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ANO XXX - Nº 220 - MAIO/JUNHO - 2008 A REVISTA DA ELETRONORTE Nosso povo, nossa força Etnias e descendências se encontram em 35 anos de história corrente contínua corrente contínua

Corrente Contínua 220

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A revista da Eletrobras Eletronorte

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Ano XXX - nº 220 - MAio/Junho - 2008 A REViSTA DA ELETRonoRTE

nosso povo,nossa força

Etnias e descendências se encontram em 35 anos de história

corrente contínuacorrente contínua

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SCN - Quadra 06 - Conjunto A Bloco B - Sala 305 - Entrada Norte 2

CEP: 70.716-901Asa Norte - Brasília - DF.

Fones: (61) 3429 6146/ 6164e-mail: [email protected]

site: www.eletronorte.gov.br

Prêmios 1998/2001/2003

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corrente contínua

GERAÇÃoConcessões: 2015 não está tão longePágina 3

TRAnSMiSSÃoParcela Variável é desafio empresarialPágina 14

hiSTÓRiAMemória do elefantePágina 28

RESPonSABiLiDADE SoCiALGestão Energética MunicipalPágina 39

EnERGiA ATiVAEnergias renováveis expõem embate entre Norte/Sul Página 48

AMAZÔniA E nÓSRoraimaPágina 52

CoRREio ConTÍnuoPágina 54

FoToLEGEnDAPágina 55

Conselho Editorial: Diretor-Presidente - Jorge Palmeira - Diretor de Planejamento e En-genharia - Adhemar Palocci - Diretor de Produção e Comercialização - Wady Charone -Diretor Econômico-Financeiro - Antonio Barra - Diretor de Gestão Corporativa - Manoel Ribeiro - Gerentes Regionais - Coordenação de Comunicação e Relacionamento Empresa-rial: Isabel Cristina Moraes Ferreira - Gerência de imprensa: Alexandre Accioly - Reporta-gem: Alexandre Accioly (DRT 1342-DF) - Bruna Maria Netto (DRT 8997-DF) - Byron de Quevedo (DRT 7566-DF) - César Fechine (DRT 9838-DF) - Érica Neiva (DRT 2347-BA) - Michele Silveira (DRT 11298-RS) - Oscar Filho (DRT 0053-AP) - Núcleos de Comunicação das unidades regionais - Fotografia: Alexandre Mourão - Roberto Francisco - Rony Ramos - Núcleos de Comunicação das unidades regionais - Foto da capa: Paulo César Nobuo Kojima também homenageia os 100 anos da imigração japonesa - Arte da contracapa: Sandro Santana/Agência Machado - Tiragem: 10 mil exemplares - Periodicidade: bimestral

CiRCuiTo inTERnoCidadania com energia - Página 21

MEio AMBiEnTECertificação NBR IS0 14001Página 9

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GERA

ÇÃo

Michele Silveira

A prorrogação de concessões de usinas geradoras de energia elétrica é uma questão complexa e polêmica. No Ministério de Minas e Energia, um grupo de trabalho foi forma-do para discutir o assunto. Na Câmara e no Senado, parlamentares encaminham requeri-mentos e convocam seminários. O presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, pede uma solução até dezembro próximo, mas já assinou uma resolução do Conselho Nacional de Política Energética – CNPE, que vai avaliar o assunto. O grupo, coordenado pelo secretá-rio-executivo do Ministério de Minas e Ener-gia, Márcio Zimmermann, deve apresentar, até o fim do ano, as alternativas exigidas pelo Presidente a fim de resolver as incertezas em relação às concessões.

Em 2015 vencem as concessões de 18 usinas geradoras (hidrelétricas e térmicas), 37 distribuidoras e 73 mil quilômetros de li-

Concessões: 2015 não está tão longe

nhas de transmissão. O que fazer? Boa parte dessas concessões está hoje nas mãos de empresas do Sistema Eletrobrás, como é o caso da Usina Hidrelétrica Samuel (foto abai-xo), de propriedade da Eletronorte, que tem prazo de concessão a vencer em 2009.

Desde a implantação do atual modelo do Setor Elétrico, em 2004, muitos especialis-tas alertam que a questão deve ser discuti-da com a “visão de longo alcance”. Mas em março deste ano, a tentativa frustrada de ne-gociação da Cesp, estatal paulista colocada à venda pelo Governo do Estado de São Paulo, antecipou um debate que parecia restrito aos corredores do Setor. Em razão das incertezas sobre a renovação das usinas hidrelétricas de Jupiá e Ilha Solteira, que representam 67% de toda a geração da empresa, nenhum con-sórcio se credenciou ao leilão. Na época, o Governo Federal descartou uma solução ex-clusiva para a Cesp e decidiu acelerar as aná-lises sobre a prorrogação de concessões.

Comissão analisará alternativas para o Setor Elétrico

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Regras claras - De acordo com as infor-mações da Agência Nacional de Energia Elétrica - Aneel, os contratos de concessão assinados com as empresas prestadoras dos serviços de transmissão e distribuição de energia estabelecem regras claras a respeito de tarifa, regularidade, continuidade, segu-rança, atualidade e qualidade dos serviços e do atendimento prestado aos consumidores. Da mesma forma, define penalidades para os casos em que a fiscalização constatar irregu-laridades. A concessão para operar o sistema de transmissão é firmada em contrato com duração de 30 anos. As cláusulas estabe-lecem que, quanto mais eficiente forem as empresas na manutenção e na operação das instalações de transmissão, evitando desli-gamentos por qualquer razão, melhor será a sua receita.

Os contratos de concessão de geração, no caso de novas concessões outorgadas a partir de leilões, têm vigência de 35 anos, podendo ser renovados por igual período, a critério da Aneel. Para as concessões outorgadas antes das leis nº 8.987/1995 e 9.074/1995, a reno-vação é por 20 anos.

Para a advogada Maria D’Assunção Cos-ta (foto abaixo), doutoranda em Energia pelo Instituto de Eletrotécnica e Energia da

Universidade de São Paulo - IEE/USP, e autora do livro As Agências Reguladoras e o Direito Brasileiro, “a movimentação dos poderes Exe-cutivo e do Legislativo é necessária em virtude da importância vital da energia elétrica na vida das pesso-as e das empresas. Vale aqui uma ressalva que merece destaque. Por que não há renovação das conces-sões? O que há, no meu entender, após longos e demorados estudos, é

a prorrogação da contratualização, que exige outro tratamento jurídico-regulatório”, expli-ca. Segundo ela, “as situações do setor de energia elétrica que não existiam no regime anterior à década de 90, a exem-plo dos serviços de transmissão e aqueles que não passaram por um processo de privatização, exigem um estudo detalhado de todos os direitos adquiridos pe-las partes contratantes de boa-fé ao longo de décadas”.

A questão é mesmo comple-xa e polêmica. Exige a revisão de dispositivos legais, políticos

e econômicos. No Senado, o vice-presidente da Comissão de Infra-estrutura, senador Del-cídio Amaral (PT-MS) (foto abaixo) quer que a discussão avance na Casa. “É preciso reu-nir os diversos atores do Setor e buscar uma solução de consenso que, acredito, seja es-tender o prazo das concessões. Mas essa dis-cussão não pode ser feita a ferro e fogo; é um

debate sério que exige responsa-bilidade. O Estado brasileiro não pode abrir mão da segurança e de garantir o que for melhor para a sociedade”, afirmou o Senador em entrevista à Corrente Contí-nua. Ainda no início do mês de junho ele apresentou um reque-rimento à Comissão so licitando a realização de uma audiência pública para debater o tema.

Na primeira semana de junho de 2008, equipes da Eletronorte, Aneel e Operador Nacional do Sistema - ONS, estiveram na Usina Tucuruí realizando o chamado ensaio para confirmação da capacidade de geração das unidades geradoras da segunda etapa da Hidrelétrica. De acordo com o assessor Walter Fernandes, a Eletro-norte solicitou a análise a fim de aumentar a geração em 15 MW em cada uma das 11 máquinas da segunda eta-pa, totalizando 165 MW. “Depois do ensaio que fizemos, o ONS consolidará as informações, contratará uma au-ditoria e enviará os dados à Aneel, que então concederá seu parecer técnico. Caso autorizada pela Aneel, Tucuruí poderá aumentar a energia assegurada para venda no SIN. “Esperamos ter assegurados cerca de 50% a 60% desses novos 165 MW. Isso pode significar cerca de R$ 60 milhões a mais, ao ano, na receita da Eletronorte”.

Esse é um exemplo de por quê as discussões sobre a renovação das concessões precisam incluir, de fato, aspectos que devem ser considerados a médio e longo prazos. As opções de modernização de uma usina hi-drelétrica podem incluir desde a troca de equipamentos analógicos por digitais até a implantação de novos ge-radores. Mas há diferenças entre os conceitos cada vez mais utilizados nas discussões sobre ampliação da oferta e da demanda de energia elétrica no País. Embora não haja consenso absoluto sobre o assunto, tecnicamente a diferença entre os conceitos é que na repotenciação são alteradas as condições originais de um projeto, como o nível máximo de reservatório; já na recapacitação, a idéia

Recapacitação de Tucuruí pode acrescentar 165 MW

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Na Câmara dos Deputados o debate tam-bém já começou. No último mês de maio, a Comissão de Minas e Energia aprovou o re-querimento do presidente da Co missão, de-

putado Luiz Fernando Faria (PP-MG) (foto ao lado), que tratava da realização de um seminário e da situação das concessões públicas do Se-tor Elétrico brasileiro. Na justificativa do requerimen-to, Luiz Fernando destaca o problema da renovação das concessões públicas que vencem em 2015. “A data

parece distante, mas tem sérias repercussões de curto prazo, já que os investimentos, neste caso, são realizados considerando um hori-zonte de longo prazo”, explica o deputado.

Samuel - Na Eletronorte, Samuel é o exemplo mais recente. A energia gerada pela Usina deve estar disponível no Siste-ma Interligado Nacional - SIN até dezembro deste ano e, portanto, sujeita a uma Medida Provisória preparada pelo governo para nor-matizar a transição entre o sistema isolado do Acre e Rondônia e o SIN. Hoje, a legisla-ção prevê uma renovação, por igual período, da primeira concessão. Tucuruí, por exem-plo, não tinha contrato de concessão por-que na época da construção existia apenas o Decreto nº 74.279, de julho de 1974. Com as exigências da nova legislação, a situa-ção foi adequada e a concessão vence em 2024, podendo ser renovada. No caso dos empreendimentos já interligados ao SIN, a legislação prevê, na data do primeiro venci-mento, duas opções: a renovação legal ou a

é recuperar ou melhorar as condições de geração de energia. Foi o que aconteceu na Usina Coaracy Nunes, no Amapá, que com uma potência instalada de 78 MW, é a mais antiga da Eletronorte. Há três anos, a Hidrelétrica passou por um processo de recapacitação e aumentou a potência de uma máquina geradora sem afetar o meio ambiente, utilizando recursos tecnológicos na troca de componentes, além da colocação de uma nova turbina.

Já em Curuá-Una, Hidrelétrica na região de Santa-rém, no Pará, foi instalada, em abril deste ano, mais uma turbina com capacidade de 10 MW. Com a quarta turbina em funcionamento, prevista para entrar em ope-ração em 2009, Curuá-Una aumentará sua capacidade de produção de energia dos atuais 30 MW para 40 MW, energia suficiente para tornar auto-suficiente o municí-pio de Santarém.

Vantagens - O professor Célio Ber-mann, do Instituto de Eletrotécnica e Energia da Universidade de São Paulo - USP, conduziu uma pesquisa sobre o po-tencial de repotenciação das turbinas das usinas hidrelétricas no Brasil. De acordo com estudo elaborado em 2001, com a repotenciação (troca das turbinas) de 67 usinas antigas, seria possível adicionar ao mercado 11 GW de potência. Em de-zembro de 2007, o jornal O Engenheiro publicou a opinião do especialista: “A re-potenciação, além de garantir o aumento do suprimento, traz vantagens ambientais e sociais. O objetivo de repotenciar usinas hidrelétricas com mais de 120 mil horas de operação (20 anos) pode ser atingido pelo aumento da potência instalada ou do fator de capacidade”.

Bermann ressalta ainda que é preciso planejamento para definir quais usinas seriam repotenciadas e em que ordem isso seria feito. Esse planejamento, segundo ele, envolveria uma articulação entre diversos órgãos que atuam no Setor Elétrico nacional, como o ONS, Aneel e EPE, levando em consideração que os trabalhos duram em média de quatro a seis meses. “Trata-se de um período de tempo que a usina ficará indisponível e, sem planejamento, o sistema pode ficar comprometido”, analisa o especialista.

São três os tipos de repotenciação: mínima, que corres-ponde ao reparo da turbina e do gerador, recuperando seus rendimentos originais, com ganhos de capacidade de 2,5% em média; leve, onde se obtém ganhos de capacidade da ordem de 10% e inclui a repotenciação da turbina e do gerador; e pesada, com ganhos de capacidade de 20% a 23% com a troca do rotor, além da turbina e gerador.

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entrega ao poder concedente para a venda da energia em leilão.

De acordo com os especialistas, os prin-cipais problemas da indefinição ou dos pra-zos “escassos” são a falta de investimentos e as incertezas das vantagens de investir. “No caso de Samuel, por exemplo, poderia ser fei-

ta uma modernização, mas a indefinição dos normativos legais a que a Usina está sujeita adia esses investimentos”, explica o assessor da Gerência de Operação e Manutenção da Geração, Walter Fernandes dos Santos (foto ao lado). Se-gundo ele, a discussão sobre a renovação das concessões é importante, mas também é preciso definir os normativos para os empreendimentos que deixarão de ser isolados para fazer parte do SIN. A Medida Provisória deve ser apresentada ainda no pri-meiro semestre deste ano.

novidade - O engenheiro Mário Miran-da (foto à direita, na página seguinte), da Coordenação de Viabilização e Acompa-nhamento de Negócios, explica que, nos casos de nova licitação do potencial hi-dráulico com a usina instalada, existem questões que merecem ser avaliadas e devidamente tratadas. Ele lista “a tempes-tividade da regularização das autorizações e licenças, para que não cause conflitos de responsabilidades, e levem à insegurança;

Num cenário de debates sobre prazos de concessão, uma análise do Banco Mundial fomentou uma discussão latente no Setor Elétrico brasileiro. Para quem conhece a longa e rigorosa tramitação até a obtenção das licenças de Instalação e Operação, a preocupação do Banco Mundial pode fazer sentido: o atual processo atrasa e encarece a energia. O Banco recomenda melhor planejamento, escla-recimento de responsabilidades e resolução de conflitos.

O documento analisa o processo de licenciamento am-biental no setor hidrelétrico e revela que as dificuldades ambientais e sociais, incluindo os aspectos regulatórios do sistema elétrico, não são os únicos fatores que restringem investimentos em geração. Os autores calcu-lam que o sistema de licenciamento como um todo impõe altos custos diretos e indiretos aos investimentos, chegando a representar quase 20% do total.

O estudo identifica a falta de clareza entre as atribuições dos diversos órgãos envolvidos como um dos principais gargalos do sistema de licenciamento. O problema ocorre desde o planejamento dos projetos hidrelétricos até a

sua implementação. Na opinião de John Briscoe (foto ao lado), diretor do Banco Mundial no Brasil, “para asse-gurar que a matriz energética brasileira permaneça uma das mais limpas do mundo, é preciso evitar criar incen-tivos indiretos para o uso da energia térmica, muito mais poluente do que a hidreletricidade. Para isso são neces-sárias melhorias nos sistemas regulatório e de licencia-mento, possibilitando que o enorme potencial hídrico do Brasil, grande parte do qual está na Amazônia, possa ser explorado de forma eficiente e sustentável.”

Para Alberto Ninio (foto abaixo), co-autor do relatório, “o Brasil vem tomando diversas e importantes ações para tor-

nar mais eficiente o processo, mas para avan-çar mais é preciso um esforço bem articu-lado entre todos os órgãos envolvidos, como a EPE, Agência Nacional de Águas - ANA, Ibama e agências estaduais. Uma melhor co-ordenação entre as agências governamentais também contribuiria muito com o aprimora-mento do processo de planejamento.”

O estudo deixa claro que não são ne-cessárias reformas radicais para melhorar

Banco Mundial sugere melhorias no sistema regulatório

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a dúvida que pode levar a empresa atual-mente detentora da concessão a postergar a realização de novos investimentos, rela-xando em sua responsabilidade e levando aos limites mínimos até que ocorra a trans-ferência, em desfavor da confiabilidade; a falta de informações gerenciais da usina,

com o histórico dos equi-pamentos, dando causa à indisponibilidade e perda da confiabilidade, podendo o novo responsável levar tempo para assimilar a real situação de sua nova usina; e o período de transição na gestão da usina, onde deveria existir um período prévio de informações de gestão”.

Segundo Miranda, atualmente vive-se uma situação ainda não experimentada, com a maioria das concessões vencendo no médio prazo, entre 2014 e 2017. Ele explica que “apesar das dificuldades finan-ceiras enfrentadas pelo governo em prover de infra-estrutura necessária ao desen-volvimento, foi feita a mudança estrutural do Setor Elétrico nos anos 90, atraindo a

participação do capital privado. Com isto houve a criação da figura do Produtor Inde-pendente de Energia - PIE e da exigência de desverticalização das empresas”. Mário lembra que a figura do PIE é o de socie-dade de propósito específico, que recebe a concessão para uso de bem público - a exploração do potencial hidráulico -, e a de empreender a construção e a produção de eletricidade segundo seu risco e custo.

E acrescenta: “Por força da lei geral de con-cessões de serviços públicos nº 8.987/1995, todas as concessões são concedidas median-te licitação. A própria Lei nº 9.074/1995 deu tratamento específico para o Setor Elétrico ao estabelecer que novas concessões tivessem prazo de 30 anos, podendo ser renovadas por mais 20. A Lei nº 10.438/2004 definiu o pra-zo e a forma de julgamento das novas con-cessões por meio do menor preço ofertado da eletricidade”.

Miranda ressalta que a questão é avaliar se o novo ambiente a ser criado assegurará a prioridade em estimular a implantação de no-vas usinas, agregando capacidade ao sistema elétrico; ou se persistirá a vontade empresa-rial de se ter um novo nicho de negócios, ao direcionar seus recursos para a busca de usi-na existente, mais barata e de menor risco frente a uma nova usina.

Legalidade - A advogada Maria D’As-

sun ção explica que os contratos de con-cessão de geração têm uma base jurídi-ca que remonta ao Código de Águas de

significativamente os resultados do sistema. Entre as recomendações, o esclarecimento por lei das respon-sabilidades entre as esferas federal e estadual; a ado-ção de mecanismos de resolução de conflitos para o processo de licenciamento, especialmente para gran-des projetos; licenças prévias que possam incidir sobre o conjunto de projetos propostos para uma mesma ba-cia; melhoria no conteúdo e revisão dos estudos de im-pacto ambiental; e melhorias no processo de planeja-mento energético. O resumo do estudo está disponível na página do Banco Mundial: www.bancomundial.org.br

Curuá-una (página anterior) e Coaracy nunes (acima) foram recapacitadas

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Conheça as etapas de planejamento e licenciamento de empreendimentos hidrelétricosEstimativa do potencial hidrelétrico - Primeira ava-

liação (feita em escritório) do potencial, quantidade de locais barráveis e custo do aproveitamento desses po-tenciais. Definição de prazos e custos dos estudos do inventário. Identificação das características ambientais gerais da bacia.

inventário - Determinação do potencial energético da bacia, estabelecendo a melhor divisão de quedas e a estimativa do custo de cada aproveitamento. Análise preliminar dos efeitos ambientais, tendo em vista as pro-postas de divisão de quedas e as recomendações espe-cíficas para os estudos de viabilidade.

Viabilidade - Definição da concepção global de um dado aproveitamento, incluindo seu dimensionamento e obras de infra-estrutura para sua implantação.

Licença Prévia (LP) - Deve ser solicitada ao Ibama na fase de planejamento da implantação, alteração ou am-pliação do empreendimento. Essa licença não autoriza a instalação do projeto, mas aprova a viabilidade ambien-tal e autoriza sua localização e concepção tecnológica. Estabelece também as condições a serem consideradas no desenvolvimento do projeto executivo.

Licença de instalação (Li) - Autoriza o início da obra ou a instalação do empreendimento. O prazo de va-lidade dessa licença é estabelecido pelo cronograma de instalação do projeto ou atividade, não podendo ser superior a seis anos. Empreendimentos que impliquem desmatamento dependem, também, da Autorização de Supressão de Vegetação. Para subsidiar a etapa de LI o empreendedor elabora o Plano Básico Ambiental e, se a obra implica desmatamento, é também elaborado o inventário florestal.

Licença de operação (Lo) - Deve ser solicitada antes do empreendimento entrar em operação, pois autoriza o início do funcionamento da obra . Sua concessão está condicionada à vistoria, a fim de verificar se todas as exigências e detalhes técnicos descritos no projeto apro-vado foram desenvolvidos e atendidos ao longo de sua instalação, e se estão de acordo com o previsto nas LP e LI. O prazo de validade é estabelecido, não podendo ser inferior a quatro anos nem superior a dez.

1934, à legislação da década de 40 e de 50 para, em seguida, remeter à Lei de Concessões nº. 8987/1995. Segundo ela, “a situação legal e contratual é intricada por-que exige a conjugação de um emaranhado de leis e decretos. Dessa maneira, aquelas concessionárias que obtiveram os direitos de exploração da concessão de geração antes da Constituição de 1988 e da Lei de Conces-sões, deverão ser analisadas na perspectiva dos direitos que ela já incorporou e quais es-tão na esfera do poder concedente”. Em re-sumo: a situação hoje é de um emaranhado de atos normativos e situações de fato que exigem reflexão dos agentes econômicos e dos órgãos governamentais.

Para Mário Miranda, as regras a serem criadas devem definir se as usinas velhas manterão a sua finalidade de aplicação para o serviço público de eletricidade. “Assim”, diz ele, “o caso da autoprodução teria regras distintas e apropriadas, e também estaria assegurado que os consumidores seriam os beneficiados diretos do processo. Embora energeticamente não haja diferença no ba-lanço final, há diferença na apropriação e na alocação financeira do benefício”.

Para tratar a questão das usinas velhas, opções não singulares: licitação pelo menor preço da energia elétrica ou pelo maior ágio, e, ainda, a opção de renovar a concessão do uso do potencial hidráulico, porém sub-metendo o seu preço à competição. “Nes-te caso, deve ser estabelecido um preço teto, típico de leilão de energia existente, de modo que, para qualquer situação, seria a bem dos consumidores pela modicidade do preço final. Contudo, não se deve esquecer que a remuneração adequada é uma forma econômica de captar recursos financeiros para investimentos em novas usinas”, expli-ca Miranda.

A usina já depreciada tem seus cus-tos diretamente ligados à produção de eletricidade. Essa depreciação significa também que seus bens se encontram econômica ou fisicamente exauridos. O importante é o aporte de capital para a sua recapacitação, modernização ou até mesmo repotenciação, para garantir uma nova concessão. A demanda por recursos financeiros e prazos apertados para im-plantação, pode submeter o agente gera-dor a riscos perante seus compromissos no ambiente de comercialização e de fun-cionamento integrado.

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Linhas de Rondônia e Amapá foram as primeiras a receber a certificação da nBR iS0 14001

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Érica Neiva

Na Amazônia brasileira, cerca de 13,4 mi-lhões de consumidores (77,9%) são atendi-dos com energia elétrica do parque gerador da Eletronorte, transmitida por quase dez mil quilômetros de linhas em alta e média ten-são. O que pouca gente sabe é que as linhas de transmissão são as estruturas que mais avançaram na convivência com o meio am-

biente. A Empresa adota critérios ambientais já na concepção e implantação dos projetos. Ou seja, evita suprimir toda e qualquer ve-getação que tenha a função de preservação permanente, dadas as suas propriedades com relação à natureza e ao papel que re-presenta. A depender da necessidade, opta-se, inclusive, pelo desmatamento seletivo e pelo alteamento das torres, para não preju-dicar a floresta.

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tion, é uma organização não-governamental fundada em 1947, com sede em Genebra, Suíça, responsável pela elaboração de nor-mas de padronização com aplicação interna-cional. Participam da organização mais de 91 países, que representam aproximadamente 95% da produção industrial do mundo.

A Norma ISO 14001:2004 aborda na sua introdução a importância, os benefícios e as características gerais do Sistema de Gestão Ambiental - SGA: “Organizações de todos os tipos estão cada vez mais preocupadas em atingir e demonstrar um desempenho ambiental correto, por meio do controle dos impactos de suas atividades, produtos e ser-viços sobre o meio ambiente, coerentemente com sua política e seus objetivos ambientais”, esclarece Aníbal.

As linhas de transmissão de Rondônia e Amapá foram as primeiras certificadas no Brasil, em 2005, segundo os requisitos da Norma ISO 14001. Esta certificação expirou este ano, uma vez que a sua validade é de três anos. Hoje, os empreendimentos encon-tram-se em processo de recertificação, ou seja, a Empresa já contratou, por licitação, um organismo certificador que, no segundo semestre de 2008, submeterá o sistema a novas auditorias.

Auditorias - Entre os técnicos de nível supe-rior da Eletronorte estão os analistas ambien-tais. Neste grupo encontramos o químico e professor Alan Alves Ferro (foto acima à direi-ta), que trabalha na área de gestão ambiental. Desde fevereiro de 2007, o analista fez cursos de legislação ambiental e análise e interpreta-ção da ISO 14001.

Mas o treinamento que mais chamou a aten-ção de Alan foi o de auditor-líder. “O curso é muito completo, pois possibilita à Empresa au-ditar não apenas seus próprios processos, mas também fazer auditorias externas”, esclarece. O treinamento abordou temas como visão geral da série ISO 14000, objetivos do SGA e visão geral de auditoria. Com duração de 40 horas, o curso avaliou tanto a participação quanto o desempenho dos candidatos a auditores, que necessitavam alcançar resultado de no mínimo 70%.

Para se tornar um auditor-líder o candidato deve atender a critérios mínimos de educa-ção, experiência e treinamento específico. “Temos uma idéia equivocada sobre o pro-cesso. Geralmente, falamos que a instalação ‘vai sofrer uma auditoria’. Culturalmente o ter-

Tal fato acontece, por exemplo, com o traçado da interligação Brasil/Venezuela, ao passar pela reserva indígena São Marcos, em Roraima, onde quilômetros de linhas foram erguidos sobre a floresta para evitar a su-pressão de vegetação. Há também grande preocupação em se manter as matas ciliares, que têm papel significativo na proteção das calhas dos rios e do assoreamento, ajudando a manter o seu curso natural.

Uma linha de transmissão tem cerca de 100 requisitos legais a serem cumpridos. Estudos para identificar os diversos aspectos e impac-tos ambientais, são feitos antes da implanta-ção do empreendimento. Por sua vez, os ór-gãos ambientais autorizam e deliberam sobre a gestão ambiental do empreendimento.

Após estudar e caracterizar todo o am-biente no qual a obra será implantada - solo, vegetação, condições climáticas, densidade populacional, entre outros - são desenvolvi-dos os programas ambientais, onde são defi-nidas as medidas para compensar ou mitigar os impactos e aspectos ambientais. “O cui-dado ambiental da Eletronorte nasceu com

a Empresa. À medida que o conhe-cimento foi evoluindo, a Empresa também evoluiu com ele”, reflete o gerente do Sistema de Gestão Am-biental da Produção, Aníbal de Bia-se (foto ao lado).

Pioneirismo - O compromisso am-

biental da Eletronorte na concepção e execução dos seus projetos exige que ela busque certificar suas insta-lações por meio dos organismos de

Certificação de Sistema de Gestão Ambiental - OCA, acreditados pelo Inmetro, que ates-ta a conformidade e a competência desses organismos para realizar tarefas específicas de avaliação. “Certifica-se, pois, o negócio que tem uma interação externa muito forte em termos de visibilidade. É uma forma de prestar contas. Ou seja, uma instituição ex-terna credenciada, com validade e reconhe-cimento nacional e internacional, é que vai atestar o quanto estamos, ou não, adequados ambientalmente. O certificado é emitido em função de análises e verificações que seguem os mesmos requisitos em qualquer país do mundo”, explica Aníbal.

O organismo que certifica o sistema de transmissão da Eletronorte o faz de acordo com os requisitos da NBR ISO 14001. A ISO - International Organization for Satandadiza-

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mo dá idéia de angústia. Não era para ser as-sim, pois a auditoria é uma oportunidade de termos um olhar independente sobre o nosso processo para contribuir com oportunidades de melhorias contínuas”, ensina Alan.

Para receber a certificação ISO 14001, qualquer empreendimento deve passar por uma auditoria ambiental. Inicialmente, faz-se uma pré-auditoria para que o organismo certificador tenha ampla noção de como está aquele sistema de gestão; depois é realizada uma auditoria inicial, seguida de uma final de certificação. A cada ano, o organismo certifica-dor faz auditorias de manutenção para checar se o SGA está de acordo com a ISO 14001.

A Eletronorte realiza auditorias internas em suas instalações a cada seis meses. Os crité-rios de auditoria ambiental para o ciclo 2008 consideram aspectos como identificação e controle de legislação; gestão de diretrizes es-tratégicas; divulgação da política ambiental; e implementação e desempenho do SGA e da Norma ISO 14001:2004.

Para Alan Ferro, que teve uma experiência anterior na área ambiental de uma empresa que certificava segundo a ISO 14001, a sua vivência no SGA da Eletronorte tem um “gos-tinho” especial. “Antes eu vivia o processo basicamente como telespectador. Hoje estou na condução do processo, o que tornou meu olhar bem diferente. Este trabalho tem agre-gado muito à minha vida profissional”.

Amapá - Na volta de mais um dia de tra-balho, o pai chega em casa e encontra luzes acesas nos diversos cômodos da residência. Chama os dois filhos para uma conversa com o objetivo de lhes mostrar a importân-cia de se economizar energia elétrica. E essa conversa não pára por aí. O pai, o matemá-tico Walcemir Souza Cunha, confessa que a

questão ambiental no seu cotidiano extrapo-lou os muros da Eletronorte e mudou a sua postura profissional e pessoal. Coordenador do SGA do Amapá e pós-graduado em Di-reito Ambiental, Walcemir prossegue: “De-pois que nos envolvemos com as questões ambientais, o nosso comportamento mudou. Em casa, incentivo a economia de energia e água; e também ensino a não jogar lixo na rua. Com exemplos práticos, tento passar para os meus filhos a importância de se con-servar o meio ambiente”, reflete.

Walcemir orgulha-se de trabalhar no sis-tema de transmissão que abrange as subes-tações de Santana e Coaracy Nunes, bem como a linha em 138 kV Coaracy Nunes/Santana, que são as primeiras instalações de transmissão brasileiras certificadas pela ISO 14001: “Tudo que a Eletronorte tira para pro-

Conheça as ações desenvolvidas pelo SGA Programa de Recuperação de áreas Degradadas - recupera-

ção das áreas ambientalmente alteradas pelas circunstâncias inerentes ao processo de implantação do empreendimento.

Programa de Educação Ambiental - voltado para colaborado-res da Empresa e para comunidades que residem próximas à linha de transmissão.

Plano de Atendimento à Emergência - constituído por medi-das que visam a restabelecer o sistema quando é afetado por problemas ambientais derivados de situações emergenciais, como vazamentos de óleo ou acidentes com terceiros nas imediações da linha.

Procedimento de Gerenciamento de Resíduos - comprova-se todo o fluxo dos insumos até à última etapa, que é a destina-ção final dos resíduos gerados neste processo produtivo.

Procedimento de Comunicação interna e Externa - assegura à população e ao público interno o acesso às informações so-bre os impactos socioambientais previstos no empreendimen-to e as respectivas medidas de mitigação e compensação.

Programa de Manutenção de Faixa de Servidão - visa a man-ter a limpeza da faixa de servidão, buscando o menor impacto ambiental possível nos ecossistemas da região, e a sua total segurança e operacionalidade.

Política Ambiental - a adoção de uma política ambiental é imprescindível para que se conceba um SGA.

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duzir energia elétrica é do meio ambiente. Ela vive em função de matérias-primas retiradas do meio ambiente. Por isso a importância das instalações trabalharem com o SGA”.

A certificação ISO 14001 é um reconheci-mento importante para qualquer empreendi-mento, contudo, apenas simboliza a obtenção de uma conquista contínua - a implantação e manutenção de um SGA eficiente. “Com a instituição do SGA, tivemos uma mudan-ça cultural que não é fácil, pois se trata de meio ambiente, de educação e responsabili-dade social. Os órgãos ambientais passaram a nos ver com outros olhos. Há também o re-conhecimento da comunidade e dos colegas da Empresa, que trabalharam durante dois anos, incansavelmente, para implantar o sis-tema”, relata Walcemir.

Rondônia - O Programa de Educação Am-biental da Eletronorte mereceu destaque em Rondônia. Ele alcançou 16 dos 13 municí-pios por onde passa uma linha de transmis-são operada pela Empresa. As palestras, que tratam de temas como os riscos elétricos, queimadas e lixo, foram realizadas em esco-las, centros comunitários, igrejas e residên-cias, demonstrando que muitas pessoas têm paixão pelo que fazem e procuram deixar isso bem claro.

Fernando Inácio, coordenador de Meio Ambiente da Regional de Produção e Comer-

cialização de Rondônia (foto abaixo), é uma dessas pessoas. Com 23 anos de Eletronorte, o engenheiro civil lista as prioridades na sua vida. “Primeiro é a minha família que sempre me acompanha. Segundo é trabalhar numa Empresa chamada Eletronorte, que atua na área que é o futuro do mundo. E o terceiro é o meu sonho de produzir e viabilizar grandes projetos na Amazônia por meio do desenvol-vimento sustentável e, para isso, tento trazer minha equi-pe junto com este sonho”.

É importante destacar que todas as instalações da Regio-nal de Rondônia foram certi-ficadas segundo os requisitos da Norma ISO 14001. Entre elas, as subestações de Por-to Velho e Abunã, e a linha de transmissão em 230 kV Porto Velho/Abunã. A área por onde passa a linha possui particularida-des: solo pouco sustentável com alto risco de decomposição e alto índice de pluviosi-dade no inverno, com o alagamento de al-gumas áreas.

Para minimizar esses problemas, desen-volveu-se em Rondônia o Programa de Re-cuperação de Áreas Degradadas. Entre as ações executadas estão os serviços de re-vegetação, que devem ser iniciados no co-meço do período de chuvas e concluídos

Walcemir: em casa e no trabalho,

ensinando para mudar

comportamentos

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com pelo menos 45 dias de antecedência ao novo período de estiagem, para que as plantas possam se desenvolver e enfrentar o período de seca.

Foram adotadas as seguintes técnicas de revegetação: semeio de espécies herbáceas a lanço, utilizado em áreas planas ou pouco inclinadas, onde a vegetação herbácea é au-sente ou deficiente; o plantio de mudas de espécies arbóreo-arbustivas em áreas onde houve grande supressão da vegetação na fase de construção do empreendimento; e o plantio de herbáceas pela técnica de sacos de ania-gem, preenchidos com um substrato formado por solo, matéria orgânica, adubos químicos e sementes de espécies herbáceas.

Para Fernando Inácio, a grande esperança do Brasil está depositada na Região Norte, que possui a maior capacidade de produção de energia hidráulica disponível para ser ex-plorada. “Sabemos que esta energia ainda é a mais barata e de menor impacto ambiental. Hoje posso dizer que a nossa cultura empre-sarial para a construção de linhas é bastante desenvolvida e aprimorada. Temos condições de vender esse serviço para terceiros. É um produto que a Eletronorte precisa desenvol-ver e que pode gerar novos negócios para a Empresa”, destaca.

O reconhecimento do SGA da Eletronorte leva alu-nos universitários de graduação e pós-graduação a debruçarem-se sobre a temática para realizar seus trabalhos de final de curso. Um desses trabalhos de mestrado é do técnico de operação Denis Marques de Oliveira (foto abaixo). O geógrafo e especialista em gestão ambiental trabalha na Termelétrica Santana, no Amapá, e desenvolve uma dissertação sobre o SGA naquela Usi-na, segundo os requisitos da NBR ISO 14001:04.

“É relevante fazer um monitoramento desse tipo de trabalho para verificar o quanto está sendo viável, ou não, ambientalmente e economicamente. O viés am-biental caminha junto com a questão eco-nômica de sustentabilidade ambiental”, explica Denis.

Em recente diagnóstico da situação atual da Usina, alguns itens foram considerados pontos fortes nas instalações - controles existentes, a política ambiental e a parte operacional. Entre os aspectos mais traba-lhados, os processos utilizados para resolver as questões de geração de resíduos; fazer o

Contribuições vêm de dissertações de mestradouso racional dos insumos; o equacionamento dos gastos por atividade; o treinamento e a sensibilização da equipe. Santana é uma das instalações que está se preparando para ser submetida aos requisitos da ISO 14001. Segun-do Denis, “qualquer intenção pró-ambiente é válida. Temos que explorar sempre o lado da sustentabilidade ambien-tal. Com as pressões de mercado, a maioria das empresas está adotando políticas de meio ambiente e partindo para a certificação que vai evidenciar o SGA e o reconhecimento internacional da ISO 14001”.

O interesse de Denis após o término do mestrado é in-gressar no doutorado. Para ele, a importância da sua pes-

quisa reside no fato de ter traçado um diagnós-tico sobre a contribuição da Térmica Santana para o desenvolvimento regional e local, além de conferir uma característica acadêmica ao SGA adotado pela Eletronorte. “A certificação já traça um exame detalhado, mas um trabalho desse tipo confere uma característica acadêmi-ca, devido à adoção de uma metodologia, com a devida fundamentação por meio da revisão bibliográfica”, avalia.

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César Fechine

O dicionário Aurélio registra vários signifi-cados para a palavra perturbação: “hesitação, embaraço, transtorno, desordem, confusão” são alguns deles. Mas, para quem trabalha no Setor Elétrico, perturbação pode significar desligamento ou interrupção no fornecimento de energia elétrica.

Para evitar ocorrências indesejáveis, as empresas investem constantemente na mo-dernização e atualização dos equipamentos que fazem a supervisão e o controle dos sis-temas elétricos. “Desafio é a palavra-chave para mitigar os impactos neste momento de implementação da Parcela Variável. A Eletro-norte, entretanto, não tem medido esforços para investir em melhorias nas suas insta-lações e assegurar a eficiência e a eficácia de nossos sistemas”, afirma Josias Matos de Araújo, (foto ao lado) superintendente de Engenharia de Operação e Manutenção da Transmissão.

O desafio a que Josias se refere é reduzir os impactos da Resolução nº 270 da Agência Nacional de Energia Elétrica - Aneel, que en-trou em vigor em junho de 2008. A Resolução institui a Parcela Variável e estabelece des-contos na receita das concessionárias públi-cas de energia elétrica em conseqüência da

indisponibilidade de equipamentos, atrasos de entrada em operação de novos empreendi-mentos e restrição temporária de operações.

Ações preventivas - Todas as informações

sobre os sistemas elétricos operados e ge-renciados pela Eletronorte estão reunidas na Superintendência de Enge-nharia de Operação e Manu-tenção da Transmissão, em Brasília. Várias áreas estão integradas na elaboração de ações preventivas como aproveitamento de manuten-ções, recuperação de equi-pamentos, modernização de sistemas de proteção, co-mando e controle.

“A efetiva gestão dos ma-croprocessos de engenharia de operação e manutenção, tanto pelos órgãos normativos, quanto pelas unidades descentralizadas, re-presenta fator crítico de sucesso para a sus-tentabilidade da Eletronorte. E também para a garantia da renovação da concessão do segmento transmissão” (ver matéria na pági-na 3), explica Sidney Custódio (foto abaixo, à esquerda), gerente do Centro de Informação e Análise da Transmissão.

Ações de treinamento dos operadores de instalação e de sistemas também estão sendo feitas em parceria com a Universidade Cor-porativa da Eletronorte - Ucel, para dissemi-nar conhecimentos e evitar a incidência da Parcela Variável, bem como a elaboração de uma cartilha a ser distribuída a todos os em-pregados.

Um encontro gerencial foi realizado para discutir como se obter o melhor desempenho dos sistemas, a redução das perdas e a revi-talização do programa Manutenção Produtiva Total - TPM. “Nós definimos uma política de sobressalentes e de equipamentos reservas para reduzir os tempos de desligamentos”, informa Josias.

A Empresa possui vários sistemas implan-tados que foram modernizados ou estão re-cebendo melhorias para evitar a Parcela Vari-

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Variável é desafio empresarial Eletronorte não mede esforços para assegurar a eficiência dos sistemas elétricos

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ável. O Sistema Aberto de Gerenciamento de Energia - Sage, o mais importante, é utilizado na supervisão dos sistemas elétricos no Brasil e está em contínua evolução. Trata-se de um sistema computacional produzido pelo Cen-tro de Pesquisas de Energia Elétrica - Cepel, implantado pela Eletronorte em 1998, e que realiza funções de gerenciamento de energia em sistemas elétricos de potência, podendo ser configurado para diversas plataformas, de subestações a centros de operação.

O Sage é utilizado na aquisição e controle dos dados, mas também agrega funções mais inteligentes, como o configurador de rede, um módulo que faz o monitoramento da confi-

guração do sistema e está muito relacionado com a operação no dia-a-dia das instalações.

“Hoje, com a Parcela Variável, é muito im-portante que o operador tenha as informações em tempo real sobre as ocorrências no siste-ma para saber que atitude tomar. Para isso o Sage é fundamental”, afirma o engenheiro de manutenção elétrica, Willams Vidal Sampaio, que trabalha na gerência de Sistemas de Su-pervisão, Comando e Controle.

Padrões - Um módulo importante está sendo instalado no sistema da Eletronorte: o estimador de status que, com base nas leis de circuitos elétricos, computa e ava-

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lia as medidas das grandezas elétricas do sistema. O estimador faz a consistência dos dados e mostra se há alguma medida fora dos padrões estabelecidos, identificando er-ros que dão ao operador uma indicação de que a manutenção deve ser acionada, para que o equipamento analisado volte a operar com qualidade.

Todas as informações sobre as ocorrências diárias, cargas interrompidas e as proteções

associadas aos equipamentos em operação estão organizadas na base histórica do Sage, que tem mecanismos ágeis de busca, consul-ta e análise. “Na verdade, nós temos 100% dos nossos sistemas on-line, porque o Sage tem a capacidade de interagir perfeitamente com os programas e aplicações de outros fa-bricantes”, informa Josias.

Uma das melhorias desenvolvidas pela Eletronorte foi o GerenteSage, com o objetivo

O Sage está instalado em todos os centros de operações regionais da Empresa e é automaticamente configurado para os novos empreendimentos

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Tocantins

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de proporcionar disponibilidade de 100% das informações de supervisão do sistema elétri-co e de monitorar as condições operacionais da rede de supervisão em tempo real.

Completando a interatividade com o Sage, o Sistema de Gerenciamento da Rede de Su-pervisão - SGR, também desenvolvido por técnicos da casa, faz o monitoramento dos servidores e da rede de informática, indi-cando a necessidade de se contratar novos

equipamentos ou aumentar a capacidade de processamento.

Outros módulos serão agregados em breve e farão a análise de contingência, possibili-tando simular situações em casos de manu-tenção e interrupções, além de um sistema inteligente de tratamento de alarmes, que envolve grandes ocorrências e vai filtrar as informações mais importantes, indicando as ações que o operador deve tomar.

O Sage está instalado em todos os centros de operações regionais da Empresa e é automaticamente configurado para os novos empreendimentos

Acre Roraima

Amapá

Maranhão

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Proteção - Todas as informações sobre as ocorrências nos sistemas são registradas por meio de oscilógrafos e enviadas para a central de análise da Gerência de Estudo e Análise de Desempenho da Proteção e Automação da Transmissão. Esses oscilógrafos são digi-tais e fornecem informações que compõem uma espécie de eletrocardiograma do siste-ma elétrico. “A nossa função aqui é como a do cardiologista que pega o eletrocardio-grama para avaliar como está funcionando o coração”, explica o engenheiro de operação Carlos Antônio Faria Floriano (foto abaixo).

Os equipamentos guardam os registros que permitem avaliar como está funcionan-do a proteção do sistema. Cada instalação da Empresa - linha de transmissão, transfor-mador, reator etc. - contém um oscilógrafo. Hoje, 119 equipamentos estão ligados à cen-tral de análise e o processo de moderniza-ção está sendo feito em equipamentos já em operação.

Os principais analógicos são os níveis de tensão e corrente, mas há outras grandezas elétricas que são registradas, tais como po-tência ativa, reativa e global; e esses dados estão disponíveis on-line. As informações são transferidas para um concentrador de regis-tros e enviadas para a central pelo processa-dor de comunicação.

E como funciona a proteção? Quando ocorre uma descarga atmosférica, para evi-tar um dano maior ao sistema, a linha é au-tomaticamente desligada. “Em determinadas situações, podemos ter que trocar um relé, a proteção pode não ter atuado por um defeito, um ajuste incorreto e, nesses casos, traba-lhamos com base na avaliação dos registros da oscilografia remota”, informa o engenhei-ro Ismael Telles Pires Valdetaro.

Hoje, a tecnologia dos relés é digital e, em condições excepcionais, de forma coorde-

nada com as unidades regionais, é possível fazer ajustes e a implantação de novos parâ-metros a partir de Brasília.

A Eletronorte também está modernizando todas as suas instalações no Sistema Interli-gado Nacional, em todos os níveis de tensão, antecipando-se dessa forma, aos possíveis impactos oriundos da Parcela Variável. A au-tomação já foi iniciada também nos sistemas isolados do Amapá e do Acre.

O próximo passo, referente ao monitora-mento da rede de comunicação associada com a central de análise, e de todos os regis-tros gerados de oscilografia, é implantar um software, em conjunto com o Cepel, que per-mita obter indicações sobre os registros que signifiquem falhas graves nos sistemas.

Diagnóstico - Os preceitos básicos da ma-nutenção preditiva, do diagnóstico de defeitos, do monitoramento e gerenciamento on-line de equipamentos e da automação de subesta-ções passaram a ser ainda mais importantes com a vigência da Parcela Variável.

Nesse contexto, a Eletronorte utiliza o Sis-tema de Análise e Diagnóstico de Equipa-mentos – Diane, que faz a coleta de dados e estabelece uma base para a otimização das

O que é Parcela Variável?A Resolução nº 270 da Aneel, que passou a valer a

partir de junho de 2008, determina que eventuais indis-ponibilidades em equipamentos e ou instalações, quer por curto-circuito, falha, saídas por manutenção progra-mada ou forçada, resultando ou não em interrupções na transmissão de energia elétrica, poderão trazer como conseqüência a aplicação de um desconto na receita mensal da empresa operadora de um determinado siste-ma elétrico, denominado Parcela Variável.

As sanções serão aplicadas pelo Operador Nacional do Sistema Elétrico -ONS, conforme fórmulas que utili-zam fatores como tempo e valores preestabelecidos para as funções de transmissão.

A Parcela Variável não será aplicada em casos de des-ligamentos para implantação de melhorias, ampliações e reforços autorizados pela Aneel, desligamentos solici-tados pelo ONS por razões operativas ou de segurança de terceiros, desligamentos devidos a contingências em equipamentos, entre outras exceções.

Em situações de uma superação de índices de desem-penho sempre associados às indisponibilidades de seus

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técnicas de análise a partir da integração e padronização dos diagnósticos feitos em transformadores de potência. O Diane con-tribui de forma decisiva para avaliar os riscos de perdas e a vida útil de transformadores e reatores a partir do diagnóstico dos parâme-tros do equipamento.

“Esta é uma ferramenta fundamental para a engenharia de manutenção de equipamen-tos porque temos condições de analisá-los criticamente e tomar decisões sobre a con-tinuidade deles no sistema elétrico, conside-rando os princípios da confiabilidade e análi-se de risco”, define Paulo Veloso, gerente de Engenharia de Manutenção da Transmissão.

Qualquer dado sobre mudança operacio-nal de um equipamento consta do Sistema de Informação e Desempenho da Operação – Info OPR, desenvolvido na Eletronorte, que permite o gerenciamento das informações inseridas pelo operador de cada regional, pelo pessoal de pré e pós-operação e pelos centros de operação das usinas.

Se um transformador está operando nor-malmente, por exemplo, e houve um curto-circuito numa parte da instalação, causando o desligamento do equipamento, é preciso informar as causas e as medidas tomadas.

O sistema surgiu da necessidade de se ter o controle histórico sobre a vida útil dos equi-pamentos e linhas de transmissão, caracte-rísticas, início de operação e propriedade. Há uma base de dados em cada regional e uma base central em Brasília, com as informações sobre todos os equipamentos da Empresa.

Todo final de mês é produzido um relató-rio com a disponibilidade dos equipamentos, detalhando os indicadores de desempenho operacional, que são apresentados à direto-ria. Os indicadores constam do planejamen-to estratégico empresarial, mais especifica-mente do objetivo que trata de “melhorar a eficiência e a eficácia operacional”.

Por meio do Info OPR, é possível simular a Parcela Variável por indisponibilidade de equipamentos. Um dos indicadores mostra o melhor momento para que seja feita a manu-tenção dos equipamentos, evitando eventu-ais perdas financeiras para a Empresa.

No Centro de Informação e Análise da Transmissão são verificadas as causas de to-dos os desligamentos e a busca de soluções para evitar essas ocorrências. “A área tam-bém recebe solicitações de informações das regionais, Aneel, ONS, Eletrobrás e Ministério de Minas e Energia sobre os nossos equipa-

ração de um minuto, mas não serão considerados, para efeito de desconto, os desligamentos e as restrições opera-tivas ocorridas no período de seis meses a contar da entra-da em operação comercial de uma nova instalação ou de novo equipamento. Ao ser aplicada a Parcela Variável sobre equipamentos ou instalações com restrição operativa, será considerada a proporcionalidade da redução da capacida-de operativa em relação ao valor contratado.

A Parcela Variável também poderá ser aplicada como desconto sobre a receita mensal quando a Empresa atra-sar a entrada em operação de uma determinada obra, de um novo equipamento ou instalação autorizada pela Aneel. Neste caso, a partir da zero hora do dia subseqüente à data definida pela Aneel até a efetiva entrada em operação do equipamento ou instalação, o período de atraso será consi-derado como ‘tempo em reais’ para o cálculo do respectivo desconto, limitado a 90 dias.

Estão previstos limites de desconto da Parcela Variável sobre a receita mensal e sobre o total da receita anual da empresa de transmissão. Porém, havendo essa situação de extrapolação de valores acima do limite do desconto, embo-ra o valor excedente não seja descontado da receita, a con-cessionária estará sujeita à multa a ser definida pela Aneel.

equipamentos e instalações, de acordo com padrões de-finidos pela Aneel, a Eletronorte, por exemplo, pode fazer jus a um adicional de receita.

Estarão sujeitos à apuração e aplicação das parcelas variáveis todos os eventos de desligamento acima da du-

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mentos, data de entrada em operação, quan-tos quilômetros de linhas nós temos, níveis de tensão, enfim, todas as informações dis-poníveis”, informa o engenheiro de operação Jefferson Martins Cury.

Atualmente, o Info OPR encontra-se insta-lado em todos os centros de operação geren-ciados pela Eletronorte para atender à reso-lução que rege a Parcela Variável.

Simulador - O planejamento das manobras

de operação e de intervenções nos equipa-mentos é feito pelo pessoal da pré-operação, que utiliza um simulador para antecipar as intervenções a serem feitas nas instalações. Toda manobra é precedida da elaboração de um documento operacional para isolar e nor-malizar o equipamento.

Para que essas intervenções sejam bem executadas foi desenvolvido um simulador denominado Garantia, que é um instrumento off-line destinado a testes pela equipe de ope-ração. A ferramenta tem como objetivos prin-cipais evitar erros de manobras por meio da simulação prévia das operações e diminuir o tempo de manutenção e a indisponibilidade de uma determinada função de transmis-são.

“Para tirar do sistema um transformador, que está em operação, por exemplo, é pre-

ciso abrir o disjuntor, desenergizar o equi-pamento, isolar as seccionadoras e fazer o devido aterramento para que as equipes de manutenção possam trabalhar”, explica o engenheiro de operação Pedro de Carvalho Júnior.

O simulador, desenvolvido a partir de um projeto da carteira de pesquisa e desenvol-vimento (P&D) da Eletronorte, no Centro de Operação Regional do Maranhão, em parce-ria com a Universidade Federal do Maranhão – UFMA; foi replicado para todos os outros centros de operação por meio da Universida-de Corporativa da Eletronorte - Ucel.

A Empresa também está ultimando o pro-jeto básico para a aquisição e compra de um Simulador de Redes para Treinamento dos Operadores (OTS, na sigla em inglês), cujo principal objetivo é treinar os operadores em situações de contingência, para que o tempo de indisponibilidade da função transmissão seja reduzido.

Afinal, ocorrências e perturbações nos sis-temas elétricos sempre existirão. Mas a atu-alização dos softwares e sistemas utilizados na operação e monitoramento também não pára. Justamente para evitar perturbações e visando ao fornecimento de energia com maior confiabilidade, segurança, continuida-de e qualidade.

Cuidados com a

manutenção evitam

a Parcela Variável

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Oscar Filho

A nova subestação Santa Rita, instalada na zona oeste de Macapá (AP), foi energizada em fevereiro deste ano, garantindo energia de qualidade aos bairros do centro da cidade. O entorno do empreendimento guarda histórias de lutas e conquistas coletivas e pessoais. Mesmo batizada com o nome da Santa de devoção do bairro - a padroeira das causas impossíveis -, o portão de entrada da subes-tação está voltado para uma outra comuni-dade: o bairro Nova Esperança, que também traz na própria denominação o desejo de dias melhores.

A senhora Anercinda Souza de Brito (foto à direita), 73 anos, casada com Roldão da Sil-va B. Brito, mãe de sete filhos, três homens e quatro mulheres, 12 netos, quatro bisnetos, é uma das fundadoras do bairro e há 28 anos, completados no último dia 10 de maio, aju-da a escrever a trajetória de um pedaço de chão que mudou para melhor a vida de mui-tas famílias. “Eu morava com minha família na beira da praia, dentro do Rio Amazonas, no alagado. Quando a maré crescia, meu marido pegava uma vara para empurrar os paus e não deixar tombar a casa, que ia caindo e a gen-

te ia emendando os esteios, isso em todas as casas. Na maré seca todo mundo passava por baixo do assoalho, a casa ficava alta, a meni-nada aproveitava para brincar”, conta ela.

A família de Anercinda, oriunda do muni-cípio de Chaves, é uma entre as milhares que até hoje deixam as comunidades ribeirinhas, na região das Ilhas do Pará, em direção à ca-pital do Amapá, para buscar emprego, saúde e, principal-mente, a educação escolar dos filhos. “Viemos para edu-car os filhos, para não criar ninguém sem leitura, assim como eu. Mesmo tendo tudo lá no interior, onde tínhamos conforto, terra, nos sas cria-ções. Deixamos para trás e vivemos dez anos dentro da água, sem esgoto, nem ener-gia, sem nem poder plantar, só dentro de la-tas”, confessa Anercinda.

Foram anos de moradia na chamada vila do Elesbão, ao lado da Vacaria, uma gran-de fazenda. Hoje o local foi urbanizado e é uma das áreas mais nobres de Macapá, na orla da cidade, o Parque do Forte, ao lado do monumento da Fortaleza de São José, eleito

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recentemente por uma revista de circulação nacional, uma das sete maravilhas do Brasil.

Em 1980, o governador do então Território Federal do Amapá, Aníbal Barcelos, decidiu retirar do alagado mais de 300 famílias e levá-las para uma nova área, denominada oficial-mente de bairro Nova Esperança, e apelidado pelo povo de Nova Coréia, por causa da dis-tância do centro, o medo da violência e das incertezas da mudança. Depois de alguns anos o bairro começou a crescer, outras fa-

mílias chegaram e construíram suas casas na área de ressaca, no meio do alagado.

Quase três décadas depois, dona Anercin-da garante que foi muito melhor mudar para o Nova Esperança. Hoje o bairro tem tudo o que os moradores precisam, e progrediu mais ainda nos últimos anos com a chega-da de projetos sociais da Eletronorte e com a construção da subestação. No começo, a obra trouxe polêmicas sobre a utilização da área, que deveria ser destinada à constru-

Do alagado (acima), adultos e crianças saem

para participar das atividades

socioeducativas

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ção de uma praça, um espaço de lazer, mas depois de muitas negociações as lideranças que representam a comunidade aceitaram a idéia, assim como as compensações assegu-radas por parte da empresa.

“Com a subestação ganhamos muita coisa. Tenho um neto participando do Coral e outro no cursinho de flauta doce. Antes eu não dei-xava meus meninos irem lá para o Centro Co-munitário por causa da violência. Agora, com a Eletronorte trazendo coisas boas, eles estão indo, porque existem pessoas responsáveis que acompanham as crianças; e festas como o Dia das Mães, quando eles cantaram deixando to-das alegres e emocionadas” conta Anercinda.

O relato acima é um testemunho das ações desenvolvidas pelo Comitê Regional de Res-ponsabilidade Social da Empresa em Macapá e outros municípios do Amapá. A principal delas é o projeto Cidadania com Energia, que já beneficiou mais de 300 crianças e adoles-centes numa primeira etapa, no entorno da Sede da Associação dos Empregados da Ele-tronorte - Aseel, zona sul de Macapá, a partir do marco zero da linha do equador, bem no meio do mundo. Agora é a vez da garotada do entorno da Subestação Santa Rita, que desde o início do ano está incluída em ativi-dades como reforço escolar, palestras edu-cativas, escolinhas esportivas, entre outras. Dos investimentos, a Eletronorte participou com R$ 428 mil que, somados a uma contra-partida dos parceiros, totalizaram R$ 503 mil.

Projetos - São três os projetos sociais em

desenvolvimento: o Cidadania com Energia desenvolve atividades socioeducativas e es-portivas com 150 adolescentes, beneficia

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diretamente 150 famílias e, indiretamente, 450 pessoas. É realizado em parceria com a Federação Amapaense de Handebol, faculdades Fama e Immes, Universidade Fe-deral do Amapá, Prefeitura de Macapá e governo esta-dual. O Meio do Mundo Ar-te no Muro visa a promover ações de inclusão social, por

meio de atividades artísticas, culturais, am-bientais e sociais, beneficiando diretamente 40 pessoas, em parceria com a Associação de Mulheres do Bairro Nova Esperança e a Escola Estadual Josefa Jucileide. E o Som da Energia proporciona atividades de musicali-zação e de responsabilidade social, envolven-do 30 crianças no Coral Infantil e mais 30 no

cursinho de flauta doce. Dainara (foto acima), 12

anos, participa da turma do handebol e do coral O Som da Energia. Ela lembra com entusiasmo o que já apren-deu: “Aqui aprendemos vá-rias coisas. Já sabemos can-tar o ‘Mandacaru quando fu lora lá na cerca’, Aquarela, do Toquinho, uma do sapo e a do doutor. Fizemos apre-sentações no Dia das Mães, na Páscoa e na Primeira Ação de Cidadania”.

Rosileide Santiago dos Santos, mãe da Andressa (foto ao lado), que participa

do Cidadania com Energia, é voluntária do Centro e relata que a filha se desenvolveu, está mais responsável e com melhor desem-penho na escola, depois que chegaram as ações da Eletronorte. Ela mora há 18 anos no Nova Esperança e diz que veio do mu-nicípio de Primavera, perto de Salinas, no Pará, para Macapá, em busca de uma vida melhor. “Outra coisa que melhorou muito aqui na comunidade foi a energia, depois do funcionamento da nova subestação. A gente percebe que não falta mais luz como antes. Só quando tem algum trabalho de manutenção”, comemora Rosileide.

Os projetos sociais da Eletronorte movi-mentaram o bairro e o Centro Comunitário do Nova Esperança, incentivando até outras entidades a retomar ações sociais e projetos de capacitação com o objetivo de gerar renda

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para os moradores desempregados, como faz o Conselho Comunitário de Segurança Pú-blica dos Bairros Nova Esperança, Cuba de Asfalto e parte do Novo Buritizal (Conseg), criado para fazer a ponte entre a comunidade e a polícia.

Antonio Cláudio Trindade Pereira (foto ao lado), presidente do Conselho, explica que

Conselho gestor facilita as conquistas“Os projetos sociais em parceria com a Eletronor-

te, entre tantas coisas boas, não deixou que eu caís-se em depressão profunda depois do assassinato do meu filho Donh, de 19 anos, morto por engano no dia 6 de maio de 2007. Cada criança, cada jovem que eu e a nossa equipe ajudamos é uma forma de tornar viva a memória do meu filho e é como se to-dos esses meninos fossem meus filhos”, desabafa, emocionada, Marileide da Silva Lopes, presidente da Associação de Mulheres do Bairro Nova Esperança (foto ao lado) na Conquista dos Seus Ideais, que há uma década dedica grande parte da sua vida em ações comunitárias com a participação e organiza-ção das mulheres.

Marileide conta que tudo começou na juventude, quando participava de movimentos jovens. Depois do casamento se afastou um pouco, mas em 1999 foi convidada e aceitou fundar a associação de mulheres do bairro onde sempre morou. No primeiro mandato foi vice-presidente, e agora é a presidente da enti-dade. As muitas dificuldades na vida da comunida-de, como problemas de saúde, pessoas precisando de tratamento fora do estado, casas caindo, famílias sem terreno e casa para morar, pais presos por não pagar pensão por falta de emprego, crianças na rua, lixo no bairro, gente morando no alagado, nenhum tipo de saneamento, violência, entre tantos outros, despertaram a mulherada. Elas foram à luta, fazendo muitas promoções, bingos para arrecadar recursos e ajudar um pouco quem mais precisava e precisa. No começo da militância um grupo de mulheres par-ticipou de capacitação para lideranças populares, o que contribuiu para a consciência participativa e a promoção da cidadania.

“A parceria com a Eletronorte começou com a dis-cussão do projeto da nova subestação, em conversas com a Osiani, assistente social, e o Paulão, coorde-nador de Responsabilidade Social. Junto com a dona Madalena, presidente da Associação de Moradores, negociamos e chegamos a um acordo, principal-mente a respeito do terreno onde seria construída a

subestação, por causa de algumas famílias que precisavam sair da área. E assim começamos a planejar outras ações sociais que hoje estão beneficiando a nossa comunidade”, relembra Marileide.

história de vida - Ao lado de Maria Esmeraldina, tesou-

reira da associação e companheira de todas as horas, Mari-leide relata que os projetos Cidadania com Energia, o Coral, as aulas de flauta doce e outras atividades que ainda estão começando, foram uma verdadeira conquista para muitas mães, que saíam para trabalhar o dia inteiro e deixavam as crianças sozinhas, sem nenhuma pessoa adulta para cuidar delas. São muitas histórias que parecem enredo de novela. A presidente conta que uma criança foi vendida pelo pai, e a avó teve que lutar muito para ir buscá-la no interior. Hoje, essa criança está no projeto junto com os outros irmãos e gostam muito da escolinha de capoeira.

Um dos principais avanços nas ações sociais no bairro Nova Esperança foi a criação do Conselho Gestor dos projetos, uma experiência inovadora, que integra todas as instituições par-ceiras governamentais e comunitárias. Toda primeira segunda-feira do mês, o Conselho se reúne para discutir as dificuldades, avaliar e buscar a solução dos problemas. Segundo Marileide, “foi uma idéia da Gleide Brito, assistente social, que hoje é a coordenadora do Comitê de Gênero e Diversidade da Eletro-norte, em Brasília, mas não esquece de Macapá. O dinamismo e dedicação dela fazem com que muitas coisas aconteçam, como o Conselho Gestor. Reconhecemos também todo o tra-balho de responsabilidade social da Empresa e o compromisso do Governo Lula, que decidiu investir no social”.

não basta exigir segurança pública, mas é preciso investir no social. “Decidimos rea-lizar cursos no Centro, em parceria com al-gumas pequenas empresas, autoridades e órgãos de segurança pública. Já organiza-mos cursos de bijuteria, manicure, corte e costura. As pessoas pediam muitas cestas básicas, mas sabemos que isso é paliativo.

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Paulo Luiz da Silva, o Paulão, é o coordenador do Comitê de Responsabilidade Social da Regional de Produção e Comercialização do Amapá, funda-do em maio de 2003, um dos primeiros do Setor Elétrico a assumir as diretrizes do Governo Federal na Amazônia. Segundo Paulão, o modelo de ges-tão empresarial foi um dos fatores decisivos para os avanços nas ações sociais implementadas com as comunidades do entorno dos empreendimentos da Eletronorte.

“No começo contamos com o apoio das nossas ge-rências e equipes. Iniciamos o Cidadania com Energia na sede da Aseel e, agora, no bairro Nova Esperança, uma segunda versão. Esperamos que esses projetos continuem, inclusive em outros lugares, como a par-ceria com o Conselho Comunitário de Segurança do bairro Perpétuo Socorro, ainda este ano”.

Paulão enumera os projetos que estão sendo enca-minhados, como o dos Catadores de Lixo de Santana, o segundo maior município do Amapá. O objetivo é retirar as pessoas do lixão que fica em frente à Usina Térmica e à Subestação Santana. Tem outro projeto

Com as capacitações muita gente já está trabalhando, ganhando seu dinheiro e, no caso dos jovens, muitos saem da marginali-dade”, conta Antonio.

Mobilização - Jaqueline dos Santos é ins-trutora do curso de manicure do Conseg, que capacita mais de 30 jovens e senhoras para o mercado de trabalho, com dicas teóricas de higiene e a parte prática. “Moro há 22 anos no Nova Esperança e com todos esses cursos do Conselho e da Eletronorte, está cada vez melhor morar aqui”, confessa.

O Centro abriga também o Cidadão Mirim, programa social da Polícia Militar do Esta-do, com as aulas de reforço escolar, religião, palestras sobre drogas, cidadania, passeio, integração com o grupo de escoteiro Marcílio Dias, e atividades esportivas para 30 meni-nos e meninas. São vários núcleos existen-tes na cidade e no interior. Segundo Daniela Santos Picanco, soldada e instrutora, o Cida-dão Mirim existe desde 1991 e por isso não é mais considerado um projeto, mas já se tornou um programa da PM, assim como o Peixinhos Voadores, outra iniciativa na área do esporte, um verdadeiro espaço de pre-paração de nadadores que já conquistaram títulos para o Amapá.

“Há um envolvimento muito bom, uma amizade sadia entre os meninos e meninas do Cidadão Mirim com as turmas do projeto da Eletronorte, com quem eles brincam nos intervalos, na hora do lanche, nos eventos que todos participam”, explica Daniela.

Damiana Rodrigues está na direção do Centro de Mobilização do bairro há dois anos. O espaço pertence ao Governo do Estado e é administrado pela Secretaria de Inclusão e Mobilização Social. Segundo ela, o Centro con-ta com um grupo de terceira idade às terças e quintas; e o Conviver, aberto à comunidade, para ensaios de danças, grupos juninos, hip-hop, manifestações folclóricas. Está em fase de implantação a horta com energia da Com-panhia de Eletricidade do Amapá - CEA.

Regiane Coutinho de Souza, desde criança chamada de Charme pela família, há seis anos trabalha no Centro Comunitário, dois como voluntária. Ela lembra que a marginalidade diminuiu bastante com essas ações sociais e garante que os projetos tiram as crianças das ruas, as mães vão trabalhar sossegadas porque os filhos têm com quem ficar. Agra-decidas, muitas mães aproveitam o sábado, o domingo e ainda ajudam a cuidar do local.

Paulão encaminha projetos e concretiza sonhos

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em parceria com a Caixa Econômica Federal e a Prefei-tura de Santana, com recursos em torno de R$ 600 mil da Eletronorte, para retirar a lixeira pública e sanear a área que fica embaixo de uma linha de transmissão.

Outros são o de inclusão digital, no município de La-ranjal do Jari, extremo sul do estado, na divisa com o Pará, onde acontecem muitas enchentes que deixam milhares de famílias desabrigadas; o das Mulheres Em-preendedoras, em vários municípios, para o qual já fo-ram liberados R$ 60 mil de um montante de R$ 180 mil, para as oficinas de panificação; e ou-tros pequenos projetos produti-vos, graças também aos inúme-ros parceiros governamentais e não-governamentais.

No decorrer do ano que vem, o Cidadania com Energia che-gará a Ferreira Gomes, onde está a Hidrelétrica Coaracy Nu-nes, berço da Eletronorte, além de Tartarugalzinho e Santana.

Paulão encaminha projetos e concretiza sonhosA vontade é chegar em todos os 16 municípios amapaenses onde a Empresa está presente.

“Em Ferreira Gomes iniciamos com a organização da popu-lação e hoje temos a Associação de Moradores do Paredão, a Associação de Pescadores e Pescadoras, a Colônia de Pescado-res e até já encaminhamos o projeto de piscicultura. Já temos a madeira doada pelo Ibama, todos os materiais comprados, além da ração e dos alevinos que o governo estadual irá fornecer. Agora é começar a montagem dos tanques, com recursos da

Eletronorte, cerca de R$ 600 mil. É uma novidade para esta região o uso de tanque-rede”, garante o Coordenador.

Paulão também coordena o programa Luz para Todos no Amapá e aproveita a ele-trificação rural para discutir novas idéias com as comu-nidades, como por exemplo, uma rádio comunitária no as-sentamento Bom Jesus, mu-nicípio de Tartarugalzinho.

Envolvimento da comunidade é fundamental para o sucesso dos projetos

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Byron de Quevedo

Houve um tempo em que órgãos governa-mentais e empresas estatais eram chamados de elefantes. No caso da Eletronorte o ape-lido não poderia ser mais injusto. Logo ela que naquela mesma época construía quatro hidrelétricas, encampava os parques terme-létricos e estendia milhares de quilômetros de linhas de transmissão em plena selva. Verdade: ela era desengonçada a princípio, mas terna com aqueles que a entendiam e a ajudavam. E sabia ouvir, aprender e guar-dar a memória, como um bom elefante que nunca esquece.

Para ela convergiram diferentes tipos hu-manos, tecendo uma malha étnica notável. E o que seria fator de desagregação, e até motivo de guerra no caso de vários países, foi justamente a liga que agregou forças às realizações da Empresa. E foram esses seres que a preservaram, colocando-a no rumo cer-to. E por serem de tantos lugares souberam também respeitar as origens e a cultura dos indígenas e demais povos da Região Norte. Agora, 35 anos após o seu nascimento, nota-se o quanto a Eletronorte contribuiu para o desenvolvimento do País. É certo que desde o início foi assim: uma Empresa diferente para pessoas diferentes, mais para missionários do que para funcionários. E o que seria do Brasil hoje sem as suas incursões pelas sel-vas amazônicas?

Em 2007 a Eletronorte recebeu quase mil jovens concursados, que darão continuidade à sua história. Aqui selecionamos, entre cen-tenas, algumas descendências de misturas raciais diversas, e trazemos o depoimento dessa gente, falando de si: suas contribui-ções, seus sonhos, afinal o passado se con-

verteu num presente para eles, para os que deles dependem, para o Brasil e também para o futuro da energia na América do Sul.

A primeira pessoa - Evito falar na primeira pessoa, mas nesta reportagem é inevitável, principalmente no caso do José Adolfo Ra-mos da Conceição (abaixo, com os irmãos e a mãe, Laura Alzira), pois ele é sempre a pri-meira pessoa que se des-taca onde quer que vá, seja pelo seu talento, ou jeito brincalhão, ou mes-mo pela sua estatura de quase dois metros. Bem, só espero que este texto esteja também à sua al-tura e à dos demais que desfilarão agora na trilha da “elefantinha”.

Essa coisa de ver tudo lá de cima deu-lhe a idéia que também poderia ver mais além. Então se tor-

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A Memórias do elefante: em 35 anos forma-se uma grande integração étnica

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nou planejador empresarial. Ele e sua equipe antevêem os passos da Empresa em até três anos. E fizeram tão bem o tal planejamento que muito que foi previsto vem se confirman-do, evitando que a “elefanta” vá para o brejo.

Conceição é engenheiro eletricista, com especialização em gerência de projetos e sistemas de informação e mestrado em ges-tão empresarial, professor da Universidade Católica e contador de piadas. Está sempre presente nas peças de teatro e shows no au-ditório. Mas o Conceição sumiu por três anos e a Empresa ficou um pouco triste. Ele foi trabalhar no Sebrae. Em julho de 2003, vol-tou. Reencontrei-o no corredor, então can-tarolei um verso daquela música do Cauby Peixoto: “Conceição, eu me lembro muito bem...” Ele então deu uma daquelas suas gargalhadas sonoras.

A bisavó dele era de origem alemã; mas a mãe, Laura Alzira Ramos da Conceição, 73 anos, é mulata; e o pai, Adolpho Conceição, 83 anos, é negro. Então, o Conceição nasceu negro de olhos azuis, mas é branco; ou seria branco de olhos azuis, porém negro... Sabe-se lá... O fato é que ele é um desses mila-gres da miscigenação produzidos no Brasil. É um grande cara, hoje, mas quando criança era muito danado. Conta que adorava passe-ar com o seu vira-lata sobre as roupas com anil que dona Laura lavava e botava ao sol para quarar, lá em Porto Alegre (RS). “Eu to-mava uma surra todos os dias. Quando não apanhava eu achava que ela estava doente”. Benditas chineladas dona Laura: a Eletronor-te em peso agradece!

A condessa operária - Quem visse aquela bela senhora embrulhando bombons na fábri-ca de chocolates da pequena cidade de Ge-neral Câmera (RS), jamais poderia imaginar estar ali a rica condessa Sophia Kalicheski, que perdeu tudo na Polônia e veio para o

Brasil acompanhando o seu pai, Jusef Gaiewski, durante a I Guerra Mundial. Resigna-da, enquanto trabalhava, ela se lembrava do irmão mais velho, Tadeu, retido pela po-lícia num cais do seu país, enquanto o navio zarpava le-vando a parte da família que embarcara a tempo. Jusef Gaiewski faleceu de infarto ao receber a notícia que o Tadeu tinha morrido na guer-ra. O que não era verdade. Ele foi feito prisioneiro pelos russos, mas escapara com a ajuda de uma enfermeira polonesa que se fazia pas-sar por russa; e, após, na II Guerra Mundial, ele se torna-ria um marechal polonês.

Muitos anos após o fato, um netinho tímido dos Kalicheski, deitava-se nos telhados olhan-do as estrelas. Saía de lá quando sua mãe, Irena Kalicheski, ou o pai, o agricultor, Milton Nunes da Silva, o chamava para jantar. O so-litário guri Milton Nunes da Silva Filho era as-sim: brincava com as estrelas, era estudioso, introspectivo, diferente das suas outras três irmãs. Aos 13 anos, no Colégio Militar (foto acima), descobriu que os estudiosos eram notados e conseguiu a primeira namorada.

Milton se formou em engenharia civil em 1986 e logo veio para a Eletronorte. E conhe-ceu as pessoas de outras regiões brasileiras, mais alegres e criativas. “Aí eu me apaixonei pela Empresa e por aquelas pessoas, com elas aprendi a ser mais feliz”.

Hoje o Milton Nunes é também analista de sistemas, tem mestrado em engenharia de energia e doutorado em sistemas elétri-cos de potência. Ele é o criador do Info-OPR, um software que controla dados históricos de informação dos sistemas elétricos; um vasto banco de dados que permite antever situa-ções de risco nos sistemas de transmissão, e assim evita blecautes e acidentes, pois consegue analisar as reincidências e simular cenários. (ver matéria na página 14)

Ele, Roberto Kalicheski, um mestre armei-ro de Varsóvia; ela, Sophia Kalicheski, uma aristocrata da Cracóvia: quem imaginaria que um neto dessa gente seria um cientista bra-sileiro, criador de um sistema importante de proteção das malhas elétricas, evitando pre-juízos incalculáveis à sociedade?

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Quando os americanos colocaram o primeiro homem na lua, o pequeno Jorge Nassar Palmeira, então com 12 anos, juntou seus amigos e fizeram o tal clube de ciências. E saíam pelas ruas de Be-lém à noite a soltar foguetes de fabricação própria. Entretanto, a polícia local não tinha o mesmo es-pírito científico e começou a persegui-los. E foram muitas carreiras pela cidade. O menino Nassar na verdade nunca apa-nhou, embora a mãe fosse severa. Essa coi sa de querer ser um astronauta des -bravador dos céus deve ter vindo do seu avô libanês, Gêrece Charin Hanna Nas-sar, um real desco-bridor de sete mares. O Gêrece, com seus vinte e poucos anos, na década de 20, veio fugido do Líba-no porque o seu pai queria casá-lo com uma prima viúva de 50 anos. Houve um acerto entre as duas famílias em troca do dote, uma tradição cultural, na ocasião. A religião da família era rum-ortodoxa. Então ele tomou o primeiro navio e sumiu mar adentro. No cargueiro foi cozinheiro e lavador de pratos. Aqui, acabou ba-tendo na loja de outro libanês e arranjou emprego de vendedor de armarinhos. Esperto, logo aprendeu português, fez amigos e montou a sua própria loja. Bem, para encurtar a história, o neto do Gêrece, é o atual Diretor-Presidente da Eletronorte, nada mal para um menino travesso e barulhento. (acima, com os avós maternos Waldemira e Jorge Nassar)

Quais são as suas outras descendências?- A minha bisavó, Heralda Prieto, era espanhola.

Meu bisavô pelo lado materno chamava-se Mêrcle Ebraim Mêrcle. Dessa união nasceu a minha avó, já

Do clube de ciências à Eletronorte

Zé, não! - Zenon Pereira Leitão (ao lado, com o irmão Miguel Olímpio), administra-dor de empresas, atualmente é assessor de Relações Insti-tucionais e Parlamentares da Eletrobrás. Tem descendên-cia de índios, negros e por-tugueses. Nasceu em uma fazenda no município de Unaí (MG) e diz que, quando foram registrá-lo no cartório, o tabelião perguntou ao seu pai: “Qual vai ser o nome do garoto?” Então o pai respon-deu: “Zé”. A mãe não gostou e disse: “Zé, não!” Mas logo o tabelião chegou num acordo e o registrou como Zenon, que era mais bonito. Já o Leitão foi herança do seu avô materno, Luís, descendente de portu-gueses, cuja avó chamava-se Isaura. A descendência de ín-dio veio dos avós paternos.

“Minha mãe, Olímpia Pe -reira Leitão, morreu com 43 anos de idade. Meu pai, Miguel Nascimento, faleceu em 1967. A minha família era numerosa e eu fiquei sem conhecer muita gente, pois naquela época o povo morria cedo. É que a medi-cina era pouco avançada no nosso País, especialmente na região. Com a perda da minha mãe, quando eu ti-

nha seis anos, a família se desestruturou. Morei em Paracatu (MG) até os 17 anos. A minha infância e adolescência não foram muito fáceis. Entrei na Eletronorte com 19 anos. Aí o trem melhorou. Comecei como auxiliar de escritório e cheguei ao cargo de diretor de Benefícios do fundo de pensão, a Previnorte. Isto me orgulha muito, pois é o único caso de ascensão tão significativa. Ajudei a fundar a Aseel na Sede e em duas regionais, quando fui gerente da Divisão Ad-ministrativa nas regionais de Mato Grosso e do Maranhão. Recomendo aos colegas que visitem as regionais, é importante, inclusive, sob o ponto de vista cultural. Já passei por várias áreas da Empresa e tenho 32 anos de casa, ou seja, a minha história se confunde com a história da Eletronorte”.

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no Brasil. Um dia o meu avô viu uma moça bonita numa janela e se apaixonou. Foi à casa dela e combinou com o sogro o casamento. Segundo a minha avó, ela aceitou porque ele era um homem bonito. Casaram-se e tive-ram a minha mãe, Ivanir Nassar, que se casou com o meu pai, o Palmeira, português, passando a se chamar Ivanir Nassar Palmeira. Tenho uma irmã que se chama Nadgela Nassar.

A família sofreu discriminações? Quais os legados práticos da experiência dessas pessoas para a sua vida? - Nunca sofremos preconceitos. Os libaneses se

adaptaram bem ao Brasil. Lembro-me do meu avô reunindo os libaneses e brasileiros naqueles almoços aos domingos, com muita comida árabe e encontros alegres. O meu avô era telegrafista, minha avó, pro-fessora. Meu pai, um autodidata estudioso, sua biblio-teca tinha três mil volumes. Foi professor e jornalista. As suas matérias sobre o contrabando de café tiveram grande repercussão. Ele acabou se tornando deputa-do estadual por quatro legislaturas. Foi presidente da Assembléia Legislativa, governador interino do Pará, um dos fundadores do Banco Nacional da Habitação e seu primeiro superintendente no Estado. Creio que a diversidade étnica me enriqueceu, principalmente porque sendo o meu pai um visionário e minha mãe pé-no-chão, eu cresci com a cabeça nas nuvens e os pés na terra. Ele me ensinou normas de conduta: a honestidade, firmeza de propósito, a preocupação com a sociedade e com o bem público. Com minha mãe aprendi a busca dos resultados, dos lucros, a econo-mia e a praticidade com a vida. Tanto que meu pai entregava tudo que ganhava para ela. Com 16 anos eu já cursava engenharia eletrônica na Universidade Federal do Pará. Depois fiz mestrado em engenharia elétrica, em administração de empresas, e tenho MBA em marketing.

Como a Eletronorte apareceu na sua vida?A primeira vez que saí de Belém, em 1981, foi para vir

trabalhar na Eletronorte. Ela estava construindo o sistema de transmissão de Tucuruí e precisava de técnicos para fa-zer o comissionamento (teste nos equipamentos) do siste-ma. Vim então para um grupo chamado Grupo de Apoio Técnico - GAT, que comissionou os equipamentos de Ma-rabá, Tucuruí, Vila do Conde, Guamá e Utinga. Fiquei em Belém. Lá passei oito anos como gerente regional e depois retornei a Brasília para ser diretor em 1995.

Como surgiu o seu primeiro livro “Flexibilização organizacional”?O livro narra a experiência da Eletronorte com a implan-

tação do programa TPM. Mostra as melhorias na disponibi-lidade, redução de custos, diminuição de perdas, de que-bras e falhas e o aumento na motivação das pessoas. Ele surgiu em função de minha tese de mestrado sobre o tema, feita na Fundação Getúlio Vargas. Vou escrever alguma coi-sa na área de ficção/realidade e experiência de vida. Fiquei também de fazer a segunda edição do livro, já iniciei, mas agora minha questão é ter tempo para finalizar tudo.

Qual é o futuro da Eletronorte?Eu tinha em mente que um dia, já mais experiente, iria

ser um consultor. Acabou o destino me trazendo de volta aqui. Os desafios são grandes, mas estamos com as man-gas arregaçadas. Eu antevejo para a Eletronorte um papel fundamental no cenário energético brasileiro. A questão é fazer alguns ajustes e seguir em frente buscando resultados positivos. Vamos participar dos leilões de quatro grandes trechos de linhas de transmissão e creio que ganharemos.

A diversidade cultural e étnica pode ajudar a Empresa a atuar em outros países?Vejo a Eletronorte dentro do panorama da internaciona-

lização da energia brasileira integrando a América do Sul. Hoje, por exemplo, já temos intercâmbio com a Venezuela. Devo ir a Caracas para sedimentar um segundo compromis-so com aquele país. Logo em seguida, os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Hugo Chaves deverão fechar um acor-do bilateral para a interligação entre a Venezuela e Manaus e conexão com o linhão de Tucuruí. Mas isto não deve ser visto como um auxílio às nações sul-americanas. Devemos ver essa ação como um negócio que trará bons frutos para ambos os lados. Quanto à nossa diversidade étnica, isto sem dúvida é uma conquista. Na Empresa trabalhamos em har-monia e as diferenças só nos enriquecem. Temos gente de diversas origens. O Moisés Aben-Atar, por exemplo, é judeu; já o Mário Gardino é descendente de italianos. Mas isto não é um fato novo. O Brasil já começou assim: a colonização portuguesa incitou essa convivência com a vinda dos negros, que encontraram os índios aqui. Logo a seguir veio a aber-tura dos portos às nações amigas, no Brasil Colônia, e gentes de outras nações aqui vieram. Então tudo isto fez com que tivéssemos essa integração de raças, o que é sempre uma grande vantagem para nós da Eletronorte.

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Em prol da cultura - Rivaldo Gomes de Al-cântara, o Boréu, para todas, músico percur-sionista, sindicalista, tem 23 anos de Empre-sa. Ativador cultural de renome na cidade, é um afro-descendente, filho de Iraci Gomes de Alcântara e Brais Firmino de Alcântara. Conta que escutava os ensaios e bailes em Recife, onde nasceu. Diz que a música o ajudou a driblar as dificuldades da vida. “Viajando em turnês, fora do Brasil, é que se vê como a diversidade cultural brasileira é respeitada. O mundo valoriza muito a nossa cultura. Te-mos que tirar proveito disso. As instituições precisam enxergar essa diversidade. O País nunca teve uma política cultural, as pessoas é que vão construindo suas histórias e sua arte, sem apoio nenhum. A identidade de um povo é a sua cultura”.

Boréu (na página seguinte, ao alto, ao lado do irmão Roberto) faz parte do grupo musi-cal Sopro & Cordas. É um dos criadores do projeto Viva a Arte. Ele defende que a mes-ma diversidade cultural capaz de produzir resultados práticos na geração e transmis-

A esfera de alumínio e outras esferas - Quando o avô paterno, japonês, do gerente Regional de Produção e Comercialização de Mato Grosso, Paulo César Nobuo Kojima, veio para o Brasil, nos anos 40, tinha a convicção que o Japão ganharia a II Guerra Mundial.

Então botou a família para catar embalagens de alu-mínio dos maços de cigar-ro, com as quais faria uma bola do metal, para quando os japoneses chegassem, a sua gente honradamente colaborasse com a grande esfera. Mas eles não eram bélicos, eram apenas plan-tadores de algodão e arroz. Bem, o Japão perdeu a guerra, então a enorme pelota de papéis de alumí-nio sumiu.

O senhor Ykuo Kojima e a senhora Sadako Kojima (com Kojima, ao alto), com seus três filhos, foram recomeçar a vida em Dom Aqui-no, em Mato Grosso. O pequeno Kojima era estudioso e sério, pois seguindo as tradições japonesas, o filho mais velho é também res-ponsável pela casa. Ele se formou em enge-nharia elétrica com 20 anos, tem especiali-zação em matemática e um MBA em gestão. “Da cultura japonesa eu herdei o amor pela família e a persistência. Meus pais diziam que nada é fácil, mas também nada é impossível e o que vem muito fácil ou muito barato não presta! Com 12 anos fui para Cuiabá fazer o segundo grau. Meu pai chegou no domingo, na segunda-feira ele me ensinou a ir para a escola. Me deixou com uma vó e voltou. Meu pai serviu ao exército brasileiro, em Cuiabá.

Nunca fomos discriminados. A Eletronorte surgiu num momento importante de minha vida. Soube de uma vaga em Roraima e pe-guei. Depois que a Eletronorte encampou a CER, voltei para Mato Grosso. Naquela época o estado importava energia. Hoje, tornamos-nos exportadores de energia para o Sistema Integrado Nacional - SIN, e somos o terceiro potencial hidráulico do País”.E a bola de alu-mínio? Bem, o Kojima, sem perceber, passou a lição vinda do velho Oriente para a Empresa: às vezes é preciso criar objetivos novos para manter o entusiasmo e a produção. Depois essas esferas imaginárias somem e ficam os fatos, a união, as histórias e o orgulho pelas realizações.

A mais nova bola encabeçada por Kojima, e executada por sua equipe são as hortas co-munitárias nas áreas de servidão das linhas de transmissão, já implantadas em nove ci-dades mato-grossenses. Num momento em que o mundo briga por espaços para a pro-dução de alimentos, essa é uma boa esfera de atuação.

Este mês a colônia japonesa comemora 100 anos de imigração para o Brasil. Exem-plos como o do Kojima e família mostram como foi benéfica a vinda dessa gente, de olhos tão fechados para as nossas mazelas e de coração tão aberto para nos ajudar a cons-truir o futuro.

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o defumador inglês - “O meu avô paterno, Arthur Hen-ry Nunn, e o avô materno, Roland Bertram Birkinshaw, eram ingleses. Aqui, o avô Arthun H. Nunn se casou com a minha avó paterna Gladys Matilda Nunn, que era argentina, e tiveram meu pai, Ronaldo Arturo Nunn. Já meu avô materno, Ro-land Bertram Birkinshaw, se casou com a brasileira Ester Geraldine Birkinshaw e ti-veram a minha mãe, Claire Frances Nunn, brasileira, que está viva com 77 anos e mora em Taguatinga”. Assim con-ta o meu amigo Stephen Arthur Nunn (aci-ma, com a mãe e as irmãs,) sobre os seus antepassados, mas ele evita traduzir nomes, pois nem sempre pega bem; o Birkinshaw, por exemplo, em inglês arcaico significa “la-drão na moita”. Coisa de ingleses medievais, vai se entender.

são de energia elé-trica, em projetos de pesquisa e desenvol-vimento, gera em pa-ralelo uma produção cultural de alto nível. “Precisamos canali-zar esses talentos e divulgar os benefícios que a Empresa pro-picia à sociedade. Eu apelo que os projetis-tas da nova Sede em Brasília coloquem na planta o pólo de cul-

tura, com um auditório para música, teatro, dança e lazer. Isso trará bem-estar para os empregados, e se transformará num centro de eventos inseridos no calendário cultural da cidade. Assim, atraímos mídia positiva e gratuita, melhoramos o convívio com a cida-de e criamos um mercado de trabalho para os artistas. A Eletronorte precisa estreitar os laços com Brasília. Temos que ter centros culturais também nas regionais para estrei-tar a relação Empresa e sociedade”.

Quanto às atividades sindicais, Boréu acredita que o Stiu-DF sempre foi um sin-

dicato diferente. “Nele acrescentamos a questão cultural. Criamos a Sexta-feira Mu-sical com a Aseel, na ocasião gerida por Paulo Monteiro e Humberto Macedo como coordenador de eventos. Havia apresenta-ções musicais e exibição de filmes. Essa idéia evoluiu para o Viva a Arte, que teve 25 shows em 2007, com ótima audiência. O projeto foi renovado com os patrocinado-res e deverá voltar com mais novidades este ano. O sindicalismo mudou. Não fazemos somente reivindicações e greves. Temos que ser criativos e prepositivos”.

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Pense num homem elegante! Era o pai do Stephen. Ele tinha desenhos de um de-fumador inglês que queria fazer. Como eu tinha em casa máquinas de serralheria, fi-zemos juntos o tal defumador. Ele ficou feliz e sempre me presenteava com os produtos defumados: queijos e bacons, carnes, peixes, muito bons.

Stephen, economista, trabalha na Asses-soria de Relações Trabalhistas e Sindicais com o Eliomar da Silva Ferreira, um afro-descendente também muito elegante que tem mais jeito de lorde inglês que o próprio Stephen. Ambos negociam as cláusulas tra balhistas com o Sindicato dos Eletricitá-rios - Stiu-DF. Não fazem greve, pois até os grevistas dependem deles para resolver as pendengas trabalhistas. Tenho observado o Stephen nas rodadas de negociações dos acordos coletivos de trabalho. Ele usa a ve-lha técnica do defumador inglês, do pai: ou seja, às vezes é necessário deixar a situação esquentar, porém há que se ter cautela para não estragar tudo. Então é hora de vir com alguma oxigenação para melhorar o produto: no caso, a proposta. Se ele fica muito cau-teloso nas rodadas de negociações, penso: “Ele está nos defumando...”

Quando o velho Ronaldo Arturo Nunn fale-ceu, eu fui ao sepultamento. Pessoas lindas choravam discretamente na cerimônia. Eles fa-lavam e oravam num inglês britânico: um char-me. O orar daquela gente foi música para os meus ouvidos, parecia coisa dos Beatles. De-pois foram se dispersando, todos muitos bem vestidos e discretos. Seis da tarde: o sol repou-sou suave e um âmbar celestial coloriu o hori-zonte embelezando-os ainda mais na retirada. Senti-me num filme hollywoodiano. Quando re-tornou ao trabalho, após o seu período de luto, eu disse: “Amigo Stephen, que família elegan-te você tem. Adorei o sepultamento”. E ele, sempre com o seu humor refinado, respondeu: “Na próxima vez você será o primeiro convida-do da vez!”. Olhou para mim e sorriu. Orgulho-me muito de ter feito o meu amigo sorrir, após ter passado pelo que passou.

Tangerinas proibidas - Marlene Barbuio de Freitas Asenção (acima, com a mãe e a irmã), paranaense de Maringá, é filha dos descen-dentes de italianos Leonildo Barbugio, e Ma-ria Moretti Barbuio. Quando ela e seus dois irmãos foram escorraçados do pomar, aos berros, pelo avô, tiveram a primeira decepção com o mundo dos adultos. Eles queriam ape-

nas umas tangerinas, mas ingenuamente en -con traram a ponta de um iceberg de ódios familiares. Ainda bem que não levaram con-sigo os frutos daque-las intrigas.

Quando a II Guerra Mundial acabou, em 1945, a Itália tentava se soerguer, e famí-lias inteiras migraram para outros países. Ma goados por deixar a terra natal, levou-se gerações para os resquícios se dissiparem. Entre aqueles imigrantes estavam os avós maternos de Marlene, Arcanjo Moretti e Ge-noeva Zacarín (12 filhos); e paternos, Antônio Barbuglio e Josefina Barbuglio (14 filhos). Os Barbuglios foram plantar uvas em Maringá (PR); e avós maternos foram para Santa Rita do Passa Quatro (SP), trabalhar com café. Aí vai a vida de Marlene, por Marlene:

“No interior, nada era fácil. Trabalho des-de os seis de idade. Na cultura italiana da época se o pai brigasse com um filho, ele transferia o ressentimento para quem dele descendesse. Meu avô era rancoroso. Meu pai era rebelde, boêmio, bonito, alto e mu-lherengo. Então meu avô arranjou um casa-mento para o meu pai. E escolheu a minha

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mãe, por achá-la trabalhadora e honesta. Meu pai casou com ela, mas foi passar a lua de mel com uma professora que ele adorava. Aí meu avô o deserdou e os problemas se agravaram. Meu avô proibia os meus tios de terem contato com a gente. Mas não permiti que esse ódio passasse para os meus filhos. Eles perguntavam: porque o avô é assim? Eu dizia que ele não fora um filho amado, e por isto amargurou-se. Minha mãe tinha que la-var roupa para nos alimentar. Todos os filhos estão bem agora. Brasília e a Eletronorte me deram uma nova vida. Acho-me uma vence-dora com a família que criei, principalmente considerando os traumas do passado. Casei-me por amor e vivo há 31 anos com o meu marido, Adenauer de Freitas Asenção. Um dia eu contei a história deles para os meus filhos, mas expliquei que o ódio só veio dos meus avós paternos. Um tio meu, que cuidou do meu avô paterno, e que ficou com todos os bens, proibiu as filhas dele de ter conta-to com a gente. E eu gostava muito destas primas: a Alma Barbuio e a Arlete Barbuio. Com essas primas, e juntas, acabamos com as desavenças”.

Mosquito elétrico - A descendente de ín-dios e portugueses, Vera Lúcia Teixeira Lacer-da de Almeida era chamada mosquito elétri-co quando criança, devido ao porte magro e pela maneira rápida de agir. Sair da escola e ir direto para casa, jamais. Sempre tinha um jogo de vôlei, queimada, uma brincadeira e uma invenção qualquer: mil atividades. Era o que se chama hoje de uma criança hiperati-va. Só que naquela épo-ca os hiperativos não to-mavam calmantes, nem permaneciam estáticos em frente às televisões ou nas lan-houses; ou achavam o que fazer ou endoidavam de vez. Verinha preferiu não en -doidar. E hoje ela é ge-rente de Relações Pú-blicas e Publicidade da Eletronorte. É formada em economia, tem es-pecialização em gestão de pessoas baseada em competências e em pro-moção e gestão de even-tos. É uma promotora de alegrias na Empresa.

“Estudei seis anos na Escola de Música de Brasília, fiz balé aquático e natação, joguei vôlei. Pratiquei quase todos os esportes, em cada época de minha vida. O esporte traz responsabilidade, respeito, eu tive uma cria-ção muito boa. Vim do Maranhão com cinco anos para ser criada com uns tios, em 1972. Naquela ocasião, a minha mãe, Lindomar Teixeira de Lacerda, já estava separada do meu pai, Benedito Furtado de Lacerda. Era lavadeira de beira de rio no Maranhão. Dei-xou cinco filhos com os pais dela e foi tentar a vida no Rio de Janeiro. Depois veio para a casa de uma tia em Brasília e foi ganhando um pouco mais de dinheiro. Logo começou a trazer os filhos para cá”.

A alegria de Verinha (abaixo, com três anos de idade) vem de longe. Seu avô, João de Oli-veira, era violeiro sertanejo. Sua mãe ficou viúva aos 18 anos do primeiro marido e Vera é filha do segundo casamento. Seus irmãos também são vio-leiros. “Minha mãe era a maior forrozeira. Somos todos breguei-ros. Lá no Maranhão, a tradição era cantar em rodas nas portas das casas. Eu trago comigo es-sas raízes culturais. A música e o teatro vieram juntos, talvez uma ligação lá com as rodas de músi-ca em Carolina. Pois quando os adultos cantavam, eu me enfiava no meio e fazia alguma coisa: um teatrinho, uma cantiga qualquer. O povo ria muito porque nos cha-mados ‘dramas’, eu, bem miudinha, sempre

cantava a mesma música de adulto: ‘receba as flores que te dou, e em cada flor um beijo meu...’ Já cantei muito em botecos com os meus ir-mãos”.

Verinha continua promo-vendo eventos, é apresen-tadora, cantora, escritora de peças teatrais, atriz, humo-rista; mas não está satisfeita. Ela anda com uma conversa que precisa ter mais ação na sua vida. Diz que vai fa-zer concurso para a Polícia Federal: para dar tiros, pete-lecos, cambalhotas, investi-gação, agi tação, fazer altas missões. Qualquer dia va-mos vê-la no Tropa de Elite.

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* José Antonio Muniz Lopes

“No final da década de 80, tive a oportunidade de tra-balhar na Eletronorte e, confesso, até hoje não a deixei. Fui coordenador-geral da Presidência e diretor naquela ocasião, e dez anos mais tarde voltei como presidente, cargo que ocupei até 2003. Agora estou na Eletrobrás, mas, mesmo fora da Eletronorte, nunca deixo de acompanhar os passos da Empresa.

A razão é simples: a Eletronorte apaixona. Com desafios diários, uma força de vontade incrível renasce a cada dia dentro de cada trabalhador. Essa força é contagiante, nos levando a redobrar os esforços na conquista de metas sem-pre muito ambiciosas.

Não poderia ser diferente numa organização que atua na Amazônia brasileira e, além de construir e operar usinas geradoras e sistemas de transmissão, vive às voltas com a responsabilidade de cuidar do homem e da natureza ama-zônidas. É um trabalho complexo. E, quanto mais complexo se torna, mais criatividade brota de dentro da Eletronorte; quanto mais difícil o projeto, mais lutam os empregados, fazendo que as conquistas pareçam sempre uma grande vitória, com direito a choro misturado ao riso.

Recentemente, já como presidente da Eletrobrás, voltei ao auditório da Eletronorte em Brasília. Novamente sentado à frente do grande painel de Tucuruí e olhando aquele am-biente familiar, me senti em casa e me emocionei. O ministro Lobão até brincou, dizendo que eu preferiria ser presidente da Eletronorte.

Relembrar minha trajetória na Empresa ocuparia espaço demais e talvez seja realmente desnecessário. Nesta histó-ria, os 35 anos de vida da Eletronorte constituem um capí-tulo especial.

Como esquecer a participação na formatação e im-plantação dos programas indígenas Waimiri Atroari e Parakanã, as tratativas com os Krikati e os Guajajara? Como não lembrar a construção e a entrada em opera-ção do Tramo-Oeste, no Pará? A duplicação de Tucu-ruí? O linhão do Nortão de Mato Grosso? A interligação Brasil-Venezuela? E a labuta insana durante o raciona-mento em Manaus? Todos os lançamentos do projeto Brasil 500 Pássaros?

São apenas alguns dos momentos que vivi intensa-mente na Eletronorte. Vivi intensamente porque tive ao meu lado o melhor corpo técnico, o melhor sistema de gestão, uma energia especial permeando a convivên-cia diária com diretores, gerentes e empregados, uma relação transparente, pautada no respeito profissional e nas amizades que foram se cristalizando, e que nos fortalecem onde estivermos.

Como presidente da Eletrobrás, por exemplo, as experiências vividas e os laços criados na Eletronorte são força e inspiração para os desafios que enfren-tamos. A Eletrobrás vive um momento emblemático, de importantes mudanças e grandes expectativas. A aprovação da Lei nº 11.651, em abril deste ano, criou condições para que a empresa consolide seu papel de liderança nas iniciativas do Setor Elétrico brasileiro, assegurando seu crescimento seguro e sustentável. Diante das perspectivas abertas pela Lei, a Eletrobrás se mostra mais autônoma, mais forte e com poder para atuar inclusive no exterior. A ampliação do escopo de atuação representa, em contrapartida, novas e mais importantes responsa-bilidades, frente às quais precisamos todos otimizar nossos esforços.

“Vivam intensamente, como eu vivi, cada minuto de suas vidas passado dentro da Eletronorte”

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outros preconceitos - Maria Angélica de Abreu de Melo Silva (com o pai e os irmãos, na página anterior), casada com Josué de Melo Silva, negro, mãe de duas meninas, neta de Rosa Bernardes de Abreu, que é descendente de índio e faz 103 anos em junho deste ano. Disse que o pai, Augusto de Abreu Filho, carioca, negro, capitão da reserva, herdou da avó as características principais: correção e retidão de princípios. “Ele é muito rigoroso, mas também foi um pai de colocar os filhos no colo, contar his-tórias e de passear com eles. Quando não tínhamos carro, passeávamos de ônibus. Somos rígidos, mais muito ternos uns com

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Assim, entre nossos principais objetivos está a efe-tiva integração das empresas do Sistema Eletrobrás, essencial para que tenhamos condições de exercer o papel que nos cabe neste novo cenário. Nesse senti-do, a criação da Diretoria de Distribuição da holding foi um passo essencial. Aprovada em maio pelo Conselho de Ad-ministração, a nova diretoria tem sob seu comando o processo de reestruturação organizacional das empresas de distribuição do Sis-tema, visando à harmonização de iniciativas e à diminuição do des-perdício de recursos humanos e materiais.

Com uma administração mais integrada, damos um passo de-finitivo no sentido de melhorar o desempenho de cada uma dessas empresas, bem como sua atuação e imagem frente ao mercado e à sociedade. Para o Sistema Eletro-brás, incluindo a Eletronorte, por sua vez, o aumento da sinergia entre as empresas resulta em sig-nificativos ganhos de escala, em atividades atualmente executadas de forma distribuída.

É assim, mais forte e integrado, que o Sistema Eletrobrás se pre-para para confrontar seus novos desafios. Entre eles, alguns se destacam por sua importância no painel do sistema energético brasileiro. O primeiro é a inter-nacionalização, área em que teremos como marco-zero o intercâmbio de energia com a Venezuela, já em estágio de negociação. Trata-se de uma parceria histórica, não apenas pelo que pode representar em benefícios para os dois países, mas porque inaugura

a atuação da Eletrobrás no exterior, abrindo caminho para importantes alianças em toda a América do Sul e, futura-mente, também em outros continentes.

A retomada do papel de liderança nas obras do Progra-ma de Aceleração do Crescimento - PAC é outra tarefa de

grande vulto. O Governo Federal está in-vestindo fortemente em obras de infra-estrutura essenciais ao crescimento do País e o Sistema Eletrobrás, pela impor-tância do Setor Elétrico, é um de seus principais parceiros.

Por fim, há o compromisso constante com o futuro energético brasileiro. Nes-te momento, investimos na transição do sistema isolado para o sistema in-terligado, em grandes obras de geração e transmissão, em conservação e eco-nomia de recursos e em fontes alterna-tivas de energia. Grandes tarefas para uma grande empresa, que se reinventa a cada dia.

Quase uma cinqüentenária, a Eletro-brás se mantém jovem pela renovação de seus compromissos, ideais e ações. Este é um momento de mudanças. Dele sairá um Sistema Eletrobrás ainda mais forte e atuante. Vocês, meus ami-gos da Eletronorte, são parte essencial dessa história. Por isso, comemorem os seus 35 anos, festejem essa Empresa

tão valiosa! Vocês, que a fazem todos os dias, que a ad-ministram com o maior afinco, que empreendem as tec-nologias mais avançadas e que aprenderam a cuidar da Amazônia, vivam intensamente, como eu vivi, cada minuto de suas vidas passado dentro da Eletronorte. Jamais será um tempo perdido”.

* José Antonio Muniz Lopes é presidente da Eletrobrás

os outros. São seis filhos: quatro mulheres e dois homens. Eu fui muito especial, pois nasci gêmea de minha irmã, Ana Maria, que morreu. Meu pai não batia, mas os sermões dele eram pior do que surra. Minha mãe, Margarida Athaíde de Abreu, era mineira e mais calma. Os avós pelo lado de mãe são negros, Rita Balbino Athaíde e Ovído Athaí-de. Eu fui uma criança que brincava feliz no quintal, ajudava minha mãe e fazia de tudo um pouco. Hoje continuo fazendo de tudo e me considero uma pessoa feliz. Naquele tempo a mãe ficava no lar e tinha mais tem-po. Sou gaúcha, nasci em Bento Gonçalves, um dos lugares onde meu pai serviu”.

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Dupla nacionalidade - José Anastácio (acima, com a esposa e a filha Letícia), é português de Pera Boa. O nome Anastácio em grego significa ressuscitado. Ele diz que foi isto mesmo que aconteceu: o Brasil deu-lhe uma nova vida. Veio sozinho direto para Brasília, em 1975. Escolheu aqui, pois era uma cidade nova e cheia de oportunidades. O Brasil tinha negócios com a Alemanha e França e ele concluiu que poderia conse-guir um emprego aqui e acertou. O fato de ser professor de francês e alemão ajudou. Anastácio trabalha atualmente com docu-mentação na área médica e de benefícios. Ele disse ter tido uma infância tranqüila ao lado de seus pais Manuel Joaquim Anas-tácio e Irene Rosa, mas queria conhecer novos horizontes. “Acho que fui um me-nino bom e bonitinho. Jamais fui sapeca! Quanto à Eletronorte, a considero uma Empresa ideal, principalmente quando se trata da proteção à saúde do trabalhador. Para os novos, peço que vistam a camisa da instituição. O salário deve melhorar com

o tempo e a realização pessoal virá com o trabalho. Vir para o Brasil foi bom em to-dos os sentidos. Aqui eu construí minha vida: casei-me com uma brasileira, com ela tive três filhos, já formados. Na Aliança Francesa pude realizar o meu sonho de ser professor e a Eletronorte me deu a segu-rança financeira. Aconselho aos novos, que tenham o seu trabalho rentável, mas não percam os sonhos”.

Segundo ele, “os portugueses são bem recebidos aqui e os brasileiros bem aco-lhidos lá. Isto é bom, pois Portugal é uma porta para a Europa. Meus filhos têm du-pla nacionalidade, o que facilita conhecer o mundo todo. Somos todos irmãos, a pró-pria Europa já se unificou, a América do Sul está indo na mesma direção. No Brasil encontrei amigos, o País me enriqueceu culturalmente. Às vezes me surpreendo até contando piadas de português. Portugal evoluiu muito. Os turistas brasileiros encon-tram lá um país muito bonito e cativante: Fátima, Coimbra, Porto, Guimarães, Serra da Estrela são ótimas cidades. Para quem gosta de neve, temos também bons locais e tem o Algarve, para quem gosta de praias. Isto sem falar na história que é entrelaçada com a do Brasil”.

Angélica levanta uma questão importan-te. Ela diz que o brasileiro já resolveu bem a questão racial, mas há outros preconceitos em prática: o social, contra os homosse-xuais, a discriminação contra a mulher, o preconceito inclusive contra os alcoólatras. “Tive uma amiga com marido alcoólatra. Eu a acompanhei no tratamento. Vi como a fa-mília sofria. Agora já me policio para não me referir a ninguém pelos seus hábitos. Temos que ficar atentos, pois os preconcei-tos vêm disfarçados de várias formas. Pre-cisamos quebrar as cadeias de ódio”.

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Quinze mil e quinhentos quilômetros. Esta é a distância entre a jovem Ariquemes, mu-nicípio ao oeste de Rondônia, e a imponente cidade de Dubai, nos Emirados Árabes Uni-dos. Uma distância pequena se comparada com o caminho percorrido pela prefeitura daquele município para concorrer ao Prê-mio Internacional de Melhores Práticas, por conta da economia de energia elétrica con-quistada por ações simples advindas de um longo processo de conscientização. E se fala-mos de energia elétrica em plena Amazônia, a Eletronorte certamente também tem a ver com Dubai.

No âmbito do Programa Eletronorte de Efi-ciência Energética - PEEE, a Empresa firmou uma parceria com a Eletrobrás, por meio do Programa Nacional de Conservação de Ener-gia Elétrica - Procel, e com isso possibilitou que Ariquemes concorresse ao Prêmio pela

Gestão Energética Municipal: uma forma inteligente de administração pública

implementação de uma Unidade de Gestão Energética - Ugem no município, fruto da Gestão Energética Municipal - GEM.

“A Ugem é uma equipe de trabalho es-sencial para que o Planejamento Energético do Município - Plamge seja elaborado e colo-cado em prática. Por isso, sua criação é um dos primeiros passos caso ainda não exista um grupo que cuide do assunto na prefei-tura. A Unidade possibilita ao administrador público municipal a gestão do uso eficiente de energia elétrica nos centros consumido-res pertencentes à prefeitura. Ela identifica

Crianças de Tucuruí: batendo recordes de economia

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oportunidades de economia e geração de energia que reduzam desperdícios, elevando ganhos e obtendo, conseqüentemente, maio-res recursos para serem utilizados em setores considerados prioritários para a comunidade. É, portanto, uma forma inteligente de gestão pública”, afirma o arquiteto Davi Miranda, co-ordenador do Procel-GEM na Eletrobrás (ao lado, com a equipe).

A GEM atende às regiões de acordo com suas necessidades, fornecendo treinamentos em conceitos de eficiência energética aplica-dos aos setores de consumo da prefeitura, como a própria gestão energética, iluminação pública, prédios públicos, educação, legisla-ção e saneamento. O administrador, por sua vez, fica capacitado a conhecer, gerenciar, planejar e controlar o uso da energia elétrica, garantindo a redução do seu consumo. Em todo o Brasil, as Ugem já atuaram diretamen-te em 249 municípios de 16 estados. “Isto sem contar as iniciativas implementadas com nossas metodologias pelas próprias prefeitu-ras e pelas concessionárias de energia elétri-ca. Neste caso, já seriam quase 500 prefeitu-ras”, lembra Davi.

Diagnóstico - Além de Ariquemes, há mais sete Ugems implantadas pela Eletronorte na Amazônia desde o início do programa na Em-presa, em 2006. Elas estão em Ananindeua, Abaetetuba e Tucuruí, no Pará; Candeias do Jamari, em Rondônia; e São José de Riba-mar, Imperatriz e Presidente Dutra, no Ma-ranhão. Essas unidades receberão o Plamge, um relatório com o diagnóstico cuja função é levantar e organizar as diferentes atividades

desenvolvidas pela prefeitura, identificar áre-as, bem como permitir a implementação de novas atividades com qualidade e eficiência energética. “Fazemos a análise do município abrangendo todos os prédios públicos perten-centes à prefeitura, juntamente com o levan-tamento de todas as contas. Esse diagnóstico dá origem ao Plamge, em que apontamos o problema e onde a prefeitura pode buscar os recursos para viabilizá-lo. É um imenso e importante trabalho de continuidade, pois o dinheiro arrecadado volta para a própria po-pulação do município”, afirma Neusa Lobato, gerente de Articulação com a Indústria Na-cional da Eletronorte.

Entre as simples ações que garantem uma grande economia estão a renegocia-ção de contratos de energia elétrica, troca de lâmpadas ineficientes nos prédios e nas ruas, utilização de materiais eficientes nas novas obras e substituição de equipamentos obsoletos. Para sua elaboração são neces-sários: levantamento de informações gerais dos municípios - caracterização socioeconô-mica, geoclimática e administrativa - ; levan-tamento do consumo e despesas da energia elétrica nos vários segmentos de consumo e das características físicas do patrimônio das prefeituras municipais; criação e levanta-mento de indicadores de consumo de ener-gia elétrica; definição de estratégias para o combate ao desperdício de energia elétrica e incorporação da definição da política ener-gética do município.

Sete dos oito projetos estão finalizados, sendo que seis deles já foram entregues ofi-cialmente, e, mesmo com trabalhos ainda não concluídos, os resultados já são notados: “An-tes mesmo das entregas do Plamge, a GEM já proporcionou aos municípios a identificação de diversos pontos de desperdício, como o

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pagamento de contas em duplicidade, liga-ções clandestinas, duplicidade de faturas e de multas, que podem ser evitados com me-didas simples de gestão”, lembra Neusa.

Primeiro contato - Essa conscientização entrou na agenda das prefeituras após a Constituição de 1988, quando passaram a assumir atribuições e responsabilidades até então de competência dos governos estadu-ais e federal. “A descentralização impulsio-nou a participação dos municípios no aten-dimento dos serviços públicos, entre eles a gestão e o monitoramento da energia elétrica. Como grande parte deles não realizava um acompanhamento adequado de seus gastos com energia, acabavam por não identificar as oportunidades de redução de desperdícios”, relembra Neusa.

Ela explica que a iniciativa é do município, sendo que qualquer prefeitura pode solicitar o Plamge. “Nós não temos como detectar em qual município a prefeitura tem o desperdício e pode demandar o Plano. Logicamente que, se já temos um plano educacional no local, logo tentamos conciliá-lo com o Plamge. Quando fazemos a entrega do Plano ao município, con-vidamos as prefeituras vizinhas para conhecer o projeto, e a partir daí eles vêem como é be-néfico e nos procuram para que seja aplicado em sua prefeitura também, alcançando nosso objetivo de fazer com que cada vez mais mu-nicípios queiram aplicá-lo”, enfatiza.

Algumas das prefeituras, no entanto, ti-nham a consciência da gestão de energia. Luís Carlos Bruno de Oliveira - o Mineirinho, é o gerente de iluminação pública da Prefeitura de Ariquemes e diretor da Gestão Energética Municipal. Está neste último cargo por conta de uma proposta de novas idéias do prefeito Confúcio Moura para melhorar o consumo de energia elétrica da cidade, o que o colocou diante do Procel e do Plamge.

Quando a Eletronorte chegou em Ari que-mes, a cidade já contava com um projeto de eficiência energética. “Nós tínhamos uma ine-ficiência muito grande nos prédios públicos e iluminação pública. Então começamos a pes-quisar e conseguimos minimizar um pouco a situação, que foi melhorada depois que a Eletronorte firmou parceria conosco em Porto Velho e o prefeito abraçou a idéia”.

Após a parceria, surgiram os primeiros re-sultados: “A equipe da Eletronorte deu todo apoio para conseguirmos obter os resultados que queríamos. Na iluminação pública a re-

dução de gasto imediata foi muito grande, de 509 mil kWh/mês para 384 mil kWh/mês, somente com a instalação de lâmpadas mais eficientes e com melhor desempenho. Com a economia, foram implantados mais 2.500 pontos de iluminação no local, e levamos mais energia para aqueles que ainda não ti-nham acesso. O incentivo que a Eletronorte nos deu é muito importante e a deixou com mais notoriedade do que qualquer propa-ganda que ela viesse a fazer no município”, enfatiza Mineirinho (na foto abaixo, com as crianças).

Conscientização - Apesar de o maior seg-mento consumidor energético do Brasil ser o setor industrial, seguido do residencial e do comercial, na Região Norte o quadro se in-verte, apontando as residências e o comércio como os que mais consomem energia. Ana-lisando o setor comercial, percebe-se que os vilões do consumo, com até 72% dos gastos

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com energia elétrica, são a iluminação e o ar condicionado, responsáveis por até 48% da conta. Em regiões mais quentes, somente o ar condicionado pode consumir até 60% da fatura de energia elétrica em um estabeleci-mento comercial.

Pensando nesse alto consumo, os comer-ciantes de Ariquemes também se inspiraram nas mudanças proporcionadas pelo Plamge. A Associação Comercial de Ariquemes - Aciar, tem buscado orientação da GEM para reduzir o gasto de energia nas lojas. O empresário Márcio Raposo (foto abaixo), dono de 23 lojas em 15 municípios rondonienses, é um exem-plo dessa parceria inovadora. Márcio trocou as lâmpadas fluorescentes de todas as lojas

por lâmpadas HT1 de 150 Watts, fazendo com que o consumo mensal de energia elétrica ca-ísse em mais de 40%, economizando R$ 3 mil na conta de luz. Agora o empresário quer reduzir ainda mais. “As instala-ções elétricas também serão mudadas para ob-termos uma queda maior de consumo. Precisamos fazer reduções de custos constantes para não sair-mos do mercado”, disse Márcio Raposo.

A economia das pre-feituras da Região Norte

que já receberam o Plamge foi de R$ 464 mil desde 2005, o equivalente a 1.298.750,73 kWh. Em todo o Brasil a economia é suficien-te para abastecer uma cidade com oito mil habitantes. No municí-pio de Abaetetuba, so-mente com a eliminação de multas por atraso no pagamento das contas conseguiu-se uma eco-nomia de R$ 9 mil, além dos cerca de R$ 60 mil poupados com a retirada de ligações clandestinas. Em Tucuruí, as ações iniciais e a análise dos contratos de forneci-mento resultaram numa economia de R$ 20 mil por mês. Com a entrega do Plamge, feita em abril

último, espera-se que a Prefeitura de Tucuruí reduza em 16% o gasto com energia elétri-ca, o que representaria uma economia de R$ 257 mil por ano.

Claudiney Furman, chefe de gabinete e representante do poder público municipal, afirmou confiar no sucesso do Programa Eletronorte de Eficiência Energética. “Além de Tucuruí ser a maior geradora de energia, acreditamos que pode ser exemplo para todo o Brasil no combate ao desperdício”. Se os projetos apresentados forem implantados no cronograma proposto, a prefeitura terá até o final de 2011 uma economia de R$ 1,1 mi-lhão, o que representa quase 70% dos gastos com energia elétrica no ano de 2006.

Já a Ugem do município de São José do Ribamar está negociando um crédito de R$ 140 mil com a Compa-nhia Energética do Maranhão - Cemar por erros encontra-dos pela equipe, enquanto a prefeita de Presidente Dutra, Irene Soares (foto ao lado), pretende investir em infra-estrutura com o dinheiro eco-nomizado: “Nossa pretensão é que cada secretaria possa gerenciar a sua área, em um acompanhamento mais efi-caz das ações a serem im-plantadas e desenvolvidas

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em cada segmento do município. Pequenas ações fazem a diferença, como abrir janelas, portas e usar telhas acrílicas nos telhados que não possuem forros como em algumas esco-las. A economia proporcionará investimentos em estruturação energética dos estabeleci-mentos públicos como a troca de lâmpadas incandescentes e de instalações elétricas; conscientização da comunidade e da socie-dade; além da construção de três escolas municipais na zona rural”.

De Ariquemes a Dubai - A Ugem de Arique-

mes (abaixo, membros da Ugem e técnicos da Eletronorte) obteve ganhos significativos com ações simples de gestão, que permiti-

ram a realização de ações mais elaboradas e retornos bastante significativos para toda a população. “Isso é possível quando existe comprometimento das pessoas envolvidas no processo e da prefeitura com a GEM”, afirma Neusa. Os ganhos somam mais de R$ 200 mil, o que representa 10% da fa-tura de energia do município e equivale à conta da Secretaria Municipal de Saúde em um ano. “A Gestão Energética Municipal em Ariquemes é uma referência que deve ser seguida por todas as Ugems implantadas no Brasil”, enfatiza. Lá foi possível implemen-tar correções nas cobranças de faturas de energia elétrica, além da eficiência do par-que de iluminação pública, realizada com

os recursos economizados pela GEM e de Custeio do Serviço de Iluminação Pú-blica - Cosip. Essa iniciativa possibilitou uma economia de 24% ao mês, cujo con-sumo passou de 509.450 kWh/mês, equivalente a R$ 107.825,09/mês para 384.469 kWh/mês, equiva-lente a R$ 89,4 mil.

O médico goiano Confú-cio Moura adotou Ariquemes como moradia há mais de três décadas. Já foi secretá-rio estadual de saúde e de-putado federal, e hoje, como

Ariquemes: única cidade da Região norte a representar o Brasil em Dubai

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prefeito (foto abaixo), colhe a admiração dos moradores por uma gestão que busca o com-bate ao desperdício em vários setores, tanto que a prática da eficiência energética fez do município um bom exemplo a ser seguido pe-los demais em Rondônia, já que outros pre-feitos querem aderir ao Plamge. “Nossa pró-

xima meta é divulgar para toda população os principais vícios no uso de energia elétrica, que resultam em gastos desneces-sários nas residências’’, anuncia o animado prefeito, lembrando que conseguiram ser modelo na implantação do Plamge na educação e nos hospitais. “Mas queremos estender esse suces-so para outras áreas da adminis-tração pública municipal como a redução dos custos com telefone e combustível”.

A Centrais Elétricas de Rondô-nia - Ceron reconheceu o município como o que mais economiza em iluminação pública e o que paga suas contas em dia. Agora a prefeitura concorre ao Prêmio Cidade Efi-ciente - Procel e o Prêmio Internacional de Dubai Melhores Práticas - dado às iniciativas públicas nas áreas de projetos sustentáveis. Patrocinado pela Municipalidade de Dubai em cooperação com o UN-Habitat, o prêmio, cujo valor atinge 360 mil dólares para as 12 melhores práticas, é promovido a cada dois

anos e conta com a parceria do Instituto Bra-sileiro de Administração Municipal - IBAM. “Não teríamos chegado até aqui sem a ajuda da Eletronorte. Temos a projeção do consu-mo de energia elétrica do município até 2010 e estamos preparados para o uso racional”, afirma Confúcio. A Prefeitura de Ariquemes é a única instituição da Região Norte que irá participar da premiação.

Pequenos gestores - A criação de grupos de agentes mirins de combate ao desperdí-cio de energia elétrica em escolas munici-pais (foto abaixo), que fiscalizam o consumo eficiente das escolas é outra iniciativa espe-cialmente desenvolvida pela Prefeitura de Ariquemes e pela Secretaria de Controladoria de Gestão para ser aplicado nas escolas de ensino fundamental da rede municipal. Com o patrocínio do Procel é importante que a po-pulação infanto-juvenil se conscientize sobre o uso racional e o combate ao desperdício. O projeto envolve aprendizado e diversão e complementa a proposta Procel nas Escolas (veja box).

A Escola Roberto Turbay é considerada modelo em Ariquemes. Foi a escola-piloto do Projeto de Educação Integral Nacional - Bura-reiro, no município. Nela as crianças passam todo o dia se revezando em atividades como artes, teatro e natação, depois das atividades de classe. Hoje mais três escolas possuem o mesmo sistema de ensino.

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A prática das orientações do Procel, aliada à sistemática do Plamge, permitiu que a conta de luz da Roberto Turbay fosse reduzida em mais de 70%, aproveitados pela instituição na reforma das instalações elétricas e na cons-trução de uma pequena panificadora, respon-sável pelo pão que os alunos consomem e, de quebra, outra economia, a da merenda es-colar (foto abaixo). A escola será beneficiada com um novo refeitório e o bairro onde está localizada - há quatro anos, considerado um dos mais perigosos da cidade - teve o índice de violência reduzido. A comunidade aderiu à economia de energia e também de água, tornando-se mais consciente de sua partici-pação no processo de conservação ambien-tal. “Nossa economia de energia elétrica foi grande, mas queremos diminuir ainda mais. O trabalho de redução é o resultado constan-

te de uma reeducação da equipe da escola. Todos, desde o porteiro até o aluno praticam as dicas de economia do Procel”, afirma a di-retora Neidair Mazini de Lima.

Próximos passos - Planos entregues, popu-lação capacitada: a partir daí, cada prefeitura tem a responsabilidade de cuidar da adminis-tração energética de seu município: “A Gestão Energética Municipal não é um projeto que possa ser implementado e depois deixado de lado. Ela deve ser uma preocupação perma-nente da prefeitura, devendo o Plano Munici-pal de Gestão da Energia Elétrica permear to-das as ações que envolvam a energia elétrica, desde a construção e manutenção de edifica-ções até a conscientização dos funcionários e usuários”, afirma Neusa (ao centro, na foto acima, premiando uma escola no Maranhão).

Ela dá o recado final: “Economizar energia é ao mesmo tempo bom para as finanças mu-nicipais, para a qualidade de vida da popula-ção e para o meio ambiente, e todos os ges-tores públicos devem ter essa preocupação em mente. Cuidamos da Região Norte porque é onde nós temos nossos empreendimen-tos, além de ser uma maneira de fortalecer a imagem da Empresa como uma organização preocupada com seu produto que é a ener-gia elétrica. Alguns podem pensar: ‘Você vai querer economizar energia?’ E eu respondo: ‘É claro que sim!’ Trabalhar com isso faz parte da nossa responsabilidade social. Economiza-mos aqui para vender mais adiante”.

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O que o diretor de uma grande empre-sa, um arquiteto, uma professora de es-cola municipal e coordenadores da Ges-tão Elétrica Municipal têm em comum? A missão de conscientizar - com a ajuda do Procel Educacional - o quanto antes, aqueles que no futuro serão os maiores responsáveis pelo gasto de energia. Seja nas localidades cuja energia vem em abundância, graças ao Sistema Interliga-do Nacional, ou em estados alimentados por termelétricas; seja no Sudeste - lá no Rio de Janeiro - ou bem no norte do Norte, em Rondônia, a conscientização pelo bom uso de energia elétrica contagia a todos. Isso se deve à parceria entre Eletrobrás e Eletronorte, que está transformando estu-dantes de escolas municipais em agentes multiplicadores do bom uso da energia.

A Região Norte vem dando um banho de consciência energética. Prova disso é a quantidade de escolas que foram premia-das com o Procel Educacional. Essa cons-cientização, bem no comecinho, veio lá do Rio de Janeiro, onde Davi Veiga Miranda, o arquiteto, está na coordenação do Pro-cel – GEM há cinco anos: “Fui direcionado para o departamento que cuida do Procel, pois eles pre-cisavam de profissionais de arquitetura, já que um projeto e suas especifica-ções podem influenciar, e muito, no consumo de energia de uma edifica-ção. Desde sua criação, o Procel já economizou cerca de 24.600 GWh/ano, postergando inves-timentos de mais de R$ 17 bilhões na geração de energia nova”.

Do Rio de Janeiro a Tucuruí, no Pará. Do ar-quiteto para o diretor de Gestão Corporativa da Eletronorte, Manoel Ri-

beiro, que foi até a cidade para entregar o Prêmio às es-colas e aproveitou para reforçar a importância da edu-cação para evitar futuros apagões e a necessidade de construção de novas usinas. “Ver vocês recebendo es-ses prêmios é motivo de orgulho e certeza que o projeto é realmente um sucesso. Cada professor e cada aluno sabem o que é preciso fazer para economizar energia e fazer parte do progresso do nosso País”.

A unidade educacional que apresentou melhor de-sempenho e participação nas ações do Procel, em todo o Pará, foi a Escola Municipal Manoel Barbosa de Mo-raes, de Tucuruí, que economizou 4.154 kWh em dois anos, quando a meta era de 2.992 kWh. A participação dos 19 alunos monitorados de dois em dois meses não ficou por menos. Com redução de 2.633 kWh, supera-ram em 65% o índice apresentado pelo Programa.

O diretor passa a vez para o coordenador da GEM no Maranhão, o jornalista Arthur Quirino (foto abaixo). Quando o assunto é redução de gastos, ele é perito dentro e fora de casa: “No trabalho e em casa, o meu

Em cada canto do Norte, escolas sãopremiadas pelo Procel Educacional

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comportamento não mudou muito em relação ao uso adequado da energia e da água. Eu já levantava essa bandeira contra o desperdício, mas a gente só consegue mantê-la em cima com o apoio dos familiares e dos colegas de trabalho. Com o tempo começamos a perceber na conta de energia o quanto era desperdiçado, isso é muito gratifi-cante e o bolso agradece”.

Em São José de Ribamar, municí-pio a 32 quilômetros de São Luís, os benefícios que o Procel trouxe para as famílias podem também não ser men-suráveis, como a sensibilização do uso racional da energia e da água, e a pre-servação do meio ambiente. A soma da economia das escolas de São José de Ribamar foi de 27.685 kWh, significan-do um gasto de R$ 11 mil que deixou de ser feito. “Enquanto a Eletronorte desenvolver os trabalhos do PEEE e do Procel aqui no Maranhão, estaremos com o nosso apoio irrestrito. Luz que se apaga não se paga”, lembra Arthur. Já em Pre-sidente Dutra, uma satisfeita prefeita, Irene Soares (na foto acima, recebendo a premiação) deu seu recado: “Podemos destacar o combate ao desperdício de ener-gia elétrica nas escolas com a implantação do Procel. Os alunos tornaram-se multiplicadores, obtendo resul-tados positivos no combate ao desperdício de energia elétrica, estendendo-o até as suas residências”.

De Maranhão para Rondônia, que serviu de palco para mais uma entrega da premiação final do Procel. O Programa foi iniciado no estado em 2005, beneficiando as escolas da rede pública de ensino da capital Porto Velho, de Candeias do Jamari, de Guajará-Mirim e Ji-Paraná. Nesta última cidade, a instituição reconhecida com o diploma Escola Eficiente em Energia foi a Escola de Ensino Fundamental Tancredo de Almeida Neves, que recebeu um projetor multimídia, por ser a institui-ção que obteve o melhor desempenho entre as demais participantes do Programa.

Durante três anos, professores e alunos foram ca-pacitados por coordenadores do Procel e da Eletronor-te em diversos cursos sobre o uso racional de energia elétrica, e participaram de atividades pedagógicas, en-volvendo famílias e a comunidade no uso eficiente de energia. Em Porto Velho, último destino, a entrega dos prêmios e certificados do Procel foi realizada em maio último na Escola Estadual Franklin Roosevelt. Treze es-colas da rede pública estadual concorreram ao certame, no município de Guajará-Mirim. A segunda instituição mais antiga da histórica Pérola do Mamoré, com seus

42 anos de existência, foi a vencedora: Es-cola Almirante Tamandaré. Mais de 480 alunos do ensino fundamental aderiram ao Procel. O coordenador local do pro-grama, Orlando Francisco de Souza (na foto acima, ao lado das professoras), afir-ma: “Se todos aprendessem como vocês aprenderam a usar a energia de forma efi-ciente não precisaríamos investir tanto na construção de novas fontes geradoras”.

(Colaborou Viviane de Assis, da Regional de Produção e Comercialização de Rondônia)

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Mil e quinhentas pessoas de 53 países fo-ram a Foz do Iguaçu participar do Fórum Glo-bal de Energias Renováveis, no último mês de maio. Foi um evento magnífico, onde o Brasil brilhou. As empresas do Sistema Eletrobrás estiveram presentes e a Eletronorte apresen-tou novas tecnologias de fontes alternativas de energia elétrica (ver box). Ao final, após três dias de debates, uma certeza: a busca por alternativas energéticas para fazer frente ao crescimento da economia, pelos países do hemisfério sul, da América Latina e da África, mas também Índia e China, provoca uma re-ação equivocada dos países ricos do hemis-fério norte, Estados Unidos e da Europa.

O desconforto é por conta do novo embate entre a produção de biocombustíveis e de ali-mentos. “Temos de fazer um debate objetivo e sereno sobre o impacto dos biocombustí-veis na produção de alimentos para afastar avaliações preconceituosas ou movidas por intenções disfarçadas, sobretudo daqueles

que estão ganhando com a alta dos combus-tíveis fósseis”, alertou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, colocando o dedo na ferida.

Sem dúvida, o debate que mais polarizou o norte e o sul foi sobre conexões entre mudan-ça climática, segurança energética e energia renovável, sob a moderação de um jornalis-ta da BBC, reuniu representantes da África, Espanha, União Européia e o embaixador brasileiro José Domingos González Miguez, secretário-executivo da Comissão Interminis-terial sobre Mudanças Climáticas.

“Claro que é uma guerra, pois o Brasil está numa condição única, por causa da auto-suficiência em petróleo e do aproveitamen-to dos biocombustíveis. O preço do petróleo está de fato afetando o preço dos alimentos, mas o quadro que eles querem pintar é que fazemos tudo errado: o errado são as hidre-létricas, o certo é o carvão e o petróleo, eles querem passar este mote”, afirmou o embai-xador após o debate.

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A Energias renováveis: embate entre norte e sul expõe insegurança de países ricos frente aos biocombustíveis

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Para Gonzáles (acima, debatendo com a mesa), os biocombustíveis são parte da solu-ção e não um problema, como americanos e europeus têm lançado em toda a mídia. “Os biocombustíveis surgem como uma pequena solução num apanhado de soluções de ener-gias renováveis, cujas técnicas estamos estu-dando antes de implementar”, ressaltou.

O africano Stephen Kartezi, diretor da Rede de Pesquisa de Política Energética Africana, aposta no programa brasileiro. O especialista acredita que o País acertou ao investir na tecnologia. “O Brasil teve uma vi-são de longo prazo e encontrou a chave para

o sucesso. Acho que os países africanos e de outros continentes devem agir da mesma forma”, disse. Kartezi foi enfático ao defen-der que países africanos não devem atender novamente aos interesses dos europeus em relação aos biocombustíveis, sendo muito aplaudido. “Estamos alerta para uma possível ‘invasão’ européia, com o intuito de novamen-te colonizar nossas terras, a fim de ocupá-las para a produção de biocombustíveis. A África precisa aprender com o Brasil. Primeiro, de-vemos conhecer as técnicas, atender ao nos-so mercado interno, para depois passarmos ao processo de expansão”, avaliou.

Do outro lado, Katja Lautar, secretária de Estado da República Eslovaca para a União Européia, teme a cultura dos biocombustí-veis. “Deve haver primeiro uma grande dis-cussão para determinarmos padrões mínimos de produtos renováveis”, disse. Ela acredita que sejam importantes novos estudos sobre os impactos ambientais teoricamente causa-dos pelas fontes de energia alternativa. “Os brasileiros insistem na produção de biocom-bustíveis e tentam nos convencer de que não há impacto ambiental na produção de alimentos. Mas estamos vivendo dificulda-des no preço dos alimentos, em decorrência da escassez de grãos, causada pelas terras ocupadas pelo plantio de componentes dos biocombustíveis”.

O espanhol Jaume Margarit, representan-do o Instituto para Diversificação e Economia de Energia, defendeu o aprimoramento da tecnologia dos biocombustíveis e a diversi-ficação da matriz energética, com base em fontes alternativas de energia. “O Brasil tem grande potencial, mas precisa obter energia com eficiência, independente da fonte reti-rada”, declarou, ressaltando que é preciso regulamentações adequadas para cada tec-nologia específica.

o que podemos fazer? – O diretor-geral da Organização das Nações Unidas para o De-senvolvimento Industrial - Onudi, Kandeh Yumkella, viu o Fórum Global de Energias Renováveis como uma oportunidade de re-plicar exemplos bem sucedidos na obtenção de energia limpa - sobretudo os brasileiros - em outros países. “Aqui vimos exemplos práticos, e não apenas teóricos, da utilização de fontes renováveis de energia. Atualmente, milhões de pessoas não têm acesso à eletrici-dade, principalmente na África. E não pode-mos falar de desenvolvimento industrial sem

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crescimento energético. Por isso vemos no Brasil experiências que são exemplos para o resto do mundo. Elas mostram que o desen-volvimento das tecnologias para obtenção de energia renovável é perfeitamente possível”, analisou.

Yumkella (foto acima), assim como todos os representantes de países africanos, os indianos e asiáticos presentes ao Fórum, é partidário da posição brasileira na ‘cruzada’ em favor dos biocombustíveis. Ele considera que a alta no preço dos alimentos se deve ao aumento do preço do petróleo, visão de-fendida também pelo ministro de Minas e Energia, Edison Lobão. Para Yumkella, não é coincidência que os países mais pobres do mundo sejam também os que tenham menos acesso à eletricidade. Mas o diretor-geral da Onudi é também um otimista: “Ouço sempre as mesmas perguntas no mundo todo. Uma delas é: como tornar a bioenergia acessível? O que podemos fazer? Acredito que podemos fazer a diferença.”

A diferença começa a ser feita nas pa-lavras do presidente Lula na sede da FAO, em Roma: “Os dedos que apontam contra o etanol estão sujos de petróleo”, afirmou dra-maticamente. O que o Presidente quis dizer foi que não é possível que os países desen-volvidos exijam de nós que abramos mão de nosso desenvolvimento.

Em sua coluna, no jornal O Globo, o jor-nalista Merval Pereira lembra que, hoje, a cana-de-açúcar ocupa no Brasil apenas 8,5 milhões de hectares, e a produção de etanol usa cerca de 4,5% dessa área, o que signi-fica que o País pode perfeitamente aumen-

tar o cultivo da cana-de-açúcar e o de soja, por que é necessário manter 15% da área em rotação permanente. Tanto os Estados Unidos quanto a França, o quinto maior pro-dutor mundial de etanol, têm que dar fortes subsídios para tornar economicamente viá-vel o combustível que produzem, nos EUA, do trigo e milho, e na França, da beterraba.

Segundo ele, o que os difere do Brasil é a produtividade por hectare. A cana-de-açú-car é duas vezes mais produtiva que o milho americano. O custo subsidiado da produção do litro de etanol de milho é de US$ 0,30 nos Estados Unidos, enquanto o de cana, sem subsídios, no Brasil, é de US$ 0,22.

Outro jornalista, Roger Cohen, colunista do New York Times, faz coro ao Brasil: “A abun-dância de recursos naturais do Brasil é um ati-vo valorizado diante do ingresso, na economia global, de 37% da população mundial que vi-vem na China e Índia. Ou seja, diante de um mundo faminto por alimentos e energia. O pri-meiro dos elementos dessa alquimia é a terra: 394 milhões de hectares de áreas agricultáveis, dos quais apenas 16% estão hoje plantadas”. Nos EUA, lembrou Cohen, são 269 milhões de hectares, sendo que 70% já estão ocupados.

Cohen destaca que “o Brasil é o País com maior volume de fontes renováveis de água, elemento indispensável à agricultura e, tam-bém, que proporciona abundância em ener-gia hidrelétrica. O etanol é outro exemplo da revolução verde no Brasil, mas os avanços vieram também na exploração de petróleo onde hoje é auto-suficiente, após descobrir um potencial de novas reservas em águas ul-traprofundas”.

Compromisso social – Outro debate interes-sante do Fórum Global de Energias Renová-veis foi “Bionergia – Potenciais e desafios na

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Eletronorte apresenta tecnologias alternativas Tecnologias de produção de energia renovável, geradas a

partir do biodiesel e do álcool etanol, desenvolvidas em comuni-dades isoladas de Mato Grosso foram expostas pela Eletronorte no Fórum Global de Energias Renováveis. Um dos projetos foi o “Biodiesel Guariba”, implantado no município de Colniza, com a proposta de tornar auto-sustentáveis 1,2 mil famílias a partir da inclusão social, energética e tecnológica. A comunidade foi preparada para desenvolver a cadeia produtiva do biodiesel, com uso de agricultura familiar e o extrativismo das várias espé-cies de oleaginosa, com a formação de uma cooperativa.

Para o plantio de amendoim-cavalo, gergelim, girassol, ba-baçu, castanha, cumbaru e copaíba, de onde é extraído o óleo para a produção do biocombustível, foram colocados à disposi-ção 80 mil hectares de terras pelo governo do estado. O coor-denador do projeto, Wlamir Marques (na foto acima, à esquer-da), explica que a comunidade de Guariba foi indicada pelo programa Luz para Todos para receber o projeto em função do isolamento, do alto índice de desmatamento e de criminalidade na região, além da grande incidência de doenças endêmicas.

Executado por convênio entre a Eletronorte e a Universi-dade Federal de Mato Grosso - UFMT, o projeto já recebeu investimentos da ordem de R$ 3,1 milhões para a instalação da unidade piloto de produção de biodiesel, na unidade de ex-tração de óleos, nas obras civis, usinagem e montagem. Além de pagar os testes dos reatores de catálise ácida multimagne-tron - tecnologia inédita desenvolvida especialmente para o projeto Biodiesel Guariba. Na localidade já são produzidos a matéria-prima e o óleo, faltando apenas concluir a instalação da usina para produzir o biocombustível em escala necessária para sustentar a comunidade.

Outra tecnologia que chamou muito a atenção foi o fogão ecológico (veja edição 219). O diretor-presidente da Eletronor-te, Jorge Palmeira, recebeu durante a realização do Fórum, a visita de vários técnicos e embaixadores de outros países, notadamente da América Latina e Central, interessados em produzir o fogão em alta escala com a transferência da tecno-logia pela Eletronorte. Da mesma forma, a turbina hidrocinéti-ca (veja edição 215), pelo seu baixo custo e facilidade de ins-talação, foi motivo de interesse e negociações internacionais.

Indústria”. O coordenador do Programa Bra-sileiro de Biodiesel, Carlos Cristo, citou o caso da Brasil Ecodiesel, uma das maiores produ-toras de biodiesel do Brasil, que fechou um recente acordo de concessão de terras com o governo do Piauí. A empresa investiu em infra-estrutura, construindo casas para 700 famílias, escola para 1.500 crianças, além de postos de saúde. Essas pessoas trabalham no cultivo da matéria-prima e têm garantida a ti-tularidade da terra após dez anos de trabalho, quando termina o período de concessão.

Para Semilda Silveira, chefe da Divisão de Estudos Climáticos e Energia da Escola de Ad-ministração e Engenharia Industrial, da Suécia, o viés social deve prevalecer em toda a escala de produção da bioenergia. “Tradicionalmente as indústrias têm se preocupado apenas com os produtos finais e não com a parte inicial da produção”, afirmou. O caso da Suécia é exem-plar. De 1970 a 2005, apesar do aumento da qualidade de vida dos habitantes, foi mantido o mesmo gasto per capita de energia. “Isso significa que aumentamos a eficiência energé-tica”, afirmou. “Além disso, com exceção do setor de transportes, todos os outros utilizam predominantemente energias renováveis. Um caso único na Europa”.

É importante balancear as opiniões para refletir o conflito entre a produção de alimen-tos e a geração de combustíveis renováveis, argumento utilizado para atacar as pesquisas brasileiras com o biodiesel. Ao debater o tema “Bioenergia - Biocombustíveis como alternati-va viável para combustíveis fósseis”, muitos dos diagnósticos e conclusões foram ampara-dos em previsões. Dan Arvizu, diretor do La-boratório Nacional de Energia Renovável dos Estados Unidos, disse que “de 2005 a 2030 haverá, no planeta, um aumento de 55% no consumo de energia.” Um quadro que, diante do preço do petróleo, exige o desenvolvimento da bioenergia.

“É um combustível social que move a mu-dança climática”, avaliou o diretor do Departa-mento de Combustíveis Renováveis do Ministé-rio de Minas e Energia, Ricardo Dornelles (foto na página anterior, à esquerda). Sem rodeios, Dornelles foi direto ao centro da questão. “O biocombustível é a melhor alternativa ao fóssil porque promove a diversidade da matriz ener-gética; favorece a segurança alimentar ao de-senvolver a agricultura e gerar renda de modo sustentável no campo; fomenta o desenvolvi-mento econômico regional e nacional; e alivia os efeitos das mudanças climáticas”, concluiu.

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RORAIMAhiSTÓRiAA Eletronorte chegou a Roraima em 1989,

com o objetivo de gerar, transmitir e comer-cializar energia elétrica em Boa Vista. Em 2001, a Empresa passou a operar a interli-gação entre os sistemas elétricos do Brasil e da Venezuela. Em Roraima, a Eletronorte é representada por sua subsidiária integral Boa Vista Energia, criada em 1997 e responsável pelo abastecimento da capital, fornecimento à Companhia Energética de Roraima - CER, e pela Regional de Produção e Comercializa-ção. A força de trabalho é formada por profis-sionais das mais diversas áreas de conheci-mento, trabalhando pela melhor qualidade de vida dos roraimenses. Esse trabalho tem sido reconhecido ao longo dos anos, tanto pela sa-tisfação dos clientes e consumidores quanto pelas diversas premiações recebidas, devido à excelência da gestão empresarial. Essas conquistas são fruto da prática constante dos valores do Credo da Eletronorte: excelência na gestão, valorização das pessoas, compro-metimento, aprendizado contínuo, empreen-dedorismo e ética e transparência.

RESPonSABiLiDADE SoCiALEm Roraima, a Eletronorte atende a 86% da carga

requerida e beneficia uma população de cerca de 230 mil pessoas. Além disso, desenvolve outras atividades com as comunidades. Entre os projetos, destacam-se ações nas áreas de educação, meio ambiente e cultura, implantação de salas de informática em escolas estadu-ais, plantio de mudas de plantas nativas e patrocínio de projetos culturais. Dessa forma, a Eletronorte contribui para o resgate e a valorização das pessoas, qualifican-do-as para o mercado de trabalho, além de proporcio-nar oportunidades de melhoria na geração de renda.

TRAnSMiSSÃoA Interligação Venezuela-Brasil tem 211 quilômetros

de extensão entre Santa Helena, na fronteira com a Ve-nezuela, e Boa Vista. Além dessa linha, a Eletronorte implementou em Roraima 190 quilômetros de linhas de transmissão nas tensões 69 kV e 230 Kv e uma su-bestação com 204 MVA de capacidade de transforma-ção. A distribuição no município de Boa Vista é feita através de 736,5 quilômetros de redes de transmissão em média tensão (13,8 kV) e 978,9 quilômetros em bai-xa tensão (220 V/127 V).

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MEio AMBiEnTEO respeito ao meio ambiente é prioridade

para a Eletronorte. Em seus novos empreen-dimentos, realiza programas de educação ambiental, de saúde, de controle erosivo, de recuperação de áreas degradadas, de inde-nização e desapropriação. A Eletronorte par-ticipa da estruturação do Parque Nacional de Monte Roraima, apoiando a elaboração do plano de manejo e a implantação de proje-tos de infra-estrutura e de proteção da área. Na Terra Indígena São Marcos, com 654 mil hectares, por meio do Programa São Marcos e em parceria com a Funai e as comunidades indígenas, atua na implantação de um siste-ma de fiscalização e de treinamento para a produção de mudas de árvores nativas para recuperar áreas degradadas.

GERAÇÃoA energia elétrica consumida em Roraima

é proveniente do complexo hidrelétrico vene-zuelano de Guri e Macaguá, de onde chegam até 200 MW. Em casos emergenciais, uma usina termelétrica com 52 MW de potência instalada entra em operação.

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“Adorei a Corrente Contínua nº 219. Maravilhosa! Para mim foi a melhor que já li. Parabéns! Espero que todos da Empresa leiam, pois está muito rica em informações”.

Eliane Ferreira Jorge - secretária da Assessoria de Gestão Corporativa - Brasília- DF

“Prezado Alexandre Accioly, em meu nome e de meus familiares gostaria de expressar a nossa imensa emoção ao ler a publicação Corrente Contínua, nº 219 de março/abril de 2008. Em especial agradecemos a matéria do jornalista Byron de Quevedo pela divulgação do trabalho cientí-fico do meu pai, reconhecendo-o como um dos pionei-ros mundiais na área de biocombustíveis. Num momento em que notícias sobre riscos de escassez de alimentos, desertificação de solos, elevação do custo do petróleo e aquecimento global são constantes na mídia, a publicação desta edição da Corrente Contínua não poderia ser mais oportuna. Nesse sentido, gostaria de parabenizar toda a equipe da Gerência de Desenvolvimento Energético em Comunidades Isoladas da Eletronorte pelo esforço e dedi-cação na aplicação das diversas tecnologias de geração de energia, mostrando a grande contribuição da Eletronorte para a melhoria da qualidade de vida da população da Região Norte e do meio ambiente”.

Camilo Machado Júnior - engenheiro da Gerência de Estudos de Sistemas e Equipamentos Elétricos - Brasília - DF

“Caro Alexandre Accioly, parabéns pela edição nº 219 da revista Corrente Contínua. Especialmente pela matéria so-bre Dardanelos. Participei desse projeto como pioneiro em Aripuanã (MT), desde meados de 2003 até dezembro de 2007, apoiando as equipes de pesquisadores que por ali passaram. Enfrentando a malária, a dengue, o mosquito borrachudo, as perigosas corredeiras do Rio Aripuanã. Enfim, foi um trabalho árduo, mas compensador. Apesar de ficar longe de casa por muito tempo, aprendi muito com as pessoas que fizeram parte do projeto. E além de tudo passei a gostar da cidade e de seu povo, tanto é que fiz planos de passar a morar definitivamente em Aripuanã, levando até a minha filha recém-formada em odontologia. Adquiri um pedaço de terra, onde passei a criar e divulgar o cavalo pantaneiro na região noroeste mato-gros-sense. Infelizmente não consegui trabalhar na obra da hidrelé-trica, mas estou certo que fiz a minha parte”.

hermano Piassi Pimenta - Aripuanã - Mato Grosso

“Prezados senhores, recebemos e agradecemos pelo envio da publicação Corrente Contínua, de excelente quali-dade gráfica e editorial. Informamos que é de grande valia para o acervo da Biblioteca do Iesam - Instituto de Estudos Superiores da Amazônia continuar a ser receptora de tão valiosa publicação”.

Clarice Silva neta - bibliotecária - Instituto de Estudos Superiores da Amazônia - Iesam - Belém - PA

“Prezado Alexandre Accioly, parabéns pela revista Cor-rente Contínua, em especial os temas abordados. Normal-mente retiro dela matérias para mostrar aos meus alunos do curso de Engenharia Elétrica da Universidade Federal Fluminense, a dificuldade de se gerar, transmitir e distribuir energia na dificílima área de atuação da Eletronorte”.

Egberto Tavares – professor e gerente da Coordenação de Comitês da Fundação Coge – Rio de Janeiro - RJ

“Prezados senhores, em nome da Associação Brasile-ira de Gays, Lésbicas, Bissexuais, Travestis e Transexuais - ABGLT, venho cumprimentá-los pela excelente decisão de

reconhecer as uniões homoafetivas de seus empregados. São atos como esse que fazem o Brasil caminhar para uma sociedade cada vez mais justa e democrática. Às vésperas da realização da I Conferência Nacional GLBT convocada pela Presidência da República, toda a comunidade GLBT comemora iniciativas que visam, sobretudo, a salvaguarda da defesa de seus direitos”.

Toni Reis - Presidente da ABGLT – Curitiba - PR

“Encaminho solicitação de recebimento permanente da revista Corrente Contínua, editada pela Eletronorte. Os exemplares serão incluídos no acervo da Biblioteca da Memória da Eletricidade”.

Leandro Pacheco - bibliotecário do Centro da Memória da Eletricidade - Rio de Janeiro - RJ

“Acuso o recebimento e agradeço o envio da publicação Corrente Contínua - a revista da Eletronorte”.

Jorge Khoury - deputado Federal (DEM-BA)- Brasília - DF

“Hoje é 05/06/2008, são precisamente 17h20min, aca-bei de ler a entrevista com Ziraldo Alves Pinto, na edição 30 anos. Sei que estou alguns meses atrasada. A correria é tanta que não costumo ler os jornais da Empresa. Eu estou prestadora de serviço na Eletronorte, trabalhando no Progra-ma Luz para Todos e adoro o que faço. Tive que almoçar na Empresa, então folheei a revista Corrente Contínua e quase tive uma taquicardia quando comecei ler a entrevista com o Ziraldo. Minha mãe de Deus, o que é isso? Posso garantir com toda a propriedade que foi a coisa mais interessante que li nesses meus 33 anos de vida. Eu pensei que esse cara não fosse de ‘carne e osso’, e depois da entrevista, confirmei, não é mesmo! Tive vontade de devorar a revista, cada letra, cada conjunção, cada palavra, cada frase... foi o êxtase. Só acho que toda a edição deveria ter sido com ele, queria saber mais...mais...mais. E olha que eu pensei cá comigo, no meu parco e limitado conhecimento, que ele era um mero caricaturista, o cara do Menino Maluquinho. Pode?! Sem comentários pra mim. Agora, garanto a vocês, vou virar leitora contínua dessa revista. Parabéns e me per-doem pela empolgação”.

Jusci Ribeiro - Cuiabá – MT

“Agradeço o envio das edições nºs 218 e 219 da revista Corrente Contínua e parabenizo pelas excelentes matérias de César Fechine e da Bruna Maria Netto; pela informação detalhada de todo o trabalho desenvolvido pela equipe da Eletronorte, levando ao conhecimento da sociedade, as re-sponsabilidades com o meio ambiente, com a manutenção e a resolução de problemas. Também excelente a matéria de Byron de Quevedo, pela divulgação das fontes renováveis. Para toda a equipe da revista, pelas excelentes matérias que em cada edição divulgam conhecimentos gerais e me propor-cionam estar atualizado profissionalmente, parabéns!”.

Miguel Rodrigues - eletricista predial - Rio Branco - Acre

“Agradeço o envio da revista Corrente Contínua. Como estou iniciando a coleção da revista da Eletronorte, aproveito para confirmar meu cadastro e solicitar as edições anteriores”.

George ivanoff - Santos – SP

“Com satisfação acusamos o recebimento de um exemplar da revista Corrente Contínua, da Eletronorte, edição 219, ref-erente aos meses de março e abril de 2008. Agradecendo a gentileza da remessa, renovamos nossos protestos de especial estima e apreço”.

Marcelino Ramos Araújo - presidente da Fecomércio/MA- São Luís - MA

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O tempo leva o amor, a dor... Esperança corre conforme o vento.A vida murmura baixinho: o amanhã só a Deus pertence.Trajada de branco, a alma busca a paz que os anos trazem...

Olhos presos no horizonte recordam histórias de um povo que não se Deixou vencer pela escravidão do corpo.A liberdade nascida em outras terras continuou a alimentar-lhes os espíritos.

Muitas lembranças se perderam pelo caminho... Tento reunir os cacos, ora num quadro colorido, ora numa imagem turva.No meu rosto, as marcas se perdem, vagueiam e teimam em fazer perguntas que parecem sem pé nem cabeça...

Sigo em frente...O dia de amanhã é uma miragem distante, Pressentimento a remoer uma velha cantiga,Música fincada em meu coração que não me abandona mais...

O coração é um redemoinho a tatear um porto seguro?

Texto: Érica neivaFoto: Rui Faquini

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