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2354 CONSUMO E SUSTENTABILIDADE: DESAFIOS PARA UMA NOVA ATITUDE ECOLÓGICA CONSUMPTION AND SUPPORT: CHALLENGES FOR A NEW ECOLOGICAL ATTITUDE Siomara Cador Eddine Karlo Messa Vettorazzi Vladimir Passos de Freitas RESUMO A atual sociedade de consumo vive momentos de discussão e reflexão. É preciso repensar os atuais padrões de consumo e sua interferência no meio ambiente. O consumidor deve ter consciência da sua importância nas transformações econômicas, sociais e políticas. Suas opções e atos de consumo têm papel relevante na sociedade contemporânea. Pois, quaisquer que sejam as opções de consumo, elas têm sempre impacto no meio ambiente. Adquirir, utilizar e descartar produtos e serviços com respeito ao meio ambiente e à dignidade humana traduz o que significa consumo sustentável. Para que o consumo seja consciente e responsável é preciso informação clara e de qualidade, e também educação ambiental universalizada. O consumidor deve usar seu poder de escolha para favorecer produtos e serviços ecologicamente corretos e com isso promover a sustentabilidade social e ambiental. A responsabilidade pelo descarte de produtos e destinação final de resíduos, também conhecida como “responsabilidade pós-consumo”, deve ser compartilhada entre todos os elos da cadeia produtiva. Uma nova consciência ecológica pressupõe mudanças urgentes nos comportamentos e hábitos de consumo. O resultado dessa mudança de atitude é um consumo consciente de seu impacto na natureza e voltado à sustentabilidade. Harmonizar a relação entre consumo e meio ambiente é o novo desafio que se instaura. Desse entrosamento resultará uma nova ética: a do consumo sustentável. PALAVRAS-CHAVES: SOCIEDADE DE CONSUMO – MEIO AMBIENTE – DIREITO - CONSUMO SUSTENTABILIDADE INFORMAÇÃO DE QUALIDADE DIREITO DE ESCOLHA RESPONSABILIDADE PÓS- CONSUMO – ÉTICA. ABSTRACT Trabalho publicado nos Anais do XVII Congresso Nacional do CONPEDI, realizado em Brasília – DF nos dias 20, 21 e 22 de novembro de 2008.

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CONSUMO E SUSTENTABILIDADE: DESAFIOS PARA UMA NOVA ATITUDE ECOLÓGICA

CONSUMPTION AND SUPPORT: CHALLENGES FOR A NEW ECOLOGICAL ATTITUDE

Siomara Cador Eddine Karlo Messa Vettorazzi

Vladimir Passos de Freitas

RESUMO

A atual sociedade de consumo vive momentos de discussão e reflexão. É preciso repensar os atuais padrões de consumo e sua interferência no meio ambiente. O consumidor deve ter consciência da sua importância nas transformações econômicas, sociais e políticas. Suas opções e atos de consumo têm papel relevante na sociedade contemporânea. Pois, quaisquer que sejam as opções de consumo, elas têm sempre impacto no meio ambiente. Adquirir, utilizar e descartar produtos e serviços com respeito ao meio ambiente e à dignidade humana traduz o que significa consumo sustentável. Para que o consumo seja consciente e responsável é preciso informação clara e de qualidade, e também educação ambiental universalizada. O consumidor deve usar seu poder de escolha para favorecer produtos e serviços ecologicamente corretos e com isso promover a sustentabilidade social e ambiental. A responsabilidade pelo descarte de produtos e destinação final de resíduos, também conhecida como “responsabilidade pós-consumo”, deve ser compartilhada entre todos os elos da cadeia produtiva. Uma nova consciência ecológica pressupõe mudanças urgentes nos comportamentos e hábitos de consumo. O resultado dessa mudança de atitude é um consumo consciente de seu impacto na natureza e voltado à sustentabilidade. Harmonizar a relação entre consumo e meio ambiente é o novo desafio que se instaura. Desse entrosamento resultará uma nova ética: a do consumo sustentável.

PALAVRAS-CHAVES: SOCIEDADE DE CONSUMO – MEIO AMBIENTE – DIREITO - CONSUMO – SUSTENTABILIDADE – INFORMAÇÃO DE QUALIDADE – DIREITO DE ESCOLHA – RESPONSABILIDADE PÓS-CONSUMO – ÉTICA.

ABSTRACT

Trabalho publicado nos Anais do XVII Congresso Nacional do CONPEDI, realizado em Brasília – DF nos dias 20, 21 e 22 de novembro de 2008.

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The current society of consumption lives moments of quarrel and reflection. It’s necessary to rethink the current standards of consumption and its interference in the environment. The consumer must be aware of its importance in the economic, social and political transformations. Its options and acts of consumption have a relevant role in the contemporary society. Therefore, whatever consumption options, they always have environmental impact. To acquire, to use and to discard products and services respecting environment and the human dignity is what means sustainable consumption. For the consumption to be conscious and responsible it is necessary clear and qualitative information, and also an environmental universal education. The consumer must use its power of choice to favor ecologically correct products and services and, by doing this, to promote social and environmental support. The responsibility for the discarding products and final destination of residues, also known as “post consumption responsibility”, must be shared among all links of the productive chain. A new ecological conscience invokes urgent changes in behavior and consumption habits. The outcome from this change of attitude is a conscious consumption, aware of its impact in nature and aiming sustainability. To harmonize the relation among consumption and environment is the new challenge at hand. And from this relation new ethics will result: one of sustainable consumption.

KEYWORDS: CONSUMPTION SOCIETY - ENVIRONMENT – RIGHT - CONSUMPTION - SUPPORT - INFORMATION OF QUALITY - RIGHT OF CHOICE – POST CONSUMPTION RESPONSIBILITY - ETHICAL.

1. INTRODUÇÃO

A Constituição Federal brasileira, conclamada “constituição cidadã”, ao assegurar o exercício dos direitos sociais e primar por um Estado de bem-estar fundado numa sociedade fraterna e pluralista, defende primordialmente a liberdade. Suas idéias preambulares, preceituadas nos incisos do artigo 1º da Carta Magna, serão efetivadas ao congregar-se a proteção de conceitos como dignidade da pessoa humana, livre iniciativa e meio ambiente em um só Estado social e democrático.

Ao longo dos 20 anos da Constituição, muito se evoluiu na tentativa de proteção destes preceitos basilares, contudo, congregar ao mesmo tempo a livre iniciativa da ordem econômica (art. 170) e a proteção ao meio ambiente ecologicamente equilibrado como bem coletivo (art. 225) é trabalho árduo e que ainda não está próximo de chegar ao fim. Para tanto, é necessário buscar um equilíbrio entre o uso e a proteção dos recursos naturais, exigindo-se uma racionalidade que respeite os limites impostos pela natureza. Por isso, os fundamentos constitucionais indicam uma utilização baseada na sustentabilidade.

Por isso, certo é que o artigo 225 deve ser lido em consonância com os princípios fundamentais inseridos nos artigos 1º a 4º da Constituição Federal, que fazem da tutela ao meio ambiente um instrumento de realização da cidadania e da dignidade da pessoa humana. O presente ensaio tem o objetivo de levantar questões referentes à relação entre consumo e proteção ao meio ambiente emergidas ao longo da existência da Carta Constitucional.

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De início, cumpre afirmar que a situação degradante por que passa nosso meio ambiente está intimamente relacionada ao modelo de desenvolvimento capitalista adotado. O estímulo permanente ao consumo é a base desse sistema, que tem a natureza como fonte inesgotável de energia e matéria-prima e como abrigo de dejetos produzidos por suas cidades e indústrias.[1]

Nosso modelo de desenvolvimento está baseado no consumo. Pois, quanto mais consumo, mais produção e, conseqüentemente, mais lucro. Os valores sociais estão esquecidos, de modo a se fazer afirmar que o sucesso do ser humano é medido por aquilo que ele consome. Como ficam os demais valores sociais, como a ética, a moral, o bem-estar coletivo, o meio ambiente ecologicamente equilibrado?

A resposta não é fácil, já que é o mercado que dita as regras. Para Ana Luiza SPÍNOLA,

“O modelo de progresso difundido atualmente, que estimula um consumo exagerado e que mercantiliza os recursos naturais é insustentável e precisa ser revisto. Esse modelo de desenvolvimento excessivamente consumista é altamente impactante tanto do ponto de vista social como ambiental. É por isso que a grande questão que se coloca hoje em dia é a busca de um novo modelo de desenvolvimento e de consumo que não cause tantos impactos no meio ambiente, que seja ecologicamente sustentável e que promova uma melhor distribuição da riqueza no mundo. Para adotar a ética da vida sustentável, os consumidores deverão reexaminar seus valores e alterar seu comportamento. A sociedade deverá estimular os valores que apóiem esta ética e desencorajar aqueles incompatíveis com um modo de vida sustentável.” [2]

Durante muito tempo afirmou-se que a degradação ambiental era resultado do malfadado processo produtivo. A partir da década de 90, intensificou-se a percepção de que os problemas ambientais estariam relacionados aos atuais padrões de consumo, o que possibilitou a emergência de um novo discurso dentro do ambientalismo internacional. A problemática ambiental começa, então, a ser redefinida, passando a ser identificada principalmente com o estilo de vida e os padrões de consumo das sociedades afluentes. Fátima PORTILHO entende que esta redefinição teria se dado a partir de dois deslocamentos discursivos da definição da questão ambiental: do aumento populacional (principalmente no hemisfério sul) para o modelo de produção das sociedades afluentes (especialmente no hemisfério norte); e, mais tarde, da preocupação com os problemas ambientais relacionados à produção para uma preocupação com os problemas ambientais relacionados ao consumo e aos estilos de vida propriamente ditos.[3]

A Agenda XXI, ao abordar o tema “Mudança de Padrões de Consumo”, admite que as principais causas da deterioração do meio ambiente estão nos padrões insustentáveis de produção e consumo e nos impactos produzidos pela pobreza nos países em desenvolvimento. Reconhece que, em determinadas partes do mundo, os padrões de consumo são muito altos e que existe um amplo segmento da sociedade que não é atendido em suas necessidades básicas. A mudança nos padrões de consumo “exigirá uma estratégia multifacetada centrada na demanda, no atendimento das necessidades

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básicas dos pobres e na redução do desperdício e do uso de recursos finitos no processo de produção.” A Agenda XXI propõe uma mudança comportamental na forma de consumir e produzir. Propõe que os governos devem estimular grupos de consumidores, indivíduos e famílias através da “(...) oferta de informações sobre as conseqüências das opções e comportamentos de consumo, de modo a estimular a demanda e o uso de produtos ambientalmente saudáveis.”[4]

O documento recomenda, ainda, um esforço conjunto entre governo, indústria e sociedade em geral, para reduzir a geração de resíduos e de produtos descartados. Estimula as seguintes ações: a) reciclagem nos processos industriais e do produto consumido; b) redução do desperdício na embalagem dos produtos; c) introdução de novos produtos ambientalmente saudáveis.

É com a Agenda XXI que se instaura o segundo deslocamento discursivo, retratado por PORTILHO: dos problemas ambientais causados pela produção para os problemas ambientais causados pelo consumo.[5] A autora observa:

“Apontado pelo ambientalismo original desde a década de 60 e motivo de críticas há vários séculos, o lado perverso do consumismo ocidental moderno chega finalmente aos discursos hegemônicos, fazendo ressurgir o tema da escassez e dos limites ecológicos no final do século XX. Com isso, a degradação ambiental e as formas de poluição produzidas na esfera industrial perdem importância para as formas de poluição produzidas nas atividades cotidianas de consumo, pelas pessoas comuns. Com este deslocamento, houve também uma desvinculação entre os processos de produção e consumo, com a ênfase sobre o segundo. No entanto, embora o impacto ambiental do consumo dos países do Norte tenha sido assumido por estes, pode-se observar uma clara tentativa de contrabalançar esse argumento, indicando que o problema do consumo está nos desejos e esforços dos países em desenvolvimento para atingir o mesmo padrão de vida das nações afluentes. Ganhou força a idéia de que para que os países do Sul atingissem o mesmo nível de consumo médio de um habitante do Norte, seria necessário mais dois planetas Terra.” [6]

Há uma grande dificuldade em se ajustar os atuais padrões de consumo para um estilo mais consciente e responsável, justamente porque o estilo de vida americanizado é não só apreciado, mas muito desejado pela maioria da população do planeta. Afinal, estamos tão adstritos à sua lógica, que acaba sendo difícil pensar numa outra forma de vida social que não seja organizada a partir do consumo de mercadorias produzidas em massa. Mas, a grande dificuldade de se adotar uma atitude preventiva no sentido de estabilizar o nível de consumo de recursos naturais está em que essa neutralização pressupõe uma mudança de atitude que contraria a lógica do processo de acumulação de capital.

De outro lado, acreditar que o desenvolvimento sustentável é construído com base nos limites da economia de mercado, implica numa falsa interpretação da sustentabilidade. Aceitar que o mercado é capaz de dar soluções satisfatórias à crise ambiental, é outra falácia. Não se pode admitir que a substituição da natureza pelo capital seja algo

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sustentável. Não há como separar a produção e o consumo da conservação da natureza. A verdadeira sustentabilidade vai exigir que o mercado e o processo de produção e consumo sejam reformulados.

PORTILHO afirma que movimentos sociais, como as chamadas Organizações de Defesa dos Consumidores (ODC), tradicionalmente preocupadas apenas com a proteção dos direitos do consumidor no mercado e o aumento da disponibilidade das suas opções de escolha começam a esboçar propostas de compatibilizar a defesa dos consumidores com a defesa do meio ambiente, lançando e participando de campanhas por um consumo menos predatório, somando esforços e se aproximando dos movimentos ambientalistas strictu sensu.[7]

O problema é que a grande maioria dos debates sobre a relação entre consumo e meio ambiente enfatiza que a necessária melhoria na qualidade ambiental deveria ser atingida através mais da substituição de bens e serviços por outros mais eficientes e menos poluentes, do que através da redução do volume de bens e serviços consumidos, o que acaba por resultar em discursos retóricos.

A busca por um desenvolvimento que seja realmente sustentável requer processos de produção e consumo mais coerentes e racionais. O sucesso dessa busca depende de uma reorientação das práticas de consumo. Essa nova lógica é resultado de um conjunto de fatores preponderantes, dentre eles: informações, consciência, atitude, responsabilidades, valores.

2. SOCIEDADE DE CONSUMO

A sociedade moderna é constantemente incentivada pela mídia e pelo próprio modo de vida urbano a um consumo desenfreado, com a aquisição de produtos muitas vezes supérfluos e descartáveis. O status da pessoa é medido pelo que ela consome e não pelo que possa ser necessário e útil a sua vida.

Vive-se a era da "obsolescência programada", a qual visa a induzir o consumidor ao descarte do produto do modelo anterior em prazo exíguo para comprar o do modelo novo que se, de um lado, fomenta, os fluxos econômicos, de outro, importa no acréscimo na geração de resíduos.

A sociedade de consumo se caracteriza pela produção padronizada e em grande escala de bens para serem consumidos por pessoas que tiveram suas prioridades conduzidas por um processo de marketing voltado ao aumento da demanda, ainda que não tivessem necessidade real de adquirir tais produtos.[8]

Na atual sociedade de consumo, o objetivo maior do homem é consumir tudo aquilo que lhe é permitido com o fruto de seu trabalho. Quanto mais conforto as pessoas têm, mais elas esperam ter. Trata-se de sociedade voltada à produção e aquisição crescentes de bens de consumo cada vez mais diversificados. A sobrevivência dessa sociedade depende da criação de necessidades por novos produtos, pois, logo que um produto é lançado no mercado, ele deve ser consumido intensamente e em seguida substituído por outro. Quando a necessidade de adquirir esse produto não existe, é preciso criá-la,

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embuti-la na consciência do consumidor. Não é a tecnologia que atende às nossas necessidades, como os meios de comunicação de massa geralmente nos fazem crer, e sim as necessidades é que são criadas para atender à crescente produção e à elaboração cada vez mais diversificada dos bens de consumo.

Segundo Fátima PORTILHO,

“A abundância dos bens de consumo continuamente produzidos pelo sistema industrial é considerada, freqüentemente, um símbolo da performance bem-sucedida das economias capitalistas modernas. No entanto, esta abundância passou a receber uma conotação negativa sendo objeto de críticas que consideram o consumismo um dos principais problemas das sociedades industriais modernas. A partir da construção da percepção de que os atuais padrões de consumo estão nas raízes da crise ambiental, a crítica ao consumismo passou a ser vista como uma contribuição para a construção de uma sociedade sustentável.”[9]

Entretanto, com informação adequada e consciência de que certos atos de consumo influem de maneira direta no meio ambiente, o consumidor pode fazer a diferença, mudando seus padrões de consumo, o que determinará mudanças em toda a cadeia produtiva. E, como diz SODRÉ, “somando qualidade ambiental à qualidade do produto”[10].

3. O DIREITO E A NOVA SOCIEDADE DE CONSUMO

O desenvolvimento tecnológico e científico promoveu profundas transformações na atual sociedade. Aliado a esses fatores, os avanços da economia e das telecomunicações permitiram a formação de uma sociedade complexa, a qual exige respostas e soluções rápidas. Segundo Gregori, “o Direito, através das leis, deve encontrar respostas adequadas a essas inovações, bem como levar em conta que diante de uma realidade globalizada, é necessária uma interpretação afinada com esta. Nesse mundo pós-moderno, não há mais fronteiras geográficas e, portanto, também as fronteiras jurídicas devem ser menos rígidas. Resultam daí novos direitos – ambiental, do consumidor, econômico – destinados a satisfazer as novas necessidades de todos os envolvidos.”[11]

Para Efing,

“O aperfeiçoamento e a sofisticação das relações de consumo, ora em um mercado mundial de livre-comércio, livre circulação de bens e serviços, impulsionados pela evolução tecnológica da comunicação e informática, modificaram sensivelmente a vida em sociedade, que então por demais dinâmica, impõe a revisão de muitos conceitos clássicos do Direito.”[12]

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O Direito do Consumidor surge para equilibrar as desigualdades decorrentes dessa nova realidade, isto é, para adequar as novas realidades impostas pelo desenvolvimento econômico, tecnológico e científico.

Foi com a Constituição Federal de 1988 que a proteção do consumidor adquiriu status de garantia constitucional. O direito do consumidor está previsto em vários dispositivos, mas, destaca-se sua previsão no rol dos direitos individuais e coletivos, quando determina o art. 5º, XXXII: “o Estado promoverá, na forma da lei, a defesa do consumidor.”

Posteriormente, com a edição do Código de Defesa do Consumidor e a entrada em vigor de suas normas, restaram esclarecidos e consolidados os direitos dos consumidores, através da criação do microssistema das relações de consumo[13] e da inserção de novas normas e princípios jurídicos para a tutela dos consumidores.[14]

Fala-se em “nova sociedade de consumo” para caracterizar a sociedade que se busca e se requer atualmente. Sociedade esta, que exige mudanças radicais nos padrões de comportamento atual. Mas, para isso, é necessário que as regras sociais, jurídicas e culturais se coadunem com a nova realidade.

EFING afirma que a atual legislação consumerista brasileira não pode mais ser concebida como de características privadas, pois a proteção e defesa da sociedade de consumo, assume cada vez mais o caráter difuso e coletivo. Para o autor, as relações de consumo são a marca do cotidiano dos cidadãos, vez que suas relações mais simples, até as mais complexas, estão permeadas por esse Direito.[15]

A sustentabilidade vista de maneira ampla leva-nos, também, à aspectos sociais e econômicos e não puramente ambientais. O primeiro dos direitos dos consumidores, o acesso ao consumo, deve ser também considerado, o que nos remete à questão do resgate da cidadania, pois, antes de serem consumidores, os indivíduos devem ser cidadãos com seus direitos e responsabilidades.[16]

Nesse sentido, a compatibilização entre Direito e Sustentabilidade é fundamental. Pois, regras são necessárias para se concretizar a proteção socioambiental. Nessa relação, a função do Direito é sistematizar e regular as questões que envolvem consumo e meio ambiente, utilizando-se de instrumentos jurídicos de prevenção, reparação, informação, monitoramento e participação.[17] Dessa forma, é possível vislumbrar uma aproximação do Direito com a Sustentabilidade, buscando um equilíbrio nas relações do homem com o meio ambiente.

4. CONSUMO E MEIO AMBIENTE: UM NOVO PARADIGMA?

Por causa do excessivo uso dos recursos naturais e da enorme produção de lixo e poluição, a sociedade global desperta para a necessidade de se harmonizar consumo e meio ambiente, minimizando os efeitos da produção desenfreada de bens supérfluos e buscando alternativas para o descarte de produtos e embalagens pós-consumo.

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Surgem, então, manifestações em várias partes do globo em torno da questão pró-ambiente. A consciência ecológica e a busca pela sustentabilidade começam a fazer parte dos debates e discussões na área das relações de consumo. Como condição intrínseca à natureza humana, o consumo em si não é o problema, mas seus atuais padrões e efeitos refletem diretamente no meio ambiente e na esfera social. Segundo FELDMANN,

“O consumo é essencial para a vida humana, visto que cada um de nós é consumidor. O problema não é o consumo em si mesmo, mas os seus padrões e efeitos, no que se refere à conciliação de suas pressões sobre o meio ambiente e o atendimento das necessidades básicas da Humanidade. Para tanto, é necessário desenvolver melhor compreensão do papel do consumo na vida cotidiana das pessoas. De um lado, o consumo abre enormes oportunidades para o atendimento de necessidades individuais de alimentação, habitação, saneamento, instrução, energia, enfim, de bem-estar material, objetivando que as pessoas possam gozar de dignidade, auto-estima, respeito e outros valores fundamentais. Nesse sentido, o consumo contribui claramente para o desenvolvimento humano, quando aumenta suas capacidades, sem afetar adversamente o bem-estar coletivo, quando é tão favorável para as gerações futuras como para as presentes, quando respeita a capacidade de suporte do planeta e quando encoraja a emergência de comunidades dinâmicas e criativas. O consumo na vida contemporânea, entretanto, traz novas dinâmicas e a sua compreensão está longe de ser alcançada.” [18]

O Princípio 8 da Declaração das Nações Unidas para o Meio Ambiente, Rio-92, dispõe: “para atingir o desenvolvimento sustentável e mais alta qualidade de vida para todos, os Estados devem reduzir e eliminar padrões insustentáveis de produção e consumo e promover políticas demográficas adequadas”.

Para Édis MILARÉ, “muitas das soluções que levam ao desenvolvimento sustentável (objetivo da cidadania ambiental) também permitem chegar ao consumo sustentável (objetivo da cidadania do consumo).”[19] Para o autor, o uso inadequado ou desnecessário e o abuso por parte do consumidor não podem ser relevados. Da mesma forma, sua participação pessoal no coro das exigências ambientais (reclamações, boicotes e outras formas) decorre do exercício de sua cidadania ambiental.[20]

Na análise da sociedade atual, são importantes as reflexões sobre o que significa consumo; as técnicas que o incentivam; a análise do ciclo de vida dos produtos; a educação ambiental aos consumidores e a publicidade ecologicamente correta como aliados na preservação do meio ambiente.

Para ORTIGOZA,

Despertar um consumo ecologicamente consciente é a grande meta para se atingir o consumo sustentável; para tanto, é necessário desenvolver hábitos de consumo mais

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responsáveis e que apresentem um menor volume de desperdício. Esse processo, que é extremamente assentado em uma educação ambiental, almeja primeiramente a redução, afinal nem tudo o que consumimos é realmente necessidade. Posteriormente, mas não menos importante, é educar para a reutilização, pois muitos dos produtos que consumimos podem servir para novos usos. A introdução dessa prática em nossas vidas também minimiza o impacto dos descartáveis. E atrelada a esses objetivos está a necessidade de reciclar os produtos já utilizados, ou seja, introduzi-los novamente no sistema produtivo de forma que se transformem em novos produtos. [21]

Segundo a Comissão de Desenvolvimento Sustentável da ONU, “consumo sustentável é o uso de serviços e produtos que respondam às necessidades básicas de toda população e trazem a melhoria na qualidade de vida, ao mesmo tempo em que reduzem o uso dos recursos naturais e de materiais tóxicos, a produção de lixo e as emissões de poluição em todo ciclo de vida, sem comprometer as necessidades das gerações futuras.” (CDS/ONU – 1995). Neste sentido, a Consumers International[22] alerta para o fato de que “a solução de alguns problemas ambientais pode não exigir produtos ‘mais verdes’, mas a redução do consumo, ou a adaptação a uma vida sem determinados produtos”.

Marcelo Gomes SODRÉ pondera: “as agressões ao meio ambiente constituem uma constante e os consumidores em geral acabam por perceber a natureza como uma série de objetos a serem consumidos, ou seja, destruídos, não relacionando seu ato de consumo com as conseqüências que o mesmo causa ao meio ambiente. O consumidor não percebe a finitude da natureza, tampouco conhece a força que possui para que ocorram mudanças nos processos produtivos.”[23]

O certo é que a questão ambiental impõe uma mudança paradigmática da Sociedade de Consumo. As propostas de consumo sustentável priorizam ações coletivas e mudanças políticas, econômicas e comportamentais. O comprometimento com uma mudança responsável de hábitos e costumes é o primeiro passo. O segundo requer vontade política para implementar políticas públicas de regulamentação, tanto da produção como do consumo.

Segundo PORTILHO, “uma política de sustentabilidade pressupõe uma transformação de estruturas e padrões que definem a produção e o consumo, avaliando sua capacidade de sustentação. Meio Ambiente deixou de ser relacionado apenas a uma questão de como usamos os recursos (os padrões), para incluir também uma preocupação com o quanto usamos (os níveis), tornando-se uma questão de acesso, distribuição e justiça.”[24]

5. A QUALIDADE DAS INFORMAÇÕES DOS PRODUTOS E SERVIÇOS COMO PARÂMETRO AO DIREITO DE ESCOLHA

A informação ao consumidor é absolutamente necessária. A Constituição Federal prevê o direito à informação como garantia individual e como um dos direitos da personalidade, baseado no princípio da dignidade humana (artigos 1º, III e 5º, XIV). É

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preciso que a informação seja compatível com a possibilidade do consumidor exercitar livremente o seu direito de escolha.

O direito do consumidor à informação qualificada possui como um dos seus pilares o princípio da liberdade. Esta consiste na capacidade de poder escolher. Mas, para ter a capacidade de opção é necessário o conhecimento sobre o que irá eleger como melhor alternativa.

O Código de Defesa do Consumidor traz expressamente a obrigação do fornecedor de bem informar o consumidor sobre o produto ou serviço que está adquirindo[25]. Sendo assim, para cumprir o que determina o CDC, a informação prestada ao consumidor deve ser esclarecedora, segura e precisa de modo a influenciar a vontade do cidadão no seu processo decisório de consumir determinados produtos. Uma população bem informada torna-se mais exigente, racional e mais consciente de seu papel com a qualidade de vida e com o bem-estar social.

O que se espera da sociedade é justamente uma tomada de posição, altiva, altruísta, ética e participativa diante dos bens e valores ambientais, ou seja, se esta sociedade pode usar o seu poder de escolha em prol da sustentabilidade, ela deve assim agir.[26] Para Flávia LOURES,

“o acesso à informação ambiental interliga direito e cidadania e prepara os caminhos que serão trilhados pela sociedade civil organizada e consciente de suas prerrogativas e obrigações. Isto porque a população ignorante e passiva permite que o direito seja utilizado como instrumento de dominação, quando deveria refletir as relações e os conflitos estabelecidos no seio da sociedade e as necessidades daqueles que são, ao mesmo tempo, criadores e destinatários do ordenamento jurídico.” [27]

MILARÉ examina a importância do direito à informação:

“Surge como significativa conquista da cidadania para a participação ativa na defesa de nosso rico patrimônio ambiental. Aliás, o direito à informação é um dos postulados básicos do regime democrático, essencial ao processo de participação da comunidade no debate e nas deliberações de assuntos de seu interesse direto. (...) De fato, o cidadão bem informado dispõe de valiosa ferramenta de controle social do Poder. Isto porque, ao se deparar com a informação e compreender o real significado da questão ambiental, o ser humano é resgatado de sua condição de alienação e passividade. E, assim, conquista sua cidadania, tornando-se apto para envolver-se ativamente na condução de processos decisórios que hão de decidir o futuro da humanidade sobre a Terra”.[28]

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Prevalece em nossa sociedade a massificação da informação direcionada ao consumo, mais voltada para o lucro do que para a preservação ambiental, deixando em segundo plano, questões essenciais como a qualidade de vida, a saúde e o bem-estar geral. Consumir primeiro para depois cuidar da natureza tornou-se uma regra despercebidamente aceita e seguida no mundo moderno.[29] Nesse sentido, CORTEZ e ORTIGOZA fazem uma reflexão:

“Geralmente, os consumidores são mal informados sobre as conseqüências, para o meio ambiente, de suas escolhas de consumo e de estilos de vida. Entretanto, a fim de alcançar o consumo sustentável, também denominado ‘consumo responsável’, os consumidores precisarão mais do que informações. Será preciso, igualmente, uma mudança nas atitudes sociais e culturais, de modo que a liberdade pessoal de desfrutar de benefícios materiais aqui e agora seja contrabalançada por um sentimento de responsabilidade compartilhado, a fim de promover o bem-estar de toda a humanidade, incluindo o das gerações futuras.” [30]

A informação é o fundamento para uma decisão livre. Aquele que dispõe de boa informação e de conhecimento tem melhores condições de avaliar a real necessidade de adquirir determinado produto e de perceber os efeitos ambientais que seu ato pode causar.

Nesse sentido, as questões ambientais demandam respostas rápidas e requerem o acesso a uma gama de informações socioambientais e ferramentas adequadas para a análise e visualização de modelos e cenários de impacto socioambiental, mas a apropriação isolada dessas informações é insuficiente, tornando-se meros dados. O agente social precisa situar a informação em seu contexto para que adquira sentido e possa transformá-la em conhecimento com a finalidade de construir uma relação mais compreensiva da realidade.[31]

Segundo BARROS, “de maneira breve, pode-se dizer que informação socioambiental é toda informação capaz de provocar no cidadão receptor uma mudança de comportamento em relação às questões que afetam o seu ambiente. Mais informado ele se dará conta dos problemas ambientais em curso e tomará, a sua escolha, uma posição.”[32]

Para Heloisa CARPENA, o direito de escolha do consumidor é sagrado. Mas, para tanto ele necessita de informações:

“A informação clara, objetiva, verdadeira, cognoscível permite que o consumidor instrua seu processo de decisão de compra do produto ou serviço, realizando-o de forma consciente, e assim, minimizando os riscos de danos e de frustração de expectativas. O direito de informação é garantido de forma ampla pela lei, não como fim em si mesmo, mas como condicionante do direito de escolha do consumidor.”[33]

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A liberdade de escolha está referida expressamente no Código de Defesa do Consumidor como direito básico do consumidor. O exercício da escolha importa de forma mais direta para satisfação de seus próprios desejos, mas interessa à sociedade como um todo, pois, ao escolher, o consumidor indica com a sua decisão quais são os melhores e mais seguros produtos e serviços. Sua participação consciente pode contribuir de maneira satisfatória para a consecução do consumo sustentável.

Os defensores do consumo verde afirmam que,

“A proposta de consumo verde é dominada por análises que consideram que se os consumidores obtiverem conhecimento suficiente eles vão obter a necessária “consciência ambiental”, traduzindo-a em atitudes e comportamentos ambientalmente benignos. Esta perspectiva é facilmente encontrada na maneira como a educação ambiental é, muitas vezes, encarada, objetivando simplesmente traduzir as informações dos especialistas para que as pessoas comuns tomem as decisões corretas. Existe uma crença implícita de que a informação desencadeia comportamentos pró-meio ambiente e que, portanto, a carência de informações impede estes comportamentos e responsabilidades. Nesse sentido, os proponentes do consumo verde apontam a falta de informações adequadas para que os consumidores possam realizar suas escolhas ecologicamente corretas.” [34]

Programas informativos e estratégias de eco-rotulagem são apontados hoje como alternativas reais para incentivar o consumo sustentável. Mas, é necessário esclarecer os consumidores sobre alguns pontos:

“a questão da rotulagem ambiental é outro aspecto importante com relação à informação das pessoas; é algo que deveria ser amplamente debatido para não iludir os consumidores e, assim, obter mais credibilidade. Os símbolos utilizados nas embalagens dos produtos apenas indicam que os materiais são potencialmente recicláveis e não necessariamente que serão reciclados, mesmo porque pode não haver mercado para eles. As indústrias deveriam ser mais claras em seus sistemas de codificação e alertar o consumidor de que a presença do símbolo de reciclável não é uma garantia implícita de que qualquer recipiente é próprio para ser transformado em outro produto. Os símbolos só poderiam ser usados caso existissem formas adequadas de coleta e destinação disponíveis para o público, a quem esses símbolos se dirigem, a exemplo do que ocorre na Holanda.”[35]

A consciência dos atuais problemas ambientais e a certeza de que o consumidor é detentor de um grande poder de transformar a realidade e influir no seu destino, são consideradas estratégias para provocar as mudanças necessárias em direção à

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sustentabilidade. As ações individuais passam a ser vistas como essenciais e o consumidor como responsável, através de suas demandas e escolhas cotidianas, por gerar mudanças substanciais nos processos de produção e de consumo.

Para SODRÉ, valorizar a rotulagem ambiental dos produtos (inclusive com a regulamentação e obrigatoriedade do chamado selo verde, como um canal de informações a respeito dos produtos, processos e impactos ambientais positivos ou negativos) e a certificação ambiental (como instrumento de orientação aos consumidores) é uma proposta válida para se atingir a tão sonhada sustentabilidade.[36]

Mas, para que a sustentabilidade seja atingida, faz-se necessária a divulgação de informações claras, verídicas e eficientes. Se a informação for séria e relatar de forma inequívoca como se processou todo o ciclo de vida do produto, o consumidor terá em suas mãos um verdadeiro instrumento de poder: a liberdade de escolha.

Por fim, apresenta-se interessante observação feita por Aron BELINKY, da ONG Akatu: “a idéia central não é dizer às pessoas o que elas devem ou não fazer, o que devem ou não consumir. Mas, fornecer elementos para que pensem e reflitam. O objetivo é aprender a escolher com consciência. Oferecer a informação para as próprias pessoas decidirem é mais desafiador. (...) O consumidor tem poder. Ele parte da forma básica do cidadão consumidor para se tornar um consumidor cidadão.”[37]

6. RESPONSABILIDADE PÓS-CONSUMO: DE QUEM É?

É inegável que o comportamento humano e o estilo de vida atual da população têm grande influência no equilíbrio ambiental do planeta. A escassez dos recursos naturais e o consumo desenfreado desses recursos têm propiciado o agravamento da crise ambiental mundial. Mas, como escolher com acerto o produto ou processo ambientalmente mais seguro? Para fazer uma análise correta, é necessário remontar à retirada da matéria-prima, ao processo de produção, ao transporte, à embalagem do produto, a seu uso e, principalmente, a sua destinação final.

A geração de resíduos oriundos desse consumo desenfreado de bens e produtos constitui-se num dos maiores problemas da atualidade. É nesse âmbito, que se discute a chamada “responsabilidade pós-consumo”, que propõe a responsabilização do empreendedor pelos resíduos decorrentes do consumo dos produtos que ele mesmo coloca no mercado.[38] Pois, o progresso e o avanço tecnológicos fazem com que, a cada dia sejam lançados novos produtos ao mercado, ensejando a obsolescência de milhares de outros produtos, aumentando o descarte desses bens.

Nesta perspectiva, NICHOLAS adverte: “é necessário tomar cuidado para não atribuir toda a culpa pela degradação ambiental ao mercado produtivo, uma vez que este mercado é pautado pela lei da oferta e da procura, sendo certo que somente produz o que o consumidor quer.”[39]

Dessa forma, seria coerente que se atribuísse aos parceiros da cadeia produtiva (produtor, fornecedor, empreendedor, distribuidor, comerciante, consumidor etc.) a responsabilidade pelo recolhimento desses resíduos. Ou, melhor dizendo, todo o ciclo

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de vida do produto – desde a retirada da matéria-prima da natureza até a destinação final dos resíduos decorrentes do consumo – deve estar sob a responsabilidade daqueles que lucram com a atividade econômica.

Mas, a despeito dessa atribuição, é importante destacar o papel fundamental do consumidor. Não se pode dizer, em termos atuais, que o consumidor está isento de responsabilidade. Para que o consumo sustentável seja atingido, o compartilhamento de responsabilidades deve ser buscado. Não significa obrigar o consumidor a arcar com as despesas da destinação final dos resíduos, ao contrário, é com sua atitude preventiva, no sentido de escolher um produto ambientalmente adequado e optando por uma empresa ou marca que se preocupe com o meio ambiente, que o consumidor cumprirá seu papel e contribuirá para a melhoria da qualidade de vida na Terra. LOUBET afirma que, “se o consumidor não se importar com a forma como foi produzido o que está sendo comprado, certamente a tendência será alimentar cada vez mais a existência de empresas que não tenham compromisso com o meio ambiente e com a sociedade que lhe circunda.”[40].

Para Antônio Pinto MONTEIRO, “o consumidor contribui diretamente para a degradação do meio ambiente, desde logo pelos produtos que consome em prejuízo desse bem; e também indiretamente, na medida em que é ele o destinatário e, afinal a razão de ser da produção desenfreante e, quantas vezes, nefasta ao meio ambiente. Urge, por isso, sensibilizar o consumidor, motivá-lo a adquirir os bens e, de um modo geral, a assumir o comportamento e optar pela solução mais amiga do ambiente.”[41]

Não se trata, insista-se, de transferir ao consumidor a responsabilidade pela degradação ambiental. MAINET observa:

”A responsabilidade principal recai sobre os responsáveis pela política governamental e sobre os produtores que têm de desenvolver e implementar uma política ambiental passível de prevenir danos futuros ao meio ambiente no campo do consumo de bens e serviços. Tal política obviamente envolve informação e educação do consumidor ao invés de apelos promocionais, assim como medidas reguladoras sobre o processo produtivo (...).“ [42]

Como bem afirma LOUBET, em regra, quando um produto é colocado no mercado e consumido, a responsabilidade pelo tratamento dos resíduos produzidos fica a cargo do Poder Público. Em outras palavras, recai sobre toda a sociedade, que acaba por custear o tratamento e a destinação adequada do resíduo oriundo de uma relação de consumo em que o fornecedor obteve o lucro e o consumidor, as vantagens com a aquisição do mesmo.[43]

Para Silvia CAPPELLI, a responsabilidade pós-consumo “consiste no dever dos fabricantes, importadores, distribuidores e comerciantes de coletar, transportar e dar destino final adequado aos resíduos sólidos gerados pelos produtos ou por suas embalagens.”[44] Portanto, cabe àqueles que se beneficiam do lucro da atividade, a responsabilidade de recolher e dar destinação final adequada aos resíduos decorrentes.

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O que se busca com essa cadeia de responsabilidades é evitar que os aterros sanitários fiquem abarrotados de materiais e produtos descartáveis, que ainda possuem uma vida útil e que poderiam ser reutilizados ou reciclados. Isso permitiria que tais aterros tivessem uma sobrevida maior, recebendo apenas os resíduos que não pudessem ser reciclados.

Sobre a questão das embalagens, precisamente de garrafas PET, Saint-Clair Honorato SANTOS faz a seguinte observação:

“Aquele que lucra com a atividade deve arcar com as conseqüências do seu negócio, por isso entendemos que as embalagens devem ser devolvidas aos fabricantes, como sempre ocorreu com os vasilhames de vidro. Assim os postos de compra seriam os postos de recebimento, com a mesma simplicidade do que sempre se praticou. O que está acontecendo é que não se está atribuindo esta responsabilidade às empresas para que recebam suas embalagens.” [45]

MACEDO e REGO sustentam que as empresas que utilizam ou distribuem produtos com embalagem PET deveriam, obrigatoriamente, apresentar um plano de coleta e destinação adequada para as referidas embalagens.[46] Trata-se de uma alternativa plausível e que poderia ser implantada para todos os tipos de descarte de produtos.

Uma opção viável seria, por exemplo, se esse plano de coleta e destinação fosse exigido como requisito para a concessão de alvará de funcionamento de estabelecimento comercial (venda de produtos) ou quando da licença de funcionamento da atividade econômica (produtores, empreendedores, etc.), juntamente com os demais requisitos legais.

Exemplo interessante é aplicado em São Paulo, noticiado por CORTEZ:

“O município de São Paulo aprovou a Lei 13.264, em vigor desde 2002, que prevê a obrigação dos estabelecimentos comerciais que vendem produtos armazenados em embalagens descartáveis, a instalar em suas lojas, recipientes para coletá-las, os chamados Pontos de Entrega Voluntária (PEV). O Plano Diretor de Resíduos Sólidos especifica as ações para implementação das diretrizes da Política Municipal de Resíduos Sólidos. O projeto cria responsabilidade coletiva, mas diferenciada, em relação à disposição final dos resíduos para cada segmento da cadeia produtiva, da indústria ao consumidor final.” [47]

Sobre o tema ora em análise, na Justiça Federal de primeira instância, Subseção Judiciária de Marília, SP, foi proferida decisão de grande relevância.[48] O Ministério Público Federal propôs Ação Civil Pública requerendo que o Ministério da Agricultura condicionasse o registro da cerveja embalada em polietileno tereftalato (PET) à licenciamento ambiental junto ao IBAMA e que este condicionasse a emissão da licença à adoção de medidas eficazes estabelecidas em Estudo de Impacto Ambiental.

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Argumentou-se na inicial que o dano ambiental seria irreparável caso fosse concedida às companhias de cerveja, o direito de embalar o líquido em garrafas PET, já que o Brasil é o 4º consumidor de cerveja do mundo, com 8.45 bilhões de litros por ano e como as garrafas PET não se dissolvem na natureza, causariam um dano ambiental incalculável. O Juiz Federal concedeu a liminar e impôs multa de R$ 100.000,00 por registro ou licença ambiental expedidos, em caso de descumprimento. Como conseqüência, o processo de registro da embalagem PET foi suspenso.

Dessa maneira, as melhores opções continuam sendo a reestruturação das empresas – com a utilização de tecnologias mais “limpas” e produtos mais “saudáveis” à natureza – e a redução de consumo – reutilizando produtos e embalagens -, evitando-se o desperdício e a geração de lixo. Uma mudança ampla no sistema de embalagens descartáveis, com a volta e ampliação do mercado de retornáveis, seria uma medida muito mais ecológica e efetiva do que as que estão atualmente em prática.

Mas, a despeito da máxima “quem lucra com a atividade deve responder pelos riscos que causa”, a corrente ora predominante aponta para a divisão de responsabilidades. Fornecedores, Poder Público e consumidores têm sua parcela de contribuição. Os primeiros devem partir da análise do ciclo de vida do produto, ou seja, analisar todo o trajeto que perfaz o produto desde a retirada da matéria-prima da natureza até a disposição final dos resíduos pós-consumo. O segundo deve implementar políticas públicas de educação voltadas ao consumo consciente e ecologicamente sustentável, assim como regulamentar o comportamento de empresas e comerciantes, determinando ações e programas socioambientais a serem cumpridos.

Já os consumidores, pela posição vulnerável que ocupam na relação jurídica consumerista, têm no seu poder de escolha um verdadeiro instrumento de exercício de cidadania. A liberdade que tem o consumidor de optar por produtos que ambientalmente corretos, é a grande mola propulsora para o consumo sustentável. Mas, para isso o consumidor deve ser alvo de programas educacionais e de conscientização que lhe repassem informações claras, precisas e suficientes a ponto de influir em sua decisão de consumo.

A pressão dos consumidores é importante no sentido de estimular as empresas a realizarem investimentos ambientais. A demanda da sociedade por produtos e processos de produção menos agressivos ao meio ambiente faz com que algumas empresas gerem inovações ambientais e outras as adotem, ocorrendo a difusão da inovação.

Da mesma forma, poder-se-ia incluir nesse rol de responsáveis socioambientais, as empresas publicitárias encarregadas de produzir o marketing de produtos e serviços de seus clientes. Na divisão de tarefas, elas teriam a incumbência de inspirar, induzir, inferir no consumidor a consciência do seu papel transformador na sociedade. Ou seja, despertar no consumidor uma ética ecológica, para que este exerça boas práticas de consumo e faça sua parte com relação à coleta seletiva de resíduos domésticos e descarte adequado de embalagens. Para CORTEZ e ORTIGOZA,

“não basta que as empresas adotem apenas o marketing voltado para o consumidor e o marketing da qualidade; é preciso destacar com grande eficiência o marketing

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ambiental. O marketing ambiental tem como objetivos-chave: desenvolver produtos que equilibrem necessidade de consumidores e preço viável, além de exercerem um impacto mínimo sobre o ambiente; projetem uma imagem de alta qualidade, incluindo a preocupação ambiental, quanto aos atributos do produto e quanto à trajetória de seu fabricante no que diz respeito ao meio ambiente.” [49]

Por isso, os empreendedores e suas agências publicitárias têm importante papel na luta para reverter a atual situação, através de uma publicidade que promova o consumo ecologicamente correto, responsável e consciente.

Finalmente, merece registro decisão pioneira do Eg. Tribunal de Justiça do Paraná, a respeito da responsabilidade pós-consumo, cuja ementa é a seguinte:

AÇÃO CIVIL PÚBLICA – DANO AMBIENTAL – LIXO RESULTANTE DE EMBALAGENS PLÁSTICAS TIPO “PET” (POLIETILENO TEREFTALATO) – Empresa engarrafadora de refrigerantes – responsabilidade objetiva pela poluição do meio ambiente – acolhimento do pedido – obrigação de fazer – condenação da requerida sob pena de multa – inteligência do art. 225 da Constituição Federal, Lei nº 7.347/85, artigos 1º e 4º, da Lei estadual nº 12.943/99, arts. 3º e 14, § 1º, da Lei 6.938/81.[50]

7. POR UMA NOVA ÉTICA DO CONSUMO

Partindo-se da premissa de que o planeta está com sua capacidade de suporte comprometida e que o homem é, ao mesmo tempo, responsável pela degradação, mas detentor da capacidade de mudar essa situação é hora de resgatar os valores sociais que foram deixados de lado.

O desafio é sensibilizar as consciências, fazer com que todos sejam alertados sobre as conseqüências de seus atos. Pois, somente sujeitos conscientes das conseqüências dos seus atos é que fazem a diferença na sociedade e no ambiente.

Todos têm um papel a cumprir, seja o Estado, empresa ou consumidor. Em nível global, a consciência da gravidade dos problemas ambientais está universalizando comportamentos mais éticos e condizentes com as necessidades do meio ambiente. Os empreendedores e as municipalidades devem recorrer a métodos de destinação final que cumpram com uma série de requisitos e sejam condizentes com os requerimentos ambientais, com as imposições sociais, as restrições econômicas e as disposições legais.

Cabe ao consumidor exigir produtos mais sustentáveis, boicotar as marcas que não se ajustarem aos novos padrões, conhecer melhor as empresas socioambientalmente responsáveis e disseminar uma cultura de não desperdício. Isso é um exercício de cidadania. Como bem ensina NALINI, “uma ética ambiental dispensa notáveis

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conhecimentos da matéria, ou aprofundamento científico ecológico. Apenas requer vontade, alimentada por uma consciência sensível.”[51]

Para MILARÉ, a preocupação do momento é,

“acentuar a necessidade de o consumidor, para além dos seus direitos, pensar também na sua contrapartida de deveres para com o meio ambiente – esta consiste, em síntese, na busca da sustentabilidade ambiental em todas as demandas que exerce sobre bens e serviços a fim de satisfazer às suas necessidades reais, condicionadas à disponibilidade da mesma forma real dos recursos ambientais. Se assim não for, a sua própria sobrevivência e o destino dos seus descendentes estão gravemente comprometidos. Vale lembrar que, além dos preceitos jurídicos, entram em cena também os requisitos da ética em todas as suas dimensões: individual, social e planetária.” [52]

Ao falar da atual crise ambiental, NALINI chama o cidadão à cumprir com seu papel:

“A crise contemporânea é uma crise de paradigma. Faliu a convicção de que a todos os seis bilhões de seres humanos se poderá garantir um nível de vida idêntico ao imposto pelo padrão consumista norte-americano. Haveria necessidade de seis outros planetas iguais a Terra, dos quais se pudessem extrair os recursos necessários à consecução dessa utopia. Uma atuação pró-ativa eficiente e que pressupõe uma sensível consciência ética ambiental (...). Se Kleist tem razão ao dizer ‘o saber não nos torna melhores nem mais felizes’, ao menos o saber nos torna mais responsáveis. Reveja seu estilo de vida. Pense num padrão condizente com o mundo sustentável. Não seja consumista. Seja coerente.” [53]

Para o autor, “a crise não é do ambiente. A crise é de valores. É uma crise ética. A crise ecológica também é uma crise dos valores humanos, da ética em todas as dimensões, e traz à tona novos pensamentos, novos conflitos, novas possibilidades, novas soluções e novos comportamentos diante do planeta. (...) Formar uma consciência ambiental ética, contudo, mostra-se única alternativa para viabilizar a vida num planeta sujeito a tantas degradações. Uma ética ambiental que inverta a pretensiosa concepção de que a natureza é apenas meio e os objetivos do homem o único fim. Mostra-se urgente a revitalização de valores éticos quais a bondade e solidariedade, com incidência também sobre a natureza.”[54]

8. CONSIDERAÇÕES FINAIS

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Não há dúvidas de que a atual sociedade de consumo está degradando o planeta, quer pelo abuso que se faz dos recursos naturais, quer pela produção excessiva de resíduos. Se o simples ato de consumir gera impacto no meio ambiente, resta ao cidadão optar pelo “melhor” consumo, ou seja, aquele que cause o menor impacto na natureza.

Para isso, expressões como “consumo sustentável”, “consumo consciente”, “consumo responsável”, “consumo solidário”, dentre outros compatíveis, devem ser difundidos. Mas, não podem ser apenas tratados na teoria, devem ser aprimorados e colocados à população, no sentido de informação, educação, conhecimento. A aplicação desses conceitos no cotidiano das pessoas tem o poder de transformar comportamentos e atitudes. Uma sociedade esclarecida e conhecedora dos reais impactos ambientais tem o discernimento para escolher um produto que seja ecologicamente correto e uma empresa que seja social e ambientalmente responsável.

O consumidor tem o poder de barganha nas mãos. Tem o direito de escolha, mas só fará a escolha correta, se estiver bem informado. Um caminho para que os consumidores se tornem cada vez mais responsáveis com o meio ambiente, é fornecer informações sobre as conexões entre suas atitudes, as opções como consumidores e a degradação ambiental. O que acaba por resultar numa relação de equivalência entre os conceitos de consumidor e cidadão.

Atitudes simples, como perguntarmos a nós mesmos, na hora de consumir, se determinado produto é realmente algo de que precisamos, pode ser o início de um processo de mudança maior. A proposta de um novo estilo de vida exige a libertação do consumidor das necessidades impostas pela sociedade de consumo, o que requer um processo de aprendizado, uma conscientização, e a contribuição da educação nesse processo vai ser fundamental. A Educação Ambiental insere-se neste contexto, como estrutura fundamental devido a seus princípios críticos de questionamento dos paradigmas vigentes na sociedade industrial de consumo.[55]

Será necessário desenvolver novos valores culturais e éticos, transformar estruturas econômicas e reorientar novos estilos de vida. Ações individuais conscientes, bem informadas e preocupadas com questões ambientais aparecem como uma nova estratégia de mudanças em direção à sociedade sustentável. Por isso, é importante falar em co-responsabilidade, abrangendo os diversos atores: tanto coletivos quanto individuais.

Considerando o exposto até agora, é possível afirmar que as relações entre meio ambiente e desenvolvimento estão diretamente relacionadas aos padrões de produção e consumo de uma determinada sociedade. Mas ao contrário de transferir a responsabilidade exclusivamente para os consumidores individuais, ou se limitar a ajustes econômicos e mudanças tecnológicas de produtos e serviços, o debate sobre os padrões de consumo precisa ser ampliado para incluir o processo de formulação e implementação de políticas públicas.

As políticas de consumo sustentável devem incluir instrumentos para encorajar mudanças, tais como: o design dos produtos (mais eficientes e mais “limpos”) e informação nos rótulos (eco-rotulagem). Mas, para realmente reestruturar as práticas de consumo integrando a preocupação ambiental, uma abordagem mais ampla se faz necessária. Essa abordagem deve envolver mudanças no debate público sobre a relação

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entre consumo e qualidade de vida, encorajando a integração das preocupações ambientais nas práticas de consumo, além disso, ações regulatórias na esfera da mídia e dos mecanismos de marketing devem ser enfrentadas com ampla participação dos diferentes setores envolvidos.[56]

O tratamento que se dá ao consumo sustentável tem um sentido preventivo, ou seja, é preciso que o consumo seja garantido, mas que seus padrões se modifiquem a fim de minimizar os impactos ambientais do descarte e do uso exagerado dos recursos naturais. Por meio de programas educacionais direcionados, o consumo pode voltar a cumprir sua função de satisfazer nossas necessidades, sem se transformar no consumismo exacerbado com o qual estamos habituados hoje. Ao observarmos que todo o processo produtivo tem como meta final o consumo, percebemos que criar um consumidor responsável é um projeto altamente preventivo.[57]

A mudança nos hábitos de consumo não é uma meta fácil de ser alcançada a curto e médio prazo; o processo é gradual e os seus resultados serão sentidos ao longo do tempo. A educação ambiental e a informação transparente são fundamentais nesse processo.

Dessa maneira, as campanhas com objetivos de conscientizar a população sobre o grande descarte de materiais e a importância da reciclagem devem ser muito bem planejadas, com informações inequívocas sobre toda a questão: desde a engenharia do produto, processo de produção, sua comercialização, consumo e descarte. Deve haver um processo de educação ambiental sobre a relevância da reutilização dos materiais e redução dos descartes de embalagens e objetos que ainda não tiveram sua vida útil esgotada. Enfim, deve haver mais discussões sobre a questão do consumo sustentável que tem por objetivo, em primeiro lugar, evitar o desperdício em todas as fases da vida de um determinado produto.[58]

O desafio impõe-se a todos: consumir de forma sustentável implica poupar recursos naturais, conter o desperdício, diminuir a geração de resíduos, reutilizar e reciclar a maior quantidade possível de produtos e embalagens. Só assim conseguiremos harmonizar nossa relação com o planeta e não comprometer sua capacidade de atender as necessidades das futuras gerações.

Com base nessas diretrizes é que se apresenta o legado deixado pela Carta Magna de 1988. Ou seja, a necessidade de se conciliar uma sociedade de consumo exacerbada, ancorada na livre iniciativa econômica - gerando produtos novos a cada momento, e que rapidamente se tornam obsoletos, ocasionando o aumento na geração de resíduos e dejetos - com a necessidade de proteção ao meio ambiente. Somente com a coalização desses princípios é que alcançaremos a sustentabilidade social e ambiental. Essa visão de coalização deve ser cada vez mais estreita, para possibilitar uma congregação perfeita entre os temas aqui abordados: consumo e meio ambiente.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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[1] SPÍNOLA, Ana Luíza S. Consumo Sustentável: o alto custo ambiental dos produtos que consumimos. In: Revista de Direito Ambiental. São Paulo: Revista dos Tribunais, nº 24, outubro-dezembro, 2001. p. 210-211.

[2] SPÍNOLA, Ana Luíza S. Op. cit., p. 213.

[3] PORTILHO, Fátima. Sustentabilidade Ambiental, Consumo e Cidadania. São Paulo: Cortez, 2005. p. 39.

[4] Agenda XXI, capítulo 4.

[5] PORTILHO, Fátima. Op. cit., p. 51.

[6] Idem, p. 52-53.

[7] PORTILHO, Fátima. Op. cit., p. 109.

[8] LOUBET, Luciano Furtado. Contornos Jurídicos da Responsabilidade Pós-Consumo. In: FREITAS, Vladimir Passos de (Coord.). Direito Ambiental em Evolução 5. Curitiba: Juruá, 2007. p. 246.

[9] PORTILHO, Fátima. Op. cit, p. 67.

[10] SODRÉ, Marcelo Gomes. Padrões de Consumo e Meio Ambiente. In: Revista de Direito do Consumidor. São Paulo: Revista dos Tribunais, nº 31, julho-setembro, 1999. p. 32.

[11] GREGORI, Maria Stella. A responsabilidade das empresas nas relações de consumo. In: Revista de Direito do Consumidor. São Paulo: Revista dos Tribunais, nº 62, abril-junho, 2007. p. 164.

[12] EFING, Antonio Carlos. Direito do Consumo 2. Curitiba: Juruá, 2005. p. 85.

[13] Por relação jurídica de consumo entende-se a relação entre dois sujeitos: de um lado o consumidor e, de outro o fornecedor, tendo por objeto a aquisição ou venda de um produto ou o fornecimento ou utilização de um serviço.

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[14] EFING, Antonio Carlos. Fundamentos do Direito das Relações de Consumo. Curitiba: Juruá, 2003. p. 23-24.

[15] Idem, p. 13.

[16] CORTEZ, Ana Tereza Cáceres; ORTIGOZA, Sílvia Aparecida Guarnieri (Orgs). Consumo Sustentável: conflitos entre necessidade e desperdício. São Paulo: Unesp, 2007. p. 14.

[17] MACHADO, Paulo Affonso Leme. Direito Ambiental Brasileiro. 15ª ed. São Paulo: Malheiros, 2007. p. 127.

[18] FELDMANN, Fábio Apud MILARÉ, Edis. Direito do Ambiente: a Gestão Ambiental em Foco - doutrina, jurisprudência, glossário. 5ª ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2007. p. 78.

[19] MILARÉ, Edis. Direito do Ambiente: a Gestão Ambiental em Foco - doutrina, jurisprudência, glossário. 5ª ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2007. p. 80.

[20] Idem, p. 84.

[21] CORTEZ, Ana Tereza Cáceres; ORTIGOZA, Sílvia Aparecida Guarnieri (Orgs). Consumo Sustentável: conflitos entre necessidade e desperdício. São Paulo: Unesp, 2007. p. 61-62.

[22] Federação Mundial de entidades de defesa do consumidor.

[23] SODRÉ, Marcelo Gomes. Op. cit, p. 29.

[24] PORTILHO, Fátima. Op. cit, p. 119 e 133.

[25] Arts. 6º, III e 8° do CDC.

[26] LOURES, Flávia Tavares Rocha. A Implementação do Direito à Informação Ambiental. In: Revista de Direito Ambiental. São Paulo: Revista dos Tribunais, nº 34, abril-junho, 2004. p. 193.

[27] Idem, p. 193-194.

[28] MILARÉ, Edis. Op. cit., p. 342-343.

[29] BARROS, Lucivaldo Vasconcelos. Direito à Informação Socioambiental e Desenvolvimento Sustentável. In: Revista de Direito Ambiental. São Paulo: Revista dos Tribunais, nº 45, janeiro-março, 2007. p. 168.

[30] CORTEZ, Ana Tereza Cáceres; ORTIGOZA, Sílvia Aparecida Guarnieri (Orgs). Op. cit, p. 12.

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[31] BARROS, Lucivaldo Vasconcelos. Op. cit, p. 170.

[32] Idem, p. 170.

[33] CARPENA, Heloisa. O direito de escolha: garantindo a soberania do consumidor no mercado. In: Revista de Direito do Consumidor. São Paulo: Revista dos Tribunais, nº 51, julho-setembro, 2004. p. 163.

[34] PORTILHO, Fátima. Op. cit, p. 126.

[35] CORTEZ, Ana Tereza Cáceres; ORTIGOZA, Sílvia Aparecida Guarnieri (Orgs). Op. cit, p. 46.

[36] SODRÉ, Marcelo Gomes. Op. cit, p. 32.

[37] INSTITUTO AKATU. Por um consumo consciente. Disponível em: <www.akatu.org.br>. Acesso em: 13 ago. 2008.

[38] LOUBET, Luciano Furtado. Op. cit, p. 245.

[39] NICHOLAS Apud LOUBET, Luciano Furtado. Op. cit, p. 246.

[40] LOUBET, Luciano Furtado. Op. cit, p. 247.

[41] MONTEIRO, Antônio Pinto. O papel dos consumidores na política ambiental. In: Revista de Direito Ambiental. São Paulo: Revista dos Tribunais, nº 11, p. 71-72.

[42] FIGUEIREDO, Guilherme José Purvin de. Proteção das Florestas Sul-Americanas e Mudança nos Padrões Globais de Consumo. In: Revista de Direito Ambiental. São Paulo: Revista dos Tribunais, nº 16, outubro-dezembro, 1999. p. 25

[43] LOUBET, Luciano Furtado. Op. cit, p. 254-255.

[44] CAPPELLI, Silvia. A responsabilidade pós-consumo. Jornal da ABRAMPA. nº 4. Belo Horizonte: ABRAMPA, 2004. p. 09.

[45] SANTOS, Saint-Clair Honorato. Disposição dos Resíduos Sólidos Urbanos. In: FREITAS, Vladimir Passos de (Coord.). Direito Ambiental em Evolução 3. Curitiba: Juruá, 2002. p. 349.

[46] MACEDO, Marcus Vinicius Aguiar; REGO, Patrícia de Amorin. Embalagens PET: dificuldade para o recolhimento, guarda e reciclagem. Coleta seletiva de lixo. In: Revista de Direito Ambiental. São Paulo: Revista dos Tribunais, nº 31, julho-setembro, 2003. p. 250.

[47] CORTEZ, Ana Tereza Cáceres; ORTIGOZA, Sílvia Aparecida Guarnieri (Orgs). Op. cit, p. 38.

[48] BRASIL, Justiça Federal, Subseção Judiciária de Marília, SP, Proc. 20-02.61.11.001467-2, com decisão em 31.1.2003, Juiz Alexandre Sormani.

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[49] CORTEZ, Ana Tereza Cáceres; ORTIGOZA, Sílvia Aparecida Guarnieri (Orgs). Op. cit, p. 31.

[50] BRASIL. Tribunal de Justiça do Paraná. Apelação Cível n. 18652100, 8ª. Turma, Rel. Des. Ivan Bortoleto, j. 5.8.2002.

[51] NALINI, José Renato. Ética Ambiental. Campinas: Millenium, 2001. p. 208.

[52] MILARÉ, Edis. Op. cit, p. 87.

[53] NALINI, José Renato. A Cidadania e o Protagonismo Ambiental. In: Revista de Direito Ambiental. São Paulo: Revista dos Tribunais, nº 35, julho-setembro, 2004. p. 61-63.

[54] NALINI, José Renato. Ética Ambiental. Campinas: Millenium, 2001. p. XXIII-XXV.

[55] ZACHARIAS, Rachel. Consumo, Lixo e Educação Ambiental: uma abordagem crítica. Juiz de Fora: FEME, 2000. p. 26.

[56] PORTILHO, Fátima. Op. cit, p. 158.

[57] CORTEZ, Ana Tereza Cáceres; ORTIGOZA, Sílvia Aparecida Guarnieri (Orgs). Op. cit, p. 13.

[58] Idem, p. 34.