36
61 Revista do CAAP | Belo Horizonte n. 2 | v. XVIII | p. 61 a p. 96 | 2012 1 Doutoranda em direito na Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Mestre em Direito Internacional pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Especialista em Ciências Penais pela PUC-RS e especialista em Direito Público pela Escola da Magistratura Federal do Rio Grande do sul. Bolsista CAPES. O CONTROLE DE CONVENCIONALIDADE DAS LEIS: UMA ANÁLISE NA ESFERA INTERNACIONAL E INTERNA IRIS SARAIVA RUSSOWSKY 1 RESUMO: A presente pesquisa busca analisar o instituto do controle de convencionalidade das leis, tanto no âmbi- to internacional, quanto no âmbito interno brasileiro. Com esse objetivo, faz-se um comparativo entre o controle de convencionalidade e o controle de constitucionalidade, ana- lisa-se as decisões da Corte Interamericana de Direitos Hu- manos, que desenvolveu papel fundamental na construção do instituto. Por fim, busca-se analisar o ordenamento jurí- dico interno e a reforma do art. 5º da Constituição Federal com a EC 45/05, bem como o papel do STF na viabilização desse referido controle. PALAVRAS-CHAVE: controle de convencionalidade – Corte Interamericana de Direitos Humanos – Art. 5º Cons- tituição Federal – EC 45/04. ABSTRACT: The present research analyzes the institution of conventionality control laws in international scope and in domestically scope (Brazil). Holds up a comparison be- tween the conventionality control and constitutional con- trol. Is studied the decisions of Interamerican Court of Hu- mans Rights, which held a crucial role in the construction of this institute. Finally,intents to analyze the domestic legal system and the reform that happen on the 5º article of Fed- eral Constitution with de EC 45/04 and the performance of STF in the viability of such control. KEY-WORDS: Conventionality control law – Interameri- can Court of Human Rights – Article 5 of Federal Consti- tution – EC 45/04.

Controle de Convencionalidade - Iris

Embed Size (px)

DESCRIPTION

teste

Citation preview

  • 61Revista do CAAP | Belo Horizonte n. 2 | v. XVIII | p. 61 a p. 96 | 2012

    1 Doutoranda em direito na Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Mestre em Direito Internacional pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Especialista em Cincias Penais pela PUC-RS e especialista em Direito Pblico pela Escola da Magistratura Federal do Rio Grande do sul. Bolsista CAPES.

    O CONTROLE DE CONVENCIONALIDADE DAS LEIS:

    UmA ANLISE NA ESfERA INTERNACIONAL E INTERNA

    IrIs saraIva russowsky1

    RESUMO: A presente pesquisa busca analisar o instituto do controle de convencionalidade das leis, tanto no mbi-to internacional, quanto no mbito interno brasileiro. Com esse objetivo, faz-se um comparativo entre o controle de convencionalidade e o controle de constitucionalidade, ana-lisa-se as decises da Corte Interamericana de Direitos Hu-manos, que desenvolveu papel fundamental na construo do instituto. Por fim, busca-se analisar o ordenamento jur-dico interno e a reforma do art. 5 da Constituio Federal com a EC 45/05, bem como o papel do STF na viabilizao desse referido controle.

    PalavRaS-chavE: controle de convencionalidade Corte Interamericana de Direitos Humanos Art. 5 Cons-tituio Federal EC 45/04.

    aBSTRacT: The present research analyzes the institution of conventionality control laws in international scope and in domestically scope (Brazil). Holds up a comparison be-tween the conventionality control and constitutional con-trol. Is studied the decisions of Interamerican Court of Hu-mans Rights, which held a crucial role in the construction of this institute. Finally,intents to analyze the domestic legal system and the reform that happen on the 5 article of Fed-eral Constitution with de EC 45/04 and the performance of STF in the viability of such control.

    KEy-wORdS: Conventionality control law Interameri-can Court of Human Rights Article 5 of Federal Consti-tution EC 45/04.

  • 62 Revista do CAAP | Belo Horizonte n. 2 | v. XVIII | p. 61 a p. 96 | 2012

    O CONTROLE DE CONVENCIONALIDADE DAS LEIS

    CONSIDERAES INICIAISO direito internacional, tendo-se em vista a globalizao, a inte-

    grao e os avanos tecnolgicos, acaba por conquistar um lugar conside-rvel no dia-a-dia dos pases. Dessa forma, sua regulamentao e seu estu-do passam a ser necessrios, recebendo ateno especial quanto temtica dos direitos humanos.

    No presente trabalho, buscar-se- analisar esta relao entre di-reito interno e direito internacional e a necessidade de coordenao entre eles. Atravs dos tratados internacionais e sua vigncia interna, surge o instituto do controle de convencionalidade, que se assemelha ao controle de constitucionalidade.

    O controle de convencionalidade ento, objeto principal dessa pesquisa, surge como uma forma de compatibilizao do ordenamento jurdico interno (suas leis) aos tratados internacionais que um pas tenha ratificado, sendo tais tratados possveis parmetros para tanto. Assim, ob-serva-se uma ordem internacional que acaba por ganhar bastante fora, uma ordem interna que deve ser compatvel com a ordem internacional e um instrumento que viabiliza essa correlao, instrumento esta que ser aprofundado a seguir, analisando-se, em especial, o caso brasileiro.

    1. O CONTROLE DE CONVENCIONALIDADE EM MBITO INTERNACIONAL ASPECTOS GERAIS

    O controle de convencionalidade constitui-se de uma espcie de controle de constitucionalidade que adota como parmetro os tratados internacionais. Esse instituto construdo tomando-se por referncia o controle de constitucionalidade e sua teoria, razo pela qual dever este dever ser estudado em conjunto com o controle de convencionalidade.

    1.1 O CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE2

    Conforme j mencionado, o controle de convencionalidade sur-ge a partir da ideia de controle de constitucionalidade, tendo este como referncia e base, diferenciando-se quanto ao parmetro para controle, naquele tem-se como parmetro um tratado internacional e a jurisprudn-

    2 Deve-se frisar que no ser analisado o controle de constitucionalidade de forma exaustiva, apenas ser dada uma breve ideia do instituto, para que haja uma melhor compreenso do controle de convencionalidade.

  • 63Revista do CAAP | Belo Horizonte n. 2 | v. XVIII | p. 61 a p. 96 | 2012

    Iris Saraiva Russowsky

    cia internacional, enquanto neste observa-se como parmetro principal a Constituio de um pas.

    Em razo dessa correspondncia entre os institutos, em linhas gerais e muito limitadamente, algumas exposies sobre o controle de constitucionalidade se fazem necessrias, para que haja uma melhor com-preenso sobre o controle de convencionalidade. Inicia-se pela ideia de que o controle de constitucionalidade mtodo de verificao de compati-bilidade vertical das normas (assim como o controle de convencionalidade tambm ser considerado para verificao da convencionalidade das leis, razo pela qual se chama de dupla compatibilidade vertical objeto de estudo adiante).

    Segundo Gilmar Mendes, o conceito de constituio parece pre-servar um ncleo permanente, a ideia de um princpio supremo que determina integralmente o ordenamento estatal e a essncia da comunidade constituda por esse ordenamento3. Para ele existe a ideia de uma constituio material, ligada ao contedo e uma constituio formal, referente um conjunto de regras promulgadas com a observncia de um procedimento especial, submetido a uma forma especial de reviso4, sendo ordem jurdica fundamental da coletividade.5 A constituio no codifica, apenas regula.

    1.2 CONTROLE DE CONVENCIONALIDADEO controle de convencionalidade, tanto no continente europeu

    (onde surgiu), quanto no continente americano (objeto de nosso estudo), conta com a participao ativa da jurisprudncia das Cortes de Direitos Humanos na construo de seus conceitos e sua evoluo como institu-to, lembrando-se que o Tribunal de Justia da Unio Europeia (TJUE) tambm foi bastante atuante na construo desse instituto (exemplo: caso Simmenthal).

    Na Amrica, a Corte Interamericana foi, e , atuante na constru-o e evoluo do instituto, atravs de uma srie de casos em que se obser-va o aprimoramento dos conceitos na introduo do instituto do controle de convencionalidade. No presente captulo, em um primeiro momento

    3 KELSEN, Hans. La garanziagiurisdizionale dela constituzione. Milano: Giuffr, 1981. p. 25. MENDES, Gilmar. Controle de constitucionalidade. In: MENDES, Gilmar Ferreira; COELHO, Inocncio Martires; RANCO, Paulo Gustavo Gonet. Curso de direito constitucional. 4. ed. So Paulo: Saraiva, 2009. p. 1049.

    4 MENDES, 2009, p. 1050. 5 HESSE, Konrad. GrundzgedesVerfassungsrechts der BundesrepublikDeutschland. Porto Alegre: Fa-

    bris, 1998. p. 3. apud Ibid., p. 1050.

  • 64 Revista do CAAP | Belo Horizonte n. 2 | v. XVIII | p. 61 a p. 96 | 2012

    O CONTROLE DE CONVENCIONALIDADE DAS LEIS

    ser analisado de uma forma geral o instituto, seus conceitos gerais e, pos-teriormente, analisar-se- pormenorizadamente os diversos casos da Cor-te Interamericana e a aplicao do instituto, tendo-se em vista sua essencial atuao na introduo do instituto aos pases americanos.

    1.2.1 Generalidades do controle de convencionalidadeO denominado controle de convencionalidade originou-se na

    Frana, especificamente na dcada de 70, em um caso em que o Conselho Constitucional francs, na deciso 74-54 DC, de 1975, entendeu no ser competente para analisar a convencionalidade preventiva das leis, ou seja, compatibilidade das leis com os tratados ratificados pela Frana, que nesse caso, tratava da compatibilidade das leis com a Conveno Europeia de Direitos Humanos.6

    Esse controle fruto da criao jurisprudencial, principalmente atravs dos tribunais protetores dos direitos humanos, leia-se Corte Euro-peia de Proteo dos Direitos Humanos e Corte Interamericana de Prote-o dos Direitos Humanos (conforme ser analisado adiante).7

    Enquanto o controle de constitucionalidade embasa-se na supre-macia da constituio, que decorre da construo terica do poder consti-tuinte e que fundamento de validade de todo o ordenamento jurdico, o controle de convencionalidade embasa-se no dever internacional de cum-prir com os pactos (pacta sunt servanda), que acaba por gerar a supremacia da Conveno. 8

    Segundo Valrio Mazzuoli, controle de convencionalidade est ligado compatibilidade vertical das normas do direito interno com as convenes internacionais de direitos humanos em vigor em um determi-nado pas9, sendo a possibilidade de um juzo ou tribunal controlar a con-

    6 MAZZUOLI, Valrio de Oliveira. O controle jurisdicional de convencionalidade das leis. 2. ed. So Paulo: Revista dos Tribunais, 2011. p. 81.

    7 SAGUS, Nestor Pedro. El control de convencionalidad em el sistema interamericano, y sus anticipos em elmbito de losderechos econmico-sociales: concordncias e diferencias com el sistema europeo. Disponvel em: . Acesso em: 28 abr. 2012. p. 384.

    8 CAMPOS, Thiago YukioGuenka. Controle de Convencionalidade como mecanismo de interao entre ordem interna e ordem internacional: por um dilogo cooperativo entre a Corte Interamericana de Direi-tos Humanos e o tribunal constitucional brasileiro. Monografia (Concluso de Curso) Universidade do Vale do Itaja, So Jos, 2010.

    9 MAZZUOLI, 2011, p. 23. Deve-se atentar que Valrio Mazzuoli compreende o controle de convencionalidade como compatibilidade das leis com os tratados internacionais de direitos humanos. Os tratados internacionais gerais e a compatibilizao das leis internas com os mesmos ele denomina de controle de supralegalidade(-

  • 65Revista do CAAP | Belo Horizonte n. 2 | v. XVIII | p. 61 a p. 96 | 2012

    Iris Saraiva Russowsky

    vencionalidade, que poder ser realizada atravs da via difusa, na qual todo o juiz ou tribunal poder controla-la, ou pela via concentrada, no qual o controle se concentra em um tribunal apenas (o guardio da constituio, no caso brasileiro, o STF).

    Assim, o controle de convencionalidade exercido atravs de uma harmonizao das leis de um pas, tendo-se como parmetro os tra-tados internacionais, que podero ser tratados internacionais que versem sobre temas diversos ou tratados internacionais sobre direitos humanos. No caso brasileiro, aps a EC 45/04, os tratados internacionais de direitos humanos foram divididos ainda em dois blocos distintos: aqueles que tive-ram aprovao por 3/5 em cada casa do Congresso Nacional, sendo equi-valentes EC, e, ainda, aqueles que no tiveram esse qurum de aprovao e assim, no so equivalentes a EC (situao que ser estudada infra).

    O controle de convencionalidade est diretamente relacionado aos casos de (in)compatibilidade legislativa com os tratados de direitos humanos.10O controle de convencionalidade pode ser uma tcnica legis-lativa de compatibilizao, no qual o parlamento com os instrumentos de direitos humanos ratificados pelo pas, realiza um controle; mas tambm poder ser um meio de controle judicial de convencionalidade, no qual h a declarao de invalidade de leis incompatveis com os tratados interna-cionais, tanto pela via de exceo, difusa, processo subjetivo, quanto pela via de ao, concentrado, processo objetivo.11

    Nestor Pedro Sagus aponta trs fundamentos principais para o Controle de Convencionalidade. Um primeiro fundamento advm do princpio da boa-f no cumprimento das obrigaes internacionais por parte dos Estados, obrigao de cumprir com o pacto comprometido (pacta sunt servanda). Um segundo fundamento derivado do principio do efeito til dos convnios cuja eficcia no pode ser afastada por normas praticas dos Estados. Por fim, um terceiro fundamento conecta-se ao prin-cpio internacionalista que impede alegar-se direito interno para eximir-se dos deveres sobre direitos dos tratados (art. 27 da Conveno de Viena de 1969)1213.

    diferentemente do que entende Luiz Flvio Gomes, que traduz controle de supraegalidae como sinnimo de controle difuso de convencionalidade.

    10 Ibid., p. 74. 11 Ibid., p. 82.12 SAGUS, 2012, p. 384. 13 CONVENO de Viena sobre direito dos tratados de 1969. Disponvel em:

  • 66 Revista do CAAP | Belo Horizonte n. 2 | v. XVIII | p. 61 a p. 96 | 2012

    O CONTROLE DE CONVENCIONALIDADE DAS LEIS

    Assim, a partir desses fundamentos, sustenta Nestor Pedro Sa-gus que os juzes nacionais dos pases que aderiram ao Pacto de San Jos da Costa Rica, devem adotar a doutrina do controle de convencionalida-de, pois a Corte Interamericana de Direitos Humanos constitui-se como rgo supranacional, cujas decises devem ser aplicadas com prevalncia sobre as decises nacionais.14

    O controle de convencionalidade acaba por gerar alguns efeitos. Basicamente pode-se visualizar dois tipos de efeitos: um efeito repressi-vo, no qual a norma domstica oposta ao pacto ou a jurisprudncia da Corte Interamericana inconvencional, no sendo possvel sua aplica-o ao caso, sendo a mesma invalidada no caso concreto (controle difuso concreto de convencionalidade); e um segundo efeito o efeito positivo ou construtivo, que acaba por ser consagrado aps o caso Radilla Pacheco, ratificado pela corte no caso XakmokKased e Cabrera Garcia-Montiel Flores, os quais determinam que os juzes devem aplicar e fazer funcionar o di-reito local de acordo com as regras da Conveno Americana de Direitos Humanos, ou seja, realizando uma releitura do direito nacional de forma harmonizante, lendo-se as disposies domsticas como convencionais ou inconvencionais.15

    Quanto aos sujeitos habilitados para realizar o controle de con-vencionalidade, deve-se compar-lo ao controle de constitucionalidade, no qual poder haver controle difuso, realizado por todo e qualquer juiz no caso concreto, ou concentrado, possvel de ser realizado apenas por de-terminados juzes. Denominado por Nestor Pedro Sagus como controle de convencionalidade positivo ou construtivo aquele em que todos os juzes podero realizar o controle, pois nessa hiptese no ser declarada a inconvencionalidade, somente havendo a interpretao da norma interna (preceito interno) a luz da Conveno Americana de Direitos Humanos e a jurisprudncia da Corte Interamericana, havendo uma adaptao das normas aos parmetros. Controle de convencionalidade o controle difu-so, assim, qualquer juiz poder realiza-lo, seja repressivo ou positivo. Nes-sa situao o juiz nacional comporta-se como juiz interamericano, assim, lei interna ou jurisprudncia que o impedisse desse labor seriam inconven-cionais, invlidas.16

    OI/Conv_Viena/Convencao_Viena_Dt_Tratados-1969-PT.htm>. Acesso em: 21 maio 2012. Art. 27. 14 SAGUS, op. cit., p. 384. 15 Ibid., p. 385. 16 SAGUS, 2012, p. 387-388.

  • 67Revista do CAAP | Belo Horizonte n. 2 | v. XVIII | p. 61 a p. 96 | 2012

    Iris Saraiva Russowsky

    No entanto, aponta Valrio Mazzuoli, que ainda poder existir o controle concentrado de convencionalidade, realizado por um tribunal determinado. No caso do Brasil quem competente para tanto o STF, atravs de um processo constitucional objetivo, que ser melhor analisado adiante.

    1.2.2 O controle de convencionalidade e o papel da Corte Interamericana de Direitos HumanosEstudar o controle de convencionalidade sem mencionar o pa-

    pel da Corte Interamericana de Direitos Humanos tarefa muito difcil, razo pela qual analisar-se- a sua atuao.Essa Corte desempenhou papel fundamental na compreenso e aplicao dessa forma de controle entre os pases latino-americanos.

    A Corte Interamericana de Direitos Humanos tratou, em diver-sos casos, sobre o controle de convencionalidade das leis luz da Con-veno Americana de Direitos Humanos (Pacto de San Jos da Costa Rica).17Assim, a Corte compreendeuatravsde seusjuzes, como exemplo no caso Tibi vs. Equador, de 2004, que se os tribunaisconstitucionaiscontro-lam a constitucionalidade, o Tribunal Internacional de DireitosHumanos resolve sobre a convencionalidade dos atos. 18

    Segundo Nestor Pedro Sagus, pode-se delimitar, dentre as deci-ses da Corte, duas formas de controle de convencionalidade: uma forma supranacional de controle, e uma forma de controle nacional de conven-cionalidade.

    Em um primeiro nvel de controle, o controle supranacionalde convencionalidade teve sua primeira apario no caso A ltima Tentao de Cristo (Olmedo Bustos e outros) vs. Chile, sentena de 05 de fevereiro de 2001, naqual a Corte entendeu que o Pacto de San Jos da Costa Rica teria sido violado atravs de um artigo da constituio do Chile emmatria de censura televisiva e exigiu reforma da constituio, que foifeita pelo pas.19 No mesmo sentido a corte entendeu no caso Boyce e outros vs. Barbados, que norma constitucional infringiria o Pacto de San Jos da costa rica, pois ela

    17 CORTE INTERAMERICANA DE DIREITOS HUMANOS. Casos contenciosos. Disponvel em: . Acesso em: 16 maio 2012.

    18 HITTERS, Juan Carlos. Control de constitucionalidad y control de convencionalidad. Comparacin: crite-riosfijados por la Corte Interamericana de Derechos Humanos). EstudiosConstitucionales, v. 7, n. 2, 2009. p. 113.

    19 SAGUS, 2012, p. 382.

  • 68 Revista do CAAP | Belo Horizonte n. 2 | v. XVIII | p. 61 a p. 96 | 2012

    O CONTROLE DE CONVENCIONALIDADE DAS LEIS

    inviabilizava o controle judicial das normas anteriores a constituio de Barbados de 1996, devendo o pas modificar a regra de sua constituio.20

    O segundo nvel de controle, mencionado por Nestor Pedro Sa-gus, o controle nacional de convencionalidade, teve como principal caso o caso AlmonacidArellanoe outros Vs. Chile, sentena de 26 de setembro de 2006, no qual a Corte Interamericana orienta os juzes nacionais a no aplicarem as normas locais opostas ao Pacto de San Jos.

    Assim observa-se que a Corte Interamericana de Direitos Hu-manos constri, caso a caso, os conceitos determinantes do controle de convencionalidade. Passa-se a anlise se alguns dos principais casos res-ponsveis por esta construo.

    Inicialmente, o caso Myrna Mack Chang vs. Guatemala,sentena de 25 de novembro de 2003, tratou da responsabilizao do Estado da Guatemala pela privao arbitraria do direito vida de Myrna Mack Chang, que foiassassinadaem 11 de setembro de 1990, consequncia de umaope-rao militar, emrazo das atividadesexercidas pela vtima, que reprovava o conflito armado. Em janeiro de 1990 havia publicado umestudo deno-minado de Poltica institucional haciaeldesplazado interno de Guatemala. Estava preparando uma segunda ediodestapublicaoquandofoiassassinada.2122

    O caso se mostra relevante para o presente estudoemdecorrn-cia de ter sido, em conjunto com o caso Tibi vs. Equador, a origem do controle de convencionalidade junto a Corte Interamericana,23em voto do juizSrgio Garca Ramirez24, tendo sido mencionadoexpressamente, no considerando numero 27 da sentena.2526

    O caso Tibi vs. Equador, sentena de 07 de setembro de 2004, tratou de uma operao antinarcticos, denominada de Camaron, na provncia de Guayas (Equador), em 18 de setembro de 1995, a polcia

    20 SAGUS, 2012. p. 382.21 CORTE INTERAMERICANA DE DIREITOS HUMANOS. Caso Myrna Mack Chang Vs. Guatemala.

    Fondo, Reparaciones y Costas. Sentencia de 25 nov. 2003. Serie C No. 101. 22 HITTERS, Juan Carlos. Control de constitucionalidad y control de convencionalidad. Comparacin: crite-

    riosfijados por la Corte Interamericana de Derechos Humanos). EstudiosConstitucionales, v. 7, n. 2, 2009. p. 113.

    23 SAGUS, 2012, p. 382. 24 MAZZUOLI, 2011, p. 85. 25 CORTE INTERAMERICANA DE DIREITOS HUMANOS, 2003. 26 HITTERS, Juan Carlos. Control de constitucionalidad y control de convencionalidad. Comparacin: crite-

    riosfijados por la Corte Interamericana de Derechos Humanos). EstudiosConstitucionales, v. 7, n. 2, 2009. p. 113.

  • 69Revista do CAAP | Belo Horizonte n. 2 | v. XVIII | p. 61 a p. 96 | 2012

    Iris Saraiva Russowsky

    encontrou um refrigerador que em seu interior continha diversas lagostas cheias de cpsulas de cocana. Diante dessa situao houve a deteno de Eduardo Edison Garcia Leon, de nacionalidade equatoriana. No dia 23 de setembro de 1995, prestou depoimento e afirmou que o respons-vel pela cocana era Daniel Tibi. Em razo dessa declarao, a Interpol prendeu Daniel Tibi, que era um comerciante francs de pedras preciosas, sem ordem judicial prvia, ficando Tibi detido, sem ordem judicial, por 28 meses. No momento de sua deteno houve a violao de diversos direitos (decorrentes, principalmente da deteno arbitrria) assegurados pela Conveno Interamericana de Direitos Humanos , inclusive no teve, Daniel Tibi, o direito de comunicar-se, no momento de sua deteno, com ningum.

    Diante desse caso, a Corte manifesta-se sobre o controle de convencionalidade, em seu considerando numero 3, sustentando que a o tribunal internacional de direitos humanos resolve sobre a convencionali-dade enquanto que o tribunal constitucional resolve sobre a constitucio-nalidade.27

    Dessa forma, a partir do caso Tibi vs. Equador e do caso Myrna vs. Guatemala, segundo Nestor Pedro Sagus, houve a origem do controle de convencionalidade no mbito americano (lembrando que no mbito europeu, na Corte Europeia de Diretos Humanos e no Tribunal de Justia da Unio Europeia, ex-Tribunal de Justia das Comunidades Europeias, o controle de convencionalidade j era observado caso Simmenthal).28

    O controle de convencionalidade comea a tomar corpo (con-tedo) com basicamente trs decises principais da Corte Interamericana de Direitos Humanos: caso AlmonacidArellano e outros vs. Chile; caso traba-lhadores demitidos do congresso vs. Peru: sentena de 24 de novembro de 2006; e caso Radilla PachecoVs. Mxico.29 Para Valrio Mazzuoli, o caso-AlmonacidArellano e outros que inauguram30 a doutrina do controle de convencionalidade no continente Americano, no qual a Corte se manifesta em favor do controle difuso de convencionalidade ser considerada como ordem pblica internacional.31

    27 CORTE INTERAMERICANA DE DIREITOS HUMANOS. Caso Tibi Vs. Ecuador: excepciones prelimi-nares. Fondo, Reparaciones y Costas. Sentencia de 7sept. 2004. Serie C No. 114;

    28 SAGUS, 2012, p. 380. 29 Ibid., p. 382.30 Deve-se atentar que anteriormente a Corte j havia manifestado-se sobre o controle de convencionalidade, no

    entanto, a partir desse caso que o instituto comea a ganhar definies e especificaes. 31 MAZZUOLI, 2011. P. 86.

  • 70 Revista do CAAP | Belo Horizonte n. 2 | v. XVIII | p. 61 a p. 96 | 2012

    O CONTROLE DE CONVENCIONALIDADE DAS LEIS

    Em 15 de setembro de 1998 a Comisso Interamericana recebeu uma petio, na qual alegava-se a responsabilidade da Repblica do Chile por violao ao direito de acesso justia em razo de arquivamento de-finitivo da investigao de assassinato de AlmonacidArellano, em razo de cumprimento do decreto de anistia de 1978 desse pas. Os peticionrios alegavam, em suas pretenses, que o Estado era responsvel pela violao ao direito de proteo judicial e s garantias judiciais. O Estado do Chile alega que o Estado constitucional que sucedeu o regime militar no pode ser responsabilizado pelos fatos alegados em razo do cumprimento lei de anistia.

    Nesse caso, a corte, analisando a causa, definiu sobre o controle de convencionalidade que os Estados que se submeteram a convenes internacionais devem zelar pelo seu cumprimento por parte de seus juzes nacionais, no podendo haver seu descumprimento, tornando-se o controle de convencionalidade obrigatrio para os juzes nacionais. Segundo Nestor Pedro Sagus, o presente caso traa as linhas fundamentais do controle de convencionalidade que deve ser realizado pelos juzes nacionais, atravs de um papel repressivo. 32 Alm disso, nesse caso ficou definido que outros tratados e convenes internacionais podero servir de parmetro para controle, constituindo-se um bloco de convencionalidade: Conveno Americana de Direitos Humanos, Protocolo de So Salvador da Bahia, Protocolo de abolio da Pena de Morte, Conveno de Belm do Par.3334

    Tambm bastante relevante para anlise do papel da Corte Inte-ramericana naconstruo do controle de convencionalidade das leis, tem--se o caso Trabalhadores Demitidos do Congresso vs. Peru, sentena de 24 de novembro de 2006. O caso trata da de 257 trabalhadores demitidos do congresso da Repblica do Peru. Nesse caso, a Corte decidiu por con-denar a Repblica peruana em razo de diversas violaes direitos conti-dos na Conveno Americana de Direitos Humanos, dentre elas ao carter arbitrrio da demisso das vtimas e sua no reposio, o que acabou por gerar diversas consequncias, dentre elas a privao ao pleno emprego e uma justa remunerao e demais benefcios laborais.35

    32 SAGUS, 2012, p. 383.33 Ibid., p. 391.34 CORTE INTERAMERICANA DE DIREITOS HUMANOS. Caso TrabajadoresCesadosdelCongreso

    (Aguado Alfaro y otros) Vs. Per: excepciones preliminares, Fondo, Reparaciones y Costas. Sentencia de 24 nov. 2006. Serie C No. 158.

    35 CORTE INTERAMERICANA DE DIREITOS HUMANOS, 2006.

  • 71Revista do CAAP | Belo Horizonte n. 2 | v. XVIII | p. 61 a p. 96 | 2012

    Iris Saraiva Russowsky

    Esse caso de extrema importncia para a presente pesquisa em razo de a Corte, nessa sentena, ter definido que o controle de conven-cionalidade deve realizar-se de ofcio, sem a necessidade do pedido da par-te, conforme considerando 128 da referida deciso. Assim, segundo Val-rio Mazzuoli, a partir desse caso ficou definido que os rgos do poder judicirio devem exercer no somente um controle de constitucionalidade, seno tambm de convencionalidade exofficio entre as normas internas e a Conveno Americana.36.

    Assim, nas palavras de Juan Carlos Hitters, citando o caso Tra-balhadores demitidos do Congresso, quando um Estado ratificou um tra-tado internacional, como a Conveno Americana de Direitos Humanos, seus juzes tambm esto submetidos ela, o que gera a obrigao dos mesmos garantirem o efeito til da Conveno, assim, os rgos do poder judicirio devem no s exercer o controle de constitucionalidade das leis, como tambm o controle de convencionalidade, inclusive ex oficio, entre as normas internas e a conveno.

    Nessa deciso, ainda, no voto do juiz Srgio Garca Ramirez, h meno a existncia de um corpus juris convencional dos direitos huma-nos, o que se chamou de bloco de convencionalidade37, constituindo par-metro para o controle de convencionalidade, no s a Conveno Ameri-cana, como tambm o Protocolo de So Salvado, a Conveno de Belm do Par, Conveno sobre o Desaparecimento Forado.

    Alm disso, sustenta o juiz que existe um controle de convencio-nalidade depositado em tribunais internacionais, o que faria do controle de convencionalidade um controle concentrado apenas nesses tribunais. No entanto, o juiz menciona que poder existir o controle difuso de con-vencionalidade, exercido por todo juiz ou tribunal, que tem competncia para aplicar estipulaes de tratados internacionais de direitos humanos.38

    O caso Boyce e outros vs. Barbados, sentena de 20 de novem-bro de 2007 trata da situao de Lennox Ricardo Boyce, Jeffrey Joseph, Frederick Benjamn Atkins e Michael McDonald Huggins que foram acu-sados por diferentes assassinatos ocorridos entre outubro de 1998 e no-vembro de 1999 em Barbados. Ao serem considerados culpados do delito de homicdio, foram condenados pena de morte, mas no foram execu-

    36 MAZZUOLI, 2011, p. 86.37 Ibid., p. 88.38 CORTE INTERAMERICANA DE DIREITOS HUMANOS, 2006. Voto razonadodeljuez Sergio Garcia Rami-

    rez.

  • 72 Revista do CAAP | Belo Horizonte n. 2 | v. XVIII | p. 61 a p. 96 | 2012

    O CONTROLE DE CONVENCIONALIDADE DAS LEIS

    tados. Quanto aos senhores Boyce e Joseph, a pena foi comutada a priso perptua pela Corte de Apelaes de Barbados.

    A Comisso Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) soli-citou Corte IDH que declarasse a responsabilidade do Estado de Barba-dos pela violao de diversos artigos da Conveno Americana de Direitos Humanos (CADH)..39

    O Estado, por sua vez, solicitou Corte IDH que negasse ex-pressamente solicitaes e pretenses dos peticionrios e da CIDH e que declarasse que as leis e prticas de Barbados eram compatveis com as obrigaes assumidas de acordo com o sistema interamericano de direitos humanos. A Corte IDH concluiu que o Estado de Barbados tinha violado os artigos 4.1 e 4.2 (Direito vida) e 5.1 e 5.2 (Integridade Pessoal) da CADH.40

    O caso relevante para o estudo do controle de convencionali-dade, pois ele, em conjunto com diversas outras decises da Corte Inte-ramericana, acabara, por reafirmar o instituto de controle, ampliando o parmetro de controle, pois nessa deciso a Corte sustenta que o judicirio interno no deve apenas observar o tratado internacional, mas sim a in-terpretao sobre o dispositivo do tratado realizado pela Corte. Em seu considerado 78 assim manifesta-se a Corte Interamericana sobre o contro-le de convencionalidade, sustentando que o poder judicirio interno deve exercer o controle de convencionalidade entre as normas jurdicas internas e a Conveno Americana de Direitos Humanos, devendo ter em contam a interpretao da Corte sobre o mesmo.41

    No tocante ao controle de convencionalidade, o caso Heliodo-ro Portugal vs. Panam: sentena de 12 de Agosto de 2008 se mostra de extrema importncia por reafirmar entendimentos da Corte j analisados em casos anteriores42, sustentando que a defesa e proteo dos direitos humanos atravs dos documentos internacionais deve ser veiculado pelo controle de convencionalidade, no qual cada julgador deve possibilitar o efeito til dos instrumentos internacionais, que no podero deixar de ser observados em razo de normas internas.43

    39 CORTE INTERAMERICANA DE DIREITOS HUMANOS. Boyce e outros. vs. Barbados: exceo preli-minar, fundo, reparaes e custas. Sentena de 20 nov. 2007; Srie C N 169. Disponvel em: . Acesso em: 14 maio 2012.

    40 Ibid. 41 Caso AlmonacidArellano e outros,supra nota 18, prr. 124, Cfr. Caso La Cantuta, supra nota 64, prr. 173.42 SAGUS, 2012, p. 383. 43 Cfr. Caso CastilloPetruzzi e outros; Caso AlmonacidArellano e outros, e Caso Salvador Chiriboga,

  • 73Revista do CAAP | Belo Horizonte n. 2 | v. XVIII | p. 61 a p. 96 | 2012

    Iris Saraiva Russowsky

    O caso Radilla Pacheco vs. Estados Unidos do Mxico, sentena de 23 de novembro de 2009 trata da histria de um sujeito que em 25 de

    agosto de 1974, foi preso ilegalmente em um posto de controle militar.

    Rosendo Radilla fue un destacado y querido lder social del municipio de

    Atoyac de lvarez, Guerrero, quien trabaj por la salud y educacin de su pueblo y quien fungi como presidente Municipal.Radilla foi lder proemi-nente da comunidade e possuamuitoprestgio no municpio de Atoyac de Alvarez Guerrero, que trabalhou para a sade e educao de seupovo,tendo servido como prefeito.44Treinta y cuatro aos despus, su paradero sigue siendo desconocido.

    En Mxico durante la dcada de los setenta y principios de los ochenta, se cometieron numerosas violaciones de los derechos humanos por parte de integrantes del Estado, stas formaron parte de una poltica

    de Estado que result en la comisin de crmenes de lesa humanidad, que

    se mantienen en total impunidad a la fecha.No Mxico, durante os anos setenta e oitenta, houve o cometimento de inmeras violaes dos direitos humanos por membros do Estado, parte de uma poltica de estado que

    resultounaprtica de crimes contra a humanidade, mantida impunemente. Parte de esta poltica de Estado involucr la persecucin y detencin ar-bitraria de opositores al rgimen principalmente activistas polticos y di-rigentes sociales. Parte dessa poltica de Estado envolveu a perseguio e

    detenesarbitrrias de opositores dos ativistas de regime, principalmen-te polticos e lderes sociais, a denominadaA este periodo histrico se le

    denomin guerra sucia.guerra suja, sendonesse contexto Es en este contexto en el que se da la detencin del seor Rosendo Radilla. dada a priso do Sr. Rosendo Radilla. 45

    La detencin y posterior desaparicin forzada del seor Radilla Pacheco fue denunciada pblicamente por la familia en el momento de sucedidos los hechos y posteriormente fue denunciada legalmente ante las instancias de procuracin de justicia nacionales; fue parte de la investi-

    Caso Boyce e outros. 44 HITTERS, Juan Carlos. Control de constitucionalidad y control de convencionalidad. Comparacin: crite-

    riosfijados por la Corte Interamericana de Derechos Humanos). EstudiosConstitucionales, v. 7, n. 2, 2009. p. 113.

    45 HITTERS, Juan Carlos. Control de constitucionalidad y control de convencionalidad. Comparacin: crite-riosfijados por la Corte Interamericana de Derechos Humanos). EstudiosConstitucionales, v. 7, n. 2, 2009. p. 113.

  • 74 Revista do CAAP | Belo Horizonte n. 2 | v. XVIII | p. 61 a p. 96 | 2012

    O CONTROLE DE CONVENCIONALIDADE DAS LEIS

    gacin realizada por la Comisin Nacional de Derechos Humanos la cual concluy en un Informe Especial publicado en el ao 2001 conjuntamen-te con la recomendacin 26/2001 e igualmente fue una de las averigua-ciones previas investigadas por la Fiscala Especial creada en la transicin

    democrtica con el fin no alcanzado de aclarar los crmenes del pasado,

    dicha fiscala fue cerrada de forma inesperada el 30 de noviembre de 2006.

    Apriso e posterior desaparecimentoforado do Sr. Radilla Pachecofoi de-nunciado publicamente pela famlia no momento em que ocorreram os

    fatos e, posteriormente, foi reportada a organismos de aplicao da lei nacional de justia, fazendo parte da investigao a Comisso Nacional de Direitos Humanos que concluiu, emumrelatrio especial publicado em 2001, conjuntamentecom a recomendao 26/2001. Esseprocessofoi en-cerrado inesperadamente em 30 de novembro de 2006, se negando o Esta-do Mexicano a cooperar com a Corte Interamericana e demais organismos internacionais.Actualmente las investigaciones radican en la Coordinacin General de Investigacin dependiente de la Subprocuradura de Investiga-cin Especializada en Delitos Federales de la Procuradura General de la

    Repblica.El Estado Mexicano tuvo la oportunidad de hacer justicia en el presente caso pues en agosto de 2005 la Fiscala Especial consign el caso

    por privacin ilegal de la libertad en su modalidad de plagio o secuestro al juez civil; sin embargo el proceso fue llevado ante la justicia militar con

    base en la resolucin de la propia justicia civil.O Estado mexicano teve a oportunidade de fazerjustianeste

    caso e no o fez, razo pela qualfoi levado comisso que representoupe-rante a corte, que condenou o Estado mexicano por graves violaesaos-direitos humanos.

    Esse caso, segundo Nestor Pedro Sagus, teve papel construtivo e harmonizador do controle de convencionalidade.46 Nesse processo pe-rante a Corte, houve deciso no sentido de que os dispositivos constitu-cionais de um Estado devem ser lidos e interpretados a luz dos princpios

    convencionais e constitucionais (art. 8.1 da Conveno Americana). Sus-tou a Corte que os juzes e tribunais internos esto submetidos ao imprio

    da lei e assim, esto obrigados a aplicar os dispositivos vigentes no orde-namento jurdico, no entanto, quando um Estado ratifica uma Conveno

    como a Conveno Americana de Direitos Humanos seus juzes tambm

    46 SAGUS, 2012, p. 383.

  • 75Revista do CAAP | Belo Horizonte n. 2 | v. XVIII | p. 61 a p. 96 | 2012

    Iris Saraiva Russowsky

    devem zelar por ela, assim, os juzes nacionais devem efetuar o controle de

    convencionalidade ex oficio.474849.A relevncia especial do caso Guerrilha do Araguaia: caso Go-

    mes Lund e Outros versus Brasil (2010) no presente trabalho ele ter en-volvido o Estado brasileiro, alm de estar conectado ao desaparecimento forado de pessoas durante a Guerrilha do Araguaia. A corte Interameri-cana de Direitos Humanos proferiu sentena em 26 de setembro de 2010.

    A Guerrilha do Araguaia foi um movimento guerrilheiro que se desenvolveu na regio amaznica ao longo do rio Araguaia no final da d-cada de 60 incio da dcada de 70, sendo um movimento deflagrado pelos militares do Partido Comunista do Brasil (PC do B), tendo participao de mais de 200 pessoas que lutavam pela derrubada da ditadura militar vivida na poca. O exercito brasileiro acaba por sufocar o movimento, promo-vendo o massacre de quase todos os guerrilheiros e algumas pessoas que viviam na regio. Muitas pessoas foram executadas, tendo seus corpos de-saparecidos, no tendo sido encontrados at o dia de hoje.

    Em razo dessa situao foi apresentada em 07 de agosto de 1995 pelo Centro pela Justia e o Direito Internacional (CEJIL) e pela HumanRightsWatchdenncia em nome das pessoas desaparecidas durante o ano de 1972. Em 24 de novembro de 2010, a Corte Interamericana de Di-reitos Humanos condena o Estado brasileiro uma serie de aes de car-ter imediato, visando a localizao dos corpos desaparecidos e reparaes s famlias das vitimas. Alm disso, a CIDH determina efetivas medidas judiciais para o apontamento dos responsveis e a sua responsabilizao

    47 Cfr. Caso CastilloPetruzzi y otros Vs. Per, supra nota 54, prr. 207; Caso Ximenes Lopes Vs. Brasil. Fondo, Reparaciones y Costas. Sentencia de 4 de julio de 2006. Serie C No. 149, prr. 83, y Caso AlmonacidArellano y otros Vs. Chile, supra nota 19, prr. 118.

    48 Cfr. Caso AlmonacidArellano y otros Vs. Chile, supra nota 19, prr. 124; Caso La Cantuta Vs. Per, supra nota 51, prr. 173, y Caso Boyce y otros Vs. Barbados. Excepcin Preliminar, Fondo, Reparaciones y Costas. Sentencia de 20 de noviembre de 2007. Serie C No. 169, prr. 78. El Tribunal observa que elcontrol de con-vencionalidadya ha sido ejercidoenelmbito judicial interno de Mxico. Cfr. Amparo Directo Administrativo 1060/2008, Primer Tribunal Colegiado en Materias Administrativa y de Trabajo del Dcimo Primer Circuito, sentencia de 2 de julio de 2009. En tal decisin se estableci que: lostribunaleslocalesdel Estado Mexicano no debenlimitarse a aplicar slolasleyeslocales sino que quedantambinobligados a aplicar laConstitucin, los tratados o convenciones internacionales y lajurisprudencia emitida por la Corte Interamericana de Derechos Humanos, entre otros organismos, locuallosobliga a ejerceruncontrol de convencionalidad entre las normas jurdicas internas y lassupranacionales, como loconsiderlaPrimera Sala de la Suprema Corte de Justicia de la Nacin [].

    49 CORTE INTERAMERICANA DE DIREITOS HUMANOS. Caso Radilla Pacheco Vs. Mxico: excepcio-nes preliminares. Fondo, Reparaciones y Costas. Sentencia de 23 nov. 2009. Serie C No. 209.

  • 76 Revista do CAAP | Belo Horizonte n. 2 | v. XVIII | p. 61 a p. 96 | 2012

    O CONTROLE DE CONVENCIONALIDADE DAS LEIS

    pelos crimes cometidos, bem como a implementao de medidas gerais para o resgate da verdade histrica sobre os fatos ocorridos e a preserva-o da memria.50

    A relevncia do caso para o estudo do tema controle de conven-cionalidade se observa no considerando 106, o que assim estabelece que

    quando um Estado parte de um tratado internacional como a Conven-o Interamericana, todos seus rgos, incluindo seus juzes esto subme-tidos aquele tratado (considerando 106).51.

    O caso Cabrera Garcia e Montiel Flores versus Mxico: sentena de 26 de novembro de 2010 trata de responsabilidade do Estado mexica-no em razo da submisso de Teodoro Cabrera Garca e Rodolfo Montiel

    Flores, que estavam detidos desde 02 de maio de 1999,a tratamento cruel,

    desumano e degradante pelo exrcito, pois encontravam-se sob custdia do mesmo e de no houve apresentao em tempo hbil ao juiz que con-trolaria a legalidade da deteno, alm de terem sido vitimas de irregula-ridades no processo penal que se mostraram excessivas. A demanda se refere a falta de diligncia na investigao e sano dos responsveis pelo feito, com a ausncia de investigao adequada pelas alegaes de tortura e a utilizao de foro militar para investigao e julgamento de violaes de direitos humanos, o que no se no se considera adequado.52

    Foi nessa deciso, segundo a doutrina de Valrio Mazzuoli, que a Corte Interamericana, por unanimidade de votos, afirmou em definitivo

    sua doutrina jurisprudncia sobre o controle de convencionalidade. Nessa deciso a Corte cita diversas decises de Cortes Supremas de pases lati-no americanos que atriburam obrigatoriedade interna interpretao que

    tem feito a Corte aos dispositivos da Conveno (no entanto, o Brasil no est dentro desses pases que tomaram esta atitude).

    No considerando 225, houve manifestao da corte no sentido dos juzes e autoridades internas estarem submetidos lei, mas quando

    se submetem um tratado internacional, como Conveno Americana, seus rgos e seus juzes tambm estaro obrigados a zelar pelos seus efei-

    50 CORTE INTERAMERICANA DE DIREITOS HUMANOS. Caso Gomes Lund e Outros versus Brasil. Sentena de 24 nov. 2010. Disponvel em: . Acessoem: 10 maio 2012.

    51 Cfr. Caso AlmonacidArellano y otros, supra nota 251, prr. 124; Caso Rosendo Cant y otra, supra nota 45, prr. 219, y Caso Ibsen Crdenas e Ibsen Pea, supra nota 24, prr. 202.

    52 CORTE INTERAMERICANA DE DIREITOS HUMANOS. Caso Cabrera Garca y Montiel Flores Vs. Mxico: excepcin preliminar. Fondo, Reparaciones y Costas. Sentencia de: 26 nov. 2010. Serie C No. 220

  • 77Revista do CAAP | Belo Horizonte n. 2 | v. XVIII | p. 61 a p. 96 | 2012

    Iris Saraiva Russowsky

    tos. Alm disso, a Corte reafirma o entendimento de que os juzes e rgos esto obrigados a exercer o controle de convencionalidade exofficio.53

    Frisa a Corte que tribunais da mais alta hierarquia tm aplicado o controle de convencionalidade, levando em considerao interpretaes realizadas pela Corte.54Dessa forma, a Corte utiliza-se de exemplos de Tri-bunais internos que mencionam e utilizam do controle de convenciona-lidade, como por exemplo o Tribunal Constitucional da Bolvia (consi-derando 227)55, Corte de Justia da republica Dominicana (considerando 228)56, Tribunal Constitucional do Peru (considerando 229 e 230)5758; Corte Argentina (considerando 231)59, que sustenta que as decises da Corte In-teramericana constituem cumprimento obrigatrio, e; Corte Constitucio-nal da Colmbia, que sustentou que os direitos e deveres constitucionais devem ser interpretados de acordo com os tratados internacionais (consi-derando 232)60.

    Pode-se observar que existe um movimento por parte dos Esta-dos que compe a Organizao dos Estados Americanos no sentido de consagrao interna do controle de Convencionalidade, sendo o respeito aos tratados internacionais que seus Estados se submeteram livremente, uma obrigao que deve ser observada. Observa-se uma interao entre cortes, entre a Corte Interamericana e os tribunaisinternos dos pases (atentando-se que o judicirio brasileiro ainda no figura nessa interao).61

    Assim, a Corte Interamericana de Direitos Humanos, desempe-nhando papel de guardi da Conveno Americana de Direitos humanos,

    53 Cfr. Caso AlmonacidArellano y otrosvs. Chile, supra nota 332, prr. 124; Caso Rosendo Cant y otra vs. Mxico, supra nota 30, prr. 219, yCaso Ibsen Crdenas e Ibsen Pea vs. Bolivia, supra nota 30, prr. 202.

    54 Cfr. Sentencia de 9 de mayo de 1995 emitida por la Sala Constitucional de la Corte Suprema de Justicia de Costa Rica. Accin Inconstitucional. Voto 2313-95 (Expediente 0421-S-90), considerando VII.

    55 Sentena emitida em 10 de maio de 2010 pelo Tribunal Constitucional da Bolvia (Expediente No. 2006-13381-27-RAC), apartado III.3.sobre El Sistema Interamericano de Derechos Humanos. Fundamentos y efec-tos de las Sentencias emanadas de la Corte Interamericana de Derechos Humanos.

    56 Resoluo n. 1920-2003 emitida em 13 de novembro de 2003 por la Suprema Corte de Justia de Repblica Dominicana.

    57 Sentena emitida em 21 de julho de 2006 pelo Tribunal Constitucional do Per (Expediente No. 2730-2006-PA/TC), fundamento 12.

    58 Sentena00007-2007-PI/TC emitida el 19 de junio de 2007 por el Pleno delTribunal Constitucional del Per (Colegio de Abogados del Callao c. Congreso de la Repblica), fundamento 26.

    59 Sentena da Corte Suprema de Justia da Nao Argentina, Mazzeo, JulioLilo y otros, recurso de casacin e inconstitucionalidad. M. 2333. XLII. y otros de 13 de Julio de 2007, prr. 20.

    60 Sentena C-010/00 emitida ml 19 de janeiro de 2000 pela Corte Constitucional da Colombia, pr. 6.61 MAZZUOLI, 2011, p. 90.

  • 78 Revista do CAAP | Belo Horizonte n. 2 | v. XVIII | p. 61 a p. 96 | 2012

    O CONTROLE DE CONVENCIONALIDADE DAS LEIS

    figurando como verdadeiro tribunal supranacional, realizando papel fun-damental no desenvolvimento do controle de convencionalidade, tendo-se como consequncia a implementao e aplicao do instituto pela maioria dos pases signatrio do Pacto de San Jos que admitiram a jurisdio des-sa Corte.

    2. CONTROLE DE CONVENCIONALIDADE NA OR-DEM JURDICA BRASILEIRA

    A Corte Interamericana de Direitos Humanos impe aos juzes nacionais o dever de realizar o controle de convencionalidade. Diversos tribunais americanos, conforme citado pela prpria Corte (Caso Cabrera Garcia e Montiel Flores versus Mxico: sentena de 26 de novembro de 2010) j vem realizando este controle.62

    Apesar da maioria dos pases sujeitos jurisdio da Corte Inte-ramericana j terem aceitado a doutrina do controle de convencionalidade, estando inclusive realizando esse controle, no Brasil, a realidade mostra-se diferente: observa-se uma resistncia, tanto doutrinria, em razo das pou-cas obras sobre o tema, quanto jurisprudencial, mantendo uma posio conservadora, no recepcionista do assunto. Para delinear esta problem-tica, algumas anlises so necessrias, como se observar a seguir.

    2.1 OS TRATADOS INTERNACIONAIS E A ORDEM JURDICA INTERNA BRASILEIRA: TEORIA MO-NISTA E DUALISTA

    A relao entre o direito internacional e o direito interno um problema antigo datando desde o surgimento daquele e de sua posio no mundo. Alm disso, atualmente, tendo-se em vista a globalizao e a rpida expanso da comunicao, o direito internacional tem se desenvol-vido de maneira muito rpida, ganhando extrema importncia no cenrio jurdico, o que acaba por agravar esta problemticaconflitual.

    Em um primeiro momento, cabe-nos destacar a divergncia exis-tente, ao falar-se de ordem jurdica interna e ordem jurdica internacional e a possibilidade de conflito entre suas ordens que fazem surgir, basica-mente, duas teorias: a teoria monista e a teoria dualista, alm de alguns apontarem uma teoria intermediria.

    62 CAMPOS, 2010, p. 117.

  • 79Revista do CAAP | Belo Horizonte n. 2 | v. XVIII | p. 61 a p. 96 | 2012

    Iris Saraiva Russowsky

    Segundo Flvia Piovesan, no Direito brasileiro depara-se com dois regimes jurdicos, no tocante aos tratados internacionais: um aplicvel aos tratados de Direitos Humanos e outro aplicvel aos tratados tradicio-nais.63 No mesmo sentido, Antnio Augusto Canado Trindade menciona que os tratados sobre proteo internacional dos direitos humanos no podem ser equiparados aos tratados multilaterais clssicos, que contam hoje com o reconhecimento judicial64.

    Existe uma diferena na incorporao dos tratados tradicionais que versam sobre assuntos diversos e os tratados que versam sobre di-reitos humanos. Esta diferena foi perceptvel, no Brasil, principalmente, aps a redao da EC 45/04, que deu aplicao imediata aos Tratados que versassem sobre Direitos Humanos, tendo eficcia de norma constitucio-nal65, atravs da adio do 3, do art. 5 (que adiante ser estudado). Mas, apesar desta compreenso por inmeros autores, muitos ainda defendem que, os tratados, mesmo sendo de Direitos Humanos, ainda assim, sero internalizados no ordenamento brasileiro como norma ordinria.

    A corrente majoritria, compreende que os tratados de Direitos Humanos so normas fundamentais, logo, detm status de norma Cons-titucional. Essa corrente j compreendia com a existncia do 2 do art. 5 da Constituio brasileira de 1988. Sendo assim, quando a EC 45/04 acrescentou o 3 ao art. 5 da Constituio brasileira, no restou dvida alguma, sendo seu entendimento confirmado.

    O 3 colocou um requisito importante para as normas dos tra-tados de Direitos Humanos serem incorporadas ao ordenamento brasilei-ro com status de norma constitucional: aprovao no Congresso Nacional, tanto no Senado, quanto na Cmara de Deputados Federais deve ocor-rer em dois turnos de votao, devendo obter trs quintos dos votos dos membros em cada casa parlamentar.66

    Desta Maneira, com este acrscimo observado com a adio do 3 ao artigo 5 da Constituio Federal, sustenta Ana Maria Jar Botton Faria, que veio a encerrar a divergncia entre os doutrinadores.67

    63 PIOVESAN, Flavia. Direitos humanos: direito constitucional internacional. So Paulo: Saraiva, 2008. p. 67.64 CANADO TRINDADE. Antnio Augusto. A proteo internacional dos direitos humanos e o Brasil.

    2. ed. Braslia: UnB, 2000. p. 23.65 FARIA, Ana Maria Jar Botton. Os Tratados e Convenes Internacionais de Direitos Humanos e a sua

    incorporao como norma constitucional antes e depois da Emenda Constitucional n. 45/04.in: MENEZES, Wagner. Estudos de direito internacional. Curitiba: Juru, 2006. v. 6, p. 115.

    66 FARIA, 2006.p. 118.67 Ibid., p. 119.

  • 80 Revista do CAAP | Belo Horizonte n. 2 | v. XVIII | p. 61 a p. 96 | 2012

    O CONTROLE DE CONVENCIONALIDADE DAS LEIS

    Os tratados de direitos humanos podem ser formal ou material-mente constitucionais. Segundo a doutrina de Valrio Mazzuoli, os trata-dos de direitos humanos no Brasil, mesmo antes da EC 45/04 continham status materialmente constitucional, isso porque, segundo o autor, o 3 apenas veio como uma forma de dar aos tratados internacionais de direi-tos humanos status formalmente constitucional, equivalendo s EC atra-vs do preenchimento do requisito de aprovao por 3/5 do Congresso Nacional em dois turnos. Para o autor, em razo do 2 do art. 5 da CF, todos os Tratados Internacionais de Direitos Humanos so materialmen-te constitucionais68, dessa forma, para o autor, o 3 traz a possibilidade dos tratados de direitos humanos obterem status formal e materialmente constitucional.

    Sustenta Valrio Mazzuolique falar que um tratado tem status de norma constitucional o mesmo que dizer que ele integra o bloco de constitucionalidade material (e no formal), o que menos amplo que dizer que ele equivalente a uma emenda constitucional, que traduz a ideia de que esse tratado j integra formalmente (alm de materialmente) o texto constitucional69.

    Assim, as teorias monista, dualista e, tambm uma teoria inter-mediria, ou como Flvia Piovesan denomina: Teoria Mista70, surgem com o intuito de solucionar esse conflito. Valrio Mazzuoli ao classificar as te-orias, tambm compreende a existncia de uma intermediria, entretanto, denomina-a de Teoria Conciliatria.

    A teoria monista, teve como nome Hans Kelsen. Sustenta a exis-tncia de apenas uma ordem jurdica, negando coexistirem duas ordens

    jurdicas distintas, admitindo a existncia de conflitos entre normas in-ternas e normas internacionais. Essa teoria pode ser subdividida em duas espcies: de um lado tem-se o monismo radical, que sustenta o primado do direito internacional sobre o direito interno (monismo kelseniano); e

    de outro lado tem-se o monismo moderado (Alfred Verdross discpulo de Kelsen), no qual o juiz nacional deve aplicar tanto o direito interno quanto o direito internacional, de acordo com a mxima da lex posterior derogatlegi priori, ou seja, a lei posterior prevalecendo sobre a lei anterior. Esta teoria

    68 MAZZUOLI, 2011.p. 51.69 Ibid., p. 52. 70 PIOVESAN, 2008, p. 89.

  • 81Revista do CAAP | Belo Horizonte n. 2 | v. XVIII | p. 61 a p. 96 | 2012

    Iris Saraiva Russowsky

    monista moderada a adotada pelo STF, segundo Carlos Mario da Silva Velloso.71

    Assim, nas palavras de Lus Roberto Barroso O monismo jur-dico afirma, com melhor razo, que o direito constitui uma unidade, um sistema, e que tanto o direito internacional quanto o direito interno inte-gram esse sistema.72

    Hans Kelsen, partidrio do entendimento que no existe diviso entre o ordenamento jurdico estatal e o ordenamento jurdico internacio-nal, ambos fazem parte de uma mesma ordem, leciona que

    todo o movimento tcnico jurdico aqui apontado tem como ltima ten-dncia apagar a linha fronteiria entre direito internacional e o ordena-mento jurdico estatal singular, de modo que aparea, como meta final da

    evoluo jurdica real, dirigida crescente centralizao da unidade organi-zada de uma comunidade universal de direito mundial, ou seja, a formao de um Estado mundial.73

    No monismo moderado, explica Valrio Mazzuoli, o juiz nacio-nal aplica tanto o direito interno quanto o Direito Internacional, porm o faz de acordo com aquilo que est expressamente previsto em seu or-denamento jurdico domstico, especialmente na Constituio. Havendo conflito para os adeptos desta concepo, aplica-se a mxima de que lex-posteriorderogatlegipriori, ou seja, regra posterior revoga anterior no que com ela for discordante.74

    Alm disso, esta teoria monista, segundo Celso D. de Albuquer-que Mello, dentre outros doutrinadores partidrios desta subdiviso, sepa-ra-se em dois grupos: Monismo jurdico com primazia do direito interno e monismo jurdico com primazia do Direito Internacional. J Valrio Ma-zzuoli denomina estas duas correntes monistas de Monismo Internaciona-lista (primazia do Direito Internacional) e Monismo nacionalista (primazia do direito interno)75

    71 VELLOSO, 2004. p. 36.72 BARROSO, Luis Roberto. Constituio e tratados internacionais: Alguns aspectos da relao entre direito

    internacional e direito interno. In: MENEZES DIREITO, Carlos Alberto; CANADO TRINDADE, Augusto; PEREIRA, Antnio Celso Alves. (Coord.). Novas perspectivas do direito internacional contemporneo. Rio de Janeiro: Renovar, 2008. p. 187.

    73 KELSEN, Hans. Teoria Pura do Direito: introduo problemtica cientfica do direito. Traduo J. Cretella Jr. e Agnes Cretella. 2. ed. Ver. Da traduo, So Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2002. p. 145.

    74 Ibid., p. 62.75 KELSEN, 2002. p. 60-63.

  • 82 Revista do CAAP | Belo Horizonte n. 2 | v. XVIII | p. 61 a p. 96 | 2012

    O CONTROLE DE CONVENCIONALIDADE DAS LEIS

    A teoria monista com a primazia do direito interno sobre o Di-reito Internacional explicada a partir da existncia de uma soberania estatal acentuada. Como precursor desta concepo encontra-se Hegel, que v no Estado um ente cuja soberania (correspondente ao imperium do direito Romano) irrestrita e absoluta (a lei suprema sobre a Terra)76.

    O monismo com primazia do Direito Internacional, tem como precursor Hans Kelsen77 e justificada a partir da ideia de organizao jurdica do mundo como um todo, estando o direito internacional no pice da pirmide. Nessa teoria, como o nome j diz, observa-se a sobreposio do direito internacional sobre o direito interno, ou seja, a superioridade dos enunciados dos tratados sobre as constituies e leis locais, indepen-dentemente de ser anterior ou posterior a elas.78

    Hans Kelsen afirma que o territrio do Estado singular, que o espao de validade do ordenamento jurdico estatal singular, estende-se atravs do direito internacional at onde vlido esse ordenamento79. Desta forma, para o autor, o direito internacional que delimita o mbito de ao do direito interno, estando aquele em esfera superior a este. Para Hans Kelsen o Estado rgo da comunidade internacional80

    Importante mencionar que a superioridade do tratado interna-cional sobre o direito interno de cada Estado j vem sendo tratada por entes internacionais, tendo tido seu primeiro enunciado na Corte Perma-nente de Justia Internacional em 1930.81 e82. Em 1932 esta mesma Corte

    76 MAZZUOLI, 2007, p. 64.77 Kelsen, ao formular a teoria pura do direito, enuncioua clebre pirmide de normas. Uma norma tinha a sua

    origem e tirava a sua obrigatoriedade da norma que lhe era imediatamente superior. No vrtice da pirmide estava a norma jurdica fundamental, a norma base ou Grundnorm, que era uma hiptese e cada jurista poderia escolher qual seria ela. Diante disso aconcepokelseniana foi denominada na sua primeira fase de teoria da livre escolha; posteriormente, por influencia de Vedross, Kelsen sai do seu indiferentismo epassa a considerar a Grundnorm como sendo uma norma de Direito Internacional: a norma costumeira pacta sunt servanda. Em 1927, Duguit e Politis defendem o primado do Direito Internacional e com eles toda a escola realista francesa, que apresentava em seu favor argumentos sociolgicos. (MELLO, Celso de Albuquerque, p. 64-65. apud PIOVESAN, 2008, p. 86).

    78 PIOVESAN, op. cit., p. 86.79 KELSEN, Hans. Teoria pura do direito: introduo problemtica cientfica do direito. Traduo J. Cretella

    Jr. e Agnes Cretella. 2. ed. rev. da traduo. So Paulo: Revista dos Tribunais, 2002. p. 155.80 Ibid., p. 156.81 BARROSO, 2008, p. 187. 82 A corte manifestou-se em parecer consultivo de 31 de julho de 1930. princpio geral reconhecido, do direito

    internacional, que, nas relaes entre potncias contratantes de um tratado, as disposies de uma lei no podem prevalecer sobre as do tratado.

  • 83Revista do CAAP | Belo Horizonte n. 2 | v. XVIII | p. 61 a p. 96 | 2012

    Iris Saraiva Russowsky

    posicionou-se no sentido de que um Estado no pode invocar contra ou-tro Estado sua prpria constituio para se esquivar de obrigaes que lhe incumbem em virtude de Direito Internacional ou de tratados vigentes.

    Alm disso, acrescenta Valrio Mazzuoli que, no Brasil, ainda est em vigor a Conveno de Havana de 1928, que estabelece a supre-macia do Direito Internacional sobre o Direito Interno, estabelecendo o seguinte dispositivo em seu art. 11:

    Art. 11. Os tratados continuaro a produzir os seus efeitos, ainda quando

    se modifique a Constituio interna dos Estados contratantes. Se a orga-nizao do Estado mudar, de maneira que a execuo seja impossvel, por

    diviso de territrio ou por outros motivos anlogos, os tratados sero adaptados as novas condies.

    A ONU, por sua vez, atravs de um documento tambm posi-cionou-se neste sentido: os tratados validamente concludos pelo Estado e regras geralmente reconhecidas de Direito Internacional formam par-te da lei interna do Estado e no podem ser unilateralmente revogados puramente por ao nacional.83 Alm disso, a doutrina majoritariamente vem defendendo este posicionamento e a Corte Interamericana tambm partidria da teoria monista com primazia do direito internacional.

    No mesmo sentido, Hildebrando Accioly, expe em seu manual de Direito Internacional Pblico que a lei constitucional no pode isentar o Estado de responsabilidade por violao de seus deveres internacionais, invocando deciso da Corte Permanente de Arbitragem de Haia, onde foi decidido que as disposies constitucionais de um Estado no poderiam ser opostas aos direitos internacionais de estrangeiros84, sendo preceito do art. 27 da Conveno de Viena de 1969 tal disposio.

    Partidrio da mesma corrente, Haroldo Vallado leciona sobre este assunto que disposio interna, mesmo se for de natureza constitu-cional, no poder ser observada se contrariar preceito em vigor de direito internacional bsico, geral ou de direito internacional convencional, isto , de tratado vlido e vigente85 Entretanto, deve-se observar que aqui trata-se de tratado j em vigor quando da promulgao da Constituio, prevalecendo se houver dispositivo da nova constituio que o contrarie. Se o contrrio ocorrer, se um tratado celebrado na vigncia de uma

    83 MAZZUOLI, op. cit., p. 62.84 ACCIOLY, Hildebrando. Manual de direito internacional pblico. [s.l.]: [s.n.], 1978. p. 56.85 VALLADO, Haroldo. Direito internacional privado. [s.l]: [s.n.], 1974. p. 94.

  • 84 Revista do CAAP | Belo Horizonte n. 2 | v. XVIII | p. 61 a p. 96 | 2012

    O CONTROLE DE CONVENCIONALIDADE DAS LEIS

    Constituio, sendo com ela incompatvel, ele no prevalecer, e sim ela, pois no foi constitudo legitimamente.86

    Lus Roberto Barroso87 explica que, nesta corrente, o tratado prevalece sobre o direito interno, de forma a alterar lei anterior, mas no pode ser alterado por lei superveniente. Sustenta o autor que este enten-dimento vem positivado no artigo 98 do Cdigo Tributrio Nacional.88

    Na presente pesquisa, importante destacar que a Corte Intera-mericana ao dar prevalncia ao Pacto de San Jos da Costa Rica e sua jurisprudncia sobre as normas internas dos pases signatrios da OEA e que admitem a jurisdio da corte, consagra, atravs do controle de con-vencionalidade, o monismo internacionalista, devendo ser este o caminho a ser seguido pelos seus pases signatrios.

    Em oposio a teoria monista, temos a teoria dualista, surgida com Triepel defende a independncia entre a ordem interna e a ordem in-ternacional, dessa forma, suas normas no conflitam entre si (ideia de duas esferas que no se comunicam desenho de duas bolas que no se tocam). Assim, para que a norma internacional passe a valer na esfera interna, necessrio que a mesma passe por um processo de recepo, que a trans-forma em norma jurdica interna, s sendo possvel o conflito entre duas normas inter-nas, a serem resolvidas pelo mecanismo tradicional: lex posterior derogatlegi priori.89

    Lus Roberto Barrosos explica que na Teoria Dualista inexiste conflito possvel entre a ordem internacional e a ordem interna simplesmente porque no h qualquer interseo entre ambas. So esferas distintas que apenas se tangenciam90.

    Carmen Tibrcio, ao analisar o conflito entre leis internas e tra-tados internacionais explica que,

    para os dualistas compreendem que a esfera interna e a esfera internacio-nal disciplinam matrias diversas, ou seja, as relaes internacionais do Estado (tratados internacionais) e as normas aplicveis s relaes dentro do pas(direito interno), desta maneira no haveria confuso nem conflito

    entre uma e outra ordem.91

    86 BARROSO, 2008, p. 195.87 Ibid., p. 189.88 Art. 98. CTN: Os tratados e as convenes internacionais revogam ou modificam a legislao tributria

    interna, e sero observados pela que lhes sobrevenha.89 VELLOSO, 2004, p. 35. 90 BARROSO, 2008, p. 187.91 TIBURCIO, Carmen. Fontes de direito internacional: os tratados e os conflitos normativos. In: MENEZES

    DIREITO, Carlos Alberto; CANADO TRINDADE, Augusto; PEREIRA, Antnio Celso Alves (Coord.). Perspectivas do direito internacional contemporneo. Rio de Janeiro: Renovar, 2008. p. 296.

  • 85Revista do CAAP | Belo Horizonte n. 2 | v. XVIII | p. 61 a p. 96 | 2012

    Iris Saraiva Russowsky

    Cabe destacar que Valrio Mazzuoli, ao analisar a teoria dualista, chama a ateno para a existncia de um dualismo radical de Triepel e assim explica aquele autor compreende que, quando se fala das relaes entre direito Internacional e o Direito Interno, supe-se como estabele-cido que o direito internacional diferente do direito interno. Na nossa opinio, o direito internacional e o direito interno so noes diferentes92

    Para o dualismo radical no seria possvel conflito entre ordem interna e internacional, pois se constituem de ordens independentes, que nos e comunicam.93

    O Dualismo moderado um pouco diferente do dualismo puro, pois este permite que em certos casos o Direito Internacional seja aplicado internamente pelos tribunais sem que haja a recepo formal do dispositi-vo. Essa espcie de dualismo foi adotada na Itlia em 1905, por Dionizio Anzilotti, em trabalho intitulado IlDiritto Internazionale nelgiudizio interno.94

    Segundo Valrio Mazzuoli, o Supremo Tribunal Federal do Brasil assume a posio de dualista moderada em razo de defender a necessida-de de promulgao de decreto presidencial para que o tratado passe a valer em territrio nacional.95

    A teoria mista umateoriaintermediria96, que combina premis-sas da teoria monista compremissas da teoria dualista. Segundo Flavia Piovesan, o Brasil adotariaum sistema misto, no qual os tratados interna-cionais de proteo dos Direitos Humanos, por fora do artigo 5, 1 da CF, seriam incorporados automaticamenteaoordenamento jurdico e aosdemais tratados internacionais seria exigido a intermediao de um ato normativo para tornar o tratado obrigatrionaordem interna.97

    Flavia Piovesan sublinha que, exceto no tocante aos tratados de Direitos Humanos, que so incorporados automaticamente ao sistema ju-rdico, o Brasil no tem expressamente meno adoo das correntes

    92 TRIEPEL, Carl Heinrich. Les rapports entre le droit interne et le droit international. Recueil des Cours, vol. 61 (1937 III). p. 79. apud MAZZUOLI, 2007, p. 55.

    93 VELLOSO, 2010, p. 36. 94 MAZZUOLI, op. cit., p. 55.95 MAZZUOLI, 2007, p. 5796 Ainda deve-se mencionar que esta teoria tambm pode ser denominada de teoria conciliatria, trazida por

    Valrio de Oliveira Mazzuoli. Esta defende a coordenao de ambos os sistemas, interno e internacional, a partir de normas superiores a ambos, a exemplo destas regras tem-se o Direito Natural. Mas esta posio conciliatria, mista ou coordenada no encontrou guarida nem em normas nem tampouco na jurisprudncia internacional. (MAZZUOLI, 2007, p. 66).

    97 PIOVESAN, 2008, p. 88.

  • 86 Revista do CAAP | Belo Horizonte n. 2 | v. XVIII | p. 61 a p. 96 | 2012

    O CONTROLE DE CONVENCIONALIDADE DAS LEIS

    dualista ou monista. Apesar de Flavia Piovesan ter sustentado um sistema misto no ordenamento brasileiro, a maioria da doutrina sustenta que o Brasil adota o sistema dualista, ou seja, coexistncia de duas ordens diver-sas: a interna e a internacional.98

    Lus Roberto Barroso compreende que a posio do Supremo Tribunal Federal, partidrio da teoria monista. Menciona que a partir do RE 80.004 passou-se a adotar um monismo moderado, aonde o tratado se incorpora ao direito interno no mesmo nvel hierrquico da lei ordinria, sujeitando-se a questo em termos de regra geral e regra particular, preva-lece a norma posterior sobre a anterior.99

    Assim, conclui-se que existe muita divergncia doutrinria a res-peito de qual seria a teoria adotada pelo ordenamento jurdico brasileiro: monismo moderado, dualismo moderado, no havendo consenso. Essa questo est correlacionada a incorporao ou implementao dos trata-dos internacionais ao direito brasileiro, principalmente quanto a sua hie-rarquia no direito interno. Assim, sobre esse tema, relevante mostra-se o estudo do art. 5, 2 e o art.5, 3 da Constituio Federal como uma forma de elucidar essa questo, pois tratam da questo hierrquica dos tratados principalmente quando versarem sobre direitos humanos.

    2.2 O CONTROLE DE CONVENCIONALIDADE NO BRASIL: O 3 DA EC 45 MODIFICAES RELE-VANTES

    Sobre o controle de convencionalidade no Brasil, relevante frisar que esta temtica no conta com uma obra doutrinria vasta e satisfat-ria, no sendo estudada pelos doutrinadores. Deve-se lembrar que Valrio Mazzuoli defendeu sua tese sobre o assunto junto a Universidade Federal do Rio Grande do Sul no ano de 2008, o que caracteriza o ineditismo da teoria no Brasil at ento.

    Para firmar sua teoria, o autor utiliza-se da teoria do Dilogo das Fontes normativas de Erik Jayme, que segundo este autor, traduzem a ideia de que as decises de casos da vida complexos so a soma, a apli-cao conjuntamente de vrias fontes (Constituio, Direitos Humanos, direito supranacional e direito nacional). Sustente, ainda, que hoje no mais

    98 PIOVESAN, 2008, p. 88.99 BARROSO, 2008, p. 190.

  • 87Revista do CAAP | Belo Horizonte n. 2 | v. XVIII | p. 61 a p. 96 | 2012

    Iris Saraiva Russowsky

    existe uma fixa determinao de ordem entre as fontes, mas uma cumulao destas, um aplicar lado a lado.100

    Assim, Valrio Mazzuoli explica que a aplicao da Teoria do Dilogo das Fontes advm de um Curso dado por Erik Jayme em Haia, no ano de 1995, nesse sentido, em vez de simplesmente excluir do sistema certa norma jurdica, deve-se buscar a convivncia entre essas mesmas normas por meio de um dilogo101. Assim, segundo Erik Jayme, a soluo dos conflitos normativos na ps-modernidade encontrada na harmonizao (coordenao) entre as fontes heternomas que no se exclui mutuamen-te, mas, ao contrrio, falam umas com as outras.102 Assim, atravs desse dilogo entre as fontes normativas possvel encontrar-se a verdadeira razo de ambas as normas em favor da proteo do ser humano.

    Valrio Mazzuoli afirma que os autores brasileiros que anterior-mente estudaram essa temtica a fizeram sob a tica da responsabilidade internacional, no sob a tica de um juiz ou tribunal nacional controlar essa convencionalidade das leis, inclusive com o uso do processo objetivo de controle. Assim, o autor, de forma nica apresenta o tema, principal-mente analisando-o a luz do art. 5, 3 da CF, introduzido pela EC 45/04.

    O artigo 5, 2 e artigo 5, 3 da Constituio Federal de 1988 so os responsveis pela possibilidade de aumentar-se o rol de direitos humanos fundamentais, no os limitando a apenas os contidos na Consti-tuio Federal, caracterizando-os apenas como exemplificativos.

    Sobre o 2 sempre existiu muita controvrsia, discutindo uma srie de questes acerca da incorporao de tratados internacionais ao direito brasileiro, principalmente no tocante a sua hierarquia. Muitos ques-tionavam se teriam hierarquia de lei ordinria, ou de lei constitucional, supralegal ou supraconstitucional, ou seja, os tratados internacionais de direitos humanos deveriam se sobrepor ou no s leis constitucionais, in-tegrar ou no o bloco de constitucionalidade?

    Para Valrio Mazzuoli, no basta que a norma de direito domstico seja compatvel com a Constituio, devendo ela ser compatvel, tambm, com a norma internacional, que se materializa atravs dos tratados internacionais. Na ordem internacional possvel que tenha-se dois tipos de tratados: tratados internacionais de direitos humanos e

    100 JAYME, Erik. Entrevista com o Prof. Erik Jayme. Cadernos do Programa de Ps-Graduao em Direito da UFGRS, Porto Alegre, v. 1, n. 1, p. 63-67, mar. 2003.

    101 MAZZUOLI, 2011, p. 58. 102 Ibid., p. 59.

  • 88 Revista do CAAP | Belo Horizonte n. 2 | v. XVIII | p. 61 a p. 96 | 2012

    O CONTROLE DE CONVENCIONALIDADE DAS LEIS

    tratados internacionais gerais. O controle de convencionalidade, segundoo autor, tem por finalidade compatibilizar verticalmente as normas doms-ticas (leis) com os tratados internacionais de direitos humanos ratificados pelo Estado e com tratados internacionais gerais (denominado controle de supralegalidade).103

    O referido autor ensina que todos os tratados de direitos huma-nos ratificados pelo Brasil j detm status de norma constitucional (status de norma materialmente constitucional) em razo do 2 do art. 5 da CF positivar que os direitos e garantias expressos nessa constituio no ex-cluem outros decorrentes do regime e dos princpios por ela adotados ou dos tratados internacionais que a republica federativa do Brasil seja parte. Dessa forma, a luz do 2, segundo o autor, pode-se afirmar que j existia a possibilidade de controle difuso de convencionalidade em razo desse entendimento, no qual todos os juzes poderiam afastar norma interna em razo da aplicao de Tratado Internacional de Direitos Humanos104, lem-brando-se que Flvia Piovesan advoga no mesmo sentido105.

    Para o autor, os tratados de direitos humanos, sejam eles poste-riores ou anteriores a EC 45/04, j so independentemente de qualquer aprovao qualificada, materialmente constitucionais. No entanto, somen-te sero formalmente constitucionais se aprovados pela maioria de votos estabelecidos no art. 5, 3 CRFB, adquirindo, nesse caso, status de norma formal e materialmente constitucional. Os tratados internacionais de direi-tos humanos, materialmente constitucionais, serviro de paradigma para o controle difuso de convencionalidade e os tratados de direitos humanos formalmente e materialmente constitucionais (equivalentes EC requi-sito formal), serviro de paradigma, alm de controle difuso de convencio-nalidade, de controle concentrado de convencionalidade. 106

    A dupla compatibilidade vertical material requisito para que a produo do direito domstico seja vigente e vlido no ordenamento jur-dico brasileiro. A primeira compatibilidade vertical desdobra-se em duas: compatibilizao com a Constituio e com os tratados internacionais de direitos humanos. A segunda compatibilizao conformidade vertical das normas infraconstitucionais com tratados internacionais gerais. No primeiro caso (compatibilizao das normas com a Constituio e trata-

    103 MAZZUOLI, 2011.p. 132.104 Ibid, p. 68-69. 105 PIOVESAN, 2008, p. 90106 MAZZUOLI, op. cit., p. 68-69.

  • 89Revista do CAAP | Belo Horizonte n. 2 | v. XVIII | p. 61 a p. 96 | 2012

    Iris Saraiva Russowsky

    dos internacionais de direitos humanos) observa-se o controle de consti-tucionalidade e o de convencionalidade e, no segundo caso observa-se o controle de supralegalidade. 107

    O controle de convencionalidade complementar e coadjuvan-te, jamais subsidirio, ao controle de constitucionalidade. Dessa forma, o controle de convencionalidade tem por finalidade compatibilizar vertical-mente as normas domsticas com os tratados internacionais de direitos humanos implementados pelos Estados. Assim, as leis devem ser compa-tveis tanto com a CF quanto com os tratados internacionais de direitos humanos108, bem como com os tratados internacionais que versem sobre assuntos gerais (supralegalidade).

    Para o autor, esse controle deve ser exercido pelos rgos da justia nacional relativamente aos tratados internacionais aos quais o pas encontra-se vinculado. Assim, trata-se de conformar os atos ou leis inter-nas aos compromissos internacionalmente assumidos. Sustenta que no apenas os tribunais internacionais devem realizar este controle (Corte In-teramericana de Direitos Humanos, Corte Europeia de Direitos Humanos e Tribunal de Justia da Unio Europeia), mas tambm os tribunais inter-nos.109

    Sustenta que o fato dos tratados internacionais de direitos huma-nos serem imediatamente aplicveis no mbito domstico (1, art. 5, CF) garante a possibilidade de controle de convencionalidade e supralegalida-de das leis no Brasil.

    Todos os tribunais devem realizar o controle, sem qualquer auto-rizao internacional, pela via incidental, passando a ter os tratados inter-nacionais (de direitos humanos e gerais), eficcia paralisante, cabendo ao juiz coordenar as fontes internacionais e internas, caracterizando o con-trole difuso de convencionalidade, que existe no direito brasileiro desde 1988, com a promulgao da Constituio, que em seu art. 105, inciso III, alnea a traz a possibilidade do STJ, julgar em recurso especial, as causas que contrariarem tratados ou leis federais. 110

    O controle concentrado de convencionalidade, segundo Valrio Mazzuoli, deve ser exercido apenas perante o STF e somente quanto aos tratados internacionais de direitos humanos aprovados em conformidade

    107 MAZZUOLI, op. cit., p. 138.108 MAZZUOLI, 2011, p. 131-132.109 Ibid., p. 133. 110 MAZZUOLI, 2011. p. 134,

  • 90 Revista do CAAP | Belo Horizonte n. 2 | v. XVIII | p. 61 a p. 96 | 2012

    O CONTROLE DE CONVENCIONALIDADE DAS LEIS

    com o requisito formal de 3/5 em dois turnos de cada casa do Congresso Nacional (equivalentes EC). Assim, para ele, o controle concentrado de convencionalidade passa a ser possvel no Brasil desde a EC 45, que d status formal de constitucionalidade, transformando-se em parmetro para controle de convencionalidade: o controle concentrado de convencionalidade nascera em 08 de dezembro de 2004.111

    Sustenta que o controle de supralegalidade, feito a luz dos tra-tados internacionais gerais, sempre exerccio pela via de exceo, difu-so, enquanto que o de convencionalidade poder ser difuso ou concreto. Alm disso, frisa o autor, que o controle de convencionalidade tem um plus em relao ao controle de constitucionalidade, pois aquele possvel tanto no plano interno quanto internacional, assim, para o autor o controle de constitucionalidade menos amplo que o controle de convencionalida-de.112

    Alm disso, o autor sustenta a possibilidade de existirem nor-mas constitucionais inconvencionais, nas mesmas hipteses em que seria possvel normas constitucionais inconstitucionais (quando provierem do poder constituinte derivado), quando contrariarem normas dispostas nos tratados internacionais de direitos humanos.113

    Para o autor, o controle de convencionalidade poder ser feito pelas aes constitucionais objetivas, ADI, ADECON (ADC), ADPF e ADO, assim, denominando-se de controle concentrado de convenciona-lidade. Nesse controle toma-se como parmetro uma norma de tratado internacional de direito humanos, passa a ser considerada controle de con-vencionalidade tomando emprestada uma ao constitucional. 114

    Cita o autor o caso da Guerrilha do Araguaia, onde Brasil foi acusado pela CIDH por no ter controlado a convencionalidade da sua lei de anistia em relao a Conveno Americana de Direitos humanos. Nesse caso, no considerando 177, a Corte observa que no foi exercido o controle de convencionalidade pelas autoridades jurisdicionais brasileiras, as quais, via STF, confirmaram a validade da lei de anistia, sem conside-rar as obrigaes internacionais assumidas pelo Brasil derivada de tratado internacional de direitos humanos. 115 A Corte invalidou a lei de anistia

    111 Ibid. p. 136.112 Ibid. p. 137.113 Ibid., p. 143.114 Ibid., p. 146 e p. 149. 115 MAZZUOLI, 2011. p. 163-164.

  • 91Revista do CAAP | Belo Horizonte n. 2 | v. XVIII | p. 61 a p. 96 | 2012

    Iris Saraiva Russowsky

    brasileira, observando que, quando no exercido o controle de conven-cionalidade pelo judicirio interno, a Corte Interamericana a controlar, assumindo um tpico papel de corte supranacional. 116

    2.2.1 RE 466.343 e uma evoluo rumo ao entendimen-to dos tratados internacionais de direitos humanos com status de norma materialmente constitucional

    No ano de 2008, ento, o STF, em deciso histrica dada no RE 466.343, 117 modificou seu entendimento sobre o tema, passando a dar hie-rarquia de norma supralegal (incorporando o entendimento do Ministro Seplveda Pertence) aos tratados de direitos humanos no incorporados ao ordenamento jurdico brasileiro com o qurum especial do 3 do art.

    5 CF. Dessa forma, o STF dispe existir uma posio superior as normas infraconstitucionais e as normas constitucionais, a posio de supralega-lidade, onde habitam os tratados de direitos humanos no equivalentes ECs (alterao pirmide de Kelsen).

    Essa deciso foi dada em questo que tratava do Pacto de San Jos da Costa Rica e a priso civil por dvida. A CF de 1988 prev duas

    possibilidades de priso civil por dvida: do depositrio infiel e do deve-dor de alimentos. O Pacto foi ratificado pelo Brasil em 1992, antes da EC

    45/04, ou seja, no tendo o requisito formal de aprovao que poderia lhe dar status formal de norma constitucional e, este Pacto apenas previa a possibilidade de priso civil em razo de dvida de alimentos, assim, pode-ria haver a priso civil em razo de depositrio infiel tambm no Brasil, j

    que prevista na CF de 1988? Observa-se que, nessa deciso, sustentou-se

    que os tratados internacionais de direitos humanos possuem status de nor-ma supralegal, dessa forma, em razo da regra de priso civil de deposita-ria infiel estar na CF expressamente previsto, seria possvel tal priso, no

    entanto, o STF entendeu que a possibilidade de priso civil de depositrio infiel norma de eficcia limitada, que depende de lei, que regulamente,

    no entanto, em razo da supralegalidade, esta lei regulamentadora seria inconvencional, no podendo ser aplicada, assim, a norma constitucional ficaria esvaziada em razo do efeito paralisante.

    116 Ibid., p. 164. 117 GOMES, 2009.

  • 92 Revista do CAAP | Belo Horizonte n. 2 | v. XVIII | p. 61 a p. 96 | 2012

    O CONTROLE DE CONVENCIONALIDADE DAS LEIS

    Importante mencionar que nesse RE, o STF contava com o po-sicionamento de dois blocos de ministros. De um lado, sob a liderana do Ministro Gilmar Mendes, posio vencedora, sustentava a supralegalidade dos tratados de direitos humanos no equivalentes ECs; de outro, sob a liderana do Ministro Celso de Mello, vencido, entendia-se pelo status constitucional desses tratados, independentemente do qurum de aprova-o. Deve-se sublinhar que tal deciso no STF foi dada por 5 x 4, ou seja, uma deciso bastante apertada 118, possvel de modificao a qualquer momento.

    A partir desse julgamento, pode-se observar que o STF com-posto por duas correntes bem definidas em relao aos tratados interna-cionais de direitos humanos ratificados pelo Brasil sem qurum do 3 do art. 5 CF: uma que defende a hierarquia supralegal e outra que defende a hierarquia constitucional (material).

    Luiz Flvio Gomes, sustenta que, observando posicionamento do STF, os tratados internacionais de direitos humanos ratificados e vigen-tes no Brasil, mas no aprovados com qurum qualificado, possuem nvel apenas supralegal (posio vencedora RE 466.343) e no materialmente constitucional conforme sustenta Valrio Mazzuoli (posio vencida RE 466.343). 119

    No entanto, devemos observar que a modificao da jurispru-dncia do STF para dar fora de norma constitucional aos tratados de di-reitos humanos aprovados com qurum simples poder acontecer em um futuro prximo. Essa possibilidade de mudana deve ser presenciada to logo, dependendo da manifestao dos ministros Joaquim Barbosa, Marco Aurlio e Dias Toffolli, alm de Rosa Weber, que passou a compor a corte em 2011. Se efetivamente o STF entender que os tratados internacionais de direitos humanos so possuidores de status constitucional material des-de sua implementao, presenciar-se- uma maior e melhor proteo dos direitos humanos.

    Segundo Ruan Carlos Hitters, os juzes e tribunais domsticos esto sujeitos ao imprio da lei e obrigados a aplic-la, mas quando um Estado ratifica um tratado como o Pacto de San Jos e outros tratados de proteo aos direitos humanos, seus juzes, como parte do aparato estatal, tambm esto submetidos eles, o que os obriga a velar para que seus efei-

    118 GOMES, 2009.119 Ibid.

  • 93Revista do CAAP | Belo Horizonte n. 2 | v. XVIII | p. 61 a p. 96 | 2012

    Iris Saraiva Russowsky

    tos no sejam prejudicados pela aplicao de normas jurdicas contrarias ao seu objeto e seu fim.120

    CONSIDERAES FINAISO controle de convencionalidade das leis, j bastante conheci-

    do na esfera internacional, vem tomando fora no direito nacional dos Estados. Dessa forma, por ser um mecanismo muito eficiente e utilizado

    no plano internacional, deve tambm passar a ser mais observado pelos corpos judiciais domsticos, que devemutilizar-se de instrumentos supra-nacionais advindos do direito dos direitos humanos, com a finalidade de

    dar mxima efetividade aos tratados internacionais sobre o tema. A partir da presente pesquisa, conclui-se que a dicotomia entre

    direito interno e direito internacional, vivenciada desde o surgimento do direito internacional, ainda bastante presente. No entanto, observando--se os avanos decorrentes do espao conquistado pelo direito internacio-nal no ordenamento jurdico, visualiza-se um dilogo mais constante entre

    essas duas esferas. O controle de convencionalidade um instituto relativamente

    novo, sendouma das formas encontradas, inicialmente pelos tribunais in-ternacionais (Corte Interamericana de Direitos Humanos, Corte Europeia de Direitos Humanos, Tribunal de Justia da Unio Europeia) e hoje, ain-da timidamente, pelos tribunais internospara visualizar essa aproximao que se mostra extremamente necessria. Assim, o Brasil tambm deve se favorecer dessa possvel inter-relao entre as fontes internas e interna-cionais.

    No Brasil, o mecanismo passa a ganhar expressividade e noto-riedade a partir da tese escrita por Valrio Mazzuoli e da deciso da Corte Interamericana de Direitos Humanos no Caso da Guerrilha do Araguaia, na qual a Corte Interamericana condena o Estado brasileiro em razo de deciso do Supremo Tribunal Federal deste pas ter considerada vlida a

    lei de anistia referente ao perodo militar.

    A questo da lei Maria da Penha tambm foi debatida no Brasil, alguns sustentavam sua inconstitucionalidade outros sua constitucionali-dade e, ainda, tiveram os j conhecedores do tema, que defenderam sua

    120 HITTERS, 2009, p. 123.

  • 94 Revista do CAAP | Belo Horizonte n. 2 | v. XVIII | p. 61 a p. 96 | 2012

    O CONTROLE DE CONVENCIONALIDADE DAS LEIS

    convencionalidade ou sua inconvencionalidade. Independentemente da posio,esta lei tambm foi objeto dessa dupla compatibilidade: a luz da Constituio e dos tratados internacionais de direitos humanos.

    REFERNCIAS

    ACCIOLY, Hildebrando. Manual de direito internacional pblico. [s.l.]: [s.n.], 1978.

    BARROSO, Luis Roberto. Constituio e tratados internacionais: Alguns as-pectos da relao entre direito internacional e direito interno. In: MENEZES DIREITO, Carlos Alberto; CANADO TRINDADE, Augusto; PEREIRA,

    Antnio Celso Alves. (Coord.). Novas perspectivas do direito internacio-nal contemporneo. Rio de Janeiro: Renovar, 2008.

    BRASIL. Superior Tribunal de Justia. Segunda turma. RE 172720. Relator:

    Min. Marco Aurlio. Julgado em: 06 fev. 1996. dJ 21 fev. 1997 PP-02831 EMENT VOL-01858-04 PP-00727 RTJ VOL-00162-03 PP-01093.

    BULOS, UadiLammgo. constituio Federal anotada. 4. ed. So Paulo: Saraiva, 2002.

    CAMPOS, Thiago YukioGuenka. controle de convencionalidade como mecanismo de interao entre ordem interna e ordem internacional: por um dilogo cooperativo entre a Corte Interamericana de Direitos Huma-nos e o tribunal constitucional brasileiro. Monografia (Concluso de Curso)

    Universidade do Vale do Itaja, So Jos, 2010.

    CANADO TRINDADE. Antnio Augusto. a proteo internacional dos direitos humanos e o Brasil. 2. ed. Braslia: UnB, 2000.

    CASTRO, Amlcar de. direito internacional privado. 5. ed. Rio de Janeiro: Forense, 1995.

    CONVENO de Viena sobre direito dos tratados de 1969. Disponvel em:

    . Acesso em: 21 maio 2012.

    CORTE INTERAMERICANA DE DIREITOS HUMANOS. Boyce e ou-tros. vs. Barbados: exceo preliminar, fundo, reparaes e custas. Sentena de 20 nov. 2007; Srie C N 169. Disponvel em: . Acesso em: 14 maio 2012.

    ______. caso cabrera Garca y Montiel Flores vs. Mxico: excepcin

  • 95Revista do CAAP | Belo Horizonte n. 2 | v. XVIII | p. 61 a p. 96 | 2012

    Iris Saraiva Russowsky

    preliminar. Fondo, Reparaciones y Costas. Sentencia de: 26 nov. 2010. Serie C

    No. 220

    ______. caso Gomes lund e Outros versus Brasil. Sentena de 24 nov. 2010. Disponvel em: . Acesso em: 10 maio

    2012.

    ______. caso Myrna Mack chang vs. Guatemala. Fondo, Reparaciones y Costas. Sentencia de 25 nov. 2003. Serie C No. 101.

    ______. caso Radilla Pacheco vs. Mxico: excepciones preliminares. Fon-do, Reparaciones y Costas. Sentencia de 23 nov. 2009. Serie C No. 209.

    ______. caso Tibi vs. Ecuador: excepciones preliminares. Fondo, Repara-ciones y Costas. Sentencia de 7 sept. 2004. Serie C No. 114,

    ______. caso Trabajadorescesadosdelcongreso (aguado alfaro y otros) vs. Per: excepciones preliminares, Fondo, Reparaciones y Costas. Sentencia de 24 nov. 2006. Serie C No. 158.

    ______. casos contenciosos. Disponvel em: . Acesso em: 16 maio 2012.

    FARIA, Ana Maria Jar Botton. Os Tratados e Convenes Internacionais de Direitos Humanos e a sua incorporao como norma constitucional antes e depois da Emenda Constitucional n. 45/04. In: MENEZES, Wagner. Estu-dos de direito internacional. Curitiba: Juru, 2006. v. 6.

    GALINDO, George Rodrigo Bandeira. O 3 do art. 5 da constituio Federal: Um retrocesso para a proteo internacional dos Direitos Humanos no Brasil. 2005. Disponvel em: . Acesso em: 03 jul. 2009.

    GOMES, Luiz Flvio. controle de convencionalidade:ValerioMazzuoli versus STF.Disponvel em: . Acessoem: 23 jun. 2009.

    HITTERS, Juan Carlos. Control de constitucionalidad y control de convencio-nalidad. Comparacin: criteriosfijados por la Corte Interamericana de Dere-chos Humanos). Estudiosconstitucionales, v. 7, n. 2, 2009.

    ______. legitimacin democrtica del poder Judicial y control de con-vencionalidad. Disponvel em: . Acesso em: 28 abr. 2012.

    JAYME, Erik. Entrevista com o Prof. Erik Jayme. cadernos do Programa

  • 96 Revista do CAAP | Belo Horizonte n. 2 | v. XVIII | p. 61 a p. 96 | 2012

    O CONTROLE DE CONVENCIONALIDADE DAS LEIS

    de Ps-Graduao em direito da UFGRS, Porto Alegre, v. 1, n. 1, p. 63-67, mar. 2003.

    KELSEN, Hans. Teoria pura do direito: introduo problemtica cientfica do direito. Traduo J. Cretella Jr. e Agnes Cretella. 2. ed. rev. da traduo. So Paulo: Revista dos Tribunais, 2002.

    MAZZUOLI, Valrio de Oliveira. O controle jurisdicional de convencio-nalidade das leis. 2. ed. So Paulo: Revista dos Tribunais, 2011.

    MAZZUOLI, Valrio de Oliveira. curso de direito internacional pblico. So Paulo: Revista dos Tribunais, 2007.

    MELLO, Celso D. de Albuquerque. curso de direito internacional pblico. 6. ed. Rio de Janeiro: Renovar: 1979.

    MENDES, Gilmar. Controle de constitucionalidade. In: MENDES, Gilmar Ferreira;

    COELHO, Inocncio Martires; BRANCO, Paulo Gustavo Gonet. curso de direito constitu