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Enmos FEE, Porto Alegre, 2(2) 119-134, 1981 A CONSCIÊNCIA DE CLASSE: UM INTENTO DE MENSURAÇÃO /osé Fraga Fackel* Juan Mario Fandino Marina * * I Introdução A literatura sociológica, apesar do rico tratamento que tem dado ao conceito "consciência de classe", tem sido be m menos prolífica num as- pecto importante: a mensuração. Certo é que alguns trabalhos sobre cons ciência utilizaram técnicas avançadas de análise quantitativa (Rojas, 1974) . No entanto na o aparecem na literatura intentes específicos de desenvolver instrumentos válidos e confiáveis que permitam o acompa nhamento do fenômeno no tempo, assim como^comparações entre contextos sócio-culturais diversos. Estas últimas sao metodologicamente viáveis guardando como plano de referência consciência "possível" (Lukãcs: 1920) nos vários contextos em questão, como se explica ao longo deste artigo. Assim, para perfis específicos de consciência possível em gru p o s e situações dadas, poder-se-iam detectar e analisar estados e ten dências diferenciais de consciência. O presente artigo oferece uma contribuição nesta direção na área espe cifica da mensuração, dividido em três partes. Primeiro se faz um re- sumo das idéias básicas representadas pelo conceito de "consciência de classe" e do seu limitadíssimo tratamento com relação ã realidade Bra sileira. Segundo, faz-se uma discussão dos elementos metodológicos en- volvidos na mensuração do conceito em questão, com vistas ã sua obser vação e análise mais aprofundadas. Terceiro, apresenta-se a construção e os resultados da aplicação de u r a índice exploratório de consciência a um a amostra de operários metalúrgicos de Porto Alegre. A exposição relativamente detalhada da teoria e metodologia da questão obedece também ao interesse didático que acompanha o trabalho. I I - Elementos Teóricos do Conceito "Consciência de Classe" o tema da consciência de classe situa-se, especificamente, dentro do paradigma ou enfoque sociológico dialético marxista. O fenômeno das classes sociais entendidas "stricto sensu" dentro do referido paradig ma e o resultado do modo de produção específico de cada época históri-

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Enmos FEE, Porto Alegre, 2(2) 119-134, 1981

A CONSCIÊNCIA DE CLASSE:

UM INTENTO DE MENSURAÇÃO

/ o s é Fraga Fackel*

Juan Mario Fandino Marina * *

I — I n tr o duç ã o

A literatura sociológica, apesar do rico tratamento que tem dado ao

conceito "consciência de classe", tem sido bem menos prolífica num as-

pecto importante: a m e n s u r a ç ã o . C e r t o é que alguns trabalhos sobre co ns

ciênc ia util izar am técnicas avançadas de análise quantitativa (Rojas,

1974) . No entanto nao aparecem na literat ura intentes especí ficos de

desenvolver instrumentos válidos e confiáveis que permitam o acompa

n h a m e n t o do fenômeno no tempo, assim como^c ompara ções entre contex tossócio-culturais diversos. Estas últimas sao m e t o d o l o g i c a m e n t e v i á v e i s

guar dand o como plano de referência a consciência "possí vel" (Lukãcs:1920) nos vários contextos em questão, como se explica ao longo deste

arti go. Assi m, para perfis espe cíficos de consciência possível em gru

pos e situações dadas , poder-se-iam detectar e analisar estados e tendências diferenciais de c o n s c i ê n c i a .

O presente artigo oferece uma contribuição nesta direção na área espe

cifica da m e n s u r a ç ã o , d i v i d i d o em três parte s. Primeiro se faz um re-

sumo das idéias bás ica s represent adas pelo conceito de " c o n s c i ê n c i a de

c l a s s e " e do seu limitadíssimo tratamento com relação ã realidade Bra

sileira. Segundo, faz-se uma discussão dos elementos metodológicos en-

v o l v i d o s na m e n s u r a ç ã o do conceito em q u e s t ã o , com vistas ã sua o b s e r

v a ç ã o e análise mais ap rofundada s. Terceir o, apresenta-se a construção

e os resultados da aplicação de ura índice exploratório de consciência

a uma a m o s t r a de operários metalúrgicos de Porto Alegre.

A exposição relativamente detalhada da teoria e m e t o d o l o g i a da questão

obedece também ao interesse didático que acompanha o trabalho.

II - E l e m e n to s T e ó r ic o s do Concei to "Consciência de Classe"

o tema da consciência de classe situa-se, especific amente, dentro do

p a r a d i g m a ou enfoque sociológico dialético marxi sta. O fenômeno das

classes sociais entend idas "strict o sensu" dentro do referido paradig

m a e o resultado do m o d o de produção específico de cada época históri-

* P r o fe s s or D e p a r t a m e n t o de Ciências Socia i s - l E P E / U f R G S - P or t o A l egr e .

• * P r o f e s s o r . l E P E / U F R G S - P or t o A l egr e

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expostas no livro escavam influenciadas pelo utopismo revolucionárioda época. Ainda segundo Bottomore, em decorrência da evolução do capitalismo: "Tem se tornado cada vez mais difícil se estar seguro de ter

entendido as influencias que formam a consciência política, sendo assim capaz de discernir a principal direção dos acontecimentos. Pelo me nos uma coisa e evidente: ha muito que ultrapassamos a era em que aconsciência real dos grupos sociais, expressa em suas crenças e ações,podia ser discutida como mer a consciência "psicológica" e"falsa", es ercontrastada com a "consciência racional" guardada como uma relíquia naideologia de um "partido comunista" (Bottomore 1976 ; 1 32 ) . A questãocomeça agora a ser abordada através de estudos empíricos.

III — Estudos Empíricos sobre a Consciência de Classe no Brasi lEmbora o tema da consciência de classe seja de grande importância nasociologia crítica, como se observou anteriormente, no Brasil sao mui

to poucos os estudos empíricos sobre o tema. O trabalho empírico me ncionado atrás de Celso Frederico (197 8) merece, no entanto, atenção.Através de observações regulares de 60 operários de uma fábrica mecânica durante um ano, assim como do levantamento da historia da vida de13 dele s, o autor constata que a consciência operária no Bras il, semestar ligada ao "status" de "falsidade total" própri a, por exemplo, docampesinato na visão original de Marx, também nao representa um estágio pré-revolucionario onde pelo menos uma minoria tem alcançado umacompreensão integral da sua realidade social. Nas palavras desse autor;"difunde-se na sociologia acadêmica a imagem do operário brasileiro como um 'caipira' recém-chegado ã cidade grande, e 'naturalmente' submisso ã dominação 'paternalista' do patronato e ao 'autoritarismo' daslideranças nacional-populistas e dos chefes militares. Em contraste, háa imagem do operário como um revolucionário nato que algumas analisespolíticas ingênuas nao se cansam — apesar de tudo -- em difundir. Entreambas, estende-se uma zona intermediária, complexa e decisiva, que urge conhecer" (Frederico 1 97 8; 1 35 ) .

Esta "zona intermediária" de consciência está caracterizada pela coexistência de noções teoricamente inconsistentes da realidade social:"... a consciência dos operários por nós entrevistados aparece cindida: nela coexistem, de um lado, a inquietação própria de uma situaçãode classe marcada pelas agruras de uma carência econômica constante quese expressa nas tensões vividas dentro da fábrica; e, de outro lado, ootimismo individualista e a esperança de dias melhores que caracterizam uma visão linear e progressiva da história. Esta cisão permite compreender a convivência do alheamento político com os intermitentes conflitos travados ãs cegas no interior da fábrica" (Frederico, 19 78 , 1 34 ) .

IV — Objetivos da Quantif icação da Consciência de Classe

Atinadas como sao, estas conclusões apenas situam de uma forma geral ofenômeno no Bras il. Nada sabemos, porem, fatualmente, sobre questõescomo: Que tao generalizados ou homogêneos sao os níveis de consciênciano Brasil? Como variam regional e socialmente? De que fatores dependem

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V - E lementos Metodo lóg icos da Mensuraçãoda Consciência de Classe

A - N a t u r ez a d o F e n ô m e n o

Dada s as espe cifi caçõ es teóricas do conceito "con sci ênci a de classe"

esboçad as acima e os objetivo s dest a "lin ha" de pe sq ui sa , abordamos

agora o prob lema de estabelece r uma med ida válida e confiável do fen ô

m e n o . Com este obj eti vo, salientam os tres das suas cara cterí stic as bá

s i c a s , as quais orienta m a seleção das técnicas adequadas â co nstruçã o

da med ida , a saber: a sua natur eza c ognitiva, a sua mul tidi mens iona li-

dade e a sua indeterrainaçao ps icol ógi ca (ou natu reza pura ment e s o c i a l ) .

A primeir a é salientada aqui para distinguir o fenômeno "inte lecti vo"

ou "cogni tivo" em ques tão, de outros de nature za afetiva ou emo cion al,

estudados pela psic olog ia e psicolo gia social , entre os quais sobres

saem prin cipa lmen te as "at itu des ". Esta s últimas envolvera uma predis

posição a ação num deter minad o sentido (a favor ou co ntr a, forte ou dé

b i l ) , ao pass o que as cogn içõe s ou inte nçõe s envo lve m a assimilação

mental de uma informaç ão por parte do indi vídu o, formando parte de sua

"estrutura cognitiva".

Enqu anto a segunda caract erís tic a, a multidiraensionalidade, é sali en

tada para distingui r a consc iência de classe de fenômen os u nid ime nsi o-

n a i s , isto é, fenômenos uni linearm ente distri buídos dentro de um "con-

tinuum" , onde cada indivíd uo ocupa teoricam ente uma únic a pos içã o. En

tão, as várias aprox imaçõ es empíric as a essa posi ção devem ter uma

consc iênci a interna raz oáv el, depe nden do do grau de prec isão que se

quiser alcanç ar. No longo pra zo, suposta uma orto gona lida de dos erros

de apro xim ação , o conjunto das várias aprox imações e mpíric as deve vir

tualmente coincidir com a posiç ão " r e a l " do indivíduo no "con tinu um".

essas varia ções? Pod e-s e identifi car ura padrã o (ou pad rõe s) da gêne se

da consciên cia de classe no Bras il? Quai s as tendências mais prová veis

da consciência para o futuro?

Estas são questões es pecí fica s, cujas respostas criam a neces sidad e de

abordar o prob lema de uma forma nova . Com este intu ito , enfoca mos aqui

também a mesraa temá tica de Fr ed er ic o, mas utiliza ndo nao ja o mét odo

de estudo de ca so , senão a en trev ista ã popul ação por amostra: ( S u r v e y ) ,

e a quantificaçã o do fenômeno através de um índic e. Est a meto dolo gia

permite:

a) testar a concl usão de Fred eric o sobre a cisão da cons ciên cia dos

trabal hadore s de man eir a que se obte nha um nível de gen era lid ade

mais amplo ;

b ) estabelecer umá mens uraç ão referencial para a formulação de tendências e para estudo s compa rativ os posterio res mais pr ec iso s;

c) explor ar e anali sar poss íveis fatores que influem ou condi ciona m a

gênese da consc iênci a, tais como escolarida de, origem soc ial , "sta

tus" ocupacional etc ;

d) identifica r padrõ es de formaç ão e dimensõ es ou "do mín ios " da c o n s

ciência.

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Pel o con tra rio , no caso da consc iênci a de cla sse , trata-s e de um fenô

men o mul tid ime nsi ona l, onde cada indivíduo pode ocupar posições dife

rentes nas suas vária s dime ns õe s, e onde so a conju gação das dif ere n

tes posições que ele ocup a nessas vária s dimensõ es pod erá ser consi der a d a , "a pos ter ior i" e para efeitos pr áti co s, como um "índice da c o n s

ciência de classe".

A titulo de ilustra ção, consideremos o fenômeno "preconce ito racial "

de um lad o, e o fenô meno "con heci ment os ge ra is " de out ro. O prime iro

envol ve uma atitud e com rela ção a um ou vário s grupo s étnico s e que

pre disp õe a ação num se ntido di scr imi nat óri o. Est a atitude p ode ser lo

cali zada num "conti nuum " linea r, onde os indivíd uos se dist ribu em h i e

rar qui cam ente e cujas posiç ões podem ser ident ifica das a través da con

fron taçã o dos indivíduos com situaçõ es hipo tét ica s ou reais as socia das

a valore s numér icos . Estas posições devem apresentar uma certa consi stência interna e uma médi a estatí stica global que virtualm ente coinci

de com o grau "real" de preconc eito racial do i ndi víd uo, num num ero su

ficiente de aproxi mações. Este fenômeno fica bem caracterizado como

"afe tivo- emoc iona l", não cogni tivo, e unidim ensi onal , medido no que po

demos chamar "escala de preconceito raci al".

Par ale lam ent e, o fenômeno "conhecimento s ger ais " envolve um conjunto

teoric amente ( e nao psicol ogica mente ) definido de áreas ou dimens ões do

saber , assimiladas menta lment e pelo indiví duo, e onde a sua posição p o

de var iar de área para área (ou dime nsão par a d i m e n s ã o ) . Por conseguin

te , nao se espera necess ariame nte uma consistên cia interna das p o s i

ções individuais nessas várias dime nsõe s. Outro ssim , destas várias po

sições em conj unto , pod ere mos , "a pos ter ior i", inferir um grau de co

nheci mento s gerais do indiv íduo, ao qual poderemos chamar índice. A s

sim, encontr amo-nos frente a um fenômeno cogni tivo, nao emoc iona l, e

mul tid ime nsi ona l, correspondente nessas características ã consciência

de classe.

A indetcrmi naçao psicoló gica deco rre, logic amen te, dos pontos acima

trat ados . Com ela , quer-se signif icar a inde pend ênci a da consc iênci a de

classe com relaç ão a traços psico lógic os espe cífic os (tais como tempe

r a m e n to s f l e u m á t i c o s , p e r s o n a l i d a de s p r i m á r i a s e t c ) . E s t e s t r a ço s p o

dem ajud ar aos indivíduo s a fazer a conexão lógica entre aspectos da

con sci ênc ia, junto com outros element os da psic olo gia ou consti tuição

ind ivi dua l, tais como a inte ligê ncia , inclin ações pess oais etc . No en

tanto o resu ltado final desse processo interno do indiví duo , em termos

de cons ciên cia de cla sse , envolv e so um conjunto logicame nte arti cula

do de idéias sobre a soc ied ade , isto é, uma "teo ria" sobre a rea lida de

social ( Lukãcs e Scha ff, 1 9 7 3, 9 ) , derivad a do seu me io e experiê ncia

social.

As tres caract eríst icas ou atributo s do fenôme no em quest ão que acaba

mos de esboçar nos permitem e stabe lecer a nat ure za da medid a que pro

cura mos. No enta nto , antes de passar a esse pon to, convém fazer me nçãode outra s elaboraçõ es conceitua is sobre a consci ência de classe e que

retom aremo s na últi ma seção deste trab alho , rela tiva i tentat iva de

cons truç ão de um índice de cons ciên cia.

Em prim eiro luga r, anotamos a "con sciê ncia p oss íve l" — refer ida acima —

e que, na conceituaç ao tradicional ( Lukãcs e Scha ff, 1 9 7 3: 1(')), d e s i g n a

o nív el de consc iênci a que os operári os teriam alc anç ado , se tivessem

tido condiçõ es de absorver e articu lar logicam ente a sua posiç ão e re

lações na estr utur a social total. Est e "nível ide al" da consciê ncia

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( p ossível ) contra sta, com maior ou menor inte nsid ade, com o" ní ve 1 r e a l "

da cons ciên cia imed iata dos operário s (G old man n, 1 9 7 6 ) , ao qual Lu kács

chamou "consciên cia psicoló g ica" ou falsa , e corresponde ã consciência

da "classe para si".

A nível de pesqu isa empíri ca, Goldmann ( 1 9 7 3, 1 0 5 ) anota que "o prin

cipal prob lema oper atóri o de qualque r estudo socioló gico dos fatos de

cons ciên cia é o das rel ações entre a cons ciên cia po ssív el e a cons ciên

cia real de um gru po" . Com relação a estes dois ní ve is , pode- se ent ão,

desenvolve r pesquisa quant itati va, comparando-os e estabele cendo assim

níveis de consciênci a para indivíduos e grup os. Estes níveis permit i

rão a anális e da dinâ mica do fen ôme no, resumr vel bas ica men te na tran

sição da "classe em si" para uma "classe para s i" . Des ta fo rma , o tra

bal ho enca minh a-se na dire ção dos objetivo s práti cos propo stos na in

t r o d u ç ã o .

Fin alme nte tomamos aqui uma divisão an alít ica di scut ida por Sc ha ff , en

quant o é per tine nte ã construção do índi ce. Tra ta- se de dis tin gui r, com

relaç ão ã cons ciên cia imediata dos ope rár ios , ou sej a, ou seu nível

real de con sci ênc ia, dois element os dif ere ntes : um, o elemen to est ri

tamente teoriao, compost o"... pelo somató rio dos conhecimentos acerca

da situaç ão dess a classe no quadro de uma estr utur a social defi nida "

(Lukács e Schaf f 1 9 7 3 : 9 ) . Note -se que o somató rio dos conhecimentos so

br e a soci edad e impli ca duas opera ções que lhe dao caráter teórico:

uma , a escolha dos element os que vao constituir o "obj eto de expl ica

ç ã o " , por exemp lo, a pobrez a, a honesti dade etc ; outra , as premissasexpli cativ as ou razoes aducidas em relaçã o ao objeto de explic açã o.

Em opos ição a este caráter ou elemen to teórico da cons ciênc ia imed ia

ta, Schaff indica o elemento ideológico. O autor refere-se aqui ão pç ão

que o indivíd uo pode fazer por uma ação social e pol ític a esp ecí fic a,

cons isten te com os seus posic iona mento s teór icos , "... composto pelo

somat ório das convic ções e capacidades humanas (no sentido de aptidão

para a a ç ã o ) " ( L u kã c s e S c h a f f , 1 9 7 3 : 9 ) .

Os dados disp onív eis sobre os operár ios meta lúrg icos deter mina ram que

o índice reportado neste trabalho se refe riss e, primo rdia lment e, ã p a r

te "teó rica" da consci ência imedia ta dos ope rár ios , e só tang enci al-ment e i parte "id eoló gica " no sentido de Sch aff .

B — N at u r e z a d a M e d i d a

Das tres caract erísti cas do fenômeno adotadas ante rior ment e (natu reza

cog nit iva , mult idim ensi onal idad e e indeterrainaçao psi coló gica ) inferi

mo s que um tipo de me di da ade qua da ã con sci ênc ia de clas se é o cham ado

"teste de desempen ho" CachieVemente test) usado tipic amente nas provas

de instr ução esco lar. Estes testes de desempe nho estão desenha dos para

avalia r o sucess o com que um agente (geralmente a escola ) consegue

transmi tir me nsa gen s ou desenvol ver habi lida des em grupos sociais dad os.

Este s objetiv os dos testes de desem penh o sao aplicáv eis ao fenômeno da

consc iênci a de cla sse , ã medi da que esta repre sent a uma teoria da so

cieda de composta de difere ntes aspec tos ou dim ens ões . Ass im, o conte x

to social do indivíduo eqüivale ao "age nte" ou "es col a", o q u a l , com

maior ou menor eficiênc ia, transmitirá a "mensagem conscie ntizado ra"

implícita em qualquer situação ou "pr axi s" social do indivíduo e do

grupo.

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De outro lado, as mensagens e habilidades relativas aos testes de desempenho usualmente incluem dimensões diferentes nao necessariamenteassociadas umas as outras. Ora, embora a transmissaoeassirailaçao des

sas mensagens e habilidades possa ser condicionada emocional e atitu-dinalmente, o seu conteúdo substantivo é cognitivo. Estesaspectos cognitivo e multidimensional dos testes de desempenho permitem também asua aplicação ao fenômeno da consciência de classe como pode-se inferir das discussões relativas issuas características.

Conclui-se, pois, que uma medida adequada da consciência de classe deve-se apoiar no instrumental de mensuração educacional e nao no psicológico ou psicossocial.

Por outro lado, a construção dos testes de desempenho está intimamenteligada a forma de estabelecer a sua validade. Em primeiro lugar, a for

ma "preditiva" de validação nao representa uma via adequada, pois a relação entre graus de consciência e ações sociais específicas "predecí-veis" nao e muito solida nem confiável a nível de formações sociais acurto prazo. Talvez futuramente se poderão estabelecer critérios "pre-ditivos" de avaliação, tais como participação em movimentos sociais. Dequalquer forma, o seguimento da amostra necessário para este tipo detrabalho está fora do escopo atual deste estudo.

Em segundo lugar, a validade por "constructo" requer um fenômeno uni

dimensional com um conjunto de "observáveis" internamente consistente.Este nao e, como ja se vi u, o caso da consciência de classe. A forma,

pois, que resta para dar uma idéia da validade da medida em questão éo sistema de "conteúdo", ou seja, apelando lógica e teoricamente ãabrangência completa dos aspectos da consciência por parte dos itensenvolvidos na medida. Isto e feito usualmente em termos do plano deconstrução dos itens segundo os aspectos teoricamente relevantes daquestão, e é feito assim mesmo aqui (Nunnally: 1967).

Finalmente, a literatura de mensuração em educação estabelece uma diferença entre as medidas relativas ã "norma da população" (norm refe-

venoed) e àquelas relativas a um "critério preestabelecido (oriterion

veferenced). As primeiras objetivam diferenciar a população em termosdo fenômeno de interesse; as segundas objetivam comparar a população

como grupo com um critério externo.

No caso da consciência de classe, as duas orientações apresentam interesse. Uma medida relativa i norma da população permite distinguir osgraus de consciência dos vários grupos e indivíduos (tipos de trabalhadores segundo níveis de escolaridade, de rendimentos e t c ) . Ora, umamedida relativa a um critério externo identifica o grau em que a população está perto ou distante de atingir o seu grau máximo de "consciência possível".

Apesar da impossibilidade de se construir um perfil definitivo da cons

ciência possível, um primeiro intento é feito aqui na base da suposição do que um operário deveria saber sobre a sua sociedade, se ele for"socialmente consciente", ou seja, caso se identif icassee interpretas-se corretamente a sua "situação de classe" segundo os postulados do ma -terialismo dialético, aplicados ã formação social concreta em que seencontra.

A medida da consciência resulta, pois, da soma dos es cores numéricos deuma bateria de itens organizada segundo o "plano" teórico elaborado.

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V I - índice E xplora tór io da Consciência de Classe

P a r a a elaboração do plano de abrangência teórica i necessário identi

ficar os aspectos diferentes a serem incluídos na medida. Como uma

exaustividade coinpleta nao e p o s s í v e l , com relação a cada aspecto uti

lizaram-se algumas questões que b "representam", isto é, cuja resposta

supostamente reflete o conhecimento que o indivíduo tem do aspecto teó

rico glo bal . Para, tanto, foi u t i l i z a d o um levantamento sobre operários

m e t a l ú r g i c o s de Port o A leg re (Vide Quadr o 1 ), do qual foram sele

cionados alguns itens, que foram posteriorm ente enquadrados dentro doseguinte plano de abrangência teórica:

A — A b r an gê n c i a T e ór i c a

Como já se indicou, a correspondência desse plano com o conteúdo subs

tantivo que se quer avaliar e a adequação da relação desse plano com os

itens do levantamento sao, neste caso, a fonte de apreciação da v a l i

dade da me did a. Futuras aplic ações del a formarã o base s para avaliar a

sua fidedignidade.

O conteúdo substantivo representado na m e d i d a e muito simples e geral

em atenção ao baixo nível de escolaridade dos o p e r á r i o s ( x = 3 . 6 a n o s ) ,

o qual nao oferec e base s intelec tuais suf icient emente amplas para for

mulações teóricas e políticas complexas.

Tres aspectos básicos sao apontados na literatura em r e l a ç ã o à e x i s t ê n

cia de uma consciência de classe (TOURAINE; 1 9 6 6 ) : o primeiro i a "iden

tificação de ciasse", segundo o qual o indivíduo de "classe explorada"

se julga ou nao como membro de tal classe (nao detentora de poder eco

n ô m i c o e político nem dos privilégios sociais observados em outros gru

p o s ) ; o segundo é a "oposição de classe", segundo o qual o indivíduo

p e r c e b e a incompatibilidade dos seus interesses e os do seu grupo com

relação aos da classe dominante; o terceiro é a "ação de classe"

("movimento social" ) segundo o qual o indivíduo percebe o tipo de ação

social requerida para alterar a estrutura de classe. O passo do p r i m e i

ro ao terceiro critério eqüivale ao passo da "classe em si" p a r a a

"classe para si". Com relação ao primeiro aspecto (iden tific ação ), dois

elem ento s-ch ave foram selecionad os como alvos da m e d i d a :

a) a noção da estratificaçao social, em termos dos critérios utiliza

dos pelo operário para subdividir a sociedade;

b) identificação do operário com a classe (grupo) a que pertence (ri-ca, m e d i a e t r a b a l h a d o r e s ) .

Com relação ao segundo aspecto ( o p o s i ç ã o ) , quatro elementos-chave fo-

ram sel eci ona dos como alvos da m e d i d a . O p r i m e i r o , a noção da n a t u r e z a

das relações de produção em que se encontra inserido o operário, sub

dividido em duas partes:

c) noção da classe dominante como prop riet ária dos meios de produção;

embora sem qualquer ponderação de tais itens por falta de bases teóri

cas ou conjunturais para esse efeito.

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tradi ções de classe em termos de iden tifi cação de um sist ema de

idéias e objet ivos sociais própr ios de classe o per ári a.

O terceiro aspec to geral do plano (ação) env olv eri a, em teoria, uma plu

ralidade de possibi lidades altamente complexa. Por ocasiã o deste le

vant amen to, havia m limitações que impediram uma abrang ência mais com

ple ta do fen ôme no. O escopo deste trabalho fica assim reduzi do neste

aspecto a dois elementos gerais apen as:

i) a noç ão da expre ssão po líti ca da ideologia de clas se;

j) a noçã o da import ância da soli dari edad e dos trabal hador es para a ação.

A partir da concl usão geral de Fre der ico sobre a "ci são " da consci ên

cia de classe dos traba lhado res, pode -se estabelece r uma expectativasobre os parâ metr os gerais do índice nos seguintes termo s:

a) a me di a geral da popu laçã o de operár ios met alú rgi cos de Port o A l e

gre deve ser cons ider avel ment e baix a em funçã o da exper iênci a ape

nas incipie nte de aber tura dem ocr áti ca dos operá rios e da sua ori

gem rural ou semi -rur al em muit os c asos . Est es dois fatores limitam

em alta medi da a socialização po lític a do opera riado ;

b) a cons istên cia interna geral dos itens deve ser mu ito pr ecá ria , de

vido i pró pr ia expect ativa de coeficientes baix os do índice mul ti-

dimen siona l. Este nível baixo de consciência est á, por hipó tese , as

sociad o com uma falta de cons istê ncia nas opiniões soc iais dos ope

r á r i o s , de sorte que cada indivíd uo per cebe um aspe cto diferen te d a

pro ble mát ica , sem liga-la com as outras e resu ltan do um conjun to

desart iculado de noções e opini ões. Pela naturez a do índic e, ã me

did a que os coeficientes se revela m mais alto s, mai s estreitas de

ve rão ser as ass oci açõ es entre os itens e ma io r dev era ser a sua

consistência interna. Isto refletiria uma articulação mais elabor a

d a , por parte dos entre vist ados , dos diferentes elementos da " t e o

ria socia l" ou "consciênc ia de classe" ;

por outro l ado, a partir do mod elo dinâ mico de To ur ai ne , é possí vel

hip ote tiz ar a formação da consciên cia segundo o seguint e padrão ge r a l : era pri mei ro luga r, os iten s de "ac ert o" mai s gene rali zado s (se

gundo a teoria) deverão ser os relati vos ã ident ifica ção de classe

e ã noçã o da estr atif icaç ao soci al. Em segundo lug ar, deverão apa

recer os itens relativo s ã opos içã o de classe e, em terceiro luga r,

deverã o aparecer os itens relativo s ã ação.

O Quadro 1 indica os itens selecion ados da entr evist a de opiniões para

formar o índi ce. Out ross im, como se tratava de pergu ntas abe rta s, cri

térios de codif icaç ão foram estabe leci dos como se indi ca no Qua dro 2.

c)

h

d) noç ão do oper aria do como classe subo rdin ada aquel a pro prie tári a dosmeios de produção.

O segund o element o refer e-se á noç ão de contra diçã o de classe e env olve duas partes também:

e) noçã o de expl oraçã o econôm ica entre as class es;

f) noçã o da contr adiçã o estrut ural (dial ética) entre as classes;

g) o terceiro elemento re fere -se ã noç ão da contradi ção entre o des en

vol vim ent o das forças produti vas e as relaç ões de prod ução impe ran-

tes;

h) o quart o elemen to envolv e a noç ão da expre ssão i deoló gica d

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Quadro 1

Itens s elec iona dos, utilizados na medida de "consci ência de classe"

1? - "Ima gine que alguém queira repartir os bras ilei ros em dois gru pos ;

há muit as maneiras de faze -lo, por exemplo: homens e mul her es,

gordo s e mag ros . Entr etan to há coisas mais impo rta ntes , eis

aqui um certo númer o de exe mplo s. Esc olh a (indi que) os tres mais

imp ort ant es, conforme a sua opi ni ão, da lista abaix o.

^ As pess oas das cidad es e as pes soa s do camp o.

- Os que trabalha m com as mão s e os que nao trabalham c o m a s m a o s .

- Ricos e pob res .

- Pessoas honestas e pessoas deson estas .

- Explo radas e explorado res.

- Aqu ele s que tem inst ruçã o, aqueles que nao tem ins truç ão.

- C apita listas e proletár ios.

2? - Ac ha que no Bra sil se pod eri a dizer que exis te a classe dos ri c o s , a classe méd ia (dos remediado s) e a classe dos trabalhadores?

A qual dest as classes voce acha que pert enc e?

3 9 - 0 que voce considera mais importante para definir um operário?

4 9 - 0 que se entende por um burguês?

39 -A lg un s dizem que os operá rios sao explor ados pelos pat rõe s. Dis

cord a disto? Con cor da com isto?

6 9 - Expl ica ção de ser ou nao explora dos pelo patrã o.

7 9 - 0 Bras il 5 um país com muita s terras; como se expli ca que hajamuitos pobres?

89 - Por que as pess oas tem esta ou aque la idéia pol ític a?

9 9 - 0 que acha mais importante numa eleição, o candidato ou o parti

d o ? C a n d i d a t o / P a r t i d o / A m b o s .

1 0 9 - Exp lic açã o da impor tância da sol idari edade entre os trabalha do

res .

O critér io que nor teo u a pond eraç ão das categoria s como revelad oras de

uma resposta "soci almente mais con sciente " e qu e, por tant o, somou pon

tos posi tivo s para o índ ice , foi o mais r estrito pos sív el. Isto e, se

conc edia um ponto no índice so aquelas respostas onde se iden tifi cavaclar amen te e sem ambi valên cia uma posi ção de acordo com a teoria Ma r

xist a. Um critér io mais tolerante teria perm itid o dist ribu içõe s mais

adequadas a análise multiva riada e, prin cipa lmen te, freqüências margi

nais mais aptas par a o esca logr ama. Po rem tal to lerânc ia seria alta men

te prejud icial para efeitos comparativos fut uro s, porquant o deixaria

uma mar ge m ampla de indefini ção teó rica para as codif icaçõ es f utur as.

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Quadro 2

C o di fi ca ça oe fr eq üê nc ia s dos itens do índice de "cons ciênc ia de classe"— o có digo " 1 " represe nta a resposta "socialmente mais cínsci ente"

ITEM DISC RIMINAÇÃO DA RESPOSTA VALORPERCEN-

T A G E M

- Di sc or da com este tipo de rel ação

6 9 Noção da contradição estrutural- dialetica en

tre classes:

- Identificaç ão da oposição estrutural ( dialé

tica) entr e as classes

- Identi fica ção da oposiç ão como "nao estru tu

r a l " ( de mer cad o, pers onal , ocasional )

7 2 , 5

2 7 , 5

74

26

1 9 Noção da estratif icaçao social:

- Visão socio grãf ica ou mo ral total ou parc ial

- Visão predomi nanteme nte conflitiva

2 9 Iden tifi caçã o do indivíd uo com a sua classe :

- Trabal had ore s, pobres e miserávei s

- C lasse média

39 Noç ão das relaç ões de prod ução e prop ried ade

dos mei os de produç ão segundo a man eir a de de

finir um operário:

- Em termos das relaç ões de produç ão e pro pri e

dade dos mei os de pro duçã o

- Em termos c ompor tamen tais , linguajar, modo de

vida etc.

4 9 Noçã o das relaç ões de prod ução e prop ried ade

dos mei os de produç ão segu ndo a man eir a de de

finir um burguês:

- Visão relat iva ãs rela ções de produ ção ou p r o

prieda de dos mei os de prod ução

- Visão relativa a háb ito s, privilégios soc i a i s , sor te, fortuna e características in

dividuais ( inteligência, egoísmo )

5 9 Noç ão da expl oraç ão entre clas ses:

- Con cord a com a relação de explora ção entre

patronos e operários

1 2 6

O 7 4

1 5 , 8

8 4 , 2

6 7 , 7

32,3

1 2 5 , 2

O 7 4,8

(continua)

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Codifificaçao e freqüê ncias dos itens do índice de "con sci ênc ia de classe— o código " 1 " reípresenta a res post a "soc ialm ente mais consci ente "

ITEM DISC RIMI NAÇÃ O DA RESPO STA VALORPEI^CEN-

TAGEM

79 Des env olvi men to das forças produ tivas (exp li

cação da relação recursos-pobreza):

- Expl icaç ão de ordem dial étic a 1 37,5

- Exp lic açã o de ordem nao dial étic a (admi nis

trativa, técnica, psicoló gica etc.) O 62,5

89 Noç ão da fonte das pref erên cias ideol ógica s:

- Exp res são da classe 1 12,7

- Expressã o de preferênc ias individuais, edu

cação , plura lismo etc. O 87,3

99 Noç ão da express ão polí tica da ideolo gia de

classe:

- Exp ress ão parti dária 1 21,6

- Exp res são individ ual O 78,4

109 Noç ão da importâ ncia da solid aried ade entre os

trabalhadore s para a ação soci al:

- Importâ ncia para transf ormaçõ es estrut urais 1 20,9

- Importâ ncia nao estru tural para a ajuda mú tua, assis tenci alism o etc. O 89,1

B -- Resultados

Em acor do com a hip óte se de uma mé di a geral do índice bai xa , o Qua dro ;

3 rev ela que est a foi de 3.29 ponto s sobre um total de 10 pos sív eis e

um des vio padrã o de 1.51.

Também de acord o com a expe ctat iva da pes quis a, a consis tênci a interna

dos itens revelou- se muito baixa (a de Kron bach = 0 , 4 2 1 ) , como se pode

apreciar no Quadro 4. Igua lmen te, a prol ifera ção de signos negat ivos étambém uma manifes taçã o da desarti cula ção das opin iões e noções do ope

rariad o com relação ã sua reali dade socia l. Deve -se notar por outro

lado, que duas var iáve is, c onside radas orig inalm ente como elementos di

ferent es da con sci ênc ia, a saber a noç ão da exp lor açã o de classe "per

se" e a contradição estrutural -dialétic a,revelara m-se altament e-corre

lacionadas (correl ação de Pear son de 0 , 8 7 ) . Ist o, no conteúd o geral de

correlações ba ix as, signi fica que essas variáv eis es tao mens uran do coi

sas mui to semel hante s e que , even tua lmen te, uma das duas poderá ser

eliminada do índice.

Quadro 2

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Quadro 3

Dist ribui ção e estat ística s gerais do índice de con sciênci a

C A T E G O R I A S F R E Q Ü Ê N C I A A B S O L U T A P E R C E N T A G E M

O

1

2

3

4

56

7

8

9

10

2

16

40

30

37

267

2

2

1

O

1,1

8,4

21,1

30,0

19,5

13,7

3,7

1,1

1,1

0,5

0,0

X = 3,29 ; (S = 1,51) 190 100,0

Q u a d r o 4

M a t r i z d e c o r r e l a ç ã o d o s i t e n s e d o í n d i c e g l o b a l d a c o n s c i ê n c i a d e c l a s s e

( H = 1 9 0 )

I d e n t i f i c a ç ã o

V i s ã o c o n f l i t i v a d a e s t r a t i f i c a ç a o 1 . 0

I d e n t i f i c a ç ã o c o m o d e c l a s s e o p e r á r i a . 2 9 1 . 0

O p o s i ç ã o

R e l . p r o d . : d e f i n i ç ã o d e o p e r á r i o . 0 7

R e l . p r o d . : d e f i n i ç ã o d e b u r g u ê s 2 0

E x p l o r a ç ã o d e c l a s s e . 0 8

C o n t r a d i ç ã o d e c l a s s e : d í a l é t i c a - e s t r u t u r a l . . . . - . 1 8

C o n t r a d i ç ã o e n t r e f . p r o d u t i v a s e r e i . d e p r o d . 3 7

F o n t e p r e f e r ê n c i a s i d e o l ó g i c a s 0 8

E x p r e s s ã o p o l í t i c a d e i d e o l o g i a . 4 0

A ç ã o

S o l i d a r i e d a d e d e c l a s s e - ~ . 0 8 •

í n d i c e d e C o n s c i ê n c i a d e c l a s s e 2 2 •

. 1 1 1 . 0

, 0 2 . 1 4 1 . 0

. 2 6 -

. 0 4

. 3 2 -

. 0 3

0 7 . 2 3 1 . 0

0 6 . 0 6 . 8 7 1 . 0

2 8 . 1 4 - . 0 2 - . 0 3 1 . 0

0 3 . 1 6 - . 0 1 - . 2 9 - . 2 3 1 . 0

0 5 . 2 6 - . 0 0 . 2 2 . 0 4 . 1 9 1 . 0

. 2 5 - . 0 5 . 2 2

. 0 8 . 0 6 . 2 1

. 4 0

. 2 0

. 2 1

. 1 0

. 1 2 - . 1 5 - . 3 4 1 . 0

. 1 3 - . 0 0 . 1 3 . 0 3 1 . 0

Qua nto ao padrão de gênese da consciência hipotet izad o por Tou rain e, a

evidê ncia produzida aqui não o confirma integ ralme nte, embora este ja

mo s aind a mui to longe de um teste def ini tiv o de tal mo de lo . Es ta ev i

denci a estã bas ead a no cálculo de um escalo grama . Esta técnica se ade-

qua mui to bem ao probl ema, porquant o deter mina a med ida em que os vá

rios elemento s do fenô meno anali sado são pré -re quis ito s uns dos outros

no seu desenvolv iment o. O problema do teste aqui elaborado, porem, es

tá nas var iaç ões de dif icu lda de int rín sec a dos iten s, as quais pode m

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Q u a d r o 5

E s c a l o g r a m a d o s i t e n s d o í n d i c e d e e o n s c i ê n c i a d e c l a s s e e s u a c o m p a r a ç ã o c o m o m o d e l o d e l o u r a i n e

( N - 1 9 0 )

1 ? E I A P A

M O D E M D E l O U R A I N E 3 ? E T A P A : I T E N S 1 0 , 9 2 ? E T A P A : I l E N S 8 , 7 , 6 , 5 , 1 , 3 I T E N S2 , 1

E s c a l o g r a m a 8 » 4 * 1 0 9 5 3 1 * 7 5 2

S o m a d o s r e s p o n d e n t e s q u e

p a s s a m / f a l h a m 1 6 5 / 2 5 1 6 0 / 3 0 1 5 2 / 3 8 1 4 9 / 4 1 1 4 3 / 4 7 1 4 2 / 4 8 1 3 5 / 5 5 1 1 9 / 7 1 6 0 / 1 3 0 4 9 / 1 4 1

P e r c e n t u a l 8 7 / 1 3 8 4 / 1 6 8 0 / 2 0 7 8 / 2 2 7 5 / 2 5 7 5 / 2 5 7 1 / 2 9 6 3 / 3 7 3 2 / 6 8 2 6 / 7 4

E r r o s d e p a s s a r / f a l h a r - . , 0 / 2 5 0 / 2 9 1 / 3 6 1 / 3 7 5 / 4 0 1 8 / 2 8 3 8 / 1 8 6 9 / 8 4 4 / 2 4 7 / 0

R e p r o d u t i b i l i d a d e = . 7 6 5 ; e s c a l a b í l i d a d e = . 0 3 .

<̂ I t e m d e s l o c a d o c o m r e l a ç ã o a o M o d e l o d e T o u r a i n e .

Ne ss e mesm o sent ido, observa-se que há dois elementos da oposição de

class e (itens A e 8 ) , que surg em depoi s de os operá rios terem já uma

noç ão bem prec isa do curso de ação a seguir, seg undo a teoria M ar xi st a,

o qual contradiz também o mode lo hipo tétic o.

Ê necess ário a dver tir, no entan to, qu e, embora o coeficiente de repro

dut ibi lid ade da esc ala ( 0,7 6 ) nao esteja mui to longe dos limites a c e i

tos cost ume ira ment e como gara ntia da exis tênc ia de um fenôme no escala r

( 0 , 9 0 ) , esta re produtib ilidade está virtualmen te determina da pelas dis- ;

tribuiçoes ma rgi nai s, dando um coeficiente de escala de 0 , 0 3. Por ém, em

favor da gênes e esca lar do fen ôme no, pode ser anotad o que a pr óp ri a'

distri buição marg inal é produto do desenv olvimen to do fenômeno e, por

tanto, revela também a sua pró pri a din âmica.

Cabe aind a uma ult ima obse rvaçã o quanto ao esc alo gra ma. Se tomarm os o

mod elo de Tour aine nao ja como hipó tese senão como critério de valid a

d e , pode- se conc luir , no míni mo , segundo a evid encia , que o índice ela

bor ado é ura pont o de part ida mui to solido para a const rução de um m -

" dice mai s definit ivo futu rame nte. Quan to aos fatores deter mina ntes ou

condicion antes da consci ência, algumas análises explorató ria s foram

feitas, segundo a disponi bilidad e de dad os, com os seguintes resul ta

dos apre sent ados no Quadr o 6.

alterar a sua ordem hipo tét ica : dita ordem pod erá a inda ser a ve rd ad ei

r a , desde que o gra u de difi culd ade dos itens for hom ogê neo . Dad as es

tas limi taç õe s, os resu ltad os do esca log rama pod em ser consi dera dos co

mo tendentes a conf irma r, a grosso mod o, a padr ão hipo téti co. Efet iva

me nt e, como se pod e observa r no Quad ro 5, só 3 dos 1 0 itens apare cem

desloca dos no escalo grama com relação a ordem hipoté tica . De acordo com

o cont eúdo dess es it en s, podem os afirm ar qu e, embo ra os oper ários se

identifique m com a classe oper ária antes de adotar qual quer posiçao so

cial dial éti co-m ate rial , ha , no entan to, elementos relativos ã "op osi

ção das cla sse s" que surgem antes do apar ecim ento de uma noçã o rea lme n

te dial éti ca da estr ati fica çao (item 1: classe dos prop rie tári os m é

dios de produçã o e classe dos p r o l e t á r i o s ) ; o que con trad iz o mod elo

h i p o t é t i c o .

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V A R I Á V E I S D E P E N D E N I E S

V A R I Á V E I S I N D E P E N D E N I E S I d a d e O r i g e m R u r a l R e n d a E s c o l a r i d a d e

I d e n c i f i c a ç a o

V i s ã o c o n f l i t i v a d a e s t r a t i . * " i c a ç ã o 1 3 . 1 4 . 1 7

I d e n t i f i c a ç ã o c o m o c l a s s e o p e r a r i a . 1 5 - . 2 2

O p o s i ç ã o

R e i . d e p r o d . : d e f i n i ç ã o d e o p e r á r i o . . . . . . . . . . .

R e i . d e p r o d . : d e f i n i ç ã o d e b u r g u ê s . 0 9 . 1 5 *C o n t r a d i ç ã o d e c l a s s e : n í v e l i n d i v i d u a l . . . . . . - . 2 4

C o n t r a d i ç ã o d e c l a s s e : n í v e l e s t r u t u r a l . . . . . . . . - . 1 1

C o n t r a d i ç ã o e n t r e f . p r o d u t i v a s e r e i . d e p r o d u ç ã o '''

F o n t e d a s p r e f e r ê n c i a s i d e o l ó g i c a s '''

A ç ã o

E x p r e s s ã o p o l í t i c a d a i d e o l o g i a ''•

S o l i d a i i c d a d e d c c l a s s e . 1 4

C o e f i c i e n t e d e c o r r e l a ç ã o m ú l t i p l a a o q u a d r a d o . , 1 0 . 0 3 . 0 7 . 0 9

A idade , a escol arida de e a renda , nes sa ordem , sao fatores associados

de uma form a déb il, embor a si gni fic ati va, com as var iaç ões de cons ciên

cia obser vado s através da amostra, com 10% , 9% e 7% da var ianc ia ex

plicada. A origem rural só se associa um em 3% com os itens do índice.

Quant o ã idade, é not óri o que a expl oraç ão de classe te nde a ser ide ntif ica da ma is pelo s joven s do que pelo s velho s (por razões de mul ti co-linea rida de, não apare ce coeficiente para o elemento e s t r u t u r a l ) . E s te aspe cto da con sci ênc ia é o mai s infl uenc iado pel a idade dos indi víd u o s , os outros quadr o itens associ ados sig nif ica tiv ame nte com a idadesurgem pr imor dial ment e entre a população mais idosa. Assim, poi s, embora na o em todos os as pe ct os , pode mos afir mar que a con sci ênc ia tende a

se afirmar com a idade, segundo a evidencia apre senta da.

Quanto ã esco lari dade , é notório .também o seu impacto negat ivo com re

lação i própri a iden tific ação com a classe operá ria. No enta nto, a v i

são.geral dialética da estratificaçao social está associada, positiva

m e n t e , com a es co la ri da de . .Todavia, como os outro s itens na o sao sig

nifi cati vame nte sensíveis â escola ridade, podemos apenas concluir que a

esco lariz açao prov avel ment e gera conflitos internos no operário pois ,

embora tenda a esclar ecer para ele a dial étic a soc ial , tende igualmen

te a afast ar-lh e pelo meno s sub jetivament e da sua class e.

Quan to ã renda , obs erv a-s e a sua relaç ão inversa com a noç ão -da contradição de classe (cabe aqui idêntica obser vação sobre a mul tic oli -nearidade dos indicadores, feita com relação ã i d a d e ) . No entanto, dado que os out ros dois iten s estão pos itiv ame nte assoc iad os com a renda, pode-se dizer, no mín imo , que, dentro da classe operá ria, nao háuma tendên cia a dimi nuir a consc iênci a de me di da que o nív el de rendasobre, e talvez ate o aumento.

Finalm ente, o bservam os que a origem rural dos operários está associ ada

com a sua visã o dialé tic a da soci edad e. Ma s, como a inte nsid ade (ajus-

Q u a d r o 6

C o e f i c i e n c e s p a d r o n i z a d o s d e r e g r e s s ã o e c o r r e l a ç ã o niGlcipla p a r a e q u a ç õ e s , r e l a c i o n a n d o o s i t e n s d c

í n d i c e d e c o n s c i ê n c i a d e c l a s s e c om a s p e c t o s i n d i v i d u a i s s e l e c i o n a d o s d o s o p e r á r i o s ( N = 1 9 0 )

p r o c e s s o d e s e l e ç ã o d e v a r i á v e i s i n d e p e n d e n t e s . , " r o r e w a r d " ; s i g n i f i c a n c i a d e i n c l u s ã o = 1%

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te) da associação é muito baixa, nao se pode dizer com rigor que a cons

ciência esteja, mesmo ligeiramente, associada com a origem rural. To

davia, é interessante ressaltar que embora não haja associação positi

v a , nao hã também associação negativa. Isto significa que a idéia generalizada, de que os trabalhadores de origem rural apresentam uma me

nor consciência de classe do que os de origem urbana, nao encontra r e s

paldo empírico no contexto da pesquisa realizada.