Construcionismo Social

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ISSN 1413-389XTemas em Psicologia da SBP4, Vol. 12, no 1, 67 81Construcionismo social: uma crtica epistemolgicaGustavo Arja CastaonUniversidade Estcio de SResumoInvestigou-se a influncia do Ps-modernismo no desenvolvimento da Psicologia Social contemporneaatravs da anlise de sua abordagem na Psicologia, o Construcionismo Social. Os pressupostos ontolgicose epistemolgicos do Construcionismo Social tm sua validade lgica e filosfica questionada, uma vez quedefendem as seguintes posies (1) construtivismo social; (2) anti-realismo ontolgico; (3) pessimismo e-pistemolgico; (4) anti-fundacionismo; (5) anti-representacionismo; (6) irregularidade do objeto; (7) frag-mentao terica; (8) no-neutralidade do conhecimento cientfico; (9) retroalimentao terica; (10) prag-matismo epistemolgico, e (11) anti-metodologismo. Este conjunto de pressupostos incompatvel com aatividade cientfica, sendo essa concluso uma derivao necessria de uma escolha anterior de que nopodemos renunciar ao sentido moderno do termo cincia, e de que isto tambm vale para a Psicologia. Re-jeita-se a possibilidade de constituio de uma Psicologia ps-moderna como uma contradio em termos, eaponta-se para a necessidade de uma clara distino entre Psicologia cientfica e teoria psicolgica ps-moderna.Palavras chave: ps-modernismo, construcionismo social, epistemologia, psicologia social, cincia moderna.Social construccionism: An epistemological criticAbstractThe influence of Postmodernism, on the development of contemporary Social Psychology was investigatedthrough the analysis of a post-modern approach to Psychology, the Social Construccionism. The logical andphilosophical validityof the following ontological and epistemological supposition of SocialConstruccionismwere questioned: (1) social constructivism; (2) ontological anti-realism; (3)epistemological pessimism; (4) anti-fundacionism; (5) anti-representacionism; (6) object irregularity; (7)theoretical fragmentation; (8) partialityof scientific knowledge; (9) theoretical feedback; (10)epistemological pragmatism, and (11) anti-metodologism. It was concluded that this group ofpresuppositions is incompatible with the scientific activity. Such conclusion is a necessary derivation of aprevious assumption: That we cannot give up the modern sense of the term science, a supposition that alsoapplies for Psychology. The possibility of constitution of a postmodern Psychology is rejected as acontradiction of terms, and the need for a clear distinction between scientific Psychology and postmodernpsychological theory is pointed out.Key words: postmodernism, social construccionism, epistemology, social psychology, modern science._________________________________________________________________________________Artigo baseado na dissertao Ps-modernidade e Psicologia Social: Uma Crtica Epistemolgica da Universidadedo Estado do Rio de Janeiro, UERJ e apresentado em Sesso de comunicao coordenada Ps-modernidade e Psicolo-gia Social: Implicaes Epistemolgicas e Sociais na XXXII Reunio Anual da Sociedade Brasileira de Psicologia,Florianpolis, SC, outubro de 2002.Pesquisa financiada pelo CNPQ.Endereo para correspondncia: R. Oito de Dezembro, 264 - 606 Rio de Janeiro, RJ - CEP: 20550-200 E-mail:[email protected].

A Psicologia Social como a conhece-mos, que Kenneth Gergen (1992) apelida deStandard Social Psychology, estuda condutashumanas influenciadas pela presena atual ouimplicada de outras pessoas. Na PsicologiaSocial, o objeto de estudo somos ns mesmoscomo participantes de interaes sociais. classificada e desenvolvida metodologicamenteem termos de uma cincia emprica, assentan-do-se sobre o estudo dos processos cognitivos,afetivos e comportamentais de indivduos emprocessos de interao social, e no de grupos,que seriam propriamente o objeto da socio-logia. Como aponta Krger (1984), nesta abor-dagem da Psicologia Social, a abordagem indi-vidualista, h a suposio de uma certa estabili-dade em nossas condutas, de relaes entrefatores ou variveis, o que a insere no projetoda cincia moderna. Esta ltima, a cincia mo-derna, tem entre seus pressupostos bsicos: (1)a crena de que o objeto existe independente-mente da mente do observador, o RealismoOntolgico; (2) a crena na estabilidade, pelomenos em alguns de seus aspectos, do objetoque se estuda, o princpio da Regularidade doObjeto; (3) a crena de que atravs do mtodoadequado, podemos vir a conhecer algo sobre oobjeto, o Otimismo Epistemolgico; e, por lti-mo e no menos importante, (4) a crena deque podemos representar adequada e estavel-mente o mundo atravs da linguagem, o Repre-sentacionismo.A segunda tendncia geral em que sedivide a Psicologia Social contempornea, aabordagem sociolgica, acredita que o objetode estudo da disciplina deva ser as representa-es sociais, e no individuais. Ou seja, a Psi-cologia Social de carter sociolgico rejeita apsique individual como objeto de estudo daPsicologia, e tenta estabelecer como objeto dadisciplina temas de estudo da Sociologia. Estasurge como uma reao de psiclogos sociaiseuropeus hegemonia da Psicologia Socialamericana (Farr, 1998), de carter individualis-ta. Para a corrente sociolgica, o objeto da Psi-cologia Social deve ser os fenmenos mentaiscoletivos, como linguagem, religio, costu-mes, mito, etc. Esses fenmenos so para essaabordagem manifestaes externas da mente,no sendo passveis de serem estudados atravsda introspeco. Sendo coletivos, eles emergi-riam de interaes sociais entre indivduos.Psicologia social contempornea e ps-modernismoCollier, Minton e Reynolds (1996) con-sideram que todo o conjunto da abordagemsociolgica em Psicologia Social foi influenci-ado teoricamente pelo paradigma ps-modernode pensamento. Embora seja possvel concor-dar com essa observao, necessrio enfatizarque, embora influenciadas, nem todas as abor-dagens tericas sociologistas podem ser classi-ficadas como ps-modernas.Admitindo, pela necessidade de brevida-de exigida neste artigo, a sntese de Rouanet(1993) para a definio do Ps-modernismo,este caracterizado em seus aspectos mais ge-rais basicamente por seu anti-racionalismo,anti-individualismo e anti-universalismo, ouseja, pela sua rejeio global ao projeto da mo-dernidade iluminista. Em epistemologia, essarejeio se estende com a virtual inverso detodas as crenas que fundamentam a atividadecientfica h mais de 300 anos. Na unio dasteses epistemolgicas relativistas e pessimistasde Thomas Kuhn e Paul Feyerabend, s peculi-ares postulaes anti-realistas ontolgicas deJacques Derrida e s postulaes anti-representacionistas de Richard Rorty e LudwigWittgenstein acerca da natureza essencialmentelingstica da realidade, temos o caldeiro inte-lectual do qual emerge o pensamento ps-moderno. Este ltimo consiste em seus funda-mentos epistemolgicos basicamente nas se-guintes crenas: (1) Anti-realismo: no h rea-lidade fora da linguagem; (2) Irregularidadedo objeto: no existem aspectos na realidadeque fujam do condicionamento scio-histrico,portanto, no existe regularidade nem aspectosuniversais a serem estudados; (3) Pessimismoepistemolgico: mesmo que a realidade existapara alm da linguagem, ela impermevel aela, portanto, no se pode conhec-la nem ime-diata nemmediatamente; (4) Anti-representacionismo: se existe tal coisa como omundo, a linguagem no capaz de represen-t-lo adequada e estavelmente.Mesmo uma superficial anlise das trsprincipais perspectivas tericas da abordagemsociolgica da Psicologia Social, o Sociocultu-ralismo, as Representaes Sociais e o Cons-trucionismo Social; indica esta ltima como a68G. A. Castaon

autntica representante do ps-modernismonessa disciplina, apartada, portanto, do projetoda Cincia Moderna.Esta afirmao se sustenta no fato de ateoria das Representaes Sociais forma so-ciolgica de Psicologia Social mais caracters-tica ser na verdade a verso de Moscovici dosenso comum, ou seja, as formas socialmenteelaboradas, difundidas e aceitas de interpreta-o da realidade. Essas representaes existem,no entanto, como cognies, ao nvel do indiv-duo. Elas esto compostas por imagens e con-ceitos. As imagens refletem os objetos concre-tos do mundo exterior, enquanto os conceitosse baseiam no pensamento e no raciocnio abs-trato. Essa caracterstica das representaessociais rendeu crticas entre psiclogos sociaisps-modernos como Parker (1989), que acu-sam a teoria de individualista por localizar asrepresentaes dentro da cabea dos indiv-duos e no no intercmbio entre pessoas. Por-tanto, ontologicamente a teoria das representa-es sociais no difere muito da abordagemcognitiva. Ela adota o realismo ontolgico,assim como o otimismo epistemolgico, aoconsiderar que as representaes so passveisde serem estudadas e conhecidas em alguns deseus aspectos. Assim, a teoria das representa-es sociais no tem identidade com a aborda-gem ps-moderna. Quando esta teoria partepara o estudo de um de seus principais temas,como as representaes sociais da cincia, oobjetivo de sua investigao emprica so asconcepes leigas de cincia, e no a cinciaem si mesma. Como afirma Farr (1998), Mos-covici no est indo alm da modernidade paraa ps-modernidade, pois so as concepesleigas de cincia que so fragmentadas, no asconcepes de mundo do cientista. Os ps-modernistas defendem que a ltima afirmao a verdadeira.A segunda das abordagens citadas, aabordagem Socioculturalista da Psicologia So-cial contempornea, desenvolvida seguindo ainfluncia das idias do eminente psiclogorusso Lev Vygotsky, e tem em comum com opensamento ps-moderno a convico de que oconhecimento uma construo social. No en-tanto, apesar de suas imprecises ontolgicas,no se pode dizer que essa abordagem no ado-te o realismo ontolgico e crenas relativas regularidade de alguns aspectos do psiquismohumano. Na verdade, o materialismo das a-bordagens socioculturalistas francamenteempirista, que constitui (em oposio ao ra-cionalismo moderno) uma das duas tendnciasbsicas da modernidade. Portanto, o Sociocul-turalismo otimista epistemologicamente,adotando metodologias experimentais quepretendem ser capazes de estabelecer um co-nhecimento que, apesar de construdo social-mente, se refere a realidades que tm existn-cia objetiva. Assim, podemos afirmar contraPrawat (1996), que o Socioculturalismo nopode ser caracterizado como uma teoria ps-moderna.Construcionismo social: breve histrico e concei-tos bsicosConstrucionismo Social o nome quepassou a designar o movimento de crtica Psicologia Social modernista que tem suaprincipal referncia terica em Kenneth Ger-gen. Em dois artigos hoje clebres, SocialPsychology as History de 1973, e The Soci-al Constructionist Movement in Modern Psy-chology, de 1985, Gergen traou os funda-mentos crticos e o panorama dessa aborda-gem da Psicologia Social. Embora exera in-fluncia sobre disciplinas como terapia defamlia e psicanlise, o Construcionismo Soci-al essencialmente uma abordagem terica daPsicologia Social. Nos prximos pargrafosme dedicarei a descrever sucintamente o sur-gimento deste movimento e suas principaiscaractersticas. Para uma descrio mais mi-nuciosa, sugiro aos interessados a consulta aocaptulo quatro da dissertao Ps-modernidade e Psicologia Social (Castaon,2001), no qual est baseado este artigo.O movimento que desembocou no esta-belecimento do Construcionismo Social teveseu incio no ambiente acadmiconorte-americano da dcada de setenta, quando oBehaviorismo e seus pressupostos ontolgicose metodolgicos se viam questionados portodos os lados. Um desses questionamentosfoi a crtica historicista de Gergen (1973) Psicologia Social, formulada em seu artigoSocial Psychology as History, considerado(Stroebe e Kruglanski, 1989) o marco inicialdo Construcionismo Social. A linha bsica deargumentao deste artigo que apesar de os69Construcionismo social: crtica epistemolgica

mtodos de pesquisa em Psicologia Social se-rem de carter cientfico, as teorias sobre ocomportamento social so primariamente refle-xes sobre a histria contempornea. Ele argu-menta que a disseminao das teorias sobrepsicologia modifica os padres de comporta-mento sobre os quais as teorias foram constru-das, por motivos os mais diversos. Um delesseria o fato de que como os cientistas e a cin-cia gozam em nossa sociedade de elevada cre-dibilidade, as pessoas poderiam orientar suaconduta de acordo com as teorias psicolgicasdas quais tomassem conhecimento. No sentidooposto, tambm poderia acontecer que algumaspessoas por motivos de crenas e valores pes-soais exercessem a vontade de afirmar os valo-res humanos da liberdade e individualidadedesafiando as predies da cincia. Mas princi-palmente, a divulgao de teorias cientficasmodifica os padres de comportamento porpromover a emancipao do homem dos fato-res que determinavam seu comportamento quelhes eram desconhecidos. Alm disso, Gergenafirma neste artigo que as premissas tericas sebaseiam em disposies adquiridas socialmen-te, quando se modificam os padres culturaisde uma sociedade essas disposies adquiridasse alteram e, portanto, essas premissas se tor-nam invlidas.Prope ento modificaes estruturais naesfera de alcance e nos mtodos da PsicologiaSocial. Afirma que o esforo para construir leisgerais de comportamento social equivocado,assim como a crena associada a esse esforo,de que o conhecimento sobre a interao socialpode ser acumulado de uma maneira similar scincias naturais. Para Gergen, o estudo daPsicologia Social primariamente um empre-endimento histrico (1973, p.316). Dessa for-ma, ele acredita que o entendimento dessaquesto pelos psiclogos sociais acarretariasignificantes alteraes no campo da disciplina.A primeira delas a revalorizao e nfase dapesquisa aplicada em oposio e detrimento pesquisa pura, que ele considerava privilegiadanos peridicos e jornais de prestgio da Psico-logia na dcada de setenta. A segunda o a-bandono das metas de predio e controle paraa adoo de uma postura relativista, onde apesquisa deveria assumir como meta unica-mente o levantamento dos fatores que potenci-almente possam influenciar o comportamentosob certas condies, para estimar a importn-cia desses fatores em um certo perodo de tem-po. Isso se d segundo Gergen porque: umerro considerar o processo em Psicologia Soci-al como bsico no sentido das cincias natu-rais. Antes, eles podem largamente ser conside-rados a contrapartida psicolgica das normasculturais (1973, p.318).Dessa forma, ele considera uma terceiraalterao significativa a se dar na PsicologiaSocial, que seria a pesquisa sobre o que eleclassifica de contnuo de durabilidade histri-ca, que vai daqueles fenmenos mais suscet-veis influncia histrica num extremo, at osmais estveis no outro. Essa direo para pes-quisa se daria pela necessidade de se estimar arelativa durabilidade do fenmeno social. Porltimo, ele faz uma conclamao pela integra-o entre o estudo histrico e o psicolgico,chegando a afirmar que a pesquisa em Psicolo-gia Social primariamente o estudo sistemti-co da histria contempornea (Gergen, op.cit.).O Construcionismo Social algumasvezes classificado como um movimento, outrascomo uma posio, uma teoria, uma orientaoterica. De modo geral, segundo o construcio-nista social Henderikus Stam (2001), os psic-logos permanecem inseguros a respeito de seuestado. Em sua maioria, estes consideram oConstrucionismo Social um rtulo que denotauma srie de posies que comearam a serarticuladas depois de 1966, em virtude da pu-blicao do influente trabalho de Berger eLuckmann (Construo Social da Realidade,1973). Como afirma Stam (2001), esse movi-mento foi influenciado, modificado erefinado por outros movimentos intelectuaiscomo a etnometodologia, a Sociologia da Cin-cia (o programa forte, denominado Constru-tivismo Social, de autores como David Bloor,Barry Barnes e Bruno Latour), o feminismo e ops-estruturalismo; assim como o que ele de-nomina Filosofia da Cinciaps-fundacionalista e ps-positivista (Stam, 1990).O estudo do qual deriva esse artigo torna claroque Stam (2001) est certo quando afirma queno existe uma nica posio de Construcionis-mo Social. Posies tericas pouco definidas epouco delimitadas que manifestem alnhamento70G. A. Castaon

alinhamento com premissas ps-modernas sogeralmente rotuladas com essa denominao.Assim como acontece com ps-modernidade, aexpresso Construcionismo Social no se deixadefinir com preciso. Sua inconsistncia oudisperso parece cumprir o objetivo de afirmarsua prpria posio anti-moderna e confundiros seus crticos dificultando o alvo com suasmltiplas faces e aparies.Anlises gerais (Collier et al., 1996;Kvale, 1992; Stam, 2001) sobre esse movimen-to apontam alguns autores como seus mais sig-nificativos representantes. Entre eles os nomesde Kenneth Gergen, Rom Harr, Jonathan Pot-ter, e John Shotter so presenas constantes.Este artigo, que resume pesquisa realizada so-bre o conjunto dessa abordagem, se concentra-r nas teses de Kenneth Gergen, fundador emaior expoente deste movimento, assim comoo entenderam Collier et al. (1996), Kvale(1992) e Stam (2001) em relao ao que deno-minou Psicologia Ps-moderna.Apesar das dificuldades em se definir oConstrucionismo Social, muito aceitvel quese determine alguma caracterstica que sejacentral para esse empreendimento, que oresultado de uma srie de incorporaes teri-cas das teses filosficas desconstrucionistas deJacques Derrida, relativistas lingsticas deLudwig Wittgenstein e neo-pragmticas deRichard Rorty. Desta forma, podemos identifi-car no movimento construcionista social, comofaz Gergen (1992), tendncias mais wittgenste-inianas (Harr, 1989; Mulhauser e Harr,1990), desconstrucionistas (Parker e Shotter,1990; Richer, 1992; Lovlie, 1992; Shotter,1992), e neo-pragmticas (Gergen, 1989; Pol-kinghorne, 1992). Em que pesem as diferenastericas entre esses precursores do movimentoconstrucionista, h algo que comum a todoseles: a admisso do pressuposto de que o co-nhecimento socialmente construdo.Construcionismo social contra a psicologia moder-naGergen (1973,1985 e 1992), em artigosem que faz uma anlise panormica do quadroda Psicologia Social contempornea, estabele-ce o movimento do Construcionismo Socialcomo uma oposio aos princpios bsicos quenorteiam a cincia psicolgica, classificada porele de modernista. Essa classificao se dpela adeso da Psicologia Socialpadro (Gergen, 1992) aos princpios bsi-cos do otimismo epistemolgico, do realismoontolgico, do mtodo emprico de investiga-o da realidade, da regularidade do objeto edo progresso cientfico.Para os autores que se inserem no queeles classificam como a virada ps-modernada Psicologia Social, o movimento construcio-nista social, esses princpios bsicos no sso negados como substitudos por seus opos-tos. Kendall e Michael (1997) avaliam queesse movimento ps-moderno na PsicologiaSocial possui quatro caractersticas tericas emetodolgicas bsicas. A primeira, a tentati-va de dissolver o tradicional objeto da Psico-logia, substituindo a realidade da mente e docomportamento pelas convenes e recursoslingsticos que constrem socialmente omundo. A segunda o abandono da busca porpropriedades universais na pesquisa psicolgi-ca e a adoo da reflexo histrica e contextu-al como centro da atividade em Psicologia. Aterceira, a marginalizao do mtodo e suaclassificao, em verses mais radicais dessemovimento, como um truque retrico. A quar-ta, seria o abandono da grande narrativa doprogresso da cincia rumo a uma verdade ob-jetiva para a adoo de uma concepo deconhecimento como fragmentrio e contin-gente histrica e socialmente.Gergen (1992) acredita que a tarefa i-mediata da Psicologia Social o investimentoacadmico na desmistificao dos mitos mo-dernistas da cincia, com o que ele chama dedesobjetificao das realidades existentes,demonstrando sua relatividade social e histri-ca e suas implicaes sociais e polticas. ParaGergen (1992), o que caracteriza a transiode uma Psicologia modernista para umaPsicologia ps-moderna o desaparecimentodo campo de estudo da disciplina como umaparcela da realidade, seguindo a postulao deRorty (1979), de que a mente no pode ser oespelho do mundo. Isso se d quando j no seperseguem supostas propriedades universaisdo objeto, mas sim se elabora uma reflexocontextualizada que explica as circunstnciashistricas de sua investigao. Diz Gergen OConstrucionismo Social concebe o discursosobre o mundo, no como um reflexo ou co-71Construcionismo social: crtica epistemolgica

mo um mapa do mundo, mas como um produtoda interao social (1985, p.266):. Foi assimque a oposio aos pressupostos ontolgicos eepistemolgicos tradicionais da Psicologia So-cial modernista, se tornou a posio que, pe-lo caminho da negao, mais contribuiu para oestabelecimento de algum sentido de corpo aomovimento construcionista social.Construcionismo social e epistemologiaCom relao s principais caractersticasepistemolgicas e ontolgicas do Construcio-nismo Social, importante enfatizar que suadelimitao uma tarefa difcil, porque comoafirma Zuriff (1998), essa abordagem consistenuma grande amostra de posies que no va-lorizam a aderncia coerncia interna e con-sistncia terica. No entanto, podemos chegar aalgumas caracterizaes gerais de suas princi-pais reivindicaes ontolgicas e epistemolgi-cas, de forma a se efetuar posteriormente umacrtica conseqente. Estas seriam:(1) Construtivismo Social: a crena de que ao in-vs de descobrir uma realidade objetiva e inde-pendente, o ser humano constri o conheci-mento atravs de suas interaes sociais. Comoafirma Zuriff (1998), a essncia da posioontolgica do Construcionismo Social a pro-posio de que no h realidade objetiva a serdescoberta; seres humanos constrem o conhe-cimento. Held (1998) acrescenta a isso o termosocialmente. Para o Construcionismo Socialns construmos teorias a respeito do funciona-mento do mundo ativamente, mas sempre atra-vs da interao social.(2) Anti-realismo: a crena de que o sujeito doconhecimento constri esse conhecimento atra-vs da linguagem e com nada mais que ela, alinguagem se constitui na realidade mesmapara o sujeito. No existe realidade alm dalinguagem construda pelo sujeito atravs desuas interaes sociais. E mesmo que ela exis-ta, inacessvel.Aqui encontramos duas posies ligeira-mente diferentes dentro do ConstrucionismoSocial, entre as verses ontolgicas que Held(1998) classifica de mais radical e menosradical. A verso ontolgica mais radicaldesse movimento considera que uma vez que osujeito do conhecimento constri esse conheci-mento atravs da linguagem e com nada almque a linguagem, a linguagem se constitui narealidade mesma para o sujeito. No existerealidade alm da linguagem construda pelosujeito atravs de suas interaes sociais. Essasmanifestaes de anti-realismo ontolgico es-to presentes fundamentalmente nos autoresdeste movimento mais influenciados pelo des-construcionismo de Jacques Derrida, como porexemplo, Richer (1992) ou Shotter (1992).Contrasta com a posio menos radical dealguns outros autores como Gergen (1985 e1992) e Polkinghorne (1992), que consideramque a teoria construda sobre os objetos do co-nhecimento atravs da linguagem, intermedeiaa relao entre o sujeito e o mundo de formaimpermevel, de forma que a realidade objeti-va, independente do sujeito, pode at existir,mas inacessvel. Aqui, no se adere a um an-ti-realismo ontolgico estrito, e sim, ao pessi-mismo epistemolgico.(3) Pessimismo Epistemolgico: Se o mundo conheci-do o mundo construdo socialmente atravsda linguagem, ns no podemos transcendernossas prprias construes e conhecer a reali-dade diretamente. Para o Construcionismo So-cial (Shotter 1992, Stam, 1990), nossas teoriassocialmente construdas no nos aproximam deuma melhor descrio de uma realidade objeti-va, independente do sujeito do conhecimento.(4) Anti-fundacionismo: A partir da crena de que oscontedos do conhecimento so meras constru-es sociais, e nada mais, assim tambm sonossas normas epistmicas (Gergen, 1989).Ns no temos uma fundao epistemolgicasegura sobre a qual o conhecimento possa serconstrudo.(5) Irregularidade do Objeto: A realidade dinmi-ca. As regras sociais nunca sero causas docomportamento humano; antes, determinarosomente o que ir contar na hora de uma aode certo tipo ser tomada (Harr, 1989). Essaao, uma resposta a alguma questo que secolocou no campo social, nunca ser o resulta-do de um mecanismo causal expresso numa lei,mas simplesmente a aplicao de uma conven-o. Assim, o comportamento indetermin-vel. Se tomarmos o objeto da Psicologia comosendo os jogos de linguagem atravs dos quaisa realidade social construda, tambm o car-ter mutvel e arbitrrio da linguagem faz comque esse objeto de pesquisa no adira ao princ-pio ontolgico da regularidade do objeto.72G. A. Castaon

(6) Anti-representacionismo: A essncia da posioanti-representacionista deste movimento ex-pressa reiteradamente por Kenneth Gergen(1985, 1989, 1992, 1994 e 2001). Por represen-tacionismo Gergen (1994) define a doutrinaque defende existir ou poder existir uma rela-o estvel entre as palavras e o mundo queelas representariam. Seguindo Wittgenstein(1975) e Rorty (1989), Gergen (1985 e 1994)defende que a linguagem um convencionalis-mo. O significado no se baseia nos objetos, noprocesso mental ou em entes ideais. Adquire-seatravs do contato social com outros habitantesda cultura em questo. Fora da linguagem noh ponto de apoio objetivo nem independentepara o pensamento, portanto, a linguagem norepresenta nada fora dela mesma, auto-referente e dependente de jogos de linguagemparticulares.(7) Fragmentao: a crena de que o real(Polkinghorne, 1992) no um nico e integra-do sistema esttico fundamentando o fluxo daexperincia, , ao contrrio, uma fragmentada edesunida acumulao de elementos e eventosdesconexos, um processo de contnua mudan-a. O prprio sujeito no mais visto como umtodo unificado, mas sim como um complexo deimagens e eventos desintegrados (Gergen,1991). Assim se abandona a grande narrativado progresso da cincia rumo a uma ideal ver-dade objetiva para a adoo de uma concepofragmentria e socialmente contingente de co-nhecimento. O conhecimento precisa estar pre-ocupado com ocorrncias especficas e locais,no com a busca de leis gerais universais.(8) No-neutralidade: Uma vez que o conhecimen-to uma construo humana, ento valores emotivaes so componentes necessrios desua constituio, e a distino entre valores efatos colapsa. A neutralidade desejada para umentendimento objetivo da realidade no s um mito como um mito intil. As explicaesque se do de como o mundo esto mergulha-das em certas prticas sociais (Gergen, 1989), epor afirmar certas propriedades como realidadeatuaro no sentido de sustentar certas prticassociais e promover a extino de outras. ParaGergen (1989), a questo crtica a ser colocadapara as vrias explicaes e narrativas de mun-do, que tipo de prticas elas suportam. No sedeve perguntar a respeito de como o mundo ,e sim a respeito de como o mundo deve ser; aquesto central no epistemolgica, polti-ca. assim que o Construcionismo Socialrenega a preocupao em se justificar enquan-to cincia, preocupando-se em garantir-se en-quanto prtica transformadora da sociedade.(9) Retroalimentao Terica: Termo cunhado nesteartigo para descrever a posio que defendeque o conhecimento tem conseqncias soci-ais. Como exps Gergen (1973), a dissemina-o das teorias sobre Psicologia modifica ospadres de comportamento acerca dos quaisas teorias foram construdas, por motivos co-mo a emancipao do homem do desconheci-mento dos fatores que determinavam seu com-portamento de forma inconsciente ou simples-mente a vontade de afirmar os valores huma-nos da liberdade e individualidade desafiandoas predies da cincia.(10) Anti-metodologismo: Se no h uma fundaoepistmica segura em cima da qual o conheci-mento possa ser construdo, ento o mtodo classificado como um mero truque retrico,que tem por objetivo legitimar certos resulta-dos de pesquisas.(11) Pragmatismo: Rejeio do princpio da cor-respondncia como critrio de verdade, com aadoo da posio de que o que importa numasentena no se ela corresponde em seu con-tedo semntico ao real, e sim se ela uma vezadotada conduz com sucesso as aes huma-nas para seus propsitos pragmticos. Polkin-ghorne (1992) acredita que uma caractersticadistintiva entre um ps-modernismo relativistae um ps-modernismo afirmativo, seria a dou-trina do neo-pragmatismo. Segundo esta lti-ma, a cincia deveria deixar de exigir de simesma a busca por leis fundamentais e pelasverdades do universo, e passar a se ver comoum processo de coleta, organizao e distribu-io de prticas que tenham produzido resulta-dos intencionados.Crtica epistemolgica ao construcionismo socialComo afirma Matthews (1998), emboraa definio e descrio do pensamento ps-moderno seja relativamente complicado emvirtude de seu formato ambguo e mutante,sua refutao no . Este item buscar inven-tariar as posies ontolgicas e epistemolgi-cas que inviabilizam a atividade cientficabaseada em pressupostos ps-modernos. Co-73Construcionismo social: crtica epistemolgica

mea seguindo pelas caractersticas ontolgicase epistemolgicas do Construcionismo Socialanalisando-as criticamente, e conclui com ademonstrao da inviabilidade conceitual ehistrica do estabelecimento de uma Psicologiaps-moderna.(1)Crtica ao Construtivismo Social: A afirmao deque o conhecimento construdo socialmente, bvia e compartilhada de formas diversas porvrias teorias do conhecimento. A questo setorna, portanto, que tipo de construo socialest sendo alegada. No caso do Construcionis-mo Social, crena de que ao invs de desco-brir uma realidade objetiva e independente, oser humano constri o conhecimento nica eexclusivamente atravs de suas interaes soci-ais, o que uma crena inconsistente e incom-patvel com a razo e a cincia. Esta afirmaobaseia-se em dois motivos. O primeiro que,nas cincias empricas, conhecimento conhe-cimento de algo que tem sua existncia no real,num mundo exterior que independe do sujeitodo conhecimento. Se o ser humano constrisuas representaes unicamente atravs de suasinteraes sociais sem nenhum contato comrealidades objetivas que independem, em aomenos algum nvel, tanto dele quanto destasinteraes, ento estas representaes podemser muitas coisas, mais no so conhecimento.O segundo motivo referente impossi-bilidade de se atribuir todo o desenvolvimentodo pensamento humano suas interaes soci-ais. Para elaborar este argumento, recorro auma crtica posio de Vygotsky (1984), quefoi o mais claro e consistente formulador dessaposio a respeito do conhecimento em Psico-logia. Se todo desenvolvimento fosse resultadode uma aprendizagem que o indivduo obteveatravs da mediao de um indivduo mais ex-periente, da mediao social, ento no poder-amos explicar aqueles tipos de desenvolvimen-to que acontecem com o aparecimento de idi-as novas na histria da humanidade. Idias co-mo a teoria da relatividade generalizada ou ageometria no-euclidiana, no poderiam serdeduzidas de nenhuma das idias e pressupos-tos vigentes na cultura de sua poca. No hcomo no admitir nestes saltos do conhecimen-to um papel ativo e criativo do indivduo.Ryan (1999) acredita que devemos res-ponder a pergunta sobre se os novos conheci-mentos so criados ou descobertos. Julgo quetalvez essa seja uma falsa questo, fruto daconfuso ps-moderna entre hiptese sobre arealidade, verdade, conhecimento e a prpriarealidade. O ser humano cria hipteses sobre arealidade, e estabelece conjecturalmente, nocaso da Cincia, quais so provisoriamenteclassificadas como falsas. As que sobram epossuem capacidade explicativa e preditiva soconhecimento cientfico, provisrio. O resto filosofia, mito ou religio: teorias plenamentesignificativas e de valor cognitivo, porm deuma outra categoria epistmica. A verdade emcincia no alcanvel, ela uma meta ideal.Temos um conceito de verdade (teoria da cor-respondncia), porm no um critrio de verda-de, nossas teorias so aproximaes da realida-de, modelos simplificados dela, no cpias e-xatas.(2)Crtica ao Anti-realismo e Pessimismo Epistemolgico:O pressuposto de que o sujeito do conhecimen-to o constri atravs da linguagem e com nadamais que a linguagem; de que ela constitui aprpria realidade para o sujeito, incompatvelcom a cincia e com a prpria atividade filos-fica. Se no existe realidade alm da linguagemconstruda pelo sujeito atravs de suas intera-es sociais, ento nem a linguagem poderiaser objeto de estudo cientfico ou filosfico,pois no se referiria a nada alm de significan-tes vazios ou indeterminveis. uma necessi-dade racional a adoo em ontologia de algumtipo de realismo crtico para a atividade cient-fica. Toda atividade de pesquisa pressupe an-tes de mais nada a existncia do objeto que estsendo pesquisado, sua existncia num campodo real que independa do observador humano.Uma posio um pouco mais prudenteque vemos em alguns autores da vertente cons-trucionista social, tenta evitar os perigos asso-ciados ao idealismo subjetivista da posioontolgica radical que nega a existncia dofenmeno fsico. No h por ela a negao daexistncia do fenmeno fsico, o que existe atransferncia do objeto a ser conhecido e pes-quisado, da realidade fsica considerada in-cognoscvel para o sentido que ela adquirepara o sujeito. Ao encontrar uma entidade fsi-ca, o significado daquele objeto para o sujeito criado, e esse significado, construdo pelossujeitos em e atravs de suas interaes sociais74G. A. Castaon

com a comunidade lingstica onde vivem, queos tericos ps-modernos chamam de realida-de. Se a realidade incognoscvel, estamosdiante da espcie construcionista social de pes-simismo epistemolgico. Uma vez que o mun-do conhecido o mundo construdo socialmen-te atravs da linguagem, ns no podemostranscender nossas prprias construes e co-nhecer a realidade diretamente. Esse tipo deassuno incompatvel com a prtica cientfi-ca por motivos bvios.Ainda por uma outra forma de abordar aquesto, Ryan (1999) afirma que um erropensar que o significado que resulta do contatodo sujeito do conhecimento com o objeto fsico somente o resultado das interaes sociais doprimeiro. O objeto em si tem suas prprias ca-ractersticas que so trazidas para os encontroscom os sujeitos, e isso independe da interaoda comunidade de sujeitos com respeito ao ob-jeto para o qual o sentido criado. Como segueRyan (op.cit.), em virtude de o objeto fsico serrelativamente estvel, ele tende a trazer sempreas mesmas caractersticas para todo encontrocom o sujeito do conhecimento. por causadisso que os significados que emergem destesencontros entre sujeitos e objetos fsicos tmgeralmente uma consistncia muito grande en-tre sujeitos os mais diversos.Por fim, Held (1998) observa que osconstrucionistas sociais presumem que um pro-cesso de conhecimento ativo por parte do sujei-to, que est implcito no prprio termoconstrucionismo, necessita de uma ontologiaanti-realista e uma epistemologia construcio-nista para se sustentar. Discordando dessa posi-o, ela lembra que o prprio construtivismoque nasce da epistemologia gentica de JeanPiaget (1975) um tipo de construcionismoque se baseia numa ontologia e epistemologiarealistas, ao mesmo tempo em que defende apossibilidade de acesso racional do sujeito auma realidade objetiva e independente. Held,assim como Matthews (1998) e tambm Ri-chardson (1998), uma das crticas do Cons-trucionismo Social que rejeita de forma conclu-siva os dois tipos de anti-realismo presentesnas teorias construcionistas sociais apresenta-dos no item anterior. Held (1998) explcitaem sua rejeio das formas mais radical emenos radical de anti-realismo, argumentan-do que qualquer das manifestaes dessa dou-trina impede qualquer acesso seja direto oumediado realidade independente do sujei-to, o que tornaria incua sua produo terica.(3)Crtica ao Anti-fundacionismo: Precursores daps-modernidade como Kuhn (1991) e autoresps-modernos como Gergen (1989) e Feyera-bend (1989) argumentam que assim como oscontedos do conhecimento so construesnossas, tambm o so nossas normas epist-micas. Portanto, ns no teramos uma funda-o epistemolgica segura sobre a qual o co-nhecimento poderia ser construdo. O detalheesquecido aqui o fato de que s a mente hu-mana tem sido capaz de adquirir conhecimen-to sobre o mundo e aument-lo progressiva-mente. Os fatos evidenciam que a espcie hu-mana ascendeu em seu processo de construodo conhecimento. Cabe lembrar aqui que asteses epistemolgicas de inspirao racionalis-ta defendem que as criaes mentais tericas(exceo da lgica e da matemtica) devemser testadas no emprico, para que ento sevalidem enquanto conhecimento. a distinoentre contexto de justificao e contexto dedescoberta. As regras lgicas e a realidadeemprica seriam, portanto, dois fundamentosepistemolgicos objetivos para julgarmos nos-sas hipteses, que no dependem do contexto.O Construcionismo Social, ao afirmarque no temos nenhuma fundao epistemol-gica segura, alm de ignorar deliberadamenteo fato evidenciado atravs de todas as con-quistas da Cincia Moderna de que ns pode-mos avanar em nosso conhecimento sobre arealidade, se compromete implicitamente coma tese epistemolgica de que no podemosavanar de teorias inseguras para teorias segu-ras.Porm podemos certamente avanar deteorias inseguras para teorias menos insegu-ras. Esta a posio do Racionalismo Crtico.Karl Popper (1975), fundador desta aborda-gem em filosofia da cincia, defende que oprogresso na cincia alcanado atravs deum processo de tentativa e erro, conjecturas erefutaes. De acordo com sua posio, queadoto aqui neste artigo, teorias no podem sernunca verificadas ou demonstradas verdadei-ras, elas podem unicamente ser falseadas. Ofato de esse falseamento poder por sua vez75Construcionismo social: crtica epistemolgica

sofrer ele prprio falseamento posterior nocoloca problema para o Racionalismo Crtico,somente o confirma e aponta mais uma vezpara o carter conjetural e crtico do conheci-mento cientfico. De qualquer maneira, im-portante lembrar que o falseamento de umateoria sempre mais seguro que sua corrobora-o, o que aponta novamente para o mesmocaminho que o conhecimento humano continuatrilhando desde Scrates, que no o de tersegurana quanto ao que as coisas so, massim de t-la sobre o que elas no so. necessrio dirigir uma outra crtica aoanti-fundacionismo. Uma vez que se admiteque as normas epistmicas so meras constru-es nossas e que portanto ns no teramosuma fundao epistemolgica segura sobre aqual o conhecimento poderia ser construdo,estamos repetindo de uma outra maneira a ale-gao kuhniana de incomensurabilidade dosparadigmas. No possvel sustentar a afirma-o de que mesmo nas mudanas conceituaismais radicais, possa no existir algo que per-manea o mesmo. Se no existisse esse algo,os dois paradigmas sequer poderiam ser reco-nhecidos como referentes a uma mesma deter-minada ordem de coisas. Mais do que isso, nose pode falar em desenvolvimento sem falarem progresso, e progresso sempre em direoa algo. Na cincia, esse algo a verdade. Por-tanto, uma vez que reconhecemos uma teoriacomo prefervel a uma outra em relao a umadeterminada ordem de coisas, no podemosdeixar de reconhecer implicitamente que o de-senvolvimento da cincia teleolgico. Quan-do afirma seu anti-fundacionismo, o Construti-vismo Social cai numa contradio, pois obvia-mente defende que essa uma posio episte-molgica mais correta. No entanto, baseado emque ele pode afirmar essa superioridade episte-molgica se no existem fundaes epistemo-lgicas seguras para avaliar qualquer conheci-mento? Ou seja, se no h parmetro ou provasuficiente para garantir a validade de qualquerconhecimento, como foi possvel chegar a essaconcluso acerca da validade do conhecimento,(ou seja, a da no validade) entendendo-a comovlida? Eis mais uma das muitas contradiesfilosficas que encontramos aqui.(4)Crtica ao Anti-representacionismo: Gergen (1994)em sua resposta a Smith (1994) defende o anti-representacionismo como a base do Constru-cionismo Social. Este princpio defende, emsuma, no haver nem poder haver uma relaofixa ou intrnseca entre as palavras e o mundoque elas representariam. A linguagem seriasomente um convencionalismo. Nada novo haqui. s a volta requentada de argumentosmedievais nominalistas. Smith (op.cit., p.408)ataca essa concepo classificando-a de tola edesorientada uma vez que mergulha no relati-vismo radical. Causa surpresa a ele que Gergenno apresente suas posies como resultadode patolgica saturao social (Smith, op.cit.,p.408), mas sim como reivindicaes de verda-de. Em outro texto no qual replicou a respostade Gergen (1994), Smith (1995) observa comindignao que enquanto os ps-modernistasnegam qualquer privilgio epistemolgico es-pecial cincia se comparada intuio ou aomito, eles reclamam implicitamente para a cr-tica ps-moderna um patamar epistemolgicodo qual julgam privilegiadamente a cincia.O estudo da linguagem como um con-vencionalismo no deixa lugar para a realida-de. Se a filosofia abandona o projeto de sepolir enquanto espelho do mundo como su-geriu Rorty, ento parece condenada a se tornaruma casa de espelhos lingsticos onde um es-pelho reflete palavras para um outro espelhoque reflete palavras para outro infinitamentenum jogo de linguagem que sempre se referi-r a outras palavras mas nunca coisa em si.Ora, se as proposies no podem representar arealidade, ento elas se referem unicamente aoutras proposies, e assim infinitamente. Pra-wat (1996) observa que desta maneira Rorty eGergen caem em sua prpria armadilha, que a assuno de que estamos totalmente confina-dos s palavras.Emcrtica semelhante, John Maze(2001) expe as contradies internas do Cons-trucionismo Social. Estas incluem sua incapa-cidade para afirmar qualquer coisa a respeitode qualquer coisa em virtude de seu anti-representacionismo e seu argumento de que oobjetivismo inerentemente autoritrio. Mazedemonstra a vinculao do ConstrucionismoSocial a Derrida e ao desconstrucionismo, vin-culao por meio da qual o Construcionismo uma espcie de desconstrucionismo e os enga-nos seguem, portanto, de um no outro. A meta-76G. A. Castaon

teoria do Construcionismo Social, segundoMaze (2001), embora aceite que toda teoriaepistemolgica coerentedeva ser auto-reflexiva, nega que qualquer assertiva possa serverdadeira, assim como nega existirem realida-des independentes a serem referidas por essasassertivas. No entanto, trata dos discursos co-mo tendo existncia objetiva e assume que suaprpria assertiva sobre o discurso verdadeira.Assim, o Construcionismo Social se contradizem suas premissas bsicas. Assumindo o anti-representacionismo do desconstrucionismo, oConstrucionismo Social chega ao mesmo ceti-cismo desesperado do primeiro. Como afirmaMaze (2001), o aforisma desconstrucionista deque no existe nada alm do texto se revelacomo a verso idiossincrtica de Derrida para oidealismo clssico. Diz ele: o reconhecimentoda possibilidade e necessidade de objetividadeno discurso no , como alguns construcionis-tas reclamam, autoritrio. sim essencial parauma crtica efetiva do dogma social (Maze,op.cit., p.393).Ainda como observa Matthews (1998),cada declarao sincera uma tentativa de daruma explicao verdadeira sobre algo assumi-do como real:Quando eu declaro que dirigi meu carropara a loja, eu no estou dirigindo nemvisitando uma representao simblicaou manifestao simblica de carro ouloja. Eu estou dirigindo um veculoreal de 2000 libras atravs do tempo e doespao para um lugar. (p.24)Voltando questo do realismo ontol-gico podemos estabelecer a implicao neces-sria entre este e o representacionismo. O cora-o da questo, que o realismo ontolgico assumido por nossa linguagem, sendo na ver-dade sua prpria essncia. O ataque ao repre-sentacionismo na verdade o ataque ao realis-mo ontolgico, base da metafsica ocidental. absolutamente irrelevante o carter arbitrrioda relao entre significante e significado. Nointeressase ns chamamos a caneta decaneta, ou mesmo a cincia de cincia. Oque interessa o conceito abstrato de caneta eo conceito abstrato de cincia. O realismo on-tolgico que sustenta a atividade cientfica,filosfica e mesmo meramente representacio-nal baseado na existncia real dos conceitosabstratos. Sem este pressuposto, nem mesmoo entendimento de minhas palavras neste arti-go seria possvel.Psicologia ps-moderna: uma impossibilidadeDepois da demonstrao da incompati-bilidade de todas as principais posies episte-molgicas do Construcionismo Social com aCincia Moderna, a mais gritante das incoe-rncias do Construcionismo Social aparece nofato de ele prprio se caracterizar como umaPsicologia ps-moderna. Essa contradio foiobservada com lucidez por ao menos um dosrepresentantes deste movimento, Steinar Kva-le (1992). Usando argumentos predominante-mente historicistas, ele observa que a pocahistrica em que vivemos descrita como u-ma poca ps-moderna na qual os princpios evalores bsicos da modernidade foram supera-dos. Ao mesmo tempo, a Psicologia um pro-jeto da modernidade, entrando em uso comotermo durante a era do Iluminismo e fundadacomo cincia no fim do sculo dezenove. Seestas duas premissas so verdadeiras, ento acincia da Psicologia est fora de sintoniacom a presente poca. Diz Kvale: Ento osdois termos Psicologia e Ps-modernidadeso incompatveis, e uma Psicologia ps-moderna uma contradio em termos (1992,p.31).Como afirma Kvale (1992), a dicotomiamoderna entre o universal e o individual en-controu na Psicologia seu espelho ideal, com aoposio entre os mtodos nomotticos e idio-grficos. Isso porque, como sabemos, a mo-dernidade no se caracteriza somente pelabusca de objetividade e universalidade, mastambm pela busca do individual e do particu-lar. Dessa forma, Kvale (op.cit.) lembra que obehaviorismo e o humanismo so os dois la-dos da mesma moeda moderna, assim comorespectivamente suas abordagens nomottica eidiogrfica. Na verdade, a perspectiva idiogr-fica se baseia totalmente na idia de sujeito,um sujeito que aparece no como uma resul-tante de uma srie de coisas, mas como o ini-ciante de uma srie de coisas. Assim, o enfo-que compreensivo prprio para o estudo deumobjeto que autoconsciente, auto-orientado e criativo. Esse sem dvida umobjeto rigorosamente oposto ao objeto daPsicologia de influncia ps-modernista. Por77Construcionismo social: crtica epistemolgica

todos estes motivos, no resta a porta do mto-do idiogrfico de pesquisa para o Construcio-nismo Social. Este ltimo se caracteriza peladefesa da morte do sujeito, sua dissoluo narede de relaes lingsticas sociais em queest inserido. Como afirma Kvale (1992),a morte ps-moderna do sujeito podeser equivalente morte da Psicologia acincia moderna do sujeito. Se a Psicolo-gia tem sido o modo privilegiado da mo-dernidade para entender o homem, umaera ps-moderna tambm pode significaruma era ps-Psicologia (p.52).Concordo com julgamento de Kvale so-bre a incoerncia da tentativa de tericos queconscientemente assumem o carter ps-moderno de sua produo acadmica, de carac-terizarem sua obra como produo cientfica. Acincia, uma vez reconhecida como um projetoanacrnico da modernidade, deveria ser deixa-da em paz, e no utilizada enquanto fachadadesignativa por aqueles que querem sorver osrecursos e o prestgio usualmente destinadospela sociedade ao desenvolvimento cientfico.Afirmar que preciso se encontrar umnovo significado para o termo cincia umsofisma e uma incoerncia. uma incoernciaporque se seguissem conseqentemente seusprincpios relativistas culturais, os tericos ps-modernos teriam que respeitar os padres deum contexto cultural diverso do seu, no caso omodernismo, com seu sistema de valores e suasverdades contextualizadas cultural e historica-mente como querem eles. Mas ao contrrio,procuram autoritariamente dissolver e descons-truir a cincia como a conhecemos denuncian-do-a como executora de um cdigo culturalautoritrio, principalmente por defender a exis-tncia de uma realidade objetiva e de verdadesuniversais. Baseado em qu uma pessoa queparta de pressupostos relativistas ticos e epis-temolgicos pode denunciar a validade de umoutro sistema de valores morais ou epistmi-cos, a no ser no mais contraditrio autoritaris-mo?Por outro lado, afirmar que preciso seencontrar um novo significado para o termocincia tambm um sofisma, porque o con-ceito de um tipo de atividade humana que bus-ca alcanar atravs da observao controladae mensurada da realidade e da utilizao deuma linguagem apropriada leis generaliz-veis e universais, ainda que aproximativas nocaso das cincias empricas, sempre existir.Alm do mais, se trata do conceito de uma an-tiga e excepcionalmente bem sucedida (no ob-jetivo de aumentar a compreenso e o poder dohomem sobre a natureza) tradio cultural. Es-te tipo de atividade, que no mnimo deve seraceita como tendo um excepcional poder prag-mtico, certamente continuar a ser uma ativi-dade muito bem sucedida e muito requisitadapela sociedade. Apropriar-se do termo cincia,que a representa, e deform-lo a ponto de norepresent-la mais, no extinguir a atividadeem si. Outro termo mais especfico ser com otempo associado a ela, talvez cincia moderna,e ento o prestgio e os recursos que o sucessodeste tipo de atividade traz faro os tericosps-modernos buscar desconstruir o novo ter-mo para se apoderar dele, indefinidamente. Anica atitude coerente que os tericos ps-modernos poderiam adotar aqui estabelecerum novo termo para seu tipo de atividade, quecertamente muito diversa da cincia. E di-versa, por tantos motivos quanto j expressosneste artigo, e ainda outros que o espao redu-zido da exposio no permite abordar.A psicologia no pode renunciar cinciaOs pressupostos filosficos nos quais se baseiaa Psicologia Social de orientao ps-moderna,o Construcionismo Social, so invlidos logi-camente em virtude de seu carter contraditrioe incompatvel com aquele tipo de atividadehumana que busca formular, mediante lingua-gens rigorosas e apropriadas, leis por meio dosquais se regem os fenmenos, e que denomina-mos Cincia. O Construcionismo Social rejeitatodos os pressupostos necessrios atividadecientfica. Rejeita o realismo ontolgico e ado-ta um anti-realismo ontolgico; rejeita o princ-pio da necessidade de algum nvel de regulari-dade do objeto e adota o princpio de irregula-ridade absoluta do objeto; rejeita o otimismoepistemolgico adotando um pessimismo epis-temolgico; rejeita a capacidade representativada linguagemadotando umanti-representacionismo; rejeita a teoria da corres-pondncia como critrio de verdade; rejeita ospressupostos lgicos fundamentais com a acei-tao de incoerncias e contradies tericascomo elementos naturais de seu corpo terico;78G. A. Castaon

rejeita o mtodo como sendo um truque ret-rico, rejeita o pressuposto axiolgico do co-nhecimento como algo de valor intrnseco coma afirmao que as reivindicaes de conheci-mento objetivo so politicamente opressorasem virtude de seu prprio cdigo.Na verdade, a concluso de que o Cons-trucionismo Social incompatvel com a cin-cia deriva necessariamente de uma conclusoanterior de que no podemos renunciar ao sen-tido tradicional do termo cincia na Psicologia.Temos grandes problemas e limitaes em nos-sa disciplina, principalmente de carter ontol-gico. No entanto, no devemos alterar o signi-ficado do termo cincia para adequar a Psicolo-gia a ele, antes, precisamos limitar o escopo daPsicologia para adequ-la cincia. O respeitoaos cnones no positivos como afirmamos detratores, mas crticos da cincia moder-na tem comeado a render finalmente bons fru-tos para nossa disciplina. Seria injustificvelrenunciar a esse caminho, to bem sucedidopara outras cincias, neste momento de nossodesenvolvimento.A Cincia nos permite estabelecer con-sensos no porque imposta autoritariamentepor um cdigo opressor, e sim porque apesardo autoritarismo, opresso e irracionalismo dealguns grupos ideolgicos, fundamentalistas oudogmticos, consegue impor-se com a forados fatos empricos, da clareza, consistncia ecoerncia terica e dos resultados pragmticosde sua aplicao. Apesar de no ser a nica,como queria o Positivismo, a cincia tem sidonos ltimos quatrocentos anos a maior foraemancipatria da humanidade, e creio que con-tinuar a ser. Mas essa cincia libertadora dojugo da ignorncia e autoritarismo a que per-mite ao menos uma aproximao do conheci-mento universalmente vlido e empiricamentecomprovvel, que transcenda as idiossincrasiaspessoais e culturais por ser reproduzvel portodos. aquele modo de obteno de conheci-mento que aspira a formular, mediante lingua-gens rigorosas e apropriadas (e sempre quepossvel matemtica), leis universais que expli-quem, ainda que probabilisticamente, fenme-nos da realidade objetiva. Este ideal descritoacima no meramente um ideal modernistade cincia. um ideal de conhecimento segurosobre os fenmenos que permitiu espcie hu-mana um amplo aumento de sua liberdadefrente s limitaes que o meio-ambiente im-punha sobre sua existncia na Terra. Da mes-ma forma, o ser humano procura descobrirproposies seguras sobre sua prpria nature-za como forma de ampliar sua liberdade frenteaos condicionamentos biolgicos, psicolgi-cos e culturais que lhe so impostos.Necessitamos estabelecer, todos nsque respeitamos o legado da cincia moderna,uma distino terica clara entre a Psicologiacientfica e a viso psicolgica ps-moderna.Esta distino cumpriria a funo, hoje vitalpara a reputao da Psicologia como cincia ecomo profisso no Brasil, de explicitar a dife-rena entre esses dois tipos de atividade todspares em princpios, mtodos, objetivos eresultados. Enquanto esta distino no forbem clara para os rgos de fomento cientfi-co, a academia, os outros campos profissio-nais e principalmente o pblico leigo, creioque a to combalida imagem de nossa profis-so e cincia no Brasil continuar acentuandoseu processo de eroso perante a sociedade,que espera de todo conhecimento que se apre-sente como cientfico poder descritivo, pre-ditivo e conseqentemente pragmtico. Caso odesprezo pela metodologia cientfica, a ideo-logizao extrema, a obscuridade conceitual ea esterilidade pragmtica que caracterizam asidias bsicas do Construcionismo Social seestabeleam como a imagem predominante daPsicologia, no haver prestgio anteriormenteemprestado a ela pela cincia moderna queno venha a ser, em pouco tempo, completa-mente dilapidado.Referncias bibliogrficasBerger, P. L. e Luckmann, T. (1973). Aconstruo social da realidade. Petrpolis:Vozes.Castaon, G. (2001). Ps-modernidade e psi-cologia social: uma crtica epistemolgica.Dissertao de mestrado da UniversidadeEstadual do Rio de Janeiro.Collier, G.; Minton, H. e Reynolds, G.(1996).Escenarios y tendencias de lapsicologa social. Madri: Tecnos.Farr, R. M. (1998). As razes da psicologiasocial moderna. Petrpolis: Vozes.79Construcionismo social: crtica epistemolgica

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