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Universidade Aberta do Brasil Universidade Federal do Espírito Santo Educação Física Licenciatura

Conhecimento e Metodologia do Ensino da Ginástica.pdf

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Universidade Aberta do BrasilUniversidade Federal do Esprito SantoEducao FsicaLicenciaturaA disciplina Conhecimento e Metodologia do Ensino da Ginstica visa a apresentar um pouco dos aspectos histricos dessa manifestao da cultura corporal, como tambm discutir, refetir e desenvolver atividades de ensino-aprendizado de algumas modalidades esportivas da Ginstica. Nosso desafo foi tornar a tarefa da abordagem da Ginstica, disciplina na qual o eixo teoria-prtica bastante representativo nos cursos de graduao presencial, em um processo signifcativo e vivo no mdulo a distncia. Buscamos para isso integrar o texto do fascculo aos outros textos produzidos sobre o tema e aos vdeos que abordam o assunto. Sugerimos tambm algumas atividades que os professores podero incluir em suas aulas ou simplesmente realiz-las, caso se sintam vontade para isso. Pensamos que o estudo da Ginstica nas aulas de Educao Fsica Escolar pode ser realizado de forma ldica e prazerosa, despertando nos alunos o gosto pelo belo, pelos desafos corporais e pela criatividade. Bom estudo!UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPRITO SANTONcleo de Educao Aberta e a DistnciaPaula Cristina da Costa SilvaVitria2011Conhecimento e Metodologia do Ensino daGINSTICAPresidente da RepblicaDilma RousseffMinistro da EducaoFernando HaddadSecretrio de Educao a DistnciaCarlos Eduardo BielschowskyDED - Diretoria de Educao a Distncia Sistema Universidade Aberta do BrasilCelso Jos da CostaReitorRubens Sergio RasseliVice-ReitorReinaldo CentoducattePr-Reitor de GraduaoSebastio Pimentel FrancoDiretor-Presidente do Ncleo de Educao Aberta e a Distncia - ne@adReinaldo CentoducatteDiretora Administrativa do Ncleo de Educao Aberta e a Distncia - ne@adMaria Jos Campos RodriguesCoordenadora do Sistema Universidade Aberta do Brasil na UfesMaria Jos Campos RodriguesDiretor-Pedaggico do ne@adJulio Francelino Ferreira Filho Administrador Financeiro do ne@adLuis Oscar Rodrigues BobadilhaDiretora do Centro deEducao Fsica e DesportoZenlia Christina Campos FigueiredoCoordenadora do Curso de Educao Fsica EAD/UFESFernanda Simone Lopes de PaivaRevisora de ContedoSilvana VentorimRevisora de LinguagemAlina BonellaDesign GrfcoLDI - Laboratrio de Design Instrucionalne@adAv. Fernando Ferrari, n.514 - CEP 29075-910, Goiabeiras - Vitria - ES(27)4009-2208Copyright 2011. Todos os direitos desta edio esto reservados ao ne@ad. Nenhuma parte deste material poder ser reproduzida, transmitida e gravada, por qualquer meio eletrnico, por fotocpia e outros, sem a prvia autorizao, por escrito, da Coordenao Acadmica do Curso de Licenciatura em Educao Fsica, na modalidade a distncia.Areproduodeimagensdeobrasem(nesta)obratemocarterpedaggicoecientifco,amparadopeloslimitesdo direito de autor no art. 46 da Lei no. 9610/1998, entre elas as previstas no inciso III (a citao em livros, jornais, revistas ou qualquer outro meio de comunicao, de passagens de qualquer obra, para fns de estudo, crtica ou polmica, na medida justifcada para o fm a atingir, indicando-se o nome do autor e a origem da obra), sendo toda reproduo realizada com amparo legal do regime geral de direito de autor no Brasil.LDI CoordenaoHeliana PachecoHugo CristoJos Otavio Lobo NameEditoraoSamira Bolonha GomesIlustraoLeonardo AmaralRicardo CapuchoFotografaArthur MottaDiego CrispimSamira Bolonha GomesCapaRicardo CapuchoImpressoDados Internacionais de Catalogao-na-publicao (CIP)(Biblioteca Central da Universidade Federal do Esprito Santo, ES, Brasil) Silva, Paula Cristina da Costa.Conhecimento e metodologia do ensino da ginstica / Paula Cristina da Costa Silva. - Vitria : UFES, Ncleo de Educao Aberta e a Distncia, 2011.59 p. : il.Inclui bibliografa.ISBN: 1. Ginstica. I. Ttulo.CDU: 796.41S586cAPRESENTAO1 UM POUCO DE HISTRIA1.1 A Ginstica em seus primrdios1.2 Dos mtodos ginsticos s modalidades esportivas gmnicas2 FUNDAMENTOS DA GINSTICA2.1 Elementos bsicos dos gestos gmnicos2.2 A segurana na Ginstica2.3 As possibilidades de adaptaes de materiaispara o ensino-aprendizado da Ginstica na escola3 A GINSTICA ARTSTICA4 O RITMO E A GINSTICA RTMICA4.1 O ritmo4.2 A ginstica rtmica5 A GINSTICA GERAL NA ESCOLACONSIDERAES FINAISREFERNCIAS467111821283238424345485758SUMRIO4Ol, professores! com imensa alegria que lhes apresento o fascculo da disciplina Conhe-cimento e Metodologia do Ensino da Ginstica. Eu sou Paula, graduada e mes-tre em Educao Fsica pela Faculdade de Educao Fsica e doutora em Educa-o pela Faculdade de Educao, ambas da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Ingressei no Centro de Educao Fsica e Desporto da Universidade Federal do Esprito Santo (CEFD/UFES) em 2009 e venho ministrando disciplinas ligadas ao ensino-aprendizado da Ginstica. Tenho coordenado, desde o in-cio de 2010, o projeto de extenso Laboratrio de Ginstica (LABGIN), no qual so desenvolvidas as aulas da Escola de Iniciao Ginstica para crianas e o Grupo de Ginstica Geral para a comunidade.Penso que o desafo posto tornar o ensino-aprendizado da Ginstica vi-vel por meio do ensino a distncia, uma vez que, eminentemente, sua abor-dagem ocorre, nas aulas presenciais, sob os eixos de estudo terico-prticos. Dessa forma, este fascculo, bem como as atividades que vocs encontraro na plataforma, visa a conciliar o estudo dos temas da Ginstica com sua assistn-cia (via vdeos) e vivncias.Nesse sentido, estruturei o fascculo em cinco captulos acompanhados das atividades a serem realizadas ao longo da disciplina. O primeiro trata do histrico da Ginstica, abordando desde seu surgimento na Grcia at sua transformao em modalidades esportivas.No captulo seguinte, denominado Os Fundamentos da Ginstica, meu objetivo foi chamar a ateno para o estudo da Ginstica tanto no que se refere APRESENTAO5 sua insero social, como tambm aos elementos constitutivos dos gestos gmnicos, lanando mo para isso de referncias da biomecnica. Ainda neste captulo, inclu dois assuntos bastante recorrentes com relao s difculdades encontradas pelos professores quando se deparam com o estudo da Ginstica nas aulas de Educao Fsica Escolar. So eles: Segurana na prtica da Gins-tica e Materiais alternativos para a vivncia da Ginstica.No captulo 3, convido os professores a conhecerem um pouco mais sobre a Ginstica Artstica, observando como se confgura essa modalidade esportiva. Apresento tambm algumas possibilidades para vivenci-la na escola.O captulo 4 aborda o ritmo e a Ginstica Rtmica. A escolha em tratar o tema ritmo por ele se confgurar em um elemento imprescindvel nas vivn-cias da Ginstica Rtmica, Ginstica Geral e nos exerccios de solo da Gins-tica Artstica, da a importncia de ter sido construdo um subcaptulo para estudar esse assunto. J na abordagem da Ginstica Rtmica, busquei apresen-tar um pouco de sua histria e sugerir algumas atividades para adapt-la ao ambiente escolar.Por fm, no captulo 5, foi abordada a Ginstica Geral tratando da meto-dologia de trabalho para sua vivncia e tambm sugerindo atividades ldicas para desenvolv-la nas aulas de Educao Fsica.Espero que os conhecimentos tratados neste fascculo e ao longo da disci-plina possam ser proveitosos. Bom trabalho!UM POUCO DE HISTRIA...1UM POUCO DE HISTRIA...|71.1 A Ginstica em seus primrdios Imagine uma cena de Ginstica... Imaginou? O que voc pensou? Na ginasta Daiane dos Santos1 fazendo o duplo twisty carpado? Em um grupo de soldados executando os exerccios de ordem unida? Ou em pessoas participando de uma aula em uma academia?Se voc pensou em qualquer uma dessas cenas, pensou certo. Todas essas formas de exercitar-se so modos diferentes de praticar a Ginstica.O nome Ginstica surgiu h muitos sculos com a civilizao grega. Mas, para entendermos o contexto no qual a Ginstica era praticada pelos gregos, torna-se importante compreendermos um pouco da organizao social grega e, em especial, a de Atenas, uma de suas cidades-Estado.Atenas tinha uma sociedade organizada em classes sociais. Uma delas era a de escravos. De acordo com Rouyer (1965, p. 162):Os escravos cujo nmero no pra de crescer asseguram o essen-cial do trabalho manual e a classe dos homens livres tende a separar-se de todo o trabalho directamente produtivo. Esque-maticamente, a diviso do trabalho corresponde diviso da sociedade em classes. Dessa forma, os homens livres da classe aristocrtica ateniense vo desenvolver prticas que contemplem o contato social humanizando as relaes estabelecidas entre eles, uma vez que todo o trabalho manual ser realizado pelos escravos.Em Atenas, no sculoVI a.C., educa-se o jovem aristocrata. O objectivo guerreiro est em segundo plano e no se pe a hip-tesedeoprepararparaumaprofsso.Aactividadefsica,a ginstica, que deve o seu nome aos agrupamentos despor-tivos gregos onde se praticava nu (em grego, gymnos), uma 1 Daiane dos Santos integrou aSeleo Brasileira de Ginstica na ltima Olimpada e tornou-se conhecida por ser a primeira ginasta a executar a acrobacia duplo twisty carpado que recebeu seu sobrenome Santos para homenage-la.8|CAPTULO 1iniciao para os desportos elegantes, para os nobres repousos do proprietrio de raiz. Esta actividade desportiva um verda-deiro modo de vida que permite a liberdade e a riqueza dos aris-tocratas (ROUYER, 1965, p. 163).A Ginstica praticada em Atenas no a que conhecemos hoje. Ela englobava atividades, como o atletismo (corridas pedestres, lanamen-tos e saltos), lutas, exerccios equestres, jogos com bola, entre outras. Veja abaixo a Figura 1.Com a democratizao das prticas sociais na classe de homens livres, a Ginstica popularizou-se. Vale lembrar que todo homem livre deveria estar pronto para o combate na guerra e essa preparao fazia-se tambm por meio da Ginstica. Jacques Rouyer (1965, p. 168) afrma:Dopontodevistadaproduomaterial,apenasotrabalho manual dos escravos parece til, e o desporto uma actividade que contribui para uma relativa humanizao. Se juntarmos a este elemento de explicao o factor poltico e religioso, em par-ticular a necessidade de unifcao das lnguas, dos deuses, e se nos recordarmos no apenas da rivalidade das cidades [Estado da Grcia], mas tambm da sua solidariedade no colonialismo, compreenderemos a necessidade e o sucesso dos Jogos Olmpi-cos e dos outros jogos gregos. Figura 1: Cena de uma corrida do stdion da categoria adulta(Nova York, Metropolitan Museum) Fonte: YALOURIS, N. et al. Os jogos olmpicos na Grcia Antiga: Olmpia Antiga e os jogos olmpicos. Traduo de Cabral, L. A. M.So Paulo: Odysseus, 2004. p. 182.UM POUCO DE HISTRIA...|9Com a decadncia da sociedade grega e a ascenso de novas orga-nizaes sociais, vemos a Ginstica perder seu carter formativo e trans-formar-se em diferentes prticas corporais. Na sociedade ocidental, pode-mos mencionar que o desporto, termo usado por Rouyer (1965), iniciou-se a partir da Ginstica grega, transformando-se nas atividades de luta de arena no Imprio Romano com os gladiadores; no Feudalismo, trans-mutou-se para os treinamentos de combate na guerra e alguns jogos tradicionais, os quais a Igreja permitia que os camponeses praticassem.Com o Renascimento e as transformaes de cunho poltico, social e econmico, a Ginstica ganhou nova roupagem, atendendo aos inte-resses da classe social em ascenso: a burguesia.A implantao do capitalismo na Europa alterou o modo de vida da populao, pois era necessria a preparao de novos homens e mulheres para servirem aos interesses do capital. A burguesia, para manter-se no poder, lanou mo de mecanismos de controle social no qual os aspectos morais, intelectuais, culturais e fsicos da classe trabalhadora eram moni-torados e voltados para a produo e perpetuao do sistema capitalista.Dentre as formas de controle social, encontramos a Ginstica que, com sua adoo nos meios escolares, tornou-se Educao Fsica. Esse tipo de educao tem seu cerne nas escolas de Ginstica europeias. De acordo com Soares (2007, p. 51):A partir do ano de 1800 vo surgindo na Europa, em diferentes regies, formas distintas de encarar os exerccios fsicos. Essas formas recebero o nome de mtodos ginsticos (ou escolas) e correspondem aos quatro pases que deram origem s primei-ras sistematizaes sobre a ginstica nas sociedades burgue-sas: a Alemanha, a Sucia, a Frana e a Inglaterra (que teve um carter muito particular, desenvolvendo de modo mais acentu-ado o esporte). Essas mesmas sistematizaes sero transplan-tadas para outros pases fora do continente europeu.Com um carter disciplinador, os mtodos ginsticos, apesar de suas caractersticas peculiares, de acordo com seu pas de origem, iro ter fnalidades semelhantes como:10|CAPTULO 1[...] regenerar a raa (no nos esqueamos do grande nmero de mortes e de doenas); promover a sade (sem alterar as condies de vida); desenvolver a vontade, a coragem, a fora, a energia de viver (para servir ptria nas guerras e na indstria) e, fnalmente, desenvolver a moral (que nada mais do que uma interveno nas tradies e nos costumes dos povos) (SOARES, 2007, p. 52).No Brasil, no incio do sculo XX, o mtodo francs foi adotado nas escolas como forma de Educao Fsica. Vale lembrar que, nesse perodo, o Pas estava em pleno processo de insero no regime capitalista, com o advento da Repblica e incio da urbanizao das cidades. Desse modo, as mesmas fnalidades adotadas na Europa para os mtodos ginsticos passaram a ser tambm vlidas para o Brasil.Os mtodos ginsticos vigoraram como forma de Educao Fsica no Pas at perderem fora para o esporte, fenmeno que, a partir de mea-dos do sculo XX, se desenvolveu fortemente na sociedade brasileira.ATIVIDADE DE ESTUDO 1Ler e fazer o fchamento do subcaptulo do livro SOARES, Carmem Lcia. As escolas de ginstica: sade, disciplina e civismo In: SOARES, Carmem Lcia. Educao Fsica: razes europias e Brasil. 4. ed. Campinas: Autores Associados, 2007, p.51-68.Figura 2: Ginsio ao ar livre (1840) Fonte: SOARES, Carmem Lcia. Educao fsica: razes europias e Brasil. 4. ed. Campinas: Autores Associados, 2007. p. 5.UM POUCO DE HISTRIA...|111.2 Dos mtodos ginsticos s modalidades esportivas gmnicasA Ginstica, como esporte, teve sua organizao por meio das Federa-es Ginsticas que se iniciaram em fns do sculo XIX, na Europa. A Federao Europeia de Ginstica foi fundada em 1881 e, com a entrada dos Estados Unidos da Amrica nessa instituio, ela passou a ser deno-minada Federao Internacional de Ginstica (FIG) (AYOUB, 2007).A FIG atualmente o rgo que rege as aes ligadas s modalidades esportivas da Ginstica. As de carter competitivo englobam a Gins-tica Artstica (nova denominao para a Ginstica Olmpica) feminina e masculina, Ginstica Rtmica, Ginstica Aerbica, Trampolim Acrobtico e Ginstica Acrobtica. A modalidade gmnica de carter no competi-tivo regido por esse rgo a Ginstica para Todos, cuja antiga deno-minao era Ginstica Geral.Cada modalidade esportiva da Ginstica competitiva possui suas regras, aparelhos e gestos prprios. J a Ginstica Geral um amlgama das prticas gmnicas, acrescentando-se ainda elementos advindos das artes circenses, da dana, dos jogos, do teatro e da msica.Nessa disciplina, estudaremos um pouco das modalidades gmni-cas competitivas, em especfco a Ginstica Artstica (GA) (ver fotos das pginas 12 e 13) e a Ginstica Rtmica (GR) (ver fotos das pginas 14 e 15), porm daremos nfase ao estudo da Ginstica Geral (GG) (ver fotos das pginas 16 e 17), cujo nome, apesar de ser o da denominao antiga, ainda muito presente em nosso meio, por ser uma prtica mais ade-quada ao ambiente escolar.PARA SABER MAIS... Pesquisar no site www.ginasticas.com as diferentes modalidades gmnicas de competio.12|CAPTULO 1Execuo do rolamento de frente sem ajuda manualSequncia de execuo do rolamento de costasFinalizao do rolamento de costasAjuda manual para a execuo do rolamento de costasSequncia com ajuda manual para execuo da parada de mos Resultado da parada de mos sem ajuda manualGinstica Artstica (GA)UM POUCO DE HISTRIA...|13Sequncia de execuo da estrelaSequncia com ajuda manual para execuo da estrelaSequncia de execuo do rodantePosicionamento correto das mos para a execuo do rodante14|CAPTULO 1Lanamento da bola com as trs fases de manejo: impulso, fase area e recuperaoLanamento da bola com execuo do piv (giro de 360 em torno do prprio eixo)Lanamento do arco com recuperaoGinstica Rtmica (GR)UM POUCO DE HISTRIA...|15Sequncia de rotao da corda no eixo longitudinal impulsionado pelas mosExecuo de espirais (movimentos circulares) com a fta Execuo de serpentinas (movimentos de zigue-zague) com a ftaLanamento das maas com as duas fases de manejo: fase area e recuperao Manejo das maasRecuperao da corda com os ps aps lanamento16|CAPTULO 1Alongamento e aquecimentoMontagem da pirmideGinstica Geral (GG) - Cenas de um ensaio de uma composio coreogrfcaUM POUCO DE HISTRIA...|1718|CAPTULO 2OS FUNDAMENTOS DA GINSTICA 2OS FUNDAMENTOS DA GINSTICA|19uando pensamos em estudar o conhecimento Ginstica,2 pode-mos pensar em duas perspectivas: a primeira corresponde a compreend-la no contexto social no qual ela produzida, praticada, fruda e modifcada; e a segunda constitui-se em apreender suas tcnicas e modos de fazer.Para compreendermos a primeira perspectiva de abordagem da Ginstica, precisamos entender sua histria, como j procuramos apre-sentar no primeiro captulo. Partindo desse pressuposto, podemos pensar nos modos de pratic-la. Em nosso caso, nosso esforo o de inseri-la no ambiente escolar, espao de nossa interveno cotidiana.Gostaramos de convid-los a refetir acerca do ambiente que encon-tram nas escolas nas quais atuam em relao prtica da Ginstica. a) Como a escola em que atua estruturada do ponto de vista do es-pao? Existe uma quadra adequada para as aulas? Existe um par-quinho com brinquedos? H um ptio coberto ou uma sala na qual as crianas e jovens possam desenvolver atividades de Ginstica?b) H materiais disponveis, como bolas, arcos (bambols), colches, bancos suecos, etc.?c) Os gestores de sua escola apoiam atividades alternativas realiza-das nas aulas de Educao Fsica?Respondam a essas questes no Frum de Discusso 1, pois, a partir dessas informaes, construiremos as possibilidades de ao no processo de ensino-aprendizado das diferentes modalidades da Ginstica. Mas no desanimem, se constatarem que os espaos so precrios ou os mate-riais so escassos, mais adiante haver textos que podero auxili-los a minimizar os problemas de infraestrutura para a prtica da Ginstica. Uma vez respondidas s perguntas, vamos ver quais so as meto-dologias que podemos adotar para o trabalho com a Ginstica. 2 Neste caso, considera-se o conhecimento Ginstica como a manifestao da cultura corporal ampla que abarca todo tipo de ginstica conhecido.20|CAPTULO 2Podemos iniciar diagnosticando o que nossos alunos conhecem por Ginstica por isso pedimos que respondam no Frum de Discusso 1 as seguintes questes: a) De seus alunos, voc saberia dizer aproximadamente quan-tos sabem fazer algum gesto da Ginstica (cambalhota, estrela, rodante, parada de mos, parada de cabea, etc.)?b) Eles j assistiram, na TV ou em outro local, alguma apresentao das modalidades de Ginstica? c) Elesjparticiparamdealgumacompetiooufestivalde Ginstica?FRUM DE DISCUSSO 1No se esquea de postar as questes das pginas 19 e 20 que tratam do contexto do ensino-aprendizado da ginstica na escola.Pode ser um equvoco pensarmos que os alunos nunca tiveram nenhum contato com a Ginstica. Eles podem no ter ainda o conheci-mento da Ginstica sistematizado, ou seja, eles podem no identifcar o nome da modalidade ou mesmo no conseguir apontar quais gestos pertencem determinada modalidade gmnica, entretanto eles devem saber um pouco do que a ginstica de competio.A partir do que os alunos sabem e das respostas sobre a estrutura escolar, podemos traar alguns planos para a abordagem da Ginstica. Percebam que devemos partir de um conhecimento no sistematizado, porm legtimo, acerca do que o aluno conhece para a organizao des-ses saberes, nomeando-os e transcendendo o que j conhecido por eles.Snyders (1988), um estudioso francs, em seu livro denominado Ale-gria na escola, explica-nos que a escola o local de se aprender o que ele chama de cultura elaborada. Para ele, a cultura elaborada, ao con-trrio da cultura primeira, toda produo cientfca, tcnica e arts-tica produzida pela humanidade e que as crianas e jovens tm direito a conhecer. A apreenso desse conhecimento no ocorre de qualquer forma, ele necessita de sistematizao e de adequao para ser assimilado, por OS FUNDAMENTOS DA GINSTICA|21isso o autor defende a escola como o lugar privilegiado para as pessoas se apropriarem da cultura elaborada e para os professores, ao serem os mediadores desse processo. Por isso, como mediadores, o maior desafo que temos pela frente dar sentido e signifcado prtica da Ginstica. Para isso, no existe uma receita pronta, mas cada professor, em seu contexto social de pro-duo, ir desenvolver sua prpria experincia. Dessa forma, dentre outras atribuies, o que cabe a ns, docentes, :a) esclarecer aos alunos por que praticamos Ginstica atualmente. Podemos elucidar que essa prtica foi criada por determinados motivos e em um perodo histrico singular e que, ao longo do tempo, foi se transformando. Nesse caso, o professor deve pes-quisar as diferentes modalidades gmnicas, conhecer seu hist-rico, confrontar a imagem do ginasta mostrada pela mdia com a prtica da Ginstica por ns, pessoas comuns, no atletas; b) conhecer minimamente os gestos gmnicos e um pouco da tc-nica de sua execuo. Nossa experincia vem demonstrando que no necessrio ser um ex-ginasta para se ensinar a Ginstica, nem tampouco ter que demonstrar o gesto gmnico para ensi-nar aos outros (imaginem que se, para ensinar um salto mor-tal, tenhamos que faz-lo!). A soluo que encontramos para o ensino dos gestos gmnicos est ligada ao estudo de obras e de manuais de Ginstica, alm, claro, de experimentar, com muita responsabilidade, diferentes maneiras de realizar os gestos jun-tamente com os alunos.2.1 Elementos bsicos dos gestos gmnicosA prtica da Ginstica embasada em alguns gestos que so recorren-tes nas diferentes modalidades gmnicas. A seguir reproduzimos um quadro esquemtico proposto pela professora Elisabeth Paloiello M. de Souza (1997):22|CAPTULO 2ELEMENTOS CONSTITUTIVOS DA GINSTICAElementos corporais:Passos, corridas, saltos, saltitos, giros, equilbrios, ondas, poses, marcaes, balanceamentos, circunduesPara o desenvolvimentoda: fora, resistncia,fexibilidade, etc.(exerccios localizados)Exerccios de condicionamento fsico:RotaesNo solo, no ar,em aparelhosApoiosNo solo, em aparelhosSuspensesEm aparelhosCom aparelhos, sem aparelhos, em aparelhosPr-acrobticosExerccios acrobticos:Tradicionaisbola, corda, arco, fta, basto, etc.Adaptadospanos, pneus, caixas, etc.Manuseio de aparelhos:Outro autor que nos ajuda a entender os fundamentos dos gestos gmnicos Keith Russell (2010) que, em um curso realizado por ns no II Seminrio Internacional de Ginstica Artstica e Rtmica de Compe-tio, prope que os padres bsicos de movimento da Ginstica sejam divididos em:a) posies estticas;b) posies no estticas.As posies estticas compem um grupo de gestos nos quais o ginasta se encontra estabilizado, como nas situaes de apoio, balan-ceio e suspenses. Essas situaes podem ser compreendidas, do ponto de vista da biomecnica, como gestos nos quais a projeo do centro de massa sempre permanece dentro da base de apoio aumentando a esta-bilidade corporal e mantendo a rigidez do gesto (Figura 4). Figura 3: Organograma dos elementos constitutivos da GinsticaFonte: Adaptao de SOUZA, E. P. M. Ginstica Geral: uma rea do conhecimento da educaofsica. 1997. Tese (Doutorado) Faculdade de Educao Fsica, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 1997. p. 28, fg. 2.OS FUNDAMENTOS DA GINSTICA|23A projeo do centro de massa o resultado da posio corporal sob a infuncia da gravidade, portanto ele se move de acordo com a posio corporal.Vejam a Figura 5. Nela o ginasta est em uma posio esttica de apoio na qual o centro de massa est bem prximo de sua base de apoio e ele se encontra numa posio estvel.Figura 4: Apoios de uma parada de cabea na qual o centro de massa se encontra bem no meio da base de apoioFonte: Adaptao de NUNOMURA, Myrian et al. Os fundamentos da ginstica artstica. In: NUNOMURA, M; TSUKAMOTO, M. H. C. Fundamentos das ginsticas. Jundia: Fontoura, 2009. p. 219.Figura 5: Posies estticas de apoioFonte: Adaptao de NUNOMURA, Myrian et al. Os fundamentos da ginstica artstica. In: NUNOMURA, M; TSUKAMOTO, M. H. C. Fundamentos das ginsticas. Jundia: Fontoura, 2009. p. 216 e 217.24|CAPTULO 2Na Figura 6, o ginasta est numa posio esttica de balanceios, na qual o centro de massa se encontra nas extremidades de sua base de apoio e ele fcou numa posio instvel.Figura 6: Posies estticas de balanceiosFonte: Adaptao de NUNOMURA, Myrian et al. Os fundamentos da ginstica artstica. In: NUNOMURA, M; TSUKAMOTO, M. H. C. Fundamentos das ginsticas. Jundia: Fontoura, 2009. p. 221.OS FUNDAMENTOS DA GINSTICA|25Na Figura 7, o ginasta est numa posio esttica de suspenso na qual seu centro de massa est abaixo de sua base de apoio e ele se encontra numa posio bastante estvel.Percebam que, em todas as situaes, o ginasta mantm a mesma posio inicial e fnal, mesmo executando alguns gestos gmnicos, como os balanceios.J as posies no estticas so divididas em movimentos lineares e movimentos de rotao (Figura 8). POSIES NO ESTTICASMovimentos lineares Movimentos rotatriosSaltos Locomoes Rotaes BalanosAterrissagensFigura 7: Posies estticas de suspensoFonte: Adaptao de NUNOMURA, Myrian et al. Os fundamentos da ginstica artstica. In: NUNOMURA, M; TSUKAMOTO, M. H. C. Fundamentos das ginsticas. Jundia: Fontoura, 2009. p. 217.Figura 8: Organograma das posies no estticas da Ginstica Fonte: Adaptao de Russel (2010), apostila do curso O ensino da ginstica e suas principais problemticas. 26|CAPTULO 2Os movimentos lineares so compostos por gestos com base de apoio nica e que necessitam de movimentos de exploso para ocorre-rem, como no caso dos saltos. J nos deslocamentos alm dessa caracte-rstica, acrescenta-se a repetio do gesto como nas corridas de desloca-mento e nos movimentos de escalar um aparelho, entretanto a potncia da exploso menor.Os movimentos rotatrios so gestos nos quais so geradas rota-es, aplicando foras fora do centro de massa (ou foras combinadas) nas quais possvel tambm alterar a direo da rotao, variando a dis-tribuio da massa corporal sobre o eixo em que se executa a rotao. importante mencionar que, no caso dos movimentos rotatrios, os eixos podem ser classifcados como eixos internos, nos quais as refe-rncias so o corpo do ginasta, como: o eixo transversal e longitudinal, conforme visto na disciplina Corpo, movimento e conhecimentos ana-tmicos. Esses eixos sero as referncias para os gestos, por exemplo: os saltos mortais (girando sobre o eixo longitudinal) e as piruetas (girando sobre o eixo transversal). Alm dos eixos internos, temos os eixos exter-nos, nos quais a referncia so os aparelhos em que o ginasta mantm a suspenso, como no caso das barras paralelas, barra fxa e barras assi-mtricas. Dessa forma, os balanos so os movimentos que prevalecem quando aplicamos esse tipo de movimento.Por fm, para completarmos a abordagem das posies no estti-cas, lembremo-nos de que um dos pontos principais no aprendizado da Ginstica saber cair. Nesse caso, o nome utilizado para essa tarefa no mbito das modalidades gmnicas aterrissagem.As aterrissagens devem ser treinadas constantemente, inclusive deve ser considerado o ponto de partida para o ensino da Ginstica, uma vez que um dos problemas mais apontados pelos professores no ensino-aprendizado dessa prtica corporal o medo de acidentes. No prximo captulo, sugerimos a leitura de um texto que trata somente da segu-rana na Ginstica Artstica, mas, por enquanto, vejamos as regras para uma boa aterrissagem.H dois princpios bsicos a serem obedecidos, quando desejamos ensinar nossos alunos a saber cair ou realizar uma boa aterrissagem. O primeiro um princpio do tempo: o corpo absorve mais energia, atenu-OS FUNDAMENTOS DA GINSTICA|27ando o impacto da queda. Quanto menor for o tempo, maior o choque (fora) de impacto e menos energia ser absorvida.O segundo princpio diz respeito superfcie de contato: quanto maior for, melhor o amortecimento na aterrissagem.Em ambos os princpios, a ideia desacelerar o centro de massa com segurana, utilizando o controle corporal e tendo o tempo e a superf-cie de contato como aliados.Sobre os dois ps Sobre as mos Em rotao Sobre as costas- Variar a altura-Variar as direes-Variar a forma do corpo-Variar a superfcie de aterrissagem-Variar o equipamento- Variar a altura- Variar a direo-Variar a superfcie de aterrissagem-Variar o equipamento-Para frente, para trs, para o lado- Variar a altura-Variar a superfcie de aterrissagem-Variar as ativida-des anteriores- Variar a altura-Variar a superfcie de aterrissagem** Iniciar, praticar e aperfeioar no colcho macio e depois partir para superfcies mais rgidasQuadro 1: Tipos de aterrissagemFonte: Adaptao de NUNOMURA, Myrian et al. Os fundamentos da ginstica artstica. In: NUNOMURA, M; TSUKAMOTO, M. H. C. Fundamentos das ginsticas. Jundia: Fontoura, 2009. p. 214.Sobre os dois psSobre as costasSobre as mosSobre as mosSobre as mosFigura 9: Diferentes posies de aterrissagemFonte: Adaptao de NUNOMURA, Myrian et al. Os fundamentos da ginstica artstica. In: NUNOMURA, M; TSUKAMOTO, M. H. C. Fundamentos das ginsticas. Jundia: Fontoura, 2009. p. 215.28|CAPTULO 22.2 A segurana na Ginstica: Usualmente, iniciamos o processo de ensino-aprendizado da Ginstica com exerccios de solo da Ginstica Artstica, que comportam os gestos do rolamento de frente (ou cambalhota de frente), rolamento de costas (ou cambalhota de costas), estrela, parada de cabea (ou bananeira de cabea), parada de mos (ou bananeira), rodante, entre outros gestos gm-nicos. Muitos deles so realizados com inverso corporal e movimentos desequilibrantes que despertam certo medo de acidentes.O temor demonstrado por muitos professores relativo segurana na prtica da Ginstica, durante seu processo de ensino-aprendizado, ocorre, principalmente, porque, no caso das aulas de Educao Fsica, so, em mdia, 30 a 40 alunos para somente um professor. Desse modo, muitos professores temem no conseguir auxiliar todos da turma na exe-cuo dos gestos. Para ajudar a resolver esse problema, abordaremos algumas possibilidades de ao para minimizar os riscos com o traba-lho na Ginstica, podendo estender algumas das medidas indicadas para outras modalidades gmnicas.Quando pensamos na segurana na Ginstica, devemos levar em considerao as principais causas de acidentes ocasionados por sua pr-tica. Nunomura (2008, p. 60) enumera os seguintes fatores de causas de acidentes na Ginstica Artstica, mas que tambm podem ocorrer na pr-tica de outras modalidades gmnicas:1) o fator psicolgico, que poderia estar relacionado ao medo, falta ou ao excesso de confana, presso interna ou externa, ansiedade, entre outros;Em rotao para trs (fase 1) (fase 2) (fase 3) (fase 4) (fase 5)Continuao da Figura 9OS FUNDAMENTOS DA GINSTICA|292) o fator biolgico, que poderia ser manifestado por fadiga, perda da ao refexa, preparao fsica e/ou aquecimento inadequados, recuperao insufciente aps uma enfermidade, presena de dis-trbios fsiolgicos, alimentao inadequada, entre outros;3) a disciplina, que poderia estar relacionada falta de ateno ou concentrao, no-obedincia ao professor e s suas orien-taes, utilizao inadequada dos equipamentos, entre outros.Nesse caso, so recomendados os seguintes procedimentos, tambm baseados no texto de Nunomura (2008), para que tudo corra bem nas aulas:a) verifcar o ambiente fsico no qual as aulas iro ocorrer, che-cando se iluminado, se a temperatura no extremamente alta, o que pode fazer com que as crianas fquem estafadas em pouco tempo, o tipo do piso onde sero realizados os exerccios (se limpo e adequado), se h alguma obstruo no solo, como pre-gos, ganchos, buracos, salincias, etc.; se o local onde os exer-ccios sero executados est resguardado com colches, tatames e outros tipos de proteo; verifcar, tambm, o fuxo de pessoas prximas aos alunos que esto se exercitando, para evitar colises;b) verifcar se os equipamentos ou aparelhos utilizados esto em condies de uso. Geralmente, nas aulas de Educao Fsica na escola, acabamos adaptando os equipamentos ou aparelhos para o ensino da Ginstica, por exemplo: a utilizao do brinquedo trepa-trepa, bastante comum nos parquinhos infantis, para substituir a barra fxa ou barra assimtrica. Nesse caso, impor-tante analisar se esse brinquedo est com uma boa manuteno. No prximo item, trataremos das adaptaes de materiais para as aulas de Ginstica;c) verifcar a vestimenta e uso de acessrios dos estudantes. No aconselhamos que as aulas sejam realizadas com roupas que pre-judiquem a execuo dos gestos ou que possam machucar o pr-prio aluno. Outro fato muito comum o uso de bijuterias ou ade-reos nas aulas de Ginstica. Aconselhamos que os alunos e alunas no usem nenhum objeto de enfeite corporal para no haver risco de acidentes (inclumos nessa restrio os piercings, comuns no 30|CAPTULO 2ensino mdio). O ideal tambm usar os cabelos presos, de modo que no prejudiquem a viso do executante dos exerccios e, por fm, no se esquecer que as unhas devem ser mantidas curtas;d) observar que existe tambm responsabilidade por parte do pro-fessor, no que se refere s orientaes a serem dadas aos estu-dantes com relao ao local de aula, aos materiais e equipamen-tos a serem montados, uma vez que muitos alunos nos ajudam na tarefa de preparao das aulas. importante termos uma noo clara daquilo que os alunos j sabem executar e o grau de dif-culdade demonstrado por eles quando propomos novos gestos. Essa percepo fundamental para evitarmos que eles sofram acidentes quando arriscam gestos nos quais ainda no esto pre-parados. Ns somos a referncia para o aluno e temos a respon-sabilidade de incentivar os que j esto preparados para novos desafos e dar limites queles que ainda no esto conseguindo executar as aes de forma segura. Notem que no queremos dizer que eles devam executar os gestos gimnicos como os ginas-tas executam, no isso! O que queremos dizer que os prati-cantes devem ter segurana na execuo do gesto, mesmo que ele no saia como visto nos meios de comunicao de massa. Tambm vale a pena lembrar que no devemos deixar os alunos sozinhos no decorrer das aulas de Ginstica, afnal a responsa-bilidade por eles nossa.e) por fm, considerar que a ajuda manual um dos pontos que pode nos ser til, para garantir certa segurana na execuo dos gestos da Ginstica. Mas essa ajuda deve ser realizada com muita aten-o, tcnica e preciso. H autores, como Russel (2010), que afr-mam que a ajuda manual no colabora no aprendizado do gesto gmnico do aluno, e deve ser realizada somente em casos extre-mos; por outro lado, outros autores, como Gerling (2010) defen-dem a ajuda manual como um instrumento valioso no processo de ensino-aprendizado da Ginstica. Seguindo os pressupostos enunciados por Nunomura (2008), podemos elencar os seguintes tpicos a serem estudados antes da ajuda manual:OS FUNDAMENTOS DA GINSTICA|31a quantidade de fora empregada na ajuda deve ser ade-quada ao gesto executado pelo aluno, ou na ajuda manual entre os prprios alunos;a direo da fora serve tanto para produzir um sentido de direo quanto alterar esta direo.o ponto de aplicao da fora para esta tarefa se torna importante ter claro o qual tipo de movimento desejado e o centro de massa do executante do gesto;a sequncia de aplicao de fora [...] segue uma ordem lgica e cada habilidade segue um mesmo padro de in-cio-execuo-fnalizao. A assistncia no necessria durante todo o movimento, pois depende da natureza do movimento e da necessidade individual de cada ginasta (NUNOMURA, 2008, p. 66);o tempo de aplicao de fora bastante subjetivo porque depende do executante e do seu grau de desenvoltura na exe-cuo do gesto.ATIVIDADE DE REGISTRO 1Ler e fazer uma sntese da leitura de: NUNOMURA, Myrian. Segurananaginsticaartstica.In:NUNOMURA,Myrian; NISTAPICCOLO, Vilma L. Compreendendo a ginstica artstica. So Paulo: Phorte, 2008. p. 65 67.De modo geral, podemos ter claro que acidentes ocorrem em vrias aes cotidianas. Mesmo nas tarefas mais corriqueiras, corremos o risco de nos acidentar. Entretanto, na prtica da Ginstica, devemos nos cer-car do mximo de aes para que os riscos de acidentes sejam minimi-zados. O que no podemos deixar de compartilhar esse conhecimento, pois a Ginstica faz parte do repertrio da cultura corporal do qual os alunos tm o direito de usufruir. Nesse sentido, para complementar a abordagem dos problemas que comprometem o ensino-aprendizado da Ginstica no ambiente escolar, passaremos a estudar algumas sugestes de adaptaes de materiais para as aulas.32|CAPTULO 32.3 As possibilidades de adaptaes de materiais para o ensino-aprendizado da Ginstica na escola Neste tpico, iremos nos valer das ideias de Schiavon (2008) e Toledo (2009), que vm apresentando algumas solues para a superao da escassez de materiais e equipamentos para o ensino-aprendizado da Ginstica nas escolas. Entretanto, possvel tambm encontrar outras solues para a adaptao de materiais e equipamentos de Ginstica, seja usando a imaginao, seja pesquisando na internet ou com outros colegas. O correto seria que as escolas tivessem aparelhos e equipamen-tos para a prtica da Ginstica, entretanto vemos que isso no ocorre na maioria das escolas brasileiras. Nesse caso, o que recomendamos que juntamente com a adaptao de materiais tambm ocorra por parte dos professores a reivindicao junto aos gestores escolares para a com-pra dos materiais e equipamentos adequados para o ensino-aprendi-zado da Ginstica. Notem que as essas aes desencadeadas conjunta-mente podem ser bastante signifcativas, pois, uma vez que o professor se esfora em desenvolver um trabalho com a Ginstica, mesmo que seja com aparelhos adaptados, poder, talvez, sensibilizar a comunidade esco-lar no sentido de melhorar as condies para essas aulas.FRUM DE DISCUSSO 2Ler o texto de SCHIAVON, Laurita Marconi. Materiais alternativos para a ginstica artstica. In: NUNOMURA, Myrian; NISTA-PICCOLO, Vilma L. Compreendendo a ginstica artstica. So Paulo: Phorte, 2008. p. 169-181. Aps a leitura, relatar alguma experincia que voc j participou na qual utilizou um equipamento adaptado para a prtica da Ginstica Artstica. Caso voc no tenha ainda viven-ciado nenhuma experincia com um equipamento adaptado, des-creva, dentre os exemplos citados pela autora, aquele que mais lhe agradou e como voc o utilizaria em suas aulas.J a autora Eliana de Toledo (2009) apresenta algumas sugestes para adaptao e confeco dos aparelhos de manejo da Ginstica Rt-mica. Vejamos:A GINSTICA ARTSTICA|33Arco: sua confeco pode ser feita a partir de condutes (canos de PVC) de 80 a 90cm de dimetro, unindo suas pontas com uma fta adesiva, como tambm substitudo pelo bambol, material barato e que muitas escolas possuem.Tipo de emenda interna para unir as extremidades do cano de PVCTipo de emenda externaArcos fnalizadosAcabamento com fta adesivaBola: geralmente as escolas tambm contam este material que no tem um preo muito alto, mesmo porque a bola de GR pode ser substituda por uma bola de plstico com a qual os alunos geralmente tm contato nas brincadeiras extraescolares. Entretanto, h algumas solues para a confeco de bolas, como as bolas de meia preenchidas por folhas de jornal (vrias camadas) com seu acabamento (parte exterior) feito por bexigas. Outra opo encher uma bexiga com areia ou paino, envolv-la com jornal com forro de fta crepe ou fta adesiva larga. Nesse caso, preciso ter cuidado com o peso da bola que variar de acordo com a quantidade de areia ou paino. Recomendamos que no exceda os 400 gramas (que o peso de uma bola ofcial de GR).34|CAPTULO 3Sequncia de confeco da bolaA GINSTICA ARTSTICA|35Corda: outro aparelho tambm muito encontrado nas escolas e no cotidiano dos alunos a corda. Para sua adaptao, sugerimos as cordas feitas de folhas de jornal enrolado e torcido, envolvidas com fta adesiva larga. Outras opes o feitio de tranas de barbante grosso, de elstico ou de tecidos velhos, como lenis e toalhas cortados em tiras.Fita: j este aparelho raro de ser encontrado nas escolas. Nas experi-ncias que vimos desenvolvendo, um dos que mais desperta a curiosi-dade dos alunos e dos que eles mais gostam de manipular. Ele composto de uma parte rgida, comprida e cilndrica, de uns 35cm, que chama-mos de estilete. Sua outra parte fexvel, de tecido (cetim, seda, etc.) de aproximadamente 7cm de largura com 5 ou 6m de comprimento, nas medidas ofciais. Porm, para o pblico infantil, recomendamos que o comprimento do tecido tenha em torno de 3 a 5m dependendo da esta-tura da criana. A interligao entre o estilete e o tecido feita por uma pea pequena, denominada girador, e tambm um pequenino gancho. A adaptao desse aparelho pode ser feita da seguinte forma: para substi-tuir o estilete, podemos usar um cabinho do mata-moscas (sem a parte de borracha), uma canaleta de pasta escolar, um pedao de bambu fno e cortado no tamanho do estilete ou mesmo a parte de madeira reta do cabide tanto na alternativa do pedao de bambu como na do cabide, recomendamos que a madeira tenha sido lixada, dando um acabamento arredondado ao estilete. O girador pode ser feito com um pequeno parafuso com a ponta em crculo (nas lojas de material de construo encontramos este item) ou um pedao de arame fno, em conjunto com uma pea que utilizada para pesca, denominada snap com girador. J o tecido da fta pode ser feito de tiras de pano velho como lenis ou toalhas de mesa, TNT, papel crepom ou jornal (porm os papis tm uma durabilidade menor).36|CAPTULO 3Sequncia de confeco do aparelho fta com o estilete adaptado de parte de um cabideSequncia de confeco do aparelho fta com o estilete adaptado de pasta de canaletaA GINSTICA ARTSTICA|37Maas: este tambm um aparelho incomum nas escolas, porm tambm desperta a curiosidade dos alunos. As maas so utilizadas sempre em pares e podem ser feitas de madeira, borracha ou microfbra. Elas se assemelham ao malabares, e cada uma delas composta pela cabea (que parece uma boli-nha), pescoo (parte alongada e cilndrica) e corpo, que a parte cilndrica, porm mais larga que o pescoo. Ela pode ser adap-tada por garrafas pets de 600ml com gua ou outros materiais, como pedrinhas ou gros, variando o peso de acordo com a idade e habilidade das crianas.PARA SABER MAIS...Assistir aos vdeos 1, 2 e 3 sobre confeco de materiais adapta-dos para a GR.38|CAPTULO 3A GINSTICA ARTSTICA3A GINSTICA ARTSTICA|39origem da Ginstica Artstica tem uma relao estreita com o mtodo ginstico alemo. Foi a partir das propostas pedaggi-cas de Jahn, considerado o pai da Ginstica alem, que foram inseridos nos treinos ginsticos os aparelhos utilizados para a prepa-rao dos atletas e alunos. Anos mais tarde, esses aparelhos seriam, a partir de adaptaes, o que conhecemos hoje como os que compem as provas de Ginstica Artstica.O termo Ginstica Artstica recente. Anteriormente, essa modali-dade esportiva chamava-se Ginstica Olmpica, porm, para no haver confuso entre esta e outras modalidades tambm da esfera Olmpica, a Federao Internacional de Ginstica alterou sua nomenclatura.Atualmente, as provas competitivas dessa modalidade so diferen-ciadas em masculina e feminina. Nas provas masculina, os atletas devem executar uma srie de exerccio de solo, sem msica, alm das sries obri-gatrias na barra fxa, barras paralelas, cavalo com ala, cavalo sem ala e argolas. J as provas femininas englobam exerccios em trave de equi-lbrio, barras assimtricas, mesa de salto, exerccios no solo com msica.PARA SABER MAIS...Sobre os aparelhos e as provas da Ginstica Artstica, ver o site:http://www.ginasticas.com/ginasticas/gin_artistica_provas.html claro que o ambiente escolar no comporta as exigncias das pro-vas de competio da Ginstica Artstica. Na verdade, o que desejamos que vocs, professores, saibam que existe toda uma regulamentao em torno dessa modalidade esportiva e procurem adequar, de acordo com seu contexto, atividades nas quais os alunos possam conhecer e prati-car a Ginstica Artstica.40|CAPTULO 3ATIVIDADE DE ESTUDO 2Ler:NUNOMURA,Myrianetal.Osfundamentosdaginstica artstica. In: NUNOMURA, M; TSUKAMOTO, M. H. C. Fundamentos das Ginsticas. Jundia: Fontoura, 2009. p. 219, 220, 225 239.Assistir ao Vdeo 4 Processos de ensino-aprendizado da Ginstica ArtsticaFRUM DE DISCUSSO 3 A partir do estudo deste material, escolher trs processos de ensino-aprendizado dos gestos apresentados e relatar as difculdades e possveis solues em sua execuo no Frum de Discusso 3.Notem que, nessas pginas, h a descrio de exerccios bsicos rela-cionados com o solo, trave de equilbrio e barras, tanto para as provas masculinas, como para as femininas, mesmo porque a inteno deste fascculo democratizar a prtica dessa modalidade na escola.Como dissemos no incio deste captulo, no iremos aprofundar a abordagem dessa modalidade, mesmo porque h inmeras possibilida-des de trabalho com a GA. Cabe adequarmos o que os alunos e ns dese-jamos ensinar de acordo com as condies que encontramos em cada ambiente escolar. Para isso, no h dvidas de que necessrio estudo e esforo para a insero desse conhecimento em nossas aulas.42|CAPTULO 4O RITMO E AGINSTICA RTMICA 4O RITMO E A GINSTICA RTMICA|434.1 O RitmoAntes de iniciarmos a abordagem da Ginstica Rtmica (GR), trataremos um pouco dos conceitos ligados ao ritmo, j que, nessa modalidade e tambm em outras manifestaes da cultura corporal, o ritmo um ele-mento fundamental.Quando pensamos no ritmo nas aulas de Educao Fsica escolar, geralmente nos remetemos s danas, aos diferentes tipos de Ginstica, aos jogos e brincadeiras cantadas. Entretanto, podemos extrapolar essa compreenso e notar que o ritmo est presente em vrias aes cotidia-nas, como em algumas modalidades esportivas, por exemplo: a corrida, a natao e tambm em situaes das quais nem nos damos conta, como no caso dos batimentos de nosso corao. A palavra ritmo, que vem do grego rhythmos, signifca fuir. Dessa forma, tudo o que fui e est em movimento possui um ritmo.O ritmo pode ser caracterizado [...] como um constante fuxo din-mico, mediante o qual todos os processos corporais se mantm numa infnita auto-regulao, num contnuo ir e vir, subir e descer (HANE-BUTH, 1968, p. 33, apud AYOUB, 2000, p. 51). O ritmo do movimento corporal pode ser dividido em trs momentos:a) Estmulo (ascendente, disposio para tenso e comeo desta);b) Acento (exploso, mxima tenso ou descarga); c) Escoamento (descendente, relaxamento).Portanto, os gestos rtmicos so realizados mediante alguns pres-supostos que, por vezes, nos passam despercebidos e acabamos consi-derando-os naturais. Entretanto, no processo de ensino-aprendizado, devemos ter ateno ao gesto de nossos alunos, estimulando-os a viven-ciar diferentes ritmos, chamando a ateno para que eles os sintam cor-poralmente e expressem o que so capazes de perceber pela gestualidade. 44|CAPTULO 4Para Ayoub (2000), possvel apontar os princpios fundamentais do carter rtmico da gestualidade que so os seguintes:a) a alternncia rtmica oscilao constante entre os estados de tenso e relaxamento, de acentuao e repouso ou pausa;b) o carter rtmico da gestualidade manifesta-se em trs fases ou momentos (preparao/estmulo, descarga/acento e concluso/escoamento) que compem unidades rtmicas;c) os fenmenos dinmicos/rtmicos que compem a gestualidade so tempo, espao, fora e forma;d) a qualidade expressiva da gestualidade aglutinante por exce-lncia e, portanto, muito geral;e) a igualdade de tenses entre gesto e msica dilogo entre lin-guagem corporal e linguagem musical. Nesse sentido, para trabalhar com o ritmo nas aulas de Educao Fsica, podemos pensar nas seguintes abordagens:a) fontes de ritmos: orgnicos (pulsao, respirao), gestos, sons vocais, a linguagem falada, o canto, a linguagem escrita, sons de instrumentos e de materiais diversos, imagens e a msica (pre-zando pela escolha das msicas, buscando mostrar alternativas quelas que so muito comuns aos alunos).b) cantigas de roda e danas folclricas (lembrando a riqueza das quadrinhas, rimas, refres, encenaes, dilogos, dramatizaes, solos e cantos em unssono).As atividades devem estar relacionadas com dois pontos centrais: a percepo do ritmo nas suas diferentes fontes e a sincronizao ritmo/gestualidade.Percepo do ritmo em suas diferentes fontes:a) ritmos internos;b) ritmos dos gestos, individual e grupal (lembrando que cada um tem seu ritmo);c) ritmos dos sons;d) ritmo da linguagem falada;e) ritmo da msica.O RITMO E A GINSTICA RTMICA|45A sincronizao ritmo/gestualidade trata-se de construir um di-logo entre as diferentes linguagens em que o ritmo se manifesta, com nfase na sincronizao entre o ritmo do gesto e as outras fontes de ritmo, em especial a msica, buscando afnar essas mltiplas lingua-gens numa igualdade de tenses.Consideramos que o estudo do ritmo e sua vivncia na escola pode contribuir muito para o aprendizado dos gestos gminicos e para a vivn-cia das atividades ligadas s composies coreogrfcas tanto na Gins-tica Artstica, Ginstica Rtmica e Ginstica Geral.ASSISTIR AOS VDEOS Stomp e Barbatuques.4.2 A Ginstica RtmicaA Ginstica Rtmica teve sua origem ligada ao movimento renovador da Ginstica Moderna. Com a efervescncia das ideias iluministas do Renas-cimento, muitos estudiosos colocam em ao novas concepes educa-tivas, dentre eles, Jean Basedow (1723-1790). Mesquita (2008) afrma que Basedow fundou uma instituio denominada Filantropinum e, em seu programa educativo, foram colocadas em prtica as ideias da flosofa naturalista de Jean Jacques Rousseau, nas quais [...] os exerccios fsi-cos, naturais passaram a constituir parte essencial de um plano harm-nico, integral: corpo e esprito (MESQUITA, 2008, p. 56).Nessa forma de se trabalhar a Ginstica, unindo corpo e esprito, a expressividade fazia-se presente e esse foi o ponto de partida para outras propostas nas quais a expresso e a arte se incorporaram Ginstica.At chegar ao que hoje conhecemos como Ginstica Rtmica, essa modalidade esportiva sofreu diversas infuncias, como as advindas da dana e do teatro. claro que, a princpio, a Ginstica Rtmica era uma Ginstica na qual se conjugava a expressividade com os gestos gmnicos acrescidos tambm dos movimentos artsticos, como os gestados por No-verre (1727-1809/1810), Delsarte (1811-1871), Duncan (1878-1920), Dalcroze (1865-1950), Rudolf Bode, Laban (1879-1958) e Medeau (MESQUITA, 2008).46|CAPTULO 4De acordo com Mesquita (2008, p. 59): A ginstica rtmica, sistema-tizada por Rudolf Bode, em 1911, e modifcada por Medeau a partir de 1939, recebeu da Educao Fsica, da Pedagogia, das Artes, da msica, da dana e do teatro o seu carter rtmico, esttico e expressivo.Em 1948, na Unio Sovitica, ocorreu a primeira competio de Ginstica Rtmica que, naquele perodo, era chamada de Ginstica Arts-tica. Em 1952, foi fundada, em Viena, a Liga Internacional de Ginstica Moderna (LIGIM), e a denominao da Ginstica sistematizada por Bode e Medeau era Ginstica Feminina Moderna. Em 1962, a FIG reconheceu a Ginstica Feminina Moderna como uma modalidade esportiva e pas-sou a organizar o campeonato mundial a cada dois anos.Os pases que, ao longo dos anos, vm se destacando nas competi-es de GR so os do Leste Europeu e a antiga Unio Sovitica.Unindo tcnica gestual e arte, a GR destaca-se entre as demais moda-lidades gmnicas por exigir de suas atletas um nvel apurado do manejo de seus aparelhos, concomitantemente com a execuo perfeita dos ele-mentos corporais, dos quais muitos so advindos da dana. Atualmente, a GR praticada somente na categoria feminina, apesar de haver algu-mas iniciativas de incluso do pblico masculino.Os aparelhos que compem as provas de GR so o arco, a corda, as maas, a fta e a bola. Cada aparelho possui suas peculiaridades de manejo e, nas provas, exigida a execuo mnima de determinados ele-mentos corporais para a atleta atingir uma boa pontuao. As compo-sies coreogrfcas podem ser executadas individualmente ou em con-junto com cinco componentes.Podemos apontar como elementos corporais os saltos, os equilbrios, os pivots, a fexibilidade e as ondas.Apresentamos para voc, professor, um pouco dos elementos cons-titutivos da GR e agora o convidamos a estudar as possibilidades de ensino-aprendizado do manejo dos aparelhos e da execuo dos ele-mentos corporais.O RITMO E A GINSTICA RTMICA|47ASSISTIR AOS VDEOS Manejo do arco, da bola, da fta, da corda e das maas.ATIVIDADE DE REGISTRO 2Ler as pginas 149 at 170 do texto: TOLEDO, Eliana. Fundamentos da Ginstica Rtmica. In: NUNOMURA, M; TSUKAMOTO, M. H. C. Fundamentos das ginsticas. Jundia: Fontoura, 2009 e com base na leitura e no contedo estudado sobre os materiais adaptados, escolha um dos aparelhos da GR, confeccione-o (caso voc no tenha um aparelho de sua preferncia disposio) e vivencie sua prtica registrando por meio de fotos a vivncia e descreva os gestos mais fceis e mais difceis de serem executados.48|CAPTULO 5A GINSTICA GERALNA ESCOLA 5A GINSTICA GERAL NA ESCOLA|49elo que vimos, podemos concluir que possvel trabalhar com diferentes tipos de Ginstica na escola, porm, de acordo com as experincias que esto sendo desenvolvidas na rea, percebe-mos que a Ginstica para Todos, ou Ginstica Geral (GG), uma opo bastante acessvel e adaptvel s diferentes escolas e alunos. Isso por-que ela se constitui como uma prtica inclusiva na qual o objetivo prin-cipal a participao, independentemente da tcnica dos participantes ou de sua constituio corporal.Mas, afnal, o que Ginstica Geral?Para Toledo, Tsukamoto e Gouveia (2009, p. 26):Ao contrrio das demais manifestaes ginsticas competiti-vas, regradas e claramente delimitadas por seus cdigos, na GG a liberdade uma caracterstica marcante, que a permeia, em diferentes aspectos: no uso ou no de aparelhos, na faixa et-ria e no nmero de praticantes, nas vestimentas utilizadas, no estilo musical, etc. No entanto, tamanha liberdade acaba dif-cultando o estabelecimento de uma defnio para a mesma, ou seja, sua prpria conceituao difcil de ser estabelecida e, principalmente, padronizada, dada esta ampla gama de possi-bilidades que oferece e porque esta liberdade em suas caracte-rsticas refetida tambm na liberdade que os autores tm de interpret-la e conceitu-la.Dessa forma, a GG promove, nas aulas de Educao Fsica, um espao de valorizao do prazer e da ludicidade por meio do trabalho com o ritmo/msica e com materiais e aparelhos ginsticos diversifca-dos. Alm disso, propicia o estmulo ao trabalho coletivo e cooperativo entre os alunos da mesma turma e das diferentes turmas no processo de composio de coreografas quebrando a viso tcnica do movimento na Ginstica, com forte apelo inclusivo e carter demonstrativo.50|CAPTULO 5Para trabalharmos com a GG na escola, utilizamos as estratgias desenvolvidas pelo Grupo Ginstico da Unicamp (GGU), que foram sis-tematizadas por Souza (1997, p. 91-92) e por Perez Gallardo (1995, p. 117-129), e se constitui numa referncia importante devido ao seu car-ter pedaggico e inovador. De acordo com os escritos de Souza (1997, p. 91-92), as possibilidades de trabalho incluem: 1.Utilizao dos mais variados ritmos musicais, explorando o pulso da msica, como por exemplo: caminhar no pulso da msica, na metade do pulso, no dobro do pulso, etc; a melo-dia e a interpretao das emoes que a msica inspira.2.Utilizao das possibilidades de amplitude do movimento, por exemplo: passos curtos, longos, curtos e longos, etc.3.Utilizaodedeslocamentosemdiferentesdirees:para frente, para trs, para os lados, em linhas curvas, retas, com-binadas, etc.4.Utilizao de diferentes posies do corpo: em p, sentado, deitado, em quatro apoios, etc.5.Utilizao das variaes do centro de gravidade do corpo: baixo, mdio, alto.6.Utilizao de variveis de expresso corporal ou expresses afetivas, como por exemplo: executar um movimento com ale-gria, tristeza, raiva, etc.7.Utilizao de imitaes (teatralizao) de personagens, ani-mais, atividades esportivas, atividades profssionais, etc.8.Utilizao de diferentes expresses culturais, como por exem-plo: dana (clssica, popular, folclrica, etc.), teatro, mmica, jogos, lutas, etc.A GINSTICA GERAL NA ESCOLA|519.Utilizaodosmovimentoscaractersticosdasdiferentes modalidades Ginsticas (Artstica, Rtmica Desportiva, Aer-bica, Acrobtica, etc.). A partir da explorao de materiais (inclusive materiais no conven-cionais da Ginstica), sons e msicas, desencadeia-se o processo de cria-o de uma ou de vrias composies coreogrfcas, que podem englo-bar os seguintes procedimentos: a) orientaes gerais a respeito do que pode ser elaborado pelos alu-nos, de acordo com a fnalidade pretendida se forem somente vivncias em aulas, as possibilidades relativas ao tempo da coreo-grafa, vestimenta, uso de materiais, apresentao escrita do tema da coreografa ou de seu processo de produo fca a critrio do docente e, normalmente, mais livre. No caso de apresentao em festivais, todos os pontos aqui descritos possuem regras espe-cfcas estabelecidas pelos organizadores desses eventos;b) escolha do ritmo ou da(s) msica(s) para a coreografa, bem como dos aparelhos ou materiais no tradicionais deve ser pautada na incluso de todos os alunos no processo de produo coreo-grfca e na cooperao entre os participantes;c) explorao livre do material escolhido solicitada aos alunos a criao de novos usos, funes ou mesmo movimentos estti-cos que fujam da sua utilizao cotidiana. Por exemplo: a vas-soura em uma composio de GG pode ser utilizada como um ins-trumento de percusso e ter um efeito esttico varivel ao longo da composio. O professor deve auxiliar na produo desses novos usos para os aparelhos ou materiais direcionando as aes e movimentos dos participantes. Pode-se, inclusive, confeccionar novos aparelhos para a utilizao em composies coreogrfcas fazendo uso de materiais reciclveis, como na sequncia de fotos das pginas 52 e 53.d) explorao de formas coreogrfcas incluindo formaes est-ticas individuais ou grupais (duplas, trios, quartetos) e desloca-mentos em vrias direes de forma individual ou coletiva, por exemplo: deslocamentos em colunas, fleiras, em crculos, etc;52|CAPTULO 5e) etapa de sntese do que foi produzido em termos de movimentos no decorrer dos processos de explorao dos aparelhos ou mate-riais e das formas coreogrfcas, buscando harmonizar essas pro-dues com o ritmo ou msica(s) escolhida(s). Nesse momento, que se obtm a coreografa inicial que passa a ser lapidada ao longo de ensaios podendo ocorrer mudanas a partir do que vivenciado pelos alunos;f)fase de demonstrao pode ser uma parte constituinte da com-posio coreogrfca da GG, feita entre os participantes de um curso introdutrio, de alunos de uma mesma srie escolar ou mesmo em festivais escolares, regionais, nacionais ou internacio-nais. De acordo com os estudos de Souza (1997) e Ayoub (2007), a fase de demonstrao um momento importante na produo do conhecimento da GG, pois mostra a fora do trabalho cole-tivo, a autossuperao das difculdades tanto pessoais (timidez, medo da exposio), como coletivas (difculdades de relaciona-mento entre pessoas do grupo, incluso de pessoas com neces-sidades especiais na coreografa, etc). Alm disso, apresenta-se como um momento de avaliao geral do que foi produzido pelos alunos e pelo docente.Furo com a tesoura Passando o barbante BarbanteMateriais necessrios para fazer malabares: barbante, garrafas PET de 250 ml e tesoura com ponta.A GINSTICA GERAL NA ESCOLA|53De modo geral, a GG possibilita uma vivncia positiva para os alu-nos e professores. NPreparao para a execuo de movimentosDeve-se medir o cumprimento do barbante de acordo com a altura de quem vai usarNMovimentos de giro com os malabaresFechando a garrafnhaFinalizao dos malabares54|CAPTULO 5Essa manifestao propicia que os professores adquiram confana no trato com os conhecimentos da Ginstica, porque a tcnica no o principal objetivo da composio coreogrfca, mas sim sua vivncia a partir dos pressupostos apontados por Ayoub (2007, p. 94), com base nas concepes de aulas abertas experincia no ensino da Educa-o Fsica (HILDEBRANDT; LAGING, 1986; GRUPO DE TRABALHO PEDAG-GICO UFPe-UFSM, 1991).a) a Ginstica como algo socialmente regulamentado por isso a ser aprendida pelos alunos considerando as condies sociais nas quais historicamente foi construda;b) a Ginstica como algo a ser assistido, tanto em apresentaes ao vivo, como em gravaes de vdeo, proporcionando aos alunos o aumento do seu conhecimento sobre essa manifestao cultural e ajudando a inspir-los na construo de novas composies;c) a Ginstica como algo a ser refetido, tornando essa prtica corpo-ral como objeto de anlise crtica dos alunos por meio do estudo de sua histria e de sua confgurao na atualidade, no Brasil e no mundo;d) a Ginstica como algo a ser modifcado, pensando-a a partir de seus pressupostos histricos e de suas regras esportivas, mostrando aos alunos que a Ginstica, como as demais modalidades esporti-vas, foi construda por homens e mulheres situados historicamente e que possvel alterar a forma de manifestao dessas prticas; e) por fm, a Ginstica geral como algo a ser demonstrado, devido ao resultado que se obtm ao longo do seu processo de constru-o de conhecimento.Por todos esses pontos apresentados, podemos afrmar que a GG visa autonomia dos alunos, uma vez que, de acordo com Ayoub (2007, p. 94), as aulas podem se transformar em [...] espao aberto de ao e (de) desenvol-vimento da capacidade de deciso e de ao dos educandos [...]. Entretanto, cabe ressaltar que o processo de conhecimento ocorre dialogicamente entre as trocas que se realizam entre os professores e alunos. Para isso, o professor tem um papel muito importante, oferecendo aos alunos novas possibilida-des de aprendizado do conhecimento (nesse caso a GG), fazendo um plane-jamento prvio para a realizao das aulas e avaliando-as constantemente.A GINSTICA GERAL NA ESCOLA|55ASSISTIR AOS VDEOS Do GGU e do LABGIN.ATIVIDADE AVALIATIVA 2 NVEL IIDe acordo com as orientaes abaixo, registre em seu webflio o que est sendo solicitado.Analise o vdeo 14 e escreva suas impresses sobre a execuo dos gestos apresentados. Tente identifcar a quais modalidades gmnicas eles pertencem, escreva sobre a tcnica de execuo (se fcil ou complexa), classifque em qual ordem se encontra (do mais simples ao mais complexo) e descreva como voc ensinaria esses gestos aos seus alunos.Assistir ao vdeo 15 e identifcar os aparelhos utilizados pelas atletas, aps isso, descrever o grau de complexidade de execu-o encontrado nas demonstraes assistidas e justifcar se voc ensinaria ou no estes gestos da GR aos seus alunos na escola.Estudar e desenvolver com seus alunos 3 atividades dentre as que esto nas pginas 32, 35, 36 e 38 do texto TOLEDO, Eliana; TSUKA-MOTO, Mariana H. C.; GOUVEIA, Carlos R. Fundamentos da gins-tica geral. In: NUNOMURA, M; TSUKAMOTO, M. H. C. Fundamen-tos das ginsticas. Jundia: Fontoura, 2009, p. 23-49. Registrar as impresses que teve no desenvolvimento dessas atividades pro-postas, tais como: as difculdades, comentrios dos discentes, etc.57Bem, esperamos que, com este fascculo e com as aulas que vimos desen-volvendo, a Ginstica tenha se mostrado um conhecimento agradvel e prazeroso de ser trabalhado nas aulas de Educao Fsica. claro que apresentamos somente uma introduo de algumas modalidades gmi-nicas, cabendo a voc, professor, buscar aprofundar seu entendimento sobre aquelas de que mais gostou ou conhecer outras modalidades que no puderam ser apresentadas pela falta de tempo.Esperamos que cada vez mais a Ginstica se democratize em nosso pas, via os caminhos da escola, mostrando s crianas o prazer da inver-so corporal, a beleza do gesto gmnico e a superao de temores diante dos desafos da gravidade. Viva a Ginstica!CONSIDERAES FINAIS58AYOUB, Eliana. Ginstica geral e educao fsica escolar. 2. ed. Campinas: Unicamp, 2007.______. Brincando com o ritmo na educao fsica. 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