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Conquistas e Desafios na Inclusão dos Alunos Surdos€¦ · Assim apresentam-se práticas em Libras no contexto escolar e adequações curriculares, esperando que as propostas e

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1 – Professora de Educação Especial da Rede Pública do Paraná - Colégio Estadual Antonio Tupy Pinheiro – Guarapuava – PR. Licenciada em Pedagogia pela FAFI – União da Vitória – PR. Especialização em Psicopedagogia e Educação Especial. PDE 2016/2017. Email: [email protected] 2 – Professor de Educação Especial da Rede Pública do Paraná - Colégio Estadual Antonio Tupy Pinheiro – Guarapuava – PR – Professor Intérprete, Unicentro – Guarapuava. Licenciado em Pedagogia. Especialização em Educação Especial, Libras. Mestrando em educação. Email: [email protected]

CONQUISTAS E DESAFIOS NA INCLUSÃO DOS ALUNOS SURDOS

Autora: Luciane Scheibe1

Orientador: Luciano Ortiz2

Resumo

Esse estudo teve como pressuposto promover reflexões a respeito da relevância e da necessidade da língua de sinais no processo de inserção educacional do surdo. Além disso, teve como objetivo descrever a experiência de um curso de formação e oficinas em Libras para professores de um Colégio Estadual. Foi baseada em uma abordagem qualitativa, utilizando-se pesquisa bibliográfica, análise de documentação escolar e de campo. Foram abordados os aspectos sobre a história da educação especial na área da surdez além de identificar as metodologias usadas ao longo do tempo baseados em autores como Skliar (1999) Sacks (1998) Lacerda (1998) e Capovilla (2001). Também foram discutidas as leis que regulamentam a Libras - Língua Brasileira de Sinais e outros aspectos pertinentes à educação especial na área da surdez. Foi propiciado aos professores do colégio conhecimentos referente à língua de sinais e sua características, proporcionando uma oficina em Libras para que os profissionais tivessem acesso a essa língua com objetivo de incentivar o seu uso no cotidiano escolar para que aconteça maior interação entre professor e o aluno surdo. Palavras-chave

Alunos surdos; Desafio Educacional; História; Inclusão; Práticas Pedagógicas

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1. INTRODUÇÃO

Muitas questões sobre inclusão e metodologias adequadas à aprendizagem

dos alunos surdos ainda estão sem respostas, torna-se fundamental sensibilizar os

educadores e despertar o interesse para o conhecimento e reflexão no ambiente

escolar. Como ressaltam Barby, Vestena e Garrido (2007) é necessário reconhecer a

importância de se realizar a adequação curricular para que a inclusão aconteça de

fato além de desenvolver propostas de adaptações curriculares direcionadas à

diversidade dos grupos.

Segundo Barby, Vestena e Garrido (2007), a inclusão escolar não é apenas a

garantia de uma vaga na escola regular. É preciso refletir sobre o que esses alunos

precisam, quais são os objetivos dessa inclusão. Considerar os benefícios possíveis

a todos os envolvidos e como oferecer um ensino que estimule as potencialidades

de todos os alunos.

Pensar na inclusão vai além de matricular a criança na escola, é necessário

atender as especificidades e as necessidades educacionais além do engajamento

de todos que fazem parte desse processo. Nessa perspectiva, este trabalho torna-se

relevante e contribuirá para a reflexão dos professores sobre a trajetória dos surdos

na sociedade, contribuindo assim para sua formação e apropriação de novos

conhecimentos. Dessa forma, ao desenvolver estudos sobre as práticas

pedagógicas e metodologias utilizadas na educação dos surdos, é possível

incentivar professores a buscar novas alternativas para uma educação mais efetiva.

Levando em consideração as especificidades quanto ao ensino e a aprendizagem

do aluno surdo nas classes comuns do ensino regular, observa-se que se tornam

importantes o conhecimento e o entendimento dos professores que atuam com

esses alunos sobre a trajetória histórica da inclusão educacional dos mesmos, bem

como a sua interação e aprendizagem efetiva. Muitas vezes a falta de conhecimento

por parte dos professores, referente a essa trajetória, pode interferir no processo

ensino aprendizagem bem como em suas relações sociais, afetivas e emocionais.

Diante do exposto, faz-se necessária uma reflexão sobre a importância de se

conhecer questões a respeito da educação especial e inclusão do aluno surdo nas

classes comuns do ensino regular. Observa-se que muitas vezes durante a prática

escolar, o desconhecimento de muitos profissionais da educação referente ao

ensino e à aprendizagem dos alunos surdos, ocasiona conflitos, polêmicas e

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discriminação por parte dos profissionais por não compreenderem as

especificidades da educação dos surdos. A educação inclusiva está presente em

nosso cotidiano, porém verifica-se que muitas escolas ainda não possuem

infraestrutura física adequada e o corpo docente possui limitações para assegurar

uma inclusão efetiva (LACERDA, 2006).

Partindo do pressuposto que o conhecimento e formação dos professores do

ensino regular faz a diferença para que aconteça a inclusão de qualidade.

O presente artigo teve como objetivo descrever a experiência de um curso de

formação e oficinas em Libras para professores de um Colégio Estadual. Curso este

que oportunizou aos professores acesso a informações a respeito da história da

língua de sinais e suas especificidades e contato direto com a Libras com alguns

alunos surdos do colégio, objetivando assim sensibilizar e refletir sobre a inclusão e

seus desafios educacionais.

No início dos estudos do PDE, foram realizadas várias pesquisas sobre a

problematização vivenciada no colégio. Após muitas leituras percebeu-se a

necessidade de pesquisar sobre a trajetória histórica da educação do surdo,

proporcionando curso de extensão aos professores. A linha de estudo foi: práticas

pedagógicas na escola inclusiva. O tema de pesquisa foi a história da inclusão dos

alunos surdos do colégio em que atuo. Devido algumas dificuldades vivenciadas em

minha experiência profissional como intérprete, tive como questionamento de como

o conhecimento sobre as especificidades da educação dos surdos e a inclusão

poderiam contribuir para uma interação mais efetiva e mais significativa.

Portanto, objetivou-se com este trabalho de intervenção pedagógica a

formação de professores para esclarecer e desmitificar questões relacionadas à

educação dos surdos, respondendo algumas questões sobre a inclusão, língua de

sinais, metodologias adequadas para os alunos surdos e a função do intérprete no

contexto educacional. Baseados em autores como Sacks (1998), Skliar (1999) e

Lacerda (1998, 2006) buscou-se refletir sobre a prática pedagógica, considerando as

adequações necessárias, aplicando práticas pedagógicas que propiciem a

motivação das aulas e a interação dos alunos. Além disso, compreender a

importância da língua de sinais no contexto social, sensibilizando os educadores,

despertando o interesse sobre a língua de sinais e aspectos históricos da educação

na área da surdez.

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Assim apresentam-se práticas em Libras no contexto escolar e adequações

curriculares, esperando que as propostas e ações que foram desenvolvidas

contribuam para a superação dos desafios e melhoria da qualidade de ensino.

Assim apresentam-se práticas em Libras no contexto escolar e adequações

curriculares, esperando que as propostas e ações que foram desenvolvidas

contribuam para a superação dos desafios e melhoria da qualidade de ensino.

A unidade didática foi desenvolvida no Colégio Estadual Antonio Tupy

Pinheiro de Guarapuava, com a participação dos professores, funcionários e equipe

pedagógica, com oito encontros de formação e reflexão com carga horária de quatro

horas semanais, perfazendo um total de trinta e duas horas, com certificação pela

UNICENTRO - Guarapuava. As atividades planejadas para os encontros de

formação dos professores apresentam a seguinte composição: 1º encontro: histórico

da Educação Especial na área da surdez; 2º encontro: histórico da educação

especial na área da surdez no Paraná e o histórico do Colégio Estadual Antonio

Tupy Pinheiro de Guarapuava; 3º encontro: abordaram-se aspectos da língua de

sinais e conceitos básicos sobre a surdez; 4º encontro: discutiu-se o tema cultura,

identidade e comunidade surda; 5º encontro: analisou-se as metodologias na

educação especial; 6º encontro: o tema adaptações curriculares para os alunos

surdos e o papel do intérprete no contexto educacional; 7º e 8º encontro:

desenvolvido em formato de oficina, contextualização de práticas em Libras.

Durante os encontros foram realizados debates e discussões, incentivando os

participantes a expressarem suas opiniões, experiências e dúvidas a respeito do

tema trabalhado. A metodologia usada foi a de aulas expositivas com slides, análises

de textos baseados nos referenciais teóricos, com objetivo de reflexão e

sensibilização dos participantes.

Os participantes tiveram a oportunidade de analisar e compreender conceitos

que envolvem a educação do surdo e suas especificidades. A avaliação foi contínua,

por meio de observação da participação dos cursistas durante os encontros. A partir

das atividades desenvolvidas e das considerações dos cursistas participantes,

produziram-se reflexões sobre a inclusão e seus desafios em nossa escola.

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2. A INCLUSÃO DOS SURDOS NO CONTEXTO EDUCACIONAL

Muitos pesquisadores discutem sobre inclusão dos alunos surdos em classes

de ensino regular (LACERDA, 2006; LORENZZETTI, 2003; PADILHA, 2014).

Vivemos em um mundo em constante transformação, em que mudanças acontecem

rapidamente, porém se nota o contraste: neste mesmo contexto histórico, existem

tantos conceitos e preconceitos enraizados na sociedade, que perpassam séculos e

mesmo ultrapassados em suas consequências. Faz-se necessária uma reflexão e

resgate da trajetória da educação especial da área na surdez.

A história da educação dos surdos desenvolve-se continuamente e tem

alcançado grandes conquistas apresentando momentos de mudanças. Durante

muito tempo, e em diversos momentos da história, os surdos foram colocados à

margem da sociedade, sendo considerados incapazes, rejeitados pela sociedade e

posteriormente isolados nos asilos para que pudessem ser protegidos. Não se

acreditava que pudessem ter uma educação formal em função da sua anormalidade,

ou seja, aquela conduta marcada pela intolerância obscura na visão negativa, vistos

como anormais ou doentes. Em alguns países, os surdos foram lançados ao mar,

jogados do alto dos rochedos, abandonados. Algumas culturas simplesmente

eliminavam as pessoas com deficiências, outras adotavam práticas de interná-los

em grandes instituições de caridade, junto com doentes e idosos (SASSAKI, 2006).

Aristóteles acreditava que os surdos eram incapazes de raciocínio, que o

pensamento era apenas desenvolvido e formado por meio da fala. Como essa não

podia se desenvolver sem a audição e se o indivíduo não escutava ou falava,

portanto esse não formulava pensamento e raciocínio.

Goldfeld (1997) afirma que na antiguidade os surdos eram vistos com piedade

e compaixão, como pessoas castigadas pelos deuses e que as pessoas com surdez

eram primitivas e não poderiam ser educadas. Entretanto, registros das experiências

do médico Gerolamo Cardano, no século XVI, concluíram que surdez não

prejudicava a aprendizagem, uma vez que os surdos poderiam aprender a escrever

e assim expressar seus sentimentos (JANNUZZI, 2004).

A partir da afirmação de Cardano, vários educadores se propuseram a

desenvolver diferentes métodos para ensinar as crianças surdas. Dentre os

educadores, destaca-se o monge beneditino Pedro Ponce de Leon, no século XVI,

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na Espanha. Ele desenvolveu uma metodologia de educação para crianças com

surdez que incluía datilologia, escrita e oralização, sendo reconhecido como o

primeiro professor de surdos. Porém, essa educação era apenas para os surdos

filhos de famílias ricas e nobres (GOLDFELD, 1997).

Em 1620 foi publicado por Juan Pablo Bonet, na Espanha, o livro “Redución

de las letras y arte de ensenar a hablar a los mudos” (JANNUZZI, 2004).Estas

experiências foram importantes, pois mostravam as possibilidades de aprendizagem

do surdo, contudo os métodos baseavam-se na língua dos ouvintes, ou seja, em

ensinar os surdos a falar.

Conforme registros o abade Charles Michel L‟Epee foi o primeiro a fundar um

asilo para pessoas surdas. Ele defendia que os surdos aprendiam a ler e a escrever

através dos sinais metódicos1 e foi primeiro a fazer uso na educação dos surdos

(SACKS, 1998).

3. A EDUCAÇÃO DE SURDOS NO BRASIL

No Brasil, a educação de surdos deu-se sob a influência direta do Instituto de

Paris. A primeira escola de surdos brasileira surgiu em 1857, no Rio de Janeiro, com

o apoio de Dom Pedro II e pela Lei N° 839, de 26 de setembro de 1857, denominada

Imperial Instituto dos Surdos-Mudos. A escola foi fundada por um professor surdo,

ex-diretor do Instituto de Paris, chamado Hernest Huet. O Instituto desenvolveu-se

com um forte acento na caridade e benevolência, tendo o seu trabalho voltado à

educação literária e educação profissionalizante. Lá eram instaladas oficinas para

aprendizagem de ofícios, oficinas de sapataria, encadernação, pautação e douração

para os meninos surdos-mudos com idade de 7 a 14 anos (MAZZOTTA, 2001).

Em 1873, foi publicado um dos livros ilustrados mais importantes: o

Iconographia dos Signaes dos Surdos-Mudos, pelo aluno surdo Flausino José da

Gama (STOCK E ORTIZ, 2015). Em 1880, realizou-se Congresso Internacional

Milão na Itália, onde o método oral foi votado o mais adequado a ser adotado pelas

escolas de surdos. Esse evento marcou de forma muito negativa a cultura surda,

pois através do voto de ouvintes, a língua de sinais foi proibida trazendo

1 - De modo geral, podemos conceituar os sinais metódicos como sendo a combinação da língua de sinais

francesa com a gramática francesa (SACKS, 1998).

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consequências à educação dos surdos. Esse momento demonstra a falta de respeito

pela comunidade surda.

O objetivo dessa metodologia era desenvolver a fala dos surdos. Durante

muito tempo os surdos viveram sem uma comunicação efetiva, e as pesquisas eram

voltadas para a deficiência e na falta de audição.

Foram mais de cem anos de práticas enceguecidas pela tentativa de correção, normalização e pela violência institucional; instituições especiais foram reguladas pela caridade e pela beneficência, quanto pela cultura social vigente que requeria uma capacidade para controlar, separar e negar a existência da comunidade surda, da língua de sinais, das identidades surdas e das experiências visuais, que determinam o conjunto de diferenças dos surdos em relação a qualquer outro grupo de sujeitos. (SKILIAR, 1998, p.1).

Essas metodologias de ensino trouxeram muitas consequências negativas,

pois os surdos apenas repetiam as palavras mecanicamente sem entender o seu

significado e fora do contexto. Assim eles não tinham acesso à informações e a uma

educação formal.

Nesse contexto, Ana Rímola de Faria Doria assumiu a direção do INES com a

assessoria da professora Alpia Couto. A língua de sinais foi proibida oficialmente nas

salas de aula. Mesmo com a proibição, os alunos surdos continuaram a usar a

língua de sinais de forma escondida nos refeitórios e dormitórios, nos corredores e

nos pátios da escola (STOCK E ORTIZ, 2015; DINIZ, 2011).

Em razão disso, a LIBRAS passou a ser desvalorizada e desprezada pela

sociedade e pela educação. Contudo, isso não significou a “morte” da Libras. Em

anos posteriores, esta Língua de Sinais, mesmo praticada às escondidas, já estaria

formada como um sistema linguístico. Esta então foi difundida pelo Brasil, já que os

alunos do INES eram oriundos de outros estados brasileiros, além do Rio de Janeiro

e quando voltavam para suas casas, levavam a Língua de Sinais adquirida (ROCHA,

2007apud DINIZ, 2011).

No início dos anos 1970 e 1980, a Comunicação Total chegou ao Brasil

através de uma visita da educadora Ivete Vasconcelos, da Universidade Gallaudet.

Aqui, a Comunicação Total, além da Libras (Língua Brasileira de Sinais), utilizava

ainda a datilologia (Alfabeto Manual), o cued speech (sinais manuais que

representavam os sons da língua portuguesa), o português sinalizado (língua

artificial que utilizava o léxico da língua de sinais com a estrutura sintática do

português e alguns sinais inventados para representar estruturas gramaticais do

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português que não existem em língua de sinais e o pidgin (simplificação da

gramática de duas línguas em contato, no caso, o português e a língua de sinais)

(GOLDFELD, 2002).

A Comunicação Total utiliza-se de todos os modos linguísticos, gestos criados

pelas crianças, língua de sinais, fala, leitura orofacial, alfabeto manual, leitura e

escrita, ou seja, uma mistura da língua de sinais com a língua portuguesa, o que

dificultava a aprendizagem dos surdos. Na metodologia oral, os surdos nunca

tiveram uma comunicação adequada e isso comprovadamente foi um fracasso.

Segundo Capovilla e Raphael (2001), os surdos recebiam uma amostra

linguística incompleta e sem compreensão. Não tinham acesso a qualquer uma das

línguas totalmente. Ainda nessa época os surdos começaram a se mobilizar pelos

seus direitos linguísticos e culturais.

4. EDUCAÇÃO BILÍNGUE

A metodologia bilíngue defendida pelos surdos e consiste em duas línguas no

contexto escolar, ou seja, tem como pressuposto básico o uso da língua de sinais

como língua natural do surdo, como primeira língua e a língua portuguesa como

segunda língua na modalidade escrita.

Skliar (1999) afirma que o modelo bilíngue propõe dar às crianças surdas as

mesmas possibilidades psicolinguísticas que as crianças ouvintes têm. Será só

desta forma que a criança surda poderá atualizar suas capacidades linguístico-

comunicativas, desenvolver sua identidade cultural e aprender.

Após destacarmos um pouco da trajetória da educação dos surdos, percebe-

se a importância de os professores conhecerem o contexto histórico de inclusão no

Paraná, mais especificamente no contexto escolar para que possam contribuir com

práticas pedagógicas pautadas na reflexão.

Um dos desafios da educação especial diz respeito ao processo de formação

dos professores para o enfrentamento das deficiências cognitivas, fisicomotoras e

sensoriais no transcorrer nos ambientes escolares. (LIMA; NASCIMENTO;

ALBUQUERQUE, 2014).

5. ANÁLISE E DISCUSSÃO

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A partir das pesquisas e informações expostas, as atividades propostas foram

analisadas e aplicadas conforme a Unidade Didática. A presente produção didático-

pedagógica no formato de unidade didática foi utilizada no projeto de intervenção

pedagógica e fez parte do processo do PDE (Projeto de Desenvolvimento da

Educação), elaborado no segundo semestre de 2016, tendo sua implementação no

primeiro semestre de 2017. O público alvo foram professores do Ensino

Fundamental e Médio do Colégio Estadual Antonio Tupy Pinheiro de Guarapuava.

A proposta desta unidade didática relacionou-se com a problemática

vivenciada na escola, e a necessidade de buscar referencial sobre a inclusão dos

alunos surdos. A inclusão de alunos surdos preferencialmente em escolas regulares

é uma das metas da Lei de Diretrizes e Base da Educação e a Política Educacional

vigente cujo princípio básico é “Educação para todos”. As escolas regulares têm

matriculado os alunos surdos, mas existem muitas discussões a respeito da

organização escolar, pois somente vaga não garante a efetiva aprendizagem nem

interação desses alunos. Precisa-se compreender que matricular o aluno é apenas o

primeiro passo para a inclusão. É fundamental instrumentalizar os professores e a

escola, dando suporte necessário à sua ação pedagógica. Isto implica em ações

adaptativas, uma flexibilidade do currículo e capacitação de professores.

Durante essa pesquisa percebeu-se que apenas a limitação da história dos alunos

surdos do colégio não abordaria todos os aspectos importantes da inclusão. Mas

uma retrospectiva sobre a trajetória, as lutas e as dificuldades encontradas ao longo

do tempo pela comunidade surda poderiam ampliar o conhecimento dos professores

a respeito da surdez. Desta forma, conhecendo metodologias, sugerindo adaptações

pedagógicas e proporcionando conhecimento sobre aspectos linguísticos da língua

de sinais, buscamos sensibilizar os professores para um olhar diferenciado, ou seja,

olhar o aluno surdo não por suas limitações, mas sim por suas possibilidades

O desenvolvimento das ações dessa implementação iniciou-se com

apresentação da proposta aos profissionais da escola em fevereiro, durante a

semana pedagógica e em seguida foram convidados a participarem dos encontros. A

implementação foi organizada em 32 horas de formação, com oito encontros com

carga horária de quatro horas semanais, com certificação pela UNICENTRO -

Guarapuava. Participaram professores, funcionários e equipe pedagógica, contando

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com a frequência de 22 cursistas, ocorrendo nos meses de abril a junho de 2017.

No primeiro encontro foi abordado o histórico da educação especial na área

da surdez através de slides, objetivando refletir sobre aspectos relacionados à

história da educação especial na área da surdez e identificar os acontecimentos

significativos relacionados à educação especial. Durante o desenvolvimento foram

realizadas várias dinâmicas, dentre ela “Um novo olhar”2 para refletirmos sobre

nossas deficiências. Também foram utilizados vários textos e trechos do filme “E seu

nome é Jonas” (EUA-1979-Richards Michaels) como forma de estratégia para

trabalhar posteriormente metodologias e a importância da língua de sinais e da

família. Foi também apresentado um curta de animação de 5 minutos, intitulado

“Festa nas nuvens”. O intuito foi refletir que as diferenças devem ser encaradas

como oportunidades de crescimento e busca de novos caminhos e novas estratégias

para a aprendizagem. A receptividade foi muito interessante e os participantes

emitiram opiniões diversas sobre o tema.

No segundo encontro foi abordado o Histórico da educação especial na área

da surdez no Paraná e o histórico do Colégio Estadual Antonio Tupy Pinheiro de

Guarapuava no período de 2000-2015. O objetivo desse encontro foi refletir sobre

aspectos da inclusão dos alunos surdos no estado do Paraná e conhecer a trajetó-

ria da inclusão dos alunos surdos no colégio. Além de analisar o cotidiano escolar e

as práticas pedagógicas relacionadas à inclusão escolar.

Foi realizada a dinâmica “Rótulos”3 para trabalhar com Preconceito e Exclu-

são Social. Observou-se atentamente as reações e clima gerado pelo exercício para

ter subsídios para fomentar a discussão posterior. Os cursistas participaram ativa-

mente das discussões e contextualizaram muitas situações vivenciadas na escola.

Em seguida foi realizada a apresentação de slides com o tema “A trajetória da

educação dos surdos no Paraná e a trajetória da inclusão dos alunos surdos no Co-

légio”. Utilizaram-se dados referentes à escola como matrículas e número de alunos

surdos. Através da documentação de matrículas dos alunos surdos do Colégio, foi

criada uma tabela com o número de surdos e intérpretes e por meio desta verifica-se

que esse número aumentou durante os anos 2000-2015. O total de alunos surdos

formados também aumentou, mostrando que apesar das dificuldades encontradas, a

2 - Disponível em http:/www.catequisar.com.br/texto/dinâmica/volume03/115.html

3 - Disponível em <http://www.dinamicaspassoapasso.com.br/2011/02/dinamica-para-trabalhar-

preconceito-e.html>

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inclusão está dando resultados.

Posteriormente foram expostas fotos dos alunos em atividades realizadas no

colégio, além do documentário “Sou surda e não sabia” (França, 2009 - Igor Ochro-

nowcz). Esse documentário traz interessantes reflexões sobre temas como educa-

ção de surdos, inclusão e luta por direitos. Em seguida foram apresentados depoi-

mentos de alunos sobre sua trajetória escolar. Estes foram filmados na língua de

sinais e legendados, com o tema “A importância do Colégio Tupy na minha vida”,

com seus pontos positivos e negativos, de suas experiências dentro do contexto es-

colar.

Após esta reflexão percebemos que é de fundamental importância que os

educadores, equipe pedagógica e funcionários que atuam diretamente com os alu-

nos conheçam esse processo histórico vivenciado pelos surdos para que possam

construir práticas pedagógicas pautadas na reflexão e em práticas mais expressivas

e significativas. Desta forma através de informação e formação diminuir o distancia-

mento entre inclusão “legal” e a inclusão de fato, minimizando situações de conflitos,

polêmicas e discriminação sofridas pelos alunos surdos do colégio por parte de al-

guns profissionais, pelo fato de não compreenderem as peculiaridades da educação

dos surdos.

(...) a formação docente não pode restringir-se a participação em cursos eventuais, mas sim, precisa abranger necessariamente programas de capa-citação, supervisão e avaliação que sejam realizados de forma integrada e permanente, a formação implica um processo contínuo. (SANT`ANA, 2012, p.235).

Nesse sentido, o professor precisa estar em constante formação para atuali-

zação e possa refletir sobre a sua prática, entender seu papel em relação ao pro-

cesso de inclusão e assim buscando aprimorar seus conhecimentos e possa fazer

mudanças significativas em suas práticas.

No terceiro encontro foi abordado o tema “Aspectos da língua de sinais e con-

ceitos básicos sobre a surdez” objetivando reconhecer a língua de sinais como lín-

gua e seus aspectos linguísticos, compreendendo definições e conceitos básicos

sobre a surdez, assim como as leis que regulamentam a educação especial na área

da surdez. Nesse encontro foram apresentados slides sobre aspectos linguísticos da

língua de sinais, alfabeto de libras, parâmetros da língua de sinais e configuração de

mão. Foi também aplicado o questionário “Mitos e verdades da língua de sinais”,

contendo perguntas objetivas a respeito da Libras. A partir desse questionário, foi

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buscado a melhor forma para trabalhar os aspectos da língua de sinais, desmistifi-

cando-a e esclarecendo dúvidas dos participantes.

O questionário mostrou o conhecimento dos professores em relação à língua

de sinais. De acordo com esse, os participantes tinham muitas dúvidas em relação a

língua de sinais e o papel do intérprete. No entanto apresentar o tema colhendo in-

formações, partilhando e trocando experiências com os participantes foi muito produ-

tivo e fomentou muitas discussões que contribuíram para implementar novas ideias,

novos saberes e possibilidades. Também foi trabalhado sobre curiosidades da lín-

gua de sinais. Tal modalidade visual-espacial permite expressar emoções, apelos e

sensações. Como qualquer outro idioma, ela não é universal e pode variar até entre

grupos da mesma região, dando origem a uma linguagem popular, as gírias4.

Foram apresentados slides com o tema “Como comunicar-se com uma pes-

soa surda”, produzidos para instigar e promover discussões e reflexões. Trabalhou-

se o alfabeto manual e sua função e os professores fizeram tentativas de escrever o

próprio nome. Em seguida, foram apresentados vídeos como “Sapinho surdo”5, ”In-

térprete”6 e “Sotaque em língua de sinais”7. Ao final do encontro discutiu-se sobre

algumas leis que regulamentam a educação especial na área da surdez. Destacam-

se: Decreto Federal 5626 de 22 de dezembro de 2005 que regulamenta a língua de

sinais, Lei 10436 de 24 de abril de 2002 (oficializa a LIBRAS) e Lei 12.319 de 2010

que regulamenta o exercício da profissão tradutor intérprete. Percebeu-se a recepti-

vidade e interesse dos participantes sobre o tema abordado.

No quarto encontro o tema abordado foi cultura, identidade e comunidade

surda, além de ouvintismo. Nesse encontro foi enviado material anteriormente aos

participantes, trechos do livro “Libras aprender está em suas mãos”, capítulo 9, res-

saltando pontos principais e o vídeo do livro: “Tibi e Joca a história de dois mundos”.

Esse encontro foi de grande valia, pois a professora surda da Unicentro Irene

Stock participou e falou sobre sua vida e experiências. Falar sobre cultura surda com

base nos livros e vídeos ficaria muito teórico mas, nesse encontro, além de trazer o

conhecimento, a professora Irene trouxe a experiência vivida, colocada com muito

4 - Disponível em <http://mundoestranho.abril.com.br/cotidiano/existem-gírias-na-língua-de-sinais-

dos-surdos/>. 5 - Disponível em <https://www.youtube.com/watch?v=ezCrX3gyVOM>

6 - Disponível em: <https://www.google.com.br?webhp?sourceid=chrome

insant&rlz=1C1NHXL_ptBRBR687BR687&ion=1&espv=2&ie=UTF8#q=billy%20kelman>) 7 - Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=AWYnIWikRlw>

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profissionalismo e carisma.

(....)um dos aspectos mais importantes, responsáveis pela formação da comu-nidade surda, e o que gera uma cultura diferente: a cultura surda. O reconhe-cimento da diferença passa pela capacidade de apreensão das potencialida-des dos surdos, no que diz respeito ao seu desempenho na aquisição de uma língua cujo canal de comunicação e o viso-gestual e também á sua habilidade linguística que se manifesta na criação, uso e desenvolvimento dessa língua ( DORZIAT, 2004, p.79).

Esse encontro despertou nos participantes muita curiosidade e interesse, fo-

ram feitos questionamentos e perguntas proporcionando muita interação entre a pro-

fessora e os participantes. E através dos relatos reais feitos pela professora, foi

compreendida a importância da língua de sinais na vida do surdo. A participação de

um intérprete foi de fundamental importância para realização desse encontro para

uma comunicação efetiva entre a professora e os participantes.

No quinto encontro foi trabalhado metodologias na educação dos surdos,

identificando as metodologias usadas ao longo da história: Oralismo, Comunicação

Total e Bilinguismo. As mudanças de metodologias usadas na educação dos surdos

e suas consequências negativas e positivas foram analisadas, discutidas e contex-

tualizadas. Apresentado por meio de slides sobre o tema ao longo da história na

educação dos surdos. Também foi apresentado um vídeo com a entrevista do Pro-

fessor Capovilla: ”A defesa das escolas específicas bilíngues para crianças surdas”

(Emissora Globo News – Assunto em Debate) e a apresentação da entrevista do

“Programa Café com Pimenta”, com Clarissa Gueretta. Esses vídeos fomentaram

uma interessante discussão entre os professores, apontando sobre suas dificulda-

des, em relação à interação com o aluno surdo, as adaptações e flexibilidade e a

questão da avaliação. Os professores pontuaram que realmente não tinham conhe-

cimento sobre as metodologias devido à limitação de sua própria formação profissi-

onal e mostraram interesse em conhecer a língua de sinais.

De acordo com Skliar (1998), um dos problemas é a confusão que se faz en-

tre democracia e tratamento igualitário. „‟Quando um surdo é tratado da mesma ma-

neira que um ouvinte, ele fica em desvantagem‟‟. A democracia implicaria, então, no

respeito as peculiaridades de cada aluno – seu ritmo de aprendizagem e necessida-

des particulares.

A apresentação do documentário “Para um filho surdo” ( EUA-1994- Rob

Tranchin) resultou em inúmeras reflexões e discussões diante da realidade de mui-

tas famílias de surdos que passam pelo processo de encontrar uma escola adequa-

Page 15: Conquistas e Desafios na Inclusão dos Alunos Surdos€¦ · Assim apresentam-se práticas em Libras no contexto escolar e adequações curriculares, esperando que as propostas e

da para o filho, processos retratados no documentário. Em seguida foi apresentado

o livro “O frio pode ser quente?” (MANSUR, 1985), exposto por meio de slides, ge-

rando observações sobre como a percepção das coisas depende do contexto.

Durante o sexto encontro foi abordado Adaptações Curriculares para os

alunos surdos e o papel do intérprete no contexto educacional. Os professores

perceberam a importância de adaptações curriculares para uma aprendizagem mais

significativa e efetiva para os surdos. O intérprete possui a função do interlocutor

entre o professor e o surdo, o professor mantém a função de ensinar (Leite, 2004).

Ficou evidente que os professores compreenderam melhor a função do intérprete de

Libras no contexto educacional.

Foram elaborados slides sobre as adaptações curriculares, promovendo

discussões e esclarecendo algumas dúvidas. Os professores tinham o entendimento

que era necessário um currículo dinâmico e flexível para que os alunos pudessem

participar dos processos de ensino-aprendizagem. Os artigos “O Perfil dos

tradutores intérpretes de Libras” (Lacerda1998) e “A inclusão escolar de alunos

surdos: o que dizem alunos, professores e intérpretes sobre esta experiência”

(Lacerda 2006) foram enviados via e-mail para leitura prévia e os participantes

tinham como atividade destacar os principais pontos que achavam importantes para

discussão no curso. Todos compartilharam sua opinião e com isso foi possível

analisar experiências e traçar um paralelo inclusão e inclusão real e o contexto

escolar dentro do próprio colégio. Discutiu-se como é imprescindível a presença do

intérprete dentro de sala de aula, mas também que sua presença não é a solução

dos problemas de inclusão.

Fazer adaptações no sistema de avaliação não pode ser tomado como

“brecha” para aprovação indiscriminada e inconsequente de alunos, nem

para “empurrar‟ o aluno com necessidades especiais para as séries mais

avançadas, até que ele “saia” do sistema (ARANHA, 2000, p. 23).

É preciso que ocorram adaptações, como utilização de recursos audiovisuais

para que o aluno surdo tenha melhor acesso às informações e possa participar

ativamente das atividades dentro da sala de aula. Importante observar que todos os

cursistas se mostraram abertos a aprender novos métodos e à mudança. Através da

formação e informação e de um trabalho coletivo seremos capazes de construir

novas ações pedagógicas, pois todos os profissionais do contexto devem estar

envolvidos e abertos a discussões, a novas descobertas e a mudanças de atitudes

Page 16: Conquistas e Desafios na Inclusão dos Alunos Surdos€¦ · Assim apresentam-se práticas em Libras no contexto escolar e adequações curriculares, esperando que as propostas e

para atender a diversidade proporcionando um espaço acolhedor e promover assim

o acesso ao conhecimento e garantir condições favoráveis a aprendizagem.

“[...] as Adaptações Curriculares, então, são os ajustes e modificações que devem ser promovidos nas diferentes instâncias curriculares, para responder às necessidades de cada aluno, e assim favorecer as condições que lhe são necessárias para que se efetive o máximo possível de aprendizagem”. (ARANHA, 2002, p. 5).

No decorrer do encontro foram apresentados vídeos produzidos pelos

intérpretes e alunos surdos de alguns conteúdos escolhidos anteriormente com os

professores: temas como H1N1, HIV (AIDS), Mapa do Brasil e Mundi. Esses

materiais foram disponibilizados em libras e legendados, para professores do colégio

utilizarem como material de apoio em sala de aula.

O sétimo e oitavo encontros foram desenvolvidos em formato de oficinas

contextualizando o tema: “Práticas de Libras no contexto escolar”. Durante esses

encontros, alguns alunos surdos do Colégio participaram ativamente estimulando os

participantes a usar a língua de sinais e ampliar seu vocabulário em libras. Foram

apresentados slides do alfabeto e vocabulário do contexto escolar, das disciplinas,

cumprimentos, ambientes escolares, entre outros, como forma de incentivar a

conversação na língua de sinais.

No decorrer das atividades foram utilizados alguns jogos pedagógicos como:

Cara a cara, Lince, Tapa certo, como forma de interação em um ambiente informal e

lúdico. Foram também apresentados vídeos de músicas em libras x interpretação

em português sinalizado, para posterior discussão. Também foram realizadas

dinâmicas contextualizando o ambiente escolar através de dramatizações e diálogos

em língua de sinais, com temas previamente escolhidos.

Nessa atividade todos os cursistas participaram ativamente com entusiasmo e

pudemos perceber a intenção dos participantes em aprender com os alunos surdos.

Muitos participantes encontraram dificuldade em se comunicar com alunos surdos,

muitas vezes esqueciam e usavam a fala para se comunicar e não conseguiam

demonstrar o que gostariam de fazer. Mesmo assim, nosso objetivo foi alcançado

pois o professor se colocava no lugar do aluno em relação a língua e sua dificuldade

de comunicação. Os resultados desses encontros foram satisfatórios pois a

interação entre professor e aluno surdo foi eficiente.

As atividades durante esses encontros foram capazes de levantar

questionamentos sobre situações cotidianas vivenciadas no contexto escolar, tendo

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como resultado mudanças de comportamento, reflexão e receptividade estreitando

laços de afetividade.

Ao final foi distribuído um questionário aos participantes para avaliação das

atividades envolvidas com perguntas objetivas para averiguação da importância

dessa implementação e das atividades propostas. Nessa avaliação participaram os

22 participantes dos encontros. Os participantes trabalham de 5 a 31 anos na rede

regular de ensino. Entre os 22 participantes, todos já tiveram experiência com os

alunos surdos no ambiente escolar. De 22 participantes, apenas 3 já participaram de

curso de formação na área de educação especial, mas nenhum dos participantes

tiveram formação específica na área da surdez. Todos foram consensuais em

responder que as atividades propostas estabeleceram relação com suas práticas e

contribuíram para reflexão sobre a inclusão e a surdez. Analisando as respostas dos

participantes, as informações e troca de experiências realizadas nos encontros

foram de fundamental importância e contribuíram para mudança de sua concepção

sobre a surdez. Mostrou-se ainda a necessidade de estarmos constantemente

refletindo sobre os aspectos da inclusão dos alunos surdos e da necessidade de

formação continuada a todos os profissionais do contexto escolar. Através deste foi

possível constatar a importância dessa implementação.

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Pensar em educação e processo de inclusão é uma tarefa que exige

mudanças de paradigmas pois essas questões são complexas e necessitam de

momentos de reflexão no contexto escolar no sistema educacional para que as

dificuldades enfrentadas sejam minimizadas. A inclusão exige novos

posicionamentos e aperfeiçoamentos de todos os profissionais envolvidos nesse

processo.

Despertar o interesse e entender sobre a importância da língua de sinais e

inclusão efetiva dos alunos surdos contribuirá para um processo de aprendizagem e

de práticas pedagógicas mais significativas. A escola é um espaço de difusão de

ideias, laboratório de experiências de convivência com a diversidade e o nosso

papel como educador é sensibilizar e promover a interação valorizando essas

diferenças. É essencial o envolvimento de todos do contexto escolar para que

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aconteça de fato a inclusão e as dificuldades e desafios sejam superados.

As ações realizadas nos encontros objetivaram desmistificar, esclarecer

dúvidas e oportunizar acesso às informações sobre educação dos surdos aos

participantes. Conforme se pode compreender, a partir das ações efetivadas, que a

política de inclusão escolar necessita de qualificação e condições relevantes para

concretizar a inclusão de fato e real, assegurando recursos didáticos e apoio

governamental para formação de professores. É imprescindível um novo olhar sobre

os alunos e sobre o papel da escola nesse processo de inclusão.

Somente se efetivará a inclusão a partir de mudanças de comportamentos,

flexibilidade e compromisso político-social. Portanto a pesquisa apenas reforça a

necessidade de estarmos constantemente refletindo a inclusão dos surdos no

contexto escolar, pois é uma construção coletiva e que deve ser trabalhada

constantemente. É fundamental estarmos abertos as novas experiências e acima de

tudo perceber, compreender e respeitar as diferenças para construção de novos

caminhos e alternativas, tornando assim o contexto escolar um espaço linguístico

estimulador e dinâmico para que possamos superar os desafios enfrentados em

nosso dia a dia, buscando assim uma educação e inclusão de qualidade.

Nessa perspectiva, este trabalho tornou-se relevante e contribui para a

reflexão dos profissionais envolvidos sobre a trajetória dos surdos na sociedade,

contribuindo para sua formação e apropriação de novos conhecimentos. Dessa

forma, ao desenvolver estudos sobre as práticas pedagógicas e metodologias

utilizadas na educação dos surdos, foi possível incentivar professores a buscar

alternativas para uma educação mais efetiva.

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