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16Y EDIÇÃO FEVEREIRO 2008 Cultura Alternativa Olivicultura: opção de cultivo para a região dos campos de cima da serra? "':t'~ ••• _ •~~ .' ,,-".1; N Os dias 21 e 22 de novembro foi realizado em Pelotas, RS, o 1° Simpósio de Olivicultura do Sul do Brasil. Promovido e organizado pela Embrapa Clima Temperado, com a colaboração da Câmara de Comércio Portuguesa no Brasil/RS, o evento contou com palestras de professores e pesquisadores de Portugal (Universidade Técnica de Lisboa), Argentina (INTA), Uruguai (INIA) e Brasil (EMBRAPA, EPAMIG e EPAGRI). Entre os participantes, aproximadamente 250 pessoas, encontravam-se pesquisadores, técnicos, empresários, produtores, autoridades e futuros investidores. O simpósio teve como objetivo relatar as ações de pesquisa e desenvolvimento realizadas com a cultura da oliveira no Brasil, Portugal, Argentina e Uruguai e atender a grande demanda por informações. O interesse pela cultura, manifestado de forma mais intensa nos últimos anos, não apenas no Brasil, mas em muitos países tradicionalmente não produtores, éumdos aspectos que chamou aatenção noevento. Elese deve, em grande parte, ao descobrimento de que habitantes de países que praticavam adenominada dieta mediterrânea apresentavam menor chance de morrer por câncer e doenças cardiovasculares. Essa dieta, composta basicamente por vegetais (frutas, verduras, legumes, cereais e nozes), aves, peixes, frutos do mar e vinho, tem no azeite de oliva um dos seus principais integrantes, conforme atesta o elevado consumo per capita da maioria dos países da região, alguns dos quais com consumo de aproximadamente 15litros por pessoa/ano. Segundo o Prof. José Manuel de Gouveia, da Universidade Técnica de Lisboa, a oliveira e o azeite de seu fruto fazem parte da cultura mediterrânea desde suas origens. Inicialmente utilizado como remédio, produto de beleza, combustível para iluminação, entre outras aplicações, somente mais tarde passou afazer parte da alimentação humana. O azeite de oliva possui vitaminas A, D, K e E, carotenóides e componentes fenólicos. Esses dois últimos, junto com a vitamina E, são poderosas substâncias antioxidantes que ajudam a retardar o envelhecimento e protegem contra a formação de câncer. Obviamente, estamos falando de azeite de oliva virgem, de elevada qualidade e valor, obtido a partir da prensagem de azeitonas e cujo sabor e aroma resultam de um complexo Síria, Argélia, Egito e Portugal. Entre os países americanos produtores, destacamos naTabela 1,pela importância da produção ou proximidade com o Brasil, Argentina, Estados Unidos, Peru, Chile e Uruguai, países que apresentam área cultivada e produção bastante superior às brasileiras. Vale a pena destacar a boa colocação da Argentina na relação de produtores (1 a naAmérica e 14 a no mundo), com uma produção atual de 96.943 toneladas e uma área cultivada de 30.883 ha. O pesquisador do INTA Angel César Matias em sua palestra no simpósio afirmou que a expectativa do país vizinho é atingir, em 2010, uma área cultivada entre 113.120 e 150.000 ha. Olhando para a área cultivada atualmente parece-nos que dificilmente será alcançada tal marca, a menos que o levantamento da FAO não reflita a realidade do país. Em todo caso, em pouco tempo saberemos se a previsão se confirma. Outro aspecto que chama a atenção na Tabela 1é a produtividade da cultura nos países relacionados, variável de 472,26 kg/ha na Tunísia a 6.987,04 kg/ha nos Estados Unidos. No simpósio, de acordo com o Sr. Matias, o limite de produtividade para se obter rentabilidade suficiente para se manter na atividade foi estimado em torno de 10 t de azeitonas por hectare, ou seja, bastante superior às produtividades observadas. Parece- nos, nesse caso, que alguma informação precisa ser mais bem explicada. A expectativa de comercialização, ante o grande mercado para os produtos da oliveira, principalmente para o azeite e, em menor medida, para a azeitona em conserva, é outro fator que desperta o interesse de produtores e empresas. A Figura 1 mostra o expressivo crescimento das exportações mundiais desses produtos nos últimos 15 anos. As exportações de azeite de oliva passaram de 1,974 bilhões de dólares em 1991 para 5,528 bilhões em 2005 (crescimento de 180,08%), enquanto as exportações de azeitona em conserva passaram de 501,1 milhões de dólares para 1,206 bilhões de dólares (crescimento de 137,91%). Os principais importadores desses produtos são os países que tradicionalmente não cultivam a oliveira ou que apresentam produção insuficiente para abastecer o mercado interno, como Alemanha, Austrália, Brasil, Canadá, Coréia do Sul, Estados Unidos, França, Japão, Reino Unido eRússia.

Cultura Alternativa · 2019. 8. 6. · Cultura Alternativa Olivicultura: opção de cultivo para a região dos campos de cima da serra? "':t'~ •••_ • ~ ~ .' ,,-".1; N Os dias21e22denovembro

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16Y EDIÇÃO FEVEREIRO 2008

Cultura AlternativaOlivicultura: opção de cultivo para a região dos campos de cima da serra?

"':t'~••• _ • ~ ~ .' ,,-".1;

NOs dias 21 e 22 de novembro foi realizado em Pelotas, RS, o 1°Simpósio de Olivicultura do Sul do Brasil. Promovido e organizadopela Embrapa Clima Temperado, com a colaboração da Câmara de

Comércio Portuguesa no Brasil/RS, o evento contou com palestras deprofessores e pesquisadores de Portugal (Universidade Técnica deLisboa), Argentina (INTA), Uruguai (INIA) e Brasil (EMBRAPA, EPAMIG eEPAGRI). Entre os participantes, aproximadamente 250 pessoas,encontravam-se pesquisadores, técnicos, empresários, produtores,autoridades e futuros investidores. O simpósio teve como objetivo relataras ações de pesquisa e desenvolvimento realizadas com a cultura daoliveira no Brasil, Portugal, Argentina e Uruguai e atender a grandedemanda por informações.

O interesse pela cultura, manifestado de forma mais intensa nosúltimos anos, não apenas no Brasil, mas em muitos países tradicionalmentenão produtores, é um dos aspectos que chamou a atenção no evento. Ele sedeve, em grande parte, ao descobrimento de que habitantes de países quepraticavam a denominada dieta mediterrânea apresentavam menor chancede morrer por câncer e doenças cardiovasculares. Essa dieta, compostabasicamente por vegetais (frutas, verduras, legumes, cereais e nozes),aves, peixes, frutos do mar e vinho, tem no azeite de oliva um dos seusprincipais integrantes, conforme atesta o elevado consumo per capita damaioria dos países da região, alguns dos quais com consumo deaproximadamente 15 litros por pessoa/ano.

Segundo o Prof. José Manuel de Gouveia, da Universidade Técnicade Lisboa, a oliveira e o azeite de seu fruto fazem parte da culturamediterrânea desde suas origens. Inicialmente utilizado como remédio,produto de beleza, combustível para iluminação, entre outras aplicações,somente mais tarde passou a fazer parte da alimentação humana. O azeitede oliva possui vitaminas A, D, K e E, carotenóides e componentesfenólicos. Esses dois últimos, junto com a vitamina E, são poderosassubstâncias antioxidantes que ajudam a retardar o envelhecimento eprotegem contra a formação de câncer. Obviamente, estamos falando deazeite de oliva virgem, de elevada qualidade e valor, obtido a partir daprensagem de azeitonas e cujo sabor e aroma resultam de um complexo

Síria, Argélia, Egito e Portugal. Entre os países americanos produtores,destacamos na Tabela 1, pela importância da produção ou proximidade como Brasil, Argentina, Estados Unidos, Peru, Chile e Uruguai, países queapresentam área cultivada e produção bastante superior às brasileiras. Valea pena destacar a boa colocação da Argentina na relação de produtores (1a

na América e 14a no mundo), com uma produção atual de 96.943 toneladase uma área cultivada de 30.883 ha. O pesquisador do INTA Angel CésarMatias em sua palestra no simpósio afirmou que a expectativa do paísvizinho é atingir, em 2010, uma área cultivada entre 113.120 e 150.000 ha.Olhando para a área cultivada atualmente parece-nos que dificilmente seráalcançada tal marca, a menos que o levantamento da FAO não reflita arealidade do país. Em todo caso, em pouco tempo saberemos se a previsãose confirma.

Outro aspecto que chama a atenção na Tabela 1 é a produtividade dacultura nos países relacionados, variável de 472,26 kg/ha na Tunísia a6.987,04 kg/ha nos Estados Unidos. No simpósio, de acordo com o Sr.Matias, o limite de produtividade para se obter rentabilidade suficiente parase manter na atividade foi estimado em torno de 10 t de azeitonas porhectare, ou seja, bastante superior às produtividades observadas. Parece-nos, nesse caso, que alguma informação precisa ser mais bem explicada.

A expectativa de comercialização, ante o grande mercado para osprodutos da oliveira, principalmente para o azeite e, em menor medida, paraa azeitona em conserva, é outro fator que desperta o interesse deprodutores e empresas. A Figura 1 mostra o expressivo crescimento dasexportações mundiais desses produtos nos últimos 15 anos. Asexportações de azeite de oliva passaram de 1,974 bilhões de dólares em1991 para 5,528 bilhões em 2005 (crescimento de 180,08%), enquanto asexportações de azeitona em conserva passaram de 501,1 milhões dedólares para 1,206 bilhões de dólares (crescimento de 137,91%). Osprincipais importadores desses produtos são os países quetradicionalmente não cultivam a oliveira ou que apresentam produçãoinsuficiente para abastecer o mercado interno, como Alemanha, Austrália,Brasil, Canadá, Coréia do Sul, Estados Unidos, França, Japão, Reino UnidoeRússia.

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equilíbrio de aproximadamente 70 compostos. O sabor e o aroma, bemcomo a coloração, podem variar de acordo com a cultivar, estado dematuração da azeitona no momento do processamento e condiçõesedafoclimáticas do local de cultivo.

O elevado consumo per capita de azeite de oliva nos paísesmediterrâneos é conseqüência natural da grande produção local. Nessaregião localizam-se os 10 maiores produtores do mundo (Tabela 1), comdestaque para Espanha, Itália, Grécia e Turquia, responsáveis por 75,66%da produção total. Outros importantes produtores são Tunísia, Marrocos,

Sobre o Brasil, os dados da FAO mostram que em 2005 o país gastou106,728 e 65,605 milhões de dólares para pagamento das importações deazeite de oliva e azeitona em conserva, configurando-se em um dos maioresimportadores. No período 1991 a 2005 as importações brasileiras de azeitede oliva e azeitona em conserva não apresentaram um crescimentoconstante, mas, apesar disso, aumentaram respectivamente 185,09% e31,97% (Figura 2). Não obstante a grande importação, nosso consumo deazeite de oliva ainda é pequeno, de apenas 150 ml por habitante/ano.

Segundo o Prof. Gouveia, da Universidade de Lisboa e membro do

BASFThe Chemical Company