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SOBRE O PAPEL DA CRÍTICA CULTURAL: CRÍTICA ACADÊMICA OU DEBATE INTELECTUAL? Roberto Henrique Selder Introdução A idéia da atitude crítica remonta ao pe- ríodo da Revolução Francesa, mais preci- samente enquanto idéia de crítica sociaL Certamente que se deva ter por óbvio o fato de que a humanidade tenha tido, antes dis- so, alguma sorte de experiência intelectual e reflexiva que colocasse em questão a legi- timidade de determinada sociedade em vi- gor. No entanto, essa experiência da crítica social, da teoria crítica da sociedade parece que ficou mais explícita a partir do séc. XVIII. Aliaram-se aí dois desejos: um, de conhe- • Roberto Henrique seidel é doutor em Teoria Literária pela Universidade Federal de Pernambuco; docente do Programa de Pós-Graduação em Literatura e Diversidade cultural (PPGLDC) e do Curso de Letras da Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS): endereços eletrônicos: [email protected] e r.h.seidet@gmaiicom - O presente cer e compreender o funcionamento da so- ciedade; outro, de transformar dada socie- dade em vigor. No séc. XIX, o marxismo e a instrumentalização da disciplina da sociolo- gia intensificaram a teoria crítica. Já em meados do séc. XX, a teoria crítica da soci- edade incorpora o âmbito da cultura. Surge assim mais largamente empregado o termo crítica culturaL O objetivo do presente trabalho é a ten- tativa de uma delimitação do que seria o exercício da atividade da crítica e da crítica trabalho é uma versão expandida de comunicação apresentada no 'Simpósio 1 - 'Miradas enviesadas' da critica cultural: literatura, cinema e outras linguagens', durante o xi Encontro Regional da ABRAIJC (Associação Brasileira de Literatura Comparada), realizado de 23 a 24 de julho de 2007, na Universidade de são Pauto (USP).

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SOBRE O PAPEL DACRÍTICA CULTURAL:

CRÍTICA ACADÊMICA OUDEBATE INTELECTUAL?

Roberto Henrique Selder

Introdução

A idéia da atitude crítica remonta ao pe-ríodo da Revolução Francesa, mais preci-samente enquanto idéia de crítica sociaLCertamente que se deva ter por óbvio o fatode que a humanidade tenha tido, antes dis-so, alguma sorte de experiência intelectuale reflexiva que colocasse em questão a legi-timidade de determinada sociedade em vi-gor. No entanto, essa experiência da críticasocial, da teoria crítica da sociedade pareceque ficou mais explícita a partir do séc. XVIII.Aliaram-se aí dois desejos: um, de conhe-

• Roberto Henrique seidel é doutor em Teoria Literária pelaUniversidade Federal de Pernambuco; docente do Programade Pós-Graduação em Literatura e Diversidade cultural(PPGLDC) e do Curso de Letras da Universidade Estadualde Feira de Santana (UEFS): endereços eletrônicos:[email protected] e r.h.seidet@gmaiicom - O presente

cer e compreender o funcionamento da so-ciedade; outro, de transformar dada socie-dade em vigor. No séc. XIX, o marxismo e ainstrumentalização da disciplina da sociolo-gia intensificaram a teoria crítica. Já emmeados do séc. XX, a teoria crítica da soci-edade incorpora o âmbito da cultura. Surgeassim mais largamente empregado o termocrítica culturaL

O objetivo do presente trabalho é a ten-tativa de uma delimitação do que seria oexercício da atividade da crítica e da crítica

trabalho é uma versão expandida de comunicaçãoapresentada no 'Simpósio 1 - 'Miradas enviesadas' dacritica cultural: literatura, cinema e outras linguagens',durante o xi Encontro Regional da ABRAIJC (AssociaçãoBrasileira de Literatura Comparada), realizado de 23 a 24de julho de 2007, na Universidade de são Pauto (USP).

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cultural dentro de uma perspectiva produti-va. Não se pode considerar o conceito decrítica, nem tampouco o de crítica culturalcomo auto-evidentes. Uma confusão men-tal prontamente se estabelece no que sequeira precisar o conteúdo expresso pelosconceitos. Essa confusão pode ser explica-da parcialmente por conta do adicional doadjetivo "cultural" - visto a própria noção decultura estar longe de ser consensual. Alémdisso, inquire-se acerca da tarefa hodiernada crítica cultural. Procura-se responder estaquestão a partir da argumentação de NellyRichard (20021b, p. 177), segundo quem, noexercício da crítica cultural, tratar-se-ia de"criticar o desenho do presente".

No presente artigo, enseja-se, pois, elu-cidar, dentro das possibilidades que permi-tam um trabalho dessa extensão; a) a visãocrítica da Escola de Frankfurt, proporcionan-do uma panorâmica das concepções de crí-tica cultural ao longo das suas váriasgerações de pesquisadores; b) a concepçãode crítica cultural da esquerda petista brasilei-ra, a partir de análise proposta por MadlenaChaui; e c) a concepção de crítica culturaltrazida por Nelly Richard com base no exem-plo do estudo da situação cultural da rede-mocratização do Chile,1. Teoria crítica e crítica cultural:a Escola de Frankfurt

A Escola de Frankfurt pode antes serdesignada como um grupo constituído porfilósofos, cientistas sociais, cientistas políti-cos e críticos da cultura, em torno do lastitutfür Sozialforschung (Instituto de PesquisasSociais) da Universidade de Frankfurt, doque propriamente urna escola. Sem entraraqui em pormenores, poderia servir comoindício disso, o fato de que ela é menos co-nhecida pela proposição de um escopo dou-trinário ou de formações teóricas específicas- algo geralmente patente das escolas—, doque pelo desenvolvimento programático deuma teoria crítica da sociedade.

Mas o que significada aqui teoria crítica dasociedade? Em seus princípios, a teoria criti-ca, em sua versão frankfurtiana, era urna ten-

tativa, de viés fortemente marxista, de trans-formação da filosofia moral em crítica social epolítica. Nessa passagem, de forma geral, ostraços ortodoxos - se quisermos: obsoletos -do marxismo foram tratados como dogmas e,portanto, descartados. Especificamente, pare-ce que o pensamento de Georg Lukács tam-bém foi coadjuvante neste processo.

Numa primeira visada, dentro do contex-to frankfurtiano, a teoria crítica é uma pers-pectiva que, na análise do devir da totalidadesocial, exerce crítica da ideologia (E ideolo-gia surge aqui como uma explicação siste-mática ou sistemicamente distorcida darealidade, explicação que serve ou está aserviço da dissimulação e da legitimação derelações de poder assimétricas). Além disso,esta perspectiva crítica persegue uma cons-ciência, uma compreensão aprofundada noque concerne ao surgimento da dominação edas relações de poder. Para tanto, quer-seelucidar e compreender os processos de pro-dução e reprodução de sistemas de domina-ção. Mais do que isso, no entanto, deseja-seangariar elementos que contribuam a trans-formação das condições de vida dos sujeitos.Trata-se, portanto, de exercer urna sorte defilosofia que, no final das contas, tem cornohorizonte fundir teoria e práxis; que desejapensar e realizar a emancipação dos sujei-tos. Desse desejo se depreende um progra-ma para uma sociedade racional quepossibilite aos sujeitos tudo aquilo de que elesnecessitem e tudo aquilo que os deixe satis-feitos. Neste sentido geral, verifica-se, de sa-ída, uma orientação que continua numa linhade pensamento comezinha no Ocidente: osonho da autonomia iluminista, da liberdade,da igualdade e da fraternidade, da vida boaem comum no seio da sociedade. Enquantoesse sonho não for alcançado, haveria queexistir o trabalho do pensamento crítico.1.1. A primeira geração: crítica da razãoinstrumental e teoria crítica

A primeira geração consiste dos seguin-tes autores, que também foram relativamentedifundidos aqui no Brasil: Walter Benjamin(1892-1940), Max Horkheimer (1895-1973),

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Herbert Marcuse (1898-1979), TheodorAdorno (1903-1969), Erich Fromm (1900-1980), dentre outros. No desenvolvimento daprimeira geração, três fases podem ser ca-racterizadas, a saber:

a)a primeira é o período de tempo des-de a fundação do Instituto até o finaldos anos 30 do séc. XX confundindo-se com a obra de Horkheimer e geral-mente denominada "materialismohistórico interdisciplinar";

b)a segunda fase - a fase da "teoria crí-tica" -, afasta-se do marxismo em di-reção a um conceito mais abrangentede crítica;

c)a terceira diz respeito à fase da "críti-ca da razão instrumental" (Kritik derinstrumentelien Vernunft) - ou ainda,da "crítica da racionalidade dos fins"(Kritik der Zweckrationalitât) - e ocorreno momento em que os nazistas se en-contravam no ponto máximo de exer-cício de seu poder (início de 1940).

Dessas três fases, a terceira vale serobservada mais proximamente, visto ela sur-gir como a mais importante para a histádaalemã. Acrescente-se, demais disso, que aprimeira geração desenvolveu sua concep-ção de teoria crítica a partir da experiênciada guerra, a partir do contexto dos totalita-rismos nazista e fascista. Esta experiênciado contato intenso com o totalitarismo na-zista marcou profundamente a produção te-órica e analítica, ainda mais que boa partedos integrantes da escola era de origem ju-daica. A obra Dialética do esclarecimento,de Adorno e Horkheimer (1996 [1941]), tal-vez seja a mais emblemática para este mo-mento. Nela o fascismo/nazismo é encaradocomo uma exacerbação da ratio, da razão.

Nesta obra, Adorno e Horkheimer erigema tese de que o iluminismo corporifica em siuma contradição, uma apoda. Os autores per-seguem esse processo e reconhecem neletrês momentos. Primeiramente, o ser huma-no mítico procura esclarecer, compreender omundo; esteja é uma forma de esclarecimen-to, mas ainda não é a resposta correta. A res-posta correta é alcançada apenas por

intermédio do domínio da técnica; aqui o serhumano domina a natureza, inicialmente pormeio da técnica. Aos poucos, no entanto, oesclarecimento vai se acoplar aos sistemassígnicos, aos sistemas de representação;portanto, aloja-se na linguagem, na escrita eno número. Neste momento, no que o serhumano domina a realidade, ele torna-se au-tônomo; alcança-se o segundo momento.Quando se chega a este ponto em que o serhumano é autônomo, então surge a tentação,ou melhor, o ser humano é tentado a tambémexercer o domínio sobre outros seres huma-nos. Esta tentação é designada de a sedu-ção da razão instrumentaL tudo o que puderser feito, será feito; ninguém poderá fazernada contra isso. Contudo, neste momento -o terceiro momento—, o esclarecimento sofreum reverso, tal o pêndulo do relógio que che-gou até o grau máximo de distensão (daí aidéia de dialética: vai e volta): o esclarecimentotransmuta-se ele mesmo em um novo mito,pelo fato de que não mais é questionado. Essemomento ocorre quando o pdncípio da domi-nação da técnica não mais é questionado.Exemplo para a mitologização do esclareci-mento é o fascismo/nazismo, visto como mo-vimento extremamente moderno, com o usode uma técnica altamente desenvolvida parao exercício do poder e da dominação sobreoutros seres humanos.

Nesse trajeto explicativo, os autores lan-çam mão do recurso à cultura da antiguida-de clássica, contando uma parábola sobre osurgimento do mundo moderno. A viagem deUlisses retornando do mundo mítico para oda racionalidade é encarada como metáforaexemplar. Razão aqui é compreendida comoaquilo que pede ao ser humano que ele dei-xe tudo aquilo que é belo. Portanto, a viapara a razão é assim delineada pela repres-são dos próprios desejos, tal como Ulisseso faz. O caminho para a modemidade é eri-gido pela dominação, essa talvez seja a sen-tença que melhor sintetize a obra de Adornoe Horkheimer.

A idéia da "razão instrumental" (der me-trumentelien Vemunfi), também conhecida por"racionalidade dos fins" (derZweckrationalite

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não foi uma idéia nova. Ela já havia sido utili-zada antes por Max Weber, que fez o diagnós-tico de que o estado moderno e a economiacapitalista haviam se transformado em merossubsistemas de uma maneira de agir instru-mental e orientada nos fins. Ele falava de um"desencantamento" (Entzauberung) que ge-rava uma "perda de sentido" (Sinnverlusz);falava de desenvolvimento técnico que tra-zia "perda de liberdade" (Fre/heitsverlust),bem como, de uma sociedade que prendiao ser humano dentro de uma "gaiola de aço"(in e/nem stahlhaften Gehã use).

1.2 A segunda geração:crítica da modernidade

Será por este viés, pelo viés da críticada modernidade, que dá continuidade o tra-balho de Jürgen Habermas, representantemais importante da segunda geração daEscola de Frankfurt. Habermas constata quetratar-se-ia antes de uma crise entre o indi-víduo e a sociedade. Ele esboça a crise daseguinte forma:

A influência racional e o domínio técnicode uma natureza desmitificada éinstitucionalizada de tal forma na socie-dade capitalista que os indivíduos rene-gam a sua própria subjetividade eprecisam reprimir a espontaneidade desua natureza interna: os sujeitos atrofi-am. Eles - afinal de contas é por causadeles que foi empreendida a desmitifi-cação, a coisificação e o jugo da naturezaexterna - tomam-se tão alienados de suaprópria natureza que cada vez fica maisdifícil distinguir avanços, na medida emque a razão instrumental for encarnadade forma cada vez mais abrangente emuma sociedade sempre mais penetrante-mente administrada ( HABERMAS, 1995,ji 452, tradução nossa).

Habermas aproxima-se novamente dasconcepções marxistas, o que ele também temem comum com Herbert Marcuse. Os primei-ros escritos de Haberruas ocorrem no con-texto do movimento estudantil do final dosanos 60 do séc. XX. De forma geral, as se-guintes perguntas interessam a Habermas deforma especial: - como se pode assegurar

uma democracia estável? Quais são as pres-suposições necessárias para tal? São pergun-tas que ainda carregam na memória onazi-fascismo, assim como também demar-cam uma posição de continuidade com res-peito à preocupação para que não se repitamna história da humanidade regimes totalitád-os. Para tanto, há que fundamentar melhoros pressupostos da democracia estável.

Habermas, na procura por respostas a es-tas duas perguntas acima colocadas, principiauma obra que se tomou cada vez mais abran-gente. Na procura dessas respostas, ele mobi-liza não só a tradição filosófica alemã, mastambém trava intensos debates com represen-tantes das teorias pragmáticas provindas dosEUA, principalmente com o filósofo RichardRorty (1991), com os pós-estruturalistas fran-ceses, bem como com teóricos representan-tes de formações teóricas cognitivistas,semióticas e lingüísticas, em suas mais diver-sas expressões.

Alguns debates travados pelo trabalhocrítico do pensamento de Habermas, en-quanto expressão do que poderíamos cha-mar de debates acadêmicos valem a penaser elencados:

a)contra a teoria do sistema de NiklasLuhmann - e dessa forma tambémcontra a teoria autopoética da socie-dade e do direito, de orientação cog-nitivista (v NEVES, 2000)— Habermasdesenvolve a teoria do agir comunica-tivo (die Theorie des kommunikativenHandels) e a ética do discurso (dieDiskursethik). Neste contexto, elecontrapõe ao "sistema" o conceito de"mundo da vida" sendo que simulta-neamente fala de uma racionalidadedo sistema (portanto, uma racionali-dade técnico-estratégica) e de umarazão comunicativa;

b)com Jean-François Lyotard trava umdebate intenso acerca da emergênciado pós-moderno. Aqui trata-se princi-palmente da questão acerca do fatoda modernidade já ter se extinguidoou não - esse debate começa no finaldos anos 70 e entra pelos anos 80.Lyotard defende uma posição contra-

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iluminista, de cujo ponto de vista todaa tradição da modernidade é encara-da como sendo nada mais que algu-mas metanarrativas (metarécits).Habermas, em contraposição, desejamanter as pressuposições do iluminis-mo ocidental, porque entende que oatalho irracionalista não é defensável.- Note-se que Haberrnas imputa a viairracionalista a Lyotard e a outros re-presentantes do pôs-estruturalismofrancês, especialmente a Foucault e aDerrida, e aos "escritos esotéricos"desses autores, bem como às forma-ções teóricas acerca do pôs-modernooriundas dos EUA. Habermas, nestesentido, quer manter a razão iluminis-ta com todos os seus problemas, porentender que somente ela pode fun-damentar uma ética que seja eficazcontra o cientificismo;

c) junto com karl-Otto Apel, 1-labermaspersegue um reorientação no âmbitoda filosofia, a qual, em suas palavras,ter-se-ia "auto-demitido". Este projeto,no entanto, foi mais difundido porApelsob o lema da "transformação da filo-sofia" (v. N'EL, 2000a; 2000b). No lu-gar da filosofia, Habermas coloca asua esperança na antropologia cultu-ral. Nisso ele tinha algum grau de ra-zão, visto que a terceira geração defrankfurtianos procede, em sua manei-ra de trabalhar, de uma maneira quepoderíamos denominar de "culturalista",na medida em que a teoria crítica dasociedade vai ser compreendida maispara uma teoria crítica da cultura, comocrítica cultural.

Mas há outros vetores de força em movi-mento. Segundo observa Featherstone, adiscussão da cultura no âmbito do espaçopolítico e social remonta à própria instrumen-talização e ao desenvolvimento, no séc. XIX,da disciplina da Sociologia. Essa divisão ar-tificial entre o político e o social - e dever-se-ia acrescentar ainda o econômico -, vaidar origem às três disciplinas autônomasuma em relação à outra da política, da soci-ologia e da economia. A sociologia demar-cava o seu âmbito de atuação, concebendo

como o seu tema fundamental quase queexclusivamente o estado nacional em senti-do estrito. Essa compreensão, contudo, vemsendo paulatinamente superada no últimoquartel do séc. XX, argumentando-se maispor "uma ciência social históhca", que reuni-fique esses três âmbitos e ainda inclua a bis-toa. Contudo, segundo essa noção provindado séc. XIX, para a sociologia, "a sociedadeera considerada como um substrato de há-bitos e costumes que mantinham o povounidd' (FEATHERSTONE, 1999, p. 9). Essacompreensão nos sói conhecida e a seme-lhança com conceituaçôes originárias deoutras séries, tais como o de identidade sim-bólica, é auto-evidente - mais uma variaçãodo mesmo tema? Além disso, esse conceitode sociedade estaria mais para o que hoje,no senso comum, chamaríamos de cultura;daí fazer sentido o uso do termo crítica cul-tural, ao invés do de teoria crítica da socie-dade, ou meramente teoria crítica.

Há que se levar em consideração, noentanto, que o interesse pela cultura, doponto de vista dos estudos da sociologia,nas décadas de 60 e 70 do séc. XX, dentrodo contexto dos estudos sobre as distintasformas de industrialização, em tomo da teseda convergência industrial e, principalmen-te, dentro do lastro da teoria da pós-indus-trialização, era apenas pseudo-interessado.Isso ocorria por conta do fato de que essesposicionamentos meramente empreendiamuma subordinação da cultura ao desenvol-vimento estrutural. Dessa forma, a ques-tão do relacionamento entre a cultura e aatividade prática era desconsiderada, des-cartada. Isso hoje nos surge como um em-pobrecimento: "o empobrecimento consistesobretudo na subordinação progressiva dacultura até [ela] se tornar um epifenômenoda estrutura" (ARCHER, 1999, p. 110).

A partir dos anos 70 do séc. XX, mais oumenos generalizadamente, e justamente àmedida que é decretado o 'um" da sociolo-gia, coloca-se mais enfaticamente que res-piramos signos, que tudo em nossa volta élinguagem e, portanto, culturalmente cons-truído - um constructo cultural - e assim tam-

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bém, seguindo o raciocínio, relativo. O rela-tivismo cultural perpassa várias séries doconhecimento, desde a antropologia até umaparcela da filosofia. Na política, o relativis-mo vai gerar a terceira via, no sentido deuma crescente estetização da política e doespaço político, do espaço da polis mesma.A polis torna-se arena em que se digladiam,em disputas discursivas, aqueles por Bea-triz Sarlo (1994) tão bem caracterizadoscomo poderes oblíquos.

Neste sentido, por um lado, é possível di-visar uma linha de pensamento que parte dacrítica da sociedade desde o séc. XVIII, pas-sando pela proposição de uma teoria crítica(da sociedade) ainda no séc. XIX, para che-gar a uma crítica (mais propriamente) culturalem meados do séc. XX; por outro, o uso daexpressão crítica cultural pode levar a faláci-as operacionais, na medida em que seja pro-jetado no conceito um grau superiativizado derelativismo cultural. Portanto, no segundocaso, não mais seria possível o sonho ilumi-nista da vida boa em comum no seio da soci-edade (relembre-se: a crítica sempre estariaa serviço deste ideal), já que, por conta dadiluição da verdade em relativismos, não maisser possível divisar o que em cada caso sig-nificaria "a vida boa em comum no seio dasociedade". Aqui o trabalho do pensamentocrítico pode sucumbir ou facilmente ficar aserviço de falácias ideológicas.1.3. A terceira geração: da críticado pós-moderno ao "outro da justiça"

Para nos atermos à parcela da sociolo-gia que pretensamente "escapou do faleci-mento", consideremos o pensamento dachamada terceira geração da Escola deFrankfurt - ainda pouco conhecida no Brasil- que muito deve à discussão em tomo dasteorias estético-culturais do pós-moderno, bemcomo ao pensamento da diferença elaboradofora do contexto europeu ou norte-americano.A essa terceira geração de frankfurtianos per-tencem principalmente as figuras de Axel Hon-neth (2000), Ingeborg Maus (2000) e HansJoas. Honneth é, desde 2001, o novo diretordo lnstitutfür Sozialforschung, do Instituto de

Pesquisa Social. O que distingue essa ter-ceira geração de pensadores é que ela no-vamente se volta à teoria crítica. Enquantoque a primeira geração de frankfurtianos: ade Adorno, Horkheimer, Marcuse e Benjamin,se ocupava do conflito entre natureza e "ra-zão instrumental"; a segunda geração: a deHabermas, tratava preponderantemente odesencaixe entre "sistema" e "mundo davida" ou se detinha à análise do controlesocial através das "instituições disciplinares",no sentido de um Foucault - todas essasformulações sendo tributárias de correntesmarxistas e weberianas da teoria crítica, con-centrando-se, portanto, na profundidade e nadinâmica estrutural das sociedades -' a ter-ceira geração coloca sua ênfase nos "gru-pos sociais", pois são eles que são prenhesdas forças motrizes efetivas do transcursohistórico.

Essa terceira geração de frankfurtianostambém não se funda mais em categoriasuniversais, tendência tão presente (quaseque um vício) na tradição do pensamentogermânico. De forma geral, são característi-cas as seguintes idéias:

a) é necessário encarar o "outro concre-to" - olhar nos olhos do outro enquan-to ser, diríamos -, e não postular umoutro universal;

14 a razão tem um caráter pluralista -considera-se, assim, abertura para ou-tras racionalidades;

c)as pressuposições éticas hão que sercompreendidas de forma substantiva -pois o que há de objetivo são sujeitos;

d)a aplicação de normas será semprecontextual.

Neste sentido, Honneth (2000) propõeuma gramática dos conflitos sociais, cujasconstantes normativas daí resultantes é quepermitirão a crítica social. Em outras palavras,crítica social somente será possível na medi-da em que o crítico dominar as figuras retóri-co-discursivas, os tropoi, que regem osconflitos sociais. Considera-se assim que apossibilidade de os sujeitos sentirem e expres-sarem seus próprios desejos e suas próprias

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necessidades; que a possibilidade mesma deos sujeitos compreenderem que eles podemser alguém - a possibilidade de ser cidadão-, depende em grande medida do desenvol-vimento de fatores subjetivo-estéticos, taiscomo o sentimento de autoconfiança, deconsciência da própria dignidade e da cons-ciência de si enquanto sujeito (ANDERSON,2001, p. 10).

Outros pontos relevantes nas concep-ções desses frankfurtianos são:

a)a consideração da dimensão estéticados sujeitos - que de qualquer formasempre esteve presente nas formula-ções dessa escola;

b)a colocação da "sensibilidade" comocategoria centra! - o que leva a for-mulações de cunho inter e transdisci-plinar, mediante inclusão de outrasdisciplinas ou séries, tais como psica-nálise, pragmatismo e mesmo dosCultural Studies;

c)a pesquisa daquilo que se chama de«o outro da justiça" (des Anderen derGerechtigkeit) mediante a inclusão oupor inspiração em formulações teóri-cas, tais como as de Hegel, Adorno,mas também por meio de combinató-rias teóricas de autores distintos, taiscomo Nietzsche, Derrida, Lyotard,Foucault, coloca luzes sobre o papelda "experiência estética" na era con-temporânea;

d)daí decorre que se arrecada potenci-al emancipató rio à estética e à sensi-bilidade.

Desses fatores, depreende-se, sobres-sai um "programa" de superação da clássi-ca divisão disciplinar tripartite em filosofiateórica (isto é., a filosofia mesma), filosofiaprática (isto é, a política) e estética (isto é,as artes). Crítica social, destarte, materiali-za-se na medida em que a objetividade dossujeitos é percebida a partir de um ponto devista substantivo: a sensibilidade estética dossujeitos se expressa em meio a embates sim-bólicos e ideológicos intra e intergrupalmen-te; a possibilidade da critica social e/ou dacritica cultural só será possível a partir de

um ponto de vista relacional; não sendo pos-sível postular uma ética universal, a pergun-ta pela questão da "vida boa em comum noseio da sociedade" pode suscitar respostasdiversas; ao relativismo terá que ser contra-posto uma idéia de razão plural.

2. Crítica cultural segundoo ponto de vista da esquerda

Marilena Chaui, na apresentação ao seuCidadania cultural: o direito à cultura, leva aquestão do exercício da critica cultural para oâmbito da gestão da coisa pública, notada-mente, ao fazer uma diagnose "da constantedificuldade dos dirigentes petistas em relaçãoà cultura" (2006, p. 9). Nesta obra, a autora -ademais já conhecida por suas inserções peloâmbito da cultura, da crítica cultural e política(CHAUI, 1987; 2000), bem como pelo seuexercício enquanto dirigente política, na qua-lidade de secretária de educação de São Pau-lo na gestão Erundina, ou ainda como umadas ideólogas do Partido do Trabalhadores(PT) - traz outros aportes teóricos importan-tes para a definição da crítica cultural, a sa-ber, o pensamento de Hannah Arendt, o deAntonio Gramsci e o de Raymond Williams.

Nesta apresentação a textos sobre ques-tões culturais atuais do Brasil, a autora sinte-tiza de forma clara algumas das posiçõessobre as quais a intelectualidade de esquer-da - e por extensão, a intelectualidade diri-gente de esquerda - ancora o seu exercíciode crítica cultural e, depois da assunção aopoder, o seu exercício político no âmbito cul-tural. Aqui, contudo, é preciso delimitar bemque a autora se refere explicitamente à es-querda petista. Aautora constata que, ao acei-tar os padrões comuns da comunicação domarketing político, a esquerda petista passoua ganhar eleições, ficando, no entanto, acor-rentada aos discursos e ataques da direita,visto que passou a falar a mesma linguagemdessa mesma direita.

A autora parte da distinção entre as posi-ções de direita e de esquerda com respeitoao exercício da crítica social e/ou cultural. Desaída, verifica que a comunicação rápida, di-reta e persuasiva é difícil para a esquerda e

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fácil para a direita. Isso ocorreria porque, paraa direita, 'basta repetir idéias e valores queformam as representações dominantes dasociedade", de forma a reiterar o senso co-mum, "pois os interlocutores já estão identifi-cados com os conteúdos dessa fala" (CHAIJI,2006, p. 7-8). Para a esquerda, a dificuldadeé imensa, porque é necessário que o pensa-mento e o discurso realizem quatro tarefassucessivas, senão simultâneas, a saber:

a)desmontar o senso comum social;

b)desmontara aparência de realidade everdade das condições e práticas so-ciais, aparência sobre a qual a fala dadireita e a compreensão dos demaisagentes sociais se funda;

c)na seqüência, é necessário reinterpre-tar a realidade, revelando 'eus fun-damentos secretos e suas operaçõesinvisíveis", de modo a compreender eexplicar a sociedade e a política;

mento e das obras de arte e, sobretudo, éa esperança racional de que dessas expe-riências e idéias, desses valores e obrassurja um sentido libertário, com força paraorientar novas práticas sociais e políticasdas quais possa nascer outra sociedade(Idem, p. 8-9, gflto da autora).

Neste sentido, a interpretação crítica daspráticas sociais e políticas isto é, o desvela-mento das aparências, apresenta-se como"paixão transformadora e desejo de criação",sendo a cultura o âmbito que permite à es-querda mostrar aquilo que está por trás daluta de classes, de forma a se contrapor àhistória oficial que celebra os dominantes,buscando a história dos trabalhadores, assuas memórias, os seus valores, as suas pró-prias formas de simbolizar. Em sua análiseda maneira como a esquerda petista lida coma cultura, Chaui constata que cultura é con-cebida a partir de três aspectos, quais sejam:

d) para, por último, 'briar uma fala nova,capaz de exprimir a crítica das idéiase práticas existentes, capaz de mos-trar aos interlocutores as ilusões dosenso comum e 1 sobretudo, de trans-formar o interlocutor em parceiro ecompanheiro para a mudança daquiloque foi criticado" (Idem, p. 8).

Conclui-se daí que, para a direita, bastareproduzir o senso comum por ela mesmoproduzido, enquanto que, para a esquerda,resta o trabalho da prática e do pensamentocríticos, trabalho encarado como reflexãoacerca do sentido das ações sociais em di-reção à abertura para as transformações doexistente. Neste sentido, Chaui é enfática:

O laço que une esquerda e cultura é in-dissolúvel porque é próprio da esquerdaa posição critica, visando à ruptura dascondições estabelecidas, nas quais se re-produzem a exploração e a dominação,assim como lhe é próprio afirmara possi-bilidade da justiça e da liberdade, isto é,da emancipação, por meio da prática so-cial e política. Para a esquerda, a culturaé a capacidade de decifrar as formas daprodução social da memória e do esqueci-mento, das experiências, das idéias e dosvalores, da produção das obras de pensa-

a)cultura como saber de especialistas -apenas alguns fazem ou possuem, ou-tros recebem passivamente; a autorareconhece aqui a "ideologia da com-petência" segundo a qual alguns sa-bem, por isso mandam, enquanto queoutros não sabem, por isso obedecem;

b)cultura como belas-artes - como lite-ratura, cinema, artes plásticas, músi-ca, etc., cultura como algo peculiar depessoas com talento ou de pessoasque receberam formação especificapara isso; aqui cultura é "exposição deresultados' espetáculo, tomando-selazer e entretenimento;

c)cultura como instrumento de agitaçãopolítica - aqui ocorre a junção de a) eb): o saber e as artes são incumbidosde produzir mensagens de persuasãopara a conscientização das massas;aqui cultura surge como marketing aserviço de algo considerado como não-cultural, notadamente, da política.

A partir desse mapeamento das concep-ções de cultura no interior da esquerda pe-tista, a autora constata um paradoxo: aoinvés de "tomar a cultura como uma daschaves da prática social e política da es-

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querda, os dirigentes petistas deixam de ladoa dimensão crítica e reflexiva do pensamen-to e das artes e simplesmente aderem à con-cepção instrumental da cultura, própria dasociedade capitalis&' (Idem, p. 9-10). Nes-te contexto, Chaui constata uma leitura di-vergente, senão incorreta, de Gramsci. Aoinvés de compreender a luta pela hegemo-nia como a proposição de uma mudançana e da cultura isto é, a proposição de umanova cultura, o que se faz é a instrumenta-lização da cultura para os embates políti-cos. Para Gramsci, trata-se de encarar aprópria luta pela hegemonia como o pro-cesso histórico de colocar em prática umacultura política. Resumindo, a autora o ex-pressa assim: "nas esquerdas brasileiras,a luta pela hegemonia transformou-se ematuação pedagógica (ensinar a verdade àsmassas), propaganda (convencer as mas-sas) e produção do sentimento identifica-dor (a consciência de classe autêntica ecorreta)" (Idem, p. 10, gritos da autora). Umdos equívocos que dai resultam é a com-preensão da cultura popular como a formaatravés da qual as classes populares fazema recepção das belas-artes burguesas, aoinvés de compreender, segundo Gramsci,as culturas populares dentro dos proces-sos das lutas sociais e políticas.

Em sua análise da postura de crítica cul-tural das esquerdas brasileiras, Chaui aindase reporta a Raymond Williams e a HannahArendt. Do primeiro aproveita o exame dasmutações conceituais em termos como in-dústria, democracia, classe, arte e cultura;da segunda utiliza a expressão 'ilistinismoburguês", que vai ser usada para caracteri-zaro prisma pelo qual os dirigentes petistastendem a considerar a cultura; desconside-rando, portanto, essa esperança racional detransformação das condições de vida a par-tir do exercício da crítica cultural.

Em comparação com as distintas posiçõesdos frankfurtianos, que, como vimos, ora es-tão mais próximas, ora mais afastadas dasconcepções marxistas, percebe-se que a au-tora dá grande ênfase à questão da luta declasses. Isso poderia, nos tempos da impu-

tada obsolescência do escopo marxista, soarcomo um discurso anacrônico. Certamenteque isso é um risco. No entanto, parece queé justamente nesse aspecto e que pode resi-dir a ambivalência constatada na postura decrítica cultural adotada pelo recorte estudado(a esquerda petista). Arriscaria aventar aqui,como hipótese, que esta esquerda, ao che-gar ao poder, afasta-se do lastro teórico im-portante, segundo a autora, para o exercícioda crítica cultural (Marx , se bem que estenão nomeado, Antonio Gramsci, RaymondWilliams e Hannah Arendt). Em sua análiseda postura de crítica cultural utilizada pela es-querda, seja enquanto prática analítica, sejaenquanto prática política em sentido restritoisto é, enquanto fundamentação dos critériosnos quais a gestão da coisa pública se orien-ta em suas tomadas de decisão, transparecealgo que não é nomeado, mas que certamen-te diz algo sobre a maneira de fazer críticasocial e cultural e sobre a forma de fazer atransformação social a partir da gestão dacoisa pública a partir desta crítica anterior. Pa-rece que aqui há um abismo, que talvez nãosela somente da esquerda petista.

Essa análise, contudo, extrapolaria o nos-so intento aqui, que antes é a procura por umadefinição operativa da atividade de critica so-cial e/ou cultural do que observar como o re-sultado dessa crítica gera aquilo que vemsendo chamado de agência. Apesar de nãopoder ser relegado ao esquecimento, o temada agência deve merecer um estudo posteri-or, até porque, apesar de altamente elucidati-vo, o recorte de estudo de Chauí é inusitado,visto que a atividade de crítica social e culturalvai agir principalmente no âmbito da linguagem,no sentido de mobilizar energias criadoras paraa transformação do que foi analisado critica-mente. Isso equivaleria a dizer que as funçõesda crítica e da operacionalização da crítica noâmbito da transformação e da re-conformaçãodo real, de forma geral, não são exercidas pe-los mesmos estratos sociais e/ou profissionais.A própria autora, após a sua experiência comogestora pública, manifestou alhures esta situa-ção desconfortável e descompassada...

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3. "Crítica acadêmica e debate intelectual"Como terceiro ponto de vista interessante

em nosso intuito de demarcação do que sedacrítica cultural, gostaríamos de nos deter nopensamento de Nelly Richard, assim comoexpresso nos dois últimos ensaios da obraIntervenções críticas, designados sob a rubri-ca "Crítica acadêmica e debate intelectual". Oprimeiro dos textos desta parte ("Resíduose metáforas") é a introdução à obra de mes-mo nome, lançada no Chile em 1998, com osubtítulo descritivo: ensayos de crítica cul-tural sobre ei Chile de Ia Transición. A auto-ra precisa, logo de saída, o locus daenunciação de sua análise: "certas regiõesde tensões e conflitos da transição demo-crática chilena". Além disso, assinala queessas regiões são

mais bem residuais, uma vez que assi-nalam formações instáveis de depósitose sedimentações simbólico-culturais,onde se juntam as significações estilha-çadas que tendem a ser omitidas ou des-cartadas pela razão social. Trata-se defragmentos de discurs os julgados insubs-tanciais pelas rígidas categorizações dosaber disciplinar [..] (RICHARD, 2002a.p. 175, grifo da autora).

Assomam aqui duas constatações interes-santes e, a meu ver, originais: a existência deregiões residuais e a existência de discursosjulgados insubstanciais pelo saber acadêmico.A idéia do residual, apesar de não citado pelaautora, sabemos vir de Raymond Williams que,na obra Cultura (2000), defende que, em todasociedade, há elementos culturais residuaise emergentes em constante conflito. No en-tanto, a autora propõe uma reorientação paraeste conceito, transformando-o em hipótesecrítica, na justa medida da insubstancialida-de imputada pelo saber compartimentado aosdiscursos que se propõe a tratar criticamente.Senão vejamos:

O "residual'Ç como hipótese crítica, cono-ta o modo pelo qual o secundário e o não-integrado são capazes de deslocara forçada significação para os limites mais des-favorecidos das escalas de valor, sociaise culturais, com o objetivo de questionar

suas hierarquias discursivas a partir deposições laterais e descentramentos hí-bridos ( RICHARD, 2002a, p. 175).

O trabalho crítico da autora parece que-rer romper com aquele "filistinismo burguês"- de que falam Arendt e Chaul -, rumo às"estranhezas", rumo às "obliqüidades da lin-guagem", na medida em que acredita sernecessário defender o "segredo destas opa-cidades e refrações, contra a tirania lingüís-tica do simples e do direto", exercida por umasorte de comunicação massiva que não dei-xa mais espaço para a fabulação, para opoético-narrativo das ambigüidades do sen-tido. A pergunta que norteia essas por elaassim chamadas "rupturas de plano" soa daseguinte forma: "como escapar da obvieda-de de um presente já dado, que pretendesuturar todos os intervalos de não-identida-de, de reserva ou diferimento, de mal-estar,que separam o dado tal qual a ser lido da-quilo que resiste aos automatismos de sig-nos de uma realidade predefinida?"(RICHARD, 2002a, p. 177, grifo da autora).

Não se trata de fazer crítica contestatá-ria, que faria simplesmente inversões designificados usando uma lógica já pré-fixa-da de racionalidade e argumentação; tra-ta-se antes de criticar o desenho dopresente, de criticar seus modos lógicos eretóricos de funcionar, explorando "as dia-gonais que olham em direção às regiõesmenos regulares e concertadas — mais des-concertantes — do entorno" (idem, p. 177).Desse modo, o fito é fazer surgir, dessesrecortes e dessas junções que o trabalhocritico empreende, "um certo olhar críticoque aspira a ser menos familiar e reconhe-cível que o olhar proveniente das discipli-nas organizadas" ( Idem, p. 178).

E, tal como Honneth (2000) que sugeriauma gramática dos conflitos sociais, NellyRichard fala de uma gramática de circula-ção das mensagens dominantes, para darconta das deficiências dos discursos socio-lógicos e das comunicações de massa comrespeito às operações de resseniantizaçãoque ocorrem nas culturas populares. Comisso vai para além da posição do "filistinis-

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mo" e da posição que considera apenas aquestão do consumo de bens simbólicos.

Como pressupostos gerais, se assim sepode dizer, Richard fala em estética, em cul-tura e em política. A estética é vista comogestos e marcas que perpassam "as práti-cas significantes com sua vontade de forma",isto é, desejo de modelagem expressiva.Cultura é encarada como "figurações sim-bólicas, em cujo teatro sujeitos e linguagensvão desenvolvendo variantes interpretativas,que abrem o real a deslizamentos pluraisPolítica é vislumbrada enquanto as "codifi-cações de poder, as lutas e os antagonis-mos em torno da definição - violenta oucontratual - do social'.

Ao dizer "estética", "cultura" e "política'não falo de séries isoladas e nem de regi-ões separadas, que o ir e vir de uma cer-ta reflexão crítica poderia, eventualmente,juntar para completar o marco de leiturarequerido por seus objetos, mas da inter-calação destes planos em constante jogode atrações e refrações, no interior de ummesmo olhar confuso e perturbado poressa tensão (Idem, p. 175-6).

Richard também não deixa de perceberos impasses, as agudas perguntas que sãocolocadas com respeito à situação do dis-curso crítico e da prática intelectual. Nestesentido, distingue a crítica cultural, assimcomo surgiu e foi articulada no contexto doChile, de outros projetos transdisciplinares,como os estudos culturais. Além disso, cha-ma ainda atenção para as contradições aca-dêmicas, em meio à burocratização de umsaber meramente de consumo prático, bemcomo ainda para uma dimensão do trabalhocrítico prestes a ser "liquidado pelo reducio-nismo da indústria do pape?' (Idem, p. 182),notadamente, a dimensão crítico-reflexiva doensaio enquanto escrita. Neste sentido, de-fende também uma volta ao texto, não deforma auto-referencial, mas como forma debuscar na superfície da página a conflitivi-dade do social e garantir essa dimensão crí-tico-reflexiva do ensaio.

E eis que se impõe a questão: "como reo-rientar não só a função mas também o dese-

jo da crítica cultural, da crítica da cultura, emcircunstâncias tão adversas à reflexividade dopensar? (RICHARD, 2002b, p. 188, grifos daautora). Dentre essas circunstâncias adver-sas, ela coloca, dentro da academia, as no-vas fórmulas de transdisciplinadade e a crisedas disciplinas tradicionais, mediante uma ne-oliberalização do conhecimento, com ênfaseem saberes operativos estimulados pela glo-balização capitalista e, fora da academia, umatecnocratização do social que suprime a con-flitividade do âmbito político-ideológico, geran-do o desaparecimento da "figura intranqüilado intelectual crítico", que está sendo substi-tuído, ou já o foi, pelo "neutro e quieto profis-sionalismo do especialistd'.

O conceito de crítica cultural, mais clara-mente colocado no segundo ensaio, soa daseguinte forma:

Ao dizer "crítica cultural" quero precisarque não confiro a esse rótulo nenhumaprogramaticidade, apenas o utilizo comoum recurso estratégico: de demarcaçãoposicional de uma prática crítica cujasapostas e desafios devem se entenderconjunturalmente: uma crítica em ação eem situação (RICHARD, 20021b, p. 188).

Dentro desse contexto geral, a autora de-fine o surgimento da crítica cultural no Chile:

Na década de oitenta, o termo "críticacultural" designava, exploratoriamente,um tipo de exercício teórico e crítico quecruzava, desordenadamente, a crítica li-terária, a teoria da arte, a filosofia, a soci-ologia da cultura, a análise ideológica e acrítica institucional. Chamávamos "críticacultural" a essa mescla de referentes teó-ricos informais que extravasava, hetero-doxamente, as vigiadas fronteiras dosaber acadêmico para circular sem mar-cos de referência institucionais, quase àintempérie (RICHARD, 2002b, p. 189).

Apesar de não querer conceder uma de-finição precisa, essa demarcação posicionalse torna clara quando da pergunta pelasoperações da crítica cultural, pela forma doproceder. Neste sentido, a crítica culturalpossui uma grande energia de "desenqua-dramento" justamente sobre o papel da cri-tica acadêmica, visto esta ter que se mover

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dentro do esquema da grade curdcular. Essedesenquadramento da crítica cultural

'tem como fundo de contraste a gradecurricular das teorias e das disciplinasque compõem a paisagem universitária[..] atua/mente globalizada pelas máqui-nas de reprodução académico-metropo-litanas, que nos falam entusiasticamentedas transformações do saber que reali-zam projetos como os estudos culturais"(RICHARD, 20021b, p. 197).

E eis que a autora coloca a pergunta, al-tamente interessante: a crítica cultural, daforma como pratica no Chile e em outros con-textos latino-amedcanos, essa crítica cultu-ral "se reconhece nesta nova paisageminternacional dos 'estudos culturais', consa-grada pelo leitmotiv da transdisciplinarida-de"? Aqui a autora procura por novos mapasepistemológicos que necessitam de novaspolíticas epistemológicas. A sua análise vaidesde a irrupção do campo da "teoria", nosanos 60 do séc. XX, uma irrupção transver-sal que desestabilizou o cânone acadêmi-co, passando pelos gêneros ensaísticos dotipo "livros mesclados" (em conceituação deBeatriz Sarlo), indo até a análise da novapaisagem acadêmica desenhada, já em finsdos anos 70, por Jean-François Lyotard emseu A condição pós-moderna (1986).

E, a exemplo de outros pensadores e crí-ticos latino-americanos, tais como MichelZaidan Filho (2004), que fala da "condescen-dência pelos pobres dos chamados estudosculturais em sua vertente norte-americana",e Maria Elisa Cevasco (2003), que busca atradição culturalista de esquerda de RaymondWilliams e localiza uma tradição de criticacultural no Brasil, Nelly Richard tende à re-jeição da mera assimilação da crítica cultu-ral com os estudos culturais, assinalando quea crítica cultural teve ( e tem) que:

[..] disputar com aqueles saberes execu-tivos que relegaram como desperdíciotudo o que falava das escavações da me-mória: as falhas e os lapsos de corpos erepresentações deterioradas. Somente seexibirmos as marcas de oposição e indis-posição, que constroem certos discursos

críticos que não querem se colar aos vo-cábulos do uniforme e do conforme, é queconseguiremos instalar um debate em tor-no do que se entende por crítica, culturae política, com cada um dos saberes querespondem — divergentemente - ao mes-mo chamado de cruzar as disciplinas. Osimples pluralismo transdisciplinar dos es-tudos culturais não pode dissolver umadas regiões de antagonismos, em tomoda qual gira a crítica cultural: aquela quecoloca em conflito definições opostas dapalavra "cultural" (RICHARD, 20021b, p.202, grifos da autora).

E'como arremate final, ao invés da per-

formatividade combinatória da soma, a crí-tica cultural prefere a torsão, a ruptura,potencializando as regiões de revolta e in-subordinação:

..j à diversidade como transação e ne-gociação (como intercâmbio pragmáticode signos, que se valem da reciclagempara se tornarem funcionais para as com-binatórias da soma) a crítica cultural pia-fere a diversidade como antagonismo econfronto: como desejo de não apagaros vestígios da irreconciliação com asquais certas marcas - de identidade, desaber, de linguagem etc. - se opõem aodesejo de traduzibilidade total, com oqual o suave pluralismo relativista do sis-tema de mercado anula as diferençasintensivas, diferenciadoras ( RICHARD,2002b, p. 203-4, grifos da autora).

ConclusãoA cunho de conclusão, resta chamar a

atenção para o fato de que, apesar de a idéiade crítica social estar intimamente ligada àemergência da modernidade, bem como aodesenvolvimento da idéia de esclarecimen-to no Ocidente ao longo dos séc. XVII, XIX eXX, a função da crítica parece mais afim aopensamento de esquerda, pelo menos é oque se depreende da análise das posiçõesacima. Além disso, também exsurge comoauto-evidente o fato de que não é possívelconceber crítica social e crítica cultural semmanter certos pressupostos iluministas.

Nesta linha de raciocínio, uma conclu-são provisória, de âmbito bem geral, pode-

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ria soar da seguinte forma: no trabalho crí-tico (o que vale também para a crítica cul-tural), como premissa, é necessária avontade de dizer algo; sem essa vontade,parece que os discursos não existem. Aí,duas vontades são comuns: a vontade demanutenção e a de transformação; o dis-curso de direita e o de esquerda. Ambasessas vontades, no entanto, agem no âm-bito da linguagem e da significação.

Uma posição crítica, no momento atual,pode manter essas idéias gerais modernas,luministas, lidando de forma apropriada comquestões atinentes à técnica e à tecnologia.Far-se-ia assim frente a caminhos eticamen-te não-aceitáveis. Mas não só isso: ter-se-iatambém a possibilidade de construir essa éti-ca democraticamente entre os diversos gru-pos que hegemonicamente lutam pelaprimazia do poder de decisão sobre a vidadas pessoas, das coletividades - da socie-dade, em suma. A atitude critica frente aomundo cultural é também uma luta por eman-cipação, uma luta pela construção daquelavida boa em comum no seio da sociedade,a qual sabemos hoje plural, e que por issomesmo precisa ter assegurada a convivên-

Sobre o papel cia democrática em meio ao respeito à dife-da crítica cultural: rença e ao diverso.

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Em tempos em que se constata o silên-cio dos intelectuais, em que os intelectuaisse tomaram burocratas, parece pertinente re-lembrar esse percurso do pensamento críti-co e da teoria critica para fazer frente a umasorte de criticismo meramente profissional,isento, asséptico, mas descomprometidocom qualquer tipo de transformação da con-juntura atual do presente. Neste sentido, aposição trazida por Nelly Richard parece in-teressante, na medida em que ela localiza apossibilidade da crítica também fora da tra-dição acadêmica, colocando, como pressu-postos gerais, se assim se pode dizer, nãodisciplinas ou ramos disciplinares, mas "in-tercalações de planos' - do estético, do cul-tural e do político - os quais, no trabalhocrítico, movem-se num ir e vir, num togo deatrações e refrações, instaurando um olharperturbado e confuso, gerando uma tensão.O trabalho da crítica cultural, na medida emque mobiliza essa movência, passa a seruma crítica em ação e em situação. Alémdisso, Nelly não deixa de chamar a atençãopara os impasses da crítica acadêmica, dascondições de produção do discurso crítico eda prática cultural, ressaltando a dimensãocrítico-reflexiva do ensaio enquanto escritaque dá suporte à atividade da crítica.

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