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DECLARAÇÃO DA MISSÃO
WAZA é a voz de uma comunidade global de
zoos e aquários e um catalisador para suas
ações conjuntas de conservação
GERAL | Créditos | Autores contribuidores
4 ESTRATÉGIA DE BEM-ESTAR ANIMAL | ASSOCIAÇÃO MUNDIAL DE ZOOS E AQUÁRIOS
CRÉDITOS
Título
Cuidando da vida selvagem: A Estratégia Mundial de Zoos e Aquários para o Bem-estar Animal
Editores
David J. Mellor, Susan Hunt & Markus Gusset
Editora
Associação Mundial de Zoos e Aquários (WAZA) Escritório Executivo, Gland, Suíça
Layout e Design
Megan Farias, Houston Zoo, TX, USA
Foto de Capa
Cão selvagem africano (Lycaon pictus) | © Jonathan Heger
Mangusto amarelo (Cynictis penicillata) | © Nicole Gusset-Burgener
Impressão
Chas. P. Young, Houston, TX, USA
Copyright
© 2015 World Association of Zoos and Aquariums (WAZA)
Citação
Mellor, D. J., Hunt, S. & Gusset, M. (eds) (2015) Cuidando da vida selvagem: A Estratégia Mundial de Zoos e Aquários para o Bem-estar Animal, Gland: WAZA Escritório Executivo, 87 pp.
WAZA Escritório Executivo
Centro de Conservação da IUCN
Rue Mauverney 28 CH-1196 Gland Suíça
[email protected] www.waza.org
Tradução para o português
Claudia Igayara para
Associação de Zoológicos e Aquários
do Brasil - SZB
ISBN
978-2-8399-1695-0
AUTORES CONTRIBUIDORES
Nicolas de Graaff
Zoo and Aquarium Association Australasia (ZAA) Executive Office, Mosman, NSW 2088, Australia
Markus Gusset
World Association of Zoos and Aquariums ( WAZA) Executive Office, 1196 Gland, Switzerland
Júlia Hanuliaková
Zoo Design Inc, Seattle, WA 98115, USA
Heribert Hofer
Leibniz Institute for Zoo and Wildlife Research (IZW), 10315 Berlin, Germany
Carolyn Hogg
Zoo and Aquarium Association Australasia (ZAA) Executive Office, Mosman, NSW 2088, Australia
Geoff Hosey
Biology, University of Bolton, Bolton BL3 5AB, UK
Susan Hunt
Zoological Parks Authority, Perth Zoo, South Perth, WA 6151, Australia
Terry L. Maple
Departments of Biological Sciences and Psychology, Honors College, Florida Atlantic University, Boca Raton, FL 33431, USA and Jacksonville Zoo & Gardens, Jacksonville, FL 32218, USA
Vicky Melfi
Taronga Conservation Society Australia, Mosman, NSW 2088, Australia
David J. Mellor
Animal Welfare Science and Bioethics Centre, Institute of Veterinary, Animal and Biomedical Sciences, Massey University, Palmerston North 4442, New Zealand
Dave Morgan
Wild Welfare, Groot Marico 2850, South Africa
Andrea Reiss
Zoo and Aquarium Association Australasia (ZAA) Executive Office, Mosman, NSW 2088, Australia
Stephen van der Spuy
Southern African Foundation for the Conservation of Coastal Birds (SANCCOB), Cape Town 7441, South Africa
Jason V. Watters
San Francisco Zoological Society, San Francisco, CA 94132, USA
CONTEÚDO
GERAL
04 | Créditos & Autores Contribuidores
06 | Prólogo
07 | Declarações de apoio
09 | Sumário Executivo
10 | Recomendações
12 | Prefácio
14 | Introdução
18 Capítulo 1: Bem-estar Animal e sua Avaliação
26 Capítulo 2: Monitoramento e manejo de bem-estar
34 Capítulo 3: Enriquecimento Ambiental
40 Capítulo 4: Design de Exibições
46 Capítulo 5: Programas de Reprodução e Plano de Coleção
54 Capítulo 6: Bem-estar na Conservação
60 Capítulo 7: Pesquisa em Bem-estar Animal
66 Capítulo 8: Parcerias em Bem-estar Animal
72 Capítulo 9: Engajamento e Interações com Visitantes
APÊNDICES
76 | B ib l iograf ia
82 | Acrônimos e Websites
82 | G lossár io de Termos
84 | Código de Ética e Bem-estar
da WAZA
86 | Crédi tos das Fotos
Printed with soy-based inks on 100% post-consumer waste recycled paper
Translucent sheets made with 30% post-consumer waste recycled paper
GERAL | Prólogo
6 ESTRATÉGIA DE BEM-ESTAR ANIMAL | ASSOCIAÇÃO MUNDIAL DE ZOOS E AQUÁRIOS
Ao ler a Estratégia Mundial de Zoos e Aquários para o Bem-estar Animal, eu fui assaltado por como ela se encaixa no desenvolvimento histórico de
preocupações éticas com os animais. Essas preocupações podem ser vistas, de uma forma grosseira, como ocorrendo em três etapas. Primeiro, entre
1700 e 1800, em uma época em que esportes sangrentos e atos flagrantes de crueldade eram comuns e perfeitamente legais, reformistas procuraram
acabar com a crueldade como parte de um programa mais amplo de progresso social. Isto levou à criminalização da crueldade deliberada e ao banimento
de atividades recreativas como farras de boi e brigas de cães em muitos países.
Então, durante os anos de 1900, com o uso institucionalizado em larga escala de animais na produção de alimentos e na pesquisa biomédica, o problema
chave da ética animal foi percebido não como atos de crueldade, mas como o uso de animais para fins utilitários de maneiras que resultavam em
privação e redução de sua liberdade. Isso deu origem a ideias radicais, como os direitos animais e a liberação animal, as quais se opõem a toda a posse e
uso de animais. Também deu origem a preocupações sobre o bem-estar e a 'qualidade de vida' de animais sob cuidado humano, e a uma combinação de
tentativas científicas e filosóficas de compreender o que constitui uma boa vida para os animais.
No século atual, embora a crueldade persista, e embora números imensos de animais continuem a ser usados para alimentação e outras finalidades, nós
passamos, sem dúvida, para um terceiro estágio. Nós agora vemos que o crescimento da população humana está tendo um efeito vasto e não intencional
sobre os habitantes não humanos do planeta.
Nós afetamos animais por destruir seus habitats, poluir seu ambiente, introduzir espécies invasoras em seus sistemas ecológicos, construir estruturas em
rotas de voo, pavimentar o solo, cortas árvores, dirigir carros, queimar combustível, e assim por diante. A propósito, muitas das discussões sobre essas
questões tem se focado em 'conservação', que lida ao nível das populações e espécies. Entretanto, nós agora reconhecemos que essas mesmas atividades
humanas causam danos aos indivíduos animais em grande escala, fazendo dessas atividades uma das principais preocupações para o bem-estar dos
indivíduos, assim como a conservação de espécies e populações.
Historicamente, tem havido uma falta de comunicação entre os movimentos de conservação e de bem-estar animal, e mesmo conflitos ocasionais. Por
um lado, a conservação foi frequentemente liderada por pessoas que queriam preservar populações selvagens para atividades, especialmente a caça e a
pesca, que eram questionadas por protetores animais e tinham oposição dos liberacionistas. E atividades voltadas à conservação, como o controle de
pragas e a reintrodução de animais, muitas vezes resultavam em danos aos animais envolvidos. Claramente, entretanto, em um século no qual tantas
atividades humanas levaram a problemas tanto de conservação como de bem-estar, há muito mais preocupações compartilhadas entre os dois lados do
que há diferenças. O que é necessário é uma mentalidade e um plano de ação que combinem a energia tanto da conservação como do bem-estar para
confrontar seus problemas comuns.
Zoos e Aquários tem um papel importante e complexo nesta arena. Primeiro, eles sofrem oposição por princípio dos liberacionistas, apenas porque
mantém animais em 'cativeiro'. Segundo, eles são foco de preocupação sobre bem-estar, porque podem proporcionar tanto boa quanto má qualidade de
vida para seus animais residentes, dependendo da espécie, da equipe e da instituição. Boas instituições tem respondido a essas preocupações com
programas de pesquisa, inovação e monitoramento elaborados para melhorar o bem-estar dos animais sob seu cuidado. Terceiro, muitos zoos e aquários
são engajados em atividades de conservação; se essas são escolhidas e executadas com o bem-estar animal em mente, elas tem o potencial de melhorar o
bem-estar de animais selvagens assim como ajudar a conservar espécies e populações. Finalmente, zoos e aquários comunicam-se com um grande
número de pessoas, e assim, tem o potencial de sensibilizar e mobilizar as pessoas para agir de forma que apoie tanto o bem-estar quanto a conservação
de animais de vida livre.
A Estratégia Mundial de Zoos e Aquários para o Bem-estar Animal é um marco significativo e oportuno. Ela responde às preocupações sobre o bem-estar de
animais em zoos e aquários fornecendo uma abordagem estruturada para avaliar e manejar o bem-estar animal através da acreditação, conscientização
da equipe, design da exibição e enriquecimento ambiental. Mas vai além, por incorporar o bem-estar animal nas atividades de conservação de zoos e
aquários, como os programas de reprodução e programas para a reintrodução de animais na natureza. Também inclui o bem-estar animal nas atividades
de comunicação pública dos zoos e aquários, e estimula as instituições a ajudar o público a reconhecer a necessidade de proteger animais selvagens de
vida livre tanto para fins de conservação quanto de bem-estar animal.
A sociedade tem poucas instituições que fazem do bem-estar de animais selvagens uma preocupação chave. Ao seguir a Estratégia Mundial de Zoos e
Aquários para o Bem-estar Animal, zoos e aquários podem cumprir este tão necessário papel.
Professor David Fraser
Animal Welfare Program, University of British Columbia, Vancouver, BC, Canada
GERAL | Declarações de apoio CUIDANDO DA VIDA SELVAGEM
7
International Fund for Animal Welfare (IFAW)
A Estratégia Mundial de Zoos e Aquários para o Bem-estar Animal é uma leitura impressionante. Fica claro que esforço considerável foi feito em sua preparação
e que os princípios e recomendações de bem-estar são bem pesquisados e minuciosos. Ao mesmo tempo que a IFAW acredita que a fauna selvagem
pertence à natureza, nós reconhecemos que animais selvagens são mantidos sob cuidado humano por uma variedade de razões. Em nossa visão, a
consideração primária deve ser pelo bem-estar dos animais em questão. Por esta razão, a iniciativa de bem-estar da WAZA é especialmente importante e,
quando implementada, deve melhorar a vida de animais de zoos e aquários por todo o mundo. Nós desejamos sucesso à WAZA nesse esforço.
Humane Society International (HSI)
Ao redor do mundo milhares de zoos e aquários operam com instalações, procedimentos e filosofias que não atendem sequer os parâmetros básicos de
bem-estar animal. A Estratégia Mundial de Zoos e Aquários para o Bem-estar Animal oferece orientação prática, científica e de manejo para promover a
aplicação de reformas em diversas áreas críticas. A HSI saúda a liderança da WAZA, e espera ver seus esforços criarem mudanças significativas para os
animais de zoos e aquários, tanto dentre quanto além de seus membros.
World Animal Protection
Zoos e aquários tem o potencial de desempenhar um papel vital na conservação de espécies selvagens ameaçadas, se essas forem manejadas corretamente e
de acordo com as melhores práticas. A Estratégia Mundial de Zoos e Aquários para o Bem-estar Animal reconhece a importância vital de incorporar
considerações de bem-estar nos planos de manejo dos zoos e aquários modernos. WAP congratula a WAZA por sua abordagem corajosa e transparente e
espera que seus esforços resultem em uma mudança positiva para animais selvagens em zoos e aquários através do globo.
FOUR PAWS
FOUR PAWS busca ativamente que o bem-estar animal em zoos e aquários sejam progressivamente melhorados. Assim, nós apreciamos imensamente o
comprometimento da WAZA de engajar-se na implementação dos mais elevados padrões para o bem-estar de animais em zoos e aquários, e saudamos a
Estratégia Mundial de Zoos e Aquários para o Bem-estar Animal. Nós cremos que a implementação adequada das diretrizes contribuirão para melhorar o bem-
estar de animais em zoos e aquários e influenciarão positivamente mudanças na comunidade global de zoos.
Royal Society for the Prevention of Cruelty to Animals (RSPCA)
Manter animais sob cuidado humano traz uma grande responsabilidade, não apenas em termos de prevenir o sofrimento mas também assegurando que os
animais experimentem uma boa qualidade de vida. A RSPCA congratula a WAZA por reconhecer isso na Estratégia Mundial de Zoos e Aquários para o Bem-
estar Animal e por oferecer orientação prática aos zoos e aquários sobre como alcançá-la. A RSPCA espera ver os zoos e aquários ao redor do mundo usando
essa Estratégia para alcançar melhorias genuínas na vida dos animais que mantém.
Wild Welfare
A Wild Welfare apóia fortemente a Estratégia Mundial de Zoos e Aquários para o Bem-estar Animal. Ela se tornará o modelo em torno do qual todos os zoos e
aquários devem direcionar seus esforços em continuamente melhorar o cuidado e bem-estar dos seus animais. Para que zoos e aquários justifiquem sua
existência, eles devem não apenas apresentar animais de forma a encorajar seu público a respeitar, compreender e proteger o mundo natural, mas também
demonstrar que estão oferecendo os mais altos padrões de bem-estar possíveis. Esta Estratégia mostra o caminho a ser seguido por todos os zoos e aquários.
8 ESTRATÉGIA DE BEM-ESTAR ANIMAL | ASSOCIAÇÃO MUNDIAL DE ZOOS E AQUÁRIOS
HIERARQUIA DE NECESSIDADES DE MASLOW
Nós sobrepusemos a pirâmide de hierarquia de necessidades de Maslow a uma árvore para expressar as aspirações da Estratégia Mundial de Zoos e Aquários para o Bem-
estar Animal; ou seja, direcionar a atenção em bem-estar animal para as categorias mais altas da pirâmide de bem-estar de Maslow. As raízes da árvore representam os
requerimentos críticos fundamentais para a sobrevivência, incluindo sistemas de nutrição, compreendidos através da experiência e ciência. No tronco, o cuidado de saúde atende as necessidades físicas e de segurança. A copa é o local com as mais variadas e complexas atividades relacionadas ao bem-estar que o design e manejo de zoos e aquários devem tornar disponível para os animais. As aves levantando voo a partir da árvore representam, talvez, um ideal para os zoos e aquários - reter e estimular as habilidades naturais. Como uma árvore oferece um ambiente complexo para outras espécies, um zoo ou aquário pode promover o bem-estar de animais além de seus próprios limites.
9
GERAL | Sumário Executivo CUIDANDO DA VIDA SELVAGEM
SMITHSONIAN’S NATIONAL ZOOLOGICAL PARK, DC, USA
Um membro da equipe realiza treinamento para estimular comportamentos naturais em um leão marinho.
Nós acreditamos que zoos e aquários tem a responsabilidade de alcançar elevados padrões de bem-estar animal
para suporte de suas metas como organizações de conservação modernas.
Em anos recentes, tem havido avanços significativos no conhecimento sobre
animais e a ciência do bem-estar animal. Isso resultou em grandes
mudanças em zoos e aquários modernos. Enquanto zoos e aquários do
passado eram locais onde animais eram 'exibidos' para o prazer dos
visitantes, os zoos e aquários de hoje devem ser centros para o bem-estar
animal. Eles devem garantir que as condições para os animais sob seu
cuidado sejam as melhores que possam ser dispensadas. À medida que o
conhecimento científico sobre animais cresce, esse deve ser
consistentemente aplicado.
Enquanto continua a haver desafios na implementação global de padrões
de bem-estar animal; com diferentes atitudes, expectativas da sociedade e
arcabouços jurídicos e legislação, todos os zoos e aquários podem adotar
uma postura significativa para melhorar a vida dos animais sob seu
cuidado. A Estratégia Mundial de Zoos e Aquários para o bem-estar Animal
recomenda que zoos e aquários devam aplicar um modelo simples de bem-
estar - os 'Cinco Domínios' - e fazer um compromisso contínuo para com o
bem-estar animal em todas as operações e para todos os animais sob seu
cuidado. A Estratégia recomenda a educação continuada e treinamento da
equipe em bem-estar animal, e um compromisso com a pesquisa em bem-
estar, com a aplicação do conhecimento em bem-estar ao design de
exibições e sendo centros de liderança para o bem-estar animal.
Enquanto a meta da Associação Mundial de Zoos e Aquários (WAZA) é a
ação coletiva em conservação, a Estratégia afirma o compromisso da WAZA
de liderar seus membros e os zoos e aquários parceiros para construir
experiência, liderança e capacidade em bem-estar animal.
A Estratégia Mundial de Zoos e Aquários para o bem-estar Animal oferece
orientação em como estabelecer e manter padrões aceitáveis de bem-estar animal
e as melhores práticas relacionadas. Ela delineia as medidas e condutas de bem-
estar esperadas dos membros da WAZA e apoia a evolução contínua das
condutas de bem-estar positivo na mais ampla comunidade de zoos e aquários.
Ao fazer isso, a WAZA clama seus membros e todos os zoos e aquários a:
• esforçar-se para atingir elevados padrões de bem-estar para os animais
sob seu cuidado;
• serem líderes em bem-estar animal, defensores e consultores autorizados;
e
• prover ambientes que foquem nas necessidades físicas e
comportamentais dos animais.
10 ESTRATÉGIA DE BEM-ESTAR ANIMAL | ASSOCIAÇÃO MUNDIAL DE ZOOS E AQUÁRIOS
GERAL | Recomendações
Capítulo 1: Bem-estar e sua avaliação
1. Desenvolva um plano de bem-estar para sua organização que reflita um
claro compromisso com os princípios de bem-estar animal.
2. Atenda às necessidades físicas e comportamentais dos animais ao prover
seu cuidado. Isso inclui criar oportunidades para que eles se beneficiem
de desafios e escolhas sempre que praticamente possível.
3. Busque melhorar continuamente a compreensão do bem-estar animal
para melhor promover estados de bem-estar positivos para todas as
espécies mantidas em sua organização.
4. Implemente processos de monitoramento de bem-estar animal baseados
na ciência, que usem indicadores alinhados com os estados
físicos/funcionais dos animais e atividades comportamentais.
5. Use o modelo dos 'Cinco Domínios' para entender e avaliar diferentes
estados de bem-estar.
6. Promova o conhecimento e compreensão do bem-estar animal e seu
manejo dentro da comunidade em geral.
Capítulo 2: Monitoramento e Manejo do Bem-estar Animal
1. Faça da acreditação em bem-estar animal uma prioridade. Isso pode ser
feito através de sua associação regional de zoos e aquários ou adotando os
padrões de bem-estar e monitoramento usados por outras regiões ou
países.
2. Garanta que sua equipe de cuidado animal tenha treinamento científico e
experiência relevantes, mantenha-se a par dos mais recentes
desenvolvimentos em saúde animal e métodos de monitoramento de
bem-estar, e tenha ligação com outros grupos profissionais e
organizações para compartilhar conhecimento e boas práticas.
3. Desenvolva e mantenha uma cultura na equipe para a prática de relatos e
monitoramento regulares do comportamento e saúde dos animais.
Mantenha e guarde atualizados todos os registros animais relacionados.
4. Utilizando pesquisas atualizadas em bem-estar animal, colabore com
outras instituições para estabelecer dados que componham a linha de
base em bem-estar para animais individualmente e em grupos, de forma
a permitir a comparação com quaisquer dados novos.
5. Avalie cuidadosamente como os animais são transportados e considere
qualquer risco potencial para o bem-estar. Desenvolva planos para a
movimentação de animais que também atendam todas as normas
nacionais e internacionais relevantes. Exija que os padrões e práticas de
bem-estar da instituição recebedora sejam checados e sejam iguais ou
superiores aos delineados nesta Estratégia e nas políticas de bem-estar
das associações regionais de zoos e aquários.
6. Empregue veterinários, biólogos, cientistas de bem-estar e especialistas
em comportamento com experiência em uma ampla gama de taxa, para
garantir elevados padrões de bem-estar animal e cuidados de saúde,
incluindo intervenções de saúde preventivas.
7. Com relação ao cuidado por toda a vida, desenvolva planos abrangentes
de saúde animal e, se necessário, políticas específicas, incluindo aquelas
que atendam às necessidades especiais dos animais muito jovens,
doentes, feridos e geriátricos.
8. Ponha em prática planos para prevenir e lidar com surtos de doenças
animais, incluindo transmissão de doenças entre animais e pessoas, e
assegure que protocolos de quarentena estejam disponíveis quando
requeridos.
Capítulo 3: Enriquecimento ambiental
1. Construa habilidades, cultura interna e comprometimento na equipe
para incorporar atividades e estratégias de enriquecimento no manejo
diário de todos os animais sob seu cuidado. Reveja regularmente essas
estratégias e atividades e proporcione treinamento contínuo da equipe
nessa área.
2. Ofereça diferentes enriquecimentos que ofereçam desafios, escolhas e
conforto aos animais para maximizar sua saúde psicológica. Troque-os
quando apropriado e elabore-os para estimular uma diversidade de
comportamentos naturais espécie-específicos.
3. Utilize o reforço positivo como ferramenta de enriquecimento e treinamento.
4. Avalie os sucessos e falhas do enriquecimento e compartilhe esses
sucessos e falhas com outros zoos e aquários, para aprimorar seu próprio
conhecimento e atividades de enriquecimento e também o dos outros.
5. Incorpore o enriquecimento ambiental no design e atualização das exibições.
6. Compartilhe estórias de enriquecimento com os visitantes para ampliar a
compreensão e educação sobre biologia animal e bem-estar.
7. Utilize enriquecimentos específicos, orientados a um objetivo, elaborados
para atender necessidades comportamentais específicas.
Capítulo 4: Design de exibições
1. Defina características ambientais que suportem o bem-estar animal
espécie-específico e as inclua como critérios primários de todo design e
atualizações de exibições; garanta características apropriadas às espécies
baseadas em aconselhamento atualizado e baseado em ciência.
2. Busque garantir que as necessidades físicas e comportamentais dos
animais sejam atendidas. Proporcione desafios ambientais que
estimulem a curiosidade e envolvimento, assim como escolhas de acesso
a elementos naturais, incluindo mudanças sazonais. Considere também
as mudanças nas necessidades de um animal, ou grupo de animais, ao
longo do tempo.
3. Assegure que as exibições permitam a separação de animais conforme o
necessário para o manejo do bem-estar.
4. Assegure que os membros da equipe possam realizar com segurança e
facilidade a manutenção, cuidado e treinamento, para permitir que os
animais levem uma vida plena e rica sem injúrias desnecessárias por
estresse.
5. Institua monitoramento para avaliar a qualidade do design de exibições.
Encontre soluções criativas e compartilhe com os outros.
6. Explique o bem-estar nos recintos e forneça aos visitantes informações
sobre ações pessoais que eles possam fazer para melhorar o bem-estar de
animais em qualquer lugar.
7. Considere o provimento de elementos que proporcionem aos animais, de
forma contínua, múltiplas escolhas apropriadas à espécie, ou controle
sobre seu ambiente.
GERAL | Sumário Executivo CUIDANDO DA VIDA SELVAGEM
11
Capítulo 5: Programas de Reprodução e Planejamento da Coleção
1. Introduza e siga planos de reprodução e recomendações para manejo de
espécies que se alinhem com planos gerais de conservação de espécies, e
busque minimizar consequências negativas para o bem-estar dos
animais.
2. Facilite o manejo para o bem-estar positivo durante eventos de
reprodução, utilizando, por exemplo, monitoramento do estro, separação
de animais e observação qualificada contínua.
3. Utilize equipes profissionais, com especialistas externos, se necessário,
para supervisionar questões de bem-estar relacionadas à reprodução.
4. reproduzir animais para soltura, dê atenção especial ao balanço entre
bem-estar com sobrevivência na natureza e reposição das populações
selvagens.
5. Desenvolva e utilize uma política clara para eutanásia, que defina as
circunstâncias para o seu uso e quem são os encarregados de executá-la.
6. Assegure que considerações de bem-estar animal espécie-específicas
sejam completamente integradas ao planejamento da coleção em longo
prazo, e que garantam que os animais possam receber cuidados por toda
a vida e um elevado nível de bem-estar durante toda sua vida.
7. Garanta que, ao considerar transações de animais, todos eles venham de
fontes que não impactem populações selvagens ou fortaleçam produções
comerciais onde o bem-estar animal possa ser comprometido.
Capítulo 6: Bem-estar e Conservação
1. Estabeleça o bem-estar animal como um componente em todas as
atividades e projetos de conservação apoiados por sua organização.
2. Trabalhe em parceria com organizações de conservação de campo e
colabore no conhecimento e habilidades em bem-estar que sejam
relevantes para suas operações de campo, incluindo, por exemplo,
projetos de reintrodução.
3. Avalie o quanto as implicações das intervenções de manejo para o bem-
estar são superadas por seus benefícios para a conservação.
4. Construa a compreensão da importância de estruturas integradas para a
conservação de espécies, que incluam avaliar o bem-estar animal.
5. Certifique-se que em seu trabalho de conservação, e no trabalho de seus
parceiros na conservação, a revisão das necessidades individuais dos
animais e a promoção do bem-estar positivo sejam considerados a todo o
tempo.
Capítulo 7: Pesquisa em Bem-estar Animal
1. Priorize o bem-estar animal e o monitoramento do bem-estar como áreas
para pesquisa em colaboração com universidades, organizações de
pesquisa e outras instituições zoológicas.
2. Continue a usar e aplicar observações baseadas em pesquisas científicas
sólidas para apoiar o bem-estar animal no manejo em zoos e aquários.
3. Utilize um comitê de ética, bem-estar e pesquisa, ou entidade similar,
com representação externa, para avaliar e supervisionar atividades de
pesquisa e fortalecer o rigor científico em suas operações.
4. Desenvolva uma política de pesquisa e protocolos de pesquisa que
assegurem que, em todas as pesquisas envolvendo animais, qualquer
preocupação potencial com o bem-estar seja claramente identificada e
qualquer comprometimento seja minimizado, transiente e justificado em
termos dos objetivos da pesquisa.
5. Trabalhe ativamente para auxiliar parceiros de pesquisa a promover
estados de bem-estar positivos.
6. Estimule a medicina da conservação como uma área de atividade baseada
na ciência em sua organização, para melhorar o bem-estar animal em
geral, e o bem-estar na conservação em particular.
Capítulo 8: Parcerias em Bem-estar Animal
1. Torne-se um centro reconhecido de experiência em bem-estar animal e
auxilie ou aconselhe outras organizações quanto ao bem-estar animal.
2. Certifique-se que toda a equipe pertinente, incluindo os membros de sua
equipe de manejo e veterinária, colaborem ativamente e estejam
atualizados com as normas profissionais de saúde e bem-estar animal.
3. Colabore e firme parcerias com universidades, organizações de pesquisa e
outras instituições zoológicas para expandir a compreensão sobre os
estados de bem-estar e a senciência animal.
4. Firme parcerias com organizações de bem-estar animal e especialistas em
bem-estar animal externos, através da representação em comitês de ética
e bem-estar, ou entidades similares, para a revisão do bem-estar animal
em sua organização.
5. Firme parcerias ou 'adote' outras instituições que requeiram orientação
para atingir resultados positivos de bem-estar para os animais sob seu
cuidado. Isso pode ser feito através de intercâmbios, oportunidades de
treinamento, troca de procedimentos ou subsídios financeiros.
Capítulo 9: Engajamento e Interação com Visitantes
1. Evite usar animais em experiências interativas nas quais seu bem-estar
possa ser comprometido.
2. Realize avaliações de bem-estar específicas e monitoramento contínuo
para todos os animais que sejam utilizados em experiências interativas.
Retire animais dessas atividades se as taxas de alteração
comportamental, ou outros indicadores de desconforto, forem elevados.
3. Assegure que a mensagem que acompanha todas as experiências
interativas e o objetivo de qualquer apresentação relacionada sejam
promover a conscientização sobre conservação ou atingir resultados de
conservação.
4. Não realize, contribua ou participe de shows, demonstrações ou
experiências interativas com animais onde estes demonstrem
comportamentos não naturais. A conservação de espécies deve ser a
mensagem e/ou o propósito primordiais.
5. Estabeleça processos que garantam que todos os animais em seu zoo ou
aquário sejam tratados com respeito. Isso inclui como os animais são
retratados e apresentados.
6. Explique, através de conversas, sinalização e/ou interpretação, como tem
sido feitas melhorias no bem-estar animal em sua organização.
7. Acesse e utilize o corpo de conhecimento e experiência que baseiam a
avaliação da efetividade da educação ambiental, ao considerar o
desenvolvimento de experiências interativas, para garantir que sejam
obtidos benefícios.
PREFÁCIO
12 ESTRATÉGIA DE BEM-ESTAR ANIMAL | ASSOCIAÇÃO MUNDIAL DE ZOOS E AQUÁRIOS
O desenvolvimento desta Estratégia tanto reflete quanto contribui com
outras iniciativas elaboradas para aumentar a compreensão sobre o
bem-estar animal e seu aprimoramento em todo o mundo.
A relevância global do desenvolvimento da Estratégia Mundial de Zoos e
Aquários para o Bem-estar Animal pela Associação Mundial de Zoos e
Aquários (WAZA) está de acordo com o crescente interesse internacional no
bem-estar animal e seu manejo, que tem ocorrido durante os últimos 25
anos, e especialmente nos últimos 15 anos. Há numerosos exemplos de
atividades transnacionais, regionais e nacionais objetivando a melhoria do
bem-estar animal, algumas delas enumeradas abaixo.
Primeiro, a iniciativa global de bem-estar animal da Organização Mundial
de Saúde Animal (OIE) instituída em 2001, a subsequente formulação de
14 normas de bem-estar animal para diferentes espécies ou atividades
relacionadas a animais e, ao ser concluído cada norma, sua adoção unânime
por todos os membros da OIE, que atualmente somam 180 países. Note-se,
também, as atividades de capacitação em bem-estar animal da Organização
Mundial para Alimento e Agricultura da Nações Unidas (FAO), o
desenvolvimento pela Organização Internacional de Padronização (ISO) das
Especificações Técnicas para a Gestão do Bem-estar Animal, e a liderança
no setor privado global por organizações como Suprimento Seguro de
Alimento Acessível em Todo Lugar (SSAFE), todos elaborados para incluir o
bem-estar animal nos processos de boas práticas.
Da mesma forma, associações nacionais e transnacionais de veterinários,
assim como organizações internacionais representando diferentes setores
da pecuária, adotaram políticas de bem-estar animal, e companhias
transnacionais de processamento e distribuição estão crescentemente
exigindo de seus fornecedores que atendam padrões de bem-estar animal.
Além disso, importantes instituições bancárias, como a Corporação
Internacional de Finanças (IFC; uma subsidiária do Grupo Banco Mundial),
o Banco Europeu para Reconstrução e Desenvolvimento (EBDR) e o Grupo
Rabobank, desenvolveram ou estão desenvolvendo critérios para
empréstimos que incluem, como pré-condição para o empréstimo, que seus
clientes da agricultura atendam as normas de bem-estar animal.
Finalmente, organizações não governamentais como a Proteção Animal
Mundial (previamente a Sociedade Mundial para a Proteção de Animais),
Compaixão na Pecuária Mundial (CIWF) e outras estão tendo
continuamente influências positivas, através de várias iniciativas e projetos,
incluindo uma proposta de que as Nações Unidas adotem uma Declaração
Universal para o Bem-estar Animal, um Índice de Proteção Animal para
ranquear as políticas de bem-estar animal de governos nacionais utilizando
um conjunto de indicadores principais, e um projeto do Business
Benchmarking para o Bem-estar Animal (BBAW).
Esta Estratégia almeja proporcionar um estímulo extra para as importantes
mudanças que tem ocorrido nos zoos e aquários modernos durante os
últimos 20 anos - mudanças que tem sido orientadas pela publicação da
Estratégia Mundial de Zoos para a Conservação em 1993, a Estratégia
Mundial de Zoos e Aquários para a Conservação em 2005, a Estratégia
Global de Aquários para a Conservação e Sustentabilidade em 2009 e a
Estratégia Mundial de Zoo e Aquários para a Conservação revisada em
2015. Note que o papel primário desta Estratégia é orientação. Ela ressalta
algumas atividades em zoos e aquários que podem ter impactos negativos
no bem-estar animal, como esses impactos podem ser minimizados, e
chama atenção para abordagens que podem contribuir para a promoção de
estados de bem-estar positivos e seu reconhecimento. Ela não consiste de
prescrição de normas de bem-estar animal. Nem busca impor mudanças
nas políticas de bem-estar nos zoos e aquários, embora algumas sugestões
sejam feitas com relação a áreas onde o desenvolvimento de políticas
apropriadas deva ser considerado. Isto está alinhado com o Código de Ética
e Bem-estar Animal da WAZA, adotado em 2003 (veja apêndice).
Internacionalmente, a adoção de medidas práticas para melhorar o bem-
estar animal nos zoos e aquários de um país pode ser considerada como
uma 'jornada' onde os participantes atingiram diferentes estágios. Algumas
dessas instituições estarão perto do início, algumas estarão em estágios
intermediários e outras terão viajado uma distância considerável. Além
disso, a dinâmica complexa dos principais fatores que interagem para
influenciar a jornada, em diferentes países, irá determinar a rota precisa e a
velocidade da jornada em cada caso. Esses fatores podem incluir
imperativos socioculturais, preceitos religiosos, limitações econômicas, a
extensão e natureza do envolvimento político, visões históricas e atuais
existentes na sociedade, e o que se entende por bem-estar animal. Contudo,
a ampla extensão de progresso na jornada, evidente entre as organizações
membro da WAZA, proporciona considerável oportunidade para interações
construtivas entre aqueles cujas jornadas estão bem avançadas e aqueles
onde há ainda alguma distância a ser percorrida. A expectativa desta
Estratégia é facilitar tais envolvimentos construtivos entre os membros.
Mais especificamente, esta Estratégia oferece orientação aos zoos e aquários
para atingir elevados padrões de bem-estar animal, para apoiar suas metas
de conservação, educação, pesquisa e recreação. Ela oferece um breve relato
do entendimento atual sobre bem-estar animal e sua avaliação (Capítulo 1).
CARING FOR WILDLIFE
13
Ela reconhece que alcançar elevados padrões de bem-estar deve ser apoiado
por monitoramento baseado na ciência, dirigido a alcançar bom nível de
cuidado animal, e descreve brevemente formas objetivas de fazê-lo
(Capítulo 2). Esse monitoramento e cuidado precisa ser focado tanto em
minimizar estados de bem-estar negativos quanto, quando possível e
apropriado, promover estados de bem-estar positivos. Iniciativas de
enriquecimento ambiental tomadas pela equipe para proporcionar aos
animais oportunidades de desafio e escolha (Capítulo 3), alinhadas com
projetos de exibição que aumentem o conforto, prazer, interesse e confiança
dos animais (Capítulo 4), são elementos importantes na promoção de
estados de bem-estar positivos.
A Estratégia reconhece que algumas atividades como reprodução,
translocações, retorno à natureza e similares, que são destinadas a manter
populações sustentáveis de espécies nos zoos e aquários e na natureza,
podem algumas vezes dar lugar a comprometimentos do bem-estar animal
(Capítulo 5). Entretanto, ela ressalta que, quando essas atividades são
realizadas, podem ser adotadas abordagens onde a minimização das
consequências negativas para o bem-estar esteja integrada com as metas do
manejo sustentável de espécies (Capítulo 6). Então, o objetivo geral é,
quando possível, harmonizar a conservação da fauna selvagem e as metas e
atividades de bem-estar.
A Estratégia enfatiza a importância de adotar uma abordagem científica,
baseada em evidências, tanto para o manejo do bem-estar quanto para a
conduta na pesquisa em zoos e aquários (Capítulo 7). Além disso, enfatiza o
valor de trabalhar colaborativamente e abertamente com colegas externos e
outras partes interessadas, que desejem participar construtivamente nas
discussões e atividades (Capítulo 8). O propósito geral é ampliar a base de
suporte da disciplina, experiência e habilidades, em todos os elementos da
gestão do bem-estar, elaborados para melhorar as vidas dos animais em
zoos e aquários. Finalmente, reconhecendo a necessidade de envolvimento
do visitante, a importância de proteger e aumentar o bem-estar dos animais
em todas as suas interações com visitantes é ressaltada (Capítulo 9).
Cada capítulo é estruturado de forma que as recomendações que focam
principalmente no possível desenvolvimento de políticas, são sugeridas no
início. O conteúdo material do capítulo é então apresentado, e o capítulo
termina com um checklist que basicamente traduz o conteúdo do capítulo
em possíveis ações específicas.
No desenvolvimento desta Estratégia, queremos sinceramente agradecer
aos autores contribuidores e suas instituições (veja pág. 4) assim como aos
seguintes contribuidores adicionais: Georgina Allen, Andrew Baker, Tiffany
Blackett, Miriam Brandt, Lee Ehmke, Frank Göritz, Brij Gupta, Becca
Hanson, Robert Hermes, Thomas Hildebrandt, Warner Jens, David Jones,
Pia Krawinkel, Jörg Luy, Lance Miller, Leo Oosterwe- ghel and Greg Vicino.
David Fraser gentilmente escreveu o Prólogo, Júlia Hanuliaková forneceu o
desenho da pirâmide de bem-estar, Georgina Allen auxiliou com a edição e
Megan Farias, juntamente com Martha Parker e Peter Riger, fizeram o
design da Estratégia. Estamos em débito com aqueles que comentaram os
rascunhos prévios da Estratégia: Heather Bacon, Claire Bass, Sally Binding,
Wen-Haur Cheng, Ros Clubb, Peter Clark, Neil D’Cruze, Danny de Man,
Gerald Dick, Peter Dollinger, Dag Encke, Karen Fifield, Jenny Gray,
Myfanwy Griffith, Robert Hubrecht, Jörg Junhold, Ron Kagan, Thomas
Kauffels, Theo Pagel, Thomas Pietsch, Peter Pueschel, Alex Rübel, Simon
Tonge, William van Lint, Kris Vehrs, Gisela von Hegel, Sally Walker and
John Werth. O Zoo de Houston generosamente apoiou a produção desta
Estratégia.
HOUSTON ZOO, TX, USA
An endangered Attwater’s prairie chicken hatched at Houston Zoo and cared for before release into the wild.
Somos gratos pela contribuição dada por membros do Conselho da WAZA e
aos participantes dos dois workshops da Estratégia, em 2013 e 2015, com
representantes da comunidade de zoos e aquários e instituições acadêmicas.
Nós gostaríamos de agradecer particularmente aos representantes das
seguintes organizações não governamentais internacionais de bem-estar, que
auxiliaram grandemente no desenvolvimento desta Estratégia: FOUR PAWS,
Humane Society International (HSI), International Fund for Animal Welfare
(IFAW), Royal Society for the Prevention of Cruelty to Animals (RSPCA),
Universities Federation for Animal Welfare (UFAW), Wild Welfare and
World Animal Protection. Infelizmente, Peter Pueschel (Diretor,
International Environmental Agreements, IFAW) faleceu durante o
desenvolvimento desta Estratégia. Sua memória continuará viva nestas
páginas.
David J. Mellor
Susan Hunt Markus Gusset
14 ESTRATÉGIA DE BEM-ESTAR ANIMAL | ASSOCIAÇÃO MUNDIAL DE ZOOS E AQUÁRIOS
INTRODUÇÃO
Esta Estratégia é um guia para zoos e aquários alcançarem
elevados padrões de bem-estar animal, em apoio a suas metas
como organizações modernas de conservação.
BACKGROUND
Em um mundo cada vez mais urbanizado, zoos e aquários almejam conectar
as pessoas à natureza. Como uma interface chave entre o homem e o mundo
natural, zoos e aquários permitem que as pessoas vivenciem a vida
selvagem em ambientes seguros e envolventes. Eles também contribuem
para conservar a biodiversidade mundial, e ao mesmo tempo, buscam
aumentar a compreensão e apreciação da vida selvagem. Ainda mais,
promovendo a educação ambiental, a conscientização da comunidade, a
advocacia e outras atividades, zoos e aquários pretendem estimular a
conservação da vida selvagem e dos ambientes naturais.
Os principais zoos e aquários colocam o bem-estar animal como prioridade
em suas operações. Enquanto a conservação da vida selvagem é o propósito
central dos principais zoos e aquários, a busca por alcançar estados de bem-
estar positivos é uma atividade principal.
Zoos e aquários mantém elevados padrões de bem-estar utilizando
conhecimento científico e experiência prática para orientar o manejo de
todas as espécies que mantém. Além disso, proporcionam oportunidades
para combinar a ciência da natureza e a ciência do bem-estar, para
aumentar o conhecimento espécie-específico requerido para garantir a
sobrevivência e manejar o bem-estar da fauna selvagem e outros animais
sob seu cuidado.
PANTANAL, BRASIL
Jacaré
Muitas das expectativas da sociedade com relação ao que sejam formas
aceitáveis e inaceitáveis de tratar os animais, principalmente mamíferos e
aves, mudaram à medida que cresceu a compreensão de suas necessidades
físicas e comportamentais. Hoje, há significativo interesse em como bons
padrões de bem-estar animal podem ser mantidos, quando práticas
relacionadas à conservação são aplicadas à fauna selvagem. Conservação e
manejo do bem-estar tem se tornado intimamente ligados, proporcionando
oportunidades para desenvolver soluções pragmáticas para promover os
propósitos do bem-estar animal e da conservação de espécies, ao mesmo
tempo gerenciando seus requerimentos algumas vezes conflitantes.
QUAL É O PROPÓSITO DESTA ESTRATÉGIA?
Zoos e aquários modernos existem primariamente para propósitos de
conservação da vida selvagem, utilizando envolvimento com o campo,
educação ambiental, conscientização pública, defesa, programas de
reprodução, financiamento, colaboração em pesquisas e parcerias para
atingir seus objetivos. Um zoo ou aquário moderno utiliza a mais atualizada
informação, evidências e conhecimento para cumprir sua missão de
conservação e tem um comprometimento permanente com o progresso
contínuo nas melhores práticas de cuidado animal holístico.
A Estratégia Mundial de Zoos e Aquários para o Bem-estar Animal fornece
orientação sobre como estabelecer e manter padrões aceitáveis de bem-
estar animal e boas práticas. Ela também provê informação para auxiliar
zoos e aquários a demonstrarem compreensão do bem-estar animal e
colocar isso em prática.
A natureza diversificada das coleções animais em zoos e aquários apresenta
um desafio maior para o manejo do que o geralmente encontrado por
organizações que tem foco mais limitado de espécies, como aqueles do setor
pecuário. A gama de conhecimentos requeridos é correspondentemente
muito mais ampla. Assim também são as demandas de manter-se
atualizado com as novas práticas de manejo validadas cientificamente,
destinadas a apoiar a melhoria contínua no cuidado animal. Isso requer um
alto nível de comprometimento na política organizacional e equipes bem
informadas, com adequada experiência prática. Esses são componentes
essenciais para alcançar bom nível de bem-estar animal.
ÉTICA E BEM-ESTAR ANIMAL
É útil distinguir entre ética animal e bem-estar animal. A ética aborda questões
relacionadas a como grupos de pessoas decidem regular seu comportamento,
tais como as decisões que tomam sobre o que é legitimado e aceitável na busca
de seus objetivos e o que não é, e as bases para essas decisões. Assim, a ética
15
CARING FOR WILDLIFE
animal pode ser útil para identificar princípios baseados em valores para
todas as organizações mantenedoras de animais, incluindo zoos e
aquários, visando alcançar elevados padrões de bem-estar animal em suas
atividades. Há diversas teorias éticas que são relevantes neste tópico, mas
sua discussão está além dos objetivos desta Estratégia. Note, entretanto,
que neste contexto, um compromisso primário em atingir os mais altos
padrões possíveis de bem-estar nas circunstâncias práticas de cada zoo e
aquário, e um igual compromisso de melhorar tais circunstâncias onde
seja possível e necessário, são eticamente guiados.
Há dois fatores principais do bem-estar animal que são relevantes para
zoos e aquários. O primeiro é atender as necessidades de sobrevivência
básicas de alimento, abrigo, saúde e segurança. O segundo é aumentar o
bem-estar acima desse mínimo de sobrevivência, aumentando as
oportunidades para os animais terem experiências positivas, focadas, por
exemplo, no seu conforto, prazer, interesse e confiança. Embora o objetivo
seria alcançar a ambos, há circunstâncias onde isso não é fácil de aplicar.
Por exemplo, uma necessidade premente de garantir a sobrevivência de
algumas espécies ameaçadas pode, algumas vezes, sobrepor esse duplo
objetivo. Deve-se reconhecer que, embora ambientes sub-ótimos possam
alcançar sucesso no curto prazo, eles são menos prováveis de suportar
resultados na conservação em longo prazo. Diretores e equipes de cuidado
animal devem demonstrar claramente seu intento de proporcionar
experiências positivas para os animais, apesar das limitações de recursos ou
instalações e necessidades de conservação.
Este e outros temas são abordados nesta Estratégia. O primeiro capítulo
fornece um breve relato de nosso conhecimento atual sobre bem-estar
animal baseado na ciência e sua avaliação. Os capítulos subsequentes
descrevem as implicações no bem-estar do monitoramento e gestão do
bem-estar; enriquecimento ambiental; design de exibições; programas de
reprodução e planejamento da coleção; bem-estar na conservação; pesquisa
em bem-estar animal; parcerias em bem-estar animal e envolvimento e
interação com os visitantes.
DECLARAÇÃO DE COMPROMISSO DA WAZA COM O BEM-ESTAR ANIMAL
Zoos e aquários líderes no mundo que sejam membros da WAZA devem ter um compromisso contínuo com o bem-estar animal. A seguinte declaração define a base do compromisso dos membros da WAZA:
NOSSO COMPROMISSO É:
• esforçar-se para alcançar altos padrões de bem-estar para os animais
sob nosso cuidado;
• ser líderes em bem-estar animal, defensores e consultores; e
• oferecer ambientes que foquem nas necessidades físicas e
comportamentais dos animais.
AO FAZER ISSO, NOS COMPROMETEMOS A:
• tratar todos os animais com respeito;
• fazer dos altos padrões de bem-estar um foco principal de nossas
atividades de manejo;
• assegurar que todas as decisões de manejo sejam baseadas em ciência
do bem-estar e veterinária atualizada;;
• construir e compartilhar com colegas o conhecimento, habilidades e
melhores práticas em cuidado animal e bem-estar;
• cumprir normas específicas de bem-estar estabelecidas por associações
regionais de zoos e aquários e pela WAZA; e
• cumprir os códigos de conduta, regulamentos e legislação locais e
nacionais, assim como os tratados internacionais relacionados ao cuidado
animal e bem-estar.
Zoos e aquários tem a
responsabilidade de alcançar
altos padrões de bem-estar
animal, em suporte a seus
objetivos como organizações
modernas de conservação
18 ESTRATÉGIA DE BEM-ESTAR ANIMAL | ASSOCIAÇÃO MUNDIAL DE ZOOS E AQUÁRIOS
CAPÍTULO 1: BEM-ESTAR E SUA AVALIAÇÃO
Nosso compromisso é desenvolver excelência no
bem-estar em zoos e aquários.
RECOMENDAÇÕES
Para realizar nosso compromisso com altos padrões de bem-estar, a
Estratégia Mundial de Zoos e Aquários para o Bem-estar Animal invoca as
organizações membro a:
1. Desenvolver um plano de bem-estar para sua organização, que reflita um
claro compromisso com os princípios de bem-estar animal.
2. Atender às necessidades físicas e comportamentais dos animais ao
prover seu cuidado. Isso inclui criar oportunidades para que eles se
beneficiem de desafios e escolhas sempre que praticamente possível.
3. Buscar melhorar continuamente a compreensão do bem-estar animal
para melhor promover estados de bem-estar positivos para todas as
espécies mantidas em sua organização.
4. Implementar processos de monitoramento de bem-estar animal
baseados na ciência, que usem indicadores alinhados com os estados
físicos/funcionais dos animais e atividades comportamentais.
5. Usar o modelo dos 'Cinco Domínios' para entender e avaliar diferentes
estados de bem-estar.
6. Promover o conhecimento e compreensão do bem-estar animal e seu
manejo para a comunidade em geral.
INTRODUÇÃO
O que é bem-estar animal? Como as ideias sobre bem-estar animal se
aplicam a zoos e aquários? Embora existam várias formas diferentes de
pensar sobre bem-estar animal, a ciência que as sustenta continua a
avançar, cujo enfoque principal tem sido nos mamíferos e aves. A seguinte
descrição de bem-estar animal oferece ideias úteis (Organização Mundial de
Saúde Animal - OIE):
Bem-estar animal significa como um animal está lidando com as condições
em que vive. Um animal está em um bom estado de bem-estar se (como
indicado por evidências científicas) ele está saudável, confortável, bem
nutrido, seguro, apto a expressar comportamentos inatos, e não está
sofrendo por estados desagradáveis como dor, medo e angústia. Bom nível
de bem-estar requer prevenção de doenças e tratamento veterinário, abrigo
apropriado, manejo, nutrição, manipulação e abate/sacrifício humanitário.
Bem-estar animal se refere ao estado do animal; o tratamento que um
animal recebe é coberto por outros termos como cuidado animal, manejo
animal e tratamento humanitário.
Bem-estar animal se refere ao estado do animal, incluindo sentimentos
subjetivos e sensações que ele vivencia como resultado de sua saúde física e
das influências dos arredores. Por exemplo, um animal pode vivenciar
estados negativos, como sentir fome, se há alimento insuficiente, dor, se ele
está ferido e medo, se estiver ameaçado. Um animal tipicamente buscará
reduzir ou evitar essas e outras dessas experiências negativas, especialmente
quando são intensas, e se consideraria que está em um estado negativo (ou
ruim) de bem-estar se for incapaz de fazê-lo.
Avanços na ciência do bem-estar animal têm ressaltado a importância de
considerar os estados psicológicos dos animais ao avaliar o bem-estar ao
longo do tempo. Desta forma, não são apenas as necessidades
físicas/funcionais dos animais que requerem atenção no cuidado em zoos e
aquários, mas sua integração com seu potencial de ter uma gama ampla de
experiências. Assim, a ciência do bem-estar animal não apenas confirmou
que os animais podem ter experiências negativas, como também
demonstrou a existência de experiências positivas. O bem-estar animal
pode, portanto, variar em um contínuo, de muito ruim a muito bom.
A promoção de estados positivos de bem-estar requer diferentes
abordagens, para minimizar os estados de bem-estar negativos. Zoos e
aquários modernos deveriam trabalhar para minimizar a ocorrência de
estados negativos em seus animais e, simultaneamente, fazer esforços para
promover estados positivos.
Então, o que são estados de bem-estar positivos? Os animais vivenciam um
estado geral de bem-estar positivo quando suas necessidades físicas e
comportamentais são atendidas, e quando o ambiente proporciona desafios
estimulantes e escolhas ao longo do tempo. Por toda esta Estratégia, zoos e
aquários são chamados a buscar altos padrões de bem-estar animal,
utilizando abordagens elaboradas para permitir que os animais tenham
experiências positivas. Isso envolve compreender princípios baseados na
ciência, estimular a pesquisa e reconhecer a importância da experiência da
equipe, habilidades de monitoramento e cuidado veterinário.
Milhares de diferentes espécies são mantidas em zoos e aquários ao redor
do mundo, assim, manejar seu bem-estar é complexo em termos da
diversidade de conhecimentos requerida. Até o momento, o bem-estar da
megafauna tem recebido atenção especial. Em alguns casos, como os
elefantes e algumas espécies de primatas, os padrões de cuidado
relacionados ao bem-estar são bem compreendidos. Entretanto, ainda há
muito a ser feito, especialmente com mamíferos e aves menos estudados e
outros vertebrados sencientes. Um grande desafio é expandir
continuamente o conhecimento e experiência necessários para manejar
espécies, e para melhor compreender como o ambiente e manejo de zoos e
aquários tem impacto no bem-estar animal, de forma que, ao final, estados
de bem-estar positivos possam ser promovidos em todos eles. Vários zoos e
aquários estabeleceram instalações dedicadas a aumentar nossa
compreensão do bem-estar animal (veja estudo de caso 1.1).
19
SOBREVIVÊNCIA, DESAFIOS E ESCOLHAS
Para que um animal tenha experiências positivas, muitas de suas
necessidades básicas físicas/funcionais devem ser atendidas primeiro. As
necessidades básicas de um animal tem um papel importante em sua
sobrevivência; por exemplo, seus requerimentos de oxigênio, água,
alimento e equilíbrio térmico, e a prevenção de lesões e doenças
significativas. Apenas quando essas e outras de tais necessidades de
sobrevivência forem atendidas a minimização de experiências negativas
associadas (ex. falta de ar, sede, fome, desconforto térmico e dor) será
suficiente para permitir que o animal tenha experiências positivas.
Considerar apenas as experiências negativas relacionadas à sobrevivência
não necessariamente levará a experiências positivas, mas podem
meramente mudar o estado de bem-estar de negativo para neutro.
As experiências de um animal também são influenciadas por sua percepção
de suas circunstâncias externas e a extensão de sua motivação para se
envolver em comportamentos diversos que ele possa achar estimulante; isto
é suas experiências vividas relacionadas com suas oportunidades
comportamentais. Desta forma, o manejo em zoos e aquários deve atender
as necessidades básicas de sobrevivência do animal de maneira apropriada
à espécie, que minimize estados de bem-estar negativos, e deve também
estabelecer ambientes e regimes de cuidado associados que promovam
estados de bem-estar positivos.
Muitos zoos e aquários já visam proporcionar desafios e escolhas
estimulantes para os animais, e buscam desenvolver maneiras inovadoras
de ampliar a gama de experiências positivas disponíveis para os animais. As
escolhas podem incluir onde e o que comer, interagir ou não com outros
animais, ou buscar ambientes diferentes que ofereçam confortos variados.
Desafios podem ser cognitivos ou físicos, relacionados a oportunidades de
buscar o alimento desejado ou outras recompensas. Os desafios devem ser
espécie-específicos e elaborados tendo em mente as necessidades e
habilidades individuais do animal, e continuar a ser progressivamente
desafiador e variado.
É importante que cada organização tenha membros suficientes na equipe
com o conhecimento e habilidades necessárias para assegurar que o bem-
estar animal seja abordado. Isso envolve a avaliação e manejo contínuo do
bem-estar do animal e condições de vida, incluindo sua saúde física e
respostas ao ambiente. A equipe deve se manter atualizada e compartilhar
habilidades através, por exemplo, do desenvolvimento de capacitações e
participação em workshops e simpósios relevantes.
É sabido que a base de conhecimento sobre todas as espécies de zoos e
aquários ainda está se desenvolvendo. Zoos e aquários devem continuar a
usar indicadores conhecidos para avaliar o bem-estar animal em nível
espécie-específico e também promover e liderar pesquisas confiáveis para
melhorar ainda mais o monitoramento do bem-estar e os resultados para
uma gama maior de espécies
Então, como podemos avaliar o bem-estar animal? Como avaliamos as
experiências subjetivas negativas e positivas de um animal? Apresentamos
aqui o modelo dos 'Cinco Domínios', que é uma base útil para realizar
avaliações de bem-estar animal sistemáticas e estruturadas nesses termos.
Entretanto, avaliando cuidadosamente o que elas deveriam ser, em espécies
onde haja suficiente conhecimento para fazê-lo, apoia a aplicação de rotinas
de manejo espécie-específicas, procedimentos veterinários e atividades de
enriquecimento ambiental que considerem o bem-estar.
UM QUADRO CONCEITUAL ÚTIL: O MODELO DOS 'CINCO DOMÍNIOS'
O modelo dos Cinco Domínios não pretende ser uma representação física e
funcional acurada do corpo, mas é elaborada para facilitar o entendimento e
avaliação do bem-estar. Esse modelo delineia quatro domínios
físicos/funcionais de 'nutrição', 'ambiente', 'saúde física' e 'comportamento',
e o quinto domínio, que é o estado 'mental' do animal (Fig. 1.1).
Como o bem-estar é um estado do animal e é entendido em termos do que o
animal vivencia subjetivamente, esse modelo identifica as duas principais
fontes dessas experiências mentais. A primeira são os sentimentos e
sensações (coletivamente conhecidos por 'emoções') que motivam os
animais a realizarem comportamentos considerados essenciais para sua
sobrevivência. Isso inclui a sede motivando o animal a beber, fome
motivando a comer, e dor indicando coisas a evitar. Esse e outros fatores
relacionados à sobrevivência são tipicamente cobertos pelos domínios de
'nutrição', 'ambiente' e 'saúde física'.
HOUSTON ZOO, TX, USA Elefantes asiáticos
Estudo de caso 1.1::
Pesquisa em bem-estar em organizações zoológicas
Há muitos zoos e aquários conduzindo ou contribuindo para a pesquisa
em bem-estar animal. Por exemplo, um consórcio de Zoos norte-
americanos realizou um estudo multi-institucional avaliando o bem-estar
de elefantes (Elaphas maximus e Loxodonta africana). Embora esse
tenha sido um estudo muito grande, muitos zoos e aquários tem
conduzido estudos menores em muitas outras espécies (p.ex. bem-estar
de grandes primatas). À medida que o estudo cuidadoso do bem-estar
continua a crescer, será importante continuar a construir experiência
relevante; por exemplo, pesquisando formas inovadoras de monitorar os
estados de bem-estar. A Sociedade Zoológica de Chicago criou o Centro
para a Ciência do Bem-estar, a Sociedade Zoológica de Detroit
estabeleceu o Centro para o Bem-estar de Animais de Zoos e a
Sociedade Zoológica de São Francisco fundou o Centro para o Bem-estar
e Conservação. É esperado que, internacionalmente, à medida que os
zoos e aquários caminhem para o futuro, mais e mais deles
desenvolverão instalações com foco no bem-estar e o objetivo de ajudar
a garantir que os animais mantidos possam prosperar.
BEM-ESTAR ANIMAL E SUA AVALIAÇÃO
20 ESTRATÉGIA DE BEM-ESTAR ANIMAL | ASSOCIAÇÃO MUNDIAL DE ZOOS E AQUÁRIOS
MODELO DOS CINCO DOMÍNIOS
Fig. 1.1. O modelo dos Cinco Domínios para entender o bem-estar animal, dividido em componentes físicos/funcionais e mentais, proporciona exemplos
de como condições internas e externas dão origem a experiências subjetivas negativas (aversivas) e positivas (prazerosas), cujo efeito integrado dá
origem ao estado de bem-estar de um animal (modificado de Mellor & Beausoleil, 2015).
O quarto domínio do 'comportamento' capta a segunda fonte de
experiências subjetivas, que podem ser negativas ou positivas, e está
relacionada à percepção pelo animal de suas circunstâncias externas.
Exemplos negativos incluem: ameaça causando medo, isolamento levando
a solidão e pouco estímulo levando ao tédio; e exemplos positivos incluem:
segurança gerando confiança e prazer dando origem a uma sensação de
recompensa.
A referência aos quatro primeiros domínios permite a consideração
sistemática de uma ampla gama de condições que podem dar origem a uma
variedade de experiências subjetivas encontradas no quinto domínio
'mental'. O impacto conjunto de todas essas experiências é avaliado como
representativo do estado de bem-estar de um animal.
É da natureza dos fatores ligados aos domínios físicos/funcionais mudar ao
longo do tempo, assim como as percepções e experiências relacionadas, o
que é levado em consideração para o domínio mental do modelo. Assim, o
estado de bem-estar de um animal em um dado momento encontra-se em
um contínuo entre os extremos de muito pobre a muito bom, e, em
diferentes momentos, seu bem-estar pode diminuir ou aumentar. Os
propósitos da avaliação e manejo do bem-estar são monitorar, detectar e
corrigir o pobre bem-estar quando ele ocorrer, e manter o bom nível de
bem-estar, e preferivelmente, o nível muito bom, quando for possível
praticamente.
As oportunidades para a promoção de estados de bem-estar positivos
alinhados com o modelo dos Cinco Domínios podem incluir as seguintes:
• Nutrição: o consumo apropriado de alimentos nutritivos é uma experiência
prazerosa contínua.
• Ambiente: condições benignas oferecem conforto e seguranças contínuas.
• Saúde física:a boa saúde física contínua assegura robustez e vitalidade.
• Comportamento: atividades envolvendo variedade, escolha e desafios benignos são recompensadoras.
• Estado mental ou afetivo: experiências negativas relacionadas à
sobrevivência são mínimas, e o conforto, prazer , interesse e confiança são
experiências positivas comuns.
Como os elementos-chave desta abordagem são baseados na compreensão
biológica de mamíferos e aves bem estudados, sua aplicação ampla a outras
dessas espécies pode ocorrer, desde que características próprias de sua
biologia sejam levadas em consideração. Por outro lado, a aplicação do
modelo para outras espécies em zoos e aquários irá requerer informações
de especialistas em sua biologia específica. De qualquer forma, o uso do
modelo auxilia a levantar questões sobre como as necessidades básicas de
sobrevivência de cada espécie são atendidas, se eles têm ou não a
capacidade de ter experiências prazerosas e, se têm, como essas
experiências podem ser expressas e sob quais circunstâncias.
Dor Medo Angústia Desconforto
Debilidade Fraqueza Vertigem
Tédio Frustração
Segurança Recompensa Envolvimento
Brincadeira Curiosidade Vitalidade Calma
Confiança Contentamento Companhia
DOMÍNIOS FÍSICOS / FUNCIONAIS
NUTRIÇÃO AMBIENTE SAÚDE FÍSICA COMPORTAMENTO
EXPERIÊNCIAS NEGATIVAS DOMÍNIOS MENTAIS EXPERIÊNCIAS POSITIVAS
ESTADO DE BEM-ESTAR
Negativo
Privação de
alimento Privação de
água Desnutrição
Positivo
Nutrição
adequada Alimento
disponível
Negativo
Desafio
ambiental
Positivo
Oportunidades
e escolhas
ambientais
Negativo
Doenças Lesões
Positivo
Saúde Aptidão
física
Negativo
Restrição
comportamental
Positivo
Expressão
comportamental
21
AVALIANDO O BEM-ESTAR ANIMAL
Uma parte chave dos protocolos e práticas elaboradas para assegurar que o
bem-estar animal se mantenha em níveis aceitáveis elevados é a
necessidade de avaliação contínua do bem-estar de um animal. É nítido que
tanto as experiências negativas quanto as positivas são significativas para o
bem-estar, e que o estado de bem-estar de um animal reflete o balanço
entre elas. Em geral, o bem-estar será negativo quando as experiências
negativas predominam, neutro quando as experiências negativas e positivas
estão balanceadas, e positivo quando as experiências positivas
predominam.
Também é evidente que as experiências negativas são de dois principais
tipos. O primeiro inclui aquelas que motivam comportamentos críticos
relacionados à sobrevivência. Por exemplo, a falta de ar motivando a
respiração, a sede com o beber, a fome com comer e a dor com evitar ou se
retirar de estímulos nocivos. O segundo tipo, denominado experiências
negativas relacionadas a situações, incluem aquelas que refletem respostas
adversas do animal ao seu ambiente. Por exemplo, em mamíferos, arredores
nus/vazios levando ao tédio, isolamento levando a solidão e ameaça levando
ao medo.
Com relação ao primeiro tipo, o bom manejo animal e práticas veterinárias
podem no máximo neutralizar temporariamente as experiências negativas
críticas para a sobrevivência. Elas não podem ser completamente
eliminadas. Biologicamente elas são essenciais para motivar o animal a se
comportar de forma que permita que ele adquira, por exemplo, oxigênio
para sustentar a vida, alimento e água, e evitar ou minimizar injúrias.
Com relação a experiências negativas relacionadas a situação, essas podem
ser substituídas, ou evitadas, proporcionando aos animais oportunidades
para se envolver em comportamentos que eles possam considerar
recompensadores. São principalmente as atividades de enriquecimento
ambiental que geram experiências positivas. Tais experiências podem
incluir saciedade, envolvimento direcionado a uma meta, interesse,
curiosidade, satisfação, companheirismo, brincadeira, conforto e confiança.
Conhecimento e experiência são críticos para a promoção de estados de
bem-estar positivos. Compreender as necessidades espécie-específicas pode
reduzir grandemente as experiências negativas por aplicar o conhecimento
e habilidades relevantes para promover estados positivos. Por exemplo,
experiências de animais sociais são frequentemente relacionadas a
estruturas sociais inadequadas de um grupo, e podem ser remediadas.
O objetivo do cuidado para com animais de zoos e aquários é evitar
extremos de experiências negativas relacionadas à sobrevivência e, com
relação às experiências relacionadas a situação, proporcionar oportunidades
para os animais se engajarem em comportamentos que eles pareçam achar
prazerosos ou recompensadores.
externamente quanto mensuráveis internamente, e geralmente se alinham
com os domínios da nutrição, ambiente e saúde do modelo dos Cinco
Domínios (Fig.1.1)
Exemplos de indicadores observáveis externamente incluem a adequação
das taxas de crescimento e marcos de desenvolvimento em animais jovens,
idade da maturidade, falta de sucesso reprodutivo em adultos e aparência
geral dos animais com relação à sua saúde, e longevidade sob o cuidado
humano. Alguns são citados a seguir:
• Nutrição: alteração no peso e/ou escore de condição corporal, adequação
do consumo de água e alimento, e/ou presença de agressão no momento
da alimentação que indique fome.
• Ambiente: lesões devidas a restrição física por confinamento, evidência
comportamental de impactos negativos de temperaturas extremas, e/ou
sinais de irritação por gases poluentes.
• Saúde: presença de lesões como cortes, hematomas, abrasões e alterações
no comportamento como atitude, aparência, vocalização e movimentação
comprometida, e também presença de infecções, febre ou frequência
cardíaca aumentada.
Esses indicadores observáveis externamente, que podem ser vistos
facilmente durante inspeções por equipe qualificada, são frequentemente os
primeiros sinais de problemas de bem-estar. Eles também, fornecem
orientação sobre a causa provável e frequentemente apontam as ações
reparadoras requeridas, que comumente envolvem intervenções no manejo
ou tratamento veterinário.
Indicadores mensuráveis internamente são relacionados a condições
fisiológicas, patológicas ou clínicas. Esses indicadores geralmente não serão
empregados para monitoramento diário, a menos que esteja relacionado a
uma investigação específica de doença ou um problema de bem-estar
intratável de outra forma. Exemplos incluem: mensuração de parâmetros
sanguíneos específicos para hidratação, estado nutricional, competência
imunológica, liberação de hormônios de estresse e liberação de outros
hormônios; mensuração do nível de hormônios na saliva, urina e fezes; há
também numerosos indicadores estabelecidos do funcionamento do
coração, pulmões, vasos sanguíneos, rins, órgãos digestivos, músculos,
esqueleto, sistema nervoso e órgãos dos sentidos.
INDICADORES FÍSICOS E CLÍNICOS DE BEM-ESTAR
Numerosos indicadores (variáveis mensuráveis) estão disponíveis e
fornecem checklists para o monitoramento de estados de bem-estar. Eles
mostram a presença ou ausência de estados físicos/funcionais e
comportamentos que estão na base do estado de bem-estar de um animal.
Esses indicadores permitem detectar estados de bem-estar negativos,
neutros e positivos, e as mudanças podem ser monitoradas e manejadas.
Seu uso está baseado em muitos anos de validação de pesquisas
científicas.Os indicadores físicos/funcionais são tanto observáveis
PERTH ZOO, AUSTRALIA
Panda vermelho
BEM-ESTAR ANIMAL E SUA AVALIAÇÃO
22 ESTRATÉGIA DE BEM-ESTAR ANIMAL | ASSOCIAÇÃO MUNDIAL DE ZOOS E AQUÁRIOS
O manejo do bem-estar animal em zoos e aquários é
uma área complexa, onde o conhecimento e os métodos
científicos estão se desenvolvendo rapidamente.
OBSERVAÇÕES DO COMPORTAMENTO ANIMAL
O comportamento é geralmente considerado como um indicador claro do
estado de bem-estar e saúde de um animal, e tem sido usado efetivamente
para esse fim por muitas décadas. Historicamente, muitos cientistas
comportamentais eram relutantes em vincular experiências particulares
subjetivas a comportamentos particulares, considerando que seriam não-
científicas.
Entretanto, a ciência do bem-estar animal agora está fornecendo forte e
crescente apoio a três proposições chave: primeiro, que comportamentos
particulares de mamíferos, aves e répteis sugerem quais seriam seus
objetivos; segundo, que tais comportamentos direcionados a objetivos
poderiam permitir que se façam inferências sobre as experiências
positivas ou negativas acompanhantes; e, terceiro, que a experiência de
um animal provavelmente será positiva se ele se envolver ativamente em
comportamentos que envolvam processamento de impulsos em circuitos neurais
cerebrais associados a recompensa. Tomadas em conjunto, elas provém uma base
para, cautelosamente, interpretar o comportamento animal em termos do que as
experiências subjetivas acompanhantes podem ser.
O domínio comportamental do modelo dos Cinco Domínios (Fig 1,1)
incorpora esse conceito e refere-se a percepções prováveis do animal de
suas circunstâncias externas, e as experiências positivas ou negativas
resultantes associadas. Por exemplo, há forte evidência comportamental de
que mamíferos sociais mantidos confinados em recintos estéreis, sem
companhia e recebendo alimentos que tomem pouco tempo para serem
consumidos, provavelmente terão experiências negativas como ansiedade,
medo, frustração, solidão, tédio e depressão. No outro extremo, evidências
comportamentais sugerem que tais espécies gregárias mantidas em
ambientes extensivos, ricos em estímulos com oportunidades de, por
exemplo, explorar, forragear ou caçar, criar e reafirmar vínculos, cuidar dos
filhotes, brincar e ser sexualmente ativo, tem maior probabilidade de ter
experiências positivas, como sentir-se estimulado, envolvido, sociável
afetivamente e recompensado em termos parentais.
Considerar o amplo espectro de consequências desses fatores situacionais
destaca a necessidade de avaliar os potenciais benefícios de introduzir,
manter ou ampliar atividades de enriquecimento ambiental. Essas
observações apoiam fortemente o já bem demonstrado compromisso com o
enriquecimento ambiental no setor de zoos e aquários (veja Capítulo 3), e
indica que a avaliação comportamental pode, de forma benéfica, fornecer
informação sobre a eficácia do enriquecimento ambiental.
PERTH ZOO, AUSTRALIA
Orangotangos
23
Como visto acima, essas observações se referem principalmente a
mamíferos e aves, e assim não podem ser aplicadas diretamente a outras
espécies de vertebrados. Entretanto, as equipes de zoos e aquários estão na
melhor posição para desenvolver enriquecimentos apropriados à variedade
de espécies sob seu cuidado, e considerar que o cuidado e pesquisa devem
ser aplicados a todas as espécies mantidas nessas instituições.
CONCLUSÃO
Os Cinco Domínios oferecem um modelo prático e útil para zoos e aquários.
Ao aplicar o conhecimento dos estados de bem-estar negativos, neutros e
positivos, a avaliação de bem-estar é possível e tangível. É um arcabouço
que permite que os cuidadores de animais reconheçam e atendam suas
necessidades de sobrevivência, e ajuda a prover oportunidades para que os
animais vivenciem estados positivos de bem-estar. Essa é a base para criar
desafios prazerosos e escolhas para animais de zoos e aquários.
O manejo do bem-estar em zoos e aquários é uma área complexa, onde o
conhecimento e os métodos científicos tem se desenvolvido rapidamente.
Uma área de particular desafio é a ampla variedade de espécies mantidas
por zoos e aquários. Há, por consequência, necessidade de continuar a
adquirir conhecimento espécie-específico sobre as espécies menos
estudadas, para permitir que seu bem-estar seja apropriadamente
conhecido e manejado. O contínuo aporte de dados de especialistas e de
pesquisas biológicas baseadas em zoos e aquários será necessário.
A avaliação de bem-estar é um componente crítico do cuidado animal
moderno em zoos e aquários. As abordagens de avaliação tem várias facetas
e empregam indicadores baseados em condições físicas/funcionais e em
comportamentos que se alinham com as experiências negativas e/ou
positivas que os animais podem ter.
CHECKLIST
Você está atualizado com os avanços científicos no
conhecimento e avaliação do bem-estar animal?
Você tem uma política declarada de compromisso em manejar
apropriadamente o bem-estar animal (como a declaração de
compromisso da WAZA)?
Os membros de sua equipe compreendem o compromisso de
sua organização com o bem-estar animal e como implementar
esse compromisso?
Os membros de sua equipe são treinados para monitorar e
manejar o bem-estar dos animais sob seu cuidado?
Você tem informado as partes interessadas sobre seu
compromisso com o bem-estar animal, como visitantes,
autoridades reguladoras e outros?
Sua abordagem para o bem-estar animal busca assegurar que
estados de bem-estar negativos sejam minimizados?
Sua abordagem para o bem-estar animal busca promover
estados de bem-estar positivos?
NOTAS:
Boa constrictor Jiboia
26 ESTRATÉGIA DE BEM-ESTAR ANIMAL | ASSOCIAÇÃO MUNDIAL DE ZOOS E AQUÁRIOS
URSO POLAR
SVALBARD ISLANDS, NORUEGA
28 ESTRATÉGIA DE BEM-ESTAR ANIMAL | ASSOCIAÇÃO MUNDIAL DE ZOOS E AQUÁRIOS
CAPÍTULO 2: MONITORANDO E MANEJANDO O BEM-ESTAR ANIMAL
Nosso compromisso é monitorar o estado de bem-estar de
animais para atingir elevados padrões de cuidado.
RECOMENDAÇÕES
Para realizar nosso compromisso com altos padrões de bem-estar, a
Estratégia invoca as organizações membro a:
1. Faça da acreditação em bem-estar animal uma prioridade. Isso pode
ser feito através de sua associação regional de zoos e aquários ou
adotando os padrões de bem-estar e monitoramento usados por outras
regiões ou países.
2. Garanta que sua equipe de cuidado animal tenha treinamento científico
e experiência relevantes, mantenha-se a par dos mais recentes
desenvolvimentos em saúde animal e métodos de monitoramento de
bem-estar, e tenha ligação com outros grupos profissionais e
organizações para compartilhar conhecimento e boas práticas.
3. Desenvolva e mantenha uma cultura na equipe para a prática de relatos
e monitoramento regulares do comportamento e saúde dos animais.
Mantenha e guarde atualizados todos os registros animais
relacionados.
4. Utilizando pesquisas atualizadas em bem-estar animal, colabore com
outras instituições para estabelecer dados que componham a linha de
base em bem-estar para animais individualmente e em grupos, de
forma a permitir a comparação com quaisquer dados novos.
5. Avalie cuidadosamente como os animais são transportados e considere
qualquer risco potencial para o bem-estar. Desenvolva planos para a
movimentação de animais que também atendam todas as normas
nacionais e internacionais relevantes. Exija que os padrões e práticas de
bem-estar da instituição recebedora sejam checados e sejam iguais ou
superiores aos delineados nesta Estratégia e nas políticas de bem-estar
das associações regionais de zoos e aquários.
6. Empregue veterinários, biólogos, cientistas de bem-estar e especialistas
em comportamento com experiência em uma ampla gama de taxa, para
garantir elevados padrões de bem-estar animal e cuidados de saúde,
incluindo intervenções de saúde preventivas.
7. Com relação ao cuidado por toda a vida, desenvolva planos abrangentes
de saúde animal e, se necessário, políticas específicas, incluindo
aquelas que atendam às necessidades especiais dos animais muito
jovens, doentes, feridos e geriátricos.
8. Coloque em prática planos para prevenir e combater surtos de doenças
nos animais, incluindo a transmissão de doenças entre os animais e o
homem, e garantir que protocolos de quarentena estejam disponíveis
quando requeridos.
INTRODUÇÃO
Monitorar o bem-estar animal é claramente crítico para o manejo efetivo
de animais em zoos e aquários. Os indicadores físicos/funcionais e
comportamentais descritos no capítulo 1 podem ser usados para detectar
pobre bem-estar e identificar características de experiências positivas. Eles
também permitem a detecção de melhorias no bem-estar pela aplicação de
medidas remediadoras de manejo e intervenções terapêuticas veterinárias,
e/ou proporcionando aos animais oportunidades comportamentais que
elevem o bem-estar. Manejar o elevado número de espécies em zoos e
aquários também requer altos níveis de experiência da equipe e políticas e
planejamento sólidos
CONHECIMENTO ESPECÍFICO DA ESPÉCIE E ANIMAL
Como descrito no Capítulo 1, o número de espécies mantidas por zoos e
aquários cria desafios significativos para o monitoramento do bem-estar.
Desenvolver forte experiência da equipe e trabalhar com outros para
desenvolver conhecimento espécie-específico são vitais para melhorar o
monitoramento do bem-estar. Adicionalmente, conhecimento específico do
pessoal e desenvolvimento de experiência da equipe, para melhor
compreender peculiaridades e alterações comportamentais em animais
individualmente, devem ser prioridades constantes.
Progressos tem sido feitos para enfrentar esses desafios, através de
programas de acreditação de associações regionais de zoos e aquários. Por
exemplo, o programa da Associação de Zoos e Aquários da Australásia
(ZAA). iniciado em 2014, avaliou o comprometimento e as melhorias no
bem-estar em zoos e aquários membros para uma gama de espécies. Essa
abordagem pode levar a aprimorar o manejo corrente de aspectos
físicos/funcionais do bem-estar e identificar novas formas de melhorar o
bem-estar, pela provisão de oportunidades, antes não reconhecidas, de
engajamento dos animais em comportamentos que eles possam achar
recompensadores. Quando possível, zoos e aquários devem buscar a
acreditação através de associações regionais, uma vez que essas associações
são lideranças na avaliação e manejo de cuidados espécie-específicos
adequados para a vida selvagem..
A manutenção de registros que detalhem as observações físicas, funcionais e
comportamentais são importantes para o manejo efetivo do bem-estar
animal. Os registros permitem que a condição contínua dos animais,
incluindo quaisquer mudanças, deterioração, estabilidade ou melhoria nos
estados de bem-estar, sejam notadas. Eles também permitem que sejam
notadas quaisquer alterações não intencionais no manejo, que possam ser
identificadas como responsáveis por um problema, assim como o resultado
de qualquer intervenção proposital veterinária ou de manejo. Tais
informações não apenas oferecem uma base para a revisão do impacto das
práticas atuais (veja estudo de caso 2.1), mas também podem guiar a
introdução de novas abordagens destinadas a melhorar o bem-estar (veja
estudo de caso 2.2).
29
CUIDANDO DA VIDA SELVAGEM
DISNEY’S ANIMAL KINGDOM, FL, USA
Tigres
SAN DIEGO ZOO, CA, USA
Urso pardo
Estudo de caso 2.1:
O monitoramento comportamental sistemático é uma ferramenta que pode ser utilizada para otimizar o bem-estar animal.
A equipe do Disney's Animal Kingdom colocou em prática um programa
de monitoramento comportamental de longo prazo para auxiliar no
manejo de seis fêmeas de tigre (Panthera tigris). Esses tigres eram
alojados socialmente, o que era uma situação de manejo única em zoos.
O programa de monitoramento permitiu que a equipe acompanhasse
mudanças nas relações sociais ao longo do tempo. Essas observações
orientaram a seleção de vários agrupamentos sociais para maximizar a
compatibilidade, enquanto mantinha a variabilidade nos parceiros
sociais. O estudo também permitiu que a equipe determinasse os
impactos de diferentes práticas de manejo, técnicas de exibição e
impacto da construção das exibições no comportamento de animais
individualmente. O programa de monitoramento comportamental, assim,
orientou decisões de cuidado animal com ótimos resultados no bem-
estar, enquanto também forneceu importantes informações de base para
outros zoos que considerem o alojamento social de tigres.
Estudo de caso 2.2 :
O valor de coletar dados de bem-estar regularmente
Em muitos zoos e aquários os membros da equipe avaliam os padrões
de atividade dos animais diariamente, mas o valor dessa avaliação
pode ser reduzido quando apenas um tempo limitado é despendido com
os animais em um contexto muito específico. Para a maior parte dos
animais de zoos e aquários, o aparecimento de membros da equipe
pode indicar uma oportunidade de receber alimento. Por causa dessa
conexão, é lógico assumir que a ausência de membros da equipe indica
que não há essa oportunidade. Dessa forma, comportamentos ligados a
alimentação (p.ex. exploração ou forrageamento) raramente ocorrem
quando os membros da equipe não estão presentes. O monitoramento
diário de um urso pardo idoso (Ursus arctos) no Zoo de San Diego
indicou baixos níveis de comportamento de forrageamento até a
introdução de um alimentador automático que foi programado para
distribuir quantidades aleatórias de alimento seco a intervalos
aleatórios. Após sua instalação, os comportamentos de forrageamento
do urso aumentaram cinco vezes e a inatividade e o pacing
estereotipado diminuíram. O monitoramento detalhado permitiu aos
membros da equipe ver a complexidade dos comportamentos de
forrageamento e motivaram uma alteração nas práticas de manejo,
associada com uma mudança filosófica na abordagem da oferta de
alimentos.
30 ESTRATÉGIA DE BEM-ESTAR ANIMAL | ASSOCIAÇÃO MUNDIAL DE ZOOS E AQUÁRIOS
MONITORAMENTO E MANEJO DO BEM-ESTAR ANIMAL
CUIDADO DE ANIMAIS POR TODA A VIDA
Muitos animais em zoos e aquários passam toda sua vida em um ambiente
manejado, e podem estar presentes como neonatos, jovens, adolescentes,
indivíduos maduros e idosos. Claramente, procedimentos de
monitoramento e manejo focados no bem-estar precisam ser adaptados
para gerenciar as mudanças necessárias para cuidar dos níveis relativos de
robustez ou vulnerabilidade dos animais, durante os diferentes estágios de
suas vidas. Embora a qualidade do cuidado proporcionado deva ser similar
ao longo de toda a vida do animal, o caráter do cuidado será ajustado (veja
estudo de caso 2.3). Essa abordagem requer conhecimento e habilidades
especializados, que, se não disponíveis em uma instituição, devem ser
buscados através do trabalho com outros.
O tempo de vida pode variar entre as espécies de curto a muito longo. A vida
de animais com longo tempo de vida pode se estender muitos anos além de
sua capacidade reprodutiva. O planejamento organizacional para o longo
prazo deve garantir que o bem-estar seja monitorado e manejado
apropriadamente por toda a vida de todos os animais, e deve incluir
estratégias específicas para o cuidado de animais geriátricos. Fazer o
ambiente mais confortável, ajustes na dieta e testes para doenças ligadas à
idade ou outras enfermidades são alguns exemplos. Árvores de decisão que
levem em conta esses e outros fatores, como a longevidade natural para a
espécie e o nível e frequência de intervenções veterinárias, também podem
ser necessárias. O estado de bem-estar de um animal idoso, se
comprometido, deve ser avaliado regularmente para determinar se a
eutanásia seria preferível ao cuidado veterinário contínuo.
Quando animais são movimentados, zoos e aquários devem desenvolver
planos apoiados por equipe profissional de forma que aquisições,
movimentações e transações de animais não resultem em prejuízos no bem-
estar. Associações regionais de zoos e aquários podem ter diretrizes que
podem ser aplicados a transações individuais.
CUIDADO VETERINÁRIO
Assistência veterinária profissional é uma parte essencial da provisão de
cuidado de saúde apropriado e monitoramento da condição em curso de
animais de zoos e aquários. Veterinários registrados devem sempre fazer
parte de uma equipe de manejo animal, seja através de emprego direto ou
contratando veterinários privados ou consultores. O número de veterinários
necessários dependerá do tamanho e complexidade do zoo ou aquário.
O emprego direto de veterinários em zoos e aquários proporciona uma
maior compreensão do funcionamento diário da organização, e oferece mais
oportunidades de manejar holisticamente a diversidade de espécies
mantida. Veterinários com habilidades específicas em animais exóticos e
medicina espécie-específica devem ser procurados localmente e também a
partir de especialistas dentro da comunidade mundial de veterinários de
zoos e aquários.
A implementação de alguns tratamentos veterinários podem comprometer
temporariamente o bem-estar animal. Exemplos incluem a manipulação pré
e pós tratamento, procedimentos cirúrgicos e quarentena. Obviamente, um
objetivo maior é minimizar qualquer comprometimento e rapidamente
restaurar a capacidade do animal vivenciar estados de bem-estar positivos.
Todas as instalações nas quais os animais passem por procedimentos,
tratamentos ou observação devem ser projetadas para esse fim, ou
adaptadas para facilitar as intervenções veterinárias e atingir os objetivos de
bem-estar (veja capítulo 4). Além disso, o projeto das instalações deve visar
a segurança da equipe ao manejar animais potencialmente perigosos.
A maioria dos animais de zoos e aquários são espécies selvagens não
domesticadas e geralmente resistem à contenção e tratamento. O
treinamento com reforço positivo tem se tornado uma prática popular e
necessária, que é utilizada por zoos e aquários para reduzir o estresse em
animais e pode minimizar a necessidade do uso de anestésicos e sedativos.
Treinar um animal corretamente pode reforçar uma relação positiva entre o
treinador e o animal, e estimular o bem-estar positivo para futuras
interações. Todo treinamento deve criar um ambiente que seja interessante
e estimulante para os animais e permitir ao animal escolher participar.
PERTH ZOO, AUSTRALIA
Gibão de Java
Estudo de caso 2.3:
Decisão sobre criar um animal jovem artificialmente
Um gibão de Java (Hylobates moloch) nascido no Perth Zoo foi
abandonado por sua mãe e lutava para sobreviver. Os especialistas
do Zoo tomaram a decisão de criá-lo artificialmente. A intenção era
reintroduzir o filhote em seu grupo familiar prioritariamente,
utilizando métodos testados, aplicados a outra espécie de gibão.
Gibões são espécies altamente sociais e a política do Perth Zoo é
de que, em razão do bem-estar e necessidades comportamentais
em longo prazo, gibões apenas devem ser mantidos em grupos
familiares. A decisão de criar esse animal artificialmente foi tomada
sob a égide de uma política clara e conhecimento atualizado sobre
o manejo e bem-estar de espécies sociais como os gibões. Além
disso, houve a supervisão por um comitê de ética com membros
externos e membros da equipe do zoo. O Perth Zoo tem uma
história sólida no manejo de gibões e de integração de filhotes
criados artificialmente de volta às famílias. Foram reintegrados com
sucesso gibões de cara branca (Nomascus leucogenys) de volta a
grupos familiares e esses, posteriormente, reproduziram com
sucesso enquanto vivendo em um grupo social, como parte do
programa regional de reprodução da Australásia.
31
CUIDANDO DA VIDA SELVAGEM
USHAKA SEA WORLD DURBAN, SOUTH AFRICA Foca sulafricana
O treinamento com reforço positivo baseia-se em um tipo de aprendizagem
no qual o animal é recompensado por comportamentos desejáveis, e dessa
forma os reforça. Tal treinamento, onde os animais se apresentam
voluntariamente para diversos procedimentos, pode por consequência
auxiliar o veterinário a usar procedimentos em grande parte não invasivos
no monitoramento de saúde. Esses incluem aplicação de injeções, coleta de
sangue, cuidados com os pés e muitos outros (veja estudo de caso 2.4).
Treinar animais nessa área e para entrar em suas caixas de transporte deve
ser a norma nos zoos e aquários modernos. Técnicas de treinamento
aversivas que incluam infligir dor e estresse não devem ser aplicadas nas
práticas de treinamento.
A preparação meticulosa de todo evento anestésico é crítica para minimizar
qualquer comprometimento do bem-estar associado, e para assegurar que o
objetivo do procedimento seja atingido. Assim, um plano do procedimento
anestésico deve ser preparado antecipadamente para cada evento e deve ser
discutido e compreendido por todos os envolvidos. Quando necessário,
colegas e a literatura devem ser consultados para orientação sobre a escolha
do anestésico e seu uso. Uma avaliação do procedimento anestésico também
deve ser realizada para identificar melhorias para aplicação futura.
A responsabilidade do veterinário se estende ao manejo de animais em
quarentena, para manter a biossegurança. Comprometimento significativo
do bem-estar pode ocorrer em animais em quarentena, uma vez que devem
estar estressados devido ao transporte, relocação em ambiente
desconhecido, separação de seus coespecíficos familiares e/ou isolamento, e
em alguns casos, serem submetidos a procedimentos veterinários. É
importante que a equipe de cuidados que trabalha nas áreas de quarentena
tenha o conhecimento e habilidades requeridas para detectar
comportamentos anormais e sinais de doenças e estresse. O foco do bem-
estar do projeto da quarentena deve minimizar o risco de injúrias e permitir
a inclusão de enriquecimentos e locais para refúgio, para reduzir o estresse.
Os animais não devem ser quarentenados por período maior que o mínimo
necessário para atender os requerimentos de biossegurança.
Zoonoses, a transmissão de doenças entre espécies, é uma preocupação
significativa em zoos e aquários, devido à grande proximidade entre os
animais e entre esses e o homem. Salvaguardar as populações animais de
infecções cruzadas nos estabelecimentos é uma responsabilidade primária
da equipe veterinária, que tem também um papel crucial em minimizar a
transmissão de doenças dos animais às pessoas.
Estudo de caso 2.4:
Treinamento com reforço positivo para
procedimentos veterinários.
Gimli é uma foca sul-africana nascida no
uShaka Sea World Durban em 1986. O animal
é cego e, embora aposentado, ainda tem rotina
diária e novos treinamento de manejo. O
animal apresentou comportamento letárgico,
nadadeiras inchadas e frequência cardíaca
rápida. Muitos procedimentos diagnósticos
foram realizados, incluindo Raio-X,
ultrassonografia e biópsia por agulha. O animal
cooperou excepcionalmente bem. Foi
encontrada uma massa próxima à bexiga,
assim como algumas anormalidades cardíacas.
Todas as focas no uShaka Sea World são
treinadas para participar voluntariamente em
procedimentos de rotina, como exames das
orelhas, olhos e boca, escore de condição
corporal, aferição de temperatura, escovação
dental, auscultação, pesagem, coleta de
sangue, ultrassonografia e Raio-X. Uma
história sólida de treinamento com reforço
positivo e relacionamento animal-treinador foi
essencial no cuidado deste animal geriátrico. O
animal era confiante e pacientemente permitiu
esses procedimentos, mesmo quando não era
motivado por alimento. A alternativa de
contenção manual ou química teria sido
estressante e potencialmente prejudicial à
saúde do animal.
MONITORAMENTO E MANEJO DO BEM-ESTAR ANIMAL
32
ESTRATÉGIA DE BEM-ESTAR ANIMAL | ASSOCIAÇÃO MUNDIAL DE ZOOS E AQUÁRIOS
Exames pós-morte sempre devem ser conduzidos, para compreender
melhor a saúde animal e o bem-estar. Ao planejar atividades de contato
homem-animal, protocolos de manejo detalhados devem estar em prática,
para prevenir zoonoses. Além disso, o veterinário deve garantir que um
programa de saúde animal abrangente esteja em prática e que apenas
animais saudáveis, adaptados do ponto de vista comportamental e sem
comprometimentos sejam considerados para contato direto com o homem.
A COLABORAÇÃO MELHORA OS MÉTODOS DE MONITORAMENTO
Melhorias no bem-estar animal beneficiam todos os zoos e aquários e são
baseadas frequentemente em estudo científico. Esses dois fatores se
prestam a esforços colaborativos de colegas e ao desenvolvimento de grupos
profissionais que se concentrem em esforços enérgicas para apoiar as
iniciativas de bem-estar animal (veja também capítulo 8).
Nos Estados Unidos, diversos zoos e aquários tem criado centros destinados
a desenvolver pesquisas em bem-estar animal e divulgar seus resultados
(veja estudo de caso 1.1). Essas organizações são apoiadas adicionalmente
pelo comitê de bem-estar da Associação de Zoos e Aquários (AZA), que
trabalha para identificar necessidades gerais e apoiar progressos entre os
zoos e aquários norte-americanos. A Associação Europeia de Zoos e
Aquários (EAZA) destinou fundos para contratar um agente de treinamento
em bem-estar e também criou um grupo de trabalho em bem-estar animal,
ambos voltados a apoiar iniciativas de todos os membros da EAZA que
visem atingir elevados padrões de bem-estar animal.
Simpósios recentes e futuros realizados no Centro para a Ciência do Bem-
estar Animal da Chicago Zoological Society, Centro para o Bem-estar de
Animais de Zoos da Detroit Zoological Society e outras instituições
zoológicas apoiam o desenvolvimento de parcerias colaborativas e a
disseminação de ideias e descobertas entre colegas internacionalmente.
CONCLUSÃO
O monitoramento ou a avaliação do bem-estar animal é um componente
crítico do cuidado moderno em zoos e aquários. Programas de
monitoramento podem ter vários formatos, mas devem empregar
indicadores baseados em condições físicas/funcionais e comportamentais
que estejam relacionadas com as experiências negativas e/ou positivas que
os animais possam ter.
Tradicionalmente, evitar ou minimizar estados de bem-estar negativos tem
sido o foco predominante do manejo animal, mas a promoção de estados de
bem-estar positivos tem atualmente recebido atenção crescente. O
monitoramento utilizando indicadores focados no bem-estar e a
manutenção de registros são componentes importantes de sistemas de
manejo do bem-estar efetivos, que devem ser capazes de lidar efetivamente
com os animais durante todos os estágios de vida representados na
organização. Adicionalmente, a adoção de métodos de manejo animal como
o treinamento com reforço positivo e a assistência veterinária especializada
contínua permitem que isso ocorra.
Os membros das equipes de zoos e aquários devem manter-se a par dos
desenvolvimentos em monitoramento de saúde e bem-estar animal.
Existem numerosos recursos que facilitam a colaboração na investigação de
novas questões em bem-estar animal. Os recursos devem ter por objetivo
treinar todos os membros relevantes da equipe para avaliar e monitorar o
bem-estar e apoiar os programas de monitoramento.
SHEDD AQUARIUM, IL, USA
Um membro da equipe do aquário cuida de um filhote de pinguim.
CUIDANDO DA VIDA SELVAGEM
Flamingo chileno
CHECKLIST
Você está atualizado com os avanços científicos no
monitoramento do bem-estar animal?
Os membros de sua equipe são treinados para monitorar e
manejar o bem-estar dos animais sob seu cuidado?
Os membros da equipe relatam diariamente as condições dos
animais - fisiologicamente, comportamentalmente e em termos
de saúde?
São mantidos registros para sustentar as observações da equipe?
Você tem processos acordados para o monitoramento do bem-
estar dos animais sob seu cuidado? Eles incorporam protocolos
para o provimento de cuidados por toda a vida, quando for
requerido?
Você tem assessoria veterinária geral e especializada suficiente
no cuidado de saúde se seus animais?
Há atividades de pesquisa ou oportunidades que você poderia
apresentar para melhorar a capacidade de monitorar o bem-
estar animal?
Você tem acreditação em bem-estar animal por sua associação
regional de zoos e aquários?
Você utiliza os recursos de sua associação regional de zoos e
aquários em relação ao conhecimento e avaliação de bem-estar
animal?
Você busca aconselhamento, formal ou informalmente, de
outras organizações externas, a respeito de sua abordagem
para o monitoramento do bem-estar animal?
Você poderia criar vínculos com outros zoos e aquários para
revisar operações em uma área específica?
Você tem aconselhamento externo dedicado ao bem-estar
animal, como através de um comitê de ética e bem-estar
animal?
Você tem políticas estabelecidas e procedimentos claros para o
manejo de animais geriátricos e debilitados, e para manejar
eventos complexos como o transporte de animais?
NOTAS:
34 ESTRATÉGIA DE BEM-ESTAR ANIMAL | ASSOCIAÇÃO MUNDIAL DE ZOOS E AQUÁRIOS
CAPÍTULO 3: ENRIQUECIMENTO AMBIENTAL
Nosso compromisso é proporcionar aos animais oportunidades de desafio
e escolha, para promover estados de bem-estar positivos.
RECOMENDAÇÕES
Para realizar nosso compromisso com altos padrões de bem-estar, a
Estratégia Mundial de Zoos e Aquários para o Bem-estar Animal invoca as
organizações membro a:
1. Construir habilidades, cultura interna e comprometimento na equipe
para incorporar atividades e estratégias de enriquecimento no manejo
diário de todos os animais sob seu cuidado. Reveja regularmente essas
estratégias e atividades e proporcione treinamento contínuo da equipe
nessa área.
2. Oferecer diferentes enriquecimentos que ofereçam desafios, escolhas e
conforto aos animais para maximizar sua saúde psicológica. Troque-os
quando apropriado e elabore-os para estimular uma diversidade de
comportamentos naturais espécie-específicos.
3. Utilizar o reforço positivo como ferramenta de enriquecimento e
treinamento.
4. Avaliar os sucessos e falhas do enriquecimento e compartilhe esses
sucessos e falhas com outros zoos e aquários, para aprimorar seu
próprio conhecimento e atividades de enriquecimento e também o dos
outros.
5. Incorporar o enriquecimento ambiental no design e atualização das
exibições.
6. Compartilhar estórias de enriquecimento com os visitantes para
ampliar a compreensão e educação sobre biologia animal e bem-estar.
7. Utilizar enriquecimentos específicos, orientados a um objetivo,
elaborados para atender necessidades comportamentais específicas.
INTRODUÇÃO
Enriquecimento ambiental, também conhecido como enriquecimento
comportamental, proporciona desafios, oportunidades e estímulos
apropriados às espécies. Enriquecimento ambiental inclui a provisão
regular de ambientes dinâmicos, desafios cognitivos, oportunidades
Oportunidades para aplicar
enriquecimento para todas as espécies
mantidas por zoos e aquários devem ser
incorporadas à medida que o
conhecimento cresce.
sociais, interações positivas com o homem e outras formas de estimular os
animais individualmente. A prática do enriquecimento tem sido integrada
atualmente como um princípio básico do manejo animal em zoos e
aquários, a qual, por enquanto, tem sido aplicada principalmente a
mamíferos e aves. Oportunidades para aplicação de enrquecimento para
todas as espécies mantidas por zoos e aquários devem ser incorporadas à
medida que o conhecimento cresce..
Um ambiente enriquecido deve promover uma gama de comportamentos
normais que os animais considerem gratificantes. Ele também deve
permitir aos animais responder de formas positivas a potenciais estressores.
Tais respostas potencialmente permitem que os animais evitem ou reduzam
sua exposição a tais fatores estressantes. Assim, um espaço de exibição bem
enriquecido oferece oportunidades para o desempenho de comportamentos
como se esconder, escalar ou correr, como apropriado para a espécie.
POR QUE O ENRIQUECIMENTO É IMPORTANTE?
Animais com boa saúde mental tendem a estar envolvidos em seu ambiente.
Dessa forma, eles descansam pacificamente, sem uma expressão exagerada
de vigilância, comportam-se de maneira não muito temerosa, com respostas
de alarme mínimas ou não exageradas; assimilam novas informações,
demonstrado através do aprendizado de tarefas ou modificação de
comportamentos; não desempenham comportamentos anormais; e têm um
repertório comportamental variado, que inclui exploração e investigação
regulares. Com respeito a sua saúde física, os animais devem ser capazes de
estar relativamente estáveis fisiologicamente, crescer e reproduzir
efetivamente e também ser munidos de oportunidades para realizar formas
apropriadas de exercício..
Enriquecimento ambiental promove a saúde mental e física dos animais, ao
possibilitar que eles se envolvam em comportamentos que dão origem a
uma gama de experiências positivas. Tais comportamentos gratificantes
podem envolver alimento, espaço, temperatura, parcerias sociais, atividades
como nadar ou tomar banho de areia, coleta de informações e muitos
outros.
Neuropsicólogos sabem há décadas que animais criados em ambientes
enriquecidos tem maior capacidade cognitiva do que aqueles de ambientes
não-enriquecidos. Já em 1947, por exemplo, foi demonstrado que ratos
mantidos como pet eram mais hábeis em desempenhar testes de solução de
problemas que ratos criados em laboratório. Trabalhos posteriores
demonstraram diferenças na anatomia do cérebro entre animais criados em
ambientes enriquecidos e não-enriquecidos, e, muito importante, que até
cérebros adultos mantinham a capacidade de reorganização benéfica do
processamento neural em resposta ao enriquecimento.
35
CUIDANDO DA VIDA SELVAGEM
PHILADELPHIA ZOO, PA, USA
Macaco colobus em um habitat interligado.
Enquanto a ciência básica identificou muitos efeitos positivos do
enriquecimento ambiental, profissionais em zoos e aquários também
tiveram um papel substancial por sua aplicação inovadora da ciência para
enriquecimentos específicos. Isso tem tido um impacto positivo no bem-
estar animal. Pesquisas baseadas em zoos e aquários demonstram que
animais que recebem enriquecimento, em comparação com os que não
recebem, mostram uma série mais ampla de comportamentos normais,
expressam menos comportamentos anormais e mantém interações sociais
mais apropriadas. A exposição a ambientes complexos e enriquecidos
também podem melhorar a habilidade de um animal para lidar mais
eficientemente com mudanças, e os animais tem mais probabilidade de ser
mais responsivo ao treinamento, fazendo as opções para seu cuidado mais
inclusivas. De fato, há numerosos resultados positivos no bem-estar para
animais com enriquecimento.
PROPORCIONANDO 'DESAFIOS' E 'ESCOLHAS'
Profissionais experientes de zoos e aquários utilizam 'desafios' para
envolver os animais. Esses podem incluir desafios físicos ou cognitivos
que exigem que os animais desempenhem alguma tarefa para receber uma
recompensa ou resolvam um problema. Literatura substancial sobre a
não-provisão livre de alimentos ('contra-freeloading') discute a hipótese
de que muitos animais preferem executar atividades para conseguir o
alimento a simplesmente ter livre acesso ao que é fornecido pelos
tratadores. Para dar suporte a que os animais executem tarefas por
recompensas, o Phoenix Zoo, por exemplo, implementou um amplo
programa de 'contra-freeloading' para todo o zoo. Isso pode ser utilizado
para proporcionar desafios e escolhas que estimulem estados positivos de
bem-estar, sem induzir estados negativos, como frustração
Outras oportunidades de solução de problemas são passíveis de gerar
resultados positivos no bem-estar animal. Os animais na natureza
enfrentam muitos desafios diferentes e, embora seu comportamento em
zoos e aquários possam não espelhar aquele em seu ambiente natural, a
motivação essencial para resolver problemas pode ainda persistir. Assim,
responsáveis pelos animais oferecem quebra-cabeças para manipulação ou
outros desafios cognitivos aos animais. Obviamente, os animais devem ser
capazes de resolver o problema ou vencer o desafio apresentado, ou poderá
surgir frustração. Note também que bons desafios podem estimular
respostas de estresse no animal, assim, avaliações fisiológicas mostrando
tais respostas sob essas circunstâncias não necessariamente seriam motivo
de preocupação.
Proporcionar aos animais oportunidades para exercer controle sobre várias
atividades - dar-lhes 'escolhas' - é outra característica fundamental do
enriquecimento ambiental. Escolhas podem ser apresentadas de numerosas
formas; por exemplo, em relação aos parceiros sociais, itens de
enriquecimento individuais ou locais para descansar ou comer (veja estudo
de caso 3.1). Essencialmente, o enriquecimento funciona mantendo o
ambiente dos animais dinamicamente estimulante. Para auxiliar nisso, foi
desenvolvida uma teoria preditiva de enriquecimento ambiental. O conceito
sugere que variar sistematicamente um único aspecto do ambiente de um
animal ajudará a determinar a maneira mais efetiva pela qual o
enriquecimento deve ser apresentado (veja estudo de caso 3,2).
Estudo de caso 3.1:
Proporcionando escolhas ligando exibições
O Philadelphia Zoo desenvolveu um plano de 10 anos para
a construção de uma rede de trilhas para animais por toda a
área, ligando exibições para espécies com requerimentos
similares de contenção e capacidade de locomoção. Esse
plano se baseia e combina os conceitos de rotação de
espécies e sistemas de conexão para uma espécie já em
uso em outros locais. O plano do Philadelphia Zoo inclui
três grandes categorias de trilhas: uma para pequenas
espécies arbóreas, incluindo macacos, lêmures e pequenos
carnívoros; uma para grandes primatas, ursos e grandes
felinos; e uma para grandes espécies terrestres. A intenção
do plano é proporcionar oportunidades para deslocamentos
de grande distância e uso rotativo por diferentes espécies
das trilhas em si e, quando apropriado, dos recintos
próprios umas das outras. Como uma medida do impacto,
as trilhas foram usadas voluntariamente e extensivamente
pela maior parte das espécies que tiveram acesso a elas.
As trilhas permitiram alguns comportamentos que eram
restringidos na maior parte dos recintos próprios, por
exemplo corrida, recuo por estímulos de alarme, transporte
do alimento antes do consumo e dispersão interindividual.
Outras observações incluem aproximação gradual e auto-
controlada a novos estímulos e vocalizações não ouvidas
nos recintos próprios.
36 ESTRATÉGIA DE BEM-ESTAR ANIMAL | ASSOCIAÇÃO MUNDIAL DE ZOOS E AQUÁRIOS
ENRIQUECIMENTO AMBIENTAL
ENRIQUECIMENTO ATRAVÉS DO ALIMENTO E DE TÉCNICAS DE
ALIMENTAÇÃO
Variar como os animais são alimentados é talvez a técnica de enriquecimento
mais amplamente utilizada. Dentre numerosos enriquecimentos alimentares, o
horário da alimentação pode ser mudado, assim como o número de refeições e
o local onde ela é oferecida. As formas pelas quais os animais devem buscar
pelo alimento podem variar, e o tempo e atividades necessários para conseguir
o alimento, pela manipulação do tamanho dos itens alimentares e pela
colocação em estruturas das quais deve ser extraído, também podem
incrementar o enriquecimento. O alimento e as técnicas de alimentação
precisam ser apropriados às espécies, levando em consideração requerimentos
dietéticos, dinâmica social e outras necessidades comportamentais como
forrageamento..
No condicionamento operante, o reforço positivo envolve proporcionar um
resultado favorável, evento ou recompensa, após ter ocorrido um
comportamento desejável, o que torna mais provável que esse comportamento
ocorra de novo no futuro. Enquanto obter a recompensa alimentar pode ser um
resultado associado com variações na provisão do alimento, em muitos casos
há outros resultados como estimular os animais a buscar e processar
informações sobre seu ambiente.
É importante considerar como o ambiente permanecerá dinamicamente
estimulante ao projetar recintos, de forma que continuem a enriquecer a vida
dos animais que vivem neles (veja capítulo 4). Os recintos devem ser projetados
com ferramentas para enriquecimento alimentar em mente, como postes de
alimentação para grandes felinos. É essencial que os animais sejam
estimulados por componentes do ambiente que eles possam vir a compreender
e sobre os quais possam exercer algum controle. A facilidade de colocação de
objetos de enriquecimento que incluam alimentos também é importante, para
que o enriquecimento se torne um componente fácil de cumprir na rotina
diária de cuidados do animal.
USO DE ALIMENTOS VIVOS NO ENRIQUECIMENTO - PREOCUPAÇÕES
DE BEM-ESTAR?
Até o momento há poucos estudos sobre os efeitos do enriquecimento
utilizando animais vivos como alimento para predadores. Dois estudos
mostraram que oferecer peixes vivos para gatos reduziram comportamentos
anormais e resultaram em um repertório comportamental mais diversificado.
Entretanto, cada um desses estudos também usou um tratamento alternativo
que alcançou resultados comportamentais positivos - alimentos foram
escondidos em diversos locais por todo o recinto, ou os animais receberam
grandes ossos para roer. O objetivo de qualquer estratégia de enriquecimento
envolvendo alimento vivo deve ser cuidadosamente considerada. É importante
que o objetivo do enriquecimento seja adequadamente avaliado, assim como
seu impacto negativo potencial sobre as presas. A ideia de cuidado por toda a
vida deve ser aplicada a todos os animais sob nosso cuidado, incluindo aqueles
usados como alimento vivo.
Embora existam abordagens variadas ao redor do mundo sobre a prática do
uso de alimentos vivos, zoos e aquários devem, quando relevante, investigar
opções aos alimentos vivos para promover resultados positivos no bem-estar.
Deve ser considerado o uso de comitês de ética e bem-estar com membros
externos para auxiliar a tomar decisões nessas questões.
BROOKFIELD ZOO, IL, USA
Raposa de fennec
Estudo de caso 3.2
Teoria preditiva de enriquecimento ambiental
Um casal de raposas de fennec (Vulpes zerda) mantido no
Brookfield Zoo eram completamente inativos e não utilizavam seu
amplo recinto. Para testar o conceito desenvolvido na teoria
preditiva de enriquecimento ambiental, foi instalado um dispositivo
simples de alimentação que permitia que alimentos chegassem ao
recinto em diversos locais diferentes em horários previsíveis ou não
previsíveis. Assim, os pesquisadores podiam variar a chegada do
alimento tanto no espaço quanto no tempo. Importante, eles
descobriram que a previsibilidade e imprevisibilidade combinadas
foram mais efetivas em estimular o comportamento normal de
forrageamento e atenção ao ambiente que a completa
previsibilidade ou completa imprevisibilidade. Eles também
observaram que a maior atividade e variedade de comportamentos
levaram os visitantes do zoo a ficarem mais tempo na exibição.
CUIDANDO DA VIDA SELVAGEM
37
MEDINDO A EFETIVIDADE DO ENRIQUECIMENTO
É importante medir a efetividade do enriquecimento ambiental, para
garantir que os recursos estão sendo usados efetivamente, e que o
enriquecimento em uso de fato traz benefícios ao bem-estar animal. Além
disso, avaliações do enriquecimento ajudam a construir cooperação e
melhorias dentro da comunidade de zoos e aquários. Compartilhar sucessos
e falhas beneficiam toda a comunidade. Isso pode ser feito em nível regional
ou mais amplamente através de recursos em websites.
Um ponto chave na avaliação da efetividade do enriquecimento é comparar
os resultados comportamentais com as expectativas. O Disney Animal
Kingdom desenvolveu a plataforma 'SPIDER' para o planejamento e
avaliação de programas de enriquecimento. Essa é uma ferramenta útil que
orienta a equipe para estabelecer (Set) objetivos, Planejar (Plan) uma
abordagem para o enriquecimento, Implementar (Implement) o
enriquecimento, Documentar (Document) resultados, Avaliar (Evaluate)
esses resultados em comparação aos objetivos, e Reajustar (Re-adjust) a
implementação, caso necessário.
VISITANTES E ENRIQUECIMENTO
Embora as expectativas dos visitantes possam não ter um impacto direto no
bem-estar animal, elas tem o potencial de aumentar o comprometimento
dos zoos e aquários com o enriquecimento ambiental. Como as expectativas
dos visitantes aumentaram nitidamente, muitos agora esperam que os zoos
e aquários trabalharão ativamente para manter os animais saudáveis e
envolvidos. Assim, pode ser benéfico falar aos visitantes sobre atividades de
enriquecimento e como elas dão importantes contribuições ao bem-estar
animal. Muitos zoos e aquários tem páginas na internet que fornecem
informações e mostram seu trabalho de enriquecimento.
Alguns zoos e aquários também realizam 'dias de enriquecimento' quando
os visitantes tem a oportunidade de ajudar a fazer os itens e aprender sobre
sua relevância. Apesar de muitos responsáveis acharem que itens de
enriquecimento artificiais, mesmo que efetivos, depreciam a experiência do
visitante, um número limitado de estudos sobre o assunto não mostra
evidência clara de que a visualização desses itens reduza a opinião do
visitante sobre a exibição. Além disso, os visitantes parecem gostar de saber
que os animais recebem enriquecimento. Quando os animais estão ativos e
envolvidos, como tendem a estar com o enriquecimento, os visitantes
tendem a observá-los por mais tempo, e a oportunidade de aprender sobre
a exibição aumenta.
CONCLUSÃO
O enriquecimento ambiental é uma abordagem comprovada para manter a
saúde física e mental dos animais em zoos e aquários. Ele pode assumir
várias formas, mas o objetivo geral é proporcionar um ambiente
dinamicamente envolvente que ofereça desafios aos animais. Esses desafios
devem estar sob o escopo da capacidades dos animais e eles devem ter
sucesso em vencê-los mais frequentemente que falhar
A principal dificuldade associada com o enriquecimento é a manutenção de
ambientes dinâmicos para os animais dentro dos limites das horas de
trabalho da equipe de tratadores. É importante lembrar que bem-estar
animal não é a expressão de apenas alguns momentos no dia de um animal,
mas a experiência cumulativa que um animal tem ao longo do tempo.
Programas de enriquecimento ambiental sempre devem considerar as
necessidades individuais dos animais e as mudanças nos requerimentos ao
longo do tempo.
CHECKLIST
Você tem um programa ou atividades de enriquecimento efetivos em prática?
Qual é o objetivo do programa de enriquecimento para o animal?
Que comportamento você gostaria de ver aumentado ou
diminuído?
Você revisa e modifica as atividades de enriquecimento regularmente?
Os membros de sua equipe utilizam o reforço positivo como
ferramenta de enriquecimento?
Quantas vezes por dia os membros da equipe interagem com o
animal ou ajusta seu recinto para fins de enriquecimento?
Como você documenta e avalia a eficácia do programa de
enriquecimento?
Como você compartilha seus sucessos e falhas com o restante da
comunidade de zoos e aquários?
NOTAS:
_______________________________________________________________
_________________________________________ ______________________________________________
_____________________________________________ ______________________________________________
OPICAL EXPERIENCE WORLD GONDWANALAND
EIPZIG ZOO, GERMANY
EXPERIENCIA TROPICAL WORLD GONDWANALAND
LEIPZIG ZOO, ALEMANHA
40 ESTRATÉGIA DE BEM-ESTAR ANIMAL | ASSOCIAÇÃO MUNDIAL DE ZOOS E AQUÁRIOS
CAPÍTULO 4: DESIGN DE EXIBIÇÃO
Nosso compromisso é ter exibições que proporcionem oportunidades de
atender as necessidades físicas e comportamentais dos animais.
RECOMENDAÇÕES
Para realizar nosso compromisso com altos padrões de bem-estar, a
Estratégia invoca as organizações membro a:
1. Definir características ambientais que suportem o bem-estar animal
espécie-específico e as inclua como critérios primários de todo design e
atualizações de exibições; garanta características apropriadas às espécies
baseadas em aconselhamento atualizado e baseado em ciência.
2. Buscar garantir que as necessidades físicas e comportamentais dos
animais sejam atendidas. Proporcionar desafios ambientais que
estimulem a curiosidade e envolvimento, assim como escolhas de acesso
a elementos naturais, incluindo mudanças sazonais. Considerar também
as mudanças nas necessidades de um animal, ou grupo de animais, ao
longo do tempo.
3. Assegure que as exibições permitam a separação de animais conforme o
necessário para o manejo do bem-estar.
4. Assegure que os membros da equipe possam realizar com segurança e
facilidade a manutenção, cuidado e treinamento, para permitir que os
animais levem uma vida plena e rica sem injúrias desnecessárias por
estresse.
5. Institua monitoramento para avaliar a qualidade do design de exibições.
Encontre soluções criativas e compartilhe com os outros.
6. Explique o bem-estar nos recintos e forneça aos visitantes informações
sobre ações pessoais que eles possam fazer para melhorar o bem-estar de
animais em qualquer lugar.
7. Considere o provimento de elementos que proporcionem aos animais, de
forma contínua, múltiplas escolhas apropriadas à espécie, ou controle
sobre seu ambiente.
INTRODUÇÃO
A qualidade de vida de um animal é determinada por uma série de
variáveis, incluindo genética, experiências prévias, a qualidade geral do
ambiente e a oportunidade de exercer escolhas na busca por conforto,
alimento e envolvimento social. Embora os animais não tenham controle
sobre sua constituição genética e a qualidade geral do ambiente, um
indivíduo na natureza ou em um zoo ou aquário pode exercer um grau de
controle sobre seu bem-estar ao escolher se mover de um lugar ao outro. em
busca de diferentes oportunidades comportamentais, escolhas sociais e a
capacidade de expressar preferências pessoais.
do dia, um animal pode se sentir mais ou menos confortável, com mais ou
menos fome, ou sob estresse por uma variedade de fatores externos. Um
objetivo importante do design de exibições é proporcionar aos animais
oportunidades de se manterem bem mentalmente, emocionalmente e
fisicamente, lidando com esses estressores diários, e aproveitando-se de
oportunidades para ter experiências positivas.
Historicamente, zoos e aquários se especializaram em trazer animais para um
ambiente regulado pelo homem, onde o cuidado era substituto do 'livre-
arbítrio' ou estado selvagem do animal. Embora muitos desses animais
pareçam satisfeitos e vivam mais que seus semelhantes selvagens,
longevidade não é necessariamente um indicador de bem-estar animal. À
medida que zoos e aquários compreendem melhor as espécies e animais dos
quais cuidam, o design de exibições deve incorporar as necessidades de toda a
vida, expandir os espaços, proporcionar uma variedade de artigos de
enriquecimento ambiental e aumentar as oportunidades de interações sociais
apropriadas com outros animais.
O PAPEL E ESTILO DO DESIGN DE EXIBIÇÕES
Em zoos e aquários modernos, o design de exibições assume dois
importantes papéis. Primeiro, criar uma estrutura flexível onde os animais
tenham espaço suficiente e oportunidades para desafios e escolhas dentro
de seu próprio repertório comportamental, e onde os membros da equipe
estejam sempre seguros na proximidade dos animais e tenham opções para
desafiar e apoiar suas predileções. Segundo, projetar um cenário que apoie
as oportunidades do visitante para o aprendizado ambiental intuitivo - onde
as necessidades emocionais e intelectuais do visitante sejam satisfeitas,
através da compreensão de como o cenário e situação permitem que os
animais se beneficiem, assim como o que os visitantes podem fazer para
apoiar o bem-estar animal.
Existem duas principais abordagens para o estilo do design das exibições,
chamadas de imersão na paisagem e ecologia abstrata. O estilo de imersão
na paisagem incorpora componentes naturais e às vezes culturais do
território nativo do animal. Tanto os componentes naturais quanto culturais
transcendem as barreiras da exibição em cada direção, colocando os
visitantes num cenário compartilhado com os animais. A imersão na
paisagem é uma forma de arquitetura 'naturalista' ou 'leve'. Este estilo de
design de exibições facilita o aprendizado ambiental intuitivo..
O estilo de ecologia abstrata utiliza elementos abstraídos do habitat nativo
do animal. Exemplos incluem uma estrutura de escalada ao invés de uma
floresta viva para primatas braquiantes, ou uma formação geométrica de
concreto para representar icebergs em uma exibição de espécies árticas.
Este estilo de design é conhecido como arquitetura 'mecanicista' ou 'dura'. A
ecologia abstrata pode ser mais econômica, economizando dinheiro para
melhorar outras características ligadas ao bem-estar animal.
Nenhuma dessas abordagens de estilo das exibições é inerentemente
melhor para o animal do que outra. Um bonito cânion com um pano de
fundo de árvores pode convencer os visitantes de que eles estão no
ambiente nativo, mas pode não beneficiar os animais, a menos que
41
CUIDANDO DA VIDA SELVAGEM
DUBLIN ZOO, IRLANDA
Gorila da planície ocidental
ofereça uma variedade de condições e atividades apropriadas para a espécie
residente. Inversamente, um ginásio de barras pode ser muito excitante
para gibões, embora visualmente não evoque uma floresta natural.
Independente do estilo, são as características de enriquecimento ambiental
espécie-específico, a quantidade de escolhas e estímulos e a capacidade do
animal para se envolver em comportamentos naturais que importam.
DESIGN DE EXIBIÇÕES E BEM-ESTAR ANIMAL
Como podemos projetar espaços que melhorem a condição física, a saúde e o bem-
estar de seus habitantes?
A seleção apropriada das espécies é um dos primeiros princípios do design
de exibições. As espécies devem estar naturalmente confortáveis no clima
do zoo ou aquário, ou mantidas confortáveis através de ambientes
artificiais (veja capítulo 5). Características físicas e da paisagem e
limitações de espaço também tem um papel na definição de quais espécies
são apropriadas. Animais que naturalmente são encontrados juntos em
vida livre podem se beneficiar de exibições multi-espécies, onde podem
ser desempenhados comportamentos interespecíficos que de outra forma
não seriam possíveis, como nos habitats com uma única espécie.
Entretanto, deve ser dada atenção às espécies e indivíduos envolvidos,
uma vez que algumas exibições mistas podem levar a comportamento
agressivo, lesões e mortes, se não manejadas corretamente.
As exibições devem sempre ser projetadas de forma a considerar não
somente a segurança da equipe e dos visitantes, mas também oferecer um
espaço onde o animal se sinta seguro. O design de sucesso começa com
uma compreensão minuciosa do repertório comportamental de cada espécie
durante seu tempo de vida (nascimento, desenvolvimento, maturidade,
geriatria e morte), e das formas como faz uso de sua paisagem natural. Esse
é um esforço colaborativo e deve envolver biólogos, cientistas de bem-estar,
tratadores de animais e pesquisadores que estudam a fauna em seus
habitats naturais (veja estudo de caso 4.1). O design baseado em evidências
(EBD, no original) pode fornecer informação valiosa sobre o que funcionou
no passado, e técnicas de avaliação pós-ocupação (POE, no original) podem
ser usadas para monitorar a efetividade do design da exibição.
O tamanho e propósito de um habitat de exibição devem considerar a
variedade de necessidades e comportamentos de cada espécie. Para algumas
espécies, o espaço tridimensional será uma prioridade absoluta e essencial
para alcançar estados de bem-estar positivos, enquanto, para outras,
estruturas sociais adequadas serão uma prioridade. Conhecer os
requerimentos espécie-específicos é essencial para o efetivo bem-estar no
design de recintos.
Estudo de caso 4.1:
Inovações no design do habitat de Gorilla
O habitat Floresta dos Gorilas do Dublin
Zoo, aberto em 2011, é único na forma
como combina o respeito à paisagem
existente e a história comportamental dos
Gorilas das Planícies do Ocidente (Gorilla
gorilla gorilla), e recria com sucesso as
características de seu local de origem. O
habitat consiste de um grande pântano
natural; um total de 6.000m2 de topografia
ondulada dá aos gorilas vários habitats
diferentes semelhante aos campos, floresta
e matriz do rio de seu lar ancestral. O
projeto do habitat foi orientado por estudos
de comportamento dos gorilas na natureza.
Os visitantes exploram esse bioma tropical
ao longo de um calçadão contínuo. Eles
atravessam riachos em cascata e apreciam
a vista da paisagem próxima e distante e o
céu, e ao longe,através de um lago, tem a
visão do habitat de outros animais. Os
visitantes são surpreendidos por áreas
formais de visualização, uma área de
recreação, um acampamento noturno e
oportunidades educacionais. Descobrir e
observar os gorilas exige paciência, mas
mesmo se os gorilas escolherem evitar a
detecção, a caminhada por si é uma
experiência adorável, com oportunidades de
observar um bando de mangabeis-de-
topete-vermelho (Cercocebus torquatus)
compartilhando o habitat com os gorilas,
assim como animais da fauna local.
42 ESTRATÉGIA DE BEM-ESTAR ANIMAL | ASSOCIAÇÃO MUNDIAL DE ZOOS E AQUÁRIOS
DESIGN DE EXIBIÇÕES
Por exemplo, considere como os animais usam as três dimensões de seu
espaço natural, imagine os detalhes do dia a dia de suas vidas e verifique as
opções disponíveis de níveis de luz e ruído, assim como o gradiente de
temperatura. Proporcione acesso à luz natural. Planeje a provisão de
enriquecimento ambiental e desafios que criem oportunidades para
escolhas auto-motivadas.
Os animais devem ser capazes de formar grupos naturais (veja estudo de caso
4.2). Prepare para eventos reprodutivos e para separar animais por razões
de bem-estar. Uma área complementar fora da exposição/restrita ou um
segundo recinto podem ser necessários. Áreas restritas, embora fora da
visão dos visitantes, devem ser construídas de acordo com as necessidades
específicas dos animais, exatamente como as áreas de exposição. Ambas
áreas devem prover opções seguras, fáceis e flexíveis, para que os membros
da equipe se envolvam na manutenção, cuidado, treinamento e observação.
Alternar os animais entre as áreas de exposição e restritas podem
proporcionar estímulos positivos adicionais.
Idealmente, os membros da equipe devem ser capazes de trocar os
enriquecimentos e realizar outras tarefas diárias sem interferir no
comportamento natural dos animais, tanto para prevenir perturbações
quanto para evitar condicionamento que os levem a ficar dependentes da
intervenção humana. Assim, o projeto deve possibilitar o uso de sistemas
flexíveis para a colocação de enriquecimento ambiental, para permitir
variação e desafios diários. Também deve incorporar dispositivos de manejo
e cuidado apropriados como balanças, calhas e caixas de captura, de forma
que os animais, independente de seu tamanho e complexidade, possam
aceitar mais facilmente procedimentos médicos não invasivos, através do
treinamento com reforço positivo.
Áreas de refúgio devem ser incorporadas aos recintos, de forma que os
animais, se assim escolherem, possam sair da visão do público. De uma
perspectiva educacional, explicar as características de bem-estar dos
recintos ajuda os visitantes a compreender melhor as necessidades dos
animais. Estudos mostram que a necessidade ocasional de privacidade dos
animais é reconhecida por visitantes educados que, então, não esperam ver
todos os animais em todas as visitas. Tal explicação pode inspirar a conexão
e pode motivar os visitantes a se interessarem pelo bem-estar de animais
em zoos e aquários, assim como por sua conservação na natureza.
CONCLUSÃO
Um zoo ou aquário bem projetado, ao lado do manejo animal cuidadoso,
pode fazer muito para melhorar a condição física, a saúde e bem-estar de
seus habitantes. Proporcionar escolhas dentro da exposição e garantir áreas
para descanso e refúgio dos visitantes podem fazer uma notável diferença
para o bem-estar de um animal. Igualmente, pode proporcionar
oportunidades para ver os animais como indivíduos plenamente sencientes,
enquanto estes se envolvem em uma rica variedade de escolhas e em um
complexo repertório comportamental, que refletem sua própria curiosidade
e uso individual de seu habitat.
Zoos e aquários devem ambicionar as melhores práticas, liderar pelo
exemplo e estimular novas formas de pensar e projetar para o bem-estar
animal. As solução não precisam ser caras, mas bons resultados requerem
esforço cuidadoso, minucioso e ousado.
APENHEUL PRIMATE PARK, HOLANDA
Mico de cheiro
Estudo de caso 4.2:
Avanços no estilo de manejo animal impulsiona avanços no design de exibições
O Apenheul Primate Park, aberto em 1971, foi pioneiro em recintos
de livre acesso para primatas, através da experimentação com
cercas, pontes eletrificadas e aprendizado social. Na primeira área
de livre acesso, que ocupa 1 ha de área florestada, mais de 100
macacos-de-cheiro (Saimiri boliviensis) vagueiam nas árvores e
entre os visitantes. O espaço dado aos animais permitem que eles
formem grupos sociais. As salas de internas de manutenção
oferecem flexibilidade para os membros do grupo se posicionarem:
cada uma das oito salas tem pelo menos três saídas, com cada
saída levando, por uma intersecção, a múltiplas outras salas. O
prédio tem as paredes, ao invés do chão, aquecidas, com a
temperatura da parede mantida em 25ºC e do ar em 20ºC. Um
animal que precise ser mantido em isolamento, devido a lesões ou
doenças, é sempre acompanhado por outro animal, selecionado
pelo tratador com base no seu conhecimento do grupo..
CUIDANDO DA VIDA SELVAGEM
43
Jaguatirica
CHECKLIST
A espécie está naturalmente confortável no clima natural do
zoo ou aquário, ou pode ser mantida confortável pelo acesso a
ambientes artificiais?
A exibição permite ao animal regular suas condições básicas;
acessar a luz solar (ou a lua em espécies noturnas) e as áreas
externas a sua escolha?
O animal utiliza a 'terceira dimensão' como altura ou
profundidade; eles aproveitam as árvores ou cavam em
diferentes substratos? Há locais de descanso incorporados e a
exibição permite a movimentação normal?
A exibição é grande e complexa o suficiente para suportar o
agrupamento natural da espécie? Estão disponíveis recintos
complementares para lidar com a reprodução ou a ruptura de
um grupo social?
A exibição está oferecendo multiplicidade de oportunidades,
como para alimentação e descanso em condições variadas
(perto ou longe, na sombra ou ao sol, no alto ou baixo,
protegido ou exposto aos elementos)? Ele oferece áreas para
escape e refúgio dos animais? O que desencadeia agressão?
Os tratadores estão seguros nos arredores dos animais? A
exibição oferece opções flexíveis para a manutenção e
enriquecimento ambiental diários?
A exibição permite que membros da equipe e pesquisadores
monitorem os animais sem perturbação? Os animais na
exibição estão protegidos de excesso de luz, ruído ou vibração
associadas com a visitação?
Os animais estão a salvo dos visitantes? Os visitantes estão seguros nos arredores dos animais?
O bem-estar dos animais na exibição é bem entendido pelos
visitantes? Os visitantes podem observar as aptidões dos
animais, as estratégias de alimentação, auto-cuidado,
interações sociais e uso do enriquecimento ambiental? A
experiência dos visitantes está vinculada à compreensão dos
desafios à sobrevivência das espécies na natureza?
NOTAS:
46 ESTRATÉGIA DE BEM-ESTAR ANIMAL | ASSOCIAÇÃO MUNDIAL DE ZOOS E AQUÁRIOS
CAPÍTULO 5: PROGRAMAS DE REPRODUÇÃO E PLANEJAMENTO DE COLEÇÃO
Nosso compromisso é com programas de reprodução que alcancem
resultados de conservação, manejo sustentável de espécies e promovam
estados de bem-estar positivos.
RECOMENDAÇÕES
Para realizar nosso compromisso com altos padrões de bem-estar, a
Estratégia invoca as organizações membro a:
1. Introduzir e seguir planos de reprodução e recomendações para manejo
de espécies que se alinhem com planos gerais de conservação de espécies,
e busque minimizar consequências negativas para o bem-estar dos
animais.
2. Facilitar o manejo para o bem-estar positivo durante eventos de
reprodução, utilizando, por exemplo, monitoramento do estro, separação
de animais e observação qualificada contínua.
3. Utilizar equipes profissionais, com especialistas externos, se necessário,
para supervisionar questões de bem-estar relacionadas à reprodução.
4. Ao reproduzir animais para soltura, dar atenção especial ao balanço entre
bem-estar com sobrevivência na natureza e reposição das populações
selvagens.
5. Desenvolver e utilizar uma política clara para eutanásia, que defina as
circunstâncias para o seu uso e quem são os encarregados de executá-la.
6. Assegurar que considerações de bem-estar animal espécie-específicas
sejam completamente integradas ao planejamento da coleção em longo
prazo, e que garantam que os animais possam receber cuidados por toda
a vida e um elevado nível de bem-estar durante toda sua vida.
7. Garantir que, ao considerar transações de animais, todos eles venham de
fontes que não impactem populações selvagens ou fortaleçam produções
comerciais onde o bem-estar animal possa ser comprometido.
INTRODUÇÃO
A reprodução pode envolver formas positivas e enriquecedoras para o
comportamento natural de espécies selvagens em zoos e aquários,
entretanto, pode também levantar complexas questões éticas e de bem-
estar. Um princípio básico de qualquer evento reprodutivo em zoos e
aquários deve ser o balanço entre o bem-estar animal e as necessidades e
ferramentas do manejo de população, orientado pelo conhecimento sobre
os comportamentos naturais espécie-específicos.
Com o objetivo predominante de zoos e aquários modernos sendo a
conservação da vida selvagem, a interpretação de como podemos atingi-lo
através de programas de reprodução varia. Porém, há temas comuns
emergindo, que incluem experiência e conhecimento espécie-específicos,
apoiados por uma abordagem sólida de planejamento cooperativo.
REPRODUÇÃO E MANEJO DE COLEÇÃO
Programas de reprodução em zoos e aquários modernos devem ser
gerenciados através de programas de manejo de espécies, envolvendo bom
planejamento, em cooperação com organizações zoológicas especializadas,
como as associações regionais de zoos e aquários. O manejo colaborativo de
espécies deve sustentar todas as decisões sobre reprodução e planejamento
da coleção animal.
O planejamento da coleção deve ser o cerne de todos os zoos e aquários (veja
estudo de caso 5.1). Com relação ao bem-estar animal, tal planejamento deve
considerar a capacidade de proporcionar estados de bem-estar para certas
espécies ou animais particulares como sendo fundamental para decidir
se estes devem ou não ser mantidos.
Em muitas áreas ao redor do mundo é papel das associações regionais de
zoos e aquários coordenar e auxiliar no manejo de populações animais,
apoiando os planos de coleção, assegurando boas práticas de manejo de
espécies, e supervisionando e aconselhando sobre como promover estados
de bem-estar positivos dentro desse quadro. A coordenação global também
é uma área crescente através dos Planos Globais de Manejo de Espécies
(GSMPs, no original) pelo Comitê da WAZA para o Manejo de populações.
Zoos e aquários devem continuar a usar esses programas e, quando
possível, colaborar para construir mais programas de reprodução regionais
e globais.
A manutenção de registros de alta qualidade são cruciais para o sucesso do
manejo de espécies, uma vez que o princípio básico do manejo é lidar com a
relação entre indivíduos na população e os resultados espécie-específicos de
uma perspectiva de bem-estar animal. O Sistema Internacional de
Informação de Espécies (ISIS), incorporando seu Sistema de Manejo de
Informações Zoológicas (ZIMS), é um sistema vital para o manejo
sustentável de populações globalmente. Esse sistema permite disseminar
informações que ajudarão a construir o conhecimento sobre a reprodução
animal bem sucedida.
REPRODUÇÃO 'NATURAL' EM UM ZOO OU AQUÁRIO
Recentemente, esforços combinados tem sido feitos em zoos e aquários para
permitir que animais reproduzam em situações que simulem processos
naturais. Isso está baseado na necessidade de garantir o sucesso
reprodutivo e pode ter alguns resultados benéficos no bem-estar.
Sobrepondo-se a isso está um sistema complexo de manejo de espécies que
almeja manter suficiente diversidade genética e demográfica para promover
a sustentabilidade das populações de zoos e aquários e apoiar a conservação
da fauna selvagem
47
CUIDANDO DA VIDA SELVAGEM
PERTH ZOO, AUSTRALIA
Bilbies
Programas de reprodução em zoos e aquários esforçam-se para manter
tanta diversidade genética ao longo de gerações quanto possível. Garantir
diversidade genética é importante para o bem-estar animal, uma vez que
contribui para a saúde de animais individualmente e também para as
gerações seguintes. Programas de reprodução bem manejados devem
considerar o bem-estar animal, com zoos e aquários fazendo todos os
esforços para balancear as questões éticas e de bem-estar com a
necessidade de manejar de forma sustentável as populações. A assistência
de comitês de ética e bem-estar, ou outras entidades semelhantes, pode
ajudar a lidar com as complexidades da tomada de decisão nessas áreas.
Zoos e aquários podem, de forma benéfica, trabalhar em colaboração com
outros parceiros para ter acesso ou desenvolver tecnologias que integrem a
minimização de comprometimentos ao bem-estar animal e a manutenção
de estados positivos de bem-estar com o manejo de espécies sustentável.
Por exemplo, alguns programas de reprodução empregam testes
hormonais, técnicas de reprodução assistida, monitoramento do estresse e
aplicação dos mais recentes conhecimentos espécie-específicos. Essas
abordagens podem ser ainda associadas com técnicas de manejo não-
invasivas, utilizando o reforço positivo para minimizar danos e estresse.
. A condução de programas de reprodução deve ser parte de um programa
de manejo de espécies maior e de longo prazo, que considere o cuidado por
toda a vida e altos níveis de bem-estar. Muitos zoos e aquários manejam
ativamente a reprodução para evitar eventos reprodutivos indesejáveis.
Outros podem usar a eutanásia, caso isso seja legal e culturalmente
aceitável em seu país ou região.
O uso efetivo da contracepção é um de muitos aspectos do manejo em um
zoo ou aquário moderno, assim, a perícia e conhecimento dos membros da
equipe veterinária é vital para o sucesso do manejo reprodutivo. O manejo
da reprodução também é essencial para apoiar programas de conservação,
de forma a assegurar os melhores resultados em genética e demografia para
o futuro.
MANEJANDO AGRESSÃO E DANOS
Outro conhecimento central de zoos e aquários modernos, com impacto no
bem-estar, é o manejo de comportamentos naturais dentro da área limitada
de uma exibição. Para muitas espécies, a reprodução pode resultar em altos
níveis de agressão entre animais e injúrias (veja estudo de caso 5.2). Esse pode
ser um comportamento selvagem comum para a espécie. Zoos e aquários
trabalham fortemente para manejar tais situações de forma a minimizar
possíveis danos, já que o manejo inadequado pode resultar em sérias
injúrias e morte de animais.
Caso ocorra a agressão, o design da exibição deve integrar e permitir a
reprodução segura dos animais. As equipes de zoos e aquários devem ter
conhecimento detalhado e perícia com relação ao manejo da introdução de
animais, de forma a minimizar injúrias e alcançar os melhores resultados
reprodutivos. Adicionalmente, o uso de ciência que auxilie os profissionais
de zoos e aquários a determinar o momento apropriado para introduções
visando a reprodução é essencial.
Estudo de caso 5.1:
O que é um plano de coleção?
Um plano de coleção define as espécies e
número de animais mantidos, a reprodução
planejada, movimentações de animais para e
do zoo ou aquário e direções futuras. Os
principais zoos e aquários alinham as
decisões de planejamento da coleção com os
princípios do planejamento e políticas
relacionadas endossadas pela autoridade
governamental responsável. Um plano de
coleção leva em consideração as instalações
disponíveis, exibições e espaços à vista do
público e com acesso restrito, requerimentos
da espécie tanto para o bem-estar quanto
para o manejo, e a necessidade de manter
uma coleção que se alinhe com os propósitos
e missão do zoo ou aquário. Zoos e aquários
devem desenvolver planos de coleção que
apoiem os objetivos de conservação, seja
através de resultados diretos ou através do
envolvimento do público visitante.
48 ESTRATÉGIA DE BEM-ESTAR ANIMAL | ASSOCIAÇÃO MUNDIAL DE ZOOS E AQUÁRIOS
PROGRAMAS DE REPRODUÇÃO E PLANEJAMENTO DE COLEÇÃO
REPRODUÇÃO PARA SOLTURA
A sustentabilidade em longo prazo da exposição de populações animais e da
provisão de animais para conservação não são mutuamente excludentes.
Em muitos casos, animais usados para fins de reprodução para conservação
estão também em exposição ao público, enquanto em outras situações
indivíduos envolvidos em tais programas reprodutivos serão mantidos fora
da exibição. Expor ou não esses animais depende do programa em
particular e da espécie.
Muitos programas de reprodução para soltura realizam condicionamento
pré-soltura, que pode levar a uma redução transiente do bem-estar animal.
O condicionamento pode envolver, por exemplo, modificar a dieta de um
animal para simular mais de perto a dieta na natureza, como limitar os
recursos alimentares (p.e. dieta de saciedade e fome); introduzir presas
vivas (que pode levantar preocupações quanto ao bem-estar das presas) ou
iniciar condicionamento anti-predação que estimule uma resposta de voo.
Antes de aderir a um programa de reprodução para soltura, os zoos e
aquários devem avaliar se os riscos para a sobrevivência em longo prazo do
animal individualmente, e a sobrevivência contínua de sua espécie,
sobrepõem os comprometimentos temporários no bem-estar animal
durante o estágio de condicionamento pré-soltura. Pareceres externos,
através de um comitê de ética e bem-estar, podem auxiliar
significativamente na avaliação e suporte de tais situações, além do parecer
das autoridades em conservação.
AQUISIÇÕES DA NATUREZA, RESGATES E CRIAÇÃO COMERCIAL
Todas as transações a partir da natureza devem estar de acordo com os
princípios globais aprovados por organizações internacionais de
conservação, como a União Internacional para a Conservação da Natureza
(IUCN). É fundamental para os zoos e aquários modernos que a ideia de
remover um indivíduo da natureza deva ter um claro e comprovado
propósito de conservação, ou, ao trabalhar com autoridades responsáveis, o
propósito deva ser educação. pesquisa ou coleta de indivíduos para
programas que objetivem a sustentabilidade em longo prazo das populações
selvagens (p.ex. iniciativas de reprodução para soltura). Planejamento de
coleção efetivo em zoos e aquários, manejo de espécies e planos
cooperativos de reprodução são ferramentas essenciais nesse quesito.
A produção comercial de animais silvestres ('wildlife farming') pode
estimular a obtenção não-sustentável e ilegal de indivíduos na natureza, o
que pode minar a missão de conservação de zoos e aquários modernos. A
escala e intensidade de tais métodos de produção comercial também podem
ter um impacto negativo no bem-estar animal. Zoos e aquários devem
evitar obter animais a partir de instalações de criação comercial. De acordo
com a resolução da WAZA de 2014 sobre essa matéria, zoos e aquários, ao
considerar a aquisição de animais, devem assegurar que todos os animais
venham de fontes respeitáveis, não impactem as populações selvagens ou
reforcem a produção comercial de animais silvestres, e evitem as
consequências negativas para o bem-estar das capturas indiscriminadas.
WHITE OAK CONSERVATION CENTER, FL, USA
Burro selvagem da Somália
Muitos zoos e aquários recebem de forma crescente 'animais resgatados'
como resultado de apreensões do comércio ilegal ou de organizações que
são fechadas ou não podem cuidar dos animais adequadamente. Isso ocorre
frequentemente por solicitação governamental. Em algumas regiões,
podem existir santuários para cuidar desses animais, entretanto, dada sua
experiência no cuidado animal, zoos e aquários modernos são muitas vezes
melhor aparelhados para proporcionar cuidados de longo prazo a esses
animais.
Estudo de caso 5.2:
Manejando agressões ao reproduzir espécies de rebanho
Idealmente, a reprodução deve ocorrer dentro do rebanho para
manter o bem-estar e a dinâmica coesiva do grupo. Zoos e aquários
devem estar atentos à integridade genética e demográfica do
rebanho ao considerar a reprodução, em conjunto com o manejo
mais amplo da espécie envolvida. A natureza das espécies de
rebanho, particularmente com os machos, é que haverá épocas
durante o ano em que surgirão comportamentos agonísticos.
Comportamentos reprodutivos naturais, sejam agressivos ou não,
podem ser vitais para garantir o sucesso reprodutivo. Entretanto, se
comportamentos agonísticos em situações reprodutivas são
contínuos, particularmente fora da estação reprodutiva normal, isso
pode se tornar uma questão de bem-estar para o indivíduo
subordinado, e deve então ser trabalhada. Novamente, membros da
equipe de zoos e aquários devem ter bom conhecimento e
experiência sobre a relevância direta para a espécie, os animais
individualmente e a dinâmica provável do grupo. Isso irá auxiliar a
decisão sobre separar indivíduos ou permitir que o comportamento
agressivo siga seu curso.
49
CUIDANDO DA VIDA SELVAGEM
Cuidar de animais resgatados oferece uma oportunidade clara para a
educação do público em temas chave em bem-estar e conservação, como o
crescente mercado ilegal global de fauna (veja estudo de caso 5.3). Ao
proporcionar lares para animais resgatados, zoos e aquários podem fazer
uma diferença real para animais individualmente, assim como impulsionar
a sustentabilidade de populações de zoos e aquários regionais e globais.
Considerar a disponibilidade de espaço e recursos para animais
resgatados/confiscados e seu cuidado por toda a vida pode ser um
componente importante do plano de coleção animal..
USO DA EUTANÁSIA
Eutanásia é o ato de proporcionar uma morte humanitária. Os animais
devem ser tratados com respeito por toda sua vida e, quando necessário,
terem uma morte humanitária. Todos os zoos e aquários devem ter uma
política clara para lidar com a eutanásia de animais. As políticas de
eutanásia devem delinear claramente as circunstâncias de como e por quê a
eutanásia será usada. A eutanásia deve ser supervisionada e aprovada por
um veterinário experiente ou um membro sênior da equipe de manejo,
instruído por um veterinário. Decisões sobre eutanásia devem ser baseadas
em avaliação de todas as alternativas, dependente do contexto. Algumas
instituições acham benéfico envolver um comitê de ética e bem-estar, ou
outra entidade assemelhada, que tenha membros externos, em tais
avaliações (veja estudo de caso 5.4).
A morte de um animal em um zoo ou aquário pode suscitar interesse
público, assim como emoções de membros da equipe, voluntários e do
público visitante. Esse pode ser particularmente o caso quando o animal foi
eutanasiado. Em algumas circunstâncias, os visitantes, membros da equipe
e voluntários do zoo ou aquário podem necessitar de uma explicação sobre
as razões da decisão pela eutanásia, e pode ser proveitoso e necessário ter
tempo para explicar as razões.
PERTH ZOO, AUSTRALIA
Ursos malaios
HOUSTON ZOO, TX, USA
Sagui pigmeu
Estudo de caso 5.4:
O que é um comitê de ética e bem-estar animal e como ele pode trabalhar
para sua organização?
Muitos zoos e aquários utilizam um comitê de ética e bem-estar animal para
auxiliar no manejo de animais em suas organizações. Em algumas regiões,
isso é exigido por lei. Comitês de ética e bem-estar animal podem ter
membros externos para ampliar a conexão de sua organização com a
comunidade e ter acesso a especialistas externos em ética e bem-estar.
Tais comitês podem ser valorosos para medir a resposta de sua
comunidade às questões de manejo animal; inspecionar instalações; podem
considerar novas políticas e procedimentos em bem-estar animal; ou podem
auxiliar com questões éticas complexas que possam surgir no cuidado
animal. Tais comitês também podem promover a maior compreensão das
complexidades do manejo animal em zoos e aquários entre a equipe e
outros participantes. O processo também pode aumentar a confiança e a
transparência da tomada de decisão no cuidado animal..
Estudo de caso 5.3:
O Fundo Libertem os Ursos na Australásia
O Fundo Libertem os Ursos é uma organização que trabalha no
Sudeste da Ásia para resgatar ursos-malaios (Helarctos malayanus)
e ursos negros asiáticos (Ursus thibetanus) de fazendas de bile,
mercado de restaurantes e mercado de pets. Nos últimos 10 anos,
diversos zoos da Austrália e Nova Zelândia apoiaram o Libertem os
Ursos com financiamento para assistência a seus santuários,
programas de educação comunitária e pesquisa sobre o estado de
conservação de ursos selvagens no Laos e Camboja. Zoos também
tem recebido ursos-malaios resgatados em suas coleções para
apoiar o programa de reprodução regional da Australásia para a
espécie, assim como para defender o Libertem os Ursos e a
conservação dos ursos-malaios, e para combater o comércio ilegal
de fauna silvestre.
PROGRAMAS DE REPRODUÇÃO E PLANEJAMENTO DE COLEÇÃO
50 ESTRATÉGIA DE BEM-ESTAR ANIMAL | ASSOCIAÇÃO MUNDIAL DE ZOOS E AQUÁRIOS
USO DE BIOTECNOLOGIAS AVANÇADAS
CONCLUSÃO
EL VALLE AMPHIBIAN CONSERVATION CENTER, PANAMA
Rusty robber frog
Os zoos e aquários modernos estão utilizando mais avanços tecnológicos
para auxiliar com programas de reprodução, desde usar genética molecular
para identificar indivíduos valorosos na reprodução de espécies ameaçadas,
até aplicar técnicas de reprodução assistida, incluindo a inseminação
artificial, transferência de embriões, injeção intracitoplasmática de
espermatozoides e fertilização in vitro.
Ao realizar reprodução assistida em animais de zoos e aquários, deve ser
levado em consideração o bem-estar individual dos animais envolvidos. Os
riscos, benefícios e resultados no bem-estar animal devem ser
completamente explorados ao planejar tais eventos. Também devem ser
consideradas as potenciais barreiras à reprodução natural
O bem-estar animal e o balanço entre o comprometimento do bem-estar e
os estados de bem-estar positivos devem ser integrados nas recomendações
e decisões de programas de reprodução e no plano de coleção de zoos e
aquários.
Um plano de coleção de alta qualidade deve ser baseado em compromisso
com a conservação da fauna silvestre e o manejo de espécies. Isso assegura
que tanto a integridade genética quanto demográfica das populações de
zoos e aquários e das populações selvagens sejam mantidas. Também
proporciona oportunidades para zoos e aquários educarem o público sobre
conservação e bem-estar. Os membros das equipes de zoos e aquários que
realizam manejo de espécies devem estar plenamente conscientes das
prioridades regionais e globais em relação às espécies sob seu cuidado,
compreender os benefícios e limitações dos métodos atuais de manejo e
garantir o registro de dados de alta qualidade.
CUIDANDO DA VIDA SELVAGEM
51
Ouriço norte-americano
CHECKLIST
Você tem um plano de coleção animal?
Você tem em prática planos claros para a reprodução animal,
que sejam geridos e acordados previamente a um evento
reprodutivo?
Como você incorpora o manejo do bem-estar animal nos seus
planos de reprodução? Você se favorece da busca de
aconselhamento especializado sobre isso?
Os membros de sua equipe são capacitados o suficiente para
manejar eventos reprodutivos com espécies complexas ou
agressivas? Sua infraestrutura é adequada para manejar tais
eventos reprodutivos? Você necessita de instalações adicionais
ou áreas de manejo para manejar melhor esses eventos?
Você tem confiança de que seu zoo ou aquário pode sustentar a
prole que possa resultar?
Como você lida com a eutanásia em seu zoo ou aquário? Há
uma política clara delineando papéis e responsabilidades
quando a eutanásia precisa ser usada? Seria proveitoso incluir
um comitê de ética e bem-estar, ou entidade semelhante, nas
deliberações sobre eutanásia?
Há oportunidades para vincular melhor programas de
conservação com as atividades reprodutivas em seu zoo ou
aquário?
Os membros da sua equipe são atuantes no manejo de espécies
e ligados com associações regionais de zoos e aquários atuantes
nesse quesito?
Você precisa planejar aumentar areas de manejo no futuro, ou
precisa fazer paarcerias com outras instituições para acomodar
animais idosos ou animais não requeridos para reprodução?
O seu registro de dados é atualizado e comunicado através do
Sistema de Manejo de Informações Zoológicas (ZIMS) ou outro
programa cooperativo similar?
Você está em conformidade com todos os procedimentos da
União Internacional para Conservação da Natureza (IUCN) e
com a resolução da WAZA de 2014 sobre a obtenção de
animais de forma legal, sustentável e ética?
NOTAS:
54 ESTRATÉGIA DE BEM-ESTAR ANIMAL | ASSOCIAÇÃO MUNDIAL DE ZOOS E AQUÁRIOS
CAPÍTULO 6: BEM-ESTAR NA CONSERVAÇÃO
Nosso compromisso é assegurar que nossas atividades de conservação da
vida selvagem incorporem as metas de bem-estar animal.
RECOMENDAÇÕES
Para realizar nosso compromisso com altos padrões de bem-estar, a
Estratégia invoca as organizações membro a:
1. Estabelecer o bem-estar animal como um componente em todas as
atividades e projetos de conservação apoiados por sua organização.
2. Trabalhar em parceria com organizações de conservação de campo e
colabore no conhecimento e habilidades em bem-estar que sejam
relevantes para suas operações de campo, incluindo, por exemplo,
projetos de reintrodução.
3. Avaliar o quanto as implicações das intervenções de manejo para o bem-
estar são superadas por seus benefícios para a conservação.
4. Construir a compreensão da importância de estruturas integradas para a
conservação de espécies, que incluam avaliar o bem-estar animal.
5. Certificar-se que, em seu trabalho de conservação e no trabalho de seus
parceiros na conservação, a revisão das necessidades individuais dos
animais e a promoção do bem-estar positivo sejam considerados a todo o
tempo.
INTRODUÇÃO
O termo 'bem-estar na conservação' enfatiza o tema central deste capítulo
de que bem-estar animal e conservação são intrinsecamente ligados. Ele
enfatiza que princípios e práticas sólidos de bem-estar animal devem estar
incorporados nas atividades de conservação, e ser integrados na forma
como zoos e aquários modernos operam no dia a dia.
O bem-estar na conservação reconhece que qualquer atividade humana que
tenha impacto, intencional ou não, nos animais sencientes em seu
ambiente selvagem ou natural, tem o potencial de causar comprometimento
do bem-estar. Por exemplo, o bem-estar de incontáveis espécies selvagens é
comprometido direta ou indiretamente pelas atividades humanas,
ameaçando a sobrevivência de populações, espécies e ecossistemas.
CONSERVAÇÃO E BEM-ESTAR ANIMAL - NÃO HÁ DICOTOMIA
Tanto a conservação quanto o bem-estar animal tem seu foco em danos aos
animais, mas têm orientações diferentes. Enquanto a conservação está
preocupada principalmente com a sobrevivência de populações, espécies e
ecossistemas, o bem-estar animal enfatiza as experiências subjetivas ou
qualidade de vida de animais individualmente. Ainda, o pensamento e
práticas conservacionistas abrangem uma ampla gama de atividades
envolvendo sobretudo a fauna de vida livre, assim como animais selvagens
sob cuidado humano, na medida em que estes contribuem para os objetivos
de conservação.
Há força na colaboração estreita e alinhamento entre conservação e bem-
estar. Afinal, os impactos adversos sobre os animais selvagens - causados
por virtualmente todas as formas de atividade humana - devem ser
classificados como problemas de conservação ou problemas de bem-estar
animal? Animais selvagens são parte de grupos sociais, populações e
ecossistemas. Em consequência, ações que afetem o bem-estar e
sobrevivência de indivíduos também podem ter consequências para esses
sistemas maiores, e vice versa.
Como explicado no Capítulo 1, o manejo animal em zoos e aquários que são
focados principalmente nos fatores críticos para a sobrevivência pode, na
melhor das hipóteses, alcançar geralmente apenas estados neutros de bem-
estar animal. Hoje esperamos mais, e assim, mais é requerido do que
meramente atender as necessidades mínimas de sobrevivência de animais
mantidos com o propósito de conservação, como pode ter ocorrido no
passado. Como os animais também podem ter experiências positivas,
nossos processos de manejo em zoos e aquários devem se esforçar para
tornar isso possível e possibilitar que isso aconteça. O tema recorrente nesta
Estratégia, que a ampla atenção já dada dentro do setor de zoos e aquários
ao enriquecimento ambiental, deve ser estendida e ampliada, inclui sua
maior aplicação para animais mantidos para propósitos de conservação. É
evidente que essa orientação se harmoniza com o conceito de bem-estar na
conservação, uma vez que incorpora o objetivo de melhorar o bem-estar
animal enquanto persegue os objetivos da conservação.
BEM-ESTAR NA CONSERVAÇÃO EM ZOOS E AQUÁRIOS
Exemplos de bem--estar na conservação na prática incluem conciliar os
interesses do bem-estar e da conservação no manejo da fauna selvagem,
pesquisa e ecoturismo (veja estudo de caso 6.1). Muitos zoos e aquários estão
envolvidos em diferentes atividades de conservação, em suas regiões e
também em regiões distantes. O bem-estar na conservação deve ser
aplicado a essas atividades mais amplas, através da preocupação com o
bem-estar físico e psicológico dos indivíduos de espécies selvagens em
populações sob manejo intensivo, em um contexto conservacionista.
Boas práticas de conservação baseada em zoos e aquários buscam manejar
bem o bem-estar animal. Os avanços no cuidado com a vida selvagem
podem melhorar seu bem-estar (Capítulos 1 e 2) assim como o sucesso de
programas de reprodução (Capítulo 5). Com base nessa experiência, zoos e
aquários podem ajudar organizações conservacionistas parceiras que
trabalham em campo a visar altos padrões de bem-estar animal.
55
CUIDANDO DA VIDA SELVAGEM
Conflitos potenciais entre os objetivos do bem-estar animal e da
conservação podem surgir quando espécies não são, aparentemente,
capazes de se adaptar à manutenção em zoos e aquários. Por outro lado, a
adaptação a ambientes manejados pode reduzir a capacidade de um animal
se ajustar à natureza, levantando preocupação quanto ao bem-estar
daqueles destinados a ser devolvidos a seu habitat natural (veja estudo de
caso 6.2). Dessa forma, muitos zoos e aquários envolvidos em programas de
criação para soltura adotam estratégias destinadas a mitigar esses
potenciais problemas.
Dada a crescente urgência da conservação, está se tornando cada vez mais
necessário intervir no manejo da fauna selvagem e seus ambientes para
mitigar ameaças. O ímpeto para tais intervenções pode ser mitigar
problemas de bem-estar animal, manejar surtos de doenças ou atender uma
prioridade de conservação de realizar translocações de animais. Também, é
provável que algumas espécies não sobreviverão sem intervenção humana.
Entretanto, as próprias intervenções podem comprometer o bem-estar
individual de animais, e tais impactos precisam ser balanceados com as
contribuições esperadas para o objetivo maior da conservação de espécies.
MYAKKA CITY LEMUR RESERVE, FL, USA
lemur mongoz
Há força na colaboração estreita e
alinhamento entre conservação e bem-
estar animal.
NORTH CAROLINA, USA
Lobo vermelho
Estudo de caso 6.2:
Bem-estar de animais reintroduzidos
Reintroduções são intervenções que ressaltam, dentro do bem-estar
animal - o nexo da conservação, uma obrigação de cuidar dos
indivíduos a serem reintroduzidos, assim como da população a ser
restabelecida. A liberação de animais na natureza depois de
períodos sob cuidado humano, que podem incluir preparar os
animais para a soltura, pode comprometer seu bem-estar, assim
como ter impacto sobre outras espécies locais. O monitoramento
pré e pós soltura e medidas de suporte, que podem incluir fornecer
tutores coespecíficos, alimentação suplementar ou cuidado
veterinário, pode melhorar tanto o sucesso da reintrodução quanto o
bem-estar animal. Enriquecimento comportamental e ambiental,
direcionado a desenvolver habilidades específicas importantes para
a sobrevivência e reprodução na natureza, podem ter igual valor.
Zoos e aquários tem a experiência necessária para executar tais
ações de manejo. Isto, por outro lado, ressalta um papel chave dos
zoos e aquários na arena do bem-estar animal e conservação..
Estudo de caso 6.1:
Implicações no bem-estar da manipulação de espécies selvagens
Interferir intencionalmente nas vidas de espécies selvagens para
fins de conservação pode ter impactos no bem-estar individual dos
animais em questão. Mesmo simples observações podem ter um
efeito. Por consequência, a manipulação desses animais para coleta
de amostras, marcação, vacinação e tratamento pode ter impactos
negativos no bem-estar. Os efeitos adversos associados com essas
intervenções deliberadas podem suscitar custos biológicos.
Exemplos incluem dano físico, ruptura da hierarquia social,
interrupção da movimentação natural, do comportamento
reprodutivo ou vulnerabilidade aumentada à predação. Assim, esses
efeitos podem alterar a biologia de indivíduos a uma extensão tal
que os dados proporcionados por eles podem não ser confiáveis.
Zoos e aquários tem a competência necessária para desenvolver
protocolos de manipulação favoráveis ao bem-estar para as
espécies selvagens. Eles também oferecem um terreno de teste
para medir as potenciais consequências para o bem-estar de tais
intervenções conservacionistas. Isto, por sua vez, fornece ligações
entre zoos e aquários, bem-estar animal e conservação.
56 ESTRATÉGIA DE BEM-ESTAR ANIMAL | ASSOCIAÇÃO MUNDIAL DE ZOOS E AQUÁRIOS
BEM-ESTAR NA CONSERVAÇÃO
INTEGRANDO A CONSERVAÇÃO DE ESPÉCIES E O BEM-ESTAR ANIMAL
É evidente que o manejo integrado de espécies dentro e fora de seus
habitats naturais está se tornando cada vez mais importante. Esse manejo
envolve uma série de atividades que frequentemente incluem captura,
contenção e transporte de animais, onde minimizar o comprometimento do
bem-estar e proporcionar oportunidades para experiências positivas
tornam-se pontos chave. Dessa forma é necessário avaliar as implicações
para o bem-estar e determinar se as consequências de uma intervenção são
superadas pelos benefícios para a conservação, e vice versa.
O conhecimento sobre cuidado e bem-estar animal em zoos e aquários pode
beneficiar os esforços de conservação em áreas como a recuperação e
manejo de pequenas populações, biologia da translocação e medicina da
conservação. Importante, buscar melhorar o bem-estar da fauna selvagem
não necessariamente conflita com os objetivos da conservação, porque
medidas tomadas para aumentar o bem-estar animal podem, ao melhorar
as perspectivas de sobrevivência e reprodução, aumentar o valor de
conservação do esforço como um todo.
A relação entre bem-estar animal e conservação pode ser representada em
um esquema de decisão que considera a interseção entre as dimensões
isoladas dos dois objetivos (Fig. 6.1). Práticas que combinem bom nível de
bem-estar com bom resultado de conservação são preferidas, enquanto
outras práticas são menos desejáveis, mas ainda aceitáveis, e, obviamente, a
combinação de pobre bem-estar e pobres resultados de conservação são
inaceitáveis. Indicadores de minimização do comprometimento do bem-
estar e aumento do bem-estar (Capítulo 1) oferecem meios práticos para
avaliar essas práticas.
ESQUEMA DE DECISÃO
Boas práticas de conservação podem e devem ser implementadas com
cuidadosa consideração do bem-estar individual dos animais. Assim, este
esquema de decisão pode ser especialmente útil quando a pressão para
ignorar o bem-estar individual no interesse da conservação é alta, pois
ajuda a manter em mente tanto as preocupações com o bem-estar quanto
com a conservação.
PRINCÍPIOS NORTEADORES E QUESTÕES NÃO RESOLVIDAS
Não há princípios aceitos universalmente que orientem aqueles que
trabalham com bem-estar e conservação da vida selvagem. Entretanto, um
quadro útil, ligeiramente modificado aqui, tem sido proposto por princípios
sugeridos em uma declaração consensual surgida em um Workshop sobre
Ciência do Bem-estar Animal e Conservação, realizado em 2009 na
Universidade de British Columbia:
• O bem-estar de todas as espécies selvagens individuais é de igual
preocupação moral. Isso não significa que todos esses animais devam ser
tratados da mesma forma, apenas que seu bem-estar deve receber igual
consideração.
• Ações que afetem animais são de preocupação moral, independente se
exercem seus efeitos direta ou indiretamente.
• Ações que possam prejudicar o bem-estar ou estado de conservação de
animais selvagens não devem ser realizadas sem cuidadosa consideração
da necessidade da ação.
• A gravidade e extensão do dano (em termos de número de animais
afetados ou duração do dano, comparado com a expectativa de vida do
animal) devem ser minimizados.
• Ações com impactos irreversíveis devem ser consideradas mais sérias do
que aquelas com impactos temporários.
Fig. 6.1. Um esquema de decisão para considerar a interseção entre as dimensões separadas do bem-estar animal e da conservação (modificado de Bradshaw & Bateson 2000).
POBRE BOM
CONSERVAÇÃO
DESEJÁVEL
ACEITÁVEL
INACEITÁVEL
BE
M-E
ST
AR
PO
BR
E
BO
M
CUIDANDO DA VIDA SELVAGEM
57
Muitas questões relativas ao bem-estar e conservação da fauna requerem
considerações adicionais. O que segue é uma lista inicial de questões não
resolvidas no workshop mencionado acima:
• Dado que o sofrimento pode ocorrer nas vidas normais dos animais, qual
linha de base deve ser usada para determinar quando os danos causados
pelas atividades humanas são de preocupação moral? Embora o consenso
e a quantificação podem ser difíceis de atingir, não devemos concluir que
todos os níveis de sofrimento são, portanto, aceitáveis.
• Quão direta uma ligação com o comportamento humano deve ser
demonstrada para que gere preocupação?
• Como os estados afetivos de animais individualmente refletem em
resultados importantes para a conservação, como estado de doença e
sucesso reprodutivo?
• Podemos identificar princípios que levem a ações moralmente
defensáveis quando é necessário comprometer gravemente o bem-estar
de alguns indivíduos para alcançar metas como a sobrevivência de uma
população?
Resolver essas questões irá requerer diálogo transdisciplinar envolvendo
biólogos da conservação, cientistas do bem-estar animal, aqueles que
trabalham com ética, leis e questões sociais.
CONCLUSION
É cada vez mais importante reconhecer a relevância do bem-estar animal ao
lidar com problemas da conservação da vida selvagem. As mesmas
atividades humanas levando à atual crise na biodiversidade está
comprometendo o bem-estar animal, e essas preocupações interligadas
estão presentes no trabalho dos zoos e aquários na conservação e proteção
de espécies selvagens.
O bem-estar de espécies selvagens pode ser avaliado direta ou
indiretamente, de formas cada vez mais sofisticadas e cientificamente
validadas. O fato de que o bem-estar seja avaliado em base individual,
enquanto algumas metas mais amplas da conservação são medidas em
populações ou espécies, não necessariamente as torna incompatíveis.
Cientistas do bem-estar animal e da conservação e defensores estão cada
vez mais reconhecendo o trabalho uns dos outros como complementares.
Zoos e aquários precisam assegurar que seu trabalho de conservação no
campo, e o trabalho de seus parceiros na conservação, inclui estratégias
visando minimizar o comprometimento do bem-estar.
HANNOVER ZOO, ALEMANHA
Besouro Atlas - larva
CHECKLIST
Você realiza revisões de seus projetos de conservação para
garantir que as necessidades de bem-estar animal são
atendidas?
Seus parceiros na conservação se beneficiariam do apoio para
incorporar procedimentos efetivos de manejo do bem-estar em
seu trabalho?
Os membros de sua equipe e seus parceiros precisam de
recomendações sobre como avaliar direta e indiretamente o
bem-estar de espécies selvagens?
Os membros de sua equipe que trabalham em projetos de
conservação que incluem, por exemplo, captura, contenção e
transporte de fauna, são adequadamente treinados para
atender as necessidades de bem-estar dos animais?
Se você executa programas de criação para soltura, as
instalações de manutenção atendem as necessidades de bem-
estar dos animais?
NOTAS:
60 ESTRATÉGIA DE BEM-ESTAR ANIMAL | ASSOCIAÇÃO MUNDIAL DE ZOOS E AQUÁRIOS
CAPÍTULO 7: PESQUISA EM BEM-ESTAR ANIMAL
Nosso compromisso é adotar uma abordagem científica, baseada em
evidências, sobre bem-estar animal e ao conduzir pesquisas.
RECOMENDAÇÕES
Para realizar nosso compromisso com altos padrões de bem-estar, a
Estratégia invoca as organizações membro a:
1. Priorizar o bem-estar animal e o monitoramento do bem-estar como
áreas para pesquisa em colaboração com universidades, organizações de
pesquisa e outras instituições zoológicas.
2. Continuar a usar e aplicar observações baseadas em pesquisas científicas
sólidas para apoiar o bem-estar animal no manejo em zoos e aquários.
3. Utilizar um comitê de ética, bem-estar e pesquisa, ou entidade similar,
com representação externa, para avaliar e supervisionar atividades de
pesquisa e fortalecer o rigor científico em suas operações.
4. Desenvolver uma política de pesquisa e protocolos de pesquisa que
assegurem que, em todas as pesquisas envolvendo animais, qualquer
preocupação potencial com o bem-estar seja claramente identificada e
qualquer comprometimento seja minimizado, transiente e justificado em
termos dos objetivos da pesquisa.
5. Trabalhar ativamente para auxiliar parceiros de pesquisa a promover
estados de bem-estar positivos.
6. Estimular a medicina da conservação como uma área de atividade
baseada na ciência em sua organização, para melhorar o bem-estar
animal em geral, e o bem-estar na conservação em particular.
INTRODUÇÃO
Zoos e aquários oferecem a cientistas e pesquisadores acadêmicos
oportunidades para conduzir investigações visando aumentar a
compreensão do mundo natural. De particular relevância aqui é a pesquisa
para maior desenvolvimento de abordagens cientificamente validadas,
baseadas em evidências, para melhorar o bem-estar animal e a conservação;
contudo, um foco de pesquisa pode e deve se aplicar a todo o espectro de
operações de zoos e aquários.
Colaborações em pesquisa entre zoos e aquários e instituições acadêmicas
podem ter a grande vantagem de aprofundar a compreensão e
conhecimento em muitas áreas de operação de zoos e aquários. O
compartilhamento de conhecimento e experiência também pode ampliar
grandemente o âmbito e valor de investigações, e pode resultar na
realização de investigações que, de outra forma, não seriam possíveis.
A edição de 2011 do International Zoo Yearbook contém exemplos de
parcerias de sucesso entre zoos e aquários e a comunidade acadêmica,
atendendo aos interesses de ambos os grupos. Essa pesquisa tem o
potencial de enriquecer as vidas dos animais em estudo (veja estudo de caso
7.1)).
YORKSHIRE WILDLIFE PARK, UK
Babuíno da Guiné
Estudo de caso 7.1:
Pesquisas que aumentam o bem-estar animal e proporcionam uma experiência inovadora para o visitante
O objetivo deste estudo no Yorkshire Wildlife Park foi determinar se havia
alguma diferença comportamental exibida por babuínos da Guiné (Papio
papio) com e sem o uso de dispositivos de alimentação interativos. Três
tipos de dispositivos estavam disponíveis para os babuínos, com três de
cada tipo encostados à parede de vidro onde os visitantes podiam ver os
animais. Correspondentemente, havia três níveis de complexidade. O mais
simples exigia que o homem deixasse cair uma porção de comida para o
babuíno girar uma placa e recuperar o alimento. No segundo tipo, o babuíno
e o homem tinham que sentar ou ficar em pé sobre uma plataforma de
alavanca simultaneamente, de forma que o alimento fosse liberado. E o tipo
final exigia que o babuíno e o homem puxassem uma alavanca de corda
sincronicamente para liberar a comida. Antes de ocorrerem as interações
com o público, os três dispositivos de cada tipo foram carregados com
diferentes alimentos. Os resultados mostraram que os dispositivos
aumentaram o comportamento de forrageamento natural dos babuínos e
aumentaram a atividade dos animais, enquanto também proporcionaram
uma experiência inovadora para o visitante.
61
CUIDANDO DA VIDA SELVAGEM
USO DE ANIMAIS DE ZOOS E AQUÁRIOS EM PESQUISA
Nem todas as questões de pesquisa são direcionadas a esclarecer facetas do
bem-estar animal e seu manejo em zoos e aquários. Contudo, os impactos
no bem-estar, pela realização de qualquer investigação, devem ser avaliados
antecipadamente, especialmente os impactos negativos.
É importante considerar o contexto regulatório da realização de
investigações científicas em animais, que são atividades legalmente
controladas em muitos países. Os detalhes de leis e regulamentos podem
variar, mas os princípios são geralmente comuns. Os 180 países membros
da Organização Mundial de Saúde Animal (OIE) aceitaram unanimemente
as normas da OIE para o 'Uso de Animais em Pesquisa e Educação'. Essas
normas não pretendem substituir estatutos existentes, que podem incluir
requerimentos mais detalhados e exigentes; em vez disso, elas oferecem
orientação para aqueles países que buscam atualizar estatutos antigos ou
introduzi-los pela primeira vez.
Aqui estão delineados alguns dos princípios chave da orientação da OIE:
• O uso científico de animais deve estar de acordo com os requerimentos
das leis nacionais, provinciais e/ou estaduais existentes, e
regulamentações relacionadas.
• As instituições em questão devem ter políticas e procedimentos que
concordem com esses requerimentos legais, estejam ou não tais leis em
prática, e essas políticas e procedimentos devem abordar especificamente
o uso científico de animais.
• Deve haver supervisão externa do uso de animais, na forma de um
organismo legal central, ou comitê de ética, uso e/ou cuidado animal, ou
outra entidade similar que inclua alguns membros que sejam
independentes da instituição.
• Os benefícios previstos pela proposta de uso de animais devem ser
superiores aos impactos negativos previstos no bem-estar, e o balanço
deve ser favorável aos benefícios para que o uso proposto seja justificado.
• Devem ser tomadas providências para minimizar qualquer impacto
negativo no bem-estar.
Estes princípios são um guia útil para zoos e aquários e seus parceiros de
pesquisa.
Pesquisas invasivas envolvendo interferência cirúrgica significativa para um
animal é predominantemente inaceitável para zoos e aquários. Há alguns
projetos de pesquisa onde tais abordagens podem ser aceitáveis,
possivelmente envolvendo casos de animais de excepcional valor para a
conservação, de espécies severamente ameaçadas, que sejam parte de um
plano integrado de conservação e manejo da espécie, e onde tal pesquisa
seja de benefício imediato para o indivíduo em questão; experimentos de
validação ou calibração que beneficiem uma pesquisa científica de destaque
ou um programa de conservação no qual a instituição esteja envolvida ou
participe; e experimentos médicos veterinários que utilizem oportunidades
incidentais, como e quando estas surgirem para testar ou refinar
tratamentos ou procedimentos médicos. Decisões sobre tais pesquisas
requerem um equilíbrio cuidadoso das perspectivas de manejo,
conservação, ciência e ética, e terão melhor suporte se tomadas no âmbito
de um sistema formal de consulta e decisão.
Pesquisas observacionais em um zoo ou aquário enfrentam desafios
semelhantes aos dos estudos de campo com populações de vida livre.
Tamanhos de amostra insuficientes podem ser superados conduzindo
estudos em diversos zoos ou aquários, utilizando a variação nas condições
de manutenção e cuidado como uma fonte de variação biológica, ou
formulando uma questão clara e conduzindo um experimento simples em
um zoo ou aquário e publicando como um estudo de caso. Em combinação
com configurações experimentais simples, estudos observacionais tem um
potencial substancial de contribuir com melhorias no bem-estar animal.
Os rápidos avanços científicos em anos recentes criaram muitas técnicas
novas para avaliar o bem-estar animal e a 'carga de estresse' (veja estudo de
caso 7.1), a saúde individual e o estado reprodutivo, paternidade e
maternidade, e a presença de patógenos de uma forma minimamente
invasiva ou não-invasiva. Essas técnicas e desenvolvimentos teóricos
promovem uma abordagem baseada em evidências sobre o bem-estar em
zoos e aquários, e devem ser aplicadas.
SOROCABA ZOO, BRASIL Hipopótamo
Estudo de caso 7.2:
Validando técnicas não-invasivas para avaliar o bem-estar animal
Estados fisiológicos são cada vez mais reconhecidos como indicadores básicos de
'estresse' por revelar a 'competência reativa' dos organismos a desafios ambientais. Isso
é parcialmente porque respostas comportamentais podem ser um sinal não confiável, a
menos que avaliadas cuidadosamente ou analisadas com técnicas sofisticadas.
Métodos não-invasivos têm revolucionado a avaliação de estados fisiológicos, porque
eles oferecem dados para responder questões para as quais as técnicas invasivas
tradicionais são inadequadas. Técnicas não-invasivas incluem a mensuração de níveis
de metabólitos de glicocorticoides ou catecolaminas na urina, fezes, saliva ou - mais
recentemente - pelo, ou procedimentos minimamente invasivos para obter amostras de
sangue usando insetos sugadores de sangue. Esses métodos devem ser validados
para cada espécie com experimentos apropriados. Animais de zoos e aquários tem sido
usados com sucesso estelar para conduzir experimentos de validação em muitas
espécies selvagens, e por consequência, fizeram progredir o estudo do bem-estar da
fauna selvagem substancialmente. A identificação de estados fisiológicos é bem
reconhecida como um alicerce essencial em uma abordagem abrangente, baseada em
evidências, para a avaliação do bem-estar animal..
62 ESTRATÉGIA DE BEM-ESTAR ANIMAL | ASSOCIAÇÃO MUNDIAL DE ZOOS E AQUÁRIOS
PESQUISA EM BEM-ESTAR ANIMAL
Um foco de pesquisa em zoos e aquários requer um compromisso de longo
prazo de cooperação estreita com a comunidade acadêmica. Pode ser
desenvolvido um processo de tomada de decisão em parcerias acadêmicas e
pesquisas, tanto em nível operacional como de políticas, para assegurar
melhorias no bem-estar animal; estimular a pesquisa científica de alta
qualidade; facilitar a pesquisa para responder a questões de grande
relevância para melhorar o bem-estar; e fortalecer a credibilidade científica
de zoos e aquários.
FOCO DA PESQUISA EM ZOOS E AQUÁRIOS
Conduzir tais pesquisas em um zoo ou aquário nem sempre é simples. Os
tamanhos de amostra são pequenos, os indivíduos frequentemente tem
diferentes experiências de vida, e as condições de alojamento e manejo
variam entre exibições, instituições e ao longo do tempo. Entretanto, é
possível conduzir pesquisa científica de qualidade, e uma estratégia para
isso, para maximizar o poder e ampla aplicabilidade dos achados, é envolver
tantos zoos e aquários quanto possível. Por essas razões, estudos multi-
institucionais são fortemente encorajados. Essas pesquisas podem revelar
associações entre grau de bem-estar e condições de alojamento e manejo
que podem, então, ser aplicadas na prática.
Muitos aspectos do manejo de zoos e aquários apresentam questões de
grande interesse, e podem resultar em potencial benefício para a
comunidade de zoos e aquários. É evidente que o conhecimento e práticas
de manejo bem estabelecidos em espécies domésticas oferecem um bom
ponto de partida para investigar sua extensão para espécies selvagens em
zoos e aquários.
ESTUDO DO ESTRESSE
De numerosas questões de pesquisa disponíveis para estudo, exemplos
incluem ampliar o conhecimento espécie-específico de indicadores de
estados de bem-estar positivos e negativos, incluindo estereotipias e outros
comportamentos; abordagens inovadoras de enriquecimento ambiental;
detecção de infertilidade; desenvolvimento e aplicação de técnicas de
reprodução assistida; controle contraceptivo da reprodução; protocolos
para melhorar o manejo do parto em mamíferos; otimização da nutrição;
avaliação do estado de saúde; detecção de patógenos, incluindo
microrganismos zoonóticos; desenvolvimento de protocolos profiláticos em
saúde da fauna selvagem; e facilitação de programas de reprodução para
conservação e reintrodução.
A ênfase em minimizar impactos negativos no bem-estar tem relevância
direta para qualquer pesquisa realizada em zoos e aquários, quer essa
pesquisa tenha ou não um foco específico no bem-estar animal. O modelo
dos Cinco Domínios (Capítulo 1), cujos detalhes foram publicados pela
primeira vez em 1994, foi, de fato, desenvolvido especificamente para
facilitar a minimização de danos causados pela pesquisa, ensino e
procedimentos de teste aplicados a animais sencientes. Em 1997, seu uso
foi introduzido como uma exigência regulatória para todas as propostas de
procedimentos desse tipo a serem conduzidas na Nova Zelândia, uma
exigência que persiste até hoje. Seu uso mais amplo, para avaliação do
comprometimento do bem-estar e aprimoramento do bem-estar, como
descrito, foram desenvolvimentos posteriores.
Em termos de pesquisa em bem-estar animal, um exemplo específico é um
sistema para avaliar estados de bem-estar negativos e sua minimização, que
foca em respostas fisiológicas de 'estresse' e suas consequências, como
mostrado na Fig. 7.1.
g. 7.1. Um sistema para o estudo do 'estresse' em zoos
e aquários. 'Estressores ambientais potenciais em os' são
estímulos cujos efeitos foram demonstrados, mas não
necessariamente em um ambiente de zoo ou aquário. Os
organismos possuem uma 'resposta de estresse' que
evoluiu através de seleção natural exercida pela
exposição a estressores ambientais no passado.
Evidências empíricas mostram que 'fatores moduladores'
podem modificar a 'resposta de estresse'. As
'consequências' são requerimentos de energia
aumentados, e diminuição da eficiência da assimilação
de alimentos, da atividade e sucesso reprodutivos, da
competência imunológica e sobrevivência (adaptado de
Hofer & East 2012).
CUIDANDO DA VIDA SELVAGEM
63
REALIZANDO PESQUISA EM ZOOS E AQUÁRIOS
O pleno potencial de zoos e aquários para empreender pesquisas que
aprimorem o bem-estar e os resultados de conservação não é cumprido
atualmente. Ao invés de uma oportunidade, a pesquisa pode ser vista como
um fator de custo adicional ou como um conflito com os procedimentos
operacionais. Com planejamento cuidadoso e boa vontade, essas barreiras
podem ser superadas, como têm demonstrado algumas formas inovadoras
de parcerias de sucesso entre zoos e aquários e instituições acadêmicas.
A medicina da conservação combina aspectos do cuidado veterinário da
fauna selvagem de rotina para aprimorar e manter sua saúde e bem-estar,
com elementos significativos de monitoramento de saúde e pesquisa. Zoos e
aquários são locais excelentes, onde a veterinária e outras perspectivas
biológicas em questões de pesquisa podem ser combinadas de forma
proveitosa..
Equipes de pesquisa dedicadas em zoos e aquários podem dar suporte ao
manejo, desenvolvendo uma política de pesquisa, propondo prioridades e
avaliando propostas de projetos de pesquisa em relação a sua
adequabilidade, exequibilidade, impacto nas rotinas e implicações para o
bem-estar animal. Mesmo sem uma equipe especificamente dedicada à
pesquisa, a pesquisa baseada em zoos e aquários pode ocorrer através de
uma cultura organizacional de pesquisa e investigação, e do anseio de
curadores e tratadores de animais em aprimorar as rotinas de manejo e
otimizar o cuidado e bem-estar dos animais. Com uma quantidade modesta
de planejamento estruturado, essas abordagens podem tomar a forma de
estudos de caso científicos e ser publicados em revistas científicas acessíveis,
proporcionado a outros zoos ou aquários a oportunidade de realizar
experimentos semelhantes e relatar seus resultados.
CONCLUSÃO
Zoos e aquários podem proporcionar excelentes oportunidades para
pesquisa científica de alta qualidade, com mínimo, ou sem
comprometimento, do bem-estar. Uma abordagem estratégica e
relativamente poucos esforços adicionais podem contribuir
significativamente para o progresso científico e aumentar o conhecimento
de zoos e aquários, o desempenho e também a credibilidade nas arenas do
bem-estar e conservação baseados na ciência. Isto frequentemente requer
parcerias com a comunidade acadêmica, e estas podem ser conduzidas
ativamente com vantagens mútuas.
Estudos observacionais combinados com abordagens experimentais simples
podem promover a pesquisa científica e aprimorar o bem-estar animal.
Avanços científicos recentes oferecem bases teóricas e técnicas práticas para
avaliar de forma abrangente o bem-estar animal, incluindo a saúde animal,
de formas minimamente ou não-invasivas. Zoos e aquários têm o potencial
de promover uma abordagem baseada em evidências para suas operações e
para o bem-estar animal, se eles decidirem empregar essas abordagens.
CHECKLIST
Você considera as descobertas científicas recentes ao revisar
suas políticas e procedimentos em bem-estar animal?
Você tem uma lista de prioridades de pesquisa para sua organização?
Ela inclui questões de bem-estar animal e assegura que bons
níveis de bem-estar estejam incorporados?
Você estimula os membros de sua equipe a conduzir e publicar
estudos de caso que poderiam apoiar uma abordagem baseada
em evidências do bem-estar animal?
Os seus animais em projetos de pesquisa estão sujeitos ao
mesmo nível de análise de bem-estar que os demais em sua
organização?
Você tem um comitê de ética, bem-estar e/ou pesquisa, ou
entidade equivalente? Se tem, ele tem membros externos?
O comitê é consultado sobre propostas de atividades de
pesquisa em sua organização?
A aprovação de projetos de pesquisa está sujeita a
procedimentos de análise de custo-benefício e minimização dos
potenciais impactos negativos das técnicas de estudo?
Os seus parceiros de pesquisa pedem apoio para garantir que,
durante suas pesquisas, eles manejem o bem-estar
apropriadamente?
Você está ciente de toda legislação relevante que possa se
aplicar à sua pesquisa? Você solicitou as autorizações
adequadas?
Os membros de sua equipe compreendem os propósitos da
pesquisa, suas normas de bem-estar para pesquisadores, e os
resultados esperados em termos de produtos da pesquisa?
NOTAS:
66 ESTRATÉGIA DE BEM-ESTAR ANIMAL | ASSOCIAÇÃO MUNDIAL DE ZOOS E AQUÁRIOS
CAPÍTULO 8: PARCERIAS EM BEM-ESTAR ANIMAL
Nosso compromisso é trabalhar colaborativamente e abertamente para
realçar o bem-estar e melhorar as vidas dos animais.
RECOMENDAÇÕES
Para realizar nosso compromisso com altos padrões de bem-estar, a
Estratégia invoca as organizações membro a:
1. Tornar-se um centro reconhecido de experiência em bem-estar animal e
auxiliar ou aconselhar outras organizações quanto ao bem-estar animal.
2. Certificar-se que toda a equipe pertinente, incluindo os membros de sua
equipe de manejo e veterinária, colaborem ativamente e estejam
atualizados com as normas profissionais de saúde e bem-estar animal.
3. Colaborar e firmar parcerias com universidades, organizações de
pesquisa e outras instituições zoológicas para expandir a compreensão
sobre os estados de bem-estar e a senciência animal.
4. Firmar parcerias com organizações de bem-estar animal e especialistas
em bem-estar animal externos, através da representação em comitês de
ética e bem-estar, ou entidades similares, para a revisão do bem-estar
animal em sua organização..
5. Firmar parcerias ou 'adotar' outras instituições que requeiram orientação
para atingir resultados positivos de bem-estar para os animais sob seu
cuidado. Isso pode ser feito através de intercâmbios, oportunidades de
treinamento, troca de procedimentos ou subsídios financeiros.
INTRODUÇÃO
Como em qualquer atividade, parcerias significam que a capacidade é
compartilhada e aumentada. Esse é também o caso do trabalho com bem-
estar em zoos e aquários. Esta Estratégia como um todo reflete a
complexidade subjacente ao cuidado adequado de animais em zoos e
aquários, e as muitas questões que precisam ser consideradas para atender
necessidades espécie-específicas. Uma ampla gama de insumos é
necessária, de modo que o estabelecimento de parcerias que proporcionem
todas as habilidades é vantajoso.
A formação de relações efetivas com colegas colaboradores é importante
para estimular e alcançar avanços de longo prazo no bem-estar animal.
Pontos-chave para o desenvolvimento de parcerias efetivas e de sucesso são
a confiança, compreensão e comunicação clara e eficiente.
Parcerias são uma exigência e atividade central para zoos e aquários
modernos. A Estratégia Mundial de Conservação para Zoos e Aquários (2005)
dedicou um capítulo ao conceito de parcerias, enfatizando que, já que zoos e
aquários abrangem uma mistura única de experiência técnica e
interpretativa, ética legal e ambiental e conhecimento da biodiversidade,
eles devem cooperar entre si para proporcionar apoio mútuo. Embora a
Estratégia Mundial de Conservação para Zoos e Aquários foque primariamente
na conservação da biodiversidade, a manutenção de altos padrões de bem-
estar também se beneficia dela. Zoos e aquários modernos, dessa forma,
buscam garantir que o desenvolvimento de parcerias para apoiar seus
objetivos de conservação e bem-estar são uma competência central.
ASSOCIAR PARA EXPANDIR A CAPACIDADE E CONHECIMENTO
Parcerias em bem-estar animal podem ter uma variedade de objetivos e
funções. Colaborações em pesquisa com universidades podem contribuir
significativamente para nosso conhecimento e eficácia em manejar o bem-
estar animal. Ainda, clínicas veterinárias de zoos e aquários podem
associar-se com órgãos de conservação trabalhando no campo, para focar
na saúde e bem-estar de animais de vida livre. Essas parcerias devem
permitir que aumentemos projetos específicos que aprimorem nosso
conhecimento; por exemplo, percepção da dor, senciência e diferentes
expressões comportamentais de estados afetivos positivos, na diversidade
de espécies alojadas em zoos e aquários, tanto invertebrados quanto
vertebrados.
Avançar na compreensão dessas áreas desenvolveria ainda mais os
princípios do bem-estar animal, e facilitaria melhorias no manejo para
assegurar bons níveis de bem-estar de animais selvagens sob cuidado
humano. De particular importância no contexto do bem-estar animal são os
benefícios proporcionados pelo estabelecimento e manutenção de comitês
de ética e bem-estar, ou entidades semelhantes, que incluam membros
externos (de fora da equipe). Deve ser considerada a inclusão de
representantes de grupos de bem-estar animal, se seus membros estiverem
preparados para participar construtivamente nas funções de tais comitês..
Para que as parcerias tenham sucesso, zoos e aquários devem ter um
elevado grau de transparência em suas operações, particularmente no que
diz respeito aos padrões de bem-estar animal. Existe um alto nível
persistente de observação, não apenas pelo público visitante, mas também
por órgãos de bem-estar governamentais e não-governamentais, e por
grupos de direitos animais. Essa é uma audiência com forte interesse
naquelas atividades de zoos e aquários que potencialmente afetem o bem-
estar. A transparência ajuda a aliviar as preocupações que eles possam ter
e, além disso, comitês de ética e bem-estar e protocolos de bem-estar
oferecem bons veículos para demonstrar responsabilidade.
67
CUIDANDO DA VIDA SELVAGEM
ORGANIZAÇÕES DE BEM-ESTAR ANIMAL
Zoos e aquários modernos podem se beneficiar de uma atitude proativa em
suas relações com organizações de bem-estar locais e internacionais, por
construir ativamente relacionamentos com eles (veja estudo de caso 8.1).
Embora a ideia de envolver membros de organizações locais de bem-estar
animal em um comitê de ética e bem-estar possa parecer arriscada para
alguns diretores de zoos e aquários, a experiência internacional mostra que
a maior parte das organizações de bem-estar animal recebe bem esse
envolvimento, e geralmente são um trunfo para tais comitês.
A missão e o foco das organizações de bem-estar animal variam muito, e
enquanto algumas podem consistentemente contestar a manutenção de
animais selvagens sob cuidado humano, muitas outras são organizações
com espírito prático e científico acolhem bem a colaboração. A abertura dos
acordos de cooperação, ao garantir que os participantes estejam bem
informados, ajuda a evitar conflitos por mal-entendidos, que poderiam, de
oura forma, ocorrer. Porém, como o caráter de tais organizações em
algumas localidades podem impossibilitar parcerias construtivas, isso deve
ser avaliado cuidadosamente.
De maneira similar, solicitar o envolvimento de organizações de bem-estar
animal na construção de protocolos de bem-estar é um mecanismo útil para
criar confiança entre os representantes de ambas comunidades. Isso, em
termos de melhorias no bem-estar animal, é vantajoso.
Apesar de diferenças de opinião sobre o que constitui bom nível de bem-
estar possam persistir entre esses parceiros, elas geralmente são mitigadas
pelo reconhecimento de um propósito comum. Mesmo quando uma
organização parece contrária a zoos e aquários, e anuncia isso
publicamente, esses grupos regularmente buscam ajuda local de um zoo ou
aquário acreditado para lidar com um problema específico com a fauna, ou
um zoo ou aquário em más condições. Tais interações ajudam a consolidar
relações de trabalho valiosas para avançar.
Uma vantagem de tais parcerias - à parte de combinar redes de trabalho,
esforços, habilidades e recursos - é que sua existência e transparência
operacional tendem a ser tranquilizadoras para o grande público, que é,
assim, menos influenciado pelos grupos de oposição que permanecem
implacavelmente contrários a zoos e aquários.
ORGANIZAÇÕES DE DIREITOS ANIMAIS
Infelizmente, muitos defensores dos 'direitos animais' trabalham pela
doutrina da liberdade e 'libertação', que, em sua aplicação, se opõe aos
conceitos sob os quais operam os zoos e aquários. A consequência é que
raramente há um meio termo que permita um diálogo construtivo. Como
nos casos que qualquer choque entre filosofias fundamentais, a não
participação no debate, para começar, é muitas vezes a única estratégia
efetiva.
Contudo, assim como com as organizações de bem-estar animal, há um
espectro de valores operacionais dentro da comunidade de direitos animais
e, dependendo das circunstâncias e dos indivíduos envolvidos, podem ser
alcançados acordos. Muito pode ser alcançado avançando com um diálogo
sensato, que reconheça as diferenças e as aceite.
TRABALHANDO COM ZOOS E AQUÁRIOS PARCEIROS
Como uma prática ética profissional, a busca e aplicação de bons níveis de
bem-estar não pode terminar nos portões de seu próprio zoo ou aquário.
Ela deve ser projetada para fora, para outras organizações que necessitem
de ajuda.
Levantamentos recentes têm mostrado que, tanto quanto oito de dez
ASIAN BEAR PARK
Ursos pardos
instituições que mantém animais selvagens (ou 'zoos' e 'aquários') abertos
ao público, operam sem nenhum padrão de acreditação em bem-estar
animal. Muitas dessas organizações têm instalações em condições muito
ruins e o bem-estar animal é uma séria preocupação. Essas situações
impactam negativamente a percepção pública de todos os zoos e aquários -
bons ou ruins. Os zoos e aquários modernos são fortemente encorajados a
auxiliar nos esforços para melhorar as condições dessas instituições
zoológicas, porque 'pessoas de zoo ou aquário', onde quer que estejam,
tendem a ouvir mais seriamente a outras 'pessoas de zoo ou aquário' e,
então, tomar as atitudes necessárias para melhorar.
Estudo de caso 8.1:
Parceria com uma organização internacional de bem-estar animal
A pedido da Sociedade Mundial de Proteção aos Animais (WSPA,
no original; renomeada Proteção Animal Mundial, em 2014),
pessoal da WPSA e da WAZA formaram uma equipe para visitar
três parques de ursos na Ásia em 2004. A equipe observou que, em
todos os três parques, as condições nas quais os ursos eram
mantidos estavam abaixo mesmo dos mais básicos padrões
esperados para a manutenção responsável dessas espécies. A
equipe preparou um relatório abrangente que detalhava as
recomendações específicas para aprimorar as condições dos ursos
nesses parques. Visitas de acompanhamento por membros da
equipe ocorreram em 2007 e, embora algumas melhorias tenham
sido notadas, estava claro que o monitoramento externo de longo
prazo seria necessário para conseguir mudanças significativas na
situação dos ursos. Por consequência, a Wild Welfare, através do
apoio de instituições zoológicas e organizações internacionais de
bem-estar animal, tem revisitado os parques e está analisando os
próximos passos a tomar, que trarão melhorias. Este projeto
representa um excelente exemplo de uma parceria com uma
organização internacional de bem-estar animal, onde a experiência
de zoos e aquários foi necessária para identificar e avaliar questões
de provisão de pobre bem-estar animal, dentro da comunidade
internacional de zoos e aquários.
68 ESTRATÉGIA DE BEM-ESTAR ANIMAL | ASSOCIAÇÃO MUNDIAL DE ZOOS E AQUÁRIOS
Ao lidar com tais situações, é crítico determinar quem toma as decisões que
irão lidar com o pobre bem-estar. Quem é realmente responsável?
Frequentemente, não está no próprio zoológico, e muitos fatores podem
estar em jogo. Políticas locais frequentemente estão envolvidas, e,
ocasionalmente, o manejo e bem-estar ruins podem ser o resultado desses
fatores.
Formas de auxílio podem incluir parcerias de 'adoção' entre um zoo ou
aquário moderno (ou um consórcio de zoos e aquários) e a instituição que
necessidade assistência. De forma similar, parcerias com organizações de
bem-estar animal oferecem sólidas perspectivas de cooperação, uma vez
que trazem uma variedade de habilidades, recursos e redes de trabalho
próprias (veja estudo de caso 8.2).
KABUL ZOO, AFGHANISTAN
Habitat do animal
De uma perspectiva prática, financeira e de marketing, é relativamente fácil
ser imediata e visivelmente eficaz em ajudar um zoo ou aquário necessitado,
através do recurso simples de intercâmbio de equipes e treinamento. Há
grandes benefícios no intercâmbio de equipes. Como muitos zoos e aquários
necessitados podem estar envolvidos em transações de animais a partir da
natureza, assistir essas instituições e ajudar a eliminar tal mercado pode ter
um valor de conservação adicional. Para maior orientação nessa área,
recorra ao Código de ética e Bem-estar Animal da WAZA (veja apêndice).
CONCLUSÃO
Para alcançar os necessários altos padrões de bem-estar animal
globalmente, é imperativo que os zoos e aquários abracem o bem-estar
responsavelmente, promovendo a comunicação efetiva com colegas e
estabelecendo, norteando e mantendo relações de parceria proativas, e ao
mesmo tempo estando abertos a esforços para melhorar as vidas das
espécies selvagens sob cuidado humano.
Importante, zoos e aquários que necessitam de assistência podem se
beneficiar do estabelecimento de parcerias de sucesso, que facilitem o
compartilhamento e uso efetivo do conhecimento e experiências coletivos.
Essa ajuda pode, em última análise, contribuir para melhorias no bem-estar
animal e nos padrões de operação, e estimular uma mudança organizacional
de longo termo nas atitudes em relação ao bem-estar animal.
Além disso, as parcerias podem não apenas oferecer suporte aos colegas e
beneficiar as vidas de animais individualmente, aprimorando seu bem-
estar, mas, trabalhando junto e empenhando-se em encontrar soluções
práticas para os desafios de bem-estar, através do compartilhamento de
conhecimento e recursos, realçar a importância do - e a dedicação ao - bem-
estar animal na comunidade de zoos e aquários, e influenciar positivamente
a percepção pública.
HOUSTON ZOO, TX, USA AND HANGZHOU ZOO, HANGZHOU, CHINA
Equipe do Houston Zoo treinando a equipe do Hangzhou Zoo a usar PVC para enriquecimento.
Estudo de caso 8.2:
Um exemplo de parceria em ação
Após a longa guerra civil e, finalmente, a captura de Cabul em
2001, o Zoo de Cabul estava praticamente em ruínas. O Zoo da
Carolina do Norte levantou US$ 500.000 de 6.000 contribuintes
privados para ajudar a reconstruí-lo. A primeira fase de emergência,
a provisão de alimento, água e aquecimento para os animais
durante as primeiras poucas semanas, foi realizada por membros
da equipe da Sociedade Mundial de Proteção aos Animais (WSPA,
no original; renomeada Proteção Animal Mundial, em 2014), que
tinha uma equipe pronta a agir rapidamente nessas emergências. A
segunda fase, de estabilização, foi realizada por pessoal de zoos e
aquários de todo o mundo, recrutados pelo Zoo da Carolina do
Norte. O estágio final, de treinamento e capacitação, foi então
cumprido, em grande parte através da comunidade Indiana de
zoos. Outras equipes de zoos e aquários, notadamente da Wildlife
Conservation Society, com fundos da União Europeia e outros, tem
prestado mais assistência desde então.
CUIDANDO DA VIDA SELVAGEM
69
Casuar
CHECKLIST
Todas as suas parcerias apoiam a promoção de altos padrões de
bem-estar animal?
Você trabalha efetivamente com organizações de bem-estar
animal?Há formas que poderiam ser mais efetivas?
Há oportunidades para seu zoo ou aquário trabalhar com
instituições parceiras que necessitam de assistência para
aprimorar seus padrões de bem-estar?
Os membros profissionais de sua equipe, como veterinários,
pesquisadores, curadores e tratadores de animais, oferecem
orientação a pessoas de fora de sua organização em questões de
saúde e bem-estar animal? Eles poderiam fazer mais?
Você promove sua organização como apoiadora de altos
padrões de bem-estar animal?
Você avalia a percepção da comunidade sobre seu desempenho
em bem-estar animal?
NOTAS:
72 ESTRATÉGIA DE BEM-ESTAR ANIMAL | ASSOCIAÇÃO MUNDIAL DE ZOOS E AQUÁRIOS
ENVOLVIMENTO E INTERAÇÃO COM VISITANTES
Nosso compromisso é proteger e aprimorar o bem-estar de nossos
animais em todas as interações com visitantes, enquanto envolvemos os
visitantes na conservação da vida selvagem.
RECOMMENDATIONS
Para realizar nosso compromisso com altos padrões de bem-estar, a
Estratégia invoca as organizações membro a:
1. Evitar usar animais em experiências interativas nas quais seu bem-estar
possa ser comprometido.
2. Realizar avaliações de bem-estar específicas e monitoramento contínuo
para todos os animais que sejam utilizados em experiências interativas.
Retirar animais dessas atividades se as taxas de alteração
comportamental, ou outros indicadores de desconforto, forem elevados.
3. Assegurar que a mensagem que acompanha todas as experiências
interativas e o objetivo de qualquer apresentação relacionada sejam
promover a conscientização sobre conservação ou atingir resultados de
conservação.
4. Não realizar, contribuir ou participar de shows, demonstrações ou
experiências interativas com animais onde estes demonstrem
comportamentos não naturais. A conservação de espécies deve ser a
mensagem e/ou o propósito primordiais.
5. Estabelecer processos que garantam que todos os animais em seu zoo ou
aquário sejam tratados com respeito. Isso inclui como os animais são
retratados e apresentados.
6. Explicar, através de conversas, sinalização e/ou interpretação, como tem
sido feitas melhorias no bem-estar animal em sua organização.
7. Acessar e utilizar o corpo de conhecimento e experiência que baseiam a
avaliação da efetividade da educação ambiental, ao considerar o
desenvolvimento de experiências interativas, para garantir que sejam
obtidos benefícios.
INTRODUÇÃO
Zoos e aquários têm presenciado um rápido crescimento das experiências
interativas nos anos recentes, tirando vantagem de uma afinidade geral
entre humanos e animais para estimular os visitantes a agir para conservar
a vida selvagem. O progresso da simples exibição de animais em zoos e
aquários para observação pelos visitantes, que era comum no passado, às
abordagens atuais, que colocam humanos e animais em contato próximo,
tem ganho força, porque envolve os visitantes mais efetivamente e, dessa
forma, proporciona melhores oportunidades de educá-los sobre os animais
e a conservação da vida selvagem.
Experiências interativas variam entre organizações. Elas podem ser
mínimas, com visitantes tendo acesso a áreas nos bastidores. Há também
situações onde as pessoas são levadas para dentro dos recintos dos animais,
e outras situações onde humanos e animais podem ter contato direto.
Todas as experiências interativas devem ser avaliadas quanto ao seu
impacto no bem-estar dos animais: aplicando avaliação e monitoramento
contínuos do bem-estar; relatando a frequência, duração e horário das
interações; observando se o contato físico real é necessário e, se for, com
quantos visitantes; observando as características dos visitantes; e avaliando
quão consistentemente a experiência interativa é oferecida.
Assim como essas avaliações focadas no animal, os impactos das diferenças
na manutenção e manejo precisam ser cuidadosamente avaliadas,
especialmente se elas diferem para animais usados interativamente em
comparação com outros animais do zoo ou aquário. O possível impacto em
outros membros de um grupo social ou companheiros de recinto também
deve ser avaliado, se membros do grupo são periodicamente removidos para
experiências interativas. Qualquer animal usado em uma experiência
interativa deve ter as mesmas oportunidades de efeitos positivos no bem-
estar que outros animais mantidos no zoo ou aquário, que não estejam
envolvidos.
Quando possível, zoos e aquários também devem explicar os processos de
bem-estar e manejo aos visitantes, para construir a compreensão e respeito
pelos animais e o mundo natural (veja estudo de caso 9.1). Isso pode ser feito
através de palestras, um protocolo de bem-estar, sinalização e/ou
programas de educação ambiental.
O uso crescente de experiências interativas em zoos e aquários tem sido
instruído amplamente pela perspectiva de que a proximidade entre
humanos e animais, e quando possível, o 'contato real', pode aumentar a
probabilidade, âmbito e impacto da educação ambiental e o compromisso
com ações de conservação. Contudo, pesquisas nessa linha ainda não
produziram resultados definitivos.
Ainda assim, com mais zoos e aquários adotando intuitivamente o atrativo
princípio de 'conectar, compreender, agir', haverá oportunidades crescentes
para avaliar rigorosamente os efeitos de diferentes abordagens com respeito
a educação ambiental, e também para considerar cuidadosamente o bem-
estar dos animais nesses programas. Importante, há evidências de que
alguns animais acham algumas experiências interativas desagradáveis ou
estressantes. Mais pesquisas são necessárias para avaliar diretamente os
impactos de tais experiências, e é de responsabilidade dos zoos e aquários
que oferecem essas interações assegurar que esse trabalho seja
empreendido.
73
CUIDANDO DA VIDA SELVAGEM
Organizações que utilizam animais em qualquer interação ou apresentação
devem sempre avaliar o impacto e os riscos de tais experiências nos estados
de bem-estar dos animais individualmente, e monitorar cuidadosamente os
impactos no bem-estar. A consideração do bem-estar do animal deve
sempre se manter uma prioridade.
Muitos zoos e aquários, e a Associação Europeia de Zoos e Aquários
(EAZA), desenvolveram diretrizes para o uso de animais em demonstrações
interativas ou públicas. Esses são guias úteis para zoos e aquários
individuais que estejam considerando ou realizando experiências interativas
ou apresentações.
ZOOS VICTORIA, AUSTRALIA
Tigres
QUE IMPACTO TEM OS VISITANTES E AS INTERAÇÕES COM
VISITANTES NO BEM-ESTAR?
A natureza das experiências interativas varia amplamente, assim como os
taxa envolvidos. Nosso conhecimento de seus impactos nos animais ainda é
muito limitado (veja estudo de caso 9.2). Até hoje, a pesquisa tem enfatizado
primatas e carnívoros, e tem sido mais focada nos efeitos da presença
humana do que nos eventos interativos. Algumas pesquisas indicam que a
chegada diária de visitantes pode ser perturbadora e pode ser uma fonte de
angústia para os animais. Isso pode se manifestar como aumento nos
comportamentos relacionados a ansiedade e agressão intra-grupo, e
diminuição nos comportamentos sociais em relação a outros membros do
grupo. Ainda, os animais podem exibir comportamentos de ameaça em
relação aos visitantes e ter níveis de corticosteroides elevados nas fezes,
urina ou saliva, sugerindo que possam estar estressados.
Alternativamente, outros animais podem não mostrar sinais óbvios de
estresse quando expostos a visitantes. É provável que as respostas
individuais irão variar em razão das experiências passadas e diferenças no
design da exibição, enriquecimento ambiental e relacionamento com os
tratadores. Da mesma forma, algumas espécies não mostram sinais
externos de estresse, ou podem ter respostas comportamentais de estresse
que podem ser comumente mal interpretadas pelo homem. De forma a
minimizar a angústia, providências devem ser tomadas para que os animais
possam se esconder da visão do público. Alternativamente, alguns tipos de
barreira física ou psicológica, como proteções nos visores ou barreiras
sólidas com pequenas janelas de visualização, devem ser proporcionadas.
Muitos zoos e aquários usam animais domésticos como ovelhas, cabras e
porcos para experiências interativas, sem efeitos negativos na maior parte
desses animais. Entretanto, alguns animais em 'petting zoos' ou jardins de
contato podem apresentar comportamentos indesejáveis para com os
visitantes, um problema resolvido simplesmente retirando esses animais.
Como os animais em 'recintos tradicionais', animais em 'áreas de contato'
devem ser capazes de se retirar (esconder) do contato humano, mas ainda
ter acesso a comida, água e áreas para descanso e conforto térmico.
Em situações onde os visitantes podem entrar nos recintos, por exemplo,
envolvendo relocação de animais dentro do zoo ou aquário, apresentações
de aves, apresentações interativas com grandes felinos e alimentação de
animais pelos visitantes, não está claro se o impacto no bem-estar é bom,
neutro ou ruim. Dada essa incerteza, é importante que os zoos e aquários
monitorem cuidadosamente esses eventos, e retirem os animais se houver
indicações de que o bem-estar esteja sendo comprometido. Além disso, os
animais devem ser selecionados cuidadosamente quanto a sua
adequabilidade para tais eventos, com base em sua história natural e
características individuais, de acordo com a avaliação de membros
experientes da equipe que estejam familiarizados com cada animal..
Se interações com animais acontecem, elas devem ser feitas em ambientes
onde o animal esteja livre para deixar a interação quando quiser. Um
tratador de animais experiente, que tenha uma clara compreensão das
necessidades individuais do animal deve realizar todas as interações, e,
como com todos os encontros próximos, tanto em público quanto nos
bastidores, o treinamento com reforço positivo deve ser usado, para criar
um ambiente positivo e estimulante.
O contato próximo entre visitantes e animais em zoos e aquários também
podem acarretar riscos de saúde para ambos, incluindo doenças infecciosas.
Reduzir esse risco, com estações para higiene das mãos e uma área de
transição entre as áreas com e sem animais, é vital. Os riscos de lesões
também devem ser adequadamente gerenciados. É essencial que normas
específicas de saúde e segurança sejam desenvolvidas e aplicadas.
Estudo de caso 9.1:
Estereotipias e a experiência do visitante
Evidências recentes sugerem que os visitantes estão interessados
em ver animais que estejam envolvidos em comportamentos
apropriados à espécie. Especificamente, visitantes, aos quais foi
mostrado um vídeo de cinco segundos de um tigre (Panthera tigris)
apresentando 'pacing', relataram pensar que o animal recebia
menor nível de cuidados do que aqueles que assistiram um vídeo,
com a mesma duração, de um tigre descansando. Além do mais, os
visitantes que assistiram o vídeo do tigre com 'pacing' tinham menor
probabilidade de apoiar zoos e aquários através de visitação ou
doações. Dada a importância do bem-estar animal e de estimular os
visitantes a apoiar ações de conservação, é importante que zoos e
aquários se empenhem em eliminar ou reduzir esses
comportamentos. Além de melhorar o bem-estar animal, isso
garante que os visitantes tenham uma experiência positiva, que
pode então ser traduzida em comportamentos pró-conservação.
74 ESTRATÉGIA DE BEM-ESTAR ANIMAL | ASSOCIAÇÃO MUNDIAL DE ZOOS E AQUÁRIOS
ENVOLVIMENTO E INTERAÇÕES COM VISITANTES
HOUSTON ZOO, TX, USA
Gorila da planície ocidental
MONITORANDO OS IMPACTOS DE EXPERIÊNCIAS INTERATIVAS
É reconhecido que zoos e aquários devem basear suas decisões sobre se
devem oferecer experiências interativas em evidências sobre os animais
individualmente, e na necessidade de proporcionar condições que
estimulem estados de bem-estar positivos.
Há uma diferença entre experiências interativas dos animais com o público
e com a equipe de manejo. A primeira deve sempre ser cuidadosamente
avaliada (veja abaixo), enquanto a última, se conduzida apropriadamente,
pode ser parte de um programa de treinamento estimulante e positivamente
reforçado, que contribui para o bem-estar positivo. Os dois tipos de
interação devem ser examinados separadamente ao considerar a
justificativa para tais atividades.
Devido aos riscos envolvidos e à escassez de pesquisas nessa área, é
recomendado que um comitê de ética e bem-estar animal, ou entidade
equivalente, avalie se as experiências interativas são apropriadas. Em
algumas regiões, há uma obrigação legal de que organizações estabeleçam
esses comitês, cujos membros podem incluir profissionais qualificados,
membros da comunidade e representantes de outras organizações não-
governamentais de conservação e bem-estar animal.
Monitorar todas as experiências interativas é essencial para aumentar nossa
compreensão de seus impactos e assegurar altos níveis de bem-estar
animal. Isso exige uma boa compreensão da ciência do bem-estar animal.
Assim, é fortemente recomendado que o monitoramento contínuo dos
animais seja acompanhado de treinamento da equipe, em todos os níveis da
organização.
Quando as práticas para manejar alguns animais nos zoos e aquários se
desviam daquelas aplicadas a outros animais, elas devem ser
cuidadosamente monitoradas, para esclarecer qualquer impacto adverso de
longo termo no comportamento e bem-estar. Por exemplo, está bem
estabelecido que o 'imprint' humano pode afetar adversamente os animais.
Dessa forma, espécies propensas a sofrer 'imprint' não devem ser criadas
manualmente com o propósito de participarem em experiências interativas.
Finalmente, experiências interativas devem ser adaptadas à história natural
e repertório comportamental do animal; não devem exigir grande esforço
dos membros da equipe do zoo ou aquário em estimular o animal a
participar; devem representar para os visitantes nosso respeito pelo animal;
e devem ter primordialmente mensagens de conservação, consistentes com
os propósitos dos zoos e aquários modernos.
CONCLUSÃO
Muitos zoos e aquários utilizam experiências interativas para apoiar várias
metas de conservação, pesquisa e educação. Assegurar que essas
experiências interativas sejam oferecidas de maneira que priorize o bom
nível de bem-estar exige a adoção de práticas de manejo animal baseadas
em evidências, e devem ser instruídas por pesquisa sistemática e objetiva
em bem-estar animal.
Experiências interativas devem ser não-invasivas, seguras e não
estressantes para os animais. O monitoramento de todos os animais
envolvidos em interações deve ser contínuo e ter supervisão profissional. Os
riscos para o bem-estar animal devem ser minimizados, considerando
cuidadosamente se as experiências interativas são apropriadas, e se forem,
satisfazendo as necessidades particulares do animal.
Estudo de caso 9.2:
Influência do visitante nos gorilas
Provavelmente a mais promissora forma de interpretar como os
visitantes afetam os animais é comparar as respostas de indivíduos
diferentes da mesma espécie, sob um gama de diferentes condições de
alojamento e manejo. Gorilas (Gorilla gorilla), por exemplo, tem sido
estudados atualmente em vários zoos. Em seis desses zoos os gorilas
mostraram o que parecia ser uma resposta negativa (p.ex. mais
agressão, comportamentos indesejáveis ou varredura visual), enquanto
em dois zoos eles mostraram uma resposta ligeiramente positiva
(menos comportamentos indesejáveis ou buscando proximidade dos
visitantes), e naqueles restantes, não mostraram efeito aparente. Como
podemos interpretar isso? É provável que diferenças no alojamento,
manejo, experiências prévias e personalidade do animal sejam
importantes. E o que pode ser feito sobre a influência do visitante?
Barreiras visuais no Zoo de Belfast, por exemplo, levaram a menor
agressão e estereotipias nos gorilas. Em um zoo houve menos
agressividade e menos interação com os visitantes quando os membros
da equipe passavam mais tempo com eles, mas em outro eles
mostraram mais agressividade. Diferenças individuais em gorilas, e em
muitas outras espécies, são provavelmente importantes na
compreensão desses padrões de influência do visitante.
75
CUIDANDO DA VIDA SELVAGEM
Zebra de Grant
CHECKLIST
Sua experiência interativa foi avaliada como adequada para a
espécie a ser usada? Que critérios foram usados para essa
avaliação?
Você tem um processo em uso para avaliar novas experiências
interativas antes de sua implementação, para garantir que os
padrões de bem-estar sejam atendidos?
O processo de avaliação é baseado em conhecimento espécie-
específico e pesquisa atualizada?
Todas as questões de segurança e saúde foram consideradas,
incluindo a possibilidade de doenças zoonóticas e de
transmissão pelo ar (p.e. em primatas)?
Há um processo de análise contínuo para assegurar que não
surjam, ao longo do tempo, questões de bem-estar para os
animais sendo usados?
A saúde dos animais usados é monitorada regularmente?
Os membros da sua equipe são habilitados para detectar
mudanças na saúde e conduta dos animais sendo usados?
O que aconteceria aos animais se eles fossem retirados das
experiências interativas? Você poderia continuar a oferecer
cuidado de qualidade para eles?
Suas apresentações ou experiências envolvendo animais tem
mensagens de conservação, contém informação educativa e
baseada em ciência, e demonstra respeito pelos animais?
NOTAS:
76 ESTRATÉGIA DE BEM-ESTAR ANIMAL | ASSOCIAÇÃO MUNDIAL DE ZOOS E AQUÁRIOS
A PÊ N D ICE | B i b l i og r a f i a
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APÊNDICE | Acrônimos e Websites | Glossário de Termos
82 ESTRATÉGIA DE BEM-ESTAR ANIMAL | ASSOCIAÇÃO MUNDIAL DE ZOOS E AQUÁRIOS
ACRÔNIMOS E WEBSIT E S GLOSSÁRIO DE TERMOS
AZA
Association of Zoos and Aquariums
CPM
WAZA Committee for Population Management
EAZA
European Association of Zoos and Aquaria
GSMP
Global Species Management Plan
ISIS
International Species Information System
IUCN
International Union for Conservation of Nature
OIE
World Organisation for Animal Health
WAZA
World Association of Zoos and Aquariums
ZAA
Zoo and Aquarium Association Australasia
ZIMS
Zoological Information Management System
As definições fornecidas aqui são determinadas pelo contexto desta Estratégia.
Essas definições objetivam proporcionar clareza e confiança sobre os significados
contidos neste documento.
Aceitável
Aceitável em termos de normas internacionais dentro dos
parâmetros do contexto do documento.
Adequado
Suficiente e adequado para o propósito; deve resultar em mais efeitos
positivos que negativos.
Aquário
Instalação fixa permanente, primariamente aberta e administrada para a
visitação pública, com espécies selvagens vivas e outras espécies.
Bem-estar (well-being)
Um estado de harmonia entre o funcionamento físico e psicológico do
animal; sinônimo de um bom estado de bem-estar.
Bem-estar animal
Como um animal lida com as condições em que vive. Um bom estado de bem-
estar (como indicado por evidência científica) resulta em um animal que está
saudável, confortável, bem nutrido, capaz de expressar comportamentos
inatos e não está sofrendo por estados desagradáveis, como dor, medo e
angústia.
Bem-estar na conservação
Assegurar estados positivos de bem-estar ao mesmo tempo que alcança
objetivos de conservação, como atividades de pesquisa em vida selvagem e
programas de criação para soltura na natureza.
Cativeiro (de uma perspectiva zoológica)
Uma situação onde um animal é mantido em um habitat feito pelo
homem e completamente ou parcialmente dependente do cuidado
humano.
Chefe de manejo
Profissional sênior na organização, responsável pelo manejo do dia a dia e
administração.
Competente
A capacidade de realizar tarefas designadas eficientemente.
CUIDANDO DA VIDA SELVAGEM
83
Comportamento natural
Os comportamentos individuais, ou o repertório de diferentes
comportamentos, que exibem valor de sobrevivência espécie-específica e
que reflete o nicho ecológico no qual a espécie animal evoluiu.
Comportamento normal
Um comportamento que ocorre em uma frequência, duração e intensidade
dentro dos níveis expressos pelos coespecíficos de vida livre.
Comprometimento do bem-estar
Um estado geral de bem-estar negativo, ou quando um atributo específico
de bem-estar é negativo.
Conservação
Proteger populações de espécies em habitats naturais em longo prazo
(definição da WAZA).
Criação comercial de fauna selvagem
Qualquer instalação comercial ou operação que mantenha espécies
selvagens capturadas na natureza ou criadas em cativeiro para a venda,
seja de animais vivos, mantidos vivos para coleta e venda de produtos
biológicos ou, após a morte ou abate, venda de suas partes.
Cuidado por toda a vida
Cuidado de um animal individual objetivando assegurar uma aceitável
qualidade de vida ao longo de todo o período de vida.
Enriquecimento ambiental
O design e manejo dos ambientes dos animais sob cuidado humano
para promover estados positivos de bem-estar.
Enriquecimento ambiental
The various means by which the behavioural repertoires of animals in
human care can be managed and enhanced to improve well-being. As
várias formas pelas quais o repertório comportamental dos animais sob
cuidado humano pode ser manejado e ampliado, para melhorar o bem-
estar.
Enriquecimento
O ato de enriquecer ou o estado de ser enriquecido.
Eutanásia
A terminação da vida de forma humana, sem dor e livre de angústia,
utilizando um método que produza simultaneamente a perda da consciência e
do funcionamento do sistema nervoso central.
Experiência interativa com a equipe
Uma atividade pré-planejada que permite que apenas membros
qualificados da equipe entrem em contato próximo (geralmente, mas
não limitadas a, interações táteis) com animais selvagens ou espécies
domésticas sob seu cuidado.
Experiência interativa com visitantes
Uma atividade pré-planejada que permite que o público visitante entre
em contato próximo (geralmente, mas não limitado a, interações táteis)
com animais selvagens ou espécies domésticas sob cuidado do zoo ou
aquário.
Justificável
Suportado por argumentação convincente.
Planejamento da coleção
Processo de planejamento estratégico em nível institucional, regional ou
global, para identificar e priorizar taxa adequados para intervenção e
cuidado humano, determinado pelo valor educacional e de conservação, e
uma habilidade para proporcionar cuidado adequado; o planejamento da
coleção prevê o futuro da instituição, e leva em consideração os recursos e
limitações da organização.
Resultados de conservação
Resultados de conservação quantitativos, qualitativos ou demonstráveis
por outros meios, em nível de espécie e/ou habitat, sob cuidado humano
ou na natureza.
Santuário
Uma instalação fixa permanente administrada exclusivamente para o cuidado
individual de animais no local, de longo prazo ou por toda a vida. Um
santuário é uma instalação que oferece cuidado apropriado para animais
resgatados que tenham sofrido abusos, injúrias ou que tenham sido
abandonados.
Senciência
É a capacidade de ter experiências subjetivas e sentir e perceber emoções como
dor e prazer. Ela implica em um nível de consciência e na capacidade de sofrer.
Sofrimento
Estados mentais adversos que afetam negativamente o estado de bem-estar de
um animal, e é associado com experiências como sede extrema, fome, dor,
ansiedade, solidão, depressão e tédio.
Veterinário
Uma pessoa legalmente registrada como veterinário junto aos órgãos de
controle adequados, aceito pelo país onde se localiza a instituição.
Vida selvagem
Uma espécie animal não domesticada (como amplamente conhecido) e que
retém suas características selvagens.
Zoo ou aquário moderno
Zoo ou aquário contemporâneo (como definido neste glossário) que se
empenha em atingir altos padrões de conservação da fauna, bem-estar
animal e educação ambiental.
Zoo
Uma instalação fixa permanente, primariamente aberta e
administrada para a visitação pública, com animais selvagens vivos ou
outras espécies.
84 ESTRATÉGIA DE BEM-ESTAR ANIMAL | ASSOCIAÇÃO MUNDIAL DE ZOOS E AQUÁRIOS
A PÊ N D ICE | Código de Ética e Bem-estar da WAZA
PREÂMBULO
A continuidade da existência de parques zoológicos e aquários depende do
reconhecimento de que nossa profissão é baseada no respeito pela
dignidade dos animais sob nosso cuidado, as pessoas que servimos e outros
membros da comunidade internacional de zoos e aquários. A aceitação da
Estratégia Mundial de Conservação para Zoos e Aquários está implícita no
envolvimento na WAZA.
Embora reconhecendo que cada região pode ter formulado seu próprio
código de ética, e um código de bem-estar animal, a WAZA se esforçará para
desenvolver uma tradição ética que seja forte e que formará a base de um
padrão de conduta para nossa profissão. Os membros lidarão uns com os
outros no mais alto padrão de conduta ética.
Princípios básicos para a orientação de todos os membros da WAZA:
• Auxiliar no alcance da conservação e sobrevivência de espécies deve ser o
objetivo de todos os membros da profissão. Toda ação em relação a um
animal individual (p.ex. eutanásia ou contracepção) deve ser realizada
tendo em mente o mais alto ideal de sobrevivência de espécies, mas o
bem-estar do indivíduo não deve ser comprometido.
• Promover os interesses da conservação da vida selvagem, biodiversidade
e bem-estar animal entre os colegas e para a sociedade em geral.
• Cooperar com a ampla comunidade da conservação, incluindo agências
de vida selvagem, organizações conservacionistas e instituições de
pesquisa, para ajudar a manter a biodiversidade global.
• Cooperar com os governos e outros órgãos apropriados para aperfeiçoar
as normas de bem-estar animal e assegurar o bem-estar de todos os
animais sob nosso cuidado.
• Estimular a pesquisa e difusão de conquistas e resultados em publicações
e fóruns apropriados.
• Lidar de forma justa com os membros na disseminação de informação
profissional e recomendações.
• Promover programas de educação pública e atividades recreativas
culturais de zoos e aquários.
• Trabalhar progressivamente para alcançar todas as diretrizes
estabelecidas pela WAZA.
Em todos os momentos, os membros atuarão de acordo com todas as leis
locais, nacionais e internacionais, e se esforçarão para atingir os mais altos
padrões de operação em todas as áreas, incluindo o seguinte:
1. BEM-ESTAR ANIMAL
Mesmo reconhecendo a variação na cultura e costumes dentro dos quais a
WAZA opera, é incumbência de todos os membros praticar os mais altos
padrões de bem-estar animal e estimular esses padrões em outros. O
treinamento das equipes ao mais alto nível possível representa um método
de atingir esse objetivo..
Membros da WAZA garantirão que todos os animais sob seu cuidado sejam
tratados com o máximo cuidado, e seu bem-estar deve ser sempre
primordial. Práticas de manejo animal adequadas devem estar em prática e
cuidado veterinário sólido disponível. Quando um animal não tem
qualidade de vida razoável, ele deve ser eutanasiado rapidamente e sem
sofrimento.
2. USO DE ANIMAIS DE ZOOS E AQUÁRIOS
Onde animais 'selvagens' são usados em apresentações, essas devem:
• passar uma mensagem sólida de conservação ou ser de outro valor
educacional,
• focar em comportamentos naturais,
• não degradar ou trivializar o animal de nehum modo.
Se houver qualquer indicação de que o bem-estar do animal esteja sendo
comprometido, a apresentação deve ser encerrada.
Quando não estiver sendo usado para apresentações, as áreas de
manutenção devem oferecer espaço suficiente para que o animal expresse
comportamentos naturais, e devem conter itens adequados de
enriquecimento comportamental.
Embora o foco do código seja nos animais 'selvagens' em zoos e aquários, o
bem-estar dos animais domésticos (ovelhas, cabras, cavalos, etc.) em, por
exemplo, 'petting zoos' não deve ser comprometido.
3. PADRÕES DE EXIBIÇÃO
Todas as exibições devem ser de tamanho e volume tais que permitam ao
animal expressar seus comportamentos naturais. Recintos devem conter
material suficiente que permita enriquecimento comportamental e que
permita que o animal expresse comportamentos naturais. Os animais
devem ter áreas nas quais possam se esconder, e instalações separadas
devem estar disponíveis para permitir a separação de animais, quando
necessário (p.ex. tocas para filhotes). Em todos os momentos os animais
devem estar protegidos de condições prejudiciais ao seu bem-estar, e
cumpridas as normas de manejo adequadas.
4. AQUISIÇÃO DE ANIMAIS
Todos os membros devem se empenhar em assegurar que a fonte de
animais seja restrita àqueles nascidos sob cuidado humano, o que pode ser
melhor alcançado com transações diretas de zoo a zoo. Deve ser solicitada
orientação do coordenador de espécie apropriado antes da aquisição de
animais. Isso não exclui a recepção de animais resultado de apreensões ou
resgates. É reconhecido que, de tempos em tempos, há uma necessidade
legítima de obter animais da natureza para programas de reprodução para
conservação, programas de educação ou estudos biológicos básicos. Os
membros devem estar seguros de que tais aquisições não terão um efeito
deletério sobre as populações selvagens.
5. TRANSFERÊNCIA DE ANIMAIS
Os membros devem assegurar que as instituições que receberão os animais
tenham instalações apropriadas para sua manutenção e equipe capacitada,
capaz de manter o mesmo padrão elevado de manejo e bem-estar exigidos
dos membros da WAZA. Todos os animais transferidos devem ser
acompanhados por registros apropriados, com detalhes de saúde, dieta,
estado reprodutivo e genético, e características comportamentais, conforme
divulgados no início das negociações. Esses registros devem permitir que a
instituição recebedora tome as decisões adequadas em relação ao manejo
futuro do animal. Todas as transferências de animais devem estar em
concordância com as normas internacionais e leis aplicáveis à espécie em
particular. Quando apropriado, os animais devem ser acompanhados por
equipe qualificada.
85
CUIDANDO DA VIDA SELVAGEM
6. CONTRACEPÇÃO
A contracepção pode ser usada onde houver necessidade, por razões de
manejo de população. Os possíveis efeitos colaterais tanto da contracepção
cirúrgica quanto química, assim como o impacto negativo no
comportamento, devem ser considerados antes que a decisão final de
implementar a contracepção seja tomada.
7. EUTANÁSIA
Quando todas as opções foram avaliadas e a decisão é de que é necessário
eutanasiar um animal, cuidados devem ser tomados para garantir que ela
seja realizada de maneira que assegure uma morte rápida e sem sofrimento.
A eutanásia pode ser controlada por costumes e leis locais, mas deve
sempre ser usada de preferência a manter vivo um animal sob condições
que não lhe ofereçam uma adequada qualidade de vida. Sempre que
possível, o exame pós-morte deve ser realizado, e material biológico deve
ser preservado para pesquisa e conservação genética..
8. MUTILAÇÃO
A mutilação de qualquer animal para fins cosméticos, ou para alterar a
aparência física do animal, não é aceitável. O corte da ponta da asa para fins
de educação ou manejo apenas deve ser realizado quando não seja possível
outra forma de contenção, e a marcação de animais deve sempre ser
realizada sob supervisão profissional, de forma que minimize o sofrimento.
9. PESQUISA UTILIZANDO ANIMAIS DE ZOOS E AQUÁRIOS
Todos os zoos e aquários devem estar ativamente envolvidos em pesquisas
apropriadas e outras atividades científicas relacionadas aos seus animais, e
difundir os resultados aos colegas. Áreas apropriadas de pesquisa incluem
design de exibições, observações, bem-estar, comportamento, práticas de
manejo, nutrição, criação animal, procedimentos veterinários e tecnologia,
técnicas de reprodução assistida, conservação biológica e criopreservação
de ovos e espermatozoides. Cada zoo ou aquário que realiza essas pesquisas
deve ter um comitê de pesquisa adequadamente constituído, e deve ter
todos os procedimentos aprovados por um comitê de ética adequadamente
constituído.
Procedimentos invasivos projetados para auxiliar em pesquisa médica não
devem ser realizados em animais de zoos ou aquários, entretanto, a coleta
oportunista de tecidos durante procedimentos de rotina e a coleta de
material de cadáveres, são, em muitos casos, apropriadas.
O bem-estar individual do animal e a preservação das espécies e da
diversidade biológica devem ser primordiais, e estar em primeiro lugar ao
decidir sobre a adequação de pesquisas a serem realizadas.
11. MORTES DE ANIMAIS SOB CUIDADOS
A menos que haja razão sólida para não fazê-lo, todo animal que morrer
em cativeiro, ou durante um programa de soltura na natureza, deve passar
por exame pós-morte e ter a causa da morte determinada.
12. QUESTÕES DE BEM-ESTAR EXTERNAS
Embora este código de práticas seja elaborado para animais mantidos em
zoos, aquários, parques de vida selvagem, santuários, etc. WAZA abomina
e condena os maus-tratos e a crueldade a qualquer animal e deve ter um
parecer em questões de bem-estar para animais selvagens externos aos
seus membros.
A WAZA EXIGE QUE:
• A coleta de animais ou outros recursos a partir da natureza deve ser
sustentável e em concordância com a legislação nacional e
internacional, e em conformidade com a política da IUCN apropriada.
• Qualquer negociação internacional de animais selvagens e produtos
animais deve estar em conformidade com a CITES e a legislação
nacional dos países envolvidos.
WAZA SE OPÕE A:
• Coleta ilegal e não sustentável de animais e outros recursos naturais a
partir da natureza; por exemplo, para carne de caça, peles, medicina
tradicional, produção de madeira..
• Comércio ilegal de animais selvagens e produtos de animais selvagens.
• Métodos cruéis e não seletivos de coleta de animais da natureza..
• Coleta para estoque ou estoque de animais, em particular aquários,
com a expectativa de alta mortalidade.
• O uso ou suprimento de animais para 'caça enlatada', ou seja, abate de
animais em espaços confinados, ou quando semi-tranquilizados ou
contidos.
• Manutenção ou transporte de animais sob condições inadequadas;
por exemplo, a manutenção de ursos em confinamento para extração
de bile, ursos dançantes, zoos itinerantes ou circos/entretenimento.
A WAZA e seus membros devem fazer todos os esforços a seu alcance para
estimular zoos e aquários abaixo do padrão a melhorar e alcançar padrões
adequados. Se estiver claro que não existem os recursos ou a vontade de se
aprimorar, a WAZA apoiaria o fechamento de tais zoos e aquários.
10. PROGRAMAS DE SOLTURA
Todos os programas de soltura devem ser conduzidos de acordo com as
diretrizes do Grupo de Especialistas em Reintrodução da SSC IUCN.
Nenhum programa de soltura deve ser realizado sem que os animais
tenham passado por exame veterinário, para avaliar sua aptidão para a
soltura, e que seu bem-estar pós soltura seja razoavelmente salvaguardado.
Após a soltura, um programa criterioso de monitoramento seve ser
estabelecido e mantido.
Este documento foi preparado com base no Código de Ética de 1999 e no Código de Bem-estar Animal de 2002. Ele foi adotado na Sessão Administrativa Fechada da 58ª Reunião Anual, ocorrida em 19 de Novembro de 2003 em San Jose, na Costa Rica.
86 ESTRATÉGIA DE BEM-ESTAR ANIMAL | ASSOCIAÇÃO MUNDIAL DE ZOOS E AQUÁRIOS
APÊNDICE | Créditos das fotografias
CRÉDITOS DAS FOTOGRAFIAS
Pages 2-3, Leopard
© Nicole Gusset-Burgener
Page 9, Sea lion
© Smithsonian’s National Zoological Park, DC, USA
Page 13, Attwater’s prairie chicken
© Joel Sartore
Page 14, Caiman
© Peter Riger, Houston Zoo, TX, USA
Page 15, Orangutan hand and human hand
© Perth Zoo, Australia
Pages 16-17, Spotted hyaenas
© Ralf Hausmann
Page 19, Asian elephants
© Stephanie Adams, Houston Zoo, TX, USA
Page 21, Red panda
© Perth Zoo, Australia
Page 22, Orangutans
© Perth Zoo, Australia
Page 21, Boa constrictor
© amattel
Pages 24-25, Polar bear
© Rick Barongi, Houston, TX, USA
Page 27, Tigers
© Disney’s Animal Kingdom, FL, USA
Page 27, Brown bear
© San Diego Zoo, CA, USA
Page 28, Javan gibbon
© Perth Zoo, Australia
Page 29, South African fur seal
© uShaka Sea World Durban, South Africa
Page 30, Penguin
© Shedd Aquarium, IL, USA
Page 31, Chilean flamingo
© Houston Zoo, TX, USA
Pages 32-33, Komodo dragon
© Stephanie Adams, Houston Zoo, TX, USA
Page 35, Colobus monkey
© Philadelphia Zoo, PA, USA
Page 36, Fennec fox
© Brookfield Zoo, IL, USA
Pages 38-39, Tropical Experience World Gondwanaland
© Leipzig Zoo, Germany
Page 41, Western lowland gorilla
© Dublin Zoo, Ireland
Page 42, Black-capped squirrel monkeys
© Apenheul Primate Park, The Netherlands
Page 43, Ocelot
© Stephanie Adams, Houston Zoo, TX, USA
Pages 44-45, Giant pandas
© Gerald Dick, WAZA, Switzerland
Page 47, Bilby joeys
© Perth Zoo, Australia
Page 48, Somali wild ass
© Rick Barongi, Houston, TX, USA
Page 49, Sun bear
© Perth Zoo, Australia
Page 49, Pygmy marmosets
© Stephanie Adams, Houston Zoo, TX, USA
Page 50, Rusty robber frog
© Bill Konstant
Page 51, North American porcupine
© Stephanie Adams, Houston Zoo, TX, USA
Pages 52-53, White rhinos
© Rick Barongi, Houston, TX, USA
Page 55, Mongoose lemur
© Rick Barongi, Houston, TX, USA
Page 55, Red wolf
© WildSides.org
Page 57, Atlas beetle larva
© Hannover Zoo, Germany
Pages 58-59, Amur leopard
© Robert Liebecke, Leipzig Zoo, Germany
CUIDANDO DA VIDA SELVAGEM
87
Page 60, Guinea baboon
© Yorkshire Wildlife Park, UK
Page 61, Hippo
© Tiago Nabiço
Pages 64-65, Red-crowned cranes
© Harry-Eggens
Page 67, Asian bear park
© David Jones
Page 68, Kabul Zoo, Afghanistan
© Brendan Whittington-Jones
Page 68, Environmental enrichment
© Kevin Hodge & Tarah Jacobs, Houston Zoo, TX, USA
Page 69, Cassowary
© Stephanie Adams, Houston Zoo, TX, USA
Pages 70-71, Echidna
© Perth Zoo, Australia
Page 73, Tigers
© Zoos Victoria, Australia
Page 74, Western lowland gorilla
© Stephanie Adams, Houston Zoo, TX, USA
Page 75, Grant’s zebra
© Stephanie Adams, Houston Zoo, TX, USA
Page 81, Puerto Rican crested toad
© Mark Beshel, Jacksonville Zoo and Gardens, FL, USA
Page 87, Okapi
© Stephanie Adams, Houston Zoo, TX, USA
Okapi