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Conjuntos líticos do Sítio Arqueológico Mendes II, Diamantina, MG: um estudo de cadeia operatória dos
artefatos unifaciais em quartzito da face meridional da Serra do Espinhaço
Marcelo FAGUNDES1 Janderson Rubens TAMEIRÃO2
1 Doutor em Arqueologia. Docente da Faculdade Interdisciplinar em Humanidades da UFVJM. Coordenador do Laboratório de Arqueologia e Estudo da Paisagem (LAEP). [email protected] 2 Bacharel em Humanidades pela UFVJM.
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CONJUNTOS LÍTICOS DO SÍTIO ARQUEOLÓGICO MENDES II, DIAMANTINA, MG: UM ESTUDO DE CADEIA OPERATÓRIA DOS ARTEFATOS UNIFACIAIS EM QUARTZITO DA FACE MERIDIONAL DA SERRA DO ESPINHAÇO
RESUMO
Este artigo apresenta o estudo tecnológico de parte do conjunto lítico do sítio arqueológico Mendes II, localizado as margens do rio Pardo Pequeno na bacia do São Francisco. Trata-se de um abrigo sob rocha quartzítica onde foram evidenciados e recolhidos mais de 20 mil vestígios líticos. O estudo teve como objetivo principal analisar as cadeias operatórias líticas por meio dos estigmas de lascamento presentes em 55 artefatos unifaciais em quartzito. Como referencial teórico metodológico foi utilizado o conceito de cadeia operatória e sistema tecnológico sob os pressupostos da Escola Francesa, que considera a tecnologia como parte do fato social total. Ao final foi possível reconstruir os processos operatórios dos artefatos estudados o que contribui de forma significativa para compreensão do modo de vida e cultura das populações pré-contato que ocuparam a Serra do Espinhaço Meridional.
PALAVRAS-CHAVE: Arqueologia – Tecnologia Lítica – Cadeias Operatórias – Serra do
Espinhaço Meridional – Diamantina, MG.
ABSTRACT
This article presents a technological study about the lithic industry of the Mendes II archaeological site, located next to Pardo Pequeno river in the São Francisco River Basin. The Mendes II is a sheltered site in quartizite rock where were seen and collected over 20 thousand lithic artifacts. This study aimed to analyze the lithic operational sequences through the stigmata of chipping of the unifacial artifacts. As a theoretical framework we used the french concept of the chaîne operatoire and technological system under the assumptions of French Structuralist School, which considers technology as part of the Total Social Fact. At the end it was possible to reconstruct the operative processes of artifacts, fact which contributed significantly to understanding the lifestyle and culture of prehistoric peoples who occupied the southern Espinhaço Hills.
KEYWORDS: Archaeology – Lithic Technology – Operational Sequences – Southern
Espinhaço Hills – Diamantina, MG.
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INTRODUÇÃO
O presente artigo apresenta os resultados finais da monografia de Janderson Rubens
Tameirão intitulada “Além das pedras: uma abordagem tecnológica do conjunto artefatual do sítio
arqueológico Mendes II, Diamantina, MG”, orientada pelo Prof. Marcelo Fagundes, para
obtenção do título de bacharel em Humanidades pela Universidade Federal dos Vales do
Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM).
O sítio arqueológico Mendes II está assentado na margem direita do rio Pardo
Pequeno, na bacia do São Francisco, em terras do município de Diamantina, MG. Está
localizado bem próximo à comunidade de Quartéis, distrito do município de Diamantina, fato que
permite, pelo menos parcialmente, a compreensão do uso contínuo até os dias de hoje pelos
denominados novos caçadores coletores – garimpeiros, caçadores fortuitos e coletores de
sempre-vivas3 que utilizam os abrigos temporariamente para suas práticas sociais (ISNARDIS,
2009). Logo, o sítio Mendes II apresenta uma estratigrafia que segue de tempos anteriores ao
contato com europeus até a atualidade.
O assentamento pertence ao Complexo Arqueológico Mendes que atualmente conta
com onze sítios. Acredita-se que o Complexo Mendes é extremamente importante para se
entender a Arqueologia regional, uma vez que conta com a presença, além dos vestígios líticos,
de sítios com pinturas rupestres associadas à tradição estilística denominada de Planalto
(LINKE, 2008; ISNARDIS, 2009; FERREIRA, 2011; OLIVEIRA, 2012; LEITE, 2012; FAGUNDES
et al, 2012a, 2012b).
Assim, o Complexo Mendes apresenta sítios com grande presença de material lítico
lascado em superfície, como é o caso do sítio Mendes II que somente em sua superfície foram
evidenciadas 2117 vestígios provenientes do processo de manufatura e/ou manutenção de
artefatos líticos. Pode-se ainda citar os sítios Lapa do Chumbinho e Lapa da Onça, sendo o
último com datação de 8.950 anos A.P. (FAGUNDES, 2012).
No caso específico do sítio Mendes II, os artefatos tiveram como matérias-primas
principais o quartzito (da formação Galho do Miguel) e o quartzo hialino, sendo que ambos
apresentam excelentes propriedades ao lascamento e obtenção de suportes.
As análises laboratoriais indicam a associação do quartzito à técnica unifacial para
obtenção de suportes à produção de ferramentas e o quartzo hialino sendo apropriado para
3 Espécie da flora nativa muito utilizada no artesanato regional.
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obtenção de artefatos tanto unifaciais como bifaciais, porém com predominância deste último
(FAGUNDES, 2012).
No que se referem às técnicas observadas em laboratório, pode-se afirmar que há uma
conjunção de diferentes técnicas no conjunto lítico em estudo. Observa-se claramente a
sequência “debitagem – façonagem – retoques”, porém executadas com uso de diferentes
técnicas (unipolar e/ou bipolar; percussão direta e/ou indireta; uso de percutor duro e/ou macio;
entre outras). Tais características fundamentam a importância deste assentamento no quadro
regional.
Assim, o conjunto artefatual está constituído por artefatos plano-convexos, além de
outros raspadores unifaciais de diferentes formas, tanto em quartzo hialino quanto quartzito;
plaquetas retocadas, pontas projéteis; furadores triédricos, além de todos os demais
componentes da indústria: suportes não utilizados (com ou sem morfologia completa); lascas de
façonagem e/ou retoques; núcleos; percutores e outros diferentes resíduos provenientes dos
diferenciados estágios de lascamento. Há ferramentas que apresentam marcas claras de uso e
reaproveitamento e àquelas onde não foi possível evidenciar qualquer sinal de utilização.
Ainda não é possível afirmar com exatidão o total de vestígios identificados e
recolhidos em campo (parte do conjunto artefatual ainda está em curadoria), mas incluindo as
peças que foram exumadas na escavação de 30 m2, realizada na entrada do abrigo no ano de
2011, seguramente se pode afirmar que existem mais de 20 mil peças, incluindo mais de uma
centena de artefatos inteiros ou fragmentados.
O recorte temporal em todo trabalho arqueológico de certo é uma das características
mais importantes. No sítio Mendes II este recorte refletiu ainda mais a complexidade das
pesquisas, uma vez que as datações realizadas apontam uma data recente, entre os séculos
XIV e XVII, a saber: (A) Datação 01: 330 ± 85 anos AP(14C –CENA/USP), calibrada entre 286 e
560 anos A.P. (B) Datação 02: 240 ± 20 anos AP (AMS –UGAM/CANADÁ), calibrada entre 282
e 308 anos A.P.
Dada à estratigrafia complexa do sítio, implantado em uma rampa de colúvio, não se
descarta a possibilidade de esta estratigrafia estar perturbada.
No tocante ao referencial teórico, optou-se por adotar preferencialmente como
referencial o conceito etnográfico de cadeia operatória de André Leroi-Gourhan (1984), que
busca entender os gestos técnicos envolvidos na produção artefatual. Assim, apesar das
análises dos artefatos terem sido realizadas individualmente, este trabalho não perdeu o viés
etnográfico, uma vez que se acredita que o artefato é uma entidade mista (FAGUNDES, 2004,
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2007a, 2007b, 2010; VIANA, 2005) feito de acordo com a memória operatória do artesão,
apreendida durante os processos cognitivos, sendo, portanto, únicos, e por mais que esteja
condicionado a uma matriz cultural, podem guardar atributos individuais (KARLIN & JULIEN,
1995; FOGAÇA, 2001, 2003; FAGUNDES, 2004, 2007b).
O objetivo deste artigo é apresentar a análise de cadeia operatória de 55 artefatos
líticos produzidos em quartzito do sítio arqueológico Mendes II, inferindo acerca das técnicas
empregadas em seu fabrico e seu emprego social, mesmo que dedutivamente, à posterior
formação do registro arqueológico.
ASPECTOS GEOAMBIENTAIS
A área de estudo localiza-se a cerca de 25 km em direção sudoeste de Diamantina,
posicionada entre as latitudes 18º00’ e 18º30’S e longitudes 43º30’ e 44º00’W e encontra-se
inserida na Folha Diamantina (SE-23-Z-A-III, Carta do Brasil, escala 1:100.000). O acesso se dá
pela rodovia que liga Diamantina a Conselheiro Mata (rodovia MG 220) paralela a Estrada de
Ferro Centro-Norte, hoje desativada.
Está inserida geologicamente no domínio das rochas metassedimentares do
Supergrupo Espinhaço, mais especificamente, Formação Galho do Miguel. As rochas do
Supergrupo Espinhaço recobrem discordantemente os terrenos arqueanos e possuem idade
paleoproterozóica tardia a mesoproterozóica. Esta sequência de rochas de baixo grau
metamórfico, com espessura em torno de 3000 metros, é dividida em dois grupos (Guinda e
Conselheiro Mata) e oito formações (PIUZANA, 2010).
A Formação Galho do Miguel, a unidade superior do Grupo Guinda, apresenta a maior
distribuição em área entre todas as demais sequências presentes na Folha Diamantina, bem
como é também responsável pelas maiores espessuras de rochas quartzíticas (1000 a 1500 m,
ou quase a metade da espessura total do Supergrupo Espinhaço). Aflora na parte central da
Folha Diamantina e ostenta um caráter litológico extremamente homogêneo: quartzitos finos,
puros, com abundantes estratificações cruzadas de grande porte.
O clima da região, segundo a classificação de Köppen, comum ao Planalto Meridional
do Espinhaço como um todo - é caracteristicamente mesotérmico brando, tipo Cwb (ou
intertropical). Devido às altitudes elevadas, as temperaturas nos meses de verão são agradáveis
(22-28°C) e o inverno apresenta-se pouco rigoroso (10-15°C). A pluviosidade máxima é
registrada em Novembro, Dezembro e Janeiro e, embora as chuvas sejam escassas nos
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meses compreendidos entre maio e setembro, as precipitações sempre alcançam índices
medianos anuais superiores a 1000 mm.
No âmbito da região de Diamantina, no qual o Complexo Arqueológico dos Mendes
está inserido, o grande destaque é o divisor de águas das bacias do Rio São Francisco a oeste e
do Rio Jequitinhonha a leste. Na área de estudo a compartimentação hidrográfica pertence à
Bacia do Rio São Francisco, cujos afluentes da formam três subsistemas principais: o Riacho
das Varas (área de Conselheiro Mata); o Rio Pardo Grande, a noroeste, e o Rio Pardo Pequeno,
na Serra das Agulhas.
Do ponto de vista econômico, em função dos aluviões potencialmente portadores de
diamante e ouro, os rios e córregos que concentram a maior quantidade de garimpos são os
afluentes do Jequitinhonha, pelo fato de seccionarem extensivamente as camadas de
Figura 01 – Localização do Complexo Arqueológico dos Mendes, Diamantina, MG. Fonte: LAEP/2012.
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quartzitos e metaconglomerados diamantíferos da Formação Sopa-Brumadinho, uma das
formações basais do Supergrupo Espinhaço. A área de estudo localiza-se próximo às margens
do Rio Pardo Pequeno, área intensamente utilizada no passado pelo garimpo em seus aluviões
de idade quaternária (PIUZANA, 2010).
De acordo com Lohmann & Pirani (1996), o Planalto Meridional do Espinhaço constitui
o centro de diversidade florísticas de numerosos gêneros de muitas famílias, como Asteraceae,
Melastomataceae, Ericaceae, Leguminosae, Velloziaceae (a família inteira), Eriocaulaceae e
Xyridaceae, sendo estas duas últimas incomuns ou mesmo ausentes em outras formações
brasileiras.
Afirmam ainda que sua flora é muito rica, especialmente a campestre, que contém
elevado grau de endemismos. A região dos Mendes apresenta diferentes fisionomias vegetais,
incluindo as formações campestres e savânicas. Predominam as formações campestres,
representadas por Campo Limpo e Campo Rupestre.
As formações savânicas são representadas pelo Cerrado Típico, Cerrado Ralo e por
poucas áreas com Cerrado Rupestre. Algumas manchas de Cerrado Típico são encontradas na
porção Central e ao Norte. Áreas de Cerrado Rupestre são observadas nas encostas das serras,
enquanto o Cerrado Ralo está sempre associado às áreas campestres.
O SÍTIO ARQUEOLÓGICO MENDES II E INTERVENÇÕES ARQUEOLÓGICAS
O sítio Mendes II está localizado na UTM 7.972.562/ 624.603, na margem direita do rio
Pardo Pequeno, ao sul do sítio Mendes I (cerca de 360 m). Está implantado em um abrigo
rochoso (quartzito da Formação Galho do Miguel), possuindo 8,35 m de comprimento por 3,90
de profundidade. A entrada do abrigo tem 2,00 m decaindo para 0,40 m na parte final.
O sítio, assim como todo o Complexo Arqueológico Mendes, está inserido
geologicamente no domínio das rochas metassedimentares do Supergrupo Espinhaço,
encontrando-se na cota altimétrica de 1160 metros. A área externa do abrigo é composta por
afloramentos in situ do quartzito e por blocos rolados e solo é predominantemente neossolo
quartzarênico (PIUZANA, 2010). Foi continuamente ocupado sendo possível observar repertório
cultural pré-histórico (remanescentes líticos, negativos de retiradas nas paredes mais bem
cristalizadas do abrigo e painéis rupestres), como histórico, esse último representado por
ocupações do garimpo e de catadores de sempre-vivas.
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Garimpeiros devem ter ocupado a região em longa duração, uma vez que seus
remanescentes são contínuos, esse fato, por sua vez, acarretou na destruição dos grafismos
rupestres. Hoje só é possível identificar grandes manchas.
Entre as diversas campanhas para o Complexo Arqueológico dos Mendes, duas em
especial focaram ações interventivas.
A primeira, em março de 2010, teve como foco a coleta sistemática de remanescentes
culturais líticos em superfície, sobretudo artefatos plano-convexos. Na campanha de fevereiro de
2010, a equipe observou uma quantidade significativa de material em superfície, os mais
significativos em termos tecnológicos foram recolhidos, mas despertou a necessidade de
realização de uma metodologia mais sistemática de coleta. Até então, não havia atentado para
um pacote sedimentar na entrada do abrigo que, a priori, considerado fruto do processo de
acúmulo de sedimento. Nesse sentido, uma escavação não seria necessária.
Em gabinete resolveu-se tratar os remanescentes em superfície como estando em
estratigrafia e, portanto, se estabeleceu o denominado subquadriculamento 01 (SUB1). Uma área
de 25m2 foi demarcada sob a superfície, nomeada por sistema alfanumérico (quadrículas A1, B2,
D5, etc.), de forma que possibilitasse uma coleta total sistemática (Figura 02).
Além do SUB1 foram demarcadas dezoito áreas de concentração de material lítico,
todos devidamente recolhidos e etiquetados ainda em campo. Ao todo nessa campanha foram
resgatados de campo 2117 (duas mil cento e dezessete) vestígios líticos, entre artefatos stricto
sensu, lascas, núcleos, batedores e outros resíduos.
Figura 02 – Subquadriculamento 01, sítio Mendes II. Fonte: LAEP/2010.
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A segunda intervenção ocorreu no mês de maio de 2011, tratando-se de uma
escavação na área da frente do abrigo, no denominado subquadriculamento 02 (SUB2). Tal
iniciativa foi alicerçada nos pressupostos teóricos de Isnardis (2009), que tem trabalhado
intensivamente em uma área muito próxima. Na oportunidade, a equipe contou com auxílio dos
alunos de graduação de Universidade Federal do Piauí, Universidade que mantém convênio de
cooperação com o LAEP/NUGEO/UFVJM. O sítio Mendes II, ou pelo menos parte de sua
intervenção, pode ser considerada como um sítio-escola, onde métodos e técnicas de campo
foram discutidos com alunos da UFVJM e UFPI.
Inicialmente foi delimitada uma área de 30m2 na entrada do abrigo que apresentava
pacote sedimentar favorável para uma escavação que, a priori, seria pequena – não se
acreditava que passaria de 10 cm de profundidade, como é comum na região como um todo.
Foram, assim, delimitadas 30 quadrículas de 1m2 cada, nomeadas em sistema alfanumérico,
sendo, entretanto, escavadas 20 delas, mantendo as demais como muro testemunho. Também
se havia delimitado 5m2 (SUB3), para escavação dentro do abrigo, mas pela quantidade de
material resgatado em campo no SUB2, preferiu-se manter a área sem intervenção e não há
planejamento para escavação em curto prazo. Logo, cerca de 20 mil remanescentes foram
coletados em campo de diferentes tipologias.
Com o início das decapagens, realizadas em níveis naturais, pairou a dúvida se não se
tratava de um depósito decorrente do acúmulo de sedimento de chuva. Mesmo com essa
hipótese levantada, foi dada continuidade, partindo do pressuposto de que os sítios regionais
têm solos rasos e muito perturbados pela ação de garimpeiros e, mais recentemente, de
caçadores furtivos e catadores de sempre-vivas.
Nesse sentido, o objetivo inicial foi estabelecer uma coleta sistemática do material
arqueológico, notoriamente rico e com características fundamentais para a compreensão da
tecnologia lítica regionalmente, bem como propiciar a formação de novos arqueólogos. Com o
decorrer da escavação (finalizada no dia 28 de maio), observou-se uma quantidade imensa de
material lítico que se distribuía estratigraficamente por camadas diferenciadas. Análises de
sedimento foram feitas pelo Prof. Alexandre Christófaro que resultaram em uma quantidade
imensa de fósforo e potássio, comprovando ser um antropossolo com ocupação contínua em
longa duração (FAGUNDES, 2012).
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Figura 03 – Escavação do subquadriculamento 02. Fonte: LAEP/2011.
A análise do perfil estratigráfico do Mendes II é de suma importância para a
compreensão dos processos formativos desse sítio e, consequentemente, da própria
categorização do repertório cultural nele evidenciado (Figura 04).
Figura 04 – Perfil estratigráfico sítio Mendes II. Fonte: LAEP/2011.
Assim, o sítio arqueológico apresentou quatro horizontes arqueológicos, um deles em
superfície (representado pelas ocupações recentes do abrig o) e os demais representados por
um depósito em neossolo litólico quartzarênico compacto de alguns 10 a 35 cm, no máximo,
onde ocorre em um patamar de quebra a norte do abrigo, formando uma pequena rampa de
colúvio que se acumula de diferentes deposições pedológicas na entrada do abrigo, orientada e
estruturada pela clivagem do quartzito estrutural interno e externo ao abrigo.
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F
Figura 05 – Fogueira quadrícula Aa3, profundidade máxima de 20 cm, datada em 330±85 anos A.P. Fonte: LAEP/2011.
A Camada 01(ou Horizonte A) é constituída por um solo arenoso, muito orgânico,
comprovado pela com grande concentração de K e P, fator incomum nos solos regionais,
notoriamente um solo pouco rico em material orgânico, representado pelos neossolos
quartzarênicos, resultantes do intemperismo do quartzito. Em termos arqueológicos está
altamente perturbado pelas diferentes ocupações humanas, bem como sofre interferência
constante de ações de ordem natural. Há baixa densidade de material arqueológico pré-histórico
e foi possível, em algumas ocasiões, encontrar plásticos, tecidos e metais misturados –
comprovando ser um estrato altamente perturbado. Trata da única camada com presença de
estrutura de combustão com carvão para datação.
A camada 02 (ou Horizonte AC) trata-se de uma camada intermediária, com densidade
média de cultura material lítica, representada, principalmente, por resíduos do processo de
lascamento (geralmente material mais leve).
A camada 03 (ou Horizonte C) é a que apresenta a maior quantidade de material lítico,
sobretudo artefatos (pontas de projétil, raspadores plano-convexos em quartzito fino e pequenos
raspadores circulares em quartzo hialino). A concentração de material é tão grande que, em
alguns lugares não há sedimento a ser escavado e a equipe se concentrou em triar (ainda em
campo), o que era material arqueológico e o que era de origem natural. Essa característica
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levantou a possibilidade de o material ser carreado, formando-se um depósito ao longo do
tempo. A análise estratigráfica, juntamente com o as análises da pedologia e datações indicaram
outra realidade.
METODOLOGIA DE ANÁLISE
Em laboratório, as peças passaram e estão passando por um processo de limpeza e
higienização até o registro de identificação, onde recebem a sigla do sítio (MII) e um número
sequencial. Nos estudos específicos do material estudado foi adotado como referência o
conceito de cadeia operatória Leroi-Gourhan (FAGUNDES, 2004, 2007a) e também os estudos
da escola francesa, focado principalmente em análises da tecnologia empregadas na fabricação
de artefatos líticos.
No Brasil este conceito vem sendo aplicado nos estudos líticos por diversos
pesquisadores como: Fogaça (2001, 2003), Viana (2005), Lourdeau (2006, 2010), Fagundes
(2004, 2007b), Xavier (2007), Isnardis (2009), Galhardo (2010), Paiva (2011), Bassi (2012), entre
outros.
Portanto, assim como eles, valeu-se da prerrogativa de que por meio da reconstrução
dos processos operatórios, pode-se inferir de forma assertiva sobre os gestos praticados pelo
artesão na produção dos artefatos estudados.
Este conceito, por sua vez, foi utilizado como importante instrumento de observação,
discussão e análise, abrindo a oportunidade de um estudo diacrônico destes remanescentes.
Sua aplicação tem como objetivo primordial a reconstrução de toda cadeia operatória, ou seja,
desde o planejamento estratégico, procura e aquisição da matéria prima, preparo do suporte,
confecção, utilização, uso social, reciclagem, reutilização e descarte (ou perda).
Nesta pesquisa a metodologia focou o artefato, assim a análise da cadeia operatória só
pode ser realizada por meio dos estudos das técnicas (debitagem, façonagem, retoque)
presentes nos estigmas de lascamento registrados nos artefatos. Além disso, faz-se necessário
alertar o leitor que, muitas vezes, foi feito uso do método dedutivo, uma vez que nem em todo o
momento se dispôs de dados empíricos para comprovação das hipóteses elencadas.
Também se optou pela aplicação do conceito de curadoria e expediência.
Consideraram-se artefatos curados aqueles que seus estigmas permitem a inferência que houve
maior investimento técnico e, portanto, se enquadram na categoria dos fabricados em
antecipação ao uso. Nesta categoria vale a pena destacar a intensa manutenção dos bordos
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ou mesmo a reutilização. Já os expeditos foram considerados àqueles que ocorreram poucas
modificações (forma e volume), com baixo investimento técnico e provavelmente, utilizado
momentaneamente, para uso imediato. Neles quase não há marcas de reutilização ou
reaproveitamento.
Como método de análise individual e diacrônica dos artefatos, foi utilizada a ficha de
atributos técnicos e morfológicos elaborada para as pesquisas em tecnologia do LAEP/UFVJM.
Adaptada a esta ficha geral, criou-se uma mais específica, denominada currículo tecnológico, por
se acreditar que os artefatos carregam consigo uma história técnica e cultural que são partes
inerentes do grupo que o construiu.
Esta ficha teve como base os trabalhos de Morais (2007), Viana (2005), Fagundes
(2004; 2007b), Isnardis (2009), Rodet & Alonso (2004, 2007), entre outros, e buscou contemplar
a individualidade e as semelhanças dentro deste conjunto lítico. Assim, foi possível criar, em
software Excel, planilhas que possibilitaram não somente uma análise comparativa dos atributos
elencados, mas, sobretudo, uma análise quantitativa e uma visão qualitativa do todo.
Nesta ficha foram levados em consideração: a tipologia, a morfologia e o suporte
utilizado e também o grau de integridade da peça, uma vez que se observou que alguns não se
encontravam inteiros. Também foi registrada a localização das peças em níveis estratigráficos, o
que possibilitou a criação de croquis que elucidassem sua distribuição espaço-temporal dos
vestígios no sítio.
As dimensões foram adquiridas utilizando o paquímetro digital, sendo as medições
realizadas a partir do eixo morfológico e/ou debitagem da peça, indo da porção proximal a distal
para o comprimento e do bordo direito ao esquerdo na porção mesial para a largura, a espessura
foi mensurada a partir da porção mesial.
Todos os artefatos passaram por processo de pesagem, realizados com balança de
precisão e classificados como leves até 50 gramas, pesados entre 51 e 150 gramas e muito
pesados acima de 151 gramas. Esta analise é importante, pois infere diretamente na questão da
economia e transportabilidade dos artefatos.
Na análise do ângulo de ataque (melhor eficiência), neste trabalho utilizou-se medidor
de ângulo, onde foi considerado as medidas acima de 70º para ângulos abruptos e valor 1 no
currículo lítico. Para o ângulo semi-abrupto considerou-se entre 39º a 69º e valor 2. E,
finalmente, para ângulos rasantes, medidas inferiores a 30º e valor 3.
Para análise dos gumes foi utilizada uma nomenclatura tipológica com base na
geometria de cada artefato, uma vez que eles podem ter formas diferentes, sendo relacionadas
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diretamente com uma finalidade específica (cortar, serrar, raspar, etc.). Assim os gumes foram
classificados como retilíneos ou curvilíneos ainda podendo ser serrilhados ou denticulados.
Já a relação bordo ativo (corte, raspagem, perfuro-cortante, etc.) x bordo passivo (de
preensão), possibilitou a realização de inferência, mesmo de forma dedutiva, sobre as
funcionalidades do artefato e também, sobre o possível gesto realizado para sua utilização.
O CONJUNTO ARTEFATUAL
De todo o conjunto artefatual do sítio Mendes II, foram selecionados cinquenta e cinco
(55) vestígios de quartzito para que se pudesse realizar uma análise minuciosa de seus atributos
técnicos e formais. No que tange a matéria-prima, mesmo trabalhando com vestígios
exclusivamente de quartzito da formação Galho do Miguel, foi observada uma variabilidade na
granulometria e coloração dos suportes. Estas diferenças foram analisadas e seus resultados
foram: a coloração foi definida (visualmente) em esbranquiçado (2.5Y8/1 white), amarelado
(7.5YR7/6 reddish yellow) e avermelhado (10R6/8 light red). Os resultados foram: 38 peças
apresentaram coloração esbranquiçada, a coloração amarelada foi caraterizada em 07 das
peças e em 10 peças foram identificadas a coloração avermelhada.
No quesito granulometria foi inferido três tipos: fina, média e grossa. Os resultados
foram: 34 peças apresentaram granulometria fina, 17 médias e apenas 04 peças apresentaram
uma granulometria mais grossa.
Os ângulos dos gumes foram medidos e considerados: (A) Abruptos: ângulos com
medidas acima de 70º, 53% do conjunto; (B) Semi-abruptos: ângulos com medidas entre 40º e
69º, 41% do conjunto; (C) Rasantes: ângulos abaixo de 39º, 6% do conjunto.
No que tange à tipologia, os artefatos foram classificados da seguinte forma: artefato
sobre lasca 13 peças, artefato sobre plaqueta 29 peças e 13 peças plano-convexos. Esses
artefatos, por sua vez, foram confeccionados utilizando-se dois tipos distintos de suporte
(característica singular nos conjuntos líticos regionais): (A) utilização de plaquetas, (B) lascas,
adquiridas por meio de debitagem, inclusive para a produção de planos convexos. Dos conjuntos
artefatuais estudados regionalmente, é o único sítio que apresentou artefatos plano-convexos
produzidos a partir de lascas de debitagem.
No quesito integridade do conjunto estudado, os resultados foram: (A) Peças onde não
foram evidenciados acidentes e apresentam tamanho original da manufatura (íntegras), 47
peças. (B) Fragmentos, vestígios que sofreram algum tipo de acidente: 08 peças.
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No item morfologia, que fora considerada a forma geométrica aproximada da peça,
foram identificadas cinco formas distintas, sendo 28 peças no formato retangular, 15 no formato
triangular, 05 no formato trapezoidal, 05 no formato circular e 04 em formato losangular.
Finalmente, das 55 peças em análise, 16 apresentaram retiradas no proximal que,
dedutivamente, permite a hipótese que foram utilizadas presas a um cabo; e 42 peças não
apresentaram tais retiradas. No conjunto ainda foi observada a presença de 23 peças com algum
tipo de ponta ativa que pudesse ser utilizada como ferramenta perfuro-cortante. Do montante, 32
peças não apresentaram tais características.
Nas análises dos 55 vestígios líticos, pode-se observar certa variabilidade na matéria-
prima, esta variabilidade se reflete principalmente na coloração e na granulometria, mas se
tratando do quartzito, as diferenciações podem ser explicadas pelas condições deposicionais dos
grãos de areia durante o processo de sedimentação e também pelo grau de metamorfismo que
sofreram (ISNARDIS, 2009).
Sabe-se também que os processos que deram origem ao quartzito esta ligado
diretamente com o seu grau de dureza. Assim, quartzitos mais finos seriam melhores para
lascar, entretanto não se vê relação entre coloração e granulometria, ou seja, há quartzitos de
granulometria fina em todas as categorias de coloração. Por mais que a maioria das peças aqui
estudada foi caracterizada pela coloração esbranquiçada, não se pode afirmar que esta maioria
reflete uma escolha (intencional) pelo artesão pré-histórico.
Entretanto, é possível perceber uma escolha pela granulometria mais fina que tem
presença relevante (62%) no conjunto aqui estudado. Estas variações granulométricas, no caso
da indústria lítica do Mendes II, não indica que a matéria-prima utilizada seja alóctone, dado que
no próprio afloramento onde o sítio esta localizado é possível em encontrar tais variações.
Assim, acredita-se que todo o quartzito utilizado para produção destes remanescentes
seja autóctones provenientes tanto das paredes como também do teto do abrigo. Outro local de
captação seria, portanto, os blocos rolados do próprio afloramento, confirmando, portanto a
hipótese que o sítio Mendes II é um local para a captação de matéria-prima, pelo menos no que
tange o material de quartzito.
No que tange ao processo de debitagem no conjunto lítico analisado, ela aparece de
forma constante, tanto na indústria de quartzo hialino, como também na indústria de quartzito.
No total do sítio (ainda em processo de higienização e registro), as lascas de debitagem
aparecem com grande frequência.
No caso do conjunto aqui estudado, dezoito artefatos foram produzidos sobre suporte
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de lascas de debitagem de variados tamanhos. Uma característica interessante que se deve
destacar e a utilização de lascas em posição horizontal ao eixo de debitagem (lascas mais
largas), assim os suportes assumem larguras maiores que o comprimento, sendo que algumas
lascas parecem ter sido adquiridas por meio de um fatiamento horizontal de uma lasca maior.
Figura 06 – Artefato sobre lasca em quartzito. Fonte: LAEP/2013.
Outro ponto importante a ser apontado acerca das técnicas empregadas, diz respeito à
baixa variabilidade, ou padronização das técnicas de façonagem e retoques, principalmente no
que diz respeito ao suporte utilizado para a obtenção das ferramentas. As técnicas de
façonagem e retoques foram utilizadas indiscriminadamente em ambos os suportes (lascas ou
plaquetas). Contudo, vale ressaltar que nem todos os artefatos produzidos sobre plaquetas
apresentaram presença de retiradas por façonagem.
Quanto às técnicas de retoques para confecção de gume ativo, foi possível identificar
quatro tipos diferentes: curtos e contínuos, longos e contínuos, curtos, conchoidais e
denticulados. Algumas peças apresentaram mais de um tipo de retoque, mas no geral, os curtos
e contínuos foram os mais utilizados.
Figura 07 – Detalhe de diferentes tipos de retoques. Fonte: LAEP/2013.
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A manutenção de gumes acontece quando o gume perde o fio (poder de corte), e
assim necessita que seja reavivado. No caso do conjunto aqui estudado 75% das peças
demonstram claramente o uso desta técnica.
No que concerne à caracterização do conjunto artefatual em ferramentas curadas ou
expeditas, a maior parte das peças analisadas (78%) se enquadram na categoria expedita, ou de
uso momentâneo, enquanto às curadas (onde houve maior investimento técnico), ocorrem em
menor número (22%).
A técnica de percussão utilizada foi a unipolar com uso de percutor duro direto,
provavelmente utilizando seixos, que são facilmente encontrados no rio Pardo Pequeno. Foram
recolhidos inúmeros seixos com marcas de utilização (ou quebrados), durante a escavação do
SUB2, bem como em superfície.
No conjunto artefatual em análise não foram identificados estigmas que reportassem o
uso de percutores macios com percussão direta ou indireta. Entretanto, deve-se salientar que na
indústria lítica do Mendes II, sobretudo suportes em quartzo hialino, é constante a presença de
lascas de ultrapassagem e presença de lábios saltados em todos os níveis estratigráficos,
característica que indica o uso de percutores macios estaria presente dentre das estratégias
técnicas dos grupos que ocuparam a área.
Para o emprego social, fez-se uso do método dedutivo majoritariamente, Entretanto,
alguns artefatos nos fazem refletir sobre seu uso social, como exemplo os artefatos com
características puntiformes, representado por 42% das peças.
Figura 08 – Artefatos sítio Mendes II. Fonte: LAEP/2013.
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Estas ferramentas podem estar ligadas as atividades perfuro-cortantes. Além disto, os
artefatos apresentam em sua maioria gumes ativos com retoques contínuos em oposição a um
gume passivo que, segundo Lourdeau (2006), serve de apoio anatômico para quem utiliza o
artefato, podendo a peça ser utilizada com maior precisão e eficiência de corte.
Quanto à morfologia, percebe-se que está relacionada diretamente a função atribuída
ao artefato (furar, cortar, plainar, etc.) sendo, portanto de caráter estratégico para o grupo.
Entretanto, é possível visualizar mudanças morfológicas provenientes por quebras,
possivelmente por utilização ou acidentes produtivos, além de mudanças morfológicas
produzidas por reciclagem de gumes. Pode-se observar que as formas retangulares e
triangulares se apresentam em maior quantidade principalmente nos artefatos sobre plaquetas.
Outros atributos nos remetem ao uso social como as dimensões, peso e medidas dos
ângulos dos gumes. Estes atributos possibilitaram as seguintes reflexões:
Os artefatos no geral foram considerados de pequeno porte com medidas em
média 07 mm, mas com algumas exceções como as peças MII 2134 e MII2126, com
comprimentos de 117 e 115 mm respectivamente, contrastando com a peça MII 2140 que mede
29mm de comprimento. O peso dos artefatos também foi considerado baixo, em média 50
gramas, o que possibilita que estes artefatos fossem transportados a longas distâncias.
Os gumes estão relacionados principalmente ao tipo de objetos ao qual
poderiam ser utilizados, os gumes com ângulos altos, em torno de 70°a 90º, poderiam ser
utilizados para plainar objetos já que oferecem a maior resistência. Já os gumes abaixo destes
valores podem ser utilizados tanto para cortar como para raspar.
Sendo assim, a variabilidade artefatual do sítio Arqueológico Mendes II parece estar
relacionada diretamente com a morfologia dos artefatos. Pode-se afirmar que os motivos para as
escolhas feitas pelo artesão pré-histórico na hora de produzir um ou outro artefato estão
intimamente influenciados por caráter funcional, já que se observou uma homogeneização
(debitagem-façonagem-retoques) nas técnicas de produção.
INDÚSTRIA REGIONAL E ANÁLISE COMPARATIVA
Ao decorrer deste trabalho foram apresentadas algumas características das indústrias
líticas descrita até o momento por Isnardis (2009). Então, como proposto inicialmente, buscou-se
apresentar como a indústria lítica do sítio Mendes II se insere neste cenário.
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Dentro dos grupos de artefatos e suas características apresentados por Isnardis (2009)
pode-se perceber que as duas indústrias são formal e tecnicamente parecidas, obviamente que
não é de se estranhar dada a proximidade geográfica dos sítios. Desta forma, a presença de
artefatos plano-convexos utilizando como suporte as lascas de debitagem se configura como o
diferencial entre as coleções.
Quadro 01 – Análise comparativa entre indústrias estudadas por Isnardis em Diamantina e o sítio Mendes II. Fonte: Tameirão, 2013.
Figura 09 – Quadro comparativo, adaptado de Isnardis (2009). Fonte: Tameirão, 2013.
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Quanto à indústria lítica da Serra do Cabral, mesmo estando mais distante
geograficamente podemos dizer as características gerais do conjunto tem sim semelhanças com
a indústria do sítio Mendes II, principalmente no tange a sequência técnica debitagem-
façonagem-retoques ressaltando aqui que o processo de debitagem ocorre em sobre seixos e
não em blocos como no Mendes II.
Em se tratando da indústria lítica do Brasil Central definida como Tradição Itaparica, foi
apropriado o quadro comparativo proposto por Isnardis (2009), onde as características da
indústria Itaparica e a da região do Alto Jequitinhonha foram apresentadas.
Como proposto inicialmente, apropriou-se deste quadro comparativo e introduziu-se
uma nova coluna com as características da indústria lítica do sítio arqueológico Mendes II.
Assim, espera-se contribuir de forma assertiva para uma caracterização mais abrangente da
indústria lítica da região do Alto Jequitinhonha, e criar, no futuro, subsídios suficientes para uma
discussão profunda sobre a possibilidade ou não desta indústria estar filiada à tradição Itaparica.
CADEIAS OPERATÓRIAS DO SÍTIO MENDES II
De modo geral foi possível identificar duas cadeias operatórias no sítio Mendes II,
sendo uma relacionada à produção de artefatos curados, e outra vinculada à produção dos
expeditos. Percebe-se que entre os artefatos curados, além do maior investimento técnico, muito
apresentam reavivagem dos bordos, categoria que permite a inferência de que havia uma
preocupação do artesão em manter sua vida útil por um maior tempo.
A presença majoritária de artefatos expeditos, por sua vez, permitiu a inferência de que
outras atividades sociais estavam sendo realizadas no Mendes II (além do lascamento) e, dada
às características morfológicas do abrigo, somadas às possibilidades oferecidas pelo meio
circundantes (ambas utilizadas até os dias atuais), pode-se inferir do sítio ter sido utilizado como
base entre os grupos que o habitaram.
O que se percebe ainda, é que os artefatos que apresentam com a possiblidade de
encabamento estão mais presente nos artefatos classificados como expedientes, logo devemos
ter em mente que sua cadeia operatória possivelmente atrelada a outras cadeias.
No que tange as características gerais do conjunto lítico em estudo, pode-se listar:
Presença tanto de artefatos curados (com maior investimento técnico), como
aqueles feitos para uso imediato e/ou de ocasião (expeditos).
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Pode-se caracterizar como artefatos unifaciais produzidos sobre plaquetas e
lascas de debitagem.
Nos artefatos sobre plaqueta (maioria expeditos), fora utilizada o façonagem e
retoque para dar forma, volume e criação da área ativa do instrumento.
Os suportes (lascas) foram obtidos pela debitagem de blocos de quartzito, sendo
forma, volume e criação do bordo ativo sendo realizados pelas técnicas de façonagem e
retoques.
No conjunto em foco apenas foi observada a percussão direta com uso de
percutor duro. Tal fato se comprova pela observação dos estigmas existentes nos suportes, bem
como pela existência de núcleos com estigmas e percutores com marcas evidentes de uso.
Dos conjuntos estudados por Isnardis (2009), a diferença significativa foi à
produção de artefatos plano-convexos sobre lascas (13 no total). Os suportes utilizados foram os
bem largos (na relação comprimento versus largura), com modificação de volume em forma por
meio da técnica de façonagem.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O problema delimitado para a análise dos 55 artefatos unifaciais de quartzito
integrantes do conjunto artefatual do sítio Mendes II foi: “Como o estudo dos atributos
tecnológicos dos conjuntos líticos do sítio Mendes II podem indicar o seu uso social pelos grupos
que ali ficaram assentados e, ao mesmo tempo, como pode ser explicada a variabilidade
artefatual observada? Assim, trata-se de um acampamento utilizado, preferencialmente, como
área de captação de matéria-prima e produção de ferramentas ou se trata de um sítio base,
tendo como prerrogativa a quantidade de artefatos com marcas de uso e reutilização?”.
A partir dele que toda a análise foi direcionada, sendo que, ao final da pesquisa, pode-
se caracterizar o sítio como um local utilizado em longa duração para atividades vinculadas à
caça, coleta e, quiçá, pesca. Por meio de suas características físicas, aliadas ao conjunto
artefatual, pode-se verificar que se trata de uma área de “mineração”, também em longa
duração, anteriormente sendo utilizado como área de captação de matéria-prima para produção
artefatual e, mais recentemente, como abrigo para centenas de garimpeiros que ocuparam
intensamente as margens do Pardo Pequeno nas últimas décadas do século XX.
Dedutivamente, também foi caracterizado como sítio base, dada a quantidade de
vestígios, associada às características do abrigo. Entretanto, novas escavações na área
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poderão fornecer dados mais assertivos, sobretudo no espaço interior do abrigo que,
aparentemente, apresenta uma estratigrafia mais bem conservada.
No que tange as características do material em estudo, pode-se caracterizar como
artefatos unifaciais produzidos sobre plaquetas e lascas. No caso dos primeiros, fora utilizada o
façonagem e retoque para dar forma, volume e criação da área ativa do instrumento. Nos
instrumentos sobre lascas a sequência debitagem –façonagem –retoques é a mais observada.
No conjunto em foco apenas foi observada a percussão direta com uso de percutor
duro. Técnica observada por meio da análise dos estigmas de lascamento existentes nos
suportes bem como pela existência de núcleos com estigmas e percutores com marcas
evidentes de uso. No entanto, há uma quantidade de lascas, sobretudo de façonagem, com
presença de lábios protuberantes (inclusive em quartzito), fato que sugere o uso do tendre (ou
percussão macia).
Dos conjuntos estudados por Isnardis (2009), a diferença significativa foi à produção de
artefatos plano-convexos sobre lascas (13 no total). Os suportes utilizados foram os bem largos
(na relação comprimento versus largura), com modificação de volume em forma por meio da
técnica de façonagem.
Cabe destacar que a presença destes artefatos obtidos pela debitagem de suportes foi
observada pela presença do ponto de impacto, bulbo saliente (no bordo do artefato) e pelas de
ondas de percussão da face interna. Os talões foram suprimidos pelo façonagem. Não se
descarta a possibilidade de outros plano-convexos terem sido obtidos por essa técnica, uma vez
que o façonagem e consequente processo de reavivagem dos bordos podem ter sido
suprimidos.
Acredita-se que este estudo contribuiu para a Arqueologia regional, uma vez que
introduz novas reflexões sobre a indústria lítica da Serra do Espinhaço, destacando os artefatos
produzidos sobre suportes oriundos de debitagem e ainda a possibilidade de alguns artefatos
terem sidos produzidos por fatiamento horizontal de lascas grandes.
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