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Curso de Moda apresenta uma gama de informações históricas, passando por fatos corriqueiros, referente ao dia a dia do universo jovem. Tendo como pano de fundo o ambiente universitário, muitas questões envolvendo amizade, empatia, conflitos, inseguranças, preconceito, inveja, fama, entre outros temas serão tratados com muito humor.

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Curso de ModaUma história de paetês, rendas e babados

São Paulo 2016

Curso de ModaUma história de paetês, rendas e babados

Neide Baptista

Copyright © 2016 by Editora Baraúna SE Ltda

Criação de Capa Neide Baptista

Ilustração da Capa Maria Alice Ximenes

Diagramação Jacilene Moraes

Revisão Rejane Costa Barros

CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO-NA-FONTESINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ ________________________________________________________________B174c

Baptista, Neide Curso de moda: uma história de paetês, rendas e babados / Neide Baptista. - 1. ed. - São Paulo: Baraúna, 2015.

ISBN 978-85-437-0462-3

1. Romance brasileiro. I. Título.

15-25173 CDD: 869.93 CDU: 821.134.3(81)-3________________________________________________________________30/07/2015 30/07/2015

Impresso no BrasilPrinted in Brazil

DIREITOS CEDIDOS PARA ESTAEDIÇÃO À EDITORA BARAÚNA www.EditoraBarauna.com.br

Rua da Quitanda, 139 – 3º andarCEP 01012-010 – Centro – São Paulo - SPTel.: 11 3167.4261www.EditoraBarauna.com.br

Sumário

Prólogo — 7

Retrospectiva 2003 a 2005 — 13Calça jeans — 14

Luxo — 17Desfile — 20

Festejos — 28Semana de estudos — 36

Balada — 39

Último ano na faculdade 2006 — 47Semana de matrícula — 48

A Maison do Curso de Moda — 60Almoço de confraternização — 63

Primeira semana de aula — 66Concerto de rock I e II — 76

Mesa redonda, e outras cenas — 84Assessoria pedagógica — 94

O truque na monografia — 108Operação Rochefoucauld — 115

Fim de semana em Buenos Aires — 124Fofoca e escândalo — 148

Confidencial — 154Conclusão do estágio — 158

Noite flamenca — 172Copa do Mundo — 174

Férias — 182Segundo semestre — 192

Première — 195Simpósio fashion — 203Mulher do Ano — 208

SAU — 211Celebração a Santa Catarina de Alexandria — 224

Contagem regressiva — 228Formatura — 231

2007: Depois da faculdade, a realidade — 236Sucesso — 237Eureka — 252

Altos babados no MNS — 254

Tudo novo em 2008 — 256O livro — 257

Vivendo em Paris — 259

Grandes eventos em 2009 — 276As solas Vermelhas — 277De volta ao passado — 283

Nota dez para 2010 — 287Madrid — 288

Epílogo — 294

Bibliografia — 302

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Prólogo

Após concluir o Curso de Moda, que na opinião da minha mãe eu deveria ter estudado Turismo, tive várias ideias visando ganhar di-nheiro. É natural que todo recém-formado saía da faculdade com essa ilusão, em especial à pressa de decolar numa carreira meteórica de su-cesso. Foi com essa visão que eu pensei em abrir meu próprio negócio: uma pequena confecção de uniformes. Depois pensei num brechó de artigos de luxo, um antiquário de figurinos de época, junto com um ateliê de restauração de roupas antigas. Após estudar a viabilidade desses vários tipos de comércios de vestuário, percebi as dificuldades. Mas, não foi só isso que me desanimou. Afinal, dificuldades existem em qualquer área. O que me fez desistir de ter uma confecção ou uma loja, foi o confinamento. Então, resolvi procurar um emprego, assim como muitos jovens fazem. Eu tinha também a opção de ir para Nova York, onde morava minha tia Dina.

No entanto, queria tentar sozinha. Estava passando por uma fase na qual deveria provar minha própria capacidade. Mesmo tendo um excelente currículo e uma carta de apresentação do meu estágio na Maison da faculdade, compreendi que não eram suficientes para uma recém-formada iniciar a carreira como estilista. Teria de ser humilde e aprender a começar da base e aos poucos. Disposta a trabalhar, eu

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não me importei com o salário, que mesmo sendo mínimo seria o bastante para minhas despesas pessoais. Afinal, não poderia viver às custas da minha família depois de formada.

Ainda que eu tivesse um emprego garantido na agência de tu-rismo da minha mãe, o setor de pacotes aéreos já estava saturado e mecânico, pois desde a minha adolescência atuava nesse segmento. Porém, antes de deixar a agência da senhora Ruth, criei um guia de moda muito interessante: “Vestuário: Viagens & Bagagens”. Esse guia era um catálogo que oferecia várias dicas de roupas, acessórios e demais itens indispensáveis numa mala. A ideia resultou de uma conversa com a professora Alba. Na ocasião, ela que comprava duas passagens aéreas comigo, falou sobre as inúmeras bagagens que as pessoas têm mania de levar.

— Quando observo os passageiros no aeroporto tenho a impres-são de que eles estão levando um guarda-roupa inteiro naquelas ma-las. — comentou a professora.

— Mas isso é muito comum, principalmente nos roteiros de longa distância. — disse. — Já presenciei vários transtornos no ae-roporto, isso sem falar no desconforto de ter que carregar um monte de malas pesadas.

— Então por que você não desenvolve um guia, unindo moda e viagem? — sugeriu a professora.

O tal guia de figurino me rendeu muitos elogios dos clientes, fa-zendo minha mãe me propor um novo ritmo de trabalho, ainda mais quando eu lhe apresentei outra ideia.

Na tentativa de manter sua melhor funcionária, a senhora Ruth me ofereceu um aumento salarial, uma sala, e uma secretária. Além disso, os horários ficaram flexíveis, não precisando, eu, ir à agência todos os dias, podendo dessa forma dedicar um tempinho à costura.

Com tantas mordomias pus em prática meu projeto. “Moda: Cores & Sabores” destinado aos estudantes e profissionais de Moda. Apresentei o roteiro em algumas faculdades de São Paulo e também do interior. Os primeiros grupos viajaram para a capital do Chile,

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onde conheceram em Santiago o Museo de La Moda, um espaço sim-plesmente incrível para quem gosta de moda.

Além da visita ao museu, meu roteiro incluía uma tarde na vinícola Concha y Toro, um espetáculo à noite no Teatro Municipal de Santiago, um almoço exótico no Mercado Municipal, onde a pedida era saborear a Centolla, um caranguejo enorme que só existe nos mares gelados do Pacífico. Depois o grupo conheceria uma cafeteria inusitada e nela experimentaria o famoso café con piernas. E quando achasse que não havia mais nada de interessante, faltava conhecer a empresa Araucania têxtil, que resgatou o trabalho ar-tesanal de uma comunidade indígena. Os Mapuches que vivem na Cordilheira dos Andes, reproduz a vegetação local a partir de flores de lã em colares e echarpes.

Além do roteiro para o Chile, eu oferecia mais duas opções de viagem: Salvador, onde o grupo visitaria o Museu do Traje e do Têx-til, mantido pelo Instituto Feminino da Bahia, e no Rio de Janeiro o Instituto Zuzu Angel.

Mesmo com o sucesso dessas viagens, eu ainda estava disposta a trabalhar literalmente com a moda, e não apenas de modo indireto. Sentia falta do barulho das máquinas de costura, das linhas, botões, dos moldes, dos tecidos, dos livros, das pesquisas. E sentia muita sau-dade da Maison da faculdade, em especial da professora Sofia.

Uma vez que os pacotes turísticos aconteciam na baixa tempora-da, eu vi que poderia atuar em outra atividade.

— Costureira? — questionou minha mãe. — Você prefere um trabalho sem futuro numa confecção sabe lá onde, ao invés de ficar aqui na agência, com todos os direitos garantidos, trabalhando num escritório com ar-condicionado, conforto e perto da sua casa?

— Mãe, eu tenho que começar de algum jeito a atuar na área que eu estudei por quatro anos. — respondi quase que implorando para que ela entendesse minha escolha.

— Se você tivesse me ouvido, tinha se formado em Turismo. — comentou, ela, pela quinquagésima vez.

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Ainda que indignada com minha opção, a senhora Ruth sa-bia que o ofício de costureira seria por pouco tempo, e tão logo eu despontaria no cenário com uma de minhas ideias. Porém, esse sentimento que era quase uma certeza de mãe, a senhora Ruth não deixou transparecer. Ela sempre foi meio durona, mas por dentro seu coração sabia que a filha era uma grande empreendedora. Ali-ás, fui preparada para isso desde criança. Mesmo com as condições financeiras favoráveis, nunca tive uma vida de burguesinha deso-cupada. Desde criança minha rotina incluía tempo para estudar, brincar, ajudar nos afazeres domésticos, e posteriormente trabalhar na agência de turismo. Como minha mãe não tinha empregada em casa, preferindo ela mesma fazer o serviço doméstico, eu sempre colaborava, mantendo meu quarto organizado.

Depois que fiz onze anos de idade, lavava e passava minhas próprias roupas. Aos poucos, conforme fui crescendo, as responsa-bilidades também aumentaram, não apenas com os estudos, mas, sobretudo, para com a vida que minha mãe sabia que iria me exigir. Como não queria que eu fosse uma idiota, sem noção da realidade como a maioria das meninas do meu círculo social, a senhora Ruth foi firme em minha educação. Algumas de suas amigas achavam seu método um tanto severo. Mas não era. A senhora Ruth dizia que para educar um filho, é preciso que os pais tenham tempo, paciência e muito amor. Devem ter disciplina, exemplos saudáveis e bagagem cultural. Infelizmente são poucos os pais que de fato se preocupam e se ocupam em preparar seus filhos para uma vida independente, ensinando-os a não precisar de ninguém para lhes servir. E a senhora Ruth é um exemplo disso.

Dinâmica, prática, agitada, mas nunca nervosa, ela fazia várias coisas ao mesmo tempo. Acordava muito cedo, preparava o café da manhã e o almoço ao mesmo tempo. Por ser muito econômica, se dava ao luxo de tirar férias duas vezes ao ano. Ficávamos um mês in-teiro viajando, com meu pai e um grupo de amigos, para lugares exó-ticos e diferentes. Minha mãe não gostava da ideia de ser uma turista

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convencional, preferia se sentir como uma aventureira. E para isso era imprescindível planejar os roteiros nos mínimos detalhes, como uma expedição. Precisava falar o idioma local, morar na cidade, conhecer o cotidiano e fazer amigos, ainda que tudo isso fosse apenas por alguns dias. Por essa razão posso dizer que tive uma infância e adolescência diferente das meninas do meu colégio. Meu conhecimento em Geo-grafia, História são formidáveis. Outro ensinamento da senhora Ruth foi me educar para viver com um orçamento financeiro mínimo, de-vendo sempre priorizar os gastos. Acostumada a economizar, eu ob-servei que existe duas formas de se lidar com o dinheiro: A primeira é gastar tudo, até o último centavo, acumulando dívidas em troca de um monte de quinquilharia. Geralmente esse tipo de pessoa não tem uma vida cultural rica, não frequenta teatros, óperas, vernissages, recitais, museus e não tem o hábito de ler bons livros. Ao invés disso, preferem os shoppings, e compram sem controle da mesma forma que comem demasiadamente. A segunda forma de usar o dinheiro é saber fazer investimento até mesmo quando se adquire roupas, sapatos e bolsas. Nesse quesito, sou ótima, só compro o necessário e priorizo muito a qualidade dos produtos. Depois de usar por algum tempo a peça costumo vender. Talvez o fato de ser judia, descendente de comerciantes, sei como ninguém negociar até mesmo uma “escova de dente usada” da marca Gucci. Brincadeira!

Quanto ao meu novo emprego deu certo, fui admitida numa Maison de noivas onde trabalhava seis horas por dia. A alegria de conseguir um trabalho foi ainda maior quando encontrei na Maison um amigo que se formou comigo. Era menos assustador encarar o mercado de trabalho na companhia de Alex. Através dele soube que Eloísa, outra amiga da faculdade, havia sido contratada pela Zara, e Carol parceira de muitos trabalhos no Curso de Moda, integrava a equipe do São Paulo Fashion Week.

É claro que tais empregos não saíram assim de uma “cartola de mágico”. Essas oportunidades muito se devem à professora Sofia. Amiga de pessoas influentes, ela sempre convidava os melhores pro-

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fissionais e empresários de moda para prestigiar os eventos da facul-dade. Foi dessa forma que eu e meus colegas tivermos o privilégio de conhecer, durante um desfile na faculdade, uma famosa estilista de noiva, o diretor presidente de uma conhecida rede de lojas de origem espanhola, e o produtor do maior evento de moda no Brasil.

Mesmo trabalhando na área em que havia me formado e gos-tando do que fazia, sentia uma inquietação, desejava fazer algo mais. Essa percepção me tocava o coração, como os ponteiros de um re-lógio. Eu percebia que faltava alguma coisa inusitada no campo da moda, mas não sabia exatamente o quê. Seria o Museu da Costura? Lembro que a professora Sofia já havia me orientado para que eu fizesse minha pós-graduação na área de museologia. Durante uma conversa por telefone, percebendo minha inquietação, a professora Sofia aconselhou a me jogar. Estava na hora de buscar um desafio, que não era o projeto do museu, esse era o ponto de chegada, faltava encontrar o ponto de partida.

— E onde vou encontrar esse ponto, professora Sofia? — per-guntei.

— Você não precisa ir muito longe, ele já está dentro de você. — respondeu ela sabiamente. — Aquiete sua mente e deixe o co-ração falar, quando menos esperar eis que o ponto vai emergir. Por hora, continue suas atividades, e sempre que puder relaxe, respire e faça meditação.

Mas meu ritmo de vida estava frenético demais para fazer medi-tação, mal conseguia tempo para comer. Pela manhã atendia na agên-cia de turismo, à tarde seguia para Maison de noivas onde trabalhava das 14h às 20h - incluído, às vezes, o sábado. Nos feriados prolonga-dos viajava com meu grupo.

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Retrospectiva 2003 a 2005

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Calça jeans

As visitas técnicas programadas pelos professores, no primeiro ano do Curso de Moda, foram um dos momentos mais interes-santes. A vivência começava na sala de aula, em meio a estudos e debates, e se prolongavam quando íamos a campo relacionar a teoria com a prática.

Para que os alunos conhecessem a indústria da roupa pronta, o professor Renato da disciplina Tecnologia da Confecção I - progra-mou uma atividade. Na ocasião da visita a uma indústria de jeans, estudávamos as revoluções tecnológicas ocorridas no setor têxtil, bem como as diferenças no modo de produção, e as condições de trabalho, que ao longo nos séculos XIX, XX e XXI foram determinantes para as transformações na indústria da moda.

Quando o ônibus parou em frente à uma fábrica, localizada no interior de São Paulo, o professor Renato pegou o microfone e disse:

— Espero que essa visita técnica contribua para um conheci-mento maior sobre o jeans. Muitos foram os fatores que fizeram a cal-ça jeans anunciar um estilo novo de se vestir. Nas últimas quatro dé-cadas do século XX, a calça jeans se popularizou nas diversas camadas sociais, atingindo todas as faixas etárias, que elegeu essa peça como uma indumentária clássica da sociedade contemporânea. Entendo

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por clássico, o que o professor e doutor Saviani certa vez definiu como indispensável. E foi na condição de desbotada e surrada que a calça jeans se tornou um ícone no guarda roupa das gerações. Atualmente o segmento de moda alia a atividade artesanal com a tecnologia robo-tizada na produção de um vestuário ao estilo jovem. É exatamente o que essa empresa, que visitaremos daqui a pouco, faz para as grandes marcas, de forma criativa e ecológica. Produz o nosso jeans utilizando produtos orgânicos e reaproveitando 80% da água.

A visita à empresa foi orientada pela funcionária e designer de moda Olívia, que mostrou e explicou todo o processo que a calça jeans é submetida para então ser usada por uma grande parte da po-pulação mundial.

O primeiro departamento era o da criação, onde se define o esti-lo e se desenvolve o desenho. Na sequência o material é encaminhado para o setor de modelagem com um cadastro de informações minu-ciosas sobre o produto idealizado.

— Percebam que do desenvolvimento completo da primeira peça-piloto, até à aprovação do cliente, passamos três fases de traba-lho. — explicou Olívia.

Para que o vestuário seja confeccionado em grande escala a mo-delagem é computadorizada, isso contribui também para que o tecido tenha o máximo de aproveitamento durante o corte. Após essa fase as unidades são inspecionadas e enviadas ao setor de costura. Esse setor concentrava grande parte de todos os funcionários da empresa, distribuídos em cinco linhas de montagem. Apesar da complexidade desse setor ele era ao mesmo tempo integrado. A primeira frente de trabalho era formada pelas funcionárias que costuravam somente as pernas das calças. A segunda equipe recebia as unidades em tempo há-bil, pregavam os cós e repassavam. O terceiro grupo de costureiras era responsável em colocar os botões. A quarta linha de produção costu-rava os bolsos. A quinta e última divisão era formada por especialista em bordados e etiquetas.