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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI
CENTRO DE EDUCAÇÃO SUPERIOR – CES VII CURSO DE DIREITO – NÚCLEO DE PRÁTICA JURÍDICA COORDENAÇÃO DE MONOGRAFIA
SANDRO MAKOVIECKI
CONCURSO DE PESSOAS NOS CRIMES AMBIENTAIS
SÃO JOSÉ (SC)
2007
2
UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI
CENTRO DE EDUCAÇÃO SUPERIOR – CES VII CURSO DE DIREITO – NÚCLEO DE PRÁTICA JURÍDICA COORDENAÇÃO DE MONOGRAFIA
CONCURSO DE PESSOAS NOS CRIMES AMBIENTAIS
ACADÊMICO: SANDRO MAKOVIECKI Monografia apresentada à banca examinadora da Universidade do Vale do Itajaí, como exigência parcial para obtenção do diploma de graduação em Direito, sob orientação do Prof. Juliano Keller do Valle.
SÃO JOSÉ (SC)
2007
3
Dedico as pessoas que sempre estiveram ao meu lado:
Meus pais, minha esposa e minha filha.
4
AGRADECIMENTOS
Agradeço a todos aqueles que direta ou indiretamente auxiliaram para que essa
etapa fosse cumprida.
Em especial aos amigos conquistados durante o curso de Direito na Universidade
do Vale do Itajaí – UNIVALI, aos professores, principalmente ao Prof. Juliano Keller do
Valle, e aos funcionários que sempre nos atenderam.
Aos meus familiares, aos meus Pais Eudoro Makowiecki e Zilá Dutra Lisboa
Makowiecki e a minha esposa Felomena Maria da Silva e Minha filha Ana Carolina Silva
Makowiecki, que entenderam a distância e a falta em momentos que os estudos tiveram de ser
prioridade.
5
UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI CENTRO DE EDUCAÇÃO DE SÃO JOSÉ CURSO DE DIREITO NÚCLEO DE PRÁTICA JURÍDICA COORDENAÇÃO DE MONOGRAFIA
CONCURSO DE PESSOAS NOS CRIMES AMBIENTAIS
SANDRO MAKOVIECKI
Esta Monografia foi julgada adequada para obtenção do título de Bacharel em Direito e
aprovada pelo Curso de Direito da Universidade do Vale do Itajaí.
Área de Concentração: Direito ambiental, concurso de pessoas na realização de crimes
ambientais
São José (SC), 17 de Maio de 2007
____________________________________ Prof. Juliano Keller do Valle UNIVALI - CE de São José
Orientador
____________________________________ Prof. (Membro)
____________________________________ Prof. (Membro)
____________________________________ Prof. (Membro)
6
SUMÁRIO
RESUMO..................................................................................................................................... 08
INTRODUÇÃO .......................................................................................................................... 09
1 CONCURSO DE PESSOAS................................................................................................... 11
1.1 ASPECTOS HISTÓRICOS DO CONCURSO DE PESSOAS NO DIREITO PÁTRIO....... 11
1.2 CONCEITO DE CONCURSO DE PESSOAS ...................................................................... 15
1.3 ESPÉCIES DE CONCURSO DE PESSOAS......................................................................... 16
1.4 DELIMITAÇÃO DO CONCEITO DE AUTORIA................................................................ 20
1.5 TEORIAS DA PARTICIPAÇÃO DE PESSOAS NO CRIME.............................................. 22
1.5.1 Teoria unitária ................................................................................................................... 22
1.5.2 Teoria dualista .................................................................................................................. 23
1.5.3 Teoria pluralista ............................................................................................................... 24
2 PRINCÍPIOS NORTEADORES DA REPARAÇÃO POR CRIME AMBIENTAL E
SEUS TIPOS PENAIS ............................................................................................................... 26
2.1 CONCEITO DE MEIO AMBIENTE ..................................................................................... 26
2.2 PRINCÍPIO DA LEGALIDADE............................................................................................ 28
2.2.1 Princípio da responsabilidade .......................................................................................... 29
2.3 TIPOS DE DANOS AMBIENTAIS....................................................................................... 33
2.3.1 Poluição das águas............................................................................................................. 35
2.3.2 Poluição sonora .................................................................................................................. 36
2.3.3 Poluição atmosférica.......................................................................................................... 37
2.3.4 Poluição do solo.................................................................................................................. 38
2.3.5 Poluição visual ................................................................................................................... 39
2.3.6 Poluição da fauna .............................................................................................................. 40
2.3.7 Poluição da flora ............................................................................................................... 41
3 A POSSIBILIDADE DE CONCURSO DE PESSOAS NO CRIME AMBIENTAL......... 43
3.1 ASPECTOS DESTACADOS DA LEI 9.605/98.................................................................... 43
3.2 A POSSIBILIDADE DE RESPONSABILIDADE PENAL SEGUNDO A TEORIA
UNITÁRIA ................................................................................................................................... 49
3.3 A POSSIBILIDADE DE RESPONSABILIDADE PENAL POR OMISSÃO
PENALMENTE RELEVANTE ................................................................................................... 52
7
CONSIDERAÇÕES FINAIS..................................................................................................... 55
REFERÊNCIAS.......................................................................................................................... 56
8
RESUMO
O concurso de pessoas na conduta criminosa ambiental é o tema abordado neste estudo monográfico. A Lei nº 9.605/98, conhecida como a Lei de Crimes Ambientais, apresenta determinadas regras que regulamentam o concurso de pessoas na prática criminosa ambiental, prevendo inclusive a responsabilização penal de pessoas jurídicas, em convergência com as determinações contidas no Código Penal. Assim, o objetivo da presente pesquisa consiste em verificar o tratamento doutrinário aplicado ao concurso de pessoas no caso de crimes ambientais, tendo por base o uso consagrado no direito pátrio da teoria monista. Pretende-se também analisar, com base na doutrina, a possibilidade de responsabilização penal em virtude da participação omissiva no crime, conforme o disposto na Lei de Crimes Ambientais. Justifica-se a pesquisa devido à relevância de se estabelecer uma diferenciação entre os diversos agentes concorrentes na produção de um mesmo resultado delituoso e da complexidade inerente ao concurso de pessoas, uma vez que a matéria é objeto de classificações e subclassificações, quem nem sempre encontram unanimidade em meio aos doutrinadores. Além disso, o estudo é importante por contribuir para a formação jurídica do pesquisador. Por intermédio da realização deste estudo pôde-se inferir que a pessoa jurídica, assim como a pessoa física, são penalmente responsáveis por crimes ambientais, podendo-se configurar a hipótese de concorrência de condutas na prática de um mesmo crime, diferenciando-se as pessoas do autor, co-autor e participante. Quando a pessoa (pessoas estas elencadas no art. 2º, da Lei nº 9.605/98) possui a obrigação de evitar a prática criminosa e nada faz para impedi-la torna-se participante por omissão no crime, cabendo-lhe as devidas penalidades legais.
PALAVRAS-CHAVE: crime ambiental; concurso de pessoas; Direito Ambiental;
participação; autoria.
9
INTRODUÇÃO
O tema deste estudo compreende o concurso de pessoas ou concurso de agentes
quando da prática ou participação de mais de uma pessoa, em qualquer grau ou forma, no
evento criminoso ambiental. Em muitas situações, os crimes ambientais não são cometidos
por meio da ação de uma única pessoa, mas, ao contrário, resultam de um planejamento
desenvolvido por várias pessoas que se unem com a finalidade da prática criminosa.
A infração penal em geral pode ser realizada por uma única pessoa ou por um
grupo delas, situação em que determinados sujeitos se unem visando a prática delitual. Há
crimes que necessariamente pressupõe o concurso de pessoas. São os crimes plurisubjetivos,
que somente podem ser praticados por mais de uma pessoa. Em ambos os casos têm-se a
concorrência de várias condutas referentes a sujeitos distintos, os quais são movidos por
motivos diversos e tem uma participação que pode variar em grau de um sujeito para outro.
O concurso de pessoas na realização de um delito, enfocando-se, neste estudo, o
concurso para os crimes ambientais, configura-se como matéria complexa, uma vez que, ao se
unirem para a prática de um crime, os indivíduos são guiados por interesses divergentes,
beneficiando-se de diferentes formas com a execução do crime. Além disso, a participação
dos indivíduos nem sempre se dá em um mesmo grau: enquanto um indivíduo pode ter uma
participação menor outro pode ter uma maior participação no crime ambiental. Em virtude
disso, o direito criou várias classificações em termos de concurso de pessoas, tais como: o
autor do crime, o co-autor, o partícipe e o cúmplice.
Dessa forma, o objetivo geral da pesquisa é analisar o tratamento doutrinário
aplicado ao concurso de pessoas no caso de crimes ambientais, tendo por base o uso
consagrado no direito pátrio da teoria monista. Pretende-se também verificar a possibilidade
de responsabilização penal em virtude da participação omissiva no crime, conforme o
disposto na Lei de Crimes Ambientais.
A importância do tema deste estudo encontra-se vinculada à relevância de se
esclarecer todos os aspectos condizentes a gravidade da conduta criminosa ambiental e ao
grau de participação do agente no caso de concurso de pessoas para que se possa determinar a
penalidade correta a ser aplicada. É essencial que se estabeleça uma diferenciação entre os
diversos agentes concorrentes na produção de um mesmo resultado delituoso.
10
Este estudo também se justifica em virtude da complexidade inerente ao concurso
de pessoas, uma vez que a matéria é objeto de classificações e subclassificações, resultando
em uma polêmica doutrinária situada em torno dos domínios da tipicidade, da ilicitude e da
culpabilidade. É fundamental que a classificação prévia dos agentes que concorrem na
realização de um crime não se desvincule da realidade dos crimes ambientais cometidos por
meio da união de pessoal. Uma classificação relacionada ao grau de participação do agente e
sua culpabilidade desvinculada do aspecto fatídico perde seu conteúdo.
O estudo monográfico ainda se torna importante por contribuir para a formação
jurídica do pesquisador, que desenvolverá suas habilidades em torno do tratamento jurídico
penal destinado ao concurso de pessoas na legislação pátria em relação ao Direito Ambiental.
O presente estudo foi dividido em três capítulos de desenvolvimento. O primeiro
capítulo aborda algumas temáticas relacionadas ao concurso de pessoas, tratando de
elementos históricos do direito pátrio referentes ao concurso de pessoas, do conceito, das
espécies e das teorias ligadas à participação de pessoas no crime.
O segundo capítulo tem como temática central à questão dos crimes ambientais e
sua configuração nas leis que tratam da matéria. Para tanto, abordam-se dois princípios
centrais do Direito Ambiental, quais sejam, o princípio da legalidade e o da responsabilidade
ou poluidor-pagador, além de se descrever brevemente as diversas formas de poluição
existentes e abrangidas pelo direito.
O terceiro capítulo trata especificamente do concurso de pessoas no direito
ambiental, apresentando-se alguns aspectos relevantes da Lei nº 9.0605/98, a qual se constitui
como o fundamento do concurso de pessoas no Direito Ambiental. Aborda-se a possibilidade
de responsabilidade penal segundo a teoria unitária ou monista e a questão da
responsabilidade penal por meio de omissão do participante no concurso de pessoas no caso
do crime ambiental.
11
1 CONCURSO DE PESSOAS
1.1 ASPECTOS HISTÓRICOS DO CONCURSO DE PESSOAS NO DIREITO PÁTRIO
O tema do concurso de pessoas foi abordada no Direito Pátrio pela primeira vez
no Código Criminal de 1830, cujos arts. 4º e 5º, dispunham que são criminosos, como
cúmplices, todos os mais que conjuntamente concorrerem para cometer crimes e também são
criminosos, como autores, os que cometerem ou mandarem alguém cometer um crime.
Zaffaroni sustenta que o Código Penal de 1890, nos seus arts. 17 a 21, se ocupava
dos autores, cúmplices e instigadores1. Dessa forma, o autor sustenta que havia uma divisão
entre as funções.
De acordo com Silva, porém, o Código da República de 1890 é o menos feliz de
todos os diplomas penais, uma vez que o assunto do concurso de pessoas vem tratado de
forma genérica no art. 17, dispondo que os participantes do crime são autores ou cúmplices2.
Posteriormente, merece destaque o Projeto de Alcântara Machado, que assim
propôs, conforme relatado por Silva:
Incorrerão nas penas cominadas para o crime, com as modificações constantes nos artigos 18 e 19: l – quem houver diretamente resolvido e executado; ll - quem tiver instigado ou determinado alguém a executá-lo; lll – quem concretizar o crime resolvido por outrem; lV – quem antes ou durante a execução, prestar auxílio, sem o qual o crime não seria cometido; V – quem de outra maneira participar da preparação ou execução do crime3.
No Código de 1940, com o título de “Co-autoria”, a redação do artigo referente ao
concurso de pessoas era a seguinte: “Art. 25 – Quem de qualquer modo, concorre para o
crime incide nas penas a este cominadas”.
Nesse sentido, Zaffaroni afirma que o Código de 1940 optou por uma grosseira
simplificação, criada no Código Rocco, de 1930, e, sob a denominação de “Da co-autoria”,
1 ZAFFARONI, Eugênio Raul. Manual de direito penal brasileiro: parte geral. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2004, p. 632. 2 SILVA, José Luiz Mônaco da. Questões de direitos de família. São Paulo: Ícone, 1997, p. 210. 3 SILVA, op. cit., 1997, p. 210.
12
sustentava que o projeto havia abolido a distinção entre os autores e cúmplices, passando a
considerar que todos os que tomam parte no crime são autores4.
Ao comentar o Código de 1940, Costa Júnior sustenta que, após adotar a teoria da
equivalência das condições, tal diploma entendeu como autores todos os que contribuem de
alguma forma para o crime (teoria unitária). Não havia uma preocupação em distinguir as
causas das condições, por serem todas elas equivalentes. Além disso, não se diferenciava
entre autores primários e secundários, nem entre autores e cúmplices, ou executores e
auxiliares5.
Ainda conforme Silva a posição de uma vírgula pode provocar uma importante
modificação em toda a filosofia do sistema normativo penal. Com efeito, no lugar do ponto
final, foi acrescentada uma vírgula, seguida do texto: “na medida da sua culpabilidade”. Com
isso, afirma o autor, deixou-se para traz a responsabilidade objetiva, abrando espaço para o
direito penal da culpa6.
Capez observa que antes da reforma penal de 1984, o concurso de pessoas era
conhecido pela denominação de co-delinqüência, concurso de entes ou concurso de
delinqüentes. Com a reforma, passou-se a adotar, no Título IV, a denominação de “concurso
de pessoas”, em substituição a de co-autoria, sendo tal nomenclatura justificada por ser mais
abrangente, visto que a co-autoria não esgota as hipóteses de concurso de delinqüência7.
Dessa forma, sustenta Capez, é equivocado afirmar que todos os casos de
concurso de pessoas caracterizam co-autoria, em virtude da existência de outra forma de
concurso chamada de participação. A expressão adotada por meio da reforma da legislação, a
saber, concurso de pessoas, é mais adequada, uma vez que engloba tanto a co-autoria que é
apenas uma de suas espécies, quanto a participação8.
A reforma promovida em 1984 tratou também de atenuar alguns dos efeitos da
adoção da teoria unitária, distinguindo com precisão a punibilidade de autoria e participação.
Ademais estabeleceu alguns princípios disciplinando determinados graus de participação9.
4 ZAFFARONI, op. cit., 2004, p. 632. 5 COSTA JÚNIOR, Paulo José da. Direito penal: curso completo. 5 ed. rev. e atual. São Paulo: Saraiva, 1999, p. 112. 6 SILVA, op. cit., 1997, p. 211. 7 CAPEZ, Fernando. Curso de direito penal: parte geral. 9 ed. rev. e atual. São Paulo: Saraiva, 2005, p. 332. 8 CAPEZ, op. cit., 2005, p.332. 9 BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de direito penal: parte geral. v. 1, 10. ed. São Paulo: Saraiva, 2006, p. 512.
13
O concurso de agentes encontra-se previsto no art. 29 a 31, do Código Penal, com
redação dada pela Lei nº 7.209, de 11 de julho de 1984. Com base na interpretação desses
dispositivos procede-se à classificação das condutas criminosas segundo o grau de
participação, prevendo-se penas diferentes para cada sujeito concorrente10.
O art. 29, do diploma legal referido, dispõe que todo aquele que, de qualquer
forma, concorrer para ato criminoso incide nas penas a este cominadas, na medida de sua
culpabilidade. Observa-se que a adoção do critério da culpabilidade para a aplicação das
devidas penas11.
Zaffaroni sustenta que a regra fixada no art. 29, caput, não permite a interpretação
de que todos os que concorrem para o crime sejam concebidos como autores, mas que todos
os que concorrem têm, em princípio, a mesma pena estabelecida para o autor, introduzindo-se,
posteriormente, algumas diferenças12.
O Código também não se preocupa em apresentar uma definição de autor,
cúmplice ou instigador, estabelecendo somente regras de fixação de penas para todos. No
entender de Zaffaroni, a ausência de uma definição desses termos deve-se ao fato de que esses
termos foram recolhidos da vivência em sociedade, ou seja, não são termos com significação
exclusivamente jurídica. Por tal motivo, o Código não necessita defini-los, mas remetê-los aos
dados ônticos, limitando-se a fixar a regra de que, em princípio, todos possuem a mesma
pena. De qualquer forma, cabe pontuar que a abstenção em estabelecer diferenças quanto às
penas existe apenas em princípio, porque, o próprio art. 29, caput, determina que a pena de
cada um dos concorrentes será determinada na medida de sua culpabilidade13.
Assim, se a participação no evento delituoso for de menor importância, a pena
pode ser diminuída de um sexto a um terço. Além disso, no caso de algum dos concorrentes
ter pretendido participar de crime menos grave, deverá ser aplicado ao mesmo a pena deste.
Na hipótese de ter sido previsível o resultado mais grave do crime, a pena será aumentada até
metade (parágrafos 1º e 2º, art. 29, Código Penal).
Ainda em termos de concorrência de pessoas na prática delituosa, o art. 30, do
Código Penal, determina que, com exceção dos casos em que forem fundamentais ao crime,
10 BRASIL. Lei nº 7.209, de 11 de julho de 1984. Altera dispositivos do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940 - Código Penal, e dá outras providências. Disponível em <http://www.planalto.gov.br/CCIVIL/LEIS/1980-1988/L7209.htm> Acesso em: 10. mai. 2007. 11 BRASIL. Lei nº 7.209, de 11 de julho de 1984. 12 ZAFFARONI, op. cit., 2004, p. 632. 13 ZAFFARONI, op. cit., 2004, p. 633.
14
as circunstâncias e as condições de caráter pessoal não são comunicáveis entre os
concorrentes.
A lei também prevê a possibilidade de ausência de aplicação de punição quando
para aquele que instigar, ajustar ou pretender auxiliar o crime, salvo disposição expressa em
contrário, nos casos em que o crime não chega a ser efetivado (art. 31, Código Penal). Essa
possibilidade adotada em lei é conseqüência da adoção de um conceito restritivo de autor, a
qual afasta a possibilidade de punição do partícipe quando a ação a ser praticada pelo autor
não atingir a fase de início da execução14.
Ao comentar os arts. 30 e 31 da Lei Penal, Silva destaca que os mesmos são
idênticos aos de art. 26 e 27 do Código de 1940. Tratam, de maneira idêntica, das
circunstâncias incomunicáveis e dos casos de impunidade. Dentre essas circunstâncias
incomunicáveis merecem destaque às qualidades pessoais e as condições pessoais15.
A expressão qualidade pessoal diz respeito as características essenciais de uma
pessoa, que existem com certa estabilidade (menoridade, doença mental). Por condições
pessoais, entende-se as relações de uma pessoa com o mundo exterior e com outros indivíduos
ou coisas, que também mantém uma certa estabilidade, como no caso de relações de
parentesco, imunidade parlamentar, entre outras situações. Todavia, cada pontuar que as
condições ou qualidade pessoas constituem circunstâncias pessoais ou subjetivas. Dessa
forma, não se efetuou qualquer modificação em relação à lei anterior16.
Ainda em relação à punição a ser aplicada aos agentes criminosos que concorrem
na realização de crime, cabe transcrever o disposto no art. 61, do Código Penal, que trata dos
agravantes da pena:
Art. 62 - A pena será ainda agravada em relação ao agente que: I - promove, ou organiza a cooperação no crime ou dirige a atividade dos demais agentes; II - coage ou induz outrem à execução material do crime; III - instiga ou determina a cometer o crime alguém sujeito à sua autoridade ou não-punível em virtude de condição ou qualidade pessoal; IV - executa o crime, ou nele participa, mediante paga ou promessa de recompensa17.
14 BRASIL. Decreto-lei no 2.848, de 7 de dezembro de 1940. Código Penal. Disponível em <http://www.planalto.gov.br/CCIVIL/Decreto-Lei/Del2848.htm> Acesso em: 10. mai. 2007. 15 SILVA, op. cit., 1997, p. 211. 16 SILVA, op. cit., 1997, p. 211. 17 BRASIL. Decreto-lei no 2.848, de 7 de dezembro de 1940.
15
Como se observa, o agravamento da pena depende de várias circunstâncias que
podem integrar a realização do crime efetuado por várias agentes.
1.2 CONCEITO DE CONCURSO DE PESSOAS
Os tipos contidos na Parte Especial do Código Penal, em geral, se relacionam a
fatos realizáveis por uma única pessoa. No entanto, o fato punível pode ser obra de um ou
vários agentes. Comumente, a ação delituosa é produto da concorrência de várias condutas
praticadas por sujeitos distintos. Os motivos que podem levar a pessoa a consorciar-se para a
realização de um crime são variados:garantir o êxito do delito, assegurar a impunidade,
permitir o proveito coletivo do resultado do crime ou simplesmente satisfazer outros
interesses pessoais. Independentemente do motivo associado, essa união de pessoas para o
cometimento de um crime origina o denominado concursus delinquentium18.
Conforme destaca Welzel, o crime corresponde a uma atividade humana voltada
para uma finalidade, ou consciência e vontade do resultado danoso ou perigoso, sendo que a
associação voluntária destinada à realização de um ato delinqüente geralmente resulta em
maior eficiência e rapidez. A união de criminosos costuma tornar o evento do delito mais
perigoso e, na sociedade contemporânea, torna-se cada vez mais freqüente a forma associativa
para delinqüir19.
Para Manzini, o concurso de pessoas no Direito Penal pode ser equiparado à
atividade desenvolvida por uma organização empresarial: alcance de maior produtividade na
sua forma associativa e maior facilidade para a execução. Nesse sentido, o paralelismo pode
ser identificado em termos de organização, distribuição de funções, metas e serviços
auxiliares20.
A cooperação na realização do fato típico pode se dar desde a elaboração
intelectual até a consumação do delito, sendo que, conforme sustenta Bitencourt, “respondem
18 BITENCOURT, op. cit., 2006, p. 509. 19 apud SILVA, op. cit., 1997, p. 203. 20 apud SILVA, op. cit., 1997, p. 203.
16
pelo ilícito o que ajudou a planejá-lo e o que forneceu os meios materiais para a execução, o
que intervém na execução e mesmo os que colaboram na consumação do ilícito”21.
O concurso de pessoas ou de agentes é conceituado por Sidou, como sendo a
“participação de mais de uma pessoa, de qualquer modo, no evento delituoso”22.
Dotti sustenta que o concurso de pessoas diz respeito ao crime que resulta de um
fato coletivo. A realização do ilícito reúne duas ou mais pessoas que se unem, de modo
facultativo, para o melhor êxito da empreitada delituosa, ou obrigatoriamente, no caso de o
próprio tipo legal pressupor a concorrência de atuações23.
Para Mehmeri, o concurso de pessoas é a hipótese em que dois ou mais agentes,
por meio da realização de um ajuste prévio ou coetâneo, juntam-se para a prática do mesmo
delito, ou de delitos diversos, sob o comando do pactum sceleris2425.
No concurso de pessoas, as condutas dos participantes podem assumir diversas
formas: a) condutas paralelas, que se auxiliam mutuamente, tendo em vista a produção de um
resultado comum; b) condutas convergentes, que tendem a se encontrar, sendo que, desse
encontro, surge o resultado; c) condutas contrapostas, são aquelas praticadas umas contra as
outras, onde os agentes são, ao mesmo tempo, autores e vítimas26.
1.3 ESPÉCIES DE CONCURSO DE PESSOAS
O concurso de pessoas pode se dar de duas maneiras, considerando-se o critério
de número de pessoas que participam da realização de um crime: concurso necessário ou
concurso eventual.
No caso do concurso necessário os crimes são plurissubjetivos, ou seja, exigem
que para a prática do crime seja necessária à participação de pelo menos duas pessoas. Nesse
caso, a norma incriminadora, no seu preceito primário, reclama a existência de mais de um
autor, de forma que a conduta não pode ser praticada por apenas uma pessoa. Portanto, a co-
21 BITENCOURT, op. cit., 2006, p. 509. 22 SIDOU, Othon. Dicionário jurídico: Academia Brasileira de Letras Jurídicas. 7 ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2001, p. 189. 23 DOTTI, René Ariel. Curso de direito penal: parte geral. Rio de Janeiro: Forense, 2005, p. 47. 24 O pacto do crime. 25 MEHMERI, Adilson. Noções básicas de direito penal. São Paulo: saraiva, 2000, p. 219. 26 CAPEZ, op. cit., 2005, p. 332/333.
17
autoria é obrigatória, podendo haver ou não a participação de terceiros, conforme esclarece
Capez: “tal espécie de concurso de pessoas reclama sempre a co-autoria, mas a participação
pode ou não ocorrer, sendo, portanto, eventual”27.
De acordo com Costa Júnior, o concurso necessário ou impróprio, ocorre quando
a pluralidade de agentes integra o tipo. Visto que a pluralidade de autores é indispensável à
configuração do tipo, o crime passa a ser denominado de plurissubjetivo ou coletivo28.
Silva afirma que o concurso necessário existe na estrutura dos delitos do tipo
plurissubjetivos ou coletivos, sendo, portanto, excluída a teoria da participação. Constatada a
pluralidade de sujeitos como requisito essencial do tipo criminal, todos se tornam autores. A
doutrina apresenta diversas classificações para os crimes de concurso necessário, destacando-
se: unilaterais (quadrilha); bilaterais (bigamia); e recíprocas (rixa)29.
No caso do concurso eventual, os crimes são monossubjetivos, podendo ser
praticados por um ou mais agentes. Ao serem cometidos por duas ou mais pessoas em
concurso, haverá co-autoria ou participação, dependendo da maneira como os agentes
concorrerem para a prática do delito, mas tanto uma como outra podem ou não ocorrer, sendo
ambas eventuais. O sujeito pode cometer um homicídio sozinho, em co-autoria com alguém
ou ainda, ser favorecido por intermédio da participação de um terceiro que o auxilie, instigue
ou induza30.
No concurso eventual ou facultativo, afirma Costa Júnior, é indiferente, à
realização do tipo, a participação de uma única pessoa, ou a co-participação de agentes
diversos. Assim, por exemplo, um homicídio pode ser cometido por uma única pessoa ou por
várias31.
Dotti pontua que no concurso eventual, a co-autoria ou a participação corresponde
a uma eventualidade determinada pela planificação do delito ou pela conjuntura de sua
prática, quando os sujeitos delituosos determinam uma divisão de tarefas32.
Silva assim concebe o concurso eventual:
O concurso eventual existe nos crimes individuais ou monossubjetivos, em que a participação pode ou não existir, pois a conduta pode ser realizada só,
27 CAPEZ, op. cit., 2005, p. 333. 28 COSTA JÚNIOR, op. cit., 1999, p. 111. 29 SILVA, op. cit., 1997, p. 203 30 CAPEZ, op. cit., 2005, p. 333. 31 COSTA JÚNIOR, op. cit., 1999, p. 111. 32 DOTTI, op. cit., 2005, p. 352.
18
ou, eventualmente, por várias pessoas. Nesse caso, a participação poderá ser igual ou ser diferente, disso resultando problemas na lei e na definição da culpabilidade [...]33.
Sendo assim, nos crimes de concurso eventual torna-se indispensável à aplicação
de uma teoria da participação, diferenciando autores de co-autores que participam da
execução do crime em suas diferentes fases.
O concurso eventual é formado pela participação de dois ou mais indivíduos no
fato delituoso, cooperando, de modo consciente, para a execução do crime. Segundo indica
Silva, em meio a doutrina prevalece o entendimento de que um simples elemento cognitivo
não é suficiente para caracterizar o concurso de pessoas. É necessário também o elemento
volitivo para configurar o concurso eventual34.
Têm-se, assim, os seguintes requisitos ou pressupostos do concurso, indicados por
Silva e Dotti:
a) A existência de um fato punível – ainda que tenha sido simplesmente
tentado e não concretizado. Aqui também se inclui a relação de causalidade
física, pois, independentemente do tipo de concurso, é indispensável o nexo
de causalidade da conduta concorrente com vista ao resultado.
b) A pluralidade de pessoas (concurso) – várias pessoas devem participar em
co-autoria, pois, em síntese, o concurso de pessoas, é a soma de
comportamentos individuais que realizam a figura do ilícito. É necessário,
portanto, a existência de duas ou mais condutas voltadas para o mesmo
objetivo.
c) A convergência objetiva das atuações individuais – comportamento
perceptível, pois cogitationis poenam nemo patitur35
. A conduta aqui pode
se constituir como: determinação, instigação, induzimento ou colaboração
graciosa, facilitação da execução, entre outras. Em outros termos, se
caracteriza pela presença física de alguém no ato da execução do crime ou a
omissão de uma pessoa em denunciar à autoridade pública de um fato
delituoso de que tenha conhecimento.
33 SILVA, op. cit., 997, p. 203/204. 34 SILVA, op. cit., 1997, p. 206. 35 Não se pune alguém apenas pelo que se pensou.
19
d) Convergência subjetiva das atuações individuais: consciência de estar
colaborando num fato punível e presença de dolo. Portanto, a convergência
de ações e não de intenções passa a ser o mais importante. Não se exige um
pactum sceleris ou um simples acordo para a configuração do elemento
subjetivo, bastando a consciência de cooperar, de qualquer forma, em maior
ou menor grau, para a ação, tendo em vista a prática do fato punível. A
reciprocidade do elemento subjetivo também é indispensável, visto que se
um dos concorrentes não souber da colaboração de outrem no mesmo fato,
inexistirá, para ele, o concurso36.
Silva ainda salienta que dessa convergência subjetiva resulta que não se pode
admitir participação culposa em delito doloso ou vice-versa. Nesses casos, é mais adequado
que a punibilidade seja determinada por meio da valoração das atuações, consideradas de
forma independente em si mesmas37.
Mehmeri acrescenta que a concorrência no crime permite ainda distinguir três
figuras, a saber:
a) Societas criminis – associação de agentes para formação de quadrilha.
b) Pactum sceleris – associação de agentes para determinado crime.
c) Multidão criminosa – associação, indeterminada e anônima, de pessoas que
constituem multidão para realização de um certo crime38.
Nos casos apontados, o concurso é sempre direcionado a realização de um
determinado crime. Para tanto, são fixadas as atribuições de cada concorrente. Daí a
exigência, nos casos de processo criminal, de ser fixada a cota de participação de cada um dos
agentes, quando isso é algo possível de ser concretizado. Segundo Mehmeri, pode ocorrer que
essas atribuições sejam diversificadas, no curso da execução criminosa, ou que não seja viável
destacar a cota de cada participante39.
36 SILVA, op. cit., 1997, p. 206/207; DOTTI, op. cit., 2005, p. 2353/254. 37 SILVA, op. cit., 1997, p. 207. 38 MEHMERI, op. cit., 2000, p. 223. 39 MEHMERI, op. cit., 2000, p. 224.
20
1.4 DELIMITAÇÃO DO CONCEITO DE AUTORIA
O autor é assim conceituado por Mehmeri: “É o agente principal do delito. Na
acepção puramente objetiva, é aquele que, por si ou através de outrem (nos crimes de mando),
realiza a conduta típica, isto é, pratica ou programa a ação ou omissão contida no núcleo
verbal [...]”40.
Para Gomes, o autor no Direito Penal pode ser definido a partir da determinação
das seguintes características: a) aquele que realiza o verbo núcleo do tipo; b) quem possui o
domínio organizacional da ação típica, ou seja, que organiza e planeja; c) quem participa
funcionalmente da execução do crime mesmo sem realizar o verbo núcleo do tipo; d) quem
tem o domínio da vontade de outras pessoas41.
A autoria, de acordo com Mehmeri, pode ser classificada em quatro formas
diversas:
• autoria intelectual: nesse caso, o autor tem o controle subjetivo do fato,m ou
seja, a idéia, ou se configura como aquele que programa o delito;
• autoria material: corresponde ao autor físico, aquele que executa o delito
programado;
• autoria material e intelectual: forma de crime no qual, o autor, ao mesmo
tempo, idealiza e executa o crime, com a ajuda de terceiro;
• autoria representativa: compreende os crimes praticados por pessoas
jurídicas, caindo a responsabilidade penal sobre seus membros ou
representantes42.
Para melhor compreender o conceito de autor, torna-se relevante o
estabelecimento da diferenciação entre as demais figuras que podem compõem o concurso de
pessoas, quais sejam: co-autor e partícipe.
Mehmeri sustenta que o Código de 1890 considerava co-autor aquele que, antes e
durante a execução, prestava ajuda sem a qual o crime não seria cometido. Em qualquer
hipótese, é essencial que a ajuda prestada seja fundamental para o maior êxito na execução do
40 MEHMERI, op. cit., 2000, p. 219. 41 GOMES, Luiz Flávio. Direito penal: teoria constitucionalista do delito. 2 ed. rev., atual. e ampl. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2006, p. 303. 42 MEHMERI, op. cit., 2000, p. 219/220.
21
crime. O simples auxílio, com caráter de colaboração ou reforço, não configura a co-autoria.
Dessa forma, a ajuda do co-autor se da de dois modos: co-autoria ativa, quando o agente tem
participação material na execução do crime; e co-autoria passiva, quando o agente presta
serviço relevante sem agir, mas dando cobertura43.
No caso da co-autoria, tem-se um cometimento comunitário de um fato punível
mediante uma atuação conjunta consciente. Está fundada na idéia de divisão do trabalho,
sendo que cada autor colabora com sua parte no fato. Portanto, essa contribuição dos co-
autores no fato criminoso não necessita ser materialmente a mesma, podendo haver uma
divisão dos atos executivos44.
A co-autoria, segundo Gomes, ocorre quando várias pessoas participam da
execução do crime, realizando ou não o verbo núcleo do tipo. Todos os co-autores, no
entanto, possuem o co-domínio do fato. Todos participam de fato próprio. O partícipe, por sua
vez, participa de fato alheio45.
Dessa forma, no que tange ao partícipe, este corresponde à figura tradicional do
cúmplice. É, portanto, aquele que presta auxilio, antes ou durante o crime, mas uma ajuda que
possui caráter prescindível, ou seja, o crime poderia ser realizado ainda que o autor e co-autor
não contassem com tal auxílio. Em outras palavras, o partícipe facilita a execução do crime,
mas o crime ocorreria mesmo sem sua ajuda. E esta é a principal diferença entre o partícipe e
o co-autor. O partícipe pode agir de maneira ativa para viabilizar o crime ou de forma
omitiva46.
Importa destacar que o autor se diferencia do partícipe pelo fato de o primeiro
compreender aquele que realiza a conduta principal descrita no tipo incriminador, enquanto
que o segundo, sem realizar a conduta descrita no tipo, concorre para a sua realização, de
forma não-obrigatória para a concretização do crime47.
Mehmeri ainda salienta que é importante não confundir as expressões participante,
que designa aquele que participa do crime, seja como autor ou co-autor, e o partícipe, que
compreende o simples auxiliar, conhecido como cúmplice secundário. Os participantes de um
crime podem também ser designados como concorrentes48.
43 MEHMERI, op. cit., 2000, p. 221. 44 CAPEZ, op. cit., 2005, p. 338. 45 GOMES, op. cit., 2006, p. 309. 46 MEHMERI, op. cit., 2000, p. 221. 47 CAPEZ, op. cit., 2005, p. 339. 48 MEHMERI, op. cit., 2000, p. 221.
22
1.5 TEORIAS DA PARTICIPAÇÃO DE PESSOAS NO CRIME
A doutrina aponta diversas classificações quanto à participação ou concurso de
pessoas nos crimes. Segundo Bitencourt, na atualidade tem-se discutido se a conduta delituosa
praticada em concurso constitui um ou vários crimes. Dessa forma, algumas teorias tratam de
definir o complexo problema da criminalidade coletiva: monística, dualística e pluralística49.
1.5.1 Teoria unitária
A teoria unitária ou monista da participação, segundo a qual todos os que
contribuem para a integração do delito cometem o mesmo crime50.
Também Capez sustenta que nessa teoria todos os que contribuem para a prática
do delito cometem o mesmo crime, inexistindo qualquer distinção quanto ao enquadramento
típico entre autor e partícipe. Daí, justamente, resulta o nome da teoria: todos respondem por
um único crime51.
Bitencourt sustenta que embora o crime seja praticado por diversas pessoas,
permanece único e indivisível. O crime, de modo indistinto, é resultado da conduta de cada
um e de todos. Essa concepção parte da consideração da teoria da equivalência das condições
indispensáveis à produção do resultado. Entretanto, o fundamento maior da mesma situa-se no
aspecto político-criminal, que prefere punir igualmente a todos os participantes de uma
mesma infração penal52.
Costa Júnior assim conceitua a teoria unitária:
A teoria unitária (monística) entende que a pluralidade de delinqüentes e a diversidade de condutas não impedem a unidade do crime: um só crime e vários agentes. Não há autores principais e acessórios. Todos se nivelam, pois todos contribuíram par ao evento. Chega-se a esta igualdade plena entre os agentes, partindo-se da equivalência das condições necessárias à produção do evento. Se o evento é conseqüência de um conjunto de causas e
49 BITENCOURT, op. cit., 2006, p. 511. 50 DJI. Índice fundamental de direito. Disponível em: <http://www.dji.com.br/penal/concurso_de_pessoas.htm> Acesso em: 1 mar. 2007. 51 CAPEZ, op. cit., 2005, p. 339. 52 BITENCOURT, op. cit., 2006, p. 511.
23
condições, todas igualmente necessárias e suficientes para produzi-lo se cada um dos co-partícipes é responsável por uma dessas causas e condições, o delito é o resultado da conduta de cada um e de todos, sem distinção53.
A teoria unitária corresponde à adotada no Código Penal brasileiro. Assim, todos,
co-autores e partícipes, respondem por um único delito, conforme dispõe o art. 29, caput, do
Código Penal. Em outros termos, todos aqueles que, na qualidade de co-autores ou partícipes,
deram a sua contribuição para o resultado típico devem por ele responder, sendo que todas as
condutas se amoldam ao mesmo tipo legal.
1.5.2 Teoria dualista
A teoria dualista da participação prevê a existência de delito único entre os autores
e outro crime único entre os partícipes54.
No entender de Capez, nesse caso, considera-se a existência de dois crimes, quais
sejam, um cometido pelos autores e um outro pelo qual os partícipes são responsáveis55.
Também Bitencourt sustenta que para a teoria dualística existem dois crimes: um
para os autores, ou seja, aqueles que realizam a atividade principal, a conduta típica prevista
no ordenamento jurídico; e outro para aqueles que desenvolvem uma atividade secundária,
que não realizam a conduta descrita no tipo penal. Desse modo, se integram ao plano
criminoso, mas não desenvolvem um comportamento central, executivamente típico. Todavia,
apesar dessa concepção duplo, o crime continua sendo apenas um, e, em muitas situações, a
ação daquele que realiza a atividade típica é menos relevante do que a do partícipe56.
Bitencourt salienta que embora o Código Penal tenha adotado a teoria monística,
determinando que todos os participantes de uma infração penal incidem nas sanções de um
único e mesmo crime, adotou a concepção dualista como exceção, distinguindo a atuação de
autores e partícipes, possibilitando, dessa forma, a dosagem da pena em conformidade com a
53 COSTA JÚNIOR, op. cit., 1999, p. 111. 54 DJI, op. cit., 2007. 55 CAPEZ, , op. cit., 2005, p. 339. 56 BITENCOURT, op. cit., 2006, p. 511.
24
efetiva participação e eficácia causal da conduta de cada partícipe, na medida da culpabilidade
perfeitamente individualizada57.
1.5.3 Teoria pluralista
A teoria pluralista dispõe que ocorre a pluralidade de agentes e também a de
crimes58.
Capez, ao tratar da teoria pluralista, sustenta que, conforme a mesma, “cada um
dos participantes responde por delito próprio, havendo uma pluralidade de fatos típicos, de
modo que cada partícipe será punido por um crime diferente”59.
Nesse mesmo sentido, Bitencourt explica que a teoria pluralista defende que “a
cada participante corresponde uma conduta própria, um elemento psicológico próprio e um
resultado igualmente particular”. Portanto, sob essa perspectiva de compreensão, a pluralidade
de agentes corresponde a pluralidade de crimes. A quantidade de crimes corresponde a
quantidade de participantes do fato delituoso60.
Bitencourt ainda destaca que essa teoria chegou a entender a participação como
sendo um crime distinto, especial, denominado de “crime de concurso”. No entanto, essa idéia
não era sustentável, visto que o título do crime que se pune é o tipo especificamente violado e
não uma suposta figura particular para cada um dos participantes. O resultado produzido
também é único. Na realidade, a participação de cada concorrente não se constitui como uma
atividade autônoma, mas converge para uma ação única, com objetivo e resultado comuns.
Essa é uma teoria subjetiva, diferentemente da monística que é objetiva61.
A teoria pluralista é adotada no Código Penal brasileiro, enquanto exceção à teoria
unitária ou monista. Capez sustenta que essa teoria se faz presente na exceção prevista no §
2º, do art. 289, do Código Penal, dispondo que se algum dos concorrentes desejou participar
de crimes menos graves, dar-se-á a aplicação da pena deste ao mesmo. Assim, apesar de todos
os co-autores e partícipes, via de regra, responderem pelo mesmo crime, em casos
57 BITENCOURT, , op. cit., 2006, p. 512. 58 DJI, op. cit., 2007. 59 CAPEZ, op. cit., 2005, p. 339. 60 BITENCOURT, op. cit., 2006, p. 511. 61 BITENCOURT, op. cit., 2006, p. 511.
25
excepcionais, com a finalidade de se evitar a responsabilidade objetiva, o legislador determina
a imputação, por outra figura típica quando o agente pretendeu participar de infração dotada
de menor gravidade62.
No intento de menor elucidar essa abordagem, Capez apresenta um exemplo:
É o caso do motorista que conduz três larápios a uma residência para o cometimento de um furto. Enquanto aguarda, candidamente, no carro, os executores ingressarem no local e efetuarem a subtração sem violência (furto), estes acabam por encontrar uma moradora acordada, que tenta reagir e, por essa razão, é estuprada e morta. O partícipe que imaginava estar ocorrendo apenas um furto responderá somente por este crime, do qual quis tomar parte63.
Importa observar que, nesse caso, o delito principal se configura como latrocínio e
estupro, mas o partícipe somente responderá por furto, único fato que passou pela sua mente.
Entretanto, caso se comprove a possibilidade de se prever um resultado mais grave, a pena
ainda poderá ser aumentada até a metade, mas o delito continuará sendo o mesmo64.
Segundo Capez existem ainda outras exceções pluralísticas em que o partícipe
responde como autor de crime autônomo: o provocador do aborto responde pela figura do art.
126, do Código Penal, enquanto que a gestante que consentiu a realização do aborto, em vez
de ser considerada partícipe, responde por crime autônomo, conforme dispõe o art, 124 do
Código Penal. Na hipótese de casamento entre pessoa já casada e outra solteira, respondem os
agentes, pelas figuras tipificadas no art. 234, caput, e § 1º, do Código Penal: “aquele que, não
sendo casado, contrai casamento com pessoa casada, conhecendo essa circunstância, é punido
com reclusão ou detenção, de um a três anos”65.
62 CAPEZ, op. cit., 2005, p. 339/340. 63 CAPEZ, op. cit., 2005, p. 340. 64 CAPEZ, op. cit., 2005, p. 340. 65 CAPEZ, op. cit., 2005, p. 340.
26
2 PRINCÍPIOS NORTEADORES DA REPARAÇÃO POR CRIME AMBIENTAL E
SEUS TIPOS PENAIS
2.1 CONCEITO DE MEIO AMBIENTE
O meio ambiente é conceituado na Lei nº 6.938, de 31 de agosto de 1981, como
sendo “o conjunto de condições, leis, influências, alterações e interações de ordem física,
química e biológica, que permite, abriga e rege a vida em toda as suas formas66.
Sirvinskas critica esse conceito restrito, considerando-o inadequado em termos
legais uma vez que não abrange de forma ampla todos os bens jurídicos protegidos. É um
conceito que se restringe ao meio ambiente natural. Segundo esse autor, a própria expressão
meio ambiente pode ser objeto de crítica, uma vez que se trata de um pleonasmo lingüístico.
A palavra meio diz respeito àquilo que está no centro de alguma coisa. Já a palavra ambiente
indica o lugar ou área onde habitam seres vivos. Dessa forma, na própria palavra ambiente
está também inserido o conceito de meio67.
Tendo por base a crítica ao conceito legal restrito, o Ministério da Saúde concebe
o meio ambiente a partir de uma perspectiva mais ampla. Assim, considera-se como meio
ambiente tudo o que cerca o ser vivo, que o influencia e que é indispensável à sua sustentação,
inclusive a cultura e outros elementos artificiais Além de ser constituído pelos componentes
físicos e biológicos, como o solo, o clima, os recursos hídricos, o ar, os nutrientes entre outros
organismos, o meio ambiente também envolve o meio sócio-cultural e sua relação com os
modelos de desenvolvimento adotados pelo homem. Meio ambiente é, dessa maneira, a
comunidade total de organismos, junto com o ambiente físico e químico no qual vivem68.
Também Silva considera a abrangência do meio ambiente ao conceituá-lo,
apontando para a necessidade de estabelecer um conceito de meio ambiente globalizante: “o
66 BRASIL. Lei nº 6.938, de 31 de agosto de 1981. Dispõe sobre a Política Nacional do Meio Ambiente, seus fins e mecanismos de formulação e aplicação, e dá outras providências Disponível em: <http://www.presidencia.gov.br/ccivil/LEIS/L6938.htm> Acesso em: 10 abr. 2007. 67 SIRVINSKAS, Luís Paulo. Tutela Penal do meio ambiente. 3 ed. rev. atual. e ampl. São Paulo: Saraiva, 2004, p. 119. 68 MINISTÉRIO DA SAÚDE, Saúde Ambiental e Gestão de Resíduos de Serviços de Saúde. Brasília: Ministério da Saúde, 2002, p. 37.
27
meio ambiente é [...] a interação do conjunto de elementos naturais, artificiais e culturais que
propiciem o desenvolvimento equilibrado da vida em todas as suas formas”69.
Dessa forma, tem-se que o meio ambiente é constituído de três aspectos diversos:
meio ambiente artificial, constituído pelo espaço urbano; meio ambiente cultura, formado pelo
patrimônio histórico, artístico, arqueológico, paisagístico e turístico; e meio ambiente natural
ou físico, formado pelos elementos naturais (solo, ar, flora, entre outros) de interação entre
seres vivos e seu meios, no qual se dá correlação recírproca entre as espécies e as relações
destas com o ambiente físico que ocupam. E este último aspecto do meio ambiente que,
segundo Silva, é referenciado na Lei nº 6.938/8170.
Também em uma perspectiva abrangente, Ely sustenta que o meio ambiente
compreende "todo o meio exterior ao organismo que afeta o seu integral desenvolvimento"71
.
Por meio exterior entende-se tudo aquilo que cerca o organismo, sendo que o
desenvolvimento pleno do mesmo ocorre através dos meios físico, social e psíquico, que em
seu equilíbrio e correlação possibilitam o desenvolvimento integral.
Tostes assim conceitua o meio ambiente:
[...] especialmente relação entre os homens e os elementos naturais (o ar, a água, o solo, a flora e a fauna); entre os homens e as relações que se dão entre as coisas; entre os homens e as relações de relações, pois é essa multiplicidade de relações que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas. [...] Meio ambiente [...] é relação jurídica, a partir do momento em que recebeu valoração humana positiva, como bem a ser especialmente protegido pelo direito72.
Tostes salienta ainda o aspecto da interrelação que existe entre os diversos fatores
ambientais, tais como: reações químicas e físico-químicas dos elementos presentes na Terra e
entre esses elementos e as espécies vegetais e animais. Essa relação existente entre os fatores
necessita ser mantida em equilíbrio constante para que se possa assegurar a preservação
ambiental73.
69 SILVA, José Afonso da. Direito ambiental constitucional. 4 ed. São Paulo: Malheiros, 2003, p. 20. 70 SILVA, op. cit., 2003, p. 21. 71 ELY, Aloísio. Economia do meio ambiente. 4 ed. Porto Alegre: FEE, 1990 , p. 4. 72 TOSTES, A. Sistema de Legislação Ambiental. Petrópolis: Vozes; Rio de Janeiro: CECIP, 1994, p. 18/19. 73 TOSTES, op. cit., 1994, p. 19.
28
2.2 PRINCÍPIO DA LEGALIDADE
O princípio da legalidade, em sua asserção geral, de acordo com Sidou, informa
que toda a conduta somente pode ser obrigada quando subordinada “imperativamente à lei e
ao ordenamento jurídico”74.
O princípio da legalidade, aplicado ao Direito Ambiental, dispõe que é necessária
a existência de suporte legal para obrigar-se a algo, ou seja, existe uma obrigatoriedade de
obediência às leis. O fundamento de tal princípio situa-se no art. 5º, inciso II, da Constituição
Federal de 1988, segundo o qual “ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma
coisa senão em virtude de lei”75. Isso significa que é necessária a existência do suporte legal
para obrigar-se alguém a alguma conduta.
O princípio da legalidade pode assim ser interpretado em termos penais.
Sirvinskas sustenta que o princípio da legalidade é o que move toda a legislação penal, uma
vez que em praticamente todos os países tal princípio foi adotado como supedâneo da
tipificação penal. Assim, não há que se falar em crime sem prévia lei disciplinando
determinada conduta como anti-social ou em desacordo com as normas morais existentes
naquela localidade. Os crimes contra o meio ambiente devem encontrar expressa previsão
legal, evitando-se a adoção, mesmo no seu mínimo legal, de normas penais em branco76.
Todos estão igualmente obrigados a obedecer ao disposto em lei. Portanto, tendo
por base o previsto nela, todo aquele que praticar um crime ambiental estará sujeito a
responder pelos seus atos, podendo sofrer penas na área administrativa, penal e civil77.
74 SIDOU, Othon. Dicionário jurídico: Academia Brasileira de Letras Jurídicas. 7. ed. Rio de Janeiro, Forense Universitária, 2001, p. 674. 75 BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/CCIVIL_03/Constituicao/Constitui%C3%A7ao.htm> Acesso em: 11 abr. 2007. 76 SERVINSKAS, op. cit., 2004, p. 24/25. 77 GUSMÃO, Antonio Carlos; VELOSO, Lucas de Gusmão. Princípios do Direito Ambiental. Disponível em: <http://www.jornaldomeioambiente.com.br/JMA-TestesAmbientais/principios_direito_ambiental.doc> Acesso em: 11 abr. 2007.
29
2.2.1 Princípio da responsabilidade
O princípio da responsabilidade, também denominado de princípio do poluidor-
pagador, tem seu fundamento primeiro situado no art. 225, da Constituição Federal de 198878,
o qual aponta o meio ambiente como um bem de toda a sociedade, que merece ser respeitado
e preservado, sendo que todos possuem o direito ao meio ambiente ecologicamente
equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida. Esse mesmo
dispositivo consagrou como obrigação do Poder Público a defesa, preservação e garantia de
efetividade do direito fundamental ao meio ambiente equilibrado.
Conforme explica Tostes, o citado mandamento constitucional introduziu dois
termos novos na definição legal do meio ambiente: equilibrado e bem. Por meio deles, afasta-
se a aplicação da noção de coisa ao meio ambiente79.
O termo coisa diz respeito a tudo aquilo que possui existência individual e
concreta, que pressupõe separatividade, idéia diversa de conjunto. Desse modo, coisa é uma
noção distante de equilíbrio, que compreende a justa combinação de forças ou de elementos80.
A noção de coisa também não está relacionada à de bem, uma vez que bem é tudo
aquilo que possui um valor moral ou físico positivo, constituindo o objeto ou fim da ação
humana. Bem é uma relação, resultante da valoração humana positiva dada a uma coisa, que
pode ser aplicada a uma relação entre as coisas, entre os homens ou entre os homens e as
coisas81.
Cabe transcrever aqui o conteúdo do § 1º, do art. 225, da Constituição Federal de
1988, in verbis:
§ 1º - Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao Poder Público: I - preservar e restaurar os processos ecológicos essenciais e prover o manejo ecológico das espécies e ecossistemas; II - preservar a diversidade e a integridade do patrimônio genético do País e fiscalizar as entidades dedicadas à pesquisa e manipulação de material genético; III - definir, em todas as unidades da Federação, espaços territoriais e seus componentes a serem especialmente protegidos, sendo a alteração e a supressão permitidas somente através de lei, vedada qualquer utilização que comprometa a integridade dos atributos que justifiquem sua proteção;
78 BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. 79 TOSTES, op. cit., 1994, p. 17. 80 TOSTES, op. cit., 1994, p. 17. 81 TOSTES, op. cit., 1994, p. 18.
30
IV - exigir, na forma da lei, para instalação de obra ou atividade potencialmente causadora de significativa degradação do meio ambiente, estudo prévio de impacto ambiental, a que se dará publicidade; V - controlar a produção, a comercialização e o emprego de técnicas, métodos e substâncias que comportem risco para a vida, a qualidade de vida e o meio ambiente; VI - promover a educação ambiental em todos os níveis de ensino e a conscientização pública para a preservação do meio ambiente; VII - proteger a fauna e a flora, vedadas, na forma da lei, as práticas que coloquem em risco sua função ecológica, provoquem a extinção de espécies ou submetam os animais a crueldade82.
Para cumprir com essas obrigações, diversos instrumentos legais e órgãos foram
criados pelo governo, tais como a Lei nº 7.735/89, que criou o IBAMA - Instituto Brasileiro
do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis, a Lei nº 7.797/89, que criou o Fundo
Nacional do Meio Ambiente, entre outras. Por sua vez, a Lei no 9.985, de 18 de julho de 2000
regulamenta o art. 225, § 1o, incisos I, II, III e VII da Constituição Federal, e, para tanto,
institui o Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza (SNUC). Esse sistema
estabelece critérios e normas para a criação, implantação e gestão das unidades de
conservação.
Entre os diversos objetivos do SNUC, elencados no art. 4º, da Lei nº 9.985/2000,
destacam-se os seguintes: contribuir para a manutenção da diversidade biológica e dos
recursos genéticos no território nacional e nas águas jurisdicionais; contribuir para a
preservação e a restauração da diversidade de ecossistemas naturais; promover o
desenvolvimento sustentável a partir dos recursos naturais; proteger os recursos naturais
necessários à subsistência de populações tradicionais, respeitando e valorizando seu
conhecimento e sua cultura e promovendo-as social e economicamente83, entre outros. Todos
esses objetivos evidenciam a responsabilidade do Estado em assegurar a proteção e a
preservação do meio ambiente.
Já a Lei nº 11.105, de 24 de março de 2005, além de outras medidas, com base no
§1º, do art. 225, da Constituição Federal de 1988, estabelece normas de segurança e
mecanismos de fiscalização de atividades que envolvam Organismos Geneticamente
82 BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. 83BRASIL. Lei no 9.985, de 18 de julho de 2000. Regulamenta o art. 225, § 1o, incisos I, II, III e VII da Constituição Federal, institui o Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza e dá outras providências. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/CCIVIL_03/LEIS/L9985.htm> Acesso em: 11 abr. 2007.
31
modificados (OGM) e seus derivados, cria o Conselho Nacional de Biossegurança (CNBS)
reestrutura a Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio), dispõe sobre a Política
Nacional de Biossegurança (PNB). As diretrizes que guiam os dispositivos contidos nessa lei
são o estímulo ao avanço científico na área de biossegurança e biotecnologia, a proteção à
vida e à saúde humana, animal e vegetal, e a observância do princípio da precaução para a
proteção do meio ambiente84. Todas essas medidas estão voltadas para o cumprimento do
princípio da responsabilidade.
Ainda no art. 225, da Constituição Federal de 1988, em seu § 2º, fica determinado
que aquele que “aquele que explorar recursos minerais fica obrigado a recuperar o meio
ambiente degradado, de acordo com solução técnica exigida pelo órgão público competente,
na forma da lei”85. Portanto, todo indivíduo que degradar o meio ambiente é responsável pelo
ato cometido, devendo, segundo determinação da lei, ser responsabilizado por tal ato.
Em complemento a tal determinação, o § 3º, do art. 225, da Constituição Federal
de 1988, prevê diretamente a aplicação de sanções penais ou administrativas aos causadores
de danos ambientais:
§ 3º - As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e administrativas, independentemente da obrigação de reparar os danos causados86.
Tem-se assim, que o art. 225, da Constituição Federal de 1988, garante a
efetividade da prevenção e formaliza a responsabilidade objetiva, exprimindo a necessidade
do desenvolvimento, promoção e implementação de uma ética tendo em vista o alcance do
desenvolvimento sustentável.
Antes do advento do texto constitucional de 1988, a responsabilidade civil
relacionada ao meio ambiente já era consagrada no inciso VII, do art. 4º, da Lei nº 6.938/81,
determinando-se a imposição da obrigação de recuperar e ou indenizar os danos causados e ao
84 BRASIL. Lei nº 11.105, de 24 de março de 2005. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/CCIVIL_03/_Ato2004-2006/2005/Lei/L11105.htm> Acesso em: 11 abr. 2007. 85 BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. 86 BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988.
32
meio ambiente por parte do poluidor e do predador87. O poluidor é obrigado a indenizar ou
reparar os danos ao meio ambiente e a terceiros afetados por sua atividade.
O art. 14º, da mesma lei, também cuida de regulamentar a matéria, prevendo a
punição para aqueles que transgredirem a norma ambiental:
Art 14 - Sem prejuízo das penalidades definidas pela legislação federal, estadual e municipal, o não cumprimento das medidas necessárias à preservação ou correção dos inconvenientes e danos causados pela degradação da qualidade ambiental sujeitará os transgressores: I - à multa simples ou diária, nos valores correspondentes, no mínimo, a 10 (dez) e, no máximo, a 1.000 (mil) Obrigações Reajustáveis do Tesouro Nacional - ORTNs, agravada em casos de reincidência específica, conforme dispuser o regulamento, vedada a sua cobrança pela União se já tiver sido aplicada pelo Estado, Distrito Federal, Territórios ou pelos Municípios. II - à perda ou restrição de incentivos e benefícios fiscais concedidos pelo Poder Público; III - à perda ou suspensão de participação em linhas de financiamento em estabelecimentos oficiais de crédito; IV - à suspensão de sua atividade88.
Ao tratar especificamente do princípio da responsabilização ou do poluidor-
pagador, Buglione destaca a obrigação que o poluidor possui de corrigir ou recuperar o
ambiente suportando os encargos daí decorrentes e coibindo a continuação da ação poluente.
Conforme a autora, esse princípio, independentemente de culpa, defende a existência da
obrigação de indenizar, sempre que o agente tenha causado dano ao meio ambiente em virtude
de uma ação perigosa89.
Leite afirma que o princípio do poluidor-pagador compreende, na realidade, o
aspecto econômico do princípio da responsabilização. Configura-se como um princípio
multifuncional à medida que tem em vista a precaução e a prevenção de atentados ambientais,
assim como a redistribuição dos custos da poluição. Esse princípio, em termos sintéticos, visa
a internalização dos custos externos de deterioração ambiental. Em termos de ressarcimento
do dano ambiental, precisam existir outros mecanismos que objetivem a responsabilização
87 BRASIL. Lei nº 6.938, de 31 de agosto de 1981. Dispõe sobre a Política Nacional do Meio Ambiente, seus fins e mecanismos de formulação e aplicação, e dá outras providências Disponível em: <http://www.presidencia.gov.br/ccivil/LEIS/L6938.htm> Acesso em: 10 abr. 2007. 88 BRASIL. Lei nº 6.938, de 31 de agosto de 1981. 89 BRUGLIONE, Samantha. As flores não resistem a canhões. O desafio de tutelar o meio ambiente. Jus Navigandi, Teresina, a. 4, n. 37, dez. 1999. Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=1686>. Acesso em: 12 abr. 2007.
33
dos danos, uma vez que quem degrada o ambiente precisa responder e pagar por sua lesão ou
ameaça90.
2.3 TIPOS DE DANOS AMBIENTAIS
A Lei nº 6.938, de 31 de agosto de 1981, que dispõe sobre a Política Nacional do
Meio Ambiente, seus fins e mecanismos de formulação e aplicação, conceitua o meio
ambiente, como já observado anteriormente, como ”o conjunto de condições, leis, influências
e interações de ordem física, química e biológica, que permite, abriga e rege a vida em todas
as suas formas” (art. 3º, inciso I).
A mesma lei, trata também de conceituar o que vem a ser a degradação ambiental
e a poluição, como se observa:
Art. 3º - Para os fins previstos nesta Lei, entende-se por: [...] II - degradação da qualidade ambiental, a alteração adversa das características do meio ambiente; III - poluição, a degradação da qualidade ambiental resultante de atividades que direta ou indiretamente: a) prejudiquem a saúde, a segurança e o bem-estar da população; b) criem condições adversas às atividades sociais e econômicas; c) afetem desfavoravelmente a biota; d) afetem as condições estéticas ou sanitárias do meio ambiente; e) lancem matérias ou energia em desacordo com os padrões ambientais estabelecidos;
A Lei dos Crimes Ambientais prevê a aplicação de penalidades para os crimes de
poluição:
Art. 54. Causar poluição de qualquer natureza em níveis tais que resultem ou possam resultar em danos à saúde humana, ou que provoquem a mortandade de animais ou a destruição significativa da flora: Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa. § 1º Se o crime é culposo: Pena - detenção, de seis meses a um ano, e multa. § 2º Se o crime: I - tornar uma área, urbana ou rural, imprópria para a ocupação humana;
90 LEITE, José Rubens Morato. Estado de direito do ambiente: uma difícil tarefa. In: LEITE, José Rubens Morato (org.) Inovações em direito ambiental. Florianópolis: Fundação Boiteux, 2000.
34
II - causar poluição atmosférica que provoque a retirada, ainda que momentânea, dos habitantes das áreas afetadas, ou que cause danos diretos à saúde da população; III - causar poluição hídrica que torne necessária a interrupção do abastecimento público de água de uma comunidade; IV - dificultar ou impedir o uso público das praias; V - ocorrer por lançamento de resíduos sólidos, líquidos ou gasosos, ou detritos, óleos ou substâncias oleosas, em desacordo com as exigências estabelecidas em leis ou regulamentos: Pena - reclusão, de um a cinco anos. § 3º Incorre nas mesmas penas previstas no parágrafo anterior quem deixar de adotar, quando assim o exigir a autoridade competente, medidas de precaução em caso de risco de dano ambiental grave ou irreversível91.
Ao comentar o citado art. 54, Sirvinskas destaca justamente que o art. 225, da
Constituição Federal de 1988, apresenta o meio ambiente como bem jurídico tutelado, sob o
aspecto da proteção da pureza e limpeza da água, do ar e do solo. Em outros termos, é a
preservação do patrimônio natural e a qualidade de vida do ser humano, da fauna, da flora do
solo, do ar e das águas. A isso se acrescenta a proteção da paisagem (poluição visual urbana e
rural) e a proteção da sonoridade suportável (barulhos e ruídos prejudiciais ao sentido
auditivo)92.
A conduta punível resulta de causa de poluição de qualquer natureza (a visual, a
sonora, a hídrica, a atmosférica e a do solo) em níveis tais ao meio ambiente que resulte ou
possa resultar em danos à saúde humana, na mortandade de animais e na destruição da flora93.
Como se observa pelo disposto nesta lei, tanto à degradação quanto a poluição
ambiental constituem-se como formas de dano ambiental, pois afetam as condições naturais
do meio ambiente, configurando-se como crime ambiental. Portanto, são suscetíveis de
punição, em virtude do fato de interferirem na concretização de um direito importante do ser
humano, assegurado constitucionalmente, qual seja, o direito a um meio ambiente
ecologicamente equilibrado, segundo disposição contida no art. 225 do texto constitucional.
O dano ambiental, conforme estabelecido na Convenção de Lugano diz respeito a
qualquer perda ou prejuízo advindo da modificação do meio ambiente, “desde que a reparação
a título de alteração do meio ambiente, excetuada a perda de ganhos por esta alteração, seja
91 BRASIL. Lei nº 9.605, de 12 de fevereiro de 1998. Dispõe sobre as sanções penais e administrativas derivadas de condutas e atividades lesivas ao meio ambiente, e dá outras providências. Disponível em: <http://www.presidencia.gov.br/ccivil/Leis/L9605.htm> Acesso em: 10 abr. 2007. 92 SIRVINSKAS, op. cit., 2004, p. 193. 93 SIRVINSKAS, op. cit., 2004, p. 193.
35
limitada ao custo das medidas de restauração que tenham sido efetivamente realizadas ou que
serão realizadas”94. Desse modo, o dano ambiental se configura como um prejuízo
relacionado meio ambiente, provocada por pessoa física ou jurídica, que se vê obrigado ao
ressarcimento.
Os diversos tipos de poluição comumente são classificados em relação ao
componente ambiental afetado (poluição do ar, da água, do solo), pela natureza do poluente
lançado (poluição química, térmica, sonora, radioativa, etc) ou pelo tipo de atividade
poluidora (poluição industrial, agrícola, etc)95.
2.3.1 Poluição das águas
A poluição das águas é conceituada por Ribas como sendo as “perturbações
provocadas por atividades antropogênicas as quais produzem alterações nas características
físico-químicas do da água modificando as características biológicas dos sistemas
aquáticos”96.
A poluição da água se dá na forma de lançamento e acumulação de substâncias
químicas ou agentes biológicos nas águas, incluindo mares, rios e outros mananciais de água.
A poluição pode ocorrer em águas superficiais ou subterrâneas, afetando diretamente as
características naturais das águas e a vida nela existente97.
De acordo com Zampieron e Vieira, a poluição da água indica que um ou mais de
seus usos foram prejudicados, podendo atingir o homem de maneira direta, uma vez que ela é
empregada pelo mesmo para a realização de diversas atividades (bebida, limpeza, alimentação
etc.). Ademais, abastece as cidades, sendo utilizada também nas indústrias e na irrigação de
plantações98.
94 apud MACHADO, P. A. L. Direito Ambiental Brasileiro. 7 ed. rev., atua. e ampl. São Paulo: Malheiros, 1998, p. 268. 95 MINISTÉRIO DA SAÚDE, op. cit., 2002, p.11. 96 RIBAS, L. C. A problemática ambiental: reflexões, ensaios e propostas. São Paulo: Editora do Direito Ltda, 1999, p. 113. 97 RIBAS, op. cit., 1999, p. 113. 98 ZAMPIERON, Sônia Lúcia Modesto; VIEIRA, João Luís de Abreu. Poluição da água. Disponível em: <http://educar.sc.usp.br/biologia/textos/m_a_txt5.html> Acesso em: 10 abr. 2007.
36
Portanto, a água necessita ter aspecto limpo, pureza de gosto e encontrar-se isenta
de microorganismos patogênicos, o que é alcançado por meio do seu tratamento. Para se
manter a boa qualidade da água é preciso evitar sua contaminação por resíduos agrícolas, de
natureza química ou orgânica, esgotos, resíduos industriais, lixo ou outros sedimentos99.
A contaminação agrícola envolve resíduos do uso de agrotóxicos, que provêm de
uma prática às vezes desnecessária ou intensiva nos campos. Tais substâncias tóxicas são
enviadas para os rios por intermédio das chuvas. O mesmo ocorre com a eliminação do
esterco de animais criados em pastagens. Também há o uso elevado de adubos, que acabam
sendo carregados aos rios locais pelas chuvas, resultando o aumento de nutrientes nestes
pontos, afetando o equilíbrio ambiental.
No caso das cidades, os resíduos, como o lixo, entulhos e produtos tóxicos são
levados para os rios com ao auxílio das chuvas. As indústrias em geral produzem quantidade
elevada de resíduos em seus processos, sendo uma parte retida nas instalações de tratamento
da própria indústria, enquanto a outra é despejada no ambiente. As águas nas cidades podem
ser ainda poluídas pelas enxurradas e pelo esgoto.
Em suma, a poluição das águas pode ocorrer de várias maneiras, incluindo a
poluição térmica, que compreende a descarga de efluentes a altas temperaturas, a poluição
física, que é a descarga de material em suspensão, a poluição biológica, que diz respeito a
descarga de bactérias patogênicas e vírus, e a poluição química, relacionada a deficiência de
oxigênio, toxidez e eutrofização100 .
2.3.2 Poluição sonora
A poluição sonora corresponde a toda a vibração emitida acima dos níveis
suportados pelo ser humano, que causa lesões no sentido auditivo. É a produção de sons,
ruídos ou vibrações em desacordo com as precauções legais. Isso pode resultar em problemas
auditivos irreversíveis, além de perturbar o sossego e a tranqüilidade alheia101.
99 ZAMPIERON e VIEIRA, op. cit., 2007. 100 ZAMPIERON e VIEIRA, op. cit., 2007. 101 SIRVINSKAS, op. cit., 2004, p. 195.
37
A poluição sonora é um tipo de poluição que as pessoas em geral, sobretudo das
grandes cidades já se acostumaram. É um dos problemas da vida contemporânea que se dá por
meio do ruído inconveniente, ou seja, do som indesejado, sendo considerada um dos modos
mais graves de agressão ao homem e ao meio ambiente102.
De acordo com Organização Mundial da Saúde (OMS), o limite tolerável ao
ouvido humano corresponde de 65 dB (A). Acima disso, o organismo sofre estresse, o qual
eleva o risco de desenvolvimento de diversas doenças. Com ruídos acima de 85 dB (A) o risco
de comprometimento auditivo aumenta. Para mensurar a amplitude da poluição sonora, dois
fatores são fundamentais, quais sejam: o tempo de exposição e o nível do barulho a que o
indivíduo se expõe. O efeito mais comum associado a esse tipo de poluição é a perda de
audição103.
O que mais contribui para a poluição sonora é o ruído de trânsito de veículos
automotores. No contexto doméstico, a poluição sonora se dá por meio da emissão de ruídos
acima das especificações produzidas por eletrodomésticos. Também em muitas indústrias os
equipamentos utilizados na produção produzem ruídos elevados e, em muitas situações, os
funcionários não possuem equipamento de proteção adequado. Além da perda orgânica da
audição, o ruído industrial provoca vários males à saúde do empregado, envolvendo desde
efeitos psicológicos, como distúrbios neuro-vegetativos, náuseas e cefaléias, até redução da
produtividade e aumento do número de acidentes104.
2.3.3 Poluição atmosférica
Na poluição do ar ocorre o acúmulo de substâncias, gases, gotículas ou forma de
energia no ar em concentrações suficientes para a produção de efeitos negativos e visíveis no
homem, nos animais, nos vegetais ou em qualquer equipamento. Identifica-se com maior
facilidade a poluição do ar nos grandes centros urbanos devido a grande quantidade de
resíduos gerados e lançados na atmosfera105.
102 AMBIENTE BRASIL. Poluição sonora. Revista Meio Ambiente Industrial, mai./jun. 2001 Disponível em:<http://www.ambientebrasil.com.br/composer.php3?base=./urbano/index.html&conteudo=./urbano/poluicaosonora.html> Acesso em: 10 abr. 2007. 103 AMBIENTE BRASIL, op. cit., 2007. 104 AMBIENTE BRASIL, op. cit., 2007. 105 BRANCO, S. M. O meio ambiente em debate. 8 ed. São Paulo: Moderna, 1998, p. 79.
38
Tais resíduos resultam de combustão e de vários processos industriais, físicos ou
químicos que produzem gases ou partículas em suspensão no ar. De acordo com Branco, a
maior parte desses resíduos atmosféricos advém da combustão deficiente, resultando em
fumaças ou gases, que poderiam ser eliminados em grande parte através da oxidação, caso a
combustão fosse mais perfeita106.
A poluição atmosférica resulta em problemas como o efeito estufa, a destruição da
camada de ozônio e as chuvas ácidas. Para se agir de modo adequado contra a poluição
atmosférica é preciso seguir algumas medidas, quais sejam: medir e conhecer a concentração
dos poluentes no ar; definir quais são as fontes poluentes; identificar a qualidade do ar;
analisar os valores limite; observar a evolução da qualidade do ar; planejar ações que
promovam uma melhor qualidade do ar, como o reordenamento de atividades sócio-
econômicas, a localização das fontes poluentes, aa alteração do percurso rodoviário e a
redução das emissões de poluentes atmosféricos107.
2.3.4 Poluição do solo
A poluição do solo ocorre por meio da aplicação de substâncias líquidas, sólidas
ou semi-sólidas, que modificam as características naturais do solo. Como principais fontes de
poluição do solo tem-se os produtos químicos, representados, mormente, pelos agrotóxicos, os
resíduos sólidos e os efluentes líquidos, tais como esgotos domésticos e industriais, bem como
dejetos de animais108.
Segundo o Ministério da Saúde, os resíduos sólidos compreendem um dos
problemas ambientais centrais que perpassam a humanidade. Em grande parte dos casos, o
destino que é dado ao lixo sólido é inadequado, pois esses resíduos, inclusive os de valor
econômico que poderiam ser reciclados, são depositados em locais não estruturados para tal
função. Em diversas situações, os depósitos de resíduos, recebem materiais perigosos por
106 BRANCO, op. cit., 1998, p. 79/80. 107 POLUIÇÃO ATMOSFÉRICA. A poluição atmosférica como problema ambiental. Disponível em: <http://www.rudzerhost.com/ambiente/introducao.htm> Acesso em: 10 abr. 2007. 108 BRANCO, op. cit., 1998, p. 81.
39
falha no manejo, colocando em risco as pessoas que nele circulam, além da possibilidade de
contaminação do solo, da água e do ar109.
Com isso, evidencia-se a necessidade de promoção da redução do volume dos
resíduos sólidos recorrendo-se às práticas de reutilização e reciclagem, além de adiar ao
máximo a sua disposição final. A geração de resíduo sólido pode ser reduzida pela diminuição
de seu consumo ou redução de seu desperdício. Inclui-se também a redução da periculosidade,
pressupondo à escolha de materiais ou equipamentos dotados de menor risco no manejo e de
menor impacto ao meio ambiente110.
A prática da reutilização dos resíduos sólidos possibilita o uso de um produto
descartado para diversas finalidades, aproveitando-o ao máximo antes do descarte final, ou,
ainda, seu reenvio ao processo produtivo, visando a sua recuperação para o mesmo fim ou
recolocação no mercado com o fim de evitar o descarte por um período mais longo. Quando
não é mais possível a reutilização, resta aos resíduos sólidos a reciclagem. Essa consiste na
transformação de um produto depois de terminada sua vida útil, empregando os materiais que
o compõem em outro produto com fim diverso do produto original111.
Importa salientar também que a crescente demanda na produção de alimentos,
provoca o uso inadequado e em quantidades intensas dos agrotóxicos com o fim de reduzir
efeitos de pragas, aumentar índices produtivos, elevar a fertilidade dos solos e reduzir a
deterioração no armazenamento. Os agrotóxicos e fertilizantes são constituídos de produtos
químicos complexos de difícil decomposição, cujo uso constante resulta em elevada
contaminação dos solos e das águas112.
2.3.5 Poluição visual
A poluição visual, conforme explica Crispim, decorre do excesso de elementos
relacionados à comunicação visual, tais como: cartazes, anúncios, propagandas, banners,
109 MINISTÉRIO DA SAÚDE, op. cit., 2002, p. 13. 110 MINISTÉRIO DA SAÚDE, op. cit., 2002, p. 14. 111 MINISTÉRIO DA SAÚDE, op. cit., 2002, p. 15 112 BRANCO, op. cit., 1988, p. 66.
40
placas, entre outros. A maior parte desses objetos encontram-se dispostos em ambientes
urbanos, sobretudo em centros comerciais e de serviços113.
Nesse mesmo sentido, Sirvinskas conceitua a poluição visual como sendo a
alteração exterior do meio ambiente por meio da colocação de cartazes, placas de sinalização
ou de propaganda em geral, em lugares impróprios, bem como em residência ou comércio
urbanos, nas ruas ou estradas, fazendo com que a cidade fique feia e suja, causando uma
impressão negativa. Esse tipo de material também pode distrair a atenção do motorista que
trafega pelo local, provocando acidentes114.
Os poluidores visuais, além de promover o desconforto espacial e visual dos
indivíduos, desvalorizam as cidades, restringindo-as a espaços de promoção de trocas
comerciais. Importa observar, que o problema não reside na necessidade de eliminar a
propaganda, mas sim de controlá-la115.
A falta de controle sobre essas propagandas visuais degrada os centros urbanos
em virtude da inexistência de harmonia entre anúncios, logotipos e propagandas, os quais
concorrem pela atenção das pessoas, causando prejuízo a todos. Por outro lado, afirma
Crispim, o indivíduo perde a sua cidadania – no sentido de agente participativo da dinâmica
da cidade – para se tornar apenas um espectador e consumidor116.
2.3.6 Poluição da fauna
A fauna é conceituada no art. 29, § 3º, da Lei nº 9.605/98, compreendendo os
espécimes silvestres, ou seja, todos aqueles animais que pertencem às espécies nativas,
migratórias e quaisquer outras, aquáticas ou terrestres, que tenham todo ou parte de seu ciclo
de vida ocorrendo dentro dos limites do território brasileiro, ou, ainda, águas jurisdicionais
brasileiras117.
113 CRISPIM, Maristela. Poluição visual: agressão constante aos olhos. Terrazul. Disponível em: <http://www.terrazul.m2014.net/spip.php?article230> Acesso em: 10 abr. 2007. 114 SIRVINSKAS, op. cit., 2004, p. 195. 115 CRISPIM, op. cit., 2007. 116 CRISPIM, op. cit., 2007. 117 BRASIL. Lei nº 9.605, de 12 de fevereiro de 1998.
41
Machado afirma a fauna silvestre compreende “o conjunto de espécies animais de
um determinado país ou região”118. Por animal silvestre entende-se aquele que vive na selva
como o não domesticado. Por conseguinte, a poluição da fauna envolve todos os atos que
interferem no ciclo natural da fauna, ocasionando prejuízos para todos os animais que a
constituem.
Nesse mesmo sentido, Sirvinskas conceitua a fauna como “o conjunto de animais
próprios de um país ou região que vivem em determinada época. Embora se protejam as
espécies de fauna silvestre ou aquática, domésticas ou domesticadas, nativa, exóticas ou em
rota migratória, na prática essa proteção nem sempre se efetiva diante de todos esses animais.
Essa proteção não é, portanto, absoluta. A lei exige somente a licença ou autorização
fornecida por parte da autoridade competente para a prática da caça ou da pesca119.
2.3.7 Poluição da flora
A flora compreende todas as espécies vegetais existentes. O art. 38, da Lei nº
9.605/98 prevê uma pena de detenção, de um a três anos, ou multa, ou ambas as penas
cumulativamente, para aquele que destruir ou danificar floresta considerada de preservação
permanente, mesmo que em formação, ou utilizá-la com infringência das normas de
proteção120.
Para Sirvinskas, flora é o “conjunto das plantas de uma região, de um país ou de
um continente”. A flora não vive isoladamente, mas depende de uma interação permanente
entre outros seres vivos, bem como microorganismos e outros animais121.
A poluição da flora, portanto, compreende qualquer ação que afete o equilíbrio de
um ecossistema vegetal, podendo se configurar como uma poluição do solo, a qual poderá
interferir na formação da flora.
Ao se causar um incêndio em uma floresta, seja ela área de preservação
permanente ou não, também se está cometendo um ato de poluição contra a flora, sendo que o
118 MACHADO, op. cit., 1998, p. 646. 119 SIRVINSKAS, op. cit., 2004, p. 119. 120 BRASIL. Lei nº 9.605, de 12 de fevereiro de 1998. 121 SIRVINSKAS, op. cit., 2004, p. 149
42
indivíduo responsável por tal é suscetível de pena de multa e reclusão, conforme
determinação do art. 41, Lei nº 9.605/98122.
A Lei nº 9.605/98 reservou diversos artigos para tipificar as condutas criminosas
realizadas contra a flora, sobretudo, contra as unidades de conservação, englobando as
reservas biológicas, reservas ecológicas, estações ecológicas, parques nacionais, estaduais e
municipais, florestas nacionais, estaduais e municipais, áreas de proteção ambiental, áreas de
relevante interesse ecológico e reservas extrativistas ou outras a serem criadas pelo Poder
Público123. Não apenas a poluição é considerada crime contra a floral, mas as diferentes
formas de intervenção humana que provocam dano a flora são passíveis de punição.
122 BRASIL. Lei nº 9.605, de 12 de fevereiro de 1998. 123 SIRVINSKI, op. cit., 2004, p. 149
43
3 A POSSIBILIDADE DE CONCURSO DE PESSOAS NO CRIME AMBIENTAL
3.1 ASPECTOS DESTACADOS DA LEI 9.605/98
A Lei nº 9.605/98, mais conhecida como Lei de Crimes Ambientais apresenta
diversas orientações fundamentais em termos de penalização de condutas que por meio dela
se constituem como criminosas.
Tendo-se estabelecido o conceito de meio ambiente e sua importância para a
sociedade, infere-se que o crime ambiental compreende as ações que, de algum modo,
interferem no meio ambiente gerando prejuízos para seu equilíbrio. Sidou conceitua o crime
ambiental como sendo um delito penal “consistente em causar dano ao meio ambiente, por
ação predatória ou por meio de agentes químicos que o afetem”124.
Os crimes ambientais, embora a Lei nº 9.605/1998 não venha a conceituar a
expressão crimes ambientais, encontram-se previstos em tal lei. Essa lei prevê as punições que
devem ser aplicadas para todos aqueles que cometam algum tipo de crime contra o meio
ambiente, seja pessoa física ou jurídica125.
Em seu art. 2º, a Lei nº 9.605/98, determina que qualquer indivíduo que, de
alguma forma, praticar um crime ambiental, será submetido a penalidades, na medida da sua
culpabilidade. O culpado pode ser uma pessoa física, o diretor, o administrador, o membro de
conselho e de órgão técnico, o auditor, o gerente, o preposto ou mandatário de pessoa jurídica.
Também aquele que tiver conhecimento e compactuar com a conduta criminosa de outrem,
isto é, deixar de impedir a sua prática, quando podia agir no intento de evitá-la é submetido às
devidas penalidades que lhe cabem126.
Portanto, como bem observa Kirst e Silva, não somente a pessoa física é
susceptível de responsabilização penal, mas também a pessoa jurídica. Isso significa que não
pode persistir a impunidade daqueles que, pretendendo se aproveitar de um ente coletivo,
124 SIDOU, op. cit., 2001, p. 236. 125 BRASIL. Lei nº 9.605, de 12 de fevereiro de 1998. 126 BRASIL. Lei nº 9.605, de 12 de fevereiro de 1998.
44
praticam um determinado crime ambiental. Sendo o meio ambiente reconhecido como um
bem jurídico, é ele tutelável pelo Direito Penal127.
Tal artigo tem seu fundamento situado no texto constitucional de 1988, que em
seu art. 225, § 3º, dispõe que os infratores, responsáveis por condutas e atividades lesivas ao
meio ambiente, sejam eles pessoas físicas ou jurídicas, estão sujeitas a sanções penais e
administrativas, independentemente da obrigação de reparar os danos causados. Conforme
pontua Sirvinskas, nesse dispositivo encontra-se o fundamento da responsabilidade penal da
pessoa jurídica no âmbito da proteção do meio ambiente128.
Tem-se assim que com o advento da Lei nº 9.605/98, a responsabilidade penal
ambiental ficou dividida em: responsabilidade penal da pessoa física e responsabilidade penal
da pessoa jurídica. No que concerne à pessoa física, Sirvinskas admite que inexiste qualquer
dificuldade na aplicabilidade da pena. Todavia, em relação à pessoa jurídica, a
responsabilidade penal passou a ser tema de conflitos e divergências129.
Esse conflito resulta, mormente, pelo fato de imperar no direito penal o princípio
da culpabilidade (juízo de reprovabilidade). Dessa forma, pune-se a pessoa física com base na
sua culpabilidade (imputabilidade, potencial consciência da ilicitude e exigibilidade da
conduta diversa). Todavia, torna-se mais difícil aplicar esses critérios de punição a um ente
fictício, como é a pessoa jurídica, determinando-lhe, por exemplo, o pagamento de multa ou a
prestação de serviços para a comunidade130.
De acordo com Sirvinskas, a doutrina majoritária não admite a responsabilidade
penal da pessoa jurídica, sob o princípio clássico de que societas delinquere non potest. Mas a
tendência no direito penal moderno é romper com esse princípio, desde que observadas as
particularidades da pessoa jurídica para eventual aplicação da pena de caráter penal. Sua
responsabilidade jurídica não pode ser entendida como dotada de vontade. Além disso, é
preciso distinguir a pessoa física que age em nome da pessoa jurídica própria pessoa jurídica.
Se aquela incursionar no terreno penal responderá por esse delito, separando-se a atuação
pessoal da atuação da entidade131.
127 KIST, Dario José; SILVA, Maurício Fernandes da. Responsabilidade penal da pessoa jurídica na Lei nº 9.605/98. Jus Navigandi, Teresina, ano 7, n. 66, jun. 2003. Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=4168>. Acesso em: 16 maio 2007. 128 SIRVINSKAS, op. cit., 2004, p. 58. 129 SIRVINSKAS, op. cit., 2004, p. 60/61. 130 SIRVINSKAS, op. cit., 2004, p. 61. 131 SIRVINSKAS, op. cit., 2004, p. 62.
45
Apesar das dificuldades em torno da admissão da responsabilidade penal da
pessoa jurídica, a Constituição Federal adotou expressamente essa responsabilidade,
posteriormente disciplina pela Lei nº 9.605, em seu art. 3º, devendo, portanto, ser aplicada.
O referido art. 3§, da Lei nº 9.605, assim dispõe:
Art. 3º As pessoas jurídicas serão responsabilizadas administrativa, civil e penalmente conforme o disposto nesta Lei, nos casos em que a infração seja cometida por decisão de seu representante legal ou contratual, ou de seu órgão colegiado, no interesse ou benefício da sua entidade. Parágrafo único. A responsabilidade das pessoas jurídicas não exclui a das pessoas físicas, autoras, co-autoras ou partícipes do mesmo fato132.
A responsabilidade penal da pessoa jurídica deve ser buscada para assegurar a
proteção do meio ambiente. Os maiores poluidores e degradadores do meio ambiente são
justamente as industrias que lançam resíduos sólidos, gasosos e líquidos no solo, no ar, e nas
águas, causando danos irreversíveis ao lençol freático, ao ar, à terra, à flora e à fauna. Tal fato
coloca em risco a vida e a saúde do ser humano e causa danos ao meio ambiente133.
O art. 29, da Lei nº 9.605/98 concebe o crime contra a fauna como o ato de
“matar, perseguir, caçar, apanhar, utilizar espécimes da fauna silvestre, nativos ou em rota
migratória, sem a devida permissão, licença ou autorização da autoridade competente”.
Comete crime da mesma categoria aquele que “impede a procriação da fauna, sem licença,
autorização ou em desacordo com a obtida”; aquele que “modifica, danifica ou destrói ninho,
abrigo ou criadouro natural”; e o que “vende, expõe à venda, exporta ou adquire, guarda, tem
em cativeiro ou depósito, utiliza ou transporta ovos, larvas ou espécimes da fauna silvestre,
nativa ou em rota migratória, bem como produtos e objetos dela oriundos, provenientes de
criadouros não autorizados ou sem a devida permissão, licença ou autorização da autoridade
competente”134.
Com base nesse art. 29, da Lei nº 9.605/98, o Estado procura cumprir com sua
obrigação, enquanto representante de toda a nação, de proteger o bem que compreende a
fauna silvestre. De acordo com Prado, cumpre ao estado proteger e cuidar desse bem que
132 BRASIL. Lei nº 9.605, de 12 de fevereiro de 1998. 133 SIRVINSKAS, op. cit., 2004, p. 53. 134 BRASIL. Lei nº 9.605, de 12 de fevereiro de 1998.
46
assume característica de bem nacional, não como mero domínio eminente da nação. E a
biodiversidade e a natureza correspondem aos objetos da proteção legal135.
As condutas tipificadas em lei, que se configuram como crime ambiental contra a
fauna, compreendem, segundo Prado:
a) matar (exterminar, ceifar a vida); b) perseguir (incomodar, ir no encalço, importunar, seguir de perto, correr atrás, acossar); c) caçar (perseguir animais silvestres a fim de matar ou de os apanhar vivos); d) apanhar (recolher, colher, caçar com armadilhas, redes ou visgos); ou e) utilizar (servir-se, tirar proveito)136.
Como se observa, diversos são os atos contra a fauna que são criminalizados por
lei. Todavia, conforme salienta Maschio, na realidade do dia-a-dia se observa um grande
menosprezo em relação aos animais, tanto no que tange ao texto legal, quanto em termos de
sofrimento dos animais. Os seres humanos costumam tratar os animais de maneira indiferente,
de modo que apenas leis não são suficientes para assegurar o respeito aos direitos dos
animais, uma vez que os textos legais, na realidade, não obrigam, mas somente prescrevem
comportamentos comissivos ou omissivos, que podem ou não ser observados137.
No caso da flora, a Lei nº 9.605/98 define como conduta criminosa “o ato de
“destruir ou danificar floresta considerada de preservação permanente, mesmo que em
formação, ou utilizá-la com infringência das normas de proteção”138.
Assim como no caso da fauna, também os crimes contra a flora nem sempre são
punidos de maneira exemplar. Conforme observa Silva, o direito penal ambiental no Brasil
encontra-se deslegitimado, ainda que a tutela penal do ambiente seja considerada uma
exigência irrenunciável de controle do progresso técnico, decorrente do reconhecimento da
situação de ameaça do ambiente e da necessidade de uma melhor proteção dessas condições
de vida139.
Como se observa, diversas são as situações em que se configuram os crimes
ambientais, estando o sujeito, em tais casos, executando uma conduta criminosa passível de
135 PRADO, Luiz Regis. Crimes contra o ambiente: anotações à Lei nº 9.605, de 12 de fevereiro de 1988: doutrina, jurisprudência, legislação. 2 ed. rev., atual. e ampl. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2001, p. 55. 136 PRADO, op. cit., 2001, p. 55 137 MASCHIO, Jane Justina. Os animais. Direitos deles e ética para com eles. Jus Navigandi, Teresina, ano 9, n. 771, 13 ago. 2005. Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=7142>. Acesso em: 16 maio 2007. 138 BRASIL. Lei nº 9.605, de 12 de fevereiro de 1998. 139 SILVA, Rodrigo Alves da. A responsabilidade penal por danos ao meio ambiente . Jus Navigandi, Teresina, ano 7, n. 61, jan. 2003. Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=3630>. Acesso em: 16 maio 2007.
47
aplicação de penalidade. Na aplicação da pena, sua imposição e gradação, deve-se observar,
conforme determinação do art. 6º, da Lei nº 9.605/98:
I - a gravidade do fato, tendo em vista os motivos da infração e suas conseqüências para a saúde pública e para o meio ambiente; II - os antecedentes do infrator quanto ao cumprimento da legislação de interesse ambiental; III - a situação econômica do infrator, no caso de multa140.
Ao comentar tal dispositivo, Prado sustenta que o mesmo estabelece as regras
pelas quais se deve orientar o julgados para individualizar a pena, em conformidade com o
princípio constitucional da individualização da pena (art. 5º, inciso XLVI, da Constituição
Federal de 1988. O autor ainda observa que o contido no art. 6º é insuficiente para a real
determinação da pena141.
Dessa forma, torna-se necessário procurar o amparo contido no art. 59, caput, do
Código Penal, de aplicação subsidiária: o juiz, na definição da culpabilidade, deve levar em
conta os antecedentes, à conduta social, à personalidade do agente, os motivos, às
circunstâncias e conseqüências do crime, assim como o comportamento da vítima,
estabelecerá, conforme seja necessário e suficiente para reprovação e prevenção do crime142.
Nos termos do art. 14, da Lei nº 9.605/98, comentado por Prado, são
circunstâncias genéricas que atenuam a pena, tais como:
• o reduzido grau de instrução ou escolaridade do agente, o que se aplica ao
agente que não concluiu no mínimo o ciclo básico e preliminar de estudos –
os quatro anos de ensino fundamental –, apresentado precária formação
educacional;
• o arrependimento do infrator, manifestado por intermédio da espontânea
reparação do dano, ou limitação significativa da degradação ambiental
causada: embora a lei mencione o adjetivo espontâneo (sem insinuação
estranha) como elemento subjetivo, entende-se como suficiente a
exteriorização voluntária, conforme dispõe o Código Penal (art. 16);
• comunicação prévia pelo agente do perigo iminente de degradação
ambiental: nesse caso, o agente demonstra arrependimento e, diante da
140 BRASIL. Lei nº 9.605, de 12 de fevereiro de 1998. 141 PRADO, op. cit.,2001, p. 47. 142 PRADO, op. cit., 2001, p. 47.
48
ameaça de perigo/risco iminente ou próximo da degradação do ambiente
antecipa-se e comunica o fato à autoridade ambiental;
• colaboração com os agentes encarregados da vigilância e do controle
ambiental: isso significa que o autor presta qualquer tipo de colaboração ou
ajuda para com as pessoas incumbidas da vigilância e do controle
ambiental143.
No que tange aos fatores agravantes da pena, estes são descrito em linhas gerais
no art. 15, da Lei nº 9.605/98. Destaca-se a reincidência nos crimes de natureza ambiental e o
cometimento de infração tendo em vista a obtenção da vantagem pecuniária, a coação de
outrem apara a execução material da infração, o alcance de áreas de unidades de conservação
ou áreas sujeitas a regime especial de uso, o alcance por meio de dano das áreas urbanas ou
quaisquer assentamentos urbanos, entre outros motivos envolvidos no crime que terminam
por acarretar aumento da pena144.
Ao comentar a Lei nº 9.605/98, Silva pontua o fato de que essa lei se constitui
como um instrumento fundamental de controle da criminalidade contra o meio ambiente. A
lei procura uniformizar as penas, atribuindo às mesmas um período de duração mais justo e
compatível com o delito e a punição, delimitando melhor as circunstancias que agravam ou
atenuam a pena145.
Outro aspecto de suma relevância e enfatizado na lei em comento compreende a
figura da responsabilidade penal das pessoas jurídicas, as quais responderão pela infração
ambiental, seja ela cometida por meio de decisão de seu representante legal, contratual ou de
seu órgão colegiado no interesse ou benefício da empresa, ou a quem de qualquer modo tenha
concorrido para a prática do crime, na medida e proporção de sua culpabilidade146.
Na concepção de Silva, a adoção das denominadas penas restritivas de direito
também compreende outra importante inovação introduzida pela Lei nº 9.605/98. Essas penas
alternativas, que substituem as penas restritivas de liberdade, representam uma alternativa a
disposição do juiz, no intento de, ao julgar, possa recorrer a alternativa que lhe pareça mais
143 PRADO, op. cit., 2001, p. 49/50. 144 PRADO, op. cit., 2001, p. 50. 145 SILVA, Vicente Gomes da. Legislação ambiental comentada. 2 ed. rev. e ampl. Belo Horizonte: Fórum, 2004, p. 103. 146 SILVA, op. cit., 2004, p. 103.
49
eficaz para o caso específico, quer seja sob o aspecto do condenado, quer seja sob o aspecto
do dano ambiental causado147.
Por fim, a Lei de Crimes Ambientais prevê a liquidação força da pessoa jurídica
que tenha sido criada ou utilizadas com a finalidade de facilitar ou ocultar o crime ambiental,
cujo patrimônio, neste caso, é transferido para o Fundo Penitenciário Nacional, entre outras
medidas que asseguram uma maior proteção ao meio ambiente148.
3.2 A POSSIBILIDADE DE RESPONSABILIDADE PENAL SEGUNDO A TEORIA
UNITÁRIA
O concurso de pessoas no direito ambiental tem seu fundamento situado no art. 2º,
da Lei nº 9.605/98, o qual dispõe que aquele que de qualquer modo concorrer para a prática
dos crimes ambientais incide nas penas na medida de sua culpabilidade. Também aquele que
tem conhecimento da conduta criminosa e nada faz para evitá-la é susceptível de punição
penal.
Sirvinskas observa que o art. 2º, da Lei nº 9.605/98 é praticamente uma
transcrição do art. 29, do Código Penal, acrescentando somente as pessoas responsáveis pela
pessoa jurídica diretamente (seus dirigentes) ou aqueles que indiretamente têm poder de
decisão (preposto ou mandatário)149.
Com isso, o legislador adotou o princípio da co-autoria necessária entre a pessoa
física e a jurídica. O crime ambiental poderá ser praticado por uma ou mais pessoas em
concurso. Se praticado por uma única pessoa, o crime é denominado de monossubjetivo. No
caso de diversas pessoas concorrerem para a consumação do crime, recebe a denominação de
plurissubjetivo150.
De acordo com Capez, no caso do crime plurissubjetivo, também conhecido pela
denominação de pluralidade de condutas, no qual se dá o concurso de agentes, é necessário
que, no mínimo, duas condutas, quais sejam, duas principais, realizadas pelos autores (co-
147 SILVA, op. cit., 2004, p. 103. 148 SILVA, op. cit., 2004, p. 103. 149 SIRVINSKAS, op. cit., 2004, p. 47. 150 SIRVINSKAS, op. cit., 2004, p. 47.
50
autoria), ou uma principal, e outra acessória, praticadas, respectivamente, por autor e
partícipe, se façam presentes151.
Além disso, se a conduta não possui relevância causal, ou seja, não tenha
contribuído para a eclosão do resultado, não pode ser considerada como parte do concurso de
pessoas. Dessa forma, por exemplo, não se pode falar em concurso quando a outra conduta é
praticada depois da consumação do delito. Se ela não possui relevância causal, afirma Capez,
então o agente não concorreu para nada, desaparecendo a hipótese de concurso152.
Não obstante, faz-se necessária a unidade de desígnios, isto é, a vontade de todos
de contribuir para a produção do resultado, sendo o crime produto de uma cooperação
desejada e recíproca. Se inexistir um concurso de vontade visando uma finalidade comum, o
concurso de pessoas não se concretiza. Em seu lugar, surge a chamada autoria colateral153.
Na hipótese do concurso de pessoas, segundo Sirvinskas é necessário comprovar o
seguinte:
a) a pluralidade de condutas – deve-se descrever as condutas do autor, do co-autor e dos partícipes; b) a relevância causal de cada uma das condutas dos autores, co-autores e partícipes – deve descrever pormenorizadamente a conduta de cada um na execução do crime e sua relevância causal; c) o liame subjetivo – deve-se ainda comprovar a participação de cada um no crime; d) a identidade de infração para todos os participantes – o crime deve ser idêntico para todos os autores, co-autores e partícipes154.
No direito ambiental, o concurso de pessoas, no entender de Sirvinskas, se divide
em: co-autoria e participação. Essa participação pode ser: moral (instigar e induzir) ou
material (proporcionar auxílio instrumental). No caso da co-autoria, os autores executam
diretamente o verbo definido no tipo penal. Cada um poderá executar condutas diversas com a
finalidade de atingir o objetivo estabelecido. No segundo caso, o partícipe não executa o
verbo ou a ação delitiva diretamente, mas coopera para a consecução do delito. Essa
cooperação poderá ser moral, ou seja, quando a pessoa estimula e reforça a idéia do crime
preexistente, ou material, quando se fornecem os instrumentos necessários para a prática do
crime155.
151 CAPEZ, op. cit., 2005, p. 344. 152 CAPEZ, op. cit., 2005, p. 344. 153 CAPEZ, op. cit., 2005, p. 344. 154 SIRVINSKAS, op. cit., 2004, p. 48. 155 SIRVINSKAS, op. cit., 2004, p. 48.
51
Em relação à co-autoria, Capez esclarece que esta se configura quando todos os
agentes criminais, “em colaboração recíproca e visando o mesmo fim, realizam a conduta
criminal”. Já a participação se configura quando o agente, “sem realizar a conduta descrita no
tipo”, concorre para a realização do mesmo156.
No que tange as formas de participação, Capez também a divide em moral e
material. A participação moral, pode se dar por instigação, quando se reforça uma idéia já
existente, ou por indução, quando a pessoa atua no sentido de fazer brotar a idéia no agente,
isto é, o agente não tinha a idéia de cometer o crime, mas ela é incutida na mente do mesmo
por outra pessoa157.
Quanto à participação material, caracterizada pelo auxílio, esta corresponde, na
verdade, à antiga cumplicidade. Desse modo, considera-se partícipe aquele que “presta ajuda
efetiva na preparação e execução do delito”158. Em outros termos, são aqueles indivíduos que
auxiliam por meio do fornecimento de informações que facilitem a execução, fornecem armas
ou outros objetos úteis ou necessário à concretização do crime ou toma parte da própria
execução por meio de qualquer auxílio relevante.
Em relação à prática da infração por pessoa física, aplica-se, subsidiariamente, o
disposto no Código Penal. No entanto, segundo Sirvinskas, podem surgir dúvidas no que
tange à responsabilidade da pessoa jurídica e dos seus mandatários. Ainda assim, o diretor, o
administrador, o membro do conselho e de órgão técnico, o auditor, o gerente, o preposto ou
mandatário são responsáveis direta ou indiretamente pela pessoa jurídica. Portanto, todas
essas pessoas poderão responder cumulativamente pelo delito ambiental159.
É possível também que os dirigentes de uma pessoa jurídica determinem que um
funcionário seu realize uma conduta delituosa para se eximir da eventual responsabilidade
penal. Em tal situação, a pessoa jurídica deverá responder pelo delito, mormente no caso de a
empresa obter benefícios em virtude da conduta. Dependendo do caso específico, pode
resultar em responsabilização penal da pessoa jurídica e de cada um dos seus membros160.
156 CAPEZ, op. cit., 2005, p. 338/339. 157 CAPEZ, op. cit., 2005, p. 346. 158 CAPEZ, op. cit., 2005, p. 346. 159 SIRVINSKAS, op. cit., 2004, p. 50. 160 SIRVINSKAS, op. Cit., 2004, p. 50.
52
Sirvinskas pontua a necessidade de cada caso de crime ambiental ser analisado de
maneira cuidadosa no intento de impedir o abuso de autoridade, além de evitar a eventual
responsabilidade objetiva da pessoa jurídica e de seus dirigentes ou a impunidade geral161.
A punibilidade no caso de concurso de pessoas no direito pátrio, tendo por base o
Código Penal, é efetuada por meio da consideração da teoria monística. Adota-se, porém, a
teoria restritiva do autor, fazendo perfeita distinção entre o autor e o partícipe, como pontuado
acima, ambos concorrendo na mesma pena cominada ao crime que praticarem. Todavia, em
termos concretos, a pena variará em conformidade com a culpabilidade de cada participante.
E, no que tange ao partícipe, variará também de acordo com a importância causal da sua
contribuição162. Se esta é a norma que se aplica de forma geral no direito pátrio, por
conseguinte, também se aplica ao Direito Ambiental, uma vez que a Lei nº 9.605/98 encontra-
se em conformidade com o disposto no Código Penal.
3.3 A POSSIBILIDADE DE RESPONSABILIDADE PENAL POR OMISSÃO
PENALMENTE RELEVANTE
A omissão penalmente relevante tem sua previsão apontada no art. 2º, da Lei nº
9.605/98, ao dispor que está sujeito à penalidade aquele que conhecer a conduta criminosa de
outra pessoa física ou jurídica, como o diretor o administrador, o membro do conselho e de
órgão técnico, o auditor, o gerente, o preposto ou mandatário de pessoa jurídica, nada faz para
impedir a prática ilegal, quando poderia agir no intento de evitá-la163.
Dessa forma, como bem pontua Silva, a lei pune também o diretor, o
administrador, o membro de conselho e de órgão técnico, o auditor, o gerente, o preposto ou
mandatário de pessoa jurídica, que, tendo conhecimento da conduta criminosa de outrem,
nada faz com o intuito de impedir sua prática quando deveria agir para evitá-la164.
Tem-se, portanto, que por meio da Lei nº 9.605/98, procurou o legislador
responsabilizar também todos os indivíduos que tiverem conhecimento da conduta criminosa
de outrem e deixarem de impedir a sua prática quando deveriam agir para evitá-la. Trata-se
161 SIRVINSKAS, op. cit., 2004, p. 50. 162 BITTENCOURT, op. cit., 2006, p. 533 163 BRASIL.Lei nº 9.605, de 12 de fevereiro de 1998. 164 SILVA, op. cit., 2004, p. 103.
53
justamente da conduta omissiva, ou seja, da obrigação de não deixar de impedir a realização
de um crime do qual se toma conhecimento165.
Importa salientar que a questão da omissão no concurso de pessoas encontra
referência também no Código Penal. Segundo o art. 13, § 2º, do referido diploma legal, a
participação por omissão se dá quando o sujeito, tendo o dever jurídico de agir para evitar o
resultado, se omite de modo intencional, desejando que ocorra a consumação166. Portanto,
quando o indivíduo tem o dever de praticar ação que possa evitar o crime, mas não o faz,
configura-se a situação de omissão penalmente relevante.
Capez afirma que a omissão difere da conivência no caso do crime. Esta se dá
quando o sujeito, sem ter o dever jurídico de agir, se omite durante a execução do crime,
quanto tinha condições de impedi-lo. A conivência não se insere no nexo causal, como forma
de participação, não sendo punida, salvo se constituir delito autônomo. Dessa forma, sem a
existência do dever jurídico de agir, não se configura a hipótese de participação por omissão.
Em outras palavras, a simples presença no ato de consumação ou à não denuncia à autoridade
competente de um fato delituoso de que se tem conhecimento não pode constituir participação
punível167.
Para se configurar a participação é necessário que exista o dever jurídico de agir.
É por isso que no caso da participação por omissão, como o omitente possui o dever de evitar
o resultado, por este responderá na qualidade de partícipe. Nesse caso, há uma conduta inativa
voluntária, quando ao agente cabia, na circunstância, o dever jurídico de agir, e ele atua com a
vontade consciente de cooperar no fato168.
Bittencourt salienta que não se pode confundir a participação em crime omissivo
com a participação por omissão em crime comissivo. A participação no crime omissivo ocorre
geralmente por intermédio de um agir positivo do partícipe que favorece o autor a descumprir
o comando legal, ou seja, é o tipificador do crime omissivo. Mas o participante pode também,
por meio de uma ação omissiva, participar de crime comissivo desenvolvido por outrem. Do
mesmo modo que o crime comissivo admite a participação por meio de omissão, o crime
omissivo também admite a participação por intermédio de comissão. Todavia, é inviável a
165 SIRVINSKAS, op. cit., 2004, p. 51. 166 CAPEZ, op. cit., 2005, p. 349. 167 CAPEZ, op. cit., 2005, p. 349. 168 CAPEZ, op. cit., 2005, p. 349.
54
participação omissiva em crime omissivo, sob a forma da instigação. “Não se pode instigar
através de omissão, pela absoluta eficácia causal dessa inatividade”169.
Conforme a previsão contida no art. 2º, da Lei nº 9.605/98, todos os indivíduos
elencados em tal dispositivo possuem a obrigação de informar, caso tomem conhecimento de
alguma conduta criminosa diante do meio ambiente, no caso de pessoa jurídica: o diretor, o
administrador, o membro de conselho e de órgão técnico, o auditor, o gerente, o preposto ou
mandatário. Dessa forma, segundo determinação legal, tais pessoas tornam-se participantes
por omissão, configurando a hipótese de concurso de pessoas, quando os mesmos, sabendo da
conduta criminosa de outrem, deixam de impedir a prática quando deveriam agir no intento de
evitá-la.
Em suma, as pessoas elencadas no art. 2º, da Lei nº 9.605/98, enquadram-se na
figura prevista no art. 13, do Código Penal. Possuem elas um dever legal de impedir a
realização de um crime ambiental quando dele tomam conhecimento. Ao deixar de cumprir
com essa obrigação, tornam-se participantes omitentes do crime, configurando a hipótese de
concurso de pessoas por meio de omissão relevante.
Em outras palavras, segundo salienta Sirvinskas, “se nada for feito, o responsável
da pessoa jurídica e as pessoas citadas poderão ser responsabilizadas penalmente”170. A
importância dessa omissão consiste justamente na atuação de quem tinha conhecimento da
conduta delituosa e podia agir para evitar o dano, mas se omitiu, tornando-se, desse modo,
partícipe por omissão.
169 BITTENCOURT, op. cit., 2006, p. 529/530. 170 SIRVINSKAS, op. cit., 2004, p. 51.
55
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O concurso de pessoas compreende a prática criminosa na qual duas ou mais
pessoas contribuem para a realização de um crime. O grau de participação dessas pessoas –
autor, co-autor, partícipe – na realização do crime pode ser variado, cabendo a cada uma a
penalidade proporcional à sua culpa.
Há crimes cuja realização somente se dá por intermédio da participação de mais
de uma pessoa, enquanto que em outros casos a atuação de duas ou mais pessoas é facultativa
e, comumente, tem em vista a maior garantia de sucesso no resultado do crime, bem como a
obtenção de benefícios por meio da participação.
Assim como nos diversos ramos do direito, também no Direito Ambiental ocorre
a aplicação do concurso de pessoas na concretização de um crime. A Lei nº 9.605/98 trouxe
importantes modificações em termos de punição por realização de crimes ambientais,
destacando-se a possibilidade de responsabilização penal da pessoa jurídica, bem como
determinando normas para a regulação do concurso de pessoas na realização de crimes
ambientais. Todavia, nem sempre as leis ambientais encontrem a devida efetividade prática,
ou seja, nem sempre sua aplicação com o fim de punir os praticantes de crimes ambientais é
realizada da melhor forma possível.
Seguindo a orientações da teoria monista no concurso de pessoas, cujo uso já se
encontra consagrado no direito pátrio, segundo a qual todos os que contribuem para a
integração do delito cometem o mesmo crime, mas admitindo a diferenciação entre o autor, o
co-autor e o participante, cada um deles punido na medida de sua culpabilidade, a Lei nº
9.605/98 prevê também a figura da participação por omissão.
O participante por omissão é aquele que toma conhecimento da realização da
conduta criminosa, e, tendo a obrigação de impedi-la, nada faz para evitar que o crime se
concretize. Os indivíduos que possuem essa obrigação, segundo a Lei nº 9.605/98 são os
seguintes: o diretor, o administrador, o membro de conselho e de órgão técnico, o auditor, o
gerente e o preposto ou mandatário da pessoa jurídica. Portanto, qualquer um desses
indivíduos que deixar de tomar as devidas medidas no intento de evitar a realização de um
crime do qual toma conhecimento antecipado torna-se participante por omissão no crime,
corroborando a hipótese de concurso de pessoas no caso concreto.
56
REFERÊNCIAS
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