13
Curso: Introdução ao Ensino Religioso – Ênfase aos 1.º e 2.º anos Apostila 1 Minha religião é o amor a todos os seres vivos. Leon Tolstoi CONTEÚDOS Ensino Religioso: o que é?..............................................................................................02 Contextualização histórica...............................................................................................02 Para refletir.......................................................................................................................03 Dados biográficos sobre os autores.................................................................................04 Aspectos legais do Ensino Religioso...............................................................................05 Modelos de Ensino Religioso em diferentes fases históricas..........................................05 A contação de histórias no Ensino Religioso: de braços dados com a alfabetização.....06 Sugestões de planejamentos Tema 1: A riqueza das diferenças...................................................................................07 Tema 2: Aprendendo a respeitar a mim mesmo e ao outro............................................10 Tema 3: Qual é o seu nome?....................................................................................... .. ASSINTEC/SME - Curitiba/2010

Curso: Introdução ao Ensino Religioso – Ênfase aos 1.º e 2 ... · Apostila 1 Minha religião é o amor a todos os seres vivos. Leon Tolstoi CONTEÚDOS ... preservação de sua

Embed Size (px)

Citation preview

Curso: Introdução ao Ensino Religioso – Ênfase aos 1.º e 2.º anos

Apostila 1

Minha religião é o amor a todos os seres vivos. Leon Tolstoi

CONTEÚDOS Ensino Religioso: o que é?..............................................................................................02 Contextualização histórica...............................................................................................02 Para refletir.......................................................................................................................03 Dados biográficos sobre os autores.................................................................................04 Aspectos legais do Ensino Religioso...............................................................................05 Modelos de Ensino Religioso em diferentes fases históricas..........................................05 A contação de histórias no Ensino Religioso: de braços dados com a alfabetização.....06 Sugestões de planejamentos Tema 1: A riqueza das diferenças...................................................................................07 Tema 2: Aprendendo a respeitar a mim mesmo e ao outro............................................10 Tema 3: Qual é o seu nome?....................................................................................... ..

ASSINTEC/SME - Curitiba/2010

2

ENSINO RELIGIOSO: O QUE É?

Borres Guilouski

Abertura ao outro, ao diferente Exercício do diálogo, da cidadania e do respeito às diferenças Construção do conhecimento religioso Busca de um novo sentido ao que se conhece Ao que pouco se conhece e ao que se ignora Laboratório da liberdade, da convivência e da criatividade Espaço de observação, reflexão, informação e sensibilização Compreensão do fenômeno religioso à luz do conhecimento Compromisso com a paz e a defesa da vida Reconhecimento da dimensão da transcendência e da

sacralidade da vida.

CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICA

No princípio, o Ensino Religioso foi utilizado como instrumento para a cristianização do povo brasileiro e um meio para promover o crescimento da fé católica, que era a fé do Império. O Brasil foi invadido pelos portugueses e isto trouxe uma marca muito importante para a identidade da educação neste país. Além da invasão territorial, houve a imposição das ideias religiosas católicas, ideias estas que vigoravam no reino de Portugal. O país dominador deixou marcas profundas na formação da identidade do Brasil, identidade que se fez católica a partir de 1500. Os portugueses lutaram para converter todos aqueles que chamavam de “bárbaros” ao catolicismo, bem como se ocuparam em persegui-los e escravizá-los. Lançando o olhar para as comunidades que aqui habitavam antes da chegada dos portugueses, podemos salientar que as diferentes nações indígenas sofreram uma completa desqualificação de sua fé, por meio do insistente trabalho de evangelização e catequização, a partir do qual se desejava “salvar a alma desses povos pagãos”. Conforme Jecupé (1998), por conta da implantação do regime das capitanias hereditárias, em 1534, e com a imigração de colonos, as terras indígenas sofreram uma ocupação mais intensa, havendo uma limitação ainda maior para a liberdade dos índios. O autor salienta também o aumento dos atentados contra as mulheres indígenas. Em 1549, chega ao Brasil a primeira missão jesuítica, chefiada por Manuel de Nóbrega, com oito missionários, entre os quais José de Anchieta. Dissolve-se o regime de capitanias, é estabelecido o Governo-Geral. Tomé de Souza, primeiro Governador-Geral, reimplanta o escambo para poder obter alimentos e trabalho dos índios, mas não impede a escravização. (JECUPÉ, 1999, p. 74). O mesmo autor afirma que, em 1585, por causa da epidemia de varíola que se alastrou entre as aldeias indígenas, na Bahia, os que conseguiam sobreviver se ofereciam como escravos, apenas em troca de um prato de farinha. Apenas em meados do século XVIII, com a Lei de 6 de junho de 1755, extingue-se o cativeiro dos índios. De modo geral, os índios resistiram, combateram e se mobilizaram para a garantia da preservação de sua cultura e de seu território. Mas, mesmo nos tempos atuais, as tradições indígenas continuam sofrendo diferentes formas de exploração e desqualificação. Em 1998, o Instituto Nova Tribo denunciou em Stanford, Califórnia, a presença constante de missões

3

americanas catequizadoras e aliciadoras de povos indígenas na Amazônia e a biopirataria (utilização da sabedoria indígena por parte de grupos que representam multinacionais instaladas na Amazônia, através de estratégias aliciadoras). (JECUPÉ, 1999, p. 83). A mesma desqualificação de fé e utilização de pessoas no mercado escravagista aconteceu com o povo oriundo do continente africano. No início da formação do Brasil, sob o domínio português, foram trazidas pessoas de diferentes nações africanas. Este cenário constituiu um grande número de escravizados, com diferenças marcantes no que se refere aos costumes, linguagem, religião, entre outras. As mulheres, homens e crianças, forçosamente trazidas para o Brasil, eram transportados em tumbeiros, que levavam cerca de 60 dias para completar a travessia marítima, e os seus martírios estavam apenas começando. A escravidão de africanos por portugueses teve início em 1442. Tanto os negros quanto os índios sofreram, pelo sistema do poder português, completa opressão e, por conta disso, suas crenças religiosas, bem como outras heranças ancestrais precisaram ser vividas na clandestinidade. Suas crenças eram tidas como feitiçarias e até mesmo na atualidade há quem se refira a elas como sendo “coisa do diabo”. O Ensino Religioso, através de sua história, reforçou este tipo de segregação e preconceito. A educação do senso religioso ou da religiosidade, como mais tarde preconizou-se, não contemplou o resgate e a valorização de diferentes culturas, mas as atenções voltavam-se apenas para garantir a primazia do cristianismo. A partir da última Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, realizaram-se esforços coletivos para que todas as culturas religiosas sejam tratadas com cientificidade e respeito, no que se refere ao Ensino Religioso. O Ensino Religioso hoje não se presta ao favorecimento de uma ou outra religião, mas ao reconhecimento e respeito para com toda a diversidade religiosa e também pelo respeito àqueles que não possuem uma religião. A educação precisa cumprir seu papel de ensinar, e o amor e respeito são, sobretudo, ensináveis.

Vejamos algumas frases que podem nos ajudar a refletir sobre a importância da educação no sentido do conhecimento do fenômeno religioso com vistas à construção de relações de paz entre os diferentes. PARA REFLETIR As frases a seguir expressam o pensamento sobre a religião segundo alguns personagens conhecidos mundialmente e que fizeram a diferença com seu exemplo de vida. “As religiões são caminhos diferentes convergindo para o mesmo ponto. Que importância faz se seguimos por caminhos diferentes, desde que alcancemos o mesmo objetivo? ” (Mahatma Gandhi) “A ciência sem a religião é manca – a religião sem a ciência é cega”. (Albert Einstein) “Quanto mais firme for nossa convicção religiosa, mais livres estão nossas mãos para estendê-las aos demais. Quanto mais frágil for nossa religião, mais fechamos nossas mãos, aferradas com as normas e dogmas e então não as teremos livres para estendê-las aos demais”. (Victor Frankl) "Ninguém nasce odiando outra pessoa pela cor de sua pele, por sua origem ou ainda por sua religião. Para odiar, as pessoas precisam aprender e, se podem aprender a odiar, podem ser ensinadas a amar". (Nelson Mandela)

4

DADOS BIOGRÁFICOS SOBRE OS AUTORES MAHATMA GANDHI (1869–1948): Nasceu em Kathiawar, estado de Porbunder, Índia. Foi um líder pacifista, principal personalidade da independência da Índia do domínio inglês. Pregou a doutrina da não violência. Foi assassinado por um hindu em 1948. Desejava que a paz reinasse entre hindus e muçulmanos, entre indianos e ingleses e entre toda a humanidade. Gandhi é o símbolo da resistência pela NÃO VIOLÊNCIA, conhecido como "Mahatma" (A Grande Alma). Ele será para sempre lembrado por suas palavras e atitudes como um exemplo de cidadão do mundo que mais enobreceu a raça humana. ALBERT EINSTEIN (1879–1955): Nasceu na Alemanha no ano de 1879. Foi físico e matemático e até hoje é conhecido pela sua genialidade. Com sua Teoria da Relatividade mudou o pensamento da humanidade a respeito do tempo e espaço. Esta foi apresentada por ele no ano de 1905, sendo reapresentada com mais informações no ano de 1915. A partir daí, soube-se que era possível criar uma potente arma nuclear. Em 1921, essa notável figura recebeu o Prêmio Nobel de Física ao explanar sua teoria quântica, que apresentava esclarecimentos sobre o efeito fotoelétrico. Esse brilhante físico e matemático era de origem judia, e, como todo povo judeu, ele foi perseguido pelos nazistas; contudo, ele conseguiu deixar a Alemanha, passando primeiramente pela Inglaterra, e, posteriormente, estabeleceu sua moradia nos Estados Unidos, onde se naturalizou cidadão americano. Einstein entristeceu-se profundamente ao ver as consequências desastrosas da bomba nuclear, e, uma semana antes de sua morte, relatou este fato em uma carta escrita a Bertrand Russel, em que pedia que seu nome fosse colocado numa petição em que clamava para que a produção de armas nucleares fosse abandonada. Esse grande homem, que tanto contribuiu com sua genialidade, passou os últimos anos de sua vida em busca de uma teoria em que pudesse trabalhar ao mesmo tempo com a Matemática e com as leis da Física. Contudo, sua busca não pôde ser concluída, pois, em 1955, o mundo perdeu este cientista de uma inteligência brilhante e avançada.

VICTOR EMIL FRANKL (1905–1997): Nasceu em Viena, Áustria. Foi psiquiatra e psicólogo, criou um método de tratamento psicológico que denominou “logoterapia”. Seu pensamento era que a motivação básica do comportamento do indivíduo é uma busca pelo sentido para sua vida e que a finalidade da terapia psicológica deve ser ajudá-lo a encontrar esse significado particular. Sofreu os horrores da Segunda Guerra Mundial como judeu prisioneiro em campo de concentração. Em 1951, no seu livro "O logos e a existência", Frankl completou os fundamentos antropológicos da Logoterapia. Escreveu mais de 32 livros sobre análise existencial e logoterapia, traduzidos em inúmeras línguas. Faleceu em setembro de 1997, em Viena, aos 92 anos.

NELSON MANDELA: Nelson Rolihlahla Mandela é um importante líder político da África do Sul, que lutou contra o sistema de apartheid no país. Nasceu em 18 de julho de 1918, na cidade de Qunu (África do Sul). Mandela, formado em direito, foi presidente da África do Sul entre os anos de 1994 e 1999. O apartheid, que significa "vida separada", era o regime de segregação racial existente na África do Sul, que obrigava os negros a viverem separados. Os brancos controlavam o poder, enquanto o restante da população não gozava de vários direitos políticos, econômicos e sociais. Em 1961, Mandela tornou-se comandante do braço armado do CNA (Congresso Nacional Africano), conhecido como "Lança da Nação". Passou a buscar ajuda financeira internacional para financiar a luta. Porém, em 1962, foi preso e condenado a cinco anos de prisão, por incentivo a greves e viagem ao exterior sem autorização. Em 1964, Mandela foi julgado novamente e condenado a prisão perpétua por planejar ações armadas. Mandela permaneceu preso de 1964 a 1990. Nesses 26 anos, tornou-se o símbolo da luta antiapartheid na África do Sul. Mesmo na prisão, conseguiu enviar cartas para organizar e incentivar a luta pelo fim da segregação racial no país. Nesse período de prisão, recebeu apoio de vários segmentos sociais e governos do mundo todo. Com o aumento das pressões internacionais, o então presidente da África do Sul, Frederik de Klerk, solicitou, em 11 de fevereiro de 1990, a libertação de Nelson Mandela e a retirada da ilegalidade do CNA. Em 1993, Nelson Mandela e o presidente Frederik de Klerk dividiram o Prêmio Nobel da Paz, pelos esforços em acabar com a segregação racial na África do Sul. Em 1994, Mandela tornou-se o primeiro presidente negro da África do Sul. Governou o país até 1999, sendo

5

responsável pelo fim do regime segregacionista no país e também pela reconciliação de grupos internos. Com o fim do mandato de presidente, Mandela afastou-se da política, dedicando-se a causas de várias organizações sociais em prol dos direitos humanos. Já recebeu diversas homenagens e congratulações internacionais pelo reconhecimento de sua vida de luta pelos direitos sociais.

ASPECTOS LEGAIS DO ENSINO RELIGIOSO A Constituição Federal estabelece a obrigatoriedade do Ensino Religioso para a formação

básica da criança e do adolescente nos “... horários normais das escolas públicas de ensino fundamental” (Constituição Federal, Capítulo III, Seção I, Artigo 210 – parágrafo 1.º). A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, Lei n.º 9.394/96, artigo 33, alterado, em sua redação, pela Lei n.º 9.475/97, prevê a forma de organização do Ensino Religioso, ao estabelecer que:

Art. 33 – O ensino religioso, de matrícula facultativa, é parte integrante da formação básica do cidadão, constitui disciplina dos horários normais das escolas públicas de ensino fundamental, assegurado o respeito à diversidade cultural religiosa do Brasil, vedadas quaisquer formas de proselitismo. § 1.º - Os sistemas de ensino regulamentarão os procedimentos para a definição dos conteúdos do ensino religioso e estabelecerão as normas para a habilitação e admissão dos professores. § 2.º - Os sistemas de ensino ouvirão entidade civil, constituída pelas diferentes denominações religiosas, para a definição dos conteúdos do ensino religioso.

MODELOS DE ENSINO RELIGIOSO EM DIFERENTES FASES HISTÓRICAS • MODELO CONFESSIONAL

No modelo confessional, predominou a ênfase à catequese, seguindo os ditames da Igreja Católica Apostólica Romana, a qual representou um importante papel ideológico desde a colonização do Brasil, estendendo-se até parte do período republicano. Mas essa influência desde a república é significativamente menor do que nos períodos antecedentes: colônia e império.

• MODELO INTERCONFESSIONAL

A estruturação de um modelo de Ensino Religioso de caráter interconfessional surge no Brasil juntamente com o movimento ecumênico na década de 70, entre algumas igrejas tradicionais cristãs.

Nesse ensino, buscou-se enfatizar os aspectos convergentes das tradições cristãs e não os doutrinários. Principalmente, os pontos vinculados aos ensinamentos éticos e confrontados com textos bíblicos. É um modelo ainda bastante presente nas escolas, em diversas regiões do Brasil, apesar de a atual legislação preconizar uma diretriz diferenciada.

• MODELO INTER-RELIGIOSO

Mas o modelo interconfessional aos poucos está sendo substituído pelo modelo inter-religioso. Isso ocorre por conta da mobilização de educadores, das iniciativas do FONAPER (Fórum Nacional Permanente de Ensino Religioso), das entidades civis dos diversos Estados, como a ASSINTEC (Associação Inter-Religiosa de Educação), no Paraná.

Também a mudança de modelo de Ensino Religioso em parte é consequência da

conjuntura histórica e social do nosso país, do processo de globalização que, graças aos meios de comunicação de massa, permite o contato mais frequente com toda a diversidade de crenças religiosas e filosofias de vida existentes no Brasil e no mundo.

Com mais veemência, a partir do final da década de 90, passou-se a discutir o modelo de Ensino Religioso de caráter inter-religioso, o qual deve ser organizado considerando a diversidade religiosa do nosso povo e sem proselitismo. A legislação sobre a educação brasileira, mais precisamente a Lei N.º 9.475/97, abre precedentes para essa empolgante discussão no contexto da educação brasileira.

6

Atualmente as pessoas estão discutindo, lendo e ouvindo com mais frequência sobre a importância de saber conviver com a diversidade humana. Líderes religiosos pacifistas, educadores e muitos pensadores discursam que os povos da Terra, as gentes de todas as religiões e filosofias de vida devem aprender a conviver de modo amistoso e fraterno, porque “é mais forte o que nos une do que o que nos separa”.

A declaração Universal dos Direitos Humanos se difundiu pelo mundo afora e assuntos como ser religioso ou não ser religioso, mudar de religião ou igreja, não seguir nenhuma religião, mas continuar crendo em Deus, já é um assunto corriqueiro no cotidiano das pessoas.

O Artigo 18 da Declaração Universal dos Direitos Humanos afirma que “Toda pessoa tem direito à liberdade de pensamento, consciência e religião; este direito inclui a liberdade de mudar de religião ou crença e a liberdade de manifestar essa religião ou crença, pelo ensino, pela prática, pelo culto e pela observância, isolada ou coletivamente, em público ou em particular”.

A escola é uma instância importantíssima no que se refere à construção da cidadania e da convivência social. Nela estudam pessoas provenientes das mais diversas crenças e filosofias de vida, logo, a escola não pode mais ignorar a responsabilidade de trabalhar com um ensino de caráter inter-religioso. Um ensino que inclui a todos, sem distinção de qualquer religião ou igreja, os que seguem uma religião e os que não seguem.

Mas a todos deve ser disponibilizado o conhecimento sobre a diversidade das culturas religiosas, místicas e espirituais. Porém, não com caráter proselitista ou doutrinário, mas como conhecimento, como arcabouço cultural que contribuirá para a formação de cidadãos e cidadãs do mundo.

É incumbência da escola, das comunidades religiosas e das famílias ensinarem as crianças e os jovens a serem capazes de conviver respeitosamente com pessoas de outras religiões e culturas em um mundo globalizado.

Somente o conhecimento pode ajudar as pessoas a superarem as mazelas do fanatismo, do preconceito e das discriminações aviltantes que nada acrescentam à felicidade de ninguém.

Assim, a inserção no contexto escolar do modelo inter-religioso de Ensino Religioso, atualmente, é de inestimável importância e necessidade.

A CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS NO ENSINO RELIGIOSO: DE BRAÇOS DADOS COM A ALFABETIZAÇÃO

A partir de uma história, o professor pode desdobrar inúmeros conteúdos do Ensino Religioso. Alfabetizar e trabalhar outras áreas do conhecimento por meio de textos da literatura infantil e dos mitos religiosos de diferentes culturas torna-se excelente instrumento pedagógico, que favorece a localização da criança no tempo e no espaço, bem como lhe proporciona um exercício de construção de significados. Para o trabalho específico com histórias no Ensino Religioso, sugerimos que você: 1. Selecione a história que sirva de ponto de partida para o desenvolvimento de alguma temática. Ex.: a história do patinho feio, para trabalhar a importância de compreender a beleza da diversidade, o respeito ao multiculturalismo religioso presente no mundo; a história de Xerazade, para introduzir elementos da cultura árabe, o que implica conhecimento, por exemplo, de aspectos do islamismo; etc. 2. Conte a história de maneira a utilizar o corpo e a voz com total plasticidade para poder interpretar as diferentes emoções que a história sugere. 3. Em alguns momentos, é possível envolver os alunos na história, pedindo que realizem algum som ou gesto em momentos apropriados. 3. Nunca esqueça de contar o título da história e o nome de seu autor. 4. Sem medo de ser ridículo(a), torne-se os personagens da história narrada. Para tanto, você pode até mesmo utilizar-se de alguns artefatos, como chapéu de bruxa, capa de soldado, etc.

7

5. Varie na forma de contar as histórias, fazendo-as por meio da leitura ou de memória, mas sempre caprichando nas expressões do rosto e nas inflexões vocais, lembrando que a voz pode ficar grave ou aguda, forte ou fraca, rouca ou melodiosa, áspera ou macia, etc. 6. Se você estiver completamente imersa ou imerso na história e se divertindo com ela, tenha certeza que seus alunos também estarão.

SUGESTÕES DE PLANEJAMENTOS PARA O ENSINO RELIGIOSO

TEMA 1: A RIQUEZA DAS DIFERENÇAS

Objetivo: Refletir sobre as diferenças, desenvolvendo atitudes de apreciação e respeito para com o outro.

Canção: Orientar uma vivência cantando a canção sugerida abaixo, movimentando-se com os alunos de mãos dadas em uma roda ou em forma de trenzinho, com as mãos nos ombros. Professor(a), ao invés de cantar a canção você pode também ensinar os alunos a recitá-la. RESPEITO EU ME RESPEITO E TAMBÉM TE RESPEITO SIGO CANTANDO ASSIM DESSE JEITO TRA LA LA LA LA TRA LA LA LA LA TRA LA LA LA LA TRA LA LA LA LA TRE LE LE LE LE TRI LI LI LI LI TRO LO LO LO LO TRU LU LU LU LU DICAS PARA O PROFESSOR(A) 1. Professor(a), leia ou narre a história que segue para os alunos. 2. Depois oriente um momento de reflexão sobre o seu conteúdo, fazendo perguntas. Estimule a participação de todos. Se for necessário, repita a leitura da história mais de uma vez. 3. Para explicar as diferenças religiosas, apresente aos alunos imagens de pessoas praticando suas religiões. Por exemplo: budistas, católicos, evangélicos, espíritas, muçulmanos, indígenas, afro-brasileiros, etc. Você pode encontrar essas fotos na internet, em livros ou revistas. 4. Você poderá também trabalhar a partir dessa história conteúdos de Ciências, classificando os seres que compõem a natureza em seus respectivos reinos: mineral, vegetal e animal.

8

PROFESSOR DE FELICIDADE

Serrob

Astar é um menino muito inteligente e talentoso.

Apesar da pouca idade, ele sabe explicar muitas coisas de um modo interessante e encantador.

Um dia, seu pai lhe perguntou: – Filho, o que você quer ser quando crescer?

Prontamente Astar respondeu:– quero ser professor de felicidade. Quero ensinar muitas pessoas a serem felizes.

– O que você irá ensinar às pessoas para que elas conquistem a felicidade? Perguntou com curiosidade o pai. – Ah! Vou contar histórias legais e divertidas para fazer as pessoas rirem e pensarem grande. Vou falar sobre a beleza das diferenças que existem em nosso mundo. Vou também ensinar que as diferenças estão em toda parte. Vivemos num mundo cheio de diferenças. Só não vê quem não quer.

Fale então, disse o pai, o que você sabe sobre as diferenças. – Ah! Sim, os animais, por exemplo, são diferentes entre si. Existe o cavalo, a jiboia, o jacaré, a onça, a girafa, o lobo, a garça, a arara, o tucano, a borboleta, o macaco, a águia, o beija-flor, os insetos, os peixes, a baleia, o tubarão e tantos outros mais. As flores também são diferentes. Existe a rosa, o cravo, a hortênsia, o girassol, a orquídea, a margarida, o lírio. Todas têm suas diferenças, cada uma tem sua cor, forma e perfume. E todas são ao mesmo tempo lindas e maravilhosas. E as árvores! As árvores são tantas, altas, baixas e frondosas. Existe o cedro, o ipê, a peroba, a palmeira, o pinheiro, a castanheira e muitas outras. As pessoas também são diferentes. Tem gente negra, tem gente branca, tem gente de tantas cores! Uns são altos outros são baixos. Uns são gordos, outros são magros. Há os que não podem usar os olhos para ver, porém veem de outras formas. Eles podem ler em Braile. Outros não podem usar os ouvidos para escutar, mas leem a Libras, a língua dos sinais. Eles também sentem e percebem as coisas por meio do tato e do cheiro, entre outros sentidos. Existem também os cadeirantes. As pessoas são também diferentes na escolha da religião que seguem. Tenho um amigo na escola que é budista, outro é católico e outro é evangélico. Tenho também uma amiga que é espírita e outra muçulmana.

Como podemos ver, as pessoas são diferentes, mas todas são importantes e merecem respeito e atenção.

Não importa quem nós somos, a religião que seguimos, todos nós somos seres humanos e somos capazes de aprender a respeitar e amar os outros.

Então o pai de Astar perguntou: – por que é importante respeitar as diferenças? Astar respondeu: – porque o respeito às diferenças nos torna mais humanos,

amigos e irmãos uns dos outros. O pai de Astar o aconchegou carinhosamente em seus braços, deu um beijo em

sua cabeça e disse: – parabéns meu pequeno professor de felicidade!

9

SUGESTÕES DE ATIVIDADES

1) Faça um grande círculo em uma folha de papel e dentro dele desenhe o nosso mundo cheio de diferenças. Apresente seu desenho aos colegas fazendo um comentário sobre ele. 2) Desenhe o que você quer ser quando crescer. Socialize seu desenho com os colegas. 3) Escreva o nome dos animais que aparecem na história:

4) Leia e copie o nome das flores e, depois, faça um desenho para cada nome. LÍRIO ROSA CRAVO MARGARIDA

5) Escreva uma frase sobre cada gravura:

6) Desenhe algumas árvores que existem no Brasil, como o coqueiro, o ipê, o pinheiro. Escreva uma frase a respeito de cada uma delas. 7) Desenhe as diferenças religiosas que o texto da história apresenta. Desenhe os amigos de Astar: o budista, o católico, o evangélico, a amiga espírita e a muçulmana. 8) Transcreva a frase abaixo em uma folha de papel e a ilustre com desenhos. Depois ofereça a uma pessoa que é importante para você.

O RESPEITO ÀS DIFERENÇAS NOS TORNA MAIS HUMANOS, AMIGOS E IRMÃOS UNS DOS OUTROS.

ÁRVORE DAS RELIGIÕES

1.º passo: Professor(a), sugira para os alunos conversarem em casa para saberem se eles têm ou não uma religião e, se tiverem, qual é o seu nome.

10

2.º passo: O(A) professor(a) traz uma árvore desenhada com grandes maçãs, com espaço dentro para escrever nomes de tradições religiosas. O(A) professor(a) cola essa árvore na parede e pede aos alunos que citem nomes de tradições religiosas que conhecem (que podem ser a que seguem ou não). À medida que cada aluno vai falando, o(a) professor(a) escreve a informação dentro da maçã, construindo assim a árvore das religiões, cujo objetivo é mostrar a diversidade religiosa presente em nossa realidade.

TEMA 2: APRENDENDO A RESPEITAR A MIM MESMO E AOS OUTROS

Objetivo: Perceber a si mesmo, identificando a religião da família, compreendendo o significado da palavra respeito e suas aplicações. Atividade de sensibilização: Professor(a), coloque uma música clássica ou outra e oriente os alunos a se movimentarem ao ritmo dela, sugira que se cumprimentem ao mesmo tempo com as duas mãos à medida que vão se movimentando. DICAS PARA O(A) PROFESSOR(A) 1.º passo: O(A) professor(a) inicia conversando com seus alunos sobre o valor que cada um possui como pessoa e faz a leitura do texto sugerido:

Todos nós nascemos da união de duas pessoas,

um homem e uma mulher, que são papai e mamãe. Desde o dia em que você nasceu, você convive com pessoas diferentes e faz, também, coisas diferentes.

As famílias muitas vezes seguem uma religião, antes mesmo dos filhos nascerem. Na sua família, foi assim?

O seu corpo é especial. Você é especial. Sua religião é especial! Cuide-se bem e valorize o que você

tem!

2.º passo: O(A) professor(a) pode orientar um trabalho de desenho e pintura de imagens que mostrem pessoas cuidando do seu corpo, cuidando dos outros, fazendo suas práticas religiosas, para despertar neles um sentido de cuidado e amor. Os estudantes poderão levar suas produções para casa, colocá-las em um lugar de destaque, para que possam diariamente verificar se estão realizando as atitudes representadas por meio dos desenhos. 3.º passo: Pedir que os estudantes tragam uma caixinha de fósforo vazia. O(A) professor(a) trará papel de presente recortado a fim de embrulhar cada caixinha. As crianças colocarão nessa caixinha algo que simbolize a si mesmas e que sirva de presente para o outro. Exemplos: desenhar seu rosto sorrindo; colocar uma pedrinha pintada com sua cor preferida; uma bolinha de gude; uma balinha representando que ela pode ser doce para o outro, etc. As crianças colocam os presentinhos dentro da caixinha, empacotam e por meio de um sorteio acontecerão as entregas. Cada aluno deverá receber um presentinho.

4.º passo: O(A) professor(a) poderá conduzir um momento de reflexão com os alunos sobre a melhor maneira de receber e dar um presente, as atitudes de respeito que se deve ter ao receber um presente, que é sempre um pouco do outro.

5.º passo: Após essas atividades, o(a) professor(a) sugere nova reflexão enfocando que cada pessoa possui ou não uma religião, que muitas vezes vem da família, constituindo um valor familiar importante, que ajuda as pessoas a se sentirem amadas e valorizadas. Muitas vezes, na comunidade religiosa da qual a família participa, cada pessoa pode aprender a amar e valorizar a si mesma e aos outros. O(A) professor(a) pode enriquecer a reflexão mostrando fotos de famílias

11

vivenciando momentos ligados a sua religião ou igreja e explicar o conteúdo dessas fotos. Depois, pode dar oportunidade para os alunos comentarem sobre como sua família costuma vivenciar a religiosidade em casa, na comunidade religiosa, etc.

6.º passo: Escrever no quadro de giz as palavras abaixo, ler com os alunos, propor que as copiem em uma folha de papel ou caderno e criem um desenho para cada palavra. Aqueles que dominam a escrita poderão escrever frases.

RESPEITO , FAMÍLIA RELIGIÃO AMOR EU PESSOAS ESCOLA COLEGAS AMIGOS

3

TEMA 3: QUAL É O SEU NOME?

Objetivos: Refletir sobre a importância do nome. Desenvolver respeito às características e religião das pessoas. CANÇÃO: ENTRA NA RODA

Borres Guilouski ENTRA NA RODA COM SATISFAÇÃO DIGA BEM ALTO SEU NOME E FAÇA UM GESTO ENGRAÇADÃO. Obs.: Realizar a vivência com os alunos em um círculo, conforme sugere a letra da canção. Dar oportunidade para cada aluno participar.

SUGESTÕES DE ATIVIDADES Obs.: A sugestão a seguir foi extraída do seguinte livro: RODRIGUES, Edile M. F.;

SCHLÖGL, Emerli; JUNQUEIRA, Sérgio R. A. Alteridade, Culturas & Tradições: Atividades do Ensino Religioso para o Ensino Fundamental. São Paulo: Cortez, 2009.

Você vai precisar de: caderno dos alunos, folhas de papel sulfite, barbante, prendedores de roupa.

Os alunos poderão pesquisar a sua própria vida por meio de relatos dos mais velhos e de

documentos, como a certidão de nascimento, bem como fotos que mostrem diversas fases da vida. As informações coletadas pelos alunos podem ser fixadas num ”varal”. O objetivo é

construir uma linha do tempo. Falar sobre a importância do nome quando vamos fazer uma ficha ou quando conhecemos

alguém. O nome de uma pessoa faz parte de sua identidade. Orientar os alunos a pesquisar junto a pais ou responsáveis qual é a história do seu nome

e a perceber se há alguma relação do nome com a tradição religiosa da família. É importante que eles compreendam que o nome é uma propriedade e tem uma história iniciada por pessoas que gostam deles.

Dicas para reflexão: O nome que recebemos ao nascer faz parte da nossa identidade. Ele pode ser uma

homenagem a alguém querido ou um ídolo e espera-se que as qualidades daquela pessoa sejam transferidas para a criança.

Ele também pode ser a concretização das expectativas que os pais depositam no filho. Para o Judaísmo, por exemplo, a importância do nome define a identidade judaica: a alma judaica. Um nome judaico é o seu chamado espiritual, um título que reflete seus traços particulares de caráter e os dons concedidos pelo Transcendente.

REFERÊNCIAS ALVES, Rubem. O enigma da religião. 2. ed. Petrópolis: Vozes, 1975. ASSOCIAÇÃO INTERCONFESSIONAL DE EDUCAÇÃO. Curitiba. Ata n.º 1 da reunião realizada no dia 20 de junho de 1973. Livro 1, p.1-6. ______________________. Curitiba. Ata n.º 11 da reunião realizada no dia 15 de agosto de 1974. Livro 1, p.14-16. BRASIL. Lei N.º 9.475, de 22 de Julho de 1997. Dá nova redação ao art. 33 da LDBEN N.º 9.394/96. CORRÊA, Bárbara Raquel Gimenez. Compilação de textos e artigos sobre a ASSINTEC. Curitiba, 2003. CURITIBA. Secretaria Municipal da Educação. Educação Religiosa. Caderno I, 2003. p. 4-34. FIGUEIREDO, Anísia de Paulo. O Ensino Religioso. Perspectivas, Tendências e Desafios. Petrópolis: Vozes,1996. FONAPER. Fórum Nacional Permanente do Ensino Religioso. Parâmetros Curriculares Nacionais - Ensino Religioso. 2.ª ed. São Paulo: Ave Maria, 1997. JECUPÉ, Kaká Werá. A terra dos mil povos. História indígena do Brasil contada por um índio. São Paulo: Peirópolis, 1998. RODRIGUES, Edile M. F.; SCHLÖGL, Emerli; JUNQUEIRA, Sérgio R. A. Alteridade, Culturas & Tradições: atividades do Ensino Religioso para o Ensino Fundamental. São Paulo: Cortez, 2009. Elaboração – Equipe Pedagógica da ASSINTEC: Borres Guilouski, Diná Raquel D. da Costa e Emerli Schlögl

4