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7/18/2019 Crítica da multidisciplinaridade http://slidepdf.com/reader/full/critica-da-multidisciplinaridade 1/7 Epistemologia transversal Introdução à crítica da disciplina Em qual peixe atirar?!? Comecemos com um problema prático... Você está acampado e com muita fome. Tem diante de si um belo rio e está munido de arco e frecha. Só falta mesmo ir até a beira d’água, mirar no peixo !ue "ocê #á percebeu !ue tem por ali e $ás. %rechar o pobre$inho, limpá&lo, temperá&lo, assá&lo e comê&lo' (o entanto, ao chegar perto do peixe aparece um baita de um problemo) em !ual peixe "ocê "ai atirar, no "erdadeiro ou no real*'* + "erdadeiro é muito mais... Vera$' (o entanto o peixe real mata muito mais a fome''' xplico) todos sabem o tru!ue da refra-o da lu$ na água... as, reexpli!uemos a experiência) pegue um copo com água e um lápis. Colo!ue o lápis dentro da água e ele "ai parecer !uebrado, pois a lu$ ao refratar da água para o ar muda o seu /ngulo, modificando o espectro da imagem original. 0ois bem, se mirar no peixe !ue "ê, pro"a"elmente "ai errar... as como mirar no peixe real se "ocê "ê apenas o "erdadeiro... 1uando se fala em interdisciplinaridade, transdisciplinaridade ou trans"ersalidade entre as disciplinas, parece&me !ue estamos com um problema semelhante. 2o con"i"ermos em !ual!uer forma de intera-o com !ual!uer forma de disciplina, o problema de fundo sempre será esse) a refra-o do conhecimento acumulado, ao passar de um meio a outro, ao "ariar a densidade, a translucide$ e a colora-o... 2 água seria um ambiente de disciplina. + ar o é de outra. +s dois sistemas con"i"endo, lado a lado, certamente colocaro a !uesto de) em !ual "erdade "ou frechar*'* 2 passagem de um a outro sistema de disciplina sempre "ai causar essa estranhe$a. (o estamos diante, portanto, de buscar uma técnica capa$ de fa$er con"i"er sistemas de forma simbi3ntica na produ-o do conhecimento. Trata&se da própria disciplinaridade como forma de acumular cultura. 4

Crítica da multidisciplinaridade

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Análise crítica da multidisciplinaridade. Estudos de transdisciplinaridade.

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Epistemologia transversal

Introdução à crítica da disciplina

Em qual peixe atirar?!?

Comecemos com um problema prático... Você estáacampado e com muita fome. Tem diante de si um belo rio eestá munido de arco e frecha. Só falta mesmo ir até a beirad’água, mirar no peixo !ue "ocê #á percebeu !ue tem porali e $ás. %rechar o pobre$inho, limpá&lo, temperá&lo,assá&lo e comê&lo'

(o entanto, ao chegar perto do peixe aparece um baita

de um problemo) em !ual peixe "ocê "ai atirar, no"erdadeiro ou no real*'* + "erdadeiro é muito mais...Vera$' (o entanto o peixe real mata muito mais a fome'''

xplico) todos sabem o tru!ue da refra-o da lu$ naágua... as, reexpli!uemos a experiência) pegue um copo comágua e um lápis. Colo!ue o lápis dentro da água e ele "aiparecer !uebrado, pois a lu$ ao refratar da água para o armuda o seu /ngulo, modificando o espectro da imagemoriginal.

0ois bem, se mirar no peixe !ue "ê, pro"a"elmente "aierrar... as como mirar no peixe real se "ocê "ê apenas o"erdadeiro...

1uando se fala em interdisciplinaridade,transdisciplinaridade ou trans"ersalidade entre asdisciplinas, parece&me !ue estamos com um problemasemelhante. 2o con"i"ermos em !ual!uer forma de intera-ocom !ual!uer forma de disciplina, o problema de fundosempre será esse) a refra-o do conhecimento acumulado, aopassar de um meio a outro, ao "ariar a densidade, a

translucide$ e a colora-o...

2 água seria um ambiente de disciplina. + ar o é deoutra. +s dois sistemas con"i"endo, lado a lado, certamentecolocaro a !uesto de) em !ual "erdade "ou frechar*'* 2passagem de um a outro sistema de disciplina sempre "aicausar essa estranhe$a.

(o estamos diante, portanto, de buscar uma técnicacapa$ de fa$er con"i"er sistemas de forma simbi3ntica naprodu-o do conhecimento. Trata&se da própria

disciplinaridade como forma de acumular cultura.

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+u se#a, antes mesmo de nos propormos a interagirdisciplinas, estamos re"endo a %+52 67SC7087(25 deformular conhecimento. 2ssim como no caso do peixe, apenasuma for-a é capa$ de resol"er o impasse) a experiênciahumana. 2o experimentar&se como homem, o homem p3de

introdu$ir um elemento caótico a !ual!uer sistema dereferenciais, e transcender entre os n9"eis deconhecimento.

0ara além de todos os cálculos "era$es ecompro"ad9ssimos, se no hou"esse ha"ido a intui-o de !ueo mo"imento dos planetas é el9ptico, nunca ha"eriamcálculos !ue bastassem...

sse mo"imento de percep-o : a experiência : percebeao mesmo tempo em !ue modifica, tanto o ob#eto !uanto o

su#eito. ;, portanto uma percep-o ati"a. 6epois de algumasfrechadas, a gente "ai transcender nosso sistema dereferências) "ai "er o peixe "erdadeiro, mas "ai preferirdar um descontinho da mira, e pescar o real, !ue mata muitomelhor a fome, como #á ha"9amos cogitado. Compro"aremosisso ao comer o pescado. 0or mais compro"ada !ue se#a a"eracidade do outro.

2 forma de interpretar o mundo, a capacidade de #ulga&lo, a curiosidade de analisa&lo... (o passam depercep-<es, tanto !uanto nossa "ista, nosso olfato, paladare tato. Sensa-<es cerebrais to "erdadeiras !uanto asoutras, mas dominadas pela linguagem e encadeadas pelasconse!=ências da lógica. 2 disciplinaridade trás,impl9cito, a idéia de !ue o conhecimento e"olue e !ue osmais complexos têm precedência sobre os mais simples, ouso resultado da reunio dos >ltimos.

Todo significado é uma forma de significar. 2ntesmesmo de buscar o significado, ele #á "em tra"estido de suaidentidade, se#a pela especiali$a-o, se#a pela necessidadede "alori$ar algo !ue no pode ser medido) o conhecimento.Se o teu ob#eti"o no rio é o peixe, ento teu melhorinstrumento será a rede.

6a mesma forma, o instrumento disciplinar parte de umasele-o de ob#etos de dese#o, antes mesmo deinstrumentali$ar&se. 6ese#os to reais !uanto os outros, deoutras situa-<es sensoriais. 2 operacionali$a-o doconhecimento atra"és da busca dos conceitos, análoga ?pesca do peixe para matar a fome, "ai ser o fator deinstrumentali$a-o disciplinar.

0or isso sua organi$a-o mais ob"iamente contempor/neaem redes de "alores. Se cair na rede é peixe, se nocair... @em, des!ualificado. 2 disciplina ser"e afinal para

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isso) o método disciplinar gerencia a excluso designificados. sse método busca, antes de mais nada, aprodu-o do V28+5 do conhecimento, antes mesmo de buscar oconhecimento em si. +u se#a, o método disciplinar tem porob#eti"o básico, eleger&se como su#eito detentor de uma

pretensa posi-o ob#eti"a, com al-ada para #ulgar,"alori$ar e "alidar.

Conhecimento privado, virtual e protocolar.

2 parti-o !ue foi dada como "erdadeira : entre sentire pensar : ser"iu para aprofundar a aliena-o entre o serhumano e o conhecimento humano. +utras analogias poderiamser constru9das) entre o direito ci"il e os direitoshumanos, entre a utilidade p>blica e o bem comum...

2nalisemos, por exemplo, uma cena comum entre fam9liasdiabolicamente feli$es) nasce uma crian-a, todos brincamcom ela. as "ida de pai no é só brincar... Tem !ueeducar. Bm belo dia lá, tem !ue dar um tapinha. (o outro umtapo. 0erdeu a "irgindade, apareceu grá"ida*'* Bma bela deuma surra...

2 des"alori$a-o real do ser humano, suabestiali$a-o, sua brutalidade, so "era$mente explicá"eisse, por outro lado, o responsá"el do pai p<e comida namesa, paga os estudos, só pensa na fam9liaD, nos di$eres de

6ona aria. ; umbão

 homem.Bns "o de pinga pra espancar e maltratar. +utros de

u9s!ue importado. 0reser"a&se o "erdadeiro "alor da fam9liae destrói&se o real "alor do homem.

Como podemos obser"arsupor, é muito mais fácilplane#ar o mundo "erdadeiro. (o dá pra plane#ar umaalegria, mas dá pra plane#ar uma casa com um bar!uinho. (odá pra plane#ar o sexo, mas dá pra comprar antes acamisinha.

 Não dá para negociar o saber, mas dá pra fabricar e

vender o contedo!

(o fundo, uma espécie de hipocrisia transcendental,sarcástica e amarga, trocou o homem real pelo homem"erdadeiro, as sensa-<es pelas impress<es, o conhecimentopela interpreta-o, a experiência pela técnica.

+ homem deixou de ser critério inumerá"el de "alorhumano, e passou buscar "alor em sua produti"idadeenumerá"el. Sua ciência passou a ser exclusi"ista e sua

teckné, ao in"és de atuali$a-o de potencial, passou a sera opera-o técnica de conceitos #á prontospadroni$ados.

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+ ser, no sentido e"identemente sub#eti"o, está privado de seu significado e inserido em um contexto maisamplo) o sentido ob#eti"o da representa-o significati"a domundo. 5eali$a&se assim de forma plenamente sub#eti"a, masreali$a&se pri"ado... 6e si mesmo' Tornou0ara esse no"o ser

humano, o conhecimento tornou&se virtual' 2 sabedoriacontempor/nea tenta desligar&se da própria "ida, cada "e$menos cr9tica e mais passi"a.

sse ser sub#eti"otipo de conhecimento submete&se nopela coer-o, mas pela troca. V"alori$a&se ao espelhar&seem sua própria ob#eti"idade. Vi"e em uma espécie de bolha,onde as paredes espelham su#eitos, significados,felicidades e amores"erdades, leis e compro"a-<es. nxerga&se como um todo, completo, definido, n9tido. +s /ngulos dereflexo e incidência so os mesmos. Sua epistemé confirma

isso... Seu método garante tautologicamente sua própria"erdade interna, baseada na coerência.

(o importa o sistema, diremos todos. + !ue importa éa uni"ersalidade da participa-o do su#eito. no"amentecitemos o F2V2, to e"olu9do) roda em !ual!uer sistema.nto a no"a necessidade desse ser conhecimento é o

 protocolo. 0ara !ue esse ser "irtual e pri"ado encaixe&seem bocais e funcione como l/mpadas. 6ir&se&á) com seubrilho próprio...

+ protocolo é a ferramenta mais cara aos trans einterdisciplinares, pois permite tradu-<es e con"ersasentre sistemas diferentes.

Com um comportamento, afinal, necessariamentepadroni$ado, para !ue possamos "i"er feli$ com outros sereshumanos, !ue so, em >ltima inst/ncia nosso limite designifica-o e direitos. (o é até o deles !ue podemos ir,digo nos direitos*'* nto) na significa-o também o é. 2propor-o e ra$o desse su#eito "irtual, pri"ado eprotocolar no é capa$ de sentir&se, a no ser em suaprópria exclusi"idade em rela-o a outros seres. (osignifica nada, se no pri"ar de significados também osoutros.

Seno seu protocolo no "ale nada, sua "irtualidade"ira "ideogame, a propriedade de sua pri"ada se desfa$) eele se encontra consigo mesmo, numa cama de hospital,morrendo de alguma doen-a do intestino ou cora-o. 1uemsabe uma coisa cinematográfica... 1ue #ustifi!ue seus carosplanos de sa>de... +u algum maninho com um canotiro na#anela do carro, num farol) !ue #ustifi!ue seus planos derepresso'

di$endo) : (o de"ia isso. (o de"ia a!uilo.

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todos se lembraro dele no enterro, na di"iso dosbens. (a no"a diretoria... (a penso, no seguro, no tudo!ue ele plane#ou para a fam9lia. Construiu bens, honrouseus pais... Bm grande e ético homem...Chegamos ao ponto dedi$er o mais importante) o problema no é a C+(V7VH(C72

entre disciplinas ou métodos... + problema é a I7STH(C72deles como produtores de "erdades ob#eti"as !ue nada maisso do !ue 057V262S, V75TB27S 05+T+C+825S.

uatro fundamentos do m"todo#

— Imprecisão, paradoxo, arbitrariedade e intenção.

6iante da impreciso a "iso paradoxal contempla as"erdades em camadas pri"ati"as de significado. 6e forma !ueuma no"a lu$ de "erdade contenha a lu$ anterior.

2 escolha do sentido é paradoxal, pois tanto nadescendência Jordens incorporadasK !uando na ascendênciaJpro#e-<es analógicasK as ra$<es permanecem as mesmas. 7ssopor!ue o !ue se pretende negar como significado estáimplicitamente contido, pelo menos como área de excluso,ou conceito de pri"a-o.

2!ui surge um primeiro problema) se é paradoxal aescolha do sentido, ele no pode ser categori$ado, pois !uetais categorias herdariam sua contradi-o interna. 2escolha do sentido portanto no responde a emana-<es ouregras, e a constru-o de "erdades, diante desse sentido,no é nem claro, nem distinto. 2 arbitrariedade é manifestade forma auto&excludente) no ha"endo escolha, no hása9da. + método esgota&se em si mesmo. Sendo, entretanto,paradoxal, a escolha também esgotará o método. sgotado desentido, os significados anulam&se de forma e!=idistante. +os sentidos #ustificam&se, mesmo sendo opostos.

+ sentido de"e ento !ualificar&se tirando a

arbitrariedade do "a$io. 2 >nica forma disso acontecer éuma transposi-o da arbitrariedade para a intencionalidade,!ue fará um mo"imento retrógrado e reorgani$ará o sentidona expresso de si mesma, porém #ustificadaontologicamente.

 $plica%ão musical

(a inten-o e na "ontade está a harmonia. Suas regrassero, e"identemente, sua própria defini-o) se tonal, suasregras tonais. (o entanto se atonais, suas regras

implicaro também serem tonais, para serem no tonais. Sedodecaf3nicas, negati"as, se estocástica, extrapolati"a.

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as sero S05 modais. Todo serialismo,dodecafonismo, tonalidade neo&clássica, rom/ntica e pósrom/ntica, antes de tudo sero entendidos como um modo)esto em 9ntima rela-o com um contexto muito mais amplo do!ue suas rela-<es internas entre alturas e dura-<es, ou

acordes e resolu-<es. manam sentidos de di"ersas ordens,re"elam di"ersos graus de "erdade e sintonia com o cosmo.

Sero também sempre racionais, baseados em escalas ese!=ências de escalas, superposi-<es de diagramas oudiagramas analógicos... manam di"ersas ordens de medidas,e organi$am em di"ersos graus as "erdades !ue re"elam.

2 harmonia lida, portanto, de forma no excludente,com os sentidos de di"ersas ordens e as di"ersas ordens demedida...

&s tr's eixos

Vamos estabelecer agora um uni"erso material dereferencial. Tomemos um eixo, "amos chamá&lo de T5267MN+...

Oori$ontal, pois temporal e sucessi"o, pass9"el dee"olu-o.

2crescentemos, agora, um segundo eixo, "amos chamá&lode T527MN+... 6e"e ser perpendicular ao primeiro, pois tomadele a temporalidade, suspende sua sucesso, e cria outrosentido de e"olu-o.

P

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%inalmente acrescentaremos um terceiro eixo,perpendicular, simultaneamente, aos dois antecedentes, poistem a capacidade de perspecti"ar a rela-o !ue existiaentre eles. Chamaremos esse terceiro eixo de T526BMN+...

Q