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CURSO DE GRADUAÇÃO EM DIREITO FRANCISCO ALVES MOREIRA NETO MANDADO DE SEGURANÇA NA JUSTIÇA DO TRABALHO MANAUS 2017

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CURSO DE GRADUAÇÃO EM DIREITO

FRANCISCO ALVES MOREIRA NETO

MANDADO DE SEGURANÇA NA JUSTIÇA DO TRABALHO

MANAUS 2017

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CURSO DE GRADUAÇÃO EM DIREITO

FRANCISCO ALVES MOREIRA NETO

MANDADO DE SEGURANÇA NA JUSTIÇA DO TRABALHO

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado para obtenção do título de Bacharel em Direito do Centro Universitário Luterano de Manaus – CEULM / ULBRA. Orientador: Armando Souza Negrão

MANAUS 2017

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FRANCISCO ALVES MOREIRA NETO

MANDADO DE SEGURANÇA NA JUSTIÇA DO TRABALHO

TERMO DE APROVAÇÃO

Este Trabalho tem como objetivo a Conclusão de Curso, submetido a

julgamento e posterior aprovação para obtenção do título de Bacharel no

Curso de Direito do Centro Universitário Luterano de Manaus.

Banca Examinadora:

____________________________________ Orientador

CEULM

____________________________________ Prof. (a) CEULM

___________________________________ Prof. (a) CEULM

Manaus: _____/_____/_____.

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“O tempo lança à frente todas as coisas e

pode transformar o bem em mal e o mal em

bem.”

(Nicolau Maquiavel. O Príncipe)

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AGRADECIMENTO

Ao Deus da minha vida, que eu acredito, que por ele e para ele são todas as

coisas.

Agradecer minha mãe Nery Lemos Moreira, pelo carinho, dedicação, atenção

e compreensão, como sempre, me apoiou em busca de vitórias, obrigado mãe.

A minha família, em especial a minha esposa amada Adriana Fernandes de

Assis por ter tido paciência e compreensão. Minhas filhas lindas Fernanda de Assis

Moreira e Beatriz de Assis Moreira.

Ao professor Armando Negrão, pelo apoio e orientação, muitíssimo obrigado.

Aos amigos e amigas, que tiveram paciência comigo, por ter que agregar

tempo à faculdade, e ter tido que me ausentar um pouco de seus convívios.

Pessoas do meu ambiente de trabalho, os quais contribuíram, para a

elaboração do presente estudo. Não correrei risco de esquecê-los, para tal não

nominarei mais especialmente, muitíssimo obrigado.

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RESUMO

O mandado segurança é um instituto processual de raiz constitucional

para proteger direito líquido e certo, quando o responsável pela ilegalidade ou pelo

abuso de poder for autoridade pública ou agente de pessoa jurídica no exercício de

atribuições do Poder Público.

Nesse sentido, faz-se necessário tecer algumas considerações sobre a

formação do direito constitucional moderno, a fim de que se possa inserir nesse

contexto a figura do mandado de segurança como instrumento de garantia

constitucional do cidadão.

O objetivo desse estudo é analisar a aplicabilidade do Mandado de

Segurança na Justiça do Trabalho e seus efeitos, em concomitância de datas e

eventos, demostrando que o instituto e a Justiça do Trabalho no Brasil são criações

(direitos) recentes, mas, plenamente compatíveis com o ordenamento jurídico atual.

O mandado de segurança é definido como uma garantia fundamental,

destinado a proteção de direito líquido e certo ameaçado ou violado por ato

manifestamente ilegal da autoridade pública. A metodologia utilizada foram as

técnicas de pesquisa bibliográfica e documental, constituídas de livros, artigos e leis,

no qual se registra todo material necessário a compreensão de um texto ou tema.

Palavras-chave: Mandado de segurança, Justiça do trabalho, Súmula, Competência.

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ABSTRACT

The writ of mandamus is a procedural institute of constitutional root to

protect net and certain right, when the person responsible for the illegality or the

abuse of power is public authority or agent of legal entity in the exercise of

attributions of the Public Power.

In this sense, it is necessary to make some considerations about the

formation of modern constitutional law, in order that the figure of the

writ of mandamus can be inserted in this context as an instrument of constitutional

guarantee of the citizen.

The objective of this study is to analyze the applicability of the writ of

mandamus in the Labor Court and its effects, in concomitance of dates and events,

demonstrating that the institute and Labor Justice in Brazil are recent creations

(rights), but fully compatible with the current legal system.

The writ of mandamus is defined as a fundamental guarantee, intended for

the protection of net right and certain threatened or violated by a manifestly illegal act

of the public authority. The methodology used was bibliographic and documentary

research techniques, consisting of books, articles and laws, in which all material

necessary to understand a text or theme is recorded.

Key words: Writ of mandamus, Work justice, Cutlery, Compentence.

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO .................................................................................... 9

2 MANDADO DE SEGURANÇA .......................................................... 11

2.1 CONTEXTO HISTÓRICO DO MANDADO DE SEGURANÇA NA JUSTIÇA DO

TRABALHO NO BRASIL.......................................................................................... 11

2.2 CONCEITO ......................................................................................................... 14

2.3 DA CARACTERIZAÇÃO DO DIREITO LÍQUIDO E CERTO .............................. 15

2.4 ATO DE AUTORIDADE ...................................................................................... 17

2.4.1 A AUTORIDADE .............................................................................................. 18

2.4.1.2 ATO ESTATAL ............................................................................................. 18

2.4.1.3 ATO ADMINISTRATIVO ............................................................................... 19

3 PROCESSO E PROCEDIMENTO DO MANDADO DE

SEGURANÇA.........................................................................................20

3.1 PROCESSO ................................................................................... 20

3.2 PROCEDIMENTO .......................................................................... 20

3.3 NATUREZA PROCESSUAL .......................................................... 21

3.4 TIPOS DE PETIÇÃO ...................................................................... 22

3.4.1 PETIÇÃO INICIAL ....................................................................... 22

3.4.2 PETIÇÃO REGULAR .................................................................. 23

3.4.2.1 PETIÇÃO REGULAR COM PEDIDO LIMINAR ........................ 24

3.4.2.2 PETIÇÃO REGULAR COM PEDIDO DE GRATUIDADE DE

JUSTIÇA .............................................................................................. 25

3.4.2.3 PETIÇÃO REGULAR COM PEDIDO LITISCONSÓRCIO ........ 26

3.5 MANDADO DE SEGURANÇA COLETIVO .................................... 27

3.6 DOS RECURSOS .......................................................................... 29

3.7 AS PARTES ................................................................................... 31

3.8 PRAZO PARA AJUIZAMENTO ..................................................... 33

3.9 SENTENÇA .................................................................................... 34

3.10 APELAÇÃO ................................................................................. 35

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4 APLICABILIDADE DO MANDADO DE SEGURANÇA NA JUSTIÇA

DO TRABALHO ................................................................................... 37

4.1 COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA DO TRABALHO PARA APRECIAR

O MANDADO DE SEGURANÇA ......................................................... 37

4.2 COMPETÊNCIA ORIGINÁRIA DA VARA DO TRABALHO ........... 38

4.3 AS DECISÕES INTERLOCUTÓRIAS NA JUSTIÇA DO

TRABALHO............................................................................................42

4.4 OS CRITÉRIOS PARA DEFINIÇÃO DE COMPETÊNCIA ............. 45

4.5 AUDIÊNCIA TRABALHISTA ......................................................... 46

CONCLUSÃO ...................................................................................... 47

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .................................................... 48

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1 INTRODUÇÃO

Sabe-se que a Justiça brasileira possui volumoso número de processos à

espera de decisão nos tribunais, acrescido de diversas possibilidades de recursos,

que agravam a situação.

Nesse interim, o direito, tendo como alicerce normas e regras que

regulam o convívio social, também exerce enorme influência sobre o modo de agir

dos indivíduos dentro de uma sociedade.

O presente trabalho tem como tema “O mandado de segurança na Justiça

do Trabalho”, a respeito dos aspectos atuais sobre o Mandado de Segurança na

Justiça do Trabalho, é de fundamental importância ressaltar a edição da Lei

n°12.016/09, a qual trouxe inovações na matéria ao mesmo tempo em que positivou

entendimentos consagrados na doutrina e jurisprudência. Em consonância, a

Constituição Federal/1988, Súmulas (Superior Tribunal de Justiça – STJ, Supremo

Tribunal Federa - STF e Tribunal Superior do Trabalho - TST) e Emenda

Constitucional n° 45/04.

Tem-se como problemática “O Mandado de Segurança é a garantia de

um direito líquido e certo ameaçado ou violado por ato ilegal da autoridade pública,

conforme a legislação em vigor, qual a aplicabilidade do Mandado de Segurança na

Justiça do Trabalho? ”

Para alcançar o objetivo geral foram traçados os seguintes objetivos

específicos, que este trabalho tem como visão atender: estudar os tipos de Mandado

de Segurança; Diferenciar Mandado de Segurança Individual e Coletivo; Conceituar

e diferenciar Mandado de Segurança, Habeas Corpus e Habeas Data.

Com a Constituição Federal de 1988, houve uma inovação, ampliação e

fortalecimento do Mandado de Segurança, porque além de manter as garantias dos

direitos individuais, passou a garantir também, os direitos coletivos. Em 07 de agosto

de 2009, entrou em vigor a lei que regulamenta o uso do Mandado de Segurança

individual e Coletivo, lei 12.016/2009.

Toma-se como conhecimento, o mandado de segurança comporta

medida liminar, quando presentes seus pressupostos, que são o “fumus boni iuris”

(fumaça do bom direito, expressão utilizada quando o caso concreto demonstra que

o pedido está imune de qualquer irregularidade) e o “periculum in mora” (expressão

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que serve para assinalar que a demora em conceder o direito pode levar à

degeneração ou destruição do que se pede).

Vê-se ainda neste trabalho: a contextualização do Mandado de

Segurança, conceito, caracterização do direito certo e líquido, ato de autoridade;

estatal e administrativo, processo e procedimento do Mandado de Segurança,

natureza processual, tipos de petição, Mandado de Segurança coletivo, recursos, as

partes, prazo, sentença, apelação, aplicabilidade do Mandado de Segurança,

competência da Justiça do Trabalho, bem como, os critérios para definição de

competência, e por último, de forma sucinta a audiência trabalhista.

Portanto, a aplicabilidade do Mandado de Segurança é o método

constitucional disposto a qualquer pessoa física ou jurídica que visa proteger direito

líquido e certo, individual ou coletivo, não amparado por habeas data ou habeas

corpus, prejudicado por ato ilegal praticado por autoridade legalmente constituída.

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2 MANDADO DE SEGURANÇA

2.1 CONTEXTO HISTÓRICO DO MANDADO DE SEGURANÇA NA JUSTIÇA DO

TRABALHO NO BRASIL

Um estudo, ainda que breve, a respeito das raízes históricas do mandado

de segurança é de suma importância para a compreensão do instituto no direito

brasileiro. A relevância em destacar a concomitância de datas e eventos está em

demonstrar que o instituto e a Justiça do Trabalho no Brasil são criações (direitos)

recentes, mas plenamente compatíveis com o ordenamento jurídico atual.

Para Cristofolini (2009), indiretamente o mandado de segurança tem

inspiração e influencia jurídica nos writs do direito anglo-americano, pois este tem

por escopo prestação a proteção de direitos lesados para cuja reparação não haja,

na lei, outros meios mais adequados.

Segundo Facci (2003) apud Picanço (1937):

O mandado de segurança do direito brasileiro se aproxima mais do mandamus inglês, instituído para proteger os funcionários demitidos ou removidos ilegalmente. O mandamus visa atos administrativos. O mandado de segurança também, criado pela Constituição brasileira, se dirige contra atos de autoridades. O writ, ao contrário disso, é medida geral de proteção contra atos públicos e particulares. O mandado de segurança poderá equivaler a certo e determinado writ, mas não a qualquer deles. O writ of mandamus não se confunde com o quo warranto, nem com o writ os certioari.

Nesse sentido, no Brasil, em 1926 que surgiu as primeiras propostas de

criação de mandado de segurança, logo após a revisão constitucional que

definitivamente restringiu o uso da ação do habeas corpus à liberdade de

locomoção. (CRISTOFOLINI, 2009, p. 5).

De acordo com Buzaid (1989, p. 29-30) nesse período 1926, no Brasil

vigorava o habeas corpus para o processo civil, posto que, diante da ausência de

institutos específicos para a proteção dos cidadãos contra atos abusivos de

autoridades [...].

Com a Revolução de 1930, foi dissolvido o Legislativo e, até 1934, com a

nova Constituição, nada ocorreu de importante no que tange à criação do novo

instituto.

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Por sua vez, o mandado de segurança, foi elevado ao âmbito

constitucional em 1934, no art. 113, e foi regulamentado pela Lei n° 191 de 16.01.36,

excluindo de sua aplicação a liberdade de locomoção e as questões políticas

disciplinares, assim dizia:

Dar-se-á mandado de segurança para a defesa do direito, certo e incontestável, ameaçado ou violado por ato manifestamente inconstitucional ou ilegal de qualquer autoridade. O processo será o mesmo do habeas corpus, devendo ser sempre ouvida parte do direito público interessada. O mandado não prejudica as ações petitórias competentes.

Já em 1936, surgiu a Lei nº 191 de 15 de janeiro, trouxe uma série de

inovações, regulamentou infraconstitucionalmente o procedimento do mandado de

segurança, o seu cabimento, a natureza do ato coator, fixou o prazo para sua

impetração, bem como ampliou o rol dos legitimados ao acatar a impetração por

terceiros.

Com o Código de Processo Civil de 1939, em seus artigos 319 a 331 o

mandado de segurança passou a integrar o rol dos “processos especiais”. Mas, foi

com a Constituição de 1946 que se consolidou como direito constitucional, já que

havia sido retirado do texto da Constituição de 1937, a regulamentação do direito

garantido no texto constitucional veio com a Lei n° 1533/51 que regulou

expressamente o Mandado de Segurança.

Segundo Miranda (1980, p. 335):

O mandado de segurança é a ação e é remédio jurídico processual, adotados no Brasil por sugestão das extensões que tivera o habeas-corpus, na feição primeira, ao tempo da Constituição de 1981. Nada tem como contenciosos administrativo, de que copiáramos, no império, um dos exemplares mais interessantes.

Em consonância, a origem das questões trabalhistas no Brasil, ou seja, os

conflitos entre “patrões e empregados” até a Constituição de 1946 e o Decreto n°

9.797 de 09.09 daquele mesmo ano, eram resolvidas na esfera administrativa do

Poder Executivo, e foi somente a partir desta data que a Justiça do Trabalho passou

a ter status constitucional e reconhecimento de suas atividades como jurisdicionais

(atreladas ao Poder Judiciário), afirma (SILVA, 2008).

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Conforme Facci (2003), a Carta Magna de 1967 previu em seu art. 150,

par. 21, o mandado de segurança “para proteger direito individual líquido e certo não

amparado por habeas corpus, seja qual for a autoridade responsável pela

ilegalidade ou abuso de poder”. A Emenda Constitucional nº 01, de 1969, no par. 21

de seu art. 153 repetiu exatamente o texto da Constituição de 1967.

Segundo Leite (1999, p. 18), apontou as seguintes inovações da Carta

Magna de 1967:

a) substitui a expressão “direito certo e incontestável” por “direito líquido e certo”, o que foi repetido pelas legislações supervenientes; b) tornou a admitir o mandado de segurança contra atos do Presidente da República e de seus auxiliares, bem como de Governadores; c) não se referiu a ato “inconstitucional ou ilegal”, mas apenas a ato “ilegal”; d) inseriu o “abuso de poder” como outro pressuposto de impetração de segurança; e) deixou de exigir que a ilegalidade do ato fosse “manifesta”; f) estabeleceu a separação entre mandado de segurança e habeas corpus.

Vale ressaltar que após 21 anos da Constituição de 1967, e com o fim da

ditadura militar em 1985, a construção da democracia ganhou força. No auge do

processo de redemocratização, promulgou-se nova Constituição em 1988, trazendo

importantes garantias para o cidadão em face do poder estatal, dentre as quais se

destaca o mandado de segurança, utilizado como instrumento de cidadania na

sociedade brasileira, além de manter a garantia de direitos individuais, pela primeira

vez inovou ao prever o mandado de segurança coletivo.

Nesse ínterim, compete destacar, no que tange a esfera trabalhista, que

embora a Constituição de 1988 tenha trazido em seus artigos n.° 111 e seguintes, a

previsão da Justiça Especializada, foi somente com a Emenda Constitucional n° 24

de 1999 que o maior ranço da época administrativa da Justiça do Trabalho foi

eliminado, qual seja, a exclusão dos Juízes Classistas das juntas e a transformação

destas em Varas do Trabalho.

Mas, foi somente em 2004, com a Emenda Constitucional n° 45 que a

Justiça do Trabalho ganhou autonomia e maior competência, passando a partir de

então a ocupar papel de destaque dentro do Poder Judiciário.

A E.C. n° 45/04, em seu art. 114, § 2° limitou o Poder Normativo da

Justiça do Trabalho, que era a possibilidade de a Justiça Laboral em sede de

dissídios coletivos exercitarem a regulamentação de questões econômicas que

envolviam as partes (sindicatos e empresas) em greve ou em estado de greve.

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Por fim, a eliminação dos juízes classistas, a limitação do Poder normativo

e a sedimentação da Justiça do Trabalho para julgar causas que envolvam Relações

de Trabalho e não só emprego, possibilitou o ressurgimento voraz da Justiça do

Trabalho e do processo trabalhista, e assim, o Mandado de Segurança adquiriu mais

espaço e relevância.

2.2 CONCEITO

Para conceituar um instituto necessário analisar a formulação doutrinária

acerca do tema, assim, segundo Meirelles (2003, p. 21-22) Mandado de Segurança

é o:

Meio constitucional posto à disposição de toda pessoa física ou jurídica, órgão com capacidade processual, ou universalidade reconhecida por lei, para a proteção de direito individual ou coletivo, líquido e certo, não amparado por habeas corpus ou habeas data, lesado ou ameaçado de lesão, por ato de autoridade, seja de que categoria for sejam quaisquer as funções que exerça.

O mandado de segurança consiste em uma ação constitucional, de

natureza civil, contenciosa e mandamental, regida por lei especial que tem por

escopo proteger direito líquido e certo contra ato praticado por autoridade pública.

De acordo com o artigo 5°, inciso LXIX, da Constituição Federal/88:

Conceder-se-á mandado de segurança para proteger direito líquido e certo, não amparado por ‘habeas-corpus’ ou ‘habeas-data’, quando o responsável pela ilegalidade ou abuso de poder for autoridade pública ou agente de pessoa jurídica no exercício de atribuições do Poder Público.

Conforme o Manual do mandado de segurança (2000, p. 7) conceitua:

Garantia fundamental para proteger direito líquido e certo, não amparado por habeas corpus ou habeas data, quando o responsável pela ilegalidade ou abuso de poder for autoridade pública ou agente de pessoa jurídica no exercício de atribuições do Poder Público.

Nesse ínterim, o Manual do mandado de segurança (2000) explica que o

essencial para impetração é que o impetrante, pessoa física, jurídica, ou órgão

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público, tenha prerrogativa ou direito próprio, individual ou coletivo, a defender, e

que este direito se apresente líquido e certo ante o ato impugnado (p.7).

Segundo Martins (2003, p. 22) “Mandado de segurança é o remédio

constitucional para a proteção de direito líquido e certo, não amparado por habeas

corpus ou habeas data, em face de lesão ou ameaça de lesão a direito, por ato de

autoridade praticado com abuso de poder”.

Para Bebber (2008, p. 23):

Ação mandamental de direito público que integra a chamada jurisdição constitucional das liberdades, e que tem por escopo proteger direitos individuais incontestáveis não amparáveis por habeas corpus ou habeas data, violados ou ameaçados de sê-lo por ilegalidade ou abuso do Poder Público.

Por fim, são várias definições a respeito do mandado de segurança, pode-

se dizer é expressão que tem denotação de sentido jurídico, a qual se trata de uma,

dentre as diversas ações ou classes processuais insertas no ordenamento jurídico

brasileiro, com finalidade especialmente definida e específica, advinda de preceito

constitucional e legal.

2.3 DA CARACTERIZAÇÃO DO DIREITO LÍQUIDO E CERTO

Na evolução do desenvolvimento histórico do mandado de segurança,

muito se tem debatido sobre o tema pela doutrina. No entanto, não há mais

divergências doutrinárias e jurisprudenciais acerca desse tema, sendo pacífico o

entendimento do que é o conceito de direito líquido e certo.

Nesse sentido, não basta, para fins de mandado de segurança, que a

pretensão ajuizada seja admissível perante o nosso ordenamento jurídico. Urge que

ocorra no caso concreto o "direito líquido e certo”.

Para Meirelles (2003, p. 21-22):

Direito líquido e certo é o que se apresenta manifesto na sua existência, delimitado na sua extensão e apto a ser exercido no momento da impetração. Por outras palavras, o direito invocado, para ser amparável por mandado de segurança, há de vir expresso em norma legal e trazer em si todos os requisitos e condições de sua explicação ao impetrante: se sua existência for duvidosa; se sua extensão ainda não estiver delimitada, se

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seu exercício depender de situações e fato ainda indeterminados, não rende ensejo à segurança embora possa ser defendido por outros meios judiciais.

Para Barbi (1976, p. 85):

Conceito de direito líquido e certo é tipicamente processual, pois atende ao modo de ser um direito subjetivo no processo: a circunstância de um determinado direito subjetivo realmente existir não lhe dá a caracterização de liquidez e certeza; está só lhe é atribuída se os fatos em que se fundar puderem ser aprovados de forma incontestável, certa, no processo. E isso normalmente só se dá quando a prova for documental, pois esta é adequada a uma demonstração imediata e segura dos fatos.

Nesse ínterim, Di Pietro (2004), apresenta não simplesmente uma

definição, mas sim, três requisitos essenciais à configuração de direito líquido e

certo, sendo assim:

1.Certeza jurídica, no sentido de que o direito deve decorrer de normal legal expressa, não se reconhecendo como líquido e certo o direito fundamentado em analogia, equidade ou princípios gerias de direto, amenos que se tarte de princípios implícitos na Constituição, em decorrência, especialmente, do art 5º, parágrafo 2º: “Os direitos e garantias expressos nesta Constituição não excluem outros decorrentes do regime e dos princípios por ela adotados, ou dos tratados internacionais em que a República Federativa do Brasil seja parte”; 2.Direito subjetivo próprio do impetrante no sentido de que o mandado é somente cabível para proteger direito e não simples interesse e esse direito pertencer ao próprio impetrante; ninguém pode reivindicar, em seu nome, direito alheio, conforme decisões unânimes do STF in RTJ 110/1026 e RDA 163/77. Não destoa desse entendimento a norma do art. 1º, parágrafo 2º, da Lei 1533/51, em consonância com a qual, “quando o direito ameaçado ou violado couber a várias pessoas, qualquer delas poderá requerer o mandado de segurança”, porque, nesse caso, cada qual estará agindo na defesa de direito próprio”. (...); 3.Direito líquido e certo referido a objeto determinado, significando que o mandado de segurança não é medida adequada para pleitear prestações indeterminadas, genéricas, fungíveis ou alternativas; o que se objetiva com o mandado de segurança é o exercício de um direito determinado e não sua reparação econômica; por isso mesmo, a Súmula nº 269, do STF, diz que “o mandado de segurança não é substitutivo de ação de cobrança”. Assim, “o objetivo do mandado de segurança é a anulação do ato ilegal ou prática de ato que a autoridade coatora omitiu; se concedido o mandado, a execução se fará por ofício do juiz à autoridade para que anule o ato ou pratique o ato solicitado; não cumpria a execução, incidirá a autoridade no crime de desobediência. Não há execução forçada no mandado de segurança”.

Portanto, o direito líquido e certo sucede de norma constitucional e

depende da via processual para a sua proteção, desde que apresente todos os

requisitos para ser reconhecido e exercido no momento da impetração do

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mandamus. Entende-se assim, por direito líquido e certo, aquele em que pode ser

comprovado, pelo julgador, tão logo a impetração do mandado de segurança, não

cabendo assim, comprovação posterior, pois não seria líquido e certo.

2.4 ATO DE AUTORIDADE

Ato de autoridade é ato de pessoa física, do agente ou representantes do

Estado no desempenho de função pública (NUNES, 1988).

Vale ressaltar que estabelecido o conceito de “direito líquido e certo”,

torna-se necessário estabelecer que os atos podem ser objeto da impetração do

mandamus.

De acordo com Remédio (2002, p. 163) o ato de autoridade “é

manifestação do Poder Público ou de seus delegados no desempenho de sua

função ou a pretexto de exercê-la”.

Segundo Meirelles (2003, p. 33) define ato de autoridade “toda

manifestação ou omissão do Poder Público ou de seus delegados, no desempenho

de suas funções ou a pretexto de exercê-las”.

Para Medauar (2003, p. 435):

Aí se incluem os atos de agentes da administração direta e dirigentes de autarquias, empresas públicas, sociedades de economia mista e fundações instituídas pelo poder público; os atos de concessionárias e permissionárias de serviço público (quanto ao serviço delegado), os atos dos dirigentes de ordens profissionais (por exemplo, OAB, CREA, CRM etc.), no exercício de funções delegadas em matéria disciplinar e na fiscalização do exercício profissional.

Já na Constituição Federal de 1988, o inciso LXIX do artigo 5º, traz a

seguinte redação:

Conceder-se-á mandado de segurança para proteger direito líquido e certo, não amparado por habeas corpus ou habeas data, quando o responsável pela ilegalidade ou abuso de poder for autoridade pública ou agente de pessoa jurídica no exercício de atribuições do Poder Público.

Assim, de acordo com a redação do dispositivo constitucional “a

impetração visa prevenir ou corrigir ação ou omissão ilegal e abusiva, praticada ou

em vias de ser praticadas, por autoridade pública” (SODRÉ, 2006, p.108).

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2.4.1 A AUTORIDADE

Em oposição à jurisdição de direito, existe a de equidade, caracterizada

pela autorização dada ao juiz para criar norma para o caso. Já não se trata de

aplicar direito preexistente, mas de criar direito novo. (TESHEINER, 2000).

Pode-se definir autoridade como sendo todo aquele que exerce um cargo

ou uma função estatal em qualquer dos planos da federação e em qualquer dos

poderes organizados, investido de poder de decisão, pela qual manifesta a vontade

do Estado. (TEIXEIRA FILHO, 1994, p. 139).

Em consonância a Constituição Federal (1988), ao tratar da

responsabilidade do Estado:

Asseverou que as pessoas jurídicas de direito público e as de direito privado prestadoras de serviço público responderão pelos danos que seus agentes, nessa qualidade, causarem a terceiros. Com isso alargou o conceito de agente público e, de conseguinte, o conceito de quem possa ser autoridade coatora do mandado de segurança. (FIGUEIREDO, 2000, p. 49).

Vale ressaltar que a “autoridade para efeito de mandado de segurança os

particulares quando exercerem funções públicas autorizadas ou delegadas pelo

Estado (concessão, permissão ou outra forma de transferência da atividade pública

ao particular)”, afirma (CRISTOFOLINI, 2009, p. 17).

Dessa forma, a autoridade será sempre a pessoa física que exerce um

cargo ou função pública, ou seja, um agente público.

2.4.1.2 ATO ESTATAL

O ato estatal, a necessária aptidão para atuar, no plano do direito positivo,

como norma revestida de eficácia subordinante de comportamentos estatais ou

determinante de condutas individuais.

Segundo Barbi (1976, p. 118), acerca do conceito de ato estatal:

Entende-se, pacificamente, na doutrina brasileira, que o mandado de segurança só será remédio adequado se o ato lesivo ou ameaçador tiver sido praticado pelo Estado como Poder Público, excluídos, assim, os atos em que ele tenha agido como pessoa privada, pois nestes casos estará sujeito apenas aos remédios comuns das leis processuais.

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Isto é, que não apenas os atos administrativos que podem ser objeto de

impugnação pela via do mandado de segurança, mas quaisquer atos das

autoridades públicas dos Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário.

Em suma, “admite-se, por isso, mandado de segurança contra as

denominadas leis auto executórias ou de efeitos concretos e contra os atos

jurisdicionais” (CRISTOFOLINI, 2009, p. 17).

2.4.1.3 ATO ADMINISTRATIVO

Inicialmente os atos da administração eram amparados na divisão

idealizada pelo direito francês e italiano, assim como:

Atos do império (jure imperii), que seriam “os praticados pela Administração com todas as prerrogativas e privilégios de autoridade e impostos unilateral e coercitivamente ao particular, independentemente de autorização judicial, sendo regidos por um direito especial exorbitante do direito comum, porque os particulares não podem praticar atos semelhantes, a não ser por delegação do poder Público”. Atos de gestão (jure gestionis), que seriam “os praticados pela Administração em situação de igualdade com os particulares, para a conservação e desenvolvimento do patrimônio público e para a gestão de seus serviços; como não diferem a posição da Administração e a do particular, aplica-se a ambos o direito comum”. (DI PIETRO, 2004, p. 211).

Nesse sentindo, Cristofolini (2009) afirma que é difícil divisar ato de

gestão de ato de império. Por consequência, tal pensamento induziu alguns

doutrinadores a abandoarem essa distinção. De modo:

A prática de atos administrativos cabe, em princípio e normalmente, aos órgãos executivos, mas as autoridades judiciárias e as Mesas legislativas também os praticam restritamente, quando ordenam seus próprios serviços, dispõem sobre seus servidores ou expedem instruções sobre matéria de sua privativa competência. (FONSECA, 2014, p.3).

Por isso, os atos administrativos são atos jurídicos praticados, segundo o

Direito Administrativo, pelas pessoas administrativas, por intermédio de seus

agentes, no exercício de suas competências funcionais, capaz de produzir efeitos

com fim público.

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3 PROCESSO E PROCEDIMENTO DO MANDADO DE SEGURANÇA

3.1 PROCESSO

O processo “é uma sequência de atos interdependentes, destinados a

solucionar um litígio, com a vinculação do juiz a uma série de direitos e obrigações”.

(FÜHRER, 1980, p. 54).

O mandado de Segurança é processado pelo rito sumaríssimo e

compreende:

a) despacho inicial; b) notificação à autoridade coatora, que deve prestar informações no prazo de 10 dias; c) sempre será ouvido o Ministério Público no prazo de 05 dias, independente de ter sido ou não prestada informações pela autoridade coatora; d) autos conclusos; e) havendo pedido liminar, quase sempre há, o juiz concederá ou não. (NASCIMENTO, 2017).

Nesse ínterim, há de se destacar, que autoridade coatora é notificada

para, querendo, prestar informações, nunca por meio de procurador.

Dessa forma, o processo é instrumento usado para tornar efetivo um

direito material (de conteúdo efetivo). O direito material gera direitos e obrigações,

mas não se efetiva sozinho por isso há uma relação de instrumentalidade

(complementaridade) entre o direito processual e o direito material.

3.2 PROCEDIMENTO

O procedimento “é o modo pelo qual o processo anda, ou a maneira pela

qual se encadeiam os atos do processo. É o rito, ou o andamento do processo”.

(FÜHRER, 1980, p. 54).

Por isso, também é uma sucessão de atos coordenados a partir da

iniciativa da parte e direcionada a um provimento. Ainda, constitui o modo como os

atos processuais se manifestam e desenvolvem para revelar o processo.

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3.3 NATUREZA PROCESSUAL

De acordo com o Manual do Mandando de Segurança (2000), cita que o

mandado de segurança é ação civil de rito sumário especial, por isso enquadra-se

no conceito de causa, enunciado pela Constituição para fins de fixação de foro e

juízo competente para o seu julgamento. É importante destacar ainda a natureza

jurídica:

“Trata-se de uma ação constitucional civil, cujo objeto é a proteção de direito líquido e certo, lesado ou ameaçado de lesão, por ato ou omissão de autoridade Pública ou agente de pessoa jurídica no exercício de atribuições do poder público” (MORAES, 2002, p.164).

De certo, quanto à natureza jurídica segundo os efeitos da sentença, o

mandado de segurança integra as ações mandamentais, pois, “não é simplesmente

declaratória, ou apenas construtiva, ou meramente delatória, tendo em vista as

características de uma delas [...], afirma (CRETELLA JÚNIOR, 1998, p. 63).

Acresce também a natureza processual, que visa principalmente a

invalidação de atos de autoridade ou a supressão de efeitos de omissões

administrativas capazes de lesar direito individual, próprio, líquido e certo.

Outrossim, torna-se necessário evidenciar:

Ato de autoridade: é toda manifestação praticada por autoridade de poder público, no exercício de suas funções. Equiparam-se a atos de autoridade as omissões administrativas das quais possa resultar lesão a direito subjetivo da parte e não apenas a interesses gerias da coletividade. Direito individual: é o direito próprio do impetrante; pertence a quem o invoca e não apenas à sai categoria, corporação ou associação de classe. Direito líquido o certo: é o direito comprovado de plano; se depender de comprovação posterior, não é líquido nem certo, para fins de segurança. Quando a lei fala em direito líquido e certo, está exigindo que esse direito se apresente com todos os requisitos para o seu reconhecimento e exercício no momento da impetração. (Manual do Mandando de Segurança, 2000, p. 7).

Enfim, o mandado de segurança integra a chamada jurisdição

constitucional das liberdades.

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3.4 TIPOS DE PETIÇÃO

A petição1 é o meio pelo qual se pleiteia direitos perante a Justiça. É o

instrumento utilizado pelo advogado para obter uma decisão judicial que satisfaça o

interesse de seus clientes. Após a entrega da petição ao órgão competente, caberá

ao juiz pronunciar sua decisão.

Para tanto, é necessário que a petição possua certos fatores capazes de

provocar a reação jurisdicional, como a descrição dos fatos, os fundamentos

legais nos quais se baseia a pretensão e o pedido, ou seja, aquilo que se espera da

Justiça. Então, a petição é o ato de pedir algo de modo formal, através da assinatura

de um requerimento por escrito.2

3.4.1 PETIÇÃO INICIAL

A petição inicial é a peça de maior importância no processo. É por meio

dela que o impetrante materializa a sua pretensão, servindo de base, portanto, à

sentença. (CRISTOFOLINI, 2009, p. 25).

Outro ponto importante, a lei já define os elementos e requisitos

imprescindíveis para elaboração e processamento da petição inicial através do Novo

Código de Processo Civil (Lei nº 13.105/15).

Vale ressaltar que a petição inicial define os elementos e requisitos

imprescindíveis para elaboração e processamento da petição inicial através do Novo

Código de Processo Civil, previsto no art. 319 - A petição inicial indicará:

I – o juízo a que é dirigida; II – os nomes, os prenomes, o estado civil, a existência de união estável, a profissão, o número de inscrição no Cadastro de Pessoas Físicas ou no Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica, o endereço eletrônico, o domicílio e a residência do autor e do réu; III – o fato e os fundamentos jurídicos do pedido; IV – o pedido com as suas especificações; V – o valor da causa; VI – as provas com que o autor pretende demonstrar a verdade dos fatos alegados; VII – a opção do autor pela realização ou não de audiência de conciliação ou de mediação.

1 Disponível em:<http://www.direitonet.com.br/peticoes/dicas>. Acesso em: 20 de out. 2017. 2 Disponível em: <https://www.significados.com.br/peticao/>. Acesso em: 20 de out. 2017.

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§ 1º Caso não disponha das informações previstas no inciso II, poderá o autor, na petição inicial, requerer ao juiz diligências necessárias à sua obtenção. § 2º A petição inicial não será indeferida se, a despeito da falta de informações a que se refere o inciso II, for possível a citação do réu. § 3º A petição inicial não será indeferida pelo não atendimento ao disposto no inciso II deste artigo se a obtenção de tais informações tornar impossível ou excessivamente oneroso o acesso à justiça.

Verifica-se no art. 320 - A petição inicial será instruída com os

documentos indispensáveis à propositura da ação. Além disso, no art. 32 - O juiz, ao

verificar que a petição inicial não preenche os requisitos dos arts. 319 e 320 ou que

apresenta defeitos e irregularidades capazes de dificultar o julgamento de mérito,

determinará que o autor, no prazo de 15 (quinze) dias, a emende ou a complete,

indicando com precisão o que deve ser corrigido ou completado.

Considerando-se o Parágrafo único: Se o autor não cumprir a diligência, o

juiz indeferirá a petição inicial.

Além desses requisitos, no mandado de segurança devem estar

presentes as três condições da ação estão previstas na lei adjetiva civil: a

possibilidade jurídica do pedido, o interesse de agir e a legitimidade adjetiva causam

(titularidade para a ação).

Ainda por cima, em caso de urgência, é permitida a impetração por

telegrama, radiograma, fax ou outro meio eletrônico de autenticidade comprovada,

podendo a notificação ser feita da mesma forma (art. 4º da Lei nº 12.016/2009).

Portanto, havendo necessidade de documento em poder do impetrado ou

de repartição pública que o sonegue, o impetrante poderá pedir ao juiz que o

requisite no original ou por certidão para complementar a instrução do processo.

3.4.2 PETIÇÃO REGULAR

Este é o despacho usual porquanto não houve requerimento de liminar,

gratuidade de justiça e/ou citação de litisconsorte; em vista do caráter urgente do

mandado de segurança, desnecessária é a publicação desse despacho, vez que seu

procedimento é sumário, nos termos do art. 17 da Lei nº 1.533/51. Observa-se o

modelo do despacho, de acordo com o Manual do mandado de segurança (2000, p.

13):

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Conferida a regularidade da petição inicial, fazer a conclusão dos autos

ao MM. Juiz.

Modelo de Despacho:

Solicitem-se as informações.

Local e data.

....................................

JUIZ FEDERAL

É importante citar, o servidor ao receber o processo despachado deverá

executar os atos processuais imediatamente, visto que não se aplica a regra do art.

190 do CPC: Versando o processo sobre direitos que admitam autocomposição, é

lícito às partes plenamente capazes estipular mudanças no procedimento para

ajustá-lo às especificidades da causa e convencionar sobre os seus ônus, poderes,

faculdades e deveres processuais, antes ou durante o processo, portanto, o

Mandado de Segurança possui procedimento próprio, e só subsidiariamente aceitar

as regras do CPC.

3.4.2.1 PETIÇÃO REGULAR COM PEDIDO LIMINAR

De acordo com o Manual do mandado de segurança (2000, p. 16) tem-se

os modelos de petição regular com pedido liminar:

CASO DE DEFERIMENTO

Modelo de Decisão:

Defiro a liminar, eis que ....... (justificar)

Comunique-se e solicitem-se as informações.

Local e data.

........................................

JUIZ FEDERAL

CASO DE INDEFERIMENTO

Modelo de Decisão:

Indefiro o pedido de medida liminar, ....... (justificar)

Solicitem-se as informações.

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Local e data.

............................

JUIZ FEDERAL

Quando o juiz se reserva para apreciar a liminar após as informações.

Modelo de Despacho:

Reservo-me para apreciar o pedido de medida liminar após as

informações, que desde logo solicito. Notifique-se.

Local e data.

............................

JUIZ FEDERAL

A medida liminar deve ser vista como procedimento acautelador do direito

do impetrante, que se justifica pela iminência de dano irreparável e irreversível no

plano patrimonial, moral ou funcional. Ela é uma garantia quanto ao não perecimento

do direito líquido e certo até a decisão transitada em julgado. (CRISTOFOLINI,

2009). Segundo Meirelles (199, p. 71):

A medida liminar não é concedida como uma antecipação dos efeitos da sentença final. A decisão final pode, inclusive, ser oposta aos fundamentos da medida liminar. Daí surge o significado da não antecipação dos efeitos. A liminar não provém de questão de mera liberalidade do Poder Judiciário; ela é, primordialmente, uma medida acautelatória do direito de quem impetra o “writ”.

Assim, a liminar garante, por meio de sua inserção na ação constitucional,

a segurança ansiada pelo impetrante, o que consequentemente gera o cumprimento

de sua utilidade para com o mesmo.

3.4.2.2 PETIÇÃO REGULAR COM PEDIDO DE GRATUIDADE DE

JUSTIÇA

Nestes casos os atos processuais são iguais ao do cumprimento da

decisão que somente solicitou informações. O que difere é a redação do ofício para

cada caso, ou seja, a transcrição da decisão.

Modelo de Decisão:

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Defiro o pedido de gratuidade de justiça.

Solicitem-se as informações.

Local e data.

............................

JUIZ FEDERAL

Sendo assim, “em caso de indeferimento do pedido de gratuidade de

justiça, o impetrante terá de arcar com os ônus das custas que não foram

recolhidas”. (MANUAL DO MANDADO DE SEGURANÇA, 2000, p. 17).

3.4.2.3 PETIÇÃO REGULAR COM PEDIDO LITISCONSÓRCIO

A citação de litisconsorte será feita por mandado expedido juntamente

com o ofício. O andamento é o seguinte:

Lavrar termo de data ou recebimento dos autos;

Certificar a expedição do ofício e do mandado (realizando todas as

anotações);

Juntar a cópia do ofício;

Juntar o mandado.

O processo aguardará o decurso do prazo de 10 dias para a resposta,

que começará a fluir do primeiro dia útil após a intimação (art. 184, § 2º, do CPC).

Recebidas e protocoladas as informações, o servidor verificará se foram

prestadas no prazo legal e procederá sua juntada aos autos.

Se a autoridade coatora não prestar as informações, lavrar certidão do

ocorrido e fazer conclusão ao MM. Juiz que mandará ouvir o Ministério Público

Federal. Observa-se o modelo a seguir.

Modelo de Decisão:

Solicitem-se as informações.

Cite(m)-se o(s) litisconsorte(s).

Local e data.

............................

JUIZ FEDERAL

CERTIDÃO

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Certifico e dou fé que decorreu o prazo legal sem que fossem prestadas

as informações.

Local e data.

............................

CERTIDÃO

Certifico e dou fé que as informações foram prestadas fora do prazo legal.

Local e data.

............................

TERMO DE JUNTADA

Nesta data, junto as informações que adiante se seguem.

Do que, para constar, lavro este termo.

Local e data.

............................

Portanto, no caso de as informações serem prestadas fora do prazo, o

servidor certificará o ocorrido e enviará o processo e as informações extemporâneas

para decisão do magistrado.

3.5 MANDADO DE SEGURANÇA COLETIVO

A primeira disciplina do mandado de segurança coletivo se deu pela

Constituição de 1988, como forma de facilitar a defesa de interesses líquidos e

certos pertencentes à determinada coletividade. (ALMEIDA, 2010, p. 266).

Segundo Manual do mandado de segurança (2000, p. 7):

Como espécie do mandado de segurança, o Mandado de Segurança Coletivo pode igualmente ser conceituado como um instituto de direito processual constitucional, cujo objetivo é o de que uma só decisão possa atingir a um número maior de interessados. Esse meio de tutela diferenciada, do ponto de vista processual, visa ampliar a possibilidade de acesso à Justiça, evitando decisões contraditórias nos pedidos para diversas pessoas que se encontrem na mesma situação jurídica.

Vale ressaltar, o mandado de segurança consiste no meio constitucional

posto à disposição de toda pessoa física ou jurídica, órgão com capacidade

processual, ou universalidade reconhecida por lei, para a proteção de direito

individual ou coletivo, líquido e certo, não amparado por habeas corpus ou habeas

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data, lesado ou ameaçado de lesão, por ato de autoridade, seja de que categoria for

e sejam quais forem as funções que exerça.

Além disso, o mandado de segurança antes da atual Constituição, ao

exigir legitimidade do sujeito ativo, restringia o campo de atuação das corporações

civis e sindicais, que só podiam buscar a segurança se a lesão de direito recaísse

sobre a corporação em si, sem ser particularmente incidente sobre os membros ou

associados, um, alguns ou todos.

Nesse sentindo, a atual Constituição Federal3 (art. 5º, LXX) ampliou o

âmbito de atuação do Mandado de Segurança, agrupando determinados indivíduos

e dando ao grupo capacidade processual, verbis:

“O mandado de segurança coletivo pode ser impetrado por: a) partido político com representação no Congresso Nacional; b) organização sindical, entidade de classe ou associação legalmente constituída e em funcionamento há pelo menos um ano, em defesa dos interesses de seus membros ou associados”. (MANUAL DO MANDADO DE SEGURANÇA, 2000, p. 8).

Nesse sentido, em relação aos partidos políticos, a melhor interpretação

seria a ampliativa, permitindo que impetrem mandado de segurança para defender

qualquer interesse transindividual que comporte a utilização desta via. (ALMEIDA,

2010, p. 269).

Para Silva (1998, p. 123) “O partido político é uma forma de agremiação

de um grupo social que se propõe organizar, coordenar e instrumentar a vontade

popular com o fim de assumir o poder para realizar seu programa de governo”.

A CRFB/88, na verdade não criou outra figura ao lado do mandado de

segurança tradicional, mas apenas hipóteses de legitimação para a causa (trata-se,

a bem da verdade, de hipótese de substituição processual). Daí porque os requisitos

de direito material do mandado de segurança coletivo continuam a ser os do art. 5º,

LXIX, da CRFB/88.

Nesse ínterim, a proteção contra ameaça ou lesão a direito líquido4 e

certo, não amparado por habeas corpus ou habeas data, por ato ilegal ou abusivo de

autoridade.

3 Constituição da República Federativa do Brasil 1988. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm>. Acesso em: Acesso em out. 2017.

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Ainda nessa perspectiva, nota-se que particularidades, porém, devem ser

anotadas. Por exemplo, e por esse motivo inúmeras divergências surgiram em

relação à abrangência de sua aplicação, uma vez que, devido à ausência de normas

procedimentais específicas, aplicava-se o estatuto do microssistema de tutela

coletiva.

Conforme Didier Jr e Zaneti Jr (2007, p. 87):

Parte da doutrina sustenta que o mandado de segurança coletivo não seria um instituto novo, pois a intenção do constituinte de 1988, ao criar a referida ação, foi possibilitar o agrupamento de determinados indivíduos e dar, a esse grupo, capacidade processual.

Verifica-se que a Lei n° 12.016/09 se mostra manifestamente contrária à

previsão constitucional do mandado de segurança coletivo, que prevê a legitimação

do partido político sem definição de pertinência temática.

Assim, ao avaliar a casuística, deve o interprete fazer a leitura

constitucional adequada e permitir a legitimação mais ampla possível ao partido

político para o mandado de segurança coletivo, proporcionando a máxima

efetividade deste instrumento. (BUENO, 2009, p. 123).

Logo, segundo o Supremo Tribunal Federal, a legitimidade ativa ad

causam das entidades-associativas, na esfera mandamental, decorre do próprio

texto constitucional. Não necessitam tais entes, portanto, de autorização individual

expressa dos associados nem está limitada sua atuação a determinado aspecto

temático.

3.6 DOS RECURSOS

Toma-se conhecimento que decisões monocráticas e colegiadas

proferidas nos mandados de segurança, como regra geral, poderão ser impugnadas

por recurso. 4 Em que pese à circunstância de o art. 5º, LXX, da Constituição Federal vigente, declarar que o

mandado de segurança coletivo possa ser impetrado pelas entidades mencionadas nas letras a e b, em defesa dos interesses de seus membros ou associados, devemos advertir que o constituinte perpetrou aí falta manifesta e inescusável contra a técnica e os princípios, pois se sabe que a finalidade histórica do mandamus sempre foi a proteção de direitos, nunca de simples interesses” (TEIXEIRA FILHO, Manoel Antonio. Mandado de segurança na justiça do trabalho. 2. ed. São Paulo: LTr, 1994, p. 125).

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Quanto a legitimidade recursal no mandado de segurança não difere da

legitimação recursal para as ações em geral, conforme art. 499 do CPC, quais

sejam:

a) As partes. Todo aquele que interveio na relação jurídica processual

como autor ou réu é parte e tem, por isso, legitimação recursal.

(CRISTOFOLINI, 2009, p. 48).

Nesse ínterim, reitera-se, porém, a ideia de que a parte passiva no

mandado de segurança é unicamente a pessoa jurídica a quem a autoridade coatora

está vinculada.5

Além disso, o sujeito passivo no mandado de segurança não é a

autoridade coatora, mas a pessoa jurídica que deverá suportar os encargos da

decisão.

De acordo com Figueiredo (2000, p.18) “destarte, sujeitos passivos serão

sempre União, Estados, Municípios ou delegados de serviço público, sejam

dirigentes de estatais ou concessionárias de serviço”.

b) O Ministério Público atuando como fiscal da lei6. A legitimidade recursal, no caso, emerge unicamente na hipótese em que estiver presente o interesse público; c) O terceiro prejudicado. Aquele que não foi parte do processo, mas que, não obstante isso, sofre os efeitos prejudiciais da sentença, possui legitimidade para recorrer. Deve, porém, demonstrar a existência de nexo de interdependência entre o seu interesse de intervir e a relação jurídica submetida à apreciação judicial (CPC, art. 499, §1º), ou seja, deverá comprovar o nexo existente entre a decisão e o prejuízo que está adveio.

Em consonância, vê-se o terceiro legitimado a recorrer é aquele que tem

interesse jurídico em impugnar a decisão, não um mero interesse de fato ou

5 A legitimidade recursal é da pessoa jurídica a cujos quadros pertence a autoridade indicada como coatora. Isto porque a autoridade coatora apenas representa a pessoa jurídica em juízo sendo ela, e não a autoridade, o réu do mandado de segurança. (BUENO, 2002, p. 77). 6 LC nº 75/1993, art. 83. Compete ao Ministério Público do Trabalho o exercício das seguintes atribuições unto aos órgãos da Justiça do Trabalho: VI - recorrer das decisões da Justiça do Trabalho, quando entender necessário, tanto nos processos em que for parte, como naqueles em que oficiar como fiscal da lei, bem como pedir revisão dos Enunciados da Súmula de Jurisprudência do Tribunal Superior do Trabalho (BRASIL. Lei Complementar nº 75 de 20 de maio de 1993. Dispõe sobre a organização, as atribuições e o estatuto do Ministério Público da União. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 20 maio. 1993. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/LCP/Lcp75.htm>. Acesso em: 15 out. 2017

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econômico. O requisito do interesse jurídico é o mesmo exigido para que alguém

ingresse como assistente no processo civil (art. 50, CPC). Decorre daí que somente

aquele terceiro que poderia haver sido assistente (simples ou litisconsorcial) no

procedimento de primeiro grau é que tem legitimidade para recorrer como terceiro

prejudicado.7

Embora a autoridade coatora não possua legitimidade recursal na

condição de parte, pode-se, contrariando a doutrina e jurisprudência majoritárias,

detê-la sob a ótica de terceiro prejudicado. Assim, a autoridade coatora possui

interesse jurídico em defender a correção do ato por ela praticado, diante da

responsabilidade civil (CRFB/88, art. 37, § 6º), administrativa e criminal que daí pode

resultar.

3.7 AS PARTES

O sujeito ativo, chamado de impetrante é sempre pessoa física ou

jurídica, pública ou privada, possuidora do direito líquido e certo. O sujeito passivo,

conhecido como impetrado deverá ser a pessoa jurídica de direito público ou privado

que esteja no exercício de atribuições do Poder Público.

Observa-se que direito de requerer mandado de segurança extinguir-se-á

decorridos 120 dias, contados da ciência pelo interessado, do ato impugnado. Vale

salientar, que o prazo é decadencial, não admitindo interrupção nem suspensão.

Sem assim, as partes são:

lmpetrante: titular do direito individual, líquido e certo, para o qual pede proteção pelo mandado de segurança. O direito subjetivo do impetrante pode ser privado ou público, exclusivo ou pertencente a vários titulares, ou mesmo a toda uma categoria de pessoas. Os partidos políticos, as associações, os sindicatos não tinham legitimação ativa para requererem mandado de segurança em benefício de seus associados. Porém, a Constituição Federal assegurou tal direito em seu art. 5º, LXX, alíneas a e b. Impetrado: é a autoridade coatora e não a pessoa jurídica ou o órgão a que pertence; é a autoridade pública ou delegada, aquela que detém na ordem hierárquica poder de decisão e é competente para praticar os atos administrativos decisórios, os quais, se ilegais ou abusivos, são suscetíveis de impugnação por mandado de segurança, quando ferirem direito líquido e certo. (MANUAL DO MANDADO DE SEGURANÇA, 2000, p. 8).

7 NERY JÚNIOR, Nelson. Princípios fundamentais – Teoria geral dos recursos. 2. ed. São Paulo: RT, 1993. p. 109-10.

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Nesse sentido, Buzaid (1989, p. 160) afirma que “o prazo para impetrar

mandado de segurança, que é de 120 dias, começa a correr da ciência, pelo

interessado, do ato a ser impugnado (art. 18 da Lei nº 1533/518) ”. Passando para o

art. 23 da Lei 12.016/09.

Normalmente, conta-se o prazo a partir da publicação no diário oficial ou

pela notificação individual do ato a ser impugnado, que lesa ou ameaça violar direito

líquido e certo. Estas são as duas formas conhecidas de publicidade do ato

administrativo. A comunicação pessoal, feita ao titular do direito, depois de decorrido

o prazo de 120 dias, não tem a virtude de reabrir o prazo já esgotado. Tal prazo

extintivo, uma vez iniciado, flui continuamente: não se suspende nem se interrompe.

Na esfera do mandamus é possível o exercício de função pública, por

dirigente demandamus, pessoa jurídica de direito privado, por delegação.

É importante destacar, o Ministério Público é oficiante necessário no

mandado de segurança, não como representante da autoridade coatora ou da

entidade estatal a que pertence, mas como ente autônomo, incumbido de velar pela

correta aplicação da lei e pela regularidade do processo; é o fiscal da lei. Segundo o

Manual do Mandado de Segurança (2000, p. 9):

Litisconsórcio necessário: quando a causa pertence a mais de um em conjunto, e a nenhum isoladamente, a ação não pode prosseguir sem a presença de todos, sob pena de nulidade do julgamento. Litisconsórcio irrecusável (facultativo impróprio): a causa pertence a cada um isoladamente, mas como é comum o interesse das partes e conexa a relação de direito, a decisão do pedido de um influirá na do outro, razão pela qual o litisconsórcio não poderá ser recusado por quaisquer dos litigantes. Litisconsórcio recusável (facultativo próprio): quando as pretensões são autônomas, mas como há afinidade entre as causas por um ponto comum de fato ou de direito, permite-se a reunião das ações, se com isso concordarem as partes, por economia processual e com o intuito de evitar decisões teoricamente conflitantes. Litisconsorte passivo necessário: terá de integrar a lide e poderá fazê-lo a qualquer tempo, espontaneamente ou por determinação do juiz; a sua ausência acarreta a nulidade do julgamento.

Desse modo, fica nítido da importância das partes envolvidas do

mandado de segurança, sendo passiva ou ativa.

8 Revogado pela Lei nº 12.016, de 2009. Disciplina o mandado de segurança individual e coletivo e

dá outras providências.

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3.8 PRAZO PARA AJUIZAMENTO

A demanda é instrumentalizada por petição inicial, contendo pedido de

emissão de provimento jurisdicional mandamental para proteger direito subjetivo

líquido e certo, com a elisão da ilegalidade ou abuso de poder que a violenta ou

ameace de violência.

Segundo o Manual do Mandando de Segurança (2000), pode-se

mencionar a fluência do prazo só se inicia na data em que o ato impugnado começa

a produzir lesão ao direito do impetrante. Tratando-se de writ preventivo, não se

opera a decadência, eis que a lesão temida está sempre presente, em um renovar

constante.

Em consonância o art. 23 da Lei do Mandado de Segurança fixa em cento

e vinte dias o prazo para o exercício do direito de impetrar o writ, contado do dia em

que o interessado tiver conhecimento oficial do ato a ser impugnado. Juristas há que

sustentam a inconstitucionalidade de tal prazo.

Segundo essa corrente, os pressupostos do cabimento do mandado de

segurança estão exaustivamente previstos no inciso LXIX do art. 5º da CRBF/88,

nele não havendo previsão ou autorização para a limitação temporal de sua

utilização.

Contudo, na esteira do entendimento majoritário, inclusive sumulado pelo

STF, não se vê presente a inconstitucionalidade do dispositivo legal em foco. Da

mesma forma, que dispõe a Súmula 632 do STF9: “É constitucional lei que fixa o

prazo de decadência para a impetração do mandado de segurança”.

Figueiredo (2000, p. 149) cita “120 dias afigura-se-nos prazo suficiente

para quem se sentir injustamente agredido, até porque basta o justo receio a

impetração”.

Por outro lado, não há divergência na doutrina e jurisprudência acerca da

natureza decadencial do prazo de 120 dias para a impetração do mandado de

segurança. A natureza jurídica decadencial, entretanto, foi adotada apenas por

equiparação. Trata-se de uma escolha política para o tema, uma vez que

decadência, na verdade, não há.

9 BRASÍLIA. Supremo Tribunal Federal. Súmula nº 632. Disponível em: <www.stf.gov.br>. Acesso

em: out. 2017.

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Nesse sentindo, Lisboa (2004, p. 683) relata que “decadência é a perda,

pelo decurso do tempo, do direito subjetivo material (substantivo), isto é, do bem da

vida. Dessa forma, ocorre a caducidade do direito”.

No caso do mandado de segurança, porém, adotam-se as consequências

do instituto da decadência, exceto a perda do direito.

A compreensão da contagem do prazo para impetrar mandado exige

análise de certas particularidades.

Dado o exposto, o mandado de segurança repressivo contra atos

comissivos com força executiva, a contagem do prazo inicia no dia imediato àquele

em que o impetrante dele tomou ciência.

3.9 SENTENÇA

De acordo com Führer (1980, p. 150) a sentença “É o ato pelo qual o juiz

põe termo ao processo, decidindo ou não o mérito da causa”.

Com relação a sentença, em mandado de segurança, poderá ser de

carência ou de mérito. A carência ocorre quando o impetrante não satisfez os

pressupostos processuais e/ou as condições do direito de agir (art. 267, VI, do

CPC). Além disso, a sentença de mérito decidirá sobre o direito invocado,

apreciando desde a sua existência até a sua liquidez e certeza diante do ato

impugnado, para concluir pela concessão ou denegação da segurança.

Todavia, a sentença concessiva da segurança tem caráter mandamental,

visto que consubstancia sempre uma ordem, positiva, negativa ou permissiva, para

que a autoridade coatora pratique, não pratique ou permita que se pratique o ato de

cuja realização, omissão ou impedimento resultou ofensa a direito líquido e certo do

postulante.

Já a decisão liminar ou definitiva, é expressa no mandado, para que o

coator cesse a ilegalidade. Tal mandado judicial é transmitido por ofício ao

impetrado, valendo como ordem legal para o imediato cumprimento do que nele se

determina e ao mesmo tempo marca o momento a partir do qual o impetrante,

beneficiário da segurança, passa a auferir todas as vantagens decorrentes da

concessão do writ.

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Então, cumprida a ordem judicial exaure-se o conteúdo mandamental da

sentença, restando apenas o seu efeito condenatório para efeito de pagamento de

custas, não sendo devidos honorários advocatícios (art. 20 do CPC e Súmulas 105-

STJ e 512-STF). Ainda mais, o não-atendimento do mandado judicial caracteriza tipo

penal e por ele responde o impetrado renitente, sujeitando-se até mesmo à prisão

em flagrante, dada a natureza permanente do delito.

3.10 APELAÇÃO

No Direito Processual Civil, apelação10 é o recurso ordinário cabível

contra as sentenças proferidas em primeira instância, isto é, em primeiro grau de

jurisdição. Institui o Código de Processo Civil que sentença é ato do juiz e que pode

ser terminativa (sem resolução de mérito) ou de mérito (com resolução de mérito). O

prazo do presente recurso será de 15 dias. Ele submete para instância superior o

reexame da sentença.

No Direito Processual Penal, por sua vez, apelação é o recurso interposto

pela parte que se considera prejudicada com a decisão, visando o reexame de

matéria examinada em sentença definitiva ou com força de definitiva de primeira

instância. Ela é cabível, nos termos do art. 593, do CPP:

“no prazo de 5 (cinco) dias: I - das sentenças definitivas de condenação ou absolvição proferidas por juiz singular; II - das decisões definitivas, ou com força de definitivas, proferidas por juiz singular nos casos não previstos no Capítulo anterior; III - das decisões do Tribunal do Júri, quando: a) ocorrer nulidade posterior à pronúncia; b) for a sentença do juiz-presidente contrária à lei expressa ou à decisão dos jurados; c) houver erro ou injustiça no tocante à aplicação da pena ou da medida de segurança; d) for a decisão dos jurados manifestamente contrária à prova dos autos”.

Em mandado de segurança, o recurso pode ser voluntário ou necessário.

O recurso voluntário é o que depende da vontade da parte, podendo ser interposto

pelos impetrantes, pelo Ministério Público, litisconsortes, terceiros prejudicados, bem

como pela entidade a que pertencer o coator. (MANUAL DO MANDANDO DE

SEGURANÇA, 2000, p. 25).

10 Apelação. Disponível em: <http://www.direitonet.com.br/dicionario/exibir/913/Apelacao>. Aceso em: out. 2017.

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Nesse ínterim, o prazo para interposição do recurso de apelação será de

15 (quinze) dias (art. 508 do CPC, com a redação que lhe deu a Lei n. 8.950, de

13/12/94): contado em dobro para a Fazenda Pública, Ministério Público (art. 188,

CPC) e litisconsortes com procuradores diferentes (art. 191, CPC).

Nesse caso, a contagem do prazo para recurso em mandado de

segurança flui da intimação oficial do julgado e não da notificação à autoridade

coatora para o cumprimento da ordem (STF, Súmula nº 39211).

Se concessiva a sentença, o recurso é recebido apenas no efeito

devolutivo, salvo nas hipóteses dos arts. 5º, parágrafo único, e 7º, da Lei n.

4.348/64, em que o recurso correspondente deve ser recebido em ambos os efeitos.

Caso denegatória a sentença, o recurso é recebido em ambos os efeitos

(devolutivo e suspensivo).

Assim, a execução provisória da sentença dá-se de forma mandamental,

mediante ofício. Outrossim, sempre que o processo for retirado da Secretaria,

deverá ser preenchido e assinado o livro competente, bem como anotada no mesmo

a data da devolução, registrando o ocorrido em ficha ou computador. Não apenas,

devolvidos os autos pelo apelado com a petição de contrarrazões (ou entregue

somente a petição de contrarrazões, na hipótese de os autos permanecerem em

escaninho), anotar no livro competente ou nos controles próprios sua devolução,

conferir a tempestividade da petição apresentada, lavrar certidão de juntada e fazer

conclusão ao juiz.

11 BRASÍLIA. Supremo Tribunal Federal. Súmula nº 392. Disponível em: <http://www.stf.jus.br>.

Acesso em: out. 2017.

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4 APLICABILIDADE DO MANDADO DE SEGURANÇA NA JUSTIÇA

DO TRABALHO

4.1 COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA DO TRABALHO PARA APRECIAR

O MANDADO DE SEGURANÇA

De acordo com Cristofolini (2009, p. 43):

Antes da edição da Emenda Constitucional nº. 45 de 200412, praticamente, o mandado de segurança era utilizado somente contra ato judicial e apreciado pelo Tribunal Regional do Trabalho. Somente em algumas hipóteses restritas, como por exemplo, se o Diretor de Secretaria, praticando um ato de sua competência exclusiva poderia figurar como autoridade coatora, quando recusasse, injustificadamente, a conceder carga do processo a um advogado que está no seu prazo falar nos autos.

Em razão do aumento da competência da Justiça do Trabalho, os

mandados de segurança passam a ser cabíveis contra atos de outras autoridades,

além as judiciárias, como nas hipóteses dos incisos III e IV do art. 114, da CRFB/88,

em face dos Auditores Fiscais e Delegados do Trabalho, Oficiais de Cartório que

recusam o registro de entidade sindical, e até mesmo atos dos membros do

Ministério Público do Trabalho em Inquéritos Civis Públicos, uma vez que o inciso VI

do art. 114 diz ser da competência da Justiça trabalhista o mandamus quando o ato

questionado envolver matéria sujeira à sua jurisdição.

Compreendem-se dentro da nova competência13 da Justiça do Trabalho

as relações:

a) entre empregado e empregador (arts. 3° e 2° da CLT);

b) de pequena empreitada (art. 652, a, III da CLT e arts. 610 a 626 do

Código Civil);

c) de prestação de serviços (arts. 593 a 609 do Cód. Civil);

d) de mandato (653 a 692 do Cód. Civil)

e) de comissão e corretagem (arts. 693 a 709 do Cód. Civil);

12 BRASIL. Emenda Constitucional nº 45, de 30 de dezembro de 2004. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/emendas/emc/emc45.htm>. Acesso em: out. 2017. 13 Para as ações na Justiça do Trabalho discutindo ou postulando direitos tipicamente civis, o TST baixou a

resolução n° 126/05 instituindo a Instrução Normativa n° 27 disciplinando que todas as ações sujeitas à competência da Justiça Especializada Trabalhista após a EC 45/04 terão por aplicação o rito processual previsto na CLT.

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f) de representação comercial (lei n°. 4.886.65)

g) e outras controvérsias decorrentes da relação de trabalho, na forma da

lei (art. 114, inciso IX da Constituição).

Sob outro enfoque, embora o art. 114, IV da CRFB/88 diga caber o

mandado de segurança quando o ato questionado estiver sob o crivo da jurisdição

trabalhista, também se a matéria for administrativa o mandado será cabível.

Conforme Silva (2005, p. 208):

Seria o maior dos absurdos que os Tribunais do Trabalho não pudessem julgar, por exemplo, um mandado de segurança impetrado contra seu presidente, numa questão administrativa, nem que ao órgão especial não pudesse ser dada competência para julgar questões administrativas internas em geral.

Sendo assim, não há como se interpretar o referido inciso de forma literal.

4.2 COMPETÊNCIA ORIGINÁRIA DA VARA DO TRABALHO

Segundo o Blog do espaço14 (2012), pode-se afirmar o conceito

de jurisdição ao Poder, função e atividade de aplicar o direito a um fato concreto,

pelos órgãos do Poder Judiciário, obtendo a justa composição do conflito. Ou seja,

jurisdição é o Poder de julgar. Também, a jurisdição, que ao lado do poder de

legislar e administrar a coisa pública integra a soberania estatal, é o poder-dever do

Estado de prestar a tutela jurisdicional a todo cidadão que tenha uma pretensão

resistida por outrem, inclusive por parte de alguma agente do próprio Poder Público.

Com relação a competência, define-se é o limite da jurisdição de cada

órgão judicial, ou seja, é a distribuição desse Poder de julgar entre os órgãos que

compõem o Poder Judiciário, podendo referir-se à determinada matéria, às pessoas,

ou ao local.

Nesse sentindo, a competência é distribuída através de normas

constitucionais, de leis processuais e de organização judiciária. Sendo os critérios

legais de distribuição de competência levam em consideração, por exemplo, a

14 Competência da Justiça do Trabalho – Parte 1. 2012.Disponível em:<https://www.espacojuridico.com/blog/competencia-da-justica-do-trabalho-parte-1/>. Acesso em: out. de 2017.

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matéria objeto do litígio (competência material), as pessoas envolvidas (competência

em razão das pessoas), o espaço territorial (competência territorial), os órgãos

jurisdicionais (competência funcional).

Assim também, no âmbito trabalhista os critérios indicados são

utilizados para o fim de se fixar a competência. Observa-se então, a

competência em razão da matéria e em razão da pessoa, ambas estão disciplinadas

na Constituição Federal de 1988, art. 114, alterado pela EC 45/200415.

Nesse ínterim, com a alteração do art. 114 da CF pela referida EC, a

Justiça do Trabalho passou a ser competente para processar e julgar as ações

oriundas das relações de trabalho, ou seja, as relações entre trabalhadores em geral

e seus respectivos tomadores de serviço, abrangendo as ações daí decorrentes, nos

termos da lei (CF, art. 114, I, VI e IX).

Do mesmo modo, a Justiça do Trabalho também é competente para

processar e julgar os litígios entre servidores celetistas e a União, os Estados, o DF,

os Municípios e seus entes descentralizados (autarquias, fundações) (CF, 114, I).

Além disso, em relação aos funcionários públicos, porém, o STF suspendeu

qualquer interpretação do art. 114, I, da CF no sentido de “toda e qualquer

interpretação dada ao inciso, que inclua a competência da Justiça do Trabalho para

apreciação de causas que sejam instauradas entre o poder público e seus

servidores, a ele vinculados por típica relação de ordem estatutária ou de caráter

jurídico-administrativo”.

Por outro lado, compete à Justiça do Trabalho processar e julgar (Art.

114):

As ações oriundas da relação de trabalho

Com a “Reforma do Judiciário”, a Justiça do Trabalho passou a ser

competente para processar e julgar as ações decorrentes da relação de trabalho e

não mais da relação de emprego somente. Ressalte-se que a relação de trabalho é

mais abrangente, por se tratar de gênero, que comporta várias espécies, entre elas,

a relação de emprego, que se refere aos conflitos existentes entre empregado e

empregador.

Importante ressaltar que, apesar de se tratar de uma relação de trabalho,

por força da Súmula 363 do STJ, a justiça do trabalho não tem competência para

15 BRASIL. Emenda Constitucional nº 45, de 30 de dezembro de 2004. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/emendas/emc/emc45.htm>. Acesso em: out. 2017.

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processar e julgar as ações decorrentes de cobrança de honorários advocatícios,

por se tratar o advogado de profissional liberal. (Súmula 363 STJ: Compete à Justiça

estadual processar e julgar a ação de cobrança ajuizada por profissional liberal

contra cliente.)

É importante ressaltar ainda, que as empresas públicas e as sociedades

de economia mista que explorem atividade econômica de produção ou

comercialização de bens ou de prestação de serviços estão sujeitas ao regime

jurídico próprio das empresas privadas, inclusive quanto aos direitos trabalhistas

(CF, art. 173, § 1º, II) e, portanto, a justiça do Trabalho é competente para processar

e julgar as ações entre as mesmas e seus empregados.

Em consonância, a competência territorial (racione loci) ou de foro que é

atribuída aos diversos órgãos jurisdicionais leva em conta a divisão do território

nacional em circunscrições judiciárias, ou seja, é aquela fixada para delimitar

territorialmente a jurisdição.

A competência funcional da Justiça do Trabalho é definida pela CF/88,

pelas leis de processo e pelos regimentos internos dos tribunais trabalhistas, para as

Varas do Trabalho, os TRTs e o TST. Ainda mais, a competência funcional das

Varas do trabalho é exercida pelo Juiz do Trabalho, de forma monocrática, e está

prevista nos arts. 652, 653 e 659, da CLT.

No que tange ao mandado de segurança da competência originária das

Varas do Trabalho:

a) a decisão interlocutória acerca do pedido liminar será impugnável por meio de mandado de segurança, por aplicação analógica do entendimento consubstanciado na Súmula nº 414, II do TST: MANDADO DE SEGURANÇA. ANTECIPAÇÃO DE TUTELA (OU LIMINAR) CONCEDIDA ANTES OU NA SENTENÇA. (...) II – No caso da tutela antecipada (ou liminar) ser concedida antes da sentença, cabe a impetração do mandado de segurança, em face da inexistência de recurso próprio. b) a sentença, tenha ela indeferido a petição inicial, concedido ou negado a segurança, será impugnável por recurso ordinário da competência do TRT. (OLIVEIRA, 2008, p. 698).

Assim, dispõe o art. 895, a da CLT:

Art. 895 – Cabe recurso ordinário para a instância superior:

a) das decisões definitivas das Varas e Juízos, no prazo de 08 (oito) dias;

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Decidido o recurso ordinário pelo TRT, poderá o acórdão ser impugnado

por meio de recurso de revista, da competência das Turmas do TST, na forma do

artigo 896 da CLT:

Art. 896 – Cabe Recurso de Revista para Turma do Tribunal Superior do

Trabalho das decisões proferidas em grau de recurso ordinário, em dissídio

individual, pelos Tribunais Regionais do Trabalho (...);

Da decisão proferida pela Turma do TST será cabível o recurso de

embargos ao recurso de revista, da competência da SBDI-1 do TST, consoante

artigo 894 da CLT:

Art. 894, CLT– No Tribunal Superior do Trabalho cabem embargos, no

prazo de 08 (oito) dias;

E, da decisão proferida pela SBDI-1 do TST será cabível recurso

extraordinário da competência do STF, conforme preceitua o artigo 102, inciso III da

CRFB/8816: Art. 102, III – Julgar, mediante recurso extraordinário, as causas

decididas em única ou última instância quando a decisão recorrida (...).

O mandado de segurança (CF/1988, Art. 5º, LXIX) consiste em uma ação

constitucional, de natureza civil, contenciosa e mandamental, regida por lei especial

(Lei n° 12.016/09), que tem por objetivo proteger direito líquido e certo contra ato

praticado por autoridade pública.

Outrossim, anteriormente à EC 45/20024, a Justiça Laboral julgava

basicamente os mandados de segurança interpostos contra ato judicial e, por

conseguinte, eram apreciados pelos Tribunais do Trabalho.

Dessa forma, com a ampliação da competência material da Justiça

Especializada, os mandados de segurança passaram a ser cabíveis contra atos de

outras autoridades, além das judiciárias, tais como os auditores fiscais e delegados

do trabalho, oficiais de cartório que recusam o registro de entidade sindical e até

mesmo de atos praticados por membros do Ministério Público do Trabalho em

inquéritos civis, já que será da competência da justiça trabalhista

o mandamus quando o ato questionado envolver matéria sujeita à sua jurisdição.

16 BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil, 05 de outubro de 1988. Diário Oficial Da União, Brasília, DF, 05 out. 1988. Disponível em:<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constitui%C3%A7ao.htm> Acesso em: out. 2017.

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4.3 AS DECISÕES INTERLOCUTÓRIAS NA JUSTIÇA DO TRABALHO

As decisões interlocutórias, que são aqueles atos pelos quais o juiz, no

curso do processo, resolve questão incidente (art. 162, § 2° do CPC), na Justiça do

Trabalho são impugnáveis.17

É importante citar, que diversas razões podem ser apresentadas para a

limitação da irrecorribilidade das interlocutórias, destacam-se dentre todas o fato de

serem incompatíveis eventual impugnação da interlocutória por um determinado

recurso com os princípios que permeiam o processo do trabalho.

Segundo Maior (2000, p. 11) demonstra que:

os princípios do processo do trabalho são: a) a oralidade (tendo como características: a busca da simplicidade e da celeridade; prevalência da palavra sobre o escrito; provas produzidas perante o julgador; o juiz que instrui o processo é o que julga; atos realizados em uma única audiência ou em poucas, umas próximas das outras; decisões interlocutórias irrecorrível; impulso do processo por iniciativa do juiz; julgamento com base no sistema da persuasão racional, ou seja, com prevalência da primazia da palavra, imediatidade, identidade física do juiz em audiência, concentração dos aos e a irrecorribilidade das interlocutórias); b) a efetividade; c) a eficácia; d) a celeridade e e) o acesso à justiça.

Ainda segundo o referido autor, ao comentar a irrecorribilidade das

decisões interlocutórias, menciona que tal fato “é consequência da concentração dos

atos (em audiência), pois, sendo concentrados os atos, não haverá interesse das

partes em recorrer das decisões interlocutórias, uma vez que tais decisões poderão

ser impugnadas no recurso que se interpuser da decisão final.

Nesse sentido, a concentração doa atos e a irrecorribilidade das decisões

interlocutórias se ligam numa relação de causa e efeito. Em seguida, alguns

exemplos das hipóteses de decisões interlocutórias na Justiça do Trabalho,

relacionados no abaixo:

Quadro 1 – Hipóteses de decisões interlocutórias.

CLASSIFICAÇÃO AÇÃO

Tutela antecipada

Caberá antecipar os efeitos da tutela, total ou parcialmente, se existirem prova inequívoca da alegações e convencimento do juiz da verossimilhança além de fundado receio de dano irreparável ou de difícil reparação ou que fique caracterizado o abuso de direito de defesa ou o manifesto propósito protelatório, nos termos do art. 273 do CPC, ou ainda nos casos de

17 Diferentemente da Justiça Cível em que para as interlocutórias cabe o recurso de agravo nos

termos do art. 522 do CPC.

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concessão ou não da tutela específica nos casos dos arts. 461 e 461 A do CPC.

Liminar em Ação Civil Pública (Lei n° 7.345/85)

Conforme o art. 12 da LACP “poderá o juiz conceder mandado liminar com ou sem justificação prévia, em decisão sujeita a agravo”, assim, mesmo existindo previsão na lei da impugnação de tal liminar por meio do recurso de agravo por falta de regulamentação e previsão legal no processo do trabalho para tal impugnação e nem mesmo impugnar eventual liminar a ser deferida na Cautelar preparatória ou incidental nos termos art. 4° da referida lei, pela mesma razão, falta de previsão legal;

Liminares em reclamação trabalhista

Liminar em Reclamação Trabalhista para tornar sem efeito a transferência ilegal de empregado18 (art. 659, IX, CLT); ou a liminar deferida em reclamação trabalhista que vise reintegrar o dirigente sindical afastado, suspenso ou dispensado pelo empregador (art. 659, X, da CLT).19

Liminares em ação cautelar

Liminar em ação cautelar de reintegração de empregado detentor de estabilidade ou garantia provisória no emprego, como por exemplo, o membro da CIPA20, o dirigente sindical21, a empregada gestante22 o empregado que sofre acidente de trabalho após a alta médica23 até que exista a decisão no inquérito para apuração de falta grave do empregado estável (arts. 853 a 855 da CLT).

Concessão de efeito suspensivo em recurso

A regra, no processo do trabalho, é que os recursos terão somente efeito devolutivo, podendo em caráter de exceção e quando justificado terem o efeito suspensivo (art. 899 da CLT). Porém em este ocorrendo trata-se de uma decisão interlocutória proferida em sede recursal pelo relator do recurso. Para Sérgio Pinto Martins24 “não há mais efeito suspensivo, pois, a

18 Nesse sentido a OJ n° 67 da SDI-2 do TST: “Mandado de segurança. Transferência. Art. 659, IX, da CLT. Não fere direito líquido e certo a concessão de liminar obstativa de transferência de empregado, em face da previsão do inciso IX do art. 659 da CLT. 19 OJ n° 142 da SDI-2 do TST: “Mandado De Segurança. Reintegração. Liminarmente Concedida. Inexiste direito líquido e certo a ser oposto contra ato de Juiz que, antecipando a tutela jurisdicional, determina a reintegração do empregado até a decisão final do processo, quando demonstrada a razoabilidade do direito subjetivo material, como nos casos de anistiado pela Lei nº. 8.878/1994, aposentado, integrante de comissão de fábrica, dirigente sindical, portador de doença profissional, portador de vírus HIV ou detentor de estabilidade provisória prevista em norma coletiva. Legislação: CLT, artigo 659, inciso X” 20 Art. 10, II, a, dos ADCT da Constituição de 1988 e súmula Nº 339 CIPA. SUPLENTE. GARANTIA DE EMPREGO. CF/1988. (incorporadas as Orientações Jurisprudenciais nos 25 e 329 da SDI-1) I - O suplente da CIPA goza da garantia de emprego prevista no art. 10, II, "a", do ADCT a partir da promulgação da Constituição Federal de 1988. (ex-Súmula nº. 339 - Res. 39/1994, DJ 20.12.1994 e ex-OJ nº. 25 - Inserida em 29.03.1996); II - A estabilidade provisória do cipeiro não constitui vantagem pessoal, mas garantia para as atividades dos membros da CIPA, que somente tem razão de ser quando em atividade a empresa. Extinto o estabelecimento, não se verifica a despedida arbitrária, sendo impossível a reintegração e indevida a indenização do período estabilitário. (ex-OJ nº. 329 - DJ 09.12.2003) 21 Súmula nº 379, do TST: “Dirigente Sindical. Despedida. Falta Grave. Inquérito Judicial. Necessidade. O dirigente sindical somente poderá ser dispensado por falta grave mediante a apuração em inquérito judicial, inteligência dos arts. 494 e 543, §3º, da CLT. (ex-OJ nº. 114 - Inserida em 20.11.1997) ”. 22 Art. 10, II, b, dos ADCT da Constituição de 1988. 23 Súmula 378 do TST: “Estabilidade Provisória. Acidente do Trabalho. Art. 118 da Lei nº 8.213/1991. Constitucionalidade. Pressupostos. I - É constitucional o artigo 118 da Lei nº. 8.213/1991 que assegura o direito à estabilidade provisória por período de 12 meses após a cessação do auxílio-doença ao empregado acidentado. (ex-OJ nº. 105 - Inserida em 01.10.1997) II - São pressupostos para a concessão da estabilidade o afastamento superior a 15 dias e a consequente percepção do auxílio doença acidentário, salvo se constatada, após a despedida, doença profissional que guarde relação de causalidade com a execução do contrato de emprego. (Primeira parte - ex-OJ nº. 230 - Inserida em 20.06.2001) ”. 24 In Comentário à CLT, art. 899, nota 2, p. 1006.

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hipótese conferida no antigo § 2°do art. 896 da CLT, que permitia ao presidente do TRT conferir efeito suspensivo ao recurso de revista, teve sua redação modificada pela Lei n/ 9756/98. Excepcionalmente, os tribunais conferem efeito suspensivo a recurso, quando verificam que a decisão será modificada em grau de recursal. ” E destaca que “os meios geralmente utilizados para obtenção de tal fim são a ação cautelar e o mandado de segurança. ”

Fonte: Adaptado pelo autor (2017).

Vale ressaltar, para tais casos, de concessão ou denegação da liminar

pleiteada, em qualquer dos casos apresentados, poderá a parte que possuir seu

direito líquido e certo impetrar o M.S. e tentar obter liminar, além da própria

segurança, para evitar o abuso de direito ou a ilegalidade. Porém não terá

cabimento Mandado de Segurança contra a decisão liminar em Mandado de

Segurança, conforme a OJ n° 140 da SDI-2 do TST.25

Em síntese, destacam-se as súmulas 414 e 418 do TST acerca do tema:

Súmula nº. 414: MANDADO DE SEGURANÇA. ANTECIPAÇÃO DE TUTELA (OU

LIMINAR) CONCEDIDA ANTES OU NA SENTENÇA. (conversão das Orientações

Jurisprudenciais nºs 50, 51, 58, 86 e 139 da SDI-II - Res. 137/2005 – DJ 22.08.2005)

I - A antecipação da tutela concedida na sentença não comporta impugnação pela

via do mandado de segurança, por ser impugnável mediante recurso ordinário. A

ação cautelar é o meio próprio para se obter efeito suspensivo a recurso. (ex-OJ nº.

51 - inserida em 20.09.2000); II - No caso da tutela antecipada (ou liminar) ser

concedida antes da sentença, cabe a impetração do mandado de segurança, em

face da inexistência de recurso próprio. (ex-OJs nos 50 e 58 - ambas inseridas em

20.09.2000); III - A superveniência da sentença, nos autos originários, faz perder o

objeto do mandado de segurança que impugnava a concessão da tutela antecipada

(ou liminar). (ex-OJs no 86 - inserida em 13.03.2002 e nº. 139 - DJ 04.05.2004).

Assim, na Súmula nº 418: MANDADO DE SEGURANÇA VISANDO Á

CONCESSÃO DE LIMINAR OU HOMOLOGAÇÃO DE ACORDO. (conversão das

Orientações Jurisprudenciais nºs 120 e 141 da SDI-II - Res. 137/2005 – DJ

22.08.2005). A concessão de liminar ou a homologação de acordo constituem

25 OJ n° 140 da SDI-2 do TST: “Mandado de Segurança contra Liminar, Concedida ou Denegada em outra Segurança. Incabível. (Art. 8º da lei Nº 1.533/51). Não cabe mandado de segurança para impugnar despacho que acolheu ou indeferiu liminar em outro mandado de segurança. ”

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faculdade do juiz, inexistindo direito líquido e certo tutelável pela via do mandado de

segurança. (ex-OJs no 120 - DJ 11.08.2003 e nº. 141 - DJ 04.05.2004).26

4.4 OS CRITÉRIOS PARA DEFINIÇÃO DE COMPETÊNCIA

A Emenda Constitucional nº. 45, promulgada em 30 de dezembro de

2004, promoveu alterações substanciais no Poder Judiciário, destacando o

elastecimento da competência da Justiça do Trabalho, que, antes, restrita às

relações de emprego, agora alcança todas as relações de trabalho (MACIEL, 2006,

p. 7).

Mais especificamente, entre os dispositivos acrescentados ao texto

constitucional, o inciso IV do artigo 11427 tem gerado bastante controvérsia. Eis sua

redação:

Art. 114 - Compete à Justiça do Trabalho processar e julgar: (...) IV – Os mandados de segurança, habeas corpus e habeas data, quando o ato questionado envolver matéria sujeita à sua jurisdição.

Percebe-se a regra de competência em mandado de segurança era

aquela que levava em conta a qualidade da autoridade apontada como coatora.

Assim, em outras palavras, pouco importava a matéria tratada na impetração, eis

que o juízo competente para o julgamento era fixado tendo em vista o

enquadramento funcional da autoridade coatora. Sendo assim, caso fosse um

servidor público de qualquer Estado da Federação o juízo competente seria o da

Justiça Estadual; se a autoridade fosse servidor público federal, seria a Justiça

Federal a competente, com ressalva quanto às autoridades com prerrogativa de foro

nos Tribunais. (SCHIAVI, 2008, p. 961).

26Aarão Miranda da Silva. Mandado de segurança no Direito do Trabalho. Disponível em: <http://www.ambitojuridico.com.br>. Acesso: out. 2017. 27 CLT Saraiva acadêmica e Constituição Federal / obra coletiva de autores da Editora Saraiva com colaboração de Antônio Luiz de Toledo Pinto, Márcia Cristina Vaz dos Santos Windt e Lizi Céspedes – 5 ed. atual. e aum. São Paulo: Saraiva, 2007, p. 70.

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4.5 AUDIÊNCIA TRABALHISTA

A regra no processo do trabalho é a concentração dos atos processuais

em audiência. Desse modo, se foi instalada a audiência trabalhista, nesta ocorrerá

desde a primeira tentativa de conciliação até a decisão final, a sentença, como via

de regra, facultando ao magistrado nos termos do §2° do art. 813 e do art. 765 da

CLT fracionar os atos que ocorreriam numa única audiência.28

Em consonância, por estar em audiência, e nesta ocorrerem todos os

atos, em existindo decisões interlocutórias, a fim de evitar-se a preclusão do ato,

uma vez que as nulidades deverão ser arguidas no primeiro momento oportuno que

as partes tiverem para se manifestar nos autos, ou seja, ali em audiência (art. 795

da CLT) e desde que exista o prejuízo a elas (art. 794 da CLT), o meio processual

para tal arguição de nulidade é o “protesto” que deverá ser consignado em ata de

audiência para que em sede de recurso seja alegada em preliminar os prejuízos

causados e postulada a nulidade dos atos processuais viciados.

Em virtude dos fatos mencionados, por tal procedimento, torna-se inviável

a impetração de mandado de segurança no curso da audiência, salvo a hipótese de

suspensão ou desmembramento da audiência (em conciliação, instrução e

julgamento) e a concessão nesse interregno de medida liminar, como destacado no

item II da Súmula 414 do TST.

28 “Art. 765 da CLT: os juízos e tribunais do trabalho terão ampla liberdade na direção do processo e velarão pelo andamento rápido das causas, podendo determinar qualquer diligência necessária aos esclarecimentos delas”.

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CONCLUSÃO

Objetivou-se neste trabalho a análise da aplicabilidade do Mandado de

Segurança na Justiça do Trabalho e seus efeitos.

O mandado de segurança é um instrumento normativo e, tem por

finalidade proteger os direitos individuais e da coletividade, não amparado por

habeas corpus nem habeas data, devido a uma ação ou omissão de uma autoridade

coatora, de forma ilegal ou abuso de poder; dando, portanto, a sociedade uma leve

certeza de justiça com respeito total ao direito existente em nossa sociedade.

Nesse ínterim, o estudo do Mandado de Segurança, observou-se que o

estudo do Mandado de Segurança, além de atual e importante, viabiliza a

concretização do princípio do acesso à justiça, que serve para determinar as

finalidades básicas do sistema jurídico. Do mesmo modo, o sistema deve ser

igualmente acessível a todos e deve produzir resultados que sejam individual e

socialmente justos.

A Constituição Federal/88 artigo 5º, incisos LXIX - “para proteger direito

líquido e certo, não amparado por ‘habeas-corpus’ ou ‘habeas-data” e LXX destaca o

mandado de segurança coletivo e suas hipóteses de legitimação. Em consonância,

com o art. 5º incisos LXIX E LXX da CRFB/88, ressaltou-se também a Lei n°

12.016/09.

Verificou-se que o Mandado de Segurança tem a sua razão de ser na

necessidade de proteção às garantias fundamentais, destinado à proteção de direito

líquido e certo ameaçado ou violado por ato manifestamente ilegal da autoridade

pública.

Conclui-se que o Mandado de Segurança é um instrumento eficaz para

concretizar o processo do trabalho, existe e para tanto, basta conhecê-lo e utilizá-lo

corretamente.

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