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CASA TOMADA CONVIVêNCIAS # 1 ATELIê ABERTO # 1 outubro/novembro de 2009

Convivências #1

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Convivências é uma publicação semestral da Casa Tomada que aborda o prcesso dos programas de residência artística da Casa - Ateliê Aberto e Ateliê Teórico- e conta com textos sobre os participantes, imagens dos processos, depoimentos dos visitantes que os projetos receberam, além dos trabalhos produzidos pelos participantes do Ateliê Teórico.

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CASA TOMADACONVIVêNCIAS #1

ATELIê ABERTO #1 outubro/novembro

de 2009

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Page 3: Convivências #1

AGRADECIMENTOS AGRADECIMENTOS AGRADECIMENTOS AGRADECIMENTOS AGRADECIMENTOSAGRADECIMENTOSsérgio basbaum

arrigo barnabéjosé roberto eliezerlucio agramarjorie gueller

camila cardilloluana azeredo

ana luiza fonsecaeduardo de jesusfernando olivamarina buendiasilvia mecozzi

andré vainerclaudia azeredolucas rachedluiza nakazatopedro farkas

cuca diasfernanda brenner

electrica cinema e vídeopapelaria universitáriasérgio almeida / prol gráfica

maurício azeredosolange farkas

e a todos os amigos que colaboraram com a realização deste projeto

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EDITORIAL EDITORIAL EDITORIAL EDITORIAL EDITORIAL EDITORIAL EDITORIAL EDITORIAL EDITORIAL EDITORIALEQUIPE EQUIPE EQUIPE EQUIPE EQUIPE EQUIPE EQUIPE EQUIPE

Direção Tainá Azeredo / [email protected]

Thereza Farkas / [email protected]

Produção Alice Ri! / [email protected]

Publicações Júlia Ayerbe (texto) / [email protected]

Lila Botter (arte) / [email protected]

Conselho Carolina Mendonça / [email protected]

Habacuque Lima / [email protected]

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EDITORIAL EDITORIAL EDITORIAL EDITORIAL EDITORIAL EDITORIAL EDITORIAL EDITORIAL EDITORIAL EDITORIAL

Concluir um processo artístico em um mês é difícil. Conviver com pessoas

diferentes e desconhecidas pode ser igualmente difícil. No último mês

aprendemos muito sobre formas de convivência e, também, sobrevivência

no coletivo. Entre momentos de atividades intensas, visitas, conversas e

momentos de ócio, fim de tarde na rede, tabules e tabuleiros; as relações foram

se fazendo e refazendo. Acompanhamos nossos 7 artistas em um mês de vai

e vem de emoções. E eles nos acompanharam neste mês, na tentativa de

entender qual é o nosso lugar dentro e fora da Casa Tomada. Ou a Casa

Tomada dentro e fora de nós. A convivência fez de cada trabalho individual

um grande trabalho em conjunto. E para concluir este mês de trocas entre

artistas e espaços, a Casa Tomada lança o primeiro número de Convivências

do Ateliê Aberto #1, acreditando na possibilidade de levar para fora de nossas

paredes as reflexões e experiências deste processo de convivência artística.

Esta publicação complementa as atividades da Casa Tomada, e leva à público

não só um resultado final de um processo criativo, mas as diversas etapas que

passamos até chegar aqui. Queremos fazer destas páginas uma sala de

convivência entre nós e vocês.

Tainá Azeredo e Thereza Farkas

Direção Casa Tomada

EDITORIAL

#1 #1 #1 #1 #1 #1 #1 #1 #1 #1 #1 #1 #1 #1 #1 #1 #1 #1 #1 #1 #1 #1 #1 #1 #1 #1 #1 #1 #1 #1

Page 6: Convivências #1

CASA TOMADA CASA TOMADA CASA TOMADA CASA TOMADA CASA TOMADA CASA TOMADA CASA TOMADA CASA TOMADA CASA TOMADACASA TOMADA CASA TOMADA CASA TOMADA CASA TOMADA CASA TOMADA CASA TOMADA CASA TOMADA CASA TOMADA

Page 7: Convivências #1

CASA TOMADA CASA TOMADA CASA TOMADA CASA TOMADA CASA TOMADA CASA TOMADA CASA TOMADA CASA TOMADA CASA TOMADA CASA TOMADA CASA TOMADA CASA TOMADA CASA TOMADA CASA TOMADA CASA TOMADA CASA TOMADA

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CASA TOMADA CASA TOMADA CASA TOMADA CASA TOMADA CASA TOMADA CASA TOMADA CASA TOMADA CASA TOMADA CASA TOMADACASA TOMADA CASA TOMADA CASA TOMADA CASA TOMADA CASA TOMADA CASA TOMADA CASA TOMADA CASA TOMADA CASA TOMADA. LIGADA E NA PILHA.

O espaço sempre reconfigura a experiência. Sendo amplo ou muito pequeno,

as qualidades do espaço se desdobram pelos seus modos de uso e pelos afetos

que destinamos a ele, reconstruindo nossas experiências na lacuna entre hábito

e novidade. Cada espaço traz em si as suas qualidades físicas e concretas e a elas

colocamos novas camadas de sentido que fazem com que um espaço possa

significar e agir em quem o experimenta. Assim são as casas. Uma camada de

elementos concretos que se agrega a uma argamassa outra que liga, para além

daquilo que é mais palpável, afetos, memórias e experiências que de alguma

forma parecem ficar gravadas em nós e também na fisicalidade do espaço. Assim

o espaço torna-se ao mesmo tempo realidade e fabulação. Cada um percebe

o que é seu dentro daquilo que é comum. Multiplicidades de experiências se

encontram nas múltiplas formas do espaço a ser percebido.

Fiquei pensando nisso, logo depois de passar quase um dia inteiro na

Casa Tomada, um mês atrás. Encontrei um espaço tão acolhedor e

aberto que logo comecei a pensar em quem o ocupava e como

isso iria se dar. O espaço da Casa Tomada mescla o aconchego

doméstico, o espaço da intimidade e as potências para o

externo, para aquilo que está e vem fora. É feita para acolher,

para ser ponto de encontro e também de distribuição. A

vitrine do segundo andar dá essa dimensão de abertura, de

contaminar quem passa pela calmaria da rua em frente e

vê em textos e imagens o que se passa dentro. As

comunicações são

intensas e a casa

mesmo fechada se

abre para o que

se passa fora e

vice versa.

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CASA TOMADA CASA TOMADA CASA TOMADA CASA TOMADA CASA TOMADA CASA TOMADA CASA TOMADA CASA TOMADA CASA TOMADA CASA TOMADA CASA TOMADA CASA TOMADA CASA TOMADA CASA TOMADA CASA TOMADA CASA TOMADA

Eduardo de Jesus

Professor da Faculdade de Comunicação e Artes da PUC Minas

O espaço acolhe quem chega por ali e passa a ocupá-lo. O ponto em comum é

a produção artística, um espaço-casa para ser ocupado pela produção artística

e seus desdobramentos. Desde pensar, refletir, conversar e trocar até a execução

e o desenvolvimento das obras. Compartilhar esse espaço da Casa Tomada,

de alguma forma é compartilhar de uma intimidade que se constrói tanto nos

trabalhos desenvolvidos quanto nos encontros, sejam eles para uma palestra, aula

ou grupo de estudo quanto para um almoço ou jantar. Não há divisões muito

rígidas e tudo flui de forma intensa, aberta e bastante colaborativa. O espaço

aconchegante e tranquilo da casa parece tornar esses encontros mais fáceis. Tudo

está no mesmo jogo, na mesma sintonia. Lembro-me que nesse dia que passei

na Casa Tomada, conheci os artistas, conversei sobre os projetos, as propostas e

especialmente sobre os desafios que cada um se lançava em distintas linhas de

pesquisa e elaboração que englobam vídeo, performance, animações, fotografias,

colagens e instalações. Tudo em processo e em debate. Passagens entre uma

pesquisa e outra, debates cruzados e potentes que se abrem para o coletivo,

para um processo de criação que se desdobra na própria vida cotidiana da casa

com seus silêncios e ruídos, como na casa tomada de Cortazar. Esta no entanto,

também é tomada para encher de energia aqueles que como eu passaram por

lá. Inesquecível a exibição comentada dos filmes de Edgar Navarro por Sérgio

Basbaum e sua precisa conceituação do “olhar afetuoso” desprendida do filme

Zonazul de Henrique Faulhaber. Inesquecível esse encontro entre o passado, dos

antigos e resistentes filmes de super-oito dos anos 70, e o presente de uma nova

geração que se arrisca na produção artística estabelecendo outras formas de

produção e encontro. Vida longa para a Casa Tomada e espero passar outros dias

experimentando as multiplicidades desse espaço.

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CASA TOMADA CASA TOMADA CASA TOMADA CASA TOMADA CASA TOMADA CASA TOMADA CASA TOMADA CASA TOMADA CASA TOMADACASA TOMADA CASA TOMADA CASA TOMADA CASA TOMADA CASA TOMADA CASA TOMADA CASA TOMADA CASA TOMADA

“No decorrer de uma residência artística, cada pessoa que se conhece, cada espaço que se descobre, servirá como combustível para levar a experiência vivida ali a se tornar parte de um processo. Para tanto, esse espaço deve ter os canais abertos para que a vivência do artista seja real.

Em um projeto como o Ateliê Aberto, da Casa Tomada, onde a proposta é o encontro de jovens artistas de diferentes áreas da arte, não existe apenas o estranhamento padrão das demais residências (casa, ateliê, bairro, grupo, etc.). Conhecer o universo de um outro artista já pode ser um desafio, mas é um desafio maior quando os referenciais desse universo são outros. É claro que, pela própria proposta da Casa Tomada, no final descobre-se que estamos todos muito mais próximos do que imaginamos.”

Ana Luiza Fonseca e Marina Buendia

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CASA TOMADA CASA TOMADA CASA TOMADA CASA TOMADA CASA TOMADA CASA TOMADA CASA TOMADA CASA TOMADA CASA TOMADA CASA TOMADA CASA TOMADA CASA TOMADA CASA TOMADA CASA TOMADA CASA TOMADA CASA TOMADA “Tive o prazer de conhecer a Casa Tomada neste mês de novembro.

Fui como artista, convidada para um jantar performático. .

Foi muito bom visitar as dependências da Casa e encontrar um grupo de jovens

criadores com propostas muito distintas, convivendo num pequeno ateliê onde

desenvolveram seus projetos durante uma residência de 30 e poucos dias.

Penso ser extremamente construtivo conviver com as dúvidas, as

angústias, as mudanças de rumo e as consequentes descobertas

que acontecem durante a criação de um trabalho.

Diferente das residências que oferecem espaços individuais de

pesquisa, a Casa Tomada, por sua arquitetura despojada, que

integra os ambientes, e por suas dimensões, aproxima os

artistas e proporciona um convívio doméstico entre eles.

A visita de artistas, escritores/teóricos, músicos e outros

profissionais experientes se dá de maneira muito informal

e acolhedora, o que permite uma troca muito direta.

Tivemos um papo muito franco e espontâneo em um

jantar que tinha como tema meu trabalho, uma homenagem

deliciosa, regada com várias garrafas de vinho que liberaram a

verve dos que ainda estavam meio tímidos pra expor suas ideias.

Fiquei muito bem impressionada com o cuidado com

que a Thereza e a Tainá estão conduzindo essa primeira

experiência e com a maturidade que já mostram mesmo

sendo tão jovens.

Sem dúvida esse é o começo de um projeto que ainda vai

tomar muito espaço na cidade de São Paulo.”

Silvia Mecozzi

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CASA TOMADA CASA TOMADA CASA TOMADA CASA TOMADA CASA TOMADA CASA TOMADA CASA TOMADA CASA TOMADA CASA TOMADACASA TOMADA CASA TOMADA CASA TOMADA CASA TOMADA CASA TOMADA CASA TOMADA CASA TOMADA CASA TOMADA

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CASA TOMADA CASA TOMADA CASA TOMADA CASA TOMADA CASA TOMADA CASA TOMADA CASA TOMADA CASA TOMADA CASA TOMADA CASA TOMADA CASA TOMADA CASA TOMADA CASA TOMADA CASA TOMADA CASA TOMADA CASA TOMADA

Page 14: Convivências #1

ATELIê ABERTO ATELIê ABERTO ATELIê ABERTO ATELIê ABERTOSÉRGIO BASBAUMCAPÍTULO I: Naquele tempo: 1. A gente era professor 2. T era uma aluna 3. T e J to- mam café com a gente: “a conversa não começa para acabar aqui” 4. T convida a gente pa

ra orientar seu trabalho 5. Após 10 meses de trabalho & conversa, T faz a Trança 6. A Trança foi visitada durante três dias e discutida em 1: “resistance is our Business” 7. nós

ficamos muito contentes CAPÍTULO II 1. tempos depois: T&T, a conversa recomeça, num café de muitos livros 2. Convidado para orientar 7 artistas num projeto de residênci

a 3. A gente acha que orientar não é possível, no máximo uma interlocução 4. outro café (foram vários): fala-se em workshops, jantares, e em espaço digitalmente expandido

(expaço?) 5. T&T mostram pra gente 6 jovens artistas, nem todos de uma vez 6. mos- tram um sétimo artista: número cabalístico 7. nos encontramos todos para uma conversa

na casa CAPÍTULO III 1. Um sorriso luminoso igual ao da Leda Catunda 2. O parado- xo das superfícies e da profundidade 3. O paradoxo do instante e do movimento + bicicl

etas 4. espaços invisíveis de todos os tipos 5. tesouros & mistérios (alguém tem um mapa?) 6. Calvino fala da leveza contando como Perseu dominou a Medusa com o espelho,

então vamos fazer espelhos 7. onde é o dentro onde é o fora? pessoas, coisas & senti- do. CAPÍTULO IV 1. a gente vai ter de ter palavras durante um mês: Artur Omar não seri

a capaz: mas as palavras não vêm da gente 2. devia ter escrito uma palavra por dia: isso bastaria 3. a gente está aberto pra balanço em dois dias de workshops: memória é algo

que a gente inventa todo dia, mas não é todo dia que a gente pode fazer isso abertamen- te 4. a gente leu trechos do livro do Fábio & da Marilá, editado pela Regina 5. a gente re

viu a gente mesmo com outros olhos (os olhos dos outros) 6. o Eduardo de Jesus tam- bém estava lá 7. nós ficamos muito contentes CAPÍTULO IV: 1. Coisas em que a gente ac

redita: a gente acredita que a arte, por si só, não vai nos salvar, mas que, sem ela, não há muito o que salvar (o mundo vai virar um grande formigueiro) 2. a gente acredita no z

elo no uso das palavras, e em buscar a palavra certa 3. a gente acredita que, em termos científicos, há uma grande probabilidade de que a gente exista de fato. 4. 5. livros &

mais livros: memórias, teoria & referências 2. muitas conversas: a gente gosta de conhe- cer as pessoas, para ver se pode de algum modo contribuir 3. porque quem precisa ness

a vida de encontros sem sentido? 4. se a gente não faz sentido, a conversa não flui 5. a conversa fluiu 6. falamos muito de fotografia 7. uma fotografia não tem nada a ver com

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ATELIê ABERTO ATELIê ABERTO ATELIê ABERTO ATELIê CAPÍTULO I: Naquele tempo: 1. A gente era professor 2. T era uma aluna 3. T e J to- mam café com a gente: “a conversa não começa para acabar aqui” 4. T convida a gente pa

ra orientar seu trabalho 5. Após 10 meses de trabalho & conversa, T faz a Trança 6. A Trança foi visitada durante três dias e discutida em 1: “resistance is our Business” 7. nós

ficamos muito contentes CAPÍTULO II 1. tempos depois: T&T, a conversa recomeça, num café de muitos livros 2. Convidado para orientar 7 artistas num projeto de residênci

a 3. A gente acha que orientar não é possível, no máximo uma interlocução 4. outro café (foram vários): fala-se em workshops, jantares, e em espaço digitalmente expandido

(expaço?) 5. T&T mostram pra gente 6 jovens artistas, nem todos de uma vez 6. mos- tram um sétimo artista: número cabalístico 7. nos encontramos todos para uma conversa

na casa CAPÍTULO III 1. Um sorriso luminoso igual ao da Leda Catunda 2. O parado- xo das superfícies e da profundidade 3. O paradoxo do instante e do movimento + bicicl

etas 4. espaços invisíveis de todos os tipos 5. tesouros & mistérios (alguém tem um mapa?) 6. Calvino fala da leveza contando como Perseu dominou a Medusa com o espelho,

então vamos fazer espelhos 7. onde é o dentro onde é o fora? pessoas, coisas & senti- do. CAPÍTULO IV 1. a gente vai ter de ter palavras durante um mês: Artur Omar não seri

a capaz: mas as palavras não vêm da gente 2. devia ter escrito uma palavra por dia: isso bastaria 3. a gente está aberto pra balanço em dois dias de workshops: memória é algo

que a gente inventa todo dia, mas não é todo dia que a gente pode fazer isso abertamen- te 4. a gente leu trechos do livro do Fábio & da Marilá, editado pela Regina 5. a gente re

viu a gente mesmo com outros olhos (os olhos dos outros) 6. o Eduardo de Jesus tam- bém estava lá 7. nós ficamos muito contentes CAPÍTULO IV: 1. Coisas em que a gente ac

redita: a gente acredita que a arte, por si só, não vai nos salvar, mas que, sem ela, não há muito o que salvar (o mundo vai virar um grande formigueiro) 2. a gente acredita no z

elo no uso das palavras, e em buscar a palavra certa 3. a gente acredita que, em termos científicos, há uma grande probabilidade de que a gente exista de fato. 4. 5. livros &

mais livros: memórias, teoria & referências 2. muitas conversas: a gente gosta de conhe- cer as pessoas, para ver se pode de algum modo contribuir 3. porque quem precisa ness

a vida de encontros sem sentido? 4. se a gente não faz sentido, a conversa não flui 5. a conversa fluiu 6. falamos muito de fotografia 7. uma fotografia não tem nada a ver com

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1 ADELITA AHMAD é formada em teatro pelo Célia Helena, em artes plásticas

pela Faap e trabalha há três anos com performance. Encubome foi o trabalho que

apresentou para a mostra Verbo, na Galeria Vermelho em 2008, onde morou em

silêncio por uma semana em um cubo de vidro dentro do espaço expositivo. O seu

trabalho artístico remete às questões do mundo feminino e à superação dos limites

físicos e psicológicos. 2 BRUNO BAPTISTELLI ou Beba, é formado em artes plásticas

pela Unicamp. Em 2007 criou, com Gustavoprafrente, a dupla Bebaprafrente, que

participou esse ano da Bienal Ventosul onde realizaram um Street Churras. Bruno vive

pela cidade observando caçambas e espaços esquecidos, como postes, terrenos

baldios e entulhos. A partir disso realiza intervenções urbanas, pinturas e fotografias.

3 DECO FARKAS formou-se em artes plásticas pela Faap. Trabalha com vídeo,

animação, desenho, pintura e grafite. Com muito humor e poucas palavras, produz

animações em stop motion dando personalidade a objetos. Seus vídeos buscam a

melhor relação possível entre música e imagem em movimento tentando chamar a

atenção do espectador pela sensibilidade provocada. 4 gUi MOHALLEM é formado

em Cinema e Vídeo pela ECA-USP, especializando-se em cinematografia. Em 2007

passou a se dedicar exclusivamente a fotografia, e no ano seguinte fez sua primeira

exposição individual em Nova York com Ensaio Para a Loucura. Como método de

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OS ARTISTAS OS ARTISTAS OS ARTISTAS OS ARTISTAS OS ARTISTAS OS ARTISTAS OS ARTISTAS OS ARTISTASOS ARTISTAS

Page 17: Convivências #1

trabalho criou o “efeito compota” onde tira fotos e as deixa curtindo até um sentimento

as resgatarem para o mundo. 5 HENRIQUE CÉSAR é formado em artes plásticas na

Faap. Seu trabalho gira em torno do fato de que “o caos existe, resiste e reina. Seja

em forma de erva-daninha no concreto, de infiltração nas paredes, ou em forma de

universo soturno que atravessa a parede da ordem, e nos invade obscuro”. É com esse

pensamento e com muita desenvoltura para a fala que produz, em cada projeto, uma

intensa pesquisa que passa por diversas mídias, como desenho, fotografia e escrita.

6 MAÍRA MESQUITA é diretora de arte e cenógrafa, formada em cinema pela Faap.

Realizou diversos filmes como Sobre a Maré, de Guile Martins; Os Sapatos de Aristeu,

de René Guerra; FilmeFobia, de Kiko Goifman, entre outros. Pesquisadora de objetos

encontrados pelo caminho, possui um acervo tão grande de traquitanas que certo

dia foi obrigada a levantar o colchão do quarto para poder circular. Esses objetos

hoje habitam suas animações, trabalho que se dedica atualmente, que após viverem

suas histórias podem descansar no lixo. 7 MARI POPPOVIC acabou de se formar em

moda na faculdade Santa Marcelina. O seu projeto final foi inspirado em cinema de

exploitation, glam rock e psychobilly. É observadora afinca das pessoas, pois identidade

é um conceito fundamental em seu trabalho. Desenha muito e costuma trabalhar com

giz de cera, lápis, aquarela e marcadores nos cadernos que sempre carrega consigo.

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OS ARTISTAS OS ARTISTAS OS ARTISTAS OS ARTISTAS OS ARTISTAS OS ARTISTAS OS ARTISTAS OS ARTISTAS

Page 18: Convivências #1

OS ARTISTAS OS ARTISTAS OS ARTISTAS OS ARTISTAS OS ARTISTAS OS ARTISTAS OS ARTISTAS OS ARTISTASADELITA AHMAD

Tentando Entender

Quando eu for, um dia desses,

Poeira ou folha levada,

No vento da madrugada

Serei um pouco do nada,

invisível, delicioso

(Mario Quintana)

Entra na Casa e começa a explorar o território. Ao chegar no ateliê se enfia

embaixo da cama, sube na mapoteca e deita na mesa. Na janela, um espaço

inusitado, um cubículo com uma parede em diagonal que sobe até o

pequeno jardim do andar de cima. Encosta na parede, olha pra cima e sente

esse ambiente. Pergunta: “Eu tomo a Casa ou ela que me toma?”

Adelita procurou todos os lugares nos quais pudesse se esconder dentro da Casa. E foi se escondendo que encontrou a si mesma. Fez de um jardim 2X2 uma imensidão.

Page 19: Convivências #1

OS ARTISTAS OS ARTISTAS OS ARTISTAS OS ARTISTAS OS ARTISTAS OS ARTISTAS OS ARTISTAS OS ARTISTAS

Page 20: Convivências #1

OS ARTISTAS OS ARTISTAS OS ARTISTAS OS ARTISTAS OS ARTISTAS OS ARTISTAS OS ARTISTAS OS ARTISTASADELITA AHMADPara pensar o trabalho que vai

criar após um mês de residência,

Adelita vai ocupando os espaços

com o seu corpo, com o intuito

de entender onde ela cabe, onde

se enfia, onde o seu sentimento

reverbera melhor.

A cada dia pesquisa os lugares com

sua câmera fotográfica. Encontra

objetos na garagem, uma escada,

uma velha poltrona, uma bicicleta

e uma caixa. Junta todos eles e senta no sofá, entra na caixa e sobe na bicicleta.

Não contente vai até a cozinha. Pousa ao lado de um vaso de flor. Tenta comer

o vaso, deita, nua, e veste algumas maçãs. Quando chega no banheiro encontra

uma máscara de carnaval, de lantejoulas amarelas. Misteriosamente diz: “Você se

esconde mas eu te acho no seu esconderijo”. Quem se esconde? Parece que um

pedaço dela está solto pela Casa e ela não consegue encontrar.

Chega a hora de descobrir o jardim. Com um vestido florido

entra no arbusto – parece os frutos daquela árvore. Relaxa o rosto e sente

o tempo da natureza. Se sente só.

Ainda continuo no jardim. Sozinha. Ainda com a minha máquina, conto 10

segundos e me coloco no espaço.

click.

mais 10 segundos.

Page 21: Convivências #1

OS ARTISTAS OS ARTISTAS OS ARTISTAS OS ARTISTAS OS ARTISTAS OS ARTISTAS OS ARTISTAS OS ARTISTASclick.

o lugar é esse.

click.

Estou procurando. Estou

procurando.

E não sei o que fazer com o

que eu vou achando.

Hoje choveu o dia todo. O

jardim tá todo molhado. É bom

pisar descalça nele.

Agora as folhas secas do outono cairão

em cima dela. Num balanço embaixo do

jardim, naquele espaço do subsolo que

ela foi no primeiro dia da Casa, ela olha

a ampulheta que de tempos em

tempos solta as folhas. O outono é

a estação que ela não entende,

mas está tentando

entender.

Page 22: Convivências #1

OS ARTISTAS OS ARTISTAS OS ARTISTAS OS ARTISTAS OS ARTISTAS OS ARTISTAS OS ARTISTAS OS ARTISTASBRUNO BAPTISTELLI

Foto dos livros trazidos

pelos artistas do Ateliê

Aberto #1, feita nos

primeiros dias, durante a

investigação do espaço

Entre papéis de bolacha e retalhos da vida alheia, Bruno desconstruiu o universo da casa, transformando restos descartados em vitrines para a invisibilidade.

Como foi a sua vinda à Casa Tomada? Fui a última pessoa a entrar.

Trabalhava com a artista Shirley Paes Leme e ela me indicou. Mandei

um email com o site da minha dupla, me chamaram para conversar

e rolou. Gosto muito dessa questão do espaço e o fato deste ser

habitado por pessoas diferentes é muito bacana.

Page 23: Convivências #1

Quando você entrou na Casa, pesquisou o ambiente? Sim, tirei fotos dos

espaços. Primeiro fui conhecer o subsolo, o espaço que ocuparíamos. No fim não fui

para o resto da casa, só me preocupei com esse andar. Meu trabalho é bem ligado

à minha dinâmica aqui. Chegava, descia e já arrumava um lugarzinho na mesa.

Quando vi que usaria o lixo, comecei a fotografá-lo, trabalhava e encontrava as

pessoas que estavam por ali, não transitei muito pelos outros andares.

Então a ideia do lixo saiu dessa dinâmica. Sim. Eu estava pesquisando a imagem

do lixo e fiz pinturas a partir das sacolas, só o plástico. Quando comecei a explorar

o subsolo encontrei lugares muito interessantes, como uma salinha que está

cheia de coisas, que pensei em reorganizar, fazer algo ali. Fotografei e mexi com

esse interesse, até encontrar o lixo. No primeiro dia tirei foto dos lixos do nosso

andar, olhei as imagens e pensei “acho que isso dá alguma coisa”. No segundo

dia fotografei e pensei, “vou também guardar algumas coisas do lixo”. Na terceira

semana comecei a produzir.

Em outros trabalhos seus aparecem a caçamba, o lixo. Existe um olhar seu

para isso? Então, tem uma escolha nesse sentido. Gosto bastante do trabalho

do artista Artur Barrio, que tem um manifesto sobre a postura de usar

materiais abandonados porque

é a realidade dele... “As bagagens de todos estão

se somando no espaço”

OS ARTISTAS OS ARTISTAS OS ARTISTAS OS ARTISTAS OS ARTISTAS OS ARTISTAS OS ARTISTAS OS ARTISTAS

Page 24: Convivências #1

De precariedade... Também. Pelo o que entendi, Barrio acredita que a arte

não deve estar vinculada propriamente à materialidade da coisa, também

parto um pouco dessa ideia. O lixo é especial porque ele foi

produzido pelas pessoas que estavam lá trabalhando no espaço.

Meu principal objetivo é estabelecer uma relação. Fiquei muito feliz

quando perguntei para os artistas o que esse trabalho estava gerando

neles, porque senti que criei uma relação indireta com todos. Eles

pensavam “esse lixo o Bruno vai pegar”, isso me interessou muito. Foi

uma coisa legal que aconteceu.

E todo esse processo resultou em colagens? São na verdade objetos

em caixinhas. Mas surgiu um problema, a colagem é uma etapa, a etapa

mais entendida como objeto de arte, que surgiu do processo. A Casa vai

abrir para exposição e virão pessoas que estão fora disso

e que terão um entendimento como objeto do mundo.

Ele vai ser encarado mais como trabalho, ele já tem uma

categoria, é categorizado na História da Arte...

Mas veio de uma

experiência. Exato.

Comecei a pensar no

OS ARTISTAS OS ARTISTAS OS ARTISTAS OS ARTISTAS OS ARTISTAS OS ARTISTAS OS ARTISTAS OS ARTISTASBRUNO BAPTISTELLI

Page 25: Convivências #1

que fazer para mostrar esse processo e tive a ideia de fazer meio que um cinema

estático, como nas Cosmococas do Hélio Oiticica, de pôr uma luz mais fechada e

em imagens de ação, do cortar, do coletar o lixo. Talvez isso vire mesmo objeto

artístico, mas queria que as pessoas vissem também que esse trabalho existiu por

um contexto e por uma dinâmica que estabeleci.

Mas dentro dessa ideia do objeto artístico, tem uma linguagem pop, nas

cores, um pop brasileiro. É, isso já é o meu universo imagético. Fiz um trabalho

de iniciação científica chamado A Pintura Espaço Vida, onde saí um pouco da

pintura, da proteção das imagens da sociedade e chego no Brasil, falo do Hélio

Oiticida e de imagem. Mas também acho que o pop me interessa porque é um

pouco da minha família, ninguém é artista, isso é uma mistura, são os meus pais

e também quero ter interlocução com essas pessoas. Minha formação de

imagem foi a TV, é produto mesmo, é o popular, é o comum.

Claro que fui estudar e fui ver, e hoje essa linguagem é uma

escolha. O dia que entendi o porque do trabalho foi quando

estava indo pra casa de um amigo no Brooklyn e para

chegar é preciso atravessar a avenida dos Bandeirantes.

O lugar que esperava o farol fechar era uma pequena

praça. Vi umas madeiras abandonadas e reorganizei-as

junto com uma árvore. Cheguei na casa e fiquei um tempo

por lá. Quando voltei vi os garis limpando a praça

e titubeando em limpar a reorganização, eles

viram que tinha alguma coisa e não mexeram.

Teve uma experiência, o cara parou e olhou.

Então acho que tá falando, tá solto, tá rolando.

OS ARTISTAS OS ARTISTAS OS ARTISTAS OS ARTISTAS OS ARTISTAS OS ARTISTAS OS ARTISTAS OS ARTISTAS

Page 26: Convivências #1

Como é o trabalho que você fez aqui na Casa? O meu trabalho é um vídeo

em looping, algo em torno de dois minutos, com animações feitas com

elementos e objetos da Casa. A trilha sonora é uma onomatopeia, com vários

sons sobrepostos da minha própria voz. São como uma brincadeira, como

imagino o som de cada coisa, de um saco caindo na areia por exemplo, encaixo

esses sons com a animação.

Como foi a seleção dos objetos? Fiz uma pequena pesquisa, então me apropriei

de materiais que estavam à minha disposição e me despertaram interesse plástico.

OS ARTISTAS OS ARTISTAS OS ARTISTAS OS ARTISTAS OS ARTISTAS OS ARTISTAS OS ARTISTAS OS ARTISTASDECO FARKAS

Deco pediu para que não mexêssemos em nada, e colocou obstáculos tudo se mexeu sozinho.

Page 27: Convivências #1

OS ARTISTAS OS ARTISTAS OS ARTISTAS OS ARTISTAS OS ARTISTAS OS ARTISTAS

em nossos caminhos diários. Nós não mexemos, ele não mexeu, e

Em outros trabalhos seus, como a animação Secadora, você cria um

certo tipo de personalidade para os objetos que anima. Isso se repete?

Sim, cada um dos objetos, como por exemplo o tubo de cola e o rolo

de filme, tem uma existência própria. A cola tem essa coisa de subir

e descer, então eu imagino que ela terá uma personalidade feminina, é

espertinha, vai andar pelos espaços, se equilibrando. Acho que cada objeto

já tem sua personalidade, posso direcionar um pouco manipulando o

movimento, mas eles já são eles.

Page 28: Convivências #1

Como eles ocupam a Casa? Todos estão fazendo os seus percursos, eles não

têm uma missão, estão fazendo o que tem que ser feito, começam a explorar lá

embaixo, sobem para o térreo, dão uma leve explorada nesse andar e ficam por

lá. E também aparecem pessoas. Em todos os encontros que aconteceram aqui na

Casa fiz testes e fotografei o pessoal e com isso construí alguns loopings.

Como é seu jeito de trabalhar? Produzo, produzo, produzo, sem pensar no que

fazer. No processo tenho várias ideias e tenho que lapidar para chegar a um conceito.

Como foi a experiência de produzir para um meio que você não está

acostumado, como o das artes plásticas? Diferente. Tenho um pouco de

trauma das artes plásticas, de arte conceitual, uma certa intelectualização que

você sente e acha que é inacessível, não sei muito bem. Mas ao mesmo

OS ARTISTAS OS ARTISTAS OS ARTISTAS OS ARTISTAS OS ARTISTAS OS ARTISTAS OS ARTISTAS OS ARTISTASDECO FARKAS

“As pessoas gostam do meu trabalho porque não

Page 29: Convivências #1

tempo acho muito interessante porque é livre e então você se sente à vontade

pra fazer o que realmente quer.

E expor seu trabalho nos jantares, pensar ele com outras pessoas no

processo do Ateliê Aberto, foi bom? Para mim é sempre bom conversar

e discutir. Outro dia alguém falou que meus trabalhos são irônicos porque eles

têm medo de se expor. Quando você é irônico você se fecha, tenho medo que

o meu trabalho seja meio assim. Sempre uso o humor e não é uma coisa que

escolho, sempre fui um cara do humor, então acaba sendo fácil ganhar as pessoas

com o meu trabalho. As pessoas gostam porque não é algo que as intimida a

elaborar conceitos ou entender, não tem o que entender, é aquilo ali, você vai

sentir a música e ver as imagens e aquilo vai gerar reações em você e acabou.

OS ARTISTAS OS ARTISTAS OS ARTISTAS OS ARTISTAS OS ARTISTAS OS ARTISTAS

é algo que as intimida a elaborar conceitos”

Page 30: Convivências #1

OS ARTISTAS OS ARTISTAS OS ARTISTAS OS ARTISTAS OS ARTISTAS OS ARTISTAS OS ARTISTAS OS ARTISTASgUi MOHALLEM

Você apresentou no Ateliê Aberto fotos de Coney Island. Qual sua relação

com esse espaço e como foi o processo de escolha das fotos? Coney Island

está ao sul de Nova York e é o super lugar comum para fotografia, muito clichê.

É como fotografar o centro de São Paulo. Tem uma questão das pessoas que

frequentam o lugar, é muito anacrônico, tem uma roda gigante de 1930 e um

parque de diversão bem decadente. Eu não sabia disso, descobri depois. Um dia

mandei algumas fotos minhas para um editor de Nova York e ele disse que eu

havia fotografado Coney Island totalmente diferente do que ele já tinha visto. Lá

você também vê outra coisa, tem muito freak, deslocado, tem campeonato de hot

dog (um cara comeu 65 hot dogs em 2 minutos). Mas não é isso que me atrai lá,

não volto o olho, a câmera e o coração pra isso; toda vez que vou pra lá fico muito

ensimesmado e começo a escrever e escrever, e naturalmente começo a

andar e fotografar as pessoas que estão lá. Essa série de fotos que eu

trouxe pra Casa estavam na parede do meu ateliê me

atormentando, todas verdes. Há muito tempo não

tenho coragem emocional de mexer nelas.

gUi se desligou do mundo fora da Casa e deixou crescer o cabelo e a barba nos longos dias que passou aqui. Foi resgatando memórias antigas e inventando novas cores para colorir o passado.

Page 31: Convivências #1

OS ARTISTAS OS ARTISTAS OS ARTISTAS OS ARTISTAS OS ARTISTAS OS ARTISTAS OS ARTISTAS OS ARTISTAS

Pode explicar um pouco a questão das fotos verdes? É uma

técnica que uso onde super exponho o negativo captando de

250 a 4000 vezes mais luz do que precisa. Na hora de revelar peço

para não alterar a cor e então esverdeia tudo, perco totalmente a

noção do real. As fotos brutas são verdes e esculpidas para chegar

onde quero com a imagem. No começo do processo era tudo um

muro de fotos verdes, fui tratando e pintando, é um cruzamento

de pintura com escultura, sinto que é tridimensional, que estou

quebrando, mas o movimento é de pintura, de desenho.

É interessante essa ideia de como você des!gura a realidade,

você fotografa, desmembra as cores, o que era já não é mais,

mas é um ponto de partida. Isso tem muito a ver com um trabalho

de Roland Barthes, A Câmara Clara, a foto não é mais a realidade.

Entendo a foto como memória, porque o fato é só a tela onde a

gente pinta a memória, você tem apagão, isso é o fato, a memória é

o que você viveu naquele momento. Alguém chegou e disse assim

"não quero mais, pra mim acabou", como você vai lembrar disso

depende muito de como vai pintar essa história na memória.

Você disse que Coney Island era um autorretrato, então a foto, com outras

pessoas, paisagens, fala sobre você. Seu trabalho tem muito do outro falar

sobre você, certo? Sim. Isso tem a ver com tudo o que gosto de fazer, é muito

mais confessional, é uma coisa que já tinha organizado na cabeça, que o outro

fala muito de mim, é um jeito de pensar a coisa. Gosto muito do que as pessoas

falam para mim. Um amigo me disse "interessante que as suas fotos são do ponto

de vista de quem tá encharcado, mas ninguém pisa na água".

Page 32: Convivências #1

Como foi o processo que viveu aqui? Você trouxe as fotos e passou

por processos de seleção até chegar no ponto que queria? Não sei se

tem planejamento. Engenheiro é que planeja, meu processo é intuitivo.

Espalhei as fotos na parede e fiquei olhando. Olhava, sentia e pegava a

imagem, tratava e ia fazendo isso pelo sentimento, uma ou duas fotos

por dia. Tiveram dias que não tratei foto nenhuma. Na Casa Tomada o meu

trabalho operacional rendeu pouco, mas a produção intelectual, emocional,

a troca, a epifania, nas conversas houve uma forte interação com os outros

artistas, um diálogo muito intenso.

Você e a Adelita tiveram um diálogo pelo blog da Casa, como foi isso?

Conversamos sobre solidão, sobre amor e falei sobre uma história do poeta Rainer

Maria Rilke e ela ficou encantada. Eu não

soube contar direito e quando fui para

minha casa pensei: "preciso achar o Rilke".

E não achei. Achei um e-mail, postei

aquilo que tinha a ver com o que

eu e ela estavamos passando e

rolou uma identificação. Antes

eu não tinha uma coisa com

a Adelita, ela tem uma chave,

funciona em uma frequência

que eu não alcanço, uma leveza.

Ela lida com coisas muito profundas

de uma maneira muito leve, o riso

dela é borbulhante. E às vezes eu trato

coisas muito leves de forma

OS ARTISTAS OS ARTISTAS OS ARTISTAS OS ARTISTAS OS ARTISTAS OS ARTISTAS OS ARTISTAS OS ARTISTASGUI MOHALLEM

Page 33: Convivências #1

muito pesada. Então a princípio não

encaixava, achava ela uma

pessoa legal, mas

me identificava

mais com outros da

Casa. De repente

ela e o Bruno

apareceram para mim, uma amizade,

um amor mesmo com as pessoas. E essa troca com a Adelita

está no meu texto e no meu trabalho.

Seus trabalhos estão vinculados ao momento que

você tá vivendo, ao que está sentindo? Ao que

eu acredito naquele momento, o que eu já discuti. Eu

mudo muito. Tenho experiências muito transformadoras.

Vim aqui não para usar o Ateliê, eu vim me transformar,

vim com uma questão. As coisas que acontecem são

intensas, eu procuro essa intensidade, saio depois de um

mês muito transformado. Tem a ver com as relações que

se criam aqui dentro, com as trocas que foram feitas. Isso

acontece com cada viagem, é praticamente um exílio. E no

exílio você olha mais para si mesmo e para a interação com

o outro, você se descobre. Sou muito apaixonado, acredito

no que estou fazendo naquele momento, muito, mas essa

paixão vai e não olho pra trás. E o que acontece quando

junto o texto à imagem, é que parece que o texto vence,

não a imagem, mas o texto vence.

OS ARTISTAS OS ARTISTAS OS ARTISTAS OS ARTISTAS OS ARTISTAS OS ARTISTAS OS ARTISTAS OS ARTISTAS

Page 34: Convivências #1

O Estranho

Não sejamos ingênuos em achar que a ideia de casa é sempre

conectada a conforto, bem-estar e segurança. Se por um lado ela

nos isola com suas paredes dos possíveis perigos do mundo externo,

por outro, possui dentro de si ameaças. Tema inesgotável de suspense

e terror, os armários, a madeira rugindo, os quartinhos do fundo

causam medo. São os fantasmas.

O artista Henrique César quando entrou na Casa Tomada resolveu

investigar o seu lado oculto. Seu interesse se voltou para a ideia de

que o caos reina e não há como apartá-lo, não existe edi!cação que dê

conta disso. Na época estava lendo o texto Unheimlich, de Freud.

Dessas investigações começou a elaborar estratégias para trazer ao

público esses lugares. Primeiro pensou num estetoscópio para ouvir

as duas caixas d’água da casa, a esquerda e a direita, que bombeiam

o líquido que abastece o lugar. O barulho do cano, do ralo, do que

escorre, do que se expele e do que se ingere. Mas os canos estavam

OS ARTISTAS OS ARTISTAS OS ARTISTAS OS ARTISTAS OS ARTISTAS OS ARTISTAS OS ARTISTAS OS ARTISTASHENRIQUE CÉSAR

Em 30 dias Henrique percorreu todos os cantos da Casa e foi do sótão ao porão para encontrar seus fantasmas. Agora está aberta a temporada de caça.

Page 35: Convivências #1

“É incrível saber que o heimlich, ou doméstico,

é algo que para um emerge

como situação segura e

familiar, e que para outro

ocorre como um espaço

desconhecido, impossível de

ser frequentado, estranho.”

OS ARTISTAS OS ARTISTAS OS ARTISTAS OS ARTISTAS OS ARTISTAS OS ARTISTAS

Page 36: Convivências #1

OS ARTISTAS OS ARTISTAS OS ARTISTAS OS ARTISTAS OS ARTISTAS OS ARTISTAS OS ARTISTAS OS ARTISTASHENRIQUE CÉSAR

muito ocultos, difíceis de trazer à superfície. Partiu então para

os escombros e restos, amontoados de coisas jogadas em

cantos e espaços inutilizados, pouco habitados e visitados

pela memória. Surgiu então a ideia de construir uma máquina

que detectasse os fantasmas desses lugares. A Máquina para

Ver Fantasma foi projetada com a !nalidade de localizar e

apontar indícios de situações invisíveis a olho nu. O invisível

quando visível, assusta, para isso, basta pendurar a máquina

no pescoço e andar pela Casa.

Page 37: Convivências #1

OS ARTISTAS OS ARTISTAS OS ARTISTAS OS ARTISTAS OS ARTISTAS OS ARTISTAS

Dentro do quarto seguro, vive o armário que há de ser fechado. E coberto

na cama, há o vento que invade a orelha descoberta.

o estranho vol. 17 obras psicológicas

ele é estranho pra casa e a casa é estranha pra ele

como encontrar um fantasma travestido em trauma

guardar tralha é guardar trauma

entropia

não dar conta de algo que é maior que você

Embora usado com frequência para descrever qualquer coisa

estranha ou inusual, o sentido estrito da palavra se refere a algo

além do nosso conhecimento, além do nosso alcance, portanto

não é necessariamente algo sobrenatural

é que ele está fora do nosso entendimento, costuma trazer consigo

conotações óbvias de medo, e por isto o termo é frequentemente

usado tanto em relação ao horror quanto ao sobrenatural

Unheimlich/Uncanny não deriva seu terror de alguma

coisa externa, estranha ou desconhecida, mas, pelo

contrário, de algo estranhamente familiar, que tentamos

afastar de nós, mas que resiste aos nossos esforços.

Page 38: Convivências #1

OS ARTISTAS OS ARTISTAS OS ARTISTAS OS ARTISTAS OS ARTISTAS OS ARTISTAS OS ARTISTAS OS ARTISTASMAÍRA MESQUITA

Maíra encontrou na Casa uma forma silenciosa de passar o tempo e foi transformando os lugares mais esquecidos em laboratórios de seres animados.

O homem criou o relógio para se libertar da tarefa de contar o

tempo. A partir desse momento não cabe mais a ele esse afazer,

a máquina o realiza por ele. Porém, tendo por convenção o

tempo dividido, e por comodidade o homem adaptado a essa

divisão, podemos fazer a seguinte pergunta: o tempo contado

se dispõe ao homem ou à máquina?

Page 39: Convivências #1

OS ARTISTAS OS ARTISTAS OS ARTISTAS OS ARTISTAS OS ARTISTAS OS ARTISTAS OS ARTISTAS OS ARTISTAS

Quando vemos a Máquina de Passatempo de Maíra Mesquita não encontramos

apenas um engenho destinado a transformar uma forma de energia em outra

e/ou utilizar essa transformação para produzir determinado efeito. Encontramos

uma artista inventando uma máquina poética, com traços humanos. Por tal razão,

vemos nela a inutilidade que pode ter o tempo numa máquina criada para passar

o tempo. O passatempo lúdico ganha um teor político ao fugir do cronômetro

e vivenciar um tempo próprio, libertando o relógio. “O tempo todo, para alguém,

é a vida inteira, mas pode ser o tempo que você gasta pensando no tempo.

Pode ser o tempo inútil, da brincadeira, o ‘passatempo’. Pode ser o tempo que

você não tem, porque leva uma vida muito agitada e precisa de um outro relógio,

não cronológico, um relógio interno, que digere as coisas, que faz o tempo

passar por dentro também”.

Page 40: Convivências #1

OS ARTISTAS OS ARTISTAS OS ARTISTAS OS ARTISTAS OS ARTISTAS OS ARTISTAS OS ARTISTAS OS ARTISTASMAÍRA MESQUITA

Essas máquinas são compostas

por traquitanas que a artista

coleciona, formando um

grande acervo, um gabinete de

curiosidades onde cada objeto

tem uma vida, uma história e um

lugar. Por essa razão, quando

foi trabalhar na Casa Tomada e tomou o laboratório de fotografia embaixo da

escada como seu escritório, levou consigo parte de seu acervo. Havia malas com

diversos tipos de engrenagens antigas, flores secas, taças quebradas, um cowboy

num cavalo de brinquedo, botões antigos, todos organizados em maletas com

divisórias e compartimentos. Alguns deles nem foram utilizados, mas fizeram

parte da cenografia do lugar.

Criou em um mês as doze máquinas animadas em stop motion. A primeira

Máquina de Passatempo surgiu de uma peça misteriosa que encontrou na rua.

A guardou por dois anos e, após agregar uma mola e uma cinta-liga, surgiu

“Nunca me senti artista, mas sempre acreditei em um processo

artístico no meu trabalho– um processo de pesquisa e

imaginação, constante movimento e apropriação empírica...”

Page 41: Convivências #1

OS ARTISTAS OS ARTISTAS OS ARTISTAS OS ARTISTAS OS ARTISTAS OS ARTISTAS OS ARTISTAS OS ARTISTAS1. máquina de passatempo;

2. máquina de passatempo

com puxador e ponteiro

ornamentado; 3. máquina de

passatempo com puxador,

ponteiro ornamentado,

marcadores e extras; 4.

máquina de passatempo

com puxador, ponteiro

ornamentado, marcadores,

extras e chip; 5. máquina

de passatempo modelo

feminino; 6. máquina

de passatempo modelo

feminino com simulador

endócrino-dramático; 7.

máquina de passatempo

modelo feminino com

simulador endócrino-

dramático e vitamina B12;

8. máquina de passatempo

modelo retrô; 9. máquina

de passatempo modelo

botânico; 10. máquina de

passatempo modelo; 11.

máquina de passatempo

modelável; 12. máquina de

passatempo kids.

um mecanismo. A partir desse princípio

básico, surgiram os doze desdobramentos.

Encontramos todas as máquinas dentro de

uma caixa, vemos elas a partir de um

pequeno buraco em um contêiner endereçado

à artista. Ao lado um Manual de Instruções com

descrições e funcionamentos. Percebemos e

sentimos todas as formas da Maíra entender

e vivenciar o tempo, repensamos o nosso

próprio tempo e passamos a culpar o nosso

relógio, a máquina que criamos para nos

ajudar com o tempo. O maquinário que

ela criou, o seu Manual de Maquinaria

Fantástica nos remete às possibilidades de

repensar as categorias e convenções.

Page 42: Convivências #1

OS ARTISTAS OS ARTISTAS OS ARTISTAS OS ARTISTAS OS ARTISTAS OS ARTISTAS OS ARTISTAS OS ARTISTASMARI POPPOVIC

Louca por papéis e lápis coloridos, Mari encontrou nas identidades das outras

personagens uma maneira de dizer sem precisar ser vista. Pensou não ser observada, mas os desenhos não tiraram os olhos dela.

Page 43: Convivências #1

OS ARTISTAS OS ARTISTAS OS ARTISTAS OS ARTISTAS OS ARTISTAS OS ARTISTAS OS ARTISTAS OS ARTISTAS

Seis retratos, um de cada artista da Casa. Mari Poppovic,

ilustradora formada em moda, se interessa

por gente, por identidade e, por isso,

no período que ficou em ateliê, foi

silenciosa e observadora. “Fico bem na

minha, prefiro do que conversar. Me

interesso pelas pessoas e como ando

muito de ônibus e metrô fico sempre

atenta aos outros.”

Desenhista compulsiva desde

criança, logo se encantou

por todos os materiais que

a Casa oferecia, lápis, papel

colorido, em cada gaveta

que abria encontrava uma

nova possibilidade. A ideia

de trabalhar a questão de

identidade surgiu logo, e para

isso pediu a cada artista uma foto

3x4. Começou a desenhar com o

que cada um tinha na cabeça, a

partir dos suportes e dos materias

que cada um trabalha. “Queria dar

continuidade ao meu trabalho de

conclusão de curso da faculdade,

onde explorei superfícies, do

Page 44: Convivências #1

OS ARTISTAS OS ARTISTAS OS ARTISTAS OS ARTISTAS OS ARTISTAS OS ARTISTAS OS ARTISTAS OS ARTISTASMARI POPPOVIC

Page 45: Convivências #1

OS ARTISTAS OS ARTISTAS OS ARTISTAS OS ARTISTAS OS ARTISTAS OS ARTISTAS

tecido e da pessoa e por isso queria fazer retratos superficiais investigando o que

é a identidade da pessoa.”

A oportunidade de entrar no Ateliê Aberto foi importante como um primeiro

passo para desenvolver o seu trabalho como artista, e poder criar um canal

de diálogo entre moda e arte, mundos que muitas vezes se aproximam. “É

engraçado estar nesse universo das artes porque para mim era meio mito.

Adorei o projeto, de ter essa oportunidade de entrar, já ter uma

projeção, conversar com artistas, galeristas. E a Casa é

bem legal, ter todos os materiais, mexer em tudo,

poder interagir com os outros e no fim

ter essa exposição é perfeito.”

“Me interesso muito pelas pessoas, !co sempre atenta aos outros.”

Page 46: Convivências #1

o mundo lá fora CAPÍTULO V: 1. são fotos pela casa, com humor e graciosidade 2. são maçãs que ficarão pelo caminho 3. Lydia Schouten 4. Caspar David Freidrich: um pint

or romântico que pintava as fotos que ele foi fazer, à seu modo, mais de 100 anos de- pois 5. John Lennon & Yoko Ono 6. Yves Klein 7. Robert Frank CAPÍTULO VI 1. são fot

os que são olhadas miríades de vezes e são re-inventadas de acordo com um olhar que desvenda solidões 2. uma fotografia não tem nada a ver com mundo cá fora 3. cientifica

mente falando, há uma grande probabilidade de que o mundo exista de fato 4. dilúvio das imagens técnicas: centenas de fotos pela casa! 5.casa tomada por rolinhos de filme e

m homenagem a McLaren: converse! 6. no meio do caminho tinha um incêndio: pe- gou fogo na obra de HO e falou-se muito pouco disso (no Brasil) nessas últimas semanas 7.

falamos (duas vezes) com Hércules Martins e as meninas em Amsterdam e a casa ultra- passou seus limites físicos se é que há algum CAPÍTULO VII 1. apesar de que a gente n

ão consegue estar lá todo o tempo, a gente pode perceber as conversas se cruzando e uma certa energia se criando, se acumulando e se distendendo a partir dos espaço de ateliê

e de conversa 2. mais uma vez a gente tinha vontade de ter feito um diário e se faz mui- tas perguntas sobre muitas coisas 3. a gente se encanta com um texto muito elegante que

parece vir de um mar de mistérios onde também há desenhos & máquinas & delicade- za 4 . isso vai se tornar uma bela máquina dadaísta cercada de mariposas 5. é algo para

ser achado só por quem procura 5. ela diz assim: para quem procurar o suficiente, há mui- ta beleza – muita mesmo 6. enquanto isso Oscar Wilde participa de um desfile de mo

da e sorri 7. o senso de humor não vai nos salvar, mas sem ele também resta pouco o que salvar (será que formigas contam piadas? talvez sobre abelhas ou pulgões...) CAPÍT

ULO VIII 1. T&T também precisam de um interlocutor! 2. eu sozinho não rimo 3. nós dois, juntos, rimos 4. ela foi muito rápida e sintética e deu a notar que não poderia ser u

m big brother 5. o que aprendemos com alguns trabalhos sobre o espaço é que o espaço físico não existe exatamente 6. quer dizer: um espaço se define pela maneira como ele é

habitado. por aquilo que ele abriga, e pelo modo como ele abriga 7. pelo que se perfor- ma com ele e por meio dele CAPÍTULO XIX 1. permeability show: uma casa fechada e

m si mesma e impermeável é como um sistema nervoso sem mundo: não tem sentido ne- nhum 2. sem sentido nenhum fica, naturalmente, muito nervoso 3. a janela é a porta de

ATELIê ABERTO ATELIê ABERTO ATELIê ABERTO ATELIê ABERTOSÉRGIO BASBAUM

Page 47: Convivências #1

o mundo lá fora CAPÍTULO V: 1. são fotos pela casa, com humor e graciosidade 2. são maçãs que ficarão pelo caminho 3. Lydia Schouten 4. Caspar David Freidrich: um pint

or romântico que pintava as fotos que ele foi fazer, à seu modo, mais de 100 anos de- pois 5. John Lennon & Yoko Ono 6. Yves Klein 7. Robert Frank CAPÍTULO VI 1. são fot

os que são olhadas miríades de vezes e são re-inventadas de acordo com um olhar que desvenda solidões 2. uma fotografia não tem nada a ver com mundo cá fora 3. cientifica

mente falando, há uma grande probabilidade de que o mundo exista de fato 4. dilúvio das imagens técnicas: centenas de fotos pela casa! 5.casa tomada por rolinhos de filme e

m homenagem a McLaren: converse! 6. no meio do caminho tinha um incêndio: pe- gou fogo na obra de HO e falou-se muito pouco disso (no Brasil) nessas últimas semanas 7.

falamos (duas vezes) com Hércules Martins e as meninas em Amsterdam e a casa ultra- passou seus limites físicos se é que há algum CAPÍTULO VII 1. apesar de que a gente n

ão consegue estar lá todo o tempo, a gente pode perceber as conversas se cruzando e uma certa energia se criando, se acumulando e se distendendo a partir dos espaço de ateliê

e de conversa 2. mais uma vez a gente tinha vontade de ter feito um diário e se faz mui- tas perguntas sobre muitas coisas 3. a gente se encanta com um texto muito elegante que

parece vir de um mar de mistérios onde também há desenhos & máquinas & delicade- za 4 . isso vai se tornar uma bela máquina dadaísta cercada de mariposas 5. é algo para

ser achado só por quem procura 5. ela diz assim: para quem procurar o suficiente, há mui- ta beleza – muita mesmo 6. enquanto isso Oscar Wilde participa de um desfile de mo

da e sorri 7. o senso de humor não vai nos salvar, mas sem ele também resta pouco o que salvar (será que formigas contam piadas? talvez sobre abelhas ou pulgões...) CAPÍT

ULO VIII 1. T&T também precisam de um interlocutor! 2. eu sozinho não rimo 3. nós dois, juntos, rimos 4. ela foi muito rápida e sintética e deu a notar que não poderia ser u

m big brother 5. o que aprendemos com alguns trabalhos sobre o espaço é que o espaço físico não existe exatamente 6. quer dizer: um espaço se define pela maneira como ele é

habitado. por aquilo que ele abriga, e pelo modo como ele abriga 7. pelo que se perfor- ma com ele e por meio dele CAPÍTULO XIX 1. permeability show: uma casa fechada e

m si mesma e impermeável é como um sistema nervoso sem mundo: não tem sentido ne- nhum 2. sem sentido nenhum fica, naturalmente, muito nervoso 3. a janela é a porta de

ATELIê ABERTO ATELIê ABERTO ATELIê ABERTO ATELIê

Page 48: Convivências #1

ENCONTROS ENCONTROS ENCONTROS ENCONTROS ENCONTROS ENCONTROS ENCONTROS ENCONTROS ENCONTROS ENCONTROS

Ao longo do Ateliê Aberto nossos artistas

receberam visitas de pessoas relacionadas

às artes para um jantar na própria Casa.

Estes jantares foram organizados por

Camila Cardillo, chef de cozinha, e Luana

Azeredo, pesquisadora de tendências.

A dupla realizou jantares sinestésicos

pensados especialmente para cada visita,

elaborando assim um estímulo informal

para os encontros.

O conceito de cada jantar foi permeado pelos assuntos, temas e ideias levantados

pela obra ou pelo trabalho de cada um dos visitantes, além de interações e

conexões que levaram os artistas, através das descobertas gustativas e visuais

provocadas pela experiência gastronômica, a produzirem insights e a gerarem

novas discussões entre eles e destes com seus pares e obras.

Luana e Camila preparando um dos jantares da

primeira edição do Ateliê Aberto

Page 49: Convivências #1

ENCONTROS ENCONTROS ENCONTROS ENCONTROS ENCONTROS ENCONTROS ENCONTROS ENCONTROS ENCONTROS

1 SILVIA MECOZZI, ARTISTA PLÁSTICA

Seu trabalho profundamente inspirador

nos levou ao desenvolvimento de um

jantar ultra conectado, ligando um prato

ao outro e os mesmos aos insights visuais

trazidos pela artista. Círculos, fios, palavras,

histórias que levam às outras e sabores

que traduzem emoções. Um macarrão de

fios de abobrinha, um bolo de queijo ao

forno com palavras surpresa, uma sopa de

couve-flor com sabores diversos de

acordo com as frases resgatadas no

bolo: ácido, amargo, doce, picante,

umami e salgado. Para completar,

fios de algodão doce e outras

sobremesas para fazer a festa

e encher o olho.

Camila e Luana contam como foram os

jantares nesta primeira edição do Ateliê

Aberto, focados em três visitas.

Page 50: Convivências #1

ENCONTROS ENCONTROS ENCONTROS ENCONTROS ENCONTROS ENCONTROS ENCONTROS ENCONTROS ENCONTROS ENCONTROS2 MARINA BUENDIA E ANA LUIZA FONSECA, AMBAS DA GALERIA VERMELHO

Óbvio seria avermelhar todo o jantar, mas como a dupla em si nos trazia

inspiração de sobra, fizemos um jantar em duplas, com dobradinhas clássicas

de sanduíches e drinks. Cada um deveria encontrar seu par e compartilhar, cada

parte do jantar com

uma pessoa diferente

da mesa. Interações e

conexões em dupla,

para pensar em triplo e

desfrutar com todos.

Page 51: Convivências #1

ENCONTROS ENCONTROS ENCONTROS ENCONTROS ENCONTROS ENCONTROS ENCONTROS ENCONTROS ENCONTROS

3 FERNANDO OLIVA, CURADOR E PROFESSOR

O último encontro tinha a função de organizar as ideias e fazer

um fechamendo do processo. Tendo então o pensamento

curatorial como ponto de partida, desenvolvemos um jantar

no qual cada participante foi colocado como curador do

seu próprio prato, escolhendo opções dentre as variedades

oferecidas e de acordo com um conceito específico por ele

definido: amarrando os elementos através de sua cor, textura,

gosto, lembranças... O exercício gatronômico-curatorial

proporcionou discussões sobre processos de seleção,

conceitos expositivos,

relacionando o Zona

de Risco do CCSP e a Casa

Tomada e, principalmente

no que diz respeito às

alegrias e dificuldades de

um projeto com pessoas

de diferentes áreas.

Page 52: Convivências #1

entrada para o mundo da representação 4. ela & sua janela: da rede ao balanço 5. do tem- po da ampulheta ao tempo mais essencial das folhas que caem 6. performar na janela é

a história da cultura moderna (!) 7. e se fizéssemos uma anti-lanterna que cria zonas de sombra? CAPÍTULO X 1. há jantares que alimentam a alma: a gente participou de dois

em três 2. no primeiro reencontramos alguns momentos felizes na Vermelho: a sala de jo- gos 3. rizoma + riso = risoma (como não pensei nisso antes?) 4. é justo homenagear a

Camila (e a Luana) que planejou e executou esses jantares em que a comida não é fim mas começo (de encontros): dejeneur sur l’herbe (mas a relva é assunto e não lugar). 5. a

gente espera ter estado à altura 6. no outro jantar veio o Fernando Oliva e falou-se de crí- tica e curadoria e foi bom 7. ficamos todos muito contentes e as coisas estavam toman

do rum(o) CAPÍTULO XI 1. fantasmas também são a história da arte moderna 2. no sim- bolismo, nas fastasmagorias que antecedem o cinema 3. no conflito entre o que a supe

rfície mostra e o que ela reprime 3. e também a história dos artistas cuja obra permane- ce como fantasmas vigiando a inteligência vigente: o fantasma de Marcel Duchamp 4. m

as sempre isso: o peso da história? 5. essa história é liberadora, só cobra rigor, sensibili- dade, inteligência e humor. 6. o resto vale 7. justamente é o que ele fez valer: os restos

CAPÍTULO XII 1. além do rigor, da sensibilidade, da inteligência e do humor, tem a me- mória 2. mas a memória a gente re-inventa todo o tempo, contanto que não seja para n

ão ver 3. o resto é um tipo de memória 4. e eles lembram Matisse! 5. e contam a histó- ria da casa pela porta da saída, e re-inventam essas coisas 6. tudo pode ser exatamente o

seu contrário 7. talvez o filme seja o processo e as coisas a presença, porque não? CA- PÍTULO XIII 1. um arquiteto faz todo mundo se sentir organizado! 2. eu vi os sete trabal

hos 3. uma galeria de retratos, como nos castelos! 4. a gente aprendeu que orientar sete artistas exigiria uma arrogância que a gente não quer ter 5. foi ótimo, a gente se desorie

ntou bastante, hahaha! 6. a gente gostou muito de tudo, admirou todos, e espera ter esta- do à altura 7 ficamos muito contentes (in doubt we trust) SãoPaulo novembro 2009

ATELIê ABERTO ATELIê ABERTO ATELIê ABERTO ATELIê ABERTOSÉRGIO BASBAUM

Page 53: Convivências #1

entrada para o mundo da representação 4. ela & sua janela: da rede ao balanço 5. do tem- po da ampulheta ao tempo mais essencial das folhas que caem 6. performar na janela é

a história da cultura moderna (!) 7. e se fizéssemos uma anti-lanterna que cria zonas de sombra? CAPÍTULO X 1. há jantares que alimentam a alma: a gente participou de dois

em três 2. no primeiro reencontramos alguns momentos felizes na Vermelho: a sala de jo- gos 3. rizoma + riso = risoma (como não pensei nisso antes?) 4. é justo homenagear a

Camila (e a Luana) que planejou e executou esses jantares em que a comida não é fim mas começo (de encontros): dejeneur sur l’herbe (mas a relva é assunto e não lugar). 5. a

gente espera ter estado à altura 6. no outro jantar veio o Fernando Oliva e falou-se de crí- tica e curadoria e foi bom 7. ficamos todos muito contentes e as coisas estavam toman

do rum(o) CAPÍTULO XI 1. fantasmas também são a história da arte moderna 2. no sim- bolismo, nas fastasmagorias que antecedem o cinema 3. no conflito entre o que a supe

rfície mostra e o que ela reprime 3. e também a história dos artistas cuja obra permane- ce como fantasmas vigiando a inteligência vigente: o fantasma de Marcel Duchamp 4. m

as sempre isso: o peso da história? 5. essa história é liberadora, só cobra rigor, sensibili- dade, inteligência e humor. 6. o resto vale 7. justamente é o que ele fez valer: os restos

CAPÍTULO XII 1. além do rigor, da sensibilidade, da inteligência e do humor, tem a me- mória 2. mas a memória a gente re-inventa todo o tempo, contanto que não seja para n

ão ver 3. o resto é um tipo de memória 4. e eles lembram Matisse! 5. e contam a histó- ria da casa pela porta da saída, e re-inventam essas coisas 6. tudo pode ser exatamente o

seu contrário 7. talvez o filme seja o processo e as coisas a presença, porque não? CA- PÍTULO XIII 1. um arquiteto faz todo mundo se sentir organizado! 2. eu vi os sete trabal

hos 3. uma galeria de retratos, como nos castelos! 4. a gente aprendeu que orientar sete artistas exigiria uma arrogância que a gente não quer ter 5. foi ótimo, a gente se desorie

ntou bastante, hahaha! 6. a gente gostou muito de tudo, admirou todos, e espera ter esta- do à altura 7 ficamos muito contentes (in doubt we trust) SãoPaulo novembro 2009

ATELIê ABERTO ATELIê ABERTO ATELIê ABERTO ATELIê

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ADELITA AHMAD

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BRUNO BAPTISTELLI

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DECO FAR

KAS

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gUi MOHALLEMabandono, renúncia e resignação.

o coração15 enterrado num deserto de água.

a promessa é também uma ameaça11, perspectiva sem ponto de fuga.

uma comunhão qualquer com uma pessoa qualquer, socorro5 para

o náufrago.

não há. eu sei. nunca será preenchido.

e espero10.

em algum lugar 7 talvez algum dia quem sabe num lugar bem

distante.

projeto.

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HENRIQUE CÉSAR

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MAÍRA MESQUITA

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MARI POPPOVIC

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A Casa Tomada é um espaço reservado

para práticas, investigações e re!exões

de caráter artístico. O projeto surgiu da

vontade de construir um espaço que

fosse um ponto de convergência entre

as diversas áreas de atuação das artes.

Focada em todo o processo de

produção e não somente no produto

"nal artístico, a Casa Tomada tem

como proposta incentivar a discussão

e o desenvolvimento de trabalhos com

caráter conceitual, motivados pelo

ambiente da casa e seu entorno.

www.casatomada.com.br