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Constl]ta Pro;.esso
PROCESSO
AUTOR
Consulta Realizada : 09 de Novembro de 2016 (18:21h)
Consulta Todas as Partes do Processo!
0003407-80.2013.4.03.6000
ESPOLIO DE AFRANIO PEREIRA MARTINS
REPTE DO ESPOLIO AFRANIO CELSO PEREIRA MARTINS
1 de 1
AUTOR
AUTOR
AUTOR
AUTOR
AUTOR
ADVOGADO P
ATIVO
ADVOGADO P
ATIVO
REU
REU
ADVOGADO P
PASSIVO
CIRENE RIBEIRO DA COSTA VANNI
AGROPECUARIA SER ROlE L TDA
AGROPECUARIA ARCO !RIS LTDA
LEDA CORREA FAGUNDES PALMERI
RICARDO AUGUSTD BACHA
MS002921 NEWLEY ALEXANDRE DA SILVA AMARILLA
MS007460 GUSTAVO ROMANOWSKI PEREIRA
FUNDACAO NACIONAL DO INDIO - FUNAI
ASSOCIACAO INDIGENA TERENA DA ALDEIA BURITI
MS999999 SEM ADVOGADO
http: //csp.jfsp.jus.br/csp/consulta/consinte-: __ tpr 1 · --- ne o e.c
09111!2016 18:20
Cons. .... u. '" .;,esso
PROCESSO
1 de 3
nrrp: II CSp.JISp.JUS.OrtCSpi CUflSUil(IJ CUIISllllt:lllt:LfJl U 1 U .O..: ;,;fl ! 111 VIII VV 1 . . .
Consulta da Movimentação Número : 16
0003407-80 .2013.4.03.6000
Autos com (Conclusão) ao Juiz em 25/04/2013 p/ Despacho/Decisão
*** Sentença/Despacho/Decisão/ Ato Ordinátorio
Trata-se de ação de interdito proibitório, com pedido de liminar,
proposta por Espólio de Afrânio Pereira Martins, e outros cinco autores,
contra a FUNAI e a Associação Indígena Terena da Aldeia Buriti, através
da qual busca-se provimento jurisdicional que preserve a posse dos
requerentes e impeça o grupo indígena requerido a levar a efeito
esbulho que se diz iminente . Para tanto, alegam os requerentes que,
após o resultado da ação declaratória no 0003866-05.2001.403.6000,
os índios Terena da Aldeia Buriti passaram a esbulhar e turbar a posse
de várias propriedades rurais na região de Sidrolând ia e Dois Irmãos do
Buriti, neste Estado, fato que lhes teria causado fundado receio de que,
se nada fizerem, também terão as posses dos seus imóveis rurais
turbadas/esbulhadas. Com a inicial vieram os documentos de fls.
21/101, complementados às fls. 104/142.Às fls . 143/144 foi
determinada a oitiva da FUNAI, da União e do Ministério Público
Federal, acerca do pedido liminar. Determinou-se, ainda, que os
requerentes promovessem a citação da União.A União manifestou-se
pelo indeferimento da medida liminar, destacando que não é parte
legítima para figurar no pólo passivo da presente ação (fls. 152/153) .A
FUNAI (Comunidade Indígena Terena da Terra Indígena Buriti),
também pugnou pelo indeferimento da medida liminar ou pela
designação de audiência de justificação, em respeito aos princípios do
contraditório e da ampla defesa, eis que não teria tido acesso aos autos
no prazo estabelecido para manifestação (fls. 154/176). Parecer do
Ministério Público Federal às fls. 207/216, no sentido de que não estão
presentes os requisitos necessários para a concessão da medida liminar
pleiteada .Às fls . 240/242, os requerentes reiteram o pedido de
proteção possessória.Relatei para o ato. Decido. Reg istro, de início, que
o fato de a FUNAI não ter acesso aos autos no prazo concedido para
manifestação acerca do pedido liminar, não implicou em violação aos
princípios do contraditório e da ampla defesa. Conforme se infere de
sua manifestação (fls. 154/176), foi possível apresentar a defesa de
seus interesses, cujos argumentos serão analisados e sopesados a
seguir, para formação do convencimento do Ju!zo acerca da concessão,
ou não, da medida liminar pleiteada .Adema is, haverá ainda citação dos
requeridos para apresentação de resposta. Não vislumbro, pois,
qualquer prejuízo ou desrespeito àqueles princípios
constitucionais.Passo, então, à análise do pedido lim inar. Antes, porém,
registro que, ao contrário do sustentado pela Un ião, ela é parte legítima
para figurar no pólo passivo da presente demanda , razão pela qual
mantenho a decisão de fls. 143/144.Nos termos do art. 932 do Código
de Processo Civil , o interdito proibitório é ação de natureza possessória
com a peculiar característica da possibilidade de imposição de preceito
cominatório ao transgressor do comando judicial, desde que
expressamente postulado pela parte possuidora, sob fundamento de
j usto receio de turbação ou esbulho iminentes. Com efeito, tal remédio
é utilizado para corrigir ações que ameacem a posse e, por isso, tem
caráter preventivo e pode ser utilizado quando houver, realmente, justo
receio de turbação ou esbulho.Deflui-se, portanto, da legislação de
regência, que os requisitos para a concessão de mandado proibitório
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são : a existência da posse direta ou indireta; e o justo receio de que tal
posse esteja na iminência de ser molestada .No caso, tenho que esses
requisitos estão suficientemente demonstrados. Os requerentes,
através das matrículas juntadas aos autos, comprovaram ser
possuidores dos imóveis rurais denominados Fazenda Santa Terezinha
(nome atual Fazenda Vassoura - matrícula 1509, fls. 28/29), Fazenda
Água Clara (nome atual Fazenda Cambará para as matrículas n° 5648,
3502 e 4367, permanecendo Fazenda Água Clara para a matrícula 4368
- fls. 31/35), Fazenda São José (antiga Fazenda São Luiz, matrículas n°
5176, 5177 e 6411 - fls. 36/41), Fazenda Buriti (matrícula 4482 - fl.
42) e Fazenda São Sebastião da Serra (matrícula 9380 - fls . 43/44 ),
todas registradas no Cartório de Registro de Imóveis da Comarca de
Sidrolândia-MS.E, embora a presente demanda tenha caráter
possessório, é importante frisar que os requerentes obtiveram êxito,
em primeira e segunda instância, na ação declaratória de domínio em
que buscam o reconhecimento de que suas propriedades não são terras
tradicionalmente ocupadas pelos índios (ação n°
0003866-05.2001.403.6000). É certo que, conforme ressaltado pela
FUNAI, ainda não houve trânsito em julgado do decisum proferido
naqueles autos, e, de fato, o entendimento do E. TRF da 3a Região é no
sentido de que é necessário aguardar a estabilização das decisões que
alterarão a atual situação fática; ou seja, tal entendimento diz respeito
aos casos em que a propriedade rural esteja ocupada pelos índios há
anos, mostrando-se prudente aguardar o desfecho das respectivas
ações declaratórias para se evitar conflitos desnecessários. No entanto,
no caso específico dos autos, em que a posse está sendo exercida pelos
ora requerentes, não há que se permitir, em razão da não estabilização
da questão dominial, que os índios invadam as propriedades rurais dos
requerentes. Deve-se manter o status quo, em consonância, inclusive,
com aquele entendimento de manutenção da posse em favor daqueles
que a venham exercendo há anos. A respeito :AGRAVO DE
INSTRUMENTO. AÇÃO POSSESSÓRIA. IMINÊNCIA DE INVASÃO POR
SILVÍCOLAS DE TERRAS QUE SE ENCONTRAM NA POSSE DE
PARTICULAR. AUSÊNCIA DE ESTUDOS E PROVIDÊNCIAS CONCRETAS
PARA CARACTERIZAR A ÁREA COMO "TERRA TRADICIONALMENTE
OCUPADA POR ÍNDIOS". 1. A concessão do mandado proibitório
previsto no art. 932 do CPC pressupõe a comprovação da posse direta
ou indireta do autor e o justo receio de violência iminente à sua posse.
Caso em que tais requisitos se acham demonstrados nos autos. 2.
Incensurável a decisão que defere liminar em ação de interdito
proibitório, resguardando o direito de quem exerce pacificamente a
posse e está na iminência de tê-la turbada ou esbulhada de um
momento para outro. Medida que se impõe, i,nclusive, para garantir a
continuidade das atividades de economia rural exercidas no imóvel,
mantendo-se, assim, o status quo, enqu-anto se define a real situação
jurídica das terras objeto do litígio . 3. Agravo de instrumento da UNIÃO
e FUNAI desprovidos" (TRF da 1a Região- AG 200201000387990 - Rei.
Des. Federal FAGUNDES DE DEUS - e-DJFl DE 11/04/2008).Da mesma
forma, entendo estar demonstrado o justo receio de que a posse dos
imóveis descrito nos autos, exercida pelos requerentes, venha a ser
molestada pelo grupo indígena requerido . É certo que o justo receio de
turbação ou esbulho não deve ser aferido segundo a apreciação
subjetiva da parte autora, mas com base em elementos de fato, aptos
a caracterizar ou não uma agressão iminente à sua posse,
ressaltando-se que estes elementos, para uma conclusão positiva,
devem possuir a concretude necessária à formação de um juízo, no
sentido de que o ato turbativo ou espoliante esteja na iminência de
ocorrer, mostrando-se imprescindível a intervenção judicial para fazer
cessar a ameaça de lesão a direito .Com efeito, no caso em apreço, os
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relatórios apresentados pela própria FUNAI (fls. 177 /200), corroboram
as alegações de que propriedades rurais da mesma região foram
retomadas, recentemente, por indígenas da Aldeia Buriti. No mesmo
sentido, as notícias extraídas da mídia eletrônica (fls.
105/113).Portanto, tenho que, de fato, os requerentes passaram a
experimentar sensação de insegurança, apta a sustentar o manejo
desta ação preventiva .Ante o exposto, defiro o pedido liminar para
determinar que a comunidade indígena requerida se abstenha de
praticar atos tendentes a turbar ou esbulhar a posse dos requerentes
sobre os imóveis rurais tratados nestes autos - Fazenda Santa
Terezinha (nome atual Fazenda Vassoura - matrícula 1509, fls. 28/29),
Fazenda Água Clara (nome atual Fazenda Cambará para as matrículas
n° 5648, 3502 e 4367, permanecendo Fazenda Água Clara para a
matrícula 4368 - fls. 31/35), Fazenda São José (antiga Fazenda São
Luiz, matrículas no 5176, 5177 e 6411 - fls. 36/41), Fazenda Buriti
(matrícula 4482 - fi. 42) e Fazenda São Sebastião da Serra (matrícula
9380 - fls. 43/44) - . Para a hipótese de descumprimento, fixo multa
diária no valor de R$ 500,00 (quinhentos reais) para a Comunidade
Indígena Terena da Aldeia Buriti, e, de R$ 1.000,00 (mil reais) por dia
de descumprimento para a FUNAI.Expeça-se o competente mandado
proibitório.Nos termos da decisão de fls. 143/144, promovam os
requerentes a citação da União.Citem-se. Intimem-se. Ciência ao MPF.
Ato Ordinatório (Registro Terminal) em : 15/05/2013
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Consl!lta Proçesso
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Consulta da Movimentação Número : 82
0003407-80.2013.4.03.6000
Autos com (Conclusão) ao Juiz em 03/06/2013 p/ Despacho/Decisão
*** Sentença/Despacho/Decisão/ Ato Ordinátorio
Processo apreciado no PLANTÃO :!) Fls . 448/450. Defiro a alteração do valor da causa para R$ 25.000.000,00 (vinte e cinco milhões de reais) .
2) Trata -se de Ação de Interdito Possessório, com pedido de liminar, ajuizada pelo Espólio de Afrânio Pereira Martins e outros cinco autores,
em desfavor da FUNAI e Associação Indígena Terena da Aldeia Buriti.Sustentam os Autores que são proprietários e legítimos
possuidores de diversos imóveis rurais de distintos tamanhos, todos
situados na região do Buriti, nos municípios de Sidrolândia e Dois
Irmãos do Buriti . Relatam que em 1999 a FUNAI editou uma Portaria
criando Grupo de Trabalho para reexaminar os limites da Terra indígena Terena, localizada às margens do Córrego Buriti, na região.Na ocasião,
os proprietários ingressaram na justiça, pleiteando que houvesse pronunciamento judicial sobre a questão. A demanda chegou ao
Tribunal Reg ional Federal da Terceira Região que julgou o caso, em Embargos Infringentes, confirmando o voto vencido favorável aos
Requerentes, com o seguinte teor: "no caso presente, a prova dos
autos revela que, em 5 de outubro de 1988, marco temporal a ser
considerado para o deslinde da causa, já não havia ocupação indígena e
a posse dos não-índios era exercida pacificamente.". Deste julgamento pende Recurso sem efeito suspensivo . Diante da ameaça de esbulho, os
Autores ingressaram com a presente demanda, com pedido limiar de
mandado proibitório para assegurar-lhes a preservação da posse.Após o cumprimento da intimação da FUNAI, da União e da Comunidade
Indígena, o juízo da Primeira Vara Federal da Subseção de Campo
Grande-MS deferiu, em 10 de ma io de 2013, a medida liminar
determinando que a Comunidade Indígena se abstivesse de atos
tendentes ao esbulho e turbação da posse dos Requerentes. Não
obstante, a decisão proferida às fls . 255/259, os Requeridos invadiram as propriedades, cuja posse já havia sido tutelada na presente
demanda.Em decisão proferida às fls.270/271, no dia 15 de maio de
2013, este juízo determinou a expedição e mandado de reintegração de posse e requis itou forças policiais para o cumprimento a ordem.Em 17
de maio de 2013, este juízo designou audiência de conciliação para do dia 29 de ma io de 2013, às 14:00 horas . Realizada a audiência, a
tentativa de conciliação restou infrutífera.Em seguida, foi determinado
o cumprimento do mandado de reintegração de posse da Fazenda Buriti, o que foi feito . Em 31 de maio de 2013, os Requerentes apresentaram petição, informando que os Indígenas haviam retornado
para Fazenda Buriti, descumprindo a ordem judicial de reintegração.A juíza de plantão, Dra. Monique Marchioli Leite, entendendo se tratar de
novo pedido de reintegração, determinou, nos termos do art. 63, da Lei n. 6.001/73 , a intimação da União, FUNAI e MPF, para se manifestarem em 36 horas.Em 02 de junho de 2013, o MPF apresentou petição
pleiteando ao juízo o deslocamento de fo rça policial para o local, a fim de resguardar a integridade dos Indígenas, proprietários e funcionários que estão no local do conflito.Em 01 de junho e 2013, os Requerentes
peticionaram requerendo que este juízo, com base no poder geral de cautela, adotasse as medidas necessárias para resguardar a integridade
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física dos índios e não índios no locai.É o relatório. D E C I D
O: Preliminarmente, cumpre observar que o retorno dos indígenas à Fazenda Buriti caracteriza mero descumprimento da decisão judicial de
reintegração já proferida nestes autos. Não se trata, portanto, de novo esbulho, que desafie nova ordem de reintegração. Conforme o relatado,
o caso demonstra-se gravíssimos, não só pela vida já perdida no loca l do conflito, mas também, pela aberta DECLARAÇÃO DE RUPTURA COM
ORDENAMENTO JURÍDICO por parte dos Requeridos . Vejamos:O
documento de fls. 412/413 que, consubstancia uma Cara endereçada ao Juiz, revela que os Requeridos resolveram autotutelar os seus
supostos direitos, efetivando, mediante violência, o que chamam de
"autodemarcação" .Alegam que, desde 1993, aguardam a demarcação
de suas terra e que devido ao fato de não ter tido êxito neste intento, resolveram fazer a "autodemarcação" . Ocorre que a demarcação não foi
concluída porque o Poder Judiciário entendeu que as terras em conflito
não eram ocupadas tradicionalmente na data de promulgação da Constituição da República, tendo sido proferida decisão nesse sentido
pelo egrégio Tribunal Regional Federal da 3a. Região, da qual pende recurso recebido apenas no efeito devolutivo. Em que pese o Poder
Judiciário ter proferido decisão sobre o caso, observando todos as regras processuais vigentes no Estado Democrático de Direito, os
Requeridos entenderam por bem romper com a inteireza do ordenamento, para fazer valer o que acreditam ser o justo, segundo
sua ótica .A verdade é que os fatos noticiados nos autos pelos próprios
Requeridos, pelos Requerentes, pelas Autoridades policiais e também
pela imprensa local, demonstram que os Requeridos se insurgiram não só contra o Poder Judiciário, mas também contra o Poder Executivo,
mais precisamente contra o Ministério da Justiça, uma vez que, durante as medidas de reintegração de posse enfrentaram os Agentes da Polícia
Federal, em campo aberto, usando armamento letal, tanto que se tem notícia, na mídia local, de que um policial foi atingido no tórax, tendo
sido salvo pelo colete que usava. Qualquer insurgência ao Estado
Democrático de Direito que não esteja amparada pelo direito de resistência, configura atentado à inteireza do Ordenamento e merece
ser rechaçada com vigor pelo Poder Constituído, sob pena de se
esgarçar o ordenamento jurídico, o que gera o risco de instabilidade
jurídica e caos social. O Direito das Gentes reconhece a legitimidade da
Desobediência Civil em casos excepcionais. Todavia, é característica da
Desobediência Civil a insurgência de um grupo de pessoas frente a uma
lei injusta, ilegítima ou inválida, sendo que essa resistência deve ser NÃO VIOLENTA, sob pena de descaracterizar o conceito de direito de
resistência.Norberto Bobbio em seu clássico Dicionário de Política preleciona sobre a desobediência civil nos seguintes termos: "Para
compreender o que se entende por "Desobediência Civil" é necessário partir da consideração de que o dever fundamental de cada pessoa
obrigada a um ordenamento jurídico é dever de obedecer as leis. Esse
dever é chamado de obrigação política. A observância da obrigação política por parte da grande maioria dos indivíduos, ou seja a
obediência geral e constantes às leis é, ao mesmo tempo, a condição e a prova da legitimidade do ordenamento, se weberianamente
entendermos por "poder legítimo" aquele poder cujas ordens são obedecidas enquanto tais, independentemente de seu conteúdo. Pela
mesma razão que um poder que pretende ser legítimo encoraja a obediência e desencoraja a desobediência, enquanto que a obediência às leis é uma obrigação e a desobediência um coisa ilícita, punida de
várias maneiras, como tal. A desobediência civil é uma forma particular de desobediência, na medida em que é executada com o fim imediato de mostrar publicamente a injustiça da lei e com o fim mediato de induzir o legislador a mudá-la . ( .. . ) Enquanto a desobediência comum é
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um ato que desintegra o ordenamento e deve ser impedida ou
eliminada a fim de que o ordenamento seja reintegrado em estado origina l, a Desobediência Civil é um ato que tem em mira, em última
instância, mudar o ordenamento, sendo, no final das contas, mais um
ato inovador que destruidor. ( ... )As circunstâncias defendidas pelos
fautores da Desobediência Civil e que favorecem mais a obrigação da desobediência do que a obediência são substancialmente três: o caso
da lei injusta, o caso da lei ilegítima (isto é, emanada de quem não tem o direito de legislar), o caso da lei inválida (ou inconstitucional).
( ... )Com a finalidade de distinguir a Desobediência Civil de todas as outras situações que entram historicamente na vasta categoria do
direito a resistência, as duas características mais relevantes entre as
que acima foram citadas são ação de grupo e não violência. ( .. . )A não
violência serve para distinguir a Desobediência Civil da maior parte das formas de resistência de grupo, que diferentemente das individuais
(geralmente não violentas) deram lugar a manifestações de violência
onde quer que foram realizadas (desde o motim à rebelião, e desde a
evolução à guerrilha)." (grifas nossos) No caso dos autos, verifica-se que os Requeridos não estão acobertados pelo conceito de
Desobediência Civil: em primeiro lugar, porque não se insurgem contra
uma lei injusta, ilegítima ou inválida. Ao revés, a norma concreta e individual que disciplinou a legitimidade e legalidade da propriedade e
posse dos Requerentes, veiculada na decisão proferida pelo Tribunal Regional Federal da 3a Região, tem seus fundamentos de validade
formal e material na Constituição da República .Por outro lado, como
assevera Norberto Bobbio, a "Desobediência Civil", para caracterizar-se
como tal, deve ocorrer de forma não violenta. No caso dos autos resta
público e notório que a ação praticada pelos Requeridos é eivada de forte violência contra pessoas e contra o patrimônio dos Requerentes,
na medida em que incendiaram benfeitorias .Nessa esteira, os atos
violentos de resistência dos Requeridos ao cumprimento das normas individuais e concretas, veiculadas na decisão proferida no processo n.
2001.60 .003866-3MS (fl.48) pelo TRF3 e também nas decisões
prolatadas pelo Poder Judiciário Federal de Primeira Instância nesta demanda, não encontram amparo no conceito de Desobediência Civil.
Em verdade, trata-se de desobediência comum, de mera ruptura com o
ordenamento Jurídico e, de conseguinte, deve ser desencorajada pelo
Estado Democrático de Direito, sob pena de se comprometer a inteireza
do ordenamento.Não se pode olvidar que o endosso pelo Estado de atitudes desse jaez estará incentivando outros setores da sociedade
civil - até mesmo os proprietários das terras esbulhadas - a
empreender a autotutela de seus supostos direitos, diante da insatisfação com a tutela jurisdicional. Num cenário tal, o conceito de
jurisdição caminhará para a falência, instalando-se a guerra privada de todos contra todos. A interpretação sistemática da Constituição da
República demonstra a relevância que o Estado Brasileiro confere ao
cumprimento das normas emanadas do Poder Judiciário, quando autoriza no art. 34, inciso VI, a intervenção da União nos estados
membros para garantir o cumprimento de ordem e decisão judiciai.Ora, essa regra diz muito e pede reflexão! Se o pacto federativo é
relatividazado pela regra do art. 34, inciso VI, da CR88, a fim de
assegurar o cumprimento das decisões judiciais pelos entes federados, isso deixa evidente a importância que o Poder Constituinte Originário
deu ao cumprimento das normas emanadas do Poder Judiciário, opção esta que é um mero corolário do art. 2o, da Carta Magna, ou seja, da tripartição dos poderes.Indica também a mencionada regra
constitucional que o Poder Constituinte Originário optou por tratar com rigor os atos de desobediência e ruptura com o ordena menta jurídico, mesmo quando eventualmente praticados por pessoas jurídicas de
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direito publico interno. Nessa ordem de ideias, a República Federativa do Brasil reconhece a força vinculativa das normas jurídicas emanadas do Poder Judiciário, inclusive, sem fazer distinção, se trata de decisão
de primeira instância, segunda instância ou de tribunal superior. Com
efeito, a regra do art. 34, VI, da CR88 fala em ordem e decisão judicial, sem fazer qualquer distinção. Nessa ótica, considerando os reiterados
descumprimentos da decisão proferida neste processo às fls.255/259,
por intermédio de resistência violenta aos agentes policiais, conforme relatórios de fls. 397/400, e notícias veiculadas nas mídias locais, a
conduta dos Requeridos afronta a integridade do ordenamento jurídico,
e, assim, não encontra legitimidade perante o direito das gentes e,
tampouco, respaldo jurídico na Constituição da República de 1988. No que concerne ao aventado risco para integridade dos índios e
não-índios levantado pelo Ministério Público Federal, por óbvio, o risco
existe, e os Requeridos tem culpa concorrente na sua criação. O cidadão - seja índio ou não-índio - não pode ser eximido da
responsabilidade pelo risco que consciente e livremente cria . Considerando todas as notícias veiculadas sobre o confronto entre os
Requeridos e as forças policiais no cumprimento do mandado de
reintegração de posse, resultando na morte de um indígena e no
alvejamento de um policial, considero que o deslocamento de força
policial para a fazenda invadida, resultará em prejuízo ainda maior. Pois bem. Vejamos: Como noticiado na imprensa e nos autos, durante o
cumprimento do mandado houve enfrentamento por parte dos índios aos policiais. Ao que parece os índios estão portando armas letais. Além
disso, o enfrentamento já resultou na morte de um indígena, cuja causa ainda está em apuração. Tal incidente criou, à evidencia, mais
animosidade entre os envolvidos, sendo que depois disso os índios tem incendiado benfeitorias, de modo a expor toda região a perigo. Após a
aparente reintegração, tão logo a polícia deixou o local, os índios retornaram, fato que demonstra a ineficácia concreta da utilização da
força policiai.Por outro lado, considerando a grande quantidade de
índios na região e que as regras de segurança pública para contenção
de distúrbio civil recomenda superioridade numérica de policias, e que a
Polícia Federal no Mato Grosso do Sul não dispõe de efetivo suficiente,
seria demasiadamente arriscado enviar policiais para o local neste momento. Seguramente, a presença de forças policias na região neste
momento de grave tensão ensejará a perda de mais vidas! Há que se
considerar, ainda, que, além da superioridade numérica dos indígenas, estes conhecem muito bem o terreno e se escondem em capões de
mato, o que expõe os policiais a grave risco de morte, até porque os policiais entrarão na fazenda portando armamento não letal, o que os
coloca também em desvantagem.Nesse contexto, tendo em vista que
nos termos do art. 231, caput, da Constituição, incumbe à União a proteção dos interesses dos indígenas, norma regulamentada pelo
Estatuto do Índio e pela Lei n. 5.371/67, entendo que á União, por
intermédio da FUNAI, incumbe a retirada pacífica dos índios da área
invadida, valendo-se do diálogo franco, responsável com o devido esclarecimento dos aspectos jurídicos do caso, mormente sobre o dever de cumprir as leis pelo cidadão, seja índio ou não índio.O modus
operandi de concretização dessa medida deve ser empreendido pela União e FUNAI utilizando-se de seus recursos humanos, pela via do
diálogo, de modo a conscientizar os índios sobre a grave ilicitude de sua atual conduta, e do dever de respeitar o ordenamento jurídico,
principalmente a norma concreta e individual produzida pelo Poder Judiciário no âmbito do julgamento da demarcação pelo egrégio
TRF3.Para a garantia do cumprimento da medida, entendo razoável a fixação de multa coercitiva com base nas seguintes balizas: i) compatível com a gravidade da situação, que transcende o direito de
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propriedade e posse dos envolvidos, de modo a caracterizar flagrante atentado à inteireza do ordenamento jurídico brasileiro, haja vista a
resistência dos Requeridos em cumprir ordem judicial; ii) levando em
conta ainda o valor do conteúdo econõmico da demanda, avaliado em
R$ 25.000.000,00 (vinte e cinco milhões); iii) a preservação do caráter coercitivo da multa em face da capacidade econômica da pessoa jurídica obrigada ao cumprimento da medida . Nessa linha, tendo em
vista, a gravidade da situação, a afronta à integridade do ordenamento jurídico, o risco à integridade física dos índios e não índios, determino à União e a FUNAI que no prazo de 48 (quarenta e oito) horas promovam
a retirada pacífica dos índios da propriedade denominada Fazenda
Buriti, para assegurar o cumprimento da medida, fixo com base no art .
461, 4o e So, do CPC, multa diária no valor de R$ 1.000.000,00 (um milhão de reais) por dia de descumprimento, a ser suportada pela
União.Sem prejuízo, fixo a multa prevista no art. 14, parágrafo único
do CPC, no patamar de 1% (um por cento) sobre o valor da causa a ser suportada pelo patrimônio pessoal das autoridades e pessoas
responsáveis pelo cumprimento desta decisão, isto é, líder da
Comunidade Indígena Terena da Terra indígena Buriti e o Coordenador
Local da FUNAI.Na hipótese de incidência da multa a ser suportada pela União, desde já, determino seja oficiado ao Tribunal de Contas da
União, dando ciência do prejuízo causado ao erário. Intimem-se, com URGÊNCIA, para cumprimento em 48 horas . Esteja ciente o senhor
Oficial de Justiça que as intimações deverão ser ultimadas hoje,
02/06/2013, e que a intimação da Comunidade indígena deve ser feita
na pessoa do Procurador Federal que a representa. P. R.ICampo Grande-MS, 02 de junho e 2013.Raquel Domingues do AmaraiJuíza
Federal Substituta- EM PLANTÃO
Disponibilização D.Eietrônico de despacho em 05/06/2013 ,pag
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