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O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOSDA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE
2009
Versão Online ISBN 978-85-8015-054-4Cadernos PDE
VOLU
ME I
QUADRINHOS FAXINALENSES: HISTÓRIA DOS POVOS TRADICIONAIS
Lucy Mari da Luz1
José Adilçon Campigoto2
RESUMO
Experiência de produção de história em quadrinhos dos alunos da 8ª série do Ensino Fundamental, da Escola Estadual “Dr. Chafic Cury” a respeito do sistema de faxinais. Os faxinais constituem uma forma de uso da terra em compáscuo, sendo encontrado em 16 municípios da região centro-sul do Paraná. Buscou-se, assim, a consolidação e preservação da memória individual e coletiva por meio da descrição estabelecendo relações entre o faxinal e a realidade urbana. A história em quadrinhos, instrumento usado e neste artigo, é um modo de produção narrativo, conciso, de fácil entendimento em que o aluno pode demonstrar seu saber em relação ao tema abordado. O trabalho foi elaborado a partir de embasamento teórico didático, após uma visita ao faxinal, palestra proferida por alunos vinculados ao laboratório dos faxinais e da exibição de vídeo.
Palavras-chave: Faxinal, História em quadrinho, povos tradicionais.
ABSTRACT
Comic books production experience of 8th grade students in the “Dr. Chafic Cury School – basic school about the faxinais (common pastures) system. The faxinais constitute a collective use of land, being found in sixteen cities of central-south of Paraná. So, sought the consolidation and preservation of the individual and collective memory by description, establishing relationships between faxinal and urban reality. The comic book, instrument used in this article, it’s a way of narrative production, concise, easy understanding where the students can demonstrate their knowledge about the subject. The work was developed from theoretical and didactic basement
1Professora de história da rede estadual do Paraná, Participante do Programa de Desenvolvimento Educacional - PDE (2009/2011), pela Universidade Estadual do Centro Oeste – Unicentro – Irati.
2 Professor do departamento de História da UNICENTRO e coordenador do PPGH – UNICENTRO.
2
after a visit to the faxinal, a lecture given by linked students to the faxinais laboratory and video display.
Keys word: Faxinal, comics, traditional peoples.
O projeto quadrinhos faxinalenses foi implementado na Escola Estadual Dr.
Chafic Cury. Trata-se de uma turma do Ensino Fundamental, na 8ª série A, que
funciona no turno matutino. O público é composto por alunos oriundos da zona
urbana e rural, situada na cidade de Rio Azul (PR), onde a professora leciona.
Durante os meses de agosto, setembro, outubro e novembro de 2010 houve o
desenvolvimento do projeto Quadrinhos Faxinalenses.
Os materiais utilizados foram: câmera digital para o registro das atividades,
papel, lápis de cor, régua, lápis preto, borracha, texto impresso com material didático
sobre os faxinais, cadernos para registro de informações, data-show, TV pendrive,
computador, ônibus.3
A produção do saber centralizada na história linear e fundamentada na
concepção eurocêntrica da história vem sendo questionada e até combatida por
vários estudiosos dessa área de conhecimento. No lugar da história do macro
sistema, partiu-se, atualmente, para a pesquisa e o ensino da micro-história,
privilegiando as histórias locais.
Esse pressuposto da historiografia recente nos levou a considerar a
importância da escrita da história e do estudo da cultura dos povos tradicionais. Nos
leva ponderar sobre o princípio de que a investigação e a reflexão acerca da
trajetória histórica destes povos representam uma maneira de dar visibilidade a
estas populações marginalizadas no âmbito da historiografia oficial.
Nosso desafio, unir a pesquisa e o ensino no âmbito do ensino médio e
fundamental, deriva da constatação da inexistência de material didático relativo ao
3 Durante o desenvolvimento foi necessário desenvolver com os alunos atividades para
poderem ter embasamento teórico sobre os faxinais como: apresentação do projeto e material didático para contextualização aos alunos com o objetivo dos mesmos e das atividades a serem desenvolvidas, através de aula expositiva; recorte de vídeo momento de integração no âmbito da mídia televisiva nacional com a produção de vídeo tratando sobre os faxinais na região Centro-Sul do Paraná com uso da TV pendrive; visita ao Faxinal dos Marmeleiros situado no município de Rebouças, no dia 30 de setembro de 2010, proporcionando aos alunos a possibilidade de ter o primeiro contato direto com o objeto de estudo o faxinal, observando sua realidade, diversidade cultural, aspectos naturais, sua história, contato com os moradores, seus desafios, suas conquistas, sanar as dúvidas e vivenciar a prática de um sistema único reconhecido pela legislação vigente; palestra com a equipe do Laboratório dos Faxinais – UNICENTRO – Irati, foi possível reconhecer alguns aspectos diferenciados dos faxinais, como a questão geográfica e a importância da preservação dos mananciais para a sobrevivência dos rios de nossa região a qual foi esclarecedora, dinâmica, atrativa e Rio Azul foi destaque.
3
assunto a que nos dedicamos: os povos tradicionais da nossa região, sobre os quais
falaremos mais adiante. Um dos principais problemas para a produção do saber
neste nível de ensino consiste nas dificuldades de escrita dos alunos. Estes ainda
não desenvolveram plenamente as habilidades para escrever textos científicos. A
estratégia foi recorrer à elaboração de histórias em quadrinhos visando despertar o
interesse pela disciplina. Pretendia-se que além de se tornarem conhecedores desta
história pudessem ser construtores de uma história diferente daquela apresentada
nos livros didáticos. Este princípio pedagógico por nós adotado poderia ser assim
enunciado: a dinâmica do ensino-aprendizagem ocorre quando os alunos são
motivados para o desenvolvimento da prática com a participação efetiva, com
recursos diversos e a utilização de metodologias alternativas, propiciando maior
envolvimento com o tema.
O tema, a história faxinalense como mencionamos anteriormente não foi
ainda incluído nos livros didáticos. Os textos sobre o assunto são, em geral, teses e
artigos publicados em revistas científicas. A linguagem utilizada dificulta a discussão
em sala de aula, mas isso se tornou uma questão produtiva porque oportunizou o
contato com as metodologias da produção do conhecimento histórico, algo até então
desconhecido dos alunos. O recurso às fontes orais para o embasamento do
trabalho foi muito importante para os alunos participantes do projeto, mas também
para os faxinalenses porque ofereceu a oportunidade a cada um de contar a sua
história. Philippe Joutard refere-se à a fonte oral, afirmando que:
não mais se trata apenas de uma simples fonte complementar do material escrito, e sim de outra história, à fim da antropologia que da voz aos povos iletrados que valoriza os vencidos os marginais e as diversas minorias. (PARANÁ, 2006, p.34)
O ensino da história, assim concebido, torna-se uma possibilidade para que o
indivíduo inserido nas regiões dos povos tradicionais como a dos faxinais, valorize
os conhecimentos e contribua para a construção do conhecimento. Trata-se da
iniciar o aluno no mundo da pesquisa, talvez, uma das formas a serem empregadas
para manter os alunos nas escolas evitando a evasão escolar.
É discurso corrente que as escolas, atualmente, não apresentam um
ambiente agradável, que as aulas são, geralmente, monótonas e que falta estímulo
por parte das famílias; porém, é preciso ter em mente que na escola ocorre uma das
únicas oportunidades para se adquirir o conhecimento científico formal. Nela, os
alunos e os professores podem entrar em contato com novas tecnologias, utilizando-
as de modo que possa haver melhorias na prática pedagógica.
O estudo da história local apresenta-se com uma oportunidade para despertar
o gosto pela aprendizagem de história, porque se trata de exercitar a produção do
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saber uma vez que tal história está para ser escrita. Neste caso, o educador também
vai se assumindo como sujeito da produção do saber. Vai experimentando a ideia de
que seu papel não é o de transmitir o conhecimento pronto, mas de criar
possibilidades para a produção e construção do saber.
Tal exercício tornará educadores e educandos conscientes de suas
capacidades além de desenvolver suas potencialidades. Dessa forma, o aluno não
será futuramente, o que Paulo Freire chama de “grande cópia imperfeita de seu
educador”. Na mesma obra, Freire ressalta que:Nesta forma de compreender e de viver o processo formador, eu, objeto agora, terei a possibilidade, amanhã, de me tornar o falso sujeito da “formação” do futuro objeto de meu ato formador. É preciso que, pelo contrário, desde os começos do processo, vá ficando cada vez mais claro que, embora diferentes entre si, quem forma se forma e se forma ao formar e quem é formado forma-se e forma ao ser formado (FREIRE, 2005, p. 23).
A proposta de escrever a história dos faxinais a partir da técnica de
história em quadrinhos vai além de uma modificação ou ensaio metodológico. Trata
de modificar a relação entre o sujeito e o objeto da formação, porque o professor
aprende com os alunos a história que está ‘fora da história’.
Esse projeto vincula-se ao movimento da nova história, que se apresenta
como um:[...] novo olhar sobre essa dimensão se faz presente na chamada history from below (história vista de baixo), proposta que inclui novas fontes para o estudo da história, que buscava dar voz aos excluídos, uma vez que os documentos oficiais privilegiavam, a priori, o olhar dos vencedores (PARANÁ, 2006, p.34).
Entende-se que as metodologias das histórias em quadrinhos e da
história oral podem incluir os alunos no processo da produção da história local.
Assim, O presente estudo tem como referência os pressupostos teóricos que
permeiam as DCEs - Diretrizes Curriculares Estaduais. A linha norteadora é a teoria
sócio-construtivista do desenvolvimento da aprendizagem de Jean Piaget, mas
enfatiza o papel da história local e da micro-história.
Segundo as Diretrizes Curriculares do Ensino de História para a Educação
Básica do Estado do Paraná, os historiadores da Nova História Cultural,
compreenderam por meio da micro-história, a relação entre o local e o universal é
um problema de escala. Podemos, portanto, com um olhar focado para o local,
perceber os rompimentos que existem no desenvolvimento histórico e apontar os
meios para serem ocupados por uma história a ser escrita, pois o objetivo do ensino
de história é a possibilidade de refletir sobre a importância dos sujeitos anônimos,
seus modos de viver, sentir e pensar; assim, as experiências vividas pelos alunos,
permitem identificar os pressupostos da história, rompendo com a história positivista
e tradicional.
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Conforme Giovanni Levi (1992, p.136) apresenta que: “o princípio unificador
de toda pesquisa micro histórica é a crença em que a observação microscópica
revelará fatores previamente não observados”. Portanto, o trabalho desenvolvido
sobre os faxinais em forma de história em quadrinhos pelos alunos coloca-os como
descobridores de uma história escrita a partir de sua dimensão local.
Henrique Espada Lima diz que:
A micro-história foi formulada, nos princípios, como um conjunto de proposições e questionamentos sobre os métodos e os procedimentos da história social, articulando discussões esparsas em torno da relação da história com as outras ciências sociais – em especial a economia, a demografia e a antropologia. Um tecido de diálogos amplo e multifacetado que, em suas várias vertentes, era influenciado por proposições tão diversas quanto a historiografia francesa ligada à revista Annales, a história social britânica, as tradições marxistas e socialistas italianas ou a antropologia social (LIMA, 2006, s.p.).
Desta perspectiva, a micro história se relaciona com as mais diversas ciências
e torna-se eficiente meio para a pesquisa historiográfica, pois estão bastante ligadas
e comprometidas com as discussões em torno das relações entre a ciência histórica
e antropologia, discute o marginal, os conflitos locais, o pessoal, os indivíduos, os
pequenos grupos e suas identidades. Pode-se dizer que Carlo Ginzburg, é o maior
expoente da micro-história. Em O queijo e os vermes, conta a história de um moleiro
condenado pela igreja católica como herege no século XVI, pois, não se prende aos
grandes fatos da história e desenvolve, a partir dessa personagem, todos os
acontecimentos que levaram a sua condenação, explicando assim o conjunto de
eventos da época. Assim sendo, a micro história centraliza-se em buscar a descrição
mais real possível do comportamento humano, o que nem sempre ocorre quando
nos utilizamos da história tradicional e linear.
Nessa concepção, a história dos faxinais, através da história em quadrinhos
faz com que os alunos tenham contato com a micro-história podem reconhecer a
possibilidade de uma nova visão da cultura.
Quando há possibilidade de produzirmos a história a partir do local, por meio
do próprio sujeito inserido nestas comunidades, torna-se possível compreender o
modo como nossa sociedade foi e está construída. Pode-se dizer que
oportunizamos, de maneira efetiva, a consolidação de algo fundamental no ambiente
escolar; a produção do saber. Mas pode-se pensar que os alunos estão sujeitos ao
erro e, portanto, podem produzir a versão errada da história. O erro no ensino-
aprendizagem foi objeto de investigação de Jean Piaget par quem o ser humano tem
a capacidade de agir, construir e organizar o seu próprio conhecimento,
aprimorando, sempre, a inteligência. Sob esse enfoque, pode dizer que o erro,
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muitas vezes visto no meio escolar como algo passível de punição por representar a
não efetivação da aprendizagem, é, um degrau que possibilita o caminho para o
acerto, ou seja, o desafio a ser superado. Assim, o aluno tornou-se o ponto de
partida para a aprendizagem.
A falta de contato com história local, especificamente a história dos faxinais,
pareceu uma característica bem acentuada na escola em que se devolveu o projeto.
Podemos dizer que, até então, nós professores desta região, no esforço de levarmos
nossos alunos a aprender, os fazemos de maneira a dar maior ênfase ao conteúdo
em si e não à sua interligação com o vivido. Essa tem sido a opinião de muitos
professores ao reconhecer a necessidade de programar nos currículos escolares a
história do Paraná, da cultura afro-brasileira, das culturas indígenas e dizemos,
também, de todos os povos tradicionais existentes no estado.
Assim, Jurjo Santomé (1995) defende a necessidade dos conteúdos culturais
estarem ligados ao vivido dos alunos e argumenta que:
Não podemos esquecer que o professorado atual é fruto de modelos de socialização profissional que lhes exige unicamente prestar atenção à formulação de objetivos e metodologias, não considerando objeto de sua incumbência a seleção explícita dos conteúdos culturais. Essa tradição contribuiu de forma decisiva para deixar em mãos de outras pessoas (em geral, as editoras de livros didáticos) os conteúdos que devem integrar o currículo [...] Em muitas ocasiões os conteúdos são contemplados pelo alunado como formulas vazias, sem sequer a compreensão de seu sentido. Ao mesmo tempo se criou uma tradição na qual os conteúdos apresentados nos livros didáticos aparecem como os únicos possíveis, os únicos pensáveis. Como conseqüência, quando um/a professor/a se pergunta que outros conteúdos podiam ser incorporados ao trabalho em sala de aula, encontra dificuldade para pensar em conteúdos diferentes dos tradicionais.
Sendo assim, o ensino de história não pode estar acorrentado à transmissão
dos registros históricos contidos nos livros didáticos.
Outro ponto importante a ser ensinado aos alunos refere-se aos
procedimentos e atitudes que sejam pertinentes ao aprendizado em sala de aula e
na vida extra escolar. Partiu-se da ideia de que o aluno deveria compreender que a
disciplina é uma porta de entrada para a valorização da diversidade cultural, para
refletir sobre temas históricos e outras questões do presente vivido. Torna-se
necessário, então, referenciar o que são os faxinais, e levar esta temática para o
conhecimento da comunidade escolar.
Chama-se sistema de faxinais a certo modo de utilização das terras em comum, delimitada por cercado, para criação de animais, existente na região sul do Brasil e que se tem classificado como
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manifestação cultural dos povos tradicionais. Assim, o faxinal é dividido em terras de plantar e terras de criar. A área de criação, ou área de compáscuo, é um cercado composto por matas e pastagens em que se localizam as habitações dos faxinalenses (CAMPIGOTO e SOCHODOLAK, 2009).
Para Sérgio Sobenko morador do Faxinal do Lageado de Baixo, município
de Mallet, faxinal é:Onde o pessoal vive em grupo. Tudo trabalha em mutirão; a comunidade se reúne, e é onde tem desde as criações das pessoas que vivem, também, tudo na comunidade, que nem na nossa comunidade: cada proprietário tem o seu terreno documentado mas faz parte em conjunto com o Faxinal Lageado dos Mellos, em Rio Azul, que muitos não tem terreno, mas usa o terreno dos outros para as criações, do gado, do cavalo, porco, todo mundo cria em comum. E como faz pra saber que criação é de quem? ” Conhece, isso vem uma criação estranha em casa já diz essa criação não é nossa, e até se for de algum vizinho a gente sabe de que vizinho que é, a maioria do pessoal conhece sua criação (RODRIGUES, 2005).
A origem do termo faxinal remonta ao italiano fascina, sua tradução seria feixe
de lenha, utilizado na limpeza das lavouras. Assim podemos dizer que faxinal é o
conjunto de faxinas, isto é, região de campo entremeada por pequenos aglomerados
de árvores, denominados de capões ou capoeirões, é, portanto um nome dado a
área característica das matas de araucárias.
Conforme Campigotto (2009), no Paraná havia cerca de cento e cinquenta
faxinais distribuídos por todo o estado, hoje resta uma pequena quantidade de
quarenta e quatro que se localizam em dezesseis municípios da região Centro-Sul
do Paraná com áreas de mata mistas. Nos municípios que ainda existe o sistema de
faxinais preservados e conservam esse tipo de sistema tão diferenciado são:
Prudentópolis, Irati, Turvo, Pinhão, Rebouças, Rio Azul, Mallet, Inácio Martins, Boa
Ventura de São Roque, Ponta Grossa, Ipiranga, Imbaú, São Mateus do Sul, Antônio
Olinto, Mandirituba e Quitandinha.
O presente artigo enfoca o município de Rio Azul, localizado na região
Centro-Sul do Paraná, pois, apresenta o sistema de faxinais. Segundo Gurski
(2008), os primeiros núcleos de povoamento sinalizam o ano de 1885.
Estabeleceram-se inicialmente na região que recebeu o nome de Sertão da
Jararaca, que hoje constitui o município de Rio Azul, e na época recebeu a
denominação de Butiazal e Rio Azul do Soares. O interesse pelo povoamento se
intensificou com a construção da estrada de ferro São Paulo-Rio Grande.
Conforme Campigoto as expedições, os caminhos das tropas, o
estabelecimento de pousos, construção da estrada de ferro, extração da erva mate e
do pinheiro, formam um conjunto de narrativas sobre a ocupação e o povoamento da
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região onde atualmente localizam-se as populações organizadas em sistema de
faxinal. Em virtude desses acontecimentos históricos valorizam-se mais a questão
econômica e política do que a cultura faxinalense, sendo esta marginalizada na
historiografia local.
No Sistema Faxinal as terras são divididas em duas áreas as terras de plantar
e de criar. As áreas destinadas às plantações para consumo próprio, e também para
a venda dos excedentes são de uso privado. As terras de plantar estão fora do
cercado e podem pertencer a quem as cultiva ou serem arrendadas. Já as áreas do
criadouro, utilizadas para a criação de animais e extração de erva-mate, as quais
são cercadas, estas são áreas privadas, mais tem um diferencial o uso das mesmas
é comunal, ou seja, é de interesse da comunidade, não existem divisões, é aberta
para a circulação animal de todas as famílias que residem na comunidade, formando
um espaço contínuo.
Através da legislação, no ano de 1997 (PARANÁ, 1997), reconheceram-se os
faxinais como organização com produção auto-sustentável. Trata-se do Decreto
Estadual nº 3.446/1997. A partir desse momento, o governo do Estado do Paraná
criou as Áreas Especiais de Uso Regulamentado (ARESUR).
Segundo Cicilian Luiza Löwen Sahr (2005) no Paraná, os faxinalenses são
oficialmente reconhecidos com a Lei 15.673 de 13 de novembro de 2007. Esta
define a “territorialidade” dos faxinais como “uso comum da terra para produção
animal e conservação dos recursos naturais”, baseado na: produção animal à solta,
em terras de uso comum, produção agrícola de base familiar, policultura alimentar
de subsistência, para consumo e comercialização, extrativismo florestal de baixo
impacto aliado à conservação da biodiversidade, cultura própria, laços de
solidariedade comunitária e preservação de suas tradições e práticas sociais.
O modo de sobrevivência dos faxinalenses provém historicamente da criação
de animais, com destaque bois, cavalos, porcos, cabras, galinhas, entre outros; e de
pequenas plantações como milho, batata e feijão, além de frutas e verduras. O
excedente é comercializado, o trabalho realizado sem o uso de implementos. Há
extração da madeira destina-se a manutenção das cercas do criadouro.
Para Vera Lúcia Guarim:
São consideradas populações tradicionais aquelas comunidades que dependem culturalmente, do extrativismo dos recursos naturais e que ocupam ou utilizam-se de uma mesma área geográfica há várias gerações de forma que não provocam alterações no meio ambiente, isto é, são partícipes da natureza. Essas comunidades são consideradas, pelas suas peculiaridades sociais e culturais, como capazes de transmitir saberes e vivências no uso de recursos naturais, baseado no conhecimento acumulado e à permanente relação com natureza (GUARIM, 2000, p.10).
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Percebe-se a necessidade de conhecer, de divulgar melhor o conceito de
comunidade tradicional, em especial a faxinalense para podermos entender a
população que forma esse sistema e valorizá-lo, visto que são notadamente
possuidoras de um patrimônio cultural único. Pensamos que precisam ser
conhecidas, entendidas e apreciadas, a fim de que os seus moradores possam
continuar a manter essa cultura, em que a natureza é utilizada de maneira, até certo
ponto, sustentável. Contar a história dos faxinais e valorizar essa população
tradicional.
Os faxinalenses contam sua história por meio da oralidade, mas outra forma
de narrar histórias de forma atrativa é a técnica das histórias em quadrinhos, que
pode se constituir como um instrumento eficaz no ensino de história.
De acordo com Waldomiro Vergueiro (2005), as histórias em quadrinhos, se
constituem como atividade lúdica, pois, geralmente os gibis são considerados
passatempos irresistíveis por crianças e adultos, e exigem uma série de estudos,
regras e pesquisas para a sua confecção, gerando a participação de todos, onde
cada qual deve ter em mente e em prática a sua responsabilidade. Pode, assim,
envolver diversos aspectos da aprendizagem como a escrita, o desenho e outros
que permitam um ensino interdisciplinar.
Na confecção de uma história em quadrinho para os alunos, o professor
estará propondo um projeto educacional como processo de aprendizagem em que o
próprio aluno será participante. Conforme Kátia Cristina Stocco Smole (1999): “A
elaboração e a execução de um projeto estão necessariamente ligadas a uma
investigação – ação que deve ser simultaneamente um ato de transformação e uma
ocasião de pesquisa e formação”.
Portanto, em consequência da exigência de cooperação, esforço pessoal,
desenvolvimento de estratégias e planejamento para execução de um projeto, há
possibilidade de contribuir para o ganho de experiência por parte do aluno,
apresentando e desenvolvendo suas ideias. Pressupomos que as histórias em
quadrinhos promovem esse envolvimento do aluno com o objeto de estudo e com os
passos necessários para que se construa um conhecimento sistêmico do assunto
em questão. Enfim, um conhecimento articulado com várias facetas do fazer
humano.
Conforme Leila Rentroia Iannone & Roberto Antonio Iannone (1994):A melhor definição para a história em quadrinho está em sua própria denominação: é uma história contada em quadros (vinhetas), ou seja, por meio de imagens, com ou sem texto, embora na concepção geral o texto seja a parte integrante do conjunto. Em outras palavras, é um sistema narrativo composto de dois meios de expressão distintos, o desenho e o texto.
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As primeiras histórias em quadrinho surgiram em meados do século XIX, e
eram usadas, principalmente, para retratar o contexto da época. Afirma-se que os
primeiros criadores de histórias em quadrinhos foram o suíço Rudolphe Topffer, que
apresentava imagens leves envoltas em fantasia e cenas com breves textos, e o
alemão Wilhelm Busch, que retratava um humor pesado e satírico, do tipo moralista.
A partir deles, outros desenhistas, europeus e americanos, se inspiraram nos
percursos. Outros autores relatam que, no final do século XIX, surgiram as primeiras
histórias e personagens nos quadrinhos com o desenhista americano Rudolf Dirks.
Desde então, foram surgindo aventuras, romances e outros tipos de histórias.
Afirma-se que a revista brasileira “O Tico Tico” foi a primeira do mundo a apresentar
histórias em quadrinhos completas e foi lançada em 1905 com assuntos
direcionados às crianças.
Conforme Jaeme Luiz Callai (1986), a produção de histórias em quadrinhos
pode permitir aos alunos abrir seu leque de conhecimento sobre infinitos assuntos
que envolvam os mais variados enfoques disciplinares e interdisciplinares. Mas, para
a confecção do trabalho, é necessário seguir modelos de estrutura e produção. Isso
pode servir de ponto de partida para o aluno compreender que a produção do
conhecimento necessita de regras de estrutura e de linguagem para que possa ser
compreendido por um determinado universo de pessoas e para que seja
reconhecido como válido. Pode-se dizer que, ao utilizar as histórias em quadrinhos
como recurso pedagógico, o professor estará associando a linguagem da ciência à
linguagem da arte, potencializando o aprendizado. Conforme Moacy Cirne (2003):
Quadrinhos são uma narrativa gráfico-visual impulsionada por sucessivos cortes, cortes estes que agenciam imagens rabiscadas, desenhadas e/ou pintadas. O lugar significante do corte gráfico será sempre o lugar de um corte espaço-temporal, a ser preenchido pelo imaginário do leitor.
Assim, o imaginário foi levado para a sala de aula. Mas, além disso, de
acordo com Vergueiro, podemos pensar sobre a aplicação de histórias em
quadrinhos como uma metodologia diferenciada para o desenvolvimento da prática
escolar em qualquer disciplina visto que são usadas nos mais diversos meios de
comunicação. Para o autor,A inclusão efetiva das histórias em quadrinhos em materiais didáticos começou de forma tímida. Inicialmente, elas eram utilizadas para ilustrar aspectos específicos das matérias que antes eram explicados por um texto escrito. Nesse momento, as HQs apareciam nos livros didáticos em quantidade bastante restrita, pois ainda temia-se que sua inclusão pudesse ser objeto de resistência ao uso do material por parte das escolas. No entanto, constatando os resultados favoráveis de sua utilização, alguns autores de livros didáticos – muitas vezes, inclusive, por solicitação das próprias editoras –,
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começaram a incluir os quadrinhos com mais freqüência em suas obras, ampliando sua penetração no ambiente escolar (CIRNE, 2003).
A utilização deste recurso é contemplada na proposta das DCEs na medida
em que há a preocupação com a utilização de novos instrumentos para a
aprendizagem dos alunos ampliando as possibilidades de diversificação da prática
pedagógica. As aulas podem tornar-se mais atrativas e produtivas ao se produzir e
trabalhar as histórias em quadrinhos e é essa a intenção dessa metodologia.
Consideramos que nas histórias em quadrinhos os textos complementam as
imagens para que os enredos sejam transmitidos.
Essa modalidade de linguagem, própria dos quadrinhos, costuma aparecer em três situações: nos diálogos (falas) e pensamentos dos personagens; nas legendas ou letreiros, geralmente expressando o discurso de um narrador ou elemento exterior; e nas onomatopeias ou explosões sonoras, isto é, vocábulos ou grafismos que traduzem os sons (CIRNE, 2003).
No caso, os quadrinhos têm uma dupla função, podendo servir tanto como
fonte de pesquisa histórica quanto como um novo recurso para os alunos interpretar
o passado. Essa possibilidade tem um potencial bastante significativo, já que o
passado nem sempre pode ser facilmente ordenado e compreendido por jovens
estudantes. Dessa maneira, o texto escrito que geralmente oferece o estranho
passado histórico pode ser compreendido de uma nova forma.
Nesse sentido a história em quadrinhos é uma seqüência de ações em forma
de desenhos, o que facilita a compreensão de um conteúdo que acontece no tempo,
mostrando ao leitor o predomínio da narrativa, trazendo-lhe os acontecimentos do
passado criando um elo entre eles e a realidade local, como dado mais relevante e
conduzindo-o a uma reflexão moral ou ética em sua conclusão.
Mas o recurso ao uso das histórias em quadrinhos necessita de
conhecimentos específicos sobre sua construção. Para Teodósia Mika (2000): “as
histórias em quadrinhos são textos narrativos que se caracterizam pela presença de
códigos não verbais, ou seja, os próprios recursos gráficos garantem a veiculação
das idéias, auxiliadas ou não pela palavra escrita”.
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As HQs possuem elementos específicos tais como o enquadramento, a
paginação ou a diagramação, os personagens, o ‘balão’, as legendas que auxiliam
os recursos linguísticos (discurso direto, onomatopeia, expressões populares), a
imagem (gestos e expressões faciais) e dos elementos para linguísticos
(prolongamento e intensificação de sons), que auxiliam na compreensão da narrativa
(MIKA, 2000). Baseados nestas reflexões sobre a elaboração das histórias em
quadrinhos. Podemos dizer que, a confecção desse material foi o momento em que
os alunos puderam demonstrar o seu conhecimento sobre a técnica e o tema
estudado podendo tornar-se um produtor de seu conhecimento e não um mero
expectador da história.
Inicialmente a ação foi realizada distribuindo o material didático entre os
alunos em duplas para organização do conteúdo e a construção das narrativas, o
material didático foi subdividido na classe, da seguinte forma: o sistema de faxinais,
história, a organização no sistema, os puxirões e as festas religiosas e as leis de
proteção ecológica.
No que se refere à metodologia para a produção de texto, afirma-se que a
história em quadrinho precisa estar concentrada em um determinado assunto ou
conteúdo como, neste caso os faxinais. A partir da ideia central do trabalho,
escreveu-se um resumo com as principais determinantes do contexto da história,
detalhando todas as partes e a sequência dos quadrinhos.
Percebe-se, então, a utilização da paisagem local com referência de fundo, a
mata de araucária, a erva-mate, as árvores frutíferas, o relevo, bem como a roupa
dos personagens, o modo de composição as cores adequadas. O humor
característico da região também presente no embasamento do contexto.
Pode-se notar o conceito pré-formado em relação aos personagens que
vivem na zona rural através das roupas com remendos, da barba por fazer, do uso
do chapéu, demonstrando certo desleixo que seria a figura típica, conforme o
imaginário urbano, do homem do campo. Mesmo os alunos que, durante a ida ao
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faxinal utilizam roupas comuns aos adolescentes, nas figuras, passam por uma
‘transformação’ e utilizam também a camisa xadrez e o chapéu, ou seja, assumem
as características usuais das representações convencionais sobre o homem e a
mulher do campo. Alguns dos personagens, no entanto, aparecem como
representações mais urbanas em termos de vestimenta o que caracteriza uma
percepção da mescla das duas realidades.
A preocupação com a mata original dos faxinais é retratada por meio de
figuras de árvores frutíferas, da araucária, da erva-mate, das ervas medicinais e das
espécies forrageiras. O personagem que o aluno representa seria típico da região
caracterizado como um homem branco, isto é, um sujeito vinculado à colonização,
tendo como parâmetro os imigrantes poloneses e ucranianos. Pode-se dizer que a
moça representa a cultura cabocla, mas os membros do sistema aparecem como
pessoas vestidas com roupas ‘xadrez’ e chapéus de palha, o que não condiz com
uso nos dias atuais. É certo que as informações oferecidas no início do trabalho
terão contribuído para tal leitura, mas, também, pode-se dizer que se trata da
interpretação hegemônica na região.
Pode-se dizer que os textos escritos nos ‘balões’ é claro e conciso, pois a
ideia é transmitir uma mensagem sobre a importância das paisagens e das matas da
região.
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Além da paisagem destaca-se a importância do relevo em que se destacam
as nascentes e os mananciais aquáticos e o tema da preservação ambiental de da
conservação dos solos.
Por fim, apresenta-se o humor representado pela figura do mata-burro,
adentrando à linguagem local. O mata-burro se constitui como início e término do
espaço faxinalense.
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A confecção da história permitiu colocar em prática o ensino da história e,
portanto, compreender o ser humano e suas manifestações e transformações. Pode-
se dizer que há uma enorme diversidade de possibilidades para se retratar a
história, portanto, essa metodologia é uma das inúmeras maneiras de se promover
um ensino de qualidade.
O projeto Quadrinhos Faxinalenses teve como objetivo dar visibilidade à
história e a cultura dos povos tradicionais por meio da história oral e da história em
quadrinhos e procurou mostrar que o ensino de história pode ser muito prazeroso.
As atividades demonstraram que os alunos podem produzir narrativas históricas
sobre diversos assuntos sendo. Neste artigo, o destaque foi a história dos faxinais,
sistema presente em nossa região e pouco discutido no ambiente escolar. A
participação dos alunos na produção da história em quadrinhos sobre os faxinais
torna-os conhecedores de um sistema único, passando certamente a defendê-lo e
valorizá-lo.
Consideramos que o desenvolvimento das atividades propostas na turma teve
grande êxito, pois os alunos demonstraram entendimento, embasamento teórico,
capacidade de sintetização do assunto e propriedade na utilização das regras para a
confecção do material.
O resultado final foi produtivo. As histórias em quadrinhos apresentaram um
bom nível de qualidade, entendimento, embasamento teórico e qualidade visual. O
projeto permitiu aplicar de forma sistemática e planejada, a utilização de histórias em
quadrinhos no ambiente escolar.
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