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O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOSDA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE
2009
Produção Didático-Pedagógica
Versão Online ISBN 978-85-8015-053-7Cadernos PDE
VOLU
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I
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Escola: Colégio Estadual São Cristóvão - NRE: Cascavel Nome do Professor: Lilian Mara Furtado Barreiros Orientadora IES: Profº Dr. Gilmei Francisco Fleck Nível de Ensino: Ensino Fundamental - Anos finais Unidade Didática: O conto como incentivo à leitura Disciplina: Língua Portuguesa Conteúdo Estruturante: O discurso como prática social Conteúdo Básico: Leitura
Um resumo sobre Leitura
O ser humano insere-se no processo de leitura desde os primeiros contatos com o
mundo quando começa a compreender e a atribuir sentido a tudo o que está à sua volta,
este processo ocorre de forma natural e constitui-se na primeira leitura de mundo..
Desde os primórdios das civilizações quando ainda não existia a escrita, o
homem pré-histórico já realizava atos que podiam ser considerados como leitura, um
destes atos era a pintura nas paredes das cavernas. Esse o meio de seus criadores
interpretarem a natureza, uma forma de comunicação. Desse modo, fazia-se uma leitura.
Bisonte. Pintura rupestre encontrada numa das grutas de Altamira, na Espanha. (Graça Proença - História da Arte, 1997, p. 12).
2
Para Zilberman e Silva (2005, p. 112), a leitura pode ser vista como
[...] um processo historicamente determinado, que congrega e expressa os anseios da sociedade. [...]. A leitura também pode se apresentar na condição de um instrumento de conscientização, quando diz respeito aos modos como a sociedade, em conjunto, repartida em segmentos diferentes ou composta de indivíduos singulares, se relaciona ativamente com a produção cultural, isto é, com os objetos e atitudes em que se depositam as manifestações da linguagem, sejam, estas gestuais, visuais ou verbais (oral, escrita, mista, audiovisual).
Neste sentido, a leitura torna-se um elo de ligação entre o leitor e a produção
cultural, possibilitando, assim, o acesso ao conhecimento, abrindo horizontes e
resgatando esse leitor do mundo da alienação de forma crítica diante da realidade.
Nas diretrizes Curriculares (2008, p. 56) compreende-se a leitura como um ato
dialógico, interlocutivo, que envolve demandas sociais, históricas, políticas,
econômicas, pedagógicas e ideológicas de determinado momento. Ao ler, o indivíduo
busca as suas experiências os seus conhecimentos prévios, a sua formação familiar,
religiosa, cultural; enfim, as várias vozes que o constituem.
Segundo Silva (2005, p. 24),
[...] a prática da leitura é um princípio de cidadania, ou seja, o leitor cidadão, pelas diferentes práticas de leitura, pode ficar sabendo quais são suas obrigações e também pode defender os seus direitos, além de ficar aberto às conquistas de outros direitos necessários para uma sociedade justa, democrática e feliz.
Neste sentido, a leitura possibilita ao sujeito uma melhor integração e
valorização na sociedade em que vive. É na escola que é oportunizado ao indivíduo, por
meio do acesso a inúmeras formas de leituras, o direito a fazer opção, a posicionar-se
consciente e criticamente diante dos fatos da realidade.
Para Zilberman (2003, p. 25), preservar as relações entre a literatura e a escola,
ou o uso do livro em sala de aula, decorre de ambas compartilharem um aspecto em
comum: a natureza formativa. De fato, tanto a obra de ficção como a instituição de
ensino estão voltadas à formação do indivíduo ao qual se dirigem.
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E assim, leitor e escola caminham juntos para o desenvolvimento do
conhecimento, percebendo o mundo real ou ficcional de forma instrutiva e prazerosa.
A leitura pode dar-se em uma série de materiais diferentes. Veja abaixo uma de
nossas sugestões:
Sugestão de filme para assistir em sala de aula. “Coração de tinta”. Leia a sinopse a seguir.
O filme conta a história de Meggie (Eliza Bennett), uma garota encantada pelas
histórias de aventuras que lê nos livros. Certo dia ela descobre que seu pai Mo
(Brendan Fraser), com quem mora sozinha desde o desaparecimento de sua mãe, tem
poderes mágicos de trazer os personagens dos livros à vida quando lê trechos em voz
alta. O vilão Capricórnio (Andy Serkis) aparece das páginas do livro Coração de
Tinta para roubar os poderes de Mo e agora, com a ajuda de seus amigos e seu pai
entram no mundo encantado dos livros para impedir Capricórnio e talvez encontrar
sua mãe perdida.
Disponível em: http://www.filmesdecinema.com.br/filme-coracao-de-tinta--
5833/ Acesso em 01/06/2010
Ficha do filme
Título original: Ink heart
Duração: 106 minutos ( 1 hora e 46 min)
Gênero: Aventura
Direção: Iain Softley
Ano: 2008
País de origem: Alemanha – Inglaterra - EUA
Vamos conversar agora!
Lembre-se que o homem da caverna pintava as paredes usando óxidos minerais,
ossos carbonizados, carvão, vegetais e sangue de animais. Os elementos sólidos eram
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esmagados e dissolvidos na gordura dos animais caçados. Como pincel, utilizou-se
inicialmente o dedo, mas há indícios de terem empregado também pincéis feitos de
penas e pêlos
a) Qual a leitura que você faz dessa pintura rupestre o Bisonte? Comente com seus colegas.
b) Depois do que foi lido e comentado o que é leitura para você?
c) Qual a contribuição que a leitura pode oferecer a você estudante? Como a leitura é
vista na sociedade?
d) O que você gosta de ler?
e) Você costuma ler os livros, revistas, jornais que estão na biblioteca da sua escola? De
que forma e em que momento?
f) Qual a diferença da leitura de jornais ou revistas e um livro literário para você?
Continuando...
Qual a diferença entre um texto literário e não literário?
O texto literário tem uma dimensão estética, utiliza palavras de sentido figurado que
possibilita a criação de novas relações de sentido, com predomínio da função poética da
linguagem. É, portanto, um espaço relevante de reflexão sobre a realidade, envolvendo
um processo de recriação lúdica dessa realidade. Na linguagem literária há uma
preocupação com a escolha e a disposição das palavras, que acabam dando vida e beleza
ao texto.
No texto não-literário há necessidade de uma informação mais objetiva e direta no
processo de documentação da realidade, com predomínio da função referencial da
linguagem e na interação entre os indivíduos, com predomínio de outras funções. A
linguagem não-literária preocupa-se em transmitir o conteúdo, utilizando as palavras em
seu sentido próprio, não figurado.
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Leia os dois textos abaixo com atenção! Texto 1
Erica Rudea
A beleza negra é destaque na exposição “Tributo à Beleza Negra”, realizada pela
Secretaria Municipal da Cultura na Galeria de Artes. A mostra que acontece anualmente
na Semana da Consciência Negra, com tema fixo, reúne 22 telas de vários artistas
plásticos da cidade. “Alguns artistas já têm a tela pronta. Outros fazem especialmente
para a exposição”, explica Marisa Carvalho Teixeira, coordenadora da Galeria de Artes.
[...]. 19 de novembro de 2009. Disponível em:
www.redebomdia.com.br/Noticias/Viva/4046/Artistas+homenageiam+a+beleza+negra
Acesso em 13 de abril de 2010.
Texto 2
A beleza negra
Foto: Lilian Mara F. Barreiros
Em todos os cantos do mundo
Brilha o tom negro da pele,
Quem tiver olhar puro pode ver,
A alegria dessa gente,
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Nas mais belas obras, a força do seu trabalho,
Nos ombros mais amigos, a pureza de sua alma,
E nas passarelas da vida,
A beleza negra desfila,
A arte do criador.
(Autores: Jairo e Lilian Barreiros)
Compare os dois textos quanto à forma, linguagem e estilo.
No primeiro texto temos uma informação da Rede Bom Dia sobre o Tributo à
beleza negra. Dizemos que não é texto literário, pois nele, a autora utiliza uma
linguagem referencial, informa um fato real, de maneira objetiva.
O segundo texto podemos dizer que é literário, pois os autores, o fazem de
maneira subjetiva, a forma é diferente do texto apenas informativo, a linguagem é
poética.
Em lugar de apenas informar sobre o real, ou de produzi-lo, o texto literário é
utilizado principalmente como um meio de refletir e recriar a realidade em um plano
imaginário.
Agora responda as questões abaixo:
1-) A literatura é importante para você?
2-) Um texto literário pode ser produzido com palavras simples do cotidiano?
Por quê?
3-) Que tipo de realidade o escritor pode expressar em sua criação literária?
4-) Aponte algumas diferenças entre a linguagem literária e a não literária.
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1-) Produza um texto não literário sobre a temática da “beleza negra”
(informativo, objetivo) com base nas leituras e discussões até o momento.
2-) Agora deixe aflorar a sua criatividade e produza um texto literário sobre
o amor, a amizade ou outro tema de sua preferência. Escreva em prosa ou em
versos.
ALGUNS CONCEITOS
Texto: é uma sequência de palavras, oral ou escrito, que forma um todo
com sentido, sua linguagem pode ser formal, informal, técnica, científica...
Tipos textuais: referem-se à estrutura composicional, podem ser:
descrição, narração, dissertação, exposição e injunção.
Gêneros textuais: são textos orais e escritos produzidos por falantes de
uma língua em um determinado momento histórico. Segundo Hendges (2002, p.
117),
Para entender como se dá a comunicação em uma esfera social, é preciso investigar os gêneros discursivos usados na interação entre os participantes dessa esfera, considerando aspectos lingüísticos e discursivos que podem ser percebidos tanto em uma análise microestrutural quanto macroestrutural.
Neste sentido, o gênero e a esfera social não se separam, pois o texto é a
materialização da linguagem num determinado ambiente social que tem uma
linguagem específica. Veja agora alguns exemplos de gêneros textuais.
Na esfera literária temos: contos, poemas, romances, contos de fada, narrativas
de enigma, crônicas, canções, fábulas, parlendas...
Na esfera jornalística: notícia, reportagem, artigo de opinião, editorial, crônica,
resumo de novelas, tira, classificado.
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AGORA VAMOS FALAR SOBRE O GÊNERO CONTO
Você sabe o que é um conto?
A origem do conto está na transmissão oral dos fatos, no ato de contar
histórias, que antecede a escrita e nos remete a tempos remotos. O ato de narrar
oralmente evoluiu para o registro escrito, assim como o narrador passou de
contador de histórias para alguém preocupado com aspectos criativos e estéticos.
Segundo Gotlib (1990, p. 13),
[...] a voz do contador, seja oral ou escrita, sempre pode interferir no seu discurso. Há todo um repertório no modo de contar e nos detalhes do modo como se conta - entonação de voz, gestos, olhares, ou mesmo algumas palavras e sugestões -, que é passível de ser elaborado pelo contador, neste trabalho de conquistar e manter a atenção do seu auditório. Estes recursos criativos também podem ser utilizados na passagem do conto oral para o escrito, ou seja, no registro dos contos orais: qualquer mudança que ocorra, por pequena que seja, interfere no conjunto da narrativa. Mas esta voz que fala ou escreve só se afirma enquanto contista quando existe um resultado de ordem estética, ou seja: quando consegue construir um conto que ressalte os seus valores enquanto conto, nesta que já é, a esta altura, a arte do conto, do conto literário. Por isso, nem todo contador de estórias é um contista.
Dessa forma, narrador e ouvintes e ou leitores estão presos pelo fio da história,
seja esta do cotidiano ou conto literário. O conto é um gênero narrativo curto, o qual
apresenta uma só trama com poucos personagens, O conto não se refere só ao
acontecimento real, neste gênero, realidade e ficção não têm limites precisos.
VOCÊ JÁ OUVIU FALAR EM MONTEIRO LOBATO, ESCRITOR DE VÁRIAS
OBRAS LITERÁRIAS, INCLUSIVE CONTOS?
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José Bento Monteiro Lobato FONTE: disponível em: http://www.planetaeducacao.com.br// Acesso em 20/04/2010
Monteiro Lobato nasceu em 18 de abril de1882 na cidade de Taubaté, estado
de São Paulo. É uma das figuras excepcionais das letras brasileiras. Jornalista,
contista, criador de deliciosas histórias para crianças. Afinal, foi Monteiro Lobato
quem escreveu os primeiros livros de literatura infanto-juvenil no Brasil. Com a
publicação do livro de contos Urupês, em julho de 1918, quando já contava com 36
anos de idade, chama para o seu talento de escritor a atenção de todo o país. Cita-o
Ruy Barbosa, em discurso, encontrando no seu Jeca Tatu um símbolo da realidade
rural brasileira. Lança-se à indústria editorial, publica livros e mais livros - Onda
Verde, Idéias de Jeca Tatu, Cidades Mortas, Negrinha, Fábulas, O Choque. Foi um
grande brasileiro e um dos maiores escritores. Era, de fato, um ser plural: escritor de
cartas, escritor de obras infantis, ensaísta, crítico de arte e literatura, pintor, jornalista,
empresário, fazendeiro, advogado, sociólogo, tradutor, diplomata, etc. Faleceu na
cidade de São Paulo (SP), no dia 04 de julho de 1948.
Vamos à leitura do trecho do conto Negrinha deste renomado escritor.
Negrinha
Negrinha era uma pobre órfã de sete anos. Preta? Não; fusca, mulatinha escura,
de cabelos ruços e olhos assustados. Nascera na senzala, de mãe escrava, e seus
primeiros anos vivera-os pelos cantos escuros da cozinha, sobre velha esteira e trapos
imundos. Sempre escondida, que a patroa não gostava de crianças. Excelente senhora,
a patroa. Gorda, rica, dona do mundo, amimada dos padres, com lugar certo na igreja e
camarote de luxo reservado no céu. Entaladas as banhas no trono (uma cadeira de
balanço na sala de jantar), ali bordava, recebia as amigas e o vigário, dando audiências,
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discutindo o tempo. Uma virtuosa senhora em suma - “dama de grandes virtudes
apostólicas, esteio da religião e da moral”, dizia o reverendo. Ótima, a dona Inácia.
Mas não admitia choro de criança. Ai! Punha-lhe os nervos em carne viva. Viúva sem
filhos, não a calejara o choro da carne de sua carne, e por isso não suportava o choro
da carne alheia. Assim, mal vagia, longe, na cozinha, a triste criança, gritava logo
nervosa:
— Quem é a peste que está chorando aí?
Quem havia de ser? A pia de lavar pratos? O pilão? O forno? A mãe da criminosa
abafava a boquinha da filha e afastava-se com ela para os fundos do quintal,
torcendo-lhe em caminho beliscões de desespero.
— Cale a boca, diabo!
No entanto, aquele choro nunca vinha sem razão. Fome quase sempre, ou frio, desses
que entanguem pés e mãos e fazem-nos doer...
Assim cresceu Negrinha - magra, atrofiada, com os olhos eternamente assustados.
Órfã aos quatro anos, por ali ficou feito gato sem dono, levada a pontapés. Não
compreendia a idéia dos grandes. Batiam-lhe sempre, por ação ou omissão. A mesma
coisa, o mesmo ato, a mesma palavra provocava ora risadas, ora castigos. Aprendeu a
andar, mas quase não andava. Com pretextos de que às soltas reinaria no quintal,
estragando as plantas, a boa senhora punha-a na sala, ao pé de si, num desvão da
porta.
— Sentadinha aí, e bico, hein?
Negrinha imobilizava-se no canto, horas e horas.
— Braços cruzados, já, diabo!
Cruzava os bracinhos a tremer, sempre com o susto nos olhos. E o tempo corria. E o
relógio batia uma, duas, três, quatro, cinco horas - um cuco tão engraçadinho! Era seu
divertimento vê-lo abrir a janela e cantar as horas com a bocarra vermelha, arrufando
as asas. Sorria-se então por dentro, feliz um instante.
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Puseram-na depois a fazer crochê, e as horas se lhe iam a espichar trancinhas sem
fim. Que idéia faria de si essa criança que nunca ouvira uma palavra de carinho?
Pestinha, diabo, coruja, barata descascada, bruxa, pata-choca, pinto gorado, mosca-
morta, sujeira, bisca, trapo, cachorrinha, coisa-ruim, lixo - não tinha conta o número
de apelidos com que a mimoseavam. Tempo houve em que foi a bubônica. A
epidemia andava na berra, como a grande novidade, e Negrinha viu-se logo apelidada
assim - por sinal que achou linda a palavra. Perceberam-no e suprimiram-na da lista.
Estava escrito que não teria um gostinho só na vida - nem esse de personalizar a
peste... O corpo de Negrinha era tatuado de sinais, cicatrizes, vergões. Batiam nele os
da casa todos os dias, houvesse ou não houvesse motivo. [...]
Para ler o conto na íntegra pesquise na biblioteca da sua escola ou acesse o site abaixo.
Disponível em; http://www.bancodeescola.com/negrinha.htm. Acesso em 24/04/2010
Agora vamos conhecer o primeiro capítulo do livro Histórias de tia Nastácia, também
de Monteiro Lobato. Ao todo o livro apresenta quarenta e quatro histórias contadas pela
“negra velha”, como diz Pedrinho. Vamos ler!
HISTÓRIAS DE TIA NASTÁCIA
Pedrinho, na varanda, lia um jornal. De repente parou, e disse a Emília, que andava
rondando por ali:
— Vá perguntar a vovó o que quer dizer folclore.
— Vá? Dobre a língua. Eu só faço coisas quando me pedem por favor. Pedrinho, que
estava com preguiça de levantar-se, cedeu à exigência da ex-boneca.
— Emilinha do coração - disse ele - faça-me o maravilhoso favor de ir perguntar à vovó
que coisa significa a palavra folclore, sim, tetéia? Emília foi e voltou com a resposta.
— Dona Benta disse que folk quer dizer gente, povo; e lore quer dizer sabedoria,
ciência. Folclore são as coisas que o povo sabe por boca, de um contar para o outro, de
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pais a filhos - os contos, as histórias, as anedotas, as superstições, as bobagens, a
sabedoria popular, etc. e tal. Por que pergunta isso, Pedrinho? O menino calou-se.
Estava pensativo, com os olhos lá longe. Depois disse:
— Uma idéia que eu tive. Tia Nastácia é o povo. Tudo que o povo sabe e vai contando,
de um para outro, ela deve saber. Estou com o plano de espremer tia Nastácia para tirar
o leite do folclore que há nela. Emília arregalou os olhos.
— Não está má a idéia, não, Pedrinho! Às vezes a gente tem uma coisa muito
interessante em casa e nem percebe.
— As negras velhas - disse Pedrinho - são sempre muito sabidas. Mamãe conta de uma
que era um verdadeiro dicionário de histórias folclóricas, uma de nome Esméria, que foi
escrava de meu avô. Todas as noites ela sentava-se na varanda e desfiava histórias e
mais histórias. Quem sabe se tia Nastácia não é uma segunda tia Esméria?
Foi assim que nasceram as Histórias de Tia Nastácia.
Para você conhecer melhor esta obra pesquise na biblioteca da sua escola ou acesse o
site abaixo. Disponível em:
http://professor.institutoideia.com/sandra/files/2009/08/monteiro-lobato-historias-de-tia-
nastacia.pdf .
Acesso em 24 / 04/ 2010.
Vamos conhecer os elementos do gênero textual conto
Narrador: Quem conta a história?
O narrador pode ser uma das personagens, neste caso, chamamos de narrador-
personagem. Isso ocorre quando a história é narrada em primeira pessoa do singular ou
plural: eu/nós.
O narrador pode ser também uma terceira pessoa, um observador “de fora”
(narrador-observador). Neste caso, a história é narrada em terceira pessoa: ele/ela;
eles/elas. Nas duas obras mencionadas aqui nesta unidade o narrador é observador, mas
no decorrer da leitura os personagens participam ativamente, ou seja, o discurso é direto
com uso de travessões.
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Personagens: Seres (humanos ou não) que vivenciam os acontecimentos narrados.
Cada personagem tem um papel diferente na narração. Por isso, podem ser divididos em
personagens principais e secundários.
Enredo:
É o encadeado de ações executadas ou a executar pelas personagens numa
ficção, a fim de criar sentido ou emoção no espectador.
O enredo, ou trama, ou intriga, podemos dizer que é o esqueleto da narrativa,
aquilo que dá sustentação à história, ou seja, é o desenrolar dos acontecimentos.
É, também, um relato de fatos vividos por personagens e ordenados em uma
seqüência lógica e temporal, por isso ele se caracteriza pelo emprego de verbos de
ação que indicam a movimentação das personagens no tempo e no espaço.
Geralmente, o enredo está centrado num conflito, responsável pelo nível de tensão da
narrativa.
Espaço: Cenário, lugar, onde as ações acontecem. O narrador pode enfatizar mais o
espaço físico (casa de uma fazenda, por exemplo), ou o espaço social (enredo
ambientado em espaço pobre ou rico, cidade grande ou pequenos lugarejos) ou ainda, o
espaço psicológico, criado na imaginação da personagem.
Tempo:
Os fatos podem ser narrados de forma cronológica, marcados pelo movimento
do relógio, a alternância de dia-noite, o tempo é visível. O tempo psicológico não
obedece à cronologia, não mantém nenhuma relação com o tempo visível. O tempo
psicológico transcorre no interior de cada personagem, por isso a personagem pode ir ao
passado e ao futuro por meio de seus pensamentos e devaneios, sem obedecer ao tempo
cronológico.
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Vamos exercitar este aprendizado por meio de atividades, a seguir:
A partir da leitura do conto “Negrinha” e Histórias de Tia Nastácia, responda às
seguintes questões:
1) Como se apresenta o narrador nessas duas obras e quais as suas características?
2) No conto “Negrinha”, comente as características físicas e psicológicas de Dona
Inácia.
3) Em “Negrinha”, identifique o fato que desencadeia o enredo deste conto e diga
por que este move toda a história.
4) Lembre-se que o tempo psicológico é um detalhe importante neste texto. Observe
e mencione em que tempo e espaço ocorrem as ações do conto “Negrinha” e
Histórias de Tia Nastácia?
5) Leia o trecho: “Cruzava os bracinhos a tremer, sempre com o susto nos olhos. E o
tempo corria. E o relógio batia uma, duas, três, quatro, cinco horas - um cuco tão
engraçadinho! Era seu divertimento vê-lo abrir a janela e cantar as horas com a
bocarra vermelha, arrufando as asas. Sorria-se então por dentro, feliz um instante.”
Qual o significado da expressão “sorria-se por dentro...”?
6) Pedrinho diz: “Uma idéia que eu tive. Tia Nastácia é o povo. Tudo que o povo sabe
e vai contando, de um para outro, ela deve saber. Estou com o plano de espremer
tia Nastácia para tirar o leite do folclore que há nela.” Com base na fala de
Pedrinho o que ele quis dizer “em espremer tia Nastácia?”
7) Produza um texto narrativo contemplando todos os elementos do gênero conto.
(tema livre)
Trazendo o texto para o contexto
1) Em sua opinião, qual seria o principal fator que pode levar alguém a maltratar
uma criança nos dias atuais.
2) Negrinha não tem nome é assim que a chamam, mas na hora da raiva dona
Inácia desfia vários apelidos nada carinhosos. Para você o que significa apelidos
carinhosos e aqueles que têm intenção de ofender alguém? Exemplifique.
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3) O “ECA” é o Estatuto da criança e do adolescente. Você já leu os seus direitos e
deveres?
4) Você percebeu que Tia Nastácia adora contar histórias, inclusive lendas do
nosso folclore. Você conhece as lendas e mitos do folclore brasileiro? Relate-os.
Leia agora a lenda do “Negrinho do pastoreio”, clicando abaixo . Disponível em: http://bgirls99.tripod.com/pagina_n7.htm Acesso em 24 /05 /2010
.ATIVIDADES PRÁTICAS EM SALA DE AULA TRABALHOS INDIVIDUAIS E /OU EM GRUPOS.
Nesse primeiro momento abriremos uma discussão com os alunos a respeito das
obras lidas. Leituras estas através da Tv pen-drive ou multimídia ou uso da internet no
laboratório de informática da escola, a fim de que o aluno possa perceber como as
personagens (Negrinha e Tia Nastácia) se configuram.
Desenvolver atividades orais para serem realizadas em sala de aula como
apresentação de paródias, dramatização, apresentação de poesias produzidas pelos
alunos sobre as histórias lidas, comentadas e discutidas.
Produção escrita de poesias e histórias em quadrinhos, tendo como temática
alguns pontos mais relevantes das obras aqui mencionadas de Monteiro Lobato.
Reescrever, sob outro ponto de vista, o comportamento da personagem dona
Inácia e seu relacionamento com o vigário, personagens estes do conto “Negrinha”, a
fim de estabelecermos os prós e contras no decorrer da história.
Representar trechos de cada obra em terceira dimensão com massa de modelar, massa
esta feita pelos alunos com farinha de trigo e anilina ou suco em pó. Dessa forma
desenvolver as habilidades artísticas dos educandos.
Receita da massa de modelagem:
Em uma vasilha coloque:
• 4 xícaras de farinha de trigo
• 1 xícara de sal
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• 1 colher de sopa de óleo
• 1 xícara e meia de água
• Anilina ou suco em pó suficiente para colorir.
• Misturar os ingredientes até obter uma massa homogênea.
Pesquisar poesias e letras de músicas sobre personagens negras, a fim de que os
alunos possam compará-los com as obras de Lobato e reproduzir textos em forma de
cartazes explicativos com colagens de gravuras de pessoas de etnia negra ou afro-
descendentes.
Continuar a história, produzindo um final diferente e criativo para a personagem
Negrinha.
Produzir acrósticos com as palavras chaves, NEGRINHA E TIA NASTÁCIA, e
produção de desenhos e pinturas das personagens mencionadas como fundo decorativo.
Pesquisar com os pais, avós e tios histórias interessantes para serem relatadas em
sala de aula para o grande grupo, assim como fazia Tia Nastácia com suas “rodas de
causos”.
Elaborar um jornal falado. Cada grupo deverá criar notícias a partir das obras
lidas, envolvendo todos os personagens e apresentar para a sala no grande grupo.
Vamos brincar? Agora um caça-palavras!!!
L O B A T O V O P Z
X B N A S T A C I A
F O L C L O R E N M
H N P H P S V X A N
O E D K R T A B C G
B C I N F A N C I A
N A L E I T U R A L
P L A H N I R G E N
17
K A V T A U S R V H
L I T E R A T U R A
J S A I R O T S I H
Procure no caça-palavras as seguintes palavras:
Nastácia - literatura – Negrinha – folclore – Lobato – histórias – leitura – infância –
povo.
Fique por dentro da nossa história!
Prosa poética
Sangue Negro Muitos antes do Grito do Ipiranga, a mão de obra era escassa e os índios não
trabalhavam à moda portuguesa. As fazendas estavam lá, esperando com atraso pelos
trabalhadores. Rumores que chegariam em breve, sem greve e obedientes.
Os patrões generosos de coração, no começo enchiam as panças e as lembranças
ficavam amenas.
Que pena! Que outros cheios de prepotência, violência, sem clemência tratavam
“estes trabalhadores” com chicotes e humilhação. Sim, eles eram os Negros, vindo de
Terras longínquas onde eram reis, príncipes e livres.
A cor os diferenciava das demais pessoas, porque naquela época, naquela ótica,
predominavam os brancos, alguns francos, brandos, outros monstros, não santos, mas
carrascos.
Assim os negros foram aumentando, chegando ao Brasil nos cascos dos navios
ou pela barriga de suas mães, que choravam ao ver seus rebentos reluzentes ao Sol
desde cedo na capina, plantando, colhendo, carregando, despejando, exaustos do
excesso da lida.
À noite como animais, se deitavam nas esteiras, sem eira nem beira, uns por
cima dos outros para caberem todos eles. O sofrimento sem fim, enfim, ia amenizando
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com um velho negro, como negra era a noite, contava causos da África mãe, cantava
cantigas, ensinava, rezava e aconselhava pela cautela sem pressa. Depois da cautela,
vinham os pensamentos de fuga que predominou com o negro Zumbi dos Palmares, que
formou uma pequena vila de palhoças de varas e folhas fortes. Sempre perto de água e
escondidas por montanhas os fujões se aglomeravam ali no chamado Quilombo.
Quando capturados, eram torturados, e até sacrificados. Os quilombos foram
aumentando, e o sofrimento de quem ficava sobre o julgo do Senhor branco aumentava
também. As leis começaram a chegar, para alegrar, animar e fazer sonhar estes escravos
tão sofridos. Todas as leis foram consolidadas, mas vejam só! Apareceram velhos
perambulando pelas ruas, nuas de trabalho, barriga vazia, pernas cansadas, inferidadas,
ninguém fazia nada depois da Lei dos Sexagenários. Em seguida a Lei do Ventre Livre
os menores abandonados se colocaram na História do Brasil.
Mesmo depois da abolição, lição, ficção, coração doído, os negros continuaram
desprezados, esfarrapados, esfomeados exceto alguns que tiveram mais sorte.
Hoje os negros fazem novela, são tagarelas, bonitos, mas na favela ainda, junto
com os brancos, correm riscos de desmoronamentos, preconceitos, sujeito às críticas,
políticas mal conduzidas, que não amenizam nem curam as chagas históricas deste povo
varonil, que misturou seu sangue.
E o povo brasileiro, altaneiro, tem sangue Negro em suas veias.
Autora: Zilda Furtado Guimarães (irmã da professora PDE)
19
Imagem: Disponível em
http://www.asminasgerais.com.br/zona%20da%20mata/UniVlerCidades/Hist%C3%B3r
ia/imagens/1111000042%20Casa%20de%20Negros.JPG Acesso em 19/05/2010
Com base na leitura do texto “Sangue Negro” e na imagem acima faça um desenho
representativo do que você leu. Seja criativo não copie a imagem.
Vamos descontrair!!! Acesse o site e leia “Menina bonita do laço de fita”, de Ana Maria Machado. Disponível
em: http://www.cantinhodoprofessor.org/consciencia_negra/projeto_menina_bonita.htm
Acesso em 24 / 05/ 2010.
Abrir debate com os alunos fazendo comparações com a personagem Negrinha de
Monteiro Lobato e a Menina bonita do laço de fita, de Ana Maria Machado.
Em grupo pesquisar sobre o continente africano. Cada equipe apresentará em sala de
aula alguns costumes, festas, músicas e danças, as religiões do país pesquisa para o
grande grupo.
Leitura em ação! Acesse o site e leia o “O caso da vara”, conto de Machado de Assis. Disponível em: http://www.dominiopublico.gov.br Acesso em 24 / 05 / 2010
Agora pense e responda! Depois de todas as leituras, conversas, atividades propostas nesta unidade didática a
leitura pode ser uma atividade interessante e significativa para você? Comente:
Referências
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ZILBERMAN, Regina e SILVA Ezequiel Theodoro: Pedagogia da leitura; movimento
e história. São Paulo. Editora Ática 2005
ZILBERMAN, Regina: A literatura infantil na escola. 11.ed. São Paulo: Global, 2003.
Secretaria de Estado da Educação do Paraná. Diretrizes Curriculares da Educação
Básica. Língua Portuguesa (2008).
SILVA. E. T. Conferências sobre leitura – trilogia pedagógica. 2.ed. Campinas/SP: Autores Associados, 2005.
HENDGES, Graciela. R Citando na Internet: um estudo de gênero da Revisão da literatura em artigos acadêmicos eletrônicos. In: MEURER, José Luiz. ROTH, Désirée Motta (orgs) Gêneros textuais Bauru, SP: EDUSC, 2002.
GOTLIB, Nádia Battella. Teoria do conto. 5.ed. São Paulo Ática 1990