Curso Técnico Em Comércio – Apostila de Economia e Mercados

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  • CURSO TCNICO EM COMRCIO APOSTILA DE ECONOMIA E MERCADOS

    EEEP DEP. JOS MARIA MELO PROF. GIORDANO

    01. Introduo Geral Cincia Econmica

    As definies da economia: uma breve perspectiva histrica

    O marco inicial da etapa cientfica da teoria econmica coincidiu com os grandes avanos da tcnica e das cincias fsicas e biolgicas, nos sculos XVIII a XXI. Nesse notvel perodo de evoluo do conhecimento humano, a Economia constituiu seu ncleo cientfico, estabeleceu sua rea de ao e delimitou suas fronteiras com outras cincias sociais. A construo do seu ncleo cientfico fundamentou-se no enunciado de um apreciado volume de leis econmicas, desenvolvida com base nas concepes mecanicistas, organicistas e posteriormente humanas, por meio das quais os economistas procuraram interpretar os principais fenmenos da atividade econmica.

    Os economistas do grupo organicista pretendiam que o organismo econmico se comportasse como um rgo vivo. Os problemas de natureza econmica eram expostos numa terminologia retirada da Biologia, tais como rgos, funes, circulao, fluxos, fisiologia, entre outros. A concepo organicista da Economia se faz presente em vrios textos histricos, como este datado do sculo XVIII: as partes principais da Economia Social so as relacionadas com os rgos dos quais a sociedade se serve para a criao, distribuio e o consumo dos bens, do mesmo modo como as partes principais da fisiologia do homem so os rgos que se relacionam com a nutrio, o crescimento e o desenvolvimento do corpo humano.

    J os mecanicistas pretendiam que as leis da Economia se comportassem como determinantes leis da Fsica, e a terminologia usada era esttica, dinmica, acelerao, rotao, velocidade, fluidez, foras, entre outras, como se pode observar neste texto do sculo XIX: A Economia deveria se ocupar dos resultados produzidos por uma combinao de foras e esses resultados deveriam ser descobertos com o auxlio da natureza mecnica das atividades individuais. Outro exemplo do mesmo sculo: a Economia deveria ser Matemtica e Fsica, porque se ocupa de quantidades e relaes entre quantidades.

    Para citar um exemplo do sculo XX: uma fora aplicada a uma massa produz um movimento caracterizado por sua acelerao. Esta, para uma mesma fora, tanto maior quanto mais fraca a massa. Do mesmo modo, a demanda aplicada a uma determinada riqueza produz mudana caracterizada pelo preo na qual ela intervm. Para uma procura de montante igual em unidades monetrias, o preo ser tanto mais elevado quanto mais fraca for a quantidade das riquezas oferecidas. A quantidade ofertada , ento, uma resistncia elevao infinita dos preos, como a massa, uma resistncia ao movimento. Nos dois casos, a inrcia proporcional quantidade de matria na qual a influncia motriz aplicada.

    Todavia, as concepes organicista e mecanicista, hoje, foram ultrapassadas pela concepo humana da Economia, a qual coloca no plano superior os mveis psicolgicos da atividade humana. A Economia repousa sobre os atos humanos e por excelncia uma cincia social. Apesar de a tendncia atual ser a de obter resultados cada vez mais precisos para os fenmenos econmicos, quase impossvel fazer anlises puramente frias e numricas, isolando as complexas reaes do homem no contexto das atividades econmicas.

    Felizmente, porm, o economista no precisa dar respostas com aproximao de muitas casas decimais; pelo contrrio, se apenas conseguir determinar o sentido geral de causa e efeito, j ter dado um formidvel passo avante.

    Aps todos esses enfoques a respeito da concepo de Economia, sua melhor definio foi dada pelo economista americano Paul Samuelson: Economia uma cincia social que estuda a administrao dos recursos escassos entre usos alternativos e fins competitivos. Para complementar, podem-se lembrar as palavras do Prof. Antnio Delfim Netto: Economia a arte de pensar. Apesar de especificado seu objeto, a Economia relaciona-se com as demais reas do conhecimento humano.

    O objeto da economia: A Lei da Escassez

    Em Economia tudo se resume a uma restrio quase fsica a leia da escassez, isto , produzir o mximo de bens e servios com os recursos escassos disponveis a cada sociedade.

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    Se uma quantidade infinita de cada bem pudesse ser produzida, se os desejos humanos pudessem ser completamente satisfeitos, no importaria que uma quantidade excessiva de certo bem fosse de fato produzida. Nem importaria que os recursos disponveis, trabalho, terra e capital (este deve ser entendido como mquinas, edifcios, matrias-primas, entre outros), fossem combinados irracionalmente para a produo de bens. No havendo o problema da escassez, no faz sentido falar em desperdcio ou em uso irracional dos recursos, e na realidade s existiriam os bens livres. Bastaria fazer um pedido e, pronto, um carro apareceria de graa.

    Na realidade, a escassez dos recursos disponveis acaba por gerar a escassez dos bens chamados bens econmicos. Por exemplo, as jazidas de minrio de ferro so abundantes, porm, o minrio pr-usinvel, as chapas de ao e finalmente o automvel so bens econmicos escassos. Logo, o conceito de escassez econmica deve ser entendido como a situao gerada pela razo de produzir bens com recursos limitados, a fim de satisfazer as ilimitadas necessidades humanas. Todavia, somente existir escassez se houver uma demanda para a aquisio do bem. Por exemplo, o hino nacional escrito na cabea de um alfinete um bem raro, mas no escasso, porque no existe uma demanda para a sua aquisio.

    Poder-se-ia perguntar: por que so os bens procurados (desejados)? A resposta relativamente simples: um bem demandado por til. Por utilidade entende-se a capacidade que tem um bem de satisfazer uma necessidade humana.

    Dessa ltima definio, resta-nos conceituar o que so bem e necessidade humana.

    Bem tudo aquilo capaz de atender uma necessidade humana. Eles podem ser: materiais pois podem-se atribuir-lhes caractersticas fsicas de peso, forma e dimenso. Por exemplo, automvel, moeda, borracha, caf, relgio; imateriais so os de carter abstrato, tais como a aula ministrada, a hospedagem prestada, a vigilncia do guarda-noturno (em geral todos os servios prestados so bens imateriais, ou seja, se acabam quase simultaneamente sua produo).

    O conceito da necessidade humana concreto, neutro e subjetivo, porm, para no se omitir da questo, definir-se- necessidade humana

    como qualquer manifestao de desejo que envolva a escolha de um bem econmico capaz de contribuir para a sobrevivncia ou para a realizao social do indivduo. Assim sendo, ao economista interessa a existncia das necessidades humanas a serem satisfeitas com bens econmicos, e no a validade filosfica das necessidades.

    Para perceber a dificuldade da questo, melhor exemplificar: a carne-seca pode ser uma necessidade para os menos favorecidos e no o ser para os mais favorecidos; para os menos, um carro pode no ser uma necessidade, porm, para os de classe mdia j o ; para os mais favorecidos, a construo de uma manso pode ser uma necessidade, ao passo que pode no o ser para os de renda mdia.

    O fato concreto que no mundo de hoje todos desejam e pensam que precisam de geladeiras, esgotos, carros, televiso, rdios, educao, cinemas, livros, roupas, cigarros, relgios. As ilimitadas necessidades j se expandem para fora da esfera biolgica da sobrevivncia. Poder-se-ia pensar que o suprimento de bens destinados a atender s necessidades biolgicas das sociedades modernas seja um problema solucionado e com ele o problema da escassez. Todavia, numa contra-argumentao dois problemas surgem: o primeiro que essas necessidades renovam-se dia a dia e exigem contnuo suprimento de bens a atend-las; o segundo a constante criao de novos desejos e necessidades, motivadas pela perspectiva que se abre a todos os povos, de sempre aumentarem o nvel do padro de vida. Da noo biolgica, devemos evidentemente passar noo psicolgica da necessidade, observando que a saturao das necessidades, e, sobretudo, dos desejos humanos, est muito longe de ser alcanada, mesmo nas economias altamente desenvolvidas de nossa poca. Conseqentemente, tambm o problema de escassez se renova.

    Explicando o sentido econmico de escassez e necessidade, torna-se fcil entender que Economia a cincia social que se ocupa da administrao dos recursos escassos entre usos alternativos e fins competitivos, ou que Economia o estudo da organizao social, pela qual os homens satisfazem suas necessidades de bens e servios escassos.

    As definies trazem de forma explcita que o objeto da cincia econmica o estudo da escassez e que se classifica entre as cincias sociais.

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    Psicologia e a Lei da Escassez

    A Cincia Econmica tratar o risco como uma incerteza quanto a um resultado futuro. Ou seja, dado um evento qualquer no momento zero (hoje), qualquer que seja a deciso a ser tomada, a mesma envolver fatores de riscos que os economistas tentam amenizar, evitar, cercar, controlando as variveis. No entanto, por mais que tentem isto, sempre existe algo que escapa aos economistas. Os estatsticos vo chamar a isto que sobra de erro, razo pela qual sempre trabalham com probabilidades.

    A teoria econmica tenta lidar com este algo que escapa. Um exemplo seria o estudo do comportamento do consumidor. Algumas variveis determinam a demanda do consumidor: o preo do bem, o preo de bens prximos, a renda e a preferncia do consumidor. Existe algo mais subjetivo do que a preferncia?

    Os profissionais do marketing so bastante eficientes e competentes em sempre criar novas necessidades para o consumidor. Afinal, o que seria da indstria da moda, por exemplo, se a necessidade humana fosse apenas a de cobrir o corpo? No basta cobrir o corpo. necessrio que exista alguma identificao: com uma marca, com uma pessoa, com um personagem, com uma causa... Vale a pena citar o conceito de economia: a cincia econmica lida com a escassez (falta?).

    Escassez de fatores de produo que so as mquinas, os equipamentos, o conhecimento tecnolgico, a mo-de-obra, o espao fsico. O problema com o qual a economia deve lidar o tempo todo como alocar estes fatores escassos para produzir os bens e os servios que iro satisfazer s necessidades humanas. Muito bem!! Mas o que seria do mundo da produo se todas as necessidades humanas estivessem satisfeitas? O que seria, ento, do lucro capitalista? Da, a necessidade de que novas necessidades humanas sejam sempre criadas e recriadas. E se a carncia no material, ela pode tornar-se subjetiva. Afinal, no basta ter uma cala jeans, tem que ser igual da artista global.

    Assim, o consumidor um agente econmico sempre insatisfeito, sempre incompleto. E a iluso da completude pode ser vendida pelos comerciais sedutores e promessas de auto-realizao. Se comprar isso ou aquilo, serei mais feliz. Se tiver o

    corpo mais torneado, estarei completa. O que me falta aquele par de sapatos.

    A psicanlise vem nos ensinar que somos seres de falta. Acredita-se que seja melhor saber disto e aprender a conviver com a falta do que ficar tentando preencher o impreenchvel. Ouso-se fazer um paralelo entre economia e psicanlise, com desvantagem para a economia. Sempre que tenta colocar algo neste lugar, a economia promove o aumento da angstia e da insatisfao. Talvez, por isto, a cincia econmica sempre passe por uma crise de identidade: s vezes, tida como um ramo da matemtica; s vezes, como um ramo da histria; s vezes, da estatstica e assim tem sido ao longo do tempo. Uma coisa certa: a cincia econmica, que a cincia da escassez, ainda no aprendeu a lidar com a prpria falta.

    Problemas econmicos bsicos

    Nas bases de qualquer comunidade encontra-se sempre a seguinte trade de problemas econmicos:

    O que e quanto produzir? Isso significa quais produtos devero ser produzidos (carros, cigarros, caf, vesturios, entre outros) e em que quantidades devero ser colocados disposio dos consumidores.

    Como produzir? Isto , por quem sero os bens e servios produzidos, com quais recursos e de que maneira ou processo tcnico.

    Para quem produzir? Ou seja, para quem se destinar a produo (fatalmente, para os que tem renda).

    muito fcil entender que: o que, quanto, como e para quem produzir no seriam problemas se os recursos utilizados fossem ilimitados. Todavia, na realidade existem ilimitadas necessidades e limitados recursos disponveis e tcnicas de fabricao. Baseada nessas restries, a Economia deve optar dentre os bens a serem produzidos e os processos tcnicos capazes de transformar os recursos escassos em produo.

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    As opes tecnolgicas. Conceito de curva de transformao e custo de oportunidade

    A anlise conjunta da escassez dos recursos e das ilimitadas necessidades humanas conduz concluso de que a economia uma cincia ligada a problemas de escolha. Com a limitao do total de recursos capazes de produzir diferentes mercadorias impe-se uma escolha para a produo entre mercadorias relativamente escassas.

    Para melhor entendimento, suponha que uma economia em que haja certo nmero de indivduos, certa tcnica de produzir, certo nmero de fbricas e instrumentos de produo e um conjunto de recursos naturais (terra, matrias-primas e outros). Considerem-se todos esses dados como constantes, isto , que no se alteram durante a anlise.

    Ao decidir o que deve ser produzido e como, o sistema econmico ter realmente decidido como alocar ou distribuir os recursos disponveis entre os milhares de diferentes possveis linhas de produo. Quanta terra destinar-se- ao cultivo de caf? Quanta pastagem? Quantas fbricas para a produo de camisas? Quantas para o automvel? Analisar todos esses problemas por demais complicado. Para simplificar, suponha que somente dois bens econmicos devero ser produzidos: camisas e carros. Haver sempre uma quantidade mxima de carros (camisas) produzida anualmente, quando todos os recursos forem destinados sua produo e nada produo de camisas (carros). A quantidade exata depende da quantidade e da qualidade dos recursos produtivos existentes na economia e do nvel tecnolgico com que sejam combinados. Evidentemente, fora das quantidades mximas existem infinitas possibilidades de combinaes intermedirias entre carros e camisas a serem produzidos.

    Unindo-se os pontos obtm-se a chamada curva das possibilidades de produo ou curva de transformao, medida que se passa do ponto A para o B, de B para o C e assim por diante, at F, em que se estaro transformando carros em camisas. bvio que a transformao no fsica, mas sim transferindo-se recursos de um processo de produo para outro.

    A curva de transformao representa um importante fato: uma economia no pleno emprego (uma situao em que os recursos disponveis esto sendo plenamente utilizados na produo de bens e servios) precisa sempre, ao produzir um bem, desistir de produzir um tanto de outro bem.

    Aparece aqui a chance de definir um dos conceitos mais importantes da Economia: o custo de oportunidade.

    Tome-se o exemplo das camisas e dos carros. Devido limitao de recursos, os pontos de maior produo aparecem sobre a curva de transformao (A, B, ..., F). Assim, sendo, para a fabricao s de carros (A) estar-se-ia sacrificando toda a produo de camisas. Logo, o custo de oportunidade correspondente exatamente ao sacrifcio do que se deixou de produzir, ou, em outras palavras, o custo ou a perda do que no foi escolhido e no o ganho do que foi escolhido.

    Da mesma forma, se estivesse em B

    (carros = 140, camisas = 10) e parasse a C (carros =

    Bens

    Quantidade mxima de carros

    Possibilidades intermedirias

    Quantidade mxima de camisas

    A B C D E F

    Carros (milhares)

    150 140 120 90 70 0

    Camisas (milhes)

    0 10 20 30 40 50

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    120, camisas = 20), o custo de oportunidade seria o sacrifcio de deixar de produzir 20 mil carros. De uma forma geral ele o sacrifcio de se transferirem os recursos de uma atividade para a outra.

    Sumarizando, as condies bsicas para a existncia do custo de oportunidade so recursos limitados e pleno emprego dos recursos.

    O problema da organizao econmica

    Dadas as limitaes dos recursos disponveis e do nvel tecnolgico, as naes procuram organizar suas economias a fim de resolver os problemas do que, quanto, como e para quem produzir de forma eficiente, isto , com o menor desperdcio possvel.

    De certa maneira, so duas as formas de organizao econmica: a descentralizada (ou economia de mercado), do tipo ocidental, e a centralizada, do tipo cubano ou chins.

    Uma breve viso das duas ser dada a seguir.

    O sistema privado de preos. Livre iniciativa

    Numa economia privada de livre iniciativa, nenhum agente econmico (indivduo ou empresa) se preocupa em desempenhar o papel de gerenciar o bom funcionamento do sistema de preos. Preocupam-se em resolver isoladamente seus prprios negcios. Procuram apenas sobreviver na concorrncia imposta pelos mercados, tanto na venda e compra de produtos finais como na dos fatores de produo. Esse jogo econmico todo baseado nos sinais dados pelos preos formados nos diversos mercados, como um sistema de semforos para controlar o trnsito. Todos correm riscos, porm riscos previstos. O futuro incerto, mas as prospeces se apiam nas probabilidades de ocorrncia, da o risco estimado. O lucro pode ser o prmio pelo risco assumido.

    Acontece que todos agindo dessa forma egosta, no conjunto, resolvem, inconscientemente os problemas bsicos da coletividade.

    A ao conjunta de indivduos e empresas permite que centenas de milhares de mercadorias sejam produzidas com um fluxo constante, mais ou menos voluntariamente, sem uma direo central.

    Por exemplo, sem um constante fluxo de produtos entrando e saindo, ver-se-ia a populao de So Paulo ameaada pela fome em uma semana e tudo realizado sem coao ou direo centralizada de qualquer organismo consciente.

    O desejo dos indivduos determinar a magnitude da demanda, e a produo das empresas determinar a magnitude das ofertas. O equilbrio entre a demanda e a oferta ser sempre atingido pela flutuao de preo.

    O mecanismo de preos um vasto sistema de tentativas e erros, de aproximaes sucessivas, para alcanar o equilbrio entre a oferta e a demanda.

    Isso tanto verdade nos mercados de bens de consumo quanto nos de fatores de produo, tais como trabalho, terra e capital. Se houver maior necessidade de economistas do que de advogados, as oportunidades de trabalho sero mais favorveis aos primeiros. O salrio do economista tender a elevar-se e o do advogado, a cair.

    Pode-se notar que os problemas bsicos da Economia o que, quanto, como e para quem podem ser resolvidos pela concorrncia dos mercados e pelo mecanismo dos preos. O consumidor tentar maximizar seu bem-estar e o produtor, o lucro.

    O sistema de preos coordena as decises de milhes de unidades econmicas, faz com eles se equilibrem, uns aos outros, e fora ajustamentos para torn-los condizentes com o nvel tecnolgico e com o montante disponvel de recursos.

    No mercado em que se formam os preos, os consumidores estabelecem os preos mximos que esto dispostos a pagar pela quantidade a ser demandada. Essa avaliao subjetiva (psicolgica) e deriva do conceito de utilidade que o consumidor procura maximizar. Nesse caso, a curva de demanda de mercado delimita o preo mximo. Ao contrrio, os produtores estabelecem seus preos

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    mnimos que esto dispostos a receber pela quantidade ofertada, diante das restries dos custos incorridos e seu objetivo de maximizar lucros. Assim, a curva de oferta representa o limite mnimo. Dessa forma, a rea de negociao do preo e da quantidade dar-se- na regio ABC da figura abaixo, mas o equilbrio ser em B. O mercado a soluo civilizada mais barata, logo, a mais eficiente para realizar trocas, que, em ltima instncia, so a essncia do problema econmico.

    Economia mista de mercado. A presena do Estado

    Na verdade, o sistema descrito na figura acima apresenta inmeras imperfeies no seu funcionamento, alm de uma grande simplificao da vida real. As falhas no funcionamento da economia de mercado impedem-na de atingir suas metas:

    eficiente alocao dos recursos escassos;

    distribuio justa de renda (no confundir com igualdade, que no existe);

    estabilidade dos preos;

    crescimento econmico.

    As falhas so basicamente duas:

    imperfeies na concorrncia dos mercados, caracterizada pela presena de poucos produtores (monoplio ou oligoplio e sindicatos), que transformam os mercados impessoais em pessoais para deles tirar vantagens econmicas, pela cobrana de preos muito acima dos custos de produo;

    efeitos externos que o mercado incapaz de internalizar no cmputo dos seus benefcios

    e/ou custos. Por exemplo, o custo da poluio das fbricas sobre as famlias no cobrado nos preos dos produtos.

    As imperfeies de concorrncia levam m distribuio de renda e de bem-estar, e somente a atuao do Estado pode corrigir isso, regulamentando a ao dos oligoplios ou investindo nas reas sociais para reduzir os focos de pobreza. Muitas vezes a presena do Estado na economia ocorre por meio das empresas estatais, produzindo o que o setor privado poderia fazer mas no faz por falta de capital (Eletrobrs, Petrobrs e outras), ou por medidas de segurana nacional, ou mero nacionalismo poltico. Assim, a interveno do Estado na economia multiplica-se e vai alm das suas funes convencionais de educao, sade, infra-estrutura (transportes, saneamento), justia, defesa nacional, entre outros.

    O funcionamento de uma economia centralizada

    Nas economias centralizadas, os trs problemas bsicos o que, quanto, como e para quem so determinados pelos rgos planejadores centrais e no pelo sistema de preos como nas economias de mercado.

    O planejamento , grosso modo, formulado da seguinte maneira:

    primeiro: faz-se um inventrio das necessidades humanas a serem atendidas;

    segundo: faz-se um inventrio dos recursos e das tcnicas disponveis para a produo;

    terceiro: com base nessas disponibilidades, faz-se uma seleo das necessidades prioritrias e fixam-se as quantidades de cada bem a serem produzidas so as chamadas metas de produo-consumo.

    O rgo planejador fixa as metas a serem cumpridas, transmite-as aos rgos setoriais e regionais, e estes, diretamente s unidades produtoras da atividade econmica.

    O sistema de preos no funciona como mecanismo orientador, mas sim para facilitar a consecuo dos objetivos de produo estabelecidos

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    pelo Estado. Na realidade tem duas funes diferentes, uma durante o processo de produo e outra no momento da venda do produto ao consumidor.

    Durante o processo de produo, os preos no passam de recursos contbeis que facilitam o controle da eficincia com que os produtos so manufaturados, calculados com base em empresas de eficincia mdia. Assim, se uma fbrica qualquer estiver produzindo de modo pouco eficiente, os prejuzos financeiros logo acusaro essa falha. No caso de eficincia maior do que a mdia, aparecero os lucros inesperados. Em resumo, os preos fixados dos recursos disponveis so usados como recursos de contabilizao dos custos de produo do processo, para que se possa julgar a eficincia de operao das diversas empresas.

    02. Evoluo da Cincia Econmica

    Das origens at 1750 a fase pr-cientfica da economia

    Durante muito tempo a Economia constituiu um conjunto de preceitos ou de solues adaptadas a problemas particulares.

    Na Antiguidade Grega, por exemplo, apareceram apenas algumas idias econmicas fragmentrias em estudos filosficos e polticos, mas sem o brilho do trabalho nos campos da filosofia, tica, poltica, mecnica ou geometria.

    Embora o termo econmico (de oikos, casa, e nomos, lei) tenha sido utilizado pela primeira vez por Xenofontes, na obra do mesmo nome (no sentido dos princpios de gesto dos bens privados), os autores gregos no apresentaram o pensamento econmico independente. De modo geral, trataram apenas de conhecimentos prticos de administrao domstica; inclusive a Crematstica (de chrema, posse ou riqueza) de Aristteles, apesar do ttulo, referia-se, sobretudo, aos aspectos pecunirios das transaes comerciais. Este autor, contudo, apresentou algumas contribuies interessantes s teorias do valor, dos preos e da moeda.

    Na Antiguidade romana, igualmente, no houve um pensamento econmico geral e independente, embora a economia de troca fosse mais intensa em Roma do que na Grcia. A unidade econmica do vasto imprio, mantida por meio de notveis redes rodovirias e de intensa navegao, transformaram Roma em centro de afluncia dos produtos de todas as provncias, estimulando as transaes comerciais e a criao de companhias mercantis e sociedades por aes. Mas as preocupaes dos romanos limitaram-se fundamentalmente poltica, de modo que sua contribuio economia foi quase nula.

    Na Idade Mdia, principalmente do sculo XI ao XIV, surgiu uma atividade econmica regional e inter-regional (com feiras peridicas que se tornaram clebres, como as de Flandres, Champagne, Beaucaire e outras), organizaram-se corporaes de ofcio, generalizaram-se as trocas urbano-rurais, retomou novo impulso o comrcio mediterrneo. A Igreja procurou moralizar o interesse pessoal, reconheceu a dignidade do trabalho (manual e intelectual), condenou as taxas de juros, buscou o justo preo, a moderao dos agentes econmicos e o equilbrio dos atos econmicos. Mas o pensamento econmico medieval, de carter eminentemente prtico, tambm era dependente: da subordinao filosofia ou poltica, na Antiguidade Clssica, passara a ser orientado pela moral crist. A partir da metade do sculo XV, entretanto, essa subordinao religiosa seria substituda pela preocupao metalista.

    Realmente, o Mercantilismo (1450-1750) imprimiu ao pensamento econmico um cunho de arte emprica, de preceitos de administrao pblica que os governantes deveriam usar para aumentar a riqueza da nao e do prncipe: na Espanha e em Portugal, os economistas aconselharam a proibio da sada de metais preciosos e a entrada de mercadorias estrangeiras; na Frana, o Colbertismo buscou o intervencionismo na indstria e o protecionismo alfandegrio, para desenvolver a industrializao interna, exportar mais e reduzir as importaes ao mnimo possvel; na Gr-Bretanha, o comrcio e a navegao apareceram como as principais fontes de riqueza nacional, etc.

    Embora seja pouco significativa a contribuio do Mercantilismo constituio da anlise econmico-cientfica, algumas obras marcaram um certo esforo de sistematizao no fim do sculo XVII e incio do sculo XVIII: a Political arithmetic (1682), de William Petty, que evidenciou a

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    preocupao da anlise estatstica dos problemas econmicos, e o Essai sur la nature du commerce em gnral (1734), de Cantillon, que prenunciou a fase cientfica da economia, apresentando elementos sobre as funes da produo e os riscos assumidos pelos empresrios e explicando o circuito econmico (formulado precisamente por Quesnay alguns anos depois).

    Cantillon representou o elo entre Petty e Quesnay, que pouco depois seria o chefe da escola fisiocrtica. O trio Petty, Cantillon e Quesnay marcou importante seqncia na histria da anlise econmica.

    Somente a partir de Quesnay, entretanto, a atividade econmica passou a ser tratada cientificamente.

    A criao cientfica da economia: de 1750 a 1870

    O Quadro econmico de Quesnay (1758) e a Riqueza das naes de Adam Smith (1776) marcaram, realmente, a reao contra o tratamento assistemtico e disperso dos problemas econmicos.

    A Fisiocracia (1760-1770), movimento considerado por muitos autores mais uma seita de filsofos-economistas do que uma escola econmica, surgiu e desapareceu como um meteoro, em torno do Dr. Quesnay, mdico da corte. Ela imps-se principalmente como doutrina de ordem natural: o universo regido por leis naturais, absolutas, imutveis e universais, desejadas pela Providncia Divina para a felicidade dos homens. Estes, por meio desta razo, podero descobrir esta ordem.

    No Quadro econmico, Quesnay representou, de modo simplificado, o fluxo de despesas e de bens entre as diferentes classes sociais, distinguindo um equilbrio de qualidades globais, que os Keynesianos deveriam analisar a partir de 1936, tal como Cantillon evidenciou a interdependncia entre as atividades econmicas. Indicou como a agricultura fornece um produto lquido que se reparte entre as classes da sociedade e admitiu ser a terra produtora da mais-valia (no se referendo ao trabalho que Marx enfocaria anos depois). Importante instrumento de anlise, sua obra a precursora da economia quantitativa.

    Em 1764, Adam Smith, ento professor de Filosofia Moral na Universidade de Glasgow, entrou em contato com Quesnay, Turgot e outros fisiocratas, ao visitar a Frana. Doze anos depois, tornou-se o chefe da Escola Clssica que, juntamente com a Escola Fisiocrtica, marcou o incio da fase propriamente cientfica da Economia.

    Embora a grande maioria dos autores tenha feito de Smith (1723-1790) o apologista da crescente classe industrial capitalista, a verdade que sua simpatia voltava-se freqentemente para o operrio e o trabalhador da terra, opondo-se aos privilgios e proteo estatal que apoiavam o sistema mercantil.

    Para Smith, Deus (ou a natureza) implantou no homem certos instintos, entre os quais o de trocar: este, mais a tendncia de ganhar mais dinheiro e subir socialmente conduzem o trabalhador a poupar, a produzir o que a sociedade precisa e a enriquecer a comunidade. Os homens so naturalmente assim.

    Se o governo se abstiver de intervir nos negcios econmicos, a Ordem Natural poder atuar. Mas como os fisiocratas, Smith no afirmava que fosse ela espontnea: era um fim que deveria ser alcanado.

    Apesar da abundncia de exemplos e de digresses, a Riqueza das naes contm o que seu subttulo anuncia: investigao da natureza e das causas da riqueza das naes. Ou seja, em termos modernos, o autor busca uma teoria do desenvolvimento econmico.

    A principal explicao de Smith para o desenvolvimento est nas primeiras pginas de sua obra: a diviso do trabalho expresso de simplicidade enganadora, utilizada por ele em dois sentidos diferentes que seriam, em tempos modernos: a especializao da fora de trabalho, que acompanha o avano econmico, e a alocao da fora de trabalho entre vrias linhas de emprego.

    Ao enfatizar o mercado como regulador do trabalho, distinguiu o valor de uso do valor de troca, atribuindo interesse econmico apenas para o ltimo. Considerou o valor distinto do preo, afirmando ser o trabalho a medida do valor. Analisou a distribuio de renda ao discutir trs componentes de preo natural: salrios, lucros e rendas da terra. Dos problemas do valor e da

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    distribuio de renda, passou exposio dos mecanismos de mudana econmica e dos fatores que governam a alocao das foras de trabalho entre empregos produtivos e improdutivos.

    O modelo terico de desenvolvimento econmico de Smith constitua parte integrante de sua poltica econmica: ao contestar o padro mercantilista de regulamentao estatal e de controle, apia a concluso de que a concorrncia maximiza o desenvolvimento econmico e de que os benefcios do desenvolvimento seriam partilhados por toda a sociedade.

    De modo geral, os crticos de Smith tm afirmado que sua obra no original, salvo pela disposio dos assuntos e pela exposio. Reconhecem, porm, que escolheu exemplos to significativos que sua importncia reconhecida ainda hoje, e conseguiu combinar materiais histricos e analticos de forma excepcionalmente eficaz.

    Karl Marx (1818-1883) ops-se aos processos analticos dos clssicos e s suas concluses, com base no que Lenin considerou a melhor criao da humanidade no sculo XIX: a filosofia alem, a economia poltica inglesa e socialismo francs.

    Ao lado de disputas metodolgicas com o classicismo, Marx modificou a anlise do valor, apesar de haver utilizado vrios componentes da verso clssica da teoria do valor-trabalho; desenvolveu conceitos que se tornaram muito conhecidos (como, por exemplo, o de mais-valia, capital varivel, capital constante, exrcito de reserva industrial e outros), analisou a acumulao do capital, a distribuio da renda, as crises econmicas, etc.

    Afirmava Marx que o valor da fora de trabalho determinado, como no caso de qualquer outra mercadoria, pelo tempo de trabalho necessrio produo, e conseqentemente reproduo, desse artigo em especial.

    Muitos autores afirmam que a contribuio de Marx anlise econmica um prolongamento, engenhosamente elaborado, da Escola Clssica. Outros os contestam com veemncia, insistindo no erro freqente de se analisarem separadamente as diversas teorias marxistas, o que destri a unidade do marxismo um conjunto de filosofia, sociologia, histria e economia. Outros, enfim, acusam o compl do silncio dos

    economistas burgueses em torno da obra de Marx, por causa de sua sociologia da revoluo, que preconiza a derrubada violenta da ordem capitalista.

    A elaborao dos princpios tericos fundamentais: 1870 - 1929

    Era evidente, no ltimo quartel do sculo XIX, a urgncia da reabordagem dos princpios bsicos que orientavam a Cincia Econmica, em face de novos fatos econmicos e das transformaes estruturais das economias das naes industrializadas: o capitalismo atomizado e concorrencial no incio do sculo XIX cedera lugar a um capitalismo molecular ou de grandes concentraes econmicas, de forte tendncia monopolstica; o Estado abandonara sua passividade de simples guardio da ordem para interferir, cada vez mais, no campo econmico; os salrios reais dos trabalhadores denotavam sensvel melhora, em vez de crescente deteriorao, e os sindicatos comeavam a surgir legalmente, em defesa dos interesses profissionais dos empregados; os pases ocidentais gozavam de notvel prosperidade, sem indcios de graves conseqncias previstas pelos clssicos pessimistas, por Marx e outros.

    Coube aos neoclssicos ou marginalistas no apenas a abordagem terica que se impunha, mas tambm a elaborao de princpios tericos fundamentais da Cincia Econmica.

    Os parmetros deste importante perodo da evoluo do pensamento econmico foram marcados:

    no incio 1870 pelo decnio em que surgiu a anlise econmica moderna com a mudana na definio dos problemas econmicos: da determinao das causas do desenvolvimento da riqueza, o economista passou a se preocupar com a alocao dos recursos escassos entre usos alternativos, com fim de maximizar a utilidade ou a satisfao dos consumidores. A Economia adquiriu carter internacional e tornou-se disciplina acadmica, estudada em universidades, deixando de ser domnio quase exclusivo dos homens de negcio.

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    no fim 1929 pela Grande Depresso, que gerou verdadeira crise de conscincia dos economistas, quando estes perceberam que a cincia clssica no lhes permitia analisar integralmente a expanso da atividade econmica e elaborar polticas econmicas adequadas.

    No perodo 1870-1929 a economia conheceu intenso desenvolvimento terico. Surgiu o Neoclassicismo ou Marginalismo, que buscou integrar a teoria da utilidade do valor com a teoria do custo de produo dos clssicos, bem como explicar a produo dos bens e dos fatores, e a alocao dos recursos com o auxlio da anlise marginal.

    A introduo da anlise marginal mudou de modo significativo a orientao dos estudos econmicos: representou um instrumento, rapidamente difundido, para explicar a alocao de determinados recursos escassos entre os usos correntes, com o objetivo de se chegar a resultados timos. O homem econmico, racional e calculador, estaria empenhado em equilibrar seus dispndios marginais com seus ganhos marginais.

    Entendendo a Crise de 1929

    No incio do sculo XX, os Estados Unidos viviam o seu perodo de prosperidade e de pleno desenvolvimento, at que a partir de 1925, apesar de toda a euforia, a economia norte-americana comeou a passa por srias dificuldades. Podemos identificar dois motivos que acarretaram a crise:

    - O aumento da produo no acompanhou o aumento dos salrios. Alm de a mecanizao ter gerado muito desemprego.

    - A recuperao dos pases europeus, logo aps a 1 Guerra Mundial. Esses eram potenciais compradores dos Estados Unidos, porm reduziram isso drasticamente devido recuperao de suas econmicas.

    Diante da contnua produo, gerada pela euforia norte-americana, e a falta de consumidores, houve uma crise de superproduo. Os agricultores, para armazenar os cereais, pegavam emprstimos, e logo aps, perdiam suas terras. As indstrias foram foradas a diminuir a sua produo e demitir funcionrios, agravando mais ainda a crise.

    A crise naturalmente chegou ao mercado de aes. Os preos dos papis na Bolsa de Nova York,

    um dos maiores centros capitalistas da poca, despencaram, ocasionando o crash (quebra). Com isso, milhares de bancos, indstrias e empresas rurais foram falncia e pelo menos 12 milhes de norte-americanos perderam o emprego.

    Abalados pela crise, os Estados Unidos reduziram a compra de produtos estrangeiros e suspenderam os emprstimos a outros pases, ocasionando uma crise mundial. Um exemplo disso o Brasil, que tinha os Estados Unidos como principal comprador de caf. Com a crise, o preo do caf despencou e houve uma superproduo, gerando milhares de desempregados no Brasil.

    Para solucionar a crise, o eleito presidente Franklin Roosevelt, props mudar a poltica de interveno americana. Se antes, o Estado no interferia na economia, deixando tudo agir conforme o mercado, agora passaria a intervir fortemente. O resultado disso foi a criao de grandes obras de infra-estrutura, salrio-desemprego e assistncia aos trabalhadores, concesso de emprstimos, etc. Com isso, os Estados Unidos conseguiram retomar seu crescimento econmico, de forma gradual, tentando esquecer a crise que abalou o mundo.

    A fase contempornea: de 1929 em diante

    As crticas apresentadas s teorias neoclssicas, a partir de 1920, atingiram seu ponto culminante no decnio de 1930, que se caracterizou por ser um perodo de grande fermentao terica. Na maioria dos casos, os debates provocaram novas anlises e novos estudos em ambos os lados oponentes, de que so exemplos os trabalhos sobre o comportamento dos preos das empresas situadas entre o monoplio puro e a concorrncia perfeita; o comportamento timo do produtor e do consumidor, a teoria do monoplio e da concorrncia imperfeita; os problemas da grande empresa resultantes da concentrao do poder econmico e outros.

    evidente que os fatos econmicos contriburam intensamente para acirrar os debates dos economistas. Os pases industrializados do mundo ocidental j seriamente abalados pela crise ps-guerra, que ocasionou elevados nveis de desemprego e profundo descontentamento do povo, sofreram ainda, em 1929, o impacto de outra crise, iniciada na Bolsa de Valores de Nova York e difundida em todo o mundo. O desemprego havia atingido propores

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    alarmantes e no havia indicaes de que tal situao estava se autocorrigindo, como os clssicos e neoclssicos afirmavam que aconteceria por remdios gerados pelo prprio sistema econmico.

    Na ausncia de um diagnstico terico sobre a economia do desemprego macio, os polticos e os governantes tentaram desesperadamente remediar os males por meio de medidas esparsas, como as restries das importaes, o aumento das tarifas, a desvalorizao da moeda, a realizao de obras pblicas como mecanismo de criao de empregos (Inglaterra) ou de estmulo economia (Estados Unidos), entre outras.

    No conturbado perodo entre as duas grandes guerras, as obras de John Maynard Keynes (1883-1946), romperam a tradio neoclssica e apresentaram um programa de ao governamental para a promoo do pleno emprego. Foi tal o impacto produzido que a atuao de Keynes e de seus continuadores passou a ser chamada de Revoluo Keynesiana. Em 1943, ele criou o Plano Keynes para estabilizao internacional das moedas. Terminada a Guerra, participou ativamente dos trabalhos de criao do Fundo Monetrio Internacional (FMI) e do Banco Internacional para a Reconstruo e o Desenvolvimento (BIRD).

    Enquanto Keynes reabilitava o capitalismo, o socialismo implantado nacionalmente, pela primeira vez em 1917 (URSS), passou a servir de modelo, depois da Segunda Guerra Mundial, s democracias populares, como China, Vietn, Cuba e outras.

    Mas nas ltimas dcadas do sculo XX, bruscas mudanas econmicas, tecnolgicas, polticas, sociais e culturais surpreenderam o mundo. Implodiram os modelos de economias socialistas integralmente planificadas no incio dos anos 1990, enfraquecendo as foras polticas locais e regionais apoiadas em exacerbado centralismo estatal e em poltica massificadora. Da se dizer que foi uma fase cientfica e tecnologicamente muito produtiva, mas politicamente imprevisvel.

    Fracassaram tanto a Estado comunista, como o Estado capitalista o primeiro por no conseguir aperfeioar a sociedade via planejamento estatal autoritrio e o segundo por no haver conseguido resolver as questes sociais, que at se agravaram com o processo de globalizao econmica. Ambos, comunismo e capitalismo,

    mostraram-se insuficientes para promover um desenvolvimento de dimenso humana e cultural. A globalizao assimtrica aumentou as desigualdades entre os pases.

    No novo sculo e milnio, ao mesmo tempo que se intensificava a criao de riqueza baseada na mente ou no conhecimento e a Nova Economia ganhava espao, parecia desintegrar-se a estrutura do tradicional sistema baseado em bens materiais, que at ento mantivera o mundo coeso. Ou seja, a riqueza imaterial comeou sobrepor tradicional preferncia pela riqueza tangvel, slida, resultante da propriedade da terra, do imvel ou do capital para a produo industrial. A moeda se tornou tambm cada vez mais intangvel, e na forma eletrnica, monitorada na tela do vdeo, transferia-se instantaneamente de um extremo a outro do mundo.

    O sucesso da Nova Economia tornou-se preocupante com a intensa e rpida valorizao das aes de empresas sem ativos slidos, mas de importante capital intelectual. A euforia desse mercado acionrio foi comparada a uma bolha tecnolgica, um jogo de final imprevisvel, stupid money acumulado por stupid people. E, realmente, logo comearam a cair as aes das empresas de tecnologia na bolsa eletrnica Nasdaq.

    As anlises dos mercados com informaes assimtricas contriburam para o desenvolvimento do ncleo de uma nova era: a Economia da Informao. Ela vem sendo desenvolvida com as pesquisas e estudos de trs cientistas-professores universitrios, que receberam o Prmio Nobel de Economia, em outubro de 2001, criado em memria de Alfredo Nobel, na Sucia. Eram eles George Akerlof, Michael Spence e Joseph Stiglitz, respectivamente das Universidades da Califrnia (Berkeley), Stanford e Colmbia. Em 1996, entretanto, dois outros economistas James Mirrlees (Universidade de Cambridge, Inglaterra) e William Vickrey (Universidade de Colmbia, Estados Unidos) que realizavam pesquisa nessa rea, foram igualmente distinguidos com o Prmio Nobel. Eles apresentaram exemplos de grupos que, na sociedade, detm mais informaes que outros, e podem us-las estrategicamente, provocando distores no mercado. Criticaram, ento, os modelos tericos de equilbrio da economia, que previam situaes sem distores no mercado.

    Na poca contempornea, tornam-se cada vez mais evidente as grandes rachaduras de

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    instituies bsicas Naes-Estado, igrejas, lares, escolas, hospitais, instituies econmicas, financeiras, polticas e outras. Ao mesmo tempo, ao desemprego tecnolgico soma-se o desemprego causado pela recesso econmica que atinge simultaneamente Estados Unidos, Unio Europia e o Japo. Da o perverso aumento dos excludos, extracomunitrios, sem teto, desempregados, inclusive nos pases mais ricos do mundo.

    A fase contempornea deixa entrever mecanismos econmicos que buscam valorizar os atores econmicos, a pessoa humana e os valores ticos. Essa busca somada urgente necessidade de combater as agresses ecolgicas e a poluio ambiental, que colocam em risco a prpria continuidade da vida neste planeta.

    oportuno, ento, enfatizar que a Economia uma cincia social, e o objeto principal de seus estudos deve ser a atividade econmica voltada para o gnero humano e no simplesmente para a produo e o mercado, para o lucro econmico, sem considerar, por exemplo, as condies de trabalho (tanto materiais como psicolgicas), nem as necessidades humanas. Qualquer esforo no sentido de eficincia, qualidade e produtividade, deve incluir o combate s diversas conseqncias da globalizao econmica assimtrica e a luta pela valorizao do ator econmico, porque o fim ltimo da Cincia Econmica a satisfao das necessidades da pessoa humana.

    Uma diviso didtica do estudo da cincia econmica

    Um curso de Introduo Economia visa capacitar o aluno a dar seus primeiros passos na anlise e na percepo dos problemas econmicos. uma juno de descobrir com a arte de pensar (analisar). A teoria econmica constitui-se um corpo unitrio de conhecimento da realidade, passvel de uma diviso, principalmente por razes didticas:

    a) Microeconomia (teoria dos preos)

    Estuda a formao dos preos nos diversos mercados, por meio da ao conjunta da demanda e da oferta. Os preos constituem os sinais para o uso eficiente dos recursos escassos

    da sociedade e funcionam como um elemento de excluso.

    b) Macroeconomia (equilbrio da renda nacional)

    Estuda as condies de equilbrio estvel entre a renda e a despesa nacionais. As polticas econmicas de interveno procuram sempre estabelecer tal equilbrio.

    c) Desenvolvimento econmico

    Estuda o processo de acumulao dos recursos escassos e da gerao de tecnologia capazes de aumentar a produo de bens e servios para a sociedade.

    d) Economia internacional

    Estuda as condies de equilbrio do comrcio externo (importaes e exportaes), alm dos fluxos de capital.

    03. Noes de Microeconomia

    Genericamente, a Microeconomia concebida como o ramo da Cincia Econmica voltado ao estudo do comportamento das unidades de consumo representadas pelos indivduos e/ou famlias (estas, desde que caracterizadas por um oramento nico), ao estudo das empresas, suas respectivas produes e custos, e ao estudo da gerao e preos dos diversos bens, servios e fatores produtivos. Dessa maneira, distingue-se da Macroeconomia, porque esta se interessa pelo estudo dos agregados como a produo, o consumo e a renda da populao como um todo.

    As caractersticas gerais da Microeconomia confundem-se com aqueles inerentes prpria Economia, da qual um dos segmentos. Nela so defrontadas constantemente situaes hipotticas de causa e efeito, isto , ponderaes do tipo O que aconteceria se...?, e nesses casos os fatos no podem ser observados. Assim, somente a conduo da soluo do problema de forma terica ou dedutiva que permitir ao economista chegar a uma concluso na anlise a que se prope. Enaltecida a sua caracterstica de carter terico ou dedutivo,

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    no deve ser subestimada a sua utilidade na explicao dos fatos do mundo real.

    A Microeconomia apresenta uma natureza esttico-comparativo. Isso significa que sempre tendem a ser confrontadas duas ou mais posies de equilbrio sem qualquer preocupao com o que possa ter ocorrido durante o perodo que demandou a passagem da situao inicial para a final. Assim procedendo, no so considerados os ajustamentos entre ambas as situaes, nem a extenso do perodo de tempo em si.

    Uma terceira caracterstica o seu enquadramento dentro do ramo da economia positiva ou cientfica. Realmente, o enfoque desse ramo da cincia econmica o estudo da situao tal e qual se apresenta, descrevendo-a, sem se posicionar favorvel ou desfavoravelmente a ela. Isso significa afianar que inexiste qualquer juzo de valor ou conotao tica na Microeconomia, e que ela mantm uma ndole exclusivamente descritiva.

    A quarta caracterstica da teoria microeconmica de se constituir, fundamentalmente, em uma anlise de equilbrio parcial. Essa anlise pressupe a adoo de condio de coeteris paribus, ou seja, uma hiptese segunda a qual todas as demais condies que possam influenciar no relacionamento entre duas variveis, funcionalmente dependentes, sejam mantidas constantes. O objetivo dessa premissa aproximar o modo de agir dos economistas com aquele dos profissionais que atuam no campo das cincias exatas. Os resultados que inferem de qualquer situao microeconmica so vlidos, desde que aceita a hiptese do coeteris paribus; caso contrrio, ser relutada a veracidade dos fatos.

    Teoria elementar do funcionamento do mercado

    Teoria Elementar da Demanda

    Costuma-se definir a demanda individual como a quantidade de um determinado bem ou servio que o consumidor deseja adquirir em certo perodo de tempo.

    Nessa definio preciso destacar dois elementos. Em primeiro lugar, o desejo de adquirir, a aspirao, o plano, e no sua realizao. No se deve confundir demanda com compra nem oferta com venda. Demanda o desejo de comprar. Em segundo lugar, a demanda o fluxo por unidade de tempo. A demanda se expressa por uma certa quantidade em dado perodo. Assim, por exemplo, deve-se dizer que Maria tem desejo de adquirir 5 quilos de feijo por semana e no, simplesmente, que Maria deseja 5 quilos e que essa a sua demanda.

    A teoria da demanda derivada de hipteses sobre a escolha do consumidor entre diversos bens que seu oramento permite adquirir. O que se almeja explicar o processo de escolha do consumidor perante as diversas alternativas existentes. Tendo um oramento limitado, o que quer dizer, determinado nvel de renda, o consumidor procurar distribuir esse seu oramento (renda) entre os diversos bens e servios de forma a alcanar a melhor combinao possvel, ou seja, aquela que lhe trar maior nvel de satisfao.

    Costuma-se apresentar quatro determinantes de demanda individual:

    1. preo do bem;

    2. preos dos outros bens;

    3. renda do consumidor; e

    4. gosto ou preferncia do indivduo.

    Para estudar a influncia de cada fator sobre a demanda preciso fazer uma simplificao, pois estudar tudo em conjunto complexo e exigiria um instrumental matemtico mais elaborado. A simplificao constituir em considerar cada efeito, cada varivel, separadamente, fazendo a hiptese de que tudo o mais permanea constante. Esta hiptese tambm conhecida como a clusula do coeteris paribus, como foi visto anteriormente. Por exemplo, dizemos que, coeteris paribus, a demanda funo do preo.

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    Relao entre quantidade demandada e preo do bem

    Podemos representar a relao entre quantidades demandadas (Dx) e preos dos bens (Dx) da seguinte forma:

    Dx = f (Px), tudo o mais permanecendo constante.

    Normalmente, teremos uma relao inversa entre o preo do bem e a quantidade demandada. Quando o preo do bem cai, este fica mais baixo em relao a seus concorrentes e, dessa forma, os consumidores devero aumentar seu desejo de compr-lo. De outra parte, quando o preo cai, o indivduo fica mais rico em termos reais. Por exemplo: com R$ 100,00, se pode comprar um par se sapatos se o preo for R$ 100,00, ou dois pares se o preo cai pela metade, ou quatro pares se o preo for de R$ 25,00. Quando o indivduo fica mais rico, normalmente aumentam suas demandas. Por essas duas razes (o bem relativamente mais barato e o consumidor com maior poder de compra) deve-se esperar que, quando o preo de um bem ou servio cai, a quantidade demandada aumente.

    Assim, quando Px Dx e quando Px Dx .

    Relao entre a demanda de um bem e os preos de outros bens

    Sendo o preo dos outros bens Pi, temos:

    Dx = f (Pi), tudo o mais permanecendo constante.

    Para essa funo no temos relao geral: a aumento do preo do bem i poder aumentar o reduzir a demanda do bem x. A reao depende do tipo de relao existente entre os dois bens.

    Se o aumento do preo do bem i aumentar a demanda do bem x, os bens i e x sero chamados substitutos ou concorrentes. So bens substitutos a manteiga e a margarina, o transporte por trem e por avio, o caf e o ch, entre outros. Os bens concorrentes so aqueles que guardam relao de

    substituio. Consomem-se um ao outro. O consumo de um pode substituir o consumo do outro.

    Se o aumento do preo do bem i ocasionar uma queda da demanda do bem x, sero chamados de bens complementares. o caso de pneumticos e cmaras-de-ar, po e manteiga, caneta e tinta, entre outros. Como se pode observar, bens complementares so aqueles que, em geral, so consumidos conjuntamente. Sua complementaridade pode ser tcnica, caso do automvel e gasolina, ou psicolgica, como trabalhar com msica.

    Relao entre a demanda de um bem e a renda do consumidor

    Sendo a renda do consumidor R, temos:

    Dx = f (R), tudo o mais permanecendo constante.

    Em geral, existe uma relao crescente e direta entre a renda e a demanda por um bem ou servio. Quando a renda cresce, a demanda do bem deve aumentar. O indivduo, ficando mais rico, vai desejar aumentar seu padro de consumo e, portanto, demandar maiores quantidades de bens e servios.

    Essa a regra. Como boa regra, ela admite excees. Em primeiro lugar, possvel que o indivduo esteja totalmente satisfeito com o consumo de determinado bem e, portanto, no altere a quantidade demandada por quantidade de tempo, quando sua renda aumentar. o caso do consumo saciado. Outra exceo encontra-se nos chamados bens inferiores. Esses so bens cuja demanda se reduz quando a renda aumenta. Por exemplo: a demanda por carne de segunda se reduz quando o indivduo aumenta seus ganhos, pois ele passar a demandar carne de primeira e no mais de segunda.

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    Relao entre a demanda do bem e o gosto do consumidor

    Por fim, resta examinar a influncia do gosto ou da preferncia do consumidor sobre sua demanda. Vamos estudar essa relao por meio de um exemplo: suponhamos que seja feita uma campanha publicitria incentivando a populao a beber mais leite. Nessa campanha, mostra-se o valor nutritivo do leite e os benefcios que ele traz para a sade. O povo despertado por essa propaganda e resolve tomar mais leite, aumentando consideravelmente seu consumo.

    At agora falamos em demanda individual. E a demanda de mercado?

    A demanda de mercado a soma das demandas individuais. Suponhamos que, a determinado preo, o consumidor A deseja adquirir 10 maos de cigarros, o consumidor B deseja 7 e o C, 5 maos. Sendo o mercado constitudo dessas pessoas, a demanda de mercado ser de 22 maos de cigarro, pelo preo dado.

    Teoria Elementar da Oferta

    Define-se oferta como a quantidade de um bem ou servio que os produtores desejam vender por unidade de tempo. Novamente, preciso destacar os dois elementos. A oferta um desejo, um plano, uma aspirao. E a demanda um fluxo por unidade de tempo.

    Do mesmo modo que a demanda, a oferta de um bem depende de inmeros fatores.

    A oferta de um bem depende de seu prprio preo, admitindo a hiptese coeteris paribus, quanto maior for o preo do bem, mais interessante ser produzi-lo e, portanto, a oferta maior.

    Em segundo lugar, a oferta do bem x depende dos preos dos fatores de produo. De fato, os preos dos fatores, juntamente com a tecnologia empregada determinam o custo de produo. Havendo aumento do preo do fator, aumentar o custo de produo. Os bens em cuja produo se empregam grandes quantidades desse fator sofrero

    aumentos de custos significativos, enquanto os que pouco o utilizam sofrero menos. Por exemplo, aumentando o preo da terra, teremos grande aumento do custo de produo do caf, enquanto em outros setores que aproveitam em menor intensidade o fator terra teremos aumentos menores de custos.

    O mesmo raciocnio se pode fazer em relao s mudanas da tecnologia de produo. Os bens que mais se beneficiaram da mudana tecnolgica tero uma lucratividade aumentada, e assim surgiro deslocamentos nas curvas de oferta de diversos bens e servios.

    Em terceiro lugar, a oferta de um bem pode ser alterada por mudanas nos preos dos demais bens produzidos. Se os preos dos demais bens subirem e o preo do bem x permanecer idntico, sua produo tornar-se- menos atraente em relao produo de outros bens, conseqentemente diminuindo a sua oferta.

    Em sntese, a quantidade ofertada de um bem x funo direta: do preo do bem x, do preo de outros bens, do preo dos fatores de produo e da tecnologia.

    O Equilbrio de Mercado

    O preo na economia de mercado determinado tanto pela oferta como pela demanda. Coloquemos em um nico grfico as curvas da oferta e da demanda. Sabemos que a curva da demanda, que representa o desejo dos consumidores, decrescente. A curva de oferta, crescente.

    Chamemos a interseo das curvas de E, ponto ao qual correspondem o preo P0 e a quantidade Q0. Esse ponto, se existir ser nico, pois a curva de demanda decrescente e a curva de oferta, crescente. Nesse ponto, a quantidade que os

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    consumidores desejam comprar exatamente igual a que os produtores desejam vender. Existe coincidncia de desejos.

    Para qualquer preo superior a P0, a quantidade que os ofertantes desejam vender maior que aquela que os consumidores desejam comprar. Em linguagem tcnica, dizemos que existe excesso de oferta. Quanto maior o preo, maior ser o excesso de oferta. De outra parte, Para qualquer preo inferior a P0 surgir excesso de demanda. Quanto menor o preo, maior ser o excesso de demanda. Em qualquer dessas situaes no existe compatibilidade de desejos.

    Analisaremos o que ocorre nestas situaes:

    I quando existir excesso de demanda surgiro presses para que os preos subam, pois:

    a) os compradores, incapazes de comprar tudo ao que desejam ao preo existente, dispem-se a pagar mais; e

    b) os vendedores vem a escassez e percebem que podem elevar os preos sem queda em suas vendas.

    II quando existir excesso de oferta surgiro presses para os preos carem, pois:

    a) os vendedores percebem que no podem vender tudo o que desejam, seus estoques aumentam e, assim, passam a oferecer a preos menores; e

    b) os compradores notam e fartura e passam a pechinchar no preo.

    No ponto E (P0, Q0), no existem presses para alteraes nos preos. Nesse ponto, os planos dos compradores so consistentes com o plano dos vendedores. Sendo o nico nessas condies, o ponto E o ponto de equilbrio das curvas da oferta e da demanda. O preo P0 o preo de equilbrio e Q0 a quantidade de equilbrio.

    Existem vrios fatores que podem provocar deslocamentos das curvas de oferta e de demanda. Ora, um deslocamento desse tipo provocar outro de ponto de equilbrio.

    Estruturas de mercado

    As estruturas de mercado so modelos que captam aspectos inerentes de como os mercados esto organizados. Cada estrutura de mercado destaca alguns aspectos essenciais da interao da oferta e da demanda.

    Monoplio

    No monoplio, o setor a prpria firma, porque existe um nico produtor que realiza toda a produo. Dessa forma, a oferta da firma a oferta do setor, e a demanda da firma a demanda do setor. importante ressaltar que o monoplio puro uma construo terica, porque, na prtica, ele no existe. O monopolista vende um bem, ou conjunto de bens, de maneira a concorrer com outros bens perante a renda disponvel do consumidor. importante destacar que, em muitas circunstncias, a estrutura mais apropriada para certos bens ou servios.

    Na estrutura monopolista, a firma nica, de maneira que a entrada de novas firmas alteraria a estrutura de mercado. Em conseqncia, o monoplio somente se mantm se a firma conseguir impedir a entrada de outras firmas no mercado. Diversos fatores podem ocorrer para a manuteno do monoplio, representando barreiras ao acesso de novas firmas, dentre os quais destacamos:

    a) a dimenso reduzida do mercado;

    b) a existncia de patentes, o que impede a produo de um dado produto por firmas concorrentes;

    c) a proteo oferecida por leis governamentais; e

    d) o controle das fontes de suprimento de matrias-primas para a produo de seu produto.

    Contudo, pouco provvel que o monoplio se perpetue no longo prazo: as patentes tornam-se obsoletas; novos produtos, e mais refinados, so desenvolvidos por outras firmas, matrias-primas substitutas tornam-se disponveis, entre outros fatores. A manuteno do monoplio

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    somente mais factvel quando o mercado garantido por meio de leis governamentais.

    Se o mercado de uma firma for reduzido, provvel que ele permanea no regime de monoplio, mesmo auferindo lucros vantajosos. Se outra firma entrar no mercado, o preo do produto poder tornar-se to baixo que as duas sofrero prejuzo. Adicionalmente, a longo prazo, o desenvolvimento tecnolgico d origem produo de novos mtodos e tcnicas que determinam o surgimento de novos produtos, de melhor qualidade, e substitutos daqueles bens anteriormente monopolizados. Existem, entretanto, alguns instrumentos que podem exercer certo controle sobre o poder do monoplio, por exemplo, a regulamentao do preo do produto e a imposio fiscal.

    Concorrncia perfeita

    A estrutura de mercado caracterizada por concorrncia perfeita uma concepo mais terica, porque os mercados altamente concorrenciais existentes, na realidade, so apenas aproximaes desse modelo, posto que, em condies normais, sempre parece existir algum grau de imperfeio que distorce o seu funcionamento.

    As hipteses do modelo de concorrncia perfeita so:

    a) existe grande nmero de compradores e vendedores. Grande nmero de compradores e vendedores refere-se no ao valor acima de determinada quantidade, mas sim ao preo dado para as firmas e para os consumidores;

    b) os produtos so homogneos, isto , so substitutos perfeitos entre si; dessa forma no pode haver preos diferentes no mercado;

    c) existe informao completa sobre o preo do produto; essa hiptese tambm conhecida como transparncia de mercado; e

    d) a entrada e sada das firmas no mercado livre, no havendo barreiras. Essa hiptese tambm conhecida como livre mobilidade. Isso permite que firmas menos eficientes

    saiam do mercado e que nele ingressem firmas mais eficientes.

    04. Introduo Macroeconomia

    O principal objetivo da teoria econmica analisar como so determinados os preos e as quantidades dos bens produzidos e dos fatores de produo existentes na economia. A partir de meados da segunda metade do sculo XIX, os economistas estruturaram um mtodo de anlise que iria consagrar-se posteriormente, denominada escola neoclssica. O princpio bsico dessa escola era o de racionalidade dos agentes econmicos, ou seja, perante uma srie de opes, os indivduos, livremente, escolheriam aquela opo que considerariam mais vantajosa.

    Na tentativa de determinar como os preos e as quantidades so estabelecidos, determinaram-se dois mtodos de anlise bsicos: a chamada abordagem de equilbrio parcial e a do equilbrio geral.

    A abordagem de equilibro parcial analisa determinado mercado sem considerar os efeitos que esse mercado pode ocasionar sobre os demais existentes na economia. Admite-se que os demais mercados afetam o mercado analisado, mas julga-se que esse mercado no afeta os demais. Por outro lado, na abordagem do equilbrio geral, acredita-se que tudo depende de tudo, e assim, se quisssemos determinar como so formados os preos dos bens, deveramos inicialmente listar todos os bens que so produzidos pela economia e todos os tipos de insumos que so utilizados, e considerar que, nas demandas e ofertas de cada um dos bens, todos os preos dos demais bens so importantes.

    Evidentemente, a preservao de todas as caractersticas especficas de cada bem na anlise impede que algumas consideraes mais gerais a respeito da evoluo da economia possam ser efetuadas. A Microeconomia fornece anlises sobre o comportamento dos preos e das produes individuais de cada bem, por exemplo. Porm, gostaramos de saber coisas do tipo: como se tem comportado o nvel de produo da economia ao longo dos ltimos anos, como tem evoludo o nvel de emprego, entre outros.

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    Dessa forma, percebe-se a necessidade de darmos tratamento mais agregativo e emprico anlise econmica. E aqui surge o espao para a Macroeconomia. Ela tem por objetivo fundamental analisar como so determinadas as variveis econmicas de maneira agregada. Estamos interessados em saber se o nvel de atividade tem crescido ou diminudo, se os preos tm crescido, por exemplo, de forma agregada. claro que a Microeconomia tambm analisa variveis agregadas, como o mercado de automveis, que inclui uma srie de tipos de automveis fabricados. Entretanto, a Macroeconomia faz agregaes absolutas, pois rene todos os tipos de bens produzidos.

    Se considerarmos uma economia fechada, ou seja, uma economia que no mantm relaes com outros pases, a Macroeconomia a observa como se ela fosse constituda por quatro mercados: o mercado de bens e servios; o mercado de trabalho; o mercado monetrio e de ttulos, e o mercado cambial.

    O mercado de bens e servios: renda e produto

    Essa uma viso simplificada do funcionamento da economia. Resta, ainda, responder a pergunta de como medir o seu desempenho. As atividades nos mercados de bens e de fatores so atividades contnuas, isto , esto sendo realizados todo o tempo. Para medirmos a atividade de uma economia, poderamos medir os valor dos produtos finais transacionados no mercado de bens durante um certo perodo de tempo. De maneira geral, consideramos o perodo de um ano. A escolha deste perodo como tempo de referncia arbitrria e poder-se-ia igualmente usar trimestres, meses ou mesmo horas. Entretanto, importante que tenhamos perodos de referncias homogneos, a fim de que possamos fazer comparaes com a atividade dessa economia em outras pocas e com outras economias.

    Por outro lado, assim como decidimos medir o desempenho da economia pelo valor das transaes realizadas no mercado de bens finais num perodo de um ano, poderamos tambm medir esse mesma atividade por meio do mercado de fatores. O total de pagamentos aos servios dos fatores de produo contratados pela empresa durante um ano serve tambm como medida de atividade dessa economia nesse perodo.

    Resumindo, poderamos definir de uma maneira mais formal os conceitos de produto e renda nacional. Chama-se produto nacional o valor monetrio de todos os bens finais produzidos na economia no perodo de um ano. Por outro lado, chama-se renda nacional o total de pagamentos feitos aos fatores de produo que foram utilizados para a obteno desse produto.

    Quando se mede o desempenho de uma economia relativo a renda do produto, o que se quer fazer avaliar o bem-estar atingido pela sociedade por meio da atividade econmica. Assim, costuma-se associar as taxas de crescimento do PIB, por exemplo, ao crescimento do bem-estar. Entretanto, a associao entre produto e bem-estar s pode ser feita dentro de consideraes muito estritas.

    necessrio, por exemplo, que os preos utilizados na avaliao de todos os bens finais sejam, de alguma forma, indicadores de um produto para o bem-estar. Se essa condio se verifica, o produto nacional, que medido pelo produto de todos os bens finais pelos seus respectivos preos, poderia ser considerado como uma medida de bem-estar. Isso porque, nesse caso, o produto nacional poderia ser interpretado como o produto das quantidades de todos os bens finais produzidos pelas suas correspondentes contribuies para o bem-estar.

    O PIB Produto Interno Bruto

    O PIB (Produto Interno Bruto) um dos principais indicadores de uma economia. Ele revela o valor de toda a riqueza gerada no pas.

    O clculo do PIB, no entanto, no to simples. Imagine que o IBGE queira calcular a riqueza gerada por um arteso. Ele cobra, por uma escultura, de madeira, R$ 30. No entanto, no esta a contribuio dele para o PIB. Para fazer a escultura, ele usou madeira e tinta. No o arteso, no entanto, que produz esses produtos, ele teve que adquiri-los da indstria. O preo de R$ 30 traz embutido os custos para adquirir as matrias-primas para seu trabalho. Assim, se a madeira e a tinta custaram R$ 20, a contribuio do arteso para o PIB foi de R$ 10, no de R$ 30. Os R$ 10 foram a riqueza gerada por ele ao transformar um pedao de madeira e um pouco de tinta em uma escultura.

    O IBGE precisa fazer esses clculos para toda a cadeia produtiva brasileira. Ou seja, ele precisa

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    excluir da produo total de cada setor as matrias-primas que ele adquiriu de outros setores.

    Depois de fazer esses clculos, o instituto soma a riqueza gerada por cada setor, chegando contribuio de cada um para a gerao de riqueza e, portanto, para o crescimento econmico.

    Desde a criao do Plano Real, quando passamos a ter estabilidade em nossa economia, o Brasil apresentou os seguintes dados quanto ao PIB:

    Ano PIB Tamanho do Crescimento

    Posio na Economia Mundial

    2012 R$ 4,403 trilhes1

    0,9% 73

    2011 R$ 4,143 trilhes4

    2,7% 6

    2010 R$ 3,675 trilhes5

    7,5% 7

    2009 R$ 3,143 trilhes6

    -0,2% 8

    2008 R$ 3,032 trilhes7

    5,2% 8

    2007 R$ 2,558 trilhes9

    5,4% 10

    2006 R$ 2,370 trilhes10

    3,8% 10

    2005 R$ 2,148 trilhes11

    2,9% 10

    2004 R$ 1,769 trilho12

    5,7% 13

    2003 R$ 1,556 trilho14

    0,5% 13

    2002 R$ 1,320 trilho15

    2,7% 13

    2001 R$ 1,184 trilho17

    1,4% 11

    2000 R$ 1,089 trilho19

    4,4% 10

    1999 R$ 1,011 trilho20

    0,3% 10

    1998 R$

    979,275 bilhes22

    -0,1% 8

    Ano PIB Tamanho do Crescimento

    Posio na Economia Mundial

    1997 R$

    865,552 bilhes23

    3,0% 8

    1996 R$

    752,439 bilhes24

    2,9% 8

    1995 R$

    731,162 bilhes25

    4,3% 8

    Fonte: Wikipedia

    05. Mercado de Trabalho

    Conceitos, definies e funcionamento

    Com o surgimento do sistema capitalista de produo e conseqente utilizao do trabalho assalariado em larga escala, emerge o mercado de trabalho como uma instituio fundamental ao funcionamento da economia. De uma forma bastante ampla, ele pode ser entendido como a compra e venda de servios de mo-de-obra, representando o locus onde trabalhadores e empresrios se confrontam e, dentro de um processo de negociaes coletivas que ocorrem algumas vezes com a interveno do Estado, determinam conjuntamente os nveis de salrios, o nvel de emprego, as condies de trabalho e os demais aspectos relativos s relaes entre capital e trabalho.

    O mercado de trabalho, assim definido, denomina-se mercado formal de trabalho, o qual contempla as relaes contratuais de trabalho, em grande parte determinadas pelas foras de mercado, ao mesmo tempo que so objeto de legislao especfica que as regula. Em contraposio, existe o chamado mercado informal de trabalho, em que prevalecem regras de funcionamento com um mnimo de interferncia governamental. Ainda que a dimenso do mercado informal possa ser relativamente grande, a dinmica da economia fornecida pelo setor formal, notadamente em um pas em desenvolvimento como o Brasil. Ademais, a prpria dimenso e o funcionamento do mercado informal so intrinsecamente ligados ao que ocorre

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    no ncleo capitalista de produo, no qual desponta o papel do mercado formal de trabalho.

    A importncia do mercado de trabalho pode ser observada de ticas variadas dentro da teoria econmica, na qual, do ponto de vista microeconmico, esse mercado constitui-se num caso particular da teoria dos preos, sendo imprescindvel na determinao dos nveis de salrios e emprego. J do ponto de vista macroeconmico, ele contribui para a compreenso da determinao do nvel de demanda agregada, do produto e do emprego, em que tem um papel fundamental ao lado dos mercados de bens e servios, monetrio e, tambm, de ttulos. Outro ponto de vista a ser observado diz respeito sua importncia socioeconmica, em que se formam inmeras variveis de profunda repercusso sobre o cotidiano dos trabalhadores, tais como salrios, desemprego, rotatividade, produtividade, alm de determinadas condies de trabalho e de subsistncia dos indivduos.

    Finalmente, convm salientar que a compreenso de aspectos pertinentes ao mercado de trabalho importante no Brasil medida que se relaciona com outros aspectos relevantes, como crescimento populacional, necessidade de absoro de mo-de-obra, migraes e pobreza. Alm disso, a experincia tem mostrado que, da tica puramente econmica, grande parte do ajuste da economia tem, historicamente, recado, no caso brasileiro, sobre o mercado de trabalho, com os trabalhadores penalizados na forma de quedas de salrio real, elevao do desemprego, aumento da misria e deteriorao das condies de trabalho.

    O mercado de trabalho no pode ser analisado isoladamente do contexto da economia. As modificaes das principais variveis que o determinam salrios, emprego, desemprego, rotatividade e produtividade so condicionados pelo nvel e pela flutuao da atividade econmica. Isso verdade tanto em curto prazo, durante o chamado ciclo de conjuntura, quanto numa perspectiva de longo prazo, em que os principais fatores condicionantes das variveis acima mencionadas so o nvel e o ritmo de desenvolvimento econmico do pas.

    Como regra geral, em perodos longos, o crescimento econmico conduz ao crescimento dos principais indicadores do mercado de trabalho. Os salrios reais sobem, pois, com o crescimento, mais bens so colocados disposio da coletividade, assim como o nvel de produtividade do trabalho maior. Nenhuma inferncia, contudo, pode ser

    extrada com relao distribuio de renda. O emprego cresce porque se ampliam as oportunidades de trabalho, seja pelo surgimento de novas ocupaes, seja pelo aumento de novas vagas em firma j instalada. A produtividade cresce pois, em geral, utiliza maior quantidade de capital ou instrumentos de trabalho tecnologicamente mais avanados, por unidade de trabalho. Alm disso, os trabalhadores educam-se e treinam-se, tornando-se mais eficientes. A rotatividade cresce porque, com a ampliao das oportunidades de emprego, os trabalhadores tm maiores chances de mobilidade ocupacional e/ou entre firmas, ou mesmo buscam maior salrio na mesma ocupao.

    Observando-se agora o mercado de trabalho no curto prazo, em que os ciclos de expanso e recesso se sucedem com maior rapidez, os indicadores mencionados refletem esse fenmeno cclico. Assim, durante o ciclo de expanso sobem salrio real, emprego, produtividade. Na recesso ocorre o movimento oposto. certo, porm, que existem defasagens, isto , por breves perodos, a produo pode estar caindo, e o salrio real ou a produtividade, crescendo, ou, ento, o emprego caindo e o produto crescendo, devido atualizao mais intensa da mo-de-obra. Mas a tendncia geral desse mercado acompanhar o ciclo econmico.

    O desemprego

    Desemprego a medida da parcela da fora de trabalho disponvel que se encontra sem emprego. Esse fenmeno social observado principalmente em pases subdesenvolvidos cujas economias no conseguem suprir o crescimento populacional. Um agravante a crescente mecanizao e informatizao dos processos de trabalho, excluindo cargos que antes eram desempenhados por pessoas e agora o so por mquinas. No Brasil, o desemprego possui um outro agravante, que a migrao de pessoas de uma regio a outra em busca de oportunidades de trabalho. Isso se observa-se das regies Nordeste para a Sudeste e do interior para as capitais nas regies Centro-Oeste e Norte.

    Os dados quanto ao desemprego so preocupantes. O Brasil na dcada de 80 no apresentava tanto desemprego quanto hoje. Eram apenas 1 milho de desempregados. Hoje, o pas possui cerca de 11 milhes e 454 mil desempregados,

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    concentrando cerca de 7% do desemprego mundial. Veja os dados mundiais:

    PAS No DE DESEMPREGADOS

    ndia 41.344.000 Brasil 11.454.000 Rssia 7.395.000 China 5.950.000 Indonsia 5.872.000 EUA 5.655.000 Alemanha 3.685.000 Japo 3.200.000

    Mundo 164.400.000

    Existem os seguintes tipos de desemprego:

    Desemprego friccional: resulta da mobilidade da mo-de-obra. Ocorre quando um ou mais indivduos se desempregam de um trabalho para procurar outro. Tambm poder ocorrer quando se atravessa um perodo de transio, de um trabalho para outro, dentro da mesma rea (exemplo: construo civil).

    Desemprego estrutural: resulta das mudanas da estrutura da economia. Estas provocam desajustamentos no emprego da mo-de-obra, assim como alteraes na composio da economia associada ao desenvolvimento. Existem duas causas para este tipo de desemprego: insuficincia da procura de bens e de servios e insuficincia de investimento em torno da combinao de fatores produtivos desfavoravis. Esse tipo de desemprego mais comum em pases desenvolvidos devido grande mecanizao das indstrias, reduzindo os postos de trabalho. O desemprego causado pelas novas tecnologias, como a robtica e a informtica, recebe o nome de desemprego estrutural. Ele no resultado de uma crise econmica, e sim das novas formas de organizao do trabalho e da produo.Tanto nos pases ricos quanto os pobres so afetados pelo desemprego estrutural, um dos mais graves problemas de nossos dias.

    Desemprego conjuntural: existem duas formas de designar o desemprego conjuntural, sendo que ambas esto corretas: desemprego cclico ou conjuntural. O cclico resulta da variao cclica da vida econmica, isto , das pocas de expanso ou "boom" e das pocas de recesso da economia. Existe uma tendncia secular de variaes sazonais ou cclicas que tm uma durao de 3 anos. O conjuntural aquele em que a demisso ocasionada, na maioria das vezes, por crises passageiras. Portanto a demisso

    temporria, uma vez que, superada a crise, o emprego novamente ofertado.

    O subemprego

    Subemprego uma situao econmica localizada entre o emprego e o desemprego. Ocorre normalmente quando a pessoa no tem recursos ou condies para se manter parada enquanto procura emprego e vai para uma atividade da economia informal (por exemplo, a de camel ou a de catador de papel) em funo da necessidade de sobrevivncia.

    Tal situao, que deveria ser temporria, transforma-se em definitiva quando o trabalhador no consegue mais voltar economia formal (com o recebimento de salrio, carteira assinada, etc.) e transforma o subemprego em modo de vida.

    Os trabalhadores em situao de subemprego no podem pagar a Previdncia Social, nem possuem direitos trabalhistas.

    Distribuio de renda no Brasil

    O crescimento econmico constitui um processo por meio do qual a renda per capita de uma determinada sociedade se eleva persistentemente. Acompanhando este crescimento, ocorrem transformaes estruturais quantitativas e qualitativas. Dentre essas, destacam-se: diminuio nas taxas brutas de natalidade e de mortalidade, que alteram a estrutura etria da populao e da fora de trabalho; ampliao do sistema escolar e de sade; maior acesso aos meios de transportes, de comunicao e culturais; urbanizao das atividades econmicas e da fora de trabalho em detrimento do setor primrio e a favor das atividades de servio; maior integrao com as mais importantes economias mundiais; e aumento da produtividade mdia da economia nos diferentes setores da atividade econmica, liderada pelo setor industrial.

    O desenvolvimento econmico e humano, por sua vez, pressupe que, paralelamente ao primeiro processo, a maior parte da populao dessa sociedade seja a principal beneficiria das mudanas em andamento. Entende-se que, ao longo do tempo, para a maior parte da populao, devam ocorrer melhorias no padro de vida material, nas condies de sade, maior tempo de vida, ampliao no exerccio da cidadania, e maiores oportunidades de

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    aperfeioamento pessoal. Assim, estudos sobre a evoluo da distribuio da renda e de outros indicadores sociais so importantes para detectar se de fato o crescimento econmico est atingindo esses objetivos.

    No caso brasileiro, essas mudanas tambm se fizeram sentir, principalmente aps a dcada de 1950, em que o pas, assim como outros denominados em desenvolvimento, ingressou em um processo de crescimento econmico acelerado, sob a liderana do setor industrial. No entanto, ao contrrio, de outros pases, mormente do leste asitico, que tambm cresceram de forma acelerada, a evoluo dos indicadores sociais apresentou resultados insatisfatrios.

    Especificamente com relao distribuio de renda familiar, relatrios do Banco Mundial mostram que, no fim da dcada de 1990, entre 137 pases, em apenas 7 as famlias 10% mais ricas possuem mais do que 46% da renda total. No Brasil, esse percentual de cerca de 48%, o mais elevado entre frica do Sul, Chile, Colmbia, Guatemala, Repblica Centro-Africana e Zimbbue. Entre os pases mais industrializados da OCDE, o denominado Grupo dos 7, por exemplo, esse indicador tem um valor entre 27,3% no Reno Unido e 21,7% no Japo. No Brasil, a renda das famlias 10% mais ricas cerca de 19 vezes maior do que a renda das famlias 20% mais pobres, indicador que demonstra o nvel de desigualdade exacerbada em relao aos demais pases, mesmo aqueles da Amrica Latina.

    Evidentemente, essas informaes devem ser analisadas com cautela, visto os problemas metodolgicos envolvidos na comparao de estatsticas entre pases. No existem dvidas, contudo, de que o Brasil apresenta um perfil distributivo da renda extremamente desigual, entre os piores do mundo, sendo notado no cenrio internacional do ltimo sculo como um paradigma da simultaneidade entre paz poltica e iniqidade.

    Segundo o Instituto de Pesquisa Econmica Aplicada (IPEA), o Brasil tem a 2a pior distribuio de renda do mundo. Apesar dos avanos nos ltimos anos em reas como educao e combate pobreza, o Brasil continua a ter uma das piores distribuies de renda do mundo, perdendo apenas para Serra Leoa, na frica. O instituto, ligado ao Ministrio do Planejamento, apontou que, em 2003, 1% dos brasileiros mais ricos detinham uma renda equivalente aos ganhos dos 50%. No mesmo perodo, cerca de um tero da populao, ou 53,9 milhes de

    pessoas, foi considerada pobre, em critrio que inclui todos os que viviam com renda familiar per capita de at meio salrio mnimo (R$ 120 na ocasio).

    O IPEA indicou que, para avanar no combate desigualdade, preciso alcanar um nvel de crescimento econmico e um modelo de desenvolvimento que viabilizem a insero da populao no mercado de trabalho, alm das aes sociais. "Pode-se dizer que os maiores desafios das polticas pblicas hoje so a gerao de oportunidades de trabalho, a reduo da informalidade e a melhoria da renda real do trabalhador."

    ndice de Desenvolvimento Humano - IDH

    O ndice de Desenvolvimento Humano (IDH) uma medida comparativa de riqueza, alfabetizao, educao, esperana de vida, natalidade e outros fatores para os diversos pases do mundo. uma maneira padronizada de avaliao e medida do bem-estar de uma populao, especialmente bem-estar infantil. O ndice foi desenvolvido em 1990 pelo economista paquistans Mahbub ul Haq, e vem sendo usado desde 1993 pelo Programa das Naes Unidas para o Desenvolvimento em seu relatrio anual.

    Todo ano, os pases membros da ONU so classificados de acordo com essas medidas. Os pases com uma classificao elevada freqentemente divulgam a informao, a fim de atrair imigrantes qualificados ou desencorajar a emigrao.

    So adotados os seguintes critrios de avaliao:

    Educao: Para avaliar a dimenso da educao o clculo do IDH considera dois indicadores. O primeiro a taxa de alfabetizao, considerando o percentual de pessoas acima de 15 anos de idade; esse indicador tem peso dois. O Ministrio da Educao (Brasil) indica que, se a criana no se atrasar na escola, ela termina o principal ciclo de estudos (Ensino Fundamental) aos 14 anos de idade. Por isso a medio do analfabetismo se d a partir dos 15 anos. O segundo indicador o somatrio das pessoas, independentemente da idade, que freqentam algum curso, seja ele fundamental, mdio ou superior, dividido pelo total de pessoas entre 7 e 22 anos da

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    localidade. Tambm entram na contagem os alunos supletivos, de classes de acelerao e de ps-graduao universitria, nesta rea tambm est incluido o sistema de equivalncias Rvcc ou Crvcc, apenas classes especiais de alfabetizao so descartadas para efeito do clculo.

    Longevidade: O item longevidade avalidado considerando a esperana de vida ao nascer, que vlida tanto para o IDH municipal quanto para o IDH de pases. Esse indicador mostra a quantidade de anos que uma pessoa nascida em uma localidade, em um ano de referncia, deve viver. Ocultamente, h uma sintetizao das condies de sade e de salubridade no local, j que a expectativa de vida diretamente proporcional e diretamente relacionada ao nmero de mortes precoces.

    Renda: A renda calculada tendo como base o PIB per capita do pas ou municpio. Como existem diferenas entre o custo de vida de um pas para o outro, a renda medida pelo IDH em dlar PPC (Paridade do Poder de Compra), que elimina essas diferenas.

    Para calcular o IDH de uma localidade, faz-se a seguinte mdia aritmtica:

    (onde L = Longevidade, E = Educao e R = Renda)

    nota: pode-se utilizar tambm a renda per capita (ou PNB per capita).

    LEGENDA: EV = Expectativa de vida; TA = Taxa de Alfabetizao;

    TE = Taxa de Escolarizao; log10PIBpc = logaritmo decimal do PIB per capita.

    O ndice varia de zero (nenhum desenvolvimento humano) at 1 (desenvolvimento humano total), sendo os pases classificados deste modo:

    Quando o IDH de um pas est entre 0 e 0,499, considerado baixo.

    Quando o IDH de um pas est entre 0,500 e 0,799, considerado mdio.

    Quando o IDH de um pas est entre 0,800 e 1, considerado alto.

    O pas de melhor IDH (2006) a Noruega (0,965), seguida da Islndia (0,960), Austrlia (0,957), Irlanda (0,956), Sucia (0,951), Canad (0,950), Japo (0,949), Estados Unidos (0,948), Suca (