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7/17/2019 Crítica Da Violência Crítica Do Poder - Walter Benjamin http://slidepdf.com/reader/full/critica-da-violencia-critica-do-poder-walter-benjamin 1/5 Crítica da Violência: crítica do poder   Walter Benjamin  A tarefa de uma crítica da violência pode ser definida como a apresentação de suas relações com o direito e a justiça. Pois qualquer que seja o efeito de uma determinada causa, ela só se transforma em  violência, no sentido forte da palavra, quando interfere em relações ticas. !sfera de tais relações desi"nada pelos conceitos de direito e justiça. #uanto ao primeiro, evidente que a relação elementar de toda ordem jurídica a de meios e fins. A violência, inicialmente, só pode ser procurada na esfera dos meios, não na dos fins. Posto isso, temos mais dados para a crítica da violência do que talve$ pareça. Pois se a violência um meio, pode parecer que j% e&iste um critrio para sua crítica. 'al critrio se impõe com a per"unta, se a violência , em determinados casos, um meio para fins justos ou injustos. (ua crítica, portanto, estar% implícita num sistema de fins justos. )as, não *em assim. Pois esse tipo de sistema + supostamente acima de quaisquer dvidas + não incluiria um critrio da própria violência como princípio, mas apenas um critrio para os casos em que ela fosse usada. -icaria em a*erto a per"unta, se a violência em si, como princípio, moral, mesmo como meio para fins justos. Para decidir a questão, preciso 'er um critrio mais e&ato, uma distinção na esfera dos próprios meios, sem levar em consideração os fins a que servem. A eliminação deste tipo de per"unta crítica e mais e&ata caracteri$a uma das "randes correntes da filosofia o direito + o direito natural + e talve$ seja sua característica mais marcante. direito natural não vê pro*lema nen/um no uso de meios violentos para fins justos0 esse uso tão natural como o 1direito1 do ser /umano de locomover seu corpo at um determinado ponto desejado. (e"undo essa concepção 2que serviu de *ase ideoló"ica ao terrorismo na 3evolução -rancesa4, a violência um produto da nature$a, por assim di$er, uma matria5prima utili$ada sem pro*lemas, a não ser que /aja a*uso da violência para fins injustos. (e, de acordo coma teoria política do direito natural, todas as pessoas a*rem mão do seu poder em prol do estado, isso se fa$, por que se pressupõe 2como mostra e&plicitamente (pino$a no Tratado teológico- político) que, no fundo, o indivíduo + antes de firmar esse contrato ditado pela ra$ão + e&erce tam*m de jure qualquer tipo de poder que, na realidade, e&erce de fato. 2...4  6 tese, defendida pelo direito natural, do poder como dado da nature$a, se opõe diametralmente a concepção do direito positivo, que considera o poder como al"o que se criou /istoricamente. (e o direito natural pode avaliar qualquer direito e&istente apenas pela crítica de seus fins, o direito positivo pode avaliar qualquer direito que surja apenas pela crítica de seus meios. (e a justiça o critrio dos fins, a le"itimidade o critrio dos meios. 7o entanto, não o*stante essa contradição, am*as as escolas estão de acordo num do"ma *%sico comum8 fins justos podem ser o*tidos por meios  justos, meios justos podem ser empre"ados para fins justos. direito natural visa, pela justiça dos fins, 1le"itimar1 os meios, o direito positivo visa 1"arantir1 a justiça dos fins pela le"itimidade dos meios.  A antinomia se revelaria insolvel, se o pressuposto do"m%tico comum fosse falso, se meios le"ítimos de um lado e fins justos do outro lado estivessem numa contradição inconcili%vel. (ua compreensão não seria possível sem sair do círculo, esta*elecendo critrios independentes para fins justos e para fins le"ítimos. Para tal investi"ação, se e&clui por enquanto a esfera dos fins e com isso tam*m a *usca de um critrio da justiça. A questão central passa a ser a da le"itimidade de determinados meios que constituem o poder. !la não pode ser decidida por princípios de direito natural, que apenas levariam a uma casuística sem fim. Pois, se o direito positivo ce"o para o car%ter incondicional dos fins, o direito natural ce"o para o condicionamento dos meios. 7o entanto, a teoria do direito positivo aceit%vel como *ase /ipottica no ponto de partida da investi"ação, uma ve$ que esta*elece uma distinção *%sica quanto aos tipos de poder, independentemente dos casos de seu uso. 9istin"ue entre o poder /istoricamente recon/ecido, o c/amado poder sancionado e o não5 sancionado. 2...4 :ma m%&ima "eral da le"islação europia atual pode ser formulada nestes termos8 todos os fins naturais das pessoas individuais entram em colisão com fins jurídicos, quando perse"uidos com maior ou menor violência. 2A contradição do direito ; le"ítima defesa com esta m%&ima deve se e&plicar por si mesma no decorrer das considerações se"uintes.4 corol%rio desta m%&ima que o

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Crítica da Violência: crítica do poder

 

 Walter Benjamin

 A tarefa de uma crítica da violência pode ser definida como a apresentação de suas relações com odireito e a justiça. Pois qualquer que seja o efeito de uma determinada causa, ela só se transforma em violência, no sentido forte da palavra, quando interfere em relações ticas. !sfera de tais relações desi"nada pelos conceitos de direito e justiça. #uanto ao primeiro, evidente que a relação elementarde toda ordem jurídica a de meios e fins. A violência, inicialmente, só pode ser procurada na esferados meios, não na dos fins. Posto isso, temos mais dados para a crítica da violência do que talve$pareça. Pois se a violência um meio, pode parecer que j% e&iste um critrio para sua crítica. 'alcritrio se impõe com a per"unta, se a violência , em determinados casos, um meio para fins justosou injustos. (ua crítica, portanto, estar% implícita num sistema de fins justos. )as, não *em assim.Pois esse tipo de sistema + supostamente acima de quaisquer dvidas + não incluiria um critrio daprópria violência como princípio, mas apenas um critrio para os casos em que ela fosse usada.-icaria em a*erto a per"unta, se a violência em si, como princípio, moral, mesmo como meio parafins justos. Para decidir a questão, preciso 'er um critrio mais e&ato, uma distinção na esfera dos

próprios meios, sem levar em consideração os fins a que servem. A eliminação deste tipo de per"untacrítica e mais e&ata caracteri$a uma das "randes correntes da filosofia o direito + o direito natural + etalve$ seja sua característica mais marcante. direito natural não vê pro*lema nen/um no uso demeios violentos para fins justos0 esse uso tão natural como o 1direito1 do ser /umano de locomoverseu corpo at um determinado ponto desejado. (e"undo essa concepção 2que serviu de *aseideoló"ica ao terrorismo na 3evolução -rancesa4, a violência um produto da nature$a, por assimdi$er, uma matria5prima utili$ada sem pro*lemas, a não ser que /aja a*uso da violência para finsinjustos. (e, de acordo coma teoria política do direito natural, todas as pessoas a*rem mão do seupoder em prol do estado, isso se fa$, por que se pressupõe 2como mostra e&plicitamente (pino$a noTratado teológico- político) que, no fundo, o indivíduo + antes de firmar esse contrato ditado pelara$ão + e&erce tam*m de jure qualquer tipo de poder que, na realidade, e&erce de fato. 2...4 

 6 tese, defendida pelo direito natural, do poder como dado da nature$a, se opõe diametralmente aconcepção do direito positivo, que considera o poder como al"o que se criou /istoricamente. (e odireito natural pode avaliar qualquer direito e&istente apenas pela crítica de seus fins, o direitopositivo pode avaliar qualquer direito que surja apenas pela crítica de seus meios. (e a justiça ocritrio dos fins, a le"itimidade o critrio dos meios. 7o entanto, não o*stante essa contradição,am*as as escolas estão de acordo num do"ma *%sico comum8 fins justos podem ser o*tidos por meios justos, meios justos podem ser empre"ados para fins justos. direito natural visa, pela justiça dosfins, 1le"itimar1 os meios, o direito positivo visa 1"arantir1 a justiça dos fins pela le"itimidade dosmeios. 

 A antinomia se revelaria insolvel, se o pressuposto do"m%tico comum fosse falso, se meios le"ítimosde um lado e fins justos do outro lado estivessem numa contradição inconcili%vel. (ua compreensãonão seria possível sem sair do círculo, esta*elecendo critrios independentes para fins justos e para

fins le"ítimos. 

Para tal investi"ação, se e&clui por enquanto a esfera dos fins e com isso tam*m a *usca de umcritrio da justiça. A questão central passa a ser a da le"itimidade de determinados meios queconstituem o poder. !la não pode ser decidida por princípios de direito natural, que apenas levariama uma casuística sem fim. Pois, se o direito positivo ce"o para o car%ter incondicional dos fins, odireito natural ce"o para o condicionamento dos meios. 7o entanto, a teoria do direito positivo aceit%vel como *ase /ipottica no ponto de partida da investi"ação, uma ve$ que esta*elece umadistinção *%sica quanto aos tipos de poder, independentemente dos casos de seu uso. 9istin"ue entreo poder /istoricamente recon/ecido, o c/amado poder sancionado e o não5 sancionado. 2...4 

:ma m%&ima "eral da le"islação europia atual pode ser formulada nestes termos8 todos os finsnaturais das pessoas individuais entram em colisão com fins jurídicos, quando perse"uidos com

maior ou menor violência. 2A contradição do direito ; le"ítima defesa com esta m%&ima deve see&plicar por si mesma no decorrer das considerações se"uintes.4 corol%rio desta m%&ima que o

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direito considera o poder na mão do indivíduo um peri"o de su*versão da ordem judici%ria. :mperi"o no sentido de impedir os fins jurídicos e a e&ecutiva judici%ria< 7ão0 pois nesse caso condenar5se5ia não simplesmente o poder, mas apenas o poder voltado para fins contr%rios ; lei. Poder5se5iadi$er que um sistema de fins jurídicos insustent%vel quando, em al"um lu"ar, fins naturais aindapodem ser perse"uidos por meio da violência. )as isso, por enquanto, um simples do"ma. Por

outro lado, talve$ deva se levar em consideração a surpreendente possi*ilidade de que o interesse dodireito em monopoli$ar o poder diante do indivíduo não se e&plica pela intenção de "arantir os fins jurídicos, mas de "arantir o próprio direito. Possi*ilidade de que o poder, quando não est% nas mãosdo respectivo direito, o ameaça, não pelos fins que possa almejar, mas pela sua própria e&istência forada alçada do direito. 9e modo mais dr%stico, a mesma suposição pode ser su"erida pela refle&ão,quantas ve$es a fi"ura do 1"rande1 *andido não suscita a secreta admiração do povo, por maisrepu"nantes que ten/am sido seus fins. =sso possível não por causa de seus efeitos, mas apenas porcausa do poder que se manifesta nesses feitos. 7esse caso, portanto, o poder + que o direito atualprocura retirar do indivíduo em todas as %reas de atuação + se manifesta realmente como ameaça e,mesmo sendo su*ju"ado, ainda assim suscita a antipatia da multidão contra o direito. 2...4 

Pois o direito positivo, quando est% consciente de suas raí$es, reivindicar% o fato de recon/ecer emcada indivíduo o interesse da /umanidade e de foment%5lo. 'al interesse consistiria na apresentação e

conservação de uma ordem de destino. (e, por um lado, não se deve poupar críticas a essa ordem, queo direito pretende conservar com ra$ão, por outro lado, qualquer interpelação dessa ordem impotente, quando se apresenta apenas em nome de uma 1li*erdade1 sem rosto e incapa$ de apontaruma ordem de li*erdade superior. (ua impotência total, quando não questiona o próprio corpo daordem jurídica, mas apenas leis ou costumes jurídicos isolados, que então serão prote"idos pelodireito com o seu poder, que consiste na ale"ação de que só e&iste um nico destino e que justamenteo status quo e o elemento ameaçador pertencem ; sua ordem de maneira irrevo"%vel. Pois o podermantenedor do direito um poder ameaçador. (ó que sua ameaça não tem o sentido de umaintimidação, como costumam interpret%5lo teóricos li*erais desinformados. A intimidação no sentidoe&ato e&i"iria uma definição contr%ria ; essência da ameaça e não atin"ida por lei nen/uma, uma ve$que e&iste a esperança de escapar a seu *raço. A lei se mostra ameaçadora como o destino, do qualdepende se o criminoso l/e sucum*e. sentido mais profundo da indefinição da ameaça do direito serevelar% somente pela consideração posterior da esfera do destino, de onde ela se ori"ina. :m indício

precioso se encontra na %rea das punições. 9entre elas, mais do que qualquer outra, a pena de mortesuscitou críticas, desde o momento em que se questionou a validade do direito positivo. !m*ora, namaioria dos casos, os ar"umentos da crítica ten/am sido mal fundamentados, seus motivos têm sidoquestões de princípio. (entiam os críticos, talve$ sem poder e&plic%5lo e sem querer senti5lo, que umacontestação da pena de morte não ataca uma medida punitiva, nem as leis, mas o próprio direito nasua ori"em. Pois se a sua ori"em for a violência, a violência coroada pelo destino, não est% lon"e asuspeita de que na instituição do poder supremo + o poder so*re vida e morte, o qual se apresenta naforma da ordem jurídica + , as ori"ens do poder 5 violência interferem de maneira representativa naordem e&istente e ali se manifestam de forma terrível. >oerentemente, em conte&tos jurídicosprimitivos, a pena de morte decretada tam*m no caso de delitos contra a propriedade, em relaçãoaos quais parece totalmente 1desproporcional1. (eu sentido não punir a infração da lei, mas afirmaro novo direito. Pois o e&ercício do poder so*re vida e morte, o próprio direito se fortalece, mais doque em qualquer outra forma de fa$er cumprir a lei. )as ali se manifesta tam*m um elemento de

podridão dentro do direito, detect%vel por uma percepção mais sensível, que se distancia de relaçõesnas quais o destino em pessoa apareceria majestosamente para fa$er cumprir a lei. A ra$ão e ainteli"ência, porm, devem apro&imar5se dessas relações da maneira mais decidida, se quiserem levara termo a crítica do poder instituinte e do poder mantenedor do direito. 

s dois tipos de poder estão presentes em outra instituição do !stado moderno8 a polícia, numarelação muito mais contr%ria ; nature$a que a pena de morte, numa mistura por assim di$erespectral. ? verdade que a polícia um poder para fins jurídicos 2com direito de e&ecutar medidas4,mas ao mesmo tempo com a autori$ação de ela própria, dentro de amplos limites, instituir tais fins jurídicos 2atravs do direito de *ai&ar decretos4. A inf@mia dessa instituição + sentida por poucos, porque raramente a competência da polícia suficiente para praticar intervenções mais "rosseiras,podendo, no entanto, investir ce"amente nas %reas mais vulner%veis e contra cidadãos sensatos, so* aale"ação de que contra eles o !stado não prote"ido pelas leis + consiste em que ali se encontrasuspensa a separação entre poder instituinte e poder mantenedor do direito. 9o primeiro se e&i"e ale"itimação pela vitória, do se"undo, a restrição de não se proporem novos fins. poder da polícia se

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emancipou dessas duas condições. ? um poder instituinte do direito + cuja função característica não promul"ar leis, mas *ai&ar decretos com e&pectativa de direito + e um poder mantenedor do direito,uma ve$ que se põe ; disposição de tais fins. A afirmação de que os fins do poder policial seriamsempre idênticos aos do direito restante ou pelo menos li"ados a eles, falsa. 7a verdade o 1direito1da polícia o ponto em que o estado + ou por impotência ou devido ;s inter5 relações imanentes a

qualquer ordem judici%ria + não pode mais "arantir, atravs da ordem jurídica, seus fins empíricos,que deseja atin"ir a qualquer preço. Por isso, 1por questões de se"urança1, a polícia intervm eminmeros casos, em que não e&iste situação jurídica definida, sem falar dos casos em que a políciaacompan/a ou simplesmente controla o cidadão, sem qualquer referência a fins jurídicos, como uma*orrecimento *rutal ao lon"o de uma vida re"ulamentada por decretos. Ao contr%rio do direito que,na 1decisão1 fi&ada no espaço e no tempo, recon/ece uma cate"oria metafísica, "raças ; qual ele fa$ jus ; crítica, a o*servação da instituição da polícia não encontra nen/uma essência. (eu poder amorfo, como amorfa sua aparição espectral, inatac%vel e onipresente na vida dos países civili$ados.!, apesar de a polícia amide ter o mesmo aspecto em toda a parte, não se pode ne"ar que seuespírito menos arrasador na monarquia a*soluta + onde ela representa o poder do so*erano, querene plenos poderes le"islativos e e&ecutivos + do que nos re"imes democr%ticos, onde suae&istência, não su*limada por nen/uma relação desse tipo, testemun/a a maior de"enerescênciaima"in%vel do poder. 'odo poder enquanto meio , ou instituinte ou mantenedor de direito. 7ão

reivindicando nen/um desses dois atri*utos, renuncia a qualquer validade. Portanto, qualquer poderenquanto meio, mesmo no caso mais favor%vel, tem a ver com a pro*lem%tica "eral do direito. 

2...4 #uando a consciência da presença latente da violência dentro de uma instituição jurídica seapa"a, esta entra em decadência. :m e&emplo disso, no momento atual, são os parlamentos. !lesoferecem esse espet%culo notório e lament%vel porque perderam a consciência das forçasrevolucion%rias ;s quais devem sua e&istência. Assim, so*retudo na Aleman/a, a ltima manifestaçãode tais poderes transcorreu sem conseqências para os parlamentos. -alta5l/es o sentido para opoder instituinte de direito, representado por eles0 assim, não de estran/ar que não consi"am tomardecisões que sejam di"nas desse poder, mas cultivem, com a pr%tica dos compromissos, uma maneirasupostamente não violenta de tratar de assuntos políticos. ra, o compromisso permanece 1umproduto que, apesar de repelir qualquer violência a*erta, se situa dentro da mentalidade da violência,porque o impulso que leva a fa$er um compromisso não parte dele mesmo, mas vem de fora,

 justamente do impulso contr%rio, porque em qualquer compromisso, mesmo quando aceito de *om"rado, não se pode fa$er a*stração do car%ter compulsório. :ma solução diferente seria mel/orC + eiso sentimento que est% na *ase de qualquer compromisso1 DEF + ? si"nificativo que talve$ o mesmonmero de pessoas que, por causa da "uerra, optaram pelo ideal de uma solução não 5 violenta deconflitos políticos, ten/a5se afastado desse ideal por causa da decadência dos parlamentos. 2...4 

(er% que a solução não 5 violenta de conflitos em princípio possível< (em dvida. As relações entrepessoas particulares fornecem muitos e&emplos. :m acordo não5 violento encontra5se em toda parte,onde a cultura do coração deu aos /omens meios puros para se entenderem. Aos meios le"ítimos eile"ítimos de toda espcie + que são, todos, e&pressão da violência + podem ser confrontados comomeios puros os não5 violentos. A atenção do coração, a simpatia, o amor pela pa$, a confiança e outrasqualidades a mais são seu pressuposto su*jetivo. (ua manifestação o*jetiva determinada pela lei2cujo enorme alcance não pode ser discutido aqui4 de que meios puros não sirvam jamais a soluçõesimediatas, mas sempre a soluções mediatas. Por isso, nunca se referem ; solução de conflitos entreduas pessoas de maneira imediata, mas pelo intermdio das coisas. #uando os conflitos /umanos sereferem, da maneira mais o*jetiva, a *ens, a*re5se o campo dos meios puros. Por isso, a tcnica, nosentido mais amplo da palavra, sua %rea mais própria. (eu e&emplo mais profundo talve$ seja aconversa, considerada como uma tcnica de mtuo entendimento civil. Ali, um acordo não5 violentonão apenas possível, mas a eliminação por princípio da violência pode ser e&plicitamentecomprovada com um tipo de relação importante8 a impunidade da mentira. 'alve$ não e&ista nomundo nen/uma le"islação que ori"inalmente puna a mentira. #uer di$er que e&iste uma esfera deentendimento /umano, não5 violenta a tal ponto que seja totalmente inacessível ; violência8 a esferapropriamente dita do 1entendimento1, a lin"ua"em.2...4 

!m toda a esfera dos poderes, que se orientam ou pelo direito natural ou pelo direito positivo, não se

encontra nen/um que esteja a salvo dos "raves pro*lemas acima mencionados, que afetam todo equalquer poder judici%rio. )as como qualquer idia, qualquer solução ima"in%vel das tarefas/umanas + sem falar de uma salvação do círculo compulsório de todas as situações e&istenciais j%

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ocorridas na /istória mundial + irreali$%vel, quando se e&clui por princípio todo e qualquer poder,impõe5se a per"unta se e&istem outros tipos de poder, alm daqueles focali$ados pela teoria dodireito. Ao mesmo tempo impõe5se a per"unta se verdadeiro o do"ma *%sico, comum ;quelasteorias8 fins justos podem ser o*tidos por meios le"ítimos, meios le"ítimos podem ser usados parafins justos. que aconteceria, se esse tipo de poder, dependente do destino e usando meios le"ítimos,

se encontrasse num conflito inconcili%vel com os fins justos em si, e se, ao mesmo tempo, aparecesseum poder de outro tipo, o qual então, evidentemente, não pudesse ser nem o meio le"ítimo nemile"ítimo para aqueles fins, mas se relacionaria com os fins não como um meio mas como al"odiferente< Assim se lançaria lu$ so*re a e&periência sin"ular e em princípio desanimadora de que, emltima inst@ncia, ? impossível 1decidir1 qualquer pro*lema jurídico + apoiaria que talve$ só possa sercomparada com a impossi*ilidade de uma decisão ta&ativa so*re o que 1certo1 ou 1errado1 emlin"ua"ens que têm uma evolução /istórica. Afinal, quem decide so*re a le"itimidade dos meios e a justiça dos fins não jamais a ra$ão, mas o poder do destino, e quem decide so*re este 9eus. ? umamaneira de ver incomum, mas apenas porque e&iste o /%*ito arrai"ado de pensar os fins justos comofins de um direito possível, ou seja, não apenas universalmente v%lidos 2o que seria umaconseqência analítica do elemento justiça4, mas passíveis de universali$ação + o que est% emcontradição com esse elemento, como se poderia demonstrar. Pois, fins que são justos,universalmente recon/ecíveis, universalmente v%lidos para uma determinada situação, não o são

para nen/uma outra, por parecida que seja so* outros aspectos. :ma função não mediata da violência, tal como est% sendo discutida aqui, aparece na e&periência de vida cotidiana. #uanto ao ser/umano, a ira, por e&emplo, o leva ;s mais patentes e&plosões de violência, uma violência que não serefere como meio a um fim proposto. !la não meio, e sim manifestação. ? verdade que esse tipo de violência tem suas manifestações o*jetivas, onde ela sujeita ; crítica. !las se encontram, antes demais nada e de maneira altamente si"nificativa, no mito. 

poder mítico em sua forma arquetípica mera manifestação dos deuses. 7ão meio para seus fins,quase não manifestação de sua vontade, antes manifestação de sua e&istência. 9isso, a lenda de 7ío*eoferece um e&celente e&emplo. ? verdade que ação de Apolo e Grtemis pode parecer uma merapunição da trans"ressão de um direito e&istente. A hybris de 7ío*e conjura a fatalidade, não portrans"redir a lei, mas por desafiar o destino + para uma luta na qual o destino ter% de ser o vencedor,podendo en"endrar, na vitória, um direito. At que ponto o poder divino, no sentido da Anti"idade,

não era o poder mantenedor da punição, fica patente nas lendas, onde o /erói, por e&emploPrometeu, desafia o destino com di"na cora"em, luta contra ele, com ou sem sorte, e aca*a tendo aesperança de um dia levar aos /omens um novo direito. ?, no fundo, esse /erói e o poder jurídico domito incorporado por ele que o povo tenta tornar presente, ainda nos dias de /oje, quando admira o"rande *andido. A violência portanto desa*a so*re 7ío*e a partir da esfera incerta e am*í"ua dodestino. !la não propriamente destruidora. !m*ora tra"a a morte san"renta aos fil/os de 7ío*e, elase detm diante da vida da mãe, dei&ando5a + apenas mais culpada do que antes, por causa da mortedos fil/os + como suporte mudo eterno da culpa, e tam*m como marco do limite entre /omens edeuses. (e esse poder imediato quer mostrar, em manifestações míticas, que parente pró&imo dopoder instituinte do direito ou l/e idêntico, ele focali$a um pro*lema deste poder, na medida emque este tin/a sido caracteri$ado + na apresentação anterior da violência da "uerra + como um poderapenas dos meios. Ao mesmo tempo, esta relação promete esclarecer mel/or o destino que em todosos casos est% su*jacente ao poder jurídico, e, num "rande es*oço, levar sua crítica a termo. A função

do poder5 violência, na institucionali$ação do direito, dupla no sentido de que, por um lado, ainstitucionali$ação almeja aquilo que instituído como direito, como o seu fim, usando a violênciacomo meio0 e, por outro lado, no momento da instituição do fim como um direito, não dispensa a violência, mas só a"ora a transforma, no sentido ri"oroso e imediato, num poder instituinte dodireito, esta*elecendo como direito não um fim livre e independente de violência 2Gewalt 4, mas umfim necess%rio e intimamente vinculado a ela, so* o nome do poder 2 Macht 4. A institucionali$ação dodireito institucionali$ação do poder e, nesse sentido, um ato de manifestação imediata da violência. A justiça o princípio de toda instituição divina de fins, o poder 2 Macht 4 o princípio de todainstitucionali$ação mítica do direito.2...4 

 A crítica da violência, ou seja, a crítica do poder, a filosofia de sua /istória. ? a 1filosofia1 dessa/istória, porque somente a idia do seu final permite um enfoque crítico, diferenciador e decisivo desuas datas temporais. :m ol/ar diri"ido apenas para as coisas mais pró&imas perce*er%, quandomuito, um movimento dialtico de altos e *ai&os nas confi"urações do poder enquanto instituinte emantenedor do direito. A lei dessas oscilações consiste em que todo poder mantenedor do direito, no

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decorrer do tempo, aca*a enfraquecendo indiretamente o poder instituinte do direito representadopor ele, atravs da opressão dos antipoderes inimi"os. 2Al"uns sintomas disso foram apontados aolon"o desta an%lise.4 =sso dura at que novos poderes ou os anteriormente oprimidos vençam o poderat então instituinte do direito, esta*elecendo assim um novo direito sujeito a uma nova decadência. A ruptura dessa trajetória, que o*edece a formas míticas de direito, a destituição do direito e dos

poderes dos quais depende 2 como eles dependem dele4, em ltima inst@ncia, a destituição do poderdo !stado, fundamenta ma nova era /istórica. (e a dominação do mito em al"uns pontos j% foirompida, na atualidade, o 7ovo não se situa num ponto de fu"a tão inconce*ivelmente lon"ínquo,que uma palavra contra o direito seja suprflua. (e a e&istência do pode, enquanto poder puro eimediato, "arantida, tam*m alm do direito, fica provada a possi*ilidade do poder revolucion%rio,termo pelo qual deve ser desi"nada a mais alta manifestação do poder puro, por parte do /omem. Adecisão, porm, se o poder puro, num determinado caso, era real, não possível da mesma maneira,nem i"ualmente ur"ente para o /omem. Pois com certe$a, apenas o poder mítico ser% identificadocom a violência, não o poder divino, a não ser atravs de efeitos incomensur%veis, j% que o poder quea*solve da culpa inacessível ao /omem. 9e nono, o puro poder divino dispõe de todas as formaseternas que o mito transformou em *astardos do direito. poder divino pode aparecer tanto na"uerra verdadeira quanto no juí$o divino da multidão so*re o criminoso. 9eve ser rejeitado, porm,todo poder mítico, o poder instituinte do direito, que pode ser c/amado de um poder que o /omem

põe 2schaltende Gewalt 4. ="ualmente vil tam*m o poder mantenedor do direito, o poderadministrado 2verwaltete Gewalt 4 que l/e serve. poder divino, que insí"nia e c/ancela, jamais ummeio de e&ecução sa"rada, pode ser c/amado de um poder de que 9eus dispõe 2waltende Gewalt 4. 

 Walter Benjamim, 1Hur IritiJ der KeLalt1, in8 K. (. ==, pp. MNO5QE. 'rad. Willi Bolle, 7. da 3. 8 strec/os aqui pu*licados fa$em parte do capítulo 1>rítica da Riolência + crítica do poder1, da o*ra de Walter Benjamim Documentos de cultura documentos de barb!rie" escritos escolhidos, seleção eapresentação de Willi Bolle, tradução de >eleste S. ). 3i*eiro de (ou$a et al., (ão Paulo,>ultri&T!ditora da :niversidade de (ão Paulo, MOUV. A numeração ori"inal das notas foi mantida,tendo sido suprimido o te&to referente ; 7ota  

7otas do tradutor

M. ptei por esta tradução do ori"inal 1Hur IritiJ der KeLalt1, uma ve$ que todo o ensaio construídoso*re a am*i"idade da palavra Gewalt , que pode si"nificar ao mesmo tempo 1violência1 e 1poder1. A intenção de Benjamim mostrar a ori"em do direito 2e do poder judici%rio4 a partir do espírito da violência. Portanto, a sem@ntica de Gewalt , neste te&to, oscila constantemente entre esses dois pólos0tive que optar, caso por caso, se 1violência1 ou 1poder1 era a tradução mais adequada, colocando umasterisco quando as duas acepções são possíveis. 27.'.4 

E. !ric/ :n"er, PolitiJ und )etap/siJ. 2 Die Theorie# $ersuche %u philosophischer &oliti'4. Berlim,MOU, p. U. 

-7'!8  (evista (eligio * +ociedade 5 MXTM MOOQ, pp. ME5MYQ 

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http://antivalor.vilabol.uol.com.br/textos/frankfurt/benjamin/benjamin_04.htm