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Nas ruas e urnas contra o imperialismo LEONARDO WEXELL SEVERO Caminhos da integração bolívia

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Bolívia nas ruas e urnas contra o imperialismo

Nas ruas e urnas

contra o imperialismo

LEONARDO WEXELL SEVERO

Caminhos da integração

bolívia

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Bolívia nas ruas e urnas contra o imperialismo

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Bolívia nas ruas e urnas contra o imperialismo

Leonardo Wexell Severo

Bolívia nas ruas e urnas

contra o imperialismo

2ª edição

São Paulo2008

Editora Limiar

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Bolívia nas ruas e urnas contra o imperialismo

Este livro é uma produção daEditora Limiarwww.editoralimiar.com.brTelefone: 011 38130309

Capa e fotos:Capa e fotos:Capa e fotos:Capa e fotos:Capa e fotos:Leonardo Wexell Severo* As demais fotografias encontram-se identificadas.

Revisão:Revisão:Revisão:Revisão:Revisão:Claudionor Damasceno, Monica Fonseca Severo e Valdo Albuquerque

Primeira edição - agosto de 2008Segunda edição - outubro de 2008

Severo, Leonardo WexellBolívia nas ruas e urnas contra o imperialismo/ Leonardo Wexell

Severo - Editora Limiar. -- 2. ed. -- São Paulo: Limiar, 2008.

1. Bolívia - História 2. Bolívia - Política e governo 3. Conflitosocial - Bolívia 4. Livro-reportagem 5. Movimentos sociais - Bolívia6. Relações trabalhistas - América do Sul

I. Título.

08-07373 CDD-070.449320984

Dados Internacionais de Catalogação de Publicação (CIP)Dados Internacionais de Catalogação de Publicação (CIP)Dados Internacionais de Catalogação de Publicação (CIP)Dados Internacionais de Catalogação de Publicação (CIP)Dados Internacionais de Catalogação de Publicação (CIP)Câmara BCâmara BCâmara BCâmara BCâmara Brasileira do Livrrasileira do Livrrasileira do Livrrasileira do Livrrasileira do Livro, SPo, SPo, SPo, SPo, SP, B, B, B, B, Brasilrasilrasilrasilrasil

Índices para catálogo sistemático:Índices para catálogo sistemático:Índices para catálogo sistemático:Índices para catálogo sistemático:Índices para catálogo sistemático:

1. Bolívia : Política e governo : Jornalismopolítico 070.449320984

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Bolívia nas ruas e urnas contra o imperialismo

Aos meus pais, Alcione e Vilácia Cristina, pelo amor e caráter;À minha companheira Monica, pelo carinho, calor e perseverança;Aos meus irmãos Leandro e Luciano, manos de luta e de sonhos;Aos meus filhos, Mateus e Rebeca, pela felicidade e esperança.

DedicatóriaDedicatóriaDedicatóriaDedicatóriaDedicatóriaDedicatóriaDedicatóriaDedicatóriaDedicatóriaDedicatória

Ao Waldemar Pires de Oliveira, pelo companheirismo e o incentivo, sem oqual este livro-reportagem não passaria de mais um projeto;

Ao Valdo Albuquerque e ao Claudionor Damasceno, pelo super apoio;À Rosane Bertotti, pela parceria construída nas batalhas;

Ao Carlos Lopes e à combativa e aguerrida redação do HP;À Paula Brandão, ao Isaías Dalle e à equipe incansável da Secom/CUT;

Ao Epitácio Luiz Epaminondas (Luizão), pela alegria e generosidade;Ao Marcão Tresmondi e a Mirtes, pela cumplicidade infinita;Ao Antonio Carlos Spis, pela efervescente fábrica de idéias;

Ao Siderlei de Oliveira, pelo humor e gauderiadas;Ao Rafael Freire, pela confiança e reconhecimento;

Ao João Franzin e ao Robson Gil Gazzola, pela solidariedade;Ao Nilson Araújo de Souza, pelo amparo na dificuldade;

Ao inestimável socorro, expresso na camaradagem de Adeilson Telles,Antonio de Sousa Ramalho, Ariovaldo de Camargo,

Carlos Alberto de Oliveira, Carlos Ramiro de Castro, Edilson de Paula,João Antônio de Moraes, José Lopez Feijóo, José Genivaldo da Silva,

Maria Izabel Azevedo Noronha (Bebel), Norian Segatto,Roberto Franklin de Leão, Valter Endres e Vagner Freitas;

Ao João Antonio Felício, amigo leal, de todas as horas;Ao Sérgio Rubens de Araújo Torres, exemplo maior de humildade,

doação e compromisso com o povo brasileiro e a Humanidade;À irmandade entre o povo brasileiro e boliviano que, ao escreverem com

sangue e glória sua história, embalam nossos sonhos e esperanças,refletidos em crenças e uma infinita vontade de viver a vida - e contá-la.

AAAAAgrgrgrgrgradecimentoadecimentoadecimentoadecimentoadecimentoAAAAAgrgrgrgrgradecimentoadecimentoadecimentoadecimentoadecimento

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Bolívia nas ruas e urnas contra o imperialismo

“... Os levantes populares destes últimos anos foram crivados a balaços,porém evitaram que o gás se evaporasse em mãos alheias,

desprivatizaram a água em Cochabamba e La Paz, derrubaramgovernos governados desde fora, e disseram não ao imposto sobre o

salário e outras sábias ordens do Fundo Monetário Internacional.

Desde o ponto de vista dos meios civilizados de Comunicação, estasexplosões de dignidade popular foram atos de barbárie. Mil vezes eu o

vi, li, escutei: a Bolívia é um país incompreensível, ingovernável,intratável, inviável. Os jornalistas que o dizem e repetem equivocam-

se: deveriam confessar que a Bolívia é, para eles, um país invisível.

Isso nada tem de raro. Esta cegueira não é somente um mau costume deestrangeiros arrogantes. A Bolívia nasceu cega de si, porque o racismo

joga teias de aranhas nos olhos e, por certo, não faltam bolivianospreferindo ver-se com os olhos que os desprezam.

Porém, por algo será que a bandeira indígena dos Andes rende home-nagem à diversidade do mundo. Segundo a tradição, é uma bandeiranascida do encontro do arco-íris fêmea com o arco-íris macho. E este

arco-íris da terra, que em língua nativa se chama tecido de sangue quetremula, tem mais cores que o arco-íris do céu.”

Eduardo Galeano, A segunda fundação da Bolívia

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Contra o referendo divisionista e ilegal, pela unidade da nação - 1313131313Em defesa do povo e do governo bolivianos -1515151515

EUA e oligarquia derrotados no primeiro plebiscito para dividir a Bolívia - 1717171717Tarija: fraude e abusos no referendo fora-da-lei - 2626262626

“O povo deu a resposta certa aos separatistas”- 3131313131Bolivianos celebram união contra sanha entreguista - 3535353535

Evo: “Temos uma nação e ela não pode ser dividida” - 3838383838“Oligarquia quer a autonomia para manter seus privilégios”- 4141414141

“Nacionalização garante soberania à Bolívia e dignidade a seu povo” - 4949494949Solidariedade é chave para isolar o fascismo golpista - 5151515151

“Mídia é instrumento do império contra a soberania e a integração” - 5858585858De Meia Lua a quarto minguante - 6464646464O Mapa do Referendo Revogatório - 6868686868

Bolívia, Evo e a Constituição contra o obscurantismo fascista - 6969696969Governo boliviano retoma instituições públicas- 8383838383

Enquanto isso, no Comitê ‘Cívico’... - 9090909090Direita boliviana circula com suástica nazista em Santa Cruz - 9191919191

A história é um carro alegre - 106106106106106

índice

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Bolívia nas ruas e urnas contra o imperialismo

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Bolívia nas ruas e urnas contra o imperialismo

OOOOOpresente livro traz uma compilação de matérias e entrevis-tas, de autoria do companheiro Leonardo Wexell Severo,fruto de reportagens recentes realizadas na Bolívia, nas ci-

dades de Tarija e La Paz, publicadas originalmenteno nosso PPPPPororororortal do Mtal do Mtal do Mtal do Mtal do Mundo do undo do undo do undo do undo do TTTTTrabalhorabalhorabalhorabalhorabalho, no jor-nal Hora do Povo e no Portal Vermelho.

Os textos, colhidos no calor dos acontecimen-tos, representam importante contribuição para quese possa avaliar a riqueza do processo em curso nessepaís irmão, reforçando a necessidade de ampliar-mos a mobilização em solidariedade ao povo e aogoverno bolivianos. Afinal, os que hoje se alinhampela fragmentação da Bolívia são os mesmos de sem-pre: estiveram por trás da derrubada de SalvadorAllende, no Chile; do locaute e do golpe de Estado contra HugoChávez, na Venezuela; das armações contra a candidatura de FernandoLugo, no Paraguai. E, em nosso país, foram os que estimularam, finan-ciaram e deram sustentação à ditadura militar.

Ao mesmo tempo em que informa, o livro expõe até onde chega amanipulação e a deformação dos grandes meios de comunicação demassa, que tentam condenar à invisibilidade ações que buscam resti-tuir dignidade aos indígenas e camponeses, as grandes maiorias histo-ricamente privadas de direitos por uma elite antinacional, sempreacoelhada e submissa ao estrangeiro. No caso do Brasil, chega a serestarrecedor o silêncio da chamada grande imprensa frente à açãodesses movimentos separatistas. Infelizmente, aqui como lá, o figurinoque vestem é antigo e tem por pano de fundo séculos de colonialismoe neocolonialismo, de submissão política, ideológica e cultural.

João Antonio FelícioJoão Antonio FelícioJoão Antonio FelícioJoão Antonio FelícioJoão Antonio Felício

solidariedade militante

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Bolívia nas ruas e urnas contra o imperialismo reafirma o compro-misso com a integração latino-americana, com a luta pela soberania,com a independência e o desenvolvimento, com a justiça e os direitosdos povos à sua auto-determinação, livres das amarras do Departa-mento de Estado norte-americano, de patrões nacionais ou estrangei-ros. Acima de tudo, o livro é uma exortação coletiva de homens e mu-lheres, para que, com verdadeira liberdade e autonomia, sejamos cons-trutores de um novo amanhecer para a nossa América.

Boa leitura.

João Antonio Felício,Secretário de Relações Internacionais da CUT

São Paulo, agosto de 2008

Presidentes Lula, Evo Morales e Hugo Chávez: integração ganha forçaPresidentes Lula, Evo Morales e Hugo Chávez: integração ganha forçaPresidentes Lula, Evo Morales e Hugo Chávez: integração ganha forçaPresidentes Lula, Evo Morales e Hugo Chávez: integração ganha forçaPresidentes Lula, Evo Morales e Hugo Chávez: integração ganha força

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Bolívia nas ruas e urnas contra o imperialismo

BBBBBolívia nas ruas e urnas contra o imperialismo é um livro que, deforma muito honesta e franca, descreve acontecimentos do pro-cesso de lutas e transformações do movimento indígena-popu-

lar iniciado no ano 2000 com a guerra da água emCochabamba, dando a conhecer conteúdos e “sis-temas de crenças” que o sustentam na prática. Otexto aborda a concepção pública e coletiva dos re-cursos naturais e a necessidade de que estes “benssociais e estratégicos” sejam geridos em benefício dasmaiorias; a Assembléia Constituinte como espaçorefundacional e mecanismo de incorporação e re-conhecimento dos povos e nações historicamenteexcluídos, marginalizados, praticamente invisibiliza-dos – assim como suas formas de organização, siste-mas deliberativos, autoridades próprias e práticas culturais; a reversão eerradicação de políticas econômicas neoliberais, entre outros avanços.

Também relata acontecimentos relacionados à violência empreen-dida ao longo de 2008 pelo movimento “cívico” empresarial e suastropas de choque - arregimentadas em resposta à mudança nas rela-ções de poder político e econômico, onde perderam privilégios - emalgumas regiões do país, com a perseguição de lideranças sociais, inti-midação a seus familiares, atentados a suas residências ou fontes detrabalho, destruição de sedes das organizações sociais indígenas, assal-to de instituições públicas e o mais alarmante e corolário da violênciadesesperada e racista desatada em El Porvenir: o massacre de campo-neses que resultou na morte de 16 pessoas.

O texto ressalta e descreve acertadamente - como o nome do livroassinala - os dois meios e estratégias de luta concebidos e utilizados porestes atores sociais e políticos “subalternos” ao longo dos últimos oito

contraponto honesto e franco

aos deformadores de opinião

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Shirley Orozco, ConsulesaShirley Orozco, ConsulesaShirley Orozco, ConsulesaShirley Orozco, ConsulesaShirley Orozco, ConsulesaGeral da BolíviaGeral da BolíviaGeral da BolíviaGeral da BolíviaGeral da Bolívia

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anos, de maneira intermitente e combinada: ações coletivas - históri-cas marchas, manifestações, cercos, bloqueios - e batalhas na arenaeleitoral. Ações que lhes têm possibilitado avançar em suas lutas emum marco democrático, o qual, cabe ressaltar, permite irradiar e con-tar com o apoio, a legitimidade e a solidariedade de organismos inter-nacionais e supranacionais, governos, partidos, movimentos sociais epopulares, etc.

Uma melhor apreciação e valorização da riqueza do processo emcurso se deve à aproximação do autor, Leonardo Wexell Severo, que sedeslocou até Tarija, La Paz e Santa Cruz em três momentos chaves daconfrontação política. Ali, realizou entrevistas com atores sociais deci-sivos, visitou os locais de conflito e acompanhou de perto o desenrolardos acontecimentos.

O valor do texto também precisa ser ressaltado, já que possibilita oacesso a “outra informação”, dando subsídios para uma avaliação maisprecisa sobre a realidade boliviana, geralmente invisibilizada pelos meiosde comunicação no Brasil, formadores ou deformadores importantesda opinião pública. Uma mídia que, majoritariamente, aborda a pro-blemática política e social de maneira míope, parcial, distanciada dequalquer objetividade e assumindo uma posição evidentemente con-trária aos interesses nacionais, afrontando à maioria do país.

Finalmente, o presente texto também inclui vozes de sindicalistasda CUT que, como muitos outros coletivos e organizações sociais epolíticas no Brasil, manifestam e fazem chegar diariamente até nossaMissão no Rio de Janeiro o seu respeito, apoio e solidariedade ao povoboliviano, que luta por seus direitos, assume sua dignidade, clama porigualdade e exige soberania.

Shirley Orozco Ramírez,Consulesa Geral da Bolívia no Rio de Janeiro

Rio de Janeiro, outubro de 2008

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Bolívia nas ruas e urnas contra o imperialismo

EEEEEu quero que o mundo inteiro saiba que há uma conspiraçãocontra minha pessoa, encabeçada pelo embaixador dos Esta-dos Unidos, Philip Goldberg”,

denunciou o presidente Evo Morales,diante das ações separatistas da oligar-quia. Conforme Evo, o governo norte-americano “tenta repetir no país o quefizeram no Kosovo”.

Condenando essa ação divisionista e fla-grantemente ilegal, a Central Única dosTrabalhadores do Brasil manifestou soli-dariedade à Bolívia e seu povo frente àsameaças da direita de realizar um referen-dum com vistas a promover a secessão do país. Abaixo, publicamos omanifesto assinado pelo presidente da CUT, Artur Henrique, e pelosecretário de Relações Internacionais, João Felício, em defesa da unida-de e da soberania nacional.

CUT manifesta solidariedade à Bolívia e seu povoCUT manifesta solidariedade à Bolívia e seu povoCUT manifesta solidariedade à Bolívia e seu povoCUT manifesta solidariedade à Bolívia e seu povoCUT manifesta solidariedade à Bolívia e seu povofrente às ameaças da oligarquia e da direitafrente às ameaças da oligarquia e da direitafrente às ameaças da oligarquia e da direitafrente às ameaças da oligarquia e da direitafrente às ameaças da oligarquia e da direita

Está convocado pelo governo do Departamento de Santa Cruz (Es-tado da parte Oriental da Bolívia) para o próximo 4 de maio um refe-rendum com vistas a aprovar a ‘autonomia’ (verdadeira separação nostermos em que está proposta) dessa região em relação ao restante dopaís. Trata-se de uma flagrante violação das leis, impulsionada peloevidente interesse das oligarquias dessa região de se apropriarindevidamente de riquezas naturais que são do povo boliviano.

contra o referendo divisionista e ilegal,

pela unidade da nação

Artur Henrique, presidenteArtur Henrique, presidenteArtur Henrique, presidenteArtur Henrique, presidenteArtur Henrique, presidentenacional da CUTnacional da CUTnacional da CUTnacional da CUTnacional da CUT

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Bolívia nas ruas e urnas contra o imperialismo

Publicado no Portal do Mundo do Trabalho - www.cut.org.br

O referendum é ilegal porque se trata de uma figura jurídicainexistente na atual legislação boliviana e porque a proposta de ‘Esta-tuto de Departamento Autônomo’, que pretende aprovar, foi elabo-rado em menos de 48 horas em uma reunião de pessoas não eleitaspor ninguém para tal fim - apenas convocadas pelo governo local - esem nenhuma consulta à população da região e do país.

Por detrás dessa proposta está a intenção das oligarquias que gover-nam esse departamento de evitar que as reformas progressistas que vêmsendo impulsionadas pelo governo Evo Morales, com apoio majoritáriodos movimentos sociais e populares, tenham vigência em seu território.Querem impedir a reforma agrária e os programas sociais de alfabetiza-ção e de distribuição de renda que já beneficiam os marginalizados.

Querem fazer recuar as políticas de nacionalização dos recursosnaturais que têm servido para que uma parte maior da renda do gás edos minérios seja arrecadada pelo governo central para as políticassociais; querem que essa renda volte às mãos das oligarquias como foinas últimas décadas neoliberais antes do governo Evo. Ao mesmo tem-po em que querem uma ‘autonomia’ para as oligarquias, tentam impe-dir o reconhecimento - impulsionado pelo governo Evo - do direitodas comunidades indígenas nessa região a se desenvolverem de formaautônoma, com suas próprias regras tradicionais.

A CUT, representando mais de sete milhões de trabalhadores etrabalhadoras afiliados em seus sindicatos de base, manifesta sua soli-dariedade ao povo boliviano em sua luta de resistência frente a maisesta agressão da oligarquia e da direita desse país.

Em defesa da integridade territorial da Bolívia!Em defesa das conquistas sociais do povo boliviano!Em defesa da união dos países da América Latina!Não ao referendum oligárquico de 4 de maio!

São Paulo, 17 de abril de 2008.

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Bolívia nas ruas e urnas contra o imperialismo

RRRRReunida na sede nacional da CUT, em São Paulo, no dia 5 dejunho de 2008, a Coordenação dos Movimentos Sociais(CMS) aprovou documento em defesa do povo e do governo

bolivianos, que vêm sendo vítimas no último período de uma campa-nha movida por grandes latifundiários e testas-de-ferro dastransnacionais empenhados na divisão do país. Pela sua importância eatualidade, reproduzimos a nota abaixo, na íntegra.

Contra a ingerência norte-americanaContra a ingerência norte-americanaContra a ingerência norte-americanaContra a ingerência norte-americanaContra a ingerência norte-americana

A Coordenação dos Movimentos Sociais (CMS) vem a público ma-nifestar a sua mais ampla e irrestrita solidariedade ao povo e ao gover-no bolivianos contra a ingerência do governo norte-americano, queestimula e financia a tentativa de divisão do país.

A conspiração foi denunciada e fartamente documentada pelo presi-dente Evo Morales, que alertou sobre as ações ilegais do embaixadornorte-americano na Bolívia, Philip Goldberg, o mesmo agente que

em defesa do povo e

do governo bolivianos

LLLLLideriderideriderideranças da Cooranças da Cooranças da Cooranças da Cooranças da Coordenação dos Mdenação dos Mdenação dos Mdenação dos Mdenação dos Mooooovimentos Sociais (CMS): CUTvimentos Sociais (CMS): CUTvimentos Sociais (CMS): CUTvimentos Sociais (CMS): CUTvimentos Sociais (CMS): CUT, MST, MST, MST, MST, MST, UNE, UBES,, UNE, UBES,, UNE, UBES,, UNE, UBES,, UNE, UBES,Unegro, CGTB, CTB e Marcha Mundial de Mulheres manifestam solidariedadeUnegro, CGTB, CTB e Marcha Mundial de Mulheres manifestam solidariedadeUnegro, CGTB, CTB e Marcha Mundial de Mulheres manifestam solidariedadeUnegro, CGTB, CTB e Marcha Mundial de Mulheres manifestam solidariedadeUnegro, CGTB, CTB e Marcha Mundial de Mulheres manifestam solidariedade

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Bolívia nas ruas e urnas contra o imperialismo

atuou em Kosovo, na secessão da ex-província Sérvia. O próprio fun-cionário da segurança da embaixada dos EUA, Vincent Cooper, foiconsiderado persona non grata no país, após ter utilizado estudantesem perseguições e espionagens para os norte-americanos.

Frente aos inegáveis avanços sociais obtidos com o governo populare democrático de Evo Morales, grupos fascistas e mercenários - a soldodos grandes latifundiários que resistem à reforma agrária - e testas-de-ferro das transnacionais, contrárias à retomada do patrimônio públicopelo Estado, buscam fazer a roda da história girar para trás.

Ao erguer a bandeira do separatismo em Santa Cruz, Beni, Pandoe Tarija, a pretexto das chamadas autonomias departamentais, a direi-ta boliviana, em sintonia com o governo dos EUA, investe no enfra-quecimento da nação, na ânsia de conter mudanças que põem emxeque seu histórico, retrógrado e excludente domínio.

Nos manifestamos em favor da soberania nacional e da auto-deter-minação dos povos e denunciamos mais esta intervenção imperialistacontra a integração latino-americana, agressão também materializadano Continente pelo Plano Colômbia e pelos constantes ataques às con-quistas democráticas na Venezuela. Nos posicionamos contra osreferendos ilegais e inconstitucionais desses quatro departamentos queconstituem a chamada Meia Lua na porção oriental da Bolívia. O se-paratismo empunhado pelos ‘autonomistas’ é a bandeira dos golpistas,que preferem transformar seu país em protetorado estrangeiro do queperder seus privilégios econômicos e sociais para beneficiar a maioriaexplorada e oprimida de seu próprio povo.

Neste momento de decisão, onde a ‘diplomacia’ do dólar e dosmariners tenta implantar um enclave no Cone Sul, somamos nossaforça e nossa voz em defesa do mandato popular do presidente EvoMorales e contra a política separatista das oligarquias.

Unidade, solidariedade e mobilização. Venceremos!

Publicado no Portal do Mundo do Trabalho e no jornal Hora do Povo.www.horadopovo.com.br

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Bolívia nas ruas e urnas contra o imperialismo

RRRRRecém-chegado da Bo-lívia, onde esteve de 1ºa 6 de maio em La Paz

e El Alto, representando a exe-cutiva nacional da CUT emmissão de solidariedade, JúlioTurra faz um relato sobre o queviu no país vizinho. Júlio contasobre o imenso respaldo popu-lar às recentes nacionalizaçõesdas empresas de telefonia, pe-tróleo e gás; analisa as repercus-sões do ‘pacote’ trabalhista, que amplia direitos e assegura o mandatosindical; e denuncia a tentativa da oligarquia boliviana, submissa aocapital multinacional, de transformar o país em outro Kosovo - com oapoio e financiamento do governo norte-americano. Sublinhando anecessidade da solidariedade internacional para fazer frente à inge-rência, Júlio resgata o papel dos movimentos sociais brasileiros paraimpedir que a onda ‘autonomista’ sirva de biombo à ação do imperialis-mo contra o avanço da democracia no continente.

O que pensam os bolivianos neste momento de intensa luta políti-O que pensam os bolivianos neste momento de intensa luta políti-O que pensam os bolivianos neste momento de intensa luta políti-O que pensam os bolivianos neste momento de intensa luta políti-O que pensam os bolivianos neste momento de intensa luta políti-ca e mobilização?ca e mobilização?ca e mobilização?ca e mobilização?ca e mobilização?

Júlio Turra - Estive na Bolívia, em La Paz, desde o dia 1º de Maio,quando tomei a palavra em nome da CUT no ato realizado pela COB(Central Operária Boliviana), onde expressei a solidariedade à luta

eua e oligarquia derrotados no primeiro

plebiscito para dividir a bolívia

JJJJJúlio úlio úlio úlio úlio TTTTTurrurrurrurrurra mostra mostra mostra mostra mostra anúncio que o goa anúncio que o goa anúncio que o goa anúncio que o goa anúncio que o govvvvvererererernononononoteve de pagar para informar a populaçãoteve de pagar para informar a populaçãoteve de pagar para informar a populaçãoteve de pagar para informar a populaçãoteve de pagar para informar a população

Entrevista com Júlio Turra, da CUT nacional

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Bolívia nas ruas e urnas contra o imperialismo

dos trabalhadores, do povo oprimido da Bolívia e do governo EvoMorales, contra a ameaça de divisão do país. Essa ameaça iria se mate-rializar no dia 4 de maio em um referendo ilegal e inconstitucionalque a oligarquia de Santa Cruz realizou. Desde o 1º de Maio, as mani-festações de massa ocorridas não só em La Paz, mas também em Oruro,Cochabamba e em várias regiões do país, tiveram como centro a defe-sa da nação contra a divisão.

AAAAA mídia anti-br mídia anti-br mídia anti-br mídia anti-br mídia anti-brasileirasileirasileirasileirasileira também é anti-boliviana, abrindo espaçoa também é anti-boliviana, abrindo espaçoa também é anti-boliviana, abrindo espaçoa também é anti-boliviana, abrindo espaçoa também é anti-boliviana, abrindo espaçoparparparparpara os para os para os para os para os partidários da frtidários da frtidários da frtidários da frtidários da fragmentação do país. Como se posicionam osagmentação do país. Como se posicionam osagmentação do país. Como se posicionam osagmentação do país. Como se posicionam osagmentação do país. Como se posicionam osmomomomomovimentos sociais neste momento estrvimentos sociais neste momento estrvimentos sociais neste momento estrvimentos sociais neste momento estrvimentos sociais neste momento estratégico?atégico?atégico?atégico?atégico?

Júlio Turra - No 4 de maio, a imprensa brasileira praticamente sódeu destaque ao ocorrido em Santa Cruz. Desconsiderou que, nestedia, em toda a Bolívia, milhões saí-ram às ruas convocados pelas suas or-ganizações populares, sindicais, juve-nis, camponesas, indígenas, para pro-clamar a uma só voz: Viva a Bolíviaunida, abaixo o referendo ilegal e osestatutos autonômicos da oligarquiade Santa Cruz! Meio milhão de ma-nifestantes em Cochabamba, outromeio milhão em El Alto, dezenas de milhares em Potosi, Oruro, LaPaz, expressando uma resistência, uma disposição de luta em defesa daunidade da nação que também se expressou em Santa Cruz. Em vári-as localidades desse Departamento, como Yacapani, San Julian, SanPedro, Cuatro Canãles, se impediu inclusive a entrada das urnas e nãoocorreu votação. No Plano 3.000, principal bairro da capital, SantaCruz de la Sierra, a votação teve de ser interrompida devido às mobi-lizações de massa, da população que resistia a um bando fascista cha-mado União Juvenil Cruzenhista, que queria forçar o povo a votar.

Na Bolívia, os jornais tambémNa Bolívia, os jornais tambémNa Bolívia, os jornais tambémNa Bolívia, os jornais tambémNa Bolívia, os jornais tambémsão panfletos da direitasão panfletos da direitasão panfletos da direitasão panfletos da direitasão panfletos da direita

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Bolívia nas ruas e urnas contra o imperialismo

A frA frA frA frA fraude foi vaude foi vaude foi vaude foi vaude foi vergonhosa, com urergonhosa, com urergonhosa, com urergonhosa, com urergonhosa, com urnas prnas prnas prnas prnas prenhes de venhes de venhes de venhes de venhes de votos pelo Sotos pelo Sotos pelo Sotos pelo Sotos pelo Sim.im.im.im.im.Como isso aconteceu?Como isso aconteceu?Como isso aconteceu?Como isso aconteceu?Como isso aconteceu?

Júlio Turra - Nesse movimento de resistência, se queimaram urnase, casualmente, se descobriram urnas que já estavam completamentecheias, grávidas como costumamos dizer no movimento sindical, comvotos marcados pela opção Sim. Isso só demonstra a fraude organiza-da nesse plebiscito, ao arrepio da lei, pela Corte Departamental local,sob controle das famílias oligárquicas de grandes latifundiários e em-presários da região de Santa Cruz.

O goO goO goO goO govvvvverererererno dos Eno dos Eno dos Eno dos Eno dos Estados Ustados Ustados Ustados Ustados Unidos chegou a enviar parnidos chegou a enviar parnidos chegou a enviar parnidos chegou a enviar parnidos chegou a enviar para ser embaixa-a ser embaixa-a ser embaixa-a ser embaixa-a ser embaixa-dor na Bolívia o mesmo agente da CIA responsável pela criação dedor na Bolívia o mesmo agente da CIA responsável pela criação dedor na Bolívia o mesmo agente da CIA responsável pela criação dedor na Bolívia o mesmo agente da CIA responsável pela criação dedor na Bolívia o mesmo agente da CIA responsável pela criação deKosovo.Kosovo.Kosovo.Kosovo.Kosovo.

Júlio Turra - Hugo Chávez denunciou de maneira muito contun-dente no seu programa Alô Presidente, de domingo, 4 de maio, que éum plano que não pára na Bolívia. É mais global e visa deter os proces-sos de transformação revolucionária em curso no continente com aarma que já foi utilizada, por exemplo, contra a Iugoslávia e váriasnações africanas, provocando a divisão da nação, criando mini-republiquetas como Kosovo, que passam a ser plataformas de domina-ção do imperialismo.

Qual é o sentimento das ruas?Qual é o sentimento das ruas?Qual é o sentimento das ruas?Qual é o sentimento das ruas?Qual é o sentimento das ruas?

Júlio Turra - Uma das palavras de ordem cantadas em La Paz era‘Bush, cabrón (fdp), Bolívia no es Kosovo!’. De todo modo, é precisoconstatar - e ao se dirigir à nação na noite de 4 de maio o presidenteEvo Morales declarou isso - que os dados que são manipulados pelaimprensa, de um referendo fraudulento, ilegal, mesmo esses dados,mostram que o povo de Santa Cruz está dividido ao meio. Apesar de

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toda pressão, chantagem, humilhação, ameaças de demissão. Os pa-trões obrigaram empregados a comprovar que tinham votado. Issonão impediu que houvesse uma abstenção enorme, de 39%, e são da-dos apresentados pelo próprio Comitê Eleitoral de Santa Cruz. Alémdisso, 15%, aproximadamente, disseram Não, além dos votos nulos ebrancos. Ou seja, no mínimo, metade do Colégio Eleitoral não foivotar. E é importante saber que a palavra de ordem de todas as organi-zações populares e do MAS (Movimento Ao Socialismo), partido queestá no governo, era não ir votar, para não legitimar o referendo. Mes-mo assim, 15% votaram Não, provavelmente pessoas que foram obri-gadas a votar pelos seus patrões e não tinham outra alternativa. Então,se somarmos a abstenção aos votos nulos e brancos, em relação ao cor-po eleitoral de 930 mil inscritos, mais da metade não apoiou o refe-rendo e os estatutos autonômicos.

NNNNNa pra pra pra pra prática, o que significam os tais estatutos?ática, o que significam os tais estatutos?ática, o que significam os tais estatutos?ática, o que significam os tais estatutos?ática, o que significam os tais estatutos?

Júlio Turra - Está escrito, basta ler, eles estabelecem algo muito maisdo que uma simples autonomia. O governador do departamento pas-saria a ter funções de Chefe de Estado, inclusive de conceder ou nãoasilo político, imagine você. De estabelecer relações bilaterais com ou-tros países sem consultar o governo central; entrega ao governador dodepartamento a questão que é essencial no Oriente boliviano, a cha-mada Meia Lua, que é a questão das terras.

Como está a rComo está a rComo está a rComo está a rComo está a reforeforeforeforeforma agrma agrma agrma agrma agrária?ária?ária?ária?ária?

Júlio Turra - O governo tentou, pouco antes do referendo, dar iní-cio ao processo de reforma agrária nos latifúndios do Oriente, mas osrepresentantes governamentais foram expulsos por jagunços armadospela oligarquia. Então, no fundo, está em jogo a manutenção de privi-légios de empresários associados às multinacionais e grandes proprie-20

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tários de terra. Obviamente, esses estatutos autonômicos também ba-tem de frente com as medidas progressistas que o governo Evo Moralestomou no terreno das nacionalizações.

E as comemorE as comemorE as comemorE as comemorE as comemorações do Dia do ações do Dia do ações do Dia do ações do Dia do ações do Dia do TTTTTrrrrrabalhador?abalhador?abalhador?abalhador?abalhador?

Júlio Turra - No 1º de Maio, registre-se como fato muito importan-te que ajuda a construir a unidade contra essa oligarquia vendida, oprincipal dirigente da COB esteve ao lado do presidente Evo Morales,diante do palácio de governo, na Praça Murillo, em La Paz, afirmandoa coesão necessária de todos os movimentos sociais, junto com o gover-no, para impedir a implosão da Bolívia. Nesta mesma data, Evo anun-ciou não só medidas de proteção aos dirigentes sindicais, no chamadoPacote Trabalhista, como novas nacionalizações, entre elas a da Entel(Empresa Nacional de Telecomunicações da Bolívia), cuja maioria dasações era de uma multinacional italiana. Além disso, o controle peloEstado - também por maioria acionária - de quatro petroleiras quenão haviam se adaptado ao decreto supremo de 2006, de nacionaliza-ção do petróleo.

QQQQQuais os principais avuais os principais avuais os principais avuais os principais avuais os principais avanços do chamado Panços do chamado Panços do chamado Panços do chamado Panços do chamado Pacote acote acote acote acote TTTTTrrrrrabalhista?abalhista?abalhista?abalhista?abalhista?

Júlio Turra - O decreto estabelece proteção aos dirigentes sindicais;os processos trabalhistas são encurtados para no máximo um ano (an-tes eles se arrastavam entre cinco a dez anos), num processo oral, ondeserá resolvido numa única audiência, caso se trate de dívidas e benefí-cios sociais; a conciliação se dará em 15 dias, os trâmites serão gratui-tos, sem custos advocatícios para o trabalhador. A defesa do mandatosindical é importante porque garante a imunidade do dirigente desdesua eleição. Antes, havia uma controvérsia e o patronato se aproveita-va do vácuo existente até o reconhecimento legal pelo Ministério doTrabalho para demitir o trabalhador.

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"Autonomia arrasa":"Autonomia arrasa":"Autonomia arrasa":"Autonomia arrasa":"Autonomia arrasa":mentira repetida à exaustãomentira repetida à exaustãomentira repetida à exaustãomentira repetida à exaustãomentira repetida à exaustão

E como se comportam os meios de comunicação nesse confronto?E como se comportam os meios de comunicação nesse confronto?E como se comportam os meios de comunicação nesse confronto?E como se comportam os meios de comunicação nesse confronto?E como se comportam os meios de comunicação nesse confronto?

Júlio Turra - Há uma guerra midiática na Bolívia, com os principaismeios de comunicação nas mãos de grandes grupos empresariais. Háum ataque frontal ao governo Evo, com ra-ras exceções, numa situação muito semelhan-te a que ocorre na Venezuela. A mídia é uti-lizada como instrumento de guerra contra ogoverno. Por exemplo: todos os jornaismanchetaram ‘Vitória esmagadora do Sim’,‘O Sim arrasa’, e por aí vai. Alguns publica-ram uma nota paga do governo informandoo tamanho da abstenção, esclarecendo o querealmente ocorreu. Na TV, salvo a TV Bolí-via, que é estatal, e a TeleSul, que passa lá, namaior parte dos canais a campanha é diretacontra o presidente Evo Morales. Mesmoassim, o povo foi às ruas em gigantescas ma-nifestações, como já falei, demonstrando que o governo goza de umaimportante base social.

NNNNNessa eferessa eferessa eferessa eferessa efervvvvvescência, qual o principal debate do momento?escência, qual o principal debate do momento?escência, qual o principal debate do momento?escência, qual o principal debate do momento?escência, qual o principal debate do momento?

Júlio Turra - O que se discute hoje é que o presidente Evo Morales,quando se dirigiu à nação, disse que iria convocar os prefeitos (que nocaso são os governadores de departamento) para sentar numa mesa e,sob a base da nova Constituição política aprovada pela AssembléiaConstituinte, debater a questão das autonomias. Qual foi a respostaimediata do Costas, por exemplo, que é o prefeito de Santa Cruz? Nãoreconhece a nova Constituição política do Estado boliviano e diz quesó está disposto a sentar com o governo depois de terminados outrosreferendos. E a partir de 1º de junho até o dia 26 de junho vão ocor-22

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rer referendos em Beni, Pando e Tarija, que são três outros departa-mentos, referendos igualmente inconstitucionais e ilegais.

São processos completamente viciados...São processos completamente viciados...São processos completamente viciados...São processos completamente viciados...São processos completamente viciados...

Júlio Turra - São referendos controlados apenas pelas cortes locais,sem nenhum controle da Corte Nacional Eleitoral, num claro desafioàs autoridades nacionais. Então, é uma situação muito perigosa, quenão é um assunto só boliviano. Assim, tanto o presidente venezuelanoHugo Chávez, quanto o presidente do Equador, Rafael Correa, tive-ram posições bastante contundentes de condenação do referendo deSanta Cruz, que não foi a posição da OEA (Organização dos EstadosAmericanos).

Mas a OEA isolou os golpistas ao se pronunciar pela legalidade eMas a OEA isolou os golpistas ao se pronunciar pela legalidade eMas a OEA isolou os golpistas ao se pronunciar pela legalidade eMas a OEA isolou os golpistas ao se pronunciar pela legalidade eMas a OEA isolou os golpistas ao se pronunciar pela legalidade elegitimidade do golegitimidade do golegitimidade do golegitimidade do golegitimidade do govvvvverererererno Eno Eno Eno Eno Evvvvvooooo...............

Júlio Turra - Houve uma manifestação da OEA de reconhecer alegitimidade e a legalidade do governo Evo Morales e houve um cha-mado à manutenção da integridade territorial da Bolívia. Mas a pro-posta do chanceler boliviano era que a OEA condenasse o referendocomo ilegal e não foi esta a deliberação. Dizem que os norte-america-nos não permitiram uma posição mais enfática.

A vA vA vA vA velha tática do dividir parelha tática do dividir parelha tática do dividir parelha tática do dividir parelha tática do dividir para ra ra ra ra reinareinareinareinareinar, em escala continental..., em escala continental..., em escala continental..., em escala continental..., em escala continental...

Júlio Turra - Tanto Chávez como Correa denunciaram que este éum plano não só para a Bolívia, como para o Equador e a Venezuela. Econfirmando isso, a oligarquia que controla Guayaquil, no Equador,saudou efusivamente - eu vi na televisão em La Paz - os resultados deSanta Cruz. Deram várias declarações que “este é o caminho, este é ocaminho, este é o caminho”. Na Venezuela, nunca é demais recordar

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que no Estado Zulia, importantíssimo, onde está o lago Maracaibo,cheio de petróleo, governado pela oposição, por Manoel Rosales - quedisputou com Chávez as últimas eleições e perdeu de forma estrondo-sa -, lá também se fala de ‘autonomia’. O Chávez também fez referên-cia, e é público e notório, que os líderes da Meia Lua (Santa Cruz,Beni, Pando e Tarija, departamentos no leste da Bolívia) foram recebi-dos em Washington como chefes de Estado por altos responsáveis dogoverno norte-americano. O plano dos EUA visa aproveitar as próxi-mas eleições de novembro de 2008, na Venezuela, onde a oposiçãopretende ganhar alguns estados importantes, para começar com o cantoda ‘autonomia’ também por lá. Então, estamos diante de uma situaçãobastante perigosa e é fundamental tomar posição.

Reforçar a solidariedade internacional...Reforçar a solidariedade internacional...Reforçar a solidariedade internacional...Reforçar a solidariedade internacional...Reforçar a solidariedade internacional...

Júlio Turra - É muito importante porque se houvesse um retrocessono processo de transformações que presenciamos na Bolívia, isso teriaimpacto negativo para a luta dos trabalhadores e povos de todo o con-tinente. Ao contrário, se a força popular que apóia o governo Moralesconseguir barrar essa tentativa divisionista, isso dará um impulso paraas nossas lutas. A CUT, em carta enviada ao presidente Evo Moralespelo seu presidente, Artur Henrique, e pelo secretário de RelaçõesInternacionais, João Felício, manifestou sua posição: “Nos preocupasobremaneira a iniciativa de autoridades de Santa Cruz de convocarum referendo ao arrepio da legislação nacional para aprovar a criaçãode um departamento autônomo, que tem nítidas feições de um pro-cesso separatista”. A CUT se posiciona apoiando o governo EvoMorales, frisando que a iniciativa nascida em Santa Cruz “não interes-sa aos trabalhadores, cruzenhos, bolivianos, brasileiros e latino-ameri-canos, que é uma ilusão manipulada pelas elites locais e de oposiçãocontra um governo democrático-popular que somente trará prejuízoà população da nossa região”. Este posicionamento oficial da CUT24

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deve ser a base de uma campanha de solidariedade não só ao movi-mento sindical boliviano, mas ao povo explorado e oprimido da Bolí-via, às grandes maiorias nacionais que apóiam o governo Evo Morales.

PPPPPararararara dar seqüência e conseqüência a esta mobilizaçãoa dar seqüência e conseqüência a esta mobilizaçãoa dar seqüência e conseqüência a esta mobilizaçãoa dar seqüência e conseqüência a esta mobilizaçãoa dar seqüência e conseqüência a esta mobilização, o que a, o que a, o que a, o que a, o que aCCCCCentrentrentrentrentral deval deval deval deval deve faze faze faze faze fazer?er?er?er?er?

Júlio Turra - Vou propor que a CUT lance uma campanha interna-cional junto aos seus parceiros no movimento sindical e popular nocontinente, a fimde demonstrar averdade do queocorreu em SantaCruz - onde, apesarde toda a violência,conseguiram quemenos da metadedos eleitores se pro-nunciassem peloSim ao estatutoautonômico que di-vide o país. Propo-nho uma campa-nha de solidarieda-de aos nossos irmãos de classe. Esta é uma tarefa urgente: derrotar oisolamento que o imperialismo e a mídia tentam impor contra o go-verno Evo Morales, defender a unidade da Bolívia, primeira condiçãopara dar seqüência às nacionalizações, à reforma agrária e outras me-didas de soberania nacional.

Publicado no Portal do Mundo do Trabalho e no jornal Hora do Povo.

MMMMMururururural em La Pal em La Pal em La Pal em La Pal em La Paz denuncia interaz denuncia interaz denuncia interaz denuncia interaz denuncia interesses da oligaresses da oligaresses da oligaresses da oligaresses da oligarquia e dasquia e dasquia e dasquia e dasquia e dastransnacionais por detrás da tentativa de divisão do paístransnacionais por detrás da tentativa de divisão do paístransnacionais por detrás da tentativa de divisão do paístransnacionais por detrás da tentativa de divisão do paístransnacionais por detrás da tentativa de divisão do país

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tarija: fraude e abusos

no referendo fora-da-lei

NNNNNão foi à toa que aúltima votaçãodos ‘Estatutos

Autonômicos’ da Meia Lua(como são chamados os Es-tados da parte Oriental daBolívia) ficou para Tarija, jus-tamente o que mais recursosrecebe do Tesouro nacionalpelos impostos arrecadadoscom hidrocarbonetos.

“Precisamente devido à ação do presidente Evo Morales, que nacio-nalizou nossa maior riqueza natural, o gás, nosso país tem avançado,com o superávit da balança comercial saltando de US$ 1,5 bilhãopara US$ 7 bilhões anuais. Com isso, há mais recursos para investir nodesenvolvimento, na produção, nos programas sociais”, declarouCelinda Sosa, representante do governo federal no Estado.

Gás e soberaniaGás e soberaniaGás e soberaniaGás e soberaniaGás e soberania

Por ser quem concentra as jazidas de hidrocarbonetos, Tarija foi oEstado mais favorecido, com os repasses federais aumentandocrescentemente: 535 milhões de bolivianos em 2004; 962 milhõesem 2005; 1,53 bilhões em 2006 e 1,68 bilhões em 2007. A dirigentelembra que, “se antes as empresas transnacionais ficavam com 82% e

Não aos estatutos autonômicos da oligarquia!Não aos estatutos autonômicos da oligarquia!Não aos estatutos autonômicos da oligarquia!Não aos estatutos autonômicos da oligarquia!Não aos estatutos autonômicos da oligarquia!

Com protestos e abstenção expressiva, a população doDepartamento de Tarija enfrentou a oligarquia pró-EUA, no

Estado em que se concentram as maiores riquezas gasíferas bolivianas

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o país com 18%, agora é o inverso, pois o governo nacional afirmounossa soberania”.

Com o dólar valendo sete bolivianos, a perspectiva é que Tarija,com seus 400 mil habitantes, arrecade 400 milhões de dólares em

2008 apenas com a receita proveniente do gás.Como o governo federal vinculou o repasse des-ses recursos ao fomento pelos departamentos deuma política de desenvolvimento produtivo, comlinhas de crédito e financiamento à industriali-zação e a programas sociais - a exemplo do BolsaDignidade, que garante a pessoas com mais de60 anos um ingresso anual de 3.000 bolivianos -,a direita unificou o discurso contra o ‘centralismo’de La Paz, a quem acusa de ‘confisco’, já que nãopode mais continuar malversando os recursospúblicos.

Ou seja, enquanto os latifundiários de SantaCruz, Pando e Beni confrontam o presidenteprincipalmente devido à sua posição em favorda reforma agrária, ao estabelecimento da fun-ção econômico-social da propriedade da terra eao forte apoio que vem sendo dado a indígenas ecamponeses - que já receberam mais de 9 mi-lhões de hectares em apenas dois anos -, em Tarijaa disputa é mais direta com as transnacionais eseus testas-de-ferro. Recentemente, Evo nacio-nalizou a Transportadora de HidrocarburosTransredes, acusada de ter relações carnais coma administração tarijenha e ser uma das princi-pais fontes de financiamento da campanha se-paratista dos governos da Meia Lua.

Por isso, na quarta-feira anterior à votação ile-

Acima, fascista com seuAcima, fascista com seuAcima, fascista com seuAcima, fascista com seuAcima, fascista com seutaco de beisebol.taco de beisebol.taco de beisebol.taco de beisebol.taco de beisebol.

Embaixo, o professorEmbaixo, o professorEmbaixo, o professorEmbaixo, o professorEmbaixo, o professorWWWWWildo ildo ildo ildo ildo VVVVVega, mais umaega, mais umaega, mais umaega, mais umaega, mais uma

vítima da covardiavítima da covardiavítima da covardiavítima da covardiavítima da covardia

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gal, a Prefeitura local organizou bandos armados para tomar o aeropor-to de Tarija e impossibilitar a visita do presidente à capital do departa-mento, quando,entre outros be-nefícios para aregião, seriamentregues umhospital e váriasambulâncias. Namesma semana,agentes desbara-taram uma ten-tativa de assassi-nato do presi-dente, prenden-do um elementoligado ao grupodireitista União Juvenil Cruzenhista (de Santa Cruz) que portava umrifle de mira telescópica com alcance de 300 metros e farta munição.

Oligarquia e EUAOligarquia e EUAOligarquia e EUAOligarquia e EUAOligarquia e EUA

“É uma oligarquia assessorada pelos EUA, disposta a tudo. Todossabem do envolvimento do embaixador norte-americano nesta cam-panha de divisão do país, da sua experiência na Iugoslávia. Com vio-lência, incentivam a aplicação de um estatuto ilegal, anti-democráticoe que rompe com a constitucionalidade para aprofundar as assimetriasregionais e voltar a tornar invisíveis os camponeses e indígenas”, ressal-tou Celinda Sosa.

No ‘plebiscito’ de domingo, graças à firme posição do presidenteEvo Morales e à mobilização das entidades populares, a direita nãoconseguiu seu objetivo, embora sua mídia anti-pátria tenha manchetado

Em resposta à ação golpista da direita, camponeses,Em resposta à ação golpista da direita, camponeses,Em resposta à ação golpista da direita, camponeses,Em resposta à ação golpista da direita, camponeses,Em resposta à ação golpista da direita, camponeses,indígenas e sem teto bloqueiam rindígenas e sem teto bloqueiam rindígenas e sem teto bloqueiam rindígenas e sem teto bloqueiam rindígenas e sem teto bloqueiam rodoodoodoodoodovia Nvia Nvia Nvia Nvia Norororororte, em te, em te, em te, em te, em TTTTTarijaarijaarijaarijaarija

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hipotéticos ‘arrasos’. O fato é que, apesar de todo tipo de pressão, chan-tagem e terrorismo, e do vergonhoso uso da máquina pública que des-perdiçou mais de um milhão de dólares na campanha pelo Sim, con-forme os dados do próprio governo de Tarija, o número de votos con-trários ao estatuto autonômico, somado à abstenção (que duplicou),aos nulos e brancos, foi superior ao Sim defendido pelos neoliberais eprivatistas.

A abstenção convocada pelo partido de Evo Morales (MAS) e pe-los movimentos sociais alcançou 40%. Os dados de votação chegarama 21,1% pelo Não (segundo dados divulgados pela Captura Consultingno dia 23, com 80% dos votos apurados). Os dois fatores somadossignificam que, mesmo no referendo ilegal e em que imperou a fraudee a violência, 52,7% se opuseram aos separatistas.

CCCCCararararartaz destaca avtaz destaca avtaz destaca avtaz destaca avtaz destaca avanços obtidos com invanços obtidos com invanços obtidos com invanços obtidos com invanços obtidos com investimentos do goestimentos do goestimentos do goestimentos do goestimentos do govvvvverererererno federno federno federno federno federal em al em al em al em al em TTTTTarijaarijaarijaarijaarija

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Em Bermejo, 3 mil dos 5 mil inscritosEm Bermejo, 3 mil dos 5 mil inscritosEm Bermejo, 3 mil dos 5 mil inscritosEm Bermejo, 3 mil dos 5 mil inscritosEm Bermejo, 3 mil dos 5 mil inscritosdesapareceram da lista de votaçãodesapareceram da lista de votaçãodesapareceram da lista de votaçãodesapareceram da lista de votaçãodesapareceram da lista de votação

A juíza eleitoral Maria Isabel Sosa, de Bermejo, em Arce, região sulde Tarija, denunciou que 60% dos eleitores desapareceram das listasde votação, já que dos cinco mil inscritos somente dois mil encontra-vam-se aptos a votar. Bermejo é uma das regiões onde o Não aos esta-tutos autonômicos é amplamente majoritário.

Conforme o coordenador dos movimentos sociais de Arce, ÓscarSegovia, ao diminuir o número de votantes, a direita tentou reduzir otamanho do seu prejuízo, expresso pela enorme abstenção na região,que “fechou espaço aos golpistas”.

PPPPPara o goara o goara o goara o goara o govvvvverno da Bolívia, a consulta emerno da Bolívia, a consulta emerno da Bolívia, a consulta emerno da Bolívia, a consulta emerno da Bolívia, a consulta emTTTTTarija é ilegal e atenta contra a democraciaarija é ilegal e atenta contra a democraciaarija é ilegal e atenta contra a democraciaarija é ilegal e atenta contra a democraciaarija é ilegal e atenta contra a democracia

A respeito da votação realizadadomingo em Tarija, o porta-voz daPresidência, Iván Canelas, qualifi-cou de “uma simples consulta, mi-lionária e ilegal” o processo no qualo governador local gastou um mi-lhão de dólares.

“Isso prejudica a democracia eas leis do país. Para nós, não é umreferendo, mas uma pesquisa carís-sima, ilegítima e ilegal, porque suaconvocatória foi realizada pelo go-vernador de Tarija, Mario Cossio,quando deveria ter sido feita peloCongresso Nacional”, esclareceu.

Boneco de Mario Cossio, queimadoBoneco de Mario Cossio, queimadoBoneco de Mario Cossio, queimadoBoneco de Mario Cossio, queimadoBoneco de Mario Cossio, queimadodurante protesto populardurante protesto populardurante protesto populardurante protesto populardurante protesto popular

Publicado no jornal Hora do Povo.

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OOOOO resultado das urnas foi umaresposta do povo aos abusosdo senhor Mário Cossio (go-

vernador) e da Corte Departamental, queusou e abusou de sua autoridade, semter poder para isso. A Corte Nacional jáhavia decretado tal referendo inconsti-tucional e ilegal, mas foi ignorada”, afir-mou Celinda Sosa, representante do go-verno federal em Tarija. A dirigente lem-bra que, fazendo o jogo do governo deTarija, a Corte Departamental ameaçouquem não participasse da eleição no do-mingo com o impedimento de votar em10 de agosto (quando se decidirá pelarevogação ou não do mandato do presi-dente e dos governadores) e chegou a anunciar a prisão de mesários quenão comparecessem para legitimar tal processo. Estudantes universitári-os foram obrigados a votar, sob pena de terem suas matrículas suspensascaso não comprovassem a anuência. Empregados foram ameaçados dedemissão caso deixassem de comparecer ou optassem pelo Não.

“É um processo sem nenhuma validade, uma fraude, uma enganaçãofeita por gente que acha que o nosso povo é ignorante e incapaz de tirarsuas próprias conclusões. Fizeram um jogo com as regras e o juiz ditadospela oligarquia e querem que reconheçamos os gols que dizem que fize-ram. Estão inteiramente equivocados. Aqui temos um povo que se res-peita e um presidente que honra seu mandato”, frisou Celinda.

Entrevista com Celinda Sosa, representante daPresidência da Bolívia em Tarija

"O povo deu a resposta certa

aos separatistas"

Celinda Sosa denunciou a fraudeCelinda Sosa denunciou a fraudeCelinda Sosa denunciou a fraudeCelinda Sosa denunciou a fraudeCelinda Sosa denunciou a fraudepatrocinada pela oligarquiapatrocinada pela oligarquiapatrocinada pela oligarquiapatrocinada pela oligarquiapatrocinada pela oligarquia

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Caminhando nas ruas, pudemos comprovar a ação de grupos fas-cistas intimidando indígenas e camponeses, com agressões verbais, so-madas ao ‘convencimento’ com tacos de beisebol e escudos. Militantesdo Não andavam em grupo para se proteger, já que os mais conheci-dos foram ameaça-dos de morte. Nomesmo repugnan-te padrão covardee racista - televisio-nado para todo opaís - ocorrido emSucre, onde fize-ram indígenas tira-rem suas roupas ese ajoelhar parabeijar o chão emque pisam, em Ta-rija, tão somentepor pertencer a uma entidade popular que defendia o Não, o profes-sor Wildo Vega foi atacado por quatro encapuzados que deformaramseu rosto a pauladas. Enquanto a resistência aos golpistas ganhava for-ça com bloqueios de estradas e queima de urnas, como pudemos pre-senciar na rodovia Norte, ônibus de mercenários vindos de Santa Cruzde La Sierra, estimulados pelas autoridades locais, incitavam à violên-cia, tentando imputar ao governo federal a responsabilidade por umeventual ‘descontrole’, na tentativa de justificar uma intervenção estran-geira. Vale lembrar que um dos objetivos da dita ‘autonomia’ é estabele-cer relações bilaterais com outros países sem o aval do governo central,em La Paz.

“A luta de Tarija é a mesma de todo o país, por direitos, justiça edignidade. Antes da nacionalização, recebíamos migalhas. Hoje os re-cursos existem, crescem e estamos mobilizados para que sejam aplica-

Nos cartazes, uma retrospectiva da história de EvoNos cartazes, uma retrospectiva da história de EvoNos cartazes, uma retrospectiva da história de EvoNos cartazes, uma retrospectiva da história de EvoNos cartazes, uma retrospectiva da história de Evo

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dos no desenvolvimento da Bolívia e na felicidade da nossa gente. Porisso estamos com Evo, rumo ao socialismo”, sublinhou o dirigente cam-ponês Carlos Almazan.

Manifesto distribuído pelos movimentos sociais de Tarija alerta que ochamado ‘Estatuto Autonômico’ não pode jamais ser aplicado, pois éinteiramente inconstitucional. Entre outras perversões, denunciam, elepossibilita a privatização de serviços básicos como água, luz e saneamen-to, controlados pelo Estado, além, é claro, de liquidar com a YPFB(Yacimientos Petrolíferos Federales Bolivianos), colocando os recursosdo gás não mais à disposição da nação, mas do governo neoliberal local.

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Publicado no Portal do Mundo do Trabalho e no jornal Hora do Povo.33

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Bolívia nas ruas e urnas contra o imperialismo34 21

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HHHHHá alguns dias escutamos rumores de grupos usados pelo im-pério, pela embaixada norte-americana, que atentam con-tra a integridade da Bolívia. Isso tem que acabar. Somos

um país, uma nação, a quem temos de honrar servindo ao povo e nãoaos interesses alheios, do estrangeiro”, afirmou o presidente Evo Morales,ovacionado por dezenas de milhares de civis e militares que compare-ceram, terça-feira, 24 de junho, à festa de aniversário de 182 anos daPolícia Nacional, na praça Villarroel, em La Paz.

Bolivianos celebram união

contra sanha entreguista

Multidão comemora aniversário da Polícia Nacional em festapatriótica ao lado do presidente Evo Morales, dos comandantes da

Instituição e das Forças Armadas. “Os que atentam contra aintegridade da Bolívia estão sendo usados pelo império, pela

embaixada norte-americana”, afirmou Evo

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Celebrando a unidade cívico-militar em defesa da democracia, dasoberania e da integridade da Bolívia, estiveram presentes os coman-dantes da Polícia Nacional, Exército, Marinha e Aeronáutica, minis-tros, embaixadores, governadores, prefeitos e lideranças dos movimentospopulares das diferentes regiões, que sublinharam a necessidade dorespeito à lei e ao Estado de direito para garantir o bem-estar social.

O comandante geral da Polícia Nacional, general Miguel GemioUrrutia, frisou que a condição primeira do servidor público que tra-balha pela segurança é garantir a liberdade, o respeito aos direitoshumanos e à Constituição. “Nós, policiais, nascemos das mesmas en-tranhas do povo, trabalhamos e estamos dispostos a oferecer nossasvidas, caso seja necessário, para garantir estes nobres objetivos”,enfatizou.

No dia anterior, governadores da Meia Lua haviam voltado a de-clarar suas regiões ‘autônomas’ do poder central, abrindo um processoinconstitucional e ilegal de secessão no país, diante do que o presiden-te demandou ao Congresso Nacional que os intime por crime de res-ponsabilidade.

“O objetivo dos golpistas é a volta da escravidão. Por isso queremparalisar o nosso governo e o processo revolucionário. Não aceitam aredistribuição da riqueza gerada pela nacionalização dos hidrocarbone-tos, não se conformam com o avanço da reforma agrária. Estas açõesvêm garantindo importantes programas sociais, ampliando o númerode empregos e incrementando a massa salarial”, declarou MarinaHoyos, do Comitê Cívico-Popular de Tarija.

Aproveitando o simbolismo da data, o presidente Evo Morales lem-brou que há 32 anos, desde o sesquicentenário da instituição, a PolíciaNacional não fazia uma comemoração tão massiva, em comunhão como povo, em plena praça. “Somos uma cultura que vem de muitas bata-lhas dos nossos antepassados pela soberania. Essa luta é do campo e dacidade, de profissionais e não-profissionais, de intelectuais e não-inte-lectuais, dos uniformizados e não-uniformizados e, como instituição

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do Estado, temos a obrigação de estender este esforço e esta consciên-cia”, declarou o presidente.

Denunciando os anos de desmonte neoliberal, em que “não se in-vestiu um centavo na melhoria das condições da Polícia, para que pu-desse servir ao povo”, Evo elogiou a “sabedoria, honestidade e consci-ência de comandantes, oficiais e tropa” que mantiveram a Polícia Na-cional atuante contra o crime e dando segurança ao cidadão.

Além de prestar contas dos inúmeros investimentos realizados nainstituição durante estes dois anos de gestão, o presidente anunciou acriação de duas novas escolas e uma Universidade Nacional da Polícia,“para melhor preparar os homens e mulheres que têm vocação paraservir ao povo boliviano”.

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Publicado no Portal do Mundo do Trabalho e no jornal Hora do Povo.

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DDDDDiante das decla-rações golpistasdos governado-

res da Meia Lua, o presi-dente dialogou com civis emilitares sobre o que estáem jogo no referendo revo-gatório marcado para o dia10 de agosto. “Recorda opovo boliviano, nossos em-baixadores e autoridadesaqui presentes que, no anopassado, entre outubro enovembro, alguns gover-nadores pediram o refe-rendo revogatório para opresidente. Tanto insisti-ram que aceitei, para quetodo aquele que foi legal econstitucionalmente no-meado pelo povo se subme-ta ao voto. Disse: aceito não só para o presidente e o vice-presidente,mas também para os governadores. Repito: não pedi, me pediram. Eagora os que me pediram não querem mais”.

“O que entendo eu por referendo revogatório? Que o povo, nesseprocesso de aprofundamento da democracia, não somente tem o di-reito de eleger as suas autoridades, de nomeá-las, mas também de pôrfim ao seu mandato. Que o voto não sirva apenas para dizer a cada

Evo: “ Temos uma nação e

ela não pode ser dividida”

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do Exército, Marinha e Aeronáuticado Exército, Marinha e Aeronáuticado Exército, Marinha e Aeronáuticado Exército, Marinha e Aeronáuticado Exército, Marinha e Aeronáutica

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cinco anos quem é o presidente, vice-presidente, parlamentares, gover-nadores, prefeitos, mas para revogar o mandato de quem não serve. Nãohá porque fugir do povo. Quando alguns governadores rechaçam oreferendo revogatório, sinto que não serviram bem, por isso tanto te-mem o julgamento popular. Ou talvez seja porque quando se revogueseu mandato, algum governador vai deixar de roubar, de seguir rou-bando”. Há inúmeras denúncias contra os governadores da Meia Luapor improbidade administrativa, boa parte vinculada a negociatas coma privatização de serviços públicos e acertos com transnacionais.

O presidente voltou a pedir a esses governadores “que respeitem asnormas, a Constituição política do Estado vigente e a lei da Repúbli-ca” e informou que, quanto às diferenças de apreciação “haverá tem-po e espaço para debatê-las”. Mas, o fato, disse Evo, é que existemregras que devem ser cumpridas por todos e que serão asseguradaspelas Forças Armadas e pela Polícia Nacional.

“Quero exortar a Polícia Nacional aqui reunida, as Forças Arma-das, que sejam um exemplo de respeito às normas e de fazer respeitara Constituição da Bolívia. Nosso povo lutou por um país, pela inde-pendência. Foram grandes lutas nos tempos de colônia e, agora, quan-do temos uma nação, ela não pode ser dividida. Nosso país não podeser fracionado e por isso nós temos a obrigação de respeitar a lei vigen-te. Desta maneira, irmãs e irmãos, defendendo democraticamente alegalidade, vamos seguir trabalhando e melhorando nossa queridaBolívia”, declarou o presidente.

Na avaliação de Evo, algumas poucas famílias abastadas, que manda-ram e desmandaram ao longo dos séculos no país, não aceitam a redistri-buição da terra e da renda, não querem abrir mão de indecentes privilé-gios em benefício da ampla maioria da população, por isso buscam refú-gio em ‘estatutos autonômicos’ inteiramente à margem da lei.

Estimulados pelo governador de Santa Cruz, que exortou a popula-ção a se manifestar contra a visita do presidente à região, marcada paraesta terça-feira, bandos fascistas da União Juvenil Cruzenhista tentaram

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tomar a praça de pedágio da estrada que liga a capital do Estado a Co-chabamba. Dois veículos da Polícia Nacional foram queimados e setedireitistas foram detidos, entre eles seu líder, Alfredo Saucedo.

“A única coisa que estamos buscando é maior igualdade entre osbolivianos, e é isso o que lhes molesta, é isso o que não aceitam. Masestou seguro de que a luta pela justiça e pela igualdade social é detodos nós. Então, como presidente, como governo, não vamos vacilar.Jamais trairemos esta luta histórica, programática, cultural e ideológi-ca para dar dignidade ao nosso povo. Quero dizer-lhes, desde estapraça histórica, aos governadores, aos prefeitos: sejamos responsáveispara nos submetermos ao povo boliviano”, concluiu Evo.

Secretário geral da OEA diz que posição deSecretário geral da OEA diz que posição deSecretário geral da OEA diz que posição deSecretário geral da OEA diz que posição deSecretário geral da OEA diz que posição degovernadores separatistas é um retrocessogovernadores separatistas é um retrocessogovernadores separatistas é um retrocessogovernadores separatistas é um retrocessogovernadores separatistas é um retrocesso

O secretário geral da Organização dos Estados Americanos (OEA),José Miguel Insulza, afirmou que a realização do referendo revogatórioconvocado para o dia 10 de agosto “é uma forma de superar a divisãopolítica através dos votos”. Ele assegurou que a entidade vai enviaruma missão eleitoral para observar a consulta popular convocada pelopresidente Evo.

“Nos preocupa esta posição dos governadores, que se constitui emum retrocesso”, asseverou.

Publicado no jornal Hora do Povo.

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QQQQQual o papel do Ministério da Coordenação com os Movi-ual o papel do Ministério da Coordenação com os Movi-ual o papel do Ministério da Coordenação com os Movi-ual o papel do Ministério da Coordenação com os Movi-ual o papel do Ministério da Coordenação com os Movi-mentos Sociais no desenvolvimento do processo revolucio-mentos Sociais no desenvolvimento do processo revolucio-mentos Sociais no desenvolvimento do processo revolucio-mentos Sociais no desenvolvimento do processo revolucio-mentos Sociais no desenvolvimento do processo revolucio-nário boliviano?nário boliviano?nário boliviano?nário boliviano?nário boliviano?

Sacha Llorenti- O fato de que se tenha criado o Ministério da Co-ordenação com os Movimentos Sociais, vinculado à Presidência da Re-pública, é um sinal claro de qual é o compromissodeste governo. Não somente porque é a primeiravez que há uma instância desta natureza, senão por-que tem a ver com a própria estrutura e forma degoverno. Este é um governo dos movimentos soci-ais, das organizações sociais. O presidente da Re-pública é um dirigente sindical, tem uma trajetó-ria de pelo menos 20 anos de sindicalista. E se pres-tarmos atenção em quem está no gabinete do mi-nistro, do vice-ministro, no Congresso, na Assem-bléia Constituinte, nos distintos espaços de poder,vamos ver que são as organizações sociais mais im-portantes do país. Elas estão representadas de ma-neira orgânica, eleitas desde a base, mostrando aconformação deste governo e deste processo revo-lucionário, com profundas raízes no povo.

OOOOOs mos mos mos mos movimentos sociais estão constrvimentos sociais estão constrvimentos sociais estão constrvimentos sociais estão constrvimentos sociais estão construindo um nouindo um nouindo um nouindo um nouindo um novvvvvo podero podero podero podero poder.....

Sacha Llorenti- O fato de que este gabinete esteja no Palácio deGoverno implica numa relação constante do presidente da República

Entrevista com Sacha Llorenti, vice-ministro da Coordenaçãocom os Movimentos Sociais da Bolívia, no Palácio Presidencial

“Oligarquia quer a autonomia

para manter seus privilégios”

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com as mais variadas organizações dos movimentos sociais. Todos osdias se realizam reuniões com elas, numa lógica horizontal, de debatepermanente, de consulta política. Aqui se constrói a política públicacom as organizações sociais, e isso implica obviamente também numarelação de ida e volta entre os dirigentes das organizações e a Presidên-cia da República. Esta é uma prática cotidiana. Então, esse Palácio,que antes era uma casa de negócios, um lugar onde apenas entravamempresários para favorecer um pequeno grupo de famílias no país,tem se transformado também de maneira simbólica, porque agora sãoas organizações que lhe dão vida. Não é que o visitem, aqui trabalhamcotidianamente.

PPPPParararararticipaçãoticipaçãoticipaçãoticipaçãoticipação, educação e r, educação e r, educação e r, educação e r, educação e renoenoenoenoenovvvvvação do pração do pração do pração do pração do processoocessoocessoocessoocesso...............

Sacha Llorenti- Esta é a particularidade que falo, pois assim se cons-trói com eles a política pública, numa relação de proposta permanen-te. As organizações sociais passam, à medida que transcorre o tempo,do simples protesto à proposta, da transformação de seus pleitos emuma política coerente, medindo as capacidades que tem o Estado.

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Sacha Llorenti - São inúmeras. A erradicação do analfabetismo, apromulgação da Renda Dignidade, a defesa do processo constituinte,das mais distintas maneiras. A Bolívia é o país que provavelmente maistenha organizações, de todo tipo. E essas organizações se traduzem emum cenário de poder público, sobretudo nas zonas em que pudemosavançar, nas reformas estruturais. E temos nossos dirigentes sindicaiscomo prefeitos, vereadores, participando das mais variadas lutas, comoa travada contra o analfabetismo. Porém, sua participação é muitomaior. O processo de nacionalização, por exemplo, não pode ser en-42

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tendido sem os movimentos sociais, até porque vem de um pouco an-tes. O instrumento político Pela Soberania dos Povos foi criado pelasorganizações sociais. O Movimento Ao Socialismo (MAS - partido dopresidente Evo Morales) é uma criação dos movimentos sociais, o bra-ço político das organizações sociais. Não é um partido tradicional. Naverdade, a estrutura de apoio do processo tem uma mínima expressãono partido, se mantendo como uma expressão cabal dos movimentossociais. Não há dúvida de que isso é o que gera uma dinâmica muitomaior, porque a estrutura das organizações permite uma aproximaçãoe uma constante avaliação do processo. Se bem que isso seja um poucocomplexo, a construção da agenda pelas transformações, antes de 2006,quando entramos no governo, era feita pelos movimentos sociais. En-tão, para compreender o processo boliviano, as pessoas têm que en-tender como funcionam as organizações em seu conjunto, sua açãoprotagônica no governo.

Como o prComo o prComo o prComo o prComo o presidente Eesidente Eesidente Eesidente Eesidente Evvvvvo tem constro tem constro tem constro tem constro tem construído a unidade em seu gouído a unidade em seu gouído a unidade em seu gouído a unidade em seu gouído a unidade em seu govvvvverererererno?no?no?no?no?

Sacha Llorenti- Há três eixos, e nosso presidente tem dito isso bemclaro: podemos ter muitas diferenças, nosso governo tem distintas ten-dências de esquerda. Se a pessoa é antiimperialista, anticolonialista,antineoliberal, então podemos ter diferença em tudo o demais. Po-rém, se nossa luta corresponde a esta identidade, então precisamostrabalhar juntos.

Qual o maior desafio neste momento?Qual o maior desafio neste momento?Qual o maior desafio neste momento?Qual o maior desafio neste momento?Qual o maior desafio neste momento?

Sacha Llorenti- Continuar fazendo gestões paras aprofundar astransformações políticas, econômicas e sociais. E lutar contra a reação.Creio que era Lênin que dizia que a medida de uma revolução está namedida de sua reação. E nós vemos que aqui há uma reação muitoforte, que tem obviamente apoio dos Estados Unidos, dos grupos

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oligárquicos empresariais que administraram o país nas últimas déca-das. Muitos meios de comunicação entram em sintonia, em cadeia,para atacar o governo. São os interesses políticos da direita, de algu-mas autoridades regionais. A tarefa é derrotar a reação, da mesma for-ma como chegamos ao governo, de maneira democrática. Esta é umarevolução democrática. O movimento popular boliviano tem nos en-sinado a via da luta democrática nas últimas décadas. De resistência aoneoliberalismo, de resistência à ingerência estadunidense, mas tam-bém de geração de uma proposta alternativa de transformação estru-tural. O movimento popular boliviano, diferentemente do que pas-sou no Peru, por exemplo, onde houve uma guerra com mais de 70mil mortos, ou na Colômbia, apostou na via democrática. Esta é a viaque vamos utilizar para defender o processo. A direita não quer ouvira voz do povo, por isso se articula agora contra o referendo revogatório.

O povo está com o processo...O povo está com o processo...O povo está com o processo...O povo está com o processo...O povo está com o processo...

Sacha Llorenti- Para além do que aparece na imprensa fora do país,nós estamos muito tranqüilos porque a maioria do povo boliviano al-cançou uma consciência coletiva que este é um processo irreversível,que não voltará atrás, que não há forma de retornar ao passado. Nossocompromisso é aprofundá-lo. O caminho é honrar a Bolívia com arecuperação das nossas riquezas naturais, a redistribuição da riqueza,o fortalecimento do Estado, fazendo respeitar nossa dignidade na re-lação com qualquer país. Dentro de uma visão integradora, respeitosados direitos humanos.

Os estatutos autonômicos são uma negação da autonomia solidá-Os estatutos autonômicos são uma negação da autonomia solidá-Os estatutos autonômicos são uma negação da autonomia solidá-Os estatutos autonômicos são uma negação da autonomia solidá-Os estatutos autonômicos são uma negação da autonomia solidá-ria proposta pelo presidente. Como sintetizar esta diferença?ria proposta pelo presidente. Como sintetizar esta diferença?ria proposta pelo presidente. Como sintetizar esta diferença?ria proposta pelo presidente. Como sintetizar esta diferença?ria proposta pelo presidente. Como sintetizar esta diferença?

Sacha Llorenti- Os estatutos autonômicos representam os projetosda oposição, esta é a questão essencial, básica. Basta ler para a pessoa se44

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dar conta o que é que eles escondem, quais são seus objetivos. O quepretendem é a divisão do país, consolidar em nível regional os privilé-gios que perderam em nível nacional, mantê-los. Esta é a questão deSanta Cruz, Beni e Pando: manter a estrutura de posse da terra pró-pria do século 16, feudal. Em troca disso, nós propusemos, antes daseleições de 2005, uma autonomia solidária, com igualdade, que forta-leça a unidade do país. Autonomias entendidas como a distribuiçãonão só dos recursos como das responsabilidades, para evitar práticasantidemocráticas que foram daninhas para o país. Os estatutosautonômicos são uma desculpa esfarrapada, um pretexto da direitapara esconder seu interesse real, que é a manutenção de seus privilégios.Ao longo da história é isso o que fizeram as oligarquias em nosso país.Em 1899 tivemos uma guerra federal, assim chamada, e ganharam osfederalistas, mas jamais se impôs um sistema federal na Bolívia, porqueera a oligarquia que queria manter seus privilégios. Quando eles vêemameaçados nacionalmente seus interesses mesquinhos, se retraem paraas regiões. E é isso o que estão fazendo agora.

PPPPPinturinturinturinturintura de ra de ra de ra de ra de rua denuncia a manipulação da imprua denuncia a manipulação da imprua denuncia a manipulação da imprua denuncia a manipulação da imprua denuncia a manipulação da imprensa contrensa contrensa contrensa contrensa contra o país: “a o país: “a o país: “a o país: “a o país: “em vem vem vem vem vendaendaendaendaenda”””””

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Daí os referendos.Daí os referendos.Daí os referendos.Daí os referendos.Daí os referendos.

Sacha Llorenti - Por isso estão levando adiante os referendosautonômicos, consultas absolutamente ilegais, à margem da Consti-tuição. E é contraditório pois dizem que ganharam com 70, 80% emsuas regiões, mas se negam a realizar um referendo revogatório comobservadores internacionais, com controle eleitoral. Fica claro. O pro-cesso boliviano mais se parece a uma peça de teatro com atores semmatizes. Cada um toma uma posição, a favor ou contra. Está bem, issorevela a magnitude histórica do processo. Vemos por exemplo comoreage a alta hierarquia da igreja católica, como reagem os empresáriosprivados, a embaixada dos EUA.

AAAAAcompanhei pela companhei pela companhei pela companhei pela companhei pela TV em TV em TV em TV em TV em TTTTTarija um bispo benzarija um bispo benzarija um bispo benzarija um bispo benzarija um bispo benzendo a frendo a frendo a frendo a frendo a fraude. Oaude. Oaude. Oaude. Oaude. Oproblema principal naquele estado não é o latifúndio, mas a imensaproblema principal naquele estado não é o latifúndio, mas a imensaproblema principal naquele estado não é o latifúndio, mas a imensaproblema principal naquele estado não é o latifúndio, mas a imensaproblema principal naquele estado não é o latifúndio, mas a imensariqueza de hidrocarbonetos.riqueza de hidrocarbonetos.riqueza de hidrocarbonetos.riqueza de hidrocarbonetos.riqueza de hidrocarbonetos.

Sacha Llorenti- O tema dos recursos naturais é a luta eterna dospovos, a batalha pelo seu controle, a forma como se distribui estasriquezas. A revolução de 1952 fez uma reforma agrária que jamaischegou ao Oriente do país. Em Santa Cruz, por exemplo, apenas 15famílias controlam mais de 80% da terra, é impressionante. Estes mes-mos atores políticos, estes mesmos interesses, sempre se opuseram ànacionalização. Mas agora que há recursos, porque a nacionalização éuma conquista que está beneficiando os distintos setores do país, elesquerem que estes recursos sejam somente para as regiões. Não aceitamdistribuí-los de maneira solidária. Então, vamos continuar nesta bata-lha. Seguramente vamos enfrentar muitos problemas mais adiante,porém continuaremos mantendo nossa lógica de princípios. Afirma-mos que os serviços básicos são direitos humanos; que a democracia é aforma de resolver nossas diferenças; que é preciso defender a MãeTerra, os nossos recursos estratégicos, as nossas empresas estratégicas.

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São concepções que têm permitido que o país avance.São concepções que têm permitido que o país avance.São concepções que têm permitido que o país avance.São concepções que têm permitido que o país avance.São concepções que têm permitido que o país avance.

Sacha Llorenti- Nosso país está se recuperando economicamente.Depois de 20 anos de neoliberalismo, 18 anos de ditaduras militares,a Bolívia, que foi o país com menos reservas internacionais, está me-lhorando. Recebemos o governo em 2006 com 1,7 bilhão de dólaresde reservas, agora temos mais de 6,5 bilhões. Pelo segundo ano conse-cutivo estamos tendo superávit fiscal, quando era histórico o nossodéficit. Já tivemos até que pedir esmola ao exterior para poder pagar osalário dos nossos professores. Isso acabou. Vamos erradicar o analfa-betismo este ano, conseguimos estabelecer um bônus para as crianças- o Juancito Pinto - que está reduzindo a evasão escolar; garantimos aRenda Dignidade para os idosos com mais de 60 anos; conseguimos amultiplicação das vagas nas universidades; aumentamos os salários dosprofessores e dos trabalhadores na saúde e os investimentos nestas áre-as; estamos levando programas e projetos sociais a todos os municípiosdo país, e é por isso que as pessoas apóiam o governo. As últimas pes-quisas registram um apoio de 63%, apesar de toda a campanha midiáticacontrária, todos estes interesses.

AAAAAs rs rs rs rs rádios, ádios, ádios, ádios, ádios, TVs e jorTVs e jorTVs e jorTVs e jorTVs e jornais parnais parnais parnais parnais parecem que falam de outrecem que falam de outrecem que falam de outrecem que falam de outrecem que falam de outro país, é umao país, é umao país, é umao país, é umao país, é umaguerrguerrguerrguerrguerra psicológica constante. Com exa psicológica constante. Com exa psicológica constante. Com exa psicológica constante. Com exa psicológica constante. Com exceção do Cceção do Cceção do Cceção do Cceção do Canal 7 e da Ranal 7 e da Ranal 7 e da Ranal 7 e da Ranal 7 e da RádioádioádioádioádioPPPPPátria Nátria Nátria Nátria Nátria Nooooovvvvva, do Ea, do Ea, do Ea, do Ea, do Estadostadostadostadostado, a mídia mente sem descanso, a mídia mente sem descanso, a mídia mente sem descanso, a mídia mente sem descanso, a mídia mente sem descanso. O que faz. O que faz. O que faz. O que faz. O que fazer?er?er?er?er?

Sacha Llorenti - Vamos continuar informando o país pelos distintosmeios e vias, denunciando a lógica que está por detrás destes interesses.Os donos dos maiores veículos de comunicação são os donos da terra noOriente do país. Isso deixa clara a sua militância na oposição. Nós conti-nuamos com outros meios, outras formas de informação. É uma lutadesigual, mas estamos montando nossas redes de rádios comunitárias,com os camponeses, com os povos indígenas. Temos formas de aproxi-mação do presidente, de relação mais direta com a população.

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Há a possibilidade de se estabelecer um controle público sobre asHá a possibilidade de se estabelecer um controle público sobre asHá a possibilidade de se estabelecer um controle público sobre asHá a possibilidade de se estabelecer um controle público sobre asHá a possibilidade de se estabelecer um controle público sobre asemissoremissoremissoremissoremissoras privas privas privas privas privadas? Como colocar um fradas? Como colocar um fradas? Como colocar um fradas? Como colocar um fradas? Como colocar um freio a tantos abusos e tama-eio a tantos abusos e tama-eio a tantos abusos e tama-eio a tantos abusos e tama-eio a tantos abusos e tama-nha desinformação?nha desinformação?nha desinformação?nha desinformação?nha desinformação?

Sacha Llorenti - Nós não temos maioria no Congresso, somente naCâmara dos Deputados. O Senado ainda está nas mãos da oposição.Este é um tema de interesse político e econômico que não interessa aosdonos dos meios de comunicação. Eles não querem uma transforma-ção desta natureza.

Qual o peso que joga a solidariedade internacional neste momento?Qual o peso que joga a solidariedade internacional neste momento?Qual o peso que joga a solidariedade internacional neste momento?Qual o peso que joga a solidariedade internacional neste momento?Qual o peso que joga a solidariedade internacional neste momento?

Sacha Llorenti - Nós seguimos o exemplo internacionalista de CheGuevara. A solidariedade entendida não só como um apoio moral ouum apoio meramente formal, mas de estar somando junto, exposta aomesmo destino. Somos beneficiários do internacionalismo e queremoscontribuir com o internacionalismo. Temos a solidariedade incondicio-nal de Cuba e Venezuela. São centenas de médicos cubanos e profissio-nais que têm estado conosco contribuindo na melhoria da saúde e parao processo de alfabetização. Na Bolívia estamos vivendo um dos proces-sos mais comoventes da história latino-americana. É um país onde maisde 60% da população é indígena e que pela primeira vez tem um presi-dente indígena. E o presidente não é só um índio, mas um índio revolu-cionário, que está transformando as estruturas do país. E neste momen-to na América Latina estamos nos encontrando com uma onda, umatendência, para construir sociedades mais justas. O que temos de fazer étraduzir os sonhos de nossos libertadores e mártires em realidade. E aítemos grandes desafios, imensos, como a Unasul (União das Nações Sul-americanas). A solidariedade dos povos é clara, o que falta é materializá-la nos governos progressistas.

Publicado no Portal do Mundo do Trabalho, no jornal Hora do Povo e no Vermelho.www.vermelho.org.br

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Bolívia nas ruas e urnas contra o imperialismo 49

OOOOOprprprprpresidente Eesidente Eesidente Eesidente Eesidente Evvvvvo criou um Mo criou um Mo criou um Mo criou um Mo criou um Ministério parinistério parinistério parinistério parinistério para ra ra ra ra recuperecuperecuperecuperecuperar as Ear as Ear as Ear as Ear as Es-s-s-s-s-tatais, por intermédio do qual tem sido sustentadas astatais, por intermédio do qual tem sido sustentadas astatais, por intermédio do qual tem sido sustentadas astatais, por intermédio do qual tem sido sustentadas astatais, por intermédio do qual tem sido sustentadas asnacionalizações. Qual o significado desta medida?nacionalizações. Qual o significado desta medida?nacionalizações. Qual o significado desta medida?nacionalizações. Qual o significado desta medida?nacionalizações. Qual o significado desta medida?

Leny Erika - A partir da época do Consenso de Wa-shington se definiram políticas neoliberais para toda aAmérica do Sul, e a Bolívia foi um dos países mais afeta-dos. Assim, o Estado foi privatizado e desnacionalizado,deixando de dar atenção à população, que ficou aban-donada. Nossa compreensão é que os serviços públicossão obrigação do Estado e que, portanto, são necessáriasavaliações sobre os diferentes processos de alienação depatrimônios, de forma que, respeitando direitos, façamosuma recuperação justa. As nacionalizações garantem so-berania ao país e dignidade para o povo boliviano.

RRRRRecuperecuperecuperecuperecuperar o Ear o Ear o Ear o Ear o Estado com justiça social.stado com justiça social.stado com justiça social.stado com justiça social.stado com justiça social.

Leny Erika - A realidade é que o esvaziamento do Estado empobre-ceu ainda mais a população, ampliando a desigualdade social enquan-to grupos de famílias se enriqueciam e grupos de poder manipulavamo governo. O que o presidente Evo Morales pretende é o fortaleci-mento econômico do Estado para conseguir uma melhor distribuiçãoda riqueza. Este é o sentido do processo de nacionalização e recupera-ção dos recursos naturais e das empresas estratégicas.

Entrevista com a diretora geral do Ministério das RecuperaçõesEstatais da Bolívia, Leny Erika Chávez Barrancos

Leny ErikaLeny ErikaLeny ErikaLeny ErikaLeny Erika

“Nacionalização garante soberania

à Bolívia e dignidade a seu povo”

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Bolívia nas ruas e urnas contra o imperialismo50

Esta é a função do seu Ministério?Esta é a função do seu Ministério?Esta é a função do seu Ministério?Esta é a função do seu Ministério?Esta é a função do seu Ministério?

Leny Erika - Exatamente. Vimos que era necessário dotar o gover-no nacional de uma entidade específica e especializada, que se ocupas-se da defesa legal do Estado boliviano nas controvérsias sobre investi-mentos, em âmbito nacional e internacional, que nos amparasse e aten-desse de forma oportuna e eficiente.

HHHHHá muito trá muito trá muito trá muito trá muito trabalhoabalhoabalhoabalhoabalho, então, então, então, então, então, pela fr, pela fr, pela fr, pela fr, pela frente.ente.ente.ente.ente.

Leny Erika - Claro que sim. Os neoliberais e privatistas venderamas principais empresas nacionais. Inicialmente, por meio da capitaliza-ção, que a lei lhes possibilitava, transferindo para as empresas priva-das, multinacionais, até 49% das ações. Mas foram além e entregaramum percentual ainda maior. Houve um momento em que o Estadoboliviano perdeu completamente o controle das suas empresas estra-tégicas, como a de hidrocarbonetos e de comunicação. Da mesma for-ma, nossa empresa aérea, o Lloyd Aéreo Boliviano.

AAAAAs ações visam estancar a sangria ao estrs ações visam estancar a sangria ao estrs ações visam estancar a sangria ao estrs ações visam estancar a sangria ao estrs ações visam estancar a sangria ao estrangeirangeirangeirangeirangeirooooo.....

Leny Erika - Nosso entendimento é que os recursos que geram nos-sas empresas devem ser investidos no desenvolvimento do país, comoestamos fazendo, por exemplo, com o controle do gás e do petróleo,com a YPFB (Yacimientos Petrolíferos Fiscales Bolivianos) e na minade estanho de Huanuni, próxima a Oruro, que emprega mais de qua-tro mil operários. Este é o nosso compromisso.

Publicado no jornal Hora do Povo.

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Bolívia nas ruas e urnas contra o imperialismo

Solidariedade é chave para

isolar o fascismo golpista

Entrevista com o secretário de organização do Congresso Bolivarianodos Povos (CBP) e presidente da Fundação Emancipação, Fernando Bossi

Fernando Bossi, do CBPFernando Bossi, do CBPFernando Bossi, do CBPFernando Bossi, do CBPFernando Bossi, do CBP

AAAAABolívia é uma nação que tem forBolívia é uma nação que tem forBolívia é uma nação que tem forBolívia é uma nação que tem forBolívia é uma nação que tem fortes trtes trtes trtes trtes traaaaa-----ços indígenas. Pços indígenas. Pços indígenas. Pços indígenas. Pços indígenas. Poderias fazoderias fazoderias fazoderias fazoderias fazer uma brer uma brer uma brer uma brer uma breveveveveveeeeesíntese histórica e geogrsíntese histórica e geogrsíntese histórica e geogrsíntese histórica e geogrsíntese histórica e geográfica do país?áfica do país?áfica do país?áfica do país?áfica do país?

Fernando Bossi - A cultura indígena do atualterritório boliviano remonta a mais de 5000 anos.A cultura tiahuanaco, florescente entre os anos600 a 800 da Era Cristã, foi cenário, em janeirode 2006, da cerimônia onde o presidente EvoMorales celebrou, com os povos originários e umdia antes de tomar posse no Palácio Quemado,em La Paz, o triunfo popular que o levou à primeira magistratura. Secalcula que 60% da população boliviana é indígena. Quechuas eaimarás constituem a grande maioria; chiquitanos, guaranis, ayoreos,guarayos, pausernas, chiriguanos e outros grupos menores lhes seguemem importância numérica. Os primeiros se situam no altiplano e vales,os segundos no oriente boliviano. O resto da população é mestiça,uma pequena minoria é branca. Cerca de 60% da população vive nascidades e 40% na área rural. A Bolívia tem uma superfície total de108 milhões de hectares, dos quais 72 milhões não servem para a agri-cultura nem para a pecuária. Dos 36 milhões de hectares aptos para aagropecuária, 32 milhões estão em mãos de médias e grandes empre-sas. Só 4 milhões de hectares restam para os mais 500 mil camponesespobres, quase em sua totalidade indígenas. No rico Departamento deSanta Cruz, apenas 17 famílias, pessoas e empresas detêm 512 milhectares de terra.

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Bolívia nas ruas e urnas contra o imperialismo

SSSSSão constrão constrão constrão constrão constrastes trastes trastes trastes trastes tremendos.emendos.emendos.emendos.emendos.

Fernando Bossi - Veja o exemplo do surcofúndio, uma porção deterreno de dez metros por 50, ou menos, de onde uma família neces-sita tirar o seu sustento. É algo que nenhum estudioso poderá compre-ender. Porém ocorre. Latifúndio e surcofúndio expressam formas depropriedade da terra que delatam a injustiça social que sofre o povoboliviano e, em particular, a população indígena.

Bolívia, BolívBolívia, BolívBolívia, BolívBolívia, BolívBolívia, Bolívararararar, nascimento, nascimento, nascimento, nascimento, nascimento...............

Fernando Bossi - A Bolívia nasce em 1826 como corolário da guer-ra contra o colonialismo espanhol. O Libertador Simón Bolívar se opôsnum primeiro momento à conformação de um país independente comas províncias do Alto Perú (assim se denominava à região que consti-tuía parte das Províncias Unidas do Rio da Prata). Mas por iniciativado Marechal Sucre foi realizado um congresso que decidiu pela inde-pendência, denominando o novo país de Bolívia, em homenagem aoLibertador. Pouco tempo durou Antonio José de Sucre na Presidênciada nova república. Ainda que seu governo fosse exemplar em todos osaspectos, a oligarquia boliviana conspirou de tal forma que conseguiuafastar da Presidência o Marechal de Ayacucho, jogando por terratodos os decretos revolucionários emanados de Bolívar e das medidasprogressistas assumidas por Sucre. A oligarquia boliviana alcançavaassim o seu duplo objetivo: expulsar a burocracia espanhola e tambémos Libertadores do colonialismo. O país inteiro se convertia numa gran-de fazenda e campo mineiro para usufruto de umas poucas famíliasaristocráticas.

A oligarA oligarA oligarA oligarA oligarquia parquia parquia parquia parquia parasitando as riquezas e tirasitando as riquezas e tirasitando as riquezas e tirasitando as riquezas e tirasitando as riquezas e tirando o courando o courando o courando o courando o couro do poo do poo do poo do poo do povvvvvooooo...............

Fernando Bossi - Daí em diante, a ‘filha predileta do Libertador’52

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ficou submetida ao arbítrio de uma classe dominante sustentada naexploração do índio e do povo em seu conjunto. Tupac Catari, PedroMurillo, Manuel Asencio Padilla, Bartolina Sisa, Miguel Lanza, JuanaAzurduy, Idelfonso de las Muñecas, Vicente Camargo e tantos patrio-tas e revolucionários que deram seu sangue pela libertação, passaramao esquecimento pela ação dos donos das minas e fazendas. A últimatentativa de retomar as bandeiras bolivarianas, levada adiante porAndrés de Santa Cruz ao constituir a Confederação Peruano-Bolivia-na, também fracassou ante à conspiração das elites. Esta mesma oligar-quia, que historicamente traiu, se vendeu ao estrangeiro e explorou aseu povo, é a que hoje atenta contra o governo legítimo de Evo Morales.

OOOOOs testas-de-ferrs testas-de-ferrs testas-de-ferrs testas-de-ferrs testas-de-ferro sangro sangro sangro sangro sangrando o país parando o país parando o país parando o país parando o país para o impérioa o impérioa o impérioa o impérioa o império.....

Fernando Bossi - Primeiro a prata, depois o estanho, mais tarde ogás e o petróleo, sempre os recursos naturais. Durante mais de 500anos estas riquezas foram saqueadas pela oligarquia em favor dos im-périos de plantão (Espanha, Inglaterra e Estados Unidos). Foi assim,neste descaminho de exploração e desmandos, que a Bolívia perdeusua saída ao mar ante a feroz investida da oligarquia chilena. Logo sedessangrou numa guerra contra o Paraguai inventada pelas petrolei-ras Standard Oil (atual Exxon, dos Estados Unidos) e a Shell (Inglater-ra). Mais de 200 mil mortos, entre paraguaios e bolivianos, regaramcom seu sangue o inóspito território do Chaco, onde as empresas im-perialistas pensavam que havia petróleo.

E como tem sido historicamente a reação a estes desmandos?E como tem sido historicamente a reação a estes desmandos?E como tem sido historicamente a reação a estes desmandos?E como tem sido historicamente a reação a estes desmandos?E como tem sido historicamente a reação a estes desmandos?

Fernando Bossi - Salvo breves intervalos, quando governou ‘el tata’Isidro Belzú, protetor de índios e pobres, a insurreição indígena e cam-ponesa de Wilka Zárate, os brevíssimos governos nacionalistas deGermán Busch, David Toro e Gualberto Villarroel, a Bolívia foi uma

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feitoria anglo-estadunidense que produzia estanho, à custa do traba-lho semi-escravo, para as metrópoles capitalistas. O nome de SimónPatiño, principal dono da mineração boliviana, ficou gravado na me-mória do povo como sinônimo do diabo e sua perversidade. O TioPatinhas tem o capital deste personagem como referência.

E o processo revolucionário de 1952?E o processo revolucionário de 1952?E o processo revolucionário de 1952?E o processo revolucionário de 1952?E o processo revolucionário de 1952?

Fernando Bossi - A Revolução Boliviana de 1952, conduzida peloMovimento Nacionalista Revolucionário, MNR, conseguiu naciona-lizar as minas e levar adiante uma tímida Reforma Agrária. O MNRno poder alcançou alguns avanços na inclusão social do setor majori-tário e mais abandonado da sociedade: os indígenas. Porém pouco apouco, através da pressão e chantagem da oligarquia e do imperialis-mo, a revolução foi se redesenhando, até terminar traindo os postula-dos de quando foi fundada. Novamente a oligarquia se assenhoravasobre a sofrida Bolívia. Governos entreguistas, ditaduras sangrentas,forças de ‘esquerda’ que nem bem chegavam ao governo se transfor-mavam em direita, foi a constante das últimas cinco décadas de histó-ria (seguramente com a exceção do brevíssimo governo do generalTorres). O cúmulo foi o governo de Gonzalo Sánchez Lozada, presi-dente pelo MNR já neoliberal, que nem sequer sabia falar correta-mente o idioma espanhol, pois havia sido educado nos EUA e pro-nunciava o castelhano com forte sotaque inglês. Ele levou ao últimoextremo a aplicação do Consenso de Washington: privatizações,internacionalização da economia, concentração das riquezas, etc.

E como a população reagiu?E como a população reagiu?E como a população reagiu?E como a população reagiu?E como a população reagiu?

Fernando Bossi - Ante tanta entrega, os movimentos sociais, quesempre resistiram ao modelo de exploração, foram ganhando experi-ência e amadurecendo em organização. A vanguarda aparece na re-54

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gião do Chapare, departamento de Cochabamba, onde se planta afolha de coca e se vende a preço superior ao de outros cultivos. Ali éonde foram parar, expulsos pela miséria, o minifúndio e o desempre-go nas minas, uma infinidade de trabalhadores mineiros e campone-ses do ocidente boliviano. A experiência sindical aportada por estesnovos trabalhadores de Chapare ajudou na constituição de poderosasfederações sindicais camponesas. Um dos principais dirigentes queencabeça estas novas organizações combativas é Evo Morales Ayma.

EEEEEvvvvvo se toro se toro se toro se toro se tornou sinônimo de rnou sinônimo de rnou sinônimo de rnou sinônimo de rnou sinônimo de resistência popularesistência popularesistência popularesistência popularesistência popular.....

Fernando Bossi - Combatidos pelos governos de plantão e desde aembaixada dos Estados Unidos, sob o pretexto da luta contra onarcotráfico, os cocaleros resistiram heroicamente à intervenção dasforças de segurança do Estado e dos agentes da DEA (a agênciaantidrogas dos EUA). Feitos heróicos de todo um povo em luta ocor-reram sucessivamente. O nome de Evo Morales e os cocaleros recorri-am a Bolívia como sinônimo de rebeldia, luta pela justiça social e defe-sa dos recursos naturais. O resto da história é recente e conhecida. AGuerra pela Água em Cochabamba, a Guerra do Gás em todo o ter-ritório, a defesa da coca e os recursos naturais, a convulsão social quedepôs o presidente Sánchez de Lozada e a constituição do MovimentoAo Socialismo como instrumento político das forças sociais, foram eta-pas que abriram caminho para que Evo Morales chegasse à Presidên-cia pelo voto popular em dezembro de 2005.

UUUUUm marm marm marm marm marco históricoco históricoco históricoco históricoco histórico.....

Fernando Bossi - Evo Morales foi o primeiro indígena que chega àPresidência na América do Sul. Isso preocupou as oligarquias da região,mas principalmente o Pentágono. Desde o primeiro dia em que assu-miu Evo, 22 de janeiro de 2006, a contra-revolução se pôs em marcha.

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Bolívia nas ruas e urnas contra o imperialismo

Nacionalização dos Hidrocarbonetos, Reforma Agrária, redistribuiçãomais equitativa das riquezas, convocação de uma Assembléia Constitu-inte, incorporação à Alternativa Bolivariana para as Américas (Alba),política soberana e dignificação dos setores mais desprotegidos provoca-ram a ira das classes dominantes bolivianas e do imperialismo.

Diante do avDiante do avDiante do avDiante do avDiante do avanço popularanço popularanço popularanço popularanço popular, a dir, a dir, a dir, a dir, a direita se reita se reita se reita se reita se rearearearearearticula...ticula...ticula...ticula...ticula...

Fernando Bossi - A contra-revolução plantou seu centro de opera-ções no Departamento de Santa Cruz. Localizado no Oriente bolivia-no, é o mais extenso em superfície (quase 1/3 do território nacional) esua capital, Santa Cruz de la Sierra, é a cidade mais povoada (1,2 milhãode habitantes contra 800 mil de La Paz e 1 milhão de El Alto). Ao mes-mo tempo, o Departamento de Santa Cruz lidera outros três tambémdo Oriente, Tarija, Pando e Beni, que, juntos, constituem a chamadaMeia Lua.

O que faz da Meia Lua o berço da reação?O que faz da Meia Lua o berço da reação?O que faz da Meia Lua o berço da reação?O que faz da Meia Lua o berço da reação?O que faz da Meia Lua o berço da reação?

Fernando Bossi - A Meia Lua é a região onde mais se concentram asriquezas do país: hidrocarbonetos, gado, agricultura e madeira. A de-cadência da mineração, a exploração de hidrocarbonetos e os produ-tos agropecuários para a exportação transferiram o pólo de riquezasdo ocidente para o oriente do país. Esta região aporta 44% do PIB detoda Bolívia. Em conseqüência, a nova oligarquia boliviana se concen-trou majoritariamente nesta localidade, centro operativo de seus ne-gócios e de sua ação política.

A oligarA oligarA oligarA oligarA oligarquia de Squia de Squia de Squia de Squia de Santa Canta Canta Canta Canta Crrrrruz à fruz à fruz à fruz à fruz à frente dos rente dos rente dos rente dos rente dos racistas.acistas.acistas.acistas.acistas.

Fernando Bossi - Como nova cidade importante (a pujança de San-ta Cruz remonta somente às últimas décadas), mantém uma oligar-56

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quia tradicional que não se mesclou com o enorme componente indí-gena do ocidente. O ‘camba’, como se denomina o cruzenho, é bran-co, descendente de espanhóis ou de imigrantes europeus e profunda-mente racista. O desprezo ao índio, seja quechua, aymará, chiquitanoou guarani é o que os caracteriza como classe dominante.

UUUUUma elite que está inteirma elite que está inteirma elite que está inteirma elite que está inteirma elite que está inteiramente de costas paramente de costas paramente de costas paramente de costas paramente de costas para o país.a o país.a o país.a o país.a o país.

Fernando Bossi - Em função do exposto anteriormente, os antece-dentes racistas e a superexploração a que foi submetido o povo bolivi-ano, esta oligarquia se expressa cotidianamente com uma metodologiafascista, que é preciso levar em conta na hora de avaliar futuros cená-rios. O referendo autonômico colocou o país irmão às margens deuma guerra civil. Provavelmente esta oligarquia não pretenda chegara este extremo, porém tenta produzir um ‘banho de sangue’ ou umagrande comoção interna, para exigir do presidente Evo Morales queapresente uma ‘renúncia digna’, com a desculpa de pacificar o país eevitar seu desmembramento. Pressionaram para que Evo renunciasse,em um ‘gesto patriótico’, para mudar, desta forma, a correlação deforças. A oligarquia pretende desequilibrar a situação buscando van-tagem para seus interesses, derrubar o ‘índio Evo’ e negociar com seto-res mais ‘palatáveis’ e conciliadores. A extorsão permanente é a possi-bilidade de dividir o país apelando a um suposto direito de ‘auto-de-terminação dos povos’ que lhes daria uma fachada ‘democrática’, quan-do realmente é um pretexto para a desestabilização do governo demo-crático e popular. A manobra da contra-revolução é excessivamenteperigosa para ambas as partes. Daí, a importância da mobilização e daunidade, pois cada vez mais o destino dos povos da Nossa América estáligado. Não podemos economizar criatividade nem disposição na soli-dariedade em defesa do presidente Evo Morales, de seu legítimo go-verno e do povo boliviano.

Publicado no Portal do Mundo do Trabalho.57

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Bolívia nas ruas e urnas contra o imperialismo

NNNNNesta entrevista, Osvaldo Peredo, parlamentar do Movimen-to Ao Socialismo (MAS - partido do presidente Evo Morales)e presidente da Fundação Che Guevara, faz uma análise

sobre o momento político boliviano, os avanços do processo revolucio-nário em seu país e a postura progressista esolidária do governo brasileiro nas negoci-ações que levaram à nacionalização doshidrocarbonetos. Irmão de Inti e de CocoPeredo, que lutaram ao lado de Che, Os-valdo foi escolhido - após a queda em com-bate dos três - chefe do Exército de Liberta-ção Nacional no início dos anos 70, sendouma referência para todos os nacionalistase revolucionários bolivianos desde então.Este primeiro contato com Osvaldo Peredo

se deu no ato de solidariedade organizado pela Secretaria de RelaçõesInternacionais do Partido dos Trabalhadores, realizado no dia 31 dejulho de 2008, no Sindicato dos Químicos de São Paulo, com a parti-cipação de diversas lideranças partidárias e dos movimentos sociais.

QQQQQuais as principais mudanças ruais as principais mudanças ruais as principais mudanças ruais as principais mudanças ruais as principais mudanças realizadas pelo goealizadas pelo goealizadas pelo goealizadas pelo goealizadas pelo govvvvverererererno Eno Eno Eno Eno Evvvvvo Mo Mo Mo Mo Morororororales?ales?ales?ales?ales?

Peredo - No Primeiro de Maio de 2006, poucos meses depois dopresidente Evo Morales ter assumido o executivo, se dá a nacionalizaçãodos hidrocarbonetos. Esse negócio, que é uma das principais fontes deingressos da Bolívia, significava a entrada de US$ 1,5 bilhão por ano, o

“Mídia é instrumento do império

contra a soberania e a integração”

Entrevista com Osvaldo Peredo, parlamentar do MAS(Movimento Ao Socialismo) em Santa Cruz

OOOOOsvsvsvsvsvaldo Paldo Paldo Paldo Paldo Perererereredoedoedoedoedo, do MAS, do MAS, do MAS, do MAS, do MAS

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que para nosso país é uma cifra astronômica. Porém, desse total, fica-vam nominalmente US$ 300 milhões para o Estado e US$ 1,2 bilhãopara as transnacionais. Com a nacionalização, invertemos a situação.Mas digo algo mais: essas transnacionais não deixavam esses US$ 300milhões no país, pois sugavam tais recursos por meio de mecanismoscomo subsídios pela importação de diesel. A Repsol vendia, a si mes-ma, diesel para a Repsol da Bolívia. Assim, o Tesouro Geral da naçãorecebia apenas US$ 78 milhões ao ano. Hoje, com a nacionalização,que não é confisco, nosso país recebe anualmente US$ 2 bilhões. Ouseja, a retomada pelo país de seus recursos naturais, fundamentalmentedo petróleo e do gás, por si só, já significou um salto monumental noplano econômico. Antes, os estrangeiros levavam 82% dos recursos dopetróleo enquanto que os 18% que ficavam no país ainda eram malver-sados pela oligarquia. Eram contratos lesivos ao interesse nacional, mascompletamente desconhecidos do povo boliviano. A bancada do MASos trouxe à tona, nós mudamos as regras do jogo, invertemos ospercentuais e por isso estamos vivendo este novo momento. A direitadizia que as transnacionais iriam embora. Não foram, porque seguemlucrando.

RRRRRecursos que começam a ser utilizados parecursos que começam a ser utilizados parecursos que começam a ser utilizados parecursos que começam a ser utilizados parecursos que começam a ser utilizados para o desenva o desenva o desenva o desenva o desenvolvimentoolvimentoolvimentoolvimentoolvimentonacional e parnacional e parnacional e parnacional e parnacional e para ra ra ra ra redistribuir redistribuir redistribuir redistribuir redistribuir renda.enda.enda.enda.enda.

Peredo - Isso se sente, particularmente nos municípios, com a en-trada de recursos provenientes da nacionalização. Sou parlamentar doMAS em Santa Cruz de la Sierra e posso citar um dado: em 2005,pelo imposto direto dos hidrocarbonetos o município recebia 2 mi-lhões de bolivianos ao ano. Hoje, recebemos cerca de 300 milhões debolivianos ao ano. É evidente que a oligarquia não está convencida deque isso deva ser conduzido pelo povo. Então, erguem a bandeira daautonomia, pois querem descentralizar o governo apenas e tão somen-te para reforçar o centralismo nas regiões, para desperdiçar todos esses

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recursos. Mas há boas notícias também na mineração, onde se firma-ram convênios com grandes empresas internacionais para exploraçãodas jazidas de ferro. E há uma avaliação do quanto a Bolívia podearrecadar com o ferro. No primeiro ano serão US$ 60 milhões, che-gando a US$ 400 milhões em dez anos, ingressos para o Estado bolivi-ano. Essa mineração é em Santa Cruz, somente. No resto do país, oestanho se valorizou o que significa o ingresso de mais US$ 2 bilhões.

QQQQQuais são as medidas adotadas paruais são as medidas adotadas paruais são as medidas adotadas paruais são as medidas adotadas paruais são as medidas adotadas para ampliar o acesso da popula-a ampliar o acesso da popula-a ampliar o acesso da popula-a ampliar o acesso da popula-a ampliar o acesso da popula-ção aos alimentos básicos?ção aos alimentos básicos?ção aos alimentos básicos?ção aos alimentos básicos?ção aos alimentos básicos?

Peredo - O governo se vê na necessidade de coibir a exportaçãopara que possa ter uma cesta básica que caiba no bolso da população.Os grandes latifundiários, que são donos das fábricas de azeite, debeneficiamento de arroz, desviavam produtos do mercado interno paraa exportação, ocultavam para especular, contrabandeavam, tudo paraque o preço subisse e ganhassem mais. Assim, encareciam os produtosno mercado interno, o que fez com que o governo colocasse um freionestas práticas. Recentemente, começamos a permitir novamente aexportação, mas na medida em que baixam os preços de produtos.Também foram criados vários tipos de entidades financeiras como oBanco de Desenvolvimento Produtivo, onde o crédito vai direto paraos pequenos e médios produtores. Isso também tem produzido umchoque com a direita, com os grandes donos de terras e de indústriasalimentícias. Estamos avaliando uma parceria com investidores ára-bes, que querem incrementar a produção alimentária em US$ 2 bi-lhões. Por um lado combatemos a especulação, por outro ampliamosos incentivos à agricultura familiar.

Como a eleição de EComo a eleição de EComo a eleição de EComo a eleição de EComo a eleição de Evvvvvo impactou na auto-estima nacional?o impactou na auto-estima nacional?o impactou na auto-estima nacional?o impactou na auto-estima nacional?o impactou na auto-estima nacional?

Peredo - O impacto foi substancial, mas vai além da auto-estima do60

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povo boliviano majoritariamente indígena. De acordo com o InstitutoNacional de Estatísticas, 62% da nossa população é indígena, mas arealidade aponta que são mais, pois há muitas pessoas que pelo pre-conceito racial, pela intensa discriminação de que foram historicamenteobjeto, não declaram sua condição indígena. A auto-estima de todo opovo boliviano tem se elevado, porque éramos conhecidos como umpaís produtor de droga, de cocaína, que estava entre os últimos luga-res na fila do desenvolvimento, totalmente submetido ao estrangeiro.Agora que o governo é comandado por um indígena revolucionário,que está propondo e produzindo transformações imprescindíveis, issotem forte impacto não apenas para o nosso país, mas para toda a Amé-rica Latina.

QQQQQual sua avual sua avual sua avual sua avual sua avaliação da posturaliação da posturaliação da posturaliação da posturaliação da postura do goa do goa do goa do goa do govvvvverererererno brno brno brno brno brasileirasileirasileirasileirasileiro nas negocia-o nas negocia-o nas negocia-o nas negocia-o nas negocia-ções quando do decreto de nacionalização?ções quando do decreto de nacionalização?ções quando do decreto de nacionalização?ções quando do decreto de nacionalização?ções quando do decreto de nacionalização?

Peredo - O governo brasileiro teve um papel destacado na garantiadesta transição não ter sido traumática, principalmente pelas durasnegociações estabelecidas com a Petrobrás, onde encontramos, juntos,uma saída positiva. Tudo foi bem graças à ação do presidente Lulaque, arriscando uma situação política interna difícil, sustentou que erapreciso atuar com justiça com o povo boliviano. Nosso agradecimentoao presidente Lula.

UUUUUma posturma posturma posturma posturma postura solidária.a solidária.a solidária.a solidária.a solidária.

Peredo - Claro, uma solidariedade que tem representado uma im-portante base de sustentação. Por exemplo: com a cooperação cuba-na, em menos de dois anos, construímos 60 hospitais de qualidade.São 2 mil médicos cooperando conosco. Este ano, graças à cooperaçãoCuba-Venezuela, nosso país será declarado pela Unesco livre do anal-fabetismo. Há pouco mais de dois anos, tínhamos 32% de analfabe-

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tos, um dos maiores índices da América Latina. Com a ajudavenezuelana, abrimos uma grande planta de perfuração de gás e pe-tróleo no Altiplano, o que contribuirá cada vez mais para a nossa sobe-rania energética e para a integração de nossos países e povos. Assim,vamos avançando. Lula, Chávez, Cristina Kirchner, Rafael Correa,Daniel Ortega, Lugo. Todos são componentes de uma mesma corren-te, com suas variantes, porque cada povo tem a sua fortaleza. É umadiversidade e amplitude que nos dá força.

MMMMMas há obstáculos de peso contras há obstáculos de peso contras há obstáculos de peso contras há obstáculos de peso contras há obstáculos de peso contra a integra a integra a integra a integra a integraçãoaçãoaçãoaçãoação.....

Peredo - Um dos graves empecilhos à integração é a avalanchedesinformativa, a tirania midiática, pois os meios de comunicação pri-vados adotam uma postura terrorista em nossos países. No caso daBolívia, controlados pela direita, exacerbam o racismo. Afinal, “comoum índio ignorante pode governar um país?”, perguntam. Por issoqueremos conclamar aos companheiros para que acompanhem de pertoo processo boliviano, que é de todos os latino-americanos, para evitarque haja confrontação, pois os fascistas querem a guerra civil. Há gru-pos paramilitares dessa direita que agridem as pessoas apenas pela di-ferença da cor de sua pele. Esses setores, confiantes na sua própriamentira, propuseram um projeto de lei para o referendo revogatóriodos mandatos. Quando o governo encarou o desafio, eles tentaramfugir das urnas. O povo não quer violência, quer resolver os proble-mas politicamente. Precisamos de todo apoio internacional, particu-larmente do povo brasileiro, para que a vitória no referendo signifiqueum aprofundamento do processo revolucionário e da integração.

Como iniciou sua militância?Como iniciou sua militância?Como iniciou sua militância?Como iniciou sua militância?Como iniciou sua militância?

Peredo - Me inscrevi na Juventude Comunista aos 13 anos. Meusirmãos eram, claro, os que me influenciavam politicamente: Antonio,62

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Inti e Coco. Então veio a revolução cubana, que foi mais um poderosoestímulo, oxigenando nossa determinação. De fato, quando Che chegana Bolívia são muitos os jovens comunistas que se incorporam à guerrilha.

Estavas lá?Estavas lá?Estavas lá?Estavas lá?Estavas lá?

Peredo - Eu estava em Moscou estudando medicina, quando mefoi dada a tarefa de recrutar jovens bolivianos e latino-americanos queestudavam em países socialistas. O Che em seu diário diz: “se incorpo-raram 20 estudantes de países socialistas”. Esta tarefa estava sendo de-senvolvida por mim. Os desdobramentos disso são conhecidos pelahistória. Coco cai numa emboscada. Inti sobrevive e quando estamosorganizando um novo contingente para voltar à montanha, assassi-nam Inti numa emboscada na cidade de La Paz, dois anos depois daguerrilha. Então, em 1970, os remanescentes - éramos 12 - me ele-gem chefe do Exército de Libertação Nacional, fundado por Che, ecomeçamos a reestruturar a nossa coluna guerrilheira. Em 1970, dezmeses depois da queda em combate de Inti, tínhamos uma coluna de67 homens e voltamos à montanha, mas já com ramificações na cida-de. Há um compromisso com o sangue de Che.

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TTTTTomo emprestado o título do esclarecedor artigo do economis-ta colombiano Héctor Mondragón, “De Meia Lua a quartominguante” para reiterar o óbvio: o presidente Evo Morales e

seu vice Álvaro García Linera não apenas foram vitoriosos no referen-do revogatório de 10 de agosto de 2008, como a oposição, sua mídiaracista e o embaixador dos EUA, Philip Goldberg – já expulso do país- amargaram uma rotunda derrota.

Para criar o caldo de cultura propício ao retrocesso, o marketingpolítico golpista criou manchetes ao estilo “Evo ganhou e a oposiçãotambém. Bolívia dividida”, como se fosse possível comparar a afirma-ção maiúscula de uma liderança nacional – que cresceu em todas asregiões -, com a manutenção de governos locais limitados quase queexclusivamente aos bairros centrais de suas capitais, sob crescente cer-co das províncias.

Na ponta do lápis, foram 2.103.872 votos (67,4%) para o Sim àcontinuidade do governo revolucionário contra 1.017.037 votos(32,5%) para o Não, com o triunfo alcançando 95 das 112 provínci-as. O presidente venceu em absolutamente todas as províncias de LaPaz, Cochabamba, Potosí e Oruro. Em Chuquisaca, foi ratificado emnove das dez províncias. Em Tarija, em cinco das seis; em Pando, trêsem cinco; em Beni, três de seis; em Santa Cruz, sete das 15 províncias.

A expressividade do resultado, com Evo ampliando a votação mes-mo onde a direita considerava seu ‘reduto’, rompeu definitivamente asuposta ‘hegemonia’ reacionária nos departamentos da Meia Lua,redesenhando o panorama favoravelmente às forças nacionais, demo-cráticas e populares.

Como detalha Mandragon, “o Sim à ratificação ganhou em 6 dos9 departamentos, inclusive em dois da chamada Meia Lua, Pando e

de meia lua a quarto minguante

Oposição, sua mídia racista e o embaixador ianque derrotados

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Chuquisaca. Em Tarija, um dos três em que ganhou o Não, a diferen-ça foi de apenas 457 votos e o mais importante nesse departamento: aoposição ganhou somente na região central da capital, enquanto nasoutras cinco províncias a vitória foi do Sim. Em Chuquisaca, departa-mento que a Meia Lua acreditava ter incorporado, unicamente a ci-dade de Sucre votou contra Evo, enquanto que nas outras nove pro-víncias Evo se impôs, na maioria com votações superiores a 70%, o quelevou a que o Sim triunfasse no conjunto deste departamento, derro-tando a oligarquia de Sucre e a classe média ‘branca’ ”.

Ainda nos departamentos em que mantém maior força, a oposiçãominguou, esclarece Mandragon: “Em Beni, Evo ganhou em Marban(65%), Moxos (60%) e Ballivian (53%), ou seja, em três das 8 provín-cias. Em Santa Cruz, Evo subiu de 33% dos votos nas eleições presi-denciais a 40% e o que é mais grave para a oposição, Evo ganhou nasprovíncias de Ichilo (74%), Ñuflo de Chávez (73%), Manuel Caballero(68%), Santistevan (55%), Cordillera (55%), Guarayos (55%) e Flo-rida (50,4%), quer dizer, em de sete das 15 províncias de Santa Cruz”.“A Meia Lua que parecia estar em fase crescente após a suposta captu-ra de Chuquisaca, está minguante”, sublinhou.

Na avaliação do intelectual colombiano, o ocorrido no dia 25 demaio de 2008, em Sucre, quando fascistas humilharam indígenas ecamponeses de Chuquisaca, “incluídos seus prefeitos, obrigando-os aque se despissem em praça pública, ajoelhar-se e ‘pedir perdão’ ”, foium dos motores do voto massivo, pelo qual “os indígenas e campone-ses responderam ao racismo violento e vulgar”. Em segundo lugar,frisou, os 34 povos indígenas dos departamentos da Meia Lua se con-verteram na vanguarda da resistência em toda a região, com suas orga-nizações, que desconheceram a validade dos ‘Estatutos Autonômicos’de Santa Cruz, Beni, Pando e Tarija, que tratam de manter o regimeeconômico das transnacionais, do latifúndio e do neoliberalismo. “Con-tra essa camisa-de-força se levantou a desobediência civil, movimentoque exigiu que se votasse a Constituição aprovada pela Assembléia

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Constituinte, a qual reconhece claramente os direitos da grande mai-oria explorada e oprimida, e abre caminho para a plena recuperaçãodos recursos naturais, a defesa do meio ambiente e a uma economiaem beneficio do conjunto da população”, acrescentou.

Em seu artigo Os Mapas da Bolívia, Marcos Salgado demonstra queem Santa Cruz de la Sierra, “Evo Morales obteve um apoio histórico”.“Votou pelo Sim 40,75%, enquanto o prefeito Rubem Costas foi ratifi-cado por 66,43%, contra 33,57% que lhe disseram Não. Santa Cruzteve o índice de abstenção mais alto do país, 24%, quando em geralficou abaixo dos 20%. Em Beni, Pando e Tarija, as cifras de aceitaçãoaos prefeitos foram menores, e o voto a favor de Evo foi ainda maior, aponto de ganhar em Pando e empatar em Tarija. Em suma, fica claroque as cifras ribombantes de apoios superiores a 80% nos referendosautonômicos só podem ser compreendidos à luz de uma abstenção gi-gantesca e de uma campanha midiática que evitou qualquer análise sé-ria. Agora que votaram as maiorias, a realidade é outra”.

Enquanto isso, Evo consolida seus espaços em La Paz, onde as 20províncias do Departamento ratificaram a continuidade do Chefe deEstado, com destaque para a província de Omasuyos, onde obteve98,44% dos votos. Na capital, 888.028 pessoas (83.27%) votaramcom o presidente e apenas 177.772 defenderam a revogação do seumandato (16.73%).

O mesmo aconteceu em todas as 16 províncias do departamentode Cochabamba, onde o presidente venceu em todas as províncias,com ênfase em Tapacarí, onde registrou 96.93% dos votos. EmCochabamba, 402.681 votaram por Evo (70,9%) contra 165.276(29,1%), que se alinharam com o Não. O resultado obrigou o gover-nador do Departamento, o separatista Manfred Reyes Villa, a renun-ciar depois de ser rejeitado pelo eleitorado. Reyes tinha desconhecidotanto o referendo em si como seus resultados e deu declarações dizen-do que não entregaria o cargo.

Em entrevista ao jornal argentino Crônica, o presidente avaliou66

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que “os resultados mostram que os bolivianos acreditam cada vez me-nos nos meios de comunicação privados: me atacam sistematicamente,mas não puderam impedir que ganhássemos. 90% da mídia está con-tra mim, mas dois terços do país aprova este processo de mudanças”.

Comemorando o resultado, Evo dirigiu-se desde o balcão presi-dencial no Palácio Quemado à multidão concentrada na Praça Murillo,que lhe pedia “mão firme” contra os golpistas: “Este percentual pro-vém da grande maioria dos despossuídos, dos humilhados e esqueci-dos das terras indígenas. Este triunfo significa um sim para a busca dejustiça social e de mudança”. E sublinhou: “A decisão do povo, nãovamos nos enganar, não foi só para me manter no poder, um sim parao Evo, independentemente do que o nosso governo fez. É para conso-lidar este processo de mudanças. Estamos aqui para continuar avan-çando na recuperação de nossos recursos, na nacionalização, o que éfundamental na retomada das empresas do Estado”.

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ABI

Em Sucre, no dia 24 de maio, dezenas de camponeses foram despidos, agredidos eEm Sucre, no dia 24 de maio, dezenas de camponeses foram despidos, agredidos eEm Sucre, no dia 24 de maio, dezenas de camponeses foram despidos, agredidos eEm Sucre, no dia 24 de maio, dezenas de camponeses foram despidos, agredidos eEm Sucre, no dia 24 de maio, dezenas de camponeses foram despidos, agredidos ehumilhados em prhumilhados em prhumilhados em prhumilhados em prhumilhados em praça pública pelos raça pública pelos raça pública pelos raça pública pelos raça pública pelos racistas que os obrigaracistas que os obrigaracistas que os obrigaracistas que os obrigaracistas que os obrigaram a “am a “am a “am a “am a “pedir perpedir perpedir perpedir perpedir perdãodãodãodãodão”””””

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o mapa do referendo revogatório

Vitória maiúscula do Sim aponta para aprofundamento das mudanças

SIM - 273.525 (40,75%)NÃO - 397.670 (59,25%)NÃO - 397.670 (59,25%)NÃO - 397.670 (59,25%)NÃO - 397.670 (59,25%)NÃO - 397.670 (59,25%)

SIM - 885.028 (83,27%)SIM - 885.028 (83,27%)SIM - 885.028 (83,27%)SIM - 885.028 (83,27%)SIM - 885.028 (83,27%)NÃO - 177.772 (16,73%)

SIM - 43.146 (43,72%)NÃO - 55.542 (56,28 %)NÃO - 55.542 (56,28 %)NÃO - 55.542 (56,28 %)NÃO - 55.542 (56,28 %)NÃO - 55.542 (56,28 %)

SIM - 141.161 (82,99%)SIM - 141.161 (82,99%)SIM - 141.161 (82,99%)SIM - 141.161 (82,99%)SIM - 141.161 (82,99%)NÃO - 28.935 (17,01%)

SIM - 185.317 (84,87%)SIM - 185.317 (84,87%)SIM - 185.317 (84,87%)SIM - 185.317 (84,87%)SIM - 185.317 (84,87%)NÃO - 33.029 (15,13%)

SIM - 66.645 (49,83%)NÃO - 67.102 (50,17%)NÃO - 67.102 (50,17%)NÃO - 67.102 (50,17%)NÃO - 67.102 (50,17%)NÃO - 67.102 (50,17%)

SIM - 402.681(70.90%)SIM - 402.681(70.90%)SIM - 402.681(70.90%)SIM - 402.681(70.90%)SIM - 402.681(70.90%)NÃO - 165.276 (29,10%)

SIM - 2.103.872 - 67,41%

NÃO - 1.017.037 - 32,59%

OOOOOs bolivianos se pronunciaram de forma esmagadora pelo Simà pergunta “Você está de acordo com a continuidade doprocesso de mudanças liderado pelo presidente Evo Morales

Ayma e o vice-presidente Álvaro García Linera?”. No referendo de 10de agosto de 2008, de forma democrática e soberana, em pleito acom-panhado por centenas de observadores internacionais, 67,4% refe-rendaram o processo.

SIM - 13.753 (52,50%)SIM - 13.753 (52,50%)SIM - 13.753 (52,50%)SIM - 13.753 (52,50%)SIM - 13.753 (52,50%)NÃO - 12.445 (47,50%)

SIM - 92.616 (53,88%)SIM - 92.616 (53,88%)SIM - 92.616 (53,88%)SIM - 92.616 (53,88%)SIM - 92.616 (53,88%)NÃO - 79.266 (46,12%)

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TTTTTupac Katari, a rebelião.Evo Morales, a revolu-ção”, estampava o cartaz

grudado numa das tantas paredescheias de vida e paixão do PalácioQuemado, em La Paz. Enquantoesperava na fila das sempre elásti-cas agendas governamentais, come-cei a ler a nova Constituição Políti-ca do Estado, aprovada sob san-grentos protestos da direita. Passa-do pouco mais de um mês daquelavisita, a oligarquia faz o sangue jor-rar forte e caudaloso. O rancor e ahisteria golpista se agudizam, ga-nhando contornos nítidos etaxativos. Criminosas explosões degasodutos, queima de emissoras derádios e tevês populares, destruiçãode prédios públicos e o mais repug-nante: a inominável covardia con-tra os mais pobres, contra os camponeses e indígenas, a quem a oligar-quia quer culpar pelo seu próprio fracasso. A palavra de ordem “Der-rubar o índio” fala por si de um racismo ancestral trazido pelos coloni-zadores espanhóis e sustentado política, econômica e ideologicamentepela embaixada norte-americana.

bolívia, evo e a constituição

contra o obscurantismo fascista

Na nova Carta Magna, as razões da histeria da oligarquia edos EUA contra o avanço da democracia e da justiça social

Katari, a rebelião. Evo, a revoluçãoKatari, a rebelião. Evo, a revoluçãoKatari, a rebelião. Evo, a revoluçãoKatari, a rebelião. Evo, a revoluçãoKatari, a rebelião. Evo, a revolução

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Bolívia nas ruas e urnas contra o imperialismo

Na capa azul do material de popularização do texto da nova Cons-tituição, aprovada em dezembro de 2007, se vê no alto a bandeiravermelha, amarela e verde, com o Sim, “para construir uma Bolíviadigna, soberana, democrática e produtiva”. Com destaque, abaixo dobrasão nacional utilizado como marca d’água, um singelo: “Para viverbem”. Logo em seguida, na apresentação datada de fevereiro de 2008,o presidente Evo Morales Ayma lembra que o texto “contou com orespaldo de mais de dois terços dos constituintes de dez frentes políti-cas dos nove departamentos do país”. “Nesta etapa de socialização ecomunicação de todos os capítulos e artigos da nova Constituição Po-lítica do Estado, que devem estar respaldados em um referendo, é pre-ciso assinalar que entre todos os bolivianos e bolivianas, do campo e dacidade, devemos buscar a unidade do país”, afirmou.

Passados nove meses de aprovada a nova Constituição e uma elei-ção consagradora, onde obteve o apoio de mais de dois terços dos elei-tores (67,4%), no dia 10 de agosto, Evo Morales enfrenta aradicalização dos setores fascistas, capitaneados por latifundiários emarionetes das transnacionais, que tentam fragmentar a nação. Osmesmos que dilaceraram o corpo de Tupac Katari, em 1781, amar-rando suas pernas e braços a quatro cavalos. Mal sabiam eles que aodestroçarem os membros do líder aymará, ao lhe partirem em peda-ços, estavam somando consciência e multiplicando convicções. Nesteexato momento, a mesma pusilanimidade se repete como ação vil dosque historicamente se apropriaram do poder e das riquezas do país,que roubavam e prostituíam para os estrangeiros.

A atuação do governo boliviano nestes pouco mais de dois anos,assim como a nova Constituição, aponta para ações coletivas rumo aofim de um Estado colonial, pois, agora, o povo é cada vez mais sujeitoe senhor de seu destino.

Para contribuir com o debate e o bom combate, publicamos umasíntese do que consideramos como os artigos mais expressivos da novaConstituição, que precisa ainda ser ratificada pelo voto popular. Ao70

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Bolívia nas ruas e urnas contra o imperialismo

lê-la, o leitor conhecerá as razões dosoligarcas fascistas e racistas que, com ocoro da mídia vende-pátria e o patrocí-nio ianque, se opõem ao clamor popular,com conspirações, boicotes e sabotagens.

A nova Carta Magna boliviana deter-mina ao Estado “a direção integral dodesenvolvimento econômico e seus pro-cessos de planificação”; aprofunda emassifica a reforma agrária; fomenta a in-dustrialização; impede a privatização e aconcessão dos serviços públicos essenci-ais; estabelece normas de proteção aos tra-balhadores (reconhecidos como a prin-cipal força produtiva da sociedade); su-bordina a propriedade privada à funçãosocial e ao interesse coletivo; garante aeducação pública, universal, descolonizadora e de qualidade; fortale-ce a democracia e a soberania popular com o voto e o serviço militarobrigatórios; impede os monopólios e o oligopólio nas comunicações,fomenta a criação e manutenção de meios comunitários “em igualda-de de condições e oportunidades”, garantindo o direito à retificação eà réplica, assegurando a liberdade de expressão, opinião e informação.

Conhecer a nova Constituição boliviana é ver com clareza o hori-zonte que se descortina, vivo e rico para o povo, como as cores do arco-íris da bandeira andina, mas também trágico e lúgubre para a guardapretoriana da ignorância e da subserviência ao amo estrangeiro.

Abaixo, seguindo o texto constitucional, publicado entre aspas,encontra-se uma análise do seu significado feita pelo governo Evo, dasimplicações para a melhoria da qualidade de vida, para o presente e ofuturo da nação boliviana onde reverbera o último grito de TupacKatari: “Voltarei e serei milhões!”

Bandeira nas mãos, povo comemora asBandeira nas mãos, povo comemora asBandeira nas mãos, povo comemora asBandeira nas mãos, povo comemora asBandeira nas mãos, povo comemora asnacionalizações - 1º de Maio de 2006nacionalizações - 1º de Maio de 2006nacionalizações - 1º de Maio de 2006nacionalizações - 1º de Maio de 2006nacionalizações - 1º de Maio de 2006

ABI

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Bolívia nas ruas e urnas contra o imperialismo

MODELMODELMODELMODELMODELO DE DESENVO DE DESENVO DE DESENVO DE DESENVO DE DESENVOLOLOLOLOLVIMENTVIMENTVIMENTVIMENTVIMENTOOOOO ECONÔMICO E SOCIAL ECONÔMICO E SOCIAL ECONÔMICO E SOCIAL ECONÔMICO E SOCIAL ECONÔMICO E SOCIAL

“I. O modelo econômico boliviano é plural e está orientado a me-lhorar a qualidade de vida e ao viver bem de todas as bolivianas e osbolivianos.

II. A economia plural está constituída pelas formas de organizaçãoeconômica comunitária, estatal, privada e social cooperativa.

III. A economia plural articula as diferentes formas de organizaçãoeconômica sobre os princípios de complementaridade, reciprocidade,solidariedade, redistribuição, igualdade, sustentabilidade, equilíbrio,justiça e transparência. A economia social e comunitáriacomplementará o interesse individual com o viver bem coletivo.

IV. As formas de organização econômica reconhecidas nesta Cons-tituição poderão constituir empresas mistas.

V. O Estado tem como máximo valor o ser humano e assegurará odesenvolvimento mediante a redistribuição eqüitativa dos excedenteseconômicos em políticas sociais, de saúde, educação, cultura e noreinvestimento no desenvolvimento econômico produtivo” (AAAAArrrrrtigo 307tigo 307tigo 307tigo 307tigo 307).

A Bolívia se caracteriza por ter uma estrutura econômica desigual,devido à extração de matérias-primas sem beneficiamento, à remessade lucros ao estrangeiro e à carência de investimentos na industrializa-ção do país. Ao reconhecer o ser humano como sujeito do desenvolvi-mento, se pretende desmercantilizar as relações sociais, a partir da vi-gência plena dos direitos humanos individuais e coletivos.

POLÍTICA ECONÔMICAPOLÍTICA ECONÔMICAPOLÍTICA ECONÔMICAPOLÍTICA ECONÔMICAPOLÍTICA ECONÔMICA

“A economia plural compreende a responsabilidade estatal de diri-gir integralmente o desenvolvimento e a planificação com participa-ção cidadã, a industrialização dos recursos naturais e a intervençãoestatal em toda a cadeia produtiva dos recursos estratégicos. As ativi-72

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dades econômicas devem servir para fortalecer a soberania econômicado país, gerar trabalho digno, contribuir na redução das desigualda-des, na erradicação da pobreza e na proteção do meio ambiente” (AAAAAr-r-r-r-r-tigos 312 a 314tigos 312 a 314tigos 312 a 314tigos 312 a 314tigos 312 a 314).

O modelo econômico implica uma importante participação estatalna regulação das atividades econômicas, diferentemente do sistemaliberal que deixa toda esta dinâmica às ‘leis do mercado’. A regulaçãoopera através da planificação que deve responder a amplos consensossociais resultantes de consultas prévias ao cidadão, mediante suas or-ganizações representativas. Por outro lado, o Estado deve intervir emtoda a cadeia produtiva da exploração (produção, transformação,comercialização e outros) dos setores estratégicos da economia. Tam-bém se estabelece que se devem industrializar os recursos naturais parase contrapor à prática histórica de extração e exportação de matérias-

primas sem valor agregado.A principal finalidade das atividades

econômicas deve ser fortalecer a sobera-nia econômica do país, para exercer asoberania política e a capacidade dos bo-livianos tomarem suas próprias decisões.Assim mesmo deve gerar emprego, jáque somente 18% da população econo-micamente ativa tem trabalho estável;contribuir para a redução das imensas

desigualdades e erradicar a pobreza. Seis de cada 10 bolivianos são po-bres e, na área rural, nove de cada dez pessoas se encontram em situaçãode pobreza. Finalmente, as atividades econômicas não devem divorciar-se do manejo sustentável dos recursos naturais e do manejo equilibradodo meio ambiente.

“O investimento boliviano será priorizado frente ao investimentoexterno. Todo investimento externo se submeterá à jurisdição, leis eautoridades bolivianas” (AAAAArrrrrtigo 320tigo 320tigo 320tigo 320tigo 320).

Seis de cada dez bolivianos sãoSeis de cada dez bolivianos sãoSeis de cada dez bolivianos sãoSeis de cada dez bolivianos sãoSeis de cada dez bolivianos sãopobres. Na área rural, a situaçãopobres. Na área rural, a situaçãopobres. Na área rural, a situaçãopobres. Na área rural, a situaçãopobres. Na área rural, a situação

se agrava: nove de cada dezse agrava: nove de cada dezse agrava: nove de cada dezse agrava: nove de cada dezse agrava: nove de cada dez

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Os investidores nacionais têm preferência sobre os estrangeiros eambos se submeterão às autoridades e leis bolivianas, diferentementedo passado recente em que se assinaram contratos com empresas pe-trolíferas (Enron e outras), submetendo o Estado boliviano a leis es-trangeiras e tribunais de arbitragem internacional.

“O orçamento geral incluirá a todas as entidades do setor público,atendendo especialmente à educação, saúde, alimentação, moradia edesenvolvimento produtivo” (AAAAArrrrrtigo 321tigo 321tigo 321tigo 321tigo 321).

Significa que todas as instituições públicas do país (prefeituras, go-vernos estaduais, universidades, governo central e entidadesautárquicas, como a Yacimientos Petrolíferos Fiscales Bolivianos - YPFB)estarão dentro do orçamento geral do Estado, o que incluirá tambémtodos os investimentos e fontes de financiamento deste orçamento.

“A Assembléia Legislativa autorizará a contratação de dívida públi-ca quando se demonstre a capacidade de pagamento do Estado paracobrir o capital, os juros e se justifiquem tecnicamente as condiçõesvantajosas em taxas, prazos e montantes” (AAAAArrrrrtigo 322tigo 322tigo 322tigo 322tigo 322).

Os governos militares e os neoliberais assumiram dívidas superioresà capacidade de pagamento do Estado boliviano; entre 2000 e 2004a dívida pública foi ampliada em 26%; 34% dos ingressos fiscais eramempréstimos de organismos multilaterais como o Banco Mundial, oFMI e o BID, os mesmos que impunham ao país suas políticas, debili-tando sua soberania e aprofundando os níveis de dependência econô-mica e subordinação política.

DELITDELITDELITDELITDELITOS ECONÔMICOSOS ECONÔMICOSOS ECONÔMICOSOS ECONÔMICOSOS ECONÔMICOS

“Não prescreverão as dívidas e os danos econômicos ao Estado”(Artigo 324Artigo 324Artigo 324Artigo 324Artigo 324).

Medida contra a corrupção, para punir a todo aquele que tiverprovocado danos econômicos ao Estado (sobrepreços, evasões de divi-sas, etc).74

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RECURSOS NARECURSOS NARECURSOS NARECURSOS NARECURSOS NATURAISTURAISTURAISTURAISTURAIS

Disposições geraisDisposições geraisDisposições geraisDisposições geraisDisposições gerais“Os recursos naturais são propriedade do povo boliviano, respei-

tando direitos de propriedade sobre a terra e de aproveitamento sobreos recursos naturais” (AAAAArrrrrtigo 349tigo 349tigo 349tigo 349tigo 349).

“Os recursos naturais são de caráter estratégico e de interesse pú-blico para o desenvolvimento do país” (AAAAArrrrrtigo 348tigo 348tigo 348tigo 348tigo 348).

“O aproveitamento dos recursos naturais deve garantir asustentabilidade e o equilíbrio ecológico” (AAAAArrrrrtigo 342tigo 342tigo 342tigo 342tigo 342).

“Para conservar ecossistemas em determinados lugares, a explora-ção dos recursos naturais estará sujeita a uma consulta à populaçãoafetada” (AAAAArrrrrtigo 352tigo 352tigo 352tigo 352tigo 352).

“O Estado, através de entidades públicas, sociais ou comunitárias,assumirá o controle e direção sobre toda a cadeia produtiva referenteaos recursos naturais. Para sua gestão e administração se deve garantiro controle e a participação social” (Artigo 351Artigo 351Artigo 351Artigo 351Artigo 351).

A regulação relativa aos recursos naturais destaca três elementos: apropriedade social, a gestão sustentável e a administração pública. Asconstituições anteriores declararam o domínio e propriedade estatalsobre os recursos naturais, o que deu lugar a sua privatização pelasadministrações de plantão, tal como ocorreu com as reservas de gás. Anova Constituição estabelece a propriedade social do povo boliviano,pelo que já não se poderão ceder direitos de propriedade, senão, so-mente, de uso e aproveitamento. Com esta medida se trata constitucio-nalmente os recursos naturais como de caráter estratégico e de interes-se coletivo, antes que de grupos ou pessoas.

A nova Constituição também restitui o papel estatal na economiaem geral e na gestão dos recursos naturais em particular, dada a neces-sidade de apropriar-se das utilidades que gera sua exploração comobase da promoção do desenvolvimento integral e de concretizar a so-berania política a partir da soberania econômica.

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HIDRHIDRHIDRHIDRHIDROCARBONETOCARBONETOCARBONETOCARBONETOCARBONETOSOSOSOSOS

“Os hidrocarbonetos serão administrados em toda a cadeia produtivasob a gestão da YPFB, que poderá subscrever contratos de serviços comempresas públicas, mistas ou privadas, mediante prévia autorizaçãolegislativa. A industrialização dos hidrocarbonetos estará a cargo de umaempresa estatal. Constitucionalizase que serão destinados 11% de impos-tos aos departamentos (estados) produtores” (AAAAArrrrrtigos 361 a 363 e 368tigos 361 a 363 e 368tigos 361 a 363 e 368tigos 361 a 363 e 368tigos 361 a 363 e 368).

Depois da nacionalização do gás, se refunda a YPFB como entida-de pública autárquica e com autonomia de gestão para que, em repre-sentação do povo boliviano, possa desenvolver todas as fases da produ-ção de hidrocarbonetos, priorizando o objetivo da sua industrializa-ção para avançar o conjunto da industrialização do país.

A atividade não exclui a iniciativa privada, já que a YPFB poderácontratar empresas privadas para que prestem serviços (construção dedutos, transporte e outros). No entanto, não serão mais contratos lesi-vos aos interesses do país, porque não transferirão propriedade, nemsubordinarão as decisões públicas a interesses empresariais privados,sendo somente contratos de operação.

Destaca também a obrigatoriedade de tramitar autorizaçãolegislativa a respeito de contratos que possam celebrar a YPFB paragarantir fiscalização, transparência e soberania. Finalmente, se elevamà nível constitucional os impostos de 11% de participação direta dasregiões produtoras que lutaram por esta conquista.

MINERAÇÃOMINERAÇÃOMINERAÇÃOMINERAÇÃOMINERAÇÃO

“O Estado é responsável pelas riquezas mineralógicas, exercerá con-trole e fiscalização em toda a cadeia produtiva, outorgará direitos mi-neiros sujeitos ao cumprimento de uma função econômico-social. Sereconhece como atores produtivos a indústria mineira estatal, privadae sociedades cooperativas. Os grupos mineiros nacionalizados, suas76

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unidades industriais e funções não poderão ser transferidas a empre-sas privadas” (AAAAArrrrrtigos 369 a 372tigos 369 a 372tigos 369 a 372tigos 369 a 372tigos 369 a 372).

Da mesma forma que os hidrocarbonetos, os minerais representamrecursos de alto valor estratégico, pelo que se determina a intervençãoestatal em toda a cadeia produtiva, sem desconhecer as empresas mineirasprivadas e os cooperativistas, que contarão com proteção estatal sempreque suas atividades se dêem no cumprimento de uma função econômico-social. Os grupos mineiros nacionalizados são aqueles que emergem danacionalização das minas de 1952, incluindo suas unidades industriais oude transformação, conversão ou refinação de minerais e metais.

RECURSOS HÍDRICOSRECURSOS HÍDRICOSRECURSOS HÍDRICOSRECURSOS HÍDRICOSRECURSOS HÍDRICOS

“A água é um direito fundamentalíssimo para a vida, o Estado promo-verá seu uso e acesso, pelo que não poderão ser privatizados nemconcessionados seus serviços. Para o manejo e gestão sustentável da água,se reconhecem os usos e costumes das comunidades. O Estado regulará omanejo e gestão sustentável dos recursos hídricos e das bacias hisdrográficas,segurança alimentária e serviços básicos. Todo tratado internacional sobrerecursos hídricos deve preservar a soberania do país” (AAAAArrrrrtigos 373 a 377tigos 373 a 377tigos 373 a 377tigos 373 a 377tigos 373 a 377).

A água adquire a categoria de direito fundamentalíssimo, quer di-zer, se encontra entre aqueles que são imprescindíveis para a vida esaúde das pessoas. Por isso é que não pode ser privatizado, nemtampouco se poderão outorgar concessões sobre seus serviços ou reco-nhecer direitos de prestação de serviços a empresas privadas que lu-crem com esta atividade, como ocorreu com a Bechtel, que provocoua Guerra da Água em Cochabamba, em abril de 2000.

Além de ser imprescindível para a vida, a água cumpre outras fun-ções essenciais, como serviços básicos (saneamento, esgoto, equilíbrioecológico), irrigação para garantir a produção e produtividade agrí-cola, conseqüentemente está associada ao abastecimento das necessi-dades alimentícias da população (segurança alimentar).

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Por estas razões o Estado deve definir as regras do jogo sobre o usoe acesso à água, garantindo que o aproveitamento dos recursos hídricosseja eqüitativo, solidário, sustentável, pelo que se reconhecem usos ecostumes das comunidades indígenas, camponesas e originárias nagestão dos recursos hídricos.

Finalmente, a água não pode ser objeto de comercialização nem sedeve arriscar seu controle no momento de subscrever tratados comer-ciais com outros países, porque isso implicaria em atuar contra a sobe-rania do país.

ENERENERENERENERENERGIAGIAGIAGIAGIA

“A cadeia produtiva energética é faculdade privativa do Estado atra-vés de empresas produtivas públicas, mistas ou instituições sem finslucrativos” (AAAAArrrrrtigo 378tigo 378tigo 378tigo 378tigo 378).

A atividade energética (eletricidade, hidroelétricas e outras fontesde geração, transmissão e distribuição) é fundamental para o desen-volvimento de um país, pelo que se estabelece a intervenção estatal emtoda a cadeia produtiva, podendo formar empresas mistas com maio-ria acionária pública e participação de capitais privados ou utilizar-sede entidades sem fins lucrativos.

BIODIVERSIDADEBIODIVERSIDADEBIODIVERSIDADEBIODIVERSIDADEBIODIVERSIDADE

“Os recursos naturais renováveis se aproveitam de maneira susten-tável, respeitando as características naturais dos ecossistemas, os solosdevem ser utilizados conforme sua melhor capacidade de uso. As es-pécies nativas de origem animal e vegetal constituem patrimônio na-tural. O Estado protegerá os recursos genéticos e microorganismosque se encontrem em seu território, assim como os conhecimentos as-sociados aos mesmos” (AAAAArrrrrtigos 380 e 381tigos 380 e 381tigos 380 e 381tigos 380 e 381tigos 380 e 381).

A nova Constituição inclui a biodiversidade (diversidade biológica78

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ou diferentes formas de vida existentes) pondo em destaque sua carac-terização como de valor estratégico (formam parte da indústria medi-cinal e cosmética, se encontram em terceiro lugar no planeta do pontode vista da movimentação de capitais), sua colocação como parte dopatrimônio natural do país, sua condição fundamental para preservaro equilíbrio ecológico e dos ecossistemas, a importância e valor dosconhecimentos associados.

COCACOCACOCACOCACOCA

“O Estado protege a coca originária e ancestral como patrimôniocultural, recurso natural da biodiversidade da Bolívia e como fator decoesão social; em seu estado natural não é entorpecente. A revalorização,produção, comercialização e industrialização será regida mediante alei” (Artigo 384Artigo 384Artigo 384Artigo 384Artigo 384).

A coca se define como recurso natural e não como entorpecente oudroga, além de se lhe imputar valor de patrimônio natural e de coesão(articulação ou agregação) social. Nesta qualidade merece proteçãoestatal consistente, entre outros aspectos, na promoção da sua indus-trialização ou utilização com fins medicinais (digestivo, protéico) eoutros usos (doces, pasta dental, etc.)

ÁREAS PRÁREAS PRÁREAS PRÁREAS PRÁREAS PROOOOOTEGIDASTEGIDASTEGIDASTEGIDASTEGIDAS

“As áreas protegidas são um bem comum e cumprem funçõesambientais, culturais, sociais e econômicas para o desenvolvimento susten-tável. Se institui mecanismos de controle social e co-gestão entre o Estadoe as populações locais na gestão das áreas protegidas” (AAAAArrrrrtigo 385tigo 385tigo 385tigo 385tigo 385).

As áreas protegidas são espaços territoriais caracterizados por pos-suírem importantes riquezas naturais que constituem as reservas e lu-gares estratégicos para o desenvolvimento de um país. São caracteriza-das como parte do patrimônio natural e cultural; com funções de con-

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servação ambiental e equilíbrio ecológico, além de outras de índoleeconômica, pelas riquezas que contêm e de valor social e cultural, por-que ali habitam comunidades e populações locais. Dentro de seus ter-ritórios se produz a interação, descobrimentos, conhecimentos e ges-tão destas populações. Portanto, não poderão ser objeto de lucro nemde administração privada, mas de um sistema de co-gestão comparti-lhada entre o Estado e as populações locais.

RECURSOS FLRECURSOS FLRECURSOS FLRECURSOS FLRECURSOS FLORESTORESTORESTORESTORESTAISAISAISAISAIS

“Os bosques naturais e os solos florestais são estratégicos para o de-senvolvimento, o Estado promoverá atividades de conservação e apro-veitamento sustentável, a geração de valor agregado, a reabilitação ereflorestamento de áreas degradadas. As comunidades indígenas ori-ginárias camponesas assentadas em áreas florestais terão direito exclu-sivo de aproveitamento e gestão” (AAAAArrrrrtigos 386 a 388tigos 386 a 388tigos 386 a 388tigos 386 a 388tigos 386 a 388).

As áreas florestais e de bosque cobrem mais da metade do territórionacional, onde vivem comunidades indígenas e operam também em-presas madeireiras e de construção. Declaram-se estes recursos de altovalor estratégico para o desenvolvimento sustentável, se busca sua con-versão em produtos transformados, seu aproveitamento diversificado, aexclusividade de uso por parte das comunidades indígenas origináriasem suas respectivas jurisdições territoriais. O Estado regulará seu apro-veitamento em termos sustentáveis e respeitando a vocação natural dossolos. Reconhecem-se direitos de aproveitamento em favor de particula-res com a condição de respeitar o interesse coletivo e a gestão sustentável.

TERRA-TERRITTERRA-TERRITTERRA-TERRITTERRA-TERRITTERRA-TERRITÓRIOÓRIOÓRIOÓRIOÓRIO

“Se reconhece a propriedade individual e comunitária sobre a ter-ra, sujeitas ao cumprimento da função social e da função econômicosocial correspondentes” (AAAAArrrrrtigo 391tigo 391tigo 391tigo 391tigo 391).80

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“A propriedade individual compreende a pequena propriedade e apropriedade empresarial” (Artigo 392Artigo 392Artigo 392Artigo 392Artigo 392).

“A propriedade comunitária compreende o território indígena ori-ginário camponês, entendido como o direito coletivo sobre a terra e ousufruto exclusivo dos recursos naturais renováveis nas condições de-finidas pela lei, além da consulta e participação para a exploração dosrecursos naturais não renováveis em suas jurisdições territoriais” (AAAAArrrrrti-ti-ti-ti-ti-go 392go 392go 392go 392go 392).

“Se proíbe o latifúndio, entendido como os imóveis que excedem asuperfície máxima, que não cumpram a função econômico-social oureproduzam sistemas de servidão ou semi-escravistas de trabalho hu-mano” (AAAAArrrrrtigo 396tigo 396tigo 396tigo 396tigo 396).

“As terras públicas serão distribuídas a indígenas, camponeses ori-ginários e afro-bolivianos” (AAAAArrrrrtigo 393tigo 393tigo 393tigo 393tigo 393).

“O descumprimento da função econômico-social ou a condição delatifúndio ocasionará a reversão da propriedade da terra” (AAAAArrrrrtigo 397tigo 397tigo 397tigo 397tigo 397).

“A administração, planificação, controle, distribuição,redistribuição, reagrupamento e toda ação inerente à Reforma Agrá-ria é de competência do Serviço Nacional de Reforma Agrária presidi-do pelo Presidente do Estado” (AAAAArrrrrtigo 400tigo 400tigo 400tigo 400tigo 400).

Com relação às normas referentes à terra e ao território, se parte dacaracterização da atual estrutura agrária na qual se acentua a polariza-ção entre latifúndio no oriente e minifúndio no ocidente, os baixosníveis de produção-produtividade e de desenvolvimento rural, a con-centração dos meios de produção, os elevados índices de pobreza nocampo, as desequilibradas relações de intercâmbio no mercado e oselevados níveis de migração campo-cidade.

A nova Constituição projeta uma estrutura agrária em que o Estadotem sob sua responsabilidade a planificação, administração, distribuição,controle e outras ações referentes ao processo de reforma agrária. Articulatambém o desenvolvimento sustentável com o desenvol vimento rural, namedida em que define o uso da terra de acordo a sua vocação natural.

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Incorpora também a dimen-são cultural à questão agrária,ao reconhecer a territorialidadeindígena como fundamentopara efetivar integralmente osdireitos coletivos dos povos in-dígenas e nações originárias.

Reafirma o princípio funda-mental da Reforma Agrária de1953, sob a moderna concep-

ção de função econômico-social, como condição para o exercício dodireito proprietário empresarial sobre a terra.

Ratifica o Serviço Nacional de Reforma Agrária como entidade pú-blica a cargo das políticas públicas do setor e fortalece os mecanismosredistributivos da terra para enfrentar o latifúndio.

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Publicado no Portal do Mundo do Trabalho, no Vermelho e na página do PT

Acima, em 21 de outubro de 2006, o governo federal entregou a primeira dotaçãoAcima, em 21 de outubro de 2006, o governo federal entregou a primeira dotaçãoAcima, em 21 de outubro de 2006, o governo federal entregou a primeira dotaçãoAcima, em 21 de outubro de 2006, o governo federal entregou a primeira dotaçãoAcima, em 21 de outubro de 2006, o governo federal entregou a primeira dotaçãode terras da União a 600 famílias camponesas de Santa Cruzde terras da União a 600 famílias camponesas de Santa Cruzde terras da União a 600 famílias camponesas de Santa Cruzde terras da União a 600 famílias camponesas de Santa Cruzde terras da União a 600 famílias camponesas de Santa Cruz

Na mesma data, Federação dos CamponesesNa mesma data, Federação dos CamponesesNa mesma data, Federação dos CamponesesNa mesma data, Federação dos CamponesesNa mesma data, Federação dos Camponesesde de de de de TTTTTarija rarija rarija rarija rarija recebeu seus primeirecebeu seus primeirecebeu seus primeirecebeu seus primeirecebeu seus primeiros tros tros tros tros tratoratoratoratoratoreseseseses

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CCCCComo pudemos constatar em nossa mais recente visita à Bolí-via, foram imensos os prejuízos causados pelo vandalismo naocupação de instituições públicas nos Departamentos (Esta-

dos) de Santa Cruz, Beni,Pando, Tarija e Chuquisaca.Conforme levantamentosparciais, os bandos organiza-dos e armados pelos gover-nos direitistas da chamadaMeia Lua - financiados pelaEmbaixada dos EUA - pro-vocaram perdas econômicasque ultrapassam os US$ 110milhões, além de levarem opaís à beira da guerra civil,comprometendo temporari-amente os avanços na refor-ma agrária e na políticaindigenista. Retomados ago-ra pelo presidente EvoMorales, muitos dos prédi-os e escritórios terão de serinteiramente reconstruídos ereequipados.

Como Evo já deixou cla-ro, o prejuízo será debitado na conta dos governos locais, que tenta-

GOVERNO BOLIVIANO RETOMA

INSTITUIÇÕES PÚBLICAS

Danos passam de US$ 110 milhões. Governos daMeia Lua responsabilizados pelos crimes

Após ser saqueada, a sede da Coordenação deApós ser saqueada, a sede da Coordenação deApós ser saqueada, a sede da Coordenação deApós ser saqueada, a sede da Coordenação deApós ser saqueada, a sede da Coordenação dePPPPPooooovvvvvos Éos Éos Éos Éos Étnicos de Stnicos de Stnicos de Stnicos de Stnicos de Santa Canta Canta Canta Canta Crrrrruz (Cpesc) foiuz (Cpesc) foiuz (Cpesc) foiuz (Cpesc) foiuz (Cpesc) foicompletamente demolida pelos vândaloscompletamente demolida pelos vândaloscompletamente demolida pelos vândaloscompletamente demolida pelos vândaloscompletamente demolida pelos vândalos

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ram se apropriar ilegalmente desses bens. A manifestação de milharesde camponeses, indígenas, mineiros e mulheres que se aproximaramem marcha de Santa Cruz - que completa na quarta-feira, 24 de se-tembro, 198 anos de existência - se deu em resposta às constantes ereiteradas agressões a mulheres, crianças e idosos indígenas que ‘ou-sam’ freqüentar espaços públicos como as praças centrais dos departa-mentos separatistas.

Mais do que um grito, a mobilização representa um coro de bastaà violência desatada pelos fascistas, como a ocorrida recentemente emPando, com suas dezenas de mortos e desaparecidos, que levou à pri-são o governador do Departamento vizinho ao Acre. A cobertura damídia pró-golpe invisibilizou o assunto, o que estampa sua cumplici-dade com os assassinos.

Durante entrevista coletiva, o presidente Evo Morales afirmou quea oposição “se reduz cada vez mais, não somente em sua representa-ção, mas em sua capacidade de arregimentação”. Porém, alertou, “quan-do se reúne é muito mais radical, muito mais agressiva, muito maisviolenta com as instituições do Estado, com o governo, com autorida-des como a Polícia e as Forças Armadas”. De maneira conjunta, disseEvo, os dirigentes dos movimentos sociais expressaram “que já se can-saram das agressões, das humilhações e do racismo na cidade de SantaCruz. Este levantamento [dos movimentos sociais] cruzenho, eu com-paro com o de Tupac Katari na cidade de La Paz em 1781... Cerco de180, 190 dias, quase meio ano, tudo pela defesa do território, a digni-dade, a igualdade e também a luta pela independência, a liberaçãoante à invasão européia”.

Na região da Meia Lua, junto a seus Comitês ‘Cívicos’ - como seautodenominam as organizações de direita - membros da União Juve-nil Cruzenhista e elementos arregimentados pelos governos estaduaistomaram pelo menos 36 sedes e escritórios do governo central.

Numa demonstração ímpar de racismo em Santa Cruz, onde cor-reu mundo a foto de um carro ostentando a suástica, os delinqüentes84

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ocuparam a sede da Coordenação de Povos Étnicos (Cpesc). Retoma-da na última sexta-feira (19), a Cpesc teve sua estrutura completa-mente destruída, após ser saqueada no dia 11 de setembro por bandosarmados. “O alvo do vandalismo são os indígenas que lutam por asse-gurar seus direitos históricos e que agora têm no Estado um instru-mento para fazer justiça. A direita não se conforma com os avançossociais, quer impor o retrocesso”, explicou Hugo Salvatierra, dirigen-te do MAS e ex-ministro de Assuntos Agropecuários, que nos acom-panhou na visita ao local. Na armação fascista, muitas das instituiçõesforam saqueadas e tiveram seus documentos roubados ou destruídos.

Segundo a última edição da revista Veja (2.079), que não faloupalavra sobre o assunto e nem publicou uma única foto, a razão ésimples: porque “Evo Morales está destruindo a economia e a demo-cracia para criar um estado narcossocialista”. A revista tenta confundira defesa da coca, feita pelo povo e governo da Bolívia com a da cocaí-na, apostando na ignorância e nadesinformação. Como está descrito noartigo 384 da Nova Constituição, “OEstado protege a coca originária e an-cestral como patrimônio cultural, re-curso natural da biodiversidade daBolívia e como fator de coesão social;em seu estado natural não é entorpe-cente. A revalorização, produção,comercialização e industrialização seráregida mediante a lei”. Ou seja, a cocase define como recurso natural e nãocomo entorpecente ou droga, mere-cendo proteção para sua industriali-zação ou utilização com fins medici-nais (digestivo, protéico) e outros usos(doces, pasta dental, etc.). E mais, o

Recém-nacionalizada, a empresaRecém-nacionalizada, a empresaRecém-nacionalizada, a empresaRecém-nacionalizada, a empresaRecém-nacionalizada, a empresatelefônica Entel virou alvo: foitelefônica Entel virou alvo: foitelefônica Entel virou alvo: foitelefônica Entel virou alvo: foitelefônica Entel virou alvo: foi

roubada e destruída pelos direitistasroubada e destruída pelos direitistasroubada e destruída pelos direitistasroubada e destruída pelos direitistasroubada e destruída pelos direitistas

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Informe Mundial sobre Drogas 2008, publicado recentemente peloEscritório das Nações Unidas Contra a Droga e o Delito (UNODC,sigla em inglês), revelou que os Estados Unidos são responsáveis peloconsumo de 45% de toda a cocaína do planeta, ainda que sua popula-ção corresponda a apenas 4,5% da população mundial. Como decla-rou o presidente Evo, em resposta a uma declaração de Bush de que aBolívia não estaria fazendo a sua parte no combate ao narcotráfico, “ogoverno dos EUA não tem nenhuma moral para falar de drogas. Quernos impor uma lei de cerco aos produtores de coca, mas não faz nadapara cercear o consumo das drogas entre os norte-americanos”.

Aliás, entre as acusações da revista preferida do Departamento deEstado norte-americano, o “empreguismo” no país irmão virou“lambança”, porque “a empresa estatal YPFB, que antes da nacionali-zação em 2006 tinha 150 funcionários, hoje tem 1500”. Nenhumapalavra sobre a retomada da principal riqueza nacional e a inversão dalógica entreguista que remunerava as transnacionais com 82% dosrecursos, repassando apenas 18% ao Estado. Com Evo, o país fica com82% para investir no seu desenvolvimento e o capital estrangeiro com18%. Completo silêncio sobre o fim das terceirizações, a valorizaçãode um serviço público essencial e a qualificação de profissionais paraestarem à altura da construção de uma nova Bolívia, independente esoberana.

NONONONONOVVVVVA CONSTITUIÇÃA CONSTITUIÇÃA CONSTITUIÇÃA CONSTITUIÇÃA CONSTITUIÇÃOOOOO

Fruto de intensa participação popular, a nova Carta Magna bolivi-ana passou a ser o alvo principal da direita que, diante da monumen-tal derrota no referendo revogatório de 10 de agosto, onde Evo alcan-çou 67,4% dos votos, foge do caminho das urnas e, sob o patrocínioda Embaixada dos EUA, busca, sob o manto da autonomia, consoli-dar o separatismo.

A Nova Constituição determina ao Estado “a direção integral do86

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desenvolvimento econômico e seus processos de planificação”; aprofundae massifica a reforma agrária; garante o acesso da população aos serviçospúblicos essenciais, impedindo a sua privatização; subordina a proprie-dade privada à função social e ao interesse coletivo. Em outras palavras,tudo o que os grandes capitalistas não querem ouvir.

Na luta contra a realização do referendo para a aprovação da NovaConstituição, a direita levanta a bandeira dos ‘Estatutos Autonômicos’,exigindo o repasse de ingressos do Imposto Direto aos Hidrocarbonetos,recurso que havia sido redistribuído aos municípios e ao pagamentoda Renda Dignidade (aposentadoria paga a todos os maiores de 60anos). Na ânsia de manter a nível local o poder perdido nacionalmen-te, a direita apostou na fragmentação do país e está quebrando a cara.

TERRTERRTERRTERRTERRORISMOORISMOORISMOORISMOORISMO

Na ação terrorista, além de explodirem uma válvula do gasodutoYacuba-Rio Grande, obrigando o país a reduzir em 10% a exportaçãode hidrocarbonetos, bandos armados tomaram a unidade de gás deRio Grande, com o qual desabasteceram o mercado interno de gásliquefeito de petróleo (GLP) e atacaram a unidade de compressão dePocitos, localizada em Yacuba, impedindo o envio de gás à Argentina.

Contra a sede da empresa telefônica Entel, recém-nacionalizada, osbandos despejaram sua fúria: quebraram portas e janelas, roubaram car-tões, computadores, móveis e destruíram tudo o que encontraram pelafrente. O estrago em Santa Cruz foi de tal magnitude que as aulas tiveramde ser suspensas por cinco dias, deixando constrangidos até apoiadores dogovernador Ruben Costas e do presidente do Comitê ‘Cívico’, BrankoMarinkovich, conhecidos por seu direitismo e preconceito.

Pelos danos à infra-estrutura petroleira e seus impactos negativosno contrato de exportação para o Brasil, só a YPFB perdeu US$ 100milhões; o Serviço de Impostos Nacionais (SIN), US$ 9,2 milhões; aAduana deixou de arrecadar US$ 1,8 milhão; o Instituto Nacional de

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Reforma Agrária (INRA), US$ 500 mil, e novos prejuízos são comu-nicados a cada dia. No caso específico da sede do INRA de Santa Cruz,a mais afetada, a avaliação é que as informações roubadas e os docu-mentos queimados, que continham valiosas análises sobre a concen-tração de terras, exigirão novos estudos sobre a função econômico-social das propriedades, retardando o processo de redistribuição.

REFORMA AGRÁRIAREFORMA AGRÁRIAREFORMA AGRÁRIAREFORMA AGRÁRIAREFORMA AGRÁRIA

Vale lembrar que recentemente o INRA havia declarado ilegal apossessão de 12 mil hectares do ‘empreendimento’ Yaminska, de pro-priedade da família do presidente do Comitê ‘Cívico’ de Santa Cruz,Branco Marinkovic, o maior latifundiário da Bolívia. Na ação, a insti-tuição havia pedido que a propriedade fosse desalojada para posteriordistribuição das terras entre os membros do povo guarayo, uma dasetnias indígenas da região roubadas pela família Marinkovic.

Para a delegada presidencial em Santa Cruz, Gabriela Montaño, aintenção dos vândalos foi clara: “frear a luta contra o latifúndio e o avan-ço da reforma agrária”. Desapareceram cerca de 1,5 mil arquivos comtítulos de propriedade que beneficiariam camponeses e comunidadesindígenas. Conforme os dados do INRA, cerca de 15 famílias na regiãosão donos de extensões de terra 25 vezes superiores à área urbana deSanta Cruz de La Sierra. Em visita às instalações, o vice-ministro de Re-forma Agrária, Alejandro Almaraz, sublinhou que os danos econômicosascendem a meio milhão de dólares e que pedirá o indiciamento dosdirigentes ‘cívicos’ e governamentais da região implicados na agressão.

O fato é que, para conseguir consumar tais crimes e tomar as insta-lações protegidas pela Guarda Nacional, foi dada carta branca às qua-drilhas. “Da mesma forma que nas guerras púnicas, seu salário era oque pudessem levar. Na verdade, além de dinheiro, receberam incen-tivo para assaltar. Os jovens delinqüentes e drogados desapareceramdas esquinas, o lumpesinato estava todo contratado pela direita”, de88

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nunciou o empresário Salvador Ric, dono de uma construtora e deuma cadeia de supermercados em Santa Cruz.

Ex-ministro de Obras Públicas, Ric destacou que o racismo explicitadopela manifestação direitista reflete a concepção de seus líderes. “É evi-dente o caráter absolutamente discriminatório da Câmara da Indústriae Comércio e das Associações Comerciais da região. Há cerca de doisanos, só podiam presidir tais entidades cruzenhos de nascimento, comose não quisessem se deixar ‘contaminar’ ”, ressaltou.

Parlamentar do MAS em Santa Cruz, Osvaldo Peredo denuncia queos meios de comunicação jogam papel central no golpismo. “Depois depromoverem o assalto às instituições estatais e o vandalismo, trataram decriar pânico na população, fomentando o racismo e exacerbando o com-plexo de inferioridade existente em setores da elite. Na verdade, o pre-conceito dos setores abastados tem uma raiz psicológica e social, poistemem a competência do outro, se vêem incapazes de disputar emigualdade de condições. Há uma tirania midiática que dá o aval, queestimula a delinqüência para que sigam com seus crimes”, denunciou.Peredo sofreu seis atentados nos últimos dois anos e meio, até comdinamite e granadas. “Na última vez tentaram matar-me dentro doCâmara Legislativa. O pior é que saiu pela televisão uma declaraçãodos paramilitares dizendo que era preciso entrar na casa de OsvaldoPeredo e matá-lo. Logo depois colocaram uma imagem dizendo: esta éa casa. Os donos dos grandes meios de comunicação da Bolívia são deSanta Cruz e possuem vínculos muito estreitos com o capitaltransnacional, daí sua campanha de intimidação”, revelou.

Diante de tamanhos crimes, a resposta dos governos do Continen-te, expressa pela Unasul (União de Nações Sul-Americanas), é a defesado respeito à democracia e à soberania da Bolívia, representadas pelogoverno Evo. Na luta em curso, esta solidariedade cumpre papel cadavez mais fundamental para a consolidação do processo.

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Publicado no Portal do Mundo do Trabalho, no Vermelho e na página do PT

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PPPPPensamosensamosensamosensamosensamosmelhor emelhor emelhor emelhor emelhor e,,,,, em vez em vez em vez em vez em vezde ser uma regiãode ser uma regiãode ser uma regiãode ser uma regiãode ser uma região

autônoma daautônoma daautônoma daautônoma daautônoma daBolívia, agorBolívia, agorBolívia, agorBolívia, agorBolívia, agoraaaaa

queremos ser umqueremos ser umqueremos ser umqueremos ser umqueremos ser umEstado livreEstado livreEstado livreEstado livreEstado livre

associadoassociadoassociadoassociadoassociado.....DDDDDos EUos EUos EUos EUos EUA.A.A.A.A.

enquanto isso, no comitê “cívico”...

As três principaisAs três principaisAs três principaisAs três principaisAs três principaisredes nacionais deredes nacionais deredes nacionais deredes nacionais deredes nacionais detelevisão têm laçostelevisão têm laçostelevisão têm laçostelevisão têm laçostelevisão têm laçosestreitos com oestreitos com oestreitos com oestreitos com oestreitos com olatifúndio, o sistemalatifúndio, o sistemalatifúndio, o sistemalatifúndio, o sistemalatifúndio, o sistemafinanceiro e asfinanceiro e asfinanceiro e asfinanceiro e asfinanceiro e astrtrtrtrtransnacionais queansnacionais queansnacionais queansnacionais queansnacionais queatuam noatuam noatuam noatuam noatuam noDepartamento deDepartamento deDepartamento deDepartamento deDepartamento deSanta CruzSanta CruzSanta CruzSanta CruzSanta Cruz

a “independência” das redes

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NNNNNesta entrevista, a delegada presidencial da Bolívia no Depar-tamento de Santa Cruz, Gabriela Montaño, condenou “oódio, o racismo e a violência” sintetizados na imagem – que

correu mundo - do carro com a suástica nazista. “Este carro existe,anda pelas ruas de Santa Cruz, é de um membro da União JuvenilCruzenhista”, denunciou a delegada presidencial, sublinhando as li-mitações da Constituição atual – a próxima só passa a valer após oreferendo que a direita tenta postergar – cujos artigos contra a discri-minação racial “não são práticos e operativos para combater o racis-mo”. Em sua sala na Delegacia Presidencial, recém recuperada dosvândalos e mercenários arregimentados pela Prefeitura local e seusComitês ‘Cívicos’, Gabriela falou sobre a importância da nova Consti-tuição para a construção de uma Bolívia para todos, dos inúmerosavanços sociais proporcionados pelo governo Evo Morales a Santa Cruz

– que o converterão em ou-tubro no terceiro departa-mento livre do analfabetis-mo - e denunciou ooligopólio dos meios de co-municação, concentradosna mão de famílias da re-gião que são as grandes pro-prietárias de terra e possu-em laços estreitos com o ca-pital financeiro e astransnacionais.

direita boliviana circula com

suástica nazista em santa cruz

Representante presidencial da Bolívia no Departamento,Gabriela Montaño denuncia ódio e violência nazi-fascista

Gabriela Montaño, médica delegadaGabriela Montaño, médica delegadaGabriela Montaño, médica delegadaGabriela Montaño, médica delegadaGabriela Montaño, médica delegadapresidencial no Departamento de Santa Cruzpresidencial no Departamento de Santa Cruzpresidencial no Departamento de Santa Cruzpresidencial no Departamento de Santa Cruzpresidencial no Departamento de Santa Cruz

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Bolívia nas ruas e urnas contra o imperialismo

EEEEEm seu discurso parm seu discurso parm seu discurso parm seu discurso parm seu discurso para tentar dividir a Bolívia, os fascistas acusama tentar dividir a Bolívia, os fascistas acusama tentar dividir a Bolívia, os fascistas acusama tentar dividir a Bolívia, os fascistas acusama tentar dividir a Bolívia, os fascistas acusamo pro pro pro pro presidente Eesidente Eesidente Eesidente Eesidente Evvvvvo Mo Mo Mo Mo Morororororales de priorizar o altiplano e abandonar oales de priorizar o altiplano e abandonar oales de priorizar o altiplano e abandonar oales de priorizar o altiplano e abandonar oales de priorizar o altiplano e abandonar oOriente, particularmente Santa Cruz. O que tens a dizer sobre isso?Oriente, particularmente Santa Cruz. O que tens a dizer sobre isso?Oriente, particularmente Santa Cruz. O que tens a dizer sobre isso?Oriente, particularmente Santa Cruz. O que tens a dizer sobre isso?Oriente, particularmente Santa Cruz. O que tens a dizer sobre isso?

Em relação aos investimentos do governo Evo Morales, o Departa-mento de Santa Cruz é o que seguramente conta com mais recursosem todo o país, tanto no âmbito social e produtivo, como de infra-estrutura. No âmbito social, temos muitíssimos programas. Um dosmais conhecidos é o Bolívia Muda, Evo Cumpre, que é diretamente daPresidência da República e trabalha com os municípios. Dos 56 mu-nicípios do Departamento de Santa Cruz, este programa chega a 55.Os investimentos ultrapassam os US$ 100 milhões somente neste pro-grama que está dirigido a obras de educação, saúde e esportes, emcoordenação direta com cada um dos municípios. O programa funci-ona por fases, onde são feitos três pagamentos, desembolsos que vãosendo liberados à medida em que avançam as obras, que encontram-se submetidas ao controle social das entidades mais importantes decada município. Isso ocorre com as ações de cada ministério, princi-palmente os vinculados à área social, como saúde e educação.

Quais as principais necessidades do Departamento e os desafiosQuais as principais necessidades do Departamento e os desafiosQuais as principais necessidades do Departamento e os desafiosQuais as principais necessidades do Departamento e os desafiosQuais as principais necessidades do Departamento e os desafiosda Delegacia?da Delegacia?da Delegacia?da Delegacia?da Delegacia?

Uma das principais contribuições se dá no âmbito do combate àdesnutrição e a luta contra as enfermidades endêmicas, e o governofederal está investindo muitíssimo, principalmente na região Sul. Es-tes programas vêm sendo estimulados e ampliados pelo governo dopresidente Evo Morales. Outro programa que vem sendo muito forta-lecido é o de Desnutrição Zero, com cooperação internacional. EmSanta Cruz é onde a cooperação cubano-venezuelana, junto com ogoverno nacional, instalou a maior parte da indústria hospitalar, desegundo nível.92

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Que são hospitais de segundo nível?Que são hospitais de segundo nível?Que são hospitais de segundo nível?Que são hospitais de segundo nível?Que são hospitais de segundo nível?

São hospitais que têm as quatro especialidades básicas: medicinageral, gineco-obstetrícia, cirurgia e pediatria. Eles têm sob sua respon-sabilidade a afluência de pacientes que requerem esse nível de atençãoe que vêm dos centros primários de saúde. No Departamento, só noúltimo ano, se equiparam e melhoraram a estrutura de oito hospitaisde segundo nível, o que implica em garantir melhores condições devida aos habitantes não apenas da cidade de Santa Cruz mas, funda-mentalmente, das províncias, no interior. Há uma migração constantedo campo à cidade, com 60% da população concentrada na capital.

E o PE o PE o PE o PE o Prrrrrogrogrogrogrograma de Aama de Aama de Aama de Aama de Alfabetização?lfabetização?lfabetização?lfabetização?lfabetização?

Em Santa Cruz, estamos empenhados para que em outubro se de-clare o Departamento livre do analfabetismo. Será o terceiro, depoisde Oruro e Pando. Para isso, trabalhamos firme a partir dos municípi-os e das organizações sociais. Claro, onde o trabalho é mais complexopela quantidade de população, pela sua composição, é a cidade deSanta Cruz. Nesta capital, avançamos à medida que vamos liberandocada distrito do analfabetismo. Estamos preparando para que depoisdesse programa venha a pós-alfabetização, que é a segunda etapa, paraproporcionar aos novos alfabetizados uma educação básica com maté-rias. Assim, evitaremos que depois tenhamos analfabetos funcionais.Estas são algumas conquistas muito importantes no âmbito social.

E como vE como vE como vE como vE como vão os invão os invão os invão os invão os investimentos em infrestimentos em infrestimentos em infrestimentos em infrestimentos em infra-estra-estra-estra-estra-estruturuturuturuturutura?a?a?a?a?

Descontando o último aporte que fizeram Brasil e Venezuela para aconstrução da rodovia que vai de La Paz até o Norte Amazônico, SantaCruz tem 60% dos investimentos. Ou seja, um dos departamentosque mais se beneficiou do melhoramento da infra-estrutura rodoviá-

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ria, reabilitação e construção de estradas. É assim porque além de ser omaior departamento do país, Santa Cruz também é onde a produçãode alimentos ganha maior relevância, tanto para o abastecimento domercado interno como para a exportação. Por isso esses investimentostêm sido uma prioridade do governo nacional.

E em termos econômicos e produtivos?E em termos econômicos e produtivos?E em termos econômicos e produtivos?E em termos econômicos e produtivos?E em termos econômicos e produtivos?

Em termos econômicos e de investimento no campo produtivo, emSanta Cruz, o governo nacional tem atuado prioritariamente em doisâmbitos. O da produção agropecuária, que é um dos mais importan-tes para o Departamento, com quatro programas. Através do Bancode Desenvolvimento Produtivo (BPD), no plano alimentar, de madei-ra, couro, etc., onde tem sido investidos milhões de dólares. O BPDatua por meio de outras instituições financeiras e tem apoiado funda-mentalmente a produção de alimentos, com bons resultados. É umaexperiência interessante porque apóia o âmbito produtivo, o que nãose fazia há muito tempo na Bolívia, que antes só priorizava o âmbitocomercial e de serviços. As taxas de juros são muito baixas, de no máxi-mo 6%, sem que o produtor tenha que pôr necessariamente comogarantia sua terra, que era uma das razões pelas quais muitos perdiamsuas propriedades. Dependentes de financeiras privadas, pouco a poucoos camponeses iam perdendo suas terras, dadas como garantia, o quefez com que as propriedades fossem se concentrando cada vez mais empoucas mãos.

E a luta pela soberE a luta pela soberE a luta pela soberE a luta pela soberE a luta pela soberania alimentarania alimentarania alimentarania alimentarania alimentar, há alguma atenção especial, há alguma atenção especial, há alguma atenção especial, há alguma atenção especial, há alguma atenção especialparparparparpara o agricultor familiar?a o agricultor familiar?a o agricultor familiar?a o agricultor familiar?a o agricultor familiar?

De uma maneira similar ao BPD funciona a Empresa de Apoio àProdução de Alimentos (Emapa), com a qual se apóia certos produtosfundamentais para a cesta básica, para o abastecimento do mercado94

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interno. Isso nos permite combater o processo inflacionário no setor,fenômeno vivido em nível mundial, pois estabilizamos os preços dosprodutos mais importantes da cesta básica familiar, como milho, trigo,arroz e até mesmo a carne de gado ou frango.

Que faz a Emapa?Que faz a Emapa?Que faz a Emapa?Que faz a Emapa?Que faz a Emapa?

Oferece crédito a juro zero ao produtor, porém neste caso o emprés-timo não é individual, somente associativo. A Emapa só empresta di-nheiro a associações, sindicatos e organizações de muito pequenos, pe-quenos e médios produtores, que são importantes para evitar a inflaçãono setor, sempre comprando essa produção um pouco acima do preçode mercado. Além disso, a Emapa está apoiando a possibilidade de quealgumas organizações e associações possam controlar a cadeia produti-va, apoiando-as com engenhos, moinhos e silos, dando ao produtormelhores condições de defender-se no mercado, já que em Santa Cruzo tema da terra está intimamente ligado ao da produção de alimentos.

FFFFFaça uma braça uma braça uma braça uma braça uma breveveveveve compare compare compare compare comparação com o passadoação com o passadoação com o passadoação com o passadoação com o passado.....

Como funcionava isso? Os pequenos produtores, geralmente cam-poneses ou colonizadores migrantes, como não têm capital, pegavamdinheiro das financeiras, nem sequer era dos bancos, para comprarinsumos e sementes, por exemplo. Qual era a garantia dada às finan-ceiras? A terra. Se tinham algum problema ou os preços de seus pro-dutos baixavam, terminavam perdendo sua terra.

E quem são hoje os grE quem são hoje os grE quem são hoje os grE quem são hoje os grE quem são hoje os grandes latifundiários da randes latifundiários da randes latifundiários da randes latifundiários da randes latifundiários da região?egião?egião?egião?egião?

Geralmente é uma combinação entre a burguesia e grupos de po-der cruzenhos com capitais estrangeiros, onde há de tudo: brasileiros,argentinos, norte-americanos, croatas...

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E como se sustentam?E como se sustentam?E como se sustentam?E como se sustentam?E como se sustentam?

Esses grupos de poder têm um tripé. Um na produção agropecuária,de alguma maneira, seja através de financeiras ou dos silos e empresascomo as fábricas de azeite que, ao fim e ao cabo, são as compradoras; nocaso da carne, tem os matadouros e frigoríficos privados. O outro pé é opoder concentrado nas cooperativas de serviço básico em Santa Cruz:água, luz, eletricidade, que são cooperativas que no momento estão sen-do manejadas por uma elite que vai se alternando. Conformaram umaforma de participação em que todos os que vivemos em Santa Cruz so-mos associados. Porém os mecanismos de participação democrática des-tas cooperativas foram suprimidas, de tal maneira que o sócio já não aspode modificar. E os mesmos vão se alternando. Por exemplo, o senhorGerman Antelo deixou a presidência do Comitê ‘Cívico’ para ser geren-te da CRE, que é a cooperativa de eletrificação. Branko Mairikovic dei-xou de ser gerente da Câmara de Exportadores, e de Indústria e Co-mércio para ser presidente do Comitê ‘Cívico’. Então são bandos quevão se alternando entre si na administração destas entidades cooperativistasou ‘cooperativas’, entre aspas. E o terceiro é a manipulação política quese tem feito por meio do dito Comitê e agora da Prefeitura de SantaCruz. Esses poderes vão se reciclando e controlam quase todos os níveisde decisão no âmbito econômico e político. No âmbito agropecuário éum círculo muito complicado, que temos tentado romper com estasiniciativas do governo nacional, para que o monopólio ou o controle dacadeia produtiva não esteja nas mãos de uns poucos.

EEEEEstilo Bstilo Bstilo Bstilo Bstilo Brrrrranko Manko Manko Manko Manko Mairikoairikoairikoairikoairikovic...vic...vic...vic...vic...

Porque Branko Mairikovic é sócio de uma grande refinaria de azei-te, é sócio de alguns silos de armazenamento de grãos e ao mesmotempo tem vínculos com financeiras que fornecem os insumos. Então,como os pequenos e médios produtores tinham que pegar empresta-96

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do dinheiro com esses senhores, acabavam perdendo sua terra ou par-te dela. Porque eles lhes pagavam o que definiam como preço, pagan-do um terço do que valia a propriedade. E como tinham controleabsoluto desta cadeia produtiva, o camponês não tinha como se de-fender. O que há agora, com essas iniciativas do governo nacional,como o BPD e a Emapa, é um movimento para romper o monopólioe o oligopólio dessas cadeias produtivas. Estamos conseguindo, noâmbito da soja, do arroz, do milho, do trigo, do açúcar...

O governo nacional também enfrenta boicotes dos especuladores,O governo nacional também enfrenta boicotes dos especuladores,O governo nacional também enfrenta boicotes dos especuladores,O governo nacional também enfrenta boicotes dos especuladores,O governo nacional também enfrenta boicotes dos especuladores,que querem forçar aumentos artificiais. Que ações vêm sendo toma-que querem forçar aumentos artificiais. Que ações vêm sendo toma-que querem forçar aumentos artificiais. Que ações vêm sendo toma-que querem forçar aumentos artificiais. Que ações vêm sendo toma-que querem forçar aumentos artificiais. Que ações vêm sendo toma-das pardas pardas pardas pardas para gara gara gara gara garantir o abastecimento da população?antir o abastecimento da população?antir o abastecimento da população?antir o abastecimento da população?antir o abastecimento da população?

O governo nacional tem criado em alguns momentos pontos de distri-buição e venda de produtos, evitando a especulação. Esse é o caso doarroz, do azeite, da verdura... O caso da farinha é um tema especial, umavez que durante toda a época do neoliberalismo perdemos nossa auto-suficiência na produção de trigo e de farinha, porque os Estados Unidosimportava ou ‘presenteava’, entre aspas, trigo basura (lixo) ou farinhabasura. Faziam que os preços baixassem de tal maneira que se deixou deproduzir esses produtos, pois já não havia lucro, não era rentável. Então,terminamos importando quase 80% do trigo que consumíamos no país.

E agorE agorE agorE agorE agora?a?a?a?a?

Pouco a pouco estamos revertendo isso, apoiando os produtores desementes. Inicialmente o que tivemos de fazer foi importar farinha edepois trigo para evitar o aumento do preço do pão, cuja influênciasobre o Índice de Preços ao Consumidor é muito grande. E assim te-mos mecanismos para controlar a inflação também. Nosso governovem atuando com medidas de fundo, sobretudo no âmbito produtivoe de alimentos, para melhorar as condições do produtor, do camponês

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e do colono nesta cadeia produtiva, melhorando os preços, apoiandoe incentivando a produção. Por outro lado, controlar com importa-ção, com impedimento de exportação em alguns casos, limitando aexportação em outros casos ou ainda distribuindo diretamente, comoEstado, comprando dos pequenos produtores e vendendo ao consu-midor final. Estes têm sido investimentos milionários. Ainda no cam-po produtivo temos dois programas, o Empoderar e o Criar, que fazemintervenções únicas em associações de produtores, em municípios, emprogramas específicos de melhoramento da produção, ajudando oprodutor de tomate, de batata, hortaliças. Em Santa Cruz se concen-tra fundamentalmente a zona dos vales cruzenhos, são três províncias.Mas há também no norte. Aí se fazem intervenções únicas, a fundoperdido, não são créditos. Há uma outra pequena parte que põe oprodutor também. Por exemplo, para melhorar a genética da batata eampliar a produção, principalmente nas terras dos pequenos agricul-tores, que produzem tradicionalmente para o mercado interno.

EEEEExistem rxistem rxistem rxistem rxistem reitereitereitereitereiteradas denúncias de uso de tradas denúncias de uso de tradas denúncias de uso de tradas denúncias de uso de tradas denúncias de uso de trabalho escrabalho escrabalho escrabalho escrabalho escravavavavavo por lati-o por lati-o por lati-o por lati-o por lati-fundiários na região da Meia Lua, tendo havido inclusive impedi-fundiários na região da Meia Lua, tendo havido inclusive impedi-fundiários na região da Meia Lua, tendo havido inclusive impedi-fundiários na região da Meia Lua, tendo havido inclusive impedi-fundiários na região da Meia Lua, tendo havido inclusive impedi-mento parmento parmento parmento parmento para a ação de fiscalização do goa a ação de fiscalização do goa a ação de fiscalização do goa a ação de fiscalização do goa a ação de fiscalização do govvvvverererererno federno federno federno federno federal. Como é isso?al. Como é isso?al. Como é isso?al. Como é isso?al. Como é isso?

Exato. O vice-ministro de Terras, Alejandro Almaraz, chegou a serimpedido de entrar numa dessas fazendas em um conflito na zona guaranido Departamento de Santa Cruz. Entre 2000 e 2002, investigaçõesjornalísticas e informes de direitos humanos diziam que existiam pessoastrabalhando em condições de semi-escravidão na zona guarani, quecorresponde ao sul de Santa Cruz, parte de Chuquisaca e de Tarija.Estas investigações foram levadas adiante, denunciadas antes que o pre-sidente Evo Morales assumisse a presidência. Durante o governo Evo foicriada uma comissão interministerial para enfrentar este problema, quenão é só o da terra, de produção, mas de educação, de apoio psicológicoàs comunidades, às famílias e indivíduos, para o rompimento da discri-98

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minação racial que há nesta zona. E também enfrentar o problema dalegalização de terras, para que essas comunidades possam contar comterras suficientes e não sejam expulsos para a cidade, onde se converteri-am nos pobres das periferias. Ou então teriam de ‘vender’, entre aspas,sua mão-de-obra, porque essas famílias herdam as dívidas de geração ageração, pois trocam seu trabalho por alimento, por teto. É um trabalhoem condições de semi-escravidão. Não permitiram ao vice-ministro in-gressar nestas fazendas e foi conformada uma comissão integrada pelaoposição, foi montada pela representação parlamentar da direita no Se-nado (onde eles têm maioria) e eles mesmos fiscalizaram e informaramque não existia nada. Nós, como governo nacional continuamos fazen-do nossa tarefa, apoiando as instituições de direitos humanos, o informede organizações tão importantes a nível internacional como o relator deDireitos Humanos, sobre Direitos Indígenas das Nações Unidas e va-mos continuar combatendo, batendo nesta tecla. É importante desta-car que existe na Bolívia um Movimento Sem Terra que atualmenteconta, através da legalização de terras, com dois assentamentos em SantaCruz, dois no Chaco boliviano, e que vêm sendo apoiados pelas inici-ativas produtivas do governo. Então, não apenas temos entregado ter-ras às comunidades que se formaram, mas também assegurado apoiocreditício para que produzam.

A ambição fascista nos murA ambição fascista nos murA ambição fascista nos murA ambição fascista nos murA ambição fascista nos muros: “Eos: “Eos: “Eos: “Eos: “Evvvvvo vo vo vo vo vai morrai morrai morrai morrai morrer em Ser em Ser em Ser em Ser em Santa Canta Canta Canta Canta Crrrrruzuzuzuzuz”””””99

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Qual a relação dosQual a relação dosQual a relação dosQual a relação dosQual a relação dosmeios de comunicaçãomeios de comunicaçãomeios de comunicaçãomeios de comunicaçãomeios de comunicaçãocom a direita?com a direita?com a direita?com a direita?com a direita?

Absoluta. Cito umexemplo. Há uma famí-lia que se chamaMonastério, que é umadas três ou quatro famí-lias que controlam a ca-deia produtiva da carneem Santa Cruz. Tem gado, abatedor, frigorífico, apoiaram e tem par-ticipação na prefeitura da capital e um canal de televisão, a Rede Um,o canal 13, que é nacional. Outro exemplo é no âmbito ‘cívico’. BrankoMairikovic, além dos investimentos, que já falei, na indústria do azei-te, da soja e outros produtos alimentícios, além das financeiras, temneste momento o controle político do Comitê ‘Cívico’, sendo seu pre-sidente. Ele tomou terras do povo guarayo, numa localidade que sechama Laguna Corazon. Mairikovic tem participação no jornal diárioNovo Dia e também na televisão, no canal PAT, que também é umarede nacional, por meio de laranjas. No caso da rede nacional Unitel éa mesma coisa. Ou seja, três das maiores redes nacionais têm vínculosdiretos com estas famílias, com estes grupos econômicos que dominamSanta Cruz.

Então são quatro os pés da mesa...Então são quatro os pés da mesa...Então são quatro os pés da mesa...Então são quatro os pés da mesa...Então são quatro os pés da mesa...

Sim, na verdade são quatro. O tema terra e agropecuária; o contro-le através das empresas mais importantes, como a de refino de soja e ascooperativas de serviços básicos; o poder dos comitês ‘cívicos’ e da redeque isso significa, que são todos os setores empresariais, exportadorese, finalmente, os meios de comunicação.

“E“E“E“E“Evvvvvo todo podero todo podero todo podero todo podero todo poderoso: Bolívia divididaoso: Bolívia divididaoso: Bolívia divididaoso: Bolívia divididaoso: Bolívia dividida”.”.”.”.”.Mídia boliviana semeia ódio ao presidenteMídia boliviana semeia ódio ao presidenteMídia boliviana semeia ódio ao presidenteMídia boliviana semeia ódio ao presidenteMídia boliviana semeia ódio ao presidente

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Como vComo vComo vComo vComo vocês combatem o procês combatem o procês combatem o procês combatem o procês combatem o problema do roblema do roblema do roblema do roblema do racismo?acismo?acismo?acismo?acismo?

Esse é um dos temas básicos da nova Constituição Política do Esta-do. O reconhecimento da diversidade na Bolívia, não somente emtermos dos povos indígenas, ainda que fundamentalmente, e adesconstrução de uma sociedade profundamente racista. Por isso queé tão importante a nova Constituição. Ela tenta sanar três feridas his-tóricas em nosso país: uma é a existência prévia a este processo de umEstado que não reconhecia a existência real, prática, de fato, dos povosindígenas, das comunidades camponesas, que são a maioria do país.Por auto-reconhecimento, o censo de 2002 mostra uma Bolívia emque 70% da população se auto-reconhece como indígena, que é umdas questões fundamentais para que um povo possa ser designado comotal. A outra ferida histórica é a desigualdade econômica, a diferentedistribuição da renda do país. Esta Constituição não apenas reconhe-ce uma forma de organização de economia estatal ou privada, mastambém uma forma importantíssima em nosso país que é a comunitá-ria, que a direita tenta manipular dizendo que é comunista, jogandocom termos, de maneira absurda.

O Estado como indutor do desenvolvimento...O Estado como indutor do desenvolvimento...O Estado como indutor do desenvolvimento...O Estado como indutor do desenvolvimento...O Estado como indutor do desenvolvimento...

Um Estado que recupera sua capacidade de controle da distribui-ção da riqueza do país, mas sem impedir a participação privada naeconomia. A terceira questão, a nova Constituição representa o rom-pimento com um Estado centralista que representava o branco e orico. Esse Estado começa a ter outra forma de relação com as regiões,com os departamentos, mas também com os povos indígenas. É aí ondeaparece o tema das autonomias como um tema fundamental.

E a direita, com a sua mídia, manipula o tema da autonomia aE a direita, com a sua mídia, manipula o tema da autonomia aE a direita, com a sua mídia, manipula o tema da autonomia aE a direita, com a sua mídia, manipula o tema da autonomia aE a direita, com a sua mídia, manipula o tema da autonomia aseu favseu favseu favseu favseu favororororor, confundindo par, confundindo par, confundindo par, confundindo par, confundindo parte da populaçãote da populaçãote da populaçãote da populaçãote da população.....

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As autonomias não foram propostas pelos departamentos, esta éuma reivindicação histórica dos povos indígenas. Houve AssembléiaConstituinte no país porque desde os anos 90 os povos indígenas rei-vindicam o direito a seu território, isso é autonomia, é autodetermina-ção dos povos. Então, fundamentalmente, a autonomia foi propostapor estes atores sociais. Apesar de que agora a direita tenta suprimir,‘passar a borracha’ nas autonomias indígenas. Como ainda não houveo referendo em termos de autonomia indígena, as administrações dedireita não a reconhecem. Além disso, há uma questão importante.Na Bolívia, em toda a parte oriental, os povos indígenas são, em ter-mos quantitativos, minorias. Se não se reconhece a existência dessespovos e lhes dá a possibilidade de serem autônomos, eles caminharãorumo à extinção, porque não têm capacidade de serem reconhecidossocialmente, com suas formas de organização religiosa, política, cultu-ral. Então, essas são as três feridas que a nova Constituição Política doEstado trata de sanar.

A oposição acusa a noA oposição acusa a noA oposição acusa a noA oposição acusa a noA oposição acusa a novvvvva Constituição de ser ra Constituição de ser ra Constituição de ser ra Constituição de ser ra Constituição de ser racista.acista.acista.acista.acista.

Por que a direita diz que é racista? Aqui há um tema de fundo: elesnão querem reconhecer a possibilidade de que exista uma Constitui-ção na qual, além de direitos individuais, como a forma liberal de or-ganização da sociedade, se reconheçam direitos coletivos. Isso em pri-meiro lugar. Em segundo lugar, porque sabem que o fortalecimentoda economia comunitária, associativa, de pequenos camponeses, depequenos produtores, vai contra os seus interesses monopólicos eoligopólicos. Terceiro, porque é uma Constituição que devolve ao Es-tado o controle dos recursos estratégicos. Coisa que não convém à di-reita, seja no tema dos hidrocarbonetos, da terra, água, bosque,biodiversidade, porque eles têm controlado esses recursos com seuoligopólio. Que o Estado volte a comandar, que tenha tirado das em-presas transnacionais a possibilidade de lucrar os tubos, isso lhes afeta.102

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Porque eram parte da cadeia, um elo das multinacionais que atua-vam em nosso país, pelo que recebiam alguns quantos centavos deretribuição. Então se choca com os seus interesses neste sentido e, fi-nalmente, porque organiza um Estado em que os direitos políticosnunca mais voltarão a ser o que tivemos até 2003. A organização sociale política nunca mais vai ser o que era, seja em termos de discrimina-ção, de racismo, etc.

Qual o tamanho do prejuízo causado pelas ações dos vândalosQual o tamanho do prejuízo causado pelas ações dos vândalosQual o tamanho do prejuízo causado pelas ações dos vândalosQual o tamanho do prejuízo causado pelas ações dos vândalosQual o tamanho do prejuízo causado pelas ações dos vândalosque tomarque tomarque tomarque tomarque tomaram as instituições públicas no Dam as instituições públicas no Dam as instituições públicas no Dam as instituições públicas no Dam as instituições públicas no Depareparepareparepartamento de Stamento de Stamento de Stamento de Stamento de SantaantaantaantaantaCruz?Cruz?Cruz?Cruz?Cruz?

Ainda estamos fazendo o levantamento. O que acontece é que con-seguimos entrar na sede da Representação Presidencial do Departa-mento de Santa Cruz apenas no dia de ontem. Ela estava tomada.

PPPPPelas pichações que vi pelas parelas pichações que vi pelas parelas pichações que vi pelas parelas pichações que vi pelas parelas pichações que vi pelas paredes da cidade, tipo “Eedes da cidade, tipo “Eedes da cidade, tipo “Eedes da cidade, tipo “Eedes da cidade, tipo “Evvvvvooooo, r, r, r, r, raçaaçaaçaaçaaçamalditamalditamalditamalditamaldita”, “E”, “E”, “E”, “E”, “Evvvvvo vo vo vo vo vai morrai morrai morrai morrai morrer em Ser em Ser em Ser em Ser em Santa Canta Canta Canta Canta Crrrrruzuzuzuzuz”, dá par”, dá par”, dá par”, dá par”, dá para ter uma idéiaa ter uma idéiaa ter uma idéiaa ter uma idéiaa ter uma idéiado ódio dessa gente.do ódio dessa gente.do ódio dessa gente.do ódio dessa gente.do ódio dessa gente.

O tema do racismo é fundamental para que possas entender o quevem ocorrendo em Santa Cruz, Tarija, Beni e Pando. É verdade que osestados centralistas do passado deixaram descuidadas as regiões, não seimportavam, não investiam, administravam o Estado como seu quintal ecolocavam parte do dinheiro no bolso enquanto a outra era levada pelasmultinacionais. Então existe um sentimento legítimo nas regiões de dis-criminação desse Estado centralista que nunca lhes deu nada, e isso écerto. Por isso os serviços básicos de Santa Cruz vêm sendo administra-dos por cooperativas e não por empresas públicas, porque os Estadoscentrais nunca se tocaram que as pessoas de Santa Cruz necessitavam deágua, telefone, luz elétrica, nada. Agora o que ocorre é que sobre estesentimento legítimo, esta reivindicação de que a administração estejamais próxima da população, de que se desconcentre o poder, se articula-

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ram os interesses econômicos e políticos da burguesia da região. Mas,mais do que isso, se concentrou em Santa Cruz o conjunto dos interessesdo conjunto da burguesia boliviana, e defendem daqui os investimentosque também têm em La Paz. Ou seja, não podemos crer que os inimigossão apenas Branko Mairikovic e Ruben Costas. Por trás deles tambémestão os interesses da burguesia de La Paz, Cochabamba, e dos capitaistransnacionais, que seguem pressionando o país. Utilizaram esse velhosentimento de discriminação do estado central contra Santa Cruz emontaram um cenário para defender seus interesses. Então, ficou fácilatrair parcelas expressivas da população para esta reivindicação de auto-nomia. Ainda mais porque controlam os meios de comunicação, fazen-do com que o interesse de grupos se transformem em interesse coletivo.Aí o elemento do racismo é fundamental para a construção do discursoe da simbologia desses, entre aspas, ‘líderes’ regionais.

O prO prO prO prO preconceito vireconceito vireconceito vireconceito vireconceito virou combustívou combustívou combustívou combustívou combustível parel parel parel parel para os fascistas.a os fascistas.a os fascistas.a os fascistas.a os fascistas.

Por isso se fortaleceu muito o ódio, o rancor contra o colla (indíge-na), contra os que vêm de La Paz, porque fizeram crer ao cruzenhoque o migrante chega com as mãos vazias, em nada contribui e aindapor cima “destrói a nossa economia pujante”. Quando o que ocorre éo contrário. Grande parte da produção de soja, de arroz, é fruto dotrabalho de migrantes, de pessoas vindas de outros departamentos.Agora, a esse pequeno produtor não lhe restava alternativa senão ven-der sua produção ao grande latifundiário, que ao mesmo tempo era odono da indústria de azeite. Agora estamos rompendo esse ciclo vicio-so. Por isso que são tão contrários ao governo de Evo Morales. O racis-mo é um elemento muito importante para a oposição, para ir avan-çando na possibilidade da fragmentação do país, de uma rupturaterritorial. Nunca houve uma secessão desse tipo sem um componentemuito forte de racismo, de discriminação do outro, que vai se sendoalimentado na população, no discurso, na ação...104

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AAAAAssisti o vídeo argentino “Bolívia parssisti o vídeo argentino “Bolívia parssisti o vídeo argentino “Bolívia parssisti o vídeo argentino “Bolívia parssisti o vídeo argentino “Bolívia para a a a a TTTTTodosodosodosodosodos”, onde apar”, onde apar”, onde apar”, onde apar”, onde aparece a fotoece a fotoece a fotoece a fotoece a fotode um automóvel com a suástica nazi.de um automóvel com a suástica nazi.de um automóvel com a suástica nazi.de um automóvel com a suástica nazi.de um automóvel com a suástica nazi.

Sim. Este carro existe, anda pelas ruas de Santa Cruz, é de um mem-bro da União Juvenil Cruzenhista.

Mas e a lei não impede esse tipo de manifestação tão absurda, nãoMas e a lei não impede esse tipo de manifestação tão absurda, nãoMas e a lei não impede esse tipo de manifestação tão absurda, nãoMas e a lei não impede esse tipo de manifestação tão absurda, nãoMas e a lei não impede esse tipo de manifestação tão absurda, nãose pode prender tal elemento?se pode prender tal elemento?se pode prender tal elemento?se pode prender tal elemento?se pode prender tal elemento?

O que acontece é que na Constituição atual (a próxima só passa avaler após o referendo), os artigos contra a discriminação racial são ape-nas declarativos, não são práticos e operativos. No seu primeiro artigo sediz que somos um país pluriétnico, multicultural, mas nos demais, nocorpo da Constituição, a existência de muitos povos indígenas não estásequer presente.

VVVVVolto à imagem do carrolto à imagem do carrolto à imagem do carrolto à imagem do carrolto à imagem do carrooooocom a suástica porque valecom a suástica porque valecom a suástica porque valecom a suástica porque valecom a suástica porque valemais do que mil palavrmais do que mil palavrmais do que mil palavrmais do que mil palavrmais do que mil palavras.as.as.as.as.

O carro foi fotografado ea imagem correu mundo,sendo muito criticada. Mashá uma enorme quantidadede discursos e de fotos im-pressionantes em todo o De-partamento de Santa Cruz, que expressam completa identidade comessa ideologia abjeta. No dia em que o presidente lançou o Decretopela aprovação da nova Constituição Política do Estado, uma dirigen-te cívica discursou na praça da capital e o que falou demonstra o queoferecem ao país: ódio, racismo e violência.

União Juvenil Cruzenhista tenta resssuscitar oUnião Juvenil Cruzenhista tenta resssuscitar oUnião Juvenil Cruzenhista tenta resssuscitar oUnião Juvenil Cruzenhista tenta resssuscitar oUnião Juvenil Cruzenhista tenta resssuscitar onazi-fascismo e semeia o terror nas ruasnazi-fascismo e semeia o terror nas ruasnazi-fascismo e semeia o terror nas ruasnazi-fascismo e semeia o terror nas ruasnazi-fascismo e semeia o terror nas ruas

Emíli

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Publicado no Portal do Mundo do Trabalho, no Vermelho e na página do PT

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EEEEEncabeçada pelo presidente Evo Morales, a marcha que tomouas ruas de La Paz no dia 20 de outubro de 2008, na maiormanifestação popular das últimas duas décadas, levou a oposi-

ção - após um longo período de manobras e ardis protelatórios no Sena-do, onde conta com pequena maioria - a, finalmente, fechar o acordo eaprovar a realização do referendo da nova Constituição, convocado para25 de janeiro de 2009. As eleições gerais posteriores à aprovação popu-lar da Carta Magna foram marcadas para dezembro do próximo ano.

“Viva a nova Constituição”, “Evo, o povo está contigo”, “Adiantecom as mudanças”, “A Bolívia é nossa, não dos racistas”, festejaram osmais de 200 mil manifestantes, que se somaram aos cinco mil que mar-charam 199 quilômetros desde Caracollo, Oruro, no dia 13 de outu-bro, em apoio ao novo marco legal que, entre outras medidas, conso-lidará o controle estatal sobre a economia e estabelecerá regras para asautonomias regionais, sob a unidade nacional territorial.

“Este esforço do povo boliviano não foi em vão. Nas ruas, ficougarantida a democracia. Ficou claro que não é possível que gruposminoritários chantageiem a aprovação de uma lei que permitirá con-sultar o povo, depositário do poder”, declarou o presidente, confir-mando a promulgação imediata da Lei do Referendo para dirimir ospontos divergentes e para aprovar a nova Constituição Política do Es-tado, uma vez sancionada a medida no Congresso Nacional.

“Não vamos esperar até 2011, como queria a oposição. O nossopovo já esperou muito e vimos aqui que a paciência esgotou. Alémdisso, quanto mais tempo passar, se eles não se integrarem no avançoque o país está realizando, em cada eleição vão ter menos votos”, acres-centou Evo, aclamado pelos manifestantes.

a história é um carro alegre

Marcha popular toma as ruas de La Paz e celebra a conquista doreferendo da nova Constituição, marcado para 25 de janeiro de 2009

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EEEEEm La Pm La Pm La Pm La Pm La Paz, 200 mil manifestantes comemoraz, 200 mil manifestantes comemoraz, 200 mil manifestantes comemoraz, 200 mil manifestantes comemoraz, 200 mil manifestantes comemorarararararam no 20 de outubram no 20 de outubram no 20 de outubram no 20 de outubram no 20 de outubro: “Eo: “Eo: “Eo: “Eo: “Evvvvvooooo, o po, o po, o po, o po, o povvvvvoooooestá contigoestá contigoestá contigoestá contigoestá contigo”,“”,“”,“”,“”,“VVVVViviviviviva a noa a noa a noa a noa a novvvvva Constituiçãoa Constituiçãoa Constituiçãoa Constituiçãoa Constituição”,“”,“”,“”,“”,“A Bolívia é nossa, não dos rA Bolívia é nossa, não dos rA Bolívia é nossa, não dos rA Bolívia é nossa, não dos rA Bolívia é nossa, não dos racistas!”acistas!”acistas!”acistas!”acistas!”

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Como explicou o presidente da Coordenação Nacional para a Mu-dança (Conalcam), Fidel Surco, um dos líderes da mobilização, “fo-mos somando forças à medida que a marcha avançava”. “Todos chega-mos aqui com um único objetivo: defender o processo de mudanças epara conseguir a vitória, a aprovação do novo texto constitucional e arefundação da Bolívia”. O próximo objetivo da Conalcam, sublinhou,“é a vitória contundente nas urnas no dia 25 de janeiro”.

A unidade, identidade e determinação corporificadas na gigantes-ca coluna humana de camponeses, mineiros, professores e estudantes,sindicalistas e donas de casa, garantiu a superação de mais uma impor-tante barreira, possibilitando o aprofundamento da democracia emsolo boliviano, fortalecendo a soberania nacional e popular.

A energia emanada de tamanha dignidade nos ensina, como a ver-são de Chico Buarque da incandescente Canção para a Unidade Lati-no-americana, do cubano Pablo Milanés: “A história é um carro ale-gre, cheio de um povo contente que atropela indiferente todo aqueleque a negue”.

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Leonardo Wexell Severo é gaúcho de Rosário do Sul, colorado ecorintiano. Editor do jornal Hora do Povo, é assessor da Secretaria Nacio-nal de Comunicação da Central Única dos Trabalhadores, colaboradordo jornal Brasil de Fato e de diversas confederações nacionais de traba-lhadores. Foi editor da revista e do jornal da Secretaria Sindical Nacionaldo Partido dos Trabalhadores (SSN-PT), tendo artigos publicados nasrevistas Fórum, do Observatório Social e do Brasil. Bacharel em Comu-nicação Social pela Universidade Federal de Santa Maria-RS, cursouPolítica e Economia na Escola Júlio Antonio Mella, em Havana-Cuba,sendo pós-graduado em Política Internacional pela Faculdade de Socio-logia e Política de São Paulo. Participou de cursos de extensão na EscolaSuperior de Guerra (ESG), no Rio de Janeiro. Presidiu o Diretório Aca-dêmico de Comunicação da Fiam e o Diretório Central dos Estudantesdas FMU-Fiam-Faam, sendo expulso pela direção da empresa após terliderado manifestações vitoriosas contra o aumento das mensalidades.Foi membro da executiva da União Nacional dos Estudantes (UNE) nagestão que comandou as mobilizações pelo impeachment de FernandoCollor. Integrou brigadas internacionais para a colheita do café na Ni-carágua Sandinista e de solidariedade à Cuba Socialista. Representou oBrasil na delegação em apoio ao povo palestino, durante a segundaintifada, quando entrevistou o presidente Yasser Arafat, em Gaza, tendocontribuído com artigo no livro “O Apartheid de Israel”, de NathanielBraia. Acompanhando o processo revolucionário venezuelano, repre-sentou o Canal Comunitário de São Paulo no momento da implantaçãoda Lei de Responsabilidade Social em Rádio e Televisão naquele país,publicando uma seqüência de artigos com ênfase na democratizaçãodos meios de comunicação. Nos últimos anos acompanhou a delegaçãocutista na cobertura dos Fóruns Sociais Mundiais e Regionais (Caracas,Nairóbi e Recife) e, em 2008, na fundação da Confederação Sindicaldos Trabalhadores das Américas (Panamá).

sobre o autor

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Agência Boliviana de Informação (ABI)Agência Boliviana de Informação (ABI)Agência Boliviana de Informação (ABI)Agência Boliviana de Informação (ABI)Agência Boliviana de Informação (ABI)www.abi.boALBA – AlternativALBA – AlternativALBA – AlternativALBA – AlternativALBA – Alternativa Boliva Boliva Boliva Boliva Bolivariana para os Pariana para os Pariana para os Pariana para os Pariana para os Pooooovvvvvos de Nos de Nos de Nos de Nos de Nossa Américaossa Américaossa Américaossa Américaossa Américawww.alternativabolivariana.orgCongrCongrCongrCongrCongresso Bolivesso Bolivesso Bolivesso Bolivesso Bolivariano dos Pariano dos Pariano dos Pariano dos Pariano dos Pooooovvvvvosososososwww.congresobolivariano.orgEmancipaciónEmancipaciónEmancipaciónEmancipaciónEmancipaciónwww.emancipacion.orgFundo Nacional de Desenvolvimento AlternativoFundo Nacional de Desenvolvimento AlternativoFundo Nacional de Desenvolvimento AlternativoFundo Nacional de Desenvolvimento AlternativoFundo Nacional de Desenvolvimento Alternativowww.fonadal.gov.bo

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Bolívia nas ruas e urnas contra o imperialismo110

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