ConJur-Lei Maria Da Penha Nao Veda Retratacao Tacita Representacao

Embed Size (px)

Citation preview

  • 8/18/2019 ConJur-Lei Maria Da Penha Nao Veda Retratacao Tacita Representacao

    1/3

    24/02/2016 ConJur - Lei Maria da Penha não veda retratação tácita da representação

    http://www.conjur.com.br/2011-abr-22/lei-maria-penha-nao-veda-retratacao-tacita-representacao?imprimir=1 1/3

    EXPERIÊNCIA JURÍDICA

    22 de abril de 2011, 7h45

    Por Carlos Eduardo Rios do Amaral

    Quando se discute a questão da violência doméstica contra a mulher,importante dizer que, por obséquio, deixem para os que militam contínua ediariamente nos Juizados de Violência Familiar, aí incluída a EquipeMultidisciplinar formada por psicólogos e assistentes sociais, o direito de dar aúltima interpretação nesse tema, tão complexo, e que desperta também tantasopiniões e sensacionalismos da mídia, muitas vezes destoantes da realidade edia-a-dia da Vara Especial da Mulher.

    São corriqueiros os casos em que a mulher, abandonando o processo,desinteressando-se por completo do que ditado em sede policial por ela, nuncamais regressa ao juizado para reclamar de seu direito ou questionar sobre ocabimento de medida necessária. Absolutamente, some, desaparece de todos.E, às vezes, quando encontrada, relata ao oficial de justiça que não tem maisnenhum interesse no feito, por diversos motivos diferentes.

    É claro que existe hipótese diversa, de casos em que a mulher continuaflagelada pelo seu carrasco e participa ativamente do processo. Não me refiro,aqui, a estes casos. Não tratarei aqui desta hipótese diversa.

    A mulher que, após a lavratura de seu boletim de ocorrência, volta a serelacionar com seu agressor, retomando pacífica e harmoniosamente seuenlace afetivo, torna a engravidar, retorna à sua vida diária com a colaboraçãode seu companheiro, empreendendo-se ambos em suas atividades diárias parasustento e guarda da prole, passando juntos festejos de Natal, Ano Novo, entreoutras datas comemorativas, fazendo apagar da memória o lamentávelepisódio familiar acontecido, não tem interesse em ver seu então agressorprocessado criminalmente por lesão leve ou ameaça e ao final condenado porsentença penal. O que seria, por óbvio, verdadeiro contra-senso.

    Lei Maria da Penha não veda retratação tácita 

  • 8/18/2019 ConJur-Lei Maria Da Penha Nao Veda Retratacao Tacita Representacao

    2/3

    24/02/2016 ConJur - Lei Maria da Penha não veda retratação tácita da representação

    http://www.conjur.com.br/2011-abr-22/lei-maria-penha-nao-veda-retratacao-tacita-representacao?imprimir=1 2/3

    A Lei Maria da Penha é diploma fundamental inédito e excepcional no arcaicoe ultrapassado sistema legislativo brasileiro. Trata-se da primeira lei aprestigiar a vitimologia em detrimento da mera persecução e vontade punitivado Estado, possuindo amplo espectro cível. Ao invés de atirar o agressor àguilhotina, à forca ou ao paredão de fuzilamento — penas menos cruéis do quea submissão ao encarceramento em nossas penitenciárias — o foco das

    atenções é única e exclusivamente a proteção dos interesses da mulherofendida, seu bem-estar, colocando-a a salvo de toda e qualquer violência ehumilhação. Para tanto, muniu a Lei 11.340/2006 a mulher de importantealiado e protetor na figura do defensor público, que será o instrumento deveiculação de todos os seus pesares, aflições e pretensões, deduzindo tudo deque necessitar.

    Dentro dos autos da Medida Protetiva de Urgência, o defensor público

    resgatará, a todo custo, a paz e o direito da busca da felicidade à ofendida. Aimposição compulsória de tratamento médico-psiquiátrico para desintoxicaçãoda cachaça e do crack, aprender a respeitar sua mulher fazendo cessar gritos exingamentos costumeiros, entender que o casamento acabou e que pensãoalimentícia é para ser paga pontualmente, que os bens e aquestos comunsdevem ser partilhados, que a guarda e visitação de filhos deve ser coisapacífica e compartilhada sem nenhuma alienação parental, entre outras tantasinúmeras medidas conciliatórias e de admoestação podem e devem sertomadas neste processo cautelar, muitas pela via impositiva. Fazendo com que,atendido este compromisso-imposição pelo agressor, uma futura ação penalseja coisa absolutamente inapropriada, inconveniente e em descompasso comos princípios de justiça restaurativa e profilática.

    Atingida a paz, retomam as ofendidas suas vidas, desejando mais do que tudo emais do que todos, esquecer o lamentável episódio de violência sofrido.Querem voltar a cuidar de seus filhos, serem amadas, sorrir, trabalhar, cuidarda casa ao lado do mesmo ou de um novo amor. Convocá-las,compulsoriamente, para relembrar a tragédia familiar pessoal vivida, depondoem processo-crime, revendo vizinhos e familiares em audiência, contra aexpressão da sincera vontade dessas mulheres resgatadas, mesmo querepresentada pelo seu silêncio, pelo seu abandono e desinteresse completo doprocesso, representa, sim, pesadelo psicológico e resgate de pânico superado,volta ao cativeiro mental. Não se pode desenterrar o infortúnio doméstico

    sepultado pela ofendida, superado pela retomada de sua nova vida, digna erepleta de outras expectativas, de outros fazeres. Atestado de comparecimentoà audiência de instrução não consola.

  • 8/18/2019 ConJur-Lei Maria Da Penha Nao Veda Retratacao Tacita Representacao

    3/3