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Contem de onde veio

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texto apresentaçãoMaria Alice Milliet

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As imagens que selecionei para esta publicação faz parte da minha produção dos últimos vinte anos. O material produzido e os objetos recolhidos ao longo deste tempo formaram um conjunto aqui à minha volta. Acho que começaram a conversar entre eles. Eu tenho escutado com os olhos.

Sou arquiteta e sempre desenhei e pintei, desde pequena, assim como sempre fui dada a recolher coisas, coisas do mato: cascas, sementes, pedaços de raízes, tocos, pedras e paus.

Se sempre há de haver paixão, a minha vem do olhar.Algumas formas são capazes de me atrair com tamanha intensidade que preciso decifrá-las. Preciso desenhar. Traçar esta aproximação com o objeto. Depois do desenho, muitas vezes, sinto vontade de pintar e também de construir objetos.

Reuni imagens destes trabalhos e as coloquei junto à fotografias que tirei de elementos naturais. Como num dominó, os elementos se em-parelham e aguardam conexões.

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na semente se encerra a mataa mata desenha suas sementes e a semente, a mata.

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Encontrei estas sementes aladas caminhando pelas ruas de São Paulo. Eram dezenas de sementes espalhadas ao redor de uma árvore, a maioria pisoteada por automóveis. Procurei por uma inteira – uau, tinha asa, es-porão e ainda espinhos na casca! Achei que eram equipamentos bastante eficazes para garantir a semente num meio hostil.Foi neste momento que comecei a pensar que a forma que eu tinha alí, na minha mão, era uma resposta. Recolhi 3 e comecei a trabalhar.

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O desenho de uma semente geralmente é muito simples, rapidamente se percorre todo seu contorno. Mas as sementes tem superfícies e profun-dezas . O traço que define o dentro e o fora não explora estas dimensões. Isso me levou a experimentar a pintura a óleo. Fui descobrindo que era pos-sível construir uma pele com contínuas sobreposições de camadas de cor e tessitura pelos movimentos do pincel. O óleo responde ao retrabalho, quer dizer, as camadas inferiores respondem às novas. Em toda esta série de pin-turas fiz a figura suspensa num fundo branco. Agora procuro semeá-las em fundos fecundos.

No sítio do meu avô, além das lembranças da infância, estão espalhados muitos objetos sem uso. Gosto particularmente dos de ferro que moram ao relento, no meio do mato. São antigas ferramentas de trabalho, tanques e tambores. O tempo cresce sobre eles. Me interessa registrar esta ação.

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Hexágonos conectados são bons para criar superfícies curvas e onduladas.

Dediquei um longo período desenhando peles vegetais, gosto de fazer bro-tar, crescer, até ocupar a folha toda. Reparei que os hexágonos aparecem como padrão de crescimento em muitas superfícies. Vi em sementes espi- nhudas, na casca da jaca, também na colméia das abelhas, no pergaminho, na cerâmica, no granito...

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Manusear arames me ensinou que arame não gosta de ser hexágono, prefere se arrendodar um pouco mais, gostam mais de se dobrar em fei-jões.

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Usar fio de cobre é uma experiência a parte. O cobre é bom para tramar, para tecer. Mas não se curva bem se estiver frio, pegar um fio e forçá-lo a dobrar-se faz com que ele vinque e resista ao movimento.

Descobri que no sítio havia dezenas de equipamentos fora de uso com bo-binas. Os fios de cobre enrolados em bobinas guardam a memória deste perímetro, é preciso recondicioná-los para novas formas. Esticá-los com as mãos gera calor suficiente para que ganhem flexibilidade. O cobre gosta de se dobrar num certo ritmo, com uma certa frequência que se desenha no espaço.

Mantas de espuma recortadas em espiral, com um leve torcer, se trans-formam em cones. Crescem, ganham o espaço. Costurei com linha grossa este novo estado e revesti de veludo - também recortado em espiral para poder acompanhar as curvas ascendentes. Fiz uma longa cadeia de mon-tanhas que chamei de Ceres.

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As sementes pintadas quiseram ganhar corpo, queriam ser tocadas. Construí algumas delas e as chamei de objetos. Começava fazendo um esqueleto de arame, sobre ele costurava pedaços de espumas recortadas e depois revestia com os tecidos, geralmente aveludados. O objeto natu-ral era o ponto de partida, o desenho era uma forma de aproximação e o projeto dos objetos estava na pintura. Precisava realizá-los.

Ao lado do escritório tinha uma tapeçaria, o tapeceiro guardava para mim os restos de tecido que usava para revestir os sofás e poltronas. Eu gos-tava dos pedaços de veludo, do toque macio, da variação da cor dada pela variação da direção dos fios e pela semelhança com as superfícies que na época desenhava.

Entrei no corte-e-costura. Eu que nunca soube pregar um botão direito estava me metendo em grandes áreas de costura aparente... Mas meu bisavô era alfaiate e acreditei que estava no sangue. Precisava criar uma pele sob medida, modelando cada parte tridimensional. Foi uma experiên-cia táctil bastante interessante, desde o manuseio dos materiais durante a execução até dos objetos prontos.

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Manusear ferro deixa a pele dolorida e seca. Já a espuma tem uma super-fície mais pegajosa, passar a agulha pela camada de espuma sempre pro-voca um barulho arrastado. Costurar espuma num arame é curioso porque cada material exige um tipo de pressão diferente. A agulha muitas vezes espeta o dedo e arde. Metálico é o barulho da tesoura entre a mesa e o tecido, correndo os traços do modelo inventado. É preciso força nos dedos para unir os gomos de tecido na posição ajustada para costurar. O veludo sobre a espuma provoca uma maciez táctil.

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Certas vezes presto atenção nos tocos e ocos, nos restos vegetais descarta-dos e secos. Nas formas, texturas, cores e circunstâncias. Outras circunstân-cias. São o que ainda não é nomeável para mim. Uma coisa que já foi e que será. O que tem a condição presente de ser o que não tem nome.

Algumas pedras se parecem muito com sementes, se mostram prestes a lançar raízes em pequenos fios que crescem para baixo e, com o dorso ex-posto ao sol, criam a condição de ex-submersas

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Com mais leve toque de pincel o nanquim se espalha, toma rapidamente todo o corpo que a água desenha no pires, no godê, no copo, na bandejin-ha de isopor, no potinho - tinge de preto todo o campo da água.só depois, quando se espalha a tinta sobre o papel é que percebemos a transparência que a água adicionou ao preto.

Queria conseguir manter por mais tempo a cor do nanquim ainda molhado, daquela cor preta e gorda que serpenteia o papel. Experimentei a tinta acrílica em busca deste brilho aquoso, pintei raízes. Risquei fora as texturas, raspei a transparência.

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Os troncos verticais me transmitem imensa certeza. Por vezes dá para se ouvir a seiva subindo pelo tronco, já escutei no bambu.O crescimento do bambu é tão rápido que em poucos dias já alcança sua es-tatura final.

Na árvore a ascendência é mais lenta e são longos os desenhos da casca que descrevem o crescimento do tronco. Da árvore vemos o tronco e imaginamos as raízes. A árvore fica plantada entre o visível e invisível.

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O crescimento nas plantas frequentemente se desenha em ondas, com par-tes em formas ogivais. As espirais se mesclam a estas formas ondulantes, geralmente estão no centro delas, como fontes. Nos troncos de árvore en-xerguei isso.

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No sítio moram e moraram muitas jabuticabeiras, cresci em cima delas, eram tratadas como entidades, tínhamos que respeitar seus momentos, na época de floração era terminantemente proibido subir por seus galhos. Só o perfume e as abelhas podiam pousá-las. Depois, com os frutos crescidos, tínhamos que ser acrobatas, os frutos maduros sempre ficam no alto, era preciso desviar dos das verdes para alcançar as pretas e ainda disputar as mais doces com as vespas.

Algumas destas árvores mais antigas ainda estão lá. Tem uma em especial que está num estágio inominável, ainda é uma árvore de jabuticaba, mas não dá mais jabuticaba, não troca mais de casca e não dá mais folha. Mas é uma jabuticabeira. O tronco está à mostra, dá para ver as veias secas on-dulandas e a marcação concêntrica dos botões que viraram galhos que se-caram e caíram. Está tudo lá, como uma semente às avessas, a semente cumprida.

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1. Desenho em nanquim, buquês de crescimento2. Desenho de semente através de lenteComposição de desenhos de árvores em nanquim3.Pinturas a óleo de sementes recolhidas nas ruasInterior de tambor enferrujado4. Pintura a óleo de semente de “chuva de ouro”Semente do cerrado bem de perto5.Peça feita em arame, fios de cobre e de aço car-bono6.Desenho “organela” a nanquimCostura de papel japonês aguado sobre papel japonês7.Peça em arame revestido de pergaminho recorta-do8.Peças em fio de aço carbonoTronco de araçá do sítio marcado por garras de aves9. Desenho orgânico em grafiteTronco da árvore pau-mulato do Jardim Botânico do Rio de Janeiro10.Desenho das pedras da calçada de Paraty

11.Sementes encaixadas de “orelha de macaco” recol-hidas em São Miguel das Missões. Desenhos da se-mente e peça em bronze usando o próprio objeto como molde.Sementes do cerrado recebida de presenteDesenho de frutos secos da Chapada Diamantina12.Caixinha com mosaico recebida de presenteCaramujos partidos recolhidos em ItamambucaPeça em arame reproduzindo o caramujo recolhido da lagoa de FlorianópolisCasca de árvore recolhida em Campos do JordãoFio encontrado no fosso da catedral de Chartes re-cebido em troca de três pedras recolhidas no local13.Desenho do cacho de sementes de urucumTronco do cedro que mora no sítioCentro da peça de arame ”sol”Parte da peça “Ceres”, feita em espuma e revestida com restos de veludo14.Colmeia encontrada no sítioDesenho de colmeia em grafiteCasca da jaca do Jardim Botânico do Rio de JaneiroSemente de alamanda encontrada na rua“banana da princesa”, fruto de uma monstera do Jardim Botânico do Rio de Janeiro Desenho em nanquim de superfícies espinhosas

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15.Desenho de superfícies hexagonaisCascas de jabuticabeiras do sítioResto de madeira recolhido no mar de Angra dos ReisSementeira de lótus seca com sementes16.Pedra da encosta gelada do vulcão de OsornoDesenho a nanquim dos restos recolhidos dos rios na época de seca na Chapada dos Veadeiros.17.Desenho gerador a nanquim18.Desenhos a carvão do crescimento de superfícies hexagonais espinhudas11.Desenhos em grafite de modos de crescimento que alguns querem tatuar20.Pintura acrílica de raízes ou troncos dependendo geotropismo positivo ou negativo21.Troncos secos de jabuticabeiras velhas do sítioDesenho do crescimento das raízes22.Bambu do Jardim Botânico do Rio de JaneiroTronco, raiz ou galho: resto coletado nas MalvinasTela metálica de filtro de ar condicionado descar-tadoDesenho a nanquim

23.Tronco do cedro do líbano que mora há mais de cem anos no sítioTronco da castanha sapucaiaColagem com papel de arroz e de seda24.Semente recolhida na Chapada dos Veadeiros25.Fundo de tambor enferrujadoPintura a óleo do germinar da semente26.Objeto feito com sobras de veludo e molas de pasta para guardar papéis: “ouriço”Desenho de superfícies espinhudas em desenvolvi-mento27.Objeto feito com arame, espuma de revestimento de banco de carros e sobras de veludoTronco de eucalipto28.Semente pintada a óleoFundo de tanque enferrujado do sítio29.Semente pintada a óleoPedras vulcânicas de Osorno

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silvia bressianijulho 2010

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