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Crianças Selvagens - Psicologia

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As diferenças entre o homem e o animal não são apenas de grau, pois, enquanto o animal permanece mergulhado na natureza, o homem é capaz de transformá-la, tornando possível a cultura. O mundo resultante da acção humana é um mundo que não podemos chamar de natural, pois se encontra transformado pelo homem.Os casos de crianças selvagens só vêm confirmar que somos seres de cultura, muito produzidos pelas sociedades em que nos inserimos. Ao olhar à volta reparamos que usamos o mesmo tipo de sapatos, os mesmos cortes de cabelo, somos um em muitos e nem sequer somos um. E normalmente esta ideia agrada-nos.Assim estas crianças são um bom exemplo de que não basta a herança genética para nos tornarmos humanos.A natureza deu-lhes a herança genética que as mostra como crianças humanas, com os traços físicos, as parecenças, mas o meio não as estimulou para serem parecidas aos Homens, no comportamento, nas reacções, no sentimento.

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As crianças selvagens são crianças que cresceram sem contacto humano, ou mesmo nenhum. São crianças que podem ter sido criadas por animais ou terem sobrevivido sozinhas. Crianças que, são perdidas, roubadas ou abandonadas na infância e que, depois, anos mais tarde, são descobertas pelos humanos.

Estas crianças constituem uma espécie de grau zero no desenvolvimento humano, podemos visualizar nestas crianças o que seríamos sem o contacto com outros humanos.

Em termos de linguagem, as crianças selvagens só conhecem a mímica e os sons animais, especialmente os que são emitidos pela sua família de acolhimento. Algumas crianças nunca aprendem a falar, outras ainda aprendem algumas palavras, mas há crianças que ainda conseguem aprender a falar correctamente, o que leva a querer que já tinham falado antes do seu afastamento da sociedade.

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Em termos de comportamento, as crianças selvagens comportam-se da mesma maneira que a sua família de acolhimento ( ou seja como uns verdadeiros animais ).

Não gostam de usar nenhum tipo de vestuário, alimentam-se , bebem , andam , fazem tudo como se tratassem de verdadeiros animais. A maioria das crianças selvagens não gostam da companhia dos outros humanos e percorrem longas distâncias para a evita-la.

A maioria destas crianças não gostam da companhia de outras crianças !

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As crianças selvagens não se riem ou choram, apesar de eventualmente poderem desenvolver alguma ligação afectiva. Expõem pouco ou nenhum dominação emocional e, tendo muita das vezes, ataques de raiva podendo então expor uma força própria e um comportamento visivelmente selvagem. Algumas destas crianças têm ataques de ferocidade ocasionais, mordendo ou arranhando outros ou até eles mesmo.

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Será preciso admitir que os homens não são homens fora do ambiente social, visto que aquilo que consideramos ser próprio deles, como o riso ou o sorriso, jamais ilumina o rosto das crianças isoladas.”

Lucien Malson, “Les Enfants Sauvages”

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Os animais, com o seu sistema nervoso rudimentar, não necessitam de viver com a sua espécie para realizar as acções características da mesma, devido aos instintos já desenvolvidos à sua nascença enquanto que no homem já não é assim .

O Homem só pode encontrar na sociedade a posição eminente que a natureza lhe assinalou e, sem a civilização, seria, um dos mais fracos pois de todos os seres vivos o Homem é o que quando nasce se mostra mais incapaz, de cuidar de si.

O ser humano, depende de uma sociedade, de uma cultura. Segundo Itard, “o indivíduo, privado das faculdades características da sua espécie, arrasta miseravelmente, sem inteligência nem afeições, uma vida precária e reduzida às funções de animalidade”.

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A superioridade moral, que muitos consideram ser natural nos seres humanos, não é mais do que um resultado da civilização, que contribui para a sua formação.

Se o ser humano não tiver conhecimento da cultura e da socialização , portar-se-á como um verdadeiro animal , pois não tem conhecimentos .

Podemos dizer que o Homem, sem forças físicas nem ideias inatas, tanto na selva como na civilização, será apenas aquilo que dele fizerem.

Segundo Jaspers (filósofo alemão), “São as nossas aquisições, as nossas imitações e a nossa educação que nos transformam em Homens do ponto de vista psíquico.

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O comportamento humano é uma conquista feita em consequência do processo da sua integração no meio cultural, que varia em função da sociedade a que pertence. O que nos torna reconhecidamente humanos depende de muito mais do que a nossa herança genética e biológica: é fundamental ter em conta as dimensões social e cultural para que possamos compreender os seres humanos e a forma como se comportam.

Nas crianças selvagens, existe, uma relação constante entre ideias e necessidades, ou seja, “todas as causas acidentais, locais ou politicas tendentes a aumentar ou diminuir o número das nossas necessidades, contribuem necessariamente para alargar ou diminuir o âmbito dos nossos conhecimentos” (Itard).

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Tornamo-nos humanos através da aprendizagem de formas partilhadas e reconhecíveis de ser e de nos comportarmos.

O Homem deve à cultura a capacidade de ultrapassar os seus instintos, tendo, desta forma, o poder de optar, escolher qual o caminho que considera melhor, segundo os valores em que se apoia, depois de analisar, racionalmente, a realidade.

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CASOS MAIS CONHECIDOS DE CRIANÇAS SELVAGENS

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Amala e Kamala

Na Índia, onde os casos de meninos-lobo foram relativamente numerosos, descobriram-se em 1920, duas crianças, Amala e Kamala, vivendo no meio de uma família de lobos. A primeira tinha um ano e meio e veio a morrer um ano mais tarde. Kamala, de oito anos de idade, viveu até 1929. Não tinham nada de humano e seu comportamento era exactamente semelhante àquele de seus irmãos lobos.

Elas caminhavam de quatro, apoiando-se sobre os joelhos e cotovelos para os pequenos trajectos e sobre as mãos e os pés para os trajectos longos e rápidos.

Eram incapazes de permanecer em pé. Só se alimentavam de carne crua ou podre. Comiam e bebiam como os animais, lançando a cabeça para a frente e lambendo os líquidos. Na instituição onde foram recolhidas, passavam o dia acabrunhadas e prostradas numa sombra. Eram activas e ruidosas durante a noite, procurando fugir e uivando como lobos. Nunca choravam ou riam.

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Kamala viveu oito anos na instituição que a acolheu, humanizando-se lentamente.

Necessitou de seis anos para aprender a andar e, pouco antes de morrer, tinha um vocabulário de apenas cinquenta palavras. Atitudes afectivas foram aparecendo aos poucos. Chorou pela primeira vez por ocasião da morte de Amala e se apegou lentamente às pessoas que cuidaram dela bem como às outra com as quais conviveu. Sua inteligência permitiu-lhe comunicar-se por gestos, inicialmente, e depois por palavras de um vocabulário rudimentar, aprendendo a executar ordens simples”.

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Victor de Aveyron

Em Setembro de 1799 uma criança do sexo masculino de cerca de 12 anos de idade, foi encontrado perto da floresta de Aveyron, sul da França.

Estava sozinha, sem roupa, não falava uma palavra. Aparentemente fora abandonado pelos pais e cresceu sozinha na floresta. A criança, a quem deram o nome de Victor, foi levada para Paris, onde ficou aos cuidados do médico Jean-Marc-Gaspar Itard.

Embora se pense que o menino selvagem tenha sido abandonado no bosque quando tinha quatro ou cinco anos, altura em que já deveria dispor de algumas ideias e palavras, em consequência do começo da sua educação, tudo isso se lhe apagou da memória devido a cerca de sete anos de isolamento.

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Quando foi capturado, andava como um quadrúpede, tinha hábitos anti-sociais, órgãos pouco flexíveis e a sensibilidade embotada, não falava, não se interessava por nada e a sua face não mostrava qualquer tipo de sensibilidade.

Assim, o seu isolamento passado condicionou a sua aprendizagem futura que, além do mais, deveria ter sido realizada durante a sua infância (época em que o seu cérebro apresentaria mais plasticidade, existindo uma facilidade de aprendizagem, socialização e interiorização dos comportamentos característicos da sua cultura).

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Desta forma, o menino selvagem não só tinha que lutar contra o seu passado como contra a idade avançada para uma aprendizagem, muito provavelmente, sua desconhecida, sendo esta a razão porque, segundo Itard, “para ser julgado racionalmente, (o menino selvagem de Averyon) só pode ser comparado a ele próprio.

Toda a sua existência se resumia a uma vida puramente animal.

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Kaspar Hauser

Hauser passou os primeiros anos da sua vida aprisionado numa cela, não tendo contacto verbal com nenhuma outra pessoa, facto este que o impediu de adquirir uma língua. Porém, logo lhe foram ensinadas as primeiras palavras, e com o seu posterior contacto com a sociedade, ele pode aprender a falar, da mesma maneira que as crianças.

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Maria

Maria Isabel Quaresma dos Santos é o único caso português no campo das Crianças Selvagens.

A sua mãe denotava alguma debilidade mental.

A pequena Isabel habitava um galinheiro onde supostamente a mãe a terá colocado apenas algum tempo após o seu nascimento.

Foi aí que viveu durante oito anos da sua infância, tendo como única companhia as galinhas, durante o tempo em que a mãe trabalhava no campo. Alimentava-a de milho, couves cortadas e uma caneca de café.

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Quando a pequena Isabel foi encontrada, esta possuía algumas características físicas muito específicas.

Entre elas, podemos destacar: • Subdesenvolvimento ósseo; • Grande debilidade; • Cabeça demasiado pequena para a idade; • Face com semelhanças flagrantes com os galináceos;• Olhos grandes (rasgados no sentido descendente); • Posição dos braços muito idêntica às asas das galinhas;• Calos nas palmas das mãos.

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Já a nível comportamental, Isabel demonstrava características semelhantes às das suas companheiras durante anos da sua infância:

• Atitudes extremamente agressivas, com tendência para destruir tudo o que estivesse ao seu alcance;

• O seu comportamento mais usual era mexer os braços como se fossem asas de galinha e guinchar;

• Comia os seus próprios cabelos.

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CRIANÇAS SELVAGENS FICTÍCIAS

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Mogli Mogli é uma personagem do conto O Livro da Selva de

Rudyard Kipling.

Mogli foi um rapazinho que teria sido criado e alimentado por uma alcatéia de lobos.

A história de Mogli é muito utilizada como referência às leis da sobrevivência no seio do Escotismo.

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Tarzan Tarzan é um personagem de ficção, o personagem apareceu

em mais vinte e quatro livros e em diversos contos avulsos.

Tarzan é filho de ingleses, porém foi criado por macacos "mangani" na África, depois da morte de seus pais.

Tarzan é o nome dado a ele pelos macacos e significa "Pele Branca". É uma adaptação moderna da tradição mitológico-literária de heróis criados por animais.

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Os casos de Crianças Selvagens fazem-nos duvidar da nossa condição humana. De facto, é difícil reconhecer a humanidade destas crianças, apesar de elas terem sido geneticamente determinadas a nascer com algumas características que são comuns a todos os indivíduos da espécie humana (olhos, boca, nariz, orelhas, etc.). Isto é a prova de que o ser humano é um ser prematuro (não nasce completamente formado), possui um programa genético aberto. Através destes casos, podemos realçar a importância das vinculações precoces e da socialização primária e que é através do contacto com outros seres humanos que aprendemos a ser humano.Os modos como estas crianças se relacionam com os outros e com o mundo provoca em nós uma imensa estranheza. Apesar de, biologicamente, serem humanas, é-nos difícil relacionar a nossa experiência com a delas, compreender a forma como sentem, pensam e agem. Assim como nós não nos reconhecemos nelas, elas também não se reconhecem em nós. As suas capacidades, as suas características muito próprias, as marcas (sejam elas físicas ou mentais) provam-nos o quanto dependemos dos outros, do contacto físico e sociocultural com eles, para nos tornarmos os seres humanos que somos.

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Trabalho realizado por:

o Sara Santoso Raquel Pereirao Marta Leitão o Liliana MaravilhasoAna Canhoto