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CTI [2008]. Situação Dos Detentos Indígenas No Mato Grosso Do Sul.
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Todos os direitos reservados
1a ed. - 2008 - 1.500 exemplares
Centro de Trabalho Indigenista
Situao dos Detentos Indgenas do Estado de Mato Grosso do Sul. 1a
ed. - Braslia: CTI, 2008.
60p.
1. Direitos Humandos 2. Povos Indgenas 3. Mato Grosso do Sul
ndice
Prefcio 5
Apresentao 7
Introduo: histrico, objetivos do projeto e sntese dos
captulos11
I Breve panorama das transformaes histricas no Mato
Grosso do Sul15
II Marcos Legais 23
III- Situao criminal, processual e prisional dos detentos
indgenas no Mato Grosso do Sul29
IV- Recomendaes 51
Concluso 55
Bibliografia 57
Siglrio 59
Prefcio
Esta publicao tem um nico objetivo: apresentar para a opinio pblica dados e fatos sobre a gravssima situao social enfrentada pelos povos indgenas, em particular os Kaiow e Guarani no Mato Grosso do Sul. Os nmeros dos detentos destes povos, muito maiores do que quaisquer outros no Brasil, refletem o drama social vivido por eles e h
tempos denunciado pelos especialistas e pela mdia nacional mas que, no entanto, parece no bastar para sensibilizar os poderes pblicos. Suicdios de adolescentes, alcoolismo, assassinatos de lideranas, explorao de mo-de-obra so os fatos sociais h pelo menos duas dcadas expostos pela mdia sobre os Kaiow e Guarani no Mato Grosso do Sul, uma populao de 43 mil ndios.
Na raiz deste drama social, no cansam de enfatizar especialistas e lideranas indgenas, encontra-se a questo das terras Kaiow-Guarani. At meados da dcada de 1980, as terras disponveis pelo Estado brasileiro para aquela populao (20 mil poca, cerca de 2.500 famlias) perfaziam um total de 18.124 hectares, ou seja, cerca de sete hectares por famlia quando o mdulo mnimo do Incra era de 50 hectares.
Passadas duas dcadas, este quadro s se agravou. O Estado brasileiro reconheceu, nos anos 1990, mais 21.275 hectares que esto na posse efetiva dos Kaiow e Guarani no Mato Grosso do Sul, mais que duplicando a rea disponvel. Porm a populao tambm mais que duplicou, anulando os efeitos positivos daquele acrscimo. Segundo dados da Funasa (2007), as reservas demarcadas pelo Servio de Proteo aos ndios (SPI) nos anos 1920 seguem abrigando 79% (33.306) da populao Kaiow e Guarani, sendo que 21.543 indgenas, ou 51% desse total, esto concentrados em apenas trs Terras Indgenas Dourados, Amambai e Caarap que somam 9.498 hectares de terra. Somente nestas trs Reservas Indgenas so 3.000 famlias que dispem to somente de trs hectares para, literalmente, sobreviverem.
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importante lembrar que no basta fazer a conta da necessidade de terras para os Kaiow e Guarani multiplicando o nmero de famlias pelo mdulo mnimo do Incra (o que daria cerca de 300 mil hectares, supondo uma famlia mdia composta por sete indivduos e um mdulo de 50 hectares). A Constituio brasileira estabelece (art. 231) que as terras reputadas indgenas devem levar em conta (...) as terras [pelos ndios] habitadas em carter permanente, as utilizadas para as suas atividades produtivas, as imprescindveis preservao dos recursos ambientais necessrios ao seu bem-estar e as necessrias a sua reproduo fsica e cultural, segundo seus usos, costumes e tradies. muito mais do que um simples mdulo mnimo que a Constituio, pois, estabelece. Segundo os estudos dos especialistas, so no mnimo 700 mil hectares as terras necessrias para que se cumpram os preceitos constitucionais no caso dos Kaiow e Guarani no Mato Grosso do Sul.
Ocorre, porm, que na colonizao do sul do ento Estado do Mato Grosso vendeu-se Terras Indgenas a particulares, tratando-as como se devolutas fossem. Os adquirentes destas terras ou seus sucessores no admitem retorn-las aos seus verdadeiros donos quando o Estado brasileiro, via Funai, tenta reav-las; exigem, na Justia que os seus direitos adquiridos sejam reconhecidos e o judicirio, via de regra, os tm reconhecido, paralisando o processo administrativo de identificao daquelas terras e, com isso, aumentando o desespero dos
ndios. a esta complexa situao jurdico-institucional que o Governo Federal, Estadual, o Congresso Nacional e a Assemblia Legislativa do Mato Grosso do Sul tm que responder para resolver o drama destes povos indgenas.
Todos os especialistas da questo Kaiow-Guarani so unnimes em apontar a causa (a falta de terras) e a soluo (reconhecer suas terras tradicionais) para que esta parcela da populao brasileira com toda certeza a mais sofrida e vulnervel do pas possa se reorganizar e enfim obter um pouco de paz e almejar a dignidade que merecem.
Gilberto AzanhaCoordenador Geral do CTI
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Apresentao
O Centro de Trabalho Indigenista realiza, desde 1979, atividades
em defesa dos direitos territoriais e culturais dos povos indgenas no Brasil,
com os quais tem uma vinculao direta baseada em parcerias de longo
prazo. No Mato Grosso do Sul, os Programas Kaiow-Guarani e Terena
representam hoje um precioso acmulo de experincias, significativo
num estado com a segunda maior populao indgena no Pas, e onde
ainda, depois de trs sculos de contato com a sociedade envolvente,
persistem os conflitos fundirios, aprofundados com a implantao de
modelos de agronegcio na regio nas ltimas dcadas.
O CTI, como a maioria das organizaes indigenistas brasileiras,
se engaja nas questes de importncia vital para a sobrevivncia dos
povos indgenas no Brasil, procurando reverter a situao de injustia
pela qual o Estado brasileiro responsvel. As atividades tm como
metas imediatas influenciar as polticas pblicas nas regies onde
vivem, participando nos processos de demarcao de terras, educao
diferenciada, valorizao cultural, garantia das condies de sade das
comunidades, fortalecimento das organizaes indgenas e, na medida
do possvel, identificando outros problemas poucos conhecidos com
profundidade, como por exemplo: a Situao dos Detentos Indgenas
no Mato Grosso do Sul.
Na questo dos detentos, o primeiro dado considerado de muita
importncia para os antroplogos e indigenistas do CTI foi a inexistncia
de informaes sistematizadas sobre este tema, tanto nos rgos
pblicos em nvel estadual e nacional ou privados, quanto de natureza
bibliogrfica. Tambm constatou-se a ausncia de orientaes por parte
da Funai nas comunidades indgenas em relao aos procedimentos
bsicos para a defesa de seus direitos e, sobretudo, a falta de ateno
por parte do Estado.
Procuramos ento a Universidade Catlica Dom Bosco (UCDB)
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para propor ao Ncleo de Estudos e Pesquisas sobre Populaes
Indgenas (Neppi) e ao Ncleo de Pesquisa e Monografia Jurdica
(Nupeju) uma parceira com o objetivo de realizar um levantamento no
Mato Grasso do Sul acerca da populao carcerria indgena e, a partir
dos resultados, mobilizarem-se as instituies pblicas, a sociedade
civil, as comunidades indgenas e a populao em geral sobre este
assunto to relevante para o exerccio pleno dos direitos dos povos
indgenas no Brasil.
A primeira fase do projeto teve como meta a identificao
de instituies governamentais e da sociedade civil para recolher
experincias referentes aos detentos e solicitar, atravs de ofcio aos
rgos pblicos, autorizao para fotocopiar os processos envolvendo
indivduos indgenas. Foi uma tarefa longa e complexa, devido aos
empecilhos administrativos e, sobretudo, face inexistncia de um
cadastro especfico dos processos envolvendo indgenas.
Na segunda fase do projeto, a equipe multidisciplinar, formada
por antroplogos, advogados, historiadores e indigenistas, responsveis
pelas atividades de campo, concentrou as aes de levantamento
nas regies com maior concentrao de comunidades indgenas e,
portanto, com maior potencial de conflitos, resultantes da situao
fundiria to conhecida nesta regio do estado. Instituies prisionais,
delegacias, comunidades e organizaes indgenas e indigenistas
foram visitadas, registrando depoimentos e informaes muito valiosas
para o levantamento.
Mediante reunies semanais da equipe executora do
levantamento, e trimestrais com todos os profissionais envolvidos da
UCDB, CTI e, em algumas delas, com representantes da Delegao da
Unio Europia de Braslia, as atividades foram avaliadas de maneira
minuciosa, procurando resolver as dificuldades enfrentadas em cada
fase e aprimorando a metodologia nas aes de campo.
A terceira e ltima fase do projeto consistiu na preparao de
um dossi com todos os dados, experincias e relatrios parciais e na
realizao do Seminrio Diagnstico; criao das condies para a
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instalao de um software com os dados do levantamento para serem
disponibilizados online s instituies interessadas; organizao de uma
audincia pblica no Congresso Nacional em Braslia e elaborao de
uma publicao com os resultados do levantamento sobre a Situao
dos Detentos Indgenas no Mato Grosso do Sul.
Em diversas oportunidades, com o intuito de apresentar a
metodologia utilizada no levantamento e para a elaborao do
diagnstico no Mato Grosso do Sul, membros da Coordenao do
Projeto foram convidados a dialogar com outras iniciativas semelhantes
em nvel nacional, como a pesquisa do Ministrio Pblico Federal em
parceira com a Associao Brasileira de Antropologia ABA, sobre
a situao dos detentos indgenas nos estados da Bahia, Amazonas,
Sergipe e Roraima; e tambm o projeto da Ao Educativa sobre a
Situao do Ensino Escolar e de Trabalho nos Crceres de Mulheres
no Brasil. O presente trabalho visa, assim, contribuir para a discusso
sobre os direitos dos detentos indgenas nas diferentes regies do Pas
e, paralelamente, para a melhoria da situao dos presos em geral nos
crceres no Brasil.
Carlos MacedoCoordenador do Projeto
Centro de Trabalho Indigenista CTIUniversidade Catlica Dom Bosco UCDB
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Introduo
Em 2005 e 2006, a pedido do Comit Internacional da Cruz
Vermelha (CICV), o CTI realizou o levantamento dos detentos indgenas
nos estados de Roraima, Rondnia e Mato Grosso do Sul. Deste
levantamento, foram obtidas informaes a respeito da aguda anomia a
que os detentos indgenas eram sistematicamente submetidos. Indicou-
se a urgncia de conhecer melhor a situao processual dos detentos
indgenas, escolhendo-se o Estado do Mato Grosso do Sul como piloto
para tal diagnstico, dada a gravidade da situao ali observada. Neste
estado, no ano de 2006, 119 indgenas encontravam-se em unidades
prisionais, sendo que a maioria deles (68) estava na unidade prisional
de Dourados (Agepen e DGPC, 2006).
O projeto Situao dos Detentos Indgenas no Mato Grosso do
Sul (MS), do qual a presente publicao fruto direto, foi proposto
pelo Centro de Trabalho Indigenista (CTI) e executado em parceria com
a Universidade Catlica Dom Bosco (UCDB), atravs do Ncleo de
Pesquisa e Monografia Jurdica (Nupeju) e Ncleo de Estudos e Pesquisas
sobre Populaes Indgenas (Neppi), com apoio da Unio Europia -
UE. Realizou-se o levantamento de dados prisionais e processuais sobre
indgenas que estivessem sendo processados, presos provisoriamente
ou no, ou que estivessem condenados irrecorrivelmente cumprindo
pena. Treze municpios foram abrangidos, sendo seis deles onde existem
estabelecimentos prisionais administrados pela Agncia Estadual de
Administrao do Sistema Penitencirio (Agepen), a saber: Campo
Grande, Aquidauana, Dourados, Trs Lagoas, Dois Irmos do Buriti
e Corumb e os sete municpios onde os detentos esto em Cadeias
Pblicas, administradas pela Polcia Civil, a saber: Terenos, So Gabriel
do Oeste, Coxim, Miranda, Bonito, Bataguassu e Amambai.
A pesquisa se estendeu por 16 meses (janeiro de 2007 a abril de
2008), perodo no qual as equipes do projeto tiveram como interlocutores
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os detentos indgenas, suas famlias, comunidades, organizaes e as
autoridades envolvidas (Funai, Defensoria Pblica, Ministrio Pblico,
Secretaria Estadual de Justia e Segurana Pblica e Poder Judicirio),
assim como outros profissionais atuantes no tema.
Esta ao visa consolidar informaes teis sobre os detentos
indgenas de forma a garantir seus direitos nos julgamentos em aes
criminais onde figurarem como rus e as garantias individuais na fase
de execuo penal conforme a legislao brasileira: na aplicao da Lei
6001 (o Estatuto do ndio) e a jurisprudncia correlata, a observncia
da Constituio Federal no tocante principalmente ao artigo 231, o
cumprimento da Conveno 169 da Organizao Internacional do
Trabalho (OIT), um dos principais instrumentos internacionais que
reconhece os direitos dos Povos Indgenas e Tribais, da qual o Brasil
signatrio, tendo j ratificado e recepcionado, alm da observncia da
Declarao sobre o Direito dos Povos Indgenas (DDPI), o mais novo
documento das Naes Unidas que em seu texto reconhece e professa
o direito livre-determinao dos Povos Indgenas. Alm disso, o
objetivo permitir, posteriormente, a consolidao de um Sistema
de Acompanhamento e Assessoramento aos Detentos Indgenas e s
Comunidades e Organizaes Indgenas e a criao de mecanismos
especiais para um procedimento diferenciado.
Direcionados por tais preocupaes, um dos objetivos desta
publicao1 problematizar a questo da violncia entre os povos
indgenas no Estado do Mato Grosso do Sul. Neste sentido, o Captulo
I visa expor transformaes histricas e organizacionais que tiveram
lugar entre estes povos e que esto diretamente ligadas ao incremento
da violncia e ao processo de criminalizao sofrido pelos indgenas.
1 Este documento foi realizado com a assistncia financeira da Unio Europia. Todavia, o seu contedo de responsabilidade exclusiva do Centro de Trabalho Indigenista e da Universidade Catlica Dom Bosco, no podendo, em caso algum, considerar-se que reflete a posio da Unio Europia.
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O levantamento dos processos e o trabalho de campo revelaram um
grande nmero de detentos indgenas nos presdios da regio sul de
Mato Grosso do Sul, envolvendo praticamente todas as etnias presentes
no Estado; contudo, elegemos o caso dos Kaiow e Guarani2 como
plo exemplificador deste processo, tendo em vista o fato de ser muito
elevado o nmero de indivduos destas etnias que se encontram presos
e devido ainda gravssima situao social que os atinge. Alm disso,
buscamos apresentar uma sntese dos marcos e pressupostos legais que
devem orientar os operadores do direito e os indgenas em inquritos
e julgamentos onde estes figurem como rus. No Captulo II tais
orientaes podem ser consultadas.
Um aspecto relevante do diagnstico a constatao da pouca
garantia dos direitos nos julgamentos das aes criminais. Detectaram-se
ainda o descumprimento das garantias individuais na fase de execuo
penal, solapando direitos assegurados na legislao brasileira em geral
e na legislao indigenista e, ainda, por Convenes e Declaraes de
carter internacional, verificando-se, com isso, a violao dos direitos
humanos. Os dados e apontamentos relativos situao prisional,
criminal e processual dos detentos indgenas no Mato Grosso do Sul
apresentada no Captulo III.
No dia 08 de maio de 2008, na UCDB, em Campo Grande (MS),
foi realizado um Seminrio onde foram apresentados os dados parciais
da pesquisa. O Seminrio contou com a presena de sessenta e dois
participantes, entre eles representantes do Ministrio Pblico Federal,
Ministrio da Justia, Funai, Ordem dos Advogados do Brasil, Comit
Internacional da Cruz Vermelha, Unio Europia, Associao Brasileira
de Antropologia, advogados, indigenistas, lideranas indgenas, entre
2 Os ndios Guarani, de lngua Tupi-Guarani, se dividem em trs grandes grupos: Kaiow, andeva e Mbya, conforme diferenas dialetais, de costumes e prticas rituais. No Estado do Mato do Grosso do Sul apenas os Kaiow e os andeva esto representados. Aqui utilizamos o termo Guarani para nos referirmos aos andeva, por tratar-se de uma auto-denominao.
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outros. Durante a manh teve lugar a apresentao das atividades
realizadas e dos dados obtidos, e na parte da tarde os participantes
dividiram-se em grupos de trabalho de discusso e formulao. O
objetivo foi proporcionar o dilogo entre tais autoridades, de forma
a propor medidas para garantir os direitos dos indgenas presos. O
Seminrio pretendeu configurar um locus propcio ao surgimento
de propostas para a alterao da legislao processual penal vigente
e para a adequao de polticas pblicas, alm de sugestes para a
consolidao do Sistema de Acompanhamento e Assessoramento aos
Detentos Indgenas e s Comunidades e Associaes Indgenas. As
recomendaes que surgiram so apresentadas no Captulo IV.
Ao final, apontamos a necessidade de reviso dos processos,
pois, como poder ser notado, a maioria dos detentos no teve acesso
ao pleno direito de defesa e, neste sentido, no podemos afirmar que
estejam cumprindo pena justamente. Gostaramos, no entanto, de que
esta publicao servisse como instrumento de denncia da Situao
dos Detentos Indgenas no Mato Grosso do Sul e de ampla defesa dos
direitos indgenas. Aliado a isso, pretendemos contribuir para uma
reflexo de maior acuidade sobre a oportunidade e em que situaes o
Direito Positivo deve incrementar o Direito Consuetudinrio.
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I Breve panorama das transformaes histricas no Mato Grosso do Sul
No Estado do Mato Grosso do Sul encontra-se a segunda maior
concentrao da populao indgena no Brasil, aproximadamente 58
mil ndios, distribudos entre os povos Guarani, Terena, Kadiwu e
Guat (Funasa, 2006). Se, por um lado, grande parte desta populao
possui cidadania formal, com RG, CPF e Ttulo de Eleitor, por outro,
sua condio apresenta-se marginalizada e a relao com sociedade
brasileira marcada pelo racismo, isolamento e incompreenso.
Em Dourados, principal plo regional do sul do estado, a plena
cidadania da populao de origem indgena Kaiow e Guarani
a questo mais grave a ser equacionada. Os problemas enfrentados
por esta populao vo desde intensos conflitos fundirios: invases
possessrias, altas taxas de densidade demogrfica, explorao ilegal
de recursos naturais em suas terras e descumprimento de prazos de
demarcao de terras, at condies sobremaneira precrias de sade
e trabalho. A explorao da mo-de-obra indgena no regime de
trabalho nos canaviais, tantas vezes denunciada por sua lgica funesta,
somente uma das condies a que os ndios so hoje obrigados a
se submeter para simplesmente continuarem sobrevivendo, visto que
a terra disponvel ao plantio insuficiente e a assistncia produo
agrcola nfima.
O suicdio e as tentativas de suicdio to recorrentes nos ltimos anos
entre os Kaiow e Guarani, as mortes de crianas indgenas por desnutrio
e as elevadas taxas de criminalidade que afligem os ndios so umas das
conseqncias da constante presso exercida sobre estas populaes por
parte das diferentes frentes de expanso econmica na regio: um cenrio
histrico de explorao, opresso e desrespeito diversidade por parte do
poder pblico e da sociedade envolvente de maneira geral.
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comum os Kaiow e os Guarani explicarem a situao atravs
de expresses na prpria lngua. Teko pyahu entendido como o
novo modo de ser e se refere aos comportamentos introduzidos nas
ltimas dcadas, que no fazem parte do que consideram tradicional
e cuja introduo leva ameaa do abandono do teko katu, o modo
de ser correto, associado ao modo como viviam os antigos, cuja
temporalidade associada abundncia e a vivncia harmnica. A
situao de reserva em Dourados ainda interpretada como teko heta,
modo de ser mltiplo, no qual as pessoas seguem orientaes diversas,
gerando confuso e desentendimento. Muitas lideranas procuram
escapar desta situao, buscando novas categorias de compreenso e
enfrentamento do contexto histrico atual, em busca da construo de
melhor convivncia enquanto comunidade. A seguir, apresentamos um
breve panorama das transformaes histricas ocorridas nesta regio.
No perodo anterior ocupao agropastoril, os Kaiow e os
Guarani ocupavam uma faixa de terras de mais de 100 quilmetros de
cada lado da fronteira do Brasil com o Paraguai, tendo como divisa o
rio Apa ao norte e o rio Paran ao sul (Meli, Grnberg & Grnberg,
1976). Era nessa vasta regio, que do lado brasileiro correspondia
grande parte da serra de Maracaju, que a populao Kaiow e Guarani
radicava suas parentelas, cujas aglomeraes formavam as aldeias,
por eles denominadas de tekoha. O tekoha tinha tamanho varivel,
dependendo do nmero de famlias extensas ou parentelas que reunia,
pois cada parentela dispunha de uma poro de terra de uso exclusivo
para o desenvolvimento de suas atividades produtivas e rituais. Era
comum que os tekoha tambm estivessem inseridos em redes de
alianas mais amplas, de carter poltico e, principalmente, religioso.
Entre 1915 e 1928, o Governo Federal demarcou oito reduzidas
e dispersas extenses de terra para ocupao pelos Kaiow e Guarani,
perfazendo um total de apenas 18.124 hectares (ou 180 km2). A quase
totalidade das aldeias ficava fora das reas demarcadas pelo Servio
de Proteo aos ndios (SPI), rgo indigenista oficial na poca.3 Neste
sentido, essas reservas constituram importante estratgia governamental
de liberao de terras para a colonizao e conseqente submisso da
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populao indgena aos projetos de ocupao e explorao dos recursos
naturais por frentes no-indgenas. Ignorou-se, na sua implementao,
os padres indgenas de relacionamento com o territrio e seus recursos
naturais e, principalmente, a sua organizao social. A reserva passou a
cumprir a funo poltica de liberar as terras para a especulao imobiliria
e posterior ocupao agropecuria. Assim, a reserva se transformou
em rea de acomodao para a populao de diversas comunidades.
As principais reservas foram demarcadas prximas aos ento ncleos
urbanos e hoje importantes cidades, como Dourados e Amambai.
O sistema poltico instaurado na reserva enquanto rea de
acomodao combina uma srie de prticas como: a) a tentativa de
recolher a populao de diversas comunidades no espao fsico
destinado a abrigar a populao indgena; b) a implantao nesse espao
de programas econmicos voltados ao atendimento de demandas do
mercado; c) a criao de escolas para que as crianas passem pelo
processo de escolarizao e adquiram o domnio sobre a lngua e as
maneiras de conduta da sociedade nacional; e d) a implantao da
organizao poltica baseada na chefia do posto e na capitania. Estas
aes serviam a um ideal de integrao e civilizao dos ndios que,
neste sentido, fracassou, devido imensa capacidade de resistncia
dessas culturas. Por outro lado, trouxe inmeros problemas para essas
populaes, como os processos de criminalizao a que hoje esto
submetidos. Vejamos.
Na dcada de 1940 se encerra a renovao dos contratos de
arrendamento das terras do sul do atual Mato Grosso do Sul, que
beneficiavam a Companhia Mate Laranjeiras (Brand, 1997; Ferreira,
2007). Isto d lugar a uma verdadeira corrida de pessoas interessadas
em comprar terras na regio. A legislao em vigor considerava as terras
3 Em 1910 foi criado o Servio de Proteo aos ndios e Trabalhadores Nacionais, alocado no Ministrio da Agricultura. Em 1918 passa a ser denominado Servio de Proteo aos ndios (SPI). Em dezembro de 1967, enquanto extinguia o SPI, o governo j esboava o Estatuto da Fundao Nacional do ndio (Funai), vinculando-a ao Ministrio do Interior.
Situao dos Detentos Indgenas no Estado do Mato Grosso do Sul
18
pblicas como devolutas, sendo postas venda pelo antigo Estado do
Mato Grosso, do qual fazia parte Mato Grosso do Sul antes da diviso
poltica. Assim, as terras onde estavam localizadas as comunidades
Kaiow e Guarani so vendidas a particulares, e muitas comunidades
so foradas a deixar os locais de suas aldeias.
demarcao das oito reservas com uma extenso to reduzida,
bem como a sistemtica seguida pelo Estado do Mato Grosso na venda
das terras, veio a se somar a chegada das fazendas agropecurias em
1950 e, com elas, o desmatamento da regio. Com isso, os grupos que
ainda viviam no interior das matas foram alcanados. Concludo o
desmatamento, eram sistematicamente obrigados a abandonar as suas
aldeias e se localizarem dentro das reservas demarcadas pelo SPI.
Esse processo de confinamento se radicaliza a partir da
dcada de 1970, com a chegada do plantio de soja e da conseqente
mecanizao da atividade agrcola. Para o SPI, o papel reservado
aos Guarani e Kaiow, nessa regio, seria o de mo-de-obra para
os empreendimentos econmicos: primeiro na explorao da erva-
mate, depois na implantao das fazendas agropecurias e, a partir
da dcada de 1980, nas usinas de produo de acar e lcool. Nesse
perodo so destrudas muitas aldeias refgio, localizadas nos fundos
das fazendas. Hoje, aldeados em espaos exguos, esses ncleos ou
aldeias, antes autnomas, encontram-se sobrepostos e geograficamente
confinados e sem condies de manter sua organizao social interna,
assentada em unidades familiares autnomas, com seus tekoharuvicha,
que zelavam pela harmonia interna desses ncleos.
O processo de retirada das comunidades dispersas por todo o
imenso territrio de ocupao tradicional durou dcadas e est em
curso at hoje. Esse processo implicou na disperso das famlias e na
dissoluo dos vnculos de sociabilidade que cimentavam as relaes
de muitas comunidades. O desafio maior decorrente do processo de
perda territorial refere-se s dificuldades em adequar a sua organizao
social a essa nova situao marcada pela superpopulao, sobreposio
de famlias extensas e pelas transformaes de ordem econmica. Antes
do estabelecimento das reservas, as divises polticas e os conflitos
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entre parentelas aliadas que eventualmente no eram solucionados,
tinham como desdobramento o estabelecimento de novos stios de
residncia. Neste sentido, h duas conseqncias sobremaneira graves,
decorrentes do confinamento: a impossibilidade de mudar de aldeia
quando determinadas condies tornavam indesejvel a permanncia
naquele local (h abundante informao na documentao sobre a
estratgia indgena de deslocamento por ocasio de doenas, mortes
de familiares, conflitos internos ou, simplesmente, desgaste da terra)
e a convivncia, num espao cada vez menor, de pessoas que, pela
lgica da organizao indgena, no poderiam estar to prximas
espacialmente.
Segundo dados da Funasa, as reservas demarcadas pelo SPI
seguem abrigando cerca de 79% (33.306) da populao indgena
Kaiow e Guarani, sendo que 21.543, ou seja, 51% desse total
esto concentrados em trs Terras Indgenas, demarcadas pelo SPI -
Dourados, Amambai e Caarap - que juntas atingem um total de 9.498
hectares de terra. Essa excessiva proximidade de no-parentes, aliada
impossibilidade de se distanciar em casos de doenas, mortes e
problemas de relacionamento geram um profundo mal-estar e clima de
tenso. A alta densidade populacional equivale a um aumento do risco
de conflitos intra-tnicos no caso guarani. No h como desvincular
os elevados ndices de violncia (inclusive suicdio), do processo de
confinamento.
Estes problemas so claramente destacados em alguns
depoimentos. Os informantes falam dos muitos conflitos que decorrem
diretamente das disputas em torno dos limites de lotes, cada vez mais
espremidos, situao que se agrava quando esse outro, envolvido nas
disputas, um no-parente.
aqui, na aldeia, o aglomerado de pessoas (...), faz com
que tenha mais conflito e, tambm, as famlias do ndio, o
indgena, por mais que ele tenha um parentesco ele exige,
tambm, a prpria condio dele, exige um espao pra ele
viver (...).(ndio kaiow, Aldeia Boror, Terra Indgena
Dourados, Fita n.08, p. 10).
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At a dcada de 1970 era comum o prprio rgo indigenista
(SPI/Funai) assumir a conduo da aplicao das penas aos ndios que
praticavam atos infracionais, como assassinatos e tentativas de homicdio.
As lideranas indgenas entrevistadas se lembram das prises mantidas
pelo SPI/Funai nas prprias reservas e dos casos nos quais os chefes
de Postos enviavam o ru indgena para cumprir pena em outro Posto
Indgena, sob a responsabilidade de outro chefe de Posto. Acontece que
a partir da dcada de 1980 o rgo indigenista perde fora na regio e
devido, entre outras coisas, falta de recursos humanos e financeiros,
abandona por completo esta prtica. No podendo recorrer ao poder
coercitivo do rgo indigenista, consolidou-se a prtica das lideranas
indgenas recorrerem s autoridades policiais da cidade (polcias civil e
militar) para resolverem os casos de prtica de delitos e mesmo conflitos
internos entre faces rivais - trao caracterstico da organizao social
guarani. Disto resultou um nmero crescente de ndios presos, fato ao
que tudo indica agravado pelo aumento da violncia interna.
De fato, os indgenas anunciam o aumento exacerbado da
violncia nos ltimos anos, enquanto que suas lideranas expressam
uma espcie de sentimento de impotncia quanto ao enfrentamento de
tal problema. Em grande medida, isto devido ao fato de a reserva ser
um ajuntamento artificial, inexistindo no sistema poltico interno uma
pessoa ou instncia com legitimidade para representar o conjunto das
parentelas reunidas na reserva. A dificuldade de dar conta do problema
a partir de instrumentos da prpria organizao social leva a recorrer ao
sistema policial e prisional, especialmente porque o rgo indigenista
tambm abandonou esse papel.
possvel notar ainda a perda gradativa da capacidade das
comunidades aplicarem procedimentos preventivos, prticas coercitivas
e de reparao de delitos, em decorrncia da situao de Reserva. Isto
fica evidente pela importncia atribuda s figuras do chefe de Posto
e do capito, instituies polticas criadas pelo SPI. Na reserva, os
lderes das parentelas no relutam em procurar as autoridades como
denominam o capito e o chefe de Posto mesmo para a resoluo
de conflitos internos, cobrando delas o exerccio das atribuies
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institucionais das quais esto investidas. No raro essa interveno
complica ainda mais a convivncia interna, levando as pessoas a
nutrirem sentimento de raiva, rancor e vingana, que esto na base de
muitos dos crimes de violncia atualmente cometidos. Com isso, os
ndios so obrigados a recorrerem ao direito positivo. Como podemos
entrever no seguinte trecho:
Vamos supor se tiver um caso de violentao sexual,
a gente tenta resolver aqui dentro, com a organizao
interna que a gente tem aqui, juntamente com os pais
de ambos. Quando no tem acordo, assim, no caso, a a
gente encaminha pra fora. Caso que a famlia, quando
a fica na responsabilidade da famlia, pra buscar o frum,
o conselho tutelar. Ento so esses dois que a gente pede
para eles procurarem (ndio terena, cacique da Aldeia
Brejo, T.I. Nioaque, fita n. 01 p.5).
Mas recordam como, em tempos passados, muitos problemas
eram resolvidos dentro das aldeias. Relatam que na poca do velho
capito Ireno, grande liderana kaiow de Dourados:
ele dava essa ateno com esse tratamento, que muitas
coisas ele mesmo resolvia. Ele, dependendo, se fosse
briga familiar, ele dava a uma tarefa, alguma coisa [...];
o cara bater na mulher, sempre produzindo coisa pra
comunidade de novo [...], tirava aquela troca n, e hoje
j ta [...]. [Hoje], qualquer coisa mandam para delegacia,
ou vai l para delegacia de mulheres, por fim fica s uma
andana (...), ai fica no sei e de repente reincide de novo,
fica reincidente (ndio kaiow, chefe de Posto da Aldeia
Caarap, T.I. Caarap, fita 03, p. 2).
Ainda com referncia aos processos internos de soluo dos
problemas relativos violncia, h muitas prticas hoje cada vez
mais raras. O banimento, transferncia para outras aldeias, parece ter
sido a pena mais grave a ser imposta a algum, mas que atualmente
impossvel de ser adotada: Ento, hoje, no tem mais, ningum tem
Situao dos Detentos Indgenas no Estado do Mato Grosso do Sul
22
mais outra aldeia a pra transferncia. Ento, o nico jeito vai pra cadeia,
se for flagrante (ndio kaiow, chefe de Posto da Aldeia Caarap, Terra
Indgena Caarap, fita 03, p. 2).
Quando transferido para outra aldeia, o nico castigo (era) ele
trabalhar l na outra aldeia, levava a famlia dele, mulher dele e ficava
l. A pagava por l e ficava por l, tambm, e nunca mais voltava. O
castigo dele era isso. (ndio kaiow, chefe de Posto da Aldeia Caarap,
Terra Indgena Caarap, fita 03, p. 2). De fato, esta prtica mudou e
efetivamente as comunidades no tm mais concordado em aceitar
a transferncia de pessoas que cometeram algum tipo de crime, fato
subjacente ao nmero elevado de indgenas sendo processados.
Sobre tal acentuao, h diversos depoimentos que indicam a
percepo indgena sobre o incremento dos processos de criminalizao:
, por exemplo, esse povo quer que v ndio preso mesmo.
Olha na cara da gente assim e j tem que ir preso. No
tem esse negcio de no. Ento qualquer coisa, xadrez
mesmo, no tem perdo. Se a gente no tem advogado vai
mesmo [inaudvel] e tem um advogado l, que na hora, l,
na hora do jri tem aquele negcio de advogado l que
vem na hora, acompanha. (ndio kaiow, chefe de Posto
da Aldeia Caarap, Terra Indgena Caarap, fita 03, p.13.)
Mais grave ainda, os informantes reconhecem que, quando se
trata de ndios, a polcia e a justia so mais rigorosas. Muita pessoa
que no foi condenado ainda, j est trabalhando. S que no ndio
no. Indio mais jogado, mais jogado que aqueles (ndio kaiow,
detento da Cadeia Pblica de Caarap, fita 03, p.2).
No entanto, o fato do ndio ser mais jogado no deve ser encarado
com naturalidade. Pelo contrrio, temos a nossa disposio inmeros
marcos legais cuja funo apontar a ilegalidade desta situao.
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II - Marcos Legais
O Superior Tribunal de Justia, atravs da Sumula 140, diz que
compete Justia Comum Estadual processar e julgar crime em que o
indgena figure como autor ou vtima. Se a incumbncia de processar
e de julgar da Unidade Federativa, o mais indicado que esta se
adeqe s necessidades especiais, que os operadores do direito tomem
conhecimento, observem e apliquem com acuidade todos os direitos
coletivos e individuais dos indgenas. Aqui visamos apresentar, em
carter sinttico, os marcos legais que devem orientar os inquritos,
processos e julgamento dos crimes.
A Constituio Federal de 1988 consolida o marco da mudana
de paradigma na poltica indigenista oficial brasileira, fornecendo
os elementos norteadores do respeito diferena cultural dos povos
indgenas. Dois artigos foram dedicados especificamente determinao
dos direitos indgenas:
Art. 231. So reconhecidos aos ndios sua organizao social,
costumes, lnguas, crenas e tradies, e os direitos originrios sobre
as terras que tradicionalmente ocupam, competindo Unio demarc-
las, proteger e fazer respeitar todos os seus bens.
Art. 232. Os ndios, suas comunidades e organizaes so partes
legtimas para ingressar em juzo em defesa de seus direitos e interesses,
intervindo o Ministrio Pblico em todos os atos do processo.
O Cdigo Civil (Lei n. 10.683/03), que em seu diploma anterior
especificava a situao civil do indgena, em seu novo texto aprovado
em 2003 deixa-a a cargo de Lei Especial que, neste caso, remete
Lei 6001/73 - Estatuto do ndio. Notadamente anterior Constituio
Federal de 1988, o Estatuto do ndio mostra-se no recepcionado em
alguns aspectos, principalmente em seus dispositivos que tratam da
antiga inteno do Estado em promover a integrao dos indgenas
Situao dos Detentos Indgenas no Estado do Mato Grosso do Sul
24
comunho nacional que, em funo disto, estabelece nveis de
integrao para os ento chamados silvcolas os indgenas. O artigo
231 da Constituio Federal coloca abaixo o uso destas categorias, com
o reconhecimento do Estado como pluritnico, garantindo o direito
destas populaes ao pleno exerccio de sua cultura.
O Estatuto do ndio possui dois artigos que versam diretamente
sobre a condio dos indgenas apenados:
Art.56. No caso de condenao de ndio por infrao penal, a
pena dever ser atenuada e na sua aplicao o juiz atender tambm
ao grau de integrao do silvcola.
Pargrafo nico. As penas de recluso e de deteno sero
cumpridas, se possvel, em regime especial de semi-liberdade, no local
de funcionamento do rgo federal de assistncia aos ndios mais
prximo da habitao do condenado.
Art.57. Ser tolerada aplicao, pelos grupos tribais, de acordo
com as instituies prprias, de sanes penais ou disciplinares contra
os seus membros, desde que no revistam carter cruel ou infamante,
proibida em qualquer caso a pena de morte.
O Cdigo Penal no trata diretamente do envolvimento de
indgenas com ilcitos, contudo podemos destacar o artigo 21,
considerado potencialmente pertinente a esta situao, embora tambm
no a contemple adequadamente:
Art. 21 O desconhecimento da lei inescusvel. O erro sobre
a ilicitude do fato, se inevitvel, isenta de pena; se evitvel, poder
diminu-la de um sexto a um tero.
Pargrafo nico. Considera-se evitvel o erro se o agente atua ou
se omite sem a conscincia da ilicitude do fato, quando lhe era possvel,
nas circunstncias, ter ou atingir essa conscincia.
E no mnimo vergonhoso que ainda venha sendo utilizado o
artigo seguinte do Cdigo Penal Brasileiro / Decreto-Lei 2.848 de 07 de
Dezembro de 1940 para tais casos:
Inimputveis - Artigo 26: isento de pena o agente que, por doena
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mental ou desenvolvimento mental incompleto ou retardado, era ao
tempo da ao ou da omisso, inteiramente incapaz de entender o carter
ilcito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento.
O Cdigo de Processo Penal tambm omisso em relao s situaes especficas de indgenas em crimes, limitando-se a tratar da
situao do interrogatrio a cidado no-falante da lngua nacional, como se segue:
Art. 193 Quando o acusado no falar a lngua nacional, o interrogatrio ser feito por intrprete.
A Conveno n 169/OIT (Organizao Internacional do Trabalho /Conselho Administrativo da Repartio Internacional do Trabalho, Genebra, junho de 1989), homologada pelo governo brasileiro em 19.04.2003 atravs do Decreto n 5.051/03, traz seu texto alinhado com os preceitos constitucionais de garantia do direito ao exerccio da diferena cultural das etnias e torna-se um dos principais instrumentos orientadores da relao dos Estados independentes com povos indgenas e tribais. J em seu prembulo advoga:
Reconhecendo as aspiraes desses povos a assumir o controle de suas prprias instituies e formas de vida e seu desenvolvimento
econmico, e manter e fortalecer suas identidades, lnguas e religies, dentro do mbito dos Estados onde moram;
Observando que em diversas partes do mundo esses povos no podem gozar dos direitos humanos fundamentais no mesmo grau que o restante da populao dos Estados onde moram e que suas leis, valores, costumes e perspectivas tm sofrido eroso freqentemente.
Em seu artigo 4 dispe:
Devero ser adotadas as medidas especiais que sejam necessrias para salvaguardar as pessoas, as instituies, os bens, as culturas e o meio ambiente dos povos interessados.
Artigo 8
1. Ao aplicar a legislao nacional aos povos interessados devero ser levados na devida considerao seus costumes ou seu
direito consuetudinrio.
Situao dos Detentos Indgenas no Estado do Mato Grosso do Sul
26
Artigo 9
1. Na medida em que isso for compatvel com o sistema jurdico
nacional e com os direitos humanos internacionalmente reconhecidos,
devero ser respeitados os mtodos aos quais os povos interessados
recorrem tradicionalmente para a represso dos delitos cometidos pelos
seus membros.
2. As autoridades e os tribunais solicitados para se pronunciarem
sobre questes penais devero levar em conta os costumes dos povos
mencionados a respeito do assunto.
Ainda em seu Artigo 10, dispe mais especificamente sobre os
indgenas apenados:
1. Quando sanes penais sejam impostas pela legislao geral
a membros dos povos mencionados, devero ser levadas em conta as
suas caractersticas econmicas, sociais e culturais.
2. Dever-se- dar preferncia a tipos de punio outros que
o encarceramento.
Artigo 12
Os povos interessados devero ter proteo contra a violao de
seus direitos, e poder iniciar procedimentos legais, seja pessoalmente,
seja mediante os seus organismos representativos, para assegurar o
respeito efetivo desses direitos. Devero ser adotadas medidas para
garantir que os membros desses povos possam compreender e se fazer
compreender em procedimentos legais, facilitando para eles, se for
necessrio, intrpretes ou outros meios eficazes.
CRONOLOGIA / RECEPO
OIT 169 27 de Junho de 1989;
Vigncia Internacional: 05 de Setembro de 1991;
Aprovao Nacional: Decreto Legislativo 143 de 20 de
Junho de 2002;
Ratificao: 25 de Julho de 2002;
Vigncia Nacional: 25 de Julho de 2003;
Promulgao: Decreto 5.051 de 19 de Abril de 2004;
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Emenda Constitucional 45 de 08 de Dezembro de
2004 Artigo 5, LXXVIII, 3.
Outro importante instrumento na defesa dos direitos dos povos
indgenas a Declarao das Naes Unidas sobre os Direitos dos Povos
Indgenas (DDPI), aprovada em Setembro de 2007. Ainda que seja um
instrumento no vinculante, a DDPI um importante parmetro de ao
para os Estados, na medida em que traz em seu bojo grandes avanos
conceituais acerca dos direitos dos Povos Indgenas, principalmente na
total transversalidade do direito de livre determinao, um dos pilares
da Declarao. No que concerne s questes jurdicas, a Declarao
esclarece os seguintes direitos:
Artigo 08
2. Os Estados estabelecero mecanismos eficazes para preveno
e o ressarcimento de:
a) todo ato que tenha por objeto ou conseqncia privar os povos
e as pessoas indgenas de sua integridade como povos diferentes, ou de
seus valores culturais, ou de sua identidade tnica.
Artigo 13
1. Os Povos Indgenas tm direito a revitalizar, utilizar, desenvolver
e transmitir s geraes futuras suas histrias, idiomas, tradies orais,
filosofias, sistemas de escrita e literaturas, e a atribuir nomes a suas
comunidades, lugares e pessoas e a mant-los.
2. Os Estados adotaro medidas eficazes para garantir a
proteo desse direito e tambm para assegurar que os Povos Indgenas
possam entender e fazer-se entender nas atuaes polticas, jurdicas e
administrativas, proporcionando-lhes, quando necessrio, servios de
interpretao ou outros meios adequados.
Artigo 34
Os Povos Indgenas tm direito a promover, desenvolver e manter suas
estruturas institucionais e seus prprios costumes, espiritualidade, tradies,
procedimentos, prticas e quando existam, costumes ou sistemas jurdicos,
em conformidade com a normativa internacional de direitos humanos.
Situao dos Detentos Indgenas no Estado do Mato Grosso do Sul
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Artigo 35
Os Povos Indgenas tm o direito de determinar as
responsabilidades dos indivduos para com as suas comunidades.
Artigo 40
Os Povos Indgenas tm direito a procedimentos eqitativos
e justos para a soluo das controvrsias com os Estados ou outras
partes, e uma pronta deciso sobre essas controvrsias, assim como a
uma reparao efetiva de toda violao de seus direitos individuais e
coletivos. Nessas decises sero devidamente levados em considerao
os costumes, tradies, normas e sistemas jurdicos dos Povos Indgenas
interessados e as normas internacionais dos direitos humanos.
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III - Situao Criminal, Processual e Prisional dos Detentos Indgenas no Mato Grosso do Sul
Considerando-se os indgenas envolvidos em crimes comuns no
estado do Mato Grosso do Sul, grande parte do problema enfrentado
pelos Kaiow, Guarani e Terena est na fase inquisitiva. O Estado procede
investigao policial, atravs de Inqurito Policial, onde feito o
levantamento das provas material, formal, testemunhal e at pericial.
Os levantamentos so efetuados pela Polcia Civil. Os indgenas que
servem de informantes ou testemunhas ou que figuram como indiciados,
na grande maioria das vezes, no dominam a lngua portuguesa. Alm
disso, sentem-se intimidados diante dos procedimentos e pessoas que
lhes so estranhos ao convvio.
A maioria dos indgenas presos entrevistados desconhecia
por completo a situao processual na qual estavam envolvidos e as
prprias regras do sistema prisional. O nosso mundo jurdico lhes
completamente estranho e incompreensvel. O mesmo desconhecimento
era manifestado por seus familiares.
Analisando as falas dos indgenas e o que consta nos processos
analisados, percebe-se que as especificidades culturais e histricas so
completamente ignoradas. So inmeros os problemas apontados: um
primeiro diz respeito comunicao ou falta de compreenso da
lngua e seus cdigos. Esse um problema grave que no superado
apenas com a incluso de um simples tradutor. A fala de um informante
indica bem esse problema:
Quando eles prendem, , as pessoas, inclusive aqui eu
tenho um tio meu, o problema dele est preso por caso
de terra [...] s em Dourados sabe [...] aconteceu divisa
de lote [...]. Ento foi questo de terra. S que ele no fala
Situao dos Detentos Indgenas no Estado do Mato Grosso do Sul
30
quase portugus. Ento, essa questo da traduo mesmo
[...], do lingismo, tem necessidade de l dentro, algum
ou algum advogado, especialista ou um outro algum (...),
tradutor, pra explicar o que aconteceu realmente, o fato
que aconteceu [...] pra poder a justia analisar. (ndio
guarani, Aldeia Boror, Terra Indgena de Dourados, fita
n.08, p. 3.)
Outro problema relacionado s dificuldades de comunicao
emerge no seguinte depoimento:
Eu no acho justo, porque, se fosse feito alguma coisa
nesse [inaudvel] (...), eu no estaria esquentando, mas o
problema que eu estou aqui s por causa da quebra, que
eu quebrei a intimao. Manda a intimao l e ningum
entrega, ento eu no vim aqui pra assinar esse documento
[inaudvel], que foi mandado l. por isso que eu estou
aqui, eu no caia se eu tivesse assinado o documento, a
intimao (ndio kaiow, detento da Cadeia Pblica de
Caarap, fita n.03, p.5).
As entrevistas com os detentos nos indicam a violao de seus
direitos e garantias constitucionais diante da falta ou deficincia de
assistncia jurdica. As provas colhidas, durante o Inqurito Policial e
durante o processo penal, so parciais ou insuficientes; os testemunhos
oferecidos pela acusao, muitas vezes, no so contestados pelos
advogados ad hoc e a defesa nem sempre produz as provas que seriam
necessrias. Os prprios indgenas reconhecem a falta de defesa: Cara
l que tem ano, passa ano e advogado nem vai l [...] (Parente de
detento kaiow na Penitenciria Mxima Harry Amorim Costa, em
Dourados, Aldeia Boror, Terra Indgena de Dourados, fita n.05, p. 9.)
O resultado que indgenas processados por delitos de
homicdio, crime sujeito ao procedimento do Jri, devido defesa
insuficiente acabam sendo pronunciados e, quando julgados por Jri
Popular que desconhece seus modos de percepo e prticas sociais,
so condenados.
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Na fase processual, por falta de acompanhamento jurdico,
muitos indgenas deixam de comparecer s audincias como
testemunhas e, posteriormente, so processados por desobedincia
ou conduzidos a juzo coercitivamente. Os indgenas processados, ao
deixarem de comparecer, so declarados revis e acabam tendo suas
prises decretadas preventivamente, ou seja, antes da condenao
irrecorrvel. Prises preventivas poderiam ser evitadas se houvesse um
acompanhamento jurdico prestado por profissionais comprometidos
com a causa indgena.
As testemunhas indgenas, na maioria das vezes, tm que ser
dispensadas, devido a reiteradas faltas s audincias por no possurem
condies financeiras para o deslocamento at a sede do juzo. Outras
vezes sentem medo do formalismo, principalmente por saberem que
estaro sob juramento, podendo ser condenadas por falso testemunho
se omitirem ou faltarem com a verdade.
Nas audincias criminais, h situaes em que o indgena no
consegue dizer uma s palavra, por falta de orientao. Por ocasio
da oitiva, o Procurador da Funai citado mas no comparece no dia,
local e data, pois no tem como estar em vrias Comarcas ao mesmo
tempo. O Juiz, na ausncia deste, nomeia o famoso Ad Hoc. Muitos
deles, porm, nunca leram o Estatuto do ndio (Lei 6.001/73) ou a
Conveno 169/OIT.
Na esfera criminal, o prejuzo desta deficincia ainda maior
quando o processo versa sobre delito de homicdio, visto que os
testemunhos e provas com vcios no so contestados, o que fatalmente
pode levar um inocente pronncia e, conseqentemente, Jri
popular, o que contribui para a condenao com agravantes.
Uma vez segregado da comunidade o ru preso vai gradativamente
enfraquecendo os vnculos sociais que mantinha com a mesma e
sua famlia tende a se dispersar. A maioria dos presos entrevistados
nos presdios no recebia visitas e disto muito se ressentiam. O
distanciamento das aldeias e as exigncias do prprio presdio dificultam
que isto ocorra. A deteno implica em perder a famlia, o que um
Situao dos Detentos Indgenas no Estado do Mato Grosso do Sul
32
grave problema para povos em que a instituio da famlia a grande
articuladora das funes sociais e liga-se sobremaneira a prpria noo
de pessoa. Podemos entrever a dramaticidade da situao nas seguintes
falas: No, no vem no. No vem, no vem a minha famlia, no
veio nenhuma vez aqui... Eu preciso sabonete, preciso sabo pra lavar
roupa. (ndio kaiow, detento da Cadeia Pblica de Caarap, fita n.03,
p.4). E, ainda:
Eu senti mais que a gente fica longe da famlia, fica perdido
a, no sei como que t l fora. Minha preocupao
somente s isso a, fica trancado a, sem fazer nada, todo
o dia fica a na cela n, trancado que nem a mesma coisa:
vocs fecham o galo sozinho a (...), isso a que eu me
preocupo muito (ndio kaiow, detento da Cadeia Pblica
de Caarap, fita n.03, p.11).
Reclamam, tambm, das condies na carceragem:
Tinha dezoito cada cela, dezoito cada cela, dormia que
nem sardinha, num pode nem vira pra c, num pode nem
vira pra l e tem que respeitar muito, tambm, as pessoas
que , esto dormindo assim no cho, no pode pisar na
coberta, no pode pisar no colcho, por seqncia pra
voc entrar no banheiro pra tomar banho, por seqncia.
Por exemplo, se a pessoa que dorme ali na beira da porta
do banheiro, primeiro ele tem que levantar pra ir tomar
ducha, pra ir tomar banho l e quando ele sai, e no pode
apurar, tambm, no pode acelerar, (...) agora se voc
d vontade muito de cagar a voc avisa ele a deixa (...),
se voc est com dor de barriga l isso tem que avisar.
(...) Ento, muito complicado, muito complicado pra
pegar assim, pra pegar assim comida complicado [...]
(ndio kaiow, detento da Cadeia Pblica de Caarap, fita
n.03, p.11.)
A pouca ateno sade patente: Ele precisa de consultar o
mdico, essas coisas, s se t bem doente mesmo leva para consultar
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(ndio kaiow, detento da Cadeia Pblica de Caarap, fita n.03, p.11.)
Porm, os indgenas reivindicam principalmente o direito
informao e o reconhecimento de sua diversidade nas condies
de crcere:
o Estado, o governo teria que ver um jeito de ter esses,
esse espao para tratamento diferenciado pros indgenas,
eu vejo mais no caso do indgena pouco escolarizado [...].
(Com) pouco de informao, ele j consegue, ele entende
e consegue sobreviver num meio de um, de um grupo de
presos, , vamos dizer assim, com diversidade diferente
l dentro (ndio kaiow, Aldeia Boror, Terra Indgena
Dourados, fita n.08, p.7-8).
E, aliado a isso, contestam a premncia do direito positivo face
ao direito consuetudinrio:
Eu acho que esse da tem que avanar [...] , inclusive
com os agentes carcerrios, indgena que fala o idioma pra
poder tambm repassar pra prpria famlia [...]. Fazer essa
interlocuo l dentro [...] porque parente est assim, ele
est precisando disso, ele est sentindo assim [...]. Ele teria
uma melhor, vamos dizer assim, essa resocializao seria
acho que mais vlido do que ele ser preso ai no meio de
preso comum, numa penitenciria grande como no caso
do Harry Amorim (ndio kaiow, Aldeia Boror, Terra
Indgena Dourados, fita n.08, p. 9).
Da pesquisa realizada sobre a fase processual: processos e guias
de recolhimento que se encontram nas Varas Criminais do Estado, 149
processos foram localizados de acordo com os dados fornecidos pela
Agncia Estadual de Administrao do Sistema Penitencirio do MS -
AGEPEN e pela Diretoria Geral da Polcia Civil - DGPC. Estes processos
nos indicam os seguintes nmeros de detentos por unidades prisionais:
Situao dos Detentos Indgenas no Estado do Mato Grosso do Sul
34
Dourados 68
Amambai 23
Aquidauana 10
Navira 04
Ponta Por 04
Trs Lagoas 04
Caarap 03
Campo Grande 01
Rio Brilhante 01
Botaguassu 01
Da listagem total, 16 processos no foram analisados por serem
segredo de justia (crimes sexuais envolvendo menor de idade), 12 por
estarem arquivados e 6 por no serem rus indgenas. Num segundo
levantamento, outros processos foram encontrados, o que resultou
num total de 96 indgenas em 103 processos. Cumpre lembrar que
h processos em que temos dois ou mais indgenas envolvidos, assim
como alguns indgenas figuram em mais de um processo, por isso no
h identidade numrica entre processos e indgenas.
O Sistema de Monitoramento e Acompanhamento criado pelo
CTI/UCDB (software) computa cada lanamento como um processo,
por exemplo, existe um processo que tm 09 rus, o software apresenta
como nove processos, pois foram acrescentados nove fichas, uma para
cada ru.
Quanto aos resultados obtidos na anlise dos processos
pesquisados sobre a rubrica situao processual, todos eles j
estavam em andamento, mas onde se l condenado, significa que
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j o processo j terminou e, consequentemente, os indgenas j esto
cumprindo pena. Fazendo a anlise das fichas encontramos rus com
dupla condenao em um nico nmero de Guia de Recolhimento
(GR). Para entender: quando a ao penal est em andamento o
chamamos de processo, quando o ru condenado definitivamente
aquele processo encaminhado Vara de Execuo penal e passa a
ser chamado de Guia de Recolhimento. Quando o ru condenado
por um novo crime a nova condenao se soma pena antiga, sendo
assim um nico condenado pode ter duas condenaes, com um nico
nmero de processo.
Outro exemplo: como cada processo gera um nmero e uma ficha
no sistema, aqueles que tiveram uma pluralidade de processos fazem
com que haja discrepncia no resultado final, pois em um processo ele
pode ter sido preso em flagrante e numa nova condenao ele pode ter
sido preso provisoriamente. Caso tenhamos j condenaes definitivas,
essas penas se somam e viram condenado em regime fechado, semi-
aberto ou aberto.
Neste sistema, tambm a tipificao do crime pode ultrapassar
o nmero de casos analisados, pois se o agente num processo est
sendo condenado a um estupro e um homicdio em concurso material
de crimes, aparecem duas tipificaes. Assim como no caso de duas
condenaes (processos diferentes) que depois de condenado se juntam
em uma mesma GR. (exemplo: um ru foi condenado a 18 anos por
estupro + homicdio [01 processo] e depois foi condenado por coao
no curso do processo [outro processo], ao final virou uma GR com duas
condenaes, mas trs tipificaes).
Desta maneira, os resultados dos diferentes cruzamentos, quando
comparados, resultam aparentemente incongruentes, pois podem
ultrapassar ou no alcanar os nmeros de processos analisados. Para
evitar confuses na leitura dos resultados da pesquisa por item, optamos
por substituir os nmeros por porcentagens.
Os resultados obtidos referentes ao levantamento realizado em
103 processos relativos ao ano de 2006 so:
Situao dos Detentos Indgenas no Estado do Mato Grosso do Sul
36
!
Situao Processual
Condenado, em livramento condicional 04%
Condenado, cumprindo pena no fechado 45%
Condenado, cumprindo pena no aberto 06%
Condenado, cumprindo pena no semi-aberto 12%
Processado e preso provisoriamente 08%
Processado e solto 10%
Preso e aguardando jri 15%
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Natureza da deteno
No informado 04%
Priso em Flagrante 63%
Priso Preventiva 28%
Proveniente de sentena condenatria 03%
Priso Temporria 01%
Outro 01%
!
Situao dos Detentos Indgenas no Estado do Mato Grosso do Sul
38
Se foi reconhecido como indgena no processo
Sim 97%
No 03%
!
Se aparece como indgena pelo rgo responsvel pela priso
Sim 97%
No 03%
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39!Tipificao do crime
Art. 121 c.c art. 14, II do CP Tentativa de
homicdio
03%
Art. 12 da Lei 6.368/76 ou art. 33 da lei 11.343/07
Trfico de drogas
11%
Art. 14 da Lei 10.826/03 Porte ilegal de arma 01%
Art. 121 Homicdio 37%
Art. 129 Leso Corporal 04%
Art. 147 Ameaa 01%
Art. 155 Furto 03%
Art. 157 Roubo 06%
Art. 211 Ocultao de cadver 02%
Art. 213 Estupro 16%
Art. 214 Atentado violento ao pudor 07%
Art. 213 ou Art.214 c.c art. 224 Crime sexual
por presuno de violncia
04%
Situao dos Detentos Indgenas no Estado do Mato Grosso do Sul
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Art. 213 ou Art. 214 c.c Art. 226 Crime sexual
com aumento de pena quando a vtima parente
04%
Art. 344 Falso testemunho 01%
!
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Acompanhamento
Defensoria Pblica 67%
FUNAI 22%
Advogado Particular 09%
Outro: Conselho Tutelar (adolescente) 02%
Acompanhado por advogado nos interrogatrios
No 06%
Sim, na fase policial 06%
Sim, ambas as fases 10%
Sim, somente fase judicial 78%
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!
Reincidente
Sim 14%
No 83%
No informado 03%
!
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Testemunhas
No indgenas 04%
Indgenas 96%
!
Lugar do crime
Comunidade do detento 78%
Em outra comunidade 06%
Na cidade 10%
Outro local 05%
No informado 01%
Situao dos Detentos Indgenas no Estado do Mato Grosso do Sul
44 Vtima
Mesma etnia 55%
Etnias distintas 04%
No indgenas 16%
No informado 25%
Obs.: h processos em que no h uma vtima (ex.: trfico de drogas)
!
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Relao das localidades
R.I. Dourados - 58%, sendo:
Jaguapiru 29%
Boror 19%
Aldeia Passo Piraju 10%
T.I. Amambai
Aldeia Amambai 14%
T.I. Aldeia Limo Verde 05%
T.I. Caarap
Teyikue 06%
T.I. Guyrarok 01%
T.I. Taquaperi 05%
T.I. Panambi 01%
T.I. Nioaque
Aldeia Brejo 01%
T.I. anderu Marangatu
Aldeia Pin Campestre 03%
T.I. Kadiwu
Aldeia Bodoquena 01%
T.I. Cachoerinha
Aldeia Morrinho 01%
T.I. Ramada
Posto Indgena Sassor 01%
No informado 03%
Situao dos Detentos Indgenas no Estado do Mato Grosso do Sul
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!
H evidncias de bebidas alcolicas
No 42%
Autor alcoolizado 21%
Vtima alcoolizada 01%
Autor e vtima alcoolizados 36%
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!
Presena de intrprete ou outro meio eficaz para compreenso (Art. 12 da Conv. 169- OIT: Medidas devero ser tomadas para garantir que os membros desses povos possam
compreender e se fazerem compreender em processos legais,
proporcionando-lhes, se necessrio, intrpretes ou outros meios
eficazes.)
Sim 22%
No 78%
!
Situao dos Detentos Indgenas no Estado do Mato Grosso do Sul
48
Preferncia ao no encarceramento aparece na definio da pena. (Art. 10 da Conv.169: Dever-se- dar preferncia a tipos de punio que no o encarceramento.)
Sim 01%
No 99%
!
Se levou em conta as formas de punir que acontecem na comunidade (Art. 9 da Conv. 169-OIT: Desde que compatveis com o sistema jurdico nacional e com os direitos
humanos internacionais reconhecidos, devero ser respeitadas
as medidas a que tradicionalmente recorrem esses povos para
punir delitos cometidos por seus membros. Nesses casos,
autoridades e tribunais solicitados a se pronunciarem sobre
questes penais devero levar em conta os costumes desses
povos.)
Sim 01%
No 99%
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Houve solicitao de percia?
No 67%
Sim, sendo:
Psicolgica 17%
Psiquitrica 04%
Antropolgica 12%
!
Situao dos Detentos Indgenas no Estado do Mato Grosso do Sul
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H controvrsias quanto autoria do crime?
Ru confessou 23%
Ru confessou somente na fase policial 35%
Ru confessou somente em juzo 06%
Ru confessou em ambas a fases 31%
Ru negou a autoria 05%
!
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IV- Recomendaes que visam a um maior conhecimento e aplicao dos Direitos Indgenas:
Implementao de mini-cursos/reunies nas comunidades indgenas
levando conhecimento sobre os direitos dos povos indgenas na
rea penal.
Os Direitos Indgenas devem ser tema das escolas indgenas. No
caso dos Kaiow e Guarani tambm no Ara Vera (ensino mdio) e
Teko Arandu (ensino superior).
Criao de disciplina nos currculos das faculdades de direito que
contemplem o Direito Indgena.
Que as Universidades Pblicas e Privadas fomentem estgios
com atendimento s comunidades indgenas, envolvendo,
preferencialmente, os acadmicos indgenas.
Necessidade da capacitao dos quadros administrativos regionais
da Funai sobre os dispositivos contidos na Conveno 169 da OIT.
Formao de equipes interdisciplinares com a presena de
antroplogos que atuem na capacitao dos profissionais que
trabalham em Delegacias de Polcia para um atendimento
especializado aos indgenas.
Capacitao dos profissionais que trabalham nos Juizados Especiais
Criminais, Varas Criminais e Varas de Execuo Penal sobre os
direitos indgenas, ou seja, as regras constantes no Estatuto do ndio
e na Conveno 169 da OIT.
Contratao e/ou formao de especialistas em direito indgena nas
Defensorias Pblicas.
Necessidade de que haja representantes indgenas nos Conselhos
de Segurana Pblica municipais.
Situao dos Detentos Indgenas no Estado do Mato Grosso do Sul
52
Que na ficha de Vida Pregressa - documento preenchido nas
Delegacias - tenha campos que contemplem a informao de ser o
agente indgena e a qual etnia pertence.
Destinao de um espao para detentos indgenas dentro dos
estabelecimentos prisionais j existentes, seguindo o modelo da
PHAC de Dourados.
Estabelecer polticas pblicas que tenham como objetivo a
reintegrao dos ex-detentos s suas comunidades de origem.
Propostas de Alteraes Legislativas
No interrogatrio, que seja garantido o acompanhamento de
intrprete ou outro meio que permita ao indgena entender e se
fazer entender.
No interrogatrio de indgena que fale a lngua portuguesa, seja
facultado a ele falar em seu prprio idioma, sendo-lhe garantida a
presena de um intrprete.
Nos processos em que houve a necessidade de acompanhamento
de intrprete durante o interrogatrio, tambm haja intrprete
durante os demais atos processuais, ou seja, durante as audincias
para oitiva das testemunhas de defesa e acusao.
No interrogatrio e na oitiva das testemunhas, que seja perguntado
pelo juiz sobre a existncia ou no de aplicao de sano pela
prpria comunidade do ru.
Durante o interrogatrio, que seja perguntado se o preso tem
dependentes e se assegure a forma de subsistncia deles em caso de
condenao do ru.
Em processos da competncia do Tribunal do Jri em que o ru ou
a vtima seja indgena, que o corpo de jurados seja composto por
representantes dos povos indgenas da mesma etnia do autor do fato
e da vtima.
Criao de dispositivo legal que reconhea a punio aplicada na
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aldeia como causa de extino de punibilidade.
Criao de um dispositivo legal que descreva o regime de semi-
liberdade previsto na Conveno 169 da OIT.
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Concluso
Os dados aqui apresentados iluminam, acima de tudo, a total des-etnizao dos indgenas nos inquritos, processos e na situao prisional. Os rgos responsveis no conseguem informar-nos sobre a que grupo pertencem os detentos indgenas, nem tampouco prover-lhes de um tratamento diferenciado e especfico, garantido por lei. Alm
disso, latente o despreparo e descaso que os operadores do direito, seja qual for a instncia, demonstram para com os Direitos Indgenas estabelecidos em territrio nacional. E muito menos procuram refletir
ou tomar em conta a natureza do Direito Consuetudinrio dos povos indgenas e se, a tempo, o Direito Positivo deve consider-lo ou no. A insuficincia de defesa, no entanto, o fato mais grave com que os
acusados indgenas tm que se defrontar.
O direito defesa o pressuposto bsico de qualquer procedimento judicial e se liga, mais amplamente, ao direito humano, seja qual for a filiao cultural do envolvido. Sem intrpretes, meio
eficaz de comunicao e requerimento de percia antropolgica, os
acusados indgenas no puderam acessar o direito plena defesa. Desta forma, minimamente prudente no atribuir contornos absolutos aos dados processuais disponveis, no sentido de que tais dados no nos permitem afirmar a culpabilidade do ru, nem tampouco a tipificao
do crime. Cabe ao Ministrio Pblico e aos Procuradores da Funai questionarem tais processos e trabalharem, na medida do possvel, para sua nulidade.
A problemtica se complexifica ainda mais quando nos voltamos
para as prprias noes de culpabilidade envolvidas. Os operadores do direito tm o dever de atentarem para as noes de crime especficas de
cada povo e reforar a autonomia destes sobre as formas de punio, como determina a Lei 6001. Nos crimes tipificados como estupro, para
citar um exemplo, podem estar envolvidas percepes diversas e at incongruentes sobre iniciao sexual, casamento e parentesco. Nesse
Situao dos Detentos Indgenas no Estado do Mato Grosso do Sul
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sentido, impor aos indgenas um sistema moral, criminal e prisional totalmente alheio aos seus costumes, usos e tradies, significa
novamente vitim-los.
Deveria ser igualmente considerada pelos operadores do direito a situao social interna nas denncias, quando feitas por membros da prpria comunidade indgena. No caso dos Kaiow, por exemplo, sabido que nas terras indgenas reservadas pelo SPI nos anos 1920 convivem famlias extensas e mesmo grupos locais que vieram de outras terras e que delas foram despejados ou desalojados no processo de colonizao do estado do Mato Grosso do Sul. So famlias ou grupos de famlias que esto fora de suas terras e so pressionadas pelas famlias locais a voltarem para as suas terras, para seus tekoha de origem. As rivalidades internas que este processo ocasiona foram potencializadas pelo crescimento demogrfico, gerando uma situao de anomia social
grave, como a que se verifica hoje em Dourados e Amambai. Muitas das
acusaes feitas por membros da comunidade tm esse pano de fundo como motivo e isto no nem de longe averiguado nos processos ou nas queixas-crimes.
O desafio consiste em encontrar alternativas de dilogo e
convivncia, que no s no agravem os problemas relativos organizao social indgena, mas que, ao contrrio, contribuam para diminuir a tenso interna e fortalecer as formas organizativas prprias de cada povo. Esse um aspecto da maior relevncia se tivermos em conta que, sob a tica indgena, o autor de delitos deve reparar os danos de seu ato e dessa forma ser reintegrado. importante no esquecer que as famlias extensas constituem, ainda hoje, a unidade social bsica, sendo difcil pensar alternativas de controle social fora das relaes de parentesco particulares a cada etnia. Cabe ao Estado negociar com as comunidades indgenas a viabilizao de sua harmonia social sem ter que lhes impor um sistema carcerrio como forma de resoluo dos problemas resultantes.
Finalmente, eventuais propostas alternativas devem objetivar a participao indgena na soluo dos problemas que vivenciam, visando, sobretudo, ao fortalecimento de instncias de deciso prvia ao sistema judicial inseridas nas comunidades indgenas locais.
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Paulo. So Paulo.
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Siglrio
ABA Associao Brasileira de Antropologia
Agepen Agncia Estadual da Administrao do Sistema Penitencirio
do MS
CTI Centro de Trabalho Indigenista
CICV Comit Internacional da Cruz Vermelha
DDPI Declarao das Naes Unidas sobre o Direito dos Povos
Indgenas
DGPC Diretoria Gera da Polcia Civil
Funai Fundao Nacional do ndio
Funasa Fundao Nacional de Sade
Incra Instituto Nacional de Colonizao e Reforma Agrria
MS Estado do Mato Grosso do Sul
Neppi Ncleo de Estudos e Pesquisas sobre Populaes Indgenas
Nupeju Ncleo de Pesquisa e Monografia Jurdica
OIT Organizao Internacional do Trabalho
R.I. Reserva Indgena
SPI Servio de Proteo aos ndios
T.I. Terra Indgena
UCDB Universidade Catlica Dom Bosco
UE Unio Europia