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ANO XXXV - Nº 241

Corrente Contínua 241

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A Revista da Eletrobras Eletronorte

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Ano XXXV - nº 241

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Ano XXXV - nº 241SCn - Quadra 6 - Conjunto A

Bloco B - Sala 305 CEP: 70.716-901

Asa norte - Brasília - DF.Fones: (61) 3429 6146 / 6164

e-mail: [email protected]: www.eletronorte.gov.br

Prêmios 1998/2001/2003

Diretoria Executiva - Diretor-Presidente - Josias Matos de Araujo - Diretor de Planejamento e En-genharia - Adhemar Palocci - Diretor de operação - Wady Charone - Diretor Econômico-Financeiro - Antonio Barra - Diretor de Gestão Corporativa - Tito Cardoso - Coordenação de Comunicação Empre-sarial: Isabel Cristina Moraes Ferreira - Gerência de Imprensa: Michele Silveira - Equipe de Jornalismo: Alexandre Accioly (DRT 1342-DF) - Byron de Que-vedo (DRT 7566- DF) - César Fechine (DRT 9838-DF) - Érica neiva (DRT 2347-BA) - Michele Silveira (DRT 11298 - RS) - Assessorias de Comunicação das unidades regionais - Estagiários: Diogo Alves Ferreira e Antônia Erivanúzia Araújo Macedo - Foto-grafia: Alexandre Mourão, Roberto Francisco, Rony Ramos, Assessorias de Comunicação das unidades regionais - Arte da capa: Claudia Pereira - Arte final da capa: Raphael Costa/Quê Comunicação Revisão: Duo Comunicação - Diagramação: Jorge Ribeiro - Impressão: Brasília Artes Gráficas - Tira-gem: dez mil exemplares - Periodicidade: bimestral

Índice3

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ElETRobRAs ElETRonoRTE RECEbE o PRêmIo nACIonAl DA QuAlIDADE 2011

EnTREvIsTAJosé DA CosTA nETo

A REvolução DAs REDEs InTElIGEnTEs DE EnERGIA

CElEbRE A vIDA, vIvA A ARTE

lInhão DE GuRI: DEz Anos DE umA novA RoRAImA

CAvAnDo o PAssADo Do homEm bRAsIlEIRo

oFICInA PARA FAzER DIFEREnçA

RAbIsCos EnERGIzADos

CoRREIo ConTínuo

FoTolEGEnDA

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A capa desta edição traza arte de Claudia Maria

Pereira Carvalho, talento da Eletrobras Eletronorte

e umadas inspirações da matéria Rabiscos

Energizados, que você confere na página 62.

Na capa, a ilustração deClaudia simboliza

o orgulhoe o desafio permanentede ser a

primeira empresapública do setor elétrico a

levantar o troféu do Prêmio Nacional

da Qualidade.

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EditorialOlá,

Seu Severino Cavalcante mora na pequena Água Preta, interior de Pernambuco. Há cerca de quatro anos ele nos presenteia com suas cartas pedindo exemplares da Corrente Contínua que, segundo ele mesmo, tem orgulho de colecionar. Já o Seu George Ivanoff é morador da paulista e histórica Santos. De vez em quando, nos brinda com seus telefonemas querendo saber das próximas edições. São orgulhos que guardamos ao escrever cada nova reportagem para a Revista.

Nos últimos meses eles sentiram falta da Corrente Contínua. E não é para menos. Uma pausa para que, em nome deles, e de cada um dos nossos leitores, ela voltasse cheia de energia.

E aqui está. Novo layout, mais leveza, versão digital, mais imagens e diversidade. Garimpamos das vozes de vocês, leitores, aquilo que sugeriam a cada edição. Geração, transmissão, tecnologia, arte, cultura, meio ambiente...nossas editorias vão além de si próprias e trazem para as páginas da Corrente Contínua uma diversidade com a cara do Brasil.

Apesar da pausa, as matérias não deixam de trazer o que há de novo e apaixonante do cotidiano de quem faz o Setor Elétrico brasileiro. Em cada linha, a dedicação e o talento de uma equipe que tem orgulho de registar a história da energia.

É o que você verá nas matérias sobre os dez anos da Interligação Brasil-Venezuela ou em cada ação ambiental organizada ou motivada pelas equipes da Regional de Tocantins. Um mergulho na arqueologia nos dá a certeza de que a construção de um empreendimento de geração ou transmissão pode render milhões de anos de história. Uma diversidade que tem nome e sobrenome: Eletrobras Eletronorte. A primeira empresa pública do Setor Elétrico a ser reconhecida com o Prêmio Nacional da Qualidade, nossa matéria especial de capa.

Na entrevista desta edição, o presidente da Eletrobras, José da Costa Neto, fala sobre os investimentos, os desafios e diz porque a Eletronorte é um exemplo de eficiência no Setor Público.

Estas são só as primeiras páginas. Nas próximas edições teremos um novo Diário e a estreia das colunas Corrente da História, Ideias, além de outras novidades.

Acreditamos que renovar compromissos é uma conquista. E por isso a Corrente Contínua preserva sua tradição de jornalismo plural, informativo e provocador. Mas o traz de cara nova. Um layout inspirado nas novas tendências de leitura e identificado com o conceito de energia limpa e renovável.

Esperamos que goste. E que faça desta leitura uma fonte de energia para a construção de um Brasil e de um mundo sustentáveis de verdade.

Um fraterno abraço,

Redação da Revista Corrente Contínua

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Numa conquista inédita, a Eletrobras Eletronorte é a primeira estatal do Setor Elétrico a receber o reconhecimento máximo no PNQ, por meio da Superintendência de Geração Hidráulica

Érica Neiva

A caminho da excelência

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Sala São Paulo, na capital paulista, 5 de dezem-bro de 2011. Por volta das 21h30, sobem ao palco o diretor de Operação da Eletrobras Eletronorte, Wady Charone, e o superintendente de Geração Hidráulica, Antonio Bechara Pardauil. Na pla-teia, o som de apitos, cornetas, e o colorido da serpetina e dos balões denuncia uma força de trabalho apaixonada e orgulhosa. E não é para menos: nessa noite, a Eletrobras Eletronorte tornou-se a primeira estatal do Setor Elétrico a receber o reconhecimento máximo do Prêmio Nacional da Qualidade 2011, na sua 20ª edição, por meio da Superintendência de Geração Hi-dráulica, que abrange as usinas de Tucuruí (PA), Curuá-Una (PA) e Samuel (RO).

Numa cerimônia com mais de mil convidados, representando 15 organizações entre empre-sas públicas e privadas, a Eletrobras Eletronorte mostrou que a paixão pelo que se faz é essencial numa conquista como essa. “Amamos o que fa-zemos. Amamos a Eletrobras Eletronorte. A Usi-na Hidrelétrica Tucuruí implementa cerca de 60 melhorias por ano. Somos detentores de 42

patentes e o caráter sistêmico de nossas ações possibilita a integração e otimização dos pro-cessos”, disse o diretor de Operação, Wady Cha-rone, que destacou a importância do trabalho em equipe e das lideranças.

A premiação é o maior reconhecimento à exce-lência da gestão das empresas brasileiras. Nes-ta edição do Prêmio, a Eletrobras Eletronorte e outras três empresas - Rio Grande Energia (RS), CPFL Paulista (SP) e Companhia Energética do Ceará (CE) - atenderam de forma harmônica e balanceada a todos os fundamentos da exce-lência avaliados por oito critérios: Liderança, Es-tratégias e Planos, Pessoas, Processos, Clientes, Sociedade, Resultados, Informações e Conheci-mento. Todas apresentaram resultados excep-cionais no desempenho de suas gestões.

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no nosso caso específico, por sermos uma empre-sa pública, o significado é ainda maior, pois mos-tra o comprometimento da Empresa em atender a todos os critérios por meio de uma gestão pro-fissional e uma evolução constante”.

O engajamento e a mobilização das equipes da Eletrobras Eletronorte são percebidos no depoi-mento do técnico em manutenção mecânica da Usina Hidrelétrica Tucuruí, Antônio Jorge, que esteve presente na cerimônia, em São Paulo. “É uma honra participar da cerimônia e represen-tar os colegas da minha área. O grande desafio é manter a excelência nos processos, garantindo segurança e qualidade”.

histórico - Desde 1998, quando passou a adotaro Modelo de Excelência da Gestão - MEG disse-

naram no reconhecimento máximo, em dezem-bro de 2011. “Desde 1998, a Eletrobras Eletronorte vem estabelecendo os critérios da FNQ. Esse é um processo longo onde é fundamental formar uma crença não apenas em relação aos líderes e diri-gentes, mas em toda a força de trabalho. A forma-ção de equipes sistêmicas que podem atuar em várias unidades geradoras bem como em novos empreendimentos é um diferencial que agrega os nossos talentos. Ado-tar um trabalho sistêmico é sinô-nimo de uma maior qualificação com o objetivo de diminuir custos, gerar um produto mais compe-titivo e sustentável”, explica Wady Charone.

Para Antonio Bechara Pardauil, a conquista do Prêmio nos 20 anos da FNQ completa um ciclo.

O objetivo da Eletrobras Eletronorte é, a cada dia, consolidar-se como referência no setor público de energia elétrica. Para o superintendente de Gera-ção Hidráulica, Antônio Augusto Pardauil, receber a premiação máxima da Fundação Nacional da Qualidade nos 20 anos da entidade tem um sig-nificado especial. “Neste ano tivemos pontuações maiores, que demonstram o grau de amadureci-mento no processo de gestão das empresas. Mas

minado pela Fundação Nacional da Qualidade - FNQ, a Eletrobras Eletronorte aumentou sua produção em 85% e conquistou um crescimen-to de 31% na satisfação dos clientes. Neste mes-mo período, sua receita bruta passou de R$ 508 milhões para R$ 3,4 bilhões.

A conquista do PNQ pela Eletrobras Eletronorte foi resultado de uma luta constante pela melho-ria na qualidade dos processos. Em 2009, recebeu o reconhecimento como destaque nos critérios Pessoas e Liderança e, em 2010, o destaque em Pessoas e Sociedade. Todo o esforço e dedicação das lideranças e colaboradores da Empresa culmi-

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se tiver como elemento motivador a integração”,avalia o diretor-presidente da Eletrobras Eletro-norte, Josias Matos de Araujo, no momento em que a Diretoria levou o troféu para um encontro com todos os empregados (foto acima, à esquer-da). Segundo ele, o reconhecimento à Empresa, por meio de Tucuruí, mostra que as empresas

Eletrobras estão atentas ao mercado competitivo e no caminho da exce-lência da gestão, para garantir uma sólida relação patrimônio/resultado.

os números recordes do PnQ 2011

A edição 2011 do PNQ teve 15 organizações reconhe-cidas, o maior número des-de sua primeira edição, em

Para o superintendente-geral da Fundação Nacional da Qualidade, Jairo Martins, as em-presas se destacaram entre as 41 candidatas pelo elevado nível de qualidade da gestão. “As organizações têm, claramente, evoluído em suas práticas de gestão, tanto que a média da pontuação das reconhecidas foi a mais alta já obtida. Essa melhoria constante é resultado da implantação de um programa permanente de busca pela excelência dentro da companhia e em parceria com suas entidades setoriais”.

Outro recorde no PNQ 2011 é o número de orga-nizações visitadas pelos examinadores. Do to-

“Participamos da FNQ desde o seu nascimento. Agora o nosso desafio é consolidar o processo de excelência em toda a Eletrobras Eletronorte e le-vá-lo às demais Empresas Eletrobras. Para nós, os critérios Liderança e Pessoas são fundamentais, uma vez que as lideranças definem o rumo dos processos e as pessoas são ferramentas funda-mentais para se obter as melhores práticas. Hoje somos uma Empresa forte com um produto me-lhor e um preço mais competitivo”.

“O reconhecimento do PNQ é fruto de uma ges-tão integrada de todas as unidades da empresa. isso é fundamental para uma conquista como essa, pois a excelência não é isolada. ela só existe

1992. São quatro empresas premiadas em 2011: Rio Grande Energisa (RS), CPFL Paulista (SP), Com-panhia Energética do Ceará (CE) e a Eletrobras Eletronorte, por meio de sua Superintendência de Geração Hidráulica, reconhecidas por sua ges-tão excelente, aliada a um processo contínuo de melhoria e adaptação às demandas do mercado. Nesta edição do PNQ foram 41 candidatas. Des-sas, 34 organizações eram de grande porte; duas médias; uma pequena; e quatro sem fins lucrati-vos. Ao todo, foram seis do setor industrial e 35 de serviços.

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tal de participantes, 25 passaram para a etapa de visitação e foram avaliadas por 430 exami-nadores que atuam de forma voluntária, tota-lizando 47.500 horas de trabalho durante sete meses. Na 20ª edição do prêmio, a FNQ capaci-tou cerca de mil voluntários para atuar na Ban-ca Examinadora.

O consultor especialista em Gestão Empresa-rial e voluntário do Comitê Técnico Critérios de Excelência da FNQ, Ricardo Motta, explica que existem pessoas que atuam como voluntárias em várias frentes - examinador relator, sênior, orientador e nos comitês temáticos. “Nos últi-mos seis anos tenho atuado como orientador no processo de premiação. Atuo no Comitê Cri-térios, onde temos reuniões mensais presen-ciais ou virtuais. São aproximadamente 300 horas anuais de trabalho voluntário no comi-tê. Há também o trabalho voluntário na banca examinadora que pode chegar a 100 horas por ano”, relata Ricardo Motta.

Motta foi um das pessoas que ajudou a criar a Fundação a partir de 1989. “Estudamos a ideia da criação de um prêmio para o Brasil e a cria-ção de uma entidade que fosse gerenciá-lo. So-mos voluntários porque acreditamos na missão da Fundação de desenvolver e disseminar os cri-térios de excelência. Contribuimos com a nossa experiência, mas também aprendemos muito”. Segundo ele, o modelo de excelência brasileiro é um dos mais completos do mundo. “É impor-tante destacar o papel da Fundação em dissemi-nar o modelo para micro e pequenas empresas. Cada vez mais organizações têm contato com esse modelo independentemente de concorrer a prêmios, com o objetivo de melhorar sua gestão. É nítido que o Brasil é o país da vez, que o mundo está nos observando. Temos empresas que são reconhecidas mundialmente”.

Sobre o histórico do PNQ, Jairo Martins ex-plica que o Programa Brasileiro de Qualida-de e Produtividade foi o primeiro a ser criado pela Fundação, no período em que eclodiu o processo de globalização. “Seus modelos de gestão foram evoluindo de acordo com os cenários socioeconômicos. Algumas pessoas questionam o planejamento estratégico dian-te de um cenário de imprevisibilidade, mas o seu objetivo é reduzir os riscos. Adotando cri-térios de qualidade as empresas estarão me-lhor preparadas para enfrentar os diferentes cenários. Precisamos estar sempre em sinto-nia com o cenário socioeconômico para que o modelo evolua em consonância com as neces-sidades de cada época. Nestes 20 anos houve uma inauguração de um estilo brasileiro de gestão”, diz Jairo Martins.

Cada ano o PNQ tem uma particularidade. Se-gundo o superintendente-geral da FNQ, em 2011, foram muito considerados os aspectos socioambientais, éticos, e da cultura da ino-vação. “A nossa grande missão é disseminar os critérios de excelência. Para isso atuamos em universidades, associações setoriais, pro-gramas estudais. Por meio da disseminação de casos de boas práticas se consegue difundi--las. Inicialmente, o Prêmio era muito voltado para empresas de grande porte. Hoje micro, pequenas e médias empresas usam os crité-rios que colaboram na sua sustentabilidade, competitividade e longevitude”, afirma o su-perintendente.

no Senado, a emoção da trajetória

O anúncio da Eletrobras Eletro-norte com o reconhecimento máximo da Fundação Nacio-nal da Qualidade foi desta-que na bancada da Comissão de Infraestrutura do Senado. Na ocasião o senador Delcídio

Amaral (PT) fez um pro-nunciamento reconhe-

cendo a importância de ser a única empre-sa pública do Setor Elétrico a receber o prêmio máximo de

“Algumas pessoas questionam o planejamento estratégico diante de um cenário de imprevisibilidade, mas o seu objetivo é reduzir os riscos”

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lidade da manutenção, qualidade da operação, saúde e segurança do trabalho. Hoje Tucuruí é uma referência no mundo. E nós começamos lá quietinhos, no início das fundações, das gale-rias de drenagem. Depois fomos fazendo a casa de força, o vertedouro, o desvio do rio e sua pos-terior duplicação”.

Sobre o pioneirismo da Usina Tucuruí em ino-vações tecnológicas e os primeiros passos na busca da qualidade, o Senador lembrou que ela foi a primeira usina a empregar fibra ótica na comunicação com subestação e a primeira comandada à distância. “Tucuruí foi pioneira em sistema digital no Brasil, quando ninguém acreditava que podíamos fazer uma usina di-gitalizada. Hoje recebe o Prêmio Nacional da Qualidade e isso começou com aquele time que foi para lá, com as pessoas que acreditaram no Brasil, que têm um potencial extraordinário de crescimento. Acreditaram num projeto que

alavancou o desenvolvimento daquela região. Portanto, eu não poderia deixar

de registrar e de parabenizar todas aquelas pessoas que fizeram Tucu-

ruí e parabenizar especialmente a Eletrobras Eletronorte por realizar um trabalho integrado à sua re-gião, por participar e promover o desenvolvimento da Amazônia”.

gestão da qualidade, disputando com grandes empresas privadas nacionais e estrangeiras.

O Senador também recordou o período em que trabalhou na Eletrobras Eletronorte como chefe de usina, de regional e depois como diretor da Empresa. Do tempo em que esteve em Tucuruí lembrou: “Comecei lá com uns 30 gatos pinga-dos, que recrutei em Belém. Fomos treinando os operadores, os engenheiros e técnicos de manutenção até consolidá-los através de um núcleo, naquela época chamado Núcleo Opera-cional de Tucuruí, que depois se transformou na Regional de Geração de Tucuruí. Naquele período começamos a instalar um programa de controle da manutenção e da ope-ração - Procom que visava colo-car Tucuruí dentro das normas de qualidade total que incluía manutenção preventiva, qua-

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“Este é o primeiro ciclo do qual participamos em Samuel. A nosso equipe está imensamente feliz. Participar do PNQ é um aprendizado mui-to grande. Ingressamos há um ano e a equipe de Tucuruí nos passou muita experiência. É um grande privilégio estarmos representando a Usina Samuel. É algo indescritível. Todos vi-bram. Foi uma descoberta nova conhecermos o PNQ. Fizemos treinamentos internos e disse-minamos para todos – mecânicos, eletricistas. Por meio desse processo passamos a conhecer a Empresa de uma forma mais profunda e desco-brimos onde podemos mehorar.”

Camila Corassa, Comitê de Gestão Estratégica, engenheira Química da Usina Samuel

“Estou na Empresa há 27 anos e desde 2001 fui en-volvida no PNQ, sempre nos critérios Capacitação e Desenvolvimento. É muito gratificante, pois é o resultado de um traba-lho, de um processo que estamos desenvolvendo há muito tempo. É o resul-tado de um trabalho bem feito. Contamos com a colaboração da equipe do Centro de Treinamento. Ao longo de dez anos

tivemos muitas melhorias e implementação de práticas nos processos. A elaboração da nos-sa matriz de habilidades e competências está num nível de estado da arte, e de acordo com ela identificamos os gaps dos colaboradores. Neste ano temos um grande desafio de integra-ção das plantas das usinas Tucuruí, Curuá-Una e Samuel, onde vamos identificar as habilidades e competências de todos os colaboradores. Sou uma entusiasta do meu processo. Cada dia que passa é um desafio a mais.”

Huldaci Carvalho Moreira da Silva, Centro de Treinamento, pedagoga

“Comecei na Empresa em 2007 e sempre trabalhei com o PNQ. Para mim foi uma satisfação muito grande sermos Destaque em 2009 e sermos pre-miados em 2011. É o re-conhecimento do nosso trabalho. Os critérios de excelência estão incor-porados na nossa rotina. Respiramos PNQ e TPM. Hoje os fundamentos do PNQ estão integrados aos do TPM. É um mo-delo de gestão integrada. Estou com um bebê de oito meses, mas fiz questão de vir.”

Andreza Sassi, Comitê de Gestão Estratégica, engenheira Química

“Hoje vivenciamos um momento inédito. Estou na Empresa há dez anos e venho acompanhando as tentativas. A cada ano fomos crescendo na pon-tuação e hoje fechamos com “chave de ouro”. É a concretização de um so-nho antigo. Obedecemos vários critérios do PNQ na realização das nossas atividades. Observam na avaliação se as atividades estão integradas, se há refinamento, continuidade e resultados. Trabalho diretamente com o programa de er-gonomia que começou em 2001 e ao longo dos anos, de acordo com as análises críticas, fomos

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“Cada dia que passa é um desafio a mais”

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implementando melhorias que aconteceram em todos os postos de trabalho. Temos progra-ma de ginástica laboral, academia focada na prevenção de lesões, entre outros. Neste pro-cesso é fundamental a liderança e a união da equipe. Cada um faz a sua parte visando cons-truir um todo. O nosso maior desafio em 2012 é conquistarmos o “World Class” do TPM. Daqui a dois anos voltamos a participar do PNQ.”

Rejane Martins, área de Qualidade de Vida, fisioterapeuta

“Estou em Tucuruí des-de 1984. Esta é a primei-ra vez que estou vindo a uma cerimônia de pre-miação. Sinto-me honra-do de estar participando do evento e representar os colegas que ficaram. A nossa área dá suporte à manutenção e operação. Vejo em todas as áreas um grande avanço. Temos que aprender técni-cas integradas que compreendem desde análi-se, comunicação com clientes e a relação com a comunidade. Isto trouxe segurança e qualidade ao nosso processo. O Prêmio não pára. Temos sempre que nos atualizar para mantermos esta qualidade e, consequentemente, o Prêmio. É um reconhecimento do que fazemos.”

Antônio Jorge Nascimento Souza, técnico em Manutenção Mecânica

“Estou com 25 anos de Empresa e desde 1998 concorremos ao PNQ, conhecido inicalmente como PQGF. Percebo o reconhecimento como um produto de vontade das pessoas, das lide-ranças que acreditaram nisso. Existem muitos modelos e ferramentas, mas se não tivermos pessoas que acreditem e lideranças que patrocinem, não vamos a lugar nenhum. Os critérios foram sendo entendidos pouco a pouco. As ferramentas foram sendo

trazidas. Num determinado momento da jor-nada o TPM também foi integrado ao processo. Mesclamos as duas coisas num grande sistema de gestão e o resultado é este que presencia-mos hoje.Este é um dia fantástico. Às vezes acho que a ficha ainda não caiu. Este é o reconhecimento máximo para uma empresa no Brasil em ter-mos de qualidade da sua gestão. É difícil des-crever em palavras este sentimento: é orgulho, sensação de dever cumprido, “sangue, suor e lágrimas”. É a sensação de que chegamos onde queríamos. Entendo que para a Eletrobras Ele-tronorte é um prêmio muito importante. Hoje no setor público somos referência com toda certeza. Aquela usina no interior do Pará é refe-rência na gestão do bem público. Igual pode ter, mas melhor que nós é difícil. Nosso próximo desafio é mantermos o nosso nível de qualida-de. “Chegar no topo da montanha é difícil, mas se manter lá é mais difícil ainda”. Conseguimos alcançar um nível de excelência. Agora precisa-mos mantê-lo.”

Valter Roma, assessor do Comitê de Gestão Estratégica, engenheiro eletricista

“Para nós é uma satis-fação imensa participar deste momento que vem sendo buscado há vários ciclos. Tivemos a felicida-de neste ano de sermos uma empresa finalista e premiada. Para nós a avaliação do PNQ é fun-damental. Percebemos a cada ano uma melhoria gradativa dos processos baseada no relatório de gestão fornecido pela FNQ a cada avaliação. Hoje posso assegurar que muitas das ações que absorvemos e aplicamos foram oportuni-dades de melhorias indicados pela Fundação. Hoje há um maior feedback entre a gestão e os colaboradores. A alta gestão tornou-se mais próxima do “chão de fábrica”, das pessoas que fazem a Empresa no dia a dia. Isto pra nós foi um incentivo fundamental para chegar aonde chegamos”.

Wilson Ribeiro da Silva, analista de Recursos Humanos da Assessoria Administrativa

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A pentacampeã CPFLAo lado da Eletrobras Eletronorte, a CPFL Paulis-ta (SP) foi uma das quatro empresas que recebe-ram o PNQ 2011. A CPFL iniciou sua trajetória de sucesso na aplicação de um modelo voltado para excelência da gestão no âmbito do Prêmio Associação Brasileira de Distribuidores de Ener-gia Elétrica - Abradee. Na época era adotado o modelo de 500 pontos do Programa Gaúcho de Qualidade e Produtividade - PGQP, que tinha como base o Modelo de Excelência da Gestão preconizado pela Fundação Nacional da Quali-dade.

Desde 2000, as distribuidoras do Grupo CPFL Energia obtiveram vários reconhecimentos na categoria nacional e em perspectivas relacio-nadas à qualidade da gestão, responsabilidade social, gestão operacional, econômico-finan-ceira e avaliação pelo cliente. Em 2002, a CPFL Paulista começou a participar do PNQ e três anos depois foi reconhecida como Premiada, consagrando-se como a primeira empresa do Setor Elétrico a ganhar o PNQ. Esse resultado repetiu-se em 2008. Em 2009 foi a vez da CPFL Piratininga alcançar o mesmo reconhecimento e, em 2011, além da conquista, pela terceira vez, da CPFL Paulista, o Grupo também foi vencedor do PNQ com a RGE, distribuidora que passou a ser efetivamente operada pela CPFL Energia em 2007. Com as duas vitórias de 2011, a CPFL Energia tornou-se o grupo que mais venceu o Prêmio: cinco vezes.

O gerente de Qualidade e Processos do Grupo CPFL Energia, Mauro de Oliveira Sobrinho, que é Lead Auditor certificado pelo International Register of Certificated Auditors (IRCA) e Mem-bro do Comitê Técnico Critérios de Exce-lência da FNQ, afirma que a excelência e a competitividade estão presentes no DNA da CPFL Energia. “A Em-presa busca se diferenciar com uma prestação de serviço de alta qualidade aos seus clien-tes. A grande particularidade da adoção dos fundamentos e critérios de excelência da FNQ é permitir um enfoque abrangente e equilibrado em relação a todas as partes interessadas.

Os reconhecimentos obtidos e disseminados pelas empresas do Grupo sinalizam que nossas práticas de gestão são diferenciadas e voltadas não só para as pessoas, mas também para os acionistas, clientes, sociedade e fornecedores. Ou seja, acreditamos que os resultados dos pro-cessos de avaliação nos permitem um diagnós-tico abrangente da gestão”.

Com destaque para o negócio de distribuição, a CPFL Energia apresenta os melhores indica-dores técnico-operacionais do Setor Elétrico. O grau de excelência na gestão propiciou pre-miações da Aneel, FNQ, Abradee, Guia Exame, ISE, entre outros. Uma das iniciativas de inova-ção do Grupo, o Programa Tauron, nasceu com o objetivo de obter um avanço importante na operação de distribuição, em suas várias pla-taformas de negócios, com base em novas tec-nologias, gestão de desempenho e gestão de ativos e liderança. Um dos pilares desse projeto é o investimento em smart grid, ou redes inte-ligentes, que vai promover uma transformação no sistema elétrico, com ganhos na eficiência do processo e, consequentemente, na qualida-de do serviço.

Às vésperas de seu centenário, a CPFL Paulis-ta, que deu origem ao Grupo CPFL Energia,

conquistou o PNQ de forma consecu-tiva em três ciclos. Para Mauro

de Oliveira a conquista repre-senta além da constância de propósitos, um compromisso com sua agenda estratégica, pautada em inovação de pro-

cessos e crescimento organiza-cional. “A CPFL Paulista busca de forma permanente a excelên-

cia da gestão e influencia as demais empresas do

Grupo CPFL Energia e do Setor Elétrico nacio-nal no sentido de atin-gir resultados de for-ma sustentável. Além do envolvimento das pessoas e o papel das lideranças, outro des-

taque é a capacidade do Grupo em identi-ficar necessidades de mudanças antes mes-

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A história da Coelce com clientes cada vez mais exigentes

Distribuidora de energia no estado do Ceará, a Coelce começou sua trajetória no PNQ, em 2009. A partir daí, ficou bastante claro para a Empresa que era um instrumento estratégico importante e neste mesmo ano, a Companhia foi destaque no critério Cliente. Ainda em 2009, tirou o primeiro lugar no prêmio Abra-dee de satisfação de cliente de todo o Brasil, com 92,7% de satisfação e recebeu o prêmio de satisfação de cliente da América Latina. Em 2010 ficou como uma das finalistas do PNQ e, em 2011, juntamente com a Eletrobras Eletro-norte e CPFL recebeu o reconhecimento máxi-mo do Prêmio.

O presidente da Coelce, Abel Rochinha, avalia que há características que são críticas para se ter um bom resultado. “A primeira, que consi-dero fundamental, é uma relação cultural de respeito ao cliente que já existe na Companhia há anos. Temos 20 contatos com clientes por minuto. A cada três segundos se tem um con-tato com cliente de algum lugar do Ceará. Se não tivermos paixão pelo que fazemos é com-plicado, pois o número de operações é enorme. A segunda característica é o nosso pla-nejamento estratégico que tem quatro perspectivas – colaborador, cliente, acionista e sociedade. Tentamos um equilíbrio e uma harmonia constan-tes entre os quatro. Reflexo disso é que estamos há seis anos na Exame e quatro na Great Place como uma das melhores empresas para se trabalhar no Brasil. Neste ano, ficamos classifi-cados na Exame como melhor empresa para se trabalhar no Norte e Nordeste”.

A Coelce também é destaque em seus pro-jetos sociais. Em 2011 ganhou o primeiro lugar na Abradee como melhor do Bra-sil em responsabilidade social. O Ecoel-

ce, que é um projeto em que se paga conta de luz com lixo reciclável, foi escolhido pela ONU, como um dos 10 melhores projetos do planeta. “Hoje temos 360 mil famílias inscritas no Pro-grama, das quais 100 mil famílias usam regu-larmente. Há, inclusive, famílias que há dois anos pagam sua conta de luz com o lixo reciclá-vel”, explica Abel.

O Presidente afirma ainda que dirigir uma Companhia em que as pessoas têm paixão pelo que estão fazendo é algo extremamente gratifi-cante. “Para isso, por exemplo, paramos mensal-mente a Coelce durante duas horas com uso de videoconferência para diversos locais no Esta-do. São aproximadamente mil pessoas. Nesses momentos prestamos contas do mês anterior – resultados, índices, lucro, número de acidentes, pontos positivos e negativos. Os colaboradores também se manifestam com perguntas diver-sas. É algo que aproxima as pessoas e estreita sua relação com a Empresa. O envolvimento dos colaboradores e o comprometimento é alto. As pessoas se sentem parte do processo”.

A Coelce tem a certeza que o cliente é cada vez mais exigente. E que para fazer mais com me-

nos, é preciso usar a criatividade e profissionalismo. “Diante das de-

mandas da sociedade temos que ser mais participativos e trans-parentes. Quando você desafia as pessoas, elas saem da “zona de conforto”. Estamos traba-lhando agora em dois níveis.

Um é o MEG, em que trabalhamos dos ní-

veis gerenciais para cima, com o objeti-vo de aprimorar o modelo. Outro é a gestão da rotina, fazendo com que as operações diá-rias sejam cada vez mais previsíveis e mais questionadas pelos próprios cola-boradores, que são

mais de 8 mil diretos e indiretos/empresas

parceiras, além dos 1,3 mil do quadro.

mo de que elas aconteçam. A CPFL Paulista culti-va, desde sua origem, um diferencial de empre-endedorismo que foi conquistado e solidificado ao longo dos anos com base no compromisso e na competência de seus profissionais”, destaca o gerente.

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A primeira participação da Eletrobras Eletro-norte no PNQ deu-se por meio da Superinten-dência de Geração Hidráulica, então Regional de Produção e Comercialização de Tucuruí - CTC, em 2000. O foco naquela época era ainda o Prêmio Nacional da Gestão Pública - PQGF. Em 2002, a Eletrobras Eletronorte conquistou a Faixa Ouro e o Prêmio Qualidade do Governo Federal e, a partir de 2003, a então CTC submeteu seu siste-ma de gestão à avaliação da Fundação Nacional da Qualidade, por meio de sua participação no Prêmio Nacional da Qualidade. Nos anos 2003, 2004, 2006, 2007 e 2008, a Empresa foi “organi-zação visitada”. Em 2009, obteve reconhecimen-to como destaque nos Critérios 1-Liderança e 6-Pessoas. Em 2010 foi reconhecida nos Critérios 4-Sociedade e 6-Pessoas, esse pelo segundo ano consecutivo. Em 2011, após a participação em nove ciclos de avaliação, a Superintendência de Geração Hidráulica foi agraciada com o maior reconhecimento à gestão no Brasil, o Prêmio Na-cional da Qualidade, sendo a primeira empresa pública do Setor Elétrico brasileiro a conquistá--lo. Nesta entrevista, o superintendente de Gera-ção Hidráulica da Eletrobras Eletronorte, Anto-nio Bechara Pardauil, fala sobre o dia a dia do PNQ e dos desafios que vem pela frente.

De que maneira a Empresa vivencia os critérios do PnQ no seu dia a dia, com a sua força de trabalho?

A Superintendência de Geração Hidráulica, por meio da metodologia japonesa TPM, pratica os

11 fundamentos, respondendo aos Critérios e requisitos do Modelo de Excelência da

Gestão - MEG. Hoje, todas as atividades executadas na Superintendência são ligadas a um dos pilares do TPM, por meio do seu Plano Estratégico, que é desdobramento do Plano Corporativo e da Diretoria. Assim, cada colabora-

dor participa e vivencia os cri-térios de excelência, que estão baseados nos fundamentos do MEG. Esta é uma forma inédita tanto de praticar os fundamen-tos como os pilares do TPM, cuja aplicação transcende em muito a ideia original de gerir apenas a produção, e se trans-

formou no Sistema de Gestão da Superintendência, utilizando-se de

“Pode, sim, haver excelência no setor de serviços públicos no Brasil”

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várias ferramentas integradas de análise e so-lução de problemas.

O que significa para a Eletrobras Eletronorte ser a única empresa pública a receber a premiação máxima?

Significa que pode, sim, haver excelência no setor de serviços públicos no Brasil. Certamen-te há dificuldades adicionais se compararmos com a iniciativa privada, e a velocidade de im-plantação do sistema de gestão tende a ser me-nor. Neste ponto é que entra em cena um dos fundamentos da excelência: “Liderança e Cons-tância de Propósitos”. Se a organização possuir uma liderança persistente, determinada e de-cidida a fazer acontecer, é possível. Nosso caso prova isto.

Quais os principais resultados capazes de mostrar a evolução da usina hidrelétrica Tucuruí nos critérios exigidos pela Fundação nacional da Qualidade - FnQ?

Dentre tantos, podemos citar o aumento ex-pressivo do Índice de Desenvolvimento - ID nos últimos cinco anos; a redução significa-tiva dos custos com pessoas, materiais, servi-ços e outros; a diminuição, pela metade, dos desligamentos forçados da Usina Tucuruí nos últimos cinco anos; o alto nível de satisfação da força de trabalho, além do aumento contí-nuo da produção de energia e do faturamento, entre outros.

Quais os próximos desafios para manter os reconhecimentos?

O principal desafio deste período é a Certifica-ção da Superintendência de Geração Hidráulica – OGH no nível “World Class” da metodologia TPM, o mais elevado patamar da metodologia, seu estado da arte. E isso será feito de forma inovadora, apresentando um TPM enriquecido com diversos requisitos do MEG e considerando todas as plantas de geração hidráulica interli-gadas da Eletrobras Eletronorte (as usinas Tu-curuí, Samuel e Curuá-Una) e também a Supe-rintendência de Engenharia de Geração.

mesmo sendo uma empresa Classe mundial, a Eletrobras Eletronorte possui processos que precisam ser melhorados? Quais?

Segundo nosso Relatório de Avaliação do Ci-clo, há espaço para melhorias nos processos de gestão relativos a clientes, inclusive quan-to à integração de suas práticas, à sociedade e aos processos (todos com desempenho na casa dos 70%, um nível considerado muito bom). Com relação aos resultados, as oportunidades de melhoria concentram-se no desempenho econômico-financeiro e clientes. É importante ressaltar que, com as informações do próprio Relatório de Avaliação, cada área com opor-tunidades de melhoria pode planejar como resolvê-las e passar a um nível superior de de-sempenho. Aliás, este é o principal ganho da participação em ciclos de avaliação externos, como o PNQ.

na sua opinião, quais fatores propiciam o reconhecimento do PnQ por várias empresas da área de energia elétrica?

Há alguns anos a Associação Brasileira de Dis-tribuidores de Energia Elétrica - Abradee deci-diu recomendar o uso do MEG como base para a gestão de todas as suas empresas associa-das, como forma de reverter a avaliação ruim que vinha recebendo dos seus clientes, que são principalmente os consumidores residenciais e industriais de baixa tensão. Para motivá-las, criou inclusive um prêmio setorial de qualida-de. Assim, a cultura da excelência acabou se disseminando pelas empresas de distribuição, que hoje, dado o grau de maturidade de sua gestão, concorrem diretamente ao PNQ.

Qual é o diferencial dessa trajetória?

É importante destacar, nestas conquistas todas, a participação de toda a família Eletrobras Ele-tronorte, que nunca poupou esforços ou esmore-ceu nesta busca de mais de dez anos. Mesmo nos momentos mais críticos, quando alguns resul-tados teimavam em não ser o que desejávamos, houve sempre o sentimento de que aquilo era só um pequeno teste para nossa capacidade de su-peração. E os obstáculos sempre foram vencidos graças ao empenho e superação pessoal de cada um, buscando sempre um jeito novo de vencer os desafios. Sem essa equipe e sem essa disposi-ção de encarar os desafios, certamente não terí-amos chegado a este nível de reconhecimento, nada menos do que Classe Mundial.

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Tecnologia

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Entre as novidades que vêm por aí estão a substituição dos atuais medidores de energia, a possibilidade de o consumidor optar pela energia pré-paga e até de disponibilizar energia para a rede, se possuir alguma fonte de geração em casa

A revolução das redes inteligentes de energia

César Fechine

Uma verdadeira revolução está prestes a acon-tecer no setor elétrico brasileiro. E ela começa a partir dos estudos que estão sendo conduzidos para implantar as redes inteligentes de energia, denominadas smart grids. Entre as novidades que vêm por aí estão a substituição dos atuais medidores de energia, a possibilidade de o con-sumidor optar pela energia pré-paga e de dispo-nibilizar energia para a rede, se possuir alguma pequena fonte de geração em casa. Várias insti-tuições públicas e privadas investem recursos e trabalham nos projetos e estudos para moder-nizar as redes de energia elétrica no Brasil.

Uma das primeiras mudanças neste sentido ocorreu no último mês de novembro, quando a Agência Nacional de Energia Elétrica – Aneel, em reunião pública da Diretoria, aprovou a al-teração da estrutura tarifária aplicada ao setor de distribuição de energia. O novo regulamento prevê a aplicação de tarifas diferenciadas por horário de consumo, oferecendo tarifas mais baratas nos períodos em que o sistema é me-nos utilizado pelos consumidores. A nova siste-mática, que será aplicada a cada distribuidora a partir de sua revisão tarifária, entre 2012 e 2014, modifica padrões vigentes desde a déca-da de 1980 e considera as mudanças que ocor-reram na oferta e na demanda de energia nesse período.

Para os consumidores de baixa tensão, seja os residenciais, comerciais, industriais e de áreas

rurais, a principal mudança é a criação da mo-dalidade tarifária branca, que será uma alter-nativa à convencional, hoje em vigor, e ofere-cerá três diferentes patamares para a tarifa de energia, de acordo com os horários de consumo. De segunda a sexta-feira, uma tarifa mais bara-ta será empregada na maioria das horas do dia; outra mais cara, no horário em que o consumo de energia atinge o pico máximo, no início da noite; e a terceira, intermediária, entre esses dois horários. Nos finais de semana e feriados, a tarifa mais barata será empregada para todas as horas do dia.

A proposta da tarifa branca é estimular o consumo em horários em que a tarifa é mais barata, diminuindo o valor da fatura no fim do mês e a necessidade de expansão da rede para atendimento do horário de pico. A tarifa branca será opcional e, caso o consumidor não pretenda modificar seus hábitos de consumo, a tarifa convencional continuará disponível. A tarifa branca, entretanto, somente começará a valer quando as distribuidoras substituírem os medidores eletromecânicos de energia pelos eletrônicos, assunto que também está em es-tudo na Aneel.

Outra mudança, válida a partir de janeiro de 2014, é a criação das Bandeiras Tarifárias Verde, Amarela e Vermelha, que funcionarão como um semáforo de trânsito e se refletirão em diferença de tarifa para o consumidor. A Bandeira Verde significa custos baixos para gerar a energia. A Bandeira Amarela indicará

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um sinal de atenção, pois os custos de gera-ção estão aumentando. E a Bandeira Verme-lha indicará que a situação anterior está se agravando e a oferta de energia para atender a demanda dos consumidores ocorre com maiores custos de geração, como por exem-plo, o acionamento de grande quantidade de termelétricas para gerar energia, que é uma fonte mais cara do que as usinas hidrelétri-cas. O público alvo serão todos os consumido-res do Sistema Interligado Nacional – SIN, de alta e baixa tensão.

Eletrobras

Um projeto de Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) desenvolvido pela Eletrobras e que está iniciando a fase de testes no município de Pa-rintins, no Amazonas, marca a última fase dos estudos de um sistema automatizado para mo-dernizar a rede de distribuição de energia elétri-ca. Com custo de R$ 22 milhões, o projeto-piloto em Parintins tem por finalidade automatizar 100% do serviço do fornecimento de energia.

O trabalho inclui a modernização de todo o sistema, com a substituição dos medidores convencionais por medidores inteligentes. Os

Projeto-piloto de automatização dos medidores de energia elétrica está em teste na cidade de Parintins, no Amazonas

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novos equipamentos irão permitir aos clientes fazer o monitoramento do consumo por meio de um display, dispositivo digital que será entre-gue em cada unidade consumidora. O projeto conta com a parceria da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro – PUC-RJ e tem a sua conclusão prevista para dezembro de 2012.

De acordo com a assistente da diretoria de Distri-buição da Eletrobras, engenheira Elaine França Fonseca, que coordena o projeto no Amazonas, os testes que irão definir as novas tecnologias a serem adotadas com as respectivas funcionali-dades para o sistema smart grid serão todos em-basados no resultado do projeto. “A gente quer

realmente usar o que há no mercado, ver o que podemos utilizar, os impactos nos hábitos dos consumidores, como os processos internos das empresas serão afetados, a relação da empresa com os clientes e se os equipamentos eletrôni-cos vão funcionar corretamente. Haverá várias mudanças, principalmente com a medição inte-ligente e a automação de rede”, destaca.

Com o novo sistema, o consumidor poderá ter acesso ao seu consumo via internet, fazer o monitoramento, saber em que horário existe o maior uso e, a partir daí, fazer o uso racional da energia elétrica.

Foto: Alfredo Fernandes/Agecom

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Medidores e religadores

Uma novidade que acompanha os smart grids são os medidores inteligentes compostos por sensores que serão instalados nos transforma-dores e irão medir a temperatura dos equipa-mentos no intuito de evitar possíveis sobrecar-gas. A rede inteligente também contará com dispositivos chamados religadores, equipa-mentos totalmente automatizados, dotados de alta tecnologia que têm por finalidade localizar defeitos na rede de distribuição em curto espa-ço de tempo.

“Os equipamentos serão instalados na rede e irão permitir que a empresa isole apenas o trecho onde está ocorrendo o defeito e mante-nha o fornecimento de energia para os demais clientes que não foram diretamente afetados pelo problema. Isso significa dizer que a rede estará automatizada”, explica Elaine.

Os medidores inteligentes, ao chegarem ao con-sumidor final, vão fornecer os insumos não só para faturamento, mas para a troca de dados, pois serão instrumentos bidirecionais, estabele-cendo um canal de comunicação real da distri-buidora com o cliente e permitindo a chamada geração distribuída. Isso significa que se o clien-te instalar um painel solar ou um dispositivo eólico poderá passar parte da energia produzida para a rede. Em Parintins, esse tipo de teste con-templa a instalação de painéis solares em cerca de 150 casas, que serão conectadas à rede.

Haverá mudanças também nos modelos de ne-gócios, pois a leitura será feita de forma remota, e o projeto de Parintins tem o objetivo também

de preparar o plano de expan-são para as empresas do Sis-

tema Eletrobras. “Parintins não é só um piloto de tes-te de tecnologia, mas de processo para determinar o modelo de negócio. Atu-

almente, nós estamos instalando os religa-

dores, que permiti-rão a comunicação remota, por meio de fibra óptica e também de rádio”, afirma Elaine.

Para a aquisição dos medidores do projeto em Parintins, a cidade foi dividida em quatro lo-tes. A licitação do primeiro lote acaba de ser concluída. “A documentação está toda correta e estamos na fase de avaliação do proponen-te. Nós vamos iniciar agora o teste de conceito, que consiste em avaliar o funcionamento da solução ofertada. Inicialmente, foram licitados 3.400 medidores para os clientes e 90 medido-res para transformadores de distribuição”, diz Elaine.

O projeto inclui o balanço energético, que con-siste na medição de cada consumidor indivi-dual e a soma dos consumidores no transfor-mador para comparar as medições do circuito secundário, o faturamento e a perda real.

Serviços

“A troca dos medidores eletromecânicos por aparelhos digitais, entretanto, representa ape-nas 1% do que se chama de smart grid, que seria uma rede para prover vários tipos de serviços”, alerta Flávio Roberto Antônio, gerente de Negó-cios de Telecomunicações e Acompanhamento da Eletronet. Autor do trabalho “Antecipando o Futuro para Atender a Demanda de Smart Grid”, Flávio explica que, com os medidores inteligen-tes, os provedores terão a possibilidade de ofe-recer serviços como internet e a leitura e emis-são da fatura automaticamente.

Com as redes inteligentes, as concessionárias poderão obter benefícios como a redução dos custos operacionais, leitura do consumo à dis-tância e emissão de faturas, localização das falhas na rede de distribuição, diminuição do tempo de interrupção, automatização das redes de transmissão, recomposição dos sistemas de transmissão com mais agilidade e controle au-tomático da geração.

Os benefícios para o consumidor serão o fornecimento de energia elétrica com melhor qualidade, a possibilida-de de geração local de energia elétri-ca, um regime de tarifação variável, criação de um perfil pré-determina-do, informação em tempo real sobre o uso de energia elétrica, entre outros. Conforme explica Flávio, “quando se automatiza a rede, o consu-

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midor pode instalar um painel solar em casa, gerar energia e injetar na rede. Eu posso, por exemplo, ter uma microusina em casa e vender o excedente para a CEB, no caso de Brasília, ou ter o direito a algum tipo de compensação no gasto”.

Outra possibilidade é a integração de eletro-domésticos inteligentes. “Se eu entrar na in-ternet e programar o micro-ondas para ligar às 18h30, quando chegar em casa a comida vai estar pronta. Existem eletrodomésticos que poderão ser programados para ligar ou desligar na hora que eu quiser. São coisas que poderão ser feitas pela internet, se o equipa-mento tiver um desses cabos azuis conectados à rede”, acrescenta.

Numa analogia com o Setor Elétrico, as empre-sas constroem as unidades geradoras, as subes-tações, as linhas de transmissão em 230 e 500 kV, entregando a energia para as distribuidoras, que, por meio de outras subestações, fazem che-gar a energia às residências dos consumidores em 127V ou 220V. No setor de telecomunica-ções isso é bem parecido: a transmissão de da-dos é feita por canais de 40 GB e as operadoras disponibilizam canais para os consumidores com 3 MB, o que é mil vezes menos.

O trabalho apresentado por Flávio du-rante o XXI SNPTEE, realizado em Florianópolis (SC), utilizou os dados das Centrais Elétricas de Santa Catarina S/A – Celesc que mostram que há 32 uni-dades geradoras no Estado, 112 subestações de trans-missão, 38 subestações de distribuição, 15 mil religa-

dores, 151 mil transformadores de rua e mais de 2,3 milhões de consumidores. Estima-se que em todo o País, 65 milhões medidores de unidades residenciais precisarão ser trocados nos próximos anos. “Cada consumidor, cada transformador e cada função de transmissão precisará de um medidor eletrônico. Multiplica isso para todo o País. Então, haverá um impacto muito grande na produção industrial, além da necessidade de software e de pessoas para con-trolar e monitorar tudo isso”, diz Flávio.

PerdasEm relação às perdas ocasionadas por desvios e furtos de energia, os conhecidos “gatos”, que atualmente correspondem a 30% para a Eletro-bras Amazonas Energia, por exemplo, o sistema do smart grid irá proporcionar a identificação precisa do lugar exato onde são efetuados. Os desvios serão identificados por meio de um sis-tema que realiza a medição no modo global, inclusive do transformador, onde será possível identificar o problema. Além disso, a rede in-teligente possibilitará a coleta de informações em tempo real e as inspeções também vão con-tar com equipes de prontidão.

Na área de distribuição, a Eletrobras vai inves-tir US$ 709 milhões na implantação de equi-pamentos de comunicação em suas redes para torná-las mais inteligentes e dotá-las futura-mente de tecnologias de smart grid. O projeto deve atender às seis empresas de distribuição da Eletrobras nas regiões Norte e Nordeste.

Paulo Lucena, diretor da Divisão de Aná-lise e Acompanhamento de Gestão Técnica e Distribuição da Eletrobras, explica que o objetivo é explorar os recursos de Infra-estrutura de Me-dição Avançada – AMI (Advanced Metering Infrastructure) com o foco na redução das perdas. “Este projeto

contempla a revitalização das redes e a construção de ali-mentadores para melhorar o sistema de distribuição e algumas ações na parte institucional. O AMI é um passo intermediário para a exploração de recursos do conceito smart grid”.

na área de distribuição, a Eletrobras vai investir US$ 709 milhões na implantação de equipamentos de comunicação em suas redes para torná-las mais inteligentes

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Esta estrutura de medição avançada é um marco tecnológico para as empresas, segundo Lucena, porque vai permitir explorar os recursos de tele-medição. “Em parte das unidades consumidores das nossas distribuidoras, a medição será feita remotamente. Os dados serão coletados por in-termédio de um sistema de comunicação e con-centrados num sistema no centro de medição em Brasília”, acrescenta.

Telecomunicações

Os dados gerados e tratados com a implantação das redes inteligentes de energia serão trans-portados por meio das fibras ópticas instaladas nos cabos OPGW (Optical Groud Wire), ou cabos para-raios, das empresas do Setor Elétrico. Atu-almente, a Eletrobras Eletronorte possui 6.157 km de linhas de transmissão com os cabos de fibras ópticas. Essa rede atende às necessidades de comunicação operativa e corporativa entre as unidades da Empresa e oferece canais de co-municação para as operadoras de serviços de telecomunicações.

Essa rede também possibilita a geração de re-ceitas significativas para a Eletrobras Eletronor-te, que possui contratos firmados com diversas operadoras de telefonia. “O faturamento com os serviços de telecomunicações foi de R$ 45,5 milhões em 2011. E a expectativa é chegarmos a R$ 7 milhões por mês até o final de 2012”, in-forma Carlos Magno de Sá Abadá, superinten-dente de Telecomunicações.

A rede de fibras ópticas da Eletrobras Eletronor-te já está a serviço da inclusão digital no Estado do Pará, por meio de um Termo de Cooperação

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Técnica que permite o uso da rede para atrans-missão de dados em alta velocidade – é o Pro-grama Navega Pará. O convênio está sendo re-novado. “É importante salientar que o limite de municípios contido no convênio é de 14, mas o Governo do Pará, utilizando a infraestrutura implantada, es-tendeu o atendimento a mais de 40 municípios ao longo do Estado”, diz Abadá (foto à di-reita).

Com a recente assinatura de um Termo de Cooperação Téc-nica, a Eletrobras Eletronorte também vai ceder capacidade para a Telebrás implantar o Plano Nacional de Banda Lar-ga – PNBL, em Belém (PA).

Convênio firmado com o Go-verno do Estado do Tocantins também vai possibilitar a implantação do pro-grama “Tocantins Conectado”, que prevê a dis-ponibilização da infraestrutura da Eletrobras Eletronorte. O governo estadual vai investir R$ 30 milhões em equipamentos, rádios e softwa-res para construir a rede de serviços corporati-vos. Outros convênios serão celebrados em bre-ve com os estados do Acre e Maranhão.

“Hoje, uma parte pequena das nossas instala-ções não são atendidas pelos cabos de fibras ópticas. Mas estamos trabalhando para suprir 100% dos nossos sistemas”, afirma o engenhei-ro Dilermando de Santana Lacerda (abaixo à esquerda), gerente de Projetos e Implantação de Telecomunicações.

Dilermando explica que a Telebras está estrutu-rando um circuito no Brasil para interligar to-das as regiões com a banda larga. “Nós estamos ajudando neste projeto com investimentos que

chegam a R$ 12 milhões. E onde nós não temos capacidade, a Telebras vai nos suprir”, diz.

Rede convergente

A Eletrobras Eletronorte também licitou switches e roteadores para instalar em to-

das as suas subestações e implantar a rede convergente, onde trafegam a rede ad-

ministrativa, a rede corporativa, os

sistemas de gerenciamento elétrico e o SAP-R3. Por intermédio da rede convergente, é feito o tráfego de vídeo, voz e dos dados operativos e corporativos, bem como dos outros que tenham características IP (Protocolo Internet).

“Tais serviços são fornecidos em forma de circuitos lógicos, como se estivessem em redes fisicamente separadas e isola-das. As fibras ópticas das linhas de transmissão são utilizadas como meio físico de transporte, conectadas aos equipamentos de telecomunicações”, infor-ma o engenheiro Rosemberg Lobato (abaixo à direita), que integra a equipe da gerência de Projetos e Implantação de Telecomunicações, e autor do trabalho “Experiências Adqui-ridas na Implantação da Rede

Eletronorte que Utiliza Convergência e Aplicações de Serviços em Ambientes IP sobre Cabos OPGW”.

Esse trabalho está possibilitando à Empresa utilizar a infraestrutura de rede e de serviços, reduzindo custos de operação e manutenção, garantindo a confiabilidade, disponibilidade e segurança, bem como oferecendo serviços que podem ser reaproveitados em diferentes redes de acesso. A utilização dessa rede inteligente possibilitou uma economia para a empresa de cerca de R$ 2 milhões em 2010.

Todas as mudanças que vêm por aí visam à sustentabilidade do Setor Elétri- co, com o uso racional de energia, a automação da medição e a diminuição das perdas. Se-gundo Flávio, a sustentabi-lidade é o grande objetivo. “O uso racional de energia por parte do consumidor brasileiro e a definição das tecnologias de smart grid vão fazer com que as fontes alternativas sejam corre-tamente ex-ploradas”.

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17 de janeiro de 2011. O ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, anuncia o nome do enge-nheiro José Carvalho da Costa Neto como novo presidente da Eletrobras. Funcionário de carrei-ra da Cemig, que presidiu em 1998, Costa Neto assumiu a presidência da Holding com a missão de consolidar o processo de integração das Em-presas, aumentar o valor de mercado e viabili-zar a internacionalização da Companhia.

Nesta entrevista à Corrente Contínua, Costa Neto fala sobre concessões, matriz energética e investimentos da Eletrobras. Segundo ele, o modelo do Setor Elétrico brasileiro é uma refe-rência mundial, pela sua conveniente estrutu-ração que permite a segurança do suprimento, modicidade tarifária e universalidade do aten-dimento. Sobre a participação da Companhia no mercado, Costa Neto é taxativo: “Eficiência é fundamental para que as empresas sobrevi-vam no mundo competitivo de hoje”. Confira a entrevista.

José da Costa neto

Entrevista

“Eficiência é fundamental”

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A previsão de investimentos da Eletrobras para 2012 chega a R$ 13,3 bilhões, a maior parte concentrada em geração, com R$ 6,8 bilhões. Quais são os empreendimentos prioritários?

Deveremos investir R$6,8 bilhões em geração, R$3,8 bilhões em transmissão, R$1,9 bilhões em distribuição e R$0,8 bilhões em instalações gerais.

Na geração estamos participando da constru-ção de cerca de 23,0 GW, entre projetos corpo-rativos e através de Sociedades de Propósito Específico - SPE’s, em parceria com outros agen-tes, sendo que cerca de 12,0 GW, pertencem às Empresas Eletrobras.

Entre os projetos de geração se destacam as usinas hidrelétricas de Belo Monte, Jirau, Santo Antonio, Teles Pires, a usina nuclear de Angra III, além de diversos projetos eólicos e alguns solares, estes últimos em nível de desenvolvi-mento tecnológico.

Ainda na previsão de investimentos para 2012, a Eletrobras estima R$ 3,8 bilhões para transmissão. São prioritariamente obras de ampliação? Qual a necessidade real de reforço nas linhas do Sistema Interligado nacional para reduzir perdas e atender a demanda de energia no Brasil?

Estamos investindo tanto na expansão como na revitalização do sistema existente.

A transmissão tem a função primordial de in-tegrar energeticamente as diversas bacias hi-drográficas e transportar grandes blocos de energia elétrica até os centros consumidores e, por isso, é de fundamental importância para o Sistema Interligado Nacional – SIN.

Entre os projetos de expansão em construção se destacam as Linhas de Transmissão de escoa-mento da energia de Jirau e Santo Antonio para a região Sudeste.

O programa de revitalização do sistema exis-tente está sendo dinamizado. Em 2011 produ-zimos um relatório compreendendo um amplo diagnóstico de nossas instalações de geração e transmissão pertencentes à rede básica e a de-finição das obras necessárias para melhoria da confiabilidade e qualidade de nossos serviços.Com essas obras pretendemos reduzir os desli-

gamentos, as interrupções e o tempo de resta-belecimento do sistema.

Entre os projetos que integram a estratégia de internacionalização da Eletrobras estão a usina de Tumarín, na nicarágua, além da Linha de Transmissão compartilhada com o Uruguai e as usinas binacionais de Garabi e Panambi, com a Argentina. Como está esse processo e como as Empresas Eletrobras participam dele?

O processo de internacionalização é estratégico para as Empresas Eletrobras por seguir o cami-nho que todas as grandes empresas de energia elétrica do mundo já trilham.

O consumo de energia elétrica do Brasil cor-responde a cerca de 3% do consumo mundial. Isso significa dizer que passando da dimensão nacional para a mundial, nosso nicho negocial é multiplicado por 33, e que vamos trazer mais oportunidades para as empresas de engenha-ria, fabricantes e empreiteiras brasileiras.

Há ainda um outro componente, de estratégia nacional, já que a interligação energética en-tre os países da América Latina, um dos pontos mais importantes do processo de internaciona-lização da Eletrobras, é essencial para o desen-volvimento regional, algo que é do interesse es-tratégico do Brasil. Já estabelecemos um amplo portfólio de projetos no exterior, os quais apre-sentam diversos estágios de desenvolvimento.

Dentre esses projetos figuram a Hidrelétrica Tumarin, cujos estudos de viabilidade técnico--econômica, projeto básico e estudos ambien-tais já foram concluídos, estando agora em discussão final os aspectos institucionais e os relacionados à venda da energia.

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“o processo de internacionalização é estratégico para as Empresas Eletrobras por seguir o caminho que todas as grandes empresas de energia elétrica do mundo já trilham”

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A LT de 500 kV que interligará o SIN, a partir de Candiota, ao sistema uruguaio nas imediações de Montevidéu, deverá entrar em operação em outubro de 2013.

A obra já foi iniciada do lado uruguaio, que tem uma extensão de 350 km, enquanto do lado brasileiro, com uma extensão de 63 km, ainda depende da correspondente licença ambiental.

As hidrelétricas de Panambi e Garabi, localiza-das no Rio Uruguai, na fronteira do Brasil com a Argentina, terão juntas a capacidade instalada de cerca de 2.200 MW e tiveram os respectivos inventários concluídos e aprovados.

Controlada pela União, a Eletrobras é dona de 39% da capacidade total de geração do País, mas está na expectativa de uma decisão de Governo que pode alterar esse cenário. Qual a melhor solução para as concessões?

Creio que o mais prudente seria renovar as concessões com redução de preços e tarifas, de modo a beneficiar os consumidores, pois gran-de parte dos investimentos nas respectivas con-cessões já foi amortizada.

Uma nova licitação, a meu ver, provocaria mui-ta insegurança no setor elétrico, num momen-to importante para o País, quando as empresas precisam de segurança para investir a fim de atender à demanda que já citei.

Naturalmente que essa redução de preços e ta-rifas trará impactos significativos para a Eletro-bras. Por isso estamos nos preparando para ab-sorver esse impacto considerando estratégias de redução de nossos custos, incremento de re-ceitas e conveniente reestruturação financeira de nosso “funding”.

As Empresas Eletrobras são empresas públicas, mas que também precisam ser eficientes e estarem sujeitas às regras de mercado. Como o senhor analisa a importância da participação das Empresas em programas como o Luz Para Todos, por exemplo?

As empresas Eletrobras atuam fundamental-mente como agentes do setor elétrico, dentro de um mercado competitivo, mas têm também funções delegadas pelo Governo na gestão de programas setoriais com Luz para Todos, Proin-fa e Procel, fundos setoriais como RGR, CCC e CDE e de bens da União (BUSA).

De uma forma geral a empresa é ressarcida dos custos incorridos na gestão desses programas e fundos.

O sucesso de todos estes Programas estratégi-cos para o desenvolvimento econômico e social do País é motivo de orgulho para todos os nos-sos empregados.

Estamos empenhados para melhorar nossos re-sultados financeiros, aumentando nosso valor de mercado para possibilitar a manutenção ou incremento de “market share” do sistema Ele-trobras.

Hoje, um dos principais problemas para os empreendimentos de geração e transmissão de energia são os atrasos das licenças ambientais. Que alternativas as Empresas Eletrobras estão buscando para resolver esses impasses?

As Empresas Eletrobras cumprem a legislação brasileira, que é das mais avançadas do mundo e motivo de orgulho para nosso País. Para aten-der à legislação usamos a criatividade e a expe-riência do nosso corpo funcional.

Um bom exemplo dessa capacidade inovativa são as usinas-plataforma, um conceito revolu-cionário que usaremos na implantação das usi-nas do Complexo de Tapajós. Essas usinas serão construídas de maneira a afetar minimamente o meio ambiente, sem a construção, por exemplo, de vilas de trabalhadores, e operadas quase total-mente de forma remota. Os poucos trabalhado-res necessários trabalharão em turnos de 15 ou 21 dias e viajando de helicóptero, como acontece nas plataformas de petróleo em alto-mar.

“o setor elétrico brasileiro tem um histórico importante de responsabilidade socioambiental, que não é devidamente reconhecido pela sociedade brasileira”

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Estamos procurando capacitar cada vez mais nosso pessoal para a gestão e elaboração dos es-tudos ambientais e operacionalização de suas recomendações, além de incrementarmos nos-so relacionamento institucional com os órgãos ambientais.

Ainda na questão ambiental é preciso dizer que o Setor Elétrico, especialmente as empresas públicas, tem um forte compromisso com ações de compensação ambiental. o que falta ao Setor para que tenha reconhecida a sua responsabilidade com as regiões e comunidades onde há empreendimentos?

É verdade que o Setor Elétrico brasileiro tem um histórico importante de responsabilidade socioambiental, que não é devidamente reco-nhecido pela sociedade brasileira.

Essa falta de reconhecimento, porém, creio que pelo menos parcialmente, é de responsabili-dade nossa, das pessoas que militam no Setor. Tradicionalmente, interagimos pouco com for-madores de opinião de outros setores e somos mesmo avessos a contatos com a mídia, por exemplo. Tendemos a ficar centrados em nós mesmos, nos nossos planos, que discutimos em nossos fóruns e encontros, mas não os apresen-tamos à sociedade, buscando o diálogo. Esse afastamento acaba, no fim das contas, prejudi-cando a nós mesmos e é essa atitude que preci-samos mudar.

Já avançamos alguma coisa, mas, acredito, há muito trabalho a fazer nesse campo. Vamos aproveitar os eventos de comemoração dos 50 anos da Eletrobras para procurar difundir nos-sas práticas de compensação ambiental em nossos empreendimentos.

o Brasil é reconhecido mundialmente pela sua matriz limpa e baixos índices de emissão de gases de efeito estufa. Como a Eletrobras tem investido nessa matriz? Qual o cenário para as fontes alternativas nas Empresas Eletrobras?

O Brasil possui 88% de sua geração de energia elétrica proveniente de fontes limpas, que não emitem CO2, e pode manter essa situação pri-vilegiada por mais 20 anos. Nós, das Empresas Eletrobras, daremos, certamente, uma grande contribuição para isso. Estamos investindo pe-sadamente na construção de parques eólicos e em pesquisa de ponta em geração fotovoltai-ca, helioelétrica e com resíduos, além, claro, de continuarmos com nosso programa de inves-timentos em hidroeletricidade, sem esquecer também a energia nuclear, uma fonte limpa de enorme futuro.

Como o senhor avalia a participação das empresas do Sistema nos últimos leilões? o modelo brasileiro já pode ser uma referência mundial para o mercado de energia?

A Eletrobras, como braço empresarial do Go-verno Federal, tem grande responsabilidade na consecução dos objetivos centrais do modelo setorial, relativamente à confiabilidade e quali-dade do serviço, modicidade tarifária e univer-salidade do atendimento e tem cumprido mui-to bem este desafio.

Ao mesmo tempo, como empresa com ações na Bolsa, deve garantir uma adequada remunera-ção a seus acionistas. Assim sendo, nos últimos leilões, temos participado de forma competi-tiva, mas sempre garantindo a agregação de valor a nossos acionistas, com os nossos lances vencedores.

O modelo brasileiro é uma referência mundial, pela sua conveniente estruturação que permite a segurança do suprimento, modicidade tarifá-ria e universalidade do atendimento.

A unificação das empresas Eletrobras completa dois anos em março de 2012. São empresas com histórias de identidade com as diversas regiões do País, além de quadros funcionais distintos. Como está o Sistema hoje? Que desafios dessa integração ainda precisam ser vencidos?

“o modelo brasileiro é uma referência mundial, pela sua conveniente estruturação que permite a segurança do suprimento, modicidade tarifária e universalidade do atendimento”

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Entendo o sentido unificação, como a integra-ção estratégica e sinergia operacional entre as empresas.

Na verdade, a unificação das Empresas Eletro-bras começou em 2008, com as mudanças nos estatutos de cada uma delas, realizadas para dar um maior alinhamento estratégico entre elas, sob o comando da holding. Em março de 2010, houve apenas a unificação das marcas das empresas, uma ação que deu visibilidade a um processo que começara dois anos antes.

Hoje, quase quatro anos após seu inicio, já avan-çamos muito, com a emissão do Planejamento Estratégico, do Plano Diretor de Negócios e ago-ra na elaboração do Plano de Negócios, com os novos processos de governança e gestão im-plantados e com alguns serviços compartilha-dos já realizados.

Mas temos ainda muito a avançar na gover-nança e gestão, incluindo a reorganização ad-ministrativa com a eliminação de atividades redundantes e com o compartilhamento de re-cursos, com a reformulação, automação e infor-matização dos processos operacionais e admi-nistrativos, com a capacitação do pessoal, com a introdução da meritocracia e com a exploração de forma mais profunda da energia entre nos-sas empresas.

o Governo Federal já anunciou que pretende dinamizar o serviço prestado pelas empresas estatais. A ideia é ter empresas com habilidades de mercado próprias de empresas privadas, como

versatilidade, flexibilidade e rapidez, mas com controle público, buscando metas e focando em resultado. A Eletrobras está nesse caminho?

Não tenho dúvidas disso. Há um entendimen-to crescente entre os dirigentes das empresas e também entre os demais colaboradores de que não há mais espaço, no mundo de hoje, para processos baseados em conceitos antigos rígidos, burocráticos e lentos, ineficientes, em suma. O fato de uma empresa, ou um grupo de empresas, ser grande não é mais garantia de so-brevivência num mundo competitivo, como foi em outros tempos. No mundo dos negócios de hoje, não é mais o forte que engole o fraco ou o grande que engole o pequeno; é o veloz que engole o lento.

Um processo dinâmico como esse, necessaria-mente, obriga os profissionais a se aperfeiçoa-rem sempre e a empresa, como contrapartida, reconhecer os seus méritos. Esse é o círculo vir-tuoso provocado pela meritocracia, outra exi-gência no moderno mundo dos negócios.

Em 2011, a Eletrobras Eletronorte foi a primeira empresa pública do Setor Elétrico a conquistar o Prêmio nacional da Qualidade. Qual a importância de um reconhecimento como esse para a Eletrobras nesse cenário de eficiência no mercado e internacionalização da Companhia?

Esse reconhecimento é um exemplo eloquente do que acabei de descrever. A Eletrobras Ele-tronorte é, certamente, uma das empresas de ponta no nosso Sistema no que se refere à efi-ciência empresarial. Eficiência é fundamental para que as empresas sobrevivam no mundo competitivo de hoje.

o que o Brasil pode esperar das Empresas Eletrobras nos próximos 10 anos?

O Brasil pode esperar uma “holding” forte para tornar suas empresas cada vez mais eficientes, dinâmicas, integradas e sinérgicas, que traba-lharão duro para continuar fornecendo energia elétrica de fontes limpas e renováveis, com qua-lidade e modicidade tarifária para os consumi-dores, retorno adequado aos acionistas e satis-fação plena para os empregados, permitindo o desenvolvimento do país e levando bem-estar aos brasileiros.

“A Eletrobras Eletronorte é, certamente, uma das empresas de ponta no nosso Sistema no que se refere à eficiência empresarial. Eficiência é fundamental para que as empresas sobrevivam no mundo competitivo de hoje”

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O Instituto Acende Brasil divulgou estudo mostrando que o setor elétrico brasileiro totali-za 1,2% das emissões nacionais, enquanto glo-balmente a geração de eletricidade responde por 28,8% do total das emissões. No Brasil, os vilões das emissões são desmatamento, agri-cultura e pecuária, com 79,6%; transportes, com 6,1% e os processos industriais com 3,6%.

Temos uma Amazônia em que 41% de sua área de quase seis milhões de quilômetros quadrados são destinados a reservas indíge-nas e ambientais. Mas se pegarmos todos os projetos hidrelétricos previstos para a região, desde os inventariados até os já leiloados, te-remos uma área somada desses reservatórios de apenas 0,23% da área

Abre aspas

Hoje, 1,4 bilhão de pessoas ainda não têm acesso à eletricidade e os cálculos mostram que o mundo terá de dobrar a produção de energia até 2030

Dobrar a parcela da energia renovável é am-bicioso, mas alcançável. Os benefícios superam em muito os custos, os quais incluem crescente insegurança energética e acelerada mudança climática.

Energia renovável pode também ajudar a superar a desigualdade e promover o acesso universal à energia

BAN Ki-MooN - Ban Ki-moon, secretário-geral da oNU, reforçando 2012 como o Ano internacional da Energia Sustentável para Todos

SUPAChAi PANiTChPAKdi - secretário-geral da Conferência da oNU para o Comércio e desenvolvimento.

ERToN CARvAlho - presidente do Comitê Brasileiro de Barragens, em entrevista à Corrente Contínua

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Pense nisso!

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Cultura

Projeto completa cinco anos de democracia cultural. Com música, drama e comédia, os palcos da

Eletrobras Eletronorte, do auditório da Companhia Energética de Brasília,

do Espaço Cultural T-Bone, e até o Jardim Botânico, são espaços

para a festa da arte

da Redação, com colaboração de diogo Ferreira

Márcia Tauil mostrou seu

talento no viva a Arte

Celebre a vida, viva a Arte

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O Brasil é um país rico, sua natureza é cheia de valor. As pessoas daqui são elogiadas pelo mundo inteiro por sua simpatia, sua alegria de viver. E riqueza, se sabe bem, não é só dinheiro. É conjunto. Aqui, arte e diversidade guardam segredos em cada esquina, em cada pedaço de cerrado ou de floresta. Ainda que escondidas, surpreendentes. E esse é o sentimento de quem acompanha as edições do Viva a Arte, um proje-to cultural alternativo que tem como foco prin-cipal valorizar a produção artística desenvolvi-da no Distrito Federal.

Tudo começou em 2006, com o chamado “Sex-tas Musicais”. No palco do auditório da Eletro-bras Eletronorte, em Brasília, artistas empre-gados da Casa se apresentavam no intervalo do almoço, tocando seus instrumentos. O re-sultado? Uma plateia que não parou de cres-cer. O projeto cultural Viva a Arte completa cinco anos com muito orgulho. Artistas locais de Brasília, e também naturais de outros esta-dos, deixam no Viva a Arte um pouco do seu talento.

Criado pelo músico, e líder do Sindicato dos Ur-banitários – STIU/DF, Rivaldo Alcântara o Boréu – o Viva a Arte é um marco da valorização de ar-tistas regionais. “O contato com a arte é impor-tante e apoiamos o ideal perpetuado na música ‘Comida’, dos Titãs: A gente não quer só comida, a gente quer comida, diversão e arte.”

Segundo Boréu, o projeto foi idealizado por Humberto Macedo, na época diretor de Promo-ções da Associação dos Empregados da Eletro-norte. A ideia cresceu, mas mantinha o formatoartesanal e sem estrutura para se manter. Depois de uma pausa de cerca de três anos, o projeto voltou. E com força total. Boréu conta orgulhoso que as dificuldades iniciais foram-superadas. “Com a dimensão tomada pelo Vivaa Arte, era hora de captar recursos. Foi quando surgiu a ideia de pedir o apoio à Eletrobras Ele-tronorte”.

Boréu explica que o Viva a Arte tem sua recei-ta paga de forma detalhada. É definido antes como o investimento será pago. O valor do ca-chê dos artistas, investimento em divulgação, o serviço de contrarregra, aluguel de equipamen-tos, sonorização; os valores são detalhados e de-pois comprovados”, explica Boréu.

E o Viva a Arte não parou de crescer e de ganhar visibilidade. No seu palco já se apresentaram artistas de projeção nacional, como Paulinho Pedra Azul, Xangai, Simone Guimarães, Pauli-nho Tapajós, Marcello Lessa, Renato Motha, Ta-vito, Celso Blues Boy e Tunai. A cantora Márcia Tauil mostrou seu talento no Viva a Arte e emo-cionou a plateia com um tributo a Elis Regina. Para ela o projeto dá oportunidade para que a música de qualidade de Brasília seja apresenta-da. “O Viva a Arte ajuda a divulgar o nosso tra-balho; as pessoas nos conhecerem e participa-rem conosco, para que sejamos conhecidos nas cidades”.

A arte da parceria

Nesse caminho chegaram também novos parceiros. O SESC/DF, o Açougue Cultural T--Bone e o Jardim Botânico de Brasília também recebem o projeto. “Em 2011 os frequentado-res do Jardim Botânico de Brasília também tiveram a oportunidade de participar do Viva a Arte. A iniciativa foi importante para atrair o público para visitar o local em sua época mais fraca de visitação, a época da seca. De-pois Boréu.

O Espaço Cultural T-Bone também teve apre-sentações. Conhecido pela promoção das noi-tes culturais na quadra 312 Norte, em Brasília, o Açougue Cultural é um orgulho da cidade. Lá, os livros dividem espaço com os cortes de carne. Funciona como uma biblioteca, onde as pesso-as podem levar o livro, ler e devolver dias de-

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pois. A Noite Cultural T-Bone é realizada duas vezes por ano. É uma noite gratuita que integra pessoas de todas as classes sociais e de todas as idades. Em 1998, ano da primeira edição do projeto, a Noite Cultural foi realizada dentro do açougue e contou com trinta pessoas. Desde então, já participaram mais de 150 mil pessoas e mais de 500 artistas como Moraes Moreira, Chico César, Guilherme Arantes, Célia Porto, Tom Zé, Manassés, João Donato, Flávio Ventu-rine, Geraldo Azevedo, Jorge Mautner, Nelson Jacobina, Geraldo Azevedo, Belchior, Erasmo Carlos, Banda Blitz, Alceu Valença, Elba Rama-lho, Zé Ramalho, Milton Nascimento, entre tan-tos outros.

No show de Milton Nascimento, que contou com o patrocínio da Eletrobras Eletro-norte, o Viva a Arte apoiou os artistas locais que abriram a apresentação de Milton. “O intercâmbio de artistas consagrados com artistas locais é im-portante para a formação”, afirma Bo-réu (à direita).

Atualmente o Projeto Viva a Arte é administrado pela Organização Não Governamental ‘Vida Brasil’. Na coor-denação está Rivaldo Alcântara, e na produção executiva, Salomão di Pá-dua, Marcondes Silva e Seu Gomes.

E se a pergunta for “quem ganha com isso”, os organizadores têm a resposta na ponta da língua: “ganha a Empresa por ter sua imagem vinculada à arte, garantindo o acesso à cultura e ao entretenimento; ganha o artista, por ter seu trabalho divulgado; e ganha o público da Eletro-bras Eletronorte e redondezas, que assistem a espetáculos de qualidade e gratuitos”.

Quem já passou por aqui

A história do Viva a Arte pode ser comparada a um quebra-cabeça. A cada novo artista, uma contribuição para os cinco anos do Projeto. Em cada peça, os momentos, a reação do público e o sentimento de ‘quero mais’. O primeiro espe-táculo foi baseado nos antigos festivais de mú-sica, responsáveis por tornar talentos da época em realidade. Cantores locais encenaram um festival e interpretaram sucessos de artistas consagrados.

Depois disso o projeto não parou mais. Em 2008 foi a vez do cantor Xangai, que se apre-sentou fazendo homenagem ao dia dos pais. Paulinho Pedra Azul e Tunai também mar-caram presença. O humorista Cláudio Falcão mostrou As Pérolas de Berenice, espetáculo de humor que em 2011 completou 20 anos de história. O rap do Ataque Beliz, que a pouco tempo concorreu a prêmio MTV , inaugurou no projeto.

Depois de se apresentar no Você é Show – projeto de talentos da Eletrobras Eletronorte – a banda Athena levou seu hard rock para o Viva a Arte. O vocalista da banda, Wilson de Castro, conta que ficou “feliz da vida” ao receber o convite. “Quando a gente voltou às atividades, em 2010, eu comen-

tei com o baixista: vamos tra-balhar um material aí que eu queria apresentar para o pes-soal do Viva a Arte, quem sabe uma possibilidade de fazer-mos uma apresentação lá. Por sorte, o convite chegou até a gente graças ao Você é Show”.

Criada em 1993, a Athena tem em seu repertório com-posições próprias em inglês e em português. Wilson, que é secretário da Superinten-dência de Suprimento de Material e Serviços da Ele-

trobras Eletronorte, entrou na banda em 1994. Nesse mesmo período começaram a tocar em barzinhos e festivais. Em 2002 as atividades foram encerradas, retomando só em 2010 com nova formação. A banda é formada pelo voca-lista Wilson, Wagner Bacelos no baixo e Thiago na guitarra. “No início era banda de garagem, mas depois de 18 anos de estrada muita coi-sa melhorou”, conta Wilson. Para ele, a grande vantagem de participar do Viva a Arte foi a di-vulgação do trabalho.

Responsável por dar uma linguagem bem bra-sileira ao blues, Celso Blues Boy, tem seu talen-to reconhecido no Brasil e nos Estados Unidos. No palco do Viva a Arte, inspirou fãs talentosos. “Cheguei a ver um dos meus grandes ídolos, o Celso Blues Boy, que eu considero um blues bem brasileiro, e que sempre foi influência para mim”, conta Wilson de Castro.

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A arte da diversidade

Além de músicos, compositores e instrumentis-tas, os palcos do Viva a Arte também recebem os talentos do drama e da comédia. A compa-nhia de comédia Colapso apresentou dois co-mediantes. O ator e humorista Hugo Leonardo mostrou com humor os dilemas e as dificul-dades da carreira de ator nos dias de hoje, e as dificuldades de realizar seu sonho de fazer novela. Alessandra Vieira, a Madame Dolores, apresentou ao público a arte de ser cartomante. Com seus conhecimentos transcendentais, ad-quiridos em cursos à distância, parcelados em algumas prestações. No final de suas apresen-tações no Viva a Arte, eles contaram como con-seguiram marco importante para quem quer construir as bases que sustentam seus lares. Os artistas confessaram que iriam à Globo naque-le final de semana. O público foi ao delírio, certo de que o talento da dupla, que o fez rir durante uma hora, seria reconhecido nacionalmente. Depois dos aplausos Hugo Leonardo e Madame Dolores falaram da expectativa: “é uma experi-ência muito importante para construir nossas bases, enfim vamos comprar cimento e tijolos na Globo Materiais de Construção no final de semana...” Deu vontade de assistir? Fique de olho na programação do Viva a Arte (www. pro-jetovivaaarte.com.br)

Para o compositor, cantor, poeta e jornalista da Eletrobras Eletronorte, Byron de Quevedo, par-ticipar do Viva a Arte foi uma experiência de felicidade e de reencontro com amigos. “O Viva a Arte é uma alternativa cultural interessante para a cidade. A cada ano agrega mais nomes importantes da música, do teatro e da perfor-mance que deixam nos shows a marca dos seus talentos”. Criador do arrastarock - ritmo que mistura a catira, rock, forró e blues – Byron ava-lia que o projeto cultural abre espaço para espe-táculos generosos que dão oportunidade para artistas se apresentarem de maneira tranquila e democrática.

Nesses cinco anos, o casamento entre vida e arte ofereceu muitos frutos. É toda sexta-feira, no intervalo do almoço, cantar, sorrir e viver sem ter a vergonha de ser feliz. Cantar, dançar, aplaudir e brindar a alegria de ser um eterno aprendiz. E ser parte desse show que tem que continuar.

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Transmissão

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Esperado com muita expectativa, o Linhão foi inaugurado em 13 de agosto de 2001. Depois disso, a história de Roraima nunca mais foi a mesma.

linhão de Guri: dez anos de uma nova Roraima

da Redação, com colaboração de Núzia Araújo

Dez anos sem os fantasmas da escuridão. Foi--se o tempo em que os roraimenses eram pegos de surpresa pelas sombras dos blecautes. Hoje, uma década após a chegada do Linhão de Guri a Roraima, linha de transmissão de energia entre Brasil e Venezuela, o que se vê é um cenário de desenvolvimento e oportunidades.

Esperado com muita expectativa, o Linhão foi inaugurado em 13 de agosto de 2001, pelos en-tão presidentes Fernando Henrique Cardoso, do Brasil, e Hugo Chavez, da Venezuela. Depois disso, a história de Roraima nunca mais foi a mesma. O empreendimento de interligação energética Brasil/Venezuela consiste em um projeto de caráter binacional construído pela Eletrobras Eletronorte em parceria com a Ele-trificación Del Caroni - Edelca, empresa respon-sável pela geração de energia hidrelétrica na Venezuela.

A linha possui 706 quilôme-tros de extensão, ligando Boa Vista ao complexo hidrelétrico de Guri, em Puertos Ordas, na Vene-zuela. No total, são 516 quilômetros de linhas em território venezuelano, sendo 290 km entre a Usina Macágua II e a subestação Las Cla-ritas, com 720 tor-res na tensão de 400 kV, e 226

km até Santa Elena de Uairen, com 529 torres em 230 KV, na fronteira com o Brasil.

O complexo venezuelano possui capacidade instalada de 10 mil megawatts de potência. O Linhão de Guri abastece, atualmente, cerca de 334 mil habitantes, principalmente, em Boa Vista. Em território brasileiro são 190 km de li-nhas em 230 kV, localizadas ao longo da BR 174, que liga Manaus a Venezuela, passando por Boa Vista, Amajari e pela Terra Indígena São Marcos, em Roraima.

o antes e o depois

Antes da interligação, Manaus e Boa Vista já passavam por muitos estudos. O objetivo era levar às regiões o fornecimento de energia limpa e confiável. Segundo o gerente da As-sessoria de Coordenação de Implantação de Empreendimentos de Geração e Transmis-são da Eletrobras Eletronorte, José Henrique Machado Fernandes, o atendimento era feito com equipamentos antigos, existiam muitas interrupções, as máquinas eram térmicas e constantemente quebravam. “Naquela épo-ca, a população de Roraima ficava horas, e até mesmo dias, sem energia. Entre as alternati-vas que poderiam minimizar esses problemas

estavam o gás de Urucu e uma linha de transmissão até a Venezuela, um país que tinha muitos recursos hi-drelétricos e um mercado competi-tivo que poderia atender ao Brasil. A solução para tanta precariedade só veio em 2001, com a chegada do Linhão de Guri”.

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O processo de implantação do Linhão contou com aproximadamente 250 profissionais, en-tre eles engenheiros, projetistas, técnicos e montadores. Um dos obstáculos estava nas áreas com muitas árvores e morros, onde só foi possível construir com o auxílio de um helicóp-tero para levar os equipamentos, já que não era permitido abrir caminhos em meio à mata.

Pelo fato da Linha ter a maior parte do percurso paralelo à BR 174, é possível ter o controle visu-al de quase todo o sistema. Uma das dificulda-des está no acesso a um trecho de 16 torres que estão localizadas no alto da Serra de Pacaraima, município de Roraima. No período chuvoso só é possível chegar caminhando por horas em am-biente de mata densa e com os perigos associa-dos. O trecho que inviabiliza o tráfego de veículos pelo local também é de difícil acesso e a base das torres submersa. “Por ter um circuito simples, a linha tem muita descarga atmosférica, mas di-ferente de dez anos atrás, em alguns minutos o sistema é recomposto”, afirma José Henrique.

O contrato firmado entre a Eletrobras Eletro-norte e a Edelca prevê fornecimento mensal de energia em até 200 megawatts ao longo de 20 anos. Na opinião de José Henrique, as metas das empresas estão sendo alcançadas de acordo com o previsto. “Hoje, o pico de consumo alcan-ça cerca de 100 megawatts de potência, ou seja, metade do tempo já se passou e 50% do contra-to foi cumprido”, afirma. Manutenção de Baixo Custo

Assim como nas demais linhas de transmissão da Eletrobras Eletronorte, o processo de manu-tenção do Linhão de Guri segue critérios de ex-celência. Um deles é o Plano de Manutenção Pla-nejada – PMP, que compreende procedimentos documentados que orientam a equipe quanto ao número de homens/horas, logística, tempo e periodicidade das inspeções. Após essas verifi-cações são identificadas as não-conformidades e a equipe, então, determina as atividades a se-rem realizadas.

Em termos de custos, a manutenção da linha de transmissão de Guri é uma das mais baratas de todo o sistema. Segundo um dos responsáveis pela atividade na Eletrobras Eletronorte, o eletri-cista Jaider Esbell, isso se dá por motivos como o

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comprimento, a robustez, a ausência de vanda-lismo e invasão de faixa, o tempo de operação e a tecnologia empregada, já que a linha atravessa a floresta por cima da copa das árvores.

Jaider conta que os fatores ambientais ainda são os principais responsáveis pelo desligamen-to do sistema, em razão das descargas atmosfé-ricas de grande frequência e as aves curicacas, que usam as ferragens das torres como dormi-tórios, provocando a ruptura do isolamento e o desligamento pelo depósito de excrementos sobre as cadeias. “Para esse último problema foi desenvolvido um dispositivo para inibir a ação das aves, o que resultou num desempenho sa-tisfatório e ambientalmente viável. Quando o desligamento resulta em uma cadeia de isola-dores vazada (queimada) essa cadeia é substi-tuída”, explica o eletricista.

O mercado atual exige que a oferta de energia tenha frequência, confiabilidade e constância. Nesse sentido, as atividades realizadas em linha viva, com a entrada do eletricista no sistema li-gado, são as alternativas mais significativas no setor. Assim, tanto o sistema quanto a seguran-ça dos trabalhadores estarão garantidos.

Ainda segundo Jaider, uma das melhorias im-portantes que ocorreram nos últimos anos fo-ram os avanços na supervisão digital, capazes de identificar sinistros e ocorrências em tempo real, com margem de erro igual ou perto de zero, além de relés para religamento automático. “Acredito que a filosofia da manutenção de linhas precisa acompanhar os avanços e as tendências, tanto de modernização de métodos e técnicas, bem como a atualização de procedimentos e tomadas de decisões. Quando falamos em manutenção, falamos também do eletricista e sua equipe, que são os operadores do fazer, os critérios de seleção e a formação desse profissional”, destaca.

Responsabilidade Socioambiental

O conceito de sustentabilidade tem como tría-de indissociável os fatores social, ambiental e econômico. Na construção do Linhão de Guri o processo não foi diferente. Com diálogo e coo-peração a obra serviu como referência de de-senvolvimento sustentável.

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ma, organizações de apoio e organizações indí-genas, para acompanhar os trabalhos.

Com o levantamento concluído, novas reuni-ões foram realizadas para avaliação do projeto. Em 1998, após um longo processo, um termo de compromisso foi firmado entre a Eletrobras Eletronorte e a Comunidade da Terra Indígena São Marcos. Entre as diretrizes estavam a re-cuperação das áreas degradadas em função da construção das torres; a indenização de bens individuais danificados e da massa florística existente na faixa de servidão; além da partici-pação da Eletrobras Eletronorte no processo de desintrusão da Terra Indígena e na definição da área urbana de Pacaraima. O termo também definiu as indenizações das benfeitorias das fa-zendas existentes dentro de São Marcos, finan-ciamento durante o período de construção da Linha, e um sistema de vigilância na área.

Ainda em 1998, em meio às negociações, surge o Programa São Marcos. Uma ação indigenista

Em 1997, estudos revelaram ser mais apropria-do que a linha de interligação Brasil/Venezuela acompanhasse o eixo da BR 174, atravessando, dessa forma, a Terra Indígena São Marcos, onde viviam os índios Macuxi, Wapixana e Taure-pang. A assessoria indigenista da Eletrobras Eletronorte, então, iniciou um longo processo de consulta e negociação com os índios. Foram realizadas reuniões, explicadas as característi-cas específicas do empreendimento e distribuí-dos materiais informativos.

As comunidades indígenas, inicialmente, per-mitiram que a Empresa realizasse um levanta-mento topográfico para a definição do traçado da Linha. Além disso, solicitaram a realização de estudos de impacto ambiental e a formação de uma comissão composta pelo Ministério Pú-bico, Ibama, Funai, Governo do Estado de Rorai-

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e ambiental que tem como meta principal com-pensar os impactos ambientais decorrentes da implantação da Linha. O Programa teve três fa-ses, sendo que a primeira começou em 1998 e durou até 2004. Nessa etapa foram criados dois subprogramas, que foram vitais à implantação da linha: o de Vigilância da Terra Indígena São Marcos, para financiar os custos e fiscalizar a retirada e prevenção da invasão de intrusos, e o de Acompanhamento Ambi ental da Implanta-ção da Instalação da Linha.

A segunda fase veio a partir de 2004 e durou até 2008, quando o Programa completou dez anos. Nessa etapa, a Associação do Programa São Marcos – APSM passa a ser responsável direta pela gestão e execução do Programa. Em 2006, a entidade passa a se chamar Associação dos Povos Indígenas da Terra São Marcos - APITSM.

Em 2009, iniciou-se um longo processo de ne-gociação entre a Eletrobras Eletronorte, Funai e comunidades indígenas de São Marcos, do qual

surge a terceira fase. Após várias reuniões e as-sembleias, as partes chegaram a um acordo e firmaram um termo de compromisso que terá o prazo de vigência de oito anos, ou seja, até 2017. O convênio, no valor de R$ 8 milhões, é usado para projetos produtivos nas comunidades.

O Programa São Marcos é apenas um dos inú-meros benefícios oriundos da construção do Li-nhão. O acordo de compensação pela utilização da Terra Indígena para a passagem da linha ga-rantiu o direito à terra de fato, pois na época ela estava invadida por 104 fazendeiros.

novos Tempos

Os riscos de apagões ficaram no passado junto às altas tarifas de energia. “O que se vê é o re-flexo de um Estado com estabilidade energética

Jaider Esbell: “Quando falamos em manutenção, falamos também

do eletricistae sua equipe”

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em franco desenvolvimento, onde a sociedade não precisa mais se preocupar com os raciona-mentos, nem com as interrupções frequentes. Essa é a Roraima de hoje”. A afirmação é do superintendente de Transmissão de Roraima, Claudio Alípio dos Santos, sobre os avanços de-correntes da Interligação.

A construção do Linhão de Guri foi de fato um avanço histórico no desenvolvimento econômi-co e social roraimense. O empreendimento des-pertou o interesse de empresários, investidores, e o resultado foi a instalação de novas indús-trias e estabelecimentos comerciais, a geração de empregos, o fortalecimento do Estado e, con-sequentemente, melhor qualidade de vida para a população local.

Na opinião de Alípio, a construção do Linhão proporcionou para a Eletrobras Eletronorte o reconhecimento como uma empresa vencedo-ra de desafios. “A Estatal passou a ter seu pri-meiro contrato de importação de energia com a tarefa de conduzir os indicadores energéticos, pois os mesmos são diferenciados dos pratica-dos no Brasil. Esta equação bem administrada é muito importante porque nos permite atingir as metas contratadas” ressalta.

Ainda segundo Alípio, muitas mudanças positi-vas ocorreram desde 2001. “Roraima agora dis-põe de energia limpa e confiável. A expectativa é de que o Estado se torne exportador de bens e serviços para os países vizinhos”.

Interligação com a América Latina

O Linhão de Guri foi o pri-meiro sistema de transmis-são internacional construí-

do, mantido e operado pela Eletrobras Ele-

tronorte. Na opi-nião do diretor de Transmissão

da Eletrobras, José Antônio

Muniz, isso se traduz em uma equi-pe que ca-

minha a passos largos, rumo à excelência. “A importação energética da Venezuela foi um passo muito importante para a consolidação da Empresa, uma verdadeira escola em nível de engenharia, e um projeto de sustentabilidade e qualidade”, avalia.

Na época diretor de Engenharia da Eletrobras Eletronorte, Muniz acompanhou de perto a che-gada do Linhão a Roraima e, por isso, conhece bem o drama vivido pelo Estado. “Lembro-me que ajudamos a levar máquinas velhas de Ma-naus para Boa Vista que melhoraram, substan-cialmente, a situação local. Mas os equipamen-tos logo começaram a quebrar e tivemos fatos lamentáveis, como, por exemplo, a morte de pes-soas que estavam hospitalizadas e dependiam de energia para sobreviver. Assim, o governo tomou a decisão de buscar uma fonte próxima e ao mesmo tempo confiável na Venezuela”, conta.

Muniz destaca que o Linhão contribuiu para o fim da desigualdade energética do Brasil. Segundo ele, durante a implantação da Linha muitos obstáculos tiveram que ser vencidos. “Foi um trabalho que exigiu profissionalismo, paciência e determinação. Desenvolvemos pro-jetos para minimizar os impactos ambientais da obra e, tanto no Brasil como na Venezuela, foram apresentadas alternativas para que as comunidades indígenas não fossem prejudica-das. O fato é que tivemos muitas melhorias pro-venientes desta interligação, principalmente, para a população de Roraima”.

Ainda segundo Muniz, a interligação do setor elétrico brasileiro com a América Latina é um sonho que se aproxima da realidade a cada em-preendimento concretizado. “O Linhão de Guri foi mais um de muitos sonhos que ainda serão realizados. Para o futuro, o que existe é um hori-zonte repleto de pro-jetos com a missão de levar desenvol-vimento para mi-lhares de pessoas do mundo intei-ro”, afirma.

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Depois de conquistar o Prêmio de Excelência em Comprometimento Consistente em Total Pro-ductive Maintenance – TPM com a Usina Hidre-létrica Tucuruí, é a vez da Eletrobras Eletronorte conquistar mais dois reconhecimentos pelo Ja-panese Institute for Plant Maintenance – JIPM: Curuá-Una e Samuel receberam no mês de feve-reiro, o resultado das auditorias que as certifi-cam com o “TPM Excellence Award, A Category” e “TPM Special Award”, respectivamente.

Para o diretor-presidente Josias Matos de Arau-jo, o reconhecimento mostra os resultados de uma trajetória e de um esforço coletivo, que fazem parte da estratégia de consolidação da Eletrobras Eletronorte como uma Empre-sa Classe Mundial em 2014. “Essa é mais uma demonstração de que a Eletrobras Eletronorte está focada na excelência, alinhada com o novo cenário do mercado mundial de energia. Uma empresa pública, com todas as condições de ser uma referência de qualidade e eficiência, como já reconheceu o Prêmio Nacional da Qualidade, conquistado por meio da Superintendência de Geração Hidráulica em 2011”.

O diretor de Operação, Wady Charone Junior, lembra que o TPM é um processo metodológico no qual a Eletrobras Eletronorte já implemen-tou inovações e melhorias aprovadas pelo JIPM, e que está trazendo resultados muito positivos para a Empresa. “Essa premiação faz com que tenhamos ainda mais orgulho da nossa força de trabalho que, cada vez mais, domina o pro-cesso e faz um novo acontecer na nossa Em-presa, visando à redução de perdas e custos, e promovendo medidas que levem ao aumento da nossa receita”.

Localizada em Santarém, Curuá-Una foi incor-porada à Eletrobras Eletronorte em 2006 e, des-

Painelhidrelétricas samuel e Curuá-una conquistam premiações TPm

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de então, adota a metodologia TPM. A unidade buscava o Prêmio Excelência Categoria A, com o grande foco da auditoria na modernização da Unidade Geradora 01.

Com três unidades geradoras e capacidade instalada de 30,3 MW, Curuá-Una possui um dos melhores Índices de Disponibilidade do Brasil, se comparada a usinas desse porte. E para manter esse nível, foi proposto como ob-jetivo geral do TPM em Curuá-Una, o alcance de 97,09% do ID com otimização dos custos operacionais.

Em Rondônia, a Usina Hidrelétrica Samuel tem potência instalada de 216 MW e é considerada um marco na história local. Sua construção pos-sibilitou que uma antiga colônia de pescadores desse lugar ao município de Candeias do Jamari.

TPM

Em janeiro de 2011, a Eletrobras Eletronorte foi a primeira empresa de geração e transmissão de energia elétrica, no Brasil e no mundo, a re-ceber o prêmio TPM em todas as suas unidades. O prêmio é concedido pelo JIPM às empresas que se destacam na aplicação da metodologia conseguindo cumprir os requisitos para cada nível de premiação e atingir excelentes resul-tados. A Usina Hidrelétrica de Tucuruí recebeu o Prêmio Especial de Execução de TPM, a Regio-nal de Transmissão de Roraima e Usina Hidre-létrica de Curuá-Una ficaram com o Prêmio de Excelência - Categoria B, sendo que o Prêmio de Excelência em Consistência e Comprome-timento de TPM foi concedido às Regionais de Transmissão do Mato Grosso, de Rondônia/Acre, do Pará, do Maranhão e do Tocantins, à Regional de Produção do Amapá e à Usina Hi-drelétrica de Samuel.

Em visita às usinas, os auditores Tokutaro Suzuki, Zensuke Matsuda e Katsumasa Saito

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Arqueologia

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Descobertas arqueológicas reveladas por hidrelétricas e linhas de transmissão comprovam a presença humana na Amazônia há pelo menos 13 mil anos

Cavando o passado do homem brasileiro

Alexandre Accioly

O Estado de Rondônia guarda em seu subsolo um dos maiores tesouros arqueológicos do País. Por ter sofrido a influência de pelo menos seis das dez linguas indígenas correlacionadas com a presença humana na Amazônia e no Brasil, e agora, com a construção das usinas hidrelétricas de Santo Antônio e Jirau no Rio Madeira, estudos arqueológicos vem revelando traços comprova-dos deixados pelo homem de até 13,8 mil anos.

As concessionárias do Setor Elétrico brasileiro, quando da construção de usinas hidrelétricas e linhas de transmissão, promovem os estudos e resgates arqueológicos nas áreas impactadas por esses empreendimentos em todas as fases do licenciamento ambiental. Antes das usinas do Madeira, a área de influência da Usina Hi-drelétrica Samuel, no Rio Jamari, já havia reve-lado a presença humana na região há pelo menos nove mil anos.

Apoiada por instituições sérias como o Smithsonian Institution - instituição educacional e de pes-quisa, fundada e administrada pelo governo dos Estados Unidos, com-preendendo 19 museus, sete centros de pesquisa e 142 milhões de itens em suas coleções -, que faz a datação do material cole-tado em campo pela téc-nica do Carbono-14 (14C), a Eletrobras Eletronorte realiza estudos arqueoló-

gicos em seus empreendimentos desde a década de 1980, tendo acumulado rico acervo de peças e informações científicas desde então.

Atualmente, qualquer empreendimento rela-cionado à geração hidrelétrica, termelétrica, eólica ou a sistemas de transmissão precisa inserir em seu licenciamento ambiental os es-tudos de arqueologia preventiva. O salvamento arqueológico realizado em áreas a serem ala-gadas por reservatórios hidrelétricos obedece à Lei 3924/1961. Com a publicação da Resolu-ção 001/1986, do Conselho Nacional do Meio Ambiente – Conama, tais estudos se esten-deram também às li-nhas de transmissão e usinas termelétri-cas. Também regem a questão o artigo 20

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da Constituição Federal, que coloca os sítios ar-queológicos como bens da União, a Resolução Conama 237/1997 e a Portaria 230/2002, do Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional - Iphan.

Nas décadas de 1980 e 1990 a Eletrobras Eletro-norte concluiu diversos estudos arqueológicos em suas usinas Tucuruí, Balbina e Samuel e também em estudos de inventário, como Ca-choeira Porteira, no Rio Trombetas (PA). Hoje, a Empresa, com o apoio da Scientia Consulto-ria Científica, promove estudos de arqueologia nas linhas de transmissão Ji-Paraná/Pimenta Bueno/Vilhena; Rio Branco 1/Epitaciolândia; Oiapoque/Calçoene; São Luís II/São Luís I; e São Luís II/São Luís III. Em Sociedades de Propósito Específico (SPEs) das quais é sócia, nas usinas hidrelétricas Dardanelos, no Rio Aripuanã (MT), e Belo Monte, no Rio Xingu (PA); e nas linhas Porto Velho/Araraquara e Porto Velho/Abunã/ Rio Branco. (ver mais nas páginas 47 a 49).

Quebrando paradigmas

O arqueólogo Eurico Theofilo Miller, (ver box), que trabalha na Eletrobras Eletronorte desde o final da década de 1980, começou a se interes-sar pelo passado humano ainda menino. Mas foi em Rondônia, estudando a região do Rio Jamari, que fez descobertas importantes para novos conhecimentos na arqueologia e na his-tória da migração do homem brasileiro.

Os estudos, naquela época, iniciaram-se seguin-do a lógica estabelecida: procurar sítios de terra preta – rica em sedimentos orgânicos, restos de fogueira e alimentação -, sinal de que aquele solo recebeu ocupação humana, ou seja, foi local de uma aldeia indígena no passado. Os pesquisa-dores sabiam que para encontrar a terra preta bastava identificar a palmeira urucuri - do tupi urikurí, é natural das várzeas altas desde o Acre e o Rio Purus até o Baixo Amazonas, no Pará e Ama-pá. Ocorre também no Planalto Central e no pan-tanal matogrossense forma os famosos acurizais.

“Cavamos em mais de 90 sítios que foram al-deias na região de Samuel e conseguimos resga-tar uma grande coleção de cerâmicas que, num primeiro momento, nos causou estranheza por sua correlação com a cultura tupi-guarani, o que depois foi confirmado pela datação do 14C. Uma história de nove mil anos nos foi revelada na área do reservatório da Usina. Naquele tempo, os trabalhos arqueológicos privilegiavam as mar-gens do Rio Amazonas como trecho principal, mas descobrimos que nos afluentes, como o Ma-deira e o próprio Jamari, ocorriam outras cultu-ras pré-ceramistas tão valiosas quanto aquelas descobertas no litoral, por exemplo,” conta Mil-ler. Em outras escavações feitas no percurso da linha de transmissão Ji-Paraná/Rolim de Moura, ele e sua equipe descobriram lascas de carvão relacionadas à presença humana, datadas pelo Smithsonian Institution em 13,8 mil anos, uma descoberta sem precedentes até então.

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Na Revista Brasileira de Linguística Antropo-lógica, editada pela Universidade de Brasília – UnB, Eurico Miller explica melhor sua teoria, que coloca Rondônia como referência arqueoló-gica: “Desde 1958, a ‘terra natal’ do tronco Tupi foi proposta como tendo sido a mesopotâmia Guaporé-Madeira e Aripuanã. Em 1913, a Mis-são Rondon encontrou falantes de línguas tupi--guarani e suas malocas no Alto Ji-Paraná. Des-de 1974, temos estado in loco, testando teórica e empiricamente essa hipótese (...). O mesmo vínculo entre dados arqueológicos, etno-histó-ricos e linguísticos encontrado na faixa costeira foi testado na ‘terra natal’, tendo resultado na mesma correlação. A busca empírica pela ‘ter-ra natal’ do tronco Tupi chegou até o seu miolo, através da correlação de dados da arqueologia de campo, datações 14C, linguística histórica e fontes etno-históricas”.

O que Miller quer dizer é que existem elemen-tos indissociáveis, apesar de interdependentes, à arqueologia, que são a língua, o clima, o mo-vimento dos oceanos e as atividades vulcânicas e tectônicas. Assim, as análises do subsolo ron-doniense demonstram as influências sofridas

por uma cultura sobre outra, uma tradição an-terior e posterior à outra, mas todas originadas de uma das dez línguas do tronco tupi, sendo seis presentes no passado de Rondônia. “Arque-ologia é linguística, não pode dissociar. A regra nos diz que etnia linguística e cultura material são variáveis interdependentes. Então, o tupi--guarani não fazia a mesma cerâmica neces-sariamente, mas toda a cerâmica tupi-guarani foi feita por gente que falava a mesma língua”, ensina. (ver mais em entrevista na página 53).

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samente no Maranhão, nos arredores de Im-peratriz, encontramos sítios onde não deveria, por tese, haver nenhuma ocupação humana. É preciso avaliar o clima e a vegetação atuais como eram no passado a partir de testemu-nhos fósseis. Nossa metodologia foi avaliar as cavas de todas as torres do sistema. Nas extre-midades, encontramos sítios de 11 mil anos. Estudando uma colina onde, a princípio, não deveria ter havido ocupação, encontramos no seu topo evidências de carvão e lascas datadas pelo Smithsonian, para o nosso espanto, em 24 mil anos!”.

Bacharel e licenciada em ciências sociais e dou-tora em ciências humanas pela Universidade de São Paulo – USP, a doutora Solange Bezerra Caldarelli é diretora da Scientia Consultoria Científica, empresa que vem prestando consul-toria à Eletrobras Eletronorte na área de arque-ologia. Coordenadora de mais de 50 projetos de prospecção e de salvamento arqueológico nas regiões Sul, Sudeste, Centro-Oeste e Norte do País, Solange tem vários artigos publicados

e participações em congres-sos de arqueologia e de meio ambiente.

Segundo ela, “os projetos de geração hidrelétrica, por se encaixarem em bacias hi-drográficas, que tiveram im-portante papel na penetra-ção e expansão do território nacional, pelo fato de que os

Os estudos realizados por Miller e suas equipes demonstram que o movimento migratório de populações indígenas no Brasil se deu tanto do interior para o litoral como ao contrário tam-bém. Na região amazônica foram descobertas, por exemplo, urnas funerárias com as mesmas características daquelas descobertas no litoral brasileiro. E com até 5,1 mil anos de idade. “Mas não encontramos essas características em ne-nhum outro lugar da América do Sul ou do Pací-fico, dando-nos a certeza de que a cultura tupi--guarani é formativa de si mesma e isso quebrou o paradigma de que o Pacífico foi o formador de tudo, ou o que veio antes tem origem no Equa-dor ou na Colômbia”, afirma o arqueólogo.

Linhas de transmissão

Em relação aos estudos arqueológicos em per-cursos de linhas de transmissão, Eurico Miller é taxativo: devem ser feitos em toda a exten-são do empreendimento e em to-das as cavas de todas as torres, e não por amostragens em trechos descontínuos. Sua conclusão é de-vido ao trabalho realizado quan-do da construção da Interligação Norte-Sul, que conecta a Usina Hidrelétrica Tucuruí ao Sistema Interligado Nacional - SIN, desde Imperatriz (MA) até Brasília (DF). “Na linha Norte-Sul, mais preci-

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rios constituem referências naturais importan-tes para o deslocamento territorial, costumam incidir sobre grande quantidade e diversidade cultural e funcional de sítios arqueológicos. No caso de linhas de transmissão, onde o traçado é definido em função, principalmente, da topo-grafia, e com um desenho ‘artificial’, cai tanto a quantidade, quanto a diversidade de sítios arqueológicos. O maior número de sítios estará sempre nos trechos de maior potencial arqueo-lógico da área atravessada pela linha e podem ocorrer trechos em que aparecem poucos sítios arqueológicos ou mesmo nenhum”.

Solange Caldarelli acredita que, sem dúvida, os empreendimentos podem trazer dados novos para o quadro da arqueologia brasileira. “Bons arqueólogos fazem boa arqueologia, seja ela aplicada ao licenciamento ambiental, seja ela acadêmica. Mas é preciso lembrar que a pesqui-sa arqueológica é lenta, pois ela não se resume ao campo, mas necessita de análises de labora-tório, que sempre demandam mais tempo que a pesquisa de campo e, quanto maior o número de material recuperado em campo, maior será tempo para a análise e a geração de conheci-mento, já que ela depende do cruzamento e interpretação dos dados de campo e de labora-tório”.

A pesquisadora afirma ainda que o Setor Elétri-co “tem sido um bom parceiro para a geração e a extroversão do conhecimento produzido pe-las pesquisas arqueológicas, em especial no sé-culo XXI, com gestores e empreendedores mais

abertos às questões ambientais e culturais que se interrelacionam com a implantação desses empreendimentos”.

novas obras, novas descobertas

A Scientia Consultoria Científica está realizan-do estudos arqueológicos em várias obras da Eletrobras Eletronorte e em outras nas quais ela tem participação acionária. Confira resumi-damente:

linha de transmissão Ji-Paraná/Pimenta buento/vilhena (Ro) – Obra de responsabilidade da Ele-trobras Eletronorte, cujos estudos arqueológi-cos contam com o apoio do Museu de Arqueolo-gia Regional de Presidente Médici (RO). Nesses estudos foi possível retomar uma importante problemática arqueológica, referente à ocupa-ção de grupos Tupi.

A arqueologia não possui o mesmo volume de dados trabalhados pela linguística, mas foram encontrados registros associados a pelo menos duas famílias distintas. A cerâmica tupi-guara-ni, correlata de falantes de línguas tupi-guarani, e a cerâmica tupi-ocidental, correlata dos grupos Tupi do território de Rondônia. Nessas cerâmi-cas são encontradas características comuns, que dificilmente ocorreriam idiossincraticamente.

A área do Alto Madeira pode ser, então, vista como um grande mosaico de línguas e culturas, interpretado de diversas maneiras por linguis-

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difícil acesso. De dimensão diminuta - menos de 20 m² de área -, corresponde certamente a um acampamento de curta duração, de onde se possuía uma visão privilegiada dos arredores. Tratar-se-ia de um assentamento defensivo? De um bando em fuga?

linhas de transmissão são luís II/são luís I e são luís II/são luís III (mA) – Obra da Eletrobras Eletronorte, cujos estudos arqueológicos con-taram com o apoio do Centro de Pesquisas de História Natural e Arqueologia da Secretaria de Cultura do Estado do Maranhão.

No início, vistorias avaliaram a possibilidade de realocação ou deslocamento de algumas tor-res para locais que não afetassem os recursos arqueológicos. Ficou acordada a necessidade de implantação de um programa sistemático de resgate arqueológico nos quatro sítios que se-riam diretamente afetados pelas obras, que, ao final, foram resgatados e aguardam análises de laboratório.

linha de transmissão Porto velho (Ro)/Arara-quara (sP) – Obra das empresas Norte Brasil Transmissora de Energia S/A e Estação Trans-missora de Energia .

Foram prospectadas 3.874 praças de torres; as subestações de Rondônia e São Paulo, assim como as linhas de eletrodos a elas associadas;

tas e etnólogos. A diversidade de fases e tipos de sítios arqueológicos na bacia do Rio Madeira pode estar associada a essa pluralidade cultu-ral. Vale ressaltar a importância de algumas cronologias obtidas. Se forem confirmadas, se-rão as primeiras evidências materiais que cor-roboram hipóteses linguísticas defendidas por arqueólogos há bastante tempo.

linhas de transmissão Rio branco 1/Epitaciolân-dia e Rio branco 1/sena madureira (AC) – Obra de responsabilidade da Eletrobras Eletronorte, cujos estudos arqueológicos contaram com o apoio da Universidade Federal do Acre – Ufac. Num dos dois sítios analisados foi feita uma si-mulação da distribuição espacial dos recipien-tes cerâmicos e pode ser observado que parece ter se constituído com as casas distribuídas no entorno de uma praça circular.

Existe a hipótese de o sítio arqueológico ser um testemunho de ocupação dos antepassados dos Kaxinawa na área hoje cortada por esta linha.

linha de transmissão norte-sul III – Trecho 2 – Obra de responsabilidade da empresa Integra-ção Transmissora de Energia S.A – Intesa.

As pesquisas evidenciaram 25 sítios arqueo-lógicos, um deles chamou a atenção. Trata-se do Sítio Minaçu 14, implantado em área de

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seis canteiros de obras, sendo dois em Rondô-nia, dois em Mato Grosso, um em Goiás e um em São Paulo; e identificados 43 sítios arqueo-lógicos em praças de torres, sendo 31 em Ron-dônia, 11 em Mato Grosso e um em São Paulo. A Norte Brasil vai estudar alternativas para verificar as possibilidades técnicas de desviar a linha de alguns sítios arqueológicos, privile-giando a preservação in situ.

usina hidrelétrica Dardanelos – Obra da empresa Energética Águas da Pedra S/A. Foi detectada a necessidade de desenvolver um projeto de etno-arqueologia junto às comunidades Cinta Larga e Araras do Rio Branco. Foram realizadas pros-pecções arqueológicas no canteiro de obras e no canal da usina, e identificados três sítios pré-co-loniais. A configuração do empreendimento foi modificada com o objetivo de evitar o impacto direto a um dos sítios identificados e não houve a necessidade de se realizar o resgate dele.

Dezesseis amostras de carvão foram enviadas para um laboratório especializado em datações, nos EUA. Os resultados indicam uma ocupação humana associada à terra preta e ao nível cerâ-mico entre 460 e 1.490 anos a.C (antes de Cristo).

usina hidrelétrica belo monte – Obra da empre-sa Norte Energia S/A, cujos estudos arqueológi-cos contam com o apoio da Fundação Casa de Cultura de Marabá (PA).

Até o momento foram realizadas prospecções arqueológicas em dois canteiros de obras e identificados 45 sítios arqueológicos, sendo que para 15 deles o empreendedor conseguiu evitar as interferências com alterações no projeto de engenharia, privilegiando a preservação in situ. Esses sítios apresentam significativa diversida-de funcional e cultural, indicadas pelas suas di-mensões e pelo tipo de cultura material presen-te (alguns com urnas funerárias). Os resgates ainda estão em andamento, mas em 15 sítios já foram concluídos.

Eurico Miller, a história da históriaEurico Theofilo Miller é um nome conhecido e reconhecido no mundo da arqueologia brasi-leira e mundial. Aos 79 anos ainda está na ati-va, trabalhando na Superintendência de Meio Ambiente da Eletrobras Eletronorte. Na Em-presa, foi o responsável por grandes descober-tas arqueológicas nas áreas de influência das primeiras hidrelétricas construídas na Ama-zônia, notadamente Samuel, situada no Rio Jamari, em Rondônia. “Nesses últimos 35 anos de campo na Amazônia, presenciamos e vive-mos, impotentes, situações dramáticas, mais sobre o patrimônio arqueológico do que sobre nós mesmos”, escreve ele na Revista Brasileira

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de Linguística Antropológica, da UnB.

Professor que já formou gerações de arqueó-logos brasileiros, não para de ensinar: “Com um maior volume de empreendimentos ocorrendo, outros arqueólogos serão ini-ciados na arqueologia dessa porção ama-zônica e, se não houver uma intercomuni-cação prévia para nivelar os procedimentos, resultará uma confusão babilônica. Tudo o que o envolve a reconstituição da história e da pré--história humana e ambiental devem ‘compor e vestir’ um grande grupo interdisciplinar de pes-quisadores como se fosse uma pessoa só, para se entenderem, o que é fundamental”.

Miller começou cedo a carreira. Aos seis anos de idade passeava com os tios pelas lavouras plantadas pelos imigrantes alemães na região de Rodeio Bonito, no Rio Grande do Sul, que lhe mostravam artefatos antigos, expostos à flor da terra, pertences dos “bugres”, como eram chamados pelos gaúchos os índios Kaingan-gue. “Existem arqueólogos do asfalto e outros rurais. Os primeiros vivem em oásis artificiais, longe da natureza, mas quem fizer arqueolo-gia tem mesmo é que atuar no campo. Na ga-rupa dos meus tios conheci e coletei minhas primeiras peças, guardadas em caixas de sa-pato e mais tarde doadas para a constituição do Museu Arqueológico do Rio Grande do Sul – Marsul. Olhava os artefatos Kaingangue e pensava que pareciam a louça quebrada da vovó”, relembra.

metodologia da noite - Ao longo da sua vida de arqueólogo, Eurico Miller desenvolveu várias técnicas em seus estudos de campo. Uma delas é especial: ao estudar a região de Touro Passo (RS), onde foram descobertos fósseis de animais extintos, como mastodontes, tatus e preguiças gigantes, e até tigre-dente-de-sabre, primeiro percebeu que os sítios palioíndios sofreram influência de cinzas vulcânicas de erupções andinas, carregadas pela corrente de ar que cir-cunda o planeta a mais de dez mil metros de altitude.

Depois, ao percorrer as margens de um rio, pes-quisava nas camadas de terra alguma indica-ção do passado, mas nada encontrava em suas caminhadas diárias. Uma noite antes dos tra-balhos se encerrarem, ele não se deu por ven-

cido e decidiu fazer uma última incursão às barrancas, munido de uma lanterna. “Peguei a lanterna e saí com o faixo de luz paralelo às margens e me espantei ao descobrir em certos pontos o que viriam a ser lascas encobertas por sedimentos de chuva, que não eram visíveis de dia por conta do jogo de sombra e luz. De dia o sal do suor escorre nos olhos e prejudica a vi-sibilidade também. Minha persistência criou uma nova metodologia de observação, que de-pois levei para a Amazônia, que é examinar as cavas durante a noite com uma lanterna. Foi e é um sucesso”, conta.

Eurico Miller não pensa em se aposentar. “Tra-balho ainda porque quem não trabalha só inco-moda. Seria um absurdo levar uma vida inteira para aprender e não repassar esse conhecimen-to para as futuras gerações. Uma vez fui à uma universidade levando a ideia de incrementar o curso de arqueologia com estudos de campo, mas a direção ficou mais preocupada com a possibilidade dos alunos pegarem malária do que adquirirem conhecimento, e a ideia não foi adiante. Agora, com as hidrelétricas do Madei-ra e outras que virão, já poderíamos contar com uma geração de arqueólogos amazônidas com alto grau de conhecimento, sem precisar contra-tar profissionais em outras regiões. Outra lição para as futuras gerações: em nossa profissão ciências da terra é fundamental, imprescindí-vel. Arqueólogo não deve ter história na cabeça, mas ciência da terra”.

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Homem já fazia barragens há 7,5 mil anos

Na antiga Mesopotâmia, região onde floresceu a humanidade entre os rios Tigre e Eufrates, grandes obras hidráulicas para aproveitamen-to dos recursos hídricos foram implantadas há 7.500 anos. Cerca de dois mil anos antes de Cris-to, o Código de Hamurabi se transformava tam-bém na primeira lei de segurança de barragens, prevendo ressarcimentos pelo rompimento de barragens e inundação de terras, e até a escra-vidão de quem não fizesse as devidas indeniza-ções nesses casos.

O surgimento dos primeiros núcleos urbanos na Mesopotâmia foi acompanhado do desen-volvimento de um complexo sistema hidráuli-co que favorecia a utilização dos pântanos, evi-tava inundações e garantia o armazenamento de água para as estações mais secas. Já o Códi-go de Hamurabi é um conjunto de leis criadas por volta do século XVIII a.C, pelo rei Hamurabi da primeira dinastia babilônica. O código é ba-seado na Lei de Talião, “olho por olho, dente por dente”.

Nele está escrito, por exemplo: “Se alguém for preguiçoso demais para manter sua barragem em condições adequadas, não fazendo a manu-tenção desta, caso a barragem se rompa e todos os campos forem alagados, então aquele que ocasionou tal problema deverá ser vendido por dinheiro, e o dinheiro deve substituir os cereais que ele prejudicou com seu desleixo”.

história das barragens no brasil – Informações como estas fazem parte do acervo do Comitê Brasileiro de Barragens - CBDB, recentemente enriquecido pelo lançamento do livro A Histó-ria das Barragens no Brasil - Séculos XIX, XX e XXI. São 520 páginas de muita informação téc-nica, histórica e científica, numa edição luxu-osa, ainda disponível apenas para sócios, mas em breve também na internet.

Nele ficamos sabendo, por exemplo, que a mais antiga barragem que se tem notícia em território brasileiro foi construída onde hoje é a área urbana do Recife (PE), possi-

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velmente no século XVI, antes mesmo da inva-são holandesa, conhecida como Apipucos, que na língua tupi significa ‘onde os caminhos se encontram’. A história das hidrelétricas da Ele-trobras Eletronorte também está registrada no livro.

O presidente do CBDB, Erton Carvalho, explica que “o livro colabora para o entendimento so-bre barragens e para a divulgação cultural da nossa história, ao abordar com abrangência o desenvolvimento tecnológico para a constru-ção das barragens brasileiras a partir de 1950, quando se iniciou o desenvolvimento do Setor Elétrico brasileiro. É destinado, principalmen-te, ao leitor interessado na história contem-porânea brasileira, sem a exigência de que ele seja possuidor de conhecimentos técnicos so-bre o tema”.

Ilha de Marajó revela complexo sistemas de controle hidráulicoEntrevista com Denise Pahl, arqueóloga

Em recente artigo publicado na revista Scien-tific American Brasil, a arqueóloga Denise Pahl Schaan descreve a história dos primeiros gru-pos humanos que adentraram a Amazônia, segundo ela, “há 11 mil e 200 anos, ao mesmo tempo em que outras populações ameríndias se aventuravam de norte a sul do continente”.

Em tempos de polêmicas sobre hidrelétricas na Amazônia, dois trechos do artigo chamam a atenção. O primeiro: “Os primeiros cacicados amazônicos surgem na Ilha de Marajó, onde técnicas de manejo de rios e lagos - com a construção de barragens e viveiros de peixes-, buscavam maximizar a pesca em áreas onde inundações periódicas facilitavam a piracema. Como resultado dessas obras, foram construí-dos gigantescos montes de terra, de até 12 me-tros de altura e três hectares de área (...)”.

O segundo trecho: “No Alto Xingu, construções de terra, estudadas pelo arqueólogo americano Michael Heckenberger, aparecem entre 1.200 a 1.600 d.C na forma de trincheiras (...). Aparecem ainda montículos lineares e também reservató-

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rios, barragens, canais e estradas que conectam assentamentos, criando uma verdadeira paisa-gem urbana”.

Ou seja, a arqueologia comprova que índios brasileiros já faziam barragens para controlar as águas dos rios, como faz hoje o homem mo-derno, para gerar energia elétrica, e como seus antepassados, para irrigar plantações, controlar cheias e maximizar a pesca.

Denise Pahl concluiu mestrado em História/Arqueologia na PUC-RS em 1996. Foi bolsista no Museu Goeldi de 1997 a 1999. Em 1999 fez doutorado em Antropologia/Arqueologia na Universidade de Pittsburgh, EUA, concluído em 2004. A partir de 2005 diversificou seus interes-ses e começou a pesquisar no Acre (geoglifos – ver edição 216 da revista Corrente Contínua, de ago-set/2007) e em Santarém. Desde 2006, é professora da Universidade Federal do Pará – UFPA, onde, junto com colegas, criou o primei-ro curso de pós-graduação em arqueologia da Amazônia. Confira a entrevista.

Como a senhora analisa os estudos realizados antes da construção de empreendimentos energéticos, como usinas e linhas de transmissão?

São estudos fundamentais para a proteção do patrimônio arqueológico. Apesar de serem empreendimentos lineares e aparentemente causarem pouco impacto, as linhas de trans-missão atravessam grandes extensões do ter-ritório, onde se tem muitas possibilidades de encontrar sítios arqueológicos no caminho. Já as usinas, afetam áreas junto a rios, locais onde, geralmente, havia populações assen-tadas no passado, sem falar das populações atuais. Os estudos obrigatórios para estes e outros tipos de empreendimentos, que são exigidos a partir da resolução do Conama de 1986, deram um enorme impulso à arqueologia no País.

São importantes também para a melhor compreensão da presença humana no Brasil e na Amazônia?

Sem dúvida. Hoje em dia, 95% da pesquisa arqueológica que se faz no Brasil têm a ver com empre-

endimentos. As pesquisas arqueológicas reali-zadas ao longo das linhas de transmissão têm possibilitado conhecermos regiões antes des-conhecidas do ponto de vista da arqueologia. Especialmente na Amazônia, onde temos pro-blemas de acesso pela falta de estradas e alto custo de outros meios de transporte rápido, a pesquisa em linhas de transmissão trouxe no-vos dados para a compreensão da ocupação hu-mana antiga na região.

Esses estudos já revelaram descobertas importantes?

Sim. No Acre, descobrimos vários geoglifos ao pesquisarmos ao longo da linha de transmis-são que vai de Rio Branco a Epitaciolândia. Em Rondônia, dezenas de sítios também fo-ram assim descobertos. No Maranhão, sítios muito antigos, geralmente difíceis de se des-cobrir, foram descobertos por causa da pes-quisa em sistemas de transmissão. No Pará, entre Belterra e Santarém, nossa pesquisa ao longo da BR-163 identificou 112 sítios arque-ológicos já ameaçados pela agricultura e em vias de desaparecer. O registro que estamos fazendo é fundamental para entendermos o que foi o cacicado dos Tapajós. No Marajó, uma pesquisa feita em função de uma hidro-via que acabou não sendo construída, possi-bilitou conhecermos a extensão das socieda-des marajoara.

E o muiraquitã? Existe ou é uma lenda?

Os pingentes de pedra verde, conhecidos como muiraquitã, eram objetos de prestígio, trocados

entre as elites amazônicas antes da conquista. Existem porque

são encontrados, principal-mente, nos sítios arqueo-lógicos ao longo dos rios Tapajós e Trombetas. No entanto, há muitas len-das sobre sua origem, de que eram fabricados dentro de um lago com lama verde no fundo, e

coisas assim.

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A concepção da línguaEntrevista: Aryon Dall’Igna Rodrigues, professor emérito da Universidade de Brasília - UnB

“Sendo a língua um dos principais constituin-tes das culturas humanas, os estudos linguísti-cos, tanto sincrônicos quanto diacrônicos, de-vem estar associados, naturalmente, não só ao conhecimento dos diversos aspectos dessas cul-turas, como organização social, conhecimento do respectivo meio ambiente, cultura material e tecnológica, práticas artísticas e lúdicas, e tradições históricas, mas também aos fatores biológicos e psicológicos dos falantes, e ao meio físico e social em que vivem”.

Palavras de Aryon Dall’Igna Rodrigues, profes-sor emérito da Universidade de Brasília – UnB, professor horis causa da Universidade Estadual de Campinas – Unicamp, pesquisador hono-ris causa da Universidade Federal do Paraná - UFPR; membro honorário da Linguistic Society of America – LSA; e da Society for the Study of the Indigenous Languages of the Americas – SSILA, e membro fundador da Associação Bra-sileira de Linguística- Abralin.Confira a entrevista:

Arqueologia e linguística são elementos indissociáveis?

A arqueologia e a linguística são ambas discipli-nas antropológicas, tomada a antropologia em seu sentido lato, que é o estudo científico dos seres humanos, tanto de suas características físicas, como de seus aspec-tos culturais. Os estudos antropológicos se distri-buem em antropologia física, ou bioantropo-logia, que pesquisa as características físicas ou raciais do homem, e antropologia cultu-ral, ou etnologia, que estuda os usos e cos-tumes de cada grupo humano. No âm-bito da antropo-logia situa-se

também a linguística, voltada para uma pro-priedade específica dos seres humanos, em con-traste com os demais seres vivos, que é capaci-dade de linguagem, manifestada pelas línguas presentes em todas as sociedades humanas.

Antes da construção de usinas hidrelétricas e linhas de transmissão, são realizados estudos arqueológicos nas áreas afetadas por esses empreendimentos. Como o senhor analisa a realização desses estudos?

O comportamento atual da Eletrobras Eletro-norte é altamente louvável, pois permite o sal-vamento do conhecimento sobre os povos que habitaram o Brasil há séculos e há milênios. Dada à falta de pesquisas sistemáticas anterio-res, esses estudos arqueológicos revelam novos e inesperados conhecimentos, relevantes para melhor conhecer a pré-história do homem no território brasileiro. Contribuem, portanto, e muito, para o conhecimento científico, já inde-pendentemente e em conexão com pesquisas de outra natureza.

Como os estudos arqueológicos se unem às outras disciplinas para formar uma visão sistêmica sobre a história do homem?

O recente artigo de Eurico Theofilo Miller sobre a cultura cerâmica do tronco tupi no Alto Ji-Pa-raná é um excelente exemplo da conjugação de resultados da arqueologia com os da linguística diacrônica e os da genética humana.

os estudos realizados pela Eletrobras Eletronorte em Samuel, Balbina e Tucuruí contribuíram para esse conhecimento?

Foram justamente os resultados da pesquisa arqueológica patrocinada pela Eletrobras Ele-tronorte que trouxeram evidências incontestá-veis para o que antes havia ficado por 50 anos apenas como uma hipótese formulada a partir

de comparações linguísticas.

Uma mensagem final.

Que o respeito pelo conhecimento científico demonstrado pela Eletrobras Eletronorte sir-

va de exemplo para as demais empresas de atividades análogas no Brasil e em

toda a América Latina.

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Meio Ambiente

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Agenda Ambiental da Administração Pública – A3P sensibiliza e conscientiza sobre uso racional dos recursos naturais

uma agenda de resultados

Érica Neiva e vania Machado

Por definição, a Agenda Ambiental da Admi-nistração Pública - A3P é um convite ao enga-jamento individual e coletivo para a mudança de hábitos e a difusão da ação. É um programa que visa implementar a gestão socioambiental sustentável das atividades administrativas e operacionais do Governo. A A3P prevê a inser-ção de critérios socioambientais em todas as esferas da administração pública por meio de cinco eixos temáticos: uso racional dos recursos naturais e bens públicos, gestão adequada dos resíduos gerados, qualidade de vida no ambien-te de trabalho, sensibilização e capacitação dos servidores e licitações sustentáveis. Em pou-cas palavras, seria a política dos 5Rs: Reduzir, Repensar, Reaproveitar, Reciclar e Recusar. A proposta leva em conta as recomendações da Agenda 21, que tem o propósito de redução e eliminação de padrões insustentáveis de pro-dução e consumo. A A3P surgiu, em 1999, no Ministério do Meio Ambiente - MMA. “Era uma iniciativa de um grupo de servidores que, de forma voluntária, buscava inserir no Ministério ações de gestão ambiental, especialmente, as relacionadas à gestão de resíduos sólidos. As ações depen-diam, basicamente, do voluntarismo dos ser-vidores envolvidos e estavam voltadas para o próprio Ministério”, afirma a gerente de Proje-tos do MMA e coordenadora da A3P, Ana Carla Leite de Almeida. As principais ações da Agenda envolvem a mobilização e conscientização para as ques-

tões socioambientais por meio de campanhas. Para Ana Carla, a A3P é uma agenda positiva e, por esse motivo, não encontra muitos obstácu-los para a sua propagação. “De uma maneira geral, é muito bem recebida pelos órgãos e en-tidades públicas. O que os servidores públicos em geral levantam são os obstáculos para a sua implantação. Nesse sentido, as contrata-ções sustentáveis estão entre os eixos temáti-cos da A3P com a maior dificuldade de implan-tação”. Todos os 100 órgãos e entidades públicas que já aderiram à A3P possuem dados capazes de de-monstrar que as campanhas de sensibilização contribuem para aumentar a consciência so-bre a necessidade de uso racional dos recursos públicos e combate ao desperdício. “O que per-cebemos é que há de fato uma crescente cons-cientização por parte dos órgãos e entidades públicas, e considero que isso já seja um grande resultado já alcançado pela A3P. Cada vez mais as sociedades cobram dos seus governos trans-parência e responsabilidade socioambiental. É nesse cenário que a A3P pode se tornar uma política pública que estimule programas de mudança e melhoria contínua”, explica a coor-denadora da A3P no MMA. A A3P na Eletrobras Eletronorte

Para aderir à Agenda, em 2009, a Empresa se-guiu cinco passos essenciais: criação da Comis-são A3P, diagnóstico da instituição, desenvolvi-mento de projetos e atividades, mobilização e sensibilização, e o monitoramento das ações. As ações perpassam pela redução no consumo

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de papel, energia, copos plásticos e água; im-plementação da coleta seletiva, destinação ade-quada dos resíduos perigosos; plano de capaci-tação; programas de qualidade de vida; saúde e segurança no trabalho; aquisições de bens e materiais, e contratações de serviçoes ambie-talmente sustentáveis. A coordenadora do Comitê na Eletrobras Eletro-norte, Kátia Newton (abaixo, à direita), explica que foram feitas campanhas internas de sensi-bilização sobre os eixos temáticos da Agenda. “No início as pessoas tinham a visão de que a A3P estava ligada estritamen-te à coleta seletiva. A gestão dos resíduos é apenas um dos quesitos da Agenda, que englo-ba ainda a qualidade de vida da força de trabalho, compras sustentáveis, uso adequado dos recursos naturais, sensibi-lização e conscientização. Tive-mos como benchmarking a ex-periência do Comitê de Gestão Socioambiental da Câmara dos Deputados – EcoCâmara”. A gestão dos resíduos é feita na sede da Ele-trobras Eletronorte desde dezembro de 2009, quando foi assinado o termo de compromisso com a cooperativa de catadores de materiais re-cicláveis Recicla Brasília. A cooperativa, que be-neficia 53 famílias, é responsável pelo recolhi-mento semanal de resíduos recicláveis. Desde então já foram recolhidas mais de 27 toneladas de papel, papelão e copinhos descartáveis. “Te-mos que ter a conscientização da diferente na-tureza dos materiais. Se fizermos a separação, facilita o trabalho da cooperativa. Obviamen-te temos que conscientizar os colaboradores a produzir menos resíduos”, alerta Kátia. “No nosso trabalho apresentamos os exemplos de locais que estão trabalhando com a gestão de resíduos, a exemplo de Tocantins, Tucuruí, Pará, Brasília, Amapá e Rondônia. Um dos prin-cipais problemas apresentado por todas as em-presas Eletrobras ainda são os copinhos des-cartáveis. Nesse sentido, fizemos a distribuição das canecas na Eletrobras Eletronorte visando diminuir o número de copos plásticos. É uma pequena ação que faz a diferença”, afirma co-ordenadora.

Um novo cenário na hora das compras

O governo brasileiro utiliza cerca de 15% do Produto Interno Bruto (PIB) anual em produ-tos e serviços, algo em torno de R$ 600 bilhões. Com esse volume de consumo, a Administração Pública vem percebendo que, ao adotar crité-rios de sustentabilidade em suas contratações, indiretamente acaba induzindo mudanças no padrão de produção e consumo. Nesse cenário, o Ministério do Planejamento tem promovido

e estimulado uma série de ações que vão desde capacitação até parcerias para compras sustentáveis. Uma mostra dessa preocupação é o Prêmio Equipe Sustentável e Melhor Edital Sustentável. O objetivo é reco-nhecer o mérito de iniciativas dos ór-gãos do Setor Público nas licitações e contratações sustentáveis. Estão habi-litados a concorrer os órgãos da Admi-nistração Pública direta e indireta da União, Estados, Distrito Federal e Mu-nicípios. As inscrições serão gratuitas

e os detalhes podem ser conhecidos na página cpsustentaveis.planejamento.gov.br .

Na Eletrobras Eletronorte o caminho não é di-ferente. Há uma ação constante de interação com a área de suprimentos, procurando inse-rir conceitos de sustentabilidade nos editais de compras, destacando a importância de for-necedores que possuem certificações ambien-tais. Exemplos disso são a aquisição de motores mais econômicos que não misturam combus-tível com óleo, diminuindo assim a emissão de gases poluentes; a substituição de produtos químicos que geram menos impactos nos re-servatórios; e o compromisso de usar 10% de papeis recicláveis.

Entre os próximos desafios na área de compras sustentáveis está a implantação da logística re-versa de cartuchos de impressoras e adoção de sacos de cores diferenciadas para recolhimento dos resíduos. “A ideia consiste na devolução dos cartuchos usados para o fabricante, que os des-tina à reciclagem. Cada cartucho devolvido à empresa fornecedora vai gerar renda para uma entidade, que irá aplicá-los em projetos sociais.

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Em relação à coleta seletiva, o objetivo é adquirir junto à empresa fornecedora sacos de cores di-ferenciadas para separação dos resíduos por cor, facilitando o trabalho da equipe da limpeza na identificação do material reciclável destinado à Cooperativa de Catadores”, explica Kátia Newton. Apesar das dificuldades encontradas em ações que exigem sensibilização e conscientização, a Coordenadora acredita que já houve signi-ficativas melhorias, mas que faltam ser im-plementadas medidas para monitoramento e quantificação das ações. “É importante sermos multiplicadores dos princípios da sustentabili-dade nas nossas áreas, atuando como ecocida-dãos. A A3P não está apenas ligada à separação dos resíduos. Passa por uma mudança de men-talidade e a prática de ações de sustentáveis no dia a dia. É um trabalho de formiguinha e de multiplicação contínua. Precisamos ser persis-tentes e acreditar”, diz Kátia. o caminho dos multiplicadores Até agora somente a Eletrobras Eletronorte é signatária da A3P entre as Empresas Eletrobras. Mas a multiplicação dos conceitos da Agenda Ambiental já chega a Eletrobras Furnas, que já começou a fase de análise e levantamento de informações para a implantação do Programa. A coordenadora da Comissão da Coleta Seletiva da Empresa, Maristella Altomar Racero, esteve na Sede da Eletrobras Eletronorte vivenciando um pouco da experiência. “Acreditamos que foi muito importante a visita que fizemos à Eletrobras Ele-tronorte, já que é uma das Empresas Eletrobras e temos as mesmas características, principalmente unidades que se localizam em lugares remotos e muitas vezes as dificuldades, ou até mesmo as oportunidades, estão nessas áreas”.

Oficinas para fazer a diferença

O Programa de Educação Ambiental da Usina Hidrelétrica Tucuruí realiza oficinas educativas para a força de trabalho e seus familiares, além de atender a comunidade do entorno do empre-endimento. Em 2011 foram realizadas 14 ofici-nas de reciclagem: sete oficinas para a força de trabalho e seus familiares, e sete oficinas para a comunidade em geral.

Segundo Trícia Amoras Alves (abaixo), coorde-nadora do Programa de Educação Ambiental da Superintendência de Geração Hidráulica - Divisão de Ações Ambientais de Geração, “as oficinas promovem o despertar ambiental para o problema do lixo, incentivando as pessoas a transformá-lo em arte e decoração. Temos re-síduos de plástico, especificamente as garrafas PET, transformadas em vassouras, pufes e deco-ração natalina. Temos também o papel descar-tado pela força de trabalho, que se transforma em objetos de decoração em papel machê, e os pneus de borrachas inservíveis para a Empresa, que se tornaram lindos pufes distribuídos pela Superintendência”.

Chamar a atenção da comunidade para a im-portância da reciclagem e aproveitamento das garrafas PET foi mais um desafio. Diversos pon-tos de coleta foram utilizados durante o ano por meio de parcerias com os proprietários de lanchonetes, padaria, supermercado e escolas de educação infantil localizados na Vila Perma-nente da Usina Tucuruí. A parceria resultou na doação de 6 mil garrafas, matéria-prima usada na decoração natalina da Praça com Academia ao Ar Livre e a montagem de belos presépios distribuídos.

O trabalho realizado pelo Programa de Edu-cação Ambiental também proporcionou, em 2011, o aproveitamento de tampinhas de garra-fas PET na confecção de palhaçinhos coloridos. Trícia explica que os brinquedos foram doados aos alunos de educação infantil do município de Tucuruí, em comunhão aos conhecimentos trabalhados em sala de aula sobre cuidados ambientais e coleta seletiva.

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são os executores principais e fornecedores de resultados divulgados pelo Comitê por meio de relatórios anuais. Para envolver ainda mais os servidores integrantes do Comitê, a coordena-ção é rotativa e a cada dois anos um novo servi-dor fica a frente dos trabalhos e estabelece suas metas e prioridades, as quais são realizadas com o envolvimento dos demais integrantes do Comitê e com o apoio da Direção Geral da Casa”.

A coordenadora-geral do Comitê de Gestão So-cioambiental - EcoCâmara, Janice Silveira (aci-ma no centro), destaca que a história de êxito e sucesso do EcoCâmara também enfrentou problemas. “Não se pode dizer que não houve obstáculos, pois qualquer mudança de compor-tamento, seja ele de que natureza for, é sempre vista como uma incomodação. Justamente por conta disto, a escolha estratégica dos coordena-dores de áreas temáticas e a convivência diária amenizava as resistências e fortalecia o vín-culo e o compromisso com as ações propostas. Dentre as ações que conseguiram sensibilizar os colaborados para participar não só da A3P, mas também de outras ações socioambientais, a mais importante foi a inserção da sustenta-bilidade como um pilar do planejamento estra-tégico da Casa em 2009”, afirma Janice Silveira.

boas práticas - Alguns exemplos mostram que as ações do EcoCâmara geram excelentes resul-tados, como a redução de 90% da geração de re-síduos perigosos no Departamento Médico. Em relação ao consumo de água os dados também são animadores: houve economia com a nova forma de manutenção do espelho de água; com a substituição de garrafas de água mineral por filtros de água; com a suspensão da irrigação dos gramados durante um período e com a ade-quação de plantas que não necessitam de mui-ta água no período de seca.

O coordenador-adjunto do Comitê de Gestão So-cioambiental - EcoCâmara, Gilson Dobbin (acima

Ecocâmara. Uma história de sucesso

A implementação de ações socioambientais pela Câmara dos Deputados teve início antes daadesão formal à Agenda Ambiental da Admi-nistração Pública - A3P, ainda em 2001 e 2002. Aassessora técnica do Comitê de Gestão Socioam-biental - EcoCâmara, Jacimara Machado (à di-reita), explicaque as ações começaram quando um grupo de servidores achou que seria justo - socialmente e ambientalmente, e correto, que a gestão dos resíduos recicláveis gerados pela Casa fosse feita de modo diferenciado, incluin-do aqueles grupos de pessoas que diariamente retiravam dos coletores da Câmara seu sustento.

“Isso acontecia de forma desorganizada e esses ‘carroceiros’, como eram identificados na épo-ca, sequer estavam organizados sob a forma de cooperativas. Foi dessa iniciativa que a Câmara, por meio da área administrativa, e com a ajuda da ONG Movimento de Meninos e Meninas de Rua, decidiu proporcionar a esse grupo de carro-ceiros a oportunidade de organização formal, e daí estabelecerem parceria para o recebimento de todo e qualquer tipo de resíduo que pudesse gerar renda ao grupo”, explica.

Foi durante esse movimento solidário que os servidores da Câmara tiveram conhecimento da proposta da A3P, coordenada pelo MMA, im-plementando então a coleta seletiva. Em 2003 esse grupo partiu para a elaboração de uma proposta mais ampla: criar o EcoCâmara e as-sim passar a desenvolver internamente outras ações de cunho socioambiental, seguindo a proposta metodológica da Agenda, mas ainda sem aderir formalmente à iniciativa. Somente em 2009 a Câmara fez a sua adesão formal ao Programa A3P.

Jacimara explica que, para consolidar as ações, o Comitê precisava ser formalizado, fortalecen-do sua ação com o apoio da Direção da Casa, para que os Diretores entendessem o seu papel e o seu comprometimento com este novo mo-delo gerencial. “Uma política socioambiental foi elaborada e disseminada entre os tomado-res de decisão, e as ações organizadas em áreas temáticas (hoje são 11 áreas temáticas), cujos coordenadores estão diretamente envolvidos e

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à direita), faz um balanço das atividades e dos de-safios. “Ainda temos que trabalhar para ampliar um entendimento coletivo. As ações do EcoCâ-mara estão registradas em nosso site, de forma transparente e, além disso, estamos sempre dis-postos a compartilhar experiências, por meio de palestras, treinamentos externos, parcerias para a realização de ações conjuntas, participação em debates, articulação com a equipe do MMA visando fortalecer a proposta da A3P. Temos no site o ‘Registro de Boas Práticas’, uma área onde estão ações adotadas por diversos setores e indi-vidualmente por pessoas que foram sensibiliza-das, e são exemplos que fazem a diferença”.

no Tocantins, o despertar de um novo tempo

No Tocantins, a Eletrobras Eletronorte, por meio do Pilar de Meio Ambiente e da Comissão A3P, vem tomando medidas que objetivam diminuir o impacto ambiental das atividades exercidas pela Empresa e por sua força de trabalho, tra-balhando a conscientização tanto no trabalho quanto em casa.

Um bom exemplo desse trabalho é a constru-ção de um depósito para armazenar as sobras de óleo geradas dos serviços de manutenção em equipamentos na Subestação de Miracema. “Antes esses tonéis ficavam em uma área des-coberta. Agora o piso é impermeabilizado, o que evita a contaminação do solo mesmo que haja vazamento em algum desses tonéis. Além dis-so, esse óleo é vendido em leilão para empresas que compram para refinar. Dessa forma, temos a garantia de que esse material terá uma desti-nação correta”, explica o coordenador do Pilar de Meio Ambiente e membro da A3P, Carlos Au-gusto dos Santos.

No mesmo depósito estão armazenadas as lâmpadas fluorescentes que estão em desuso

e as embalagens de produtos químicos. “Essas lâmpadas foram substituídas por outras mais econômicas e estão aqui até juntarmos uma quantidade suficiente para destinar às empre-sas que possam reciclá-las”, afirma Carlos Au-gusto, lembrando que essa atitude é recente e que antes essas lâmpadas eram jogadas no lixo comum.

Eletrobras Eletronorte vence o Prêmio Melhores Práticas da Agenda AmbientalA Eletrobras Eletronorte conquistou o primeiro lugar do Prêmio Melhores Práticas da Agenda Ambiental na Administração Pública 2011, na categoria Uso Sustentável dos Recursos Natu-rais, com o “Programa Educacional para Uso Ra-cional de Energia nas escolas públicas de Tucu-ruí, no Pará”. Essa é uma premiação que tem o objetivo de reconhecer o mérito das iniciativas dos órgãos e instituições do setor público na pro-moção e na prática da A3P. O Prêmio acontece anualmente e podem participar órgãos e insti-tuições públicas parceiras formais da A3P, com Termo de Adesão assinado.

Na opinião da ministra Izabella Teixeira, na cate-goria de usos sustentáveis de recursos naturais, há outra visão de como usar melhor os recursos naturais. “Um exemplo é o programa Educacio-nal para Uso Racional de Energia nas Escolas Pú-blicas de Tucuruí. Você estimula que, tendo uma racionalidade econômica de uma divisão social, temos uma melhor prática ambiental. A questão ambiental é basicamente mudança de compor-tamento”, disse.

A coordenadora do Programa A3P na Eletrobras Eletronorte, Kátia Newton, explica que vários projetos desenvolvidos na Empresa atendem os critérios para inscrição no Prêmio Melhores Prá-ticas. “Temos conversado com as regionais e in-teragimos para promover a integração de ações que são relacionadas ao conceito da A3P, estimu-lando iniciativas sustentáveis em toda a Empre-sa. Certamente teremos cada vez mais projetos inscritos nas próximas edições. O Prêmio é um reconhecimento e uma homenagem a todas as equipes que atuam na Sede e nas regionais, e que todos os dias superam o desafio de acreditar que podemos mudar”, afirma Kátia.

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Para a superintendente de Gestão da Inova-ção Tecnológica e Eficiência Energética, Neusa Maria Lobato, o Prêmio mostra que muitas das ações que já desenvolvemos têm aderência aos programas do Governo. “Estamos muito felizes em ver que um projeto trabalhado desde 2005 está integrado à A3P em razão das ações de sus-tentabilidade que realizamos e que revelam a grande responsabilidade da nossa Empresa. Os projetos de sustentabilidade precisam ter ade-rência ao nosso negócio e estamos gerando e transmitindo energia com sustentabilidade”.

Economia e Credibilidade - O Programa tem o ob-jetivo de conscientizar os alunos e toda a comu-nidade escolar quanto ao uso racional da ener-gia elétrica. “A gente distribui material didático nas escolas, os professores participam de uma capacitação realizada pela Eletrobras Eletronor-te, co os instrutores da Superintendência de Pro-jetos e Programas de Eficiência Energética.O acompanhamento dos resultados obtidos no Programa é feito através de medições da conta de energia dos alunos. “Nós passamos periodi-camente pelas escolas para recolher as cópias da conta de energia e em seguida cadastramos no nosso sistema em Brasília. Essa medição é

feita a cada seis meses e atualmente estamos atuando em quatro municípios – Tucuruí, Breu Branco, Goianésia do Pará e Jacundá”, explica Daniel.

Entre 2005 e 2009, participaram 32 escolas municipais, com 816 professores capacitados e mais de 32 mil alunos. Durante esse período foram economizados 84.813 kWh, o que seria suficiente para atender 129 residências, com consumo de 110 kWh, por seis meses, conside-rando a realidade da região.

Coleta seletiva é colocada em prática na Regional Tocantins

E se a lógica é descartar tudo aquilo que não tem mais necessidade de uso para Empresa, o certo é dar um destino correto para esse mate-rial. Para isso, a Subestação de Miracema é do-

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tada de lixeiras para coleta seletiva do lixo: papel, plástico, vidro, metal e restos de alimentos. No refeitório, até as embalagens de marmitex devem ser lavadas antes de jogadas no lixo. O material que pode ser reciclado é destinado à Cooperativa de Reciclá-veis Amigos da Natureza – Cooperan, localizada no Setor Santa Bárbara, na Capital tocantinense.

Em 2010 foram destinados à Coo-peran 701,2 quilos de material reci-clável. Em 2011 a meta estabelecida era 708 quilos, no entanto, até o mês de novembro, foram enviados para a reciclagem um total de 1.268,70 qui-los. “Isso mostra uma necessidade de rever essa meta, pois é notório que estamos reciclando muito mais, até por conta de um entendimento melhor do que pode ser reciclado”, explica Carlos Augusto.

No Centro de Operação do Tocantins, essa ini-ciativa tem uma grande aliada. Dona Maria do Carmo de Jesus é prestadora de serviço e dia-riamente recolhe tudo que pode ser reciclado. “Pego tudo que é embalagem plástica, coloco aqui no balde e quando está cheio levo para o depósito. Com os papéis é a mesma coisa”, rela-ta Dona Maria.

No escritório administrativo em Palmas, quem faz esse serviço de separação do lixo é o pres-tador de serviços Kairon Soares. “De caixas de papelão a garrafas pet, recolho tudo, separo e à medida que tiver uma quantidade boa que compense para o pessoal da Associação vir bus-car”, explica Kairon.

Redução no consumo de energia - Outra inicia-tiva adotada pela Regional Tocantins é redu-ção do consumo de energia elétrica. Em 2009, a Regional acumulou uma economia de 318,21 mW/h. Já em 2010, a economia aumentou para 350,19 mW/h e, até outubro de 2011, chegou a 358,50 mW/h. A meta para 2011 é 385,21 mW/h. “Não só a troca de lâmpadas proporcio-nou essa economia, mas também a conscienti-zação da força de trabalho para desligar ar-con-dicionado, lâmpadas e computadores que não estão sendo utilizados”, explica Carlos Augusto.

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Pilhas e baterias - No caminho da reciclagem, caixas foram disponibilizadas nos prédios que compõem a Regional Tocantins para depósito de pilhas e baterias usadas. Esse material, so-mado a outras baterias usadas no dia a dia da Empresa, tiveram a destinação correta por meio da contratação de uma empresa especializada, que recolheu até agora 967 quilos de baterias e chumbo ácido e 54 quilos de pilhas, baterias e outros itens tecnológicos de pequeno porte. O investimento nesse processo, considerado cole-ta onerosa, foi de R$ 6.247,20.

Adeus ao copo descartável - Percebendo que as canecas fornecidas pela Agenda A3P nem sempre eram utilizadas pelos colaboradores na hora de tomar o cafezinho ou até mesmo água, a Comissão A3P local resolveu combater o uso do copo descartável, substituindo-os por copos de vidro. “Estamos provocando essa mudança de hábito junto à força de trabalho”, comple-menta a coordenadora da A3P local, Carla Afon-so dos Santos. A substituição se dá aos poucos e ainda há copos descartáveis disponíveis para os visitantes, mas já se percebe uma redução na aquisição desse material. De 2006 a 2010, a Regional Tocantins adquiriu em média 159 mil copos descartáveis. Em 2011 esse número caiu para 128 mil, uma redução de 19,5%.

Compostagem em casa - O auxiliar adminis-trativo Richardson Freire é membro da A3P na Regional Tocantins. Em sua casa, a produção de lixo orgânico é zero. Desde abril de 2011 ele faz a compostagem em seu próprio quintal. “Cavei

buracos com cerca de 2,40 metros e neles jogo restos de comida e em cima eu coloco terra e uma camada de borra de café para espantar as moscas, evitando assim também o mau cheiro. Daqui uns meses essa terra compostada será utilizada para renovar a adubação das minhas plantas.”

Mais de mil árvores

Em 2009, Carlos Augusto dos Santos fez os cálculos em relação à quantidade de CO2 (gás carbônico) que a Regional estava emitindo, e qual a quantidade de árvores que deveriam ser plantadas para compensar essa emissão anual de CO2. O resultado foi o plantio de 1.200 árvores para compensar as cerca de 180 toneladas de CO2.

Cálculo feito, mãos à obra. Começava a busca por sementes para iniciar a compensação am-biental plantando mudas nos próprios pátios das subestações de Miracema e Colinas. Inicial-mente, cerca de mil sementes do Laboratório de Germoplasma Florestal da Usina Tucuruí foram plantadas. Nem todas se adaptaram ao solo tocantinense, mas a divulgação desse tra-balho contagiou a força de trabalho e muitos começaram a trazer sementes para que o pres-tador de serviços José Pereira, o Seu Zé da Horta, pudesse reproduzir mudas no espaço que antes era destinado ao projeto de horta na Subesta-ção de Miracema. Segundo Carlos Augusto, só nas subestações de Miracema e Colinas, já foram plantadas 1.148 árvores.

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Byron de Quevedo

“o meu melhormomento de criação é na hora de dormir.

Anoto as ideias para não esquecer até chegar

a uma solução de maior clareza”.

Claudia Pereira, autora da ilustração

Com o privilégio de guardar traços talentosos, a Eletrobras Eletronorte divide com Brasília a honra de acompanhar o retorno de grandes encontros de ilustradores, cartunistas e chargistas

Rabiscos energizados

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Por algum tempo Brasília carregou o estigma de ser uma cidade que não se via. Sua imagem era construída por políticos, intelectuais e ar-tistas de outros estados, e até do estrangeiro. Um paradoxo, já que a cidade sempre foi re-veladora de talentos. E é nesse sentido que os formadores de opinião daqui têm um árduo tra-balho a fazer.

A Eletrobras Eletronorte sempre teve valorosos artistas que têm contri-buído para construir essa identidade. Essa história começou com José Luiz de Moura Pereira, o Zé Luiz, projetista, ilustra-dor, chargista, cartunista e estudioso da heráldica. Ele se aposentou, mas deixou a missão – e o talento – da arte para os filhos José Luiz da Silva Pereira e Cláudia Maria Pereira Carvalho, ambos também chargistas, car-tunistas e ilustradores de bons traços, lotados na sede da Empresa, em Brasília. Outra estrela do traçado eletricitário é Andre Luís Mangabeira. Ele é chargista, ilustra-dor profissional e está sempre por aí a rabiscar a vida cotidiana dos candangos. Nos corredo-res da Empresa, na capital federal, é comum ouvir: “Ah, já pedi para o Magabeira fazer um caricatura”, ou então “Lembra daquela charge do Zé na última eleição?”, ou ainda “Lá na área

de Educação tem um quadro que a Claudia fez com as caricaturas de todo mundo”. É a arte cheia de energia.

Para resgatar todos esses traços fomos conhecer os representantes do mais recente movimento

do traço crítico e da ilus-tração, o Rabiscão, que está trazendo de volta a importância que essa arte merece. Que elas sempre foram importantes e mar-caram a história, é fato. O que temos agora é um pe-ríodo de reenergização. E ainda com o charme dos rabiscos, os trabalhos se mostram ainda mais inte-ressantes com os moder-nos recursos da computa-ção gráfica.

Quem é quem - Chargis-ta e cartunista, são ilus-tradores. A diferença é a forma de ver os alvos para dar início à criação. O chargista mostra as

questões sociais e faz críticas bem humoradas dos problemas da cidade, da região, do país ou do mundo. O cartunista pode fazer sua arte com críticas sociais ou não, mas ele desenvol-ve também personagens; ou seja, são cartuns que viram estórias em quadrinhos dentro de um universo próprio e recorrente. Já o ilustra-dor tem uma ‘pegada’ mais comercial, editorial, publicitária, trabalha por encomenda. Ainda que tenham um trabalho autoral, o chargista também atende um mercado de encomendas quando tem seu trabalho reconhecido em jor-nais, revistas e, mais recentemente, na internet.

De Mundica para o mundoZé Luiz é paraense, casado, tem quatro filhos, cinco netos e um bisneto. O nome artístico foi uma homenagem dele ao seu pai. Mas a influ-ência para o desenho vem de sua mãe, Mundi-ca, ou Raimunda de Moura Pereira. Hábil dese-nhista pontilista, morreu ainda nova no parto do quarto filho. Zé Luiz, herdeiro do talento dela, é também um estudioso da heráldica e deve-rá lançar o seu livro “O Brasil Simbólico - Um

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do continuidade a sua diversão predileta: dese-nhar no escritório de arquitetura do seu pai, Zé Luiz. Cláudia e seu irmão Luiz Carlos fizeram o projeto gráfico do livro de heráldica dele. Suas influências vieram de Walt Disney e Maurício de Souza, entre outros artistas. Permaneceu na Empresa seis anos e depois foi ajudar o seu pai no atelier Estúdio Z, onde ficou por 13 anos. Há quatro anos retornou.

Cláudia conta que, na ilustração, os editores dos livros sempre que-rem selecionar o que deve ou não ir a público. Segundo ela, o veredito final deveria ser do es-critor, pois é a sua obra é que esta sendo versada para a ilustração, o que demanda sensibilidade. “Quando me convidam para ilustrar livros, por exemplo, os editores já conhecem o meu traço e os atendo dentro das minhas especificidades. O meu melhor momento de criação é na hora de dormir. Anoto as ideias para não esquecer até chegar a uma solução de maior clareza. Um exemplo foi o cartaz com que venci no Festival Latino Americano de Arte e Cultura da UnB. Na hora de dormir me veio uma ideia de uma gran-de asa de borboleta. Logo rabisquei e depois a finalizei. Sempre participava desses concursos. Na ocasião os cartazes artesanais eram muito valorizados, como aqueles para os festivais de ci-nema e campanhas de governo, como vacinação, recenseamento, antitabagismo etc.

Atlas de Heráldica Oficial Brasileira”, em 2012. O conteúdo do livro compreende as bandeiras, os brasões, selos e os hinos, quando houver, com a letra e partitura musical para ser canta-da inclusive; transcrição das leis e decretos que os criaram; o resgate de algum evento histórico vinculado a esses símbolos; e quando possível, a biografia dos autores das peças.

Segundo Zé Luiz, não se trata de um tratado sobre heráldica, que abrange um vasto campo, mas aborda temas correlatos. O nome Herál-dico vem do germânico “Herald”, os Heraldos, pessoas simples que ao som dos clarins anun-ciavam vitórias e feitos heróicos da comunida-de. A heráldica, na Idade Média, começou como arte e depois virou ciência, fazendo parte da formação dos gentis homens da época. Eram considerados cultos àqueles que dominassem esses conhecimentos. “Minha mulher, Ocilene da Silva Pereira, tem sido fundamental. O inte-resse dela pelas minhas atividades artísticas foi muito importante para que eu prosseguisse na minha carreira e finalizasse este meu livro.

No Brasil cultiva-se pouco as tradições e símbo-los, como o fazem nos Estados Unidos e Europa. Quando há alterações na bandeira, brasão, ou hinos, deve-se toná-las conhecidas pelo País. Surgem situações constrangedoras quando isso não é levado a sério. Um exemplo: vi num Tribu-nal Superior de Brasília, a nossa bandeira ainda contendo as 23 estrelas, ao invés das 27 corres-pondentes a todos os estados da federação. Isso é um desrespeito e mostra falta de civismo nas nossas altas instituições. Hoje os garotos não sa-bem cantar o hino nacional. Temos que respeitar os nossos símbolos”, conta Zé Luiz.

As charges de Zé Luiz foram publicadas em vários jornais e revistas e ele foi um colaborador perma-nente do Pasquim nos seus tempos áureos. Seu personagem mais curioso é o Zé Ninguém, que de tão menosprezando pela sociedade, perdeu a sua própria identidade e também o seu corpo. Ele existe e ninguém o vê; mas ele está lá e prova dis-so é que suas vestes aparecem aqui e ali.

o traço artesanalCláudia é formada em artes plásticas pela Fun-dação Brasileira de Teatro Dulcina. Iniciou a sua vida como artista profissional aos 16 anos, dan-

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A sensibilidade e a levezada expressão feminina

O castelo medieval de Kelburn, na Escócia, foi ‘grafitado’ pelos brasileiros Nina Pandolfo, Nun-ca, e Os Gêmeos. Recentemente, o proprietário entrou formalmente com um pedido para pre-servar os desenhos, já que a fachada se tornou atração turística da região e teve repercussão mundial. O sucesso dos nossos cartunistas seria uma tendência ou uma moda transitória? Qual é a grande novidade nesta área? Cláudia explica que ultimamente o traço artesanal é visto como valorizador do trabalho gráfico.

“As últimas propagandas da Red Bull mostram isso, são desenhos animados usando a técnica do acetato muito simples, mas de ótimos efeitos comunicativos. É uma tendência também em ou-tras áreas da comunicação visual. É um retorno ao ponto de origem. Estão redescobrindo as bele-zas das artes com a direta intervenção humana.

A novidade agora é a presença da mulher. Du-rante décadas, só os homens faziam charges e cartuns, mas isso mudou. Elas estão trazendo para este tipo de expressão a sua sensibilidade, inteligência e leveza”.

Lembra da Caderneta de Poupança Colmeia?

José Luis da Silva, lotado na Gerência de Ações Socioambientais, em Brasília, é também pu-blicitário. Começou na década de 70, fazendo comerciais para a televisão. Os brasilienses já curtiram muito os seus desenhos da antiga Caderneta de Poupança Colmeia, do Consórcio

Ponta, e outros, produzidos pela Cartuns Produ-ções Cinematográficas. Trabalhou também na Sétima Arte Produções e depois chegou à Ele-trobras Eletronorte, onde esta até hoje. “Naque-la época tudo era feito à mão livre. Uma ima-gem era desenhada três vezes: se fazia o traço de animação a lápis, depois o decalcava numa folha de acetato, que era pintado quadro por quadro. Para fazer cada segundo eram necessá-rios 12 desenhos. Depois tudo era fotografado e montado na prancheta, um trabalhão”.

José Luis teve suas char-ges publicadas nos prin-cipais jornais de cidade e na internet. Iniciou na Empresa como projetista, porém logo se transferiu para a área de comunica-ção e voltou a exercer as artes gráficas. Paralela-mente foi eleito dirigente sindical e ilustrou publi-cações do Sindicato dos

Eletricitários – STIU/DF. “Vivi a fase da introdu-ção dos computadores com o uso dos recursos do photoshop. A charge está voltando porque ela é dinâmica, ela reflete o dia-a-dia e isso é bom para os meios de comunicação, pois é uma sín-tese dos acontecimentos sociais e vira motivo de reportagens. A charge do passado é referencial, um quadro da época, um marco instantâneo e é sempre fonte de consulta”, avalia José Luís.

Uma imagem. Uma síntese

Outro fator de retorno dos chargistas aos veícu-los, segundo José Luís, “é que já tem uma meni-nada fazendo um bom material. As filmagens oriundas dos cartuns Capitão America, Hook,

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exemplo, passaram a fazer parte deste capítulo da história política do Brasil. A Graúna, Zé Feri-no e o Bode Orelana (um intelectual que comia livros)... quem não se lembra desses desenhos perspicazes? O surgimento de novos gênios nes-te nível é difícil. O Henfil, por exemplo, era um especialista em driblar os censuradores. Hoje os chargistas são pautados pela linha editorial dos jornais”, afirma Zé Luís.

o imoral e o libertário

José Luis lembra ainda as proibições impostas no Brasil até a década 1980 e resgata a obra deCarlos Zéfiro (1921-1992). “Eram tidas como imorais, mas não deixavam de ser um panfletolibertário contra aquele cenário de proibições da época. Ele, a sua maneira, ajudou a romper essas barreiras à liberdade de expressão. Havia também os quadrinhos de terror, verdadeiras obras de arte a cada quadro, aliados a roteiros às vezes até muito criativos. Creio que a charge teve um período muito importante na época daditadura, mas ela ainda continua como uma ferramenta boa contra as coisas mal feitas, a política deturpada e as picaretagens em geral”.

O adeus à biologiaCom um traço marcado pelo humor, Mangabeira diz que seu trabalho acompanhou a trajetória de Ziraldo, Angeli, Laerte, entre outros mestres do cartum brasileiro. É admi-rador também dos ilustra-dores Mauro Souza, na área editorial e publicitária; e de Hiro Kawahara, o desenhis-ta dos quadrinhos das ban-

dejas do Mac Donald. “Ele, igual a mim, também abandonou a

faculdade de biologia para se dedicar às artes. O traço

dele é magnífico, mas há outros também muito bons. Planejo dar con-tinuidade fazendo um trabalho autoral, com histórias criadas e ilus-tradas por mim, ou em

parceria com bons rotei-ristas”.

Batman, mostram que estes cartuns extrapola-ram sua época, tanto na estética, quanto no tex-to. Eram trabalhos artesanais bem feitos. Então todas estas facetas se somam e aqueles gibis acabaram virando filmes. E não é só isso. Havia neles conceitos e estéticas esmeradas”, explica.

Zé Luís exemplifica com a imagem que virou símbolo do movimento contra os atores da crise financeira americana “Occupy Wall Street”, ins-pirada num desenho do cartunista Shepard Fai-rey, baseada no rosto do revolucionário católico Guy Fawkes, morto em 1606. Líder da rebelião contra os monarcas, ele objetivava incendiar o Parlamento e derrubar a família real britânica, uma história de 400 anos. “Quando a imagem é forte, acaba sendo usada em outros movimentos ainda mais relevantes; ou seja, vira a síntese de uma situação humana ou de uma época”.

o traço no cinemaAs imagens e textos para charge, ilustração, de-senho animado, cinema, entre outros, se torna-ram muito fortes na década de 1970 e 80. Em vir-tude da demanda, os americanos começaram a querer ver o que o resto do mundo estava fazen-do. E foram buscar até artistas de um pequeno estúdio argentino para fazer os traços do Scooby Doo. Acabaram indo a Hollywood para outras produções da Hanna Barbera, mas houve uma desa-celeração depois dos anos 80 e a produção mundial começou a entrar em decadência.

O resurgimento acontece logo a seguir com os cartunistas e char-gistas usando novas estéticas. “O filme Rio, por exemplo, com personagens humanizados, mostrou o refino dos desenhistas brasilei-ros e transmite muita emoção. Eu gosto mais da ilustração com traços livres e da charge política. A sua capacidade de interpretar a socieda-de, por exemplo, foi muito combatida durante os anos da ditadura. Mas esse tipo de expressão estará sem-pre presente. As charges do Jaguar, do Ziraldo, Henfil, por

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Mangabeira observa que o cartunista de Brasília não contava a história da cidade. “Talvez porque muita gente não era daqui e não tinha lá muita identidade com a região. Os nossos artistas pre-cisam do apoio da mídia local. Vários cartunistas do eixo Rio – São Paulo já tem os seus nomes con-solidados. Mas estão surgindo cartunistas locais e mostrando coisas de bom nível também, igual ao Angeli, por exemplo. Tenho participado do movimento Rabiscão. Creio que em breve a mídia vai notar os seus talentos e dará a ele a merecida importância, pois muitos já estão participando do mercado internacional de ilustração de livros, revistas e outras publicações. Afinal, charge nas-ce de um feeling que está no ar e os artistas, seja lá de onde for, o captam”, avalia Mangabeira.

A hora do RabiscãoUma sexta-feira por mês. Os maiores nomes da ilustração candanga reúnem-se para um bate-papo sobre ilustração, mercado e outras coisas rela-cionadas ao tema. Com direito a muitos rabiscos, é um encon-tro entre muita gente nova e quem está no mercado há vá-rios anos.

O Rabiscão surgiu em 2009, com o objetivo de reunir pro-

fissionais da ilustração, residentes em Brasília, num formato parecido ao praticado pelo Biste-cão - o maior encontro de ilustradores de São Paulo. O grupo mais frequente conta com Abi-pro, Amanda Grazini, Kako, Montalvo Machado, Orlando Pedroso, Renato Alarcão e Tupixel. Ele foi criado e organizado por Carlos Araújo e pelo Werley Krohling.

Depois de cinco encontros, o ilustrador e publici-tário André Zottich passou a organizá-lo. “Custe-amos brindes, materiais e outras coisas relacio-nadas a agregar movimento. Mas o evento está crescendo e seus custos também. Assim, resolve-mos reformá-lo. O fundamento é conhecer novos profissionais, fazer contatos e trocar experiên-cias. Pretendemos fazer vários eventos em sho-ppings e praças abrindo espaço para oficinas de formação de artistas. Este ano traremos artistas de renome para um evento bastante expressivo. Estamos garimpando os apoios”, afirma Zottich.

Mais do que discutir os traçados dos discursos e das ideias, o grupo promove ainda oficinas de ilustração abertas a todas as idades, além de gra-tuitas. Na edição do mês de novembro de 2011, o Rabiscão forneceu canecas que, depois de ilustra-das, foram vendidas, com renda revertida a ins-tituições de caridade. Havia ainda à disposição painéis que foram pintados pelos participantes, incorporados ao espaço de um shopping local, e a uma grande exposição itinerante ao ar livre.

André Zottich fez cursos de arte, em São Paulo, como ocupação extracurricular. Na faculdade conheceu pessoas com visões diferenciadas, o que o ajudou a desenvolver espírito crítico. “A boa charge ou cartum exige maturidade. Os ar-tistas atuais não são tão cáusticos como os que viveram a época com restrições à liberdade de expressão. Os cartunistas e ilustradores da nova geração vêm no embalo da tecnologia e da faci-lidade de poder se expressar através dos meios de comunicação, da internet. Creio que da nova geração, o João Montanaro, é o que tem a visão mais aprofundada da sociedade. Ele tem a veia crítica do Laerte, Glauco, Ziraldo e outros dotados do humor ácido e de conotação política”, explica.

Brasília é sempre vista através da política, escân-dalos, e quando alguém de fora tem que retratá--la, acaba trazendo esses clichês. Mas André crê que isso está mudando. “Com a Copa do Mundo temos que mostrar uma nova cidade. Os nos-sos ilustradores já são citados fora daqui e con-vidados a participar de vários eventos. O nosso Rabiscão tem relevância no mercado nacional e chegou a reunir 200 ilustradores na ultima edi-ção. Através do email [email protected], os interessados poderão esclarecer suas dúvidas, participação e agenda.

os cartuns, a telona e os danososOs cartunistas utilizavam seus heróis para criticar a sociedade da ocasião e o fizeram de forma con-vincente e com talento, principalmente nos perí-odos de guerras. Outras vezes esses super-heróis eram utilizados como ferramenta de propaganda, tentando justificar o envolvimento de nações nos conflitos internacionais. Segundo André, eles mos-travam a ação de guerra, mas pouco falavam dos problemas sociais que geraram esses conflitos.

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os gibis premonitórios, como o Flash Gordon, do americano Alex Raymond, na década de 1930, mostravam inventos que vieram a se materializar décadas mais tarde: carros anfíbios, o telefone celular, as naves interespaciais, esteiras rolantes, redes de computadores interligados e as ferramentas inteligentes

Estaria a nova geração de cartunistas e char-gistas madura o suficiente para gerar trabalhos com menos glamour e mais cientes da realidade? Segundo André a conscientização já está aconte-cendo. “O Gabriel Bastos e o Fábio Moon estão atentos nesta direção. Eles são quadrinovelistas brasileiros que acabaram de ganhar o Prêmio Eisner, considerado o Oscar dos quadrinhos, dado pelos editores das maiores revistas de cartuns dos Estados Unidos. Tem também a Marjane Satrape que fala sobre a sua infância, durante a revolução iraniana, suas dificuldades e sua saída do Irã, de forma muito crítica. São experiências que estão mostrando a grande contribuição dos quadrinhos para o registro da história mundial”.André cita ainda o exemplo de Quino, que ideali-zou a Mafalda. “Um personagem que via o mun-do através de cenários de conturbações, mas so-nhava com mundo melhor. Então Quino viu que

o mundo não melhorava e não publicou mais histórias com ela, alegando que a Mafalda tinha perdido a razão de viver. Aí está um exemplo de um artista que foi até o limite da sua integrida-de e não se corrompeu”.

O Pica-pau o Road Runner são mundialmente conhecidos como exemplos negativos de dese-nhos e foram, inclusive, proibidos em alguns pa-íses. Segundo André, são modelos de dominação subliminares. “O Pica-pau sempre se dá bem em cima de quem o desafia. Há outros com o mes-mo perfil: o Jerry sempre se dá bem em cima do Tom; o Papa Léguas, do Coiote. Ou seja, a mensa-gem é que, mesmo demonstrando fraqueza, eles sempre vencerão no final e a reação sempre será violenta. Infelizmente, na passagem de muitos personagens das revistas em quadrinhos para a televisão, tivemos casos extremamente danosos como esses. Ou seja, não se faz uma crítica di-reta aos governos dos países, mas ao comporta-mento social e à cultura diferente. O adulto per-cebe a mensagens subliminares, mas a criança apenas absorve seus conteúdos que ficam como ensinamentos nas suas mentes”.

No Rabiscão discutimos estas questões tam-bém: o cuidado para não passar mensagens di-ferenciadas daquilo que se deseja. Esta é maior contribuição do Rabiscão: alertar aos novos ilustradores, cartunistas, chargistas e quadri-nistas que uma vez criadas as imagens e leva-das a públicos, elas ficarão plasmadas como re-alidade permanente e dificilmente poderá ser deletada. Mesmo que o artista venha a mudar o seu pensamento, a intenção da imagem será uma eterna referência do seu pensar”.

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Amigos da Corrente Contínua, Vocês, amigos, muito nos ajudaram e enriqueceram atra-vés desta excelente revista. Agradeço a atenção e espero continuar recebendo aqui esse excelente veículo de co-municação.Um abraço amigo, severino Cassiano FerreiraÁgua Preta, Pernambuco

Parabéns pela linha editorial da Corrente Contínua, pelas matérias, principalmente sobre a nossa cultura: “A músi-ca sem fronteiras” e “Na telona, a energia do Cinema Bra-sileiro”, dando maior leveza à Revista, resultando numa leitura suave. Um verdadeiro acorde entre a cultura e a técnica, ainda mais quando nos deleitamos nas páginas sobre o Maranhão, ISO 9001:2008, e o brilho de Timon com o Prêmio Procel Cidade Eficiente e o Plano Municipal de Gestão Energética.Arthur Quirino da silva netoEletrobras Eletronorte – Maranhão

Amigos da Corrente Contínua,Parabéns pela forma como retratam o setor de energia no Brasil. Fiquei muito feliz em saber do infocentro em Belém. É muito importante ver as pessoas preocupadas em incluir brasileiros e brasileiras na realidade tecnoló-gica. Continuem com esses projetos. Um abraço fraterno, José humberto santos Belém, Pará

Em nome do Bracier parabenizo a Eletronorte pela exce-lente revista que produz. Aproveito a oportunidade para informar que podemos colocar os exemplares eletrôni-cos da revista no site do BRACIER, assim como fazemos com a Revista CIER e a Revista da Ampla http://www.bracier.org.br/pt/trabalhos.htmlAtenciosamente,bruna neves lacerdaRelações Públicas Bracier - Comitê Brasileiro da Comissão de integração Energética Regional

Parabéns à equipe de comu-nicação da Eletronorte pela edição da revista Corrente Contínua que traz na capa “O som da energia”. A matéria “A música sem Fronteiras”, que tem como tema a atuação da Orquestra do Estado de Mato Grosso, leva o leitor a perce-ber a combinação perfeita de música erudita e contexto popular/regional e também enfatiza a importância de se estreitar o contato do público es-colar com a música clássica. Sou mato-grossense de coração e conheço de perto o trabalho da orquestra e do maestro Leandro Carvalho. Certamente o apoio cultural da Eletronorte tem contribuído, e muito, para esse sucesso. Renata Ribeiro - Brasília/dF

Arícia, Recebi alguns exemplares da revista Corrente Contínua em que a Orquestra do Estado de Mato Grosso ilustra a capa. Escrevo para parabenizá-la pela excelente profis-sional que você é! Nenhum meio de comunicação até hoje conseguiu sin-tetizar a nossa história tão bem, com tanto zelo e deta-lhes como você. Qualquer leitor percebe que você se de-bruçou sobre a nossa história com um interesse genuíno e realizou uma ampla pesquisa. Obrigada! Sem falar na nossa Língua Portuguesa.... há anos eu não lia uma matéria com uma revisão tão minuciosa.Parabéns! Muito obrigada!Um grande abraço, lúcia Carames sartorelliorquestra do Estado de Mato Grosso

Aos jornalistas da revista Corrente Contínua, Fico muito orgulhoso do setor elétrico brasileiro quan-do leio a Revista da Eletronorte. É impressionante como uma empresa de geração e transmissão de energia pode estar presente em tantos projetos importantes para o País, desde um festival de cinema até programas indíge-nas. Parabéns pela matéria das certificações, que mostra que uma empresa pública pode estar alinhada com o que há de melhor em gestão. Um grande abraço e parabéns a todos da redação. Julio AlmeidaSão Paulo – SP

Obrigada pelo envio da revista Corrente Contínua e ma-nifestamos o interesse em continuar recebendo a publi-cação.maria hilda de medeiros GondimCoordenadoria de desenvolvimento de ColeçãoUniversidade Federal do Pará

Agradecemos o envio da revista Corrente. Gostaríamos de continuar recebendo os exemplares. Atenciosamente,neubler nilo e Josemara brito Biblioteca Central - Universidade Federal do Recôncavo da Bahia

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Fotolegenda

Texto: Byron de QuevedoFoto: Rony Ramos

Cabeças, troncos e membros Galhas se contorcem nuasRígidas ao sol a secarAbrem-se matas antes verdesPara o rebanho pastarCinzas toscas quedam brancasMorte abrupta sobre serrasNa dança dos motosserrasQueria eu quem me deraOutra música pra tocarSegue o fogo na sequênciaCumprindo com obediênciaSua missão de arrasarBani-se dos campos sem clemênciaOnça, cutia, cobra, lontra, carcará: tudo que há.Fujam todos enquanto é tempoAntes de o gado se espalhar.Há de se desenvolver fortes membrosPra fome humana desmembrarOlhares meigos fitam troncos,Sagradas em outras terrasMugem cabeças condolentesAté sua hora chegar

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