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SUMÁRIO EXECUTIVO ................................................................................................... 2
1. INTRODUÇÃO ............................................................................................................... 3
2. ABORDAGEM DOS DESENVOLVIMENTOS POLÍTICOS DE ASILO E
MIGRAÇÃO ............................................................................................................... 5
Desenvolvimentos políticos gerais .............................................................................. 5
Desenvolvimentos gerais ............................................................................................. 5
3. PROTEÇÃO INTERNACIONAL (ASILO) ................................................................. 15
Procedimentos de Proteção Internacional ................................................................. 15
Receção de requerentes de proteção internacional, incluindo informação
sobre receção de requerentes provenientes de Estados Terceiros
específicos (Síria, Afeganistão, África Ocidental) .......................................... 17
4. MENORES NÃO ACOMPANHADOS E OUTROS GRUPOS
VULNERÁVEIS ...................................................................................................... 20
Menores Não Acompanhados que NÃO SÃO requerentes de asilo ......................... 21
Outros grupos vulneráveis ......................................................................................... 21
5.MIGRAÇÃO LEGAL E MOBILIDADE....................................................................... 22
Gestão da migração, incluindo política de vistos e Governância Schengen ............. 38
6. MIGRAÇÃO E DESENVOLVIMENTO ..................................................................... 39
7. MIGRAÇÃO IRREGULAR, INCLUINDO O AUXÍLIO À IMIGRAÇÃO
ILEGAL ..................................................................................................................... 40
Medidas nacionais para redução da migração irregular ............................................ 40
Regularização ............................................................................................................ 43
8. RETORNO .................................................................................................................... 43
Medidas para promover o retorno voluntário ............................................................ 43
9. COMBATE AO TRÁFICO DE SERES HUMANOS .................................................. 45
Sensibilização para a questão do tráfico de seres humanos ...................................... 45
Coordenação e cooperação entre os atores-chave ..................................................... 46
Prestação de informação às vítimas ........................................................................... 49
APR PART 2: ANEXOS ................................................................................................... 53
Diplomas legais nacionais e comunitários ................................................................ 57
2
EUROPEAN COMMISSION DIRECTORATE-GENERAL HOME AFFAIRS Directorate B : Immigration and Asylum Unit B1 : Immigration and Integration
Relatório Anual de Política de Migração e Asilo 2015
(Parte 2)
SUMÁRIO EXECUTIVO
O Relatório Anual de Política de Migração e Asilo 2015 (Parte 2) foi elaborado
pelo Ponto de Contacto Nacional Português da Rede Europeia das Migrações (PCN-
REM), nos termos do artigo 9º (1) da Decisão do Conselho 2008/381/CE, e contém a
descrição dos principais desenvolvimentos políticos ocorridos em matéria de migração e
asilo em Portugal, no período compreendido entre 1 de janeiro e 31 de dezembro de
2015. A informação recolhida e tratada neste relatório destina-se prioritariamente às
audiências nacionais dos Pontos de Contacto Nacionais da REM. Não obstante, os
contributos recebidos servem igualmente para atualizar os Country Fact Sheets e para
elaborar os Informs da REM sobre os principais aspetos de política no domínio da
migração e asilo em 2015.
Para a elaboração deste documento, o PCN contou com a colaboração de um
conjunto alargado de parceiros, designadamente da Rede Nacional das Migrações1, das
Unidades Orgânicas do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF)2, e de outros
organismos da administração pública portuguesa3, a quem se presta o maior
reconhecimento e agradecimento.
Complementarmente procedeu-se à consulta de fontes diversificadas,
nomeadamente legislação, planos, relatórios, dados estatísticos, que à sua medida
contribuíram para que os resultados obtidos e espelhados em cada um dos pontos deste
relatório fossem os mais atualizados, objetivos e fiáveis.
1 ACM; ACT; CRC; CRUP; DGACCP; DGES; GEP; OIM; DGPJ.
2 GADR; GAR; GRICRP; GTF; GEPF; GSI; DCID; DCInv.
3
Posto isto, enunciam-se os principais desenvolvimentos políticos ocorridos na área
da migração e asilo em Portugal, no decurso de 2015:
Orientações do enunciado político estratégico para a migração e asilo do XXI
Governo Constitucional, que tem por bases a fiscalização, o acolhimento, a
integração e a luta contra as ameaças coletivas, nomeadamente o tráfico de seres
humanos e o auxílio à imigração ilegal;
A não aprovação do contingente global indicativo de vistos de residência para a
admissão de cidadãos estrangeiros para o exercício de uma atividade profissional
subordinada, atentas as limitações do mercado trabalho nacional;
Referência a publicação de novos diplomas ou alterações legislativas, caso se
tenham registado, bem como desenvolvimentos de novas tecnologias,
equipamentos ou aplicações.
À parte do sumário executivo e da introdução, o presente relatório estrutura-se em
oito pontos temáticos, nomeadamente: abordagem sobre os desenvolvimentos políticos
da migração e asilo; proteção internacional (asilo); menores não acompanhados e outros
grupos vulneráveis; migração legal e mobilidade; migração e desenvolvimento;
migração irregular, incluindo o auxílio à imigração ilegal; retorno; combate ao tráfico
de seres humanos.
1. INTRODUÇÃO
O Relatório Anual de Política foi redigido pelo Ponto de Contacto Nacional
Português da Rede Europeia das Migrações (REM), que é assegurado pelo SEF, através
do Gabinete de Estudos, Planeamento e Formação (GEPF). O documento final resulta
da informação recolhida, compilada e analisada dos contributos de um conjunto
alargado de intervenientes, nomeadamente de colaboradores do SEF, de interlocutores
institucionais que fazem parte da Rede Nacional das Migrações e de diferentes agentes
da administração pública, constituindo assim um valioso instrumento de apoio aos
decisores políticos nacionais pela transversalidade dos temas abordados.
3 Observatório do Tráfico de Seres Humanos (OTSH)
4
Face ao exposto, importa, neste contexto, enunciar as entidades que permitiram a
apresentação do presente documento. Os contributos internos (SEF) foram prestados
pelas seguintes Unidades Orgânicas: o Gabinete de Apoio às Direções Regionais
(GADR); o Gabinete de Asilo e Refugiados (GAR); o Gabinete de Relações
Internacionais, Cooperação e Relações Públicas (GRICRP); o Gabinete Técnico de
Fronteiras (GTF); o Gabinete de Estudos, Planeamento e Formação (GEPF); o Gabinete
de Sistemas de Informação (GSI); a Direção Central de Imigração e Documentação
(DCID); a Direção Central de Investigação (DCInv). Os contributos externos foram, na
sua maioria, provenientes dos interlocutores que compõem a Rede Nacional das
Migrações, designadamente a Direção-Geral dos Assuntos Consulares e das
Comunidades Portuguesas (DGACCP/MNE), a Direção-Geral do Ensino Superior
(DGES/MEC); a Direção-Geral de Estatísticas da Educação (DGEEC/MEC); a Direção-
Geral de Saúde (DGS/MS) Conservatória dos Registos Centrais (CRC/MJ); o Gabinete
de Estratégia e Planeamento (GEP/MTSSS); a Autoridade para as Condições do
Trabalho (ACT/MTSSS); o Observatório para o Tráfico de Seres Humanos
(OTSH/SGMAI); o Alto Comissariado para as Migrações (ACM/PCM); a Organização
Internacional para as Migrações (OIM); e o Conselho de Reitores das Universidades
Portuguesas (CRUP).
Para a elaboração do presente relatório, recorreu-se à consulta de fontes de
informação, diretas e indiretas, que pudessem ilustrar transversalmente o panorama
nacional no que concerne às matérias de migração e asilo.
Acrescenta-se igualmente que foram ainda considerados como fontes artigos
informativos em imprensa e conteúdos em sítios de internet oficiais.
No que concerne aos termos utilizados, as suas definições decorrem do regime legal
português e, sempre que possível, do Glossário de Imigração e Asilo, elaborado e
publicado no âmbito das atividades da REM.
Por último, foram identificados alguns problemas no que respeita à recolha de
informação para determinados pontos temáticos que compõem este relatório. A ausência
da mesma deriva, na maior parte dos casos, da inexistência da situação em território
nacional ou do facto de representar um registo inexpressivo que não assume, por isso,
relevância para o propósito deste documento. Nestes casos, optou-se por assinalar o
ponto como um tópico sem conteúdos informativos.
5
2. ABORDAGEM DOS DESENVOLVIMENTOS POLÍTICOS DE ASILO E
MIGRAÇÃO
Desenvolvimentos políticos gerais
O ano em referência ficou marcado pela entrada em funções do XXI Governo
Constitucional, cuja base assenta num acordo de incidência parlamentar firmado entre o
Partido Socialista (PS), o Bloco de Esquerda (BE), o Partido Comunista Português
(PCP) e o Partido Ecologista “Os Verdes” (PEV), contando ainda com o apoio Partido
pelos Animais e pela Natureza (PAN).
É de referir que Portugal tem uma nova Ministra da Administração Interna desde o
final de 2015. Posteriormente, em janeiro de 2016, a nova Diretora do SEF, tutelado
pelo MAI, tomou posse.
Desenvolvimentos gerais
Os recentes acontecimentos sobre situações de conflito em países mais ou menos
próximos da Europa, e alguns mesmo dentro da própria Europa, têm colocado a
migração e o asilo como temas de prioridade máxima, para os quais é preciso cada vez
mais canalizar as atenções, esforços e apoios, atenta a imprevisibilidade que as situações
associadas a estes fenómenos sociais podem gerar.
Desta forma, a migração foi, ao longo de 2015, um dos temas de primeira linha no
debate público em Portugal, não tendo deixado indiferentes quer os decisores políticos,
quer o público em geral. A abordagem de intervenção dos decisores políticos nesta área
foi transversal, expressa na continuidade da implementação de um conjunto alargado de
planos nacionais de ação que visam prevenir e combater fenómenos sociais que não
conhecem fronteiras físicas ou culturais, como sejam o V Plano Nacional para a
Igualdade de Género, Cidadania e Não-discriminação 2014-2017 (V PNIGCND), o V
Plano Nacional de Prevenção e Combate à Violência Doméstica e de Género 2014-2017
(V PNPCVDG) e o III Plano Nacional de Prevenção e Combate ao Tráfico de Seres
Humanos 2014-2017 (III PNPCTSH).
6
No âmbito destes instrumentos políticos, foram promovidas e realizadas várias
iniciativas que pretendem sensibilizar não só para os fenómenos em si, como prevenir
através da disseminação de informação.
Numa perspetiva mais operacional, há a sublinhar a continuidade do esforço e
investimento que têm vindo a ser feitos em aplicações tecnológicas que visam um
reconhecimento e controlo de segurança quer de pessoas, quer de documentação, e que
se traduzem na continuidade da implementação do Sistema VIS nos postos de fronteiras
nacionais e na finalização do desenvolvimento de uma ferramenta de consulta (pesquisa
de impressões digitais) ao VIS para posterior implementação em segunda linha de
verificação no Gabinete de Asilo e Refugiados (GAR) e nos Postos de Fronteira.
Por outro lado, salientam-se as iniciativas de integração que dão continuidade a
ações iniciadas em anos anteriores, bem como a criação de outros instrumentos de apoio
que procuram alargar o leque e facilitar o processo, quer por parte da sociedade de
acolhimento, quer junto dos países de origem. Nesta sequência, as políticas
estabelecidas orientam-se para o fomento da aprendizagem da língua portuguesa, que é
fundamental para a integração, frequência e sucesso escolar e no acesso dos cidadãos
estrangeiros em situação de permanência regular ou irregular ao Serviço Nacional de
Saúde nas mesmas condições de todos os que fizeram um pedido de nacionalidade
portuguesa. Em termos de acesso à Segurança Social e à habitação, o Centro Nacional
de Apoio ao Imigrante (CNAI) dispõe de alguns gabinetes que prestam auxílio aos
cidadãos estrangeiros em diferentes matérias, tais como o Gabinete de Apoio Social
(GAS), o Gabinete de Apoio à Habitação (GAH), o Gabinete de Apoio ao Imigrante
Legal4 (GAIL), a Rede de Gabinetes de Formação Profissional de Imigrantes5 (GFPI) e
o Gabinete de Apoio ao Emprego6 (GAE). Portugal deu continuidade à implementação
e consolidação de um conjunto de políticas e boas práticas que que lhe valeu, em 2015,
à semelhança de anos anteriores, o reconhecimento do MIPEX como um dos países com
as melhores políticas de integração.
Assinale-se igualmente que em 2015 foram implementadas algumas medidas no
Sistema Nacional de Saúde, designadamente: elaboração e divulgação do Manual de
4 Conselhos jurídicos grátis a todos os imigrantes em áreas tao diversas como a imigração, a
nacionalidade, o emprego, a segurança social e os menores. 5 Rede de 18 Escritórios de Integração Profissional espalhada por todo o país que dá apoio à procura ativa
de trabalho, ao auxílio na procura de cursos de formação e fornece informação profissional. 6 Ajuda a adequar as ofertas de emprego às capacidades profissionais e qualificações de cada imigrante.
7
Acolhimento no Sistema de Saúde de cidadãos estrangeiros; Portal da Mobilidade e
Doentes, que disponibiliza informação estruturada de acesso de cidadãos estrangeiros ao
sistema de saúde7. No que diz respeito especificamente ao Plano de Integração de
Refugiados, destacam-se a inscrição dos cidadãos estrangeiros no Sistema Nacional de
Saúde, a isenção do pagamento de taxas moderadoras e o estabelecimento de um plano
de nutrição saudável para grupos populacionais de refugiados específicos.
Realça-se também a aprovação do Plano Estratégico para as Migrações (2015-
2020)8, no âmbito do qual foram identificados cinco eixos prioritários com as medidas
de política a implementar em matéria de migrações, considerando e englobando, entre
outras, as dimensões de igualdade e género, ilustradas pelas seguintes medidas:
promover a participação de mulheres imigrantes nas associações de migrantes e
aumentar a sensibilização para a igualdade de género e a não discriminação, em
particular na área da parentalidade, da igualdade de salários, trabalho, vida familiar e
assédio moral e sexual. São de sublinhar a relevância, em questões de integração, do
Programa de Orientação para Migrantes, iniciativa desenvolvida em todo o país por um
grupo de parceiros locais com o propósito de promover, através do voluntariado, a troca
de experiências, a assistência e apoio entre migrantes; do Centro de Contacto SEF,
através da prestação de informações genéricas sobre a regularidade documental de
estrangeiros e do agendamento de sessões de atendimento presencial; do “Programa
Escolhas”, que promove a inclusão social das crianças e jovens (dos 6 aos 30 anos)
provenientes de contextos socioeconómicos vulneráveis; e ainda da parceria do SEF no
projeto comunitário “HEADSTART: Fostering Integration before Departure”,
implementado em 2014 e 2015, dedicado às boas práticas de promoção de medidas que
favoreçam a integração dos migrantes na fase da pré-partida, ainda no país de origem.
Acrescente-se que, também relacionados com as matérias referentes ao asilo e
integração, no decurso de 2015, tiveram lugar eventos/iniciativas que de seguida se
elencam:
-a 9 de janeiro ocorreu a cerimónia de tomada de posse do Diretor Nacional do Serviço
de Estrangeiros e Fronteiras, António Carlos de Beça Pereira, presidida pela Ministra da
Administração Interna, Anabela Miranda Rodrigues;
7 Disponível em http://mobilidade.dgs.pt. 8 Através da Resolução de Conselho de Ministros n.º 12-B/2015, de 20 de Março.
8
-entre 27 e 29 de janeiro, no âmbito da reunião “All-In-One”, que funciona como uma
sessão consultiva para todas as atividades operacionais que serão realizadas nos
aeroportos e que se realizou pela primeira vez em Portugal, o SEF foi o representante
nacional. Esta reunião é de grande relevância uma vez que tem como orientação a
consolidação de parcerias, confiança, compreensão das necessidades e possibilidades de
ambos os lados (Frontex e Estados-Membros competentes) e que se afiguram
imprescindíveis para que as atividades implementadas tenham sucesso;
-a 5 de fevereiro, o SEF levou a cabo ações de fiscalização a cerca de seis dezenas de
clubes e associações desportivas da zona centro do país (distritos de Coimbra, Aveiro,
Leiria, Viseu, Guarda e Castelo Branco), visando não só identificar cidadãos
estrangeiros inscritos pelos clubes e verificar a sua permanência em Portugal de acordo
com a legislação em vigor, mas também sensibilizar os vários agentes desportivos para
o cumprimento das normas de regulação de entrada, permanência e saída de cidadãos
estrangeiros de território nacional;
-entre os dias 09 e 15 de fevereiro, decorreu uma ação de fiscalização por parte do SEF
em todo o território nacional, continente e ilhas, abrangendo todas as Direções
Regionais, Postos de Fronteira e Centros de Cooperação Policial e Aduaneira (CCPA),
com os objetivos de intensificar o controlo e fiscalização de cidadãos na utilização de
trajetos internos e ligações entre países Schengen, efetuar a verificação documental, a
recolha e tratamento de informação sobre os fluxos migratórios, bem como o combate
ao tráfico de seres humanos e criminalidade organizada. Saliente-se que esta operação
de fiscalização envolveu as vertentes aérea, marítima, rodoviária/terrestre e ferroviária;
- a 4 de março, o eurodeputado Nuno Melo e Secretário de Estado da Administração
Interna João Almeida visitaram o Posto de Fronteira do Aeroporto de Lisboa, tendo sido
feita uma demonstração dos sistemas PASSE e RAPID (ligados ao controlo de
fronteira), tendo constituído uma antevisão do arranque dos testes-piloto do projeto
europeu “Smart Borders”;
-no seguimento do evento anterior, no dia 15 do mesmo mês, o secretário de estado da
Administração Interna, João Almeida, e o Diretor da Agência EU-Lisa, Krum Garkov,
assistiram, no Aeroporto de Lisboa, ao início dos testes-piloto do projeto europeu
"Smart Borders", cujos principais objetivos assentam na diminuição do tempo de
passagem na fronteira, na penalização de quem não respeitar os direitos de permanência,
e no aumento da segurança nos controlos de fronteira;
9
-coordenação do Curso em São Tomé e Príncipe (16 a 20 de março de 2015) -
Cooperação direta entre OTSH/CPLP e Procuradoria-Geral da República de São Tomé
e Príncipe. (30 formandos oriundos das Forças e Serviços de Segurança, Ministério
Público e ONG);
-a 27 de março, no Auditório da Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa,
decorreu uma conferência organizada pelo SEF e pela Agência Europeia dos Direitos
Fundamentais (FRA), no âmbito do lançamento, em Portugal, do Manual de legislação
europeia sobre asilo, fronteiras e imigração que, disponível em versão portuguesa,
apresenta uma perspetiva global a nível legislativo no que concerne ao asilo, à gestão de
fronteiras e à imigração no quadro do direito da União Europeia (UE) e da Convenção
Europeia dos Direitos do Homem (CEDH);
-20 de abril: XII Cimeira Luso-Marroquina, na qual se procedeu à assinatura do Acordo
de Cooperação entre a República Portuguesa e o Reino de Marrocos em Matéria de
Segurança Interna, através do qual se procurará um reforço da cooperação técnica em
domínios fundamentais como a prevenção e combate à criminalidade, a gestão de fluxos
migratórios, o combate à migração irregular e ao tráfico de seres humanos, entre outras;
-a 28 de abril realizou-se o Encontro Ministerial Quadripartido – Portugal, Espanha,
França e Marrocos – G4, no qual foram adotadas as “Conclusões de Lisboa”, tendo em
vista estreitar os laços de cooperação bilateral e multilateral entre os quatro Estados do
Mediterrâneo Ocidental que partilham preocupações comuns em áreas como a gestão
dos fluxos migratórios, a prevenção e luta contra o tráfico de estupefacientes, a
prevenção e luta contra o terrorismo e a cooperação policial;
-atendendo ao ativo debate político em matéria de asilo e migração e na sequência de
uma notícia publicada no jornal i intitulada “Portugal está a aceitar pedidos de asilo sem
os analisar”, o SEF emitiu um esclarecimento, a 14 de maio, salientando ter recebido
338 pedidos de proteção internacional de 01 de janeiro até à data da publicação em
questão. Acrescentou ainda que não há qualquer concessão de asilo nas circunstâncias
de deferimento tácito, vincando que a apreciação, análise e instrução dos pedidos de
proteção internacional seguem rigorosamente a legislação vigente e que os
procedimentos estão assegurados por uma equipa que foi reforçada no ano de 2015,
prevendo-se a integração de mais elementos se se justificar;
10
-a 19 de maio, a XVI Conferência de Ministros do Mediterrâneo Ocidental marcou o
início da Presidência Portuguesa deste grupo de cooperação reforçada, inserido no
Diálogo 5+5 (Processo de Cooperação do Mediterrâneo Ocidental), tendo sido adotada
a “Declaração de Lisboa”, cujo principal objetivo se centra, numa perspetiva de trabalho
em conjunto, em enfrentar os desafios e ameaças que apelam a respostas mais versáteis
e eficazes a questões estratégicas do interesse comum, como a luta contra a migração
irregular e o tráfico de seres humanos, de órgãos, de células e de tecidos;
-no dia 2 de junho foi assinado o Protocolo entre o Serviço de Estrangeiros e Fronteiras,
a Federação Portuguesa de Futebol, a Liga Portuguesa de Futebol Profissional e o
Sindicato dos Jogadores Profissionais de Futebol, numa cerimónia presidida pelo
Secretário de Estado da Administração Interna, João Pinho de Almeida. O protocolo
orienta-se no sentido da implementação dos princípios de colaboração, transparência e
informação entre as partes;
-no dia 9 de junho, o SEF, representado pelo Diretor Nacional, António Beça Pereira, e
o Centro Comum de Investigação (Joint Research Centre / JRC) da Comissão Europeia,
representado pelo Diretor do Instituto para a Proteção e Segurança dos Cidadãos do
Centro Comum de Investigação, Stephan Lechner, assinaram um Protocolo para
cedência de impressões digitais despersonalizadas, a fim de ser elaborada a segunda
parte de um estudo sobre a fiabilidade destes dados biométricos. A cerimónia contou
com a presença do Secretário de Estado da Administração Interna, João Almeida;
-a 22 de julho, uma investigação do SEF no âmbito do combate ao Tráfico de Seres
Humanos conheceu despacho de acusação, tendo o Ministério Público deduzido
acusação contra nove arguidos pela prática dos crimes de tráfico de seres humanos,
associação criminosa para o auxílio à imigração ilegal, auxílio à imigração ilegal e uso
de documento de identificação alheio. A organização criminosa internacional dedicava-
se ao aliciamento de mulheres africanas (algumas menores) no país de origem e ao seu
encaminhamento para território nacional munidas de passaportes fraudulentos;
-criação do Grupo de Trabalho para a Agenda Europeia das Migrações, coordenado pelo
Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (3 de Setembro de 20159), e de representação
multidisciplinar (Direção-Geral dos Assuntos Europeus/MNE, Serviço de Estrangeiros e
9 Despacho n.º 10041-A/2015.
11
Fronteiras, Instituto da Segurança Social, Instituto do Emprego e da Formação
Profissional, Direção-Geral da Saúde, Direção-Geral da Educação, Alto Comissariado
para as Migrações, I.P.), que “procede ao mapeamento dos recursos existentes no
território nacional – administração central, autarquias locais e sociedade civil – para
aferir a capacidade instalada e concluir o plano de ação nacional respeitante ao
acolhimento e integração de refugiados e indivíduos objeto de proteção internacional”10;
-a 14 de setembro, o SEF assinou um protocolo de cooperação com Administração dos
Portos de Sines e do Algarve (APS) relativo aos procedimentos a adotar relativamente à
concessão de autorizações de acesso à zona internacional dos portos e a bordo. Assim, o
requerente, tendo necessidade de aceder à zona internacional e/ou a bordo nos Portos de
Sines, Faro e Portimão, passa a poder submeter o pedido no sistema informático gerido
pela APS, que funciona como “Balcão único virtual”;
-nos dias 29 e 30 de setembro, o SEF foi parte interveniente de uma Conferência
Internacional, realizada em Amsterdão, na Holanda, no âmbito do subprojeto ETUTU,
com o tema A Conference on strenghtening Operational Cooperation to fight Nigerian
Trafficking in Human Beings, dedicado à repressão do Tráfico de Seres Humanos
nigeriano;
-a 5 de outubro, o SEF emitiu um comunicado, apelando aos cidadãos para que não se
deslocassem para outros países europeus, especialmente do centro da Europa, com a
finalidade de transportar cidadãos estrangeiros candidatos a um eventual estatuto de
refugiados para Portugal. Ainda que o altruísmo do ato tenha sido reconhecido, o SEF
salientou os resultados indesejados a que este conduz, uma vez que pode violar as
normas estabelecidas relacionadas com a prática de crime de auxílio à imigração ilegal
na medida em que favorecem e facilitam a entrada, a permanência ou o trânsito ilegal de
cidadãos estrangeiros indocumentados e à margem dos procedimentos que estão
previstos no âmbito das instituições da União Europeia;
-a 20 de outubro decorreu uma reunião do Grupo de Trabalho para a Agenda Europeia
das Migrações, tendo sido finalizado o mapeamento de recursos disponíveis para o
acolhimento dos requerentes de proteção internacional que serão recolocados em
território nacional num período de dois anos, cabendo ao SEF proceder à sua
10 http://www.refugiados.acm.gov.pt/grupo-de-trabalho-para-a-agenda-europeia-da-migracao/
12
distribuição tendo em atenção o seu perfil e os recursos disponíveis que correspondem
da melhor forma às necessidades existentes;
-a 27 de outubro teve lugar o VIII Seminário Luso-Espanhol sobre documentação de
segurança e fraude documental, organizado pelo SEF em colaboração com o Corpo
Nacional de Polícia, de Espanha. Esta atividade teve como destinatários os funcionários
dos Centros de Cooperação Policial e Aduaneira e visou a sua atualização contínua e
permanente sobre os desenvolvimentos mais recentes na área da documentação de
segurança;
-a 17 de novembro, na sequência da notícia “SEF sem recursos para controlar
fronteiras”, publicada no Jornal de Notícias, o SEF emitiu um comunicado para
esclarecer que dispõe dos meios humanos necessários para o controlo das fronteiras que
tem a seu cargo, acrescentando que, nesta matéria, um reforço do efetivo já estaria
planeado, com início de um curso para Inspetores ainda em 2015 e um outro que
começará em 2016;
-a 18 de novembro, no âmbito do Dia Europeu para a Proteção das Crianças Contra a
Exploração Sexual e o Abuso Sexual, o SEF informou que, em conjunto com a
Secretaria-Geral do Ministério da Administração Interna, se associou ao Conselho da
Europa no desenvolvimento de iniciativas que ajudem a divulgar e sensibilizar a
sociedade civil para este Dia Europeu, tendo como principais finalidades aumentar a
consciência pública para esta matéria, eliminar a estigmatização das vítimas e promover
a ratificação e implementação da Convenção de Lanzarote, a convenção do Conselho da
Europa para a Proteção das Crianças contra a Exploração Sexual e os Abusos Sexuais,
da qual Portugal já é Estado Parte desde 2012;
-coordenação do Curso na Guiné-Bissau (30 de novembro a 05 de dezembro de 2015) -
Cooperação direta entre OTSH/CPLP/UNODC e Ministério da Justiça da Guiné-Bissau.
(33 formandos oriundos das Forças e Serviços de Segurança, Ministério Público e
ONG);
-de 2 a 4 de dezembro, Portugal recebeu altos funcionários e peritos de 55 países
europeus e africanos para duas reuniões que decorreram no Porto no âmbito do Processo
de Rabat / Diálogo Euro-Africano sobre Migração e Desenvolvimento;
13
-a 10 de dezembro, o SEF assinou um Protocolo de Colaboração com a Associação SCP
Safe Communities Portugal, a única associação sem fins lucrativos registada em
Portugal que oferece um “balcão único” de informação sobre prevenção da
criminalidade disponível a todos os membros da comunidade e cujos objetivos
principais se centram na promoção e sensibilização para a segurança das comunidades e
na redução do risco de alguém se tornar vítima de criminalidade. Para cumprir a sua
missão da melhor forma, a SCP trabalha com a GNR, a PSP, a Polícia Judiciária, o SEF,
a ANPC, a ASAE, o Turismo de Portugal, as câmaras municipais, várias embaixadas e
muitas outras autoridades;
-conferência REM “Portugal e os compromissos da Agenda Europeia das Migrações”,
realizada na Fundação Cidade de Lisboa, a 15 de dezembro, com o propósito de, por um
lado, trazer à luz da reflexão e discussão, no contexto das intenções políticas de atuação
da Agenda Europeia para as Migrações, os principais desafios que a Europa, em geral, e
Portugal em particular, enfrentam no domínio da migração e asilo e, por outro,
enquadrar esta problemática com a Rede Europeia das Migrações enquanto instrumento
de apoio de referência para os decisores políticos ao nível europeu e nacional;
-participação do OTSH no Migration EU eXpertise 2 (Mieux 2) a convite do
International Centre for Migration and Policy Development (ICMPD). Esta participação
resultou numa semana de trabalho junto do Ministério do Interior do Perú, com vista à
troca de experiências e apoio à revisão dos indicadores de avaliação do seu Plano
Nacional e Planos Regionais de combate ao TSH;
-contribuição do OTSH para o projeto “Agenda Comum para a Migração e Mobilidade
entre a UE-Brasil” (coordenado pela SGMAI) (2016-2018), cujos resultados se
traduziram na apresentação de projetos no Eixo 2 do PEM - Prevenção da migração
irregular e combate ao Tráfico de Seres Humanos;
-realização de uma reunião via skype no âmbito da expansão/adoção do MoSy por
países terceiros com a UNODC Viena e UNODC México;
-apresentação de resultados a convite da Embaixada de Portugal em Viena/
Representação junto da OSCE (Organization for Security and Co-operation in Europe)
na Reunião da Dimensão Humana da OSCE;
-apresentação do projeto a convite da Embaixada de Portugal em Viena/Representação
junto das Nações Unidas, na Conference of the Parties to the United Nations
14
Convention against Transnational Organized Crime and the Protocols Thereto –
Working Group on Trafficking in Human Beings, tendo resultado desta apresentação o
contributo nacional para a Recomendação nº 15, que aponta no sentido de uma melhoria
dos dados estatísticos com vista a melhorar as boas práticas que apoiem os decisores
políticos11;
-participação de elementos do SEF na qualidade de formadores nos Cursos de Formação
de Formadores em Tráfico de Seres Humanos, em São Tomé e Príncipe e na Guiné
Bissau, no âmbito de uma parceria do OTSH com a CPLP, sob a égide na UNODC e no
seguimento do projeto Manual contra o Tráfico de Seres Humanos para profissionais do
Sistema de Justiça Penal, após aprovação e cofinanciamento do Fundo Especial da
Comunidade dos Países de Língua Portuguesa;
-5 ações de formação específica dos inspetores de fronteiras para o combate ao Tráfico
de Seres Humanos, com base no manual da Agência Europeia de Fronteiras – Frontex,
no âmbito da competência da Unidade Anti Tráfico de Pessoas do Serviço de
Estrangeiros e Fronteiras;
-participação do SEF, no âmbito da ERA – Academia Europeia de Direito, numa ação
de formação promovida em Viena, em junho de 2015, tendo apresentado o tema “O
papel da polícia na entrevista e apoio à vítima” e atuado como dinamizador de um
workshop sobre proteção de vítimas;
-participação do SEF, em parceria com a OIM, na implementação do projeto CARE, de
Apoio ao Retorno e Reintegração de Vítimas de Tráfico;
-realização de um encontro internacional, no Porto, em dezembro, sobre TSH e
Imigração Ilegal, com organização do ICMPD e em parceria entre Portugal (SEF) e a
República do Níger no quadro do Processo de Rabat (Euro-African on Migration and
Development);
-no domínio da Unidade Anti-Tráfico de Pessoas (UATP) assinala-se não só a tentativa
de resposta a todas as solicitações, bem como a colaboração com outros países, quer em
investigações criminais conjuntas, quer em operações europeias de combate ao TSH, e
em formações, palestras e seminários, conferências e grupos de trabalho sobre a
importante temática do TSH.
11 Informação disponível no Report on the meeting of the Working Group on Trafficking in /
CTOC/COP/WG.4/2015/6.
15
As questões inerentes à migração e asilo têm igualmente suscitado o interesse por
parte da academia. Da pesquisa realizada aos repositórios das instituições do ensino
superior portuguesas verificou-se a publicação, durante o ano de 2015, das seguintes
referências bibliográficas:
FARIA, Ana Rita da Costa (2015), Por estradas e montes: compreender para
intervir no trabalho sexual. Estudo de caso no concelho de Felgueiras,
Dissertação de Mestrado, Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, Vila
Real.
MAIA, Ana Filipa (2015), Género e e-migração: inclusão das mulheres
imigrantes na sociedade de informação. O caso de Viseu, Dissertação de
Mestrado, Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, Coimbra.
MOREIRA, Liliana Rosa (2015), Centros e periferias na mobilidade académica
e cultural: um estudo comparativo entre as cidades e universidades de Coimbra
e Groningen, Tese de Doutoramento, Faculdade de Letras da Universidade de
Coimbra, Coimbra.
QI, An (2015), Um caso da adaptação de um jovem imigrante chinês no
contexto escolar português, Dissertação de Mestrado, Universidade do Minho,
Braga.
SILVA, Estefânia Gonçalves (2015), Conciliação pessoal, familiar e
profissional de mulheres imigrantes no distrito de Braga, Tese de
Doutoramento, Universidade do Minho, Braga.
3. PROTEÇÃO INTERNACIONAL (ASILO)
Procedimentos de Proteção Internacional
No quadro legal em vigor12, as novas disposições traduziram-se, na prática, numa
maior proteção dos requerentes, sendo esta assegurada, no que se refere ao acesso à
informação e aconselhamento jurídico, pelo CPR (Organização Não Governamental),
12 Lei n.º 27/2008 de 30 de junho com as alterações introduzidas pela Lei nº. 26/2014 de 5 de maio.
16
que intervém diretamente no procedimento de proteção internacional, designadamente
através dos seguintes aspetos:
-é imediatamente informado pelo SEF dos pedidos de proteção apresentados, podendo
pronunciar-se sobre os mesmos e entrevistar os requerentes, se o desejarem, tendo livre
acesso a todos os requerentes, incluindo aos que estão na fronteira;
-prestar aconselhamento direto e gratuito aos requerentes em todas as fases do
procedimento. O CPR é notificado do relatório escrito elaborado pelo SEF onde se
transcrevem as declarações prestadas pelo requerente na entrevista realizada por este
organismo e outras informações essenciais ao pedido, podendo, num determinado prazo
legal, assim como o requerente, pronunciar-se sobre o teor do mesmo. Pode, durante a
instrução, juntar ao processo informações e relatórios sobre o país de origem do
requerente e obter informações sobre o estado do processo. É notificado, bem como o
requerente, de todas as deliberações e respetivos fundamentos.
Para além do CPR, o requerente pode fazer-se acompanhar de advogado que o
represente nas entrevistas realizadas pelo SEF, bem como receber o respetivo
aconselhamento, independentemente do local onde se encontre. Ao advogado são
comunicadas as datas de realização da entrevista, bem como a notificação das decisões e
respetivo teor, podendo consultar o processo. Sublinhe-se que todas as informações
relativas à elegibilidade do pedido (credibilidade, idade, identidade, mérito do pedido,
por exemplo) são analisadas pelo “eligibility unit”. A condução da entrevista é feita pelo
instrutor do processo, a quem cabe a responsabilidade da elaboração da primeira
informação. Seguidamente, a mesma é analisada pelo chefe do “eligibility unit” e, por
último, pela Coordenadora do Gabinete. Existem “guide lines” e “check lists” relativas à
entrevista, bem como para o relatório que fundamenta a decisão. A chefe do “eligibility
unit” e a coordenadora do Gabinete funcionam como garantia da uniformização das
decisões e qualidade do procedimento.
É de realçar que com a entrada em vigor da nova Lei, em 2014, o prazo da instrução
aumentou, mas o prazo relativo à tramitação acelerada foi reduzido, significando, na
prática, que, após a apresentação do pedido de proteção e decorridos 30 dias, todos os
pedidos são objeto de uma Decisão. Assim, em média, as decisões em primeira instância
são mais rápidas. As decisões judiciais são igualmente proferidas num prazo mais curto,
pelo facto de a lei prever que os recursos das decisões relativas à proteção internacional
tramitam em Tribunal sob a forma de processo urgente – “intimação para a proteção de
direitos liberdades e garantias”. Desta forma, todo o processo de proteção internacional,
17
em fase administrativa e em fase judicial, é mais rápido, reduzindo os custos com o
requerente.
A Lei nacional prevê o princípio do efeito suspensivo automático de todas as decisões
proferidas no âmbito do processo de proteção internacional e, apesar de os recursos,
como acima referido, tramitarem em Tribunal sob a forma de processo urgente –
“intimação para a proteção de direitos liberdades e garantias”, o que se traduz numa
decisão proferida mais rapidamente, afigura-se um desafio para a administração manter
o estatuto de requerente de proteção com todos os direitos e garantias inerentes ao
mesmo muito para além da data da decisão administrativa que considerou o seu pedido
infundado. Entre os direitos acima referidos está o acolhimento. Os centros de
acolhimento em regime aberto destinam-se a requerentes de proteção que aguardam
decisão quanto à admissibilidade do pedido, sendo temporária a sua permanência nos
Centros. Após ter sido proferida decisão de admissão do pedido, ou em caso de recurso
judicial da decisão de não admissibilidade, estes requerentes passam a ser apoiados pelo
Instituto da Segurança Social, em alojamento hoteleiro ou particular, até que obtenham
uma decisão final sobre o pedido formulado. As alterações previstas na nova lei de asilo
e a sua implementação prática vieram dar resposta a esses desafios.
Receção de requerentes de proteção internacional, incluindo informação sobre
receção de requerentes provenientes de Estados Terceiros específicos (Síria,
Afeganistão, África Ocidental)
Neste domínio, não se registaram alterações. Portugal procede à avaliação, em
particular na fase de admissibilidade, da vulnerabilidade dos requerentes de proteção
internacional. Esta avaliação procura a melhor adequação da resposta em termos de
alojamento e apoio social aos requerentes, salvaguardando os direitos e interesses de
famílias com menores e menores desacompanhados.
O Ministério da Administração Interna (MAI), através do SEF, tem um protocolo
de cooperação com o CPR com vista ao financiamento do acolhimento de requerentes
de proteção internacional, na fase da admissibilidade do pedido e ao aconselhamento
jurídico durante toda a fase do procedimento. O Ministério do Trabalho, Solidariedade e
Segurança Social (MTSSS), através do Instituto da Segurança Social (ISS), financia o
alojamento e a estada dos requerentes de proteção internacional, em particular após a
admissibilidade do pedido de asilo e quando já são beneficiários de uma autorização de
residência provisória.
18
Importa, neste contexto, destacar que, no ano em referência, o apoio concedido em
termos de recolocação (transferência de requerentes de proteção e não como definido na
nota de rodapé 15) é organizado a nível europeu. A Decisão (UE) 2015/1523, que
entrou em vigor a 16 de Setembro por um período de 24 meses, prevendo a recolocação
de 40 000 pessoas (24 000 de Itália e 16 000 da Grécia) que tenham chegado ao
território destes Estados- Membros a partir de 16 de setembro, bem como requerentes
que tenham entrado a partir de 15 de agosto, atribui a Portugal a recolocação de 1021
pessoas de Itália e 680 da Grécia, num período de 24 meses. A Decisão (UE)
2015/1601, que entrou em vigor a 25 de setembro, por um período de 24 meses,
prevendo a recolocação de 120 000 pessoas, veio exigir a tomada de novas medidas em
favor da Itália e da Grécia. Das 120 000 pessoas, 15 600 deverão ser recolocadas a partir
de Itália e 50 400 a partir da Grécia. Portugal deverá recolocar, num período de 24
meses, 388 pessoas da Itália e 1254 da Grécia. Em 2015, Portugal recebeu 24
requerentes de proteção ao abrigo da recolocação.
No âmbito do programa de resettlement do ACNUR, Portugal recebeu em 2015, 39
refugiados (nacionais da Síria, Eritreia e Sudão que se encontravam no Egito) dos 45
estabelecidos pela quota anual.
Integração de requerentes de asilo/atribuição de estatuto de proteção internacional
A integração é uma das principais bandeiras de Portugal no que se refere aos
requerentes de asilo e à atribuição de estatuto de proteção internacional em todos os
domínios. O acesso ao emprego e à formação profissional constituem dois aspetos
integradores fundamentais e, neste sentido, a lei portuguesa estabelece13 que os
requerentes de asilo ou proteção subsidiária que já sejam titulares de uma autorização de
residência provisória têm direito a aceder ao mercado de trabalho. Por sua vez, os
beneficiários do estatuto de refugiado e de proteção subsidiária gozam dos direitos e
estão sujeitos aos deveres dos estrangeiros residentes em Portugal, usufruindo,
logicamente, do mesmo tipo de acesso. Em termos legais, realce-se que o princípio de
igualdade de tratamento entre cidadãos estrangeiros e nacionais está consagrado e, por
conseguinte, os beneficiários do estatuto de refugiado ou de proteção subsidiária estão
imediatamente abrangidos por este regime, sendo-lhes assegurado o acesso às medidas e
13 Artigo 54º da Lei n.º 26/2014, de 5 de maio.
19
programas de emprego existentes, que são pautados por uma forte orientação de
agregação e inclusão. Complementarmente há um conjunto de políticas e medidas
nacionais de aplicabilidade geral que visam o estreitamento da relação do imigrante com
o mercado de trabalho e que são de forte cariz formativo e profissional. A formação,
profissionalização do trabalhador e a contratação de desempregados revelam-se
igualmente fatores preponderantes neste contexto. Sendo um processo contínuo, resulta
da articulação de diversas entidades e competências para que os objetivos estabelecidos
sejam atingidos com maior eficiência e eficácia, para além de ser reforçado com um
conjunto de componentes de largo espetro:
-conhecimento linguístico e formação, que constituem um dos principais domínios de
integração, devido à vertente da comunicação e à oferta de diferentes programas de
aprendizagem do português;
-acesso à educação, direito de que todas as crianças gozam, independentemente da sua
situação (regular ou irregular) no país de acolhimento. A vertente educativa e formativa
(que engloba diferentes áreas e estágios) apresenta um leque diversificado e orientado
para diferentes perfis e objetivos relacionados com o ensino e a certificação das
habilitações e formação profissional;
-reconhecimento de competências e qualificações junto de Universidades e Institutos
Politécnicos públicos portugueses ou da Direção-Geral do Ensino Superior;
-aconselhamento jurídico, estando disponível um conjunto de gabinetes especializados
que prestam informação de teor legal em variadas áreas;
-acesso à habitação;
-rendimento social de inserção, que é atribuído a indivíduos ou famílias que se
encontram em situação de carência económica grave devidamente identificada.
No diz respeito ao ano de 2015, refira-se a elaboração do estudo “Integração de
beneficiários de proteção internacional/ humanitária no mercado de trabalho: políticas e
boas práticas”, no âmbito da REM, apresentando a visão e as medidas tomadas por
Portugal em relação a estas matérias.
20
4. MENORES NÃO ACOMPANHADOS E OUTROS GRUPOS VULNERÁVEIS 14
Portugal não tem registado uma expressão significativa sobre este fenómeno, o que,
de alguma forma, impossibilita qualquer tentativa de análise mais aprofundada sobre
tendências ou definição de uma tipologia padrão.
Não obstante, e como já foi referido em relatórios semelhantes em anos anteriores, está
previsto um conjunto de formalidades e procedimentos a adotar perante a deteção deste
tipo de situações, designadamente o país de origem, a existência de critérios de
admissão e permanência, entre outros.
Neste contexto, e numa tentativa de caracterização possível, tem-se verificado que
os casos de menores não acompanhados detetados são, na sua maioria, provenientes de
países da África Ocidental, sobretudo dos que fazem parte da Comunidade Económica
dos Estados Africanos Ocidentais. Importa acrescentar que, em regra, as situações
detetadas em Portugal estão ligadas a situações de “abandono” já em território nacional
e não à entrada na situação e condição de menor não acompanhado. No entanto, quando
se verifiquem, é contactada a Comissão de Proteção de Crianças e Menores em Risco
(CPCMR), a qual deverá articular com o Ministério Público e com o Tribunal de
Menores o necessário encaminhamento a dar à situação, desde a vertente social até à
legal.
Por fim, a permanência regular em território nacional poderá ser enquadrada ao
abrigo do articulado legal da alínea e), do nº 1, do art.º 122º da Lei de Estrangeiros, ou
caso o Tribunal assim o decida, o menor não acompanhado ser entregue à família no
país de origem (caso a mesma exista).
No que concerne às possíveis motivações que possam ser detetadas em sede de
inquérito, as mesmas não assinalam alterações, face às já registadas e apontadas no
estudo sobre a mesma temática em 2008, correspondendo sobretudo a situações de
necessidade de proteção que decorrem de fuga; de perseguições no país de origem; de
reagrupamento familiar (com membros da família que já se encontram no país, os quais
14 As well as unaccompanied minors and victims of trafficking in human beings, ‘vulnerable groups’
include minors, disabled people, elderly people, pregnant women, single parents with minor children,
persons with mental health problems and persons who have been subjected to torture, rape or other
serious forms of psychological, physical or sexual violence, based on the definition of ‘vulnerable group’
in the proposed recast of the Directive laying down minimum standards for the reception of asylum
seekers (“Receptions Directive”).
21
culminam, na maior parte dos casos, em pedidos de asilo); de natureza económica ou
educacional; de vítimas de tráfico de seres humanos; e de vítimas de contrabando.
Sem prejuízo do acima exposto, é de sublinhar que as autoridades portuguesas, na
sequência da aplicação das diretivas comunitárias e da entrada em vigor da nova Lei do
Asilo, estão a tentar desenvolver e estabelecer normas harmonizadas e vinculativas para
lidar com os menores não acompanhados que procuram asilo, por forma a prestar um
apoio adequado às necessidades especiais destes menores.
De relembrar, neste âmbito, o investimento que tem vindo a ser feito em formação
adequada e atualizada a todos os intervenientes nestes processos. A formação inicial e
contínua das autoridades privilegia a abordagem das matérias referentes a menores
envolvidos na passagem de fronteira, procedimentos de asilo, vitimização por tráfico de
seres humanos ou auxílio à imigração ilegal.
Menores Não Acompanhados que NÃO SÃO requerentes de asilo
À semelhança do exposto no ponto anterior, em Portugal não há expressão de
situações de menores não acompanhados que não sejam requerentes de asilo. Não
obstante, quando desacompanhados de quem exerce as responsabilidades parentais ou
quando em território nacional não exista quem, devidamente autorizado pelo
representante legal, se responsabilize pela sua estada, a autoridade competente deve
recusar a entrada no País de cidadãos estrangeiros menores de 18 anos. Salvo em casos
excecionais, devidamente justificados, não é autorizada a entrada em território
português de menor estrangeiro quando o titular das responsabilidades parentais ou a
pessoa a quem esteja confiado não seja admitido no País. Da mesma forma, se o menor
estrangeiro não for admitido em território nacional, deve igualmente ser recusada a
entrada à pessoa a quem tenha sido confiado.
Outros grupos vulneráveis
Neste domínio, Portugal prosseguiu, no ano em referência, a execução dos Planos
Nacionais, os quais procuram atuar nos vários domínios de políticas setoriais ou
transversais relevantes para a construção da igualdade e da não discriminação.
Exemplo do afirmado são o V Plano Nacional para a Igualdade de Género, Cidadania e
Não-discriminação 2014-2017 (V PNIGCND), que se caracteriza pela sua
transversalidade ao agregar e articular a atuação de vários ministérios na implementação
22
das políticas públicas de igualdade de género e de não-discriminação em função do sexo
e da orientação sexual, o V Plano Nacional de Prevenção e Combate à Violência
Doméstica e de Género 2014-2017 (V PNPCVDG), que visa delinear estratégias no
sentido da proteção das vítimas, da intervenção junto de agressores(as), do
aprofundamento do conhecimento dos fenómenos associados, da prevenção dos
mesmos, da qualificação dos(as) profissionais envolvidos(as) e do reforço da rede de
estruturas de apoio e de atendimento às vítimas existente no país. O III Plano Nacional
de Prevenção e Combate ao Tráfico de Seres Humanos 2014-2017 (III PNPCTSH)
fundamenta-se no trabalho desenvolvido nos últimos anos neste domínio, manifestando-
se como um renovado compromisso na posição de vanguarda que Portugal tem
assumido nesta área.
5.MIGRAÇÃO LEGAL E MOBILIDADE
Migração económica
No que diz respeito à migração legal e à mobilidade, Portugal insistiu numa política
de atuação orientada para a resposta aos desafios que se colocaram em matéria de
segurança e regulação migratória.
Se não há nenhuma alteração a assinalar em termos legislativos, em relação ao
exercício de atividade profissional subordinada, é de referir a publicação de legislação
que alterou o regime jurídico de entrada, permanência, saída e afastamento de
estrangeiros no território nacional (Lei nº 63/2015, de 30 de junho), no âmbito do acesso
e exercício de atividade profissional por cidadãos nacionais de Estados terceiros, sendo
dispensados da atribuição de visto para obtenção de autorização de residência nas
seguintes situações:
-estudantes do ensino secundário que, tendo concluído os seus estudos, pretendam
exercer, em território nacional, uma atividade profissional, subordinada ou
independente, salvo quando aquela autorização tenha sido emitida no âmbito de acordos
de cooperação e não existam motivos de interesse nacional que o justifiquem;
-estudantes do 2.º ou 3.º ciclos do ensino superior que, tendo concluído os seus estudos,
pretendam usufruir do período máximo de um ano para procurar trabalho compatível
com as suas qualificações, em Portugal (artigo 122º).
23
Todos os requisitos, critérios e procedimentos relativos às situações supramencionadas
estão consagrados no Decreto Regulamentar nº.15-A/2015, de 2 de setembro.
Os efeitos da recessão económica, embora se reflitam de forma transversal em
todos os setores da sociedade, têm condicionado, sobretudo, as políticas de emprego, ao
manter a não aprovação do contingente global indicativo de concessão de vistos de
residência para admissão de trabalhadores de Estados terceiros para o exercício de uma
atividade laboral subordinada. Mantém-se, no entanto, a possibilidade de, a título
excecional, ser emitido um visto para obtenção de autorização de residência para
exercício de atividade profissional subordinada aos nacionais de Estados terceiros,
desde que estes preencham os requisitos legais, que sejam detentores de um contrato de
trabalho e comprovem que a oferta de emprego não foi preenchida por quem de direito.
A prevenção e o combate ao dumping social estão previstos na legislação
portuguesa15 e no Princípio da Igualdade de Tratamento para o trabalhador estrangeiro
ou apátrida que esteja autorizado a exercer uma atividade profissional subordinada em
território português16. Neste sentido, o combate ao trabalho não declarado, bem como a
promoção dos direitos dos grupos vulneráveis de trabalhadores (nos quais estão
abrangidos os trabalhadores imigrantes), a igualdade e não discriminação no acesso ao
emprego e no trabalho são preocupações constantes que se encontram espelhadas nas
políticas públicas de imigração portuguesa.
O III Plano Nacional de Prevenção e Combate ao Tráfico de Seres Humanos 2014-
2017 (III PNPCTSH), dando continuidade ao trabalho planificado e estabelecido para o
triénio, é um exemplo do acima mencionado, dando-se especial relevância às medidas 4
(que determina o reforço das ações de fiscalização – incluindo ações conjuntas – com
caráter preventivo, com particular enfoque em locais passíveis de exploração de pessoas
vítimas de tráfico de seres humanos) e 26 (relativa à promoção da formação inicial e/ou
contínua dos(as) inspetores(as) das condições de trabalho sobre o tráfico para fins de
exploração sexual e laboral) .
Sem prejuízo do que anteriormente se expôs, são igualmente de mencionar outras
iniciativas de sensibilização em torno desta questão desenvolvidas pelo SEF e pela
ACT. Assim, ao longo do ano 2015, a ACT ministrou formação a inspetores sobre o
tráfico para fins de exploração laboral, bem como desenvolveu ações de
informação/sensibilização em matéria de direitos e deveres de trabalhadores imigrantes
15 Estão previstos no n.º 1 do artigo 15.º da Constituição da República Portuguesa. 16 Artigo 4.º do Código do Trabalho (CT) em vigor, aprovado pela Lei n.º 7/2009, de 12 de fevereiro.
24
e organizou uma sessão de informação dirigida aos técnicos da rede CLAII (Centro
Local de Apoio à Integração de Imigrantes). As entidades do MAI, designadamente o
SEF, a GNR e a PSP, realizaram sucessivas ações de fiscalização em locais passíveis de
se verificar a exploração de pessoas vítimas de tráfico de seres humanos,
designadamente em estabelecimentos de diversão noturna e locais de trabalho agrícola.
No período de referência, o SEF realizou um total de 557 ações de fiscalização nos
locais supramencionados, das quais 102 foram realizadas em conjunto com outras
entidades. Saliente-se que estas foram de caráter preventivo e abrangeram todo o
território nacional, incidindo especialmente nos distritos de Lisboa, Setúbal, Porto e
Beja.
Em termos de cooperação com entidades estrangeiras, não deixe de se mencionar o
acordo, estabelecido entre a ACT e a Inspéccion de Trabajo y Seguridad Social (ITSS),
visando a luta contra a fraude e o combate ao trabalho não declarado e à economia
irregular e materializando-se em ações conjuntas e simultâneas de ambas as inspeções
em Portugal e Espanha. Sobre o quinquénio 2015-2020, foram estabelecidas algumas
medidas a implementar, nomeadamente a promoção da informação sobre direitos e
deveres dos trabalhadores nas áreas das relações laborais e segurança e saúde no
trabalho, a promoção da informação sobre direitos e deveres dos empregadores que
venham a investir em Portugal no mercado de trabalho, nas áreas das relações laborais e
segurança e saúde no trabalho, o desenvolvimento da formação dos técnicos da rede
CLAII, a intervenção inspetiva nos locais de trabalho, tendo em vista a promoção da
cidadania e a igualdade de género através da integração dos imigrantes, do combate à
utilização ilegal de mão-de-obra (particularmente o trabalho não declarado), à
discriminação racial e ao tráfico de seres humanos.
No que concerne a disponibilização de informação, o Ministério dos Negócios
Estrangeiros (MNE) gere dois websites onde se encontra informação atualizada para
nacionais de países terceiros com vista a uma migração legal, bem como sobre
características do sistema em termos de circulação de pessoas, acordos de cooperação,
de representação, legislação, entre outros, permitindo um fluxo migratório com o visto
apropriado:
http://www.secomunidades.pt/vistos/index.php?option=com_content&view=arti
cle&id=171&Itemid=14&lang=pt
https://www.portaldascomunidades.mne.pt/pt/.
25
Por seu lado, o SEF, através dos seus oficiais de ligação de imigração (OLI), presta
informação e aconselhamento às autoridades e atua na prevenção e deteção de rotas de
migração ilegal. No ano em referência, destaque para a ação desenvolvida pelo OLI do
SEF colocado em Cabo Verde que permitiu juntamente com as autoridades daquele país
detetar rotas de imigração ilegal que pretendiam utilizar as fronteiras de Cabo Verde
para acederem aos países da União Europeia. Neste sentido, há a reportar que foram
estancadas duas rotas de imigração ilegal, uma com origem em Marrocos, que tinha
como finalidade a apresentação de infundados pedidos de asilo, e outra com origem nos
países vizinhos da África Ocidental, com recurso a falsas autorizações de residência em
países do Espaço Schengen. Sublinha-se também a participação do OLI em ações de
esclarecimentos sobre os critérios legais para a concessão
Ao abrigo da Agenda Comum para a Migração e Mobilidade U.E. – Brasil,
Portugal avançou com o projeto CAMPO, a implementar pelo ACM, SEF e Instituto do
Emprego e Formação Profissional, I.P. (IEFP, I.P.), tendo em vista promover a
mobilidade legal dos migrantes entre os países europeus, nomeadamente Portugal, e o
Brasil, e a sua assistência no processo de integração através do fornecimento de
informação gratuita e adequada a cada caso. Prevê-se também o atendimento
personalizado por pessoal especializado para questões relacionadas com a migração,
fornecendo respostas credíveis e integradas, bem como serviços de mediação com
instituições públicas e entidades de relevo envolvidas nos processos migratórios, quer
no país de origem, quer no país de destino, e ainda com as organizações da sociedade
civil, incluindo associações de apoio à integração. Salienta-se igualmente a criação de
um sistema para apoiar o ajustamento entre a procura e a oferta de emprego, com o
auxílio dos pontos de contacto nacionais de uma plataforma eletrónica.
Reunificação familiar
No que respeita à reunificação familiar, e dado que não se registaram alterações
legislativas em 2015, não é demais relembrar a atuação das políticas públicas
portuguesas de migração, que garantem o direito de viver em família a todos os
imigrantes residentes legais, mantendo assim o reconhecimento da valorização da
reunificação familiar dos imigrantes enquanto fator relevante no processo da sua
integração e incluído nos dois Planos para a Integração dos Imigrantes.
26
Importa neste contexto relembrar que Portugal tem a particularidade de não definir
requisitos de integração na pré-entrada para os requerentes de reunificação familiar
(nem para outro imigrante), dado que tem sido, e continua a ser, entendimento dos
governos portugueses que a integração é um processo que deve ser promovido
exclusivamente no território nacional, com implicações quer para os imigrantes, quer
para a sociedade de acolhimento. Desta forma, o direito de viver em família não deve
ser condicionado por políticas ou mecanismos que limitem a entrada de pessoas (como
sejam a língua e testes de integração na pré-entrada).
No que se refere ao auxílio aos requerentes de reunificação familiar, note-se o
trabalho do Gabinete de Apoio ao Reagrupamento Familiar (GARF), que funciona
dentro dos Centros Nacionais de Apoio ao Imigrante (CNAI) e que fornece informação,
entre outros, sobre os procedimentos necessários para efetuar o pedido, nomeadamente
sobre os documentos requeridos, os prazos legais, os principais procedimentos a serem
empreendidos pelas partes interessadas, a legalização e a tradução de documentos e
ainda informação sobre os postos consulares competentes. Os processos pendentes são
igualmente acompanhados, de forma a obter das instituições competentes a informação
que irá facilitar uma conclusão favorável do pedido. Em relação a 2015, assinale-se que
cerca de 4929 pessoas receberam apoio e informação deste Gabinete.
É ainda de sublinhar o Programa “SEF em Movimento” que, através de parcerias
estabelecidas com diversas entidades da administração pública e da sociedade civil
procura aproximar e facilitar o relacionamento do SEF com os cidadãos,
proporcionando um conjunto de serviços vocacionado para grupos vulneráveis e
promovendo a regularização da situação documental de cidadãos estrangeiros que
possam estar perante potenciais situações de irregularidade. No que diz respeito à
cooperação com entidades locais da sociedade civil, realizaram-se 469 ações, que
beneficiaram 999 cidadãos estrangeiros. Em termos de nacionalidades de origem
destacam-se neste universo a tailandesa (230), caboverdiana (19), nepalesa (142),
angolana (138) e libanesa (95). Relativamente à implementação do Protocolo
SEF/Direção Geral de Reinserção e Serviços Prisionais (DGRSP), foram desenvolvidas
130 ações que se traduziram na recolha de informação sobre reclusos estrangeiros,
ações de formação ou documentação de cidadãos estrangeiros reclusos, de acordo com a
legislação de estrangeiros. O número de beneficiários ascendeu a 249, evidenciando-se
as seguintes nacionalidades: caboverdiana (110), brasileira (33), angolana (27) e
guineense (Guiné-Bissau) (27).
27
Estudantes e Investigadores
Neste domínio, a intenção política prende-se ao reforço da posição de Portugal
enquanto destino preferencial para a educação superior, especialmente em língua
portuguesa. Por outro lado, a mobilidade de docentes, investigadores e de estudantes é a
base de consolidação do Espaço Europeu de Ensino Superior, assumindo grande
importância a nível académico, social, político e socioeconómico e constituindo um dos
objetivos mais ambiciosos da Declaração de Bolonha.
Para tentar ultrapassar algumas dificuldades que persistem e promover uma maior
mobilidade de estudantes, docentes, investigadores e outros trabalhadores, Portugal tem
procurado remover obstáculos administrativos e legais, designadamente através da
aplicação dos seguintes instrumentos que decorrem, nomeadamente, da implementação
do Processo de Bolonha:
-os créditos ECTS (European Credit Transfer System), que permitem comparar cursos
pelo número de horas exigidas para a sua obtenção;
-o Guia Informativo, que deverá estar disponível online no portal de cada universidade
europeia e que consiste na reunião num só local de toda a informação sobre a
universidade, faculdade e cursos oferecidos. Deve ser apresentado quer na língua
nacional, quer em língua inglesa e fornece, entre outras, informações relativas a
programas de estudos, disciplinas lecionadas, equipamentos disponíveis, informações
úteis ao estudante sobre a cidade onde a instituição está sediada;
-o Contrato de Estudos, no âmbito do Programa Erasmus, que consiste numa lista de
disciplinas que o estudante se compromete a fazer na instituição de acolhimento. É
assinado por este e ainda pela instituição de envio, que se compromete a garantir o
pleno reconhecimento académico dos créditos obtidos no estrangeiro, e pela instituição
de acolhimento, que se compromete a garantir a existência das disciplinas listadas.
Sendo um contrato, oferece mais segurança aos estudantes que, muitas vezes, optam por
não estudar fora do seu país com receio de que este período de mobilidade não seja
reconhecido a posteriori;
-o Suplemento ao Diploma, que é um documento bilingue de grande utilidade no que
concerne ao reconhecimento de títulos académicos e à mobilidade dos detentores de um
curso superior e que é emitido gratuitamente aquando da emissão do Diploma de Curso.
Trata-se de um documento padrão, igual para todos os países, que identifica a natureza
dos estudos efetuados, as classificações obtidas na escala nacional e na Escala Europeia
de Comparabilidade de Classificações, a estrutura do curso e os créditos ECTS obtidos,
28
bem como atividades extracurriculares. Dá também informações sobre o sistema de
ensino nacional. O objetivo é, mais uma vez, dotar os graus obtidos em qualquer país de
maior transparência e comparabilidade, facilitando o reconhecimento académico e
profissional;
-a promoção da cooperação europeia na certificação da qualidade do ensino superior:
uma das linhas de ação centrais do Processo de Bolonha é a garantia de qualidade,
porque o correto cumprimento desta permite alcançar outros objetivos, como a
promoção da mobilidade e o incremento da competitividade internacional do Espaço
Europeu de Ensino Superior. Os vários sistemas nacionais devem adotar procedimentos
comparáveis e cooperar através da Rede Europeia para a Garantia da Qualidade no
Ensino Superior (ENQA), que reúne os principais organismos de acreditação,
governamentais e privados, na Europa. Portugal é representado na ENQA através da
Agência de Avaliação e Acreditação do Ensino Superior (A3ES );
-o Quadro Europeu para as Qualificações – QEQ (European Qualifications Framework
– EQF) –, que funciona como um instrumento de tradução para a comparabilidade das
qualificações entre os sistemas e quadros de referência nacionais e setoriais, fomentando
a transparência e confiança mútua. Em Portugal, começou a ser delineado em 2007 (DL
nº 396/2007) com o estabelecimento do Regime Jurídico do Sistema Nacional de
Qualificações (SNQ), referenciando a correspondência com o quadro europeu de
qualificações. O SNQ abrange todas as entidades do sistema de ensino, incluindo o
superior, e tem em consideração as especificidades das instituições de ensino superior,
atendendo à legislação própria por que são regidas.
No período em análise, saliente-se que o número de estudantes internacionais
evoluiu para um total de 710, o que denota já uma certa consolidação nas estratégias de
captação destes estudantes. As regras de admissão encontram-se igualmente
consolidadas e integram um procedimento autónomo e já normalizado que se traduz na
abertura de um concurso especial de acesso destinado especificamente a estudantes
internacionais. Toda a informação relevante respeitante ao mesmo encontra-se
disponível nas páginas web de todas as universidades que integram o Conselho de
Reitores das Universidades Portuguesas (CRUP), procurando assim facilitar o acesso à
candidatura.
A educação e a formação em Portugal têm tido efetivamente uma assinalável
contribuição para a integração dos migrantes recém-chegados e das pessoas oriundas da
migração. Portugal desde sempre teve a experiência de receber vários migrantes de
29
diversos países, tendo, por isso, estabelecido meios para receber estes povos da melhor
forma, criando inclusivamente um organismo governamental com competências
transversais, o atual ACM, Alto Comissariado para as Migrações, que lançou o Plano
Estratégico para as Migrações (PEM), que vigorará entre 2015 e 2020, em articulação
com outras entidades públicas competentes, nomeadamente ligadas à educação e
formação, como a DGES, quanto ao Ensino Superior. Neste contexto, as medidas
previstas no PEM para melhor integrar os migrantes, que tangem com o Ensino
Superior, passam pela realização de ações de sensibilização sobre reconhecimento
académico e profissionais dirigidas às IES e aos Centros Nacionais de Apoio aos
Imigrantes; criação de uma brochura com testemunhos de imigrantes que obtiveram o
reconhecimento das suas qualificações; adequação da legislação sobre reconhecimentos
de diplomas conferidos por IES estrangeiras; promoção da celebração de workshop com
a IES sobre captação e integração de estudantes internacionais; alargamento dos vistos
que permitem a autorização de residência para jovens qualificados no período pós-
estudo; publicação do guia de acolhimento e integração de estudantes, professores e
investigadores internacionais, com informação sobre acesso ao ES, prosseguimento de
estudos e reconhecimento académico e profissional.
Os maiores desafios que Portugal tem sentido relativamente à migração passam
pela identificação da identidade de cada pessoa e pela aferição das necessidades e dos
objetivos dos recém-chegados.
Com o objetivo de responder a estes desafios, em setembro de 2015, o ACM lançou um
portal cuja finalidade é a de sensibilizar a população portuguesa para o acolhimento de
novos refugiados (http://www.refugiados.acm.gov.pt/) e preparou também um
suplemento distribuído através da imprensa escrita dedicado exclusivamente ao tema
dos refugiados onde pretendeu clarificar e desmistificar algumas questões e,
simultaneamente, sensibilizar os cidadãos portugueses para promover um melhor e mais
adequado acolhimento. Foram igualmente criadas a Plataforma Global de Apoio aos
Estudantes Sírios, pelo ex-Presidente da República, Dr. Jorge Sampaio, que já acolheu
estudantes sírios em Portugal e a Plataforma de Apoio aos Refugiados (PAR) -
http://www.refugiados.pt/. Na área do Ensino Superior, a DGES tem participado num
conjunto de iniciativas neste âmbito.
No que respeita ao universo dos investigadores provenientes de Estados Terceiros, o
protagonismo cabe sobretudo à Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT), enquanto
30
entidade financiadora oficial, sem desmérito para as instituições de acolhimento de
ensino superior.
Em 2015, a FCT promoveu a abertura de um concurso de bolsas individuais para
apoio aos melhores investigadores que pretendessem desenvolver projetos de I&D para
obtenção do grau de Doutor, em qualquer área do conhecimento, ou que pretendessem
prosseguir investigação pós-doutoral em áreas de referência, em unidades de
investigação nacionais ou estrangeiras A tipologia destas bolsas obedece a três tipos,
designadamente Bolsas de Pós-Doutoramento (BPD)17, de Doutoramento (BD)18 e de
Doutoramento em Empresas (BDE)19, podendo candidatar-se às mesmas nacionais de
outros Estados-Membros da União Europeia ou de Estados Terceiros residentes em
Portugal ou de países com os quais Portugal tenha celebrado acordos de reciprocidade.
Este programa tem por objetivo “a atração para” e “a retenção em” Portugal de
investigadores, em todas as áreas científicas e tecnológicas, os quais são selecionados
por painéis de avaliação internacionais. No caso dos investigadores provenientes de
Estados Terceiros, residentes ou não em Portugal, a sua admissibilidade encontra-se
consagrada nos termos do artigo 14º do Regulamento de Bolsas de Investigação da
FCT, I. P.20
Numa perspetiva de análise deste fenómeno pela via da migração irregular para fins
de estudo há a mencionar que, pese embora, a falta de dados consolidados neste
domínio não se afigura, até ao ano em referência, que Portugal possa ser considerado
como um país alvo de usos indevidos de “rotas migratórias de estudantes”. Não
obstante, importa sublinhar que no que respeita à prevenção e identificação de um uso
abusivo destas rotas, Portugal dispõe de um conjunto de medidas que podem ser
observadas a partir do início do processo de instrução para emissão do visto de
residência, em que é feita a verificação da autenticidade e validade dos documentos,
bem como de outros elementos (o comprovativo da existência de meios de subsistência
17 Destinam-se a investigadores doutorados. A duração máxima da bolsa é de seis anos, mediante parecer
favorável na avaliação intermédia (feita no fim do primeiro triénio) e disponibilidade orçamental. 18 Destinam-se a licenciados ou mestres que pretendam ingressar num ciclo de estudos conducentes à
obtenção do grau académico de doutor. A duração máxima da bolsa é de quatro anos, não podendo ser
concedida por períodos inferiores a três meses consecutivos. 19 Destinam-se ao desenvolvimento de trabalhos de investigação em ambiente empresarial, a licenciados
ou mestres que pretendam ingressar em ciclo de estudos conducentes à obtenção do grau académico de
doutor. A duração máxima da bolsa é também de quatro anos, não podendo ser inferiores a três meses
consecutivos. 20 Disponível em http://www.fct.pt/apoios/bolsas/docs/RegulamentoBolsasFCT2015.pdf.
31
e de condições de alojamento), os quais são confirmados pelas entidades responsáveis
aquando da entrada do cidadão em território nacional.
Por sua vez, em termos de processos de candidatura e ingresso nas instituições de
Ensino Superior, estes exigem a presença dos interessados e adicionalmente o
cumprimento de um conjunto de requisitos: o reconhecimento de diplomas e a
equivalência de disciplinas, atribuídos por entidades oficiais, tais como a Direção Geral
da Educação. Este conjunto de medidas legalmente estabelecidas contribui para o
despiste de utilizações fraudulentas do estatuto de estudante, incorporando a ação de
várias entidades e permitindo um controlo em vários momentos, que vão desde a partida
do país de origem até à chegada e permanência dos estudantes nacionais de países
terceiros em território nacional.
Neste processo, frisa-se a continuidade das ações desenvolvidas pelo SEF e pelo
CRUP através do sistema ISU – Interface SEF-Universidades21 que visa facilitar a
regularização documental dos alunos juntos das instituições de Ensino Superior.
Outros aspetos da migração legal
Na análise de outros aspetos relacionados com a migração legal, vários são os
fatores que a promovem e operacionalizam, designadamente uma política de vistos que
seja adequada e a existência de entidades com interesse estratégico numa migração legal
diversificada (promoção de atividades de negócio, intercâmbios culturais, desportivos
bem como de turismo, enquanto atividade de lazer). Na implementação da política de
vistos, o MNE recorre a instrumentos que viabilizam a mobilidade de cidadãos, como
sejam os Acordos de Facilitação de Vistos; Protocolos Bilaterais (ex: Angola-Portugal);
medidas de facilitação nos Postos Consulares Portugueses (Pequim, Xangai, Macau,
Moscovo e Luanda); vistos de múltiplas entradas com maior duração para os
requerentes bona fide; e em território nacional através do regime de Autorização de
Residência para Atividade de Investimento.
21 O ISU – Interface SEF – Universidades consiste num sistema que visa simplificar o processo de
validação junto do SEF da situação dos cidadãos estrangeiros (provenientes de Países Terceiros para a
UE) que se pretendam vincular a uma instituição de ensino superior ou que se encontrem a estudar na
referida instituição.
32
Em conformidade com esta estratégia, a produção legislativa nacional consagra um
conjunto de instrumentos que se adequam ao objetivo da entrada e permanência em
território nacional, como sejam o visto Schengen, quando exigido para os designados
“homens de negócios”; o visto de estada temporária para transferência de cidadãos
nacionais de Estados partes na Organização Mundial de Comércio, no contexto da
prestação de serviços ou da realização de formação profissional em território português;
o visto de residência para os imigrantes investidores que pretendam investir em
Portugal, desde que tenham efetuado operações de investimento ou comprovem possuir
meios financeiros disponíveis em Portugal, incluindo os decorrentes de financiamento
obtido junto de instituição financeira em Portugal, e demonstrem, por qualquer meio, a
intenção de proceder a uma operação de investimento em território português; o visto de
estada temporária para exercício, em território nacional, de uma atividade profissional,
subordinada ou independente, de caráter temporário, cuja duração não ultrapasse, em
regra, os seis meses.
Paralelamente, a articulação e consequente criação de sinergias entre os organismos
públicos e entidades privadas potencia a possibilidade de promoção da migração legal
que, importa sublinhar, não se circunscreve unicamente a uma migração laboral. Assim,
a Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal (AICEP) é uma
entidade que preconiza o desenvolvimento de uma estratégia de atração para
investidores estrangeiros, orientada por pressupostos de valor acrescentado, como
sejam:
a) A localização geoestratégica de Portugal;
b) A existência de recursos humanos qualificados e mão-de-obra disponível
conjugada com a nova lei laboral, bem como a existência de excelentes
infraestruturas;
c) Os incentivos ao investimento produtivo; à formação profissional; à
Investigação & Desenvolvimento;
d) Um ambiente propício a atividades de investimento.
Na vertente da promoção de Portugal enquanto país de destino turístico e de fixação
de residência há a referir a prossecução da parceria entre o Turismo de Portugal, I.P., a
AT; a AICEP; a DGACCP; o SEF; a Associação dos Profissionais e Empresas de
Mediação Imobiliária de Portugal e a Associação Portuguesa de Resorts. O Programa
33
“Living in Portugal”22 consiste na disponibilização de informação tendente à promoção
da atratividade do país em termos de turismo residencial, investimento imobiliário e
condições de vida.
Não deixe de se mencionar que, neste âmbito, ao abrigo da Agenda Comum para a
Migração e Mobilidade U.E. – Brasil, Portugal avançou com o projeto CAMPO, a
implementar pelo ACM, SEF e Instituto do Emprego e Formação Profissional, I.P.
(IEFP, I.P.), tendo em vista promover a mobilidade legal dos migrantes entre os países
europeus, nomeadamente Portugal, e o Brasil, e a sua assistência no processo de
integração através do fornecimento de informação gratuita e adequada a cada caso. É
ainda de salientar o trabalho desenvolvido pelo OLI do SEF na emissão de pareceres aos
pedidos de vistos de curta duração apresentados no Centro Comum de Vistos e de vistos
nacionais apresentados na Secção Consular da Embaixada. Os pareceres emitidos aos
pedidos de vistos têm essencialmente em conta o risco migratório e questões de
segurança, sendo a avaliação feita através da análise aos processos de pedidos de vistos,
bem como através de entrevistas presenciais ou telefónicas com os requerentes de
vistos.
Integração, Naturalização e Nacionalidade
Integração
As políticas públicas que regulam o processo de integração no país de acolhimento
não deverão ser dissociadas de uma atuação política integrada com os países de origem.
Desta forma, e em 2015, as políticas que visam o envolvimento com os países de
origem mantiveram uma atuação de continuidade, sendo inequívoca a relevância que
estes detêm no processo de integração, especialmente enquanto parceiros, avaliadores e
como atores corresponsáveis pelo desenvolvimento e coesão da sociedade.
Não obstante, Portugal, enquanto país de acolhimento, prevê um conjunto de largo
espetro de medidas em diferentes domínios (aprendizagem da língua, acesso à
segurança social, cuidados de saúde, habitação, integração no mercado de trabalho)
orientadas para a integração dos cidadãos estrangeiros.
22 Disponível em http://www.livinginportugal.com/pt/
34
Um dos aspetos fundamentais neste âmbito, estendendo-se, logicamente, à
frequência e ao sucesso escolar, é a aprendizagem da língua portuguesa. O sistema
público português de educação prevê um Programa de Ensino do Português como língua
não-materna especialmente designado para o reforço do conhecimento da língua
portuguesa pelas crianças e jovens que frequentam o sistema escolar obrigatório. O
programa visa uma política pública tendo em atenção os estudantes que vieram de
países onde não se fala português, tais como os países da Europa de Leste ou da Ásia.
Ao longo dos anos e com o desenvolvimento deste Programa, outros estudantes
começaram a beneficiar destas aulas, tais como os descendentes de imigrantes,
principalmente de Países Africanos de Língua Portuguesa, e também os descendentes de
emigrantes portugueses de regresso a Portugal.
Para além disso, é importante sublinhar que o Programa “Português Para Todos”, é
um programa específico que compreende medidas de aprendizagem de língua para os
imigrantes, pretende desenvolver cursos de língua portuguesa e cursos técnicos de
línguas direcionados às comunidades imigrantes que vivem em Portugal. A organização
dos cursos é feita de acordo com as propostas apresentadas no Quadro Europeu Comum
de Referência, que se operacionalizou em Portugal com a implementação do Referencial
“Português para falantes de outras línguas – utilizador elementar no País de
acolhimento” para obter o nível A2 – utilizador elementar (150 horas) e para alcançar o
nível B2 – Utilizador Independente (150 horas) o Referencial “O Português para
falantes de Outras línguas – utilizador independente no País de Acolhimento”. Além
disso, este Programa fornece aos imigrantes que já falam português mas que precisam
de conhecimentos adicionais de nível técnico para o seu emprego, um curso de
Português técnico certificado de 25 horas. Esses cursos técnicos vocacionam-se
fundamentalmente para quatro setores: retalho, hotelaria, cuidados de beleza, construção
civil e engenharia civil.
No que concerne à saúde, importa referir que tanto os cidadãos estrangeiros em
situação de permanência regular como os que se encontram em situação de permanência
irregular têm acesso ao Serviço Nacional de Saúde nas mesmas condições de todos os
que fizeram um pedido de nacionalidade portuguesa. Este acesso é fornecido em todas
as dimensões: primária, secundária, cuidados de emergência, imunização e programas
de rastreio e prevenção. Os cidadãos estrangeiros em situação de permanência irregular
em território nacional beneficiam igualmente do Serviço Nacional de Saúde, embora as
taxas a pagar sejam diferentes, uma vez que os menores e as mulheres grávidas têm
35
isenção de pagamento, independentemente do seu estatuto jurídico. Para além disso, o
Decreto de Lei nº. 67/2004, de 25 de março criou um registo nacional de menores
estrangeiros com um estatuto irregular, gerido pelo ACM, unicamente desenvolvido
para garantir o seu acesso a cuidados de saúde, pré-escola e educação escolar, tendo em
conta o facto de que, em Portugal, tanto os cidadãos estrangeiros em situação de
permanência regular como os que se encontram em situação irregular têm direito a
aceder à educação (se forem menores), como à saúde independentemente do seu
estatuto jurídico.
Assinale-se que em 2015 foram implementadas algumas medidas no Sistema
Nacional de Saúde, designadamente: elaboração e divulgação do Manual de
Acolhimento no Sistema de Saúde de cidadãos estrangeiros; Portal da Mobilidade e
Doentes, que disponibiliza informação estruturada de acesso de cidadãos estrangeiros ao
sistema de saúde. No que diz respeito especificamente ao Plano de Integração de
Refugiados, destacam-se:
-inscrição no Sistema Nacional de Saúde;
-isenção do pagamento de taxas moderadoras;
-plano de nutrição saudável para grupos populacionais de refugiados específicos.
No caso da Segurança Social e da habitação, sublinhe-se que o CNAI dispõe de
alguns gabinetes que podem prestar auxílio, tais como o Gabinete de Apoio Social
(GAS) e o Gabinete de Apoio à Habitação (GAH). É ainda pertinente mencionar que, no
âmbito das condições de acesso ao Rendimento Social de Inserção (RSI), prestação
social de garantia de mínimos sociais a quem se encontre em situação de comprovada
necessidade financeira, o Tribunal Constitucional (Acórdão n.º 296/2015, de 25 de
maio) julgou inconstitucional o artigo 6.º, n.º 1, alínea b), e n.º 4, da Lei n.º 13/2003, de
21 de maio, na redação que por último lhe foi conferida pelo artigo 5.º do Decreto-Lei
n.º 133/2012, de 27 de junho, por violação do princípio da proporcionalidade.
Considerou que a imposição de um prazo mínimo de três anos de residência legal em
Portugal para efeitos de acesso dos cidadãos de Estados terceiros a uma prestação social
que visa assegurar uma sobrevivência minimamente condigna ou pelo menos a um
mínimo de sobrevivência, direito social que é resultado da conjugação do princípio da
dignidade da pessoa humana e do direito à segurança social em situações de carência,
constituem um sacrifício desproporcionado e demasiado oneroso, em face da vantagem
associada aos fins de interesse público que se visou atingir com a diferenciação dos
prazos mínimos de residência – enquanto os cidadãos pertencentes à União Europeia,
36
Espaço Económico Europeu e Estados terceiros que tenham acordo de livre circulação
de pessoas na União Europeia têm de ter residência legal em Portugal há pelo menos um
ano, os cidadãos dos restantes Países tinham até aqui de ter residência legal em Portugal
há pelo menos três anos (com exceção das crianças com menos de três anos). A decisão
deste órgão permite fortalecer a proteção social garantida aos cidadãos estrangeiros em
situação de grave vulnerabilidade financeira, sem meios imediatos para satisfazer
necessidades vitais do agregado familiar, e que tenham sido admitidos em Portugal no
cumprimento das regras fixadas pelo legislador em matéria de residência legal,
nomeadamente quanto à fixação de requisitos relativos à disponibilidade de meios de
rendimento.
No restante, em matéria de trabalhadores e cidadãos migrantes que se encontrem
legalmente a residir em Portugal, não existem alterações legais a assinalar, mantendo-se
em vigor o princípio de igualdade de tratamento no âmbito da segurança social,
consagrado no artigo 7º da Lei de Bases da Segurança Social. Já em matéria de
acolhimento de refugiados, no âmbito do atual processo europeu, é expectável o
aumento dos recursos financeiros alocados pela segurança social à proteção social
destes cidadãos que começaram a chegar a Portugal em Outubro de 2015, já que o
sistema de segurança social intervém subsidariamente neste processo. Ao chegarem,
estes cidadãos não são considerados juridicamente como “refugiados” mas como
“requerentes de asilo”, tendo direito a assistência jurídica gratuita e a beneficiar do
apoio social de emergência do Conselho Português para os Refugiados (CPR), em
colaboração com outras organizações de cooperação humanitária. Os casos mais
vulneráveis (mulheres sós ou com filhos menores, mulheres grávidas, homens inválidos
ou doentes, menores e idosos) são apoiados pelo Serviço de Emergência Social da Santa
Casa da Misericórdia de Lisboa.
Em termos de apoio aos migrantes trabalhadores e de integração no mercado de
trabalho, há um conjunto de gabinetes especializados que prestam auxílio em diferentes
áreas fornecidos pelo CNAI: Gabinete de Apoio ao Imigrante Legal (GAIL), a Rede de
Gabinetes de Formação Profissional de Imigrantes (GFPI) e o Gabinete de Apoio ao
Emprego (GAE). Portugal deu continuidade à implementação e consolidação de um
conjunto de políticas e boas práticas que que lhe valeu, como anteriormente referido, em
2015 e à semelhança dos anos anteriores, o reconhecimento do MIPEX como um dos
países com as melhores políticas de integração. Em 2015, foi aprovado o Plano
Estratégico para as Migrações (2015-2020), no âmbito do qual foram identificados
37
cinco eixos prioritários com as medidas de política a implementar em matéria de
migrações, sendo de destacar dois deles: I – políticas de integração de migrantes e II –
políticas de promoção da inclusão dos novos nacionais. De um conjunto abrangente de
medidas, destacam-se o incentivo à criação do próprio emprego, a prevenção e o
combate à exploração da utilização e contratação de estrangeiros, a dinamização de
ações de sensibilização/informação com as redes locais de integração dos imigrantes,
bem como de direitos e deveres dos empregadores estrangeiros ou ainda o apoio de
descendentes de imigrantes em vários setores.
No âmbito das competências do ACM, há que destacar o Programa de Orientação
para Migrantes, iniciativa desenvolvida em todo o país por um grupo de parceiros locais
com o propósito de promover, através do voluntariado, a troca de experiências, a
assistência e apoio entre migrantes. Os migrantes orientados podem beneficiar desta
medida, por exemplo, com a resolução de alguns problemas diários comuns. Os
orientadores têm desta forma uma oportunidade de desenvolver uma experiência pessoal
através do contacto com pessoas com outras origens culturais. Até ao final de 2015,
foram recebidas as inscrições de 411 orientadores (330 do sexo feminino e 111 do sexo
masculino) e de 152 orientandos (79 do sexo feminino e 73 do sexo masculino).
Importa também mencionar a importância do Centro de Contacto SEF, através da
prestação de informações genéricas sobre a regularidade documental de estrangeiros e
do agendamento de sessões de atendimento presencial, estando o contacto com os
cidadãos assegurados pela colocação de mediadores socioculturais capacitados em
diversos idiomas. Em 2015 foram atendidas 262.212 chamadas, sendo as nacionalidades
mais relevantes a brasileira (51.743), a cabo-verdiana (29.514), a angolana (16.700), a
guineense (Guiné-Bissau) (13.381) e a ucraniana (8.344). Deste total de chamadas,
foram efetuadas 203.016 marcações para atendimento nos diversos postos de
atendimento do SEF. Em termos de contactos por correio eletrónico, foram elaboradas
18.515 respostas sobre os mais diversos temas, no âmbito do Centro de Contacto.
Realce ainda para a notificação de 9.439 cidadãos para deslocação a postos de
atendimento (dia e hora) para efeito de instrução de procedimentos de regularização,
tendo sido processadas 2.661 manifestações de interesse rececionadas por via postal.
No âmbito do “Programa Escolhas”, que promove a inclusão social das crianças e
jovens (dos 6 aos 30 anos) provenientes de contextos socioeconómicos vulneráveis,
sobretudo descendentes de imigrantes e minorias étnicas, destaca-se, no período em
referência, o lançamento da sua sexta edição, que decorrerá até 2018. Até ao final de
38
2015, o programa alcançou 48 896 crianças e jovens, envolveu 1154 parceiros
(autoridades locais e organizações da sociedade civil) e contou com a participação de
1026 técnicos em 141 locais de intervenção.
No que concerne à nacionalidade portuguesa, no ano de 2015, existiu uma alteração
legislativa que se afigura pertinente mencionar neste âmbito: a sexta alteração à Lei n.º
37/81, de 3 de outubro (Lei da Nacionalidade), pela Lei Orgânica n.º 8/2015, de 22 de
junho, a qual fixou novos fundamentos para a concessão da nacionalidade por
naturalização e de oposição à aquisição da nacionalidade portuguesa. Assim, passou a
constar expressamente na Lei da Nacionalidade que o candidato à naturalização ou à
aquisição da nacionalidade por efeito da vontade não pode constituir perigo ou ameaça
para a segurança ou a defesa nacional pelo seu envolvimento em atividades relacionadas
com a prática do terrorismo, nos termos da respetiva lei. Em termos estatísticos, de um
universo de 52 373 pedidos que deram entrada, 40 183 foram deferidos e 3254 foram
indeferidos.
Gestão da migração, incluindo política de vistos e Governância Schengen
A gestão da migração é indissociável de uma política reguladora de vistos. Neste
sentido, regista-se uma tendência favorável para uma estratégia que visa o fomento e a
promoção de atividades de negócio, intercâmbios culturais, desportivos e de turismo,
enquanto atividade de lazer.
Neste sentido, é relevante a ação desenvolvida pelos Oficiais de Ligação de
Imigração (OLI), os quais desempenham um papel inquestionável, não só enquanto
pontos de contacto junto das autoridades locais nos países onde se encontram
destacados, como também enquanto elo entre os consulados e os serviços do SEF em
Portugal. A informação recolhida por estes oficiais é reportada ao SEF, sendo analisada
e tratada pelos respetivos departamentos competentes, com o intuito de contribuir para
uma gestão da migração legal de nacionais de países terceiros mais eficaz, cujo
resultado expectável é o do aumento do fluxo de migração com o visto apropriado.
No ano em referência e no âmbito da atuação do SEF no controlo de fronteiras,
assinale-se a continuação da implementação do Sistema VIS nos postos de fronteiras
nacionais. Destaque-se igualmente a finalização do desenvolvimento de uma ferramenta
de consulta (pesquisa de impressões digitais) ao VIS para posterior implementação em
39
segunda linha de verificação no Gabinete de Asilo e Refugiados (GAR) e nos Postos de
Fronteira.
Não deixe também de se referenciar que o VIS introduziu alguns benefícios entre os
Estados-Membros Schengen, nomeadamente a partilha de um espaço comum de livre
circulação sem controlo nas fronteiras internas e a utilização de uma política comum de
vistos que inclui a troca de informações sobre os requerentes. Neste sentido, as boas
práticas revelam-se na partilha da informação sobre os requerentes que é feita pelos
Estados-Membros e que permite uma maior facilidade na obtenção de um pedido de
visto subsequente, mas também maior segurança interna no espaço Schengen. Esta
partilha é efetuada, muitas vezes, localmente entre as representações diplomático-
consulares.
Em relação à governância Schengen não há nada a reportar no período em referência.
6. MIGRAÇÃO E DESENVOLVIMENTO
Neste domínio, em relação a 2015, há a destacar o lançamento, a 18 de dezembro, no
âmbito das atividades do Dia Internacional do Migrante, do novo website do
Observatório das Migrações (www.om.acm.gov.pt), bem como a publicação e
disponibilização de dez novos estudos académicos em diferentes áreas como a
integração no mercado de trabalho e o impacto da crise financeira, a participação
política dos imigrantes, principais resultados na educação ou a discriminação no
mercado de trabalho. Realce-se também o Prémio Escola Intercultural, criado em 2012 e
que visa a diversidade e o diálogo interculturais, que foi atribuído a 24 escolas de todo o
país, estando também previsto o desenvolvimento de ferramentas pedagógicas ajustadas
aos diferentes níveis educacionais.
A par desta iniciativa, o ACM procedeu à consolidação do Kit Escola Intercultural,
que fornece materiais educativos acessíveis online que se debruçam sobre aspetos
interculturais, podendo ser utilizados por professores e outros agentes responsáveis pela
educação.
Em última instância, e a propósito das comemorações do Dia Internacional para a
Eliminação da Discriminação Racial, a 21 de março de 2015, e com o objetivo de
40
sensibilizar a opinião pública para a Luta Contra a Discriminação Racial, o ACM lançou
na internet a campanha “Descobre a tua cor”, dinamizando-a através do seu próprio site
e do facebook. A iniciativa teve um saldo positivo, registando-se mais de 45 000
visualizações no primeiro dia.
Ao abrigo da Parceria para Mobilidade com a Jordânia, o SEF propôs, dentro do
domínio “engagement with expatriates/diaspora”, avaliar as necessidades e prioridades
dos expatriados (serviços, informação, etc.) e criar workshops técnicos para o
desenvolvimento de uma nova estratégia. Ao abrigo da Agenda Comum para a
Migração e Mobilidade U.E. – Brasil, no projeto de apoio à sua implementação, o SEF
avançou com as seguintes atividades: mapeamento estatístico e publicação de um estudo
sobre a diáspora brasileira na União Europeia e a sua caracterização (com o apoio da
REM e do EUROSTAT); mapeamento da ligação das associações brasileiras à Diáspora
(com o apoio do Ministro brasileiro responsável e do OLI no Brasil), tendo em
consideração os cinco países da UE com a diáspora brasileira mais elevada; viagem de
campo a Portugal para recolha de experiências e das melhores práticas da integração de
migrantes nos países de destino e os benefícios da diáspora para os países de destino e
de origem, estando previstos contactos com algumas associações portuguesas ligadas às
migrações; condução do seminário “Novos Desafios das associações de migrantes” com
a apresentação dos resultados obtidos do mapeamento acima mencionado; publicação
em papel dos resultados do seminário.
7. MIGRAÇÃO IRREGULAR, INCLUINDO O AUXÍLIO À IMIGRAÇÃO
ILEGAL
Medidas nacionais para redução da migração irregular
Neste domínio, há a destacar a implementação do VIS e a divulgação da
informação de como proceder para aceder a Portugal e quais os requisitos exigidos em
função do motivo/duração da estada em território nacional. Mais uma vez, ilustrando
com a ação desenvolvida pelo OLI de Cabo Verde (cidade da Praia), designadamente na
emissão de pareceres aos pedidos de vistos de curta duração apresentados no Centro
Comum de Vistos e de vistos nacionais apresentados na Secção Consular da
Embaixada. Os pareceres emitidos aos pedidos de vistos têm essencialmente em conta o
risco migratório e questões de segurança, sendo a avaliação feita através da análise aos
processos de pedidos de vistos, bem como através de entrevistas presenciais ou
41
telefónicas com os requerentes de vistos. Destaca-se igualmente, de parte do SEF, a
mobilização de peritos nas áreas da imigração e fronteiras para ministrarem formação ao
pessoal afeto aos controlos de fronteira e da imigração de Cabo Verde.
No que concerne ao ano de 2015, são de realçar a continuação do desenvolvimento
do sistema APIS, bem como o uso regular dos seus contributos para verificar a
informação do passageiro, detetando, de antemão, o uso de documentos roubados, ou
ainda a utilização regular das bases de dados do SIS, da Interpol (SLTD) ou do VIS,
permitindo aos agentes de imigração identificar cidadãos com entrada ou permanência
irregular de forma mais completa e detalhada, e de outras bases de dados como o FADO
(European image-archiving system) ou o Edison TD disponíveis nas cabines e que
auxiliam na deteção de documentos fraudulentos.
São também de referir a continuação da operacionalização do sistema VIS,
alargando-o a todos os postos de fronteira, o prosseguimento da atualização do PASSE
(PT EEES) para articulação com o SNV, o APIS, o BIO e o VIS, a atualização
permanente do Portal das Fronteiras do Centro de Situação de Fronteiras, de forma a
servir de apoio às 1ª e 2ª linhas de controlo e, por fim, o Projeto “Smart Borders
Package”, cujo objetivo consiste em testar e validar opções técnicas de controlo de
fronteiras e o uso da biometria, simulando processos EES (“Entry and Exit System”) e
RTP (“Registered Traveller Programme”). A participação portuguesa centrou-se na
utilização do Sistema ABC por cidadãos de Estados terceiros, designadamente na
realização dos testes à IRIS, ABC exit e Kiosk, tendo decorrido o primeiro teste no
Aeroporto de Lisboa, em março de 2015.
Para além destes aspetos, apontem-se a construção de infraestruturas ou a aquisição
de equipamento com o objetivo de prevenir as travessias irregulares da fronteira e a
inclusão de decisões de retorno, bem como a possibilidade de pesquisa por impressão
digital no SISII.
Durante o ano de 2015, é de destacar o reforço de recursos humanos da carreira de
inspeção e fiscalização afetos à UATP, o que permitiu melhorar a sua capacidade
operacional e uma participação mais ativa em campanhas/projetos nacionais e
internacionais que exigem cada vez mais o empenho do SEF. Foram igualmente
mobilizados esforços e recursos no sentido de dar resposta a todas as solicitações
recebidas e de colaborar com outros países, quer em investigações criminais conjuntas,
quer em operações europeias de combate ao Tráfico de Seres Humanos, em formações,
palestras e seminários, conferências e grupos de trabalho sobre a mesma temática.
42
No âmbito da Medida 43 do III Plano Nacional de Prevenção e Combate ao Tráfico de
Seres Humanos (PNPCTSH), inserida na Área Estratégica 4, referente à Investigação
Criminal, e que prevê o reforço da coordenação entre as estruturas nacionais de combate
ao TSH e partilha de informações, foram realizadas várias reuniões entre as entidades
nacionais de combate ao TSH, com o objetivo de articular a ação e melhorar a
comunicação para a troca de informações.
No período em referência, assinala-se a realização de 557 ações de fiscalização em
estabelecimentos de diversão noturna e locais de trabalho agrícola, das quais 102 foram
realizadas conjuntamente com outras entidades. Estas ações de fiscalização do SEF
abrangeram todo o território nacional, com especial incidência nos distritos de Lisboa,
Setúbal, Porto e Beja. No âmbito da Europol, o SEF, juntamente com a Polícia
Judiciária (PJ), participou ativamente no projeto EMPACT – THB (“European
Multidisciplinary Platform Against Criminal Threat”) e em todas as suas ações
operacionais, de que é exemplo a coordenação em Portugal do “Joint Action Day Blue
Amber”, que decorreu em simultâneo nos países participantes Bélgica, Chipre,
Dinamarca, Espanha, Polónia, Reino Unido, República Checa, Roménia e Suíça. Para
além do “JAD Blue Amber”, vocacionado para a identificação de menores
desacompanhados possíveis vítimas de tráfico de seres humanos, e ainda no âmbito do
EMPACT, o SEF assegurou a presença nas reuniões subordinadas ao tema “THB
Financial Investigation and Asset Recovery Meeting”, no grupo de trabalho “Identify
the challenges associated with investigating THB enabled by the internet” e no grupo de
trabalho ETUTU – “Comprehensively tackling Nigerian human trafficking networks
operating across the EU”.
No que diz respeito à prevenção e ao combate ao auxílio à migração irregular, é
igualmente de salientar a celebração de alguns protocolos e acordos de cooperação,
designadamente o Protocolo de Cooperação com São Tomé e Príncipe, os Programas de
Cooperação Técnico Policial acordados com a Guiné-Bissau e São Tomé e Príncipe e
ainda três parcerias para a Mobilidade (U.E. – Marrocos/Tunísia/Jordânia).
43
Regularização
Nos últimos anos, Portugal tem mantido uma política que permite a regularização
da permanência de cidadãos estrangeiros que tenham entrado de forma legal em
território nacional para efeitos de exercício de atividades profissionais subordinadas e
independentes. Esta possibilidade está consagrada na lei de estrangeiros nacional ao
abrigo dos articulados do n.º 2 do artigo 88º e n.º 2 do artigo 89º.23 Esta informação está
disponível para os interessados no website do SEF (www.sef.pt) através do acesso ao
Portal de Informação ao Imigrante. Neste Portal, é disponibilizada a informação sobre a
regularização da permanência em território nacional, documentação necessária para
cumprir os requisitos, valores das taxas aplicadas, agendamentos e outros serviços
disponíveis que pretendem ser um instrumento de apoio ao imigrante,
independentemente de qual seja a sua situação particular, para estar devidamente
informado sobre a sua condição, enquanto cidadão estrangeiro.
O Centro de Contacto do SEF, ao complementar nos serviços prestados, tem
contribuído para a facilitação do contacto entre o SEF e os cidadãos estrangeiros,
promovendo o acolhimento e integração das comunidades migrantes. O agendamento
das sessões de atendimento presencial, bem como a prestação de informações genéricas
sobre a regularidade dos estrangeiros tem permitido potenciar a migração legal e
contribuir decisivamente para minimizar a irregularidade documental e os impactos
induzidos nos cidadãos em termos sociais, legais e de segurança (em particular a
vitimização por exploração laboral, ou a adoção de comportamentos desviantes como
modo de garantir a subsistência).
8. RETORNO
Medidas para promover o retorno voluntário
No que se refere ao Retorno Voluntário, ao abrigo do Protocolo entre o Estado
Português e a Organização Internacional para as Migrações (OIM), realça-se que
durante o ano de 2015 se manteve a tendência, já registada no ano anterior, de
23 Lei n.º 29/2012, de 9 de agosto, que constitui a primeira alteração à Lei n.º 23/2007, de 4 de julho, que
aprovou o regime jurídico de entrada, permanência, saída e afastamento de estrangeiros do território
nacional.
44
diminuição acentuada do número de processos de pedido de apoio. O número de
processos que deu entrada no SEF para emissão de parecer registou um decréscimo de
47% comparativamente a 2014, e, no que respeita ao número de cidadãos abrangidos,
foi de menos 45%. Deste conjunto, verificou-se que as nacionalidades que mais
recorreram ao Programa de Retorno Voluntário foram a brasileira (195 cidadãos / 80%),
a caboverdiana (12 cidadãos / 5%), a ucraniana (7 cidadãos / 3%) e Outras (29 cidadãos
/ 12%).
Em relação ao agregado familiar, a maior parte dos processos inclui apenas um
cidadão, sendo que o pedido de apoio para Retorno Voluntário tem vindo a ser efetuado
por cidadãos estrangeiros poucos meses após a sua chegada a Portugal. Esta tendência
obriga a uma análise cuidadosa do pedido, de modo a evitar abusos na utilização do
programa de retorno. Saliente-se que os cidadãos comunitários não são abrangidos nesta
análise. É possível que a diminuição do número de pedidos de Retorno Voluntário ao
abrigo do Programa de Retorno entre o Estado Português e a OIM se deva à melhoria da
situação económica em Portugal, sendo que não são alheias a situação de crise
económica que se vive no Brasil e instabilidade política na Ucrânia, duas das
nacionalidades que, nos últimos anos, têm sido das mais representativas no que respeita
ao retorno ao abrigo deste Programa.
Portugal não tem sido afetado pelas vagas migratórias e de refugiados que têm
chegado à Europa nos anos mais recentes, pelo que se têm assistido, desde 2012, a uma
diminuição da população migrante. No que respeita a dados estatísticos é de referir que
em 2015 foram introduzidas no SIS 930 indicações de interdição de entrada e não
admissão e detetadas 85. Sublinha-se, neste contexto, que as bases de dados nacionais e
o SIS interagem aquando do controlo de fronteira, o que constitui um mecanismo de
segurança acrescido.
Medidas para melhorar as condições de retorno
Na prossecução das políticas que visam o envolvimento com os países de origem
constatou-se, ao longo de 2015, uma tendência de continuidade que confirma a
relevância inequívoca que estes desempenham no processo de integração,
designadamente enquanto parceiros, avaliadores e como atores, corresponsáveis pelo
desenvolvimento e coesão da sociedade.
45
Para além da continuidade de uma política de investimento em equipamento no
sentido de se proceder a um controlo mais eficaz e rigoroso nos postos de fronteira com
a implementação do VIS à escala global, privilegiou-se a celebração de um Protocolo
entre Portugal e a Sérvia e entre Portugal e a Albânia para implementação do Acordo de
Readmissão entre a Comunidade Europeia e a Sérvia e entre a Comunidade Europeia e a
Albânia, estando ainda em curso a implementação do mesmo protocolo entre Portugal e
a Geórgia, a Moldávia, Montenegro e a Ucrânia. Há ainda a assinalar a frequência de
cursos de formação de formadores em Direitos Fundamentais, Retorno, Deteção de
Documentos Falsificados e Controlo de 2ª linha no âmbito da Frontex.
9. COMBATE AO TRÁFICO DE SERES HUMANOS
Sensibilização para a questão do tráfico de seres humanos
O tráfico de seres humanos e os contornos de crime organizado que a ele estão
associados constituem uma preocupação e prioridade de atuação dos decisores políticos
na sua generalidade, quer se entenda da perspetiva da criação de medidas preventivas,
quer seja da perspetiva operacional pela aplicação e prática de ações concretas.
Uma das soluções adotadas é a colocação de agentes autorizados nos países de origem,
comummente designados como OLIs. A sua atuação é importante não só para efeitos de
regulação da migração legal, como também de prevenção e combate a meios e canais
facilitadores ou potenciadores de migração irregular e/ou de tráfico.
A nível nacional, a sensibilização para o fenómeno do tráfico de seres humanos tem
exigido aos decisores políticos a prioridade numa atuação que seja eficaz não só na sua
prevenção como também ao seu combate. Assim, nos últimos anos, tem sido feito um
forte investimento na conceção, desenvolvimento e implementação de estratégias de
atuação concertadas assumidas na figura institucional dos Planos Nacionais de
Prevenção e Combate ao Tráfico de Seres Humanos, os quais apelam à participação de
todos os intervenientes, quer sejam da esfera governamental, quer sejam da sociedade
civil, a uma conjugação de esforços no sentido de promover um efetivo combate às
questões que o mesmo suscita.
46
Adicionalmente é de sublinhar o investimento institucional realizado em
instrumentos práticos e teóricos, que permitem a divulgação e disseminação da
informação e que visam prevenir e combater o fenómeno em si, como sejam as linhas
telefónicas de apoio às vítimas, a elaboração de estudos temáticos e a realização dos
relatórios anuais das entidades com competências e atribuições nestas áreas, em
resultado dos quais é possível fazer uma monitorização do desenvolvimento da
realidade detetada ao nível nacional. Exemplo do afirmado é o da Unidade Anti-Tráfico
de Pessoas da Direção Central de Investigação (DCInv), unidade orgânica do SEF, cuja
ação é vocacionada para o combate ao tráfico humano, em todas as suas vertentes.24
Tem como intenção centrar a ação do SEF na proteção das vítimas, recolher e fazer o
tratamento da informação e de indícios, recorrendo para o efeito a fontes de naturezas
distintas; cooperar com os parceiros nacionais e internacionais numa conjugação de
esforços fundamental para a prossecução do fim último, que é o de contribuir para a
erradicação do tráfico de pessoas.
O OTSH disponibiliza igualmente informação, não só de apoio à vítima, com
indicação de números de telefone de contacto, como também pela publicação de
relatórios anuais que dão nota do estado de questão sobre a realidade portuguesa no que
se refere a esta questão.
Coordenação e cooperação entre os atores-chave
A coordenação e cooperação entre os diferentes intervenientes têm sido
estruturantes no que respeita à matéria em referência. O SEF, contando com a parceria
do Cuerpo Nacional de Policia (CNP), de Espanha, elaborou o Projeto LUMINA, tendo
como objetivos a recolha e tratamento de informação, de forma a possibilitar uma
melhoria na sinalização/identificação de vítimas de TSH e a sua consequente proteção,
assistência e apoio, bem como efetivar mais e melhores investigações de combate ao
fenómeno, incluindo a investigação aos fluxos financeiros gerados com esta atividade
criminosa.
É também de mencionar que o SEF aceitou a parceria que lhe foi proposta pela
Associação de Apoio à Vítima (APAV) para um projeto candidato a financiamento pelo
24 http://www.sef.pt/portal/v10/PT/aspx/organizacao/index.aspx?id_linha=6678&menu_position=6677#0
(Área Estratégica 1 – Prevenir, Sensibilizar, Conhecer e Investigar – Medida)
47
Fundo de Segurança Interna (FSI), tendo em vista a criação de Redes Regionais de
Apoio e Proteção a Vítimas de Tráfico de Seres Humanos.
Neste âmbito, registe-se igualmente que o SEF procedeu a diversas ações de
fiscalização e fez participação dos casos que levantavam suspeitas da prática do crime
de Tráfico de Pessoas ou Auxílio à Imigração Ilegal ao Ministério Público competente,
na sequência de várias denúncias sobre alegadas situações de jovens adultos
provenientes do Brasil e África, que foram recrutados e aliciados para jogar futebol em
clubes da primeira divisão portuguesa, mas que uma vez chegados a território nacional
eram contratados por clubes de outras Ligas, sendo posteriormente dispensados sem
obterem a documentação necessária para formalizaram a regularização da sua
permanência em território nacional.
Em relação à cooperação com Estados Terceiros, são de referir as seguintes
atividades, tendo sido já algumas mencionadas anteriormente:
-coordenação do Curso em São Tomé e Príncipe (16 a 20 de março de 2015) -
Cooperação direta entre OTSH/CPLP e Procuradoria-Geral da República de São Tomé
e Príncipe. (30 (formandos oriundos das Forças e Serviços de Segurança, Ministério
Público e ONG)
-coordenação do Curso na Guiné-Bissau (30 de novembro a 05 de dezembro de 2015) -
Cooperação direta entre OTSH/CPLP/UNODC e Ministério da Justiça da Guiné-Bissau.
(33 (oriundos das Forças e Serviços de Segurança, Ministério Público e ONG);
-participação do OTSH no Migration EU eXpertise 2 (Mieux 2) a convite do
International Centre for Migration and Policy Development (ICMPD);
-contribuição do OTSH para o projeto “Agenda Comum para a Migração e Mobilidade
entre a UE-Brasil” (coordenado pela SGMAI) (2016-2018), cujos resultados se
traduziram na apresentação de projetos no Eixo 2 do PEM - Prevenção da migração
irregular e combate ao Tráfico de Seres Humanos;
-realização de uma reunião via skype no âmbito da expansão/adoção do MoSy por
países terceiros com a UNODC Viena e UNODC México;
-apresentação de resultados a convite da Embaixada de Portugal em Viena/
Representação junto da OSCE na Reunião da Dimensão Humana da OSCE;
-apresentação do projeto a convite da Embaixada de Portugal em Viena/Representação
junto das Nações Unidas, na Conference of the Parties to the United Nations
Convention against Transnational Organized Crime and the Protocols Thereto –
Working Group on Trafficking in Human Beings, tendo resultado desta apresentação o
48
contributo nacional para a Recomendação nº 15, que aponta no sentido de uma melhoria
dos dados estatísticos com vista a melhorar as boas práticas que apoiem os decisores
políticos;
-XVI Conferência de Ministros do Mediterrâneo Ocidental, que marcou o início da
Presidência Portuguesa deste grupo de cooperação reforçada, inserido no Diálogo 5+5
(Processo de Cooperação do Mediterrâneo Ocidental), tendo sido adotada a “Declaração
de Lisboa”, cujo principal objetivo se centra, numa perspetiva de trabalho em conjunto,
em enfrentar os desafios e ameaças que apelam a respostas mais versáteis e eficazes a
questões estratégicas do interesse comum, como a luta contra a migração irregular e o
tráfico de seres humanos, de órgãos, de células e de tecidos;
-Encontro Ministerial Quadripartido – Portugal, Espanha, França e Marrocos – G4, no
qual foram adotadas as “Conclusões de Lisboa”, tendo em vista estreitar os laços de
cooperação bilateral e multilateral entre os quatro Estados do Mediterrâneo Ocidental
que partilham preocupações comuns em áreas como a gestão dos fluxos migratórios, a
prevenção e luta contra o tráfico de estupefacientes, a prevenção e luta contra o
terrorismo e a cooperação policial;
-XII Cimeira Luso-Marroquina, na qual se procedeu à assinatura do Acordo de
Cooperação entre a República Portuguesa e o Reino de Marrocos em Matéria de
Segurança Interna, através do qual se procurará um reforço da cooperação técnica em
domínios fundamentais como a prevenção e combate à criminalidade, a gestão de fluxos
migratórios, o combate à migração irregular e ao tráfico de seres humanos, entre outras;
-participação de elementos do SEF na qualidade de formadores nos Cursos de Formação
de Formadores em Tráfico de Seres Humanos, em São Tomé e Príncipe e na Guiné
Bissau, no âmbito de uma parceria do OTSH com a CPLP, sob a égide na UNODC e no
seguimento do projeto Manual contra o Tráfico de Seres Humanos para profissionais do
Sistema de Justiça Penal, após aprovação e cofinanciamento do Fundo Especial da
Comunidade dos Países de Língua Portuguesa;
-5 ações de formação específica dos inspetores de fronteiras para o combate ao Tráfico
de Seres Humanos, com base no manual da Agência Europeia de Fronteiras – Frontex,
no âmbito da competência da UATP do SEF;
-participação do SEF, no âmbito da ERA – Academia Europeia de Direito, numa ação
de formação promovida em Viena, em junho de 2015, tendo apresentado o tema “O
papel da polícia na entrevista e apoio à vítima” e atuado como dinamizador de um
workshop sobre proteção de vítimas;
49
-participação do SEF, em parceria com a OIM, na implementação do projeto CARE, de
Apoio ao Retorno e Reintegração de Vítimas de Tráfico;
-no domínio da UATP, assinala-se não só a tentativa de resposta a todas as solicitações,
bem como a colaboração com outros países, quer em investigações criminais conjuntas,
quer em operações europeias de combate ao TSH, e em formações, palestras e
seminários, conferências e grupos de trabalho sobre a importante temática do TSH.
Neste contexto, há também a destacar o papel desempenhado pela rede de OLIs do
SEF, em particular Angola, país com o qual se estabeleceu uma forte cooperação em
processos de investigação criminal relacionados com o tráfico de menores, destacando-
se o elevado fluxo de informação operacional enviada e recebida entre Portugal e
Angola.
Prestação de informação às vítimas
No que concerne à prestação de informação às vítimas menores, o ano transato
marcou a conclusão do projeto “European Cross-Actors Exchange Platform For
Trafficked Children on Methodology Building For Prevention And Sustainable
Inclusion (Catch & Sustain)” (2013-2015) que, coordenado em Portugal pelo Instituto
de Apoio à Criança (IAC), visou criar condições para a proteção e apoio a crianças
vítimas de tráfico, numa perspetiva de capacitação dos profissionais para a prevenção e
identificação das vítimas.
Em relação à divulgação de informação sobre o Mecanismo de Referenciação
Nacional e outros instrumentos de apoio aos profissionais (nomeadamente sobre
assistência e direitos das vítimas), o Observatório de Tráfico de Seres Humanos (OTSH)
manteve a sua atividade de disseminação de materiais, nomeadamente de Kits de
Intervenção Imediata para os Órgãos de Polícia Criminal, Cartões de Sinalização,
Manual Sistema de Referenciação e brochuras da campanha nacional. Entre os vários
destinatários assinalam-se a PSP e a GNR.
Há ainda a salientar a atribuição de duas compensações a vítimas de tráfico no
âmbito do regime de Compensação a Vítimas de Crimes Violentos/Comissão de
Proteção às Vítimas de Crimes (estabelecida pela Lei n.º 104/2009, de 14 de Setembro,
que aprova o regime de concessão de indemnização às vítimas de crimes violentos e de
violência doméstica), bem como a solicitação de uma autorização de residência, ao
50
abrigo da Lei n.º 29/2012 de 9 de agosto, segundo a qual é concedida autorização de
residência ao cidadão estrangeiro que seja ou tenha sido vítima de infrações penais
ligadas ao tráfico de pessoas ou ao auxílio à imigração ilegal, mesmo que tenha entrado
ilegalmente no país ou não preencha as condições de concessão de autorização de
residência.
A nível legislativo também se registam algumas alterações. No período em
referência, Portugal aprovou a Lei nº 71/2015, de 20 de Julho, que estabelece o regime
jurídico da emissão e transmissão entre Portugal e os outros Estados-Membros da União
Europeia de decisões que apliquem medidas de proteção, transpondo a Diretiva n.º
2011/99/UE, do Parlamento Europeu e do Conselho, de 13 de dezembro de 2011,
relativa à decisão europeia de proteção; a Lei n.º 72/2015, de 20 de Julho, que define os
objetivos, prioridades e orientações de política criminal para o biénio de 2015-2017, em
cumprimento da Lei n.º 17/2006, de 23 de maio, que aprova a Lei-Quadro da Política
Criminal. O Tráfico de Pessoas surge como crime de prevenção e de investigação
prioritária (artigos 2.º e 3.º). Tal baseou-se “(…) na análise dos fenómenos criminais
sob a perspetiva do seu nível de incidência, bem como na ótica da importância dos
direitos ofendidos e da gravidade das ofensas cometidas.”
Na sequência da Medida 39 do PNPCTSH, inserida na Área Estratégica 3
(Proteger, Intervir e Capacitar), que prevê a criação de uma notificação em diversas
línguas com informação sobre o período de reflexão para a distribuição às vítimas
sinalizadas, o SEF elaborou e difundiu internamente para todos os colaboradores uma
Nota Técnica sobre Tráfico de Pessoas e sobre o uso do modelo de notificação para
vítimas identificadas e, no decurso de 2015, foram notificadas 32 vítimas identificadas.
Saliente-se também a participação de peritos do SEF em diferentes reuniões e eventos,
tendo em vista a articulação da ação e a melhoria na comunicação para troca de
informações, bem como em reuniões destinadas à edição de um manual de boas práticas
vocacionado para a investigação criminal, estando o projeto em curso.
Por outro lado, não deixe de se assinalar a representação conjunta do SEF e da PJ de
Portugal no projeto EMPACT THB da Europol, bem como a manutenção da articulação
e da cooperação com as entidades dos demais Estados-Membros da União Europeia,
nomeadamente através do mecanismo da EUROPOL, através da troca de informação e
da promoção da realização de reuniões de trabalho e de coordenação sobre
investigações em curso.
51
No que concerne às tendências de tráfico de seres humanos, no último trimestre de
2015, foram referenciadas tentativas de entrada em Espaço Schengen via Aeroporto de
Lisboa de cidadãos de origem africana (maioritariamente provenientes de países como
Angola, Mali e Congo) alegadamente menores de idade, desacompanhados ou na
companhia de outros cidadãos de proveniência africana, que, fazendo-se passar por
familiares ou amigos da família destes menores, os tentaram introduzir em Portugal,
recorrendo por vezes a documentação falsa ou alheia – na sua maioria passaportes. Da
análise feita é possível verificar que Portugal raramente é o destino final para aqueles
que encetam esta jornada, mas antes um país de trânsito para outros países da UE,
especialmente a França, a Alemanha e a Bélgica, tendo, em 2015, sido detetadas 18
tentativas de entrada em território nacional com este propósito. Foram, ainda, detetados
e assinalados 5 casos de menores vítimas de tráfico de seres humanos, sendo todos de
nacionalidade angolana e do sexo feminino, que chegaram a território nacional através
do Aeroporto de Lisboa.
Os dados recolhidos via Sistema de Monitorização Nacional deixam transparecer
que Portugal continua a ser primordialmente um país de destino de vítimas de tráfico de
pessoas, maioritariamente para fins de exploração laboral, oriundas de países
comunitários (principalmente Roménia). Durante o ano de 2015 (e em resultado de um
apuramento parcial a 20 de janeiro de 2016), foram sinalizadas pelos ”Data providers”
(entidades governamentais e não-governamentais) 179 (presumíveis) vítimas de tráfico
de pessoas, registando-se uma quebra de 9% relativamente a 2014 (com um total de 198
sinalizações). Este decréscimo é visível nas sinalizações de (presumíveis) vítimas em
Portugal (cidadãos nacionais e estrangeiros) (2014: 182 sinalizações; 2015: 127
sinalizações), dado que se observa um acréscimo de 36 registos de (presumíveis)
situações de exploração de cidadãos portugueses no estrangeiro, mais concretamente em
Espanha, por exploração laboral na agricultura (2014: 15 sinalizações; 2015: 52
sinalizações).
Note-se também que não se detetou um aumento expressivo em relação aos valores
dos inquéritos registados por Tráfico de Pessoas no SEF, subentendendo-se desta forma
que a continuidade das várias campanhas de sensibilização em que o organismo tem
participado em conjunto com outras entidades nacionais, o empenho na interação com
outros serviços e forças de segurança, bem como com instituições europeias na
formação interna e externa contínua, nomeadamente aos Inspetores que se encontram a
52
exercer funções de primeira linha nas fronteiras portuguesas, têm tido um impacto
positivo.
Os números disponíveis dão conta de um total de 13 investigações sobre trabalho
forçado, 3 sobre tráfico sexual e 21 novas que se iniciaram sobre TSH.
Em última instância, realce-se que não se registaram pedidos de extradição por parte do
SEF nem a extradição de nenhum suspeito. Por outro lado, também não há registo de
vítimas de tráfico detidas, multadas ou presas por atos ilegais cometidos como resultado
de terem sido traficadas, de acordo com a lei europeia e portuguesa.
53
APR PART 2: ANEXOS
METODOLOGIA E DEFINIÇÕES
Siglas e acrónimos
AICEP – Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal
ACNUR – Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados
APAV – Associação Portuguesa de Apoio à Vítima
APIS – Advance Passenger Information System
CPLP – Comunidade dos Países de Língua Portuguesa
CPR – Conselho Português para os Refugiados
CRUP – Conselho de Reitores das Universidades Portuguesas
IES – Instituições de Ensino Superior
JRC – Joint Research Centre
MAI – Ministério da Administração Interna
*SGMAI – Secretaria-Geral do Ministério da Administração Interna
SEF – Serviço de Estrangeiros e Fronteiras
o DCInv – Direção Central de Investigação
- UATP – Unidade Anti-tráfico de Pessoas
o DCID – Direção Central de Imigração e Documentação
o GADR – Gabinete de Apoio às Direções Regionais
o GAR – Gabinete de Asilo e Refugiados
o GEPF – Gabinete de Estudos, Planeamento e Formação
o GRICRP – Gabinete de Relações Internacionais, Cooperação e
Relações Públicas
o GSI – Gabinete de Sistemas de Informação
o GTF – Gabinete Técnico de Fronteiras
OTSH – Observatório do Tráfico de Seres Humanos
54
MEC – Ministério da Educação e Ciência
FCT – Fundação para a Ciência e Tecnologia
DGES – Direção-Geral do Ensino Superior
MJ – Ministério da Justiça
CRC – Conservatória dos Registos Centrais
DGPJ – Direção-Geral da Política de Justiça
MNE – Ministério dos Negócios Estrangeiros
DGACCP – Direção-Geral dos Assuntos Consulares e das Comunidades
Portuguesas
MTSSS – Ministério do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social
ACT – Autoridade para as Condições do Trabalho
GEP – Gabinete de Estratégia e Planeamento
IEFP, I.P. – Instituto do Emprego e Formação Profissional, I.P.
MIPEX – Migrant Integration Policy Index
OIM – Organização Internacional para as Migrações
OLI – Oficial de Ligação de Imigração
ONG – Organização não-governamental
PASSE – Processo Automático e Seguro de Saídas e Entradas
PCM – Presidência do Conselho de Ministro
o ACM, I.P. – Alto Comissariado para as Migrações, I.P.
CLAI – Centros Locais de Apoio ao Imigrante
CNAI – Centros Nacionais de Apoio ao Imigrante
o CICDR – Comissão para a Igualdade e Contra a Discriminação Racial
PCN – Ponto de Contacto Nacional
PEM – Plano Estratégico para as Migrações
RAPID – Reconhecimento Automático de Passageiros Identificados Documentalmente
RAPVT – Rede de Apoio e Proteção às Vítimas do Tráfico
REM – Rede Europeia das Migrações
56
BIBLIOGRAFIA
Agenda Europeia para as Migrações, disponível em: http://ec.europa.eu/dgs/home-
affairs/what-we-do/policies/european-agenda-migration/background-
information/docs/summary_european_agenda_on_migration_pt.pdf
Competências da Unidade Anti-Tráfico de Pessoas (UATP), disponíveis em:
http://www.sef.pt/portal/v10/PT/aspx/organizacao/index.aspx?id_linha=6678&menu_po
sition=6677#0
Grupo de trabalho para a Agenda Europeia das Migrações, disponível em:
http://www.refugiados.acm.gov.pt/grupo-de-trabalho-para-a-agenda-europeia-da-
migracao/
Living Portugal, disponível em http://www.livinginportugal.com/pt/
Observatório das Migrações, disponível em: www.om.acm.gov.pt
Plano Estratégico para as Migrações 2015-2020, disponível em:
http://www.acm.gov.pt/documents/10181/42225/Plano+Estrat%C3%A9gico+para+as+
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em:http://ec.europa.eu/dgs/home-affairs/what-we-
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http://mobilidade.dgs.pt/Paginas/Home.aspx
Portal das Comunidades do Ministério dos Negócios Estrangeiros (MNE), disponível
em: https://www.portaldascomunidades.mne.pt/pt/
57
Portal das Comunidades Portuguesas, disponível em:
http://www.secomunidades.pt/vistos/index.php?option=com_content&view=article&id=
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Portal dos refugiados – ACM, disponível em: http://www.refugiados.acm.gov.pt/
III Plano Nacional de Prevenção e Combate ao Tráfico de Seres Humanos 2014-2017,
disponível em:
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V Plano Nacional de Prevenção e Combate à Violência Doméstica e de Género 2014-
2017, disponível em:
http://www.cig.gov.pt/wp-content/uploads/2014/01/V_PL_PREV_COMBATE.pdf
V Plano Nacional para a Igualdade de Género, Cidadania e Não-Discriminação 2014-
2017, disponível em:
http://www.cig.gov.pt/wp-content/uploads/2014/01/V_PL_IGUALD_GENERO.pdf
Diplomas legais nacionais e comunitários
Lei n.º 27/2008 de 30 de junho com as alterações introduzidas pela Lei nº. 26/2014, de 5
de maio, Diário da República, N.º 85, I Série, Assembleia da República, Lisboa.
Lei nº 63/2015, de 30 de junho, Diário da República, n.º 125/2015, I Série, Assembleia
da República, Lisboa, que constitui a terceira alteração à Lei n.º 23/2007, de 4 de julho.
Lei n.º 29/2012, de 9 de agosto, Diário da República, nº.154, I Série, Assembleia da
República, Lisboa, que constitui a primeira alteração à Lei n.º 23/2007, de 4 de julho.
Lei nº 71/2015, de 20 de julho, Diário da República, nº.139, I Série, Assembleia da
República, Lisboa.
Lei Orgânica n.º 8/2015, de 22 de junho, Diário da República, nº.139, I Série,
Assembleia da República, Lisboa, que constitui a sexta alteração à Lei n.º 37/81, de 3 de
outubro.
58
Decreto Regulamentar nº.15-A/2015, de 2 de setembro, Diário da República, nº. 171, I
Série, Assembleia da República, Lisboa, que procede à regulamentação das autorizações
de residência para atividade de investimento, alterando para o efeito o Decreto
Regulamentar n.º 84/2007, de 5 de novembro, alterado pelo Decreto Regulamentar n.º
2/2013, de 18 de março, e pelo Decreto –Lei n.º 31/2014, de 27 de fevereiro.
Lei n.º 7/2009, de 12 de fevereiro, Diário da República, nº. 30, I Série, Assembleia da
República, Lisboa.
Acórdão n.º 296/2015, de 25 de maio, Diário da República n.º 114, I Série, Assembleia
da República, Lisboa.
Despacho n.º 10041-A/2015, Diário da República n.º 172/2015, 1º Suplemento, II Série
de 3 de setembro.