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Introdução Estamos diante de uma transição estrutural em curso na economia global, na qual os Estados Unidos estão perdendo poder na ordem mundial? Em que medida a China, juntamente com outros polos emergentes, está desafiando a posição dominante dos Estados Uni- dos e da Europa, indicando um novo centro de poder no futuro? Estes questionamentos vêm sendo feitos em debates recentes, espe- 215 Contexto Internacional (PUC) Vol. 37 n o 1 – jan/jun 2015 1ª Revisão: 19/03/2015 * Artigo recebido em 23 de janeiro de 2015 e aprovado para publicação em 13 de março de 2015. A pesquisa contida neste artigo resulta dos trabalhos do núcleo de pesquisa Sistemas de Inovação e Governança do Desenvolvimento do BRICS Policy Center e contou com o valioso trabalho das es- tagiárias Gabrielle França e Marina Caresia. ** Doutor em Ciência Política pelo Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro (Iuperj) e professor de Relações Internacionais da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio) e presidente da Finep. E-mail: [email protected]. *** Doutora em Relações Internacionais pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio) e professora de Relações Internacionais da Universidade Federal Rural do Rio de Janei- ro (UFRRJ). E-mail: [email protected]. **** Doutoranda em Relações Internacionais pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Ja- neiro (PUC-Rio). E-mail: [email protected]. CONTEXTO INTERNACIONAL Rio de Janeiro, vol. 37, n o 1, janeiro/abril 2015, p. 215-253. Desenvolvimento Desigual na Era do Conhecimento: A Participação dos BRICS na Produção Científica e Tecnológica Mundial* Luis Fernandes,** Ana Garcia*** e Paula Cruz****

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  • Introduo

    Estamos diante de uma transio estrutural em curso na economiaglobal, na qual os Estados Unidos esto perdendo poder na ordemmundial? Em que medida a China, juntamente com outros polosemergentes, est desafiando a posio dominante dos Estados Uni-dos e da Europa, indicando um novo centro de poder no futuro?Estes questionamentos vm sendo feitos em debates recentes, espe-

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    Contexto Internacional (PUC)Vol. 37 no 1 jan/jun 20151 Reviso: 19/03/2015

    * Artigo recebido em 23 de janeiro de 2015 e aprovado para publicao em 13 de maro de 2015. Apesquisa contida neste artigo resulta dos trabalhos do ncleo de pesquisa Sistemas de Inovao eGovernana do Desenvolvimento do BRICS Policy Center e contou com o valioso trabalho das es-tagirias Gabrielle Frana e Marina Caresia.** Doutor em Cincia Poltica pelo Instituto Universitrio de Pesquisas do Rio de Janeiro (Iuperj) eprofessor de Relaes Internacionais da Pontifcia Universidade Catlica do Rio de Janeiro(PUC-Rio) e presidente da Finep. E-mail: [email protected].*** Doutora em Relaes Internacionais pela Pontifcia Universidade Catlica do Rio de Janeiro(PUC-Rio) e professora de Relaes Internacionais da Universidade Federal Rural do Rio de Janei-ro (UFRRJ). E-mail: [email protected].**** Doutoranda em Relaes Internacionais pela Pontifcia Universidade Catlica do Rio de Ja-neiro (PUC-Rio). E-mail: [email protected].

    CONTEXTO INTERNACIONAL Rio de Janeiro, vol. 37, no 1, janeiro/abril 2015, p. 215-253.

    Desenvolvimento

    Desigual na Era do

    Conhecimento: A

    Participao dos

    BRICS na Produo

    Cientfica e

    Tecnolgica Mundial*Luis Fernandes,** Ana Garcia*** e Paula Cruz****

  • cialmente a partir da crise econmica mundial, iniciada em 2008 nospases centrais. O relativo declnio econmico das atuais potnciasacentuou a noo de que estamos em meio a um processo de mudan-a, com a ascenso das chamadas economias emergentes, conheci-das pelo acrnimo BRICS. Para melhor compreenso desse fenme-no, cabe-nos buscar ferramentas que ajudem na anlise mais apro-fundada dos mecanismos de mudana na ordem mundial. Quais soos determinantes de um desenvolvimento diferenciado dos pasesdos BRICS perante as potncias tradicionais, os demais pases peri-fricos e entre os prprios integrantes do grupo? O seu ritmo de de-senvolvimento sustentado no longo prazo? Quais so os seus en-traves? Qual o impacto da sua ascenso para a governana econ-mica global?

    Partimos da premissa de que cincia, tecnologia e inovao (CT&I)tm importncia estratgica no processo de desenvolvimento quali-tativo e sustentado de longo prazo dos pases. Ao longo da histria docapitalismo, as potncias tradicionais fizeram uso de diferentes pol-ticas pblicas de CT&I de modo a alavancar seus processos de indus-trializao e alcanar nveis cada vez mais altos de desenvolvimentoindustrial e tecnolgico. Somente depois de alcanado determinadonvel de desenvolvimento econmico e institucional, essas potnciaspregaram o liberalismo econmico generalizado. Isso resultou emum processo de desenvolvimento desigual na economia mundial, namedida em os pases que detm tecnologia buscaram evitar ou retar-dar sua difuso para outros pases, criando meios pelos quais outrospases foram impedidos de fazer uso das mesmas polticas pblicasde promoo industrial e tecnolgica. Cada vez mais, na atual fase docapitalismo global, a chamada era do conhecimento, inovao signi-fica tambm poder poltico.

    Assim, este artigo objetiva demonstrar o processo de concentrao edifuso da produo de riqueza mundial em termos do PIB/Poder Pa-ritrio de Compra ao longo do sculo XX e incio do sculo XXI, ve-

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  • rificando em que medida ele foi acompanhado ou no pela produode conhecimento cientfico e tecnolgico mundial. Para demonstrarisso, analisaremos a evoluo da participao dos BRICS em peri-dicos cientficos indexados internacionalmente, a evoluo dos gas-tos em pesquisa e desenvolvimento (P&D), bem como os depsitos eregistros de patentes nos escritrios nacionais e no exterior, alm daspatentes concedidas pelo escritrio americano United States Patentand Trademark Office (USPTO). Verificamos que o relativo aumen-to do PIB/PPC nas potncias emergentes nas dcadas anteriores nofoi acompanhado, na mesma velocidade, de uma maior capacidadede produo e deteno de conhecimento. Este continua bastanteconcentrado nas potncias centrais, especialmente nos Estados Uni-dos, apesar de significativos avanos nas economias emergentes, es-pecialmente na China.

    Desenvolvimento Desigual

    na Ordem Mundial

    No incio do sculo XX, perodo de decadncia da hegemonia brit-nica, a Europa Ocidental ainda concentrava a maior parte doPIB/PPP mundial, com 32%, como pode ser visto no Grfico 1. Ospases que compem hoje os BRICS reuniam 28%, seguidos dosEstados Unidos, com 16%. Este recorte abarca o perodo final doImprio Russo e da antiga China imperial. O Grfico 2 mostra que aparticipao da China no PIB dos BRICS nesse mesmo ano era de39%, seguida da ndia com 31%, e da rea que, mais tarde, viria acompor a Unio Sovitica correspondendo parcialmente ao Imp-rio Russo , com 28%. O Brasil tinha uma participao relativa de2% no PIB do grupo. Os dados para a frica do Sul para esse ano noesto disponveis. Para referncia, vale registrar que, em 1913, o PIBdaquele pas equivalia a cerca de metade do brasileiro.

    O Grfico 3 retrata o momento de mudana estrutural na economiamundial no ps-Segunda Guerra Mundial, com a consolidao dos

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    Mundo - 1900

    Europa Ocidental

    Estados Unidos

    Japo

    BRICS

    Resto do Mundo

    Grfico 1Participao no PIB Mundial 1900 (em PPC)

    Fonte: Elaborado pelos autores com dados de Angus Madison, Statistics on World Population, GDPand Per Capita GDP. Disponvel em: .

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    BRICS - 1900

    China

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    Grfico 2Participao no PIB dos BRICS 1900 (em PPC)

    Fonte: Elaborado pelos autores com dados de Angus Madison, Statistics on World Population, GDPand Per Capita GDP. Disponvel em: .

  • Estados Unidos como principal economia do planeta, corresponden-do a 27% do PIB global em 1950. A participao da Europa Ociden-tal caiu para 24% aps as duas grandes guerras, e os pases que hojecompem o agrupamento BRICS viram sua parcela no PIB mundialdiminuir para 21%. No mbito destes pases (Grfico 4), destaca-se aascenso da Unio Sovitica, que ultrapassa a China e a ndia no PIBdos BRICS, representando 47%, contra 22% e 20%, respectivamen-te. J o Brasil e a frica do Sul ampliam sua participao no PIB dogrupo para 8% e 3% cada.

    Aps os anos de reconstruo da Europa e do Japo, no perodo doschoques do petrleo e ps-crise financeira na dcada de 1970, pode-mos observar um novo movimento de difuso e distribuio territo-rial dos polos dinmicos da economia mundial. Como pode ser vistono Grfico 5, a participao do Japo no PIB mundial passou de 3%em 1950 para 8% em 1980. As participaes relativas dos EstadosUnidos e da Europa Ocidental caram para 21%, cada. Os pases

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    Mundo - 1950

    Europa Ocidental

    Estados UnidosJapo

    BRICS

    Resto do Mundo

    Grfico 3Participao no PIB Mundial 1950 (em PPC)

    Fonte: Elaborado pelos autores com dados de Angus Madison, Statistics on World Population, GDPand Per Capita GDP. Disponvel em: .

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    BRICS - 1950

    China

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    Grfico 4Participao no PIB dos BRICS 1950 (em PPC)

    Fonte: Elaborado pelos autores com dados de Angus Madison, Statistics on World Population, GDPand Per Capita GDP. Disponvel em: .

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    Mundo - 1980

    Europa Ocidental

    Estados Unidos

    Japo

    BRICS

    Resto do Mundo

    Grfico 5Participao no PIB Mundial 1980 (em PPC)

    Fonte: Elaborado pelos autores com dados de Angus Madison, Statistics on World Population, GDPand Per Capita GDP. Disponvel em: .

  • BRICS, por sua vez, mantiveram o percentual de 21%, mas com alte-raes nas posies relativas dos distintos pases (Grfico 6). A parti-cipao da antiga Unio Sovitica no PIB do grupo recuou para 41%,mas manteve-se em primeiro lugar. A China ampliou sua participa-o para 25%. Na sequncia do chamado milagre econmico, oBrasil alcanou em 1980 seu melhor desempenho relativo entre osBRICS na srie histrica examinada, chegando a 16% do PIB do gru-po, ultrapassando a ndia (15%). A frica do Sul manteve-se no pata-mar de 3%.

    Ao final da primeira dcada do sculo XXI, quase vinte anos depoisdo fim da Guerra Fria, a configurao territorial dos polos de produ-o de riqueza no mundo j era bastante diferente. Em 2008, ano deincio da crise econmica mundial, os pases BRICS juntos (conside-rando a Rssia, sem a rea da antiga URSS) j representavam aproxi-madamente 30% do PIB mundial, frente a 19% dos Estados Unidos,14% da Europa Ocidental e 6% do Japo (Grfico 7). Se somarmos

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    BRICS - 1980

    China

    Brasil

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    rea URSS

    Grfico 6Participao no PIB dos BRICS 1980 (em PPC)

    Fonte: Elaborado pelos autores com dados de Angus Madison, Statistics on World Population, GDPand Per Capita GDP. Disponvel em: .

  • ao cmputo dos BRICS os PIBs dos pases que integravam anterior-mente a Unio Sovitica, sua participao alcana 31% do total mun-dial (Grfico 8). O destaque inconteste deste desempenho o da Chi-na. Como pode ser visto no Grfico 9, sob o impacto do processo dereformas deflagrado em 1979 com o Programa das Quatro Moderni-zaes, sua participao no PIB combinado dos pases BRICS saltoude 25% para 59% em 2008. A ndia alcanou 23%. Tanto a Rssiacomo o Brasil viram sua participao relativa no PIB do grupo recuarpara 8%, e a frica do Sul para 2%. Juntos, a China e a ndia passa-ram a ser responsveis por 82% do PIB combinado dos BRICS, do-brando a sua participao relativa, se comparado a 1980.

    Os dados reproduzidos nos grficos anteriores ilustram sucessivasreconfiguraes territoriais dos polos dinmicos da economia mun-dial ao longo do ltimo sculo, com a eroso do dinamismo econmi-co das economias centrais e a ascenso de polos de crescimento maisacelerado em reas da chamada periferia do sistema. Segundo a

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    Mundo - 2008 (1)

    Europa Ocidental

    Estados Unidos

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    Resto do Mundo

    Grfico 7Participao no PIB Mundial 2008 (em PPC)

    Fonte: Elaborado pelos autores com dados de Angus Madison, Statistics on World Population, GDPand Per Capita GDP. Disponvel em: .

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    Mundo - 2008 (2)

    Europa Ocidental

    Estados Unidos

    Japo

    BRICS

    Resto do Mundo

    Grfico 8Participao no PIB Mundial 2008 (em PPC)

    Fonte: Elaborado pelos autores com dados de Angus Madison, Statistics on World Population, GDPand Per Capita GDP. Disponvel em: .

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    BRICS - 2008

    China

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    frica do Sul Rssia

    Grfico 9Participao no PIB dos BRICS 2008 (em PPC)

    Fonte: Elaborado pelos autores com dados de Angus Madison, Statistics on World Population, GDPand Per Capita GDP. Disponvel em: .

  • abordagem de Robert Gilpin (1987), isto alimentaria processos demudana estrutural na economia poltica das relaes internacio-nais. A desigualdade de poder no sistema , paradoxalmente, a pr-pria fonte de onde surgem os mecanismos de mudana estrutural.Um conceito-chave, originalmente de Lenin, e recuperado por Gil-pin para compreender esse tipo de transio na economia polticaglobal, o de desenvolvimento desigual. Segundo Lenin:

    A exportao de capitais repercute-se no de-senvolvimento do capitalismo dentro dos pa-ses em que so investidos, acelerando-o extra-ordinariamente. Se, em consequncia disso, areferida exportao pode, at certo ponto, oca-sionar a estagnao do desenvolvimento nospases exportadores [de capital], isso s podeter lugar em troca de um alargamento e de umaprofundamento maiores do desenvolvimentodo capitalismo em todo o mundo (LENIN,2005, p. 64).

    Em outras palavras, a expanso do capitalismo para um sistema real-mente global, consolidado ao longo da hegemonia da Inglaterra nosculo XIX, deu-se atravs dos emprstimos internacionais dos ban-cos e do investimento externo de determinadas indstrias nas zonasperifricas, dinamizando essas economias, ao passo que, temporaria-mente, estagnava as economias monopolistas centrais.

    Trazendo para a economia poltica internacional, na viso de Gilpin,toda economia uma estrutura hierrquica composta por um centro(ou alguns centros) dominante(s) e uma periferia dependente. O de-senvolvimento desigual fruto de dois processos opostos: de umlado, h o efeito de polarizao do capital, da indstria e das ativida-des econmicas no centro; de outro, h a tendncia a um efeito de di-fuso dessas atividades e da riqueza do centro para a periferia, crian-do novos pontos nodais no sistema. Para Gilpin (1987, p. 94), na es-

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  • fera internacional, esses processos de concentrao e difuso tm im-plicaes polticas profundas.

    A vantagem inicial do centro sobre a periferia sua superioridadetcnica e organizacional. A inovao e capacidade da indstria ge-ram mais eficincia, maior lucro e acumulao de capital, levando aum rpido crescimento do centro. No curto prazo, o efeito de polari-zao do centro tende a predominar sobre os efeitos de difuso para aperiferia. Entretanto, ao longo do tempo, a taxa de crescimento docentro tende a desacelerar e a locao de atividades econmicas ten-de a ser difundida para novos polos de crescimento na periferia.Nesse processo de difuso, a periferia goza do que AlexanderGerschenkron (1962, p. 95) chamou de vantagens do atraso, ouseja, alguns pases iniciam sua industrializao utilizando as tcnicasmais atuais e eficientes, assim como as lies aprendidas pelas eco-nomias avanadas. Consequentemente, novos centros industriais seformam na periferia, podendo chegar a substituir velhos centros pornovos polos de crescimento no sistema.

    Notoriamente, a difuso e o processo de crescimento da periferia nose do de forma fluida e igual para todos. A distribuio de matrias--primas, as capacidades empreendedoras, as redes de comunicao,assim como polticas governamentais, favorecem algumas reas, re-gies ou pases em detrimento de outros. necessrio um esforopo-ltico para desenvolver indstrias viveis, e um Estado forte que pos-sa se equiparar e compensar as foras de mercado que tendem a con-centrar riqueza, atividades econmicas e poder no centro (GER-SCHENKRON, 1962, p. 96). Assim, a difuso desigual acaba geran-do novas divises dentro da periferia. Essas reas ou pases se dife-renciam dos demais, tornando-se novos polos de crescimento comcapacidades prprias, podendo tornar-se um centro para um novo ci-clo de difuso de crescimento econmico, gerando um novo efeito depolarizao.

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  • A produo e deteno de conhecimento e tecnologia so impulsoresdo desenvolvimento desigual entre centro e periferia, e dentro daprpria periferia. Quando o efeito de polarizao comea a dar lugarao de difuso, gerando maior presso competitiva nos pases cen-trais, esses tendem a fazer uso de medidas protecionistas para desa-celerar ou mesmo deter a ascenso de novos polos de riqueza. Deacordo com Gilpin (1987, p. 97), o liberalismo cede lugar ao nacio-nalismo e ao protecionismo no sistema internacional. De fato, o pro-tecionismo comercial dos EUA e Europa na Organizao Mundialdo Comrcio, assim como seu sistema de proteo ao direito de pro-priedade intelectual so exemplos disso.

    Em Chutando a escada, Ha-Joon Chang (2002) demonstra que, emseus perodos iniciais de industrializao, os pases hoje avanadosusaram ativamente polticas industriais, comerciais e tecnolgicaspara promover a indstria nascente. Hoje, esses mesmos pases, aoalcanarem certo nvel de desenvolvimento econmico, cobrampolticas e procuram impor medidas econmicas sobre os menos de-senvolvidos que eles mesmos no adotaram quando se encontravamem estgio histrico equivalente. Baseado no economista alemoFriedrich List, Chang afirma que os pases atualmente desenvolvidosmudaram sua postura, ao passarem a ocupar outra posio relativa nosistema internacional: aqueles que usaram amplamente medidas res-tritivas e protecionistas em seu desenvolvimento histrico hoje de-fendem o livre-comrcio com os pases menos desenvolvidos e aca-bam chutando a escada pela qual subiram, procurando impedir queos demais percorram um caminho parecido. Segundo Chang (2002,p. 114),

    Quando estavam em situao de catching-up,os pases hoje avanados protegiam sua inds-tria nascente, cooptavam mo de obra especia-lizada e contrabandeavam mquinas dos pasesmais desenvolvidos, envolviam-se em espio-nagem industrial e violavam obstinadamente

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  • as patentes e marcas. Entretanto, mal ingressa-ram no clube dos desenvolvidos, puseram-se aadvogar o livre-comrcio e a proibir a circula-o de trabalhadores qualificados e de tecnolo-gia; tambm se tornaram grandes protetoresdas patentes e marcas registradas. Assim, pare-ce que as raposas tm se transformado em guar-dis do galinheiro com perturbadora regulari-dade.

    H, assim, um padro histrico relativamente recorrente, que se es-tende da Gr-Bretanha do sculo XVIII Coreia do fim do sculoXX, pelo qual se viabiliza o desenvolvimento econmico bem-suce-dido por meio de polticas pblicas que buscaram fomentar e prote-ger suas respectivas indstrias nascentes. Os instrumentos polticosvo alm da proteo tarifria, e envolvem subsdios exportao,reduo das tarifas de insumos usados para a exportao, concessodo direito de monoplio, acordos para a cartelizao, crditos dire-tos, planejamento de investimentos, planejamento de recursos hu-manos, apoio P&D e a promoo de instituies que viabilizassemparcerias pblico-privadas (CHANG, 2002, p. 115).

    Os pases integrantes dos BRICS puderam contar com certas vanta-gens do atraso, iniciando sua industrializao com tcnicas maisatuais e eficientes, podendo usufruir de lies aprendidas pelas eco-nomias avanadas. Absorveram, assim, a difuso de atividades in-dustriais e tecnolgicas, com capacidade poltica e econmica dife-renciada em relao aos demais pases perifricos. Esse processo dedifuso gera maior presso competitiva nas economias centrais, quebuscam deter ou diminuir o ritmo da difuso por meio de polticasprotecionistas como, por exemplo, o protecionismo comercial e osistema de propriedade intelectual. Essas medidas representam cons-trangimentos estruturais no processo de difuso de atividades agre-gadoras de valor em outros pases. Por sua vez, os BRICS tm busca-do viabilizar o desenvolvimento de setores considerados estratgi-

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  • cos, objetivando mudar a posio relativa de suas economias no sis-tema por meio da inovao.

    A Participao Relativa dos

    BRICS na Produo Mundial

    de C&T

    A partir do indicador tradicional de publicaes em revistas cientfi-cas internacionais indexadas, podemos ilustrar nos grficos a seguira participao relativa dos pases BRICS na produo cientficamundial, comparando-os aos Estados Unidos, Europa Ocidental eao Japo. Como se pode ver no Grfico 10, em meados dos anos1990, os pases BRICS somados eram responsveis por aproximada-mente 8% do total de publicaes em peridicos cientficos interna-cionais indexados, perante 30% da Europa Ocidental como um todo,29% dos Estados Unidos e 7% do Japo. No mbito da Europa Oci-

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    Mundo - 1996

    Europa Ocidental

    Estados Unidos

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    BRICS

    Resto do Mundo

    Grfico 10Participao na Produo de C&T Mundial 1996 (em % do total)

    Fonte: Elaborado pelos autores com dados de SCImago Journal & Country Rank. Disponvel em:. Acesso em: mar. 2015.

  • dental, a produo de conhecimento medida por este indicador era li-derada pelo Reino Unido, seguido pela Alemanha e pela Frana.

    A distribuio relativa da produo cientfica e tecnolgica dosBRICS nesse ano pode ser vista no Grfico 11. Fruto do forte apoiodado rea de C&T no perodo sovitico, a Rssia ainda liderava em1996 o ranking da produo de conhecimento dos BRICS com umtero do seu total, seguido pela China com aproximadamente 30%,ndia com 22%, Brasil com 9%, e, por ltimo, frica do Sul com 5%.

    Como pode ser visto no Grfico 12, mais de quinze anos depois, oquadro da distribuio da produo cientfica e tecnolgica mundialj apresentava mudanas significativas. A produo de conhecimen-to do conjunto dos pases BRICS, medida pelo indicador convencio-nal, mais do que dobrou e j representava, em 2013, uma parcela nafaixa de 25% do total mundial, tendo ultrapassado a participao dosEstados Unidos, que contabilizou 22% do total. A Europa Ocidental

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    BRICS - 1996

    China

    Brasil

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    frica do Sul

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    Grfico 11Participao na Produo de C&T dos BRICS 1996 (em % do total)

    Fonte: Elaborado pelos autores com dados do SCImago Journal & Country Rank. Disponvel em:. Acesso em: mar. 2015.

  • continuava responsvel por uma fatia um pouco maior, embora suaparticipao tenha cado de 30% em 1996 para 29% em 2013. O ran-king da produo cientfica e tecnolgica europeia continuou sendoliderado por Reino Unido, Alemanha e Frana, nessa ordem. J o Ja-po viu sua participao relativa na produo cientfica e tecnolgicamundial cair de aproximadamente 7% para 5% no mesmo perodo.

    A locomotiva do desempenho dos BRICS foi, uma vez mais, aChina. Como pode ser visto no Grfico 13, em 2013 ela foi respons-vel por 66% da produo cientfica e tecnolgica do grupo. Sua parti-cipao na produo mundial de conhecimento saltou de cerca de 2%em 1996 para 14% em quinze anos. O destaque negativo dos BRICSficou por conta da Rssia, que, sob o impacto do desmantelamentodo sistema montado no perodo sovitico, viu sua participao relati-va na produo de C&T do grupo cair de aproximadamente 34% em1996 para 7% em 2013. Apesar de ter aumentado a sua participaona produo mundial de conhecimento, passando de 2% para 4% no

    Luis Fernandes, Ana Garcia e Paula Cruz

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    Mundo - 2013

    Europa Ocidental

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    Resto do Mundo

    Grfico 12Participao na Produo de C&T Mundial 2013 (em % do total)

    Fonte: Elaborado pelos autores com dados do SCImago Journal & Country Rank. Disponvel em:. Acesso em: mar. 2015.

  • mesmo perodo, a participao relativa da ndia na produo dosBRICS tambm caiu, de cerca de 22% para 16%, em funo do de-sempenho extraordinrio da China. Pelo mesmo motivo, o Brasilmanteve praticamente inalterado o tamanho da sua fatia na produodos BRICS, correspondendo a aproximadamente 9% do total. Comdesempenho inferior aos do Brasil e da ndia, a frica do Sul viu suafatia na produo cientfica e tecnolgica do grupo cair de cerca de5% em 1996 para 2% em 2010.

    A evoluo dos gastos em P&D detalhada pelo UNESCO ScienceReport (UNESCO, 2010). Segundo o relatrio mais recente, publica-do em 2010, pases em desenvolvimento como Brasil, Mxico, Chi-na, ndia e frica do Sul tm investido mais em educao e P&D doque anteriormente. A ndia, por exemplo, investiu em trinta novasuniversidades, estimando que seu nmero de estudantes passe decerca de 15 milhes, em 2007, para 21 milhes at 2012. Em algunscasos, o incremento em gastos domsticos com P&D representou um

    Desenvolvimento Desigual na Era do

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    BRICS - 2013

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    frica do SulRssia

    Grfico 13Participao na Produo de C&T dos BRICS 2013 (em % do total)

    Fonte: Elaborado pelos autores com dados do SCImago Journal & Country Rank. Disponvel em:. Acesso em: mar. 2015.

  • corolrio de um forte crescimento econmico, mais do que um refle-xo de maior intensidade no campo de pesquisa e desenvolvimento.Embora os pases emergentes tenham investido na capacitao decientistas e engenheiros, muitos dos graduados desses pases encon-travam dificuldades no mercado de trabalho, levando-os a migrar doSul para o Norte, gerando uma grande sada de pesquisadores qualifi-cados de tais pases (brain drain). Hoje esse processo comea a se re-verter. No caso da China e da ndia, a dispora atua como um pontode partida til para o desenho de polticas de transferncia de tecno-logia mais efetivas e difuso do conhecimento. Os governos hojebuscam medidas para atrair os expatriados para casa. O objetivo in-centivar o uso dos conhecimentos adquiridos no exterior interna-mente, visando provocar mudanas estruturais benficas. Devido expanso econmica e uma melhora no nvel social ocorrida na clas-se mdia destes pases, cada vez mais estrangeiros retornam paracasa. Observamos que, no caso do Brasil, o fenmeno brain drainfoi menos acentuado do que na China e, principalmente, na ndia,uma vez que sempre houve uma tendncia ao retorno de pesquisado-res ao Brasil, resultado de mecanismos de incentivo e fomento, oumesmo de aspectos culturais.

    De acordo com oWorld Intelectual PropertyReport 2011, publicadopela Organizao Mundial da Propriedade Intelectual (OMPI), ageografia da inovao est mudando, apesar dos pases de alta rendaainda dominarem os gastos globais em P&D. Eles realizam aproxi-madamente 70% do total mundial de investimentos, gastando emtorno de 2,5% do seu PIB em P&D. Isso representa mais do que o do-bro da porcentagem dos pases de renda mdia, como os BRICS.Entretanto, os pases de renda mdia e baixa aumentaram em 13%sua participao no gasto global em P&D entre 1993 e 2009. A Chinaresponde por grande parte desse aumento mais de 10% tendo setornado, no ano de 2009, a segunda maior investidora em P&D(WIPO, 2011, p. 6).

    Luis Fernandes, Ana Garcia e Paula Cruz

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    Contexto Internacional (PUC)Vol. 37 no 1 jan/jun 20151 Reviso: 19/03/2015

  • Deve-se observar, entretanto, que as anlises internacionais que uti-lizam como medida de comparao o total de gastos domsticos emP&D como porcentagem do PIB se baseiam nos PIBs de cada pas,que, por sua vez, so extremamente desiguais (por exemplo, o PIB daChina ou dos Estados Unidos em relao ao PIB do Brasil ou da fri-ca do Sul). Assim, o volume por detrs das porcentagens bastantediferenciado. Ademais, em geral, so diferenciadas as fontes de fi-nanciamento s atividades de P&D entre o setor empresarial, gover-nos, instituies de ensino superior, entidades privadas sem fins lu-crativos e fontes provindas do exterior. Para poder melhor compararos pases dos BRICS com os Estados Unidos e a Alemanha, nos ate-remos aqui somente evoluo dos investimentos governamentais eempresariais (Tabela 2),1 alm da evoluo do percentual de gastostotais, em relao ao PIB de cada um desses pases, de 2000 a 2012(Tabela 1).

    Tabela 1Gastos Totais em P&D (% em Relao ao PIB)

    2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012

    frica do Sul 0,73 0,79 0,85 0,9 0,93 0,92 0,93 0,87 0,76

    Brasil 1,06 1,07 1,02 1,01 0,97 1,01 1,00 1,11 1,16 1,15 1,20 1,20 1,24(*)

    China 0,9 0,95 1,07 1,13 1,23 1,32 1,39 1,4 1,47 1,7 1,76 1,84 1,98

    ndia 0,81 0,79 0,77 0,77 0,81 0,88 0,87 0,86 0,89 0,87 0,87(*) 0,88(*)

    Rssia 1,05 1,18 1,25 1,29 1,15 1,07 1,07 1,12 1,04 1,25 1,13 1,09 1,12

    EUA 2,62 2,64 2,55 2,55 2,49 2,51 2,55 2,63 2,77 2,82 2,74 2,76 2,79

    Alemanha 2,47 2,47 2,5 2,54 2,5 2,51 2,54 2,53 2,69 2,82 2,8 2,89 2,92

    (*) Dado estimado.Fonte: Elaborado pelos autores com dados do Unesco Institute of Statistics, disponvel em; Brasil: MCTI Indicadores, disponvel em; ndia: NSTMIS Research and Develop-ment Statistics 2011-2012, disponvel em .Acesso em: mar. 2015

    Na frica do Sul, os investimentos em P&D variaram entre 0,73% deseu PIB em 2001 e 0,93% em 2006, demonstrando de forma evoluti-va um aumento nesses gastos. A partir de 2009, porm, verifica-se

    Desenvolvimento Desigual na Era do

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    233

    Contexto Internacional (PUC)Vol. 37 no 1 jan/jun 20151 Reviso: 19/03/2015

  • Luis Fernandes, Ana Garcia e Paula Cruz

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  • uma ligeira queda nesse percentual, tendo atingido seu valor maisbaixo em 2010: 0,76% do PIB. Embora os gastos totais em P&D nafrica do Sul tenham permanecido entre 0,73% e 0,93% do seu PIB, interessante notar que a mdia desse percentual ao longo do perodoanalisado se aproxima da mdia do percentual apresentado pelandia, onde os recursos aplicados em P&D variaram entre 0,77 e0,89% do seu PIB. No que se refere s fontes de financiamento, ob-serva-se uma tendncia de aumento relativo nos gastos em P&D pro-venientes do governo sul-africano, que passa a superar os investi-mentos empresariais a partir de 2007. Nos anos anteriores, os gastosem P&D foram feitos majoritariamente por empresas, que responde-ram por 55,8% dos dispndios totais em P&D realizados no pas.Esse percentual foi gradualmente caindo, at atingir 42,7% em 2007,e 40,1% em 2010 (contra 45,7% e 44,5% dos gastos governamentais,respectivamente).

    O Brasil investiu, em 2000, 1,06% de seu PIB em P&D. Aps relati-va queda entre 2002 e 2006, esse percentual voltou a subir em 2007,quando os gastos totais em P&D foram de 1,11% do PIB, atingindo1,20% em 2011. A estimativa do governo brasileiro de que essesgastos tenham passado para 1,24% do PIB em 2012. Ao longo detodo o perodo analisado, a maior parte dos investimentos em P&Dno Brasil foi aplicada pelo governo, com exceo dos anos de 2004 e2005, quando os gastos empresariais superaram os governamentais,representando 50,5% e 52,3% do total aplicado, respectivamente. Aparticipao do governo brasileiro nos dispndios totais em P&D nopas evoluiu modestamente de 2000 a 2011, passando de 51,7% para52,9%. A estimativa que esse percentual tenha sido de 54,9% em2012, contra 45,1% investidos pelo setor empresarial.

    Na China, o percentual dos gastos totais em P&D em relao ao PIBdo pas aumentou gradualmente ao longo de todo o perodo analisa-do, tendo passado de 0,9% em 2000 para 1,98% em 2012. Se compa-rado aos demais pases BRICS, interessante notar que, embora a

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    Contexto Internacional (PUC)Vol. 37 no 1 jan/jun 20151 Reviso: 19/03/2015

  • China apresente hoje o percentual mais elevado do grupo, em 2000seu percentual era menor do que os registrado no Brasil e na Rssia,cujos gastos em P&D totalizaram 1,06% e 1,05% dos seus PIBs, res-pectivamente. Em 2002, entretanto, o percentual chins j havia ul-trapassado o brasileiro, finalmente superando o russo em 2004. Ou-tra singularidade da China em relao aos demais BRICS diz respeito principal fonte de financiamento P&D, que na China so as em-presas, e no o governo. Em 2000, elas aplicaram 57,6% dos investi-mentos totais, tendo sido 33,4% aplicados pelo governo chins. Nosanos seguintes, a participao do setor empresarial continuou au-mentando, tendo atingido 74% em 2012.

    Na ndia, os gastos em P&D mantiveram-se relativamente constan-tes ao longo do perodo analisado, tendo passado de 0,81% do seuPIB em 2000 para 0,87% em 2009. O governo indiano estima queesse percentual tenha se mantido inalterado em 2010 e se elevado le-vemente para 0,88% em 2011 (dado mais recente disponvel). Aocontrrio da China e como nos demais BRICS, na ndia os recursosdestinados s atividades de P&D so providos majoritariamente pelogoverno. Contudo, embora os recursos governamentais ainda sejama principal fonte de financiamento P&D, a participao governa-mental vem apresentando queda gradual neste pas, tendo passado de76,8% em 2000 para 65,8% em 2009 (a estimativa de que esse per-centual tenha se reduzido ainda mais, totalizando 64,9% em 2011).

    Na Rssia, por sua vez, a evoluo dos gastos totais em P&D de-monstra oscilaes que variam entre 1,04% e 1,29% do seu PIB. Em2000, esse percentual era de 1,05%, tendo aumentado para 1,25% em2009. Desde 2010, a Rssia demonstra esforar-se para manter os in-vestimentos em P&D acima de 1,10% do seu PIB (1,12% em 2012).A principal fonte de financiamento a este tipo de atividade o prpriogoverno russo, que registrou aumentos contnuos em sua participa-o, se comparada aos investimentos empresariais. Em 2000, os gas-tos governamentais representaram 54,8% do total, tendo atingido

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  • 67,8% em 2012. Vale destacar que, entre os BRICS, a Rssia apre-senta atualmente o maior percentual de gastos governamentais emP&D, sendo seguida pela ndia, Brasil, frica do Sul e, finalmente, aChina.

    Comparando os pases BRICS com a principal potncia mundial, osEstados Unidos, estes investiram 2,62% do seu PIB em P&D em2000, e 2,64% em 2011. Entre 2002 e 2007, essa porcentagem tevequeda, oscilando entre 2,55% em 2002 e 2,63% em 2007. Em 2008,contudo, mesmo em um ano de crise, o pas incrementou seus inves-timentos em P&D como parte de sua poltica anticclica, passando adestinar 2,77% do seu PIB para esse tipo de atividade. O dado maisrecente indica um total de gastos em P&D equivalente a 2,79% doPIB, em 2012. A principal fonte de financiamento a essas atividadesnos Estados Unidos o setor empresarial. Em 2000, as empresas ar-caram com 69% dos investimentos, perante 26,2% aplicados pelogoverno. Nos anos seguintes, embora esse percentual tenha apresen-tado queda relativa, a participao do setor empresarial nos gastos to-tais em P&D continuou maior do que a do governo norte-americano,tendo passado de 67,2% em 2001 para 59,1% em 2012.

    Observamos, assim, que nos Estados Unidos e na China (assim comona Alemanha), o setor empresarial o principal investidor em P&D,provavelmente resultado de um ambiente em que as empresas inves-tem em P&D de modo a melhorar sua competitividade. No Brasil ena frica do Sul, h atualmente um relativo equilbrio entre o investi-mento governamental e empresarial. Na ndia e na Rssia, por outrolado, o investimento predominantemente governamental. Esses di-ferentes patamares de fontes de investimentos em P&D implicamtambm diferentes capacidades dos governos desses pases e de suasempresas de garantir que as inovaes beneficiem suas economias.Nos pases onde h maior envolvimento do setor empresarial em ati-vidades de pesquisa, desenvolvimento e inovao, a propriedade in-telectual torna-se um dos principais mecanismos pelo qual as gran-

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  • des empresas buscam prolongar seu monoplio sobre produtos eprocessos produtivos inovadores. Regimes internacionais de pro-priedade intelectual ajudam a prolongar esse monoplio.

    A posse de propriedade intelectual tornou-se cada vez mais centralpara estratgias de negcios, movendo-se para o primeiro plano daspolticas de inovao. O requerimento de patentes aumentou nomundo todo de 800 mil pedidos nos anos 1980 para mais de 2,5 mi-lhes em 2013 (WIPO, 2011; 2014). Esse aumento ocorreu em dife-rentes momentos, com o Japo, juntamente com os Estados Unidos,impulsionando o aumento nos anos 1980; com a Europa e a Coreia doSul nos anos 1990; e mais recentemente com a China. De acordo coma OMPI, existem muitas causas para esse rpido aumento do patente-amento, incluindo alguns pases e ramos da indstria especficos.Dentre eles, duas foras-chave se destacam: primeiro, a diviso dopatenteamento mundial entre os chamados primeiros registros (no-vas invenes) e registros subsequentes (que so primeiros registrosde novas invenes em pases adicionais). Este ltimo representamais da metade do crescimento de registros nas ltimas duas dca-das, demonstrando que requerentes buscam, cada vez mais, protegersuas patentes no exterior em um nmero maior de pases, em especialno escritrio norte-americano, o USPTO.

    Ao utilizarmos o patenteamento como indicador de inovao, ne-cessrio, porm, distinguir entre (a) um pedido de patente que de-positado por um requerente em um determinado escritrio nacionalou regional, e (b) um registro de patente que concedido pelo escri-trio a um requerente, seja ele estrangeiro ou residente no mesmopas do escritrio. A OMPI rene informaes sobre os pedidos depatentes depositados nos escritrios nacionais, regionais e no exte-rior, alm do total de registros concedidos a residentes e estrangeirospor esses mesmos escritrios. Como nosso objetivo avaliar a evolu-o do patenteamento como indicador de inovao nos BRICS emcomparao s potncias tradicionais, os pedidos e registros de pa-

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  • tentes sero considerados aqui de acordo com a origem dos requeren-tes, de modo a indicar o desempenho inovador de seus respectivospases. Assim, registros concedidos, por exemplo, pelo Instituto Na-cional de Propriedade Intelectual (INPI) a empresas estrangeiras semsede no Brasil no sero considerados indicadores de inovao destepas, apenas os depsitos e registros de seus residentes, seja no Brasilou no exterior.

    Embora os registros de patentes sejam indicadores de inovao maisprecisos pois nos permitem mensurar a quantidade de invenesque, em ltima instncia, foram consideradas inovadoras no contex-to de um determinado territrio , os pedidos de patentes tambm de-vem ser levados em considerao, pois ajudam a mensurar os esfor-os empreendidos no sentido de inovar em cada pas, a cada ano.Assim, h pelo menos dois aspectos principais pelos quais os pedidosde patentes no devem ser menosprezados nas anlises comparativasinternacionais. O primeiro deles refere-se aos custos elevados queenvolvem o processo de patenteamento em todo o mundo. Isso signi-fica que, em geral, os requerentes buscam patentear o que de fatoimaginam ser os resultados positivos de seus esforos em inovao,restringindo consideravelmente a quantidade de depsitos derivadosde pesquisas aleatrias.

    O segundo aspecto, e talvez mais importante para nossa anlise, dizrespeito ao backlog de cada escritrio isto , ao perodo de tempocompreendido entre o depsito de uma solicitao e a concesso dapatente (ou sua negao). No caso do Brasil, por exemplo, esse pro-cesso pode levar at dez anos para ser concludo. Guardadas as devi-das propores, problemas decorrentes do backlog ocorrem nos es-critrios de patentes do mundo todo, incluindo o USPTO. Conse-quentemente, quando se busca analisar a participao relativa decada pas no cenrio de patenteamento mundial num determinadoano, o foco exclusivo nos registros de patentes pode gerar grandesdistores. Por outro lado, a incluso de dados referentes, no apenas

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  • aos registros obtidos, mas tambm aos pedidos de patentes deposita-dos por esses mesmos pases no ano em questo, pode ajudar a traarum cenrio mais preciso das participaes desses pases no quadrogeral de patenteamento mundial.

    Tendo em vista essas consideraes metodolgicas, apresentaremosa seguir a evoluo da participao dos BRICS no total de pedidos eregistros de patentes depositados/concedidos nos anos de 2000 e2013, estabelecendo uma comparao com Estados Unidos, Japo,Unio Europeia e demais pases, bem como entre os prpriosBRICS. Em seguida, apresentaremos a participao dos BRICS nototal de patentes concedidas pelo USPTO nesses mesmos anos.

    Como ilustrado no Grfico 14, o ano 2000 apresenta uma forte parti-cipao do Japo, que depositou 490.776 pedidos de patentes, cor-respondentes a 37% do total mundial de depsitos em escritrios na-

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    Mundo 2000

    Estados Unidos

    JapoUnio Europeia

    Resto do mundo

    BRICS

    Grfico 14Pedidos e Registros de Patentes no Mundo, por Origem do Requerente 2000 (% do total)

    Obs.: Foram considerados os dados referentes aos quinze pases-membros da UE em 2000.Fonte: Elaborado pelos autores com dados do WIPO Statistics Database. Disponvel em: . Acesso em: mar. 2015.

  • cionais e no exterior. Este cenrio tambm apresenta uma significati-va representatividade da Unio Europeia cujos depsitos realiza-dos por residentes de seus pases-membros representaram, juntos,25% do total mundial e dos Estados Unidos, cuja participao atin-giu 21% do total naquele ano. Dos 25% relativos Unio Europeia, aAlemanha se destaca com 134.691 solicitaes, seguida pelo ReinoUnido e Frana, com 46.310 e 45.840 depsitos, respectivamente.No caso das solicitaes oriundas dos pases BRICS, estas represen-taram apenas 5% de todos os pedidos de patentes realizados em2000, totalizando 58.737 solicitaes.

    No mesmo ano, os dados referentes concesso de registros de pa-tentes pelos escritrios nacionais e no exterior confirmam a tendn-cia de concentrao do patenteamento mundial por parte do Japo,Estados Unidos e Unio Europeia vis--vis os BRICS e o resto domundo. Foram mantidos os mesmos percentuais apresentados poresses pases em relao ao total de depsitos, com exceo de umavariao de cinco pontos percentuais entre o Japo e os Estados Uni-dos, que obtiveram, respectivamente, 32% e 26% do total de patentesregistradas naquele ano.

    Entre os BRICS, os dados referentes a 2000 mostram um relativoequilbrio entre os pedidos de patentes depositados por requerentesda China (45% do total) e da Rssia (41% do total) nos seus respecti-vos escritrios nacionais e no exterior (Grfico 15). Em nmeros ab-solutos, o total depositado por esses dois pases foi de, respectiva-mente, 26.445 e 24.093 pedidos. As solicitaes oriundas do Brasil eda ndia representaram 6% e 5% de todos os depsitos realizados porrequerentes residentes nos BRICS, seguidos pela frica do Sul (3%),que protocolou apenas 1.531 pedidos. Por outro lado, no que se refe-re aos registros de patentes, a Rssia se destaca em 2000, tendo con-centrado 63% do total.

    Conforme ilustra o Grfico 16, como seria de se esperar, os EstadosUnidos se destacam como principal beneficirio entre os pases que

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  • lograram registrar patentes pela USPTO, tendo sido contempladocom 55% das patentes concedidas por esse escritrio em 2000. Dife-rentemente dos dados gerais disponibilizadas na OMPI, o USPTOapresenta um cenrio de patenteamento menos equilibrado entre osEstados Unidos e as demais economias centrais. Contra os 55% refe-rentes aos Estados Unidos, Japo e Unio Europeia obtiveram ape-nas 19% e 15% do total de patentes registradas no escritrio nor-te-americano em 2000. Ademais, a participao relativa dos pasesBRICS foi insignificante nesse mbito, contabilizando meros 0,3%do total.

    Entre os prprios BRICS, por outro lado, nota-se certo equilbrio: aRssia e a China lideram com 26% e 23% do total de registros conce-didos aos BRICS, seguidas pela ndia, frica do Sul e Brasil, queapresentam percentuais muito prximos: 18%, para 17% e 16%, res-pectivamente.

    Luis Fernandes, Ana Garcia e Paula Cruz

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    BRICS 2000

    China

    Rssia

    Brasil

    ndia frica do Sul

    Grfico 15Pedidos e Registros de Patentes entre os BRICS, por Origem do Requerente 2000 (% do total)

    Fonte: Elaborado pelos autores com dados do WIPO Statistics Database. Disponvel em: . Acesso em: mar. 2015.

  • Mais de uma dcada depois, em 2013, o cenrio mundial de patentea-mento apresenta uma participao relativa mais equilibrada entre aspotncias centrais no que se refere tanto aos pedidos quanto aos re-gistros de concesso de patentes. Os Estados Unidos passaram frente do Japo e da Unio Europeia, com 501.162 pedidos de paten-tes depositadas (19%). Em seguida, os depsitos oriundos do Japo eda Unio Europeia representam, atualmente, 18% do total mundial,cada. Dos 18% referentes Unio Europeia, a participao da Ale-manha destaca-se novamente, com o maior nmero de solicitaesem 2013 (184.493 depsitos), seguida pela Frana com 71.083 e peloReino Unido, com 51.300 pedidos no total. Entretanto, o grande des-taque do cenrio de patenteamento mundial hoje se refere ao aumen-to expressivo do total de pedidos depositados pelos BRICS, cuja par-ticipao registrou um aumento de vinte e cinco pontos percentuaisem relao a 2000, passando de 5% para 30% em 2013. Em termos

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    Contexto Internacional (PUC)Vol. 37 no 1 jan/jun 20151 Reviso: 19/03/2015

    Resto do

    mundo

    11%

    Estados Unidos

    55%

    Japo

    19%

    Unio Europeia

    15%

    China 23%

    ndia 18%

    Brasil 16%

    f. Sul 17%

    Rssia 26%

    BRICS

    0,3%

    2000

    Grfico 16Registros de Patentes no USPTO, por Origem do Requerente 2000 (% dototal)

    Obs.: Foram considerados os dados referentes aos pases da Unio Europeia conforme discriminadosno relatrio do USPTO: Alemanha, Blgica, Dinamarca, Espanha, Finlndia, Frana, Holanda, Irlanda,Itlia, Luxemburgo, Reino Unido e Sucia.Fonte: Elaborado pelos autores com dados de USPTO (2014).

  • absolutos, os pedidos oriundos dos BRICS contabilizaram 798.130depsitos, sendo a China o principal motor desse crescimento, comoveremos a seguir.

    A participao dos BRICS no total de patentes concedidas em 2013tambm apresenta um aumento significativo de dez pontos percen-tuais em relao ao total registrado em 2000, tendo passado de 5%para 15% do total mundial de registros de patentes que, todavia,permanece dominado pelo Japo, com 29%.

    Como j mencionado, o desempenho recente dos BRICS no patente-amento mundial deve-se, especialmente, China. Os dados mais re-centes disponibilizados pela OMPI registram uma enorme discre-pncia entre este pas e os demais BRICS: a China dominou 92% dospedidos de patentes em 2013, perante 4% da Rssia, 3% da ndia, 1%do Brasil e menos de 1% da frica do Sul. Embora o percentual chi-

    Luis Fernandes, Ana Garcia e Paula Cruz

    244 CONTEXTO INTERNACIONAL vol. 37, no 1, janeiro/abril 2015

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    18

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    Mundo 2013

    Estados Unidos

    Japo

    Unio Europeia

    Resto do mundo

    BRICS

    Grfico 17Pedidos e Registros de Patentes no Mundo, por origem do Requerente 2013 (% do total)

    Obs.: Foram considerados os dados referentes aos quinze pases-membros da UE em 2000.Fonte: Elaborado pelos autores com dados do WIPO Statistics Database. Disponvel em: . Acesso em: mar. 2015.

  • ns seja um pouco menor no que diz respeito ao total de patentes obti-das pelos BRICS em 2013, essa concentrao tambm verificada: aChina obteve sozinha 83% desses registros, contra aproximadamen-

    te 13% da Rssia, 2% da ndia e 1% do Brasil e frica do Sul.

    No USPTO, os Estados Unidos ainda dominam os registros de paten-

    tes, os quais foram contemplados com quase a metade do total das pa-

    tentes concedidas por esse escritrio em 2013. Entretanto, se compa-

    rado aos dados de 2000, nota-se uma relativa queda no valor de seispontos percentuais na sua participao, que foi de 49% em 2013,contra 55% em 2000. As posies do Japo e da Unio Europeia per-

    maneceram praticamente inalteradas; entretanto, verifica-se diminu-

    io de um ponto percentual em relao aos valores de 2000: em2013, o Japo e a Unio Europeia obtiveram, respectivamente, 18% e14% do total de patentes registradas pelo escritrio norte-americano.

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    BRICS 2013

    China

    Rssia

    Brasil ndia

    frica do Sul

    Grfico 18Pedidos e Registros de Patentes entre os BRICS, por Origem do Requerente 2013 (% do total)

    Fonte: Elaborado pelos autores com dados do WIPO Statistics Database. Disponvel em: . Acesso em: mar. 2015.

  • Embora a participao dos BRICS ainda seja bastante tmida noUSPTO, observa-se um crescimento relativo de 0,3% em 2000 para2% em 2013. Destes, a expressa maioria refere-se s patentes conce-didas a requerentes da China cujos registros passaram de 23% dototal concedido aos BRICS em 2000, para 66% em 2013 , tendo su-perado a Rssia, que em 2000 obteve o maior nmero de patentes en-tre os demais BRICS. Alm do crescimento expressivo da China de43 pontos percentuais, a ndia tambm se destaca atualmente, tendocontabilizado, em 2013, um quarto do total de registros concedidosaos BRICS (25%). Atualmente, um maior equilbrio observado en-tre Rssia, Brasil e frica do Sul, que lograram registrar, respectiva-mente, 4%, 3% e 2% do total dos BRICS em 2013.

    Por meio dessa anlise comparada dos dados disponibilizados pelaOMPI, podemos concluir, portanto, que os escritrios nacionais fo-

    Luis Fernandes, Ana Garcia e Paula Cruz

    246 CONTEXTO INTERNACIONAL vol. 37, no 1, janeiro/abril 2015

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    Resto do mundo

    16%

    Estados Unidos

    49%

    Japo

    18%

    Unio

    Europeia

    14% China 66%

    ndia 25%

    Brasil 3%

    f.Sul 2%

    Rssia 4%

    BRICS 3%

    2013

    Grfico 19Registros de Patentes no USPTO, por Origem do Requerente 2013 (% dototal)

    Obs.: Foram considerados os dados referentes aos pases da UE discriminados no relatrio doUSPTO: Alemanha, Blgica, Dinamarca, Espanha, Finlndia, Frana, Holanda, Irlanda, Itlia, Luxem-burgo, Reino Unido e Sucia.Fonte: Elaborado pelos autores com dados do USPTO (2014).

  • ram mais receptivos inovao local. Os BRICS demonstram umcrescimento expressivo de sua participao nos depsitos mundiais,e um crescimento significativo tambm no que se refere aos regis-tros. Essa tendncia verificada com menos fora no escritrio nor-te-americano, apesar de esse ainda ser considerado o principal rgoque garante a proteo da propriedade intelectual no mundo. Os da-dos do USPTO demonstram, assim, com maior clareza a desigualda-de entre as potncias tradicionais (e seu setor empresarial) e os pasesem desenvolvimento, de um modo geral. Visto que o registro noUSPTO custoso e de difcil acesso para empresas e instituies depesquisa de fora dos Estados Unidos, especialmente as oriundasde pases em desenvolvimento, os direitos de propriedade intelectual(e, com ele, o controle sobre novas tecnologias e produtos industriaisinovadores no mercado mundial) permanece em mos dos pasesatualmente desenvolvidos. Reproduz-se, desse modo, a desigualda-de no sistema internacional.

    Verifica-se, contudo, que principalmente a China vem buscando rom-per esse desequilbrio. Ela vem mostrando, ao longo dos ltimos trezeanos, um salto no registro de patentes, que reflete seu maior empenhono mbito da inovao. Conforme mostra a Tabela 3, em comparao

    Desenvolvimento Desigual na Era do

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    Contexto Internacional (PUC)Vol. 37 no 1 jan/jun 20151 Reviso: 19/03/2015

    Tabela 3Total de Pedidos e Registros de Patentes, por Origem do Requerente 2013(Unidades)

    Total de patentes

    requeridas

    Total de patentes

    obtidas

    Total de registros de

    patentes no USPTO

    China 732.096 154.489 6.597Estados Unidos 501.162 243.986 147.666

    Japo 473.141 340.303 54.170Alemanha 184.493 81.635 16.605

    Frana 71.083 43.060 6.555Reino Unido 51.300 20.941 6.551

    Fonte: Elaborao dos autores com dados do WIPO Statistics Database (disponvel em: . Acesso em: mar. 2015) e USPTO (2014).

  • com os pases centrais, os dados disponibilizados pela OMPI indicamque a China j apresenta um volume de patentes requeridas e obtidasque, em 2013, ultrapassaram os totais contabilizados por algumas dasmais importantes economias centrais, como a Alemanha, a Frana e oReino Unido. Os dados do USPTO confirmam a posio da China en-tre os pases que mais lograram registrar patentes no escritrio nor-te-americano no ano de 2013, estando atualmente um pouco frenteda Frana e Reino Unido tambm nesse mbito.

    Segundo os dados mais recentes disponibilizados pelo escritrio na-cional de propriedade intelectual da China, o State Intellectual Pro-perty Office (SIPO), 2.377.000 pedidos de patentes foram deposita-dos no SIPO em 2013. Do total de pedidos de patentes de inveno, amaior parte foi depositada por atores domsticos, 85,5%, contra14,5% protocolados por atores de fora do pas. Entre estes, o Japo,os Estados Unidos e a Alemanha foram responsveis pela maior par-te dos depsitos estrangeiros no escritrio chins em 2013. No quetoca aos pedidos de patentes de inveno domsticos, o setor indus-trial responde pela maior parcela, seguido por universidades e insti-tutos de pesquisa cientfica: em 2013, as empresas contabilizaram74,8% desse total, enquanto 17,1% e 6,5% foram depositadas, res-pectivamente, por universidades e institutos de pesquisa cientfica(outras instituies e organizaes contabilizaram 1,6%) (SIPO,2013, p. 38-39).

    Os dados referentes aos registros de patentes concedidos pelo SIPO noano de 2013 confirmam essas tendncias: do total de patentes de in-veno concedidas, a prpria China foi a maior contemplada com69,2% do total, contra 30,8% concedidos a requerentes estrangeiros.Entre as patentes de inveno concedidas no mbito domstico, 63%foram obtidas pelo setor empresarial, seguido por universidades(26%) e institutos de pesquisa cientfica (9,4%) (outras instituies eorganizaes contabilizaram, novamente, 1,6% do total) (SIPO, 2013,p. 43). importante ressaltar, entretanto, que o volume expressivo de

    Luis Fernandes, Ana Garcia e Paula Cruz

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  • pedidos e registros de patentes de inveno na China pelo setor indus-trial resultado tanto da participao de empresas nacionais chinesas,quanto de centros de P&D de multinacionais instaladas no pas.

    Consideraes Finais

    Os dados aqui analisados nos permitem observar, em um marco geral,alguns dos determinantes de mudanas na ordem mundial. Vimos queos pases que compem os BRICS vm se tornando novos polos eco-nmicos dinmicos por meio do deslocamento de atividades industria-is, investimento e riqueza dos pases centrais para as zonas perifricas.Desde meados do sculo XX, no perodo ps-Segunda Guerra Mundi-al, observamos o crescimento do PIB/PPC dos pases dos BRICS pe-rante os Estados Unidos, a Europa Ocidental e o Japo, deteriorandosomente parcialmente a posio de poder dessas potncias tradicionaisatravs do processo do desenvolvimento desigual. O salto de cresci-mento dos pases BRICS foi acompanhado pelo salto, mais lento e gra-dual, da produo cientfica nesses pases. Constatamos que houve umaumento da participao de pesquisadores desses pases com artigos etrabalhos em publicaes internacionais indexadas. Acrescentado aisso, mostramos aqui um relativo aumento, ainda mais lento, do inves-timento desses pases em P&D e o aumento significativo de sua parti-cipao no patenteamento mundial.

    Esses dados agregados nos mostram trs tempos do desenvolvi-mento desigual. No que se refere ao dinamismo econmico e ao des-locamento de atividades industriais e investimentos para os BRICS,as mudanas se do em tempo mais acelerado, resultando no rpido esignificativo crescimento do PIB/PPC desses pases nas ltimas d-cadas. A capacidade dos BRICS de produo cientfica, exemplifica-da nos dados sobre o aumento da participao desses pases em pu-blicaes cientficas indexadas, acompanha, em alguma medida, seucrescimento, porm em um ritmo mais lento. J os pedidos e registrosde patentes, como indicadores de inovao, nos mostram que a desi-

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  • gualdade entre os BRICS e as potncias tradicionais ainda acentua-da, e no acompanha o tempo acelerado de seu crescimento econ-mico. Aparentemente, a China vem conseguindo incorporar a inova-o como pilar de seu crescimento econmico, ao observarmos seuaumento considervel em relao ao total de pedidos e registros depatentes no mundo, j tendo superado importantes pases centrais,como a Frana e o Reino Unido. Atentamos, assim, para a necessida-de dos BRICS de incorporar a pesquisa, desenvolvimento e inovaoem seu crescimento econmico, se quiserem torn-lo qualitativo esustentado no longo prazo, com impactos sobre as posies de poderdesses pases na ordem mundial.

    Nota

    1. Devido escolha metodolgica de contrastar aqui somente os gastos emP&D oriundos dos governos e setores empresariais (excluindo-se, portanto, osgastos provenientes diretamente de instituies de ensino superior, setor priva-do sem fins lucrativos e exterior), o somatrio das porcentagens na Tabela 2 noequivale, necessariamente, a 100. Ademais, vale ressaltar que, devido a diferen-as conceituais na coleta de dados de cada pas, pode haver diferenas na com-parao entre pases quanto aos percentuais atribudos a cada fonte de financia-mento. Exemplo disso so os gastos oriundos de empresas estatais, que no Bra-sil so includos nos gastos totais do setor empresarial, enquanto na ndia inte-gram os gastos governamentais.

    Referncias

    Bibliogrficas

    CHANG, Ha-Joon. Chutando a escada: a estratgia do desenvolvimento emperspectiva histrica. So Paulo: Editora Unesp, 2002.

    Luis Fernandes, Ana Garcia e Paula Cruz

    250 CONTEXTO INTERNACIONAL vol. 37, no 1, janeiro/abril 2015

    Contexto Internacional (PUC)Vol. 37 no 1 jan/jun 20151 Reviso: 19/03/2015

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    Resumo

    Desenvolvimento Desigual na Era

    do Conhecimento: A Participao

    dos BRICS na Produo Cientfica

    e Tecnolgica Mundial

    O relativo declnio econmico das atuais potncias na geoeconomia mun-dial acentuou a noo de que estamos em meio a um processo de mudana,

    Desenvolvimento Desigual na Era do

    Conhecimento: A Participao dos BRICS...

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    Contexto Internacional (PUC)Vol. 37 no 1 jan/jun 20151 Reviso: 19/03/2015

  • com a ascenso das chamadas economias emergentes, conhecidas peloacrnimo BRICS. Quais so os determinantes de um desenvolvimento dife-renciado dos BRICS frente s potncias centrais, aos demais pases perifri-cos, e entre os prprios integrantes do grupo? O seu ritmo de desenvolvi-mento sustentado no longo prazo? Quais so os seus entraves e o impactoda sua ascenso para a governana econmica global? Partimos da premissade que, na era do conhecimento, cincia, tecnologia e inovao (CT&I) tmimportncia estratgica no processo de desenvolvimento qualitativo e sus-tentado de longo prazo dos pases. Este artigo examina o processo de con-centrao e difuso da produo de riqueza mundial em termos do PIB/Po-der Paritrio de Compra ao longo do sculo XX e incio do sculo XXI, veri-ficando em que medida ele foi acompanhado na evoluo da produo cien-tfica e tecnolgica mundial. Apontamos que, ao aumento relativo da parti-cipao das potncias emergentes no PIB/PPC mundial, segue-se, com de-lay e ritmos distintos, o incremento na participao desses pases na produ-o e deteno de conhecimento. Esta ltima dimenso a da proteo dedireitos de propriedade sobre o conhecimento gerado, a partir de processosde patenteamento continua altamente concentrada nas potncias centrais,especialmente nos Estados Unidos, apesar de significativos avanos naseconomias emergentes, especialmente na China.

    Palavras-chave: Desenvolvimento Desigual BRICS CT&I

    Abstract

    Uneven Development: BRICS

    Countries Participation in World

    Scientific and Technological

    Production

    The relative economic decline of the current powers in the worldgeoeconomy stressed the notion that we are in the midst of a process ofchange, particularly marked by the rise of the so-called emergingeconomies, known by the acronym BRICS. What are the determinants ofdifferential development of the BRICS vis--vis the traditional powers,other peripheral countries, and among the members of the groupthemselves? Is the pace of their development sustained in the long run?What are the barriers, as well as the impact of their rise to global economicgovernance? We start from the premise that science, technology andinnovation (ST&I) have strategic importance in the long-term qualitativeand sustained development of nations. Thus, this article aims to

    Luis Fernandes, Ana Garcia e Paula Cruz

    252 CONTEXTO INTERNACIONAL vol. 37, no 1, janeiro/abril 2015

    Contexto Internacional (PUC)Vol. 37 no 1 jan/jun 20151 Reviso: 19/03/2015

  • demonstrate the process of concentration and diffusion of the globalproduction of wealth in terms of GDP/Purchasing Power Parity throughoutthe twentieth century and early twenty-first century, while indicating towhat extent it was whether or not accompanied by the global production ofscientific and technological knowledge. We conclude that the relativeincrease in the participation of the emerging powers in the world GDP/PPPfollows, with delay and different paces, the increase in the participation ofthese countries in the production and possession of knowledge. This latterdimensioni.e. the property rights protection on knowledge, whichfollows patenting processesremains highly concentrated in the centralpowers, especially the United States, despite significant advances inemerging economies, particularly China.

    Keywords: Uneven Development BRICS ST&I

    Desenvolvimento Desigual na Era do

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