8
cristiano mascaro fotografar como caminhar

cristiano_mascaro_1247260809

Embed Size (px)

DESCRIPTION

fotografar como caminhar cristiano mascaro

Citation preview

cristiano mascaro

fotografar como caminhar

cristiano mascaro fotografar como caminhar photography while walking

fotografar como caminhar agnaldo farias

“Por um bom tempo orgulhei-me de possuir todas as paisagens possíveis” (Rimbaud)

Cristiano Mascaro caminha pelas cidades com seu

equipamento, câmara e tripé, observando, espreitando,

esperando, procurando não sabe bem o quê, até que

finalmente encontra: a silhueta monumental de uma

construção isolada num arrabalde qualquer, as sombras

longas largadas por carros e caminhões que, vistos do alto

do viaduto, vão em fila desaparecendo na rodovia, o ritmo

miúdo e sincopado das luzes se acendendo no anoitecer

da metrópole transformando-a numa maquete, a névoa de

poluição que faz da paisagem do aglomerado acidentado e

cinza de prédios um mosaico, entre tantas outras imagens

das quais agora, na Galeria Nara Roesler, ele nos apresenta

apenas uma pequena parcela, tornada menor ainda

por se limitar a ângulos de cidades, frações fascinantes

pertencentes a lugares variados, muitos dos quais passamos

todos os dias mas sem reparar, porque nunca estamos

photography while walkingagnaldo farias

“For a long time I felt proud to possess all possible landscapes” (Rimbaud)

Cristiano Mascaro wanders around cities with

his equipment, camera and tripod, observing,

watching, waiting, not knowing exactly what he’s

seeking, until he finally finds it: the monumental

silhouette of an isolated building in any city

outskirt, the long shadows cast by cars and trucks

which, seen from the heights of the viaduct, form

a queue disappearing along the road, the precise

and syncopated rhythm of the lights flicking on at

dusk to illuminate the city into a scale model, the

polluted smog making the irregular landscape of

grey buildings into a mosaic, and so many other

images, a small portion of which the artist now

presents at the Nara Roesler Gallery. Indeed, an

even smaller portion as it is limited to angles of

cities, fascinating fractions belonging to various

atentos e porque aquilo que vemos do interior de carros e

ônibus é muito diverso do que se vê caminhando. O ato de

caminhar consiste no método de Cristiano Mascaro, o meio

pelo qual ele experimenta, vivencia a cidade, percebe-a

em seu próprio corpo, conhece-a a fundo, pressentindo

os momentos exatos em que alguns de seus segredos

se revelam, o que inclui situações atmosféricas precisas,

decorrentes da conjunção entre hora e luz exatas, e que

tanto pode ser com o céu nublado ou de noite ou depois

da chuva, quanto com o sol a pino; os momentos agudos

em que a cidade, a maneira de uma retribuição, abre-se

para o fotógrafo, enquanto que para nós, indiferentes,

ela prefere manter-se como enigma.

Nosso fotógrafo peregrina pelas cidades do mundo,

qualquer seja ela, de metrópoles a pequenas cidades

mortas, ou simplesmente para o centro de São Paulo,

cidade inesgotável como as outras mas na qual ele cresceu,

estudou e trabalha, embora há muitos anos prefira viver

num sítio retirado próximo a ela. Essa prática ambulatória

Lisboa #1 2006 -- impressão

jato de tinta sobre papel de

algodão / digital print on cotton

paper -- 100cm x 140cm

places, many of which we go past every day but

never notice because we never pay attention and

because what we see from inside a car or bus is

quite different to what can be seen when walking.

The act of walking constitutes Cristiano Mascaro’s

method, through which he experiences the city,

perceives it in his own body, learns about it deep

down and gets a feeling for the exact moments

at which it reveals some of its secrets, including

precise atmospheric conditions resulting from a

combination of the exact time and light, which

could as easily be with an overcast sky or at night

or after rain as it could be in bright sunlight; the

sharp moments in which the city, as if it were

offering some kind of reward, opens itself up

to the photographer, while for us, who carry on

indifferent, it prefers to remain an enigma.

Our photographer wanders around the cities of the

world, wherever they may be, from metropolises

exige muita paciência. Como exemplo disso, vale lembrar

o longo período em que ele, interessado nos cânions

existentes na região central de São Paulo, foi se hospedando

semanalmente em hotéis diferentes, uma a duas noites

em cada um deles. A ideia era menos pesquisar suas

imediações, tomar intimidade com elas, do que conferir a

paisagem entrevista em suas coberturas e janelas mais altas,

as ravinas estreitas e abissais produzidas pelos edifícios,

margens escarpadas dos rios secos das ruas por onde

escorre o tráfego perpétuo do cardume de carros.

O deslocamento vertical é um dos vetores preferenciais

da movimentação de Cristiano Mascaro, uma exploração

minuciosa dos pontos de vistas oferecidos pela infinidade

de ruas e edificações construídas em obediência às variações

próprias dos terrenos em que estão assentados, além

daqueles mais artificiais, existentes graças às retificações

abruptas, as movimentações de terra radicais, como as

retificações que “endireitam” o desenho sinuoso dos rios.

Largo do Paisandu #2 2009 -- impressão jato de tinta sobre

papel de algodão / digital print on cotton paper -- 110cm x 110cm

to small dead towns, or simply into downtown

São Paulo, as inexhaustible as the other cities but

where he grew up, studied and works, although

for many years he has opted to live in the

countryside just outside the city. This ambulatory

practice demands a lot of patience. To illustrate

this it is worth recalling that when Mascaro was

interested in studying the canyons in the central

region of São Paulo, he spent a long period of

time staying in different hotels, for one or two

nights at each one. The idea was not so much to

research the immediate surroundings and get to

know them intimately, but more to check out the

landscape seen from their penthouse suites and

highest windows, the narrow ravines and abysses

produced by the buildings, forming sheer banks of

dry street-rivers along which the perpetual traffic

of the school of cars flows.

Vertical displacement is one of the photographer’s

favourite vectors of motion, a detailed exploration

into the viewpoints offered by the innumerous

streets and buildings built in accordance with

the varied lie of the land, as well as those more

artificial constructions, which exist thanks to

abrupt and radical land rectification, like the

“straightening” of the winding path of rivers. The

result of this comes in the form of pictures ranging

from monumental images looking upwards at

the gable ends of buildings and rows of houses

Pelourinho #2 1987 -- impressão jato de tinta sobre papel de

algodão / digital print on cotton paper -- 110cm x 110cm

Largo do Paisandu #1 2009 -- impressão jato de tinta sobre

papel de algodão / digital print on cotton paper -- 110cm x 110cm

Anhangabaú #2 2003 -- impressão jato

de tinta sobre papel de algodão / digital

print on cotton paper -- 140cm x 100cm

O resultado disso se traduz desde as imagens monumentais

em que empenas de prédios e casarios são capturados

de baixo para cima, impondo-se a nós, até as imagens

vertiginosas que se descortinam das cotas mais altas, dos

topos dos arranha-céus, e que, convertidas em foto, obtêm

o curioso efeito de miniaturizarem o mundo. No meio disso

há aquilo que se vê quando se atravessa passagens e pontes

mais ou menos elevadas, o horizonte emparedado por

prédios, o trem do metrô mergulhando no coração nublado

da megalópole, o efeito ascensional obtido na fachada do

edifício de escritório, desencadeado pelo intervalo regular

das faixas escuras das lajes em contraposição aos feixes

paralelos e verticais das lâmpadas fluorescentes.

O corpo do fotógrafo é um poderoso aliado no escrutínio

do corpo da cidade. Caminhando ele avança por suas frestas

e interstícios, até o ponto das imagens claustrofóbicas

de paredes e muros, e afasta-se aos limites, às bordas

das cidade, às linhas tênues que as separam da natureza.

towering over us, to dizzying images revealed from

the highest peaks, from the tops of skyscrapers,

which when converted into photographs, acquire

the curious effect of miniaturizing the world.

Amidst all this there are the views one sees when

crossing fairly high flyovers and bridges: the wall

of buildings along the horizon, the subway train

plunging into the cloudy heart of the megalopolis,

the climbing effect of the office block façade

caused by the equally spaced dark strips of cement

set against the parallel and vertical beams of

fluorescent lights.

The photographer’s body is a powerful ally in the

scrutiny of the city’s body. He walks on through

the city’s cracks and interstices, to the point of

claustrophobic images of walls, and pushes right

out to the limits, to the city edges, to the thin

lines which separate it from nature.

Horizonte #3 2006 -- impressão jato de tinta sobre papel de algodão /

digital print on cotton paper -- 80cm x 180cm

avenida europa 655

são paulo sp brasil

01449-001

t 55 (11) 3063 2344

f 55 (11) 3088 0593

[email protected]

www.nararoesler.com.br

[capa/cover] Tokyo #2 2006 --

impressão jato de tinta

sobre papel de algodão / digital

print on cotton paper --

110cm x 110cm

abertura/opening

28.05.2009

20 > 23h

exposição/exhibition

29.05 > 20.06.2009

seg/mon > sex/fri 10 > 19h

sáb/sat 11 > 15h

texto/text

agnaldo farias

produção/production

fernanda engler

projeto gráfico/graphic design

tecnopop

diagramação/design

renata castro e silva

assessoria de imprensa/press agent

marcy junqueira

tradução/translation

ben kohn

apoio/support

cristiano mascaro

fotografar como caminhar