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Curso Gestão - Modulo5smec.salvador.ba.gov.br/documentos/uniced/curso... · 4 Assunto 5.1 – Autonomia da Escola e Convivência Democrática Unidade 5.1.0 – Introdução Olá,

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APRESENTAÇÃO Cara professora, caro professor, O aperfeiçoamento da gestão da escola é uma necessidade permanente da rede municipal de educação, para que possamos oferecer serviços cada vez melhores à comunidade de Salvador. Aperfeiçoar a gestão é torná-la cada vez mais qualificada, com a capacitação continuada dos gestores, e cada vez mais participativa, com a presença ativa da comunidade e dos professores no dia a dia da escola. Para atingir esses objetivos, é necessário adotar métodos inovadores, de baixo custo, que disseminem, para todos os professores, os conhecimentos básicos para a gestão democrática da escola. Por esta razão, a Secretaria Municipal da Educação e Cultura organizou, este ano, um programa de capacitação em Gestão Escolar utilizando tecnologia de Educação a Distância, mas também possibilitando a todos que ainda tenham limitação de acesso à Internet a possibilidade de receber os conhecimentos e participar. O curso tem a duração equivalente a 80 horas/aula. Para que você possa fazer uma estimativa, imagine estudar uma média de 15 páginas de conteúdo por dia. São páginas curtas, de texto leve, ilustradas, preparadas para proporcionar a você uma leitura confortável e de qualidade. E você poderá cursá-las seguindo seu próprio ritmo, de acordo com os dias e horários que lhe sejam mais convenientes. O conteúdo do curso foi elaborado especialmente para você, por uma equipe de doutores do curso de Mestrado em Educação da UNEB, colegas que conhecem profundamente a realidade da nossa rede. A UNICED realizará cinco (5) Encontros Presenciais, em caráter opcional, com uma equipe de tutores, para que você esclareça dúvidas sobre os conteúdos do Curso. A todos os inscritos, desejamos sucesso!

EQUIPE UNICED

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SUMÁRIO

5.1 – Autonomia da Escola e Convivência Democrática

Unidade: 5.1.0 - Introdução ..............................................................................

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Unidade: 5.1.1 - A autonomia da escola e sua inserção na rede.......................

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Unidade: 5.1.2 - Convivência democrática e valores no cotidiano da escola - 1

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Unidade: 5.1.3.- Convivência democrática e valores no cotidiano da escola – 2

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Assunto 5.1 – Autonomia da Escola e Convivência Democrática Unidade 5.1.0 – Introdução Olá, prezado(a) professor(a)! Estamos à sua disposição para iniciarmos o último módulo do Curso de Gestão Escolar. Fizemos até aqui uma belíssima caminhada juntos. Já nos reconhecemos como parceiros neste percurso de quatro módulos, quinze assuntos, quarenta e duas unidades e 579 passos. Navegamos pelos conteúdos do curso a partir de um ambiente virtual acolhedor, que nos é familiar, utilizando recursos tecnológicos capazes de suportar variadas abordagens pedagógicas (apresentação panorâmica, teoria, exemplo, estudo de casos, comentários, reflexões, curiosidades, saiba mais, atividade individual, dicas, rotina de execução, revisão panorâmica, avaliação, pesquisa, depoimentos, vamos relaxar...) e uma arrojada proposta de criação do design. Aprendemos e nos divertimos muito. Fomos estimulados a utilizar os recursos complementares que o ambiente educacional nos oferece e consultamos o Guia, o Glossário e a Midiateca. Fizemos um roteiro pela Velha Salvador através de imagens, sons e textos. Fomos nos apropriando do passado e presente de nossa cidade pelo olhar de poetas, músicos, fotógrafos, historiadores, compositores, contadores de histórias, educadores, crianças e jovens, homens e mulheres que, mortos alguns e vivos muitos, sempre amaram a cidade que se debruça, faceira e inquieta, pelas ladeiras centenárias na direção da Baía de Todos os Santos. A cidade do passado e a cidade do presente. Você se lembra da composição de Chico Buarque, gravada pela Phillips em 1977, chamada “A cidade ideal” e que é uma parte do musical “Os saltimbancos”? Vamos cantarolar um trecho em que o animais falam sobre a cidade ideal e todos os bichos cantam juntos... Mas não, mas não O sonho é meu e eu sonho que Deve ter alamedas verdes A cidade dos meus amores E, quem dera, os moradores E o prefeito e os varredores Fossem somente crianças Deve ter alamedas verdes A cidade dos meus amores E, quem dera, os moradores E o prefeito e os varredores E os pintores e os vendedores Fossem somente crianças.

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Veja a letra completa da composição.

A cidade ideal CACHORRO A cidade ideal dum cachorro Tem poste por metro quadrado Não tem carro, não corro, não morro. E também nunca fico apertado GALINHA A cidade ideal da galinha Tem nas ruas cheias de minhocas A barriga fica tão quentinha Que transforma o milho em pipoca CRIANÇAS Atenção porque nesta cidade Corre-se a toda velocidade E atenção que o negócio está perto Restaurante assando galeto TODOS Mas não, mas não. O sonho é meu e eu sonho que Deve ter alamedas verdes A cidades dos meus amores E, quem dera, os moradores E o prefeito e os varredores Fossem somente crianças Deve ter alamedas verdes A cidade dos meus amores E, quem dera, os moradores E o prefeito e os varredores E os pintores e os vendedores Fossem somente crianças. GATA A cidade ideal de uma gata É um prato de tripa fresquinha Tem sardinha num balde de lata Tem alcatra no final da linha JUMENTO Jumento é velho, velho e sabido E por isso já está prevenido A cidade é uma estranha senhora Que sorri e de manhã te devora CRIANÇAS Atenção que o jumento é sabido É melhor ficar bem prevenido E olha, gata, que a tua pelica. Vai virar uma bela cuíca

ENRIQUEZ, Luiz BARDOTTI, Sérgio. A cidade ideal.In:Os Saltimbancos (Lp).

Chico Buarque de Holanda. Philips,1977

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APRESENTAÇÃO PANORÃMICA

Para isso, apresentamos como conteúdos algumas noções básicas sobre autonomia e convivência, e comentários sobre os relatos (de situações-problema) de um grupo de gestores da rede municipal de Salvador, coletados mediante técnica de Grupo Focal. Os comentários dos relatos das Diretoras não representam orientações ou fórmulas que podem magicamente responder como atuar com maior grau de autonomia. A intenção consiste em provocar algumas reflexões sobre problemas que ocorrem no cotidiano da gestão escolar e que, na busca por maior grau de autonomia, os gestores e as gestoras enfrentam e respondem, conforme estratégias peculiares a cada comunidade escolar. Na maioria das vezes, o cotidiano do gestor escolar traz problemas cujas soluções situam-se bem distante das recomendações teóricas. Por isso, buscamos levantar situações-problema das unidades de ensino da rede municipal de Salvador, relatadas pelos seus próprios gestores, assim como suas estratégias de soluções. Trata-se de uma livre reflexão sobre situações-problema sem caráter avaliativo, apenas com o propósito de aprendermos com a experiência de quem faz o cotidiano da escola. PESQUISA Para a elaboração deste Módulo foi realizada uma pesquisa qualitativa sobre a realidade atual da rede municipal de ensino de Salvador, procurando identificar as situações-problema que desafiam os gestores escolares. Adotou-se como técnica de pesquisa o Grupo focal que consiste na eleição de um grupo de interlocutores, com base em critérios específicos, para discussão e análise de um objeto de estudo, no caso, as situações-problema que desafiam o gestor escolar.

Neste módulo, convidamos o(a) colega professor(a) a uma imersão na realidade da rede municipal de ensino de Salvador, refletindo sobre os desafios com os quais se debatem os atuais gestores da rede municipal.

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Para Gatti (2005),

O grupo focal permite fazer emergir uma multiplicidade de pontos de vista e processos emocionais, pelo próprio contexto de interação criado, permitindo a captação de significados que, com outros meios, poderiam ser difíceis de se manifestar. (p.9)

O critério para a constituição deste grupo focal de diretores levou em conta o porte da escola e a experiência dos gestores no cargo. Foram selecionados 30 gestores com mais de dois anos de experiência em gestão da escola, ficando o grupo com a seguinte configuração:

QUANTITATIVO DE ESCOLA POR PORTE

Quantidade % Pequeno 1 3,33Médio 10 33,33Grande 19 63,33Total 30 100,00

Procedimentos metodológicas do Grupo Focal O grupo focal foi realizado em 09 de junho de 2006 e adotou os seguintes procedimentos:

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COMENTÁRIOS Durante a atividade do grupo focal foram destacados problemas que envolvem as relações interpessoais decorrentes do processo de transferência de escolas da rede estadual para a rede municipal. Este processo considerado como municipalização gerou, conforme se observa nos relatos dos Diretores, muita insatisfação por parte dos professores que foram afetados com a perda de algumas conquistas adicionadas aos salários. Segundo os relatos, a maioria do professorado se mostrava insatisfeita com a mudança na qual escolas estaduais passaram a integrar a rede municipal de ensino tendo em vista a perda de alguns direitos e o descaso do Estado quanto à municipalização. Em alguns casos, mencionam os Diretores, esse processo afetou negativamente a relação ensino e aprendizagem devido o abandono de alguns professores da escola, bem como a relação de autonomia das escolas demonstrando a importância do Conselho Escolar em uma gestão participativa e o quanto é difícil ter realmente a autonomia descrita na lei. Todas as vezes que ocorrem mudanças na estrutura organizacional ou administrativa do sistema de ensino, o diretor de escola se vê diante de situações que precisam ser adequadas à nova forma de funcionamento do sistema. Sabemos que muitos professores chegam à escola sem conhecer muito bem a relação que a sua escola tem com o sistema de educação; muitos não têm idéia das relações que existem entre as redes de ensino municipal, estadual e federal, nem mesmo sobre as obrigações e competências de cada um desses níveis, na hierarquia do sistema como um todo. Por outro lado, poucos acompanham os processos de mudanças nas políticas públicas da educação e só se dão conta quando elas já estão acontecendo na sua escola. Além disso, poucos se sentem preparados para enfrentar as mudanças. E, dependendo do tipo de ‘mudança’, às vezes é preciso resistir para evitar a descontinuidade de um trabalho de qualidade que está em pleno desenvolvimento, por exemplo. Como nos módulos anteriores, o assunto se organiza em várias unidades que você pode conferir aqui, mesmo já tendo obtido esta informação quando visitou a sala de aula e verificou o quadro de avisos. As unidades serão estudadas de forma seqüenciada como já ocorreu antes. Confira o nosso plano de estudos.

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MÓDULO 5: OS DESAFIOS DO GESTOR 5.1 – Autonomia da Escola e Convivência Democrática

5.1.0 - Introdução 5.1.1 - A autonomia da escola e sua inserção na rede 5.1.2 - Convivência democrática e valores da escola- 1 5.1.3 - Convivência democrática e valores da escola- 2 Um presente para você... Nas unidades de Introdução aos assuntos Contexto Legal e Normativo (módulo1); As Políticas Públicas para a Educação (módulo 2); O Planejamento na Escola (módulo 3) selecionamos, para você, um material interessante sobre a Cidade do Salvador, a primeira cidade, a cidade-história.. No módulo 4, assunto Os significados da Avaliação, demos um pulo a outra região da Bahia para falarmos do descobrimento do Brasil, através do poema de José Carlos Capinam (O descobrimento do Brasil como viu Pero Vaz de Caminha) e de um trecho da trilha sonora do Auto do Descobrimento, chamado Tema de Caminha, cuja composição musical é de Jonga Fialho. Lembra-se? Neste final da unidade Introdução (módulo 5), vamos pensar na cidade que queremos. Da cidade histórica, da cidade idealizada para a cidade planejada com a participação dos cidadãos e cidadãs. Vamos nos aproximar do Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano do Município de Salvador (PDDU), aprovado pela Lei 6586/2004 e que revê e atualiza o Plano Diretor aprovado pela Lei 3525/ 1985:

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Na condição de elemento central do processo de planejamento do Município, o PDDU deverá ser objeto de implantação sistemática e prevê o acompanhamento permanente, a avaliação periódica, considerando a vigência de 08(oito) anos, contados a partir da data de sua publicação no DOM, ou seja, de 03 de agosto de 2004. Veja alguns princípios orientadores do PDDU:

• Democratização das relações entre sociedade civil e Estado, pela garantia aos cidadãos do direito de informação sobre o planejamento e gestão municipal;

• Consideração da cultura local como fator de afirmação das identidades da população;

• Valorização da Cidade como metrópole nacional; • Perspectiva de um projeto de cidade socialmente construído; • Recuperação pelo município de sua condição de pólo de elaborações

avançadas, tirando partido da atratividade que suas condições históricas, urbanísticas e ambientais desfrutam no mercado em geral e nos segmentos ligados à pesquisa.

Para saber mais sobre o PDDU, acesse www.seplam.pms.ba.gov.br Antes de concluir esta unidade, veja Música : Atoto do L’Homme Arme

Compositor : Paulo Costa Lima - www.myspace.com/paulocostalima

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Assunto 5.1 – Autonomia da Escola e Convivência Democrática Unidade 5.1.1 – A autonomia da escola e sua inserção na rede Olá, professor(a). No início da unidade anterior, fizemos um balanço de nossa caminhada rumo ao conhecimento das questões inerentes à função de gestor(a) de unidade escolar. Pela análise de seu percurso, acompanhado também pelos coordenadores, com atenção e zelo, podemos declarar a nossa alegria por sua dedicação e esforço. Renovamos os nossos parabéns! Esta unidade comenta os relatos de diretores da rede municipal sobre as situações-problema referentes à autonomia escolar, dos quais falamos na unidade anterior. Os relatos são precedidos por algumas considerações ao conceito de autonomia e sua operacionalização. Para refletir Desejamos levantar algumas questões associadas ao conceito de autonomia utilizado no âmbito da escola. Reflita um pouco sobre as perguntas antes de sair deste passo. A sua vasta experiência é um dos insumos mais expressivos deste curso. Nos próximos passos, vamos retomar e analisar as questões. Até mais. AUTONOMIA SE ADQUIRE? AUTONOMIA SE CONCEDE? AUTONOMIA SE ESTABELECE? POR QUEM? COMO SE MATERIALIZA A AUTONOMIA EM TERMOS DE GESTÃO ESCOLAR? O conceito de autonomia tem sido usado em larga escala, especialmente quando nos referimos à gestão da escola. Geralmente este conceito apresenta-se com uma conotação positiva, como a capacidade de promover mudanças na escola. Frequentemente é mencionado por dirigentes da educação, professores e mesmo estudantes como algo que pode vir a solucionar deficiências pedagógicas, administrativas e até financeira. De fato, há alguma razão para tal expectativa, o conceito de autonomia pode ganhar sentido quando passamos a reconhecê-lo como um conceito operativo, ou seja, é possível materializá-lo numa escala que permita atingir graus maiores de autonomia na escola. Se fizermos uma análise dos estudos desenvolvidos por vários autores brasileiros (Teixeira, Bourdignon, Romão etc.) poderemos verificar que há um ponto comum, isto é, a crítica à falta, ou a pouca autonomia na gestão das escolas públicas. Parece, portanto, haver certa confluência em torno da necessidade de promover maior autonomia escolar. Existem, contudo, algumas questões que requerem maior aprofundamento para tentar identificar se tal confluência permite dizer se os atores estão falando da mesma coisa, ou se a autonomia ocupa o mesmo lugar em termos de percepção desse atores. Não pretendemos desenvolver uma revisão bibliográfica para obter respostas, embora isso nos pareça bastante relevante.

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TEORIA Algumas perspectivas teóricas sobre o conceito de autonomia... As questões formuladas no passo inicial desta unidade compõem um quadro de provocações sobre o qual poderemos refletir acerca deste conceito. Com base no Dicionário Aurélio, observamos a existência de um contraponto entre os conceitos de autonomia e heteronomia. O primeiro refere-se à “faculdade de governar por si mesmo, direito ou faculdade de reger (uma nação) por leis próprias, liberdade ou independência moral ou intelectual”. Quanto ao segundo é descrito como sendo a “condição de pessoa ou de grupo que receba de um elemento que lhe é exterior, ou de um princípio estranho à razão, a lei a que se deve submeter”. Colocamos as duas perspectivas para enfatizar posições distintas pelos menos em termos conceituais. Essa perspectiva é utilizada por Moura (1999) quando explora o conceito de autonomia. Confira.

À partida pode conceituar a autonomia versus heteronomia. Esta concepção vê a autonomia como independência, isolamento, onde o sujeito assume o completo poder / controle em completa oposição ao poder / controle exercido por outros. Ser autônomo implica desta forma, um corte radical e uma ausência total de qualquer dependência dos outros. (MOURA, 1999)

Entendemos, contudo, que ao colocar a autonomia nas dimensões acima mencionadas, isto é, com a faculdade de governar por si mesmo, independência, corte radical e uma ausência total de qualquer dependência dos outros, estaremos posicionando este conceito em lugar operativamente inalcançável em matéria de gestão escolar. TEORIA A escola não é uma organização isolada, os sujeitos que atuam de diferentes formas na escola, não atuam isoladamente. O exercício de gerir a escola também não se processa de forma isolada. Assim o exercício da autonomia requer identificar o tipo relação que se mantém com o outro ou com os outros. Esse tipo de relação pode ser observado também entre os órgãos que compõem um sistema de ensino, particularmente na relação entre Escola e Secretaria de Educação. A posição relacional do conceito de autonomia parece perfeitamente assimilável no campo da educação. Moura (1999) utiliza-se dos estudos desenvolvidos por Barroso (1996) acerca da autonomia no contexto da escola, segundo o qual:

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Para saber mais, acesse http://members.tripod.com/Rmoura/investtoc.htm COMENTÁRIOS Se adotarmos a perspectiva segundo a qual a escola integra um sistema composto por diversos órgãos, dentre os quais um órgão (Secretaria de Educação) responsável pelas políticas macro desse sistema, parece evidente a posição relacional da autonomia escolar, uma relação de interdependência. De outra parte, se considerarmos que a escola possui uma organização interna na qual existem papéis e funções hierárquicas, permeadas por relações sociais, ali identificaremos que se estabelecem também relações de interdependência entre os atores. Se de um lado existem estruturas organizacionais preestabelecidas e hierárquicas, bem como funções e papéis estabelecidas por regras e normas, de outro lado existem os atores que lidam e interagem com essas formas de organização, regras e normas institucionais. Isso implica que esses atores interpretam, acolhem, rejeitam, recriam e identificam maneiras particulares de funcionar, colocando as relações de interdependência em graus variados de maior ou menor autonomia.

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De acordo com Moura (1999), “ao desenvolver estes jogos de poder no contexto da ação concreta, os atores são constrangidos pelas regras do sistema, mas também contribuem para a modificação dessas mesmas regras”. Do ponto de vista do exercício da autonomia da gestão da escola, Moura (1999) menciona que “se é verdade que existe um sistema, são, contudo, os diversos atores que interagem na escola que, com as suas possibilidades de escolha, alteram e criam novas regras; ou seja, também contribuem para a alteração do sistema”. (MOURA, 1999) Se a autonomia pressupõe relações de interdependência, cujo parâmetro é estabelecido pelo exercício do poder e da tomada de decisão, a imposição e a subordinação parecem comportamentos incompatíveis com a noção de interdependência. Não se afirma, ou mesmo sugere, a não existência de uma ordem hierárquica. Atenção, colegas! É importante sublinhar a importância de os atores intervirem nos processos educativos, especialmente, considerando-se que a autonomia pode ser vista como um continuum que oscila entre a condição de limites e de possibilidades. VAMOS RELAXAR VAMOS FAZER UMA PEQUENA PAUSA AGORA? VEJA O QUE PREPARAMOS PARA VOCÊ.

A arte e a política de mãos dadas Característica (Hip-Hop) mais que nunca decretada

Por nós em disparada

A voz que se propaga na atitude A juventude que se organiza,

Que luta por justiça e acredita na paz Não queremos líderes, queremos referenciais

Que nós dêem o alicerce da amizade Quem sabe assim a gente melhora um pouco essa nossa

sociedade E pra você que não conhece, ver se escuta,

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Isso aqui não é moda, é luta!

O raciocínio comanda meu punho! A arte é política de mãos dadas

O raciocínio comanda meu punho! Arte-educaçao, diversão, informação

Rap, break, grafite,odj Hip-hop, arte-educação encontrei

Diversão, informação e cultura O conhecimento é estrutura

É o fermento, o alimento que não pode faltar É pra raciocinar, hoje tem reunião vou passar por lá,

Trocar uma idéia sadia com a galera corrente, Ouvir uma palestra, malhar a minha mente

O que me resta é chegar junto pra somar Ler um livro, uma revista, me ligar

Que a revolução tem que ser no raciocínio Não quero ser mais uma vitima de um grupo de extermínio

Pegar um ferro não é atitude que eu valorize Já basta a nossa sociedade que está em crise

Se a corda arrebenta é sempre por lado mais fraco E se a gente é tudo farinha do mesmo saco

No jogo da vida fico me perguntando: Pra que time será que eu tô jogando?

Rap: Robson Ferreira Grafite: Wilson Santos Estelito Pré-vestibulando, militante da (DPAZ) estudante de artes posse Orí e da rede Aiyê Hip- plásticas na UFBA e grafiteiro Hop/Salvador [email protected]

Revista da Educação – CEAP – ª 12, n3 (1993) Salvador: Centro de Estudos e Assessoria Pedagógica, a. 12, n. 46- 2004. p.50-51.

APLICAÇÃO DA TEORIA Prezado(a) aluno(a)! Nesta etapa do curso, vamos mais uma vez contar com sua rica e vasta experiência adquirida no desempenho da atividade docente e/ou de gestão na rede municipal. Com base nas reflexões até aqui desenvolvidas, estamos lhe propondo uma análise sobre o exercício da autonomia, considerando os relatos apresentados pelos Diretores da Rede Municipal de Ensino de Salvador. Vamos procurar identificar o nível de dependência, independência e interdependência dos Diretores em relação aos diversos atores, bem como seus parceiros de gestão.

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Você deve observar particularmente dois aspectos nessa análise:

• como os diretores reagem à necessidade de tomar decisão em relação aos diversos atores da escola e

• como reagem à necessidade de tomar decisão em relação à Secretaria

Municipal de Educação. Vamos agora aos próximos passos para conhecer os relatos dos colegas diretores?

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• Um gestor deve estar preparado para ensinar à comunidade quais são seus

direitos e deveres, para que possam, juntos, encontrar soluções mais ágeis; • Criação de um núcleo (na Jornada Pedagógica) que, a cada semestre, se reúna

para preparar calendário e atividades pedagógicas coletivas como caminhada da paz, palestras, envolvendo, se possível, a comunidade local;

• Assistência maior ao reforço escolar para alunos e apoio do pessoal da área de

saúde para acompanhamento dos alunos.

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COMENTÁRIOS Estamos concluindo os itens previstos para esta unidade conforme você viu na unidade Introdução, início do assunto Autonomia da Escola e Convivência Democrática. Você acompanhou os relatos de seus colegas diretores reunidos no dia 9 de junho deste ano com os autores do texto-base deste curso. Os diretores(as) escolhidos traziam para o grupo focal uma experiência acumulada em mais de 2 anos de direção de unidade escolar e a firme disposição de colaborar com o sucesso desta iniciativa da SMEC em parceria com a UNEB. Temos certeza de que as informações desta unidade vão lhe fornecer preciosos elementos de análise e contribuir para o desempenho do papel de gestor(a) que você objetiva alcançar. Sucesso! Um presente para você Antes de sair desta unidade, vamos aprender um pouco com a sabedoria popular? Veja aqui:

O Periquitinho e o Gavião O periquitim estava cantando no galho do pau: “ti-ri-ri,ti-ri-ri,ti-ri-ri!”quando chegou o Gavião: “ê-pá-pá-ppápá!” sentou de junto e disse: - Bom dia, meu filho! - Bom dia!

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- Ah, desde longe que vejo você cantando! Parecendo a voz do finado seu pai quando cantava.Tinha um disfarce que chegava a fechar os olhos. E você canta com os olhos abertos. Aí o periquitim facilitou, coitado! Fechou os olhos e: “Ti-ri-ri,ti-riri,ti-riri!’’- e o Gavião vapo! - carregou o periquitim e comeu. Depois, o Gavião vê outro passarinho cantando: “Tu-tutu-tutu-tutu!’’ Quis aplicar o mesmo golpe: - Desde longe que vejo você cantando, parecendo a voz do finado seu pai. Mas seu pai tinha um disfarce que chegava e fechava os olhos. E você canta com os olhos abertos. Aí o passarinho fechou um olho e ficou outro aberto. Começou a cantar: ’’tu-tu-tu! Aí o Gavião disse: - Ah! mas você canta com olho fechado e outro aberto?! - Amigo Gavião, quando os amigos são certos, um olho fechado, o outro aberto. E quando são incertos, todos os dois abertos. Até logo! Otávio Barbosa.Alagoinhas(Pati),01.11.86. Recolhido por: Edil Silva Costa AT 61 EBR –1.9( I / A)

Fonte:

ALCOFORADO, Doralice Fernandes Xavier; ALBAN, Maria del Rosário Suárez ; Coordenadores; Contos Populares Brasileiros: Bahia.Prefácio de Fernando de Melo Freyre; Recife FJN, Editara, Massangana 2001 , p.71.

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Assunto 5.1 – Autonomia da Escola e Convivência Democrática Unidade 5.1.2 - Convivência democrática e valores no cotidiano da escola - 1 Olá, prezado(a) colega professor(a). É um prazer renovado voltar a encontrá-lo(a)! Vamos iniciar mais uma unidade deste curso, a penúltima, e já estamos sentindo uma pontinha de saudade... Para facilitar a sua navegação, dividimos os itens a serem tratados sobre convivência democrática e valores no cotidiano da escola em duas unidades e as numeramos, conservando o mesmo título, como você já viu no Guia e no passo 6 da unidade inicial deste módulo (Introdução). Para abordar o tema da Convivência Escolar, poderíamos dizer: tudo o que acontece na escola tem a ver com questões de convivência. Não é verdade? Mas, como entender isso? Pela simples fato de ter pessoas em ação, o ambiente escolar é eminentemente um campo de múltiplas relações que possui fortes características interativas e que tanto envolve a competência profissional como a afetividade. Requer, pois, do diretor, capacidade e sensibilidade. Essa é uma das razões pelas quais o termo “administração escolar” tem perdido terreno para o termo “gestão”, ou ainda, para “organização e gestão da escola” como Libâneo (2001) prefere referir. Um presente para você. Veja abaixo: Quem ama o quê Bola ama futebol, Fauna ama flora, Cabeça, boné. Boca ama beijo, Estrela ama céu, Siri, maré. Mãe ama filho, Tatu ama toca, Bombinha, busca-pé. Natal ama presente, Floresta ama índia, Vatapá, dendê. Palavra ama verso,

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Sorvete ama criança, Batata, purê. Amor ama coração, Deus ama tudo, Eu, você. Lalau Quem é quem/ Lalau, ilustração de Laurabeatriz- S.Paulo : Companhia das Letrinhas, 2002 APRESENTAÇÃO PANORÂMICA O ambiente escolar Um campo de convivência que pressupõe uma organização que agrega pessoas com definição de responsabilidades nas relações de trabalho. A convivência escolar está ambientada numa estrutura organizacional, que dispõe de formas de participação, de normas, diretrizes, rotinas e procedimentos administrativos, em suma, elementos que constituem a cultura da escola. Como explicita Libâneo (2001): A partir da interação entre diretores, coordenadores pedagógicos e professores, funcionários, alunos, a escola vai adquirindo na vivência do dia-a-dia, traços culturais próprios, vai formando crenças, valores, significados, modos de agir, práticas. É o que estamos denominando de cultura da escola ou cultura organizacional. Essa cultura própria vai sendo internalizada pelas pessoas e vai gerando um estilo coletivo de perceber as coisas, de pensar os problemas, de encontrar soluções. É claro que isso não se dá sem conflitos, diferenças, discordâncias, podendo até haver quem destoe dessa cultura [...] Essa cultura organizacional se projeta em todas as instâncias da escola: no tipo de reuniões, nas normas disciplinares, na relação dos professores, com os alunos na aula, na cantina, nos corredores, na confecção de alimentos, e distribuição da merenda, nas formas de tratamento com os pais, na metodologia da aula, etc. Vem daí uma constatação muito importante: a escola tem uma cultura própria que permite entender tudo o que acontece nela, mas essa cultura pode ser modificada pelas próprias pessoas, ela pode ser discutida, avaliada, planejada, num rumo que responda aos propósitos da direção, da coordenação pedagógica, do corpo docente. (p.82-84) TEORIA A convivência escolar também vem aparecendo como uma das principais dificuldades do professorado no seu dia-a-dia, em sala de aula, na escola. Só isso já seria suficiente para considerar esse tema como um problema importante na gestão da

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escola. Afinal, sobre um conjunto fundamental de pessoas que estão no centro da dinâmica da vida escolar – o segmento docente – parece estar recaindo um problema que parece estar interferindo diretamente no desenvolvimento das suas atividades, ou seja, exatamente naquilo que representa o núcleo que dá sentido aos objetivos da escola: educar pessoas, lidar com o processo de ensino-aprendizagem, formar os alunos/alunas. A convivência escolar é um campo onde atuam os valores sociais, ou seja, a própria escola e a ação pedagógica são espaços embebidos por esses valores, de modo que os sujeitos que atuam na escola (gestores/diretores, professores e professoras, funcionários e funcionárias, alunos/alunas e alunas) estão, necessariamente, envolvidos na questão. Espaço, pois, da diversidade, da pluralidade, ainda que estejam todos imbuídos pela atuação conjunta, orientada pelos mesmos propósitos. Espaço onde se manifestam esses dois campos relacionais que destacamos acima: gestores/diretores x professores ou funcionários e professores x alunos/alunas. Mas, seja como for, os sujeitos da escola não são os únicos envolvidos e não são os principais responsáveis por uma situação de convivência escolar considerada boa ou ruim. Entretanto, o papel que exercem na escola pode ajudar, e muito, na construção de um ambiente saudável para a convivência escolar. Uma escola que trabalhe com a perspectiva da diversidade e da pluralidade do ambiente escolar tem melhores condições de atender a múltiplos objetivos. O principal é o da formação das pessoas para a convivência social, para saber lidar com as diferenças, saber respeitar o outro, saber participar e exercer seu papel na sociedade. É isso que se constrói na escola quando se diz que a escola está encarregada da formação da cidadania. Para isso é preciso que a escola viva um clima de democracia participativa, que seu ambiente seja fundamentalmente vivido como um ambiente de diálogo e ação cooperativa, solidária, compartilhada. Conforme foi visto nos módulos anteriores, esses valores são caros à escola, ao gestor(a)/diretor(a) e a formação dos alunos/alunas. Sabemos que a questão da convivência escolar é um tema que vem sendo tratado com muita freqüência e que, muitas vezes, expõe incidentes ou “casos” de difícil abordagem. Chegamos mesmo a ouvir relatos sobre situações limites, em que o gestor/diretor da escola não sabe o que fazer, a quem recorrer, como conduzir a situação, onde buscar auxílio de outros profissionais etc. Mas, vemos, também que muitos relatos sobre o “caos” nos centros educativos, em

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geral referidos como mais graves dentro do setor público, não correspondem à realidade. Isso não significa que não existam problemas ou que o tamanho do problema não seja assim tão grave. É preciso considerar que existem muitas maneiras de abordá-los e que os gestores/diretores de escolas fazem uso de estratégias que se revelam exitosas na dinâmica do cotidiano escolar. COMENTÁRIOS As escolas são o espaço institucional da convivência, da palavra e do diálogo. Professorado e alunado falam entre si, tratam de problemas e de coisas positivas, tratam de assuntos que dizem respeito ao ambiente escolar, às suas vidas pessoais. É nesse espaço que se deve construir uma capacidade de diálogo entre todos. O gestor/diretor escolar ocupa um lugar de grande importância na construção de um ambiente assim onde está em jogo também a capacidade de escutar, de acolher, de analisar e de resolver conflitos. O tema é complexo e vibrante. Um gestor(a)/diretor(a) engajado, que atua com criatividade e dedicação, apresenta muitos recursos para abordar a questão da convivência escolar. Por isso mesmo, pensamos que seria importante examinar um pouco o que significa atualmente “convivência escolar” para entender melhor como agir nesse contexto. Vamos ao próximo passo? Convivência escolar: o desafio hoje Se levarmos em consideração as matérias dos jornais e o modo como se disseminam os relatos sobre os problemas escolares, uma primeira impressão da situação atual pode nos levar a pensar que estamos diante de uma situação que nos escapa ao controle ou à compreensão. Em muitos momentos, chega-se à impressão de que a convivência escolar tem-se tornado um exemplo dramático dos problemas que acometem a nossa sociedade. A escola se vê invadida por problemas e desafios diante das desigualdades sociais, da ação do homem sobre o meio ambiente, do racismo, das drogas, da violência social, do abandono, da intolerância, das doenças sexualmente transmissíveis, da gravidez precoce... para citar alguns. Seus sujeitos, dirigentes, professores e professoras, alunos e alunos, funcionários e funcionárias vivenciam e lidarão, inevitavelmente, com essas questões. Além disso, não se pode esquecer que essas próprias questões são temáticas que fazem parte do processo de ensino-aprendizagem, integram o processo de formação do cidadão, processo que se dá na escola.

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TEORIA Eis uma pergunta interessante sobre a qual você pode refletir para começar esta análise: é possível uma intervenção educativa no âmbito escolar? Sobre esse ponto, a Professora Dra. Silvia de Matttos Gasparian Colello, da Universidade de São Paulo, afirma que sim. Mas, para tanto, destaca que é importante compreender o percurso do aluno nessa trajetória que implica três momentos de intervenção educativa: o momento da institucionalização (educação infantil), da escolarização (séries iniciais do ensino fundamental) e da orientação para o social (ensino fundamental e médio – adolescência). Nesse sentido, diz Colello:

Nessa perspectiva, é possível responder à questão inicialmente formulada, admitindo, sim, a intervenção educativa no âmbito escolar. Mais do que isso, é preciso defendê-la como objetivo essencial da escola, sem o qual se perde o sentido da prática pedagógica. Longe de se configurar como processo rígido, projetado em uma única direção, o esforço educativo orienta-se para o ajustamento do indivíduo em possibilidades simultâneas e complementares de desenvolvimento, personalização, socialização, humanização e libertação a partir dos seguintes requisitos: a) O Eu: consideração do estágio de desenvolvimento do aluno como meio de obter diretrizes para a ação educativa, não pelo delineamento de quadros descritivos de possibilidades e limites, mas pela dimensão prospectiva do sujeito, isto é, aquilo que ele pode vir a ser. b) O mundo: consideração da realidade histórica e social do aluno, essencial no “palco das negociações pedagógicas” para situar necessidades, significados, objetivos, limites, desafios, meios e razões para a prática educacional. c) A escola: consideração do impacto da vida escolar sobre o aluno e seus significados ao longo da vida estudantil, aspectos esses capazes de redimensionar a vida do sujeito dentro e fora da escola. d) A ação educativa: clareza das metas educativas priorizadas pelo projeto pedagógico da escola a partir dos itens anteriores, em perspectivas de intervenção flexíveis e nunca definitivas.

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COMENTÁRIOS

A atuação do gestor(a) escolar.... Pensada sob o enfoque da dinâmica de implementação, a prática educativa faz sentido nas esferas macro e micro. A primeira diz respeito ao planejamento previsto a longo prazo com o propósito de nortear e imprimir coerência ao projeto escolar. A segunda refere-se ao exaustivo acompanhamento da rotina dentro e fora da sala de aula (os alunos individual e coletivamente, os fatos e ocorrências, o dito e o não dito, o sentido, o conhecido e o percebido, as dificuldades e conquistas, os dilemas e as alternativas de encaminhamento) em um constante trabalho que avalia e re-alimenta o plano elaborado. No conjunto, trata-se de uma reorientação do trabalho escolar já que os educadores são constantemente convidados a conhecer para estabelecer prioridades, projetar para, na prática, concretizar o seu trabalho, rever concepções para recriar novos meios de intervenção em diferentes possibilidades.

Para saber mais : http://www.hottopos.com/rih4/silvia.htm VAMOS RELAXAR Já está na hora do recreio, não acha? Preparamos 2 alternativas para você. Confira. Esperamos que goste. Telas de Guache Marques?

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APLICAÇÃO DA TEORIA É muito importante que o gestor(a)/diretor(a) da escola compreenda o processo educativo que está em jogo e que, ao assumir um lugar de direção na escola, esse ‘novo’ lugar não estará esvaziado das implicações educativas e pedagógicas. Isto é, no exercício da sua função o diretor/gestor da escola não deve nunca se limitar à condição de gerenciamento da vida administrativa, descolando do seu papel a dimensão pedagógica. Perceber, dessa perspectiva ampliada, certamente facilita a construção de relações interpessoais que contribuem para a construção de um ambiente onde a convivência escolar pode se dar de forma saudável. Vendo, agora, esta questão da perspectiva da relação entre diretores, professores e funcionários, constatamos que a convivência escolar está, necessariamente, permeada pela dimensão que o trabalho ocupa na vida das pessoas; por isso, nos próximos passos, vamos destacar essa dimensão, comentando alguns aspectos de situações-problema colocadas pelas Diretoras.

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Compreendendo o processo de tomada de decisão Primeiro, é preciso saber que qualquer escolha implica tomada de decisão. Acompanhe conosco a análise. Caso o(a) diretor(a) opte por procurar o(a) professor(a) para entender melhor a sua atitude, visando conversar para que retorne à escola ou se preferir levar o caso diretamente à Secretaria, documentando o ocorrido e requerendo substituição imediata para não causar problemas com as aulas e os alunos... em quaisquer dos casos, houve escolha, houve decisão. Na tomada de decisão, portanto, o diretor age, buscando responder a um problema. Como a escola dispõe de normas que regulam as atividades tanto de professores como de diretores, é fundamental que o diretor examine o que dizem as normas. Que veja, por exemplo, o que é determinado pelas normas diante das situações. Cada situação tem implicações distintas. O diretor precisará avaliar a gravidade da situação e o grau de autonomia que ele dispõe para procurar resolver a situação ou se o caso implica a comunicação imediata ao órgão central, por exemplo.

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No que se refere à movimentação de professores, o grau de dependência dos Diretores é alto em relação à Secretaria de Educação, isto significa dizer que cabe institucionalmente à Secretaria a responsabilidade de alocação e remoção de pessoal. Neste caso, pode-se considerar que a autonomia do Diretor para tomar decisões pode ser considerada baixa. REFLEXÃO Em quaisquer dos casos, entretanto, a situação reflete um problema de convivência: o que leva um professor a abandonar uma escola sem qualquer comunicação à direção da escola? A situação pode estar demonstrando que a inserção do professor no sistema de ensino não foi realizada de modo adequado assim como a reação desse professor às mudanças pode estar indicando que ele não possuía uma visão adequada do sistema nem dos processos de mudança que estavam em curso. Isso pode ter levado o professor a não saber lidar com uma situação nova uma vez que não estava preparado para tanto. Um presente para você... Veja a seguir: Identidade e Resistência O continente africano tem mais de 800 milhões de habitantes falando 434 línguas e dialetos diferentes. Compreende as seguintes regiões: *

• África do Norte: do Oceano Atlântico até o Mar Vermelho, incluindo todos os países costeiros – Argélia, Egito, Marrocos, Líbia, Saara e Tunísia.

• África Ocidental: inclui o rio Senegal até o lago Chiade e integra Burquina

Fasso, Benin, Cabo Verde, Costa do Marfim, Senegal, Níger, Guiné Bissau, Mali, Libéria, Mauritânia, Gâmbia, Nigéria, Serra Leoa, Togo e Gana.

• África Central: Camarões, República Central- Africana, Chade, República Democrática do Congo, Gabão, Guiné Equatorial, São Tomé e Príncipe.

• África Oriental: Região dos Grandes lagos e Burundi, Madagascar, Maurício

Reunião, Camarões, Djibuti, Etipóia, Quênia, Ruanda, Seychelles, Somália, Sudão, Tanzânia e Uganda.

• África Austral: África do sul, Lessoto, Moçambique, Namíbia, Suazilândia, Zâmbia, Zimbabwe, Botswana, Angola e Malawi.

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Fonte: LODY, Raul Giovanni da Motta. Cabelos de Axé: identidade e resistência. Rio de Janeiro : Ed. Senac Nacional, 2004.

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Aprendendo com a experiência... Quando a relação entre diretores e professores é compreendida como uma relação de mando que submeta os professores à escala hierárquica do poder, todos perdem a possibilidade de compreender a escola como um espaço de diálogo e de convivência. Espaço onde se diferenciam as funções específicas de cada um, mas onde, também, essas funções guardam interfaces umas com as outras. Para ficar bem claro esse aspecto, podemos perguntar, por exemplo: qual seria a pertinência de uma

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orientação dada por um diretor a seus professores se ela não estiver relacionada com a tarefa central da escola que é a de formar seus alunos? E, por outro lado, por que os professores rejeitariam orientações que apontassem para a melhoria do seu trabalho junto a seus alunos?

REFLEXÕES Ambas as partes, diretores e professores, podem refletir juntos sobre os melhores encaminhamentos e procurar compreender o que não está dando certo. Como diretor(a), é preciso preparar-se para refletir sobre essas inter-relações, saber construir acordos, reconhecer diferenças, inclusive diferenças de perspectivas na solução de problemas, o gestor(a) precisa saber lidar com o dissenso. Assim é o caminho pelo qual a escola ensina também a conviver melhor.

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Afinal, a escola é uma instituição voltada para a formação de cidadãos e cidadãs, pessoas críticas e comprometidas com os valores democráticos, portanto, com a promoção da paz, da justiça, da responsabilidade individual e social. Confira o texto abaixo: Considerando que, enquanto o animal é, por natureza, logo e sempre, unilateralmente si mesmo (o pássaro é pássaro, o cachorro é cachorro, seja qual for o destino de sua breve vida), somente o homem quebrou os vínculos da unilateralidade natural e inventou sua possibilidade de tornar-se outro e melhor, e até onilateral. Considerando, outrossim, que esta possibilidade dada apenas pela vida em sociedade, foi até agora negada pela própria sociedade à maioria, ou melhor, negada a todos em menor ou maior grau, o imperativo da educação do homem pode ser assim enunciado: Apesar de o homem lhe parecer, por natureza e de fato, unilateral, eduque-o com todo o empenho em qualquer parte do mundo para que se torne onilateral. Manacorda, Mario Alighiero. História da Educação: da antigüidade aos nossos dias/ Mario Alighiero Manacorda; tradução de Gaetano Lo Mônaco; revisão da tradução Rosa Oliveira e Paolo Nosela- 8.ed- são Paulo: Cortez,2000

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Assunto 5.1 – Autonomia da Escola e Convivência Democrática Unidade 5.1.3. Convivência democrática e valores no cotidiano da escola – 2 Olá, prezado(a) colega professor(a). É um prazer renovado voltar a encontrá-lo(a)!Vamos iniciar mais uma unidade deste curso, a penúltima, e já estamos sentindo uma pontinha de saudade... Para facilitar a sua navegação, dividimos os itens a serem tratados sobre convivência democrática e valores no cotidiano da escola em duas unidades e as numeramos, conservando o mesmo título, como você já viu no Guia e no passo 6 da unidade inicial deste módulo (Introdução). Para abordar o tema da Convivência Escolar, poderíamos dizer que tudo o que acontece na escola tem a ver com questões de convivência. Não é verdade? Mas, como entender isso? É sobre esta ótica que vamos continuar tratando este item do assunto. Um presente para você. Leia o poema Os meus errinhos . Os meus errinhos Está bem, eu confesso que errei. Eu errei, está bem, me dê zero! Me dê bronca, castigo, conselho. Mas eu tenho o direito de errar. Só o que eu peço é que saibam que eu necessito errar. Se eu não erro vez por outra, Como é que eu vou aprender Como fazer pra acertar? Pois, professores, adultos. Também erraram à vontade Já fizeram sujeira e borrão. Ou vai dizer que a borracha Surgiu só nesta geração? Vocês, que errando aprenderam, ouçam,o que eu tenho a falar: se até hoje cometem seus erros, só as crianças não podem errar? Concordem, eu estou aprendendo. Comparem meus erros com os seus. Se já cometeram os seus erros,

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Deixem-me agora com os meus! Luna Filho, Pedro Bandeira de - Mais respeito, eu sou criança ! / Pedro Bandeira; capa e ilustração de Odilon.- São Paulo: Moderna, 1994. – (Coleção Girassol) Se você gostou e deseja ler outro texto do mesmo autor, clique aqui. Maluquices do H O H é letra incrível, Muda tudo de repente. Onde ele se intromete, Tudo fica diferente... Se você vem para cá, Vamos juntos tomar chá. Se o sono aparece, Tem um sonho e adormece. Se sai galo do poleiro, Pousa na galinha ligeira. Se a velha quiser ler, Vai a vela acender. Se na fila está a avó, Vira filha, veja só! Se da bolha ele escapar, Uma bola vai virar. Se o bicho prender o H, Com o bico vai ficar: Hoje com H se fala, Sem H é uma falha. Hora escrita sem H, Ora bolsa vai virar. O H é letra incrível, Muda tudo de repente. Onde ele se intromete, Tudo fica diferente.... Luna Filho, Pedro Bandeira de 1942- Mais respeito, eu sou criança! / Pedro Bandeira; capa e ilustração de Odilon.- São Paulo: Moderna, 1994. – (Coleção Girassol) APRESENTAÇÃO PANORÃMICA No passo 2 da unidade anterior, vimos que o ambiente escolar se definia como um campo de convivência que pressupõe uma organização que agrega pessoas com definição de responsabilidades nas relações de trabalho. Além disso, vimos que a

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convivência escolar está ambientada numa estrutura organizacional, que dispõe de formas de participação, de normas, diretrizes, rotinas e procedimentos administrativos, em suma, elementos que constituem a cultura da escola. Pelo simples fato de ter pessoas em ação, o ambiente escolar é eminentemente um campo de múltiplas relações que possui fortes características interativas e que tanto envolve a competência profissional como a afetividade. Requer, pois, do diretor(a), capacidade e sensibilidade. Essa é uma das razões pelas quais o termo “administração escolar” tem perdido terreno para o termo “gestão”, ou ainda, para “organização e gestão da escola” como Libâneo (2001) prefere referir. Nos próximos passos, vamos retomar os relatos dos gestores obtidos no grupo focal. Dois desses depoimentos foram analisados na unidade anterior (do passo 11 ao 16). Confira. Utilizaremos a mesma metodologia para o nosso estudo e analisaremos mais 5 relatos de diretoras de unidades da rede municipal. Vamos lá?

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TEORIA Toda mudança exige um reposicionamento do sujeito em relação ao seu campo de trabalho, ao seu campo relacional. Se a mudança é no âmbito da hierarquia escolar, o professor deverá se reportar a outras chefias, que não são mais aquelas a que estava habituado a dirigir-se para tratar das suas questões. Mudanças nas quais os sujeitos não se sentem participantes do processo tendem a gerar muitas resistências. E uma das formas em que essas resistências se apresentam é na evasão ao trabalho, no não–reconhecimento dos novos dirigentes, na desqualificação das atividades etc. Assim como as mudanças são inevitáveis, é preciso ter em conta que as resistências às mudanças também acabam sendo algo que pode acontecer a qualquer um de nós. Essas reações, que denominamos de “resistência à mudança”, falam de muitas coisas: das nossas ansiedades, do medo de enfrentar o novo, da nossa tentativa de manter-nos com aquilo que já sabemos fazer, de conservar, portanto, e não inovar, assim como do sentimento de perda por aquilo que já nos era conhecido, que estávamos acostumados e que precisaremos deixar.

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REFLEXÕES Refletir, portanto, diante da cada situação, tentar mapear tudo o que implica de novo e tudo o que implica de perda, dialogar sobre cada um desses aspectos, avaliar suas implicações no que fazer da escola, do cotidiano escolar, é um caminho para enfrentar melhor cada uma dessas situações. Como a vida educacional é dinâmica, o gestor(a)/diretor(a) da escola atravessará, inevitavelmente, situações que implicam mudanças. Precisará compreender a natureza da mudança que está sendo anunciada, saber analisar situações de contexto, ter visão de futuro sobre os impactos que podem se produzir sobre a escola e as atividades educacionais. E, portanto, ele vai se ver junto àqueles que as desejam tanto quanto junto àqueles que as rejeitam. CURIOSIDADES

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CURIOSIDADES O professor é um agente promotor de cultura e, como tal, pode ampliar o acesso de seus alunos aos mais diversos bens culturais produzidos ou oferecidos em Salvador contribuindo para a formação do hábito de ir a museus, teatros, cinemas, shows, parques públicos etc. A escola pode ter uma proposta de defesa e construção do lugar, de espaço para o fortalecimento das oportunidades de aprendizado, da convivência social, da ampliação do repertório cultural, da aquisição de informações, do acesso e uso de tecnologias e, sobretudo, espaço de incentivo à participação na vida pública das comunidades em que vivem esses educadores(as). Veja a pesquisa realizada pelo CEAP (Centro de Estudos e Assessoria Pedagógica) com a sua turma/2005 formada por 60 professores(as). As informações foram retiradas de Presente revista de educação, Ano 14 mar-mai/2006, p.56 que divulgou os seguintes resultados quanto ao acesso às possibilidades culturais dos professores(as). Confira.

Você acha que os dados referentes a esta pequena amostra refletem a situação geral do professor(a) quanto à vivência de experiências culturais? Analise e discuta com seus colegas na escola, com amigos, familiares.

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REFLEXÕES A situação permite analisar ainda um outro aspecto: a responsabilidade perante nossa atuação profissional. A responsabilidade profissional é também regulada pelas normas da escola. Nossas tarefas na educação são tarefas profissionais. Requerem integridade, competência, ética. Todos da escola dependem uns dos outros. É preciso que se mantenha e que se cultive a relação de confiança entre uns e outros. Quando alguém falha na sua tarefa, por desleixo ou descompromisso, afeta o trabalho do outro e, o que é ainda pior, afeta o trabalho da escola como um todo. É, pois, fundamental o diálogo diante das situações, das dificuldades, das ausências. Em um ambiente onde o clima é de confiança e de integridade, é muito mais fácil de encontrar ajuda mútua, em ter parceiros colaborativos, participantes e engajados no mesmo propósito.

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REFLEXÕES Podemos lembrar quanto tempo é gasto inutilmente no dia-a-dia da escola por falta de um momento de reflexão compartilhado, de um instante de revisão da atitude tomada repentinamente, de uma pausa para uma conversa franca. A falta de comunicação, o não-dizer, não explicar trazem muitos problemas. Além disso, um(a) diretor(a) precisa dizer e fazer o que diz, precisa ter coerência entre sua fala e suas ações. Essa coerência lhe aumenta a credibilidade, a confiança. Os horários de funcionamento das aulas devem ser cumpridos tanto por alunos(as) como pelos professores(as), para que possam desenvolver suas atividades sem quaisquer interferências além das próprias variáveis do processo ensino-aprendizagem. Os horários são, pois, como uma moldura de um quadro (compreendendo a cena do quadro como algo em movimento). Quando o(a) professor(a) não leva em consideração essa moldura, algo de muito sério pode estar acontecendo. Algo que, inevitavelmente, está relacionado com o processo

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formativo dos alunos e com a missão da escola. É preciso, portanto, estabelecer o diálogo com os(as) professores(as) e procurar aprofundar, com todos, o sentido dos horários no processo pedagógico e no contexto de uma escola. Sabemos que os horários estão diretamente relacionados ao tempo pedagógico em que o(a) professor9a) permanece com os seus alunos, relação fundamental à aprendizagem.

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REFLEXÕES O que fazer? No exemplo anterior, vimos que, em princípio, o problema tem origem numa decisão tomada no nível do sistema, a qual implica a absorção de alunos de um determinando nível (no caso da 5ª à 8ª séries) numa escola de outro nível (no caso de 1ª a 4ª séries). Ou seja, uma escola de crianças pequenas passa a receber alunos maiores. Claro, podemos pensar que muitas escolas vão da 1ª à 8ª séries. Então, qual é o problema? O problema relatado indica que o modo pelo qual se deu essa decisão não foi suficientemente capaz de preparar a escola de 1ª a 4ª séries para receber os novos alunos (vemos, como uma das conseqüências, a saída da diretora) e que tampouco foi capaz de inserir adequadamente os alunos da 5ª a 8ª séries no novo

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ambiente (vimos que eles se sentiam ‘invadindo o espaço do outro’). É um problema de gestão que produz um problema de convivência.

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COMENTÁRIOS Do ponto de vista da convivência escolar, os relatos apresentados pelos gestores/diretores durante a realização do Grupo Focal trouxeram à tona algumas questões que, no caso, se referem, principalmente, a problemas entre gestores(as) diretores(as) x professores(as) ou funcionários(as) e na relação professores(as) x alunos/alunas. Essa situação permite mostrar os campos em que, freqüentemente, vemos incidir os problemas da convivência escolar: entre diretores(as) e professores(as) e/ou funcionários(as) e entre professores(as) e alunos/alunas. São problemas que falam de questões relacionadas à responsabilidade com o trabalho escolar; ao cumprimento das funções correspondentes a cada um; à observância aos horários; ao modo pelo qual diretores/gestores, professores e professoras, funcionários e funcionários tratam uns aos outros; às questões disciplinares, de conduta de alunos/alunas; ao modo como os professores e professoras tratam seus alunos; e aos “pactos” que se dão entre professores e alunos etc. Olhando para esse contexto, é fácil perceber que o gestor(a)/diretor(a) da educação atua num contexto de múltiplas relações e em constante mudança. As mudanças, por sua vez, jamais ocorrem de fato, se forem impostas, se não nos sentimos participantes dos processos. Mesmo a LDB ou as leis do ensino municipal e regulamentos, eles precisam ser assimiladas pelas pessoas; as pessoas precisam compreender o sentido dessas normas, desses dispositivos. Precisam compreender como normas e regulamentos afetam o cotidiano escolar. Organizar sessões de discussão do Regimento, por exemplo, em que seja possível visualizar o impacto de cada artigo sobre o dia-dia da escola, pode ser

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uma experiência, tanto no aprendizado das pessoas como no da própria escola enquanto organização.

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VAMOS RELAXAR Aceita nossa proposta para um pequeno intervalo na abordagem dos itens da unidade? Vamos espiar umas telas do pintor Jenner Augusto?

Vamos conhecer uma receita de Jorge Amado para se pintar um bom quadro? RECEITA DE JENNER AUGUSTO PARA FAZER UM QUADRO Para fazer um quadro assim tão belo. A receita, senhoras e senhores, vos ensino: Alvas areias altas dunas casario antigo O pássaro sofrê os retorcidos santos A humildade o orgulho a dura consciência O mistério das flores do caule da corola O boi o porco a cabra o vira-lata o galo a madrugada

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O mar dos alagados a fome milenar Nordestina universal a rútila esperança A meninice a tia a noite sergipana A brisa da Bahia o patriarca a puta Fraternal suave doce triste alegre maternal A música do cego o vilão as cores desse céu Dessa montanha dessa pedra chão Desse mundo e dos olhos de Luíza O riso dos meninos A ausência do menino O órfão indispensável recolhido sofrimento Em riso rebentado em infância oferecida. Também é necessário senhor e senhor, ter talento Coração. sangrando, ser solidário, poço de bondade. Uns olhos fundos apertados um choro não chorado Ser cangaceiro e santo ter sofrido e amado . Como vêdes, senhores e senhoras, é muito simples. Pintar um quadro assim tão belo. Só é preciso ter vivido. JORGE AMADO - Texto constante do Catálogo da Exposição em Homenagem a Jenner Augusto, março 2004. Responsáveis pela exposição: Marcos Couri Ribeiro e Cláudia M. Barreto Ribeiro Curadoria: Paulo Borges

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COMENTÁRIOS É importante para o gestor(a) conhecer com clareza o seu papel, conhecer o Regimento Escolar e as normas, leis e outras referências legais que regulamentam a sua atuação. Esse conhecimento permite o domínio de suas competências, facilitando a sua ação. Os dispositivos legais e normativos, entretanto, não podem ser utilizados como um recurso isolado do próprio contexto da convivência escolar. São instrumentos de apoio ao gestor(a)/diretor(a)para indicar possíveis encaminhamentos e para dar-lhe a segurança da tomada de decisão que está circunscrita à sua função. Tais dispositivos são, sobretudo, uma forma de garantir a continuidade de uma determinada cultura escolar, inclusive porque um dos problemas mais sérios do sistema educacional é a descontinuidade das ações, sejam elas de natureza administrativa ou pedagógica.

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COMENTÁRIOS Somos gestores(as)... O trabalho da educação, como vimos, se dá em um contexto de múltiplas relações interpessoais. Como deve, então, o gestor(a) da educação pautar a sua conduta na escola? O que representa, então, a convivência escolar? Analise conosco, considerando os tópicos já abordados nas duas últimas unidades. No caso das redes de ensino, o contexto do trabalho vai-se dar no campo do público, no qual nascem várias especificidades. O termo “gestor”, cujo emprego originou-se no âmbito do setor privado, chegou ao setor público. Por quê? e o que ele pode significar no campo da educação? Esse é um assunto importante porque não se trata de operar com a lógica do privado, transformando diretores em gerentes exclusivamente voltados para o alcance de metas, por melhor desenhadas que possam estar. O gestor(a)/diretor(a) da escola atua num ambiente educativo, num contexto pedagógico. Portanto, a sua atuação guarda diferenças substantivas da atuação dos gerentes movidos por uma lógica empresarial ou por relações entre as pessoas que primam pelo que elas produzem enquanto resultados e desprezam os processos. No caso da escola, estão em jogo os processos formativos, que extrapolam, em muito, a sala de aula. Os contatos com os alunos, dentro e fora das salas de aula, comportam processos formativos. Assim, também, entre os próprios professores e funcionários, pois todos integram uma instituição cuja lida principal é o aprender e o ensinar.

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DESPEDIDAS Colega professor(a). Concluímos o estudo de todos os temas propostos para o Curso Gestão Escolar, como você viu no Guia e veio acompanhando na navegação pelas várias unidades. Percorremos um longo caminho organizado em 5 módulos, 16 assuntos , 46 unidades que chegaram até você traduzidos em 635 passos /telas. Uma caminhada e tanto... A nossa caminhada, de fato, começou antes mesmo de você se inscrever no curso. Um grupo de professores e professoras, técnicos e técnicas , especialistas todos em suas respectivas áreas se uniram aos gestores para este projeto. Os professores da UNEB prepararam, com todo o rigor científico e a ampla experiência que reúnem, o texto-fonte que foi analisado e validado pela equipe da SMEC. Professor especialista em design educacional e edição de texto para a web procurou dar, ao trabalho dos colegas, um tratamento adequado à nova tecnologia a ser utilizada, imprimindo as características metodológicas necessárias a uma boa “aula” para alunos tão especiais, mas a distância... Para realizar o sonho dos professores, agregaram-se os analistas de sistemas, web designers, programadores, revisores, animadores, ilustradores, digitadores. Fomos todos apoiados por uma equipe administrativa cooperativa e prestimosa. Nestes meses, construímos uma parceria efetiva e afetiva, com o suporte tecnológico de uma ferramenta amigável e uma equipe de acompanhamento atenta e competente. A você querido(a) aluno(a), o nosso agradecimento por esta convivência enriquecedora, pelo entusiasmo e disposição demonstrados, pelo espírito de aceitar desafios, pelo desejo de se qualificar cada vez mais para poder prestar um melhor serviço à educação no Município de Salvador. Muito sucesso para você. Que se cumpram todos os seus objetivos. Um presente para você... Você vai ler um texto de Fanny Abramovich - uma educadora paulista que você conhece e já leu algum ou vários dos livros que ela publicou. É uma homenagem ao professor e à professora e está no livro Um Professor Inesquecível. Este livro nos mostra a importância que o educador tem na vida de seu aluno. Como ele interfere e marca esta vida. Mesmo que seja pelo não –ser, como é o caso de Dona Linda. Confira. Para acompanhar a sua leitura, escolhemos a música tema do filme Ao Mestre com Carinho. Acesse o site: http://www.arcadovelho.com.br/Filmes/To%20Sir/To_Sir.htm

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Dona Linda Dona Linda me deixou a marca da déspota não-esclarecida. Daquelas que têm e detêm o poder pelo poder. Não como demonstração da experiência, de clareza, de levar a classe a efetivar uma proposta... Nada disso. A sua autoridade como demonstração permanente de força e de controle, mesmo quando tivesse distante da sala dos alunos. Um único critério e uma regra do jogo; AQUI QUEM MANDA SOU EU, não importa se com ou sem razão, por quê ou pra quê... Vale mais meu berro do que uma discussão. Vale mais meu lápis vermelho do que outro jeito de resolver o problema, mesmo que a resposta final esteja certa. Arrepiante! Eu adorava o Colégio Batista Brasileiro. Saí de lá quando terminei o primário e voltei, alguns anos depois, para concluir o normal, Qual foi meu espanto quando, numa manhã, dei de cara, em um dos corredores, com uma mulher pequena, nem magra nem gorda, nem velha nem jovem, que me cumprimentou sorridente. Não tinha idéia de quem fosse. Era dona Linda, destituída do tamanho-do-medo. Foi ai que compreendi o que significa a proporção efetiva para criança: os objetos, as pessoas, os lugares têm o tamanho da sua importância e significado interno e nunca a sua dimensão real, concreta, exata, objetiva. Eu, menina judia, tive o meu primeiro contato com a onipresença e com a onisciência através de dona Linda. Quando comecei a dar aulas para as crianças, busquei vários caminhos. Quis momentos divertidos, alegres, cheios de surpresas. Quis momentos, organizados, concentrados, produtivos. Quis que vivessem, experimentassem, sentissem gostosuras e importâncias. Que se encantassem, que crescessem. Quis ter um relacionamento aberto, poroso, ser respeitada. Não sabia como, claro... Mais lá no fundinho intuía que não seria_jamais_pelas vias, atalhos e pontes de dona Linda. Com ela aprendi, claramente, como não queria ser. Nem remotamente. Pra nenhum aluno. Nunca. Foi meu modelo, meu paradigma. Atenção!!! Cuidado!!! Olha o olho, o lápis vermelho, o berro de dona Linda. Quando escorregava, sabia por quê. Até a pele reagia. A garganta diminuía a intensidade do grito, o olhar se abrandava, o sorriso vinha e se transformava em sonora gargalhada. Funcionou. Fui cúmplice e não carrasca de meus alunos. E como é bom, gostoso, encontrar nas madrugadas da vida os hoje adultos que foram meus alunos quando pequenos me olhando com os olhos piscando como crianças, baita sorriso aberto, abração apertado e comovido e ainda certa cumplicidade no ar a me dizer:” Oi,Fannyzinha. E aí? Tudo bem??” Suspiro aliviada. Contentona. Plena. Aprendi mesmo!!! Consegui não ser dona Linda. Amém!!!