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CRISTIANO DA SILVA QUADROS UM ESTUDO DE CASO DAS CONTRIBUIÇÕES DA ESCOLA PARA O MERCADO DE TRABALHO CANOAS, 2014

CRISTIANO DA SILVA QUADROS UM ESTUDO DE CASO DAS ... · insatisfação em sala de aula, pois as aulas de Matemática se tornaram desinteressantes, monótonas, sem sentido prático

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CRISTIANO DA SILVA QUADROS

UM ESTUDO DE CASO DAS CONTRIBUIÇÕES DA ESCOLA PARA O MERCADO

DE TRABALHO

CANOAS, 2014

CRISTIANO DA SILVA QUADROS

UM ESTUDO DE CASO DAS CONTRIBUIÇÕES DA ESCOLA PARA O MERCADO

DE TRABALHO

Trabalho de conclusão apresentado ao Curso de Licenciatura em Matemática do Centro Educacional La Salle - Unilasalle, como exigência parcial, para a obtenção do grau de Licenciando em Matemática.

Orientador: Prof.Dr. Paulo Roberto Ribeiro Vargas

CANOAS, 2014

CRISTIANO DA SILVA QUADROS

UM ESTUDO DE CASO DAS CONTRIBUIÇÕES DA ESCOLA PARA O MERCADO

DE TRABALHO

Trabalho de conclusão apresentado ao Curso de Licenciatura em Matemática do Centro Educacional La Salle - Unilasalle, como exigência parcial, para a obtenção do grau de Licenciando em Matemática.

Aprovado pelo avaliador em 9 de julho de 2014.

AVALIADOR

___________________________________________

Prof. Dr. Paulo Roberto Ribeiro Vargas

Unilasalle

Quem nada conhece, nada ama.

Quem, nada pode fazer, nada compreende.

Quem nada compreende, nada vale.

Mas quem compreende também ama, observa, vê...

Quanto mais conhecimento houver inerente numa coisa

tanto maior o amor...

Aquele que imagina que todos os frutos

amadurecem ao mesmo tempo, como as cerejas,

nada sabe a respeito das uvas.

Paracelso

“Não basta saber, é preferível saber aplicar; não

é bastante querer, é preciso saber querer”

Goethe

RESUMO

Esta pesquisa faz a reflexão quanto às contribuições da escola na preparação de

seus alunos para o mercado de trabalho e exercício da cidadania. E como foco de

interesse, direcionou-se o estudo nas competências e habilidades da área da

matemática, visualizando os conhecimentos exigidos de um aluno que concorra a

um concurso no ramo bancário e obtenha sucesso. Como fundamentação, buscou-

se entender a realidade escolar atual através das concepções de currículo escolar e

suas possibilidades de ‘flexibilizações’, os conceitos de competências e habilidades

na educação e na área da matemática. O universo de mercado de trabalho

escolhido foi uma instituição financeira, assim, abordou-se as diferenças entre a

Matemática Financeira e a Educação Financeira, aliadas à capacidade de

autogestão de recursos próprios, para uma qualidade de vida. Esta pesquisa utilizou

como instrumento um questionário com perguntas abertas a professores de

matemática do Ensino Médio de escolas públicas da cidade de Esteio/RS e a análise

das últimas provas de matemática do concurso para o Banrisul. Tal análise tem

intenção de visualizar se a escola se preocupa em preparar para o mercado de

trabalho, supondo que um aluno conclua o Ensino Médio e concorra a um concurso

público do Banco do Estado do Rio Grande do Sul (Banrisul).

Palavras-chave: Educação Matemática. Concursos Públicos. Competências e

Habilidades. Currículo.

ABSTRACT

This research is the reflection about the contributions of school in preparing their

students for the labor market and citizenship. And as the focus of interest was

directed study skills and math skills in the area of visualizing the knowledge required

for a student to compete for a contest to get success in banking. As reasons we

sought to understand the current reality through the school curriculum conceptions

and possibilities of 'flexibilities', the concepts of competence and skills in education

and in mathematics. The universe of the labor market was chosen a financial

institution, thus addressed the differences between the Financial Mathematics and

Financial Education, coupled with the ability to self-management of own resources

for a quality of life. This research instruments as a questionnaire open to teachers of

high school math in public schools of the city of Mainstay / RS and the analysis of the

latest evidence Math contest for Banrisul. This analysis intends to see if the school is

concerned to prepare for the job market assuming that students who completes high

school and compete for a tender of the State Bank of Rio Grande do Sul (Banrisul).

Keyword: Mathematics. Education. Skills. Resume.

LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1 - Questão - Qual seu curso de graduação?............................................ 41

Gráfico 2 - Carga horária semanal dos entrevistados ........................................... 43

Gráfico 3 - Questão 8 - A Educação Financeira é/foi abordada na Escola?......... 47

Gráfico 4 - Prova de Matemática - Edital 01/2005 - por nível de dificuldade ........ 49

Gráfico 5 - Prova de Matemática - Edital 01/2009-2 - por nível de dificuldade ..... 50

Gráfico 6 - Prova de Matemática - Edital 01/2005 e 01/2009-2 - por dificuldade . 50

Gráfico 7 - Assuntos abordados na Prova de Matemática - Edital 01/2005 .......... 51

Gráfico 8 - Assuntos abordados na Prova de Matemática - Edital 01/2009-2 ....... 52

Gráfico 9 - Assuntos abordados na Prova de Matem. – Ed. 01/2005 e 01/2009-2. 53

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 9

2 CONHECENDO A PESQUISA .............................................................................. 14

3 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ............................................................................. 18

3.1 Currículo e Educação Matemática ................................................................... 18

3.2 Competências e Habilidades ............................................................................ 21

3.2.1 Competências e Habilidades na Matemática ................................................... 28

3.3 Educação Financeira ......................................................................................... 30

4 METODOLOGIA .................................................................................................... 34

5 ANÁLISE DE RESULTADOS ................................................................................ 40

6.CONSIDERAÇÕES FINAIS. ...................................................................................55 REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 57

ANEXO A – Provas Concurso Banrisul ................................................................. 60

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1 INTRODUÇÃO

A Matemática ainda é considerada a disciplina onde os alunos manifestam

maior dificuldade, ocasionando as piores notas. Há ‘certa’ resistência em ver esta

ciência como um aprendizado prazeroso e importante para a vida e

consequentemente ocorre o ‘fracasso escolar’. De acordo com dados do Índice de

Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB1), em termos gerais, o Brasil atingiu as

metas estabelecidas em todas as etapas do Ensino Básico (nos anos iniciais e finais

do Ensino Fundamental e Ensino Médio), porém na Matemática a situação é

considerada crítica, conforme dados, na avaliação da quarta série do ensino

fundamental, 52% dos estudantes foram considerados em situação “crítica” ou

“muito crítica”. Os alunos da quarta série que foram avaliados possuem dificuldades

com os símbolos matemáticos, as operações fundamentais, habilidades na leitura e

interpretação de problemas. Os dados referentes ao terceiro ano do Ensino Médio

são mais preocupantes, conforme mostra o excerto abaixo:

em matemática, 67% dos alunos do último ano da educação básica estão no nível “crítico” ou “muito crítico”. É o mais alto percentual das três séries avaliadas. Eles são capazes de fazer uso de algumas propriedades e características de figuras geométricas planas e resolução de funções logarítmicas e exponenciais, entretanto, estão abaixo do exigido para a terceira série do ensino médio. Apenas 6% estão no estágio “adequado”. (INEP, 2013, grifo do autor).

Por esses dados, podemos visualizar que a Matemática precisa urgentemente

ser mais bem abordada em sala de aula. O método de ensino, ainda aplicado por

muitos professores em nossas escolas, que consiste na exposição da teoria

(conteúdo matemático) para então, exercitar, posteriormente, a repetição dos

algoritmos em infinitas listas de exercícios, apenas ajuda a desenvolver uma

habilidade matemática, limitando-se a uma aprendizagem pouco significativa.

Mesmo com as tecnologias atuais, com as inovações para a Educação Matemática,

este método de ensino ainda é aplicado, porém o aluno de hoje observa o mundo de

outra forma, uma nova geração que vive "imersa" nas tecnologias, que sente grande

insatisfação em sala de aula, pois as aulas de Matemática se tornaram

desinteressantes, monótonas, sem sentido prático para muitos deles. Futuramente,

esses alunos vão ingressar no mercado de trabalho, e necessitarão ter desenvolvido 1Índice de Desenvolvimento da Educação Básica, criado em 2007, pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), formulado para medir a qualidade do aprendizado nacional e estabelecer metas para a melhoria do ensino.

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certas competências e habilidades para conseguir visualizar a matemática presente

no seu mundo e desenvolver-se como cidadãos.

Desta forma, esta pesquisa busca abordar a Educação Matemática voltada ao

desenvolvimento das competências e habilidades, refletindo sobre o currículo atual

quanto aos seus objetivos para o direcionamento futuro do aluno ao mercado de

trabalho. O aluno precisa sair da escola com competências e habilidades para

desenvolver estratégias, se relacionar com seus colegas de trabalho, conviver

socialmente, saber seus direitos e deveres, administrar suas finanças pessoais e de

sua família, ser capaz de concorrer por uma vaga em uma empresa pública ou

privada e prestar concursos públicos.

O problema da pesquisa sucede da observação do meu dia-a-dia profissional,

o ambiente bancário, nesses 10 anos no Banco do Estado do Rio Grande do Sul

(Banrisul). O exercício da atividade bancária atualmente exige não somente a

habilidade de resolver problemas financeiros com cálculos matemáticos, mas

concomitantemente requer conhecimentos de análise e gestão financeira, pois

dentre as atribuições da minha função está o gerenciamento dos clientes que

possuo sob minha responsabilidade. O gerenciamento se caracteriza por direcioná-

los para que realizem as melhores escolhas ao investir seu capital, adquirir um bem,

restabelecer seu equilíbrio financeiro, logo são habilidades que fui desenvolvendo

através de pequenos cursos disponibilizados pela empresa, mas em sua maior parte

ocorreram na prática diária.

O objetivo da escola atual é capacitar seus alunos a continuarem

aprendendo, de aprofundar os conhecimentos estando fora do ambiente escolar. A

Matemática aprendida na Educação Básica é a bagagem que o aluno egresso

possui e na intenção de concorrer a um concurso público no ramo bancário,

necessitaria complementar o currículo que a escola não conseguiu se apropriar. O

concurso Banrisul atualmente exige conhecimentos de Matemática Financeira e do

mercado financeiro e para dar conta dessa demanda, estuda-se de forma autônoma

ou por cursos preparatórios para este fim.

Nesses últimos anos, o banco realizou 3 (três) processos seletivos, através

dos editais 01/2001, 01/2005 e 01/2009-2, para o cargo de escriturário, que é o

cargo que exerce a maioria das funções dentro da empresa. Para este cargo, todos

os editais têm exigido a conclusão do Ensino Médio. Prestei o concurso público em

2001 (Edital 01/2001). A prova de Matemática buscava testar conhecimentos

11

básicos do currículo do ensino médio e noções de matemática financeira. A fim de

corresponder a esta necessidade, busquei, por conta própria, desenvolver essas

habilidades através de apostila específica para o concurso, desenvolvi meu método

de aprendizado, me apropriei das fórmulas e fui exercitando com questões de outros

concursos que abordavam o mesmo tema.

Comparando os editais, comprova-se a construção de um novo perfil

bancário. O processo avaliativo se dá por uma prova com 80 questões objetivas que

avaliam conhecimentos de Português e Informática, mas diferenciam-se pela

Matemática e Conhecimentos Específicos. No edital 01/2001, o conteúdo

matemático era diverso e abordava conteúdos da matemática pura e noções de

matemática financeira, já no edital dos anos de 2005 e 2009, as provas nomeadas

de Matemática (edital 01/2005) e Matemática Financeira (01/2009-2), somente

exigiram conhecimentos de matemática financeira. Quanto aos Conhecimentos

Específicos, primeiramente exigiam-se conhecimentos bancários operacionais, como

conceitos de tipos de cheque, conta corrente, empréstimos, ordem de pagamento,

etc. Porém nos dois últimos editais, avaliaram-se conhecimentos bancários e de

mercado, abordando habilidades comerciais, marketing, noções de economia,

empreendedorismo, gestão financeira e conhecimento do mercado financeiro atual.

Como já mencionado, os últimos editais fazem novas exigências em suas

provas, devido aos novos direcionamentos estratégicos da empresa, assim, outras

competências e habilidades definem o novo perfil bancário, que prioriza a

Matemática Financeira voltada ao empreendedorismo e ‘autogestão financeira’2.

Buscando embasamento para a reflexão anterior, que sucede o problema da

pesquisa, a fundamentação teórica foi organizada em 3 (três) capítulos: o primeiro

abordará a concepção de currículo e suas possibilidades de flexibilização com o

exame do ENEM, especificamente no ensino da Matemática, onde será feita

reflexão quanto aos PCNEM's3 e outras orientações curriculares para o Ensino

2 Autonomia na gestão financeira pessoal, capacidade de administrar-se financeiramente, com liberdade, consciência e conhecimento de conceitos e produtos financeiros, com objetivo de manter seu equilíbrio financeiro. 3 Parâmetros Curriculares para o Ensino Médio, publicado pelo MEC em 2000. Este documento amplia as competências e habilidades citadas na Base Nacional Comum, agrupadas em 4 (quatro) volumes: Parte I - Bases Legais, Parte II - Linguagens, Códigos e suas Tecnologias, Parte III - Ciências da Natureza, Matemática e suas Tecnologias e Parte IV - Ciências Humanas e suas Tecnologias, englobando todas as áreas do conhecimento. Em específico, utilizou-se como referência para esta pesquisa o volume III, "Ciências da Natureza, Matemática e suas Tecnologias".

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Médio propostas pelo MEC, com a intenção de compreender as atuais necessidades

curriculares na Educação Matemática em uma concepção de ensino que busque

desenvolver competências e habilidades.

No segundo capítulo, serão abordadas as concepções de Competências e

Habilidades, iniciando por uma visão global, a competitividade no mercado de

trabalho atual e para isso, conceitua-se um indivíduo competente como aquele que

consegue mobilizar conhecimentos, vivências, julga e avalia situações. Em seguida,

amplia-se o tema com conceitos de conhecimento, eficiência, eficácia e

desempenho, citando autores como Philippe Perrenoud, Paulo Freire e Fernando

Hernandez, a fim de entender como a escola pode direcionar seus currículos na

perspectiva de uma educação por competências e habilidades. No foco da pesquisa,

o capítulo também abordará as competências e habilidades para o ensino da

Matemática nos últimos anos da Educação Básica, o Ensino Médio, onde a

prioridade é um aprendizado útil, voltado para a prática da cidadania, a autonomia

do indivíduo, e mais especificamente, a Educação Financeira, para uma autogestão

financeira consciente.

O terceiro capítulo aprofunda o estudo das Competências e Habilidades para

a Educação Financeira, verificando a necessidade de que este tema seja trabalhado

no ambiente escolar em turmas do Ensino Médio. Os PCNEM's dimensionam os

temas transversais e neles propõem os mesmos como parte na formação da

cidadania que está presente como ferramenta para análise em uma correta gestão

dos recursos individuais evitando o endividamento e promovendo a ‘saúde

financeira’4. Desta forma, o professor pode enriquecer suas aulas com esta

aplicação matemática. Esse aprendizado não somente servirá para uma autogestão,

mas também como conhecimento básico para aquele egresso do Ensino Médio que

busque um concurso público no ramo bancário.

No quarto capítulo, será apresentada a Metodologia da Pesquisa que transita

na possível relação entre o que a escola tem ensinado na área da Matemática, o

currículo e as competências e habilidades necessárias para concorrer a um

concurso público na área bancária.

A pesquisa está estruturada em dois momentos: na resolução e análise de

provas (Editais 02/2005 e 01/2009) e na aplicação de questionário qualitativo com

4 Definição de Bianchi (2009) para Saúde Financeira: um indivíduo que sabe quanto ganha, quanto gasta e quanto deve, mantendo o equilíbrio financeiro, ou seja, um bem-estar financeiro.

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perguntas abertas para professores de matemática do Ensino Médio que atuam em

Escolas Estaduais de Ensino Médio da cidade Esteio, RS, no período noturno. O

material produzido por essa pesquisa foi analisado conforme a metodologia

desenvolvida no capítulo, embasado pela fundamentação teórica mencionada e pela

Matriz de Referência do exame ENEM (2009) para a Matemática.

Nas Considerações Finais, relatam-se as conclusões obtidas, considerando

as pesquisas analisadas e fundamentações teóricas, deixando evidente o papel da

escola e da Educação Matemática, nos tempos atuais, formadoras de cidadãos

autônomos, com saberes compatíveis com a realidade dinâmica desta sociedade

atual.

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2 CONHECENDO A PESQUISA

A escolha do tema aborda, inicialmente, a minha atividade profissional,

empregado concursado do Banco do Estado do Rio Grande do Sul (Banrisul),

refletindo quanto ao exercício da função, que exige planejamento, criatividade,

senso ético, organização para executar o atendimento e gerenciamento financeiro

de contas correntes de clientes que estão sob minha responsabilidade.

E seguido deste relato, faz-se a reflexão se os conhecimentos matemáticos

adquiridos na Educação Básica serviram/servem de base para desenvolver as

competências e habilidades bancárias. Logo, por consequência, pensou-se na

situação dos alunos recém egressos ou que estão cursando o Ensino Médio e

pretendem, futuramente, concorrer a uma vaga em um concurso como o do Banrisul:

teriam saberes matemáticos suficientes, considerando que, no edital, o cargo exige,

até hoje, o ensino médio completo?

Durante o Ensino Médio, o processo de aprendizagem se caracterizava por

um excessivo número de conteúdos, de todas as disciplinas, para prestar, no fim do

3º ano, o vestibular, com direcionamento principal para a seleção da UFRGS.

Obviamente, a excessiva quantidade de conteúdos e a pressão pela aprovação não

desenvolviam uma educação de qualidade. O relato se refere à década de 90.

Muitas propostas pedagógicas surgiram para mudar esse paradigma nos últimos

anos da Educação Básica. Atualmente, o método avaliativo para ingresso na

universidade é o exame ENEM5, que vem substituindo o vestibular, onde o aluno é

avaliado por desempenho e não por quantidade de conteúdos acumulados.

As mudanças para qualificar o Ensino Médio no Brasil já acontecem desde os

anos 80. Na época, o acesso a este nível de ensino era para poucos, conforme

Castro (2003), até meados de 1980 o Ensino Médio era um segmento destinado à

educação das elites e devido a elevadas taxas de repetência e evasão escolar no

Ensino Fundamental inibiram a evolução do denominado nível secundário. Ainda

mencionando, Castro (2003, p. 115);

Pode-se afirmar que a década de 1990 inaugura um novo ciclo da educação brasileira, com a democratização do acesso ao ensino fundamental e a extraordinária expansão do nível médio. Tal expansão foi acompanhada da

5 "Exame Nacional do Ensino Médio, implantado em 1998, atualmente o maior exame do Brasil, busca avaliar a qualidade do Ensino Médio, sua nota é utilizada para ingresso no Ensino Superior através do Sistema de Seleção Unificada (SISU). Assim como sua nota serve para conseguir bolsa integral e parcial em universidades particulares do país através do Prouni."

15

implantação de abrangente sistema de avaliação e de ampla reforma curricular. E, como todo processo de reforma costuma ser lento e progressivo, no caso brasileiro ainda é cedo para avaliarmos os impactos efetivos das mudanças introduzidas a partir de 1999.

Castro (2003) insinua o surgimento do exame do ENEM, como um novo e

abrangente sistema avaliativo, que diferentemente dos modelos e processos

tradicionais, tem o caráter interdisciplinar e contextualizado. Enquanto os

vestibulares promovem uma excessiva valorização da memória e dos conteúdos em

si, o ENEM coloca o estudante diante de situações-problemas e exige mais do que

saber conceitos, exige criatividade, tomada de decisão e habilidades para trabalhar

com aplicações matemáticas. O objetivo do ENEM conforme o documento do Inep -

Fundamentação Teórico-Metodológica do ENEM (2005, p. 12 a 13) é:

[...] medir e qualificar as estruturas responsáveis por essas interações. Tais estruturas se desenvolvem e são fortalecidas em todas as dimensões de nossa vida, pela quantidade e qualidade das relações que estabelecemos com o mundo físico e social desde o nascimento. O Enem focaliza, especificamente, as competências e habilidades básicas desenvolvidas, transformadas e fortalecidas com a mediação da escola.

Assim, o ENEM não mede a capacidade do estudante de assimilar e

acumular informações, e sim o incentiva a aprender a pensar, a refletir e a “saber

como fazer”. Valoriza, portanto, a autonomia do jovem na hora de fazer escolhas e

tomar decisões.

A escola de hoje, tem o compromisso de preparar o estudante para o ENEM,

logo, este exame sintetiza e qualifica a educação, avaliando-a pelas suas

competências e habilidades nas diversas áreas do conhecimento. Porém ainda há

muito a ser trabalhado nas escolas para ampliar essas competências e habilidades,

visualizando não somente seus alunos ingressando em uma universidade, mas

também para muitos que, paralelamente ou não, ingressem no mercado de trabalho.

No rol de concursos públicos que os jovens procuram para iniciar no mercado

de trabalho, podemos mencionar os concursos para bancos públicos, como por

exemplo, o Banrisul. O edital do último concurso do Banrisul (2009) para o cargo de

Escriturário exigia o Ensino Médio completo, a prova era formada por questões de

Português, Matemática Financeira, Informática, Conhecimentos Bancários e de

Mercado, conteúdos novos para egressos do Ensino Médio, como conhecimentos de

produtos comerciais do ramo bancário, estratégias de atendimento ao cliente,

mercado financeiro, mercado de capitais, marketing bancário, estrutura do sistema

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financeiro nacional, etc. que requerem autonomia do indivíduo para buscar essas

complementações.

Nesses dez anos (2004 - 2014), o perfil do funcionário dos bancos mudou

drasticamente, devido aos avanços tecnológicos, ao mercado financeiro, que gerou

novos direcionamentos estratégicos dentro da empresa, pois muito do trabalho

operacional foi substituído pelos computadores, logo, muitos cálculos matemáticos

deixaram de serem feitos por pessoas. Assim, o perfil tem se voltado à parte

comercial, a venda de produtos bancários, ao excelente atendimento e gestão

financeira de uma carteira de clientes. Os ‘saberes matemáticos’, neste novo

enfoque, não definem um profissional competente, ou seja, não é necessário

dominar a linguagem matemática, no caso, a matemática financeira, e sim ter

capacidade de desenvolver estratégias, saber se relacionar dentro do grupo de

trabalho, ser hábil no atendimento, dominar os produtos comercializados e entender

de técnicas de venda.

O problema da pesquisa sucede a percepção do Currículo da Matemática e

suas possibilidades de ‘flexibilização’ para que permita uma aprendizagem de

conteúdos úteis, significativos com metodologias que desenvolvam competências e

habilidades. Para isso, a escola precisa estar inserida na comunidade que a

circunda, para que construa uma proposta pedagógica com o objetivo de entender

quem são seus alunos e então dedicar os momentos para a sua aprendizagem.

As novas metodologias, como os projetos interdisciplinares, que ocorrem de

forma cooperativa, desenvolvem competências e novos aprendizados do conteúdo

envolvido. Assim como, ao entrar no mercado de trabalho, o jovem precisa abrir

conta em banco para receber o seu salário, precisa saber gerenciar esse dinheiro,

como gastá-lo, o que poupar e como planejar o seu futuro. Esses aspectos podem

ser motivo de aprendizagem na escola, pois o que ocorre normalmente, e que

constato no meu ambiente de trabalho, os jovens reproduzem o método gestão

financeira dos seus pais e familiares, que podem não trazer bons resultados.

A reflexão, até o momento, é fruto da minha vivência e das reflexões

propostas pelo MEC, através dos documentos como os Parâmetros Curriculares

Nacionais para o Ensino Médio (PCNEM's) e a cartilha "Orientações Curriculares

para o Ensino Médio, volume 2, Ciências da Natureza, Matemática e suas

17

Tecnologias" (2006)6 e autores da área da Educação que são citados nos capítulos

desta pesquisa.

Logo, a Educação é passível de inovações, especificamente a Educação

Matemática no Ensino Médio, e para isso, é justificável a flexibilidade curricular, a

gestão democrática no ambiente escolar, a ressignificação do papel do professor em

sua autonomia e a liberdade do aluno em propor ‘eixos’ de estudo.

A pesquisa busca entender se a escola inclui o estudo da Educação

Financeira e da Matemática Financeira, considerando-o como uma competência e

habilidade presentes nos conteúdos programáticos exigidos para o mercado de

trabalho, em especial para o Banrisul, e se este tema está sendo abordado dentro

do ambiente escolar, nas aulas de matemática, conforme estabelece o ENEM e os

PCN's, na busca de “preparar o aluno para participar de uma sociedade complexa

como a atual, que requer aprendizagem autônoma e contínua ao longo da vida.”

(BRASIL, 2006).

Mas, direcionando para o ‘eixo’ de estudo desta pesquisa, procurou-se

visualizar se a escola favorece seus alunos de competências matemáticas

suficientes para o sucesso dos mesmos em uma prova de matemática financeira de

um edital do Banrisul. Assim como, reconhecer que a competência também

beneficia o próprio aluno e sua família em uma perspectiva de ‘autogestão

financeira’ consciente, contribuindo para o seu bem-estar, assuntos importantes para

uma sociedade que busca melhorar a qualidade de vida.

6 "Este documento é resultado da construção coletiva, elaborada a partir de ampla discussão com as

equipes técnicas dos Sistemas Estaduais de Educação, professores e alunos da rede pública e representantes da comunidade acadêmica. O objetivo deste material é contribuir para o diálogo entre professor e escola sobre a prática docente. É uma nova proposta curricular para o Ensino Médio, qualificando a Educação Básica para a cidadania, para os tempos atuais. São em 3 volumes, sendo que o volume 2 trata das "Ciências da Natureza, Matemática e suas Tecnologias".

18

3 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

3.1 Currículo e Educação Matemática

Como embasamento à reflexão proposta nesta pesquisa, este capítulo

analisa a concepção de Currículo no Ambiente Escolar e que importância tem se

dado à execução do mesmo como uma meta a ser cumprida durante os dias letivos

anuais.

O documento MEC, "Orientações Curriculares para o Ensino Médio, volume 2,

Ciências da Natureza, Matemática e suas Tecnologias"(2006), tem como seu

interesse maior, a educação pública de qualidade, e nesse sentido orienta "o fazer

pedagógico" em uma estrutura curricular que incentive a aproximação das áreas do

conhecimento através do envolvimento científico dos alunos, em um ambiente onde

se desenvolva a aprendizagem de forma autônoma que capacite o aluno a procurar

aprender continuamente ao longo da vida.

A concepção de currículo demonstra um modelo pedagógico de dependência,

onde o mesmo é visto como um fim, uma meta, um acúmulo de saberes, que utiliza

metodologias transmissivas e tem foco centrado no ensino. (Martins, 2008) A

flexibilidade curricular é possível pela LDB, PCNEM's e pelas orientações

curriculares das áreas específicas. Portanto, cabe às escolas estruturarem a sua

proposta curricular. Tal construção deve ser resultado de averiguações da dimensão

escolar regional, pensando a escola inserida na realidade da comunidade que a

circunda, porém tal proposta adequadamente estruturada na Base Nacional Comum,

conforme Art. 26, Resolução nº 4 (BRASIL, 2010)7

Art. 26. O Ensino Médio, etapa final do processo formativo da Educação Básica, é orientado por princípios e finalidades que preveem: I - a consolidação e o aprofundamento dos conhecimentos adquiridos no Ensino Fundamental, possibilitando o prosseguimento de estudos; II - a preparação básica para a cidadania e o trabalho, tomado este como princípio educativo, para continuar aprendendo, de modo a ser capaz de enfrentar novas condições de ocupação e aperfeiçoamento posteriores; III - o desenvolvimento do educando como pessoa humana, incluindo a formação ética e estética, o desenvolvimento da autonomia intelectual e do pensamento crítico; IV - a compreensão dos fundamentos científicos e tecnológicos presentes na sociedade contemporânea, relacionando a teoria com a prática.

7 Resolução que define as Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais para a Educação Básica, que prioriza um ensino na Educação Básica com a intenção da preparação do aluno para o exercício da cidadania, à qualificação para o trabalho e aprendizagem continuada. Esta norma é a "base nacional comum" sendo complementada pela parte diversificada que atenda as especificidades regionais, econômicas, sociais e do próprio aluno.

19

§ 1º O Ensino Médio deve ter uma base unitária sobre a qual podem se assentar possibilidades diversas como preparação geral para o trabalho ou, facultativamente, para profissões técnicas; na ciência e na tecnologia, como iniciação científica e tecnológica; na cultura, como ampliação da formação cultural. § 2º A definição e a gestão do currículo inscrevem-se em uma lógica que se dirige aos jovens, considerando suas singularidades, que se situam em um tempo determinado. § 3º Os sistemas educativos devem prever currículos flexíveis, com diferentes alternativas, para que os jovens tenham a oportunidade de escolher o percurso formativo que atenda seus interesses, necessidades e aspirações, para que se assegure a permanência dos jovens na escola, com proveito, até a conclusão da Educação Básica. (BRASIL, 2010, Art. 26, p. 11)

A Base Nacional Comum dimensiona o direcionamento estratégico para a

Educação Básica, e prevê um currículo para o Ensino Médio com concepções

diferenciadas do Ensino Fundamental, onde permite aplicar conhecimentos

buscando o aprofundamento dos conteúdos em uma abordagem de projetos

científicos. Umas das alternativas mencionadas pelo excerto acima é a uma

metodologia voltada a projetos em que o aluno possa fazer escolhas na direção das

áreas de estudo de seu interesse, com a intenção de desenvolver o

comprometimento e autonomia pelo seu aprendizado. Os trabalhos em grupo são

incentivados, pois permitem a criação de estratégias, do pensamento crítico, do

senso ético, estético e a da criatividade.

Com a intenção primordial de manter o aluno interessado em continuar

estudando, a escola pode estruturar sua grade curricular com temas significativos e

metodologias eficientes, que permitam as possíveis ‘flexibilizações’ pelo professor e

pelos alunos. Desta forma, como mencionado acima, dar a possibilidade dos alunos

escolherem os temas a serem estudados em projetos científicos e não somente

assegurar sua permanência na escola, mas que sirva como preparo para seu futuro

profissional, que nos tempos atuais tem exigido cada vez mais a capacidade de

articulação entre a teoria e a prática.

A Reforma do Ensino Médio inicia na década de 90, com implantações de

políticas públicas que democratizaram o acesso ao Ensino Fundamental e

expandiram o Nível Médio. Nesta expansão, amplia-se o sistema de avaliações com

intenção de uma nova estruturação curricular na expectativa de qualificar o Ensino

Médio. Inicia um processo de substituição do vestibular para o inovador Exame

Nacional do Ensino Médio (ENEM), uma avaliação moderna, dinâmica e direcionada

às necessidades atuais com a intenção de avaliar os desempenhos dos alunos

20

egressos deste nível de ensino. Assim como funcionaria, com o tempo, como

articulador curricular, conforme Castro e Tiezzi (2003, p. 126):

O que está presente na concepção do Enem é a importância de uma educação com conteúdos analiticamente mais ricos, voltados para o desenvolvimento do raciocínio e a capacidade de aprender a aprender, buscando a eliminação paulatina dos currículos gigantescos e permitindo que as escolas de ensino médio concentrem-se no que é importante ensinar.

O importante a ser ensinado, é o resultado das averiguações da dimensão

regional escolar, ou seja, a realidade do aluno e da comunidade que o circunda,

considerando o artigo 26 da Base Nacional Comum mencionado.

O ENEM contempla as diretrizes definidas pelos Parâmetros Curriculares do

Ensino Médio (PCNEM's), com uma metodologia por resolução de problemas

contextualizados em temáticas presentes na realidade escolar e dos alunos. Ao

ponto que o indivíduo, a primeira vista, não defina de qual área do conhecimento a

questão trata.

A Matemática encontrou muitos benefícios com a concepção avaliativa que o

ENEM propõe, pois colabora para a objetividade curricular na sala de aula,

possibilitando que o professor planeje suas aulas com conteúdos que serão objeto

avaliativo deste Exame. As questões de Matemática são situações do cotidiano que

requerem domínio das linguagens matemáticas, para isso, o uso de metodologias

mais coerentes com esta nova realidade torna as aulas de Matemática mais

interessantes e eficientes.

As resoluções de problemas no cotidiano escolar contribuem para o

aperfeiçoamento das competências tanto para o ‘saber matemático’ como para

todas as outras ciências, porém nem todos os tipos de problemas desenvolvem

competências. Os problemas abertos (aqueles com mais de uma solução)

transformam a relação aluno e conhecimento, pois o conhecimento passa a ser visto

como uma ferramenta para resolver problemas, já as ‘situações-problemas’,

estimulam a ‘socioconstrução’ dos conhecimentos, a descoberta de novos conceitos

e competências, pois possibilitam a criação de estratégias diferentes que as

pretendidas pelo professor.

Surgem novas concepções de aprendizagem, onde o ensino da Matemática

tem se aprimorado, as Orientações Curriculares para o Ensino Médio, volume 2,

Ciências da Natureza, Matemática e suas Tecnologias (2006) trazem a ideia de

21

‘transposição didática’8, que se divide em características internas e externas. A

transposição didática externa, como o próprio nome diz, é o conteúdo que se dá fora

da escola, são os conteúdos comuns, curriculares que estão nos livros e orientações

pedagógicas, a transposição didática interna, é a realidade do professor em sala de

aula, onde se utilizando de sua autonomia, para isso, realiza escolhas, delibera

quais destes conteúdos irá transformar em conhecimento a ser ensinado para seus

alunos. Tal decisão tem objetivos de qualificar a aprendizagem.

Então, para qualificar a aprendizagem matemática no Ensino Médio, são

necessárias: a prática da flexibilidade curricular nos projetos pedagógicos,

metodologias que promovam a articulação entre as áreas do conhecimento e

atividades didáticas que conectem a teoria à prática. Essas ações mobilizam o

conhecimento, logo desenvolvem competências e habilidades matemáticas.

3.2 Competências e Habilidades

Nos últimos anos, o mundo passa por mudanças sociais muito evidentes,

mudanças de paradigmas individuais que desencadeiam novas estruturas

organizacionais no âmbito coletivo. Prahalad9 (1997) afirma que é possível

identificar, pelo menos, oito mudanças significativas no mundo: a globalização,

desregulamentação, volatividade, convergência, fronteiras menos definidas entre os

setores de atividade, prevalência de padrões, fim da intermediação e nova

consciência ecológica. A desregulamentação financeira aconteceu inicialmente nos

Estados Unidos (1980) e estendeu-se pelo mundo, inicialmente nos países

desenvolvidos, como a eliminação de controles sobre movimentos de capitais entre

fronteiras. O termo volatividade é mencionado pelo autor também no enfoque do

mercado financeiro, onde essa variável mensura as oscilações nas cotações de um

ativo financeiro como ações, investimentos, e índices da bolsa de valores. A

convergência se diz econômica quando economias de países diferentes em suas

8Esse processo pelo qual um objeto de saber chega à escola como objeto de ensino é chamado de transposição didática. Para aprofundamento, ver: ASTOLFI, J. P.; DEVELAY, M. A didática das ciências. São Paulo: Papirus, 1995; e CHEVALLARD, Y. La transposicióndidáctica: del saber sabio al saber enseñado. Buenos Aires: Aique Grupo Editor, 1991. 9CoimbatoreKrishnaraoPrahalad, ou C.K. Prahalad (1941 - 2010), como foi conhecido, foi um indiano-americanizado, doutor em Administração por Harvard, professor titular de estratégia corporativa do programa de MBA da Universidade de Michigan, conselheiro do governo indiano para empreendedorismo e também autor de livros muito procurados. Foi considerado o mais influente pensador do mundo dos negócios.

22

origens demonstram com o tempo uma mesma tendência de crescimento ou

decrescimento. Na tecnologia, tende na fusão de empresas de um ramo que vão

dominando toda a linha de produção e a tecnologia desta. A consequência da

convergência é a fronteira menos definida entre os setores de atividade, onde não

se visualiza claramente a concorrência entre mercados e as empresas avaliariam

novas oportunidades através de suas próprias perspectivas. A prevalência de

padrões é tendência de empresas de mesmo ramo definir, com o tempo, certos

padrões de qualidade na sua produção e novos padrões que abordam as novas

tecnologias, como por exemplo, padrões que definem uma transmissão de dados

eficiente via internet, para as empresas operadoras de telefonia. Assim como, o fim

da intermediação entre produtor e usuário, que já vem acontecendo com o

desenvolvimento da internet, onde fabricantes oferecem seus produtos por meios

eletrônicos, pois podem fazer com que o usuário tome decisões inadequadas. E uma

nova postura ecológica das empresas, que devem mudar sua intenção ecológica

reconhecendo as novas oportunidades de negócios e não somente cumprir um

requisito imposto por uma lei. Essas mudanças geram mais competitividade, por

consequência, exigem novas competências.

A competitividade entre as organizações, em busca de melhorar

desempenhos para se manter no mercado, exige máquinas, programas e material

humano que sejam compatíveis ao novo modelo. As competências surgem dessas

exigências, pois é o diferencial entre o ser humano e as máquinas. Nesse sentido,

os programas de seleção mudam seus critérios buscando profissionais que não

sejam somente "realizadores de tarefas" e sim que sejam competentes no sentido

mais amplo da palavra, conforme Antunes (2001, p.17): “competente é aquele que

pondera, aprecia, avalia, julga e depois de examinar uma situação ou um problema

por ângulos diferentes encontra a solução ou decide”, logo, o ‘saber fazer’ não

basta. Para desenvolver as competências individuais, a autoanálise é fundamental,

conhecer seus pontos fortes, reconhecer suas deficiências, ou seja, nestes tempos

atuais o indivíduo é responsável por si próprio, aprendendo a administrar-se.

Para ampliar, cita-se o conceito de Competência de Ramos (apud CRUZ,

2001, p.27):

a competência associa-se à conjugação dos diversos saberes mobilizados pelo indivíduo (saber, saber-fazer e saber-ser) na realização de uma atividade. Ela faz apelo não somente aos seus conhecimentos formais, mas à toda gama de aprendizagens interiorizadas nas experiências vividas, que constituiriam sua própria subjetividade.

23

Os saberes mobilizados mencionados por Ramos (2001) são compatíveis às

três dimensões da competência definidas por Durand (1999), onde a primeira é a

dimensão do conhecimento, que foi assimilada pelo aluno e permite-o entender o

mundo, a dimensão da habilidade que é o saber fazer algo, ou seja, produzir algo

com o conhecimento que possui, e a terceira dimensão é a atitude que é o efeito

relacionado ao trabalho.

Assim, desenvolvemos competências pela nossa capacidade de estabelecer

relações dos conhecimentos formais e das experiências vividas, como definido pelo

documento básico referente ao ENEM, as competências são associadas a

"modalidades estruturas da inteligência" ou a "ações e operações que utilizamos

para estabelecer relações com e entre objetos, situações, fenômenos e pessoas".

Quando Ramos (2001) menciona a palavra mobilizar, dá o significado de

movimentar com "força interior", pois quando a escola trabalha por competências e

habilidades, o aluno é capaz de mover-se na direção que deseja, consegue ter

autonomia em seu processo de aprendizagem.

A concepção de Perrenoud (1999) é que as competências não se

restringiriam à prática profissional, mas a um projeto social maior. E esse novo

paradigma valoriza as características dos indivíduos que realizam de forma eficiente

suas tarefas. Cabe definir a diferença entre eficácia e eficiência: conforme Martins

(2008), a diferenciação entre eficiência e eficácia é evidente: "a eficiência está

relacionada ao processo enquanto a eficácia está relacionada ao resultado.

Exemplo: Aulas consideradas boas são eficientes, mas, só serão eficazes se

produzirem aprendizagem".

Nesse sentido, a Escola deve assumir seu papel mais significativo na

sociedade, direcionando seus currículos para a construção de competências e

habilidades, buscando um novo paradigma educacional, centrado na aprendizagem

e não somente no ensino, conforme Martins (2008) o professor deixaria de ser

meramente um transmissor de conhecimento e memorização de conteúdos,

passando a ser um mediador entre o conhecimento acumulado e o interesse e a

necessidade do aluno.

Para trabalhar numa pedagogia voltada ao desenvolvimento de competências

e habilidades, o aluno precisa vivenciar situações de aprendizagem significativas,

onde a resolução de problemas, desafios, situações difíceis conecte-o ao mundo

24

real, à realidade em que ele está inserido.

Através da educação problematizadora, os homens desenvolvem sua capacidade de perceber criticamente os caminhos que existem, no mundo, através dos quais e nos quais eles se encontram a si mesmos; eles passam a ver o mundo não como uma realidade estática, mas como uma realidade em processo, em transformação (FREIRE, 1970, p. 71).

Para Freire (1970), a transformação na educação é a mudança do papel

professor e do aluno, onde ambos podem problematizar a realidade, construindo

uma aprendizagem significativa.

O desenvolvimento de competências exige novas metodologias e planos de

trabalho dentro da escola, os projetos interdisciplinares, a resolução de problemas,

promovem o trabalho em grupo, a autonomia, capacidade de decisão, uma visão

global da realidade, problematizar um tema que os alunos participaram na escolha.

Assim como essa nova metodologia exige um novo processo avaliativo, as

avaliações por competências medem a performance do aluno ao participar de um

projeto, como desenvolveu estratégias para solucionar um desafio ou problema, que

visão da realidade foi construída.

Os projetos são simulações da realidade, os alunos desenvolvem

capacidades que serão exigidas no mercado de trabalho, capacidades como a

iniciativa, criatividade, saber diagnosticar situações, integração, tomada de decisões

e comunicação interpessoal. Certamente, para um projeto ser bem executado, é

necessário um planejamento eficiente do professor, requer estudo prévio dos

possíveis resultados e ter objetivos claros de quais competências e habilidades irão

ser desenvolvidas. No momento em que a escola decide trabalhar por competências

e habilidades, deve suprir seus professores com redimensionamentos físicos

suficientes e entender que o ensino deve ultrapassar a mera memorização de

informações, e que seus alunos sejam responsáveis pela sua própria aprendizagem.

Para que o aluno faça conexões do conteúdo com a realidade, as áreas do

conhecimento, as ciências devem fusionar-se em alguns momentos, pois a

Matemática sozinha perde seu sentido, descontextualiza-se. Para Barreto (2006,

p.4):

a ação pedagógica através da interdisciplinaridade e da transdisciplinaridade aponta para a construção de uma escola participativa e decisiva na formação do sujeito social. O educador, sujeito de sua ação pedagógica, é capaz de elaborar programas e métodos de ensino-aprendizagem, sendo competente para inserir a sua escola numa comunidade. O objetivo fundamental da interdisciplinaridade é experimentar a vivência de uma realidade global que se inscreve nas experiências

25

cotidianas do aluno, do professor e do povo e que, na escola tradicional, é compartimentizada e fragmentada.

A interdisciplinaridade10 é uma ferramenta para a aproximação das ciências,

para que se reduza a fragmentação dos conhecimentos para o desenvolvimento de

competências e habilidades, e para isso, são necessários alguns recursos.

Conforme Moretto (1999), para resolver uma situação complexa com competência, o

aluno precisa ter os seguintes recursos: conteúdos conceituais, habilidades, domínio

de linguagens, valores culturais e administração do emocional. Ainda esclarece que

em determinadas situações, um ou dois dos recursos serão mais exigidos que os

outros, e, em outras, a falta de um deles pode bloquear todos os outros.

Para resolver uma situação complexa, é necessário ter conhecimento dos

conteúdos conceituais, então para resolver um problema que envolva a matemática,

precisamos conhecer as fórmulas, a lógica matemática envolvida, para interpretar o

texto é importante ter conhecimentos específicos voltados à situação. Assim como,

para observar um experimento científico requer conhecimentos prévios para analisar

com eficiência.

Quando se trabalha com uma pedagogia por competências e habilidades é

um erro pensar que os conteúdos teóricos não sejam necessários. Para MORETTO

(1999), é necessário que os conteúdos sejam relevantes, que façam sentido para o

aluno. O que diferencia do método tradicional é a preferência que se dá aos

conteúdos, onde, no enfoque proposto, a parte teórica é selecionada de acordo com

a intenção de resolver a situação-problema proposta, ou seja, os conteúdos

conceituais que precisam ser conhecidos para abordar o tema.

O documento do MEC de 2006, ‘Organizações Curriculares do Ensino Médio

- volume 2’, ressalta a diferença do professor trabalhar com ‘problemas abertos’,

‘problemas fechados’ e com ‘situações-problemas’, onde o primeiro possui

definições nos dados, frases curtas e uma única solução, ‘problemas abertos’ são

mais extensos e possibilitam mais de uma solução e ‘situações-problemas’

caracterizam-se como uma situação geradora de um problema cujo conceito,

necessário à sua resolução, é aquele que queremos que o aluno construa. O

‘problema fechado’ é considerado como uma proposta limitante, como mencionado

no documento: Vale aqui ressaltar o quanto é importante, para o exercício da

10 Interdisciplinaridade, processo de integração recíproca entre várias disciplinas e campos de conhecimento. Constitui uma associação de disciplinas, por conta de um projeto ou de um objeto que lhes seja comum.

26

cidadania, a competência de analisar um problema e tomar as decisões necessárias

à sua resolução, competência que fica prejudicada quando se trabalha só com

‘problemas fechados’. Enquanto que a ‘situação-problema’ levaria o aluno a

construção de um novo saber matemático.

O próximo passo para que uma competência seja eficientemente

desenvolvida requer prática, "saber fazer", saber relacionar conceitos, estabelecer

conexões entre as áreas do conhecimento, manipular com destreza, por exemplo,

um hábil cozinheiro desenvolveu através de conceitos e práticas repetitivas a sua

destreza em cortar legumes, conhecer temperos diversos, saber combiná-los e isso

só foi construído com treinamento, com vivências que podem ter tido sucesso ou

não. É evidente que algumas habilidades surgem com mais facilidade em um

indivíduo do que outro, mas isso não é estático, é possível desenvolver habilidades

pelo interesse que o indivíduo tem no assunto e através de sua persistência e

treinamento desenvolve essa habilidade. Moretto (1999, online) exemplifica o

desenvolvimento de habilidades no ensino da Matemática:

no ensino da Matemática, é comum a repetição de exercícios para fixar na mente dos alunos a maneira de resolver problemas ou algoritmos. Essa é uma forma de desenvolver habilidades mentais. Assim, após explicarem como se soluciona uma equação de 1º grau, os professores solicitam aos alunos que resolvam listas de exercícios de fixação. Nesse caso, vale dizer que não basta treinar os alunos para desenvolver habilidades como forma de alcançar a competência. É preciso que os alunos façam os exercícios não apenas repetindo mecanicamente os passos, mas compreendendo conteúdos conceituais e o porquê de cada passo.

Ou seja, a repetição de habilidades mentais para resolução de algoritmos

matemáticos é uma etapa apenas do processo para chegar e uma competência

específica, assim, o aluno deve compreender o porquê da repetição.

O domínio das linguagens é reconhecer que cada área do conhecimento

respeita sinais, símbolos e significado próprios das palavras, que está já norteado

quando é apresentado ao aluno, no primeiro momento, os conteúdos conceituais. Na

matemática um exemplo comum é explicar as equações do 1º grau como a

habilidade de isolar o x, é o ato automático descontextualizado de realidade. Uma

nova linguagem seria dar o significado aos símbolos, neste caso ensinar ao aluno o

conceito de equivalência que está presente em uma relação de igualdade numa

equação do 1º grau. Desta forma, o aluno vai aliando os recursos anteriores, possui

os conteúdos conceituas, exercita a habilidade pela repetição e domina a linguagem

em um ambiente de aprendizagem significativa.

27

Moretto (1999) defende que os valores culturais influenciam no

desenvolvimento de competências, isso aparece muito evidentemente nas

concepções que os professores têm do conteúdo e como os alunos são contagiados

por isso. No ensino da Matemática, são muito comuns os mitos (valores culturais),

muitos alunos rejeitam esta área do conhecimento, devido à dificuldade em

aprender, resultado do teor descontextualizado e desvinculado que é trabalhado nas

escolas.

Como no exemplo a seguir: um professor de Matemática prepara as aulas e uma prova escrita. Ele enfrentará valores culturais relativos a essa situação, expressos da seguinte forma: “Matemática é difícil mesmo, não consigo aprender”; “O que vou fazer com este monte de fórmulas, esta álgebra toda, se quero seguir Jornalismo?”; “Quem não cola não sai da escola, por isso vou para a prova com minhas colinhas prontas”.(MORETTO, 1999)

A matemática só é difícil e sem sentido para o aluno, pelo seu ensino isolado

de interdisciplinaridade. E a avaliação é resultado de concepções culturais, a prova

de matemática é necessária, mas deve ser parte de uma avaliação mais ampla,

onde se avalia se as competências estão sendo atingidas. Esta é a maior meta da

educação atual.

Como competência é a capacidade de mobilizar recursos, os alunos devem

ter a capacidade de administrar suas emoções. Nos tempos atuais, o incentivo a

cumprir metas, atingir certa nota, dominar tal conteúdo, ter tal desempenho

(performace), são concepções que será a realidade no mercado de trabalho futuro

desses alunos. Nesta situação, uma prova não avalia se o aluno conseguiu adquirir

as competências necessárias. Um aluno que não obteve sucesso em uma prova não

significa que não teria desenvolvido as competências e habilidades. O fator

emocional pode ter atrapalho sua performance naquela avaliação. O professor

competente não avalia seus alunos somente por uma prova, utiliza-se de outros

métodos, não colocando todo o peso da avaliação em uma forma avaliativa.

Em suma, o professor deve ajudar seus alunos a desenvolver recursos

cognitivos que os possibilite resolver situações difíceis. Em virtude desse enfoque,

que são tão eficientes os projetos educacionais, pois trabalham com esses recursos.

É um dos ‘papeis’ do ENEM, certificar se todo esse processo foi atingido, se

as metas em competências para a Educação Básica foram alcançadas, se está

ocorrendo uma nova relação professor (educador), conhecimento e aluno, em uma

visão da realidade.

28

3.2.1 Competências e Habilidades na Matemática

Um Planejamento pedagógico eficiente é aquele que se compromete a

integrar saberes, que até então se distanciaram por áreas, ao ponto de reconhecer a

linguagem matemática como o eixo catalisador de todas as outras ciências.

Considera-se um eixo catalisador pois fornece mecanismos para melhor visualizar e

entender a realidade que o aluno precisa se apropriar para desenvolver

competências e habilidades que vão lhe ajudar a criar estratégias para resolução de

problemas, sentir necessidade de planejar-se financeiramente na aquisição de um

bem, executar suas tarefas de forma organizada e eficiente, ser criativo, ou seja,

buscar por conta própria novos conhecimentos que visem à sua qualidade de vida.

O ensino da Matemática, sendo executado de forma isolada, reproduz o que

já se conhece historicamente: um conhecimento "conteudista", com metodologias de

repetição com intenção de fixar a habilidade de fazer cálculos, uma aula

desinteressante onde a maioria dos alunos não encontra o prazer em aprender,

gerando, no futuro, lacunas na "bagagem" de competências, que até poderão ser

desenvolvidas fora da escola.

O ‘saber matemático’ está em todas as áreas do conhecimento, em enfoques

diversos, e uma aula que abrange a matemática contextualizada e uma situação-

problema constrói um aprendizado significativo e útil. O documento sobre PCNEM

procura apresentar o sentido do aprendizado de cada área, onde propõe um

aprendizado útil à vida e ao trabalho;

No sentido desses referenciais, este documento procura apresentar, na seção sobre O Sentido do aprendizado na área, uma proposta para o Ensino Médio que, sem ser profissionalizante, efetivamente propicie um aprendizado útil à vida e ao trabalho, no qual as informações, o conhecimento, as competências, as habilidades e os valores desenvolvidos sejam instrumentos reais de percepção, satisfação, interpretação, julgamento, atuação, desenvolvimento pessoal ou de aprendizado permanente, evitando tópicos cujos sentidos só possam ser compreendidos em outra etapa de escolaridade. (BRASIL, 2006, p. 4)

Considerando que os alunos do Ensino Médio já possuem certa maturidade e

iniciam um envolvimento com a sociedade que habitam, os conhecimentos

matemáticos devem ser diferenciados da forma de trabalho já realizada no Ensino

Fundamental. Assim, deve ocorrer, neste nível de ensino o aprofundamento das

ciências, dos saberes em que a metodologia seja voltada aos procedimentos

29

científicos, a prática da interdisciplinaridade e a contextualização absoluta dos

conteúdos.

Os objetivos do Ensino Médio são assim ampliados para corresponder as

necessidades atuais, em que o aluno precisará ser criativo e ter capacidade de estar

continuamente aprendendo. Para ser mais amplo, denomina-se no documento do

MEC o capítulo de Ciências da Natureza, Matemática e suas Tecnologias. As

Tecnologias são as competências e habilidades para análise, avaliação dos

benefícios dos processos tecnológicos para aprimorar-se como cidadão e na sua

vida profissional.

O aprendizado significativo no Ensino Médio pretende aproximar o Ensino

Regular do Ensino Profissionalizante, onde a vivência dos saberes esteja ao alcance

de todos os alunos. Para isso, todas as disciplinas devem trabalhar em caráter

coletivo entre si e com seus alunos. Após conclusão da Educação Básica, o aluno

terá desenvolvido competências e habilidades que serão suficientemente úteis para

seguir seus estudos em uma graduação e entrada no mercado de trabalho.

A Matemática em seu caráter de instrumentação fundamental é de grande

importância no desenvolvimento das competências e habilidades científicas, assim

como nos processos lógicos e analíticos que estão presentes nas áreas humanas.

Desta forma, o ensino das instrumentações de raciocínio e expressão matemáticos

deve ser ensinado não somente pelo Professor de Matemática, mas num trabalho

cooperativo entre as disciplinas científico tecnológicas.

Conforme, os PCNEM's, o novo ensino do ‘saber matemático’ deve estar

voltado a desenvolver habilidades relacionadas à representação, compreensão,

comunicação, investigação e a contextualização sociocultural. Assim como, o

documento do MEC Organizações Curriculares do Ensino Médio - Volume 2 (2006)

complementa:

Ao final do Ensino Médio, espera-se que os alunos saibam usar a Matemática para resolver problemas práticos do quotidiano; para modelar fenômenos em outras áreas do conhecimento; compreendam que a Matemática é uma ciência com características próprias, que se organiza via teoremas e demonstrações; percebam a Matemática como um conhecimento social e historicamente construído; saibam apreciar a importância da Matemática no desenvolvimento científico e tecnológico. (BRASIL, 2006, p.69)

Como mencionado acima, não se deixa de lado o ensino dos teoremas e

demonstrações, mas incentiva-se o aprimoramento das metodologias que mostrem

30

o processo histórico da descoberta do saber matemático de um algoritmo, de uma

ideia lógica, de uma concepção espacial, servindo de base para aprimorar o

processo de aprendizado do conteúdo matemático.

A concepção de competência está conceituada na capacidade de mobilizar

conhecimento, logo, quando o professor trabalha nesse enfoque, através de

metodologias de projetos, trabalha com a autonomia de seu grupo de alunos, pois o

indivíduo que faz a escolha de um tema para estudar, o internaliza, e esse saber não

se perde, e desenvolve a capacidade de permanecer aprendendo. A capacidade de

autonomia para buscar novos conhecimentos é o recurso para adquirir novas

competências, que podem surgir em posteriores momentos da vida do aluno, por

demanda do mercado de trabalho (tarefa que executa no seu emprego, por

desemprego, por objetivo de prestar concurso público, etc..).

Muitas competências podem ser desenvolvidas fora da escola, mas é lá

nesse ambiente educacional que se deve mensurar a realidade de forma simulada,

portanto os conteúdos matemáticos financeiros são importantes para a construção

de uma educação financeira, onde se priorizem temas como economia,

sustentabilidade, autogestão financeira. O aluno que desejar concorrer em um

concurso público no ramo Bancário, terá habilidade de aprofundar-se nos

conhecimentos matemáticos afins, estudar conhecimentos de mercado e gestão

financeira, requisitos para prestar uma prova do concurso para Bancos, como o

Banrisul, por exemplo.

3.3 Educação Financeira

Nos capítulos anteriores, contextualizaram-se a sociedade contemporânea, as

mudanças de paradigmas mundiais e abordaram-se os conceitos de competências e

habilidades. Nesse sentido, este capítulo pretende concluir a ideia de que

competências proporcionam a compreensão da realidade e novas concepções

exigem novas competências, logo, o ensino da matemática deve favorecer seus

alunos com habilidades, propriedades, para administrar suas finanças, citando

Savoia J.,Saito A. e Santana F.(2007):

[...] O domínio de parte dessas propriedades é adquirido por meio da educação financeira, entendida como um processo de transmissão de conhecimento que permite o desenvolvimento de habilidades nos indivíduos, para que eles possam tomar decisões fundamentadas e

31

seguras, melhorando o gerenciamento de suas finanças pessoais. Quando aprimoram tais capacidades, os indivíduos tornam-se mais integrados à sociedade e mais atuantes no âmbito financeiro, ampliando o seu bem-estar. [...]

Conforme o excerto acima, a Educação Financeira surge para fundamentar

uma ‘autogestão financeira’, repercussão da evolução tecnológica, econômica e

regulatória no Brasil, com a estabilização da moeda e redução da inflação, cujo

desenvolvimento acarretou em uma nova relação dos cidadãos (clientes) com as

instituições financeiras (Bancos), pois foi acrescentada uma nova demanda de

produtos e serviços (crédito pessoais, seguros diversos, cartões de crédito,..). A

complexidade de serviços financeiros exige mais conhecimentos sobre o assunto,

pois o desconhecimento compromete as decisões financeiras cotidianas dos

indivíduos, produzindo resultados ineficientes.

Assim como, mundialmente, este movimento tem ocorrido, quando Campos,

(2013, p. 1) relata a existência de uma ‘cultura financeira’ nos países desenvolvidos:

A Educação Financeira nos países desenvolvidos compete à família. Já as escolas têm a função de aprimorar a formação que esses indivíduos recebem em casa. Entretanto, no Brasil, com raríssimas exceções, a Educação Financeira não faz parte do universo educacional familiar, tampouco escolar. E é exatamente isso que Felaban (2007), citado por Saito (2007), afirma quando diz que países latino-americanos estão muito atrasados no que se refere ao desenvolvimento de uma cultura financeira.

A cultura financeira no Brasil vem se desenvolvendo, através das primeiras

iniciativas propostas pelo MEC, quando aborda nos PCN's dentre os temas

transversais11o ‘Trabalho e Consumo’ para o Ensino Fundamental. Na medida em

que as escolas reconhecem a importância deste tema e o incluem em suas

propostas pedagógicas também no Ensino Médio com o enfoque de Educação

Financeira, o currículo deste nível de ensino cumpre seu papel de simular o

exercício da cidadania.

Na vida profissional, do aluno egresso do Ensino Médio, exige-se a

capacidade de saber administrar seu salário, pois nos tempos atuais a maioria dos

trabalhadores irá possuir uma conta corrente em um Banco, e esta conta

proporcionará benefícios como cartão de crédito, crédito pessoal, talões de cheque e

cartão de débito. E uma Educação voltada à ‘autogestão financeira’, desenvolverá

11Os temas transversais são constituídos pelos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN's) e compreendem seis áreas: Ética, Orientação Sexual, Meio Ambiente, Saúde, Pluralidade Cultural e Trabalho e Consumo.

32

cidadãos mais conscientes de seus direitos e deveres, com pensamento crítico e

analítico para saber qual a melhor escolha a ser feita na aquisição de um bem, de

um investimento, e para resgatar ou manter a ‘saúde financeira’.

E para o consumo consciente, nos últimos anos, o Sistema Financeiro

Nacional instituiu a Educação Financeira para os Bancos, como uma política que

conscientize o cidadão a direcionar seus recursos financeiros de forma consciente e

evitar o endividamento, ações que tem a intenção de manter o equilíbrio da

economia brasileira. O Programa de Educação Financeira do Banco Central do

Brasil - BACEN12, (2006), define a Educação Financeira como:

A Educação Financeira é o processo mediante o qual os indivíduos e as sociedades melhoram sua compreensão dos conceitos e produtos financeiros. Com informação, formação e orientação claras, as pessoas adquirem os valores e as competências necessários para se tornarem conscientes das oportunidades e dos riscos a elas associados e, então, façam escolhas bem embasadas, saibam onde procurar ajuda e adotem outras ações que melhorem o seu bem-estar. Assim, a Educação Financeira é um processo que contribui de modo consistente, para a formação de indivíduos e sociedades responsáveis, comprometidos com o futuro.

É nesse sentido que se fundamenta a relato inicial desta pesquisa quanto ao

perfil atual do bancário, pois a política do BACEN é apropriada para todos os

bancos, logo o Banco do Estado do Rio Grande do Sul tem direcionado

estrategicamente suas ações para uma gestão consciente do dinheiro, para

gerenciar seus clientes em uma correta gestão das finanças e por consequência

manter-se no mercado como uma instituição financeira sólida e contribuir com a

estabilidade econômica do país.

No âmbito da pesquisa, é também possível constatar outras necessidades

para o ensino da Matemática Financeira e da Educação Financeira no Ensino Médio,

que persiste no desenvolvimento de competências e habilidades para o mundo do

trabalho, onde se avalia as competências matemáticas que um aluno egresso do

Ensino Médio conseguiu desenvolver para ter a possibilidade concorrer em um

concurso público para o ramo bancário.

A Matemática Financeira é uma habilidade exigida para as provas dos

concursos de todos os bancos em que a administração pública tem poder de gestão

(Caixa Federal, Banco do Brasil, Banrisul, BACEN.), porém para alguém que deseje

12 BACEN - Banco Central do Brasil, autarquia federal do Sistema Financeiro Nacional.

33

ter sucesso em uma prova deste padrão, requer estudos adicionais da aplicação

financeira da matemática.

A metodologia desta pesquisa visa constatar a realidade, de que muitas

escolas não têm incluído em seus planejamentos o ensino da Matemática Financeira

e da Educação Financeira, pois as orientações curriculares para o Ensino Médio

proposto pelo MEC, ‘PCN's (MEC) em Temas Transversais: Trabalho e Consumo’, já

mencionam a ideia de Educação Financeira com um tema transversal desde o

Ensino Fundamental, até insinuando a possibilidade de iniciar os primeiros conceitos

de cidadania voltada ao ‘Trabalho e Consumo’ na primeira etapa deste nível de

ensino.

O enfoque interdisciplinar deste tema, no Ensino Fundamental, perpassa

inicialmente, os currículos da História, da Geografia e nas Ciências Naturais que

englobam a análise cultural do trabalho, a repercussão na sociedade de novos

métodos produtivos e a transformação econômica do país no contexto histórico.

Logo, cabe aos últimos anos da Educação Básica, o Ensino Médio, a

responsabilidade de fornecer ferramentas para que esta teoria aprendida se torne

uma competência matemática.

O ensino da Educação Financeira e da Matemática Financeira acontece

dentro da escola, com a iniciativa dos professores, das equipes diretivas, dos

alunos, pois as mobilizações dentro do ambiente escolar que promovam a

abordagem de um currículo flexível, com conteúdos significativos para os alunos é

uma necessidade atual.

34

4 METODOLOGIA

A pesquisa foi organizada utilizando dois instrumentos que se complementam

através de uma relação temporal.

O primeiro instrumento é definido por um questionário com 10 (dez) perguntas

abertas, dirigido a professores de matemática que lecionam em turmas de Ensino

Médio. O público escolhido se trata de professores que atuam nas 8(oito) Escolas

Públicas de Ensino Médio da cidade de Esteio/RS, no turno noite. Tal escolha se

justifica pela facilidade no acesso, por ter trabalhado anteriormente na Secretaria

Municipal de Educação, logo favoreceu ter contato com muitos professores e

diretores da rede escolar da cidade.

Quanto à abordagem das perguntas, buscou-se entender a forma que a

escola favorece seus alunos com competências e habilidades matemáticas para

aqueles que tenham interesse em ingressar no mercado de trabalho, através do

concurso para o Banrisul, obtenham sucesso. Abaixo seguem as perguntas com o

objetivo de cada questão nesta pesquisa:

1ª Questão - Como foi o seu aprendizado matemático durante a sua Educação

Básica?

Argumentação para a pergunta: Conhecer se as metodologias, empregadas na

época do curso do Ensino Médio do entrevistado, são uma reprodução de sua

prática como professor de Matemática. Assim como, saber se a aprendizagem foi

eficiente e prazerosa.

2ª Questão - Qual seu curso de Graduação? Em que instituição de Ensino Superior

terminou sua graduação?

Argumentação para a pergunta: Avaliar se os entrevistados são habilitados para

lecionarem os conhecimentos matemáticos, pois um dos requisitos para prestar um

concurso público na área da matemática é a licenciatura específica.

3ª Questão - Há quanto tempo é professor? Qual sua carga horária semanal?

35

Argumentação para a pergunta: O questionamento busca se o fator tempo (de

carreira e carga horária semanal) pode ser considerado como uma justificativa na

qualidade do trabalho do professor.

4ª Questão - Qual o papel do professor de matemática na atualidade?

Argumentação para a pergunta: Se os entrevistados percebem o entorno dos seus

alunos quanto às inovações nos paradigmas sociais que os mesmos estão inseridos,

assim como, se alcançam construir um papel mais eficiente em sua prática na

escola.

5ª Questão – Com que método do ensino você tem mais afinidade? Sente que este

método é eficiente em todas as suas aulas? Por quê?

Argumentação para a pergunta: Ver os pontos de vista metodológicos, se resistem

às novas concepções, se existem afinidades conceituais com teóricos em educação.

Tal questão traz a forma que o entrevistado tem se relacionado com o ato de educar.

6ª Questão - Você tem aplicado inovações (novas metodologias) no seu ambiente

escolar? Quais?

Argumentação para a pergunta: Esta questão vem a aprofundar a anterior, a fim de

saber se o professor permanece estudando, se atualizando, se reflete sobre a sua

prática de ensino e busca outras formas quando as suas atuais não são eficientes e

eficazes. Assim como, coletivamente, no ambiente escolar, tem liberdade para

propor novas alternativas de ensino que ultrapassem sua área de conhecimento.

7ª Questão - A Matemática Financeira é trabalhada com seus alunos? Quais os

conteúdos? De que forma? Você considera necessária?

Argumentação para a pergunta: Entender o quanto o professor entrevistado vê

necessidade de ensinar a Matemática Financeira em suas aulas, se existe o

movimento de planejar a aplicação deste tema no contexto escolar e de que forma

isso ocorre.

8ª Questão - A Educação Financeira é um dos temas transversais citados nos

PCNEM`s, como conhecimento que o aluno deve desenvolver, na escola, para

administrar seus futuros recursos financeiros, entender sobre conceitos de

36

consumismo e sustentabilidade evitando o endividamento. Esses assuntos já foram

trabalhados em sua escola? Como?

Argumentação para a pergunta: A questão tem o objetivo de aprofundar a anterior,

porém em torno do tema Educação Financeira, onde a abordagem é mais ampla e

competente que a Matemática Financeira somente, pois possui um caráter

significativo em uma educação que se proponha a desenvolver a cidadania em seus

alunos.

9ª Questão - Um aluno seu, que após a conclusão do Ensino Médio, for concorrer

em um concurso do Banrisul, você o consideraria preparado, através dos

conhecimentos matemáticos adquiridos, para prestar de forma eficiente esta prova?

(Sabendo que o edital exige apenas conclusão do Ensino Médio para admissão, ou

seja, ter conhecimentos dos conteúdos matemáticos previstos para este nível de

ensino).

Argumentação para a pergunta: A questão busca refletir se a prática do professor

procura desenvolver um processo de aprendizagem coerente com a realidade de um

aluno concluinte da Educação Básica, pois logo ingressará em um mercado de

trabalho que exige competências e habilidades matemáticas e, caso deseje prestar

um concurso público, ter autonomia suficiente para buscar por complementações em

seus conhecimentos, se for necessário.

10ª Questão - Que competências e habilidades matemáticas você considera

importantes de serem trabalhadas no Ensino Médio para preparar de forma eficiente

o aluno para o mercado de trabalho?

Argumentação para a pergunta: Primeiramente a pergunta busca diagnosticar se os

entrevistados conhecem os conceitos de competências e habilidades e a partir deste

conhecimento, ter um relato de como a escola tem favorecido seus alunos com

capacidades que o preparem para o exercício da cidadania e a possibilidade de

permanecer estudando após a conclusão do Ensino Médio.

O questionário acima, se estrutura por uma pesquisa qualitativa com

perguntas abertas, logo a análise se desenvolverá através das falas significativas13

13 Denomino fala significativa aquela que concebida através de uma pesquisa de perguntas abertas trazem a denúncia de algum conflito ou contradição vivenciados pelo "universo" da pesquisa e que

37

dos entrevistados considerando o contexto em que foram direcionadas. Conforme

Ludke, Menga e André (1986, p. 44):

são cinco as características básicas da pesquisa qualitativa, chamada, às vezes, também de naturalística: a) A pesquisa qualitativa tem o ambiente natural como sua fonte direta de dados e o pesquisador como seu principal instrumento; b) os dados coletados são predominantemente descritivos; c) a preocupação com o processo é muito maior do que com o produto; d) o significado que as pessoas dão às coisas e à sua vida são focos de atenção especial pelo pesquisador; e e) a análise dos dados tende a seguir um processo indutivo.

Assim, a pesquisa qualitativa reflete a realidade através de uma análise das

respostas pela indução do significado objetivo e intrínseco das frases e palavras

colocadas pelo entrevistado. A atenção da análise também se volta para a intenção

na construção das frases e a escolha das palavras, revelando as concepções

introjetadas dos professores entrevistados, para após contrapor com a

fundamentação teórica a que se propõe nesta pesquisa.

Quanto ao segundo momento desta pesquisa, considerando como hipótese

do questionário anterior, de conhecer a atual realidade da regência dos professores

do público alvo e seu contexto escolar, e dentre os interesses da pesquisa, entender

se o aluno concluinte do Ensino Médio tem conhecimento matemático suficiente

para, aos interessados, concorrer em um concurso para um Banco Banrisul,

tomaram-se como objeto da pesquisa as provas dos últimos dois concursos do

Banrisul que mostram competências e habilidades necessárias para o exercício da

função.

As provas de Matemática Financeira dos últimos 2 (dois) editais do concurso

para o Banco do Estado do Rio Grande do Sul, Banrisul, lançados em 2005 e 2009,

foram resolvidas e classificadas conforme seu conteúdo matemático e o grau de

dificuldade da questão. Cabe ressaltar que, nos últimos 10 (dez) anos o Banrisul

emitiu 3 (três) editais, em 01/2001, 02/2005 e 01/2009-2, porém, para a análise das

provas, somente foram acessados os últimos 2 (dois), devido à indisponibilidade nos

meios possíveis.

Para a reflexão quanto à abordagem das provas, objeto desta pesquisa, e

para visualizar que competências são exigidas na resolução destas questões, como

um primeiro critério de análise, utilizou-se o documento chamado "Matriz de

expressa uma determinada concepção, uma representação do real.

38

Referência de Matemática e suas Tecnologias"14 que indica onde as questões do

exame do ENEM se aplicam, através de 7 competências e habilidades matemáticas

a serem desenvolvidas durante a Educação Básica.Tal comparação pretende

entender quantas e quais das 7 (sete) competências são avaliadas no concurso do

Banrisul.

Cada competência ENEM é uma área do conhecimento matemático, e se

subdivide nas habilidades que são capacidades de aplicar o conteúdo envolvido, a

fim de desenvolver tal competência.

Os conteúdos matemáticos da Educação Básica escolhidos como base para

construir as 7 (sete) competências matemáticas do ENEM são, os conjuntos

numéricos, a geometria, as grandezas, medidas, variação de grandezas, variáveis

em representações algébricas, gráficos, tabelas, probabilidade e estatística. Ou seja,

destes conteúdos surgiram 30 habilidades matemáticas necessárias para o

desenvolvimento das competências: construir significados para os números naturais,

inteiros, racionais e reais, utilizar o conhecimento geométrico para realizar a leitura e

a representação da realidade e agir sobre ela, construir noções de grandezas e

medidas para a compreensão da realidade e a solução de problemas do cotidiano,

construir noções de variação de grandezas para a compreensão da realidade e a

solução de problemas do cotidiano, modelar e resolver problemas que envolvem

variáveis socioeconômicas ou técnico-científicas, usando representações algébricas,

interpretar informações de natureza científica e social obtidas da leitura de gráficos e

tabelas, realizando previsão de tendência, extrapolação, interpolação e interpretação

e compreender o caráter aleatório e não determinístico dos fenômenos naturais e

sociais e utilizar instrumentos adequados para medidas, determinação de amostras

e cálculos de probabilidade para interpretar informações de variáveis apresentadas

em uma distribuição estatística.

Assim, após a resolução das questões das provas, para a análise foi

desenvolvido um critério que classificou as questões por nível de dificuldade, através

de 3(três) categorias: ‘Fácil, Médio e Difícil’. Considerou-se ‘Fácil’ as questões em

que os dados estão visualmente disponíveis e requerem somente aplicação do

algoritmo (fórmulas) da matemática financeira. Em ‘Médio’, estão classificadas as

14 a Matriz de Referência de Matemática e suas Tecnologias é um guia das competências e habilidades matemáticas que se fundamentam as questões do ENEM, a última atualização foi gerada em 2009.

39

que possuem também os dados visualmente disponíveis, onde se podem aplicar as

fórmulas da Matemática Financeira, porém abordam conteúdos matemáticos

diversos. Na categoria ‘Difícil’, classificou-se as questões que são problemas que

abordam o conteúdo de Matemática Financeira e conceitos matemáticos do ensino

médio, mas exigem uma interpretação textual para aplicar uma estratégia

matemática de resolução e também pelas 7 áreas da matriz de competências do

ENEM mencionadas.

Consideram-se nesta metodologia as duas provas (edital 01/2005 e 01/2009-

1) com 20 questões cada, totalizando 40 questões.

40

5 ANÁLISE DE RESULTADOS

Para uma melhor organização, este capítulo descreve a pesquisa em dois

momentos, primeiramente será relatada a análise das entrevistas com os

professores de matemática, citando as respostas mais recorrentes e as articulações

realizadas com base na fundamentação teórica, e também no grupo de respostas

em que os resultados foram mais quantitativos, geraram-se gráficos para uma

melhor visualização.

No segundo momento, ocorre o desenvolvimento da análise das provas do

Banrisul, que foram classificadas por critérios de Fácil, Médio e Difícil, e também

pelas 7 (sete) áreas da matriz de competências do ENEM. Para uma melhor

visualização também foram gerados gráficos das classificações realizadas.

A entrevista foi encaminhada e proposta às 8 (oito) Escolas Estaduais de

Ensino Médio da Cidade de Esteio/RS, aos Professores de Matemática que atuam

no período noturno em turmas na modalidade EJA, Técnico em Administração e no

Ensino Regular. Das 20 entrevistas entregues nas Escolas, houve retorno de 9

(nove).

As 11 (onze) entrevistas não retornadas podem ser resultado de algum

desinteresse em respondê-las, falta de tempo disponível ou o não acesso dos

professores ao questionário por talvez não ter sido repassado aos mesmos por

outros integrantes da sua escola.

As questões serão listadas, com as respostas que eu signifiquei, seguidas por

uma reflexão do autor, baseando-se em referências bibliográficas vinculadas.

Na primeira questão, o método tradicional é constatado de forma comum

entre os entrevistados, como uma forma antiquada e pouco significativa, conforme a

resposta do Entrevistado A, "Bastante didático, porém para os nossos dias, seria um

tanto desatualizado, mas ainda com grande proporcionalidade", e o Entrevistado D,

nos trechos "[...] Eu não lembro muito das minhas aulas de matemática na época de

estudante, talvez por não ter tido nada de diferente [...]A aulas que me lembro, são

aulas com muitos exercícios e algumas explicações." Desta forma, é possível

compreender que aulas com metodologias mais significativas poderiam deixar

melhores resultados em conhecimentos matemáticos. A concepção de método

tradicional para Setúbal e Maldaner (2010):

41

o treino repetitivo e a memorização de regras, fórmulas, procedimentos ou verdades localmente organizadas, o famoso “decoreba”, são os meios pelos quais os professores, vistos nesta pedagogia como os “detentores do saber”, procuravam transmitir e expor o conteúdo pronto e acabado, tornando a prática docente mecânica e artificial. Ao aluno cabe apenas receber passivamente, sem nenhum tipo de questionamento, as informações transmitidas pelo professor e repeti-las corretamente, para se livrar do castigo e das notas baixas e receber prêmios (medalhas, distinções e quadros de honra) e “nota” para valorizar o seu esforço, que é visto como um requisito indispensável para a educação.

No trecho, "O treino repetitivo e a memorização de regras, fórmulas,

procedimentos ou verdades localmente organizadas, o famoso decoreba", podemos

considerar como a forma de desenvolver habilidades matemáticas, mas atualmente

o professor deveria aprofundar esses conhecimentos para que se tornem

competências matemáticas, pois são exigências para uma educação de qualidade.

Um processo de ensino aprendizagem deve corresponder à avaliação que o

método de ensino propõe. Logo, métodos mais teóricos e expositivos avaliam

conteúdos aprendidos, assim como uma metodologia por competências e

habilidades é resultado das atuais avaliações, como a prova do ENEM.

Da mesma forma, as práticas de ensino dos atuais professores de

matemática não deveriam ser uma reprodução de métodos da sua época na escola,

pois são estratégias que talvez não desenvolvesse um processo de ensino

aprendizagem de qualidade, considerando os alunos e a realidade atual.

A segunda questão aborda a formação dos entrevistados, o Gráfico da figura

1 representa os cursos de graduação dos mesmos:

Gráfico1 - Questão - Qual seu curso de graduação?

Fonte: Autoria própria, 2014.

Qual seu curso de graduação?

ADMINISTRAÇÃO

PSICOLOGIA

FÍSICA

MATEMÁTICA

42

Verificam-se formações diferenciadas, além dos licenciados em Matemática,

comprovando que nas escolas, faltam professores da área, logo se permite a

regência de profissionais de outras áreas, que possivelmente podem não ter

formação pedagógica específica.

A não exigência da formação específica (Licenciatura Plena em Matemática),

não permitiria desenvolver uma educação de qualidade nas escolas públicas

estaduais, pois contradiz a intenção do MEC, sendo que é um requisito para a

docência na Educação Básica, conforme a LDB15, Lei 9394/96 e suas atualizações:

Art. 62. A formação de docentes para atuar na educação básica far-se-á em nível superior, em curso de licenciatura, de graduação plena, em universidades e institutos superiores de educação, admitida, como formação mínima para o exercício do magistério na educação infantil e nos 5 (cinco) primeiros anos do ensino fundamental, a oferecida em nível médio na modalidade normal.

Uma regência realizada pelo docente que possua a formação específica na

licenciatura em Matemática pode garantir a qualidade de ensino, pois o profissional

desenvolveu competências e habilidades, durante a sua formação na universidade,

para uma correta reflexão epistemológica e didático-pedagógica de sua prática na

sala de aula.

Outra questão para analisar é a excessiva carga horária semanal a que

muitos profissionais em educação acabam se comprometendo devido às carências

na realidade escolar nas redes públicas de ensino, como a falta de professores, os

baixos salários, que consequentemente, prejudicariam a qualidade da realização do

trabalho destes profissionais, pois 40 ou 60 horas semanais em sala de aula podem

esgotar a capacidade criativa para novas situações de aprendizagem, gerar

insatisfação e a redução da qualidade de vida do professor.

O Gráfico 2 representa a carga horária semanal dos professores

entrevistados.

15Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. Lei que foi aprovada em 1996 e vem se atualizando durante os anos, a última versão é maio/2013.

43

Gráfico 2 - Carga horária semanal dos entrevistados

Fonte: Autoria própria, 2014.

A pesquisa demonstrou certas contradições nas respostas dos professores,

no exemplo da questão 4 (quatro ) com a 5 (cinco): O Entrevistado A, respondeu que

o papel do professor na atualidade se dá pelo "Entendimento psico-intelecto, de

forma lúdica, dinâmica, etc. Transferência do conhecimento teórico-prático,

relacionado ao conteúdo e sua aplicação ao cotidiano.", mas seu método de ensino

está "Ainda no método antigo, teórico, praticamente arcaico aos dias de hoje. Os

métodos atuais são mais dinâmicos, em cima de contextos mais abrangentes, de

forma lúdica e descontraída, no ensino aprendizagem". A intenção se contradiz com

a realidade, pois o professor tem conhecimento do perfil de educador mais eficiente

para a atualidade, porém não tem se permitido inovar em seus métodos e melhorar

sua prática. Um maior tempo disponível para planejar suas aulas poderia contribuir

para uma melhor reflexão de sua postura como educador, porém, conforme o

Gráfico 2, a carga horária excessiva pode dificultar essa mudança de paradigma.

O Entrevistado B considera que o papel do professor é "Dar condições ao

aluno desenvolver a Matemática unido-a às novas tecnologias.", porém, quando

perguntado de sua metodologia de ensino, se define:

ao método tradicional com aulas expositivas. É seguro para quase todas as aulas. Porque prende o aluno ao professor, quadro e atenção ao entendimento. Se possível, dependendo da escola, com vídeos nos

12%

38%

50%

Carga Horária Semanal

Até 20 h/s

Até 40 h/s

60 h/s ou mais

44

conteúdos necessários. É seguro por que o professor tem o domínio da aula.

A contradição acontece através do conhecimento que se tem das novas

tecnologias e metodologias e não se permitir aplicá-las, não testando novas

possibilidades que poderiam ampliar o conhecimento matemático de seus alunos.

Também surgiram ‘falas significativas’ que evidenciam a nova realidade,

conforme as atuais exigências do ENEM: ‘Mediar o conhecimento. Penso que o

papel do professor é primeiro despertar no aluno a vontade de saber seu

conhecimento. ’, em outra fala;

Acho que o papel do professor hoje é secundário. Vejo o professor mais como um orientador, um facilitador na busca pelo conhecimento. O papel do professor de matemática é como o de qualquer outra área do conhecimento, está sempre tentando chamar a atenção dos alunos, que estão cada vez mais desinteressados.

E, ‘Trabalhar com o aluno os conceitos que deve usar no dia-a-dia. ’, logo

pensar em um profissional que possua um compromisso de ‘preparar o jovem para

participar de uma sociedade complexa como a atual que requer aprendizagem

autônoma e contínua ao longo da vida [...]’. Por conseguinte, para se trabalhar em

uma pedagogia que desenvolva competências e habilidades, o papel do professor é

de facilitador do conhecimento, aquele que promova situações de aprendizado, mas

não de forma isolada, e sim através da aproximação das áreas do conhecimento, da

liberdade curricular e na perspectiva da vivência de situações aplicadas ao cotidiano.

Ao confrontar a questão 1, que aborda o aprendizado do entrevistado em seu

Ensino Médio, com a questão 5, onde no método de ensino do atual professor, pode

se verificar uma reprodução de papéis de educador: o Entrevistado E, quanto à

questão 1: "Tradicional, Ensino Fundamental em escola Lassalista, e Médio em

escola pública" e na questão 5, "Tradicional, não é eficiente em todas as aulas e

encontra muita resistência por parte dos alunos. "Da mesma forma, conforme a

resposta do Entrevistado I: "Tendo em vista toda a Matemática que eu aprendi no

Ensino Superior, acredito que meu ensino na Educação Básica foi fraco" (questão 1)

e "Método expositivo, na maior parte das aulas. Embora eu acredite que outras

formas de ensino seriam mais eficientes para o aprendizado, pensando no nível

baixo de comprometimento do aluno com a escola, este ainda, infelizmente, é o

método mais adequado a se utilizar." (questão 5). A postura do professor pode

prejudicar o processo de ensino aprendizagem de seus alunos, assim como a

45

reprodução de posturas dos professores que tivermos em nossa formação, caso

elas não correspondam ao atual perfil dos alunos e sua realidade. A sociedade

moderna exige novas possibilidades no processo de aprendizagem, de avaliações

mais eficientes, portanto professores que correspondam a estas inovações.

Tratando da questão 6, ocorreu nas respostas uma dificuldade nos conceitos

de Inovação em um contexto de novas metodologias e Inovação Tecnológica na

Educação, embora possam se complementar.

A maioria dos entrevistados direcionou a resposta no contexto de tecnologia

digital, ou seja, o uso do Datashow e laboratório de informática nas suas aulas,

conforme as respostas mais significativas: "Sempre tento utilizar as tecnologias que

as escolas me oferecem. Por exemplo: na escola estadual, o máximo que consigo

usar é o Datashow e, o utilizo bastante, mas nas aulas de física (só tenho uma turma

de matemática de 3° ano). Estou tentando introduzir o uso das redes sociais para

algumas coisas. Criei alguns grupos fechados de algumas turmas (no Facebook)

onde posto aulas, exercícios, matérias importantes, etc. Mas não tem dado muito

certo, sei lá, acho que eles não se interessam em estudar [...]", "Estou me

preparando para aplicá-las, cursando pós em Mídias Digitais" e "Procuro sempre que

possível, usando as médias que a escola proporciona. Como pesquisa no

Laboratório de Informática."

O conceito de ‘inovação’, inicialmente direcionado à produção industrial e ao

empreendedorismo, é criar algo novo e ou dar um novo significado, visualizando

sanar uma necessidade ou dar uma melhor performance a um produto ou serviço,

buscando corresponder à atualidade e à concorrência do mercado. A ‘inovação’ está

sendo aplicada em todos os ramos da sociedade, logo, na Educação pode abordar

uma série de mudanças nos métodos de ensino, que não necessariamente exigem o

uso das novas tecnologias digitais. Assim como, ‘Inovação Tecnológica’ está em um

contexto dos avanços na informática e seus novos recursos tecnológicos, que sendo

utilizados pelo professor de forma significativa e coerente podem ajudar no

aprendizado de seus alunos.

Portanto, ocorreu uma incorreta conexão dos conceitos de ‘Recursos e

Metodologia’ no ambiente escolar. Recursos são as tecnologias digitais, materiais

que facilitam a execução das aulas, como Datashow, laboratório de informática,

materiais disponibilizados via internet, etc., que isolados não desenvolvem

conhecimentos matemáticos. E Metodologia de ensino é a estratégia para que o

46

conhecimento seja aprendido pelo aluno, que é composta, por técnicas de ensino,

por recursos tecnológicos disponibilizados pela escola no objetivo de desenvolver

competências e habilidades em seus alunos. As possibilidades de planejamentos

interessantes para aulas de matemática muitas vezes dependem de poucos

recursos, como jogos, material concreto que podem ser construídos e resolução de

situações-problemas. Uma boa proposta metodológica pode não utilizar recursos

tecnológicos digitais, pois uma atividade matemática bem planejada e aplicada pode

gerar mais aprendizado que uma aula no laboratório de informática sem objetivo

traçado.

Na questão 7 (sete), A maioria dos entrevistados relata que aborda a

Matemática Financeira em alguns momentos nos seus planos de ensino. Porém o

Entrevistado D relata sua realidade:

[...]e no 3° ano, não tem matemática financeira no plano. Quando dava aula para o 2° ano (que tem matemática financeira no plano) dava, sempre no final do ano, mas conseguia trabalhar bastante com eles [...] Não gosto muito de impor conteúdos aos meus alunos, geralmente eu proponho algum conteúdo, aquele que vejo como uma probabilidade maior de ser abordado no ENEM ou algum vestibular, e decido em conjunto com eles.

Com base nesta resposta é possível refletir que limitações os professores

entrevistados permitem existir, pois as orientações do MEC, fundamentações desta

pesquisa, cogitam a flexibilidade curricular, logo um tema como a Educação

Financeira e Matemática Financeira poderia fazer muita diferença na vida de um

estudante que conclui a Educação Básica e entra no mercado de trabalho. Os

professores devem sim focar o aprendizado de conteúdos alvo do ENEM, mas

também devem refletir que o Ensino Médio contribui para a cidadania.

47

As respostas da questão 8 geraram o Gráfico da Figura 3, conforme abaixo:

Gráfico 3 - Questão 8 - A Educação Financeira é/foi abordada na Escola?

Fonte: Autoria própria, 2014.

Para a questão 9 (nove), o aluno deve buscar por si os conhecimentos

extras para um concurso como o do Banrisul, pois na maioria das resposta os

professores entendem que caberia ao aluno a responsabilidade por estudos

adicionais que por ventura não tenham sido abordados ou foram tratados de forma

superficial. As respostas significativas relatam que é necessário um aprofundamento

ou revisão dos conteúdos matemáticos para obter um resultado satisfatório em um

concurso, pois ‘depende de cada aluno buscar conhecimentos e aprofundar-se um

pouco mais no conteúdo desenvolvido em sala de aula. ’e ‘Todo o candidato a um

concurso público deve buscar outras formas de revisar e aprofundar os

conhecimentos adquiridos na Escola. ’Encontra-se nestas falas um dos papeis

fundamentais da Educação de hoje.

Conforme a fundamentação desta pesquisa, nos conceitos de competências,

mencionou-se que "A concepção de competência está conceituada na capacidade

de mobilizar conhecimento, e quando o professor trabalha nesse enfoque, através

de metodologias de projetos, trabalha com a autonomia de seu grupo de alunos,

pois o indivíduo que faz a escolha de um tema para estudar, o internaliza, e esse

saber não se perde, e desenvolve a capacidade de permanecer aprendendo. A

capacidade de autonomia para buscar novos conhecimentos é o recurso para

adquirir novas competências, que podem surgir em posteriores momentos da vida

do aluno, por demanda do mercado de trabalho (tarefa que executa no seu

Sim45%

Não22%

Desconhece33%

Pergunta 8 - A Educação Financeira

é/foi abordada na Escola?

48

emprego, por desemprego, por objetivo de prestar concurso público, etc..)." Então a

justificativa de não haver tempo para trabalhar os conteúdos deve ser repensada, e

para que o aluno busque por si o conhecimento complementar, precisar ter

construído na escola a habilidade de estudar com autonomia.

A questão 10 faz a reflexão quanto à abordagem das competências e

habilidades matemáticas no currículo do Ensino Médio para preparar de forma

eficiente o aluno para o mercado de trabalho.

As respostas mostraram que os entrevistados entendem a necessidade de

fazer de suas aulas momentos de construção de saberes, aliando os conteúdos

matemáticos ao cotidiano da vida do aluno. Cito algumas respostas significativas,

"Maior qualidade no método de ensino e melhor qualificação dos profissionais das

áreas, como um todo." e "Os alunos de ensino médio na matemática devem resolver

e interpretar situações-problemas que exigem a participação consciente do cidadão

na sociedade.".

Porém, conforme um dos entrevistados:

nossa educação está em decadência. Não vejo, hoje, preparação alguma de qualquer área do conhecimento para o “futuro” de um aluno. É muito conteúdo, é muita regra para ser cumprida e não temos tempo para isso. Hoje, os alunos não estão interessados em conhecer (ou saber resolver) um sistema de equações, uma equação exponencial ou, sei lá, uma equação complexa. Acho que devíamos ensinar o básico para eles, quatro operações e expressões algébricas, ensinando muito, insistindo, em como isolar uma variável e talvez um pouco de geometria plana e espacial para eles. Acho que isso é importante. Isso que ele mais vai usar na vida.

Tal resposta relata os prejuízos do excesso de conteúdos na grade curricular

das escolas, fazendo com que se perca a qualidade nos processos de

aprendizagem. Como foi mencionada na fundamentação, a flexibilidade curricular é

possível. Cabe às escolas e aos professores realizarem uma proposta pedagógica

que contemple a sociedade em que seus alunos estão inseridos.

Os professores entrevistados parecem possuir conhecimento quanto ao

contexto escolar, parecem possuir domínio do conteúdo matemático e sabem que

existem metodologias mais eficientes que as que utilizam, ou seja, sabem como

fazer melhor o seu trabalho, possuem ferramentas para isso, mas a execução não

tem sido levada à prática.

Todos os entrevistados reconhecem a importância do tema da Educação

Financeira e a Matemática Financeira para a construção da cidadania dos seus

alunos, porém tem faltado a iniciativa de aplicar tais temas no cotidiano da escola. A

49

justificativa apresentada pelos entrevistados para não trabalharem tais conteúdos

pode estar relacionada com componentes externos, como o currículo não abordar o

tema, a equipe diretiva não estar interessada em tratar o assunto, os alunos não

estarem interessados em Matemática, ou seja, cabe a todo o contexto escolar

aproveitar os momentos em sala de aula para construir saberes, desenvolver

competências, fazer o aluno refletir sobre a sociedade e o mercado e trabalho que o

espera.

Tratando do segundo momento da pesquisa, foram gerados ‘gráficos de Pizza

e Barras Verticais’ das questões já classificadas nos critérios ‘Fácil, Médio e Difícil’ e

quanto aos conteúdos matemáticos abordados nas duas provas, a fim de propiciar

uma melhor visualização e análise dos resultados.

Conforme gráfico abaixo, ao aplicar o critério de classificação por ‘Fácil,

Médio e Difícil’, na prova de Matemática Financeira do Edital 01/2005, constatou-se

que a maioria das questões possui os dados visualmente disponíveis para a

aplicação das fórmulas financeiras, como juros simples, desconto simples e

composto, juros compostos, etc.

Gráfico 4 - Prova de Matemática - Edital 01/2005 - por nível de dificuldade

Fonte: próprio Autor, 2014.

Em seguida, foi realizada a projeção do ‘gráfico de pizza’ da análise da prova

de Matemática Financeira, Edital 01/2009-2. Neste, percebeu-se uma distribuição

mais equivalente entre os 3 (três) critérios mencionados.

70%

20%

10%

PROVA DE MATEMÁTICA FINANCEIRA - EDITAL 01/2005 - ClassificaçãoTotal de 20 questões

FÁCIL

MÉDIO

DIFÍCIL

50

Gráfico 5 - Prova de Matemática - Edital 01/2009-2 - por nível de dificuldade

Fonte: próprio Autor, 2014.

Comparando com o gráfico do Edital 01/2005, constata-se certo

direcionamento para abordar questões que envolvam mais problemas matemáticos,

logo, exigem competências e habilidades para interpretar o enunciado, pensar em

estratégias para a resolução que podem exigir conceitos matemáticos mais amplos

que somente a Matemática Financeira.

Gráfico 6 - Prova de Matemática - Edital 01/2005 e 01/2009-2 - por dificuldade

Fonte: próprio Autor: 2014

Quando visualizamos as questões no contexto do conteúdo matemático

abordado, percebemos inicialmente, que na prova do Edital de 01/2005, conforme o

Gráfico 6, diversos conhecimentos da matemática financeira foram abordados em

sua totalidade, aparentando certo equilíbrio.

31%

37%

32%

PROVA DE MATEMÁTICA FINANCEIRA - EDITAL 01/2009-2 - Classificação

Total de 19 questões

FÁCIL

MÉDIO

DIFÍCIL

51%28%

21%

PROVA DE MATEMÁTICA FINANCEIRA - EDITAL 01/2005 e 01/2009-2 - Classificação

Total de 39 questões

FÁCIL

MÉDIO

DIFÍCIL

51

Gráfico 7 - Assuntos abordados na prova de Matemática - Edital 01/2005

Fonte: próprio Autor: 2014

Como se pode visualizar na realidade da prova do Edital 01/2009-2, ocorre

uma redução na variação dos conteúdos abordados, onde no edital anterior

apareceram 14 (quatorze) conteúdos, nesta visualizam-se 6 (seis) abordagens da

Matemática Financeira, porém com algoritmos matemáticos menos complexos.

Gráfico 8 - Assuntos abordados na prova de Matemática - Edital 01/2009-2

Fonte: próprio Autor: 2014

00,5

11,5

22,5

33,5

44,5

Qua

ntid

ade

de Q

uest

ões

Prova de Matemática - Edital 01/2005 - Assuntos Abord ados

00,5

11,5

22,5

33,5

44,5

Qua

ntid

ade

de Q

uest

ões

Prova de Matemática - Edital 01/2009-2 Assuntos Abor dados

52

No Gráfico 8, a comparação dos dois gráficos anteriores, mostra como alguns

conteúdos foram mais abordados do que outros, como por exemplo, as

transformações de taxa real, taxa efetiva, cálculo de imposto de renda e inflação,

nem foram tratadas na prova Edital 01/2009-2 e conteúdos com algoritmos mais

simples como porcentagem, juros simples e compostos estão muito em evidência na

prova de 2009.

Comparando o Gráfico 8 com os 3 e 4, nota-se uma redução de abordagem

de conteúdos com um aumento na complexidade das questões e vice-versa. Nesta

visão, é possível constatar que de uma prova para outra, o Banrisul mudou seus

critérios de seleção, conservando o mesmo conteúdo, porém exigindo dos

concorrentes ao processo seletivo as competências e habilidades para resolver

questões de concurso. Evitando, assim, avaliar o indivíduo pelos seus conteúdos

acumulados, logo, se ajustando com os objetivos do Exame do Enem, como já

fundamentado anteriormente.

Gráfico 9 - Assuntos abordados na prova de Matemática - Edital 01/2005 e 01/2009-

2

Fonte: próprio Autor: 2014

0

0,5

1

1,5

2

2,5

3

3,5

4

4,5

Núm

ero

de q

uest

ões

Abordagem dos Conteúdos Matemáticos nas Provas de Matemática - Editais 01/2005 e 01/2009-2

PROVA 2005

PROVA 2009

53

A pesquisa também fez a reflexão das mesmas provas de Matemática

Financeira dos editais do Banrisul, com a Matriz de Referência do ENEM (2009)

para a Matemática e suas Tecnologias na intenção de descobrir se o Banrisul está

buscando selecionar novos funcionários pelas suas competências e habilidades

desenvolvidas. E visualizar se das 7 (sete) destas competências quantas uma prova

de Matemática Financeira do Banrisul tem conseguido se apropriar.

Nas provas do Edital 01/2005 e do Edital 01/2009-2, do total das 40 questões

constatou-se que 39 delas abordam 3 (três) das 7 (sete) áreas de competências da

matriz do ENEM, e 1 (uma) questão engloba (quatro) das 7 (sete) áreas, descritas

abaixo: Na competência de área 1 deve construir significados para os números

naturais, inteiros, racionais e reais; a competência de área 4 é a capacidade de

construir noções de variação de grandezas para a compreensão da realidade e a

solução de problemas do cotidiano, competência de área 5 consiste em modelar e

resolver problemas que envolvem variáveis socioeconômicas ou técnico-científicas,

usando representações algébricas e a competência de área 6 busca interpretar

informações de natureza científica e social obtidas da leitura de gráficos e tabelas,

realizando previsão de tendência, extrapolação, interpolação e interpretação.

A área 1 exige que o aluno conheça os conjuntos numéricos, e nas provas de

Matemática Financeira utiliza-se a moeda como valor número para os algoritmos e

conversão de porcentagens em números decimais para aplicação na fórmula

financeira.

A área 4 pede que o aluno saiba converter grandezas para posterior aplicação

no algoritmo, pois conforme os conceitos da matemática financeira, não se pode

utilizar em uma fórmula grandezas de tempo diferentes, como por exemplo, está

incorreto aplicar uma taxa em meses e prazo em anos na fórmula financeira, logo,

deve-se converter esses valores em grandezas equivalentes. Da mesma forma, para

aplicar um valor de porcentagem deve-se transformar em um número decimal

dividindo-o por 100 (cem).

Quanto à competência da área 5, as provas, por serem somente de

conteúdos da Matemática Financeira, abordam situações de capitais que sofreram

ação de taxa de juros durante um prazo determinado, que refletem a realidade

comercial da sociedade em que vivemos, pois são simulações da realidade que

existe nos bancos, lojas e financeiras. Além disso, conhecer algoritmos que

envolvem cálculo de imposto de renda e taxa de inflação.

54

E a competência da área 6 corresponde a saber analisar a tendência de

gráficos e dados de tabelas que são inseridos em questões que envolvem a

Matemática Financeira, reconhecendo as relações entre os dados de um gráfico ou

tabela e estabelecendo relações de grandezas, interpretando algum comportamento

significativo.

55

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Concluiu-se através da pesquisa, que os professores de Matemática

entrevistados conhecem as necessidades atuais de seus alunos e sabem que as

inovações metodológicas devem acompanhar esse processo, porém na sua prática

possuem dificuldades em aplicar novas formas de ensinar o conteúdo matemático. O

papel do professor deve ser refletido, pois o modelo atual precisa ser compatível

com este novo paradigma educacional. Como Perrenoud (2002) define o perfil do

professor atual:

Ele deve ser capaz de observar, analisar, tirar proveito das experiências, organizar as ideias, debater, pesquisar, questionar-se. São as competências que todo professor supostamente tem; o que falta é aplicá-las na própria ação.

A relação aluno-professor pode ser repensada, o modelo tradicional de

educador centralizador do saber não é mais eficiente, deve ser mediador entre o

conhecimento e o aluno.

Quanto ao conhecimento, ficou evidente, em muitas respostas, a

compreensão que a Matemática deve de ser ensinada de forma mais

contextualizada, aplicada à realidade do aluno, mas há muito a ser feito e para isso

acredito que é necessário inovar, em métodos, flexibilizar planejamentos, trabalhar

com uma abordagem que desenvolva competências e habilidades, onde se priorize

uma aprendizagem significativa e útil, sempre focando no mercado de trabalho e no

exercício da cidadania.

A análise das provas de Matemática do Banrisul mostrou que o mercado de

trabalho está exigindo muito mais que acúmulo de conteúdos, mas que o indivíduo

tenha capacidade de desenvolver estratégias para resolver situações-problemas,

que serão rotineiras, no caso, para um futuro bancário, assim como o exame do

ENEM já vem avaliando por competências.

A importância do ensino da Educação Financeira e da Matemática Financeira

como um saber indispensável para o exercício da cidadania, autogestão financeira e

para o mercado de trabalho ficou evidente como uma necessidade para todo aquele

aluno que ingressará no mercado de trabalho. Pois, como trabalhador, precisará

saber utilizar de forma consciente seus recursos financeiros.

Por conseguinte, conforme as Orientações Curriculares para o Ensino Médio

56

(MEC) uma educação de qualidade deve “[...] preparar o jovem para participar de

uma sociedade complexa como a atual que requer aprendizagem autônoma e

contínua ao longo da vida [...]".

57

REFERÊNCIAS

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ANEXO A – Provas Concurso Banrisul Prova Concurso Banrisul 2009/01 - 2

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Prova Concurso Banrisul 2005/01

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