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 A cultura tapajônica tem uma influência muito marcante também na reprodução de peças de cerâmica baseada em achados arqueológicos. Pode-se aqui chama-la de Cerâmica de Santarém ou cerâmica dos Tapajó. Esta cerâmica advém de uma cultura, "considerada uma das de maior distribuição na bacia amazônica e, cronologicamente, aceita como proto-histórica" (8). O grupo indígena Tapajó localizava-se na foz e ao longo do afluente da margem direita do Amazonas o Rio Tapajós. Os Tapajó resistiram ao contato com os conquistadores e missionários até o século XVIII, e a sua cerâmica manteve-se preservada de qualquer aculturação ou influência européia. Frederico Barata com referência a essa não aculturação, comenta o seguinte: "Isso, que é uma das coisas que maior surprêsa causam a quem estuda a arte tapajônica,  demonstra a solidez da sua cultura peculiar, com valores tão definidos que nem mesmo  o convívio secular com a nossa civilização a pôde desviar da linha tradicional ou de integração na sociedade e no meio próprios" (5). As origens dos Tapajó são até hoje desconhecidas, pois apesar de serem  contemporâneas, somente a sua cerâmica ficou para testemunhar a sua história. Berredo que manteve contato com esses indígenas em 1626, aventa a hipótese de serem oriundos das Índias Castelhanas. A cerâmica de Santarém tem como características marcante a sua modelagem, que para alguns, é rebuscada que lembra o estilo barroco. Meggers & Evans com base nessa exuberância de adornos, a incluem na Tradição Inciso Ponteada, que tem uma posição cronológica calculada para 1.000 a 1.500 A. D. Esta tradição pelos seus vários elementos "parece resultar de influências oriundas dos altiplanos da Colômbia, difundida para o rio Orinocco até sua foz, alguns de seus tributários e, através do rio Casiquiare, alcançando o Amazonas até a sua foz, sobrevivendo na bacia amazônica até o tempo da conquista" (9). Frederico Barata nos dá uma interessante descrição interpretativa da cerâmica dos Tapajó: "A louça santarenense é um verdadeiro museu de zoologia. O índio amazônico antes do contato com o branco, quase nunca se inspirava na natureza vegetal. Era como se ela não existisse. Nunca se aproveitou, para sua arte, da estilização de uma flor, de  uma folha, de uma árvore, e raramente a forma de um fruto. Tudo para ele, era  zoomorfo ou antropomorfo. Nesse jardim zoológico, que é uma cerâmica tapajó    verdadeiro catálogo da fauna regional, como tão bem a definiu Linné   todos os bichos estão representados... Nas suas esculturas ou modelagem antropomorfas os ceramistas de Santarém se destacam dos demais. Mas sobretudo, os Tapajó eram escultores animalistas, pois realmente admiráveis são as cabeças de bichos que modelavam para ornamentação dos vasos, as vezes com alto sentido realístico, observando fielmente a natureza, e outras com liberdades interpretativas, produzindo complicadas e belas estilizações"(5). Na cerâmica de Santarém encontra-se uma peculiaridade: a não existência de urnas funerárias, pois os Tapajó não enterravam os seus mortos; os ossos que depois restavam dos cadáveres, eram moídos e colocados no vinho, sendo bebido pelos familiares do morto e o resto da tribo.

Cultura Tapajonica

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A cultura tapajônica tem uma influência muito marcante também na reprodução depeças de cerâmica baseada em achados arqueológicos. Pode-se aqui chama-la deCerâmica de Santarém ou cerâmica dos Tapajó. Esta cerâmica advém de uma cultura,"considerada uma das de maior distribuição na bacia amazônica e, cronologicamente,aceita como proto-histórica" (8). O grupo indígena Tapajó localizava-se na foz e ao

longo do afluente da margem direita do Amazonas o Rio Tapajós.

Os Tapajó resistiram ao contato com os conquistadores e missionários até o séculoXVIII, e a sua cerâmica manteve-se preservada de qualquer aculturação ou influênciaeuropéia. Frederico Barata com referência a essa não aculturação, comenta o seguinte:"Isso, que é uma das coisas que maior surprêsa causam a quem estuda a arte tapajônica,

 

demonstra a solidez da sua cultura peculiar, com valores tão definidos que nem mesmo

 

o convívio secular com a nossa civilização a pôde desviar da linha tradicional ou deintegração na sociedade e no meio próprios" (5).

As origens dos Tapajó são até hoje desconhecidas, pois apesar de serem

 

contemporâneas, somente a sua cerâmica ficou para testemunhar a sua história. Berredoque manteve contato com esses indígenas em 1626, aventa a hipótese de serem oriundosdas Índias Castelhanas.

A cerâmica de Santarém tem como características marcante a sua modelagem, que paraalguns, é rebuscada que lembra o estilo barroco. Meggers & Evans com base nessaexuberância de adornos, a incluem na Tradição Inciso Ponteada, que tem uma posiçãocronológica calculada para 1.000 a 1.500 A. D. Esta tradição pelos seus várioselementos "parece resultar de influências oriundas dos altiplanos da Colômbia,difundida para o rio Orinocco até sua foz, alguns de seus tributários e, através do rioCasiquiare, alcançando o Amazonas até a sua foz, sobrevivendo na bacia amazônica atéo tempo da conquista" (9).

Frederico Barata nos dá uma interessante descrição interpretativa da cerâmica dosTapajó: "A louça santarenense é um verdadeiro museu de zoologia. O índio amazônicoantes do contato com o branco, quase nunca se inspirava na natureza vegetal. Era comose ela não existisse. Nunca se aproveitou, para sua arte, da estilização de uma flor, de

 

uma folha, de uma árvore, e raramente a forma de um fruto. Tudo para ele, era

 

zoomorfo ou antropomorfo. Nesse jardim zoológico, que é uma cerâmica tapajó  —  verdadeiro catálogo da fauna regional, como tão bem a definiu Linné  — todos os bichosestão representados... Nas suas esculturas ou modelagem antropomorfas os ceramistas

de Santarém se destacam dos demais. Mas sobretudo, os Tapajó eram escultoresanimalistas, pois realmente admiráveis são as cabeças de bichos que modelavam paraornamentação dos vasos, as vezes com alto sentido realístico, observando fielmente anatureza, e outras com liberdades interpretativas, produzindo complicadas e belasestilizações"(5).

Na cerâmica de Santarém encontra-se uma peculiaridade: a não existência de urnasfunerárias, pois os Tapajó não enterravam os seus mortos; os ossos que depois restavamdos cadáveres, eram moídos e colocados no vinho, sendo bebido pelos familiares domorto e o resto da tribo.

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