultos do MOBRAL era desigual do que era

defendido por Paulo Freire. No entanto, o método de alfabetização do educador brasileiro

estava presente no Programa, contudo removido de seu contexto político e filosófico. Assim,

de acordo com Beatrici:

O que ficou conhecido como método Paulo Freire foi refuncionalizado como prática,

não de liberdade, mas de integração ao modelo brasileiro no nível das três

instâncias: infraestrutura, sociedade política e civil. Na implantação do MOBRAL

pelo governo militar, falava-se de “conscientização” cívica em busca da ordem e do

progresso (2009, p. 27).

Logo, de acordo com Galvão e Soares (2004), ao funcionar com uma estrutura paralela

e autônoma em relação ao Ministério da Educação, o MOBRAL surge com força e muitos

recursos, e em 1969 reproduz-se novamente uma Campanha Nacional intensiva de

alfabetização, na qual convocava a população a fazer a sua parte: “você também é

responsável, então me ensine a escrever, eu tenho a minha mão domável, eu sinto a sede do

saber” (GALVÃO e SOARES, 2004, p. 45-46).

Page 36: CONCEPÇÕES DE PROFESSORES EXPRESSAS NOS … · metodologia de investigação adotada foi a abordagem qualitativa de cunho interpretativo, na qual nos fundamentamos em Bogdan e Biklen

35

Diante disso, iniciou-se o recrutamento de alfabetizadores sem muitas exigências

referentes à qualificação profissional para desempenhar tal função, repetindo assim a

despreocupação com o ensino e aprendizagem dos educandos Adultos. Dessa forma, qualquer

pessoa que soubesse ler e escrever poderia também alfabetizar. Qualquer um, de qualquer

forma e recebendo qualquer coisa (GALVAO e SOARES, 2004).

Em relação às orientações metodológicas e os materiais didáticos utilizados por esse

Movimento, Ribeiro enfatiza que estes:

[...] reproduziram muitos procedimentos consagrados nas experiências de inícios dos

anos 60, mas esvaziando-os de todo sentido crítico e problematizador. Propunha-se a

alfabetização a partir de palavras-chave, retiradas “da vida simples do povo”, mas as

mensagens a elas associadas apelavam sempre ao esforço individual dos adultos

analfabetos para sua integração nos benefícios de uma sociedade moderna, pintada

sempre de cor-de-rosa (2001, p. 26).

No entanto, mesmo com características tão comprometedoras, o MOBRAL foi

expandido a todo o território nacional na década de 70. Além do que, outros Programas de

Alfabetização decorreram de suas propostas, cujo mais importante foi o PEI (Programa de

Educação Integrada). Este Programa correspondia a uma condensação do antigo curso

primário, o que possibilitou o prosseguimento de estudos para os recém-alfabetizados e para

os analfabetos funcionais (BRASIL, 2001).

Contudo, mesmo com a repressão imposta pelo governo militar, alguns grupos

dedicados à Educação Popular persistiram e continuaram a realizar experiências pequenas e

isoladas de alfabetização de Adultos baseadas nas ideias Freireanas. Ao abordar a

problemática envolvida nessa questão, Ribeiro (2001, p. 26-27) complementa que “essas

experiências eram vinculadas a movimentos populares que se organizavam em oposição à

ditadura, comunidades religiosas de base, associações de moradores e oposições sindicais”.

Ainda na década de 70, o ensino supletivo foi regulamentado pelo Ministério da

Educação e Cultura (MEC) e passou a ter bases legais e específicas em um capítulo próprio na

Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN nº 5.962/71). Marcado pelos

princípios da Educação compensatória, o ensino supletivo deveria suprir a Educação Regular

para Adolescentes e Adultos que não tivessem concluído os seus estudos em idade própria,

caracterizando assim uma concepção Bancária de Educação de Jovens e Adultos.

Diante disso, um dos componentes mais significativos desse tipo de atendimento foi a

flexibilidade, pois dessa forma foi possível organizar o ensino em várias modalidades, como

cursos supletivos, centros de estudo e ensino a distância, entre outras. Por outro lado, de

Page 37: CONCEPÇÕES DE PROFESSORES EXPRESSAS NOS … · metodologia de investigação adotada foi a abordagem qualitativa de cunho interpretativo, na qual nos fundamentamos em Bogdan e Biklen

36

acordo com as Diretrizes Curriculares da EJA, “a organização curricular e a matriz do ensino

supletivo seguiam a proposta curricular do ensino regular, porém de forma compactada, não

denotando qualquer especificidade à população jovem e adulta no processo de escolarização”

(BRASIL, 2006, p. 19).

Por sua vez, o Ensino Supletivo foi inicialmente apresentado como uma modalidade

provisória, de suplência, para os que necessitavam comprovar escolaridade no trabalho e para

os analfabetos. Entretanto, tornou-se uma forma de ensino permanente devido à crescente

demanda. Em suma, segundo Haddad e Di Pierro (2000, p. 117) “o Ensino Supletivo se

propunha a recuperar o atraso, reciclar o presente, formando uma mão de obra que

contribuísse no esforço para o desenvolvimento nacional, através de um novo modelo de

escola”.

Ainda nesse contexto, no ano de 1974, o MEC propôs a implantação dos Centros de

Estudos Supletivos (CES) com o objetivo de receber os alunos que almejassem completar os

estudos fora da idade regulamentada para as séries iniciais do ensino de primeiro grau. À luz

desse entendimento, Soares (1996, apud NOGUEIRA, 2010) ressalta que os CES:

[...] se organizavam com o trinômio tempo, custo e efetividade. Devido à época

vivida pelo país, estes cursos oferecidos foram fortemente influenciados pelo

tecnicismo, adotando-se os módulos instrucionais, o atendimento individualizado, a

auto-instrução e a argüição em duas etapas - modular e semestral (p. 21-22).

Desse modo, com o objetivo de repor a escolarização regular, formar mão de obra e

atualizar conhecimentos, o Ensino Supletivo foi organizado para desempenhar quatro funções

principais:

A suplência, ou seja, a substituição compensatória do ensino regular pelo supletivo

via cursos e exames com direito a certificação de ensino de 1º grau para maiores de

18 anos, e de ensino de 2º grau para maiores de 21 anos; o suprimento, ou

complementação da escolaridade inacabada por meio de cursos de aperfeiçoamento

e de atualização; a aprendizagem; e a qualificação (BRASIL, 2002, p. 16 - grifo do

autor).

Nesse sentido, de acordo com Haddad e Di Pierro, o funcionamento destas quatro

modalidades deveria se realizar com base em duas finalidades: “atribuir uma clara prioridade

aos cursos e exames que visassem à formação e ao aperfeiçoamento para o trabalho; e a

liberdade de organização, evitando assim que o Ensino Supletivo resultasse num “simulacro”

do Ensino Regular” (2000, p. 117).

Além disso, ainda conforme os autores acima citados, a legislação e os documentos de

apoio sugeriram que os profissionais que atuassem no ensino supletivo deveriam receber

Page 38: CONCEPÇÕES DE PROFESSORES EXPRESSAS NOS … · metodologia de investigação adotada foi a abordagem qualitativa de cunho interpretativo, na qual nos fundamentamos em Bogdan e Biklen

37

formação específica para trabalhar com o público dessa modalidade de ensino. Porém, durante

o tempo em que isto não fosse concretizado, os educadores do Ensino Regular que

realizassem cursos de aprimoramento deveriam ser aproveitados para trabalhar no Ensino

Supletivo. Ainda nessa discussão, para Haddad e Di Pierro:

O Ensino Supletivo foi apresentado à sociedade como um projeto de escola do

futuro e elemento de um sistema educacional compatível com a modernização

socioeconômica observada no país nos anos 70. Não se tratava de uma escola

voltada aos interesses de uma determinada classe, como propunham os movimentos

de cultura popular, mas de uma escola que não se distinguia por seu alunado, pois a

todos devia atender em uma dinâmica de permanente atualização (2000, p. 117).

Em linhas gerais, Gadotti (2007) ao referir-se à EJA no contexto latino-americano,

afirma que foram diversas as concepções de Educação de Jovens e Adultos que surgiram no

decorrer da história. Dessa forma, esclarece que tal modalidade foi concebida até os anos 40

como extensão da Educação formal, como Educação de base na década de 50, e no final dos

anos 50 foi definida como Educação Libertadora (Emancipadora) pelo educador Paulo Freire,

sendo compreendida ainda, como educação funcional ou profissional, como Educação não-

formal e como suplência da Educação formal.

No início da década de 80, a sociedade brasileira viveu importantes transformações

sociopolíticas com o fim dos governos militares e a retomada do processo de democratização,

basta lembrar a campanha nacional a favor das eleições diretas. Essas transformações

atingiram também a Educação de Jovens e Adultos do ponto de vista político, jurídico e

pedagógico.

Neste período, as discussões a respeito de propostas mais críticas de alfabetização de

Adultos foram ampliadas, além do que com a Nova República, a partir de 1985, o governo

federal rompeu com a política de Educação de Jovens e Adultos do período militar, o que

resultou na extinção do Mobral neste mesmo ano.

A partir de então, em 1985 o governo substituiu o MOBRAL e criou a Fundação

Educar (Fundação Nacional para Educação de Jovens e Adultos) que passou a fazer parte do

Ministério da Educação, cujas funções eram supervisionar e acompanhar junto as instituições

e secretarias que recebiam os recursos transferidos para execução de seus programas,

diferentemente do MOBRAL, que desenvolvia ações diretas de alfabetização (BEATRICI,

2009). Ainda na problemática envolvida nessa questão, Stragliotto complementa que a

Fundação Educar:

Page 39: CONCEPÇÕES DE PROFESSORES EXPRESSAS NOS … · metodologia de investigação adotada foi a abordagem qualitativa de cunho interpretativo, na qual nos fundamentamos em Bogdan e Biklen

38

[...] passou a conceber a alfabetização como um processo contínuo, que necessita de

um tempo maior, contemplando assim a alfabetização e a pós-alfabetização.

Experiências com educação de adultos, baseadas num ensino crítico,

problematizador e criativo, passaram a ser rediscutidas e valorizadas. A cultura e a

realidade dos educandos começaram a ser consideradas; o uso de cartilhas de

alfabetização, prontas e descontextualizadas, foi extinto. A ideia de leitura e escrita

como simples decodificação de letras e sons começa a ser ampliada e percebida

como possibilidade de leitura de mundo (2008, p. 18-19).

Isso se deve ao fato de que nesse período, no Brasil, disseminaram-se entre os

educadores estudos e pesquisas relacionadas ao aprendizado da língua escrita baseadas na

linguística e na psicologia, o que difundiu novas visões sobre as práticas de alfabetização.

Ademais, nesse momento, reforçam-se as críticas às cartilhas de alfabetização que abarcavam

palavras e frases isoladas, desvinculadas de contextos significativos para os educandos Jovens

e Adultos.

Sabe-se que a partir de 1986, por meio de convênios consolidados junto à Fundação

Educar, diversos grupos de Educação Popular expandiram suas atividades relacionadas à

Alfabetização de Adultos. Além disso, outros grupos tiveram a oportunidade de iniciar a

organização de projetos para alfabetização, pois a Fundação “transferia recursos financeiros

para ajuda de custo, com o pagamento de educadores e para a compra de material didático”

(BEATRICI, 2009, p. 33).

Ainda no ano de 1986, o MEC descentralizou os recursos financeiros e o poder de

decisão das políticas públicas educacionais. Desse modo, pretendia-se que os Estados e

municípios ofertassem a modalidade da Educação de Jovens e Adultos e assumissem com

seus orçamentos a alfabetização e a formação escolar deste público.

Dois anos mais tarde, a Constituição Brasileira foi promulgada, o que garantiu

importantes avanços no campo da EJA, principalmente pelo artigo 208, em que ficou

estabelecido que a Educação passaria a ser compreendida como direito de todos os cidadãos,

de forma gratuita e independente da faixa etária. Desse modo, foram ampliadas as

oportunidades educacionais para àqueles que já haviam ultrapassado a idade de escolarização

regular ou que pelas mais diversas situações não desfrutaram deste direito antes de chegarem

à vida adulta. Neste contexto, a Educação de Jovens e Adultos passou a ser reconhecida pelas

políticas educacionais brasileiras como modalidade específica da Educação Básica.

Ainda nessa discussão, Di Pierro (2000) ressalta que a partir da Constituição de 1988,

a Educação de Jovens e Adultos passou a ser reconhecida como uma política compensatória,

com o objetivo de repor a escolaridade não realizada na infância e adolescência, consideradas

idades apropriadas.

Page 40: CONCEPÇÕES DE PROFESSORES EXPRESSAS NOS … · metodologia de investigação adotada foi a abordagem qualitativa de cunho interpretativo, na qual nos fundamentamos em Bogdan e Biklen

39

No contexto da década de 80, podemos destacar também o Movimento de

Alfabetização (MOVA-SP), que foi lançado pela prefeitura de São Paulo no dia 29 de outubro

de 1989. Esse Movimento foi conduzido pelo educador brasileiro Paulo Freire, que recebeu

apoio de educadores, alfabetizandos e de integrantes dos Movimentos Sociais Populares. Na

época, Freire ocupava o cargo de Secretário Municipal de Educação durante o governo de

Luiza Erundina.

Sabe-se que o Movimento de Alfabetização (MOVA-SP) congregava três condições

básicas para que o programa de Educação de Jovens e Adultos pudesse ter sucesso: “vontade

política da administração, empenho e organização dos movimentos sociais populares e o

apoio da sociedade” (GADOTTI, 1996, p. 21). Além disso, o Movimento de Alfabetização

arriscou caminhos distintos, e assim criou uma nova metodologia para o trabalho com os

Jovens e Adultos, sobretudo ao se colocar contra no que diz respeito a preconceitos.

Contudo, o Movimento se “esbarrou com a velha tradição brasileira que é uma das

causas do nosso atraso educacional: a descontinuidade administrativa que caracteriza nossa

administração pública em todos os níveis” (GADOTTI, 1996, p. 23 - grifo do autor). Assim,

em 1993 o Movimento foi extinto pelo novo Secretário Municipal de Educação, sendo, porém

avaliado positivamente pelos seus executores, bem como por pesquisadores e observadores

estrangeiros.

Por sua vez, chegamos à década de 90 com políticas públicas educacionais pouco

favoráveis à Educação de Jovens e Adultos no Brasil, apesar do artigo que definiu na

Constituição a Educação como um “direito de todos”. Além do mais, nos anos 90, o governo

federal não concedeu financiamento para a EJA justamente no ano em que a UNESCO

designou como o ano internacional de alfabetização.

Ainda nesse mesmo ano, a Fundação Educar foi extinta pelo governo Collor, e junto

com ela os programas de Alfabetização de Jovens e Adultos até então existentes. Desse modo,

instituiu-se no país um enorme vazio no âmbito das políticas educacionais para o ensino

básico de Jovens e Adultos, que segundo Ribeiro:

[...] passou a ser atendido por ações pulverizadas, começando a arcar sozinhos com a

responsabilidade educativa para esse setor os órgãos públicos, as entidades civis e

instituições, com o governo federal se constituindo apenas como instância de apoio e

articulação (2007, p. 27).

No entanto, as iniciativas por parte dos estados e municípios mostraram-se

insuficientes diante da demanda da época.

Page 41: CONCEPÇÕES DE PROFESSORES EXPRESSAS NOS … · metodologia de investigação adotada foi a abordagem qualitativa de cunho interpretativo, na qual nos fundamentamos em Bogdan e Biklen

40

Também em 1990, o governo Collor instituiu o Programa Nacional de Alfabetização e

Cidadania (PNAC), cuja finalidade era superar o analfabetismo existente na camada social de

baixa renda, considerada uma parcela significativa da sociedade. Ademais, o PNAC prometia,

dentre outras medidas, “substituir a atuação da extinta Fundação Educar por meio da

transferência de recursos federais para que instituições públicas, privadas e comunitárias

promovessem a alfabetização e a elevação dos níveis de escolaridade dos jovens e adultos”

(HADDAD e DI PIERRO, 2000, p. 121). Todavia, o PNAC também foi extinto no ano

seguinte, já no mandato de Itamar Franco, sem que o governo manifestasse qualquer

esclarecimento para a sociedade brasileira sobre tal ação.

Em 1993, o Plano Decenal foi aprovado. Este Plano mostrou uma análise da situação

do analfabetismo no Brasil e delineou objetivos e metas para a erradicação do analfabetismo

no país no período de dez anos. Além disso, reconhecia que para um país se desenvolver, era

necessário derrotar alguns obstáculos, tais como: a heterogeneidade e a rigidez das estruturas

econômicas; a concentração do progresso técnico e da riqueza acumulada; os elevados índices

de desigualdade regional e social de renda, um mercado interno relativamente limitado em

face do seu porte demográfico (BRASIL, 1993). Neste sentido, seria indispensável organizar a

Educação de Jovens e Adultos por meio da educação continuada:

Faz-se necessário estruturar e institucionalizar programas alternativos de educação

continuada com o objetivo de reduzir o contingente atual de analfabetos entre 15-29

anos e elevar os níveis médios de escolaridade dos jovens e adultos

subescolarizados. Entretanto, eles devem resultar de novos acordos de articulação

entre as administrações estaduais, municipais de ensino, instituições especializadas

de formação de profissionais e organizações não governamentais aptas a operá-las

em sistema descentralizados, com elevada flexibilidade e versatilidade. Nesses

acordos, é necessária a participação de associações representativas da clientela a

serem atingidas, sobretudo as de trabalhadores e as patronais (BRASIL, 1993, p.

41).

Sabe-se ainda, de acordo com Haddad e Di Pierro (2000), que o Plano Decenal

almejava criar condições para que os analfabetos Jovens e Adultos pudessem ter acesso à

Educação, principalmente porque o Brasil estava entre os nove países que mais colaboravam

para a manutenção do analfabetismo no mundo, sendo este um indicador dos desafios

pendentes na Educação.

Outro fator a ser considerado na década de 90 foi a grande carência de materiais

didáticos de apoio, de estudos e pesquisas sobre essa modalidade específica de ensino. Deste

modo, com poucos recursos disponibilizados para o ensino de Adultos, os educadores

enfrentaram ainda mais dificuldades para desempenharem seu trabalho.

Page 42: CONCEPÇÕES DE PROFESSORES EXPRESSAS NOS … · metodologia de investigação adotada foi a abordagem qualitativa de cunho interpretativo, na qual nos fundamentamos em Bogdan e Biklen

41

Ainda na década de 90, mais precisamente em 20 de dezembro de 1996, foi publicada

a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) nº 9394/96, que dedicou dois artigos

à Educação de Jovens e Adultos:

ART. 37 - A educação de jovens e adultos será destinada aqueles que não tiveram

acesso ou continuidade de estudos no ensino fundamental e médio na idade própria.

1º - Os sistemas de ensino assegurarão gratuitamente aos jovens e adultos, que não

puderam efetuar os estudos na idade regular, oportunidades educacionais

apropriadas, consideradas as características do alunado, seus interesses, condições

de vida e de trabalho, mediante cursos e exames.

2º - O poder público viabilizará e estimulará o acesso e a permanência do

trabalhador na escola, mediante ações integradas e complementares entre si.

ART. 38 - Os sistemas de ensino manterão cursos e exames supletivos, que

compreenderão a base nacional comum do currículo, habilitando ao prosseguimento

de estudos em caráter regular.

1º - Os exames a que se refere este artigo realizar-se-ão:

I – no nível de conclusão do ensino fundamental, para maiores de quinze anos;

II – no nível de conclusão do ensino médio, para os maiores de dezoito anos.

2º - Os conhecimentos e habilidades adquiridos pelos educandos por meios

informais serão aferidos e reconhecidos mediante exames (BRASIL, 1996).

Desta forma, a Educação de Jovens e Adultos passou a fazer parte constitutiva da lei,

além de tornar-se uma modalidade de ensino e componente obrigatório da Educação Básica

nas etapas do Ensino Fundamental e Médio. Ademais, a nova Lei de Diretrizes e Bases

rompeu com a concepção posta na Lei nº 5.692/71, “seja pelo disposto no art. 92 da nova Lei,

seja pela nova concepção da EJA, em que desaparece a noção de Ensino Supletivo existente

na Lei nº 5.692/71”. A esse respeito, Soares acrescenta:

Com a incorporação da mudança conceitual de EJA que se dava desde o final dos

anos de 1980, a mudança de “ensino supletivo” para “educação de jovens e adultos”

não foi uma mera atualização vocabular. Houve um alargamento do conceito ao

mudar a expressão de ensino para educação. Enquanto o termo “ensino” se restringe

à mera instrução, o termo “educação” é muito mais amplo, compreendendo os

diversos processos de formação (2002, p. 12).

No entanto, para Haddad (2003), a LDB/96 desqualificou a Educação de Jovens e

Adultos, pois apesar de ter uma seção específica para a EJA (seção V) e uma proposta de

flexibilidade, a LDB não deve ser considerada como um avanço, pois a temática da EJA nesse

documento é tratada parcialmente. Deste modo, segundo o autor, não foram ponderados

aspectos importantes como: o analfabetismo; a superação da ideia de suplência, que apresenta

em sua concepção uma Educação dirigida para a reposição do Ensino Fundamental e Médio; a

participação ativa do Estado para criar condições de permanência na escola aos alunos dessa

modalidade específica de ensino.

Page 43: CONCEPÇÕES DE PROFESSORES EXPRESSAS NOS … · metodologia de investigação adotada foi a abordagem qualitativa de cunho interpretativo, na qual nos fundamentamos em Bogdan e Biklen

42

Ainda sobre problemática envolvida nessa questão, Haddad também critica a LDB

referente ao destaque dado aos exames e à mudança de idade, pois segundo ele, isto atenua as

responsabilidades do sistema público diante dos processos de formação de Jovens e Adultos,

garantindo apenas o mecanismo de certificação, e “em função da defasagem de idade/série

estariam potencialmente incluídos no mercado dos cursinhos preparatórios aos exames de

massa” (HADDAD, 2003, p. 124).

Sabe-se ainda, que antes mesmo da publicação da Lei nº 9.394/96, o governo de

Fernando Henrique Cardoso, por meio de uma Emenda Constitucional (nº 14) sancionada em

12 de setembro de 1996, modificou os Artigos 34, 208, 211 e 212 da Constituição Federal e

isentou o governo Federal “do esforço conjunto com a sociedade e com os governos estaduais

e municipais da tarefa de aplicar, pelo menos, 50% dos recursos destinados à educação para

eliminar o analfabetismo em dez anos” (BEATRICI, 2009, p. 38). Além disso, a Emenda

Constitucional 14/96, incluía ainda:

[...] a descentralização administrativa e financeira da educação fundamental,

retirando da área federal a obrigação de investimentos no setor, ao mesmo tempo em

que garantia o controle sobre os recursos investidos, resguardando, ainda nesse nível

de governo, o direito de orientar equitativamente a distribuição do ensino nos

Estados e municípios (BEATRICI, 2009, p. 38).

Desta forma, a modalidade EJA foi excluída do Fundo de Manutenção e

Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorização do Magistério (FUNDEF),

principal fonte de financiamento da Educação na época. Neste momento, verificou-se também

uma redefinição dos limites entre o público e privado, pois devido à diminuição das

responsabilidades do Estado, a sociedade civil foi convidada para participar diretamente por

meio da oferta de serviços educacionais.

Contudo, em janeiro de 1997, o Brasil destacou-se no cenário internacional ao sediar a

Conferência Regional Preparatória da América Latina e Caribe para a V Conferência

Internacional sobre Educação de Adultos (V CONFINTEA), que seria realizada em julho de

1997, em Hamburgo, na Alemanha. A V CONFINTEA, promovida pela Organização das

Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO), foi considerada um marco

importante para a Educação de Jovens e Adultos. Referente a esta temática, Nogueira

complementa:

A V CONFINTEA além de ter demonstrado a existência de concepções muito

diferenciadas de educação de adultos, graças à efetiva participação de mais de 1500

representantes de 170 países, também formulou um conceito de educação de adultos

Page 44: CONCEPÇÕES DE PROFESSORES EXPRESSAS NOS … · metodologia de investigação adotada foi a abordagem qualitativa de cunho interpretativo, na qual nos fundamentamos em Bogdan e Biklen

43

com diversas orientações e princípios que se tornaram referência para o campo da

EJA (2010, p. 23).

Desse modo, ao buscar explanar a importância da aprendizagem de Jovens e Adultos,

bem como compreender a formação deste público como uma pluralidade de processos formais

e informais de aprendizagem e educação continuada ao longo da vida, a V CONFINTEA

aprovou a Declaração de Hamburgo que definiu em seu artigo 3º:

Por educação de adultos entende-se o conjunto de processos de aprendizagem,

formal ou não, graças ao qual as pessoas consideradas adultas pela sociedade a que

pertencem, desenvolvem as suas capacidades, enriquecem os seus conhecimentos e

melhoram as suas qualificações técnicas ou profissionais, ou as reorientam de modo

a satisfazerem as suas próprias necessidades e as da sociedade. A educação de

adultos compreende a educação formal e permanente, a educação não-formal e toda

a gama de oportunidades de educação informal e ocasional existentes em uma

sociedade educativa multicultural, em que são reconhecidas as abordagens teóricas e

baseadas na prática (apud DI PIERRO, 2005, p. 17).

Diante disso, no início do século XXI, o ano de 2000 consagra-se no contexto da

Educação de Jovens e Adultos no Brasil com a aprovação e publicação do Parecer do

Conselho Nacional de Educação e da Câmara de Educação Básica nº 11/2000, que estabelece

as Diretrizes Nacionais4 para a EJA, com o intuito de diminuir o analfabetismo no Brasil.

Deste modo, participaram de sua elaboração vários especialistas em Educação, o MEC, forças

políticas, representantes comunitários, durante um período de quatro anos.

Este Parecer, que foi influenciado diretamente pela ampliação que o conceito de

Educação de Jovens e Adultos adquiriu a partir da V CONFINTEA, é o principal documento

em âmbito nacional que normatiza a Educação de pessoas Jovens e Adultas em todas as suas

modalidades, redefinindo assim o papel desta modalidade de ensino.

Deste modo, a Educação de Jovens e Adultos deixou de ser vista apenas como forma

de suprir e de compensar o público que foi excluído do processo de escolarização em idade

regular, passando a ter as seguintes funções de acordo com o Parecer 11/2000:

- Função Reparadora: possibilitar aos sujeitos Jovens e Adultos a restauração de um

direito a uma escola de qualidade que foi negado ao longo da história do Brasil, ou seja,

representa a reparação de uma dívida social contra inúmeras pessoas que não tiveram acesso à

escolarização em idade regular e nem a possibilidade de prosseguir seus estudos. Ademais,

4 Este Parecer instituiu a fundamentação legal, funções, normas de funcionamento dos cursos; fixa as bases

curriculares nacionais para a modalidade; trata dos processos de formação docente; regula os cursos realizados

pela iniciativa privada; exames cursos a distância e no exterior.

Page 45: CONCEPÇÕES DE PROFESSORES EXPRESSAS NOS … · metodologia de investigação adotada foi a abordagem qualitativa de cunho interpretativo, na qual nos fundamentamos em Bogdan e Biklen

44

refere-se ao reconhecimento da igualdade ontológica de todo e qualquer ser humano de ter

acesso a um bem real, social e simbolicamente importante.

Para tanto, é necessário que a Educação de Jovens e Adultos seja concebida como um

modelo educacional próprio, que crie situações pedagógicas satisfatórias para atender às

necessidades de aprendizagem específicas do público Jovem e Adulto. Diante disso, a função

reparadora da EJA se torna um novo ponto de partida para a igualdade de oportunidades.

- Função Equalizadora: visa garantir à igualdade de oportunidades a trabalhadores e

outros segmentos sociais de inserir-se no sistema educacional, além de possibilitar maiores

condições de acesso e permanência na escola, o que permitiu aos indivíduos “nova inserção

no mundo do trabalho, na vida social, nos espaços da estética e na abertura dos canais de

participação” (CONSELHO NACIONAL DE EDUCAÇÃO, 2000, p. 9).

- Função Qualificadora: visa propiciar a todos a atualização de conhecimentos ao

longo da vida, ou seja, é a função permanente da EJA. Além disso, é vista como mais que

uma função, sendo reconhecida como o próprio sentido da EJA.

Dessa forma, esta função apoia-se no entendimento de que as pessoas são seres

inacabados, cujas potencialidades de desenvolvimento e de adequação podem se atualizar,

qualificar e requalificar dentro ou fora da escola em qualquer faixa etária, sendo possível

constituir conhecimentos, habilidades, competências e valores que conduzam à realização de

si e ao reconhecimento do outro como sujeito.

Em linhas gerais, esta função é um apelo para a “educação permanente e criação de

uma sociedade educada para o universalismo, a solidariedade, a igualdade e a diversidade”

(CONSELHO NACIONAL DE EDUCAÇÃO, 2000, p. 11). Além disso, de acordo com o

Parecer CNE/CEB 11/2000, é um requerimento para os estabelecimentos de ensino e pesquisa

que visa à fabricação de material didático adequado “permanente enquanto processo mutável

na variabilidade de conteúdos e contemporânea no uso de e no acesso a meios eletrônicos da

comunicação” (CONSELHO NACIONAL DE EDUCAÇÃO, 2000, p. 11).

No entanto, além das três funções atribuídas à EJA, o Parecer 11/2000 tratou de outros

assuntos pertinentes à Educação de Jovens e Adultos, como: o limite de idade para o ingresso

na EJA (14 anos para o Ensino Fundamental e 17 anos para o Ensino Médio); formação

docente específica para o atendimento do público da EJA; extinção da utilização da expressão

“ensino supletivo”; contextualização curricular e metodológica de acordo com os princípios

de equidade e diferença defendidos pela Educação de Jovens e Adultos dentre outros.

Page 46: CONCEPÇÕES DE PROFESSORES EXPRESSAS NOS … · metodologia de investigação adotada foi a abordagem qualitativa de cunho interpretativo, na qual nos fundamentamos em Bogdan e Biklen

45

Além disso, ao analisar o Parecer 11/2000 podemos observar o reconhecimento de que

o público da EJA é constituído em sua maioria por Jovens e Adultos trabalhadores. Diante

disso, a Comissão Nacional de Educação de Jovens e Adultos esclarece que:

O contexto cultural do aluno trabalhador deve ser a ponte entre o seu saber e o que a

escola pode proporcionar, evitando, assim, o desinteresse, os conflitos e a

expectativa de fracasso que acabam proporcionando um alto índice de evasão (2000,

p. 121).

Deste modo, ressalta-se a necessidade de se respeitar a realidade dos estudantes, pois

esta é considerada o ponto de partida para a definição do currículo e para o processo de

ensino-aprendizagem na Educação de Jovens e Adultos. Ademais, se faz necessário

reconsiderar as possibilidades do processo educacional nesta modalidade de ensino em

decorrência das necessidades, dos interesses, das expectativas e anseios dos estudantes Jovens

e Adultos da EJA, considerando-os como agentes culturais, que participam e interagem

ativamente na construção de sua própria aprendizagem.

Ainda segundo o Parecer CNE/CEB 11/2000, tem-se a indicação de que as práticas

pedagógicas devem ser adequadas e direcionadas às necessidades, às exigências, aos

interesses e aos problemas enfrentados no contexto dos educandos Jovens e Adultos, evitando

assim a infantilização do ensino para esse público particular.

Sabe-se ainda, que a primeira década do século XXI estabeleceu-se como um período

significativo na história da EJA. Nesse momento, os Encontros Nacionais de Educação de

Jovens e Adultos (ENEJA’s) foram consolidados, todos em articulação com os Fóruns

Estaduais de Educação de Jovens e Adultos, que constituem-se como espaços de diálogos,

onde os segmentos envolvidos com a EJA planejam, organizam e propõem encaminhamentos

em comum (SOARES, 2004).

Em 9 de janeiro de 2001, o Plano Nacional de Educação foi aprovado pelo Congresso

Nacional e transformado na Lei 10.172/01. Referente a essa temática, Beatrici esclarece que:

O Plano estabelece prioridades de atendimento e princípios sob os quais se

organizará cada nível de ensino, sendo a primeira, a garantia do ensino fundamental

obrigatório de oito anos a todas as crianças de sete a quatorze anos. A segunda se

ocupa do ensino fundamental a jovens e a adultos, apontando a alfabetização como

ponto de partida. A terceira prioridade corresponde à extensão de forma gradual do

acesso ao ensino médio para jovens e adultos. O documento em questão esclarece

que, embora o analfabetismo esteja concentrado nas faixas etárias mais avançadas,

ele ainda tem se reproduzido (2009, p. 47- 48).

Page 47: CONCEPÇÕES DE PROFESSORES EXPRESSAS NOS … · metodologia de investigação adotada foi a abordagem qualitativa de cunho interpretativo, na qual nos fundamentamos em Bogdan e Biklen

46

Ainda de acordo com o documento do Plano Nacional de Educação, a Educação

passou a ser concebida como possível de ser desenvolvida ao longo da vida, iniciando com a

alfabetização, mas que só pode realmente concretizar-se com a formação equivalente às oito

séries (agora nove) iniciais do Ensino Fundamental.

Em 2003, o MEC anunciou que a alfabetização de Jovens e Adultos seria uma

prioridade do Governo Federal. Diante disso, foi criada a Secretaria Extraordinária de

Erradicação do Analfabetismo, cuja principal meta era erradicar o analfabetismo durante o

período de quatro anos do mandato do governo de Luís Inácio Lula da Silva.

Com o intuito de cumprir esta meta, no mesmo ano foi lançado o Programa Brasil

Alfabetizado, por meio do qual o MEC colaboraria com os órgãos públicos Estaduais e

Municipais, instituições de ensino superior e organizações sem fins lucrativos para que

desenvolvam ações de alfabetização. No entanto, de acordo com Haddad (2009, p. 360),

“mais recentemente o Brasil Alfabetizado vem gradativamente deixando de financiar

entidades da sociedade civil para apoiar apenas governos em sua missão alfabetizadora”.

Ainda na primeira década do século XXI, em 1º de janeiro de 2007 foi lançado o

FUNDEB – Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização

dos Profissionais da Educação, que por meio da mobilização de organizações e educadores foi

gestado com a responsabilidade de melhorar os pontos negativos do FUNDEF (fundo

anterior).

O FUNDEB, que teve sua plenitude em 2009, destina-se ao financiamento de ações

de manutenção e desenvolvimento da Educação Básica pública, independente da modalidade

de ensino (regular, especial ou de Jovens e Adultos), da sua duração, da idade dos alunos, do

turno de atendimento e da localização da escola. Percebe-se assim um crescente movimento

globalizado de investimento na Educação de Jovens e Adultos.

Sabe-se ainda que durante o governo Lula (2003-2010) houve um intenso processo de

municipalização da Educação de Jovens e Adultos, especialmente nas primeiras etapas5 do

Ensino Fundamental, conforme norteia a Constituição Federal e a LDB, em que as séries

finais do Ensino Fundamental e o Ensino Médio ficaram sob a responsabilidade do governo

estadual. Desse modo, em 2006, os municípios foram responsáveis por 80% das matrículas no

Primeiro Segmento do Ensino Fundamental da EJA, os Estados ficaram apenas com 54% das

matrículas do Segundo Segmento do Ensino Fundamental presencial e com 88,2% das

matrículas do Ensino Médio (DI PIERRO; VÓVIO; ANDRADE, 2008).

5 No Estado de Mato Grosso a nomenclatura utilizada referente às primeiras etapas chama-se Primeiro

Segmento, que constitui as quatro primeiras séries do Ensino Fundamental.

Page 48: CONCEPÇÕES DE PROFESSORES EXPRESSAS NOS … · metodologia de investigação adotada foi a abordagem qualitativa de cunho interpretativo, na qual nos fundamentamos em Bogdan e Biklen

47

Em suma, o processo histórico da Educação de Jovens e Adultos no Brasil foi

caracterizado por uma grande diversidade de experiências promovidas por várias ações, sejam

elas, formais ou informais, governamentais ou não governamentais. No entanto, a atenção que

foi atribuída à EJA pelas políticas educativas no decorrer dos anos não foi suficiente, pois

muitas vezes esta modalidade foi deixada em segundo plano, não recebendo a importância

devida pelas políticas públicas brasileiras. Dessa forma, os esforços dirigidos à EJA até os

dias de hoje não garantiram a tão almejada erradicação do analfabetismo, mas apesar disso,

podemos notar melhorias significativas nesta modalidade no Brasil.

Portanto, com o objetivo de sintetizar a trajetória histórica da Educação de Jovens e

Adultos no Brasil a partir da década de 30, elaboramos o Quadro 1 como podemos observar

abaixo:

Quadro 1- Síntese da Trajetória Histórica da Educação de Jovens e Adultos no Brasil

DÉCADA

PRINCIPAIS FATOS HISTÓRICOS DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E

ADULTOS NO BRASIL

Década de 30

- A Educação básica de adultos começou a demarcar seu lugar no cenário da história

da Educação brasileira;

- Criação do Plano Nacional de Educação, em que se estabeleceu nacionalmente o

ensino primário integral, obrigatório e gratuito aos adultos;

- Oferta do ensino básico foi expandida com a finalidade de ampliar as bases eleitorais

do país.

Década de 40

- Realização das primeiras iniciativas governamentais que pretendiam tratar dos

índices elevados do analfabetismo entre adultos;

- A Educação de adultos configura-se como Campanha Nacional de Massa,

denominada de Campanha Nacional de Educação de Adolescentes e Adultos

Analfabetos;

- Os adultos eram considerados um problema social, incapazes e marginais, além de

serem identificados psicologicamente e socialmente com as crianças;

- Desenvolvimento e produção dos primeiros materiais didáticos específicos para o

ensino dos adultos até então analfabetos;

- Realização da primeira CONFINTEA.

Década de 50

- A Campanha Nacional de Educação de Adolescentes e Adultos Analfabetos foi

extinta antes do final da década devido às críticas sobre suas falhas administrativas,

financeiras, e à sua orientação pedagógica, permanecendo apenas a rede de ensino

supletivo por meio dela implantada;

- A Campanha Nacional de Educação Rural (1952) e a Campanha Nacional de

Erradicação do Analfabetismo (1958) destacaram-se como políticas educacionais para

a Educação de Jovens e Adultos;

- Mobilização dos educadores em busca de novas soluções para o problema do

analfabetismo;

- No final da década, consolidou-se um novo paradigma pedagógico para a Educação

de Adultos, baseado nas ideias e contribuições do educador Paulo Freire.

Década de 60

- As ideias e a proposta para a alfabetização de adultos de Paulo Freire, inspirou os

principais programas de alfabetização do Brasil nessa época;

- Em 1962, surge o revolucionário Método de Alfabetização de Paulo Freire;

- Em 1964, foi aprovado o Plano Nacional de Alfabetização, cujo objetivo era difundir

programas de alfabetização em todo território brasileiro orientados pela proposta de

Paulo Freire, que defendia uma aprendizagem reflexiva, crítica e contextualizada. No

entanto, essa proposta foi interrompida com o Golpe Militar de 1964 e seus

Page 49: CONCEPÇÕES DE PROFESSORES EXPRESSAS NOS … · metodologia de investigação adotada foi a abordagem qualitativa de cunho interpretativo, na qual nos fundamentamos em Bogdan e Biklen

48

DÉCADA

PRINCIPAIS FATOS HISTÓRICOS DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E

ADULTOS NO BRASIL

Década de 60

defensores foram duramente perseguidos e castigados;

- Em 1967, o governo assumiu o controle da alfabetização de adultos e autorizou

somente a realização de programas de caráter assistencialista e conservador;

- Nesse mesmo ano, o governo instituiu o MOBRAL, embora suas atividades só

iniciassem em 1969.

Década de 70

- Expansão do MOBRAL em todo o território brasileiro;

- Regulamentação do Ensino Supletivo pelo MEC;

- Em 1974, o MEC propôs a implantação dos Centros de Estudos Supletivos (CES);

- O Ensino Supletivo foi organizado para desempenhar quatro principais funções:

suplência, suprimento, aprendizagem e qualificação.

Década de 80

- A década de 80 foi marcada por transformações que atingiram a Educação de Jovens

e Adultos do ponto de vista político, jurídico e pedagógico;

- Em 1985 o governo substituiu o MOBRAL e criou a Fundação Educar;

- Disseminaram-se novas visões sobre as práticas de alfabetização;

- Críticas às cartilhas de alfabetização;

- Diversos grupos de Educação Popular expandiram suas atividades relacionadas à

Alfabetização de Adultos;

- Em 1988, a Constituição Brasileira foi promulgada e garantindo importantes

avanços no campo da Educação de Jovens e Adultos. Além disso, a EJA passou a ser

reconhecida como uma política compensatória;

- Em 1989 foi lançado o MOVA.

Década de 90

- A década de 90 foi marcada pela grande carência de materiais didáticos de apoio, de

estudos e pesquisas referentes à Educação de Jovens e Adultos;

- Políticas públicas educacionais pouco favoráveis à Educação de Jovens e Adultos no

Brasil;

- Em 1990 a Fundação Educar foi extinta pelo governo Collor, bem como outros

programas de alfabetização de Jovens e Adultos até então existentes. Nesse mesmo

ano, o governo federal não concedeu financiamento para a EJA, porém instituiu o

Programa Nacional de Alfabetização e Cidadania (PNAC);

- Em 1991, o PNAC foi extinto sem maiores esclarecimentos do governo;

- Em 1993 foi extinto o Programa MOVA-SP. Nesse mesmo ano, o Plano Decenal foi

aprovado, no qual mostrou uma análise da situação do analfabetismo no Brasil;

- Estados e municípios assumiram a oferta de programas de Educação de Jovens e

Adultos. Porém, essas iniciativas mostraram-se insuficientes devido à grande

demanda;

- Em 1996 foi publicada a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) nº

9394/96, que dedicou dois artigos (37 e 38) à Educação de Jovens e Adultos;

- Logo após a publicação da LDB, o governo de Fernando Henrique Cardoso, por

meio de uma Emenda Constitucional (nº 14), modificou os Arts. 34, 208, 211 e 212 da

Constituição Federal, isentando o governo Federal de aplicar 50% dos recursos

destinados à educação para eliminar o analfabetismo em dez anos;

- Depois da Emenda Constitucional, a modalidade EJA foi excluída do Fundo de

Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorização do

Magistério (FUNDEF);

- Em janeiro de 1997, o Brasil destacou-se no cenário internacional ao sediar a

Conferência Regional Preparatória da América Latina e Caribe para a V Conferência

Internacional sobre Educação de Adultos (V CONFINTEA);

- Em 1997 foi realizada a V CONFINTEA, em Hamburgo, na Alemanha, sendo

considerada um marco importante para a Educação de Jovens e Adultos, pois nessa

ocasião foi formulado um conceito de Educação de Adultos com diversas orientações

e princípios que se tornaram referência para o campo da EJA.

Primeira década

do século XXI

- A primeira década do século XXI estabeleceu-se como um período significativo na

história da EJA;

- Nesse período, os Encontros Nacionais de Educação de Jovens e Adultos (ENEJA’s)

foram consolidados, todos em articulação com os Fóruns Estaduais de Educação de

Jovens e Adultos;

- O ano de 2000 consagra-se no contexto da Educação de Jovens e Adultos no Brasil

Page 50: CONCEPÇÕES DE PROFESSORES EXPRESSAS NOS … · metodologia de investigação adotada foi a abordagem qualitativa de cunho interpretativo, na qual nos fundamentamos em Bogdan e Biklen

49

DÉCADA

PRINCIPAIS FATOS HISTÓRICOS DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E

ADULTOS NO BRASIL

Primeira década

do século XXI

com a aprovação e publicação do Parecer do Conselho Nacional de Educação e da

Câmara de Educação Básica nº 11/2000, que estabelece as Diretrizes Nacionais para a

EJA. A partir do Parecer, a EJA assume três funções: reparadora, equalizadora e

qualificadora;

- Em janeiro de 2001, o Plano Nacional de Educação foi aprovado pelo Congresso

Nacional e transformado na Lei 10.172/01, onde a Educação passou a ser concebida

como possível de ser desenvolvida ao longo da vida;

- Em 2003, o MEC anunciou que a alfabetização de Jovens e Adultos seria uma

prioridade do Governo Federal, momento em que foi criada a Secretaria

Extraordinária de Erradicação do Analfabetismo, cuja meta era erradicar o

analfabetismo durante o período de quatro anos do mandato do governo de Luís

Inácio Lula da Silva;

- Também em 2003, foi lançado o Programa Brasil Alfabetizado;

- Em 2007 foi lançado o FUNDEB, que se destina ao financiamento de ações de

manutenção e desenvolvimento da Educação Básica pública, independente da

modalidade de ensino.

Fonte: A autora (2012)

1.2 ESPECIFICIDADES DA EJA NA ATUALIDADE BRASILEIRA

No decorrer da história, a Educação de Jovens e Adultos foi configurada no Brasil por

várias concepções que sofreram mudanças no decorrer dos anos, como podemos observar no

início desse trabalho. Entretanto, a EJA atualmente vem sendo compreendida como uma

Educação Emancipadora, ou seja, como uma modalidade específica de Educação Básica que

visa atender e incluir na sociedade um público de pessoas que não teve acesso à Educação ou

não a concluiu durante a infância e/ou adolescência em idade regular. Além disso, a EJA

nessa perspectiva atua com a finalidade de reparar, equalizar, qualificar e promover a

cidadania. Defende também uma Educação que preze a formação da consciência crítica dos

educandos, que estimule à colaboração, a decisão, a participação e a responsabilidade social e

política dos Jovens e Adultos, ou seja, defende uma Educação como prática da liberdade e

como um direito de todos os cidadãos.

Outro ponto a ser destacado nessa concepção da EJA, é que a Educação deve ser um

processo que leva o indivíduo a reconhecer não só a sua condição de sujeito no mundo, mas,

também, a sua condição de agente que cria e transforma o mundo (FREIRE, 1987). Dessa

forma, a Educação de Jovens e Adultos na perspectiva Emancipadora considera e reconhece

as experiências, os conhecimentos prévios, a diversidade e as especificidades de seu público,

que é constituído por adolescentes e adultos (muito deles idosos), trabalhadores empregados

em ocupações não qualificadas, desempregados ou em busca do primeiro emprego, moradores

Page 51: CONCEPÇÕES DE PROFESSORES EXPRESSAS NOS … · metodologia de investigação adotada foi a abordagem qualitativa de cunho interpretativo, na qual nos fundamentamos em Bogdan e Biklen

50

urbanos de periferias, favelas ou vilas com baixo poder aquisitivo, e que vão para a escola

com crenças e valores já constituídos.

Ademais, são sujeitos marginalizados nos campos socioeconômicos e educacionais,

privados ao acesso à cultura letrada e aos bens culturais e sociais, comprometendo uma

participação mais ativa no mundo do trabalho, da política e da cultura. À luz desse

entendimento, para Fonseca (2008, p. 352), o público da EJA é definido muito mais por sua

“identidade delineada por traços da exclusão sociocultural, do que pela faixa etária a que

pertencem os alunos e as alunas”. Ainda nessa discussão, Oliveira complementa que:

Esse território da educação não diz respeito a reflexões e ações educativas dirigidas

a qualquer jovem ou adulto, mas delimita um determinado grupo de pessoas

relativamente homogêneo no interior da diversidade de grupos culturais da

sociedade contemporânea (1999, p. 59).

Neste sentido, os educandos desta modalidade de ensino possuem características

próprias diferentes dos estudantes do Ensino Regular, que vão além da diversidade de faixa

etária, pois esses Jovens e Adultos têm interesses, motivações, experiências e expectativas que

devem ser consideradas no processo educacional. Contudo, são protagonistas de histórias

reais, “que vivem do mundo adulto do trabalho, com responsabilidades econômicas e

familiares, com princípios éticos e morais formados a partir da experiência, do ambiente, da

realidade cultural em que estão inseridos” (ALVARES, 2010, p. 69).

No entanto, ao regressarem à escolarização formal, estes sujeitos trazem consigo

marcas profundas de exclusão, mas também de esperanças e possibilidades nesta nova etapa

de suas biografias. Além do que, o fazem levados pelo anseio de melhorar de vida ou por

exigências relacionadas ao mundo do trabalho. No que se refere, o trabalho é apontado pelos

estudantes da Educação de Jovens e Adultos como uma das principais razões para voltarem à

escola. Desta forma, “o tema TRABALHO tem um lugar especial na EJA e deve importar ao

trabalho dos professores, das professoras e da escola” (BRASIL, 2006, p. 20), não devendo

ficar de fora do processo de construção do saber vivenciado nos bancos escolares desta

modalidade de Educação.

No contexto da EJA, sabe-se ainda que vários são os motivos pelos quais essas

pessoas estiveram afastadas da escola. Dentre os principais e mais frequentes destacam-se: a

oferta irregular de vagas devido às inadequações do sistema de ensino, a entrada precoce no

mercado de trabalho e as condições socioeconômicas desfavoráveis pelos quais o público

desta modalidade de ensino enfrentou ao longo de suas vidas.

Page 52: CONCEPÇÕES DE PROFESSORES EXPRESSAS NOS … · metodologia de investigação adotada foi a abordagem qualitativa de cunho interpretativo, na qual nos fundamentamos em Bogdan e Biklen

51

Ainda nessa discussão, alguns autores como Fávero, Orofino e Farias (1995) atribuem

ao insucesso escolar, principalmente relacionado à Matemática, como sendo uma das

principais causas da evasão dos Jovens e Adultos dos bancos escolares. Contudo, em relação à

problemática envolvida nessa questão, Fonseca (2005, apud FERREIRA, 2009) opõe-se à tese

de que os alunos abandonam a escola “por causa da Matemática”, afirmando que é necessário

[...] considerar a incompatibilidade dos espaços e dos tempos escolares com as

responsabilidades ou modos de vida que os alunos precisam assumir – tendo em

vista suas condições de vida e as restrições de oferta de escolas para todos –, como

fatores muito mais determinantes da exclusão escolar do que um insucesso numa

disciplina (p. 16).

Diante desta situação, concordamos com a autora, porém sabemos que uma

característica muito frequente e marcante do público da EJA é a baixa autoestima, e que,

muitas vezes foi reforçada justamente pelas situações de fracasso escolar, pois muitos

educandos que já havia frequentado anteriormente a escola tiveram sua passagem marcada

pela exclusão e/ou pelo insucesso escolar. Sabemos também que, muitas vezes, os alunos que

não apresentavam um desempenho escolar satisfatório eram chamados pelos colegas, e até

mesmo por alguns professores, de “burros” ou “preguiçosos” ocasionando assim graves

consequências na autoestima dos educandos, abalando a identidade e a autoimagem dos

mesmos.

Desta forma, com um desempenho pedagógico anterior comprometido, esses

estudantes regressam às salas de aula de EJA impregnados de insegurança, apresentando uma

autoimagem fragilizada e acreditando muitas vezes serem incapazes de superar novos desafios

que por ventura surgirem. Além disso, demonstram, muitas vezes, timidez em expor suas

dúvidas aos professores ou em responder interrogações na sala de aula, bem como nervosismo

acentuado em situações de avaliação. Tal posicionamento pode estar relacionado ao processo

de silenciamento apontado por Freire (1987) ao afirmar que os indivíduos dominados perdem

os meios de responder criticamente ao conhecimento imposto a eles pela cultura dominante,

ou seja, pelos professores.

Diante disso, os Jovens e Adultos acabam ficando suscetíveis, podendo dessa forma

vivenciar outro fracasso escolar, resultando, muitas vezes, no abandono e em nova

desistência.

No entanto, este cenário poderá ser transformado na medida em que as instituições

escolares, juntamente com suas equipes docentes tomarem consciência de que é necessário

acolher esses educandos como sujeitos receptivos à aprendizagem, carregados de curiosidades

Page 53: CONCEPÇÕES DE PROFESSORES EXPRESSAS NOS … · metodologia de investigação adotada foi a abordagem qualitativa de cunho interpretativo, na qual nos fundamentamos em Bogdan e Biklen

52

e que vão para as salas de aula desejando novas experiências. Dessa forma, a baixa autoestima

desses Jovens e Adultos pode ser amenizada, principalmente por se sentirem respeitados e

valorizados, principalmente por que:

Os jovens e adultos buscam na escola, sem dúvida, mais do que conteúdos prontos

para serem reproduzidos. Como cidadãos e trabalhadores que são, esses alunos

querem se sentir sujeitos ativos, participativos e crescer cultural, social e

economicamente (BRASIL, 2006, p. 11).

Diante disso, podemos compreender que os educadores desempenham um papel

fundamental, decisivo e de grande responsabilidade, tanto pelo sucesso quanto pelo fracasso

escolar de seus alunos.

Ainda no contexto da EJA, podemos perceber que a diversidade de seu público é uma

característica muito marcante, pois a pluralidade das pessoas Jovens e Adultas que fazem

parte dessa modalidade de ensino é carregada de múltiplas identidades, principalmente por

terem vivido “um pouco mais de tempo”. Dessa forma, a diversidade presente nessa

modalidade de ensino é muito importante para refletirmos sobre o processo de acolhida desses

educandos no (re) ingresso na escola, principalmente na fase de alfabetização. Arroyo nos

chama a atenção para essa perspectiva:

O tema da diversidade é um tema posto na nossa sociedade com especial destaque

em décadas recentes. Diversidade de gênero, de raça, de território, a diversidade.

Diversidade que se converteu em diferenças e em desigualdades. Hoje os

movimentos sociais trazem uma marca, a marca de afirmar os coletivos diversos. De

defender a diversidade, de não querer anular suas diversidades em políticas de

integração, em espaços amorfos, sem rosto, sem cor (2007, p. 18).

Nesse sentido, a diversidade em suas múltiplas dimensões é uma das especificidades

que se estabelecem na EJA, sendo indispensável refletirmos sobre elas principalmente quando

nos propomos à reflexão e à atuação nesta modalidade de ensino em busca de uma Educação

Emancipadora.

Ainda tratando das especificidades da EJA, sabe-se que além da heterogeneidade dos

aspectos culturais, etários, da visão de mundo e dos conhecimentos prévios dos educandos

desta modalidade de ensino, esse público apresenta modos diferentes e variados de estruturar

e organizar o pensamento. No que se refere, diferentemente do que se acreditava sobre a idade

adulta cuja fase era caracterizada por ser estável, estudos recentes revelam que o

desenvolvimento psicológico do ser humano é um processo que dura toda a vida e que a fase

Page 54: CONCEPÇÕES DE PROFESSORES EXPRESSAS NOS … · metodologia de investigação adotada foi a abordagem qualitativa de cunho interpretativo, na qual nos fundamentamos em Bogdan e Biklen

53

adulta é marcada por várias transformações, não se restringindo exclusivamente à cognição.

Sendo assim, é imprescindível conceber esta etapa como um período evolutivo.

À luz desse entendimento, vários autores como Knapper e Cropley (1985), Knowles

(1986) e Smith (1988) revelam que a cognição na idade adulta está relacionada às questões da

vida real, e que os adultos geralmente procuram aprender visando resolver problemas do seu

dia a dia. Desse modo, o adulto aprende melhor quando os conteúdos apresentados pelos

professores são relacionados com o contexto próximo dos estudantes, envolvendo a

participação pessoal, corporal, intelectual e emocional em atividades, proporcionando assim

oportunidades para descoberta e realização pessoal.

Ainda sobre a problemática envolvida nesta questão, Eduard Linderman ao investigar

as melhores formas de educar adultos para a "American Association for Adult Education", no

ano de 1926 identificou cinco pressupostos-chave para a educação de Jovens e Adultos. Anos

mais tarde, esses pressupostos transformaram-se em suporte de pesquisas, sendo que,

atualmente fazem parte dos fundamentos da contemporânea teoria de aprendizagem de

adultos. Deste modo, os cinco pressupostos para a aprendizagem de Jovens e Adultos,

segundo Linderman, são:

1. Adultos são motivados a aprender na medida em que experimentam que suas

necessidades e interesses serão satisfeitos. Por isto estes são os pontos mais

apropriados para se iniciar a organização das atividades de aprendizagem do

adulto.

2. A orientação de aprendizagem do adulto está centrada na vida; por isto as

unidades apropriadas para se organizar seu programa de aprendizagem são as

situações de vida e não disciplinas.

3. A experiência é a mais rica fonte para o adulto aprender; por isto, o centro da

metodologia da educação do adulto é a análise das experiências.

4. Adultos têm uma profunda necessidade de serem auto dirigidos; por isto, o papel

do professor é engajar-se no processo de mútua investigação com os alunos e não

apenas transmitir-lhes seu conhecimento e depois avaliá-los.

5. As diferenças individuais entre pessoas crescem com a idade; por isto, a

educação de adultos deve considerar as diferenças de estilo, tempo, lugar e ritmo

de aprendizagem (1926, p. 8-9).

Diante disso, é essencial, como educadores da EJA, compreendermos o processo de

ensino-aprendizagem dos Jovens e dos Adultos, principalmente por se tratar de pessoas

dotadas de uma consciência formada e portadoras de uma bagagem cultural (RIBEIRO,

2007). Dessa forma, precisamos ser muito cautelosos e estar atentos com as relações entre

professor, aluno e conhecimento, pois na EJA o processo de ensino-aprendizegem deve ser

compartilhado entre professores e alunos. Ao abordar a problemática envolvida nessa questão,

Ausubel et al (1980) pontuam que:

Page 55: CONCEPÇÕES DE PROFESSORES EXPRESSAS NOS … · metodologia de investigação adotada foi a abordagem qualitativa de cunho interpretativo, na qual nos fundamentamos em Bogdan e Biklen

54

Parece auto-evidente que o professor deveria constituir uma variável importante no

processo de aprendizagem. De um ponto de vista cognitivo, certamente deveria

fazer diferença, em primeiro lugar, quão abrangente e coerente é a compreensão

que o professor tem do assunto que leciona (p. 415).

Nesse sentido, dentre as principais especificidades da Educação de Jovens e Adultos

destacam-se os educadores que trabalham nessa modalidade de ensino. Frente esse aspecto, o

professor que atua com Jovens e Adultos deve ter uma formação específica, que lhe permita

compreender os anseios e necessidades desse público especial, além de saber lidar com os

sentimentos e anseios dessas pessoas. Ademais, o docente deve compreender a importância

prática dos conteúdos a serem ensinados, pois o público dessa modalidade prefere ter acessos

a conhecimentos que realmente lhe serão úteis no dia a dia, que façam diferença e que

transformem suas vidas.

Dessa forma, o professor ao planejar as aulas deve buscar estratégias, metodologias e

recursos metodológicos visando contemplar de maneira mais eficiente o seu interesse de

ensino, que é fazer o aluno aprender. Neste aspecto, concordamos com Darsie, pois “devem

ser nossas preocupações constantes, o que ensinamos, como ensinamos e, igualmente

importante, a quem ensinamos” (1993, p. 31 - grifo nosso). Complementando: “... e,

sobretudo o porquê ensinar, ou seja, o controle e direção consciente de sua prática”

(DARSIE, 1998, p. 117).

Para tanto, a Educação de Jovens e Adultos na concepção Emancipadora requer do

educador conhecimentos específicos no que diz respeito ao conteúdo, metodologia, avaliação,

dentre outros, para trabalhar com essa clientela heterogênea e tão diversificada culturalmente.

No que se refere à heterogeneidade da sala de aula da EJA, esta deve ser encarada

positivamente pelos profissionais da Educação, pois a variedade de experiências e vivências

desse público tem muito a contribuir para o processo de ensino-aprendizagem, podendo ainda

facilitar a compreensão de novos conteúdos explorados. Ademais, de acordo com o Parecer

11/2000, a heterogeneidade e o perfil dos educandos da EJA devem servir como o princípio

de organização do projeto pedagógico nas escolas que oferecem essa modalidade de ensino.

Sabe-se ainda que o professor da EJA deve refletir sobre sua prática pedagógica e

compreender a necessidade de respeitar as identidades, as questões que envolvem classe

social, raça, saber e linguagem de seus educandos, pois do contrário, o ensino ficará limitado

à imposição de um modelo pronto e acabado, em que se objetiva apenas ensinar a ler, escrever

e calcular de forma mecânica como é caracterizada a concepção Bancária de Educação. Desse

Page 56: CONCEPÇÕES DE PROFESSORES EXPRESSAS NOS … · metodologia de investigação adotada foi a abordagem qualitativa de cunho interpretativo, na qual nos fundamentamos em Bogdan e Biklen

55

modo, novas dimensões são postas ao papel do educador da EJA na concepção Emancipadora,

sendo que este deve ser organizador, consultor, mediador e incentivador da aprendizagem,

bem como deve promover o diálogo com seus educandos. Ao abordar a problemática

envolvida nessa questão, Ribeiro complementa que:

A formação do professor como educador torna-se imprescindível num contexto com

especificidades tão particulares como é a EJA, que exige um educador preparado,

compromissado com o trabalho coletivo e com a inovação pedagógica, dotado de

sensibilidade para acolher educandos que carregam diferentes motivações, capaz de

lidar com a heterogeneidade, de reconhecer e valorizar os saberes de que os jovens e

adultos são portadores, disposto ao diálogo democrático e à convivência plural

(2007, p. 69-70).

No que isso se refere, o Parecer 11/2000 aborda um item específico (item VIII) sobre a

formação de professores para a Educação de Jovens e Adultos, em que destaca que o “preparo

de um docente voltado para a EJA, deve incluir, além das exigências formativas para todo e

qualquer professor, aquelas relativas à complexidade diferencial desta modalidade de ensino”

(2000, p. 56). Ademais, o Parecer sugere que “as licenciaturas e outras habilitações ligadas

aos profissionais do ensino não podem deixar de considerar, em seus cursos, a realidade da

EJA” (CONSELHO NACIONAL DE EDUCAÇÃO, 2000, p. 58).

No entanto, de acordo com a Comissão Nacional de Educação de Jovens e Adultos

(2001), a maioria dos profissionais da Educação que trabalham nas diversas áreas do

conhecimento na EJA não está suficientemente preparada para ministrar aulas nessa

modalidade específica de Educação. Assim, um dos grandes problemas da formação docente

que agravam essa situação é a autossuficiência por parte de muitos educadores. Nessa

discussão, Santos e Neto afirmam que:

Julgar que sabem tudo é o grande erro dos docentes, pois a condição para o

constante aperfeiçoamento do educador não é somente a sensibilidade aos

estímulos intelectuais, mas é fundamental a consciência de sua natureza inconclusa

como sabedor. Não são os negligentes e sim os auto-suficientes que estacionam no

caminho de sua formação profissional. Progredir não significa apenas adquirir

novos conhecimentos. É abrir a própria consciência para as inovações que surgem

diariamente e repensar a própria metodologia de ensino (2011, p. 6).

Nesse sentido, além de utilizar métodos mais adequados de ensino, aperfeiçoar seus

conhecimentos e atualizá-los constantemente, todos profissionais da Educação deveriam fazer

uma autocrítica em relação à sua função e à sua conduta como educadores, questionando-se

sobre o seu papel na sociedade e se, de fato, realmente estão cumprindo com

responsabilidade, pois de acordo com Paulo Freire:

Page 57: CONCEPÇÕES DE PROFESSORES EXPRESSAS NOS … · metodologia de investigação adotada foi a abordagem qualitativa de cunho interpretativo, na qual nos fundamentamos em Bogdan e Biklen

56

A prática educativa, reconhecendo-se como prática política, recusa a deixar-se

aprisionar na estreiteza burocrática de procedimentos escolarizantes. Lidando com

o processo de conhecer, a prática educativa é tão interessada em possibilitar o

ensino de conteúdos às pessoas quanto em sua conscientização (2003, p. 28).

Diante disso, podemos perceber que alguns conteúdos que os professores devem

ensinar a seus alunos são tão importantes para a formação dos mesmos quanto à análise que

façam de sua realidade concreta.

Sabe-se ainda, que a prática pedagógica do professor da Educação de Jovens e Adultos

deve diferenciar-se consideravelmente da prática dirigida a crianças. No entanto, podemos

observar frequentemente que muitos professores utilizam as mesmas abordagens

metodológicas tanto para o ensino de crianças como para o ensino de Jovens e Adultos,

caracterizando assim uma prática Bancária. Por sua vez, esta infantilização do ensino por

parte de alguns professores vem contribuindo para a desmotivação dos Jovens e Adultos e a

evasão escolar na EJA. A esse respeito, Fonseca ressalta que:

[...] no âmbito dos projetos de alfabetização de adultos, o risco de uma inadequação

identificada com a infantilização das estratégias de ensino e, entre elas, das

atividades propostas aos alunos advém de uma transposição pouco cuidadosa de

procedimentos concebidos no trabalho com crianças com idades inferiores a sete

anos [...] (2005, p. 35 – grifo da autora).

No entanto, Paulo Freire, desde a década de 60 desenvolvia trabalhos de alfabetização

de Jovens e Adultos com métodos e objetivos que buscavam adequar o trabalho às

especificidades dos educandos, começando dessa forma surgir à consciência de que

alfabetizar Adultos exigia o desenvolvimento de um trabalho diferenciado do que era

designado às crianças com idade regular nas escolas, reafirmando assim a condição de não-

crianças dos Jovens e Adultos.

Contudo, percebe-se que, aproximadamente 50 anos depois das propostas de Freire, a

situação de infantilização do ensino envolvendo os educandos da Educação de Jovens e

Adultos ainda continua, muitas vezes, até mesmo em projetos educacionais ditos freireanos,

mas que na realidade diferem-se muito dos ideais do educador brasileiro. Dessa forma, tais

propostas resultam não apenas em uma concepção tradicional de ensino, ou seja, uma

concepção Bancária de Educação, mas uma provável visão de que esses educandos são

incapazes de compreender conceitos e relações mais complexas por estarem muito tempo fora

da escola ou até mesmo nunca a ter frequentado antes. Além disso, a falta de reconhecimento

Page 58: CONCEPÇÕES DE PROFESSORES EXPRESSAS NOS … · metodologia de investigação adotada foi a abordagem qualitativa de cunho interpretativo, na qual nos fundamentamos em Bogdan e Biklen

57

de que os educandos da EJA são portadores de conhecimentos e experiências consideráveis, e

que de alguma maneira já utilizam a escrita e os números em seu dia a dia, prejudicam ainda

mais essa situação.

Outro fator que contribui para a infantilização do ensino na Educação de Jovens e

Adultos são os espaços escolares, que inicialmente são designados para acolher crianças e por

fim acabam sendo os mesmos destinados à educação de pessoas Jovens e Adultas. A esse

respeito, Fonseca complementa que a inadequação desses ambientes acaba por gerar

constrangimentos e desconfortos aos Jovens e Adultos, especialmente pelo

[...] incômodo físico imposto por instalações e mobiliário dimensionados para o

porte infantil ou o incômodo estético causado pelo cenário ou pela trilha sonora,

decorado ou selecionada segundos os temas e gostos da infância (e às vezes, muito

raramente da adolescência) (FONSECA, 2007, p. 18).

Diante desse contexto, de certa forma é de se surpreender que atualmente ainda existe

a possibilidade de Jovens e Adultos estudarem no Ensino Regular, pois as crianças e

adolescentes dessa modalidade possuem outro ritmo, outros questionamentos, outras atitudes

e interesses, e até mesmo outros tipos de respostas para as questões levantadas durante as

aulas, implicando assim na realização de “um trabalho pedagógico não direcionado para as

demandas e as possibilidades próprias de outras faixas etárias que não aquelas para as quais

aquele nível de ensino foi originalmente idealizado” (FONSECA, 2007, p. 18).

Portanto, diante das especificidades do público da EJA, podemos perceber a

importância em estabelecer distinções entre como ensinar adultos e crianças,

independentemente da etapa em que esteja atuando o professor. Dessa forma, devemos olhar

para os sujeitos Jovens e Adultos de maneira diferenciada, pois acreditamos que respeitando e

valorizando as experiências de vida dos educandos dessa modalidade de ensino por meio de

metodologias apropriadas para a faixa etária atendida, poderemos garantir o acolhimento

necessário desses educandos aos bancos escolares. Deste modo, concordamos com Ribeiro ao

afirmar que:

A questão da especificidade da EJA está na importância de se considerar o perfil

distinto de seus educandos e na satisfação das necessidades de aprendizagem de

jovens e adultos de escolarização básica incompleta ou jamais iniciada, que como

tais, (re) tomam sua vida escolar apresentando “perspectivas e expectativas,

demandas e contribuições, desafios e desejos próprios em relação à Educação

Escolar” [...] (2007, p. 35).

Page 59: CONCEPÇÕES DE PROFESSORES EXPRESSAS NOS … · metodologia de investigação adotada foi a abordagem qualitativa de cunho interpretativo, na qual nos fundamentamos em Bogdan e Biklen

58

Dessa forma, de acordo com Ribeiro (2007), as especificidades da Educação de Jovens

e Adultos em relação às demais etapas de escolarização da Educação Básica deverão ser

encaradas pelas políticas públicas como princípios norteadores, na elaboração de um modelo

educacional inovador e de qualidade, com uma identidade própria, não se restringindo

segundo ressalta o Programa de Educação de Jovens e Adultos da Secretaria de Estado da

Educação de Mato Grosso (2000, apud RIBEIRO, 2007)

[...] em grande medida, à aceleração do tempo curricular, expediente que muitas

vezes serviu mais ao aligeiramento do ensino que à contextualização dos currículos

e metodologias de ensino às características dos educandos e especificidades da

modalidade (p. 36).

Nesse sentido, todas as especificidades e diversidades que envolvem a Educação de

Jovens e Adultos discorridas neste texto com vista a uma Educação Emancipadora devem ser

consideradas no processo de ensino-aprendizagem dos educandos com particularidades

sociais, psicossociais, culturais e conhecimentos advindos de experiências de vida. Para isso,

a EJA deve ser estabelecida com um modelo pedagógico e um currículo próprio, com

diferentes formas de oferta, sendo por áreas do conhecimento, por disciplinas na forma

presencial ou à distância, onde os tempos e os ambientes de aprendizagem devem ser

flexíveis, e a qualidade de ensino precisa ser considerada prioridade pelas políticas públicas e

pela comunidade escolar.

1.3 PARTICULARIDADES DA EJA NA CAPITAL MATO-GROSSENSE

Cuiabá foi fundada em 08 de abril de 1719 e é a capital do Estado Mato Grosso. O

município está situado na região pantaneira centro-sul mato-grossense, junto aos rios Cuiabá e

Coxipó e forma uma conurbação com o município de Várzea Grande. Sua população, de

acordo com o censo de 2010, é de 530.308 habitantes.

1.3.1 Política Educacional e Diretrizes para a Educação de Jovens e Adultos na cidade

de Cuiabá-MT

A Educação em geral, e como parte integrante desta, a Educação de Jovens e Adultos,

vem sendo discutida quanto ao seu valor na orientação das políticas públicas brasileiras. Na

Page 60: CONCEPÇÕES DE PROFESSORES EXPRESSAS NOS … · metodologia de investigação adotada foi a abordagem qualitativa de cunho interpretativo, na qual nos fundamentamos em Bogdan e Biklen

59

cidade de Cuiabá, assim como no restante do país, essa situação não é diferente. Porém o fato

é que, além de discussões, necessita-se de atuações concretas para sua consolidação enquanto

tal, principalmente no que se refere à EJA (CUIABÁ, 2010).

Diante disso, a Secretaria Municipal de Educação de Cuiabá elaborou a política

educacional para o Município (Gestão 2005-2008, 2009-2012) visando garantir a efetivação

da cidadania e o respeito à diversidade, além de “uma educação inclusiva e de qualidade

também para a Educação de Jovens e Adultos” (CUIABÁ, 2010, p. 11).

No ano de 2008, a SME, juntamente com professores e gestores das instituições de

ensino municipais de Cuiabá, que atuam e oferecem a modalidade EJA, assumiram a tarefa

de” “construir” princípios que garantam o acesso e a permanência dos Jovens e Adultos no

sistema municipal de ensino de Cuiabá” (CUIABÁ, 2010, p. 16). Dessa forma, nesse mesmo

ano foi construído coletivamente o documento denominado “Política Educacional e Diretrizes

para a Educação de Jovens e Adultos da Rede Municipal de Ensino de Cuiabá”, que visa

garantir o direito à Educação a todos os Jovens e Adultos do município, efetivando assim a

oferta de uma Educação pública, gratuita e de qualidade a todos os cidadãos (CUIABÁ,

2010).

Esse documento assinala alguns compromissos para a construção de um currículo que

atenda às necessidades e expectativas dos Jovens e Adultos da rede pública municipal de

Cuiabá, como: a garantia do “respeito com a vida, com a realidade e com os interesses desses

sujeitos, com a transformação da realidade a partir de um currículo crítico, democrático e

transformador, contribuindo assim para com a construção da identidade da EJA” (CUIABÁ,

2010, p. 17).

Quanto ao currículo da EJA, o documento indica que este deve ser direcionado com

conteúdos significativos que despertem instantaneamente prazer e curiosidade aos educandos

dessa modalidade. Desse modo, para isto ocorrer, o princípio de “Educar para a diversidade”

deve orientar todas as propostas curriculares das escolas que oferecem a EJA no município de

Cuiabá, a partir de um ensino significativo cuja metodologia propicie:

Trabalho escolar integrado e cooperativo- interdisciplinar e/ou transversal;

Partir da resolução de problemas nos quais os alunos vão pesquisar, questionar,

dialogar, problematizar, construir os conceitos e socializar o conhecimento construído;

Que os alunos estabeleçam relação entre o que é vivido e o que é ensinado (CUIABÁ,

2010, p. 35-36).

Ademais, ao tratar do currículo que norteará todas as propostas pedagógicas das

escolas municipais de Cuiabá que ofertam a EJA, o documento esclarece que é necessário

Page 61: CONCEPÇÕES DE PROFESSORES EXPRESSAS NOS … · metodologia de investigação adotada foi a abordagem qualitativa de cunho interpretativo, na qual nos fundamentamos em Bogdan e Biklen

60

“garantir os valores, princípios e finalidades previstos para que atendam às especificidades da

EJA” (CUIABÁ, 2010, p. 36).

Em relação às práticas pedagógicas, de acordo com a Política Educacional e Diretrizes

para EJA (2010), essas devem ser específicas e diferenciadas, seja por projetos, por tema-

gerador ou por complexo temático, bem como devem priorizar o diálogo e associar a teoria

com o cotidiano dos alunos, tornando a aprendizagem significativa. Além dessas orientações,

o mesmo documento descreve alguns aspectos que devem ser considerados pelas escolas na

construção de seus projetos políticos pedagógicos. Dentre eles destacam-se:

Matrícula:

As matrículas para os estudantes da EJA devem estar sempre abertas (não importa o

período do ano) e deve respeitar a faixa etária adequada proposta pela LDBEN, ou seja, a

partir de 15 anos para Ensino Fundamental e a partir de 17 anos para o Ensino Médio da EJA.

Diante disso, as escolas devem se adequar ao movimento dos estudantes para que não haja

rupturas no processo de aprendizagem dos estudantes.

Currículo:

O currículo da EJA deve ser diferenciado e deve ir além do conjunto de conteúdos de

cada disciplina, pois o processo educativo também é constituído por dimensões como a ética,

diversidade, sexualidade, cultura, relações raciais, trabalho, dentre outros. Dessa forma, o

currículo nas escolas municipais que atendem a EJA em Cuiabá deve considerar que o

trabalho a ser realizado pela escola deve ser “para e com os educandos”.

Valorização da Experiência dos Educandos:

Os conhecimentos que foram construídos pelos educandos por meio de experiências ao

longo de suas vidas devem ser considerados no processo educacional e precisam estar

evidenciados no Projeto Político Pedagógico das escolas que atendam a EJA em Cuiabá.

Prática Pedagógica Diferenciada:

As metodologias de ensino para o público da EJA devem ser diferenciadas e devem

contemplar os seguintes objetivos específicos:

- Priorizar os conteúdos que são do interesse dos alunos, com temas da realidade,

retirados das preocupações com a vida;

- Escolher as atividades para investigar e pesquisar os assuntos relacionados e que

respondam ao tema;

- Organizar os conteúdos programáticos a partir de situações vivenciadas pelos alunos;

Page 62: CONCEPÇÕES DE PROFESSORES EXPRESSAS NOS … · metodologia de investigação adotada foi a abordagem qualitativa de cunho interpretativo, na qual nos fundamentamos em Bogdan e Biklen

61

- Trabalhar por meio do diálogo, que se desdobra no dialógico, para possibilitar o

desenvolvimento de reflexões sobre as relações homem/ mundo/ sociedade;

- Garantir a base comum nacional;

- Evitar que o currículo oculto6 predomine em relação ao currículo real.

Reconhecimento dos Diversos Espaços Educativos:

A equipe pedagógica, os professores e os alunos devem elaborar estratégias

pedagógicas que valorizem os conhecimentos dos educandos Jovens, Adultos e Idosos

advindos de espaços não escolares, ampliando dessa forma o “espaço de formação escolar”

para fora da sala de aula.

Flexibilização dos tempos escolares:

A organização dos tempos escolares nas escolas municipais que oferecem a EJA em

Cuiabá deve considerar e respeitar as extensões e as responsabilidades do público dessa

modalidade de Educação, como jornadas de trabalho, responsabilidades com a família (filhos

ou parentes doentes), cansaço, dentre outros.

Dessa forma, as unidades escolares devem organizar o tempo efetivando práticas

pedagógicas com os educandos como agrupamentos flexíveis, atendimentos individualizados

dentre outros, podendo também estabelecer a carga horária diária em sua matriz curricular,

respeitando a quantidade de horas anual prevista na legislação.

Avaliação:

A avaliação na EJA deve ser compreendida como “uma ação pedagógica reflexiva,

dialógica, contínua, informativa, significativa, sistemática e flexível” (p. 40) e deve ocorrer ao

longo do processo educativo. Além disso, a participação do estudante no processo avaliativo é

fundamental, não havendo sentido na dicotomia avaliação/ reprovação no processo avaliativo.

1.3.2 O atendimento da Educação de Jovens, Adultos e Idosos no município de Cuiabá

A Educação de Jovens e Adultos em Cuiabá caracteriza-se por ofertas formais e não

formais destinadas a pessoas com idade igual ou superior a 15 anos, para o ingresso em nível

Fundamental, e igual ou superior a 17 anos para o ingresso em nível Médio (Art. 2º da

Resolução 003/02/CME/CBA-MT).

6 A SME-Cuiabá, de acordo com o documento Política Educacional e Diretrizes para EJA (CUIABÁ, 2010)

compreende currículo oculto na perspectiva de SACRISTÁN (1998). Para o referido autor, currículo oculto é

tudo aquilo que contribui para a aquisição de saberes, competências, valores, sentimentos, sem constar nos

programas previamente elaborados.

Page 63: CONCEPÇÕES DE PROFESSORES EXPRESSAS NOS … · metodologia de investigação adotada foi a abordagem qualitativa de cunho interpretativo, na qual nos fundamentamos em Bogdan e Biklen

62

Em relação aos financiamentos e os recursos da EJA no município, estes são aplicados

dentro dos recursos disponíveis pelo Programa Dinheiro Direto na Escola (PDDE) e pelo

Plano de Ações Articuladas (PDE). No entanto, a EJA é contemplada pelo conjunto das

unidades escolares, porém não com o mesmo tratamento que as demais modalidades de

ensino. Também é contemplada nos recursos de merenda escolar e transporte (campo), como

podemos observar no Quadro 2:

Quadro 2 - Programas de apoio disponíveis aos estudantes da EJA

Alimentação Escolar Os alunos matriculados da EJA recebem alimentação escolar diariamente.

Financiamento

O financiamento para esse programa é uma parceria entre governo federal que

financia 40% dos custos e o município de Cuiabá financia 60%.

Transporte Escolar O transporte é garantido para os alunos da EJA matriculados nas escolas do

campo.

Financiamento

Recebe-se para essa ação financiamento federal, estadual e municipal

considerando que no caso do transporte, alunos do Ensino Médio do Campo

também são atendidos, demanda essa do Estado.

Fonte: Coordenadoria Administrativa e setor da Alimentação escolar da SME/Cuiabá

Ao tratar das condições estratégicas de oferta da Educação de Jovens e Adultos em

Cuiabá, a Secretaria Municipal de Educação destaca:

a) Professores – possibilidade de atuação dos atuais professores do município:

através de Instrução Normativa para o processo de atribuição de classes e/ou aulas,

seguindo critérios estabelecidos. Considera-se o perfil do professor para atuar na

modalidade;

b) Espaço físico: o atendimento se dá nas escolas municipais, Centro de convivência

para idosos, Centro de Ressocialização de Cuiabá, Penitenciária feminina e outros

espaços, garantindo condições para funcionamento;

c) Infraestrutura: a modalidade pode contar com a estrutura física disponível nas

escolas: laboratório de informática, biblioteca, quadra de esportes, refeitório,

acervo bibliográfico. No entanto, gostaríamos de ressaltar que a infraestrutura das

escolas municipais que atendem a modalidade EJA foram idealizadas e construídas

com o objetivo de atender crianças e não adultos;

d) Localização e acesso: as escolas estão localizadas na área urbana (periférica) e

campo;

e) Horários / turnos de oferta: matutino, vespertino e noturno;

f) Calendário(s): o calendário escolar necessariamente não coincide com o calendário

civil, prevendo a especificidade de cada demanda, como por exemplo, populações

do campo, privadas de liberdade e idosos nos centros de convivência;

Page 64: CONCEPÇÕES DE PROFESSORES EXPRESSAS NOS … · metodologia de investigação adotada foi a abordagem qualitativa de cunho interpretativo, na qual nos fundamentamos em Bogdan e Biklen

63

g) Desafios para o Avanço da Educação de Jovens e Adultos na realidade local:

ampliar o acesso (diurno e noturno) e permanência do aluno na EJA; avançar na

elaboração de proposta pedagógica que reforce a identidade do aluno da EJA de

forma a atender as reais necessidades desta população (trabalho coletivo partindo

do cotidiano); garantir exercício da docência, com carga horária específica, na

modalidade EJA; mobilização da comunidade por parte da Equipe Gestora para

fortalecimento da modalidade; acompanhamento e monitoramento da equipe EJA

à modalidade; possibilitar processo formativo aos professores (troca de

experiências, oficinas interdisciplinares); acesso dos alunos aos diversos espaços

escolares: laboratório de informática, biblioteca, quadra de esportes, refeitório,

acervo bibliográfico.

A Secretaria Municipal de Educação de Cuiabá, por meio do Diagnóstico para o Plano

Estratégico da EJA em Cuiabá (2009-2012), aponta algumas possíveis causas referentes à

evasão dos educandos da Educação de Jovens e Adultos no município. Dentre elas destacam-

se: a questão do trabalho; a carga horária e os horários inadequados; o currículo inadequado e

os professores desqualificados especificamente para atuar na EJA.

Em relação ao atendimento da demanda existente para a Educação de Jovens e

Adultos em Cuiabá, de acordo com o Diagnóstico para o Plano Estratégico da EJA, a SME

afirma que a cada ano diminui a quantidade de alunos que procuram a Escola, principalmente

pela carência de oferta de aulas em horários alternativos.

1.3.3 Formação Continuada para Professores da Educação de Jovens e Adultos da Rede

Municipal de Ensino de Cuiabá-MT

A Secretaria Municipal de Educação, por meio da Coordenadoria de Formação (criada

em 2007) desenvolveu nas escolas da Rede Municipal de Ensino de Cuiabá o Programa

Revitalizando a Formação, no período de 2007 a 2011. Este Programa é constituído pela

seguinte estrutura:

- Formações Horizontais: “Projeto Roda de Conversa”, cujas temáticas são voltadas para a

implementação das Diretrizes Políticas Pedagógicas da Rede Municipal.

- Formações Verticais: cuja formação continuada é voltada para as especificidades da função

dos assessores, gestores e professores conforme área de atuação por Ciclo/ Ano/ Área/

Disciplina.

Desta forma, os principais eixos da formação continuada da Rede Municipal de Ensino

de Cuiabá são: o estudo crítico do contexto (problematização da prática pedagógica efetivada

Page 65: CONCEPÇÕES DE PROFESSORES EXPRESSAS NOS … · metodologia de investigação adotada foi a abordagem qualitativa de cunho interpretativo, na qual nos fundamentamos em Bogdan e Biklen

64

na Rede/Unidades Escolares em relação aos princípios da Escola Organizada em

Ciclos/Matriz Curricular/Dados das avaliações); a análise da prática (avaliação dos resultados/

busca de novos elementos/ replanejamento) e a escola como lócus da formação (troca de

experiências/construção coletiva).

1.3.3.1 Projeto “Roda de Conversa”

O projeto de formação continuada “Roda de Conversa” foi implantado no ano de 2007

por meio da Coordenadoria de Formação, vinculada a Secretaria Municipal de Educação de

Cuiabá, com o objetivo de fortalecer o processo pedagógico e de gestão escolar na rede

municipal por meio da formação continuada em serviço. Enquanto espaço de discussão, o

projeto considera as necessidades formativas diagnosticadas nas Unidades Escolares. Desta

forma, visa aproximar os educadores e possibilitar a troca de experiências e ansiedades entre o

corpo docente e a SME, uma vez que participam do projeto equipes gestoras, assessores

pedagógicos, professores e membros dos Conselhos Escolares Comunitários da Rede

Municipal de Ensino de Cuiabá-MT.

Por meio desse projeto, estimula-se a reelaboração do trabalho pedagógico e a

melhoria dos fatores que influenciam na qualidade da Educação no município em todas as

modalidades. Além disso, as discussões partem das necessidades levantadas em cada unidade

escolar, onde se elaboram projetos de formação continuada específicos para os professores de

cada modalidade de ensino que a rede municipal oferece.

Desse modo, o projeto visa também orientar os coordenadores das escolas para que

eles sejam os formadores dos professores, ou seja, para que sejam os articuladores das

formações no ambiente escolar que coordenam. Além disso, o projeto “Roda de Conversa”

tem como intenção utilizar-se dos professores da Rede Municipal de Ensino que conhecem e

que estão vivenciando a proposta do projeto na escola, com o intuito de articular grupos de

estudos dentro da unidade escolar em que trabalham, ou até mesmo fora dela, com professores

de escolas próximas que se dispõem a discutir, trocar experiências e aprofundar os

conhecimentos relativos à modalidade em que atuam.

As reuniões de formação são realizadas nas escolas da rede municipal de Cuiabá nos

horários em que os professores trabalham nas escolas e de acordo com as modalidades de

ensino que atuam. No início do projeto os encontros aconteciam de 15 em 15 dias, depois

passaram a ocorrer uma vez por mês e no ano de 2011, as formações foram realizadas uma

vez por bimestre. A cada ano, a estrutura e a quantidade de encontros são alteradas, pois

dependem das necessidades levantadas pelas escolas e do planejamento elaborado pela

Page 66: CONCEPÇÕES DE PROFESSORES EXPRESSAS NOS … · metodologia de investigação adotada foi a abordagem qualitativa de cunho interpretativo, na qual nos fundamentamos em Bogdan e Biklen

65

Coordenadoria de Formação acerca de quantas reuniões são necessárias para articular tais

formações nas unidades escolares.

Para tanto, nos dias e horários em que ocorrem os encontros do projeto nas escolas, as

atividades dos professores com os estudantes são paralisadas, priorizando tal formação. Desta

forma, a SME encontrou uma solução para reunir os docentes, pois muitos alegavam falta de

tempo, principalmente por trabalharem em outros turnos. Portanto, o projeto “Roda de

Conversa” surgiu da necessidade de formação continuada no local de trabalho, não só para os

professores da EJA, mas também para os professores que atuam no ensino regular da rede

municipal.

Desse modo, o projeto “Roda de Conversa” constitui-se em um espaço de formação

continuada importante para qualificar os professores que trabalham na EJA em escolas da

Rede Municipal de Ensino de Cuiabá, principalmente porque a maior parte desses educadores

não tem formação específica para atuar nessa modalidade. Assim, os encontros de formação

proporcionam para os professores um espaço de discussão, de troca de experiências entre os

profissionais que atuam na EJA, e nessa integração, segundo a Coordenadoria de Formação,

os profissionais vão se tornando mais aptos a trabalhar com essa modalidade de ensino.

Em relação às etapas de execução do projeto “Roda de Conversa”, podemos observar

que em 2007, a pauta única de discussão de tal projeto foi o “coordenador pedagógico”,

principalmente porque o professor-coordenador assume grande papel de articulador da

construção coletiva da proposta pedagógica da escola, sendo agente principal na

concretização da formação continuada no cotidiano escolar.

Já no ano de 2008, as discussões do projeto nas escolas ainda discorreram sobre o

ponto “coordenador pedagógico”, alternando com temáticas levantadas pelas escolas

municipais. No próximo ano, os estudos e discussões foram realizados em grupos- unidade

escolar/polos- com o objetivo de elaborar a Matriz Curricular de Referência (a partir de um

documento base).

Em 2010, as discussões do projeto foram direcionadas com a finalidade de “Didatizar

a Matriz Curricular de Referência”, ou seja, tornar mais compreensível tal documento. Além

disso, as reuniões tiveram como pauta a discussão de conteúdos e metodologias para

desenvolvimento das capacidades de cada ano/ciclo/etapa.

No ano de 2011, onze escolas municipais que oferecem a modalidade da Educação de

Jovens e Adultos em Cuiabá-MT manifestaram suas necessidades formativas à Coordenadoria

de Formação da SME. Desta forma, o cronograma de trabalho para este ano foi organizado da

seguinte maneira:

Page 67: CONCEPÇÕES DE PROFESSORES EXPRESSAS NOS … · metodologia de investigação adotada foi a abordagem qualitativa de cunho interpretativo, na qual nos fundamentamos em Bogdan e Biklen

66

1. Como efetivar o trabalho em projetos?;

2. Qual a diferença entre Tema Gerador e Projeto;

3. Como ensinar na EJA?;

4. Heterogeneidade;

5. Oficinas Pedagógicas: Leitura e Produção de Texto, Como elaborar Projetos

articulando com a Matriz Curricular de Referência da EJA, Metodologia de ensino na

alfabetização em Linguagem e Matemática;

6. Como evitar evasão na EJA?;

7. Somos todos iguais;

8. Mercado de trabalho.

Em relação à avaliação do projeto “Roda de Conversa”, a Coordenadoria de

Formação, cuja equipe desenvolve o projeto desde o início do ano de 2007, cita como

principais avanços que ocorreram nesse período à instituição de tempo e espaços coletivos de

formação continuada; a revisão dos Projetos Políticos Pedagógicos realizada por todas as

escolas; a elaboração da Matriz Curricular de Referência do município; formações voltadas

para as necessidades formativas do professor quanto ao domínio dos conteúdos e

metodologias de ensino, com foco na aprendizagem.

Já em relação às dificuldades enfrentadas durante a realização do projeto no mesmo

período, a Coordenadoria de Formação aponta que nos anos de 2007 e 2008 nem todas as

escolas efetivaram com seus professores os estudos da pauta didática realizados nos polos

e/ou sistematizaram as discussões da pauta didática para revisão/elaboração do PPP. Em 2009

e 2010, a Coordenadoria de Formação afirma que apesar dos momentos destinados a estudos e

discussões do documento base da Matriz Curricular de Referência nas escolas e polos, alguns

professores ainda alegaram desconhecer o documento. Outras dificuldades constatadas pela

Coordenadoria foram: a necessidade de ampliar a compreensão da concepção de ensino e

aprendizagem/capacidades contidos na Matriz Curricular; a necessidade de maior clareza das

funções da Matriz Curricular de Referência versus Matriz de Avaliação (GAP); pouca

utilização das diretrizes pedagógicas e resultados das avaliações para a sistematização do

planejamento na perspectiva do currículo crítico/integração curricular. Em relação ao ano de

2011, a avaliação até o presente momento ainda não havia sido realizada pela Coordenadoria

de Formação.

No entanto, além das formações continuadas do projeto “Roda de Conversa”, que são

específicas da Rede Municipal de Ensino de Cuiabá, de acordo com a Coordenadoria de

Formação os professores participam de outras formações, como por exemplo, as formações

Page 68: CONCEPÇÕES DE PROFESSORES EXPRESSAS NOS … · metodologia de investigação adotada foi a abordagem qualitativa de cunho interpretativo, na qual nos fundamentamos em Bogdan e Biklen

67

promovidas pelo MEC e em parcerias com as Universidades da capital mato-grossense. Estas

formações são todas articuladas pela Coordenadoria de Formação. Além disso, quando

necessário um formador específico para discutir algum tema proposto pelas escolas, a equipe

da Coordenadoria de formação contrata formadores externos, como por exemplo, professores

da UFMT que são parceiros da SME, palestrantes, dentre outros.

1.3.4 Diagnóstico Educacional da Educação de Jovens e Adultos em Cuiabá-MT

Ao buscarmos informações junto a Secretaria Municipal de Educação de Cuiabá

referente à quantidade de alunos matriculados por segmentos da EJA, alunos aprovados,

reprovados e evadidos, escolas municipais que oferecem a EJA e a formação profissional dos

professores que atuaram na Educação de Jovens e Adultos nos últimos três anos na capital

mato-grossense, ou seja, nos anos de 2008, 2009 e 2010, obtivemos poucos resultados. O

principal motivo é porque a própria Coordenadoria de Informação e Estatística da SME não

possui tais arquivos, e consequentemente, os dados sistematizados. Desse modo,

apresentamos no anexo da página 311 algumas informações que foram disponibilizados pela

referida Coordenadoria.

Contudo, fundamentados nos referenciais teóricos que utilizamos nessa pesquisa,

elaboramos o Quadro referencial 3, relacionando as questões que permeiam a Educação de

Jovens e Adultos no decorrer de seu processo histórico e as concepções envolvidas entre as

duas perspectivas de Educação, “Educação Bancária” e “Educação Emancipadora”. Dessa

forma, para melhor distinguir as duas perspectivas de Educação de Jovens e Adultos,

apresentamos, a seguir, o Quadro 3, síntese das suas concepções.

Quadro 3 – Características da Educação de Jovens e Adultos nas perspectivas da Educação Bancária e da

Educação Emancipadora

EDUCAÇÃO BANCÁRIA EDUCAÇÃO EMANCIPADORA

- Ênfase no ensino supletivo;

- Educação compensatória, com o intuito de suprir a

oferta de ensino para os Jovens e Adultos que não

estudaram em idade regular;

- Contradição entre educador-educandos;

- Ideologia da opressão;

- Admite apenas a educação formal (escolar);

- Aligeiramento do ensino (alfabetização em curto

período de tempo);

- A Educação é um processo que leva o

indivíduo a reconhecer não só a sua condição

de sujeito no mundo, mas, também, a sua

condição de agente que cria e transforma o

mundo;

- Atua com a finalidade de reparar, equalizar e

qualificar;

- Educação como prática da liberdade;

- Reconhece que existem outros ambientes

formativos além do espaço escolar, e vê neles,

Page 69: CONCEPÇÕES DE PROFESSORES EXPRESSAS NOS … · metodologia de investigação adotada foi a abordagem qualitativa de cunho interpretativo, na qual nos fundamentamos em Bogdan e Biklen

68

EDUCAÇÃO BANCÁRIA EDUCAÇÃO EMANCIPADORA

- Nega a Educação e o conhecimento como

processos de busca;

- Propõem currículo sequencial e rígido, sem

flexibilidade;

- Ensino infantilizado;

- Visa preparar mão de obra necessária aos

interesses capitalistas da classe dominante;

- Proposta pedagógica não direcionada às

especificidades da sua clientela;

- Nega a dialogicidade como essência da Educação e

se faz antidialógica;

- O analfabetismo era visto como um mal social;

- Campanhas contra o analfabetismo, fundamentadas

em um sentido de emergência e de mobilização

social;

- Não propõem formação específica para os

professores envolvidos nessa modalidade de ensino;

- Alfabetização voltada para a produção de massa

votante;

- Promove o processo de exclusão dos alunos;

- Não apresenta a preocupação em formar cidadãos

críticos;

- Não compreende que o conhecimento se constrói

ao longo da vida;

- Considera os Jovens e Adultos analfabetos ou de

baixa escolarização como seres incapazes,

desprovidos de conhecimentos e cultura;

- Visão preconceituosa e equivocada quanto à

cognição dos Jovens e Adultos;

- Não considera as características socioculturais dos

seus sujeitos;

- As Campanhas contra o analfabetismo não se

preocupavam com a qualidade dos processos de

ensino e aprendizagem dos educandos adultos;

- Inadequação do método de alfabetização para a

população adulta e também o utiliza com as mesmas

características para as diferentes regiões do país.

um lugar potencializador de aprendizagem;

- Apoia a flexibilização da organização escolar,

do currículo, dos tempos e dos ambientes de

aprendizagem;

- Consciência de que alfabetizar adultos exige

o desenvolvimento de um trabalho diferenciado

do que é designado às crianças com idade

regular nas escolas;

- Afirma a dialogicidade e se faz dialógica;

- Abordagem interdisciplinar do currículo;

- Trabalho adequado às especificidades dos

educandos Jovens e Adultos;

- Respeito aos conhecimentos prévios e

experiências, valorizando a “leitura do mundo”

dos educandos;

- Investe e propõem formação específica para

os educadores trabalharem com as

especificidades da EJA;

- A alfabetização de adultos deve ser um

processo de conscientização, em que o homem

deve ser capaz de se perguntar o porquê de sua

existência e de questionar-se sobre a sua

realidade no sentido de desvelá-la;

- Visa promover a cidadania;

- Preza a formação da consciência crítica dos

educandos;

- Defende uma Educação que estimule à

colaboração, a participação e a

responsabilidade social e política dos Jovens e

Adultos;

- A capacidade dos adultos passa a ser

reconhecida, não sendo considerada inferior a

capacidade de aprendizagem das crianças.

- Acredita que o desenvolvimento psicológico

do ser humano é um processo que dura toda a

vida e que a fase adulta é marcada por várias

transformações;

- Problematiza a partir do contexto e da

realidade vivida pelos educandos;

- Procura meios de promover a inclusão de seus

sujeitos;

- Desenvolvimento e produção de material

didático específico para o ensino dos adultos;

- Visa reflexão crítica da prática pedagógica

dos educadores.

Fonte: as autoras (2012)

Page 70: CONCEPÇÕES DE PROFESSORES EXPRESSAS NOS … · metodologia de investigação adotada foi a abordagem qualitativa de cunho interpretativo, na qual nos fundamentamos em Bogdan e Biklen

69

Sendo nossa pesquisa direcionada pela questão: que concepções revelam os

documentos escolares e as falas dos professores sobre os conteúdos e as metodologias

propostas para o ensino e aprendizagem da Matemática na 1ª e 2ª Etapas da Educação de

Jovens e Adultos em Escolas municipais de Cuiabá-MT, e na intenção de obtermos resposta

ao nosso problema, discutiremos a seguir, sobre as concepções de Matemática, de ensino e de

aprendizagem de Matemática.

Page 71: CONCEPÇÕES DE PROFESSORES EXPRESSAS NOS … · metodologia de investigação adotada foi a abordagem qualitativa de cunho interpretativo, na qual nos fundamentamos em Bogdan e Biklen

70

2. A MATEMÁTICA NA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS

"Sem a curiosidade que me move, que me inquieta, que me insere na

busca, não aprendo nem ensino".

(FREIRE, 1996, p. 52)

Tendo em vista nosso problema de pesquisa, pretendemos neste capítulo teórico

esclarecer e discutir a Educação Matemática na Educação de Jovens e Adultos. Nesse sentido,

iremos destacar duas perspectivas no tratamento dado à Matemática em sala de aula: uma

baseada no modelo tradicional de ensino, ou seja, no velho modelo de Educação, na qual

identificaremos como Matemática na perspectiva da Educação Bancária, e, a outra, em uma

Educação Matemática constituída por um novo significado, um novo sentido, em que a

Matemática é colocada a serviço de uma Educação preocupada em promover a cidadania e

com o desenvolvimento da autonomia intelectual dos educandos, tendo em vista inseri-los no

processo sócio-educacional, refletindo assim a perspectiva de uma Educação Matemática de

Jovens e Adultos, reconhecida por nós como Emancipadora.

Dessa forma, aprofundamos a seguir essas duas perspectivas de tratamento dadas ao

conhecimento matemático em sala de aula, com a intenção de ter uma maior clareza sobre a

Matemática na Educação de Jovens e Adultos.

2.1 A MATEMÁTICA NA PERSPECTIVA DA EDUCAÇÃO BANCÁRIA

Entendemos a Matemática numa perspectiva da Educação Bancária como aquela

referente ao modelo tradicional de ensino, também conhecida como velho modelo de

Educação, em que as práticas pedagógicas são voltadas exclusivamente para a difusão de

conhecimentos. Freire complementa que esse modelo de Educação “é um ato de depositar, de

transferir, de transmitir valores e conhecimentos” (1987, p. 59).

Sabe-se que este modelo tradicional de Educação recebeu influências do Positivismo

Lógico, corrente filosófica cujos principais representantes foram Philipp Frank, Otto Neurath,

Rudolf Carnap e Moritz Schilick, e que buscava nas ciências a base de fundamentação de

conhecimentos verdadeiros, auxiliadas pelas regras da lógica e dos procedimentos

matemáticos. Além disso, uma de suas características era considerar verdadeiro somente

aquilo que era empiricamente verificável, isto é, toda afirmação sobre o mundo deveria ser

confrontado com o dado.

Page 72: CONCEPÇÕES DE PROFESSORES EXPRESSAS NOS … · metodologia de investigação adotada foi a abordagem qualitativa de cunho interpretativo, na qual nos fundamentamos em Bogdan e Biklen

71

Auguste Comte, principal representante do Positivismo Clássico, elaborou uma

hierarquia para o estudo da filosofia positivista, que deveria ser feito de acordo com a

seguinte ordem: Matemática, Astronomia, Física, Química, Fisiologia e Física Social. Assim,

a Matemática seria o ponto de partida da educação científica, pois os conhecimentos

matemáticos traduzem o universo dentro de suas relações inteligíveis que pode ser verificada

em termos humanos e sociais, subordinando a Matemática ao humano (PIRES, 1998, p. 16).

De acordo com os princípios do Positivismo, a Matemática era considerada a rainha

das ciências, além do que somente o conhecimento matemático era considerado válido. Comte

(1973, p. 44) afirmava que a Matemática representava “o instrumento mais poderoso que o

espírito humano pode empregar na investigação das leis dos fenômenos naturais”. Além disso,

afirmava ainda que:

[...] a ciência matemática deve, pois, constituir o verdadeiro ponto de partida de toda

educação científica racional, seja geral, seja especial, o que explica o uso universal,

que se estabeleceu desde há muito a esse propósito, duma maneira empírica, embora

não tenha primitivamente outra causa que sua maior ancianidade relativa (COMTE,

1973, p. 44-45).

Diante disso, acreditamos que os princípios do Positivismo influenciaram diretamente

a crença de que a Matemática é uma ciência perfeita, acabada e que apresenta resultados

imutáveis, além do que só pode ser compreendida por alguns poucos escolhidos, como

ouvimos nos espaços escolares.

Na perspectiva da Educação Bancária, a Matemática muitas vezes não é concebida

como processual, sendo interpretada como uma ciência desprendida da realidade,

inexplicável, ocasionando certo receio e antipatia por parte dos alunos. A esse respeito,

Caraça complementa:

A Matemática é geralmente considerada uma ciência à parte, desligada da realidade,

vivendo na penumbra do gabinete, gabinete fechado, onde não entram os ruídos do

mundo exterior, nem o sol, nem os clamores dos homens. Isto só em parte é

verdadeiro. Sem dúvida, a Matemática possui problemas próprios, que não têm

ligação imediata com os outros problemas da vida social. Mas não há dúvidas

também de que os seus fundamentos mergulham tanto como os de outro qualquer

ramo da Ciência, na vida real [...] (1998, p. 23).

Nesse cenário, de acordo com Darsie (1998, p. 38) “a matemática tem sido ensinada,

sem que se leve em consideração seu processo de construção como ciência, sem nenhuma

referência à história de sua construção, e numa ausência de discurso sobre aquilo que ela é ou

Page 73: CONCEPÇÕES DE PROFESSORES EXPRESSAS NOS … · metodologia de investigação adotada foi a abordagem qualitativa de cunho interpretativo, na qual nos fundamentamos em Bogdan e Biklen

72

sobre o seu fazer.” Além disso, a Matemática na concepção Bancária de Educação é

compreendida como uma ciência estática, imutável, exata e verdadeira, preocupada com a

utilização de regras e fórmulas, algoritmos e operações, “apresentando-se ainda, como

objetiva, precisa, rigorosa e neutra do ponto de vista ideológico” (RIBEIRO, 2007, p. 53). A

esse respeito, Fonseca (2005) complementa que trabalhar com o ensino da Matemática, tendo

como fundamento a memorização de regras ou de estratégias para resolver problemas, não

estabelece nenhum tipo de conexões entre o saber matemático e a sua realidade.

Deste modo, o ensino da Matemática é considerado conteudista e formal, em que os

professores escolhem e impõem os conteúdos programáticos aos seus alunos, que por sua vez

não participam da seleção dos mesmos, e muito menos no planejamento das atividades a

serem desenvolvidas. Nesse modelo, a inquietação dos docentes, muitas vezes, gira em torno

da quantidade de conteúdos matemáticos a serem ministrados em sala de aula, não havendo

uma preocupação efetiva com o sentido atribuído pelos alunos e nem com a qualidade dos

processos de ensino e aprendizagem da Matemática. Ademais, nessa concepção de Educação,

o ensino é transmitido de forma livresca, em que as cartilhas são consideradas ferramentas

basilares na alfabetização matemática de Adultos.

Sendo assim, os conhecimentos matemáticos são organizados e expostos aos alunos de

forma fragmentada, estanque e descontextualizada, sem conexões com outros conceitos, com

as experiências e com a cultura dos estudantes. Além disso, nessa concepção de ensino os

conhecimentos prévios dos educandos adultos não são reconhecidos ou valorizados pelos

professores em sala de aula. Nessa perspectiva, o ensino da Matemática prioriza os

procedimentos mecânicos geralmente sem relação com o cotidiano dos alunos, visando

apenas à fixação de informações por meio da repetição de exercícios, ou seja, problemas-

modelo exemplificados pelos professores de maneira expositiva, pois muitos professores

acreditam que a aprendizagem Matemática será efetivada quanto maior for a quantidade de

exercícios repetitivos que o aluno resolver. Ademais, os conteúdos nesse modelo de Educação

são considerados “retalhos da realidade desconectados da totalidade em que se engendram”

(FREIRE, 2005, p. 65-66).

Para Fiorentini, essas características nos remetem a uma concepção platônica da

Matemática, que segundo ele:

[...], pois se os conhecimentos preexistem e não são construídos ou

inventados/produzidos pelo homem, então bastaria ao professor “passar” ou “dar”

aos alunos os conteúdos prontos e acabados, que já foram descobertos, e se

apresentam sistematizados nos livros didáticos. Sob essa concepção simplista de

didática, é suficiente que o professor apenas conheça a matéria que irá ensinar. O

Page 74: CONCEPÇÕES DE PROFESSORES EXPRESSAS NOS … · metodologia de investigação adotada foi a abordagem qualitativa de cunho interpretativo, na qual nos fundamentamos em Bogdan e Biklen

73

papel do aluno, nesse contexto, seria o de “copiar”, “repetir”, “reter” e “devolver”

nas provas do mesmo modo que “recebeu” (1995, p. 7).

Já para Darsie, esse modelo de ensino da Matemática também engloba uma concepção

empirista do processo de ensino-aprendizagem no qual:

O modelo de ensino é fechado, acabado, livresco, no qual a noção de conhecimento

consiste no acúmulo de fatos e informações isoladas, imerso em simbolismos,

quadros cheios de cálculos e fórmulas ou definições a serem memorizadas sem

significado real, numa concepção de memória associacionista/empirista, em que

fatos são armazenados e, quando necessário, recuperados (1999, p. 10).

Nesse contexto, os professores transmitem o conhecimento matemático preocupando-

se apenas com as respostas corretas para validar a aprendizagem de seus alunos, valorizando

dessa forma apenas o produto final, desprezando todo o percurso e as estratégias de resolução

empregadas pelos estudantes Jovens e Adultos. Além disso, de acordo com Micotti, as aulas

nessa perspectiva consistem, sobretudo, “em explanações sobre temas do programa, em que

basta o professor dominar a matéria que leciona para ensinar bem” (1999, p. 156-157).

Paulo Freire designava o modelo tradicional de prática pedagógica de “Educação

Bancária”, como uma forma também de criticar a Educação existente no sistema capitalista,

pois compreendia que esse modelo visava simplesmente à transmissão de conteúdos pelo

professor. Assim sendo, era como se o professor fosse preenchendo com seu saber a cabeça

vazia de seus alunos, na qual depositava conteúdos, como alguém deposita dinheiro num

banco. Nessa perspectiva de Educação, de acordo com Freire:

O educador é o que educa; os educandos, os que são educados; o educador é o que

sabe; os educandos, os que não sabem; o educador é o que pensa; os educandos, os

pensados; o educador é o que diz a palavra; os educandos, os que a escutam

docilmente; o educador é o que disciplina; os educandos, os disciplinados; o

educador é o que opta e prescreve sua opção; os educandos os que seguem a

prescrição; o educador é o que atua; os educandos, os que têm a ilusão de que

atuam; o educador escolhe o conteúdo programático; os educandos se acomodam a

ele; o educador identifica a autoridade do saber com sua autoridade funcional, que

opõe antagonicamente à liberdade dos educandos; estes devem adaptar-se às

determinações daquele; o educador, finalmente, é o sujeito do processo; os

educandos, meros objetos (1987, p. 59).

Assim, na visão Bancária de Educação todo processo educacional está centralizado na

transmissão de informações, ou seja, nos docentes, que são considerados os sujeitos do

processo e os detentores do saber. Portanto, neste cenário, a principal função dos professores é

Page 75: CONCEPÇÕES DE PROFESSORES EXPRESSAS NOS … · metodologia de investigação adotada foi a abordagem qualitativa de cunho interpretativo, na qual nos fundamentamos em Bogdan e Biklen

74

administrar a aprendizagem de seus alunos, que são considerados somente receptores de

informações e que as registram na memória de forma mecânica.

Sendo assim, a memória é considerada fundamental nessa concepção da Matemática,

pois serve para armazenar a maior quantidade possível de conhecimentos transmitidos pelos

professores. Além disso, na visão Bancária, é preciso decorar para aprender. Deste modo, são

considerados bons alunos os estudantes que respondem imediatamente os questionamentos

levantados pelos professores, ou seja, que sabem as respostas na “ponta da língua”. No

entanto, sabemos que o que acontece é o contrário, pois quando refletimos, aprendemos e só

então memorizamos.

Para Darsie, os alunos seriam nessa concepção “como uma cera virgem sobre a qual se

imprimem os conhecimentos, ou como uma lousa limpa onde, à medida que, o sujeito cresce,

vai-se inscrevendo o conhecimento trazido de fora e aprendido pelos sentidos” (1999, p. 10).

Assim, o êxito do processo de ensino-aprendizagem da Matemática na concepção Bancária de

Educação estaria relacionado à comunicação, o entendimento entre os docentes e os

estudantes, bem como à motivação, atenção e à aplicação dos alunos nos estudos.

Sabe-se ainda que o modelo tradicional de ensino da Matemática se baseia nos

princípios de dominação, de domesticação e alienação operacionalizados na prática do

professor por meio de um conhecimento fornecido, imposto e alienado. De fato, nessa

concepção, o conhecimento é algo que, por ser imposto, passa a ser absorvido passivamente.

Referente a essa temática, Freire complementa que na visão Bancária da Educação:

O "saber" é uma doação dos que se julgam sábios aos que julgam nada saber.

Doação que se funda numa das manifestações instrumentais da ideologia da

opressão - a absolutização da ignorância, que constitui o que chamamos de alienação

da ignorância, segundo a qual esta se encontra sempre no outro (1987, p. 33).

No entanto, o que se percebe é que, mesmo hoje, numa sociedade que se considera

democratizada, a escola ainda é um ambiente de opressão, pois o educador ainda é visto como

autoridade máxima, “quem sabe tudo”. À luz desse entendimento, Freire afirma que “a rigidez

dessas posições nega a Educação e o conhecimento como processos de busca” (1987, p. 34).

Sobre esse ponto, Weiss ressalta que:

Há professores que contribuem para a construção de bloqueios e condutas aversivas

à matemática tanto pelo seu discurso autoritário e ameaçador, fazendo exigências

absurdas, quanto pela criação de insegurança em sala de aula, contribuindo para a

formação de baixa auto-estima (2003, p. 100).

Page 76: CONCEPÇÕES DE PROFESSORES EXPRESSAS NOS … · metodologia de investigação adotada foi a abordagem qualitativa de cunho interpretativo, na qual nos fundamentamos em Bogdan e Biklen

75

Logo, por consequência da Matemática ser considerada para os mais inteligentes nessa

concepção de Educação, muitos alunos não se consideram capazes de estudá-la. Tomamos

como exemplo alguns alunos da EJA, que pelo fato de não terem frequentado o processo de

escolarização em idade regular acreditam ser impossível aprendê-la.

Deste modo, tais crenças só contribuem para trazer algumas consequências desastrosas

para o ensino desta disciplina, que ainda hoje representa uma barreira no sentido de não

permitir o acesso ou até mesmo, o retorno de algumas pessoas aos bancos escolares, pois, no

decorrer do tempo, a Matemática tem sido a disciplina mais temida pelos alunos em todas as

etapas de escolarização.

Nesse sentido, a prática bancária de Educação, segundo Freire (1987, p. 80), “implica

uma espécie de anestesia, inibindo o poder criador dos educandos.” Dessa forma, a

criatividade dos alunos não é considerada e nem estimulada pelos professores no processo

educacional, não oferecendo condições para que eles sejam capazes de criar, inventar, tanto

individualmente quanto coletivamente entre grupos. Referente a essa temática, Medeiros

(1987, apud RIBEIRO, 2007) complementa que:

O ensino em que se adote o treinamento, sem que se possibilite o envolvimento

intelectual do aluno, onde a consciência, isto é, o estado de alerta para o que este

esteja fazendo, não tome parte, conseguirá, quando muito, um aluno adestrado, mas

sem criatividade iminente. Este aluno continua, por ser humano, com uma

criatividade potencial, porque é ser de possibilidades, podendo ainda tornar-se

criativo, transformador das ideias e das coisas, apesar da passividade enraizada,

apesar do embotamento de suas próprias ideias ocasionado pelo ensino tradicional

(p. 59).

Diante dessas caracterizações sobre a Matemática na perspectiva da Educação

Bancária, não é difícil entender porque a Matemática tem sido considerada a pior das

disciplinas e a que mais reprova alunos, estabelecendo-se como um filtro social. Além disso,

podemos compreender porque o ensino tradicional da Matemática tem auxiliado

insuficientemente os estudantes da EJA a decodificarem as informações do cotidiano

disponíveis na sociedade e a interpretarem matematicamente, além de pouco contribuir para

desempenharem seu papel de cidadãos na coletividade, não qualificando os educandos Jovens

e Adultos para a vida fora do espaço escolar. Deste modo, “a escola, na visão tradicional,

perde uma excelente oportunidade de ser um espaço onde todos, democraticamente, exercitem

o seu direito de atuar como sujeitos” (BRASIL, 2006, p. 18).

Do mesmo modo, a Matemática vista sob esta concepção persiste em negar que o

público da EJA possui uma vivência rica de conhecimentos, em especial conhecimentos

Page 77: CONCEPÇÕES DE PROFESSORES EXPRESSAS NOS … · metodologia de investigação adotada foi a abordagem qualitativa de cunho interpretativo, na qual nos fundamentamos em Bogdan e Biklen

76

matemáticos culturalmente situados, que poderiam dar subsídio a metodologias e práticas de

ensino mais próximas de seu cotidiano, e deste modo trocar as aulas expositivas e sem

significado, que não auxiliam em quase nada o desenvolvimento dos esquemas de pensamento

dos educandos e na superação e resolução dos problemas decorridos do cotidiano, por aulas

interessantes e motivadoras, repletas de significação. Sobre esse aspecto, concordamos com

D’Ambrosio (2005, p. 51) ao afirmar que a adoção da prática convencional de ensinar

Matemática na EJA, desvinculada da realidade presente na vida do aluno, incide em um dos

maiores erros que se pratica em educação, em particular na Educação Matemática para os

alunos da EJA.

Diante disso, é necessário superar a prática tradicional de ensino da Matemática, pois

esta não se mostra mais suficiente para atender as novas necessidades a serem supridas pelas

instituições escolares nos dias de hoje. Para isso, é imprescindível transformar a Matemática

em uma importante ferramenta de “interpretação de situações para que o indivíduo aja nos

mais diversos domínios científicos, sociais e culturais de modo a descobrir novas

competências” (MINAS GERAIS, 2005, p. 186).

Deste modo, em superação ao ensino da Matemática na perspectiva Bancária de

Educação, apresentamos como próximo tópico de nosso trabalho a Educação Matemática na

perspectiva da Educação Emancipadora.

2.2 O SIGNIFICADO DO ENSINAR E APRENDER MATEMÁTICA NA EDUCAÇÃO DE

JOVENS E ADULTOS EM BUSCA DE UMA EDUCAÇÃO EMANCIPADORA.

Atualmente, o ensino de Matemática na EJA ainda é considerado uma área

relativamente pouco explorada por pesquisadores, tanto no interior da Educação de Jovens e

Adultos quanto no campo da Educação Matemática. Essa situação pode ser entendida, em

partes, segundo Duarte, pelo fato de que:

Aqueles que trabalham com a educação de adultos têm, em geral, um receio em

relação à Matemática e, em sua maioria, considera o ensino para adultos um

problema secundário, ou, pelo menos, como sendo um problema não pertencente à

sua área de atuação (1995, p. 7).

No entanto, embora a quantidade de publicações sobre o tema Educação Matemática

na Educação de Jovens e Adultos seja ainda relativamente pequena no Brasil, como podemos

Page 78: CONCEPÇÕES DE PROFESSORES EXPRESSAS NOS … · metodologia de investigação adotada foi a abordagem qualitativa de cunho interpretativo, na qual nos fundamentamos em Bogdan e Biklen

77

observar nos trabalhos de Leite e Darsie (2009) e Vanin e Darsie (2010), nos últimos anos

esse assunto tem recebido espaço nas discussões e nas produções de conhecimento no meio

acadêmico. Desde o ano de 1998, nos Encontros Nacionais de Educação Matemática

(ENEM), esse tema vem ganhando relevância nas sessões específicas promovidas pelos

encontros. Ademais, tem sido contemplado entre os trabalhos aprovados e apresentados nos

Grupos de Trabalho do Encontro Brasileiro de Pós-Graduação em Educação Matemática

(EBRAPEM), bem como nas reuniões anuais da Associação Nacional de Pós-Graduação e

Pesquisa em Educação (ANPED), dentre outros eventos nacionais.

Diante disso, esse interesse em discutir os aspectos da Educação Matemática na EJA

tem aumentado, devido às preocupações e inquietações que atualmente, professores,

pesquisadores e responsáveis pela elaboração e implementação de propostas para essa

modalidade de ensino veem enfrentando. Outro fator a ser considerado, seria a necessidade de

que tais propostas pedagógicas em Matemática sejam voltadas às peculiaridades, demandas,

expectativas e anseios dos educandos da EJA.

Nesse sentido, essas discussões realizadas nos eventos anteriormente citados têm

contribuído para o desencadeamento de uma nova perspectiva de Educação Matemática para a

Educação de Jovens e Adultos. Em nosso trabalho, utilizando-se do aporte teórico

fundamentado em Paulo Freire, estamos denominando tal perspectiva de Educação

Emancipadora. Essa perspectiva trouxe para a área da Educação Matemática uma nova

concepção de Matemática, de ensino e de aprendizagem para Educação de Jovens e Adultos.

Em se tratando do conhecimento matemático, este, atualmente é concebido como uma

ciência “que estuda todas as possíveis relações e interdependências quantitativas entre

grandezas, comportando um vasto campo de teorias, modelos e procedimentos de análise,

metodologias próprias de pesquisa, formas de coletar e interpretar dados” (BRASIL, 1997, p.

28). Assim, a Matemática é a base para a construção de conhecimentos relacionados às outras

áreas do currículo, além de desempenhar um importante papel na formação básica dos

educandos para a construção da cidadania, contribuindo para a “inserção das pessoas no

mundo do trabalho, das relações sociais e da cultura, no âmbito da sociedade brasileira”.

(BRASIL, 1997, p. 29).

Diante dessas informações, saber Matemática na atualidade torna-se cada vez mais

indispensável, pois de acordo com a Proposta Curricular para o Primeiro Segmento da EJA

(2001), no atual mundo em que estamos vivendo, as tecnologias e os meios de informação

fundamentam-se em dados quantitativos e espaciais em diversas representações. Ademais, de

acordo com a mesma Proposta:

Page 79: CONCEPÇÕES DE PROFESSORES EXPRESSAS NOS … · metodologia de investigação adotada foi a abordagem qualitativa de cunho interpretativo, na qual nos fundamentamos em Bogdan e Biklen

78

[...] a complexidade do mundo do trabalho exige da escola, cada vez mais, a

formação de pessoas que saibam fazer perguntas, que assimilem rapidamente

informações e resolvam problemas utilizando processos de pensamento cada vez

mais elaborados (BRASIL, 2001, p. 100).

Sabe-se também, que a Matemática, além de se realizar no contexto dos conceitos,

representações e abstrações, em algumas situações pode ser um conhecimento possível de ser

aplicado às diferentes atividades humanas. Sendo assim, compreendemos a Matemática na

perspectiva de uma Educação Emancipadora de maneira diferenciada da Matemática

anteriormente apresentada, ou seja, no modelo Bancário de Educação. A Matemática no

modelo Emancipador preocupa-se com a promoção da cidadania e com o desenvolvimento

intelectual dos educandos, de modo a incluí-los no processo sócio-educacional, considerando

a diversidade e as especificidades de seu público, no caso da EJA, Jovens e Adultos. Além

disso, o conhecimento matemático nessa perspectiva não é visto como pronto e acabado, mas

sim, estabelecido pela interação do homem, com o meio e com as relações sociais.

Ao tratarmos da Educação Matemática na Educação de Jovens e Adultos, de acordo

com Fonseca, estamos nos referindo ao ensino de Matemática para estudantes cuja

“escolarização básica é incompleta ou nunca foi iniciada e que ocorre nos bancos escolares na

juventude avançada ou na idade adulta” (2005, p. 14), ou seja, para um público diferenciado,

repleto de especificidades como vimos no capítulo anterior. Nesse sentido, Fonseca esclarece

que a Educação Matemática de Jovens e Adultos não deve ser vista como:

[...] uma modalidade de oferta de educação básica ou profissional, mas como uma

ação pedagógica que tem um público específico, definido também por sua faixa

etária, mas principalmente por uma identidade delineada por traços da exclusão

sociocultural (2007, p. 11-12).

Ademais, sob a luz desse entendimento, Darsie (apud MATO GROSSO, 2000)

complementa que:

A Educação Matemática [...] deve ter como objetivo inicial a produção de

conhecimentos mediante a ativação de processos emocionais, físicos e cognitivos do

educando para o desenvolvimento de suas potencialidades reflexivas, críticas e

criativas, tornando-o capaz de contribuir para a construção de uma sociedade

democrática e para o exercício pleno da cidadania (p. 155).

Diante disso, a Matemática apresenta-se como elemento importante no processo da

construção da cidadania, principalmente por ser crescente, na sociedade atual, a utilização de

conhecimentos científicos e recursos tecnológicos. Assim, para o exercício pleno da

Page 80: CONCEPÇÕES DE PROFESSORES EXPRESSAS NOS … · metodologia de investigação adotada foi a abordagem qualitativa de cunho interpretativo, na qual nos fundamentamos em Bogdan e Biklen

79

cidadania, é indispensável saber calcular, medir, raciocinar, argumentar, tratar informações

estatisticamente, resolver problemas, dentre outros, pois de acordo com os Parâmetros

Curriculares Nacionais:

[...] a compreensão e a tomada de decisões diante de questões políticas e sociais

também dependem da leitura e interpretação de informações complexas, muitas

vezes contraditórias, que incluem dados estatísticos e índices divulgados pelos

meios de comunicação (BRASIL, 1997, p. 25).

Ainda nessa discussão, o mesmo documento pontua que:

[...] um currículo de Matemática deve procurar contribuir, de um lado, para a

valorização da pluralidade sociocultural, impedindo o processo de submissão no

confronto com outras culturas; de outro, criar condições para que o aluno transcenda

um modo de vida restrito a um determinado espaço social e se torne ativo na

transformação de seu ambiente (BRASIL, 1997, p. 25).

Nesse sentido, conforme sustenta Silva (2006, p. 47) “o ensino-aprendizagem da

matemática precisa ser concebido como processo, não como produto, de modo que a

Educação Matemática recebida oportunize a vivência do sujeito na condição de membro ativo

nas suas práticas sociais”. Diante disso, tratar de ensino e aprendizagem matemática para os

educandos dessa modalidade de ensino é inicialmente pensar e refletir sobre os

conhecimentos matemáticos obtidos em contextos não escolares, ou seja, adquiridos por meio

de experiências em situações do dia a dia, e posteriormente confrontá-los com a Matemática

desenvolvida no âmbito escolar. Desta forma, “o aprendizado da Matemática não deve ficar

encarcerado no contexto escolar. A realidade exterior ao contexto didático tem de ser o

referencial primeiro e final da ação pedagógica voltada ao aprendizado significativo da

matemática” (MUNIZ, 2001, p. 10).

À luz desse entendimento, Freire nos adverte sobre a importância de respeitarmos os

conhecimentos dos educandos, afirmando que não importa se

[...] gerado na cotidianidade, no senso comum, que o educando traz no seu corpo, na

memória de seu corpo, às vezes já cansado e combalido, para a escola. Respeito por

sua linguagem, sua pronúncia, sua sintaxe, sua semântica. Respeito por sua cultura,

por sua identidade cultural, que é também de classe (1995, p. 117-118).

Page 81: CONCEPÇÕES DE PROFESSORES EXPRESSAS NOS … · metodologia de investigação adotada foi a abordagem qualitativa de cunho interpretativo, na qual nos fundamentamos em Bogdan e Biklen

80

Perante essas considerações, de acordo com Fonseca7, a partir da década de 80, alguns

pesquisadores (ACIOLY, 1985; DUARTE, 1986; ABREU, 1988; SOUZA, 1988;

CARRAHER, 1988; MONTEIRO, 1991) começaram a mencionar em suas propostas

pedagógicas de ensino da Matemática para Jovens e Adultos uma preocupação em estabelecer

uma Matemática com o “real”. Nessa perspectiva, a Matemática não poderia ser concebida

somente pelos seus aspectos formais, mas sim, por um modelo possível e útil para realidade,

tornando “o ensino de Matemática mais significativo para quem aprende, na medida em que

parte do real-vivido dos educandos para níveis mais formais e abstratos” (MONTEIRO, 1991,

p. 110). Sobre esse aspecto, Fonseca8 afirma que:

[...] a dinâmica própria das relações de ensino-aprendizagem na EJA, mais refratária

a teorizações com remotas referências em realidades experienciáveis, obrigou

educadores e propostas pedagógicas a uma salutar atitude de re-introdução de

elementos de composição dos significados do conhecimento matemático e de

constituição do sentido de aprender esse conhecimento, elementos esses que haviam

sido excluídos da abordagem escolar da Matemática (p. 5).

Podemos observar que na maioria das vezes os educandos ao retornarem aos bancos

escolares na EJA, até mesmo os que nunca frequentaram a escola, conseguem realizar alguns

cálculos (principalmente cálculos mentais), medições, estratégias de aproximação e

estimativas, apesar de ainda não dominarem os algoritmos matemáticos de maneira formal ou

sistematizada. A esse respeito, a Proposta Curricular do Primeiro Segmento da EJA

complementa:

Em relação ao ensino de Matemática para jovens e adultos, a questão pedagógica

mais instigante é o fato de que eles quase sempre, independentemente do ensino

sistemático, desenvolvem procedimentos próprios de resolução de problemas

envolvendo quantificações e cálculos. Há jovens e adultos analfabetos capazes de

fazer cálculos bastante complexos, ainda que não saibam como representá-los por

escrito na forma convencional, ou ainda que não saibam sequer explicar como

chegaram ao resultado [...] (2001, p. 32).

Constatamos em sala de aula o que a autora acima relata, pois os estudantes da EJA

fazem compras, vendas, trabalham na construção civil e em outras áreas nas quais a

Matemática está muito presente, ou seja, vivem em um mundo matematizado no qual

desenvolvem cotidianamente processos de aprendizagem matemática. Dessa forma, cada vez

7 FONSECA, M. da C. F. R. Aproximações da Questão da Significação no Ensino-Aprendizagem da Matemática

na EJA. Disponível em: ‹www.anped.org.br/reunioes/25/mariaconceicaofonsecat18.rtf› Acesso: 21-07-11 8 FONSECA, M. C. F. R. Aproximações da Questão da Significação no Ensino-Aprendizagem da Matemática

na EJA. Disponível em: ‹www.anped.org.br/reunioes/25/mariaconceicaofonsecat18.rtf› Acesso: 21-07-11

Page 82: CONCEPÇÕES DE PROFESSORES EXPRESSAS NOS … · metodologia de investigação adotada foi a abordagem qualitativa de cunho interpretativo, na qual nos fundamentamos em Bogdan e Biklen

81

mais podemos perceber a relação entre a Matemática e a sociedade, tornando-se crescente o

valor atribuído à Matemática nos sistemas escolares. Portanto, de acordo com Muniz,

aprender Matemática:

[...] deve ser um fator de contribuição na formação da identidade do sujeito. Essa

aprendizagem deve, necessariamente, contribuir com a construção da crença do

sujeito em poder superar-se a cada momento, para que a cada desafio encontre uma

oportunidade de crescimento pessoal. A matemática deve ser um instrumento

privilegiado para a construção da auto-estima e autoconfiança de cada um em aceitar

e enfrentar verdadeiros desafios que não devem se limitar a situações e exercícios

escolares estritamente didáticos. Os desafios propostos aos alunos devem ter uma

conexão forte e sólida com o contexto sociocultural, de forma que a sua superação

instrumentalize o sujeito para o confronto e a resolução de situações da vida real

(2001, p. 10).

Diante disso, os conhecimentos prévios dos educandos da Educação de Jovens e

Adultos necessitam ser considerados e aproveitados pelos professores no desenvolvimento de

novos conhecimentos matemáticos, para que assim os educandos aprendam realmente a

trabalhar com os conceitos e generalizar os conhecimentos que possuem para empregá-los em

outras situações. Entretanto, sabemos que os contextos trazidos pelos estudantes dessa

modalidade são normalmente mais complexos daqueles presentes nos contextos didáticos, tais

como o livro e o próprio planejamento do professor. À luz desse entendimento, Nogueira

acrescenta:

Quando o aluno se depara com um assunto novo, ele recorre a concepções,

representações e conhecimentos adquiridos em suas experiências passadas, que

aconteceram dentro da escola (conhecimentos formais) e/ou fora dela

(conhecimentos informais) (2010, p. 76).

Ainda nessa discussão, Alvares complementa:

O aluno adulto é um sujeito pleno de experiências de vida, que podem ser

consideradas a porta de entrada para o conhecimento escolar. É no encontro entre os

conhecimentos prévios e os conhecimentos escolares, na relação de troca entre os

saberes dos educandos e os saberes do educador, que ocorrem mudanças

significativas nos olhares, tanto do aluno quanto no do professor (2010, p. 21).

Além disso, mais do que em outras modalidades de ensino, esses conhecimentos que

os alunos trazem de suas trajetórias de vida geralmente são muito ricos e diversificados,

podendo ser empregados como suporte na mediação entre os conhecimentos informais que os

educandos apresentam ao chegar nessa modalidade de ensino e os conhecimentos

sistematizados ou escolares. A esse respeito, Ausubel et al afirma que:

Page 83: CONCEPÇÕES DE PROFESSORES EXPRESSAS NOS … · metodologia de investigação adotada foi a abordagem qualitativa de cunho interpretativo, na qual nos fundamentamos em Bogdan e Biklen

82

Se eu tivesse que reduzir toda a Psicologia Educacional a um único princípio, diria

isto: O fator isolado mais importante que influencia a aprendizagem é aquilo que o

aluno já conhece. Descubra o que ele sabe e baseie nisso os seus ensinamentos

(1980, p. 8).

Dessa forma, de acordo com Coll (1999), graças ao que o estudante já sabe, pode-se

constituir uma primeira “leitura” do novo conteúdo, atribuindo-lhe um primeiro nível de

significado e iniciar o processo de sua aprendizagem. Diante disso, os conhecimentos

matemáticos trazidos pelos Jovens e Adultos “serviriam ainda para se reorganizar, re-

significar e relacionar essas memórias com outros conhecimentos matemáticos já dominados

ou completamente novos.” (RIBEIRO, 2007, p. 69). Ainda nessa discussão, Fonseca

complementa que compete:

[...] aos educadores da EJA, dispensar um cuidado especial não somente às situações

reveladoras dos conhecimentos prévios dos alunos, mas também às situações em que

as reminiscências emergem nas aulas de Matemática ou de qualquer outro assunto,

tomando-as como instâncias de negociação de significados do saber escolar, como

uma demanda do presente a partir das lembranças Matemáticas do passado.

(FONSECA9, apud RIBEIRO, 2007, p.69).

Portanto, é fundamental que o professor conheça as especificidades, a história de vida

de seus alunos e também que valorize, respeite e aproveite os conhecimentos matemáticos

formais, informais e intuitivos que eles trazem consigo ao (re) ingressar na Educação de

Jovens e Adultos, bem como suas condições sociais, econômicas, culturais e psicológicas.

Referente a essa temática, Ribeiro (2007, p. 63) complementa que “o conhecimento

matemático produzido pelos educandos e o resgate do processo histórico-cultural desse

conhecimento matemático devem se constituir como fundamentais para promover uma

aprendizagem significativa”. A esse respeito, Moreira enfatiza que para Ausubel:

A aprendizagem é significativa quando a nova informação interage com um aspecto

especificamente relevante da estrutura de conhecimento da pessoa. Para que ocorra a

interação e aconteça a aprendizagem significativa, a nova informação deve

relacionar-se, de maneira substantiva e não-arbitrária, com os conceitos relevantes

preexistentes na estrutura cognitiva do aprendiz dando novos significados a eles e,

ao mesmo tempo, adquirindo significados. (1999, p. 11)

9 FONSECA, M. C. F .R. Educação Matemática e EJA. In: UNESCO. Construção coletiva: contribuições à

educação de jovens e adultos. Brasília: UNESCO/MEC/RAAAB, 2005b, p. 321-332.

Page 84: CONCEPÇÕES DE PROFESSORES EXPRESSAS NOS … · metodologia de investigação adotada foi a abordagem qualitativa de cunho interpretativo, na qual nos fundamentamos em Bogdan e Biklen

83

Diante disso, o professor de Matemática da EJA na perspectiva de uma Educação

Matemática Emancipadora, ao planejar intervenções didáticas buscando reconhecer e

identificar os conhecimentos prévios de seus educandos deve estar consciente da diversidade

e “procurar transformá-la em elemento de estímulo, explicação, análise e compreensão”.

(BRASIL, 2001, p. 100). Ademais, estará colaborando para que seus alunos possam

compreender que eles possuem conhecimentos matemáticos e que esses saberes informais são

válidos enquanto saberes sistematizados. Ainda nessa discussão, Darsie complementa que:

[...] o professor deverá organizar situações de aprendizagem capazes de levar os

alunos a trabalharem sobre seus conhecimentos e crenças, levando-os a cercarem os

seus limites e a procederem a escolhas que conduzam à evolução e/ou superação de

seus conhecimentos prévios (1998, p. 29).

Deste modo, na visão Emancipadora de Educação Matemática, o processo educacional

está centralizado na aprendizagem, ou seja, nos educandos, que são considerados os sujeitos

centrais no processo de ensino-aprendizagem dessa disciplina. Nessa perspectiva, o educador

não é o detentor do saber matemático, se constitui também aprendiz, cuja responsabilidade é

criar situações desafiadoras que promovam desequilíbrios nos esquemas prévios dos

educandos.

Assim, um dos maiores desafios dos professores da EJA é estabelecer conexões entre

os conhecimentos formais e informais de seus educandos e como relacioná-los

significativamente, permitindo que os alunos aumentem suas possibilidades de atuação,

fortalecendo sua autoconfiança. A esse respeito, Darsie elucida que:

Isto implica que o professor adote estratégias para levar o aluno a construir, a partir

de suas representações ou conhecimentos prévios, o conhecimento coerente com a

ciência, reconhecido pela comunidade científica. O aluno é colocado numa posição

ativa em relação à elaboração de seus próprios conhecimentos, tanto em relação ao

que ele não sabe, e o professor “ensina” quanto ao que ele já sabe (1998, p. 24).

No entanto, não podemos nos esquecer de que o fato de considerarmos importante a

valorização dos conhecimentos prévios dos educandos e o trabalho com questões do dia a dia

dos alunos, não quer dizer que devemos descartar conteúdos importantes ou deixá-los de

apresentá-los aos alunos com o rigor matemático, simplesmente por não fazerem parte do

contexto dos estudantes ou de que não há uma aplicação imediata em situações do cotidiano.

Pois deste modo, os alunos que buscam conhecer conhecimentos novos, ou seja, a Matemática

formal, seriam prejudicados (DUARTE, 1986).

Page 85: CONCEPÇÕES DE PROFESSORES EXPRESSAS NOS … · metodologia de investigação adotada foi a abordagem qualitativa de cunho interpretativo, na qual nos fundamentamos em Bogdan e Biklen

84

Ainda nessa discussão, Fonseca complementa que:

Como, porém, os alunos que procuram a EJA esperam apropriar-se dos conceitos ou

procedimentos da Matemática Acadêmica, tradicionalmente tomados como

objetivos do processo de ensino por sua utilidade ou valorização social, educadores

e instituições têm sido obrigados a avançar em alguns pontos cruciais, como a

discussão dos critérios de seleção dos conteúdos a serem contemplados e,

principalmente, o tratamento que se deve conferir aos saberes populares. Alguns

trabalhos já revelam a consciência de que, quando se quer dar relevância ao

cotidiano de luta pela sobrevivência dos sujeitos envolvidos na EJA, não se pode

“usar os saberes populares unicamente como ‘material intelectual’, ponte a partir

da qual os saberes acadêmicos seriam aprendidos” (KNIJNIK, 1996, p. 62)

(FONSECA, 2002, p. 11).

Outro fator a ser destacado nessa concepção de Educação Matemática, diz respeito à

proposta pedagógica da EJA. Atualmente vários pesquisadores em Educação Matemática,

professores e responsáveis pela formação de professores que atuam nessa modalidade têm

demonstrado certa preocupação em desenvolver seu trabalho pedagógico considerando às

particularidades, às expectativas e os desejos dos aprendizes da EJA, principalmente porque

estes estudantes já trazem consigo uma bagagem de conhecimentos advindos de suas

experiências. Nesse sentido, a Educação Matemática na perspectiva Emancipadora considera

a participação ativa do aluno no processo de construção do conhecimento e admite que todas

pessoas têm capacidade de aprender essa disciplina, valorizando a Matemática oral, o cálculo

mental, a diversidade do pensamento e o desenvolvimento de registros inusitados articulados

a esquemas mentais criativos.

Dessa forma, esse modelo de Educação Matemática sugere uma relação dialógica e

dialética entre educadores e educandos, onde ambos ora ensinam, ora aprendem juntos, sendo

o diálogo uma condição para a existência de uma educação problematizadora. Assim, os

educandos devem ser ouvidos na escolha dos conteúdos e devem planejar as atividades a

serem trabalhadas juntamente com seus educadores por meio do diálogo. Para Menegolla e

Sant’Anna (1999, p. 61), o planejamento “deve ser o resultado da ação conjunta e

participativa das pessoas que vão se envolver na ação. Ele deve ser o fruto de um ato

democrático, em que todos possam partilhar das decisões e responsabilidades.” Nesse sentido,

a dialogicidade entre educandos e educadores possibilita que o trabalho do professor se torne

mais eficiente, podendo resultar em melhor desempenho escolar dos alunos não só nas

avaliações, como também, em outros setores da vida na sociedade (LEITE, 2011).

Ademais, planejando as atividades com os alunos, os professores têm a oportunidade

de reconhecer o que seus alunos já sabem em relação ao que será ensinado. Assim:

Page 86: CONCEPÇÕES DE PROFESSORES EXPRESSAS NOS … · metodologia de investigação adotada foi a abordagem qualitativa de cunho interpretativo, na qual nos fundamentamos em Bogdan e Biklen

85

O objetivo das atividades nas quais os alunos e alunas falam sobre o que já sabem

em relação ao que será ensinado tem a finalidade de ajudar o (a) professor (a) a

planejar as situações de aprendizagem que seguirão. Os conhecimentos que os

alunos trazem são, muitas vezes, incompletos e cheios de equívocos mas precisamos

nos lembrar que nenhum conhecimento é completo e definitivo. (BRASIL, 2006, p.

33)

Desse modo, ao partir das experiências dos estudantes, os conteúdos matemáticos

ganham significado, passando a ser mecanismo para a ampliação de seu universo cognitivo,

tornando a aprendizagem reflexiva, crítica e contextualizada. Para isso, de acordo com

Fonseca, os professores deverão:

Contemplar problemas realmente significativos para os alunos da EJA em vez de

insistir nas situações hipotéticas, artificiais e enfadonhamente repetitivas, forjadas

tão-somente para o treinamento de destrezas matemáticas específicas e

desconectadas umas das outras, inclusive de seu papel na malha do raciocínio

matemático (2007, p. 50).

Nesse sentido, os conteúdos matemáticos na EJA devem ser trabalhados a partir de

temas geradores e de situações problematizadoras que fazem parte do contexto em que os

alunos estão inseridos. No entanto, tais problematizações devem ser levantadas pelos próprios

educandos, constituindo-se como elemento fundamental do processo de matematização nessa

modalidade. Deste modo, os estudantes terão a oportunidade de aprender melhor o que já

sabem, facilitando também a aprendizagem de novos conteúdos, dos quais os alunos ainda

não têm conhecimento (FREIRE, 1996).

Ademais, na Educação de Jovens e Adultos, os conteúdos podem ser trabalhados de

modo mais flexível e abrangente do que no Ensino Regular, deixando de lado o rigor

cronológico absoluto. Em suma, nessa concepção de Educação Matemática, os professores

que trabalham a Matemática na EJA têm a responsabilidade de privilegiar atividades que

envolvem o pensamento, em detrimento das que assinalam apenas a memorização do que se

almeja ensinar. Nesse sentido, Freire na entrevista concedida à D’Ambrosio no ano de 1996,

reafirma que “ensinar não é transferir conhecimento, transferir conteúdo. É lutar para com os

alunos, criar as condições para que o conhecimento seja construído, seja reconstruído. Isso

para mim é que é ensinar”.

Outro ponto a ser considerado para Freire (2001), é que a prática educativa é também

prática política e a sua ação vai muito mais além da estreiteza de procedimentos

escolarizantes, em que o processo de conhecer envolve muito mais que a compreensão de

Page 87: CONCEPÇÕES DE PROFESSORES EXPRESSAS NOS … · metodologia de investigação adotada foi a abordagem qualitativa de cunho interpretativo, na qual nos fundamentamos em Bogdan e Biklen

86

conteúdos. Nesse sentido, o ensino de Matemática na EJA na perspectiva Emancipadora deve

atuar como transformador do homem, contribuindo para a formação de cidadãos críticos

capazes de compreender e modificar a realidade em que vivem, exercendo dessa forma a

cidadania por meio da luta pelos seus direitos e transformando a sociedade, em que ainda

prevalecem a opressão, a exclusão e a discriminação. Dessa forma, a Educação é vista como

uma atividade política, dialógica e de respeito ao próximo, no esforço de libertação e de

enriquecimento cultural e humano.

Além disso, a Educação Matemática na perspectiva Emancipadora visa também

transformar os educandos em agentes políticos, críticos, reflexivos, que votam, que elegem

seus representantes, pois Freire (1989), em seu livro “A Importância do Ato de Ler,” aponta

que não se separa Educação de política, não sendo possível pensar em Educação sem estar

atento a questão do poder. Assim, segundo o mesmo autor, é impossível negar a natureza

política do processo educativo, bem como negar o caráter educativo do ato político. Dessa

forma, os educadores têm um papel fundamental nesse processo, principalmente por ser

impossível compreender a Educação como uma prática neutra. Diante disso, segundo Freire

(1989, p. 16), “o que temos de fazer enquanto educadoras ou educadores, é aclarar, assumindo

a nossa opção, que é política, e sermos coerentes com ela, na prática”.

Em linhas gerais, o processo de ensino-aprendizagem da Matemática em busca de uma

Educação Emancipadora na Educação de Jovens e Adultos visa tornar os educandos capazes

de desenvolver estratégias próprias para compreender, enfrentar e transformar a complexidade

das relações políticas, econômicas, sociais e culturais das quais fazem parte. Deste modo, as

práticas pedagógicas dos professores que trabalham a Matemática nessa modalidade de ensino

devem valorizar o perfil, as especificidades e a realidade em que vivem os educandos Jovens

e Adultos, através de metodologias de ensino-aprendizagem adequadas à idade, à experiência

e às expectativas desse público específico.

Diante disso, para melhor definirmos cada uma das perspectivas da Educação

Matemática citadas nesse capítulo teórico, apresentamos a seguir o Quadro 4 com as

características da Educação Matemática nas perspectivas da Educação Bancária e da

Educação Emancipadora.

Quadro 4 – Características da Educação Matemática nas perspectivas da Educação Bancária e da Educação

Emancipadora

CONCEPÇÃO BANCÁRIA DA

MATEMÁTICA

CONCEPÇÃO EMANCIPADORA DA

EDUCAÇÃO MATEMÁTICA

- Centrada na transmissão de informações; - Centrada na aprendizagem;

Page 88: CONCEPÇÕES DE PROFESSORES EXPRESSAS NOS … · metodologia de investigação adotada foi a abordagem qualitativa de cunho interpretativo, na qual nos fundamentamos em Bogdan e Biklen

87

CONCEPÇÃO BANCÁRIA DA

MATEMÁTICA

CONCEPÇÃO EMANCIPADORA DA

EDUCAÇÃO MATEMÁTICA

- Possui como figura central o professor, que é

considerado o sujeito do processo e o detentor do

saber;

- Os educadores são os depositantes e os

educandos depositários;

- A Educação é um ato de depositar, de transferir,

de transmitir valores e conhecimentos;

- Os educadores são os que sabem e os educandos

os que não sabem;

- Os professores transmitem o conhecimento

visando respostas corretas para validar a

aprendizagem;

- Prioriza os procedimentos mecânicos geralmente

desprovidos de significado, ou seja, sem relação

com o cotidiano visando apenas à fixação;

- Os professores escolhem e impõem os conteúdos

programáticos;

- Utiliza a cartilha como ferramenta basilar na

alfabetização de adultos;

- Não se preocupa com a qualidade dos processos

de ensino e aprendizagem;

- A Matemática não é concebida como processual;

- O conhecimento é organizado e apresentado ao

aluno como pronto e acabado, de forma

fragmentada e descontextualizada;

- São valorizados somente os aspectos formais da

Matemática;

- O saber é uma doação dos que se julgam sábios

aos que julgam nada saber;

- Ameniza ou anula a criatividade dos alunos;

- Despreocupação com o ensino e aprendizagem

dos educandos adultos;

- Elitiza o conhecimento matemático e o coloca

como sendo ciência pura e exata;

- Dicotomia entre ciência matemática e produção

cultural;

- Valoriza apenas o produto final, desprezando

todo o percurso e as estratégias de resolução

empregadas pelos alunos;

- Nega o diálogo;

- O ensino é transmitido de forma livresca;

- Preocupação com a utilização de regras;

- Preza a instrução e fixação de informações por

meio da repetição de exercícios;

- Entende que a Matemática é considerada para

- O educando é considerado o sujeito central no

processo ensino-aprendizagem;

- O educador não é o detentor do saber, é também

um aprendiz, cuja responsabilidade é criar

situações desafiadoras que promovam

desequilíbrios nos esquemas prévios dos

educandos;

- A participação do sujeito da aprendizagem no

processo de construção do conhecimento não é

apenas algo mais democrático, mas mostra-se ser

também mais eficaz;

- Utilização da Modelagem Matemática, da

História da Matemática, Etnomatemática,

Resolução de Problemas, Projetos de Trabalho,

Estratégias Metacognitivas, Tecnologias da

Comunicação e da Informação, e Jogos como

perspectivas metodológicas;

- Os educandos são ouvidos na escolha dos

conteúdos e planejam as atividades a serem

trabalhadas juntamente com seus educadores por

meio do diálogo;

- A aprendizagem acontece por um processo

dinâmico, contínuo, de organização e

reorganização de estruturas cognitivas

(equilibração);

- A Matemática é vista como um conhecimento

prático e aplicado às diferentes atividades

humanas;

- As atividades didáticas são trabalhadas a partir de

problematizações;

- A Educação Matemática preocupa-se com o

exercício pleno da cidadania e com as

transformações sociais;

- Os conteúdos matemáticos devem ser trabalhados

a partir de temas geradores, de situações

problematizadoras;

- Aprendizagem reflexiva, crítica e

contextualizada;

- O conhecimento não é pronto e acabado, mas é

estabelecido pela interação do homem, com o meio

e com as relações sociais;

- Estimula o diálogo entre os educandos, e também

entre educandos e educadores;

- Admite que a Matemática além de ser dinâmica,

é uma ciência questionável e sujeita a revisões;

- Admite que todas pessoas têm capacidade de

aprender a Matemática;

- Valoriza a matemática oral, o cálculo mental, e o

desenvolvimento de registros inusitados

articulados a esquemas mentais criativos;

Page 89: CONCEPÇÕES DE PROFESSORES EXPRESSAS NOS … · metodologia de investigação adotada foi a abordagem qualitativa de cunho interpretativo, na qual nos fundamentamos em Bogdan e Biklen

88

CONCEPÇÃO BANCÁRIA DA

MATEMÁTICA

CONCEPÇÃO EMANCIPADORA DA

EDUCAÇÃO MATEMÁTICA

poucas pessoas (gênios);

- Formação matemática preocupada apenas com a

preparação dos alunos para as etapas seguintes do

processo escolar;

- Trabalho pedagógico não direcionado para as

demandas e as especificidades dos educandos da

EJA;

- Basta o professor dominar a matéria que leciona

para ensinar bem;

- Educação como prática da dominação;

- Promove a alienação.

- Emprega a pedagogia do erro e aceita diferentes

configurações de cálculo, de pensamento e

produção;

- Incentiva a criatividade dos educandos;

- Valoriza do conhecimento matemático informal e

intuitivo;

- Currículos com metodologias e materiais

didáticos adequados às especificidades e a faixa

etária do público da EJA;

- Compreende que aprender Matemática é um

direito básico de todos os indivíduos e uma

necessidade individual e social;

- Considera e aproveita os conhecimentos prévios

dos alunos para introduzir novos conhecimentos

matemáticos.

Fonte: As autoras (2012)

2.3 PESQUISAS BRASILEIRAS DESENVOLVIDAS NO PRIMEIRO SEGMENTO DA

EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS

Com o intuito de conhecer os autores que discutem a temática de nossa investigação e

nos auxiliar na construção de categorias conceituais referentes à Educação de Jovens e

Adultos e à Educação Matemática, realizamos em 2010 um levantamento de pesquisas

brasileiras que discutem a Educação Matemática no Primeiro Segmento da Educação de

Jovens e Adultos, cujos resultados foram apresentados no XIV Encontro Brasileiro de

Estudantes de Pós-Graduação em Educação Matemática (EBRAPEM) (VANIN e DARSIE,

2010) e no V Congresso Internacional de Ensino da Matemática (VANIN e DARSIE, 2010a).

Em 2009, Leite e Darsie, integrantes do Grupo de Estudos e Pesquisas em Educação

Matemática (GRUEPEM) ligado à Universidade Federal de Mato Grosso, realizaram um

trabalho, cujo interesse era do GRUEPEM, com o intuito de reconhecer a produção científica

dos Programas de Pós-Graduação do Brasil com o tema Educação Matemática na Educação

de Jovens e Adultos. A partir dessa investigação, contatou-se a escassez de bibliografias

brasileiras que abrangessem essa temática.

Deste modo, surgiu o interesse em ampliar e aprofundar os estudos realizados por

Leite e Darsie (2009), que mapearam e identificaram quantitativamente a distribuição

temporal e espacial, temáticas e tendências das pesquisas nesse campo de estudo. Tal

Page 90: CONCEPÇÕES DE PROFESSORES EXPRESSAS NOS … · metodologia de investigação adotada foi a abordagem qualitativa de cunho interpretativo, na qual nos fundamentamos em Bogdan e Biklen

89

ampliação visou identificar as produções e temáticas voltadas para o Primeiro Segmento da

EJA, lócus em que se desenvolve nossa pesquisa de mestrado.

Para tanto, buscou-se identificar: quantas pesquisas em Educação Matemática na EJA

são voltadas para o Primeiro Segmento; por quem, onde e quando foram realizadas essas

pesquisas; quais foram as temáticas abordadas no Primeiro Segmento.

Cabe destacar que embora a Educação de Jovens e Adultos esteja atualmente em pauta

nas discussões sobre a Educação brasileira, ainda há uma quantidade inexpressiva de

pesquisas publicadas sobre essa modalidade de ensino, especialmente no que se refere da

Educação Matemática na EJA.

Dessa forma, o interesse em discutir os aspectos da Educação Matemática na EJA

deve-se às preocupações recentes de professores, alunos, responsáveis pela elaboração e

implementação de propostas para essa modalidade de ensino e de pesquisadores, em que se

destaca a pesquisadora da Universidade Federal de Minas Gerais Prof.ª Dr.ª Maria da

Conceição Ferreira Reis Fonseca, que vem produzindo e orientando importantes trabalhos no

contexto da Educação de Jovens e Adultos no Brasil. Ribeiro salienta que:

[...] a demanda que vem se reconfigurando nos últimos anos em torno do tema da

Educação Matemática de Jovens e Adultos se deve também à preocupação da

comunidade da Educação Matemática em adequar o trabalho pedagógico em

Matemática às características, demandas, expectativas e desejos dos aprendizes da

EJA, devidamente reconhecidos por suas especificidades socioculturais (2007, p.

63).

No que se refere especificamente ao Primeiro Segmento da Educação de Jovens e

Adultos, percebe-se poucas discussões a respeito de pesquisas realizadas em Educação

Matemática que contemplem essa especificidade que Ribeiro (2007) destaca. Verifica-se que

esse segmento contempla o processo de alfabetização, e no caso da Matemática,

numeralização, elementos pelos quais o professor de Matemática não tem dado muita

importância, por deixar esse tema sob responsabilidade do professor Pedagogo, o que nos

permite questionar a atenção que pesquisadores de instituições brasileiras têm destinado a

esse lócus de investigação.

Nesse contexto, o levantamento das pesquisas foi constituído em três momentos:

primeiramente foi realizada análise do trabalho de Leite e Darsie (2009), em que se

identificou o levantamento das dissertações e teses produzidas em Programas de Pós-

Graduação de instituições públicas e privadas no Brasil, no período de 1988 a 2009. No

segundo momento, com o objetivo de aprofundar o levantamento desses dados, buscou-se

Page 91: CONCEPÇÕES DE PROFESSORES EXPRESSAS NOS … · metodologia de investigação adotada foi a abordagem qualitativa de cunho interpretativo, na qual nos fundamentamos em Bogdan e Biklen

90

encontrar outras dissertações e teses defendidas até abril de 2010 em bancos disponíveis na

internet, como no portal da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior

(Capes), na Biblioteca Digital Brasileira de Teses e Dissertações (BDTD), na Biblioteca

Digital Desenvolvida em Software Livre (Domínio Público), no Centro de Referência da

Educação de Jovens e Adultos (Cereja), em bibliotecas digitais de universidades públicas e

particulares, e também na Plataforma Lattes do Conselho Nacional de Desenvolvimento

Científico e Tecnológico (CNPq). Posteriormente realizou-se a investigação exploratória, em

que se buscou identificar, a partir dos resumos e das dissertações e teses completas

localizadas, a localização temporal, as temáticas e as principais universidades que

desenvolveram pesquisas em Educação Matemática voltadas para Primeiro Segmento da EJA.

No total foram localizadas 74 (setenta e quatro) pesquisas em Educação Matemática

na Educação de Jovens e Adultos, distribuídas no período de 1988 a abril de 2010, sendo 6

(seis) teses e 68 (sessenta e oito) dissertações. Logo, têm-se aproximadamente 92% das

pesquisas em forma de dissertações de mestrado e 8% como teses de doutorado.

As informações coletadas por meio do levantamento foram organizadas da seguinte

maneira: Pesquisadores que desenvolveram trabalhos em Educação Matemática na EJA no

Brasil, no período de 1988 a abril de 2010; Distribuição temporal da produção de pesquisas

brasileiras em Educação Matemática na EJA; Lócus de investigação das pesquisas brasileiras

realizadas em Educação Matemática na EJA; Distribuição temporal, espacial, temáticas e

metodologias de pesquisas brasileiras em Educação Matemática no Primeiro Segmento da

EJA.

2.3.1 Pesquisadores que desenvolveram trabalhos em Educação Matemática na EJA no

Brasil no período de 1988 a abril de 2010

Ao analisarmos a produção científica encontrada nessa área, percebeu-se que ainda são

poucos os pesquisadores que demonstram interesse em realizar trabalhos sobre temas relativos

à Educação Matemática na Educação de Jovens e Adultos no Brasil. O Quadro 5 apresenta

uma relação nominal dos pesquisadores, instituição em que foi desenvolvida a pesquisa, ano

da defesa, identificação relativa à dissertação ou tese, e o Segmento da Educação de Jovens e

Adultos como lócus de investigação em que foram realizadas as pesquisas.

Page 92: CONCEPÇÕES DE PROFESSORES EXPRESSAS NOS … · metodologia de investigação adotada foi a abordagem qualitativa de cunho interpretativo, na qual nos fundamentamos em Bogdan e Biklen

91

Quadro 5 – Pesquisadores em Educação Matemática na EJA no período de 1988 a abril de 2010 no

Brasil

PESQUISADORES

AUTORES

INSTITUIÇÃO ANO DA

DEFESA

DISSERTAÇÃO

(D) OU TESE (T)

LÓCUS DA

INVESTIGAÇÃO

Ademilson A. T. Fernandes PUC-SP 2004 D Não encontrado10

Adriana A. M. Gomes. USF 2007 D 2º segmento

Alessandro R. Silva PUC-SP 2006 D Indefinido11

Alexandrina Monteiro UNESP 1991 D Não encontrado

Ana M. S. Rodrigues UFPA 2006 D 2º segmento

Ana R. Ferreira UFMG 2009 D Ensino Médio

Ângela M. C. Souza UFES 1988 D Não encontrado

Claudinéia P. Cherini USF 2007 D Ensino Médio

Cláudio L. Eugênio UFJF 2009 D Não encontrado

Cláudio P. M. Barros PUC-SP 2008 D Ensino Médio

Cleusa de A. Cardoso UFMG 2002 D Não encontrado

Cleuza I. C. dos Santos UFRGS 2008 D Indefinido

Daniele E. Pereira UFRN 2008 D 1º segmento

David L. Mazzanti PUC-SP 2008 D Ensino Médio

Denise A. de Araújo UFMG 2001 D Ensino Médio

Dulce M. B. Abreu UNICAMP 1999 D 1º segmento

Edier Y.H. Henao PUC-SP 2006 D Indefinido

Edilene F. Rozal UFPA 2007 D 2º segmento

Edgar A. da Silva PUC-SP 2007 D 2º segmento

Edson A. Cardoso PUC-SP 2001 D 2º segmento

Edimilson A. de Oliveira UCB 2007 D Indefinido

Eduardo J. Jara UFRGS 2008 D Indefinido

Eliete Zanelato UneSC 2008 D Indefinido

Elisângela Pavanelo UNESP-JMF 2004 D Indefinido

Emerson da S. Ribeiro UFMT 2007 D 2º segmento

Everaldo J. da Silva UNICSUL 2007 D Não encontrado

Felipe R. Rochelande UFRPE 2007 D 2º segmento

Fernanda Migliorança UFScar 2004 D Indefinido

Fernanda Wanderer. UNISINOS 2001 D Indefinido

Gerliane M. Cosme UFES 2009 D Indefinido

Gideao R. de Sousa UNICSUL 2009 D Não encontrado

Idemar Vizolli UFPR 2006 T 2º segmento

Irineu Filho Mota PUC-SP 2006 D Ensino Médio

Izabel C. de A. Franco UNICAMP 2004 D 1º segmento

Jeane do S. C. da Silva UFPA 2006 D Indefinido

Joni M. Incheglu UNICSUL 2007 D 2º segmento

José E. N. Silva USF 2008 D Ensino Médio

José V. da Silva UFRPE 2007 D Não encontrado

Juliana B. Faria UFMG 2007 D 2º segmento

Karla B. V. Silveira UNIFRA 2007 D Ensino Médio

Keli C. Conti UNICAMP 2009 M 2° segmento

Letícia M. Panciera UNIFRA 2007 M 2º segmento

Luís R. C. de Castro UNISINOS 2005 M Indefinido

Maria A. Delfino da Silva PUC-SP 2007 M Ensino Médio

Maria C. R. F. de Souza UFMG 2008 T Indefinido

Maria da C. F. R. Fonseca UNICAMP 2001 T Indefinido

Maria de F. T. Barreto UNESP-JMF 2007 T Indefinido

Maria E. R. de O. Toledo USP 1998 D 2º segmento

Maria El. R. de O. Toledo USP 2003 T Indefinido

10

Não Encontrado – Pesquisas em que não foram encontrados os resumos e nem as dissertações ou teses para

que se pudesse observar o lócus de investigação. 11

Indefinido – Pesquisas encontradas, porém não definem o lócus de investigação.

Page 93: CONCEPÇÕES DE PROFESSORES EXPRESSAS NOS … · metodologia de investigação adotada foi a abordagem qualitativa de cunho interpretativo, na qual nos fundamentamos em Bogdan e Biklen

92

PESQUISADORES

AUTORES

INSTITUIÇÃO ANO DA

DEFESA

DISSERTAÇÃO

(D) OU TESE (T)

LÓCUS DA

INVESTIGAÇÃO

Maria E. C. Santos UNIVALI 2004 D 1º segmento

Maria José Gomes UFPE 2007 D 2º segmento

Marisa Stragliotto UNIJUI 2008 D Indefinido

Meri Bello Kooro UNICSUL 2006 D Indefinido

Micheli C. S. Roloff UNIVALI 2009 D Ensino Médio

Mirela S. Pacheco PUCRS 2009 D 2º segmento

Osvando dos S. Alves UFPA 2004 D Indefinido

Patricia A. de M. Migliouni UNISO 2007 D Ensino Médio

Patrícia M. A. S. Azevedo UNICAMP 2002 D 2º segmento

Paula Resende Adelino UFMG 2009 D 2º segmento

Paulo Roberto Rodrigues UFSM 2008 D 2º segmento

Penélope Priscila Peggion USP 2006 D 1º segmento

Priscila Coelho Lima UFMG 2007 D Não encontrado

Regina L. T. Albuquerque UFRGS 2004 D Indefinido

Regina M. S. Valverde UNICAMP 2006 D 2º segmento

Renata Paixão Corôa UFPA 2006 D Indefinido

Rosalba Lopes de Oliveira UFRN 2004 D 2º segmento

Silvia Danielle da Cunha UFPA 2008 D 1o segmento

Sonia Maria Schneider UFF 2005 D Indefinido

Stela C. Bertholo Piconez USP 2004 D Não encontrado

Tácio Vitalino da Silva UFRN 2007 D 2º segmento

Valdenice Leitão da Silva UFPE 2006 D Indefinido

Vera L. A. Azevedo PUC-SP 2009 T Indefinido

Viviane R. de S. Cabral UFMG 2007 D 1º segmento

Viviane S. Bail UNICAMP 2002 D Não encontrado

Fonte: Vanin e Darsie (2010a)

Um elemento que observamos foi quanto ao gênero dos pesquisadores, sendo 68,92%

do sexo feminino e 31,08% do sexo masculino. Outro dado relevante que notamos foi em

relação a quantidade pouco expressiva de teses produzidas quando comparada ao número de

dissertações, como mostra o Gráfico 1, o que se constitui em um problema para a produção

nessa área de investigação, pois tais estudos longitudinais são muito importantes para a

melhor compreensão acerca do desenvolvimento dos alunos e de outros aspectos importantes

da Educação de Jovens e Adultos que envolvem a Educação Matemática.

Gráfico.1: Comparativo entre o percentual de teses e dissertações produzidas na

Educação Matemática na EJA no período entre 1988 a abril de 2010.

Fonte: Vanin e Darsie (2010a)

Page 94: CONCEPÇÕES DE PROFESSORES EXPRESSAS NOS … · metodologia de investigação adotada foi a abordagem qualitativa de cunho interpretativo, na qual nos fundamentamos em Bogdan e Biklen

93

2.3.2 Distribuição temporal da produção de pesquisas brasileiras em Educação

Matemática na EJA

Em relação aos dados levantados, observou-se também (Tabela 1) que a maior parte da

produção de pesquisas em Educação Matemática na EJA ocorreu a partir do ano de 2001,

tendo seu auge no ano de 2007, com 20 pesquisas realizadas, ou seja, cerca de 27,03% de toda

produção.

Percebeu-se ainda que nos últimos quatro anos do período em questão foram

produzidos aproximadamente 68,93% do total das pesquisas levantadas nesta área. Vale

destacar que não foram encontradas pesquisas realizadas em Educação Matemática na

Educação de Jovens e Adultos no Brasil anteriores ao ano de 1988, no período de 1992 a

1997, no ano 2000 e no caso do ano de 2010, até o mês de abril, data em que foi realizado o

levantamento. Talvez um dos motivos seja porque não foram disponibilizadas digitalmente

nos bancos em que realizamos essa investigação.

Tabela 1 – Pesquisas brasileiras com a temática Educação Matemática na EJA entre 1988 e abril de 2010

ANO DISSERTAÇÃO/ TESE PORCENTAGEM

1988 1 1,35%

1991 1 1,35%

1998 1 1,35%

1999 1 1,35%

2001 4 5,41%

2002 3 4,05%

2003 1 1,35%

2004 9 12,16%

2005 2 2,70%

2006 11 14,87%

2007 20 27,03%

2008 11 14,87%

2009 9 12,16%

Total 74 100%

Fonte: Vanin e Darsie (2010a)

2.3.3 Lócus de investigação das pesquisas realizadas em Educação Matemática na

Educação de Jovens e Adultos no período de 1991 a abril de 2010.

Por meio do levantamento das pesquisas, através dos resumos, das teses e dissertações

completas localizadas, foi possível identificar os lócus de investigação em que foram

desenvolvidas as pesquisas. Do total das 74 produções em Educação Matemática na EJA, 7

(sete) destinam-se ao Primeiro Segmento da EJA, 21(vinte e um) ao Segundo Segmento da

EJA e 11 (onze) pesquisas ao ensino médio da EJA.

Page 95: CONCEPÇÕES DE PROFESSORES EXPRESSAS NOS … · metodologia de investigação adotada foi a abordagem qualitativa de cunho interpretativo, na qual nos fundamentamos em Bogdan e Biklen

94

No entanto, em 24 (vinte e quatro) pesquisas não foi possível verificar o lócus

específico de investigação, pois se tratam de pesquisas direcionadas para Educação

Matemática na EJA de maneira geral, ou seja, não abordam particularmente um segmento

específico da EJA. Além disso, 11 (onze) pesquisas não foram localizadas (inclusive seus

resumos) nos sites e bancos de teses e dissertações anteriormente citados, desta forma foi

impossível identificar o lócus da realização dos trabalhos.

Em relação à quantidade de pesquisas realizadas nessa área podemos perceber que

ainda são poucos os trabalhos que contemplam o Primeiro Segmento da EJA, como podemos

perceber no Gráfico 2 abaixo.

Gráfico 2: Lócus de investigação das teses e dissertações produzidas na Educação Matemática

na EJA, por segmento, no período entre 1988 a abril de 2010.

10%

28%

15%

32%

15%1° SEGMENTO

2° SEGMENTO

ENSINO MÉDIO

INDEFINIDO

NÃO ENCONTRADAS

Fonte: Vanin e Darsie (2010a)

2.3.4 Distribuição temporal, espacial, temáticas e metodologias de pesquisas brasileiras

em Educação Matemática no Primeiro Segmento da EJA

Em relação às pesquisas em Educação Matemática no Primeiro Segmento da EJA,

percebeu-se (Tabela 2) que o primeiro trabalho direcionado para essa especificidade foi

realizado somente no ano de 1999, por Dulce Maria Britto Abreu, na Universidade Estadual

de Campinas, sendo uma dissertação de mestrado intitulada “O conhecimento numérico de

jovens e adultos alfabetizandos na (re) criação do conceito de número”. Além disso, até abril

de 2010 notamos que nenhuma tese de doutorado havia sido produzida, somente dissertações

de mestrado que contemplassem esse segmento em particular.

Tabela 2 – Pesquisas com a temática Educação Matemática no Primeiro Segmento da EJA

entre 1988 e abril de 2010

ANO DISSERTAÇÃO / TESE

1999 1

2004 2

Page 96: CONCEPÇÕES DE PROFESSORES EXPRESSAS NOS … · metodologia de investigação adotada foi a abordagem qualitativa de cunho interpretativo, na qual nos fundamentamos em Bogdan e Biklen

95

ANO DISSERTAÇÃO / TESE

2006 1

2007 1

2008 2

Total 7

Fonte: Vanin e Darsie (2010a)

Verificou-se também que do total das 27 (vinte e sete) instituições que já

desenvolveram trabalhos nesse campo de estudos, a instituição que teve maior produção de

pesquisas em Educação Matemática na EJA no país, até abril de 2010, é a Pontifícia

Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), com 10 (dez) pesquisas. Posteriormente vem a

Universidade Federal de Minas Gerais com 8 (oito) pesquisas e em seguida a Universidade

Estadual de Campinas com 7 (sete) pesquisas. Observa-se também que essas três

universidades fazem parte da região Sudeste, cuja região concentra a maioria das pesquisas

realizadas nessa área.

Tabela 3 – Universidades que realizaram pesquisas em Educação Matemática na EJA entre

1988 e abril de 2010

INSTITUIÇÃO QUANTIDADE

1 Pontifícia Universidade Católica de São Paulo 10

2 Universidade de São Francisco 3

3 Universidade Estadual Paulista 3

4 Universidade Federal do Pará 6

5 Universidade Federal de Minas Gerais 8

6 Universidade Federal do Espírito Santo 2

7 Universidade Federal de Juiz de Fora 1

8 Universidade Federal do Rio Grande do Sul 3

9 Universidade Federal do Rio Grande do Norte 3

10 Universidade Estadual de Campinas 7

11 Universidade Católica de Brasília 1

12 Universidade do Extremo Sul Catarinense 1

13 Universidade Federal de Mato Grosso 1

14 Universidade Federal Rural de Pernambuco 1

15 Universidade Federal de São Carlos 1

16 Universidade do Vale do Rio dos Sinos 2

17 Universidade Cruzeiro do Sul 4

18 Universidade Federal do Paraná 1

19 Centro Universitário Franciscano 2

20 Universidade de São Paulo 4

21 Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande

do Sul

1

22 Universidade do Vale do Itajaí 2

23 Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul 1

24 Universidade de Sorocaba 1

25 Universidade Federal de Santa Maria 1

26 Universidade Federal Fluminense 1

27 Universidade Federal de Pernambuco 3

TOTAL 74

Fonte: Vanin e Darsie (2010a)

Page 97: CONCEPÇÕES DE PROFESSORES EXPRESSAS NOS … · metodologia de investigação adotada foi a abordagem qualitativa de cunho interpretativo, na qual nos fundamentamos em Bogdan e Biklen

96

Legenda:

Universidades Particulares

Universidades Públicas

Observou-se também que das 27 (vinte e sete) instituições, somente 6 (seis)

desenvolveram pesquisas em Educação Matemática voltadas para o Primeiro Segmento da

EJA, todas com 1 (uma) produção, sendo a Universidade Federal do Rio Grande do Norte, a

Universidade do Vale do Itajaí, a Universidade de São Paulo, a Universidade Federal do Pará,

a Universidade Federal de Minas Gerais, exceto a Universidade Estadual de Campinas que

desenvolveu 2 (duas) pesquisas com esse lócus de investigação.

Constatou-se ainda que 59,2% da produção acadêmica relativa à Educação Matemática

na Educação de Jovens e Adultos foram realizadas em instituições públicas (federais e

estaduais) enquanto 40,8% foram desenvolvidas por instituições privadas.

Em relação às temáticas abordadas nas pesquisas brasileiras sobre Educação

Matemática no Primeiro Segmento da EJA no período de 1988 a abril de 2010, identificou-se

7 (sete) temas emergentes como podemos observar na Tabela 4.

Tabela 4 – Temas encontrados nas pesquisas do Primeiro Segmento da EJA

PESQUISADORES TEMÁTICAS

Daniele E. Pereira Alfabetização funcional

Dulce M. B. Abreu Numeramento

Izabel C. de A. Franco Problemas aditivos e multiplicativos

Maria E. C. Santos Resolução de Problemas

Penélope Priscila Peggion Formação de professores

Silvia Danielle da Cunha Modelagem Matemática

Viviane R. de S. Cabral Conhecimentos prévios

Total

Fonte: Adaptado Vanin e Darsie (2010a)

Em relação à opção metodológica utilizada nas pesquisas em Educação Matemática no

Primeiro Segmento da EJA, predominou-se a abordagem de investigação qualitativa. Desta

forma, podemos observar (Tabela 5) que das 7 (sete) pesquisas em Educação Matemática

voltadas para o Primeiro Segmento da EJA, 4 (quatro) pesquisas constituem-se de Estudos de

Caso, 2 (duas) pesquisas como Pesquisa-Ação ou Participante e 1 (uma) pesquisa de cunho

interpretativo, como métodos de investigação qualitativa.

Page 98: CONCEPÇÕES DE PROFESSORES EXPRESSAS NOS … · metodologia de investigação adotada foi a abordagem qualitativa de cunho interpretativo, na qual nos fundamentamos em Bogdan e Biklen

97

A Tabela 5 nos mostra o método de investigação qualitativa que cada pesquisador

utilizou em sua pesquisa.

Tabela 5 – Metodologias utilizadas pelos autores das pesquisas brasileiras em Educação Matemática no Primeiro

Segmento da EJA

PESQUISADORES MÉTODO INVESTIGATIVO QUALITATIVO

Daniele E. Pereira Pesquisa-Ação ou Participante

Dulce M. B. Abreu Pesquisa-ação ou Participante

Izabel C. de A. Franco Estudo de caso

Maria E. C. Santos Pesquisa qualitativa de cunho interpretativo

Penélope Priscila Peggion Estudo de caso

Silvia Danielle da Cunha Estudo de caso

Viviane R. de S. Cabral Estudo de caso

Fonte: Adaptado Vanin e Darsie (2010a)

Deste modo, podemos inferir que há muito que se investigar no campo da Educação

Matemática na Educação de Jovens e Adultos, principalmente no que se refere ao Primeiro

Segmento da EJA, no qual o público alvo é constituído por Jovens e Adultos que nunca

frequentaram os bancos escolares ou que há muito tempo estão afastados dos mesmos.

No decorrer desse estudo, e principalmente no levantamento de dados, foram

encontradas algumas dificuldades. Uma delas foi a indisponibilidade na internet dos

currículos de alguns pesquisadores na Plataforma Lattes do Conselho Nacional de

Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPQ), com o cadastramento de dados pessoais

e profissionais, mesmo sendo uma exigência da Academia. Dessa forma, dificultou

imensamente a validação dos dados coletados. Outro aspecto complicador é que nem todas as

pesquisas estão disponíveis nos bancos de teses e dissertações.

Nesse sentido, tais obstáculos dificultaram a identificação das pesquisas produzidas no

Brasil e nos levaram a refletir sobre a necessidade de centralizar em um único portal virtual os

bancos de teses e dissertações produzidas em instituições brasileiras, especialmente aquelas

desenvolvidas em instituições públicas, para que todo e qualquer pesquisador ou leitor

interessado em consultar a produção científica dos Programas de Pós- Graduação possa ter

acesso em qualquer lugar do país.

Além disso, a linguagem utilizada nas pesquisas para referir-se aos Segmentos da EJA,

como por exemplo, Termo, Etapa, Ciclo, Fase, Nível, dentre outros de acordo com cada

região do país, atrapalhou na identificação dos lócus de investigação das pesquisas, o que nos

levou à apropriação dessas nomenclaturas.

No decorrer do próximo capítulo, nos ateremos de forma mais detalhada ao o quê e o

como ensinar a Matemática na Educação de Jovens e Adultos. Desta forma, apresentamos

Page 99: CONCEPÇÕES DE PROFESSORES EXPRESSAS NOS … · metodologia de investigação adotada foi a abordagem qualitativa de cunho interpretativo, na qual nos fundamentamos em Bogdan e Biklen

98

alguns caminhos para se fazer a Matemática em sala de aula, ou seja, algumas perspectivas

fortemente associadas às tendências em Educação Matemática propostas a partir da década de

80, como por exemplo: Modelagem Matemática, Resolução de Problemas, Estratégias

Metacognitivas, Etnomatemática, Tecnologias da Informação e Comunicação, Jogos, História

da Matemática e os Projetos de Trabalho no processo de ensino-aprendizagem da Matemática

na Educação de Jovens e Adultos.

Page 100: CONCEPÇÕES DE PROFESSORES EXPRESSAS NOS … · metodologia de investigação adotada foi a abordagem qualitativa de cunho interpretativo, na qual nos fundamentamos em Bogdan e Biklen

99

3. O QUÊ E O COMO ENSINAR MATEMÁTICA NA 1ª E 2ª ETAPAS DA

EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS

“Educar é a principal função da escola, mas as variações do modo de

ensinar determinam diferenças nos resultados obtidos”.

(MICOTTI, 1999, p. 154)

No intuito de nos aproximarmos da interpretação sobre o que revelam os documentos

escolares e as falas dos professores sobre os conteúdos e as metodologias propostas para o

ensino e aprendizagem da Matemática na 1ª e 2ª Etapas da EJA, analisamos nesse capítulo os

conteúdos de Matemática que devem ser trabalhados na 1ª e 2ª Etapas da Educação de Jovens

e Adultos segundo a Proposta Curricular para o Primeiro Segmento da EJA (2001). Ademais,

fazemos uma discussão sobre perspectivas metodológicas fortemente associadas às tendências

em Educação Matemática e que podem ser utilizadas no ensino de Matemática para a

Educação de Jovens e Adultos.

3.1 O QUE SE ENSINA DE MATEMÁTICA PARA A 1ª E 2ª ETAPAS DA EDUCAÇÃO

DE JOVENS E ADULTOS

A Proposta Curricular para o Primeiro Segmento da EJA é um documento organizado

no ano de 2001, pelo Ministério da Educação e do Desporto, que apresenta orientações

curriculares relativas à alfabetização e pós-alfabetização de Jovens e Adultos, cujos conteúdos

correspondem às quatro primeiras séries do Ensino Fundamental. Nesse sentido, visa

subsidiar a formulação de projetos e propostas curriculares a serem desenvolvidos por

instituições governamentais e não-governamentais, bem como planos de aula dos professores

que atuam nessa modalidade de ensino, adaptados às realidades e de acordo com as

necessidades e objetivos específicos de seus programas.

No que dizem respeito à organização dos conteúdos nas diferentes disciplinas, estes

precisam ser repensados quando o educando é aluno da Educação de Jovens e Adultos. Deste

modo, de acordo com Fonseca:

[...] na Educação Matemática de jovens e adultos, como de resto em toda Educação

Matemática, o esforço para a identificação e uma honesta discussão das concepções

de Matemática com as quais lidamos – a(s) nossa (s) própria (s), as dos alunos, a (s)

da Escola ou Projeto em que trabalhamos, a (s) da sociedade e do mercado de

trabalho, a (s) dos livros didáticos, a (s) dos programas oficiais de ensino – tem sido

fundamental para direcionar os educadores num repensar do conteúdo de

Matemática [...] (2007, p. 65).

Page 101: CONCEPÇÕES DE PROFESSORES EXPRESSAS NOS … · metodologia de investigação adotada foi a abordagem qualitativa de cunho interpretativo, na qual nos fundamentamos em Bogdan e Biklen

100

Além disso, no contexto da EJA, a incorporação da cultura e da realidade vivencial dos

educandos deve ser vista como ponto de partida para a prática educacional. A esse respeito, a

Proposta Curricular para o Primeiro Segmento da EJA pontua:

[...] o ponto de partida para a aquisição dos conteúdos matemáticos deve ser os

conhecimentos prévios dos educandos. Na educação de jovens e adultos, mais do

que em outras modalidades de ensino, esses conhecimentos costumam ser bastante

diversificados e muitas vezes são encarados, equivocadamente, como obstáculos à

aprendizagem. Ao planejar a intervenção didática, o professor deve estar consciente

dessa diversidade e procurar transformá-la em elemento de estímulo, explicação,

análise e compreensão (BRASIL, 2001, p. 100).

No entanto, diferentemente da Proposta Curricular, a literatura tem apontado que a

desvalorização, e em alguns casos a negação pelos professores dos conhecimentos prévios dos

alunos, ou seja, da visão de mundo, das formas de pensar dos educandos, dentre outros

aspectos, vem contribuindo para a desmotivação e consequente evasão na EJA. Deste modo,

não é levado em consideração de que mesmo que os Jovens e Adultos não tenham tido uma

vivência escolar, já dominam alguns conhecimentos matemáticos que foram aprendidos de

maneira intuitiva ou informal ao longo de suas vidas. Tais conhecimentos prévios portam

formas próprias de pensar, refletindo a história cognitiva de cada educando, assim como

configurações de resoluções de problemas, operações aritméticas, medidas e seus registros.

Ao abordar a problemática envolvida nessa questão, Ribeiro declara que:

Em relação ao ensino de Matemática para jovens e adultos, a questão pedagógica

mais instigante é o fato de que eles quase sempre, independentemente do ensino

sistemático, desenvolvem procedimentos próprios de resolução de problemas

envolvendo quantificações e cálculos. Há jovens e adultos analfabetos capazes de

fazer cálculos bastante complexos, ainda que não saibam como representá-los por

escrito na forma convencional, ou ainda que não saibam sequer explicar como

chegaram ao resultado [...] (1997, p. 32).

Desse modo, um dos grandes desafios dos professores que atuam na Educação de

Jovens e Adultos é mediar os conhecimentos informais que os educandos possuem e que

foram adquiridos com suas experiências ao longo de suas vidas, com os novos conhecimentos

sistematizados e ensinados na escola. No que se refere à Proposta Curricular para o Primeiro

Segmento da EJA, acrescenta que a comunicação entre professores e alunos

[...] desempenha um papel fundamental para auxiliar os alunos a construírem os

vínculos entre as noções informais e intuitivas e a linguagem abstrata e simbólica da

Matemática. Também desempenha uma função-chave para que estabeleçam

Page 102: CONCEPÇÕES DE PROFESSORES EXPRESSAS NOS … · metodologia de investigação adotada foi a abordagem qualitativa de cunho interpretativo, na qual nos fundamentamos em Bogdan e Biklen

101

conexões entre as ideias matemáticas e suas diferentes representações: verbais,

materiais, pictóricas, simbólicas e mentais (BRASIL, 2001, p. 101).

Nesse sentido, é muito importante oferecer a esses Jovens e Adultos a oportunidade de

falar de Matemática, de esclarecer suas ideias e conceitos antes de sistematizá-las no papel,

pois dessa forma podemos ajudá-los a construir o conhecimento matemático e a esclarecer

seus processos de raciocínio.

Quanto ao o quê ensinar de Matemática para alunos do Primeiro Segmento da EJA, a

Proposta Curricular para o Primeiro Segmento da Educação de Jovens e Adultos (2001),

organizou os conteúdos matemáticos em quatro grandes blocos: “Números e Operações

Numéricas”, “Medidas”, “Geometria” e “Introdução à Estatística”. Os conteúdos e conceitos

matemáticos selecionados e sugeridos pela Proposta Curricular para o Primeiro Segmento da

EJA seguem no Quadro 6:

Quadro 6 – Síntese analítica dos conceitos e conteúdos matemáticos para o Primeiro Segmento da EJA

BLOCOS CONTEÚDOS E CONCEITOS

Números

e

Operações Numéricas

- Números naturais (funções e representações);

- Sistema decimal de numeração;

- Números racionais na forma decimal e fracionária;

- Operações: adição, subtração, multiplicação e divisão;

- Diferentes procedimentos de estimativa;

- Cálculo mental e cálculo escrito.

Medidas

- Noção de medida e de proporcionalidade;

- Unidades de medida e relações entre suas diferentes representações;

- Sistemas de medida: tempo, massa, capacidade, comprimento,

superfície e valor (sistema monetário).

Geometria

- Construção das noções espaciais através da percepção dos próprios

movimentos e da representação gráfica do espaço;

- Figuras bidimensionais e tridimensionais (semelhanças, diferenças, e

propriedades)

Introdução à Estatística

- Procedimentos de coleta, organização, apresentação e interpretação de

dados;

- Leitura e construção de tabelas e gráficos.

Fonte: Proposta Curricular para o Primeiro Segmento da EJA (2001)

Ao observarmos o quadro acima percebemos a ausência de conteúdos associados à

Probabilidade e Combinatória, conhecimentos que consideramos importantes na EJA pois

permeiam as várias atividades do dia a dia dos cidadãos Jovens e Adultos.

Outro ponto a ser ressaltado é que mesmo que os conteúdos estejam desdobrados em

blocos, a classificação em que eles aparecem não deve ser interpretada como recomendação

de uma sequência rigorosa, pois de acordo com a Proposta Curricular para o Primeiro

Segmento da EJA, “diversas combinações entre os conteúdos são possíveis, dependendo do

Page 103: CONCEPÇÕES DE PROFESSORES EXPRESSAS NOS … · metodologia de investigação adotada foi a abordagem qualitativa de cunho interpretativo, na qual nos fundamentamos em Bogdan e Biklen

102

problema que desencadeará uma situação de aprendizagem e das conexões lógicas

estabelecidas entre diversas situações” (BRASIL, 2001, p. 107). Dessa forma, caberá ao

professor escolher a ordem em que os conteúdos e suas subdivisões serão apresentados

sempre em função das necessidades peculiares que estão presentes.

Além disso, o aprofundamento dos conteúdos deve ser adequado às características das

turmas atendidas e à duração dos cursos dessa modalidade. A luz desse entendimento, a

Proposta Curricular para o Primeiro Segmento da EJA complementa que:

Nos programas seriados, por exemplo, pode-se optar por trabalhar alguns conteúdos

em todas as séries, em graus progressivos de aprofundamento. É recomendável,

inclusive, que os conteúdos mais essenciais sejam retomados em diversas séries.

Outros conteúdos podem ser distribuídos entre as séries e tratados então no nível de

profundidade correspondente (BRASIL, 2001, p. 17).

Nesse sentido, os professores devem ser criteriosos ao elegerem os conteúdos para

trabalhar com a modalidade da EJA, pois precisam considerar os que apresentam relevância

social para a educação dos Jovens e Adultos, ou seja, devem buscar trabalhar com aquilo que

é fundamental para vida desses educandos. Além disso, devem priorizar os conteúdos que

colaboram para o desenvolvimento intelectual dos alunos desta modalidade de Educação.

Dessa forma, a proposta de trabalho do professor que trabalha a Matemática na

Educação de Jovens e Adultos deve estar baseada na exploração de uma grande

multiplicidade de ideias, incorporando contextos do dia a dia para que o público dessa

modalidade de ensino adquira distintas formas de compreender a realidade em que vivem. Ao

abordar a problemática envolvida nessa questão, a Proposta Curricular para o Primeiro

Segmento da Educação de Jovens e Adultos complementa que:

No início da escolaridade, é importante enfatizar o caráter instrumental das noções

matemáticas, tomando-o como fio condutor da aprendizagem. Assim, a transmissão

de informações e a exercitação de técnicas não devem ocupar o espaço das

atividades de resolução de problemas. O processo de ensino e aprendizagem deve

centrar-se na análise e na interpretação de situações, na busca de estratégias de

solução, na análise e comparação entre diversas estratégias, na discussão de

diferentes pontos de vista e de diferentes métodos de solução. Desse modo, pode-se

favorecer não só o domínio das técnicas, mas também o de procedimentos como a

observação, a experimentação, as estimativas, a verificação e a argumentação

(BRASIL, 2001, p. 102).

No entanto, realizar por si só uma boa seleção dos conteúdos não é suficiente, ou seja,

não garante um bom trabalho, pois de acordo com Trujillo (2009, p. 52) “além de ser

abordado numa perspectiva mais ampla, também deve se preocupar em identificar os

Page 104: CONCEPÇÕES DE PROFESSORES EXPRESSAS NOS … · metodologia de investigação adotada foi a abordagem qualitativa de cunho interpretativo, na qual nos fundamentamos em Bogdan e Biklen

103

procedimentos e as atitudes a serem trabalhados em sala de aula, que garantirá maior

enriquecimento no processo de ensino e aprendizagem”.

Em análise à Proposta Curricular para o Primeiro Segmento da EJA (2001), podemos

observar a preocupação com os procedimentos de estimativa em todos os blocos de

conteúdos, sendo considerada uma dimensão fundamental para aprendizagem matemática.

Deste modo, os educadores devem desenvolver um trabalho sistemático com estimativas e o

cálculo mental, favorecendo a flexibilidade e a criatividade dos processos de pensamento,

bem como o aperfeiçoamento e a criação de próprias estratégias de resolução.

Particularmente no caso de jovens e adultos, as situações que envolvem contagem e

mensuração presentes na vida diária podem favorecer o desenvolvimento dos

procedimentos de arredondamento, aproximação e compensação que os dotam de

grande capacidade para decidirem, em situações reais, se um determinado resultado

é razoável (BRASIL, 2001, p. 109).

Na Proposta Curricular para o Primeiro Segmento da EJA também encontramos os

objetivos didáticos referentes à aprendizagem dos conteúdos de tipo procedimental, que

apresentam muitas pistas sobre atividades didáticas, podendo favorecer o desenvolvimento

dos conteúdos nessa modalidade de Educação. Também, podem nortear determinações quanto

à sequência do ensino, bem como divulgar os diversos níveis de aprofundamento em que os

conteúdos podem ser abordados. Nesse sentido, segundo a Proposta Curricular para o

Primeiro Segmento da EJA, “essa forma de apresentação dos objetivos didáticos visa ainda

ajudar os educadores a enfrentar a heterogeneidade das turmas, pois indica como abordar um

mesmo tópico com os alunos iniciantes e com os mais avançados” (BRASIL, 2001, p. 17).

Outro ponto a ser considerado ao tratarmos sobre conteúdos é em relação à Geometria

de localização e orientação, assim como o Tratamento de Informação, pois são elementos

curriculares relativamente novos no Brasil. Desta forma, muitos dos professores que estão

atualmente em atividade na EJA não os tiveram em suas formações iniciais, e assim,

consequentemente, muitas vezes deixam de trabalhá-los com seus alunos em sala de aula.

Considerando as especificidades da modalidade da Educação de Jovens e Adultos,

acreditamos não ser possível o professor ensinar um determinado conteúdo para os alunos da

EJA do mesmo modo que ensinariam a um aluno do Ensino Regular. Diante disso, é

necessário que os educadores trabalhem e desenvolvam atividades diferenciadas, podendo

assim garantir a aprendizagem desse público.

Entretanto, esclarecemos que trabalhar de forma diferenciada com os educandos da

EJA não se constitui em facilitar a aprendizagem, pois os contextos de trabalho são situações

Page 105: CONCEPÇÕES DE PROFESSORES EXPRESSAS NOS … · metodologia de investigação adotada foi a abordagem qualitativa de cunho interpretativo, na qual nos fundamentamos em Bogdan e Biklen

104

complexas, inclusive matematicamente tratadas. Também não se estabelece em dar apenas o

“básico” aos alunos, mas colaborar para que os alunos possam construir seus conhecimentos a

partir de suas experiências pessoais. Dessa forma, de acordo com Cavalcanti (1999), os

adultos devem aprender aquilo que realmente precisam saber, ou seja, eles precisam de uma

aprendizagem para aplicação prática na vida cotidiana.

Por outro lado, Duarte (1986) ressalta que essa conexão entre a Matemática e as

necessidades sociais é legitimamente importante e tem sido destacada por diversos autores.

Porém, não se pode perder de vista que o principal objetivo da atividade dos educadores

matemáticos é o ensino dessa disciplina, pois às vezes o ensino do conhecimento matemático

propriamente dito, ou seja, da Matemática formativa, que inicialmente não é diretamente

aplicável, mas que auxilia na construção das estruturas cognitivas que também serão

utilizadas em outras áreas do conhecimento acaba sendo deixado em segundo plano.

Em linhas gerais, isso faz com que o ensino seja desenvolvido assistematicamente, não

colaborando para a socialização dos conteúdos matemáticos, sob a pena das camadas

populares continuarem sem o domínio das ferramentas matemáticas. Desta forma, um

possível caminho seria transformar as situações do cotidiano, que abrangem conhecimentos e

notações matemáticas, em apoio para a aprendizagem de algoritmos mais abstratos. A esse

respeito, os Parâmetros Curriculares Nacionais de Matemática esclarecem:

Outra distorção perceptível refere-se a uma interpretação equivocada da idéia de

“cotidiano”, ou seja, trabalha-se apenas com o que se supõe fazer parte do dia-a-dia

do aluno. Desse modo, muitos conteúdos importantes são descartados ou porque se

julga, sem uma análise adequada, que não são de interesse para os alunos, ou porque

não fazem parte de sua “realidade”, ou seja, não há uma aplicação prática imediata.

Essa postura leva ao empobrecimento do trabalho, produzindo efeito contrário ao de

enriquecer o processo ensino-aprendizagem (BRASIL, 1998, p. 23).

No entanto, normalmente os conteúdos estão sendo selecionados exclusivamente pelos

professores de acordo com suas concepções, ou seja, sem a participação dos alunos e sem a

orientação da equipe pedagógica das escolas. Dessa forma, o trabalho dos professores torna-se

cada vez mais individualizado nas instituições de ensino, prejudicando assim o ensino da

Matemática, pois muitas vezes os conteúdos selecionados pelos professores não fazem

nenhum sentido para os educandos da EJA, nem no contexto cultural e temporal no qual

fazem parte, não satisfazendo assim suas expectativas e necessidades.

Diante disso, as escolas que oferecem a modalidade da Educação de Jovens e Adultos

devem ser responsáveis por refletir e estabelecer coletivamente os critérios de escolha sobre o

quê se deve ensinar a esse público repleto de especificidades e o lugar que devem ocupar os

Page 106: CONCEPÇÕES DE PROFESSORES EXPRESSAS NOS … · metodologia de investigação adotada foi a abordagem qualitativa de cunho interpretativo, na qual nos fundamentamos em Bogdan e Biklen

105

conteúdos, principalmente porque os estudantes dessa modalidade de ensino apresentam

grande expectativa em transformar suas vidas, especialmente em relação ao trabalho.

Assim, para corresponder às necessidades desse público diferenciado, os educadores

dessa modalidade de ensino devem buscar identificar características comuns ou interesses por

temas que reúnam os estudantes em torno de um assunto, bem como conhecer melhor os

conteúdos a serem ensinados, atualizando-se constantemente. Além disso, como todos

educadores, precisam também refletir constantemente sobre sua prática, buscando meios,

alternativas e metodologias diferenciadas para aperfeiçoá-la.

Em suma, nossa intenção no decorrer deste texto foi refletir sobre o currículo mínimo

de conteúdos e conceitos matemáticos preconizados pela Proposta Curricular para o Primeiro

Segmento da EJA (2001) sobre o quê ensinar de Matemática aos Jovens e Adultos do

Primeiro Segmento da EJA (séries iniciais do Ensino Fundamental). Dessa forma, não é

necessário que professores e instituições de ensino elaborem programas e ementas

miraculosas para trabalhar com os alunos das primeiras Etapas da EJA, mas sim, que se

cumpra em primeiro lugar aquilo que está descrito na Proposta Curricular e que serve como

parâmetro nacional para o ensino de Matemática no Primeiro Segmento da Educação de

Jovens e Adultos.

A seguir veremos algumas tendências em Educação Matemática que podem ser

utilizadas para o ensino de Matemática na Educação de Jovens e Adultos.

3.2 TENDÊNCIAS EM EDUCAÇÃO MATEMÁTICA PARA O ENSINO DA

MATEMÁTICA NA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS

Na sociedade atual, o mundo do trabalho exige cada vez mais pessoas preparadas para

utilizarem diferentes tecnologias e linguagens, além de pessoas capazes de apropriarem-se

rapidamente de informações, de resolver e propor problemas em equipe (BRASIL, 1997).

Nesse sentido, o ensino de Matemática poderá contribuir à medida que forem exploradas

metodologias que priorizem

[...] a criação de estratégias, a comprovação, a justificativa, a argumentação, o

espírito crítico, e favoreçam a criatividade, o trabalho coletivo, a iniciativa pessoal e

a autonomia advinda do desenvolvimento da confiança na própria capacidade de

conhecer e enfrentar desafios (BRASIL, 1997, p. 26).

Page 107: CONCEPÇÕES DE PROFESSORES EXPRESSAS NOS … · metodologia de investigação adotada foi a abordagem qualitativa de cunho interpretativo, na qual nos fundamentamos em Bogdan e Biklen

106

No entanto, os professores ao organizarem e planejarem o ensino de Matemática para

os educandos da EJA necessitam fazer escolhas entre as diversas metodologias que podem ser

utilizadas nessa modalidade. Tais escolhas revelam concepções acerca de Educação de Jovens

e Adultos, de cultura, de ensino, de aprendizagem e de Matemática, e consequentemente o

tipo de formação que terão seus educandos. Além disso, “nossa atuação como professores

traduz nossa crença de como a criança, jovem ou adulto produz o conhecimento; em especial,

como ele aprende a matemática, quais são seus potenciais, onde estão e como superar suas

dificuldades” (MUNIZ, 2001, p. 10).

Dessa forma, a escolha metodológica não é uma opção neutra, ela contempla

escolhas, tendo em vista nossa concepção de homem, sociedade, conhecimento e Educação.

Diante disso, os profissionais que trabalham a Matemática no contexto da Educação de

Jovens e Adultos têm a responsabilidade de desenvolver e explorar metodologias em sua

prática em sala de aula que possibilitem novos caminhos para o conhecimento que os

estudantes da EJA já adquiriram ao longo de suas experiências. Deste modo, necessitam

promover um ensino contextualizado, para que a aprendizagem torne-se interessante e com

significado.

Ademais, o Parecer CNE/CEB 11/2000 complementa que as práticas pedagógicas

desenvolvidas no contexto da EJA devem ser adequadas às necessidades do seu público, “não

podendo se ausentar nem da especificidade da EJA e nem do caráter multidisciplinar e

interdisciplinar dos componentes curriculares” (CONSELHO NACIONAL DE EDUCAÇÃO,

2000, p. 58).

Nesse sentido, pesquisas brasileiras realizadas no âmbito da Educação Matemática na

EJA têm apontado que algumas tendências em Educação Matemática propostas a partir dos

anos 80, perspectivas metodológicas, recursos e práticas pedagógicas podem contribuir

expressivamente no processo de ensino-aprendizagem da Matemática na EJA. Dentre elas

destacamos: a Modelagem Matemática, a Resolução de Problemas, a Etnomatemática, os

Recursos Tecnológicos, a Metacognição, os Jogos, a História da Matemática e os Projetos de

Trabalho. Deste modo, apresentamos a seguir as finalidades e implicações dessas tendências

em Educação Matemática no contexto da Educação de Jovens e Adultos.

3.2.1 Modelagem Matemática

O ensino de Matemática tem sido alvo de grande preocupação nas últimas décadas, e

como vimos anteriormente, na Educação de Jovens e Adultos não é diferente. O baixo

Page 108: CONCEPÇÕES DE PROFESSORES EXPRESSAS NOS … · metodologia de investigação adotada foi a abordagem qualitativa de cunho interpretativo, na qual nos fundamentamos em Bogdan e Biklen

107

rendimento escolar nessa disciplina preocupa tanto os professores quanto à sociedade em

geral. No entanto, sabemos que o ensino de Matemática necessita voltar-se para a promoção e

compreensão do conhecimento matemático, além da capacidade em utilizá-lo em situações do

dia a dia, superando às simples resoluções de exercícios mecanizados, muitas vezes sem

sentido, principalmente para os alunos trabalhadores da EJA.

Nesse contexto, várias pesquisas em Educação Matemática sugerem estratégias de

ensino que caminham no sentido do professor propor atividades aos alunos que os levem à

construção do conhecimento matemático e a apresentar uma melhor compreensão tanto da

teoria quanto da natureza dos problemas que nos deparamos cotidianamente. Entre tais

estratégias destacam-se a Modelagem Matemática12

.

A Modelagem Matemática, segundo Bassanezi (2002, p. 17) “é um processo que alia

teoria e prática, motiva o usuário na procura do entendimento da realidade que o cerca na

busca de meios para agir, sobre ela e transformá-la.” Burak (1987, p. 21) complementa

afirmando que é “um conjunto de procedimentos cujo objetivo é construir um paralelo para

tentar explicar matematicamente os fenômenos do qual o homem vive seu cotidiano,

ajudando-o a fazer predições e a tomar decisões”.

Atualmente, a Modelagem Matemática constitui um ramo próprio da Matemática que

tenta, segundo Biembemgut e Hein (2002, p. 7), “traduzir situações reais para uma linguagem

matemática, para que por meio dela se possa melhor compreender, prever e simular ou, ainda,

mudar determinadas vias de acontecimentos, com estratégias de ação, nas mais variadas áreas

de conhecimento”.

Dessa forma, a Modelagem Matemática é uma metodologia alternativa importante

para o ensino da Matemática que pode ser utilizada em todas as etapas escolares, mas

acentua-se na Educação de Jovens e Adultos na medida em que vem a ser explorada para

tentar explicar, interpretar e compreender os mais diversos fenômenos do nosso cotidiano

mediante uma linguagem matemática.

No que se refere à aplicação da Modelagem Matemática como metodologia de ensino,

Burak apresenta cinco passos que visam promover o sentido e a formação do conhecimento

matemático:

1- Escolha do tema: o professor incentiva e oferece oportunidades de escolha de um

tema que faça parte da vivência do aluno ou que seja de interesse do grupo e sobre

esse tema eles realizam a pesquisa.

12

Doravante, para evitar repetições textuais, trataremos modelagem matemática em certos momentos do texto

apenas por modelagem, exceto quando houver necessidade de respeitar citações.

Page 109: CONCEPÇÕES DE PROFESSORES EXPRESSAS NOS … · metodologia de investigação adotada foi a abordagem qualitativa de cunho interpretativo, na qual nos fundamentamos em Bogdan e Biklen

108

2- Pesquisa exploratória: permite aos alunos a coleta de todos os dados que julguem

relevantes ao tema de pesquisa e conhecimento.

3- Levantamento dos problemas: de posse dos dados coletados pela pesquisa

exploratória, há a elaboração e esquematização dos problemas pertinentes ao tema.

4- Resolução dos problemas: paralelamente a etapa anterior, é desenvolvida a

resolução dos problemas, nessa etapa surge a necessidade dos conteúdos

matemáticos ou modelos matemáticos que ajude na compreensão e resolução da

situação.

5 – Análise crítica: permite aos alunos o desenvolvimento de sua criticidade,

reflexão, coerência, enfim, a relação e adequação dos resultados com a realidade,

adequabilidade, coerência e equixibilidade do resultado (1998, p. 32).

Em relação ao tema, este preferencialmente deve ser escolhido pelos alunos, pois seus

interesses e metas são essenciais, principalmente por sentirem-se participantes e atuantes no

processo educacional. Assim, os alunos devem ser os principais autores da modelagem das

situações e os professores, por sua vez devem se envolver nesse processo que é mediar à

obtenção dos modelos. Nesse sentido, no contexto da Educação de Jovens e Adultos os temas

podem ser relacionados ao mundo do trabalho dos estudantes, por exemplo.

Bassanezi (2002) considera importante a participação dos alunos no processo de

obtenção do modelo e na sua validação, porém esta etapa pode não ser uma etapa prioritária.

Franchi (2003) também explica que o processo de construção do modelo é relevante, pois é

nesse momento que é possível discutir os conceitos da matemática, modelando e analisando

situações, e sabendo criticar e verificar a solução encontrada. Para Burak:

A validação do modelo consiste na aplicação dos dados disponíveis e comparação

do resultado com o real. Se existe uma boa correlação entre o modelo matemático e

a situação real, então o modelo é válido. Sendo validado o modelo presta-se para

fazer predições a respeito do problema. Se não existe boa correlação entre o modelo

e o problema estudado, há necessidade de reformulação (1987, p. 37).

Desse modo, os passos sugeridos por Burak (1998) para o desenvolvimento das

atividades de modelagem no ensino da Matemática possibilitam ao professor trabalhar o

ensino dessa disciplina de maneira diferenciada, numa perspectiva construtivista, pois

proporciona aos alunos aprenderem Matemática de forma contextualizada, integrada e

relacionada a outros conhecimentos e a outras áreas de estudo, contribuindo para a Educação

dos Jovens e Adultos.

Nesse sentido, não é por acaso que encontramos vários exemplos de trabalhos

pedagógicos utilizando a Modelagem Matemática no âmbito da Educação de Jovens e

Page 110: CONCEPÇÕES DE PROFESSORES EXPRESSAS NOS … · metodologia de investigação adotada foi a abordagem qualitativa de cunho interpretativo, na qual nos fundamentamos em Bogdan e Biklen

109

Adultos, mesmo sem este recurso metodológico estar recomendado nas propostas curriculares

oficiais para a EJA. Ainda nesse contexto, Fonseca13

complementa que:

Na EJA, aliam-se a necessidade dos alunos em adquirirem instrumental para

resolver seus problemas e a própria disponibilização e diversidade de informações e

recursos que o próprio aluno adulto traz para a sala de aula, adquiridos em sua

vivência social, familiar, profissional, esportiva, religiosa, sindical, etc (2002, p. 7).

Além disso, há outros fatores que possibilitam e facilitam o trabalho com a

modelagem na EJA. Um deles é em relação aos currículos, que por serem um pouco mais

flexíveis que no Ensino Regular, favorecem maior autonomia na definição dos conteúdos

programáticos a serem cumpridos, mesmo que “se reconheça que essa autonomia cada vez

mais se relativiza, à medida que se avança nos níveis de escolarização ou mesmo que se

assume a estrutura da escolarização” (FONSECA, 2002, p. 8).

Outro fator a ser considerado é que o público da EJA é ideal para trabalhar com

soluções de problemas reais, pois geralmente o que esperam encontrar é uma Matemática que

supra suas necessidades imediatas, úteis ao seu dia a dia e ao mundo do trabalho da qual

fazem parte. Biembengut e Hein (2002) acrescentam alguns objetivos que podem ser

alcançados com a Modelagem aplicada ao ensino da Matemática, dentre eles destacam-se:

aproximar uma outra área do conhecimento da Matemática; destacar a importância da

Matemática para a formação do aluno; despertar o interesse pela Matemática perante a

aplicabilidade; melhorar a apreensão dos conceitos matemáticos; desenvolver a habilidade

para resolver problemas; estimular a criatividade.

Entretanto, trabalhar com a Modelagem na sala de aula da EJA exige que os

professores, além de possuírem um amplo domínio dos conteúdos matemáticos, apresentem

criatividade e percepção para interpretar o contexto da situação em questão, e assim possam

utilizar os conteúdos matemáticos que melhor se ajustam na elaboração dos modelos

matemáticos.

Desse modo, ensinar pela Modelagem exige mudança de postura profissional frente ao

ensino. A luz desse entendimento, Bean (2001) afirma que é ser mais que um professor de

Matemática que encontra os problemas nos livros didáticos cujas soluções são únicas e

precisas. É ser um modelador que encontra problemas principalmente no mundo de fora da

Matemática, aproximações simplificadoras e múltiplas soluções. Ademais, deve conhecer a

Matemática num contexto social para que o trabalho torne-se mais significativo.

13

FONSECA, M. C. F. R. Aproximações da Questão da Significação no Ensino-Aprendizagem da Matemática

na EJA. Disponível em: ‹www.anped.org.br/reunioes/25/mariaconceicaofonsecat18.rtf› Acesso: 21-07-11

Page 111: CONCEPÇÕES DE PROFESSORES EXPRESSAS NOS … · metodologia de investigação adotada foi a abordagem qualitativa de cunho interpretativo, na qual nos fundamentamos em Bogdan e Biklen

110

Ainda nessa discussão, de acordo com Biembengut e Hein (2002), também é preciso

que o professor reconheça o seu papel tanto no que dizer respeito às estratégias utilizadas

como na forma de avaliar, pois quando inserido em tal ambiente não é coerente trabalhar os

conteúdos fragmentados e isolados de um contexto. Assim, ao trabalhar com a Modelagem

Matemática em sala de aula da EJA, o professor deixa de ser o detentor de todo o

conhecimento e passa a ser um mediador do processo de ensino-aprendizagem, já que ele

apenas transmite as instruções e soluciona as prováveis dúvidas dos educandos. Neste ponto,

percebemos a importância do papel que cabe ao professor quando está envolvido na tarefa de

educar.

Dessa forma, se a Modelagem for trabalhada de modo criativo na Educação de Jovens

e Adultos, pode proporcionar um ambiente colaborativo de aprendizagem e múltiplos

benefícios aos educandos, principalmente por despertar nos alunos interesse por assuntos

matemáticos até então desconhecidos e aumentar a motivação dos mesmos por ser dada a

oportunidade de estudar situações-problemas por meio de pesquisa, ampliando assim a

compreensão do papel da Matemática, tornando-a mais respeitável e agradável. Além disso,

pode facilitar o desenvolvimento do raciocínio-lógico matemático e trazer uma aprendizagem

de maior qualidade, tornando-a mais significativa por serem utilizados aspectos e situações do

cotidiano dos alunos, atendendo assim às exigências e critérios da modalidade da EJA.

3.2.2 Resolução de Problemas

A Resolução de Problemas tem sido considerada nas últimas décadas por muitos

educadores uma metodologia desencadeadora da aprendizagem para o ensino da Matemática

em todos os níveis de ensino, e particularmente como um dos possíveis caminhos para fazer

Matemática na Educação de Jovens e Adultos. Ao abordar a problemática envolvida nessa

questão, Palma destaca que:

Há um consenso entre as pesquisas desenvolvidas em diferentes áreas – Matemática,

Psicologia, Educação –, ao considerarem que a resolução de problemas é um

elemento imprescindível no desenvolvimento do raciocínio lógico e na construção

significativa dos conhecimentos matemáticos (PALMA, 2011, p. 168).

Em relação ao que vem a ser um problema matemático, Darsie aponta que é:

[...] toda situação matematizável na qual a partir de relações e operações entre

elementos conhecidos (conhecimentos prévios) seja possível deduzir elementos

Page 112: CONCEPÇÕES DE PROFESSORES EXPRESSAS NOS … · metodologia de investigação adotada foi a abordagem qualitativa de cunho interpretativo, na qual nos fundamentamos em Bogdan e Biklen

111

desconhecidos. Podemos dizer que um problema matemático é uma situação que

demanda uma seqüência de ações e operações para a sua resolução. Isto significa

que a solução não está posta a priori, mas que, no entanto, existe a possibilidade de

construí-la (DARSIE, apud MATO GROSSO, 2000, p. 159).

Dessa forma, compreendemos que para um problema ser considerado matemático este

deve problematizar situações que envolvam a resolução por meio de conhecimentos

matemáticos. No entanto, de acordo com Bittar e Freitas (2005), não devemos considerar

como problemas as situações que podem ser resolvidas com facilidade, mas sim as que se

caracterizam em um desafio. Portanto, é imprescindível que quem esteja perante um problema

sinta-se motivado a buscar soluções.

Diante disso, uma situação-problema pode ser compreendida como uma atividade em

que a solução não pode ser obtida pela simples evocação da memória, mas que exige a

elaboração e a execução de um plano (BRASIL, 2001). Portanto, não podemos confundir tal

ideia com os problemas que são tradicionalmente retirados dos livros didáticos e trabalhados

pelos professores nas aulas de Matemática onde as situações são apresentadas por um texto

padronizado, em que os alunos simplesmente aplicam, de forma quase mecânica, fórmulas,

regras ou apenas um processo operatório.

Deste modo, sabendo que a resolução de problemas tem se instituído como um dos

principais pontos de partida da atividade Matemática, principalmente no que se refere ao

contexto da Educação de Jovens e Adultos, a Proposta Curricular para o Primeiro Segmento

da EJA sugere para os professores que, os conteúdos matemáticos nessa modalidade de ensino

fossem abordados por meio dessa perspectiva metodológica.

Nessa proposta, a resolução de problemas não constitui um tópico de conteúdo

isolado, a ser trabalhado paralelamente à exercitação mecânica das técnicas

operatórias, nem se reduz à aplicação de conceitos previamente demonstrados pelo

professor: ela é concebida como uma forma de conduzir integralmente o processo de

ensino e aprendizagem (BRASIL, 2001, p. 103).

Portanto, trabalhar com Resolução de Problemas no ensino de Matemática na

Educação de Jovens e Adultos pode tornar a aprendizagem mais significativa, onde os

educandos possam estabelecer relações e utilizar os conhecimentos matemáticos na

interpretação da realidade em que vivem. Ausubel et al define algumas condições para que a

resolução de problemas possa promover a Aprendizagem Significativa:

Solucionar problemas, naturalmente, implica uma aprendizagem pela descoberta [...]

A aprendizagem pela descoberta é significativa quando os aprendizes relacionam

Page 113: CONCEPÇÕES DE PROFESSORES EXPRESSAS NOS … · metodologia de investigação adotada foi a abordagem qualitativa de cunho interpretativo, na qual nos fundamentamos em Bogdan e Biklen

112

não arbitrariamente e substantivamente uma proposição problemática

potencialmente significativa com a sua estrutura cognitiva, objetivando gerar uma

solução que, por sua vez, é potencialmente significativa (relacionável com a

estrutura cognitiva na mesma base). Engloba, portanto, sob estas condições, todos os

elementos essenciais que estão implicados na aprendizagem significativa em geral:

uma disposição para a aprendizagem significativa, uma tarefa de aprendizagem

logicamente significativa e a disponibilidade de idéias relevantes estabelecidas na

estrutura cognitiva do aprendiz (1980, p. 472 - 473).

Ainda nessa discussão, a Proposta Curricular para o Segundo Segmento do Ensino

Fundamental da EJA salienta:

A experiência tem mostrado que o conhecimento matemático ganha significado

quando os alunos se defrontam com situações desafiadoras e trabalham para

desenvolver estratégias de resolução. Daí a importância de tomar a resolução de

problemas como ponto de partida da atividade matemática (BRASIL, 2002, p. 27).

Dessa forma, podemos observar que os Parâmetros Curriculares Nacionais e as

Propostas Curriculares para a EJA concordam e incentivam a resolução de problemas para o

ensino de Matemática, principalmente para os Jovens e Adultos. Entretanto, há certo mal-

entendido entre aquilo que se propõem e o que se tem realizado efetivamente nas salas de aula

dessa modalidade de ensino, pois na maioria das vezes a resolução de problemas não tem

exercido seu verdadeiro papel no ensino da Matemática na EJA.

Isso se deve pelo fato de que, normalmente, os problemas matemáticos, quando

apresentados, têm sido confundidos com os que são tradicionalmente trabalhados nas salas de

aula ou que aparecem nos livros didáticos, sendo utilizados como forma de aplicação de

conhecimentos adquiridos anteriormente pelos alunos. Ao abordar a problemática envolvida

nessa questão, Nogueira afirma que:

[...] a forma como os problemas são postos nos livros didáticos, em sua grande

maioria, propõem os mesmos problemas que foram elaborados em outros momentos,

muito distantes da realidade presente, com algumas adaptações para possíveis

situações mais atuais, mas cujo contexto, devido à distribuição de um modelo único

e padronizado para todo o território nacional, não apresenta nenhuma ligação com a

realidade da maioria dos estudantes, pois não considera as características próprias de

cada região (2010, p. 54).

Desse modo, para educandos e muitos professores, resolver um problema depende

apenas da escolha de técnicas para realização de cálculos com os números do enunciado ou,

do emprego de formas de resolução conhecidas durante aulas anteriores. Referente a essa

temática, Ribeiro complementa que:

Page 114: CONCEPÇÕES DE PROFESSORES EXPRESSAS NOS … · metodologia de investigação adotada foi a abordagem qualitativa de cunho interpretativo, na qual nos fundamentamos em Bogdan e Biklen

113

Esta constatação reflete-se também em outras etapas da Educação Básica, onde

geralmente, nas aulas de Matemática, os problemas são resolvidos ao final de

seqüências de atividades, como aplicação da aprendizagem, e na maioria das vezes,

apresentam formulações artificiais que os distanciam dos problemas reais com os

quais os alunos se confrontam em suas atividades cotidianas (2007, p. 71).

No entanto, podemos perceber que essa prática baseia-se em uma perspectiva de

resolução de exercícios e não de problemas. Krulik e Rudnik (1993, apud PALHARES, 2004)

distinguem exercícios de problemas afirmando que, exercício é algo que permite treinar ou

reforçar algoritmos aprendidos em outras ocasiões enquanto que problema é considerado um

processo onde é necessário raciocinar e sintetizar o que se aprendeu.

Nesse contexto, a Resolução de Problemas deixa de promover desafios no qual os

alunos Jovens e Adultos possam sentir motivados a resolvê-los e torna-se simplesmente na

aplicação de técnicas e definições anteriormente trabalhadas pelos professores em sala de

aula. “Nesse caso, a concepção subjacente de ensino e aprendizagem é de que o aluno aprende

por reprodução e imitação” (BRASIL, 2002, p. 72).

Portanto, é fundamental que os educadores matemáticos consigam realizar essa

distinção entre problemas matemáticos de exercícios, para que assim possam desenvolver e

planejar um trabalho coerente fundamentado na perspectiva metodológica da Resolução de

Problemas. Nesse sentido, Lopes et al declaram que:

Os professores ao planejarem seu trabalho, selecionando atividades de resolução de

problemas, devem estabelecer claramente os objetivos que pretendem atingir. Para

se desenvolver uma boa atividade, [...] o principal é analisar o potencial do problema

no desenvolvimento de capacidades cognitivas, procedimentos e atitudes e na

construção de conceitos e aquisição de fatos da Matemática. O melhor critério para

organizar um repertório é selecionar, ou mesmo formular, problemas que

possibilitem aos alunos pensar sobre o seu próprio pensamento, que os coloquem

diante de variadas situações (1994, p. 40).

Ainda nessa discussão, de acordo com Onuchic (1998), o educador ao planejar utilizar

a resolução de problemas como metodologia de ensino da Matemática, deve refletir sobre

algumas questões, tais como:

Isso é um problema? Por quê?

Que tópicos de matemática precisam ser iniciados com esse problema?

Haverá necessidade de se considerar problemas menores (secundários) associados

a ele?

Para que séries você acredita ser este problema adequado?

Que caminhos poderiam ser percorridos para se chegar à sua solução?

Page 115: CONCEPÇÕES DE PROFESSORES EXPRESSAS NOS … · metodologia de investigação adotada foi a abordagem qualitativa de cunho interpretativo, na qual nos fundamentamos em Bogdan e Biklen

114

Como observar a razoabilidade das respostas obtidas?

Você, como professor, teria dificuldade em trabalhar este problema?

Que grau de dificuldade você acredita que seu aluno possa ter diante desse

problema?

Como relacionar o problema dado com aspectos sociais e culturais?

No entanto, não é suficiente apenas os professores proporem problemas para os

educandos da Educação de Jovens e Adultos resolver, é preciso incentivá-los a sugerirem

situações-problemas relacionadas ao seu dia a dia, ao mundo do trabalho do qual fazem parte

e a elencarem quais acontecimentos sociais e culturais merecem atenção e estudo. Dessa

forma, tal atitude é muito importante no contexto da EJA, pois ao estimulá-los a

problematização e a investigação de soluções, podemos envolver os educandos em situações

da vida real, promovendo a construção do conhecimento matemático, além de instigar nos

estudantes o prazer em aprender Matemática.

Ademais, trabalhar com a Resolução de Problemas em sala de aula na EJA ocasiona

um ambiente favorável para que os alunos aprimorem e ampliem conhecimentos acerca de

conceitos e procedimentos matemáticos advindos de suas experiências. Além disso, estimula

o desenvolvimento de atitudes como à persistência, a autoconfiança, o esforço na busca de

soluções e a curiosidade dos educandos, promovendo o diálogo e a interação entre os alunos,

e consequentemente o respeito pelas ideias do outro. Ao abordar a problemática envolvida

nessa questão, Palma (2011, p. 176) esclarece que “no contexto escolar a resolução de

problemas deve ser um processo criativo em cujo desenvolvimento o aluno aja com liberdade

e seja incentivado a utilizar seus próprios recursos”.

Outro ponto a ser considerado sobre a importância da utilização da Resolução de

Problemas como metodologia de ensino da Matemática na sala de aula da EJA, segundo Melo

e Passeggi: “a ausência de habilidades como a de resolver problemas, tomar decisões,

interpretar informações, adaptar-se às mudanças do processo produtivo, dificulta a inserção de

pessoas no mercado informal de trabalho” (2006, p. 24). Entretanto, entendemos que num

primeiro momento a interpretação de tais informações não precisam ser produzidas via texto

escrito, mas sim vivenciadas, sobretudo no contexto da EJA. Diante disso, corroboramos com

Pozo (1998), ao acreditar que a Resolução de Problemas contribui em tornar os alunos

pessoas capazes de enfrentar situações e contextos variáveis, que exijam deles a aprendizagem

de novos conhecimentos e habilidades.

Page 116: CONCEPÇÕES DE PROFESSORES EXPRESSAS NOS … · metodologia de investigação adotada foi a abordagem qualitativa de cunho interpretativo, na qual nos fundamentamos em Bogdan e Biklen

115

Em linhas gerais, o ensino da Matemática por meio da Resolução de Problemas pode

proporcionar aos estudantes da Educação de Jovens e Adultos oportunidades para construção

de conceitos matemáticos possibilitando situações caracterizadas pela investigação e

exploração de novos conceitos, habituando-os a desenvolver estratégias de resolução às

questões que os inquietam, sejam elas escolares, da vida diária ou do mundo do trabalho,

redimensionando assim sua forma de atuação e participação na sociedade atual como cidadãos

críticos, conscientes e questionadores.

3.2.3 Estratégias Metacognitivas

As estratégias metacognitivas vêm se constituindo como um recurso didático

metodológico em todas as etapas de escolarização, destacando-se no âmbito da Educação de

Jovens e Adultos. De acordo com Dreher (2009, p. 59), “o estudo sobre metacognição no

Brasil se encontra em fase de crescimento, sobretudo na temática das estratégias

metacognitivas”. Dessa forma, segundo Leite, a ampliação das discussões sobre essa temática

pode estar relacionada “com as teorias do desenvolvimento cognitivo, que evidenciam os

aspectos qualitativos dos processos e estratégias do processamento de informação” (2011, p.

94).

Etimologicamente, de acordo com Pommer e Pommer14

, metacognição é:

[...] uma justaposição dos termos meta, do grego metá, significando mudança,

transcendência e reflexão crítica e pelo termo cognição, do latim cognitione, sendo o

conjunto dos processos psicológicos mentais, realizados pelo ato pensante, pela

percepção, pela classificação e pelo reconhecimento (p. 3- grifo do autor).

No entanto, ainda hoje, não há um consenso quanto à definição do termo

metacognição. Autores como Toledo (2003), Jou e Sperb (2006) e Ribeiro (2003) apontam

que metacognição é a capacidade que o indivíduo pode desenvolver em pensar sobre seu

pensar, expressando como está estruturando o pensamento a respeito de um determinado

conhecimento e, se necessário, re-elaborá-lo de modo a refletir sobre esse pensar para

conhecer ou encontrar soluções aos desafios propostos.

Nesse sentido, compreendemos o termo metacognição segundo a perspectiva do

psicólogo Flavell, precursor da sistematização do conceito nos Estados Unidos durante a

14

Disponível em: < http://www.enrede.ufscar.br/participantes_arquivos/E4_POMMER_RE.pdf.> Acesso

19/09/2011

Page 117: CONCEPÇÕES DE PROFESSORES EXPRESSAS NOS … · metodologia de investigação adotada foi a abordagem qualitativa de cunho interpretativo, na qual nos fundamentamos em Bogdan e Biklen

116

década de 70. Para o referido autor, o conceito de metacognição refere-se à percepção que os

indivíduos têm sobre o seu próprio conhecimento, ou seja,

[...] está relacionada ao conhecimento que se tem dos próprios processos cognitivos,

de seus produtos e de tudo que eles tocam, por exemplo, as propriedades pertinentes

à aprendizagem da informação e dos dados. A metacognição relaciona-se a outras

coisas, à avaliação ativa, à regulação e à organização desses processos em função

dos objetos cognitivos ou dados sobre os quais eles se aplicam, habitualmente para

servir a uma meta ou a um objetivo concreto (FLAVELL, 1976, p. 232).

No âmbito do Primeiro Segmento da EJA, nos deparamos com Jovens e Adultos que

mesmo nunca tendo frequentado a escola conseguem resolver problemas matemáticos no

cotidiano por meio de heurísticas pessoais, sendo esta uma prática inerente dos alunos da

EJA. Compreendemos como heurísticas na Resolução de Problemas de acordo com a

perspectiva de Ferreira (1986) e Sternberg (2000, apud LEITE, 2011, p. 75) que “a concebem

como métodos, regras, estratégias, procedimentos e atitudes que podem conduzir a

descobertas, inovações, investigações e resolução de problemas”.

Dessa forma, ao resolverem problemas do dia a dia, os estudantes da modalidade EJA

realizam cálculos mentalmente, de maneira correta e rápida, porém, na maioria das vezes, não

conseguem explicar as soluções encontradas para as situações cotidianas e registrar o caminho

que percorreram para encontrar determinado resultado. Ao abordar a problemática envolvida

nessa questão, Toledo15

afirma que:

A inexistência de formas de registro se justifica não só pela ausência da necessidade

cotidiana de fazê-lo, mas também, pela consciência que o indivíduo adulto possui de

que há regras a serem seguidas para isso e de que a escola desvaloriza tudo aquilo

que não é enquadrado nos modelos por ela ensinados. Mesmo os indivíduos que

acabam por adquirir formas próprias de registro não costumam exibi-las em sala de

aula, devido a essa mesma consciência (p. 2).

Neste sentido, é importante que as escolas, principalmente as que oferecem a

modalidade da Educação de Jovens e Adultos, tenham como meta a formação de sujeitos

ativos na sua própria aprendizagem. Para isso, devem promover o desenvolvimento da

metacognição nos espaços escolares, com o intuito de levar os educandos a refletirem sobre

seus próprios processos cognitivos e a interagir com distintas formas de conhecimento. Além

disso, a escola deve tornar os educandos Jovens e Adultos capazes de eleger estratégias mais

apropriadas à resolução de situações-problemas vinculadas ao cotidiano e ao mundo do

15

Disponível em: <www.anped.org.br/reunioes/24/T1871619868677.doc> Acesso 19/09/11.

Page 118: CONCEPÇÕES DE PROFESSORES EXPRESSAS NOS … · metodologia de investigação adotada foi a abordagem qualitativa de cunho interpretativo, na qual nos fundamentamos em Bogdan e Biklen

117

trabalho, bem como a controlar e a monitorar suas próprias atividades cognitivas,

desenvolvendo assim a sua autonomia intelectual.

Ao abordar a problemática envolvida nesta questão, Figueira (2007) afirma que as

atividades metacognitivas permitem aos sujeitos controlarem seus processos e mecanismos de

construção do conhecimento, possibilitando orientar a aprendizagem sobre o mundo físico e

conceitual, podendo assim promover a aprendizagem em disciplinas escolares.

Deste modo, as atividades metacognitivas podem ser empregadas como um

mecanismo de aprendizagem no ensino da Matemática, principalmente porque estimulam os

estudantes a refletirem e a utilizarem o raciocínio lógico-matemático sobre os distintos modos

pelos quais realizam atividades ou situações-problemas. Além disso, auxiliam os educandos a

desenvolverem a autonomia intelectual, na qual irá ajudá-los na tomada de decisões em

situações do dia a dia.

Sabe-se ainda que pesquisas como a de Molina (1992), Chahon (1999), Mevarech e

Kramarski (2003) e Leite (2011) tem apontado que há uma significativa melhora na

aprendizagem de conteúdos matemáticos pelos estudantes quando são utilizadas atividades

metacognitivas em sala de aula. Referente a essa temática, Dolly (1999) enfatiza, conforme

Carvalho, que:

[...] a metacognição é útil porque se configura numa via educativa que incentiva a

construção de conhecimentos e competências com mais oportunidade de êxito e

transferibilidade; envolve a aprendizagem de estratégias de resolução de problemas

que favoreçam o sucesso e a transposição e também a auto-regulação; além disso,

permite desenvolver a autonomia na gestão de tarefas e nas aprendizagens e

desenvolver uma motivação para aprender um autoconceito como aprendente (2007,

p. 42).

Diante disso, é importante destacar que o domínio da competência metacognitiva

promove o desenvolvimento das funções psicológicas superiores, ou seja, levam os educandos

a “aprender a aprender” (LEITE, 2011). No entanto, de acordo com Beyer (1985), a

aprendizagem da metacognição não ocorre espontaneamente, sendo necessária a intervenção

pedagógica do educador, que além de apontar o pensamento metacognitivo, deve promover

por meio de estratégias de ensino-aprendizagem atividades que conduzam os educandos a tal

desenvolvimento.

Para tanto, de acordo com Leite, para que uma situação promova a prática da

metacognição, esta deve incentivar o estudante a realizar alguns questionamentos, tais como:

Page 119: CONCEPÇÕES DE PROFESSORES EXPRESSAS NOS … · metodologia de investigação adotada foi a abordagem qualitativa de cunho interpretativo, na qual nos fundamentamos em Bogdan e Biklen

118

Como aprendo? O que preciso aprender? Como poderei aprender tal assunto? Que

recursos poderei utilizar para aprender? O que devo fazer primeiro? Como vou

planejar minhas atividades? De que recursos disponho para aprender? Após estas

reflexões, o aprendiz deve ser incentivado a agir e refletir sobre os resultados de suas

ações, sobre os caminhos que precisa percorrer, sobre os seus próprios erros, sobre

as estratégias que pode utilizar para se autocorrigir e, principalmente, sobre como

prosseguir até atingir seus objetivos (2011, p. 103).

Ainda nessa discussão, Koutselini destaca também várias estratégias que os

educadores podem apropriar-se com o intuito de possibilitar aos estudantes tornarem-se

conscientes das formas como concebem o pensamento frente ao conhecimento:

Estimulá-los a pensar em voz alta; focalizar a atenção na compreensão da maneira

como se pensa e nos problemas que se tem que resolver; perguntar não apenas pelos

resultados, mas também, pelo procedimento empregado ao pensar e pelas estratégias

seguidas; ensinar estratégias para superar dificuldades; mostrar a relevância de cada

assunto e encontrar conexões entre eles; estimular perguntas antes, durante e depois

da elaboração da tarefa; ajudar a perceber conexões, relações, similiaridades e

diferenças e capacitar para que se tornem conscientes dos critérios de avaliação

(1991, p. 52-53).

Diante disso, a Resolução de Problemas é apontada como a principal perspectiva

metodológica que permite o desenvolvimento das estratégias metacognitivas no ensino da

Matemática, especialmente porque incentivam os educandos a expressarem diferentes

estratégias para descobrirem soluções aos desafios propostos em situações-problemas, bem

como possibilita os educandos manifestarem-se por meio de discurso ou por outras

representações, como por exemplo, desenhos sobre o que está sendo solicitado em situações

de desafio. Referente a essa temática, Leite afirma que “a associação do uso de estratégias

metacognitivas com a resolução de problemas pode ser uma das formas de renovar e

transformar a dinâmica da sala de aula, principalmente quando se trata da Educação de

Jovens e Adultos” (2011, p. 224).

Portanto, a proposta em explorar situações-problemas que utilizam a metacognição

como recurso coligado à Resolução de Problemas é uma oportunidade de trabalho pedagógico

que, segundo Ribeiro (2003) apud Pommer & Pommer:

[...] favorece ao aluno a busca de estratégias pessoais de resolução, permitindo

aflorar a estrutura de pensamento elaborado, a argumentação, o pensamento sobre

tais estratégias, explicitando assim manifestações do conhecimento tácito e

permitindo o exercer da própria capacidade de aprender a aprender (2011, p. 12).

Ademais, a metacognição proporciona aos educandos Jovens e Adultos a competência

de melhorarem a qualidade de decisões que assumem quando estão resolvendo problemas,

Page 120: CONCEPÇÕES DE PROFESSORES EXPRESSAS NOS … · metodologia de investigação adotada foi a abordagem qualitativa de cunho interpretativo, na qual nos fundamentamos em Bogdan e Biklen

119

bem como a tomada de consciência das técnicas, conceitos e processos matemáticos que

auxiliem na resolução de situações desafiadoras, permitindo uma utilização mais eficaz de tais

conhecimentos e estratégias. A luz deste entendimento, Toledo16 pontua que:

O desenvolvimento de aspectos metacognitivos no ensino de matemática traz

contribuições tanto para uma maior consciência dos alunos acerca de seus

conhecimentos e da utilização desses conhecimentos de forma mais sistemática e

organizada, bem como para uma maior capacidade dos alunos no uso de uma

diversidade de estratégias de forma flexível e eficaz (p. 12).

Desta forma, por solicitar a participação ativa dos estudantes, o uso de estratégias

metacognitivas em salas de aula de EJA pode auxiliar os educandos Jovens e Adultos a

tornarem-se capazes de perceberem seus próprios processos de aprendizagem, possibilitando

interferirem conscientemente no seu desempenho escolar. Além do mais, Pommer & Pommer

destacam que a metacognição contribui para a motivação, “pois ao agir o aluno poderá

regular a própria aprendizagem, controlando e gerindo os processos cognitivos, tornando-o

consciente da importância de sua própria ação e adquirindo confiança nas próprias

capacidades, potencializando a aprendizagem” (2011, p. 3).

Ainda nessa discussão, pesquisas têm nos revelado que o desenvolvimento da

metacognição se relaciona concomitantemente com o avanço da idade e a experiência na

esfera do pensamento dos indivíduos, confirmando assim a importância de utilizar estratégias

metacognitivas na EJA. Além disso, de acordo com Leite (2011, p. 231) “como temos poucas

informações sobre como uma pessoa adulta aprende, talvez as estratégias metacognitivas

possam possibilitar o delineamento desse processo de construção do conhecimento por tais

sujeitos adultos”.

Em linhas gerais, a utilização de estratégias metacognitivas na modalidade da

Educação de Jovens e Adultos pode facilitar a aprendizagem Matemática, bem como a

tomada de consciência e reflexão sobre todo o processo de como acontece a aprendizagem

pelos educandos. Ademais, contribui para formação dos Jovens e Adultos ao estimular a

reflexão, desenvolvendo consequentemente a criticidade, característica indispensável para a

compreensão e o desvelamento da realidade em que vive o público da EJA, podendo também

ser o princípio para o engajamento da superação da condição de excluídos do sistema em que

se encontram historicamente os sujeitos desta modalidade de ensino.

16

Disponível em: < http://www.educacaoonline.pro.br/index.php> Acesso 19/09/11.

Page 121: CONCEPÇÕES DE PROFESSORES EXPRESSAS NOS … · metodologia de investigação adotada foi a abordagem qualitativa de cunho interpretativo, na qual nos fundamentamos em Bogdan e Biklen

120

3.2.4 A Etnomatemática

Em meados da década de 70, depois do fracasso da Matemática Moderna, o ensino da

Matemática vinha sofrendo várias críticas. No momento em questão, havia uma intensa

reação por parte dos educadores matemáticos contra a existência de um currículo comum e

contra a maneira imposta de apresentar a Matemática como um conhecimento universal,

pronto, acabado, e caracterizado por expressar verdades absolutas sem relação com o contexto

cultural, social e político dos educandos.

Nesse contexto e em resposta a essas situações surge a Etnomatemática, com o

desígnio de promover “reflexões mais amplas sobre a natureza do pensamento matemático, do

ponto de vista cognitivo, histórico, social, pedagógico” (D’AMBROSIO, 2005, p. 17). Essa

proposta também busca dar sentido à maneira de saber e de fazer de diferentes culturas, além

de reconhecer como os grupos de indivíduos organizados realizam suas técnicas como contar,

medir, comparar e classificar.

Sabe-se ainda que a Etnomatemática encontra-se entre as tendências em Educação

Matemática que apresentam como principais objetivos uma aprendizagem mais crítica e

significativa. Outro fator que merece ser destacado é a preocupação que esta tendência tem

demonstrado para com a dimensão política ao estudar a História e a Filosofia da Matemática e

suas implicações pedagógicas.

Neste contexto, a Etnomatemática vem buscando se consolidar no Brasil e no mundo

como uma importante área de estudos e pesquisas em Educação Matemática, “que tem

contribuído para as reflexões sobre as relações entre conhecimento matemático e contextos

sócio-culturais e suas implicações para a prática de sala de aula” (FANTINATO, 2009, p. 7).

Por sua vez, o Brasil vem desempenhando importante e significativo papel no cenário

mundial no que se refere ao seu desenvolvimento. Um dos motivos seria pelo fato de que o

pesquisador brasileiro Ubiratan D’Ambrosio, principal idealizador, teorizador e colaborador

dessa área de estudos e pesquisas da Educação Matemática, realizou significativos trabalhos

neste campo. Além disso, D’Ambrosio sugeriu que os programas educacionais deveriam

valorizar as matemáticas produzidas pelas diversas culturas, pois até este momento, a cultura

ocidental desconsiderava- se qualquer conhecimento matemático que não fosse de origem

européia. Para D’Ambrosio, a noção de cultura é vista como sendo:

[...] o conjunto de comportamentos compatibilizados e de conhecimentos

compartilhados, inclui valores. Numa mesma cultura, os indivíduos dão as mesmas

explicações e utilizam os mesmos instrumentos materiais e intelectuais no seu dia-a-

Page 122: CONCEPÇÕES DE PROFESSORES EXPRESSAS NOS … · metodologia de investigação adotada foi a abordagem qualitativa de cunho interpretativo, na qual nos fundamentamos em Bogdan e Biklen

121

dia. O conjunto desses instrumentos se manifesta nas maneiras, modos, nas

habilidades, nas artes, nas técnicas, nas ticas de lidar com o ambiente, de entender e

explicar fatos e fenômenos, de ensinar e compartilhar tudo isso, que é o matema

próprio ao grupo, à comunidade, ao etno [...] (2002, p. 35).

Deste modo, compreendemos a Etnomatemática na perspectiva de D’Ambrosio, em

que é considerada “a arte ou técnica de explicar, de conhecer, de entender nos diversos

contextos culturais. Nessa concepção, nos aproximamos de uma teoria de conhecimento ou,

como é modernamente chamada, uma teoria de cognição” (1998, p. 5). O autor também

realiza um estudo etimológico do termo, concebendo-o “como o estudo das várias maneiras,

técnicas, habilidades (technés ou ticas) de explicar, de entender, de lidar e conviver (matema)

nos distintos contextos naturais e sócio-econômicos, espacial e temporalmente diferenciados,

da realidade (etno)” (D’AMBROSIO, 1996, p. 48).

No entanto, na ausência de uma teoria e de uma definição concisa e exata,

D´Ambrosio propôs a Etnomatemática como um programa Etnomatemático de pesquisa,

devido principalmente à preocupação do autor com as tentativas de se propor uma

epistemologia, e como tal, uma explicação final da etnomatemática. Para ele, é um programa

no sentido de Lakatos, isto é, como ele mesmo escreveu:

A metodologia do programa de pesquisa denominado Etnomatemática deve ser

muito ampla. Ele focaliza a geração, organização e difusão dos conhecimentos, e é

no difundir que entra a parte da Educação. Estes quatro ramos correspondem ao que

usualmente é estudado como: cognição, epistemologia, história e sociologia do

conhecimento, incluindo a Educação (D’AMBROSIO, 1996).

Deste modo, na dimensão educacional, a Etnomatemática pode ser considerada uma

proposta para o ensino da Matemática na Educação de Jovens e Adultos, que busca valorizar

a Matemática praticada pelas diferentes comunidades urbanas e rurais, grupos de

trabalhadores, classes profissionais, sociedades indígenas, e vários outros grupos que se

identificam por terem objetivos e tradições comuns, bem como, reconhecer os conhecimentos

matemáticos informais desenvolvidos pelos alunos através de suas experiências, fora do

contexto escolar. A proposta pedagógica da Etnomatemática nesse âmbito, segundo

D’Ambrosio (2005), é fazer na disciplina algo vivo, lidando com situações reais no tempo

[agora] e no espaço [aqui] e, pela crítica, questionar o “aqui e o agora”.

D’Ambrosio ressalta que a principal razão em incluir a Etnomatemática nos currículos

escolares tem dois objetivos:

Page 123: CONCEPÇÕES DE PROFESSORES EXPRESSAS NOS … · metodologia de investigação adotada foi a abordagem qualitativa de cunho interpretativo, na qual nos fundamentamos em Bogdan e Biklen

122

Primeiro, desmistificar uma forma de conhecimento matemático como sendo final,

permanente, absoluto, neutro. Essa impressão errônea dada pelo ensino da

Matemática tradicional é facilmente extrapolada pelas crenças raciais, políticas,

ideológicas, e religiosas. Segundo, ilustrar realizações intelectuais de várias

civilizações, culturas, povos, profissões, gêneros. Ou seja, compreender que pessoas

reais em todas as partes do mundo e em todas as épocas da história desenvolveram

ideias matemáticas porque elas precisavam resolver os problemas vitais de sua

existência diária (D’AMBROSIO, 2002, apud BANDEIRA, 2009, p. 60).

Deste modo, a Etnomatemática no âmbito da EJA vem ao encontro das expectativas

dos estudantes Jovens e Adultos trabalhadores, pois visa ampliar os conceitos matemáticos e

desenvolver valores, saberes cotidianos, experiências e interesses, partindo de sua cultura. A

luz desse entendimento, Passos e Góes17

, em seu artigo nos apresentam alguns exemplos de

etnomatemática presentes em nosso cotidiano:

A Matemática praticada pelos feirantes, que propicia um estudo de aritmética

prático, que envolve o cálculo mental rápido envolvendo descontos, lucro e prejuízo.

Alguns profissionais praticam a sua própria Matemática; na lanchonete uma

atendente calcula rapidamente as probabilidades na utilização de frutas para fazer

sucos. Médicos e dentistas também utilizam de matemáticas próprias nas decisões

que tomam em relação ao atendimento de seus pacientes: quantidade de material,

tempo de atendimento, custo do seu trabalho (p. 8).

Sabe-se, porém, que a busca de uma teoria para a etnomatemática é atualmente objeto

de empenho dos educadores matemáticos que se dedicam ao estudo e pesquisa dessa subárea

da Matemática, que vem crescendo consideravelmente nos últimos anos. Inicialmente, as

pesquisas relacionadas à etnomatemática interessavam-se apenas em investigar e analisar o

conhecimento matemático de determinados grupos culturais específicos ou ainda, realizar

estudos sobre a etnomatemática do cotidiano.

Contudo, com o desenvolvimento e crescimento de investigações nessa área,

pesquisadores passaram a se interessar e investigar sobre as relações estabelecidas entre os

conhecimentos matemáticos informais e os conhecimentos da chamada Matemática

Acadêmica, no âmbito escolar. Dentre esses pesquisadores, destacam-se: Gelsa Knijnik,

Paulus Gerdes e Ubiratan D’Ambrosio.

Entretanto, a etnomatemática vem recebendo algumas críticas, principalmente no que

se refere à sua utilização como proposta de ensino da Matemática no contexto escolar. Domite

(2007, apud BANDEIRA, 2009) pontua que adotar a etnomatemática como método para a

educação escolar é uma proposta de grande complexidade. Já Santos (2002, p. 38) ressalta que

“suas contribuições pedagógicas mostram-se [ainda] tímidas, limitando-se às escolas com

17

Disponível em: <http://www.diaadiaeducacao.pr.gov.br/portals/pde/arquivos/716-4.pdf>

Page 124: CONCEPÇÕES DE PROFESSORES EXPRESSAS NOS … · metodologia de investigação adotada foi a abordagem qualitativa de cunho interpretativo, na qual nos fundamentamos em Bogdan e Biklen

123

características muito atípicas e culturalmente bem definidas, com as existentes em grupos de

assentados e tribos indígenas”.

Ainda nessa discussão, o autor Santos esclarece em seu artigo uma opinião contrária à

substituição do ensino da Matemática Acadêmica pela etnomatemática e defende:

[...] a etnomatemática não como um método de ensino em si, mas sim como

detentora de relações inclusivas entre professores e alunos e das diversas formas de

conhecer presentes em contextos culturais/socioculturais diferentes. [...] Dessa

forma, entendemos o ‘diálogo’, a ‘contextualização’ e a ‘comparação’, como pilares

que alicerçam a pedagogia etnomatemática podendo, ainda, ser entendidos como

posturas necessárias ao professor dentro dessa pedagogia. (SANTOS, 2006, s/p)

Todavia, uma das dificuldades que a Etnomatemática encontra atualmente para inserir-

se no contexto educacional é a resistência por parte de alguns educadores que não vêem no

cotidiano o ponto de partida para se ensinar os conteúdos historicamente acumulados pelos

educandos, o que é fundamental no âmbito da Educação de Jovens e Adultos. A esse respeito,

Carvalho (1995, p. 3) demonstra sua preocupação com a EJA dizendo que “se já constatamos

a negação do conhecimento matemático adquirido fora da Escola nos cursos regulares, a

situação agrava-se nos destinados à Educação de Jovens e Adultos.” Talvez, um dos motivos

pelo qual os professores mostram-se resistentes pode ser o despreparo profissional que eles

demonstram diante dessa tendência da Educação Matemática.

Assim, para que ocorram mudanças, é necessária uma transformação na postura dos

educadores matemáticos, pois a etnomatemática apresenta-se como ferramenta indispensável

ao educador que desejar ensinar a Matemática na EJA, de modo a explorá-la em todas as suas

vertentes, tendo as situações do dia a dia, como base para o desenvolvimento de habilidades e

conhecimentos necessários à disciplina Matemática. Ademais, concordamos com Fantinato et

al quando afirmam que a etnomatemática:

[...] contribui para a formação profissional do professor de Matemática, que trabalha

com jovens e adultos, na medida em que favorece o exercício de uma prática

docente dialógica, inclusiva e autônoma, além de possibilitar reflexões sobre o que

constitui a especificidade de um trabalho voltado para esta modalidade de ensino (2010, p. 12).

Dessa forma, a diversidade e as múltiplas culturas dos Jovens e Adultos constituem a

sala de aula da EJA em um rico espaço etnomatemático, em que a aprendizagem dos

educandos pode tornar-se mais crítica, significativa e transformadora quando a organização

Page 125: CONCEPÇÕES DE PROFESSORES EXPRESSAS NOS … · metodologia de investigação adotada foi a abordagem qualitativa de cunho interpretativo, na qual nos fundamentamos em Bogdan e Biklen

124

curricular considerar as diferentes práticas sociais, resgatando dessa forma a intencionalidade

do sujeito cultural em seu fazer matemático e nas suas atividades do seu cotidiano.

3.2.5 Recursos Tecnológicos: computador, softwares educacionais, a calculadora e o

smartphone

Na atualidade, os profissionais da Educação que atuam nas diversas modalidades

vivenciam um momento de muitas dúvidas em relação ao saber e ao ensino. Nesse sentido,

muitos deles estão buscando possibilidades metodológicas que possam auxiliar para

superação da não aprendizagem. Entre essas possibilidades encontram-se o uso de

Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC). A esse respeito, Diniz considera:

[...] as TIC como sendo os computadores e todas as suas interfaces, incluindo

softwares que foram desenvolvidos com finalidade educacional (em especial

softwares gráficos, como o Winplot18

e Wingeom19

), softwares que não foram

criados para esse fim, como o Excel20

, o Word21

e os jogos eletrônicos; páginas

WWW, e-mails, salas de bate papo e comunicadores instantâneos, como o MSN

Messenger22

; calculadoras gráficas e sensores que podem ser acoplados, [...] e

outras possibilidades associadas à informática (2007, p. 16).

Nesse contexto, as tecnologias fazem parte do dia a dia de uma grande parte da

população, que a utilizam por diversas finalidades, como por exemplo, trabalho, estudo, e

especialmente, pelos jovens, entretenimento. Quando a tecnologia se propaga por meio da

telefonia celular, a inclusão digital é maior. Em nosso país atualmente há mais de 230 milhões

de celulares, ou seja, há mais telefones celulares que brasileiros. Contudo, do total da

população brasileira que possui telefones celulares, muitos são analfabetos e mesmo assim

sabem usar os aparelhos com facilidade.

Diante disso, o fenômeno do Smartphone, que é um aparelho celular que combina

sons, letras e imagens e abrange muitas das principais tecnologias de comunicação e serviços

que temos num computador ou em outros dispositivos, como acesso a e-mails, mensagens

instantâneas, internet, GPS, entre outros, não pode ser negado na Educação atual,

principalmente na Educação de Jovens e Adultos.

18

Site: http://math.exeter.edu/rparris/winplot.html. 19

Site: http://math.exeter.edu/rparris/wingeom.html. 20

Site: http://www.microsoft.com. 21

Site: http://math.exeter.edu/rparris/wingeom.html. 22

Site: http://get.live.com/messenger/overview.

Page 126: CONCEPÇÕES DE PROFESSORES EXPRESSAS NOS … · metodologia de investigação adotada foi a abordagem qualitativa de cunho interpretativo, na qual nos fundamentamos em Bogdan e Biklen

125

Deste modo, no âmbito escolar, as novas tecnologias trouxeram grande impacto sobre

a Educação desenvolvida nos dias atuais, criando novas formas de aprendizado e

disseminação de conhecimentos, além de proporcionar ao processo de ensino e aprendizagem

um ambiente onde professores e alunos de diferentes classes sociais possam trocar novas

experiências e ter acesso à informação.

Em relação às Tecnologias da Informação e Comunicação, Machado e Santos23

comentam que:

As tecnologias da informação, que se vêm consolidando com o aperfeiçoamento dos

meios de comunicação em conjunto com a informática, fornecem amplas

perspectivas para a melhoria das práticas educacionais, disponibilizando novos

recursos para a atuação do professor e para que o educando possa reelaborar a

informação de forma ativa e criativa, expressando um trabalho de reflexão pessoal

(p. 235).

No entanto, no Brasil, percebe-se que a Educação em geral tem apresentado muitas

dificuldades para acompanhar tal desenvolvimento tecnológico. Assim, escolas e uma

considerável parte dos profissionais que nelas trabalham não se sentem preparados para

incorporarem tais tecnologias na criação de novas estratégias de ensino e aprendizagem.

Talvez, um dos motivos seja porque o avanço tecnológico chegou a nosso país nas décadas de

80 e 90. Entretanto, essas tecnologias não atingiram todos os estabelecimentos de ensino da

rede pública, sendo que em algumas unidades escolares (especialmente as rurais) esse recurso

ainda não se faz presente.

Nesse sentido, a Educação, além de passar por mudanças estruturais, precisa também

sofrer transformações funcionais. Referente a essa temática, Valente (1997) nos esclarece que

essas mudanças implicam uma alteração de postura dos profissionais em geral e, portanto,

requer o repensar dos processos educacionais.

No que se refere ao ensino da Matemática, este precisa também ser repensado, pois a

Matemática, de acordo com D’Ambrosio (2007, p. 113) “tem sido conceituada como ciência

dos números e das formas, das relações e das medidas, das inferências e as suas características

apontam para a precisão, rigor, exatidão.” Além disso, caracteriza-se por ser estática,

dificultando a construção e a aplicação dos conceitos matemáticos no cotidiano, pelos

estudantes, o que é um grande problema principalmente para os estudantes da Educação de

Jovens e Adultos.

23

Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/ciedu/v10n1/06.pdf>

Page 127: CONCEPÇÕES DE PROFESSORES EXPRESSAS NOS … · metodologia de investigação adotada foi a abordagem qualitativa de cunho interpretativo, na qual nos fundamentamos em Bogdan e Biklen

126

Na intenção de mudar essa situação, o uso de tecnologias no ensino da Matemática

tem sido recomendado por vários pesquisadores como, Penteado, Borba e Gracias (1998),

Magina (1997), Valente (1993), dentre outros.

Voltando à discussão sobre o ensino da matemática, torna-se cada vez mais necessário

na atualidade compreender e empregar os conceitos matemáticos na vida diária, inclusive no

trabalho, principalmente por ser cada vez maior sua aplicabilidade. Referente essa temática,

Moran pontua:

O conhecimento não é fragmentado, mas interdependente, interligado,

intersensorial. Conhecer significa compreender todas as dimensões da realidade,

captar e expressar essa totalidade de forma cada vez mais ampla e integral.

Conhecemos mais e melhor conectando, juntando, relacionando, acessando o nosso

objeto de todos os pontos de vista, por todos os caminhos, integrando-os da forma

mais rica (2000, p. 18).

Nesse sentido, as tecnologias tornam-se uma alternativa para auxiliar a aproximação

da Matemática com a realidade, principalmente no contexto da Educação de Jovens e Adultos.

Além disso, de acordo com D’Ambrosio24

, “a incorporação de toda a tecnologia disponível no

mundo de hoje é essencial para tornar a matemática uma ciência de hoje”.

Ainda nessa discussão, os Parâmetros Curriculares Nacionais vem nos dizer que o uso

dos recursos tecnológicos pode trazer significativas contribuições para a reflexão sobre o

processo de ensino e de aprendizagem de Matemática à medida que:

Relativizam a importância do cálculo mecânico e da simples manipulação simbólica,

uma vez que por meio de instrumentos esses cálculos podem ser realizados de modo

mais rápido e eficiente. Evidenciam para os alunos a importância do papel da

linguagem gráfica e de novas formas de representação, permitindo novas estratégias

de abordagem de variados problemas. Possibilitam o desenvolvimento, nos alunos,

de um crescente interesse pela realização de projetos e atividades de investigação e

exploração como parte fundamental de sua aprendizagem. Permitem que os alunos

construam uma visão mais completa da verdadeira natureza da atividade matemática

e desenvolvam atitudes positivas diante de seu estudo (BRASIL, 1998, p. 43-44).

Dessa forma, a inserção das novas tecnologias no ensino da Matemática na EJA, como

computadores, softwares, calculadoras, calculadoras gráficas, smartphones, dentre outros, tem

sido de grande valia, pois torna a Matemática mais atrativa e de melhor compreensão, além de

enriquecer e fazer com que o processo de aprendizado nessa modalidade seja mais dinâmico e

interessante. Ademais, tem originado diversas discussões e investigações por parte dos

pesquisadores em Educação. Segundo Borba (1999), essas discussões orientam-se nas

24

Disponível em: http://www.ima.mat.br/ubi/pdf/uda_004.pdf

Page 128: CONCEPÇÕES DE PROFESSORES EXPRESSAS NOS … · metodologia de investigação adotada foi a abordagem qualitativa de cunho interpretativo, na qual nos fundamentamos em Bogdan e Biklen

127

inquietações referentes às mudanças curriculares, às novas dinâmicas da sala de aula, ao

“novo” papel do professor e ao papel do computador nesta sala de aula.

Por outro lado, a simples inserção de recursos tecnológicos na sala de aula da EJA não

significa aprendizagem, é preciso qualidade na sua utilização e essa qualidade vai depender de

como as propostas são interpretadas e desenvolvidas pelos professores. Dessa forma, a

utilização das tecnologias como recurso nas situações de ensino e aprendizagem não pode

resolver todos os problemas da Matemática, porém pode ser grande aliada ao ensino dessa

disciplina na Educação de Jovens e Adultos. Acerca disso, Moran traz uma reflexão

importante no sentido de que:

[...] se ensinar dependesse só de tecnologias já teríamos achado as melhores

soluções há muito tempo. Elas são importantes, mas não resolvem as questões de

fundo. Ensinar e aprender são os desafios maiores que enfrentamos em todas as

épocas e particularmente agora em que estamos pressionados pela transição do

modelo de gestão industrial para o da informação e do conhecimento (2000, p. 12).

Dessa forma, o uso das Tecnologias de Informação e Comunicação no ambiente

escolar, tanto na Matemática como em qualquer outra disciplina, colabora para ampliar o

acesso à informação atualizada preparando os Jovens e Adultos para a vida como também

para atuar no mercado de trabalho. Ademais, possibilita a criação de comunidades

colaborativas que privilegiam a comunicação, permitindo estabelecer novas relações com o

saber, ultrapassando, portanto, os limites da escola e assim, podendo resultar em

transformações significativas no interior do espaço escolar.

O computador como instrumento pedagógico nas aulas de Matemática

Dentre os recursos tecnológicos disponíveis, o computador é o que mais se destaca

devido à suas funções e utilidades, pois o seu uso aproxima as pessoas, permitindo a criação

de comunidades virtuais de trabalho e de aprendizado, além de possibilitar a interação, à

comunicação e o acesso a informações independentemente onde elas estejam.

No que diz respeito ao contexto educacional, o computador também pode ser utilizado

como um recurso didático em diversas disciplinas, especialmente no ensino da Matemática.

Na Educação brasileira, a informática educativa teve início via softwares-programas voltados

à aprendizagem Matemática, tais como o LOGO. O LOGO, de acordo com Sena, “é uma

linguagem de programação, isto é, um meio de comunicação entre o computador e a pessoa,

na execução de tarefas determinadas” (2005, p. 81). Tal linguagem foi desenvolvida a partir

Page 129: CONCEPÇÕES DE PROFESSORES EXPRESSAS NOS … · metodologia de investigação adotada foi a abordagem qualitativa de cunho interpretativo, na qual nos fundamentamos em Bogdan e Biklen

128

dos anos 60 por um grupo de pesquisadores do Instituto de Tecnologia de Massachesettes

(MIT), sob a direção de Seymor Papert.

No que se refere à utilização de computadores no ensino da Matemática, os

Parâmetros Curriculares Nacionais da Matemática enfatizam que:

O computador é apontado como um instrumento que traz versáteis possibilidades ao

processo de ensino e aprendizagem de Matemática, seja pela sua destacada presença

na sociedade moderna, seja pelas possibilidades de sua aplicação nesse

processo.Tudo indica que seu caráter lógico-matemático pode ser um grande aliado

do desenvolvimento cognitivo dos alunos, principalmente na medida em que ele

permite um trabalho que obedece a distintos ritmos de aprendizagem (BRASIL,

1997, p. 35).

Do mesmo modo, segundo a Proposta Curricular para o Segundo Segmento do Ensino

Fundamental da EJA, o uso de computadores no ensino de Matemática na Educação de

Jovens e Adultos apresenta várias finalidades, como por exemplo:

[...] fonte de informação para auxiliar no processo de construção de conhecimento;

como ferramenta (planilhas eletrônicas, processadores de texto, banco de dados

etc.); como meio para desenvolver autonomia pelo uso de softwares que possibilitem

pensar, refletir e criar soluções. Tudo indica que o computador pode ser também um

grande aliado do desenvolvimento cognitivo dos alunos, principalmente na medida

em que proporciona o desenvolvimento de um trabalho que se adapta a distintos

ritmos de aprendizagem e permite que o aluno aprenda com seus erros (BRASIL,

2002, p. 29).

No entanto, o computador não apresenta inteligência, sensibilidade, sentimentos e

percepção, pois essas características são peculiares dos indivíduos. Assim, o computador só se

torna um recurso pedagógico na EJA quando utilizado de maneira adequada pelos

profissionais da Educação, ou seja, são os professores como indivíduos que fazem a diferença

em sala de aula, pois uma aula realizada em um laboratório de informática pode ser tão

tradicional quanta aquela ministrada em sala, em que o docente utiliza como recursos apenas

o quadro, o giz e o livro didático. De acordo com Collis (1996, p. 22), é o professor que

determina “o eventual sucesso ou fracasso de qualquer iniciativa de uso de computadores na

Educação”.

Ainda nessa discussão, o modo como o docente vai utilizar o computador em sala de

aula vai depender de suas habilidades, conhecimentos e experiências, bem como ele entende

esse processo de transformação em que a sociedade atual vem atravessando notadamente

como consequência do desenvolvimento tecnológico. Além disso, é necessário que os

educadores que atuam na escola estejam convencidos de que esse instrumento tecnológico irá

Page 130: CONCEPÇÕES DE PROFESSORES EXPRESSAS NOS … · metodologia de investigação adotada foi a abordagem qualitativa de cunho interpretativo, na qual nos fundamentamos em Bogdan e Biklen

129

ajudá-los em sua prática pedagógica, promovendo melhorias no processo de ensino e

aprendizagem da Matemática na Educação de Jovens e Adultos.

Embora a informática esteja presente em nosso cotidiano, sabe-se que um grande

contingente de pessoas ainda se encontra excluídas de seu acesso. No que diz respeito aos

sujeitos da EJA, a marca dessa exclusão é evidente principalmente pelas suas condições

sócio-econômicas. Nesse sentido, Borba e Penteado afirmam que:

O acesso à Informática deve ser visto como um direito e, portanto, nas escolas

públicas e particulares o estudante deve poder usufruir de uma educação que no

momento atual inclua, no mínimo, uma‘alfabetização tecnológica’. Tal alfabetização

deve ser vista não como um curso de Informática, mas, sim, como um aprender a ler

essa nova mídia. Assim, o computador deve estar inserido em atividades essenciais,

tais como aprender a ler, escrever, compreender textos, entender gráficos, contar,

desenvolver noções espaciais etc. E, nesse sentido, a Informática na escola passa a

ser parte da resposta a questões ligadas à cidadania (2001, p. 4).

Deste modo, a escola passa a ser o único ambiente responsável por incluir digitalmente

esse público marginalizado. Para tanto, cabe às instituições escolares promover espaços que

garantam a aprendizagem, transformando-se em um local onde a diversidade não seja vista

como desigualdade, oferecendo para todas as pessoas as mesmas oportunidades.

Em linhas gerais, o uso dos computadores como recurso didático no ensino da

Matemática na EJA pode facilitar a compreensão dos saberes matemáticos, além de auxiliar

os educandos a se tornarem autônomos, principalmente em relação ao mundo do trabalho.

Ademais, essa ferramenta pode trazer diversos benefícios aos educandos Jovens e Adultos,

pois traz a eles a oportunidade de se inserirem no mundo digital, dando-lhes, muitas vezes,

uma qualificação profissional solicitada à atuação no mercado de trabalho.

Softwares educacionais para o ensino de Matemática na EJA

É muito comum nos dias de hoje ouvirmos falar em softwares. Contudo, muitas

pessoas não sabem o que realmente significa e qual sua utilidade. Entretanto, no ambiente

escolar da EJA, os softwares podem representar uma valiosa ferramenta para o

desenvolvimento da ação docente.

Em linhas gerais, Lollini (2001, p. 89) define software como "um conjunto de

programas escritos em uma das linguagens de programação que ativam o computador

conforme os objetivos do usuário.” Já no contexto escolar, de acordo com Lucena, software

educacional:

Page 131: CONCEPÇÕES DE PROFESSORES EXPRESSAS NOS … · metodologia de investigação adotada foi a abordagem qualitativa de cunho interpretativo, na qual nos fundamentamos em Bogdan e Biklen

130

É todo aquele que possa ser usado para algum objetivo educacional,

pedagogicamente defensável por professores e alunos, qualquer que seja a natureza e

a finalidade para a qual tenha sido criado. Entretanto, para que um software seja

utilizado com finalidade educacional, qualidade, interface e pertinência pedagógica

necessitam ser avaliados (1992, p. 3).

Atualmente, tanto no Brasil quanto no restante do mundo, vários softwares estão sendo

desenvolvidos e destinados para a Educação. No que diz respeito a esses softwares, Gamez

(1998, p.12) afirma que “o objetivo geral dos softwares educacionais é auxiliar no processo

ensino-aprendizagem de uma dada disciplina”.

Nesse sentido, muitos deles são dedicados para o ensino de Matemática,

principalmente para o ensino da álgebra e da geometria, permitindo visualizações gráficas e

possibilitando a ampliação da capacidade de entendimento, de agilidade, exatidão e

facilidades com algumas abstrações existentes na Matemática, cuja utilização apenas do

quadro-negro e de livros didáticos dificilmente conseguiríamos perceber.

Entretanto, para que o uso dos softwares seja intensificado no contexto educacional da

EJA, eles precisam apresentar algumas características essenciais, como por exemplo: devem

ser de fácil utilização e compreensão, favorecendo assim apropriação dos conteúdos, bem

como, necessitam possuir aspectos motivacionais capazes de atrair e conquistar o interesse e a

atenção dos educandos Jovens e Adultos. Ao abordar a problemática envolvida nessa questão,

Bonilla afirma que:

[...] para que um software promova realmente a aprendizagem deve estar integrado

ao currículo e às atividades de sala de aula, estar relacionado àquilo que o aluno já

sabe e ser bem explorado pelo professor. O computador não atua diretamente sobre

os processos de aprendizagem, mas apenas fornece ao aluno um ambiente simbólico

onde este pode raciocinar ou elaborar conceitos e estruturas mentais, derivando

novas descobertas daquilo que já sabia (1995, p. 68).

Sendo assim, os softwares educativos podem facilitar a introdução de novos conteúdos

e processos, bem como, complementar o ensino da Matemática na EJA ao aplicar conceitos já

conhecidos pelos alunos, mas que ainda não foram totalmente assimilados. Além disso,

podem ser utilizados como suporte ou reforço para aulas, para elaboração ou revisão de

atividades.

No entanto, muitos professores não estão preparados para utilizar os softwares como

recurso didático em sala de aula, ou se quer conhecem softwares que sejam potenciais para

ensinar Matemática na Educação de Jovens e Adultos. Diante disso, mais que aprender a

Page 132: CONCEPÇÕES DE PROFESSORES EXPRESSAS NOS … · metodologia de investigação adotada foi a abordagem qualitativa de cunho interpretativo, na qual nos fundamentamos em Bogdan e Biklen

131

utilizar softwares no ensino da Matemática, é necessário que os docentes saibam decidir

criticamente quando e como utilizá-los.

Deste modo, acreditamos que uma das maiores dificuldades encontradas pelos

professores que atuam na EJA seja selecionar softwares adequados para desenvolver

atividades e conteúdos matemáticos com os educandos Jovens e Adultos. Nesse caso, é

fundamental que os docentes os escolham de acordo com os objetivos que pretendem atingir

em suas aulas e também com sua própria concepção de conhecimento e de aprendizagem.

Nesse sentido, Flandres sugere alguns critérios para auxiliar na seleção dos softwares a serem

utilizados:

- Não deve ser necessário para o usuário nenhum conhecimento aprofundado a

respeito dos computadores, apenas saber ligar, desligar, digitar algumas letras,

inserir um CD ou outra mídia para salvar seus arquivos. Se a manipulação do

software não for intuitiva o suficiente, exigira do usuário um esforço desnecessário

para aprender a manipulá-lo, atrasando ou dificultando a aprendizagem do aluno.

- O software deve ser interativo, com ênfase no ativo. Não deve dar tudo mastigado,

nem esmiuçar demonstrações. O usuário deve fornecer dados de entrada para

produzir dados de saída, o que o obriga a pensar todo o tempo sobre o que esta

fazendo e ser correspondido e gratificado pelos resultados de seus dados de entrada.

O usuário deve sempre se sentir parte do processo.

- A sintaxe para entrada dos dados deve ser a mais próxima possível daquela que se

usa para escrever na linguagem matemática. A entrada de dados reais deve admitir

expressões que tenham valores reais (o mesmo para racionais ou inteiros)

(FLANDRES, 1994, apud FRESCKI, 2008, p. 13-14).

Diante disso, quando analisamos a possibilidade da utilização de softwares no

processo de ensino e de aprendizagem da Matemática, devemos considerar não somente seu

conteúdo, mas também a maneira como o software se apresenta visualmente, tendo o cuidado

de escolher softwares relacionados de acordo com a faixa etária do público-alvo.

No entanto, ao considerarmos a realidade do público Jovem e Adulto, percebemos o

número reduzido de instrumentos de informática, principalmente softwares específicos para o

ensino da Matemática na EJA. Deste modo, para trabalhar com softwares na Educação de

Jovens e Adultos, como não temos opção, podemos escolher softwares que são voltados para

o Ensino Regular, mas com o cuidado de que não apresentem desenhos ou animações infantis,

evitando dessa forma a infantilização do ensino nessa modalidade de Educação. Como

exemplos de softwares que podem ser utilizados, podemos citar: Cabri-Geometry, DR GEO,

GeoGebra, Geoplan, Geospace, Kbruch, Kpercentage, S- LOGO, Maple, Régua e Compasso e

Tangran.

Em suma, os softwares podem ser grandes aliados no ensino da Matemática na EJA,

tornando o processo de aprendizado dessa disciplina, mais dinâmico e interessante, além de

Page 133: CONCEPÇÕES DE PROFESSORES EXPRESSAS NOS … · metodologia de investigação adotada foi a abordagem qualitativa de cunho interpretativo, na qual nos fundamentamos em Bogdan e Biklen

132

facilitar a aprendizagem dos educandos Jovens e Adultos, tornando-a mais significativa. Além

disso, a utilização de softwares matemáticos em sala de aula pode melhorar a autoestima dos

educandos dessa modalidade de ensino, fazendo com que esses Jovens e Adultos se sintam

incluídos na sociedade, pois muitos alunos foram vítimas de um processo de exclusão social.

Pode contribuir também, com o preparo dos estudantes para o mercado de trabalho, visto que

hoje as tecnologias são elementos básicos na formação dos educandos.

A calculadora

A calculadora é entre outros recursos tecnológicos, um instrumento de baixo custo que

já faz parte do cotidiano da maioria das pessoas, principalmente no mundo do trabalho em que

vivem os Jovens e Adultos. Além disso, essa ferramenta pode contribuir muito no

aprendizado de múltiplos conteúdos da Matemática. De acordo com os Parâmetros

Curriculares Nacionais:

[...] a calculadora é um instrumento que pode contribuir para a melhoria do ensino

da Matemática. A justificativa para essa visão é o fato de que ela pode ser usada

como um instrumento motivador na realização de tarefas exploratórias e de

investigação. Além disso, ela abre novas possibilidades educativas, como a de levar

o aluno a perceber a importância do uso dos meios tecnológicos disponíveis na

sociedade contemporânea. A calculadora é também um recurso para verificação de

resultados, correção de erros, podendo ser um valioso instrumento de auto-avaliação

(BRASIL, 1997, p. 34).

Nesse sentido, vários pesquisadores a reconhecem como um precioso recurso para o

ensino da Matemática, incentivando e indicando a calculadora como uma ferramenta

importante no ensino e aprendizagem dos alunos de todas as modalidades de ensino,

especialmente na EJA, pois no momento em que os estudantes deixam de fazer cálculos

exaustivos manualmente, ativam outras habilidades, permanecendo atentos às relações entre

as informações envolvidas na resolução de problemas aritméticos. A esse respeito, Silva

(1991, p. 31) afirma que “além de se tratar de uma máquina de fácil utilização, portátil [...]

nos seus modelos mais simples está ao alcance das possibilidades econômicas da maioria dos

alunos e de qualquer escola”.

Entretanto, na prática em sala de aula, em relação ao ensino da Matemática na EJA,

muitas vezes a utilização desse recurso ainda é limitada, pois embora o uso da calculadora

tenha se tornado comum em nosso cotidiano, muitos professores e instituições de ensino têm

persistido em ignorar a sua existência. Talvez um dos motivos seja porque muitos professores

e até mesmo alguns alunos da EJA não reconhecem a calculadora como um recurso didático,

Page 134: CONCEPÇÕES DE PROFESSORES EXPRESSAS NOS … · metodologia de investigação adotada foi a abordagem qualitativa de cunho interpretativo, na qual nos fundamentamos em Bogdan e Biklen

133

pois associam seu uso à preguiça, acreditando que sua utilização impossibilita ou até mesmo

prejudica o raciocínio.

Por sua vez, isso não passa de um simples preconceito, pois partindo do ponto de vista

que a calculadora impede o raciocínio do aluno, encontramos falhas nesse argumento, pois

essa ferramenta reproduz operações mecânicas da mesma forma que muitas realizadas

manualmente.

Além disso, ao explorarem este instrumento, os educandos desenvolvem várias

habilidades vinculadas ao cálculo mental, à decomposição e à estimativa. No que se refere

esse assunto, a Proposta Curricular para o Primeiro Segmento do Ensino Fundamental da EJA

afirma que:

No trabalho com o cálculo cabe lembrar também que o uso da calculadora é um

recurso valioso não só para comprovar resultados mas também para desenvolver o

cálculo mental e os procedimentos de estimativa. Com uma calculadora pode-se

propor atividades que propiciem explorar o significado das operações, algumas

propriedades e regularidades e o estabelecimento de interessantes relações

numéricas [...] (BRASIL, 2001, p. 132).

Ainda nessa discussão, ao utilizarmos a calculadora em sala de aula no âmbito da EJA

estaremos auxiliando os alunos a lidarem com problemas e situações de seu dia a dia, pois

muitas vezes a calculadora é um instrumento cotidiano no mundo do trabalho dos educandos

dessa modalidade. Dessa forma, não devemos negá-la, mas sim utilizá-la em sala de aula de

modo a auxiliar na preparação dos alunos Jovens e Adultos para o mercado de trabalho,

tornando – os aptos a intervirem numa sociedade em que a tecnologia ocupa um espaço cada

vez maior. Como afirma D'Ambrosio (1993, p. 16), “ignorar a presença de computadores e

calculadoras na Educação Matemática é condenar os estudantes a uma subordinação total a

subempregos”.

Diante disso, a escola deve se responsabilizar por levar o aluno à familiarização e à

exploração desse recurso tecnológico, bem como ensiná-los a fazer uso inteligente e correto

dessas máquinas, pois muitas vezes os educandos da EJA não sabem utilizá-la de forma

apropriada. Nesse sentido, D’Ambrosio afirma que:

[...] as calculadoras e computadores devem estar presentes no cotidiano das escolas,

principalmente das mais carentes, pois isso permitirá que os menos favorecidos,

sócio-economicamente, tenham acesso às ferramentas disponíveis no mercado de

trabalho que, num futuro próximo, farão parte de todas as profissões. Além disso,

não podemos privar os alunos do conhecimento e manipulação de instrumentos

tecnológicos certamente muito úteis na sua vida profissional (1993, p. 16-17).

Page 135: CONCEPÇÕES DE PROFESSORES EXPRESSAS NOS … · metodologia de investigação adotada foi a abordagem qualitativa de cunho interpretativo, na qual nos fundamentamos em Bogdan e Biklen

134

Outro ponto a ser considerado, de acordo com a Proposta Curricular para o Primeiro

Segmento do Ensino Fundamental da EJA (2001), seria que o uso da calculadora no ensino da

Matemática pode contribuir para motivação e interesse dos alunos por essa disciplina, além de

instigar o hábito de investigação, aproximando o conhecimento matemático da realidade

extraescolar. Muitos Jovens e Adultos utilizam a calculadora como ferramenta em seu dia a

dia, nesse sentido, se essa ferramenta também for utilizada na escola, esse público teria a

oportunidade de compreendê-la melhor, bem como transformar sua atitude frente às

atividades numéricas desenvolvidas na sala de aula.

Ainda nessa discussão, o mesmo documento expõe algumas considerações sobre sua

relevância e reúne ainda algumas indicações sobre situações em que “é possível trabalhar

vários conteúdos com o auxílio da calculadora, como as regras do sistema decimal de

numeração, as propriedades das operações, as representações decimais, o conceito das

operações e cálculos” (BRASIL, 2001, p. 106). Dessa forma, seu uso facilitaria a

aprendizagem dos Jovens e Adultos.

Como podemos observar, a utilização da calculadora como recurso no ensino da

Matemática na EJA pode contribuir ainda para que os alunos sintam-se seguros, permitindo

que esses ganhem mais confiança para trabalhar com problemas, e assim, sejam capazes de

buscar novas experiências de aprendizagem. Além disso, torna desafiador e menos cansativo

o processo de Resolução de Problemas, oferecendo um melhor aproveitamento do tempo, bem

como auxilia os alunos desenvolverem procedimentos de controle e verificação de respostas.

Deste modo, a calculadora não é apenas uma máquina de fazer contas, mas um meio

facilitador do aprendizado, sendo necessário que os alunos Jovens e Adultos utilizem e

dominem seus recursos.

3.2.6 Jogos

O jogo, enquanto atividade lúdica e educativa pode ser considerado uma estratégia

facilitadora do ensino e aprendizagem da Matemática, pois ao mesmo tempo em que se

trabalha conceitos matemáticos, trabalha-se uma maneira diferente e prazerosa de se aprender

Matemática, podendo desse modo tornar as aulas dessa disciplina mais significativas,

superando o caráter formalista que a envolve. A esse respeito, Darsie pontua que:

O jogo pode não ser o único, mas pode ser um dos elementos fundamentais para que

o ensino e a aprendizagem possam superar os indesejáveis métodos da decoreba do

Page 136: CONCEPÇÕES DE PROFESSORES EXPRESSAS NOS … · metodologia de investigação adotada foi a abordagem qualitativa de cunho interpretativo, na qual nos fundamentamos em Bogdan e Biklen

135

conteúdo pronto, acabado e repetitivo, que tornam a educação escolar tão maçante,

sem vida e sem alegria (1998, p. 48).

No contexto da Educação de Jovens e Adultos, a Proposta Curricular para o Segundo

Segmento da EJA esclarece que o uso de jogos no ensino da Matemática na EJA pode

favorecer:

[...] a criatividade na elaboração de estratégias de resolução de problemas e a busca

de soluções. Eles propiciam a simulação de situações-problema que exigem soluções

vivas e imediatas, estimulando o planejamento das ações; e possibilitam a

construção de uma atitude positiva perante os erros, uma vez que as situações

sucedem-se rapidamente e podem ser corrigidas de forma natural, no decorrer da

ação, sem deixar marcas negativas (BRASIL, 2002, p. 29).

Sabe-se que os jogos sempre estiveram presentes na cultura de muitas civilizações,

sendo de grande importância para os seres humanos de qualquer idade. Logo, apresentam-se

como grandes difusores da cultura dos povos. Ainda na problemática envolvida nessa questão,

Muniz (2010, p. 14) afirma que “o jogo é visto como um instrumento de aquisição da cultura

do seu contexto social, cultura que engloba conhecimentos e representação acerca da

Matemática: seus valores, sua aprendizagem, seus poderes”.

Atualmente, podemos encontrar várias definições para o conceito de jogo, pois não há

na literatura um único conceito, pronto e acabado. Ao definir jogo, Moura declara que:

Jogo é uma palavra, uma maneira de expressar o mundo e, portanto de interpretá-lo.

Precisamos reconhecer que estamos tratando de uma concepção complexa na

medida em que em torno de um nó de significações, giram valores bem diferentes: a

noção aberta a interpretações e, sobretudo, a novas possibilidades de análise (1991,

p. 24).

Ainda nessa discussão, Kishimoto afirma que:

O que oferece dificuldade para o conceito de jogo é o emprego de vários termos

como sinônimos. Jogo, brinquedo e brincadeira têm sido utilizados com o mesmo

significado. […] O sentido usual permite que a língua portuguesa referende os três

termos como sinônimos. Esta situação reflete o pouco avanço dos estudos na área

(1994, p. 7).

Já para Huizinga, ainda que o jogo possa ser visto como uma atividade lúdica, não

deve ser considerado apenas como uma simples brincadeira. Dessa forma, o concebe como:

[...] uma ação ou atividade voluntária, realizada dentro de certos limites de tempo e

lugar, segundo uma regra livremente consentida, mas imperativa, provida de um fim

Page 137: CONCEPÇÕES DE PROFESSORES EXPRESSAS NOS … · metodologia de investigação adotada foi a abordagem qualitativa de cunho interpretativo, na qual nos fundamentamos em Bogdan e Biklen

136

em si, acompanhada de um sentimento de tensão, de alegria e de uma consciência de

ser diferente do que se é na vida cotidiana (1971, p. 57-58).

Sendo assim, como pontua Andrade, a função dos jogos

[...] é então muito maior do que ser um instrumento para motivar o aprendizado de

conteúdos curriculares; ele desenvolve as habilidades de pensamento como a

observação, a comparação, a dedução e principalmente, o raciocínio necessário para

o ato de aprender, de aprender qualquer coisa na vida, inclusive valores como

respeito, cooperação, fidelidade, justiça, etc (1996, p. 65).

Na área da Matemática, estudiosos piagetianos como Kamii e Devries (1988) e Kamii

e De’Clarck (1986) evidenciaram o papel do jogo na constituição de estruturas do pensamento

matemático, alegando que facilitam a incorporação de técnicas, colaborando assim no

processo de ensino e aprendizagem dessa disciplina.

Tal como o conceito de jogo pode ser muito amplo, a sua classificação também não é a

mais restrita. Grando (1995), em sua dissertação de mestrado, buscando estabelecer uma

intersecção entre as várias classificações encontradas na literatura, apresenta uma

classificação dos jogos levando em consideração a função que o jogo pode assumir num

contexto social e didático-metodológico. Segundo a autora supracitada, os jogos podem ser

classificados como: jogos de azar, jogos quebra-cabeças, jogos de estratégia, jogos de fixação

de conceitos, jogos pedagógicos e jogos computacionais.

Nesse sentido, a situação do jogo na Educação de Jovens e Adultos pode propiciar um

ambiente favorável à motivação dos educandos, facilitando à aprendizagem de conceitos

matemáticos e o raciocínio lógico-dedutivo. Dessa forma, ao jogar, os educandos apresentam

um melhor desempenho e atitudes positivas frente a seus processos de aprendizagem

desenvolvendo a autoconfiança, a capacidade de pensar, concentrar, analisar, refletir, levantar

e analisar hipóteses, bem como testá-las e avaliá-las. Além disso, a utilização de jogos no

ensino da Matemática na EJA possibilita que essa disciplina seja redescoberta pelos alunos,

em que eles possam ser agentes ativos na construção do seu próprio conhecimento, pois além

de desenvolver habilidades, o jogo estimula o pensamento reflexivo dos educandos. Segundo

Grando, a inserção do jogo no ensino da Matemática representa:

[...] uma atividade lúdica, que envolve o desejo e o interesse do jogador pela própria

ação do jogo, e mais, envolve a competição e o desafio que motivam o jogador a

conhecer seus limites e suas possibilidades de superação de tais limites, na busca da

vitória, adquirindo confiança e coragem para se arriscar (2000, p. 32).

Page 138: CONCEPÇÕES DE PROFESSORES EXPRESSAS NOS … · metodologia de investigação adotada foi a abordagem qualitativa de cunho interpretativo, na qual nos fundamentamos em Bogdan e Biklen

137

Outro ponto a ser considerado é que a utilização de jogos no ensino da Matemática na

EJA pode contribuir para a participação dos Jovens e Adultos em atividades coletivas,

desenvolvendo a socialização e aumentando as interações dos indivíduos com outras pessoas,

podendo assim resgatar a respeitabilidade e elevar a autoestima dos educandos dessa

modalidade de ensino. Também, pode favorecer a criatividade na elaboração de estratégias de

resolução de problemas e na procura de soluções, bem como possibilitar atitudes positivas

diante dos erros e derrotas. No entanto, os professores devem apresentar certa cautela ao

selecionar jogos matemáticos para trabalhar com o público da EJA, pois estes devem ser

adequados à faixa etária dos educandos, impedindo dessa forma infantilizações.

Contudo, sabe-se que a utilização de jogos como recurso didático para o ensino da

Matemática na EJA nem sempre é bem vista e aceita por alguns professores. Por sua vez, se

os jogos forem elaborados e utilizados corretamente, poderão ser grandes aliados dos

professores, pois podem despertar o interesse e a curiosidade dos alunos Jovens e Adultos.

Contudo, isso não significa que exclusivamente os jogos podem propiciar tais vantagens para

o ensino, mas podem representar uma das formas para que isso aconteça. Concordamos com

Kishimoto ao afirmar que:

[...] se a escola tem objetivos a atingir e o aluno a tarefa de adquirir conhecimentos e

habilidades, qualquer atividade por ele realizada na escola visa sempre a um

resultado, é uma ação dirigida e orientada para a busca de finalidades pedagógicas.

O emprego de um jogo em sala de aula necessariamente se transforma em um meio

para a realização desses objetivos (1994, p. 14).

Dessa forma, como educadores, devemos ter consciência que a inserção do jogo como

recurso didático na sala de aula da EJA deve apresentar uma finalidade educativa, sendo que

esse recurso não deve ser utilizado simplesmente como jogo. Não que isso não seja relevante,

mas pode não produzir o aprendizado esperado. Assim, a forma como o jogo é conduzido é

muito importante no processo de ensino e aprendizagem da Matemática.

Diante disso, é necessário que o professor realize intervenções durante a realização do

jogo, indagando os alunos e os levando a refletir sobre as situações, com o intuito de auxiliá-

los a desenvolverem e a concretizar os conhecimentos que esses recursos podem

proporcionar. Nesse contexto, de transmissor do conhecimento, o professor passa a ser o

facilitador, problematizador, observador, interventor e incentivador da aprendizagem, no

processo de construção de conhecimentos. Ao abordar a problemática envolvida nessa

questão, Kishimoto afirma que:

Page 139: CONCEPÇÕES DE PROFESSORES EXPRESSAS NOS … · metodologia de investigação adotada foi a abordagem qualitativa de cunho interpretativo, na qual nos fundamentamos em Bogdan e Biklen

138

[...] a utilização do jogo potencializa a exploração e a construção do conhecimento,

por contar com a motivação interna, típica do lúdico, mas o trabalho pedagógico

requer a oferta de estímulos externos e a influência de parceiros, bem como a

sistematização de conceitos em outras situações que não jogos (1997, p. 37).

Deste modo, é necessário que o jogo seja planejado, apropriado à faixa etária, aos

conteúdos matemáticos que se objetiva, e adaptado à realidade e aos conhecimentos dos

alunos Jovens e Adultos. Nesse sentido, o educador tem um papel fundamental, pois deve

avaliar os diferentes jogos quanto à suas potencialidades educacionais, bem como as

circunstâncias em que se pretende utilizá-los. A esse respeito, de acordo com Romero:

Os jogos podem ser utilizados para introduzir, amadurecer conteúdos e preparar o

aluno para aprofundar os itens já trabalhados. Devem ser escolhidos e preparados

com cuidado para levar o estudante a adquirir conceitos matemáticos de

importância. Deve ser utilizado não como instrumento recreativo na aprendizagem,

mas como facilitador [...] (2007, p. 53).

Entretanto, segundo Grando (2004), a prática de jogos no processo de ensino e

aprendizagem da Matemática não implica somente vantagens, mas também pode apresentar

algumas desvantagens, que devem ser assumidas e refletidas pelos educadores que pretendem

utilizar os jogos em seu trabalho pedagógico. Referente a essa temática, Grando destaca no

quadro a seguir:

Quadro 7 – Vantagens e desvantagens no trabalho com jogos nas aulas de Matemática

VANTAGENS

DESVANTAGENS

- fixação de conceitos já aprendidos de uma forma

motivadora para o aluno;

- introdução e desenvolvimento de conceitos de

difícil compreensão;

- desenvolvimento de estratégias de resolução de

problemas (desafio dos jogos);

- aprender a tomar decisões e saber avaliá-las;

- significação para conceitos aparentemente

incompreensíveis;

- propicia o relacionamento das diferentes disciplinas

(interdisciplinaridade);

- o jogo requer a participação ativa do aluno na

construção do seu próprio conhecimento;

- o jogo favorece a interação social dos alunos e a

conscientização do trabalho em grupo;

- a utilização dos jogos é um fator de interesse para os

alunos:

- dentre outras coisas, o jogo favorece o

desenvolvimento da criatividade, do senso crítico, da

participação, da competição “sadia”, da observação,

das várias formas de uso da linguagem e do resgate do

- quando os jogos são mal utilizados, existe o perigo

de dar ao jogo um caráter puramente aleatório,

tornando-se um “apêndice” em sala de aula. Os

alunos jogam e se sentem motivados apenas pelo jogo,

sem saber por que jogam;

- o tempo gasto com as atividades de jogo em sala de

aula é maior e, se o professor não estiver preparado,

pode existir um sacrifício de outros conteúdos pela

falta de tempo;

- as falsas concepções de que se deve ensinar todos

os conceitos através de jogos. Então as aulas, em

geral, transformam-se em verdadeiros cassinos,

também sem sentido algum para o aluno;

- a perda da “ludicidade” do jogo pela interferência

constante do professor, destruindo a essência do jogo;

- a coerção do professor, exigindo que o aluno jogue,

mesmo que ele não queira, destruindo a

voluntariedade pertencente à natureza do jogo;

- a dificuldade de acesso e disponibilidade de material

sobre o uso de jogos no ensino, que possam vir a

subsidiar o trabalho docente.

Page 140: CONCEPÇÕES DE PROFESSORES EXPRESSAS NOS … · metodologia de investigação adotada foi a abordagem qualitativa de cunho interpretativo, na qual nos fundamentamos em Bogdan e Biklen

139

VANTAGENS

DESVANTAGENS

prazer em aprender;

- as atividades com jogos podem ser utilizadas para

desenvolver habilidades de que os alunos necessitam.

É útil no trabalho com alunos de diferentes níveis;

- as atividades com jogos permitem ao professor

identificar e diagnosticar algumas dificuldades dos

alunos.

Fonte: GRANDO, 2004, p. 31-32

Em suma, nota-se que a utilização de jogos no contexto da EJA mostra-se útil para o

ensino da Matemática de uma maneira geral, podendo desenvolver nos educandos a

organização do pensamento, a argumentação, a crítica, a intuição, bem como promover a

formação de cidadãos mais ativos, que apresentem estratégias e iniciativas próprias para

tomadas de decisões. Portanto, é importante que os jogos façam parte do contexto escolar da

Educação de Jovens e Adultos, pertencendo ao professor a tarefa de considerar e avaliar o

potencial educativo dos jogos, bem como o aspecto curricular no qual se almeja desenvolver.

3.2.7 História da Matemática

A Matemática, assim como qualquer outra Ciência, não é estática, ela evolui ao longo

do tempo. Desse modo, para poder conhecer sua história, é necessário ir além do campo

específico do conhecimento matemático, das definições, teoremas e demonstrações.

Entretanto, no contexto escolar, muitas vezes a Matemática é apresentada aos estudantes sem

qualquer referência à sua história, em que apenas os procedimentos e técnicas são ressaltados,

tornando-se uma atividade mecânica.

Nesse sentido, a História da Matemática tem sido apontada por um número expressivo

de pesquisadores matemáticos, historiadores de Matemática e investigadores de Educação

Matemática, como um possível recurso metodológico para o ensino dessa disciplina em todas

as modalidades de ensino, principalmente por propiciar o estudo da construção histórica do

conhecimento matemático, contribuindo para maior compreensão da evolução dos conceitos.

Além disso, pode despertar o interesse dos alunos pelos conteúdos matemáticos que estão

sendo ensinados.

No que se refere, por meio da História da Matemática é possível contextualizar o saber

na Educação de Jovens e Adultos, mostrar que seus conceitos decorrem de uma época

histórica, dentro de um contexto social e político. A esse respeito, a Proposta Curricular para

o Segundo Segmento da EJA esclarece que:

Page 141: CONCEPÇÕES DE PROFESSORES EXPRESSAS NOS … · metodologia de investigação adotada foi a abordagem qualitativa de cunho interpretativo, na qual nos fundamentamos em Bogdan e Biklen

140

O professor pode criar melhores condições para que o aluno desenvolva atitudes e

valores mais favoráveis diante do conhecimento matemático ao revelar que a

matemática é uma criação humana, elaborada em diferentes culturas e momentos

históricos, e ao estabelecer comparações entre os conceitos e processos matemáticos

do passado e do presente. Com isto, o aluno poderá perceber-se como parte da

história da produção do conhecimento matemático (BRASIL, 2002, p. 28).

Essa visão da Matemática faz com que ela seja vista pelos educandos Jovens e Adultos

como um saber significativo, que foi e é construído pelo homem no decorrer do tempo para

responder suas dúvidas e resolver seus problemas. Além disso, explorando esse recurso, é

possível conceber o ensino da Matemática em um caráter dinâmico, participativo e curioso.

Nesse sentido, Miguel e Miorim entendem ser possível buscar na História da Matemática

apoio para se atingir com os alunos, objetivos pedagógicos que os levem a perceber, por

exemplo:

(1) A matemática como uma criação humana; (2) as razões pelas quais as pessoas

fazem matemática; (3) as necessidades práticas, sociais, econômicas e físicas que

servem de estímulo ao desenvolvimento das idéias matemáticas; (4) as conexões

existentes entre a matemática e filosofia, matemática e religião, matemática e lógica,

etc.; (5) a curiosidade estritamente intelectual que pode levar à generalização e

extensão de idéias e teorias; (6) as percepções que os matemáticos têm do próprio

objeto da matemática, as quais mudam e se desenvolvem ao longo do tempo; (7) a

natureza de uma estrutura, de uma axiomatização e de uma prova (2004, p. 53).

Do mesmo modo, o recurso à História da Matemática apresenta um papel decisivo na

organização dos conteúdos na EJA, pois os conteúdos trabalhados a partir de seu contexto

permitem que os educandos Jovens e Adultos, através de investigações e discussões com

colegas e professores, compreendam melhor seus significados, passando a ver a Matemática

como parte da construção da humanidade.

Além disso, vale destacar que as propostas para o ensino de Matemática na Educação

de Jovens e Adultos não compreendem que o currículo deve ser organizado de forma linear.

Deste modo, seria necessário buscar na História não somente as descrições de episódios

ocorridos no passado, mas também informações que definam estratégias de abordagem do

conteúdo de forma a revelar o significado do que se está almejando ensinar.

Nesse sentido, é importante lembrar que não basta os alunos Jovens e Adultos

compreenderem os fatos históricos, mas também é necessário que façam conexões e tomem

como referência os conceitos decorrentes das experiências pessoais e interações sociais do seu

dia a dia. Referente a essa temática, Duarte (1995, p. 18) declara que “reproduzir

condensadamente a evolução da Matemática não implica necessariamente ficar contando a

Page 142: CONCEPÇÕES DE PROFESSORES EXPRESSAS NOS … · metodologia de investigação adotada foi a abordagem qualitativa de cunho interpretativo, na qual nos fundamentamos em Bogdan e Biklen

141

história da Matemática para os educandos, mas sim fazer com que sejam percorridos os

passos essenciais dessa evolução”.

Deste modo, a utilização da História da Matemática como recurso metodológico na

Educação de Jovens e Adultos não deve se limitar apenas para ilustrar nas aulas de

Matemática histórias que divirtam e envolvam os alunos, como apresentação de fatos e

biografias de matemáticos famosos. Nem simplesmente para preencher o currículo da

Matemática com referências históricas que determinado modo auxiliem a demonstrar seu

valor ou a beleza do assunto que se queira ensinar. Ao abordar a problemática envolvida nessa

questão, a Proposta Curricular para o Segundo Segmento da EJA esclarece que:

[...] Essa abordagem, entretanto, não deve se restringir a informações relativas a

nomes, locais e datas de descobertas. Em muitas situações, o recurso à história pode

dar respostas a alguns porquês, esclarecendo e dando significado às idéias

matemáticas que estão sendo construídas nas aulas [...] (BRASIL, 2002, p. 28).

Mendes ainda nessa discussão complementa que:

[...] a história se apresenta sob um caráter meramente ilustrativo e informativo, ou

seja, aparece como um elemento descartável nas atividades de sala de aula, pois, do

modo como é abordada, não é indispensável à construção dos conceitos matemáticos

(2001, p. 26).

Desse modo, é necessário que os professores compreendam de fato quais são as reais

contribuições que a História da Matemática pode proporcionar no ensino dessa disciplina na

Educação de Jovens e Adultos, deixando assim de considerá-la apenas como elemento

motivador no desenvolvimento dos conteúdos matemáticos em sala de aula, pois de acordo

com Vianna:

[...] quando ela é usada como motivação pode facilmente ser substituída por algum

outro tema da moda, como futebol, vôlei, fórmula 1, sexo, drogas, rock’n’roll; o que

certamente é mais atraente para a maioria dos alunos embora possa desagradar aos

professores (1995, p. 124).

Nesse sentido, compactuamos com o autor, pois mesmo depois dos alunos conhecerem

a história relacionada aos conteúdos matemáticos, nem sempre se sentem motivados a

aprender Matemática. Ademais, essa justificativa não deve ser considerada, pois muitas vezes,

até mesmo os professores de História reclamam que seus alunos mostram-se desinteressados

pela disciplina. Deste modo, a História da Matemática ultrapassa o campo da motivação e

Page 143: CONCEPÇÕES DE PROFESSORES EXPRESSAS NOS … · metodologia de investigação adotada foi a abordagem qualitativa de cunho interpretativo, na qual nos fundamentamos em Bogdan e Biklen

142

engloba subsídios cujas naturezas estão voltadas a uma interligação entre o conteúdo e sua

atividade educacional.

No contexto da EJA, de acordo com Nobre (2004), o emprego da História da

Matemática no ensino de Jovens e Adultos pode promover a oportunidade dos estudantes

observarem no decorrer da história o esforço de pessoas para superar dificuldades e desafios

similares àquelas que eles próprios possam estar vivenciando. Ainda nessa discussão, os

Parâmetros Curriculares Nacionais acrescentam que os:

[...] conceitos abordados em conexão com sua história constituem-se veículos de

informação cultural, sociológica e antropológica de grande valor formativo. A

História da Matemática é, nesse sentido, um instrumento de resgate da própria

identidade cultural (BRASIL, 1997, p. 35).

Entretanto, nem todos os pesquisadores defendem e incentivam a inserção da História

da Matemática no processo de ensino e aprendizagem da Matemática, alegando alguns

problemas. De acordo com Miguel e Miorim (2004, p. 63) “os argumentos utilizados por

esses autores dizem respeito: à ausência de literatura adequada, à natureza imprópria da

literatura disponível, à história como um fator complicador, a ausência de sentido de

progresso histórico”.

Já para Baroni e Nobre (apud BICUDO, 1999, p. 130), devemos ter “cautela quando se

trata de propor o trabalho em sala de aula, nas aulas de Matemática, com a utilização da

História da Matemática”, especialmente porque a História da Matemática é considerada uma

área do conhecimento matemático, um campo de investigação científica, sendo dessa forma

um tanto quanto ingênuo reduzi-la apenas como um simples recurso metodológico.

Desse modo, há muito que se refletir sobre como utilizar os recursos e conhecimentos

históricos, até então obtidos de forma objetiva e sistemática no processo de ensino e

aprendizagem da Matemática. De acordo com algumas pesquisas, como por exemplo, a

investigação realizada por Gomes (2005) em sua dissertação de mestrado, pode-se observar

que nos relatos dos professores, a História da Matemática é definitivamente confiada por

todos como elemento enriquecedor, e, por vezes, imprescindível à formação do educador

matemático. Entretanto, foi evidenciado que na prática, os conhecimentos históricos estão

sendo negligenciados em quase todos seus aspectos pelos professores, tanto no Ensino

Superior quanto no ensino Fundamental e Médio.

Para reverter essa situação, é necessário que os professores apresentem conhecimentos

relativos à História da Matemática, à história dos conteúdos matemáticos, não somente com a

Page 144: CONCEPÇÕES DE PROFESSORES EXPRESSAS NOS … · metodologia de investigação adotada foi a abordagem qualitativa de cunho interpretativo, na qual nos fundamentamos em Bogdan e Biklen

143

finalidade de utilizá-los como instrumento em seu ensino, mas principalmente por que a

História pode proporcionar uma visão verdadeiramente humana da Matemática, cuja

construção se deu a partir das necessidades e preocupações de diferentes culturas, dando

origem aos conceitos matemáticos e às produções teóricas procedentes das abstrações e

generalizações obtidas em diferentes momentos históricos. Além do mais, permite expor a

Matemática aos educandos Jovens e Adultos como ciência dinâmica, receptiva à incorporação

de novos conhecimentos, não tratando de verdades eternas, infalíveis e imutáveis,

proporcionando assim a quebra de paradigmas de que a Matemática trata-se de uma ciência

pronta e acabada, ao revelar que a Matemática é um produto da cultura humana, mutável com

o tempo.

Deste modo, a utilização da História da Matemática como metodologia de ensino pode

contribuir enormemente com o público da Educação de Jovens e Adultos, pois além de ser um

elemento motivador à aprendizagem e de criticidade nas aulas de Matemática, pode

possibilitar o desenvolvimento de habilidades tais como a leitura, a escrita, procura por fontes

e documentos, análise e argumentação, bem como contribuir para a compreensão dos

conteúdos matemáticos a partir da re-criação ou da re-descoberta de conceitos dando mais

sentido e significado aos conteúdos estudados.

3.2.8 Projetos de Trabalho

Na Educação de Jovens e Adultos, o currículo escolar é organizado de maneira

diferenciada do Ensino Regular, em que os conhecimentos não são dispostos de forma rígida.

Deste modo, a dinamicidade do currículo na EJA deve ser colocada a favor do aproveitamento

ou da inclusão de problemas e situações inovadoras, que valorizem metodologias que

possibilitem os educandos enfrentarem com autonomia as dificuldades reais de situações-

problemas do dia a dia.

Os Projetos de Trabalho são considerados uma abordagem de ensino, que busca

redefinir as concepções de ensino e as práticas educativas que permanecem ao longo dos anos

(HERNÁNDEZ e VENTURA, 1998), isto é, procura superar o que poderíamos designar de

prática tradicional ou Bancária, e fundamentar e estabelecer uma prática pedagógica

Emancipatória.

Deste modo, a perspectiva de Projetos de Trabalho pode ser um meio para transformar

o ambiente escolar de ensino e de aprendizagem na Educação de Jovens e Adultos, de

maneira que essa modalidade possa se constituir como um espaço aberto e articulado à

Page 145: CONCEPÇÕES DE PROFESSORES EXPRESSAS NOS … · metodologia de investigação adotada foi a abordagem qualitativa de cunho interpretativo, na qual nos fundamentamos em Bogdan e Biklen

144

resolução de situações-problemas, à Modelagem Matemática e a Etnomatemática,

proporcionando assim à construção de aprendizagens significativas. Deste modo, no trabalho

com projetos, os educandos têm a oportunidade de envolver-se de maneira dinâmica em

experiências educativas cujo processo de construção de conhecimento está interligado às suas

experiências de vida, às suas necessidades, desencadeando assim problematizações, o que

contribui para o desenvolvimento de sujeitos ativos, reflexivos, críticos e autônomos.

Outro ponto a ser considerado é que o ensino da Matemática na Educação de Jovens e

Adultos por meio dos Projetos de Trabalho permite que os educandos aprendam durante o

processo de problematização, ao levantarem dúvidas, ao pesquisarem, ao produzirem e

criarem relações que estimulam novas investigações, descobertas, compreensões e

reconstruções de conhecimento. Nesse contexto, “a função do projeto é favorecer a criação de

estratégias de organização dos conhecimentos escolares em relação a: 1) o tratamento da

informação, e 2) a relação entre os diferentes conteúdos em torno de problemas ou hipóteses”

(HERNÁNDEZ e VENTURA, 1998, p. 61). Deste modo, tais problemas ou hipóteses

auxiliam os educandos na construção de seus conhecimentos, ou seja, transformam as

informações provenientes dos diferentes saberes disciplinares envolvidos no projeto em

conhecimento próprio.

Portanto, um dos principais diferenciais nos Projetos de Trabalho é em relação à

aprendizagem, que se fundamenta em sua significatividade, em que aprender deixa de ser um

simples procedimento de memorização de conteúdos de determinadas áreas de conhecimento

e os educandos, sujeitos passivos no processo de aprendizado.

Ao abordar a problemática envolvida nessa questão, Pizani e Zunino (1995) declaram

que a metodologia de Projetos pode ser assinalada como uma das expressões da concepção

segundo a qual os alunos analisam os problemas, as situações e os acontecimentos dentro de

um contexto e em sua globalidade, utilizando para isso os conhecimentos presentes nas

disciplinas e sua experiência sociocultural. Ainda nessa discussão, Hernández e Ventura

esclarece que:

[...] os projetos de trabalho representam uma maneira de entender o sentido da

escolaridade baseado no ensino para a compreensão, o que implica que os alunos

participem de um processo de pesquisa que tenha sentido para eles (não porque seja

fácil ou agradável) e no qual usem diferentes estratégias de estudo; podem participar

no processo de planejamento da própria aprendizagem e ajuda-os a serem flexíveis,

a reconhecerem o “outro” e a compreenderem seu próprio ambiente pessoal e

cultural (e o dos outros) (1998, p. 6).

Page 146: CONCEPÇÕES DE PROFESSORES EXPRESSAS NOS … · metodologia de investigação adotada foi a abordagem qualitativa de cunho interpretativo, na qual nos fundamentamos em Bogdan e Biklen

145

Diante disso, inicialmente um Projeto de Trabalho pode ser constituído na EJA a partir

de problematizações, que podem originar-se a partir da curiosidade dos Jovens e Adultos

sobre um fato da atualidade, de uma temática considerada importante de ser investigada, de

um problema geral ou particular do grupo ou de algum assunto ligado ao mundo do trabalho.

O próximo passo seria a definição do tema, que segundo Hernández e Ventura (1998) pode

ser proposto tanto pelo professor quanto pelos alunos, ou pode ainda surgir de questões que

ficaram pendentes em outros Projetos. Nesse sentido, leva-se em conta uma organização

curricular baseada nos interesses dos estudantes.

No entanto, é importante destacar que as informações necessárias para construir os

Projetos de Trabalho na EJA, assim como em qualquer modalidade de ensino, não precisam

estar determinadas antecipadamente, e nem dependem do professor, mas sim dos

conhecimentos que cada estudante Jovem ou Adulto já possui sobre o tema e das informações

com as quais possam relacionar dentro e fora do ambiente escolar.

Uma vez selecionado o tema do projeto, e instituída um série de hipóteses em relação

ao que se quer conhecer e aos questionamentos que se deve responder para que valha a pena a

escolha do Projeto, de acordo com Hernández e Ventura (1998), o professor pode realizar

algumas atividades, como por exemplo: especificar qual será o estímulo do conhecimento ou

o esquema cogniscitivo que fará com que o projeto transcenda aos aspectos informativos e

seja aplicado em outros temas ou problemas; realizar uma previsão dos conteúdos a serem

desenvolvidos e buscar fontes de informação que permitam iniciar e desenvolver o projeto;

estudar e atualizar as informações em torno do tema do Projeto; envolver os componentes do

grupo com o que se está sendo trabalhado em sala de aula; manter uma atitude de avaliação

constante durante o desenvolvimento do projeto; e por último recapitular o processo realizado

ao longo do Projeto.

Em relação aos alunos, de acordo com Hernández e Ventura (1998), após a escolha do

tema devem realizar também outras atividades paralelamente às ações e a tomada de decisões

do professor, dentre elas: realizar um índice no qual devem estar explicitados os aspectos que

vão ser trabalhados no Projeto; colaborar com o planejamento das atividades; buscar

informações que complementam e ampliam a proposta e argumentação inicial do Projeto;

realizar o tratamento da informação interpretando a realidade, ordenando-a e apresentando

novos questionamentos; analisar e desenvolver os capítulos do índice; realizar um dossiê de

síntese dos aspectos tratados e dos que ficam abertos no projeto e por fim realizar a avaliação

de todas as etapas do projeto, momento em que se abrem novas perspectivas de continuidade

Page 147: CONCEPÇÕES DE PROFESSORES EXPRESSAS NOS … · metodologia de investigação adotada foi a abordagem qualitativa de cunho interpretativo, na qual nos fundamentamos em Bogdan e Biklen

146

para próximos projetos, em que se forma um anel contínuo de significações dentro do

processo de aprendizagem.

Desta forma, podemos inferir que a ação dos educandos Jovens e Adultos é muito

mais ativa nas propostas em que o currículo é organizado por meio de Projetos de Trabalho,

pois de acordo com Hernández e Ventura, os estudantes:

[...] descobrem que eles também têm uma responsabilidade na sua própria

aprendizagem, que não podem esperar passivamente que o professor tenha todas as

respostas e lhes ofereça todas as soluções, especialmente porque, como já foi dito, o

educador é um facilitador e, com frequência, um estudante a mais (1998, p. 75).

Por sua vez, muitas vezes durante o desenvolvimento dos projetos surgem novas

necessidades de aprendizagem, inclusive não previstas no currículo. Assim, os educandos

poderão se apropriar de outros conteúdos para resolução de situações-problemas. Nesse

sentido, a intervenção do educador é fundamental nesse processo, principalmente porque é

sua responsabilidade criar situações de aprendizagem para que tal apropriação se realize de

maneira significativa, ou seja, devem realizar as mediações necessárias para que os educandos

possam encontrar sentido naquilo que está sendo estudado.

Desse modo, na perspectiva dos Projetos de Trabalho, os conteúdos matemáticos

passam a receber múltiplos significados, pois se relacionam com outras áreas do

conhecimento e com as experiências sociais dos alunos envolvidos. Ademais, passam a ser

abordados de maneira mais abrangente e flexível, especialmente no que se refere à seleção e

sequência dos mesmos, pois dependem das experiências e dos conhecimentos prévios dos

estudantes Jovens e Adultos, bem como das necessidades de apropriação durante a realização

dos projetos. Ao abordar a problemática envolvida nessa questão, Hernández e Ventura

afirmam:

Definitivamente, a organização dos Projetos de trabalho se baseia fundamentalmente

numa concepção da globalização entendida como processo muito mais interno do

que externo, no qual as relações entre conteúdos e áreas de conhecimento têm lugar

em função das necessidades que traz consigo o fato de resolver uma série de

problemas que subjazem na aprendizagem. Esta seria a ideia fundamental dos

projetos (1998, p. 63).

No entanto, devemos compreender que o fato dos Projetos de Trabalho provocar

necessidades de conhecimento não garante a efetivação aprendizagem. Além disso, de acordo

com Hernández e Ventura (1998), não podemos colocar nos Projetos de Trabalho a

Page 148: CONCEPÇÕES DE PROFESSORES EXPRESSAS NOS … · metodologia de investigação adotada foi a abordagem qualitativa de cunho interpretativo, na qual nos fundamentamos em Bogdan e Biklen

147

responsabilidade de solucionar todos os problemas da escola, bem como os que a sociedade

deposita-a. Na verdade, segundo os referidos autores, o que se pretende é:

[...] contribuir com a Escola para a formação de um sentido da cidadania que

favoreça o diálogo crítico, para saber de onde procedem as visões do mundo que nos

são oferecidas naquilo que estudamos e os valores e grupos que são legitimados e/

ou excluídos nessas informações e visões de mundo (1998, p. 3).

Portanto, a proposta metodológica dos Projetos de Trabalho se constitui como um

caminho para o ensino da Matemática na Educação de Jovens e Adultos, pois por meio de

situações de aprendizagem reais e diversificadas busca-se dar um novo sentido a prática

desenvolvida nessa modalidade, principalmente porque favorece a autonomia dos educandos,

além de proporcionar experiências educativas mais significativas e prazerosas aos sujeitos

envolvidos.

Assim, para a utilização adequada desta, ou de qualquer outra metodologia de ensino

da Matemática, é indispensável que os profissionais da Educação sintam a necessidade de

transformar sua postura referente à sua prática, ou seja, devem tomar consciência de suas

ações e descobrir maneiras de fazer com que seus alunos realmente aprendam pela

Matemática, auxiliando-os na construção efetiva de conhecimentos, que, por sua vez, trarão

maior compreensão da realidade.

Contudo, o que acabamos de apresentar são algumas perspectivas metodológicas que

podem estar presentes na prática docente dos professores que ensinam a Matemática na 1ª e 2ª

Etapas da Educação de Jovens e Adultos. No entanto, gostaríamos de ressaltar que o

referencial teórico apresentado nesse capítulo é de grande importância, porém, nenhum autor

é capaz de garantir que determinada perspectiva metodológica pode ser mais bem sucedida do

que outra com relação à aprendizagem dos educandos Jovens e Adultos. Além disso, ninguém

melhor do que os próprios professores para indicarem o quê e o como seus alunos realmente

precisam aprender, pois convivem com eles diariamente e conhecem suas especificidades.

Apresentamos a seguir, a abordagem e o percurso metodológico que sustenta nosso

trabalho, o universo da pesquisa, os critérios de seleção das escolas investigadas e dos

sujeitos, bem como os instrumentos de coleta dos dados, os critérios utilizados em sua

organização e as categorias de análise.

Page 149: CONCEPÇÕES DE PROFESSORES EXPRESSAS NOS … · metodologia de investigação adotada foi a abordagem qualitativa de cunho interpretativo, na qual nos fundamentamos em Bogdan e Biklen

148

4. METODOLOGIA DA PESQUISA

“Pesquiso para constatar, constatando, intervenho, intervindo educo e

me educo. Pesquiso para conhecer o que ainda não conheço e

comunicar ou anunciar a novidade”.

(FREIRE, 1996, p. 32)

Em busca de respostas às nossas indagações, e tendo como objeto de estudo as

concepções que revelam os conteúdos e metodologias propostas para o ensino e aprendizagem

da Matemática pelos professores que atuam na 1ª e 2ª Etapas da Educação de Jovens e

Adultos, descrevemos neste capítulo os caminhos e os passos percorridos na construção da

investigação, apresentando nossa opção metodológica adotada para o desenvolvimento da

pesquisa. Delineamos também a delimitação do contexto da investigação, descrevendo o

processo de seleção das escolas da rede pública municipal de ensino, localizadas na cidade de

Cuiabá – MT, bem como a seleção, a caracterização dos sujeitos envolvidos na pesquisa e os

procedimentos e instrumentos para a coleta, seleção e análise dos dados, segundo Bogdan e

Biklen (1994), assim como as categorias norteadoras da análise dos dados.

4.1 A OPÇÃO METODOLÓGICA

Devido às especificidades do ambiente educacional e pela necessidade de coletarmos

informações junto aos sujeitos da investigação sobre os conteúdos e as metodologias

propostas para o ensino e aprendizagem da Matemática na 1ª e 2ª Etapas da Educação de

Jovens e Adultos, optamos para o desenvolvimento da pesquisa a abordagem metodológica

qualitativa de análise interpretativa. A escolha baseia-se no fato de concebermos que esta nos

possibilita uma melhor e maior aproximação com o tema “a Educação Matemática na 1ª e 2ª

Etapas da Educação de Jovens e Adultos”, com vistas à coleta de dados e a análise que se

pretende realizar.

Todavia, estamos cientes de que nosso trabalho como investigadores estabelece um

grande esforço pessoal e intelectual principalmente pelas peculiaridades que naturalmente

surgem em pesquisas científicas cuja abordagem é qualitativa. Também, somos sabedores que

a compreensão ou interpretação de um problema social, na área da Educação, estará sempre

impregnada de subjetividade, pois tanto o problema de pesquisa, como os dados e o trabalho

do pesquisador, mostram-se entrelaçados.

Page 150: CONCEPÇÕES DE PROFESSORES EXPRESSAS NOS … · metodologia de investigação adotada foi a abordagem qualitativa de cunho interpretativo, na qual nos fundamentamos em Bogdan e Biklen

149

A pesquisa qualitativa em Educação surge como uma necessidade de responder às

questões desafiadoras reveladas nas práticas educacionais. No entanto, segundo Bogdan e

Biklen (1994), a investigação não deve ser realizada com o objetivo de responder a questões

prévias ou de testar hipóteses. Além disso, de acordo com os autores, esse tipo de pesquisa

“privilegia, essencialmente, a compreensão dos comportamentos a partir da perspectiva dos

sujeitos da investigação [...]” (IBIDEM, 1994, p. 16).

Nesse sentido, a pesquisa qualitativa para Lüdke e André (1986), envolve a obtenção

de dados descritivos obtidos no contato direto do pesquisador com a situação estudada e

enfatiza mais o processo do que o produto, preocupando-se em retratar a perspectiva dos

participantes. Além disso, de acordo com as autoras, a pesquisa qualitativa supõe a relação

direta e prolongada do pesquisador com o ambiente e a situação que está sendo investigada,

por meio do trabalho intensivo de campo. Nesse contexto, Bogdan e Biklen (1994), afirmam

que o objetivo fundamental do pesquisador qualitativo é “construir conhecimento e não o de

dar opiniões sobre determinado contexto”, além de “compreender o comportamento e

experiência humanos. Tentam compreender o processo mediante o qual as pessoas constroem

significados e descrever em que consistem estes mesmos significados [...]” (BOGDAN E

BIKLEN, 1994, p. 67 e 70).

Deste modo, buscamos interpretar que concepções revelam os documentos escolares e

as falas dos professores sobre os conteúdos e metodologias propostas pelos professores para o

ensino e aprendizagem da Matemática na 1ª e 2ª Etapas da EJA a partir dos próprios dados,

por meio das referências por eles fornecidas e correlacionadas ao nosso aporte teórico. Assim,

são os próprios dados que nos induzem a propor e a identificar resposta para nossa

problemática.

Na perspectiva da investigação qualitativa em Educação, Bogdan e Biklen (1994)

discutem cinco características que fundamentam essa modalidade de pesquisa assinalando

que:

1) A pesquisa qualitativa tem o ambiente natural como sua fonte direta de

dados e o pesquisador como seu principal instrumento: o contexto em que ocorre o

fenômeno não sofre qualquer manipulação intencional do pesquisador, já que

preservá-lo é fundamental para compreender o objeto em estudo;

2) Os dados coletados são predominantemente descritivos: todos os dados da

realidade são considerados relevantes, sendo assim, se expressa uma tentativa de

abordar o fenômeno de maneira minuciosa, respeitando a forma como ele se

apresenta;

3) A preocupação com o processo é muito maior do que com o produto: a

preocupação maior do pesquisador é constatar como o fenômeno se mostra nas

diversas atividades e procedimentos cotidianos e como se constitui para os sujeitos

envolvidos;

Page 151: CONCEPÇÕES DE PROFESSORES EXPRESSAS NOS … · metodologia de investigação adotada foi a abordagem qualitativa de cunho interpretativo, na qual nos fundamentamos em Bogdan e Biklen

150

4) O significado que as pessoas dão às coisas e à sua vida são focos de atenção

especial pelo pesquisador: busca-se compreender as perspectivas dos participantes;

5) A análise dos dados tende a seguir um processo indutivo: o pesquisador não

possui hipóteses formuladas a priori, não procura buscar evidências para a

comprovação de suas questões (p. 47-50).

Deste modo, considerando o problema de pesquisa que nos propomos investigar, esta

abordagem metodológica se confere mais que qualquer outra, pois a coleta de dados foi

realizada com os sujeitos diretamente no contexto educacional (ambiente da pesquisa),

procedendo à coleta de dados negociada diretamente com os contextos e os sujeitos reais da

ação.

4.2 PERCURSO METODOLÓGICO

Nosso trabalho de pesquisa foi realizado em cinco etapas, conforme descreveremos a

seguir:

A primeira etapa da pesquisa constituiu-se em revisão bibliográfica, em que se

pretendeu indicar aspectos teóricos relacionados ao contexto da Educação de Jovens e

Adultos, a Educação Matemática e aos conteúdos e metodologias indicadas para o Primeiro

Segmento da EJA. A intenção desta etapa foi buscar maior esclarecimento sobre essas

temáticas, para a produção e desenvolvimento dos capítulos teóricos e para futuras análises

dos dados da investigação.

Na segunda etapa, realizamos uma pesquisa exploratória e bibliográfica, procurando

levantar a produção de pesquisas brasileiras em Educação Matemática na Educação de Jovens

e Adultos. Buscamos nessa fase, situar-nos sobre as pesquisas realizadas, a metodologia

utilizada, a distribuição temporal e espacial, o lócus de investigação (Primeiro Segmento,

Segundo Segmento ou Ensino Médio da Educação de Jovens e Adultos) e as temáticas dessas

pesquisas, estabelecendo uma forma de aproximação com nosso objeto de estudo.

Na terceira etapa da pesquisa, passamos ao trabalho de campo propriamente dito, em

que realizamos a coleta de dados em escolas municipais da cidade de Cuiabá – MT. Conforme

Furasté (2008, p. 35) “a pesquisa de campo tem como objetivo imediato analisar, catalogar,

classificar, explicar e interpretar os fenômenos que foram observados e os dados que foram

levantados”. Nessa etapa, fomos às escolas selecionadas para efetuar contato preliminar e

apresentar algumas informações sobre a intenção de nossa pesquisa, bem como obter as

autorizações dos diretores e professores que lecionam a Matemática na 1ª e 2ª Etapas da

Educação de Jovens e Adultos para darmos continuidade à nossa investigação.

Page 152: CONCEPÇÕES DE PROFESSORES EXPRESSAS NOS … · metodologia de investigação adotada foi a abordagem qualitativa de cunho interpretativo, na qual nos fundamentamos em Bogdan e Biklen

151

Posteriormente, elaboramos e aplicamos os questionários, assim como recolhemos os

dados documentais: Projeto Político Pedagógico, Matriz Curricular do município de Cuiabá,

Planejamento Anual de Matemática, Planos de Aula, Cadernos dos Alunos e os Livros

Didáticos utilizados pelos professores que trabalham a Matemática na 1ª e 2ª Etapas da EJA.

Além disso, nesta etapa realizamos entrevistas semiestruturadas com os professores e todos os

dados e informações foram organizados, transcritos e categorizados.

Durante a quarta etapa da pesquisa, realizamos a análise, a interpretação e a

triangulação pela recorrência dos dados coletados pelos distintos instrumentos (questionários,

entrevistas e análise documental) e procedimentos utilizados. Para análise documental,

utilizamos fichas de registro visando auxiliar no trabalho de análise. Nessa etapa, recorremos

ao nosso aporte teórico buscando subsídios para efetuar a análise e triangulação dos dados.

A quinta e última etapa envolveu a organização de todo o material da pesquisa e os

fechamentos finais, incluindo, a redação final e preparo do material para a qualificação e

defesa da dissertação.

.

4.3 CONTEXTO E SUJEITOS DA PESQUISA

A presente pesquisa foi realizada em duas Escolas Municipais de Educação Básica

situadas na zona urbana da cidade de Cuiabá, no estado de Mato Grosso. Tomamos como

sujeitos quatro professores (dois de cada escola), efetivos da Rede Municipal de Ensino de

Cuiabá-MT, que trabalham a Matemática na 1ª e 2ª Etapas da Educação de Jovens e Adultos.

4.3.1 Critérios de seleção das escolas

Principiamos nossa investigação realizando um levantamento junto à Secretaria de

Educação do Estado de Mato Grosso (SEDUC/MT), referente às unidades escolares que

ofereciam à 1ª e 2ª Fases do Primeiro Segmento da Educação de Jovens e Adultos, pois

inicialmente pretendíamos realizar a pesquisa em Escolas Públicas Estaduais. Entretanto,

devido a uma reorganização da SEDUC/MT no ano de 2010, o Primeiro Segmento da EJA

passou a ficar sob responsabilidade das Secretarias Municipais de Educação, ou seja, passou a

ser oferecido somente em Escolas Públicas Municipais, com exceção de quatro Centros

Estaduais de EJA, na cidade de Cuiabá-MT, em que apenas um oferecia à 1ª e 2ª Fases do

Primeiro Segmento da EJA. Dessa forma, como o número de escolas ficaria limitado para a

Page 153: CONCEPÇÕES DE PROFESSORES EXPRESSAS NOS … · metodologia de investigação adotada foi a abordagem qualitativa de cunho interpretativo, na qual nos fundamentamos em Bogdan e Biklen

152

pesquisa, optamos por desenvolver nossa investigação em Escolas Públicas Municipais. Por

sua vez, tal redirecionamento não comprometeu a pesquisa, já que os alunos, professores e as

condições de infraestrutura são semelhantes.

Deste modo, realizamos um novo levantamento, porém dessa vez junto à Secretaria

Municipal de Educação da cidade de Cuiabá-MT (SME/CUIABÁ). No entanto, tivemos que

nos adequar à nomenclatura utilizada pela Secretaria Municipal de Educação, que utiliza 1ª e

2ª Etapas da Educação de Jovens e Adultos, sendo equivalente à 1ª e 2ª Fases do Primeiro

Segmento da EJA na rede estadual de ensino de Mato Grosso.

Logo, no levantamento realizado, localizamos sete escolas que ofereciam a 1ª e 2ª

Etapas da Educação de Jovens e Adultos. Deste modo, tivemos que adotar alguns critérios

durante o processo de definição das escolas que fariam parte do universo da pesquisa aos

quais apresentaremos a seguir:

Escolas públicas que ofertam a 1a e 2

a Etapas da Educação de Jovens e Adultos;

Ter em seu quadro de docentes dois professores (um da 1ª Etapa e o outro da 2ª Etapa)

que atendam aos critérios propostos para a seleção dos sujeitos da pesquisa.

Satisfazendo esses critérios, inicialmente selecionamos quatro Escolas municipais

situadas no perímetro urbano da capital mato-grossense. Todavia, encontramos algumas

dificuldades na coleta de dados no período de investigado que nos levaram excluir uma das

Escolas, pois duas professoras que trabalhavam na mesma instituição escolar tiveram alguns

problemas de saúde e assim, afastaram-se das atividades escolares. Outro motivo que optamos

pela redução da quantidade de Escolas investigadas foi devido a questões de tempo. Assim,

optamos por investigar somente duas Escolas, que doravante serão identificadas por nome de

frutas25

da região da capital mato-grossense, sendo elas: Escola Bocaiúva e Escola Caju.

4.3.2 Caracterização das escolas

O Quadro 8, a seguir, mostra a caracterização das escolas investigadas, sendo elas

denominadas por nós, Escola Bocaiúva e Escola Caju. Tal caracterização foi realizada

conforme informações do Questionário de Caracterização da Escola, (QCE – em anexo)

respondido pelo (a) diretor (a) de cada unidade escolar.

25

Os pseudônimos dados as escolas participantes da investigação visam preservar a identidade das unidades

escolares.

Page 154: CONCEPÇÕES DE PROFESSORES EXPRESSAS NOS … · metodologia de investigação adotada foi a abordagem qualitativa de cunho interpretativo, na qual nos fundamentamos em Bogdan e Biklen

153

Quadro 8 – Caracterização das Escolas investigadas

Escolas

CARACTERIZAÇÃO DAS ESCOLAS

An

o d

e F

un

da

ção

da

E

sco

la

Nív

eis

de

En

sin

o

Tu

rno

s d

e

Fu

nci

on

am

ento

da

Esc

ola

Tu

rno

s d

e

fun

cio

na

men

to

mo

da

lid

ad

e E

JA

de

sala

s d

e a

ula

de

turm

as

de

turm

as

na

e 2

ª

Eta

pa

da

EJ

A

tota

l d

e a

lun

os

de

alu

no

s n

a E

JA

tota

l d

e p

rofe

sso

res

ES

CO

LA

BO

CA

IÚV

A

1999

Ensino Fund.

Regular – anos

iniciais e finais

EJA- 1ª, 2ª, 3ª e 4ª

Etapas

Matutino

Vesperti

no

Noturno

Noturno 13 30 02 976 130 36

ES

CO

LA

CA

JU

1985

Ensino Fund.

Regular – anos

iniciais

EJA- 1ª e 2ª Etapas

Matutino

Vesperti

no

Noturno

Noturno 14 45

09-

(7 em

salas

anexas)

1065 390 56

Fonte: Questionários de Caracterização das Escolas (QCE)

4.3.3 Critérios de seleção dos sujeitos

Para a seleção dos sujeitos participantes da pesquisa, consideramos aqueles que

atendam os seguintes critérios:

professores que ministram aula de Matemática na 1ª e 2a Etapas da Educação de

Jovens e Adultos;

ser professor efetivo da Rede Municipal de Ensino de Cuiabá-MT;

aceitar ser sujeito de nossa pesquisa;

não ter se afastado da atividade docente no período de fevereiro à junho de 2011.

No entanto, tendo em vista que na 1ª e 2ª Etapas da Educação de Jovens e Adultos o

regime de atuação dos professores é de unidocência, não adotamos como critério de seleção a

formação superior específica em Matemática. Deste modo, encontramos quatro professores

que satisfazem a esses critérios, doravante denominados “Ricardo”, “Ana”, “Isabel”, “Maria”,

como forma de assegurar o sigilo em relação aos nomes dos professores e o anonimato dos

depoimentos prestados.

4.3.4 Caracterização dos sujeitos

Page 155: CONCEPÇÕES DE PROFESSORES EXPRESSAS NOS … · metodologia de investigação adotada foi a abordagem qualitativa de cunho interpretativo, na qual nos fundamentamos em Bogdan e Biklen

154

A caracterização dos sujeitos foi subdividida em dois quadros com o objetivo de fazer

uma caracterização mais ampla de cada um dos professores participantes da pesquisa. Para a

elaboração destes quadros foram utilizados os dados coletados por meio dos Questionários de

Caracterização dos professores (QCP) envolvidos nesse trabalho.

O Quadro 9 mostra a caracterização pessoal e a formação acadêmica dos sujeitos da

pesquisa.

Quadro 9 – Caracterização pessoal e acadêmica dos sujeitos da pesquisa

Fonte: Questionários de Caracterização dos Professores (QCP)

Como nos mostra o Quadro 9, temos em nossa pesquisa três sujeitos do sexo feminino

e um do sexo masculino, sendo que todos eles têm idade superior a 40 anos. Podemos

observar também que apenas um dos sujeitos investigados não possui formação superior em

Pedagogia, mas sim em Geografia. No entanto, seu trabalho com a 2ª Etapa da EJA se

justifica pela sua formação em nível médio para a docência, ou seja, magistério.

Ainda em relação à formação acadêmica, constatamos que a maioria dos sujeitos

concluiu o ensino superior em universidades particulares, com ressalva do professor Ricardo,

que concluiu o curso superior de Pedagogia na Universidade Federal de Mato Grosso.

O Quadro a seguir, mostra a caracterização das experiências profissionais de cada um

dos sujeitos da pesquisa, bem como a situação funcional na unidade escolar investigada.

ES

CO

LA

S IDENTIFICAÇÃO

DOS PROFESSORES

FORMAÇÃO ACADÊMICA

Graduação

Instituição

An

o d

e

con

clu

são

do

cu

rso

Pós-Graduação

Instituição An

o

de

con

clu

são

NOME

Ida

de

Sex

o

ES

CO

LA

BO

CA

IÚV

A

RICARDO

56

anos

M

Engenharia

Civil/

Pedagogia

UFMT

1997

Especialização-

Metodologia do

ensino da

Matemática

ICE-

IBPEX

2001

ANA 41

anos F Geografia UNIC 2002

Especialização-

não informou a

área

UNIC 2004

ES

CO

LA

CA

JU

ISABEL 52

anos F Pedagogia UNIC 1994

Especialização-

não informou a

área

ICE 1997

MARIA 49

anos F Pedagogia TUPÃ 1988

Especialização-

não informou a

área

TUPÃ 1991

Page 156: CONCEPÇÕES DE PROFESSORES EXPRESSAS NOS … · metodologia de investigação adotada foi a abordagem qualitativa de cunho interpretativo, na qual nos fundamentamos em Bogdan e Biklen

155

Quadro 10 – Caracterização das experiências profissionais dos sujeitos da pesquisa

ES

CO

LA

S

IDE

NT

IFIC

ÃO

DO

S P

RO

FE

SS

OR

ES

EXPERIÊNCIA PROFISSIONAL

Sit

ua

ção

Fu

nci

on

al

Eta

pa d

a E

JA

qu

e le

cio

na

Tem

po

de

do

cên

cia

Tem

po

de

do

cên

cia n

a E

JA

Jo

rnad

a d

e tr

ab

alh

o s

eman

al

Tu

rno

s d

e tr

ab

alh

o n

a E

sco

la

Qu

an

t. d

e a

ula

s d

e M

ate

tica

qu

e m

inis

tra

po

r se

man

a

Qu

na

tid

ad

e d

e a

lun

os

em

méd

ia p

or

turm

a

Tra

ba

lha

em

ou

tra

esc

ola

?

Em

qu

al

fun

ção

?

Ex

erce

ou

tra

pro

fiss

ão?

Qu

al?

ES

CO

LA

BO

CA

IÚV

A

RICARDO Efetivo

Etapa

25

anos

11

anos 20 h Noturno

03

aulas

20

alunos Não __ Sim

Engenheiro

Civil

ANA

Efetiva

Etapa

19

anos

04

Ano

s

20 h

Noturno

03

aulas

25

alunos

Não

__

Sim

Comerciante

ES

CO

LA

CA

JU

ISABEL

Efetiva

Etapa

24

anos

04

anos

20 h

Noturno

03

aulas

35

alunos

Não

__

Sim

Agente de

Desenvolv.

Econômico Social

MARIA Efetiva 2ª

Etapa

24

anos

05

anos 20 h

Noturno

03

aulas

35

alunos Sim Prof. ª Não __

Fonte: Questionários de Caracterização dos Professores (QCP)

De acordo com o Quadro 10, podemos observar que todos os professores pesquisados

são efetivos da Rede Municipal de Ensino da cidade de Cuiabá-MT, sendo que três

professores têm mais de vinte anos de docência, e um deles tem mais de dez anos de

experiência em trabalhar com a EJA.

Observamos também que três dos sujeitos investigados possuem outra atividade

profissional além da docência.

4.4 OS PROCEDIMENTOS E OS INSTRUMENTOS DA COLETA DE DADOS DA

PESQUISA

4.4.1 Procedimentos

Inicialmente realizamos visitas junto às Escolas Municipais selecionadas, onde

procedemos à apresentação do nosso projeto de pesquisa para os gestores. Em seguida,

depois que conseguimos a autorização dos diretores das unidades escolares, realizamos

contato com os sujeitos da pesquisa no intuito de apresentar os objetivos da investigação,

tendo em vista requerer e formalizar a autorização de cada um dos professores que atuam na

1a e 2

a Etapas da EJA, para que o desenvolvimento da pesquisa pudesse ser concretizado.

Page 157: CONCEPÇÕES DE PROFESSORES EXPRESSAS NOS … · metodologia de investigação adotada foi a abordagem qualitativa de cunho interpretativo, na qual nos fundamentamos em Bogdan e Biklen

156

4.4.2 Instrumentos da Coleta de Dados da Pesquisa

Em busca de responder nosso problema de pesquisa: que concepções revelam os

documentos escolares e as falas dos professores sobre os conteúdos e metodologias propostas

para o ensino e aprendizagem da Matemática na 1ª e 2ª Etapas da EJA, procuramos adotar

instrumentos diversificados para a coleta de dados, com o intuito de reunir elementos e

informações para dar subsídio ao nosso trabalho. A esse respeito, Fiorentini e Lorenzato

complementam que:

Há várias formas de interrogar a realidade e coletar informações. Algumas são mais

dirigidas [...] Outras são mais abertas [...] Todas essas técnicas têm suas vantagens e

desvantagens. O pesquisador, visando obter maior fidedignidade, pode lançar mão

de mais de uma técnica, procurando, assim, triangular informações (2006, p. 102).

Nesse sentido, visando o recolhimento das informações necessárias e na busca de uma

triangulação metodológica pela recorrência dos dados, selecionamos como instrumentos

questionários, entrevistas semiestruturadas e análise documental dos livros didáticos

utilizados pelos professores investigados, planejamentos anuais, planos de aula, Projeto

Político Pedagógico das escolas participantes da pesquisa e dos cadernos dos alunos dos

professores investigados que trabalham a Matemática na 1ª e 2ª Etapas da Educação de Jovens

e Adultos, pois de acordo Baraldi (1999, p.19), faz-se necessário que haja “a triangulação, ou

seja, a recorrência a uma variedade de dados, coletados em diferentes momentos, em

situações variadas, utilizando-se de recursos variados”.

4.4.2.1. Questionários

No que se refere à utilização de questionários como instrumento de coleta de dados da

pesquisa, Fiorentini e Lorenzato (2006), afirmam que os questionários são os instrumentos

mais tradicionais na coleta de dados, utilizados na maioria das vezes na fase inicial e

exploratória da pesquisa, tendo a finalidade de, além de descrever os participantes da

pesquisa, coletar o maior número de dados que possibilitem o confronto posterior das

informações. A luz desse entendimento, Meyer (1978, apud PAULA, 2010) complementa

que:

O fato de se formular aos sujeitos perguntas específicas, cada uma das quais se

referindo a um aspecto específico do problema que se deseja investigar, permite que

Page 158: CONCEPÇÕES DE PROFESSORES EXPRESSAS NOS … · metodologia de investigação adotada foi a abordagem qualitativa de cunho interpretativo, na qual nos fundamentamos em Bogdan e Biklen

157

as respostas tenham uma maior objetividade e exatidão e que seja mais fácil para o

investigador agrupá-las em categorias estandartes (p. 193).

Em nossa investigação, os questionários foram elaborados e aplicados com o intuito de

traçar o perfil das escolas, dos sujeitos e de suas concepções acerca dos conteúdos e

metodologias propostas para o ensino e aprendizagem da Matemática na 1ª e 2ª Etapas da

Educação de Jovens e Adultos. O quadro abaixo mostra os questionários utilizados e suas

finalidades específicas no desenvolvimento da pesquisa.

Quadro 11- Questionários e suas finalidades

QUESTIONÁRIOS ORGANIZAÇÃO E FINALIDADES

Questionário de Caracterização da Escola (QCE) – (Apêndice I)

Constituído de questões fechadas, teve como objetivo

obter informações sobre a estrutura e o funcionamento

das escolas que fazem parte do universo da pesquisa.

Questionário de Caracterização do

Professor (QCP) – (Apêndice II)

Elaborado com questões fechadas, teve como objetivo

elucidar algumas informações pessoais, formação

acadêmica e experiência profissional dos sujeitos da

pesquisa.

Questionário 2 – Q2 (Bloco I- Educação de

Jovens e Adultos e Formação Inicial e

Continuada de professores que trabalham a

Matemática na 1ª e 2ª Etapas da EJA) –

(Apêndice III)

Organizado com perguntas abertas, sua principal

finalidade foi investigar sobre as concepções de EJA e

suas especificidades enquanto modalidade de ensino,

bem como averiguar a formação inicial e continuada

recebida pelos professores participantes da pesquisa que

atuam na 1ª e 2ª Etapas da Educação de Jovens e Adultos.

Questionário 3 – Q3-A (Bloco II – Ensino

de Matemática na 1ª e 2ª Etapas da

Educação de Jovens e Adultos) – (Apêndice

IV)

Constituído de questões abertas, procurou-se investigar

alguns aspectos de como os sujeitos da pesquisa

concebem acerca do quê e do como os professores

trabalham a Matemática no âmbito da 1ª e 2ª Etapas da

Educação de Jovens e Adultos.

Questionário 4 – Q3-B (Bloco II - Ensino

de Matemática na 1ª e 2ª Etapas da

Educação de Jovens e Adultos) – (Apêndice

V)

Organizado com questões abertas, buscamos investigar

alguns aspectos de como os sujeitos da pesquisa

concebem acerca do quê e do como os professores

trabalham a Matemática no âmbito da 1ª e 2ª Etapas da

Educação de Jovens e Adultos.

Fonte: As autoras (2012)

4.4.2.2 Análise Documental

Para complementação dos dados, utilizamos a técnica de análise documental em nossa

investigação, fundamentada em Lüdke e André. Para as autoras, a análise documental “pode

se constituir numa técnica valiosa na abordagem de dados qualitativos, seja complementando

as informações obtidas por outras técnicas, seja desvelando aspectos novos de um tema ou

problema” (1986, p. 38).

Nesse sentido, são considerados documentos, de acordo com a definição de Phillips

(apud, LÜDKE e ANDRE, 1986, p. 38), “quaisquer materiais escritos que possam ser usados

como fonte de informação sobre o comportamento humano”. Em nossa pesquisa, cujo

Page 159: CONCEPÇÕES DE PROFESSORES EXPRESSAS NOS … · metodologia de investigação adotada foi a abordagem qualitativa de cunho interpretativo, na qual nos fundamentamos em Bogdan e Biklen

158

objetivo é interpretar o que revelam os documentos escolares e as falas dos professores sobre

os conteúdos e metodologias propostas para o ensino e aprendizagem da Matemática na 1ª e

2ª Etapas da EJA, a análise documental se justifica, pois de acordo com Lüdke e André, a

maior finalidade da análise documental é “fazer inferência sobre os valores, os sentimentos, as

intenções e a ideologia das fontes ou dos autores dos documentos” (1986, p. 40).

Diante disso, realizamos a análise dos documentos escolares, cujo principal objetivo

foi investigar e compreender melhor que concepções revelam tais documentos quanto aos

conteúdos e metodologias propostas para o ensino e aprendizagem da Matemática na 1ª e 2ª

Etapas da EJA. Dessa forma, primeiramente analisamos a Matriz Curricular da Secretaria

Municipal de Ensino de Cuiabá e em seguida, o Projeto Político Pedagógico das escolas

investigadas, o planejamento anual e os planos de aula de Matemática elaborados pelos

professores investigados, os livros didáticos utilizados pelos sujeitos no planejamento das

aulas de Matemática para a 1ª e 2ª Etapas da EJA, e os cadernos dos alunos dos sujeitos de

nossa investigação.

Essa técnica de coleta de dados irá nos possibilitar a realização de leitura crítica e

analítica dos registros das instituições escolares e dos professores sujeitos de nossa pesquisa,

bem como da legislação que fundamenta e regulamenta a modalidade de EJA nos sistemas

educacionais.

Para auxiliar na análise documental, utilizamos uma ficha que denominamos Ficha de

Registro (em anexo na página 313). Nesta ficha, buscamos sintetizar e sistematizar as

informações levantadas por meio da análise dos documentos escolares acerca de que

concepções revelam os documentos escolares e as falas dos professores sobre os conteúdos e

metodologias propostas para o ensino e aprendizagem da Matemática na 1ª e 2ª Etapas da

Educação de Jovens e Adultos.

4.4.2.3 Entrevistas

Para a coleta de dados de nossa pesquisa, além da utilização de instrumentos como

aplicação de questionários e análise documental, utilizamos entrevistas semiestruturadas, que

são aquelas nas quais “o entrevistador faz perguntas específicas, mas também deixa que o

entrevistado responda em seus próprios termos” (ALVES-MAZZOTTI e

GEWANDSZNAJDER, 2004, p. 168).

As entrevistas têm por objetivo esclarecer e aprofundar aspectos levantados por outros

instrumentos na coleta de dados, e são reconhecidas como um dos procedimentos mais usuais

Page 160: CONCEPÇÕES DE PROFESSORES EXPRESSAS NOS … · metodologia de investigação adotada foi a abordagem qualitativa de cunho interpretativo, na qual nos fundamentamos em Bogdan e Biklen

159

no trabalho de campo na pesquisa qualitativa (FIORENTINI e LORENZATO, 2006), bem

como um dos principais recursos que o investigador qualitativo possui para realizar sua coleta

de informações (TRIVIÑOS, 1987).

Assim, as entrevistas são utilizadas para “recolher dados descritivos na linguagem do

próprio sujeito, permitindo o investigador desenvolver intuitivamente uma ideia sobre a

maneira como os sujeitos interpretam aspectos do mundo” (BOGDAN e BIKLEN, 1994, p.

134). Além disso, por meio da entrevista, podemos obter dados subjetivos, pois se relacionam

com os valores, às atitudes e as opiniões dos sujeitos entrevistados.

Diante disso, uma das principais vantagens em realizar entrevistas, segundo Lüdke e

Andre (1986) é atingir informantes que não poderiam ser atingidos por outros meios de

investigação, como é o caso de pessoas com pouca instrução formal, para as quais a aplicação

de um questionário escrito seria inviável. Ainda nessa discussão, Severino afirma que é uma

“técnica de coleta de informações sobre um determinado assunto, diretamente solicitada aos

sujeitos pesquisados. Trata-se, portanto, de uma interação entre pesquisador e pesquisado”

(2007, p. 124).

Ainda nessa discussão, de acordo com Lüdke e Andre (1997, p. 34), “a grande

vantagem da entrevista sobre outras técnicas é que ela permite a captação imediata e corrente

da informação desejada, praticamente com qualquer tipo de informante e sobre os mais

variados tópicos”.

No entanto, Bourdieu (1997) afirma que devemos ter o cuidado de não direcionar a

investigação de acordo com nossos pressupostos pessoais para não interferir no resultado,

pois a pesquisa pode sofrer variações e distorções, alterando o sentido pela interpretação do

pesquisador, sendo que estas devem ser reconhecidas e dominadas. Ainda, para o autor, a

partir da reflexividade somos capazes de perceber e controlar durante as entrevistas no campo

os efeitos da sociedade na qual se realiza a pesquisa.

Durante a entrevista, o pesquisador necessita prestar atenção na fala do entrevistado,

estar sempre atento e emitir sinais de entendimento e de estímulo, com gestos, acenos de

cabeça, olhares e também sinais verbais como de agradecimento e de incentivo, pois o

pesquisado deve notar que o entrevistador está atento escutando a sua narrativa. Entretanto,

deve intervir o mínimo possível para não quebrar a sequência de pensamento do entrevistado.

Em relação às informações prévias que o pesquisador levanta antes da entrevista em

relação ao pesquisado, Bourdieu (1997) alega que estas o ajudam a improvisar perguntas

relacionadas à investigação, contribuindo para que o entrevistado revele-se mais inteiramente

durante a entrevista.

Page 161: CONCEPÇÕES DE PROFESSORES EXPRESSAS NOS … · metodologia de investigação adotada foi a abordagem qualitativa de cunho interpretativo, na qual nos fundamentamos em Bogdan e Biklen

160

No entanto, Bourdieu (1997) fala que muitas vezes a relação social entre o pesquisador

e o pesquisado produz um efeito de repreensão muito forte, redobrado pela presença do

gravador, cujo recurso será utilizado em nossa investigação durante a entrevista, e que em

alguns casos pode causar inibição e constrangimento ao entrevistado, bem como tornar

inconfessáveis certas opiniões do pesquisado. Ou ainda em outros casos, o pesquisado poderá

adotar um papel que não é o seu, assumindo um personagem que nada tem a ver com ele, ou

seja, ele pode incorporar o personagem que ele acha que o pesquisador quer ouvir. Sendo

assim, consciente ou inconscientemente o pesquisado estará tentando enganar o pesquisador,

que deve estar atento a esses sinais.

Bourdieu (1997) afirma que durante as entrevistas, o entrevistador deve criar

condições para que o pesquisado possa falar sem constrangimento, mantendo um clima

agradável, favorecendo um bom discurso por parte do pesquisador, pois geralmente os

entrevistados mais carentes afetivamente gostam desse momento, onde se sentem valorizados

por terem alguém escutando suas opiniões, a maneira como veem o mundo, proporcionando

sensações de alívio e realização, originando sentimentos como felicidade.

Assim, ao optarmos pela utilização do gravador como recurso durante as entrevistas,

Bourdieu (1997) aponta algumas sugestões para a transcrição das mesmas, que é parte

integrante da metodologia de nosso trabalho de pesquisa. Para o autor, a transcrição não é só o

ato mecânico de passar para o papel o discurso gravado do pesquisado, pois, de alguma forma

o pesquisador tem que apresentar as manifestações que o pesquisado demonstrar durante a

entrevista. Esses “sentimentos” que não passam pela fita do gravador são muito importantes

na hora da análise, eles mostram muita coisa de quem está se pesquisando. Dessa forma, o

pesquisador ao transcrever um discurso gravado deve ser muito fiel às revelações do

entrevistado, não somente na fala, mas em suas entonações, o que torna muitas vezes difícil

de conciliar.

Em nossa investigação, as entrevistas foram realizadas por meio de um diálogo aberto,

com o objetivo de esclarecer o que revelam as falas dos professores sobre os conteúdos e as

metodologias propostas para o ensino e aprendizagem da Matemática na 1ª e 2ª Etapas da EJA

em Escolas municipais de Cuiabá/MT. Dessa forma, elaboramos um roteiro básico (pág. 314)

com interrogações subjetivas que abordam possíveis aproximações e distanciamentos entre o

que foi evidenciado nos questionários pelos sujeitos da pesquisa e o que foi compreendido

mediante a análise documental. Assim, de acordo com Bogdan e Biklen (1994, p. 135), com

esse tipo de entrevistas teremos certeza de que obteremos dados comparáveis entre os vários

sujeitos investigados.

Page 162: CONCEPÇÕES DE PROFESSORES EXPRESSAS NOS … · metodologia de investigação adotada foi a abordagem qualitativa de cunho interpretativo, na qual nos fundamentamos em Bogdan e Biklen

161

4.5 – ORGANIZAÇÃO PARA A LEITURA DOS DADOS

Destacamos que as concepções dos professores investigados sobre a Educação de

Jovens e Adultos, o Ensino da Matemática na EJA, e os conteúdos e metodologias propostas

para o ensino e aprendizagem da Matemática para a 1ª e 2ª Etapas da EJA registradas nos

questionários Q2, Q3-A e Q3-B, ao serem citadas em nosso trabalho, serão identificadas, em

alguns momentos, por meio da sigla do questionário seguida do número da questão

correspondente e do pseudônimo do professor que a respondeu.

Por exemplo: (Q2-5 – Ana) que corresponde à resposta da quinta questão do

questionário 2 (Q2) Bloco I- Educação de Jovens e Adultos e Formação Inicial e Continuada

de Professores que trabalham a Matemática na 1ª e 2ª Etapas da EJA, respondida pela

professora identificada pelo nome fictício de Ana.

No que diz respeito aos documentos analisados, identificaremos o tipo de documento,

assim como, o nome do professor e a escola ao qual ele pertence:

(PPP) Plano Político Pedagógico seguido do nome da escola investigada. Por

exemplo: (PPP- Bocaiúva)

(PLA) Planejamento Anual do professor mais a identificação do nome do professor

sujeito da pesquisa. Por exemplo: (PLA- Ricardo)

(PA) Planos de aula do professor seguidos do nome do sujeito investigado. Por

exemplo: (PA- Isabel)

(MC) Matriz Curricular elaborada pela Secretaria Municipal de Educação de Cuiabá-

MT

(LD) Livro Didático LD, seguido do autor do livro e do nome do professor que o

utiliza.

(CA) Caderno de aluno, seguido do nome do professor investigado.

Já as informações provenientes das entrevistas, quando utilizadas em nosso trabalho,

serão representadas pela letra E (Entrevista) seguida do pseudônimo do professor

entrevistado. Por exemplo: (E- Maria), corresponde à fala da professora Maria na entrevista.

4.6 – CATEGORIAS PARA A ANÁLISE

Lüdke e André (1986) mencionam que o primeiro passo na análise é a construção de

categorias descritivas. Desta forma, seguindo esta indicação, após a construção dos capítulos

Page 163: CONCEPÇÕES DE PROFESSORES EXPRESSAS NOS … · metodologia de investigação adotada foi a abordagem qualitativa de cunho interpretativo, na qual nos fundamentamos em Bogdan e Biklen

162

teóricos sobre o tema de nossa investigação e a coleta das informações nos questionários

respondidos pelos sujeitos participantes da pesquisa e nos documentos escolares, decidimos

por analisar os dados obtidos a partir de categorias.

Para tanto, em consonância com o objeto de nossa investigação, que se refere às

concepções dos professores investigados quanto aos conteúdos e metodologias propostas para

o ensino e aprendizagem da Matemática na 1ª e 2ª Etapas da EJA, organizamos nossa análise

por Escolas, com o objetivo de evidenciar possíveis aproximações ou distanciamentos entre as

duas perspectivas levantadas.

Portanto, esboçamos nossa análise de dados com base entre duas perspectivas

distintas, sendo elas, Educação Bancária e Educação Emancipadora, cujas principais

características se encontram nos Quadros 3 (sobre as características da EJA) e 4 (referente à

Educação Matemática) destacados no primeiro e no segundo capítulo desse trabalho.

Perspectiva da “Educação Bancária”

Compreendemos a Educação de Jovens e Adultos e a Educação Matemática na

perspectiva da Educação Bancária, como Paulo Freire caracterizava o modelo tradicional de

ensino, onde a EJA é concebida como repositora da escolaridade formal, ou seja, como uma

educação compensatória, cuja finalidade é suprir a oferta de ensino para os Jovens e Adultos

que não estudaram em idade regular.

Além disso, nessa perspectiva, o ensino oferecido aos Jovens e Adultos é infantilizado,

não possuindo proposta pedagógica direcionada às especificidades de seu público e nem a

preocupação em formar cidadãos críticos, negando a Educação e o conhecimento como

processos de busca, bem como os conhecimentos prévios dos educandos, admitindo apenas a

educação formal (escolar). Outro ponto é em relação às práticas pedagógicas que são voltadas

exclusivamente para a difusão de conhecimentos, onde a Matemática é vista como pronta e

acabada, desprovida de significados, em que são considerados apenas os conhecimentos

formais. Já o currículo, é concebido nessa perspectiva como sequencial e rígido, sem

flexibilidade.

Nesse contexto, o ensino da Matemática é considerado conteudista e formal, em que

os professores escolhem e impõe os conteúdos programáticos aos seus alunos, que por sua vez

não participam da seleção dos mesmos, e muito menos no planejamento das atividades a

serem desenvolvidas. Ademais, nessa concepção, o ensino é transmitido de forma livresca,

Page 164: CONCEPÇÕES DE PROFESSORES EXPRESSAS NOS … · metodologia de investigação adotada foi a abordagem qualitativa de cunho interpretativo, na qual nos fundamentamos em Bogdan e Biklen

163

sendo utilizado apenas como material didático o quadro-negro, livros didáticos, caderno e o

giz, e a avaliação, por sua vez, é realizada por meio de exercícios, testes e provas.

Perspectiva da “Educação Emancipadora”

A “Educação Emancipadora” refere-se à perspectiva de Educação que compreende a

Educação de Jovens e Adultos como uma modalidade necessária, que visa incluir os

educandos na sociedade, considerando a diversidade e as especificidades de seu público, além

de compreender que a Educação é um direito de todos, atuando com a finalidade de reparar,

equalizar e qualificar.

Ademais, nessa concepção da EJA, a Educação deve ser um processo que leva o

indivíduo a reconhecer não só a sua condição de sujeito no mundo, mas, também, a sua

condição de agente que cria e transforma o mundo (FREIRE, 1987). Dessa forma, as

experiências e os conhecimentos prévios são respeitados e considerados no processo de

ensino-aprendizagem da Matemática, valorizando assim a “leitura do mundo” dos educandos

e proporcionando o exame crítico da realidade. Assim, a EJA nessa perspectiva apoia a

flexibilização da organização escolar, do currículo, dos tempos e dos ambientes de

aprendizagem.

Já a Matemática é compreendida por outro significado, em que é empregada como

uma Educação preocupada em promover a cidadania e com o desenvolvimento dos educandos

de modo a incluí-los no processo sócio-educacional, considerando a diversidade e as

especificidades de seu público, no caso da EJA, Jovens e Adultos. Além disso, o

conhecimento matemático não é visto como pronto e acabado, mas sim, estabelecido pela

interação do homem, com o meio e com as relações sociais, e os alunos, por sua vez, são

ouvidos pelos professores na escolha dos conteúdos e no planejamento das atividades a serem

trabalhadas de Matemática.

No entanto, quando levantamos essas categorias, não temos o intuito de engessar os

sujeitos investigados no sentido de enquadrá-los em uma ou outra perspectiva, mas de

compreender o que revelam as falas dos professores e os documentos escolares sobre os

conteúdos e as metodologias propostas para o ensino e aprendizagem da Matemática na 1ª e 2ª

Etapas da Educação de Jovens e Adultos, pois admitimos que tais concepções se fazem

presentes nas práticas de todos nós educadores.

Dessa forma, o que fazemos é apenas dizer que a postura de determinado sujeito tende

em algumas situações a demonstrar certas características de determinadas perspectivas. Além

Page 165: CONCEPÇÕES DE PROFESSORES EXPRESSAS NOS … · metodologia de investigação adotada foi a abordagem qualitativa de cunho interpretativo, na qual nos fundamentamos em Bogdan e Biklen

164

disso, não existe um sujeito que tenda a uma única postura, o que percebemos é certa

convergência a uma das perspectivas, ou até mesmo, uma transitividade dos sujeitos entre

elas, pois o que os professores investigados discorrem são fragmentos de vários discursos.

Page 166: CONCEPÇÕES DE PROFESSORES EXPRESSAS NOS … · metodologia de investigação adotada foi a abordagem qualitativa de cunho interpretativo, na qual nos fundamentamos em Bogdan e Biklen

165

5. APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS DA PESQUISA

“O que é realmente falado constitui os dados, mas a análise deve ir

além da aceitação deste valor aparente”.

(BAUER e GASKELL, 2002, p. 85)

Pelo motivo de nossa investigação ter sido amparada metodologicamente por uma

abordagem qualitativa, que considera as especificidades do ambiente educacional, todas as

informações, independente de qual tenha sido o instrumento de coleta utilizado no decorrer da

investigação foram detalhadamente analisadas e interpretadas, com o intuito de compreender

nas falas dos professores investigados e nos registros dos documentos escolares, que

concepções revelam os conteúdos e as metodologias propostas para o ensino e aprendizagem

da Matemática na 1ª e 2ª Etapas da Educação de Jovens e Adultos em Escolas municipais de

Cuiabá-MT.

Para tanto, apresentamos nossa análise por Escolas, onde interpretamos as concepções

dos professores investigados sobre: a Educação de Jovens e Adultos; o Ensino de Matemática

no Primeiro Segmento da EJA; os conteúdos e as metodologias propostas para o ensino e a

aprendizagem da Matemática no Primeiro Segmento da Educação de Jovens e Adultos. Além

disso, buscamos compreender a formação inicial e continuada dos sujeitos investigados para

atuarem na Educação de Jovens e Adultos. Deste modo, para cada escola investigada,

apresentamos o que os dados nos revelam segundo a recorrência nos três instrumentos de

coleta utilizados: documentos escolares, questionários e entrevistas.

Portanto, compreender as concepções dos professores configura-se de suma

importância para responder nosso problema de pesquisa, principalmente porque tais

concepções, em nosso entendimento, apresentam implicações diretas nos conteúdos e

metodologias propostas para o ensino e aprendizagem da Matemática na 1ª e 2ª Etapas da

Educação de Jovens e Adultos.

Porém, não é nossa intenção ao analisar os dados da pesquisa fazer juízo de valor, pois

buscamos apenas compreender o que as falas dos professores investigados e os seus

documentos escolares podem revelar. Para tanto, utilizamos como apoio nosso referencial

teórico e as categorias de análise anteriormente apresentadas, desenvolvendo a análise de tal

forma que se estabeleça num diálogo entre teóricos, sujeitos investigados e pesquisador.

Dessa forma, utilizamos fragmentos das falas dos sujeitos anunciados tanto nos

questionários como nas entrevistas, além de dados coletados em outras ocasiões informais

Page 167: CONCEPÇÕES DE PROFESSORES EXPRESSAS NOS … · metodologia de investigação adotada foi a abordagem qualitativa de cunho interpretativo, na qual nos fundamentamos em Bogdan e Biklen

166

com os professores. Esses fragmentos não estarão sempre juntos no texto, aparecerão somente

quando for necessário no diálogo reflexivo. Desse modo, esta é uma estratégia que será

utilizada com a intenção de promover o destaque de recorrências, similaridades e contradições

dos dados. Além disso, ao final da análise de cada bloco, apresentamos nossas considerações

a respeito das concepções dos professores procurando reconhecer possíveis aproximações ou

distanciamentos entre as perspectivas instituídas como categorias de análise dessa pesquisa.

5.1- ESCOLA BOCAIÚVA

Na Escola Bocaiúva, temos como sujeitos de nossa pesquisa o professor Ricardo, cuja

formação superior é em Engenharia Civil e Pedagogia, que leciona na 1ª Etapa da EJA, e a

professora Ana, licenciada em Geografia, que atua na 2ª Etapa da Educação de Jovens e

Adultos, sendo ambos efetivos da Rede Municipal de Ensino de Cuiabá-MT.

5.1.1 – Bloco 1- Concepções Gerais dos Professores Investigados

Nesse momento, apresentamos a análise das falas dos sujeitos da Escola Bocaiúva

sobre as concepções gerais expressas nos questionários Q2, Q3-A e Q3-B e nas entrevistas

acerca da Educação de Jovens e Adultos e de Ensino de Matemática na EJA. Trazemos

também algumas considerações sobre a formação inicial e continuada dos sujeitos para

atuarem na EJA. Deste modo, analisamos as respostas dos professores Ricardo e Ana

simultaneamente buscando identificar nos dados aproximações, recorrências, divergências ou

pontos relevantes em relação à problemática de nossa pesquisa.

a) Concepções sobre a Educação de Jovens e Adultos

Quadro 12 - Relatos dos professores Ricardo e Ana em relação à Educação de Jovens e Adultos

Pergunta nº 1 Professor (a) Relatos expressivos

Você considera a Educação de

Jovens e Adultos uma modalidade

necessária? Por quê?

Ricardo

Sim, devido à necessidade de resgatar as pessoas

que por diversos motivos não conseguiram

estudar e/ou complementar seus estudos. (Q2-1)

Ana

Sim, para oportunizar a todo cidadão meios de

crescimento intelectual e uma efetiva

participação na sociedade. (Q2-1)

Page 168: CONCEPÇÕES DE PROFESSORES EXPRESSAS NOS … · metodologia de investigação adotada foi a abordagem qualitativa de cunho interpretativo, na qual nos fundamentamos em Bogdan e Biklen

167

Pergunta nº 2 Professor (a) Relatos expressivos

Para você, qual é a função da EJA

enquanto modalidade de ensino?

Ricardo Equilibrar o conhecimento da população como

um todo (resgate da cidadania). (Q2-2)

Ana

Ser um mediador para que as pessoas tenham

oportunidade de concluir legalmente a educação

formal, transmitida pela escola. (Q2-2)

Pergunta nº 3 Professor (a) Relatos expressivos

O que diferencia a EJA das demais

modalidades de ensino?

Ricardo

É uma modalidade com características próprias,

que leva em consideração as experiências

trazidas pelos alunos (trabalhadores) da sua vida

cotidiana. (Q2-3)

Ana

O tempo, pois a clientela da EJA precisa, a todo

momento, aproveitar a oportunidade que lhe é

oferecida, num espaço de tempo menor que o

regular. (Q2-3)

Fonte: Questionários e Entrevistas com os professores investigados

Percebemos que os professores da Escola Bocaiúva consideram recorrentemente a

EJA como uma modalidade de ensino que tem por finalidade suprir, compensar e garantir a

educação formal de Jovens e Adultos que estiveram afastados dos bancos escolares em idade

regular. Compreendemos também que Ana, assim como o professor investigado, entende que

tal modalidade de ensino deve promover o resgate da cidadania para que os estudantes Jovens

e Adultos realmente tenham uma participação efetiva na sociedade. Nesse sentido, a Proposta

Curricular para o Primeiro Segmento da Educação de Jovens e Adultos complementa a fala de

Ana, ao prever a escola como “um espaço especialmente propício para a educação da

cidadania: um espaço para se aprender a cuidar dos bens coletivos, discutir e participar

democraticamente, desenvolver a responsabilidade pessoal pelo bem-estar comum” (BRASIL,

2001, p. 46).

Ricardo destacou ainda a importância de considerar e utilizar os conhecimentos

prévios dos estudantes na EJA como uma das principais características que diferenciam a EJA

do Ensino Regular, valorizando assim a “leitura do mundo” dos educandos. (FREIRE, 1987).

A esse respeito, os Parâmetros Curriculares Nacionais afirmam:

Existe, portanto, um conhecimento formado a partir da elaboração de uma série de

situações vividas, proveniente de várias fontes, que informa e que servem de base

para o desenvolvimento de noções, atitudes e valores. Esses conhecimentos iniciais,

extra-escolares e apreendidos de modo informal são muito persistentes [...]

(BRASIL, 1998, p. 363).

Além disso, o professor investigado considera as especificidades da modalidade como

uma das principais diferenças da EJA com o Ensino Regular. Concordamos com Ricardo,

pois essa modalidade é repleta de características peculiares, destacando-se a heterogeneidade,

Page 169: CONCEPÇÕES DE PROFESSORES EXPRESSAS NOS … · metodologia de investigação adotada foi a abordagem qualitativa de cunho interpretativo, na qual nos fundamentamos em Bogdan e Biklen

168

a diversidade de faixa etária, as diferentes visões de mundo, os conhecimentos prévios e os

variados modos de estruturar e organizar o pensamento.

Já Ana nos informa que o tempo é a principal diferença entre a EJA e as demais

modalidades de ensino. Além disso, a professora investigada afirma que “o tempo do EJA tem

que ser reduzido mesmo... Então você vai querer que o adulto com quarenta anos tenha um

ano só pra avançar uma alfabetização? Depois ele vai se formar só com sessenta anos. Pra

que isso? Não. O importante pra ele é ter o título. Olha aí, concluiu o Ensino Médio...

parabéns! Em quanto tempo? Quatro anos. Seis anos no máximo. Então eu acho positiva essa

questão do tempo. Avançar dois anos em um, e aquele que é mais, assim... esperto, mais

inteligente, mais rápido no raciocínio poderia até avançar mais, porque o importante pra ele

é o título” (E- Ana).

Concordamos com a professora investigada, pois a nosso ver a flexibilidade do tempo

na EJA é uma conquista para a modalidade, sendo fruto de muitas discussões entre

especialistas e pesquisadores. A esse respeito, o Parecer 11/2000 declara que:

A flexibilidade curricular deve significar um momento de aproveitamento das

experiências diversas que estes alunos trazem consigo como, por exemplo, os modos

pelos quais eles trabalham seus tempos e seu cotidiano. A flexibilidade poderá

atender a esta tipificação do tempo mediante módulos, combinações entre ensino

presencial e não–presencial e uma sintonia com temas da vida cotidiana dos alunos,

a fim de que possam se tornar elementos geradores de um currículo pertinente

(CONSELHO NACIONAL DE EDUCAÇÃO, 2000, p. 29).

Contudo, acreditamos que o tempo não é a única característica que distingue a

Educação de Jovens e Adultos das demais modalidades, pois na EJA as especificidades do

público Jovem e Adulto devem ser consideradas como um diferencial entre o processo

educacional nessa modalidade e o Ensino Regular.

Observamos também que para Ana o sentido da EJA está numa modalidade de ensino

como espaço para os estudantes receberem certificação, que num percurso “normal” não foi

oportunizada. Reconhecemos a importância e o valor social dos certificados para os

estudantes Jovens e Adultos, mas restringir os processos formativos da EJA ao propósito da

certificação é muito controverso do ponto de vista pedagógico e político, sendo que a EJA

tem como principais funções: promover à entrada de jovens e adultos no âmbito dos direitos

civis; conceber a equidade de oportunidades que possibilite oferecer aos cidadãos novas

inserções no mundo do trabalho e nas demais vias de participação na sociedade; garantir o

direito à educação permanente, fundamentada no caráter inacabado do ser humano

(CONSELHO NACIONAL DE EDUCAÇÃO, 2000).

Page 170: CONCEPÇÕES DE PROFESSORES EXPRESSAS NOS … · metodologia de investigação adotada foi a abordagem qualitativa de cunho interpretativo, na qual nos fundamentamos em Bogdan e Biklen

169

Desse modo, percebemos que mesmo que as concepções dos professores da Escola

Bocaiúva transitem entre as perspectivas Bancária e Emancipadora de EJA, pois ora

defendem uma Educação voltada para a construção da cidadania, em que as experiências dos

educandos devem ser respeitadas no processo educacional, e em outros momentos concebem

a EJA como simples repositora da escolaridade formal. Entendemos que as concepções de

Ricardo e Ana se aproximam mais da perspectiva Bancária de Educação de Jovens e Adultos.

b) Concepções sobre o Ensino de Matemática no Primeiro Segmento da Educação de Jovens e

Adultos

Quadro 13 - Relatos dos professores Ricardo e Ana sobre o Ensino de Matemática no Primeiro Segmento da

Educação de Jovens e Adultos

Pergunta nº 1 Professor (a) Relatos expressivos

Para você, é importante ensinar

Matemática no Primeiro Segmento

da EJA? Por quê?

Ricardo

Sim, há necessidade que os alunos dessa

modalidade tenham um conhecimento mais

apurado da lógica nos fenômenos físicos. (Q3-A-1)

Ana É muitíssimo importante, principalmente o domínio

das quatro operações. Depois gráfico, tabelas e

incentivos para a interpretação. (Q3-A-1)

Pergunta nº 2 Professor (a) Relatos expressivos

O que deve considerar o professor

ao planejar sua aula de Matemática

para o Primeiro Segmento da EJA?

Ricardo As experiências já exercidas pelos alunos ao longo

de suas vidas. (Q3-A-2)

Ana

Primeiro diagnosticar o grau de conhecimento da

turma, depois priorizar a maior dificuldade da sala

desenvolvendo atividades variadas, porém focando

o objetivo principal. (Q3-A-2)

Pergunta nº 3 Professor (a) Relatos expressivos

Que participação tem seus alunos

no planejamento que você realiza

para o desenvolvimento de seu

trabalho docente na EJA?

Ricardo Na manifestação das suas experiências vividas, na

forma prática do cotidiano. (Q3-A-4)

Ana

A participação deles no planejamento é quando nas

conversas informais percebo certa dificuldade ou

necessidade de aprender algo devido à exigência

do trabalho. (Q3-A-4)

A gente pega o que está comentando na sala.

Aconteceu um problema na sociedade, a gente pega

aquele pedacinho e começa então a voltar o

assunto na intenção de levar eles calcularem,

aquele assunto já trabalhado, ou aquele assunto

que tá circulando na sociedade, no bairro... porque

quase sempre o adulto ele acha assim: Ah! Você é

quem sabe, o professor é que sabe. Deixam assim

pra gente... Eles confiam, o adulto confia. Tem

muito adulto assim que desconfia, mas a maioria

ele acredita no professor e ele respeita diferente da

criança... (Entrevista)

Page 171: CONCEPÇÕES DE PROFESSORES EXPRESSAS NOS … · metodologia de investigação adotada foi a abordagem qualitativa de cunho interpretativo, na qual nos fundamentamos em Bogdan e Biklen

170

Pergunta nº 4 Professor (a) Relatos expressivos

Você se baseia na Proposta

Curricular para o Primeiro

Segmento da EJA para elaborar

seus planejamentos de aula de

Matemática? De que maneira?

Ricardo Sim, nos descritores a serem atingidos na forma

adequada da modalidade. (Q3-B-4)

Ana

Minhas aulas são planejadas de acordo com os

descritores propostos pela Matriz Curricular da

rede municipal para o ensino do EJA na 2ª Etapa.

(Q3-B-4)

Fonte: Questionários e Entrevistas com os professores investigados

Os professores da Escola Bocaiúva avaliam ser importante ensinar Matemática no

Primeiro Segmento da EJA. Ana dá ênfase ao ensino de conteúdos nessa modalidade, nos

levando ao entendimento de que rege um processo de ensino e aprendizagem em Matemática

na 2ª Etapa da EJA focada em conteúdos específicos, que são tomados como fins do processo

educacional.

A perspectiva Bancária de Educação Matemática é percebida, quando os professores

não relacionaram a Matemática à construção da cidadania, sendo esta uma ação essencial no

ensino da Matemática na Educação de Jovens e Adultos, bem como, quando não indicaram

uma efetiva participação de seus alunos no planejamento das aulas, ou seja, nas reflexões, nas

discussões, nas decisões e em outros aspectos sobre o que deve ser aprendido nessa disciplina.

Entretanto, percebemos que os professores investigados aproximam-se de uma

concepção Emancipadora de Educação Matemática ao revelarem que esse ensino deve

reconhecer as experiências dos alunos e deve principiar sempre do diagnóstico da turma, com

o objetivo de investigar as dificuldades e as reais necessidades dos educandos, e assim

desenvolver um trabalho de acordo com os anseios e especificidades de seus alunos. Ao

abordar a problemática envolvida nessa questão, Freire também lembra que:

Simplesmente, não podemos chegar aos operários, urbanos ou camponeses, estes, de

modo geral, imersos num contexto colonial, quase umbilicalmente ligados ao mundo

da natureza de que se sentem mais partes que transformadores, para, à maneira da

educação ´bancária`,entregar-lhes ´conhecimento` ou impor-lhes um modelo de bom

homem, contido no programa cujo conteúdo nós mesmos organizamos (2005, p. 97).

Entretanto, tanto Ricardo quanto Ana, não revelam efetivamente quando e como seus

alunos participam da escolha dos temas e de outros elementos importantes a serem

trabalhados em sala de aula. Eles dizem apenas considerar na dinâmica do processo de ensino,

em conversas informais, suas experiências, dificuldades e necessidades, não garantindo assim

a efetiva participação dos alunos no planejamento das aulas, pois de acordo com Vasconcellos

(2007, p. 94), “a participação deve se dar em todas as instâncias: sensibilização, discussão,

decisão, colocação em prática, avaliação e frutos do trabalho”.

Page 172: CONCEPÇÕES DE PROFESSORES EXPRESSAS NOS … · metodologia de investigação adotada foi a abordagem qualitativa de cunho interpretativo, na qual nos fundamentamos em Bogdan e Biklen

171

Nesse sentido, acreditamos que planejar não deve se constituir em uma ação isolada,

visto que ao se planejar, decisões são tomadas e, portanto, se faz necessário que aqueles que

passarão pelas consequências de um planejamento, no caso, os estudantes da EJA, sejam

também envolvidos nesse processo de tomada de deliberações em relação a suas

aprendizagens juntamente com seus professores. Lembramos que Ana não teve Matemática

em sua formação inicial superior, já que é licenciada em Geografia, tendendo, portanto, a uma

reprodução na unidocência de sua vivência escolar neste campo de conhecimento.

Do mesmo modo, os professores aproximam-se da concepção Emancipadora de

Educação Matemática ao afirmarem que se baseiam nos descritores da Matriz Curricular para

a Educação de Jovens e Adultos do município, cujo documento é baseado na Proposta

Curricular para o Primeiro Segmento da EJA (2001).

Assim, ao nos aproximarmos das falas dos sujeitos da Escola Bocaiúva, notamos que

as suas concepções sobre o ensino da Matemática no Primeiro Segmento da EJA transitam,

ora para a perspectiva Bancária, ora para a perspectiva Emancipadora de Educação

Matemática.

c) Considerações sobre a Formação Inicial e Continuada dos sujeitos para atuarem na EJA

Quadro 14 - Relatos dos professores Ricardo e Ana sobre a Formação Inicial e Continuada para atuar na EJA

Pergunta nº 1 Professor (a) Relatos expressivos

Você considera que a formação que

teve no ensino superior foi

relevante para sua prática docente

em Matemática na Educação de

Jovens e Adultos? Por quê?

Ricardo

Sim, a formação superior nos coloca num patamar

(universal) mais avançado do ponto de vista do

entendimento da vida [...] (Q2-4)

Ana

Sim, apesar de que a minha área de formação

pouco se viu Matemática. Porém, faço da minha

experiência algo que possa facilitar o aprendizado

dos meus alunos. (Q2-4)

Pergunta nº 2 Professor (a) Relatos expressivos

Você se considera preparado para

trabalhar Matemática no Primeiro

Segmento da EJA?

Ricardo

Sim. A experiência adquirida ao longo da carreira

nos oferece condições para tal trabalho, porém

sempre há a necessidade de aprimoramento. (Q2-5)

Ana

Sim. Considero que domino bem os conteúdos que

tenho trabalhado. (Q2-5)

Pergunta nº 3 Professor (a) Relatos expressivos

Como você avalia a sua formação

inicial com relação à aprendizagem

sobre o quê ensinar e o como

ensinar Matemática no Primeiro

Segmento da Educação de Jovens e

Adultos?

Ricardo Boa. Há necessidade de avançar, de adaptar a

mudança sempre. (Q2-6)

Ana

Boa. A formação inicial é de fundamental

importância para o desenvolvimento do

aprendizado da Matemática. (Q2-6)

Page 173: CONCEPÇÕES DE PROFESSORES EXPRESSAS NOS … · metodologia de investigação adotada foi a abordagem qualitativa de cunho interpretativo, na qual nos fundamentamos em Bogdan e Biklen

172

Pergunta nº 4 Professor (a) Relatos expressivos

Você tem participado de momentos

de formação continuada nos últimos

três anos que envolvam Educação

Matemática na EJA?

a) Se SIM ( ), relacione quais:

- Essas formações têm contribuído

para sua aprendizagem acerca do

quê e do como ensinar Matemática

no Primeiro Segmento da Educação

de Jovens e Adultos?

( ) Sim

( ) Não

( ) Às vezes

- Comente quais contribuições

foram dadas por esta formação

continuada.

b) Se NÃO ( ), explique os

motivos.

Ricardo

Não. Não há uma formação voltada neste

segmento especificamente para o ensino da

Matemática, uma vez que essas formações levam

em conta a alfabetização como um todo. (Q2-7)

Nós temos a formação chamada “Roda de

Conversa.” Eu participo, é uma coisa obrigatória,

já faz parte do calendário. Uns dias letivos são

tirados pra essas formações. (Entrevista)

Quando existe uma formação específica para a

Matemática tem contribuído... foi aprendido, foi

proveitoso, foi bom. Mas teria que ter sempre

voltado para a Matemática, porque se tivesse só

para a Matemática eu iria, pois como eu disse, eu

tenho uma tendência a ir mais para a Matemática

pela minha formação que é Engenharia...

Infelizmente você não tem um curso, como é no

caso nosso específico aqui em Cuiabá, da

Matemática. Se tivesse eu participaria. (Entrevista)

Ana

Sim. Fiz o CECEMCA e também participo de todos

os encontros de formação que a rede oferece, e o

que me falta procuro aperfeiçoar em pesquisa e

livros didáticos. (Q2-7)

Sim, têm contribuído com metodologias

diferenciadas para se trabalhar os temas da

matemática. (Q2-7)

Fonte: Questionários e Entrevistas com os professores investigados

Ricardo e Ana consideram relevante a formação que tiveram no ensino superior para

suas práticas docentes em Matemática na Educação de Jovens e Adultos, mesmo Ana

relatando a fragilidade de tal formação. Ao afirmar que utiliza sua experiência como subsídio

para promover a aprendizagem de seus alunos, a professora nos remete a Freire citado por

Gonçalves (2000), que pontua:

Freire (1999) afirma que a experiência ou a prática, quando são produzidas com

certa rigorosidade metódica, tornam-se formadoras, pois possibilitam ao professor

aprender com o trabalho docente. Ao ensinar, o docente aprende e, no ato de ensinar,

produz outras relações, aparecendo outros significados que ajudam o professor a

rever a experiência inicial. O ato educativo, em si, constitui-se numa experiência de

formação. É no trabalho docente, no ato de ensinar, que o professor, se desenvolve,

se constitui efetivamente como professor formador. Conforme o autor, ‘Quem

forma, se forma e re-forma ao formar e quem é formado forma-se e forma ao ser

formado [...] Quem ensina aprende ao ensinar e quem aprende ensina ao aprender

(FREIRE, apud GONÇALVES, 2000, p. 152).

Desse modo, entendemos que o docente aprende a ser educador por meio da

intersecção que é capaz de fazer entre a sua formação inicial e as suas experiências em sala de

aula, pois ao fazer essa ligação como professor, ele constrói a sua aprendizagem da docência.

Page 174: CONCEPÇÕES DE PROFESSORES EXPRESSAS NOS … · metodologia de investigação adotada foi a abordagem qualitativa de cunho interpretativo, na qual nos fundamentamos em Bogdan e Biklen

173

Ricardo declara que é necessário melhorar, se adequar as transformações que ocorrem,

confirmando o que diz Alarcão (2001) ao alegar que a função dos docentes demanda

consciência de que sua formação nunca está concluída, pelo contrário, encontra-se num

constante vir a ser, primando pela qualidade de sua profissão e pela sua adaptação diante de

tantas mudanças. Desta forma, podemos perceber que Ricardo compreende que o

conhecimento é dinâmico, assim considera que sua formação profissional deve ser um

processo contínuo, aproximando-se assim da concepção Emancipadora de Educação.

Ricardo citou que a experiência adquirida ao longo de sua carreira docente contribuiu

para o conhecimento de como trabalhar a Matemática na EJA, porém declarou que é

necessário aperfeiçoamento. Todavia, além dos conhecimentos específicos da disciplina, o

educador precisa do conhecimento da docência, ou seja, não basta apenas saber muito bem os

conteúdos, é necessário saber como ensiná-los. Sobre esse assunto, Paula afirma que:

[...] ter domínio do conhecimento não é a garantia de que o docente em sua função

esteja apto a “ensinar”. Para o educador... é requerido que “saiba ensinar”. Isso

significa uma reelaboração, reestruturação, organização e planejamento do conteúdo,

de forma a facilitar e oportunizar acessibilidade às aprendizagens (2010, p. 132).

O aprimoramento da profissão se dá, de acordo com Nóvoa (2009) por meio da

formação continuada, pois já que a formação inicial tem se mostrado muitas vezes

insuficiente para preparar o professor para trabalhar na Educação de Jovens e Adultos, espera-

se então que a formação continuada venha complementar, ou até mesmo suprir a carência

deixada por tal formação. Dessa forma, Ricardo aproxima-se da concepção Emancipadora de

Educação.

Os dados também nos mostraram que, tanto Ricardo quanto Ana consideram-se

preparados para lecionar a Matemática no Primeiro Segmento da EJA. No entanto,

observamos que Ana, por dominar os conteúdos matemáticos, acredita estar hábil para ensinar

Matemática na EJA, revelando assim uma perspectiva de concepção Bancária para Educação.

Ana revelou ainda acreditar que a formação inicial é extremamente importante para o

desenvolvimento da aprendizagem matemática para a docência. Contudo, trataria de um

objetivo por demais ambicioso relegar à formação inicial o preparo integral do professor à

carreira docente (ou qualquer outra profissão). Compreendemos que a formação continuada é

de fundamental importância na constituição de qualquer profissional, e em especialmente à

docência, com o intuito dentre outros, de complementar lacunas deixadas pela formação,

ampliação de conhecimentos e atualização.

Page 175: CONCEPÇÕES DE PROFESSORES EXPRESSAS NOS … · metodologia de investigação adotada foi a abordagem qualitativa de cunho interpretativo, na qual nos fundamentamos em Bogdan e Biklen

174

Ricardo declarou que não tem participado de encontros de formação que abranjam a

Educação Matemática na EJA pelo motivo de não existir formação específica para o ensino de

Matemática no Primeiro Segmento da Educação de Jovens e Adultos. Além disso, apontou

que as formações consideram a alfabetização como um todo. Porém, na entrevista realizada,

Ricardo afirma participar das formações realizadas pelo Projeto “Roda de Conversa”.

Observamos nas falas de Ricardo uma posição contraditória à do responsável pela

formação de professores da Rede Municipal de Cuiabá, este último nos informou que as

formações continuadas que envolvem a Educação Matemática na EJA estão inseridas dentro

do Projeto de formação continuada denominado “Roda de Conversa”. Além disso, a equipe de

formação nos afirmou que as formações promovidas pela SME acontecem regularmente nas

escolas e os professores são convocados a participar, já que tais encontros são realizados nos

horários das aulas. Assim, os alunos são dispensados das aulas para que os professores

possam participar das formações.

Notamos ainda na fala de Ricardo seu descontentamento por não haver em Cuiabá,

segundo ele, formação continuada específica sobre a temática Educação Matemática na EJA.

No entanto, temos conhecimento que o GRUEPEM (Grupo de Estudos e Pesquisas em

Educação Matemática), vinculado a Universidade Federal de Mato Grosso, promoveu no ano

de 2009 um curso de formação continuada para os professores da rede pública de ensino de

Cuiabá com a temática Educação Matemática na EJA. Ademais, além desse curso, outras

formações foram realizadas na capital mato-grossense por outras instituições de ensino no

período questionado.

Já Ana afirmou que participou de formações envolvendo a Educação Matemática.

Além disso, esclareceu que o que não é contemplado nas formações, busca conhecer por meio

de pesquisas e de livros didáticos. Julgamos relevante a atitude de Ana, pois buscar

informações e formação complementar é de suma importância para o exercício da docência.

Além disso, acreditamos também que é praticando e refletindo sobre o que exercemos que

possivelmente aperfeiçoaremos nossa prática pedagógica.

Portanto, ao nos aproximarmos do pensamento dos sujeitos dessa investigação através

do que nos revelam os dados expressos nos questionários aplicados e nas entrevistas

realizadas, observamos que as compreensões de Ricardo sobre a Formação Inicial e

Continuada para atuar na EJA caminham em direção a uma perspectiva Emancipadora de

Educação. Já as percepções de Ana aproximam-se mais dos aspectos que caracterizam a

perspectiva Bancária de Educação.

Page 176: CONCEPÇÕES DE PROFESSORES EXPRESSAS NOS … · metodologia de investigação adotada foi a abordagem qualitativa de cunho interpretativo, na qual nos fundamentamos em Bogdan e Biklen

175

5.1.2 Bloco 2 - Análise Documental sobre os Conteúdos e as Metodologias

Com o intuito de compreendermos por meio de análise documental, as concepções que

revelam os documentos escolares sobre os conteúdos e as metodologias propostas pelos

professores participantes da pesquisa para o ensino e aprendizagem da Matemática na 1ª e 2ª

Etapas da EJA, utilizaremos como apoio nosso referencial teórico e as categorias de análise

anteriormente apresentadas, Bancária e Emancipadora.

Desse modo, fazemos a apresentação dos dados e análise dos seguintes documentos

escolares: Projeto Político Pedagógico da Escola Bocaiúva (PPP- Bocaiúva), Planejamento

Anual (PLA), Planos de Aula (PA), Livros Didáticos (LD) utilizados pelos professores da

Escola Bocaiúva e Cadernos de Alunos (CA).

a) Projeto Político Pedagógico da Escola Bocaiúva

Embora fosse recomendável, não encontramos na escola um Projeto Político

Pedagógico (PPP) específico para a modalidade da EJA que explicite de fato a importância

que essa modalidade tem e como ela vai ser entendida pela Escola Bocaiúva.

Na verdade, o que encontramos é uma referência à EJA dentro do PPP geral da escola,

ao tratar da Organização Curricular. Ao fazermos a leitura da seção reservada à Educação de

Jovens e Adultos, o que podemos observar são transcrições de alguns documentos oficiais,

aproximadamente em uma lauda e meia, que trata dessa modalidade de ensino, como por

exemplo, as funções da EJA (reparadora, equalizadora, qualificadora) que fazem parte do

Parecer do Conselho Nacional de Educação (2000).

Além disso, ao tratar sobre a formação básica do cidadão da EJA do Ensino

Fundamental, o PPP da escola enfatiza que:

[...] mediante o desenvolvimento da capacidade de aprender, tendo como meios

básicos o pleno domínio da leitura, da escrita e do cálculo, da compreensão do

ambiente natural e social, do sistema político, da tecnologia, das artes e dos valores

em que se fundamenta a sociedade, bem como o desenvolvimento da capacidade da

aprendizagem, o fortalecimento dos vínculos da família, os laços de solidariedade

humana e de tolerância (PPP - Bocaiúva, p. 17).

Podemos observar também que o PPP faz referência ao mundo do trabalho, sendo que

este deve ser “referência para a proposta curricular ensejando a identidade e existência do ser

humano, que se constitui e constrói sua história, estabelecendo relações sociais, ao

Page 177: CONCEPÇÕES DE PROFESSORES EXPRESSAS NOS … · metodologia de investigação adotada foi a abordagem qualitativa de cunho interpretativo, na qual nos fundamentamos em Bogdan e Biklen

176

transformar a natureza, e ao transformar a si próprio e ao outro para garantir sua

sobrevivência” (PPP-Bocaiúva, p. 18).

Outro ponto que é tratado no PPP é a organização do tempo, pois como a oferta da EJA

se efetiva no período noturno, esse deve ser “flexibilizado na medida em que as atividades em

sala de aula correspondem ao estágio de vida do aluno que já desenvolveu suas estruturas

cognitivas, a partir do vivido em momentos escolares e/ou fora da escola” (PPP – Bocaiúva,

p. 18).

Em relação aos conteúdos matemáticos que devem ser trabalhados na 1ª e 2ª Etapas da

EJA, o PPP apresenta indicações por meio das capacidades que os alunos devem desenvolver

em relação à Matemática proposta pela Matriz de Referência para a Educação de Jovens e

Adultos, da Secretaria Municipal de Educação de Cuiabá-MT.

Nesse sentido, ao realizarmos a análise do PPP podemos perceber que o mesmo

contempla as indicações dos conteúdos referentes aos quatro grandes blocos preconizados na

Proposta Curricular para o Primeiro Segmento da EJA (2001), sendo eles, “Números e

Operações Matemáticas”, “Medidas”, “Geometria” e “Introdução à Estatística”, garantindo

assim a oportunidade dos alunos que estudam na 1ª e 2ª Etapa da EJA da Escola Bocaiúva

terem acesso a conhecimentos sobre as quatro importantes áreas da Matemática.

Em relação às metodologias a serem utilizadas pelos professores que atuam na 1ª e 2ª

Etapas da EJA na Escola Bocaiúva, observamos que o PPP indica que é necessário “ter como

regra metodológica a contextualização, considerando a heterogeneidade de público:

adolescentes, jovens, adultos e idosos com suas diversas experiências de trabalho, de vida

social e cultural” (PPP- Bocaiúva, p. 17).

Concordamos com o que expõe o PPP- Bocaiúva sobre a importância de utilizar

metodologias de ensino que respeitem a diversidade, os conhecimentos prévios dos educandos

da EJA e que objetivem a contextualização, privilegiando a realidade que vive tal público. No

entanto, o documento não menciona importantes perspectivas metodológicas que podem ser

utilizadas no ensino de Matemática na Educação de Jovens e Adultos, como por exemplo, a

Etnomatemática, a Resolução de Problemas, a Modelagem Matemática, os Projetos de

Trabalho, a História da Matemática e a utilização de Jogos, de Recursos Tecnológicos e de

Estratégias Metacognitivas.

Entretanto, podemos inferir que um dos motivos dessa não ocorrência no documento

esteja vinculado ao fato de que o PPP- Bocaiúva não é específico para a modalidade EJA,

sendo apenas uma referência no PPP geral da escola.

Page 178: CONCEPÇÕES DE PROFESSORES EXPRESSAS NOS … · metodologia de investigação adotada foi a abordagem qualitativa de cunho interpretativo, na qual nos fundamentamos em Bogdan e Biklen

177

Sobre essa temática, a professora Ana, declara que: “Na verdade no PPP acho que não

foi direcionado exatamente à matéria. Foi direcionado assim o conjunto, o todo. O Ensino

Fundamental... os ciclos no caso. Primeiro ciclo, segundo ciclo, o terceiro ciclo e o EJA. Mas

não aquela coisa, assim das grades. Eu acho que não foi não. Foi assim... como melhorar o

ensino do EJA, mas não exatamente assim... o que fazer com a Matemática no EJA. Não foi

trabalhado dessa forma... Foi como melhorar o EJA, no todo. Não foi assim direcionado só

para a matéria, foi para o todo” (E- Ana).

Desse modo, podemos inferir que a referência que o PPP- Bocaiúva faz à EJA não

apresenta elementos suficientes para a organização do trabalho pedagógico da Matemática,

principalmente em relação ao como ensinar essa disciplina aos estudantes da 1ª e 2ª Etapas da

Educação de Jovens e Adultos. Assim, as concepções presentes no PPP- Bocaiúva referente à

metodologia caminham para o entendimento de uma Educação de Jovens e Adultos

fundamentada em uma perspectiva Bancária de Educação.

b) Planejamento Anual dos professores Ricardo e Ana

Ao solicitarmos o planejamento anual de 2011 a Ricardo e Ana, os professores

declararam que não o elaboraram para o referido ano, pois seguem as habilidades e

competências da Matriz Curricular para a Educação de Jovens e Adultos, organizada pela

Secretaria Municipal de Educação de Cuiabá. Ao conversarmos com o professor, ele afirmou

seguir os conteúdos e atividades propostas nos volumes 1 e 2 da coleção dia a dia do

Professor, EJA: educação para jovens e adultos (2005), escrito pelas autoras Cristina do Valle,

Fernanda Gandra e Regina Villaça para trabalhar a Matemática na 1ª Etapa da EJA no ano de

2011. Já Ana declarou utilizar para ensinar Matemática aos seus alunos da 2ª Etapa da EJA o

livro didático de Matemática do Projeto Prosa, indicado para o 3º Ano do Ensino Regular.

Entretanto, isso não se constitui como planejamento anual dos professores

investigados. Ao tratar dessa temática, Vasconcellos (2007, p. 143) elucida que “o professor

não é sujeito de seu planejamento, à medida que acaba se limitando ao livro, que por sua vez

se impõe muito mais em função do forte esquema de divulgação das editoras, do que por sua

qualidade pedagógica ou proposta de educação”. Ainda nessa discussão, o Ministério da

Educação declara que:

Muitas vezes os professores trocam o que seria o seu planejamento pela escolha de

um livro didático. Infelizmente, quando isso acontece, na maioria das vezes, esses

professores acabam se tornando simples administradores do livro escolhido. Deixam

Page 179: CONCEPÇÕES DE PROFESSORES EXPRESSAS NOS … · metodologia de investigação adotada foi a abordagem qualitativa de cunho interpretativo, na qual nos fundamentamos em Bogdan e Biklen

178

de planejar seu trabalho a partir da realidade de seus alunos para seguir o que o autor

do livro considerou como mais indicado (MEC, 2006, p. 40).

Desse modo, a não realização do planejamento por parte dos professores implica

algumas consequências nos processos de ensino e aprendizagem, principalmente porque o

trabalho pedagógico perde sua dimensão humana. Ainda sobre esse assunto, Fusari esclarece:

A ausência de um processo de planejamento de ensino nas escolas, aliado às demais

dificuldades enfrentadas pelos docentes do seu trabalho, tem levado a uma contínua

improvisação pedagógica das aulas. Em outras palavras, aquilo que deveria ser uma

prática eventual acaba sendo uma “regra”, prejudicando, assim, a aprendizagem dos

alunos e o próprio trabalho escolar como um todo (2008, p. 47).

Ademais, de acordo com Vasconcellos:

Se deixarmos a ‘coisa rolar’, se não adotarmos uma intervenção consciente e crítica,

o que teremos é a reprodução do mundo que está dado..., que tem suas estruturas,

seus condicionantes, que se traduzem em práticas sociais, formas de organização do

espaço-tempo-recursos, símbolos, leis, normas, rotinas, etc (2007, p. 42).

Desse modo, planejar é uma questão de respeito a si e ao grupo, pois os professores ao

não dedicarem-se ao planejar, acabam por desvalorizar sua própria atividade docente (e antes

disso, sua própria pessoa). Além disso, é também uma questão ética, de responsabilidade (no

mínimo, pedagógica e política) por uma tarefa que é assumida e que é concedida socialmente,

cuja função é garantir a coerência entre as atividades realizadas pelos professores com os

alunos, bem como as aprendizagens que se pretende proporcionar a eles.

Ao abordar a problemática envolvida nessa questão, a Proposta Curricular para o

Primeiro Segmento da EJA (2001, p. 209) declara ser importante “planejar, ou seja,

estabelecer antecipadamente um plano organizado de ações visando atingir algum objetivo.

Temos que considerar que estratégias usaremos, que recursos e que tempo serão necessários,

que etapas deverão ser percorridas”. Além disso, o mesmo documento ressalta que a

“atividade educativa, assim como outras atividades complexas, impõe a necessidade de

estabelecer planos mais formalizados e apoiados em registros escritos” (BRASIL, 2001, p.

209).

Outro ponto a ser considerado é que Ricardo utiliza apenas uma única coleção para o

ensino da Matemática na Educação de Jovens e Adultos. A esse respeito, o Ministério da

Educação afirma que “na EJA, tendo em vista a grande diversidade dos alunos, é praticamente

Page 180: CONCEPÇÕES DE PROFESSORES EXPRESSAS NOS … · metodologia de investigação adotada foi a abordagem qualitativa de cunho interpretativo, na qual nos fundamentamos em Bogdan e Biklen

179

impossível existir um livro didático que dê conta das variações de idades, experiências,

interesses e conhecimentos presentes numa mesma sala de aula” (MEC, 2006, p. 41).

Na verdade, este deve ser um trabalho que deve ser desenvolvido pelo professor, ou

seja, ao realizar o planejamento das aulas o docente tem a oportunidade de aproximar as

atividades propostas pelo livro didático com a realidade dos alunos. Além disso, os livros

didáticos devem ser um entre outros possíveis materiais de apoio a serviço do ensino e não o

único ou principal, pois a variedade de fontes de informação é que contribuirá para os

educandos Jovens e Adultos terem uma visão ampla do conhecimento.

Contudo, não temos a intenção de afirmar que se o professor utilizasse mais de um

livro didático a qualidade do ensino da Matemática estaria garantida, pois o mais importante é

como o professor faz uso desse material.

Em relação ao livro utilizado pela professora Ana, como já elucidamos anteriormente,

o mesmo é indicado para se trabalhar com crianças do Ensino Regular, denotando-se assim, o

não respeito às especificidades dos educandos e à modalidade EJA, caracterizando um velho

sistema de Educação, ou seja, Educação Bancária. Consequentemente, o que o Projeto

Político Pedagógico da Escola onde Ana trabalha com a 2ª Etapa da EJA preconiza sobre a

cidadania e a contextualização não tem como se efetivar na medida em que o trabalho que

Ana realiza está muito diferente daquilo que é proposto no PPP- Bocaiúva, principalmente,

porque o livro que ela adota é contraditório com relação à Matriz Curricular do município na

qual a professora afirma seguir.

Portanto, os dados coletados nos indicam que tanto Ricardo quanto Ana, aproximam-

se da concepção Bancária de Educação, pois não compreendem que o planejamento anual

deve se constituir como norteador no trabalho pedagógico a ser desenvolvido na EJA, isto é,

na busca da autonomia, na tomada de decisões, nas resoluções de problemas e na escolhas dos

caminhos a serem percorridos para que realmente a aprendizagem dos educandos se

concretize.

Desse modo, na falta do planejamento anual dos professores investigados, não

podemos concluir quais são os conteúdos e as metodologias que Ricardo e Ana pretendiam

trabalhar no período investigado com seus alunos da 1ª e 2ª Etapas da EJA.

c) Planos de Aula de Matemática de Ricardo e Ana

Do mesmo modo, ao solicitarmos os planos de aula de Matemática aos sujeitos da

Escola Bocaiúva, constatamos que Ricardo também não os elaborou como forma de organizar

Page 181: CONCEPÇÕES DE PROFESSORES EXPRESSAS NOS … · metodologia de investigação adotada foi a abordagem qualitativa de cunho interpretativo, na qual nos fundamentamos em Bogdan e Biklen

180

o ensino de tal disciplina para a 1ª Etapa da EJA no período de fevereiro a junho de 2011. Já

Ana nos disponibilizou apenas sete planos de aula de Matemática do referido período. A

professora alegou que alguns planos não foram registrados em seu caderno26

. Portanto,

faremos a análise somente dos planos que tivemos acesso.

Ricardo se justificou declarando que segue as atividades de Matemática dos volumes 1

e 2 da coleção Gandra (2005), sendo que as atividades do volume 1 foram aplicadas no

primeiro semestre e as atividades do volume 2 no segundo semestre de 2011. Para tanto, o

professor investigado disponibiliza as atividades do livro para seus alunos por meio de cópias

xerocadas da coleção.

Contudo, adotar e seguir as atividades da coleção não se estabelece como planos de

aula, pois o professor deixa de aproximar o ensino da Matemática com a realidade dos alunos.

Daí a importância dos educadores elaborarem o planejamento das aulas, pois a diversidade, os

conhecimentos prévios e o contexto onde estão inseridos os estudantes dessa modalidade

precisam ser considerados no planejamento das aulas de Matemática para a Educação de

Jovens e Adultos. A luz desse entendimento, Fusari afirma que:

O preparo das aulas é uma das atividades mais importantes do trabalho do

profissional de educação escolar. Nada substitui a tarefa de preparação da aula em si.

[...] faz parte da competência teórica do professor, e dos compromissos com a

democratização do ensino, a tarefa cotidiana de preparar suas aulas [...] (2008, p.

47).

Ainda nesse contexto, a Proposta Curricular para o Primeiro Segmento da EJA (2001)

afirma que é de responsabilidade do professor elaborar planos didáticos com definições

quanto a estratégias e encadeamento de etapas para que realmente se efetive o currículo da

EJA. Desse modo, “os planos devem estar em condições de ir calibrando-o durante sua

execução, ou seja, realizando os ajustes necessários mediante a avaliação constante de seu

andamento” (BRASIL, 2001, p. 210). Além disso, o mesmo documento declara que “a

elaboração de bons planos didáticos exige uma grande dose de criatividade do professor e um

conhecimento razoável de como se realiza o processo de aprendizagem dos conteúdos”

(BRASIL, 2001, p. 210).

Desse modo, o uso de livros didáticos na Educação de Jovens e Adultos, assim como

em outras modalidades, deveria ser utilizado preferencialmente como apoio às aulas, ou seja,

como um recurso didático que auxilie tanto os alunos a estudarem, quanto aos professores a

26

Tal caderno é utilizado pela professora para registrar as datas e as atividades de todas as disciplinas que foram

trabalhadas com seus alunos no decorrer do ano de 2011.

Page 182: CONCEPÇÕES DE PROFESSORES EXPRESSAS NOS … · metodologia de investigação adotada foi a abordagem qualitativa de cunho interpretativo, na qual nos fundamentamos em Bogdan e Biklen

181

planejarem suas aulas e não como vem acontecendo nas práticas escolares, sendo o único

meio dos educadores desenvolverem as atividades em sala de aula.

Portanto, ao não compreender a importância do plano de aula para a prática

pedagógica do professor, pois como organizador e norteador do seu trabalho é ele que

apresenta a dimensão da importância de sua aula e os objetivos a que ela se destina, bem

como o tipo de cidadão que pretende formar, Ricardo se aproxima da concepção Bancária de

Educação.

Desse modo, como o professor Ricardo não nos apresentou os planos de aula, não

podemos inferir quanto aos conteúdos e as metodologias propostas para o ensino da

Matemática na 1ª Etapa da EJA no período investigado.

Em relação aos planos de aula apresentados pela professora Ana, percebemos que a

professora preocupou-se, de certa forma, em trabalhar os conteúdos preconizados na Proposta

Curricular para o Primeiro Segmento da EJA (2001), principalmente no que se refere ao bloco

de conteúdos “Introdução à Estatística” e “Números e Operações Matemáticas”. Contudo, não

localizamos atividades referentes ao bloco de conteúdos “Geometria”. Sendo assim, mais uma

vez, o ensino da Geometria acaba por ficar abandonado nessa modalidade de Educação. Ao

abordar a problemática envolvida nessa questão, Passos (2000) declara que diversas são as

causas para o abandono do ensino da Geometria, dentre elas destaca-se a reforma do ensino

ocorrida com o Movimento da Matemática Moderna, em que o ensino da Álgebra foi

priorizado. Desse modo, verificamos que os conteúdos matemáticos que devem ser

trabalhados na 2ª Etapa da EJA se efetiva em partes no trabalho da professora investigada.

Observamos também que os planos de aula de Ana praticamente não expõem de forma

explícita os conteúdos, os objetivos (gerais e específicos) e as metodologias a serem

empregadas durante as aulas de Matemática, elementos que devem fazer parte da estrutura de

um plano de aula, com exceção de um plano de aula, em que a professora citou que iria

utilizar o jogo Dominó da multiplicação. Nesse plano, Ana descreveu um pouco sobre como

organizaria a turma para a realização do jogo (divisão em grupos) e explicitou algumas regras.

Além disso, propôs que as multiplicações fossem registradas em forma de tabelas.

Em linhas gerais, observamos que a professora relata as atividades que foram

desenvolvidas em sala de aula de forma superficial, deixando indicações genéricas dos

conteúdos ora citados apenas em seu registro, ora fazendo referência a algum livro didático

utilizado.

Contudo, percebemos que em alguns planos de aula a professora preocupou-se em

utilizar o cotidiano dos alunos na elaboração das atividades matemáticas, como por exemplo,

Page 183: CONCEPÇÕES DE PROFESSORES EXPRESSAS NOS … · metodologia de investigação adotada foi a abordagem qualitativa de cunho interpretativo, na qual nos fundamentamos em Bogdan e Biklen

182

o preenchimento de tabela com informações referentes aos familiares dos educandos, como a

altura, o peso e o número do calçado. Em outros planos, a professora trabalhou apenas as

operações fundamentais a partir de um número dado, sem contextualizá-las, como por

exemplo, atividades “arme e efetue”, visando apenas a fixação de exercícios.

Quanto aos problemas que Ana trabalhou com seus alunos, podemos inferir que os

mesmos são considerados problemas padrões que foram retirados do livro didático Padovan

(2008). Outro ponto a ser considerado, é que as soluções dos problemas que Ana propôs aos

seus alunos podem ser obtidas com facilidade, simplesmente com a evocação da memória, ou

ainda, podem ser resolvidos de forma quase que mecânica objetivando apenas a fixação das

quatro operações fundamentais da Matemática, não se constituindo em desafios para os

estudantes Jovens e Adultos.

Assim, entendemos que os problemas que a professora trabalha com seus alunos não

correspondem com o que propõe Polya (2003) sobre a perspectiva metodológica da Resolução

de Problemas, pois para o autor uma pessoa tem um problema quando procura

conscientemente uma ação apropriada para obter um objetivo claramente concebido, mas não

atingível de maneira imediata.

Desse modo, podemos inferir que o que está recomendado no PPP- Bocaiúva sobre a

cidadania e a contextualização se efetiva em partes no trabalho da professora com a 2ª Etapa

da EJA, pois Ana preocupou-se, em alguns momentos, em elaborar atividades matemáticas

vinculadas ao contexto em que vivem os educandos Jovens e Adultos. Além disso, a

professora utilizou jogos como estratégia facilitadora do ensino e aprendizagem da

Matemática, sendo esta uma maneira diferente e prazerosa de se aprender tal disciplina,

aproximando-se assim de uma concepção Emancipadora de Educação Matemática.

Entretanto, ao não encontrarmos registros nos planos de aula de que Ana teria

considerado as experiências e os conhecimentos prévios de seus alunos para realizar um

trabalho efetivo na perspectiva de Resolução de Problemas ou de outras metodologias, como

por exemplo, a Modelagem Matemática, História da Matemática, a professora nos leva ao

entendimento de que suas aulas geralmente são expositivas e que o livro didático

recomendado para o ensino de crianças é o principal suporte para o desenvolvimento de sua

prática pedagógica de Matemática na 2ª Etapa da EJA. Assim, suas concepções caminham

para o entendimento de uma perspectiva Bancária de Educação.

Essa mesma concepção se revela quando observamos que Ana, assim como Ricardo,

de certa forma não prioriza a elaboração de planos de aula, pois como contatamos, eles tomam

Page 184: CONCEPÇÕES DE PROFESSORES EXPRESSAS NOS … · metodologia de investigação adotada foi a abordagem qualitativa de cunho interpretativo, na qual nos fundamentamos em Bogdan e Biklen

183

o livro didático e uma seleção anteriormente determinada de conteúdos que devam ser

ministrados no direcionamento de suas aulas.

Em linhas gerais, diante do que os dados nos revelaram, inferimos que as concepções

de Ana presentes nos planos de aula transitam entre os modelos Bancário e Emancipador de

Educação Matemática.

d) Livros Didáticos utilizados pelo professor Ricardo

Não trata de um objetivo neste trabalho de pesquisa uma análise específica e mais

detalhada dos livros didáticos, deste modo, descartamos qualquer intenção de crítica.

Objetivamos apenas nesse momento interpretar que concepções revelam os livros didáticos

acerca dos conteúdos propostos para o ensino e aprendizagem da Matemática na 1ª Etapa da

Educação de Jovens e Adultos.

Como vimos anteriormente, o professor Ricardo seguiu os volumes 1 e 2 da coleção

Gandra (2005) para trabalhar o ensino da Matemática no ano de 2011 com seus alunos. Estes

volumes são indicados para o ensino na 1ª Etapa da EJA, ou seja, são recomendados para

trabalhar com jovens e adultos que nunca frequentaram a escola ou que estão retornando aos

bancos escolares em fase de alfabetização.

Em relação aos conteúdos matemáticos que devem ser trabalhados na 1ª Etapa da

Educação de Jovens e Adultos, podemos perceber que o livro didático utilizado pelo professor

Ricardo não contempla os quatro grandes blocos de conteúdos preconizados na Proposta

Curricular para o Primeiro Segmento da EJA (2001). O livro considera apenas os conteúdos

referentes aos blocos “Números e Operações Matemáticas”, e “Medidas”, deixando de

abordar conteúdos relativos à “Geometria” e “Introdução à Estatística”.

Nesse sentido, percebemos que Ricardo trabalhou parcialmente os conteúdos

matemáticos na 1ª Etapa da EJA, demonstrando certo descuido com os estudantes dessa

modalidade, sobretudo porque o público da EJA ocupa e necessita de tais conhecimentos

matemáticos em seu dia a dia, principalmente no que se refere à suas profissões.

Ao analisarmos os volumes da coleção, percebemos que os livros estão organizados

por letras do alfabeto que são representadas por “palavras geradoras” que condizem, segundo

Gandra (2005), com a realidade dos educandos e também servem como um fio condutor para

os conteúdos serem trabalhados. Ou seja, para cada palavra geradora, o livro apresenta blocos

de atividades referentes às disciplinas de Português, Ciências, Matemática e Artes. Já para

Geografia e História, o livro apresenta os conteúdos simultaneamente.

Page 185: CONCEPÇÕES DE PROFESSORES EXPRESSAS NOS … · metodologia de investigação adotada foi a abordagem qualitativa de cunho interpretativo, na qual nos fundamentamos em Bogdan e Biklen

184

Nos volumes 1 e 2 da coleção, as palavras geradoras propostas pelas autoras são:

alfabeto, Brasil, cidadania, direitos e deveres, esporte, idoso, família, gente, habitação, idoso,

jovem e liberdade de expressão.

No entanto, ao observarmos as atividades dos volumes da coleção, podemos perceber

que os mesmos não apresentam, quase em sua totalidade, problematizações e atividades

efetivamente relacionadas às palavras geradoras indicadas pelas autoras. O que verificamos

são atividades que privilegiam a repetição de exercícios, ou seja, atividades “siga o modelo”

como podemos observar nas figuras a seguir.

Figura 1: Ilustração gráfica de atividade que envolve a operação subtração

Fonte: GANDRA (2005, p. 192)

Figura 2: Ilustração gráfica de atividade que envolve a operação subtração

Fonte: GANDRA (2005, p. 195)

Percebemos ainda, que alguns exercícios são apresentados na coleção como

problemas. Porém, como podemos observar na Figura 3, tais exercícios não sinalizam

problematizações, pois de acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais, “só há problema

se o aluno for levado a interpretar o enunciado da questão que lhe é posta e a estruturar a

situação que lhe é apresentada” (BRASIL, 1997, p. 33).

Page 186: CONCEPÇÕES DE PROFESSORES EXPRESSAS NOS … · metodologia de investigação adotada foi a abordagem qualitativa de cunho interpretativo, na qual nos fundamentamos em Bogdan e Biklen

185

Figura 3: Ilustração gráfica de exercícios considerados “problemas”

Fonte: GANDRA (2005, p. 141)

Desse modo, os “problemas” propostos na coleção são considerados problemas

padrões, pois não se constituem em desafios para os educandos Jovens e Adultos e podem ser

facilmente resolvidos pela aplicação simples das operações matemáticas (adição, subtração,

multiplicação e divisão). Assim, podemos inferir que o livro adotado pelo professor não

indica o trabalho efetivo na perspectiva da Resolução de Problemas (BRASIL, 2001).

Outro ponto a ser considerado ao analisarmos os volumes da coleção é em relação às

ilustrações gráficas, que mesmo retratando muitas vezes situações do cotidiano dos adultos

não são adequadas ao trabalho na EJA, pois de certa forma são infantilizadas como podemos

observar a seguir nas Figuras 4 e 5:

Figura 4: Ilustração gráfica de atividade de que envolve a operação subtração

Fonte: GANDRA (2005, p. 193)

Page 187: CONCEPÇÕES DE PROFESSORES EXPRESSAS NOS … · metodologia de investigação adotada foi a abordagem qualitativa de cunho interpretativo, na qual nos fundamentamos em Bogdan e Biklen

186

Figura 5: Ilustração gráfica de atividade que envolve o a operação divisão

Fonte: GANDRA (2005, p. 255)

Em relação à metodologia, as autoras da coleção destacam a utilização de jogos como

uma sugestão para favorecer a exploração dos conteúdos matemáticos desenvolvidos

(GANDRA, 2005). No entanto, ao observarmos os volumes 1 e 2 da coleção não encontramos

nenhuma atividade referente a utilização de jogos para o ensino da Matemática.

Observamos ainda, pequenos trechos sobre a história dos números e a história do

dinheiro, sendo uma tentativa das autoras de trazer aspectos referentes à História da

Matemática, mostrando que os conceitos matemáticos são uma criação humana e decorrem de

uma época histórica, dentro de um contexto social e político. Contudo, somente em duas

ocasiões a coleção traz tais aspectos.

Em linhas gerais, podemos inferir que a indicação da contextualização e do mundo

trabalho como referência para a proposta curricular da escola investigada, preconizada no

PPP- Bocaiúva é contemplada em partes nos volumes 1 e 2, pois a coleção tenta aproximar as

atividades matemáticas ao mundo do trabalho dos Jovens e Adultos. Além disso, trás alguns

aspectos históricos sobre os conteúdos matemáticos.

Porém, em várias ocasiões a coleção apresenta atividades infantilizadas que

privilegiam a repetição de exercícios, sem problematizações e sem considerar os

conhecimentos prévios dos estudantes. Além disso, a coleção em questão não sugere que as

atividades sejam trabalhadas com o recurso da calculadora, bem como não apresenta

indicações de atividades que possam ser trabalhadas no computador ou por meio de softwares.

Page 188: CONCEPÇÕES DE PROFESSORES EXPRESSAS NOS … · metodologia de investigação adotada foi a abordagem qualitativa de cunho interpretativo, na qual nos fundamentamos em Bogdan e Biklen

187

Em linhas gerais, ao analisarmos o livro didático utilizado por Ricardo no ensino da

Matemática na 1ª Etapa da EJA, observamos que suas concepções transitam entre o modelo

Bancário e Emancipador de Educação Matemática, pois ora o livro traz atividades

relacionadas com o mundo do trabalho dos Jovens e Adultos, ora apresenta as atividades de

forma infantilizada.

Contudo, a coleta dos documentos escolares do professor Ricardo foi realizada no

primeiro semestre de 2011, visto que o período analisado foi de fevereiro a junho. No entanto,

no mês de julho o professor investigado adotou também um novo livro didático intitulado

“Viver, Aprender – Alfabetização de Jovens e Adultos” cujas autoras são Cláudia Lemos

Vóvio e Maria Amábile Mansutti. Tal livro, que faz parte do Plano Nacional do Livro

Didático (PNLA 2011), foi distribuído pelo MEC para todos os alunos e professores da

modalidade EJA das escolas da Rede Municipal de Ensino da capital mato-grossense.

Ao tratar das características do livro em questão, o Guia dos Livros Didáticos PNLD

2011 EJA declara que sua principal característica é:

[...] a articulação dos componentes curriculares em temáticas, superando a

compartimentalização dos campos disciplinares. Assim, embora os conteúdos do

ensino fundamental estejam presentes na coleção, eles não aparecem sob a forma

tradicional de disciplinas. Cada volume está organizado em eixos, que, por sua vez,

se dividem em módulos. Cada módulo é introduzido por indagações

problematizadoras, formuladas a partir de elementos retirados do cotidiano do aluno.

Os objetivos estabelecidos nos módulos apresentam coerência com os conteúdos

selecionados e com as estratégias metodológicas adotadas (BRASIL, 2010, p. 114).

O livro didático estrutura-se em quatro eixos: Gente do Brasil, Nosso trabalho,

Patrimônio cultural brasileiro e Patrimônio ambiental brasileiro. Ao analisarmos o livro

didático em questão, percebemos que o mesmo contempla apenas três dos quatro grandes

blocos de conteúdos preconizados na Proposta Curricular para o Primeiro Segmento da EJA

(2001), sendo eles “Números e Operações Matemáticas”, “Medidas” e “Introdução à

Estatística”. O bloco da “Geometria” não é abordado no livro didático.

Desse modo, ficamos a nos perguntar como que o livro que faz parte do Programa

Nacional do Livro Didático e que é avaliado por uma comissão intitulada pelo Ministério da

Educação, “com o intuito de garantir livros didáticos de qualidade para escolas do sistema

público de ensino” (BRASIL, 2010, p. 8), deixa de abordar conteúdos, como é o caso da

Geometria, sendo que tal bloco de conteúdos é uma indicação da Proposta Curricular para o

Primeiro Segmento da Educação da EJA (2001), documento oficial que regulamenta o ensino

e a aprendizagem no Primeiro Segmento da Educação de Jovens e Adultos no Brasil.

Page 189: CONCEPÇÕES DE PROFESSORES EXPRESSAS NOS … · metodologia de investigação adotada foi a abordagem qualitativa de cunho interpretativo, na qual nos fundamentamos em Bogdan e Biklen

188

Além disso, também fazemos uma crítica ao poder público por não ter distribuído os

livros didáticos para alunos e professores da EJA no início do ano letivo de 2011,

principalmente porque sabemos que a grande maioria dos professores que atuam na Educação

de Jovens e Adultos não tem formação específica para lecionar nessa modalidade. Desse

modo, talvez o livro didático pudesse ter sido tomado como ponto de reflexão para a

elaboração e planejamento dos professores da Escola Bocaiúva no que se refere ao ensino da

Matemática durante todo o ano de 2011. Todavia, ele acabou chegando às escolas municipais

de Cuiabá apenas no segundo semestre do ano letivo.

Contudo, não tivemos tempo de inferir se o professor adotou realmente o livro todo ou

não, mas durante a entrevista, Ricardo declarou que: “eu “tô” tentando usar o livro nesse

momento que o MEC distribuiu porque os alunos aqui não têm condições de comprar livro,

por exemplo. Então, como o MEC distribuiu o livro para todos, eu “tô” tentando seguir o

livro para eles entenderem também que o livro é importante, porque uns dizem que o livro

não é importante, mas é pra quem tem bastante livro, porque para quem não tem um livro,

pra eles é muito importante. Então quando eles acham um livro eles ficam fascinados com

aquele livro. Agora se eu ganho o livro e não tenho uso nenhum, aí então é uma desilusão.

Então o livro não serve para nada mesmo. Então quer dizer, eu sempre quis ter um livro e

quando tenho eu não uso ele pra nada! Então a gente tenta usar o livro, e eu posso intercalar

com outras coisas, mas normalmente eu “tô” focando no livro” (E- Ricardo).

Observamos que Ricardo considera o livro didático importante e o reverencia,

principalmente por respeitar seus alunos, o que é admirável considerando que os estudantes

sentem-se motivados ao receber o livro e que este, por sua vez, pode se constituir em um

importante recurso didático em sua prática pedagógica. Além disso, o professor sinaliza na

entrevista que o livro disponibilizado pelo MEC é melhor do que o outro que estava

utilizando até então, pois os temas relacionados ao mundo dos Jovens e Adultos são melhores

explorados e estão mais próximos da vivência do público da EJA.

e) Livros Didáticos utilizados pela professora Ana

Novamente, explicitamos que não trata de um objetivo deste trabalho de pesquisa

realizar uma análise mais detalhada dos livros didáticos. Deste modo, não temos a intenção

criticar o livro didático Padovan (2008), pois objetivamos apenas nesse momento interpretar o

que concepções revelam tal livro sobre os conteúdos propostos para o ensino e aprendizagem

da Matemática na 2ª Etapa da Educação de Jovens e Adultos.

Page 190: CONCEPÇÕES DE PROFESSORES EXPRESSAS NOS … · metodologia de investigação adotada foi a abordagem qualitativa de cunho interpretativo, na qual nos fundamentamos em Bogdan e Biklen

189

Como destacamos anteriormente, a professora Ana utilizou o livro didático Projeto

Prosa: Matemática (2008), escrito pelas autoras Daniela Padovan, Isabel Cristina Guerra,

Ivonildes Millan, para trabalhar a Matemática na 2ª Etapa da EJA no ano de 2011. No entanto,

este livro didático é indicado para o ensino de Matemática no 3º Ano do Ensino Fundamental

Regular, ou seja, é recomendado para trabalhar os conceitos matemáticos com crianças com

idade entre sete e oito anos.

Em relação aos conteúdos matemáticos que devem ser trabalhados nas primeiras

Etapas da Educação de Jovens e Adultos, podemos perceber que o livro didático utilizado pela

professora Ana contempla os quatro grandes blocos preconizados na Proposta Curricular para

o Primeiro Segmento da EJA (2001), sendo eles: “Números e Operações Matemáticas”,

“Medidas”, “Geometria” e “Introdução à Estatística”.

Por sua vez, embora o livro contemple tais conteúdos, tomamos como exemplo o

bloco referente à “Introdução à Estatística”. Em relação a esse bloco, o livro didático

apresenta atividades envolvendo gráficos e tabelas infantilizadas para a realidade da EJA, não

proporcionando assim atividades estatísticas relacionadas ao mundo do trabalho, ao meio

ambiente, às questões políticas e sociais, dentre outras tantas ligadas ao contexto dos

educandos dessa modalidade de ensino, o que já era de se esperar, pois o livro é recomendado

para o Ensino Fundamental Regular. Deste modo, os exercícios do livro didático em questão

indicam uma adequação para as séries iniciais do Ensino Regular, mas não para o contexto da

Educação de Jovens e Adultos, como podemos observar na Figura 6:

Figura 6: Ilustração gráfica de atividade que envolve o bloco de conteúdos “Introdução à Estatística”

Fonte: Padovan (2008, p. 46)

Percebemos também que o livro didático em questão apresenta exercícios comuns, não

sendo considerados problemas matemáticos de acordo com a concepção dos autores Polya

Page 191: CONCEPÇÕES DE PROFESSORES EXPRESSAS NOS … · metodologia de investigação adotada foi a abordagem qualitativa de cunho interpretativo, na qual nos fundamentamos em Bogdan e Biklen

190

(2003) e Darsie, (apud MATO GROSSO, 2000). Dessa forma, o livro não contempla o que

sugere a Proposta Curricular para o Primeiro Segmento da EJA (2001), na qual indica que os

conteúdos matemáticos devem ser abordados por meio da Resolução de Problemas.

O livro didático apresenta a utilização de jogos como uma sugestão para favorecer a

exploração dos conteúdos matemáticos desenvolvidos. Além disso, segundo Padovan (2008),

as atividades do livro didático valorizam o cálculo mental, a capacidade de estimativa na

resolução de problemas e os diferentes procedimentos para sua resolução.

No entanto, pelo que podemos observar nas atividades do livro que Ana trabalhou

efetivamente com seus alunos não temos como inferir se realmente Ana valorizou ou não o

cálculo mental e os procedimentos de estimativas. Outro ponto a ser considerado é que

embora o livro traga uma proposta de jogos para o ensino da Matemática, os jogos são

infantilizados, pois são indicados para crianças do 3º Ano do Ensino Fundamental.

Diante disso, observamos que a indicação da contextualização e do mundo trabalho

como referência para a proposta curricular da escola investigada, preconizada no Projeto

Político Pedagógico da Escola Bocaiúva não é contemplada no livro didático adotado pela

professora, pois o mesmo é recomendado para o ensino da Matemática na infância, não

considerando assim a heterogeneidade do público atendido pela escola, que é constituído por

“adolescentes, jovens, adultos e idosos” (PPP- Bocaiúva, 2010, p. 17). Assim, observamos

que o livro didático utilizado por Ana evidencia concepções que se aproximam da perspectiva

Bancária de EJA e de Educação Matemática.

Entretanto, assim como Ricardo, a partir do mês de julho Ana teve a oportunidade de

trabalhar com seus alunos da 2ª Etapa da EJA o livro distribuído pelo MEC “Viver, Aprender

– Alfabetização de Jovens e Adultos”. No entanto, durante a entrevista, ao questionarmos se

ela o utilizou em suas aulas de Matemática no segundo semestre de 2011, ela nos respondeu:

“Trabalhei. Teve um tema lá que falava sobre a água. E aí tava na parte, assim da

Geografia. O próprio livro trouxe algumas atividades de Matemática porque falava sobre

quantidades de água em caixas d’água. Aí foi legal até, esse texto eu consegui. Além da caixa

d’água, eles pegaram e calcularam a medida, no caso litros. E teve uma outra também que

aproveitou o texto de Geografia e trabalhou a Matemática em fração. Tinha umas tiras pra

eles indicarem em termos de fração qual seria a quantidade daquela água. Foi legal também.

Então assim, alguma coisa dá sim pra fazer, mas não todo. Porque o todo não é a realidade

nossa aqui de Cuiabá, do bairro da escola” (E – Ana).

Ao analisarmos a fala de Ana, observamos que na EJA, mais do que em outras

modalidades de ensino, é necessário que os professores planejem suas aulas para que tomem

Page 192: CONCEPÇÕES DE PROFESSORES EXPRESSAS NOS … · metodologia de investigação adotada foi a abordagem qualitativa de cunho interpretativo, na qual nos fundamentamos em Bogdan e Biklen

191

decisões quanto ao que querem ou não utilizar dos livros didáticos, em que ordem e com que

finalidade. Além disso, é imprescindível que os docentes apropriem os conteúdos, os

materiais e as temáticas sugeridas nos livros didáticos para a realidade de seus alunos, como

também elaborem materiais pedagógicos que realmente contribuam de forma efetiva no

modelo pedagógico da EJA.

Em outro momento da entrevista, Ana reafirma seu ponto de vista sobre o livro

didático distribuído pelo MEC ao afirmar que: “São muito complexos pra eles, não dá pra

acompanhar. Até que eu tentei alguns textos menores, mas é muito assim... é puxado, porque

a comunidade lá não tem um conhecimento muito aberto, sabe. E a leitura daqueles textos

são temas muito abrangentes, em termos de Brasil, de mundo. Então é complicado trabalhar

o livro. Não dá pra gente pegar aquele livro que veio lá da Secretaria (SME) e vamos adotar

o livro. Nós demos o livro para o aluno. Todos receberam. Eles pegaram, levaram pra casa,

Enorme! ...grosso...grosso...pesado... Eu não sei se vão recolher no final do ano. Se não

recolher, até vai ser um bom incentivo pra leitura deles em casa, se algum deles quiserem,

porque os temas de lá não são muito atraentes. Então é complicado esperar vir um livro

pronto da Secretaria. Não é a nossa realidade, do bairro não é” (E – Ana).

No entanto, ao analisarmos o livro em questão, podemos observar que os eixos

propostos pelo livro didático sugerem temas como emprego, profissão, salário, condições de

trabalho, condições de vida, alimentação, água, cidadania, entre outros. Percebemos que esses

temas não são distantes do cotidiano dos alunos da Educação de Jovens e Adultos do bairro

em que está inserida a Escola Bocaiúva ou de qualquer outro de uma capital brasileira. Assim,

percebemos um problema na concepção da professora em relação ao livro didático distribuído

pelo MEC, pois mesmo que tal livro não traga atividades referentes à Geometria, o

consideramos muito bom e apropriado para os alunos da EJA. Diante do exposto, observamos

a falta de preparo da professora para atuar nessa modalidade de ensino.

f) Caderno dos alunos do professor Ricardo

Ao analisarmos os cadernos dos alunos de Ricardo, verificamos a ênfase dada pelo

professor nas aulas de Matemática ao bloco de conteúdos “Números e Operações

Matemáticas”, sendo que aproximadamente 96,6% dos conteúdos ministrados e registrados

nos cadernos de seus alunos no período de fevereiro a junho de 2011 correspondem a esse

bloco. Como mostra o gráfico a seguir, apenas 4,4% dos conteúdos trabalhados por Ricardo e

registrados nos cadernos fazem parte do bloco “Medidas”.

Page 193: CONCEPÇÕES DE PROFESSORES EXPRESSAS NOS … · metodologia de investigação adotada foi a abordagem qualitativa de cunho interpretativo, na qual nos fundamentamos em Bogdan e Biklen

192

Blocos de Conteúdos

Números e Operações Matemáticas

Medidas

Geometria

Introdução à Estatística

Gráfico 3 – Distribuição dos blocos de conteúdos nos cadernos dos alunos do professor Ricardo

Fonte: Cadernos dos alunos do professor Ricardo

Dessa forma, podemos inferir a partir da análise dos cadernos dos alunos que o

professor investigado não trabalhou em suas aulas de Matemática na 1ª Etapa da EJA

conteúdos referentes aos blocos de “Geometria” e “Introdução à Estatística”, o que já era de

se esperar, pois como analisamos anteriormente o volume da coleção adotada pelo professor

não contempla tais conteúdos.

Todavia, a ênfase dada ao bloco “Números e Operações Matemáticas” nesta etapa da

EJA é, de certa forma, esperada e pode ser identificada também por uma análise dos livros

didáticos destinados aos educandos Jovens e Adultos em fase de alfabetização. Porém,

observamos que o professor Ricardo evidencia de uma maneira bastante acima do esperado tal

bloco de conteúdos em seu trabalho pedagógico na 1ª Etapa da EJA. Tal destaque

provavelmente deve estar associado a um dos modelos predominantes de ensinar Matemática

no qual, segundo Thompson (1992), o principal objetivo do ensino dessa disciplina é tornar os

alunos capazes de dominar os números e os processos e algoritmos de sua manipulação para

responderem problemas simples de aplicação.

Em relação às metodologias utilizadas por Ricardo, observamos nos cadernos de seus

alunos que o professor trabalhou com atividades matemáticas relacionadas à alfabetização,

como por exemplo, quantidade de letras e sílabas das palavras.

Percebemos também a grande ênfase dada pelo professor à exercícios que visam a

fixação das operações fundamentais da Matemática, principalmente a adição e a subtração.

Deste modo, ao propor problemas padrões que objetivam apenas a fixação das operações

numéricas, bem como, em alguns casos, com problemas com enunciados infantilizados, como

Page 194: CONCEPÇÕES DE PROFESSORES EXPRESSAS NOS … · metodologia de investigação adotada foi a abordagem qualitativa de cunho interpretativo, na qual nos fundamentamos em Bogdan e Biklen

193

podemos identificar no exemplo da Figura 7 a seguir, Ricardo aproxima-se da perspectiva

Bancária de Educação.

Figura 7: Ilustração gráfica de um exercício infantilizado considerado como problema matemático

Fonte: Caderno de um aluno do professor Ricardo

Todavia, observamos ainda, que o professor trabalhou com seus alunos da 1ª Etapa da

EJA vários textos, cujos títulos: “O Ar”, “Meu Trabalho, Meu Salário”, “Organizando o

Tempo e o Dia”, “Saneamento Básico”, “Abastecimento de Água”, “Sistema de Esgoto” e a

“Floresta Amazônica”, e a partir das informações numéricas dos mesmos, Ricardo buscou

trabalhar conteúdos matemáticos.

Deste modo, podemos inferir que Ricardo caminha em direção a uma concepção

Emancipadora de Educação, pois assuntos dos textos trabalhados por ele são muito

importantes no que se refere ao contexto dos educandos Jovens e Adultos, principalmente

porque retratam assuntos que realmente merecem ser discutidos nessa modalidade,

principalmente porque uma das principais funções do ensino de Matemática na EJA é

proporcionar aprendizagens que garantam uma efetiva participação desses estudantes na

sociedade em que vivem, sem deixar de considerar os seus conhecimentos prévios sobre a

Matemática, ligados às atividades exercidas fora da escola, bem como formar sujeitos dotados

de pensamento crítico (FREIRE, 1987).

Em linhas gerais, podemos inferir por meio dos cadernos analisados que as

concepções de Ricardo transitam entre as duas categorias de análise instituídas em nosso

trabalho, pois ora ele demonstra concepções que se fundam em uma perspectiva

Emancipadora de Educação Matemática, ora ele evidencia convicções que se apoiam em um

modelo Bancário de Educação.

Todavia, apesar de transitar entre as duas categorias de análise, observamos que as

concepções de Ricardo em relação ao ensino de matemática na EJA demonstram certa

tendência ao modelo Bancário de Educação Matemática, pois observamos por meio dos

cadernos analisados que na maioria das vezes as aulas de Ricardo foram expositivas, e que a

Page 195: CONCEPÇÕES DE PROFESSORES EXPRESSAS NOS … · metodologia de investigação adotada foi a abordagem qualitativa de cunho interpretativo, na qual nos fundamentamos em Bogdan e Biklen

194

Blocos de Conteúdos

Números e Operações Matemáticas

Medidas

Geometria

Introdução à Estatística

principal metodologia por ele utilizada foi baseada na resolução de exercícios. Além disso,

não observamos nos cadernos de seus alunos dados que indicassem que o professor, no

período investigado, trabalhou com as perspectivas metodológicas da Modelagem

Matemática, da Etnomatemática, assim como o desenvolvimento de Projetos de Trabalho

dentre outras.

g) Caderno dos alunos da professora Ana

Ao analisarmos os cadernos dos alunos de Ana, foi possível verificar a ênfase dada

pela professora investigada nas aulas de Matemática a cada bloco de conteúdos27

indicados na

Proposta Curricular para o Primeiro Segmento da EJA (2001). Como mostra o gráfico a

seguir, aproximadamente 53% dos conteúdos trabalhados por Ana fazem parte do bloco

“Números e Operações Matemáticas”, enquanto 16% se associam com o bloco “Medidas”,

6% com Geometria e 25% pertenciam ao bloco de “Introdução à Estatística”.

Gráfico 4 – Distribuição dos blocos de conteúdos nos caderno dos alunos da professora Ana

Fonte: Cadernos dos alunos da professora Ana

Deste modo, ao observarmos o Gráfico 4, podemos inferir que Ana trabalhou durante

o período investigado com atividades referentes aos quatro blocos de conteúdos que a

Proposta Curricular para o Primeiro Segmento da EJA (2001) recomenda para o ensino da

Matemática na 2ª Etapa da EJA. No entanto, seus alunos tiveram menos oportunidade de

aprendizagem dos conteúdos referentes aos blocos de “Medidas”, “Geometria” e “Introdução

à Estatística”.

27

As porcentagens foram calculadas em relação aos conteúdos identificados no caderno dos alunos referente às

aulas de Matemática no período de fevereiro a junho.

Page 196: CONCEPÇÕES DE PROFESSORES EXPRESSAS NOS … · metodologia de investigação adotada foi a abordagem qualitativa de cunho interpretativo, na qual nos fundamentamos em Bogdan e Biklen

195

Além disso, em análise aos conteúdos trabalhados por Ana numa mesma aula ou em

aulas conseguintes, podemos perceber a ênfase dada pela professora ao campo numérico. Em

muitos casos, observarmos nas atividades registradas nos cadernos dos alunos que mesmo que

a professora investigada tenha explorado assuntos referentes a outros blocos de conteúdos, o

foco privilegiado continuou sendo a aritmética. Como exemplo, tomamos as atividades

referentes ao bloco “Introdução à Estatística”, em que na maioria das vezes as informações

contidas em tabelas e gráficos, incidiram, quase que exclusivamente, para fazer cálculos.

Contudo, talvez o privilégio dado pela professora ao bloco de conteúdos “Números e

Operações Matemáticas” esteja relacionado ao período do ano em que os dados foram

coletados, ou seja, fevereiro a junho.

Quanto às metodologias, podemos confirmar o que já havíamos observado nos poucos

planos de aula que a professora nos disponibilizou. Ana privilegiou ao ensinar a Matemática

na 2ª Etapa da EJA à resolução de cálculos envolvendo as quatro operações, bem como

problemas padronizados envolvendo o Sistema Monetário em sua maioria retirados do livro

didático cuja indicação é para o trabalho com crianças do 3º Ano do Ensino Fundamental

Regular, tornando, muitas vezes, o ensino da Matemática nessa Etapa da EJA infantilizado e

sem relação com o cotidiano dos Jovens e Adultos.

Ana também realizou no decorrer do período analisado algumas atividades envolvendo

interpretação e organização de tabelas e gráficos relacionados ao mundo do trabalho e ao dia a

dia dos educandos Jovens e Adultos, como por exemplo, valores de alimentos, tempo de

gestação de animais, frutas preferidas pelos alunos da turma, valores de eletrodomésticos,

dentre outros.

Em uma das aulas, percebemos que Ana utilizou como recurso didático o Ábaco para

trabalhar o valor posicional dos números (unidade, dezena, centena), sendo este um

importante instrumento para o ensino da Matemática.

Também observamos no caderno dos seus alunos o que já havíamos relatado na

análise dos planos de aula de Ana, em que a professora trabalhou um jogo envolvendo a

multiplicação, denominado “Dominó da Multiplicação”, em que os pontos dos alunos foram

registrados em tabelas.

No entanto, não encontramos indícios no caderno dos alunos de que Ana tenha

realizado, no período investigado, um trabalho efetivo na perspectiva da Resolução de

Problemas, da Modelagem Matemática, da História da Matemática, assim como o

desenvolvimento de Projetos de Trabalho. Ademais, não observamos nos cadernos dos

alunos, atividades em que Ana considerou a diversidade e as múltiplas culturas dos Jovens e

Page 197: CONCEPÇÕES DE PROFESSORES EXPRESSAS NOS … · metodologia de investigação adotada foi a abordagem qualitativa de cunho interpretativo, na qual nos fundamentamos em Bogdan e Biklen

196

Adultos, pois como sabemos a sala de aula da EJA constitui-se em um rico espaço

etnomatemático.

Deste modo, os cadernos dos alunos da professora nos levam a inferir que as

concepções de Ana transitam entre as duas categorias de análise instituídas em nosso

trabalho, pois ora ela avança nas concepções que se fundam em uma perspectiva

Emancipadora de Educação Matemática, ora ela demonstra convicções que se apoiam em um

modelo Bancário de Educação.

Considerações sobre que concepções revelam os documentos escolares de Ricardo e Ana

quanto aos conteúdos e metodologias propostas para o ensino e aprendizagem da

Matemática na 1ª e 2ª Etapas da EJA na Escola Bocaiúva

Ao observarmos a verificação da inexistência do Planejamento Anual para o ano de

2011 e de planos de aula de Matemática no período investigado, podemos inferir que o

professor não compreende que tais documentos devem se constituir como norteadores no

trabalho pedagógico a ser desenvolvido na EJA.

Desse modo, após a análise do PPP- Bocaiúva, dos cadernos dos alunos de Ricardo e

dos livros utilizados por ele no ensino da Matemática, inferimos também, que a coleção

adotada pelo professor considera em partes o que está indicado no PPP- Bocaiúva e na

Proposta Curricular para o Primeiro Segmento da EJA (2001) em relação aos conteúdos

matemáticos que devem ser trabalhados na 1ª Etapa da Educação de Jovens e Adultos, pois os

conteúdos referentes à “Geometria” e a “Introdução à Estatística” não foram contemplados no

ensino da Matemática no período investigado. Localizamos a falta destes mesmos conteúdos

ao analisarmos os cadernos dos alunos do professor.

Observamos também que a coleção adotada pelo professor contempla em partes o que

está indicado no PPP- Bocaiúva e na Proposta Curricular para o Primeiro Segmento da EJA

(2001) em relação à consideração das especificidades desse público, principalmente em

relação à faixa etária, as experiências e o contexto no qual eles estão inseridos.

Outro ponto a ser considerado é que não encontramos indicações nos cadernos dos

alunos de Ricardo de que ele tenha utilizado no período investigado importantes perspectivas

metodológicas no ensino da Matemática na 1ª Etapa da EJA, como por exemplo, a Resolução

de Problemas, a Modelagem Matemática, a Etnomatemática, a História da Matemática, bem

como a utilização de Recursos Tecnológicos, Jogos e Estratégias Metacognitivas.

Portanto, os documentos escolares nos revelaram que as concepções de Ricardo

quanto às metodologias propostas para o ensino e aprendizagem da Matemática na 1ª Etapa da

Page 198: CONCEPÇÕES DE PROFESSORES EXPRESSAS NOS … · metodologia de investigação adotada foi a abordagem qualitativa de cunho interpretativo, na qual nos fundamentamos em Bogdan e Biklen

197

EJA se aproximam mais dos pressupostos do modelo tradicional de ensino, ou seja, do

modelo Bancário de Educação.

No que diz respeito aos documentos escolares de Ana, observamos que a professora

investigada também não realizou planejamento anual para o ano de 2011, sendo o livro

didático seu principal referencial para o trabalho na 2ª Etapa da EJA. Assim, Ana deixou de

planejar seu trabalho em relação à Matemática a partir da realidade de seus alunos para seguir

o que as autoras do livro consideraram como o mais indicado.

Entretanto, ao analisarmos o livro didático adotado pela professora, concluímos que os

conteúdos matemáticos apontados no livro são os mesmos preconizados na Proposta

Curricular para o Primeiro Segmento da EJA (2001) e na Matriz Curricular para a EJA do

município de Cuiabá, ou seja, são os mesmos conteúdos básicos da Matemática propostos

para tal segmento da Educação de Jovens e Adultos, aproximando-se assim dos pressupostos

do modelo Emancipador de Educação.

Por sua vez, embora o livro didático adotado pela professora contemple tais conteúdos,

o livro é recomendado para o Ensino Fundamental Regular. Deste modo, podemos observar a

infantilização do ensino da Matemática na EJA através da utilização do livro didático

apropriado para o público infantil. Deste modo, a professora se aproxima de uma concepção

Bancária de Educação, pois o livro utilizado não contempla o que está preconizado no PPP-

Bocaiúva e na Proposta Curricular para o Primeiro Segmento da EJA (2001) em relação à

consideração das especificidades desse público, principalmente em relação à faixa etária.

Quanto aos planos de aula, podemos perceber que em alguns momentos Ana

preocupou-se em propor atividades ligadas a situações do cotidiano dos educandos, trazendo

contextos reais do uso da Matemática, demonstrando concepções que se aproximam da

perspectiva Emancipadora de EJA e de Educação Matemática.

A perspectiva Bancária se apresenta quando Ana indica em seus planos de aula

atividades descontextualizadas e não problematizadoras, sem uma sequência didática

apropriada, sem fazer relação com o mundo do trabalho e com outras áreas do conhecimento.

Outro ponto a ser considerado é que não encontramos indicativos nos documentos escolares

de que a professora tenha utilizado no período investigado relevantes perspectivas

metodológicas capazes de estimular o envolvimento dos educandos em suas aulas,

motivando-os à aprendizagem de tal disciplina, como por exemplo, a Resolução de

Problemas, a Modelagem Matemática, a História da Matemática, a Etnomatemática, bem

como a utilização de Recursos Tecnológicos e de Estratégias Metacognitivas.

Page 199: CONCEPÇÕES DE PROFESSORES EXPRESSAS NOS … · metodologia de investigação adotada foi a abordagem qualitativa de cunho interpretativo, na qual nos fundamentamos em Bogdan e Biklen

198

Em suma, os documentos escolares de Ana nos revelaram que as metodologias

propostas para o ensino e aprendizagem da Matemática na 2ª Etapa da EJA pela professora

apresentam em diversos instantes pontos de vistas divergentes, em que esse processo ora é

compreendido segundo as características de um modelo tradicional de ensino, denominado

por nós de Educação Bancária, e ora é concebido sob a perspectiva de uma Educação

Matemática fundamentada no modelo de educação inclusiva, ou seja, no modelo

Emancipador de Educação.

5.1.3 Bloco 3- Concepções Expressas nas Falas dos Professores

a) Conteúdo

Posteriormente a análise dos conteúdos e metodologias propostas nos documentos da

Escola Bocaiúva e nos documentos dos professores Ricardo e Ana, passamos a investigar

através dos questionários Q3-A e Q3-B e das entrevistas, o quê os professores expõem em

suas falas sobre os conteúdos propostos para o ensino e aprendizagem da Matemática na 1ª e

2ª Etapas da Educação de Jovens e Adultos da Escola Bocaiúva.

Assim, perguntamos para os professores se os conteúdos de Matemática ensinados

na EJA devem ser diferentes do Ensino Regular, e eles se posicionaram afirmando:

Não, os conteúdos têm que ser os mesmos uma vez que a necessidade do cidadão se

equivale. (Q3- A-5- Ricardo)

Com certeza, no ensino regular os conteúdos são mais amplos devido ao tempo que

é maior. No EJA os conteúdos são mais reduzidos, focando o principal, as quatro

operações. (Q3- A-5- Ana)

Concordamos com Ricardo ao afirmar que os conteúdos matemáticos ensinados na

EJA devem ser os mesmos do Ensino Regular. No entanto, vários autores se posicionam

afirmando que a organização dos conteúdos matemáticos deve ser reconsiderada quando os

educandos são alunos da EJA, pois nessa modalidade os conteúdos podem ser trabalhados de

modo mais flexível e abrangente do que no Ensino Regular, deixando de lado o rigor

cronológico.

Ana acredita que os conteúdos matemáticos trabalhados na Educação de Jovens e

Adultos devem ser distintos. Além disso, a professora declara que como o tempo é menor no

Primeiro Segmento da EJA, os conteúdos são mais abreviados e devem ter como foco as

Page 200: CONCEPÇÕES DE PROFESSORES EXPRESSAS NOS … · metodologia de investigação adotada foi a abordagem qualitativa de cunho interpretativo, na qual nos fundamentamos em Bogdan e Biklen

199

quatro operações (adição, subtração, multiplicação e divisão). Ana reafirma seu

posicionamento durante a entrevista, ao declarar que “a primeira e grande prioridade são as

quatro operações. Não tem como você partir para as expressões numéricas, não tem como

você partir para nada mais, se não tem o conhecimento de somar, dividir, multiplicar e de

subtrair... Não consegue em nem um ano absorver toda essa informação. Aí você pega a

continha arme e efetue e aí eles começam a caminhar. Daqui a pouco você joga as operações

em problemas e eles já não sabem como fazer, sabe. Então a prioridade é aí, as quatro

operações tem que ser ao longo do ano” (E- Ana).

Ricardo, assim como Ana, também considera as quatro operações o conteúdo

prioritário na 1ª Etapa da EJA ao afirmar:

Normalmente as quatro operações matemáticas. A prioridade aqui na 1ª Etapa da

EJA é os alunos dominarem as quatro operações matemáticas: adição, subtração,

multiplicação e divisão. Mas... é aplicado mais, por exemplo, no exercício prático.

Por exemplo, você vai fazer uma receita de bolo... quantificar, e que aí dentro disso

aí você vai entrar com as medidas, você vai entrar com a metragem, e isso aí. Mas

fundamentalmente eles têm que saber as quatro operações matemáticas. (E –

Ricardo)

No entanto, a Proposta Curricular para o Primeiro Segmento da EJA (2001) esclarece

que além do bloco de conteúdos “Números e Operações Matemáticas”, na qual fazem parte as

quatro operações, outros três blocos de conteúdos devem constituir o ensino da Matemática

no Primeiro Segmento da EJA, sendo eles: “Medidas”, “Geometria” e “Introdução à

Estatística”.

Dessa forma, questionamos os professores sobre quais seriam os outros conteúdos

prioritários além das quatro operações matemáticas que eles consideram importantes no

trabalho da Matemática no Primeiro Segmento da EJA, e eles nos responderam:

Eu estou em um nível de 1ª Etapa..., no estudo da Matemática normalmente na 1ª

Etapa você tá levando bastante leitura. Então, para ele ler uma sentença

matemática, por exemplo, o que significa a leitura da Matemática. Você vai colocar

lá, por exemplo, descritivo. Cinquenta (50), escrever cinquenta mais setenta igual a

120 por escrito, porque é uma priorização da 1ª Etapa, é uma

alfabetização mesmo, tanto na Matemática quanto na própria literatura. Então é

necessário que você descreva. Então, praticamente na 1ª Etapa a Matemática é

descritiva mesmo, não é uma operação só numérica, mas também descritiva... que

você pode descrever, inclusive um texto relacionado à Matemática. (E- Ricardo)

Fração, que é a própria divisão... Por exemplo, a própria dona de casa poderia

fazer um bolo pra vender na rua. Quanto você pode colocar a mais para você ter

lucro. Então a fração é importante para isto também... A porcentagem... A

porcentagem na verdade é a multiplicação e a multiplicação eu já tinha trabalhado

com eles, mais a continha em si e alguns probleminhas também. Outra prioridade

na Matemática além das quatro operações é a própria leitura da matemática. É a

Page 201: CONCEPÇÕES DE PROFESSORES EXPRESSAS NOS … · metodologia de investigação adotada foi a abordagem qualitativa de cunho interpretativo, na qual nos fundamentamos em Bogdan e Biklen

200

questão também do entendimento, às vezes de uma tabela. Eu já cheguei a trabalhar

com eles tabelinha. Ah vamos transferir esta tabela no gráfico... Então sempre

falando pra eles que a realidade do nosso dia a dia é essa. Em todo canto a gente

vê. Então é trazer mesmo essas situações para dentro da sala de aula e fazer com

que eles percebam que eles não tão ali assim: “ah, vou pra escola e o mundo é

diferente”. O mundo não é diferente, é o dia a dia. É a escola [...] (E- Ana)

O professor considera importante trabalhar a Matemática juntamente com a

alfabetização, pois ao mesmo tempo em que ele ensina os conteúdos matemáticos, no caso

referente ao bloco “Números e Operações Matemáticas”, Ricardo reforça a escrita e a leitura.

O professor enfatiza seu posicionamento em outro momento da entrevista ao declarar que:

“Então se eu escrever toda a Matemática eu alfabetizo ao mesmo tempo, sem precisar eu

colocar uma literatura de Jorge Amado ou do Carlos Drummond de Andrade, ou outros,

mesmo porque esses autores também escrevem textos sobre o que é a Matemática, escrevendo

quantificação. Então isso faz com que você alfabetize também” (E- Ricardo).

Acordamos com Ricardo, pois essa é uma estratégia que facilita a aprendizagem tanto

da Matemática quanto da linguagem. Na realidade, acreditamos que elas deveriam andar

juntas para que ambas ganhassem diversos e recíprocos significados, pois é necessário a

utilização da língua para leitura e compreensão de um texto de Matemática, bem como, se

esse for um problema, atribuir significado à sua solução. Entretanto, ao abordar a

problemática envolvida nessa questão, Machado (1998, p. 9) declara que “não apenas

tornando possível a leitura dos enunciados, mas, sobretudo como fonte alimentadora na

construção dos conceitos, na apreensão das estruturas lógicas da argumentação, na elaboração

da própria linguagem matemática”.

Consideramos importantes os conteúdos que Ana elencou como prioritários para o

ensino da Matemática na 2ª Etapa da EJA. No entanto, Ana não citou em sua fala nenhum

conteúdo específico da Geometria, sendo que muitos Jovens e Adultos trabalham e precisam

dos conhecimentos geométricos em suas profissões, como é o caso de pedreiros, marceneiros,

costureiras, dentre outras.

Depois de identificarmos nas falas dos professores quais seriam os principais

conteúdos matemáticos que Ricardo e Ana priorizavam em suas aulas de Matemática na 1ª e

2ª Etapas da EJA, insistimos e questionamos se os mesmos trabalharam no período

investigado conteúdos relativos aos blocos da “Geometria”, “Medidas” e “Introdução à

Estatística”, e eles nos revelaram que:

Eu trabalho também, com poliedros e tal, porque na verdade quando você fala de

uma coisa prática, digamos assim, vou fazer uma receita de bolo como está no livro

Page 202: CONCEPÇÕES DE PROFESSORES EXPRESSAS NOS … · metodologia de investigação adotada foi a abordagem qualitativa de cunho interpretativo, na qual nos fundamentamos em Bogdan e Biklen

201

lá, então..., ele tem um recipiente. E o recipiente ele tem medidas. Quantas xícaras?

Quantas porções? As porções têm uma quantificação de volume, você entendeu? Se

eu for esticar uma massa de um salgadinho, que eles estão fazendo em uma mesa,

que tamanho? Vão dar quantos? Então, tudo está relacionado a medidas, a volume.

A superfície, tem a linear... e tem o volume. Toda a vez que se fala no sentido

prático... é assim que está lá na proposta. (E - Ricardo)

Assim, a figura na verdade, a figura geométrica dá pra trabalhar assim como a

fração. A gente coloca as figuras e pede pra fracionar em quantas partes. Então ali

tem o que. Como que é o nome dele? É o triângulo. Então já tá trabalhando o nome

da geometria, não assim cálculos que envolvem geometria... O bom é ele conhecer...

tá falando de quem: Ah, é o quadrado... Ah, é um círculo..., Ah, é o triângulo... (E-

Ana)

Ricardo declarou que trabalha o ensino da Geometria interligado com Medidas, além

do que, utiliza situações do dia a dia dos estudantes, buscando contextualizar e mostrar o

sentido prático da Matemática. Concordamos com o professor, pois de acordo com Labelle

(1998) quanto mais o adulto associa o conhecimento teórico a uma experiência ou situação

próxima ao seu contexto, com maior facilidade ele aprende. Além disso, de acordo com a

Proposta Curricular para o Primeiro Segmento da EJA, “o estabelecimento de conexões entre

os diferentes conteúdos matemáticos, assim como desses conteúdos com conteúdos de outras

áreas do conhecimento é fundamental para que se garanta uma aprendizagem significativa”

(BRASIL, 2001, p. 107).

Ana afirmou que trabalhou com seus alunos o reconhecimento das figuras geométricas

a partir do estudo de frações. Dessa forma, observamos que Ana busca trabalhar os conteúdos

matemáticos de forma interligada, como propõem a Proposta Curricular para o Primeiro

Segmento da EJA:

Diversas combinações entre os conteúdos são possíveis, dependendo do problema

que desencadeará uma situação de aprendizagem e das conexões lógicas

estabelecidas entre diversas situações... Por exemplo, pode-se iniciar o estudo propor

o estudo das frações a partir de um trabalho com composição e decomposição de

figuras geométricas (BRASIL, 2001, p. 107 – 108).

Em relação ao bloco de conteúdos referente a “Medidas”, Ana declarou que:

Comecei com eles centímetros, milímetros, metros, quilômetros, tudo assim com

problemas, figuras, ou então, é... o carro movimentou tantos quilômetros, não

aquela coisa assim calculada, mais lida em interpretação oral... Então a gente vai

trabalhando essas questões, os enigmas, os probleminhas para trabalhar o oral

também. (E- Ana)

Ana afirmou trabalhar medidas de comprimento, no qual utilizou problemas cuja

interpretação foi apenas oral. Desse modo, percebemos que mais uma vez Ana privilegiou o

Page 203: CONCEPÇÕES DE PROFESSORES EXPRESSAS NOS … · metodologia de investigação adotada foi a abordagem qualitativa de cunho interpretativo, na qual nos fundamentamos em Bogdan e Biklen

202

ensino da Matemática por meio de problemas padrões, em que as situações podem ser

facilmente solucionadas.

Quanto ao bloco de conteúdos “Introdução à Estatística”, Ricardo explicou que

“Nesse nível que eu estou eu posso trabalhar, mas muito ainda superficial. Mas também pode

se trabalhar com gráficos. Eu posso mostrar um gráfico de produção, por exemplo, eu

produzi “tanto”, o faturamento foi “tanto”. Se eu produzir “tanto”, o faturamento foi

“tanto”, eu posso mostrar para ele. Não há dificuldade de eles entenderem, porque eles já

fazem esses cálculos no cotidiano. Tem uma menina, uma aluna, por exemplo, que ela mexe

com confeitaria na vila dela. Então eu tenho esse cálculo, quantos que eu posso produzir?

quantos que vende? quanto que eu posso cobrar? Então eu posso trabalhar com essa

estatística já” (E – Ricardo).

Podemos perceber na fala de Ricardo que o professor aproveita as questões do dia a

dia de seus alunos para iniciar o trabalho com a Estatística na 1ª Etapa da EJA, o que é muito

relevante para a prática educativa nessa modalidade, principalmente porque os conhecimentos

estatísticos auxiliam na descrição e interpretação do mundo à nossa volta (BRASIL, 2001).

Além disso, ao declarar que seus alunos não demonstram dificuldades de compreensão com

os conteúdos estatísticos, pois já realizam os cálculos cotidianamente, Ricardo nos remete ao

que destaca a Proposta Curricular para o Primeiro Segmento da EJA sobre o público dessa

modalidade, que “quase sempre, independentemente do ensino sistemático, desenvolvem

procedimentos próprios de resolução de problemas envolvendo quantificações e cálculos”

(BRASIL, 2001, p. 32).

Em outros momentos durante a entrevista, Ana revelou em sua fala que trabalhou com

atividades que envolviam a interpretação de gráficos e tabelas.

Eu já cheguei a trabalhar com eles tabelinha. Ah vamos transferir esta tabela no

gráfico. Também comecei a trabalhar com eles com questõezinhas simples, mas eles

conseguiram enxergar o que estava escrito naquela tabela. Então eles conseguiram

enxergar ali no gráfico. E as coisas que estão na televisão todo dia. E o gráfico vai,

o gráfico sobe. O que significa aquilo ali? Então sempre falando pra eles que a

realidade do nosso dia a dia é essa. Em todo canto a gente vê. (E – Ana)

Percebemos através da fala de Ana que a professora preocupa-se em aproximar os

conteúdos estatísticos à realidade de seus alunos, especialmente ao mostrá-los que o que

aprendem na escola não é diferente da realidade em que vivem. Contudo, como sabemos, nem

sempre os conteúdos matemáticos ensinados na escola são tão próximos da realidade em que

vivem os estudantes da EJA, principalmente porque muitas vezes os mesmos não têm

Page 204: CONCEPÇÕES DE PROFESSORES EXPRESSAS NOS … · metodologia de investigação adotada foi a abordagem qualitativa de cunho interpretativo, na qual nos fundamentamos em Bogdan e Biklen

203

aplicabilidade imediata no cotidiano, representando assim Matemática formativa, que é tão

importante quanto a Matemática utilitária.

Além disso, complementou que os conteúdos referentes à “Introdução à Estatística”,

“tem muito assim também o lado da Geografia, que eu trabalhei também com a Geografia, e

tenho mais facilidade pra transferir para os alunos isso aí” (E – Ana).

Ao observarmos a fala de Ana, podemos inferir que a professora sente-se mais a

vontade em trabalhar os conteúdos matemáticos com seus alunos quando estes se relacionam

à Geografia, sendo que esta é sua formação inicial.

Quando indagamos aos professores se os conteúdos que elegem para trabalhar com

seus alunos correspondem às necessidades reais deles, os professores revelaram que:

Sim, escolhe-se o que realmente será utilitário, com proveito prático no seu dia a

dia, ou seja, o que está ao seu alcance e que possa ajudá-los de forma proveitosa.

(Q3- B-6- Ricardo)

Acredito que sim, devido o envolvimento dos alunos. No primeiro momento eles

veem em cada atividade uma grande barreira, depois de fazer uma boa leitura e

interpretar oralmente o que está sendo proposto é desvendado o mistério, então

surge a satisfação pela realização das atividades de maneira correta, pois a

matemática é exata. (Q3- B-6 – Ana)

Observamos que os professores acreditam que os conteúdos matemáticos que

selecionam satisfazem as necessidades de seus alunos. Ricardo complementa afirmando que

os conteúdos que ele elege estão diretamente ligados ao que será útil e prático para seus

alunos no dia a dia. A esse respeito, Duarte (1986) ressalta que essa vinculação entre a

Matemática e as necessidades sociais é verdadeiramente importante e tem sido destacada por

diversos autores. Entretanto, não podemos nos esquecer de que o fato de considerarmos

importante a valorização dos conhecimentos prévios dos educandos e o trabalho com questões

do dia a dia dos alunos não quer dizer que devemos descartar conteúdos importantes ou deixar

de apresentá-los aos alunos com o rigor matemático, simplesmente por não fazerem parte do

contexto dos estudantes ou por não haver uma aplicação imediata em situações do cotidiano.

Desse modo, o ensino do conhecimento matemático propriamente dito, ou seja, da

Matemática formativa, que inicialmente não é diretamente aplicável, mas que auxilia na

construção das estruturas cognitivas que também serão utilizadas em outras áreas do

conhecimento acaba sendo deixado em segundo plano, contribuindo para que as camadas

populares continuem sem o domínio dessa ferramenta cultural.

A professora Ana comenta que seus alunos se envolvem em suas aulas, por isso

acredita que os conteúdos que trabalha em sala de aula correspondem às necessidades deles.

Page 205: CONCEPÇÕES DE PROFESSORES EXPRESSAS NOS … · metodologia de investigação adotada foi a abordagem qualitativa de cunho interpretativo, na qual nos fundamentamos em Bogdan e Biklen

204

No entanto, compreendemos que o fato dos alunos apresentarem motivação para

desenvolverem as atividades propostas pela professora não é requisito suficiente para afirmar

que as suas necessidades estão sendo supridas.

Considerações sobre o que revelam as falas de Ricardo e Ana quanto aos conteúdos

propostos para o ensino e aprendizagem da Matemática na 1ª e 2 Etapas da Educação de

Jovens e Adultos da Escola Bocaiúva

Ricardo e Ana revelaram em suas falas contemplar os quatro blocos indicados pela

Proposta Curricular para o Primeiro Segmento da EJA (2001), sendo eles: “Números e

Operações Matemáticas”, ao exporem que priorizam o ensino das quatro operações

fundamentais da Matemática, “Geometria”, ao Ricardo afirmar que trabalhou com seus alunos

poliedros e superfícies, e Ana ao citar que trabalhou a partir das frações o reconhecimento de

figuras geométricas. O bloco “Medidas” foi contemplado, segundo os professores

investigados, ao afirmarem que ensinaram a seus alunos medidas de comprimento, dentre

outras em situações práticas do dia a dia. E por fim, o bloco “Introdução a Estatística”, ao

declararem que trabalharam com interpretação de tabelas e gráficos relacionando-os às

questões do cotidiano de seus alunos.

Todavia, verificamos que esse aspecto fica comprometido, pois Ricardo declarou

buscar sempre trabalhar com conteúdos matemáticos utilitários, cuja aplicação se dá apenas

na vida prática. Em nenhum momento, o professor mencionou a função formativa desta

disciplina, que também é responsável pelo desenvolvimento de capacidades intelectuais para a

estruturação do pensamento, o que vai além dos aspectos práticos de tal conhecimento. Desse

modo, Ricardo aproxima-se do modelo Bancário de Educação.

Ana demonstrou certa tendência ao mesmo modelo de Educação quando explicitou o

entendimento de que deve existir diferenciação entre os conteúdos matemáticos a serem

trabalhados na EJA e no Ensino Regular.

Assim sendo, em análise às falas dos professores investigados presentes nos

questionários e nas entrevistas referente aos conteúdos propostos para o ensino e

aprendizagem da Matemática na 1ª e 2ª Etapas da Educação de Jovens e Adultos,

presenciamos em diversos momentos pontos de vistas divergentes, em que esse processo, ora

é entendido segundo os pressupostos de um modelo Bancário de Educação, ora é

compreendido sob uma perspectiva Emancipadora de Educação. Portanto, os dados referentes

às falas revelaram que as concepções de Ricardo e Ana transitam entre as perspectivas

Bancária e Emancipadora de Educação.

Page 206: CONCEPÇÕES DE PROFESSORES EXPRESSAS NOS … · metodologia de investigação adotada foi a abordagem qualitativa de cunho interpretativo, na qual nos fundamentamos em Bogdan e Biklen

205

b) Metodologias

Posteriormente a análise dos conteúdos propostos pelos professores Ricardo e Ana,

passamos a investigar através dos questionários Q3-A e Q3-B e das entrevistas, que

concepções os professores investigados revelam em suas falas sobre as metodologias

propostas para o ensino e aprendizagem da Matemática na 1ª e 2ª Etapas da Educação de

Jovens e Adultos da Escola Bocaiúva.

Diante disso, fizemos o seguinte questionamento aos sujeitos: o modo como você

ensina Matemática para os alunos do Primeiro Segmento da EJA é diferente do jeito que

você ensina para os alunos do Ensino Regular? Se sim, quais são as diferenças?

Eles nos relataram que:

A diferença está na maneira de apresentar o conteúdo/ exercícios, que tem que ser

mais prático. (Q3-B-3- Ricardo)

Sim, porque um dos fatores que diferencia é a questão de tempo, pois o EJA

disponibiliza de pouco tempo, por isso é preciso acelerar alguns conteúdos focando

principalmente nas quatro operações. (Q3-B-3- Ana)

Podemos inferir que Ricardo compreende que o ensino da Matemática na EJA deve

ser explorado de forma utilitária, até porque primeiramente os estudantes dessa modalidade

buscam conhecimento matemático necessário para enfrentar os desafios cotidianos, revelando

assim uma visão pragmática do conhecimento matemático.

No entanto, além do caráter utilitário, os alunos da EJA necessitam esclarecimentos

que justifiquem a importância dos conteúdos matemáticos estudados e que nem sempre são

utilizados diretamente em questões do dia a dia. Ao abordar a problemática envolvida nessa

questão, Fonseca (2007) declara que além da dimensão utilitária da Matemática, os estudantes

da EJA compreendem, solicitam e apreciam também sua dimensão formativa, onde os

aspectos formativos adquirem um caráter de atualidade, num resgate de um vir a ser sujeito de

conhecimento que precisa realizar-se no presente.

Ana afirmou que o tempo é um dos fatores que a faz diferenciar o modo como ensina

Matemática para seus alunos da EJA e do Ensino Regular. Entretanto, durante a entrevista, a

professora diverge de seu posicionamento inicial, pois declarou que “Então a gente conversa

mais de perto porque é a vida do adulto, e a criança então não consegue falar isso tudo. Têm

que ter muito lúdico, muita brincadeira, muitos joguinhos para montar, pra ver se chama a

Page 207: CONCEPÇÕES DE PROFESSORES EXPRESSAS NOS … · metodologia de investigação adotada foi a abordagem qualitativa de cunho interpretativo, na qual nos fundamentamos em Bogdan e Biklen

206

atenção deles. O adulto não. Eu digo assim, é mais tranquilo, não é que é mais fácil

trabalhar com adultos. Não tem assim... essa coisa de estresse do professor. Com o adulto a

gente conversa com ele e ele entende o que a gente fala sem gritaria.” (E- Ana). Sobre o

mesmo questionamento, a professora também declarou que: “Mas é, é muito lento. O adulto,

a mente dele, sei lá, não é que é difícil de entender, ele é mais lento que a criança. A criança

depois que ela entende (estalo com os dedos) pode descansar que ela caminha sozinha. O

adulto não. Tem que ir e voltar várias vezes, várias vezes” (E – Ana).

Podemos perceber por meio das falas que Ana considera que seus alunos da EJA

compreendem melhor o que ela ensina, pois os conteúdos matemáticos se aproximam mais da

vida dos Jovens e Adultos. Por outro lado, ao afirmar que o adulto “é mais lento que a

criança” (E – Ana), a professora nos remete a uma visão preconceituosa da cognição dos

Jovens e Adultos, nos levando a inferir que compreende que a capacidade de aprendizagem

dos mesmos é inferior à capacidade de aprendizagem das crianças que estudam no Ensino

Regular.

Podemos inferir também que Ana acredita que somente no Ensino Regular os jogos

podem vir a ser um recurso metodológico para o ensino da Matemática. Entretanto, vários

autores defendem a situação do jogo na Educação de Jovens e Adultos, pois pode propiciar

um ambiente adequado à motivação dos estudantes, facilitando à aprendizagem de conceitos

matemáticos e o raciocínio lógico-dedutivo nessa modalidade de ensino.

Em suma, percebemos certa contradição na fala de Ana, pois no questionário a

professora declarou que o tempo das aulas na EJA é a principal diferença do modo como

ensina Matemática no Ensino Regular. Já na entrevista, Ana afirmou que os adultos são muito

mais lentos do que as crianças, sendo necessário repetir várias vezes os conteúdos

ministrados. Deste modo, podemos inferir que Ana acredita que os adultos aprendem por

repetição, e as crianças, com aulas lúdicas e motivadoras.

Diante disso, podemos perceber que tanto Ricardo quanto Ana não consideram a

diversidade e as especificidades de seus educandos como diferenças que devem ser

consideradas no processo de ensino e aprendizagem da Matemática na EJA.

Ao indagarmos os sujeitos sobre qual seria a forma mais adequada para se ensinar

Matemática no Primeiro Segmento da Educação de Jovens e Adultos, os professores se

posicionaram alegando:

Usar exemplos do cotidiano, do viver dos alunos, ou seja, as atividades praticadas

naturalmente no dia a dia. (Q3- B-1- Ricardo)

Page 208: CONCEPÇÕES DE PROFESSORES EXPRESSAS NOS … · metodologia de investigação adotada foi a abordagem qualitativa de cunho interpretativo, na qual nos fundamentamos em Bogdan e Biklen

207

Exatamente com adultos tem que levar em consideração a bagagem que ele já tem e

partir daí, do que ele já possui de conhecimento porque se tem aluno... que ele já

tem idade, já viveu várias experiências, trabalhou... trabalha, faz procedimentos

matemáticos diariamente. A questão da gente é só sistematizar isso. De que forma

que você faz para que esse acadêmico...como que isso é... a transformação dele

naturalmente para o acadêmico. (E- Ricardo)

Acredito que não tenha uma receita da melhor maneira para se ensinar

Matemática, pois cada professor usa uma metodologia que melhor atende a

realidade da turma. (Q3- B-1- Ana)

Trazer pra sala de aula aquilo que ele vive. É a conta do mercado, é o salário do

mês, ou ele dá ou ele não dá, ou até mesmo a compra lá na loja que deixou atrasar

e aí daqui a pouco perde o controle e os juros vêm mesmo... Então é trazer mesmo

pra dentro da sala essa questão da vida do adulto. (E – Ana)

Observamos que Ricardo e Ana compreendem que a Matemática ensinada no Primeiro

Segmento da Educação de Jovens e Adultos deve ser contextualizada, ou seja, deve estar

ligada aos contextos dos educandos, reforçando dessa maneira o que nos sugere a Proposta

Curricular da EJA para o Segundo Segmento da EJA (BRASIL, 2002). Contudo, o ensino de

Matemática citado pelos professores contempla apenas um dos aspectos de sua função para a

modalidade, pois de acordo com o mesmo documento,

A atividade matemática deve integrar, de forma equilibrada, dois papéis

indissociáveis: formativo, voltado ao desenvolvimento de capacidades intelectuais

para a estruturação do pensamento e o funcional, dirigido à aplicação dessas

capacidades na vida prática e à resolução de problemas nas diferentes áreas de

conhecimento (BRASIL, 2002, p. 12).

Desse modo, acreditamos que o ensino de Matemática no Primeiro Segmento da EJA

além de contemplar o seu papel funcional deve ainda procurar cumprir com sua função

formativa, uma vez que compete a tal função auxiliar na construção das estruturas cognitivas

que também serão utilizadas em outras áreas do conhecimento.

Na entrevista, Ricardo alegou também que devem ser considerados os conhecimentos

prévios dos educandos no ensino da Matemática na 1ª Etapa da EJA e que o principal papel

do professor é sistematizar o conhecimento que os alunos já apresentam com os que são

ensinados pela escola, reafirmando o que sugere a Proposta Curricular para o Primeiro

Segmento da EJA:

Relacionar os conhecimentos científicos que a escola apresenta com os

conhecimentos prévios dos alunos é uma forma de garantir uma memorização

compreensiva, a assimilação de conteúdos que o aluno realmente aprende porque se

incorporam à sua rede de conhecimentos. É uma forma também de evitar que os

alunos trabalhem com uma lógica dicotômica, separando conhecimentos que servem

só para a escola de conhecimentos que servem para a vida (BRASIL, 2001, p. 168).

Page 209: CONCEPÇÕES DE PROFESSORES EXPRESSAS NOS … · metodologia de investigação adotada foi a abordagem qualitativa de cunho interpretativo, na qual nos fundamentamos em Bogdan e Biklen

208

A respeito das falas de Ana, concordamos com a professora, pois devemos utilizar

metodologias de ensino que respeitem a realidade dos estudantes, sendo esta considerada o

ponto de partida para a definição do currículo e para o processo de ensino e aprendizagem na

EJA. Ademais, as práticas pedagógicas dos professores que trabalham a Matemática nessa

modalidade de ensino devem valorizar o perfil, as especificidades e a realidade em que vivem

os educandos através de metodologias apropriadas à idade, à experiência e às expectativas

desse público específico.

Nesse sentido, o educador tem um papel fundamental na EJA, pois deve avaliar as

diferentes metodologias quanto a suas potencialidades educacionais, bem como as

circunstâncias em que se pretende utilizá-las.

Questionamos os docentes sobre quais tipos de recursos metodológicos são mais

adequados no processo de ensino da Matemática no Primeiro Segmento da Educação de

Jovens e Adultos, e eles nos responderam da seguinte maneira:

Cartazes, rótulos, lista de compras e venda. (Q3-A- 3- Ricardo)

A gente usa, por exemplo, pode usar um recorte,... pode mostrar uma trena, fazer

uma medição local ali, por exemplo, um GPS, que é um aparelho de localização por

satélite. Na medida que eu posso eu mostro pra eles. Agora mesmo eu “tô” dando

um texto pra eles falando sobre mapas... Então se eu não tenho nenhuma concepção

de que é Matemática eu não sei ler uma escala, como que representa uma escala.

(E- Ricardo)

Todos os recursos que o professor que está em sala conhece e que possa fazer uso

dele. (Q3-A-3- Ana)

Jogos são um, quer dizer, primeiro é a garganta do professor, esse é infalível.

Depois os jogos, pra chamar mais a atenção dos alunos e se for usado, como nesse

ano não usei, os recursos eletrônicos, como o retroprojetor, um filme que possa

refletir sobre um assunto, esses são os recursos que a gente tem que usar. (E – Ana)

Os recursos didáticos declarados por Ricardo e Ana vêm ao encontro ao que propõem

os documentos oficiais para a EJA, pois tais recursos podem proporcionar diversas situações

de ensino e aprendizagem na sala de aula da Educação de Jovens e Adultos, como por

exemplo, informar, despertar interesses, motivar, introduzir problemáticas, induzir à reflexão

e facilitar a apreensão de conceitos matemáticos pelos alunos.

Entretanto, ao afirmar em primeiro lugar que o recurso metodológico adequado no

processo de ensino da Matemática no Primeiro Segmento da Educação de Jovens e Adultos

“é a garganta do professor, esse é infalível” (E- Ana), Ana nos remete ao entendimento de

que suas aulas são expositivas, centradas na figura do professor, aproximando-se de

concepção Bancária de Educação.

Page 210: CONCEPÇÕES DE PROFESSORES EXPRESSAS NOS … · metodologia de investigação adotada foi a abordagem qualitativa de cunho interpretativo, na qual nos fundamentamos em Bogdan e Biklen

209

Interrogados sobre quais metodologias de ensino utilizam para ensinar

Matemática para seus alunos do Primeiro Segmento da EJA, os professores pontuaram

que:

Trabalho com atividades práticas do dia a dia principalmente o monetário. (Q3-B-

2- Ricardo)

São várias as metodologias... Eu acho que funcionam as construtivistas. Você

construir... Como eu disse tem que aproveitar o que eles já têm, então tem que

construir a partir do conhecimento que eles já têm, que eles já trazem do cotidiano,

do dia a dia. Então vai construir a partir daí, tem um alicerce, uma fundação e você

a partir daí vai construindo. (E – Ricardo)

Métodos variados, principalmente quando posso usar materiais concretos como

ábaco, dobraduras, temos que ao adulto facilita a interpretação como: cédulas de

dinheiro, pesquisa de preço de mercadorias em mercado, etc. (Q3-B-2- Ana)

A principal metodologia mesmo é o discurso, que é a fala da gente, que não tem

como não ter. Tem que ter... porque a fala da gente é o melhor caminho pra fazer,

porque pode ter lá o retroprojetor mais chique que tiver, mas se você não interferir

com a fala, fica só a figura na parede. Então um recurso infalível é o “gogó” do

professor. Tem que falar... Não dá pra você chegar em sala de aula e mostrar

alguma coisa lá de figura e sentar. Não tem como. (E- Ana)

Ricardo não declarou explicitamente quais são as metodologias que utiliza em suas

aulas de Matemática. Entretanto, ao destacar que as metodologias mais eficazes são as que

consideram os conhecimentos prévios dos estudantes, o professor revela entender que os

saberes que os educandos trazem de suas experiências são significativos para a construção de

suas aprendizagens. Desse modo, o educador comprometido com uma Educação

Emancipadora deve levar em consideração tais conhecimentos durante a realização de seu

trabalho. Sobre esse assunto, a Proposta Curricular da EJA (BRASIL, 2001), bem como,

vários pesquisadores, entre eles Almeida (1998) e Nogueira (2010) ressaltam ser de extrema

importância para o processo pedagógico na Educação de Jovens e Adultos, a consideração dos

conhecimentos prévio dos alunos.

Primeiramente, Ana alegou utilizar métodos variados, citando que quando possível faz

uso de materiais manipuláveis em suas aulas. Concordamos com Ana, pois de acordo com a

Proposta Curricular para o Primeiro Segmento da EJA (2001), materiais como ábacos,

material dourado, discos de frações, cópias de cédulas e moedas, dentre outros podem ser

recursos didáticos eficientes para apoiar a aprendizagem dos números e das operações desde

que estejam relacionados a situações significativas que provoquem a reflexão dos alunos

sobre as ações desencadeadas.

Em outra ocasião, durante a entrevista, Ana revelou utilizar jogos no ensino da

Matemática ao afirmar: “Eu levei... foi dominó da multiplicação, que eu trabalhei com eles.

Na escola tem, então eu usei também. Da multiplicação e no outro dia teve competição...eu

Page 211: CONCEPÇÕES DE PROFESSORES EXPRESSAS NOS … · metodologia de investigação adotada foi a abordagem qualitativa de cunho interpretativo, na qual nos fundamentamos em Bogdan e Biklen

210

não sei se eu levei o da subtração, mas da multiplicação eu sei que eu levei porque a escola

tem” (E – Ana). Consideramos tal metodologia adequada para a Educação de Jovens e

Adultos, pois pode proporcionar um ambiente favorável à motivação dos educandos,

facilitando à aprendizagem de conceitos matemáticos e o raciocínio lógico-dedutivo, além do

que pode possibilitar que essa disciplina seja redescoberta pelos alunos, em que eles possam

ser agentes ativos na construção do seu próprio conhecimento, desde que esse recurso não seja

utilizado apenas como jogo.

Entretanto, durante a entrevista, observamos que Ana privilegia em suas aulas o seu

próprio discurso, levando-nos a inferir que as metodologias propostas por ela para o ensino e

aprendizagem da Matemática na 2ª Etapa da EJA centram-se na transmissão de informações,

principalmente ao declarar que o “recurso infalível é o “gogó” do professor”. (E –Ana),

sinalizando assim para aulas expositivas. Dessa forma, as metodologias propostas pela

professora caminham em direção aos pressupostos do modelo Bancário de Educação, em que

a Educação é concebida como um ato de depositar, de transferir e de transmitir valores e

conhecimentos.

Solicitamos aos professores que descrevessem melhor como trabalham a

Matemática em sala de aula com seus alunos do Primeiro Segmento da EJA, e eles nos

expuseram que:

Como eu “tô” focado na alfabetização, a aula é descritiva. Eu procuro trabalhar...

porque uma das grandes ansiedades desses alunos que vem pra escola é ler. E para

ler, aí você tem que dizer que a Matemática também é uma leitura, porque

aparentemente se for dividir... Tem duas coisas: achar que ler é só literatura e que

Matemática é fazer desenhos, codificar os números. Mas a Matemática não é isso!

Ela é todo o dia a dia das pessoas, quer dizer, por exemplo, dois olhos, um nariz,

duas orelhas...tudo tá enumerado em quantidades, mas é necessário que escreva

isso e que após também, falar pra ele como uma forma de transmitir oralmente, ele

transformar em escrita, porque também há uma dificuldade de escrever. ... Então é

necessário que todo momento seja descrito, por isso eu escrevo números, numerais,

mas também tenho que descrever tudo isso aí. Então esse que é, no meu caso, o meu

foco. (E – Ricardo)

Então, primeiro é a leitura porque não tem como passar uma atividade, um

conteúdo no quadro sem depois ler com eles. Tem que ler, porque se não ler não

tem entendimento nenhum, não dá pra você encher o quadro de atividade e depois

espera, dá a resposta... eles não conseguem caminhar, nem dar o primeiro passo.

Então, conteúdo no quadro, primeiro passo é a leitura e interpretação. Quanto mais

você fala, mais precisa falar. Por quê? Porque daqui a pouco eles já esqueceram o

que você falou e aí você tem que falar tudo de novo. Uns tem mais facilidade, outros

não. Então, depois que o conteúdo tá no quadro, é a leitura. E se tiverem xerox? É a

mesma coisa, vai ter que ler. Se não ler com eles a dificuldade é enorme e não tem

como começar. Aí depois da leitura, a interpretação oral primeiro do professor. A

gente busca exemplos pra eles entenderem, aí com as palavras deles eles vão

tentando, vão tentando, até que alguém assim aponta uma luz e aí toda sala começa

a entender, porque às vezes, eu penso assim, o meu português não é suficiente pra

chegar à mente deles. E aí, o outro vem. O colega vem e fala a mesma coisa, sabe, e

Page 212: CONCEPÇÕES DE PROFESSORES EXPRESSAS NOS … · metodologia de investigação adotada foi a abordagem qualitativa de cunho interpretativo, na qual nos fundamentamos em Bogdan e Biklen

211

aí esclarece. Então tem que ter esses momentos de leitura e de interpretação e

também de ouvir a sala, um momento que eles próprios se entendam, porque vai

ajudar no meu trabalho e ajudando outros colegas a entender melhor aquele

assunto. Então tenho que deixar. (E – Ana)

Percebemos na fala do professor que seu principal objetivo na 1ª Etapa da EJA é

ensinar seus alunos a ler. Desse modo, Ricardo tenta mostrar aos estudantes que a Matemática

também é uma linguagem. Para isso, o professor apresenta em suas aulas a Matemática como

um conhecimento ligado ao dia a dia das pessoas e busca escrever tanto numericamente

quanto pela linguagem escrita os números e os numerais. Consideramos relevante a prática do

professor em fazer essa conexão entre a Matemática e a língua portuguesa, pois ao trabalhar

os conteúdos matemáticos dessa forma, Ricardo ensina a Matemática de uma forma diferente,

em que os conteúdos matemáticos deixam de ser organizados de forma rígida e passam a ser

vinculados a outras áreas de conhecimentos e às experiências de vida dos alunos.

Entretanto, discordamos de Ricardo ao considerar como seu principal objetivo, a

alfabetização dos alunos na 1ª Etapa da EJA, pois os conhecimentos matemáticos são tão

relevantes quanto os conhecimentos da linguagem nessa modalidade. Assim, o professor

acaba deixando a Matemática em segundo plano, prejudicando o ensino dessa disciplina na 1ª

Etapa da Educação de Jovens e Adultos na Escola Bocaiúva.

Percebemos que a professora também se preocupa com a leitura, talvez seja porque

seus alunos da 2ª Etapa da EJA ainda demonstrem dificuldade em ler e interpretar, por isso

afirmou que depois de passar no quadro-negro as atividades matemáticas ou entregar cópias

para os alunos, realiza a leitura e a interpretação do que se pretende com tais exercícios,

exemplificando. Somente no segundo momento, Ana declarou discutir com a turma, nos

levando a compreender novamente que suas aulas de Matemática são expositivas e são

centradas na transmissão de informações, principalmente ao revelar que “quanto mais você

fala, mais precisa falar. Por quê? Porque daqui a pouco eles já esqueceram o que você falou

e aí você tem que falar tudo de novo” (E- Ana).

Diante disso, fica evidente para Ana que a aprendizagem processa-se de fora para

dentro, de forma unilateral, sendo o aluno um sujeito quase que passivo no processo de

escolarização, caracterizando uma concepção Bancária de Educação.

Ao interrogarmos os professores investigados se as atividades de Matemática são

passadas no quadro-negro, Ricardo e Ana nos responderam:

No quadro... Eu acho que é necessário, porque “ele” precisa melhorar a letra, ele

tem problema, por exemplo, de coordenação motora, de organização, porque na

Matemática você precisa tá organizado quando você vai fazer cálculo porque se

Page 213: CONCEPÇÕES DE PROFESSORES EXPRESSAS NOS … · metodologia de investigação adotada foi a abordagem qualitativa de cunho interpretativo, na qual nos fundamentamos em Bogdan e Biklen

212

você deixar um fator pra cá (gestos com as mãos) e esquecer que esse fator estava

inserido no negócio acaba de inserir de volta, eu perco o cálculo... Então a cópia

pra mim é importante exatamente por causa disso. Então eu passo no quadro.

Normalmente eu passo no quadro. (E- Ricardo)

Na medida do possível, tiro cópias... passo no quadro pra eles copiarem, mas ao

mesmo tempo você pode dar um material, tipo uma apostilinha pra eles

acostumarem a manipular livros também, entendeu. (E – Ricardo)

No quadro, folha rodada, mas o nosso grande aliado é mesmo o quadro e giz,

porque também, cópias é complicado pra gente, eu já levei algumas vezes, mas aí eu

tiro do meu bolso. (E- Ana)

Podemos inferir que os professores investigados normalmente utilizam o quadro-negro

em suas aulas de Matemática. Ricardo revelou ainda que o utiliza, pois considera que a cópia

é importante no ensino dessa disciplina. Porém, para Coll (1990), a aprendizagem não

consiste em mera cópia, reflexo exato ou simples reprodução do conteúdo, implica processo

de construção e reconstrução, cujos conhecimentos que os alunos já trazem têm papel

decisivo.

Os professores também relataram que utilizam cópias. Além do mais, Ana citou

utilizar folhas mimeografadas em suas aulas, sendo este um recurso extremamente antigo

levando em consideração o avanço tecnológico da última década.

Observamos também, que a Escola Bocaiúva não disponibiliza cópias para que os

professores possam utilizar em suas aulas. Desse modo, observamos que muitas vezes o

governo municipal não dá condições e o mínimo de recursos aos professores para que estes

possam diversificar suas aulas, como é o caso da Escola Bocaiúva, que não tem nenhuma

copiadora e impressora disponíveis aos professores. Todavia, não temos como inferir que se a

escola disponibilizasse cópias e outros recursos, os professores fariam uso dos mesmos em

suas práticas pedagógicas.

Em linhas gerais, percebemos que as práticas de Ricardo e Ana se resumem, na

maioria das vezes, na utilização de quadro e giz, principalmente quando a professora

enfatizou que os mesmos são seus “grandes aliados” (E – Ana) nas aulas de Matemática,

levando-nos ao entendimento de que as práticas de ensino dos sujeitos investigados são

centradas na figura do professor e que suas aulas são expositivas.

Ao questionarmos Ana sobre como acontece o processo de escolha das atividades

matemáticas no livro didático que utiliza para o ensino da Matemática na 2ª Etapa da

EJA, já que o mesmo é recomendado para o ensino no 3º Ano do Ensino Fundamental

do Ensino Regular, a professora declarou que:

Page 214: CONCEPÇÕES DE PROFESSORES EXPRESSAS NOS … · metodologia de investigação adotada foi a abordagem qualitativa de cunho interpretativo, na qual nos fundamentamos em Bogdan e Biklen

213

Então, é aquela que primeiramente chama a atenção da gente, porque se a gente tá

motivado também pra ensinar determinado tema fica mais fácil. Agora, se você

pega um livro e não vê nada de atraente naquela atividade que você vai transferir

pra eles, nem eles vão gostar. Então primeiro a gente começa ler. Lê um livro, lê

outro, pega uma atividade daqui, outra ali, mas aquelas que começam a falar

primeiro com a gente, pra depois transmitir. Então esse é o critério... De uma

página às vezes você tira uma frase só e monta outra atividade... Você pode pegar

uma aqui do começo do livro quanto lá do final do livro, então depende do assunto

que está sendo trabalhado. Então o critério é esse, primeiro o assunto tem que falar

com a gente... (E – Ana)

Percebemos que Ana elege as atividades no livro indicado para o Ensino Regular

conforme sua motivação e o assunto que está sendo trabalhado em sala de aula, e assim, não

parte efetivamente das necessidades e da realidade de seus alunos. Em nenhum momento, a

professora revelou escolher as atividades que seriam propicias para o ensino da Matemática

na EJA, considerando que seus alunos são Jovens e Adultos. Assim, podemos inferir que Ana

não se preocupa em escolher atividades que não sejam infantilizadas para o ensino da

Matemática em tal modalidade. Além disso, constatamos que a professora acredita que o

ensino é centrado na transmissão de informações, ao declarar “aí você tá motivado pra chegar

e transmitir para o aluno o tema do dia, da aula”, nos levando a compreensão de que sua

concepção se aproxima da perspectiva Bancária de Educação.

Considerações sobre que concepções revelam as falas de Ricardo e Ana quanto às

metodologias propostas para o ensino e aprendizagem da Matemática na 1ª e 2ª Etapas

da Educação de Jovens e Adultos na Escola Bocaiúva

Ao realizarmos a análise das falas de Ricardo e Ana presentes nos questionários e nas

entrevistas acerca das metodologias propostas para o ensino e aprendizagem da Matemática

na 1ª e 2ª Etapas da Educação de Jovens e Adultos, notamos em diversos momentos pontos de

vistas divergentes, em que as metodologias de ensino da Matemática, ora são propostas

segundo os pressupostos da perspectiva Emancipadora de Educação Matemática, ora são

indicadas de acordo com o modelo Bancário de Educação Matemática.

Nesse sentido, notamos que Ricardo tem se remetido aos ideais do modelo

educacional Emancipador, quando declara que o modo como ensina Matemática para os

alunos da 1ª Etapa da EJA é diferente do jeito que ensina para os alunos do Ensino Regular,

pois reconhece que os estudantes Jovens e Adultos trazem para a unidade escolar uma

bagagem de conhecimentos oriundos de suas experiências de vida. Essa aproximação se

evidência também, ao destacar que as metodologias mais eficazes no ensino e aprendizagem

da Matemática na EJA são as que consideram tais saberes, que são advindos das experiências

Page 215: CONCEPÇÕES DE PROFESSORES EXPRESSAS NOS … · metodologia de investigação adotada foi a abordagem qualitativa de cunho interpretativo, na qual nos fundamentamos em Bogdan e Biklen

214

de vida dos estudantes, pois estes são significativos para a construção das aprendizagens de

seus alunos.

Ou ainda, quando explicita a compreensão de que a Matemática ensinada na 1ª Etapa

da Educação de Jovens e Adultos deve estar ligada aos contextos dos educandos e que os

conteúdos matemáticos devem ser vinculados às experiências de vida dos alunos e a outras

áreas de conhecimento como, por exemplo, a Língua Portuguesa.

Ana remete-se a visão de um modelo Emancipador de Educação Matemática quando

revela a compreensão de que o ensino da Matemática na 2ª Etapa da Educação de Jovens e

Adultos deve ser contextualizado. A concepção Emancipadora também pode ser observada,

quando a professora afirma que devemos utilizar metodologias de ensino que respeitem a

realidade dos estudantes, sendo esta considerada o ponto de partida para o processo de ensino

e aprendizagem da Matemática na EJA.

Aproxima-se também de tal concepção ao afirmar que faz uso em suas aulas de jogos

e vários recursos didáticos, que podem facilitar a aprendizagem de conceitos matemáticos

pelos alunos na Educação de Jovens e Adultos.

Por outro lado, notamos que as falas dos professores se remetem a uma visão Bancária

de Educação. Tal concepção se verifica nas falas de Ricardo e Ana quando destacam apenas o

aspecto utilitário da Matemática revelando assim, uma visão pragmática do conhecimento

matemático, não sinalizando a necessidade do aspecto formativo dessa ciência e de se manter

o equilíbrio entre esses aspectos ao desenvolver o trabalho com os alunos.

A mesma perspectiva se evidencia quando os professores não reconhecem a

diversidade e as especificidades de seus educandos como diferenças que devem ser

consideradas no processo de ensino e aprendizagem da Matemática na EJA.

Ana aproxima-se também do mesmo modelo, quando demonstra uma visão

preconceituosa da cognição dos Jovens e Adultos, nos levando ao entendimento de que

compreende que a capacidade de aprendizagem dos adultos é inferior à capacidade de

aprendizagem das crianças que estudam no Ensino Regular. Ana igualmente evidencia tal

perspectiva ao acreditar que os adultos aprendem por repetição, e as crianças, com aulas

lúdicas e motivadoras.

Esse modelo é ainda destacado quando a professora afirma que o principal recurso

metodológico que deve ser utilizado no processo de ensino da Matemática na 2ª Etapa da EJA

deve ser a fala do educador, nos levando a compreender que suas aulas são expositivas e

centradas na transmissão de informações. E finalmente, quando os professores investigados

não compreendem que a Etnomatemática, a Resolução de Problemas, a Modelagem

Page 216: CONCEPÇÕES DE PROFESSORES EXPRESSAS NOS … · metodologia de investigação adotada foi a abordagem qualitativa de cunho interpretativo, na qual nos fundamentamos em Bogdan e Biklen

215

Matemática e a História da Matemática, os Projetos de Trabalho, e a utilização de Estratégias

Metacognitivas e os Recursos Tecnológicos, constituem-se como importantes perspectivas

metodológicas para o ensino da Matemática na EJA.

Em suma, as falas dos sujeitos nos revelam que suas concepções acerca das

metodologias propostas para o ensino e a aprendizagem da Matemática na 1ª e 2ª Etapas da

EJA transitam entre as perspectivas Emancipadora e Bancária de Educação. Entretanto,

apesar de transitar por entre as duas categorias de análise instituídas, observamos que as

concepções de Ricardo aproximam-se do modelo Emancipador de Educação e as

compreensões de Ana ao modelo Bancário de Educação.

5.1.4 Bloco 4- Concepções Expressas nas Análises dos Documentos e das Falas dos

Professores da Escola Bocaiúva

a) Conteúdos

Como Ricardo não elaborou o planejamento anual para o ano de 2011 e planos de aula

durante o período de investigação dessa pesquisa, analisamos apenas o livro didático que

Ricardo utilizou e os cadernos de seus alunos. Assim, ao analisarmos o livro didático utilizado

por Ricardo, observamos que o mesmo propõe conteúdos matemáticos referentes apenas dois

dos quatro grandes blocos preconizados na Proposta Curricular para o Primeiro Segmento da

EJA (2001), sendo eles: “Números e Operações Matemáticas” e “Medidas”. Observamos os

mesmos conteúdos nos cadernos dos alunos do professor, o que já era esperado, pois Ricardo

se baseou na coleção Gandra (2008) para propor o ensino da Matemática na Etapa da EJA em

que leciona.

Entretanto, os dados presentes em sua fala revelam contradição com os dados

observados em seus documentos quando o professor afirma contemplar os quatro grandes blocos

sugeridos pela Proposta Curricular para o Primeiro Segmento da EJA (2001) no ensino e

aprendizagem da Matemática na 1ª Etapa da EJA, sendo eles: “Números e Operações

Matemáticas”, “Geometria”, “Medidas” e “Introdução à Estatística”. Desse modo,

percebemos divergências entre o que o professor evidencia em sua fala com o que revelam

seus documentos.

Ao analisarmos os documentos escolares de Ana, com exceção do planejamento anual,

pois a professora não o elaborou para o ano de 2011, observamos a recorrência dos dados

acerca dos conteúdos matemáticos propostos por ela em seus planos de aula (e que foram

Page 217: CONCEPÇÕES DE PROFESSORES EXPRESSAS NOS … · metodologia de investigação adotada foi a abordagem qualitativa de cunho interpretativo, na qual nos fundamentamos em Bogdan e Biklen

216

observados nos cadernos de seus alunos e no livro em que se apoiou para o ensino e

aprendizagem da Matemática), com os dados revelados em sua fala. Dessa forma, podemos

inferir que Ana propôs e efetivamente trabalhou com os quatro grandes blocos de conteúdos

recomendados para o ensino da Matemática na 2ª Etapa da EJA pela Proposta Curricular para

o Primeiro Segmento da EJA (2001).

Em suma, entendemos que as concepções reveladas nos documentos escolares e nas

falas de Ricardo acerca dos conteúdos matemáticos propostos para o ensino e aprendizagem

da Matemática na 1ª Etapa da EJA aproximam-se do modelo Bancário de Educação. Por

outro lado, os dados presentes nos documentos e nas falas de Ana, nos permitem concluir que

as suas concepções se aproximam de uma perspectiva Emancipadora de Educação.

b) Metodologias

Ao analisarmos os documentos escolares e as falas de Ricardo e Ana acerca das

metodologias propostas para o ensino e aprendizagem da Matemática na 1ª e 2ª Etapas da

EJA, notamos em diversos momentos pontos de vistas divergentes, pois algumas

metodologias foram indicadas nas falas dos professores, mas não foram propostas em seus

documentos.

Ricardo mencionou em sua fala que o ensino da Matemática na 1ª Etapa da EJA deve

levar em consideração os conhecimentos prévios dos estudantes, bem como deve estar

relacionado aos contextos em que os educandos estão inseridos. Destacou também que as

metodologias mais eficazes no ensino e aprendizagem dessa disciplina são as que consideram

tais saberes, sendo que os conteúdos matemáticos devem ser vinculados às experiências de

vida dos alunos e a outras áreas de conhecimento, pois estes se mostram significativos para a

construção das aprendizagens de seus alunos.

Entretanto, observamos certa contradição entre o que Ricardo destacou em sua fala

com o que observamos em seus documentos, principalmente porque o professor adotou a

coleção Gandra (2005) para organizar o ensino da Matemática na 1ª Etapa da EJA no período

investigado, visto que tal coleção em vários momentos apresenta atividades infantilizadas que

privilegiam a repetição de exercícios, sem problematizações e sem considerar os

conhecimentos prévios dos estudantes Jovens e Adultos.

Percebemos também certa contradição entre os dados observados nos documentos

escolares e nas falas de Ricardo, pois o professor considerou em sua fala apenas o papel

funcional do ensino de Matemática nessa modalidade. Todavia, ao analisarmos os

Page 218: CONCEPÇÕES DE PROFESSORES EXPRESSAS NOS … · metodologia de investigação adotada foi a abordagem qualitativa de cunho interpretativo, na qual nos fundamentamos em Bogdan e Biklen

217

documentos escolares do professor que tivemos acesso, observamos que além da dimensão

utilitária da Matemática, Ricardo também contemplou a dimensão formativa no ensino dessa

disciplina na 1ª Etapa da EJA na Escola Bocaiúva.

Ao analisarmos os planos de aula e as falas de Ana, bem como os cadernos de seus

alunos, percebemos a recorrência de dados principalmente no que se refere às atividades

matemáticas que envolvem situações do cotidiano dos estudantes, pois a professora propôs e

efetivamente trabalhou, em alguns momentos no período investigado, atividades relacionadas

aos contextos reais em que estão inseridos seus educandos, demonstrando concepções que se

aproximam da perspectiva Emancipadora de EJA e de Educação Matemática.

Todavia, percebemos certa incoerência, pois ao mesmo tempo em que Ana destaca a

importância de se trabalhar com atividades relacionadas aos contextos dos alunos Jovens e

Adultos, a professora utilizou no período investigado o livro Padovan (2008), cuja indicação é

para o ensino da Matemática para o público do Ensino Regular, caracterizando assim a

infantilização do ensino nessa modalidade. A contradição entre as falas de Ana e seus

documentos é revelada também ao observamos que em vários momentos a professora propôs

em seus planos de aula atividades descontextualizadas e não problematizadoras, sem fazer

relação com o mundo do trabalho no qual fazem parte os educandos Jovens e Adultos desta

modalidade. Desse modo, Ana nos leva ao entendimento de que suas concepções caminham

em direção aos pressupostos da Educação Bancária.

Por outro lado, notamos a recorrência dos dados quando encontramos indicações nos

documentos escolares de que Ana efetivamente utilizou jogos em suas aulas de Matemática

como também vários recursos didáticos, com o intuito de facilitar a aprendizagem de

conceitos matemáticos pelos alunos na Educação de Jovens e Adultos.

Observamos ainda a recorrência dos dados quando não encontramos indicações nos

documentos escolares e nas falas de Ricardo e Ana de que tenham utilizado no período

investigado importantes perspectivas metodológicas no ensino da Matemática na 1ª e 2ª

Etapas da EJA, como por exemplo, a Resolução de Problemas, a Modelagem Matemática, a

Etnomatemática, bem como a utilização de Recursos Tecnológicos e de Estratégias

Metacognitivas, nos permitindo inferir que as metodologias propostas pelos professores

revelam, muitas vezes, concepções que caminham para o entendimento de uma perspectiva

Bancária de Educação.

Em linhas gerais, os documentos escolares e as falas de Ricardo e Ana nos revelaram

concepções que transitam entre o modelo Bancário e Emancipador de Educação, no que se

refere às metodologias propostas para o ensino e aprendizagem da Matemática na 1ª e 2ª

Page 219: CONCEPÇÕES DE PROFESSORES EXPRESSAS NOS … · metodologia de investigação adotada foi a abordagem qualitativa de cunho interpretativo, na qual nos fundamentamos em Bogdan e Biklen

218

Etapas da EJA. Entretanto, percebemos que as concepções dos professores caminham mais

em direção à perspectiva Bancária de Educação. Ricardo, ao mencionar apenas a importância

do papel funcional do ensino de Matemática nessa modalidade. Além disso, não encontramos

indicativos de que o professor tenha proposto no período investigado importantes perspectivas

metodológicas no ensino dessa disciplina, como por exemplo, a Resolução de Problemas, a

Modelagem Matemática, a Etnomatemática, a História da Matemática, bem como a utilização

de Recursos Tecnológicos, Jogos e Estratégias Metacognitivas.

Ana aproxima-se de tal perspectiva, ao privilegiar em suas aulas o seu próprio

discurso, levando-nos a inferir que as metodologias propostas por ela centram-se na

transmissão de informações, principalmente ao declarar que o “recurso infalível é o “gogó”

do professor” (E – Ana), sinalizando assim para aulas expositivas. Ana também se aproxima

de tal perspectiva quando utiliza no ensino da Matemática na 2ª Etapa da EJA um livro didático

cuja recomendação é para o Ensino Regular, cujas atividades e as problematizações não são

direcionadas para o público específico da EJA.

5.2- ESCOLA CAJU

Na Escola Caju, temos como sujeitos de nossa pesquisa a professora Isabel, que

leciona na 1ª Etapa da EJA e a professora Maria, que atua na 2ª Etapa da Educação de Jovens

e Adultos. Ambas possuem formação superior em Pedagogia, são professoras efetivas da

Rede Municipal de Ensino de Cuiabá-MT e tem 24 anos de experiência na docência, sendo

que Isabel leciona a quatro anos na Educação de Jovens e Adultos e Maria há cinco anos.

5.2.1 Bloco 1- Concepções Gerais das Professoras Investigadas

A seguir, apresentamos a análise das falas dos sujeitos da Escola Caju sobre as

concepções gerais expressas nos questionários Q2, Q3-A e Q3-B e nas entrevistas acerca da

Educação de Jovens e Adultos e de Ensino de Matemática na EJA. Trazemos também

algumas considerações sobre a formação dos sujeitos para atuarem na EJA. Assim,

analisamos as respostas das professoras Isabel e Maria concomitantemente, com o intuito de

identificar nos dados aproximações, recorrências, divergências ou pontos relevantes em

relação à problemática de nossa pesquisa.

a) Concepções sobre a Educação de Jovens e Adultos

Page 220: CONCEPÇÕES DE PROFESSORES EXPRESSAS NOS … · metodologia de investigação adotada foi a abordagem qualitativa de cunho interpretativo, na qual nos fundamentamos em Bogdan e Biklen

219

Quadro 15 - Relatos das professoras Isabel e Maria em relação à Educação de Jovens e Adultos

Pergunta nº 1 Professora Relatos expressivos

Você considera a

Educação de Jovens e

Adultos uma

modalidade

necessária? Por quê?

Isabel

Sim. É uma oportunidade que o governo dá as pessoas de baixa

renda, que por algum motivo deixou de estudar no tempo normal, ou

melhor, que não tiveram oportunidade de estudar na idade

adequada. (Q2-1)

Maria

Sim, porque é uma modalidade que faz com que os alunos

demonstrem gosto ao que executam. (Q2-1)

Sim, porque lá resgata as pessoas que não tiveram condições de

estudar, assim no passado por alguma dificuldade. Muitos porque

trabalhavam assim até mesmo em lavoura em tempo de criança ou

aquelas mulheres que casaram muito cedo e o marido não aceitava

por vários motivos e agora vendo a necessidade pelo qual a maioria

é para ler a Bíblia. (Entrevista)

Pergunta nº 2 Professora Relatos expressivos

Para você, qual é a

função da EJA

enquanto modalidade

de ensino?

Isabel

A EJA na verdade seria uma oportunidade que o governo está dando

para as pessoas que perderam esta oportunidade quando tinha a sua

faixa etária e vem de encontro para estas pessoas aprender e ter

uma profissão mais digna e vencer alguns obstáculos na vida.

(Entrevista)

Maria

A sua função é dedicar a ponto de que os alunos tenham uma

autoestima elevada e que procurem estar sempre procurando mais

para seu dia a dia. (Q2-2)

Pergunta nº 3 Professora Relatos expressivos

O que diferencia a

EJA das demais

modalidades de

ensino?

Isabel

Por apresentar um público particular, com especificidades que vão

além da idade cronológica, uma vez que, esses jovens e adultos têm

interesses, motivações, experiências e expectativas que devem ser

consideradas no processo educacional. (Q2-3)

Na EJA os alunos são mais carentes, eles precisam mais de atenção,

eles tem mais anseio de aprender, e assim, eles são muito nervosos,

eles querem rápido, rápido, rápido aprender, eles só querem a

leitura, leitura. Primeiro eles querem aprender a ler para depois

fazer Matemática, Geografia. Então é um pessoal que você tem que

dedicar mais, tem que ter mais paciência, tem que ter muito diálogo,

muito papo mesmo, muitas atividades assim, com autoestima, filmes,

mensagens para eles aprenderem mais, assim com facilidade.

(Entrevista)

Maria

O EJA é tudo de bom para aqueles alunos que perderam

oportunidades de tempo atrás, e que agora se encontrou. (Q2-3)

Bom, primeiro horário, a carga horária em si. Segundo a maneira

de como interagir perante os alunos. Tem que ser diferenciado,

porque senão não é a EJA... Desistem tudo e segura apenas quem

realmente quer estudar. Então isso é muito importante e eu como

professora vejo no sentido de autoestima, porque se não tiver

autoestima toda hora tem que ficar falando, tem ficar valorizando,

tem que mostrar a importância porque caso contrário a evasão

existe, tenho certeza que em todas as EJAS existe muito. (Entrevista)

Fonte: Questionários e Entrevistas com os professores investigados

Observamos que Isabel e Maria compreendem que a EJA é uma modalidade

necessária, sendo que recorrentemente declaram que sua finalidade é suprir e compensar a

Page 221: CONCEPÇÕES DE PROFESSORES EXPRESSAS NOS … · metodologia de investigação adotada foi a abordagem qualitativa de cunho interpretativo, na qual nos fundamentamos em Bogdan e Biklen

220

escolaridade dos educandos de baixa renda que não tiveram como prosseguir ou mesmo

iniciar o processo escolar em idade apropriada. Ao Isabel acreditar que a EJA é uma

oportunidade que o governo oferece a esses educandos, ela não evidencia a Educação de

Jovens e Adultos como um direito constitucional garantido.

Além disso, as falas das professoras não apontam que a EJA também é uma

modalidade de ensino estabelecida principalmente para reparar um direito negado. Ao

contrário, elas revelam uma compreensão de que a oferta da modalidade constitui-se em

benefício e/ou favor prestado pelo poder público. Esta função reparadora da EJA é expressa

no Parecer 11/2000, quando esse documento afirma que a EJA representa a reparação de uma

dívida social contra inúmeras pessoas que não tiveram acesso à escolarização em idade

regular e nem a possibilidade de prosseguir seus estudos (CONSELHO NACIONAL DE

EDUCAÇÃO, 2000).

Ao afirmar que a função da EJA é melhorar o cotidiano de seus sujeitos, Maria revela

um entendimento de que essa modalidade deve oportunizar a esses estudantes um

conhecimento imediatista e instrumental, aproximando-se da concepção Bancária de EJA.

Escapa da compreensão da professora que para a formação do sujeito é necessário contemplar

não apenas a dimensão informativa do conhecimento, mas também a sua dimensão formativa.

Sobre esse aspecto, a Proposta Curricular para o Primeiro Segmento da EJA (2001) destaca

que no Ensino Fundamental da Educação de Jovens e Adultos, a atividade matemática deve

estar dirigida para integrar de forma equilibrada tanto seu papel formativo quanto o seu papel

funcional.

Notamos que Isabel e Maria compreendem que para os alunos da EJA, o ensino deve

ser diferenciado. Essa atitude das professoras revela que elas reconhecem e consideram as

especificidades desses estudantes. Esse posicionamento é positivo e nos leva a inferir que elas

entendem que um trabalho adequado para essa modalidade de ensino deve considerar que os

seus educandos possuem características próprias diferentes dos estudantes do Ensino Regular,

isto é, características que vão além da diversidade de faixa etária, pois esses Jovens e Adultos

têm interesses, motivações, experiências e expectativas distintas dos alunos de outras

modalidades de Educação.

Além disso, a fala de Maria revela que a carga horária é a principal diferença entre a

EJA e as demais modalidades de ensino. Em sua visão, tal diferença é positiva. Esse

entendimento da professora evidencia que ela compreende que na EJA deve haver

flexibilidade do tempo. Ao compreender que o tempo na EJA deve ser reduzido, Maria nos

leva a inferir que ela compreende que os alunos Jovens e Adultos possuem uma bagagem de

Page 222: CONCEPÇÕES DE PROFESSORES EXPRESSAS NOS … · metodologia de investigação adotada foi a abordagem qualitativa de cunho interpretativo, na qual nos fundamentamos em Bogdan e Biklen

221

conhecimentos prévios que devem ser considerados e utilizados pelos educadores no processo

educacional. Esse posicionamento da professora se aproxima do que nos revela Nogueira

(2010), ao expressar que é de extrema importância para o processo de ensino e de

aprendizagem a valorização dos conhecimentos prévios dos alunos.

Em síntese, as falas de Isabel e Maria nos dão indicações de que suas concepções

apresentam pontos de vistas divergentes. Ora as professoras demonstram concepções

fundadas em uma perspectiva Bancária de EJA, ora elas revelam concepções que se apoiam

em um modelo Emancipador de Educação de Jovens e Adultos. Assim, Isabel e Maria

transitam entre as duas categorias instituídas para a análise.

b) Concepções sobre o Ensino de Matemática no Primeiro Segmento da Educação de Jovens e

Adultos

Quadro 16 - Relatos das professoras Isabel e Maria sobre o Ensino de Matemática no Primeiro Segmento da

Educação de Jovens e Adultos

Pergunta nº 1 Professora Relatos expressivos

Para você, é importante ensinar

Matemática no Primeiro Segmento

da EJA? Por quê?

Isabel

Sim, importantíssimo. A Matemática está presente

no nosso dia a dia. Mas os alunos da 1ª Etapa da

EJA não gostam muito de Matemática, pois o

objetivo maior deles é a leitura e a escrita, ou seja,

ler e escrever. A Matemática para eles é de pouca

importância, mas como trabalho diferente eles

aprendem e gostam da Matemática. (Q3-A-1)

Maria

Sim, porque a Matemática ajuda no seu dia a dia e

sem a mesma os alunos ficariam mais

desanimados, pois os mesmos gostam da referida

disciplina. (Q3-A-1)

Pergunta nº 2 Professora Relatos expressivos

O que deve considerar o professor

ao planejar sua aula de Matemática

para o Primeiro Segmento da EJA?

Isabel

O conhecimento e a vivência dos alunos são

considerados para construção do saber. Ter um

diálogo com os alunos, as profissões de cada um e

o que a matemática vai lhe contribuir no seu dia a

dia. (Q3-A-2)

Maria

Deve considerar o tempo das aulas, o tempo e até

mesmo a idade dos alunos, isso favorece o seu

aprendizado. (Q3-A-2)

Pergunta nº 3 Professora Relatos expressivos

Que participação tem seus alunos

no planejamento que você realiza

para o desenvolvimento de seu

trabalho docente na EJA?

Isabel Através de perguntas sobre sua vida, seu trabalho e

seu futuro. (Q3-A-4)

Maria A participação deles é no período da sondagem,

pois dependendo das suas necessidades no que

iremos trabalhar. (Q3-A-4)

Pergunta nº 4 Professora Relatos expressivos

Você se baseia na Proposta

Curricular para o Primeiro

Segmento da EJA para elaborar

seus planejamentos de aula de

Matemática? De que maneira?

Isabel Em parte sim, mas é o contato com os alunos que

vejo a necessidade deles na prática do seu dia a

dia. (Q3-B-4)

Maria Sim. (Q3-B-4)

Fonte: Questionários e Entrevistas com os professores investigados

Page 223: CONCEPÇÕES DE PROFESSORES EXPRESSAS NOS … · metodologia de investigação adotada foi a abordagem qualitativa de cunho interpretativo, na qual nos fundamentamos em Bogdan e Biklen

222

As professoras investigadas da Escola Caju consideram importante o ensino da

Matemática no Primeiro Segmento da EJA, principalmente porque elas entendem que esse

conhecimento está presente no dia a dia dos alunos. Esse reconhecimento é importante e

revela que elas se aproximam de uma perspectiva Emancipadora de EJA. Todavia, as falas

das professoras não contemplam o outro aspecto da Matemática de igual modo importante,

que é o seu caráter formativo.

Quando revela que ao planejar considera os conhecimentos prévios e as experiências

de seus alunos, bem como suas profissões, visando contribuir com esses estudantes na solução

de situações do dia a dia, Isabel caminha em direção a uma concepção Emancipadora de

Educação Matemática. Esse entendimento da professora se aproxima do que nos revela

Alvares (2010), ao esclarecer que as experiências de vida dos estudantes adultos podem ser

consideradas como a porta de entrada para o conhecimento escolar, uma vez que, os

conhecimentos informais que os alunos apresentam ao chegar nessa modalidade de ensino

podem ser empregados como suporte na mediação com os conhecimentos sistematizados pela

escola.

Quando compreende que ao planejar, o educador deve levar em consideração a idade

dos educandos, Maria nos remete a um entendimento de que ela reconhece as especificidades

de seus alunos, permitindo-nos inferir que o ensino para este público deve ser diferenciado do

ensino destinado ao público infanto-juvenil, aproximando-se do entendimento da EJA no

modelo Emancipador. Por outro lado, quando a professora cita que ao planejar, deve

considerar o tempo das aulas, Maria fala sobre esse assunto com superficialidade não

fornecendo-nos elementos para inferirmos se ela reconhece ou não que na EJA deve haver a

flexibilidade dos tempos e dos espaços.

Segundo Isabel e Maria, seus alunos participam do planejamento das aulas de

Matemática. Todavia, tal participação se dá apenas indiretamente, pois as professoras

realizam somente um diagnóstico da turma. Para Vasconcellos, a participação dos alunos no

planejamento deve ocorrer em todas as etapas: “sensibilização, discussão, decisão, colocação

em prática, avaliação e frutos do trabalho” (2007, p. 94). Assim, Isabel e Maria aproximam-

se da perspectiva Bancária de Educação.

Ao revelarem que se baseiam nos descritores propostos pela Matriz Curricular da EJA

da Rede Municipal de Ensino de Cuiabá para elaborarem seus planejamentos de aula de

Matemática, as professoras aproximam-se do modelo Emancipador de Educação, pois tal

Page 224: CONCEPÇÕES DE PROFESSORES EXPRESSAS NOS … · metodologia de investigação adotada foi a abordagem qualitativa de cunho interpretativo, na qual nos fundamentamos em Bogdan e Biklen

223

documento foi elaborado de acordo com as orientações da Proposta Curricular para o Primeiro

Segmento da EJA (2001).

Em síntese, concluímos que em relação ao ensino de Matemática na EJA as

professoras compreendem que o trabalho deve ser diferenciado daquele destinado ao público

infanto-juvenil em razão das especificidades dos alunos dessa modalidade. Constatamos

também que elas entendem que os conhecimentos prévios e as experiências dos educandos

devem ser considerados e utilizados no planejamento das aulas dessa disciplina. Verificamos

ainda, que elas baseiam-se na Matriz Curricular da EJA para planejarem o ensino da

Matemática no Primeiro Segmento da EJA, bem como reconhecem a importância da

realização do diagnóstico dos alunos para a construção de planejamentos de acordo com os

anseios e as necessidades dos estudantes. Esses posicionamentos nos permitem afirmar que as

professoras se aproximam de um modelo Emancipador de Educação Matemática.

Por outro lado, observamos que escapa da compreensão de Maria e Isabel a

necessidade de se manter um equilíbrio entre a dimensão informativa e formativa do

conhecimento matemático, como sugere Duarte (1986). Por revelar apenas a visão utilitária da

Matemática, as professoras demonstram uma concepção que se funda num modelo Bancário

de Educação Matemática.

Diante de tal situação, verificamos que as concepções de ensino de Matemática na

EJA das professoras investigadas transitam entre os modelos Bancário e Emancipador de

Educação Matemática. No entanto, apesar de transitar entre as duas categorias de análise,

observamos que as concepções das professoras demonstram certa tendência ao modelo

Emancipador de Educação Matemática.

c) Considerações sobre a Formação Inicial e Continuada dos sujeitos para atuarem na EJA

Quadro 17 - Relatos das professoras Isabel e Maria sobre a Formação Inicial e Continuada para atuar na EJA

Pergunta nº 1 Professora Relatos expressivos

Você considera que a formação que

teve no ensino superior foi

relevante para sua prática docente

em Matemática na EJA? Por quê?

Isabel Não, porque fiz Pedagogia e tive apenas a teoria

sobre a EJA. (Q2-4)

Maria Não, porque lá eu não vi nada referente ao EJA.

(Q2-4)

Pergunta nº 2 Professora Relatos expressivos

Você se considera preparado para

trabalhar Matemática no Primeiro

Segmento da EJA?

Isabel

Sim. Trabalho a Matemática envolvendo a situação

dos alunos e com muitos materiais concretos. E os

alunos que detestam matemática passam a gostar

mais. (Q2-5)

Maria

Sim. Porque eu procuro passar a Matemática de

maneira agradável, onde os alunos sintam prazer

em aprender. (Q2-5)

Page 225: CONCEPÇÕES DE PROFESSORES EXPRESSAS NOS … · metodologia de investigação adotada foi a abordagem qualitativa de cunho interpretativo, na qual nos fundamentamos em Bogdan e Biklen

224

Pergunta nº 3 Professora Relatos expressivos

Como você avalia a sua formação

inicial com relação à aprendizagem

sobre o quê ensinar e o como

ensinar Matemática no Primeiro

Segmento da Educação de Jovens e

Adultos?

Isabel

Insuficiente. Na Pedagogia ensina para 1ª a 4ª

série. Eu fiz Pedagogia plena e estagiei do 1º ao 2º

grau. Fui alfabetizadora por 18 anos de 1ª série

(alfabetização infantil). E busquei leituras com

outras colegas de EJA e agora tenho 4 anos de EJA

e tenho contribuído muito. (Q2-6)

Maria Boa. Porque eu sinto que os meus alunos gostam da

matéria e isso ajuda muito o aprendizado. (Q2-6)

Pergunta nº 4 Professora Relatos expressivos

Você tem participado de momentos

de formação continuada nos últimos

três anos que envolvam Educação

Matemática na EJA?

a) Se SIM ( ), relacione quais:

- Essas formações têm contribuído

para sua aprendizagem acerca do

quê e do como ensinar Matemática

no Primeiro Segmento da Educação

de Jovens e Adultos?

( ) Sim ( ) Não ( ) Às vezes

- Comente quais contribuições

foram dadas por esta formação

continuada.

b) Se NÃO ( ), explique os

motivos.

Isabel

Sim. Rodas de conversa.

Às vezes. São mais teorias, leituras e aí são

separados os professores de alfabetização,

matemática, geografia, etc. E acabo ficando só na

de alfabetização. (Q2-7)

Maria

Sim. Nos encontros de “Roda de Conversa” na

Secretaria de Educação ou em escola.

Sim. (Q2-7)

Fonte: Questionários e Entrevistas com os professores investigados

Isabel e Maria consideram irrelevante a formação que tiveram no ensino superior para

suas práticas docentes em Matemática na EJA. Observamos que as falas das professoras

apontam a fragilidade de tal formação em relação aos conhecimentos matemáticos adquiridos

nos cursos de Pedagogia. Percebe-se que essa formação não tem possibilitado que o

licenciando se aproprie de conhecimentos considerados básicos para o desenvolvimento de

um futuro trabalho docente na EJA.

Além disso, Isabel revela ser insuficiente a formação inicial que teve com relação à

aprendizagem sobre o quê ensinar e o como ensinar Matemática no Primeiro Segmento da

Educação de Jovens e Adultos ao declarar que não estagiou em tal modalidade. No entanto,

citou que a experiência adquirida ao longo de sua carreira docente e a troca de materiais e

informações entre as colegas de profissão contribuíram para o conhecimento de como

trabalhar a Matemática nessa modalidade de ensino. Sobre esse assunto, Cavaco (1995)

destaca que a apropriação dos saberes profissionais pelos docentes se dá a partir das práticas

de trabalho, da interação com seus pares, do enfrentando de situações, da resolução de

Page 226: CONCEPÇÕES DE PROFESSORES EXPRESSAS NOS … · metodologia de investigação adotada foi a abordagem qualitativa de cunho interpretativo, na qual nos fundamentamos em Bogdan e Biklen

225

problemas, e da reflexão sobre as dificuldades e os êxitos no desenvolvimento de suas

práticas.

Ao questionarmos se Maria considera relevante a formação inicial que teve com

relação à aprendizagem sobre o quê ensinar e o como ensinar Matemática no Primeiro

Segmento da EJA, a professora declara: “boa. Eu sinto que os meus alunos gostam da

matéria e isso ajuda muito o aprendizado” (Q2- 6). Contrariamente a esta postura revelada

pela educadora, em outros momentos, porém no mesmo questionário, os dados tomam outra

perspectiva quando ela nos aponta que em sua graduação a EJA não foi contemplada. “Eu

não vi nada referente ao EJA” (Q2 - 4). Ao percebemos certa contradição em sua fala, nos

questionamos se de fato a EJA foi ou não contemplada em sua formação inicial.

Percebemos também que as professoras têm participado de momentos de formação

continuada que envolve a Educação Matemática na EJA, ao citarem o Projeto “Rodas de

Conversa”, que é promovido pela SME. No entanto, Isabel menciona que as formações

ministradas são muito teóricas e não contemplam a realidade vivenciada pelo professor em

sala de aula. Essa afirmação pode ser verificada quando ela relata que: “as pessoas que vão

ministrar cursos são pessoas qualificadas. A professora que ministrou a formação da EJA,

fala mais teoricamente. Ela foi professora não da alfabetização, então ela fala teoricamente,

e teoricamente é “floriando”... fala como se o aluno soubesse tudo e que tem a capacidade de

aprender rápido. Na EJA não é assim [...]” (E – Isabel).

Em linhas gerais, mesmo considerando que a formação que tiveram para lecionar na

EJA foi insuficiente, Isabel e Maria sentem-se preparadas para ensinar a Matemática no

Primeiro Segmento dessa modalidade. Diante de tal situação, podemos inferir que a

aprendizagem das professoras para a docência na EJA é um processo que está sendo

construído através do desenvolvimento de suas práticas.

5.2.2 Bloco 2- Análise Documental sobre os Conteúdos e as Metodologias

Nesse momento, apresentamos a análise dos documentos escolares das professoras

investigadas com o intuito de compreender que concepções revelam tais documentos sobre os

conteúdos e as metodologias propostas para o ensino e aprendizagem da Matemática na 1ª e 2ª

Etapas da Educação de Jovens e Adultos na Escola Caju.

Desse modo, fazemos a apresentação dos dados e análise dos seguintes documentos

escolares: Projeto Político Pedagógico da Escola Bocaiúva (PPP- Caju), Planejamento Anual

Page 227: CONCEPÇÕES DE PROFESSORES EXPRESSAS NOS … · metodologia de investigação adotada foi a abordagem qualitativa de cunho interpretativo, na qual nos fundamentamos em Bogdan e Biklen

226

(PLA), Planos de Aula (PA), Livros Didáticos (LD) utilizados pelos professores da Escola

Caju e Cadernos de Alunos (CA).

a) Projeto Político Pedagógico da Escola Caju

A Escola Caju possui Projeto Político Pedagógico específico para a modalidade EJA.

No entanto, ao requerermos à coordenação da escola investigada tal documento para que

pudéssemos realizar a análise sobre os conteúdos propostos pelo PPP- Caju para o ensino e a

aprendizagem da Matemática na 1ª e 2ª Etapas da EJA, nosso pedido não foi atendido. A

coordenação alegou que o PPP estaria passando por modificações e por isso o mesmo se

encontrava na Secretaria Municipal de Educação de Cuiabá. Meses depois retornamos a

escola e insistimos com a coordenação que declarou não ter nenhuma cópia de tal documento.

A princípio achamos que por sermos pessoas externas à Escola Caju a coordenação

não quisesse disponibilizar o PPP. Contudo, percebemos que essa postura da coordenação

também se revelou com os próprios professores que lecionam na escola, ao Isabel declarar

durante a entrevista, “não, nós não temos acesso ao PPP [...] Eu peço porque eu tenho

facilidade de tirar cópia: me dê uma cópia! Depois, depois, depois... quando chega o início

do ano, às vezes eu peço pra eu ver, mas a coordenação nunca deixa aqui pra gente ver (sala

dos professores). Uma coisa que não dá para você entender... Como você vai desenvolver um

bom trabalho se você não tem acesso [...] Você acaba ficando sozinho... eu acabo pedindo as

minhas colegas de outras escolas de outros Estados, mas se depender daqui da escola é só

cobrança” (E – Isabel). Além disso, ao questionarmos a professora se ela participou na

construção do documento, ela nos afirmou “nós não participamos. Eu nunca participei” (E –

Isabel).

O posicionamento da professora nos leva a inferir que a coordenação da Escola Caju

não compreende que o Plano Político Pedagógico é um documento público e que deve ser

elaborado coletivamente por meio do diálogo entre os diversos segmentos da comunidade

escolar com o intuito de organizar e planejar o trabalho administrativo-pedagógico da

instituição escolar. Assim, os professores podem, devem e precisam ter acesso a tal

documento para que possam organizar seu trabalho didático-pedagógico de acordo com a

visão, a missão, os objetivos, as metas e as ações que determinam o caminho do sucesso e da

autonomia a ser trilhado pela instituição de ensino que trabalham. Ao abordar a importância

do Plano Político Pedagógico, Demo declara que:

Page 228: CONCEPÇÕES DE PROFESSORES EXPRESSAS NOS … · metodologia de investigação adotada foi a abordagem qualitativa de cunho interpretativo, na qual nos fundamentamos em Bogdan e Biklen

227

Existindo projeto pedagógico próprio, torna-se bem mais fácil planejar o ano letivo,

ou rever e aperfeiçoar a oferta curricular, aprimorar expedientes avaliativos,

demonstrando a capacidade de evolução positiva crescente. É possível lançar

desafios estratégicos, como: diminuir a repetência, introduzir índices crescentes de

melhoria qualitativa, experimentar didáticas alternativas, atingir posição de

excelência (1998, p. 248).

Portanto, enquanto os profissionais da Educação não participarem da construção e não

tiverem acesso aos Planos Políticos Pedagógicos que lhes dêem subsídios para lidar com a

realidade escolar em que atuam, tais documentos não terão importância e continuarão sendo

apenas um documento burocrático elaborado por algumas pessoas que, muitas vezes, não têm

conhecimento suficiente sobre a escola.

Desse modo, como não tivemos acesso ao Plano Político Pedagógico, não temos como

inferir sobre quais conteúdos e metodologias tal documento propõe para o ensino e

aprendizagem da Matemática na 1ª e 2ª Etapas da EJA na Escola Caju.

b) Planejamento Anual das professoras Isabel e Maria

Ao solicitarmos o planejamento anual de 2011 à Isabel e Maria, as professoras

declararam que na Escola Caju os planejamentos são elaborados bimestralmente visto que a

escola trabalha por Projetos de Trabalho. Desse modo, como nosso período de investigação

foi de fevereiro a junho, analisaremos apenas os planejamentos referentes ao 1º e ao 2º

bimestre de 2011.

No ano de 2011, o tema do projeto trabalhado na escola foi “Meio Ambiente Local”.

Tal tema foi escolhido, segundo a coordenação geral do projeto, coletivamente pelos

professores da escola em reunião da semana pedagógica realizada em janeiro de 2011, devido

“à preocupação dos professores em minimizar algumas problemáticas sociais, políticas e

culturais que afetam o homem em seu meio local, nacional e mundial” (Planejamento

Bimestral – Isabel e Maria).

Assim, podemos perceber que o tema do projeto na Escola Caju foi levantado pelos

professores sem a participação dos alunos, visto que os mesmos deveriam ser os principais

sujeitos na problematização, para depois ocorrer à futura escolha do assunto a ser trabalhado

no projeto. Sobre esse assunto, Hernández e Ventura (1998) afirmam que os temas podem ser

propostos tanto pelos professores quanto pelos alunos, entretanto, devem despertar a

curiosidade dos educandos por novos conhecimentos. Além disso, os autores declaram ainda,

que o critério de escolha de um tema pela turma deve ser por argumentação.

Page 229: CONCEPÇÕES DE PROFESSORES EXPRESSAS NOS … · metodologia de investigação adotada foi a abordagem qualitativa de cunho interpretativo, na qual nos fundamentamos em Bogdan e Biklen

228

O planejamento do 1º bimestre (14/02 à 29/04/11), cuja palavra-chave foi “Cuiabá no

Processo Histórico” e o objetivo geral “resgatar os elementos históricos e culturais

significativos que tem contribuído para a formação da sociedade cuiabana”, foi elaborado em

parceria por Isabel e Maria, com o intuito de contemplar as áreas da Linguagem, das Ciências

Sociais e, das Ciências Físicas e Naturais, em que está incluída a Matemática.

Entretanto, ao observarmos os conteúdos matemáticos descritos nos planejamentos,

que as professoras projetaram trabalhar com seus alunos no decorrer do 1º bimestre,

conteúdos referentes aos blocos “Números e Operações Matemáticas”, “Geometria” e

“Introdução à Estatística”, sendo que cada uma delas referiu-se a conteúdos adequados a cada

Etapa da EJA que lecionam, concluímos que os conteúdos relativos ao bloco “Medidas”

foram evidenciados apenas no planejamento de Isabel.

Quanto ao planejamento do 2º bimestre (21/05 à 16/07/11), Isabel e Maria nos

informaram que também o delinearam juntas, na intenção de integrar os alunos da 1ª e da 2ª

Etapas da EJA, bem como as áreas da Linguagem, das Ciências Sociais e, das Ciências

Físicas e Naturais. Dessa forma, a palavra-chave, “Cerrado”, e o objetivo geral foram comuns

no planejamento das professoras. No entanto, observamos que os objetivos específicos, os

conteúdos, as sequências didáticas e os recursos didáticos expostos foram diferenciados,

atendendo as particularidades de cada Etapa da EJA que trabalham na Escola Caju.

Ao analisarmos os conteúdos matemáticos propostos nos referidos planejamentos,

percebemos que tanto Isabel quanto Maria se propuseram trabalhar no 2º bimestre com os

quatro grandes blocos preconizados na Proposta Curricular para o Primeiro Segmento da EJA

(2001), sendo eles: “Números e Operações Matemáticas”, “Medidas”, “Geometria” e

“Introdução à Estatística”.

Em linhas gerais, observamos que as professoras investigadas demonstraram em seus

planejamentos do 1º e 2º bimestre de 2011 a intenção de contemplar os conteúdos

matemáticos sugeridos pelos documentos oficiais que regularizam a EJA a nível nacional.

Em relação às metodologias propostas para o ensino e aprendizagem da Matemática,

percebemos que os planejamentos das professoras previam como metodologia de ensino os

Projetos de Trabalho, bem como a utilização de Jogos. As professoras também expuseram os

recursos didáticos que pretendiam utilizar em suas aulas, como por exemplo, cartazes,

tangrans, sólidos geométricos e panfletos, o que é relevante para apoiar a aprendizagem dos

números e das operações matemáticas na EJA, desde que estejam relacionados a situações

significativas que provoquem a reflexão dos alunos sobre as ações desencadeadas (BRASIL,

2001).

Page 230: CONCEPÇÕES DE PROFESSORES EXPRESSAS NOS … · metodologia de investigação adotada foi a abordagem qualitativa de cunho interpretativo, na qual nos fundamentamos em Bogdan e Biklen

229

Entretanto, tanto Isabel quanto Maria não descreveram, explicitamente, outras

metodologias a serem empregadas em suas aulas de Matemática na 1ª e 2ª Etapas da EJA no

período investigado, como por exemplo, Resolução de Problemas, Etnomatemática, História

da Matemática, Modelagem Matemática, a utilização de Recursos Tecnológicos, dentre

outras.

c) Planos de Aula de Matemática de Isabel

Ao analisarmos os planos de aula de Matemática organizados por Isabel no período

investigado, percebemos que a professora se baseou nos objetivos específicos elencados nos

seus planejamentos bimestrais para realizar o trabalho na 1ª Etapa da EJA. No entanto, tais

objetivos referem-se especificamente à Matemática, não sendo relacionados ao projeto

proposto pela Escola Caju, cujo tema é “Meio Ambiente Local”.

Quanto aos conteúdos matemáticos, percebemos que a professora contemplou em

partes o que recomenda a Proposta Curricular para o Primeiro Segmento da EJA (2001), pois

não localizamos em seus planos de aula atividades referentes ao bloco de conteúdos

“Medidas” e “Introdução à Estatística”, embora propostos no planejamento bimestral.

Compreendemos que a ausência de conteúdos que envolvam “Medidas” na Educação

formal da EJA é no mínimo preocupante, principalmente porque tais conceitos estão presentes

no cotidiano e fazem parte do mundo do trabalho de muitos estudantes dessa modalidade,

sendo requisitado em diversas profissões, como é o caso das domésticas, dos marceneiros, dos

trabalhadores da construção civil, entre outras.

No que se refere à ausência de conteúdos do bloco “Introdução à Estatística”, a

Proposta Curricular para o Primeiro Segmento da EJA (2001) declara que:

Esses conteúdos, que não costumam aparecer nos currículos de Matemática das

séries iniciais, justificam-se pela sua grande utilidade prática, como potentes

recursos para descrever e interpretar o mundo à nossa volta. Basta abrir um jornal ou

um livro didático de Geografia ou Ciências para constatar como é frequente o uso

dessas formas de apresentação e organização de dados e, portanto, como é

importante para os jovens e adultos poder compreendê-las (BRASIL, 2001, p. 108).

Em linhas gerais, tendo como parâmetro o que preconiza a Proposta Curricular para o

Primeiro Segmento da EJA (2001), podemos inferir que Isabel propôs parcialmente no

período investigado os conteúdos matemáticos na 1ª Etapa da EJA.

Page 231: CONCEPÇÕES DE PROFESSORES EXPRESSAS NOS … · metodologia de investigação adotada foi a abordagem qualitativa de cunho interpretativo, na qual nos fundamentamos em Bogdan e Biklen

230

Quanto às metodologias propostas nos planos de aula, observamos que além dos

objetivos e dos registros das atividades que desenvolveu com seus alunos, a professora em

diversos momentos explicitou as metodologias e os recursos didáticos que pretendia utilizar

para o ensino e aprendizagem da Matemática na 1ª Etapa da EJA. Percebemos também que

Isabel preocupou-se em descrever nos planos de aula, mesmo que brevemente, os

questionamentos que realizaria durante as aulas, com o intuito de levantar os conhecimentos

prévios de seus alunos a respeito dos conteúdos matemáticos que almejava ensinar, como por

exemplo: onde encontramos os números? Onde mais usamos os números? Onde usamos

coisas no nosso corpo que são pares e que são ímpares? E na sala de aula, o que tem de

pares e o que tem ímpares? O que compramos em pares e em ímpares? Em casa, o que tem

em pares e o que tem em ímpares? (PA- Isabel).

Percebemos também que na maioria dos planos de aula a professora preocupou-se em

utilizar o cotidiano dos alunos na elaboração e na seleção das atividades matemáticas nos

livros didáticos, como podemos observar nas Figuras 8 e 9 a seguir, satisfazendo o que propõe

a Proposta Curricular para o Primeiro Segmento da EJA (2001), pois de acordo com o

documento, um dos caminhos para o ensino da Matemática na Educação de Jovens e Adultos

“é transformar as situações do cotidiano que envolvem noções e notações matemáticas em

suporte para a aprendizagem significativa de procedimentos mais abstratos” (BRASIL, 2001,

p. 102).

Figura 8: Ilustração gráfica de atividade envolvendo embalagem de alimentos

Fonte: Plano de aula da professora Isabel

Também identificamos nos planos de aula que Isabel pretendia trabalhar com seus

alunos a leitura e interpretação de informações numéricas que aparecem em contas de água,

Page 232: CONCEPÇÕES DE PROFESSORES EXPRESSAS NOS … · metodologia de investigação adotada foi a abordagem qualitativa de cunho interpretativo, na qual nos fundamentamos em Bogdan e Biklen

231

luz e embalagens de alimentos, o que é muito relevante segundo a Proposta Curricular para o

Primeiro Segmento da EJA (2001), pois podem propiciar interessantes explorações

matemáticas, como por exemplo, a observação de escritas numéricas e a realização de

cálculos mentais.

Figura 9: Ilustração gráfica de atividade envolvendo informações numéricas em contas de Água e Luz

Fonte: Plano de aula da professora Isabel

No entanto, em outros planos, a professora trabalhou apenas as operações da adição e

subtração a partir de um número dado, sem contextualizá-las, visando apenas à fixação de

exercícios, como podemos observar na Figura 10:

Figura 10: Ilustração gráfica de atividades envolvendo a operação de adição

Fonte: Plano de aula da professora Isabel

Observamos também que Isabel procurou trabalhar alguns elementos da História da

Matemática com seus alunos, como por exemplo, a história de como surgiram os números e

escrita de numerais em outras civilizações. Todavia, percebemos que a professora utilizou tais

informações mais no sentido de apresentar fatos históricos e motivar seus alunos no

desenvolvimento dos conteúdos matemáticos em sala de aula, do que estabelecer conexões e

proporcionar uma visão verdadeiramente humana da Matemática, de que sua construção se

Page 233: CONCEPÇÕES DE PROFESSORES EXPRESSAS NOS … · metodologia de investigação adotada foi a abordagem qualitativa de cunho interpretativo, na qual nos fundamentamos em Bogdan e Biklen

232

deu a partir das necessidades e preocupações de diferentes culturas, dando origem aos

conceitos matemáticos em diferentes momentos históricos.

Em dois planos de aula, identificamos que a professora utilizou jogos como dominós e

baralhos em suas aulas de Matemática, com o intuito de trabalhar números pares, números

ímpares, sequências e operações de adição e subtração. Consideramos importante a

metodologia utilizada por Isabel principalmente porque a professora utilizou tais jogos como

estratégia facilitadora no ensino de conteúdos matemáticos, trabalhando-os de uma maneira

diferente e prazerosa, e não apenas como um instrumento recreativo na aprendizagem dos

Jovens e Adultos.

Também observamos o registro da professora nos planos de aula de que algumas

atividades propostas seriam realizadas em grupos pelos alunos. Consideramos tal prática

relevante, pois na Educação de Jovens e Adultos assim como em outras modalidades, os

trabalhos em grupo favorecem o relacionamento entre os educandos, possibilitando a

socialização do grupo, sendo uma importante ferramenta no processo de ensino e

aprendizagem em sala de aula.

Outro ponto a ser considerado é que não encontramos nos planos de aula elaborados

por Isabel indicações de atividades matemáticas relacionadas com os temas dos projetos

descritos nos planejamentos bimestrais nem com outras áreas do conhecimento. Diante disso,

observamos que a metodologia de Projetos de Trabalho proposta pela Escola Caju e

consecutivamente pela professora nos planejamentos do 1º e 2º bimestre de 2011 não é

contemplada nos planos de aula da professora.

Em suma, ao analisarmos os planos de aula elaborados pela professora investigada,

podemos inferir que Isabel preocupa-se em valorizar os conhecimentos prévios e as

experiências de seus alunos ao ensinar a Matemática na 1ª Etapa da EJA. Além disso,

percebemos que a professora procura trabalhar atividades não infantilizadas e situações

práticas vividas no trabalho e no dia a dia da vida doméstica dos Jovens e Adultos,

aproximando-se da perspectiva Emancipadora de Educação.

No entanto, ao não encontrarmos registros nos planos de aula de que Isabel teria

utilizado perspectivas metodológicas facilitadoras no ensino e aprendizagem da Matemática

na Educação de Jovens e Adultos, como a Resolução de Problemas, a Etnomatemática, a

Modelagem Matemática, bem como recursos tecnológicos, a professora demonstra certa

tendência ao modelo Bancário de Educação.

Page 234: CONCEPÇÕES DE PROFESSORES EXPRESSAS NOS … · metodologia de investigação adotada foi a abordagem qualitativa de cunho interpretativo, na qual nos fundamentamos em Bogdan e Biklen

233

d) Planos de Aula de Matemática de Maria

Ao observarmos os planos de aula de Matemática elaborados pela professora Maria,

percebemos que os mesmos não apresentam de forma explícita os conteúdos, os objetivos

(gerais e específicos), a metodologia, os recursos didáticos e a avaliação, sendo que tais

informações são significativas e devem constituir a estrutura de um plano de aula, segundo a

Proposta Curricular para o Primeiro Segmento da EJA (2001). Maria registrou apenas a

sequência de atividades didáticas em seus planos de aula.

Em relação aos conteúdos propostos para o ensino e aprendizagem da Matemática na

2ª Etapa da EJA, observamos que Maria trabalhou, no período investigado, apenas conteúdos

referentes ao bloco “Números e Operações Matemáticas”, diferentemente do que propôs nos

planejamentos dos 1° e 2° bimestres de 2011, e do que indica a Proposta Curricular para o

Primeiro Segmento da EJA (2001).

Outro dado que observamos nos planos de aula é que os conteúdos matemáticos

trabalhados pela professora não tiveram relação nenhuma com outras áreas do conhecimento e

com o projeto proposto pela Escola Caju, contradizendo o que foi proposto por Maria nos

planejamentos bimestrais do período investigado. Além disso, percebemos que os conteúdos

foram instituídos por Maria de forma linear. Assim, podemos inferir que Maria contemplou

parcialmente no período investigado os conteúdos matemáticos indicados pela Proposta

Curricular para o Primeiro Segmento da EJA (2001).

Verificamos ainda nos planos de aula de Maria a inexistência de qualquer citação

sobre a metodologia e recursos didático-metodológicos a serem empregados durante suas

aulas de Matemática na 2ª Etapa da EJA. A professora também não apresentou nos planos

indicadores de que existiria um diálogo com os alunos para o levantamento de seus

conhecimentos prévios sobre os conteúdos matemáticos a serem trabalhados.

Observamos apenas o registro das sequências de atividades que foram desenvolvidas

em sala de aula, sendo em sua maioria retiradas do livro didático “Caderno do Futuro”. Tais

atividades privilegiam as quatro operações fundamentais da Matemática tendo em vista

apenas a resolução de exercícios, em que as experiências e os conhecimentos prévios dos

alunos não são considerados.

Quanto aos problemas que Maria indicou nos planos de aula, percebemos que os

mesmos se constituem em problemas padrões retirados do livro didático “Caderno do

Futuro”, em que os conhecimentos dos educandos também não são considerados, bem como

suas formas próprias de pensamento e suas heurísticas pessoais. Tais problemas visam apenas

Page 235: CONCEPÇÕES DE PROFESSORES EXPRESSAS NOS … · metodologia de investigação adotada foi a abordagem qualitativa de cunho interpretativo, na qual nos fundamentamos em Bogdan e Biklen

234

à aplicação e fixação das quatro operações fundamentais da Matemática, não se constituindo

em desafios para os estudantes Jovens e Adultos.

Portanto, podemos inferir que os problemas que a Maria trabalhou com seus alunos

não atendem o que indica a perspectiva metodológica da Resolução de Problemas, pois de

acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais (1997), o problema não é um exercício em

que os estudantes aplicam, quase que mecanicamente, fórmulas ou processo operatórios. Só

existe problema se os alunos forem instigados a interpretarem o enunciado da questão que lhe

é posta e a estruturar a situação que lhe é apresentada. Além disso, segundo o mesmo

documento, a resolução de problemas “não é uma atividade para ser desenvolvida em paralelo

ou como aplicação da aprendizagem, mas uma orientação para a aprendizagem, pois

proporciona o contexto em que se pode apreender conceitos, procedimentos e atitudes

matemáticas” (BRASIL, 1997, p. 33).

Outro ponto a ser considerado com relação aos planos elaborados por Maria, é que a

professora mesmo utilizando um livro didático indicado para o ensino de Matemática no 5º

Ano do Ensino Fundamental Regular teve cuidado ao selecionar os exercícios para trabalhar

com o público da EJA, de modo que os enunciados não fossem infantilizados, sinalizando

assim uma concepção Emancipadora de Educação Matemática.

Contudo, também não encontramos nos planos de aula organizados por Maria

atividades matemáticas relacionadas com os temas do projeto da Escola Caju, no qual foram

descritos nos planejamentos bimestrais elaborados pela professora. Diante disso, observamos

que a metodologia de Projetos de Trabalho proposta pela Escola Caju e mencionada em seus

planejamentos bimestrais não é contemplada nos planos de aula da professora.

Em linhas gerais, observamos que na maioria dos planos de aula a professora

reproduziu o modelo proposto pelo livro didático “Caderno do Futuro”, cuja ênfase é dada nos

exercícios de fixação, revelando uma concepção de que a aprendizagem é um ato mecânico,

que se dá pela exercitação e pela memorização, se aproximando mais da perspectiva Bancária

de Educação Matemática.

A mesma perspectiva também se apresenta quando não percebemos nos planos de aula

de Maria a valorização dos conhecimentos prévios, bem como o contexto sociocultural em

que seus alunos estão inseridos. Também se revela quando não encontramos qualquer

referência nos planos que nos levassem a compreender que Maria utilizou jogos, recursos

tecnológicos e outras metodologias no ensino da Matemática, como a Etnomatemática, a

História da Matemática, a Modelagem Matemática e Estratégias Metacognitivas.

Page 236: CONCEPÇÕES DE PROFESSORES EXPRESSAS NOS … · metodologia de investigação adotada foi a abordagem qualitativa de cunho interpretativo, na qual nos fundamentamos em Bogdan e Biklen

235

Assim, podemos inferir que provavelmente as aulas de Maria sejam expositivas e que

o livro didático indicado para o Ensino Regular é o principal suporte para o desenvolvimento

de sua prática pedagógica de Matemática na 2ª Etapa da EJA, revelando uma concepção

Bancária de Educação Matemática.

e) Livros Didáticos utilizados pela professora Isabel

Primeiramente interrogamos Isabel com o objetivo de identificar quais livros

didáticos ela se apoiou para planejar suas aulas de Matemática na 1ª Etapa da EJA no

ano de 2011, e ela nos respondeu:

Não uso livros didáticos, pois é muito caro e as Editoras não dão o livro do

professor da EJA. Temos que comprar e tenho muitas colegas pelo nosso Brasil que

trocamos atividades via internet. (Q3- B-5)

Dessa forma, já que Isabel afirmou não usar livros didáticos, pedimos para que a

professora comentasse sobre os materiais que utilizou para planejar suas aulas de Matemática,

e ela declarou que:

Seriam essas mesmas. Elas passam, por exemplo, vamos trabalhar números pares...

Então a gente fala de que maneira eu trabalho. Tem colegas minhas que trabalham

no interior, mas aí eles vão pra fora da sala de aula, vão trabalhar lá os cafés,

porque é na zona rural. E eu trabalho números pares com eles, a roupa deles, o que

você compra de par, o seu dia a dia e o que você usa o dia a dia. Então eu costumo

trabalhar desta forma [...] (E – Isabel)

Percebemos que Isabel utilizou basicamente as atividades que permutou e recebeu via

internet de outras professoras que lecionam na Educação de Jovens e Adultos para organizar o

ensino da Matemática na 1ª Etapa dessa modalidade, o que é relevante para a prática docente,

pois a troca de informações amplia as possibilidades pedagógicas permitindo que o professor

trabalhe melhor o desenvolvimento do conhecimento matemático. Desse modo, a professora

sinaliza uma visão Emancipadora de Educação.

No entanto, um posicionamento contrário a esse revelado pela professora se evidencia

em outro momento da entrevista, quando Isabel declara “a escola tem uns livros da EJA e a

gente pega um aqui e outro ali, e aí você vai tirando alguma coisa” (E – Isabel).

Diante disso, percebemos certa contradição na fala de Isabel, pois inicialmente a

professora declarou não utilizar livros didáticos para planejar suas aulas de Matemática, e em

Page 237: CONCEPÇÕES DE PROFESSORES EXPRESSAS NOS … · metodologia de investigação adotada foi a abordagem qualitativa de cunho interpretativo, na qual nos fundamentamos em Bogdan e Biklen

236

outra ocasião afirmou selecionar atividades de alguns livros da Escola Caju indicados para a

EJA. Desse modo, perante a declaração da professora, perguntamos a ela como acontece o

processo de escolha das atividades matemáticas em tais livros didáticos, e ela nos

respondeu:

Nos livros é a necessidade de cada um. Eu faço no início a pesquisa com cada um.

Então, o pedreiro... então eu vou trabalhar quantos carrinhos é um caminhão de

areia, e aí, vou fazer uma parede, quantos tijolos? Então, o metro quadrado... e aí a

gente vai trabalhando toda, nós construímos teoricamente uma casa na sala de

aula. Aí o jardineiro, ele vai ensinar como ele poda a árvore. Ele passa tudo e aí a

gente vai anotando no quadro e ai a gente vai trabalhando, e acaba um passando

experiência para o outro [...] (E – Isabel).

Percebemos que Isabel escolhe as atividades nos livros didáticos de acordo com o que

acredita ser as necessidades de seus alunos, bem como o que será útil para o dia a dia e para

suas profissões, revelando assim uma visão utilitarista da Matemática. Tal concepção indica

que o ensino dessa disciplina deve ser voltado apenas para satisfazer as necessidades mais

imediatas dos educandos da EJA, isto é, um ensino que não ultrapassa as fronteiras de uma

formação profissional e utilitária.

Em linhas gerais, podemos inferir que a professora não adotou um único livro para

planejar o ensino da Matemática na 1ª Etapa da EJA no ano de 2011, mas sim utilizou vários

livros didáticos bem como aproveitou atividades indicadas por colegas de profissão que

lecionam na 1ª Etapa da EJA. Compreendemos que essa atitude da professora é positiva, pois

ela não se prendeu a um único livro didático, buscando outras fontes para o ensino da

Matemática nessa modalidade.

Entretanto, como Isabel não se lembrou dos títulos dos livros que utilizou no período

investigado para que pudéssemos realizar a análise dos mesmos, não temos como identificar o

que revelam os livros didáticos utilizados por Isabel sobre os conteúdos e metodologias

propostas para o ensino e aprendizagem da Matemática na 1ª Etapa da EJA

Contudo, assim como os professores da Escola Bocaiúva, a partir do mês de julho de

2011, Isabel também teve a oportunidade de utilizar com seus alunos da 1ª Etapa da EJA o

livro didático distribuído pelo MEC “Viver, Aprender – Alfabetização de Jovens e Adultos”,

que faz parte do Plano Nacional do Livro Didático - EJA 2011. Dessa forma, questionamos a

professora durante a entrevista com a intenção de compreender se ela utilizou tal livro

didático em suas aulas de Matemática no segundo semestre de 2011, e ela nos respondeu:

“sim, depois que eles ganharam o livro eu passei a utilizar” (E- Isabel).

Page 238: CONCEPÇÕES DE PROFESSORES EXPRESSAS NOS … · metodologia de investigação adotada foi a abordagem qualitativa de cunho interpretativo, na qual nos fundamentamos em Bogdan e Biklen

237

Como a Isabel afirmou ter utilizado o livro didático em questão, questionamos a

professora se ela gostou do livro, e ela nos declarou “olha, pra eles (alunos) o livro não é

bom, porque ele não é específico, ele tem muita leitura e pouca coisa... a Matemática, aquela

que era de construir uma casa igual eu trabalho, não tem, porque o pessoal da EJA é

diferenciado. Então teria que ser como construir casa... jardinagem... e todas estas coisas da

EJA. Inclusive eu já mandei e-mail pra várias editoras falando sobre isto” (E – Isabel).

Percebemos que embora a professora não tenha considerado o livro didático bom,

Isabel passou a utilizá-lo em suas aulas de Matemática na 1ª Etapa da EJA, demonstrando

assim respeito a seus alunos, ao declarar: “se eles gostam, tem que respeitar isto e trabalhar

com eles” (E – Isabel). Entretanto, ao destacar os motivos pelos quais não o considera

adequado, Isabel nos revela novamente um entendimento de que essa modalidade deve

oportunizar um conhecimento matemático imediatista e instrumental, vinculado sempre ao

cotidiano destes estudantes. Observamos que foge da compreensão da professora que para a

formação do sujeito é necessário contemplar não apenas a dimensão funcional do

conhecimento, mas também a sua dimensão formativa (BRASIL, 2001). Portanto, diante

deste entendimento evidenciado pela professora, observamos que suas concepções caminham

em direção ao modelo Bancário de Educação.

Isabel reforça esse posicionamento, quando a questionamos sobre o que tal livro traz

de novo para o ensino da Matemática na 1ª Etapa da EJA, e ela nos respondeu: “Nada,

porque ele traz mais tipo teoria, problemas, resolução de problemas, conta antes e depois,

não aquela coisa bem da EJA mesmo, de você ir à feira: eu vou comprar tantas dúzias de

banana... Eu achei ele muito, tipo assim, só pra enganar o pessoal que tem um livro [...] (E-

Isabel).

Diante da declaração da professora, questionamos então sobre qual livro didático ela

preferia utilizar no ensino da Matemática e ela nos garantiu: “eu ainda prefiro as

atividades que minhas colegas passam pra mim, porque são coisas bem específicas, que a

gente fica uma trocando com a outra. A gente vai passando e montando uma coisa bem mais

prática da realidade deles na sala de aula” (E- Isabel). Podemos inferir que a professora

prefere trabalhar com atividades disponibilizadas por outras colegas de profissão, pois assim

tem a possibilidade organizar seu trabalho pedagógico na EJA vinculado apenas ao caráter

informal da Matemática, ligada ao cotidiano dos alunos e dirigida à aplicação na vida prática.

Dessa forma, mais uma vez Isabel não reconhece o papel formativo da Matemática, revelando

assim uma concepção Bancária de Educação.

Page 239: CONCEPÇÕES DE PROFESSORES EXPRESSAS NOS … · metodologia de investigação adotada foi a abordagem qualitativa de cunho interpretativo, na qual nos fundamentamos em Bogdan e Biklen

238

f) Livro Didático utilizado pela professora Maria

Identificamos nos planos de aula elaborados por Maria que o livro didático “Caderno

do Futuro”, escrito pelos autores Jorge Daniel Silva, Walter dos Santos Fernandes, Orlando

Donizetti Mabelini, Osvaldo Piffer e Marlene Ordoñez, foi o principal apoio no planejamento

de suas aulas de Matemática no período investigado. Desse modo, buscamos interpretar o que

revela tal livro didático sobre os conteúdos e as metodologias propostas para o ensino e

aprendizagem da Matemática na 2ª Etapas da Educação de Jovens e Adultos. Todavia,

ressaltamos que não trata de um objetivo dessa investigação realizarmos uma análise

específica e minuciosa dos livros didáticos utilizados pelos sujeitos de nossa pesquisa. Sendo

assim, desconsideramos qualquer intenção de crítica.

O livro didático “Caderno do Futuro” é indicado para o ensino da Matemática no 5º

Ano do Ensino Regular. Todavia, Maria declarou em diversas ocasiões durante a entrevista

que o livro “o Caderno do Futuro é ótimo, maravilhoso” (E - Maria) para o ensino da

Matemática na EJA, “é uma bagagem pro professor, maravilhoso, é dez!... Então, esse

Caderno do Futuro é um caderno que veio para ficar. E é pro futuro mesmo porque todos os

professores amam” (E – Maria).

Desse modo, percebemos que Maria realmente gosta de trabalhar com tal livro

didático mesmo este sendo indicado para o Ensino Regular e ser semelhante às antigas

cartilhas, em que se prioriza o ensino da Matemática por meio da repetição de exercícios. A

professora reafirma seu posicionamento ao declarar que o “Caderno do Futuro” de

Matemática “tem uns probleminhas muito bons em fração. Ele é assim, em cima de

exercícios... mas matemática é o único que eu vejo que tem exercícios bons [...]” (E – Maria).

Com relação aos conteúdos matemáticos propostos pelo livro didático “Caderno do

Futuro”, percebemos que o mesmo não contempla os quatro grandes blocos indicados pela

Proposta Curricular para o Primeiro Segmento da EJA (2001). Tal livro propõe somente

atividades referentes ao bloco “Números e Operações Matemáticas”, o que é um problema

para o ensino dessa disciplina no contexto da EJA, haja vista a necessidade dos educandos

Jovens e Adultos relacionados a conhecimentos estatísticos, geométricos e métricos.

Em relação à metodologia, os autores do livro didático afirmam que a proposta de

ensino do livro, “é simples e inovadora, parte de resumos de conteúdos ilustrados com

gráficos, desenhos e fotos que exploram o cotidiano do aluno” (site da Editora28

). Além disso,

28

Disponível em: < http://www.ibep-nacional.com.br/ibep2010/htdocs/script/fBusca.asp?colecao=2>

Page 240: CONCEPÇÕES DE PROFESSORES EXPRESSAS NOS … · metodologia de investigação adotada foi a abordagem qualitativa de cunho interpretativo, na qual nos fundamentamos em Bogdan e Biklen

239

declaram que “os alunos realizam centenas de atividades e respondem a questões que

propiciam a resolução de problemas e o desenvolvimento das habilidades de pensamento”.

No entanto, ao observamos o livro didático em questão, não percebemos nada de

inovador em sua proposta. O que verificamos são atividades que privilegiam a reprodução de

exercícios, como podemos observar nas Figuras 11 e 12 a seguir:

Figura 11: Ilustração gráfica de exercícios

Fonte: (CADERNO DO FUTURO, p. 22)

Figura 12: Ilustração gráfica de exercícios “mecanizados”

Fonte: (CADERNO DO FUTURO, p. 39)

Observamos também que os conceitos matemáticos não são apresentados por meio de

problematizações e que as atividades descritas no livro não são considerados problemas

matemáticos de acordo com a concepção dos autores Polya (1995) e Darsie (apud MATO

GROSSO, 2000). São exercícios comuns, como podemos observar na Figura 13, que

objetivam apenas a aplicação das operações fundamentais já conhecidas pelos estudantes, não

desenvolvendo as habilidades de pensamento como indica os autores do livro didático.

Page 241: CONCEPÇÕES DE PROFESSORES EXPRESSAS NOS … · metodologia de investigação adotada foi a abordagem qualitativa de cunho interpretativo, na qual nos fundamentamos em Bogdan e Biklen

240

Figura 13: Ilustração gráfica de exercícios considerados “problemas matemáticos” pela professora

investigada

Fonte: (CADERNO DO FUTURO, p. 45)

Também não localizamos no livro em questão qualquer referência a História da

Matemática, sugestões de jogos que pudessem ser utilizados no ensino de conteúdos

matemáticos e indicações de que as atividades pudessem ser realizadas com o auxílio da

calculadora e de outros recursos tecnológicos.

Contudo, assim como a professora Isabel e os professores da Escola Bocaiúva, a partir

do mês de julho Maria teve a oportunidade de trabalhar com seus alunos da 2ª Etapa da EJA o

livro distribuído pelo MEC “Viver, Aprender – Alfabetização de Jovens e Adultos”. No

entanto, durante a entrevista, ao questionarmos se a professora o utilizou em suas aulas de

Matemática no segundo semestre de 2011, ela nos respondeu: “a coordenadora até pediu

para distribuir para os alunos. Eu distribuí, mas eu não uso direto. Eu uso assim alguma

coisa que eu acho assim que precisa. Eles levam todos os dias, mas eu não uso todos os dias.

Aí eu vejo alguma coisa, ali tem muito texto bom. Ele é tudo, é só um livro pra todas as

matérias” (E – Maria).

Desse modo, percebemos que embora a professora tenha considerado o livro bom, ela

não adotou o mesmo para o ensino da Matemática na 2ª Etapa da EJA no segundo semestre de

2011. Utilizou-o apenas como apoio para elaborar suas aulas. Diante disso, questionamos a

professora sobre o que tal livro traz de novo para o ensino da Matemática na 2ª Etapa da

EJA, e ela nos respondeu: “ai, de novo, mais são os probleminhas assim do real, também,

coisas do dia a dia. Tem também geometria. Também bem que agora eles estão pedindo para

utilizar bastante geometria porque na provinha lá da Secretaria (SME) foi um fracasso há

dois anos atrás, porque nós professores trabalhávamos muito pouco a geometria. Então foi

uma falha até da nossa parte, aí na hora da provinha os alunos não faziam porque não

sabiam [...]” (E – Maria)

Notamos na fala da professora, que os conteúdos referentes à geometria são o que

mais se destacam no livro em questão. Observamos ainda que sua inquietação sobre o ensino

Page 242: CONCEPÇÕES DE PROFESSORES EXPRESSAS NOS … · metodologia de investigação adotada foi a abordagem qualitativa de cunho interpretativo, na qual nos fundamentamos em Bogdan e Biklen

241

da geometria na EJA não se dá pela importância deste conteúdo para os estudantes dessa

modalidade, cujo conhecimento pode proporcionar aos educandos Jovens e Adultos uma

visão mais organizada do mundo em que vivem (FARREL, 1994), mas principalmente por ser

um conteúdo solicitado nas avaliações externas.

Diante da declaração da professora, questionamo-la sobre qual livro didático ela

preferia utilizar no ensino da Matemática e ela nos revelou “os dois, porque tudo é

importante. Porque esse aqui (apontando para o livro “Caderno do Futuro”) é mais assim,

exercícios de fixação, de tudo, tem aqui. Ele é só exercícios, então se eu dou determinada

coisa posso ir lá... Então é a hora que o professor fica tranquilo porque eu sei que ali eu vou

encontrar determinada coisa, pra determinado exercício pra esta matéria” (E – Maria).

Ao declarar que o livro didático “Caderno do Futuro” lhe transmite segurança, Maria

nos remete ao pensamento de Silva (1996, p. 8), ao afirmar que “para uma boa parcela dos

professores brasileiros, o livro didático se apresenta como uma insubstituível muleta. Na sua

falta ou ausência, não se caminha cognitivamente na medida em que não há substância para

ensinar”. Além disso, o mesmo autor enfatiza que o

[...] apego cego ou inocente a livros didáticos pode significar uma perda crescente de

autonomia por parte dos professores. A intermediação desses livros, na forma de

costume, dependência e/ou vício, caracteriza-se como um fator mais importante do

que o próprio diálogo pedagógico, que é ou deveria ser a base da existência da

escola (SILVA, 1996, p. 8).

Em suma, ao observarmos o livro utilizado por Maria durante o período investigado,

percebemos que tal livro é infantilizado para o ensino da Matemática na EJA visto que o

mesmo é recomendado para o Ensino Regular. Além disso, o livro “Caderno do Futuro” não

contempla os conteúdos referentes ao bloco “Medidas”, “Geometria” e “Introdução à

Estatística”, conteúdos matemáticos recomendados pela Proposta Curricular para o Primeiro

Segmento da EJA (2001). Além disso, o modelo de ensino de Matemática proposto no livro

didático “Caderno do Futuro” se enquadra na categoria do ensino por imitação, retratando

fortemente a perspectiva Bancária de Educação, em que o aluno é levado a exercitar

exaustivamente os modelos de resolução propostos por meio de inúmeros exercícios de

“fixação”.

g) Caderno dos alunos da professora Isabel

Ao analisarmos os cadernos dos alunos de Isabel, observamos por meio do registro das

Page 243: CONCEPÇÕES DE PROFESSORES EXPRESSAS NOS … · metodologia de investigação adotada foi a abordagem qualitativa de cunho interpretativo, na qual nos fundamentamos em Bogdan e Biklen

242

Blocos de Conteúdos

Números e Operações Matemáticas

Medidas

Geometria

Introdução à Estatística

atividades o destaque dado pela professora no período investigado ao bloco “Números e

Operações Matemáticas”, sendo que aproximadamente 90% dos conteúdos ministrados em

suas aulas correspondem a esse bloco. Como podemos observar no Gráfico 5, apenas 10% dos

conteúdos trabalhados por Isabel fazem parte do bloco “Geometria”.

Gráfico 5 – Distribuição dos blocos de conteúdos nos cadernos dos alunos da professora Isabel

Fonte: Cadernos dos alunos da professora Isabel

Dessa forma, podemos inferir a partir da análise dos cadernos dos alunos, que Isabel

não trabalhou em suas aulas conteúdos referentes aos blocos “Introdução à Estatística” e

“Medidas”, o que já era de se esperar, pois ao analisamos anteriormente seus planos de aula,

já havíamos observado a inexistência do registro de atividades que envolvessem tais blocos de

conteúdos.

Entretanto, o destaque dado pela professora ao bloco “Números e Operações

Matemáticas” é de certa forma esperado na 1ª Etapa da EJA, pois de acordo com a Proposta

Curricular para o Primeiro Segmento da EJA (2001, p. 111) “a construção do sentido

numérico, ou seja, o reconhecimento dos significados dos números é a base para a

aprendizagem de muitos conceitos e procedimentos matemáticos”.

Quanto às metodologias propostas pela professora para o ensino e aprendizagem da

Matemática na 1ª Etapa da Educação de Jovens e Adultos no período investigado, observamos

por meio dos cadernos dos alunos que algumas atividades foram xerocadas de livros

didáticos. Outras foram propostas pela professora, registradas no quadro-negro e

consequentemente registradas pelos alunos em seus cadernos. Dessas atividades, algumas

foram relacionadas diretamente com a alfabetização, como por exemplo, quantidade de letras

e de vogais das palavras (Figura 14), bem como parlendas que envolvem a Matemática.

Page 244: CONCEPÇÕES DE PROFESSORES EXPRESSAS NOS … · metodologia de investigação adotada foi a abordagem qualitativa de cunho interpretativo, na qual nos fundamentamos em Bogdan e Biklen

243

Figura 14: Ilustração gráfica de exercícios relacionados com a Língua Portuguesa

Fonte: Planos de aula da professora Isabel

Assim, percebemos que Isabel compreende que podem ser feitas conexões entre a

Matemática e as outras áreas do conhecimento, nos permitindo inferir que suas concepções

caminham para o entendimento de uma perspectiva Emancipadora de Educação. O mesmo

entendimento se revela, ao percebemos que as atividades que Isabel propôs para seus alunos

da 1ª Etapa da EJA foram adequadas à faixa etária dos estudantes Jovens e Adultos em fase de

alfabetização, ou seja, não observamos atividades infantilizadas.

Observamos também que a professora não trabalhou as operações de adição e

subtração por meio de problemas matemáticos, mas sim privilegiou exercícios repetitivos que

envolvessem tais operações matemáticas. Outro ponto a ser considerado é que as atividades

matemáticas propostas por Isabel não foram relacionadas com o tema do Projeto “Meio

Ambiente Local”, registrado por ela em seus planejamentos bimestrais. Também não

observamos problematizações e referências ao mundo do trabalho dos estudantes.

Em linhas gerais, observamos por meio dos cadernos analisados que provavelmente as

aulas de Isabel foram expositivas, e que a principal metodologia por ela utilizada foi a

resolução de exercícios. Além disso, não observamos nos cadernos de seus alunos

informações que indicassem que a professora trabalhou no período investigado com

atividades matemáticas relacionadas com o tema do Projeto proposto pela Escola Caju e

indicado em seus planejamentos do 1º e 2º bimestre de 2011, como também com importantes

perspectivas metodológicas recomendadas para o ensino da Matemática na EJA, como por

exemplo, a Modelagem Matemática, a Etnomatemática, as Estratégias Metacognitivas,

sinalizando assim para um ensino pautado na perspectiva Bancária de Educação Matemática.

h) Caderno dos alunos da professora Maria

Ao analisarmos os cadernos dos alunos de Maria, foi possível verificar o que já

havíamos observado nos planos de aula elaborados pela professora. Como mostra o gráfico a

seguir, Maria trabalhou no período investigado apenas com conteúdos referentes ao bloco

Page 245: CONCEPÇÕES DE PROFESSORES EXPRESSAS NOS … · metodologia de investigação adotada foi a abordagem qualitativa de cunho interpretativo, na qual nos fundamentamos em Bogdan e Biklen

244

Blocos de Conteúdos

Números e Operações Matemáticas

Medidas

Geometria

Introdução à Estatística

“Números e Operações Matemáticas” com seus alunos da 2ª Etapa da EJA.

Gráfico 6 – Distribuição dos blocos de conteúdos nos cadernos dos alunos da professora Maria

Fonte: Cadernos dos alunos da professora Maria

Deste modo, ao observarmos o Gráfico 6, podemos inferir que Maria não trabalhou

com atividades referentes aos blocos “Introdução à Estatística”, “Geometria” e “Medidas”,

conteúdos recomendados para o ensino da Matemática na 2ª Etapa da EJA pela Proposta

Curricular para o Primeiro Segmento da EJA (2001).

Entretanto, talvez o destaque dado pela professora ao bloco de conteúdos “Números e

Operações Matemáticas” esteja relacionado ao período do ano em que as informações foram

coletadas.

Com relação às metodologias, observamos indícios nos cadernos dos alunos de que a

professora privilegiou em suas aulas a resolução de exercícios envolvendo as quatro

operações, como podemos observar na Figura 15:

Figura 15: Ilustração gráfica de exercícios envolvendo as quatro operações

Fonte: Cadernos dos alunos da professora Maria

Page 246: CONCEPÇÕES DE PROFESSORES EXPRESSAS NOS … · metodologia de investigação adotada foi a abordagem qualitativa de cunho interpretativo, na qual nos fundamentamos em Bogdan e Biklen

245

Além de exercícios, percebemos que Maria propôs a seus alunos alguns problemas

padronizados, em sua maioria, retirados do livro didático cuja indicação é para o trabalho com

crianças do 5º Ano do Ensino Fundamental Regular (“Caderno do Futuro”). Tais problemas,

como já havíamos observado anteriormente nos planos de aula da professora, não são

considerados problemas matemáticos de acordo com a concepção de vários autores que

defendem a perspectiva da Resolução de Problemas, como Polya (1995) e Darsie (apud

MATO GROSSO, 2000). Entretanto, percebemos que a professora que teve o cuidado em

selecionar tais exercícios, pois os mesmos são adequados à faixa etária dos educandos Jovens

e Adultos, como podemos observar na Figura 16:

Figura 16: Ilustração gráfica de problemas padrões

Fonte: Cadernos dos alunos da professora Maria

Observamos também, assim como nos cadernos dos alunos da professora Isabel, que

as atividades matemáticas trabalhadas por Maria não foram propostas por problematizações

referentes ao tema do Projeto “Meio Ambiente Local”, indicado pela Escola Caju e registrado

por ela em seus planejamentos bimestrais. Além disso, não observamos aproximações das

atividades trabalhadas por Maria com o cotidiano dos alunos, o que percebemos é que Maria

trabalhou os conceitos matemáticos de forma estanque e segmentada, sem vínculo nenhum

Page 247: CONCEPÇÕES DE PROFESSORES EXPRESSAS NOS … · metodologia de investigação adotada foi a abordagem qualitativa de cunho interpretativo, na qual nos fundamentamos em Bogdan e Biklen

246

com outros conceitos, com o contexto, com as experiências, com a cultura e com os

conhecimentos prévios de seus alunos.

Considerações sobre o que revelam os documentos escolares de Isabel e Maria quanto

aos conteúdos e as metodologias propostas para o ensino e aprendizagem da Matemática

na 1ª e 2ª Etapas da EJA na Escola Caju

Ao realizarmos a análise dos documentos escolares de Isabel, observamos nos

planejamentos do 1º e 2º bimestre a intenção da professora em trabalhar com seus alunos,

conteúdos referentes aos quatro grandes blocos indicados pela Proposta Curricular para o

Primeiro Segmento da EJA (2001), sendo eles: “Números e Operações Matemáticas”,

“Geometria”, “Medidas” e “Introdução à Estatística”.

No entanto, ao analisarmos os planos de aula no período investigado, percebemos que

Isabel propôs a seus alunos somente atividades relativas aos blocos “Números e Operações

Matemáticas” e “Geometria”. Esses mesmos conteúdos foram observados nos cadernos dos

alunos da professora.

Desse modo, os documentos escolares de Isabel nos levam a inferir que os conteúdos

propostos para o ensino e aprendizagem da Matemática na 1ª Etapa da EJA pela professora

contemplam em partes o que está indicado na Proposta Curricular para o Primeiro Segmento

da EJA (2001), pois a professora deixou de trabalhar com conteúdos que englobam vários

outros saberes como: medir, compreender raciocínios estatísticos e avaliar eventos

probabilísticos e informações contraditórias.

Em relação às metodologias, após realizarmos a análise dos planejamentos do 1º e 2º

bimestre do ano de 2011 e dos planos de aula de Matemática elaborados por Isabel, bem como

dos cadernos dos seus alunos, os dados nos apontaram certa contradição em relação entre o

que a professora investigada planejou trabalhar com o que efetivamente propôs para seus

alunos.

Tais contradições foram reveladas principalmente no que se refere à metodologia

Projetos de Trabalho, pois nos planejamentos bimestrais, Isabel registrou que iria propor

atividades relacionadas com a temática do Projeto da Escola Caju. Entretanto, não

encontramos atividades que se aproximassem da temática do Projeto citado em seus

planejamentos bimestrais como também problematizações que relatassem o efetivo

desenvolvimento de Projetos de Trabalho em suas aulas de Matemática. Além disso, não

encontramos indicações nos documentos escolares de Isabel de que ela tenha utilizado no

período investigado importantes perspectivas metodológicas no ensino da Matemática na 1ª

Page 248: CONCEPÇÕES DE PROFESSORES EXPRESSAS NOS … · metodologia de investigação adotada foi a abordagem qualitativa de cunho interpretativo, na qual nos fundamentamos em Bogdan e Biklen

247

Etapa da EJA, como por exemplo, a Resolução de Problemas, a Modelagem Matemática, a

Etnomatemática, bem como a utilização de recursos tecnológicos, o que nos permite inferir

que as concepções de Isabel caminham para o entendimento de uma perspectiva Bancária de

Educação.

Ao propor em alguns planos de aula que as atividades durante as aulas seriam

desenvolvidas pelos alunos em grupos, e ao tentar trazer para suas aulas alguns elementos da

História da Matemática, Isabel se aproxima dos pressupostos da perspectiva da Educação

Emancipadora. Aproxima-se também da mesma perspectiva ao propor atividades não

infantilizadas e situações práticas vividas no trabalho e no dia a dia da vida doméstica dos

Jovens e Adultos, como também ao utilizar jogos como metodologia de ensino em suas aulas

de Matemática.

Em suma, os documentos escolares nos revelaram que as concepções de Isabel quanto

aos conteúdos e metodologias propostas para o ensino e aprendizagem da Matemática na 1ª

Etapa da EJA transitam entre o modelo Bancário e Emancipador de Educação, pois em

alguns momentos ela demonstra a compreensão de que o ensino deve contemplar algumas

importantes abordagens metodológicas pautadas no modelo Emancipador. Em outros, Isabel

se remete a perspectiva Bancária ao evidenciar a importância de desenvolver um trabalho que

contemple diversas metodologias, mas que na prática, segundo seus documentos, deixam de

ser consideradas.

Ao analisarmos os documentos escolares de Maria, observamos também que a

professora investigada destacou em seus planejamentos bimestrais que pretendia trabalhar no

período investigado com conteúdos referentes aos quatro blocos sugeridos pela Proposta

Curricular para o Primeiro Segmento da EJA (2001), isto é, “Números e Operações

Matemáticas”, “Geometria”, “Medidas” e “Introdução à Estatística”.

Entretanto, ao analisarmos os planos de aula elaborados por Maria no mesmo período,

percebemos que a professora trabalhou com seus alunos apenas conteúdos relativos ao bloco

“Números e Operações Matemáticas”. Localizamos estes mesmos conteúdos ao analisarmos

os cadernos de seus alunos.

Quanto ao livro didático que Maria se apoiou para ensinar a Matemática na 2ª Etapa da

EJA, observamos que o mesmo é recomendado para o ensino de tal disciplina no Ensino

Regular, caracterizando assim a infantilização do ensino nessa modalidade, pois as atividades

não se relacionam em sua maioria com a realidade e as necessidades dos Jovens e Adultos.

Entendemos ainda, que os conteúdos matemáticos apontados no livro não contemplam o que

está preconizado na Proposta Curricular para o Primeiro Segmento da EJA (2001) e na Matriz

Page 249: CONCEPÇÕES DE PROFESSORES EXPRESSAS NOS … · metodologia de investigação adotada foi a abordagem qualitativa de cunho interpretativo, na qual nos fundamentamos em Bogdan e Biklen

248

Curricular para a EJA do município de Cuiabá quanto aos conteúdos básicos da Matemática a

serem trabalhados na referida Etapa da Educação de Jovens e Adultos, pois o livro apresenta

apenas atividades do bloco “Números e Operações Matemáticas”.

Quanto às metodologias, os dados documentais nos revelaram que Maria privilegia em

suas aulas a resolução de exercícios envolvendo as quatro operações, bem como problemas

padronizados e de aplicação, que nada mais são do que uma repetição de um modelo de

solução apresentado pelo livro didático. Assim, Maria propõe o ensino da Matemática de

forma exata e mecânica, não fazendo relações à vida dos seus alunos, ao mundo do trabalho e

nem com outras áreas do conhecimento, revelando dessa forma, concepções que se sustentam

em um modelo Bancário de Educação.

Entretanto, a perspectiva Emancipadora se evidencia quando Maria, mesmo

utilizando um livro didático indicado para o Ensino Regular, cujas temáticas e

problematizações não fazem parte do mundo dos Jovens e Adultos teve o cuidado de propor

atividades do livro que não apresentassem enunciados infantilizados.

Os dados nos revelaram também que existe contradição entre o que foi proposto pela

professora nos planejamento bimestrais elaborados no período investigado e o os registros dos

planos de aula e dos cadernos dos alunos de Maria quanto às estratégias e metodologias

propostas para o desenvolvimento das aulas de Matemática na 2ª Etapa da EJA. Nos

planejamentos bimestrais, Maria delineou que iria trabalhar com a metodologia Projetos de

Trabalho proposta pela Escola Caju, tendo por objetivo explorar conceitos matemáticos. Além

disso, projetou que utilizaria sólidos geométricos, textos didáticos, panfletos entre outros

recursos didáticos nas aulas de Matemática. Porém, ao observarmos os planos de aula e os

cadernos dos alunos da professora investigada não localizamos atividades referentes à

temática do Projeto indicado e nem apontamentos quanto à utilização de jogos e de recursos

didáticos no ensino dessa disciplina.

Também, não encontramos indicativos nos documentos escolares de que Maria teria

utilizado no ensino da Matemática na 2ª Etapa da EJA, relevantes perspectivas metodológicas

e estratégias diversificadas capazes de estimular a curiosidade, a imaginação e o envolvimento

dos educandos em suas aulas, motivando-os à aprendizagem de tal disciplina, como por

exemplo, a Resolução de Problemas, a Modelagem Matemática, a História da Matemática, a

Etnomatemática, bem como a utilização de recursos tecnológicos.

Em linhas gerais, observamos nos documentos escolares que Maria contemplou em

partes os conteúdos matemáticos que a Proposta Curricular para o Primeiro Segmento da EJA

(2001) sugere para o ensino e aprendizagem da Matemática na 2ª Etapa da EJA. Os

Page 250: CONCEPÇÕES DE PROFESSORES EXPRESSAS NOS … · metodologia de investigação adotada foi a abordagem qualitativa de cunho interpretativo, na qual nos fundamentamos em Bogdan e Biklen

249

documentos escolares nos revelaram ainda que as metodologias propostas por Maria para o

ensino e aprendizagem da Matemática se pautam basicamente num ensino conteudista e

formal, em que a bagagem cultural dos estudantes não é tratada, a princípio, como ponto de

partida para a construção de novos conhecimentos matemáticos, uma vez que, os exemplos

não são tomados necessariamente a partir de questões do interesse dos estudantes, mas sim do

livro didático utilizado pela professora. Assim, por revelar que apoiou seu trabalho

pedagógico em um livro didático indicado para o Ensino Regular, Maria propõe o ensino da

Matemática numa perspectiva tradicional, fundamentado em aulas expositivas, quase

exclusivamente em modelos prontos e acabados, demonstrando uma concepção que se funda

num modelo Bancário de Educação.

Por fim, os documentos escolares nos revelaram que as concepções de Maria acerca

dos conteúdos e metodologias propostas para o ensino e aprendizagem da Matemática na 2ª

Etapa da EJA caminham em direção dos pressupostos que caracterizam o modelo tradicional

de ensino, ou seja, o modelo Bancário de Educação.

5.2.3 Bloco 3- Concepções Expressas nas Falas das Professoras

a) Conteúdos

Após a análise dos conteúdos propostos nos documentos da Escola Caju e nos

documentos das professoras Isabel e Maria, passamos a investigar através dos questionários

Q3-A e Q3-B e das entrevistas, o que elas dizem sobre os conteúdos propostos para o ensino e

aprendizagem da Matemática na 1ª e 2ª Etapas da Educação de Jovens e Adultos da Escola

Caju.

Dessa forma, prosseguimos nossa investigação e perguntamos para as professoras se

os conteúdos de Matemática ensinados na EJA devem ser diferentes do Ensino Regular,

e elas se posicionaram afirmando:

Sim, porque os alunos da EJA apresentam uma condição escolar que é muitas vezes,

fruto de exclusão social. Têm experiências, práticas do mundo do trabalho e, apesar

de ter pouca ou nenhuma escolaridade, tem experiência de vida, tem um

conhecimento próprio que possibilita sua sobrevivência. (Q3- A-5- Isabel)

Com certeza, porque na verdade, por exemplo, os pedreiros, então você tem que

trabalhar mais o metro, mais o peso, aquele específico, pois se você for trabalhar

outra área da Matemática eles não querem. Tem que trabalhar a Geografia. Eu

começo pela Geografia, mostrando a importância da Geografia na vida de cada um.

Aí eu vou introduzindo as letras, os números, mostrando quais são as figuras

Page 251: CONCEPÇÕES DE PROFESSORES EXPRESSAS NOS … · metodologia de investigação adotada foi a abordagem qualitativa de cunho interpretativo, na qual nos fundamentamos em Bogdan e Biklen

250

geométricas e aí eles vão tomando gosto pelas coisas que tá ali com eles no dia a

dia. (E - Isabel)

Sim, porque eles preferem assuntos concretos e do dia a dia. (Q3- A-5- Maria)

Sim, porque tem que ser uma coisa bem resumida, sem muita enrolação, porque se

começar detalhar muito, muito, muito, passa o tempo muito rápido e não dá tempo

de lançar todo o conteúdo previsto. Então tem que ser uma coisa assim que seja

rápido, mas que abranja no total, que fixa melhor. Não pode ter muita enrolação

não! Passou e, sempre voltando porque eles não têm aquela facilidade de pegar

como os demais do Ensino Regular, que tem aquele processo o ano todo. Não, então

tem que ser rapidinho. Eu vejo assim, tem que ser rápido, mas sempre voltando, e

você escolher também o que você acha mais necessário, porque o conteúdo tá lá, o

livro tá lá cheio. Mas você escolhe por que tem professor que tem experiência, aí ele

leva tranquilo. Escolhe o principal, vê a necessidade. (E –Maria)

Observamos que as professoras foram unânimes ao afirmarem que os conteúdos

trabalhados na EJA devem ser distintos do Ensino Regular, principalmente porque seus

alunos já possuem conhecimentos advindos de suas experiências cotidianas. Dessa forma,

trabalham com conteúdos que fazem parte do dia a dia e do mundo do trabalho dos

estudantes, pois de acordo com Isabel “se não for assim eles não gostam da Matemática” (E -

Isabel). Concordamos com as professoras, pois os conteúdos matemáticos devem abranger

elementos da vivência prática dos alunos para torná-los mais significativos de maneira que

eles possam assimilá-los ativa e conscientemente. Entretanto, ao se referir exclusivamente ao

papel funcional da atividade Matemática dirigida à aplicação na vida prática, Isabel não

expressa à função formativa dessa área do conhecimento, direcionada para o desenvolvimento

de capacidades intelectuais que contribuem para o desenvolvimento do raciocínio, da lógica,

da coerência, o que transcende os aspectos práticos (RIBEIRO, 2007).

Ao declarar que na EJA “eles não têm aquela facilidade de pegar como os demais do

Ensino Regular” (E – Maria), Maria nos remete a uma visão preconceituosa da cognição dos

Jovens e Adultos, nos levando a inferir que compreende que a capacidade de aprendizagem

dos adultos é inferior à capacidade de aprendizagem das crianças que estudam no Ensino

Regular.

Observamos ainda que Maria e Isabel consideram que os conteúdos que selecionam

correspondem às necessidades de seus alunos, ao afirmarem que:

Sim, tenho esse diálogo após pesquisar a vida (profissão) de cada um. Começo a

fazer meu planejamento. Se não for assim eles evadem da escola. Mas falo de outros

conteúdos também, pois tenho alunos de 17 a 76 anos. (Q3- B-6- Isabel)

Procuro escolher o que eles realmente mais necessitam. (Q3- B-6 – Maria)

Page 252: CONCEPÇÕES DE PROFESSORES EXPRESSAS NOS … · metodologia de investigação adotada foi a abordagem qualitativa de cunho interpretativo, na qual nos fundamentamos em Bogdan e Biklen

251

Apreciamos a atitude de Isabel ao considerar na dinâmica do processo de ensino as

experiências, as dificuldades e as necessidades de seus alunos por meio de conversas

informais. Entretanto, acreditamos que a escolha dos conteúdos não deve se constituir em uma

ação isolada do professor, pois ao planejar várias decisões são tomadas em relação às

aprendizagens. Desse modo, se faz necessário que os estudantes também sejam envolvidos

nesse processo.

Diante das afirmações acima citadas, solicitamos durante as entrevistas que as

professoras nos exemplificassem quais seriam esses conteúdos, e Isabel e Maria nos

revelaram:

Seria a Matemática, que é a que vem do livro que a gente tem que ter. A Secretaria

(SME) tem o cronograma que a gente tem que cumprir aqueles conteúdos e a gente

tem que introduzir esta daí, mas eu acabo pulando fora e entrando mais nessa deles

e menos naquela, porque eu sei que lá na frente eles vão ter estas outras que eu não

fiz muito com eles. Então tem que ser o básico e preparar eles. Aquele básico, como

se fosse o arroz e o feijão e a mistura eles vão ver lá pela frente, porque senão lá na

frente eles voltam pra trás. Eles não querem outro ano, eles não querem outra

professora, e às vezes até desistem por causa disto. (E – Isabel)

As quatro operações, porcentagem, panfleto de lojas da City Lar, Casas Bahia da

vida. Você faz o cálculo lá pra eles do porque do juro, como você acha assim, se

você comprar em dez vezes é tanto. Se você comprar em cinco, é tanto. Á vista é

tanto, então, vai mostrando porque às vezes ele tem aquela ideia, ah, mas eu só vou

pagar vinte e cinco reais. Mas é vinte e cinco em vinte e quatro vezes, se você

diminuir um pouquinho pra dez, vai ficar um pouquinho mais pesado, mas aí o valor

cai. Aí você tem que explicar este tipo de coisa. Outra coisa também, bem que a

gente usa é ir ao mercado comprar determinada coisa com tanto do salário, salário

X e voltar com tanto, porque que você gastou isso? Então sempre naquela coisa do

dia a dia. É mostrar o dia a dia dele no real. (E – Maria)

Ao analisarmos a fala de Isabel, observamos que a professora prioriza a dimensão

utilitária do conhecimento matemático na 1ª Etapa da EJA, pois prefere trabalhar com

conteúdos relacionados ao dia a dia de seus alunos do que com os conteúdos sugeridos pela

Matriz Curricular da EJA de Cuiabá e outros documentos oficiais. No entanto, acreditamos

que o conhecimento matemático deve transcender ao aspecto simplesmente funcional da

Matemática, devendo também objetivar a promoção da formação integral dos educandos,

preparando-os para a vida e não apenas para atuarem em um sistema capitalista desumano.

Maria citou conteúdos matemáticos que acredita corresponder às necessidades de seus

alunos referentes aos blocos “Números e Operações Matemáticas” e “Introdução à Estatística”

(BRASIL, 2001). No entanto, Maria não mencionou em sua fala conteúdos relacionados aos

blocos “Geometria” e “Medidas”, bem como não os apontou nos planos de aula. Porém,

percebemos certa contradição na concepção da professora quanto aos conteúdos necessários

Page 253: CONCEPÇÕES DE PROFESSORES EXPRESSAS NOS … · metodologia de investigação adotada foi a abordagem qualitativa de cunho interpretativo, na qual nos fundamentamos em Bogdan e Biklen

252

para os educandos Jovens e Adultos, pois estes foram mencionados por ela nos seus

planejamentos bimestrais.

Desse modo, consideramos a ausência destes conteúdos na fala da professora

preocupante, pois tais conteúdos justificam-se na EJA devido às necessidades do cotidiano

dos Jovens e Adultos e às atividades relacionadas ao mundo do trabalho, pois muitas

profissões necessitam de tais conhecimentos, sendo que a Geometria destaca-se ainda como

um recurso que permite a resolução de inúmeros problemas da vida cotidiana e o uso deste

possibilita ao aluno estabelecer conexões entre a Matemática e outras áreas do conhecimento.

Questionamos as professoras sobre quais seriam, por ordem de prioridade, os cinco

conteúdos que são mais enfatizados em suas aulas de Matemática no Primeiro Segmento

da EJA, e elas nos responderam:

A geometria que faz parte do dia a dia de qualquer um. A soma, o troco que também

eles usam muito. Os números que eles pegam os documentos, que eles precisam

preencher fazer currículo e o telefone, que eles usam o número do telefone eles

precisam guardar, a gente trabalha o telefone, a conta de luz, são estas as

prioridades deles. Eles trazem a carteira de trabalho, eles trazem tudo para a sala

de aula. Eu faço com que eles trazem e depois a gente vai trabalhar a conta de luz,

água, telefone, celular, como armazenar os telefones, e a gente vai trabalhando

assim as necessidades bem básicas deles, do dia a dia. (E – Isabel)

As quatro operações, numeral por extenso porque muitos trabalham até mesmo em

preencher um cheque, um recibo de qualquer coisa, é necessário saber escrever por

extenso. Algarismo romano que é uma luta, mas eu insisto, mas eu ensino e cobro.

Ah, identificar e resolver os probleminhas. Mas esse daí é difícil, porque na hora

que você passa já logo querem saber: professora é de mais ou é de menos? Aí você

começa e pra eles saberem se é de mais ou se é de menos é necessário que saibam

ler. Então, primeira coisa, primeiro momento é saber... ali você vai utilizar a

leitura, a escrita, à interpretação, e por último o processo que tem que ser, ou de

mais, ou de vezes, ou então isso daí é o básico nisso tudo. (E – Maria)

Ao observamos a fala de Isabel, mais uma vez percebemos que a professora preocupa-

se em trabalhar com conteúdos referentes ao bloco “Geometria” e “Números e Operações

Matemáticas” (BRASIL, 2001), relacionados a situações do dia a dia de seus alunos.

Consideramos relevante a atitude de Isabel, pois de acordo com a Proposta Curricular para a

EJA (2001), “um caminho é transformar as situações do cotidiano que envolve noções e

notações matemáticas em suporte para a aprendizagem significativa de procedimentos mais

abstratos” (BRASIL, 2001, p. 102).

Contudo, de acordo com o Caderno de Orientações Didáticas para EJA, devemos

cuidar “para não banalizar o processo educativo, limitando-o a um pragmatismo que

submeteria a EJA apenas às demandas de conhecimento imediato em função das necessidades

da vida cotidiana” (SÃO PAULO, 2010, p. 19).

Page 254: CONCEPÇÕES DE PROFESSORES EXPRESSAS NOS … · metodologia de investigação adotada foi a abordagem qualitativa de cunho interpretativo, na qual nos fundamentamos em Bogdan e Biklen

253

Deste modo, ao reconhecer a importância da proximidade entre os conteúdos

matemáticos e o contexto sociocultural de seus alunos, Isabel nos permite inferir que os seus

ideais estão próximos de uma concepção Emancipadora de Educação Matemática. Entretanto,

ao referir-se apenas a função funcional dos conteúdos matemáticos, a professora deixa

novamente de considerar a sua função formativa para o ensino dessa disciplina, nos dando

indicações de que considera a primeira função como a mais importante para a efetivação do

processo ensino-aprendizagem da Matemática na Educação de Jovens e Adultos. Assim,

Isabel nos dá indícios de que talvez não perceba a importância de se manter o equilíbrio entre

essas duas funções da Matemática.

Por sua vez, Maria relatou priorizar apenas conteúdos referentes ao bloco “Números e

Operações Matemáticas” (BRASIL, 2001), o que já havíamos observado em seus planos de

aula e nos cadernos de seus alunos.

Em linhas gerais, não observamos nas falas das professoras relatos de que priorizam

conteúdos relevantes para o público da EJA relacionados aos blocos “Medidas” e “Introdução

à Estatística” (BRASIL, 2001), pois ao que se refere aos conhecimentos sobre estatística e

probabilidade, segundo o Caderno de Orientações Didáticas para EJA, tais conteúdos visam

“fornecer subsídios ao aluno para que possa interpretar, compreender, analisar gráficos,

tabelas que estão presentes nos meios de comunicação e no mundo do trabalho” (SÃO

PAULO, 2010, p. 41), constituindo como uma ferramenta indispensável em diversos áreas de

atividade científica, profissional, política e social.

Do mesmo modo, o ensino de conteúdos referentes ao bloco “Medidas” justifica-se na

EJA “pelas necessidades da vida cotidiana, de atividades de trabalho e, ainda, do

desenvolvimento da tecnologia e da ciência” (SÃO PAULO, 2010, p. 39). Além disso, de

acordo com o Caderno de Orientações Didáticas para EJA, “o conhecimento sistematizado

dos sistemas e das unidades de medidas se faz necessário nos dias atuais, para que as pessoas

possam inserir-se em contextos diversos, em igualdade de condições, compreendendo e

atuando de forma crítica na sociedade” (SÃO PAULO, 2010, p. 40).

Em seguida, depois de identificarmos nas falas das professoras os principais conteúdos

matemáticos que Isabel e Maria priorizavam em suas aulas de Matemática na 1ª e 2ª Etapas da

EJA, insistimos e questionamos se as mesmas trabalharam no período investigado

conteúdos relativos ao bloco da “Geometria”, e elas nos afirmaram que:

Sim, como já declarei anteriormente. (E- Isabel)

Page 255: CONCEPÇÕES DE PROFESSORES EXPRESSAS NOS … · metodologia de investigação adotada foi a abordagem qualitativa de cunho interpretativo, na qual nos fundamentamos em Bogdan e Biklen

254

Sim, trabalhei. Mas eu acho que eu não trabalhei bem no começo do ano, devo ter

trabalhado de agosto para frente, mas foi trabalhado. Nós trabalhamos sim

geometria. Inclusive começamos a trabalhar mais geometria devido a umas

provinhas Brasil que nos andamos vendo, e aí foi cobrado muito. Então nos tivemos

que dar uma acelerada na geometria. (E – Maria)

Ao observarmos a declaração de Maria, podemos perceber que a professora não

trabalha o ensino da geometria na EJA especialmente por reconhecer sua importância para o

público Jovem e Adulto, mas sim porque tais conceitos são requisitados em avaliações do

governo, e assim, consecutivamente ela como os demais professores são exigidos pela

Secretaria Municipal de Ensino de Cuiabá para trabalharem tais conteúdos com seus alunos.

Observamos o mesmo posicionamento de Maria em outro momento da entrevista, ao afirmar

que:

[...] agora eles estão pedindo para utilizar bastante geometria porque na provinha lá

da secretaria foi um fracasso há dois anos atrás, porque nós professores

trabalhávamos muito pouco a geometria. Então foi uma falha até da nossa parte, aí

na hora da provinha os alunos não faziam porque não sabiam... Pra ninguém fazer é

por que..., eu via que ninguém sabia ensinar mesmo. Eu sabia, eu sabia porque eu

sei. Mas eu sabia também que eles não iam fazer nada porque eles não aprenderam.

Eu não ensinei aí eu falei: foi falha, uma coisa que nos vamos melhorar, vamos

procurar trabalhar melhor porque realmente é aquele negócio, geometria, pelo

menos na maioria dos livros é aquela matéria que tá lá no final do livro. Aí se

acontece uma greve, por exemplo, o professor tem que rever tudo que já foi dado,

começar novamente lá pelo comecinho de dezembro geometria, aí dá corrido, pronto

e acabou. Aí o aluno não pega nada porque já tá no final do ano. Mal ensinado, mal

aprendido, e fica por aí mesmo... uma vez eu falei para uma colega nossa: vamos

começar geometria com eles porque a provinha Brasil cobrou muito de geometria e

os alunos não estão sabendo NADA e é uma matéria tão gostosa, rapidinho e o que

os livros de Matemática tem são os conjuntos. Primeiro na vida inteira conjunto,

conjunto, conjunto. Geometria no final [...] (E – Maria)

Outro ponto a ser considerado na fala da professora é que ela compreende que o

ensino da Geometria geralmente acaba ficando para o fim do ano letivo, e que por muitas

vezes tais conteúdos não são ensinados de forma satisfatória para que realmente se efetive a

aprendizagem, reconhecendo ser uma falha dela e da maioria dos professores. Além disso,

destaca que muitos professores não trabalham a geometria, o que é muito comum entre as

práticas dos professores não só na EJA como também no Ensino Regular.

Diante da declaração da professora, compreendemos que o ensino da Matemática

continua sendo fragmentado, em que primeiramente os conteúdos referentes ao bloco

“Números e Operações Matemáticas” são trabalhados e o desenvolvimento do pensamento

geométrico acaba por ficar em segundo plano. Ao abordar a problemática envolvida nessa

questão, Pavanello (1993), Pirola (2000), entre outros pesquisadores em Educação

Page 256: CONCEPÇÕES DE PROFESSORES EXPRESSAS NOS … · metodologia de investigação adotada foi a abordagem qualitativa de cunho interpretativo, na qual nos fundamentamos em Bogdan e Biklen

255

Matemática, destacam que um dos motivos que o ensino de geometria vem sendo deixado em

segundo plano nos currículos escolares pode ser decorrente de uma formação não satisfatória

da maioria dos professores de Matemática. Dessa forma, como os professores não possuem o

domínio dos conteúdos básicos da geometria, acabam enfatizando mais o ensino da álgebra e

da aritmética deixando a geometria em um segundo plano.

Percebemos também que Maria não compreende que possui autonomia para trabalhar

os conteúdos matemáticos na Educação de Jovens e Adultos de acordo com a sequência que

julga ser adequada, pois de acordo com a Proposta Curricular para o Primeiro Segmento da

EJA (2001), as sequências dos conteúdos não precisam ser rigidamente seguidas, pois

diversas combinações podem ser feitas entre os conteúdos.

Dessa forma, ao compreender que os conteúdos matemáticos devem trabalhados de

acordo com a sequência proposta pelos livros didáticos, Maria se aproxima de uma concepção

Bancária de Educação.

Quanto ao bloco “Introdução à Estatística”, Maria nos revelou que trabalhou com

seus alunos tais conteúdos. Porém, como observamos anteriormente, não identificamos em

seus planos de aula e nos cadernos de seus alunos nenhuma atividade relacionada a tais

conteúdos. Isabel, ao afirmar que “não, não trabalhei ainda, esse já é para terceira e quarta

série” (E - Isabel), nos leva a inferir que não compreende que os conteúdos estatísticos podem

ser trabalhados desde a 1ª Etapa da EJA, pois de acordo com a Proposta Curricular para o

Primeiro Segmento da EJA, o que varia é apenas o nível de complexidade dos assuntos

trabalhados. Ao abordar a problemática envolvida nessa questão, o mesmo documento

declara:

Pode-se iniciar os jovens e adultos na leitura e análise de dados quantitativos nas

suas diferentes formas de apresentação, a partir de atividades de contagem ou

levantamento de dados sobre populações ou fenômenos do entorno próximo [...]

Dados dessa natureza podem ser sistematizados e apresentados em tabelas simples,

com números naturais, de fácil compreensão por parte dos alunos iniciantes

(BRASIL, 2001, p. 154).

Quando interrogadas se trabalharam no período investigado conteúdos referentes

ao bloco “Medidas”, as professoras relataram que:

De medidas sim. O peso, a gente pesa eles no início do ano, todo mês eu trago o

aparelho de pressão para verificar a pressão, a fita métrica e assim eu faço desde o

começo do ano este trabalho de reeducação alimentar que eu trabalho com eles, as

doenças e aí a gente vai pesando todo o mês, todo mundo tem seu papelzinho com

os pesos até chegar o fim do ano. Porque se gente não fazer o que realmente toca

eles, a gente não consegue cativar eles para eles aprenderem, porque não é só

Page 257: CONCEPÇÕES DE PROFESSORES EXPRESSAS NOS … · metodologia de investigação adotada foi a abordagem qualitativa de cunho interpretativo, na qual nos fundamentamos em Bogdan e Biklen

256

Matemática ali, os números, a parte do livro ali da Matemática, tem que ser o que

você usa, o dia a dia, a sua Matemática no seu corpo, na sua alimentação, como a

cesta básica, o que você tem que comprar, a lista do supermercado, que é o que eles

fazem no dia a dia. É a prática. Eu costumo fazer a prática. (E – Isabel)

Eu trabalhei só o metro até agora. É mais assim, metro e litro. Trabalhei sim. Mas

metro e litro e parei aí. Não sei se vai dar tempo daqui pra frente, mas metro e litro

sim. (E – Maria)

Novamente observamos que Isabel defende apenas a dimensão utilitária do ensino da

Matemática na EJA, esquecendo-se do seu caráter formativo. Sobre essa temática, a Proposta

Curricular para o Primeiro Segmento da EJA declara que muitos conteúdos matemáticos

importantes são descartados porque são julgados pelos professores sem uma análise adequada,

não ser de interesse dos alunos, ou porque não há uma aplicação prática imediata no dia a dia.

Essa postura de muitos profissionais que atuam na EJA, leva ao empobrecimento do trabalho,

produzindo efeito contrário ao de enriquecer o processo ensino-aprendizagem (BRASIL,

2001).

Maria revelou que trabalhou apenas com medidas de comprimento e capacidade, e que

acreditava que não ia dar tempo de trabalhar com as outras, ou seja, medidas de tempo, massa,

superfície. No entanto, no período investigado, não encontramos nenhuma atividade

relacionada ao bloco “Medidas” nos seus planos de aula e nos cadernos de seus alunos.

Considerações sobre o que revelam as falas de Isabel e Maria quanto aos conteúdos

propostos para o ensino e aprendizagem da Matemática na 1ª e 2ª Etapas da Educação

de Jovens e Adultos da Escola Caju

Isabel revelou em sua fala que propôs no período investigado para o ensino e

aprendizagem da Matemática, três dos quatro blocos de conteúdos indicados pela Proposta

Curricular para o Primeiro Segmento da EJA (2001), sendo eles: “Números e Operações

Matemáticas”, ao expor que trabalhou o ensino da aritmética vinculado às necessidades

básicas do dia a dia de seus alunos, como adição, troco, números de telefone, informações

numéricas no preenchimento de currículos, dentre outras situações; “Geometria”, ao afirmar

que prioriza tal conteúdo, pois faz parte do dia a dia dos estudantes da EJA; o bloco

“Medidas”, ao declarar que trabalhou medidas de massa, medidas de comprimento e assim

desenvolveu um trabalho de reeducação alimentar ao acompanhar o “peso” de seus alunos

durante o ano de 2011.

Desse modo, as falas de Isabel presentes nos questionários e nas entrevistas nos levam

a inferir que os conteúdos propostos para o ensino e aprendizagem da Matemática na 1ª Etapa

Page 258: CONCEPÇÕES DE PROFESSORES EXPRESSAS NOS … · metodologia de investigação adotada foi a abordagem qualitativa de cunho interpretativo, na qual nos fundamentamos em Bogdan e Biklen

257

da EJA pela professora contemplam em partes o que está indicado na Proposta Curricular para

o Primeiro Segmento da EJA (2001).

Ao destacar sua preocupação com a contextualização dos conteúdos trabalhados na

EJA anteriormente citados, a professora demonstra certa tendência à perspectiva

Emancipadora de Educação.

Todavia, verificamos que esse aspecto fica comprometido, pois Isabel declarou buscar

sempre trabalhar com conteúdos matemáticos utilitários, cuja aplicação se dá apenas na vida

prática. Em nenhum momento, a professora mencionou à função formativa desta disciplina.

Além disso, Isabel deixou de propor conteúdos que englobam raciocínios estatísticos e

probabilísticos, referentes ao bloco “Introdução à Estatística”.

Em análise às falas da professora investigada presentes nos questionários e na

entrevista acerca dos conteúdos propostos para o ensino e aprendizagem da Matemática na 2ª

Etapa da Educação de Jovens e Adultos, nos deparamos em diversos instantes com pontos de

vistas divergentes, em que esse processo, ora é concebido segundo os pressupostos de um

modelo Emancipador, ora é compreendido sob a perspectiva Bancária de Educação.

Neste sentido, observamos que Maria se aproxima dos ideais de uma Educação na

perspectiva Emancipadora ao reconhecer a importância de tais conteúdos preconizados nos

documentos oficiais, que regulamentam o ensino no Primeiro Segmento da EJA no Brasil.

Maria revela propor conteúdos relativos ao bloco “Números e Operações

Matemáticas”, ao expor que prioriza o ensino das quatro operações fundamentais da

Matemática, numerais por extenso, números romanos, dentre outros conteúdos. Ao divulgar

que começou a trabalhar com conceitos geométricos, pois tais conhecimentos estão sendo

solicitados em avaliações instituídas pelo governo, a professora se refere ao bloco

“Geometria”. Maria indicou que propôs conteúdos do bloco “Medidas”, ao afirmar que

ensinou no período investigado medidas de comprimento e de volume a seus alunos. E por

último, o bloco “Introdução a Estatística”, ao expressar que trabalhou com conteúdos que

correspondem às necessidades de seus alunos, como por exemplo, o ensino de porcentagem,

cálculo de juros e valores de salário, relacionando-os às questões do cotidiano dos estudantes.

Entretanto, Maria evidenciou certa tendência ao modelo Bancário de Educação

quando demonstrou um entendimento de que a capacidade de aprendizagem dos adultos é

inferior à capacidade de aprendizagem das crianças que estudam no Ensino Regular, bem

como quando não demonstrou compreensão de que os conteúdos matemáticos relacionados

aos blocos “Geometria” e “Medidas” correspondem parte das necessidades dos estudantes

Jovens e Adultos. Maria se aproxima também da concepção Bancária de Educação ao

Page 259: CONCEPÇÕES DE PROFESSORES EXPRESSAS NOS … · metodologia de investigação adotada foi a abordagem qualitativa de cunho interpretativo, na qual nos fundamentamos em Bogdan e Biklen

258

compreender que os conteúdos matemáticos devem trabalhados de acordo com a sequência

proposta pelos livros didáticos.

Logo, os dados referentes às falas de Maria indicaram que as concepções da professora

transitam entre o modelo Bancário e Emancipador de Educação.

b) Metodologias

Após a análise dos conteúdos propostos nos documentos escolares e nas falas das

professoras Isabel e Maria, passamos a investigar através dos questionários Q3-A e Q3-B e

das entrevistas, que concepções elas revelam sobre as metodologias propostas para o ensino e

aprendizagem da Matemática na 1ª e 2ª Etapas da Educação de Jovens e Adultos da Escola

Caju.

Dessa forma, propomos para Isabel e Maria a seguinte questão: o modo como você

ensina Matemática para os alunos do Primeiro Segmento da EJA é diferente do jeito que

você ensina para os alunos do Ensino Regular? Se sim, quais são as diferenças?

Eles nos responderam afirmando que:

Sim. Os alunos da EJA já têm a prática oral e precisam da prática escrita. (Q3-B-3-

Isabel)

Sim, a diferença é que trabalho o mais necessário, pois o tempo é bem corrido. (Q3-

B-3- Maria)

Observamos que Isabel compreende que os alunos da EJA já possuem conhecimentos

da prática cotidiana, sendo necessário sistematizar isso como conhecimento formal.

Concordamos com a professora, principalmente porque de acordo com o Caderno de

Orientações Didáticas para a EJA cabe ao professor

[...] a função de fazer o elo desse conhecimento do cotidiano (informal) com o

conhecimento científico (formal). A educação matemática é instrumento para essa

transposição, devendo fornecer subsídios para que os alunos se tornem indivíduos

independentes, competentes, críticos e confiantes nos aspectos relacionados à

Matemática (SÃO PAULO, 2010, pág. 28).

Maria citou que a diferença do modo como ensina Matemática para seus alunos do

Primeiro Segmento da EJA está na quantidade de conteúdos, pois trabalha os mais

importantes devido ao tempo ser reduzido na EJA. Ao abordar a problemática envolvida nessa

questão, Salazar (2005, p. 39) declara que “quando se trabalha com tempo reduzido, como é

Page 260: CONCEPÇÕES DE PROFESSORES EXPRESSAS NOS … · metodologia de investigação adotada foi a abordagem qualitativa de cunho interpretativo, na qual nos fundamentamos em Bogdan e Biklen

259

comum na EJA, costuma indicar uma saída: ensinar o básico. Porém, quase sempre, esse

básico é representado pelo mínimo de conteúdo ou por "todo" conteúdo visto de forma

superficial”.

Referente à mesma temática, Fonseca (1999, p. 36) declara que "a 'busca do essencial'

não poder ter a conotação de mera exclusão de alguns conteúdos mais sofisticados, dando a

sensação de que os alunos jovens e adultos 'receberiam menos' do que os alunos do curso

regular". Desse modo, concordamos com a autora, pois na Educação de Jovens e Adultos os

alunos também devem ter a oportunidade de acesso aos conhecimentos formais e mais

complexos da Matemática para que eles não permaneçam excluídos da utilização dessa

ferramenta cultural nos diversos setores da sociedade.

Diante da declaração de Maria, questionamo-la durante a entrevista se ela considera o

tempo ser reduzido um fator positivo ou negativo, e ela nos afirmou que é “positivo com

certeza, meu Deus do céu! Se colocar muito longo, aí sim que a evasão vai ser muito, vai ser

pior porque pensa bem, eles são alunos que muitas das vezes estão há muito tempo sem

estudar. Chega de um trabalho super cansativo, muitas são domésticas, moto táxi, é,

trabalham como pedreiros serviço pesado, aí ficam o dia interior naquele sol, naquela coisa,

chegam em casa, as mulheres fazem janta, faz isso, faz aquilo, vai pro colégio...”. (E – Maria)

Concordamos com a professora investigada ao considerar o tempo ser reduzido na

EJA um fator positivo, pois isto realmente se estabelece como uma conquista para a

modalidade. Entretanto, compreendemos que o tempo não é a única ou principal característica

que deve ser considerada pelo professor ao diferenciar o modo como ensina Matemática para

os alunos do Primeiro Segmento da EJA e do Ensino Regular, pois o público na Educação de

Jovens e Adultos é constituído por estudantes com características distintas, na maioria,

trabalhadores e com conhecimentos advindos de suas experiências de vida e do mundo do

trabalho, que devem ser consideradas no processo educacional nessa modalidade.

Desse modo, percebemos que Maria não compreende que os alunos da EJA

necessitam de um trabalho pedagógico diferenciado devido a suas particularidades sociais,

psicossociais, culturais e conhecimentos advindos de experiências de vida, bem como um

ensino mais próximo de suas realidades. Portanto, a professora caminha em direção a uma

concepção Bancária de Educação.

Quando interrogadas sobre como compreendem que se dá o processo de

aprendizagem dos conhecimentos matemáticos pelos adultos, Isabel e Maria nos

responderam:

Page 261: CONCEPÇÕES DE PROFESSORES EXPRESSAS NOS … · metodologia de investigação adotada foi a abordagem qualitativa de cunho interpretativo, na qual nos fundamentamos em Bogdan e Biklen

260

Na verdade eles já têm essa aprendizagem de teoria. Eles são pedreiros, são donas

de casa, empregadas domésticas, são jardineiros, são evangélicos que vão para a

igreja e ouvem a bíblia, são feirantes... Então eles querem a prática. E às vezes é

um pouco difícil, porque a teoria deles é tão correta que eles não querem a prática,

eles acham isso uma barreira, porque a prática é mais difícil, são cálculos, tem que

escrever e a teoria na cabeça ele vai ali, já manda, já faz o troco e aí a gente tem

que trabalhar com dominó, com baralho, fazer bingo, com materiais concretos para

ele tá assimilando melhor. Tornar a aula mais prazerosa senão eles têm mais

dificuldade. (E – Isabel)

Eu compreendo de uma maneira que deve ser feita assim... É levar do conhecimento

dele, mostrando assim, dando exemplos do dia a dia de um trabalho que eles estão

fazendo, de um salário que ganham, por exemplo, eu ganho um salário mínimo. Tá,

então vamos trabalhar com a porcentagem. Tantos por cento vai para a

alimentação. Então sempre mostrando exemplos concretos. É o exemplo concreto

do dia a dia. Essa é a melhor maneira. (E – Maria)

Concordamos com Isabel ao declarar que o processo de aprendizagem dos

conhecimentos matemáticos pelos adultos se dá a partir dos aspectos relacionados ao dia a dia

dos estudantes, e também, que a utilização de jogos e materiais concretos nas aulas facilita a

aprendizagem dos mesmos, pois de acordo com Linderman (1926), os adultos são motivados

a aprender na medida em que sentem que seus anseios e interesses serão satisfeitos. Assim,

estes são os pontos mais adequados para se iniciar a organização das atividades de

aprendizagem dos adultos. Além disso, à utilização de jogos e materiais didáticos vem sendo

defendida tanto no Ensino Regular como na EJA, principalmente porque o jogo é um recurso

que acaba por motivar as aulas de Matemática, estimula o raciocínio, a capacidade de

compreensão dos conteúdos matemáticos e de outras áreas do conhecimento, como também

pode proporcionar no desenvolvimento de várias habilidades.

Concordamos com Maria ao declarar que os conhecimentos prévios dos estudantes

devem ser considerados no processo de ensino dos conhecimentos matemáticos para os

adultos, sendo necessário dar exemplos concretos que fazem parte do dia a dia, pois as

situações de aprendizagem tornam-se mais significativas se forem instituídas relações com

situações mais próximas dos alunos. Ao abordar a problemática envolvida nessa questão,

Linderman (1926, p. 8-9) esclarece que “a orientação de aprendizagem do adulto está centrada

na vida; por isto as unidades apropriadas para se organizar seu programa de aprendizagem são

as situações de vida e não disciplinas”.

Em seguida, perguntamos às professoras o que deve ser considerado na EJA para

que se tenha uma aprendizagem efetiva com adultos, e elas nos expuseram:

Primeiro a confiança que eles têm que depositar, a gente passar esta troca para

eles, pra eles se abrir que eles são trabalhadores que trabalham o dia inteiro, são

pessoas que tem a família desestruturada e aí eles vem para a escola e a gente

Page 262: CONCEPÇÕES DE PROFESSORES EXPRESSAS NOS … · metodologia de investigação adotada foi a abordagem qualitativa de cunho interpretativo, na qual nos fundamentamos em Bogdan e Biklen

261

acaba sendo aquela amiga e você tem que tirar tudo aquilo da cabeça dele pra eles

terem uma aprendizagem melhor. (E – Isabel)

Seriam os exemplos concretos. (E – Maria)

Apoiamos o posicionamento de Isabel ao considerar a confiança como algo que deve

ser estimado na EJA para que se tenha uma aprendizagem efetiva com adultos, principalmente

porque nessa modalidade de ensino a relação professor-aluno é fundamental para a

organização e assimilação dos conteúdos, bem como na superação de dificuldades, pois tudo

que o professor faz em sala de aula influencia no desenvolvimento dos educandos. Diante

disso, o professor precisa ter como qualidades a responsabilidade, a dedicação e a criatividade

para que esses estudantes sejam incentivados a permanecerem na escola.

Entretanto, Isabel não citou os conhecimentos prévios e as experiências de seus alunos

como elementos que devem ser considerados na EJA, pois de acordo com Nogueira (2010) é

fundamental que o ensino de Matemática nessa modalidade se inicie a partir dos

conhecimentos precedentes dos alunos, pois quando o educando está à frente de um novo

conteúdo a ser apreendido, ele o faz baseado numa série de conceitos, concepções,

representações e conhecimentos adquiridos no decorrer de suas experiências anteriores.

Em relação à afirmação de Maria, observamos que a professora mantém seu

posicionamento ao declarar que os exemplos concretos estão relacionados com as

aprendizagens dos adultos.

Questionamos os sujeitos sobre qual seria a forma mais adequada para se ensinar

Matemática no Primeiro Segmento da Educação de Jovens e Adultos, e eles se

posicionaram alegando:

Atividades envolvendo os próprios alunos e com materiais concretos, jogos,

dinâmicas, etc. (Q3- B-1- Isabel)

A melhor maneira seria no lúdico, só que nem sempre isso acontece. (Q3- B-1-

Maria)

Observamos que Isabel compreende que o uso de jogos e materiais concretos é a

forma mais adequada de ensinar Matemática no Primeiro Segmento da EJA. Maria aponta ser

o lúdico. Concordamos com as professoras, pois o emprego de atividades lúdicas no ensino da

Matemática estabelece-se em uma das maneiras de contribuir para a aprendizagem de tal

disciplina na Educação de Jovens e Adultos, pois podem desenvolver conceitos, motivar os

alunos, propiciar a solidariedade entre os colegas, desenvolver o senso crítico e criativo,

estimular o raciocínio e levar os alunos a descobrirem novos conceitos (ALVES, 2001).

Page 263: CONCEPÇÕES DE PROFESSORES EXPRESSAS NOS … · metodologia de investigação adotada foi a abordagem qualitativa de cunho interpretativo, na qual nos fundamentamos em Bogdan e Biklen

262

Todavia, a inserção do jogo na EJA deve apresentar uma finalidade educativa, sendo

que esse recurso não deve ser utilizado simplesmente como jogo, pois pode não produzir o

aprendizado esperado. Dessa forma, é necessário que os professores tenham uma postura

reflexiva quanto ao como e quando jogar, pois os jogos não garantem a efetivação do ensino

da Matemática na EJA.

Outro ponto a ser considerado é que para o “fazer matemática” na sala de aula,

pesquisadores e documentos oficiais que regem o ensino na 1ª e 2ª Etapas da EJA não

sugerem apenas as atividades lúdicas, mas, também, declaram que devem compor o fazer

pedagógico a História da Matemática, Resolução de Problemas, as Tecnologias da Informação

e Comunicação, a Etnomatemática e os Projetos de Trabalho.

Diante da resposta de Maria, pedimos durante a entrevista para que ela explicasse

porque o trabalho com o lúdico nem sempre acontece e ela alegou que “nem sempre tem

espaço adequado, às vezes você até tem vontade, mas aí já começa a aula no segundo horário

e aí até pegar, até levar... Você tá aqui dando uma aula, e de uma hora pra outra surge um

assunto que você poderia já tá entrando na Matemática. Se não tem material eu não vou

perder tempo, porque eu não tenho material e não vou entrar. Larga quieto e já vai

introduzindo e tal numa boa... Então, assim a gente vai levando aula, não só na Matemática,

mas em qualquer disciplina porque o EJA surge muito assunto que você nem espera [...]” (E–

Maria)

Quando Maria revela que a falta de tempo e espaço adequado são os principais

empecilhos para o não trabalho com o lúdico na EJA, a professora nos remete ao

entendimento de Santos, pois para o autor “o educador é um mediador, um organizador do

tempo, do espaço, das atividades [...] na construção do conhecimento. É ele quem cria e recria

sua proposta pedagógica e para que ela seja concreta, crítica dialética, este educador deve ter

competência técnica para fazê-la” (SANTOS, 1997, p. 61).

Interrogadas sobre quais tipos de recursos metodológicos são mais adequados no

processo de ensino da Matemática no Primeiro Segmento da Educação de Jovens e

Adultos, as professoras declararam:

Materiais concretos, jogos, atividades envolvendo os próprios alunos. (Q3-A- 3-

Isabel)

Jogos envolvendo o próprio aluno, material concreto. (Q3-A-3- Maria)

É o que falei, são aqueles jogos que a escola tem..., dominó de tabuada, são

materiais que o próprio colégio já fornece. Antigamente nós professores que

tínhamos que fazer, hoje em dia tá tudo bem melhor, você ganha tempo... No

concreto é tudo mais fácil. (E – Maria)

Page 264: CONCEPÇÕES DE PROFESSORES EXPRESSAS NOS … · metodologia de investigação adotada foi a abordagem qualitativa de cunho interpretativo, na qual nos fundamentamos em Bogdan e Biklen

263

Ao destacarem os jogos e os materiais concretos, Isabel e Maria nos remetem ao que

propõe o Caderno de Orientações Didáticas para EJA, ao afirmar que “o uso do material

didático concreto pelos alunos é de fundamental importância para a melhor compreensão e

percepção de determinadas relações observadas visualmente” (SÃO PAULO, 2010, p. 40). Os

jogos, por sua vez, auxiliam a desenvolver o raciocínio lógico-matemático e a concentração

dos estudantes. Desse modo, tais recursos didáticos enquanto mediadores do processo de

ensino e de aprendizagem são de grande valia para o ensino da Matemática na Educação de

Jovens e Adultos.

Todavia, o uso e aplicação de tais recursos pelos professores não devem reduzir-se aos

aspectos motivacionais, mas sim devem objetivar potencializar as construções e elaborações

do pensamento matemático dos alunos.

Ao indagarmos as professoras sobre quais metodologias de ensino utilizam para

ensinar Matemática para seus alunos do Primeiro Segmento da EJA, elas nos

responderam:

Resolução de Problemas, trabalhar com cálculos, jogos, revistas, fichas,

calendários, dobraduras (materiais concretos), balança, aparelho de verificar

pressão, fita métrica-palmo e os próprios alunos. Muito diálogo (saber ouvir) com

os alunos, para reparar, qualificar e equalizar o ensino. (Q3-B-2- Isabel)

Resolução de Problemas, trabalho com cálculos, jogos, fichas, calendário,

dobraduras, balança, fita métrica. Diálogo para repassar, qualificar o ensino. (Q3-

B-2- Maria)

Isabel e Maria citam a Resolução de Problemas e a utilização de Jogos como

metodologias que utilizam em suas aulas de Matemática no Primeiro Segmento da EJA, bem

como vários recursos didáticos metodológicos. Todavia, ao analisarmos os planos de aulas e

os cadernos dos alunos das professoras, percebemos que os problemas utilizados por Isabel e

Maria no ensino da Matemática são considerados padrões e que em sua maioria foram

retirados de livros didáticos, não configurando o que propõe a Proposta Curricular para o

Primeiro Segmento da EJA. Segundo tal documento, a Resolução de Problemas não é

estabelecida como um assunto de um conteúdo isolado a ser trabalhado paralelamente à

prática mecânica das técnicas operatórias e nem se reduz ao emprego de conceitos

antecipadamente explanados pelo professor. Na verdade, ela é idealizada como uma forma de

conduzir integralmente o processo de ensino e aprendizagem (BRASIL, 2001).

Ao mencionarem que estimulam o diálogo em sala de aula, as professoras se

aproximam do modelo Emancipador de Educação, pois tal perspectiva sugere uma relação

Page 265: CONCEPÇÕES DE PROFESSORES EXPRESSAS NOS … · metodologia de investigação adotada foi a abordagem qualitativa de cunho interpretativo, na qual nos fundamentamos em Bogdan e Biklen

264

dialógica e dialética entre educadores e educandos, onde ambos ora ensinam, ora aprendem

juntos, sendo o diálogo uma condição para a existência de uma Educação problematizadora.

Entretanto, Isabel e Maria não revelaram em suas falas outras importantes perspectivas

metodológicas para o ensino da Matemática na Educação de Jovens e Adultos, como por

exemplo, a Etnomatemática, a História da Matemática, os Projetos de Trabalho, as Estratégias

Metacognitivas, e as Tecnologias da Informação e da Comunicação, uma vez que a

diversificação metodológica favorece a conexão entre os vários estilos de aprendizagem

existentes na sala de aula dessa modalidade, estimulando o desenvolvimento cognitivo dos

alunos.

Solicitamos aos professores que descrevessem melhor como trabalham a

Matemática em sala de aula com seus alunos do Primeiro Segmento da EJA, e eles nos

expuseram que:

Práticas. Eu levo bingo, a gente leva as cartelas, nos trabalhamos com dominó, nós

trabalhamos montando endereços, tudo essa parte prática mesmo do dia a dia.

Palitinho de picolé, nós trabalhamos o baralho, mais, menos, maior, menor... o

dominó em si, jogo do palito. Então a gente trabalha isso na sala de aula. Números

pares, ímpares, essas coisas a gente trabalha com o próprio aluno, com atividade...

Seriam dinâmicas que envolvem os números[...] (E –Isabel)

Bom, no primeiro momento quando o aluno já tá sabendo as quatro operações, a

gente procura fazer muitos exercícios de fixação, que são os exercícios que já tão

mais ou menos aí. Quem sabe senta perto e ensina o colega, vão fazendo o grupinho

e, mais é isso que a gente faz lá na sala. Jogos, blocos lógicos, vai fazendo alguma

coisa porque o colégio até que tem material pedagógico de Matemática, o negócio é

que a gente não tem muito aquela prática de uso, mas que tem, tem. Tabuada,

dominó de tabuada nós usamos também. Então a coisa assim, é só lúdico mesmo

pra melhorar a aula [...] (E – Maria)

Ao destacar que utiliza jogos, dinâmicas e outros materiais manipuláveis no ensino da

Matemática na 1ª Etapa da EJA, Isabel nos leva ao entendimento que propõe atividades

lúdicas como metodologia facilitadora da aprendizagem matemática, corroborando com Alves

(2001).

Maria, ao mencionar que inicialmente propõe muitos exercícios de fixação para seus

alunos, nos leva a um entendimento de que para ela a aprendizagem se dá pelo exercício

constante, pelo treino, pela repetição, aproximando-se de uma concepção Bancária de

Educação. Nesse modelo, o professor ocupa a posição de detentor do saber, onde sua maior

preocupação centra-se no cumprimento das infindáveis listas de conteúdos, em que o processo

de aprendizagem resume-se na “transmissão” do conhecimento.

Page 266: CONCEPÇÕES DE PROFESSORES EXPRESSAS NOS … · metodologia de investigação adotada foi a abordagem qualitativa de cunho interpretativo, na qual nos fundamentamos em Bogdan e Biklen

265

Por outro lado, ao citar que utiliza jogos e materiais concretos em suas aulas de

Matemática na 2ª Etapa da EJA, Maria se aproxima do modelo Emancipador de Educação.

Entretanto, ao reportar-se que os emprega, em um segundo momento, percebemos que Maria

propõe tal perspectiva metodológica e utiliza os recursos didáticos citados principalmente

para a aplicação de conteúdos. Isso nos leva a entender que provavelmente tal recurso seja

proposto pela professora no sentido de treino, repetição e memorização de conteúdos que

estão sendo trabalhados, bem como simplesmente aspecto motivador, ou seja, “pra melhorar

a aula” (E – Maria), do que propriamente num sentido de construção, de elaborações de

conceitos e de desenvolvimento do pensamento matemático, aproximando-se do modelo

Bancário de Educação. Dessa forma, as concepções de Maria transitam entre os aspectos do

modelo Emancipador e Bancário de Educação.

Em outro momento da entrevista, inquirimos as professoras no sentido de

compreender como Isabel e Maria introduzem novos conceitos da Matemática e se

utilizam alguma forma diferenciada para ensiná-los a seus alunos, e elas alegaram:

Eu procuro uma mensagem, não só na Matemática, em qualquer matéria. Eu

pergunto o que aconteceu, se eles assistiram televisão, qual foi do bairro, o que

aconteceu e aí dalí eu vou introduzindo a matéria. De repente às vezes eu até troco

de matéria por que o assunto que eles querem é outro. Quando sai, por exemplo, o

aumento do salário mínimo:- Professora ó, vai ter novo salário mínimo. Então eu

tinha outro material, a gente parou, fomos estudar o salário mínimo, quando surgiu

e a história do salário mínimo. Aí fizemos a conta do salário mínimo e aí eles

perguntam quanto que aumentou. A gente fez tudo isso com eles. Então é o que

eles... porque não adianta você cumprir o que a Secretaria quer, o que vem na

grade curricular se ele não consegue assimilar o que ele vem buscar. Ele vem

buscar a ansiedade dele, do dia a dia. Então se eu não trabalhar esta necessidade

dele, ele veio fazer o que na escola? O que que eu vou passar, por exemplo para um

Jovem ou Adulto, expressão numérica. Ele vai usar aonde? ... Então eu tenho que

pegar só aquele básico bem preparado mesmo. (E – Isabel)

Eu procuro assim, não digo concreto assim de tá pegando ali, mas às vezes assim:

triângulo, retângulo, o que nos temos aqui que representa um retângulo? A parede,

o quadro, a porta, essa folha de ofício, o que nós temos mais ou menos no nosso

ambiente. Eu procuro assim, no concreto, mas nesse sentido. Fração. Como eu não

tenho como levar uma pizza para partir em vários pedaços, mas sempre a escola

distribui laranjas, melancia... Se nós partíssemos esta laranja aqui, seria o que? Um

meio, um quarto? Aí a parte numeral, numerador, denominador... eu vou explicando

através disso daí.. (E – Maria)

Notamos que Isabel prioriza um ensino de Matemática contextualizado e significativo

para a 1ª Etapa da EJA, pois valoriza as vivências e os conhecimentos prévios de seus

educandos. Todavia, tal ensino é simplista, voltado apenas aos problemas e às necessidades

sociais imediatas de seus alunos. Dessa forma, podemos inferir que a professora nega a seus

educandos o direito de acesso aos saberes historicamente construídos, que também são

Page 267: CONCEPÇÕES DE PROFESSORES EXPRESSAS NOS … · metodologia de investigação adotada foi a abordagem qualitativa de cunho interpretativo, na qual nos fundamentamos em Bogdan e Biklen

266

importantes e necessários e que não podem, simplesmente, ser ignorados e excluídos do

currículo escolar. Referente a essa prática, Duarte29

declara:

O objetivo aí é o de que a matemática não seja vista separada dos problemas sociais.

Essa vinculação entre a matemática e as necessidades sociais é realmente importante

e tem sido destacada por vários autores. No entanto, não se pode perder de vista que

o objetivo central da atividade daquele que se propõe a ensinar matemática é o

ensino desta. [...] Assim, as camadas populares continuam sem o domínio dessa

ferramenta cultural (2001, p. 9).

Dessa forma, por revelar apenas a visão utilitária da Matemática, Isabel demonstra

uma concepção que se fundamenta no modelo Bancário de Educação.

Maria, ao revelar que introduz os conceitos matemáticos relacionando-os com

exemplos concretos do dia a dia dos educandos e com o ambiente escolar, nos remete ao que

defende Ausubel et al (1980). Para o referido autor, para a aprendizagem ser significativa é

necessário que uma nova informação se relacione de maneira não arbitrária e substantiva (não

literal) a um aspecto relevante da estrutura do indivíduo. Desse modo, a concepção de Maria

caminha em direção à perspectiva Emancipadora de Educação.

Considerações sobre o que revelam as falas de Isabel e Maria quanto às metodologias

propostas para o ensino e aprendizagem da Matemática na 1ª e 2ª Etapas da Educação

de Jovens e Adultos na Escola Caju

Ao analisarmos as falas das professoras investigadas presentes nos questionários e nas

entrevistas acerca das metodologias propostas para o ensino e aprendizagem da Matemática

na 1ª e 2ª Etapas da Educação de Jovens e Adultos, nos deparamos em diversos momentos

com concepções divergentes, em que as metodologias de ensino da Matemática ora são

propostas segundo os pressupostos da perspectiva Emancipadora de Educação Matemática,

ora são indicadas de acordo com o modelo Bancário de Educação Matemática.

Neste sentido, observamos que Isabel se aproxima do modelo Emancipador de

Educação Matemática ao declarar que o modo como ensina Matemática para os alunos da 1ª

Etapa da EJA é diferente do jeito que ensina para os alunos do Ensino Regular, pois

compreende que os alunos da EJA já possuem conhecimentos da prática cotidiana. Aproxima-

se também, ao compreender que o processo de aprendizagem dos conhecimentos matemáticos

pelos adultos se dá a partir dos aspectos relacionados ao dia a dia dos estudantes, e também,

29

Disponível em: www.escolanet.com.br/teleduc/.../EaD_Matematica_unidade1_ND.do... Acesso: 20 de

fevereiro de 2012.

Page 268: CONCEPÇÕES DE PROFESSORES EXPRESSAS NOS … · metodologia de investigação adotada foi a abordagem qualitativa de cunho interpretativo, na qual nos fundamentamos em Bogdan e Biklen

267

que a utilização de jogos e materiais concretos nas aulas pode facilitar a aprendizagem do

conhecimento matemático. Ou ainda, quando menciona que estimula o diálogo em sala de

aula e considera a confiança como algo que deve ser prezado na Educação de Jovens e

Adultos para que se tenha uma aprendizagem efetiva com adultos.

Maria remete-se ao modelo Emancipador, ao considerar os conhecimentos prévios dos

estudantes no processo de ensino dos conhecimentos matemáticos para os adultos e ao revelar

que introduz os conceitos matemáticos relacionando-os com exemplos concretos do dia a dia

e com o ambiente escolar, pois as situações de aprendizagem tornam-se mais significativas se

forem estabelecidas relações com situações mais próximas dos educandos.

Também é perceptível a manifestação de Maria pautada nos pressupostos de tal

modelo, ao compreender que o lúdico é uma das formas mais adequadas de ensinar

Matemática na 2ª Etapa da EJA, e que os jogos e os materiais concretos seriam os recursos

didático-metodológicos mais apropriados no processo de ensino de tal disciplina. Ou ainda,

quando reconhece que a questão do tempo ser reduzido na EJA constitui-se como um fator

positivo para tal modalidade.

Por outro lado, notamos que as falas das professoras também se remetem a uma visão

tradicional de EJA, ou seja, ao modelo Bancário de Educação. Isabel se remete a tal modelo,

ao contemplar apenas o papel funcional do ensino de Matemática nessa modalidade, não

evidenciando a necessidade de se considerar também a sua dimensão formativa, que também

é responsável pelo desenvolvimento de capacidades intelectuais. Ou ainda, ao não

compreender que os conhecimentos prévios e as experiências de seus alunos como fatores que

devem ser considerados na EJA para que se tenha uma aprendizagem efetiva com adultos.

Maria se aproxima da perspectiva Bancária, quando cita que a diferença do modo

como ensina Matemática para seus alunos da 2ª Etapa da EJA está na quantidade de

conteúdos, pois trabalha os mais importantes, devido ao tempo ser reduzido na EJA. Remete-

se também a mesma perspectiva, quando não revela a compreensão de que os alunos da EJA

necessitam de um trabalho pedagógico diferenciado devido às suas especificidades como

também um ensino mais próximo de suas realidades, bem como ao não compreender que os

recursos didáticos devem ser utilizados com o intuito de auxiliar na construção de conceitos

matemáticos e não apenas para motivar suas aulas e aplicar conteúdos.

A perspectiva Bancária de Educação é percebida ainda quando Maria declara que

propõe muitos exercícios de fixação para seus alunos, nos levando a um entendimento de que

para ela a aprendizagem ocorre pela repetição. E finalmente, quando Isabel e Maria não

compreendem que a Etnomatemática, a Resolução de Problemas, a Modelagem Matemática e

Page 269: CONCEPÇÕES DE PROFESSORES EXPRESSAS NOS … · metodologia de investigação adotada foi a abordagem qualitativa de cunho interpretativo, na qual nos fundamentamos em Bogdan e Biklen

268

a História da Matemática, os Projetos de Trabalho, e a utilização de Estratégias

Metacognitivas e os Recursos Tecnológicos, constituem-se como importantes perspectivas

metodológicas para o ensino da Matemática no Primeiro Segmento da Educação de Jovens e

Adultos.

Portanto, as falas das professoras nos revelam que suas concepções transitam entre a

perspectiva Emancipadora e Bancária de Educação. No entanto, apesar de transitar entre as

duas categorias de análise, observamos que as concepções de Isabel em relação às

metodologias propostas para o ensino e aprendizagem da Matemática na 1ª Etapa demonstram

certa tendência ao modelo Emancipador e as concepções de Maria, ao modelo Bancário de

Educação.

5.2.4 Bloco 4- Concepções Expressas nas Análises dos Documentos e das Falas das

Professoras da Escola Caju

a) Conteúdos

Ao analisarmos os documentos escolares de Isabel, observamos nos planejamentos do

1° e 2° bimestre que a professora pretendia trabalhar com seus alunos conteúdos matemáticos

referentes aos quatro grandes blocos indicados pela Proposta Curricular para o Primeiro

Segmento da EJA (2001), sendo eles: “Números e Operações Matemáticas”, “Geometria”,

“Medidas” e “Introdução à Estatística”. Entretanto, ao analisarmos os planos de aula da

professora, percebemos que Isabel propôs a seus alunos no período investigado somente

atividades relativas aos blocos “Números e Operações Matemáticas” e “Geometria”, sendo

que os mesmos conteúdos foram observados nos cadernos dos alunos da professora.

Por sua vez, Isabel revelou em sua fala que propôs no período investigado para o

ensino e aprendizagem da Matemática, três dos quatro blocos de conteúdos indicados pela

Proposta Curricular para o Primeiro Segmento da EJA (2001), sendo eles: “Números e

Operações Matemáticas”, “Geometria” e o bloco “Medidas”,

No entanto, ao verificarmos os planos de aula, os cadernos de seus alunos e até mesmo

a fala da professora, verificamos que ela trabalhou parcialmente os quatro grandes blocos

preconizados na Proposta Curricular para o Primeiro Segmento da EJA (2001), dando ênfase

aos conteúdos relativos ao bloco “Números e Operações Matemáticas” e a “Geometria”.

Ao analisarmos as falas e os planejamentos bimestrais de Maria, observamos que os

mesmos contemplam os quatro blocos sugeridos pela Proposta Curricular para o Primeiro

Page 270: CONCEPÇÕES DE PROFESSORES EXPRESSAS NOS … · metodologia de investigação adotada foi a abordagem qualitativa de cunho interpretativo, na qual nos fundamentamos em Bogdan e Biklen

269

Segmento da EJA (2001). Porém, ao analisarmos seus planos de aula e os cadernos de seus

alunos no mesmo período, percebemos que a professora trabalhou apenas conteúdos relativos

ao bloco “Números e Operações Matemáticas”. Os mesmos conteúdos foram observados no

livro didático “adotado” pela professora. Desse modo, Maria trabalhou parcialmente os quatro

grandes blocos de conteúdos recomendados para o ensino da Matemática na 2ª Etapa da EJA

pela Proposta Curricular para o Primeiro Segmento da EJA (2001), cuja ênfase foi dada aos

conteúdos relativos ao bloco “Números e Operações Matemáticas”.

Em linhas gerais, inferimos que as concepções reveladas nos documentos escolares e

nas falas de Isabel e Maria acerca dos conteúdos matemáticos propostos para o ensino e

aprendizagem da Matemática transitam entre o modelo Bancário e Emancipador de

Educação, pois mesmo que as professoras tenham citado em suas falas e registrado nos

planejamentos bimestrais a intenção de se trabalhar com os quatro blocos de conteúdos

matemáticos indicados pela Proposta Curricular para o Primeiro Segmento da EJA (2002), as

professoras propuseram parcialmente os conteúdos matemáticos para o ensino da Matemática

no período investigado, priorizando os conteúdos referentes ao bloco “Números e Operações

Matemáticas”.

Entretanto, os dados demonstraram que Isabel aproxima-se do modelo Bancário, pois

destacou recorrentemente priorizar o ensino de conteúdos matemáticos utilitários para a vida

dos educandos Jovens e Adultos. Isabel não revelou compreender a importância da função

formativa da Matemática nessa modalidade, que também é responsável pelo desenvolvimento

de capacidades intelectuais para a estruturação do pensamento.

b) Metodologias

Ao realizarmos a análise dos planejamentos do 1º e 2º bimestre do ano de 2011 e dos

planos de aula de Matemática elaborados por Isabel e Maria, bem como dos cadernos dos seus

alunos, os dados nos apontaram certa contradição entre as metodologias que as professoras

indicaram nos planejamentos bimestrais e nos planos de aula com a forma com que

efetivamente propuseram o ensino da Matemática para seus alunos no período de investigação

da pesquisa.

Tais contradições foram reveladas principalmente no que se refere à metodologia

Projetos de Trabalho, pois em seus planejamentos bimestrais, Isabel e Maria haviam

registrado que iriam trabalhar com seus alunos atividades relacionadas com o Projeto da

Escola Caju, cuja temática é “Meio Ambiente Local”. Entretanto, não encontramos em seus

Page 271: CONCEPÇÕES DE PROFESSORES EXPRESSAS NOS … · metodologia de investigação adotada foi a abordagem qualitativa de cunho interpretativo, na qual nos fundamentamos em Bogdan e Biklen

270

planos de aula e nos cadernos de seus alunos atividades que se aproximassem da temática do

Projeto citado em seus planejamentos bimestrais como também, problematizações que

relatassem o efetivo desenvolvimento de Projetos de Trabalho em suas aulas de Matemática.

Entretanto, durante a entrevista Maria revelou que na Escola Caju a metodologia

utilizada “[...] agora tá sendo projetos, a cada ano [...] é isso que eu falo, porque a cada ano

existe uma mudança e aí nós estamos assistindo a aula, a supervisora fala tem que ser assim

porque a Secretaria Municipal de Educação quer agora em forma de Projetos. E quem

trabalha em duas escolas, como é no meu caso, uma é Projetos e a outra é Tema Gerador

[...] Aí fica meio confundido (risos), confunde até a professora. Aí a gente acaba fazendo [...]

ah, vou ensinar do jeito que eu sei, o tradicional. E caba ensinando! Passo com segurança e

pronto. As vezes está bonitinho no caderno, mas na hora aí você ensina como você acha que

deve ensinar com mais facilidade. Eu pelo menos ensino desta maneira [...]” (E – Maria).

Ao observarmos a fala de Maria, podemos inferir que provavelmente as professoras

propuseram a metodologia Projetos de Trabalho em seus planejamentos bimestrais para

contemplar o que a Secretaria Municipal de Educação de Cuiabá solicitou à Escola Caju, e

consecutivamente o que a coordenação da Escola exigiu das professoras.

Percebemos, também, por meio da fala de Maria a recorrência dos dados quando ela

reafirma o que havíamos observado em seus planos de aula, no livro que utilizou no ensino da

Matemática no período investigado e nos cadernos de seus alunos quanto às metodologias

propostas para o ensino e aprendizagem da Matemática na 2ª Etapa da EJA irem ao encontro

às concepções do modelo tradicional de ensino, ou seja, do modelo Bancário de Educação.

Notamos também a recorrência dos dados quando não encontramos indicações nos

documentos escolares e nas falas das professoras de que tenham utilizado no período

investigado importantes perspectivas metodológicas no ensino da Matemática na 1ª e 2ª

Etapas da EJA, como por exemplo, a Resolução de Problemas, a Modelagem Matemática, a

Etnomatemática, bem como a utilização de recursos tecnológicos e de estratégias

metacognitivas, nos permitindo inferir que as metodologias propostas pelas professoras

revelam, muitas vezes, concepções que caminham para o entendimento de uma perspectiva

Bancária de Educação.

Percebemos certa contradição dos dados observados nos documentos escolares e nas

falas de Isabel, ao contemplar em sua fala apenas o papel funcional do ensino de Matemática

nessa modalidade. Todavia, ao analisarmos seus documentos escolares observamos que além

da dimensão utilitária da Matemática, a dimensão formativa também foi contemplada pela

professora no ensino dessa disciplina na 1ª Etapa da EJA na Escola Caju.

Page 272: CONCEPÇÕES DE PROFESSORES EXPRESSAS NOS … · metodologia de investigação adotada foi a abordagem qualitativa de cunho interpretativo, na qual nos fundamentamos em Bogdan e Biklen

271

Observamos ainda, contradição nos dados, pois nos planejamentos bimestrais e em

suas falas, Maria mencionou que iria utilizar jogos e recursos didáticos metodológicos nas

aulas de Matemática. Porém, ao observarmos os planos de aula e os cadernos de seus alunos

não localizamos registros que apontassem a utilização de jogos e de recursos didáticos

metodológicos no ensino dessa disciplina.

Em suma, os documentos escolares e as falas das professoras nos revelaram

concepções quanto às metodologias propostas para o ensino e aprendizagem da Matemática

na 1ª e 2ª Etapas da EJA que transitam entre o modelo Bancário e Emancipador de Educação.

No entanto, apesar de transitar entre as duas categorias de análise, observamos que as

concepções de Isabel em relação às metodologias demonstram certa tendência ao modelo

Emancipador, pois a professora propôs jogos, mencionou utilizar materiais concretos e

buscou atividades que contemplassem aspectos do cotidiano dos alunos. Aproximou-se

também da mesma perspectiva ao propor elementos da História da Matemática em suas aulas

na 1ª Etapa da EJA. Já as concepções de Maria caminham em direção à perspectiva Bancária

de Educação, pois a professora evidenciou tanto nos documentos como em suas falas que ela

se fundamenta em aulas expositivas, priorizando apenas a resolução de exercícios do bloco de

conteúdos “Números e Operações Matemáticas”. Maria também se aproxima de tal

perspectiva quando utiliza livro didático voltado para o Ensino Regular, em que as atividades

e as problematizações não são direcionadas para o público específico da EJA.

Page 273: CONCEPÇÕES DE PROFESSORES EXPRESSAS NOS … · metodologia de investigação adotada foi a abordagem qualitativa de cunho interpretativo, na qual nos fundamentamos em Bogdan e Biklen

272

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao chegarmos ao que seria a “última” etapa do processo de investigação desse

trabalho, gostaríamos de deixar registrado que não almejamos, de forma alguma, apresentar

um resultado conclusivo e generalizado do que discutimos, ou pôr um ponto final às reflexões

de que dele surgiram. Do mesmo modo, não pretendemos dizer que as análises feitas não

admitem outros olhares, pois não consideramos os pontos aqui discutidos como resultado

final. Somente buscamos por intermédio dessa identificação, torná-los motivadores de

possíveis reflexões que venham ocasionar em mudanças qualitativas em nossas práticas e nas

práticas dos professores que atuam na 1ª e 2ª Etapas da Educação de Jovens e Adultos, ou

seja, nas quatro primeiras séries do Ensino Fundamental da EJA.

Diante disso, compreendemos que a relevância dessa pesquisa se revela,

principalmente pela busca de caminhos que informem de maneira mais esclarecedora quais

conteúdos matemáticos devem ser trabalhados segundo os documentos oficiais e quais

perspectivas metodológicas podem ser propostas para o ensino e aprendizagem da Matemática

no contexto da 1ª e 2ª Etapas da Educação de Jovens e Adultos.

No início desse trabalho, apresentamos os questionamentos e os motivos que nos

aproximaram da temática “Educação Matemática na Educação de Jovens e Adultos”, e que

nos levaram a estabelecer os objetivos e a problemática de nossa investigação, sendo esta: que

concepções revelam os documentos escolares e as falas dos professores sobre os conteúdos e

as metodologias propostas para o ensino e aprendizagem da Matemática na 1ª e 2ª Etapas da

Educação de Jovens e Adultos em Escolas municipais de Cuiabá-MT?

Estabelecido nosso problema de pesquisa, buscamos suporte teórico que pudesse nos

auxiliar em uma aproximação com o pensamento dos nossos sujeitos. Desse modo, ao

realizarmos a revisão de literatura para a construção dos capítulos teóricos de nossa

investigação, nos deparamos com duas concepções distintas de EJA e de Matemática.

De um lado, encontramos uma perspectiva em que a Educação de Jovens e Adultos é

compreendida como repositora da escolaridade formal, ou seja, como uma Educação

compensatória, cuja finalidade é suprir a oferta de ensino para os Jovens e Adultos que não

estudaram em idade regular. Já a Matemática é concebida nessa perspectiva como pronta e

acabada, desprovida de significados, em que são considerados apenas os conhecimentos

formais. Tal perspectiva, discutida e denominada por Freire, e que elegemos como categoria

de nossa investigação chamamos de “Educação Bancária”.

Page 274: CONCEPÇÕES DE PROFESSORES EXPRESSAS NOS … · metodologia de investigação adotada foi a abordagem qualitativa de cunho interpretativo, na qual nos fundamentamos em Bogdan e Biklen

273

Por outro lado, identificamos no decorrer da revisão de literatura outra perspectiva de

EJA e de Matemática, que nesta investigação elegemos como categoria e estamos

denominando, assim como Freire, de “Educação Emancipadora”. Nessa perspectiva, a

Educação de Jovens e Adultos é compreendida como uma modalidade necessária, capaz de

incluir e qualificar os educandos para uma efetiva participação na sociedade. Igualmente, tal

perspectiva entende que esta modalidade deve considerar a diversidade e as especificidades de

seu público, assim como deve ser ofertada com a finalidade de reparar, equalizar, qualificar e

emancipar os sujeitos Jovens e Adultos. A Matemática neste novo modelo é concebida como

uma ciência viva, dinâmica e historicamente construída pelos homens a favor dos interesses e

das necessidades sociais, que cumpre um importante papel na formação do caráter sócio-

educacional dos educandos da EJA.

Desse modo, os dados coletados foram analisados e interpretados a partir dessas duas

categorias de análise, que denominamos de perspectiva Bancária e Emancipadora de

Educação. Entretanto, entendemos que a análise e interpretação dos dados da pesquisa são

carregadas de subjetividade, sendo apenas o olhar do pesquisador sobre o fenômeno

investigado. Portanto, ao analisarmos os documentos escolares e as falas dos professores não

tivemos a intenção de fazer julgamentos ou de engessar os sujeitos no sentido de enquadrá-los

em uma ou outra perspectiva, pois buscamos apenas dar respostas ao nosso problema de

pesquisa.

Objetivando melhor análise e interpretação dos dados coletados, optamos por analisá-

los por Escolas. Dessa forma, apresentamos os dados dos sujeitos investigados de cada Escola

participante da pesquisa em quatro blocos, sendo o primeiro referente às concepções “gerais”

dos professores sobre a Educação de Jovens e Adultos e o Ensino de Matemática no Primeiro

Segmento da EJA. Nesse bloco, buscamos ainda compreender a formação inicial e continuada

dos sujeitos investigados para atuarem na Educação de Jovens e Adultos (documentos e falas

dos professores investigados). No segundo bloco, realizamos a análise dos dados sobre os

conteúdos e no terceiro, sobre as metodologias propostas para o ensino e aprendizagem da

Matemática na 1ª e 2ª Etapas da EJA nas escolas investigadas de acordo com os documentos

escolares e falas dos sujeitos investigados. No quarto bloco, traçamos algumas considerações

parciais sobre as concepções expressas nas análises dos documentos escolares e das falas dos

professores acerca dos conteúdos e metodologias propostas para o ensino e aprendizagem da

Matemática na 1ª e 2ª Etapas da EJA.

Vale destacar que ao analisarmos as falas dos sujeitos, tivemos como pano de fundo as

categorias anteriormente citadas, pois acreditamos que elas refletem, em graus maiores ou

Page 275: CONCEPÇÕES DE PROFESSORES EXPRESSAS NOS … · metodologia de investigação adotada foi a abordagem qualitativa de cunho interpretativo, na qual nos fundamentamos em Bogdan e Biklen

274

menores, as concepções e as práticas dos professores investigados acerca do quê e o como

ensinar Matemática na EJA.

Com base na recorrência dos dados analisados obtivemos algumas respostas, que para

nós, não são conclusivas, mas sim reveladoras, e que nos permitiram interpretar as

concepções de quatro professores efetivos da Rede Municipal de ensino de Cuiabá sobre os

conteúdos e metodologias propostas para o ensino e aprendizagem da Matemática na 1ª e 2ª

Etapas da Educação de Jovens e Adultos.

Considerando que buscamos tão somente compreender a forma com que as

concepções se manifestam nos documentos escolares e nas falas dos professores investigados,

não tivemos como intenção sermos inflexíveis em relação aos posicionamentos dos

professores, principalmente porque alguns de nossos sujeitos revelaram que suas concepções

estão em transição, algumas mais próximas do modelo Bancário, e outras do modelo

Emancipador de Educação.

Portanto, apontaremos a seguir algumas considerações sobre as concepções reveladas

de cada um dos sujeitos envolvidos nessa pesquisa no que se refere aos conteúdos e

metodologias propostas para o ensino e aprendizagem da Matemática na 1ª e 2ª Etapas da EJA

na Escola Bocaiúva e na Escola Caju.

Quanto aos conteúdos, podemos dizer que em vários momentos encontramos

contradições entre as falas dos professores investigados e o que encontramos ao analisar os

seus documentos escolares.

Ricardo afirmou em sua fala, contemplar os quatro blocos indicados na Proposta

Curricular para o Primeiro Segmento da EJA (2001) no ensino da Matemática na 1ª Etapa da

EJA na Escola Bocaiúva. No entanto, ao analisarmos os cadernos de seus alunos e o livro

didático utilizado por ele, percebemos que o professor contemplou apenas dois blocos no

ensino dessa disciplina, sendo eles “Números e Operações Matemáticas” e “Medidas”. O

professor não apresentou o planejamento anual de 2011 e os planos de aula para que a

pudéssemos realizar a análise dos conteúdos propostos. Ricardo revelou também que na 1ª

Etapa da EJA devemos trabalhar apenas com conteúdos matemáticos utilitários, cuja

aplicação se dá apenas na vida prática, não apontando a dimensão formativa da Matemática.

Diante dos documentos escolares e das falas do professor Ricardo, foi possível identificar que

suas concepções acerca dos conteúdos matemáticos propostos para o ensino e aprendizagem

da Matemática na 1ª Etapa da EJA na Escola Bocaiúva aproximam-se do modelo Bancário de

Educação.

Page 276: CONCEPÇÕES DE PROFESSORES EXPRESSAS NOS … · metodologia de investigação adotada foi a abordagem qualitativa de cunho interpretativo, na qual nos fundamentamos em Bogdan e Biklen

275

As concepções de Ana acerca dos conteúdos propostos para o ensino e aprendizagem

da Matemática na 2ª Etapa da EJA na Escola Bocaiúva também transitaram entre as duas

categorias instituídas para a análise, sobretudo, com uma tendência maior à perspectiva

Emancipadora de Educação. Ao analisarmos suas falas e seus documentos escolares, com

exceção do planejamento anual, pois constatamos que Ana não o elaborou para o ano de 2011,

observamos a recorrência dos dados, visto que, a professora, além de conceber a importância

de propor nessa modalidade conteúdos referentes às quatro grandes áreas da Matemática e que

são recomendados pela Proposta Curricular do Primeiro Segmento da EJA (2001), Ana

efetivamente trabalhou com tais conteúdos na Etapa da EJA em que atua no período

investigado.

Isabel declarou em sua fala e registrou em seus planejamentos bimestrais a intenção

de se trabalhar com os quatro blocos de conteúdos matemáticos indicados pela Proposta

Curricular para o Primeiro Segmento da EJA (2001) na 1ª Etapa da EJA na Escola Caju, nos

levando a inferir que compreende a importância de ensinar tais conteúdos nessa modalidade

de Educação. Entretanto, ao observarmos os seus planos de aula e os cadernos de seus alunos,

verificamos que ela trabalhou parcialmente tais conteúdos matemáticos no período

investigado, priorizando os conteúdos referentes ao bloco “Números e Operações

Matemáticas” e “Geometria”. Dessa forma, entendemos que as concepções reveladas nos

documentos escolares e nas falas de Isabel transitam entre o modelo Bancário e Emancipador

de Educação. Todavia, os dados demonstraram certa tendência para o modelo Bancário, pois

Isabel afirmou recorrentemente priorizar o ensino de conteúdos matemáticos utilitários para a

vida dos educandos Jovens e Adultos. Em nenhum momento, Isabel mencionou à função

formativa da Matemática.

Em análise às falas e aos documentos escolares de Maria, nos deparamos em diversos

instantes com pontos de vistas divergentes quanto a suas concepções acerca dos conteúdos

propostos para o ensino e aprendizagem da Matemática na 2ª Etapa da EJA na Escola Caju,

em que ora suas concepções aproximam-se dos pressupostos da perspectiva da Educação

Bancária, ora caminham em direção dos aspectos da perspectiva da Educação Emancipadora.

Observamos que Maria destacou em sua fala, assim como em seus planejamentos bimestrais a

intenção de trabalhar no período investigado com conteúdos referentes aos quatro blocos

sugeridos pela Proposta Curricular para o Primeiro Segmento da EJA (2001). Entretanto, ao

analisarmos seus planos de aula e os cadernos de seus alunos no mesmo período, percebemos

que a professora trabalhou com seus alunos apenas conteúdos relativos ao bloco “Números e

Operações Matemáticas” contemplando em partes o que a Proposta Curricular para o Primeiro

Page 277: CONCEPÇÕES DE PROFESSORES EXPRESSAS NOS … · metodologia de investigação adotada foi a abordagem qualitativa de cunho interpretativo, na qual nos fundamentamos em Bogdan e Biklen

276

Segmento da EJA (2001) indica para o ensino da Matemática nessa modalidade de Educação.

Desse modo, os dados nos revelaram que as concepções de Maria tenderam para a perspectiva

Bancária de Educação ao demonstrar o entendimento de que os conteúdos matemáticos

devem ser trabalhados de acordo com a sequência proposta pelos livros didáticos, bem como,

quando não demonstrou compreensão sobre a importância dos conteúdos matemáticos

relacionados aos blocos “Geometria”, “Medidas” e “Introdução à Estatística”, pois não propôs

efetivamente tais conteúdos para seus alunos, sendo que esses correspondem parte das

necessidades dos estudantes Jovens e Adultos.

Em suma, as falas e os documentos escolares dos professores investigados revelaram

que os conteúdos matemáticos indicados pela Proposta Curricular para o Primeiro Segmento

da EJA (2001) e pela Matriz Curricular da EJA de Cuiabá foram concebidos e trabalhados em

sua totalidade somente pela professora Ana. Ricardo, Isabel e Maria, propuseram

parcialmente os conteúdos matemáticos preconizados nos mesmos documentos. Assim, os

professores nos levam ao entendimento de que não compreendem a importância no que se

refere aos conteúdos dos blocos “Geometria”, “Medidas” e “Introdução à Estatística”, para o

ensino e aprendizagem da Matemática no contexto da Educação de Jovens e Adultos.

Percebemos que apesar dos professores investigados compreenderem que os

estudantes da EJA são adultos, que já têm experiências de vida e que já estão inseridos no

mercado de trabalho, muitas vezes, isso não foi levado em consideração na elaboração dos

documentos analisados, pois conteúdos matemáticos importantíssimos foram excluídos da

organização do ensino da Matemática na 1ª e 2ª Etapas da EJA, como é o caso dos blocos

referentes à “Geometria”, “Medidas” e “Introdução à Estatística”.

Como podemos observar, os dados nos revelaram que dos quatro sujeitos investigados,

dois deles não trabalharam o ensino de Geometria no período investigado. Desse modo,

podemos inferir que esses educadores não compreendem que tais conhecimentos geométricos

são importantes no contexto da EJA, principalmente porque podem proporcionar aos

educandos dessa modalidade uma visão mais organizada do mundo em que vivem (FARREL,

1994), além do que, muitos Jovens e Adultos que frequentam essa modalidade de Educação

necessitam desses conhecimentos em suas profissões, como é o caso dos pedreiros,

marceneiros, costureiras, dentre outras. Muitas vezes, eles podem não saber calcular área ou

perímetro utilizando fórmulas, mas eles têm noção da prática cotidiana.

Todavia, Passos (2000) ao abordar a problemática envolvida nessa questão, afirma que

diversas são as causas para o abandono do ensino da Geometria, como sabemos, não apenas

no contexto da Educação de Jovens e Adultos como também no Ensino Regular. Dentre elas

Page 278: CONCEPÇÕES DE PROFESSORES EXPRESSAS NOS … · metodologia de investigação adotada foi a abordagem qualitativa de cunho interpretativo, na qual nos fundamentamos em Bogdan e Biklen

277

destaca-se a reforma do ensino ocorrida com o Movimento da Matemática Moderna em que o

ensino da Álgebra foi priorizado.

Outro ponto a ser destacado ao tratarmos de alguns dos conteúdos geométricos, como

é o caso da Geometria de localização e orientação, é que estes elementos curriculares são

considerados relativamente novos no Brasil. Dessa forma, muitos professores que estão

atuando na EJA não os tiveram em suas formações, tanto na inicial quanto na continuada.

Assim, muitas vezes tais conhecimentos acabam sendo negados no processo educativo nessa

modalidade, devido à fragilidade da formação dos professores que ensinam a Matemática na

1ª e 2ª Etapas da EJA, principalmente porque em geral, suas formações superiores são em

Pedagogia, e não em Matemática.

Os dados nos revelaram também que dos quatro sujeitos investigados, dois deles não

trabalharam o ensino de Medidas no período de fevereiro a junho de 2011. Compreendemos

que a ausência de conteúdos que envolvam “Medidas” na Educação de Jovens e Adultos é no

mínimo preocupante, principalmente porque tais conceitos estão presentes no cotidiano e

fazem parte do mundo do trabalho de muitos estudantes dessa modalidade, sendo requisitado

em diversas profissões. Além disso, de acordo com a Proposta Curricular para o Primeiro

Segmento da EJA (2001, p. 108), o “bloco “Medidas” reúne conhecimentos de grande

utilidade prática, que também podem ser articulados com o estudo do espaço, das formas, dos

números e das operações”.

Percebemos ainda, por meio dos documentos escolares, que três sujeitos investigados

não propuseram a seus alunos conteúdos referentes ao bloco “Introdução à Estatística” nos

levando ao entendimento que não reconhecem tais conhecimentos como potentes recursos

para descrever e interpretar o mundo à nossa volta, como também sua grande utilidade prática

(BRASIL, 2001). O conhecimento estatístico visa “fornecer subsídios ao aluno para que possa

interpretar, compreender, analisar gráficos, tabelas que estão presentes nos meios de

comunicação e no mundo do trabalho” (SÃO PAULO, 2010, p. 41), e que esses

conhecimentos constituem-se como ferramenta indispensável em diversas áreas de atividade

científica, profissional, política e social.

A ausência dos conteúdos dos três blocos anteriormente citados, que estão presentes

no cotidiano dos Jovens e Adultos provoca-nos preocupação, pois negligenciar esses

conteúdos é negar-lhes a possibilidade de uma aprendizagem mais eficiente. Quando se trata

de Jovens e Adultos sabemos que eles trazem uma gama de conhecimentos e experiências da

sua vida que devem ser considerados na escola, ao mesmo tempo em que eles trabalham com

Page 279: CONCEPÇÕES DE PROFESSORES EXPRESSAS NOS … · metodologia de investigação adotada foi a abordagem qualitativa de cunho interpretativo, na qual nos fundamentamos em Bogdan e Biklen

278

inúmeros conceitos matemáticos e resolvem muitos problemas em seu cotidiano com suas

heurísticas pessoais.

Diante disso, entendemos ainda que a seleção e organização lógica dos conteúdos

preconizados na Proposta Curricular para o Primeiro Segmento da EJA (2001) não é

suficiente para transmiti-los na Educação de Jovens e Adultos, pois os conteúdos matemáticos

devem incluir elementos da vivência prática dos alunos para torná-los mais claros e

significativos. Para isso, é necessário que os professores estabeleçam condições para a

assimilação consciente e sólida de conhecimentos, habilidades e atitudes e, nesse processo, os

estudantes Jovens e Adultos desenvolvam suas capacidades e habilidades intelectuais para se

tornarem sujeitos da sua própria aprendizagem. Compreendemos que tais condições estão

diretamente ligadas as metodologias utilizadas pelos professores em suas práticas docentes.

Esta foi outra categoria sobre a qual nos debruçamos em nossa pesquisa.

Assim, quanto às metodologias propostas para o ensino aprendizagem da Matemática

na 1ª e 2ª Etapas da EJA também podemos dizer que em vários momentos encontramos

concepções divergentes, principalmente ao observarmos contradições entre as falas dos

professores investigados e o que encontramos nos registros de seus documentos escolares.

Desse modo, os dados nos revelaram que as concepções dos quatro sujeitos investigados

acerca das metodologias propostas para o ensino e a aprendizagem da Matemática na 1ª e 2ª

Etapas da EJA transitam entre as perspectivas Emancipadora e Bancária de Educação.

Tais contradições foram evidenciadas quando Ricardo destacou em sua fala que o

ensino da Matemática na 1ª Etapa da EJA deve levar em consideração os conhecimentos

prévios dos estudantes, bem como deve estar relacionado aos contextos em que eles estão

inseridos, nos revelando a compreensão de que as metodologias mais eficazes no ensino e

aprendizagem dessa disciplina são as que consideram tais saberes, em que os conteúdos

matemáticos devem ser apresentados vinculados às experiências de vida dos alunos e a outras

áreas de conhecimento.

Entretanto, ao observarmos os cadernos de seus alunos e a coleção Gandra (2005)

adotada para organizar o ensino da Matemática na 1ª Etapa da EJA no período investigado,

percebemos que tal coleção contempla em partes o que está indicado no PPP- Bocaiúva e na

Proposta Curricular para o Primeiro Segmento da EJA (2001) no que se refere à consideração

das especificidades desse público principalmente em relação à faixa etária, as experiências e o

contexto no qual eles estão inseridos, pois a referida coleção apresenta em vários momentos

atividades infantilizadas que privilegiam a repetição de exercícios, sem problematizações e

sem considerar os conhecimentos prévios dos estudantes Jovens e Adultos.

Page 280: CONCEPÇÕES DE PROFESSORES EXPRESSAS NOS … · metodologia de investigação adotada foi a abordagem qualitativa de cunho interpretativo, na qual nos fundamentamos em Bogdan e Biklen

279

Desse modo, as concepções de Ricardo acerca das metodologias propostas para o

ensino e a aprendizagem da Matemática na 1ª Etapa da EJA na Escola Bocaiúva apesar de

transitarem por entre as duas categorias de análise instituídas, observamos que as falas do

professor e os seus documentos escolares revelam concepções que se aproximam mais do

modelo Bancário de Educação, pois em alguns momentos o professor considerou em sua fala

apenas o papel funcional do ensino de Matemática nessa modalidade. Além do mais, não

encontramos indicativos de que o professor tenha proposto no período investigado

importantes perspectivas metodológicas no ensino dessa disciplina, como por exemplo, a

Resolução de Problemas, a Modelagem Matemática, a Etnomatemática, a História da

Matemática, bem como a utilização de Recursos Tecnológicos, Jogos e Estratégias

Metacognitivas.

As concepções de Ana também transitam entre as duas perspectivas de Educação,

Bancária e Emancipadora, no que se refere às metodologias propostas para o ensino e a

aprendizagem da Matemática na 2ª Etapa da EJA na Escola Bocaiúva. Todavia, suas

concepções tendem mais à perspectiva Bancária de Educação, mesmo Ana propondo a

utilização de jogos e outros recursos didáticos em suas aulas, pois em muitos momentos a

professora indicou em seus planos de aula atividades descontextualizadas e não

problematizadoras, sem uma sequência didática apropriada, sem fazer relação com o mundo

do trabalho e com outras áreas do conhecimento. Além do que, a professora utilizou no

período investigado o livro Padovan (2008), cuja indicação é para o ensino da Matemática

para o público do Ensino Regular, caracterizando assim, a infantilização do ensino nessa

modalidade.

Ana aproxima-se também de tal concepção ao afirmar que o principal recurso

metodológico que deve ser utilizado no processo de ensino da Matemática na 2ª Etapa da EJA

deve ser a fala do educador, nos levando a compreender que suas aulas são expositivas e

centradas na transmissão de informações. A professora caminha também para a mesma

perspectiva, pois não encontramos indicativos em seus documentos escolares, de que Ana

tenha utilizado no período investigado relevantes perspectivas metodológicas capazes de

estimular o envolvimento dos educandos em suas aulas, motivando-os à aprendizagem de tal

disciplina, como por exemplo, a Resolução de Problemas, a Modelagem Matemática, a

Etnomatemática, a História da Matemática, bem como, a utilização de Recursos Tecnológicos

e Estratégias Metacognitivas.

Os documentos escolares e as falas de Isabel nos revelaram que suas concepções

quanto às metodologias propostas para o ensino e aprendizagem da Matemática na 1ª Etapa da

Page 281: CONCEPÇÕES DE PROFESSORES EXPRESSAS NOS … · metodologia de investigação adotada foi a abordagem qualitativa de cunho interpretativo, na qual nos fundamentamos em Bogdan e Biklen

280

EJA apesar de transitarem entre o modelo Bancário e Emancipador de Educação, demontra

certa tendência ao modelo Emancipador, pois a professora propôs jogos, mencionou utilizar

materiais concretos e buscou atividades que contemplassem aspectos do cotidiano dos alunos.

Aproximou-se também da mesma perspectiva ao propor elementos da História da Matemática

em suas aulas na 1ª Etapa da EJA na Escola Caju.

As concepções de Maria caminham em direção à perspectiva Bancária de Educação,

pois observamos recorrentemente tanto nos documentos como em suas falas a ênfase dada

pela professora à resolução de exercícios repetitivos e problemas padrões envolvendo o bloco

de conteúdos “Números e Operações Matemáticas”, em sua maioria, retirados do livro

didático indicado para o ensino da Matemática no Ensino Regular, em que as atividades e as

problematizações não são direcionadas para o público específico da EJA.

Percebemos também que suas concepções quanto às metodologias propostas vão ao

encontro aos aspectos do modelo Bancário de Educação, quando Maria declarou que “vou

ensinar do jeito que eu sei, o tradicional. E acaba ensinando! Passo com segurança e pronto.

Às vezes está bonitinho no caderno, mas na hora aí você ensina como você acha que deve

ensinar com mais facilidade. Eu pelo menos ensino desta maneira [...]” (E – Maria). Dessa

forma, Maria não demonstra a compreensão de que a Etnomatemática, a Resolução de

Problemas, a Modelagem Matemática e a História da Matemática, os Projetos de Trabalho, e a

utilização de Jogos, Estratégias Metacognitivas e Recursos Tecnológicos, constituem-se

importantes perspectivas metodológicas para o ensino da Matemática na 1ª Etapa da

Educação de Jovens e Adultos.

Ao observarmos os dados coletados quanto às metodologias propostas pelos

professores investigados para o ensino e aprendizagem da Matemática na 1ª e 2ª Etapas da

EJA na Escola Bocaiúva e na Escola Caju, verificamos que muitas vezes, as falas dos

professores revelam uma tendência ao modelo de Educação mais progressista, construtivista

próximo à perspectiva Emancipadora. Em algumas ocasiões, os professores declararam

propor atividades que envolvem o lúdico e a História da Matemática como apoio didático para

a aprendizagem de conceitos matemáticos nessa modalidade.

Entretanto, embora percebamos alguns avanços por parte dos professores, ao

apontarem para a variedade metodológica em suas aulas (jogos, atividades contextualizadas e

o uso de recursos didáticos metodológicos) o que, em suas palavras pode estimular os

educandos e potencializar suas aprendizagens, ao observamos os documentos escolares como

os cadernos dos alunos, os planejamentos anuais e os planos de aula verificamos que na

maioria das vezes, os conteúdos matemáticos foram abordados por uma metodologia que

Page 282: CONCEPÇÕES DE PROFESSORES EXPRESSAS NOS … · metodologia de investigação adotada foi a abordagem qualitativa de cunho interpretativo, na qual nos fundamentamos em Bogdan e Biklen

281

valoriza a aplicação, a repetição e a memorização, onde o conhecimento geralmente é

transmitido de forma estática, em que os educadores passam para o quadro-negro aquilo que

julgam ser importante para os alunos.

Portanto, os dados nos revelaram que, de maneira geral, as concepções de nossos

sujeitos quanto às metodologias propostas para o ensino e aprendizagem da Matemática na 1ª

e 2ª Etapas da EJA se aproximam mais da perspectiva Bancária de Educação Matemática,

pois na maioria das vezes, as metodologias não passaram de exercícios repetitivos e

problemas padrões retirados de páginas de livros didáticos, solicitando mais a memorização e

fixação, do que de fato a construção dos conceitos.

Outro ponto a ser considerado é que, em alguns casos, os livros didáticos que os

professores utilizaram para planejar o ensino da Matemática na EJA são indicados

especificamente para o ensino dessa disciplina no Ensino Regular, caracterizando assim, a

infantilização do ensino nessa modalidade, pois as problematizações, os enunciados das

atividades e a forma com que os conteúdos são apresentados nesses livros didáticos não se

aproximam do contexto dos educandos Jovens e Adultos.

Contudo, deixamos claro mais uma vez, que não temos a intenção de emitir juízo de

valor ao trabalho docente dos sujeitos de nossa pesquisa, pois esses se esforçam muito para

que seus alunos aprendam, além do que, são muito atenciosos e dedicados às suas profissões.

O que ocorre é que sob o enfoque inovador, os dados nos revelaram que as metodologias

propostas pelos professores investigados para o ensino e aprendizagem da Matemática na 1ª e

2ª Etapas da EJA não apresentam aspectos diferenciados das práticas pedagógicas

convencionais.

Sendo assim, em resposta a questão investigativa da presente pesquisa, “que

concepções revelam os documentos escolares e as falas dos professores sobre os

conteúdos e as metodologias propostas para o ensino e aprendizagem da Matemática na

1ª e 2ª Etapas da Educação de Jovens e Adultos em Escolas municipais de Cuiabá-MT?”,

podemos concluir que:

De modo geral, os dados revelaram que as concepções dos quatro sujeitos da pesquisa

transitam entre às perspectivas Bancária e Emancipadora de Educação sobre os

conteúdos propostos para o ensino e aprendizagem da Matemática na 1ª e 2ª Etapas da

Educação de Jovens e Adultos. Todavia, três professores demonstram que suas

concepções tendem à perspectiva Bancária de Educação.

Quanto às concepções acerca das metodologias propostas para o ensino e

aprendizagem da Matemática na 1ª e 2ª Etapas da Educação de Jovens e Adultos, os

Page 283: CONCEPÇÕES DE PROFESSORES EXPRESSAS NOS … · metodologia de investigação adotada foi a abordagem qualitativa de cunho interpretativo, na qual nos fundamentamos em Bogdan e Biklen

282

documentos escolares e as falas dos professores investigados também nos revelaram

que suas concepções transitam por entre as duas categorias de análise instituídas nesse

trabalho. Entretanto, três professores demonstram concepções que mais se aproximam

do modelo Bancário de Educação.

De maneira geral, esse quadro se mostra devido a Matemática ser muitas vezes

desconsiderada, deixada em segundo plano na 1ª e 2ª Etapas da EJA. A Matemática aparece

nas Propostas, nos documentos oficiais, e nas falas dos professores na “íntegra”, mas na

prática ela não está sendo contemplada. Nem o quê (conteúdos) é todo trabalhado, e o como

(metodologias), revela muito mais uma concepção Bancária de Educação do que

Emancipadora. Assim, além de ser dada pouca importância a tal disciplina na fase de

alfabetização dos Jovens e Adultos, o pouco que se trabalha é dado em uma perspectiva

tradicional, pois os professores seguem o livro que adotam e como vimos, em alguns casos,

tais obras são consideradas tradicionais e infantilizadas.

Também consideramo-la de modelo tradicional, porque como vimos na caracterização

dos professores e como os mesmos se manifestaram nos questionários e nas entrevistas, eles

não têm formação em Matemática, pois são unidocentes, e alguns deles até mesmo fizeram

outra licenciatura diferente da Pedagogia, como no caso de Ana que é licenciada somente em

Geografia. Assim, se dedicam ao trabalho de ensinar Matemática e outras disciplinas na 1ª e

2ª Etapas da EJA sem formação inicial.

Diante disso, torna-se fundamental que as licenciaturas em Pedagogia assim como

outros cursos que habilitem profissionais da Educação para atuarem na EJA não deixem de

considerar e explicitar os principais pontos da realidade complexa dessa modalidade. Além

disso, é necessário que os cursos de Pedagogia se preocupem em trabalhar os aspectos

fundamentais para a efetivação do trabalho da Educação Matemática na Educação de Jovens e

Adultos, visto que os professores unidocentes que atuam na 1ª e 2ª Etapas dessa modalidade

necessitam ser capacitados para trabalharem os conteúdos matemáticos, principalmente

porque os dados nos revelaram que a formação inicial que os professores investigados tiveram

para atuar na Educação de Jovens e Adultos praticamente não existiu. Todavia, quando

existiu, apresentou muito pouco do o quê e do como se deve propor o ensino da Matemática

na 1ª e 2ª Etapas da Educação de Jovens e Adultos, deixando muitas lacunas na formação dos

sujeitos quanto ao aprendizado de conteúdos e metodologias para o ensino da Matemática

nesta modalidade de Educação.

Em alguns momentos, os professores revelaram avanços nas suas concepções e

atuação com relação a sua formação inicial, atribuindo este a sua aprendizagem na

Page 284: CONCEPÇÕES DE PROFESSORES EXPRESSAS NOS … · metodologia de investigação adotada foi a abordagem qualitativa de cunho interpretativo, na qual nos fundamentamos em Bogdan e Biklen

283

experiência docente. Essa construção, segundo eles, muitas vezes se deu na prática, ou seja,

na condição de educadores da Educação de Jovens e Adultos. Desse modo, a formação

continuada se revela muito importante, tornando-se cada vez mais uma condição necessária

para a preparação dos educadores que atuam na EJA, pois pode auxiliar os professores a

lidarem com o processo de ensino e aprendizagem da Matemática nessa modalidade repleta de

especificidades.

Nessa perspectiva de entendimento, a formação inicial e continuada pode contribuir

para que haja mudança na forma de se perceber os conteúdos e as metodologias que podem

ser propostas para o ensino da Matemática nessa modalidade de Educação.

Outro ponto a ser considerado é que além desses conhecimentos para desenvolver o

ensino da Matemática na EJA, é necessário que a formação de professores estime que os

docentes tornem-se educadores matemáticos de Jovens e Adultos e que concebam a

Matemática como uma das possibilidades de transformação da realidade social e o efetivo

exercício da cidadania.

Sendo assim, a Matemática desempenha um importante papel na formação do caráter

sócio-educacional dos educandos da EJA, pois atualmente caracteriza-se como “uma forma de

compreender e atuar no mundo e o conhecimento gerado nessa área do saber como um fruto

da construção humana na sua interação constante com o contexto natural, social e cultural”

(BRASIL, 1998, p. 24). Desse modo, vale ressaltar que a Matemática para os educandos

Jovens e Adultos pode contribuir para as práticas de leitura e compreensão do mundo em que

vivemos, de modo que assim possam participar mais ativamente na sociedade.

Além de tudo o que já mencionamos neste trabalho, gostaríamos ainda de ressaltar que

a limitação temporal de dois anos para realização deste estudo não nos permitiu realizar a

observação da prática docente dos sujeitos de nossa pesquisa. Por isso, investigamos apenas

as concepções que revelam os documentos escolares e as falas dos professores sobre os

conteúdos e metodologias propostas para o ensino da Matemática no contexto da Educação de

Jovens e Adultos.

Durante o desenvolvimento desse estudo, nos deparamos com algumas dificuldades.

Podemos citar que uma delas foi quanto à permanência de duas professoras no processo de

investigação, pois durante o período de coleta de dados, fevereiro a junho de 2011, as

professoras tiveram alguns problemas de saúde e assim afastaram-se das atividades escolares,

prejudicando a coleta de dados documentais. Dessa forma, deixamos de realizar a pesquisa em

tal Escola. Outra dificuldade encontrada foi realizar a análise dos documentos escolares das

Escolas e dos professores investigados, principalmente no que se refere à Escola Caju, pois

Page 285: CONCEPÇÕES DE PROFESSORES EXPRESSAS NOS … · metodologia de investigação adotada foi a abordagem qualitativa de cunho interpretativo, na qual nos fundamentamos em Bogdan e Biklen

284

como esclarecemos, a coordenadora pedagógica responsável pela EJA na Escola não

disponibilizou o Plano Político Pedagógico para que pudéssemos realizar a análise desse

documento.

Em linhas gerais, a realização deste estudo nos possibilitou refletir sobre nossa própria

dinâmica pessoal no processo de construção dos conhecimentos para docência em Matemática

na Educação de Jovens e Adultos, haja vista que ao adentrar no Mestrado em Educação,

muitas dúvidas me levaram a investigar a temática “Educação Matemática na EJA”,

principalmente porque no ano de 2008 havia trabalhado com o ensino da Matemática nessa

modalidade de Educação. Dessa forma, reconheço que já não sou mais a mesma, pois muitas

interrogações levantadas no início da construção desse trabalho foram sendo respondidas

durante o desenvolvimento da pesquisa, o que muito contribuíram para minha formação

profissional e acadêmica.

Contudo, estamos cientes que temos muito que aprender e melhorar, pois em diversos

momentos nos reconhecemos nas falas dos sujeitos, ora numa perspectiva Bancária de Educação,

ora numa perspectiva Emancipadora, perante das mesmas dúvidas e sentindo, muitas vezes, as

mesmas inquietações acerca do ensino da Matemática na Educação de Jovens e Adultos. Assim,

pensamos que não chegamos ao final dessa pesquisa, mas sim ao que seria um novo ponto de

partida de futuras investigações que possibilitem melhor compreender outros questionamentos

que surgiram no decorrer do desenvolvimento deste trabalho, como por exemplo: estaria

sendo discutida a Educação Matemática na Educação de Jovens e Adultos no âmbito das

licenciaturas em Pedagogia? Se os professores que atuassem na 1ª e 2ª Etapas da EJA fossem

licenciados em Matemática, encontraríamos conteúdos e metodologias propostas mais

próximas da perspectiva Emancipadora de Educação? Quais seriam as ações das Escolas

investigadas e da Secretaria Municipal de Educação de Cuiabá diante das respostas

encontradas nessa investigação?

Page 286: CONCEPÇÕES DE PROFESSORES EXPRESSAS NOS … · metodologia de investigação adotada foi a abordagem qualitativa de cunho interpretativo, na qual nos fundamentamos em Bogdan e Biklen

285

“De tudo ficaram três coisas:

A certeza de que estava sempre começando.

A certeza de que era preciso continuar e,

A certeza de que seria interrompido antes de terminar.

Fazer da interrupção, um caminho novo.

Fazer da queda, um passo de dança,

Do medo, uma escada.

Do sonho, uma ponte,

E da procura, um encontro.”

(SABINO, 1956)

Page 287: CONCEPÇÕES DE PROFESSORES EXPRESSAS NOS … · metodologia de investigação adotada foi a abordagem qualitativa de cunho interpretativo, na qual nos fundamentamos em Bogdan e Biklen

286

REFERÊNCIAS

ALARCÃO, I. (org.). Escola reflexiva e nova racionalidade. POA: Artmed, 2001.

ALMEIDA, A. P. Proposta Curricular. Matemática. NUPEP/CE/UFPE. Recife: Bagaço,

1998.

ALVARES, S. C. Educação Estética para Jovens e Adultos, a beleza no ensinar e no

aprende. São Paulo: Cortez, 2010. (coleção questões da nossa época; v.10).

ALVES, E. M. S. A ludicidade e o Ensino da Matemática. 2ª ed. Campinas – Paulo: Papiros,

2001.

ALVES-MAZZOTTI, A. J.; GEWANDSZNAJDER, F. O método nas Ciências Naturais e

Sociais: Pesquisa quantitativa e qualitativa. São Paulo: Pioneira Thomson Leraning, 2004.

ANDRADE, M. C. G. Jogos: Peça importante na construção do conhecimento. Revista Dois

Pontos, Campinas-SP; janeiro/fevereiro, 1996, volume 3, número 24.

ARROYO, M. A Educação de Jovens e Adultos em tempos de exclusão. In: UNESCO.

Construção coletiva: contribuições à educação de jovens e adultos. Brasília:

UNESCO/MEC/RAAAB, 2005. p. 221-230. v. 3. (Coleção educação para todos).

_______. Balanço da EJA: o que mudou nos modos de vida dos jovens-adultos populares?

Revista de Educação de Jovens e Adultos. Volume 1 n° 0, p. 5-19, agosto, 2007.

AUSUBEL, D. P; NOVAK, J. D.; HANESIAN, H. Psicologia Educacional. Rio de Janeiro:

Interamericana, 1980.

BANDEIRA, F. A. Pedagogia Etnomatemática: ações e reflexões em matemática do ensino

fundamental com um grupo sócio-cultural específico. Tese de doutorado, Universidade

Federal do Rio Grande do Norte, 2009.

BARALDI, I. M. Matemática na escola: que ciência é esta? Bauru – SP: EDUSC, 1999.

BASSANEZI, R. C. Ensino – aprendizagem com Modelagem Matemática. Editora Contexto.

São Paulo, 2002. 389 p.

BAUER, W. M; GASKELL, G. Pesquisa qualitativa com texto, imagem e som: um manual

prático. Petrópolis: Vozes, 2002, 516 p.

BEAN, D. O que é modelagem matemática? In: Educação Matemática em Revista, São Paulo,

SBEM, v.8, n.9/10, p.49-57, abril, 2001.

BEATRICI, A. F. A Educação de Jovens e Adultos: do legado histórico aos debates na

década da educação. 2009. 110 p. Dissertação (Mestrado em Educação), Universidade de

Passo Fundo, Passo Fundo-RS, 2009.

Page 288: CONCEPÇÕES DE PROFESSORES EXPRESSAS NOS … · metodologia de investigação adotada foi a abordagem qualitativa de cunho interpretativo, na qual nos fundamentamos em Bogdan e Biklen

287

BEYER, B. K. Critical thinking: What is it? Social Education, v. 49, 1985.

BICUDO, M. A. V. Pesquisa em Educação Matemática: concepções e perspectivas /

organizadora Maria Aparecida Viggiani Bicudo. São Paulo: Editora UNESP, 1999.

(Seminários & Debates).

BIEMBENGUT, M.S.; HEIN, N. Modelagem Matemática no Ensino. Editora Contexto: São

Paulo, 2002.127 p.

BITTAR, M. Fundamentos e metodologias de matemática para os ciclos iniciais do ensino

fundamental / Marilena Bittar, José Luiz Magalhães de Freitas. – 2. ed. – Campo Grande, MS

: Ed. UFMS. 2005.

BOGDAN, R.; BIKLEN S. Investigação qualitativa em educação: uma introdução à teoria e

aos métodos. Trad. de Maria João Alvarez, Sara Bahia dos Santos e Telmo de Mourinho

Baptista. Porto: Porto Editora, 1994.

BONILLA, M. H. S. Concepções do Uso do Computador na Educação. Espaços da Escola,

Ano 4, n. 18. Ijuí, 1995.

BORBA, M. C. Tecnologias Informáticas na Educação Matemática e Reorganização do

Pensamento. In: BICUDO, Maria A. V. (org). Pesquisa em Educação Matemática:

concepções e perspectivas. São Paulo: Unesp, 1999.

BORBA, M. C.; PENTEADO, M. G. - Informática e Educação Matemática - coleção

tendências em Educação Matemática - Autêntica, Belo Horizonte – 2001.

BOURDIEU, P. (Coord). A Miséria do Mundo. Tradução de Mateus S. Soares Azevedo et

all. Petrópolis, RJ: Vozes, 1997.

BRASIL. Ministério da Educação. Guia de livros didáticos: PNLD 2011: EJA / Ministério da

Educação. – Brasília: MEC; SECAD, 2010.

BRASIL, Ministério da Educação e do Desporto. Lei de Diretrizes e Bases da Educação -

9394/96. Brasília: MEC, 1996.

BRASIL. Ministério da Educação e do Desporto. Plano Decenal de Educação para Todos.

Brasília: MEC, 1993.

BRASIL. Proposta curricular para a Educação de Jovens e Adultos: segundo segmento do

ensino fundamental (5ª a 8ª série) – Introdução. Brasília: MEC/SEF, 2002.

BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Ministério da Educação. Proposta Curricular

para a educação de jovens e adultos: Primeiro Segmento do ensino fundamental: 1ª. a 4ª.

série. Brasília, 2001.

BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais:

Matemática /Secretaria de Educação Fundamental. Brasília: MEC /SEF, 1998.

Page 289: CONCEPÇÕES DE PROFESSORES EXPRESSAS NOS … · metodologia de investigação adotada foi a abordagem qualitativa de cunho interpretativo, na qual nos fundamentamos em Bogdan e Biklen

288

BRASIL. Ministério da Educação e Cultura. Secretaria de Educação Fundamental.

Parâmetros Curriculares Nacionais: Matemática. Brasília: MEC/SEF, 1997.

BRASIL. Governo do Estado do Paraná. Secretaria de Estado de Educação/PR. Diretrizes

Curriculares da Educação de Jovens e Adultos. Curitiba, 2006.

BRASIL. MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO, SECRETARIA DE EDUCAÇÃO

CONTINUADA, ALFABETIZAÇÃO E DIVERSIDADE BARRETO, V. (coord.)

Trabalhando com a educação de jovens e adultos: alunas e alunos da EJA. Brasília: 2006.

BURAK, D. Modelagem Matemática: uma metodologia alternativa para o ensino de

Matemática na 5a série. Dissertação de mestrado, Universidade Estadual Paulista “Júlio

Mesquita Filho” – campus Rio Claro, 1987.

BURAK, D. Formação dos pensamentos algébrico e geométrico: uma experiência com a

modelagem matemática. Pró-Mat Paraná, Curitiba, v, 1, no 1, p.32-41, 1998.

CARAÇA, B. J.. Conceitos Fundamentais da Matemática. Lisboa: Gradiva, 2ª edição. 1998.

CARVALHO, D. L. de. A interação entre o conhecimento matemático da prática e o escolar.

Campinas: UNICAMP, 1995. Tese (Doutorado em Educação), Faculdade de Educação,

Universidade Estadual de Campinas, 1995.

CARVALHO, F. A. H. Reaprender a aprender: a pesquisa como alternativa metacognitiva.

Tese de doutorado. Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul – PUC. Porto

Alegre, 2007.

CAVACO, M. Oficio do professor: o tempo e as mudanças. In: NÓVOA, A. Profissão

Professor. 2.ed. Porto: Porto Editora, 1995.

CAVALCANTI, R.A. Andragogia: A aprendizagem nos adultos. Rev. De Clínica Cirúrgica

da Paraíba, n.6, Ano 4, Jul. 1999.

CHAHON, M. A Abordagem Metacognitiva no Ensino Fundamental de Matemática: o

conceito inicial de fração. Dissertação de Mestrado. Universidade Federal do Rio de Janeiro -

UFRJ. Rio de Janeiro, 1999.

COLL, C. O construtivismo na sala de aula. São Paulo: Ática, 1999.

COLL, C. Um Marco de Referência psicológico para La Educación Escolar: La concepción

construtivista del aprendizaje y de La enseñanza. In.: COLL, C. et al. Desarrollo psicológico y

educación, II. Madrid: Alianza Editorial, 1990. P.438-52.

COLLIS, B. (1996). The Internet as an educational innovation: Lessons from experience with

computer implementation. Educational Technology, 36(6), 21-30.

COMISSÃO NACIONAL DE EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS (1994). Diretrizes

Nacionais. In: GADOTTI, Moacir; ROMÃO, José Eustáquio (org.). Educação de Jovens e

Adultos: teoria, prática e proposta. 4. ed. São Paulo: Cortez / Instituto Paulo Freire, 2001. p.

119-136.

Page 290: CONCEPÇÕES DE PROFESSORES EXPRESSAS NOS … · metodologia de investigação adotada foi a abordagem qualitativa de cunho interpretativo, na qual nos fundamentamos em Bogdan e Biklen

289

COMTE, A. Curso de filosofia positiva. São Paulo: Abril Cultural, 1973. (Coleção: Os

pensadores)

CONSELHO NACIONAL DE EDUCAÇÃO. Parecer CNE/CEB n. 11/2000. Diretrizes

Curriculares para a Educação de Jovens e Adultos. Brasília, 2000.

CUIABÁ. Prefeitura. SME – Secretaria Municipal de Educação. Educação de Jovens e

Adultos – EJA: política educacional e diretrizes/ Cuiabá. Prefeitura. SME- Secretaria

Municipal de Educação. – Cuiabá, MT: Central de Texto, 2010.

D’AMBROSIO, U. Educação Matemática: da teoria à prática. Campinas: Papirus, 2005.

_________. Educação matemática: da teoria à prática. 3 ed. Campinas: Papirus, 2002.

_________. Educação Matemática – Da teoria a prática. 14 ed. Campinas, São Paulo:

Papirus/SBEM, 2007.

_________. Etnomatemática. 5 ed. São Paulo: Editora Ática, 1998.

_________. Etnomatemática- elo entre as tradições e a modernidade/ Ubiratan D’Ambrosio.

– 2 ed. Belo Horizonte: Autêntica, 2005. 112 p. (Coleção Tendências em Educação

Matemática).

_________. Etnomatemática: arte ou técnica de explicar e conhecer. 2. ed. São Paulo:

Editora Ática, 1993.

_________. Globalização e multiculturalismo. Blumenau: Ed. Da Furb, 1996. 95p.

__________. Matemática, ensino e educação: uma proposta global. In Temas & Debates, Rio

Claro, Ano IV, N.3. pp. 1-16, 1991.

DARSIE, M. M. P. A Reflexão Distanciada na Construção dos Conhecimentos Profissionais

do professor em curso de Formação Inicial. Tese de Doutorado. USP. São Paulo, 1998.

_________. A Arte de Ensinar e a Arte de Aprender: um processo de construção do

conhecimento pedagógico em aritmética. Mato Grosso. Universidade Federal de Mato

Grosso, 1993. (Dissertação de mestrado).

_________. Perspectivas Epistemológicas e suas Implicações no Processo de Ensino e

Aprendizagem. UNIciências, Cuiabá, UNIC, V.3, p. 8-21.1999.

DEMO, P. Desafios Modernos da Educação. 7 ed. Petrópolis: Vozes, 1998.

DINIZ, L. do N. O papel das tecnologias da informação e comunicação nos projetos de

modelagem matemática / Leandro do Nascimento Diniz. – Rio Claro : [s.n.], 2007 xii,118 f. :

il., gráfs., tabs. Dissertação de mestrado, – Universidade Estadual Paulista – ]Rio Claro, 2007.

DI PIERRO, M. C.; VÓVIO, C.; ANDRADE, E. R. Alfabetização de Jovens e Adultos: lições

da prática. Brasília: UNESCO, 2008.

Page 291: CONCEPÇÕES DE PROFESSORES EXPRESSAS NOS … · metodologia de investigação adotada foi a abordagem qualitativa de cunho interpretativo, na qual nos fundamentamos em Bogdan e Biklen

290

DI PIERRO, M. C. As políticas públicas de educação básica de jovens e adultos no Brasil do

período 1985/1999. 2000. 314 f. Tese (Doutorado em História e Filosofia da Educação) —

Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, 2000.

DI PIERRO. M. C. Um balanço da evolução recente da Educação de Jovens e Adultos no

Brasil. In: UNESCO. Construção coletiva: contribuições à Educação de Jovens e Adultos.

Brasília: UNESCO/MEC/RAAAB, 2005. p. 17-30. v. 3. (Coleção educação para todos).

DREHER, S. A. S. As estratégias metacognitivas de alunos em processo de alfabetização:

uma reflexão sobre o aprender do aluno e o ensinar do professor. Dissertação de mestrado.

Pontifícia Universidade Católica do Paraná - PUC. Curitiba, 2009.

DUARTE, N. O ensino de matemática da educação de adultos. São Paulo: Cortez, 1986.

DUARTE, N. O ensino de Matemática na educação de adultos. 7. ed. São Paulo: Cortez,

1995.

FANTINATO, M. C. C. B. Etnomatemática- novos desafios teóricos e pedagógicos/ Maria

Cecília de Castello Branco Fantinato (organizadora). Niterói: Editora da Universidade Federal

Fluminense, 2009.

FANTINATO, M. C. C. B.; SILVEIRA, A.; GILS, A. L.; THEES, A.; SOARES, G.A.&

MELO, T.B. Saberes cotidianos de jovens e adultos e prática docente na perspectiva da

etnomatemática. Anais do III Congresso Internacional Cotidiano – diálogos sobre diálogos.

Universidade Federal Fluminense: Niterói, 2010.

FARREL, M. A. Geometria para professores da escola secundária. In: LIDQUIST, Mary

Montgomery; SHULTE, Albert P. (org.). Aprendendo e ensinando geometria. Tradução de

Hygino H. Domingues. São Paulo: Atual, 1994.

FÁVERO, M. H.; Orofino, A. M. e Farias, K. A.(1995). Ensinar e aprender: O conhecimento

na escola [Rcsumo]. Em Sociedade Brasileira de Psicologia (org.). Resumo de Comunicação

Cientifica. XXV Reunião Anual de Psicologia (p.469). Ribeirão Preto: SBP.

FERREIRA, A. B. de H. Novo dicionário da língua portuguesa. 15ª edição. Rio de Janeiro:

Nova Fronteira, 1986.

FERREIRA, A.C., Práticas de numeramento, Conhecimentos escolares e Cotidianos em uma

turma de Ensino Médio da Educação de Pessoas Jovens e Adultas. Dissertação de mestrado,

Universidade Federal de Minas Gerais, 2009.

FIGUEIRA, A. P. C. Metacognição e seus contornos. Revista Iberoamericana de Educación,

2007. Disponível em http://www.rieoei.org/deloslectores

FIORENTINI, D. Alguns modos de ver e conceber o ensino de matemática no Brasil. In:

Revista Zetetiké, ano 3, n° 4, 1995.

FIORENTINI, D.; LORENZATO, S. Investigação em Educação Matemática: percursos

teóricos e metodológicos. Campinas: Autores Associados, 2006.

Page 292: CONCEPÇÕES DE PROFESSORES EXPRESSAS NOS … · metodologia de investigação adotada foi a abordagem qualitativa de cunho interpretativo, na qual nos fundamentamos em Bogdan e Biklen

291

FLAVELL, J. H. Metacognitive aspectos of problem solving. In: RESNICK, L. B. (Org). The

nature of intelligence. New York: Hillsadale Erlbaum, 1976.

FONSECA, M. C. F. R. Educação de Jovens e Adultos: intenções, processos e avaliação. In:

BONIN, Iara; TRAVERSINI, Clarice; EGGERT Egla; PERES, Eliane. (Org.). Trajetórias e

processos de ensinar e aprender: políticas e tecnologias. 1ª ed. Porto Alegre: EDIPUCRS,

2008, v. 04, p. 341-362.

________. Aproximações da Questão da Significação no Ensino-aprendizagem da

Matemática na EJA. Anais da 25ª. Reunião Anual da ANPED (GT 18). Caxambu, 2002.

________. Educação matemática de jovens e adultos. 2 ed. Belo Horizonte: Autêntica, 2007.

________. Educação Matemática de Jovens e Adultos: especificidades, desafios e

contribuições. 2. ed. Belo Horizonte: Autêntica, 2005.

________. O Ensino de Matemática e a Educação Básica de Jovens e Adultos. Presença

Pedagógica, Belo Horizonte, vol 5, p. 28-37, maio/junho, 1999.

FRANCHI, R. H. O. L. Reflexões sobre a Modelagem na perspectiva da Educação

Matemática. In: CONFERÊNCIA NACIONAL DE MODELAGEM E EDUCAÇÃO

MATEMÁTICA, 3. Piracicaba – SP. Anais... Piracicaba: UNIMEP, 2003.1CD.

FREIRE, P. Ação Cultural para a Liberdade e outros escritos. 5ª ed. Rio de Janeiro, Paz

e Terra. 1981.

________. A educação na cidade. 2 ed. São Paulo: Cortez, 1995.

________. A Importância do Ato de Ler. São Paulo: Cortez, 1989.

________. Educação como prática da liberdade. São Paulo: Paz e Terra, 1994.

________. Pedagogia da Autonomia: saberes necessários à prática educativa. 39. ed. São

Paulo: Paz e Terra, 1996 (Coleção leitura).

________. Pedagogia da Indignação: cartas pedagógicas e outros escritos. São Paulo: Editora

UNESP, 2000.

________. Pedagogia do Oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987.

________. Pedagogia do Oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2005, 42ª edição.

________. Política e Educação: ensaios / Paulo Freire. - 5 ed- São Paulo, Cortez, 2001.

(Coleção Questões de nossa Época; v. 23)

________. Política e educação: ensaios. 7. ed. São Paulo: Cortez, 2003. (Questões da nossa

época, v 23).

Page 293: CONCEPÇÕES DE PROFESSORES EXPRESSAS NOS … · metodologia de investigação adotada foi a abordagem qualitativa de cunho interpretativo, na qual nos fundamentamos em Bogdan e Biklen

292

FREITAG, B. Escola, Estado e Sociedade. 6 ed, São Paulo: Moraes, 1986.

FRESKI, F. B. Avaliação da Qualidade de Softwares Educacionais para o Ensino de

Álgebra. Monografia. Centro de Ciências Exatas e Tecnológicas- Universidade Estadual do

Oeste do Paraná, 2008.

FURASTÉ, P. A. Normas Técnicas para o trabalho científico: Elaboração e formatação.

Explicitação das normas da ABNT. Edição 14º. Porto Alegre, 2008.

FUSARI, J. C. O planejamento do trabalho pedagógico: algumas indagações e tentativas de

respostas. Disponível em: http://www.crmariocovas.sp.gov. br/pdf/ideias_08_p044-

053_c.pdf. Acesso em 27/09/2011.

GADOTTI, M. Programa MOVA-SP: Tornar Possível o que Parece não ser Possível. In:

Brasil. Ministério da Educação e do Desporto. Instituto Paulo Freire. Educação de Jovens e

Adultos – A experiência do MOVA-SP, São Paulo: Instituto Paulo Freire, 1996.

GADOTTI, M.; ROMÃO, J. E. Educação de Jovens e Adultos: teoria, prática e proposta. 9ª

ed. São Paulo: Cortez, 2007.

GALVÃO, A. M. de O.; SOARES, L. J. G. História da alfabetização de adultos no Brasil. In:

ALBUQUERQUE, Eliane Borges Correia de; LEAL, Telma Ferraz. Alfabetização de jovens e

adultos: em uma perspectiva de letramento. Belo Horizonte: Autêntica, 2004, p. 27-58

GAMEZ, L. (1998) Ergonomia Escolar e as Novas Tecnologias no Ensino: Enfoque na

Avaliação de Software Educacional. Dissertação (Mestrado em Engenharia Humana). Braga,

Portugal, Universidade do Minho.

GOMES, É. B. A História da Matemática como Metodologia de Ensino da Matemática:

perspectivas epistemológicas e evolução de conceitos. Dissertação de mestrado. Universidade

Federal do Pará, 2005.

GONÇALVES, T. O. A formação e desenvolvimento profissional de formadores de

professores: o caso dos professores de matemática da UFPa. 2000. 207p. (Tese de doutorado

em Educação) Unicamp, Campinas, 2000.

GRANDA, F. R. P. Dia-A-Dia do professor, EJA: educação para jovens e adultos / Fernanda

Rodrigues Pinto Gandra, Cristina do Valle Gomes Ribeiro, Regina Célia Villaça Lima;

[Márcio Luiz de Castro, Leonardo Rodrigues Moreira, Robson Alves de Araújo, ilustração]. –

Belo Horizonte: Editora FAPI, 2005.

GRANDO, R. C. O conhecimento matemático e o uso de jogos na sala de aula. Tese de

Doutorado. Campinas, SP. Faculdade de Educação, UNICAMP, 2000.

_________. O Jogo e a Matemática no contexto da sala de aula. – São Paulo: Paulus, 2004. –

(Coleção Pedagogia e Educação).

Page 294: CONCEPÇÕES DE PROFESSORES EXPRESSAS NOS … · metodologia de investigação adotada foi a abordagem qualitativa de cunho interpretativo, na qual nos fundamentamos em Bogdan e Biklen

293

________. O jogo e suas possibilidades metodológicas no processo ensino-aprendizagem da

matemática. 1995. 175 f. Dissertação (Mestrado) - Universidade de Campinas (UNICAMP),

Faculdade de Educação, Campinas, Brasil.

HADDAD, S.; DI PIERRO, M. C. Escolarização de jovens e adultos. Revista Brasileira de

Educação, n.14, maio- ago 2000, p. 108-130.

HADDAD, S. A participação da sociedade civil brasileira na educação de jovens e adultos e

na CONFINTEA VI. Revista Brasileira de Educação. Volume 14, n° 41 maio/agosto, 2009.

_________. Educação de jovens e adultos e a nova LDB. In: BRZEZINSKI, Iria (Org). A

LDB interpretada: diversos olhares se entrecruzam. 8. Ed. São Paulo: Cortez, 2003. p. 111-

128.

HERNÁNDEZ, F.; VENTURA, M. A organização do currículo por projetos de trabalho.

Tradução de Jussara Haubert Rodrigues. 5. ed. Porto Alegre: Artes Médicas, 1998.

HUIZINGA, J. Homo Ludens: O jogo como elemento da cultura. São Paulo: Ed. Perspectiva,

1971.

JOU, G. I. & Sperb, T. M. (2006). A metacognição como estratégia reguladora da

aprendizagem. Psicologia: reflexão e crítica, 19 (2), 177-185.

KAERCHER, N. Políticas Públicas em Educação de Adultos. Revista Educação, nº 33. PUC,

Porto Alegre, 1997. p. 81-98.

KAMII, C., DECLARK, G. Reinventando a Aritmética: implicações da teoria de Piaget.

Campinas: Papirus, 1986.

KAMII, C.; DEVRIES, R. (1988) Juegos colectivos en la primera enseñanza: implicaciones

de la teoria de Piaget. Madrid: Visor.

KNAPPER, C. K.; CROPLEY, A. J. Lifelong learning and higher education. London: Kogan

Page, 1985.

KNOWLES, M. The adult learner: a neglected species (3ª ed.). Houston: Gulf Publishing

Company, 1986.

KISHIMOTO, T.M. (Org.). Jogo, brinquedo, brincadeira e a educação – 2a ed. São Paulo:

Cortez, 1997.

_________. O jogo e a educação infantil. São Paulo: Livraria Pioneira, 1994.

KOUTSELINI, M. Child development and school reality. Nicosia: Pedagogical. Institute of

Cyprus, 1991.

LABELLE, J-M. Reciprocidade Educadora e Conduta Epistêmica de Desenvolvimento da

Pessoa. In: DANIS, Claudia; SOLAR, Claudie (Coord.). Aprendizagem e Desenvolvimento

dos Adultos. Tradução: Joana Chaves. Lisboa: Instituto Piaget, 1998. p. 95-115. ISBN 972-

771-444-7.

Page 295: CONCEPÇÕES DE PROFESSORES EXPRESSAS NOS … · metodologia de investigação adotada foi a abordagem qualitativa de cunho interpretativo, na qual nos fundamentamos em Bogdan e Biklen

294

LEITE, E. A. P.; DARSIE, M. M. P. Pesquisas Brasileiras em Educação Matemática na EJA:

distribuição temporal e espacial, temáticas e tendências. Disponível, cd XIII EBRAPEM

Goiânia-GO, 2009.

LEITE, E. A. P. Estratégias metacognitivas na resolução de problemas matemáticos: Um

estudo de caso com estudantes da Educação de Jovens e Adultos. 2011, 269f. Dissertação

(Mestrado em Educação) – Programa de Pós-Graduação em Educação, Universidade Federal

do Mato Grosso, Cuiabá, 2011.

LINDEMAN, E. C. The meaning of adult education. New York: New Republic, 1926.

LOLLINI, P. Didática & Computador. 2 ed. São Paulo: Loyola, 2001.

LOPES, A. J. et al. Resolução de problemas: observações a partir do desempenho dos

alunos. A educação matemática em revista. Revista da Sociedade Brasileira de Educação

Matemática (SBEM) Ano II – n.º 3 e 2 semestre 94 p. 33-40. 1994

LUCENA, M. A Gente é uma Pesquisa: Desenvolvimento Cooperativo da Escrita Apoiado

pelo Computador. Dissertação de Mestrado (Departamento de Educação), PUC- Rio; Rio de

Janeiro, 1992.

LÜDKE, M.; ANDRÉ, M. E. D.. A Pesquisa em educação: Abordagens Qualitativas. São

Paulo: EPU, 1986.

MACHADO, Nilson José. Matemática e língua materna: análise de uma impregnação

mútua. 4. ed. São Paulo: Cortez, 1998.

MAGINA, S. O. O Computador e o Ensino da Matemática. In: EEMAT, 10. Rio de Janeiro,

1997. Anais...1997. p. 15-16.

MATO GROSSO. Secretaria de Estado de Educação. Escola Ciclada de Mato Grosso: novos

tempos e espaços para ensinar - aprender a sentir, ser e fazer. Cuiabá: SEDUC, 2000.

MEC – Ministério da Educação e Cultura. Trabalhando com a Educação de Jovens e Adultos

– Avaliação e Planejamento – Caderno 4 – SECAD – Secretaria de Educação Continuada,

Alfabetização e Diversidade – 2006.

MELO, M. J. M. D.; PASSEGGI, M. da C. A Matemática na Educação de Jovens e Adultos,

Algumas Reflexões. Revista Horizontes Volume 24, No 1. Natal, 2006. Disponível em:

www.saofrancisco.edu.br/edusf.

MENDES, I. A. O uso da História no ensino da Matemática. Reflexões teóricas e

experiências. Belém: EDUEPA, 2001.

MENEGOLLA, M.; SANT’ANNA, I. M. Por que Planejar? Como Planejar ? – currículo-

área- aula. Petrópolis-RJ: Vozes, 1999.

Page 296: CONCEPÇÕES DE PROFESSORES EXPRESSAS NOS … · metodologia de investigação adotada foi a abordagem qualitativa de cunho interpretativo, na qual nos fundamentamos em Bogdan e Biklen

295

MEVARECH, Z.; KRAMARSKI, B. The effects of metacognitive training versus worked-out

examples on students‟ mathematic reasoning. The British Journal of Educational

Psychology, v. 4, n.73, p. 449-471, 2003.

MICOTTI, M. C. de O. O ensino e as propostas pedagógicas. In: BICUDO, M. A. V. (org.).

Pesquisa em Educação Matemática: concepções e perspectivas. São Paulo: Editora da

UNESP, 1999.

MIGUEL, A. História na Educação Matemática: propostas e desafios/ Antonio Miguel,

Maria Ângela Miorim. – Belo Horizonte: Autêntica, 2004.

MINAS GERAIS. Proposta Curricular. Volume 4 – Projeto Acertando o Passo e Educação

de Jovens e Adultos. Patos de Minas, 2005.

MOLINA, O. Ler e aprender: desenvolvimento de habilidades de estudo. São Paulo: EPU,

1992.

MONTEIRO, A. O ensino de matemática para adultos através do método da modelagem

matemática Rio Claro (SP): Universidade Estadual Paulista, 1991. (Dissertação, Mestrado em

Educação Matemática).

MORAN, J. Ensino e aprendizagem inovadores com tecnologias audiovisuais e telemáticas,

In: MORAN, J., MASETTO, M. e BEHRENS, M. Novas tecnologias e mediação

pedagógica. Campinas, SP: Papirus, 2000.

MOREIRA, M. A. Teorias de aprendizagem. São Paulo: Editora Pedagógica e Universitária,

1999.

MOURA, M. O. O jogo e a construção do conhecimento matemático. In:CONHOLATO,

Maria Conceição, FARES, Jacyra (Org.). O jogo e a construção do conhecimento na Pré-

escola. Série Idéias, n. 10. São Paulo: FDE/Diretoria Técnica, 1991. 130p. 1991. Disponível

em: www.crmariocovas.sp.gov.br/pdf/ideias_10_p045-053_c.pdf; acesso: 10 jul. 2011.

MUNIZ, C. A. Brincar e jogar : enlaces teóricos e metodológicos no campo da educação

matemática/Cristiano Alberto Muniz. -- Belo Horizonte : Autêntica Editora, 2010. --

(Tendências em Educação Matemática)

MUNIZ, C. Educação e Linguagem Matemática, Módulo 1 volume 2 de Educação

Matemática do PIE. Curso de Pedagogia para professores em exercício no início de

Escolarização. FE - UnB, 2001.

NOBRE, S. Leitura Crítica da História: Reflexões Sobre a História da Matemática. Ciência

& Educação, v. 10, n. 3, p. 531-543, 2004.

NOGUEIRA, A. H. S. O Tratamento dado aos Conhecimentos Prévios dos Estudantes da

Educação de Jovens E Adultos na Resolução de Problemas: Concepções e práticas dos

professores. 2010. 192p. Dissertação (Mestrado em Ciências da Educação) – Instituto de

Educação, Universidade Federal de Mato Grosso, Cuiabá, 2010.

Page 297: CONCEPÇÕES DE PROFESSORES EXPRESSAS NOS … · metodologia de investigação adotada foi a abordagem qualitativa de cunho interpretativo, na qual nos fundamentamos em Bogdan e Biklen

296

NÓVOA, A. Professores: Imagens do Futuro Presente. Lisboa – Portugal: Educa, 2009.

OLIVEIRA, M. K.. Jovens e Adultos como sujeitos de aprendizagem. Revista Brasileira de

Educação. São Paulo: ANPED – Associação Nacional de Pesquisa e Pós Graduação em

Educação, n° 12, p. 59-73, 1999.

ONUCHIC, L.R. Uma aula visando o ensino-aprendizagem de matemática através da

Resolução de Problemas, 1f. Notas de aula. Mimeografado, 1998.

PADOVAN, D. Projeto Prosa: matemática, 3º Ano / Daniela Padovan, Isabel Cristina

Guerra, Ivonildes Milan. – 1 ed. – São Paulo : Saraiva, 2008.

PAIVA, V. P. Educação popular e educação de adultos: contribuição à história da educação

brasileira. São Paulo: Edições Loyola, 1973.

PALHARES, P. Elementos de matemática para professores do Ensino Básico. Lisboa: Lisdel,

2004.

PALMA, R. C. D. Análise da produção de um aluno considerado malsucedido na resolução

de problemas matemáticos. Rev. psicopedag. [online]. 2011, vol.28, n.86, pp. 167-177. ISSN

0103-8486.

PASSOS, C. L. Representações, Interpretações e Prática Pedagógica: a Geometria na Sala

de Aula. Universidade Estadual de Campinas. Faculdade de Educação de Educação.

Campinas, 2000. Tese de Doutorado.

PAULA, J. B. A Avaliação em Matemática: Concepções de Ensino, de Aprendizagem e de

Avaliação dos Professores e Presentes nos Relatórios Descritivos avaliativos da

Aprendizagem dos Alunos. 2010. 383p. Dissertação (Mestrado em Ciências da Educação) –

Instituto de Educação, Universidade Federal de Mato Grosso, Cuiabá, 2010.

PAVANELLO, R. M. O Abandono do Ensino de Geometria no Brasil. Campinas: Zetetiké, 1

(1), 1993, pp. 7-17.

PENTEADO, M. G.; BORBA, M.C.; GRACIAS, T. S. Informática como veículo de

mudança. Zetetiké, Campinas, SP, v. 6, n.10, p.77-86, jul/ dez, 1998.

PEREIRA, D. F.F. Educação de Jovens e Adultos e Educação Popular: um olhar histórico

sobre as políticas públicas ou ausência delas. EccoS – Revista Cientifica. São Paulo, v.9, n. 1,

p. 53-74, jan/jun. 2007.

PIRES, R. C. A Geometria dos Positivistas Brasileiros. Dissertação de Mestrado. Faculdade

de Educação da Universidade de São Paulo, 1998.

PIROLA, N. A. Solução de problemas geométricos: dificuldades e perspectivas. Campinas,

2000. 196 f. Tese (Doutorado 2000) – Faculdade de Educação, Universidade Estadual de

Campinas.

PIZANI, A.; ZUNINO, D. A aprendizagem da língua escrita na escola. Porto Alegre: Artes

Médicas, 1995.

Page 298: CONCEPÇÕES DE PROFESSORES EXPRESSAS NOS … · metodologia de investigação adotada foi a abordagem qualitativa de cunho interpretativo, na qual nos fundamentamos em Bogdan e Biklen

297

POLYA, G. A Arte de Resolver Problemas. (Trad. Heitor Lisboa de Araújo), Interciência. Rio

de Janeiro, 1995.

POLYA, G. Como resolver problemas. Tradução do original inglês de 1945. Lisboa: Gradiva,

2003.

POZO, J. I. (Org). A solução de problemas: aprender a resolver, resolver para aprender.

Porto Alegre: Artmed, 1998.

ROMERO, S. A. Contribuições dos jogos eletrônicos na construção de linguagem algébrica.

Dissertação de Mestrado em Educação para a Ciência e o Ensino de Matemática.

Universidade Estadual de Maringá. Maringá, 2007.

RIBEIRO, C. Metacognição: Um apoio ao processo de aprendizagem. Psicologia e reflexão

crítica. Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Rio Grande do Sul, 2003.

RIBEIRO, E. S. Concepções de Professores em Avaliação, Educação Matemática e

Educação de Jovens e Adultos: Buscando Interfaces. 2007. 253p. Dissertação (Mestrado em

Ciências da Educação) – Instituto de Educação, Universidade Federal de Mato Grosso,

Cuiabá, 2007.

RIBEIRO, V. M. Masagão (coordenação e texto final). Educação de Jovens e Adultos:

proposta curricular para o 1º segmento do ensino fundamental. São Paulo: Ação Educativa;

Brasília: MEC, 2001.

SABINO, F. O encontro marcado – romance. Civilização Brasileira, 1956.

SALAZAR, S. C. A Matemática de Ensino Médio na Educação de Jovens e Adultos. 2005.

75p. Monografia (Curso de Pós Graduação- Especialização em Educação Matemática),

Universidade do Extremo Sul Catarinense.

SANTOS, B. P. A Etnomatemática e suas possibilidades pedagógicas: algumas indicações

pautadas numa professora e em seus alunos e alunos da 5ª Série. São Paulo: USP, 2002

(Mestrado). Orientador: Profª Drª Maria do Carmo Domite Mendonça.

SANTOS, R. D.S.; NETO, M. C. do N. A Formação do Professor na Educação Básica do

Ensino de Jovens e Adultos – EJA. V Colóquio Internacional- “Educação e

Contemporaneidade”. São Cristóvão- SE, 2011. Disponível em:

http://www.educonufs.com.br/vcoloquio/cdcoloquio/cdroom/eixo. Acesso: 15 de Outubro de

2011.

SANTOS, S. M. P. O lúdico na formação do Educador. 6ª ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 1997.

SANTOS, B. P. Etnomatemática e suas possibilidades pedagógicas: algumas indicações. VII

Encontro Paulista de Educação Matemática, São Paulo, 2006. (s/p) Disponível em:

<http://www.sbempaulista.org.br/epem/anais/grupos_trabalho/gdt01-Bene.doc> Acesso em:

05 mar. 2011.

Page 299: CONCEPÇÕES DE PROFESSORES EXPRESSAS NOS … · metodologia de investigação adotada foi a abordagem qualitativa de cunho interpretativo, na qual nos fundamentamos em Bogdan e Biklen

298

SÃO PAULO (SP). Secretaria Municipal de Educação. Diretoria de Orientação Técnica.

Caderno de Orientações Didáticas para a EJA – Alfabetização: etapas alfabetização e básica

– São Paulo: SME / DOT, 2010.

SENA, R. M. Evolução das Concepções de Professores de Matemática sobre Informática

Educativa, a partir de um curso de Capacitação. 2005, 274 p. Dissertação (Mestrado em

Educação) – Instituto de Educação, Universidade Federal de Mato Grosso, Cuiabá, 2005.

SEVERINO, A. J. Metodologia do trabalho cientifico. Editora Cortez, 23º edição revista

atualizada, São Paulo, 2007.

SILVA, E. T. da. Livros didáticos: do ritual de passagem a ultrapassagem. Em aberto.

Brasília, p. 8-11, 1996. Disponível em:

<http://www.publicacoes.inep.gov.br/arquivos/%7B5F8D6FDF-2BF0-476F-9271-

88ADE36BAD1A%7D_Em_Aberto_69.pdf>. Acesso em: 14 fev. 2012.

SILVA, A. V. A calculadora no percurso de formação de professores de Matemática,

Portugal, 1991.

SILVA, V. L. Números decimais: no que os saberes de adultos diferem dos de criança?

Dissertação de mestrado. Universidade Federal de Pernambuco - UFPE. Recife, 2006.

SMITH, R. M. Learning how to learn: applied theory for adults. Milton Keynes: Open

University Press, 1988.

SOARES, L. J. G. O surgimento dos Fóruns de EJA no Brasil: articular, socializar e intervir.

In: RAAAB, alfabetização e Cidadania – políticas Públicas e EJA. Revista de EJA, n.17, maio

de 2004.

________. Educação de Jovens e Adultos (Diretrizes Curriculares Nacionais). Rio de

Janeiro: DP&A, 2002.

STERNBERG, R. J. Psicologia cognitiva. Tradução: Maria Regina Borges Osório. Porto

Alegre: Editora: Artmed, 2000.

STRAGLIOTTO, M. O Ensino de Matemática na Educação de Jovens e Adultos: desafios e

possibilidades. 2008. 101 p. Dissertação (Mestrado em Educação nas Ciências), Universidade

Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul, Ijuí-RS, 2008.

THOMPSON, A. G. Teachers’ beliefs and conceptions: a synthesis of the research.

Handbook of research in mathematics teaching and learning. D. A. Grows, pp127-146. New

York: Macmillan, 1992.

TOLEDO, M. E. R. O. As estratégias metacognitivas de pensamento e o registro matemático

de adultos pouco escolarizados. São Paulo, 2003. Tese (Doutorado), Faculdade de Educação,

Universidade de São Paulo.

TRIVIÑOS, A. N. S. Introdução à Pesquisa em Ciências Sociais: a pesquisa qualitativa em

educação. São Paulo: Atlas, 1987.

Page 300: CONCEPÇÕES DE PROFESSORES EXPRESSAS NOS … · metodologia de investigação adotada foi a abordagem qualitativa de cunho interpretativo, na qual nos fundamentamos em Bogdan e Biklen

299

TRUJILLO, W. A Formação Inicial e os Conhecimentos Do O Quê e Do Como Ensinar

Matemática nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental: encontros e desencontros. 2009. 212

p. Dissertação (Mestrado em Educação) – Instituto de Educação, Universidade Federal de

Mato Grosso, Cuiabá, 2009.

WEISS, M. L. L. Psicopedagogia Clínica: uma visão diagnóstica dos problemas de

aprendizagem escolar. Rio de Janeiro, DP&A, 2003.

VALENTE, J. A. Computadores e conhecimento: repensando a educação. Campinas: Gráfica

UNICAMP, 1993.

_________. O uso inteligente do computador na educação. Revista Pátio, Ano l, n. 1, mai-jul.

1997.

VANIN, L.; DARSIE, M. M. P.. Investigação Quantitativa de Pesquisas Brasileiras em

Educação Matemática Realizadas no Primeiro Segmento da EJA: distribuição espacial e

temporal, temáticas e metodologias. Disponível, cd XIV EBRAPEM, Campo Grande-MS,

2010.

VANIN, L.; DARSIE, M. M. P.. Pesquisas Brasileiras em Educação Matemática na EJA:

temáticas, distribuição temporal e espacial no 1o

segmento da Educação de Jovens e Adultos.

Disponível, cd V Congresso Internacional de Ensino de Matemática, Canoas- RS, 2010 a.

VASCONCELOS, C. S. Planejamento: projeto de ensino-aprendizagem e projeto político

pedagógico. 17. ed. São Paulo: Libertad, 2007.

VIANNA, C. R. Matemática e História: algumas Relações e implicações pedagógicas. São

Paulo: USP, 1995. Dissertação de Mestrado. Universidade de São Paulo, 1995.

VÓVIO, C. Viver, aprender alfabetização: alfabetização para jovens e adultos / autoras

Cláudia Vóvio, Amábile Mansutti :[Ilustrações Maurício Negro]. 2. Ed. – São Paulo: Global,

2007 – (Coleção Viver, Aprender)

Page 301: CONCEPÇÕES DE PROFESSORES EXPRESSAS NOS … · metodologia de investigação adotada foi a abordagem qualitativa de cunho interpretativo, na qual nos fundamentamos em Bogdan e Biklen

300

APÊNDICES

CARTA DE APRESENTAÇÃO................................................................................301

AUTORIZAÇÃO DAS ESCOLAS INVESTIGADAS..............................................302

AUTORIZAÇÃO DOS PROFESSORES...................................................................303

QUESTIONÁRIO DE CARACTERIZAÇÃO DAS ESCOLAS...............................304

QUESTIONÁRIO DE CARACTERIZAÇÃO DOS PROFESSORES......................305

QUESTIONÁRIO Q2- BLOCO I - EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS E

FORMAÇÃO INICIAL E CONTINUADA DE PROFESSORES QUE

TRABALHAM A MATEMÁTICA NA PRIMEIRA E SEGUNDA ETAPAS DA

EJA..............................................................................................................................306

QUESTIONÁRIO 3 (Q3- A) – BLOCO II - ENSINO DE MATEMÁTICA NA 1ª E

2ª ETAPAS DA EJA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS .............................308

QUESTIONÁRIO 3 (Q3- B) – BLOCO II - ENSINO DE MATEMÁTICA NA 1ª E

2ª ETAPAS DA EJA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS .............................309

DIAGNÓSTICO EDUCACIONAL DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS

EM CUIABÁ-MT.......................................................................................................311

FICHA DE REGISTRO..............................................................................................313

ROTEIRO DA ENTREVISTA...................................................................................314

Page 302: CONCEPÇÕES DE PROFESSORES EXPRESSAS NOS … · metodologia de investigação adotada foi a abordagem qualitativa de cunho interpretativo, na qual nos fundamentamos em Bogdan e Biklen

301

Cuiabá, 12 de maio de 2011.

UFMT/PPGE/IE Nº

Prezada Senhor (a)

O PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO, do Instituto de

Educação, da Universidade Federal de Mato Grosso, vem por meio deste apresentar a

mestranda LETÍCIA VANIN, orientanda da Profª Dra. Marta Maria Pontin Darsie, Área de

Concentração “Educação”, Linha de Pesquisa “Educação em Ciências e Matemática” com a

finalidade de solicitar sua autorização para que possa realizar sua pesquisa junto à Escola

Municipal de Educação Básica _____________________________________.

A pesquisa subsidiará a elaboração da dissertação de Mestrado intitulada,

“Concepções de Professores Expressas nos Conteúdos e Metodologias Propostas para o

Ensino e Aprendizagem da Matemática na 1ª e 2ª Etapas da Educação de Jovens e

Adultos em Escolas Municipais de Cuiabá-MT” e será realizada de Abril à Dezembro de

2011. Nesse período, a mestranda fará entrevistas gravadas e aplicação de questionários aos

professores que lecionam a disciplina de Matemática na 1ª e 2ª Etapas da EJA, além de

recolher junto à secretaria alguns documentos como Plano Político Pedagógico da escola.

Nessa pesquisa, nos comprometemos de preservar o anonimato da Escola bem como

também dos professores depoentes.

Agradecemos, desde já, o apoio a pesquisa e a atenção dispensada.

Atenciosamente,

_______________________________________

Profª Dra. Marta Maria Pontin Darsie

Orientadora

__________________________________________

Profa. Dra. Tânia Maria Lima Beraldo

Coordenadora do Programa Pós-Graduação em Educação – UFMT

Page 303: CONCEPÇÕES DE PROFESSORES EXPRESSAS NOS … · metodologia de investigação adotada foi a abordagem qualitativa de cunho interpretativo, na qual nos fundamentamos em Bogdan e Biklen

302

AUTORIZAÇÃO DA ESCOLA

Eu, Letícia Vanin, aluna do Programa de Pós-Graduação em Educação – Mestrado em

Educação, da Universidade Federal de Mato Grosso, na linha de Pesquisa: Educação em

ciências e Matemática, Área de Concentração: Educação, sob orientação da Profª Drª Marta

Maria Pontin Darsie, solicito autorização desta Unidade Escolar para desenvolver a pesquisa

“Concepções de Professores Expressas nos Conteúdos e Metodologias Propostas para o

Ensino e Aprendizagem da Matemática na 1ª e 2ª Etapas da Educação de Jovens e

Adultos em Escolas Municipais de Cuiabá-MT” com professores que trabalham a

Matemática no primeiro segmento da Educação de Jovens e Adultos.

Assumo o compromisso de que todas as informações prestadas, observações feitas,

documentos analisados e dados coletados não serão repassados a terceiros, e em sua utilização

na dissertação, os nomes reais serão mantidos em absoluto anonimato.

Agradecemos, desde já, o apoio à pesquisa e a atenção dispensada.

____________________________________________

Orientadora: Marta Maria Pontin Darsie

____________________________________________

Mestranda: Letícia Vanin

Ciente:______________________________________Data: ____/04/11

Diretor da Escola_____________________________________________________

Page 304: CONCEPÇÕES DE PROFESSORES EXPRESSAS NOS … · metodologia de investigação adotada foi a abordagem qualitativa de cunho interpretativo, na qual nos fundamentamos em Bogdan e Biklen

303

AUTORIZAÇÃO DO PROFESSOR

Eu,__________________________________________________________________,

professor (a) da Escola________________________________________________________,

autorizo a mestranda Letícia Vanin, aluna do Programa de Pós-Graduação em Educação –

Mestrado, da Universidade Federal de Mato Grosso, na linha de Pesquisa: Educação em

Ciências e Matemática, Área de Concentração: Educação, sob orientação da Profª Drª Marta

Maria Pontin Darsie, aplicar-me questionários, realizar entrevista gravada e analisar meus

planos de aula (dados documentais), aplicar questionários e realizar entrevistas gravadas no

período de Abril à Dezembro de 2011.

____________________________________________

Orientadora: Profª Draª Marta Maria Pontin Darsie

____________________________________________

Mestranda: Letícia Vanin

Ciente:______________________________________Data: ____/04/11

Professor da Escola:__________________________________________________

Page 305: CONCEPÇÕES DE PROFESSORES EXPRESSAS NOS … · metodologia de investigação adotada foi a abordagem qualitativa de cunho interpretativo, na qual nos fundamentamos em Bogdan e Biklen

304

QCE – QUESTIONÁRIO DE CARACTERIZAÇÃO DA ESCOLA

MESTRADO EM EDUCAÇÃO

Mestrando: Letícia Vanin

Orientadora: Profª Drª Marta Maria Pontin Darsie

Solicito sua colaboração no sentido de responder ao presente questionário. As informações obtidas

serão utilizadas na dissertação de Letícia Vanin, mestranda da Linha de Pesquisa em Educação em Ciências e

Matemática, do Instituto de Educação da UFMT.

Todas as informações serão extremamente importantes para a análise dos resultados, portanto, a

sinceridade de suas respostas é fundamental. Antecipadamente agradecemos o tempo que você investirá no

preenchimento deste questionário, o cuidado e a atenção que dispensar à tarefa.

CARACTERIZAÇÃO DA ESCOLA

Identificação da Escola:

Nome da Escola: ________________________________________________________

Endereço:______________________________________________________________

Bairro:_____________________________ Telefone:___________________________

E-mail da Escola:________________________________________________________

Nome do Diretor (a) da Escola:_____________________________________________

Data de inauguração da Escola:___________ Nº total de Alunos:_________________

No total de alunos na EJA:______________ Nº total de salas de aula:_______________

No total de turmas do primeiro segmento da EJA:_______________________________

Nº total de Professores:________________

Nº de professores que lecionam a Matemática no primeiro segmento da EJA:_________

Turnos de funcionamento da escola: ( ) matutino ( ) vespertino ( ) noturno

Turnos de funcionamento – EJA: ( ) matutino ( ) vespertino ( ) noturno

Níveis de ensino que a escola oferece:

Ensino Fundamental – ( ) anos iniciais regular

( ) anos iniciais EJA

Ensino Fundamental - ( ) anos finais regular

( ) anos finais EJA

Ensino Médio - ( ) regular

( ) EJA

_______________________________________________________

Assinatura (do Diretor ou Coordenador que respondeu o questionário)

Muito obrigada!

Page 306: CONCEPÇÕES DE PROFESSORES EXPRESSAS NOS … · metodologia de investigação adotada foi a abordagem qualitativa de cunho interpretativo, na qual nos fundamentamos em Bogdan e Biklen

305

QUESTIONÁRIO (QCP) – CARACTERIZAÇÃO DO PROFESSOR

MESTRADO EM EDUCAÇÃO Mestrando: Letícia Vanin

Orientadora: Profª Drª Marta Maria Pontin Darsie

Solicito sua colaboração no sentido de responder ao presente questionário. As informações obtidas serão utilizadas

na dissertação de Letícia Vanin, mestranda da Linha de Pesquisa Educação em Ciências e Matemática do Instituto de

Educação da UFMT.

O objetivo desta pesquisa é investigar o quê e o como os professores trabalham a Educação Matemática no

primeiro segmento da EJA em escolas da rede pública da cidade de Cuiabá-MT. Os dados disponibilizados não serão

repassados a terceiros. Caso estes dados sejam utilizados na dissertação, os nomes reais serão mantidos em absoluto

anonimato

Todas as informações serão extremamente importantes para a análise dos resultados, portanto, a sinceridade de suas

respostas é fundamental. Antecipadamente agradecemos o tempo que você investirá no preenchimento deste questionário, o

cuidado e a atenção que dispensar à tarefa.

a) Dados Pessoais Nome: ___________________________________________________________________

Data do Nascimento:____/____/____ Natural de:_____________________________

E-mail:______________________________________________________________

Telefone:___________________ celular:______________________________

b) Formação Acadêmica Nível de

instrução

Curso/

Habilitação

Ano de início/

Ano de

Término

Instituição Cidade Estado

Ensino Médio Graduação Especialização Mestrado Doutorado

c) Experiência Profissional Há quanto anos atua como Professor? _______________ E como professor da EJA?_______________

Há quanto tempo é professor (a) do primeiro segmento da EJA? _________________________________

Você possui formação específica para lecionar na EJA? ( ) Sim ( ) Não

Se sim, qual? ( ) especialização ( ) mestrado ( ) doutorado ( ) cursos qualificação

Qual o vínculo com essa escola? ( ) Efetivo ( )Interino ( )Substituto ( )Outros

Turno em que trabalha nessa escola: ( ) Matutino ( ) Vespertino ( ) Noturno

Qual é sua jornada de trabalho semanal? _____________ Você trabalha em outra escola?____________

Qual sua função nessa outra escola?______________________________________

Exerce outra profissão além de professor? __________ Se sim, qual é essa outra Profissão?___________

Quantos alunos você tem em média por turma?______________________________________________

Quantas aulas de Matemática você ministra por semana no primeiro segmento da EJA?_______________

Qual o tempo de duração de cada aula? _____________________________________________________

Page 307: CONCEPÇÕES DE PROFESSORES EXPRESSAS NOS … · metodologia de investigação adotada foi a abordagem qualitativa de cunho interpretativo, na qual nos fundamentamos em Bogdan e Biklen

306

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO

MESTRADO EM EDUCAÇÃO

GRUPO DE ESTUDOS E PESQUISAS EM EDUCAÇÃO

MATEMÁTICA

Mestranda: Letícia Vanin Orientadora: Profª Drª Marta Maria Pontin Darsie

Solicito sua colaboração no sentido de responder ao presente questionário. As informações obtidas

serão utilizadas na dissertação de Letícia Vanin, mestranda da Linha de Pesquisa Educação em Ciências e

Matemática, do Instituto de Educação da Universidade Federal de Mato Grosso.

O objetivo deste é investigar as concepções de EJA e suas especificidades enquanto modalidade de

ensino, bem como averiguar a formação inicial e continuada recebida pelos professores que atuam na Segunda

Etapa da Educação de Jovens e Adultos. Os dados disponibilizados não serão repassados a terceiros. Caso estes

dados sejam utilizados na dissertação, os nomes reais serão mantidos em absoluto anonimato.

Todas as informações serão extremamente importantes para a análise dos resultados, portanto, a

sinceridade de suas respostas é fundamental. Antecipadamente agradecemos o tempo que você investirá no

preenchimento deste questionário, o cuidado e a atenção que dispensará na realização desse trabalho.

Q2 – QUESTIONÁRIO

BLOCO I - EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS E FORMAÇÃO INICIAL E

CONTINUADA DE PROFESSORES QUE TRABALHAM A MATEMÁTICA NA

PRIMEIRA E SEGUNDA ETAPAS DA EJA

1) Você considera a Educação de Jovens e Adultos uma modalidade necessária? Por quê?

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

2) Para você, qual é a função da EJA enquanto modalidade de ensino?

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

3) O que diferencia a EJA das demais modalidades de ensino?

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

4) Você considera que a formação que teve no ensino superior foi relevante para sua prática

docente em Matemática na Educação de Jovens e Adultos? Por quê?

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

5) Você se considera preparado para trabalhar Matemática na Segunda Etapa da EJA?

Page 308: CONCEPÇÕES DE PROFESSORES EXPRESSAS NOS … · metodologia de investigação adotada foi a abordagem qualitativa de cunho interpretativo, na qual nos fundamentamos em Bogdan e Biklen

307

( ) Sim ( ) Não ( ) Às vezes

Por quê? ____________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

6) Como você avalia a sua formação inicial com relação à aprendizagem sobre o quê ensinar e

o como ensinar Matemática na Segunda Etapa da Educação de Jovens e Adultos?

( ) Nula ( ) Insuficiente ( ) Suficiente ( ) Boa ( ) Muito Boa

Justifique.___________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

7) Você tem participado de momentos de formação continuada nos últimos três anos que

envolvam Educação Matemática na EJA?

a) Se SIM ( ), relacione quais:

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

- Essas formações têm contribuído para sua aprendizagem acerca do quê e do como ensinar

Matemática na Segunda Etapa da Educação de Jovens e Adultos?

( ) Sim ( ) Não ( ) Às vezes

- Comente quais contribuições foram dadas por esta formação continuada._______________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

b) Se NÃO ( ), explique os motivos.

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

Cuiabá-MT, ____ de______________de 2011.

Assinatura do professor:___________________________________________________

MUITO OBRIGADA!

Page 309: CONCEPÇÕES DE PROFESSORES EXPRESSAS NOS … · metodologia de investigação adotada foi a abordagem qualitativa de cunho interpretativo, na qual nos fundamentamos em Bogdan e Biklen

308

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO

MESTRADO EM EDUCAÇÃO

GRUPO DE ESTUDOS E PESQUISAS EM EDUCAÇÃO

MATEMÁTICA

Mestranda: Letícia Vanin Orientadora: Profª Drª Marta Maria Pontin Darsie

Solicito sua colaboração no sentido de responder ao presente questionário. As informações obtidas

serão utilizadas na dissertação de Letícia Vanin, mestranda da Linha de Pesquisa Educação em Ciências e

Matemática, do Instituto de Educação da Universidade Federal de Mato Grosso.

O objetivo deste questionário é investigar o ensino de Matemática na 1ª Etapa da Educação de Jovens e

Adultos. Os dados disponibilizados não serão repassados a terceiros. Caso estes dados sejam utilizados na

dissertação, os nomes reais serão mantidos em absoluto anonimato.

Todas as informações serão extremamente importantes para a análise dos resultados, portanto, a

sinceridade de suas respostas é fundamental. Antecipadamente agradecemos o tempo que você investirá no

preenchimento deste questionário, o cuidado e a atenção que dispensará na realização desse trabalho.

Q3 – A- QUESTIONÁRIO

BLOCO II – ENSINO DE MATEMÁTICA NA 1ª E 2ª ETAPAS DA

EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS

1) Para você, é importante ensinar Matemática na 1ª Etapa da EJA? Por quê?

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

2) O que deve considerar o professor ao planejar sua aula de Matemática para a 1ª Etapa da

EJA?_______________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________ 3) Que tipos de recursos metodológicos são mais adequados no processo de ensino da

Matemática na 1ª Etapa da Educação de Jovens e Adultos?

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

4) Que participação têm seus alunos no planejamento que você faz para o trabalho com eles?

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

5) Os conteúdos de Matemática ensinados na EJA devem ser diferentes do ensino regular?

Por quê?____________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

Cuiabá-MT, ____ de______________de 2011.

Assinatura do professor:___________________________________________________

MUITO OBRIGADA!

Page 310: CONCEPÇÕES DE PROFESSORES EXPRESSAS NOS … · metodologia de investigação adotada foi a abordagem qualitativa de cunho interpretativo, na qual nos fundamentamos em Bogdan e Biklen

309

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO

MESTRADO EM EDUCAÇÃO

GRUPO DE ESTUDOS E PESQUISAS EM EDUCAÇÃO

MATEMÁTICA

Mestranda: Letícia Vanin Orientadora: Profª Drª Marta Maria Pontin Darsie

Solicito sua colaboração no sentido de responder ao presente questionário. As informações obtidas

serão utilizadas na dissertação de Letícia Vanin, mestranda da Linha de Pesquisa Educação em Ciências e

Matemática, do Instituto de Educação da Universidade Federal de Mato Grosso.

O objetivo deste questionário é investigar o ensino de Matemática na 1ª Etapa da Educação de Jovens e

Adultos. Os dados disponibilizados não serão repassados a terceiros. Caso estes dados sejam utilizados na

dissertação, os nomes reais serão mantidos em absoluto anonimato.

Todas as informações serão extremamente importantes para a análise dos resultados, portanto, a

sinceridade de suas respostas é fundamental. Antecipadamente agradecemos o tempo que você investirá no

preenchimento deste questionário, o cuidado e a atenção que dispensará na realização desse trabalho.

Q3 – B- QUESTIONÁRIO

BLOCO II – ENSINO DE MATEMÁTICA NA 1ª E 2ª ETAPAS DA

EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS

1) Qual a melhor maneira para se ensinar Matemática na 1ª Etapa da Educação de Jovens e

Adultos?____________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

2) Quais metodologias de ensino você utiliza para ensinar Matemática para seus alunos da 1ª

Etapa da EJA?_______________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

3) O modo como você ensina Matemática para os alunos da 1ª Etapa da EJA é diferente do

jeito que você ensina para os alunos do ensino regular? Se sim, quais são as diferenças?

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

4) Você se baseia na Proposta Curricular para o Primeiro Segmento da EJA para elaborar seus

planejamentos de aula de Matemática? De que maneira?

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

5) Que livro(s) didático(s) você se apóia para planejar as aulas de Matemática da 1ª Etapa da

EJA?_______________________________________________________________________

Page 311: CONCEPÇÕES DE PROFESSORES EXPRESSAS NOS … · metodologia de investigação adotada foi a abordagem qualitativa de cunho interpretativo, na qual nos fundamentamos em Bogdan e Biklen

310

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

6) Para você, os conteúdos que você elege para trabalhar com seus alunos correspondem as

necessidades reais deles? Justifique: ___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

Cuiabá-MT, ____ de______________de 2011.

Assinatura do professor:___________________________________________________

MUITO OBRIGADA!

Page 312: CONCEPÇÕES DE PROFESSORES EXPRESSAS NOS … · metodologia de investigação adotada foi a abordagem qualitativa de cunho interpretativo, na qual nos fundamentamos em Bogdan e Biklen

311

DIAGNÓSTICO EDUCACIONAL DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS EM

ESCOLAS MUNICIPAIS DE CUIABÁ-MT

Tabela 6 - Matrícula Inicial dos alunos da EJA em Cuiabá-MT

EJA URBANO

REDE 1º Segmento 2º Segmento Ensino Médio

2007 2008 2009 2007 2008 2009 2007 2008 2009

Rede

Municipal

3109 2405 2550 0 0 0 275 0 0

Fonte: Secretaria Municipal de Educação/ Coordenadoria de Informação e Estatística

Tabela 7- Atendimento Programa Brasil Alfabetizado

Rede Municipal

ANO Alunos Docentes

2007 0 0

2008 0 0

2009 0 0

2010 300 19

Fonte: Secretaria Municipal de Educação/

Coordenadoria de Informação e Estatística

Tabela 8 – Quantidade de alunos e de Escolas que ofertam a modalidade EJA em Cuiabá- MT

Ano Quantidade de Escolas que

ofereceram a EJA Total de alunos

2009 20 2237

2010 14 1489

2011 14 1961

Fonte: Secretaria Municipal de Educação/ Coordenadoria de

Informação e Estatística

Tabela 9 - Rendimento e movimento da Educação de Jovens e Adultos em Cuiabá no ano de 2009

Rendimento/Movimento

Presencial

1ª a 4ª série 5ª a 8ª série Total

Aprovado 443 654 1097

Reprovado 157 80 237

Concluinte 0 431 431

Transferido 33 86 119

Deixou de frequentar 160 727 887

Falecido 2 2 4

Sem informação 0 5 5

Não Resposta 0 0 0

Fonte: MEC/Inep/Deed

Page 313: CONCEPÇÕES DE PROFESSORES EXPRESSAS NOS … · metodologia de investigação adotada foi a abordagem qualitativa de cunho interpretativo, na qual nos fundamentamos em Bogdan e Biklen

312

Tabela 10 - Quantidade de Docentes que atuaram na EJA em Cuiabá em 2007, 2008 e 2009

EJA URBANO

REDE 1º Segmento 2º Segmento Ensino Médio

2007 2008 2009 2007 2008 2009 2007 2008 2009

Rede

Municipal

37 27 23 68 56 75 0 0 0

Fonte: Secretaria Municipal de Educação/ Coordenadoria de Informação e Estatística

Tabela 11- Funções Docentes existentes na Rede Municipal de Ensino – 2009

MODALIDADE DA EJA E SUAS

ESPECIFICIDADES

REGIME DE TRABALHO

EFETIVOS CONTRATADOS TOTAL

Ens. Fundamental (1° a 5°) -

1º Segmento da EJA

20 06 26

Ensino Fundamental (6° a 9°) –

2º Segmento da Eja

54 18 72

UPC 06 - 06

Proeja

Projovem

EJA / Campo 05 05

EJA / Sistema Prisional - 05 05

Total 85 29 114

Fonte: Dados da Coordenadoria de Formação/DIPE/ DGP-Setembro/Outubro 2009

Tabela 12 - Formação dos Professores que Atuaram no Primeiro Segmento da EJA na Rede Municipal de Ensino

em 2009

Nível Médio Graduação Pós – Graduação Total

Magistério Pedagogia Especialização Mestrado

Doutorado

03 65 45 01 -

Fonte: SME/DGP/ 2009

Page 314: CONCEPÇÕES DE PROFESSORES EXPRESSAS NOS … · metodologia de investigação adotada foi a abordagem qualitativa de cunho interpretativo, na qual nos fundamentamos em Bogdan e Biklen

313

FICHA DE REGISTRO

Escola:_______________________________________________

Sujeito da pesquisa:_____________________________________

Documento analisado:____________________________________________________

O quê O como Pré-análise

Page 315: CONCEPÇÕES DE PROFESSORES EXPRESSAS NOS … · metodologia de investigação adotada foi a abordagem qualitativa de cunho interpretativo, na qual nos fundamentamos em Bogdan e Biklen

314

Roteiro básico para a Entrevista Semi-Estruturada

Identificação:

Entrevistado (a):

Escola:

Data:

1) Cite cinco conteúdos, por ordem de prioridade, que são mais enfatizados em suas aulas de

Matemática no Primeiro Segmento da EJA?

2) Você poderia nos relatar quais são os blocos de conteúdos indicados pela Proposta

Curricular para o Primeiro Segmento da EJA que você trabalha com seus alunos do Primeiro

Segmento da Educação de Jovens e Adultos?

3) Você poderia descrever melhor como você trabalha a Matemática em sala de aula com seus

alunos da Primeiro Segmento da EJA?

4) Quando você trabalha um novo conceito da Matemática, como você introduz esse

conceito? Você utiliza alguma forma diferenciada?

5) Como você compreende que se dá o processo de aprendizagem dos conhecimentos

matemáticos pelos adultos? Na EJA, o que deve ser considerado para que se tenha uma

aprendizagem efetiva com adultos?

6) Você conhece o Plano Político Pedagógico (PPP) desta escola? Participou da construção

desse Plano? Como você compreende o PPP em relação à proposta da Matemática na EJA?