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O Público e o privado - Nº 12 - Julho/Dezembro - 2008 RESUMO: RESUMO: RESUMO: RESUMO: RESUMO: O trabalho consiste em uma apresentação do Plano de Ação da Bacia Cultural do Araripe para o Desenvolvimento Regional, uma experiência de planejamento regional que toma a cultura local como referência, numa região caracterizada identidade na diversidade, que fica entre os estados do Ceará, Paraíba, Pernambuco e Piauí. Para tanto, retoma a discussão sobre as relações entre cultura e desenvolvimento e tente introduzir e discutir a noção de bacia cultural 25 25 25 25 25 (*) Frederico Lustosa da Costa é Professor da Escola Brasileira de Administração Pública e de Empresas (EBAPE) da Fundação Getulio Vargas. E-mail: [email protected] Palavras-chave: Palavras-chave: Palavras-chave: Palavras-chave: Palavras-chave: cultura, desenvolvimento, cultura regional, planejamento regional, governança local, bacia cultural. Cultura e Desenvolvimento: referências para o planejamento regional** Frederico Lustosa da Costa* I ntrodução Nos últimos quinze anos, as ciências sociais têm convivido com o revival de temas esquecidos, com a emergência de outros enfoques para temas perenes de sua agenda de pesquisa e com o estabelecimento de novas conexões entre uns e outros. Entre tantas outras velhas novidades, a retomada da discussão sobre o desenvolvimento em suas diferentes acepções anuncia que o fim da história ainda está longe. De fato, a emergência de novas abordagens ao problema da mudança social, por exemplo, tem permitido rever as concepções de desenvolvimento. O antigo modelo baseado apenas na busca de crescimento econômico sofreu um forte abalo, com a emergência de novo paradigma que contempla as dimensões social, ambiental, institucional e cultural da vida humana associada. Essa perspectiva, além de colocar o foco na qualidade de vida e na preservação (**) Algumas das idéias aqui expostas nasceram de uma intervenção no painel sobre Economia da Cultura e Desenvol- vimento Regional do I Encontro das Culturas do Cariri, Araripe e Alto Sertão, realizado em Juazeiro do Norte, em 16 e 17 de junho de 2005. Partes do texto original serviram de subsídio para a ela- boração do Plano de Ação da Bacia Cultural do Araripe. Os dois Culture and Development: Culture and Development: Culture and Development: Culture and Development: Culture and Development: references for the regional planning

Cultura.e.desenvolvimento

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Cultura em desenvolvimento sobre o conceito de bacia cultural

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  • O Pblico e o privado - N 12 - Julho/Dezembro - 2008

    R E S U M O :R E S U M O :R E S U M O :R E S U M O :R E S U M O : O trabalho consiste em uma apresentao do Plano de Ao da Bacia

    Cultural do Araripe para o Desenvolvimento Regional, uma experincia deplanejamento regional que toma a cultura local como referncia, numa regiocaracterizada identidade na diversidade, que fica entre os estados do Cear, Paraba,Pernambuco e Piau. Para tanto, retoma a discusso sobre as relaes entre culturae desenvolvimento e tente introduzir e discutir a noo de bacia cultural

    25 25 25 25 25(*) Frederico Lustosa da Costa Professor da Escola Brasileira de Administrao Pblica ede Empresas (EBAPE) da Fundao Getulio Vargas.E-mail: [email protected]

    Palavras-chave:Palavras-chave:Palavras-chave:Palavras-chave:Palavras-chave:

    cultura,desenvolvimento,cultura regional,planejamentoregional,governana local,bacia cultural.

    Cultura e Desenvolvimento:referncias para o planejamento regional**

    Frederico Lustosa daCosta*

    I ntroduoNos ltimos quinze anos, as cincias sociais tm convivido com o revival detemas esquecidos, com a emergncia de outros enfoques para temas perenesde sua agenda de pesquisa e com o estabelecimento de novas conexes entreuns e outros. Entre tantas outras velhas novidades, a retomada da discussosobre o desenvolvimento em suas diferentes acepes anuncia que o fim dahistria ainda est longe.

    De fato, a emergncia de novas abordagens ao problema da mudana social,por exemplo, tem permitido rever as concepes de desenvolvimento. Oantigo modelo baseado apenas na busca de crescimento econmico sofreuum forte abalo, com a emergncia de novo paradigma que contempla asdimenses social, ambiental, institucional e cultural da vida humana associada.Essa perspectiva, alm de colocar o foco na qualidade de vida e na preservao

    (**) Algumas dasidias aqui expostasnasceram de umainterveno no painelsobre Economia daCultura e Desenvol-vimento Regional do IEncontro das Culturasdo Cariri, Araripe e AltoSerto, realizado emJuazeiro do Norte, em16 e 17 de junho de2005. Partes do textooriginal serviram desubsdio para a ela-borao do Plano deAo da Bacia Culturaldo Araripe. Os dois

    Culture and Development:Culture and Development:Culture and Development:Culture and Development:Culture and Development:

    references for the regional planning

  • 2626262626 Frederico Lustosa da Costa

    do nosso patrimnio comum, destaca os aspectos institucionais dastransformaes econmicas e os elementos histricos e culturais quecaracterizam o territrio como dimenses constituintes do processo dedesenvolvimento. Nesse sentido, ganham relevncia os elementos relativos identidade, que constituem fatores de agregao social.

    Ao se utilizar dessa noo de cultura histria compartilhada, sentido depertena, prticas sociais comuns como ponto de partida para a prospectiva,o planejamento do desenvolvimento regional pode ter forte sentido aglutinador,na medida em que permite:

    Despertar o sentido de pertena e aumentar a auto-estima da populao;

    Acumular capital social;

    Assegurar o comprometimento das pessoas com projetos dedesenvolvimento local e regional, e;

    Gerar oportunidades de emprego e renda na indstria criativa.

    Assim, cabe aos atores sociais comprometidos com a transformao darealidade regional pensar as relaes entre cultura e desenvolvimento comoo primeiro passo para a formulao de estratgias de desenvolvimento viveis,efetivas e legtimas. O planejamento e a ao integrados do Estado em seusdiferentes nveis de governo, da iniciativa privada e das organizaescomunitrias na rea cultural pode ser uma poderosa alavanca para odesenvolvimento regional. Entretanto, a ao governamental carece de maiorintegrao em todos os nveis entre as esferas de governo, dentro das esferasde governo e entre o governo e a sociedade.

    Este trabalho apresenta uma experincia de planejamento ainda em curso,que se encontra na etapa de validao do Plano de Ao da Bacia Culturaldo Araripe, territrio que corresponde bacia sedimentar do Araripe,regio que se situa entre os estados do Cear, Paraba, Pernambuco e Piau1.Constitui tambm um esforo de reflexo sobre as relaes entre cultura,governana e desenvolvimento e de uma experincia de planejamento regionalque toma a cultura local como referncia. Trata-se de examinar a possibilidadesde planejar o desenvolvimento local, a partir da cultura regional, com aintroduo de instituies novas e a busca da governana.

    O trabalho discute, em primeiro lugar, os aspectos conceituais das relaesentre cultura, desenvolvimento e governana e do planejamento regional.Em seguida, examina o percurso metodolgico da experincia deconstituio da bacia e de planejamento da ao cultural.

    trabalhos foram realiza-dos com a inestimvelcolaborao intelectualde Jos Vergolino doNascimento, SueliLouro e Llian Lustosa.Uma apresentao maissistemtica do Plano foifeita no II Encontro deEstudos Interdisci-plinares em Cultura (IIENECULT), realizadoem Salvador de 3 a 5 demaio de 2006, e no IISeminrio Pr-arte daFESO, em Terespolis,de 10 a 12 de agosto de2006. Uma versomuito prxima a esta,intitulada Cultura,desenvolvimento eplanejamento regional:aspectos conceituais em e t o d o l g i c o s ,enfatizando a questo doplanejamento, foi apre-sentada no XI CongressoInternacional do CLAD(((((Centro Latino-americanode Administrao parao Desenvolvimento)sobre Reforma do Estadoe da AdministraoPblica, realizado emGuatemala, capital, de07 a 10 de novembro de2006, no painel Desen-volvimento e governanalocal: a cultura importa.O autor agradece o apoioinstitucional e materialda Secretaria da Culturado Estado do Cear.

    1 O projeto que permitiua elaborao do Plano deAo da Bacia Culturaldo Araripe foi realizadopelas secretarias esta-duais de Cultura dosestados do Cear, Paraba,Pernambuco e Piau, soba liderana da SECULT-CE, e mereceu o apoiotcnico da Universidade

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    2727272727Cultura e Desenvolvimento: referncias para o planejamento regional

    Aspectos conceituais

    Durante boa parte dos sculos XIX e XX, e mesmo muito recentemente, osidelogos do progresso, os tericos da modernizao e os novos conservadores,reivindicaram a existncia de obstculos culturais ao crescimento econmico,sugerindo que o atraso de alguns pases decorre de determinadas caractersticaspsicossociais das populaes perifricas. Era uma questo de atavismo. Parasuper-lo, cumpria aos modernizadores buscar transferir, ainda que a descargasde canho e golpes de baioneta (Cunha, 2002), as instituies e valores damodernidade e da cultura ocidental, de sorte que os povos atrasados pudessemseguir a trajetria de crescimento dos pases desenvolvidos.

    Essa viso, embora bastante criticada, ainda persiste. Recentemente, numacoletnea sobre o tema, Samuel Huntington comparava as trajetrias de Ganae da Coria do Sul nos ltimos 40 anos, mostrando a semelhana dosindicadores econmicos e sociais dos dois pases no inicio do perodo e oenorme foco que os separa hoje (Harrison & Huntington: 2002). Segundoseu ponto de vista, o que explica essa disparidade era a cultura. A cultura importa...

    Mais uma vez, a constatao se converte em explicao para dar base a umraciocnio circular, ahistrico e etnocntrico. A explicao post hoc se ospases crescem, a cultura uma alavanca do desenvolvimento; se os pases empobrecem(ou permanecem pobres) a cultura um obstculo ao desenvolvimento.

    Ela tambm no d conta das mudanas sociais. Por exemplo, o que houvecom a cultura coreana, que manteve sua economia estagnada por sculos esculos, para, de repente, faz-la entrar no surto de crescimento acelerado doltimo quartel do sculo XX? Ser que foi mesmo a cultura? O que dizer daChina que agora segue essa mesma trajetria? E da Argentina, de culturaeuropia, como se diz, que j foi a stima economia do mundo e hoje lutapara se reencontrar com o crescimento sustentvel? E da velha Rssia?

    No obstante essas crticas, as questes permanecem. Quaisquer que sejamos a priori tericos e axiolgicos que condicionem as anlise e conclusesdos estudiosos, existem as culturas, existem as desigualdades econmicas eexistem as mudanas sociais.

    CulturaCulturaCulturaCulturaCultura

    A cultura aqui entendida em sentido amplo, contemplando

    Regional do Cariri(URCA) e o suporteinstitucional e materialdos Ministrios daCultura e da IntegraoNacional, do Banco doNordeste do Brasil, doServio de Apoio sPequenas e MdiasEmpresas (SEBRAE) edo Servio Social doComrcio.

  • toda herana no biolgica que faz a diferena entre ospovos, vale dizer, os diversos processos de designao esimbolizao (linguagens), as inmeras maneiras de lidarcom a morte, o desconhecido e o imaginado (religies eartes), as formas singulares de se relacionar com anatureza (tecnologias), as maneiras particulares deregular as relaes sociais (instituies), inclusive aproduo e distribuio de bens (economia) e asdiferenciadas formas de sociabilidade gratuita (festas, jogose brincadeiras) (Lustosa: 2006c).

    matriz, em constante transformao, dos sentimentos e das maneiras deperceber e se apropriar do mundo que caracterizam as comunidades em umdado momento. Essa maneira abrangente de compreend-la permite atentar parao fato de que no existem prticas que no estejam calcadas em representaesatravs das quais os indivduos constroem o sentido de suas existncias.Instituies, prticas e representaes configuram a reproduo e a mudana social.

    Este trabalho aceita a premissa de que a cultura um fator primordial noprocesso de desenvolvimento local e regional sustentvel, pois contribui para

    Revalorizar prticas sociais e manifestaes culturais msica,folguedos e festas populares, arte, artesanato, religiosidade que soconsiderados elementos constituintes da identidade, fatores deagregao social e de aumento da auto-estima da populao;

    Fortalecer vnculos locais e regionais, a confiana mtua e o fomentode formas associativas de participao social no processo dedesenvolvimento regional;

    Conduzir ao reconhecimento de que as prticas e produtos culturaisse constituem, eles mesmos, em atrativos para projetos especficos dedesenvolvimento regional e oportunidades de gerao de renda e emprego.

    Tambm toma como ponto de partida o consenso, pouco a pouco construdono frum da UNESCO (1997), de que pases com grande diversidade cultural,como o Brasil, podem encontrar seu diferencial competitivo na chamadaindstria criativa. A transformao da sociedade brasileira pode ser propiciada,em grande medida, por intermdio da cultura, em virtude do potencialtransformador da diversidade cultural. O prprio desenvolvimento social sed pela valorizao das pessoas, pelo respeito s suas prticas culturais ediferenas e pelo acesso ao conhecimento.

    2828282828 Frederico Lustosa da Costa

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    Desenvolvimento sustentvelDesenvolvimento sustentvelDesenvolvimento sustentvelDesenvolvimento sustentvelDesenvolvimento sustentvel

    Das dezenas de definies de desenvolvimento sustentvel existentes naliteratura especializada, parece que uma das mais consistentes ainda a daComisso Mundial sobre o Meio-Ambiente das Naes Unidas (1987).Segundo relatrio da Comisso Brundland, que consagrou o uso dessaexpresso, o desenvolvimento sustentvel

    um processo de transformao no qual a explorao dosrecursos, a direo dos investimentos, a orientao dodesenvolvimento tecnolgico e a mudana institucionalse harmonizam e reforam o potencial presente e futuro(...) aquele que atende s necessidades do presente semcomprometer a possibilidade de as geraes futurasatenderem s suas prprias necessidades (IBGE, 2002).

    Hoje, a reviso do prprio conceito de desenvolvimento tem levado a umaaproximao cada vez maior das concepes que inspiraram a construode desenvolvimento sustentvel Para Amartya Sen (2000), por exemplo,desenvolvimento o aumento da capacidade de os indivduos fazeremescolhas, quer dizer, mais liberdade individual para uma melhorqualidade de vida. Liberdade com sentido positivo que vai muito alm daausncia de restries. a possibilidade fsica, material e intelectual deir e vir, sonhar, imaginar, fazer, deixar de fazer e viver. a conquista decapacidades, qualificaes e prerrogativas para o movimento, a troca, oprazer e a valorizao simblica da existncia.

    Assim, o desenvolvimento ou sustentvel ou no verdadeirodesenvolvimento. E a sustentabilidade contempla a promoo humana nosaspectos econmico, social, poltico, ambiental e cultural. Para alm doaumento da renda dos indivduos e da melhoria das condies sociais, odesenvolvimento sustentvel amplia os espaos de sociabilidade e participao,reconhece e valoriza a dimenso simblica da existncia e preserva para asgeraes futuras o meio fsico e o patrimnio material e imaterial.

    Desenvolvimento regionalDesenvolvimento regionalDesenvolvimento regionalDesenvolvimento regionalDesenvolvimento regional

    Essa concepo de desenvolvimento reala o papel decisivo das cidades eregies, pois nelas que vive a maior parte da populao mundial e serem seu entorno que as pessoas e coletividades podero concretizar seusanseios de melhores condies de habitar e viver. As cidades e regies

    2929292929Cultura e Desenvolvimento: referncias para o planejamento regional

  • transformaram-se em atores estratgicos e passaram a competir porinvestimentos e por participao no mercado global.

    Para enfrentar com alguma chance de xito a competio, h necessidade deuma nova estratgia de desenvolvimento, na qual se considere a regio comose fosse um pas soberano ou mesmo uma empresa transnacional. Assim,cidades bem sucedidas no mundo globalizado sero aquelas capazes deestabelecer uma viso de futuro, compartilhada por todos os habitantes,de descobrir suas reais vocaes, de avaliar os pontos fortes e vulnerveisno que diz respeito explorao de suas potencialidades e que tambmsejam capazes de estabelecer estratgias bem definidas para concretizar ainsero nos mercados regionais, nacionais e mundiais.

    Assim, a noo de desenvolvimento regional implica que as regies possamser tomadas como espaos integrados a estados, macrorregies, pases eao prprio mundo globalizado, interagindo dinamicamente com todos essesambientes e mercados (Boisier: 1996). Esse novo paradigma entende odesenvolvimento nacional como um processo de coordenao e sinergiaentre vrios processos de desenvolvimento local e regional. Essa mudanade paradigma resulta da combinao de uma srie de fatores, dentre osquais merecem ser ressaltados:

    As novas formas de produzir e comercializar bens e servios, graas revoluo dos transportes e da telemtica, o que possibilitou substituiro sistema produtivo baseado em grandes plantas industriais e cadeiasprodutivas verticalizadas situadas em um espao nacional, pororganizaes operando em rede, situadas em diferentes pases eformando cadeias produtivas e comerciais globalizadas;

    A homogeneizao de padres culturais e de consumo, em escalaglobal, o que, de um lado, refora o consumo de um conjunto de bens eservios e, de outro, cria uma preocupao cada vez maior com a afirmaode identidades culturais, como forma de resistncia crescentehomogeneizao, incentivando o pluralismo e o direito diferena;

    A compreenso de que a melhoria da qualidade de vida no setraduz apenas no crescimento da oferta de bens materiais, mas naampliao das oportunidades de realizao pessoal e coletiva, nareduo das desigualdades sociais e no respeito ao meio ambiente; e

    A convico de que o desenvolvimento um tema que diz respeito atoda a comunidade e no apenas a um grupo seleto de tcnicos e

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    dirigentes situados nos escales mais altos de Governo e de que shaver desenvolvimento sustentvel e capaz de integrar crescimentoeconmico com bem-estar individual e social se houver ademocratizao das decises e polticas (Boisier: 1999).

    Bacia CulturalBacia CulturalBacia CulturalBacia CulturalBacia Cultural

    A noo de bacia culturalbacia culturalbacia culturalbacia culturalbacia cultural tem sido proposta pelo Ministro Gilberto Gil.Constitui um espao geogrfico diferenciado, que toma como referncia acultural regional, valorizando, ao mesmo tempo, a identidade e a diversidade.Trata-se de metfora pertinente, inspirada no conceito de bacia hidrogrfica,que evoca a idia de manancial, de vale, de irrigao do solo adjacente aocurso e de distribuio do lquido precioso que corre em seu leito.

    A Bacia cultural se alimenta das inmeras fontes criativasque formam os mananciais de bens simblicos que, um aum, vo desaguando no grande eixo que constitui aidentidade da bacia. A bacia cultural cortada por umaartria aberta que deixa fluir a seiva da cultura regionalpara alimentar o grande rio da nossa diversidade criativae o oceano das culturas do mundo. O fluxo que se esvai inesgotvel e seminal; como um recurso moral, cujoestoque se expande na medida em que mais consumido(Lustosa da Costa, 2006c).

    A noo de bacia inclui tambm elementos de natureza tanto geogrfico-ambiental, quanto scio-econmica, j que cultura, sociedade e meio ambienteso componentes da realidade absolutamente inseparveis. Da porque, nadefinio de uma bacia cultural podem estar presentes elementos relacionadosa processos migratrios, trocas de produtos e servios, relaes ambientais eecolgicas, e um conjunto de caractersticas outras, que do respaldo a umpossvel sentimento de pertena e identidade dentro da diversidade regional.

    Assim, a bacia cultural pode ser definida como

    um territrio que se configura em torno de um mesmo fluxocultural, nutrido por fontes culturais diversas, que sefundem e se desdobram numa rede relacional deinfluncias e confluncias, para formar, em suadiferena e a partir de um imaginrio compartilhado,um espao original (Barroso: 2006).

    3131313131Cultura e Desenvolvimento: referncias para o planejamento regional

  • Bacia Cultural do AraripeBacia Cultural do AraripeBacia Cultural do AraripeBacia Cultural do AraripeBacia Cultural do Araripe

    Considerado de diferentes pontos de vista, o Cariri, a Chapada do Araripe eo Alto Serto paraibano constituem uma regio geogrfica bem definida, comcaractersticas geogrficas comuns, identidade cultural prpria, sentido depertena e vocaes econmicas complementares. Trata-se de um espaointerestadual de relativa homogeneidade edafoclimtica, com solos profundose bem drenados, relativamente frteis, apropriados a diferentes culturasagrcolas, segundo os micro-climas que se situam na suave transio entre osvales midos e o semi-rido. A regio, localizada no epicentro do Nordeste,engloba 85 (oitenta e cinco municpios) de quatro estados2, numa rea de59.432 km, onde vivem aproximadamente 1.662 mil habitantes.

    Indiscutvel plo comercial, alimentado pela diversidade da produo regional,a intensidade das trocas internas, a eqidistncia entre as principais capitaisdo Nordeste e as grandes romarias, a regio se industrializa rapidamente,mas ainda apresenta potencial significativo na extrao mineral (calcrioe gesso), na agricultura (mandioca, cana-de-acar e culturas desubsistncia) e na pecuria (sobretudo na apicultura e na caprinocultura).Ali tambm se encontra um enorme potencial turstico alicerado naqualidade do clima, no artesanato, na religiosidade, na culinria e nas festase folguedos populares praticamente inexplorado.

    Do ponto de vista institucional, para diversos organismos federais, grandeparte dessa rea o territrio da bacia sedimentar do Araripe constituium espao de interveno diferenciado, de carter supra-estadual,podendo se apresentar como mesorregio (Ministrio da IntegraoNacional), rea de proteo ambiental (Ministrio do Meio Ambiente),zona de programao comum e/ou complementar (SEBRAE) ou plo dedesenvolvimento integrado (Banco do Nordeste).

    , sobretudo, no plano da Cultura que o Cariri, o Araripe se afirma comoregio, pelos traos de identidade, pelas tradies comuns, pela vocao paraa gerao de renda nas reas de cultura e artesanato e pelascomplementaridades econmicas. H ali uma belssima paisagem natural,um singular acervo paleontolgico (que se mostra flor da terra), os registrosde civilizaes passadas, o diversificado patrimnio material e imaterial euma multiplicidade de manifestaes cultuais, a comear pela fora dareligiosidade, pela quantidade de folguedos e festas populares (os reisados,os caretas, Pau da Bandeira de Santo Antonio, a Missa do Vaqueiro), pelabeleza e variedade do artesanato. Toda regio cruzada pelas romarias

    2 So 31municpios doCear, 15 da Paraba, 12de Pernambuco e 27 doPiau.

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    que se dirigem a Juazeiro do Norte, alimentando seu comrcio, estimulandosuas pousadas e fortalecendo a rede de cidades da regio.

    Assim, a regio do Araripe se presta bem ao emprego da noo de baciabaciabaciabaciabaciaculturalculturalculturalculturalcultural. Esse espao geogrfico diferenciado um esturio das grandesmatrizes da cultura nordestina, que esto plantados no solo frtil da paisagemnatural e fazem florescer manifestaes particulares de religiosidade, folguedos,msica, dana, artesanato, culinria, falas e brincadeiras. Tambm se tratade metfora pertinente porque a regio do Araripe constitui uma bacia sedimentar.

    Parece bvio que essa regio merece uma ao conjunta dos governos dosestados do Cear, Paraba, Pernambuco e Piau e do prprio governo federalno sentido de explorar as potencialidades regionais, sobretudo no campo dacultura. Apoiados nessas premissas, diversos organismos do governo federale dos governos dos estados do Cear, Pernambuco, Paraba e Piau secomprometeram com a idia de que valorizao das culturas regionais contribuipara o desenvolvimento econmico e social. Valorizar a cultura regional significadesenvolver aes culturais identificadas com as vocaes e potencialidadesregionais, o que requer a criao de instncias de compartilhamento de idias,formulao de planos, execuo e monitoramento de aes.

    Aspectos metodolgicos

    O processo de planejamento de aes governamentais e no governamentaisno domnio em que se encontram cultura e desenvolvimento regional semprecolocar aos agentes envolvidos o desafio de estabelecer ou um plano dedesenvolvimento fundado na cultura regional ou formular um plano de culturaorientado para o desenvolvimento regional.

    Se se toma como vlidos os pressupostos que definem a bacia cultural, valedizer, a centralidade da cultura no processo de desenvolvimento, esse desafio apenas parcialmente dilemtico. Pois um plano de desenvolvimento regionalno pode negligenciar a cultura nem um plano de ao cultural deixar de tercomo foco o desenvolvimento regional.

    Dimenses do planejamento regionalDimenses do planejamento regionalDimenses do planejamento regionalDimenses do planejamento regionalDimenses do planejamento regional

    Num ou noutro caso, determinadas aes devem ser empreendidas para quese possa empreender com alguma chance de xito um projeto de desenvolvimentocalcado no novo paradigma de desenvolvimento. Faz-se indispensvelrevolucionar a forma de planejar e gerenciar ao cultural e o crescimento

    3333333333Cultura e Desenvolvimento: referncias para o planejamento regional

  • econmico sustentvel. A revoluo implica em considerar regies (ou bacias) emesmo algumas cidades como se fossem pases soberanos e tambm empresas.

    Com efeito, as regies mais bem sucedidas sero aquelas capazes deestabelecer uma viso de futuro, compartilhada por todos os habitantes, de descobrirsuas reais vocaes, de avaliar os pontos fortes e vulnerveis no que respeita aexplorao de suas potencialidades e que tambm sejam capazes de estabelecerestratgias bem definidas para concretizar suas vocaes e potencialidades.

    Todas essas definies dependem do conhecimento aprofundado sobre arealidade regional. Assim, o primeiro e indispensvel passo na formulao deuma estratgia competitiva a coleta e anlise de informaes sobre o contextoregional, no que respeita a demografia, economia, cultura, sociedade e meioambiente, transformando essas informaes em conhecimentos que possamsubsidiar a formulao de uma viso de futuro e a escolha das estratgiasnecessrias para realiz-la. O mapeamento cultural, a identificao dos arranjosprodutivos locais da cultura e o calendrio de eventos da regio so elementosfundamentais de uma descrio densa da bacia cultural.

    A composio desse quadro scio-cultural torna evidente a necessidade deconsiderar os elementos histricos e culturais que caracterizam o territriocomo aspectos relevantes para o processo de formulao e implementao dePlanos de Desenvolvimento Regional. Nesse sentido, uma ateno especialdeve ser dada discusso sobre a cultura e a identidade regional.

    O planejamento regional se caracteriza pela sua base territorial, que pode serdefinida a partir de bacias hidrogrficas, caractersticas do solo e do clima,vocaes econmicas, eixos de integrao e identidades culturais. Por isso, aetapa seguinte consiste em formular um ordenamento territorial da baciacultural consistente com a raiz identitria, a geografia fsica, as vocaes,potencialidades e complementaridades econmicas, as tradiesadministrativas, a contigidade e as estratgias delineadas , que facilite autilizao mais racional dos recursos existentes. Isso precisa ser feito semesquecer as vantagens comparativas j acumuladas por algumas cidades que,ao longo da histria, passaram a constituir centros ou plos regionais, emtorno dos quais outras cidades e regies se entrelaam. Formam-seautnticas redes de cidades, nas quais diferenas e complementaridadescontribuem para criar cadeias produtivas dotadas de elevado grau dedinamismo e sustentabilidade. A compreenso do espao da bacia comouma rede hierarquizada de cidades fundamental para o estabelecimentodos roteiros tursticos, do calendrio comum de eventos culturais e dasestruturas de distribuio de produtos artesanais.

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    Por outro lado, o planejamento da bacia cultural no pode deixar de levar emconta os aspectos institucionais da regionalizao, vale dizer, a diviso territorialem estados e municpios, as micro e mesorregies, as bacias hidrogrficasreconhecidas e as diferentes regies administrativas estabelecidas pelosdiversos rgos pblicos atuantes na regio. A superposio dessasinstitucionalidades espaciais permite estabelecer uma matriz de regionalizaocapaz de compatibilizar o planejamento e as aes de todas as instncias.

    Os conhecimentos adquiridos sobre o funcionamento dessas redes devempermitir empreender um esforo sistemtico para prever ou estimular aformao de novas redes, bem como para conceber mecanismos que suscitemestratgias de desenvolvimento local e possibilitem sua articulao, de modoa conferir-lhes maior sinergia e desencadear uma espiral virtuosa dedesenvolvimento que abarque a totalidade dos municpios e regies.

    Em todas as fases descritas imperativo promover e garantir o envolvimentodas comunidades beneficirias, o que significa dizer que governantes,lideranas polticas e empresariais e organizaes comunitrias precisamparticipar na formulao, implementao, monitoramento e avaliao dosplanos e estratgias de construo do futuro de suas cidades e regies.

    Considerando todos esses aspectos, planejar a ao cultural e odesenvolvimento regional e local deve ser entendido como atividadegovernamental contnua, sistemtica e permanente, modelada de forma a tornara concepo e gesto dos planos estratgicos atos participativos e ascendentes,regionalizados, descentralizados e integrados.

    Concepo estratgica

    Pensar as relaes entre cultura e desenvolvimento e tomar essa reflexocomo ponto de partida para definir uma estratgia de interveno coordenadaentre agentes pblicos, privados e comunitrios constitui um desafio dos maiscomplexos e instigantes.

    Em primeiro lugar, a prpria natureza da interveno ainda objeto de umdilema importante. Trata-se de propor uma estratgia de desenvolvimentoque tome a cultura regional como referncia ou de definir um conjunto deaes culturais orientadas para o desenvolvimento regional?

    Em segundo lugar, qualquer que seja a opo tomada, h sempre um riscosignificativo de instrumentalizar a cultura. Isto pode acontecer de duasmaneiras. De um lado, a cultura pode ser vista como um obstculo mudana

    3535353535Cultura e Desenvolvimento: referncias para o planejamento regional

  • social. Nesse sentido, o desenvolvimento constitui um processo de mudanade mentalidades e deve ser alcanado atravs de estratgias de modernizao,vale dizer, da introduo de valores superiores de culturas mais virtuosas.De outro, a cultura, vista como um bem econmico, pode ser colocada aservio do mercado, no sentido de se ajustar s suas demandas, encontrarnovos consumidores e gerar ocupaes teis.

    A estratgia define as formas particulares com que o Plano de Ao Cultural daBacia do Araripe lida com esses desafios. Ela toma como referncia experinciasde desenvolvimento local e regional, de carter endgeno, em que os habitantesda regio so seus principais protagonistas e onde se criaram novas oportunidadesde renda e emprego pela potencializao dos produtos da economia local.

    A estratgia se coloca num meio termo entre os paradigmas dodesenvolvimento com foco na cultura e da ao cultural como estratgia dedesenvolvimento. Trata-se de tentar integrar todos os mecanismos deinterveno governamental ou no-governamental e coloc-los dentro daperspectiva da cultura regional e de definir um conjunto de objetivos e linhasde aa cultural orientadas para o desenvolvimento regional.

    Por ltimo, a estratgia considera que os bens e manifestaes culturais serealizam numa sociedade de mercado e, portanto, esto sujeitos aos ditamesda lei da oferta e da procura. Mas considera tambm que haver produocultural ainda que no haja mercado e que, muitas vezes, o diferencial demercado dos bens culturais justamente sua indiferena ao mercado.

    Assim, para a estratgia deste Plano, considera-se que o desenvolvimento ou sustentvel ou no verdadeiro desenvolvimento. E, como j foi visto, asustentabilidade contempla a promoo humana nos aspectos econmico,social, poltico, ambiental e cultural. Para alm do aumento da renda dosindivduos e da melhoria das condies sociais, o desenvolvimentosustentvel amplia os espaos de sociabilidade e participao, reconhece evaloriza a dimenso simblica da existncia e preserva para as geraes futuraso meio fsico e o patrimnio material e imaterial.

    Etapas do processo de planejamentoEtapas do processo de planejamentoEtapas do processo de planejamentoEtapas do processo de planejamentoEtapas do processo de planejamento

    A elaborao do Plano obedeceu a uma metodologia de trabalho em etapas,eminentemente participativa, que associava o levantamento e sistematizaode dados, o uso os conceitos e instrumentos de planejamento estratgico edesenho de projetos, tcnicas de moderao de grupos e visualizaocompreensiva e simultnea.

    3636363636 Frederico Lustosa da Costa

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    Etapa 1 Sistematizao de dados scio-econmicos e culturais,Etapa 1 Sistematizao de dados scio-econmicos e culturais,Etapa 1 Sistematizao de dados scio-econmicos e culturais,Etapa 1 Sistematizao de dados scio-econmicos e culturais,Etapa 1 Sistematizao de dados scio-econmicos e culturais,em nvel regional, a partir de levantamentos em bases de dados oficiais, sendoapresentados como resultados:

    Identificao e caracterizao de vocaes econmicas epotencialidades de investimento e gerao de renda nas reas de cultura,artesanato e turismo; e

    Sntese do conceito e das principais idias-fora que devem orientara definio de macro-estratgias de ao cultural e desenvolvimentoregional.

    Etapa 2 Oficinas preparatrias nos quatro estados envolvidos,Etapa 2 Oficinas preparatrias nos quatro estados envolvidos,Etapa 2 Oficinas preparatrias nos quatro estados envolvidos,Etapa 2 Oficinas preparatrias nos quatro estados envolvidos,Etapa 2 Oficinas preparatrias nos quatro estados envolvidos,realizadas em paralelo, para identificao de problemas e objetivos estratgicosde cada sub-regio, assegurando aos participantes:

    Informao;

    Sensibilizao;

    Mobilizao;

    Identificao de problemas;

    Apresentao dos questionrios.

    EEEEEtapa 3 Definio da estratgia global de ao cultural paratapa 3 Definio da estratgia global de ao cultural paratapa 3 Definio da estratgia global de ao cultural paratapa 3 Definio da estratgia global de ao cultural paratapa 3 Definio da estratgia global de ao cultural parao desenvolvimento da Mesorregio do Cariri , Araripe e Altoo desenvolvimento da Mesorregio do Cariri , Araripe e Altoo desenvolvimento da Mesorregio do Cariri , Araripe e Altoo desenvolvimento da Mesorregio do Cariri , Araripe e Altoo desenvolvimento da Mesorregio do Cariri , Araripe e AltoSerto, Serto, Serto, Serto, Serto, a partir do mapeamento de suas vocaes econmicas especficas,de suas complementaridades, dos cenrios que se lhes descortinam, desuas bases logsticas e da insero de seus bens e servios culturais nosmercados regional, nacional e mundial.

    Etapa 4 Etapa 4 Etapa 4 Etapa 4 Etapa 4 Realizao do I Encontro das Culturas do Cariri, Araripe e Realizao do I Encontro das Culturas do Cariri, Araripe e Realizao do I Encontro das Culturas do Cariri, Araripe e Realizao do I Encontro das Culturas do Cariri, Araripe e Realizao do I Encontro das Culturas do Cariri, Araripe eAlto Serto para o Desenvolvimento Regional, Alto Serto para o Desenvolvimento Regional, Alto Serto para o Desenvolvimento Regional, Alto Serto para o Desenvolvimento Regional, Alto Serto para o Desenvolvimento Regional, com o propsito de afirmarpoliticamente a identidade regional, favorecer o intercmbio entre os agentesculturais e estimular a integrao de aes. Foi tambm uma primeira oportunidadede aprofundar o conhecimento sobre a regio como um todo e as particularidadesdas sub-regies de cada estado, discutir a sua vocao cultural e as potencialidadesde gerao de renda nas artes, no artesanato, no turismo e nas manifestaesculturais, em geral, lanando as bases do planejamento e ao conjuntas

    Etapa 5 Realizao da Oficina de Planejamento EstratgicoEtapa 5 Realizao da Oficina de Planejamento EstratgicoEtapa 5 Realizao da Oficina de Planejamento EstratgicoEtapa 5 Realizao da Oficina de Planejamento EstratgicoEtapa 5 Realizao da Oficina de Planejamento Estratgicodestinada a consolidar os achados das oficinas preparatrias, reconhecer os

    3737373737Cultura e Desenvolvimento: referncias para o planejamento regional

  • problemas e validar os objetivos, e estabelecer o diretrio de programasestruturantes que constituem a espinha dorsal do Plano.

    Validao do quadro geral de problemas;

    Definio do propsito mobilizador;

    Construo da viso de futuro;

    Estabelecimento de objetivos;

    Definio de problemas estruturantes.

    Etapa 6 Elaborao do Plano de Ao da Bacia Cultural doEtapa 6 Elaborao do Plano de Ao da Bacia Cultural doEtapa 6 Elaborao do Plano de Ao da Bacia Cultural doEtapa 6 Elaborao do Plano de Ao da Bacia Cultural doEtapa 6 Elaborao do Plano de Ao da Bacia Cultural doAraripe. Araripe. Araripe. Araripe. Araripe. Como produtos complementares dessa etapa de trabalho seroapresentados os seguintes:

    Matriz das cadeias produtivas da Cultura subsdios para omapeamento;

    Calendrio de eventos regionais.

    Obedecendo a essa metodologia, o plano ficou estruturado em cincopartes, a saber:

    Panorama scio-econmico da Bacia Cultural do Araripe;

    Subsdios para o mapeamento cultural da Bacia Cultural do Araripe;

    Concepo estratgica para a ao cultural concertada;

    Programas estruturantes;

    Modelo de gesto.

    Contedo do PlanoContedo do PlanoContedo do PlanoContedo do PlanoContedo do Plano33333

    Examinadas todas as dimenses e cumpridas todas as etapas do planejamento,o processo de elaborao deste Plano de Ao permitiu definir os seguinteselementos da Estratgia:

    AFIRMAO DA IDENTIDADE NA DIVERSIDADEAFIRMAO DA IDENTIDADE NA DIVERSIDADEAFIRMAO DA IDENTIDADE NA DIVERSIDADEAFIRMAO DA IDENTIDADE NA DIVERSIDADEAFIRMAO DA IDENTIDADE NA DIVERSIDADE, comoforma de recuperao da auto-estima, mobilizao e intercmbio.

    SABER, CONHECIMENTO E INVENTIVIDADE, SABER, CONHECIMENTO E INVENTIVIDADE, SABER, CONHECIMENTO E INVENTIVIDADE, SABER, CONHECIMENTO E INVENTIVIDADE, SABER, CONHECIMENTO E INVENTIVIDADE, valorizandotodas as formas de expresso e diferenciao do engenho humano.

    CIRCULAO de manifestaes e bens culturaisCIRCULAO de manifestaes e bens culturaisCIRCULAO de manifestaes e bens culturaisCIRCULAO de manifestaes e bens culturaisCIRCULAO de manifestaes e bens culturais, comoforma de exposio, conhecimento mtuo e ampliao do mercado.

    3 As partes que seseguem reproduzemalgumas das sugestes,propostas e recomen-daes do Plano de Aoda Bacia Cultural doAraripe para o Desen-volvimento Regional(Lustosa da Costa, 2006a).

    3838383838 Frederico Lustosa da Costa

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    INCLUSO SOCIALINCLUSO SOCIALINCLUSO SOCIALINCLUSO SOCIALINCLUSO SOCIAL, pela gerao de oportunidades de trabalhoe renda, melhoria da qualidade de vida e valorizao simblica daexistncia.

    SUSTENTSUSTENTSUSTENTSUSTENTSUSTENTABILIDABILIDABILIDABILIDABILIDADEADEADEADEADE dos processos e dos resultados, garantindorentabilidade, mobilizao (capital social) e institucionalidade.

    A participao dos diversos grupos interessados em oficinas de planejamentotambm criou a oportunidade para que os protagonistas desse processodefinissem o propsito mobilizador desta experincia e do prprio Plano, aviso do futuro que desejam para a regio e os grandes objetivos da interveno.

    Assim, o Plano tem como propsito mobilizador potencializar a auto-estimada populao da Regio, atravs da afirmao da sua identidade e daagregao de valor a seus bens e produtos culturais, contribuindo paraaumentar a renda e melhorar suas condies de vida.

    A viso de futuro da regio a de uma comunidade cultural reconhecida porsua identidade e seus valores, respeitada em sua dignidade, satisfeita emsuas necessidades materiais, desenvolvida social e economicamente, destacadae forte em suas potencialidades polticas.

    As oficinas preparatrias criaram a oportunidade para que os atores pudessemidentificar e analisar um quadro geral de problemas, que est exposto noPlano de Ao, como parte do diagnstico. A anlise e a discusso dessequadro de problemas ensejaram a formulao de uma rvore de objetivos,tambm exposta em diagrama apresentado no Plano. A sistematizao dasindicaes nela contidas permitiu a definio do objetivo geral, dos objetivosespecficos e das linhas de ao, conforme se segue.

    Objetivo Geral:Objetivo Geral:Objetivo Geral:Objetivo Geral:Objetivo Geral:

    Promover e valorizar a cultura regional da Bacia do Araripe.

    Objetivos especficios:Objetivos especficios:Objetivos especficios:Objetivos especficios:Objetivos especficios:

    Favorecer a formao cultural, inclusive a competncia para a leiturae para a mdia, de sorte a oferecer populao elementos para aassimilao crtica da produo cultural aliengena;

    Preservar a cultura regional, resgatando sua memria coletiva epromovendo suas manifestaes;

    3939393939Cultura e Desenvolvimento: referncias para o planejamento regional

  • Elevar a auto-estima da populao regional, atravs doreconhecimento e valorizao da sua cultura;

    Criar condies para a valorizao e o aproveitamento dos talentos da regio;

    Estimular o empreendedorismo.

    Linhas de ao:

    Dotar a regio de infra-estrutura adequada e suficiente para aproduo cultural;

    Gerar oportunidades de insero e difuso da cultura regional;

    Realizar programao intensiva de circulao, intercmbio e difusode bens e manifestaes culturais;

    Capacitar os artistas, profissionais e interessados no fazer artstico ena produo cultural;

    Promover a integrao entre aes culturais e educativas, favorecendoa formao cultural da populao desde a infncia e a juventude.

    A partir desses objetivos, foram definidos os seguintes programas de ao:

    a) Programa de Infra-estrutura Cultural;

    b) Programa de Fomento Ao Cultural;

    c) Programa de Memria e Patrimnio;

    d) Programa de Capacitao;

    e) Programa de Educao para a Cultura;

    f) Programa de Circulao, Intercmbio e Difuso;

    g) Programa de Apoio Gesto Cultural.

    Esses programas foram devidamente detalhados no Plano, com a indicaode escopo, objetivos, aes, instituio-lider da execuo e recursos envolvidos

    Planejamento Institucional e Modelo de GestoPlanejamento Institucional e Modelo de GestoPlanejamento Institucional e Modelo de GestoPlanejamento Institucional e Modelo de GestoPlanejamento Institucional e Modelo de Gesto

    A implementao de um plano de ao cultural orientado para o desenvolvimentode uma regio que abrange diferentes espaos estaduais e a ao concertada deatores sociais e agentes pblicos situados em diversos nveis institucionais requero funcionamento de um modelo de gesto capaz de promover a articulaoinstitucional indispensvel cooperao mtua, coordenao de decises, integrao de aes e racionalizao do uso de recursos.

    4040404040 Frederico Lustosa da Costa

  • O Pblico e o privado - N 12 - Julho/Dezembro - 2008

    Um modelo de gesto nada mais do que uma maneiraparticular de planejar, organizar, dirigir, coordenar,acompanhar e avaliar as atividades de uma determinadaorganizao, programa ou rede de relaesinterinstitucionais. Ele se expressa na forma que umarranjo institucional assume para fazer circularinformaes, estabelecer objetivos e indicadores, distribuirautoridade e responsabilidades, compartilhar decises,extrair e alocar recursos, estabelecer parcerias, agenciaresforos e controlar e avaliar resultados (Lustosa da Costa, 2001).

    Para atender tais requisitos e assegurar a consecuo de atividades complexascomo as da rea cultural, necessrio um sistema de gesto flexvel, quepermita novas formas de cooperao entre governos nacional, estaduais elocais, organizaes no-governamentais, empresas privadas, intelectuais,criadores, produtores e agentes cultuais.

    Assim, o modelo de Planejamento e Gesto Integrada da Bacia Cultural doAraripe deve obedecer aos seguintes princpios:

    Enfrentamento dos problemas com base numa abordagem integradaaaaae num enfoque interdisciplinar e multissetorial;

    Democratizao das informaes e transparncia dos processos;

    Incentivo participao ampliada, com o fortalecimento de laosentre os atores sociais da cena cultural;

    Formao de consensos em torno de projetos estratgicos;

    Respeito centralidade reconhecida de instituies regionaispreexistentes, assim como dos papis de entidades que exeramliderana expressiva ou apoio financeiro a programas ou projetos daBacia cultural;

    Utilizao mxima (possvel) da capacidade institucional e gerencialinstalada na regio da Bacia;

    Papel do catalisador/articulador de foras e de mecanismosinstitucionalizados de cooperao e liderana (Lustosa da Costa, 2006a).

    O modelo de gesto a ser adotado deve tentar alcanar os seguintes objetivos:

    Estimular o planejamento ascendente, alimentando o processo comas contribuies dos debates, estudos, diagnsticos, planos, programase projetos de carter local, estadual ou regional;

    4141414141Cultura e Desenvolvimento: referncias para o planejamento regional

  • Favorecer a flexibilidade, celeridade e sinergia no planejamento,execuo e avaliao das aes;

    Assegurar a realizao de aes integradas entre os diversos parceirosque operam na Bacia Cultural do Araripe;

    Facilitar a retro-alimentao do processo de planejamento e os ajustesnecessrios para a otimizao do processo de implementao, por meiode um esforo interinstitucional de monitoramento, acompanhamentoe avaliao das aes na bacia do Araripe;

    Proporcionar uma estrutura enxuta, com reduzidos custos demanuteno (Lustosa da Costa, 2006a).

    Consideraes Finais

    A retomada do interesse pelo planejamento regional coincide com a crescentevalorizao da dimenso cultural do desenvolvimento. Essa sincronia favorecea realizao de experincias que tirem proveito da convergncia dos doistemas. Assim, planejar o desenvolvimento regional tomando como refernciasa cultura local torna-se um exerccio no apenas plausvel, mas tambm desejvel.

    A elaborao do Plano de Ao da Bacia Cultural do Araripe para oDesenvolvimento Regional constitui, portanto, um exerccio pioneiro doplanejamento regional em que o prprio espao territorial definido em funode afinidades culturais estabelecidas pela identidade na diversidade. Decarter estratgico, constitui tambm uma modalidade de planejamentoascendente e participativo, realizado a partir da mobilizao de gruposinteressados na promoo da cultura e do desenvolvimento regional.Representa ainda uma proposta integrada que incorpora inclusive a dimensoinstitucional do processo, prevendo-se o modelo de agenciamento de esforose recursos e de gerenciamento de aes.

    Assim, o planejamento estratgico participativo, de carter local ou regionalpode ser um instrumento fundamental para incorporar a dimenso cultural aodesenvolvimento sustentvel e contribuir para fortalecer as instituiesencarregadas de implement-lo.

    ABSTRAABSTRAABSTRAABSTRAABSTRACTCTCTCTCT::::: The paper consists of a presentation of the Plan of Action of the Cultural

    Basin of Araripe for the Regional Development, an experience of regional planningthat it takes the local culture as reference, in an area characterized by the identityin the diversity, which is among the states of Cear, Paraba, Pernambuco andPiau. For so much, it retakes the discussion about the relationships between culture

    and development and tries to introduce and to discuss the notion of cultural basin.

    Key words:Key words:Key words:Key words:Key words: culture,

    development,regional culture,regional planning,local administration,cultural basin.

    4242424242 Frederico Lustosa da Costa

    ArtigoArtigoArtigoArtigoArtigoRecebido: 20/02/2008Aprovado: 10/04/2008

  • O Pblico e o privado - N 12 - Julho/Dezembro - 2008

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    4444444444 Frederico Lustosa da Costa