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Curso EDUCAÇÃO AMBIENTAL Disciplina EDUCAÇÃO AMBIENTAL

Curso EDUCAÇÃO AMBIENTAL · 2013. 1. 29. · que compactua com a idéia de que a crise socioambiental é um reflexo direto de uma crise ética; Analisar as inter-relações entre

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Curso EDUCAÇÃO AMBIENTAL

Disciplina

EDUCAÇÃO AMBIENTAL

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Curso EDUCAÇÃO AMBIENTAL

Disciplina

EDUCAÇÃO AMBIENTAL

Celso SANCHEZ Vilson CARVALHO

www.avm.edu.br

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CELSO SANCHEZ PEREIRA

Possui graduação em Licenciatura em Ciências Biologicas pela

Universidade Federal do Rio de Janeiro (1995), mestrado em

Psicossociologia de Comunidades e Ecologia Social pela

Universidade Federal do Rio de Janeiro (2001) e Doutorado em

Educação Brasileira, com ênfase em Educação Ambiental pela

PUC-Rio (2008). Atualmente é professor da pós-graduação da

Universidade Cândido Mendes, no Instituto A Vez do Mestre,

professor na pós-graduação em educação ambiental da PUC-Rio e

professor da Universidade Veiga de Almeida. Tem experiência na

área de Ecologia, com ênfase em Ecologia Social, atuando

principalmente nos seguintes temas: educação ambiental, ensino

de ciências, meio ambiente e política ambiental.

VILSON SÉRGIO DE CARVALHO

Doutor em Ecologia Social pela Universidade Federal do Rio de

Janeiro (2005) e Mestre em Psicossociologia de Comunidades e

Ecologia Social pela mesma universidade (1997), graduado e

Licenciado em Psicologia, também pela UFRJ. No momento atua

como professor do Instituto A Vez do Mestre (IAVM) da

Universidade Candido Mendes (UCAM) no Rio de Janeiro atuando

nas áreas de docência, pesquisa e desenvolvimento nos âmbitos

de ensino presencial e a distância com ênfase nas seguintes

temáticas: Educação Ambiental, Psicologia Social, Didática,

Práticas de Ensino e Meio Ambiente. Já publicou alguns livros e

vários artigos nessa área, atuando em projetos de relevância

como o Programa de Despoluição da Baía de Guanabara (PDBG).

Fora do âmbito acadêmico tem prestado ainda serviços de

consultoria e pesquisa sobre questões relacionadas a temática

socioambiental em diferentes instituições.

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Su

mário

07 Apresentação

09 Aula 1

A Dimensão Socioambiental da

Educação Ambiental

43 Aula 2

Contextualizando a Educação Ambiental

83 Aula 3

A Educação Ambiental e seus Âmbitos de Atuação

115 Aula 4

Comunidade e Meio Ambiente:

Examinando a Teia Sócio-Ambiental

147 Aula 5

Educação Ambiental nas Cidades

209

Aula 6

Comunidade e Meio Ambiente:

Examinando a Teoria Sócio-Ambiental

265

Aula 7

O papel Ético do Educador

Ambiental

301 AV1

Estudo dirigido da disciplina

304 AV2

Trabalho acadêmico de aprofundamento

307 Referências bibliográficas

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Educação Ambiental

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Trabalhar na área de Educação Ambiental implica uma

compreensão diferenciada da relação homem-meio pautada na

idéia de que a atual situação de degradação socioambiental é uma

grave realidade que só pode ser verdadeiramente enfrentada com

a participação de todos os que co-habitam esse planeta e um

comprometimento com o cuidado deste.

Neste caderno, você terá a chance de compreender melhor as

questões que fundamentam essa realidade através do estudo da

EA como um instrumento eficaz de conscientização ecológica que

visa levar o ser humano a se enxergar como parte integrante e

indissociável do meio ambiente. Estudando a história da EA em

seus diferentes momentos até sua consolidação atual em

diferentes esferas, você compreenderá melhor as aplicações,os

limites e as potencialidades dessa área que apenas enfatiza uma

dimensão implícita na Educação.

Que seu estudo seja tranqüilo, dedicado e sustentável. Sucesso!

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Este caderno de estudos tem como objetivos:

Introduzir e aprofundar conceitos e práticas na área de

Educação Ambiental, permitindo, assim, o conhecimento de sua

importância no atual momento de crise ambiental que o

planeta atravessa;

Favorecer a compreensão da história da Educação Ambiental

desde os grandes encontros e congressos internacionais até

sua atual legitimação na esfera governamental facultada pela

Lei 9795/99;

Analisar as diferentes esferas da educação ambiental e as

práticas diferenciadas associadas a estas no âmbito urbano e

no rural;

Refletir sobre a Educação Ambiental como uma filosofia de vida

que compactua com a idéia de que a crise socioambiental é um

reflexo direto de uma crise ética;

Analisar as inter-relações entre Educação e Sustentabilidade

nos planos local e global.

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A Dimensão Sócio-Ambiental da

Educação Ambiental

Vilson Sérgio de Carvalho

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Nesta aula, você terá a chance de refletir sobre a Educação

Ambiental como uma dimensão essencial e inseparável da

Educação. Aprenderá um pouco mais sobre sua história e, de

modo especial, sobre seus âmbitos de atuação: Formal, Não

Formal e Informal, no que diz respeito a práticas e atividades

aplicadas a cada âmbito. Finalmente, estudaremos juntos sobre

algumas idéias caras à educação ambiental como sustentabilidade,

cuidado, ética e cidadania planetária, onde veremos o quanto

aquilo que somos se relaciona com o lugar em que vivemos e que

aquilo que fazemos a esse lugar acaba se refletindo em nós, tanto

no que diz respeito às ações positivas quanto às negativas que

destroem nosso habitat e, indiretamente, a nós mesmos.

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Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você seja

capaz de:

Definir o que seja Educação Ambiental a partir da idéia de que

toda Educação não deixa de ser, também, ambiental;

Compreender os diferentes âmbitos de atuação da Educação

Ambiental, suas características e práticas a estes associadas;

Entender como a Educação Ambiental atua no sentido de

despertar no ser humano uma consciência ecológica que o

ajuda a se enxergar como parte integrante do ambiente que o

cerca;

Analisar o papel do ser humano como parte do meio ambiente

e sua responsabilidade junto à sua preservação e conservação; Entender o que seja cidadania planetária e suas implicações na

adoção de atitudes sustentáveis.

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Aula 1 | A Dimensão Socioambiental da Educação Ambiental 10

Reconhecendo a Dimensão Sócio-

Ambiental da Educação

Para início de conversa, é preciso esclarecer

que, não apenas esta aula, mas todo o nosso curso

parte do pressuposto de que não pode existir Educação

que não seja também ambiental. Com isso queremos

chamar à atenção para o fato de que, desacompanhada

da dimensão ambiental, a "Educação perde parte de

sua essência e pouco pode contribuir para a

continuidade da vida humana" (Carvalho, 2002: 36),

em outras palavras, ela perde sentido e torna-se, no

mínimo, inútil.

Ao defender a posição de que a associação

"ambiental" à "Educação" apenas reforça uma das

modalidades da mesma entre tantas outras que a

mesma encerra, como "profissionalizante" ou

"permanente", e de que, portanto, não existe uma

modalidade de educação específica ou singular,

diferenciada de uma educação geral, denominada

Educação Ambiental, não ignoramos o fato de como a

Educação foi e continua sendo pensada pelas políticas

municipais e estaduais de ensino, onde mal se

consegue preparar o cidadão para o pleno exercício de

sua cidadania, quanto mais permitir que esse exercício

seja acompanhado de uma consciência ambiental.

Tanto a Educação Ambiental como a Educação Popular

são formas educativas que surgiram justamente pelos

inúmeros vazios deixados pelo sistema educacional

clássico em não conseguir cumprir esse papel básico

que lhe cabia.

Assim sendo, não se trata de fazer recortes, ou

assumir uma visão ingênua e compartimentalizada

referente a conteúdos ambientais (Brügger, 1994), mas

sim de enfatizar dimensões que já se encontram

presentes na Educação em geral, desde os tempos mais

Reconhecendo a Dimensão Sócio-Ambiental da Educação 10 O que é e para que serve a educação ambiental? 15 A responsabilidade pela vida 27 O Caminho para uma Cidadania Planetária 30

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primitivos, onde a escola era a aldeia e a Educação

(embora essencialmente prática) era confiada a toda

comunidade em função da vida e para a vida (Gadotti,

1993: 23). Da mesma forma, entendemos que ao se

insistir nos referidos complementos, não se está

inventando ou criando dimensões novas para a

Educação, mas sim desvelando dimensões próprias da

mesma, que passaram a ser mais valorizadas não

somente em função da crise ambiental, mas da própria

crise da modernidade, onde o homem num processo de

individualismo, cada vez mais intenso, foi se isolando

do meio a sua volta, mantendo-se indiferente frente a

situações de extrema pobreza, marginalidade e

corrupção (Carvalho, 2003).

Não é possível ignorar que por ser,

simultaneamente, objeto e reflexo da sociedade

humana, onde se encontra inserida, a Educação - e por

conseguinte a Educação Ambiental - está sempre ligada

intimamente ao processo social através do qual o

homem adquire costumes, conhecimentos e valores

vigentes em seu grupo e em sua época, aos quais ele

pode simplesmente se adaptar ou intervir, modificando

o curso de sua história. Por isso, Paulo Freire defende

que “não há educação fora das sociedades humanas e

não há homens isolados (...) O homem é um ser de

raízes espaço-temporais. A instrumentação da

educação (...) depende da harmonia que se consiga

entre a vocação ontológica deste “ser situado e

temporalizado” e as condições especiais desta

temporalidade e desta situacionalidade” (Freire, 1997:

61).

A necessidade do complemento “ambiental”

junto à palavra Educação pode apontar, entretanto,

para a existência de uma práxis educacional tradicional

e tecnicista, que não seria sequer cidadã, que diria

ambiental (Grün, 1996); o que, infelizmente, é inegável

Quer saber mais?

Negando tais dimensões, é preferível usar termos como treinamento ou adestramento em vez de Educação, uma vez que os mesmos não possuem um compromisso mais amplo a não ser, estritamente, com as estratégias a que se propõem.

Vide obra de BRÜGGER, P. Educação ou Adestramento Ambiental. Santa Catarina: Letras Contemporâneas, 1994.

Importante

Considerar o que seja meio ambiente diz respeito a tratar de algo que foi produzido historicamente através de lutas e exploração. Em outras palavras, a natureza reflete a devastação de nossos sistemas econômicos e sociais e, principalmente, de nossa crise de

valores.

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no contexto brasileiro. O próprio sistema educacional,

como um todo na sociedade capitalista, é permeado

determinantemente por interesses que confirmam a

manutenção de um cristalizado sistema de classes, no

qual os ricos vão se tornando cada vez mais ricos e os

pobres cada vez mais miseráveis, se constituindo num

duro obstáculo para uma educação verdadeiramente

libertadora, onde são promovidas uma série de cisões

do tipo: escola e sociedade; trabalho intelectual e

trabalho manual; saber erudito e saber popular; ciência

e técnica; necessidade e liberdade; decisão e execução

ou, ainda, teoria e prática (Arruda, 1986: 7).

Todavia, reconhecer a existência e a

perversidade deste sistema utilitarista, dito

“educacional”, não anula a verdade de que a Educação

- enquanto um fator essencial para a plena realização

pessoal, assim como para o progresso e o

desenvolvimento da sociedade (Hochleitner, R., 1996:

11) - traz necessariamente, em seu âmago, uma

dimensão ambiental manifesta através de suas

múltiplas expressões (naturais, biológicas, mentais,

sociais, históricas, culturais, políticas, econômicas).

Pensar o processo educativo apenas num âmbito

pessoal e interpessoal corresponderia à suposição de

que a Educação se processa numa ilha isolada, não

recebendo impactos socioculturais e nem tendo

qualquer contribuição para a formação de uma

sociedade mais justa. Como aponta o professor Rolston

III (1984), a partir dessa linha de reflexão, “nenhuma

educação está completa até que se tenha um conceito

de natureza” (Rolston III (1984) apud Grün, M., 1994:

187).

Em minha maneira de pensar, não se pode

excluir a dimensão ambiental da Educação se a

considerarmos dentro dos princípios da Lei de Diretrizes

e Bases da Educação Nacional (9394). Uma vez que

Dica do professor

A necessidade da qualificação ambiental refere-se, basicamente, à constatação de que existe sim uma práxis educacional reprodutora que nega sua própria essência ambiental e reproduz os valores políticos e econômicos que alimentam o sistema capitalista. Tal constatação, no entanto, não nega a verdade de que não pode existir uma educação comprometida com a mudança social sem passar por uma ampla reflexão sobre a natureza e o lugar do homem na mesma.

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esta afirma, em seu artigo 2º, que a Educação tem por

finalidade “o pleno desenvolvimento do educando, seu

preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação

para o trabalho", é possível se perguntar: Seria

possível a concretização desses objetivos,

desconsiderando essa dimensão? Ao meu ver, a

resposta é óbvia. Concordando com este raciocínio,

Marcos Reigota (1994) afirmou, em um de seus artigos,

que o momento atual exige que “não falemos mais em

Educação Ambiental, mas simplesmente em Educação,

como direito inalienável do homem, visando não só a

utilização racional dos recursos naturais, mas também

a participação nas decisões que lhe dizem respeito,

estabelecendo uma nova relação com a natureza,

desenvolvendo uma nova razão que não seja sinônimo

de autodestruição” (Reigota (1991) apud Rutwoski, E.,

1993: 55).

Fazendo coro a outros pesquisadores e

educadores ambientais, Loureiro (1996) é um dos que

chamam à atenção para o outro lado da questão, ou

seja, para a falta de uma percepção da Educação

Ambiental como sendo essencialmente Educação,

apontando esta ausência como um dos fatores mais

agravantes na produção de uma “prática

descontextualizada, voltada para problemas de ordem

física do ambiente, incapaz de discutir questões

político-sociais e teorias básicas da Educação”

(Loureiro, C., 1996: 82). O próprio relatório do CIMA,

preparatório para a Rio-92, declarou abertamente que

um dos maiores problemas para o desenvolvimento da

Educação Ambiental foi o fato dela ter sido sempre

enfocada como relativa à área da Ecologia física e

nunca à área de Educação, que é o seu lugar por

natureza, ficando restrita a um conjunto de explicações

sobre técnicas ambientais ou temas da Biologia

(Andrade, A., 1993: 55).

Importante

Essa nova relação com a natureza pode ser pensada a partir da tese do "igualismo

biosférico", onde os homens são considerados apenas como mais uma espécie viva de forma idêntica a tantas outras que existem na natureza.

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Para entender melhor o que este tipo de

concepção falsa pode vir a gerar, basta examinar, ao

longo de sua trajetória, como os programas e/ou

projetos de Educação Ambiental quase sempre se

justificaram frente a problemas ambientais do tipo:

desertificação, poluição, extermínio de algum recurso

natural e outros problemas do gênero; mas, raramente

por outros problemas igualmente de ordem ambiental

como a violência, a injustiça, o desrespeito ou a

ausência de solidariedade. Realidade que não se

justifica, já que “todo processo de Educação Ambiental

trabalha com os desequilíbrios biossociais” (Linhares,

M., 1995: 15), onde se enquadram tanto os problemas

relacionados à poluição (do ar, água e solo, por

exemplo) como também as questões referentes à fome,

ao desemprego e à doença. Como revela Grün (1994),

seu espaço de atuação se dá precisamente no

“encontro entre os valores de conservação das

comunidades bióticas e abióticas e os valores sociais

provenientes destes valores”.

Devido ao seu processo recente de ampliação

conceitual e temática, a Educação Ambiental, segundo

Muñoz (1996), tem hoje refletido sobre uma vastidão

de conteúdos que, anteriormente, não eram

vislumbrados como foco de sua análise, entre estes, a

importância da dimensão cultural dos povos, a

revitalização dos povos indígenas, o papel da mulher na

sociedade, a luta pelos direitos humanos e fim do

academicismo fechado e rigorista (Muñoz, M., 1996:

30; Andrade, A., 1993: 52). Na medida em que a EA

procura dar conta desse amplo universo biossocial,

integrando diferentes disciplinas e estratégias de

trabalho na busca por uma aproximação mais

equilibrada entre homem e meio ambiente, ela pode,

também, contribuir para um exercício mais consciente e

efetivo da cidadania, possibilitando ao educando utilizar

Quer saber mais?

A legislação nacional define meio ambiente como sendo "o conjunto de condições, leis, influências e interações de ordem física, química e biológica que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas" conforme art. 3º, inciso I, da Lei 6938/1981 (Lei da Política Nacional do meio ambiente).

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os conteúdos aprendidos em seu cotidiano, visando

melhorar sua qualidade de vida.

Mesmo tomando o meio ambiente como base e

fator preponderante, essa consciência proposta pela

Educação Ambiental - buscando atualizar as

potencialidades humanas através de uma maior

conscientização de si mesmo e da realidade a sua volta

- serve igualmente ou, pelo menos, deveria servir a

toda e qualquer estratégia educativa, simplesmente

pelo fato de que o homem não só depende do meio

ambiente, mas dele faz parte. Ele é o componente

racional - embora muitas vezes parece demonstrar o

contrário - desse grande ecossistema global.

Se concordamos com a colocação de Paulo

Freire, no sentido de não ser possível fazer qualquer

tipo de reflexão sobre Educação sem uma reflexão

sobre o próprio homem, já que a Educação só é

possível para ele, enquanto um ser inacabado, em

busca de aperfeiçoamento (Freire, 1997); poderíamos,

também, dizer da mesma forma que não é possível

refletir sobre Educação sem refletirmos sobre o meio

ambiente do qual o homem é parte integrante.

O que é e para que serve a educação

ambiental?

A Educação Ambiental pode ser entendida como

um processo crítico transformador capaz de promover

um questionamento mais profundo sobre a realidade

ambiental na qual o homem se integra, levando-o a

assumir uma nova mentalidade ecológica, pautada no

respeito mútuo para com o meio ambiente e os que

dele fazem parte.

Tal definição encerra alguns termos chaves que

merecem ser problematizados para o entendimento da

Quer saber mais?

Essa proposta do inacabamento do ser pode ser encontrada, particularmente, em uma das últimas obras de Paulo Freire,

intitulada Pedagogia da Esperança.

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Educação Ambiental e seus desdobramentos. O

primeiro deles é o de processo. A idéia de processo

implica a realização de algo que demanda certo tempo

e envolve uma série de variáveis, muitas delas difíceis

de serem controladas. Muitas vezes, o trabalho dos

educadores ambientais é o de iniciar esse processo,

lento e gradual, sem certeza absoluta de seus

resultados. É como lançar sementes na terra. Não

sabemos se irão germinar e crescer. Podemos controlar

alguns fatores como preparar a terra, adubando-a ou

regando. Mas não conseguiremos controlar todas as

variáveis envolvidas em suas fases do crescimento da

mesma, ou as mudanças climáticas que certamente

irão afetá-la, acelerando ou retardando seu

crescimento.

O segundo diz respeito à palavra crítico. Este

termo se opõe ao termo "ingênuo". Ao aprendemos

mais sobre algo, passamos de uma consciência ingênua

- leiga ou parcialmente leiga - para uma consciência

crítica - conhecedora do objeto estudado. No caso da

EXEMPLIFICANDO

Se você deseja lutar pela conservação de um grupo

de árvores da sua rua que determinados moradores

desejam cortar. O que fazer?

a) Conheça mais sobre as árvores: Qual a espécie

das mesmas? Há quanto tempo estão lá? Que

vantagens e desvantagens trazem aos moradores

da rua em questão.

b) Conheça a legislação a respeito: Busque saber

tudo que é possível fazer legalmente para conservar

as árvores em questão. Procure informações nos

órgãos competentes como a FEEMA, por exemplo,

uma vez que estes podem vir a se tornarem

importantes aliados.

c) Conheça o argumento dos que querem que as

árvores sejam retiradas. Que motivações explícitas

e implícitas explicariam tal decisão.

d) Some forças: Procure se aliar a outros moradores

que pensam como você. Faça um abaixo assinado,

passeatas, quanto mais pessoas aderirem à causa,

mais força ela terá.

::Processo:

Termo que se refere ao modo de proceder, operar ou ensinar. Relaciona-se à técnica ou ao procedimento. No caso da Educação Ambiental ou em qualquer outro tipo de ação educativa, o autor chama à atenção para a dificuldade de se obter resultados a curto prazo e aponta a própria deflagração de um processo como uma vitória do educador.

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Aula 1 | A Dimensão Socioambiental da Educação Ambiental 17

Educação Ambiental, é fundamental que aprendamos

mais sobre o meio ambiente e suas características. É

necessário conhecer os ciclos fundamentais da

natureza, os grandes biomas do planeta, os animais em

risco de extinção, o perigo dos agrotóxicos, dos

transgênicos, a degradação promovida pelo homem em

seu habitat; enfim, uma série de informações que

possam viabilizar um posicionamento critico

(consciente) frente a uma determinada situação.

São ingênuos os posicionamentos da

conservação ou proteção do ambiente natural

desligados de outros questionamentos inter-

relacionados a essa questão como as questões de foro

político e econômico. Para o educador ambiental que

deseja lutar por uma determinada causa, é

fundamental conhecer o problema ambiental pelo qual

se deseja enfrentar buscando, antes de mais nada,

conhecer suas causas e conseqüências, buscando

igualmente pesquisar ampla e profundamente todas as

informações pertinentes ao mesmo (extensão do

problema).

O terceiro refere-se à idéia de transformação

possibilitada através do aprendizado. O conhecimento

nos torna não apenas conscientes - o que por si só já

representa uma mudança de ótica, de postura, de

atuação frente a uma realidade sobre a qual nada ou

pouco se sabia - mas também nos torna mais

responsáveis sobre o objeto conhecido. Se eu não sabia

que meu comportamento prejudicava algo ou alguém e

o cometia, eu tenho uma parcela de culpa totalmente

diferente da que eu teria se fosse consciente do mal

que eu cometo em relação as suas conseqüências. A

consciência, muitas vezes, nos faz cúmplices e, no caso

da realidade socioambiental, pretende demonstrar o

quanto todos nós somos um pouco responsáveis pelo

processo de degradação ambiental que enfrentamos.

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Do mesmo modo, é essa consciência ecológica quem

nos desperta não apenas para a culpa, mas para a

certeza de que a possibilidade de transformação dessa

triste realidade não pode advir de outro modo se não

pela participação ativa de cada um de nós.

O quarto termo a destacar nos leva a entender

que não estamos apenas inseridos no meio ambiente.

Se eu integro algo, faço parte desse algo, ou melhor,

sou também esse algo. Se alguém faz mal a esse algo

é, também, a mim que o faz. Se eu faço mal a esse

algo é a mim mesmo que estou fazendo. A

compreensão de que todos nós, homens e mulheres,

adultos e crianças, pobres ou ricos, compomos juntos o

meio ambiente com seus ricos e complexos

ecossistemas é uma das lições mais valiosas da

Educação Ambiental. Através da sua mensagem,

entendemos que, ao destruir o planeta, não estamos

destruindo apenas o nosso lar, o único que conhecemos

com características específicas próprias à nossa

sobrevivência, mas a nós mesmos numa espécie de

suicídio lamentável (ecocídio).

A idéia de integrar algo remete-nos igualmente

ao pensamento de que não estamos sós. De que somos

tão somente mais uma espécie viva que juntamente

com centenas de outras têm vivido nesse planeta,

vencendo desafios e buscando sobreviver. De que tudo

o que acontece a um único ser vivo nessa grande teia,

que é esse grande ecossistema vital do qual ajudamos

a compor, nos afeta profundamente, ainda que de

maneira tardia. Não existe um ser vivo, animal ou

vegetal, que não esteja de algum modo interligado a

outros de uma forma equilibrada. Essa é uma das leis

mais importantes do cosmos.

Como último termo a destacar, poderíamos

sublinhar o vocábulo respeito, cuja reflexão mais

Para refletir

Sobre o Respeito: Se o homem não respeita nem mesmo seu próximo porque este tem uma cor, religião ou opção sexual diferente da dele, imagine o desafio de mostrar ao homem a importância de respeitar outras espécies diferentes da dele sobre as quais se sente superior. Esse respeito só é possível através de um sério trabalho de conscientização ambiental, onde todos se convençam que, apesar das diferenças, o que afeta a um na grande teia planetária afeta, direta ou indiretamente, a todos ainda que distintamente.

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Aula 1 | A Dimensão Socioambiental da Educação Ambiental 19

apurada nos leva a nos aprofundarmos no conceito de

ética. A "ética do cuidado" que Leonardo Boff (1999)

tanto ressalta em suas obras. Respeitar algo é procurar

entendê-lo e aceitá-lo como ele é, ainda que não

concordemos com o mesmo. Infelizmente, não

respeitamos a lógica da natureza, comumente

ignoramos as necessidades de outros seres vivos além

de nós e desrespeitamos seus ciclos e sua existência

em nome de valores econômicos e antropocêntricos.

Estou convencido de que a crise socioambiental

com a qual o homem se depara em pleno século XXI é,

antes de tudo, um reflexo de uma grave crise de ética.

A ausência de uma postura ética técnico-científica que

pudesse ordenar as ações do homem sobre a natureza,

baseada no respeito mútuo entre esses dois elementos,

ajuda-nos a compreender melhor como a civilização

moderna pode alcançar um estágio prejudicial à própria

continuidade da vida no planeta. Não é por acaso, ao

meu ver, que a origem da palavra ética, advinda da raiz

grega ethos (costume), é a mesma, refere-se ao local

onde o homem vive, mora ou passa grande parte de

seu tempo. Não se trata aqui, de criticar o avanço da

ciência e da técnica como bode expiatório da crise

civilizatória, mas sim de destacar como o mesmo vem

sendo utilizado a serviço de um desenvolvimento

exclusivamente econômico, onde o lucro é sempre o

elemento prioritário.

Um claro exemplo disso é a dificuldade que os

educadores ambientais têm de enfrentar ao tentar

promover uma consciência ecológica junto a uma

população cujas aspirações, em grande parte, são

baseadas em valores de consumo material nas quais o

ter é mais importante do que o ser. Vale destacar que o

objetivo da Educação Ambiental não se resume a

disseminar informações sobre o meio ambiente, mas a

promover uma nova postura diante da vida, uma

Importante

Esta é uma questão importante no debate sobre educação ambiental a partir de uma ótica mais ampla. Voltaremos a conversar sobre este em diferentes momentos não apenas neste, mas em outras aulas afins ao tema.

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Aula 1 | A Dimensão Socioambiental da Educação Ambiental 20

postura ética do viver que se dedica não apenas a

situações referentes ao esgotamento e deterioração dos

recursos naturais através da poluição ou da extinção de

espécies. Trata-se de uma nova postura diante das

injustiças sociais, o empobrecimento sociocultural, e a

desigual distribuição de renda promotora de

desigualdades (Carvalho, 2003).

Assim como qualquer processo educativo tem

como fim a aprendizagem, no seu sentido mais amplo,

ou seja, a percepção e adaptação mental de

impressões, informações e experiências no sentido de

ampliar, aprofundar e transformar os conhecimentos,

conceitos, atitudes e comportamentos tanto individuais

como grupais (Dohmen, G., 1981: 3; Gutiérrez (1978)

apud Gadotti, M., 1993c: 217); a Educação Ambiental,

da mesma maneira, também, assume como meta

principal uma determinada aprendizagem individual.

Entendida enquanto uma necessidade permanente, a

aprendizagem pretendida pela Educação Ambiental,

visa a que o indivíduo reconheça e compreenda melhor

o meio ambiente do qual faz parte, buscando novas

formas de relacionamento com o mesmo, pautadas nos

princípios de respeito e de integração ambiental.

Em um tempo onde a degradação ambiental se

globaliza e atinge níveis de grande risco a toda espécie

viva, a Educação Ambiental tem despontado como uma

importante ferramenta conscientizadora dos limites do

mundo natural, da corresponsabilidade que a

humanidade tem ao dividir o mesmo planeta e da busca

por modelos sustentáveis de relacionamento com a

natureza, onde o homem não precise destruir o meio

ambiente para satisfazer suas necessidades.

Não tenho aqui, a pretensão de apresentar a

Educação Ambiental como “tábua de salvação

ecológica” ou “remédio milagroso”, solucionador de

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Aula 1 | A Dimensão Socioambiental da Educação Ambiental 21

todos os problemas ambientais. Assim como a

Educação, de modo geral, pode vir a ser utilizada como

instrumento de controle, deturpação, seleção, exclusão

ou, como diria Brügger, de “adestramento”;

compreendo que também a Educação Ambiental possa

ser má utilizada, de acordo com os objetivos de quem a

promove e dos valores e ideologias sobre o qual estas

práticas estariam calcadas (Brügger, 1994), muitas

vezes, descompromissadas com um exercício mais

consciente da cidadania (através do desenvolvimento

do pensamento crítico) ou com uma reflexão ambiental

mais ampla e interdisciplinar. Nesse caso, assim como

me reservo o direito de duvidar que este tipo de prática

pedagógica seja qualificada como educação; chamo à

atenção para a necessidade de se desconfiar de uma

série de práticas educativas que, embora se intitulem

como educação ambiental, escondem na verdade

objetivos do tipo: incentivar o consumismo de produtos

naturais de uma “empresa x”; mostrar que o governo

do fulano de tal é o melhor por ter se preocupado em

construir um “número x” de praças para a comunidade,

ou ainda, como também é comum, favorecer a

importação de tecnologias estranhas, muitas vezes até

prejudiciais à realidade socioambiental onde estas

seriam implantadas.

Concordando, então, com os que defendem a

postura de que a Educação Ambiental é,

essencialmente, e antes de mais nada, Educação;

penso ser interessante refletir sobre algumas questões:

Se ambas se fundem numa única realidade educativa,

sendo, portanto em última análise a mesma coisa,

como seria possível reconhecê-la? Ou, ainda, que tipo

de contribuição diferenciada ela traria em relação a

outras práticas educativas que sempre existiram, que

pudesse justificar esse predicado “ambiental” aliado a

Educação? As respostas a essas indagações, embora

variadas, se concentram numa direção, isto é, para o

Para pensar

Adestramento Ambiental Este conceito de Paula Brügger é bastante interessante na medida em que nos faz pensar na própria prática do educador ambiental no que se refere a pressupostos éticos essenciais por vezes ignorados. Até que ponto nos pensamos estar educando e as vezes não estamos adestrando? O que você pensa sobre

isso? Já parou para se questionar sobre o assunto?

Para navegar

Para melhor responder à pergunta do parágrafo ao lado vale a pena visitar alguns sites de grupos que trabalham com o tema: http://www.grude.org.br (site da ONG GRUDE – Grupo de Defesa Ecológica); http://www.redea.org.br (site da Rede Brasileira de Educação

Ambiental):

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Aula 1 | A Dimensão Socioambiental da Educação Ambiental 22

fato de que a Educação Ambiental possui um conjunto

de características próprias e singulares. É sobre este

diferencial, portanto, que passo a tecer algumas

considerações. Em primeiro lugar, é possível perguntar:

Que diferencial seria este? Afinal, quais as

características específicas da Educação Ambiental?

Muitos estudos já tentaram defini-las; no entanto,

penso que a resposta a estas questões ainda se

encontra em aberto.

No meu entender, esse diferencial da Educação

Ambiental se define por um processo de despertar a

atenção de todos os povos e de todos os cidadãos do

mundo para problemas comuns, tanto no âmbito local

quanto no âmbito global, através de ações que

promovam uma tomada de consciência de que

“conviver e con-morrer já não é mais um fato restrito a

um espaço limitado, mas amplia-se na própria

dimensão do alcançável” (Zaragoza, F., 1990: 16-17),

alertando-os de que a destruição do meio ambiente

significa para a raça humana sua autodestruição.

Segundo a socióloga Anna Waehneldt (1996), a

especificidade da Educação Ambiental se dá na

viabilização do conhecimento do meio ambiente em sua

totalidade - através de seus diferentes aspectos e de

suas relações de interdependência - a partir do exame

da realidade local, com base nas situações vivenciadas

no cotidiano da população. Baseada no estudo de

problemas práticos do dia-a-dia, ela pretende a adoção

de “uma nova postura ética solidária”, em relação ao

meio ambiente, que valorize o exercício da cidadania e

se caracterize através de atitudes participativas e

adequadas à constituição de um meio ambiente

equilibrado e saudável (Waehneldt, A., 1996;

Rodrigues, 1997).

Quer saber mais?

Frederico Mayor Zaragoza, autor citado, foi o diretor geral da UNESCO e coordenador do movimento Ubuntu (que na antiga língua africana significa harmonia e solidariedade).

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Aula 1 | A Dimensão Socioambiental da Educação Ambiental 23

OS ÂMBITOS DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL

Refletindo em termos de uma pedagogia

ambiental, a Educação Ambiental possui três níveis

operacionais (Loureiro, 1992; Carvalho, 2001), que

correspondem aos diferentes âmbitos onde os

processos educativos são efetivados:

Um âmbito formal (ou institucional): onde

existe um currículo estruturado com uma

intenção particular bem definida, com

mecanismos avaliativos, seqüências

temporais, dentro de um processo geralmente

conduzido na instituição escolar, abrangendo

quatro níveis de ensino: Ensino Fundamental,

Ensino Médio a graduação e a pós-graduação

(Brügger, P., 1994: 32). No caso da Educação

Ambiental, o trabalho nesse âmbito é o mais

freqüente, e se efetiva juntamente com os

professores e alunos, dentro de uma postura

interdisciplinar que valoriza a participação do

alunado no processo de aprendizagem e cuja

orientação de seu foco pedagógico é voltada

para os problemas objetivos de sua realidade

(Oliveira, 1991: 18). De acordo com a

UNESCO, a Educação Ambiental pode ser

entendida nesse âmbito:

desde a simples introdução de

conceitos ambientais nas disciplinas

tradicionais, até a integração total em

torno de um projeto de ação

comunitária, passando pela

convergência de disciplinas que

possuem certas afinidades teóricas e

metodológicas

(UNESCO apud Bezerra, I. & Costa,

M., 1992: 39).

Importante

Âmbito formal: Nesse âmbito, a EA é promovida em instituições

diversas, mas com destaque à instituição escolar fortalecida por pareceres como o 819/85 do MEC e o 226/87 do Conselho Federal de Educação que juntamente com os PCNs (1997) reforçaram a necessidade e a importância da inclusão da EA no processo de formação dos alunos do ensino fundamental e médio.

Quer saber mais?

A necessidade de uma perspectiva interdisciplinar da EA ratifica a negação de um saber ambiental fragmentado e especializado, propondo sempre uma interação indispensável entre as diferentes disciplinas e áreas do conhecimento num processo de

diálogo, reciprocidade e complementarieda de.

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Aula 1 | A Dimensão Socioambiental da Educação Ambiental 24

Não há dúvidas de que a promoção da Educação

Ambiental em todos os níveis de ensino deve ser um

imperativo se realmente se pretende desenvolver no

ser humano, desde seus primeiros anos de vida, uma

atitude de respeito e integração ambiental. A maior

parte dos projetos e/ou programas de Educação

Ambiental no Estado do Rio de Janeiro tem trabalhado

nesse âmbito de atuação, enxergando docentes e

discentes como agentes multiplicadores de opinião, e

revendo a própria unidade escolar como uma grande

agência de formação e desenvolvimento social.

Procura-se atuar não apenas sobre os conhecimentos

explícitos da escola, mas também os valores e as

ideologias que perpassam a instituição e são

transmitidos através da dinâmica de suas relações, do

currículo ativo e das metodologias empregadas (Garcia,

R., 1993: 35).

Recentemente, esse âmbito vem se dividindo em

Educação Ambiental Formal Presencial e Educação

Ambiental Formal Não-Presencial. No segundo caso, se

inserem as propostas de Educação Ambiental a

distância, onde o educando tem a oportunidade de

realizar uma série de cursos e se manter informado

sobre as últimas produções na área a distância através

de CD´s, livros, sites de computador e outros. Esta é

uma proposta ainda bastante discutida em função da

metodologia utilizada e da conscientização ambiental

que pode vir a produzir. O ideal é que esta seja

efetivada por uma equipe experiente que valorize os

encontros presenciais com os educandos como parte

integrante do funcionamento do mesmo de modo a

suprir o distanciamento entre professor e aluno, bem

como do aluno com a natureza em geral.

Dica do professor

Ecopedagogia: Nesse sentido, Moacir Gadotti fala de uma Ecopedagogia voltada para uma substituição da racionalidade da dominação por uma racionalidade da comunicação, através de uma reorientação curricular. Para saber mais, consulte a obra de Gadotti, M. (1996) destacada na bibliografia deste caderno.

Dica do professor

O último parágrafo ao lado chama à atenção para a necessidade de continuamente repensarmos as propostas na área de E.A. na modalidade de educação a distância. Dê suas sugestões a respeito.

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Aula 1 | A Dimensão Socioambiental da Educação Ambiental 25

Um âmbito não-formal: onde se situam

também as chamadas educação libertadora e

popular, assumindo como principal espaço de

trabalho a comunidade e suas unidades vitais

(inclusive a escola). Nesse âmbito de

trabalho, os enfoques que privilegiam uma

precisão cronológica e um ritmo avaliativo

determinante são descartados e os fatores a

eles inerentes, relevados a segundo plano em

relação ao tempo de reação da comunidade

dentro de um processo mais amplo. Fora do

espaço curricular, existe uma série de

atividades desenvolvidas em termos de

Educação Ambiental não formal como a

promoção de campanhas, palestras,

encontros, congressos, reuniões e até a

aplicação de programas mais sistematizados

de trabalho com comunidades (Maciel et alii,

1994).

Por exigirem mais tempo, considerando a

comunidade como um todo, num trabalho conjunto com

as muitas unidades vitais que a compõem (comércio

local, associações diversas, clubes, escolas e outras);

os projetos de Educação Ambiental nesse âmbito,

infelizmente, são ainda bastante reduzidos.

Um âmbito informal: Que geralmente se

processa através de meios informais de

comunicação como jornais, panfletos, cartas,

cartazes, filmes, programas de rádio e TV e

outros; podendo se concretizar em qualquer

lugar. Apesar dos inegáveis resultados, o

problema do trabalho educativo nesse âmbito

refere-se ao fator avaliativo, de difícil

mensuração em termos do impacto real

obtido. Em programas realmente efetivos de

Educação Ambiental, esse âmbito de trabalho é

Importante

Âmbito Não-Formal: Esse tipo de trabalho envolve uma ou mais comunidades, cada uma reunindo diferentes instituições. Não apenas as legais como a escola, as associações, os clubes e as igrejas; mas também as ilegais como as redes de traficantes,

facções criminosas . Trata-se, portanto, de um trabalho mais complexo que a proposta anterior , necessitando de uma equipe experiente para que o trabalho dê certo.

Importante

Âmbito Informal: O trabalho de EA nesse âmbito, é importante e estratégico mas não deveria ocorrer sozinho, pois pode correr o risco de tornar-se apenas uma ação isolada. Ele deve ser mais estimulado, especialmente, para reforçar os efeitos de um trabalho de educação ambiental já iniciado.

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Aula 1 | A Dimensão Socioambiental da Educação Ambiental 26

aliado a um dos dois anteriormente

apresentados. Ou seja, ele funciona como um

reforçador coadjuvante das estratégias

formais e não-formais de Educação

Ambiental.

Os motivos são óbvios, não se faz Educação

Ambiental distribuindo folhetos ou passando vídeos,

essas atividades fazem parte de algumas etapas com

finalidades e estratégias específicas dentro de uma

pedagogia educativa mais ampla. Nesse sentido, vale

sublinhar que a proposta que a EA traz é a formação de

uma consciência crítica, pautada na participação e na

responsabilidade social e não apenas de educar para a

ecologia ou fornecer aos educandos um conjunto de

informações ambientais.

Apesar de serem essencialmente diferentes

encerrando diretrizes variadas e formas de

concretização distintas, esses âmbitos não devem, em

absoluto, ser entendidos como manifestações

estratégicas isoladas de uma modalidade educativa,

mas sim como partes de um mesmo modelo,

pensamento e ação na luta por uma melhor qualidade

de vida. É extremamente comum num programa de

Educação Ambiental, como o que foi considerado nesta

dissertação, o emprego simultâneo de estratégias que

privilegiam um ou outro âmbito de atuação, de acordo

com um determinado momento da realização do

trabalho, não existindo restrições quanto ao espaço

pedagógico a ser utilizado. Conforme aponta Valverde

(1996), esse tipo de procedimento nem poderia ser de

outra maneira, já que “o meio ambiente é contextual à

vida em todas as suas formas e, portanto, oferece

multiplicidade de perspectivas complementárias para

aqueles que buscam conhecê-lo e nele intervir”

(Valverde, 1996: 93).

Dica de leitura

Para saber outras informações a respeito, não deixe de consultar a obra de FREDERICO, C. Trajetória e Fundamentos da Educação Ambiental. SP: Cortez, 2004.

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Independente do âmbito em que um determinado

projeto ou programa de Educação Ambiental esteja

inserido, o importante é que nele esta tenha

possibilidade de cumprir seu compromisso social, ou

seja, o de “informar, conscientizar, convocar,

questionar, denunciar, sensibilizar e contribuir para a

mudança de base do ser humano”, ou seja, uma

passagem da razão à solidariedade baseada em uma

nova ética socioambiental (Veiga-Neto, 1994; Grün,

1994). É por esse compromisso que o valor da

Educação Ambiental pode ser considerado tanto do

ponto de vista preventivo, atuando antes que o

problema ambiental venha a ocorrer (estando este na

iminência de acontecer ou não), quanto do ponto de

vista defensivo, agindo durante e depois do problema

ecológico já ter se manifestado, buscando maneiras de

saná-lo ou no mínimo atenuá-lo.

A responsabilidade pela vida

Considerando o fato de muitas de suas

propostas só poderem ser concretizadas a longo prazo,

e desta englobar diferentes paradigmas (como a

questão da preservação x desenvolvimento), a

Educação Ambiental tem uma conceituação bastante

definida encerrando propostas muito concisas de

atuação visando tornar o homem consciente de sua

responsabilidade pela vida no planeta. Como aponta

Mattos (1997), a Educação Ambiental busca

essencialmente “fazer um resgate do que é inerente ao

homem”, devolvendo-lhe “a consciência de sua unidade

com o meio ambiente ao mesmo tempo em que o

conscientiza, sensibilizando para o direito à vida”

(Mattos, 1997: 5).

Analisando como a relação entre o homem e

natureza foi se conformando ao longo da história, Erich

Fromm (1976) vai afirmar que a mesma foi marcada

Dica do professor

Talvez por isso mesmo seja possível dizer que dificilmente entenderemos o ambiente em toda a sua riqueza e complexidade. Por mais que o estudemos, pesquisemos e com ele nos relacionemos a partir de uma contextualização abrangente haverá sempre mais a saber sobre o mesmo.

Importante

Sobre a idéia de conscientização, vale lembrar as lições de Paulo Freire de que ninguém conscientiza ninguém, todos se conscientizam juntos no processo de aprendizagem. A conscientização é um processo que não se refere obrigatoriamente a uma tomada de

consciência, mas a uma passagem de uma consciência ingênua a uma consciência crítica.

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Aula 1 | A Dimensão Socioambiental da Educação Ambiental 28

por um acontecimento ímpar ocorrido a certa altura da

evolução animal: a ação humana deixou de ser

essencialmente determinada pelo instinto. Neste

momento, o animal transcendeu a natureza deixando

de lado o papel passivo de criatura, dando lugar ao

surgimento do homem. Porém, ao transcender a

natureza, a “vida tornou-se cônscia em si mesma”. O

surgimento da autoconsciência, da razão, trazem

juntamente consigo o conflito, já que o equilíbrio

anterior entre existência animal e natureza se rompe. A

partir de sua transcendência, o homem passa a não ter

mais um lugar próprio na natureza, embora continue

sendo parte dela. Para Fromm, essa dicotomia

acompanhará o homem por toda a sua existência, que

se vê na obrigação de retomar a harmonia perdida com

o surgimento da razão, através do aprimoramento da

mesma.

Ajudar o homem a lidar com esse dilema de uma

forma responsável, auxiliando-o a perceber a

necessidade de reintegração à natureza é uma das

tarefas mais importantes da Educação Ambiental. É

preciso mostrar ao homem de que é possível viver no

ambiente sem ter necessariamente que se colocar

numa postura de senhor, de dono deste. Em outros

termos, de que é possível conciliar propostas de

desenvolvimento sem necessariamente termos de

destruir o ambiente para atingir tal objetivo.

A Educação Ambiental é um processo de

conscientização ambiental amplo que se concretiza

através de projetos e programas realizáveis de

Educação, visando aproximar o homem do meio

ambiente em busca de melhores condições de vida. Seu

desafio, sim, é grande e complexo, por encarar de

frente um conjunto de problemas ambientais que, como

ressalta Serres (1991), “foram causados por uma

civilização que já está aí há mais de um século, geradas

Dica do professor

Porque o homem se sente superior à natureza? Erich Fromm tenta responder a essa pergunta a partir de nossa evolução, analisando o dilema que o homem passou a ter após se tornar cônscio. Atente para a explicação desse renomado

psicanalista.

Importante

Como expôs Desmond Morris (1990), o homem desrespeitou o “contrato animal” vigente e passou a subjugar todos os animais, esquecendo-se de sua origem. Morris propõe que o homem volte a honrar esse contrato e reconheça os animais como sócios na partilha do planeta.

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pelas longas culturas que a precederam, infligindo

danos a um sistema físico de milhões de anos” (Serres,

1991: 42); e por promover um esforço constante de

reflexão sobre o destino do homem e o futuro do

planeta, envolvendo uma nova filosofia de vida e um

novo ideário comportamental, tanto em âmbito

individual quanto em escala coletiva que valorize as

práticas simbióticas e comunitárias em detrimento das

parasitárias.

Embora reconheça a grave crise ambiental que o

mundo atravessa, a Educação Ambiental não assume

uma postura conformista ou apocalíptica diante desta.

Muito ao contrário, ela surge sempre, mesmo no início

de sua trajetória - ainda quase exclusivamente de

cunho preservacionista - como uma forma de contestá-

la, de reagir a esta, não de uma forma “quixotesca”,

promovendo lutas contra “moinhos fantasiosos”, mas

sabiamente, através de um processo lento e profícuo de

formação de uma consciência ecológica, através da

participação de todos os envolvidos e do

desenvolvimento de novas atitudes e aptidões, gerando

tanto a possibilidade de mudanças de comportamento

como, também, a aprendizagem de novas habilidades

integradas ao meio ambiente. A eficiência das políticas

ambientais encontra-se diretamente ligada a essa

possibilidade de modificação comportamental dos

indivíduos voltada para uma redução dos impactos

ambientais e bloqueio do processo de degradação.

Algumas definições como a de Schoenfeld

(1978), destacando algumas características básicas da

Educação Ambiental e a de Garcia (1993), ressaltando

sua estreita relação com o desenvolvimento, por

exemplo, servem ao esclarecimento desse fato, na

medida em que evidenciam a abrangência da proposta

encerrada pela Educação Ambiental, e o quanto efetiva

Dica do professor

Desenvolvimento e Meio Ambiente: A conciliação desses dois elementos tem sido um dos maiores desafios para a Ecologia. Crescer sem destruir, desenvolver sem desequilibrar... são falas que têm marcado o discurso da sustentabilidade.

É importante que, desde já, você tenha um posicionamento sobre o tema.

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Aula 1 | A Dimensão Socioambiental da Educação Ambiental 30

ela pode ser. Schoenfeld, por exemplo, afirma que a

Educação Ambiental possui cinco fatores elementares:

em primeiro lugar, ela trata do meio

ambiente do homem, especialmente

quando um número de pessoas

exercem pressões crescentes sobre

esse meio ambiente. Em segundo

lugar, ela se preocupa com o meio

ambiente total, quando afetado pela

ação do homem sobre o mundo em

que vive (...). Em terceiro lugar, é

interdisciplinar. Em quarto, busca

soluções a longo prazo para os

problemas humanos, ou seja, soluções

ecologicamente sadias (...).

Finalmente, ela deve lidar com uma

ética ambiental integrada.

(Schoenfeld apud Tanner, R., 1978:

42).

Tais características, aliadas aos princípios de

interatividade e de articulação destacados por Garcia,

explicam por que a Educação Ambiental tem sido

considerada por alguns educadores como sendo a

Educação do 3º milênio, promovendo uma revisão

pessoal de nossos valores e nos convidando à tomada

de uma nova postura frente ao mundo que nos rodeia.

Outros fatores poderiam ser igualmente

pensados nessa direção como o fato da Educação

Ambiental ser encarada como a educação da

sobrevivência planetária e sua necessidade em função

do risco que todo ser vivo tem passado diante do

alarmante quadro de destruição ambiental.

O Caminho para uma Cidadania

Planetária

Para Reigota (1994), a Educação Ambiental deve

ser compreendida fundamentalmente como "educação

política", uma vez que ela reivindica e prepara os

cidadãos para exigir justiça social, cidadania nacional e

planetária, além de autogestão e ética; devendo esta

Para

navegar

Para conhecer mais sobre sua história, acesse:

http://www.unesco.org.br/programas/meioamb/ma_educa.asp; http://www.mec.gov.br/sef/ambiental/pnea.shtm.

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Aula 1 | A Dimensão Socioambiental da Educação Ambiental 31

se dirigir indistintamente a todos os níveis sociais.

Escrita em 1975, a Carta de Belgrado já declarava que

a principal meta da Educação Ambiental não é outra

senão a de desenvolver um cidadão consciente do

ambiente total e preocupado com os problemas

associados a esse ambiente. Assim sendo, a conquista

de um meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem

de uso comum do povo e fator essencial à qualidade de

vida do homem, conforme experiências

interdisciplinares de Educação Ambiental, defende a

atual constituição brasileira no seu artigo 225, implica

direta e/ou indiretamente a promoção de práticas tanto

em âmbito formal como no não-formal.

Tal necessidade, propagada por instituições

governamentais e não governamentais, se consolidou

particularmente no âmbito legal através da

promulgação da Lei 6938, de 31 de agosto de 1981,

criadora da Política Nacional de Meio Ambiente que

determina que Educação Ambiental seja adotada em

todos os níveis de ensino e, particularmente, através da

Lei 9795 em 27 de abril de 1999 que instituiu a Política

Nacional de Educação Ambiental (PNEA).

Apesar desta última salientar, em seu artigo 5º,

a necessidade do "estímulo e o fortalecimento de uma

consciência crítica sobre a problemática ambiental e

social", através da Educação Ambiental, sublinhando

seu valor para "a construção de uma sociedade

ambientalmente equilibrada, fundada nos princípios da

liberdade, igualdade, solidariedade, democracia, justiça

social, responsabilidade e sustentabilidade" (art. 5,

inciso V); ainda não existe um consenso claro sobre sua

natureza, conceitos-chave (como o de meio ambiente)

e sua definição (marcada por diferentes linhas de

compreensão), em função de sua complexidade e

heranças históricas que vão desde as heranças

apaixonadas dos primeiros movimentos ambientalistas

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Aula 1 | A Dimensão Socioambiental da Educação Ambiental 32

radicais até a disciplinarização formal da mesma

através dos Parâmetros Curriculares Nacionais - PCN´s

(Saito, 2002), onde a temática ambiental foi trabalhada

através da inclusão do meio ambiente enquanto um dos

temas transversais do mesmo.

Assim sendo, é necessário esclarecer que apesar

dos muitos avanços conquistados e apresentados nas

grandes conferências internacionais, do

amadurecimento da legislação ambiental - destacando-

se o fato de que a constituição de 1988 é considerada

uma das mais modernas do mundo na área ambiental -

e do fortalecimento de diferentes organizações

governamentais e não-governamentais atuantes na

área ecológica com o crescimento do terceiro setor,

ainda existem muitas dificuldades para que a proposta

da Educação Ambiental, em termos da formação de

uma consciência ambiental e, conseqüentemente, de

uma nova postura de vida, venha a consolidar-se em

âmbito nacional. Alguns desses problemas, que se

constituem como verdadeiras barreiras a serem

superadas pela Educação Ambiental, precisam ser

encarados com seriedade, se efetivamente desejamos

que o respeito pelo meio ambiente e a aplicação de

práticas sustentáveis de utilização do mesmo,

fomentados através da educação, seja uma realidade

concreta e não apenas um ideal, expresso na forma de

lei.

Diferente de outras leis, a Política Nacional de

Meio Ambiente (9795/99) não estabelece regras ou

sanções no que se refere às questões ambientais, mas

aclara e estabelece responsabilidades e obrigações em

relação às mesmas, colaborando de forma ímpar para a

sua institucionalização e legalização. É importante que

a mesma esteja em sintonia com outras leis

importantes na área ambiental como a Política Nacional

de Meio Ambiente (Lei 9398/81), o Decreto n.

Importante

Os PCNs são um conjunto de orientações para melhorar a qualidade do ensino e contribuir para a formação de cidadãos mais conscientes, críticos, autônomos e participativos. Eles orientam sobre o que e como ensinar. Para sua implantação, são levados em

consideração estudos psicopedagógicos e experiências de currículos nacionais e internacionais.

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Aula 1 | A Dimensão Socioambiental da Educação Ambiental 33

88.351/83 e o Parecer n.819/85 do MEC que juntos

reforçam a necessidade da inclusão de conteúdos

ecológicos ao longo do processo de formação dos

ensinos fundamental e médio (COEA, 2001).

Todos esses instrumentos e dispositivos legais

querem nos lembrar do compromisso que temos de

deixar como cidadãos planetários, como diz Morin, de

deixar para as gerações futuras uma situação

socioambiental melhor do que nos encontramos e não

uma situação ainda mais grave do que a mesma.

Sabemos que a Educação Ambiental tem muito a

oferecer nesse sentido, mas é preciso que diferentes

setores da sociedade, e isto se refere tanto à

universidade quanto ao terceiro setor, ao empresariado

e à mídia atuem em conjunto, entendo seu valor como

estratégia de sobrevivência e não como mais um alarde

de ambientalistas desinformados e fanáticos.

EXERCÍCIO 1

Que dilema é denunciado por Erich Fromm no que se

refere à relação homem–meio?

( A ) O dilema de pertencer à natureza e ao mesmo

tempo ter a razão que falta aos animais;

( B ) A crise de consciência humana frente à destruição

ambiental que vem promovendo;

( C ) A carência de metodologias de educação

ambiental apropriadas ao trabalho comunitário;

( D ) O dilema existente entre os valores econômicos e

ambientais;

( E ) A dificuldade de implementar projetos eficazes de

educação ambiental no meio urbano.

Para refletir

Somente quando somarmos forças em prol de um ambiente melhor respeitando suas leis e entendendo que todos nós fazemos parte do mesmo

indistintamente, haverá alguma esperança de uma ampla transformação no atual quadro de degradação planetária em que nos encontramos. Essa é a utopia da Educação Ambiental.

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Aula 1 | A Dimensão Socioambiental da Educação Ambiental 34

EXERCÍCIO 2

A temática ambiental foi incluída nos parâmetros

curriculares nacionais (PCNs):

( A ) Através de um texto que sugeria a abordagem do

meio ambiente enquanto filosofia naturalista;

( B ) Sugerindo a inclusão do meio ambiente nos

projetos políticos pedagógicos escolares;

( C ) Destituindo a separção cartesiana corpo x

mente; homem x ambiente;

( D ) Através da inclusão do meio ambiente enquanto

tema transversal;

( E ) Através da inclusão da temática ambiental nas

disciplinas de biologia e geografia.

EXERCÍCIO 3

O que é Educação Ambiental e quais seriam seus

principais âmbitos de atuação?

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____________________________________________

____________________________________________

____________________________________________

____________________________________________

EXERCÍCIO 4

Explique com suas palavras o termo “cidadania

planetária”.

____________________________________________

____________________________________________

____________________________________________

____________________________________________

____________________________________________

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Aula 1 | A Dimensão Socioambiental da Educação Ambiental 35

RESUMO

Vimos até agora:

Segundo Carvalho (2007), desacompanhada

da dimensão ambiental, a "Educação perde

parte de sua essência e pouco pode contribuir

para a continuidade da vida humana";

Tanto a Educação Ambiental como a

Educação Popular são formas educativas que

surgiram justamente pelos inúmeros vazios

deixados pelo sistema educacional clássico

em não conseguir cumprir esse papel básico

que lhe cabia;

Por ser, simultaneamente, objeto e reflexo da

sociedade humana, onde se encontra

inserida, a Educação - e por conseguinte a

Educação Ambiental - está sempre ligada

intimamente ao processo social através do

qual o homem adquire costumes,

conhecimentos e valores vigentes em seu

grupo e em sua época;

Paulo Freire (1997) defende que “não há

educação fora das sociedades humanas e não

há homens isolados (...) O homem é um ser

de raízes espaço-temporais;

A necessidade do complemento “ambiental”

junto à palavra Educação pode apontar,

entretanto, para a existência de uma práxis

educacional tradicional e tecnicista, que não

seria sequer cidadã, que diria ambiental

(Grün, 1996); o que, infelizmente, é inegável

no contexto brasileiro;

Reconhecer a existência e a perversidade

deste sistema utilitarista, dito “educacional”;

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não anula a verdade de que a Educação traz

necessariamente, em seu âmago, uma

dimensão ambiental manifesta através de

suas múltiplas expressões;

Uma vez que a LDB afirma, em seu artigo 2º,

que a Educação tem por finalidade “o pleno

desenvolvimento do educando, seu preparo

para o exercício da cidadania e sua

qualificação para o trabalho", não é possível

pensar a realização de tal propósito sem

considerarmos a Educação Ambiental;

Loureiro (1996) é um dos que chamam à

atenção para o outro lado da questão, ou

seja, para a falta de uma percepção da

Educação Ambiental como sendo

essencialmente Educação;

Relatório do CIMA, preparatório para a Rio-

92, declarou abertamente que um dos

maiores problemas para o desenvolvimento

da Educação Ambiental foi o fato dela ter sido

sempre enfocada como relativa à área da

Ecologia física e nunca à área de Educação;

“todo processo de Educação Ambiental

trabalha com os desequilíbrios biossociais”

(Linhares, M., 1995: 15), onde se enquadram

tanto os problemas relacionados à poluição

(do ar, água e solo, por exemplo) como

também as questões referentes a fome, ao

desemprego e à doença;

Como revela Grün (1994), seu espaço de

atuação se dá precisamente no “encontro

entre os valores de conservação das

comunidades bióticas e abióticas e os valores

sociais provenientes destes valores”;

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Na medida em que a EA procura dar conta de

um amplo universo biossocial, integrando

diferentes disciplinas e estratégias de

trabalho na busca por uma aproximação mais

equilibrada entre homem e meio ambiente,

ela pode, também, contribuir para um

exercício mais consciente e efetivo da

cidadania, possibilitando ao educando utilizar

os conteúdos aprendidos em seu cotidiano,

visando melhorar sua qualidade de vida;

O homem não só depende do meio ambiente,

mas dele faz parte. Ele é o componente

racional - embora muitas vezes parece

demonstrar o contrário - desse grande

ecossistema global. Não é possível refletir

sobre educação sem refletirmos sobre o meio

ambiente do qual o homem é parte

integrante. A educação ambiental pode ser

entendida como um processo crítico

transformador capaz de promover um

questionamento mais profundo sobre a

realidade ambiental na qual o homem se

integra, levando-o a assumir uma nova

mentalidade ecológica, pautada no respeito

mútuo para com o meio ambiente e os que

dele fazem parte;

Tal definição encerra alguns termos chaves:

O primeiro deles é o de processo que implica

a realização de algo que demanda certo

tempo e envolve uma série de variáveis,

muitas delas difíceis de serem controladas; o

segundo diz respeito à palavra crítico que se

opõe ao termo "ingênuo"; o terceiro refere-se

à idéia de transformação possibilitada através

do aprendizado. O conhecimento nos torna

não apenas conscientes - o que por si só já re-

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presenta uma mudança de ótica, de postura,

de atuação; O quarto termo a destacar nos

leva a entender que não estamos apenas

inseridos no meio ambiente. Se eu integro

algo, faço parte desse algo, ou melhor, sou

também esse algo. A idéia de integrar algo

remete-nos igualmente ao pensamento de

que não estamos sós. Como último termo a

destacar poderíamos sublinhar o vocábulo

respeito. Respeitar algo é procurar entendê-lo

e aceitá-lo como ele é, ainda que não

concordemos com o mesmo. Infelizmente,

não respeitamos a lógica da natureza;

Não existe um ser vivo, animal ou vegetal,

que não esteja de algum modo interligado a

outros de uma forma equilibrada. Essa é uma

das leis mais importantes do cosmos;

A crise socioambiental com a qual o homem

se depara em pleno século XXI é, antes de

tudo, um reflexo de uma grave crise de ética.

A ausência de uma postura ética técnico-

científica que pudesse ordenar as ações do

homem sobre a natureza, baseada no

respeito mútuo entre esses dois elementos,

ajuda-nos a compreender melhor como a

civilização moderna pode alcançar um estágio

prejudicial à própria continuidade da vida no

planeta;

Educação Ambiental não se resume a

disseminar informações sobre o meio

ambiente, mas a promover uma nova postura

diante da vida, uma postura ética do viver;

Educação Ambiental visa a que o indivíduo

reconheça e compreenda melhor o meio

ambiente do qual faz parte, buscando novas

formas de relacionamento com o mesmo,

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pautadas nos princípios de respeito e de

integração ambiental;

Assim como a Educação de modo geral, a

Educação Ambiental também pode vir a ser

utilizada como instrumento de controle,

deturpação, seleção, exclusão ou, como diria

Brügger, de “adestramento”;

O diferencial da Educação Ambiental em

relação a outros âmbitos educativos se define

por um processo de despertar a atenção de

todos os povos e de todos os cidadãos do

mundo para problemas comuns, tanto no

âmbito local quanto no âmbito global, através

de ações que promovam uma tomada de

consciência de que a destruição do meio

ambiente significa para a raça humana sua

autodestruição;

Ela pretende a adoção de “uma nova postura

ética solidária”, em relação ao meio

ambiente, que valorize o exercício da

cidadania e se caracterize através de atitudes

participativas e adequadas à constituição de

um meio ambiente equilibrado e saudável;

A educação ambiental possui três níveis

operacionais: formal, não formal e informal;

O nível formal (institucional) funciona dentro

de uma formalização institucional;

tradicionalmente, se dá no âmbito de

instituições de ensino seja através do ensino

presencial ou a distância, o mesmo está

clarificado no art. 9 da lei 9795/99. Parte-se

de atividades no âmbito interno para atingir

também o âmbito externo;

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O nível não formal parte de um projeto mais

complexo, envolvendo uma equipe mais

ampla e diversificada, exige mais tempo,

Maior possibilidade de sofrer mudanças como

alterações de prazos e estratégias. Encontra-

se definido no Art. 13 da lei, parte-se de

atividades no âmbito externo para atingir

também diferentes âmbitos internos.

O nível informal possui um caráter pontual e

muitas vezes temporário. Visa atingir a

população em geral e não uma organização

ou grupo específico. Geralmente, se processa

através de meios informais de comunicação

como jornais, panfletos, cartas, cartazes,

filmes, programas de rádio e TV e outros;

podendo se concretizar em qualquer lugar;

Independente do âmbito em que um

determinado projeto ou programa de

Educação Ambiental esteja inserido, o

importante é que nele esta tenha

possibilidade de cumprir seu compromisso

social, ou seja, a de favorecer uma passagem

da razão à solidariedade baseada em uma

nova ética socioambiental;

A Educação Ambiental busca essencialmente

“fazer um resgate do que é inerente ao

homem”, devolvendo-lhe “a consciência de

sua unidade com o meio ambiente ao mesmo

tempo em que o conscientiza, sensibilizando

para o direito à vida” (Mattos, 1997: 5).

Ajudar o homem a lidar com esse dilema

(pertence à natureza mas é diferente dos

demais seres vivos por possuir a razão) de

uma forma responsável, auxiliando-o a

perceber a necessidade de reintegração à natu

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reza é uma das tarefas mais importantes da

Educação Ambiental;

A Educação Ambiental é um processo de

conscientização ambiental amplo que se

concretiza através de projetos e programas

realizáveis de Educação, visando aproximar o

homem do meio ambiente em busca de

melhores condições de vida;

Embora reconheça a grave crise ambiental

que o mundo atravessa, a Educação

Ambiental não assume uma postura

conformista ou apocalíptica diante desta.

Muito ao contrário, ela surge como uma

forma de contestá-la, de reagir a esta,

através de um processo lento e profícuo de

formação de uma consciência ecológica,

através da participação de todos os

envolvidos e do desenvolvimento de novas

atitudes e aptidões, gerando tanto a

possibilidade de mudanças de comportamento

como, também, a aprendizagem de novas

habilidades integradas ao meio ambiente;

Segundo Schoenfeld, a EA possui cinco

fatores elementares: trata do meio ambiente

do homem; se preocupa com o meio

ambiente total; é interdisciplinar; busca

soluções a longo prazo para os problemas

humanos, ou seja, soluções ecologicamente

sadias (Schoenfeld apud Tanner, R., 1978:

42);

A Educação Ambiental tem sido considerada

por alguns educadores como sendo a

Educação do 3º milênio, promovendo uma

revisão pessoal de nossos valores e nos convi

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dando à tomada de uma nova postura frente

ao mundo que nos rodeia;

Para Reigota (1994), a Educação Ambiental

deve ser compreendida fundamentalmente

como "educação política", uma vez que ela

reivindica e prepara os cidadãos para exigir

justiça social, cidadania nacional e planetária,

além de autogestão e ética; devendo esta se

dirigir indistintamente a todos os níveis

sociais. Assim sendo, a conquista de um meio

ambiente ecologicamente equilibrado, bem de

uso comum do povo e fator essencial à

qualidade de vida do homem, conforme

experiências interdisciplinares de Educação

Ambiental, defende a atual constituição

brasileira no seu artigo 225, implica direta

e/ou indiretamente a promoção de práticas

tanto em âmbito formal como no não-formal.

Daí a criação da Política Nacional de Educação

Ambiental – a lei 9795/99;

Apesar dos muitos avanços, ainda existem

muitas dificuldades para que a proposta da

Educação Ambiental, em termos da formação

de uma consciência ambiental e,

conseqüentemente, de uma nova postura de

vida, venha a consolidar-se em âmbito

nacional.

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Contextualizando a

Educação Ambiental

Celso Sanchez

AU

LA

2

Ap

res

en

taç

ão

O objetivo central desta aula é auxiliá-lo a compreender melhor o

percurso de consolidação da Educação Ambiental desde os

primeiros grandes eventos e a atuação das ONGs até sua situação

atual legitimada através da Política Nacional de Educação

Ambiental (Lei 9795/99) e marcada pela presença das redes.

Aprenderemos, também, sobre algumas contradições entre o que

diz o texto legal e os relatórios das grandes conferências

internacionais e a prática que hoje se faz na área de EA e,

finalmente, analisaremos o quanto a EA ainda é uma área nova,

com muito a ser desenvolvido e um futuro promissor que deve

atrair muito mais profissionais do que o quadro atual,

considerando a gravidade da crise socioambiental vigente.

Ob

jeti

vo

s

Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você seja

capaz de:

Entender melhor o contexto que favoreceu o surgimento da

Educação Ambiental enquanto uma área de atuação que

ressaltava uma das dimensões da Educação;

Analisar a história da Educação Ambiental e seus percalços até

o seu momento atual, onde a mesma se consolidou através da

Lei 9795/99; Compreender a Educação Ambiental como uma área jovem

ainda em expansão e com um futuro promissor para aqueles

que a ela se dedicarem; Entender com maior clareza o potencial transformador da

Educação Ambiental no sentido de suscitar no educando um

senso de responsabilidade ambiental fundamental para a

continuidade da vida no planeta.

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Aula 2 | Contextualizando a Educação Ambiental 44

Introdução

Um curso de Educação Ambiental deve possuir

como objetivo não apenas uma discussão sobre a

Educação Ambiental, mas também o compromisso com

a fundamentação e a construção de uma visão crítica

sobre a intensa problemática ambiental que

atravessamos. Assim, temos um comprometimento

com a formação e a consolidação de uma ética com a

vida.

Um curso que traz, desde a sua concepção, a

necessidade de definir e discutir dois conceitos básicos

que emergem da própria idéia de Educação Ambiental.

Nesse sentido, é importante discutir o que significa o

“ambiental” na educação e o que pode ser mudado no

meio ambiente com a “educação”.

Para tentar responder a estas questões que nos

parecem por hora fundamentais, traremos nesta

segunda aula um debate, um convite à reflexão.

Propomos ao leitor, interessado no aprofundamento das

discussões sobre este interessante tema, que ao ler

elabore suas próprias concepções e críticas, que

construa o conhecimento através de sua ação reflexiva

ao longo das idéias que aqui forem apresentadas e

expostas.

Este exercício é extremamente necessário, pois

a Educação Ambiental se faz assim. Ela é produto de

um processo criativo e coletivo, produto e processo de

um mundo em constante revolução e transformação,

onde a problemática ambiental vem sendo, a cada dia,

uma questão central no cenário global e local.

Sobretudo quando o ser humano começa a se dar conta

de que a sua sobrevivência no planeta está sendo

seriamente ameaçada em virtude do agravamento

diário dos problemas ambientais que nos afetam a

Introdução 44 A Problemática Ambiental no Mundo Contemporâneo 47 Educação Ambiental: História e Relevância 54 Conclusão 69

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todos como efeito estufa, violência urbana, fome,

desmatamentos, extinção de espécies.

A Educação Ambiental, portanto, surge como

uma ferramenta da esperança, como uma possibilidade

de transcendência do ser humano de seus conflitos com

seu meio ambiente. Problemas estes, de tal grandeza e

intensidade, que vêm acarretando sérios danos à

qualidade de vida de nossa espécie e das demais que

compartilham conosco nossa convivência neste planeta.

Por outro lado, as recentes descobertas

astronômicas sobre a dimensão do universo nos

ensinam e nos despertam sobre a aventura que

vivenciamos ao nos conscientizarmos sobre a finitude

de nossas dimensões vitais, ou seja, a Terra é um

planeta finito, com recursos limitados. Um ponto azul

perdido em sua órbita solar, despontando com sua

peculiaridade única e singular, um estilo de

perpetuação e de criação de vida. Em outras palavras,

a vida que existe em nosso planeta é uma expressão

única e completamente dependente das condições

ambientais da Terra. Condições estas que vêm sendo,

inconseqüentemente, alteradas por seres humanos

ainda não conscientes de sua dimensão planetária e

finita.

Mesmo que haja vida em outros planetas,

hipótese que vem sendo a cada dia mais evidenciada, a

maneira como a vida se expressa na Terra é singular.

Mesmo havendo outras formas de inteligência, nós

seremos sempre seres completamente dependentes de

nossa atmosfera, de nosso chão, de nossa cultura e de

nossas lembranças, memórias, enfim nossa vida se faz

e se realiza neste pequeno planeta azul. Tal como sua

lua que encanta e inspira os poetas e apaixonados,

estamos ligados a nossa Terra.

Importante

Essa consciência de que tudo é finito, até mesmo o ser humano com toda a sua arrogância, é um dos pontos mais importantes em relação ao esclarecimento que a Educação Ambiental promove.

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São por estas razões que se faz premente

visualizarmos a Terra como nossa pátria universal,

como nosso lar comum, com o qual temos o

compromisso de preservar a sua qualidade de vida para

que as gerações futuras tenham um mínimo de

qualidade de vida adequada a sua subsistência, um

mínimo de água potável, um mínimo de ar puro, de

praias limpas de paisagens belas.

Desta forma, falar em Educação Ambiental, ou

seja, de uma educação que possua uma sensibilidade e

uma subjetividade apurada para a questão ambiental,

significa trazer à tona um debate ético, político, social,

científico . É praticamente um exercício de revisão

profunda de valores e prioridades, significa, por muitas

vezes, uma “inversão de pauta”, uma realocação de

saberes e práticas preocupados com nosso futuro

comum e com a nossa sobrevivência saudável e

sustentável.

Podemos, então, vislumbrar a educação

ambiental, tentando já entender melhor a questão que

fazíamos, inicialmente, como um processo de

aprendizagem permanente baseado na ética, no

respeito a todas as formas de vida, visando gerar

mudanças na qualidade de vida e maior consciência de

conduta pessoal, assim como contribuir para uma

harmonia entre seres humanos e destes com outras

formas de vida. Ou seja, é como um exercício de uma

ecologia da solidariedade, onde assumimos o

compromisso ético com o próximo e com a natureza.

Podemos, ainda, entendê-la como processo de

formação do cidadão a partir da problematização da

realidade, propondo a construção de novos valores e

atitudes durante a aprendizagem. A Educação

Ambiental pode ser vista, também, como uma

educação política, com o objetivo nem sempre explícito

Quer saber mais?

Esse conceito de pátria universal foi bem explorado por Edgar Morin em sua conhecida obra feita em parceira com Bárbara Kern: Terra-Pátria. Porto Alegre: Sulina, 1995.

Importante

Essas são idéias importantes que podemos entender como norteadoras desse trabalho. Dispense toda atenção às mesmas.

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de criar novos hábitos e comportamentos, para

organizar populações e grupos sociais, formular

propostas de melhoria ambiental, conquistar espaços e

participação nas decisões políticas públicas e de

desenvolvimento visando melhores condições de vida

para todos. Portanto, trata-se de uma busca de

reformulações políticas através de uma base ético-

solidária com a Terra e seus habitantes.

Assim sendo, vejamos a seguir algumas

reflexões sobre a problemática ambiental como um

todo, tentaremos entender como se coloca a questão

ambiental em nosso conturbado cotidiano, onde o ser

humano é bombardeado por novas informações e novos

universos a serem explorados. A seguir, traçaremos um

panorama histórico da Educação Ambiental nas

conferências internacionais e na legislação brasileira.

A Problemática Ambiental no Mundo

Contemporâneo

No mundo contemporâneo, observa-se um

fenômeno novo para a humanidade, estamos de tal

forma interligados que construímos uma rede de

informações de tal forma elaborada, que esta circula

por todos os cantos do globo, de forma instantânea,

quase livre de barreiras, a velocidades cada vez

maiores, por medias cada vez mais espontâneos,

privados e pessoais.

Este fenômeno faz com que o sujeito comum

tenha que se deparar cotidianamente com questões que

exigem dele posicionamentos, opiniões, atitudes,

posturas; enfim, respostas que o permitam articular-se

neste mundo em profunda transformação.

O final de século evidencia que este cidadão

comum vive uma profunda crise que inclui, sobretudo,

Dica de leitura

Pesquise mais sobre essa relação entre Educação Ambiental, Cidadania e Política na obra organizada . LEIS Héctor: Ecologia e Política Mundial. Publicado no Rio de Janeiro pela FASE em parceria com a Vozes, AIRI e PUC-Rio em 1991.

Dica de leitura

Pierre Levy é um conhecido estudioso da sociedade da informação. Não deixe de ler algumas de suas obras. Aqui vai uma dica: LEVY, P. As Tecnologias da Inteligência. Rio de Janeiro: Editora 34, 1993.

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uma revisão na sua própria identidade. Sendo

necessário romper-se e estruturar-se diariamente em

função das novas e antigas questões que se

apresentam. Cercado por este emaranhado de

informações crescentes em complexidade, o sujeito

contemporâneo aparece para o observador, que

consegue um distanciamento transcendente, como um

ser fragmentado, com múltiplas identidades, amplas

possibilidades de ser e estar, agir e transformar o

mundo.

É neste universo que mantém suas relações,

tornando-o mais intrincado e complexo. O mundo em

intensa transformação estrutural desloca e fragmenta

identidades culturais de etnia, sexo. Antigas e sólidas

identidades se desbotam como identificou o

pesquisador britânico Stwart Hall, (1998) que estudou

a fragmentação da identidade do sujeito moderno. Um

dos resultados deste processo é o aparecimento de um

sujeito em crise, desterritorializado, com sua identidade

e subjetividades nômades. Aqui, no Brasil, temos como

exemplo deste processo “as tribos” de jovens da

geração “shopping center”, e seus modismos

passageiros que não permitem ao jovem a consolidação

de suas identidades em tradições ou saberes

consolidados como ocorrem em sociedades onde estão

presentes outros tipos de escolhas identitárias.

Meio atônito, o sujeito de hoje é praticamente

forçado a tomar decisões cotidianamente sobre os mais

diversos aspectos, assuntos e situações, influenciado

por um conjunto de fatores, que vão desde o âmbito

cultural, psicossocial, biológico até ao âmbito da ética e

da decisão política. É preciso estar informado e

enformado às “demandas” de atitudes, opiniões,

decisões, identidades e subjetividades exigidas pela

sociedade a todos nós diariamente.

Quer saber mais?

Identidades Híbridas: Na ótica de Stuart

Hall, todos nós possuímos identidades híbridas influenciadas por subjetividades nômades e cambiantes. Se quiser saber mais sobre este assunto, não deixe de consultar a obra de Hall citada pelo autor na bibliografia.

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É neste cenário que a questão ecológica tem

despontado como uma das principais exigências. Ela

incita um debate que inaugura um universo novo de

informações. Ao ser humano contemporâneo, a

ecologia se apresenta como um novo universo ao qual

suas atitudes, opiniões, posturas e valores têm que se

readequar. Ela refaz e obriga a rever e redefinir os

limites do desenvolvimento humano. Agora, é preciso

arquitetar suas ações à “sustentabilidade” de suas

transformações na natureza.

Tal como uma fronteira desbravada, o universo

que a questão ecológica nos abre, também, nos obriga

a reformular nossa identidade perante a natureza e a

nós próprios. Devido, sobretudo, à iminência visível de

um colapso sobre o próprio futuro e à qualidade de vida

humanas. Indagações fundamentais da condição

humana são revisitadas: onde estamos? De onde

viemos? Para onde vamos? São perguntas constantes

da preocupação ecológica.

Para o importante educador ambiental Marcos

Reigota (1994), a questão ecológica não se funda na

questão populacional, como se pensava no início dos

anos 70, quando o debate ecológico começava a se

espraiar mundialmente tomando os diversos setores da

sociedade. O autor defende que a problemática

ambiental está baseada no modelo de sociedade que

assumimos, em suas palavras:

é necessário entender que o problema

está no excessivo consumo desses

recursos por uma pequena parcela da

humanidade e no desperdício e

produção de artigos inúteis e nefastos

à qualidade de vida

(p.\9).

Desta forma, o que se propõe no debate

ambientalista é a revisão dos valores norteadores dos

Dica do professor

Note que tais questionamentos são feitos desde a antiguidade do homem; contudo, a crise ambiental acentuou a necessidade de responder aos mesmos de uma forma mais holística e urgente.

Para pensar

Procure pensar que soluções seriam possíveis, em termos de Educação Ambiental, para solucionar problemas como desperdício e consumismo exagerado?

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Aula 2 | Contextualizando a Educação Ambiental 50

caminhos e rumos dados à nossa civilização. O autor

completa seu raciocínio:

não se trata de garantir a preservação

de determinadas espécies animais e

vegetais e dos recursos naturais,

embora essas questões sejam

importantes. O que deve ser

considerado prioritário são as relações

econômicas e culturais entre a

humanidade e a natureza e entre os

homens

(p.\9).

Sendo assim, a questão se amplifica a uma

dimensão muito maior do que apenas as degradações

ambientais, a poluição, as queimadas na Amazônia, a

problemática ecológica, quer dizer respeito a toda uma

relação de interação entre humanidade e seu meio

ambiente. É por este motivo que o debate ecológico

inaugura um novo universo informacional, mesclando-

se com outros grandes temas contemporâneos tais

como fome, pobreza, reforma agrária, abastecimento

de água doce, transgênicos, questões de impactos

culturais sobre populações indígenas, biopirataria;

enfim, o debate está tão emaranhado a nosso cotidiano

que é praticamente impossível separá-lo dos grandes

temas e problemas da atualidade. Desta forma, todos

estes debates passam a ter a componente ecológica em

seu bojo, ou como interlocutora interferindo em algum

momento.

Concomitantemente, a ecologia nos traz à tona

uma nova problemática que apresenta à sociedade uma

de suas faces obscuras, a sua competente capacidade

de autodestruição. Carvalho (2002) analisa esta

questão desde a perspectiva da relação homem-

natureza:

Como é amplamente sabido, o homem

está envenenando a Terra. Constrói

sua autodestruição de forma bem

acelerada, bem rápida, nos dias de hoje.

Dica de leitura

Essa necessidade de repensar as diferentes relações que se processam entre a humanidade e a natureza e desta com os homens é o ponto chave de qualquer preocupação séria no âmbito da educação ambiental. Para se aprofundar no tema, sugerimos a leitura da obra:

LEFF, E. Epistemologia Ambiental. São Paulo: Cortez, 2002, 2ª. ed.

Importante

Essa seria a origem da Ecologia Social. Vemos hoje claramente que o debate ecológico está muito além das questões de ordem físico-química abarcando um universo cada vez maior de questões socioculturais.

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Aula 2 | Contextualizando a Educação Ambiental 51

Parece lutar contra o tempo na

demolição de seu habitat, de sua casa.

A atual contaminação ambiental pela

poluição é tão extensa, tão profunda e

tão generalizada que atinge, a um só

tempo, a água, a terra, e o ar,

ocupando os mais distantes pontos do

planeta, desde as áreas terrestres

menos habitadas, até os mais perdidos

recantos oceânicos.

(p.\59)

Assim, a problemática ambiental se generaliza e

ganha todos os espaços e habitats do planeta,

evidenciando uma morte anunciada de um determinado

tipo de civilização. Poluição, questão atômica,

crescimento demográfico exponencial, fome e miséria,

perda da biodiversidade, lixo urbano, antigas doenças

que se reapresentam, enfim, as questões ambientais,

“de repente”, parecem estar presentes em grande parte

de nossos problemas contemporâneos. Parecem fazer

parte de nossas vidas e de nosso futuro, ao mesmo

tempo em que se encarregam de reestruturar nosso

passado, esclarecendo-nos a crise civilizacional pela

qual passamos e obrigando-nos a rever antigas

posturas e paradigmas.

A intensa circulação dessas “novas” informações

“ecológicas” expõe os contornos mais proeminentes dos

nossos limites, esquecidos e adormecidos durante

muito tempo. O ser humano reavalia a si próprio, seu

fazer, seu pensar sobre si, sobre o mundo que o cerca

e sobre o mundo que construiu. A ecologia procura

delimitar o lugar do humano, distinguir seu espaço da

natureza e, assim, refundar limites para o fazer

humano, outrora rompidos em parte pelo humanismo.

Assim, a questão ambiental institui novas alfândegas

que impõem fronteiras para o crescimento humano.

A grave crise ambiental a que o planeta assiste

hoje pode ser entendida como fruto de um processo

histórico de relações estabelecidas entre sociedade e

Quer saber mais?

O livro citado de autoria de Vilson Carvalho é na verdade sua dissertação de mestrado publicada com o título de “Educação Ambiental e Desenvolvimento Comunitário” no Rio de Janeiro pela Editora WAK.

::Habitat:

O termo habitat é utilizado para se referir ao local onde nasce, cresce e vive determinada espécie. Embora comumente utilizado para se referir ao ambiente natural – caatinga, mata atlântica, cerrado, etc. – também pode ser utilizado para se referir ao meio urbano como o habitat construído

ou habitat citadino.

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Aula 2 | Contextualizando a Educação Ambiental 52

natureza. Tais relações vêm tecendo-se ao longo de

uma trajetória civilizacional, que traz em seu bojo uma

idéia unilateral de desenvolvimento. Estes caminhos,

historicamente esboçados, hoje começam a obrigar aos

mais variados segmentos sociais revisões profundas

nas suas formas de se relacionar com o meio em que

vivem.

Para Layrargues (1998), a problemática

ambiental é vista como sendo uma das expressões

oriundas dos conflitos gerados na relação sociedade

ocidental com a natureza. É a materialização do

desgaste de uma relação que se dá em bases

absolutamente desiguais, uma vez que se instaurou,

em vez do diálogo, um monólogo, onde uma das partes

- a natureza - é percebida apenas como um objeto a

ser dominado, apropriado e usufruído, como matéria-

prima e bem de consumo.

Para o autor, a questão ambiental não é

propriamente uma “crise ambiental”, e sim um dilema

civilizacional, pois a civilização ocidental encontra-se

claramente diante da escolha de qual princípio

organizativo da vida social lhe será mais adequado: a

racionalidade econômica ou ecológica, é neste intervalo

de racionalidades e de mundividências que se inscreve

o desafio de construir uma educação que acolha os

anseios de um novo modelo de sociedade, onde o

desenvolvimento seja ambientalmente sustentado.

A questão do meio ambiente hoje é pauta

essencial e cada vez mais central nos principais fóruns

de discussão global. Vem ocupando espaços essenciais

no cenário das questões contemporâneas, adquirindo, a

cada dia, cada vez mais importância e relevância na

gisa de problemas e debates planetários. Muito em

função desta característica, a inserção das discussões

sobre o desenvolvimento e meio ambiente em ações

Importante

É importante atentar para esse crescimento da preocupação ambiental retratada de várias formas: No aumento do número de organizações ambientalistas; na

sensibilidade empresarial para essa questão e o número de cursos, inclusive no âmbito universitário, particularmente na área de direito e gestão ambiental, que vem aumentando. Em termos políticos, a própria força de partidos como o PV em países como a Alemanha também retratam essa elevação da preocupação com as questões ambientais.

Dica do professor

Ocidente x Oriente Essa é realmente uma questão interessante de debate. Será que o ocidente desrespeitou mais o ambiente do que o oriente. Em termos culturais certamente há diferenças na relação

entre homem ocidental e oriental na relação com o ambiente. Contudo vale enfatizar que em menor ou maior grau ambos destruíram seu habitat.

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políticas torna-se hoje uma constante para as

plataformas de governo de vários países.

Corroboramos com a noção de meio ambiente

trazida à tona por D'Avila Neto e Maciel (1995), onde

as autoras delimitam as fronteiras deste conceito para

além dos limites desenhados pela ciência, sobretudo de

cunho naturalista. O meio ambiente, na visão das

autoras, ganha uma dimensão humana e, portanto,

cultural, assim:

O meio ambiente não pode ser

encarado como um dado isolado, mas

sim como um dado da cultura sobre o

meio ambiente, isto é, como um

processo de interação entre o

sociocultural - gerado pelo homem - e

a natureza. Não são possíveis ações

ditas de desenvolvimento, sejam de

preservação ou modificações sobre o

meio ambiente, dissociadas do homem

que o habita e, por conseguinte, de

sua dinâmica cultural.

(p.\245).

Neste sentido, o meio ambiente e a cultura são

elos inexoráveis de uma mesma realidade que impõem

seus desafios. Nestes novos meandros de problemas, a

Educação se projeta em importância estratégica. Neste

contexto, a Educação, agora Ambiental, ou

ambientalizada, vem sendo convocada para ser uma

aliada fundamental, uma alternativa para a complexa

problemática que é engendrada pela questão

ambiental.

Seguindo o caminho, percebe-se o

estabelecimento de um princípio em que toda a

educação é por si só ambiental, e que é através do

processo da educação que será possível construir uma

relação de harmonia entre natureza e cultura. Portanto

a chamada Educação Ambiental desponta como uma

importante intervenção já que permite ao ser humano:

Importante

Meio Ambiente e Cultura: É cada vez mais nítida a relação

existente entre meio ambiente físico, a história e a cultura que nele se produziu. Não há mais como entender um de forma desligada do outro. Conhecer um determinado local é conhecê-lo de forma total e não apenas seus detalhes físicos. Não basta saber as transformações químicas que o local sofreu, é preciso compreender sua evolução histórica e cultural. Caso contrário, as ações ambientais a serem promovidas correrão risco de serem ineficientes ou até inúteis.

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Aula 2 | Contextualizando a Educação Ambiental 54

Compreender a natureza complexa do

meio ambiente resultado de aspectos

biológicos, físicos, sociais e culturais,

inserir-se nele de urna maneira

consciente, a utilização reflexiva e

prudente das possibilidades e recursos

do universo para satisfação das

necessidades materiais e espirituais

presentes e futuros da humanidade.

(Tbilisi, 1977 - In Dias, 1992).

Portanto, a educação, aqui ambiental, evoca

uma consciência que é subjacente a sua prática. Uma

consciência que se adjetiva de ecológica e que possui

um projeto de comprometimento político com o fazer

relativo às questões do meio ambiente e com o futuro.

Portanto, a Educação Ambiental é vista como um meio

para o desabrochar de uma consciência que permanece

dentro de nós e que precisa ser despertada.

Educação Ambiental: História e Relevância

O surgimento da educação ambiental se dá a

partir do final da década de 60, sob a influência da

contracultura e dos movimentos sociais que reivindicam

uma melhor qualidade de vida e questionam o padrão

de desenvolvimento da sociedade ocidental. A chamada

Educação Ambiental desponta como alternativa, mas

sobretudo como uma importante estratégia na procura

de saídas possíveis para a busca de novos rumos que

possam dar conta de nossa trajetória comum, que

deverá passar a ser sustentada, agora, desde a tomada

de consciência de que o planeta vive uma crise sem

precedentes em sua história. No cenário oficial, a

Educação Ambiental é lançada em 1972, na Conferência

das Nações Unidas para o Ambiente Humano, em

Estocolmo, Suécia. Assim, esta atividade passa, então,

a ser uma importante ferramenta na construção de um

futuro necessariamente sustentável e comum a todos.

Quer saber mais?

Conferência da Biosfera (1968): Antes da Conferência de Estocolmo em 1972, já havia ocorrido a Conferência da Biosfera em Paris, no ano de 1968. Essa conferência marcou a primeira vez que os povos e governos do mundo se reuniram para discutir a Biosfera como preocupação internacional. Nessa conferência já se percebia uma certa ênfase na aplicação e desenvolvimentos de Programas em Educação Ambiental.

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A partir deste pressuposto, o mundo observa a

importância premente de tratar a Educação Ambiental

como uma espécie de alvo de uma série de importantes

encontros de autoridades internacionais. Ainda na

conferência de Estocolmo, em 1968, a recomendação

96, resultante do documento final da conferência, dizia:

O desenvolvimento da Educação

Ambiental é o elemento crítico para o

combate à crise ambiental do mundo”

sendo de “ grande importância

estratégica dentro dos esforços de

busca de melhoria de qualidade de

vida.

(In: DIAS, 1992)

A partir deste momento, decidiu-se que se faria

um grande encontro internacional para se tratar da

implementação da Educação Ambiental no mundo, o

que ocorreu em Belgrado na ex–Iugoslávia, em 1975.

Na conferência de Belgrado, como ficou conhecido este

primeiro marco, foram formulados princípios e

orientações para o Programa Mundial de Educação

Ambiental, documento este conhecido como Carta de

Belgrado, que marca um passo importante trazendo

uma proposta ética alternativa para a crise global.

Três anos depois de Estocolmo, foi criado o PIEA

– Programa Internacional de Educação Ambiental, em

conjunto com a UNESCO, que atua promovendo cursos,

programas de capacitação e formação, eventos, além

de produzir informativos e publicações sobre o assunto

no mundo. O PIEA é também o responsável pela

importante publicação “Environmental Education

Series”, que relata experiências de todo o mundo, e do

boletim periódico “Contacto”, distribuído em várias

línguas para todos os continentes.

A partir daí, seguindo recomendações da

UNESCO e do PNUMA, foi organizada a Conferência de

Tbilisi (atual Geórgia, na ex – URSS) em 1977,

Importante

Sobre o PIEA:

O Programa Internacional de Educação Ambiental ressaltou que a Educação Ambiental deveria ser contínua, multidisciplinar e voltada para os interesses nacionais sem deixar de considerar as especificidades regionais (Carvalho, 2002).

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conhecida como a “Primeira Conferência

Intergovernamental Sobre Educação Ambiental”, onde

foram traçados os principais fundamentos,

recomendações, objetivos e estratégias de ação.

Constitui-se em um dos principais documentos

produzidos, onde estão as principais orientações

pedagógicas e sugestões estratégicas para o

desenvolvimento da Educação Ambiental, sendo até

hoje considerado um importante instrumento,

indispensável para consulta.

Em Tbilisi, a Educação Ambiental foi definida

como sendo:

uma dimensão dada ao conteúdo e a

prática da Educação, orientada para a

resolução dos problemas concretos do

meio ambiente através de enfoques

interdisciplinares, e de uma

participação ativa e responsável de

cada indivíduo e da coletividade.

(In: Dias, 1992, p.\31).

Ou mais aprofundadamente:

uma educação permanente, geral, que

reaja às mudanças que se produzem

em um mundo em rápida evolução.

Essa educação deve preparar o

indivíduo, mediante a compreensão

dos principais problemas do mundo

contemporâneo, proporcionando-lhe

conhecimentos técnicos e qualidades

necessárias para desempenhar uma

função produtiva, com vistas à

melhoria da qualidade de vida e

proteger o meio ambiente, prestando a

devida atenção aos valores éticos.

(Dias, op.\cit p.\68).

Durante a década de 70, vários acordos serão

ratificados pelos governos de diversos países,

mostrando uma mobilização em quase todo o mundo

com a questão ambiental, sobretudo com a Educação

Ambiental, considerada primordial e de relevante

interesse nacional em vários países, que a incluíram em

seus planos e estratégias nacionais.

Importante

Conferência de Tbilisi: A primeira conferência intergovernamental voltada para Educação Ambiental congregou especialistas do mundo inteiro para discutir diferentes propostas de Educação Ambiental, contribuindo de forma decisiva para uma maior compreensão de sua natureza, funcionamento e

características básicas.

Você sabia?

Pouco citada, um ano antes da Conferência de Tbilisi, acontecia no Peru a Conferência de Chosica em 1976.

Apesar de não ter tido a repercussão internacional das conferências aqui citadas, ela é encarada como um dos referenciais para o desenvolvimento da Educação Ambiental nos países da América Latina, a partir de vivências e problemas em comum.

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Aula 2 | Contextualizando a Educação Ambiental 57

No Brasil, o quadro, no entanto, era bastante

diferente. Refletindo a posição dos países ditos “em

desenvolvimento”, a preocupação com a questão

ambiental se fazia sentir como um freio para o franco

processo de desenvolvimento almejado pela política

militarista de então. Logo, a política brasileira desde

cedo mostrou-se avessa às tendências

preservacionistas mundiais, que eram percebidas, de

forma antagônica, como verdadeiras inimigas do

desenvolvimento.

Após quase duas décadas de atraso, depois de

difíceis negociações e pressões internacionais, o

governo brasileiro começa os primeiros movimentos de

aceitação das novas tendências mundiais e, apenas

durante a década de 80, o Brasil começa a promover

uma série de medidas a fim de regulamentar a Política

Nacional de Meio Ambiente. Através da lei federal no

6938, de agosto de 1981, aprova a criação do

SISNAMA, Sistema Nacional de Meio Ambiente, do

CONAMA, Conselho Nacional de Meio Ambiente e do

Cadastro Técnico Federal de Atividades e Instrumentos

de Defesa Ambiental.

O CONAMA define a Educação Ambiental como

sendo:

um processo de formação e

informação, orientado para o

desenvolvimento da consciência crítica

sobre as questões ambientais, e de

atividades que levem à participação

das comunidades na preservação do

equilíbrio ambiental.

Na lei 6938/81, a Educação Ambiental aparece

no Artigo 2o, item X, onde se lê:

Educação Ambiental a todos os níveis

do ensino, inclusive a educação da

comunidade, objetivando capacitá-la

para a participação ativa na defesa do

meio ambiente.

Importante

Apesar das falhas e dos interesses diversos, o valor da atuação de tais órgãos em termos

ambientais é inestimável. Procure conhecer mais sobre os mesmos.

Dica do professor

É óbvio que entre a letra da lei e seu cumprimento existe uma distância considerável. Mesmo hoje a Educação Ambiental ainda não é oferecida a todos, ficando muitos de fora dessa conscientização ecológica. Outra questão a considerar é a forma como a Educação se insere na Educação Formal através de uma disciplina, prática condenada, ou através do Projeto Político Pedagógico da Escola, o que muitas vezes conduz a uma dispersão do tema.

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Aula 2 | Contextualizando a Educação Ambiental 58

Em 1986, é realizado o I Seminário sobre

Universidade e Meio Ambiente, na Universidade de

Brasília, onde surgem importantes resoluções e

sugestões, sendo considerado como um dos primeiros e

principais documentos gerados por experiências

brasileiras. Durante o ano seguinte, em 1987, é

realizado o II Seminário Sobre Universidade e Meio

Ambiente, em Belém, Pará, onde foram indicados

representantes das universidades para assessorar o

órgão federal de meio ambiente de então, a SEMA. Ao

mesmo tempo, acontecia a Conferência de Moscou, na

Rússia, para avaliar os dez anos pós-Tbilisi, que

reforçou os conceitos declarados em Tbilisi, e propôs

uma estrutura teórico-metodológica para a Educação

Ambiental.

Ainda durante o ano de 1987, a CETESB de São

Paulo, se destacou por seu pioneirismo na área da

Educação Ambiental e, em 1985, lança um livro

importante por sua já expressa perspectiva

interdisciplinar. De autoria de Kazue Matsushima, o

livro intitulado ”Educação Ambiental” foi referência nos

estudos e propostas técnicas da CETESB desde então.

O ano seguinte, 1988, é marcado pela

Assembléia Nacional Constituinte, a primeira após o

extenso período de regime militar autoritário. Os

constituintes começam a se preocupar com as questões

de meio ambiente e criam uma comissão parlamentar

para debater a questão com a participação popular. É

promulgada, então, a Constituição da República

Federativa do Brasil, contendo um capítulo para tratar a

questão ambiental, onde pode-se ler no capítulo VI

artigo 225 item VI:

Promover a Educação Ambiental em

todos os níveis e a conscientização

pública para a preservação do meio

ambiente.

Para pesquisar

Conheça o livro de Matsushima e busque entender melhor porque seu livro fez tanto sucesso.

Dica do professor

Nossa constituição é uma das mais avançadas do mundo no que concerne à questão ambiental. O que se precisa é buscar meios de garantir seu cumprimento.

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Aula 2 | Contextualizando a Educação Ambiental 59

No ano seguinte, é criado o IBAMA, Instituto

Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais

Renováveis, através da junção de outros órgãos

públicos. O IBAMA cria, então, a Divisão de Educação

Ambiental, DIED, que passa a ser responsável pelos

Núcleos de Educação Ambiental, NEAs, nos estados que

tem como função elaborar projetos, divulgar e

desenvolver atividades sobre o assunto.

A ONU declara 1990 o Ano Internacional do Meio

Ambiente e o Brasil se prepara para sediar o mais

importante evento governamental já ocorrido no país, a

RIO - 92, ou Conferência das Nações Unidas para o

Meio Ambiente e Desenvolvimento (CNUMAD),

oficialmente denominada “Conferência de Cúpula da

Terra”.

Ocorrida no Rio de Janeiro, em junho de 1992, a

reunião contou com representantes de 182 países e

103 chefes de estado estiveram presentes, aprovando

cinco acordos oficiais internacionais: A Declaração do

Rio sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento ou Carta

do Rio; A Agenda 21; Declaração das Florestas;

Convenção – Quadro sobre Mudanças climáticas e a

Convenção sobre Biodiversidade.

FÓRUM GLOBAL

De forma paralela à Conferência Oficial (Rio-92), o

Fórum Internacional de ONGs conhecido como

Fórum Global ocorrido no Aterro do Flamengo (RJ)

se destacou pela elaboração de mais de 30 tratados

de ordem ambiental, dos quais se destaca o

“Tratado de Educação Ambiental para Sociedades

Sustentáveis e Responsabilidade Global”. Três

princípios básicos são defendidos nesse tratado para

a adoção de um modelo ideal e eficiente de

Educação Ambiental: 1º) Busca de meios inovadores

visando a transformação da sociedade e a elevação

da qualidade de vida; 2º) Formação de cidadãos

conscientes de sua cidadania planetária e 3º)

Perspectiva holística e interdisciplinar nas

considerações que envolvem as relações entre homem e natureza.

Você sabia?

O dia 05 de junho é oficialmente o dia mundial do Meio Ambiente, embora saibamos que todo dia é dia de se preocupar com o meio ambiente em intenso estado de degradação.

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Aula 2 | Contextualizando a Educação Ambiental 60

Paralelamente ao evento oficial que ocorria

afastadamente, em local de acesso restrito, no Rio -

Centro, estava acontecendo um mega evento popular,

de proporções ainda maiores, o Fórum Global, como

ficou conhecido, reuniu cerca de 10.000 Organizações

Não Governamentais (ONGs), que se aglomeraram

debaixo de imensas tendas para discutirem os

problemas que atingiam o mundo de então. Foi o

primeiro encontro popular a reunir representantes de

todas as partes do mundo para discutirem seus

problemas. Durante 15 dias, o Rio de Janeiro

presenciou a deliberação de importantes tratados

aprovados pelas ONGs em discussões abertas ao

público.

Entre os tratados, destaca-se o “Tratado de

Educação Ambiental para Sociedades Sustentáveis e

Responsabilidade Global”, resultante dos trabalhos da

Jornada Internacional de Educação Ambiental, um dos

documentos mais importantes produzidos para a área,

onde podem ser encontrados princípios, plano de ação,

sistema de coordenação, monitoramento e avaliação,

grupos a serem envolvidos e recursos. A elaboração do

tratado foi um esforço coletivo conseguido em função

da coordenação de Moema Viezzer e Omar Ovalles que

lançaram, em 1995, o “Manual Latino Americano de

Educ – Ação Ambiental”, um valioso livro contendo

sugestões metodológicas de ação. Segundo PEDRINI

(1998), este tratado:

enriquece os já existentes e difere

deles pelo fato de ter sido produzido

pelo homem comum, e ser fruto de

calorosas discussões entre educadores.

Em 1993, o IBAMA divulga uma cartilha básica

sobre a Educação Ambiental onde aparece a seguinte

definição oficial:

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A Educação Ambiental é um processo

permanente no qual os indivíduos e a

comunidade tomam consciência de seu

meio ambiente e adquirem

conhecimentos, valores, habilidades,

experiências e determinação que os

tornam aptos a agir – individual e

coletivamente – e resolver problemas

ambientais presentes e futuros.

Durante o ano de 1994, o Rio de Janeiro sediou

o I Encontro Brasileiro de Ciências Ambientais, onde

foram apresentados vários trabalhos na área ambiental,

inclusive em Educação Ambiental. Este encontro

constituiu um marco inicial, fundando um foro de

debates acadêmicos, sendo seus anais uma rica fonte

de pesquisa e informação. Também, em 1994, o livro

“Educação Ambiental: Princípios e Práticas”, de

Genebaldo Freire Dias, entra em sua segunda edição,

complementando a primeira de 1992, tendo-se tornado

referência da literatura nacional e subsidiando

educadores de todo o país. Muito do histórico aqui

relatado está baseado na obra do autor. Seu livro reúne

a íntegra de importantes documentos internacionais e

nacionais, permitindo a acessibilidade da informação

sobre o assunto para um maior número de pessoas.

Ainda em 94, o IBAMA cria o Programa Nacional

de Educação Ambiental (PNEA), lançando em 95 as

“Diretrizes de Educação Ambiental” (DEA), que prevê a

criação do Programa de Estudos e Pesquisas em

Educação Ambiental (PEPEA), que ainda não foi

cumprido, assim como o PNEA e o DEA, que faltam ser

implementados plenamente.

Os anos de 1995 e 1996 assistem à mobilização

das ONGs brasileiras de uma forma mais eficaz e

madura. As ONGs se organizam, elaboram seus

estatutos e começam a funcionar através de projetos.

Vários destes projetos têm um caráter preparatório

Dica de leitura

A obra de Genebaldo Dias é uma das principais referências na área, particularmente no que se refere à história da Educação Ambiental. Vale a pena conhecer este livro publicado pela editora Gaia.

Quer saber mais?

Fim do modismo: Nos anos de 91 a 93, assistimos a um

modismo ambientalista que muito prejudicou a imagem de quem levava a sério esse trabalho. Como o meio ambiente estava em moda, atraindo a mídia e investimentos internacionais, muitos grupos viraram ambientalistas de uma hora para outra, sem assumir verdadeiramente tais questões.

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Aula 2 | Contextualizando a Educação Ambiental 62

para implementação e desenvolvimento das Agenda 21

locais.

A realização da ECO – Aplicada 95, IV Encontro

Latino Americano de Educadores Ambientais, também

no Rio, dá indicações dos movimentos e articulações

das ONGs e o Poder Público para tornar realidade o

projeto Agenda 21. Neste ano fortalecem-se as redes

de Educação Ambiental, sendo São Paulo o ponto de

maior profusão das redes.

Assim, por esforços coletivos, algumas cidades

brasileiras, através de suas prefeituras e dos

movimentos sociais, já começavam, a passos largos,

implementar, em 1997, o programa da Agenda 21

local, em suas regiões. E durante a RIO+5, em março

de 97, conferência que visava debater os avanços

realizados nos cinco anos após a RIO 92, algumas

experiências já puderam ser mostradas. No Rio de

Janeiro, destacam-se as atuações das ONGs,

Defensores da Terra, GRUDE (Grupo de Defesa

Ecológica), ISER (Instituto de Estudos da Religião),

Roda Viva, entre outras.

No ano em que se completavam 20 anos do

encontro-marco de Tbilisi, houve um elevado número

de eventos por todo Brasil, incluindo o Encontro da

Rede Nacional de Educação Ambiental que ocorreu em

Brasília. O mais importante ocorrido no Rio de Janeiro

foi o Simpósio Brasileiro de Educação Ambiental,

promovido pela PUC/RJ, com a participação de

importantes educadores ambientais.

Em 97, também se celebrou a aprovação da

nova LDB - Lei de Diretrizes e Bases da Educação, de

autoria do antropólogo, educador e senador, Darcy

Ribeiro, falecido no mesmo ano. A nova LDB, ou lei

Darcy Ribeiro, como ficou conhecida, coloca a Educação

Para pesquisar

Entre as redes de Educação Ambiental existentes merece destaque a REBEA – Rede Brasileira de Educação Ambiental. Acesse e confira como é bom saber de eventos e comunicados na área que estão acontecendo em todo Brasil.

Importante

Por outro lado, a inclusão do Meio Ambiente como um dos temas transversais dos Parâmetros Curriculares Nacionais despertou vários debates na área da Ecologia e fez que com a percepção do mesmo mudasse radicalmente, tornando difícil a promoção da Educação Ambiental através de uma disciplina isolada.

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Aula 2 | Contextualizando a Educação Ambiental 63

Ambiental no currículo básico escolar como disciplina

pedagógica complementar aos 20% adicionais de carga

horária adicionados por lei para o ensino básico. Para

alguns educadores, a Lei Darcy Ribeiro é considerada

um retrocesso por colocar a Educação Ambiental como

uma disciplina a mais, não correspondendo às

premissas sugeridas de interdisciplinaridade e

participação voluntária.

No entanto, a realidade do país evidencia a

necessidade de uma organização mais formal para que

a Educação Ambiental se torne viável e exeqüível, além

do mais a lei permite a flexibilidade deste ponto para as

situações onde é possível a interdisciplinaridade; por

outro lado, alguns educadores consideram a Educação

Ambiental a nova forma da Educação em si, devido às

suas características.

O ano de 1998 foi marcado pela grande

produção de importantes publicações na área, incluindo

trabalhos inéditos contando a trajetória da Educação

Ambiental no Brasil e reflexões sobre algumas

experiências práticas já desenvolvidas, como o

importante trabalho organizado por PEDRINI (1998),

que reúne textos de diversos autores da área. A

segunda é a pesquisa nacional “O Que o Brasileiro

Pensa do Meio Ambiente, do desenvolvimento e da

Sustentabilidade”, trazendo as análises quantitativas e

qualitativas das entrevistas realizadas com lideranças

atuantes da área ambiental, tais como empresários,

políticos, membros de movimentos sociais, cientistas,

entre outros.

Ainda em 98, em dezembro, ocorreu um grande

encontro internacional promovido pela UNESCO/PNUMA

em Thessaloniki, Grécia, que reafirmou os conceitos de

Tbilisi, destacando a importância de ações locais de

forma contextualizada às realidades de cada

Dica do professor

Agenda 21 Local: As chamadas Agenda 21 locais visavam a implementação das idéias da Agenda 21 - grande documento produzido na Eco 92,sendo traduzido como uma verdadeira carta de intenções dos governos do

mundo pela sustentabilidade ambiental – a nível local. Cada país, cada Estado, município e até bairro é chamado a elaborar a sua agenda 21 local a partir dos seus problemas ambientais particulares.

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Aula 2 | Contextualizando a Educação Ambiental 64

comunidade e a importância da implementação das

Agenda 21 locais de forma conjugada aos processos de

Educação Ambiental, além de uma ampliação na rede

de comunicações entre educadores ambientais a fim de

aumentar o intercâmbio de experiências.

O ano de 1999 é um ano marcado pela

consolidação das redes e de encontros regionais, além

de uma intensa produção de coletâneas de artigos

publicados em livros. Conferências e encontros

científicos também marcam este ano que viu ser

sancionada a lei de educação ambiental, instituindo-a

como disciplina obrigatória em todos os níveis de

ensino e, também, como uma nova polêmica, ainda

sem consenso entre os educadores. Assim, a educação

ambiental, atualmente, está envolta em aflamadas

discussões e encontra-se em meio a uma saudável

polêmica.

A recente Lei de Educação Ambiental, que teve a

participação da sociedade civil em sua elaboração,

trouxe conseqüências no Estado do Rio de Janeiro

bastante interessantes no que diz respeito à

consolidação dos setores militantes na educação

ambiental regional. Grupos ambientalistas militantes

passaram a ter mais coesão e interação entre si,

buscando, via internet, uma articulação maior dos

esforços. Uma importante rede foi montada, chamada

EALatina, onde diariamente cerca de 70 pessoas estão

conectadas em rede, trocando informações sobre a

área de interesse.

Além desta rede podem ser encontrados hoje

mais de 100 sites sobre educação ambiental na

Internet, a maioria mantidos por ONGs, embora

também haja universidades, órgãos públicos e até

empresas especializadas em oferecer o serviço de

implementação de programas de educação ambiental

Para pensar

Se você fosse elaborar uma Agenda 21 local voltada para o seu bairro, que problemas destacaria como fundamentais para serem trabalhados no âmbito da EA?

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Aula 2 | Contextualizando a Educação Ambiental 65

para escolas. Sobre este tema, Da Mata (1999) tem

analisado a questão da terceirização da educação

ambiental na escola.

No que diz respeito à Lei de Educação

Ambiental, que regulamenta a Lei nº 9.795 de 27 de

abril de 1999, é destinada à instituição da Política

Nacional de Educação Ambiental. A nova legislação a

define no artigo 1º, Capítulo I, da seguinte forma:

Entende-se por educação ambiental os

processos por meios dos quais o

indivíduo e a coletividade constroem

valores sociais, conhecimentos e

habilidades, atitudes e competências

voltadas para a conservação do meio

ambiente, bem de uso comum do

povo, essencial à sadia qualidade de

vida e sustentabilidade.

Também foi criada, em 1999, a Sociedade

Brasileira de Educação Ambiental (SBEA), que tem

congregado importantes atores e grupos

ambientalistas. O objetivo da SBEA é promover eventos

e criar um centro de referência ambiental, para isso já

conta com importantes parcerias e de outras entidades

ambientalistas como o GRUDE (Grupo de Defesa

Lei 9795/99

A Política Nacional de Educação Ambiental

promulgada por esta lei deverá ser regulamentada

pelo CONAMA (Conselho Nacional de Meio Ambiente)

e pelo Conselho Nacional de Educação.

Esta lei reproduz concepções básicas discutidas por

educadores ambientais em diferentes artigos e

documentos. Entre estas desçam-se: o fato de que

a EA deve ser exercida como um prática integrada

em todos os níveis e modalidades de ensino; a

necessidade de que a EA seja um direito coletivo; a

importância de que esta seja trabalhada a partir de

um enfoque holístico por meio de uma prática

democrática e inclusiva; e, também, a necessidade

de que a sociedade como um todo assuma uma

responsabilidade coletiva pela promoção da EA.

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Aula 2 | Contextualizando a Educação Ambiental 66

Ecológica) e um de seus descendentes o Cream (Centro

de Referência em Educação Ambiental).

O ano de 1999 arca a consolidação dos eventos

regionais e a entrada em cena dos militares, agora

discutindo a inserção da educação ambiental dentro de

suas instalações, para tanto sediam os dois últimos

seminários regionais no IME (Instituto Militar de

Engenharia), demonstrando o interesse em lançar-se

com programas de educação a distância em educação

ambiental.

Em dezembro de 1999, foi sancionada a lei

estadual de Educação Ambiental, a qual considero um

marco importante na consolidação do grupo social

“educadores ambientais”, garantindo uma espécie de

estatuto para este setor. A lei nº 3.325 complementa a

lei federal de nº 9795/99 e dispõe sobre a educação

ambiental, criando a política e o programa estadual de

educação ambiental.

Na legislação, a Educação Ambiental é definida

como sendo:

Os processos através dos quais o

indivíduo e a coletividade constroem

valores sociais, conhecimentos,

atitudes, habilidades, interesse ativo e

competência voltados para a

conservação do meio ambiente, bem

de uso comum do povo, essencial à

sadia qualidade de vida e sua

sustentabilidade.

Ainda na legislação, esta prática educativa é

colocada oficialmente em todos os níveis de ensino e

passa a ser implementada através de um “grupo

interdisciplinar de Educação Ambiental”, formado por

autoridades e profissionais de distintas áreas. Dois dos

objetivos estipulados desta prática que são

considerados no artigo 4º incisos, II e III, nos parecem

Dica do professor

Seminários Sobre os Encontros de Educação Ambiental ocorridos no IME, vale destacar a participação do GEA da UFRJ que, durante anos, ficou à frente do evento e nos últimos anos tinha como coordenadora a prof. Speranza França.

Importante

Grupo interdisciplinar Essa ênfase no grupo interdisciplinar é de fundamental importância não apenas por reafirmar o caráter holístico da EA, mas também por promover a integração de diferentes áreas e disciplinas em prol da qualidade de vida socioambiental sem exclusões.

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Aula 2 | Contextualizando a Educação Ambiental 67

importantes ressaltar, pois a nosso ver corroboram com

os encaminhamentos de nossa investigação, são eles:

II - O estímulo ao fortalecimento de

uma consciência crítica sobre a

problemática ambiental e social;

III- O incentivo à participação

comunitária, ativa, permanente e

responsável, na preservação do

equilíbrio do meio ambiente,

entendendo-se a defesa da qualidade

ambiental como um valor inseparável

do exercício da cidadania.

Portanto, a lei, de certa forma, fornece o

estatuto exigido pelos educadores ambientais, no que

diz respeito às suas exigências de mudanças societais,

ou seja, a lei autoriza a transformação da sociedade e

garante esta possibilidade, reforçando a necessidade da

construção de uma consciência ecológica que dê conta

destas transformações. A questão que se coloca, afinal,

é esta consciência, que se corporeifica como um projeto

político claro de mudanças social.

Na esfera federal, também no final de 1999,

foram elaborados os Parâmetros Curriculares Nacionais,

em substituição aos currículos mínimos das disciplinas

do ensino médio; neste documento, a Educação

Ambiental é inserida como um tema transversal em

todas as disciplinas, indo no sentido oposto ao da lei

estadual.

Em 2000, a então criada Coordenação Geral de

Educação Ambiental (COEA) do Ministério da Educação

promove uma importante teleconferência sobre os

Parâmetros Curriculares em Ação sobre o Meio

Ambiente, o PAMA, onde participam mais de 1.500

escolas em todo o território nacional. Já em 2001, a

COEA promove o Seminário Nacional de Educação

Ambiental reunindo Secretarias de Educação Municipais

e Estaduais e instituições em todo país, investindo na

Para pensar

Lei x Educação É evidente que a conscientização é importante e deve ser

priorizada, mas em alguns casos não podemos deixar de negar o valor da cobrança legal através das multas e do seu retorno à área ambiental. O que você pensa sobre isso? Discuta com outros colegas essa questão.

Importante

Essa participação tem

de ser cada vez mais estimulada. É preciso divulgar os encontros e seminários na área, dando condições a que diferentes segmentos (universidade, mídia, empresas, ongs), enfim, mais e mais pessoas possam contribuir com sua experiência e recursos pela melhoria da qualidade de vida local e global.

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Aula 2 | Contextualizando a Educação Ambiental 68

disseminação dos PCN’s que utilizam a problemática

ambiental como tema transversal.

Em 2002, ocorre em Joanesburg, na África do

Sul, a III Conferência Internacional sobre Meio

Ambiente e Desenvolvimento, conhecida como a

Rio+10. Este encontro foi o que obteve o maior quorum

entre fóruns de debates promovidos pela ONU, contou

com a presença de 226 chefes de Estado. Muitos

consideraram o encontro um fracasso por frustrar as

intenções dos ambientalistas, no que diz respeito à

consignação de importantes tratados como a

Convenção do Clima e da Biodiversidade, por parte das

nações mais ricas. Além disso, a Educação Ambiental

foi discutida minimamente num grupo de trabalho

liderado pela comitiva brasileira, as nossas 100

melhores experiências foram apresentadas e o Brasil

despontou como liderança e referência em questões

ambientais no ponto de vista jurídico e em Educação

Ambiental. Uma contradição que nos faz indagar se

estamos novamente fazendo, mais uma vez, a

conhecida "política para inglês ver".

Em 2003 ocorreram dois importantes eventos: o

I Congresso Mundial de Educação Ambiental em maio,

na cidade de Espinho, Portugal e a III Conferência

Ibero-americana de Meio Ambiente e Desenvolvimento,

Rio+10

Apesar das vitórias no que se refere a questões

relativas ao saneamento - Ou seja, chegou-se a um

consenso para reduzir pela metade, até 2015, o

número de pessoas sem acesso a saneamento

básico; e se conseguiu estabelecer um acordo sobre

patentes no âmbito da OMC, estabelecendo que

países pobres não podem ser impedidos de ter

acesso a medicamentos essenciais - o evento foi

marcado pelo cinismo das diplomacias que pouco

contribuíram para o avanço na conferência. Muitas

metas e prazos não foram estabelecidos, fazendo

com que muitos acordos acabassem tendo sua

validade questionada.

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Aula 2 | Contextualizando a Educação Ambiental 69

em junho, em Cuba. Enfim, sob a visão panorâmica do

histórico desta atividade, percebe-se que estamos

diante de um campo em expansão, mas

paradoxalmente ainda sem consensos definitivos sobre

seus objetivos, práticas e diretrizes de ação.

Podemos, a partir daí, observar que o Brasil

reage a sua maneira a um movimento internacional,

constituindo aqui características e ações singulares que

podem estar se engendrando em novas configurações

desta prática educativa. Cabe também indagar se é

esta a razão que torna tão escassa a produção de

material sobre Educação Ambiental no âmbito

governamental, conhecendo-se pouco sobre o que é

produzido nestas instâncias executivas oficiais

notadamente o MMA e o MEC.

Conclusão

As contradições desta prática, portanto,

continuam e os debates, atualmente, têm a tendência

de se situarem nesta direção. Para entendermos os

caminhos das diferentes abordagens da Educação

Ambiental, analisaremos a seguir as principais

projeções de tendências a fim de nos situarmos diante

do quadro atual. Por enquanto, nos cabe ressaltar que

é um saber em construção e, portanto, cabe a cada um

de nós contribuir para fomentá-lo e estabelecer novas

abordagens e complementos a esta atividade que, em

breve, se tornará essencial para o ser humano.

O comprometimento ético se inicia agora, uma

vez que estamos nos dando conta de que esta

importante área de atividade e de conhecimento tem

no ser humano seu protagonista e antagonista. Onde

este ser tão paradoxal, que possui a habilidade de ser e

saber-se tão pequeno e tão grande ao mesmo tempo,

neste momento de sua curta trajetória, encontra-se

Dica de leitura

O que se percebe claramente é que, apesar dos avanços, ainda existe muita coisa a ser realizada na área para que a Educação Ambiental assuma o lugar que merece nas políticas mundiais e locais. Leia mais sobre o assunto na obra:

CARVALHO, V. (org.) – Educação Ambiental Consciente. RJ: WAK, 2003.

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Aula 2 | Contextualizando a Educação Ambiental 70

diante de uma terrível e fundamental responsabilidade:

a de saber-se responsável por seu futuro, o futuro dos

seus e de seu planeta. Um lugar por hora solitário, cuja

vida é indelével de sua constituição.

Pela primeira vez em nossas trajetórias, tanto a

vida quanto nós mesmos possuímos um elo profundo e

forte originado a partir da tomada de consciência de

nossa própria condição humana, sobre nossa finitude,

sobre a fragilidade da vida que insiste em todos os

cantos do planeta, por mais ameaçada que esteja.

Assim, é na descoberta de suas implicações ecológicas

que se ergue uma nova razão, carregada de afetos

outros, emocionada, a qual nos conduz à nobre missão

de proteger a vida e o lugar de onde surgimos, que nos

constitui e para onde iremos.

EXERCÍCIO 1

Que instituição criou, em 1994, o programa Nacional de

Educação Ambiental (PNEA)?

( A ) PNUD;

( B ) CONAMA;

( C ) IBAMA;

( D ) SEMA;

( E ) MEC.

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Aula 2 | Contextualizando a Educação Ambiental 71

EXERCÍCIO 2

O tratado “educação ambiental para sociedades

sustentáveis e responsabilidade global” foi elaborado

em que ano e em que conferência?

( A ) Em 1977, na Conferência de Tbilisi;

( B ) Em 1972, na Conferência de Estocolmo;

( C ) Em 2002, em Johanesburgo na Rio+10;

( D ) Em 1992, no Forum Global das Ongs;

( E ) Em 1997, na Rio+5, no Rio de Janeiro.

EXERCÍCIO 3

Qual foi a importância da inclusão do Meio Ambiente

como um dos temas transversais dos PCNs para a

Educação Ambiental?

____________________________________________

____________________________________________

____________________________________________

____________________________________________

____________________________________________

EXERCÍCIO 4

Como a Educação Ambiental se beneficiou da Lei

97954/99?

____________________________________________

____________________________________________

____________________________________________

____________________________________________

____________________________________________

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Aula 2 | Contextualizando a Educação Ambiental 72

RESUMO

Vimos até agora:

A Educação Ambiental, portanto, surge como

uma ferramenta da esperança, como uma

possibilidade de transcendência do ser

humano de seus conflitos com seu meio

ambiente;

Recentes descobertas astronômicas sobre a

dimensão do universo nos ensinam e nos

despertam sobre a aventura que vivenciamos

ao nos conscientizarmos sobre a finitude de

nossas dimensões vitais, ou seja, a Terra é

um planeta finito, com recursos limitados;

Mesmo que haja vida em outros planetas,

hipótese que vem sendo a cada dia mais

evidenciada, a maneira como a vida se

expressa na Terra é singular. Por estas razões

que se faz premente visualizarmos a Terra

como nossa pátria universal, como nosso lar

comum, com o qual temos o compromisso de

preservar a sua qualidade de vida para que as

gerações futuras tenham um mínimo de

qualidade de vida adequada a sua

subsistência;

Falar em Educação Ambiental, ou seja, de

uma educação que possua uma sensibilidade

e uma subjetividade apurada para a questão

ambiental, significa em trazer à tona um

debate ético, político, social, científico. A EA é

um processo de aprendizagem permanente

baseado na ética, no respeito a todas as

formas de vida, visando gerar mudanças na

qualidade de vida e maior consciência de

conduta pessoal, assim como contribuir para u-

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Aula 2 | Contextualizando a Educação Ambiental 73

ma harmonia entre seres humanos e destes

com outras formas de vida. Ou seja, é como

um exercício de uma ecologia da

solidariedade, onde assumimos o

compromisso ético com o próximo e com a

natureza;

A EA pode ser vista, também, como uma

educação política, com o objetivo nem

sempre explícito de criar novos hábitos e

comportamentos, para organizar populações

e grupos sociais, formular propostas de

melhoria ambiental, conquistar espaços e

participação nas decisões políticas públicas e

de desenvolvimento visando melhores

condições de vida para todos;

No mundo contemporâneo, observa-se um

fenômeno novo para a humanidade, estamos

de tal forma interligados que construímos

uma rede de informações de tal forma

elaborada, que esta circula por todos os

cantos do globo, de forma instantânea, quase

livre de barreiras, a velocidades cada vez

maiores, por medias cada vez mais

espontâneos, privados e pessoais.

O final de século evidencia que este cidadão

comum vive uma profunda crise que inclui,

sobretudo, uma revisão na sua própria

identidade. Sendo necessário romper-se e

estruturar-se diariamente em função das

novas e antigas questões que se apresentam.

Cercado por este emaranhado de informações

crescentes em complexidade, o sujeito

contemporâneo aparece para o observador

que consegue um distanciamento

transcendente, como um ser fragmentado, com

múltiplas identidades, amplas possibilidades de

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Aula 2 | Contextualizando a Educação Ambiental 74

ser e estar, agir e transformar o mundo.

Um dos resultados deste processo é o

aparecimento de um sujeito em crise,

desterritorializado, com sua identidade e

subjetividades nômades. Ao ser humano

contemporâneo, a ecologia se apresenta

como um novo universo ao qual suas

atitudes, opiniões, posturas e valores têm que

se readequar. Ela refaz e obriga a rever e

redefinir os limites do desenvolvimento

humano. Agora, é preciso arquitetar suas

ações à “sustentabilidade” de suas

transformações na natureza. A questão

ecológica nos abre, também, nos obriga a

reformular nossa identidade perante a natureza

e a nós próprios. Devido, sobretudo, à

iminência visível de um colapso sobre o

próprio futuro e à qualidade de vida

humanas. Indagações fundamentais da

condição humana são revisitadas: onde

estamos? De onde viemos? Para onde vamos?

São perguntas constantes da preocupação

ecológica;

Para Marcos Reigota, a problemática

ambiental está baseada no modelo de

sociedade que assumimos. Desta forma, o

que se propõe no debate ambientalista é a

revisão dos valores norteadores dos caminhos

e rumos dados à nossa civilização;

O debate ecológico inaugura um novo

universo informacional, mesclando-se com

outros grandes temas contemporâneos, tais

como fome, pobreza, reforma agrária,

abastecimento de água doce, transgênicos,

questões de impactos culturais sobre populações

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Aula 2 | Contextualizando a Educação Ambiental 75

indígenas, biopirataria, enfim, o debate está

tão emaranhado a nosso cotidiano que é

praticamente impossível separá-lo dos

grandes temas e problemas da atualidade;

A ecologia nos traz à tona uma nova

problemática que apresenta à sociedade uma

de suas faces obscuras, a sua competente

capacidade de autodestruição;

A intensa circulação dessas “novas”

informações “ecológicas” expõe os contornos

mais proeminentes dos nossos limites. O ser

humano reavalia a si próprio, seu fazer, seu

pensar sobre si, sobre o mundo que o cerca e

sobre o mundo que construiu. A ecologia

procura delimitar o lugar do humano, distinguir

seu espaço da natureza e, assim, refundar

limites para o fazer humano, outrora

rompidos em parte pelo humanismo;

A grave crise ambiental a que o planeta

assiste hoje pode ser entendida como fruto de

um processo histórico de relações

estabelecidas entre sociedade e natureza.

Tais relações vêm tecendo-se ao longo de

uma trajetória civilizacional, que traz em seu

bojo uma idéia unilateral de

desenvolvimento;

Para Layrargues, questão ambiental não é

propriamente uma “crise ambiental”, e sim

um dilema civilizacional, pois a civilização

ocidental encontra-se claramente diante da

escolha de qual princípio organizativo da vida

social lhes será mais adequado: a

racionalidade econômica ou ecológica;

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O meio ambiente e a cultura são elos

inexoráveis de uma mesma realidade que

impõem seus desafios; Educação Ambiental é

vista como um meio para o desabrochar de

uma consciência que permanece dentro de

nós e que precisa ser despertada;

O surgimento da educação ambiental se dá a

partir do final da década de 60, sob a

influência da contracultura e dos movimentos

sociais que reivindicam uma melhor qualidade

de vida e questionam o padrão de

desenvolvimento da sociedade ocidental;

No cenário oficial, a Educação Ambiental é

lançada em 1972, na Conferência das Nações

Unidas para o Ambiente Humano, em

Estocolmo, Suécia. Assim, esta atividade

passa então a ser uma importante ferramenta

na construção de um futuro necessariamente

sustentável e comum a todos;

Na conferência de Belgrado (1975), como

ficou conhecido este primeiro marco, foram

formulados princípios e orientações para o

Programa Mundial de Educação Ambiental,

documento este conhecido como Carta de

Belgrado, que marca um passo importante

trazendo uma proposta ética alternativa para

a crise global;

Três anos depois de Estocolmo, foi criado o

PIEA – Programa Internacional de Educação

Ambiental, em conjunto com a UNESCO, que

atua promovendo cursos, programas de

capacitação e formação, eventos, além de

produzir informativos e publicações sobre o

assunto no mundo;

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A partir daí, seguindo recomendações da

UNESCO e do PNUMA, foi organizada a

Conferência de Tbilisi (atual Geórgia, na ex –

URSS) em 1977, conhecida como a “Primeira

Conferência Intergovernamental Sobre

Educação Ambiental”, onde foram traçados os

principais fundamentos, recomendações,

objetivos e estratégias de ação;

Em Tbilisi, a Educação Ambiental foi definida

como sendo: “uma dimensão dada ao

conteúdo e a prática da Educação, orientada

para a resolução dos problemas concretos do

meio ambiente através de enfoques

interdisciplinares, e de uma participação ativa

e responsável de cada indivíduo e da

coletividade”;

No Brasil, o quadro, no entanto, era bastante

diferente. , a política brasileira desde cedo

mostrou-se avessa às tendências

preservacionistas mundiais, que eram

percebidas de forma antagônica, como

verdadeiras inimigas do desenvolvimento;

Após quase duas décadas de atraso, depois

de difíceis negociações e pressões

internacionais, durante a década de 80, o

Brasil começa a promover uma série de

medidas a fim de regulamentar a Política

Nacional de Meio Ambiente. Através da lei

federal no 6938, de agosto de 1981, aprova a

criação do SISNAMA, Sistema Nacional de

Meio Ambiente, do CONAMA, Conselho

Nacional de Meio Ambiente e do Cadastro

Técnico Federal de Atividades e Instrumentos

de Defesa Ambiental. Na lei 6938/81, a

Educação Ambiental aparece no Artigo 2o, item

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Aula 2 | Contextualizando a Educação Ambiental 78

X, onde se lê: “Educação Ambiental a todos

os níveis do ensino, inclusive a educação da

comunidade, objetivando capacitá-la para a

participação ativa na defesa do meio

ambiente”;

Em 1986, é realizado o I Seminário Sobre

Universidade e Meio Ambiente, na

Universidade de Brasília, onde surgem

importantes resoluções e sugestões, sendo

considerado como um dos primeiros e

principais documentos gerados por

experiências brasileiras;

A Constituição da República Federativa do

Brasil de 1988, contendo um capítulo para

tratar a questão ambiental, onde pode-se ler

no capítulo VI, artigo 225, item VI: “Promover

a Educação Ambiental em todos os níveis e a

conscientização pública para a preservação do

meio ambiente”;

Em 1989, é criado o IBAMA, Instituto

Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos

Naturais Renováveis, através da junção de

outros órgãos públicos. O IBAMA cria, então,

a Divisão de Educação Ambiental;

A ONU declara 1990, o Ano Internacional do

Meio Ambiente e o Brasil se prepara para

sediar o mais importante evento

governamental já ocorrido no país, a RIO –

92; a reunião contou com representantes de

182 países e 103 chefes de estado estiveram

presentes, aprovando cinco acordos oficiais

internacionais: A Declaração do Rio sobre

Meio Ambiente e Desenvolvimento ou Carta do

Rio; A Agenda 21; Declaração das Florestas;

Convenção – Quadro sobre Mudanças climáticas

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e a Convenção sobre Biodiversidade;

Paralelamente ao evento oficial que ocorria

afastadamente, em local de acesso restrito,

no Rio-Centro, ocorreu o Fórum Global, como

ficou conhecido, reuniu cerca de 10.000

Organizações Não Governamentais (ONGs).

Foi o primeiro encontro popular a reunir

representantes de todas as partes do mundo

para discutirem seus problemas. Entre os

tratados, destaca-se o “Tratado de Educação

Ambiental para Sociedades Sustentáveis e

Responsabilidade Global”;

O dia 05 de Junho é oficialmente o dia

mundial do Meio Ambiente, embora todos

saibamos que todo dia é dia de se preocupar

com o meio ambiente em intenso estado de

degradação;

Em 94, o IBAMA cria o Programa Nacional de

Educação Ambiental (PNEA), lançando em 95

as “Diretrizes de Educação Ambiental” (DEA),

que prevê a criação do Programa de Estudos

e Pesquisas em Educação Ambiental (PEPEA),

que ainda não foi cumprido, assim como o

PNEA e o DEA, que faltam ser implementados

plenamente;

A RIO+5, em março de 97, conferência que

visava debater os avanços realizados nos

cinco anos após a RIO 92;

Em 97, também se celebrou a aprovação da

nova LDB - Lei de Diretrizes e Bases da

Educação. Esta coloca a Educação Ambiental

no currículo básico escolar como disciplina

pedagógica complementar aos 20% adicionais

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de carga horária adicionados por lei para o

ensino básico. Para alguns educadores, esta é

considerada um retrocesso por colocar a

Educação Ambiental como uma disciplina a

mais, não correspondendo às premissas

sugeridas de interdisciplinaridade e

participação voluntária;

Em 98, em dezembro, ocorreu um grande

encontro internacional promovido pela

UNESCO/PNUMA em Thessaloniki, Grécia, que

reafirmou os conceitos de Tbilisi, destacando

a importância de ações locais de forma

contextualizada às realidades de cada

comunidade e a importância da

implementação das Agenda 21 locais de

forma conjugada aos processos de Educação

Ambiental, além de uma ampliação na rede

de comunicações entre educadores ambientais

a fim de aumentar o intercâmbio de

experiências;

O ano de 1999 é um ano marcado pela

consolidação das redes e de encontros

regionais, além de uma intensa produção de

coletâneas de artigos publicados em livros;A

Lei de Educação Ambiental, que regulamenta

a Lei nº 9.795, de 27 de abril de 1999, é

destinada à instituição da Política Nacional de

Educação Ambiental. A nova legislação a

define no artigo 1º, Capítulo I, da seguinte

forma: “Entende-se por educação ambiental

os processos por meios dos quais o indivíduo

e a coletividade constroem valores sociais,

conhecimentos e habilidades, atitudes e

competências voltadas para a conservação do

meio ambiente, bem de uso comum do povo,

essencial à sadia qualidade de vida e

sustentabilidade”;

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Aula 2 | Contextualizando a Educação Ambiental 81

Sociedade Brasileira de Educação Ambiental

(SBEA) tem congregado importantes atores e

grupos ambientalistas. O objetivo da SBEA é

promover eventos e criar um centro de

referencia ambiental. A lei nº 3.325

complementa a lei federal de nº 9795/99 e

dispõe sobre a educação ambiental, criando a

política e o programa estadual de educação

ambiental. Na legislação, esta prática

educativa é colocada oficialmente em todos

os níveis de ensino e passa a ser

implementada através de um “grupo

interdisciplinar de Educação Ambiental”,

formado por autoridades e profissionais de

distintas áreas;

Na esfera federal, também no final de 1999,

foram elaborados os Parâmetros Curriculares

Nacionais, em substituição aos currículos

mínimos das disciplinas do ensino médio, neste

documento, a Educação Ambiental é inserida

como um tema transversal em todas as

disciplinas, indo no sentido oposto ao da lei

estadual;

Em 2002, ocorre em Joanesburg, na África do

Sul, a III Conferência Internacional sobre

Meio Ambiente e Desenvolvimento, conhecida

como a Rio+10. Este encontro foi o que

obteve o maior quorum entre fóruns de

debates promovidos pela ONU, contou com a

presença de 226 chefes de Estado. Neste, a

Educação Ambiental foi discutida

minimamente num grupo de trabalho liderado

pela comitiva brasileira, as nossas 100

melhores experiências foram apresentadas e

o Brasil despontou como liderança e

referência em questões ambientais no ponto

de vista jurídico e em Educação Ambiental;

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Aula 2 | Contextualizando a Educação Ambiental 82

Em 2003, ocorreram dois importantes

eventos: o I Congresso Mundial de Educação

Ambiental em maio, na cidade de Espinho,

Portugal, e a III Conferência Ibero-americana

de Meio Ambiente e Desenvolvimento, em

junho, em Cuba;

Pela primeira vez em nossas trajetórias, tanto

a vida quanto nós mesmos possuímos um elo

profundo e forte originado a partir da tomada

de consciência de nossa própria condição

humana sobre nossa finitude, sobre a

fragilidade da vida que insiste em todos os

cantos do planeta, por mais ameaçada que

esteja. Assim, é na descoberta de suas

implicações ecológicas, que se ergue uma

nova razão, carregada de afetos outros,

emocionada, a qual nos conduz à nobre missão

de proteger a vida e o lugar de onde

surgimos, que nos constitui e para onde

iremos.

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A Educação Ambiental e seus

Âmbitos de Atuação

Vilson Sérgio de Carvalho

AU

LA

3

Ap

res

en

taç

ão

De um modo geral, esta aula quer auxiliá-lo a compreender

melhor os três âmbitos de atuação da Educação Ambiental,

aprofundando o estudo de suas diferenças e semelhanças e

analisando algumas das principais estratégias utilizadas em cada

um deles a saber: Formal, Não Formal e Informal, considerando a

Educação na esfera presencial e à distância.

Através de exemplos práticos e definições concisas, você terá a

chance de entender com clareza não apenas como a EA se

apresenta nestes âmbitos, mas também seu potencial e

importância na formação de uma consciência ecológica individual

e coletiva comprometida com a construção de uma

sustentabilidade planetária.

Ob

jeti

vo

s

Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você seja

capaz de:

Compreender melhor o potencial e a importância da Educação

Ambiental através de seus diferentes âmbitos;

Estudar diferenças e semelhanças nos âmbitos da Educação

Ambiental Formal, Não Formal e Informal; Analisar e classificar projetos de EA a partir de seu âmbito de

atuação e das ferramentas utilizadas; Examinar questões éticas relacionadas à prática do educador

ambiental nos diferentes âmbitos citados, considerando

exemplos práticos de atuação.

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Aula 3 | A Educação Ambiental e seus Âmbitos de Atuação 84

As Esferas de Atuação em Educação

Ambiental

Já sabemos que existem três níveis operacionais

da Educação Ambiental correspondentes a sua esfera

de atuação: A Educação Ambiental Formal, a Não

Formal e a Informal. Nesta aula, concentrar-nos-emos

no estudo das duas primeiras sem deixar de considerar

o quanto a Educação Ambiental Informal se faz

presente nos projetos da área voltados para essas duas

esferas. Antes de considerar as peculiaridades de cada

uma, é preciso que se ressalte que independente de

onde a mesma se aplica, ambas possuem o mesmo

objetivo: permitir um novo olhar sobre a realidade

ambiental, através do qual a humanidade assuma uma

postura de integração e não de submissão do ambiente

as suas necessidades. Não importa se estamos

promovendo a Educação Ambiental numa escola, numa

empresa, num centro comunitário ou mesmo numa

praça, o objetivo maior é o oferecer às pessoas,

através de diferentes meios, a possibilidade de se

entenderem como organismos vivos de uma grande

teia da vida cuja preservação, através de ações

conscientes e responsáveis, é fundamental. Através de

tal conscientização, pretende-se, de uma forma mais

ampla, a construção de uma nova sociedade pautada

em novos padrões civilizatórios ecologicamente

sustentáveis.

Assim sendo, pode haver mudanças no público

alvo, na linguagem adotada, nos recursos utilizados ou,

até mesmo, nas estratégias de educação ambiental

adotadas, mas nunca em seu objetivo maior. Tal

advertência é importante no sentido de lembrar que

muitas atividades que aparentam ser de educação

ambiental não o são de fato. Camufladas de um

discurso ambientalista, muitas ações - ditas de

educação ambiental - têm objetivos bastante adversos

Dica do professor

Existem três níveis de Educação Ambiental nos quais você poderá atuar: - Educação Ambiental Formal ou Institucional desenvolvida em organizações diversas; - Educação Ambiental Não-Formal desenvolvida em comunidades e

- Educação Ambiental Informal reunindo várias possibilidades de atuação dentro e fora de instituições.

Importante

Cada um desses âmbitos possui suas peculiaridades, procure conhecer bem cada um deles e se possível atue em projetos diferentes para entender melhor suas dinâmicas.

As Esferas de Atuação em Educação Ambiental 84 A educação ambiental formal ou institucional 85 A educação ambiental não-formal 96 A educação ambiental informal 101 Palavras finais 103

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Aula 3 | A Educação Ambiental e seus Âmbitos de Atuação 85

dos que foram aqui elucidados tais como favorecimento

de interesses pessoais, atividades de marketing político

ou empresarial, adestramento ambiental ou, até

mesmo, de enriquecimento ilícito estão presentes em

vários pseudotrabalhos de Educação Ambiental. É

preciso estar atento para não cair em armadilhas e se

deixar usar por um projeto na área cujas proposições

teóricas pouco têm a ver com uma prática ambiental

efetiva. Do mesmo modo, uma série de trabalhos que

aparentemente nada tem a ver com Educação

Ambiental assume, em suas propostas uma nítida

preocupação com a valorização da vida em sua

complexidade. Por isso, como diz o ditado, também na

área de Educação Ambiental, “nem sempre aquilo que

parece é”.

A educação ambiental formal ou

institucional

A chamada Educação Ambiental Formal se

processa no âmbito de uma instituição ou organização

com regras próprias a partir de uma cultura específica.

Conforme esclarece a Lei 9795/99 ela diz

respeito à educação ambiental efetivada na educação

escolar a desenvolvida no âmbito dos currículos das

instituições de ensino públicas e privadas englobando:

Educação Básica:

Educação infantil;

Ensino fundamental e

Ensino médio;

II - Educação superior;

III - Educação especial;

IV - Educação profissional;

V - Educação de jovens e adultos.

Para refletir

Note como todos os âmbitos de ensino, inclusive o que se refere à educação especial, são

considerados legalmente como devendo inserir a Educação Ambiental em seus currículos.

Dica do professor

Muitas vezes, inúmeros programas que se intitulam como sendo de Educação Ambiental escondem interesses particulares de fins eleitoreiros e comerciais. É preciso ficar atento para não se deixar enganar. É importante não apenas ler o programa na íntegra, como também entender o contexto de onde este emerge a fim de evitar equívocos desagradáveis.

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Aula 3 | A Educação Ambiental e seus Âmbitos de Atuação 86

Durante bastante tempo, tal âmbito de atuação

se referia basicamente à instituição escolar, hoje,

porém, percebe-se que a Educação Ambiental tem sido

promovida nas mais diferentes instituições,

particularmente em relação àquelas que investem na

qualidade de vida de seus funcionários ou assumem

sua responsabilidade social.

Entretanto, as grandes discussões nessa área

têm se dado na escola em função da necessidade de

preparar as novas gerações para uma atuação

ambiental mais consciente e crítica. Além disso,

discute-se cada vez mais a importância de que a

formação de novos profissionais contemple noções

básicas de Educação Ambiental, destacando como cada

profissão pode contribuir na luta por uma ambiente

mais saudável. Dentro da própria academia,

especialmente nos idos de 1990, começaram a surgir

diferentes Grupos e Programas que tinham senão

diretamente, pelo menos enquanto linhas básicas de

ação, a inclusão de estudos e pesquisas sobre as

questões relacionadas à dinâmica homem x meio

ambiente, conferindo à Educação Ambiental um certo

lugar de destaque, existindo inclusive uma proposta

para inclusão da Ecologia como disciplina do currículo

básico de algumas universidades, como é o caso da

UFRJ. O que está em xeque é o papel do educador - tão

desvalorizado neste país - na reorganização da

sociedade baseada nos princípios da justiça social e

democracia. Na medida em que pretende garantir um

meio ambiente sadio para todos os tipos de vida

existente no planeta, inclusive o homem, a Educação

Ambiental se converte num apelo à seriedade do

conhecimento, através da busca de propostas concretas

e eficazes de aplicação das ciências, e da recriação de

valores perdidos ou jamais alcançados (Ab’Saber,

1993).

Quer saber mais?

Na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), por exemplo, além de dois grupos que se dedicam diretamente ao tema: o EICOS (Estudos Interdisciplinares de Comunidades e Ecologia Social) no Instituto de Psicologia, e o GEA (Grupo de Estudos em Educação Ambiental) na Faculdade de Educação. A maior parte de seus diferentes cursos - tanto de graduação, como de pós-graduação – incorpora, em suas temáticas, linhas de pesquisa voltadas para a problemática ambiental; o que pode ser comprovado especialmente através do exame de disciplinas eletivas com enfoques específicos e das

diferentes pesquisas realizadas, que se dedicam ao estudo da relação entre o homem e seu meio ambiente.

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Aula 3 | A Educação Ambiental e seus Âmbitos de Atuação 87

Existem, ainda, muitas discussões sobre como a

Educação Ambiental deve se inserir na instituição

escolar. Teme-se como foi o caso da proposta conjunta

do MEC e da CETESB expressa no documento: Ecologia:

Uma proposta para o ensino de 1º e 2º graus (1979) -

nitidamente reducionista e atrasada em relação aos

pressupostos internacionais sobre a questão (Dias,

1991) – que encarava a Ecologia como uma disciplina

compartimentalizada, relevando basicamente os

aspectos naturais e biológicos do meio ambiente que se

pretenda minimizar e desvirtuar o verdadeiro conteúdo

abrangido pela temática ambiental - em suas

dimensões social, política e cultural. Segundo a

comunidade ambientalista criticou e ainda critica,

propostas dessa natureza, em vez de contribuir para

um maior desenvolvimento da Educação Ambiental no

contexto nacional, acabavam se constituindo como um

dos maiores bloqueios à compreensão da mesma,

impedindo-a de sair da difundida concepção “verde pelo

verde”, para assumir outra de maior amplitude sócio-

ambiental, mais condizente com sua realidade.

É fato que a Educação Ambiental foi introduzida

no Brasil através do ensino de Ecologia em âmbito

curricular das ciências físicas e biológicas dentro de

uma postura mais conservacionista (Guevara, 1994);

no entanto, é preciso superar essa herança e

possibilitar uma compreensão mais ampla de sua

proposta à luz dos princípios e recomendações das

conferências internacionais, o que de certa forma,

inclusive, já se encontra assegurado pelo parecer

226/87 do Conselho Federal de Educação sobre a

necessidade de um enfoque interdisciplinar para a

Educação Ambiental. Conforme explicita Limoeiro

(1991): “a Educação Ambiental não é uma nova

disciplina para ser ensinada nas escolas, mas sim um

processo educativo que deve permear todas as

disciplinas e todos os projetos de desenvolvimento

Para pesquisar

Na sua escola ou na de seu filho, como a Educação Ambiental é trabalhada? Procure conhecer como se dá o processo de sensibilização ambiental ou até que ponto o mesmo é um tanto ausente.

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Aula 3 | A Educação Ambiental e seus Âmbitos de Atuação 88

onde apareça a temática ambiental (...) busca informar

e formar uma nova mentalidade, no sentido de

despertar nos homens a responsabilidade que lhes cabe

individual e coletivamente na conservação do meio

ambiente” (Limoeiro, R., 1991: 18).

A Lei 9795/99, de 27 de abril de 1999, que

instituiu no país a Política Nacional de Educação

Ambiental, reafirmou o imperativo de que a Educação

Ambiental deva ser trabalhada de forma interdisciplinar

e integrada nos diferentes níveis e modalidades de

ensino; bem como o entendimento desta como um

direito coletivo e sua prática viabilizada através do

estímulo à participação coletiva e individual de todo

cidadão. Esta lei abafou a discussão anterior na medida

em que veta o tratamento da Educação Ambiental

enquanto uma disciplina (MEC/COEA, 2000), muito

embora, de vez em quando propostas com tal

concepção retrógrada ainda venham à tona.

Devido a sua abordagem holística e integradora,

a Educação Ambiental (EA) vem sendo trabalhada nas

escolas de maneira mais sensível nos PCNs, através da

concepção do meio ambiente como um tema

transversal (vol. 9), na verdade, um dos seis temas

transversais definidos em função de quatro critérios

básicos: urgência social; questões de abrangência

nacional; possibilidade de ensino/aprendizagem na

educação fundamental e, por fim, o favorecimento da

compreensão da realidade e da participação social

(tomada de posicionamento frente a questões que

interferem na vida coletiva). Os outros temas

selecionados foram Ética; pluralidade cultural; saúde;

orientação sexual e temáticas locais; sendo reservado a

cada um desses temas uma parte específica dos PCNs

(vol. 8).

Dica do professor

Sobre os PCNs: Segundo Lopes (1999), a primeira versão dos PCNs foi elaborada em 1995. No ano seguinte, ela foi encaminhada a 400 professores das áreas de conhecimento e especialistas da educação para análise e só posteriormente é que se produziu a segunda e atual versão ampliada dos PCNs.

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Aula 3 | A Educação Ambiental e seus Âmbitos de Atuação 89

Levando em consideração os critérios acima, não

é difícil entender por que a temática ambiental foi

escolhida para integrar os temas transversais dos PCNs,

tendo em vista a gravidade da questão ambiental com

relação ao momento em que vivemos e a urgência de

formar uma consciência ecológica para garantir a

sobrevivência da humanidade. Criados pelo MEC, os

PCNs, tal como conhecemos hoje, tiveram sua versão

definitiva em 1998, podendo ser entendidos como um

conjunto de proposições elaboradas para servirem de

base não apenas para a elaboração e revisão das

políticas de currículo dos Estados e Municípios, mas

também para orientação dos próprios investimentos

que serão feitos no sistema educacional, propondo

princípios pedagógicos e metodológicos a serem

observados pelas instituições de ensino da rede pública.

O que se pretende nessa esfera, particularmente

na instituição escolar, é o reconhecimento tanto de que

toda Educação só é verdadeiramente completa se leva

em consideração a dimensão ambiental, assim como o

fato de que a Educação Ambiental é uma dimensão

essencial do processo pedagógico auxiliando na

construção de nossa identidade e alteridade (Loureiro,

2004; Sato, 2001).

Entre as diferentes ações implementadas nas

instituições de ensino com essa finalidade, podemos

citar:

Elaboração do Projeto Político Pedagógico da

Instituição sensível às questões de cunho

socioambiental;

Incentivo à elaboração de projetos

interdisciplinares onde a preocupação

ambiental esteja presente;

Realização de atividades variadas relacionadas

aos desafios socioambientais da área onde a

escola se situa tais como a questão do lixo, eco

Dica do professor

Procure consultar os PCNs, de forma particular o volume que trata do meio ambiente enquanto um dos temas transversais. Analise seu conteúdo e observe até que ponto o mesmo contribui para a consolidação da Educação Ambiental Formal.

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Aula 3 | A Educação Ambiental e seus Âmbitos de Atuação 90

nomia de água, violência, desrespeito ao

patrimônio local, queimadas.

Promoção de cursos de formação e

aperfeiçoamento na área ambiental de modo

a sensibilizar professores e alunos para esta

temática;

Realização de palestras na instituição escolar

por parte de profissionais envolvidos na área;

Visitas guiadas a áreas de preservação

ambiental ou a projetos de Educação

Ambiental em andamento com alunos e

professores.

Estas são apenas algumas entre várias outras

idéias que poderiam ser desenvolvidas com o apoio da

equipe escolar. Aos professores em particular, vale

reforçar a idéia de que é fundamental saber cativar o

aluno para que ele seja receptivo às informações e

aprenda a transmiti-las posteriormente. Por isso,

qualquer estratégia que venha promover a integração

e a reflexão dos participantes sobre o tema

socioambiental são bem-vindas.

Entre estas, poderíamos destacar:

Desenvolver técnicas de teatro, jogos,

músicas e dinâmicas de grupo (brincadeiras);

Aplicar exercícios de ritmos, relaxamento e

respiração para despertar os sentidos de

observação e o desenvolvimento e equilíbrio

corporal;

Utilizar jogos verbais que trabalham com a

palavra - de gravuras, propagandas, jornais,

histórias em quadrinhos, música e livros;

Fazer atividades que envolvam o diálogo,

trabalhando a linguagem oral, a narração dos

fatos, nas mais diferentes formas de

construção tais como conto, poesia, texto

informativo e outros;

Dica do professor

Desenvolva atividades extracurriculares: Além das atividades desenvolvidas em sala de aula ou dentro da escola, vale a pena pensar em atividades extracurriculares como visitas guiadas a algum parque, área de proteção ambiental ou, ainda a um tipo de projeto de Educação Ambiental em andamento. Existem

profissionais treinados neste tipo de atividade. Se informe e leve a sua turma.

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Aula 3 | A Educação Ambiental e seus Âmbitos de Atuação 91

Organizar grupos que gostem de plantar

árvores, hortas e jardins;

Promover concursos de poesias sobre o tema;

Elaboração de textos, cartazes e mesmo

músicas dando asas à imaginação para a

construção do conhecimento;

Formular perguntas que ajudem a escrever

sobre o assunto, que podem inclusive serem

aproveitadas sob a forma de um jogo;

Promover passeios ecológicos aprendendo

com a natureza.

Evidentemente que todas essas estratégias

podem ser aproveitadas no contexto ecológico voltadas

para o estímulo e desenvolvimento da Educação

Ambiental, de uma forma a promover, através da

integração do grupo e sensibilização para a causa

ecológica, uma responsabilização coletiva pela crise

ambiental que o ser humano atravessa. Cada uma

dessas estratégias possui vantagens e desvantagens e

devem ser adaptadas à realidade de cada escola, ou

ainda, de cada sala de aula, que por ser uma realidade

única, favorece mais a algumas do que outras.

Para obter novas idéias de trabalhos em grupo,

sugerimos que você consulte a tabela das páginas

seguintes divulgada pela UNESCO/ UNEP/IEEP (2000),

situando-as sob esse prisma:

Estratégia Ocasião para Uso Vantagens/Desvantagens

Discussão em

classe (grande

grupo).

Permite que os

estudantes exponham

suas opiniões

oralmente a respeito

de determinado

problema.

Ajuda o estudante a

compreender as questões;

Desenvolve autoconfiança

e expressão oral;

Podem ocorrer

dificuldades nos alunos de

discussão.

Importante

Analise a tabela das páginas seguintes e busque desenvolver, pelo menos, uma prática ou exercício na área ambiental a partir da mesma.

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Aula 3 | A Educação Ambiental e seus Âmbitos de Atuação 92

Discussão em

grupo (pequenos

grupos com

supervisor-

professor).

Quando assuntos

polêmicos são

tratados.

Estímulo ao

desenvolvimento de

relações positivas entre

alunos e professores.

Mutirão de idéias

(atividades que

envolvam pequenos

grupos, 5-10

estudantes para

apresentar soluções

possíveis para um

dado problema,

todas as sugestões

são anotadas. Tempo

limite de 10 a 15

min.).

Deve ser usado como

recurso para encorajar

e estimular idéias

voltadas à solução de

um certo problema. O

tempo deve ser

utilizado para produzir

as idéias e não para

avaliá-las.

Estímulo à criatividade, à

liberdade;

Dificuldades em evitar

avaliações ou julgamentos

prematuros e em obter

idéias originais.

Trabalho em grupo:

envolve a

participação de

grupos de 4-8

membros que se

tornam responsáveis

pela execução de

uma tarefa.

Quando se necessita

executar várias tarefas

ao mesmo tempo.

Permite que os alunos se

responsabilizem por uma

tarefa por longos períodos

(2 a 5 semanas) e

exercitem a capacidade de

organização;

Deve ser monitorada de

modo que o trabalho não

envolva apenas alguns

membros do grupo.

Debate: requer a

participação de dois

grupos para

apresentar idéias e

argumentos de

pontos de vista

opostos.

Quando assuntos

extrovertidos estão

sendo discutidos e

existam propostas

diferentes de soluções.

Permite o

desenvolvimento das

habilidades de falar em

público e ordenar a

apresentação de fatos e

idéias;

Requer muito tempo de

preparação.

Questionário:

desenvolvimento de

um conjunto de

questões ordenadas

a ser submetido a

um determinado

público.

Usado para obter

informações e/ou

amostragem de

opinião das pessoas

em relação à dada

questão.

Aplicado de forma

adequada, produz

excelentes resultados;

Demanda muito tempo e

experiência para produzir

um conjunto ordenado de

questões que cubram as

informações requeridas.

Reflexão: o oposto

do mutirão de idéias.

É fixado um tempo

aos estudantes para

que sentem em

algum lugar e pensem

acerca de um

problema específico

Usado para encorajar

o desenvolvimento de

idéias em resposta a

um problema. Tempo

recomendado de 10 a

15 min.

Envolvimento de todos;

Não pode ser avaliado

diretamente.

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Aula 3 | A Educação Ambiental e seus Âmbitos de Atuação 93

Imitação: estimula

o estudante a

produzir sua própria

versão dos jornais,

dos programas de

rádio e Tv.

Os estudantes podem

obter informações de

sua escolha e levá-las

para outros grupos.

Dependendo das

circunstâncias e do

assunto a ser

abordado, podem ser

distribuídos na escola,

aos pais e à

comunidade.

Forma efetiva de

aprendizagem e ação

social.

Projetos: os alunos,

supervisionados,

planejam, executam,

avaliam e

redirecionam um

projeto sobre um

tema específico.

Realização de tarefas

com objetivos a serem

alcançados a longo

prazo, com

envolvimento da

comunidade.

As pessoas recebem e

executam o próprio

trabalho, assim como

podem diagnosticar falhas

nos mesmos.

Exploração do

ambiente local:

prevê a

utilização/exploração

dos recursos locais

próximos para

estudos,

observações,

caminhadas.

Compreensão do

metabolismo local, ou

seja, da interação

complexa dos

processos ambientais

à sua volta.

Agradabilidade na

execução;

Grande participação de

pessoas envolvidas;

Vivência de situações

concretas;

Requer planejamento

minuncioso.

FONTE: UNESCO/UNEP/IEEP

No âmbito organizacional (englobando empresas

e outras instituições), por sua vez, muitas propostas

em Educação Ambiental se confundem com programas

de segurança no trabalho, de socialização (área de RH)

e até de ergonomia. Como já foi dito antes, vários

desses programas possuem necessariamente

componentes ambientais, mas isso não significa que os

mesmos são de Educação Ambiental. Para que um

projeto ou programa qualquer mereça tal rótulo, é

importante que algumas condições essenciais sejam

respeitadas.

Entre estas, o entendimento da Educação

Ambiental como elemento mediador de interesses e

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Aula 3 | A Educação Ambiental e seus Âmbitos de Atuação 94

conflitos dos atores que atuam no meio ambiente

através do diálogo e do questionamento; o estímulo a

uma compreensão do meio ambiente no sentido amplo,

considerando suas diferentes dimensões (culturais,

políticas, biológicas e sociais) assim como da dinâmica

entre elas; do entendimento crítico e histórico das

relações entre educação, sociedade, trabalho e meio

ambiente e, finalmente, na capacitação de pessoas

aptas a se organizarem e intervirem em diferentes

espaços pela promoção e valorização da vida dentro de

uma perspectiva ecológica (Quintas, 2000; Sato, 2001

e Loureiro, 2004).

Infelizmente, na maioria das vezes, a Educação

Ambiental, assim denominada, efetuada pelas

empresas, é praticada fora de seus limites, geralmente

nas escolas ou outras áreas da comunidade onde se

situa ou em outra área estrategicamente determinada,

como aquela de onde emerge a maior parte de seus

funcionários. Resultado da pressão de partes

interessadas – geralmente o poder público na figura

dos órgãos de controle ambiental – ou de estratégias

para fidelização do cliente, as ações de Educação

Ambiental viabilizadas pelas empresas nem sempre são

acompanhadas de um planejamento estratégico

essencial, onde a continuidade das mesmas, ou mesmo

o público interno, seja uma preocupação.

Dentro da empresa, um programa de Educação

Ambiental tanto não deveria ser desenvolvido

exclusivamente em seu entorno como também não

poderia ficar restrito a um programa de treinamento

visando a sensibilização e motivação dos funcionários, e

sim atuar de forma ativa no próprio posto de trabalho

dos operadores. Não devemos esquecer que qualquer

processo de mudança começa com a conscientização

individual. Todo funcionário tem que estar consciente

do por que, o que, quando, onde, quem e como em

Quer saber mais?

A participação das empresas: Durante a realização

da 5ª Conferência Latino-Americana Sobre Meio Ambiente (Ecolatina 2002), ficou claro que as empresas contribuem, cada vez mais, para a implementação de projetos de Educação Ambiental no país, destinando recursos para programas de preservação da natureza, capacitação de multiplicadores e ações junto às comunidades visando à formação de crianças e adolescentes.

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Aula 3 | A Educação Ambiental e seus Âmbitos de Atuação 95

relação as suas tarefas, portanto um eficaz programa

de conscientização, e área ambiental não é uma

exceção, não pode ser apenas de caráter informativo e

sim ter uma postura construtiva, onde há o

envolvimento de todos na discussão das questões

ambientais da empresa, seu desempenho ambiental e o

próprio desempenho operacional Somente assim, de

forma dinâmica e participativa, serão maiores as

chances dos empregados identificarem as questões

ambientais no setor empresarial e proporem juntos

soluções para estas de modo não apenas corretivo, mas

também e, principalmente, preventivo.

Entre as estratégias para se trabalhar a

Educação Ambiental nas organizações, poderíamos

citar:

Promoção de dinâmicas de grupos e jogos

cooperativos, onde as questões

socioambientais sejam uma prioridade;

Análise de textos e vídeos que possibilitam a

integração, a motivação e a tomada de

atitude de forma crítica e participativa em

relação às questões ambientais;

Desenvolvimento de projetos de educação

ambiental;

Diagnóstico da percepção ambiental de

empregados;

Promoção de cursos e palestras de

sensibilização e mobilização ambiental;

Elaboração de boletins, jornais e folders,

assim como de apostilas e cartilhas sobre

Meio Ambiente e a responsabilidade social

empresarial;

Incentivo à participação dos funcionários em

atividades relacionadas ao ecoturismo, trilhas

ecológicas e outras que os aproximem da

natureza;

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Aula 3 | A Educação Ambiental e seus Âmbitos de Atuação 96

Estabelecimento de parcerias com

organizações governamentais e não

governamentais para o desenvolvimento

conjunto de atividades na área e outros.

Essas são, evidentemente, algumas idéias na

área que podem ser enriquecidas e como foi dito antes,

no que se refere ao contexto escolar, serem adaptadas

à realidade de cada instituição.

A educação ambiental não-formal

Esta modalidade de Educação Ambiental é

aquela que se volta para o espaço da rua, da

comunidade em geral, abrangendo não uma, mas

varias instituições como as igrejas, as escolas, as

associações de moradores, grupos de rua, enfim a

sociedade civil organizada em suas múltiplas

expressões. Uma vez que não se trabalha com uma

instituição em particular, como é o caso da proposta de

Educação Ambiental Formal, não existe nesse nível uma

organização e um planejamento fechado que se baseie

em regras definidas. No campo comunitário as

possibilidades do planejamento sofrer a ação de

intempéries é constante, sendo inclusive difícil cumprir

os prazos dos órgãos de fomento a trabalhos dessa

natureza sujeitos a dificuldades que vão da dificuldade

de encontrar uma linguagem comum ao aprendizado de

conviver com o poder paralelo do tráfico e outros.

O artigo 13 da Política Nacional de Educação

Ambiental (Lei 9795/99) define Educação Ambiental

Não-Formal como:

as ações e práticas educativas

voltadas à sensibilização da

coletividade sobre as questões

ambientais e à sua organização e

participação na defesa da qualidade do

meio ambiente.

Dica do professor

Na hora de optar pelo âmbito de Educação Ambiental onde você gostaria de se incluir, não se deixe levar por informações falsas do tipo: A educação ambiental formal é mais fácil de trabalhar do que a não-formal, Tal afirmativa, apesar de considerar a complexidade da educação ambiental não-formal, pode conduzir a equívocos uma vez que cada área tem seus desafios e problemas.

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Aula 3 | A Educação Ambiental e seus Âmbitos de Atuação 97

Determinando ao poder público nos níveis

federal, estadual e municipal seu incentivo, esta inclui

em seu rol de atividades:

I - a difusão, por intermédio dos meios

de comunicação de massa, em espaços

nobres, de programas e campanhas

educativas, e de informações acerca

de temas relacionados ao meio

ambiente;

II - a ampla participação da escola, da

universidade e de organizações não-

governamentais na formulação e

execução de programas e atividades

vinculadas à educação ambiental não-

formal;

III - a participação de empresas

públicas e privadas no

desenvolvimento de programas de

educação ambiental em parceria com a

escola, a universidade e as

organizações não-governamentais;

IV - a sensibilização da sociedade para

a importância das unidades de

conservação;

V - a sensibilização ambiental das

populações tradicionais ligadas às

unidades de conservação;

VI - a sensibilização ambiental dos

agricultores;

VII - o ecoturismo.

Vale dizer que muitas das estratégias

anteriormente citadas no que se refere à Educação

Ambiental formal servem a este âmbito, desde que

entendidas numa visão comunitária.

Esse nível de atuação, normalmente, requer

uma equipe maior de trabalho e a humildade de que

não será possível resolver todos os problemas da

comunidade através da Educação Ambiental. É

fundamental definir junto com a comunidade, inclusive

com a inclusão de alguns de seus membros na equipe,

quais serão as prioridades de atuação e como serão

desenvolvidas as atividades mitigadoras dos problemas

encontrados.

Dica do professor

Observe cuidadosamente o artigo citado e perceba como esse âmbito é amplo, envolvendo as diferentes instituições de uma comunidade, inclusive as empresas e as escolas anteriormente citadas no âmbito formal.

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Aula 3 | A Educação Ambiental e seus Âmbitos de Atuação 98

Pode se dizer que, de um modo geral, a

comunidade é o foco do trabalho de Educação

Ambiental não formal. Mais do que um mero

agrupamento de pessoas em uma localidade qualquer,

a comunidade representa um grupo de pessoas, mais

ou menos entrosado, que comungam do mesmo modo

das facilidades e desvantagens de residir em

determinada localidade tendo ali que sobreviver.

Através de instituições próprias como as associações,

clubes e grupos buscam resolver seus problemas,

particularmente no que se refere à qualidade de vida e

à subsistência econômica através de um maior

fortalecimento político. Segundo Souza (1993), existem

seis aspectos comunitários fundamentais a se

considerar e que entendo como fundamentais para

compreender os processos de interação entre a

comunidade humana e o meio ambiente: 1) os

aspectos físicos da área, englobando sua localização

espacial, comunicação com outras áreas, caracterização

territorial e sua população; 2) os aspectos históricos da

comunidade; 3) os aspectos econômicos, como as

condições de vida e de trabalho da população; 4) os

aspectos políticos, reunindo as relações de poder

existentes nos diferentes grupos e na própria

comunidade como um todo; 5) os aspectos culturais,

considerando as variadas formas de expressão cultural

e as visões de mundo da comunidade baseadas em

seus interesses e aspirações; 6) os aspectos sociais,

que envolvem os serviços sociais básicos como

educação, saúde, transporte, segurança e

comunicação. Todos esses aspectos pertinentes à

realidade comunitária estão intimamente ligados entre

si e com o meio ambiente onde se apresentam e se

constituem. Um projeto de Educação Ambiental

aplicado a uma comunidade precisa considerar estes

aspectos em sua totalidade de uma forma integrada, a

partir de uma abordagem interativa. É um grande erro

pensar a dimensão ambiental apenas do ponto de vista

Dica do professor

Tome a análise de Souza como uma espécie de roteiro para conhecer uma localidade em suas múltiplas dimensões: física, histórica, econômica, política, cultural e social. Consiga o máximo de informações que

puder sobre a localidade onde pretende atuar sobre essas dimensões e você verá o quanto isso auxiliará em seu trabalho.

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Aula 3 | A Educação Ambiental e seus Âmbitos de Atuação 99

territorial ou geográfico, ignorando os fatores

psicossociais que estão indubitavelmente presentes e

são determinantes como já vimos em alguns processos

ecológicos. Como nos lembra D’Ávila & Maciel (1992), o

meio ambiente “é um processo de interação sócio-

cultural, gerado pelo homem e a natureza” (Maciel &

D’Ávila, -1992: 72). Neste contexto, os grupos, as

comunidades, e a própria sociedade em geral, poderiam

ser encarados como a materialização da dinâmica

homem x meio.

A parceria com as lideranças locais, moradores

antigos da área e comerciantes pode fortalecer o

projeto e, principalmente, ajudar o educador ambiental

e entender a história da comunidade onde as atividades

serão desenvolvidas. Do mesmo modo, é fundamental

conhecer previamente a história da localidade, seus

períodos de desenvolvimento e sua realidade atual do

ponto de vista econômico, político, biológico. Dados

podem ser obtidos não apenas na própria comunidade,

mas também nas prefeituras e subprefeituras onde

mapas locais podem ser acessados e copiados. No caso

do Rio de Janeiro, existe, na biblioteca do Estado, um

setor dedicado apenas à história dos bairros, procure

em sua região se existe algo dessa ordem, o que

poderá ajudar muito o trabalho de reconhecimento local

em termos históricos, assim como de seus potenciais e

dificuldades.

A Educação Ambiental pode ser entendida como

um elemento facilitador do desenvolvimento

comunitário, levando a comunidade a entender melhor

o ambiente onde vive e sua força comunitária rumo à

transformação gradual daquele ambiente no sentido de

preservá-lo ou recuperá-lo tanto no âmbito rural

quanto urbano. A partir de uma visão estratégica para

o Desenvolvimento Local, como um processo dinâmico

de transformação, a educação ambiental pode

Importante

É sempre bom lembrar que esta é a visão de meio ambiente com a qual estamos trabalhando nesse curso. Ou seja, o meio ambiente como resultado de um processo de interação sociocultural entre a humanidade e a natureza à sua volta, onde uma afeta mutuamente a

outra.

Dica do professor

Parcerias com lideranças e moradores locais, desde que mobilizadas para os ideais do projeto e não em função de interesses pessoais são bem-vindas, pois representam um diferencial positivo na realização do trabalho. Um último alerta se refere ao fato de cuidar para que dificuldades pessoais entre as lideranças escolhidas para integrar o projeto e a comunidade não atrapalhem o andamento das atividades. Nesse caso é melhor não misturar as coisas.

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Aula 3 | A Educação Ambiental e seus Âmbitos de Atuação 100

incentivar práticas de autogestão comunitária, de modo

que as comunidades possam desenvolver seus

potenciais e competências, preservando seu patrimônio

ambiental, superando as limitações e assegurando uma

melhoria contínua de qualidade de vida dos seus

indivíduos.

Entre as atividades comunitárias de Educação

Ambientais, poderíamos citar:

Promoção de cursos e palestras

relacionadas à área ambiental em

instituições locais como igrejas e escolas

da comunidade;

Desenvolvimento em parceria com

empresas locais de projetos de

reciclagem, reflorestamento, economia

de água e outros;

Prática de atividades de sensibilização

ambiental em campo aberto (praças) ou

em instituições comunitárias tais como

dramatizações, exposição de filmes e

fotos, produção de textos.

Desenvolvimento de programas de rádio

e/ou TV local (comunitárias) de

programas com apelo socioambiental;

Estímulo a atividades lúdicas e de cunho

artístico que valorizem o ambiente do

entorno onde a comunidade está

inserida; criação de fóruns de

participação local, com ampla

participação comunitária para decidir

sobre seu processo de autogestão

ambiental;

Estímulo a reuniões com entidades

governamentais e não governamentais

sobre os problemas socioambientais

vividos, assim como de outras atividades

de fortalecimento político da comunidade.

Importante

Educação Ambiental e Desenvolvimento Por seu potencial mobilizador e

conscientizador dos valores humanos e ambientais que uma instituição em particular ou toda uma comunidade reúne, a Educação Ambiental pode ser entendida como um elemento de promoção do desenvolvimento local. Ao se unir para resolver problemas ambientais, a comunidade pode se fortalecer politicamente, redescobrir sua força e resolver outras questões pendentes na comunidade.

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Aula 3 | A Educação Ambiental e seus Âmbitos de Atuação 101

E várias outras atividades cuja lista seria grande

demais para caber em uma apostila.

A educação ambiental informal

Esta modalidade de Educação Ambiental pode

ocorrer tanto no âmbito formal quanto no não formal. O

que a define como um âmbito particular é sua

temporalidade. Geralmente, diz respeito à prática de

atividades pontuais que não necessariamente estão

inclusas em um Programa de Educação maior tais

como:

Panfletagem;

Participação esporádica em programa de

rádio e tv;

Criação de um jornal/informativo ambiental;

Campanhas de conscientização ecológica;

Produção de uma cartilha de educação

ambiental.

Enfim, tratam-se de atividades esporádicas de

Educação Ambiental realizadas no âmbito formal e não

formal que tem resultado, mas não estão

necessariamente presas a um programa ou projeto

maior com o compromisso de continuidade.

Veja um exemplo do conteúdo de panfletos e/ou

cartazes que certamente você já recebeu nem sempre

com os resultados esperados.

Algo do tipo: “O que você pode fazer para ajudar

o meio ambiente?” ou “Um novo ambiente é minha

responsabilidade” seguido de algo assim:

EM CASA:

Evitar o desperdício (água, luz e papel);

Importante

A Educação Ambiental Informal não deve ser confundida como uma forma desorganizada de se promover a Educação Ambiental. Muito ao contrário. O que marca essa modalidade de Educação Ambiental é sua esporacidade, uma vez que ela tanto pode integrar programas desenvolvidos nos dois âmbitos já mencionados, como pode se resumir a alguma tentativa isolada e temporária de promover uma sensibilidade para as

questões ambientais. Independente disso não se pode negar o seu valor, uma vez que ainda que descompromissada de uma continuidade essa modalidade de Educação Ambiental lança sementes que podem dar frutos.

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Aula 3 | A Educação Ambiental e seus Âmbitos de Atuação 102

Comprar produtos de empresas que investem

em ações sociais;

Jogar no lixo só o que não puder ser

aproveitado e separar para reciclagem;

Recuse embalagens desnecessárias e corte

um terço da montanha de lixo;

Comprar alimentos a granel (não levam

embalagens dispensáveis);

Comprar refil para seus produtos de higiene e

limpeza;

Só compre embalagens recicladas;

Use detergente biodegradável;

Use panos em vez de toalhas de papel;

Reduza o tempo do banho;

Feche as torneiras;

Não jogue lixo no vaso sanitário;

Não use esguicho quando limpar a calçada;

Leve pilhas usadas aos postos de coleta;

Não desperdice comida;

Deixe o carro em casa um dia por semana;

Não jogue produtos como tinta diretamente

no chão pois ele agride o solo.

NA RUA:

Cuidar para não poluir as ruas;

Examinar se os poluentes lançados por seu

automóvel estão de acordo com as normas

fixadas pelos órgãos competentes;

Fazer coleta seletiva do lixo;

Não jogar lixo em terrenos baldios;

Arborizar;

Cuidar dos terrenos baldios;

Preservar os monumentos;

Valorizar o ambiente construído através de

ações individuais e coletivas.

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Aula 3 | A Educação Ambiental e seus Âmbitos de Atuação 103

NO BAIRRO:

Não faça poluição sonora e visual (Ex.: pichar

muros e paredes);

Não polua o ar;

Lute pela implantação da coleta seletiva;

Faça campanhas de conscientização

ambiental;

Cuidar das praças, parques e áreas de lazer;

Fazer abrigos nos pontos de ônibus;

Fazer campanhas anti-tabagismo;

Não queimar folhas e restos de gramas;

Não compre animais silvestres;

Não use produtos descartáveis.

Essas e outras mensagens são importantes, pois

deixam “o seu recado”. Contudo, podem ser ampliados

através de Programas mais consistentes de Educação

Ambiental Formal e Não Formal que os aprofunde e

auxilie a população em sua concretização. Não adianta

apenas jogar o lixo na lata de lixo, mas saber por que

isso é importante, o que isso significa e porque todos

devem fazê-lo e não apenas eu. Nem sempre essas

explicações estão presentes em ações desse âmbito.

Palavras finais

Como foi aqui salientado, para atuar com

segurança nessas esferas, é fundamental conhecer bem

a realidade na qual o trabalho será desenvolvido. Isso

implica conhecer sua história e desenvolvimento; suas

regras básicas de funcionamento e organização

relacional e funcional, sua administração atual e

principalmente o espaço da mesma. É importante saber

se já existiram projetos anteriores na área ambiental

desenvolvidos e, em caso positivo, ter consciência do

modo como estes foram implementados e quais foram

seus resultados. No caso de projetos malsucedidos, o

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Aula 3 | A Educação Ambiental e seus Âmbitos de Atuação 104

trabalho do educador ambiental será mais complicado

no sentido de romper com os ranços do trabalho

anterior.

Esse momento inicial referente à coleta de

dados, a fim de traçar o perfil da instituição a ser

trabalhada, deve ser feito com calma a fim de evitar

problemas futuros. Consultas a documentos antigos e

recentes, entrevistas com funcionários significativos e

acesso a todos os espaços físicos da organização são

ações fundamentais nesse primeiro momento. Se

possível, utilize instrumentos como gravadores,

máquinas de fotografia e filmadora. Caso esse material

não seja viável ou de utilização permitida, então, não

dispense um bom e velho caderno de anotações.

Antes de formular quaisquer estratégias, é

fundamental ter claro quais são as reais intenções e

limites da atuação do projeto de Educação Ambiental e

finalmente qual será o apoio financeiro para sua

realização. É fundamental adotar critérios éticos

durantes todas as fases do trabalho, desde o

planejamento até sua execução. A equipe precisa estar

bem integrada, consciente de sua responsabilidade e

limites de ação. O contato com a comunidade deve ser

intenso, inclusive com a participação de alguns de seus

integrantes nas equipe de trabalho e coordenação.

Todavia, é preciso tomar cuidado para que essa

proximidade com a comunidade não promova

dependência. A comunidade, ou os diferentes setores

da empresa ou escola, onde o trabalho será

desenvolvido, precisam ter a clareza de que são os

seus membros os principais mantenedores e

responsáveis pelo sucesso do projeto e não

necessariamente o grupo que iniciou os trabalhos e em

breve estará atuando em outra área ou local.

Por fim, é importante lembrar que a avaliação,

na qual eu incluo a auto-avaliação do trabalho, deve

Dica do professor

Consulte, além de livros, revistas, jornais antigos e outras publicações na área, as instituições governamentais. Nas prefeituras e subprefeituras, é possível ter acesso a mapas e projetos de desenvolvimento para a localidade. Os índices estatísticos podem auxiliá-lo na montagem de um perfil da comunidade. Demais dados devem ser buscados nos próprios relatos orais

dos moradores ou em centros culturais da comunidade onde o trabalho está sendo desenvolvido.

Dica do professor

Dedique tempo à avaliação. Esse é um item fundamental para o sucesso do projeto/programa em qualquer área de Educação. E já que estamos tocando nesse assunto, que tal realizar a auto-avaliação que vem a seguir. Antes, faça uma boa revisão dos pontos mais importantes daquilo que você aprendeu até agora.

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Aula 3 | A Educação Ambiental e seus Âmbitos de Atuação 105

ser constante durante e após a realização do trabalho.

Se os erros forem percebidos a tempo, maiores

complicações poderão ser evitadas. Por isso, é preciso

não ter vergonha de reconhecer falhas e por vezes

recomeçar, sempre que isso for necessário.

EXERCÍCIO 1

O âmbito da educação ambiental que assume a

comunidade em sua complexidade como foco de

atuação é o da:

( A ) Educação ambiental não-formal;

( B ) Educação ambiental formal;

( C ) Educação ambientalista;

( D ) Educação libertadora freiriana;

( E ) Educação ambiental informal direta.

EXERCÍCIO 2

Assinale a alternativa correta no que se refere ao

trabalho de Educação Ambiental Não Formal.

( A ) É fundamental que o educador ambiental assuma

uma postura de aprendiz;

( B ) As parcerias com lideranças locais e moradores

antigos podem auxiliar muito o trabalho de

educação ambiental nas comunidades;

( C ) Antes de iniciar os trabalhos de educação

ambiental nas comunidades, é importante

conhecer o máximo possível de sua história;

( D ) A participação de alguns membros da

comunidade, inclusive nas equipes de

planejamento e coordenação, é bem-vinda ao

trabalho de educação ambiental;

( E ) Todas as respostas estão corretas.

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Aula 3 | A Educação Ambiental e seus Âmbitos de Atuação 106

EXERCÍCIO 3

Caracterize os três âmbitos da Educação Ambiental,

diferenciando-os através de exemplos: ____________________________________________

____________________________________________

____________________________________________

____________________________________________

____________________________________________

EXERCÍCIO 4

Em que esfera de Educação Ambiental se encaixaria a

Educação Ambiental a Distância? ____________________________________________

____________________________________________

____________________________________________

____________________________________________

____________________________________________

RESUMO

Vimos até agora:

Existem três níveis operacionais da Educação

Ambiental correspondentes a sua esfera de

atuação: A Educação Ambiental Formal, Não

Formal e Informal;

Não importa o âmbito, local, ou instrumento

favorecedor da Educação, o objetivo maior é

o oferecer às pessoas a possibilidade de se

entenderem como organismos vivos de uma

grande teia da vida, cuja preservação através

de ações conscientes e responsáveis é

fundamental;

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Aula 3 | A Educação Ambiental e seus Âmbitos de Atuação 107

Camufladas de um discurso ambientalista,

muitas ações - ditas de educação ambiental -

têm objetivos distanciados desse objetivo

maior como o favorecimento de interesses

pessoais, atividades de marketing político ou

empresarial, adestramento ambiental ou, até

mesmo, de enriquecimento ilícito estão

presentes em vários pseudotrabalhos de

Educação Ambiental;

A chamada Educação Ambiental Formal é

aquela se processa no âmbito de uma

instituição ou organização com regras

próprias a partir de uma cultura específica.

Conforme esclarece a Lei 9795/99, ela diz

respeito a educação ambiental efetivada na

educação escolar a desenvolvida no âmbito

dos currículos das instituições de ensino

públicas e privadas;

Durante bastante tempo, tal âmbito de

atuação se referia basicamente à instituição

escolar, hoje, porém, percebe-se que a

Educação Ambiental tem sido promovida nas

mais diferentes instituições particularmente

em relação àquelas que investem na

qualidade de vida de seus funcionários ou

assumem sua responsabilidade social;

Entretanto, as grandes discussões nessa área

têm se dado na escola em função da

necessidade de preparar as novas gerações

para uma atuação ambiental mais consciente

e crítica;

Existem, ainda, muitas discussões sobre

como a Educação Ambiental deve se inserir na

instituição escolar, ora como uma disciplina iso-

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Aula 3 | A Educação Ambiental e seus Âmbitos de Atuação 108

lada, ora como parte de um projeto maior na

escola envolvendo diferentes disciplinas;

Pelo parecer 226/87 do Conselho Federal de

Educação, sobre a necessidade de um

enfoque interdisciplinar para a Educação

Ambiental. Conforme explicita Limoeiro

(1991): “a Educação Ambiental não é uma

nova disciplina para ser ensinada nas escolas,

mas sim um processo educativo que deve

permear todas as disciplinas e todos os projetos

de desenvolvimento onde apareça a temática

ambiental;

A Lei 9795/99, de 27 de abril de 1999, que

instituiu no país a Política Nacional de

Educação Ambiental reafirmou o imperativo

de que a Educação Ambiental deva ser

trabalhada de forma interdisciplinar e

integrada nos diferentes níveis e modalidades

de ensino;

Devido a sua abordagem holística e

integradora, a Educação Ambiental (EA) vem

sendo trabalhada nas escolas de maneira

mais sensível nos PCNs, através da concepção

do meio ambiente como um tema

transversal;

Os PCNs, atualmente, tiveram sua versão

definitiva em 1998, podendo ser entendidos

como um conjunto de proposições elaboradas

para servirem de base não apenas para a

elaboração e revisão das políticas de currículo

dos Estados e Municípios, mas também para

orientação dos próprios investimentos que

serão feitos no sistema educacional propondo

princípios pedagógicos e

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Aula 3 | A Educação Ambiental e seus Âmbitos de Atuação 109

metodológicos a serem observados pelas

instituições da rede pública;

O que se pretende nessa esfera,

particularmente na instituição escolar, é o

reconhecimento tanto de que toda Educação

só é verdadeiramente completa se leva em

consideração a dimensão ambiental; assim

como o fato de que a Educação Ambiental é

uma dimensão essencial do processo

pedagógico auxiliando na construção de nossa

identidade e alteridade;

Alguns exemplos de propostas de EA que

podem ser implementadas na esfera escolar:

Elaboração do Projeto Político Pedagógico da

instituição sensível às questões de cunho

socioambiental; incentivo à elaboração de

projetos interdisciplinares onde a

preocupação ambiental esteja presente;

realização de atividades variadas relacionadas

aos desafios socioambientais da área onde a

escola se situa tais como a questão do lixo,

economia de água, violência, desrespeito ao

patrimônio local, queimadas;

Exemplos de estratégias perfeitamente

aplicáveis a práticas de EA na escola:

discussão em classe, discussão em grupo,

mutirão de idéias, trabalho em grupo;

debate; questionário; reflexão; imitação;

exploração do ambiente local e

desenvolvimento de projetos;

No âmbito organizacional (englobando

empresas e outras instituições), por sua vez,

muitas propostas em Educação Ambiental se con

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Aula 3 | A Educação Ambiental e seus Âmbitos de Atuação 110

fundem com programas de segurança no

trabalho, de socialização (área de RH) e até

de ergonomia;

Dentro da empresa, um programa de

Educação Ambiental não deveria ser

desenvolvido exclusivamente em seu entorno,

como também não poderia ficar restrito a um

programa de treinamento visando a

sensibilização e motivação dos funcionários;

Entre as estratégias para se trabalhar a

Educação Ambiental nas organizações,

poderíamos citar: Promoção de dinâmicas de

grupos e jogos cooperativos, onde as

questões socioambientais sejam uma

prioridade; análise de textos e vídeos que

possibilitam a integração, a motivação e a

tomada de atitude de forma crítica e

participativa em relação às questões

ambientais e desenvolvimento de projetos de

educação ambiental;

A EA Não formal é aquela que se volta para o

espaço da rua, da comunidade em geral,

abrangendo não uma, mas várias instituições

como as igrejas, as escolas, as associações

de moradores, grupos de rua, enfim, a

sociedade civil organizada em suas múltiplas

expressões. Não se dá a partir de um

planejamento com regras rígidas uma vez

que este tem grande possibilidade de sofrer

alterações constantemente;

O artigo 13 da Política Nacional de Educação

Ambiental (Lei 9795/99) define Educação

Ambiental Não-Formal como: “as ações e

práticas educativas voltadas à sensibilização

da coletividade sobre as questões ambientais e

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Aula 3 | A Educação Ambiental e seus Âmbitos de Atuação 111

à sua organização e participação na defesa da

qualidade do meio ambiente”;

Inclui em seu rol de atividades: Difusão, por

intermédio dos meios de comunicação de

massa, em espaços nobres, de programas e

campanhas educativas, e de informações

acerca de temas relacionados ao meio

ambiente; a sensibilização da sociedade para

a importância das unidades de conservação;

a sensibilização ambiental das populações

tradicionais ligadas às unidades de

conservação; o ecoturismo;

Pode se dizer que, de um modo geral, a

comunidade é o foco do trabalho de Educação

Ambiental Não Formal. Mais do que um mero

agrupamento de pessoas em uma localidade

qualquer, a comunidade representa um grupo

de pessoas, mais ou menos entrosado, que

comunga do mesmo modo das facilidades e

desvantagens de residir em determinada

localidade tendo ali que sobreviver. Através

de instituições próprias como as associações,

clubes e grupos buscam resolver seus

problemas, particularmente no que se refere

a qualidade de vida e a subsistência

econômica através de um maior

fortalecimento político;

Existem seis aspectos comunitários

fundamentais a se considerar e que entendo

como fundamentais para compreender os

processos de interação entre a comunidade

humana e o meio ambiente: 1) os aspectos

físicos da área; 2) os aspectos históricos da

comunidade; 3) os aspectos econômicos; 4)

os aspectos políticos, reunindo as relações de

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Aula 3 | A Educação Ambiental e seus Âmbitos de Atuação 112

poder existentes nos diferentes grupos e na

própria comunidade como um todo; 5) os

aspectos culturais; 6) os aspectos sociais.

Todos esses aspectos pertinentes à realidade

comunitária estão intimamente ligados entre

si e com o meio ambiente onde se

apresentam e se constituem;

Parcerias com lideranças locais; busca de

informações sobre a história da comunidade e

suas informações não apenas na comunidade,

mas em órgãos governamentais como as

prefeituras e subprefeituras onde mapas

locais podem ser acessados e copiados são

importantes para o entendimento da mesma;

A Educação Ambiental pode atuar como um

elemento facilitador do desenvolvimento

comunitário, levando a comunidade a

entender melhor o ambiente onde vive e sua

força comunitária rumo a transformação

gradual de seu ambiente;

Entre as atividades comunitárias de Educação

Ambiental poderíamos citar: Promoção de

cursos e palestras relacionadas à área

ambiental em instituições locais como igrejas

e escolas da comunidade; prática de

atividades de sensibilização ambiental em

campo aberto (praças) ou em instituições

comunitárias tais como: dramatizações,

exposição de filmes e fotos, produção de

textos; desenvolvimento de programas de

rádio e/ou TV local (comunitárias) de

programas com apelo socioambiental; criação

de fóruns de participação local, com ampla

participação comunitária para decidir sobre seu

processo de autogestão ambiental, entre

outras;

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Aula 3 | A Educação Ambiental e seus Âmbitos de Atuação 113

A EA Informal pode ocorrer tanto no âmbito

formal quanto no não formal. O que a define

como um âmbito particular é sua

temporalidade. Geralmente, diz respeito à

prática de atividades pontuais que não

necessariamente estão inclusas em um

programa de educação maior tais como:

panfletagem e campanhas de preservação

local;

O conteúdo dos panfletos ou das campanhas

em geral é bem concreto como cuidado com a

torneira pingando (em casa); jogar no rio

apenas aquilo que o peixe pode comer (na

rua).

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Aula 3 | A Educação Ambiental e seus Âmbitos de Atuação 114

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Comunidade e Meio Ambiente: Examinando a Teia

Sócio-Ambiental

Vilson Sérgio de Carvalho

AU

LA

4

Ap

res

en

taç

ão

A integração do meio ambiente nos Parâmetros Curriculares

Nacionais foi de grande significado não apenas para a valorização

e legitimação da Educação Ambiental no âmbito formal, mas para

a causa ambiental como um todo. De uma forma clara, se

concordava e se estimulava a idéia de que o meio ambiente

deveria ser considerado em todas as disciplinas por se tratar de

uma temática que as atravessava indiscutivelmente. Falar de meio

ambiente hoje é falar de segurança, saúde, trânsito, bem-estar,

qualidade de vida, desenvolvimento, enfim não dá para não

considerar o mesmo nas diferentes disciplinas ensinadas na

escola. Mostrar como esse processo se deu e seus reflexos, de

modo especial para a EA é o propósito desta aula.

Ob

jeti

vo

s

Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você seja

capaz de:

Analisar o que sejam os PCNs, sua história e seu papel no

âmbito da Educação Brasileira; Entender a importância e o significado da inclusão do meio

ambiente como um dos temas transversais dos PCNs;

Compreender melhor a idéia de transversalidade e sua

aplicabilidade no campo do conhecimento; Analisar alguns dos principais reflexos da inclusão do meio

ambiente como temática transversal para o universo escolar

em termos do currículo, das atividades pedagógicas,

desenvolvimento de materiais didáticos e do próprio projeto

político-pedagógico (PPP).

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Aula 4 | Comunidade e Meio Ambiente: Examinando a Teia Sócio-Ambiental 116

A educação ambiental e os PCNs

Na perspectiva de contribuir para uma maior

compreensão das relações entre Educação e Meio

Ambiente, o objetivo desta aula é o de tecer algumas

considerações sobre como a Educação Ambiental (EA) é

enfocada nos PCNs (Parâmetros Curriculares

Nacionais), buscando entender o quanto este enfoque

pode vir a fortalecer a EA, seja pelo incentivo de sua

aplicabilidade na instituição escolar, seja pelo estímulo

a que diferentes profissionais da área educacional

percebam que não é possível conceber uma Educação

comprometida com a continuidade da vida humana

desacompanhada de sua dimensão ambiental.

Não se pretende, aqui, fazer uma avaliação

aprofundada dos PCNs. Este tipo de análise documental

exigiria um estudo complexo no contexto da política de

Educação vigente em nosso país, cuja realização fugiria

à natureza desta aula. Ao se ater aos PCNs como objeto

de investigação deste estudo, almeja-se discutir - a

partir de uma breve análise sobre o que são e o que

representam - a importância do meio ambiente ser

incluído nos mesmos como um dos temas transversais

e as possibilidades decorrentes desta inclusão para o

desenvolvimento da EA como um todo.

Criados pela Secretaria de Educação

Fundamental do MEC, os PCNs, tal como conhecemos

hoje, tiveram sua versão definitiva em 1998, podendo

ser entendidos como um conjunto de proposições

elaboradas para servirem de base não apenas para a

elaboração e revisão das políticas de currículo dos

Estados e Municípios, mas também para a orientação

dos próprios investimentos que serão feitos no sistema

educacional, propondo princípios pedagógicos e

metodológicos a serem observados pelas instituições de

ensino da rede pública. Apesar das muitas críticas e

Dica do professor

Cabe enfatizar que essa inclusão se deu desde a primeira versão dos PCNs, o que não acontece com outros temas transversais como, por exemplo, o que se refere à “pluralidade cultural”.

A educação ambiental

e os PCNs 116 Afinal o que são PCN´s? 118 Parâmetro e currículo: considerando os termos 122 Um olhar sobre a transversalidade 124 O meio ambiente como tema transversal 128 Considerações finais e interrogações 133

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Aula 4 | Comunidade e Meio Ambiente: Examinando a Teia Sócio-Ambiental 117

falhas que o documento apresenta - principalmente no

que se refere à manutenção de uma concepção

positivista do conhecimento (Macedo,1999) - é possível

que a inclusão da temática ambiental nesse processo,

considerada em sua transversalidade, venha a significar

uma conquista importante na forma de trabalhar a EA

nas escolas, desde que os profissionais da área saibam

tirar proveito desta situação.

A despeito das expectativas favoráveis, ainda

existem muitos questionamentos a serem respondidos

em relação a esta inclusão:

Será que, finalmente, após o reconhecimento

da transversalidade ambiental por parte do

MEC, a EA se traduzir à traduzirá em uma

prática transdisciplinar valorizada em nossas

escolas?

Será que, a partir de agora, serà mais fácil

conduzir um trabalho de conscientização

ecológica na instituição escolar?

Como responder a estas perguntas? É difícil e

temerário fazer afirmações sobre os rumos que os PCNs

seguirão em termos de mudanças a serem

implementadas na prática docente ou mesmo na

cultura escolar, todavia é um erro ignorar o valor dessa

inclusão como uma excelente oportunidade para que os

educadores enxerguem que, desacompanhada da

dimensão ambiental que encerra, a Educação perde

parte de sua essência. Essa percepção é fundamental

se pretendemos, como aponta Morin (2000), adotar um

modelo de Educação voltada para o futuro, que possa

vir a nos ajudar a esclarecer melhor sobre nossa

identidade terrena, através da formação de uma

consciência ecológica.

Dica de leitura

Sobre este conceito e sua distinção com os conceitos de cultura da escola, ver a obra “Escola e Cultura” de FORQUIN, J. C.

Porto Alegre: Artes Médicas, 1993. França oferece alguns referenciais preciosos.

Dica do professor

Sobre o Pensamento de Morin: Sobre esse modelo apontado por Morin, vale a pena ler o Capítulo IV do seu livro: “Os Sete Saberes Necessários à Educação do Futuro” (2000: 63-78).

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Aula 4 | Comunidade e Meio Ambiente: Examinando a Teia Sócio-Ambiental 118

Afinal o que são PCN´s?

Atentos às inúmeras e agudas mudanças pelas

quais a estrutura societária atual vem passando -

advindas principalmente da crise do paradigma

civilizatório (manifesta principalmente através das

várias formas de exploração da natureza e da

miserabilidade humana) e dos impactos do capitalismo

globalizado - os PCNs são apresentados como uma

reunião de propostas atuais e eficazes para analisar as

políticas curriculares nacionais - no que concerne à

elaboração de projetos educativos, ao planejamento

didático, ao material didático utilizado e,

principalmente, às reflexões sobre a prática pedagógica

em geral. Sua aplicabilidade está pautada em vários

fatores diferentes, mas intimamente relacionados, tais

como: a competência político-executiva dos órgãos

competentes na esfera estadual e municipal; a

diversidade sócio-cultural das diferentes regiões do país

e a autonomia de professores e equipes pedagógicas, o

que por si só já representa um enorme desafio.

Foram muitas as fontes geradoras dos PCNs,

destacando-se as diferentes propostas curriculares

adotadas nos Estados e Municípios, e as discussões em

âmbito nacional promovidas pelo MEC (PCNs vol. 1:

37). A definição de parâmetros claros no campo

curricular, visando orientar ações educativas mais

eficientes, já estava prevista inclusive no Plano Decenal

de Educação (1993-2003) e na própria Constituição de

1988 que insinuava essa estratégia. Entretanto, é

inegável que, desde a seleção do conteúdo até a

própria apresentação deste sob a forma de volumes

divididos por cores, a grande fonte inspiradora dos

PCNs foi a reforma educacional promovida na Espanha

em 1990, concretizada na LOGOSE. Nesse particular, é

no mínimo curioso e digno de nota o fato de que

buscando elaborar referenciais básicos e de qualidade

Quer saber mais?

Segundo Lopes (1999), a primeira versão dos PCNs foi elaborada em 1995. No ano seguinte, ela foi encaminhada a 400 professores das áreas de

conhecimento e especialistas da educação para análise antes que se produzisse a segunda e atual versão ampliada dos PCNs.

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Aula 4 | Comunidade e Meio Ambiente: Examinando a Teia Sócio-Ambiental 119

para organizar o sistema educacional do país, se tenha

tomado por base um modelo estrangeiro, mais

especificamente, europeu. Este é apenas um entre

outros motivos que justificam as intensas reflexões,

críticas e adaptações de conteúdo dirigidas aos PCNs.

Por isso é vital que os mesmos sejam alvo de intensas

reflexões, críticas, adaptações, aperfeiçoamentos e

contribuições de modo que seu conteúdo realmente

faça jus à proposta inicial básica, isto é, o de ser um

referencial de qualidade para a educação no país.

O olhar dirigido para o ensino do tipo

fundamental, sugerindo a divisão das séries em quatro

ciclos de ensino (1ª a 2ª série - 1º ciclo; 3ª a 4ª série -

2º ciclo; 5ª a 6ª série - 3º ciclo e 7ª a 8ª série - 4º

ciclo), pautou-se na Lei de Diretrizes e Bases

(9.394/96), que em seu artigo 22 assegurava o acesso

à educação e defendia a necessidade de uma formação

inicial comum, estruturada através de critérios e

diretrizes pedagógicas pré-definidas para cada ciclo.

Por outro lado, cabe assinalar que essa divisão favorece

a prática psicopedagógica de cunho construtivista.

Desse modo, apesar de existirem conteúdos

diferenciados para cada ciclo, é notória a intenção de

fazer com que estes sejam regidos pelo princípio da

interdependência do conhecimento e do “ensino

genético” no qual se parte simultaneamente das

referências gerais e compartilháveis do conhecimento

SOBRE A LOGOSE

LOGOSE é a sigla para Ley Orgánica de Ordenación

General del Sistema Educativo, referente ampla

reforma educacional feita na Espanha. Os PCNs

nacionais são profundamente influenciados pela

mesma inclusive em seu formato e organização. Sem

mencionar o fato de professores que ajudaram na

implementação da LOGOSE como César Coll também

ajudaram na implementação dos PCNs .

Para mais detalhes, consulte:

Lei Básica da Reforma Educativa Espanhola (1990)

Dica do professor

A Influência Construtivista: Em vários momentos, é possível notar o quanto a concepção construtivista da aprendizagem escolar e da intervenção psicopedagógica se faz presente nas entrelinhas do documento desde a seqüência dos conteúdos apresentados até os objetivos finais pretendidos em cada área (Coll, C., 1998: 161).

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Aula 4 | Comunidade e Meio Ambiente: Examinando a Teia Sócio-Ambiental 120

do sujeito (sujeito epistêmico) e daquilo que este

conhece de mais peculiar e específico (sujeito

psicológico). Isso facilitaria não apenas o diálogo aluno-

professor - mas também uma forma de aprendizado

histórico-crítico onde busca-se articular o particular e

atual com o geral e atemporal (Coll, C., 1998: 16-17).

Com essa inspiração, algumas de suas

características primordiais são “abertura, flexibilidade e

temporalidade” (PCNs volume 1: 34). Isso significa que

o mesmo se baseia no princípio adaptativo, defendendo

ajustes constantes em seu conteúdo tanto em âmbito

macro: na figura das avaliações e propostas do MEC e

nas proposições curriculares das Secretarias de

Educação; quanto em âmbito micro: referindo-se às

propostas curriculares admitidas em cada instituição e,

evidentemente, às práticas didáticas implementadas

em cada sala de aula. Daí ser um absoluto contra-senso

pensar a adoção dos PCNs como uma reunião de

normativas (modelo fechado e impositivo), em vez de

um conjunto de sugestões que precisam ser analisadas

criticamente à luz de cada realidade socioescolar. A

existência desse princípio orientador se faz

imprescindível a fim de se evitar que num país de

dimensões continentais como o Brasil, as diferenças

político-econômicas e sócio-culturais locais sejam

ignoradas, o que poderia promover disparidades e

distorções significativas a ponto de inviabilizar sua

proposta.

No que se refere à concretização propriamente

dita dos PCNs na escola são propostos 4 níveis

distintos: um primeiro nível tido como referencial para

a elaboração das políticas do MEC, subsidiando a

elaboração ou revisão curricular dos Estados e

Municípios; um segundo nível que diz respeito à

adaptação do mesmo como parâmetro para a

elaboração das propostas curriculares das Secretarias

Dica do professor

Princípios dos PCNs: Atenção: Tais princípios são fundamentais para a compreensão destes como parâmetros norteadores que precisam sofrer adaptações locais e não um conjunto de regras e padrões inquestionáveis a serem obedecidos.

Para navegar

Dowload dos PCNs: Existem vários sites onde você pode ter acesso aos PCNs na sua versão integral e comentada. Seguem abaixo dois desses sites, sendo o segundo do próprio MEC. Fonte: http://www.mec.gov.br/sef/sef/pcn.shtm

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Aula 4 | Comunidade e Meio Ambiente: Examinando a Teia Sócio-Ambiental 121

de Educação dos Estados e Municípios; um terceiro

concernente ao ajuste das propostas resultantes do

segundo nível como critério para a elaboração das

propostas curriculares de cada instituição escolar, e por

fim um quarto nível de concretização que se refere à

programação das atividades de ensino e aprendizagem

em cada sala de aula, a partir da adequação das

propostas elaboradas no nível anterior (id., ps. 36-38).

É explícita nessa seqüência a preocupação de que os

PCNs não sejam aplicados diretamente na sala de aula,

sem que antes venham a sofrer diferentes processos de

correção e ajustamento para melhor atender as

demandas de cada realidade escolar.

Após essas considerações, é preciso ressaltar o

que Juana Sancho (1998) salienta ao nos recordar que,

infelizmente, essa nova proposta curricular não veio

acompanhada de uma necessária “reforma social,

política, cultural e econômica que enfrente os

problemas básicos que perpetuam a situação do

sistema educativo público” (Sancho, J., 1998: 16). Não

podemos, em momento algum, ignorar o óbvio. A

escola não educa sozinha. Se não existir um pacto

social com as demais instituições sociais (inclusive a

familiar), somadas as reformas necessárias ao seu

desenvolvimento, não será possível formar o cidadão

nos valores propostos pelos PCNs, sobretudo em

relação à transversalidade ambiental.

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Aula 4 | Comunidade e Meio Ambiente: Examinando a Teia Sócio-Ambiental 122

EXERCÍCIO 1

Como você entende essa crítica de Sancho? Você

também concorda que, por vezes, é atribuída à escola

uma série de responsabilidades para os quais ela não é

capacitada?

Escreva aqui suas impressões sobre o tema:

____________________________________________

____________________________________________

____________________________________________

____________________________________________

____________________________________________

Parâmetro e currículo: considerando os

termos

Em uma primeira apreciação, é possível

entender a expressão parâmetro curricular como

redundante, já que qualquer currículo em última

instância pode ser também ser entendido como um

parâmetro. Todavia, existem diferenças a considerar, já

que, por sua vez, nem todo parâmetro é de ordem

curricular. O termo parâmetro encerra um duplo

sentido: o primeiro remete à idéia de uma proposição

consensual, isto é, de uma possível proposta a ser

aplicada, construída a partir da consideração de

diferentes opiniões e experiências. Nessa acepção,

quando associamos a este a expressão “curricular”,

estamos nos referindo a uma proposta de currículo que,

como tal, não se caracteriza pela obrigatoriedade legal

ou normativa, e sim propositiva (como um possível

caminho a ser seguido). Entretanto, existe um outro

sentido distinto que o termo parâmetro também abriga:

o de ser um padrão, uma medida, um modelo ideal a

ser adotado e a partir do qual poderíamos aferir a

qualidade, ou até a validade de alguma coisa, que

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Aula 4 | Comunidade e Meio Ambiente: Examinando a Teia Sócio-Ambiental 123

estaria sendo comparado ou avaliado em relação ao

mesmo.

No caso dos PCNs, essa tensão pode ser

claramente percebida, na medida em que, embora sua

observância não se configure como uma norma -

podendo cada escola seguir ou não os parâmetros

sugeridos para elaboração de suas propostas

pedagógicas ou de seu projeto político-pedagógico

(PPP) - existe uma forte tendência de que estes sejam

indiretamente obrigatórios para a elaboração dos

currículos - não apenas da rede pública, mas também

da rede particular de ensino, já que são tomados como

referenciais oficiais do MEC. Apenas a título de

exemplo, é possível citar que tanto os exames do

Sistema de Avaliação do Ensino Básico (SAEB) quanto a

classificação dos livros didáticos adotada pelo MEC

concedem aos PCNs um papel de destaque como

indicadores (Cordiolli, 1999). Segundo Leitinho (2000),

sempre existiu, desde sua origem, uma forte

associação entre os PCNs e os sistemas de avaliação

vigentes. Na opinião da professora, sua criação está

intimamente ligada à idéia de que a reafirmação da

base curricular comum é o início de um processo de se

estabelecer critérios qualitativos facilitadores do

processo de avaliação institucional em sintonia com que

o MEC já vem promovendo através de suas avaliações

nacionais.

A concepção de currículo, por sua vez, vai muito

além do seu aspecto puramente formal enquanto um

conjunto de disciplinas, objetivos e métodos de ensino

encadeados de uma forma X para promover um

resultado Y em termos de aprendizado e formação.

Alguns expoentes da Pedagogia Crítica, como Giroux e

Maclaren, entendem o currículo como uma forma de

política cultural, reforçando a dimensão sociocultural do

processo de escolarização (Moreira, 1999). Estudiosa

Quer saber mais?

Programa PCNs em Ação: O Programa PCNs em Ação Secretaria de Educação Fundamental do MEC tem por objetivo apoiar o desenvolvimento de propostas pedagógicas de qualidade, na perspectiva de uma educação para a cidadania, por meio da formação continuada de professores, com a implementação dos Parâmetros e Referenciais Curriculares.

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Aula 4 | Comunidade e Meio Ambiente: Examinando a Teia Sócio-Ambiental 124

na área, a professora Marisa Costa, também, pensa o

currículo escolar como “um campo em que estão em

jogo múltiplos elementos, implicados em relações de

poder, compondo um terreno privilegiado da política

cultural” (Costa, M., 1998: 39), chegando a defini-lo

como um “lugar de circulação de narrativas, mas,

sobretudo, um lugar privilegiado dos processos de

subjetivação, da socialização dirigida, controlada” (id.,

p.\51). Isso significa que o ato de elaborar um currículo

não é apenas um processo técnico, mecânico e formal;

ele envolve conflitos, interesses e estratégias de

socialização que podem interferir na própria

constituição da identidade dos alunos.

Em virtude desse panorama, as discussões sobre

a temática curricular ocupam um lugar central na

implementação de políticas educacionais no país. Nos

grandes encontros da área de Educação como a ANPEd

e o ENDIPE, onde esta temática é sempre um eixo

articulador de debates, é possível perceber sua

atualidade e valor para o debate acadêmico,

especialmente no que se refere às suas exclusões,

ocultamentos e o confronto entre diferentes culturas e

linguagens presentes em sua autoridade textual. Temas

como multiculturalismo, identidade social, pluralidade

cultural e currículo oculto também têm sido

amplamente discutidos no que se refere à produção

social do currículo (Silva e Moreira, 1999).

Um olhar sobre a transversalidade

Os objetivos fundamentais dos PCNs -

estruturados nas áreas de Língua Portuguesa,

Matemática, Ciências Naturais, História, Geografia,

Arte, Educação Física e Língua Estrangeira - não são

facilmente executados. De forma sintética, eles foram

elaborados com vistas a que os alunos que estão

Para navegar

A ANPEd e o ENDIPE são considerados dois dos mais importantes eventos na área de Educação. Percebemos nos dois que o espaço da Educação Ambiental tem crescido consideravelmente. Leia mais sobre os mesmos, consultando os sites oficiais destes eventos: www.anped.org.br/inicio.html www.endipe.org.br

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Aula 4 | Comunidade e Meio Ambiente: Examinando a Teia Sócio-Ambiental 125

concluindo o ensino fundamental sejam capazes

minimamente de:

a) compreender a cidadania como

participação social e política; b)

posicionar-se de maneira crítica e

responsável em diferentes situações

sociais, utilizando-se do diálogo; c)

conhecer as características

fundamentais do Brasil em suas

diferentes dimensões; d) conhecer e

valorizar a pluralidade do patrimônio

cultural brasileiro; e) perceber-se

integrante do meio ambiente e agente

transformador do mesmo, podendo

contribuir para sua melhoria; f)

desenvolver seu senso de confiança e

autocrítica; g) contribuir para o

conhecimento e valorização do próprio

corpo, através da adoção de hábitos

saudáveis; h) utilizar diferentes

linguagens (verbal, matemática,

corporal etc.) como meio para produzir

e expressar suas idéias; i) saber se

utilizar de diferentes fontes de

informação e os recursos tecnológicos

necessários para adquirir e construir

conhecimentos; e por fim, j)

questionar a realidade, formulando

problemas e buscando resolvê-los,

utilizando o pensamento lógico, a

criatividade, a intuição e a capacidade

de análise crítica.

(PCNs vol.1: 107)

O documento dos PCNs não aponta maneiras

para que a escola alcance esses objetivos junto aos

alunos, nem tampouco oferece instrumentos para que

estas possam cobrar das Secretarias de Educação e

demais órgãos competentes as medidas necessárias

para garantir a possibilidade de sua concretização; no

entanto, o mesmo traduz um importante

reconhecimento de impotência, o reconhecimento de

que as disciplinas clássicas representativas das áreas

de saber cientificamente aceitas, por si mesmas não

mais suficientes para responder aos desafios

necessários a esse alcance. A “solução-antídoto” para

contornar esses “problemas” é a apresentação de um

conjunto de temas denominados de transversais, nome

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Aula 4 | Comunidade e Meio Ambiente: Examinando a Teia Sócio-Ambiental 126

justificado em razão destes perpassarem todo o

conjunto de disciplinas que conhecemos sem se

configurarem como tais.

Ainda bastante controvertido, especialmente

quando comparado com a proposta da

interdisciplinaridade, o conceito de transversalidade

adotado nos PCNs não é novo. Ele remonta aos ideais

pedagógicos do início do século, quando já se falava em

ensino global, tendo assumido vários significados ao

longo do tempo que enriqueceram sua compreensão.

Se, inicialmente, ele se referia a uma série de

conteúdos fundamentais para serem abordados em

classe, mas que não pertenciam a nenhuma disciplina

em particular; posteriormente ele passou a significar

“um conjunto de valores, atitudes e comportamentos

essenciais e que precisam ser ensinados (...) símbolo

de inovação e de abertura da escola à sociedade”

(Gavídia, V., 1998: 52).

Uma diferença básica entre a proposta

interdisciplinar e a transversal é que a primeira rejeita

totalmente a disciplinaridade entendendo ser

indispensável a interdependência entre os diferentes

conhecimentos, seja na utilização de instrumentos de

outras disciplinas, seja na atuação conjunta de duas ou

mais disciplinas, ou ainda na opção de trabalho com um

tema gerador que pode ser analisado através de sua

interligação com diferentes disciplinas. A segunda, por

sua vez, não só aceita a disciplinaridade em alguns

momentos, como também defende a prática de que

algumas perguntas devam ser respondidas

disciplinarmente por área de conhecimento em

particular (Cordiolli, 1999). O principal critério da

transversalidade é o relacionamento destas

questões/temas com o cotidiano vivenciado no

momento em que o conhecimento está sendo

Para pesquisar

Pesquise mais em livros, revistas especializadas e sites da internet a idéia de “transversalidade”.

Dica do professor

Transdisciplinaridade: Rejeita a

disciplinaridade; Sugere que o

professor vá “além da disciplina”;

Valoriza a relação dos conteúdos com o cotidiano da sala de aula.

Transversalidade: Aceita a

disciplinaridade e trabalha a partir dela;

Entende a perspectiva pedagógica de forma ampla e com um caráter político.

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Aula 4 | Comunidade e Meio Ambiente: Examinando a Teia Sócio-Ambiental 127

construído em aula e suas respostas se fizerem

necessárias.

O caráter crítico da proposta transversal em

relação ao currículo do tipo disciplinar se revela se faz

mais claro através de sua preocupação de que a prática

pedagógica venha a expressar a perspectiva política,

social e cultural de nossa sociedade. Pautando-se na

premissa de que os temas contemplados nas diferentes

áreas não podem configurar um aprendizado à parte e

valorizando a compreensão integral de cada tema; a

transversalidade entende que, em função da extensão,

profundidade e complexidade desses temas, carregados

de valores e interesses em conflito (Sancho, 1998),

abre-se um espaço oportuno tanto para o

estabelecimento de um novo diálogo em sala de aula -

onde juntos professores e alunos, são incentivados a

discutirem e se posicionarem sobre os mesmo-, como

para a valorização dos saberes extra-escolares e suas

possíveis inter-relações com o currículo formal da

escola. Entretanto, essa complexidade mencionada

precisa ser melhor aclarada, inclusive através de uma

integração mais nítida e necessária entre os próprios

temas transversais.

Pelos motivos apresentados, é uma lástima ter

que concordar com Macedo (1999) quando esta se

questiona sobre o porquê - apesar do consenso de que

a proposição dos temas transversais nos PCNs

incentivaram a que as propostas pedagógicas e suas

realizações possam ser pautadas em eixos mais amplos

e interdisciplinares de análise mais próximos da

realidade que vivenciamos nesse terceiro milênio - o

núcleo central de estruturação curricular continue

sendo as disciplinas clássicas e não os próprios temas

transversais. Como resultado dessa incongruência,

nota-se que, apesar de reconhecer seu indiscutível

valor para a formação do sujeito crítico e cidadão ativo,

Importante

Essa é grande crítica feita à chamada reforma educacional trazida pelos PCNs, uma vez que o núcleo central de estruturação curricular permanece inalterado.

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Aula 4 | Comunidade e Meio Ambiente: Examinando a Teia Sócio-Ambiental 128

os temas transversais tendem a ocupar “um patamar

de importância inferior ao das disciplinas da grade

curricular” (Macedo, E., 1999: 57), como um conjunto

de temas que o professor pode incluir opcionalmente

em seu currículo caso “sobre” tempo para tal, o

reforçaria à manutenção do quadro atual.

O meio ambiente como tema transversal

De uma forma geral, a EA pode ser entendida

como “uma ferramenta privilegiada para o

estabelecimento de um novo contrato com a natureza

baseado em uma conscientização mais profunda, tanto

dos elementos que compõem o meio ambiente, onde o

homem passe a ser encarado como um elemento-chave

do contexto ambiental quanto da necessidade de ver o

meio ambiente como condição maior da vida”

(Carvalho,\V., 1997:19). Foi através da criação do

Programa Internacional de Educação Ambiental (PIEA),

aprovado na Conferência das Nações Unidas para o

Meio Ambiente Humano em Estocolmo (1972), que pela

primeira vez se reconheceu oficialmente a importância

da ação educativa para as questões ambientais. A partir

daí, as outras conferências que se seguiram como a de

Belgrado (1975), Tbilisi (1977) Moscou (1987) e Rio-92

ratificaram esse ideal, defendendo o ensino formal

como um dos eixos essenciais para que a Educação

Ambiental (EA) pudesse ser viabilizada; insistindo que

esta fosse incluída nos sistemas educativos de todos os

países.

A forma como a EA foi discutida e incentivada

nos PCNs, especificamente em seu volume 9, não

representa nada mais do que uma forma de viabilizar

essa inclusão, reconhecendo o que todos já sabíamos,

ou seja, que se a escola assume um papel fundamental

na formação de cidadãos responsáveis e ativos,

resgatando valores essenciais como ética, fraternidade

Dica do professor

Os Temas Transversais: Os outros temas

selecionados foram: Ética; pluralidade cultural; saúde; orientação sexual e temáticas locais; sendo reservado a cada um desses temas uma parte específica dos PCNs (vide PCNs, vol. 8).

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Aula 4 | Comunidade e Meio Ambiente: Examinando a Teia Sócio-Ambiental 129

e respeito para com a vida em geral, a EA não poderia

estar fora desta. Devido a sua abordagem holística e

integradora, ela é trabalhada de maneira mais sensível

nos PCNs, através da proposição do meio ambiente

como tema transversal (PCNs vol. 9). A legitimação

dessa transversalidade implícita na temática ambiental

representa um passo essencial para que a EA não

continue a ser erroneamente pensada e reduzida na

escola a mais uma disciplina da grade curricular

pertinente às Ciências Biológicas. Os problemas

ambientais não se restringem apenas à proteção da

vida, mas à qualidade da mesma. Desse modo a

distribuição desigual de renda e a injustiça social

generalizada decorrentes do modelo de

desenvolvimento adotado, a corrida tecnológica, o

individualismo crescente e os desafios da pluralidade

cultural que hoje caracterizam o mundo globalizado,

também, são encarados como ambientais.

A escolha do meio ambiente como um dos seis

temas transversais foi definida em função de quatro

critérios básicos: urgência social; questões de

abrangência nacional; possibilidade de

ensino/aprendizagem na educação fundamental e, por

fim, o favorecimento da compreensão da realidade e da

participação social (tomada de posicionamento frente a

questões que interferem na vida coletiva) (PCNs vol.

8). Levando em consideração esses critérios, não é

difícil entender por que essa inclusão ocorreu, tendo em

vista a gravidade das questões ecológicas com relação

ao momento em que vivemos e a urgência de formar

uma consciência sensível às mesmas para garantir a

sobrevivência da humanidade. Em vários momentos do

documento, a questão ambiental é trabalhada como um

conjunto de temáticas que “não dizem respeito apenas

à proteção da vida no planeta, mas também à melhoria

do meio ambiente e da qualidade de vida das diferentes

comunidades” (PCNs vol. 9: 23), enfatizando o papel

Para navegar

Projeto Educar: Existem vários sites onde você pode participar de listas de discussão sobre a temática dos temas transversais. Confira o do projeto educar no site abaixo: http://www.projetoeducar.com.br/temas-transversais/anel.htm

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Aula 4 | Comunidade e Meio Ambiente: Examinando a Teia Sócio-Ambiental 130

imprescindível da Educação e da participação popular

na resolução de boa parte dos problemas responsáveis

pela crise ambiental. De certa forma, este apelo acaba

se refletindo na necessidade de que as práticas em EA

sejam procedidas de forma espontânea e consciente

por parte daqueles que optam por realizá-las (o que

reforça o caráter político da mesma).

A apresentação do tema transversal meio

ambiente nos PCNs se dá em duas partes bem

definidas: num primeiro momento, procura-se traçar

um histórico resumido das grandes conferências e

reuniões mundiais sobre o tema, onde a EA é apontada

como elemento chave para promover novos pontos de

vista e deflagrar novas posturas diante da problemática

ambiental. Posteriormente, discute-se a pedagogia da

EA voltada para o ensino fundamental em termos de

conteúdo, critérios de avaliação, práticas e orientações

didáticas fundamentadas nas observações efetivadas na

primeira parte. Percebe-se, através das sugestões

teórico-práticas, uma tentativa de evidenciar a

necessidade de se educar os futuros cidadãos

brasileiros para que assumam suas responsabilidades e

cumpram sua parte na luta planetária por um ambiente

mais saudável para as gerações atuais e futuras.

Inspirado nos textos e documentos das

conferências de Estocolmo (1972); Tbilisi (1977) e a

Rio-92; a EA é definida nos PCNs como uma proposta

CRÍTICA AO MEIO AMBIENTE ENQUANTO TEMA

TRANSVERSAL

Nem todos os pensadores e profissionais da área

concordam que o meio ambiente ser incluído como

tema transversal nos PCNs tenha sido algo positivo

alegando tal idéia como um contra-senso, pois

enquanto tema transversal seu ensino não exigiria

alguém especializado dando aulas de uma disciplina

chamada meio ambiente.

Veja outros detalhes nesta entrevista com a

professora Tânia Moura Bueno no site Educabrasil

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Aula 4 | Comunidade e Meio Ambiente: Examinando a Teia Sócio-Ambiental 131

revolucionária, que se bem empregada pode levar “a

mudanças de comportamento pessoal e a atitudes e

valores de cidadania que podem ter fortes

conseqüências sociais”, sendo exigida pela constituição

e declarada como prioritária em todas as instância do

poder (PCNs vol. 9: 27). A interdisciplinaridade do meio

ambiente com outras áreas de conhecimento é

igualmente notória, não sendo mero acaso a reunião

dos temas “meio ambiente” e “saúde” num mesmo

volume, como os que tratam de questões relativas

diretamente à sobrevivência da espécie.

Embora seja elogiável o fato dos PCNs terem

reconhecido que a EA ainda está longe de ser “uma

atividade tranqüilamente aceita e desenvolvida” (id.); é

perceptível a ausência de um esclarecimento mais

explícito de que sem uma mudança real no quadro de

miserabilidade social, na falta de vontade política, no

capitalismo desumanizado e globalizado, no

consumismo desenfreado e no individualismo, a EA

sozinha não pode fazer milagres. Da mesma forma, é

lamentável que o papel da sociedade civil não esteja

suficientemente claro, não só em termos das iniciativas

de EA implementadas em diferentes partes do planeta -

através de associações, ONGs, grupos de ação e

instituições populares -, mas da própria contribuição

que estas ações trouxeram para a compreensão da

mesma. Embora seja mencionado que o Brasil é um

dos países que mais desenvolve “iniciativas originais”

nessa área (id. p.\26), maiores dados sobre estas, ou

seus realizadores - chamados em alguns momentos de

“agentes” (id. p. 43) e em outros de “ambientalistas”

(id. p. 45) - não são citados, ainda que

superficialmente, dando-se destaque, apenas, às

atuações governamentais a nível federal, estadual e

municipal (que por sua vez também são mais

enunciadas do que explicitadas).

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Aula 4 | Comunidade e Meio Ambiente: Examinando a Teia Sócio-Ambiental 132

No que se refere à consideração da amplitude de

temas pertinentes à EA, é possível afirmar que estes

encontram-se ricamente apresentados, priorizando

assuntos que vão desde a questão da mídia (ora aliada,

ora inimiga no trabalho de formação de uma

consciência ecológica), até o tratamento de questões

mais gerais tratadas no âmbito da legislação ambiental

como a proteção, a preservação, a conservação e a

recuperação ambiental (id., pp. 34-37). Da mesma

forma, destaques importantes são feitos em relação à

problemática da sustentabilidade, onde a sociedade

sustentável é definida como aquela que obedece a nove

princípios elementares:

respeita e cuida da comunidade dos

seres vivos; melhora a qualidade de

vida humana; conserva a vitalidade e

a diversidade do planeta; minimiza o

esgotamento de recursos; respeita os

limites do planeta; modifica atitudes e

práticas negativas para com o mesmo;

permite que comunidades cuidem do

meio ambiente; gera uma estrutura

nacional para a integração do

desenvolvimento e conservação e

favorece a construção de uma

sociedade global e da biodiversidade

ressaltando a importância de sua

conservação como um elemento

essencial à sustentabilidade planetária.

(id./ pp. 49-41)

Por sua vez, os destaques da segunda parte,

referentes à seleção de conteúdos e orientações

didáticas para o trabalho de E.A. no ensino

fundamental, ficam por conta dos objetivos a serem

alcançados tais como:

conhecimento e compreensão

integrada de noções básicas de meio

ambiente; adoção de posturas

sustentáveis em casa e na escola

compatíveis com esta compreensão;

observação e análise críticas de fatos e

situações ambientais pertinentes ao

tema; percepções de fenômenos de

causa e efeito na natureza importantes

Dica do professor

A partir dos pressupostos ao lado assinalados, observe quantos trabalhos, pesquisas, estudos e atividades pedagógicas de forma geral não poderiam ser viabilizadas pela inclusão do Meio Ambiente como tema transversal. Quer ler mais sobre o tema, então acesse o artigo de Jaime Oliva disponibilizado no site do MEC: http://www.mec.gov.br/se/educacaoamb

iental/salto62.shtm

Para navegar

A partir dos pressupostos ao lado assinalados observe quantos trabalhos, pesquisas, estudos e atividades pedagógicas de forma geral não poderiam ser viabilizadas pela inclusão do Meio Ambiente como tema transversal. Quer ler mais sobre o tema, então acesse o artigo de Jaime Oliva disponibilizado no site do MEC: http://www.mec.gov.br/se/educacaoambiental/salto62.shtm

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Aula 4 | Comunidade e Meio Ambiente: Examinando a Teia Sócio-Ambiental 133

para compreensão do meio ambiente e

seus diferentes ecossistemas; domínio

de procedimentos de conservação e

manejo de recursos naturais;

percepção e valorização da diversidade

natural e sociocultural e identificação

pessoal como parte integrante do meio

ambiente” (id. ps. 53-54); sendo

estes, pensados a partir de uma

estruturação cíclica que sugere uma

ampla compreensão de meio

ambiente. Os três ciclos onde foram

subdivididos os conteúdos relativos à

temática ambiental são ciclos da

natureza (enfocando o conjunto das

inter-relações e fluxos presentes na

natureza a partir de uma visão

sistêmica); sociedade e meio ambiente

(voltado para o estudo das inter-

relações entre grupos humanos e as

atividades que desenvolvem num

determinado espaço) e manejo e

conservação ambiental (de cunho mais

prático voltado para a análise e

incentivo de práticas que respeitem o

meio ambiente e evitem desperdícios).

Considerações finais e interrogações

Seria possível, a partir dessas análises, buscar

responder que contribuição os PCNs trazem para o

desenvolvimento da EA? Além da inclusão da temática

ambiental em si, enquanto tema transversal, me parece

bastante positivo o favorecimento da educação

ambiental em âmbito formal despertando o universo

escolar para a importância da temática e a

responsabilidade de todos para com a mesma. Dessa

forma, sublinha-se a necessidade de que toda

comunidade escolar (professores, funcionários, alunos e

pais) participe igualmente para que a EA consiga atingir

os objetivos anteriormente mencionados; sendo o

convívio escolar e a própria sala de aula elementos

decisivos na aprendizagem de valores socioambientais

(p. 75). Entretanto, me colocando do outro lado, ou

seja, no papel do diretor ou do professor que recebe

essas orientações, fico pensando em como trabalhar

Dica de leitura

Conheça melhor essas críticas lendo a obra “A Implantação da Educação Ambiental no Brasil” de autoria da Coordenação Geral de Educação Ambiental – COEA. http://www.mec.gov.br/se/educacaoambiental/salto62.shtm

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Aula 4 | Comunidade e Meio Ambiente: Examinando a Teia Sócio-Ambiental 134

melhor essas questões já que, apesar das pistas

oferecidas, os parâmetros, definitivamente, não

oferecem respostas concretas para trabalhos dessa

natureza.

A escola é apresentada não apenas como uma

instituição possuidora de poder e possibilidade de

intervenção na sociedade, mas também como aquela

que deve garantir meios de se colocar em prática esse

trabalho (id. p. 75). O que não é apresentado é a forma

de como a escola deve fazer tudo isso, se não for

capacitada e instrumentalizada (inclusive

economicamente) para tal. Minha experiência me diz

que não é apenas com vídeos ou com sugestões que

esse trabalho de capacitação se dá, sendo necessário

um treinamento mais didático na prática dos problemas

ambientais, o que exige um contato mais próximo com

os problemas que o mesmo vem enfrentando.

Embora atitudes criativas e individualizadas

sejam bem-vindas, haja visto o trabalho de muitas

escolas em relação à temática ecológica - antes mesmo

desta virar moda (década de 90) - é fundamental um

investimento sério nessa área, onde equipes

interdisciplinares de profissionais treinados possam

atuar junto às escolas trabalhando a partir de suas

realidades locais onde as mesmas estão inseridas e de

onde seus alunos se originam. Profissionais estes que,

igualmente, deveriam ser formados, já que são ainda

poucas as pós-graduações nesse campo.

O desenvolvimento de materiais pedagógicos na

área são igualmente deficientes, e a situação se

complica se levarmos em consideração a diversidade

cultural brasileira e a presença de uma tecnologia que

por vezes atrapalha mais do que ajuda, como é o caso

da mídia descompromissada. Na verdade, ainda são

poucos os “heróis” que optam por trabalhos nessa

Importante

Sem investimentos sérios na área e capacitação de profissionais, boa parte das sugestões dos PCNs corre o risco de não sair do papel.

Dica do professor

Materiais Pedagógicos: Hoje já existem mais materiais, a questão é que nem sempre os livros, cds, vídeos e outros estão disponíveis para os alunos e professores do Brasil como um todo.

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Aula 4 | Comunidade e Meio Ambiente: Examinando a Teia Sócio-Ambiental 135

temática na área de Educação, e, na maior parte das

vezes, estes não recebem o apoio necessário das

instituições em que trabalham, e/ou dos organismos de

fomento.

Muitos desafios expostos nos PCNs ainda

continuam sem respostas plausíveis, mas, talvez, o

maior de todos os desafios a vencer seja o de

concretizar o mínimo dos objetivos já expostos nos

PCNs, fazendo-os emergir do papel para a realidade. O

descrédito para com a questão ambiental na educação

ainda é vergonhosamente sentido em diferentes níveis.

São poucos os heróis que optam por trabalhos nessa

área em educação, e muitas vezes, estes não recebem

o apoio que mereciam das instituições em que

trabalham, ou dos organismos de fomento a que estão

ligados.

Certamente, algumas vitórias já foram

conseguidas, mas ainda há muito que se fazer.

Esperemos que a voz da razão e do bom senso se

originem da consciência do homem e não em

decorrência dos impactos ambientais na maior parte

das vezes irreversíveis. Se através dos PCNs for

possível chamar a atenção da Educação para a

temática, os esforços para sua elaboração já teriam

valido a pena, mesmo levando em consideração sua

aplicabilidade mais provável do que efetiva.

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Aula 4 | Comunidade e Meio Ambiente: Examinando a Teia Sócio-Ambiental 136

EXERCÍCIO 1

Assinale a única alternativa incorreta no que se refere

às características das comunidades rurais e urbanas:

( A ) Ao contrário do espaço urbano, o ambiente

rural, durante séculos, não era encarado com um

espaço comunitário;

( B ) Hoje é comum que, ao pensarmos em

comunidade, a primeira imagem que associemos seja a

de um ambiente rural;

( C ) A idéia de comunidade associada ao espaço

urbano ganhou força com o aparecimento das grandes

metrópoles;

( D ) Os vínculos sociais são mais facilmente

verificáveis nas comundades rurais;

( E ) As relações nas comunidades rurais são

caracterizadas pelo anonimato social.

EXERCÍCIO 2

Assinale a única alternativa incorreta no que se refere

às características das comunidades rurais e urbanas:

( A ) Ao contrário do espaço urbano, o ambiente rural,

durante séculos não era encarado com o um espaço

comunitário;

( B ) Hoje é comum que ao pensarmos em

comunidade a primeira imagem que associemos seja a

de um ambiente rural;

( C ) A idéia de comunidade associada ao espáço

urbano ganhou força com o aparecimento das grandes

metrópoles;

( D ) Os vínculos sociais são mais facilmente

verificáveis nas comundades rurais;

( E ) As relações nas comunidades rurais são

caracterizadas pelo anonimato social.

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Aula 4 | Comunidade e Meio Ambiente: Examinando a Teia Sócio-Ambiental 137

EXERCÍCIO 3

Quais seriam as principais características de uma

comunidade qualquer?

____________________________________________

____________________________________________

____________________________________________

____________________________________________

____________________________________________

EXERCÍCIO 4

Que fatores devem ser valorizados em um trabalho de

EA em uma comunidade?

____________________________________________

____________________________________________

____________________________________________

____________________________________________

___________________________________________

RESUMO

Vimos até agora:

Criados pela Secretaria de Educação

Fundamental do MEC, os PCNs tiveram sua

versão definitiva em 1998, podendo ser

entendidos como um conjunto de proposições

elaboradas para servirem de base não apenas

para a elaboração e revisão das políticas de

currículo dos Estados e Municípios, mas

também para orientação dos próprios

investimentos que serão feitos no sistema

educacional, propondo princípios pedagógicos

e metodológicos a serem observados pelas

instituições de ensino da rede pública;

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Aula 4 | Comunidade e Meio Ambiente: Examinando a Teia Sócio-Ambiental 138

Os PCNs são apresentados como uma reunião

de propostas atuais e eficazes para analisar

as políticas curriculares nacionais - no que

concerne à elaboração de projetos

educativos, ao planejamento didático, o

material didático utilizado e principalmente as

reflexões sobre a prática pedagógica em

geral;

Sua aplicabilidade está pautada em vários

fatores diferentes, mas intimamente

relacionados, tais como: a competência

político-executiva dos órgãos competentes na

esfera estadual e municipal; a diversidade

sócio-cultural das diferentes regiões do país e

a autonomia de professores e equipes

pedagógicas;

É no mínimo curioso o fato de que buscando

elaborar referenciais básicos e de qualidade

para organizar o sistema educacional do país,

se tenha tomado por base um modelo

estrangeiro, mais especificamente, europeu;

O olhar dirigido para o ensino do tipo

fundamental, sugerindo a divisão das séries

em quatro ciclos de ensino (1ª a 2ª série - 1º

ciclo; 3ª a 4ª série - 2º ciclo; 5ª a 6ª série -

3º ciclo e 7ª a 8ª série - 4º ciclo), pautou-se

na Lei de Diretrizes e Bases (9.394/96), que

em seu artigo 22 assegurava o acesso à

educação e defendia a necessidade de uma

formação inicial comum, estruturada através

de critérios e diretrizes pedagógicas pré-

definidas para cada ciclo;

Algumas de suas características primordiais

são: “abertura, flexibilidade e temporalidade”

(PCNs volume 1: 34). Isso implica na possibili-

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Aula 4 | Comunidade e Meio Ambiente: Examinando a Teia Sócio-Ambiental 139

dade de ajustes constantes em seu conteúdo

tanto em âmbito macro: na figura das

avaliações e propostas do MEC e nas

proposições curriculares das Secretarias de

Educação; quanto em âmbito micro:

referindo-se as propostas curriculares

admitidas em cada instituição e as práticas

didáticas implementadas em cada sala de

aula;

No que se refere à concretização

propriamente dita dos PCNs na escola são

propostos 4 níveis distintos: um primeiro

nível subsidiando a elaboração ou revisão

curricular dos Estados e Municípios; um

segundo nível que diz respeito a adaptação

deste como parâmetro para a elaboração das

propostas curriculares das Secretarias de

Educação dos Estados e Municípios; um

terceiro concernente ao ajuste das propostas

resultantes do segundo nível como critério

para a elaboração das propostas curriculares

de cada instituição escolar, e por fim um

quarto nível de concretização que se refere a

programação das atividades de ensino e

aprendizagem em cada sala de aula;

Essa nova proposta curricular não veio

acompanhada de uma necessária “reforma

social, política, cultural e econômica que

enfrente os problemas básicos que perpetuam

a situação do sistema educativo público

(Sancho, 1998);

A escola não educa sozinha. Se não existir

um pacto social com as demais instituições

sociais (inclusive a familiar) somadas as

reformas necessárias ao seu desenvolvimento,

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Aula 4 | Comunidade e Meio Ambiente: Examinando a Teia Sócio-Ambiental 140

não será possível formar o cidadão nos

valores propostos pelos PCNs, sobretudo em

relação a transversalidade ambiental.

Embora a observância dos PCNs não se

configure como uma norma - podendo cada

escola seguir ou não os parâmetros sugeridos

para elaboração de suas propostas

pedagógicas ou de seu projeto político-

pedagógico (PPP) - existe uma forte

tendência de que estes sejam indiretamente

obrigatórios para a elaboração dos currículos

- não apenas da rede pública, mas também

da rede particular de ensino, já que são

tomados como referenciais oficiais do MEC;

A concepção de currículo vai muito além de

um conjunto de disciplinas, objetivos e

métodos de ensino encadeadas promover um

resultado Y. Expoentes da Pedagogia Crítica

como Giroux e Maclaren, entendem o

currículo como uma forma de política cultural,

reforçando a dimensão sócio-cultural do

processo de escolarização (Moreira, 1999);

O currículo é um campo em que estão em

jogo múltiplos elementos, implicados em

relações de poder, compondo um terreno

privilegiado da política cultural” (Costa, M.,

1998: 39). Trata-se de “lugar de circulação

de narrativas, mas sobretudo um lugar

privilegiado dos processos de subjetivação, da

socialização dirigida, controlada” (id., p.51);

Os objetivos fundamentais dos PCNs -

estruturados em áreas visam a que os alunos

concluintes do ensino fundamental sejam

capazes de: “a) compreender a cidadania

como participação social e política; b) posicio-

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Aula 4 | Comunidade e Meio Ambiente: Examinando a Teia Sócio-Ambiental 141

nar-se de maneira crítica e responsável em

diferentes situações sociais, utilizando-se do

diálogo; c) conhecer as características

fundamentais do Brasil em suas diferentes

dimensões; d) conhecer e valorizar a

pluralidade do patrimônio cultural brasileiro;

e) perceber-se integrante do meio ambiente e

agente transformador do mesmo, podendo

contribuir para sua melhoria; f) desenvolver

seu senso de confiança e autocrítica; g)

contribuir para o conhecimento e valorização

do próprio corpo, através da adoção de

hábitos saudáveis; h) utilizar diferentes

linguagens (verbal, matemática, corporal,

etc.) como meio para produzir e expressar

suas idéias; i) saber se utilizar de diferentes

fontes de informação e os recursos

tecnológicos necessários para adquirir e

construir conhecimentos; e por fim, j)

questionar a realidade, formulando problemas

e buscando resolvê-los, utilizando o

pensamento lógico, a criatividade, a intuição

e a capacidade de análise crítica (PCNs vol.1:

107).

O documento dos PCNs não aponta maneiras

para que a escola alcance esses objetivos

junto aos alunos, nem tampouco oferece

instrumentos para que estas possam cobrar

das Secretarias de Educação e demais órgãos

competentes as medidas necessárias para

garantir a possibilidade de sua concretização;

O conceito de transversalidade adotado nos

PCNs não é novo. Ele remonta aos ideais

pedagógicos do início do século, quando já se

falava em ensino global, tendo assumido

vários significados ao longo do tempo que en-

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Aula 4 | Comunidade e Meio Ambiente: Examinando a Teia Sócio-Ambiental 142

riqueceram sua compreensão atual como “um

conjunto de valores, atitudes e

comportamentos essenciais e que precisam

ser ensinados (...) símbolo de inovação e de

abertura da escola à sociedade”;

O principal critério da transversalidade é o

relacionamento de questões/temas com o

cotidiano vivenciado no momento em que o

conhecimento está sendo construído em aula

e suas respostas se fizerem necessárias;

A Transdisciplinaridade: Rejeita a

disciplinaridade; Sugere que o professor vá

“além da disciplina” e valoriza a relação dos

conteúdos com o cotidiano da sala de aula.Já

a Transversalidade: Aceita a disciplinaridade

e trabalha a partir dela e entende a

perspectiva pedagógica de forma ampla e

com um caráter político;

O caráter crítico da proposta transversal em

relação ao currículo do tipo disciplinar se

revela se faz mais claro através de sua

preocupação de que a prática pedagógica

venha a expressar a perspectiva política,

social e cultural de nossa sociedade;

Muitos concordam que uma grande revolução

educacional ocorreria se o núcleo central de

estruturação curricular não fosse as

disciplinas clássicas e sim os próprios temas

transversais;

A escolha do meio ambiente como um dos

seis temas transversais foi definida em função

de quatro critérios básicos: urgência social;

questões de abrangência nacional;

possibilidade de ensino/aprendizagem na edu-

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Aula 4 | Comunidade e Meio Ambiente: Examinando a Teia Sócio-Ambiental 143

cação fundamental e por fim, o favorecimento

da compreensão da realidade e da

participação social (tomada de

posicionamento frente à questões que

interferem na vida coletiva) (PCNs vol. 8);

Em vários momentos do documento, a

questão ambiental é trabalhada como um

conjunto de temáticas que “não dizem

respeito apenas a proteção da vida no

planeta, mas também a melhoria do meio

ambiente e da qualidade de vida das

diferentes comunidades” (PCNs vol. 9: 23);

A apresentação do tema transversal meio

ambiente nos PCNs, se dá em duas partes

bem definidas: num primeiro momento

procura-se traçar um histórico da E.A. através

do estudo dos grandes eventos onde ela é

apontada como elemento chave para

promover novos pontos de vista e deflagrar

novas posturas diante da problemática

ambiental. Posteriormente, discute-se a

pedagogia da E.A. voltada para o ensino

fundamental em termos de conteúdo,

critérios de avaliação, práticas e orientações

didáticas;

É perceptível a ausência de um

esclarecimento mais explícito de que sem

uma mudança real no quadro de

miserabilidade social, na falta de vontade

política, no capitalismo desumanizado e

globalizado, no consumismo desenfreado e no

individualismo, a E.A. sozinha não pode fazer

milagres. Da mesma forma, é lamentável que

o papel da sociedade civil não esteja

suficientemente claro, não só em termos das

iniciativas de E.A. implementadas em diferentes

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Aula 4 | Comunidade e Meio Ambiente: Examinando a Teia Sócio-Ambiental 144

partes do planeta - através de associações,

ONGs, grupos de ação e instituições

populares -, mas da própria contribuição que

estas ações trouxeram para a compreensão

da mesma;

No que se refere a consideração da amplitude

de temas pertinentes a E.A., estes

encontram-se ricamente apresentados,

priorizando assuntos que vão desde a questão

da mídia (ora aliada, ora inimiga no trabalho

de formação de uma consciência ecológica),

até o tratamento de questões mais gerais

tratadas no âmbito da legislação ambiental,

como a proteção, preservação, conservação e

recuperação ambiental (id., pp. 34-37);

A sociedade sustentável é definida como

aquela que obedece a nove princípios

elementares: respeita e cuida da comunidade

dos seres vivos; melhora a qualidade de vida

humana; conserva a vitalidade e a

diversidade do planeta; minimiza o

esgotamento de recursos; respeita os limites

do planeta; modifica atitudes e práticas

negativas para com o mesmo; permite que

comunidades cuidem do meio ambiente; gera

uma estrutura nacional para a integração do

desenvolvimento e conservação e favorece a

construção de uma sociedade global e da

biodiversidade;

Objetivos a serem alcançados por essa

temática seria: “conhecimento e compreensão

integrada de noções básicas de meio

ambiente; adoção de posturas sustentáveis

em casa e na escola compatíveis com esta

compreensão; observação e análise críticas de

fatos e situações ambientais pertinentes ao te-

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Aula 4 | Comunidade e Meio Ambiente: Examinando a Teia Sócio-Ambiental 145

ma; percepções de fenômenos de causa e

efeito na natureza importantes para

compreensão do meio ambiente e seus

diferentes ecossistemas; domínio de

procedimentos de conservação e manejo de

recursos naturais; percepção e valorização da

diversidade natural e sócio-cultural e

identificação pessoal como parte integrante

do meio ambiente”;

Os três ciclos onde foram subdivididos os

conteúdos relativos à temática ambiental são:

ciclos da natureza (enfocando o conjunto das

interrelações e fluxos presentes na natureza a

partir de uma visão sistêmica); sociedade e

meio ambiente (voltado para o estudo das

interrelações entre grupos humanos e as

atividades que desenvolvem num

determinado espaço) e manejo e conservação

ambiental (de cunho mais prático voltado

para a análise e incentivo de práticas que

respeitem o meio ambiente e evitem

desperdícios).

Uma das grandes contribuições dos PCNs

para a E.A é o favorecimento da educação

ambiental em âmbito formal despertando o

universo escolar para a importância da

temática e a responsabilidade de todos para

com a mesma;

Embora atitudes criativas e individualizadas

desenvolvido em muitas escolas em relação

ao temática ecológica deva ser elogiado é

fundamental um investimento sério nessa

área, onde equipes interdisciplinares de

profissionais treinados possam atuar junto às

escolas trabalhando a partir de suas realidades

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Aula 4 | Comunidade e Meio Ambiente: Examinando a Teia Sócio-Ambiental 146

locais onde as mesmas estão inseridas e de

onde seus alunos se originam;

O desenvolvimento de materiais pedagógicos

na área são igualmente deficientes, e a

situação se complica se levarmos em

consideração a diversidade cultural brasileira

e a presença de uma tecnologia que por

vezes atrapalha mais do que ajuda, como é o

caso da mídia descompromissada;

Muitos desafios expostos nos PCNs ainda

continuam sem respostas plausíveis, mas

talvez, o maior de todos os desafios a vencer

seja o de concretizar o mínimo dos objetivos

já expostos nos PCNs, fazendo-os emergir do

papel para a realidade. Certamente algumas

vitórias já foram conseguidas, mas ainda há

muito que se fazer.

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A Educação Ambiental nas

Cidades

Vilson Sérgio de Carvalho

AU

LA

5

Ap

res

en

taç

ão

Considerando que a maior parte da população do planeta escolheu

a cidade como lugar para viver, a presente aula se propõe a

pensar uma educação ambiental voltada para o âmbito urbano e

suas peculiaridades. Mesmo ocupando 2% da superfície terrestre,

as cidades promovem um consumo de 76% da madeira

industrializada e 60% da água doce sendo necessário que os

citadinos tenham uma maior consciência de sua responsabilidade

socioambiental. Essa é uma das tarefas da Educação Ambiental:

auxiliar o cidadão a repensar sua relação com o ambiente

construído através de ferramentas e estratégias específicas.

Discutir a possibilidade de uma Educação Ambiental Urbana e seus

desafios é o que pretende esta aula. Leia a mesma, reflita e tire

suas próprias conclusões.

Ob

jeti

vo

s

Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você seja

capaz de:

Se posicionar sobre a possibilidade de uma Educação Ambiental

Urbana; Conhecer alguns dos principais problemas e desafios sócio-

ambientais daqueles que escolheram viver em cidades; Refletir sobre conceitos como Identidade Urbana, Patrimônio

Urbano e Cidadania Urbana; Analisar algumas das principais estratégias e objetivos de uma

Educação Ambiental voltada para o Espaço Urbano; Analisar similaridades e diferenças entre a cidade real e a

cidade ideal.

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Aula 5 | Educação Ambiental nas Cidades 148

Justificando esta aula

Atualmente, a maior parte da população do

planeta - cerca de dois bilhões de seres humanos - se

concentra em cidades. Em 1990, segundo dados

analisados por Fernández e Ramos (2003), as cem

maiores cidades do mundo reuniam um total

aproximado de 540 milhões de habitantes. Como se

isto não bastasse, nos últimos quarenta anos a

população mundial duplicou, em especial nas áreas

urbanas onde a expansão populacional foi da ordem de

cinco vezes seu número original. É previsto que, em

2007, pela primeira vez na história, o número de

pessoas vivendo nas cidades seja igual ao número de

habitantes residentes no campo (Crane, 2002). No

Brasil, por exemplo, entre 1970 e 1980, dos 119

milhões de pessoas que constituíam sua população

total, 80 milhões compunham a população urbana, o

que significava um percentual de 67,7 % (Santos, M.,

1985).

Dados recentes do IBGE indicam, segundo

estudos de Oliveira (2002), que mais de 80% da

população brasileira residem em cidades. Com o

redirecionamento econômico do país, que passou a

privilegiar a formação do mercado interno, a

industrialização e a urbanização, esses números

praticamente dobraram nas décadas posteriores,

promovendo um inchaço urbano de graves

conseqüências, cujos impactos vão desde os conhecidos

males do crescimento - como a falta de infra-estrutura,

a periferização de bairros e cidades “dormitórios” e o

aumento do desemprego -, até o incremento da

competição e do individualismo exacerbado por parte

de seus habitantes, responsável em grande parte pela

marginalização de enormes segmentos pobres da

população (Schmidt & Farret, 1986; Meier, 1979;

Dica do professor

Falar de Educação Ambiental no ambiente construído é falar de Educação Ambiental numa situação bastante particular caracterizada por relações em sua maioria superficiais e individualistas. Para promover uma Educação Ambiental verdadeira e profunda, é preciso, em primeiro lugar, romper com essa frieza e promover a alteridade. Nesta aula, você terá oportunidade de aprofundar esta e outras questões

sobre o tema.

Justificando esta aula 148 Por uma Educação Ambiental Urbana 151 Entre a cidade ideal e a cidade real 162 Considerações finais 188

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Aula 5 | Educação Ambiental nas Cidades 149

Coelho, 1995; Sales e Baeninger, 2000 e Oliveira,

2002).

Compreendidas historicamente como

“concentrações de poder que controlam fluxos

econômicos, sociais e culturais, formando centros de

acumulação de riqueza e conhecimento” (Alva, 1997:

1), não são poucos os que se sentiram e ainda se

sentem atraídos pela vida nas cidades. As facilidades

divulgadas através da mídia, em termos do

oferecimento de melhores condições de trabalho e,

conseqüentemente, de vida, fizeram com que um

grande contingente de pessoas, em todo mundo,

deixasse a tranqüilidade do campo e optassem pela

pseudo-segurança e conforto relativo das grandes

cidades. Além da migração, o aumento natural da

população local (agravado pelo desconhecimento de

métodos anticonceptivos) foi outro motivo igualmente

responsável pela elevada concentração urbana nos

grandes centros, dificultando a promoção de sua

sustentabilidade socioambiental.

Enquanto um ambiente caracteristicamente

antrópico, a urbes tornou-se o símbolo exponencial do

processo civilizatório, servindo indubitavelmente para

exemplificar a capacidade de adaptação humana a uma

determinada realidade ambiental - por mais inóspita

que esta seja - de modo a satisfazer suas necessidades

e garantir sua existência. Todavia, a humanidade

pagou, e continua pagando, um alto preço para se

adaptar ao espaço que ela mesmo construiu. Foram

necessárias à implementação de uma série de

mudanças, não apenas físico-estruturais (onde o aço, o

ferro e o concreto substituíram o verde em larga

escala), mas também, socioculturais, tanto no plano

subjetivo (das idéias, concepções e sentimentos) como

intersubjetivo (dos relacionamentos). Para viver na

cidade, o ser humano teve que desenvolver uma série

Importante

O parágrafo ao lado é bastante importante, elucidando alguns dos principais desafios de quem vive na cidade. A limitação espacial, o convívio com o barulho urbano, o afastamento da natureza a adoção de táticas e regras

de convívio e segurança certamente fizeram do ser urbano um ser bastante peculiar. O que você pensa sobre isso?

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Aula 5 | Educação Ambiental nas Cidades 150

de atitudes e hábitos sedentários típicos do citadino -

nem sempre favoráveis a ele próprio - inteiramente

diversos das posturas nômades e/ou rurais. Morar em

espaços reduzidos, restringir o contato com a natureza,

conviver com o barulho (poluição sonora), cumprir

normas e regulamentos urbanos, competir para

sobreviver financeiramente e adotar táticas de

segurança; são apenas algumas entre as muitas

modificações que o ser humano teve de criar, e depois

suportar, para viver como citadino.

Entre estas mudanças, talvez a mais sentida,

seja o fato de que, para lidar com a fluidez e o

contraste típicos do ambiente urbano, o habitante da

cidade criou para si uma estratégia de autodefesa,

através da qual passou a reagir em seu novo habitat

não com os sentimentos, mas com a razão, tornando-

se indiferente a qualquer realidade individual adversa

da sua, ou de maneira mais ampla, a quaisquer

relações e reações alheias. Essa forma de “escudo

contra a violação de nossa vida subjetiva pelas cidades”

(Simmel, 2000: 331) tem um considerável impacto nas

relações que se processam na tessitura urbana, tanto a

partir de um sentimento de “reserva” ou

“estranhamento” que passou a ser adotado como lógica

de inter-relacionamento quanto pela individualização de

traços particulares sem os quais, conforme esclarece

Simmel (2000), a existência urbana seria impossível.

A partir da premissa de que os citadinos são os

verdadeiros responsáveis por dar vida à cidade,

fazendo-a e refazendo-a, num contínuo movimento

constitutivo de sua essência; entende-se que seja

possível, então, analisar a contextura urbana e as

possibilidades de atuação/inserção da Educação

Ambiental na mesma a partir da análise das práticas

intersubjetivas e de conviviabilidade entre seus

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Aula 5 | Educação Ambiental nas Cidades 151

membros (no sentido do reconhecimento e inter-

relacionamento com o outro).

A perspectiva de Educação Ambiental voltada

para o espaço urbano, que se busca caracterizar, nesta

aula, é a compreensão desta como um agente

catalisador de tais práticas, a partir de um programa de

metas definidas, entre as quais, a formação de uma

consciência ecológica; o estímulo à preservação

sociocultural do território urbano; a preocupação com a

qualidade de vida dos citadinos e o estímulo do

trabalho conjunto e solidário, onde todos tenham

chance de participar na luta por um ambiente melhor,

são consideradas como fundamentais e prioritárias.

Por uma Educação Ambiental Urbana

Problemas ambientais como a deterioração da

camada de ozônio, o devastamento de florestas, a

destruição do solo, a diminuição da biodiversidade e o

aumento da geração de resíduos perigosos estão

diretamente relacionados ao desenvolvimento da

sociedade industrial com suas modernas estruturas

urbanas. O último relatório do WorldWatch Institute é

apenas um entre muitos documentos a fazer um alerta

sobre a influência que a cidade exerce sobre o consumo

excessivo de recursos naturais. Segundo o mesmo: "as

cidades ocupam cerca de 2% da superfície terrestre,

mas contribuem para o consumo de 76% da madeira

industrializada e 60% da água doce". Tomando a

cidade de Londres como exemplo, o referido relatório

afirma que esta "requer uma área 58 vezes maior do

que a que ocupa para obter alimentos e madeira para

sustento de seus habitantes" (Relatório Worldwatch

Institute apud Jonh, 2002: 2). Isso significa que, se o

padrão dos londrinos fosse estendido ao resto das

populações urbanas do mundo, seriam necessários

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Aula 5 | Educação Ambiental nas Cidades 152

mais de um planeta Terra para sustentar toda a

população mundial.

Como se não bastasse essa perigosa realidade

de destruição ambiental - que se agravou na sociedade

pós-industrial - justificada em função das demandas

dos que habitam a cidade; os estilos de vida urbana

ignoram elementos significativos e necessários do

comportamento humano como a necessidade de

interação e a constituição de vínculos. Por isso mesmo,

muitos autores que defendem a necessidade de uma

reestruturação urbana, como Ekhart Hahn (1996),

denunciam que, atualmente, as cidades têm se

constituído em um símbolo de desprezo às tradições

culturais e orgânicas, bem como de destruição das

identidades dos lugares.

Yi-fu Tuan (1980) faz coro com vários estudiosos

e pesquisadores da realidade urbana que se preocupam

com o fato de que nas grandes metrópoles nenhum

citadino pode sequer conhecer bem seu habitat, senão

pequenos fragmentos da cena urbana total. Existem

cantos mais conhecidos do que outros por hábito, ou

mesmo tempo de vida nos mesmos, mas dificilmente

alguém poderá dizer que conhece em profundidade

todos as áreas e subáreas do território das mesmas.

Esse desconhecimento, no entanto, não pode sufocar a

topofilia do citadino pelo local onde mora, isto é, o elo

afetivo entre si e a cidade da qual fazem parte. Isto

seria fatal para o destino da mesma em relação aos

valores, percepções e atitudes que os habitantes da

cidade teriam com aquilo que não o afeta. Afetar, no

sentido de sensibilizar, o citadino para a importância

do local onde vivem, sua história, suas riquezas, seus

contrastes e transformações contínuas é um dos

objetivos mais caros da Educação Ambiental Urbana.

Despertar-nos para uma topofilia natural que se

concretiza no respeito ao ambiente urbano e na

::Topofilia:

Esse termo, criado pelo geógrafo Yi-fu Tuan, refere-se ao elo de ligação afetiva dos citadinos, dos seres vivos entre si e do ambiente do qual fazem parte. Ela precisa ser estimula no caso das cidades por uma Educação Ambiental urbana sensível ao individualismo, no qual os citadinos encontram-se mergulhados, gerador de conflitos, preconceitos e destruição do ambiente natural.

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Aula 5 | Educação Ambiental nas Cidades 153

vontade de torná-lo cada dia melhor, priorizando o bem

estar dos elementos bióticos que constituem a cidade

em toda sua plenitude.

Para tal, se faz necessário entender que a

destruição gradativa da qualidade de vida urbana não

se refere apenas ao agravamento das condições do ar e

da crise iminente da água potável, mas também das

interações processadas no ambiente construído

marcadas pela impessoalidade e anonimato que

facilitam inclusive os processos de segregação sócio-

espacial de grupos minoritários. Trata-se, portanto,

para usar uma expressão da Psicologia Social, de uma

paisagem "enferma da alma", onde "a atrofia do mundo

interior ocorre paralelamente à destruição do ambiente

externo" (Hahn, 1994: 2). Se tal afirmativa é

verdadeira, a reestruturação urbana necessária à

produção de um ambiente mais solidário, através da

reversão do atual quadro de ruptura e desvinculação

entre os citadinos e destes com seu entorno urbano

(Barboza, 2003), exigiria a implementação de

programas/projetos que priorizassem o favorecimento e

a reconstrução de vínculos sociais através de um estilo

de vida mais harmônico e solidário em termos sócio-

ambientais.

A Educação Ambiental Urbana poderia ser

entendida como uma resposta plausível a esse desafio,

buscando, a partir de um paradigma holístico, a

construção de uma sociedade possível rumo a uma

sustentabilidade socioambiental. Trata-se de aproximar

pessoas pelo convívio em uma mesma dimensão local -

espaços de moradia, trabalho, lazer, escola; enfim, em

locais de reconhecido potencial de interferência citadina

organizada - com o objetivo de que possam ter a

chance de inscreverem suas perspectivas na otimização

das condições experimentadas cotidianamente no

espaço urbano. Para este tipo de operacionalização,

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Aula 5 | Educação Ambiental nas Cidades 154

várias modalidades de ações podem ser repensadas e

adequadas à realidade local, tais como: a organização

de reuniões nas diferentes associações de bairro

mobilizadas para a temática socioambiental, onde

poderão ocorrer apresentações, mostras de vídeos,

fotografias e cartazes e palestras para esclarecer o

debate sobre um ou mais temas de interesse local; a

promoção de cursos, seminários, oficinas e

principalmente debates, onde a população urbana pode

dirimir suas dúvidas e inquietações sobre o valor de sua

atuação local; a elaboração de pequenos projetos

voltados para o cotidiano urbano que, gradativamente,

com o apoio de organizações governamentais ou ONGs,

poderão tornar-se projetos de desenvolvimento

comunitário concretizáveis; a formação de grupos

operativos como os Conselhos/Centros ambientais de

defesa e preservação sociourbana em instituições locais

tais como clubes, igrejas, agremiações, associações de

moradores e outros; a promoção de eventos públicos

de conscientização ambiental a céu aberto como

eventos musicais, teatro de fantoches, palestras, feiras

ecológicas e tantas outras atividades que, se não

solucionam a crise ambiental urbana, pelo menos

conscientizam e aproximam pessoas preocupadas com

a questão, favorecendo paulatinamente a diluição do

anonimato urbano.

Todos esses exemplos, relativos à dimensão

prática da Educação Ambiental Urbana, podem ser

concebidos como meios de inserção da questão

ambiental no domínio de experiências urbanas

coletivamente compartilhadas. Isso é possível a partir

de uma perspectiva comum que estreite as relações

entre os citadinos e facilite o entendimento de que

somente através da solidariedade e da participação

conjunta existem possibilidades, mesmo na selva de

pedra em que vivem, de se construir um ambiente mais

sustentável do ponto de vista socioambiental. Como

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Aula 5 | Educação Ambiental nas Cidades 155

bem aponta Guattari (1999), tal proposta busca alertar

o cidadão para a triste realidade de que no meio em

que vivemos não só as espécies desaparecem, mas

também os gestos, as palavras, a solidariedade

cotidiana e a capacidade de indignação contra as

injustiças que deveriam caracterizar a nossa espécie.

É preciso reconhecer, entretanto, que a

Educação Ambiental Urbana enfocada nesse trabalho -

valorizando, em seus planos de atuação, elementos

característicos da cidade e práticas direcionadas à

esfera urbana - não é a única saída para a reconstrução

e a ressocialização do ambiente construído. É evidente

que outras ferramentas como as frentes de economia

popular, os projetos gerados pelos diferentes

agrupamentos de atuação político-cultural, formados

por organizações governamentais e não-

governamentais e até mesmo o trabalho produzido por

movimentos religiosos podem e devem servir ao

propósito de uma profunda reestruturação das cidades

em suas diferentes dimensões, entre as quais a inter-

relacional não é, em absoluto, uma exceção. Entre as

instituições da esfera governamental, deve merecer

destaque a recente criação, em dezembro de 2002, do

Ministério das Cidades que substituiu a antiga

Secretaria Especial de Desenvolvimento Urbano. A idéia

de sua criação, segundo explicações do próprio

MISSÃO DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL URBANA

Partindo de uma conceituação de meio ambiente, na

qual não se separa ambiente-social de ambiente-

natural, a Educação Ambiental Urbana assume como

meta central, através de uma série de ferramentas

próprias, a promoção de ampla conscientização

ecológica dos citadinos geradora de uma nova

mentalidade pautada na idéia de que a terra é

nossa casa e que, portanto, os que nela habitam

fazem parte de um mesmo ecossistema, onde o que

afeta a um, na verdade, afeta direta ou

indiretamente todos os que dela fazem parte. Esse

tipo de lógica inclusiva é fundamental para superar algumas dificuldades anteriormente elencadas.

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Aula 5 | Educação Ambiental nas Cidades 156

presidente, está relacionada à necessidade crescente

de articular novas políticas públicas, onde a população

tenha uma participação mais ativa nas soluções dos

problemas urbanos.

Não obstante outras possibilidades, um dos

objetivos deste trabalho é valorizar a Educação

Ambiental como um instrumento privilegiado que, a

partir de uma proposta de atuação holística e

interdisciplinar - envolvendo a participação de

diferentes profissionais - engenheiros, arquitetos,

psicólogos, sociólogos, bem como leigos e

colaboradores -, traz elementos de grande potencial

para resolver problemas e dificuldades relacionados

àcrise ambiental urbana e reverter a errônea concepção

de que a cidade não representa nada mais do que "o

triunfo da humanidade sobre a natureza" em vez de

concebê-la como espaço complexo de sustentabilidade

sócio-ambiental.

Como defende Silveira (2001), a participação de

todos os envolvidos na luta pela qualidade de vida local

é a forma ideal para a resolução dos problemas

decorrentes do processo civilizatório. Entretanto, para

que tal participação seja efetivamente válida é

relevante salientar a necessidade de que a população

esteja bem informada sobre as temáticas a serem

debatidas, caso contrário seus integrantes não apenas

terão dificuldade de emitir juízos sobre a realidade

discutida, mas também serão mais facilmente

manipulados e induzidos pela opinião de outros. Para

tal, é necessário que os profissionais de Educação

Ambiental Urbana se mostrem sensíveis à utilização de

uma linguagem acessível à população citadina -

pautada na utilização de códigos, signos e símbolos

tipicamente urbanos - construída, sempre que possível,

a partir de uma contextualização local dos que a ela

terão acesso.

Dica de leitura

Para se aprofundar nas temáticas discutidas nas últimas páginas, não deixe de ler:

ORLANDI, E. (org.) - Cidade Atravessada: Os Sentidos Públicos no Espaço Urbano. São Paulo (Campinas): Pontes / Laboratório de Estudos Urbanos (LABEURB), 2001.

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Aula 5 | Educação Ambiental nas Cidades 157

Ao fazer uso de elementos que emergem da

experiência vivida, considerando as diferentes vozes e

pontos de vista envolvidos em sua maneira de

promover educação ambiental, o educador ambiental

pode favorecer o entendimento de questões e

contradições presentes no meio ambiente urbano,

proporcionando aos citadinos as condições necessárias

para uma reflexão aprofundada sobre a organização

social do ecossistema do qual fazem parte e os valores

fundamentais do ser e do existir sobre os quais têm se

pautado suas decisões e trajetórias urbanas. Essa

consciência socioambiental é o ponto de partida para

que a população urbana amplie suas possibilidades de

criar/recriar e preservar a cidade que deseje

respeitando os princípios ecologicamente sustentáveis;

sem perder de vista a necessidade do estabelecimento

de redes de parcerias, onde a união faz a força e todo

auxílio em benefício do bem comum é

democraticamente vantajoso.

Como orienta Dias, um dos estudiosos pioneiros

na área de Educação Ambiental, esta deveria sempre:

dirigir-se à comunidade. Deveria

interessar ao indivíduo em um processo

ativo para resolver os problemas no

contexto de realidades específicas e

deveria fomentar a iniciativa, o sentido

de responsabilidade e o empenho em

edificar um futuro melhor.

(Dias, 1994: 63)

Tal direcionamento deve ser observado por

aqueles que promovem a Educação Ambiental tanto

formal como não formal, uma vez que a aplicação desta

só tem sentido, na medida em que procura fornecer

em todos os âmbitos uma participação responsável e

eficaz da população na concepção e aplicação das

decisões que põem em jogo a qualidade do meio

natural, social e cultural, buscando modalidades de

desenvolvimento que não repercutiriam negativamente

Dica do professor

Elementos da experiência vivida: Independente do tipo de Educação Ambiental a que nos referimos, é fundamental

valorizarmos suas práticas e estratégias, se quisermos efetivamente sensibilizarnos educandos elementos que estejam próximos deles característicos de sua realidade sociocultural.

Importante

O conceito de comunidade aqui se refere à comunidade dos envolvidos na questão. Assim, esta se refere tanto a comunidades oficialmente constituídas como associações e ONGs quanto a uma comunidade escolar, ou mesmo a comunidade de moradores de um edifício, desde que os

envolvidos assumam uma responsabilidade coletiva com a transformação.

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Aula 5 | Educação Ambiental nas Cidades 158

sobre o ambiente. A elaboração e o cumprimento de

políticas ambientais destinadas à melhoria da qualidade

de vida urbana exigem por parte dos habitantes da

cidade uma forte dose de compromisso e reciprocidade

que pode ser estimulada através de trabalhos

promovidos por programas de Educação Ambiental

Urbana atravessados pelo ideal de formação de uma

nova mentalidade ecológica fundamentada em lógicas

de comportamento e intervenção urbanas não apenas

mais justas e ecologicamente corretas, mas também

mais funcionais e eficazes.

Para Viezzer (1998), qualquer decisão

estratégica voltada para a proteção do meio ambiente e

melhoria da qualidade de vida das populações envolve

conhecimentos, saberes, valores, atitudes e

habilidades, que envolvem direta ou indiretamente a

participação individual e coletiva, não apenas nas

decisões a serem tomadas, mas no seu processo de

implantação. Concordando com este, é possível afirmar

que quanto mais representativas forem as ações

implementadas com a participação dos órgãos do poder

público, grupos de poder econômico, comunidade

científica, responsáveis pelos meios de comunicação e,

de forma geral, a sociedade civil organizada através

dos diferentes movimentos sociais, grupos, entidades,

ONGs e demais associações representativas da

população urbana, mais chances terão os citadinos de

concretizar os sonhos de uma cidade onde todos

tenham chance de viver bem consigo mesmos e com os

outros.

PARTICIPAÇÃO

Sem a participação dos envolvidos - o que envolve

um trabalho de mobilização comunitária associado

ao de educação ambiental - é inútil pensar em

resultados eficientes. Ao contrário, quanto maior for

a participação destes, maiores são as chances da

proposta ser bem-sucedida. A necessidade de que

representantes das diferentes esferas da comunidade

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Aula 5 | Educação Ambiental nas Cidades 159

Para isso, faz-se imprescindível questionar a

indiferença, enquanto uma atitude típica do citadino

perante o “outro”. A aproximação que se processa na

cidade com relação a coisas e pessoas, como aponta

Rabello (2002), tem se dado através da identidade

empática. Ou seja, via identificação momentânea e

solidariedade volátil, escapando, assim, a consciência.

Atenta a essa realidade, a Educação Ambiental Urbana

quer alertar para os riscos da negação da subjetividade

que impede que os indivíduos olhem para algo além de

si mesmos, sinalizando-os para os perigos da

indiferença que anula o "outro", negando sua

humanidade.

Ciente desse risco, ela apregoa, através de seus

postulados teóricos e intervenções práticas, que o

compromisso ético com o “outro” precede o

compromisso político, o que no caso das preocupações

socioambientais, volta-se para o questionamento do

modelo de desenvolvimento, da legislação ambiental e,

de maneira mais ampla, para as diferentes formas de

relacionamento sociedade-natureza que a cidade

agrega. Esse, sem dúvida, é um de seus grandes

desafios, difícil, mas, não impossível de ser vencido:

conseguir romper com a "de-socialização" (Raphael,

2000), isto é, com o estigma urbano do sentimento de

perda de familiaridade com o mundo e com o outro,

valorizando a necessidade de que os citadinos se

conscientizem para o fato de que não existem

fronteiras nos separando das outras pessoas, senão

aquelas que nós construímos, uma vez que, de algum

modo: “somos todos ligados em nossa humanidade, em

nossa luta por justiça, em nossa procura pela paz, em

participem do processo de implementação de um

projeto de Educação Ambiental pode fazer com que

sua execução seja mais demorada, mas os

resultados são mais animadores e de resultados

mais duradouros.

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Aula 5 | Educação Ambiental nas Cidades 160

nosso amor radical à vida” (Mclaren e Farahmandpur

2002: 109).

De modo geral, a Educação Ambiental Urbana

parte do pressuposto de que os diferentes sistemas

socioculturais que compõem o grande ecossistema

urbano são mutáveis; conseqüentemente, as inter-

relações que o território urbano abriga podem ser

igualmente mutáveis e repensadas dialeticamente com

os(as) que a produzem e as perpetuam. Nessa lógica, a

teia inter-relacional urbana, concebida como um

processo hipercomplexo, reúne comportamentos

interativos, negociados e mutáveis, onde independente

de seu tempo de duração - tradicionais ou provisórios –

promovem uma mútua transformação tanto do citadino

quanto da estrutura do qual faz parte. Deste modo,

questões como formação identitária ou a representação

social do “lugar onde vivo” ou do “outro que convivo”

buscam referenciais neste entrelaçamento

intersubjetivo urbano.

Apenas a título de exemplo, partindo desse viés

de análise da realidade urbana complexa, já não é mais

possível reproduzir, de forma ingênua e perversa, o que

sugere o conhecido Relatório Brudtland - traduzido em

português com o título de Nosso Futuro Comum - ao

analisar o círculo vicioso existente entre pobreza e

COMPROMISSO ÉTICO

A cidade não é formada apenas por complexos de

edifícios, avenidas, casas enfileiradas, sistemas de

subsistência como comércio, hospitais, ou de

administração como prefeituras e demais

instituições. Uma cidade é formada essencialmente

de pessoas que merecem ter uma qualidade de vida,

merece, portanto, serem ouvidas, respeitadas e ter

chance de participarem das decisões que

influenciarão em suas vidas.

Sem esse princípio ético vital, é perda de tempo

tentar mobilizar um determinado grupo para

qualquer questão, independente do foro a que

possamos nos referir.

Dica de leitura

Uma das obras atuais mais importantes para conhecer as

estratégias urbanas de convívio social e defesa na luta pela sobrevivência tecendo interessantes considerações sobre a esfera pública e a privada é a de: SENNET Richard

O Declínio do Homem Público. As tiranias da intimidade. São Paulo: Companhia das Letras, 2002. 8a. imp.

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deteriorização ambiental, uma vez que se faz

necessário pensar as causas socioculturais que

explicam determinados impactos sobre a ambiente. Se

as favelas existem e provocam impactos ambientais

como deslizamento de encostas, interrupção de

caminhos naturais de drenagem e acúmulo de lixo em

locais inadequados, faz-se necessário ir além da

simples constatação dos fatos e avaliar que tais favelas

nascem justamente de uma dura política de segregação

sócio-espacial, onde quem mais sofre com tais

problemas são os próprios pobres expostos

constantemente a doenças e ao deslizamento de suas

casas seguida de destruição e morte (Carvalho, 2002;

Souza, 2000).

A partir do que foi exposto, é possível afirmar

que a principal contribuição da Educação Ambiental

Urbana seja justamente a possibilidade de oferecer

uma visão mais rica, complexa e abrangente das

relações entre cidade, cultura, subjetividade,

participação, poder e sustentabilidade. Uma vez que

suas preocupações abrangem não apenas o espaço da

cidade, mas também as inter-relacionais que nele são

processadas, a mesma propicia a consideração de

diferentes elementos que servem à problematização

das bases que sustentam o ideal moderno de vida

urbana. Com esse horizonte de atuação, ela tem

chance de oferecer aos pesquisadores e estudiosos de

várias áreas, especialmente das áreas de ciências

humanas e sociais, assim como os demais interessados

na compreensão da temática urbana, uma série de

importantes insights que podem ser adotados como

parte de uma teoria mais ampla de ecologia social

crítica e libertadora.

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Aula 5 | Educação Ambiental nas Cidades 162

Entre a cidade ideal e a cidade real

Uma das definições mais clássicas do que seja

uma cidade é a de Robert Park (1967), renomado

pesquisador e sistematizador da Ecologia Urbana, que a

caracteriza como o "habitat do homem civilizado". A

cidade é, na verdade, fruto do processo civilizatório que

caracteriza as complexas relações processadas entre a

humanidade e a natureza. Trata-se, portanto, de um

espaço geográfico formado em decorrência da

consagração do modelo de desenvolvimento urbano-

industrial, onde a natureza foi inteiramente

transformada pelo ser humano construtor/destruidor/

reconstrutor de forma a atender suas necessidades

específicas.

Segundo as pesquisas de Sjoberg (1977), o

homem começou a viver em cidades há cerca de 5500

anos, entretanto a concentração populacional em

cidades só se iniciou por volta do século XIX com o

início da Revolução industrial, onde boa parte da

população rural foi se convertendo em urbana. Na

Europa, vilarejos murados e auto-administrados já

eram chamados de cidadelas ou burgos (Rybczynski,

1996), mas foi somente com o advento da Revolução

Industrial que a geografia das cidadelas se modificou,

ganhando contornos típicos das cidades que

conhecemos, se caracterizando "por maior fluidez no

sistema de classes, pelo aparecimento da educação e

comunicação em massa e pelo afastamento de parte da

elite dos centros para os subúrbios" (Sjoberg, 1977:

49). No Brasil em particular, ocorreu um processo de

formação urbana distinto do das cidades européias e

norte-americanas, pois enquanto nestas a Revolução

Industrial teve como conseqüência a formação de

proletariado consolidando a urbanização e ligando-a de

forma irreversível à a industrialização; em nosso país,

as cidades se desenvolveram basicamente em função

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Aula 5 | Educação Ambiental nas Cidades 163

da exportação de recursos naturais. Só mais tarde, com

os avanços tecnológicos na área dos transportes - que

permitiram o comércio de mercadorias em longas

distâncias -, foi que se deu a deterioração da produção

manufatureira local e o enraizamento da

industrialização. De certo modo, isso fez com que os

primeiros grandes centros urbanos brasileiros

funcionassem como grupos intermediários entre as

economias locais de exportação e os centros de

consumo (Schmidt e Farret, 1986).

Historicamente, é válido considerar que, mesmo

quando a base econômica e política do país era agrária,

em meados do século XIX, a cidade nunca deixou de

ser um espaço de poder, uma vez que para elas

refluíam os senhores rurais constituindo, assim, uma

forte oligarquia urbana. Mais tarde, quando a base

agrária foi aos poucos perdendo sua força política, em

virtude do crescimento nos setores de serviços e na

indústria e da intervenção estatal, esse poder urbano

apenas se consolidou ainda mais, fazendo da cidade a

sede do poder local, regional e nacional (Brasileiro,

1976).

Com o tempo, o desenvolvimento de métodos

científicos foi se tornando cada vez mais preciso, não

apenas no campo das ciências exatas, mas todas as

áreas do conhecimento humano acabaram por deflagrar

uma corrida rumo à especialização, frente às novas

necessidades da produção automatizada que

FORMAÇÃO URBANA DIFERENCIADA

O Brasil não passou pela Revolução Industrial como a

Europa e os Estados Unidos. Somente mais tarde, em

função do aumento das exportações e

desenvolvimento da tecnologia, o Brasil foi acelerando

seu processo e urbanização. Portanto, é recente, no

Brasil, a realidade da cidade como um espaço de

poder, uma vez que nossa economia foi durante

séculos de base agrária.

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Aula 5 | Educação Ambiental nas Cidades 164

substituíram as atividades artesanais anteriores

(Blumenfeld, 1977). A nova modalidade de trabalho

trouxe consigo um binômio tensional presente até os

dias atuais, a dualidade entre cooperação e

competição. De um lado, a indústria exigiu o trabalho

cooperativo, onde trabalhadores provenientes de

diversas localidades e, conseqüentemente, de culturas

e habilidades diferentes devem agir em sinergia para

garantir a produção - o que acabou gerando uma onda

considerável de emigração do campo para a cidade. De

outro, a produção em massa de produtos passou a

gerar uma competição, clássica no modelo capitalista -

que vê no lucro o motivo de sua existência -, no que diz

respeito à conquista do mercado promovendo conflitos

variados no campo do trabalho como, por exemplo,

entre as empresas distintas; entre os diferentes

departamentos de uma mesma empresa; entre pessoas

de uma mesma seção, e até mesmo uma forma de

autocompetição, onde o empregado compete inclusive

consigo mesmo na ânsia de hoje fazer seu trabalho

render mais que ontem. Tal competição foi estimulada

pelo sistema capitalista selvagem através da guerra de

preços, dos conflitos internos e do empobrecimento das

relações sociais (uma vez que não devemos nos

confraternizar com concorrentes, ou melhor, com

inimigos), desde que o lucro esteja garantido no preço

de revenda de tais produtos ou ainda no pagamento de

salários cada vez mais baixos em virtude da própria

competição criada, configurando assim um perigoso

círculo vicioso.

Na opinião de Scully (1996), um elemento

histórico interessante a considerar na formação das

cidades foi o fato de que a moradia permanente, que

foi e é a base estável das cidades européias, sempre

faltou na América e isso teve um efeito na forma como

as cidades evoluíram e como foram alteradas. Citando

Lukács, ele aponta que essas transformações talvez se

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Aula 5 | Educação Ambiental nas Cidades 165

devam a características espaciais como a própria

amplitude do continente. A partir dessa compreensão,

associa algumas alterações de conduta como

"intolerância com restrições públicas, violência urbana,

uma propensão a expandir novos horizontes, fantasias

de lucros rápidos, fantasias solitárias e mudanças

perpétuas" como uma forma de reagir a redução dos

espaços, como é o caso do confinamento a espaços

residenciais extremamente reduzidos ou espaços

institucionais com um grande número de regras

internas de funcionamento e padrões de

comportamento a serem obedecidos (Scully apud

Rybczynski,\1996:32).

As pequenas cidades foram, no decorrer do

século XX, dando origem às chamadas "metrópoles",

caracterizadas, segundo Blumenfeld (1977), como

aquelas que acumulam a função de prover a maior

parte da produção e serviços; possuem uma população

até dez vezes maior do que as maiores cidades pré-

industriais; graças à renovação dos meios de

transportes, seus raios de extensão são cerca de 10

vezes maiores do que as cidades pré-industriais;

envolvem um complexo de distritos urbanos e áreas

verdes; possuem zonas residenciais separadas dos

DUALIDADE COOPERAÇÃO X COMPETIÇÃO

O mercado hoje exige de uma mesma pessoa que

esta seja extremamente competitiva, que saiba

conquistar o cliente antes que outros o façam, o que

exige competir com outros o tempo todo. O lucro a

qualquer preço faz com que o nível de competição

venha a atingir, na realidade atual, seus maiores

índices. Contudo, o mesmo mercado exige dessa

mesma pessoa que ela saiba trabalhar em equipe,

ouvir seus companheiros, forme um time. Note a

incongruência interna caracterizada pela dualidade

cooperação e competição sob a qual esta pessoa

está exposta. Multiplique isso por milhares de

pessoas e as concentrem em cidades. Talvez assim

você obtenha uma boa idéia de como tem

funcionado o complexo sociourbano.

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locais de trabalho e, por fim, apresentam mais opções

de trabalho e ocupação dos trabalhadores que reúne.

Atualmente, o número de cidades com um milhão ou

mais de habitantes cresceu, segundo Craw (2002), de

80 em 1950 para mais de 300 em 1990, com uma

projeção estimativa de 500 em 2010 (Craw, 2002: 10).

Ao longo do tempo, vários métodos têm sido

utilizados sem sucesso para conter o crescimento das

grandes cidades. É conhecido o caso londrino, a

tentativa de criar uma espécie de "cinturão verde" que,

tentando evitar os problemas do crescimento urbano,

através da plantação e da renovação de um cerco verde

reunindo concentrações arbóreas e parques urbanos em

torno de áreas determinadas, acabou trazendo outras

dificuldades ainda mais graves relacionadas à

concentração populacional em áreas específicas. Outros

métodos, como a criação de pontos de crescimento em

áreas menos populosas, trouxeram alguns resultados,

mas também não chegaram a resolver o problema

(Blumenfeld, 1977). No caso brasileiro, os projetos de

favorecer a ocupação da Região Centro-Oeste do país,

que culminou com a mudança da capital da periferia

(Rio de Janeiro) para o centro do mesmo (Distrito

Federal), não foi igualmente suficiente para promover o

desenvolvimento necessário da região em foco.

POLÍTICAS DE DESENVOLVIMENTO URBANO

DO MINISTÉRIO DAS

CIDADES

A elaboração da nova política de desenvolvimento

urbano no país pretende criar um novo paradigma de

planejamento e gestão urbana definindo, até o final do

ano, a política nacional de desenvolvimento urbano,

destacando as seguintes tarefas que estão em

implementação:

Novo Sistema Nacional de Saneamento Ambiental;

Novo Sistema Nacional de;

Nova Política de Mobilidade e Acessibilidade do

Transporte Urbano;

Implementação do Código Nacional de Trânsito; Capacitação das Cidades para o Planejamento, Infor

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Aula 5 | Educação Ambiental nas Cidades 167

Ao contrário do que desejavam os responsáveis

pelo planejamento urbano ordenado e limitado, o

processo de urbanização se deu de maneira tão ampla,

que alguns pesquisadores como Roberto Monte-Môr

(1988), postulam a idéia de urbanização extensiva,

chamando à atenção para um processo de urbanização

que chegou mesmo a ultrapassar os limites da cidade

para alcançar, sob forma de rede, inúmeros espaços

regionais integrados através de malhas mundiais.

Segundo ele, a definição de tecido urbano deveria se

referir não apenas à realidade da cidade, mas a todo

conjunto de manifestações nas quais é possível

observar um predomínio da cidade sobre o campo.

Nesse sentido, poder-se-ia dizer e, talvez, até seria

mais correto falar em um modo de viver urbano - o

urbanismo - que alimenta, e é alimentado, de uma

cultura da metropolização, possível de ser encontrada

dentro ou fora do ambiente rotulado como zona

urbana. Esse é um dos motivos pelos quais, como

aponta Calvino (1990), as cidades deixaram de ser um

conceito meramente geográfico para se tornarem o

símbolo complexo e inesgotável da existência humana.

Para entender a cidade, é preciso concebê-la

como um espaço vivo, isto é, em constante

dinamicidade e mutação, numa tentativa de atender,

em seu tempo histórico, novas demandas surgidas por

aqueles que a constituem, bem como lidar com suas

conseqüências. Isso não significa que devemos

entender as constantes transformações do meio urbano

mação, Gestão e Modernização Administrativa;

Apoio à implementação do Estatuto das Cidades e

Reforma fundiária, envolvendo planos diretores e

regularização fundiária;

Participação social e construção federativa.

Veja outros detalhes no site do ministério:

http://www.cidades.gov.br/index.php?option=content&task=view&id=229&Itemid=0

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Aula 5 | Educação Ambiental nas Cidades 168

como sendo tão somente formas reativas, um reflexo

da vontade humana, pois assim como a humanidade

continuamente transformou a cidade, a mesma tem

igualmente transformado a humanidade em sua forma

de interagir com o meio ambiente e aqueles que dele

fazem parte.

Nesse sentido, não seria exagero afirmar que

existem tantas cidades quanto os grupos sociais que as

caracterizam. A diversidade urbana pode ser analisada

tanto em função da variabilidade de estilos, gabaritos e

formas de suas construções, onde o novo -

representado pelo progresso urbano - e o velho -

caracterizado através do patrimônio histórico citadino -

caminham juntos, embora, nem sempre marcados por

uma relação de equilíbrio; quanto da população que

abriga reunindo diferentes classes sociais, etnias e

culturas em zonas diferenciadas. Muitas cidades de

ontem se transformaram nas atuais megacidades (com

mais de 10 milhões de habitantes). Segundo

estatísticas recentes, entre as 23 megacidades do ano

2000, duas delas ficam no Brasil: São Paulo, a segunda

maior concentração urbana do mundo, com 22,1

milhões de habitantes e Rio de Janeiro, ocupando o

décimo sexto lugar com 12,5 milhões de habitantes

(Coelho, 1995: 24-25).

Na ótica de Sjoberg (1977), só é possível

interpretar corretamente o curso de evolução urbana,

comparando-a com a evolução tecnológica e a evolução

da organização social, pré-requisitos de sua

constituição e desenvolvimento. Desde o seu início

"como residência de especialistas", ela tem sido

contínua fonte de inovação funcionando como incentivo

ao progresso. Como centros de inovação elas

forneceram um solo fértil para inovação, desde as

primeiras comunidades urbanas na Suméria até a

contemporaneidade atual. Entretanto, a cidade que era

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Aula 5 | Educação Ambiental nas Cidades 169

símbolo do progresso, era igualmente baluarte das

tradições, uma vez que as mesmas foram e continuam

sendo fundamentais em seu processo constitutivo e na

continuidade dos sistemas que a formam no planos

socioeconômico e político-cultural.

Rybczynski (1996), por sua vez, sustenta que o

futuro urbano deveria se basear na moderação e num

contínuo aprendizado com os fracassos e sucessos do

passado. Em sua ótica, a tendência da metropolização

das cidades advém justamente da ignorância da

humanidade sobre seu passado urbano, correndo deste

modo o risco de cometer os mesmos erros do passado.

Para exemplificar tal idéia, o mesmo cita o caso da

Cidade-Luz comparando a mesma com a cidade de

Montreal no Canadá. Paris, com suas praças

tradicionais e parques imponentes, ruas arborizadas e

CONSELHO NACIONAL DAS CIDADES

Nos termos das MPs 2220/2001 e 103/2001, o CNC

tem por atribuições:

I – propor diretrizes, instrumentos, normas e

prioridades da política nacional de desenvolvimento

urbano;

II - acompanhar e avaliar a implementação da

política nacional de desenvolvimento urbano, em

especial as políticas de habitação, de saneamento

básico, de trânsito e de transportes urbanos, e

recomendar as providências necessárias ao

cumprimento de seus objetivos;

III - propor a edição de normas gerais de direito

urbanístico e manifestar-se sobre propostas de

alteração da legislação pertinente ao

desenvolvimento urbano;

IV - emitir orientações e recomendações sobre a

aplicação da Lei 10.257, de 10 de julho de 2001, e

dos demais atos normativos relacionados ao

desenvolvimento urbano;

V - promover a cooperação entre os governos da

União, Estados, do Distrito Federal e dos Municípios

e a sociedade civil na formulação e execução da

política nacional de desenvolvimento urbano;

VI - elaborar o regimento interno;

VII –propor as diretrizes para a distribuição regional

e setorial do orçamento do Ministério das Cidades.

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Aula 5 | Educação Ambiental nas Cidades 170

lindas vistas intocadas é fruto de um planejamento

urbano que se processa, segundo Rybczynski, a partir

de uma visão estética cuja tradição já dura 400 anos.

Mesmo com a inclusão de vias expressas ao longo do

Sena, o aparecimento de shoppings de diferentes

estilos ou, ainda, a criação do moderno "Centre

Pompidou", seu traçado manteve o ar renascentista

original. Conforme relata em seu livro, quando as

autoridades perceberam que o Champs-Elysées estava

ficando muito "americano", declararam o boulevard um

símbolo nacional e obrigaram que o mesmo fosse

refeito no estilo europeu. Para ilustrar essa

preocupação com a preservação da memória urbana

em Paris, esse pesquisador cita o caso da criação de

um shopping center construído no lugar do mercado de

Les Halles, no centro de Paris, cujo projeto teve que ser

aprovado até pelo presidente Giscard d´Estaing na

época. Em Montreal, ao contrário, o mesmo

pesquisador transmite sua indignação ao relatar que

muitos prédios antigos foram simplesmente derrubados

em nome do progresso, o que, por si só, denota uma

total ausência de uma memória urbana (Rybczynski,

1996: 24).

Bresciani (2002) e Gonçalves (2002) ressaltam a

importância dessa memória ao apresentar a cidade

como um operador de memorização. Tal denominação

se justifica na idéia de que a "cidade coloca o mundo na

história e traz para o presente o legado das gerações

mortas e de suas heranças imortais" (Bresciani, 2002:

30). As memórias contidas em seus monumentos,

bibliotecas, estabelecimentos de ensino, edifícios,

nomeações de praças, becos e ruas são exemplos do

quanto a história está gravada e se perpetua no

contexto urbano, uma vez que esta história se constrói

e, simultaneamente, é construída pela cidade. Nem

sempre na forma de "olhar" a cidade representada

conceitualmente através de um mapa em escala, tal

Quer saber mais?

Champs-Elysées:

Vale reparar como todos os caminhos do Champs-Elysées conduzem ao Arco do Triunfo, monumento construído por Napoleão para comemorar as vitórias de 1805 que, por sua vez, serve de entrada ao Palais de las Tulleries. A Avenue de Champs-Elysées termina com a Place de la Concorde onde o rei Luis XVI e sua mulher, Maria Antonieta, foram guilhotinados.

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Aula 5 | Educação Ambiental nas Cidades 171

historicidade se faz notar, uma vez que a continuidade

histórica exige, além de tais documentos, a autorização

coletiva de seu valor por parte dos citadinos que

continuam fazendo a história acontecer. Dessa forma, a

preservação de determinados espaços históricos só

será possível se sua carga histórica for preservada e

reconhecida através de olhares que não vêem apenas

uma estátua, um prédio ou uma rua e sim objetos e

locais prenhes de sentido histórico, uma vez que a

memória e a identidade são materializadas através

destes.

Lamentavelmente, não é possível afirmar que a

realidade das cidades brasileiras, com raras exceções,

seja muito diferente do exemplo citado em Montreal.

Infelizmente, o desrespeito à memória urbana através

da desconsideração para com seu patrimônio tem sido

latente nas últimas décadas em nosso país. É

lastimável constatar que, dia a dia, grande parte de

nossa história venha sendo destruída, e porque não

dizer apagada, de forma irrecuperável das mais

diferentes formas. A cidade do Rio de Janeiro, por

exemplo, que reúne um passado glorioso, uma vez que

abrigou a família real portuguesa quando esta,

literalmente, fugiu de Napoleão Bonaparte em 1808 e,

posteriormente, foi sede da capital brasileira por várias

décadas; deveria receber mais atenção de entidades

responsáveis pelo patrimônio histórico e artístico como

o IPHAN, o que não vem acontecendo. O centro da

cidade do Rio de janeiro pode ser citado como um

exemplo clássico do quanto a história urbana vem

sendo negligenciada em nosso país. Parece

inacreditável que muitos cariocas ignorem o valor

inestimável de prédios como o Palácio Tiradentes, O

Paço Imperial, a Igreja da Terceira Ordem Franciscana

ou a Biblioteca Nacional (a maior da América Latina e

uma das maiores do mundo em número de obras

reunidas). Em várias ruas do centro, encontram-se

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Aula 5 | Educação Ambiental nas Cidades 172

belíssimos exemplos de inspiração francesa Art Deco

nas janelas, grades, telhados e nos estilos

arquitetônicos de vários prédios. Detalhes como o fato

de que muitos prédios ainda possuem antigas telhas

portuguesas de cerâmica pintadas a mão que passam

despercebidos. A maior parte dessa riqueza histórica a

céu aberto encontra-se em péssimo estado de

conservação, sendo freqüentemente ignorada e

alterada para dar lugar a fachadas "mais modernas" de

aço e vidro.

É mesmo uma pena que, na cidade dita

maravilhosa, prédios lindíssimos e de inquestionável

valor histórico como o da Cruz Vermelha em vez de

serem reformados e revalorizados, se encontrem em

péssimo estado de conservação, apenas esperando sua

demolição iminente para que em seu lugar seja

construído um estacionamento ou coisa parecida. Seu

destino talvez seja o mesmo do "Palácio Monroe", um

lindo edifício no estilo arquitetônico do Teatro Municipal

- primeiro prédio construído na Avenida Rio Branco -

que foi demolido na década de 70, do século XX, para

andamento das obras do metrô e que hoje a prefeitura

do Rio de Janeiro deseja reconstruir. Apesar da

louvável iniciativa, não seria muito mais fácil e menos

oneroso ter evitado o crime de demolir um prédio de

tamanha beleza e importância histórica?

SOBRE O IPHAN

O Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico

Nacional, hoje vinculado ao Ministério da Cultura, foi

criado em 13 de janeiro de 1937 pela Lei nº 378, no

governo de Getúlio Vargas.

Em sua luta pela proteção do patrimônio cultural,

estendeu sua ação à proteção dos acidentes

geográficos notáveis e das paisagens agenciadas

pelo homem. Há mais de 60 anos, o Iphan vem

realizando um trabalho permanente e dedicado de

fiscalização, proteção, identificação, restauração,

preservação e revitalização dos monumentos,

Confira outros detalhes, acessando o site do IPHAN:

www.iphan.gov.br

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Aula 5 | Educação Ambiental nas Cidades 173

Da mesma forma, outras cidades como Ouro

Preto, em Minas Gerais, reconhecida

internacionalmente como patrimônio mundial da

humanidade por seu valor histórico, têm sofrido com a

falta de preservação. A debilidade na fiscalização que

tem favorecido o crescimento de construções

irregulares e a falta de conservação de muitos prédios e

igrejas que reúnem obras de artistas como Antônio

Francisco Lisboa (o Aleijadinho) tem preocupado

representantes da UNESCO que estranham e lamentam

a situação. O trânsito de veículos pesados, por

exemplo, tem levado o Museu da Independência a

ceder entre um e dois centímetros por ano, sem falar

nos incêndios freqüentes a igrejas famosas. Tal

situação pode levar Ouro Preto a perder o título de

Patrimônio Mundial que recebeu há apenas 23 anos

atrás, um péssimo exemplo, uma vez que esta foi a

primeira localidade do Brasil a receber este título.

Fugindo excepcionalmente a essa realidade devem ser

destacados os casos de Paraty, na região da Costa

Verde (RJ) - com seus encantos naturais e um Centro

Histórico em excelente estado de preservação - e as

últimas reformas da Biblioteca Nacional do Rio de

Janeiro, conseguidas através da criação de parcerias

com grandes empresas. É importante salientar que

existe toda uma legislação voltada para o cuidado com

PARA SABER MAIS

Localizado na Praça XV no Rio de Janeiro, o Paço

Imperial é hoje um Centro de Eventos e Exposições

aberto ao público.

Construído em 1743, foi usado primeiramente como

Casa dos Vice-Reis do Brasil. Com a chegada da corte

de D. João VI ao Rio de Janeiro, e a elevação da

colônia à condição de Reino Unido a Portugal e

Algarves, o Paço se transformou em sede dos

governos do Reinado e do Império. Foi nele que a

Princesa Isabel assinou a famosa Lei Áurea no dia 13

de maio de 1988. Após a Proclamação da República,

nele foram instalados os Correios e Telégrafos. Em

1938, foi tombado pelo Patrimônio Histórico e Artístico

Nacional.

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Aula 5 | Educação Ambiental nas Cidades 174

as questões patrimoniais, as chamadas Áreas de

Proteção do Patrimônio Cultural (APACs) estão

espalhadas por todo o território brasileiro, o problema

está, como na maioria de outros problemas ambientais,

no descumprimento das leis existentes e na ausência

de rigor por parte das autoridades competentes.

Estudiosos sobre o assunto, como o professor Gasparini

(2002), se preocupam com a decomposição de valores

vinculados ao patrimônio cultural, na medida em que

este seria um testemunho tangível da identidade,

história e cultura de um povo. Todavia, em sua opinião,

o mais grave e preocupante:

não seriam as cópias, as réplicas, as

vulgaridades e o ridículo. O que preocu

pa é a massa de gente sempre mais

numerosa, sem questionar, sem

analisar todo um mundo de engano

visual, de falso estético, de aceitar as

aparências e a mentira como realidade

cotidiana.

(Gasparini, 2002: 5)

O que Gasparini quer chamar à atenção é para a

necessidade de se mudarem as atitudes e os valores do

citadino que julga essas modificações como naturais,

ignorando que as mesmas podem trazer desordem,

degenerescência histórico-cultural e, em alguns casos,

até a inoperância ao território urbano. Mengozzi e

Barreto (2001) denunciam que se a cidade é

visualmente desagradável e cinzenta, não se trata de

uma fatalidade. A "feiúra urbana é construída" na

medida em que as interferências urbanas são realizadas

e experimentadas ao longo do tempo, desrespeitando a

memória arquitetônica local e principalmente sem a

participação da população. Os referidos autores citam a

realidade de São Paulo, como um típico exemplo, onde

lugares de beleza arquitetônica e paisagística

desaparecem sob postes de cimento, outdoors, sinais

de trânsito e má iluminação. Contudo, é sabido que a

Quer saber mais?

Sobre Ouro Preto: Localizada em Minas Gerais, a 100 quilômetros de Belo Horizonte, Ouro Preto é uma das mais importantes cidades históricas do Brasil. Em 1988, completou 300 anos de fundação. Com seu conjunto urbano barroco conservado como no século XVIII, a cidade exibe entre suas ruas estreitas e ladeiras tortuosas magníficos exemplares da arquitetura religiosa e civil. Muitas de suas igrejas apresentam obras de Antônio Francisco Lisboa, o

Aleijadinho.

Dica do professor

Como bem diferencia Souza (2000), o conceito de qualidade de vida não pode ser confundido com o conceito de padrão de vida. Enquanto este último se refere exclusivamente ao poder aquisitivo de um indivíduo ou comunidade; o segundo é mais amplo e diz respeito à conquista de coisas ou situações que não podem ser adquiridas através de dinheiro como qualidade do ar, liberdade e autonomia.

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Aula 5 | Educação Ambiental nas Cidades 175

cidade de São Paulo não está sozinha, pois os mesmos

erros parecem se repetir em várias cidades brasileiras.

É válido enfatizar que o resgate da memória

urbana, valorizado pela Educação Ambiental urbana

como uma de suas principais metas de ação, não se

refere, apenas, à conservação de prédios e

monumentos, mas à necessidade de se preservar e

valorizar qualquer tipo de registro histórico urbano

daquilo que um dia fomos e fizemos. Tal definição

abrange, portanto, desde a perpetuação de tradições e

costumes da população urbana, até suas manifestações

materiais como documentos históricos que vão de

imagens e sons gravados até as imponentes

construções. É a memória urbana que nos ajuda não

apenas a entender melhor os citadinos e a qualidade de

vida que tinham nas cidades de outrora como também

a realidade dos citadinos de hoje e suas possibilidades

de viver em uma cidade melhor amanhã, seguindo

pistas de caminhos trilhados não muito distantes dos já

percorridos. Enquanto espaço vivido, a cidade está

relacionada com a história pessoal de cada um que

deseja não apenas reconhecer pontos importantes da

cidade inalterados mesmo com o passar dos anos, mas

também se reconhecer nos mesmos, a partir de suas

lembranças e recordações que o citadino faz questão de

guardar em sua memória. Trata-se, deste modo, de

valorizar a experiência pessoal e coletiva dos citadinos

em seu cotidiano urbano em relação à importância do

patrimônio cultural como um elemento histórico-

identitário.

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Aula 5 | Educação Ambiental nas Cidades 176

EXERCÍCIO 1

Existe algum patrimônio histórico em sua cidade? Ele

recebe algum tipo de proteção/conservação? Em caso

afirmativo, quem é o responsável pelo trabalho? O

IPHAN tem algum tipo de atuação em sua cidade?

____________________________________________

____________________________________________

____________________________________________

____________________________________________

____________________________________________

Nesse sentido, vale retomar o relato de

Rybczynski (1996), onde merecem destaque suas

impressões pessoais de Paris, ao constatar que quase

30 depois de ter ido à cidade pela primeira vez, quando

ainda era estudante, ela continuava a mesma em

essência. Realidade oposta à do território urbano

americano no qual residia, onde algumas cidades se

assemelhavam a uma área cinematográfica, reunindo

uma mistura confusa de locações diversas para

produções diversas. Em outras palavras, ele conseguiu

não apenas reconhecer Paris a partir de vários pontos

geográficos, mas principalmente se reconhecer em

Paris, quando lá esteve enquanto estudante. A

insistência de Paris em valorizar seu patrimônio

histórico, através de políticas rígidas de preservação do

espaço, é absolutamente contrastante com a realidade

de uma cidade como Rio de Janeiro, onde esta parece

ter herdado hábitos no mínimo questionáveis do

passado, como a revisão geral dos logradouros do Rio

realizada pelos republicanos ao término do Regime de

Dom Pedro I, numa tentativa de remover os vestígios

do sistema de governo anterior (Magalhães, 2002).

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Aula 5 | Educação Ambiental nas Cidades 177

É nesse contexto que a Educação Ambiental

Urbana assume um caráter de grande valia, uma vez

que se coloca atenta à promoção da valorização da

memória urbana, celebrando a diversidade do

patrimônio sócio-ambiental urbano, através do

incentivo de ações que visem despertar a população

urbana para a importância histórico-cultural dos

aparatos urbanos a sua volta, sejam estes os

monumentos e chafarizes de praças públicas de beleza

estética e contemplativa, sejam estes, a própria

habitação onde moram, o edifício em que trabalham ou

ruas e vielas em que costumam transitar. Pretende-se,

assim, que a transformação de áreas habitadas, no que

se refere à revitalização da mesma - como ampliação

de ruas, renovação da iluminação, adaptações voltadas

a portadores de deficiência especial -, aconteça sem

que o princípio básico da preservação da memória seja

desconsiderado ou reservado a locais específicos. O

projeto "Corredor Cultural" desenvolvido pela prefeitura

do Rio de Janeiro desde o início da década de 80, do

século passado, é um exemplo do que pode ser feito

em termos de preservação de um importante acervo

arquitetônico, histórico e ambiental de uma localidade,

no caso o centro da cidade carioca que já havia sido

conhecido como a "Paris dos Trópicos". O que

inicialmente foi movido pela preocupação do valor

SOBRE PARIS OU CIDADE LUZ

Paris, a capital da França, é uma das maiores e mais

importantes cidades européias.

Com uma população de mais de onze milhões de

habitantes, é conhecida no mundo inteiro por sua

beleza e influência cultural na história ocidental.

Concentra museus, igrejas e parques de deslumbrante

beleza e importância. Nenhuma outra capital européia

consegue evocar, mediante a simples menção de seu

nome, o encanto, o romantismo, a história e o luxo

como ela. Cidade planejada, ela está dividida em 20

"arrondissements" (bairros) ao longo das margens do

rio Sena. Cada um deles possui estilo próprio e

inconfundível.

Dica de leitura

Examine com mais cuidado essas questões lendo a obra de Case: CASE, P. - A Cidade Desvendada. Reflexões e polêmicas sobre o espaço urbano, seus mistérios e fascínios. Rio de Janeiro: Ed. Ouro, 2000.

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Aula 5 | Educação Ambiental nas Cidades 178

arquitetônico e artístico de determinados espaços que

estavam desaparecendo foi ganhando, com o tempo,

outras proporções que hoje melhor se explicitariam

com a preocupação da perda da identidade, das

referências e da memória carioca em geral (Pinheiro,

2002).

As tradições urbanas, definidas como o conjunto

sistemático de comportamentos historicamente

determinados ao longo do tempo, e traduzidas através

de suas danças, jogos, festas, canções (hinos),

símbolos como bandeiras, brasões, logotipos, formas

arquitetônicas e códigos como o sotaque lingüístico e o

gestual empregado na comunicação entre os habitantes

da cidade precisam igualmente ser preservadas.

Boussaa (2003) afirma e alerta que

a descontinuidade com as tradições

tem promovido uma crise de

identidade urbana, desorientando as

pessoas, desumanizando as cidades e

criando problemas de grande

proporção social, econômica, física e

ambiental.

(Boussaa, 2003: 55)

A identidade dos citadinos é profundamente

afetada por suas tradições, uma vez que estas

funcionam como um elo essencial que os liga a

determinada localidade urbana. No caso das inter-

relações entre os habitantes da cidade, os valores

culturais que dão vida às tradições são de capital

importância e seu desprezo está na raiz do anonimato

que este trabalho se propôs a enfocar.

Na opinião de Jean Ladrière (1973), as cidades

que não se deixam reconstruir no imaginário são

cidades inabitáveis. Em outras palavras, a singular

experiência de se viver e conviver em cidades exige

que tenham um mínimo de consciência do seu valor

simbólico, da riqueza de suas lembranças e memórias,

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Aula 5 | Educação Ambiental nas Cidades 179

e do reconhecimento, do quanto estas incidem sobre o

momento atual que estamos vivenciando. A Educação

Ambiental Urbana, voltada para a preservação local e

fortalecimento dos laços afetivos entre os citadinos,

deve considerar a memória e as tradições urbanas

como eixos elementares de seu trabalho, a serem

resgatados e divulgados sempre que possível em uma

linguagem que possa falar tanto aos jovens como aos

(as) anciões(ãs) de uma área urbana qualquer. A

desconsideração de um desses elementos pode fadar

projetos/programas importantes de Educação

Ambiental ao fracasso.

Mesmo considerando a seriedade dos problemas

urbanos citados, a miséria urbana continua sendo entre

todos, indubitavelmente, um dos mais graves

problemas econômicos e políticos da atualidade; até

mesmo porque este possui reflexos diretos em outros

problemas de grande magnitude social como o aumento

da criminalidade e da violência. Projeções revelam

que, em fins da década de 80, do século XX, um quarto

da população urbana de todo o mundo vivia em

condições de extrema pobreza, fator que somado à

falta de perspectivas a curto prazo para essas mesmas

pessoas eleva consideravelmente o potencial agressivo

da sociedade. O desenraizamento de suas localidades

de origem, aliado à massa de desempregados ou

subempregados que, segundo dados da Organização

Internacional do Trabalho (OIT), já somam mais de 1,1

bilhão de seres humanos com uma média de 12 mil

desempregados ano é um quadro não apenas

preocupante, mas também alarmante e de extrema

gravidade (Relatório da OIT citado em Coelho, 1995).

No Brasil, segundo Eliomar Coelho (1995),

levantamentos realizados pelo Banco Mundial mostram

que os 20% mais ricos ganham 26% mais que os 20%

mais pobres. Esse panorama configura uma dura

Dica de leitura

Desenraizamento: Sobre o tema do desenraizamento, é aconselhável a leitura da obra de WEILL Simone. Condição Operária e Outros Estudos sobre a Opressão. O desenraizamento (1979); onde o mesmo é analisado como uma das mais perigosas doenças

das sociedades humanas.

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Aula 5 | Educação Ambiental nas Cidades 180

realidade na qual aproximadamente 45 milhões vivem

abaixo da linha de pobreza com uma renda mensal de

até 1/4 do salário mínimo (Id.\1995, p. 25). Daí o

momento histórico que o país atravessa, onde o novo

governo brasileiro - representado democraticamente na

figura de seu presidente eleito: Luís Inácio Lula da Silva

- não teve dúvidas ao escolher a geração de novos

empregos e, principalmente, a fome como suas metas

centrais de erradicação e controle, mesmo com os

muitos desafios que tais medidas exigem, como a

necessidade das reformas previdenciária, política,

trabalhista e tributária e a implantação do Programa

"Fome Zero" - ora localizada em pontos estratégicos de

carência - a todos os pontos deste imenso país. No caso

das pequenas e médias assim como nas grandes

metrópoles, o Programa prevê ações que visam

estimular a agricultura urbana, estabelecer novas

parcerias com os varejistas e redes de supermercados,

criar bancos de alimentos e restaurantes populares,

além de modernizar os instrumentos de abastecimento.

Ações cuja operacionalidade só será garantida

plenamente com o apoio solidário do maior número

possível de pessoas comprometidas com uma sociedade

melhor.

Sobre esse problema em particular, existem

também questões de simples resolução e de grande

impacto na sociedade como é o caso do desperdício.

Atualmente, o país perde cerca de U$4 bilhões

anuais em função do desperdício de frutas, hortaliças,

verduras e grãos. O problema começa no plantio, segue

nas atuais formas de estocagem e comercialização e

termina na maneira em que são aproveitados nas

residências, quando muitas vezes se descarta

justamente a parte mais nutritiva do alimento

(Rodrigues e Cavinatto, 1997). Esse é o tipo do

processo cuja reversão é relativamente simples, barata

e passa muito mais pelas campanhas educativas

Para navegar

Para maiores detalhes sobre o referido programa do governo, é recomendável consultar o site: www,fomezero.gov.br, onde o mesmo se encontra detalhado em seus diferentes detalhes e prioridades.

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Aula 5 | Educação Ambiental nas Cidades 181

voltadas para conscientizar e sensibilizar a população

para o problema, do que o estabelecimento de grandes

parcerias e a liberação de grandes somas financeiras.

Atualmente são 175 milhões de brasileiros que

aspiram urgentemente o exercício digno de sua

cidadania e a solução desses cancros sociais como a

violência, a fome, a ausência de uma memória

ambiental e outros tão comuns na mídia quando se

refere ao espaço sociourbano. Problemas que

envergonham a todos e reforçam as fileiras dos que

traficam, dos que roubam, furtam, seqüestram; dos

que desistiram de viver. A mesma união coletiva que

elegeu o atual governo é a mesma que deve servir à

solução de problemas críticos de ordem sócio-

ambiental. As diferenças que hoje são encaradas como

problemas, devem, ao contrário, ser repensadas como

capital social importante a serviço do bem comum

citadino. Como bem aponta Alan Touraine: “a cidade é

um espaço de proteção e fomento das diferenças”

(Touraine, 1988: 6). Trata-se de uma organização

institucionalizada de comunicação entre grupos e

indivíduos diferentes, sendo uma das metas mais

importantes a promoção de políticas urbanas voltadas à

organização da heterogeneidade de modo que a cidade

diminua as distâncias sociais, presentes através de

segregações e exclusões sociais, suprima os guetos e

DESPERDÍCIO

A Educação Urbana deve combater o desperdício e

aproveitar campanhas que incentivem não apenas

uma redução do ímpeto consumista, mas a

importância de valorizar mais o que temos sem

desperdiçar.

É incrível como tantas coisas são desperdiçadas ainda

com grande chance de reutilização em todas as áreas,

seja numa roupa por falta de um botão ou um

pequeno ponto que resolveria o problema, seja nos

alimentos, onde a falta de planejamento faz com que

o nosso lixo seja considerado um dos mais orgânicos

do mundo.

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Aula 5 | Educação Ambiental nas Cidades 182

atue fundamentada na tolerância e na solidariedade, o

que só será possível através de uma grande rede social

urbana - governo, empresas, mídia e população, em

geral, “como coletividade, onde todos desejem dar a

cada um a possibilidade de construir seu projeto

pessoal de vida” (Id., 1998, p.\5).

A produção e o destino do lixo urbano é outro

problema de considerável gravidade sociourbana.

Conforme esclarece Wolman (1977), o denominado

"ciclo metabólico urbano" que envolve as necessidades

metabólicas dos habitantes da cidade - materiais

(suprimentos), serviços e comodidades indispensáveis

ao seu funcionamento - não se completa até que os

dejetos da vida urbana sejam removidos e eliminados.

Com o avanço da industrialização e o aumento da vida

média dos seres humanos, houve um sensível

crescimento demográfico e, a partir deste, um

significativo aumento na geração destes e os métodos

que, antes pareciam suficientes para lidar com os

resíduos, hoje apresentam uma série de deficiências.

A problemática do lixo pode ser explicada

através da análise da importância dos vários fatores e

LIXO E ENTROPIA

A entropia ou medida do grau de desorganização de

um sistema é um dos fatores que deve ser

considerado na produção de resíduos. Se

considerarmos o lixo como matéria e energia, pode-

se dizer que ele encerra um elevado grau de

desordem demonstrado pela diversidade de

materiais que compõe o lixo e pelo desperdício de

matéria-prima que representa. A forma como o lixo

é produzido, sem mencionar a forma como os

resíduos são lançados diretamente no meio

ambiente - sem manejo ou tratamento adequado -

reforçam o processo entrópico. Por isso, o

consumismo desenfreado e a falta de preocupação

com o destino final dos produtos sempre fizeram

parte do rol de questionamentos levantados pela

Educação Ambiental, especialmente no território

urbano, onde a situação é mais agravante

(Eigenheer e Serta, 1993).

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Aula 5 | Educação Ambiental nas Cidades 183

mecanismos que influenciam no processo de produção,

manejo, tratamento e destino final de resíduos. O

conhecimento destes fatores é essencial para que o

citadino possa promover a busca de soluções e torná-lo

agente atuante no processo de manutenção da

qualidade de vida no meio urbano (Lima, 2002).

Infelizmente, somente a partir do final da Segunda

Guerra Mundial, com o advento do consumo de massa,

foi que a questão do lixo ganhou destaque em função

do aumento drástico da produção de detritos. Houve

uma época em que o lixo era biodegradável, contudo os

resíduos sofreram uma série de modificações,

especialmente a partir da década de 60, do século XX,

através da produção de plásticos e resíduos químicos

responsáveis por uma diminuição gradativa da matéria

orgânica. A decomposição extremamente demorada

destes pelo ambiente faz com que hoje o não

aproveitamento das embalagens práticas de diferentes

produtos seja um dos principais elementos de poluição

urbana perceptível em suas ruas, parques e rios.

A entropia ou medida do grau de desorganização

de um sistema é um dos fatores que deve ser

considerado na produção de resíduos. Se

considerarmos o lixo como matéria e energia, pode-se

dizer que ele encerra um elevado grau de desordem

demonstrado pela diversidade de materiais que compõe

o lixo e pelo desperdício de matéria-prima que

representa. A forma como o lixo é produzido, sem

mencionar a forma como os resíduos são lançados

diretamente no meio ambiente, sem manejo ou

tratamento adequado reforçam o processo entrópico.

Por isso, o consumismo desenfreado e a falta de

preocupação com o destino final dos produtos sempre

fizeram parte do rol de questionamentos levantados

pela Educação Ambiental, especialmente no território

urbano, onde a situação é mais agravante (Eigenheer

e Serta, 1993).

Você sabia?

Lixo Domiciliar: Dados do IBGE de 1995 revelam que 80% das 100.000 toneladas de lixo domiciliar coletado no Brasil são depositados em lixões a céu aberto (Rodrigues e Cavinatto, 2001).

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Aula 5 | Educação Ambiental nas Cidades 184

Pela legislação vigente, cabem às prefeituras a

tarefa de gerenciar a coleta e a destinação dos

chamados resíduos sólidos. Entretanto, mais de 46

milhões de pessoas moram em locais onde não existe o

recolhimento de lixo domiciliar. Além disso, estima-se

que o Brasil perca mais de quatro bilhões de dólares

por ano em função de não aproveitar o material

reciclável. Mesmo com o crescimento do

aproveitamento da sucata de alumínio (especialmente

de latas recicladas) e o vidro, outros produtos como a

reciclagem de papéis ainda é praticamente

inexpressiva. O principal problema continua sendo a

falta de conscientização para o problema e a

inexistência ou funcionamento deficiente de programas

de coleta seletiva (Cozzeti, 2001).

Nas comunidades mais pobres, a situação se

complica ainda mais, assumindo um tom de gravidade

e precariedade ainda maior. A título de exemplo, a

Prefeitura do Rio de Janeiro registrava que, em 1992, a

população carioca que vivia em favelas atingia uma

média entre 1/5 e 1/4 da população total. Em 53%

dessas favelas não havia qualquer tipo de coleta de lixo

e, em cerca de 26 a coleta feita pela COMLURB mesmo

realizada era tida pelos moradores como precária e

deficiente (SOUZA, 2000). Não é preciso ser um grande

estudioso da problemática socioambiental para saber o

que isto significava em termos de destruição, doença e

morte. Problema que o comportamento demagógico

das autoridades competentes apenas agravou, através

de um paternalismo que acostumava mal a população

carente que em vez de se unir e cobrar seus direitos,

ampliando sua força de atuação e consciência política,

contava, pacientemente ou não, com a boa vontade das

administrações estaduais e municipais.

É preciso que os resíduos sejam vistos como

algo que pode e deve ser útil e não simplesmente como

algo a ser descartado ou uma constante ameaça à

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Aula 5 | Educação Ambiental nas Cidades 185

população. A Educação Ambiental Urbana pretende,

ousadamente, transformar citadinos desconhecedores e

espectadores desse problema em protagonistas e

produtores de ações que visem a reversão deste

quadro. As conhecidas práticas envolvendo os "três Rs"

- Reduzir o consumo de produtos e o desperdício dos

mesmos; Reaproveitando e Reciclando-os, constituem a

tríade mais conhecida e eficaz para lidar com esse

problema.

É evidente que a fome, o desperdício, a

desvalorização da memória urbana e de suas tradições

e a produção excessiva de dejetos são apenas alguns

entre os muitos problemas responsáveis pela crise

urbana atual. É literalmente impossível a consideração

de todos as questões relativas à violência urbana atual,

à complexa governabilidade da cidade, às deficiências

de suas redes de serviço (esgoto, transporte, saúde e

outros). A opção pelos problemas aqui elencados se

deu principalmente em função do material disponível e

principalmente pela relação que os mesmos detêm com

a temática central desse trabalho voltado para a

sustentabilidade sociourbana e o papel da Educação

Ambiental na sua promoção.

Ao priorizar o espaço urbano no que concerne às

condições ambientais do citadino - seja o ambiente

doméstico e as condições habitacionais do mesmo; seja

o ambiente mais amplo em seus diferentes sistemas de

saúde, transporte, segurança, educação, cultura,

recreação, trabalho, sustentabilidade ambiental e

relacionamento interpessoal -; a Educação Ambiental

Urbana tem uma parcela de contribuição importante a

oferecer na direção de um aprofundado diagnóstico

sociourbano e da formação de uma complexa rede

social voltada para um planejamento efetivo da

resolução das principais dificuldades nele apontadas

rumo ao desenvolvimento sociourbano e a excelência

da qualidade de vida citadina. A construção de cidades

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Aula 5 | Educação Ambiental nas Cidades 186

sustentáveis passa, como declara Boff (2000), por uma

alfabetização ambiental ecológica onde se faz

necessário repensar desde nossos hábitos de consumo

até os planos de desenvolvimento urbano, pautando-se

no que ele qualifica como Ética do Cuidado.

A Educação Ambiental Urbana defende como

condição sine qua non para a melhoria das cidades, a

mudança do ideário coletivo em relação à noção de

desenvolvimento associada exclusivamente ao

paradigma econômico, de modo que este possa incluir,

também, outras dimensões (referentes às

potencialidades citadas) associadas aos parâmetros de

sustentabilidade socioambiental e conscientização de

que todos fazemos parte de um espaço finito com

recursos igualmente finitos (Relatório Brundtland,

1991). Especialmente, quando o espaço em questão é o

ecossistema urbano marcado pela mudança,

instabilidade, heterogeneidade e complexidade e que,

portanto, exige "um cuidado" todo especial.

Assim sendo, concordando com a argumentação

de Jacobi (2000), um dos grandes desafios urbanos é

justamente o de promover e centrar ações "que

dinamizem a necessária consciência ambiental dos

cidadãos a partir de um intenso trabalho de educação"

(Jacobi, 2000: 388). Trabalho este, cujo suporte, a

Educação Ambiental aplicada ao ecossistema urbano

pode oferecer a todos os que dela necessitarem. Trata-

se de um processo que, na ótica de Ferrara (1997),

almeja como resultado permitir que os citadinos

compreendam: a) a cidade como um organismo vivo

que se transforma sem cessar e precisa ser

compreendida nas suas peculiaridades e dimensões de

suas transformações; b) que os sistemas ecológicos

urbanos são nutridos não apenas por variáveis físicas,

mas, sobretudo, econômicas, sociais, políticas e

culturais, mais contraditórias do que harmônicas; c)

Dica do professor

Entende-se neste estudo, o conceito de "cuidado" como o cuidado essencial fundador de uma ética solidária e matriz da sustentabilidade socioambiental. O desenvolvimento, por sua vez, é entendido como um processo contínuo de passagem de uma população, do nível de existência em que se encontre, para um nível mais humano, ou seja, para um nível onde a população possa realizar mais plenamente suas

potencialidades em diferentes âmbitos - político, cultural, econômico etc. (Ferreira, 1966).

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Aula 5 | Educação Ambiental nas Cidades 187

que a participação urbana está muito além de

dispositivos legais ou, até mesmo, de um simples

programa político, mas é conseqüência de uma gestão

pública sem rígidas hierarquias, a fim de permitir

amplos canais de participação entre a população e seus

dirigentes; d) o valor da formação de indivíduos

capazes de uma percepção urbana que lhes permita

selecionar alternativas de ação, capacidade esta,

indispensável ao exercício cidadão (Ferrara, 1999: 79).

A compreensão de tais princípios, especialmente

aquele que se refere à consciência da participação do

citadino na busca de soluções dos problemas típicos do

ecossistema urbano, é apenas o primeiro passo para a

construção da cidade que queremos e da qualidade de

vida urbana que merecemos. Passo, todavia, que

implica uma reflexão aguda dos princípios que regem

as interações processadas entre os atores do entorno

urbano, de forma que condutas relativas ao anonimato

e ao receio ao diferente dêem lugar a alternativas

múltiplas de cooperação interpessoal, redução das

desigualdades sociais, e luta coletiva por uma cidade

cada dia melhor que se desenvolve a partir de um futuro

comum.

É evidente, como já foi dito, que o rol dos

problemas citados neste capítulo não esgotam o grande

conjunto de dificuldades de se viver em complexos

urbanos. Há questões agudas relativas, por exemplo, à

questão da saúde - onde é possível destacar, entre

outras, o péssimo estado da maioria das instituições

hospitalares públicas e os hábitos alimentares

prejudiciais de grande parte dos citadinos acostumados

a comer, sempre correndo, para chegar logo ao

trabalho -; ao sistema de transporte de massa, cujos

impactos ambientais causados e os vultuosos

investimentos necessários exigem dos que se dedicam

a sua implementação considerações que vão muito

Dica do professor

Gestão Pública sem hierarquias: Como exemplo, poderíamos considerar as Leis Orgânicas Municipais, os Planos Estratégicos e os Planos Diretores, todos fundamentados na participação do cidadão, através da sociedade civil organizada, e voltados para o estabelecimento de normas e diretrizes técnicas dirigidas ao desenvolvimento global e constante da localidade (no caso do município).

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Aula 5 | Educação Ambiental nas Cidades 188

além da operacionalidade do fluxo de tráfego; ou,

ainda, outras questões relativas à violência urbana, à

rede do tráfego de drogas e o atual sistema carcerário,

cuja abordagem poderia conduzir a outras discussões

distanciadas do objetivo central desse estudo. Deve-se

ressaltar, entretanto, que tais assuntos

propositadamente excluídos, também, merecem

reflexões por suas conseqüências na tessitura urbana e

não devem ser ignorados por aqueles que desejam

entender a complexidade do ambiente construído

degradado e fragmentado.

A abordagem en passant de tais problemas

urbanos quis mostrar, ainda, a importância da inclusão

de Programas de Educação Ambiental nas políticas de

desenvolvimento e gestão urbana, uma vez que estes

atuariam como catalisadores da sustentabilidade

citadina. A partir dessa percepção, instrumentos como

o Plano Diretor e os Projetos de Estruturação Urbana

(PEUs), que têm por finalidade garantir o pleno

funcionamento dos sistemas urbanos e promover o

bem-estar dos citadinos através de reformas urbanas

de grande e pequeno porte, não deveriam deixar de

incluir o incentivo às práticas de Educação Ambiental

variadas e efetivas como estratégia básica de

atuação. Evidentemente que isso só seria possível com

um amplo apoio e participação não apenas das

autoridades competentes, mas de diferentes segmentos

da sociedade civil organizada, interessados na

construção de uma cidade mais digna e

ambientalmente saudável.

Considerações finais

A partir das discussões formuladas ao longo

desse trabalho, pode-se deduzir que, a não ser a

certeza de que a cidade é um território que ainda

precisa ser melhor compreendido, repensado e

Dica de leitura

Sobre o fluxo rodoviário nas cidades e seus impactos ambientais: Sobre os possíveis ambientais do fluxo rodoviário no sistema urbano, vale conferir a obra de Vilson Carvalho - Educação Ambiental e Desenvolvimento Comunitário (2002), onde a construção da Linha Amarela no Rio de Janeiro é tomada como exemplo.

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Aula 5 | Educação Ambiental nas Cidades 189

desafiado, muitos questionamentos sobre a temática

sociourbana permanecem sem resposta. Ainda há

muito a fazer para melhorar a qualidade de vida nas

cidades e romper com os mecanismos urbanos de

anonimato e impessoalidade que têm regido as inter-

relações entre citadinos. Algumas situações aqui

discutidas envolvem uma série de outras variáveis de

ordem política, cultural e econômica que tornam a

busca de sua resolução mais complexa e demorada.

Todavia, mesmo ciente dessas dificuldades,

existem outras situações nas quais um sério trabalho

de conscientização ecológica como o promovido pela

Educação Ambiental Urbana apresenta excelentes

resultados como, por exemplo, o problema das idéias

pré-concebidas, geralmente deturpadas sobre um

espaço qualquer. Um dos grandes desafios para a

reestruturação solidária do espaço urbano reside na

destruição de certos mitos persistentes que, como

fantasmas indesejáveis, apregoam e sustentam falácias

favoráveis à manutenção do atual quadro de

desterritorialização, desprestígios à memória urbana e

individualismo social. Divulgados tanto pela mídia como

pela força da história oral, estes mitos se infiltram no

contexto sociocultural local e tornam-se difíceis de

exterminar. Entre eles, apenas para destacar alguns, é

preciso esclarecer, por exemplo, que sedentarismo não

é, e nem precisa ser, sinônimo de individualismo ou

isolamento; que práticas coletivas não são prejudiciais

à organização social estabelecida, ao contrário as

enriquecem; que a preservação urbana não é e nem

deve ser confundida com o conservadorismo citadino e

que a opinião pública nem sempre é indigna de crédito.

As intervenções de Projetos/Programas de Educação

Ambiental Urbana - ainda que possuam uma

nomenclatura semelhante como é o caso do Projeto

“Corredor Cultural” desenvolvido pela prefeitura do Rio

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Aula 5 | Educação Ambiental nas Cidades 190

de Janeiro - têm auxiliado a exterminar estes mitos

geradores de falsas concepções como as citadas.

Além denunciar tais falácias, é preciso estimular

o citadino a assumir e amadurecer a idéia de que a

estruturação espacial da cidade não deve se opor à

estruturação subjetiva da mesma. Os quarteirões, as

vilas, os bairros, os municípios, ou mesmo os Estados

territorialmente delimitados, não deveriam minimizar,

ou ir ao encontro do complexo relacional que emerge

das fronteiras entre esses diferentes locais. Sem negar

o valor dos espaços privados ou de intimidade, não se

pode, em função da manutenção dos mesmos, ignorar,

ou extinguir os espaços banalizados, onde a

coletividade urbana se promove de forma intensa e

concreta. É importante que os responsáveis pela

construção e organização das cidades tenham plena

consciência de que "o espaço construído assume um

papel ativo na dinâmica de construção das relações

sociais, influenciando na confluência ou dispersão entre

as pessoas" (Barboza, 2003: 60).

Há quem pense que a Educação Ambiental nada

tem a ver com questões de intersubjetividade ou

relacionamento interpessoal, contudo, várias

experiências na área têm mostrado justamente o

oposto. Visando evitar que a cidade, destinada a ser a

residência natural da humanidade, acabe por

converter-se em seu túmulo (Mitscherlich, 1972) ou,

como aponta Santos (1997), que a metrópole não se

transforme gradualmente em uma necrópole; a

Educação Ambiental Urbana tem mostrado que é

preciso combater formas ritualizadas de distanciamento

social que alienam o indivíduo não apenas do ambiente

onde se insere, mas de sua própria humanidade. Ao

fazer isso, ela pretende na verdade, esclarecer o valor

de se buscar e promover uma outra ética de

sobrevivência, onde a conscientização ecológica, por ela

Para pesquisar

Sobre o Plano Diretor e sua aplicabilidade, vale conhecer o art. 182

da Constituição Brasileira.

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Aula 5 | Educação Ambiental nas Cidades 191

promovida, assume uma importância sine qua non na

melhoria do ambiente urbano. É evidente que a

resolução de muitos dos problemas aqui tratados

exigem a consideração de uma série de medidas como

intervenções diretas nas áreas urbanas, sobretudo nas

áreas degradadas, com o objetivo de proteger sua

memória e renová-las de maneira que possam oferecer

novas possibilidades de socialização. Isso implica uma

profunda revisão das diretrizes adotadas nos projetos

de arquitetura e urbanismo, sem falar dos

instrumentos de gestão urbana em geral - como o

Plano Diretor e o Estatuto das Cidades -, através das

decisões que estes permitem tomar. No caso destas

últimas, vale destacar que elas estão voltadas para as

soluções técnicas a serem empregadas na minimização

de tais problemas, e que, por conseguinte, devem

valorizar algumas estratégias como a busca de

alternativas de baixo impacto socioambiental na área

citadina e o desenvolvimento de trabalhos educativos

junto à população, garantindo uma melhor gestão e

continuidade das propostas a serem coletivamente

implementadas.

A atuação de outros agentes formadores de

opinião, como a mídia escrita e televisiva, também

assumem um papel fundamental em termos de

esclarecimento e/ou conscientização, uma vez que

através das mesmas se torna possível uma

aproximação com a realidade do outro ainda que

indiretamente através das ondas do rádio ou da TV. A

maneira como o espaço é cooptado como notícia ora

como um espaço agradável e convidativo, ora como

sujo e perigoso, também tem igualmente o poder de

influenciar sensivelmente os citadinos no sentido de

aproximá-los ou afastá-los da realidade urbana, bem

como de tentar transformar sua realidade ou se

conformar a esta.

Dica do professor

Baixo ou alto impacto sócio-ambiental? Atenção: É difícil qualificar, principalmente para quem é de fora, se tal ação promoverá um baixo ou alto impacto sócio-ambiental. Ações

aparentemente simples podem ter um efeito desastroso, enquanto que ações que poderiam trazer conseqüências complicadas acabam sendo bem assimiladas por uma comunidade. Esse julgamento pode ser facilitado se os membros da comunidade participarem das decisões a serem tomadas.

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Aula 5 | Educação Ambiental nas Cidades 192

EXERCÍCIO 2

Dados recentes do IBGE indicam que, após o

redirecionamento econômico do país, mais de 80% da

população brasileira residem atualmente:

( A ) No campo;

( B ) Em regiões intermediárias entre o campo e a

cidade;

( C ) Em áreas desérticas;

( D ) Em áreas desabitadas;

( E ) Nas cidades.

EXERCÍCIO 3

Classifique as frases em falsa e verdadeira e depois

marque abaixo a opção correta.

- a educação ambiental urbana tem como pretensão o

estímulo à preservação sociocultural do território

urbano ( );

- a formação de uma consciência ecológica urbana é

um dos principais desafios da educação ambiental

urbana ( );

- uma das menores preocupações do educador

ambiental urbano diz respeito ao estímulo do trabalho

conjunto e participativo ( );

- a alteridade deve ser minimizada para acelerar os

programas de educação ambiental voltados para as

cidades ( ).

( A ) V, F, V, F;

( B ) F, F, V, V;

( C ) V, V, F, F;

( D ) V, V, V, F;

( E ) V, F, F, F.

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Aula 5 | Educação Ambiental nas Cidades 193

EXERCÍCIO 4

Que tipo de adaptações o homem urbano teve que

fazer para viver em cidades?

____________________________________________

____________________________________________

____________________________________________

____________________________________________

____________________________________________

EXERCÍCIO 5

Como podemos entender a educação ambiental

urbana?

____________________________________________

____________________________________________

____________________________________________

____________________________________________

___________________________________________

RESUMO

Vimos até agora:

Atualmente, a maior parte da população do

planeta - cerca de dois bilhões de seres

humanos - se concentra em cidades. Em

1990, segundo dados analisados por

Fernández e Ramos (2003), as cem maiores

cidades do mundo reuniam um total

aproximado de 540 milhões de habitantes;

Dados recentes do IBGE indicam que mais de

80% da população brasileira reside em

cidades. Com o redirecionamento econômico do

país, que passou a privilegiar a formação do mer

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Aula 5 | Educação Ambiental nas Cidades 194

cado interno, a industrialização e a urbanização,

esses números praticamente dobraram nas

décadas posteriores, promovendo um inchaço

urbano de graves conseqüências, cujos

impactos vão desde os conhecidos males do

crescimento - como a falta de infra-estrutura,

a periferização de bairros e cidades

“dormitórios” e o aumento do desemprego -,

até o incremento da competição e do

individualismo exacerbado por parte de seus

habitantes responsável em grande parte pela

marginalização de enormes segmentos pobres

da população (Schmidt & Farret, 1986; Meier,

1979; Coelho, 1995; Sales e Baeninger, 2000

e Oliveira, 2002);

Podemos entender as cidades como

concentrações de poder que controlam fluxos

econômicos, sociais e culturais, formando

centros de acumulação de riqueza e

conhecimento”;

As facilidades divulgadas através da mídia,

em termos do oferecimento de melhores

condições de trabalho e conseqüentemente

de vida, fizeram com que um grande

contingente de pessoas em todo mundo

deixasse a tranqüilidade do campo e

optassem pela pseudo-segurança e conforto

relativo das grandes cidades;

A urbes tornou-se o símbolo exponencial do

processo civilizatório, servindo para

exemplificar a capacidade de adaptação

humana a uma determinada realidade

ambiental de modo a satisfazer suas

necessidades e garantir sua existência;

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Aula 5 | Educação Ambiental nas Cidades 195

A humanidade pagou, e continua pagando,

um alto preço para se adaptar ao espaço que

ela mesmo construiu. Foram necessárias à

implementação de uma série de mudanças,

não apenas físico-estruturais (onde o aço, o

ferro e o concreto substituíram o verde em

larga escala), mas também, socioculturais,

tanto no plano subjetivo (das idéias,

concepções e sentimentos) como

intersubjetivo (dos relacionamentos);

Para lidar com a fluidez e o contraste típicos

do ambiente urbano, o habitante da cidade

criou para si uma estratégia de auto-defesa,

através da qual passou a reagir em seu novo

habitat não com os sentimentos, mas com a

razão, tornando-se indiferente a qualquer

realidade individual adversa da sua, ou de

maneira mais ampla, a quaisquer relações e

reações alheias;

Educação Ambiental Urbana visa à formação

de uma consciência ecológica; o estímulo à

preservação sociocultural do território

urbano; a preocupação com a qualidade de

vida dos citadinos e o estímulo do trabalho

conjunto e solidário, onde todos tenham

chance de participar na lutar por um

ambiente melhor, são consideradas como

fundamentais e prioritárias;

O último relatório do WorldWatch Institute

denuncia o consumo excessivo de recursos

naturais por parte das cidades. Segundo o

mesmo: "as cidades ocupam cerca de 2% da

superfície terrestre, mas contribuem para o

consumo de 76% da madeira industrializada e

60% da água doce";

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Aula 5 | Educação Ambiental nas Cidades 196

Yi-fu Tuan (1980) preocupa-se com o fato de

que nenhum citadino pode sequer conhecer

bem seu habitat, senão a pequenos

fragmentos da cena urbana total. Contudo

segundo ele, esse desconhecimento não pode

sufocar a topofilia do citadino pelo local onde

moram, isto é o elo afetivo entre si e com a

cidade da qual fazem parte, pois isto seria

fatal para o destino da mesma em relação aos

valores, percepções e atitudes que os

habitantes da cidade teriam com aquilo que

não lhe afeta.

A destruição gradativa da qualidade de vida

urbana, não diz respeito apenas ao

agravamento das condições do ar e crise

eminente da água potável, mas também das

interações processadas no ambiente

construído marcadas pela impessoalidade e

anonimato que facilitam inclusive os

processos de segregação sócio-espacial de

grupos minoritários. Daí a expressão de que a

cidade encontra-se enferma na alma;

A Educação Ambiental Urbana poderia ser

entendida como uma resposta plausível a

esse desafio, buscando, a partir de um

paradigma holístico, a construção de uma

sociedade possível rumo a uma

sustentabilidade sócio-ambiental;

Para este tipo de operacionalização, várias

modalidades de ações podem ser pensadas

tais como: A organização de reuniões nas

diferentes associações de bairro mobilizadas

para a temática sócio-ambiental; a promoção

de cursos, seminários, oficinas e

principalmente debates; a formação de grupos

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operativos como os Conselhos/Centros

ambientais de defesa e preservação sócio-

urbana em instituições locais; a promoção de

eventos públicos de conscientização

ambiental e outros meios de inserção da

questão ambiental no domínio de

experiências urbanas coletivamente

compartilhadas;

Além da E.A. Urbana é vevidente que existem

outras ferramentas como as frentes de

economia popular, os projetos gerados pelos

diferentes agrupamentos de atuação político-

cultural e até mesmo o trabalho produzido

por movimentos religiosos que podem e

devem servir ao propósito de uma profunda

reestruturação das cidades em suas

diferentes dimensões;

A participação de todos os envolvidos na luta

pela qualidade de vida local é a forma ideal

para a resolução dos problemas decorrentes

do processo civilizatório. Entretanto, para que

tal participação seja efetivamente válida é

relevante salientar a necessidade de que a

população esteja bem informada sobre as

temáticas a serem debatidas;

Ao fazer uso de elementos que emergem da

experiência vivida, considerando as diferentes

vozes e pontos de vista envolvidos em sua

maneira de promover educação ambiental, o

educador ambiental pode favorecer o

entendimento de questões e contradições

presentes no meio ambiente urbano;

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Aula 5 | Educação Ambiental nas Cidades 198

A elaboração e o cumprimento de políticas

ambientais destinadas a melhoria da

qualidade de vida urbana exigem por parte

dos habitantes da cidade uma forte dose de

compromisso e reciprocidade que pode ser

estimulada através de trabalhos promovidos

por programas de Educação Ambiental

Urbana atravessados pelo ideal de formação

de uma nova mentalidade ecológica;

Quanto mais representativas forem as ações

implementadas com a participação dos órgãos

do poder público, grupos de poder econômica,

comunidade científica, responsáveis pelos

meios de comunicação e, de forma geral, a

sociedade civil organizada através dos

diferentes movimentos sociais, grupos,

entidades, ONG´s e demais associações

representativas da população urbana, mais

chances terão os citadinos de tornar possível

o sonho da sustentabilidade urbana;

A aproximação que se processa na cidade

com relação a coisas e pessoas, como aponta

Rabello (2002), tem se dado através da

identidade empática. Ou seja, via

identificação momentânea e solidariedade

volátil, escapando assim a consciência.

A E.A. Urbana pode auxliar a romper com o

estigma urbano do sentimento de perda de

familiaridade com o mundo e com o outro,

valorizando a necessidade de que os citadinos

se conscientizem para o fato de que não

existem fronteiras nos separando das outras

pessoas, senão aquelas que nós construímos;

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Questões como formação identitária ou a

representação social do “lugar onde vivo” ou

do “outro que convivo” buscam referenciais

neste entrelaçamento intersubjetivo urbano;

É possível afirmar, que a principal

contribuição da Educação Ambiental Urbana

seja justamente a possibilidade de oferecer

uma visão mais rica, complexa e abrangente

das relações entre cidade, cultura,

subjetividade, participação, poder e

sustentabilidade. Uma vez que suas

preocupações abrangem não apenas o espaço

da cidade, mas também as inter-relacionais

que nele são processadas;

Robert Park (1967), caracteriza a cidade

como o "habitat do homem civilizado". Trata-

se de um espaço geográfico formado em

decorrência da consagração do modelo de

desenvolvimento urbano-industrial, onde a

natureza foi inteiramente transformada pelo

ser humano construtor/destruidor/ reconstrutor

de forma a atender suas necessidades

específicas.

O homem começou a viver em cidades há

cerca de 5500 anos, entretanto a

concentração populacional em cidades só se

iniciou por volta do século XIX com o início da

Revolução industrial, onde boa parte da

população rural foi se convertendo em

urbana;

No Brasil os primeiros grandes centros

urbanos brasileiros funcionaram como grupos

intermediários entre as economias locais de

exportação e os centros de consumo;

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Aula 5 | Educação Ambiental nas Cidades 200

Historicamente é válido considerar, que

mesmo quando a base econômica e política

do país era agrária, em meados do século

XIX, a cidade nunca deixou de ser um espaço

de poder. Mais tarde, quando a base agrária

foi aos poucos perdendo sua força política,

em virtude do crescimento no setores de

serviços e na indústria e da intervenção

Estatal, esse poder urbano apenas se

consolidou ainda mais;

Na opinião de Scully (1996), um elemento

histórico interessante a considerar na

formação das cidades, foi o fato de que a

moradia permanente, que foi e é a base

estável das cidades européias, sempre faltou

na América e isso teve um efeito na forma

como as cidades evoluíram e como foram

alteradas;

As pequenas cidades foram, no decorrer do

século XX, dando origem as chamadas

"metrópoles", caracterizadas, segundo

Blumenfeld (1977), como aquelas que

acumulam a função de prover a maior parte

da produção e serviços; possuem uma

população até dez vezes maior do que as

maiores cidades pré-industriais; graças a

renovação dos meios de transportes seus

raios de extensão são cerca de 10 vezes

maior do que as cidades pré-industriais;

Ao longo do tempo, vários métodos têm sido

utilizados sem sucesso para conter o

crescimento das grandes cidades. É conhecido

o caso londrino a tentativa de criar uma

espécie de "cinturão verde";

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Ao contrário do que desejavam os

responsáveis pelo planejamento urbano

ordenado e limitado, o processo de

urbanização se deu de maneira tão ampla,

que alguns postulam a idéia de urbanização

extensiva, chamando atenção para um

processo de urbanização que chegou mesmo

a ultrapassar os limites da cidade para

alcançar, sob forma de rede, inúmeros

espaços regionais integrados através de

malhas mundiais;

Para Monte-Môr a definição de tecido urbano

deveria se referir não apenas à realidade da

cidade, mas a todo conjunto de

manifestações nas quais é possível observar

um predomínio da cidade sobre o campo;

Não seria exagero afirmar que existem tantas

cidades quanto os grupos sociais que as

caracterizam. A diversidade urbana pode ser

analisada tanto em função da variabilidade de

estilos, gabaritos e formas de suas

construções, onde o novo - representando

pelo progresso urbano - e o velho -

caracterizado através do patrimônio histórico

citadino - caminham juntos;

As cidades como centros de inovação elas

forneceram um solo fértil para inovação

desde as primeiras comunidades urbanas na

Suméria até a contemporaneidade atual.

Entretanto, a cidade que era símbolo do

progresso, era igualmente baluarte das

tradições;

Na ótica de Rybczynski (1996) a tendência da

metropolização das cidades advém justamente

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Aula 5 | Educação Ambiental nas Cidades 202

da ignorância da humanidade sobre seu

passado urbano, correndo deste modo o risco

de cometer os mesmos erros do passado;

Bresciani (2002) e Gonçalves (2002)

ressaltam a importância dessa memória ao

apresentar a cidade como um operador de

memorização. Para eles a "cidade coloca o

mundo na história e traz para o presente o

legado das gerações mortas e de suas

heranças imortais";

Infelizmente o desrespeito à memória urbana

brasileira através da desconsideração para

com seu patrimônio, tem sido latente nas

últimas décadas em nosso país;

É mesmo uma pena, que na cidade dita

maravilhosa, prédios lindíssimos e de

inquestionável valor histórico ao invés de

serem reformados e revalorizados, se

encontrem em péssimo estado de

conservação, apenas esperando sua

demolição iminente para que em seu lugar

seja construído um estacionamento ou coisa

parecida. Da mesma forma, outras cidades

como Ouro Preto em Minas Gerais,

reconhecida internacionalmente como

patrimônio mundial da humanidade por seu

valor histórico, tem sofrido com a falta de

preservação;

As chamadas Áreas de Proteção do

Patrimônio Cultural (APACs) estão espalhadas

por todo o território brasileiro, o problema

está, como na maioria de outros problemas

ambientais, no descumprimento das leis

existentes e na ausência de rigor por parte das

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Aula 5 | Educação Ambiental nas Cidades 203

existentes e na ausência de rigor por parte

das autoridades competentes.

Estudiosos sobre o assunto, como o professor

Gasparini (2002), se preocupam com a

decomposição de valores vinculados ao

patrimônio cultural, na medida em que este

seria um testemunho tangível da identidade,

história e cultura de um povo;

A "feiúra urbana é construída" na medida em

que as interferências urbanas são realizadas e

experimentadas ao longo do tempo

desrespeitando a memória arquitetônica local

e principalmente sem a participação da

população;

É válido enfatizar, que o resgate da memória

urbana, valorizado pela Educação Ambiental

urbana não se refere apenas a conservação

de prédios e monumentos, mas a necessidade

de se preservar e valorizar qualquer tipo de

registro histórico urbano daquilo que um dia

fomos e fizemos. Tal definição abrange,

portanto, desde a perpetuação de tradições e

costumes da população urbana, até suas

manifestações materiais como documentos

históricos que vão de imagens e sons

gravados até as imponentes construções;

As tradições urbanas, definidas como o

conjunto sistemático de comportamentos

historicamente determinados ao longo do

tempo, e traduzidas através de suas danças,

jogos, festas, canções (hinos), símbolos como

bandeiras, brasões, logotipos, formas

arquitetônicas e códigos como o sotaque

lingüístico e o gestual empregado na comunica-

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Aula 5 | Educação Ambiental nas Cidades 204

ção entre os habitantes da cidade; precisam

igualmente ser preservadas;

Na opinião de Jean Ladrière (1973), as

cidades que não se deixam reconstruir no

imaginário são cidades inabitáveis. Em outras

palavras, a singular experiência de se viver e

conviver em cidades exige que tenham um

mínimo de consciência do seu valor simbólico,

da riqueza de suas lembranças e memórias, e

do reconhecimento, do quanto estas incidem

sobre o momento atual que estamos

vivenciando;

A miséria urbana continua sendo dentre

todos, indubitavelmente, um dos mais graves

problemas econômicos e políticos da

atualidade; até mesmo porque este possui

reflexos diretos em outros problemas de

grande magnitude social como o aumento da

criminalidade e da violência;

Atualmente, o país perde cerca de U$4

bilhões anuais em função do desperdício de

frutas, hortaliças, verduras e grãos. O

problema começa no plantio, segue nas atuas

formas de estocagem e comercialização e

termina na maneira em que são aproveitados

nas residências, quando muitas vezes se

descarta justamente a parte mais nutritiva do

alimento (Rodrigues e Cavinatto, 1997);

Pensando a cidade como uma organização

institucionalizada de comunicação entre

grupos e indivíduos diferentes a E.A. Urbana

visa a promoção de políticas urbanas voltadas

organização da heterogeneidade de modo que a

cidade diminua as distancias sociais, presente a

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Aula 5 | Educação Ambiental nas Cidades 205

través de segregações e exclusões sociais,

suprima os guetos e atue fundamentada na

tolerância e na solidariedade o que só será

possível através de uma grande rede social

urbana;

A produção e o destino do lixo urbano é outro

problema de considerável gravidade sócio-

urbana. Com o avanço da industrialização e

aumento da vida média dos seres humanos,

houve um sensível crescimento demográfico e

a partir deste um significativo aumento na

geração destes e os métodos que antes

pareciam suficientes para lidar com os

resíduos, hoje apresentam uma série de

deficiências.

Os resíduos sofreram uma série de

modificações, especialmente a partir da

década de 60 do século XX, através da

produção de plásticos e resíduos químicos

responsáveis por uma diminuição gradativa

da matéria orgânica. A decomposição

extremamente demorada destes pelo

ambiente, faz com que hoje o não

aproveitamento das embalagens práticas de

diferentes produtos seja um dos principais

elementos de poluição urbana perceptível em

suas ruas, parques e rios;

A forma como o lixo é produzido, sem

mencionar a forma como os resíduos são

lançados diretamente no meio ambiente, sem

manejo ou tratamento adequado reforçam o

processo entrópico. Por isso o consumismo

desenfreado e a falta de preocupação com o

destino final dos produtos sempre fizeram par-

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Aula 5 | Educação Ambiental nas Cidades 206

te do rol de questionamentos levantados pela

Educação Ambiental, especialmente no

território urbano;

Pela legislação vigente, cabem as prefeituras

a tarefa de gerenciar a coleta e a destinação

dos chamados resíduos sólidos. Entretanto,

mais de 46 milhões de pessoas moram em

locais onde não existe o recolhimento de lixo

domiciliar;

O principal problema continua sendo a falta

de conscientização para o problema e a

inexistência ou funcionamento deficiente de

programas de coleta seletiva;

A Educação Ambiental Urbana pretende,

ousadamente, transformar citadinos

desconhecedores e espectadores desse

problema, em protagonistas e produtores de

ações que visem a reversão deste quadro. As

conhecidas práticas envolvendo os "três Rs" -

Reduzir o consumo de produtos e o

desperdício dos mesmos; Reaproveitando e

Reciclando-os, constituem a tríade mais

conhecida e eficaz para lidar com esse

problema;

A construção de cidades sustentáveis passa,

como declara Boff (2000), por uma

alfabetização ambiental ecológica onde se faz

necessário repensar desde nossos hábitos de

consumo até os planos de desenvolvimento

urbano, pautando-se no que ele qualifica

como Ética do Cuidado.

Um dos grandes desafios urbanos é o de

justamente o de promover e centrar ações "que

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Aula 5 | Educação Ambiental nas Cidades 207

dinamizem a necessária consciência

ambiental dos cidadãos a partir de um intenso

trabalho de educação" (Jacobi, 2000: 388).

Trabalho este, cujo suporte, a Educação

Ambiental aplicada ao ecossistema urbano

pode oferecer a todos os que dela

necessitarem;

A E.A deveria favorecer a que os citadinos

compreendam: a) a cidade como um

organismo vivo que se transforma sem cessar

e precisa ser compreendida nas suas

peculiaridades e dimensões de suas

transformações; b) que os sistemas

ecológicos urbanos são nutridos não apenas

por variáveis físicas, mas, sobretudo,

econômicas, sociais, políticas e culturais, mais

contraditórias do que harmônicas; c) que a

participação urbana está muito além de

dispositivos legais ou, até mesmo, de um

simples programa político, mas é

conseqüência de uma gestão pública sem

rígidas hierarquias, a fim de permitir amplos

canais de participação entre a população e

seus dirigentes; d) o valor da formação de

indivíduos capazes de uma percepção urbana

que lhes permita selecionar alternativas de

ação, capacidade esta, indispensável ao

exercício cidadão (Ferrara, 1999: 79).

Com o objetivo de que a metrópole não se

transforme gradualmente em uma necrópole;

a Educação Ambiental Urbana tem mostrado

que é preciso combater formas ritualizadas de

distanciamento social que alienam o indivíduo

não apenas do ambiente onde se insere, mas

de sua própria humanidade;

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Aula 5 | Educação Ambiental nas Cidades 208

A atuação de outros agentes formadores de

opinião, como a mídia escrita e televisiva,

também assumem um papel fundamental em

termos de esclarecimento e/ou

conscientização, uma vez que através das

mesmas se torna possível uma aproximação

com a realidade do outro ainda que

indiretamente através das ondas do rádio ou

TV;

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Comunidade e Meio Ambiente: Examinando a Teoria

Socioambiental

Vilson Sérgio de Carvalho

AU

LA

6

Ap

res

en

taç

ão

Nesta interessante aula teremos a chance de entender melhor a

riqueza da dinâmica comunitária a partir de uma análise sócio-

ambiental de seus potenciais ecológicos. Através das contribuições

da Sociologia, veremos as principais características de uma

comunidade, suas diferenças em relação à sociedade e como a

Educação Ambiental pode ser inserida neste contexto.

De modo particular, examinaremos a partir de uma ótica sócio-

ambiental a dinâmica de uma comunidade considerando seus

diferentes processos mantenedores como assimilação,

acomodação, socialização e comunicação e seus processos

desagregatórios como a competição e o conflito. Ao considerar os

tais processos, veremos como o meio ambiente assume um papel

fundamental na dinâmica comunitária influenciando e modificando

esta enquanto dinâmica um ecossistema complexo.

Ob

jeti

vo

s

Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você seja

capaz de:

Compreender as principais características de uma comunidade

e suas diferenças em relação à sociedade como um todo; Analisar a dinâmica comunitária a partir de seus principais

fatores mantenedores e desagregadores;

Refletir sobre a comunidade como um ecossistema complexo

influenciado por diferentes dimensões culturais, políticas,

econômicas, biológicas, psicológicas e outras; Analisar diferentes estratégias de atuação, instrumentos e

práticas de Educação Ambiental, no âmbito não formal,

considerando a comunidade como um espaço privilegiado para

a formação de uma consciência ecológica; Pensar caminhos favorecedores de uma sustentabilidade

comunitária.

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Aula 6 | Comunidade e Meio Ambiente: Examinando a Teoria Sócio-Ambiental 210

Introdução

Antes de tecer considerações mais aprofundadas

sobre a complexa teia socioambiental entre

comunidades e a realidade ambiental na qual se

inserem e da qual são partes integrantes, se faz

necessário entender em primeiro lugar o que seria

comunidade, suas características e sua dinâmica. Sem

uma reflexão maior sobre esta, enquanto uma

realidade específica permeada por uma série de

processos particulares, a discussão sobre a

possibilidade, ou não, de que esta venha a se

desenvolver, me parece um tanto quanto desprovida de

sentido.

A complexidade crescente dos problemas

sociais, agravados por um acelerado e, por vezes,

descontrolado desenvolvimento, acabou suscitando

uma grande variedade de trabalhos e pesquisas que

adotaram a comunidade como seu objeto central de

investigação. Nas últimas três décadas, a problemática

comunitária tem sido alvo constante de diversas

práticas sociais já consagradas como, por exemplo, a

ação comunitária, a ação social, a organização de

comunidade e o seu desenvolvimento.

DESENVOLVIMENTO URBANO

DESCONTROLADO

Tal descontrole refere-se principalmente à

estruturação espacial de dada localidade, muitas

vezes efetivada de forma rápida e sem nenhum tipo

de planejamento prévio, o que acaba gerando uma

série de problemas que, aliados a outros fatores,

representam um sensível déficit na qualidade de

vida de seus habitantes. Problemas, aliás, bastante

discutidos nas últimas conferências da ONU sobre

assentamentos humanos, urbanização e moradia

como: a Habitat I (realizada no Canadá, em 1976) e

a Habitat II (ocorrida em junho de 1996, na

Turquia).

Veja outros dados em: CHAYB, L. - Habitat II: A

Cúpula do Asfalto. In: Revista Eco-Rio. Ano V, nº

25. Agosto/Setembro de 1996. pp. 8-9.

Introdução 210 O Conceito de Comunidade: Considerações Históricas 211 Diferentes definições de comunidade 217 A dinâmica comunitária: examinando alguns processos 225 Comunidade e meio Ambiente 236

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Aula 6 | Comunidade e Meio Ambiente: Examinando a Teoria Sócio-Ambiental 211

Segundo Sawaia (1996), o estudo de

comunidade tem “uma presença intermitente na

história das idéias” aparecendo ou desaparecendo “em

consonância às especificidades do movimento histórico”

desvelando, assim, a dimensão política que o conceito

de comunidade encerra (Sawaia, 1996). Por isso

mesmo, talvez nesse início do terceiro milênio, o

homem volvendo seu olhar para o passado e refletindo

sobre diferentes marcas caóticas deixadas em sua

passagem ao longo do tempo - como a guerra, a

depredação do meio ambiente, a fome e a miséria

generalizada - volte agora a se questionar sobre a vida

comunitária e o espírito de solidariedade que nela se

afigura, percebendo o quanto ela pode oferecer saídas

para as diferentes crises por ele provocadas, inclusive

as mais graves, como é o caso da crise de valores.

O Conceito de Comunidade: Considerações

Históricas

Quando o homem deteve sua marcha nômade e,

junto com outros semelhantes, partilhou uma forma de

viver coletiva (cultura), ele desenvolveu métodos e

habilidades que lhe permitiram uma melhor adaptação

ao mundo que o rodeava, passando a exercer um maior

controle da vida em geral através de atividades

cooperativas e organizadas. Na verdade, o homem vive

em comunidades desde o alvorecer da história humana

(Koenig, 1975), o papel que ela encerra foi e continua

sendo, de tal modo, importante para a humanidade,

que, ainda hoje, dois terços dos seres humanos que

povoam a terra são membros de comunidades (tribos,

famílias, clãs, comunas, vizinhanças, vilas ou aldeias),

e operam segundo princípios internos próprios

(congregações, instituições, empresas, agremiações,

clubes) ainda que inseridos numa economia mundial

(Chinoy, 1979).

Para pensar

Quem é mais antiga,

a comunidade ou a humanidade? Alguns autores levantam a hipótese de que a comunidade possa ser ainda mais antiga que a própria humanidade, baseando-se no fato de que nossos ancestrais subumanos provavelmente já partilhavam de uma vida de comunidade. Vide Horton, P. & Hunt (1980) p. 359.

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Aula 6 | Comunidade e Meio Ambiente: Examinando a Teoria Sócio-Ambiental 212

Um breve exame das origens históricas sobre o

termo comunidade, remete às concepções gregas sobre

a cidade. Nos séculos VII e VI a.C., os gregos já

concebiam a pólis como uma comunidade, ou seja,

como um âmbito de encontro interpessoal, dos diálogos

e das celebrações. A pólis não reunia pessoas apenas

pelo nascimento ou hábitos, mas principalmente pelo

anseio comum por uma vida melhor. Atenas, por

exemplo nos séculos V e IV a.C., não era uma cidade

colonizadora como Rodes e Mileto, seus habitantes

lutavam apenas pela manutenção de uma vida comum

e pacífica, as primeiras muralhas atenienses só

surgiram após a primeira invasão persa (Mumford,

1965). Diversos elementos valorizados na pólis, como a

identidade pessoal e o interesse coletivo, podem ser

encontrados ainda hoje nas definições mais recentes de

comunidade. A urbs romana, que mais tarde veio a

substituí-la, era inteiramente diferente da mesma. Uma

amostra clara dessa diferenciação é o fato de que, na

urbs, é o anonimato social, ou seja, a substituição da

identidade pessoal e concreta presente na pólis, pela

identidade jurídica, levando os cidadãos a não se

reconhecerem mais uns aos outros (Cox, 1971).

Por volta do século XI aproximadamente,

começam a aparecer as chamadas cidades medievais

que tiveram um grande impulso com o nascimento do

comércio. Uma grande muralha, cuja função era

proteger as cidades, cercando-as contra prováveis

invasões, passa a fazer parte do cenário cotidiano das

urbs, definindo-se assim um limite espacial (em termos

de território) e populacional - tendo em vista a

delimitação do número de habitantes nas cidades.

Todavia, embora essa configuração tenha contribuído

notoriamente para a formação do que hoje concebemos

como núcleos comunitários, é preciso ressaltar que o

ambiente da urbs, tal como era configurado, pode ser

entendido apenas como um lugar de transação e de

Para pensar

Como o texto elucida, 2/3 da humanidade vive em comunidades, como você vê essa realidade?

Quer saber mais?

Sobre as muralhas urbanas: Considerada um símbolo das cidades antigas, sendo aperfeiçoada no decorrer das gerações (passando de troncos a taipa e, finalmente, pedra) as muralhas sempre estiveram presentes para defender as cidades contra inimigos invasores. Vide outros dados em: MUNFORD, (1965) - A Cidade na História. Vol I. pp. 72-78.

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Aula 6 | Comunidade e Meio Ambiente: Examinando a Teoria Sócio-Ambiental 213

intercâmbio comercial, e não como o lugar privilegiado

de interação psicossocial, onde a vida se processa

intensamente.

Curiosamente, ao contrário do espaço urbano, o

ambiente rural, durante muitos séculos, não foi

encarado como um espaço comunitário. Só mais tarde -

com o aparecimento das metrópoles e a grande

concentração de habitantes por metro quadrado (m2)

nas cidades - esta concepção foi sendo invertida, de

forma que, atualmente, ao nos referirmos a uma

comunidade, a primeira imagem que nos vem à mente

é a de um local mais próximo do meio rural, por

oferecer maior tranqüilidade, menor povoamento e um

contato mais íntimo e direto com a natureza;

qualidades que o meio urbano geralmente não

proporciona. Criando-se a partir daí a célebre distinção

entre comunidade rural e urbana, onde apesar de não

existirem limites nítidos e precisos (Santos, 1969),

considera-se como principal divisor de águas o conjunto

dos fatores: densidade populacional, estratificação

social e contato com as pessoas, presentes com maior

intensidade nas comunidades urbanas do que nas

comunidades ditas rurais.

Durante séculos, não havia diferença funcional

entre cidade e campo, já que esta só ocorreu,

basicamente, a partir da grande urbanização do

Império Romano (Weber apud Brandão, 1968). A

cidade é na sua origem o produto de uma diferenciação

entre o camponês que cultivava a terra, e um grupo de

artesãos e comerciantes estabelecidos no centro desse

campo. Com o desenrolar dos tempos, essa

diferenciação vai sendo mais marcada com o

aparecimento dos grandes centros urbanos,

desenvolvidos pelo capitalismo comercial em fins da

Idade Média, aonde o camponês raramente ia,

aguardando na sua própria propriedade os compradores

Dica do professor

Elementos diferenciadores das comunidades rurais e urbanas: Densidade

populacional; Estratificação

social; Contato entre as

pessoas.

Dica do professor

Como diferenciar comunidades rurais de urbanas? Pesquisadores e estudiosos como Santos (1969);, Goés (1992) e Chinoy (1967) alertam que nenhuma sociedade ou comunidade é inteiramente rural ou urbana, uma vez que em sua grande maioria estas se situam em uma posição intermediária.

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Aula 6 | Comunidade e Meio Ambiente: Examinando a Teoria Sócio-Ambiental 214

e vendedores. No entanto, essa distinção entre o

campo e a cidade somente vai se solidificar com o

surgimento da cidade industrial, que gera um novo tipo

de população com uma cultura própria marcada pelo

capitalismo e, especificamente citadina, sendo essa,

bastante distinta da encontrada nas comunidades

agrícolas (Brandão, 1968).

Mais tarde, com o advento do Iluminismo, houve

uma forte hostilidade em relação à formação de

comunidades, especialmente devido à associação que

era comumente atribuída ao sistema feudal. Os grupos

intelectuais da época, pretendendo um combate severo

a todo e qualquer resquício de dominação e exploração

feudal injusta, acabaram criticando duramente a

manutenção de grupos e associações surgidas na Idade

Média, defendendo a concepção de uma sociedade

formada por homens livres. Deste modo, no século

XVIII, desenvolveu-se um sentimento anticomunitário,

que conseguiu fazer com que a comunidade perdesse

seu sentido original (encontrado na pólis), para ser

encarada como a grande vilã e inimiga do progresso,

ou seja, um terrível legado da Idade Média a ser

eliminado. Sentimento este que, de certa forma,

ganhou ainda mais força com as revoluções francesas e

industrial fazendo com que todos condenassem as

relações feudais, invocando a tradição nacional como o

verdadeiro ideal democrático (Szachi, 1972). Achava-se

que o “progresso”, de um modo geral, significaria a

substituição da ordem social local semifeudal, tida

como irracional, por uma ordem universalista encarada

como mais igualitária.

A defesa e aplicação deste ponto de vista que,

na verdade, reflete toda a mentalidade de uma época,

pode ser encontrada também no O Contrato Social de

Jean-Jacques Rousseau (1981), talvez a obra mais

importante desse filósofo iluminista. Nesta, o mesmo

Quer saber mais?

No caso da Revolução Industrial, esse movimento anticomunitário só teve impacto na sua primeira fase, mais tarde, entretanto, a comunidade retoma sua função inicial de mantenedora das relações sociais.

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Aula 6 | Comunidade e Meio Ambiente: Examinando a Teoria Sócio-Ambiental 215

desenvolve o pressuposto de que grupos locais

autônomos, associações ou cooperações inibiam o

desenvolvimento pleno tanto do indivíduo como da

sociedade. Deste modo, ele conclui que, para que o

livre desenvolvimento de ambos pudessem se dar, seria

melhor que tais grupos não existissem. Na concepção

rousseauniana, as associações extinguiam a liberdade

de seus integrantes, pois embora seus membros

permanecessem unidos, estes passavam não mais a

obedecer a si próprios, e sim aos seus dirigentes. A

partir desse tipo reflexão, Rousseau considerou-as

como as grandes responsáveis pela criação da

propriedade, da escravidão e, conseqüentemente, da

miséria (Rousseau, J., 1981).

Segundo Souza (1993), é especialmente a partir

da revolução urbano-industrial que a comunidade se

tornou um importante foco dos estudos sociais. Para a

pesquisadora, “a desintegração nas relações sociais

tradicionais dos aglomerados humanos das áreas

CONHEÇA ROUSSEAU

O pensador francês, Rousseau (17 12-1778),

distinguiu-se dos demais iluministas por criticar a

burguesia e a propriedade privada. Considerava os

homens bons por natureza e capazes de viver em

harmonia, não fosse alguns terem se apoderado da

terra, dando origem à desigualdade e aos conflitos

sociais. Propunha um governo no qual o povo

participasse politicamente e a vontade da maioria

determinasse as decisões políticas. Expôs suas

idéias principalmente em duas obras: “O contrato

social” e “Discurso sobre a origem da desigualdade.”

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Aula 6 | Comunidade e Meio Ambiente: Examinando a Teoria Sócio-Ambiental 216

urbanas faz despertar a questão da comunidade (...) o

desenvolvimento das forças produtivas presentes à

Revolução Industrial cria a dissolução dos antigos laços

de autoridade e poder existentes na comunidade”

(Souza, 1993: 61). Essas rápidas transformações em

larga escala geraram uma série de dificuldades de

ordens variadas, que persistem ainda hoje. Estas vão

desde problemas físicos e psicológicos como os

cardiorrespiratórios e o estresse, a problemas de ordem

social, onde o desrespeito para com o semelhante e o

meio ambiente foi se tornando uma prática constante e

institucionalizada.

No bojo desses inúmeros problemas trazidos

pelo movimento anticomunitário do século XVIII,

reforçado na primeira fase da Revolução Industrial,

surge o que Nisbet destaca como a nostalgia da

comunidade, isto é, um sentimento referente às

lembranças e sonhos com um lugar maravilhoso que

representava tudo de bom que foi totalmente destruído

pelo progresso gerador do caos. Para Nisbet, essa

nostalgia comunitária vai marcar sensivelmente todo o

pensamento social do século XIX, e eu acrescentaria

também o século XX, encontrando expressões variadas

na religião, na filosofia, na política e outras esferas do

pensar humano (Nisbet, 1973). Segundo ele, existe

uma busca incessante pela comunidade, enquanto um

sistema impessoal, secular e individual, fazendo com

que o homem busque a comunidade no casamento, nos

consultórios de psiquiatria, no culto, na religião fácil e

em várias outras oportunidades de distração que

aliviem seu esgotamento nervoso (Nisbet, 1953).

Existe uma conceituação extremamente

multifacetada do que seja uma comunidade em função

de fatores diversos. Apenas para se ter uma idéia do

universo de possibilidades existentes para definir

comunidade, gostaria de citar, a título de

Importante

É somente a partir da revolução urbano-industrial que os estudos de comunidade começam a ganhar força.

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Aula 6 | Comunidade e Meio Ambiente: Examinando a Teoria Sócio-Ambiental 217

exemplificação, a estatística apresentada pelo professor

Hillery em seu artigo “Definitions of Community: Areas

of Agreement”, onde este já detectava, em junho de

1955, noventa e quatro definições de comunidade

(Hillery, 1955). Por isso mesmo, ele e outros autores

como Lehran (1973) defendiam a teoria de que uma

comunidade não pode ser resumida a um conceito

único e definitivo, mas sim a uma família de conceitos

com traços coincidentes. Nesta aula, procurei não me

deter em nenhuma delas em especial, optando por

apresentar, de forma crítica e abrangente, algumas das

mais importantes definições que tentaram, através do

estabelecimento de diferentes tipologias (envolvendo

estruturas, níveis e conexões distintas), explicar o que

se convencionou chamar de comunidade.

Diferentes definições de comunidade

A compreensão que o professor João Pinto - por

exemplo - tem de uma comunidade é extremamente

simples e operacional. Segundo ele: “a palavra

comunidade denota, operacionalmente, uma população

que habita uma determinada porção de território, com

cujo nome se identifica e, que por viver e conviver nele,

desenvolve alguma coisa em comum” (apud Souza,

1993: 67). Urrutia (1985), por sua vez, faz questão de

valorizar a dimensão do cotidiano comunitário, pois,

para ele, a comunidade nada mais é do que “o

cotidiano dos indivíduos e grupos que partilham de

condições sociais comuns e, face a elas, organizam seu

ambiente de relações dentro de uma dinâmica própria”

(Urrutia, 1985: 37). Hillman (1974) prefere destacar o

aspecto da diversidade que o termo comunidade

encerra, definindo a mesma, a partir “das relações

entre seres humanos, com tudo mais que representa,

quanto à diversidade de reações individuais e a forma

pela qual se manifesta a interação social” (Hillman,

1974: 22). Para este sociólogo, a área de uma

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Aula 6 | Comunidade e Meio Ambiente: Examinando a Teoria Sócio-Ambiental 218

comunidade tem limites, mas estes não podem de

modo algum ultrapassar a interdependência econômica

e social das pessoas que nela vivem.

Algumas definições de comunidade valorizam

sua estrutura física, ou melhor, seu espaço

geograficamente determinado. Outras preferem

destacar suas funções básicas, principalmente as de

cunho interativo. No tocante à visão estrutural,

poderíamos citar como exemplos a definição da

Enciclopédia de Ciências Sociais - onde a comunidade é

definida como “um agregado conscientemente

organizado de indivíduos que residem numa área ou

localidade específica, dotada de autonomia política,

mantendo instituições primárias como escola, igrejas,

entre as quais se reconhecem certos graus de

interdependência” (apud Ferreira, 1968) e a de Osborn,

L. & Neymeyer (1936), entendendo-a como uma “área

geográfica de partes contíguas, com centros comuns de

interesse e atividade, funcionando juntos em volta das

preocupações mais elementares da existência” (Osborn

& Neymeyer, 1936: 21). Já na linha interativa, a meu

ver, mais ampla que a anterior, poderíamos citar a

concepção de Robert MacIver (1944), um dos

sociólogos que mais se dedicaram ao estudo deste

tema.

Para ele, a comunidade pode ser entendida

como “qualquer área de vida comum, vila ou cidade,

distrito ou município, ou mesmo uma área maior” ou

SOBRE ROBERT MACIVER

Ex-professor das Universidades de Toronto e

Columbia, o sociólogo escocês Robert MacIver, se

empenhou consideravelmente em caracterizar e

melhor definir o que seria comunidade. Seus livros

Comunidade: um estudo sociológico e Sociologia

(esse último em co-autoria) são considerados

fundamentais para um estudo mais aprofundado nessa temática.

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Aula 6 | Comunidade e Meio Ambiente: Examinando a Teoria Sócio-Ambiental 219

ainda como “o viver comum de seres sociais” (MacIver,

R., 1944: 42). As fronteiras de determinada área, para

MacIver, só irão assumir um nível de significação se

conseguirem demarcar o espaço comum onde a vida se

processa. Os elementos-chave em sua definição, para

caracterizar uma comunidade - como teremos

oportunidade de enfocar nesta aula - são os processos

de interação social envolvidos, ou, como ele faz

questão de dizer, a vida comum que nela se processa

(coesão social), englobando práticas de

interdependência, colaboração, unificação e oposição

(este último referindo-se aos conceitos de competição e

conflito). Segundo ele, na comunidade, ao contrário de

qualquer outro grupo ou associação, a vida de seus

componentes pode ser vivida exclusivamente dentro

dela, daí inclusive o fato de algumas comunidades se

encerrarem em si mesmas (MacIver & Page, 1972;

Smith, 1946).

Outras conceituações mais complexas sobre

comunidade preferem conferir o título de comunidade a

uma determinada área, de acordo com o nível de

intensidade da vida em comum que nela é processada.

A concepção de Georges Gurvitch bem poderia se

enquadrar como uma dessas teorias entende a

comunidade como uma forma específica de

sociabilidade. Defendendo que o indivíduo só existe por

oposição à sociedade, ele define uma metodologia

tipológica própria para explicá-la baseada em três

diferentes pólos sob constante tensão: “os eus”, “os

nós” e “os outros”.

Quanto mais ampla for uma determinada

definição de comunidade, mais conciliadora esta será

com relação a outras teorias e, conseqüentemente,

maior será sua possibilidade de aceitação por teóricos

de diferentes posições sobre a temática em questão.

Contudo, apesar de toda essa discussão terminológica

Quer saber mais?

Para alguns estudiosos como MacIver (1944), toda comunidade faz parte de uma comunidade mais ampla, mais geral onde a mesma encontra-se incluída, fazendo parte de um todo maior, sem perder suas peculiaridades e diferenças. O que não significa que a comunidade, enquanto microcosmo, possa vir a servir de base para a compreensão

da sociedade em geral (macrocosmo).

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Aula 6 | Comunidade e Meio Ambiente: Examinando a Teoria Sócio-Ambiental 220

apresentada, é possível identificar, nas diferentes

teorias, alguns elementos comuns que estão presentes

na maioria das definições de comunidade que pude

pesquisar. Estes seriam: 1) uma unidade social

(geralmente pequena, como bairros, aldeias); 2) área

geográfica determinada (locus onde a comunidade vive

e se desenvolve); 3) membros com algum tipo de

interesse comum (tradição, trabalho, compromissos);

4) interatividade social constante (maior com a

comunidade do que com demais agrupamentos) e 5)

consciência do “ser comunitário” (não apenas participar

ou ser ativo, mas sim pertencer, ser parte da

comunidade). A consideração desses elementos pode,

sem dúvida alguma, fornecer pistas consideráveis para

a formulação de algumas respostas, ainda que de

forma ampla, para as elucubrações anteriores com

relação ao que seria comunidade e como esta, de fato,

se caracterizaria.

COMUNIDADE E SOCIEDADE

Para alguns teóricos, como veremos, existem

diferenças profundas entre comunidade e sociedade;

para outros, as diferenças são mínimas, flexíveis e, por

vezes, imperceptíveis.

Para tratar desta discussão, é primordial

considerar alguns autores que se preocuparam com

esse impasse. Entre eles, um se destaca por ter sido

um dos primeiros na sociologia alemã a estabelecer

essa diferenciação, hoje considerada clássica:

Ferdinand Tönnies (1887). Para ele, comunidade

(Gemeinschaft) e sociedade (Gesellschaft) são

conceitos marcadamente distintos. A esfera da

comunidade englobaria tudo que é orgânico, real e

instintivo, ao contrário da esfera da sociedade que, por

vez, reuniria tudo o que é ideal, artificial e mecânico. A

comunidade se fundamentaria num querer profundo,

Dica do professor

Elementos fundamentais de uma comunidade qualquer: Consciência do

ser comunitário; Membros com

interesses comuns;

Unidade social; Área geográfica

determinada.

Quer saber mais?

Discussões teóricas: Existe uma discussão, na Sociologia, sobre uma possível tradução inadequada desses vocábulos, que em vez de “comunidade” e “sociedade” melhor se refeririam a “comunhão” e “associação”. Evitando esse tipo de dissonância, Charles Cooley prefere se utilizar dos termos grupo primário (para as comunidades) e secundário (os demais como as

associações). Cooley apud Giner (1979) p. 98.

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Aula 6 | Comunidade e Meio Ambiente: Examinando a Teoria Sócio-Ambiental 221

inerente ao ser (Wesenville), de maneira que as

relações nela estabelecidas são íntimas e primárias. O

controle na comunidade, mais do que através do

sistema de leis, vai se fundamentar no que Tönnies

chama de “folkways e mores”. A sociedade, por sua

vez, resultaria de uma criação individual, de um

produto da inteligência racional, desenvolvendo-se

graças à vontade de escolha. Ela seria compreendida

“como uma pura justaposição de indivíduos

independentes” (Tönnies, 1957; Id., 1973).

Tönnies defende, ainda, como um de seus

principais postulados, a idéia de que a comunidade foi

sendo historicamente substituída pela sociedade; desse

modo, as relações desenvolvidas pelos homens entre si

assumiram a forma de uma relação entre artigos de

consumo, baseada em interesses individuais e marcada

pela competição. Em suas palavras, o “querer orgânico”

foi dando lugar a “vontade refletida” ou, como diria

posteriormente Durkheim, foi havendo uma passagem

da “solidariedade mecânica” para uma “solidariedade

orgânica” onde se configura a divisão do trabalho

(Durkheim, 1976; Durkheim, 1940; Olmsted, 1979 e

Aron, 1987). A função do dinheiro (base monetária) e a

FOLKWAYS E MORES

Estes conceitos foram cunhados pelo sociólogo Willian

Sumner. “Folkways” é o nome dado aos costumes

mais elementares, seguidos quase que

irrefletidamente, e que definem como o indivíduo se

comportará em relação ao outro no cotidiano social. A

inobservância dos folkways não resulta em qualquer

tipo de punição.

Já os “Mores” (plural de “Mos”) são os costumes

sociais que o consenso geral acredita favoráveis para

manter a boa ordem social. A não conformidade aos

mesmos provoca a desaprovação moral, havendo

punições para os que os infringem e recompensas para

os que os observam. Os romanos usavam a expressão

mores maiorum para designar os costumes dos

antepassados. Os mores tendem a ir se sistematizando

através de códigos, regras e prescrições de modo a

originar as instituições.

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Aula 6 | Comunidade e Meio Ambiente: Examinando a Teoria Sócio-Ambiental 222

partir deste o consumismo desenfreado é um exemplo

crasso da impessoalidade e intercambialidade das

relações humanas na sociedade moderna (Lakatos,

1989). Realidade inversa à encontrada na comunidade

onde seria possível encontrar um tipo de vivência de

conjunto, íntima e possuidora de exclusividade, onde,

apesar dos diferentes e constantes fatores

desagregatórios, os indivíduos se manteriam

essencialmente unidos (solidariedade) através do

trabalho, da fé comum e dos folkways e mores.

Convém ressaltar que ao editar Comunidade e

Sociedade, Tönnies não estava preocupado apenas em

distinguir uma da outra, ressaltando suas

particularidades. Bem mais do que isso, ele procurava

ressaltar as trágicas conseqüências do excesso de

individualismo humano, temendo que se a sociedade

não se voltasse de novo para as comunidades, ou seja,

para uma forma mais solidária de vida em comum,

dificilmente essa onda individualista e os processos de

exclusão dela resultantes seriam freados (Alphandery

et alii, 1992), realidade a que hoje assistimos e que,

infelizmente, alcançou um grau de intensidade de tal

SOLIDARIEDADE ORGÂNICA E MECÂNICA

Se utilizando de uma analogia com o movimento das

moléculas de um corpo, Durkheim importa os

conceitos mecânico e orgânico da Física, chamando de

solidariedade mecânica, aquela que se dá em

dependência direta com o plano coletivo, sem

iniciativa própria, se processando através da

semelhança, reforçando a consciência coletiva (tal

como as moléculas que se movem nos corpos brutos).

A solidariedade orgânica, por sua vez, seria a que se

dá quando essa iniciativa se faz presente (como é o

caso do movimento molecular dos corpos orgânicos).

Regida por consenso (unidade coerente da

coletividade), ela acaba levando a diferenciação entre

os indivíduos e reforçando a consciência individual. A

solidariedade mecânica predominava nas sociedades

pré-capitalistas, enquanto que a solidariedade

orgânica seria típica das sociedades moderna.

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Aula 6 | Comunidade e Meio Ambiente: Examinando a Teoria Sócio-Ambiental 223

ordem, que chegou a gerar a perda do estranhamento

pela desvalorização da vida como um todo.

A discriminação entre comunidade e sociedade,

também, é ratificada em alguns momentos por Max

Weber, ao pensar a comunidade como uma relação

social construída sobre fundamentos afetivos, emotivos

e tradicionais, enquanto que a sociedade, embora

também sendo um tipo de relação social, estaria

pautada na compensação de interesses por motivos

racionais, numa espécie de acordo estabelecido entre

seus integrantes por meio de manifestações recíprocas

(Weber, 1973). Weber, no entanto, de maneira menos

rígida que Tönnies, chega a concordar que “a imensa

maioria das relações sociais participam em parte da

comunidade e em parte da sociedade” (Id., p. 141)

reconhecendo, assim, ainda que de maneira indireta, o

fato de que uma sociedade pode ter a possibilidade de

exceder a mera união formal de seus membros, para

dar lugar a valores afetivos típicos da realidade

comunitária, ou como ele mesmo afirmava de uma

comunalização.

Assumindo uma posição mais conciliatória sobre

a discussão comunidade x sociedade, Louis Wirth

(1973), em vez de reconhecer as mesmas como

entidades antagônicas - como o faz Tönnies -

prefereentendê-las como aspectos complementares de

toda forma de vida em grupo, mesmo concordando que

a sociedade, em relação à comunidade, encerraria uma

população bem maior com uma organização mais

complexa. Para Wirth, “o que torna toda comunidade

uma sociedade é, aparentemente, o fato de a vida

social humana envolver invariavelmente certo grau de

comunicação” (Wirth, 1973: 85). Fato que inclusive, até

mesmo pelos diferentes processos simbólicos

envolvidos, distinguiria as comunidades humanas das

demais. A comunicação para Wirth é valorizada como

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Aula 6 | Comunidade e Meio Ambiente: Examinando a Teoria Sócio-Ambiental 224

uma forma de oficializar o que a comunidade tem em

comum, criando um consenso básico para existência da

comunidade e da sociedade. Osborn & Neymeyer

(1933) já haviam atentado para a importância da

comunicação como um fator básico de interação social,

pois, para eles, a comunicação condicionaria a

interação. Em suas palavras: “a interação emerge pela

comunicação e sem ela perece” (Osborn, L. &

Neymeyer, 1933: 193).

Simmel enfatiza a interação pessoal, que se

processaria, segundo Wirth (1973), através da

comunicação, com um elemento primordial na própria

formação da sociedade, já que, segundo ele, “a

sociedade é formada primeiramente pelo complexo de

indivíduos sociados, o material humano societariamente

formado (...) e em segundo lugar, através da soma das

diferentes formas de relações em virtude das quais os

indivíduos são transformados exatamente em sociedade

no seu primeiro sentido” (Wirth, L. apud Strasser,

1978).

No entanto, é Donald Pierson (1977) quem

adota uma posição mais ampla sobre essa discussão,

ele enxerga comunidade e sociedade como “dois

aspectos da associação humana indissoluvelmente

ligados entre si e, raramente ou nunca, existem

separados” (Pierson, 1977: 121), devendo ser

diferenciados um do outro apenas para fins de análise e

pesquisa.

Essa breve digressão sobre as diferentes

posições citadas nos conduz, certamente, mais a

dúvidas e perguntas do que a certezas e respostas

sobre a existência ou não de uma diferenciação entre

comunidade e sociedade, a não ser em relação ao

tamanho e complexidade relacional, obviamente maior

na segunda do que na primeira. Contudo, seja qual for

Quer saber mais?

Louis Wirth pode ser considerado como um dos grandes expoentes da Escola de Chicago, contribuindo significativamente para o desenvolvimento da Ecologia Humana com inúmeros trabalhos. Ver em Pierson, D. (org.) Estudos de Ecologia Humana. e ainda Estudos de Organização Social. Ambos da Biblioteca de Ciências Sociais - Vols. VI e IX de 1970.

Para pensar

Sociedade: Protótipo de comunidades? Na linha de raciocínio de Wirth, é possível se pensar que as sociedades mais simples poderiam ser consideradas como protótipos de comunidades ou que as comunidades seriam unidades constitutivas da sociedade.

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Aula 6 | Comunidade e Meio Ambiente: Examinando a Teoria Sócio-Ambiental 225

a resposta a ser dada a essas questões, o papel da

Educação Ambiental nesse processo de

desenvolvimento - seja este comunitário ou social - é

de fundamental importância, na medida em que seus

princípios básicos encerram uma maior interação entre

homem e meio ambiente, o que por sua vez se reflete

num melhor relacionamento do homem consigo mesmo

(autodesenvolvimento) e com a sociedade em geral

(desenvolvimento social).

São inegáveis as inúmeras contribuições que um

projeto de Educação Ambiental bem concebido e

aplicado pode promover, junto à comunidade ou à

sociedade, no que concerne ao processo de tomada de

consciência, não só de suas condições locais, mas

também dos mecanismos que estimulam e perpetuam

o subdesenvolvimento, procurando apoiar e

instrumentalizar seus membros na busca de possíveis

soluções a partir da própria realidade socioambiental

onde estão inseridos. O problema maior talvez seja o

fato de que, para muitos, especialmente para aqueles

que produziram e têm interesse em manter o estado de

miséria social - mais expressivo nos países de terceiro

mundo - essa “libertação”, além de não estar

relacionada com desenvolvimento (já que não

necessariamente é acompanhada de um incremento de

renda per capita), é totalmente contrária a seus

interesses e, conseqüentemente, desvalorizada.

A dinâmica comunitária: examinando

alguns processos

Cada comunidade compreende uma realidade

única, possuindo significados diferentes e vivências

ímpares. Não se trata aqui de caracterizá-la como um

locus fictício, teórico e/ou irreal, mas sim de situar a

comunidade enquanto um lugar onde pessoas crescem

juntas, se relacionam, se confraternizam. É na

Dica do professor

A importância da Educação Ambiental em comunidades: Não há como valorizar e promover uma interação mais e harmônica entre homem e meio ambiente sem considerar o relacionamento do homem consigo mesmo, com seu semelhante e com a sociedade em geral. Este é um dos princípios básicos da Educação Ambiental.

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Aula 6 | Comunidade e Meio Ambiente: Examinando a Teoria Sócio-Ambiental 226

comunidade que as pessoas se organizam e agem em

função de seus interesses e ideais, buscando algum tipo

de melhoria nas condições de vida a que são obrigadas

a se submeter. Comunidade é o lugar onde as pessoas

vivem, ganham seu sustento, formam suas famílias,

adquirem conhecimento e produzem cultura, aí esta

sua riqueza. É este tipo de comunidade, real e orgânica

- onde diversos projetos de cunho social e político estão

sendo aplicados - que eu me propus a pesquisar nesta

aula, visando entender de que forma a Educação

Ambiental pode intervir na mesma promovendo um

amplo Desenvolvimento Comunitário.

Considerar uma comunidade real, implica

repensá-la não como um lugar paradisíaco, tranqüilo,

onde todos cooperam e vivem em plena harmonia. Mas

sim, ao contrário, enxergá-la como um lugar onde se

desenvolve uma série de processos, promovendo

contínuas tensões acompanhadas de constantes

desequilíbrios. É precisamente este jogo da interação

social, processado no interior da comunidade, que

caracterizará o que intitulo nesse subcapítulo como

dinâmica comunitária, procurando avançar de uma

dimensão conceitual de comunidade para a dimensão

do sentir e do agir comunitário, já que a mesma implica

necessariamente uma troca de ações, idéias, opiniões,

influências e sentimentos entre os seus membros

(Moreira, 1994). A dinâmica comunitária vai se referir a

toda classe de processos ativos e naturais na vida

comunitária, tanto aqueles relacionados com

fenômenos construtivos e mantenedores da

comunidade, quanto os que se referem aos fenômenos

desagregatórios da mesma. Pierson (1977), ao estudar

a temática da interação social, lista uma série desses

fenômenos, especialmente os mais freqüentes neste

tipo de enfoque. Entre estes poderíamos citar como

mantenedores:

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Aula 6 | Comunidade e Meio Ambiente: Examinando a Teoria Sócio-Ambiental 227

A socialização pela qual o recém-nato vai se

incorporando ao grupo;

A comunicação cuja função é a manutenção

da unidade e integridade do grupo social,

permitindo que as relações humanas se

constituam;

A acomodação que, mesmo sendo um mero

ajuste externo da situação diante de um

conflito iminente, tem efeitos importantes na

redução ou cessação do mesmo e na

alteração do modus vivendi da comunidade,

produzindo novas formas de interação,

ajustamento e organização comunitária,

abrindo caminho para a assimilação

(Brandão, 1968; Lenhard, 1973; Sedeh, 1976

e Neto. & Neto, 1976);

E a assimilação que apazigua integralmente o

conflito, seja ele pessoal ou grupal, na

medida em que sugere mudanças de ordem

psíquica no indivíduo, levando-o a adquirir

vivências, objetivos e sentimentos próprios do

grupo, de outras culturas ou mesmo da

própria situação conflitante. Antigas formas

de agir, pensar e sentir podem, via

assimilação, ser substituídas por novas

(Sedeh, 1976). É importante ressaltar que a

assimilação pode se dar de forma

inconsciente, mas nunca de forma imposta. A

assimilação de valores e representações é

considerada como sendo a última etapa num

processo de adaptação (Coulon, 1995;

Brandão, 1968).

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Aula 6 | Comunidade e Meio Ambiente: Examinando a Teoria Sócio-Ambiental 228

E como fatores desagregatórios:

A competição vista como um processo

inconsciente, impessoal e não premeditado,

que produz a distribuição no espaço

(configuração espacial da população) e nas

ocupações (como a especialização de

funções). Considerada como princípio

regulador que produz a ordem no reino dos

seres vivos e tem como objetivo final a

sobrevivência da espécie, ela seria a forma de

interação mais elementar e fundamental

existente. Segundo Sedeh (1976), em

conseqüência dela processa-se uma divisão

do trabalho, desenvolve-se uma ordem

econômica, distribuem-se as instituições no

espaço e, finalmente, configuram-se

espacialmente as populações;

E o conflito que é tido como um processo

consciente e pessoal caracterizado através da

luta pelo status, ou seja, a luta por uma

posição que o indivíduo ou grupo acredite

corresponder ao seu papel. Ele pode ser

basicamente resumido na tomada de

consciência da competição acompanhada de

uma tensão que vai aumentando

gradativamente de tal modo que sua

resolução possibilite um tipo de descarga (Id.,

p.\118).

PARA SE APROFUNDAR

Park chega a estabelecer, para cada um dos

processos considerados acima, uma ordem social

determinada, como um objetivo específico a ser

cumprido pelos mesmos. Deste modo, os processos

de competição teriam por fim o equilíbrio

econômico; os de conflito deveriam contribuir para

a manutenção da ordem política; os de assimilação

para a constituição e transmissão da herança

cultural e os de adaptação (incluindo a

acomodação) para a organização social como um todo (Park, apud Coulon, 1992).

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Aula 6 | Comunidade e Meio Ambiente: Examinando a Teoria Sócio-Ambiental 229

As influências ambientais são determinantes na

dinâmica comunitária, na medida em que os diferentes

fenômenos e processos sociais que a constituem são

afetados, direta e indiretamente, pelo contexto

ambiental onde os mesmos se processam. Para Chinoy

(1979), a natureza territorial possui uma influência

decisiva na estrutura social local e nos modos de viver

de uma comunidade. As condições geográficas, aliadas

aos recursos e ao clima da região, suscitam problemas,

impõem limites e criam oportunidades. Considerando

essa interdependência, um dos objetivos dessa aula, foi

o de, justamente, explicitar a contribuição que a

Educação Ambiental tem a oferecer em termos da

dinâmica comunitária a partir de um reexame das

práticas de interação entre comunidade e meio

ambiente, em prol de uma elevação da qualidade de

vida e bem estar-social.

Para esclarecer como essa articulação

comunidade x meio ambiente se processa, é pertinente

examinar, aqui, alguns processos ecológicos que

promovem o equilíbrio biótico através da formação,

reestruturação ou até mesmo o desaparecimento de

agrupamentos sociais em geral. Muitos desses

processos foram estudados pela Escola de Chicago,

entre os quais se pode destacar: a concentração, a

centralização, a especialização, a dominância ou a

dominação, a migração, a dispersão, a segregação, a

invasão, a resistência, a mobilidade, a densidade social

e a sucessão, entre outros menos comuns na realidade

comunitária, alvo deste estudo.

A concentração refere-se à tendência de um

número crescente de pessoas para se fixarem numa

determinada área ou região, constituindo-se num dos

fatores básicos para a constituição de comunidades

urbanas (Young & Mack, 1967). A concentração é, em

última instância, a aglomeração de seres humanos e

Dica do professor

A escolha locacional de uma indústria é pensada em termos de um sítio que seja agradável à vida e ao trabalho de seu quadro de pessoal, tanto para mantê-los como para atraí-los; o que por sua vez implica, segundo Benko (1993) um

certo grau de urbanização, infra-estrutura de transporte e amenidade local. Para um maior aprofundamento, ver artigo de BENKO, Os Novos Espaços Industriais: A Lógica Locacional. In: Cadernos do IPPUR, abril de 1993.

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Aula 6 | Comunidade e Meio Ambiente: Examinando a Teoria Sócio-Ambiental 230

instituições em áreas favoráveis a sua persistência.

Uma vez ocorrida a concentração em uma área, a

centralização segue-se a essa como uma tendência das

pessoas em adotarem uma determinada parte desta

área (ponto central) sob concentração, podendo ocorrer

também pela simples adição de atividades em uma

determinada zona comum (Ginst & Fava, 1973). Os

mapas de densidade da população mundial refletem

claramente a importância dos fatores geográficos e

climáticos na distribuição dos seres humanos. A própria

extensão geográfica da comunidade depende da

habilidade de seus integrantes em utilizar os recursos

ambientais e enfrentar as dificuldades que o meio

apresenta (Chinoy, 1979). Após a revolução industrial,

os limites de concentração, antes definidos pelas

condições de abastecimento de uma área, foram

praticamente abolidos. Hoje o que vem determinando o

fator concentração de uma localidade como o Japão,

por exemplo, é a importância estratégica do lugar em

relação ao comércio e à indústria (Mckenzie, 1970b).

No que concerne às comunidades, a situação não é

diferente. Quanto mais próxima dos centros comerciais

(no meio urbano) ou das fazendas e cooperativas (no

meio rural), maior será o número de pessoas que

desejarão fazer parte da mesma. A concretização desse

desejo, no entanto, é, na maior parte das vezes,

impedida pelo alto custo de vida que esses lugares

estrategicamente valorizados exigem.

O processo de concentração acaba levando

direta ou indiretamente à especialização da

comunidade, que pode evoluir de agrupamento a vila,

de vila a bairro, de bairro a cidade e assim por diante.

À proporção que a concentração de uma localidade se

eleva, vai tendendo a uma especialização territorial em

torno da satisfação dos interesses da comunidade,

passando esta a ser guarnecida de centros, escolas,

igrejas, hospitais, comércios diversos e outros. O grau

Você sabia?

Sobre a Diferenciação Segundo Wirth (1967), populações grandes e densas, como as que estão presentes no meio urbano, geram diversificação e especialização de áreas tais como as plantas e a vida social. Essa diferenciação permite que um número maior de indivíduos

convivam numa mesma área de forma integrada (Wirth, 1967: 14).

Dica do

professor

Regiões dominantes Certamente, você conhece várias

regiões assim. Vale destacar que situações particulares também podem gerar centros de dominação como a dominação religiosa de Roma e Meca ou a dominação da moda em Paris e outros.

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Aula 6 | Comunidade e Meio Ambiente: Examinando a Teoria Sócio-Ambiental 231

de especialização, aliado a outros aspectos culturais e a

uma certa adaptação aos limites impostos pela

topografia local, irão determinar a dominância de uma

localidade sobre outras, gerando as chamadas regiões

dominantes. O processo de especialização baseia-se na

capacidade de adaptação do homem a determinadas

condições do ambiente em questão e na possibilidade

de que este tem, ao contrário dos demais animais, de

modificar as condições do meio natural, como é o caso

da transplantação de plantas e animais, urbanização,

enriquecimento do solo e etc. (Leão, 1963).

A migração, por sua vez, está intrinsecamente

relacionada com os processos de concentração e

especialização vistos anteriormente. Segundo

Hollingshead (1970b), ela é definida como o movimento

dos povos, indivíduos ou grupos de uma localidade para

outra que se dão basicamente através de duas

condições: mudanças no meio físico (como algum tipo

de cataclismo), e mudanças no meio sociocultural em

termos de desenvolvimento ou desintegração.

Atualmente, as grandes migrações têm-se dado

principalmente em duas direções: a expansão de novos

centros inexplorados de uma área qualquer do mercado

e a concentração nas cidades por oferecer melhores

condições de emprego e escolarização. No entanto,

migrações de pequeno porte podem-se dar por motivos

diversos, que vão desde uma melhor satisfação das

necessidades familiares até mesmo à fuga de uma

situação-limite, como é o caso da violência presente

nos grandes centros urbanos.

O processo de dispersão é caracterizado pelo

inverso do processo de concentração, ou seja, na

desvalorização e desestímulo local seguido de um

processo de dispersão populacional (Mckenzie, R.,

1970b), chamando a atenção para o fato de que,

muitas vezes, a própria concentração de determinada

Dica do professor

Exemplo de Dispersão No caso de comunidades comerciais e industriais, é comum que em função da falência de grandes empresas ou indústrias acabem abalando seriamente a subsitência local, podendo, de acordo com o grau de organizanização ou desorganização da mesa, gerar um processo de dispersão que, em curto prazo, acabe conduzindo ao fim da comunidade.

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Aula 6 | Comunidade e Meio Ambiente: Examinando a Teoria Sócio-Ambiental 232

área pode promover dispersão em outras mais

próximas. A segregação, por sua vez, é um processo

que ocorre através da seleção de certos tipos sociais e

da tendência do agrupamento e estabelecimento de

populações semelhantes em algumas áreas de certa

localidade. Ela pode se basear em fatores econômicos,

étnicos, culturais, lingüísticos e, ainda, outros como

padrões de inteligência e ambição pessoal. A

segregação acaba gerando o isolamento de alguns

grupos e definindo os grupos naturais (dominantes) de

uma comunidade (Maciel, 1993). Aqui não se está

considerando apenas as formas radicais de segregação

como o apartheid, mas a todo um processo que, em

termos espaciais, é claramente manifestado como uma

tendência que os indivíduos têm de residirem próximos

a seus companheiros (entendidos como grupos de

pertença formado por pessoas que comungam de um

mesmo ideal e afinidades), como o bairro do Bexiga em

São Paulo, ou os conhecidos Bairro Chinês e a Pequena

Itália nos EUA. Essas áreas segregadas recebem o

nome de áreas naturais, justamente por se

constituírem naturalmente, não resultando de nenhum

planejamento preconcebido (Gist & Fava, 1973: 144).

Devem-se ressaltar, ainda, três características

importantes da segregação: a primeira é que ela pode

ser motivada por diferentes fatores, como os espaciais,

no caso das barreiras naturais como montanhas,

florestas, desertos que também promovem o

O QUE É APARTHEID?

O apartheid foi um dos regimes de discriminação mais

cruéis de que se tem notícia no mundo. Ele vigorou na

África do Sul de 1948 até 1990 e, durante todo esse

tempo, esteve ligado à política do país. A antiga

Constituição sul-africana incluía artigos onde era clara

a discriminação racial entre os cidadãos, mesmo os

negros sendo maioria na população. O apartheid, que

quer dizer separação na língua africâner dos

imigrantes europeus, atingia a habitação, o emprego, a educação e os serviços públicos.

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Aula 6 | Comunidade e Meio Ambiente: Examinando a Teoria Sócio-Ambiental 233

isolamento social, embora hoje cada vez mais superado

pelo desenvolvimento de novas tecnologias,

especialmente as de cunho comunicacional, vencendo

as barreiras naturais e chegando a todas as partes do

globo. Por fatores biológicos (diferenças de cor,

doenças, características físicas), fisiológicos (deficiência

de sentidos: surdez, gagueira) e até psicológicos, no

caso da formação de grupos de indivíduos introvertidos

ou neuróticos (Fontoura, 1955: 52). A segunda refere-

se a que, na maior parte das vezes, ela não se dá de

forma completa, ou seja, ela é limitada, existindo

sempre uma mistura de populações distintas

principalmente ao redor da área dita isolada. E a

terceira diz respeito ao fato de que ela pode ser

voluntária quando os nativos da região concordam com

a invasão e a ela não criam nenhum tipo de reação, ou

involuntária, quando esta ocorre através da força, seja

por fatores culturais, legais ou, ainda, econômicos, já

que não se vive onde se deseja, mas onde o custo de

vida permite (Young & Mack, 1967; Gist, N. & Fava,

1973). Muito embora esse não seja o objetivo principal

da Educação Ambiental, a conscientização de que todos

os diferentes grupos estão situados num mesmo

planeta, onde a elevação da qualidade de vida do

mesmo depende não só da relação que desenvolvem

com o meio ambiente, mas também com aqueles que

dele comungam, pode contribuir para um refreamento

dos processos de segregação, através da promoção de

atividades pautadas na integração, reciprocidade e

abolição de preconceitos.

A invasão refere-se ao processo grupal de

ocupação não controlado de uma área segregada por

uma população diferente da que a ocupava, bem como

as mudanças resultantes dessa ocupação quanto ao

tipo de população e do terreno em si. Esta pode ser

efetivada tanto por grupos mais fortes (mais

organizados) quanto por grupos economicamente mais

Dica do professor

O isolamento aqui referido diz respeito a uma forma de conduta com fim à

preservação das diferenças culturais reforçando mentalidades, tradições e costumes. A rigor, ele é definido como a ausência ou uma acentuada infreqüência de contatos. O sentimento religioso e determinadas ideologias podem ser evocadas como exemplos de ideais que conduzem à segregação ou ao isolamento.

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Aula 6 | Comunidade e Meio Ambiente: Examinando a Teoria Sócio-Ambiental 234

poderosos que o grupo de origem, quanto por grupos

mais fracos, o que levaria à segregação dos mesmos.

Quando os ocupantes primitivos são expulsos em sua

totalidade por seus invasores, pode se falar que

ocorreu uma sucessão (Ginst & Fava, 1973: 203). Isso,

porém, não significa que a invasão não possa ocorrer

em territórios desocupados, pois embora não ocorra

desocupação de residentes, uma nova forma de

utilização e ocupação da terra pode vir a existir.

A mobilidade, segundo Park (1970), diz respeito

ao movimento de indivíduos ou grupos de uma posição

social para outra, acompanhada da circulação de

valores e traços culturais do seu grupo de origem. Essa

mobilidade social altera significativamente a posição

ecológica do indivíduo ou grupo em relação à

comunidade (em termos de ascensão ou

empobrecimento), servindo, inclusive, como um

instrumento para verificar o grau de mudança e de

desorganização social da mesma, sem esquecer, no

AINDA SOBRE A INVASÃO

Mckenzie (1970b) cita alguns dos fatores mais

comuns vistos em processos de invasão como a

construção de importantes estruturas públicas ou

particulares (a construção de Brasília, no Planalto

Central, por exemplo); introdução de novos tipos de

indústrias ou remodelação das já existentes, e

outras mudanças de base econômica, como a

redistribuição de renda, mudança da moeda,

desenvolvimento imobiliário local. Tal como a

segregação, a invasão pode ser também voluntária

quando não há evacuação forçada por parte da

população de origem (por exemplo a infiltração de

indivíduos ou famílias em determinado lugar

movidos pela busca de melhores condições

ambientais, de trabalho) ou involuntária, quando os

ocupantes iniciais são obrigados a se retirar (como

no caso de áreas residenciais invadidas pelo

comércio ou indústria), podendo nesse caso ocorrer

reações da parte dos mesmos, defendendo a área

invadida (Ginst & Fava, 1973) como as que se

deram em diferentes momentos da história mundial,

com os índios no Brasil, com os povos maias no

México e diversos outros.

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Aula 6 | Comunidade e Meio Ambiente: Examinando a Teoria Sócio-Ambiental 235

entanto, que todo “progresso” representa, também,

necessariamente algum tipo de desorganização social.

Compreende-se por densidade social a

quantidade de relações estabelecidas no espaço

habitado (Maciel, 1993), podendo ser considerada um

indicador do grau de interação social em uma

determinada área geográfica. A densidade social é

favorecida em uma comunidade através dos meios de

comunicação em geral, pontos de encontro, locais de

recreação, instituições educativas, centros comunitários

e outros. Esse é um processo importante a se levar em

consideração no planejamento de projetos comunitários

de Educação Ambiental, particularmente no momento

de se optar pelo tipo de comunicação a ser utilizado em

uma comunidade visando alcançar resultados mais

rápidos e eficazes junto à mesma.

O processo de sucessão, por fim, compreende a

seqüência ordenada de fatos, ou melhor, a trajetória

histórica das mudanças ocorridas na comunidade no

decorrer do seu processo de desenvolvimento em

direção a um equilíbrio mais estável (Park, R., 1970). A

análise de um processo de sucessão e seus diferentes

estádios envolve necessariamente todos os outros

processos que aconteceram na comunidade, desde sua

implantação, envolvendo períodos de crescimento e

retração populacional, até o seu momento atual. O

estudo deste processo é fundamental em termos de um

registro histórico que o pesquisador precisa ter para o

desenvolvimento de qualquer trabalho de base

comunitária. A consideração de todos esses processos

por si mesmos, se exercendo ora conjuntamente, ora

de forma separada, já poderia fornecer uma idéia

considerável de como o meio ambiente, onde a

comunidade está situada, não pode ser considerado

apenas um lugar estático, mas sim como uma área de

intensa interação psicossocial, onde homem e natureza

Dica do professor

Rotinização Ao contrário, qualquer tipo de movimento sem mudança real de “posição ecológica” é caracterizado como um processo de rotinização. Como exemplo de processos rotineiros, encontramos o movimento diário de idas e vindas do lugar de residência para o trabalho, os passeios para compras e lazer, e outros movimentos mais, extremamente comuns da vida social comunitária.

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Aula 6 | Comunidade e Meio Ambiente: Examinando a Teoria Sócio-Ambiental 236

se relacionam continuamente, deflagrando uma

complexa série de reações, cujos efeitos irão variar de

comunidade para comunidade em termos de

apresentação, intensidade, tempo e extensão. Assim

sendo, é possível afirmar que a preocupação máxima

da Educação Ambiental consiste em que essas reações

venham a se processar sempre voltadas para uma

humanização da natureza e nunca para sua destruição.

Comunidade e meio ambiente

Após refletir sobre o que seja comunidade, e

considerar a importância que o papel do meio ambiente

assume junto a ela passando, então, a integrar um

complexo ecossistema local; seria interessante refletir

como têm sido processadas, ou mesmo como poderiam

ser processadas as diferentes formas de interação entre

uma comunidade e seu meio ambiente, partindo do

entendimento de que a comunidade é parte integrante

do mesmo. Kurt Lewin (1935) foi um dos primeiros a

afirmar, de forma categórica, que o comportamento

humano evolui em função da interação com o meio

ambiente, expressando seu pensamento através da

fórmula C = f (P. ME), donde C representa o

comportamento, P a pessoa e ME o meio (Lewin, 1935).

É evidente que a fórmula de Lewin também se aplica à

realidade comunitária, podendo até mesmo gerar

resultados mais eficazes em termos de uma

reestruturação comportamental, do que em uma

sociedade maior e mais complexa, tendo em vista o

número reduzido de influências externas.

SOBRE KURT LEWIN

Kurt Lewin (1890-1947) foi um psicólogo alemão

que por bom tempo trabalhou associado a Max

Wertheimer e Wolfgang Köhler, expoentes da

Psicologia da Gestalt. À semelhança de Goldstein,

teve carreira meteórica e também imigrou para os

Estados Unidos devido ao nazismo, ocupando

rapidamente importantes cargos em Universidades.

Importante

Começar a execução de um projeto comunitário, sem conhecer, ainda que superficialmente, a sucessão de processos envolvidos na sua constituição e manutenção, é uma tarefa arriscada, podendo ser o grande responsável pelo seu fracasso ou

ainda a criação de outros problemas de difícil resolução.

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Aula 6 | Comunidade e Meio Ambiente: Examinando a Teoria Sócio-Ambiental 237

Segundo Souza (1993), existem seis aspectos

comunitários fundamentais a se considerar e que

entendo como fundamentais para compreender os

processos de interação entre a comunidade humana e o

meio ambiente: 1) os aspectos físicos da área,

englobando sua localização espacial, comunicação com

outras áreas, caracterização territorial e sua população;

2) os aspectos históricos da comunidade; 3) os

aspectos econômicos, como as condições de vida e de

trabalho da população; 4) os aspectos políticos,

reunindo as relações de poder existentes nos diferentes

grupos e na própria comunidade como um todo; 5) os

aspectos culturais, considerando as variadas formas de

expressão cultural e as visões de mundo da

comunidade baseadas em seus interesses e aspirações;

6) os aspectos sociais, que envolvem os serviços sociais

básicos como educação, saúde, transporte, segurança e

comunicação. Todos esses aspectos pertinentes à

realidade comunitária estão intimamente ligados entre

si e com o meio ambiente, onde se apresentam e se

constituem. Um projeto de Educação Ambiental

aplicada a uma comunidade precisa considerar estes

aspectos em sua totalidade de uma forma integrada, a

partir de uma abordagem interativa. É um grande erro

pensar a dimensão ambiental apenas do ponto de vista

territorial ou geográfico, ignorando os fatores

psicossociais que estão indubitavelmente presentes e

são determinantes como já vimos em alguns processos

ecológicos. Como nos lembra D’Ávila & Maciel (1992), o

meio ambiente “é um processo de interação

sociocultural, gerado pelo homem e a natureza”

(D’Ávila & Maciel, 1992: 72). Neste contexto, os

Sustentou a aplicação de sua Teoria de Campo a

todos os ramos da Psicologia: questões relativas ao

comportamento infantil, adolescência, deficiência

mental, problemas de grupos minoritários,

diferenças caracteriológicas dos povos e dinâmica de

grupo.

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Aula 6 | Comunidade e Meio Ambiente: Examinando a Teoria Sócio-Ambiental 238

grupos, as comunidades, e a própria sociedade em

geral, poderiam ser encarados como a materialização

da dinâmica homem x meio.

Partindo dessa visão mais ampla de meio

ambiente, caberiam aqui os seguintes

questionamentos: será que as comunidades têm

interagido com o meio ambiente de modo a se

perceberem como parte integrante do mesmo? Isto é,

estariam as comunidades conscientes do importante

papel que o meio ambiente assume no que se refere ao

próprio desenvolvimento de suas atividades? Ou

melhor, saberiam estas do valor que o meio ambiente

representa, ou do que uma relação mais integrada com

o mesmo poderia vir a proporcionar? A resposta a todas

estas perguntas indicariam um conjunto bastante vasto

de possibilidades em termos de interação ambiental

(especialmente através de um trabalho de Educação

Ambiental) a serem desenvolvidas entre comunidade e

meio ambiente, mas que, entretanto, são ignoradas por

aqueles que compõem as comunidades, especialmente

quando se tratam de comunidades de baixa renda. O

conhecimento de como as forças naturais atuam, por

exemplo, ou de como se tirar vantagem da aclimatação

e solo local, poderiam não só evitar problemas como

desabamentos ou deslizamentos de casas; mas

colaborar na auto-sustentação financeira da

comunidade através da efetivação de hortas locais ou

montagem de uma estrutura comercial adequada às

condições que o meio oferece.

Nunca é demais lembrar que o meio ambiente

natural proporciona à comunidade humana as

condições básicas para sua sobrevivência. O

ecossistema formado pela fauna, flora, clima,

topografia, recursos naturais e as diversas formas de

como a comunidade interage e trabalha esse meio,

possibilita o atendimento às necessidades locais

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Aula 6 | Comunidade e Meio Ambiente: Examinando a Teoria Sócio-Ambiental 239

elementares, no que concerne à alimentação, trabalho,

segurança, transporte e lazer. O papel da Educação

Ambiental se insere justamente aí, ou seja, na

formação de uma nova mentalidade ecológica, num

trabalho contínuo, junto com a população de uma

comunidade, despertando-a para o papel fundamental

que o ambiente pode desempenhar em suas vidas,

oferecendo um imenso número de possibilidades de

atuação e oportunidades para seu desenvolvimento

local, desde que certos cuidados ambientais sejam

tomados.

Na acepção de alguns autores, uma comunidade

que desenvolve suas práticas de interação social

pautadas no respeito e na valorização do meio

ambiente é chamada de comunidade sustentável. Estas

seriam definidas, em linhas gerais, por algumas

características comuns, como a redução da poluição

interna e do lixo (optando-se pela reciclagem);

igualdade de oportunidade de trabalho, cultura e lazer

para todos; proteção da saúde de seus integrantes

enfatizando medidas de prevenção e higiene; luta por

meios de transportes acessíveis a sua população;

valorização do trabalho doméstico (interno) e ampla

participação da comunidade nos processos decisórios

locais. Isto é, ela encerra uma modalidade de

funcionamento comunitário, onde homem e meio

procuram uma relação mais equilibrada em prol de

EDUCAÇÃO AMBIENTAL EM COMUNIDADES

A implantação de ações de Educação Ambiental junto

à comunidade é fundamental, pois promove a

disseminação do conhecimento sobre o ambiente, e é

essencial para a inserção política, social e econômica

da população. Deve ser incorporada como parte do

aprendizado, contribuindo decisivamente para ampliar

a consciência ambiental e ética consoantes com o

desenvolvimento em bases sustentáveis, favorecendo,

inclusive, a participação popular nas tomadas de

decisão.

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Aula 6 | Comunidade e Meio Ambiente: Examinando a Teoria Sócio-Ambiental 240

melhores condições de vida e de bem-estar para

comunidade.

Uma sociedade sustentável é o desafio cuja

concretização requer a necessidade de ir “além das

considerações ecológicas expressas em termos de sua

capacidade para utilizar eficientemente seus recursos

naturais sem violar a capacidade de carga dos

ecossistemas. A sustentabilidade encerra, também,

dimensões econômicas e sociais orientadas a satisfazer

necessidades e aspirações humanas essenciais. Esta

tridimensionalidade requer uma nova ética de

desenvolvimento que nos conduza a construir novas

sociedades mais humanas, mais justas e mais

eqüitativas” (Tarté, R., 1995). Sociedades conscientes

de que os problemas ambientais não dizem respeito

apenas à natureza em si, mas geram situações de

pobreza, baixa produtividade, doenças, vulnerabilidade

a desastres naturais, poluição e inospitalidade;

devendo, portanto, serem tratados com a seriedade

que merecem.

É precisamente na busca de uma

sustentabilidade comunitária ampla e irrestrita, que se

concentram, ou pelo menos deveriam se concentrar os

esforços do trabalho de Educação Ambiental efetivado

em comunidades, em direção a uma elevação da

qualidade de vida das populações que delas fazem

parte, no sentido, portanto, de um desenvolvimento

comunitário. No entanto, para que esta meta seja

alcançada, se faz necessário procurar por novas formas

de relacionamento entre comunidade e meio ambiente.

É preciso substituir a relação de parasitas, de

dominadores pelo direito de simbiose que se expressar

através da reciprocidade (Serres, 1991). Isto

significaria restituir à natureza, de uma forma

resiliente, tudo o que a mesma fornece ao homem, o

Dica do professor

O que é Resiliência? Resiliência é um conceito da Física, que significa a capacidade de um corpo de, após ter sofrido uma pressão, devolver toda a energia nele depositada quando cessada a força. Dentro de uma abordagem mais ampla, o princípio da resiliência refere-se à aptidão de cada um para se adaptar a diferentes mudanças reagindo positivamente a elas, ou seja, de recuperar seu equilíbrio afetado pelas mesmas.

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Aula 6 | Comunidade e Meio Ambiente: Examinando a Teoria Sócio-Ambiental 241

que, sinceramente, não acredito como uma realidade

possível.

É desnecessário apontar aqui o quanto a

Educação é uma força motriz do crescimento

econômico, mas também e, principalmente, como

instrumento essencial à elevação dos níveis de vida.

Apesar das dificuldades de mensurar “a rentabilidade”

da Educação, autores como Adisesiah (1973)

mostraram com extrema simplicidade o quanto a

relação bilateral entre Educação e Desenvolvimento é

um fato incontestável. Para citar um único exemplo,

basta refletir sobre as condições do Brasil, Congo e

muitos outros países em relação as suas riquezas

naturais, o que lhes garantiria uma posição de

destaque em relação aos países europeus, e a real

posição que ocupam em termos de desenvolvimento

quando comparado a estes (Adiseshiah, 1973: 35).

O pedagogo alemão Ernest Krieck já afirmava,

desde 1926, que “a educação é uma função essencial e

permanente da vida em comunidade” (Krieck (1926)

apud Mantovani, 1952: 31). Segundo Krieck, ela

nasceria precisamente do continuum de relações que os

homens desenvolvem entre si, ou melhor, dos fluxos e

intercâmbios recíprocos do indivíduo para com a

comunidade e vice-versa. O fato de entender a

Educação dessa forma, o leva a afirmar que a mesma é

anterior à pedagogia e não sua criação, cabendo

àinstituição escolar apenas o mérito de aprimorá-la,

enfatizando ainda que: “quando se contempla a vida e

ação da comunidade se descobre o segredo de toda

educação” (Id., p.32), já que esta não seria nada mais

do que uma função básica da comunidade.

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Aula 6 | Comunidade e Meio Ambiente: Examinando a Teoria Sócio-Ambiental 242

Essa contribuição de Krieck é importante para

que se compreenda, em primeiro lugar, que o educador

não traz algo novo ou estranho para a comunidade

denominado Educação, seja ela ambiental ou não. O

processo educativo já existe em qualquer comunidade,

ele já está em funcionamento desde a concepção da

mesma, mantendo-a viva. Cabe ao educador (agente),

antes de mais nada, tentar perceber, entender e,

principalmente, aprender como este se desenvolve,

antes de qualquer tentativa ou pretensão de aplicar

determinado programa de ensino. A partir dessa

compreensão inicial, este buscará literalmente

“encaixar” seu programa, projeto ou estratégia à

realidade educativa já presente na comunidade, via

participação da mesma em todas as fases desse

encadeamento, inclusive as que se referem a uma

aplicação prática. E, em segundo lugar, que o educador

é, acima de tudo, um aprendiz, especialmente o

educador que tem na comunidade seu campo de

atuação; devendo este buscar “ver, ouvir e acolher”

demoradamente a realidade comunitária antes de nela

“agir”.

Conquistar estas metas exige, por parte do

educador, um envolvimento maior com a comunidade

que pretende trabalhar, procurando sair do anonimato

pedagógico formal e buscar incluir-se em sua dinâmica

relacional. A Educação Ambiental não se apresenta

como uma exceção a essas pontuações, muito ao

contrário, essas devem e precisam ser tomadas como

diretrizes, para que os processos por elas deflagrados

cheguem a sua plenitude e promovam algum tipo de

A CONTRIBUIÇÃO DE KRIECK

Para Ernest Krieck, a comunidade é definida não

apenas “como uma coexistência de indivíduos, mas

como uma convivência entre eles, ou seja, o gênero

de vida onde se estabeleceriam relações de

colaboração e compreensão recíprocas.

Dica do

professor

Sobre a capacitação: A capacitação pode ser definida como uma espécie de empoderamento (empowerment) através de um processo pedagógico que permite à população uma compreensão mais profunda de seus problemas, captando as contradições a que se encontra submetida, possibilitando assim que esta venha a

encontrar novas formas de ação que possam responder aos mesmos de forma mais direta e objetiva. Vide outros dados em Souza (1993) pp. 95-96.

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Aula 6 | Comunidade e Meio Ambiente: Examinando a Teoria Sócio-Ambiental 243

resultado na comunidade, ainda que este seja apenas

ao nível de conscientização.

O que se pretende aqui, ao revelar alguns

aportes entre Educação Ambiental e Desenvolvimento

Comunitário, é, antes de mais nada, confirmar o quanto

este é passível de ser atingido, desde os processos

educativos que se desenvolvem na comunidade que o

almeje, sejam direcionados no sentido de capacitar

seus membros a interpretar, de forma crítica, os

problemas que lhe são inerentes, possibilitando a estes

buscarem novas soluções que possam responder

melhor aos mesmos. A Educação Ambiental se insere,

nesse propósito, como uma educação para a vida,

despertando a comunidade para esses problemas

(especialmente os que se referem ao meio ambiente),

conduzindo-a a uma melhor leitura destes;

promovendo uma consciência mais objetiva da situação

em que se encontra e oferecendo-lhes alguns

elementos básicos para o delineamento de respostas

mais eficazes a fim de superá-los. Essa tomada de

consciência permite que seus membros se identifiquem

com um propósito de mudança e busquem, aprendendo

com seus próprios erros e tentativas, desenvolver suas

capacidades de organizarem-se, integrarem-se e se

auto-ajudarem para dobrar os obstáculos que se opõem

a seus processos particulares de desenvolvimento.

A importância de uma Educação Ambiental

voltada para o Desenvolvimento Comunitário se faz

sentir com maior intensidade - enquanto um

equipamento básico primordial a qualquer trabalho

dessa natureza - a partir do fato de que a concretização

da realidade, acima descrita, somente pode se dar

através de um amplo processo democrático que amplie

as possibilidades decisórias, comporte a criação de uma

ética coletiva do homem e permita a formulação de

novos paradigmas que dêem conta das novas

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Aula 6 | Comunidade e Meio Ambiente: Examinando a Teoria Sócio-Ambiental 244

tendências presentes na relação homem x meio

ambiente. Assim, mesmo consciente de que a Educação

como um todo não é única atividade responsável pela

reconstrução social em direção a uma sociedade mais

justa e igualitária (Costa, 1995); defendo que por ser a

Educação Ambiental uma das que mais sistematiza e se

envolve com as relações sociais, nas suas diferentes

esferas e dinâmicas, ela deve ser particularmente

destacada, entre outras estratégias, como um meio de

se chegar a esse resultado.

Como aponta Meyer (1991), a Educação

Ambiental não é a “solução mágica para todos os

problemas ambientais” (Meyer, 1991: 41), assim como

também não é solução para todos os problemas

relativos ao desenvolvimento. No entanto, enquanto

um processo contínuo de aprendizagem, ela contribui

pouco a pouco para a ampliação da consciência dos

membros da comunidade, sobre os potenciais e os

limites que esta apresenta. Conscientização essa, que é

construída, não apenas através da mera transmissão de

informações e conhecimentos, mas também e

principalmente, a partir da reflexão da própria

comunidade sobre seu cotidiano, através de

constatações práticas de “como é” a realidade em que

se encontram e “do como melhor poderia ser”.

Retomando aqui o pensamento de Gramsci

(1978), no que concerne às “relações orgânicas”: Ao

enxergar o homem como uma série de relações ativas,

isto é um processo; Gramsci percebe o indivíduo

sempre em relação com outros homens e com a

natureza, sendo estas relações estabelecidas

organicamente de forma ativa (através do trabalho, da

técnica e do diálogo), dependendo do grau de

consciência que delas tem o homem em interação; daí

o papel fundamental da conscientização da realidade

para que possamos vivenciá-la de uma forma mais

intensa e produtiva. Ampliando a consciência, o

Dica do professor

Como já dissemos em outras ocasiões, nunca é demais destacar que a Educação Ambiental é um dos caminhos para vencer desafios ambientais frutos da dinâmica relacional homem x meio, mas sem dúvida esta não é a única e seus resultados podem muito bem ser ampliados caso esta seja associada a outras ferramentas.

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Aula 6 | Comunidade e Meio Ambiente: Examinando a Teoria Sócio-Ambiental 245

processo educativo, seja ele qual for, promove

mudanças consideráveis tanto internamente (auto-

transformação e diferenciação conquistada) quanto

externamente, já que os reflexos das mesmas vão se

irradiar em todo conjunto de relações desenvolvidas

por quem a sofre. A complexidade desse processo leva

Gramsci a reconhecer que não basta entender o

homem “como uma síntese de relações existentes, mas

também a história dessas relações” (Id., p. 49), ou

seja, como estas se construíram ao longo do tempo,

podendo este aprender com os erros passados e

construir uma nova história.

A manutenção de um desenvolvimento

comunitário sustentável requer, em última instância, a

coexistências de dois fatores chave: a conservação do

nível de auto-sustentação e de diferenciação

conquistado pela comunidade, e o desenvolvimento

irrestrito de suas possibilidades. Ambos fatores são

contemplados na Educação Ambiental, seja através da

conscientização do potencial ambiental da comunidade

muitas vezes ignorado por esta e que pode ser utilizado

em benefício da mesma, numa relação de respeito e

intercâmbio; seja através do despertar de potenciais

latentes de organização comunitária, ora reivindicando

seus direitos, ora cobrindo falhas e lacunas deixadas

pelos órgãos competentes.

SOBRE GRAMSCI

Co-fundador do Partido Comunista Italiano, Antonio

Gramsci (1891-1937) foi uma das referências

essenciais do pensamento de esquerda no século

20. Embora comprometido com um projeto político

que deveria culminar com uma revolução proletária,

Gramsci se distinguia de seus pares por desacreditar

de uma tomada do poder que não fosse precedida

por mudanças de mentalidade. Para ele, os agentes

principais dessas mudanças seriam os intelectuais e

um dos seus instrumentos mais importantes, a

escola. Alguns conceitos criados ou valorizados por

Gramsci hoje são de uso corrente em várias partes

do mundo. Um deles é o de cidadania.

Dica do professor

Um programa completo de Educação Ambiental deve lidar com estratégias que visem os objetivos citados no parágrafo ao lado. Para tal, seria necessário,trabalhar não apenas a conscientização

ambiental como fim, mas como uma etapa, seguida de perto por outras como, por exemplo, a adoção de medidas que visem, a partir desta, um maior equilíbrio do ecossistema comunitário e a implantação das mesmas junto com a comunidade.

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Sabe-se que, no Brasil, as regiões não se

desenvolveram de modo homogêneo, variando de

estado para estado, uns mais e outros menos

desenvolvidos. A situação das microrregiões e

comunidades não difere muito dessa realidade,

havendo enormes discrepâncias de um lugar para

outro. Munidos dessa certeza, devem-se buscar

estratégias que priorizem a dinâmica particular de cada

localidade para se atingir o desenvolvimento

comunitário em cada uma delas. Uma determinada

população com poucos recursos econômicos e culturais

requer serviços elementares de saúde, trabalho,

alimentação, habitação e educação. Mesmo não tendo

como foco a resolução da carência ou insuficiência

desses serviços, a Educação Ambiental pode estimular

a comunidade a trabalhar conjuntamente, na busca de

soluções práticas a partir da próprio ambiente onde

vivem.

Dessa participação, entendida a partir de um

processo complexo de interações entre diferentes

pessoas, como aponta Grzybowski (1972), depende “o

êxito ou fracasso de um programa de educação

comunitária, “já que o mesmo é condicionado pelas

características e amplitude dessa participação”

(Grzybowski, 1972: 2). O desafio é justamente a luta

para conseguir viabilizar a chamada mobilização

comunitária, já que esta implica, necessariamente, um

estado de constante interação. Interação essa que será

marcada por uma série de fatores de ordem

psicossocial como os valores, as atitudes e a disposição

das pessoas interagentes (Krech et alii., 1969) tanto

por parte dos educadores como também pelos

membros da comunidade.

Esse estado interativo possibilita não só um

melhor esclarecimento dos motivos que levaram o

trabalho e, em conseqüência, a presença de um grupo

de trabalho estranho à comunidade, mas permite

Importante

A Teia de Relações e Dependências: Desse modo, cabe ressaltar a relação de dependência em que o educador ou o agente comunitário se encontra com relação a essa participação, tendo em vista que a própria atividade educacional é definida pelo tipo de participação obtida no trabalho com as comunidades. Quanto mais intensas forem essas relações, mais profundas e numerosas poderão ser as atividades pedagógicas a serem trabalhadas.

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Aula 6 | Comunidade e Meio Ambiente: Examinando a Teoria Sócio-Ambiental 247

estabelecer, também, um grau mínimo de confiança,

base sobre a qual o trabalho terá condições de ser

iniciado. A partir dessa primeira conquista, onde

comunidade e educadores sabem bem qual o seu papel

e seus limites, é possível iniciar um trabalho de

conscientização mais amplo. Somente com o

envolvimento de todos os atores envolvidos numa

prática social coletiva e transformadora, haverá

possibilidade de garantir uma possível mudança nas

atitudes e nos modos de pensar e agir dentro da

comunidade. Por trabalhar justamente os processos

envolvidos na relação homem x meio ambiente,

enfocando tudo que diz respeito à vida na comunidade

e, portanto, a todos os membros que a compõem, a

Educação Ambiental pode, sem dúvida, ser utilizada

como um agente catalisador desses processos, na

medida em que a comunidade se sinta valorizada e

entenda que, de uma forma geral, o que ela pretende é

dar-lhes a oportunidade de uma vida mais digna, mais

humana e mais sadia.

Entendido como “meio e contexto da vida

individual e comunitária” (Valverde, 1996: 99), o meio

ambiente deve ser pensado de forma heterogênea,

sendo percebido de diferentes formas para categorias

sociais, comunidades e grupos diversos. Assim sendo,

mesmo se configurando como uma unidade global ou

um grande ecossistema no qual a comunidade se

SERIA A PARTICIPAÇÃO UMA HABILIDADE?

Como nos lembra Bordenave (1983), a participação é

uma habilidade que se aprende e se aperfeiçoa; isto é,

não nascemos de posse dela, ela não é dada

geneticamente e sim construída socialmente. Através

de programas como o acima citado, que estimula a

participação comunitária num nível micro

(comunidade, associações), as pessoas vão

aperfeiçoando seu grau de participação local e se

preparando para um exercício mais maduro em

termos de sua macroparticipação, consubstanciando

as orientações político-ideológicas da sociedade em geral.

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Aula 6 | Comunidade e Meio Ambiente: Examinando a Teoria Sócio-Ambiental 248

insere, é importante entender que cada comunidade é

única, percebendo e atuando sobre o mesmo de uma

forma particular, de acordo com a tradição político-

sócio-cultural que varia de comunidade para

comunidade.

Se um programa de Educação Ambiental

pretende ser realmente efetivo numa comunidade, ele

deve direcionar suas estratégias partindo da noção de

meio ambiente defendida por essa comunidade que,

por sua vez, só será atingida através da possibilidade

de uma ampla participação nas diversas fases do

mesmo, por parte de seus membros. A valorização do

trabalho conjunto, concretizada através de ações co-

participativas, apenas ratifica o pensamento de Paulo

Freire (1992) na direção de que “educadores e

educandos (...) co-intencionados à realidade se

encontram numa tarefa em que ambos são sujeitos no

ato, não só de desvelá-la (a realidade) e, assim

criticamente conhecê-la, mas também de recriar este

conhecimento” (Freire, 1992: 61). Recriação esta que

pode se dar a partir dos problemas comuns da

comunidade, tendo como objetivo seu

desenvolvimento.

A partir destas considerações, parece estar claro

que os resultados obtidos pela aplicação de programas

de Educação Ambiental em comunidades, em termos do

desenvolvimento de uma consciência crítico-ambiental

e estímulo de potenciais comunitários latentes de

participação, contribuem significativamente para o

desenvolvimento destas, dotando-as de maiores

possibilidades de organizar melhor seu espaço e sua

própria vida social. No entanto, deve-se reconhecer que

outras práticas, aqui consideradas, de cunho político-

econômico, também, precisam ser levadas em conta

para que o processo de desenvolvimento comunitário

consiga se processar com maior eficiência e em menor

Dica do professor

Esta é uma aula rica, com muitas informações interessantes que devem servir para consulta sempre que você precisar entender melhor como se dão as relações entre comunidade e meio ambiente. Assim sendo, não deixe de ler a mesma outras vezes. Parabéns por ter chegado até aqui. Siga em frente com confiança!

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Aula 6 | Comunidade e Meio Ambiente: Examinando a Teoria Sócio-Ambiental 249

tempo, de acordo com as especificidades de cada

localidade.

EXERCÍCIO 1

Assinale a única informação incorreta sobre os PCNs:

( A ) Os PCNs foram criados pela secretaria de

educação fundamental;

( B ) Os PCNs tiveram sua versão definitiva no ano de

1988;

( C ) Os PCNs servem de base para elaboração e

revisão das políticas de currículo dos estados e

municípios;

( D ) Os PCNs auxiliam na orientação dos próprios

investimentos do sistema educacional;

( E ) A cultura não pode ser considerada como um dos

temas transversais trabalhados nos PCNs.

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Aula 6 | Comunidade e Meio Ambiente: Examinando a Teoria Sócio-Ambiental 250

EXERCÍCIO 2

Sobre os problemas e desafios da educação ambiental

destacados nos PCNs, é correto afirmar que estes são

abordados na maior parte das alternativas abaixo com

exceção de uma. Assinale qual seria esta:

( A ) Reconhecimento de que a educação ambiental

está longe de ser uma atividade tranqüilamente aceita

e desenvolvida;

( B ) Esclarecimento de que sem uma mudança real

no quadro de miserabilidade social pouco é possível

fazer;

( C ) Esclarecimento dos males do consumismo

desenfreado para o meio ambiente;

( D ) Destaque ainda que superficial para o papel e

valor dos agentes ambientais e ambientalistas na área;

( E ) Valorização da originalidade brasileira no que se

refere à busca de saídas ambientais sustentáveis.

EXERCÍCIO 3

Qual foi a importância da inclusão do Meio Ambiente

nos PCNs como um dos temas trasnversais para a

Educação Ambiental?

____________________________________________

____________________________________________

____________________________________________

____________________________________________

____________________________________________

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Aula 6 | Comunidade e Meio Ambiente: Examinando a Teoria Sócio-Ambiental 251

EXERCÍCIO 4

Como a Educação Ambiental Formal pode se beneficiar

da idéia de transversalidade onde o M.A. se inclui?

____________________________________________

____________________________________________

____________________________________________

____________________________________________

____________________________________________

RESUMO

Vimos até agora:

Nas últimas três décadas, a problemática

comunitária tem sido alvo constante de

diversas práticas sociais já consagradas -

como, por exemplo, a ação comunitária, a

ação social, a organização de comunidade e o

desenvolvimento de comunidade;

O homem vive em comunidades desde o

alvorecer da história humana (Koenig, 1975),

o papel que ela encerra foi, e continua sendo,

de tal modo, importante para a humanidade,

que ainda hoje, dois terços dos seres humanos

que povoam a terra são membros de

comunidades (tribos, famílias, clãs, comunas,

vizinhanças, vilas ou aldeias), e operam

segundo princípios internos próprios

(congregações, instituições, empresas,

agremiações, clubes) ainda que inseridos

numa economia mundial (Chinoy, 1979);

Nos séculos VI e VII A.C., os gregos já

concebiam a pólis como uma comunidade, ou

seja, como um âmbito de encontro interpessoal,

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Aula 6 | Comunidade e Meio Ambiente: Examinando a Teoria Sócio-Ambiental 252

dos diálogos e das celebrações. A pólis não

reunia pessoas apenas pelo nascimento ou

hábitos, mas principalmente pelo anseio

comum por uma vida melhor. Diversos

elementos valorizados na pólis, como a

identidade pessoal e o interesse coletivo,

podem ser encontrados ainda hoje nas

definições mais recentes de comunidade. Na

urbs romana, que mais tarde veio a substituí-

la é o anonimato social, ou seja, a

substituição identidade pessoal e concreta

presente na pólis, pela identidade jurídica,

levando os cidadãos a não se reconhecerem

mais uns aos outros (Cox, 1971).

Por volta do século XI aproximadamente,

começam a aparecer as chamadas cidades

medievais que tiveram um grande impulso

com o nascimento do comércio. Embora essa

configuração tenha contribuído notoriamente

para a formação de núcleos comunitários, é

preciso ressaltar que o ambiente da urbs,

pode ser entendido apenas como um lugar de

transação e de intercâmbio comercial, e não

como o lugar onde a vida se processa

intensamente.

Ao contrário do espaço urbano, o ambiente

rural, durante muitos séculos, não foi

encarado como um espaço comunitário. Só

mais tarde - com o aparecimento das

metrópoles e a grande concentração de

habitantes por metro quadrado (m2) nas

cidades - esta concepção foi sendo invertida,

de forma que atualmente, ao nos referirmos a

uma comunidade, a primeira imagem que nos

vem à mente é a de um local mais próximo

do meio rural;

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Aula 6 | Comunidade e Meio Ambiente: Examinando a Teoria Sócio-Ambiental 253

A célebre distinção entre comunidade rural e

urbana, não possui limites precisos.

Considera-se como principal divisor de águas

o conjunto dos fatores: densidade

populacional, estratificação social e contato

com as pessoas;

Com o advento do Iluminismo, houve uma

forte hostilidade em relação à formação de

comunidades, especialmente devido a

associação que lhe era comumente atribuída

ao sistema feudal. Deste modo, no século

XVIII, desenvolveu-se um sentimento anti-

comunitário, que conseguiu fazer com que a

comunidade perdesse seu sentido original

para ser encarada como a grande vilã e

inimiga do progresso;

Na concepção Rosseauniana, as associações

extinguiam a liberdade de seus integrantes,

pois embora seus membros permanecessem

unidos, estes passavam não mais a obedecer

a si próprios, e sim aos seus dirigentes;

A revolução urbano-industrial trouxe consigo

a desintegração nas relações sociais

tradicionais dos aglomerados humanos das

áreas urbanas faz despertar a questão da

comunidade, pois o desenvolvimento das

forças produtivas presentes à Revolução

Industrial cria a dissolução dos antigos laços

de autoridade e poder existentes na

comunidade;

Nisbet destaca como a nostalgia da

comunidade, isto é, um sentimento referente

às lembranças e sonhos com um lugar

maravilhoso que representava tudo de bom que

foi totalmente destruído pelo progresso gerador

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Aula 6 | Comunidade e Meio Ambiente: Examinando a Teoria Sócio-Ambiental 254

do caos. Para Nisbet essa nostalgia

comunitária vai marcar sensivelmente todo o

pensamento social do século XIX. Segundo

ele existe uma busca incessante pela

comunidade, enquanto um sistema

impessoal, secular e individual, fazendo com

que o homem busque a comunidade no

casamento, nos consultórios de psiquiatria,

no culto, na religião fácil e em várias outras

oportunidades de distração que aliviem seu

esgotamento nervoso;

Hillery em seu artigo “Definitions of

Community: Areas of Agreement”, onde este

já detectava, em junho de 1955, noventa e

quatro definições de comunidade (Hillery,

1955). Por isso mesmo, ele e outros autores

como Lehran (1973), defendiam a teoria de

que uma comunidade não pode ser resumida

a um conceito único e definitivo, mas sim a

uma família de conceitos com traços

coincidentes;

Algumas definições de comunidade valorizam

sua estrutura física, ou melhor, seu espaço

geograficamente determinado. Outras

preferem destacar suas funções básicas,

principalmente as de cunho interativo;

Para MacIver a comunidade pode ser

entendida como “qualquer área de vida

comum, vila ou cidade, distrito ou município,

ou mesmo uma área maior” ou ainda como “o

viver comum de seres sociais”;

Segundo Gurvitich o indivíduo só existe por

oposição a sociedade, ele define uma

metodologia tipológica própria para explicá-la

baseada em três diferentes pólos sob constan-

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te tensão: “os eus”, “os nós” e “os outros”;

Nas diferentes teorias, alguns elementos

comuns estão presentes na maioria das

definições de comunidade tais como: 1) uma

unidade social 2) uma área geográfica

determinada (locus onde a comunidade vive e

se desenvolve); 3) membros com algum tipo

de interesse comum (tradição, trabalho,

compromissos); 4) interatividade social

constante (maior com a comunidade do que

com demais agrupamentos) e 5) consciência

do “ser comunitário” (pertencer, ser parte da

comunidade);

O sociólogo Ferdinand Tönnies (1887)

defende que comunidade (Gemeinschaft) e

sociedade (Gesellschaft) são conceitos

distintos. A esfera da comunidade englobaria

tudo que é orgânico, real e instintivo, ao

contrário da esfera da sociedade que, por

vez, reuniria tudo o que é ideal, artificial e

mecânico. A comunidade se fundamentaria

num querer profundo, inerente ao ser

(Wesenville), de maneira que as relações nela

estabelecidas são íntimas e primárias. Seu

controle se fundamentaria nos folkways e

mores”.

A sociedade por sua vez, resultaria de uma

criação individual, de um produto da

inteligência racional, desenvolvendo-se

graças à vontade de escolha. Ela seria

compreendida “como uma pura justaposição

de indivíduos independentes;

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Aula 6 | Comunidade e Meio Ambiente: Examinando a Teoria Sócio-Ambiental 256

Para Tonniës a comunidade foi sendo

historicamente substituída pela sociedade,

desse modo, as relações desenvolvidas pelos

homens entre si assumiram a forma de uma

relação entre artigos de consumo, baseada

em interesses individuais e marcada pela

competição. Em suas palavras, o “querer

orgânico” foi dando lugar a “vontade

refletida”, ou como diria posteriormente

Durkheim, foi havendo uma passagem da

“solidariedade mecânica” para uma

“solidariedade orgânica”;

Max Weber, ao pensar a comunidade como

uma relação social construída sobre

fundamentos afetivos, emotivos e

tradicionais, enquanto que a sociedade,

embora também sendo um tipo de relação

social, estaria pautada na compensação de

interesses por motivos racionais, numa

espécie de acordo estabelecido entre seus

integrantes por meio de manifestações

recíprocas;

Louis Wirth (1973) preferem entendê-las

(sociedade e comunidade) como aspectos

complementares de toda forma de vida em

grupo, mesmo concordando que a sociedade,

em relação à comunidade, encerraria uma

população bem maior com uma organização

mais complexa;

A comunicação para Wirth é valorizada como

uma forma de oficializar o que a comunidade

tem em comum, criando um consenso básico

para existência da comunidade e da

sociedade; Do mesmo modo Pierson (1977)

enxerga comunidade e sociedade como “dois

aspectos da associação humana indissoluvelmen

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Aula 6 | Comunidade e Meio Ambiente: Examinando a Teoria Sócio-Ambiental 257

te ligados entre si e raramente, ou nunca,

existem separados”;

São inúmeras as contribuições que um

projeto de Educação Ambiental bem

concebido e aplicado pode promover, junto à

comunidade ou à sociedade, no que concerne

ao processo de tomada de consciência, não só

de suas condições locais, mas também dos

mecanismos que estimulam e perpetuam o

subdesenvolvimento, procurando apoiar e

instrumentalizar seus membros na busca de

possíveis soluções a partir da própria

realidade sócio-ambiental onde estão

inseridos;

Cada comunidade compreende uma realidade

única, possuindo significados diferentes e

vivências ímpares. É na comunidade que as

pessoas se organizam e agem em função de

seus interesses e ideais, buscando algum tipo

de melhoria nas condições de vida a que são

obrigadas a se submeter. Comunidade é o

lugar onde as pessoas vivem, ganham seu

sustento, formam suas famílias, adquirem

conhecimento e produzem cultura, aí esta sua

riqueza;

Considerar uma comunidade real, implica

enxergá-la como um lugar onde se

desenvolvem uma série de processos,

promovendo contínuas tensões

acompanhadas de constantes desequilíbrios;

A dinâmica comunitária vai se referir a toda

classe de processos ativos e naturais na vida

comunitária, tanto aqueles relacionados com

fenômenos construtivos e mantenedores da co

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Aula 6 | Comunidade e Meio Ambiente: Examinando a Teoria Sócio-Ambiental 258

munidade, quanto os que se referem aos

fenômenos desagregatórios da mesma;

Pierson (1977), ao estudar a temática da

interação social, lista uma série desses

fenômenos: a socialização pela qual o recém-

nato vai se incorporando ao grupo; a

comunicação cuja função é a manutenção da

unidade e integridade do grupo social, a

acomodação produzindo novas formas de

interação, ajustamento e organização

comunitária, abrindo caminho para a

assimilação e a assimilação que apazigua

integralmente o conflito seja ele pessoal ou

grupal, na medida em que sugere mudanças

de ordem psíquica no indivíduo levando-o a

de adquirir vivências, objetivos e sentimentos

próprios do grupo, de outras culturas ou

mesmo da própria situação conflitante;

A competição considerada como um processo

inconsciente e um princípio regulador que

produz a ordem no reino dos seres vivos e

tem como objetivo final a sobrevivência da

espécie, ela seria a forma de interação mais

elementar e fundamental existente e o

conflito que é tido como um processo

consciente e pessoal caracterizado através da

luta pelo status, ou seja, a luta por uma

posição que o indivíduo ou grupo acredite

corresponder ao seu papel. Ele pode ser

basicamente resumido na tomada de

consciência da competição acompanhada de

uma tensão que vai aumentando

gradativamente de tal modo que sua

resolução possibilite um tipo de descarga;

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Aula 6 | Comunidade e Meio Ambiente: Examinando a Teoria Sócio-Ambiental 259

A natureza territorial possui uma influência

decisiva na estrutura social local e nos modos

de viver de uma comunidade. As condições

geográficas, aliada aos recursos e ao clima da

região suscitam problemas, impõem limites e

criam oportunidades (chinoy, 1979); estar

social.

Dentre os processos ecológicos que

promovem o equilíbrio biótico através da

formação, reestruturação ou até mesmo o

desaparecimento de agrupamentos sociais em

geral destacam-se: a concentração -

tendência de um número crescente de

pessoas para se fixarem numa determinada

área ou região, constituindo-se num dos

fatores básicos para a constituição de

comunidades urbanas; centralização,

especialização, dominância ou dominação,

migração, dispersão - caracterizado pelo

inverso do processo de concentração-,

segregação, invasão, resistência, mobilidade,

densidade social e sucessão;

A segregação pode ser motivada por

diferentes fatores, como os espaciais, no caso

das barreiras naturais como montanhas,

florestas, desertos que também promovem o

isolamento social, embora hoje cada vez mais

superado pelo desenvolvimento de novas

tecnologias, especialmente as de cunho

comunicacional, vencendo as barreiras naturais

e chegando a todas as partes do globo. Por

fatores biológicos (diferenças de cor,

doenças, características físicas), fisiológicos

(deficiência de sentidos: surdez, gagueira), e

até psicológicos no caso da formação de

grupos de indivíduos introvertidos ou

neuróticos;

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Na maior parte das vezes, a segregação não

se dá de forma completa, ou seja, ela é

limitada, existindo sempre uma mistura de

populações distintas principalmente ao redor

da área dita isolada. Além disso ela pode ser

voluntária, quando os nativos da região

concordam com a invasão e a ela não criam

nenhum tipo de reação, ou involuntária,

quando esta ocorre através da força, seja por

fatores culturais, legais ou ainda econômicos,

já que não se vive aonde se deseja, mas

aonde o custo de vida permite;

A invasão refere-se ao processo grupal de

ocupação não controlado de uma área

segregada, por uma população diferente da

que a ocupava, bem como, as mudanças

resultantes dessa ocupação quanto ao tipo de

população e do terreno em si;

A mobilidade, segundo Park (1970), diz

respeito ao movimento de indivíduos ou

grupos de uma posição social para outra,

acompanhada da circulação de valores e

traços culturais do seu grupo de origem;

Compreende-se por densidade social, a

quantidade de relações estabelecidas no

espaço habitado (Maciel, 1993), podendo ser

considerada um indicador do grau de interação

social em uma determinada área geográfica.

Pode ser favorecida em uma comunidade

através dos meios de comunicação em geral,

pontos de encontro, locais de recreação,

instituições educativas, centros comunitários

e outros;

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O processo de sucessão por fim, compreende

a seqüência ordenada de fatos, ou melhor, a

trajetória histórica das mudanças ocorridas na

comunidade no decorrer do seu processo de

desenvolvimento em direção a um equilíbrio

mais estável;

. Kurt Lewin (1935), foi um dos primeiros a

afirmar que o comportamento humano evolui

em função da interação com o meio

ambiente, expressando seu pensamento

através da fórmula C = f (P. ME), donde C

representa o comportamento, P a pessoa e

ME o meio;

Existem seis aspectos comunitários

fundamentais a se considerar e que entendo

como fundamentais para compreender os

processos de interação entre a comunidade

humana e o meio ambiente: 1) os aspectos

físicos da área,; 2) os aspectos históricos da

comunidade; 3) os aspectos econômicos; 4)

os aspectos políticos; 5) os aspectos

culturais, 6) os aspectos sociais, que

envolvem os serviços sociais básicos como

educação, saúde, transporte, segurança e

comunicação. Todos esses aspectos

pertinentes à realidade comunitária estão

intimamente ligados entre si e com o meio

ambiente onde se apresentam e se

constituem;

As chamadas de comunidades sustentáveis.

que encerram uma modalidade de

funcionamento comunitário, onde homem e

meio procuram uma relação mais equilibrada

em prol de melhores condições de vida e

bem-estar para comunidade.

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Aula 6 | Comunidade e Meio Ambiente: Examinando a Teoria Sócio-Ambiental 262

É precisamente na busca de uma

sustentabilidade comunitária ampla e

irrestrita, que se concentra, ou pelo menos

deveria se concentrar, os esforços do trabalho

de Educação Ambiental efetivado em

comunidades;

“A educação é uma função essencial e

permanente da vida em comunidade” (krieck

(1926) apud mantovani, 1952: 31). Segundo

krieck, ela nasceria precisamente do

continuum de relações que os homens

desenvolvem entre si, ou melhor, dos fluxos e

intercâmbios recíprocos do indivíduo para

com a comunidade e vice-versa;

Cabe ao educador (agente), antes de mais

nada, tentar perceber, entender e

principalmente aprender, como se dá os

processos de desenvolvimento de uma

comunidade, antes de qualquer tentativa ou

pretensão de aplicar determinado programa

de ensino;

Como aponta Meyer (1991), a Educação

Ambiental não é a “solução mágica para todos

os problemas ambientais” (Meyer, 1991: 41),

assim como também não é solução para

todos os problemas relativos ao

desenvolvimento. No entanto, enquanto um

processo contínuo de aprendizagem, ela

contribui pouco a pouco para a ampliação da

consciência dos membros da comunidade,

sobre os potenciais e os limites que esta

apresenta;

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Aula 6 | Comunidade e Meio Ambiente: Examinando a Teoria Sócio-Ambiental 263

”Ao enxergar o homem como uma série de

relações ativas, isto é um processo; Gramsci

percebe o indivíduo sempre em relação com

outros homens e com a natureza, sendo estas

relações, estabelecidas organicamente de

forma ativa (através do trabalho, da técnica e

do diálogo) dependendo do grau de

consciência que delas tem o homem em

interação; daí o papel fundamental da

conscientização da realidade para que

possamos vivenciá-la de uma forma mais

intensa e produtiva;

A manutenção de um Desenvolvimento

Comunitário sustentável requer em última

instância a coexistências de dois fatores

chave: a conservação do nível de auto-

sustentação e de diferenciação conquistado

pela comunidade, e o desenvolvimento

irrestrito de suas possibilidades. Ambos,

fatores que são contemplados na Educação

Ambiental;

A Educação Ambiental pode estimular a

comunidade a trabalhar conjuntamente, na

busca de soluções práticas a partir da próprio

ambiente onde vivem. O desafio, é

justamente a luta para conseguir viabilizar a

chamada mobilização comunitária, já que

esta, implica necessariamente num estado de

constante interação;

Entendido como “meio e contexto da vida

individual e comunitária” (Valverde, 1996:

99), o meio ambiente deve ser pensado de

forma heterogênea, sendo percebido

diferentes formas para categorias sociais,

comunidades e grupos diversos. Não se pode i

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Aula 6 | Comunidade e Meio Ambiente: Examinando a Teoria Sócio-Ambiental 264

gnorar que cada comunidade é única,

percebendo e atuando sobre o mesmo de

uma forma particular, de acordo com a

tradição político-sócio-cultural que varia de

comunidade para comunidade.

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O Papel Ético do

Educador Ambiental

Vilson Sérgio de Carvalho

AU

LA

7

Ap

res

en

taç

ão

Analisaremos aqui algumas considerações éticas presentes no

campo da Educação Ambiental tanto de ordem teórica como

prática. Para isso conversaremos primeiro sobre os conceitos de

ética e moral relacionando estes com a temática ambiental, uma

vez que a crise ecológica está profundamente enraizada em uma

crise ética. Posteriormente, enfocaremos duas dimensões éticas

associadas à área de Educação Ambiental: A Ética “da” EA

associada aos princípios defendidos pela EA através de seus

principais tratados, acordos e definições a partir de sua legislação;

e a Ética “na” EA relacionada à práxis dos diferentes profissionais

promotores da EA, em seus diferentes âmbitos, que muitas vezes

se guiam por uma ética que se conflitua com a ética “da” EA

anteriormente citada. Por fim, questionaremos a necessidade de

um código de ética da EA e seus reflexos no dia-a-dia do educador

ambiental.

Ob

jeti

vo

s

Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você seja

capaz de:

Aprender mais sobre alguns conceitos-chave como ética e

moral e sua importância na análise do existir humano; Entender a atual crise socioambiental como uma crise

essencialmente ética;

Compreender as implicações éticas envolvidas no pensar e no

fazer da Educação Ambiental através da análise das éticas “da”

e “na” EA; Analisar alguns dos principais reflexos dos conflitos entre as

éticas “da” e “na” EA; Tecer considerações sobre a elaboração de um código de ética

da educação ambiental e suas implicações.

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Aula 7 | O papel ético do educador ambiental 266

Para ser educador ambiental, é preciso...

O que é preciso para ser ou atuar como um

educador ambiental? De todas as respostas possíveis a

esta questão como um conhecimento aprofundado da

realidade socioambiental onde pretende atuar ou uma

boa facilidade de relacionamento – nenhuma é tão

importante e imprescindível como uma postura ética

adequada a sua realidade. Infelizmente, essa não é

uma das características mais citadas nas listas para

definir o perfil dos educadores ambientais. No entanto,

não resta dúvida que se trata de sua característica mais

essencial e imprescindível. O motivo dessa ausência

talvez esteja na obviedade relacional que esta encerra,

já que, a priori, nas parece absurdo pensar a atuação

de um educador ambiental - que trabalha em prol da

formação de uma consciência ecológica - desligada de

uma atuação ética dirigida a questões ambientais,

agindo como se a mesma inexistisse.

Entretanto, faz-se necessário problematizar essa

obviedade e se perguntar: Até que ponto os

profissionais de Educação Ambiental, estão ou não

agindo eticamente em sua maneira de fazer, ministrar,

aplicar, enfim de trabalhar com Educação Ambiental em

seus locus de atuação; isto é, se perguntar até que

ponto nós educadores estamos ou não agindo

eticamente na Educação Ambiental que temos

proporcionado ao público-alvo (comunidades,

educandos, associações e etc.) com o qual temos

trabalhado? Nesse contexto, caberiam outras reflexões,

como a de que se existiria de fato, e não apenas de

direito, uma ética relativa à Educação Ambiental? Estas

e outras questões constituirão o foco desta aula.

Para tal esta aula se propõe a entender a

relação entre Ética e Educação Ambiental em dois

âmbitos distintos, porem intimamente

Dica do professor

Fique de Olho: O autor irá trabalhar a relação entre Ética e Educação Ambiental a partir de duas dimensões a Ética “na” Educação

Ambiental relativa aos valores, crenças e atitudes dos educadores ambientais e a Ética “da” Educação Ambiental relacionada a ética que a Educação Ambiental enquanto discurso ou legislação pretende instaurar no planeta.

Para ser educador ambiental, é preciso... 266 Porque a Crise Ambiental é uma Crise Ética 267 Ética e moral: semelhanças e diferenças 270 A ética “da” educação ambiental 271 A ética “na” educação ambiental 277

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Aula 7 | O papel ético do educador ambiental 267

interrelacionados: A Ética da Educação Ambiental,

referindo-me a constituição da nova ética ecológica que

a Educação Ambiental se propõe a instaurar; e a Ética

na Educação Ambiental, que por sua vez, diz respeito a

ética, ou mais especificamente, ao conjunto de valores

sobre o qual esta se sustenta, relacionada a práxis do

Educador Ambiental que atua em seus diferentes

âmbitos – formal, não-formal e informal. A análise

destes âmbitos (referindo-me a ética enquanto fim e a

ética enquanto meio) - construída a partir de

interrogações, e a tentativa de respondê-las através de

algumas reflexões e contribuições teóricas - constitui o

fio condutor dessa aula.

Porque a Crise Ambiental é uma Crise

Ética

Em um de seus últimos livros - A Mudança de

Sentido e o Sentido da Mudança (2000), Pierre Weil

define ética como sendo o "conjunto de valores que

levam o homem a se comportar de modo construtivo e

harmonioso, pois são os valores que determinam as

opiniões, atitudes e comportamentos das pessoas"

(Weil, 2000:133). Nesse sentido, não é exagero afirmar

que a ética exerce uma profunda influência na

qualidade de vida, no desenvolvimento sócio-cultural,

assim como nas relações que a humanidade desenvolve

com a natureza da qual faz parte.

Uma das mais duras constatações percebidas

por cientistas e pesquisadores no final do século XX

refere-se ao distanciamento existente entre os avanços

conquistados no plano da ciência e da técnica, e o

desejável avanço no terreno da ética, que não chegou a

ocorrer na mesma proporção, intensidade e velocidade.

Esse abismo na verdade, é um velho conhecido da

grande maioria dos estudiosos que se debruçaram

sobre a temática da ética e da moral no meio tecno-

Você sabia?

Esse tem sido um dos maiores desafios contemporâneos: Favorecer a que as proporções entre o desenvolvimento ético e o desenvolvimento tecnológico possam um dia se equilibrar.

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Aula 7 | O papel ético do educador ambiental 268

científico, uma vez que se trata de uma realidade que

tem sua origem já há algumas centenas de anos, tendo

seu ápice na lógica cartesiana e no utilitarismo

baconiano. A maior parte das questões recentes de

ordem ética com as quais temos nos defrontado - que

incluem desde os problemas relativos à bioética

(clonagem, transplante e venda de órgãos, produção de

organismos geneticamente modificados) até os testes

de bombas atômicas na China, Índia e Paquistão - tem

raízes nesses preceitos onde o homem foi e continua

sendo iludido para se enxergar como “medida de todas

as coisas”.

Há praticamente 50 anos atrás, em sua obra

“The New Regional Pattern”, o arquiteto alemão

Hilberseiner defendia, de forma quase previsionária,

que “o futuro parece freqüentemente depender de

soluções técnicas e econômicas, mas os problemas que

temos de resolver são essencialmente éticos. As

técnicas e economias mudam sempre, e muitos

problemas sociais mudam com eles. Não os problemas

éticos, estes permaneceriam os mesmos” (Hilberseiner,

1949: 87). Cinco décadas depois, o raciocínio de

Hilberseiner continua sendo válido, pois, mesmo no

limiar de um novo milênio, é verdade que enquanto as

ciências da técnica e da economia são continuamente

atualizadas e reformuladas para responder novas

exigências sociais; as questões éticas fundamentais

relativas ao bem-estar social e própria qualidade da

vida humana permanecem inalteradas e sem respostas

satisfatórias. A máquina poderia servir como exemplo

clássico para ilustrar essa realidade. Cada vez mais

sofisticada, rápida, digital, compacta e eficiente, ela foi

sendo progressivamente mais aperfeiçoada - do ponto

de vista científico - para cumprir sua função que, direta

ou indiretamente, se voltava para a obtenção de lucro,

através da aceleração da produção; otimização de

serviços rentáveis ou mesmo de sua própria

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Aula 7 | O papel ético do educador ambiental 269

comercialização. Perguntas como A quem a máquina

serve? Quem tem acesso à mesma? Quem pode

usufruir de seus benefícios? Ou, ainda, quem tem

responsabilidade pelos possíveis malefícios que possa

vir a causar? se tornaram na verdade, um conjunto de

questões secundárias e, como tais, desmerecedoras de

maior importância em nome de uma entidade

misteriosa qualificada de progresso.

Numa busca desenfreada pela acumulação de

riquezas, representada através dos ícones do lucro e da

mais-valia, a dimensão social do desenvolvimento

técnico-científico foi durante anos e anos secundarizada

e descartada, só vindo a ser recuperada, muito

recentemente, na segunda metade de nosso século,

pela pressão de grupos internacionais; de uma minoria

de cientistas e pesquisadores conscientes; e da própria

população civil organizada (onde as ONGs vão assumir

um papel fundamental); que começaram a pressionar a

própria razão científica quando em nome desta era

permitido explorar, oprimir e destruir. A apropriação e

uso dos recursos ambientais não escaparam a essa

lógica mercadológica, consumista e destrutiva, onde

possuir e dominar sempre foram palavras de ordem,

marcando de forma profunda as relações entre homem

e meio ambiente através da história. Como aponta Boff

(1996), explicitando o engodo, o sonho do crescimento

ilimitado produziu o subdesenvolvimento de 2/3 da

humanidade, a exaustão dos sistemas vitais e a

desintegração progressiva do equilíbrio ambiental (Boff,

1996: 25).

Por isso, não temo afirmar, de forma convicta,

que a crise socioambiental, reflexo da própria crise

civilizatória com a qual nos deparamos, foi antecipada,

sem dúvida alguma, por uma grave crise de ética. A

ausência de uma postura ética técnico-científica que

pudesse ordenar as ações do homem sobre a natureza,

Dica do professor

Denúncia: O sonho do crescimento ilimitado teve como um de seus resultados mais concretos a destruição ambiental em larga escala. Pesquise mais sobre as diferenças entre progresso e desenvolvimento.

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Aula 7 | O papel ético do educador ambiental 270

baseada no respeito mútuo entre esses dois elementos

- no reconhecimento tanto da dignidade humana

quanto do valor da natureza - ajuda-nos a

compreender melhor como o caos supracitado pode

alcançar níveis de tal ordem prejudiciais à própria

continuidade da vida no planeta. Não é por acaso que a

origem da palavra ética, advinda da raiz grega ethos

(costume), é a mesma, refere-se ao local onde o

homem vive, mora ou passa grande parte de seu

tempo.

Ética e moral: semelhanças e diferenças

Existe uma discussão, que acho conveniente

explicitar, referente às diferenças entre os conceitos de

ética e moral. Embora tradicionalmente utilizados como

termos sinônimos, muitas vezes até de forma aleatória,

ética e moral possuem nítidas distinções. Enquanto a

moral é concreta e diz respeito ao nível individual,

prático e prescritivo; a ética é mais social, teórica e

virtual, se constituindo como um campo de análise

filosófica voltada para o estudo dos fundamentos e

validação de comportamentos socialmente reconhecidos

e estimulados (Krüger,1998). Nesse sentido, a moral se

referiria ao conjunto de prescrições admitidas numa

época e sociedade determinada, e o esforço devido

para se conformar a estas prescrições e segui-las; ao

passo que a ética seria a doutrina dos costumes, tendo

como objeto de estudo a qualificação de condutas em

termos do que é bom ou mau (Lalande, 1996; Mora,

1998; Abbagnano, 1998).

Muitos autores concordam com esta

diferenciação, definindo moral como “um conjunto de

prescrições destinadas a assegurar uma vida em

comum de forma harmoniosa”, e ética como “a

avaliação normativa das ações e do caráter de

indivíduos e grupos” (Japiassu & Marcondes, 1996: 93).

Importante

Não se trata, aqui, de criticar a tecnologia ou mesmo a ciência como bodes expiatórios da crise civilizatória, mas sim de destacar como estas têm sido utilizadas a serviço

de um desenvolvimento exclusivamente econômico, onde o lucro é sempre a prioridade-mor.

Dica do professor

Confusão conceitual: Basta tomarmos como exemplo as questões de justiça e moralidade para entender o quanto a prática usual desses conceitos é indiferenciada e de difícil precisão quanto ao uso acertado de uma ou outra. De qualquer forma, é interessante saber que a Filosofia tem uma reflexão diversa para cada uma delas.

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Aula 7 | O papel ético do educador ambiental 271

Todavia, mesmo aceitando com reservas essa distinção

no plano teórico, é necessário entender que, na prática,

as questões concernentes à moral e à ética estão

inteiramente imbricadas, sendo, portanto, difícil

precisar uma separação mais rígida entre os dois

conceitos. A moral fornece o conteúdo a ser avaliado

pela ética que, por sua vez, a alimenta estabelecendo,

através de seu julgamento, que tipo de ação ou

pensamento seria moral ou amoral. Reforçando essa

mesclagem conceitual, Kremer-Marketti (1989) nos

recorda, ainda, que, na concepção anglo-saxã, a ética

tem sido definida como a ciência da moral, e a moral,

por sua vez, como uma espécie de ética-normativa

(Kremer-Marketti, A., 1989: 7-8).

Pretendendo não me estender nessa discussão,

faço uma opção consciente pelo uso do termo ética, até

porque, mais do que se voltar para problemas de

normatização, ou mesmo um conjunto de prescrições

morais juridicamente firmadas, as questões que aqui

pretendo enfocar e desenvolver sobre Educação

Ambiental referem-se mais propriamente à temática

dos valores, tanto dos que esta se propõe a disseminar

e enraizar (ética da Educação Ambiental) quanto dos

valores fundamentais que os agentes de Educação

Ambiental (ética na Educação Ambiental) devem

considerar em seu cotidiano de trabalho. Isso não

significa que, em dado momento, o texto não venha a

tecer comentários sobre algumas prescrições mais

estimuladas na prática da Educação Ambiental e/ou que

possam servir para a constituição da chamada ética

ecológica.

A ética “da” educação ambiental

Desde que a Educação Ambiental começa a

despontar no cenário mundial, já nas primeiras

conferências de que temos registro, como a

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Aula 7 | O papel ético do educador ambiental 272

Conferência de Estocolmo (1972) - onde ela é elevada

ao estatus de “assunto oficial” por possuir uma

“importância estratégica” - e a Conferência de Tbilisi

(1977) - onde fora destacado como um de seus

objetivos principais a criação de “uma consciência de

interdependência econômica, política e ecológica do

mundo moderno, com a finalidade de acentuar o

espírito de responsabilidade e de solidariedade entre as

nações” (Assis, 1991: 62); a dimensão ética da

Educação Ambiental sempre esteve presente tanto no

âmbito formal (institucional), quanto no âmbito não-

formal (sociocomunitário) (Carvalho, 2002). Neste

item, procuro compreender que tipo de ética é

estimulada e sugerida pela Educação Ambiental, e em

que princípios ela se baseia.

Em diferentes trabalhos que escrevi, tive a

oportunidade de esclarecer que entendo a Educação

Ambiental como “um processo crítico-transformador

capaz de promover no indivíduo um questionamento

mais profundo sobre a realidade ambiental onde este se

encontra inserido, levando-o a assumir uma nova

mentalidade ecológica, pautada no respeito mútuo para

com o meio ambiente e os que nele convivem”

(Carvalho, 2002: 4-5). Esse questionamento mais

profundo diria respeito ao nível mais básico do que

denominei como a Ética “da” Educação Ambiental.

Inspirado em Edgard Morin (1997), podemos chamar

esse nível primário da ética da Educação Ambiental de

uma “auto-ética” que se fundamenta na própria

consciência moral de cada indivíduo.

Note que, a partir da definição de Educação

Ambiental adotada, tudo começa a partir de um

questionamento interior, que, por conseguinte, é

dirigido aos nossos valores e critérios pessoais de agir

no mundo que nos cerca. É fundamental que essa

moral íntima e pessoal do público-alvo, a quem a

Importante

A chamada “auto-ética” que se fundamenta na própria consciência moral do indivíduo

seria o nível primário e essencial da ética. Na Educação Ambiental, este nível seria despertado em relação a uma postura eticamente correta com relação ao ecossistema vital.

Dica do professor

Para recordar A Primeira Conferência Intergovernamental sobre Educação Ambiental (Conferência de Tbilisi) foi realizada em Tbilisi, capital da Georgia,CEI (Ex-URSS), de l4 a 26 de outubro de l977, organizada pela UNESCO, em cooperação com o PNUMA e constituiu-se num marco histórico para a evolução da EA. Nessa conferência, foram definidos os conceitos da EA, seus objetivos, princípios orientadores e estratégias para o seu desenvolvimento.

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Aula 7 | O papel ético do educador ambiental 273

Educação ambiental se dirige, venha a ser calcada em

valores ecologicamente prudentes de se viver no meio

ambiente. É a partir do conjunto de interrogantes,

suscitado pelo processo de Educação Ambiental, que o

homem vai se questionar sobre sua atuação e papel no

habitat onde se insere, percebendo que é possível

aproveitar todos os benefícios que este tem a nos

oferecer, sem necessariamente destruí-lo. Fornecer e

provocar estas interrogações deve fazer parte das

estratégias de qualquer programa de Educação

Ambiental que pretenda alguma eficácia, servindo

inclusive como um analisador de seu sucesso ou

fracasso.

Parar e refletir sobre sua maneira de interagir

com o meio ambiente que a cerca é o primeiro passo

para o desenvolvimento de uma “auto-ética ecológica”.

Platão utiliza um termo interessante, que ora me

aproprio para entender melhor esta idéia: o de “auto-

reforma”. Ou seja, uma reforma interior promovida

pelo próprio indivíduo a partir do grau de

conscientização sobre a realidade a sua volta e o

desenvolvimento de valores ambientais essenciais,

como o direito a vida, o reconhecimento da relação

dependência/interdependência para com o meio

ambiente e o respeito concretizado na conservação e

utilização racional de seus recursos para as gerações

futuras. Sem o desenvolvimento dessa auto-ética

ecológica e a partir desta, sem uma reflexão moral

sobre sua conduta, promovendo a instauração de um

processo de auto-reforma, é praticamente impossível

que exista qualquer tipo de comprometimento mais

profundo com a questão socioambiental. O “fazer pelo

fazer” em vez do “fazer consciente” não tem

sustentação e acaba esmorecendo diante das primeiras

dificuldades. É preciso trabalhar os valores do

educando, dar-lhe motivos e, posteriormente, oferecer

condições para que este entenda seu papel diante da

Dica do professor

Resumindo: Questionamento interior (mudança de valores). Reflexo exterior (mudança de comportamento).

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Aula 7 | O papel ético do educador ambiental 274

grave situação ambiental ao seu redor e possa, então,

optar pela defesa de sua causa, assumindo de forma

consciente as responsabilidades decorrentes desta

escolha.

O objetivo central da ética que a Educação

Ambiental pretende disseminar é o de devolver ao

homem sua condição de membro da vida, participante

ativo da teia de inter-relações do ecossistema do qual

faz parte. Ela é a base para a promoção de um novo

contrato natural, a que Michel Serres (1991) faz

referência, onde o homem deve abandonar a relação de

parasitismo para com a natureza e passar a encará-la

como algo mais do que mero pano de fundo, para

desenvolvimento de sua espécie. É ainda essa ética da

Educação Ambiental a responsável por oferecer a

sustentação necessária para que o homem perceba,

como aponta Morin (1998), a íntima interligação de

todo organismo a um ecossistema qualquer, numa

relação básica e fundamental de

dependência/interdependência. Bressan (1980), se

utilizando de um modelo complexo, descreve essa

relação a partir de um processo simultâneo de

“humanização da natureza” e “naturalização do

homem”, tendo em vista que, de forma recíproca, “a

natureza sofre as leis do desenvolvimento e o homem

as leis naturais” (Bressan, 1980: 33).

SOBRE CONSCIENTIZAÇÃO

O termo “conscientização” muito utilizado no

discurso educacional é criticado por diversos

autores, inclusive por Paulo Freire que entende que

ninguém conscientiza ninguém. O que ocorre é uma

passagem da consciência ingênua – que não

significa consciência zero – para uma consciência

crítica. Assim, vale esclarecer que o termo é aqui

utilizado no sentido de uma tomada de consciência

da realidade e/ou do universo que nos rodeia,

possibilitando ao homem se descobrir melhor a si

mesmo e aos outros com quem interage (Barros,

1971, pp. 44-45).

Para pensar

O convite de Serres Em sua conhecida obra “O Contrato Natural”, Serres faz um convite ao ser humano de que abandone uma relação negativa para com a natureza e passe a adotar uma postura mais equilibrada onde a

mudança se faz de parasita a parte integrante. Como você vê esse convite e como entende que a educação ambiental facilitaria uma resposta positiva da população a este.

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Aula 7 | O papel ético do educador ambiental 275

O fato de o homem não ser passivo - como

grande parte dos animais irracionais - diante da ação

que a natureza exerce sobre ele, agindo,

transformando, adaptando o meio em que vive, não

significa que este tenha necessariamente que assumir

uma postura de dominador ou de plena independência

para com o mesmo. Seja num nível mais micro como o

metabólico, seja num nível mais macro, como o

planetário, o homem depende diretamente do meio em

que vive; bastando imaginar que, se não fosse a

presença de elementos naturais como a hidrosfera, que

resfria o planeta, e a litosfera que filtra os raios solares,

a vida seria inimaginável. O reconhecimento desta

realidade, a partir da formação de uma consciência

ambiental mais ampla, implica a adoção de uma nova

lógica de conduta para com a natureza, que só assume

um significado mais amplo, se fundamenta numa ética

ambiental com profundos reflexos no cotidiano da

sociedade em geral, criando assim uma possibilidade de

se inserir no arcabouço cultural da mesma. Estimulada

e sugerida pela Educação Ambiental, a instauração de

uma ética ecológica vem questionar ainda dois

absurdos: o primeiro, de se pensar uma ética apenas

para o homem; e o segundo, de se pensar uma ética

para o homem e outra para a natureza de maneira

diferenciada. O que se pretende, além de denunciar

esses absurdos, é a implantação de uma “ética

integradora entre todos os seres viventes e suas

relações bioecológicas” (Siqueira, 1991: 17). Ou seja,

uma ética essencialmente da vida em sua plenitude,

enterrando definitivamente o mito da independência

plena e/ou da “autonomia da razão”, amargas heranças

do cartesianismo.

Como analisa Grün (1994), é justamente no

encontro do homo sapiens, agente moral, dotado de

direitos, com a natureza, amoral e sem direitos, que

surge o espaço da ética ecológica. Esta se volta para

Quer saber mais?

É interessante consultar o texto de Grün, M. (1994) – Uma discussão sobre valores éticos em Educaçào Ambiental, para um maior aprofundamento dessa discussão. Leia e faça um resumo, o que poderá ser útil no desenvolvimento de sua monografia.

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Aula 7 | O papel ético do educador ambiental 276

uma questão elementar, a de que, mesmo sem direitos

legalmente adquiridos, a natureza é dotada de valor, o

que requer que as relações com ela estabelecidas

estejam pautadas em pressupostos éticos de

responsabilidade. O valor a que me refiro não é apenas

o valor financeiro, como quer fazer crer o materialismo

dialético e o capitalismo selvagem, mas sim, seu valor

essencial, enquanto fator básico para o

desenvolvimento do ciclo vital, do qual dependem

milhares de espécies de seres vivos, entre os quais o

homem é apenas um deles (Carvalho, 2002). Com

muita propriedade, Siqueira (1998) vai direto ao ponto

fundamental desta discussão: A percepção de que “a

interdependência do homem e da natureza exige uma

ética que não sobreponha o racional ao irracional, mas

uma igualdade naquilo que é essencial para ambos: a

sobrevivência” (Siqueira, 1991:17).

Entendida como um fator-chave para a própria

sobrevivência dos seres vivos, tendo como razão

axiológica os valores intrínsecos do homem e do meio

ambiente, a proposição dessa ética - denominada aqui

de ética da ecologia - visa superar a permissiva moral

socioambiental vigente (utilizada para justificar erros

crassos de gestão ambiental), em direção a uma ética

verdadeiramente libertadora e comprometida com o

direito à vida, cada vez mais fragilizado no contexto

atual. É precisamente esta ética que entendo como

passível de ser reforçada e alimentada, a partir de um

sério, amplo e honesto trabalho de Educação

Ambiental, onde seja possível fornecer a cada cidadão

uma espécie de “bússola moral” dirigida a todo e

qualquer modo de interagir do homem com o meio

ambiente, revelando-lhe senão o rumo ideal a seguir,

pelo menos o mais apropriado.

Dica do professor

Como a natureza não tem voz ela fala através do homem, dotado de direitos.

Nesse espaço entre o sujeito moral, e a natureza amoral, surge a ética ecológica.

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Aula 7 | O papel ético do educador ambiental 277

A ética “na” educação ambiental

Com E. Kant, aprendemos que uma decisão

ética só pode ser resultado de um ato racional, fruto da

evolução humana, pois supõe um discernimento sobre

o bem e mal. Apoiado nesta linha de pensamento

kantiana, é possível apontar a ausência de ética como

prova de irracionalidade (Lalande, 1996: 348-349).

Kant vai afirmar, ainda, e esse é ponto de partida que

gostaria de sublinhar, antes de tratar da ética relativa

ao modus-operandi dos que trabalham com Educação

Ambiental, que o núcleo da ética é descoberto pela

investigação da razão prática, assim distinta da razão

que ele qualifica como pura e teórica. Esse caráter

prático da razão se manifestaria, segundo Kant, na

própria possibilidade de ordenar o mundo dos

fenômenos, através do pensamento, facultando ao

homem decidir sobre o que fazer eticamente, de modo

que coincida com ação livre e não venha a

impossibilitá-la.

Seguindo esse percurso kantiano, e

considerando as idéias anteriormente expostas, é

possível perceber que, enquanto um processo

educativo, o grande desafio da Educação Ambiental,

sem dúvida alguma, é aquele que se passa eticamente,

tanto da ética que ela pretende instaurar, como

elemento catalisador de uma nova lógica de

relacionamento entre o homem e a natureza, quanto do

conjunto de valores dos profissionais que, embora

atuando nessa área, muitas vezes se isolam, evitando

interagir com outras entidades de propósitos

semelhantes; não se desvencilham de viéses político-

partidários mais voltados para a efetivação de

campanhas eleitoreiras do que para a realização de um

trabalho profícuo de Educação Ambiental; ou mesmo

dos que buscam apenas um espaço na imprensa para

autopromoção.

Dica do professor

Aprender com os erros: Mesmo com todo planejamento é evidente que existirão falhas durante a execução dos processos relativos a práxis da educação ambiental. Contudo se a prática da avaliação fosse mais freqüente poderíamos humildemente aprender mais com os erros e futuramente acertar

mais em projetos futuros.

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Aula 7 | O papel ético do educador ambiental 278

Deve-se levar, também, em consideração que,

independente da prática de trabalho em Educação

Ambiental - tanto o nível micro como dentro de um

internato, através de oficinas de trabalho (Pedrini, A.,

1998); como a nível macro junto a diferentes

comunidades de sete bairros do Rio de Janeiro, vide

Subprojeto de Mobilização Social/Participação

Comunitária do Programa de Educação Ambiental do

PDBG - as pretensões implícitas e explícitas da maior

parte dos objetivos a serem alcançados são sempre de

caráter ético. Isso ocorre, simplesmente, porque o

processo de Educação Ambiental encontra-se a serviço

de uma ética integradora, sendo, portanto, inadmissível

que os meios a serem utilizados para sua aplicação

também não fossem escolhidos e administrados

segundo critérios éticos. A dimensão ética da Educação

Ambiental está presente em qualquer projeto de

atuação na área, desde a sua elaboração inicial, onde

se faz necessário ouvir as demandas da população onde

ela será ministrada e permitir que esta participe do seu

processo de elaboração e adaptação; até o

acompanhamento final dos resultados do trabalho,

onde é preciso aprender com erros, em vez de ignorá-

los, para que estes não se repitam num trabalho

posterior. A questão é que poucos atentam para a

mesma, não lhe assegurando a devida importância.

Movido pelo ideal de que esta venha a ser mais

valorizada, entendo que algumas práticas

metodológicas são fundamentais e devem ser

ressaltadas na práxis do agente de Educação Ambiental

como incentivar a participação, favorecendo o exercício

de cidadania da população envolvida; promover o

diálogo e a solidariedade; manter uma postura de

aprendiz e uma transparência no que concerne ao

desenvolvimento das diferentes fases do trabalho

realizado e dos resultados obtidos com o mesmo. Essas

práticas, por sua vez, estão inevitavelmente calcadas

Dica do professor

Aprender com os erros: Mesmo com todo planejamento é evidente que existirão falhas durante a execução dos processos relativos à práxis da educação ambiental. Contudo, se a prática da avaliação fosse mais freqüente, poderíamos humildemente aprender mais com os erros e futuramente acertar mais em projetos futuros.

Dica de leitura

Vale a pena ler a obra de ENCINAS Crisitiane intitulada Possibilidades de Futuro – Educação Ambiental, Cidadania e Projetos de Transformação e ver como a autora aborda essa temática a partir do trabalho com o lixo.

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Aula 7 | O papel ético do educador ambiental 279

em valores éticos mais amplos como a igualdade, a

honra, a integridade, a justiça, a liberdade, a

fraternidade e a paz. O que denominei nesta aula de

ética na dimensão ambiental (ética dos meios) refere-

se, de modo particular, à ética dirigida aos valores e

critérios fundamentais, norteadores da práxis do

profissional de Educação Ambiental consciente de seu

papel enquanto agente de transformação de uma

realidade extremamente crítica. São esses valores os

responsáveis pela manutenção corajosa de uma

postura ética diante “dos parcos recursos, da infra-

estrutura desmontada e salários ridículos” (Pedrini,

1998: 70) com os quais o profissional da área é

obrigado a viver.

O fato de reservar especial atenção à dimensão

ética do fazer Educação Ambiental, mais dirigida a sua

prática, advém igualmente do fato de não querer

apresentá-la como uma espécie de “remédio milagroso”

solucionador de todos os problemas ambientais. Assim

como a Educação, de modo geral, pode vir a ser

utilizada como instrumento de controle, deturpação,

seleção, exclusão ou, como diria Brügger, de

“adestramento”; é preciso ter certo cuidado com a

maneira pela qual a Educação Ambiental pode ser

utilizada, a partir das intenções de quem a promove e

das ideologias sobre as quais suas práticas estariam

calcadas (Brügger, 1994), muitas vezes

descompromissadas com um exercício mais consciente

da cidadania (através do desenvolvimento do

pensamento crítico) ou com uma reflexão ética-

ambiental mais ampla e interdisciplinar (Carvalho,

2002). Além disso, deve-se ter muito claro o fato de

que a Educação Ambiental se constitui em uma das

formas de lutar contra a crise ambiental, uma

estratégia a ser utilizada contra a mesma, mas

evidentemente não é a única. Mesmo reconhecendo a

sua importância, enquanto promotora de uma nova

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Aula 7 | O papel ético do educador ambiental 280

consciência ecológica, é inegável que desligada de uma

política ambiental mais efetiva acompanhada de uma

legislação rígida; ou de ações voltadas para uma

distribuição de renda mais igualitária, ou ainda para a

construção e manutenção de um contexto político-

cultural favorável, estaremos agindo no “vazio” e longe

de vislumbrar um futuro socioambiental menos

desolador. O trabalho com comunidades carentes tem

revelado essa complexidade, pois é extremamente

complicado se falar em ética ambiental, ou de

prioridade para as questões ambientais, quando não se

tem sequer o que se alimentar.

Para a socióloga Anna Waehneldt (1996), a

especificidade da Educação Ambiental se dá na

viabilização do conhecimento do meio ambiente em sua

totalidade - através de seus diferentes aspectos e de

suas relações de interdependência - a partir do exame

da realidade local, com base nas situações vivenciadas

no cotidiano da população. Assim, baseada no estudo

de problemas práticos do dia-a-dia, ela pretende a

adoção de “uma nova postura ética solidária” em

relação ao meio ambiente. Pela definição de Waehneldt,

fica explícito o motivo pelo qual o processo de Educação

Ambiental deve estar calcado sobre princípios éticos

que despertem a responsabilidade ambiental, pois, caso

contrário, dificilmente este poderá favorecer ao

indivíduo um exercício mais amplo de cidadania, que se

caracterize através de atitudes participativas e

ecologicamente conscientes, ou seja, atitudes

Educação ou Adestramento? A Educação Ambiental promovida sem o devido cuidado ético pode ser entendida como adestramento segundo Paula Brügger. A dimensão ética, portanto, não apenas amplia a Educação Ambiental sob esse ponto de vista, mas sim dá sentido a mesma, uma vez que diante de sua ausência ela sequer pode ser assim qualificada.

EDUCAÇÃO OU ADESTRAMENTO?

A Educação Ambiental promovida sem o devido

cuidado ético pode ser entendida como adestramento,

segundo Paula Brügger.

A dimensão ética, portanto, não apenas amplia a

Educação Ambiental sob esse ponto de vista, mas sim

dá sentido à mesma, uma vez que diante de sua

ausência ela sequer pode ser assim qualificada.

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Aula 7 | O papel ético do educador ambiental 281

adequadas à constituição de um meio ambiente

equilibrado e saudável. É preciso estar muito atento às

práticas de trabalho - estratégias de aproximação,

atuação e mobilização - que temos utilizado no campo;

refletindo, entre outras questões, se existe um

distanciamento entre o discurso ético e democrático e

uma prática anti-ética e autoritária.

É essencial que o educador ambiental procure se

questionar não uma, mas quantas vezes forem

necessárias, se realmente ele está assumindo uma

postura de aprendiz, daquele que está na comunidade

e/ou instituição em primeiro lugar para ouvir e

aprender sobre a realidade onde pretende atuar, e não

daquele que vem apenas para ensinar, pois já sabe

tudo; se realmente ele está favorecendo uma atitude

de diálogo com a população, ou simplesmente traz

soluções prontas, desconsiderando as sugestões da

comunidade em relação a um projeto já elaborado por

sua equipe; lembrando que este tipo de atitude sugere

uma comunicação de igual para igual e nunca de quem

vem de fora para dizer o que é certo ou errado, se

dizendo “o dono da verdade”. Qualquer falta nos

pontos assinalados é, no mínimo, comprometedora, se

não for fatal, para o trabalho com Educação Ambiental.

Querer ser ouvido e respeitado implica, em

primeiro lugar, ouvir e respeitar o outro. Isto parece

uma afirmação banal para alguns, mas é estranho

comprovar como práticas elementares são inteiramente

dispensadas. Surge daí a necessidade, em minha forma

de entender a questão, cada vez mais urgente, de que

sejam estabelecidas as bases para um código de ética

do educador ambiental, isto é, de um conjunto de

procedimentos básicos fundamentais para garantir a

dimensão ética do processo de Educação Ambiental na

práxis de seus agentes promotores. Manifestada, por

exemplo, no respeito fundamental aos valores culturais,

Dica de leitura

O Desafio da Ética Ambiental: Para explorar mais as

discussões dessa página é interessante a leitura da obra de GRÜN Mauro– Ética e Educação Ambiental ,publicado pela Papirus, São Paulo: 1996.

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Aula 7 | O papel ético do educador ambiental 282

sociais, morais e religiosos do locus de atuação onde o

processo de Educação Ambiental está sendo

implementado. Ou, ainda, na garantia de que a

população tenha a possibilidade de participar do

processo de Educação Ambiental em suas diferentes

fases, podendo se defender ou mesmo lutar pelos

benefícios que o projeto e/ou programa de Educação

Ambiental se propôs a gerar; além de uma série de

outras disposições relativas ao próprio trabalho de

pesquisa e implementação de políticas nessa área.

O estabelecimento desse código, que deveria ser

pensado, repensado e efetivado com a participação dos

diferentes setores envolvidos (órgãos ambientais,

associações, ONGs, universidade, conselhos e outros)

permitiria explicitar melhor o próprio cunho

interdisciplinar e político da Educação Ambiental, que

envolve, sem dúvida alguma, uma complexidade de

processos relativos à participação social,

representatividade, legitimidade e tomada de decisão;

muitos destes insinuados nas entrelinhas do artigo 225

da Constituição Federal ou na Lei 9795 referente à

Política Nacional da Educação Ambiental. Sabemos que

a Educação Ambiental tem uma história recente e que a

mesma ainda está amadurecendo, sendo pertinente

uma série de críticas em relação à mesma. Entretanto,

defendo que, enquanto não iniciarmos esse processo de

regulamentação ética - adiando esse processo -

estaremos contribuindo para que a Educação Ambiental

continue sendo desacreditada nesse país, em vez de

buscarmos aperfeiçoá-la, para a dignificação do próprio

trabalho que temos realizado.

OUTROS DESAFIOS...

Segundo Léon Olivé (1997), o grande desafio

ético desse novo século será a tentativa de conciliar

direitos grupais locais - relacionados ao grupo no qual

os indivíduos estão inseridos, como uma comunidade

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Aula 7 | O papel ético do educador ambiental 283

ética que luta pela preservação de sua língua, por

exemplo, com direitos globais e coletivos - que dizem

respeito aos direitos do indivíduo, tendo por base seu

pertencimento a uma coletividade, como o direito de

um cidadão votar em uma autoridade de seu país

(Olivé, 1997: 2). Essa dificuldade de conciliação, em

termos de direitos culturais, tem sido motivo de

preocupação de cientistas e pesquisadores sociais,

chegando-se a aventar a hipótese de que, cada vez

mais, os conflitos internacionais sejam baseados

fundamentalmente em contradições culturais e não em

conflitos ideológicos e econômicos como se previa. De

fato, temos presenciado em diferentes partes do globo

– como a África, a Região dos Bálcãs (Albânia e

Sérvia), e mais recentemente na Índia - uma

multiplicação de conflitos étnico-culturais de graves

proporções, apoiados pela ambição política e pela

indústria armamentícia.

Como aponta Latouche (1994), em função de

um modelo avassalador de desenvolvimento que

pretendeu a substituição de toda cultura tradicional

pela industrialização, a cultura “tornou-se, no fundo,

sinônimo de atraso, de retardamento mental” (id.,

p.75). Tentativas de preservação da biodiversidade

cultural são encaradas como barreiras inúteis e

retrógradas contra a força do progresso globalizador,

imposição de novos tempos, onde globalizar é preciso,

e viver é mera conseqüência. O que era proposta se

torna então axioma símbolo de modernização. Daí

originam-se os questionamentos típicos, no caso da

América Latina, onde essa resistência cultural se faz

sentir de forma pujante, se esta atingiu ou chegará um

dia a atingir o tão almejado estágio da modernidade

(Ibañez, J., 1996). Sob essa lógica, não importam os

avanços democráticos, as inovações tecnológicas, a

redução do analfabetismo e a aceleração dos processos

de urbanização e industrialização latino-americana, mas

sim o fato de que a mesma nunca pode se globalizar

Dica do professor

Como esclarece Touraine, a distância entre uma economia globalizada e culturas isoladas acabam gerando frutos extremamente negativos que vão da destruição de culturas à violência social. Entretanto, como veremos nas páginas seguintes, existem alternativas e a Educação Ambiental tem um papel importante

nessa direção (Touraine, 1998: 202).

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Aula 7 | O papel ético do educador ambiental 284

completamente, ou melhor, pensar unicamente de

forma global para atuar localmente, sem lhe opor a

idéia de um pensar local culturalmente enraizado.

O fato é que a temida pressão

globalizante/ocidentalizante não conseguiu atingir seu

objetivo dominador em termos culturais como se

imaginava. Sim, os latino-americanos usam jeans, os

japoneses dominam cada vez mais o sotaque inglês, e

os grandes shoppings invadiram quase todos os

recantos do planeta. Entretanto, se essas

manifestações características de um pensar globalizado

nos fazem questionar sobre onde estaria nossa

identidade cultural, a tão temida “pasteurização

cultural” não aconteceu, o pensar e o agir local ainda

possuem sua força influenciando e impondo padrões de

comportamento. O choque entre a torrente globalizante

versus as barreiras da identidade local parece resultar

numa espécie de fusão entre local e global, onde ambos

são ressignificados, tanto na figura do local globalizado

quanto do global localizado, relativizando ações

uniformizadoras.

Por trás de toda essa conjunção cultural -

movida não apenas por um pensar global imposto, mas

também simultaneamente pela resistência que a ela se

faz, se traduz através de diferentes processos de

mesclagem cultural, geradores de novas identidades

mestiças e territorializações interculturalmente

determinadas, onde as ambivalências local x global,

particular x geral, convivem num cenário multifacetado

de culturas híbridas (Canclini, 1997) - o que está em

jogo, na verdade, é a conquista de eqüidade e justiça

social, onde os desiguais não sejam igualados, mas que

as diferenças sejam consideradas, proporcionando aos

mais diferentes grupos a possibilidade de exercerem

sua cidadania local com igualdade de condições (apesar

da existência de fronteiras). Entre as várias

Quer saber mais?

Por mais forte que sejam as forças globalizantes, sempre haverá resistências diretas e indiretas à hegemonia cultural única. É interessante para o educador ambiental, ou não, conhecer os focos de resistência de uma comunidade, uma vez que neles residem a força local.

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Aula 7 | O papel ético do educador ambiental 285

possibilidades de responder a esse desafio no campo

dos direitos sociais, três propostas se consolidaram

com o passar do tempo: o universalismo, o relativismo

e o pluriculturalismo. A primeira delas, o universalismo,

é pautada em concepções universais construídas com

base em conceitos gerais tais como autonomia,

liberdade, dignidade e necessidades básicas. O critério

para aceitação de uma norma qualquer na proposta

universalista é o de aceitá-la como universal, isto é,

entendê-la como aceitável para qualquer sujeito

racional independente de sua língua ou nacionalidade, o

que, em outras palavras, implicaria uma imposição

hegemonicamente definida de um mesmo sentido

dominante para diferentes culturas. Seria como a

utilização de qualquer um desses conceitos, como o de

“autonomia”, por exemplo, como se este

correspondesse, na lógica do pensar global, a um único

entendimento do que ele significa ou poderia vir a

significar em termos de conceituação e aplicabilidade

local.

Contrária a essa postura universalista, surge em

cena o relativismo, que enxerga o princípio da

universalidade como insuficiente para resolver alguns

problemas sociais mais concretos, já que situações

desenvolvidas do ponto de vista ético e moral

envolveriam valores e normas específicas dos

diferentes grupos envolvidos. A posição relativista,

portanto, entende que a moral deva ser baseada em

valores específicos, do ponto de vista do sistema

relevante para os indivíduos que participam da mesma;

como se o local fosse indubitavelmente mais

importante que o global. Para Olivé (1997), a aceitação

da proposta relativista, sem maiores reservas,

apresenta sérios riscos como a justificativa de qualquer

tipo de ação, desde que se conte com valores locais

adequados à mesma (tudo é válido); a vinculação de

questões de direitos humanos apenas em contextos

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Aula 7 | O papel ético do educador ambiental 286

particulares e específicos e, principalmente, a

obstaculização de políticas de cooperação mútua, já

que se salientam-se as diferenças, e não as

semelhanças entre membros de culturas diferentes.

Buscando um caminho mais equilibrado entre

um relativismo que exacerba o pensar e o agir local

ignorando a vontade geral; e o universalismo, que

ignora as particularidades locais; a proposta do

pluriculturalismo tem encontrado grande aceitação no

campo do direito internacional, por entender a lógica

das sociedades compostas de comunidades e culturas

diversas, garantindo o reconhecimento de direitos tanto

das entidades coletivas como dos direitos de grupo,

sem anular a possibilidade de que sejam estabelecidos

direitos básicos invioláveis entre grupos diferentes.

Buscando fugir ao antagonismo criado por ilusões

universalistas e obsessões identitárias (Touraine, 1998:

197), a postura pluricultural se utiliza dos termos

respeito e o diálogo aparecem como forças motrizes de

suas estratégias, procurando valorizar o

reconhecimento de membros de culturas diferentes

como sujeitos capazes de construir acordos sobre as

condições mínimas para uma interação intercultural,

que envolveriam, por sua vez, a constituição de limites

que ninguém poderia ultrapassar (nem mesmo o

Estado), como em uma democracia de fato.

O pluralismo cultural alimenta, ainda, a idéia de

uma interpretabilidade cultural de grupos diferentes, a

partir de sua teia cultural própria. A interpretabilidade,

como parte dos processos de adaptação cultural, já

vistos anteriormente, tem por fim o favorecimento de

interações transculturais, onde a resolução de

problemas comuns entre membros de culturas

diferentes se baseia em discussões acordadas levando

em consideração as perspectivas dos diferentes

participantes envolvidos e não em conceitos universais

Quer saber mais?

Democracia: Helsen a define, identificando-a como “uma sociedade em que a ordem social é realizada por quem está submetido a esta ordem, isto é, o povo. Significa identidade entre governantes e governados, entre sujeito e objeto do poder, governo do povo sobre o povo” (Kelsen, H., 1993: 35).

Importante

Pluralismo Cultural:

A interpretabilidade cultural baseada no respeito à cultura alheia talvez seja uma das grandes vantagens do pluralismo cultural. Proposta que vem ganhando cada vez mais adeptos.

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Aula 7 | O papel ético do educador ambiental 287

preestabelecidos. Certamente, esses mecanismos de

adaptação, favorecidos por acionamentos

interpretativos, ajudam a explicar a presença das

descontinuidades culturais e a possibilidade da

coexistência, em diferentes graus, de múltiplos

reconhecimentos e pertencimentos culturais em uma

mesma cultura local (Velho, 1996). É bem possível que

esses acionamentos interpretativos possam favorecer,

ainda, o que Touraine sugere como solução para

reduções dos conflitos entre o global e o local, ou seja,

uma comunicação intercultural que impeça possíveis

auto-segregações e a adoção de políticas autoritárias

(Touraine, 1998).

Defendo a idéia de que a manutenção de um

ambiente equilibrado, fator essencial à sobrevivência, o

educador ambiental também assume um papel

fundamental no sentido de garantir esses

reconhecimentos interculturais sem ignorar a

importância de preservar a cultura local. Através dos

diferentes processos de conscientização ambiental,

trabalhados nos mais diferentes projetos de Educação

Ambiental, é possível não apenas desenvolver políticas

de valorização do espaço local, mas entender a

urgência de problemáticas globais e até planetárias,

buscando um caminho de conciliamento e adaptação

necessária entre agendas globais e práticas locais de

atuação, onde o meio ambiente é entendido como elo

comum de interligação.

O QUE A EDUCAÇÃO AMBIENTAL TEM A VER COM

A QUESTÃO DA DIVERSIDADE CULTURAL?

Não há como assumir uma postura ambiental ética se

a cultura local não for preservada e valorizada. Além

disso, a promoção de intercâmbios culturais favorece

a troca de experiências e ajuda a entender como

pessoas de diferentes localidades têm lidado com a

questão ambiental.

O meio ambiente é entendido no campo dos conflitos

culturais como um elo fundamental de interligação.

Não importam as diferenças, uma vez que o meio

ambiente é o elo comum.

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Aula 7 | O papel ético do educador ambiental 288

Existe uma clássica parábola, contada e

recontada por educadores e ambientalistas, que serve

bem para fundamentar esse argumento final, e revelar

que há mais do que paixão temática, no que ele deixa

transparecer. A metáfora em questão, que tem nas

ovelhas e leões - ambientalmente situados - seus

personagens centrais, também, poderia servir para

explicitar a lógica de nosso bordão inicial, em termos

de quando ele se faz necessário e em que sentido deve

ser questionado e readaptado em função das demandas

socioculturais.

As ovelhas sempre tiveram medo de leões por

razões óbvias, elas são devoradas por eles. Entretanto,

responda com sinceridade, seria possível uma

negociação entre ovelhas e leões? O que tornaria os

leões sensíveis a ponto de deitar-se ao lado de uma

ovelha, fazer um acordo com ela e depois respeitá-lo. A

resposta ambiental é muito clara: tanto o leão como a

ovelha não querem que a floresta pegue fogo, tanto um

quanto o outro não querem que as águas de uma

grande enchente inundem suas casas, tanto um quanto

o outro querem proteger seus filhotes.

Esta lista interminável de seres vivos que lutam

pela vida reflete não só como no âmbito ecológico

interdepender não significa necessariamente depender,

mas também como as diferenças podem ser

respeitadas em favor da continuidade da vida. Em

outras palavras, por maior que seja a diversidade e a

estratificação social, ecologicamente estamos

interligados pela existência comum num mesmo planeta,

nosso único lar.

Para refletir

O que sugere a metáfora? Todos somos diferentes, fazemos partes de culturas diferentes, temos valores diversos, mas o importante é que todos precisamos lutar pela nossa única casa, o planeta terra. E isso será feito a partir do diálogo entre essas

diferenças pautado numa postura ética através da qual diferentes lados sejam respeitados e valorizados.

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Aula 7 | O papel ético do educador ambiental 289

EXERCÍCIO 1

A palavra “ética” é oriunda da raiz grega “ethos” que

significa costume, mas também se refere a:

( A ) Ambiente;

( B ) Etnia;

( C ) Trabalho;

( D ) Desvio;

( E ) Representação.

EXERCÍCIO 2

Proposta de valorização da diversidade cultural que

defende a interpretabilidade cultural de grupos

diferentes a partir de elementos de sua própria teia

cultural:

( A ) Ecumenismo;

( B ) Culturalismo;

( C ) Pluriculturalismo;

( D ) Relativismo;

( E ) Universalismo.

EXERCÍCIO 3

Diferencie a Ética “da” e a Ética “na” Educação

Ambiental.

____________________________________________

____________________________________________

____________________________________________

____________________________________________

____________________________________________

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Aula 7 | O papel ético do educador ambiental 290

EXERCÍCIO 4

Como você vê a possibilidade da elaboração de um

Código de Ética do Educador Ambiental?

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____________________________________________

____________________________________________

____________________________________________

____________________________________________

RESUMO

Vimos até agora:

O que é preciso para ser ou atuar como um

educador ambiental? De todas as respostas

nenhuma é tão importante e imprescindível

como uma postura ética adequada a sua

realidade;

A Ética da Educação Ambiental refere-se a

constituição da nova ética ecológica que a

Educação Ambiental se propõe a instaurar; e

a Ética na Educação Ambiental, que por sua

vez, diz respeito a ética, ou mais

especificamente, ao conjunto de valores sobre

o qual esta se sustenta, relacionada a práxis

do Educador Ambiental que atua em seus

diferentes âmbitos – formal, não-formal e

informal;

Pierre Weil define ética como sendo o

"conjunto de valores que levam o homem a

se comportar de modo construtivo e

harmonioso, pois são os valores que

determinam as opiniões, atitudes e

comportamentos das pessoas" (Weil,

2000:133). Nesse sentido, não é exagero afir-

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Aula 7 | O papel ético do educador ambiental 291

mar que a ética exerce uma profunda

influência na qualidade de vida, no

desenvolvimento sócio-cultural, assim como

nas relações que a humanidade desenvolve

com a natureza da qual faz parte.

Uma das mais duras constatações percebidas

por cientistas e pesquisadores no final do

século XX refere-se ao distanciamento existente

entre os avanços conquistados no plano da

ciência e da técnica, e o desejável avanço no

terreno da ética, que não chegou a ocorrer na

mesma proporção, intensidade e velocidade.

As técnicas e economias mudam sempre, e

muitos problemas sociais mudam com eles.

Não os problemas éticos, estes

permaneceriam os mesmos” (Hilberseiner,

1949: 87);

O sonho do crescimento ilimitado produziu o

subdesenvolvimento de 2/3 da humanidade, a

exaustão dos sistemas vitais e a

desintegração progressiva do equilíbrio

ambiental (Boff, 1996: 25).

A crise sócio-ambiental, reflexo da própria

crise civilizatória com a qual nos deparamos,

foi antecipada, sem dúvida alguma, por uma

grave crise de ética;

Enquanto a moral é concreta e diz respeito ao

nível individual, prático e prescritivo; a ética é

mais social, teórica e virtual, se constituindo

como um campo de análise filosófica voltada

para o estudo dos fundamentos e validação

de comportamentos socialmente reconhecidos

e estimulados (Krüger,1998);

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Aula 7 | O papel ético do educador ambiental 292

Muitos autores definem moral como “um

conjunto de prescrições destinadas a

assegurar uma vida em comum de forma

harmoniosa”, e ética como “a avaliação

normativa das ações e do caráter de

indivíduos e grupos” (Japiassu & Marcondes,

1996: 93);

Mesmo aceitando com reservas essa distinção

no plano teórico, é necessário entender que

na prática, as questões concernentes a moral

e a ética estão inteiramente imbricadas,

sendo, portanto difícil precisar uma separação

mais rígida entre os dois conceitos. A moral

fornece o conteúdo a ser avaliado pela ética,

que por sua vez a alimenta estabelecendo,

através de seu julgamento, que tipo de ação

ou pensamento seria moral ou amoral;

Esse questionamento mais profundo, diria

respeito ao nível mais básico do que

denominei como a Ética “da” Educação

Ambiental pode ser chamado ainda de nível

primário da ética da Educação Ambiental, de

uma “auto-ética” que se fundamenta na

própria consciência moral de cada indivíduo.

Parar e refletir sobre sua maneira de interagir

com o meio ambiente que a cerca é o

primeiro passo para o desenvolvimento de

uma “auto-ética ecológica”;

Sem o desenvolvimento dessa auto-ética

ecológica e a partir desta, sem uma reflexão

moral sobre sua conduta, promovendo a

instauração de um processo de auto-reforma,

é praticamente impossível que exista qualquer

tipo de comprometimento mais profundo com a

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Aula 7 | O papel ético do educador ambiental 293

questão sócio-ambiental. O “fazer pelo fazer”

ao invés do “fazer consciente” não tem

sustentação e acaba esmorecendo diante das

primeiras dificuldades;

O objetivo central da ética que a Educação

Ambiental pretende disseminar é o de

devolver ao homem sua condição de membro

da vida, participante ativo da teia de

interrelações do ecossistema do qual faz

parte;

Estimulada e sugerida pela Educação

Ambiental, a instauração de uma ética

ecológica vem questionar ainda dois

absurdos: o primeiro, de se pensar uma ética

apenas para o homem; e o segundo, de se

pensar uma ética para o homem e outra para

a natureza de maneira diferenciada. O que se

pretende, além de denunciar esses absurdos,

é a implantação de uma “ética integradora

entre todos os seres viventes e suas relações

bioecológicas” (Siqueira, 1991: 17). Ou seja,

uma ética essencialmente da vida em sua

plenitude, enterrando definitivamente o mito

da independência plena e/ou da “autonomia

da razão”, amargas heranças do

cartesianismo.

Como analisa Grün (1994), é justamente no

encontro do homo sapiens, agente moral,

dotado de direitos, com a natureza, amoral e

sem direitos, que surge o espaço da ética

ecológica. Esta se volta para uma questão

elementar, a de que, mesmo sem direitos

legalmente adquiridos, a natureza é dotada

de valor, o que requer que as relações com ela

estabelecidas estejam pautadas em pressupos-

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Aula 7 | O papel ético do educador ambiental 294

tos éticos de responsabilidade;

Entendida como um fator-chave para a

própria sobrevivência dos seres vivos, tendo

como razão axiológica os valores intrínsecos

do homem e do meio ambiente, a proposição

dessa ética - denominada aqui de ética da

ecologia - visa superar a permissiva moral

sócio-ambiental vigente (utilizada para

justificar erros crassos de gestão ambiental),

em direção a uma ética verdadeiramente

libertadora e comprometida com o direito a

vida;

enquanto um processo eminentemente

educativo o grande desafio da Educação

Ambiental, sem dúvida alguma, é aquele que

se passa a nível ético, tanto da ética que ela

pretende instaurar, como elemento

catalisador de uma nova lógica de

relacionamento entre o homem e a natureza;

quanto do conjunto de valores dos

profissionais que embora atuando nessa área,

muitas vezes se isolam; não se desvencilham

de viéses político-partidários, mais voltados

para a efetivação de campanhas eleitoreiras

do que para a realização de um trabalho

profícuo de Educação Ambiental; ou mesmo

dos que buscam apenas um espaço na

imprensa para auto-promoção.

A dimensão ética da Educação Ambiental está

presente em qualquer projeto de atuação na

área, desde a sua elaboração inicial, onde se

faz necessário ouvir as demandas da

população onde ela será ministrada e permitir

que esta participe do seu processo de

elaboração e adaptação; até o acompanhamento

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Aula 7 | O papel ético do educador ambiental 295

final dos resultados do trabalho, onde é

preciso aprender com erros, ao invés de ignorá-

los, para que estes não se repitam num

trabalho posterior;

A ética na dimensão ambiental (ética dos

meios), refere-se, de modo particular, a ética

dirigida aos valores e critérios fundamentais,

norteadores da práxis do profissional de

Educação Ambiental consciente de seu papel

enquanto agente de transformação de uma

realidade extremamente crítica;

O fato de reservar especial atenção à

dimensão ética do fazer Educação Ambiental,

mais dirigida a sua prática, advém igualmente

do fato de não querer apresentá-la como uma

espécie de “remédio milagroso” solucionador

de todos os problemas ambientais. Assim

como a Educação de modo geral, pode vir a

ser utilizada como instrumento de controle,

deturpação, seleção, exclusão, ou de

adestramento;

Mesmo reconhecendo a importância da EA,

enquanto promotora de uma nova consciência

ecológica, é inegável que desligada de uma

política ambiental mais efetiva acompanhada

de uma legislação rígida; ou de ações

voltadas para uma distribuição de renda mais

igualitária, ou ainda para a construção e

manutenção de um contexto político-cultural

favorável, estaremos agindo no “vazio” e

longe de vislumbrar um futuro sócio-

ambiental menos desolador;

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Aula 7 | O papel ético do educador ambiental 296

Ela pretende a adoção de “uma nova postura

ética solidária” em relação ao meio ambiente.

Pela definição de Waehneldt fica explícito o

motivo pelo qual o processo de Educação

Ambiental deve estar calcado sobre princípios

éticos que despertem a responsabilidade

ambiental, pois caso contrário, dificilmente

este poderá favorecer ao indivíduo um

exercício mais amplo de cidadania;

É essencial que o educador ambiental procure

se questionar não uma, mas quantas vezes

forem necessárias, se realmente ele está

assumindo uma postura de aprendiz, daquele

que está na comunidade e/ou instituição em

primeiro lugar para ouvir e aprender sobre a

realidade onde pretende atuar, e não daquele

que vem apenas para ensinar. Querer ser

ouvido e respeitado implica em primeiro lugar

ouvir e respeitar o outro;

É cada vez mais urgente o estabelecimento

das bases para um código de ética do

educador ambiental, isto é de um conjunto

procedimentos básicos fundamentais para

garantir a dimensão ética do processo de

Educação Ambiental na práxis de seus

agentes promotores. Manifestada por

exemplo, no respeito fundamental aos valores

culturais, sociais, morais e religiosos da locus

de atuação onde o processo de Educação

Ambiental está sendo implementado;

Segundo Léon Olivé (1997), o grande desafio

ético desse novo século será a tentativa de

conciliar direitos grupais locais - relacionados

ao grupo no qual os indivíduos estão inseridos,

como uma comunidade ética que luta pela pre-

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Aula 7 | O papel ético do educador ambiental 297

servação de sua língua por exemplo -; com

direitos globais e coletivos - que dizem respeito

aos direitos do indivíduo, tendo por base seu

pertencimento a uma coletividade, como o

direito de um cidadão votar em uma

autoridade de seu país (Olivé, 1997: 2);

Como aponta Latouche (1994), em função de

um modelo avassalador de desenvolvimento

que pretendeu a substituição de toda cultura

tradicional pela industrialização, a cultura

“tornou-se no fundo, sinônimo de atraso, de

retardamento mental” (id., p.75). Tentativas

de preservação da biodiversidade cultural são

encaradas como barreiras inúteis e

retrógradas contra a força do progresso

globalizador, imposição de novos tempos;

Por trás de toda essa conjunção cultural -

movida não apenas por um pensar global

imposto, mas também simultaneamente pela

resistência que a ela se faz, se traduz através

de diferentes processos de mesclagem

cultural, geradores de novas identidades

mestiças e territorializações

interculturalmente determinadas, onde as

ambivalências local x global, particular x

geral, convivem num cenário multifacetado

de culturas híbridas (Canclini, 1997);

Dentre as várias possibilidades de responder

a esse desafio no campo dos direitos sociais,

três propostas se consolidaram com o passar

do tempo: o universalismo, o relativismo e o

pluriculturalismo. A primeira delas, o

universalismo, é pautada em concepções

universais construídas com base em conceitos

gerais tais como: autonomia, liberdade,

dignidade e necessidades básicas;

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Aula 7 | O papel ético do educador ambiental 298

Contrária a essa postura universalista, surge

em cena o relativismo, que enxerga o

princípio da universalidade como insuficiente

para resolver alguns problemas sociais mais

concretos, já que situações desenvolvidas do

ponto de vista ético e moral envolveriam

valores e normas específicas dos diferentes

grupos envolvidos;

Buscando um caminho mais equilibrado entre

um relativismo que exacerba o pensar e o

agir local ignorando a vontade geral; e o

universalismo, que ignora as particularidades

locais; a proposta do pluriculturalismo tem

encontrado grande aceitação no campo do

direito internacional, por entender a lógica

das sociedades compostas de comunidades e

culturas diversas, garantindo o

reconhecimento de direitos tanto das

entidades coletivas como dos direitos de

grupo, sem anular a possibilidade de que

sejam estabelecidos direitos básicos

invioláveis entre grupos diferentes;

O pluralismo cultural alimenta, ainda, a idéia

de uma interpretabilidade cultural de grupos

diferentes, a partir de sua teia cultural

própria. A interpretabilidade tem por fim o

favorecimento interações transculturais, onde

a resolução de problemas comuns entre

membros de culturas diferentes se baseia em

discussões acordadas levando em

consideração as perspectivas dos diferentes

participantes envolvidos, e não em conceitos

universais pré-estabelecidos;

Defendo a idéia de que a manutenção de um

ambiente equilibrado, fator essencial à

sobrevivência, o educador ambiental também

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Aula 7 | O papel ético do educador ambiental 299

assume um papel fundamental no sentido de

garantir esses reconhecimentos interculturais

sem ignorar a importância de preservar a

cultura local;

GABARITO DAS QUESTÕES OBJETIVAS: AULA 1 – 1A; 2D. AULA 2 – 1C; 2D. AULA 3 – 1A; 2E. AULA 4 – 1E; 2E. AULA 5 – 2E; 3C. AULA 6 – 1E; 2B. AULA 7 – 1A; 2C.

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AV1 – Estudo Dirigido da Disciplina

CURSO: Educação Ambiental

DISCIPLINA: Educação Ambiental

ALUNO(A): MATRÍCULA:

NÚCLEO REGIONAL: DATA: _____/_____/___________

QUESTÃO 1: O que é Educação Ambiental e quais seriam seus principais âmbitos

de atuação? Diferencie-os através de exemplos.

Indicação da página do módulo onde este assunto é apresentado:

Indicar referências de pesquisa complementar (livros: bibliografia e sites:

endereço eletrônico) – OPCIONAL:

Resposta (com as suas palavras):

QUESTÃO 2: Explique com suas palavras o termo “cidadania planetária”: Indicação da página do módulo onde este assunto é apresentado:

Indicar referências de pesquisa complementar (livros: bibliografia e sites:

endereço eletrônico) – OPCIONAL:

Resposta (com as suas palavras):

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QUESTÃO 3: Qual foi a importância da inclusão do Meio Ambiente como um dos

temas transversais dos PCNs para a Educação Ambiental?

Indicação da página do módulo onde este assunto é apresentado:

Indicar referências de pesquisa complementar (livros: bibliografia e sites:

endereço eletrônico) – OPCIONAL:

Resposta (com as suas palavras):

QUESTÃO 4: Como você vê a possibilidade da elaboração de um Código de Ética

do Educador Ambiental?

Indicação da página do módulo onde este assunto é apresentado:

Indicar referências de pesquisa complementar (livros: bibliografia e sites:

endereço eletrônico) – OPCIONAL:

Resposta (com as suas palavras):

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ATENÇÃO:

Na realização das avaliações (AV1 e AV2), procure desenvolver uma

argumentação com suas próprias palavras.

Observe que é importante você realizar uma pesquisa aprofundada para atender

aos objetivos propostos consultando diferentes autores. No entanto, é

fundamental diferenciar o que é texto próprio de textos que possuem

outras autorias, inserindo corretamente as referências bibliográficas

(citações), quando este for o caso.

Vale lembrar que essa regra serve inclusive para os nossos módulos, utilizados

com freqüência para as respostas das avaliações.

Em caso de dúvidas, consulte o material sobre como realizar as citações diretas

e indiretas ou entre em contato com o tutor de sua disciplina.

AS AVALIAÇÕES QUE DESCONSIDERAREM ESTE PROCEDIMENTO ESTARÃO

SEVERAMENTE COMPROMETIDAS.

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304

AV2 – Trabalho Acadêmico de Aprofundamento

CURSO: Educação Ambiental

DISCIPLINA: Educação Ambiental

ALUNO(A): MATRÍCULA:

NÚCLEO REGIONAL: DATA:

_____/_____/___________

Atividade Sugerida: Coleta de dados: entrevista, relatório da entrevista e

redação.

Realizar uma entrevista com um profissional da área ou alguém que atue

diretamente com E.A. segundo modelo sugerido pelo IAVM.

INSTRUÇÕES:

Uma vez selecionada a pessoa, pegue seu roteiro (ABAIXO) e siga rumo à

entrevista. Após a entrevista, elabore um relatório composto por 1 (uma) lauda.

Atenção: é fundamental que você não só realize a entrevista como também

desenvolva um relatório ao final, inserindo suas reflexões, comentários e

observações críticas sobre a entrevista, correlacionando-a aos conteúdos estudados

até aqui.

Para facilitar sua aplicação veja as dicas a seguir.

ALGUMAS DICAS:

Adapte a linguagem ao perfil do entrevistado;

Evite alongar-se demais nas questões;

Esteja bem informado sobre o assunto objeto da entrevista;

Seja imparcial perante o entrevistado e mantenha autocontrole emocional;

Estabeleça uma relação amistosa e não trave um debate de idéias;

Não demonstre insegurança ou admiração excessiva diante do entrevistado para

que isto não venha prejudicar a relação entre entrevistador e entrevistado;

Seja objetivo, já que entrevistas muito longas podem se tornar cansativas para o

entrevistado;

Vá gravando ou anotando as informações do entrevistado, sem deixar que ele

fique esperando sua próxima indagação, enquanto você escreve.

Caso use um gravador, não deixe de pedir sua permissão para tal. Lembramos que

o uso do gravador pode inibir o entrevistado.

ROTEIRO DE ENTREVISTA

ENTREVISTADOR(A) : __________________________________

MATRÍCULA: ____________

BASE: ______________________ CIDADE: __________________

DATA: __________________

- Nome completo do entrevistado:

- Tempo de trabalho na área:

- Local da entrevista:

- Sugestão de perguntas:

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1) Desde quando atua/trabalha com Educação Ambiental?

2) Como você tem atuado em sua prática profissional com E.A.?

3) Comente sobre um projeto/programa de E.A no qual você atuou recentemente?

4) O que é Educação Ambiental para você?

5) Quais seriam os limites e potencialidades da E.A. em sua opinião?

6) Como você vê a importância da E.A. no enfrentamento dos principais problemas

ambientais de sua cidade ou região?

7) Em sua cidade você poderia dizer que E.A. é estimulada no âmbito

governamental?

8) E no âmbito não governamental, você conhece alguma instituição, entidade,

como ONGs, que atuam em sua cidade com E.A.?

9) Como você vê os principais desafios da Educação Ambiental hoje?

Roteiro / Relatório

Nome / Idade:

Formação:

Especialidade:

Tempo de Atuação:

1 - Pergunta

Resposta:

2 – Pergunta:

Resposta:

3 – Pergunta:

Resposta:

4 – Pergunta:

Resposta:

5 – Pergunta:

Resposta:

6 – Pergunta:

Resposta:

7 – Pergunta:

Resposta:

8 – Pergunta:

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306

Resposta:

10 – Pergunta:

Resposta:

Relatório (Análise crítica das respostas):

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