Consumo Alimentar e Antropometria de Bailarinos

Embed Size (px)

Citation preview

  • 7/24/2019 Consumo Alimentar e Antropometria de Bailarinos

    1/10

    Rev. Cinc. Md., Campinas, 20(5-6):127-135, set./dez., 2011

    127CONSUMO E ANTROPOMETRIA DE BAILARINOS

    1 Universidade Federal de Gois, Faculdade de Nutrio. R. 227, Qd. 68, s/n., Setor Leste Universitrio, 74605-08, Goinia, GO, Brasil.Correspondncia para/Correspondence to: CLA BARROS. E-mail: .

    Consumo alimentar e perfil antropomtrico de bailarinos de uma

    companhia de dana contempornea de Goinia, Gois

    Dietary intake and anthropometric profile of dancers from

    a contemporary dance company in Goinia, Gois, Brazil

    Carolina Lbo de Almeida BARROS1

    Maria Claret Costa Monteiro HADLER1

    R E S U M O

    Objetivo

    Avaliar o consumo alimentar e o perfil antropomtrico, comparar a composiocorporal entre os sexos e analisar a adequao da ingesto alimentar s neces-sidades de bailarinos profissionais e semiprofissionais.

    Mtodos

    Foram analisados 16 bailarinos de ambos os sexos, com idade entre 20 e 35anos, de uma companhia de dana contempornea, de nvel internacional, deGoinia (GO). Foram coletados peso; altura; dobras cutneas tricipital, peitoral,subescapular, axilar mdia, suprailaca, abdominal e da coxa; e dois recordatriosde 24 horas. Para ingesto energtica, as recomendaes utilizadas foram a do

    Institute of Medicine, e, para macronutrientes, Institute of Medicine eAmericanCollege of Sports Medicine. Os dados foram digitados no Epi Info 6.04 de ana-lisados no Statistical Package for Social Sciences 18.0. Foram aplicados os testesShapiro-Wilk, Mann Whitney e Wilcoxon, com nvel de significncia de 0,05.

    Resultados

    A nica medida corporal que diferiu entre os grupos foi, no caso das mulheres, adobra tricipital, com menor valor no grupo profissional (p=0,03). As dobras

  • 7/24/2019 Consumo Alimentar e Antropometria de Bailarinos

    2/10

    CLA BARROS & MCCM HADLER

    Rev. Cinc. Md., Campinas, 20(5-6):127-135, set./dez., 2011

    128

    cutneas tricipital e da coxa (p

  • 7/24/2019 Consumo Alimentar e Antropometria de Bailarinos

    3/10

    Rev. Cinc. Md., Campinas, 20(5-6):127-135, set./dez., 2011

    129CONSUMO E ANTROPOMETRIA DE BAILARINOS

    sidades nutricionais de esportistas. Por causa da

    intensa rotina diria de ensaios, os bailarinos geral-

    mente no se alimentam bem3.

    Em vista disso, o acompanhamento e a ma-

    nuteno do equilbrio entre a ingesto e o gasto

    energtico do bailarino so necessrios para o desen-

    volvimento satisfatrio da dana4. Avaliar a composi-

    o corporal e o estado nutricional de praticantes de

    exerccios fsicos tambm de fundamental impor-

    tncia para monitorar seu rendimento5.

    Os aspectos nutricionais no desempenho fsico

    esto sendo cada vez mais investigados6. Estudos

    que abordam a composio corporal e/ou a ingesto

    alimentar, porm, raramente so feitos com baila-rinos, o que dificulta uma pesquisa mais referenciada

    sobre essa populao7,8.

    Portanto, pode-se considerar de extrema

    relevncia a realizao deste estudo, j que so raras

    as pesquisas que relacionam a composio corporal

    e a ingesto alimentar em praticantes da dana,

    tanto no Brasil quanto em outros pases.

    Os objetivos desta investigao foram avaliar

    o consumo alimentar e o perfil antropomtrico de

    bailarinos de uma companhia de dana contem-

    pornea da cidade de Goinia (GO), comparar a com-posio corporal entre os sexos e analisar a adequa-

    o da ingesto alimentar s necessidades de energia

    e macronutrientes do bailarino.

    M T O D O S

    Trata-se de um estudo transversal, realizadode maio a junho de 2010, com uma amostra de 16indivduos de ambos os sexos, com idade entre 20 e

    35 anos, de uma companhia de dana contem-

    pornea, de nvel internacional, da cidade de Goinia

    (GO). A companhia dividida em dois grupos: pro-

    fissional e semiprofissional. Os critrios de incluso

    foram: ser componente de um dos grupos da com-

    panhia em questo e ter idade superior a 20 anos.

    A coleta dos dados realizou-se de tera a

    sexta-feira, e no avaliou o consumo no final de

    semana. O intervalo entre as entrevistas foi de Mdia

    (M)=14, Desvio-Padro (DP)=0,3 dias, e todas foram

    feitas anteriormente aos ensaios dos bailarinos.

    Com auxlio do registro fotogrfico para inqu-ritos dietticos9, foram realizados dois recordatrios

    de 24 horas. Para a anlise quantitativa de energia

    e macronutrientes, foi utilizado o Sistema Nutrio

    em Foco10, que contm uma lista de alimentos reti-

    rados de tabelas com informao nutricional e/ou

    medidas caseiras11-16, e de rtulos de alimentos.

    A recomendao de ingesto energtica utili-

    zada foi a do Institute of Medicine (IOM)17. A atividade

    fsica intensa considera, alm das atividades dirias

    de rotina, pelo menos 60 minutos/dia de atividade

    moderada, mais 60 minutos de atividade intensa ou120 minutos de atividade moderada17. Como os en-

    saios dirios tinham durao de 6 horas (grupo pro-

    fissional) e de 3 horas (grupo semiprofissional), foram

    empregados como coeficiente de atividade fsica

    intensa os seguintes nmeros: 1,45 (mulheres) e 1,48

    (homens).

    Com relao s recomendaes de ingesto

    de macronutrientes, foram utilizados os valores esta-

    belecidos peloAmerican College of Sports Medicine18,

    que define: carboidratos = 6 a 10g/kg de peso cor-

    poral/dia; protenas = 1,2 a 1,7g/kg de peso corporal/dia; lipdeos = 20% a 35% do Valor Energtico Total

    (VET).

    Para avaliao da composio corporal, foram

    aferidos o peso, a altura e as sete dobras cutneas

    (tricipital, peitoral, subescapular, axilar mdia, su-

    prailaca, abdominal e da coxa) de todos os bailarinos.

    A pesagem foi realizada em balana digital

    da marca Tanita, com capacidade de 150kg e

    preciso de 100g. Para a medida da altura, foi utili-

    zada uma fita mtrica inextensvel, da marca TBW,

    de acordo com a tcnica de Fernandes Filho19.

    Para aferio das dobras cutneas, foi utili-

    zado um adipmetro da marca Lange, com sensibi-

    lidade de milmetros. As dobras cutneas foram

    medidas trs vezes consecutivas, sendo considerada

    a mdia entre os trs registros como o valor final19.

    Da mesma forma de outros estudos realizados com

    atletas20,21, os valores obtidos foram empregados em

  • 7/24/2019 Consumo Alimentar e Antropometria de Bailarinos

    4/10

    CLA BARROS & MCCM HADLER

    Rev. Cinc. Md., Campinas, 20(5-6):127-135, set./dez., 2011

    130

    equaes especficas para atletas com o objetivo de

    fazer o clculo da densidade corporal22,23, e da

    porcentagem de gordura corporal, segundo Siri24.

    O protocolo da pesquisa foi aprovado pelo

    Comit de tica em Pesquisa da Universidade Federal

    de Gois, recebendo o n 047/10.

    Anlise estatstica

    Os dados foram digitados e validados aps

    dupla digitao no software Epi Info 6.04 d, e as

    anlises estatsticas foram realizadas no Statistical

    Package for Social Sciences for Windows(SPSS) 18.0.

    A normalidade das variveis contnuas antro-

    pomtricas foi avaliada pelo teste de Shapiro-Wilk,

    que constatou que a distribuio era normal tanto

    entre as mulheres como entre os homens. Por no

    atender, porm, ao suposto paramtrico do tamanho

    amostral devido amostra reduzida, utilizaram-se o

    teste de Mann-Whitney, para a comparao da com-

    posio corporal entre os grupos e entre os sexos, e

    o teste de Wilcoxon, para a anlise da ingesto ener-

    gtica do indivduo em relao a suas necessidades.

    Adotou-se o nvel de significncia de 0,05, ou 5%.

    R E S U L T A D O S

    Anamnese e avaliao nutricional

    Dos 18 bailarinos integrantes da companhia,

    16 dispuseram-se a participar da pesquisa: 88,9%

    da amostra esperada. A amostra foi composta por

    56,2% de mulheres (n=9) e 43,8% de homens (n=7),

    abrangendo os dois grupos: profissional e semipro-

    fissional.

    Entre os participantes do grupo profissional,

    a idade mdia foi de M=29, DP=4,1 anos, enquanto

    no grupo semiprofissional a mdia de idade foi de

    M=21, DP=1,3 anos. O grupo profissional representou

    37,5% (n=6) da amostra utilizada na pesquisa, e o

    grupo semiprofissional foi composto por 62,5% dos

    10 bailarinos (n=9).

    Pelo teste de Mann-Whitney, as medidas an-

    tropomtricas aferidas no apresentaram diferenas

    significativas entre os bailarinos do mesmo sexo,

    independentemente do grupo do qual faziam parte

    (p>0,05). A nica dobra cutnea cuja anlise

    estatstica comprovou diferena significativa entre os

    grupos foi a dobra cutnea tricipital entre as mulhe-

    res, a qual teve valor igual a M=15, DP=2,2mm no

    grupo profissional e M=20, DP=2,8mm no grupo

    semiprofissional (p=0,03) (dados no apresentados).

    Com isso, optou-se por expor os dados do grupo

    profissional e semiprofissional em conjunto.

    Ao se comparar o perfil antropomtrico dos

    bailarinos enfatizando os sexos como subgrupos,

    observou-se diferena significativa nas medianas de

    peso, altura e porcentagem de gordura, bem como

    nas dobras cutneas tricipital, peitoral, suprailaca e

    da coxa, que foram maiores entre as mulheres (Ta-

    bela 1).

    Ingesto alimentar

    Para todos os bailarinos, a mdia de ingesto

    de energia dos dois dias no teve distribuio normal

    pelo teste de Shapiro-Wilk (p=0,026), assim como anecessidade energtica calculada segundo o Institute

    of Medicine17(p=0,035) (Tabela 2).

    Pode-se observar que, independentemente

    do sexo, os bailarinos ingerem uma quantidade muito

    inferior de energia em relao s suas necessidades

    dirias (Tabela 2), que foram baseadas nos par-

    metros estabelecidos pelo Institute of Medicine17e

    leva em considerao o peso, a altura, a idade e o

    nvel intenso de atividade fsica que realizam durante

    os ensaios.

    Quanto ao consumo de macronutrientes,

    analisado luz da recomendao do American

    College of Sports Medicine18, apenas 31,2% (n=5)

    dos bailarinos tiveram ingesto adequada de car-

    boidratos, com mdia e desvio-padro iguais a

    M=6,9, DP=0,30g/kg de peso corporal, enquanto

    68,8% (n=11) no alcanaram sequer o limite inferior

    de 6g/kg de peso corporal, ingerindo M=3,0,

  • 7/24/2019 Consumo Alimentar e Antropometria de Bailarinos

    5/10

    Rev. Cinc. Md., Campinas, 20(5-6):127-135, set./dez., 2011

    131CONSUMO E ANTROPOMETRIA DE BAILARINOS

    DP=1,00g/kg de peso corporal. Nenhum bailari-

    no obteve consumo superior ao recomendado (Fi-gura 1).

    J com relao ao consumo de protena, foibastante variada a ingesto por parte dos bailarinos,e 50,0% (n=8) deles ingeriram quantidades inferiores recomendada, com mdia e desvio-padro iguaisa M=1,0, DP=0,20g/kg de peso corporal, enquanto18,8% (n=3) consumiram quantidade superior(M=1,8, DP=0,08g/kg de peso corporal). Os 31,2%(n=5) que ficaram dentro da faixa recomendada

    (1,2g/kg a 1,7g/kg de peso corporal/dia) tiveram

    ingesto mdia de M=1,4, DP=0,13g/kg de peso

    corporal (Figura 1).

    Quanto ao consumo de lipdeos, 56,2% (n=9)

    dos bailarinos ingeriram valores dentro da faixa

    Tabela 1. Comparao dos quartis dos parmetros antropomtricos dos bailarinos, de acordo com o sexo (n=16). Goinia (GO), 2010.

    Peso (kg)

    Altura (m)

    % de gordura

    DCT

    DCSE

    DCAM

    DCP

    DCAB

    DCSI

    DCC

    Parmetros

    0,003*

    0,002*

    0,001*

    0,001*

    0,630*

    0,200*

    0,007*

    0,060*

    0,009*

    0,001*

    Teste de Mann Whitney (p)

    51,8

    01,6

    18,7

    14,8

    10,0

    06,5

    08,0

    10,2

    13,0

    22,0

    55,1

    01,6

    21,0

    17,3

    11,0

    08,3

    10,3

    15,3

    15,7

    24,0

    57,6

    01,7

    23,9

    20,8

    12,3

    11,5

    14,5

    22,5

    20,6

    27,3

    p25 p50 p75

    Mulheres (n=9)

    62,40

    01,7

    06,80

    07,00

    10,30

    05,00

    03,70

    06,30

    07,00

    09,70

    62,90

    01,74

    07,70

    09,30

    12,30

    05,70

    05,30

    08,70

    07,30

    12,70

    68,40

    01,78

    11,80

    09,70

    13,00

    10,70

    08,00

    15,70

    14,30

    15,70

    p25 p50 p75

    Homens (n=7)

    *p

  • 7/24/2019 Consumo Alimentar e Antropometria de Bailarinos

    6/10

    CLA BARROS & MCCM HADLER

    Rev. Cinc. Md., Campinas, 20(5-6):127-135, set./dez., 2011

    132

    preconizada, e tiveram mdia e desvio-padro iguais

    a M=29, DP=3,60% do VET da dieta. Os indivduos

    com ingesto lipdica inferior ao recomendado, que

    correspondem a 12,5% (n=2) do total, consumiram

    uma mdia de M=19,2, DP=0,08% do VET, e a

    quantidade de lipdeos ingerida pelos 31,2% (n=5)

    que ultrapassaram a recomendada foi de M=38,5,

    DP=2,9% do VET.

    D I S C U S S O

    Assim como no estudo feito por Lopes25, as

    diferenas encontradas entre os sexos ao se com-

    pararem as dobras cutneas tricipital, peitoral, su-prailaca e da coxa confirmam as caractersticas

    corporais em que as mulheres diferem dos homens,

    j que eles apresentam menor deposio de tecido

    adiposo nas reas prximas s mamas, braos,

    quadris e pernas.

    Apesar de as atividades fsicas praticadaspelos bailarinos do grupo profissional serem maisintensas e duradouras que as desenvolvidas pelogrupo semiprofissional, no se observou diferenaestatisticamente significante na avaliao antropo-

    mtrica quando foram avaliados comparativamenteos bailarinos do mesmo sexo, mas de grupos dife-rentes.

    A composio corporal de praticantes dequalquer tipo de dana ainda no bem documen-tada na literatura, o que dificulta a comparao comoutros estudos. A mediana da porcentagem de gor-dura corporal entre as mulheres desta pesquisa(21,0%) ficou prxima das encontradas por Guedes26

    em jovens no atletas (21,8%).

    Especialmente para ginastas femininas ebailarinas, o consumo de energia frequentementedescrito como baixo em relao idade e ao pesocorporal, quando comparado aos ndices nutricionaisrecomendados27. Normalmente, os indivduos quepraticam esses esportes limitam o consumo energtico

    para reduzir o peso corporal, buscando um corpo

    mais leve e a melhoria no desempenho profissional28.

    Ao avaliar o consumo alimentar dos bailari-

    nos, verificou-se uma ingesto muito inferior s neces-

    sidades energticas, com a mdia de deficitde 954,7

    kcal (Tabela 2). Deutz et al.27tambm encontraram

    deficitsbastante significativos quando avaliaram o

    balano energtico em 42 ginastas, identificando

    uma ingesto 743kcal menor em relao ao que

    seria necessrio para suprir suas necessidades ener-

    gticas.

    Desvios constantes no consumo de energia

    merecem anlise cuidadosa, pois podem levar a alte-

    raes metablicas e fisiolgicas, como anemia e

    amenorreia em atletas29. Alm disso, esportistas que

    restringem o consumo energtico tm um alto risco

    de sofrer deficincia de micronutrientes17.

    O padro diettico encontrado em atletas de baixa ingesto de calorias e de nutrientes quando

    comparado ao de controles30. No estudo em questo,

    foram consideradas as recomendaes do Institute

    of Medicine17para energia, e doAmerican College

    of Sports Medicine18 para macronutrientes, e no

    recomendaes especficas para bailarinos, que ainda

    no esto bem documentadas na literatura.

    Com relao aos macronutrientes, 68,8% dos

    bailarinos tiveram ingesto abaixo do que reco-

    mendado peloAmerican College of Sports Medicine,

    commdia e desvio-padro iguais a M=3,0, DP=1,0gde carboidratos/kg de peso corporal, valor bem infe-

    rior ao esperado.

    De acordo com Applegate31, ainda que a

    ingesto de carboidratos seja frequentemente maior

    no perodo competitivo em relao ao no compe-

    titivo, o consumo desse nutriente est quase sempre

    abaixo do recomendado para atletas. A baixa inges-

    to de carboidratos, associada ao reduzido consumo

    energtico, pode contribuir para a ativao da sntese

    de glicose por meio de aminocidos que seriam utili-

    zados na manuteno, reparo e hipertrofia dos te-

    cidos29. Alm disso, dietas com restrio de carboidra-

    tos causam diminuio da mobilizao de gorduras

    para o fornecimento de energia, o que aumentaria

    a participao das protenas como substratos ener-

    gticos32.

    A ingesto proteica no tratada com grande

    importncia pelos bailarinos em questo, como

  • 7/24/2019 Consumo Alimentar e Antropometria de Bailarinos

    7/10

    Rev. Cinc. Md., Campinas, 20(5-6):127-135, set./dez., 2011

    133CONSUMO E ANTROPOMETRIA DE BAILARINOS

    ocorre em algumas modalidades esportivas. Ao

    contrrio do estudo feito por Streicher & Sousa33,

    que encontraram ingesto proteica de corredoressignificantemente superior ao que recomendado,

    o consumo proteico em 50% dos bailarinos ficou

    predominantemente abaixo de 1,2g/kg de peso

    corporal, nvel indicado pelo American College of

    Sports Medicine18.

    Segundo Viebig & Nacif29, as protenas so

    necessrias para a sntese de massa muscular e de

    novos compostos proteicos induzidos pelo treina-

    mento fsico, bem como para o reparo e a recupe-

    rao dos tecidos aps a atividade. Nos exerccios

    de endurance ou resistncia, as protenas tm afuno complementar de servir como substrato ener-

    gtico, juntamente com os carboidratos e lipdeos29.

    O baixo consumo proteico pelos bailarinos pode

    prejudicar o processo de sntese de massa muscular,

    o que influiria negativamente em seu desempenho,

    principalmente em situaes que necessitem de

    maior fora ou resistncia.

    A ingesto proteica dos bailarinos em questo

    foi semelhante encontrada no estudo de Hassapidou

    & Manstrantoni34, que estudaram atletas do bal.

    No presente estudo, observou-se, porm, maior

    ingesto de carboidratos (4,4g/kg de peso corporal/

    dia) e menor de lipdeos (30,8%), enquanto os

    valores encontrados por Hassapidou & Manstrantoni34

    foram de 3,1g/kg de peso corporal/dia e 40,6%,

    respectivamente.

    Em geral, a ingesto diettica de lipdeos por

    parte de atletas e praticantes de atividade fsica deve

    seguir as recomendaes voltadas para a populao

    geral, sendo bom no ultrapassar 30% do valor ener-

    gtico total35. Os bailarinos avaliados apresentaramuma mediana de 30,8% do consumo lipdico, estando

    dentro do que preconizado peloAmerican College

    of Sports Medicine18, e muito prximo da recomen-

    dao de 30% do VET estipulado pela Sociedade

    Brasileira de Medicina do Esporte35.

    A alimentao equilibrada tanto em energia

    quanto em micro e macronutrientes pode beneficiar

    amplamente os praticantes de exerccio fsico, igual-

    mente no quesito de seu desempenho esportivo e

    no da manuteno de sua sade

    29

    . Alm disso, a as-sociao entre atividade fsica regular e alimentao

    balanceada previne o surgimento de doenas crni-

    cas no transmissveis, como hipertenso e diabetes

    Mellitus36,37.

    As recomendaes de ingesto energtica

    para indivduos sedentrios ou levemente ativos so,

    porm, insuficientes para atletas, que necessitam de

    uma alimentao diferenciada17. A ingesto alimen-

    tar deficiente em energia e, consequentemente, em

    carboidratos, protenas, lipdeos, vitaminas e minerais

    pode no s prejudicar o rendimento do indivduocomo tambm causar problemas sade, como

    baixa da imunidade, aumento de leses msculo-

    -esquelticas e articulares, disfunes hormonais,

    entre outros35.

    Em relao deficincia dos nutrientes, uma

    baixa ingesto de carboidratos, por exemplo, pode

    prejudicar a manuteno da massa magra e causar

    efeitos negativos sobre o sistema imune38, assim

    como o consumo insuficiente de lipdeos tambm

    gera deficincia de vitaminas lipossolveis

    29

    . A faltade clcio um grande causador de fraturas, e da

    mesma forma o consumo insuficiente de ferro pode

    causar anemia ferropriva e aumentar a fadiga mus-

    cular por reduzir o transporte de oxignio29.

    Para evitar que o balano energtico seja ne-

    gativo e, assim, os problemas acarretados por isso,

    importante aprofundar o conhecimento do tipo de

    atividade praticada, sua frequncia, durao e inten-

    sidade29. Para isso, importante que exista integra-

    o entre o nutricionista, o educador fsico, o fisiote-

    rapeuta, o mdico e at mesmo o psiclogo, evitandono s a queda no rendimento do atleta, mas tambm

    melhorando sua qualidade de vida. O trabalho reali-

    zado em conjunto por uma equipe multiprofissional

    propicia um envolvimento tanto dos profissionais

    quanto dos pblicos aos quais se destinam as ativi-

    dades planejadas, independentemente de quais

    sejam elas39.

  • 7/24/2019 Consumo Alimentar e Antropometria de Bailarinos

    8/10

    CLA BARROS & MCCM HADLER

    Rev. Cinc. Md., Campinas, 20(5-6):127-135, set./dez., 2011

    134

    C O N C L U S O

    A composio corporal no teve diferenas

    significativas entre os indivduos do mesmo sexo. A

    porcentagem de gordura e os valores das dobras

    cutneas tricipital, peitoral, suprailaca e da coxa

    foram maiores entre as mulheres.

    A restrio de energia detectada foi grande

    quando comparada com as recomendaes energ-

    ticas do Institute of Medicine. Houve um alto percen-

    tual de bailarinos cuja ingesto de protenas e car-

    boidratos foi inferior preconizada pelo American

    College of Sports Medicine. Tais inadequaes po-

    dem reduzir o rendimento e a massa magra, gerandotambm distrbios no organismo do indivduo. Isso

    refora a importncia de se fazerem anlises indivi-

    dualizadas das dietas dos bailarinos, e de se trabalhar

    com uma equipe multidisciplinar para compreender

    e intervir na situao do indivduo como um todo,

    obter resultados satisfatrios no exerccio e melhorar

    sua qualidade de vida.

    C O L A B O R A D O R E S

    CLA Barros responsvel pela concepo e desenho

    do estudo, coleta e interpretao dos dados, alm da

    redao do manuscrito. MCCM Hadler responsvel pelo

    desenho do estudo, pelas anlises estatsticas e a reviso

    do manuscrito.

    R E F E R N C I A S

    1. Prati SRA, Prati ARC. Nveis de aptido fsica e anlisede tendncias posturais em bailarinas clssicas. RevBras Cineantropom Desempenho Hum. 2006; 89(1):

    80-7.2. Ribeiro BG, Soares EA. Avaliao do estado nutri-

    cional de atletas de ginstica olmpica do Rio deJaneiro e So Paulo. Rev Nutr. 2002; 15(2):181-91.doi: 10.1590/S1415-52732002000200007.

    3. Lutoslawska G, Malara M, Mazurek K, Czajkowska A.Daily intake of macronutrients and selected mineralsin physically active female students in comparisonwith males of matched age and physical activity. MedSport. 2007; 11(4):119-23.

    4. Weineck J. Treinamento ideal: instrues tcnicassobre o desempenho fisiolgico, incluindo considera-es especificas de treinamento infantil e juvenil. 9

    ed. So Paulo: Manole; 1999.5. Costa RF, Guiselini M, Fisberg M. Correlao entre

    porcentagem de gordura e ndice de massa corporalde frequentadores de academia de ginstica. Rev BrasCinc Mov. 2007; 15(4):39-46.

    6. Bertolucci P, Guerra I, Barros Neto TL, Maest N, BuriniRC, Lancha Jnior AH. Nutrio, hidratao esuplementao do atleta: um desafio atual. Rev NutrPauta. 2002; 10(54):9-18.

    7. Haas AN, Plaza MR, Rose EH. Estudo antropomtricocomparativo entre meninas espanholas e brasileiraspraticantes de dana. Rev Bras Cineantropom Desem-penho Hum. 2000; 2(1):50-7.

    8. Leon HB, Viramontes JA, Garca CMR, Snchez MED.Valoracin antropomtrica de la composicin corporalde Bailarines de ballet: un estudio longitudinal. RevBras Cineantropom Desempenho Hum. 2008; 10(2):115-22.

    9. Zabotto CB, Vianna RP, Gil MF. Registro fotogrficopara inquritos dietticos: utenslios e pores. Cam-pinas: Unicamp; 1996.

    10. Sistema nutrio em foco, verso 1.0. Goinia: Nutri-o em Foco; 2010. [acesso 2010]. Disponvel em:.

    11.Philippi ST. Tabela de composio de alimentos:

    suporte para deciso nutricional. 2 ed. So Paulo:Coronrio; 2002.

    12.Pinheiro ABV. Tabela para avaliao de consumoalimentar em medidas caseiras. 4 ed. Rio de Janeiro:Produo Independente; 1998.

    13. Silva MR, Naves MMV. Manual de nutrio e diettica.2 ed. Goinia: UFG; 1999.

    14. Mendez MHM, Derivi SCN, Rodrigues MCR, Fernan-des ML. Tabela de composio de alimentos. Niteri:Universidade Federal Fluminense; 1995.

    15. Universidade Estadual de Campinas. Tabela brasileirade composio de alimentos. 2 ed. Campinas:Unicamp; 2006.

    16. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica. EstudoNacional de Despesa Familiar: tabela de composiode alimentos. 4 ed. Rio de Janeiro: IBGE; 1996.

    17.Institute of Medicine. Food and Nutrition Board.Dietary reference intakes for energy, carbohydrate,fiber, fat, fatty acids, cholesterol, protein, and aminoacids. Washington (DC): The National AcademiesPress; 2005.

    18. Rodriguez NR, DiMarco NM, Langley S. AmericanCollege of Sports Medicine. Nutrition and athletic

  • 7/24/2019 Consumo Alimentar e Antropometria de Bailarinos

    9/10

    Rev. Cinc. Md., Campinas, 20(5-6):127-135, set./dez., 2011

    135CONSUMO E ANTROPOMETRIA DE BAILARINOS

    performance. Med Sci Sports Exerc. 2009; 41(3):709-31.

    19. Fernandes Filho J. A prtica da avaliao fsica. Rio de

    Janeiro: Shape; 2003.20. Oliveira FP, Bosi MLM, Vigrio OS, Vieira RS. Com-

    portamento alimentar e imagem corporal em atletas.Rev Bras Med Esporte. 2003; 9(6):348-56.

    21.Cabral CAC, Rosado GP, Silva CHO, Marins JCB.Diagnstico do estado nutricional dos atletas daEquipe Olmpica Permanente de Levantamento dePeso do Comit Olmpico Brasileiro (COB). Rev BrasMed Esporte. 2006; 12(6):345-50.

    22.Jackson AS, Pollock ML, Ward A. Generalizedequations for predicting body density of women. MedSci Sports Exerc. 1980; 12(3):175-82.

    23. Jackson AS, Pollock ML. Generalized equations for

    predicting body density of men. Br J Nutr. 1978, 40(3):497-504.

    24.Siri WE. Body composition from fluid spaces anddensity analysis of methods. In: Brozek J, Henschel A.Techniques for measuring body composition.Washington (DC): National Academy of Sciences;1961. p.223-44.

    25.Lopes FA. Distribuio da gordura corporal emhomens e mulheres que frequentam academias emTeresina - PI. Anais do 2 Encontro de Educao Fsicae reas Afins. Teresina: UFPI; 2007.

    26. Guedes DP. Composio corporal: princpios, tcnicase aplicaes. 2 ed. Londrina: APEF; 1994.

    27.Deutz RC, Benardot D, Martin DE, Cody MM.Relationship between energy deficits and bodycomposition in elite female gymnasts and runners.Med Sci Sports Exerc. 2000; 32(3):659-68.

    28. Braggion GF, Matsudo SMM, Matsudo VKR. Consumoalimentar, atividade fsica e percepo da aparnciacorporal em adolescentes. Rev Bras Cinc Mov. 2000;8(1):15-21.

    29. Viebig RF, Nacif MAL. Recomendaes nutricionaispara a atividade fsica e o esporte. Rev Bras Educ Fsica,Esporte, Lazer e Dana. 2006; 1(1):2-14.

    30. Alvarenga M, Larino MA. Terapia nutricional na ano-rexia e bulimia nervosas. Rev Bras Psiquiatr. 2002;24(supl.3):39-43.

    31.Applegate EA. Nutritional considerations forultraendurance performance. Int J Sport Nutr. 1991;1(2):118-26.

    32. Gomes MR, Tirapegui J. Nutrio e atividade espor-tiva. In: Tirapegui J. Nutrio fundamentos e aspectosatuais. So Paulo: Atheneu; 2002. p.141-60.

    33. Streicher I, Sousa MV. Avaliao da ingesto alimentare perfil antropomtrico de corredores recreativos. RevMin EducFs. 2013(1):220-59.

    34. Hassapidou MN, Manstrantoni A. Dietary intakes ofelite female athletes in Greece. J Hum Nutr Diet. 2001;14(5):391-6.

    35. Sociedade Brasileira de Medicina do Esporte. Modi-ficaes dietticas, reposio hdrica, suplemen-tosalimentares e drogas: comprovao de ao ergog-nica e potenciais riscos sade. Diretriz da Socieda-de Brasileira de Medicina do Esporte. Rev Bras MedEsporte. 2009; 15(3):3-12.

    36. Molena-Fernandes CA, Nardo Junior N, Tasca RS,Pelloso SM, Cuman RKN. A importncia da associaode dieta e de atividade fsica na preveno e controledo diabetesmellitustipo 2. Acta Sci Health Sci. 2005;27(2):195-205.

    37. Rique ABR, Soares EA, Meirelles CM. Nutrio e exer-ccio na preveno e controle das doenas cardiovas-

    culares. Rev Bras Med Esporte. 2002; 8(6):244-54.38. Rosa LFBPCR. Carboidratos. In: Lancha Junior AH. Nu-

    trio e metabolismo aplicados atividade motora.So Paulo: Atheneu; 2004. p.37-69.

    39. Brasil. Ministrio da Sade. O SUS de A a Z: garantindosade nos municpios. Braslia: MS; 2009.

    Recebido em: 21/10/2011Verso final reapresentada em: 23/2/2012Aprovado em: 1/3/2012

  • 7/24/2019 Consumo Alimentar e Antropometria de Bailarinos

    10/10

    CLA BARROS & MCCM HADLER

    Rev. Cinc. Md., Campinas, 20(5-6):127-135, set./dez., 2011

    136