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CONDOMÍNIOS FECHADOS NO BAIRRO DO ALTIPLANO - JOÃO PESSOA/PARAÍBA: FENÔMENO DA AUTO-SEGREGAÇÃO
Ana Gomes Negrão1 Sarah Araújo de Souza Coutinho2
RESUMO Este estudo tem como tema os condomínios fechados voltados para a classe de alta renda no bairro do Altiplano, tipologia habitacional que vem se expandindo nas médias e grandes cidades contemporâneas. Estes empreendimentos vêm transformando o cenário urbano e ambiental, ocasionando o crescimento da auto-segregação, proporcionando espaços capazes de reunir em um único ambiente equipamentos de uso coletivo condensados intramuros, contribuindo assim, para a crise do espaço público, já que estes empreendimentos se contrapõem aos padrões de sociabilidade. Assim, a pesquisa, dedica-se a investigar a ocupação do bairro do Altiplano a partir do surgimento dos condomínios fechados voltados para a classe de alta renda na cidade de João Pessoa/Paraíba. A sua produção foi executável mediante a revisão da literatura, onde tornou possível contextualizar e caracterizar como se deu o surgimento desta nova modalidade de habitação, como também pela coleta de dados quantitativos, obtidos através da aplicação de questionários e por meio de visitas in loco, pesquisas e análises dos materiais coletados. Os principais resultados obtidos desta pesquisa demonstram que os condomínios fechados foram classificados como ambientes privados e com inúmeros aparatos de defesa, permitindo a exclusão de uma população extramuros. Desta forma evidencia-se que com a proliferação dos condomínios fechados, elevam-se os índices de desigualdades, fomentando a difícil acessibilidade entre os agentes intramuros e extramuros. Palavras-chave: Auto-segregação. Alta renda. Condomínio fechado. Espaços públicos. Expansão urbana. 1 INTRODUÇÃO
Este estudo buscou investigar a consolidação de um setor voltado para a classe de alta
renda – região do bairro do Altiplano, que recebe atualmente a denominação de “Altiplano
Nobre” –, a partir da inserção de condomínios fechados na cidade de João Pessoa/Paraíba,
ressaltando o fenômeno da auto-segregação.
O objeto de estudo está localizado em João Pessoa-Paraíba, nordeste do Brasil, cidade
em processo de metropolização, que apresenta uma malha urbana com área de 211,475 km²,
onde se distribui uma população de aproximadamente 723,515 habitantes, conforme dados do
1 Doutoranda em Arquitetura e Urbanismo - Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) - E-mail: [email protected] 2 Arquiteta e Urbanista - Centro Universitário de João Pessoa (UNIPÊ) - E-mail: [email protected]
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IBGE, 2010.
Em João Pessoa, esta nova tendência habitacional vem expandindo o mercado
imobiliário e sendo alvo de grandes construtoras, destacando-se desde meados da década de
1980, e ganhando notoriedade no bairro do Altiplano a partir da década de 2000.
O bairro do Altiplano localiza-se ao sul da cidade supracitada, possui uma extensão de
225,60 hectares, com uma população de aproximadamente 5.233 habitantes, apresentando
uma densidade demográfica de 23,19 habitantes por hectare (IBGE, 2010). O mesmo faz
divisa ao norte e leste com o bairro Cabo Branco, a oeste com o bairro dos Bancários e
Castelo Branco e ao sul com o Portal do Sol, como ilustrado na Fig.01.
Figura 01: Mapa do bairro do Altiplano e Mapa do município de João Pessoa com
destaque para o bairro do Altiplano, respectivamente. Fonte: PMJP, 2012, adaptado por Coutinho, 2013.
Nesse sentido, a pesquisa apresentou como objetivos: identificar quais motivos
levaram os moradores a optar por esta nova forma de moradia no referido bairro, e investigar
quais as consequências que este novo setor – voltado para a classe de alta renda – causa na
malha urbana da cidade.
Diante disso, com a disseminação desta nova modalidade habitacional no bairro, mas
precisamente no “Altiplano Nobre”, a pesquisa analisou o condomínio horizontal Vila Real
(1999) e os condomínios verticais, que ainda encontra-se em fase de construção, o Tour
Geneve e as Mansões Heron Marinho. A escolha pelo empreendimento de caráter horizontal
justifica-se pelo o fato de o mesmo ter sido o primeiro condomínio construído no bairro
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supracitado, sendo direcionado para a classe de alta renda, já os condomínios verticais podem
ser justificados por apresentarem um alto padrão construtivo, tecnologias descritas como as
melhores do mercado e por ambos serem voltados para a classe de alta renda ressaltando
também a influência do marketing e dos construtores que constituem os atores que produzem
o espaço urbano. As localizações dos condomínios fechados analisados estão representadas na
Fig. 02.
Figura 02: Mapa do bairro do Altiplano com destaque para os condomínios estudados.
Fonte: PMJP, 2012, adaptado por Coutinho, 2013.
Para tanto, adotou-se uma metodologia que foi dividida nas seguintes etapas: (a)
contextualização teórica; (b) levantamento e formulação de dados informativos do objeto de
estudo e do seu entorno; (c) e, análise, avaliação e confronto dos dados obtidos através de
questionários e entrevistas realizadas com os condôminos e construtores, a fim de depreender
elementos relacionados aos condomínios fechados voltados para a classe de alta renda,
localizados no bairro do Altiplano.
A primeira etapa teve por finalidade elaborar uma fundamentação teórica que situa e
contextualiza o fenômeno dos condomínios fechados na cidade contemporânea. Esta
contextualização foi buscada a partir de uma literatura relevante, presente em periódicos,
monografias, dissertações de mestrado, teses de doutorado e livros, tornando possível
3
2
1
LEGENDA:
(1) Condomínio Horizontal Vila Real
(2) Condomínio Vertical Tour Geneve
(3) Condomínio Vertical Mansões Heron Marinho
Área referente ao Altiplano Nobre
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caracterizar como se deu o surgimento desta nova modalidade de habitação na cidade de João
Pessoa/Paraíba.
Na fase subsequente, referente ao levantamento e formulação de dados, com o auxílio
das informações da etapa mencionada acima, apoderando-se da situação estrutural da cidade
de João Pessoa/Paraíba, foi realizada a coleta de dados relativos ao objeto de estudo. A coleta
destas informações se deu através de consultas aos cadastros da Prefeitura Municipal de João
Pessoa – PMJP – e do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE –, bem como em
outras fontes institucionais e particulares, além do auxílio de instrumentos facilitadores, como
mapas e fotos satélites.
As visitas in loco juntamente com o levantamento fotográfico contribuíram para uma
melhor compreensão do bairro do Altiplano, onde estão inseridos os condomínios fechados
estudados, auxiliando na veracidade e confronto dos dados obtidos.
Além de dados de natureza espacial e quantitativa, a exemplo da localização e
nomenclatura, foi necessária a obtenção de dados sobre o bairro estudado que acomoda os
condomínios, com o objetivo de complementar a análise, acerca da infraestrutura básica e de
serviço, malha viária, paisagem urbana, bem como outros aspectos levantados nas análises
realizadas.
Neste momento da pesquisa, realizou-se, também, a aplicação de questionários
elaborados para os condôminos e construtores, que tiveram como objetivo, coletar opiniões
referentes aos motivos que levam a optarem por esta forma de morar, a exemplo da segurança
– buscada nos condomínios fechados – e a crise do espaço público, pelo fato do mesmo ser
apontado pela população como um recinto perigoso, caótico, barulhento, poluído e
indesejável.
O contato com os colaboradores dos dois grupos – moradores e construtores – se deu
de maneiras distintas, onde a aplicação dos questionários no condomínio horizontal Vila Real,
se deu através de visitas in loco durante o mês de Outubro do ano de 2013, sempre em dias de
semana, ou seja, de segunda à sexta-feira. Com relação à aplicação do questionário para os
construtores, também foram realizadas visitas in loco aos empreendimentos e as sedes das
construtoras, contudo, como o responsável nem sempre estava presente, assim, alguns
questionários foram encaminhados via email para serem respondidos.
A terceira etapa constou da avaliação, análise e confronto dos dados obtidos, resultado
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da aplicação dos questionários e entrevistas realizadas com os condôminos e construtores nos
empreendimentos supracitados. Por fim, diante dos resultados obtidos referentes aos
questionários aplicados, foi elaborado o documento final, embasado no referencial teórico
adotado.
2 REFERENCIAL TEÓRICO
Em meio às mudanças ocorridas nas cidades a partir do seu processo acelerado de
urbanização, em que ocorreu à expansão da malha urbana além de seu núcleo central –
normalmente o de origem – o sentido da realidade é substituído pela ambição de um estilo de
vida ostensivo, podendo-se evidenciar o processo da segregação socioespacial, que contribui
para a desigualdade na cidade. (CALDEIRA, 2009).
Diante disso, autores como Castells (1983) e Villaça (1998) mencionam definições
sobre o conceito de segregação. Castells (1983) define segregação socioespacial como a
tendência à organização do espaço em zonas de homogeneidade social interna e com
discrepância social entre elas, sendo esta disparidade percebida não só em termos de
diferença, mas de hierarquia, ou seja, rico versus pobre. Villaça (1998) define segregação
como um processo segundo o qual diferentes classes ou camadas sociais tendem a centralizar
cada vez mais em regiões gerais ou conjuntos de bairros da metrópole.
Com o processo de expansão das cidades, o sentimento de distância e separação se
opõe aos ideais do público moderno com suas liberdades democráticas. As consequências
dessa nova prática de separação faz com que as pessoas não reconheçam os membros dos
diferentes grupos sociais, fazendo com que a segregação de um se reflita na segregação do
outro, dialeticamente no mesmo processo e ao mesmo tempo. A camada de alta renda
consumindo e valorizando de forma diferenciada o espaço urbano contribui para as
desigualdades e as distâncias sociais (CALDEIRA, 2009).
O padrão mais conhecido de segregação é o centro versus periferia, segundo este
modelo, as classes mais ricas ficariam nas áreas mais centrais de infraestrutura e as classes
menos abastadas localizar-se-iam nas periferias desprovidas de serviços e equipamentos.
Contudo, não é mais comum, visto que hoje esta relação se apresenta de forma inversa.
Atualmente vê-se a subversão dos sinônimos, os centros passam a ser caracterizados como
deteriorados e as periferias consideradas como áreas de status (IDEM, 2009).
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Os condomínios fechados reforçam a segregação socioespacial uma vez que valorizam
a conduta de viver entre iguais, rejeitando todos aqueles que não residem no mesmo ambiente,
intitulados pelos moradores de intrusos, indesejáveis e pobres. Os loteamentos fechados são
denominados de comunidades fechadas que adquirem esta nomenclatura apenas no nome,
visto que os habitantes intramuros buscam pela preservação de uma cultura que objetiva a
perpetuação da separação e do isolamento, alegando que o padrão de qualidade, equivalência
monetária e a homogeneidade irão garantir segurança entre os iguais (MENDES e VIANA,
2012).
Apesar de muitos aspectos negativos, os condomínios se consolidam, visto que em
busca de uma nova alternativa de vida urbana para as classes médias e altas, o mercado
imobiliário revela por meio da publicidade, projetos habitacionais que tratam explicitamente a
separação, a segurança e o isolamento como questão de status, expressando repetidamente a
segregação social como um valor. Os anúncios revelam ambientes em que se pode retornar ao
fim do dia para encontrar um mundo de prazer onde uma “convivência sem inconveniência”
seria possível (CALDEIRA, 2009).
Partindo para o objeto de estudo da referida pesquisa, Lira (2012) afirma que a
presença deste tipo de moradia na cidade de João Pessoa revela efeitos negativos ao meio
urbano e a relativa qualidade de vida urbana, devido à inserção dos mesmos em bairros
periféricos precários de provimentos urbanos, expandindo a cidade de maneira antilógica e
antiecológica, por meio do sprawl urbano, ou melhor, por meio da expansão urbana,
desencadeando uma série de adversidades, por provocar o surgimento de vazios urbanos
ociosos, o aumento da dependência automobilística, desincentivando o uso de outras
modalidades, como transporte coletivo, circulação a pé, e de bicicleta.
Mesmo com alguns aspectos negativos relevantes, nota-se nos últimos anos uma
proliferação dos condomínios fechados voltados para a classe de alta renda na cidade de João
Pessoa, com construções de moradias de luxo atraídas pela divulgação do marketing, que usa
como atrativo a presença do “verde”, a aprazível paisagem litorânea e o fato de uma porção
do bairro ser intitulada de “Altiplano Nobre”, haja vista que a mudança de nomenclatura do
bairro sem que ocorra devida justificativa, deva ser frutos de interesses privados, já que o
bairro do Altiplano apresenta limitações de adensamento por questões de geomorfologia e
resistência mecânica do solo (SILVA, 2009).
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3 BREVECARACTERIZAÇÃODOBAIRRODOALTIPLANOE DOS CONDOMÍNIOS FECHADOS ESTUDADOS
O bairro do Altiplano encontra-se pouco habitado, carente de equipamentos e
infraestrutura urbana, apresentando numerosas áreas vazias e outras ocupadas pelos
condomínios fechados, que dividem espaço com a construção de novos empreendimentos da
mesma natureza – ver Figs. 03 e 04.
Figuras 03 e 04: Imagens do bairro do Altiplano.
Fonte: Coutinho, 2014.
Com relação à infraestrutura viária, grande parte das vias para automóveis encontra-se
em solo sem tratamento ou pavimentação, sendo 56% de áreas pavimentadas, as quais 13%
representam pavimentação asfáltica e 33% com paralelepípedo (SEPLAN, 2013).
Considerando o transporte urbano, o fluxo de veículos é predominantemente realizado
pelos moradores dos condomínios fechados, pelos turistas, já que a área possui equipamentos
urbanos de grande porte, a exemplo da Estação Ciência Cabo Branco e Centro de
Convenções, e movimentos de acessos aos bairros vizinhos.
No entanto, pelo fato do Altiplano não apresentar uma infraestrutura viária adequada
quanto à acessibilidade e mobilidade espacial nas regiões internas do bairro, e por haver
poucas linhas de ônibus e frotas que servem o local, geram baixa frequência e maior tempo de
espera pelo usuário, de aproximadamente 60 e 100 minutos.
A situação das calçadas pode ser classificada como precária, sendo consideradas
intransitáveis por não estarem adequadas em relação ao revestimento e, por possuírem
vegetação de forma não planejada e sem tratamento frequente – ver figuras 05 e 06.
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Figuras 05 e 06: Situação das calçadas do Altiplano.
Fonte: Coutinho, 2014.
Em relação à cobertura sanitária, segundo dados da SEPLAN (2013), observou-se que
o bairro conta com uma cobertura de rede de esgoto baixa, apresentando uma maior utilização
de fossa rudimentar nos domicílios. O fornecimento de água ligado à rede geral do bairro
apresenta um alto nível de cobertura, atingindo mais de 97% das residências (CAGEPA,
2014). Quanto ao fornecimento de energia, o bairro é abastecido pelos serviços da
ENERGISA.
Durante as visitas in loco, puderam ser observados alguns espaços destinados aos usos
institucionais e de serviços, no entanto, comércios, supermercado e escolas só foram vistos
em áreas adjacentes ao bairro, onde a predominância de tipologia difere dos condomínios de
alta renda.
O processo acelerado de verticalização percebido nos últimos anos no Altiplano pode
ser justificado pela vigência da lei: O Decreto Municipal nº 5844, instituído em 2007, que
estimulou o adensamento da área até então pouco ocupada (MENEZES, 2013), favorecendo o
fenômeno da auto-segregação.
3.1 LEGISLAÇÃO DO BAIRRO DO ALTIPLANO
Segundo Tavares (2010), como qualquer espaço no Brasil, a área estudada apresenta
um conjunto de normas que tem como objetivo nortear a ocupação do espaço, desde as leis
mais gerais como a Constituição Brasileira de 1988 e a Constituição Paraibana de 1989, até as
leis mais peculiares como o Plano Diretor da cidade de João Pessoa de 1993.
O Altiplano localiza-se segundo o artigo 3º do Decreto Municipal 5.363/2005 nas
zonas A, B e C e na ZR3, localizando-se no Setor de Amenização Ambiental (SAA). Segundo
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o Plano Diretor da cidade, em seu artigo 39 inciso II, o bairro é considerado uma Zona
Especial de Proteção, que vem perdendo espaço para as construções privadas como os
condomínios fechados, haja vista, que fatores a exemplo de localização, valor da terra e
especulação imobiliária, associados a uma lei de controle e uso do solo, gerada através de
interesses particulares, contribuem para a segregação das classes sociais (CASTOR, 2010).
O Decreto nº 5.844/2007 delimitou um perímetro englobando determinadas quadras,
onde os índices urbanísticos de diferenciam do resto do bairro, contribuindo para a
multiplicação da terra urbana e gerando interesse das classes mais altas da população – ver
Fig. 07. Em virtude disso, torna-se evidente que a mudança de uma área tão pequena da malha
urbana, sem que haja devida justificativa, deva ser fruto de interesses privados, já que o bairro
do Altiplano apresenta limitações de adensamento por questões de geomorfologia e
resistência mecânica do solo (CASTOR, 2010).
A área denominada de “Altiplano Nobre” vem sendo considerada como elitista,
apresentando um perfil socioeconômico voltado para as classes A e B, este fato justifica a
implantação de empreendimentos com os conceitos Mix Building e Smart Building
(MENEZES, 2013).
Figura 07: Decreto nº 5.844/2007.
Fonte: Castor, 2012.
Presentemente, verifica-se a mudança de nomenclatura do bairro, havendo
fragmentação em “Altiplano” e “Altiplano Nobre”, pelo fato do bairro está sendo
direcionado para a classe de alta renda, diferenciando do conjunto habitacional ali existente,
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objetivando a construção de edifícios verticais de luxo (SILVA, 2009).
3.2 OS CONDOMÍNIOS FECHADOS ESTUDADOS 3.2.1 Condomínio Vila Real
O condomínio horizontal Vila Real (1999) está localizado na BCB – Zona B do Cabo
Branco –, num local que apresenta carência da infraestrutura básica, onde a rede viária e o
meio ambiente restringem a intensificação do uso do solo e na qual o limite máximo de
construção segue o índice de aproveitamento único.
O condomínio apresenta um traçado regular, com vias de acessos largas, e entrada de
condôminos, visitantes e serviços pelo mesmo local. Apresenta 137 lotes de caráter
predominantemente residencial, com dimensões de doze metros por trinta metros, e quinze
metros por trinta metros, recuos frontal de 5,00 m, lateral de 2,00 m e fundos de 3,00 m.
Foi percebido que o empreendimento atende aos requisitos instituídos na legislação
urbanística pertinente, haja vista que pouco se distingue da lógica imobiliária praticada em
lotes abertos, com preponderância do desenho em grelha, lotes retangulares e enfileirados,
sendo inseridos nos limites da rentabilidade máxima do solo, atendendo aos requisitos legais
(FERREIRA et al, 2012) – ver Figs. 08 e 09.
Figuras 08 e 09: Lotes enfileirados e retangulares do Condomínio Horizontal Vila Real.
Fonte: Coutinho, 2013.
O Vila Real é delimitado por muros altos, superior a dois metros, sem ornamentos,
caracterizando um entorno monótono, sem uma preocupação com a estética. Os espaços são
vigiados por elementos de segurança – guaritas, sistema de monitoramento, cercas elétricas e
câmeras – impedindo o diálogo entre a estrutura intramuros e o contexto urbano extramuros.
O empreendimento apresenta diversidade quanto às áreas coletivas, porém, a maioria
dos condôminos possui sua própria área de lazer, com dimensões reduzidas, ocupando muitas
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vezes a faixa de recuo, gerando um ambiente no qual a relação de vizinhança é pouco
valorizada (FERREIRA et al, 2012).
3.2.2 Condomínio Tour Geneve
O condomínio vertical Tour Geneve está em fase de construção desde 2012 – previsão
de conclusão prevista para o ano de 2016 –, e agrega três usos: residencial, comercial e
serviço. O empreendimento é compreendido por uma torre residencial com 51 pavimentos e
dois anexos, serviços e comercial, ambos com altura relativa a cinco andares. Os
apartamentos residenciais variam de 160 m² a 410 m², contando com mais de uma
possibilidade de planta livre e com até 08 vagas de garagem. Os volumes se encontram
integrados, sem que se perceba uma separação, entretanto, a torre de caráter residencial se
sobressai, evidenciando o alto padrão da edificação – ver Figs. 10 e 11.
Figuras 10 e 11: Maquete eletrônica do Tour Geneve.
Fonte: www.tws-empreendimentos.com.br
Pode ser percebido, que o partido arquitetônico adotado, mesmo descartando o uso de
muros altos e contando com a presença de jardins e passeios públicos, segrega a sociedade
pelo porte da edificação.
3.2.3 Condomínio Mansões Heron Marinho
O condomínio vertical Mansões Heron Marinho em fase de construção desde 2010 –
previsão de conclusão para o ano de 2015 – é considerado pelo marketing como uma das
primeiras mansões suspensas da Paraíba, possui apartamentos com metragens de 510 m²,
sendo o apartamento de 1º andar com 664 m² e a cobertura duplex com 889 m², com até 06
vagas de garagem. O empreendimento é constituído por uma torre com 39 pavimentos, sendo
um subsolo, térreo, mezanino e 34 apartamentos tipo e uma cobertura duplex – ver Fig. 12.
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Figura 12: Maquete eletrônica do condomínio vertical Mansões Heron Marinho.
Fonte: www.heronmarinho.com.br
A disposição da torre permitiu que fossem gerados espaços livres no interior do
terreno, onde foram locados os itens das áreas coletivas. O programa de áreas coletivas é
extenso, explorando a setorização de funções e atividades dentro do condomínio,
determinadas pela faixa etária e pelo sexo – ver tabela 01.
Tabela 01: Equipamentos presentes na área de lazer do condomínio Mansões Heron Marinho.
Fonte: Coutinho, 2013. 4 ANÁLISE DOS RESULTADOS OBTIDOS
Posteriormente à descrição dos condomínios fechados, realizou-se a aplicação dos
questionários, aonde as perguntas foram elaboradas de forma objetiva e de natureza mista, ou
seja, na sua maioria com opções de respostas pré-determinadas, contendo um espaço
reservado para anotações complementares, reconhecendo a opinião dos respondentes.
Com relação à abordagem do trabalho, caracteriza-se por ser uma pesquisa
quantitativa. Esta abordagem busca através do uso de recursos e técnicas estatísticas, traduzir
em números, opiniões e informações a fim de classificá-las e analisá-las (SILVA e
MENEZES, 2005).
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Desta forma, a população deste estudo é representada pelos condôminos do
Condomínio Vila Real, e pelos construtores de empreendimentos, identificados neste trabalho
por letras do alfabeto (A, B, C, D, E, F, G, H, I e J), que requisitaram a preservação das
identidades.
Contudo, por abranger um universo grande de elementos, seria difícil abordá-los em
sua totalidade. Diante disso, por considerar a população em estudo grande e como
dificilmente seria possível atingi-la por completo, trabalhou-se nesta pesquisa com uma
amostra, ou seja, um subconjunto do universo ou da população, por meio da qual se
estabelecem ou se estimam as características deste universo ou população (GIL, 2008).
Desta forma, determinou-se a utilização de uma amostra de 50 condôminos do
Condomínio Vila Real e de 10 construtores dos empreendimentos citados anteriormente. A
aplicação dos questionários para a coleta de dados da pesquisa aconteceu durante o mês de
Outubro do ano de 2013, onde os respondentes levaram em média 05 minutos para concluir
todo o questionário.
Posteriormente, foi realizada a análise dos dados com embasamento teórico, tendo
como objetivo organizar e sumariar os dados de forma tal que possibilitaram o fornecimento
de respostas ao problema proposto na investigação.
Deste modo, por ser uma pesquisa quantitativa, para analisar os dados coletados foi
utilizado o pacote estatístico Excel, aonde foram elaborados gráficos, a fim de obter um maior
entendimento do objeto de estudo, como também facilitar o entendimento das análises que
foram confrontadas com conceitos teóricos.
As perguntas elaboradas para os condôminos e os construtores tiveram como objetivo,
coletar opiniões referentes aos motivos que os levam a optarem por esta nova forma de morar,
abordando temáticas como a segurança, crise do espaço público, marketing, status, et coetera.
Diante do quantitativo obtido nos questionários, a segurança foi o principal aspecto
apontado pelos condôminos, fator determinante na compra de um imóvel num condomínio
fechado. Em virtude disso, o sociólogo Bauman (2009) afirma que a cultura do medo cede
espaço às novas aglomerações urbanas – os condomínios fechados – gerados pelo desejo de
uma verdadeira “mixofobia”, ou seja, ânsia pela segurança, que se confunde com o
isolamento e com a suspeita crescente com relação ao outro e ao diferente.
Os condôminos ao designar o fator segurança como decisivo consolidam que
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procuram um lugar seguro, livrando-se dos membros da underclass – pessoas que não
integram a sociedade e que vivem à sua margem (BAUMAN, 2009).
Outro aspecto relevante mencionado pelos condôminos é a má qualidade dos espaços
públicos que aliados à falta de segurança acaba por dificultar a convivência entre os cidadãos
e o espaço urbano.
De acordo com Jacobs (2000) os condomínios fechados com portões e grades
vigiados, contribuem para a formação de uma nova geração sem contato com a diversidade.
Os moradores não convivem mais nas ruas, entram e saem das suas moradias apressados,
considerando o espaço público como inseguro e hostil, sendo cenário de crimes e disputado
por meliantes e pedintes.
Para Caldeira (2009) os muros dos enclaves fortificados podem ser uma resposta à
abertura política ou ampliação dos direitos à população trabalhadora do Brasil, assim como
ocorreu nos Estados Unidos, em função de dois fatores, o crescimento do número de
imigrantes e a expansão dos direitos dos negros. E na Europa, este fator está associado à
expansão dos direitos de cidadania a imigrantes, como tentativa das classes de alto padrão
estar sentindo-se ameaçadas, de se protegerem.
De acordo com Villaça (1998) a necessidade de construir muros fechando os bairros
da classe de alta renda, ocorre não só num momento de incerteza econômica e da insegurança,
mas também quando os mais abastados começam a ficar mais próximos dos pobres e
miseráveis excluídos, ou seja, quando a classe de alta renda começam a ir para os
condomínios fechados inseridos na periferia. Contudo, essa maior proximidade dos mais
abastados aos pobres excluídos contribuem para a segregação de uma população extramuros.
Segundo Santos (2003) em virtude da insegurança vivenciada na cidade e, dos
consumidores convivendo com relatos sensacionalistas vinculados pela mídia sobre crimes
violentos, ou mesmo com análises passionais exageradas e generalistas a respeito da
insegurança dos espaços públicos, a maior parte dos respondentes assinalou que estes novos
condomínios com grandes espaços destinados a área de lazer, torna-se uma grande ameaça
para os espaços públicos.
Mediante este fator, os espaços coletivos dos condomínios fechados tendem a ser
comparados com os espaços públicos da cidade, cada vez mais museificados – sem interação
– deixando de ser palco onde se estabelece a relação entre os homens (SANTOS, 2003).
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Em vista de todas as temáticas presentes nos questionários aplicados aos moradores do
Condomínio Horizontal Vila Real, a tabela 02 apresentada abaixo, demonstra as perguntas
realizadas e o percentual da resposta principal assinalada pelos mesmos.
Tabela 02: Questionamentos realizados aos moradores do condomínio horizontal Vila Real
QUESTIONAMENTOS REALIZADOS
AOS MORADORES DO CONDOMÍNIO HORIZONTAL VILA REAL
PERCENTUAL DA RESPOSTA PRINCIPAL OBTIDA DOS
MORADORES DO CONDOMÍNIO HORIZONTAL VILA REAL
O que fez você adquirir um imóvel em um condomínio fechado?
56% Segurança
Você frequenta espaços públicos na sua cidade? Se respondeu ‘sim’, qual seria este espaço?
94% Sim 78% Praias
Você acha que as grandes áreas de lazer dos condomínios fechados podem substituir os espaços
públicos da cidade?
82% Sim
Você acha que as grandes extensões de muros dos condomínios fechados podem prejudicar a cidade e
a própria sociedade? se respondeu ‘sim’, de que maneira acha que prejudica?
76% Sim 45% Aumento da insegurança e diminuição do
convívio social
qual motivo levou você a morar no bairro do altiplano?
Acelerada verticalização e status
Fonte: Coutinho, 2013.
Com relação aos questionários aplicados aos construtores, os mesmos afirmam que
esta nova modalidade habitacional – condomínios fechados – são caracterizados como um
tipo de empreendimento vantajoso, com um bom retorno financeiro e com demanda suficiente
para absorvê-lo, fazendo com que muitos procurem investir neste tipo de construção.
De acordo com Duarte (2006) as cidadelas do lazer, termo utilizado pelo referido
autor, designa-se aos segmentos dos clubes e áreas de lazer particulares, como materializações
de uma sociedade que anseia resgatar intramuros e de forma errônea as experiências de
urbanidade e coletividade que ficaram encobertas pelo medo presente no seu cotidiano.
Outro aspecto apontado como primordial para os construtores é o programa de
necessidades presentes nos condomínios fechados. O fator mais relevante para a escolha é o
perfil do cliente consumidor, apontado como tendência de mercado, pois contribui para que o
empreendimento se ajuste às necessidades dos clientes, sendo os mais importantes para a
definição do programa de necessidades dos grandes empreendimentos apontados pelos
construtores – às áreas de uso coletivo seguido do número de vagas para automóveis e a
própria área do apartamento.
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Ao serem questionados sobre as grandes extensões dos muros que circundam os
condomínios fechados, os construtores aludiram que os mesmos não prejudicam a cidade nem
a sociedade, visto que, os construtores jamais vão contrariar seu próprio negócio, mesmo
tendo consciência que a grande extensão dos muros não isola apenas a cidade, mas a
sociedade como um todo.
Diante disso, fica indubitável que os condomínios fechados promovam uma mudança
na distribuição espacial dos diferentes grupos sociais, pelo fato de possibilitarem que estes
distintos segmentos possam viver próximo um dos outros, evidenciando os contrastes e as
desigualdades no espaço urbano (TAVARES e COSTA, 2010). Em vista de todas as
temáticas presentes nos questionários aplicados aos construtores, a tabela 03 apresentada
abaixo, demonstra as perguntas realizadas e o percentual da resposta principal assinalada
pelos mesmos.
Tabela 03: Questionamentos realizados aos construtores
QUESTIONAMENTOS REALIZADOS AOS CONSTRUTORES
PERCENTUAL DA RESPOSTA PRINCIPAL OBTIDA DOS CONSTRUTORES
Porque construir condomínios fechados? O que têm condicionado esta decisão?
60% Mais rentável
Como são definidos os programas de necessidades das áreas coletivas? Existe algo que é tomado
como referência?
50% Perfil do público alvo
Existe algum programa de necessidades específico para cada tipo de consumidor? Se respondeu ‘sim’,
qual o item mais relevante?
90% Sim 45% Áreas de uso coletivo
Você acha que as grandes extensões de muros dos condomínios fechados podem prejudicar a cidade e
a própria sociedade?
90% Não
Porque a construção dos condomínios horizontais estagnou, ascendendo a construção dos
condomínios verticais?
A maioria dos respondentes declarou que os condomínios verticais são uma forma de moradia
mais rentável, visto que agregam mais condôminos em um lote menor que os utilizados para a construção dos condomínios horizontais.
Fonte: Coutinho, 2013.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A pesquisa realizada abordou como tema os condomínios fechados de alta renda
locados no bairro do Altiplano, tipologia essa que vem se expandindo nas médias e grandes
cidades contemporâneas, modificando o cenário urbano e ambiental, contribuindo assim para
o crescimento da auto-segregação e crise do espaço público.
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Nesse contexto, a temática estudada, vem ganhando cada vez mais notoriedade e está
sendo discutida demasiadamente, visto que os enclaves fortificados enfatizam o valor do
privado e desvalorizam os espaços abertos presentes nas cidades, contribuindo para a
segregação e desigualdades no espaço urbano, promovendo assim, mudanças na distribuição
espacial dos grupos distintos. Diante disso, este trabalho apresentou como objetivos:
identificar quais motivos levam os moradores a optarem por esta nova forma de moradia
contemporânea, e investigar quais as consequências que este novo setor causa na malha
urbana da referida cidade.
A partir dos resultados obtidos, pôde-se inferir que a propagação dos condomínios
fechados nas cidades contemporâneas pode ser justificada pela junção de fatores, a exemplo
da segurança, homogeneidade social, status, intensa ação do marketing, crise do espaço
público e a existência de itens de lazer coletivo num único ambiente.
A presença dos condomínios fechados em João Pessoa revela efeitos nocivos ao meio
urbano e a relativa qualidade de vida, devido à inserção dos mesmos em bairros periféricos,
precários de infraestrutura, desencadeando uma série de adversidades, a exemplo do
surgimento de vazios ociosos, aumento das viagens diárias, e do esvaziamento dos espaços
públicos da cidade, baixa integração social e uniformidade visual.
Diante do estudo realizado, recomenda-se para futuras pesquisas, estudar um maior
quantitativo de condomínios fechados em ambas as modalidades – horizontal e vertical – em
cidades em processo de metropolização, como também em áreas em que se verifica o
surgimento desta nova forma de morar. Também recomenda-se a utilização de métodos
qualitativos, que permitam a observação de outros aspectos, como por exemplo, a análise do
discurso, a fim de comparar com os resultados alcançados com esta pesquisa.
REFERÊNCIAS
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