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O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE Versão Online ISBN 978-85-8015-037-7 Cadernos PDE 2007 VOLUME I

DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE O PROFESSOR PDE E … · graves problemas sociais, tais como: altos índices demográficos em algumas regiões do planeta, fome e miséria, baixos índices

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O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOSDA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE

Versão Online ISBN 978-85-8015-037-7Cadernos PDE

2007

VOLU

ME I

EDUCAÇÃO SOCIO-AMBIENTAL PARA FORMAÇÃO CIDADÃ

INTRODUÇÃO

As questões ambientais representam hoje um grande desafio para

a humanidade. São problemas que afetam a todos, pobres e ricos, que vão

desde a poluição e contaminação dos recursos físicos, como água, ar e

solo, gerando conseqüências desastrosas para os seres vivos, incluindo-se

o homem enquanto ser biológico, até questões de relevância social, tais

como ocupação de áreas de risco ambiental, como morros e manguezais,

por exemplo, e de ordem econômica que estimula o consumo exagerado e

muitas vezes irresponsável, em nome de um desenvolvimento nem um

pouco “sustentável”. Nesse contexto, a Educação Ambiental tem sido

apontada como uma das variáveis responsáveis por encontrar as soluções

para tais problemas. Pergunta-se, portanto, de que maneira a Educação

Ambiental pode contribuir para reverter este quadro gravíssimo que se

apresenta. Qual o papel da Educação Ambiental neste momento ? De que

tipo de Educação se está falando ?

Segundo as Diretrizes Curriculares de Ciências - DCE, do Estado do

Paraná (2006), o tema ambiente é considerado um conteúdo estruturante

no ensino de Ciências e sua abordagem deve contemplar a relação entre

ciência, tecnologia e sociedade (Movimento CTS), ao tratar dos

conhecimentos físicos, químicos e biológicos. Portanto, “o campo de

estudo deste conteúdo é amplo. Seus conteúdos específicos devem

considerar aspectos sociais, políticos, econômicos e éticos, intrínsecos aos

problemas ambientais” (DCE,2006,p.29). Sendo assim, a Educação

Ambiental deve contemplar os temas emergentes que inquietam,

interessam e preocupam a sociedade, bem como as condições de vida que

levam o homem a conviver ao mesmo tempo com avanços tecnológicos e

graves problemas sociais, tais como: altos índices demográficos em

algumas regiões do planeta, fome e miséria, baixos índices de

desenvolvimento humano (IDH), desigualdades socioeconômicas entre

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países ricos e pobres.

Os problemas ambientais têm sido objeto de muitas discussões e

manifestações de vários setores sociais, especialmente a partir de 1960,

quando o modelo econômico adotado pelas sociedades modernas passou

a ser questionado, embora, muito antes já se tenha registros da

preocupação com a devastação ambiental provocada pela ação do homem

rumo ao desenvolvimento.

Quando Rachel Carson, lançou o clássico livro Silent Spring, em

1962, tratando dos problemas causados pelo uso excessivo de pesticidas e

inseticidas sintéticos e suas conseqüências para o ambiente, iniciou-se a

socialização do debate ambiental, atingindo um grande número de

pessoas nos mais diferentes países, que passaram a discutir sobre a

necessidade se reverter o quadro de consumo, poluição e degradação dos

padrões saudáveis de vida (Cascino, 2003). Já o primeiro grande texto a

respeito das questões ambientais e dos limites para o desenvolvimento

humano foi publicado em 1968, pelo chamado Clube de Roma, que

elaborou um relatório, considerado por muitos como polêmico e

apocalíptico. O relatório, “Os Limites do Crescimento”, apontava para as

características globais dos problemas ambientais e seu crescimento em

ritmo exponencial, caso não fossem tomadas medidas urgentes. Este

documento alertava que era preciso impor limites tanto para o

crescimento e desenvolvimento econômico como para o crescimento da

população. A partir de então, a questão ecológica passou a fazer parte da

agenda do dos governantes de países desenvolvidos, iniciando-se o

período das grandes conferências mundiais e eventos internacionais para

discutir problemas ambientais e a elaboração de propostas e de

estratégias de ação. (RAMOS, 2001). Surge, então, como estratégia da

sociedade para fazer frente aos problemas ambientais e buscar soluções

para a crise , a Educação Ambiental.

Foi em junho de 1972, em Estocolmo, na Suécia que se realizou a

1ª Conferência Mundial sobre o Meio Ambiente, onde a Educação

Ambiental foi colocada como uma necessidade de âmbito mundial,

imprescindível, sendo recomendada à todos os países , com a propagação

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de inúmeros projetos e programas para sua implementação. Mas, foi na

Conferência Intergovernamental de Tbilisi, realizada em 1977, na Geórgia,

que se definiu as bases para construção de uma Educação Ambiental que

realmente provoque mudanças na formação dos indivíduos. No

documento da Unesco, resultado desta Conferência, constam as

finalidades, os objetivos, princípios orientadores e estratégias para o

desenvolvimento da Educação Ambiental.

Passados quinze anos, em junho de 1992, realizou-se no Rio de

Janeiro, a ECO-92, a Conferência Internacional sobre o Meio Ambiente e

Desenvolvimento, onde foi criada a Agenda 21, cujo capítulo 36 trata da

Educação Ambiental onde se reafirma as recomendações da Conferência

Intergovernamental de Tbilisi.

Percebe-se que mesmo tendo-se passado 30 anos da “Conferência

de Tbilisi”, seus princípios ainda hoje são de extrema importância, posto

que estabelece um programa de Educação onde os problemas ambientais

devem ser analisados na sua totalidade, considerando a ação humana e

suas inter-relações sociais, econômicas, políticas, éticas, entre outras.

Baseando-se nestes princípios e com a convicção de que as

mudanças necessárias devem passar pela sensibilização do individuo com

conseqüente mudança de comportamento, para que, então, provoque a

alteração no coletivo, ou seja , do particular para o global, é que

elaboramos a proposta de intervenção pedagógica para aplicação no

Colégio Estadual Rocha Pombo, no Município de Antonina, Estado do

Paraná.

O projeto foi desenvolvido com os alunos das 5ª a 8ª séries, do

Ensino Fundamental, no período da Manhã, bem como seus familiares,

professores, equipe técnico-pedagógica e demais pessoas integrantes da

comunidade do entorno do Colégio Estadual Rocha Pombo- Ensino

Fundamental e Médio .

O principal objetivo deste trabalho foi a sensibilização para as

questões ambientais a partir da realidade vivida pelo próprio aluno, dentro

da escola, em sua casa, no seu bairro, bem como a compreensão das

várias interfaces destes problemas, quais sejam de ordem econômica,

3

social ou cultural.

O tema central escolhido para a intervenção pedagógica foi a

produção e o destino do lixo na escola e em casa, visto ter sido este um

dos problemas vivenciados pelos alunos e que poderia ser solucionado em

parte pela comunidade envolvida. Este tema foi selecionado a partir de

pesquisas feitas, utilizando-se do método sugerido por Perez-Campanero

(1991), chamado de modelo ANISE (Análise de Necessidades de

Intervenção Sócio-Educativa), que buscou numa primeira fase reconhecer

os principais problemas vividos e sentidos pela comunidade escolar e seu

entorno. Entende-se que quando o individuo participa do processo de

escolha de um objeto de estudo, no qual ele se identifica, seja porque o

vivencia ou tem conhecimento de como este problema o afeta, estará

mais sensível para analisá-lo e buscar as possíveis soluções. Assim, o

aluno poderá analisar o ambiente e tudo que lhe diz respeito num

contexto entrelaçado de prática sociais, o que deverá lhe permitir uma

visão mais crítica do problema, onde também suas atitudes e

comportamentos poderão ser questionados, para uma possível mudança

em relação ao seu meio. Nesse sentido, segundo Vigotsky (1991) , a

Educação Ambiental pode assumir , “uma parte ativa de um processo

intelectual, constantemente a serviço da comunicação, do entendimento e

da solução dos problemas”. Para Jacobi ( 2003), “trata-se de um

aprendizado social, baseado no diálogo e na interação em constante

processo de recriação e reinterpretação de informações, conceitos e

significados, que podem se originar do aprendizado em sala de aula ou da

experiência pessoal do aluno”.

Este trabalho teve a intenção de mostrar como a Educação

Ambiental deve contribuir para a formação de valores saudáveis e

atitudes, necessários à manutenção da qualidade de vida e de um Meio

Ambiente equilibrado, a partir da realidade mais próxima do aluno,

contribuindo para a formação da cidadania responsável, onde cada

individuo tem direitos e deveres, sendo, portanto sujeito ativo nas

tomadas de decisões e não apenas agente passivo, incapaz de

compreender seu papel na teia da vida e de suas relações. Para Jacobi

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(1998), “a relação entre meio ambiente e educação para a cidadania

assume um papel cada vez mais desafiador”, na medida que os problemas

ambientais se agravam e se intensificam, demandando uma participação

mais efetiva de todos os envolvidos, não apenas individualmente, mas

também coletivamente, no exercício de uma cidadania responsável.

Quando nos referimos à educação ambiental, situamo-na em contexto mais amplo, o da educação para a cidadania, configurando-a como elemento determinante para a consolidação de sujeitos cidadãos. O desafio do fortalecimento da cidadania para a população como um todo, e não para um grupo restrito, concretiza-se pela possibilidade de cada pessoa ser portadora de direitos e deveres, e de se converter, portanto, em ator co-responsável na defesa da qualidade de vida.

(Jacobi, 1998).

Assim, este projeto passou a ser chamado de Educação Sócio

Ambiental para a Formação Cidadã, visto que a Educação Ambiental deve

ter um caráter Social, contemplando as diferentes interfaces que formam

a sociedade, onde cidadãos conscientes e participativos sejam capazes de

desenvolver uma relação holística com o meio onde vivem.

Princípios da Educação Ambiental para Formação Cidadã

Para se iniciar o projeto de intervenção pedagógica na Escola,

tomou-se como base os princípios da “Conferência de Tbilisi”, que

estabeleceu as seguintes diretrizes, considerados como objetivos gerais

da intervenção pedagógica :

- Levar em conta a totalidade do ambiente, ou seja, considerar os

aspectos naturais e os construídos pelo homem, tecnológicos e sociais

(econômicos, políticos, histórico-culturais, morais, estéticos);

- Adotar uma perspectiva interdisciplinar, utilizando o conteúdo

específico de cada matéria, de modo a analisar os problemas ambientais

através de uma ótica global e equilibrada;

- Examinar as principais questões relativas ao ambiente tanto do

ponto de vista local como nacional, regional e internacional, para que os

educandos tomem conhecimento das condições ambientais de outras

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regiões geográficas;

- Concentrar-se nas condições atuais e futuras do ambiente,

levando-se em conta a perspectiva histórica;

- Insistir na necessidade e na importância da cooperação em nível

local, nacional e internacional para prevenir e resolver os problemas

ambientais;

- Fazer com que os alunos participem da organização de suas

próprias atividades de aprendizagem, tendo a oportunidade de tomar

decisões e de aceitar as conseqüências;

- Inter-relacionar os processos de sensibilização, aquisição de

conhecimentos, habilidades para resolver problemas e especificação dos

valores relativos ao ambiente, em todas as idades, enfatizando sobretudo

a sensibilidade dos alunos mais jovens em relação ao ambiente de sua

própria comunidade;

- Ajudar os alunos a descobrirem os sintomas e as causas

verdadeiras dos problemas do ambiente;

- Ressaltar a complexidade dos problemas ambientais e, em

conseqüência, a necessidade de desenvolver o sentido crítico e as

aptidões necessárias à sua resolução;

- Utilizar diversos meios educativos e uma ampla gama de métodos

para transmitir e receber conhecimentos sobre o ambiente, enfatizando,

de modo adequado, as atividades práticas e as experiências pessoais.

(O Correio da Unesco, 1990,p.23)

De acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais(PCNs), do

Ministério da Educação(MEC), o meio Ambiente é tratado como um Tema

Transversal, e como tal deve ser abordado de forma interdisciplinar nas

diferentes áreas do conhecimento:

A principal função do trabalho com o Meio Ambiente é contribuir

para formação de cidadãos conscientes, aptos a decidir e atuar na

realidade socioambiental de um modo comprometido com a vida,

com o bem estar de cada um e da sociedade, local e global. Para

isso, é necessário que, mais do que informações e conceitos, a

escola se proponha a trabalhar com atitudes, com

formação de valores, com o ensino e aprendizagem de

procedimentos.(BRASIL,1998,p.187, grifo nosso) .

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Portanto, mais do que informar a respeito dos problemas

ambientais a escola necessita estabelecer um programa de educação que

vise a formação de valores ambientais no educando, revisando seus

conceitos que fundamentam suas atitudes e comportamentos. Então, ela

estará cumprindo o seu papel na formação de cidadãos conscientes e

responsáveis para agir local e globalmente.

Nesse contexto, a Educação Ambiental pode ser chamada de Sócio

Ambiental e aqui, chamamos de Educação em Valores Ambientais, de

acordo com Vilma Barra (BARRA, 2000). Um projeto de Educação em

Valores Ambientais surge como uma esperança para um futuro menos

assustador, mas cuja responsabilidade vai além das atividades

programadas com início, meio e fim, num determinado espaço de tempo.

Tampouco, deve ser encarada como mais uma disciplina que enfoque os

problemas ambientais, mesmo que trabalhando de forma interdisciplinar.

Ela deve ser compreendida como um programa de desenvolvimento

humano, capaz de permear todas as ações individuais e coletivas na

sociedade, visando reverter ou, ao menos, frear o processo de degradação

ambiental no planeta Terra, nossa casa.

Assim, a proposta de intervenção pedagógica desenvolvida no

Colégio Estadual Rocha Pombo, partiu da premissa de que se faz

necessário sensibilizar o aluno para as questões ambientais, locais e

globais, sentidas e vividas a partir do seu meio, permitindo que ele

visualize os problemas, suas causas e possíveis soluções, além de

possibilitar o questionamento de suas ações, motivadas por valores e

atitudes nem sempre conscientes.

Educação em Valores Ambientais

A UNESCO realizou em Moscou, em 1987, o Congresso

Internacional sobre Educação e formação Ambientais, onde foram

reafirmados os princípios tirados da Conferência de Tbilisi. Um dos pontos

que merece destaque é o que pontua sobre a importância da tomada de

consciência do indivíduo e da coletividade sobre os problemas ambientais.

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Diz:

A Educação Ambiental se concebe como um processo permanente em que os indivíduos e a coletividade tomam consciência de seu meio e adquirem os conhecimentos, os valores, as competências, as experiências e, também, a vontade capaz de fazê-los atuar, individualmente e coletivamente, para resolver os problemas atuais e futuros do meio ambiente.

(Unesco/Unep/IEEP, Moscou,1987, grifo nosso)

De acordo com Barra, "a Educação Ambiental é um processo

educativo permanente mediante o qual os indivíduos adquirem

conhecimentos, desenvolvem valores, atitudes, habilidades e

comportamentos que permitem-lhes tomar decisões responsáveis no

que se refere à sua interação no meio ambiente visando a manutenção da

qualidade ambiental e o desenvolvimento de sociedades

sustentáveis"(BARRA,2000, grifo nossso). Para Caride (1991,p.61) , “é pela

Educação Ambiental que as pessoas tomam consciência de sua realidade

físico-social e cultural, num processo educativo cujo objetivo é adquirir e

transmitir valores, atitudes e comportamentos” . Ressalta, ainda que “não

se trata de ampliar os conhecimentos sobre o meio ambiente, mas

representa acima de tudo um processo pedagógico multidisciplinar”.

Portanto, a responsabilidade da Educação Ambiental vai muito além da

transmissão de conhecimentos a respeito dos problemas que afetam o

meio, ela é um processo e como tal deve ser aberto e permanente,

individual mas também coletivo, com vistas à modificação das atitudes e

comportamentos das pessoas envolvidas. Para tanto, o processo educativo

precisa ser desenvolvido de forma a conferir aos indivíduos uma

consciência ambiental e ética, capaz de possibilitar a aquisição de valores

e de revisão dos seus conceitos em relação ao meio ambiente.

A Conferência do Rio, ou Rio-92, como ficou conhecida a

Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento

(Unced), recomendou através da Agenda 21, entre outros programas a

reorientação da educação para o desenvolvimento sustentável e aumento

dos esforços para proporcionar informações sobre o meio ambiente que

promovam a conscientização popular. Nesta Conferência, também, entre

outros documentos foi elaborado o Tratado de Educação Ambiental para

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Sociedades Sustentáveis e Responsabilidade Global, onde em alguns dos

seus princípios temos a preocupação com o estímulo da prática de valores

humanos , tais como a solidariedade,a igualdade, respeito aos direitos

humanos, justiça, cooperação, parceria, democracia e participação.

Para Barra, “os valores e as atitudes num projeto de Educação

em Valores Ambientais constituem, juntamente com os fatos,

conceitos, princípios e comportamentos o que chamamos de

conteúdos”( BARRA,2000, grifo nossso). Mas como identificar esses

valores nas atitudes e comportamentos? É comum se confundir valores

com crenças. Uma crença é a opinião que se tem a respeito de algo ou de

alguma coisa. Pode ser mudada em função de alguma experiência de vida.

Já um valor é algo mais concreto, expressa uma convicção mais

permanente própria de uma pessoa ou de um conjunto de pessoas que

condiciona suas percepções, suas atitudes, seu comportamento e a

avaliação que fazem dos comportamentos alheios. O valor é uma

convicção básica a partir da qual interpretamos o mundo, damos

significado aos acontecimentos e a nossa própria existência (ORTEGA,

1996,p.13). Nossas atitudes e comportamentos são determinados pelos

nossos valores e crenças, os quais vão sendo adquiridos ao longo de nossa

existência a partir de nossas experiências, conhecimentos, convívio

familiar, religião e relações sociais. Estes valores se desenvolvem no

processo de socialização, por isso é importante a relação dinâmica do

indivíduo com os problemas da realidade. É nesse contexto que ocorre a

interação da pessoa com seu entorno, possibilitando assim a formação de

conceitos e valores que fundamentam suas atitudes e comportamentos.

Os valores mudam ao longo da vida de cada um em função das

experiências, conhecimentos, interações sociais. Não são definitivos,

portanto, podem ser questionados e alterados sempre que se percebe que

os mesmo não podem responder às inúmeras questões ambientais, sociais

, éticas da sociedade. Eis o papel da Escola ao desenvolver um programa

de Educação voltado para o Meio Ambiente. Uma Educação em Valores

Ambientais deve “buscar suscitar nos indivíduos, valores e atitudes

favoráveis à conservação da melhoria do ambiente orientando-os à

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resolução dos problemas ambientais, tomada de decisões e ação“

(BARRA,2000). Nesse sentido, passou-se a desenvolver um programa de

Educação Sócio-Ambiental voltada para a formação cidadã dos educandos,

direcionando-os para a participação ativa na busca pela solução de

problemas, partindo da identificação dos mesmos, reconhecendo suas

causas e conseqüências, além de compreensão de que suas atitudes e

comportamentos são baseados em valores que necessitam ser revisados.

Implementação da Proposta Pedagógica

Este trabalho buscou observar os problemas ambientais locais com

uma visão global da origem e causas dos mesmos, analisando os

conceitos e valores que fundamentam as atitudes e comportamentos da

população em relação ao seu meio e que contribuem para a geração de

tais problemas.

Para a fase inicial da intervenção, foi utilizado o método proposto

por Perez-Campanero (1991) chamada de modelo ANISE (Análise de

Necessidades de Intervenção Sócio-Educativa), cuja primeira etapa baseia-

se no reconhecimento dos problemas vividos pela comunidade envolvida.

O Modelo para Análises de Necessidades de Intervenção Sócio-

Educativa (A.N.I.S.E.) utilizado neste projeto se propõe a encontrar

soluções para os problemas que efetivamente são sentidos pela

população. Nesse sentido, espera-se que as pessoas envolvidas sintam-se

responsáveis pela necessidade de diagnosticar seus problemas e

principalmente, buscar as soluções possíveis para os mesmos. Sem esse

envolvimento não é possível estabelecer um programa de ação que

promova mudanças permanentes nesta comunidade. É necessário que as

pessoas sintam-se parte do processo que permitirá a real mudança nos

seus valores, atitudes e comportamentos em relação ao meio ambiente

onde estão inseridas.

Assim, no final do 2º semestre de 2007, de forma preliminar, foram

aplicados questionários aos alunos, pais e professores a respeito da

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situação atual da escola e do seu entorno, onde foram apontados por eles,

os principais problemas sócio-ambientais que afetam essa comunidade. O

instrumento de coleta de dados utilizado foi um questionário curto com

questões abertas, onde foram sugeridos pelos entrevistados quais os

prováveis problemas que poderiam ser alvos de investigação pela escola.

A partir destes dados iniciais foram elaborado três tipos de instrumentos

de pesquisa, um para pais, outro para alunos e outro para professores.

Foram entrevistados 103 alunos das 6ª, 7ª e 8ª séries, do período da

manhã, 40 pais e 15 professores. Foram aplicados aos pais e alunos

questionários fechados, contendo alternativas baseadas nas questões

abertas aplicadas anteriormente na 1ª fase da pesquisa. Neste

instrumento, foram abordados os problemas que mais chamaram a

atenção de pais e alunos na fase anterior, cujas questões apontavam para

problemas de indisciplina na sala de aula, importância da educação ,

estrutura física da escola, relacionamento entre pais, alunos e

professores , entre alunos e alunos, problemas ambientais dentro e fora

da unidade escolar, participação de pais na gestão e no processo ensino

aprendizagem dos filhos, entre outros. Para os professores do

Estabelecimento de Ensino, foi aplicado um instrumento baseado numa

escala de atitudes, a Escala Lickert, onde foram abordados os principais

problemas citados pelos professores anteriormente, bem como foi feita

uma sondagem a respeito do pensamento destes em relação ao ensino da

Educação Ambiental, centrada em valores sócio-educacionais.

A fase seguinte, foi a definição dos principais problemas que

afetam a comunidade escolar a partir da interpretação dos dados

coletados na pesquisa preliminar. No início do ano letivo de 2008, foram

tabulados os dados coletados, elaborando-se gráficos estatísticos, onde foi

possível visualizar os principais problemas sócio-ambientais apontados

pelas pesquisas. Estes dados foram analisados pelas turmas envolvidas, 7ª

e 8ª séries, e apresentados aos professores e equipe pedagógica em

reunião própria para este fim. Em seguida foi elaborada a proposta de

intervenção pedagógica na Escola e comunidade do entorno, propondo

soluções para os problemas identificados. Em reunião pedagógica,

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realizada na escola, professores e equipe pedagógica após análise dos

dados, definiram as principais ações a serem desenvolvidas com os

alunos, através de um projeto interdisciplinar onde seriam abordados os

principais problemas sócio-ambientais destacados. É muito importante

salientar que os problemas identificados por esta comunidade, vão desde

a questão do espaço físico do prédio, como também das relações entre

eles, em especial entre alunos e alunos, e alunos, professores e

funcionários da escola. Como critério utilizado para escolher o objeto de

estudo na intervenção, foi o fato de que teria de ser algo que a

comunidade escolar pudesse realmente solucionar. Entre os principais

problemas citados está a indisciplina em sala de aula, o péssimo estado

de conservação do prédio escolar, o desrespeito entre professores e

alunos, e entre alunos e alunos, o lixo no ambiente, em sala de aula e fora

dela, a participação dos pais na vida escolar dos filhos, além da falta de

conscientização da comunidade escolar sobre a importância da Escola.

Constatou-se nesta pesquisa que uma das situações que mais incomodava

os alunos era o lixo na sala de aula e em toda escola, além da falta de

limpeza nos banheiros e salas; aproximadamente 34% deles apontavam

estes problemas. É interessante, também, registrar que mais de 48% dos

entrevistados apontam para os próprios alunos a responsabilidade pelos

problemas citados e, ainda, que o aluno destrói ou não cuida da escola

porque acha que ela é muito ruim (33%) ou porque existe alguém para

limpar ou consertar o que foi estragado (20%). Mas, ainda é importante

registrar que 55% dos alunos apontam para a conscientização de todos

sobre a importância da Educação e da Escola, além de sugerir que se

melhore o relacionamento entre alunos, pais, professores, direção e

demais funcionários. Na pesquisa efetuada com Pais, 72,5% afirmaram

que o problema que mais interfere na Educação dos filhos é a indisciplina

e bagunça na sala de aula e 12,5% apontou o vandalismo e a destruição

do prédio escolar. Mas, também, é consenso entre pais e alunos que a

Escola poderia ser melhor se pais participassem mais das decisões e

projetos da escola. Para isso, ou seja, para conscientizar a todos sobre a

importância da escola, 47% dos entrevistados disseram que é preciso

12

melhorar o relacionamento entre alunos, pais, professores, direção e

demais funcionários, e ainda, que a escola pode ajudar a resolver os

problemas se envolver toda a comunidade escolar, além de autoridades e

líderes comunitários para discutir os problemas e propor soluções. Na

pesquisa feita com os professores, percebe-se nos resultados que um dos

maiores problemas na Escola, hoje, é a indisciplina dos alunos que se

caracteriza pelo desinteresse nas atividades propostas e bagunça na sala

de aula. Dos entrevistados, 67% acham que o comportamento dos alunos,

em geral, mostra que a escola precisa desenvolver um programa

educacional que considere as questões éticas e os valores humanos

universais, no trato não só das questões ambientais como, principalmente,

nos relacionamentos entre todos os indivíduos. Concordam na sua grande

maioria (80%) que um dos objetivos da Educação Ambiental é desenvolver

valores e atitudes positivas nos alunos, tais como cooperação,

solidariedade e respeito entre todos os envolvidos. Também concordam

que quando são desenvolvidas atividades que levam em consideração o

contexto onde vive o aluno e que envolvem outras pessoas da

comunidade, percebe-se que o interesse e a participação da turma é bem

maior, e 87% acredita que a Proposta Pedagógica deve contemplar a

participação da comunidade escolar e do entorno da Escola, permitindo

que esta seja um lugar de discussão e de criação de projetos que possam

solucionar problemas vividos pelos alunos e suas famílias. Dos professores

ouvidos, 87% acreditam que se os alunos se identificam com os problemas

apontados, seu envolvimento nas atividades de Educação Ambiental é

mais efetivo, e que os professores devem conhecer os problemas sócio-

ambientais da comunidade escolar para então planejar as atividades .

Apesar da clareza que têm os professores a respeito da necessidade de se

implantar um projeto pedagógico que contemple a ampla participação de

todos os envolvidos, no entanto, também se percebe, nesta pesquisa, um

certo equívoco em relação a quem cabe a responsabilidade pela Educação

em Valores Ambientais. Ao mesmo tempo em que 93% concordam que a

Educação em Valores Ambientais deve ser ensinada na escola em todas as

oportunidades e, que por ser um tema que abrange todas as áreas da

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vida , não só do homem mas também dos demais seres vivos, todas as

disciplinas devem se preocupar em abordar as questões ambientais , 60%

dos professores ouvidos defendem a idéia de que a Educação Ambiental,

pela importância que tem, deveria constar como uma disciplina no quadro

curricular em todos os níveis de ensino. Esta idéia necessita ser explorada

mais profundamente pela equipe pedagógica, visto que alguns

professores ainda tem certa resistência a participar de projetos

interdisciplinares por considerar apenas a sua disciplina, tendo dificuldade

de contextualizar seus conteúdos. Apesar disso, todos concordam que as

atividades de Educação em Valores Ambientais visam fornecer

informações e desenvolver nos alunos habilidades e atitudes responsáveis

em relação ao meio ambiente.

A partir desta análise, ficou definido que o problema sócio-

ambiental que poderia ser resolvido de imediato pela comunidade era o

lixo na escola e fora dela. Assim, foi elaborado um programa de ação que

contemplasse as reais necessidades da comunidade envolvida, no que diz

respeito à produção e destino do lixo no ambiente . Após o

reconhecimento da análise de necessidades da comunidade, na fase

seguinte, se propôs a tomada de decisões pelos participantes, elaborando-

se, então, o projeto de intervenção pedagógico. Definiu-se a

implementação efetiva da proposta pedagógica, tomando como objeto de

estudo o problema do lixo. O ponto de partida foi a análise de hábitos e

comportamentos de cada um em relação, principalmente, ao lixo

doméstico e escolar.

Os objetivos específicos da intervenção foram definidos a partir dos

princípios estabelecidos na Conferência de Tbilisi, de forma a adotar uma

perspectiva interdisciplinar, utilizando o conteúdo específico de cada

matéria, de modo a analisar os problemas ambientais por uma ótica global

examinando as principais questões relativas ao ambiente tanto do ponto

de vista local como nacional, regional e internacional, para que os alunos

tomem conhecimento também, das condições ambientais de outras

regiões geográficas. Assim, buscou-se cumprir as seguintes metas,

definidas pelos objetivos específicos, durante a aplicação da proposta:

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- A sensibilização dos alunos a respeito da crise ecológica vivida

local e globalmente. Os problemas atuais, de cunho ambiental, do planeta

foram discutidos com os alunos, como “aquecimento global”, “falta de

água potável”, ”fome” , “desertificação”, “destruição de florestas”, entre

outros.

- A identificação dos principais problemas sócio ambientais que

afetam o ambiente local e globalmente. Foi feito um levantamento dos

problemas ambientais de Antonina, tais como a “ocupação e aterros dos

manguezais”, “destino final do lixo da cidade”, “falta de tratamento de

esgoto e conseqüente poluição e contaminação da baía”, entre outros.

- A compreensão das questões ambientais a partir do seu dia a dia.

Para isso, durante uma semana, foi feito uma investigação sobre o lixo

produzido nas salas de aula, no período da manhã, na escola sede do

projeto, levando em conta a quantidade, tipo de material, origem e

destino final.

- O reconhecimento de que seu comportamento e hábitos diários

podem contribuir para a ampliação ou diminuição da intensidade dos

problemas ambientais verificados. No período de um mês os alunos

puderam identificar, quantificar e classificar os principais tipos de lixo

produzido em sua casa. Nesta fase também foi discutido sobre o destino

final deste lixo, para a reciclagem ou simplesmente descartado no lixão da

cidade.

- A compreensão da relação entre os problemas ambientais e a

produção de bens e consumo. Os alunos puderam estabelecer uma

relação entre a produção de bens e o consumo destes produzidos pelo

homem e os recursos naturais disponíveis.

- O reconhecimento da necessidade de uma nova consciência de

consumo dos recursos, tanto naturais quanto os produzidos pelo homem,

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ao examinar os seus principais hábitos e comportamentos desenvolvidos

diariamente em casa ou na escola que são prejudiciais a um ambiente

saudável de qualidade pra todos, visando a sua modificação. Nesta fase

foram identificados os materiais mais comuns utilizados em sala de aula,

bem como a matéria prima utilizada, sua origem, processos e custos de

produção além do seu destino final, enquanto resíduo sólido (tempo de

decomposição na natureza). Os alunos puderam discutir a respeito do

gasto sem controle de materiais, identificando seus custos. Ao se buscar o

cumprimento dos objetivos, passou-se a implementação efetiva da

proposta, onde os alunos puderam através de tarefas simples tomar

consciência de um problema de extrema complexidade.

O projeto foi desenvolvido, mais efetivamente, com os alunos do

período da manhã, durante os meses de maio a junho de 2008. Foram

envolvidos professores e professoras de todas as disciplinas, direção, pais

e funcionários da escola. A abordagem teve caráter multidisciplinar, onde

cada série estudou os problemas sócio ambientais a partir dos elementos

físicos e biológicos, que são objeto de estudo nas diferentes séries a partir

da disciplina de Ciências.

Foi desenvolvido nas seguintes etapas:

1ª – Sensibilização para a problemática ambiental através de

exibição de filmes, documentários, reportagens escritas divulgadas na

mídia, fotografias, etc. Durante esta etapa, buscou-se despertar o

interesse dos alunos para a temática ambiental, visto que a despeito de

toda a informação apresentada na mídia, nem sempre se mostra

suficientemente capaz de provocar mudança de comportamento e de

posicionamento em relação ao problema apresentado.

2ª – Pesquisa bibliográfica , através livros, revistas, jornais ou

internet , sobre causas e conseqüências dos problemas ambientais

globais. Os textos apresentados na pesquisa serviram para que os alunos

pudessem confirmar suas observações no ambiente em que vivem.

16

3ª – Pesquisa de campo, onde puderam ser observados e

comprovados os problemas ambientais locais. O município de Antonina, no

litoral do Estado do Paraná, onde está localizado o Colégio Estadual Rocha

Pombo, pertence a uma APA (Área de Proteção Ambiental). Os problemas

ambientais observados em escala global, também se fazem presentes

nesta pequena cidade. Desde a produção excessiva de lixo, sem destino

adequado, até a ocupação de áreas de morros e manguezais para

moradia.

Diante dessa realidade, pode-se perceber a imensa

responsabilidade de se educar para a sensibilização ambiental, visto que a

situação de pobreza de boa parte da população contribui também para o

avanço da degradação do meio natural, fato este que é conseqüência de

um modelo de desenvolvimento que contempla a produção e o consumo

insustentável e que precisa ser revisto urgentemente. Segundo

DIAS(2000, p.15) , “a sociedade humana experimenta um profundo

colapso de ética e de valores humanísticos, verificável em suas atitudes

diárias” , e ainda “tornou-se mais injusta, desigual e insensível”. Nesse

sentido, a Educação Ambiental tem um papel fundamental na formação

do educando, mostrando-lhe as conseqüências ecológicas de suas ações

(DIAS,2000,p.16) .

4ª - Criação de mapa temático com a localização dos principais

problemas ambientais no município de Antonina. Integrando a disciplina

de Ciências com a Geografia, os alunos mais novos, de 5ª e 6ª séries,

puderam confeccionar um mapa da cidade, onde era possível identificar

as áreas mais atingidas por problemas no ambiente, utilizando para isso

imagens feitas por fotografias ou pesquisadas em meios de comunicação,

tais como jornais locais.

5ª - Elaboração de tabelas e gráficos para acompanhamento da

produção de lixo na escola e em casa. Nesta etapa, alunos das 7ª séries,

divididos em equipes, fizeram uma coleta do lixo produzido nas salas de

aulas no período da manhã, durante uma semana, ao final da qual

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puderam ser analisados a quantidade de resíduos produzidos, o tipo de

material descartado, bem como a avaliação de qual a sala de aula que

produzia maior quantidade de lixo. Ao final desta coleta, na sexta-feira, os

sacos de lixo foram abertos no pátio e os alunos de cada turma puderam

analisar a quantidade de materiais escolares descartados, a maioria sem

necessidade. Durante esta exposição foi possível conversar com os alunos

a respeito de seu comportamento em relação ao material escolar

comprado pelos pais e sua responsabilidade em relação não só ao uso

correto dos mesmos, como a respeito de seu compromisso em relação ao

meio ambiente. Após esse trabalho, foram elaborados gráficos e tabelas

para representar a quantidade de lixo produzida na escola, só em relação

ao material escolar.

6ª - Identificação dos principais tipos de lixo produzido em suas

casas, verificando se o mesmo é separado para a reciclagem ou não.

Durante essa etapa, os alunos das 7ª séries, divididos em equipes

efetuaram pesquisas a respeito do lixo doméstico. Elaboraram

questionários e entrevistaram pais, familiares e moradores do seu bairro,

cujos resultados foram apresentados em gráficos, após a pesquisa. Com

este trabalho, também puderam observar o destino do lixo, em suas casas

e na comunidade, possibilitando a discussão da necessidade de se separar

o lixo para reciclagem , além de observar a produção excessiva de lixo

pela população. Nesta etapa, os alunos da 8ª série, aproveitando os

conhecimentos básicos de química, fizeram a análise dos rótulos das

embalagens, analisando as substâncias químicas contidas nos produtos

alimentícios, de higiene e limpeza, bem como seus impactos no ambiente

pelo uso e também pelo descarte de embalagens.

7ª- Realização de entrevistas com “agentes ambientais”

(carrinheiros) ,Secretaria Municipal de Meio Ambiente e funcionários

responsáveis pela coleta de resíduos sólidos, no Município, identificando

as principais dificuldades apresentadas no recolhimento e destinação do

lixo. Os alunos elaboraram questionários e foram às ruas para efetuar as

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entrevistas com garis, carrinheiros e funcionários do serviço municipal de

coleta de lixo.

9ª - Palestras com educadores sociais, líderes religiosos e

comunitários sobre problemas sociais e ambientais e a responsabilidade

de cada um. Uma das palestras foi dada pelo presidente da ACAPRA

(Associação de Catadores de Materiais Recicláveis de Antonina ), um dos

líderes comunitários que enfatizou a importância da separação do lixo

doméstico e escolar, além de conversar com os alunos sobre o

preconceito e a discriminação sofrida pelos catadores durante seu

trabalho.

10ª - Debates em sala de aula a respeito dos valores humanos que

estão por trás das atitudes e comportamentos de cada um em relação ao

meio e ao seu próximo, tais como a responsabilidade, a solidariedade, a

justiça social, a paz e a fraternidade entre os povos, a começar pela

escola.

11ª - Oficina de materiais recicláveis, especialmente, PET,

desenvolvida por um convidado especial , funcionário da Prefeitura

Municipal de Antonina e, também, nas aulas de Artes, sob orientação da

Professora.

12ª - Desenvolvimento de uma peça de teatro, cujo tema foi “O lixo

na sala de aula”, ensaiada no contra-turno, por alunos da 8ª série

13ª - Avaliação final do projeto com apresentações de resultados.

No dia 27 de junho foi feita a apresentação final dos trabalhos

desenvolvidos, neste período, à comunidade escolar, através de painéis

montados em espaços apropriados na escola, com os resultados das

pesquisas desenvolvidas. Neste dia também foi apresentado um teatro

sobre o problema do lixo escolar, desenvolvido pelos próprios alunos da 8ª

série. Após esta apresentação, foi feita a avaliação geral dos resultados

19

obtidos, pelos professores, direção e equipe pedagógica.

Embora, se saiba que não se faz um trabalho de Educação em

Valores Ambientais a curto prazo, com inicio,meio e fim, essa experiência

desenvolvida no Colégio Estadual Rocha Pombo foi extremamente positiva

servindo para demonstrar que é possível desenvolver um programa de

Educação onde os próprios alunos possam atuar como protagonistas da

intervenção, em seu ambiente.

Na avaliação final com a Equipe Pedagógica, professores,

funcionários e também com os alunos envolvidos, foi feita a análise dos

resultados alcançados até aquele momento, considerando a relevância do

tema proposto para atender os problemas da realidade escolar

Foi possível observar alguns resultados da intervenção pedagógica, tais

como a postura crítica diante dos fatos apresentados, especialmente no

que diz respeito ao lixo escolar, em relação à sua produção e destino.

Percebeu-se que houve uma pequena, mas considerável, diminuição na

quantidade de lixo nas salas de aulas e no entorno da Escola. Notou-se,

também, um maior respeito para com os profissionais da limpeza, não

apenas da escola como os da limpeza pública, incluindo os catadores. Nos

debates em sala de aula, durante as apresentações por parte de

palestrantes convidados, alunos pesquisadores e professores, percebeu-se

que os demais alunos participam, assumindo postura crítica e

apresentando alternativas para solução dos problemas apresentados.

Nesse sentido, espera-se que ao examinar suas atitudes, costumes e

comportamentos diários, os alunos tenham tido a oportunidade de rever

seus valores e conceitos em relação ao meio ambiente bem como sua

responsabilidade para com o mesmo. Apesar de se saber que

comportamentos e atitudes desenvolvidos ao longo da vida,

especialmente se forem reforçados pela cultura familiar, não mudam da

noite para o dia e, que portanto, se faz necessário um trabalho efetivo a

longo prazo, acredita-se que experiências como esta desenvolvida na

Escola possam provocar a sensibilização para a mudança necessária no

modo como a natureza e seus recursos são utilizados.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao terminar este trabalho pode-se considerar alguns aspectos

importantes para a intervenção pedagógica, centrada na Educação Sócio-

Ambiental, que foram observadas durante o desenvolvimento do projeto

no Colégio Estadual Rocha Pombo, em Antonina.

Em primeiro lugar destaca-se a concepção que os Educadores

envolvidos têm de Educação Ambiental , onde se percebe que os

conceitos que fundamentam a ação pedagógica , às vezes limitam-se à

discussão e a ações pontuais, como por exemplo, sobre reciclagem e

plantio de árvores. Nota-se que alguns professores ainda vêem o ambiente

como algo destacado do homem, com concepções naturalista e

antropocêntrica, o que na prática dificulta a visão do todo integrado. E

apesar de todas as discussões relacionadas ao tema, onde se evidencia a

necessidade de pensar o ambiente numa perspectiva mais abrangente,

ainda persiste um reducionismo no conceito da palavra, no sentido de

identificá-lo através de pressupostos ecológicos. Os professores precisam

estar cada vez mais preparados para reelaborar as informações

ambientais, para que possam compreender e transmitir conceitos sobre o

meio ambiente e a ecologia nas suas múltiplas determinações e

intersecções. Para Guimarães(1995), “e preciso que o educador trabalhe

intensamente a integração entre o ser humano e ambiente e se

conscientize de que o ser humano é natureza e não apenas parte dela”.

Percebe-se, ainda, que os professores das demais disciplinas

acreditam que os conteúdos de cunho “ecológico” devem ser abordados

dentro da disciplina de Ciências, o que dificulta também a possibilidade de

se interdisciplinar os conteúdos das diferentes áreas. Por outro lado, na

pesquisa efetuada com professores, a maioria defende que as questões

ambientais devem ser objeto de estudo numa disciplina em particular, a

Educação Ambiental, embora concordem que estas questões, bem como

os valores sócio-ambientais, devem ser abordados na escola em todas as

disciplinas, o que sugere uma pequena contradição no desenvolvimento

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das atividades pedagógicas.

É necessário, portanto, rever as concepções que permeiam a

proposta curricular de cada disciplina ao propor um trabalho de Educação

Ambiental que integre o conjunto dos conteúdos abordados em cada uma.

Assim, a Escola estará abrindo espaço para repensar práticas sociais e os

professores atuarão como mediadores e transmissores de um

conhecimento necessário fornecendo aos educandos bases para

compreensão do meio ambiente global e local, da interdependência dos

problemas e soluções e da importância da responsabilidade de cada um

para construir uma sociedade planetária mais eqüitativa e

ambientalmente sustentável (Jacobi, 1998). Nesse sentido, é importante

lembrar que a interdisciplinaridade na Escola é fundamental para que o

aluno possa visualizar as questões ambientais sob várias óticas,

permitindo que faça uma leitura da realidade com diferentes abordagens,

além de possibilitar que o conteúdo dado nas diversas disciplinas, que

compõem a matriz curricular, sejam compreendidos a partir dos

problemas reais vivenciados por ele. Para isso, é fundamental que a

Equipe Pedagógica da Escola atue como mediadora entre as diferentes

áreas do conhecimento, possibilitando o encontro das partes envolvidas,

ou seja, dos professores das diversas disciplinas, para que haja realmente

a participação efetiva de todos , no planejamento, implementação,

desenvolvimento e avaliação dos resultados da proposta pedagógica

voltada para a Educação Sócio-Ambiental.

Também é necessário considerar que o trabalho pedagógico,

desenvolvido na Escola, com a visão sócio-ambiental deve partir da

sensibilização desta comunidade para com os problemas que a afetam.

Isso só é possível interagindo com ela, buscando nos próprios alunos e os

demais envolvidos nela quais são os reais problemas que lhe incomodam

e necessitam intervenção. Nesse sentido, o método utilizado neste

trabalho, para definição do objeto de estudo é eficaz, pois permite que a

própria comunidade identifique seus problemas e participe da busca por

soluções. Este projeto desenvolvido na Escola, embora pareça bastante

simples, foi extremamente importante no sentido de que os próprios

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alunos foram protagonistas da intervenção pedagógica. Apesar do pouco

tempo para o desenvolvimento de todas as etapas do projeto, foi

fundamental a participação dos alunos envolvidos e comprometidos com

as tarefas propostas, na medida em que elaboraram questionários para

entrevistas, saíram às ruas para conversar com os moradores e agentes

responsáveis pela coleta do lixo, seja formal ou informal, quando

coletaram o próprio lixo nas salas de aulas e ao produzirem seus relatos,

inclusive tabulando dados para confecção de gráficos. Nesse contexto,

concordamos com Reigota (1998), quando diz que a educação ambiental

aponta para propostas pedagógicas centradas na conscientização,

mudança de comportamento, desenvolvimento de competências,

capacidade de avaliação e participação dos educandos. Para Jacobi (1998)

“a educação para a cidadania representa a possibilidade de motivar e

sensibilizar as pessoas para transformar as diversas formas de

participação em potenciais caminhos de dinamização da sociedade e de

concretização de uma proposta de sociabilidade baseada na educação

para a participação”. Entendemos que a formação educacional para o

exercício da cidadania deve contemplar este tipo de abordagem

pedagógica, permitindo que o aluno cidadão compreenda seu papel na

sociedade participando das tomadas de decisões para a escolha de novos

estilos de vida, mais saudáveis e responsáveis.

Finalmente, é preciso reafirmar que o projeto educacional

desenvolvido nesta Escola, procurou enfocar as questões ambientais sob

uma visão holística, relacionando o homem e a natureza como partes de

um todo, onde as ações sobre cada um afetam o outro, provocando

conseqüências nem sempre positivas.

E, sendo o ser humano dotado de consciência se faz necessário o

repensar de suas ações sobre o meio onde vive. É fundamental que no

desenvolvimento da Educação Ambiental se reafirme a necessidade de

uma nova forma de encarar a relação do homem com a natureza,

permitindo que se forme uma nova consciência, local e planetária, a

respeito de seus recursos, finitos e preciosos. Para Sorrentino (1998), os

grandes desafios para os educadores ambientais são, de um lado, o

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resgate e o desenvolvimento de valores e comportamentos (confiança,

respeito mútuo, responsabilidade, compromisso, solidariedade e iniciativa)

e de outro, o estímulo a uma visão global e crítica das questões

ambientais e a promoção de um enfoque interdisciplinar que resgate e

construa saberes.

Mais do que nunca se faz necessário a revisão dos valores que

embasam as atitudes e comportamentos, não só em relação ao meio físico

e natural, mas sobretudo, é de fundamental importância resgatar os

valores éticos que devem balizar as relações entre os seres humanos,

permitindo o desenvolvimento de uma sociedade mais justa e igualitária.

REFERÊNCIAS

BARRA, V.M.M. – Exploração de necessidades sócio-educativas e análise de programas formativos de educação ambiental com caráter experimental. Tese de Doutorado. Santiago de Compostela, 2000.

BRASIL.Parâmetros Curriculares Nacionais – Meio Ambiente. Brasília: MEC/SEF, 1998.

CASCINO, Fabio – Educação ambiental: princípios, histórias, formação de professores. 3ª ed. – São Paulo: Editora Senac São Paulo, 2003.

DIAS, Genebaldo Freire – Educação ambiental:princípios e praticas. 6ª ed.rev. e ampl. pelo autor - São Paulo: Gaia, 2000.

GUIMARÃES, Mauro – A dimensão ambiental na educação. 4ª ed., Campinas, SP: Papirus, 2001.

JACOBI, P. et al. (orgs.). Educação, meio ambiente e cidadania: reflexões e experiências. São Paulo: SMA, 1998.

ORTEGA,P.;MINGUEZ,R.;GIL,R. –Valores y educación. Barcelona.Ariel,1996.

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PARANÁ,Secretaria de Estado da Educação- Diretrizes Curriculares de Ciências para a Educação Básica. Curitiba,2006

PELIZZOLI,M.L. –Correntes da ética ambiental. 2ª ed., Petrópolis, RJ: Vozes,2002

PENTEADO, H. D. – Meio Ambiente e Formação de Professores. São Paulo: Cortez, 1997.

PEREZ-CAMPANERO, M. P. –Como detectar las necesidades de intervencion socioeducativa. Madrid, Narcea,S.A., 1991.

RAMOS, E. C. – Educação Ambiental:evolução histórica, implicações teóricas e sociais. Uma avaliação crítica. Curitiba, 1996. Dissertação de Mestrado – Universidade Federal do Paraná.

AGRADECIMENTOS

A Deus pelas bênçãos da vida, proteção e saúde!

Ao meu filho, Pedro Henrique, inspiração pela busca de um mundo melhor,

pelas noites que dormiu sozinho, esperando a volta de sua mãe das aulas

do PDE.

Aos meus pais pelo amor, dedicação e orações.

A professora Vilma Maria Marcassa Barra, orientadora deste trabalho, pela

amizade, confiança, incentivo e sobretudo pela sua boa vontade, na difícil

tarefa de educar para um mundo melhor.

A Secretaria de Estado de Educação do Paraná, pelo Programa de

Desenvolvimento Educacional - PDE, que permitiu que nos afastássemos

de sala de aula por um ano, para que pudéssemos repensar nossas

práticas pedagógicas, nos dando a oportunidade de aprender e de

reafirmar nossa esperança na Educação Pública e de Qualidade!

Antonina, 11 de dezembro de 2008.

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