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Conhecimento e Metodologia do Ensino da Dança.pdf

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Vitria 2010UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPRITO SANTONcleo de Educao Aberta e a DistnciaAntnio Carlos MoraesCONHECI MENTOEMETODOLOGI ADOENSI NODADANA Copyright2010.Todososdireitosdestaedioestoreservadosaone@ad.Nenhumapartedeste materialpoderserreproduzida,transmitidaegravada,porqualquermeioeletrnico,porfotocpiae outros, sem a prvia autorizao, por escrito, da Coordenao Acadmica do Curso de Licenciatura em Educao Fsica, na modalidade a distncia.A reproduo de imagens de obras em (nesta) obra tem o carter pedaggico e cientifco, amparado pelos limites do direito de autor no art. 46 da Lei no. 9610/1998, entre elas as previstas no inciso III (a citao em livros, jornais, revistas ou qualquer outro meio de comunicao, de passagens de qualquer obra, para fns de estudo, crtica ou polmica, na medida justifcada para o fm a atingir, indicando-se o nome do autor e a origem da obra), sendo toda reproduo realizada com amparo legal do regime geral de direito de autor no Brasil.Dados Internacionais de Catalogao-na-publicao (CIP)(Biblioteca Central da Universidade Federal do Esprito Santo, ES, Brasil) Moraes, Antnio Carlos. Conhecimento e metodologia do ensino da dana / AntnioCarlos Moraes. - Vitria : Universidade Federal do Esprito Santo,Ncleo de Educao Aberta e a Distncia, 2010. 47 p. : il.Inclui bibliografa.ISBN: 978-85-99510-89-61. Dana - Estudo e ensino. I. Ttulo.CDU: 793.3B664pLDI CoordenaoHeliana PachecoHugo CristoJos Otavio Lobo NameCapaLeonardo TrombettaAmaralWeberth FreitasIlustraoLeonardo Trombetta AmaralEditoraoWeberth FreitasImpresso GM Grfca e EditoraPresidente da RepblicaLuiz Incio Lula da SilvaMinistro da EducaoFernando HaddadUniversidade Aberta do BrasilCelso Costa Universidade Federal do Esprito SantoReitorRubens Sergio RasseliVice-Reitor e Diretor-Presidente do Ne@adReinaldo CentoducattePr-Reitor de GraduaoSebastio Pimentel FrancoPr-Reitor de Pesquisa e Ps-GraduaoFrancisco Guilherme EmmerichPr-Reitor de ExtensoAparecido Jos CirilloDiretora-Administrativa do Ne@ad e Coordenadora UABMaria Jos Campos RodriguesDiretor-PedaggicoJlio Francelino Ferreira FilhoDiretor do Centro deEducao Fsicae DesportosValter BrachtCoordenao do Curso de Educao Fsica EAD/UFESFernanda Simone Lopes de PaivaRevisora de ContedoSilvana VentorimRevisora de LinguagemFrancisco Carlos PeixotoDesign GrfcoLDI - Laboratrio de Design InstrucionalNe@adAv. Fernando Ferrari, n.514 -CEP 29075-910, Goiabeiras -Vitria - ES(27) 4009 2208No cu utuavam trapos de nuvem quatro farrapos; do primeiro ao terceiro, gente; o quarto, um camelo errante.A ele, levado pelo instinto, no caminho junta-se um quinto.Do seio azul do cu, p-ante-p, se desgarra um elefante.Um sexto salta, parece. Susto: o grupo desaparece e em seu rastro agora se estafa o sol, amarela girafa.(Poema Trapos de nuvens de Maria Rita Kehl (2007, p.50)SumrioIntroduo 10Apresentao 6Ensino da dana na escola 12Nossa caminhada de formao 26Algumas consideraes 42Algumas referncias bibliogrcas 44L E I T U R AClicando nesse cone dentro da pla-taforma voc ter acesso textos.V D E OClicandonesseconedentrodapla-taforma voc poder assistir vdeos.Oriente-se...Os cones abaixo podero ser encontrados nas margens ao longo do texto. Eles indicaro contedo com-plementar, disponvel na plataforma, ou tarefas, que tambm podero ser comentadas nos fruns.TA R E F AEsse cone indica uma tarefa sugerida pelo professor autor.PREZADOSESTUDANTESDEEDUCAOF SI CAdoCentrodeEducaoFsicada Universidade Federal do Esprito Santo. com muita honra que me dirijo a vo-cs neste momento. Como sempre, quando aguardo o contato com uma turma nova, fco ansioso por esse momento. uma experincia nova trabalhar a certa distncia, usando outras ferramentas para que nos vejamos cara a cara e eu e vocs possamos ensinar-aprender-ensinar com base em outras expresses que no sejam o contato carnal todas as semanas. Sem dvida, ser para mim uma experincia rara. Lev-los a compreender alguns fundamentos da Dana sem a vivncia dos movimentos, do toque dos instrumentos, no conjunto da turma e sob o meu olhar e minha audio, ser um grande desafo. Contudo, penso ser perfeitamente possvel concluir tal empreitada com muito sucesso.Em contrapartida, considero que h um aspecto facilitador dessa misso. So-mos um grupo de educadores com formaes diversas. Alguns frequentaram formaes aligeiradas, outros tiveram formaes superiores e outros tiveram umadasmaisimportantesdetodasasformaes:aformaoemtrabalho. Essa experincia vivida por vocs nos d tranquilidade sobre aquilo que ser apresentadonestetexto,nastutoriasediscusses.Digoissocomacerteza de quem j viveu muito prximo desse tipo de formao e da situao vivida porprofessoresdeescolaslocalizadasemmunicpiosdistantesdosgrandes Apresentaocentrosurbanos,onde,atpoucotempoatrs,seconcentravamoscursos superiores de formao de professores de Educao Fsica.Sou professor do Centro de Educao Fsica e Desportos da Ufes desde 2006. Mas, antes disso, fui professor da educao bsica de 1982 a 1996, quando fui para o magistrio superior, ingressando na Faculdade de Educao da Universi-dade Federal do Rio de Janeiro, da qual me transferi para a Ufes, em 2006. Toda minha formao acadmica em Educao Fsica, da graduao ao doutorado. Trabalhei em escolas desde as primeiras sries do Ensino Fundamental at o En-sino Mdio, inclusive no antigo magistrio de 2 grau. Quando ainda estudante de Educao Fsica, trabalhei em cursos de curta durao durante as frias, mi-nistrandoaulasparaprofessoressemformaosuperiorquesecolocavam disposio para constante atualizao e qualifcao de suas prticas docentes.Essa prtica profssional me levou a defender uma dissertao de mestrado em1996,quandoestudeiasrepresentaeseoperfldoprofessordeEdu-cao Fsica nas escolas do Esprito Santo, sem curso superior especfco. Na oportunidade, foi possvel observar o compromisso daqueles professores com a disciplina, com a educao e com os alunos. Tambm foi possvel observar o desejo pessoal de todos eles em adquirir a formao superior para o sustento dirio de suas prticas pedaggicas; fortalecer suas posies polticas no inte-1 0 E D U C A O F S I C Arior da escola; garantir a construo do projeto pedaggico da escola a partir da possibilidade de efetivao no trabalho por meio de concurso pblico.Mas no me respaldo apenas em minhas experincias de sala de aula. Meu cursodedoutoradomelevouapensarsobreajuventudequefrequentaas escolas de educao bsica. Minha tese sobre o Colgio do Caraa, que formou aclassedirigentedoBrasilnosculo19,impulsiona-meapensaraescola como um campo cultural amplo que deve levar o estudante a uma condio intelectual sustentada pelas mais variadas formas de ensino e aprendizagem possveis. Variedade de lnguas estrangeiras, prticas corporais diversas e mui-ta arte so elementos fundamentais para a formao de um sujeito que dever ser preparado para participar do processo de direo da sociedade.Aps meu doutoramento em 2002, concentrei foras para pensar uma educa-o escolarizada diferente do padro da atual escola universal, de aprender a ler e a escrever de forma rudimentar. Em razo de minhas experincias como professor da educao bsica e da educao superior e da minha condio de membro-coordenador do Comit Cientfco do Colgio Brasileiro de Cincias do Esporte (CBCE) entre 2001 e 2009, fui convidado pelo Ministrio da Educao para coordenar a produo do texto de Educao Fsica das Orientaes Cur-riculares Nacionais para o Ensino Mdio, em que pude garantir a presena da Dana como contedo da Educao Fsica naquele segmento.Portanto, vou tentar estabelecer um dilogo que possa aliar a situao e as condies que conheo e a necessidade de dividir com vocs aquilo que de fundamental importncia na formao superior em uma universidade pblica: aliarcondiesimediatasdetrabalho,aquisiodecapacidadededomnio, manipulao e transformao do conhecimento com a nossa experincia aca-dmica, acmulo cultural e militncia no campo da educao.E N S I N O D A D A N A 11 O texto que apresento a vocs no um manual de aulas. Trata-se de uma espciederoteiroquenospermitircaminharduranteadisciplinaemdire-o a nossa formao. Nossa inteno lev-los a uma condio de domnio sobre alguns aspectos da Dana, de forma que vocs possam continuar estu-dando e ensinando a Dana, ancorados em alguns fundamentos efcazes no planejamento escolar, na prtica pedaggica e na ampliao constante de sua bagagem cultural, poltica e social.Entovamoscaminhando.Noqueroaquiadiantarmuitasleiturasoure-fernciasliterriasoutericas.medidaquecaminharmos,anecessidade deilustraoefundamentaoocorrer.Euindicareiasobrasnecessriase complementaressemprequenossacaminhadaexigir.Nessesentido,onos-soobjetivocomopresentetextofazerumadiscussoinicialcomalguns questionamentos sobre a presena da Dana no contexto escolar e indicaes metodolgicas para a prtica pedaggica, que seguiro trs eixos bsicos:A insero de cada um de vocs no mundo cultural da Dana, de forma que vocs se apropriem ou se aproximem da maior quantidade possvel de infor-maes acerca desse objeto;O domnio da linguagem da Dana por meio da pesquisa bibliogrfca;A construo da Dana como contedo escolar. Para tanto, apresentamos uma estrutura de texto focada em cinco partes:Discusso sobre o papel da Dana como contedo da Educao Fsica escolar;Abordagem sobre questes culturais da comunidade escolar;Abordagem sobre questes tcnicas da Dana na formao do professor;Abordagem sobre questes pedaggicas no ensino da Dana na escola;Questionamentos e indicaes iniciais de estudos sobre a Dana.MUI TA GENTE DEVE-SE PERGUNTAR por que o professor de educao fsica deve ensinardananaescola.Eurespondoqueoprofessordeveepodeensinar qualquer coisa na escola. Nunca necessariamente a Dana, mas, quando ne-cessrio, a Dana. Quando o professor faz o planejamento de suas aulas, ele precisa pensar em duas coisas fundamentais:A primeira em relao aos objetivos das aulas. Assim, na qualidade de pro-fessor, preciso responder a algumas questes:Aonde eu quero chegar com as minhas aulas?O que eu quero de meus alunos?Quais as mudanas que devo provowcar na vida deles?Quais as atitudes devem ser preservadas na vida deles?Quais os elementos intelectuais eu quero acrescentar vida deles?E a segunda o instrumento que ele pode utilizar para alcanar tais objetivos.Em nosso caso, questiono o seguinte:Como a Dana vai ajudar-me a levar meus alunos a algum lugar?A Dana seria um contedo efcaz para provocar as mudanas de comporta-mentos que eu e a comunidade escolar desejamos?IntroduoA Dana seria um instrumento interessante para preservar valores, atitudes e comportamentos que eu e a comunidade escolar consideramos importantes?Se tivermos, pelo menos, um pouco de certeza sobre isso, ento poderemos dizer que a Dana faz parte da lista interminvel de contedos de ensino da escola. Estamos, portanto, falando de uma dana que no uma disciplina em si. Estamos falando de uma dana na condio de contedo das aulas de Edu-cao Fsica, ou seja, a Dana aqui ser retratada como elemento possvel na construo de uma cultura corporal de movimento. Nesse sentido, se algum perguntarporqueensinardananaescola,podemosresponder:ensinamos Educao Fsica na escola na perspectiva da cultura corporal de movimento e, para alcanar nossos objetivos, poderemos fazer uso da Dana se ela estiver entre os elementos mais interessantes e efcazes para tal tarefa.Ento,algumpodeperguntar:comosaberseaDanaseriaumelemento interessante e efcaz?Em que medida podemos classifcar a Dana como contedo de ensino que nos interessa? Que interesse tem a escola pela Dana e que seja importante na vida escolar do aluno?OENSINODADANA NAESCOLABOM, SECHEGARMOSCONCLUSOdequeaDanasej a, em algum momento, um contedo a ser utilizado como cir-culaoeapropriaodeconhecimentonaescola,ento precisamos pensar como isso pode acontecer. Para incio de conversa, temos de caracteriz-la no campo de conhecimen-todaEducaoFsica.IssosignifcapensaraDanacomo prticacorporalenoapenascomoarte.Nessesentido,o corpoquefazpassos,corridas,saltos,giros,caretas,pirue-tas, chutes, entre outros, recebe a companhia de elementos musicaisevisuais.Recebetambmaconduodedese-nhosespaciaisecorporaisetodotipodeexpressividades.1 6 E D U C A O F S I C AOdetalhesobreaDanacomocontedodaEducaoFsicanaescolase diferenciadesuacondiodesimplesartequandoasrefexes,osquestio-namentos, as vivncias e os desafos corporais so colocados em foco. Vale dizer:aartequepassapelocorpo,conduzidaedominadapelocorpo,e no o corpo usado pela arte. O movimento produzido intencionalmente pelo corpopodeproduzirarteseissoforsugerido.Pode-secorrer,saltaregirar comritmo,suavidade,elegncia,beleza,charme,dinmica,expressividade, etc.Nessesentido,oprofessordeEducaoFsicaquequerusaraDana como seu contedo vai preocupar-se com a capacidade do corpo de produzir movimentos vinculados ao campo da arte.Por outro lado, a tradio da educao escolarizada sempre espera que qual-quercontedoquenelacirculesejacapazdelevarosujeitodoprocessoa adquirir e acumular elementos culturais importantes para o convvio e a qua-lidade social dele e da comunidade. A Educao Fsica no est situada entre as disciplinas escolares comprometidas com o sucesso de alunos em vestibulares ou com a preparao para o trabalho. Isso signifca que a Educao Fsica est disposio daquela que chamamos de terceira via da educao. Trata-se da possibilidade de o aluno adquirir e acumular conhecimentos sobre o corpo em movimento,tendoaDanacomoelementoauxiliar.Portanto,seissoocorre, a escola est cumprindo o seu papel social na formao do sujeito, indepen-dentemente de ele usar tal acmulo em favor do trabalho ou da capacidade de enfrentar vestibulares.No nosso caso, colocar a arte a servio do corpo , acima de tudo, um direito do sujeito que frequenta a escola. No se trata de nenhuma compensao do corpo desgastado no processo educacional ou uma espcie de atenuante do ambiente cansativo e maante da escola clssica. Trata-se de um deslocamen-E N S I N O D A D A N A 1 7to de sentido da educao. De um lado, temos uma educao que quer levar o sujeito a raciocinar com nmeros, com textos escritos, mapas, entre outros; de outro, pensamos que seja possvel levarmos os sujeitos a pensar sobre as capacidades do prprio corpo, danando. Para tanto, ser preciso sair da sala deaula,ouvirmsica,experimentarotoquedealgunsinstrumentos,cantar, assistir a vdeos, arriscar movimentos ousados, tocar o corpo do outro, deixar seu corpo ser tocado, ver seu corpo produzir movimentos fora da rotina e as-sociados a sons e ritmos, ver seu corpo ser visto e seus movimentos admirados poroutros,ouseja,trata-sedeumoutrosentidonaeducaodosujeito. o sentido da formao do sujeito que dominar o prprio corpo, a produo corporal para si, ainda que seja observada e admirada pelo outro.Ento,nopossvelpensarmosoensinodaDananaescolasporpura vontadedevernossosalunosdanando.Tambmnopossvelensinarne-nhumcontedosempreemfunodeobjetivostradicionaisdaeducao escolarizada.Aconcepodaterceiraviadaeducaoescolarnospermite pensar e agir em favor da circulao de conhecimentos pela escola nas diver-sas fontes. Pode ser uma pea clssica universal que nos leve s inspiraes romnticas de grandes poetas e escritores consagrados mundialmente; pode serumapeaclssicalocalizadaemhistriasmuitoprximasdenossases-colas; podem ser peas de nossos poetas e escritores populares ou podem ser peas produzidas no prprio campo escolar. O importante que o aluno tenha a possibilidade de conhecer, e, no caso da Educao Fsica, conhecer a partir do movimento corporal ou por meio dele.Em um primeiro momento, quando pensamos a prtica corporal desenvolvida naescola,pensamosemalgumacoisaquefaadiferenanavidadosalunos. Aquiloqueelesjconhecemepraticamnavidacotidiananorecebetodaa Leve para a plataforma histrias de suas comu-nidades que podem ser representada na escola em forma de Dana1 8 E D U C A O F S I C Aateno deles dentro da escola. Simultaneamente, quando a prtica deles con-vidada a entrar na escola, eles fazem com muita motivao e interesse, ou seja, se para o professor ensinar, ento que seja uma boa novidade; se for para falar daquilo que eles j sabem e fazem, ento deixe com eles. Essa uma situao in-teressante na relao entre professores e alunos. A Dana apresentada rede de contedos de ensino como um elemento que faz uma excelente ligao entre a comunidade que abriga a instituio escolar e o funcionamento da prpria escola. Quando a comunidade festeja e cresce, a escola vai juntoEm diversas situaes, a Dana popular, presente s festas religiosas ou comu-nitrias, carrega consigo alguns traos de identidade do grupo dominante da comunidade escolar. Alunos, pessoal de servio e alguns professores carregam tatuagens sociais do lugar. So festeiros, organizadores de bandas, pagadores depromessas,cozinheirosvoluntrios,artesos,entreoutros,quepossuem o contexto da vida cotidiana e expressam isso no ato da Dana. Um exemplo muito interessante a manifestao das Bandas de Congo em vrios munic-pios do estado do Esprito Santo, principalmente no litoral.A manifestao em si no apresenta uma dana marcada, com movimentos previamente planejados. Os participantes se movimentam ao som de uma ba-tucada com ritmos bem marcados e com uma cadncia regular. Cada um se movimenta ao seu jeito e busca na Dana de rituais indgenas um balano de ombroscaractersticoseumrequebradoquelembradanasdeorigensafri-canas.Seucortejolembraantigosblocosecordescarnavalescosearrasta multides em festas de santos, carnavais ou festas cvicas.Congo em nosso estado.E N S I N O D A D A N A 1 9No contexto dessa manifestao, vrios elementos so produzidos para dar signifcado prtica e sua preservao. Histrias so criadas, rituais so insti-tudos, quadros de participantes efetivos vo-se renovando, peas artesanais ganham formas caractersticas e muitos costumes so resgatados e ganham contornos econmicos importantes para a sobrevivncia das comunidades. A ttulo de ilustrao, podemos observar, com certa facilidade, como as comuni-dades que preservaram e praticam o Congo, por meio de suas bandas, consegui-ram construir espaos alternativos interessantes para a vida em comunidade.Com o incremento das Bandas de Congo, produtos como a Panela de Barro, a Moqueca Capixaba e o artesanato de conchas ganharam vida e viraram ele-mentos de uma cultura muito singular presente na regio litornea do estado do Esprito Santo. Outras manifestaes evidenciam vidas comunitrias pelo Esprito Santo afora, como o Ticumbi em So Mateus, os Reis Bois em Concei-o da Barra, o Forr de Itanas, a Folia de Reis e o Boi Pintadinho em Muqui. So expresses culturais que colocam seus municpios no cenrio econmico e turstico e tm a Dana como carro chefe.Dessaforma,estamosfalandodeumadanadominadapelacomunidade que, supomos, possui flhos nas escolas. Esse domnio constitui um saber que, emtese,seriadointeressedetodaacomunidadeescolar,enoapenasdo professor de Educao Fsica. So saberes que circulam pela discusso sobre territrios,ocupaodeespaoscomoquilombos,aldeias,manguezais,col-nias de pescadores beira de rios e lagoas, entre outros. So espaos urbanos e rurais que tradicionalmente inspiram poetas, msicos, artesos, contadores de histrias, artistas plsticos e criadores de danas e brincadeiras que se tor-nam populares. So saberes que circulam pela histria dos vrios povos que se misturam em vilas, favelas, palaftas, rea porturia e conjuntos habitacionais. Visitem o site seculodiario.com.bre busquem informaes sobre o folclore noEsprito Santo.TicumbiFolia de ReisBoi Pintadinho2 0 E D U C A O F S I C AEnfm, saberes que esto no entorno das escolas e seus praticantes desejam oportunidadeparaprotagonizaremnosespaosqueocupamcotidianamen-te. Nesse caso, a disciplina de Educao Fsica ocupa o espao do articulador entre a possibilidade do protagonismo de crianas e jovens no espao escolar, manifestando aquilo que dominam. Quando o clssico e o popular so peas da prtica pedaggica.O ensino da Dana em qualquer espao possui uma crena de que os elemen-tosdaDanaclssicasejamfundamentaisoubsicosparaaaprendizagem dasdemaistendncias.Teoricamentefalando,noexisteumarelaodireta de dependncia entre o ensino de qualquer tendncia e o padro clssico de dana. Trata-se apenas de uma cultura didtica que sobrevive ao tempo. A per-manncia dessa cultura se deve muito formao inicial que muitos professo-res possuem antes de ingressar no curso superior. Normalmente, o estudante deEducaoFsicaqueseinteressapelasdisciplinasdedanaedemonstra interesse em ensinar esse contedo na escola so professores que frequenta-ram escolas de Bal na infncia e/ou na juventude. Sendo assim, mesmo que tenham vivenciado, discutido e construdo possibilidades didticas acerca de outras tendncias da Dana, na hora de ensinar, acabam resgatando aqueles elementos com os quais tiveram maiores contatos e maior tempo de formao.Outro fato que alimenta a cultura do clssico como fundamento o prprio padrodeeducaoadotadonospasesocidentais.OBalarepresenta-o clssica da Dana. Grafado Ballet pelos franceses, o termo signifca bailar. Quem faz bal ou ballet, baila. Portanto, pode-se dizer que qualquer um que Visitem o site do obser-vatrio da Juventude da UF MG e leiam todos os textos de Juarez Dayrell.Dom QuixoteBolero de RavelE N S I N O D A D A N A 2 1bailasse em qualquer modalidade de dana estaria fazendo ballet. Mas no bem assim, porque o termo foi convencionado. S faz ballet quem aprende a danar em alguma escola que ensina a Dana no padro clssico. Esse padro de movimentos universalmente marcados e acompanhados de msica clssica foi eleito pelos setores dominantes das sociedades do mundo ocidental.Aprenderdanaclssicapassouaser,principalmenteapartirdosculo19, umatarefasocial.SaberdanaraDanaqueaseliteseuropeiaspraticavam emeventossociaiseraatarefaobrigatriadequemquisessefgurarnos grandessalesdanobreza.Mesmoasfamliasquenofaziampartedano-breza,masquepossuamalgumpoderaquisitivo,adotavamopadrocls-siconaeducaodosflhos,eaDanafezpartedesseprocesso.Aindanos diasdehoje,aprenderatocarpianoeadanarnopadroclssicoconti-nua sendo uma prtica comum na educao de crianas da classe mdia, ou seja,noestamosfalandoapenasdesaberdanaressaouaquelamodali-dade.Estamosfalandodeumpadrodecomportamentosocial.Portanto,a permannciadaculturaclssicanoensinodeoutrasmodalidadesdedan-asedevetambmaoimaginriosocialdequeexisteumpadrocultural socialmentedesejvelquedeveserensinadonaescola.Nopossveldizer que seja um mito a afrmao acerca da dependncia de outras modalidades da Dana clssica. Tecnicamente no verdade, teoricamente no verdade e,pedagogicamente,podeserverdade.Digoissoporquepodeserqueaes-colaondeestamostrabalhandoexijaumaformaoclssicadeseusalunos.O grande problema do ensino da Dana na escola, adotando-se a modalidade clssica ou o padro clssico em outras modalidades, est na exigncia tcnica dos movimentos e posies e nos elementos que acompanham a modalidade. Entre os elementos, por exemplo, so o fgurino, os movimentos e as posies Pesquisem, na internet, sobre a vida de Pierre Beauchamps (16391705). Tambm na internet, busquem textos sobre a Histria da Dana Cls-sica. Deem preferncia aos textos de Eliana Rodrigues Silva.Discuta depois naplataforma.2 2 E D U C A O F S I C Acorporais muito distantes dos temas que podem motivar a Dana em nossos dias e em nossos territrios. Considero uma tarefa rdua para qualquer um levar nossas crianas e jovens a que se vistam e se movimentem com base em elemen-tos que caracterizam a Morte do Cisne, Gisele e o Quebra-Nozes. Como dizem nossos alunos, seria um grande mico! Coitado do Mico... sempre paga o Pato!No custa nada repetir e reforar que a Dana na escola apenas um con-tedo da Educao Fsica ou da Arte. Portanto, no serve como elemento de formao direta. Ela apenas contribui para uma formao que deve ser plural, diversifcadaeampla.Nosetratadeumadisciplinaquetenhaumtempo especfco garantido. No possvel, portanto, ensinar a Dana clssica assu-mindo os elementos fundamentais dessa modalidade em poucas aulas e tendo a responsabilidade de envolver todos os alunos no processo.Noentanto,precisoressaltarquealgunselementosquecercamaDana clssica so fontes de grandes contribuies no processo de formao de nos-sosalunos.Umdesseselementos,paraumaimportnciageral,otemade cada pea. Os temas clssicos normalmente retratam acontecimentos muito presentesemnossocotidiano.Sofcesderetrataesdiretas,mascom muita riqueza literria. A fctcia vida de Dom Quixote, escrita por Miguel de Cervantes, por exemplo, nos remete s nossas paixes, aos nossos ideais, aos nossosmedosesnossassituaessociopolticas.Sofcesquemuitas vezesnosenganamapontodecompreend-lascomoacontecimentosreais. Algumas cidades chegam a adotar tais personagens como conterrneos, como o caso da cidade de Toledo na Espanha, que divulga para todo o mundo que ali nasceu o romntico Dom Quixote.No Brasil, so muitas as histrias e personagens clssicas que nos levam a con-fundir a fco com o real, e com isso produzimos culturas e formas de compor-Morte do CisneGiseleO Quebra-NozesDom QuixoteE N S I N O D A D A N A 2 3tamento social e econmico com base nas manifestaes que produzimos para sustentar, preservar, transformar e dar visibilidade positiva aos fatos. Chico Rei, Tiradentes, Chica da Silva, Chico Prego, Caboclo Bernardo, Tio da Viva, Antnio Conselheiro, Zumbi dos Palmares, Almirante Negro e uma lista interminvel de personagens e histrias que, muitas vezes, interpretamos como folclore, mitos e lendas so clssicos da nossa civilizao ocidental, porque esto tematizados nas linhas da tragdia, da comdia, do romance e do drama social e pessoal.A pea Carmen, de Georges Bizet, est nas notcias sobre romances proibidos, nostabusenomedodopoderfeminino,nosquestionamentosacercados padres sociais predeterminados, da marginalidade e da liberdade individual e coletiva. As peas Macbeth e Hamlet, de William Shakespeare, esto em nossos dilemasequestionamentossobrenossaprpriaexistncia.Quemnuncase deparou com um ser ou no ser?... eis a questo!Do ponto de vista da cultura corporal, a Dana clssica nos provoca para o con-ceito de esttica, para o corpo feminino e masculino e seus papis no quadro de relaes em que o corpo do homem cumpre papis de macho com muita elegncia e sensibilidade, por mais que se diga que os gestos dele sejam femininos, e o corpo da mulher cumpre papis de fmea com muita frmeza e domnio da situao, por mais que se diga que ela seja conduzida por ele. Isso nos permite argumentar que dana no coisa s de mulheres ou homens afeminados. As personagens cls-sicas so, em sua maioria, homens e mulheres com papis sexuais bem defnidos.Uma passagem interessante de observar sobre a participao masculina na Dana a de Eliana Rodrigues da Silva (2005), que relata a histria em queOdanarinocomeavaentoaseragrandeestreladas apresentaesdeDana.AcompetioeraacirradaeGae-Chico ReiTiradentesChica da SilvaChico PregoCaboclo BernardoAntnio ConselheiroZumbi dos PalmaresRevolta da ChibataHamletMacbethMsica que narra a Revolta da ChibataCarmemMacbethTango Milonga Vero Porten2 4 E D U C A O F S I C Atano Vestris foi o primeiro danseur noble (danarino nobre), sendo seguido por seu flho Auguste. At aproximadamente 1681, os papis principais eram danados por homens. A pri-meiramulherdanarinadequesetemnotciaumacerta Mile La Fontaine. Logo depois entre 1720 e 1729, duas grandes bailarinastornaram-seclebres:afrancesaMarieSallea talo-espanhola Marie-Anne Camargo (p. 90).Otrabalhocombaseemabordagenseconstruodepersonagenstam-bm uma das boas contribuies da cultura clssica na tarefa escolar. Trata-sedeumdetalheimportanteseconsideramosque,naculturapopular,os temas e personagens esto presentes na Dana e nas manifestaes artsticas emgeral.Adiferenaqueaculturaclssicasistematizaeregistrasuas produes e a cultura popular preserva as manifestaes por meio da prpria prtica e pela tradio oral e visual. Nesse caso, preciso destacar que uma das tarefas mais importantes a ser desempenhada na escola o registro do conhecimento que produzido e transformado nas disciplinas.Por outro lado, a Dana clssica se caracteriza pela uniformidade, pelo pa-dronicodemovimentosesequncias.,naverdade,umatentativade universalizao de uma linguagem de movimento, comportamento, esttica e etiqueta. As posies do corpo so nomeadas, os passos e posies so nu-merados e a lngua francesa predomina na linguagem falada e escrita dessa modalidade de dana. Em qualquer lugar que determinados temas sejam de-senvolvidos, os movimentos e os desenhos corporais sero os mesmos: a l-gica de formao social universalizada, o comportamento padro registrado nos mtodos de ensino, o acompanhamento da msica padro, entre outras Leiam os textos dos Encontros Nacionais de Ensino de Artes e Educao disponveis no moodle. Podem comear pelo texto de Mara Medeiros: Nova Meto-dologia para Dana na Educao Fsica Escolar, a partir da histria cultural da atividade, publicado no 2 encontro.E N S I N O D A D A N A 2 5regras, nos remetem s tentativas de padronizao do mundo como fazem as religies, algumas correntes flosfcas, as correntes polticas e o movimento olmpico internacional.Emnomedadiversidadeculturaledacriatividadehumana,opadrode movimentosdaDanaclssicanopodeserconsideradoumpr-requisito de outras modalidades ou outros gneros de dana, mas, sim, um conjunto de conhecimentos que d sustentao ao professor no dia a dia de sua pr-ticapedaggicaemqualquerespaodeensino.ADanaclssicaestpara o professor de dana, assim como a Fisiologia est para o preparador fsico. Como estamos tratando de formao de professor de Educao Fsica escolar que eventualmente eleger a Dana como contedo, aprender a Dana cls-sica no uma obrigao. Entretanto, ler, interpretar, discutir e vivenciar os fundamentos da cultura clssica muito importante para entender o que a sociedade fncada na civilizao ocidental nos exige cotidianamente e, em um processo educacional transformador, levar os estudantes manifestao com base nas inspiraes brotadas em seus lugares umbilicais, sem perder a noo da arte corporal universal. Contudo, no podemos perder de vista que a escola moderna, na qual e para aqualnospreparamosparaaprendereensinar,sustentadapelaerudio. Combasenaculturaerudita,emqueopadroescolarsesustenta,aDana pode ser apresentada comunidade apesar das limitaes infraestruturais da maioriadasescolas.AcontribuiodaDananessecontextoexigedepro-fessoresealunosumaviagempelomundodaliteratura,dasartesplsticas, dadramaturgiaedamsica.Nosetratadeumaprticadedanaclssica como muitas pessoas interpretam. Mas trata-se de uma atividade de ligaes formais com seus elementos, independentemente de ser clssica, moderna ou Movimento clssicode grupo2 6 E D U C A O F S I C Acontempornea, ou seja, a cultura erudita leva professores e alunos, da maio-ria das escolas do Brasil, para uma esfera cultural muito diferente da do coti-diano deles e, em muitos casos, completamente desconhecida.Nosetratadeumaprticaouesferadeculturasuperior,masdiferente ecomumagrandevantagemsobreasculturaspopulares.Ovastoregistro dessas prticas em livros, partituras, flmes, fotografas e pinturas garante a presenadessaesferaculturalemgrandesacervos,comobibliotecasemu-seus.Dessaforma,faz-sepresentetambmnasescolas,e,quandosefala em ensino da Dana, as formas clssica, moderna ou contempornea sempre vm tona, isto , a erudio e seus temas sempre renascem mesmo quando esto fora de contexto.E N S I N O D A D A N A 2 7Portanto, como qualquer outro contedo da Educao Fsica na escola, a Dana possui elementos que podem contribuir na formao dos sujeitos que passam pela educao escolarizada. Trata-se de mais um contedo que foge das disci-plinas clssicas e carrega consigo elementos social e politicamente question-veis. A expresso ou a linguagem corporal sempre sero questionadas em uma sociedadecompadresdecomportamentoconservadores.Nessetipodees-pao, o corpo condutor de mensagens precisaria de amarras, regras e controle.Nesse sentido, a Dana pode contribuir em grande medida para que o sujeito acrescente a sua bagagem cultural e a seu repertrio corporal elementos de grande riqueza tcnica, histrica, poltica, artstica e motora, os quais podero sustentar uma atuao social de alto nvel de cidadania.NOSSACAMINHADA DEFORMAOFEI TAADI SCUSSOI NI CI ALsobreapresenadaDanana escolapormeiodaEducaoFsica,passemos,ento,ao roteiro de formao docente proposto por essa disciplina.Umcursonamodalidadesemipresencialexigeoesforo daleituraedadiscussopermanente,quefaremoscom base em duas frentes:Leitura de textos escritos, imagens e audies de sons su-geridos pela disciplina;Tempestade de problemas apresentados pelos estudantes.3 0 E D U C A O F S I C ANa primeira frente, a disciplina apresentar sugesto de leitura sobre temas considerados importantes para a formao intelectual do professor no que se refere Dana. Os temas sero divididos em trs eixos:Formao cultural;Formao tcnica;Formao pedaggica.Nasegundafrente,osestudantesapresentaroquestionamentosprovoca-dospelaleiturasobreocontedoDanaepelosproblemasvividosemsuas prticas pedaggicas. Nesse sentido, os eixos de provocao da tempestade de problemas devero ser a reviso da literatura, que pode ser espontnea e ser provocada pela disciplina (preferncia pela espontnea), e a tentativa de ado-tar a Dana como contedo, pelo menos no perodo em que estivermos no ar.O eixo culturalEsse eixo consiste na abordagem do mundo da Dana em todos os contextos possveis,noquesereferearte,aocomportamentosocialepolticade desenvolvimento dos diversos grupos sociais e dos perodos histricos que in-fuenciaram as artes. Nesse sentido, sugerimos uma abordagem histrica din-mica. Sem precisar rastrear cronologicamente o assunto, podemos realizar tal abordagem viajando pelo cenrio atual da dana, quando assistimos a um es-petculo ou buscamos informaes sobre ele. O ideal seria a presena constante aos espetculos, mas as visitas s bibliotecas e videotecas e prpria internet so solues alternativas bastante vlidas para esse eixo de formao docente.E N S I N O D A D A N A 3 1Algumas das propostas de abordagem histrica so a leitura e apreciao de peas artsticas que tenham a presena da Dana. Ir aos concertos de msicas de todos os gneros tambm uma tima opo. Isso tudo no precisa aconte-cer em grandes salas de espetculos, pode tambm ser apreciados em cinema, por meio de DVDs, parques, circos e em outros locais de entretenimento. Outro exerccioaleituradaspeascujoacervoseencontraemdiversasfontes.Quando sugerimos o acesso s peas, no estamos priorizando a cultura cls-sica, os velhos e tradicionais temas da fco romntica. Elas so importantes, mas consideramos como peas um conjunto de cenas que desenvolvem uma histria ou um tema. Nesse sentido, podemos perceber, ao nosso redor, muitas peas populares: histria de nossos vizinhos, de algum heri do bairro ou da cidade.Oquenofaltamsohistriasdegenteemomentosinteressantes que vo de nossa realidade mais prximas s grandes fces ou histrias de grandesfguraseacontecimentosuniversais.Nonossoentendimento,uma boa atuao pedaggica no campo da Dana exige contatos com as fontes de cultura em diversas esferas da sociedade.O eixo tcnicoEsseeixoconsistenoensinodasvriasleiturasdaDanaeseuselementos fundamentais, tais como: ritmo, clulas rtmicas, desenhos espaciais, desenhos corporais, movimentao bsica; movimentaes especfcas ou tpicas, movi-mentaes de estilo ou gnero, dinmica musical, expresso corporal, gneros teatrais e literrios, coerncia entre as diversas movimentaes e as qualidades dos sons e tcnicas de composio coreogrfca.Sugira aos colegas na plataforma eventosque estejam acontecendoem nosso estado,comoshows, festas populares, peas entre outros. Depois compartilhem,tambm na plataforma, asexperincias vividas nessas atividades.Ensaio tcnico de Balet3 2 E D U C A O F S I C AUm esforo importante na formao do professor a procura incessante de vivncias dos fundamentos da Dana. Apesar da existncia de grande quanti-dade de materiais sobre tais fundamentos, a vivncia deles muito importante para uma apropriao efciente. Alguns de vocs podem pensar neste momen-to que, em um curso semipresencial, essa vivncia seja difcil, ou talvez impos-svel. No entanto, no estamos falando de prticas que devem ser vivenciadas exclusivamente no curso. So vivncias que esto em nosso dia a dia e que, por falta de motivao e orientao especfca, passam despercebidas ou so apropriadas sem a ateno devida e sem o cuidado de um professor.Diante desse raciocnio, como voc ouve msica? Presta ateno s tonalida-des? atento aos compassos? Aprecia a dinmica? Vibra com a expressivida-de? Consegue ouvir separadamente os diversos instrumentos? Quando voc se depara com uma obra de arte, como avalia seus traos, suas cores, sua luz, sua sombra e suas expresses? Tudo isso so coisas simples que esto em nossa vida e que no se torna imprescindvel vivenciar em sala de aulas. Trata-se de uma prtica que precisa de pequenas orientaes e questionamentos, mas que so imprescindveis para quem deseja eleger a Dana como um dos contedos da educao escolar.Viver e pensar a msicaUm dos fundamentos da Dana a noo musical. Mesmo considerando que algumaspessoasafrmamcategoricamentequepossveldanarsemm-sica,consideramostambmque,semoselementosfundamentaisdamsi-ca,comooritmo,aharmoniaeamelodia,nopossveldanar.Essestrs elementossemanifestamemnossocorpomesmonaausnciadesom.En-Entrem em um site de busca na internet e busquem o conceito de ritmo, harmonia e melodia. O termo de busca : teoria musicalComentem depois na plataforma.E N S I N O D A D A N A 3 3to,podemosafrmarqueamsicaexistemesmosemapresenadesom.A alamaisconservadoradaDanacostumadizerquedanarsemapresena desomexagerodaquelesquesedizemmodernosoucontemporneos.O sujeitodanaconsigoeparasimesmo.Nopartilhacomopblicoosele-mentosmusicaisqueestoconduzindoeinspirandoseusmovimentos.Os praticantes da dana sem msica rebatem dizendo que um pblico con-centrado no espetculo acaba por interagir com o danarino e percebe ritmo, melodiaeharmonianosmovimentosproduzidos.Oquepodemosafrmar que, do ponto de vista tcnico, s possvel aprender os elementos musicais com a presena da msica. Isso no signifca a presena de som. A msica constitudadenotasdesomedesilncio(pausas).Poroutroladopodemos afrmar tambm, que, com o domnio da transferncia dos elementos da msi-ca para o corpo, possvel arriscar-se a danar sem som (sem msica, nunca!). Dequalquerforma,paraquemensinanaescolaimportanteagregarao contedo todos os elementos tcnicos e culturais nossa disposio. A msica real, manifestada por sons e pausas de tempos e alturas diferentes, meldicas e harmoniosas, um dos elementos mais ricos no ato de danar e est nossa disposio de forma muito facilitada.A relao entre os elementos, msica e movimentos corporais, bastante re-cproca. Na Dana, nosso movimento corporal motivado pelo som de alguma msica e muitas msicas foram produzidas inspiradas por movimentos corpo-rais, intencionais ou no. Lembram da Garota de Ipanema? Lembrando-se da garota ou da msica, lembramos que Vincius de Moraes e Tom Jobim viram nos movimentos corporais de uma mulher a motivao para a composio mu-sical. Outros grandes compositores clssicos e populares produziram a partir do movimento de uma pessoa ou de um grupo. Alm disso, muitos coregrafos 3 4 E D U C A O F S I C Aconstroem uma dana e convidam um msico para compor a trilha musical. O francs Maurice Ravel fez isso em seu Bolero. No entanto, a relao contrria a mais comum. A maioria das coreografas produzida com base em uma m-sica pronta ou na encomenda que fca pronta antes de pensar a coreografa. Quando lidamos com a escola e seus sujeitos criativos e protagonistas, podemo-nos arriscar a prosseguir, respeitadas as devidas propores, a trilha dos grandes compositores de dana e msica. J presenciei em minha carreira no magistrio vrias situaes em que uma dana era composta por alguns alunos e outros se empenhavam em produzir sons para o acompanhamento dos danarinos. Outros produziam sons com o prprio corpo, e ainda aqueles, mesmo utilizando msicas prontas, tiveram muita criatividade nas mixagens. O importante foi o processo de produo que levou muitos alunos a descobrir o mundo dos sons, os efeitos sobre o corpo, a contribuio coletiva e as diversas formas de fazer arte com o corpo.Pensando o espao.Alm da msica, uma questo tcnica importante a construo do espao para danar. De novo, vamo-nos encontrar entre as culturas clssica e popular. O es-pao para danar tambm defne ideologias e padres de comportamento social. Ento, pensar o espao mais do que traar desenhos planos de acordo com a co-reografa. O palco o lugar da performance pessoal e grupal, da formalidade tc-nica; a rua o lugar do brinquedo danado, das danas de rodas; os terreiros so os lugares dos rituais e das festas; a escola o lugar de todas essas formas de danar.A escola que aglutina todas essas possibilidades oferece aos alunos a opor-tunidade de aprender, de mostrar o que aprenderam, de interagir com a comu-nidade escolar, dividindo o que aprenderam, de valorizar momentos festivos, E N S I N O D A D A N A 3 5cvicosedesepermitiremaencontroscomaspectossagradoseprofanos. Nessesentido,pensarosvriosespaosfestivosdacomunidadetambm uma questo tcnica a ser considerada no planejamento escolar.Msica e espao so dois elementos fundamentais que devem ser necessaria-mentepensados,problematizadosediscutidospermanentemente.Osoutros, como movimentao bsica (caminhada, corrida, saltos, giros, elevao e sus-tentao), movimentaes especfcas ou tpicas (passos que caracterizam uma dana, como o Frevo, o Maracatu, o Jongo e outros), expresses corporais, no-es de coreografa, de fgurinos, de cenografa, de maquiagem, de iluminao, de sonoplastia, so importantes, mas so complementares. Quando dizemos que so elementos fundamentais, vale dizer que o professor no pode prescindir des-sa formao que, apesar de tcnica, possui relao direta com o papel da escola como instituto da formulao, universalizao e apropriao de bens culturais.Tarefas do eixo tcnicoUma de nossas tarefas ser aprender a ler e escrever a Dana. Sim, em nossa ci-vilizao s vale o que est escrito (no o jogo do bicho). Nossa cultura, apesar da diversidade tnica, est preservada na forma da escrita. Essa forma engloba os textos impressos ou digitados, as imagens e os sons. uma forma de registro representada,emltimainstncia,pelaescrita.Quandofazemososdiversos usos da Dana, seja apreciando-a, seja planejando seu ensino, seja executando-o, sempre os fazemos com base em sua leitura e, consequentemente, em sua apropriao. Portanto, aprender a ler e escrever a Dana torna-se um princpio fundamental para o professor que deseja utilizar esse contedo em suas aulas ou em seus projetos de interveno pedaggica na escola.3 6 E D U C A O F S I C AEssa tarefa ser uma das mais rduas em nossa caminhada, e nos encontrare-mos com documentos e objetos muito estranhos ao nosso dia a dia, como ser o caso das partituras musicais. Muitos de vocs j devem ter tido o encontro com tais fguras. Quem j estudou msica, por exemplo, tem alguma facilidade naleituradepartiturasmusicais;quemjestudoufotografatemfacilidade em interpretar luz, sombras e desenhos corporais. Pode-se dizer a mesma coisa de quem j fez curso de modelagem, pintura, teatro, poesia, roteiro, costura, eletrnica ou carpintaria, pois tem facilidade de aprender e ensinar muita coisa sobre desenhos corporais, cenrio, expresso, encenao, cenografa, fgurino ou qualidade de som. Isso facilitar a compreenso se o dilogo entre ns for constante e participativo e se todas as experincias forem colocadas sem pu-dor nos debates virtuais e presenciais.Se levarmos em conta que estamos, neste momento, em processo de forma-o acadmica, importante destacar que dever ser frequentemente provo-cada a nossa habilidade em produzir, ler e interpretar os mais diversos regis-tros. Portanto, uma tarefa que no pode faltar em nosso processo aprender a ler os registros da Dana e a comear pelos fundamentos.A Dana registrada predominantemente de duas formas: por meio de au-diovisual e da escrita formal. As duas formas nos interessam nesse processo. Devemos aprender a assistir a uma pea de dana e a entender todos os seus elementos, sejam grfcos, geomtricos, expressivos, rtmicos, ou podemos apro-priar-nos de partituras, pautas e mapas coreogrfcos e compreender a com-posio em sua totalidade. No nosso caso, seria interessante o aprendizado das duas formas, porque a nossa condio tecnolgica permite e nos auxilia muito.Os fundamentos da Dana esto em nossa prtica cotidiana, e nosso trabalho ser estabelecer contornos acadmicos sobre eles.E N S I N O D A D A N A 3 7O eixo pedaggicoO eixo pedaggico uma ao de sintetizar o eixo cultural e o tcnico, pensan-do, obrigatoriamente, na especifcidade da fnalidade da educao escolarizada.Aformaonocampoculturalnosimporacompreensonecessriade que a educao escolarizada exige que o sujeito que recebe nossa orientao tenhaacessoaosbensculturaisproduzidospelahumanidadeemqualquer lugar do planeta, necessariamente aqueles produzidos no entorno da escola. Ento,aviagemeastarefaspelomundodaproduohumana,sinalizadas no eixo de formao cultural, devero receber o tratamento pedaggico ne-cessrio. Considerando a diversidade cultural da sociedade e da organizao socialdoplanetaglobalizadoeagrandepossibilidadedeacessoaomundo da cultura artstica por meio das mais diversas ferramentas sociais, no seria qualquer produo artstica, de qualquer contexto, que interessaria comu-nidade escolar.Sendo assim, podemos adiantar que a tarefa principal nesse eixo de formao nossa preparao para enfrentar os desafos da fltragem daquilo que consi-deramos pertinente ou no ao espao escolar. No uma tarefa fcil, porque envolve a abordagem de temas envoltos de mitos, preconceitos e particulari-dades culturais. O que pode ser considerado como produo interessante ao processo de for-mao dos alunos dessa ou daquela escola?Qual o padro cultural que interessa nossa prpria formao tendo em vista nossa preparao para o trabalho pedaggico? Qualoconhecimentoquepodeounoentrarnaescolaedequeforma deve transitar na comunidade escolar?3 8 E D U C A O F S I C AQual a cultura da escola?muitocomumadiscusso,emeventoscientfcos,acercadoambientee dotipodeculturaqueveiculadapelaDana.Oambienteescolarnofca fora dessa discusso. H um grande questionamento sobre a convenincia de ensinar ou deixar veicular no interior da comunidade escolar, principalmente no mbito das disciplinas, determinadas modalidades de dana. Normalmente, tais questionamentos so direcionados s danas que predominam em espa-os populares ou muito presentes em programas de televiso com forte apelo comercial. Tais manifestaes agregam muita fora aos argumentos de alunos que desejam reproduzir na escola aquilo que eles vivenciam em suas comu-nidades, quando se fazem presentes em veculos de comunicao de massa.Muitos professores perguntam como lidar com a vontade dos alunos em levar para dentro da escola prticas cotidianas com o Forr, o Funk e o Hip Hop. Na verdade, a prtica em si no quer dizer nada. O que importa a qualidade de produodelas.Porexemplo,possvelencontrarmsicasdeFunkdetima qualidade tcnica musical e letra de alto nvel potico. Esse tipo de qualidade interessaeducaoescolarizada.Agora,seoprofessorpermitequealunos protagonizem prticas de dana apresentando msicas compostas de letras de contedo machista, sexista, racista, fascista, de erotizao ou de apologia vio-lncia, evidente que isso no contribuir com a misso da educao escolar.H, no meio acadmico, uma corrente que alega que tais prticas devam ser abordadas e vivenciadas pelos alunos, para que o debate venha tona e algum conhecimentoseproduzacombasenisso.Consideramosqueessepontode vistapossuiumriscomuitogrande.Defendemosaapresentaomaisfcil e desejvel de prticas de boa qualidade artstica para fazer o debate sobre o E N S I N O D A D A N A 3 9assunto. Aquelas de baixa qualidade podem ser observadas por outras formas, que no seja a vivncia na escola.No existem culturas pontualmente desejveis para a escola. As culturas de-sejveis so aquelas que permitem aos alunos uma apropriao de bens e va-lores culturais importantes para sua formao e sua interveno social, seja no mundo do trabalho e na convivncia social coletiva, seja no dilogo com o po-der. Uma boa formao aquela que permite ao aluno egresso da escola, com base no conhecimento que possui, produzir opinio infuenciando os rumos da sociedade e exigindo ou executando, com o poder pblico e privado, prticas de conduo da sociedade conforme os padres de civilidade de qualidade.Como a escola um conjunto de pessoas e funes que se constituem na cha-mada comunidade escolar, quando lidamos com disciplinas que se abrem um pouco mais para prticas da comunidade externa, preciso certos cuidados com interesses institucionais e de grupos que no podem, de forma alguma, afetar a comunidade interna e os interesses educacionais. Em contrapartida, no pode-mos permitir que valores, atitudes e crenas de pessoas e grupos da comunida-de escolar impeam o desenvolvimento de qualquer disciplina por preconceito e discriminao. Nesse sentido, vale a mxima da prtica cultural de qualidade.No primeiro momento, no importa se a origem de tal prtica uma favela, umaigreja,umasinagoga,umamesquita,umterreiroafro-brasileiroouum estdio clssico de dana. O que importa a possibilidade de os alunos viven-ciarem movimentos coreogrfcos a partir de belas composies musicais; no segundo, a origem nos interessa muito. Quando, por exemplo, nos apropria-mosdastemticasqueinspiraramasbelascomposiesdamsicapopular brasileira, deparamos lugares e momentos da cultura brasileira que nos aju-dam a compreender nossa realidade. Quando nos so apresentadas obras mu-4 0 E D U C A O F S I C Asicais e coreogrfcas populares de outros pases, recebemos a oportunidade de vivenciar outras riquezas culturais ainda que de muito longe. Diante disso, percebemosasdiferenasentreosdiversospovoseaprendemosavalorizar o nosso prprio modo de vida. Valorizando o outro, eu me valorizo tambm.Questo do mtodo: o conhecimento sobre o sujeito, a riqueza cultural e o domnio da tcnicaIsso mesmo, mtodo no signifca uma forma de fazer. Mtodo signifca co-nhecer o caminho que ser percorrido. No nosso caso, o caminho exige saber comquemvamossocializarocontedo,qualonossoacmuloculturale como dominamos a tcnica de ensinar a Dana.Sobre o sujeito, o ensino da Dana oferece alguns problemas que exigem do professor um estudo antecipado da situao: o lugar social e cultural de cada um e a condio individual e grupal de interpretao de cada sujeito ou tribo social.Trata-sedabagagemculturalquechegaescolapormeiodoscos-tumes, tradies e educao dos alunos. Por mais que existam comunidades culturalmentefechadasquebuscamepreservamideaisdehomogeneidade, nossas comunidades escolares so bastante heterogneas e nos exigem uma preparao para o enfrentamento de confitos culturais ante os elementos que a Dana pode apresentar.Aquilo que pensamos tratar-se de preconceitos pode ser produto de um pa-dro de formao cultural de grupos de relacionamentos, como o caso das vriasseitasecorrentesreligiosasougrupostnicosmaisfechados.Nossos alunosrecebemumaeducaoconstante,eaquelaquerecebenaescola apenas mais uma. Em compensao, ns, professores, tambm possumos uma E N S I N O D A D A N A 4 1formao cultural de grupo que nos diferencia dos outros e muitas vezes do padrocomumdecomportamento.Seessecaldeirodeculturasecom-portamentonoforconsideradoereconhecidopeloprofessorelegitimado pela comunidade escolar, o preconceito ser colocado em pauta, a convivncia fcar difcultada e o contedo sofrer resistncias.Outro problema a condio do sujeito para aprender dana. Para quem eu ensinooqu?Oqueeuensinoparaquem?Existeumadanaparacriana, uma para adolescente e outra para jovem? Existe uma dana para educao infantil, uma para ensino fundamental e outra para ensino mdio?Podemos adiantar, sem necessidade de nenhuma leitura antecipada, que no existe uma dana estratifcada em faixas etrias ou seriao escolar. Mas existe uma dana que exige nveis de compreenso da proposta, aceita diferentes n-veis de contextualizao e espera nveis diferentes de interpretao sempre de acordo com quem representa e para quem e onde representa. Nesse sentido, vale a condio intelectual do professor. ele que deve avaliar a condio do aluno e os nveis de exigncias colocados.O que podemos adiantar tambm que os nveis de exigncia vo do brin-quedo cantado Dana de palco. Daquela que exige uma interpretao sugeri-da pela letra, pelo apelo temtico a uma dana que exige interpretaes a par-tir da dinmica sonora, da harmonia, da melodia e de temas sustentados por grandes e ricas metforas. Portanto, tudo depender da condio e capacidade de interpretao dos alunos e da condio intelectual do professor. Pode ser que uma criana da educao infantil faa uma grande viagem corporal su-gerida pelo Bolero de Ravel e um jovem de fnal de ensino mdio no consiga passar da superfcialidade corporal sugerida pelas letras de baixo nvel potico de msicas circuladas por veculos de cultura de massa.4 2 E D U C A O F S I C APor mais simples que o professor pense que seja a sua prtica pedaggica, sempre ocorrem surpresas. Se tecemos crticas superfcialidade da cultura de massas, precisamos garantir que o professor, que vai dar conduo ao proces-so, consiga superar tal condio. Se o professor no circula no meio cultural da Dana, mesmo que distncia, a tarefa pedaggica fca um pouco mais difcil. Hojeemdia,ascoisasestobemfacilitadas.Omeiovirtualumagrande conquista e pode resolver, em grande medida, os problemas de distncias de equipamentos culturais, como grandes livrarias, salas de cinema, teatros, entre outros. claro que a nossa preferncia pela apreciao in loco. O rdio nos informaoandamentodeumjogodefutebol,masfrequentaroestdioem algumas ocasies faz grandes diferenas em nossa bagagem cultural.No entanto, se h distncias urbanas, o entorno cultural das escolas compensa. Se sairmos dos territrios fechados da escola, encontraremos o balaio cultural de que necessitamos para nossa prtica pedaggica com tranquilidade. Trata-se de uma atitude que valoriza a comunidade, eleva a autoestima do aluno, legi-tima a presena da escola no lugar e proporciona segurana ao professor. Esse o ponto de partida que sugerimos. Interpretar nossos personagens e nossas histrias com a bagagem cultural com a qual interpretamos a cultura universal.Mesmo no sendo um professor de dana propriamente dito, o mtodo exi-ge que o professor domine formas de levar os alunos a se manifestarem em gestos corporais aquilo que conseguem interpretar. Se tivermos os dois pro-blemas anteriores resolvidos, este no apresenta grandes difculdades. Afnal, boa parte de nossos alunos se movimentam em outras atividades e tambm praticam a dana em outros contextos. De qualquer forma, para quem nunca teve experincia com a dana acadmica, preparada para o ensino, ser poss-vel e necessrio identifcar tcnicas por meio da disciplina.E N S I N O D A D A N A 4 3Pelo gosto da dana, aprende-se a danar.Defendemos inicialmente um mtodo de ensino muito simples. Um bom moti-vo pedaggico para a dana, uma histria bem contada, uma msica animada e um espao decente para a prtica so os primeiros passos que podem trans-formar a dana em um contedo interessante para a escola. Caminhando para frente e para trs, executando deslocamentos laterais e ar-riscando alguns giros simples, num ritmo que leve sensao de que alguma coisa esteja dando certo, uma forma de os alunos ganharem gosto pela dana sem serem excludos pela exigncia tcnica convencional ou desenhos coreo-grfcos complexos. Isso no signifca que os alunos sero impedidos de chegar atalponto,masantesdeveroexperimentaroatodedanaregostardisso. Aps a aquisio do gosto, o professor iniciar sua interveno. Caminhando em todas as direes e no ritmo, alguns desenhos sero sugeridos. Inicialmen-te, as sugestes sero os chamados geomtricos planos: caminhar em blocos quadradosouretangulares,emcrculossimplesouduplos,evoluiremflas paralelas em vrias direes ou se posicionar em tringulos. Com o tempo, os desenhos tomaro formas dinmicas de acordo com o domnio que o grupo for adquirindo ao danar. Isso uma coreografa bsica que, aliada ao conte-do do tema a ser desenvolvido e a outros elementos como cenrio e fgurino, coloca a prtica corporal dos alunos em outro nvel cultural.Bom, depois dessa breve exposio, resta-nos tentar fazer e colocar o resultado na roda para que possamos discutir e socializar as experincias.ATAREFAFUNDAMENTAL, COMOJ FOI MENCI ONADA, pro-blematizaroprocessodeescolarizaodaDana:eviden-ciar os motivos que levam um professor a querer ensinar a Dana na escola. Nesse sentido, preciso deixar claro que a Dana no contedo exclusivo da Educao Fsica na es-cola. A disciplina de Arte tambm costuma valer-se da Dan-a como contedo de seu planejamento. A diferena so as motivaes para a escolha a comear da problematizao.A disciplina Arte normalmente busca motivaes no campo exclusivo da arte, priorizando a atuao e compreenso do mundo sobre vivncias e experincias artsticas dos alunos. A Educao Fsica busca suas motivaes no campo da cul-tura corporal. Procura revelar questes corporais sobre as quais a Dana possa ajudar na busca por respostas, como orepertriodeprticascorporais,odesenvolvimentode expresses,acapacidadededesempenhardinmicascor-porais, a vivncia e aplicao do ritmo nos diversos movi-CONSIDERAESmentos, a capacidade de explorao espacial, entre outras.De qualquer maneira, quando se trata de interesses da co-munidade escolar, por exemplo, o envolvimento da comu-nidade externa, a insero da escola em outros setores da sociedade, tanto a Educao Fsica quanto a Arte possuem atarefadeutilizaraDanapararespondersnecessida-des do processo de formao dos alunos. Portanto, no h rivalidadesentrereas.Existemdemandasdasquestes corporais, demandas de cunho artstico e demandas gerais queextrapolamasdisciplinas,envolvendooutrosatorese autores no processo. Alm disso, importante afrmar e re-conhecer aqui que nem a Educao Fsica nem a Arte con-seguem desenvolver nenhum trabalho de dana na escola sem levar em considerao os elementos artsticos e aque-les da cultura corporal.Bom curso, pessoal.Anais do II Encontro Nacional de Ensino de Artes e Educa-o Fsica. Natal: Paidia, 2005.Fonseca, Hermgenes Lima - Tradies Populares no Espri-to Santo, Vitria, Departamento Estadual de Cultura, 1991.Kehl,MariaRita.Traposdenuvens.In.:Boga,Ins(org.). Oito ou nove ensaios sobre o Grupo Corpo. So Paulo: Co-sac Naify, 2007.BIBLIOGRAFIAMedeiros,Mara.NovametodologiaparaaDananaEdu-cao Fsica Escolar, a partir da teoria histrico cultural da atividade.In.:AnaisdoIIEncontroNacionaldeEnsinode Artes e Educao Fsica. 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