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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ BRUNA BONI CULTURA ORGANIZACIONAL DA EMPRESA AGRO INDUSTRIAL SÃO LUIZ LTDA.: UM ESTUDO EXPLORATÓRIO Balneário Camboriú 2009

Cultura Organizacional da empresa Agro Industrial São Luiz

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Page 1: Cultura Organizacional da empresa Agro Industrial São Luiz

UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ

BRUNA BONI

CULTURA ORGANIZACIONAL DA EMPRESA AGRO INDUSTRIAL S ÃO LUIZ

LTDA.: UM ESTUDO EXPLORATÓRIO

Balneário Camboriú

2009

Page 2: Cultura Organizacional da empresa Agro Industrial São Luiz

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BRUNA BONI

CULTURA ORGANIZACIONAL DA EMPRESA AGRO INDUSTRIAL S ÃO LUIZ

LTDA.: UM ESTUDO EXPLORATÓRIO

Monografia apresentada como requisito parcial para a obtenção do título de Bacharel em Administração – Habilitação em Marketing, na Universidade do Vale do Itajaí, Centro de Ciências Sociais Aplicadas – Gestão. Orientador: Prof. Dr. Flávio Ramos

Balneário Camboriú

2009

Page 3: Cultura Organizacional da empresa Agro Industrial São Luiz

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BRUNA BONI

CULTURA ORGANIZACIONAL DA EMPRESA AGRO INDUSTRIAL S ÃO LUIZ

LTDA.: UM ESTUDO EXPLORATÓRIO

Esta Monografia foi julgada adequada para a obtenção do título de Bacharel em

Administração e aprovada pelo Curso de Administração – Habilitação em Marketing

da Universidade do Vale do Itajaí, Centro de Ciências Sociais Aplicadas – Gestão.

Área de Concentração: Ciências Sociais Aplicadas

Sub-Área: Administração de Empresas

Balneário Camboriú, 26 de novembro de 2009.

_________________________________

Prof. Dr. Flávio Ramos

Orientador

___________________________________

Prof. MSc. Ivann Carlos Lago

Avaliador

___________________________________

Prof. MSc. Osmundo Moysa Saraiva Junior

Avaliador (a)

Page 4: Cultura Organizacional da empresa Agro Industrial São Luiz

4

EQUIPE TÉCNICA

Estagiário (a): Bruna Boni

Área de Estágio: Administrativo

Professor Responsável pelos Estágios: Lorena Schröder

Supervisor da Empresa: Marilia Fátima Nora Boni.

Professor (a) orientador (a): Flávio Ramos

Page 5: Cultura Organizacional da empresa Agro Industrial São Luiz

5

DADOS DA EMPRESA

Razão Social: Agro Industrial São Luiz Ltda.

Endereço: Rua 1101, número: 60, sala 113 – Balneário Camboriú (SC).

Setor de Desenvolvimento do Estágio: Administrativo

Duração do Estágio: 240 horas

Nome e Cargo do Supervisor da Empresa: Marilia Fátima Nora Boni – Gerente

Financeiro.

Carimbo do CNPJ da Empresa: 95.865.572/0001-40

Page 6: Cultura Organizacional da empresa Agro Industrial São Luiz

6

AUTORIZAÇÃO DA EMPRESA

Balneário Camboriú, 26 de novembro de 2009.

A Empresa Agro Industrial São Luiz Ltda ., pelo presente instrumento, autoriza a

Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI, a divulgar os dados do Relatório de

Conclusão de Estágio executado durante o Estágio Curricular Obrigatório, pela

acadêmica Bruna Boni.

___________________________________

Responsável pela Empresa

Page 7: Cultura Organizacional da empresa Agro Industrial São Luiz

7

“Julgar pode ser contraditório,

conhecer é o começo, tentar

entender é sábio”.

A autora.

Page 8: Cultura Organizacional da empresa Agro Industrial São Luiz

8

AGRADECIMENTOS

Á Deus, pela oportunidade.

A Marilia e Luiz, meus Pais, pelo incentivo.

Ao professor Flávio, meu Orientador, pelo

conhecimento e dedicação.

Aos funcionários da empresa Agro Industrial

São Luiz Ltda. pela participação na pesquisa,

E aos meus colegas, pelo apoio e a amizade

durante todos esses anos.

Page 9: Cultura Organizacional da empresa Agro Industrial São Luiz

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RESUMO

O tema cultura organizacional, que emergiu nos estudos organizacionais na década de 1990, ainda proporciona grandes discussões do ponto de vista conceitual. O objetivo deste trabalho é analisar, apesar das limitações em pesquisas do gênero, aspectos visíveis da cultura organizacional da empresa Agro Industrial São Luiz Ltda., para que alguns indícios da cultura no ambiente organizacional da empresa objeto de estudo sejam conhecidos e explorados. Esta pesquisa busca, portanto, descrever as ações, percepções dos trabalhadores, bem como algumas crenças e valores da empresa Agro Industrial São Luiz Ltda. A principal preocupação teórica foi descobrir um “conjunto de valores” que sinalizam formas de compartilhamento entre os indivíduos na organização, sem a preocupação de manipular ou apresentar “fórmulas” que permitam o “gerenciamento” da cultura. Grande parte da literatura apresenta a cultura como um ativo manipulável e de caráter instrumental, mas estudos recentes defendem a abordagem interpretativa da cultura organizacional e mostram que a cultura deve ser analisada ao invés de ser imposta. A pesquisa, configurada como exploratória, abordou aspectos qualitativos e quantitativos envolvendo a compreensão de executivos e funcionários sobre aspectos da cultura organizacional da empresa Agro Industrial São Luiz Ltda.

Palavras-chave: Cultura. Valores Organizacionais. Comportamento.

Page 10: Cultura Organizacional da empresa Agro Industrial São Luiz

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ABSTRACT

The topic of organizational culture, which emerged from the field organizational studies in the 1990ies, still raises a lot of questions from the conceptual point of view. The purpose of this study is to analyse, despite the limitations of this kind of research, visible aspects of the corporate culture of the Agro Industrial São Luiz Company, in order to establish and explore indicators of the said company’s corporate culture. Therefore, this study aims to describe the actions and perceptions of the workforce, as well as beliefs and values of the Agro Industrial São Luiz Company. The main theoretical concern was to find a “body of values” signalizing formes of exchange between the individuals within the organization, without trying to manipulate or present “formulas” that allow for the culture’s “management”. A great part of the literature presents culture as a manipulable active with an instrumental character, but recent studies defend the interpretative approach to organizational culture and show that culture should be analysed instead of imposed. The exploratory research approached qualitative and quantitative aspects, involving Senior managers’ and employees’ understanding of aspects of the organizational culture of the Agro Industrial São Luiz Company.

Keywords: Culture. Organizational values. Behavior.

Page 11: Cultura Organizacional da empresa Agro Industrial São Luiz

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LISTA DE FIGURAS

Figura 01: Localização das filiais .............................................................................. 19

Figura 02: Vista de cima da unidade de Paranaguá ................................................. 20

Figura 03: Caminhões passando pela balança. ....................................................... 21

Figura 04: Funcionário na fábrica. ............................................................................ 21

Figura 05: Funcionários no escritório de Balneário Camboriú. ................................. 22

Figura 06: Funcionárias no escritório de Balneário Camboriú. ................................. 22

Figura 07: Funcionárias na filial em Xanxerê. .......................................................... 23

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LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 01: Excelência do ambiente físico de trabalho. ........................................... 54

Gráfico 02: Orientações necessárias para execução das atividades. ...................... 55

Gráfico 03: Excelência da comunicação entre os funcionários. ............................... 56

Gráfico 04: Relacionamento entre funcionários. ...................................................... 57

Gráfico 05: A sinergia dos funcionários em relação aos objetivos da empresa. ...... 58

Gráfico 06: O entendimento dos valores pelos funcionários. ................................... 59

Gráfico 07: A crença e compatibilidade dos valores na organização. ..................... 60

Gráfico 08 : A liberdade para opinar e participar das decisões que envolvem o

trabalho .................................................................................................................... .61

Page 13: Cultura Organizacional da empresa Agro Industrial São Luiz

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 14

1.1 Introdução ao tema ............................ ............................................................... 14

1.2 Contexto do ambiente de estágio ............... ..................................................... 18

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ........................... .................................................. 25

2.1 As diferentes abordagens envolvendo o conceito de Cultura Organizacional

.................................................................................................................................. 25

2.2 Cultura organizacional, evolução do conceito e o discurso gerencialista .. 34

3 METODOLOGIA ..................................... ............................................................... 39

3.1 Tipologia de pesquisa ........................ .............................................................. 39

4 RESULTADOS ...................................... ................................................................. 44

4.1 Percepções das pessoas no ambiente organizacion al ................................. 44

4.2 Resultados quantitativos da pesquisa .......... .................................................. 53

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................ ....................................................... 62

REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 66

APÊNDICES ............................................................................................................. 68

Page 14: Cultura Organizacional da empresa Agro Industrial São Luiz

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1 INTRODUÇÃO

1.1 Introdução ao tema 1

O tema cultura organizacional, que emergiu nos estudos organizacionais em meados

da década de oitenta, ainda proporciona grandes discussões do ponto de vista

conceitual. Há divergências na utilização do conceito, pois o mesmo é utilizado

muitas vezes a partir de uma perspectiva utilitarista como se a gestão da cultura

fosse mais uma ferramenta de gestão à disposição dos administradores

organizacionais (BARBOSA, 2002).

Segundo Barbosa (2001; 2002), os administradores confundem o conceito de cultura

organizacional com cultura corporativa ou cultura empresarial, algo bem distinto da

abordagem clássica das ciências sociais envolvendo o próprio conceito de cultura.

Contudo, percebe-se que o tema desperta pouca atenção acadêmica e muita reação

adversa. Barbosa (2002) afirma que a lógica pragmática que permeia o universo

organizacional e a maneira de se empregar o conceito de cultura incomoda muitos

antropólogos, pois estes julgam perdidos anos de refinamento e de complexidade

conceitual.

Há uma abundância de pesquisas sobre sistemas produtivos e seus atores:

funcionários e trabalhadores, mas por outro lado nos defrontamos com uma quase

ausência de pesquisa sobre o mundo organizacional das sociedades capitalistas. A

sociologia do trabalho sempre valorizou as relações conflituosas entre capital e

trabalho e deixou de contemplar as especificidades das organizações, como se esse

fosse um tema menor (BARBOSA, 2002; SAINSAULIEU e KIRSCHNER, 2006).

O tema da cultura organizacional e corporativa se tornou uma grande reflexão para

gerentes corporativos dos mais diferentes níveis. Barbosa (2002) e Freitas (2007)

reforçam a importância em refletir sobre cultura na atualidade, mesmo porque as

1 A definição do tema consiste na designação do problema prático e da área de conhecimento a ser abordada. Quando definido, o tema é utilizado como “peça-chave” de identificação e de seleção de áreas de conhecimento disponível para a pesquisa. Se o tema não interessa aos pesquisadores, o trabalho não será levado a sério e eles não desempenharão seu papel com qualidade (THIOLLENT, 1998).

Page 15: Cultura Organizacional da empresa Agro Industrial São Luiz

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sociedades contemporâneas apresentam características plurais e dificilmente pode-

se imaginar unicidade em termos culturais. As organizações no mundo

contemporâneo fazem parte de um contexto em que o universo social e político

apresenta-se mutável e flexível. Poucas pessoas conseguem entender e controlar,

da forma como julgaram fazê-lo anteriormente, as ações e estratégias no mundo das

organizações. As incertezas prevalecem no mundo contemporâneo, em face das

grandes transformações que ocorrem de forma global a partir da década de 1980.

Para autores como Bauman (2001), o mundo parece estar sem controle, ao contrário

da era moderna, em que as instituições proporcionavam algumas garantias básicas.

Esse contexto global de incertezas e a falta de previsibilidade sobre o futuro, como

não poderia deixar de ser, repercutem no mundo das organizações.

Autores como Martin e Frost (2001, p. 223) ressaltam as diferentes perspectivas que

contemplam o tema, e abordam, de forma crítica, a perspectiva prescritiva da cultura

organizacional compreendida, por alguns autores funcionalistas, como uma “[...]

chave para o sucesso financeiro das corporações”.

O tema deste trabalho, portanto, aborda um dos conceitos mais fluidos da teoria

contemporânea, algo não consensual e objeto de inúmeras abordagens teóricas.

Faz-se necessário a distinção das abordagens funcionalistas e interpretativas, bem

como a interpretação de cada uma delas. A evolução da cultura, bem como outros

aspectos de importância acadêmica, é abordada no trabalho, utilizando-se autores

contemporâneos que se dedicam ao tema proposto.

O objetivo deste trabalho é analisar, apesar das limitações em pesquisas do gênero,

aspectos visíveis da cultura organizacional da empresa Agro Industrial São Luiz

Ltda., para que alguns indícios da cultura no ambiente organizacional da empresa

objeto de estudo sejam conhecidos e explorados. Afinal, como aborda Schein (2007,

p. 12), neste campo de estudo, “[...] ainda não estamos no estágio de fazer

hipóteses rigorosas, e talvez nunca estejamos”. Os estudos envolvendo cultura

organizacional são pretensiosos na busca pela compreensão de algo que talvez não

possa ser descrito com a objetividade pretendida.

Page 16: Cultura Organizacional da empresa Agro Industrial São Luiz

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Os objetivos específicos da pesquisa envolvem:

• Identificar procedimentos visíveis envolvendo o clima da empresa;

• Analisar filosofias de trabalho, comportamentos e atitudes dos indivíduos na

empresa pesquisada;

• Identificar valores, sentimentos e percepções das pessoas no âmbito da

organização.

O objetivo geral desta pesquisa é, portanto, descrever as ações e algumas crenças e

valores da empresa Agro Industrial São Luiz Ltda., mesmo porque, em grande parte

das organizações, esses valores não são nem ao menos reconhecidos pelos

funcionários. Independente dessas considerações iniciais, as organizações

adquirem uma identidade, percebidas ou não pelas pessoas. Segundo Marras

(2000, p. 289), “[...] toda a organização possui uma cultura própria que a identifica e

que forma o conjunto que realça os seus costumes – seu way of life –, suas crenças

e seus valores”.

O problema de pesquisa estabelecido para esse trabalho, ou seja, a principal

preocupação teórica foi descobrir “conjunto de valores” que sinalizam formas de

compartilhamento entre os indivíduos na organização, sem a preocupação de

manipular ou apresentar “fórmulas” que permitam o “gerenciamento” da cultura. A

abordagem deste trabalho, portanto, é mais compreensiva e interpretativa do que

intervencionista ou prescritiva.

Segundo Thiollent (1998, p. 53) “[...] na pesquisa científica, o problema ideal pode

remeter à constatação de um fato real que não seja adequadamente explicado pelo

conhecimento disponível”.

Marras (2000), por exemplo, ressalta as especificidades de cada organização:

Ao tratarmos dos indivíduos dizemos que cada pessoa tem a sua própria cultura e a sua própria personalidade, características que os diferenciam dos demais. Nas organizações é possível traçar uma analogia com os indivíduos, já que cada empresa tem a sua própria cultura e a sua própria sintalidade, que as torna igualmente diferenciadas das demais (MARRAS, 2000, p. 289).

Page 17: Cultura Organizacional da empresa Agro Industrial São Luiz

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Conhecer a cultura de uma organização, ou tentar desvendar essa mesma cultura

implica, de acordo com Barbosa (2002, p. 142) “[...] um trabalho de mapeamento e

não de enunciação”.

Estudos envolvendo aspectos da cultura no ambiente organizacional são publicados

com freqüência nos periódicos brasileiros. No entanto, esses estudos contemplam,

na maioria das vezes, grandes empresas. O presente trabalho pretende privilegiar

uma empresa de médio porte com características regionais. Desta forma, justifica-se

a pesquisa justamente para preencher tal lacuna nos estudos sobre cultura

organizacional, pois há poucas pesquisas no Brasil voltadas às pequenas e médias

empresas com o tema "cultura organizacional".

Ao tratar-se desses aspectos visíveis da organização, fatores como clima

organizacional são igualmente importantes, embora o conceito de clima

organizacional seja menos abrangente do que o conceito de cultura organizacional.

Desta forma, sempre há alguma relação, nem sempre nítida, entre cultura e clima. O

clima organizacional, portanto, é importante e merece atenção, mas não pode ser

confundido com cultura. No entanto, questões sobre o envolvimento do funcionário,

relacionamento no trabalho e comunicação no ambiente da empresa, apesar de

apresentarem semelhanças com pesquisas de clima, contribuem bastante para

sinalizar aspectos visíveis da cultura organizacional (SCHEIN, 2007).

A empresa a ser estudada é a Agro Industrial São Luiz Ltda., uma empresa familiar

que atua no ramo de fertilizantes, na compra e venda de cereais e também na área

agrícola e pecuária. A empresa iniciou suas atividades no dia 25 de março de 1993,

tem como nome fantasia: “Fertilizantes Agriter”, e sua matriz hoje está situada na

cidade de Balneário Camboriú – SC.

A pesquisa foi realizada em duas etapas. Em um primeiro momento, foram

entrevistadas as seis pessoas mais experientes na empresa, incluindo o proprietário,

principal executivo. Essa primeira etapa qualitativa foi realizada com utilização de

aparelho gravador e assim foi possível obter as citações diretas dos entrevistados e

fazer uma boa análise das opiniões dos mesmos sobre a percepção sobre o tema

Page 18: Cultura Organizacional da empresa Agro Industrial São Luiz

18

cultura organizacional. A segunda parte da pesquisa foi quantitativa, aonde através

de um formulário constituído por oito questões sobre a cultura da empresa Agro

Industrial São Luiz Ltda., e a pesquisadora aplicou-o com (25) vinte e cinco

funcionários da organização.

A intenção da pesquisa foi, portanto, compreender melhor aspectos da cultura da

empresa, identificando o que os funcionários e gestores pensam a respeito dos

valores do seu ambiente de trabalho e como percebem esses mesmos valores.

1.2 Contexto do ambiente de estágio

O fundador da empresa Agro Industrial São Luiz Ltda. começou suas atividades no

mercado de produtos agrícolas em 1977, Luiz Alberto Boni deu início a empresa em

1993, na cidade de Paranaguá - PR.

A escolha de Paranaguá se deve pela sua proximidade ao porto, uma localização

estratégica, trazendo grandes benefícios para a empresa, como rapidez no

recebimento da matéria-prima e facilidade para o escoamento para os estados de

Santa Catarina, Paraná, Mato Grosso e Goiás, por se tratar de grandes centros

produtores nacionais. O Porto de Paranaguá permite, por sua localização, uma

perfeita combinação para a exportação de cereais e a importação de fertilizantes.

Desde a sua fundação, a empresa contava com a Matriz em Paranaguá, porém, em

2006, transferiu sua sede para Balneário Camboriú - SC, com o objetivo de

centralizar os serviços administrativos, contábeis e financeiros.

A prestação de serviço da empresa consiste no fornecimento de insumos agrícolas e

assistência técnica aos produtores de feijão, tomate industrial, ervilha, algodão,

milho grão, milho verde industrial, arroz, trigo e soja. Com isto, está contribuindo,

não somente para uma maior oferta de alimentos no contexto mundial, mas, também

para atender a crescente demanda interna.

A empresa Agro Industrial São Luiz Ltda. utiliza comercialmente a marca AGRITER,

tradicional no mercado de sementes de cereais e fertilizantes. A empresa possui

Page 19: Cultura Organizacional da empresa Agro Industrial São Luiz

19

quatro filiais, além da matriz em Balneário Camboriú, atuando em locais onde

consegue estar próximo de seus clientes.

A seguir, pode-se observar o mapa de localização das filiais.

Figura 01: Localização das filiais. Fonte: Arquivos da empresa Agro Industrial São Luiz Ltda, 2009.

A equipe de funcionários da empresa é bem diferenciada quanto ao tempo de

trabalho dos empregados na organização, pois possui funcionários que estão na

empresa desde a sua fundação e outros que começaram há pouco tempo.

No presente trabalho foi dada prioridade a três dessas cinco unidades, as quais

participaram da pesquisa:

BRASNORTE/MT

MARMELEIRO/PR

BALN CAMBORIÚ/SC

XANXERÊ/SC

PARANAGUÁ/PR

Page 20: Cultura Organizacional da empresa Agro Industrial São Luiz

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• Paranaguá: antiga Matriz, conta com cerca de vinte funcionários fixos,

contratando em períodos de safra terceirizados e avulsos. No âmbito dos

cereais, realiza a compra no mercado interno, podendo revendê-los ao

mercado interno ou exportá-los. Em relação aos fertilizantes, importa a

matéria-prima, mistura com outras matérias-primas nacionais e vende ao

mercado interno

A seguir, é possível analisar algumas fotos de Paranaguá - PR:

Figura 02: Vista de cima da unidade de Paranaguá Fonte: Arquivos da empresa Agro Industrial São Luiz Ltda, 2009.

Page 21: Cultura Organizacional da empresa Agro Industrial São Luiz

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Figura 03: Caminhões passando pela balança. Fonte: Arquivos da empresa Agro Industrial São Luiz Ltda, 2009.

Figura 04: Funcionário na fábrica. Fonte: Arquivos da empresa Agro Industrial São Luiz Ltda, 2009.

Page 22: Cultura Organizacional da empresa Agro Industrial São Luiz

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• Balneário Camboriú: Matriz e centro administrativo e contábil. Estão

localizados o Departamento de Pessoal, Financeiro, Comercial, Contábil e a

Diretoria, totalizando assim treze funcionários.

A seguir fotos dos funcionários no escritório em Balneário Camboriú - SC:

Figura 05: Funcionários no escritório de Balneário Camboriú. Fonte: Arquivos da empresa Agro Industrial São Luiz Ltda, 2009.

Figura 06: Funcionárias no escritório de Balneário Camboriú. Fonte: Arquivos da empresa Agro Industrial São Luiz Ltda, 2009.

Page 23: Cultura Organizacional da empresa Agro Industrial São Luiz

23

• Xanxerê: Filial responsável por fazer transações agrícolas ou comerciais,

possui apenas três funcionários, dois atuando na área contábil e um na área

comercial.

A seguir foto de funcionárias na filial de Xanxerê - SC:

Figura 07: Funcionárias na filial em Xanxerê. Fonte: Arquivos da empresa Agro Industrial São Luiz Ltda, 2009.

Os produtos da empresa podem ser divididos em produtos agrícolas, adubos e

fertilizantes. Os produtos agrícolas são principalmente milho e soja, mas também é

comercializado feijão, arroz, cevada e algodão.

A empresa exporta produtos agrícolas pelo fato de haver muita oferta no Brasil.

Parte da produção, portanto, tem que ser destinada a outros mercados

consumidores. Já em relação aos fertilizantes, esta situação é oposta, pois a

empresa tem que buscar no mercado externo matéria-prima para os fertilizantes.

Em relação aos fertilizantes, a empresa importa matéria-prima de fornecedores pré-

estabelecidos e tem duas opções, ou revender no mercado interno, ou transformá-la

Page 24: Cultura Organizacional da empresa Agro Industrial São Luiz

24

em fertilizantes. Todas as mercadorias importadas/exportadas têm destino inicial em

Paranaguá. A empresa tem como maior objetivo para os próximos anos diminuir a

participação dos cereais no faturamento da empresa e aumentar sua

comercialização de fertilizantes.

Page 25: Cultura Organizacional da empresa Agro Industrial São Luiz

25

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.1 As diferentes abordagens envolvendo o conceito de cultura organizacional

Cada organização tem sua própria cultura, fruto de suas respectivas interações

sociais, sua história, etc. Empresas e organizações são reconhecidas por

características próprias, peculiaridades, bem como pelos hábitos e comportamentos

dos atores organizacionais (BARBOSA, 2002).

Os estudos sobre a cultura organizacional começaram a ganhar força em 1980,

estudos esses motivados, em grande parte, pelo ótimo desempenho que as

empresas japonesas apresentavam na época e pela percepção de que o

envolvimento dos trabalhadores com os valores e filosofia dessas organizações seria

o fator crucial para o sucesso das organizações orientais. Mas a cultura se consolida

na década seguinte. Desta forma, gestores ocidentais demonstraram interesse pelos

aspectos da cultura organizacional japonesa (MARTIN e FROST, 2001; BARBOSA,

2002; FREITAS, 2007; FERREIRA e ASSMAR, 2008).

No entanto, a cultura organizacional tem sido estudada e conceituada das mais

diferentes formas e perspectivas. Há abordagens que compreendem a cultura como

uma variável produzida pela organização e outras que julgam que a cultura é fruto

dos membros que compõem uma organização.

Esse debate é intenso, pois divide os estudos organizacionais em duas grandes

vertentes. A primeira, de caráter prescritivo, percebe a cultura como algo possível de

ser gerenciado a partir de diversas formas de intervenção. A outra abordagem, por

sua vez, contempla a cultura organizacional como fruto das vivências e interações

entre os atores organizacionais ao longo do tempo (FRIEDBERG, 1995, SCHEIN,

2000, BARBOSA, 2001).

Srour (1998) defende que a cultura não é constituída por um processo histórico e

resulta de uma aprendizagem social. E essa aprendizagem é “construída” no

cotidiano das organizações.

Page 26: Cultura Organizacional da empresa Agro Industrial São Luiz

26

Mintzberg, Ahlstrand e Lampel (2000) consideram a cultura como algo produzido de

forma coletiva, bem como ressaltam as crenças comuns no ambiente organizacional.

Schein (2007) afirma que a cultura organizacional se manifesta em três níveis, sendo

esses: artefatos visíveis, valores esposados e pressupostos básicos. Os artefatos

são os aspectos visíveis da organização, ou seja, nesse primeiro nível da cultura os

elementos culturais são de fácil observação, mas de difícil interpretação, como a

linguagem utilizada pelas pessoas, a maneira de se vestir, etc. No segundo nível

estão os valores que são as justificativas utilizadas para explicar e até mesmo

predizer os atos e ações das pessoas no ambiente organizacional. E esses valores

vão ficando visíveis no momento em que metas, filosofias, normas e regras de

comportamento especificam como as “coisas” devem ser na organização. Por fim no

último nível estão as crenças, as percepções e os sentimentos básicos das pessoas

no ambiente organizacional, que fundamentam o modo como essas pessoas

sentem, percebem e pensam a organização. Este terceiro nível, pelo fato de não

lidar com os aspectos visíveis ou objetivados, é o mais difícil de ser compreendido,

mas se constitui na essência da cultura.

Ferreira e Assmar (2008) registram a contribuição de outros autores que ampliam o

modelo de Edgar Schein, e que a cultura organizacional define-se por meio de

dimensões como artefatos, padrões de comportamento, normas comportamentais,

valores e pressuposições fundamentais. A ampliação do modelo contempla, além

dos elementos da cultura, os padrões de comportamento que consistem em

mecanismos de tomada de decisão, coordenação e comunicação utilizados para

resolver os problemas organizacionais, bem como as normas comportamentais, que

são as expectativas da organização sobre como seus membros devem se comportar

e interagir com os outros colegas de trabalho. Neste ponto, observa-se um caráter

prescritivo de como ordenar a cultura visando resultados de acordo com as

expectativas gerenciais.

Ao fazer importante revisão de literatura e contemplar o estado da arte em pesquisas

relacionadas à cultura organizacional, Ferreira e Assmar (2008) registram

contribuições teóricas que contemplam modelos que estudam e valorizam os heróis,

os rituais, os símbolos e os valores existentes numa organização. Os heróis, neste

Page 27: Cultura Organizacional da empresa Agro Industrial São Luiz

27

caso, são personagens vivos ou mortos que fazem, ou fizeram, a história de

determinada organização. Os rituais consistem em atividades coletivas que

representam determinados comportamentos e, por sua vez, os símbolos

contemplam as palavras, os gestos e os objetos que apresentam especial significado

para a organização. Os valores representam os sentimentos inconscientes

internalizados pelos grupos humanos nas organizações. Essa postura das autoras

revela a influência das ciências sociais, em especial da antropologia, nos estudos

envolvendo cultura organizacional. E, através da análise desses conceitos

apresentado pelas autoras, identifica-se a cultura organizacional de uma forma mais

evidente. Esses componentes da cultura se mostram presentes no dia-a-dia da

organização e são responsáveis por diferenciar a cultura de uma organização para

outra.

Freitas (2007), ao abordar os valores organizacionais, cita que esses elementos,

vistos como a essência da cultura organizacional orientam os indivíduos de uma

organização em seus respectivos comportamentos, principalmente os integrantes.

De acordo com a autora, apesar das mudanças ocorridas desde a década de 1980,

ainda se utiliza, na atualidade, o mesmo enfoque teórico sobre elementos da cultura

organizacional.

Freitas (2007) igualmente ressalta a importância dos estudos envolvendo valores,

crenças, ritos, rituais e cerimônias; sagas e heróis; estórias; tabus e normas nos

estudos organizacionais.

Os valores, a partir de uma perspectiva funcionalista, seriam algo como um “guia”

para cotidiano organizacional. Nessa perspectiva, se os valores forem internalizados

pelos indivíduos na organização, desde que sejam eticamente legitimados, podem

proporcionar ambientes, na perspectiva comportamental, extremamente vantajosos

para as organizações. (FREITAS, 2007).

Ou seja, os valores favorecem um determinado comportamento e condicionariam os

funcionários a caminharem seguindo os objetivos da organização, desde que esses

objetivos tenham sintonia com as expectativas dos próprios trabalhadores.

Page 28: Cultura Organizacional da empresa Agro Industrial São Luiz

28

Algumas empresas utilizam slogans como instrumentos de publicidade e tentam

transmitir a imagem da empresa para o público. Quando essas mensagens

conseguem refletir a cultura corporativa da empresa, a identificação é bastante

consistente. No entanto, nem sempre a cultura organizacional pode ser identificada

com a cultura corporativa ou empresarial (BARBOSA, 2002). Empresas como a Mc

Donald´s, por exemplo, apresentam slogans como “qualidade, serviço, limpeza e

preço justo” que reproduzem, no máximo, aspectos da cultura corporativa ou

empresarial, mas não da cultura organizacional.

As crenças e pressupostos são usados com o mesmo significado e demonstram

aquilo que é verdadeiro para uma organização. Uma crença é algo aceitável como

correto e está baseado em alguma solução de certo problema ocorrido em que se

obteve sucesso (FREITAS, 2007).

Os ritos, rituais e cerimônias manifestam o lado concreto da cultura e, segundo

Freitas (2007), os rituais são a maneira como os procedimentos são realizados. Um

exemplo de ritual são as festas de fim de ano que uma empresa realiza para

parabenizar o melhor vendedor do ano, enfim, são costumes que a empresa adota

ao longo de sua existência e os funcionários sentem esses rituais como sendo parte

de uma atividade realizada pela organização, algo institucionalizado. Outros

exemplos seriam as reuniões, processos de seleção de funcionários, processos de

admissão e demissão, etc.

Barbosa (2001, p. 142), concordando com Freitas (2007), ressalta que as

organizações podem ser pensadas [...] “como uma rede de significados cujas tramas

se combinam e recombinam, gerando sempre novos padrões que formam o contexto

no qual se desenrola e se torna significativa a ação social”.

Quando uma empresa passa por um processo de fusão, alguns rituais passam por

modificações e as pessoas podem reagir mal às mudanças. As resistências dos

funcionários, nesses casos, são freqüentes. As conseqüências dessa reação devem

ser observadas, pois abrem brechas para sabotagem de projetos, desvio de

informações, quebra de sigilos, etc. (FREITAS, 2007).

Page 29: Cultura Organizacional da empresa Agro Industrial São Luiz

29

Para Freitas (2007, p. 21), “[...] as sagas são narrativas heróicas, ou épicas, que

louvam o caminho percorrido pela organização com ênfase nos grandes obstáculos

que ela encontrou e como eles foram vencidos”. A função das sagas, neste caso, é

despertar o orgulho nos funcionários de fazer parte de algo muito especial. E os

heróis são integrantes dessas sagas, são eles que demonstram como o sucesso

pode ser atingido pelo ser humano como algo tangível, motivando os empregados.

As décadas e 1980 e 1990 consagraram muitos “heróis” que inspiram o campo

acadêmico da administração até hoje, como empreendedores criativos, louvados e

seguidos como exemplos.

Mas a alta rotatividade de funcionários que começou a surgir nas empresas a partir

da década de 1990, com os processos traumáticos da chamada reengenharia,

atingiu o grau de importância das sagas e heróis. O comprometimento dos

trabalhadores com suas respectivas organizações tornou-se mais frágil, frente às

dificuldades econômicas empresariais e as ondas de demissões ocorridas com os

processos de globalização econômica (FREITAS, 2007).

Na atualidade, a rotatividade é tão grande que muitos funcionários da mesma

empresa acabam não se conhecendo e não ocorrem vínculos efetivos devido,

principalmente, ao pequeno ciclo de permanência na organização. As pessoas

apenas “passam” pela empresa, desempenham seu papel, nem sempre valorizado.

As estórias são as experiências vividas pela organização e suas diferentes equipes,

pessoas que já passaram ou que estão presentes fazendo a sua estória acontecer.

Segundo Freitas (2007), as estórias proporcionam sugestões sobre as formas de

agir na empresa e como são flexíveis podem ser modeladas a cada ocasião. Uma

boa coleção de estórias resulta em uma empresa de sucesso, pois as pessoas têm

exemplos positivos de como realizar seu trabalho, levando em consideração estórias

de sucesso passadas. Nesse caso a empresa pode ser comparada com uma equipe

de trabalho e se a equipe é formada por pessoas capazes e inteligentes as chances

do projeto que realizarão dar certo são muito maiores do que uma equipe formada

por pessoas de pouco interesse e sem muitas experiências positivas. Estórias bem

construídas dentro de uma organização são impulsionadoras de sucesso.

Page 30: Cultura Organizacional da empresa Agro Industrial São Luiz

30

Outro elemento citado por Freitas (2007) é o tabu, pois as empresas tentam

esconder e silenciar alguns desses tabus, como o preconceito existente no ambiente

organizacional, casos de corrupção e formas diversas de discriminação. Isso ocorre

porque o tabu é o elemento da cultura mais temido pelos administradores, porque

podem denegrir a imagem da empresa com muita rapidez. A autora faz uma relação

inversa entre valores e tabus, acrescentando que os valores são apreciados e os

tabus temidos. São como as notícias, as boas são lembradas no momento em que

ocorrem e depois são esquecidas, mas as notícias ruins são lembradas e criticadas

por um maior período de tempo.

Segundo Freitas (2007, p 30),

[...] as organizações são intrinsecamente fenômenos de comunicações e [...] todos os artefatos culturais estão ligados entre si, exercendo uma influência múltipla no conjunto dos indivíduos e dos grupos integrantes da organização.

Na atualidade, a maioria das funções de uma empresa bem como seus elementos

culturais está interligada e se apenas algum detalhe foge das normas da empresa

muda-se o processo como um todo.

Para Motta e Vasconcelos (2008), o conceito de cultura se divide em duas visões,

uma diz que a organização tem uma cultura e a outra visão afirma que a

organização é uma cultura. As organizações têm uma cultura que muda com o

tempo e essa cultura pode então ser variável, modificando-se de forma gradativa.

Com base nessas afirmações Motta e Vasconcelos (2008) ressaltam que a

organização é um sistema composto de subsistemas e funciona como um conjunto

de partes distintas que trabalham de forma integrada. E um desses subsistemas

organizacionais é o subsistema humano e cultural, o qual é formado por dois

elementos: um elemento informal (subculturas e visões de mundo dos membros da

organização) e um elemento formal (cultura oficial da organização). O subsistema

humano e cultural relaciona-se com os outros subsistemas da empresa, como por

exemplo, os subsistemas gerencial, estrutural, estratégico, etc. Entende-se assim

que os subsistemas humano e cultural interagem com os outros subsistemas da

organização.

Page 31: Cultura Organizacional da empresa Agro Industrial São Luiz

31

Vasconcelos e Vasconcelos (2004) complementam, porém ressaltando e

questionando o referencial funcionalista utilizado por grande parte dos

administradores. Os mesmos autores, no entanto, valorizam a perspectiva

interpretativa utilizada pelos antropólogos ao estudar elementos da cultura

organizacional.

O referencial funcionalista está ligado a interesses gerenciais. Essa abordagem

estuda e focaliza o que é claro e compartilhado entre todos na organização, enfim o

que é unânime, e exclui as diferenças individuais dos participantes. Segundo

Vasconcelos e Vasconcelos (2004, p. 207), a perspectiva funcionalista entende que

“[...] a cultura é uma variável que caracteriza a organização, é permanente no

sentido de ser difícil de mudar e é compartilhada no sentido de ser aceita e de não

haver ambigüidades”. Os administradores adaptam, ou tentam adaptar, a cultura às

suas necessidades, sem levar em consideração o que pensa cada membro de sua

equipe.

Vasconcelos e Vasconcelos (2004), portanto, afirmam que a concepção que valoriza

valores compartilhados a partir de consensos coletivos e comprometimentos que

tornam os trabalhadores mais produtivos relaciona-se a abordagem funcionalista.

Um bom exemplo seria o processo e os critérios de seleção e contratação de um

novo funcionário por uma organização. Há empresas que preferem contratar alguém

sem experiência alguma, pensando em “moldar” a pessoa da melhor maneira para a

sua empresa. Ao invés de escolher um candidato experiente e que traga novas

idéias, preferem alguém para “modelar”, porque o experiente é mais difícil de

manipular o “jeito de ser” e de adaptá-lo em apenas concordar com tudo sem que

possa dar sua opinião.

Vasconcelos e Vasconcelos (2004) comentam, igualmente de forma crítica, sobre o

gerenciamento da cultura, como se a cultura pudesse ser manipulada, como se

houvesse uma fórmula para atingir o sucesso em ambientes competitivos.

Martin e Frost (2001, p. 224) contemplam essa expectativa dos gestores em

“administrar” a cultura enfatizando que, para os funcionalistas, “[...] o essencial é que

a homogeneidade, a harmonia e a unificação da cultura podem ser alcançadas”.

Page 32: Cultura Organizacional da empresa Agro Industrial São Luiz

32

Aspectos de socialização primária podem explicar esse desejo dos gestores em

“modelar” pessoas no ambiente organizacional. Uma criança, por exemplo, não

consegue assimilar a importância de escolher uma religião em sua vida, e nem sabe

qual é a diferença de uma religião para outra, pois ela não tem escolha a não ser

optar por ser da mesma religião de seus pais, em momentos de socialização

primária. No gerenciamento de uma cultura ocorre o mesmo, pois gerenciar a cultura

seria um “sonho” para os gestores se os funcionários cumprissem suas tarefas,

obedecessem todas as ordens e por fim não opinassem sobre nada, mesmo sem

entender. Isto evitaria “dores de cabeça” para os superiores hierárquicos.

Muitos autores, portanto, criticam a abordagem funcionalista, porque na realidade as

pessoas são diferentes entre si e não há como moldar as suas respectivas mentes

para que pensem e ajam da mesma maneira sempre na empresa. Com certeza,

seria menos trabalhoso para os gestores, mas é algo muito difícil de ocorrer.

Barbosa (2001) e Vasconcelos e Vasconcelos (2004) mostram que o conceito de

cultura utilizado pelos antropólogos interpretativos percebem e valorizam, ao

contrário da abordagem funcionalista, a diversidade encontrada em uma

organização e a importância que ela transmite para o sucesso da mesma.

A abordagem interpretativa estuda igualmente as subculturas, ressaltando que os

membros de uma subcultura têm valores e agem de maneira diferente de outra

subcultura da mesma organização, bem como ressalta o componente da diversidade

cultural. Essa mesma abordagem fundamenta seus pressupostos no entendimento

de que há diversidade de origens, formações culturais entre os indivíduos e que a

ambigüidade é parte essencial da cultura organizacional.

Schein (2007) afirma que a origem dos elementos que compõem a cultura de uma

organização (linguagem, símbolos, imagens, histórias, mitos, entre outros) está

ligada na luta pela sua sobrevivência. Na percepção do autor, para um grupo

organizacional desenvolver-se e sobreviver há dois grandes problemas para

solucionar: primeiro adaptar-se ao meio ambiente e depois manter sua coerência

interna. E para que isso ocorra cada subsistema organizacional deve integrar-se

com os outros subsistemas organizacionais, isso porque eles são interdependentes

e devem funcionar como um conjunto.

Page 33: Cultura Organizacional da empresa Agro Industrial São Luiz

33

Para Motta e Vasconcelos (2008), a partir de boas experiências e das experiências

negativas constituem a base do aprendizado coletivo nas organizações e essas

experiências contribuem para a formação de valores compartilhados. O caminho

para esse aprendizado é estabelecido por meio das descobertas feitas nesse

processo de aprendizagem.

Segundo Schein (2007), quando um grupo obter resultados a partir desses

processos, será a vez de socializar tais experiências ou aprendizado.

Cada organização possui seus próprios elementos, os quais definem a identidade da

empresa. Essa identidade mostra os valores e o estilo de vida que as organizações

possuem, gerando um melhor entendimento para os indivíduos quais são as ações

legitimadas e internalizadas pelo próprio grupo.

Para Srour (1998, p. 175), “[...] toda coletividade tende a considerar o próprio modo

de vida como o mais sensato e o mais correto”. O autor, no entanto, ressalta que

essa idéia de certo ou errado faz com que os indivíduos de uma empresa

considerem ser certo o que eles aprendem dentro de suas organizações e

classificam como errôneo as demais coletividades que fazem as atividades de uma

maneira diferente do que eles realizam. E isso ocorre porque cada cultura tem seus

padrões de comportamento próprios e não conseguem ver algo diferente do que

estão acostumadas como sendo algo normal, porque o novo e diferente sempre vai

gerar especulações e críticas. Para reforçar essa idéia, Srour (1998, p. 179) cita que

“[...] nenhum indivíduo escapa do cerco ideológico” e não há pessoa que não ocupe

uma posição social, que não defenda algum interesse em comum com outro grupo,

defendendo o seu próprio interesse e os da coletividade a qual pertence.

Vasconcelos e Vasconcelos (2004) ressaltam o mesmo aspecto, ou seja, há

diferenciação entre grupos humanos nas organizações e, inevitavelmente, surgem

valores diferentes entre as subculturas de uma organização.

Page 34: Cultura Organizacional da empresa Agro Industrial São Luiz

34

2.2 Cultura organizacional, evolução do conceito e o discurso gerencialista

Para Barbosa (2002), o termo cultura organizacional procura chamar a atenção para

a importância da esfera simbólica do mundo organizacional: crenças, valores e

símbolos que tem bastante impacto no comportamento das pessoas em uma

organização bem como em seu desempenho.

O conceito, utilizado por diversos autores, ganha significados diferentes a partir das

abordagens teóricas contemporâneas. De qualquer forma, o conceito apresenta-se

nos estudos organizacionais com freqüência (MARRAS, 2000, SCHEIN, 2007).

Embora o tema de cultura, na administração, emergisse apenas nas últimas

décadas, Barbosa (2002) cita que na literatura teórica da administração esse tema já

havia sido mencionado anteriormente. A explicação para tal fato, de acordo com a

autora, reside na utilização inadequada dos aspectos teórico-metodológicos na

análise do mundo organizacional. Na década de 1980 o termo “cultura

organizacional” ganha significativo destaque, popularizando-se no meio

organizacional. É neste período que se passou a conviver, na academia, com

estudos organizacionais contemplando o tema (BARBOSA, 2002, FREITAS, 2007).

Há, por outro lado, uma literatura crítica, abrangendo os estudos organizacionais,

que contempla aspectos relacionados a cultura nas organizações, porém analisando

temas como angústias, pressões, inseguranças no ambiente de empresas etc.

(FRIEDBERG, 1995; NOGUEIRA, 2004; SAINSAULIEU e KIRSCCHNER, 2006;

GAULEJAC, 2007).

Para Barbosa (2002), o conceito de cultura organizacional pode ser identificado em

três períodos diferentes. O primeiro período, na década de 1960, caracteriza-se pela

visão da cultura como instrumento de melhoria das organizações e a implantação de

valores “humanísticos”, dando ênfase ao ser humano. A cultura começa então a ser

entendida como um conjunto de valores compartilhados. No segundo período, na

década de 1980 e até meados de 1990, o Japão irá desempenhar um papel

relevante para a importância da cultura no universo das organizações e na economia

e há também nesse período uma maior preocupação em denominar instrumentos

Page 35: Cultura Organizacional da empresa Agro Industrial São Luiz

35

que gerenciem a cultura. Desta forma, o conceito de cultura passa a ser percebido

como uma estratégia gerencial e de competitividade, com forte – e discutível – valor

instrumental. E o terceiro período, dos anos 1990 até os dias de hoje, que se

caracteriza pelo uso da cultura mais como estratégia empresarial do que gerencial.

Segundo Barbosa (2002) a diferença do terceiro período está, primeiramente, no

tratamento da cultura como variável estratégica; segundo, no seu conceito como um

ativo intangível das organizações; e, terceiro, com valores “éticos” do ponto de vista

da sociedade.

Relevando o segundo período Barbosa (2002, p. 16), ressalta que “[...] a explicação

norte-americana para o sucesso japonês foi, de imediato, atribuída à cultura da

sociedade e das organizações japonesas”. E o que mais impactou os norte-

americanos foi perceber que os japoneses relacionavam de forma harmoniosa

capital, sociedade e trabalho.

As empresas japonesas valorizavam a senioridade e a participação de todos nos processos decisórios, enfatizavam o sentimento de pertencimento comum a um grupo e praticavam a famosa política de from craddle to grave (do berço a cova) que assegurava a estabilidade do funcionário no emprego, mesmo em período de crise econômica. Todos estes aspectos contrastavam fortemente com o estilo norte-americano de gerenciar organizações e pessoas. Para grande parte dos analistas era justamente nesse sistema gerencial que residia o sucesso japonês. (BARBOSA, 2002, p. 16).

No segundo período, de acordo como a autora cita, as empresas com “culturas

fortes” eram valorizadas e utilizadas como exemplos. A cultura, no pensamento

administrativo, que se afirmava na época, remove grande parte do sentimento de

incerteza porque oferece estrutura, padrões e um sistema de valores com o qual

operar em todas as situações. O conceito de cultura era visto como algo que as

organizações “selecionam” e “possuem”. Barbosa (2002, p. 19) ressalta que “[...] o

que estava em questão era se a “cultura” seria uma variável produzida pela

organização ou se esta seria trazida para o seu interior pelos seus membros”.

Cultura organizacional é o conjunto de pressupostos básicos que um grupo inventou, descobriu ou desenvolveu ao aprender como lidar com os problemas de adaptação externa e integração interna e que funcionaram bem o suficiente para serem considerados válidos e ensinados a novos membros como a forma correta de perceber,

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pensar e sentir em relação a esses problemas (SCHEIN apud BARBOSA, 2002, p. 18).

Barbosa (2002, p. 27) faz referências a um tema bastante utilizado pelo discurso

gerencialista, os chamados ativos intangíveis, “[...] pois acredita-se que as empresas

e organizações mais bem-sucedidas do futuro serão aquelas capazes de aprender

como explorar e gerenciar o conhecimento que adquiriram” envolvendo as

expectativas e o comportamento do consumidor, dos mercados, da economia, da

tecnologia, etc.”. Gerir conhecimentos passou a ser algo desejado pelas empresas

visando maximizar resultados. No entanto, consenso sobre tal possibilidade inexiste,

pois o conhecimento nem sempre pode ser considerado um recurso passível de

gerenciamento.

Para Barbosa (2002), ao final da década de 1990, a cultura passa de instrumental

para ser utilizada em processos de mudança organizacional focados na estratégia

empresarial interna ou na competitividade externa. A cultura organizacional passou a

ser considerada um ativo estratégico que pode garantir retorno de lucros em longo

prazo para uma organização. Os executivos, gerentes e consultores percebem a

cultura como uma variável mensurável. E, atualmente, o conceito de cultura

concentra-se na formulação de uma metodologia de como medi-la e para assim ser

capaz de avaliar o seu valor econômico e financeiro. A autora, no entanto, faz sérias

críticas sobre tais possibilidades, pois nem sempre metodologias quantitativas

podem expressar com exatidão os aspectos mais relevantes, e profundos, da cultura

organizacional.

A organização não pode ser analisada como se fosse um todo unificado e coerente,

a partir de uma perspectiva racional (FRIEDBERG, 1995).

Barbosa (2002) acrescenta com preocupação que a expressão cultura corporativa

citando que esse termo é usado de forma intercambiável com a cultura

organizacional, pois, para a autora, cultura organizacional e cultura corporativa são

conceitos distintos. Os elementos que compõem uma cultura organizacional são

heterogêneos, e para falar sobre cultura organizacional, corporativa ou empresarial

não é suficiente utilizar-se de um conjunto de valores determinados pela alta

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37

gerência, pois é necessário olhar para a empresa com perspectivas diferentes e

analisar as relações entre as mesmas.

Segundo Barbosa (2002, p. 34), “[...] o conceito de cultura empresarial nos remete

para a organização simbólica do universo empresarial”. E cultura empresarial,

corporativa ou gerencial vem a ser um conjunto de percepções características da

alta administração, ou mesmo a idealização dos executivos de uma empresa.

A perspectiva objetivista, e funcionalista, dos gestores fomentam e valorizam a

criação de riqueza, o empreendedorismo, a ambição e a competitividade, pois essas

características são estimuladas e vistas como fundamentais à cultura empresarial.

Mas a empresa é uma construção social e um sistema social, cuja abrangência vai

muito além dos objetivos econômicos expressados em metas, resultados, etc.

(SAINSALIEU e KIRSCHNER, 2006).

Friedberg (1995, p. 404) ainda registra o “[...] caráter relativamente indeterminado e

aberto do fenômeno organizacional”.

Barbosa (2002) distingue a cultura empresarial em duas dimensões. A primeira

dessas dimensões contempla um programa envolvendo reformas econômicas e

institucionais que proporcionam relevância e destaque para a eficiência do mercado

na alocação dos recursos sociais, bem como a liberdade do indivíduo em suas

escolhas e a não intervenção do Estado. Como exemplo, a autora cita os programas

de privatização de empresas estatais e a limitação de investimentos sociais,

ocorridos, principalmente, na década de 1990 quando a agenda neoliberal ganhou

destaque no Brasil. A segunda dimensão, por sua vez, está relacionada a valores e

atitudes dos atores organizacionais forjados a partir das diversas interações sociais

que ocorrem no universo organizacional. Como exemplo da segunda dimensão da

cultura empresarial, a autora ressalta os valores que apresentam qualidades ou

características empresariais do tipo: “iniciativa, autonomia, pró-atividade,

empreendedorismo, energia, ousadia, autoconfiança”, ou seja, ações individuais ou

coletivas que permeiam a organização (BARBOSA, 2002, p. 39-40).

Page 38: Cultura Organizacional da empresa Agro Industrial São Luiz

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Martin e Frost (2001) abordam três vertentes teóricas ao conceito de cultura

organizacional: A primeira dessas vertentes, a perspectiva da integração, tem como

base o consenso e a harmonia no ambiente organizacional e representa, em última

instância, o interesse e o desejo da alta administração em integrar as pessoas em

um mesmo projeto coletivo em que os objetivos da organização possam ser

compartilhados por todos, sem conflitos ou interesses divergentes. A segunda

vertente, denominada diferenciação, aborda as diferentes manifestações culturais

existentes na organização, privilegiando a pluralidade de comportamentos. E,

finalmente, a abordagem da fragmentação, expõe a dificuldade em contemplar a

diversidade cultural, tornando a tarefa do pesquisador algo praticamente impossível

de ser desenvolvida, dada a complexidade em elaborar diagnósticos sobre cultura

nas organizações.

Cultura organizacional, corporativa e empresarial são definições muito próximas

umas das outras, mas resguardam certa identidade, e essa identidade representa

recortes teóricos e metodológicos importantes do universo organizacional. A partir da

década de 1980, portanto, a cultura deixou de ser uma dimensão “oculta” para

adquirir uma dimensão “estratégica” no interior das organizações. De acordo com

Barbosa (2000, p. 45-47), “valores, normas, símbolos, mitos, ritos, estruturas

participativas, equipes autogerenciadas, autodesenvolvimento, visão holística do ser

humano etc., são, hoje, categorias presentes nos discursos, análises e políticas

gerenciais [...]”. O grande debate teórico reside justamente na possibilidade dessas

categorias serem passíveis de gerenciamento ou não.

A identidade é uma característica muito forte da cultura e há situações em que essa

identidade se torna evidente. Srour (1998, p. 175) ressalta as fusões ou

incorporações de empresas. Quando acontecem essas incorporações de empresas

surge um “fogo cruzado da multiplicidade das maneiras de ser”, pois quando

acontecem fusões há mais que uma cultura em jogo, são maneiras diferentes de

pensar sobre um negócio, e é preciso de treinamento e novas formas de se

organizar para que haja uma nova adaptação dos indivíduos. Ainda de acordo com o

autor, outra situação em que acontecem esses choques culturais é quando surge

concorrência no mercado, seja essa pelo surgimento de uma nova tecnologia, ou por

novos entrantes no seu mesmo ramo de atuação.

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3 METODOLOGIA

Este item trata da metodologia utilizada neste estudo, suas características quanto a

tipo, meios de investigação, contextualização, a forma de coleta e análise dos

dados, assim como a definição dos participantes da pesquisa.

3.1 Tipologia de pesquisa

O tipo de metodologia definida para o trabalho é o estudo de caso. Godoy (2008, p.

368) definiu estudo de caso como um tipo de pesquisa que o objetivo central é “[...]

analisar intensivamente uma dada unidade social que pode ser uma organização,

uma situação em particular ou até mesmo um simples sujeito”. Segundo a autora,

um exemplo pode ser um programa que busca promover a diversidade cultural nas

organizações.

Para Gil (2002), o estudo de caso é de ampla utilização nas ciências sociais e

biomédicas. E complementa ressaltando que o estudo de caso é uma modalidade de

pesquisa profunda de um ou poucos objetos, e que assim fica possível um

entendimento amplo do que está sendo pesquisado.

O estudo de caso é realizado para diversos propósitos, pois, segundo Gil (2002),

esses propósitos são: explorar situações reais, preservar o aspecto unitário do

estudo, descrever a situação do contexto de onde está sendo realizado o estudo,

formular hipóteses e elaborar teorias e explicar as causas de certo fenômeno em

que não é possível a utilização de levantamentos e outros procedimentos.

O estudo de caso tem se tornado a estratégia preferida quando os pesquisadores procuram responder às questões “como” e “por quê” certos fenômenos ocorrem, quando há pouca possibilidade de controle sobre os eventos estudados e quando o foco de interesse é sobre fenômenos atuais, que só poderão ser analisados dentro de algum contexto de vida real. (GODOY, 2008, p. 368).

Esse tipo de pesquisa era encarado por muito tempo como um método de pesquisa

pouco rigoroso e que poderia ter muitas variações em seus resultados. Segundo Gil

Page 40: Cultura Organizacional da empresa Agro Industrial São Luiz

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(2002), isso ocorre pela falta de rigor metodológico em um estudo de caso, pela

dificuldade de generalização (a análise de um ou poucos casos tende o estudo à

generalização), e pelo tempo destinado à pesquisa (os estudos de casos levam

muito tempo para concluir e assim os resultados já se demonstram poucos

consistentes).

Para fazer um estudo de caso é preciso primeiro escolher o lugar a ser investigado

que deve estar de acordo com o problema a ser estudado. Para isso, segundo

Godoy (2008), é necessário anteriormente saber se o estudo de caso será realizado

em apenas uma organização ou se será feito um estudo comparativo com outras

unidades. Percebe-se o quanto é importante planejar antes de começar analisar um

tema, é interessante negociar qual o acesso que você terá no local que pretende

pesquisar e entender quais são os objetivos da pesquisa e qual seu papel como

pesquisador, pois tudo isso reflete no comportamento dos entrevistados.

Quanto à abordagem, o estudo de caso pode ter um aporte tanto qualitativo como

combinar elementos qualitativos com quantitativos, Godoy (2008) ressalta que

mesmo a pesquisa sendo de aporte qualitativo, ela pode comportar dados

quantitativos para ajudar na questão investigada. Ainda citando Godoy (2008), o

estudo de caso pode utilizar como ferramenta de coleta de dados a entrevista, a

observação, a análise de documentos e também de questionários. É necessário, que

os dados sejam coletados no local em que os fenômenos estudos acontecem. E por

fim, quanto aos resultados, os relatórios elaborados são caracterizados por terem

um caráter informal, esse composto por narrativas dos sujeitos que participam da

pesquisa, por fotos, desenhos, ou citações. Vendo assim o estudo de caso é uma

ferramenta que faz uma interação complexa entre pesquisador e pesquisado.

Segundo Pereira (2001, p. 25): “[...] o dualismo entre abordagens racional e

experimental chega aos dias de hoje na oposição entre pesquisas qualitativas e

quantitativas”, mas observa-se que nem a primeira está isenta de quantificação e

nem a segunda se “desenrola” sem raciocínio lógico. Pereira (2001) concentra seu

estudo na pesquisa qualitativa, dizendo que o seu objetivo é estudar e classificar um

fenômeno que aparenta ser imponderável. E como definição para a pesquisa

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quantitativa Goldenberg (1999) ressalta que “[...] os métodos quantitativos

simplificam a vida social limitando-a aos fenômenos que podem ser enumerados”.

Esta pesquisadora, no entanto, está consciente de que não conseguirá, ao longo do

trabalho, abranger toda a realidade envolvendo cultura organizacional. A ciência

reproduz apenas uma leitura parcial da realidade e, de acordo com Pires (2008),

ninguém pode revelar todos os aspectos dessa mesma realidade. O autor alerta

ainda que a metodologia é apenas uma, não havendo necessariamente uma

distinção entre pesquisa quantitativa ou pesquisa qualitativa.

Entre as dificuldades ou limites encontrados ao longo do desenvolvimento do

trabalho, está a tendência desta pesquisadora apresentar o testemunho daquilo que

compreendeu. Conforme Grouxl (2008, p.113), “[..] devido a cumplicidade do

pesquisador com o universo social no qual ele é um ator, o conhecimento que ele

produz é, de certa forma, ‘cativo’ da perspectiva que ele compartilha com seus

interlocutores”.

Quanto à organização das condições de coleta e, posteriormente, análise dos

dados, a pesquisa foi realizada em duas partes. É muito difícil, no entanto, como

assinalam Deslauriers e Kérisit (2008, p. 140), prever com precisão “[...] os

resultados que a análise qualitativa produzirá”. De qualquer forma, o delineamento

da pesquisa contemplou, na primeira etapa, uma entrevista com cinco perguntas

abertas para seis pessoas da empresa Agro Industrial São Luiz Ltda. e, entre eles,

estão os gestores e alguns funcionários que estão há mais tempo na organização.

Segundo Cervo (1983), a entrevista é mais do que uma simples conversa, ela é

orientada para um objetivo definido, que se trata de buscar através de um

interrogatório dados para a pesquisa. As entrevistas são utilizadas geralmente

quando um assunto é muito complexo para ser analisado por questões fechadas.

Goldenberg (1999) acredita que a relação entre o pesquisador e o entrevistado deve

ser de confiança para que a pesquisa se torne bem sucedida.

A segunda parte se constituiu em um formulário com perguntas fechadas destinadas

aos vinte e cinco funcionários da empresa, apenas ficando sem participar os

funcionários da fábrica. Chizzotti (2006) cita que a principal característica do

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formulário concentra-se na pré-elaboração das questões da pesquisa. Essa segunda

parte foi aplicada pessoalmente para não haver viés na pesquisa. As pesquisas

foram realizadas em três unidades da empresa, situadas em: Balneário Camboriú –

SC, Xanxerê – SC e Paranaguá –PR.

Formulário é uma lista informal, catálogo ou inventário, destinado à coleta de dados resultantes quer de observações, quer de interrogações, cujo preenchimento é feito pelo próprio investigador. (CERVO, 1983, p. 160).

Afinal, como assinala Poupart (2008, p. 223),

[...] o informante é tido como uma testemunha privilegiada, um observador, de certa forma, de sua sociedade, com base em quem outro observador, o pesquisador, pode tentar ver e reconstruir a realidade.

É neste sentido que se compreendeu a relevância de entrevistas os funcionários da

Agro Industrial São Luiz Ltda.

Como instrumento para analisar as entrevistas e os formulários, a pesquisadora

utilizou-se do método análise de conteúdo de Laurence Bardin (2000). Segundo

Bardin (2000, p. 29), “[...] desde que se começou a lidar com comunicações, que se

pretende compreender para além dos seus significados imediatos, parecendo útil o

recurso à análise de conteúdo”. Para Bardin (2000) os objetivos da análise de

conteúdo se resumem em: ultrapassar as incertezas de quem lê a mensagem e

obter um enriquecimento da leitura.

A análise de conteúdo é um conjunto de técnicas de análise das comunicações. Não se trata de um instrumento, mas de um leque de apetrechos; ou, com maior rigor, será um único instrumento, mas marcado por uma grande disparidade de formas e adaptável a um campo de aplicação muito vasto: as comunicações. (BARDIN, 2000, p. 31).

Os entrevistados, para que não haja identificações entre os mesmos, serão

classificados como E1, E2, E3 e assim sucessivamente. A letra “E” significa

“entrevistado” e os números representam a seqüência de entrevistas realizadas. Ou

seja, o E1 foi a primeira pessoa a ser entrevistada.

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43

Segundo Thiollent (1998, p.60), “[...] a delimitação do campo de observação

empírica, no qual se aplica o tema da pesquisa é objeto de discussão entre os

interessados e pesquisadores”. No caso desse trabalho a delimitação empírica é

relacionada ao quadro de atuação, que é a empresa a ser pesquisada.

Page 44: Cultura Organizacional da empresa Agro Industrial São Luiz

44

4 RESULTADOS

4.1 Percepções das pessoas no ambiente organizacion al

As entrevistas abaixo refletem a percepção, ou a experiência vivida na organização,

dos funcionários da Agro Industrial São Luiz Ltda. As transcrições e as análises

refletem o discurso, de acordo com Poupart (2008, p.245), como uma “[...] co-

construção da qual participam o entrevistador e o entrevistado, sendo o sentido das

perguntas e das respostas mutuamente e contextualmente construído por um e pelo

outro”.

O pesquisador deve ter em mente que cada questão precisa estar relacionada aos objetivos de seu estudo. As questões devem ser enunciadas de forma clara e objetiva, sem induzir e confundir, tentando abranger diferentes pontos de vista. (GOLDENBERG, 1999, p. 86).

Essas entrevistas foram realizadas a partir de gravações feitas com três gestores da

empresa e três funcionários, esses últimos escolhidos pelo seu grau de experiência

e importância que possuem dentro da organização. As entrevistas foram aplicadas

em julho e agosto de 2009.

Os relatos seguiram a partir de questões que permitiram flexibilidade nas respostas,

permitindo aos entrevistados liberdade de reflexão.

Inicialmente, questionados sobre os valores organizacionais, por exemplo, nas

percepções dos entrevistados, o respeito humano apareceu como algo consensual,

mas a ética foi igualmente ressaltada:

Os valores que a organização mais acentua, mais persegue são a ética, a responsabilidade, respeito humano, comprometimento e dedicação. (E1).

O respeito humano ocorre de uma forma muito boa dentro da empresa, isso é algo positivo dentro da organização. (E2).

Page 45: Cultura Organizacional da empresa Agro Industrial São Luiz

45

O segundo entrevistado dividiu a primeira pergunta em duas partes, dizendo que há

dois lados a serem considerados, o primeiro relata a perspectiva da empresa em

relação ao funcionário, em que os valores observados como mais fortes na empresa

em que trabalha seriam o respeito humano e o reconhecimento pelos trabalhos

desenvolvidos. E a segunda perspectiva seria a observação das atitudes dos

funcionários em relação à empresa. O entrevistado ressalta igualmente a ética e a

dedicação como sendo os aspectos mais relevantes.

O primeiro valor, sem duvidas é o respeito humano, sem distinção em cargos nem funções. A responsabilidade do que cada profissional faz é de extrema importância, não só para nós, como para todos os funcionários. E a transparência e ética também são de extrema importância, porque com isso não só a empresa ganha, mas sim todos os funcionários, e a empresa têm um bom êxito de resultado final. (E3)

Na quarta entrevista, valores como o respeito humano, transparência e

responsabilidade foram considerados como os mais fortes na empresa e na quinta

entrevista o respeito humano foi citado como o valor mais importante entre todos os

outros citados. Por fim, o sexto entrevistado considera em ordem de maior para

menor importância os valores: respeito humano, responsabilidade e

comprometimento como sendo os essenciais dentro da organização em que ele

trabalha.

Identificou-se o respeito humano como um forte valor dentro da empresa, pois a

maioria dos entrevistados ressalta nas entrevistas que há um bom relacionamento

entre os funcionários. Os entrevistados citam que há alguns desentendimentos, mas

nada que se estenda por um longo período de tempo.

Quando os entrevistados foram questionados sobre o modo como os funcionários

internalizavam os valores no dia-a-dia de suas atividades, bem como sobre o

comprometimento dos mesmos com os resultados da empresa, as respostas

apareceram como uma só para as duas questões, como se os entrevistados

respondessem a essas duas perguntas em uma só resposta. Como síntese, pode-se

destacar a opinião do primeiro entrevistado:

Page 46: Cultura Organizacional da empresa Agro Industrial São Luiz

46

O colaborador se pauta muito no desenvolvimento das atividades dele, tanto pelo aquilo que a organização oferece como por aquilo que ela dá de exemplo. Mas é normal que não haja a observância de 100% dos valores tanto na parte da organização quanto pela parte da empresa. Acredito que ainda a gente não conseguiu atingir um nível satisfatório em todos os valores. (E1)

O entrevistado número um, como se pode observar, acredita que os funcionários

trabalham com esses mesmos valores e os resultados são positivos, mas pensa que

a falta de direcionamento das ações para os funcionários é um fator que está

dificultando alguns resultados esperados. Segundo este mesmo entrevistado, o

planejamento deveria ser mais apurado e haver maior clareza e afinidade entre as

ordens e as execuções.

A empresa não cobra muito a realização dos valores, é da vontade de cada um, não cobra pontualidade, cada um imagina que aquilo que ele faça seja a melhor forma que ele possa fazer. (E2)

O segundo entrevistado afirma que a empresa permite que os processos ocorram

com mais espontaneidade e registra que os funcionários desenvolvem suas

atividades cada qual à sua maneira e acreditam estar agindo corretamente.

A abordagem, neste caso, pelo próprio funcionário, ressalta o entendimento de que

valores podem ser impostos pela organização, algo bastante comum em análises do

gênero. Afinal, valores apresentados na perspectiva, sejam dos gestores, sejam dos

geridos, podem não ser sustentável na cultura existente, mas apenas algo desejável

(SCHEIN, 2007).

Na parte da ética eu acho que a gente cumpre bem esse papel, a gente passa tudo para o administrador, ou seja, a gente não omite nada. Todos os funcionários estão comprometidos com a empresa visando melhorias nos resultados, tanto no aspecto de agilidade no trabalho quanto em aspectos financeiros também (E2).

Na segunda entrevista fica claro a convicção do entrevistado quanto ao que o

mesmo considera correto dentro da empresa e o fato desse funcionário estar na

organização há muito tempo possivelmente explique essa perspectiva crítica com

relação aos outros indivíduos no exercício de suas atividades na organização. Neste

caso, é sempre oportuno registrar que as certezas ressaltadas e até mesmo

compartilhadas no âmbito da organização, não podem ser reconstruídas com

segurança, mesmo por esses funcionários mais antigos (SCHEIN, 2007).

Page 47: Cultura Organizacional da empresa Agro Industrial São Luiz

47

O mesmo entrevistado afirma que todos os funcionários deveriam passar todas as

informações que ocorrem para o administrador da empresa, que é subentendido que

cada funcionário faça isso, pois vai da ética de cada um. E ele acredita que todos os

funcionários estão comprometidos com a empresa, e que se forem ágeis e

competentes, o resultado sempre será maior para a empresa.

As empresas têm bastante dificuldade para que todos esses itens sejam totalmente alcançados. A empresa ia se dar muito bem se os funcionários trabalhassem como um família. Hoje lidar com o ser humano é com certeza o maior obstáculo que o empresário tem na sua frente. (E3)

Este entrevistado praticamente responsabiliza os funcionários pelo “sucesso” ou

“fracasso” da empresa. Os depoimentos, na seqüência, permitem melhor diversidade

de opiniões.

Os valores aqui na firma acontecem sim. Nós aqui sempre pensamos no resultado da empresa, sempre que tiver algum problema vamos buscar o outro, busca informações, ou comunica se há algo errado. (E4).

A maioria dos funcionários veste a camisa e se preocupa com os resultados da empresa. Todos os colegas se respeitam, há uma sintonia muito boa. Mas a responsabilidade poderia ser mais bem executada em algumas pessoas, e a comunicação também poderia ser melhorada. (E5).

Por ter uma certa liberdade todo mundo é responsável pelo seu trabalho, em fazer suas funções, não precisando de cobrança toda hora. Acredito sim que todo mundo quer chegar num resultado dentro da empresa, mas o pessoal é muito focado no seu setor. Deveria ter mais comunicação entre os departamentos: contábil, financeiro e comercial. Para que assim as coisas fossem mais interligadas. (E6).

Observa-se aqui que os entrevistados quatro, cinco e seis concordam que os

funcionários internalizam os valores no seu dia-a-dia, mesmo que o entrevistado

número quatro acredite que as pessoas façam o possível para alcançar os

resultados esperados pelas chefias. No entanto, de acordo com o sexto

entrevistado, a departamentalização influi na comunicação e na visão integrada do

negócio, os quais são prejudicados por essa mesma segmentação.

Page 48: Cultura Organizacional da empresa Agro Industrial São Luiz

48

Quando questionados sobre algo que pudesse ser feito para melhorar o rendimento

da empresa, diversas foram as sugestões:

A empresa não tem uma cultura de valorização das reuniões, na maioria das vezes elas são dispensadas. (E1)

O entrevistado acredita que com breves reuniões alguns problemas poderiam ser

solucionados, afirmando que não há necessidade de haver reuniões longas, mas

encontros de curta duração, porém em maior número. O mesmo entrevistado

ressalta que o processo decisório é muito centralizado e que falta tempo para o

acompanhamento das atividades que estão sendo realizadas pelos funcionários, o

que pode acarretar em futuros erros que impactem sobre a organização.

O que eu acho que daria muito certo seria um diálogo e um bate papo entre os próprios funcionários da empresa, para tirarem duvidas entre si. O mais importante é a empresa trabalhar unida, organizar reuniões internas para fazerem reuniões entre os setores, independente das funções, porque ninguém é sabedor de tudo, um pode ajudar o outro. (E3)

Essas possibilidades, ou seja, fóruns participativos, sempre proporcionaram aos

gestores desejos de estabelecer o que se denomina “cultura forte”, com todas as

pessoas compartilhando idéias e sugestões. Obter a participação de todos buscando

resultados sem controles visíveis seria o ideal, a partir do ponto de vista dos

administradores. (BARBOSA, 2002).

O terceiro entrevistado comenta que o dia-a-dia é muito “corrido” e que é muito

importante o diálogo entre os funcionários, mesmo porque o administrador não tem

tempo para resolver todos os problemas da organização. Esse comentário do

entrevistado número três pode ser conseqüência da centralização do poder

decisório, o qual já foi citado anteriormente. Para complementar ainda, o

entrevistado registra que não observa grandes resultados na quantidade de

reuniões, pois o mais importante reside em uma boa comunicação entre os

funcionários, independente de reuniões formais.

Complementando a idéia do terceiro entrevistado, o sexto entrevistado comenta

igualmente sobre a comunicação que deveria existir entre os departamentos, e tanto

Page 49: Cultura Organizacional da empresa Agro Industrial São Luiz

49

o sexto como o quarto sugerem também uma pessoa para gerir certas atividades

dentro da empresa:

A minha sugestão é a descentralização, dar mais responsabilidade para todos, mas com alguém supervisionando todos os trabalhos. Seria interessante existir uma pessoa para gerir as atividades, que fizesse cobrança e avaliações do trabalho. Isso solucionaria um grande problema nosso que é a comunicação interna, pois faria com que as pessoas se sentissem fazendo parte do processo. Assim as pessoas teriam mais disciplina e auto-estima. (E6).

O que a gente sente muita falta aqui é na hora das informações para constar nas notas fiscais, não tem alguém que passa essa informação pra nós, temos que buscar com outras pessoas, ou até outras empresas. Deveria ter uma pessoa que passasse pra a gente isso, um contador que informasse sobre as atualizações. Daí faríamos o trabalho com a certeza que as coisas estão certas e com mais agilidade. (E4).

Os entrevistados, de forma geral, apresentam dificuldade em expressar valores ou

mesmo compreender as dinâmicas culturais da organização. Essa dificuldade é

comum nas pesquisas do gênero (SCHEIN, 2007). Os indivíduos expressam

desejos, ansiedades e expectativas, pois buscam um ambiente organizacional em

que possam participar.

Barbosa (2002, p. 32) ressalta que, nas pesquisas envolvendo cultura

organizacional, os funcionários “[...] se expressam através de símbolos, convenções,

regras explícitas e implícitas, debates e controvérsias”. Desta forma, aspectos como

comunicação, participação, solidariedade surgem como a superfície de algo mais

amplo, no caso, a própria cultura organizacional.

Na quarta entrevista foi citada a falta de informações básicas na empresa, sendo

que às vezes é preciso buscar informações até mesmo fora da empresa. A sugestão

feita foi contratar alguém especializado para passar essas atualizações para os

empregados. Outro item citado nessa entrevista foi a falta de conhecimento, por

parte de certos funcionários mais novos na empresa, sobre metas organizacionais e

aspectos administrativos.

Page 50: Cultura Organizacional da empresa Agro Industrial São Luiz

50

As pessoas parecem desejar mudar algo na organização, pois percebem carências

nem sempre visíveis. As percepções são generalizadas e não representam análises

organizacionais consistentes, embora essas considerações possam adquirir

significativa importância. Essa sensação de angústia não é atípica no ambiente

organizacional (NOGUEIRA, 2004; SAINSAULIEU e KIRSCHNER, 2006). Os

funcionários mais antigos, que já estão na empresa há 25 anos, sentem isso com

certo incômodo na hora de precisarem de informações rápidas e assim não

conseguindo obtê-las. A postura desses funcionários demonstra que internalizaram

valores da alta administração, ou seja, da própria cultura corporativa.

Eu sinto que tem pessoas que falta mais cobrança em cima delas, pois não tem tanta responsabilidade com pontualidade, assim atrasa o trabalho dos outros. (E5).

Os entrevistados deram outras contribuições para melhorar o rendimento da

empresa, entre elas citaram: maior criatividade da parte dos funcionários,

valorização dos funcionários através da implantação de um plano de cargos e

salários e implantação de um programa de alimentação (PAT) para os funcionários

da fábrica bem como uma premiação para o melhor trabalhador com cesta básica

para a família. Essa preocupação com os funcionários da fábrica, citada pelos

funcionários do escritório, se deve ao fato de haver muita rotatividade na indústria,

sendo que o pessoal do escritório percebe que há uma “falta de vontade” dos

empregados da fábrica de desempenharem bem suas funções, e citam que isso é

resultado da falta de acompanhamento e valorização dos mesmos.

Essas perspectivas diferenciadas representam o próprio sistema social da empresa,

suas escalas de valores, alianças e oposição entre os atores, bem como diversidade

de experiências vivenciadas na organização. A organização é uma construção social

e esses conflitos ou perspectivas críticas demonstram as conseqüências dessas

interações (SAINSAULIEU e KIRSCHNER, 2006). Os funcionários não conseguem

perceber a essência da cultura e nem ao menos compreender o significado dessas

interações sociais. O que emerge nas entrevistas é uma tentativa ou desejo de

“consertar” o que aparentemente não estaria de acordo com as expectativas

pessoais desses atores.

Page 51: Cultura Organizacional da empresa Agro Industrial São Luiz

51

A “falta de vontade” reflete a opinião de alguns funcionários em níveis diferentes da

hierarquia, mas é conveniente ressaltar que essas percepções fazem parte da

dimensão cultural das relações organizadas, partindo do pressuposto de que os

indivíduos nas organizações são influenciados pelas articulações entre diversas

regulações de grupos humanos. Esses aparentes conflitos não são disfunções, mas

algo que representa os mundos sociais da organização. (SAINSAULIEU e

KIRSCHNER, 2006; GAULEJAC, 2007).

E, por último, questionados pela pergunta: Com o emprego do sistema Cooperate2

na empresa houve uma mudança no comprometimento dos funcionários? Os

entrevistados tiveram afirmações positivas sobre o sistema:

O Cooperate trouxe economias nos processos. E como conseguimos adaptar o Cooperate à realidade da organização, então a vantagem foi imensa, as pessoas entendem que o trabalho delas pode impulsionar ou travar o trabalho do outro. (E1)

O entrevistado cita que o Cooperate ajudou muito no comprometimento dos

funcionários, evitando retrabalho, eliminando algumas atividades na utilização de

telefone e fax, proporcionando uma melhor organização das tarefas:

Sem dúvidas o Cooperate trouxe bons resultados, com a entrada do sistema além de ganhar com agilidade e eficiência ainda teve a redução de custos em função da implantação do sistema. Hoje em dia, diante da forma como a legislação é aplicada nas empresas é quase impossível trabalhar sem um bom sistema. (E2)

Percebe-se então, na segunda entrevista, o grau de importância do sistema

Cooperate, fica então evidente que ele só trouxe melhorias, apesar de ter havido

algumas demissões, mas, a partir da perspectiva da empresa, a organização

aparentemente conseguiu bons resultados.

De acordo com Freitas (2007), na atualidade, a maioria das funções, bem como seus

elementos culturais, está interligada e, se algum detalhe foge das normas

conhecidas da empresa, o processo muda como um todo.

2 Cooperate: é o nome comercial usado pela empresa para um sistema de gestão integrado com foco mais específico para o setor agropecuário. (DADOS SECUNDÁRIOS DA EMPRESA).

Page 52: Cultura Organizacional da empresa Agro Industrial São Luiz

52

Cada dia que passa todas essas novas descobertas de agilidade em geral, só tem dado benefícios para as empresas, em ter resultados mais agilizados, sem dúvida alguma é um ótimo beneficio para todas as empresas. (E3).

Eu acho que o Cooperate ajudou sim, porque se você lança um documento errado, vai cair para o setor errado, e daí no fim vai dar erro. Acho que melhorou bastante. (E4).

O Cooperate ajudou bastante, mas ainda tem alguma coisa que poderia mudar, às vezes dá algum problema de conexão. Mas melhorou muito, os processos que antes precisavam de três fases para ser feitos, hoje em uma já estão prontos. (E5).

Nota-se que os entrevistados três, quatro e cinco concordam que o sistema

Cooperate trouxe muitas melhoras para a organização, mas o quinto entrevistado

cita que como se trata de um sistema que está sujeito a passar por modificações de

melhorias a cada ano, tem certos processos que podem mudar ainda para ajudar na

eficiência dos procedimentos.

E para finalizar, o sexto entrevistado cita que para o Cooperate ganhar “vida”, ele

precisa das pessoas:

Houve mudança no sentido das pessoas se comprometerem mais, pois a vida do Cooperate depende das informações que a gente alimenta nele. (E6).

Ficou evidente nos resultados das entrevistas que o sistema Cooperate contribuiu

organizar os processos da empresa mas, na realização da pesquisa, alguns

entrevistados reclamam da falta de um sistema voltado para a produção. Esses

citam que o Cooperate é destinado mais para a área financeira e contábil, sendo que

os processos da área de produção são realizados em programas “caseiros”

elaborados em planilhas do tipo Excel. Esses mesmos funcionários comentam que a

maioria das empresas do ramo de fertilizantes possui um programa específico de

produção que torna o trabalho mais eficiente, e, por exemplo, com um sistema

desses, a “baixa” do inventário é feita diretamente da fábrica.

O espaço proporcionado pela pesquisa para que os entrevistados sinalizassem

aspectos da cultura organizacional tornou-se quase que exclusivamente um

momento de reflexão sobre a melhoria de processos de gestão. Dificilmente

Page 53: Cultura Organizacional da empresa Agro Industrial São Luiz

53

administradores e funcionários percebem a cultura a partir de uma lógica

comportamental. A lógica predominante é a pragmática e instrumental. “Pensar” e

refletir sobre cultura atende, para os administradores e funcionários, aos objetivos da

intervenção e regulação da organização. Barbosa (2001, p. 137) explica tal

comportamento:

[...] na maioria das vezes em que se fala de cultura organizacional, está-se falando dos valores que o segmento gerencial considera ideais para ‘tocar’ a organização, e não dos valores que efetivamente existem subjacentes às práticas, às políticas administrativas [...].

4.2 Resultados quantitativos da pesquisa

Na segunda etapa da pesquisa foi desenvolvido um formulário que foi preenchido e

respondido, no mês de agosto de 2009, por vinte e cinco funcionários, de duas filiais

da empresa Agro Industrial São Luiz Ltda. A filial de Xanxerê – SC não participou

dessa etapa porque nela trabalham apenas três funcionários, os quais, pelo grau de

importância e pela experiência que possuem na empresa foram escolhidos para

participar das entrevistas.

O formulário possuía oito afirmações sobre o tema a ser pesquisado e os

entrevistados escolhiam para assinalar uma das alternativas sugeridas e, entre

essas alternativas, havia as seguintes opções: concordo totalmente, concordo,

indiferente, discordo e discordo totalmente.

As oito afirmações contidas no questionário foram:

• O ambiente físico é agradável para trabalhar;

• Os funcionários têm as orientações necessárias para executar suas

atividades;

• A comunicação entre os funcionários é excelente;

• Todos os funcionários se relacionam bem;

• Todos os funcionários caminham juntos para realizar o objetivo da empresa;

• Os funcionários conhecem claramente os valores da organização;

Page 54: Cultura Organizacional da empresa Agro Industrial São Luiz

54

• Os funcionários acreditam e compartilham dos mesmos valores para o

sucesso da organização;

• Todos têm liberdade para opinar e participar das decisões que envolvem seu

trabalho.

Como foram ressaltadas anteriormente, essas questões não tem a pretensão de

diagnosticar a cultura da empresa, mas oferecer indícios e sinalizações sobre o fato

a ser pesquisado.

Na seqüência deste trabalho serão apresentados os resultados da pesquisa

realizada. O gráfico 01 representa o que os funcionários pensam sobre a excelência

do ambiente físico da empresa:

Gráfico 01: Excelência do ambiente físico de trabalho. Fonte: Dados da pesquisa agosto, 2009.

O resultado mostra que 68% dos entrevistados concordam totalmente que o

ambiente físico da empresa é um local agradável para trabalhar e 20% respondem

que concordam que é um ambiente bom para trabalhar. Percebe-se assim que 88%

dos entrevistados gostam do local onde estão trabalhando. Os que se dizem

indiferentes são 8%, e 4% não gostam do seu ambiente de trabalho, número que

pode ser considerado inexpressivo. Mas é preciso alguns cuidados na interpretação

desses dados. Sentir-se bem, muitas vezes, pode esconder formas mais sutis de

liderança e mesmo de persuasão (BARBOSA, 2001). Neste aspecto, portanto, a

Page 55: Cultura Organizacional da empresa Agro Industrial São Luiz

55

sensação de bem estar parece evidente. Mas são percepções que representam

determinado momento na vida organizacional e que podem se alterar facilmente.

O gráfico 02 representa as orientações que os funcionários recebem para realizar

suas necessidades:

Gráfico 02: Orientações necessárias para execução das atividades. Fonte: Dados da pesquisa agosto, 2009.

Obter informações corretas e assistência para realizar as funções é muito importante

para que um funcionário não cometa erros no cotidiano de seu serviço. Vemos que

os entrevistados se mostram satisfeitos com as orientações que recebem para

executarem seus trabalhos, 80% concordam e 16% concordam totalmente com a

afirmação. A partir da relação deste gráfico com as entrevistas já citadas nesse

trabalho, percebe-se certa discordância de fatos, pois uma parcela significativa dos

entrevistados citou que falta alguém para solucionar dúvidas regulares e

supervisionar de perto certas funções nas entrevistas realizadas.

O gráfico 03 representa a comunicação da empresa:

Page 56: Cultura Organizacional da empresa Agro Industrial São Luiz

56

Gráfico 03: Excelência da comunicação entre os funcionários. Fonte: Dados da pesquisa agosto, 2009.

A comunicação dentro de uma empresa é fundamental para que haja sucesso nos

negócios, e para isso as pessoas precisam ser éticas com seus colegas. A maior

parte dos entrevistados respondeu entre concordo e discordo, havendo aí uma

grande diferença de opiniões. Os entrevistados que discordam totalmente e

discordam totalizam em 36%, e os que concordam totalmente e concordam são

52%. E 12% ficaram indiferentes a essa afirmação, nota-se que por mais que a

maioria concorde que há uma sintonia na comunicação entre funcionários, o número

que discorda é bem significante e deve ser levado em consideração. O que pode ser

observado como uma definição de clima organizacional, observações mais atentas

podem perceber a difícil relação existente aqui como a comunicação visando a

produtividade ou eficácia e, ao mesmo tempo, proporcionando graus de

sociabilidade entre os funcionários. Ou seja, a difícil busca da equação eficácia

econômica e qualidade dos comportamentos humanos a partir de redes bem

constituídas de comunicação (SAINSAULIEU e KIRSCHNER, 2006).

O gráfico 04 representa o relacionamento dos funcionários da empresa:

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57

Gráfico 04: Relacionamento entre funcionários. Fonte: Dados da pesquisa agosto, 2009.

A maioria dos funcionários concorda totalmente ou concorda que toda a equipe se

relaciona bem, totalizando 52% dos entrevistados.

Percebe-se a semelhança do resultado deste com o gráfico anterior. Essa

semelhança pode ser resultado do fato das duas questões estarem interligadas,

comunicação e relação entre funcionários, pois são temas que se complementam. E

novamente é preciso ficar preocupado com o resultado dos que discordam, pois 32%

dos entrevistados dizem que os funcionários não se relacionam bem. E 16% ficaram

indiferentes. Ou seja, observa-se aqui algum desconforto. Mas essa parece ser uma

característica das organizações contemporâneas, que possibilitam situações

paradoxais de satisfação e insatisfação (VASCONCELOS e VASCONCELOS, 2004).

A sensação das pessoas sentirem-se bem, mas, ao mesmo tempo, angustiadas

parece representar o desafio cotidiano das organizações em que os bons resultados

precisam ser demonstrados permanentemente (NOGUEIRA, 2004, GAULEJAC,

2007). Os resultados dos gráficos três e quatro servem para reforçar as opiniões e

os depoimentos das entrevistas realizadas antes deste questionário, pois foi citado

com muita intensidade que deve ser feito algo para promover a melhora na

comunicação da empresa.

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58

O gráfico 05 representa a sinergia dos funcionários em relação aos objetivos que a

empresa quer alcançar:

Gráfico 05: A sinergia dos funcionários em relação aos objetivos da empresa. Fonte: Dados da pesquisa agosto, 2009.

Talvez aqui se obtenha a confirmação de uma das hipóteses de Barbosa (2001),

pois a questão que se coloca é se a cultura é produzida pela organização ou se é

produto das interações sociais no âmbito da organização. Para um objetivo ser

atingido é preciso que todos se empenhem para realizá-lo, e segundo o resultado do

gráfico número cinco, a empresa Agro Industrial São Luiz Ltda. estaria com índices

invejáveis de comprometimento. Observa-se no gráfico que 80% dos funcionários

acreditam que toda a equipe da empresa caminha junto para realizar os objetivos da

empresa. Mas serão esses valores construídos e compartilhados pelos funcionários

ou produto dos esforços da administração em internalizar valores de cooperação?

As representações coletivas, neste item, reproduzem a percepção das pessoas e a

crença nesses objetivos organizacionais ou simplesmente são reflexos de valores

internalizados pela organização a partir de uma perspectiva de integração?

Como alerta Schein (2007), é praticamente impossível compreender as certezas

tácitas de um grupo social na organização. O que eventualmente pode ser

considerado como uma “cultura desejável” pode ser um conjunto de valores que na

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59

essência não adquire sustentabilidade. Mensagens internalizadas podem não fazer

parte do que se compreende, de fato, por cultura organizacional.

O gráfico 06 representa o conhecimento que os funcionários têm sobre os valores da

organização:

Gráfico 06: O entendimento dos valores pelos funcionários. Fonte: Dados da pesquisa agosto, 2009.

Para uma empresa ter uma identidade forte ela precisa ter sua equipe em sintonia

com os valores que fazem a empresa ser o que ela é. Os funcionários da Agro

Industrial São Luiz Ltda. acreditam que conhecem claramente os valores da

empresa, totalizando em: 68% dos pesquisados. A preocupação neste item é

analisar se esses valores foram construídos de forma coletiva ao longo do tempo ou

se esses valores foram apresentados como “ideais” pelos gestores. Afinal, como foi

apresentado anteriormente, cultura organizacional é diferente de cultura corporativa

ou cultura empresarial (BARBOSA, 2001).

O gráfico 07 representa a crença e a compatibilidade dos valores:

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Gráfico 07: A crença e compatibilidade dos valores na organização. Fonte: Dados da pesquisa agosto, 2009.

Dentre os pesquisados 88% dos funcionários acreditam que utilizam dos mesmos

valores para realizar suas funções e ajudar a empresa a caminhar para o sucesso,

apenas 8% não estão a favor dessa afirmação. Esse resultado mostra que a equipe

da empresa entende quais são os valores fortes na organização e trabalham eles

em unanimidade para conseguirem alcançar os resultados esperados pela empresa.

Uma vez mais fica a dúvida, pois esses valores são produtos da interação social e

crenças coletivas ou fruto de um discurso gerencialista?

O gráfico 08 representa a liberdade que os funcionários possuem, ou não, para

opinar e participarem das decisões que envolvem seu trabalho:

Page 61: Cultura Organizacional da empresa Agro Industrial São Luiz

61

Gráfico 08 : A liberdade para opinar e participar das decisões que envolvem o trabalho. Fonte: Dados da pesquisa agosto, 2009.

Dos entrevistados 92% concordam totalmente ou concordam sobre a questão, e

apenas 8% discordam a respeito da liberdade para opinar em questões que

envolvem o seu trabalho. Assim, pelos números apresentados, os funcionários

possuem liberdade de expressão dentro da empresa. Mas como o gráfico três e

quatro mostram que há uma dificuldade de uma parcela significativa dos

entrevistados em relacionamentos e comunicação, fica evidenciado que essa falta

de comunicação não é resultado de falta de liberdade para se expressar.

Possivelmente as sugestões dos funcionários não estejam encontrando o devido

retorno da direção da empresa.

Page 62: Cultura Organizacional da empresa Agro Industrial São Luiz

62

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Barbosa (2001) ressalta que os estudos sobre cultura organizacional no Brasil

contemplam apenas as grandes organizações. A pretensão desta pesquisa foi

justamente desenvolver estudos envolvendo uma empresa catarinense de médio

porte, dependendo dos critérios de classificação.

Schein (2007) alerta para o fato de que nenhum formulário ou questionário utilizado

em pesquisas do gênero possibilitam diagnosticar o quadro completo de uma cultura

organizacional. O pesquisador encontra, em tais pesquisas, dificuldades até mesmo

para saber o que perguntar aos funcionários. E mesmo que soubesse inúmeras

seriam as questões a serem elaboradas.

De qualquer forma, essas pesquisas apresentam identidade com outro tipo de

pesquisa, a de clima organizacional. Mas “clima” não representa “cultura”, o que não

quer dizer que não possa contribuir para desvendar certos aspectos da cultura,

mesmo que superficiais.

Outra questão que se observou ao longo do trabalho foi a constatação de que não

se pode saber com exatidão como os entrevistados interpretaram as perguntas.

Nas entrevistas semi-estruturadas observou-se, de forma curiosa, a ansiedade

demonstrada pelos funcionários para propor soluções ou alternativas para a

empresa obter um melhor desempenho. Interessante registrar que, de acordo com

Schein (2007, p. 74), “[...] para operar as mudanças que os funcionários desejam,

deve-se fazer um verdadeiro estudo de causa, para determinar por que os valores

não estão sendo respeitados e o que tem que mudar na cultura para que eles o

sejam”.

Identificou-se, portanto, alguns aspectos visíveis da cultura organizacional, mas que

dificilmente poderia ser considerado como algo definitivo ou abrangente. Os

formulários com questões fechadas, por exemplo, apresentaram algumas

contradições sobre comprometimento, ambiente de trabalho, liberdade para opinar e

Page 63: Cultura Organizacional da empresa Agro Industrial São Luiz

63

o compartilhamento de valores comuns. Aparentemente, os números foram

satisfatórios para a empresa, ressalvando-se sempre a diferença entre o que se

compreende como cultura corporativa e cultura organizacional.

Através de uma comparação das duas modalidades escolhidas para a realização da

pesquisa, observou-se certas discordâncias, pois nas entrevistas semi-estruturadas

os pesquisados demonstraram, a partir do conjunto de suas respostas, que falta um

direcionamento para os funcionários da empresa, sugerirem reuniões e ações para

melhorar a auto-estima da equipe.

Analisando os formulários como um todo, percebe-se certa angústia dos funcionários

em relação à necessidade da organização passar por processos de melhoramentos,

muito embora esses melhoramentos apresentem-se de forma nebulosa, sem

definições sobre o que de fato deva melhorar.

Os valores podem ser internalizados pelo discurso gerencialista, mas, por outro lado,

podem não serem sustentáveis ao longo do tempo. Para que os valores sejam algo

positivo para a organização, é importante que essas crenças sejam compartilhadas

de uma forma natural entre os funcionários e deixe de ser algo pré-estabelecido pela

direção. Quando as situações ocorrem de forma espontânea, as pessoas são mais

criativas e a produtividade é mais significativa. Portanto, se os valores da empresa

coincidem com os valores dos seus funcionários é quase garantida uma boa história

de sucesso nessa empreitada comum. Uma organização é, de acordo com Friedberg

(1995, p.404), “[...] um conjunto de relações humanas cujo ordenamento coloca

problemas específicos, apelando para capacidades especiais de natureza cognitiva

e relacional”.

Entre as limitações da pesquisa, o tempo de trabalho na empresa dos funcionários

pode ter influenciado em algumas das questões, pois o nível de comprometimento

pode ter peso na percepção dos agentes no âmbito organizacional. Como o número

de funcionários não é grande, ficou difícil organizar os entrevistados em grupos por

tempo de serviço, o que possibilitaria um melhor desenho dessas mesmas

percepções.

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De qualquer forma, responsabilidade social, responsabilidade ambiental, ética,

cultura são temas que precisam ser contemplados como parte de qualquer

estratégia organizacional, deixando de ser secundários para adquirir significativa

relevância (BARBOSA, 2002).

Neste caso, a pesquisa teve como objetivo ressaltar a importância dos estudos

organizacionais envolvendo o tema “cultura organizacional”, apesar das dificuldades

inerentes a um conceito tão amplo e de difícil aplicabilidade.

Repetindo as palavras de Schein (2007, p. 12), neste campo de pesquisa, “[...] ainda

não estamos no estágio de testar hipóteses rigorosas, e talvez nunca estejamos.

Mas a boa descrição e a análise são uma etapa necessária à ciência [...]”.

A realização das entrevistas possibilitou uma análise mais apurada e incrementada

do que pensam os integrantes da organização. O formulário aplicado com questões

fechadas, por sua vez, dificulta a compreensão de fenômenos mais complexos.

Como conclusão desse trabalho percebe-se que a cultura organizacional é tão

complexa que pode confundir-se com temas menores, por exemplo: cultura

corporativa e clima organizacional. Por se tratar de um assunto ainda pouco

explorado nas empresas fica evidente que a falta dessa percepção traz resultados

negativos envolvendo os estudos organizacionais.

Ativos intangíveis, portanto, passam a ganhar destaque nas pesquisas que

contemplam aspectos simbólicos das organizações. No entanto, empresas

brasileiras de médio porte ainda não dedicam a devida atenção às pesquisas

envolvendo o tema. Friedberg (1995, p. 377) enfatiza, de forma oportuna, que “[...]

qualquer organização é composta por agentes humanos cujo comportamento é

necessário compreender e explicar”. Difícil discordar, e a esta reflexão do autor

resumo a intenção deste trabalho de conclusão de curso. A pesquisa, como já foi

ressaltada anteriormente, não teve a pretensão de apresentar um quadro completo

ou preciso diagnóstico da cultura organizacional da empresa objeto de estudo. Mas

o fato de abordarem-se aspectos relacionados ao comportamento humano e

aspectos culturais, produtos das interações sociais no âmbito da empresa, configura-

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se uma primeira etapa de estudos mais consistentes que não poderão ser

desprezados.

Empresários, administradores, executivos e gestores em geral preocupam-se

excessivamente com os aspectos instrumentais e as formas mecanicistas de gerir

que, muitas vezes, esquecem de perceber e analisar a organização como uma

construção social. Conhecer a cultura de uma organização é saber interpretar o que

está acontecendo atualmente na empresa, as representações, as percepções, as

motivações ou desmotivações, as angústias, as frustrações dos trabalhadores no

cotidiano organizacional.

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REFERÊNCIAS

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68

APÊNDICES

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LISTA DE APÊNDICES

APÊNDICE A - Perguntas utilizadas nas entrevistas . .......................................... 70

APÊNDICE B - Formulário ........................... ........................................................... 71

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APÊNDICE A - Perguntas utilizadas nas entrevistas

PERGUNTAS – ENTREVISTA

1- Quais os valores mais fortes dentro da organização em qu e você trabalha?

2- Esses valores são internalizados pelos empregados? 3- Os funcionários estão comprometidos com os resultad os da empresa?

4- Há algo que pode ser feito para melhorar o rendimen to da empresa?

5- Com o emprego do sistema Cooperate na em presa houve uma mudança no comprometimento dos funcionários?

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APÊNDICE B - Formulário

FORMULÁRIO

Prezado (a) colaborador (a):

Este formulário faz parte de meu trabalho de conclusão de curso. Sua participação é

fundamental para que obtenha os dados necessários para a pesquisa que realizo.

Suas respostas não serão identificadas para que você tenha liberdade para

preencher os itens abaixo com isenção e sinceridade.

Desde já, agradeço sua colaboração:

Assinale nas colunas da direita uma opção para ca da afirmação em relação a

cultura da empresa:

Legenda: CT = concordo totalmente; C = concordo; I = indifer ente; D = discordo; DT = discordo totalmente.

Afirmações Alternativas

1. O ambiente físico é agradável de trabalhar. CT C I D DT

2. Nós, funcionários temos as orientações necessárias para executar nossas atividades.

CT C I D DT

3. A comunicação entre os funcionários é excelente. CT C I D DT

4. Todos os funcionários da organização se relacionam bem.

CT C I D DT

5. Todos os funcionários caminham juntos para realizar o objetivo da empresa.

CT C I D DT

6. Os funcionários conhecem claramente os valores da organização.

CT C I D DT

7. Nós, funcionários, acreditamos e compartilhamos dos mesmos valores para o sucesso do grupo e da organização.

CT C I D DT

8. Temos liberdade para opinar e participar das decisões que envolvem nosso trabalho.

CT C I D DT