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O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE Produção Didático-Pedagógica 2007 Versão Online ISBN 978-85-8015-038-4 Cadernos PDE VOLUME II

DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE 2007 · Norte e o costume de associar a poesia à primavera vem de muito tempo. Mas não se preocupe, também temos o Dia Nacional da Poesia, por sinal

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O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOSDA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE

Produção Didático-Pedagógica 2007

Versão Online ISBN 978-85-8015-038-4Cadernos PDE

VOLU

ME I

I

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Autora: Lílian Koller

E-mail: [email protected]

Núcleo Regional Ponta Grossa

Município Castro

Estabelecimento Colégio Estadual Antonio e Marcos Cavanis

Disciplina: Língua Portuguesa – Ensino Médio

Relações possíveis Arte e Filosofia

Conteúdo Estruturante Leitura, Poesia, Arte

Conteúdo Específico A presença da poesia em vários contextos

Título Sensibilizar é preciso!

Sinopse O presente Folhas é um convite a uma viagem ao

encontro da descoberta da poesia presente em vários

contextos. Permitir através da vivência com o universo

poético, a aproximação com o lúdico, a intuição, a

interpretação, a oralidade, a criatividade, enfim o gosto

pela estética da sensibilidade!

:

http://www.booksblog.it/categoria/appuntamenti/record/20

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De acordo com Fernando Pessoa "O poeta é um fingidor”. Seria mesmo? Vejam

o que ele escreve em seu poema Autopsicografia (1930)

O poeta é um fingidor Finge tão completamente Que chega a fingir que é dor A dor que deveras sente. E os que lêem o que escreve Na dor lida sentem bem, Não as duas que ele teve, Mas só a que eles não têm. (...) PESSOA, Fernando. Obra Poética, Cia. José Aguilar Editora. RJ, 1972, p.164.

Esses males, emoções e dores são vivenciadas apenas pelo poeta? Ou são

vivenciadas também por outras pessoas?

O que você pensa sobre o poeta?

Provavelmente você já ouviu os provérbios: “De médico, poeta e louco todo mundo tem

um pouco” e “Quem canta seus males espanta”. Você concorda com tais dizeres?

E se lhe pedissem para parafrasear o provérbio “Quem canta seus males espanta“ e no

lugar de cantar a ação fosse escrever poesia, o que você escreveria?

“Quem escreve poesia, seus males alivia”... Ou

“Quem escreve poesia, suas emoções anuncia”... Ou ainda

“Quem escreve poesia, suas dores denuncia”...?

Ponha sua imaginação para funcionar e parodie o provérbio de quantas maneiras

diferentes quiser...

“Quem escreve poesia...............................................................................................

O que acha agora, de dar sua opinião sobre outras questões?

Quem é o (a) poeta (poetisa)? É profissional?

O que diz o senso comum sobre isso?

Você poderia citar que poetas já leu ou sobre quais ouviu falar? De onde essas

informações lhe chegaram?

Para fazer poesia tem que ter dom? Pode-se aprender a ser poeta? Na escola isso é

possível?

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Afinal, o que é a poesia e para que serve?

Mermelstein (2007) apresenta a concepção de poesia segundo os antigos

gregos:

“Poiesis”, palavra grega, significa “produzir”, fazer, criar uma realidade diferente da histórica e factual. A poesia na antiguidade era ritual, entretenimento, enigma, profecia, filosofia, competição. O poeta era concebido como um sábio e a função do poema era social, educar e guiar uma prática.”

Confira a seguir outras respostas e considerações sobre essas questões que já

foram dadas por alguns escritores, teóricos e poetas, vamos lê-las?

Thiago de Mello diz:

(...) Escrevo poemas porque sou poeta. A poesia é um dom, com qual se nasce. Depois é trabalhar, trabalhar e trabalhar. Como em toda arte (...) (...) Poesia não é alquimia. É trabalho: a sensibilidade, a intuição, guiadas pela inteligência, ou melhor, pelo coração da inteligência. Trabalho para encontrar a palavra exata, capaz de dar a forma mais bela ao que tu queres dizer. Trabalho para alcançar um idioma próprio, uma linguagem cada dia mais acessível ao leitor comum. Escrever difícil é muito fácil, difícil é o verso que não perde o compromisso com a arte, com a qualidade estética, e, no entanto entrega as suas metáforas com a maior simplicidade. (Thiago de Mello, Entrevista, www.leiabrasil.org.br/. Acesso em 15/01/2008 )

Também o poeta João Manuel Simões (1997) ao ser perguntado sobre o

conceito de poesia assevera que é “um prodígio encantatório que vivifica e aliena, faz

ascender aos céus e precipita nos abismos, mais, muito mais do que tudo isso, é vida.

Vida e fonte de vida. Será isso muito? É muito e é tudo” (SIMÕES, 1978: 67).

Para o economista, poeta e cronista Lula Miranda, (2007) ”a poesia serve para

educar a alma humana”, ensina as pessoas a pensarem no transcendente e

proporciona um tipo de raciocínio que nos permite ver além das aparências. Sem falar

que a poesia funciona como um importante exercício para se trabalhar a linguagem, a

língua e os sentimentos.

Vale a pena conferir também a impressão de Vinicius de Moraes (1986:537) ao

comparar a poesia com uma construção: “Troquem-se tijolos por palavras, ponha-se o

poeta, subjetivamente, na quádrupla função de arquiteto, engenheiro, construtor e

operário, e aí tendes o que é poesia”.(...) O material do poeta é a vida, só a vida(...)

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Uma vez que conhecemos o pensamento desses poetas, literatos, escritores,

que tal se pesquisássemos suas biografias para saber como eles se tornaram poetas?

Fiquem atentos na pesquisa e observem se em algum momento dessa trajetória, a

escola esteve presente.

CURIOSIDADES

Você sabia que o dia 21 de março é considerado o Dia Internacional da Poesia?

Proposto pela Unesco, a data foi escolhida, por ser o início da primavera no Hemisfério

Norte e o costume de associar a poesia à primavera vem de muito tempo.

Mas não se preocupe, também temos o Dia Nacional da Poesia, por sinal comemorado

um pouco antes do Dia Internacional. A data é 14 de março. Que tal novamente ir à

pesquisa para saber por que ela foi escolhida?

Adorno (1983) acredita que a poesia pode funcionar como antídoto à hostilidade

e à desumanização.

A música clássica teria a mesma função da poesia, poderia ser também

considerada um texto poético? Antes de pensar em uma resposta consulte o site

http://www.youtube.com/watch?v=pjDZUetrDCM e lá encontrará a composição A

toccata nº 2 das Bachianas Brasileiras de Heitor Villa-Lobos, também conhecida como o

“O Trenzinho do Caipira”. Aproveite e “viaje” assistindo ao vídeo.

E aí, já é possível responder a pergunta acima?

Você já parou para ver um trem passar, obrigando a interrupção do trânsito

frenético da vida? As imagens mostradas poderiam deixar um poeta paralisado, de

olhos fixos em cada vagão, permitindo viajar junto com eles seus pensamentos,

lembranças e por que não, sua vontade de ir também? As imagens mostradas

compõem um cenário e a julgar pelos trajes que as pessoas usam, poderíamos localizar

esse tempo? Teria o cenário do vídeo, relação com o tempo da composição de O

Trenzinho do Caipira? Está curioso, não? Uma pesquisa sobre o compositor da obra

poderá ajudá-lo nessa tarefa. Também se considere nesse momento um poeta e a

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partir das imagens mostradas no vídeo, registre suas impressões criando um texto

poético.

Como não é tão comum andarmos de trem na atualidade que tal imitar seus

movimentos e seus sons, brincando com o poema “Trem de ferro” de Manuel

Bandeira?

Café com pão Café com pão Café com pão Virge Maria que foi isto maquinista?

Agora sim Café com pão Agora sim Voa, fumaça Corre cerca Ai seu foguista Bota fogo Na fornalha Que eu preciso Muita força Muita força Muita força Oô.... Foge, bicho Foge, povo. Passa ponte Passa poste Passa pasto Passa boi Passa boiada Passa galho De ingazeira Debruçada No riacho Que vontade De cantar!

Oô... Quando me prendero No canaviá Cada pé de cana Era um oficiá Oô... Menina bonita Do vestido verde Me dá tua boca Pra matá minha sede Oô... Vou mimbora vou mimbora Não gosto daqui Nasci no sertão Sou de Ouricuri Oô... Vou depressa Vou correndo Vou na toda Que só levo Pouca gente Pouca gente Pouca gente...

BANDEIRA, Manuel. Antologia poética. Rio de Janeiro: José Olympio, 1990. p.96-98.

Uma possibilidade de montar o trem em sala de aula recitando o poema é a

seguinte: Três alunos interpretam a primeira estrofe. Um aluno, na segunda estrofe,

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imita o som do apito do trem. Outro subgrupo de alunos interpreta a terceira estrofe. O

estribilho (Oô), todos os alunos declamam. A continuação da quarta estrofe outro

subgrupo apresenta. Na quinta estrofe, outro grupo de alunos e assim por diante até se

chegar à última estrofe quando vocês procederão da seguinte maneira: Os três

primeiros versos serão interpretados por todos os alunos. O quarto verso será

apresentado por quatro alunos e o último verso por dois alunos. Agora é só ensaiar

para que a apresentação do trem em movimento saia perfeita! Depois é só apresentar

para outros colegas e professores da escola!

O que vem a seguir é também um poema relacionado à temática do trem.

O trem Vai que vai, vem que vem, faz o balanço do trem. A menina, com o nariz. Achatado na vidraça, enlaça a paisagem com o seu olhar encantado. Vem também, vem também, faz o balanço do trem. Na bolsa a menina leva pérolas coloridas, girassóis e margaridas, anões de voz fina e afinadas

flautas mágicas. Você vem, você vem, faz o balanço do trem. É que a bolsa é cheia de sonhos, alegres e tristonhos, e ninguém sabe para onde leva a menina balançando no coração do trem. Vai que vem, vem que vem, vem também, vem também, Você vem você vem, faz o balanço do trem.

MURRAY, Roseana. Classificados Poéticos. 1. ed. São Paulo: Companhia Editora Nacional,

2004.

Há diferença na maneira de os autores expressarem o ritmo do trem? Então

experimente você criar uma coreografia para a letra desse poema de Roseana Murray e

apresente-a em sala de aula.

Quando viajamos passamos por muitos lugares. Façamos uma parada para

apreciar...

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Cidadezinha qualquer

Casas entre bananeiras mulheres entre laranjeiras pomar amor cantar.

Um homem vai devagar. Um cachorro vai devagar. Um burro vai devagar.

Devagar...as janelas olham. Eta vida besta, meu Deus.

( Carlos Drummond de Andrade. Poesia e Prosa. Rio de Janeiro, Nova Aguilar, 1988.)

O poeta demonstra sentir tédio da vida pacata nesta cidadezinha. Lance mão de sua

criatividade para melhor expressar poeticamente uma situação que seja contrária aos

sentimentos do poeta.

Aproveitando essa parada para reflexão e considerando as temáticas discutidas

(o trem e a cidade), observe a foto abaixo.

Foto: Carlos Ernesto Kugler – Trem saindo da ponte – Castro – PR

Diferente do poema de Drummond, essa não é uma cidadezinha qualquer. É

uma vista parcial de Castro, aproximadamente da década de 1960. Os elementos da

composição de Drummond poderiam ser características da cidade fotografada? No seu

entorno familiar, procure conversar com pessoas que viveram nessa época para saber

entre outras coisas, como era a vida dessas pessoas e que dificuldades enfrentavam.

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Essas pessoas eram mais felizes? Mantinham laços mais estreitos de amizade e

solidariedade?

Retomando a discussão acerca do amplo sentido da poesia, o escritor Moriconi

(2002) afirma:

“Um filme pode ter poesia. Um gesto, comum ou excepcional pode ter poesia. A poesia está no ar. A poesia é popular. Se mulher é flor, a poesia está na boca do povo, vem da boca do povo. Espera-se que a poesia enquanto arte específica das palavras de algum modo revele ou esteja articulada com essa poesia além-livro, essa poesia da vida.” (MORICONI, 2002, 09)

O teórico nos chama a atenção para o fato de que o poético não está aprisionado

apenas nos versos, mas pode ser percebido também em outros contextos. Se podemos

perceber a poesia em tantos contextos, por que pesquisas demonstram que apenas

30% dos estudantes lêem poesia?

Gebara(2002), afirma que a constatação desse fato poderia ser um sintoma de

desinteresse dos jovens em relação à poesia, porque encontram nela um

direcionamento dado pelos professores para que ao fim da leitura se recupere apenas

aquilo que o texto quis dizer, deixando de lado a maneira de senti-lo. Poderia ser essa a

razão pela qual, 75% dos estudantes não se sentem ainda sensibilizados pela poesia,

embora percebam sua importância?

Ou seria porque a poesia não está ao alcance do público com a mesma

intensidade da Internet, das revistas ou da televisão? E você sabe a que isso se deve?

O poeta Octavio Paz, apresenta sua impressão sobre a poesia moderna no livro

do escritor curitibano Cristóvão Tezza (2003):

“Condenado a viver no subsolo da história, a solidão define o poeta moderno (...)”. O poeta moderno não tem lugar na sociedade porque, efetivamente, não é ninguém. Isto não é uma metáfora: a poesia não existe para a burguesia nem para as massas contemporâneas. O exercício da poesia pode ser uma distração ou uma enfermidade, nunca uma profissão: o poeta não trabalha nem produz. Por isso os poemas não valem nada: não são produtos suscetíveis de intercâmbio mercantil. (...) Como a poesia não é algo que possa ingressar no intercâmbio de bens mercantis, não é realmente um valor. E se não é um valor, não tem existência real dentro do nosso mundo.” (TEZZA, 2003, p.71)

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O poeta Octavio Paz nos chama a atenção para a existência de regras pré-

estabelecidas por micro-poderes, que permeiam o imaginário social e escolar e impõem

à poesia a condição de um gênero literário inferior, menos sério,afinal ela não

representa uma ferramenta útil, prática, lucrativa para a sociedade capitalista. Octavio

Paz teria razão ao mostrar-se tão pessimista? Será que um dia poderemos romper com

essa segregação cultural e recuperar o prazer da leitura poética?

Para confirmar a idéia de Moriconi (2002) vamos conhecer outras formas de se

fazer poesia, para além das rimas, mostrando-se mais visual, mais divertida, mais

reflexiva. O poema concreto propõe novos modos de fazer poesia e você pode usar de

todas as artimanhas: pontos, espaços, letras, cores e formas. O poema concreto fala

por si. É a palavra, é a imagem grávida de significados.

Confira um poema concreto de Augusto de Campos:

Cidade/City/Cité (1963) atrocaducapacaustiduplielastifeliferofugahistoriloqualubrimendimultipliorganiperiodiplastipublirapareciprorustisagasimplitenaveloveravivaunivoracidade city cité http://www2.uol.com.br/augustodecampos/poemas.htm.

Desafios à parte, onde está a poesia sugerida?

Embora na primeira olhada não se perceba, a poesia está exatamente nesse

emaranhado de letras. Na verdade, o poeta Augusto de Campos faz uso de uma

estratégia bem interessante! Você a conhecerá se juntar a cada prefixo do poema as

palavras cidade, city, cité e terá todas as palavras traduzidas simultaneamente em três

idiomas: português, inglês, francês.

Experimente comigo: atrocidade, atrocity, atrocité!

Que nota você daria para a produção do poeta considerando os critérios de

criatividade e reflexão?

Para conhecer outros poemas concretos do autor acesse o site já citado acima e

para conhecer outro mais, acesse www.imediata.com/BVP/

Você vai se surpreender e se divertir!

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Um exemplo dessa sonoridade e concretismo da poesia também pode ser

apreciada no conto de Ricardo Ramos. O escritor trabalha o cotidiano urbano, através

de uma narração fotográfica.

Embora pareça óbvio, não custa lembrá-lo, que a narração fotográfica como

estratégia usada pelo escritor, será tanto mais representativa do real quanto mais você

puder imaginá-la. Vamos lá?

Circuito Fechado Chinelos, vaso, descarga. Pia, sabonete. Água. Escova, creme dental, água, espuma, creme de barbear, pincel, espuma, gilete, água, cortina, sabonete, água fria, água quente, toalha. Creme para cabelo, pente. Cueca, camisa, abotoaduras, calça, meias, sapatos, gravata, paletó. Carteira, níqueis, documentos, caneta, chaves, lenço, relógio, maço de cigarros, caixa de fósforos. Jornal. Mesa, cadeiras, xícara e pires, prato, bule, talheres, guardanapo. Quadros. Pasta, carro. Cigarro, fósforo (...), agenda, copo com lápis, canetas, bloco de notas, espátula, pastas, caixas de entrada, de saída, vaso com plantas, quadros, papéis, cigarro, fósforo. Bandeja, xícara pequena. Cigarro e fósforo. Papéis, telefone, relatórios, cartas, notas, vales, cheques, memorandos, bilhetes, telefone, papéis. Relógio. Mesa, cavalete, cinzeiros, cadeiras, esboços de anúncios, fotos, cigarro, fósforo, bloco de papel, caneta, projetor de filmes, xícara, cartaz, lápis, cigarro, fósforo, quadro-negro, giz, papel. Mictório, pia, água.Táxi. Mesa, toalha, cadeiras, copos, pratos, talheres, garrafa, guardanapo, xícara. Maço de cigarros, caixa de fósforos. Escova de dentes, pasta, água. Mesa e poltrona, papéis, telefone, revista, copo de papel, cigarro, fósforo, telefone interno, externo, papéis, prova de anúncio, caneta e papel, relógio,papel, pasta, cigarro, fósforo, papel e caneta, telefone, caneta e papel, telefone, papéis, folheto, xícara, jornal, cigarro, fósforo, papel e caneta. Carro.Maço de cigarros, caixa de fósforos. Paletó, gravata. Poltrona, copo, revista. Quadros. Mesa, cadeiras, pratos, talheres, copos, guardanapos. Xícaras. Cigarro e fósforo. Poltrona, livro. Cigarro e fósforo. Televisor, poltrona. Cigarro e fósforo. Abotoaduras, camisa, sapatos, meias, calça, cueca, pijama, chinelos. Vaso, descarga, pia, água, escova, creme dental, espuma, água. Chinelos. Coberta, cama, travesseiro. (RAMOS, Ricardo. Circuito fechado. In: LADEIRA, Julieta de Godoy (org). Contos brasileiros contemporâneos. São Paulo: Moderna, 1994.).

A propósito, você sabe quem foi Ricardo Ramos? Uma dica: filho de um grande

escritor brasileiro.

Será que em um texto desprovido de adjetivos, onde apenas a aridez dos

substantivos se faz presente, é possível encontrar alguma poesia? Mergulhe no

compasso das palavras e conheça o sentimento que acompanha tal personagem.

Em seguida, busque em revistas ou em diferentes fotos o perfil do personagem

que idealizou e o ambiente em que vive. Retrate-o! Mas antes procure no dicionário o

significado da palavra “circuito” para refletir sobre a razão da escolha do autor pelo

título Circuito fechado.

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Você lerá na seqüência uma crônica, um texto curto que aborda assuntos e

acontecimentos do cotidiano, que após terem sido captados pelo escritor são

recontados a partir de uma visão particular.

Maria Fumaça

As lentas, poeirentas, deliciosas viagens nos trens antigos. As famílias (viajavam famílias inteira) levavam galinhas com farofa em cestas de vime, que ofereciam, pois não, aos viajantes solitários. E os viajantes solitários (e os meninos) ainda desciam nas estaçõezinhas pobres... para os pastéis, os sonhos, as laranjas... E ver as moças da localidade, que iam passear nas gares para ver os viajantes, uns e outros de olhos compridos – eles num sonho repentino de ficar, elas num sonho passageiro de partir. Um apito, a fumarada, resolvia tudo. Mas hoje nem há o que resolver. E é quase proibido sonhar. O mal dos aviões é que não se pode descer a toda hora para comprar laranjas. Nesses aviões, vamos todos imóveis e empacotados como encomendas para a Eternidade... Cruzes, poeta! Deixa-te de idéias funéreas e pensa nas aeromoças, arejadas e amáveis como anjos. E “anjos”, aplicado a elas, não é exagero nenhum. Pois não nos atendem em pleno céu? Porém, como já nos trazem tudo de bandeja, eis que essa mesma comodidade de creche em que nos sentimos tira-nos o saudável incômodo das iniciativas e dos improvisos. Entre a monotonia irreparável das nuvens, nada vemos da viagem. Isto é, não viajamos: chegamos. Pobres turistas de aeroportos, damos a volta ao mundo sem nada ver do mundo. QUINTANA, Mário. Caderno H. Porto Alegre: Globo, 1978.

Você percebeu a diferença quanto à forma (maneira de dispor as palavras no

papel) entre a poesia e a prosa? A poesia normalmente se apresenta em versos,

preocupa-se com rimas, jogos de palavras, tudo para dar ritmo e sonoridade ao texto,

ao contrário do texto em prosa, que é composto por parágrafos e linhas. Mas você

também percebeu que podemos nos sensibilizar tanto com um poema quanto com um

texto em prosa (narrativo), não é mesmo? É o que o professor e poeta Moriconi (2002,

p. 08) nos confirma ao dizer que “toda linguagem tem seu quê de poesia”.

É hora de concretizar sua imaginação!

Baseado no texto narrativo de Mario Quintana, e na imagem abaixo crie um

poema concreto. Permita às palavras desenharem a sua criação poética

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www.diaadiaeducacao.pr.gov.br

“A arte é uma série de objetos que provocam emoções poéticas”. (Le Corbusier)

Segundo a pensadora Langer (1971: 82), a arte em seu sentido genérico

abrangendo pintura, escultura, arquitetura, música, dança, literatura, drama e cinema –

pode ser definida como “a prática de criar formas perceptíveis expressivas do

sentimento humano”. Por mais racionalidade que se busque em uma expressão

artística, nela sempre estará presente o sentimento que habita a alma humana.

Affonso Romano de Sant’Anna (2003), quando indagado sobre a função da arte,

nos apresenta uma comparação:

“Consideremos o sonho. A função onírica, por exemplo, é um campo de força. Até os animais sonham, efetuando assim, tanto quanto os humanos, uma descarga de energia. E tem muito a ver com a arte, embora a arte se diferencie do sonho por não ficar à mercê de pulsões involuntárias. O sonho, como a arte, não apenas “tem” uma função, mas “é” uma função imprescindível ao sistema orgânico e social. (...) Não existe cultura sem símbolo e sem o mínimo de estética.” (SANT’ANNA, 2003, p.184-185)

O que você entende por estética?

Etimologicamente, a palavra estética vem do grego “aisthesis”, com o

significado de “faculdade de sentir”, “compreensão pelos sentidos”. A palavra “estética”

possui significados relacionados, por exemplo, à beleza física ou decoração estética.

Entrando no campo das artes, encontraremos, por exemplo, a estética renascentista, a

estética realista etc., também podendo, neste caso, ser chamada de estilo. A estética

também é “um ramo da filosofia que estuda racionalmente o belo e o sentimento que

suscita nos homens.”(ARANHA e MARTINS,1993,p.341).

E você sabe o que é filosofia?

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Esta palavra também tem origem grega e significa “amigo da sabedoria”.

Para Moriconi (2003, p.08), ”a filosofia é ginástica para o cérebro: nos ensina a pensar.

Ensina a indagar sobre o real significado das palavras.” E nos torna mais críticos. Como

somos seres dotados de sensibilidade e razão, estamos sempre procurando pelo

sentido das coisas, pelo sentido da vida, ou seja, estamos sempre pensando, fazendo

escolhas, tomando decisões, analisando. Você já se deu conta de que pensa, portanto,

também é um filósofo? A filosofia nos conduz ao bom senso, que nos possibilita

organizar nossos pensamentos e sentimentos.

E “O verdadeiro conhecimento se faz, portanto, pela ligação contínua entre

intuição e razão, entre o vivido e o teorizado, entre o concreto e o abstrato.” (ARANHA e

MARTINS, 1993, P.23) Buscando sempre o equilíbrio do ser!

Mas voltando a falar em TREM, aproxime seu olhar da pintura “Gare St. Lazare,

1877” (Estação de St. Lazare) do pintor francês Oscar Claude Monet

http://campusdigital.uag.mx/galeria6.htm

Que impressões a pintura provoca em você?

Podemos encontrar poesia na quadro de Monet?

Na época de Monet, a fotografia foi descoberta. Imagine-se vivendo esse momento.

Quem você chamaria para retratá-lo? Um pintor ou um fotógrafo?

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Pois é, com a invenção da fotografia em 1835 por Nicephore Niepce e Louis

Daguerre, a fotografia substitui a pintura, pois, mostra imagens mais fiéis à realidade. E

a pintura deixa de ter importância para o público. Em meados de 1855, (séc.XIX) já se

discutia uma tendência artística nova, o Realismo. Por força das circunstâncias nasce a

pintura ao ar livre, empenhada em alcançar maior naturalismo, o Impressionismo. E

Monet é um dos precurssores desse estilo. Sendo assim, é comum aos artistas da

época, pintarem uma mesma imagem diversas vezes, buscando retratar assim, o efeito

da luz do sol sobre as obras nos vários momentos do dia, de certa forma, uma tentativa

de aproximação das qualidades da fotografia. Há uma variedade ampla de tons e cores,

a predominância da luz, da claridade.

CURIOSIDADES

Você sabe o porquê da pintura dessa época chamar-se impressionista?

Deveu-se ao fato de o pintor Claude Monet expor uma obra sua intitulada de

“Impressão, Sol Nascente” e ser duramente atingido pela crítica que menosprezou sua

pintura, pois ela apenas dava “a impressão de um sol nascente”, não retratava a

realidade.

Você sabia que Monet pintou sete versões da estação Saint-Lazare? E para que

pudesse pintar a cena com maior realismo conseguiu com que o diretor da ferrovia

atrasasse a partida dos trens em meia hora? Monet queria retratar a intensa fumaça

que aquelas serpentes soltavam pelas ventas e que a tudo encobria, o que era para ele

“uma visão fascinante, um sonho!”. (SPENCE, David. Grandes artistas: vida e obra.

Tradução Luiz Antônio Aguiar e Marisa Sobral. São Paulo: Editora Melhoramentos,

2004.)

E então, continua disposto a dar asas à imaginação??????

Que tal gravar suas impressões sobre a pintura em mais um poema? Ou então,

pintar ao estilo impressionista um recanto de sua cidade?

O professor de Artes, a Internet ou um livro de Literatura poderão ajudá-lo a

conhecer mais sobre a obra impressionista e seus representantes!

Depois de falarmos tanto em trem, não ficou curioso para saber mais sobre sua

história?

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Saiba que você pode viajar no tempo e conhecer tudo sobre os trens visitando o

Museu Ferroviário de Curitiba no Shopping Estação. Inclusive até a história da estação

de sua cidade. Não é o máximo? Que tal agendar uma visita a esse museu?

É só entrar em contato com [email protected] ou pelo telefone

(41) 21019202 e Boa Viagem!

Aproxima-se a Estação e a Caravana da Poesia precisa descer do trem. Nos

caminhos percorridos dessa viagem, você se sensibilizou com a poesia? Positiva ou

não sua resposta, essa questão dá lugar a outra: você acredita na possibilidade de

conquistarmos outras pessoas para o mundo subjetivo, sensível e criativo do poético? A

poesia reclama seu espaço nesse planeta conturbado, pois a estética da sensibilidade

não convive com exclusão, intolerância, intransigência, mas é criativa, ensina a suportar

a inquietação, conviver com o impossível, o diferente, e por isso mesmo critica o que

brutaliza as relações pessoais.

“Se procurar bem, você acaba encontrando não a explicação (duvidosa) da vida, mas a

poesia (inexplicável) da vida.” (Drummond,1988)

REFERÊNCIAS ADORNO, Theodor W. Discurso sobre lírica e sociedade. In Notas de Literatura. Tradução de Jorge de Almeida. São Paulo: 34 letras, 2003. ANDRADE, Carlos Drummond de. Poesia e Prosa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1988. ARANHA, Maria Lúcia de Arruda e MARTINS, Maria Helena Pires. Filosofando: introdução à filosofia. 2.ed., São Paulo: Moderna, 1993. BANDEIRA, Manuel. Antologia Poética. Rio de Janeiro: José Olympio, 1990. CAMPOS, Augusto de. Cidade, City, Cité. http://www2.uol.com.br/augustodecampos/poemas.htm. Acesso em 08/12/07. GEBARA, Ana Elvira Luciano. A poesia na escola: leitura e análise de poesia para crianças. São Paulo: Cortez, 2002. LANGER, Suzanne K. Ensaios filosóficos. São Paulo: Editora Cultrix, 1971.

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MELLO, Thiago de. Entrevista. www.leiabrasil.org.br/. Acesso em 15/01/08. MERMELSTEIN, Miriam. Subsídios para trabalhar com poesia em sala de aula. Disponível em: http://www.crmariocovas.sp.gov.br, p.1. Acesso em 21/07/2007. MIRANDA, Lula. A que(m) serve a poesia. http://www.consciencia.net/artes/literatura/01/mirand.html. Acesso em 27/01/08. MORAES, Vinicius de. Poesia Completa E Prosa. Rio de Janeiro: Editora Nova Aguilar,S/A, 1986. MORICONI, Ítalo. Como e por que ler a poesia brasileira do século XX. Rio de Janeiro: Objetiva, 2002. MURRAY, Roseana. Classificados Poéticos. 1.ed. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 2004. PESSOA, Fernando. Obra Poética. Cia. José Aguilar Editora. Rio de Janeiro, 1972. QUINTANA, Mário. Caderno H. Porto Alegre: Globo, 1978. RAMOS, Ricardo. Circuito Fechado. In: LADEIRA, Julieta de Godoy (org). Contos brasileiros contemporâneos. São Paulo: Moderna, 1994. SANT’ANNA, Affonso Romano de. Desconstruir Duchamp: arte na hora da revisão. Rio de Janeiro: Vieira & Lent, 2003.

SIMÕES, João Manuel. Clareza e mistério da criação literária: ensaios. Curitiba: Editora Lítero-técnica, 1978.

SPENCER, David. Grandes artistas: vida e obra. Tradução Luiz Antônio Aguiar e Marisa Sobral. São Paulo: Editora Melhoramentos, 2004.

TEZZA, Cristóvão. Entre a prosa e a poesia: Bakhtin e o formalismo russo. Rio de Janeiro: Rocco, 2003.

VILLA LOBOS, Heitor. O Trenzinho do Caipira. http://www.joutube.com/watch?v=pjDZUetrDCM. Acesso em 08/12/07.