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O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE 2009 Versão Online ISBN 978-85-8015-054-4 Cadernos PDE VOLUME I

DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE 2009 · que a gestão escolar tem tido dificuldades no enfrentamento de questões que envolvem a preservação do Patrimônio Escolar. Neste sentido

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O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOSDA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE

2009

Versão Online ISBN 978-85-8015-054-4Cadernos PDE

VOLU

ME I

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EDUCAÇÃO PATRIMONIAL: O papel da Escola na Preservação do Patrimônio Escolar

Autora: Euzenei Meneguello Biggi*

Orientadora: Maria Aparecida Leopoldino Tursi Toledo**

Resumo

Este trabalho apresenta resultados de um projeto desenvolvido na Escola Estadual

Emílio de Menezes – Ensino Fundamental, situada em Japurá, PR, desde 2009,

vinculado ao PDE (Programa de Desenvolvimento Educacional) e discute a

importância da Educação Patrimonial no espaço escolar. O objetivo foi verificar as

possibilidades da Educação Patrimonial levar as descobertas e estratégias

educativas que contribuam para a consciência histórica. O conceito de consciência

histórica fundamenta-se em Jörn Rüsen (1983) e relaciona os conceitos de

memória, história e cultura que permeiam o debate atual sobre Patrimônio Histórico

Cultural no Brasil. Metodologicamente, relaciona os determinantes políticos

educacionais (LDB, IPHAN, PCNs) com estudos acadêmicos relativos ao Ensino da

História voltados para a proteção do patrimônio cultural. A História e Memória

permearam o desenvolvimento da pesquisa e a projeção das ações, conduzindo

para a conscientização da Preservação Patrimonial, fundamentando-se na premissa

de que se faz necessário conhecer para preservar. Evidenciou-se um maior

sentimento de pertença dos alunos em relação à escola, observando, porém, que

mesmo diante de resultados satisfatórios no decorrer da implementação deste

Projeto PDE, ainda torna-se necessário – e possível – maior amadurecimento acerca

da Preservação do Patrimônio Escolar. Em suas considerações finais, apresenta os

resultados da pesquisa bibliográfica relacionados com a pesquisa empírica,

desenvolvida por meio de levantamento de dados históricos realizados junto à

instituição escolar e documentos selecionados e tratados para composição de um

acervo escolar.

PALAVRAS-CHAVE: Espaço escolar; memória; consciência histórica.

__________

*1

Professora da Rede Pública Estadual/ Núcleo Regional de Educação de Cianorte, PR. Professora do Programa de Desenvolvimento Educação – PDE. E-mail: [email protected] ** Professora Adjunta do Departamento de Teoria e Prática da Educação da Universidade Estadual de Maringá.

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1 INTRODUÇÃO

A Educação Patrimonial vem se tornando um tema relevante no campo

educacional quando se pensa nos problemas da preservação e da valorização do

Patrimônio Cultural no país.

Independente das diferentes abordagens que a discussão na literatura

especializada pode suscitar acerca do assunto, consideramos fundamental a

iniciativa das Políticas Públicas Educacionais em abordar essa temática, uma vez

que a gestão escolar tem tido dificuldades no enfrentamento de questões que

envolvem a preservação do Patrimônio Escolar.

Neste sentido específico da gestão escolar, entendemos que uma

possibilidade de abordar a questão é a percepção da Educação Patrimonial como

possibilidade pedagógica para se desenvolver propostas de preservação da

memória social. É nesse aspecto que vai a compreensão dos autores Moraes (2005)

e Luck (2008), para os quais deve-se incluir a Educação Patrimonial no programa

escolar. Isso porque, a falta de informação de grande parte da comunidade, com

relação a seu valor e o sentido de pertença do espaço local, justifica a iniciativa de

inclusão de conteúdos da Educação Patrimonial no currículo. Compreendemos, sim,

que um dos aspectos que pode envolver essa problemática, é que a ausência de

informação pode explicar as ações dos atores sociais de não valorização ou o não

reconhecimento de que a escola e seus espaços são ambientes históricos, locais de

memória, por guardarem vestígios do passado e devem, por isso, serem

preservados.

O presente trabalho trata desta questão. Sua finalidade é apresentar estudo

realizado nesta linha de pensamento. Para tanto, utiliza-se de estudos teóricos já

consagrados no campo da chamada consciência histórica para fundamentar as

ações desenvolvidas no campo da Educação Patrimonial, no trato com o tema da

preservação do patrimônio escolar.

Nesse caminho, os conceitos de consciência histórica e Educação Patrimonial

e, ainda, as reflexões acerca dos conceitos de memória e história, feitas por

historiadores, vincularam-se a três grandes eixos de análise da Educação

Patrimonial. São eles:

- Consciência Histórica (RÜSEN, 1983);

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- História e Memória (LE GOFF E NORA, 1993);

- Patrimônio Cultural (CHOAY, 2001);

A escolha desses conceitos se justifica pelo fato de eles permitirem

estabelecer as relações que buscamos ao tratarmos da problemática do Patrimônio

Escolar e seus meios preservacionistas. Ou seja, estabelecer nexos entre o

Patrimônio Cultural – no qual se localiza a arquitetura escolar – e sua significação

histórica e social. Para tanto, percorremos o seguinte caminho:

1) Metodologicamente, observamos as indicações centrais dos autores

referenciados no que se referem ao desafio contemporâneo de discutir e defender

uma “antropologia de apropriação do espaço no tempo e no seu futuro” (VILLAC

apud CHOAY, 2006), situando a instituição escolar nesse trajeto;

2) Com essas indicações teóricas, o trabalho desenvolvido no período de

2009-2010 teve por objetivo reconhecer a Educação Patrimonial no campo

específico da área de Educação, identificando as possibilidades dessa abordagem

levar à descoberta e estratégias educativas que contribuam para a consciência

histórica, tal como foi teorizada por Jorn Rüsen. Essa abordagem foi feita tomando

os bens culturais, que estão presentes no espaço escolar, como fonte para

valorização da memória social ameaçada de extinção contemporaneamente.

O método desenvolvido correspondeu às seguintes ações: divulgação do

projeto de intervenção escolar “Educação Patrimonial: o papel da escola na

preservação do Patrimônio Escolar” aos professores e funcionários da instituição

Escola Estadual Emilio de Menezes – Ensino Fundamental, de Japurá, PR, e,

posteriormente, divulgação do projeto junto aos alunos e comunidade local. Para a

coleta e análise de dados, realizamos oficinas pedagógicas com os envolvidos com

o projeto. Nas oficinas, a memória escolar1 foi valorizada por meio de pesquisa,

resgatando o histórico e a memória da escola dos diretores e a biografia do Patrono

Emílio de Menezes.

Como possibilidade de mobilizar os envolvidos nas oficinas com a memória

escolar, realizou-se também um concurso para a criação da bandeira da Escola.

_________

1. Conjunto de registros e práticas da memória histórica desenvolvidos no ambiente escolar.

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O concurso foi finalizado no dia apresentação do Documentário Patrimonial

Escolar sobre o histórico da instituição desenvolvido durante as oficinas.

Os resultados teóricos apontam que a formação da consciência histórica pelos

alunos não ocorre espontaneamente, sendo necessário um constante e intenso

trabalho de informação e demonstração do significado do passado para a memória

coletiva. Observamos que, embora os alunos e a comunidade demonstrassem maior

comprometimento com a preservação, o trabalho de informação e estimulação para

a disseminação para os conhecimentos acerca do patrimônio escolar deve ser

permanente, por isso pensamos em sua incorporação na grade curricular da escola.

Por outro lado, o conceito de consciência revelou-se na prática como um instrumento

para o pensamento histórico expandir-se e ampliar a capacidade humana de pensar

sobre si, o entorno imediato e o mais longínquo de sua vivência.

Em outras palavras: como indicou Rüsen, a teoria da consciência histórica

distingue-se da práxis da pesquisa histórica e da historiografia, mas pode com ela

basear-se na experiência para evidenciar cognitivamente os fundamentos que, por

exemplo, sem o resultado teórico, ficariam velados na práxis. Nesse sentido é que

se pode afirma que o envolvimento dos alunos nas atividades de implementação do

projeto evidenciaram a importância da continuidade e permanência nas ações

cotidianas escolares no intuito da perseverança da preservação da memória social

produzida pela ações humanas vivenciadas e presentificadas no Patrimônio Escolar.

2 HISTÓRIA, MEMÓRIA E PRESERVAÇÃO PATRIMONIAL: projetando as ações

No período de 2009 a 2010, por intermédio do Projeto de Intervenção

Pedagógica “Educação Patrimonial: o papel da escola na preservação do Patrimônio

Escolar”, foi possível desenvolvermos ações que correspondessem ao que

chamamos de uma possibilidade teórico-metodológico para inclusão da Educação

da Patrimonial no Ensino Fundamental, com vistas a ampliar o debate sobre os

meios de preservar o Patrimônio Escolar.

A ideia de Patrimônio Escolar está ligada ao conceito de Patrimônio Cultural,

apenas se distingue deste no sentido de que está preocupada com os bens culturais

presentes na instituição escolar e exatamente por isso toca na concepção de uma

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Educação Patrimonial tal como vem sendo discutida no debate acadêmico e nas

políticas educacionais no Brasil. Para Horta; Grunberg; Monteiro, (1999),

A Educação Patrimonial é um instrumento de “alfabetização cultural” que possibilita ao indivíduo fazer a leitura do mundo que o rodeia, levando-o à compreensão do universo sociocultural e da trajetória histórico-temporal em que está inserido. Este processo leva ao reforço da auto-estima dos indivíduos e comunidades e à valorização da cultura brasileira, compreendida como múltipla e plural (HORTA; GRUNBERG; MONTEIRO, 1999, p. 6, grifos nossos).

Pela indicação dos autores, a Educação Patrimonial liga-se ao conceito de

cultura e cultura brasileira, pensada no tempo e no espaço histórico-social. A meta

de quem trabalha na área é, portanto, a de sensibilizar a população, através de

práticas e ações educativas, para a importância de conhecer e preservar o

patrimônio cultural de sua localidade. Além de democratizar o conhecimento

produzido sobre os bens culturais, a Educação Patrimonial busca incentivar a

preservação do patrimônio – bens culturais produzidos pela sociedade – a partir da

valorização das culturas locais (MUSEU GOELDI, 2008).

No caso brasileiro, o Patrimônio Cultural aparece inicialmente na Constituição

Brasileira de 1988, no Artigo 216, que apregoa:

O patrimônio cultural é formado por bens de natureza material e imaterial tomadas individualmente ou conjunto, portadores de referência à ação, à memória dos diferentes grupos formadores da sociedade brasileira, nos quais se incluem: I - as formas de expressão; II - os modos de criar, fazer e viver; III - as criações científicas, artísticas e tecnológicas; IV - as obras, objetos, documentos, edificações e demais espaços destinados às manifestações artístico-culturais; V - os conjuntos urbanos e sítios de valor histórico, paisagístico, artístico, arqueológico, paleontológico, ecológico e cientifico (CF 1988 apud GUIMARÃES, 2004, grifos nossos).

A escola, entendida como um local por meio do qual as ações humanas são

produzidas, é portadora desses bens de natureza material e imaterial. Ou seja,

cotidianamente os atores sociais criam e recriam formas de expressão humanas

específicas que se manifestam nos objetos, documentos, edificações próprias de

uma prática social chamada contemporaneamente de “escolar”. Nelas, estão

envolvidos agentes históricos denominados professores, alunos e comunidade que

estão em sua volta no espaço geo-político e histórico; produzem, portanto,

determinado patrimônio cultural.

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Enquanto espaço de produção e reprodução de saberes histórico-sociais, a

escola é chamada a responder aos desafios da Educação Patrimonial. A Lei de

Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDB, Lei nº. 9394/96, em seu Artigo 26,

dispõe que:

A parte diversificada dos currículos do ensino fundamental e médio deve analisar as características regionais e locais da sociedade e da cultura, o que abre espaço para a construção de uma proposta de ensino voltada para a divulgação do acervo cultural dos Estados e Municípios (BRASIL, 1996).

Em consonância com a LDB, também os Parâmetros Curriculares Nacionais –

PCNs tratam acerca da questão patrimonial, evidenciando a relevância do assunto.

Nos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs), elaborados pelo Ministério da Educação (MEC), está prevista a temática da Educação Patrimonial para o Ensino Fundamental. Os temas transversais, pluralidade cultural e o meio ambiente são caminhos que possibilitam o diálogo de questões referentes ao patrimônio cultural e consequentemente dão espaço a projetos de Educação Patrimonial nas escolas (TEIXEIRA, 2008, p. 208).

Considerando ambas as diretrizes legais, podemos afirmar que a Educação

Patrimonial assume importância incontestável na formação escolar atualmente. Por

sua indicação, a Educação Patrimonial é uma temática a ser desenvolvida por meio

de temas que envolvam os aspectos culturais e ambientais da sociedade brasileira.

Esses aspectos são considerados patrimônios culturais que devem ser trabalhados

em conteúdos escolares em suas características regionais e locais.

Em se tratando do Estado do Paraná, essa relação entre as políticas de

governo e a temática cultural recebeu, desde os anos 1930, um cuidado especial por

parte do Estado. Pela Lei Estadual Nº. 38, de 31 de outubro de 1935, foi instituído o

Conselho Superior de Defesa do Patrimônio Cultural do Paraná destinado a

colaborar, como órgão consultivo do governo, na defesa do Patrimônio Cultural do

Paraná e no estímulo de toda a atividade intelectual e artística do Estado,

objetivando de “elevar a sua cultura sob todos os pontos de vista”. No ano de 1953 é

sancionada a Lei Nº. 1.211, a lei de tombamento.

O estudo do patrimônio cultural possibilita a análise das representações simbólicas de toda sociedade. A prefeitura, a câmara municipal, as escolas públicas, museus são exemplos que se materializam nos espaços administrados pelo poder público. As igrejas, capelas, as sedes de fazendas ou mesmo uma moradia em um bairro operário, entre outros tipos de imóveis, representam os espaços privados (PARANÁ, 2005).

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Nessa trajetória de ações governamentais, a defesa pela Educação

Patrimonial vem se configurando como fator relevante na garantia de ações que

possibilitem a continuidade do conhecimento relativo à cultura, dos monumentos,

documentação, espaços históricos e demais elementos identificados como

„patrimônio‟ de um grupo, de um povo ou de uma nação.

[...] podemos conceituar o patrimônio cultural como o resultado da ação do homem no tempo e em determinados espaços. Ele deve expressar o imaginário de uma época em termos de exaltação e glorificação de toda sociedade, independentemente das diferenças sociais, econômicas e políticas (COORDENADORIA DO PATRIMONIO CULTURAL DO ESTADO DO PARANÁ. Grifo nosso).

O Guia Básico de Educação Patrimonial, ao conceituá-la, indica que ela é “um

processo permanente e sistemático de trabalho educacional centrado no

Patrimônio Cultural como fonte primária de conhecimento e enriquecimento

individual e coletivo”.

Nessa compreensão, a Educação Patrimonial passa, na contemporaneidade,

a ter papel de destaque na busca da preservação e divulgação de informações,

imagens, edificações, ambientes, ideias e acontecimentos, que em determinada

época ou situação foram parte da vida de uma dada sociedade.

Pensar esses elementos, por sua vez, traz para o centro das discussões

teóricas e legislativa o papel dos conhecimentos históricos e de memória social, ou

seja, debates sobre o sentido da história e da memória para a Educação Patrimonial.

A compreensão dos termos e dos significados relativos à memória e história

por vezes se confundem, ora caracterizando-se como aproximações, ora como

distanciamento. Nora (1993) destaca que

A memória deve ser percebida como algo inserido na vida social e coletiva. A partir dessa concepção, as ciências humanas passam a ganhar destaque nos estudos sobre o tema. Para Le Goff, renomado historiador francês, a memória é um comportamento narrativo que tem em seu cerne a função social de comunicar a outras pessoas informações e impressões ocorridas no passado e que não estão no presente em sua forma original. Na medida em que transcende o tempo dos homens, não é manifestação de uma vontade ou de um pensamento individual, nem a expressão de um agente, de um eu; é uma função social.

Meneses (1992) assinala que [...] há o enlace das relações entre memória,

passado e presente. A constituição da memória se opera no presente, sendo que é

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esse tempo que oferece as condições necessárias para sua formação. A memória,

enquanto produto social, é um conjunto de elementos necessários para a formação,

manutenção e modificação das identidades individual, coletiva e nacional. Já a

história é uma operação cognitiva, um modo de produção de conhecimento.

Nora (1993) propala que até o início do século XX, história e memória se

confundem, porque a produção historiográfica pauta-se nas rememorações de

acontecimentos e personagens, referindo-se à memória coletiva. Como vemos, a

discussão entre aproximações e distanciamentos, envolvendo história e memória,

tem, atualmente, uma densidade alta. Em diversas pesquisas, as análises explicitam

a pertinência da história em ocupar seu devido lugar como ciência, distanciando-se

do lugar ocupado pela memória.

Neste sentido, a Educação Patrimonial traz desafios conceituais

fundamentalmente no que tange à relação história e memória. Além disso, por estar

ligada à construção de valores, à conscientização e aos cuidados de objetos –

objetivando promover o fortalecimento de atitudes que possam contribuir para a

preservação da memória social, por intermédio da ação educativa da e na escola – o

conceito de Consciência Histórica.

A Consciência Histórica ou o pensar historicamente é, segundo Rüsen, um

fenômeno antes de tudo cotidiano e inerente à condição humana, com o que

podemos inferir que o pensamento histórico vinculado a uma prática disciplinar no

âmbito do conhecimento acadêmico não é uma forma qualitativamente diferente de

enfocar a humanidade no tempo, mas sim uma perspectiva mais complexa e

especializada de uma atitude que, na origem, é cotidiana e inseparavelmente ligada

ao fato de se estar no mundo. Esse aspecto se refere, na obra do autor, ao que ele

chamou de “formação histórica”.

Com a expressão “formação histórica” reafirmou-me aqui a todos os processos de aprendizagem em que “história” é o assunto em que não se destinam, em primeiro lugar, à obtenção de competência profissional. Trata-se de um campo a que pertencem inúmeros fenômenos de aprendizado histórico: o ensino de historia nas escolas, a influencia dos meios de comunicação de massa sobre a consciência histórica e como fator da vida humana prática (RÜSEN, 2001, p. 48).

Conforme Rüsen, a Consciência Histórica não é algo que os homens podem

ter ou não, ela é algo universalmente humano, dada necessariamente com a

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intencionalidade da vida prática dos homens. A Consciência Histórica enraíza-se,

pois, na historicidade intrínseca à própria vida humana.

Essa historicidade consiste no fato de que os homens, no diálogo com a

natureza, com os demais homens e consigo mesmos, acerca do que sejam eles

próprios e seu mundo, têm metas que vão além do que é o caso.

Do ponto de vista da “formação” é que o sentido de consciência mais se liga

ao sentido dado para o autor neste trabalho.

Assim, o despertar do interesse dos alunos em relação ao patrimônio de sua

escola, o reconhecimento de que os bens lhes pertencem relaciona-se diretamente

com o sentido de Consciência Histórica apontada por Rüsen. É ela que permite sua

consequente preservação. Para tanto, a concepção de patrimônio deve estar bem

definida para os alunos, educadores, funcionários e comunidade escolar.

Por intermédio dessas considerações teóricas de Rüsen é que foi possível

articular metodologicamente os conceitos de História, Memória, Cultura e

Consciência para tratar do tema do Patrimônio Escolar.

3 EDUCAÇÃO PATRIMONIAL E “CONSCIÊNCIA HISTÓRICA”: LIMITES E

POSSIBILIDADES PARA A PRESERVAÇÃO DO PATRIMONIO ESCOLAR

Um repensar sobre a necessidade de valorização do Patrimônio Escolar, tal

como foi trabalhado no projeto de intervenção pedagógica, pressupõe considerar a

indicação de Cerezer e Bird. Para os autores:

A história das civilizações mostra que a opção pelos valores do amor, da justiça, da paz, da honestidade, da solidariedade, da contemplação, da gratuidade, conduz à felicidade e à realização humana. Faz-se necessário, hoje, em face aos mecanismos e processos desumanizantes, mudar as condições sócio-culturais para mudar as consciências. E mudar as consciências para mudar as condições sócio-culturais como condição para construir uma sociedade justa, fraterna e humana para todos (CEREZER; BIRD, 2010).

Ao considerarmos o debate atual sobre as necessidades de preservação,

observamos que as ameaças permanentes que pesam sobre o patrimônio escolar

ocorrem em função da falta de consciência em favor de sua conservação e de sua

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proteção fundamentalmente por parte da comunidade local.

Verificamos que a publicidade em torno de sua preservação oficialmente são

feitas pelas autoridades políticas municipais, pelos representantes ou lideres

comunitários.

Ocorre, no entanto, que esse veículo de informação nem sempre tem ampla

repercussão social, representando ações isoladas que não atingem os jovens

cidadãos. Além disso, são defendidas em nome de valores científicos, econômicos

ou estéticos, carecendo, enfim, de uma abordagem pedagógica histórica e crítica.

Desta forma, tanto na escola como na sociedade como um todo, verificamos,

por meio do projeto ora desenvolvido, que torna-se necessário o estabelecimento de

uma concepção participativa e coletiva em prol da Educação Patrimonial de forma

ampla, não apenas como interesse de alguns, como afirma Libâneo:

Sendo assim, as escolas podem traçar seu próprio caminho, envolvendo professores, alunos e funcionários, pais e comunidade próxima que se tornam co-responsáveis pelo êxito da instituição. É assim que a organização da escola se transforma em instancia educadora, espaço de trabalho coletivo e aprendizagem (LIBÂNEO, 2001, p. 115).

Nesse contexto, a participação dos alunos configura-se como elemento

essencial, que envolve valores e atitudes voltados para os cuidados com os bens

utilizados por todos, assim como as que envolvem direitos e deveres.

De acordo com Murta e Albano (2002), interpretar o patrimônio é o processo

de acrescentar valor à experiência do visitante, por meio do fornecimento de

informações e representações que realcem a história e as características culturais e

ambientais de um lugar (MURTA; ALBANO, 2002, p.13).

Em outras palavras, é possível considerar que o Patrimônio Escolar – o

conjunto de bens móveis e imóveis que formam a parte física e material da escola2

– não deveria estar sujeitos a danificações imediatas; por isso requer ações

educativas voltadas para sua guarda e preservação consciente.

_____________

2. Os bens móveis ou patrimônio mobiliário são todos os bens que podem ser movimentados e que não alteram suas características físicas (máquinas e equipamentos, móveis e utensílios, veículos, ferramentas e equipamentos não incorporados aos bens imóveis). Os bens imóveis ou patrimônio imobiliário são todos aqueles bens cuja remoção para outro lugar é impraticável por se encontrarem fixados no solo (o terreno onde a escola está construída, os prédios, as edificações ou construções que existam no perímetro da escola).

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Nesse conjunto de reflexão, o Patrimônio Escolar, entendido como o conjunto

de bens, direitos e obrigações suscetíveis de depreciação econômica obtidos

através de compra, doação ou outra forma de aquisição, devidamente identificado e

registrado contabilmente, deve ser amplamente discutido com a comunidade local.

Esse patrimônio constitui o patrimônio físico e material da instituição escolar.

Ou seja, é tudo aquilo que pode ser visto e tocado e que também chamamos de

bens corpóreos, bens materiais ou ainda de bens tangíveis.

Nela, existem ainda os imateriais e intangíveis, aqueles bens que não podem

ser tocados porque não apresentam uma forma física: a sua cultura, os seus valores,

a sua filosofia, o próprio projeto pedagógico, a sua tradição, a sua história e os seus

símbolos.

Esses bens imateriais da escola não podem ser guardados e estocados e o

seu valor é difícil de se determinar, como também é praticamente impossível a sua

reposição.

Foi nesse sentido que as ações desenvolvidas se encaminharam. Na

divulgação do projeto de intervenção aos professores e funcionários, destacamos a

importância sobre preservação, memória e consciência histórica e também

realizamos discussões referentes às dificuldades pedagógicas no enfrentamento

dessas questões.

O que interessava inicialmente era, pensando no conceito de Consciência

Histórica, estabelecer uma relação entre teoria e práxis ao tratar do pensamento

histórico da comunidade via memória escolar.

Nesse aspecto, lembramo-nos da indicação de Rüsen:

Os que buscam elaborar tal teoria – ou seja, esforçam-se por descobrir o que há de fundamental no pensamento histórico e em sua pretensão de racionalidade – vêem-se confrontados com a forte desconfiança dos que justamente se consideram produtores desse pensamento histórico – ou seja, esforçam-se por descobrir em que consiste o passado humano, do modo mais racional possível (RÜSEN, 2001, p.16).

A articulação racional das ações do projeto com elementos teóricos que

envolvem o pensamento humano sobre o passado esteve no centro das intenções

de nossa pesquisa.

Assim, dando continuidade à divulgação, realizamos a apresentação do

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projeto de intervenção aos alunos para constatação da interação e do sentimento de

pertencimento ao patrimônio escolar e cultural dos alunos; e, ao mesmo tempo,

realizamos uma pesquisa de campo, com amostra não-probabilística por

conveniência, utilizando como instrumento de coleta de dados um questionário de

perguntas abertas.

Aplicamos este questionário a uma quantidade – pré-determinada pela

amostra – de alunos de cada turma/série e turno da escola.

Em seguida, aplicamos, ao total, 182 questionários anônimos, os quais foram

tabulados em planilha eletrônica (Microsoft Excel) para melhor visualização dos

dados, sendo gerados gráficos.

Após a análise dos dados, sentimos necessidade de traçar ações para

reverter quadros identificados ou de dar continuidade a práticas já existentes na

escola.

Refletir sobre as práticas dos envolvidos tornou-se igualmente uma

possibilidade para examinarmos o alcance do projeto para atingir o esperado –

a consciência histórica dos participantes.

4 PATRIMÔNIO ESCOLAR: CONHECER PARA PRESERVAR

Rüsen propala que, desempenhada a primeira etapa do processo de

conscientização, ou seja, ligar o problema da investigação a uma teoria que trate do

pensamento histórico, caminha-se para a segunda tarefa, que é elaborar uma

reflexão específica sobre o pensamento histórico, “mediante a qual a tensão

existente entre (auto) reflexão e realização prática do pensamento histórico [...] pode

ser transformada numa divisão de trabalho com resultados promissores,

compartilhando uma finalidade abrangente comum” (RÜSEN, 2001, p.19).

Os resultados da pesquisa, juntamente com as ações implementadas,

revelaram que, para a questão “Como podemos conceituar Patrimônio?” a maioria

dos alunos desconhecia e/ou confundia a definição de “Patrimônio, Patrimônio

Cultural e Patrimônio Escolar”, conforme representação gráfica:

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Definição de patrimônio dada pelos alunos

45%

28%

13%

5%

3% 6%

Herança

Algo que é nosso

O que nossos pais

deixaram

não sabem

Conjunto de bens

Deixaram em branco

Fonte: elaborada pela autora.

Definição de Patrimônio escolar dada pelos

alunos

49%

12%

14%

12%

13%

O que pertence à escola

O que é dos alunos

São as escolas

Não souberam

Deixaram em branco

Fonte: elaborada pela autora.

Definição de patrimônio cultural dada pelos alunos

15%

12%

31%7%

16%

12%

7%

Museus

Casa da Cultura

O que pertence à nossa

história

O que pertence a história

do mundo

O que inclui a cultura

brasileira

Não souberam

Deixaram em branco

Fonte: elaborada pela autora.

Analisando os gráficos acima, desenvolvemos oficinas, palestras, realizamos

atividades com textos sobre Educação Patrimonial, Consciência Histórica e

Preservação da Memória Escolar, com o objetivo de melhor tratar a questão.

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4.1 OFICINA PEDAGÓGICA COM ALUNOS PARA ESTUDOS SOBRE O

HISTÓRICO DA ESCOLA, BIOGRAFIA DE EMÍLIO DE MENEZES E ACERVO

FOTOGRÁFICO

Essa oficina teve o objetivo de ampliar o conhecimento sobre o histórico

escolar e sobre o patrono da Escola Emílio de Menezes através de palestra, relatos

e acervo fotográfico com vistas à preparação do documentário escolar. A oficina foi

pensada considerando o questionário sobre a „História do Patrono que dá nome à

nossa Escola”. Por seu intermédio, identificamos os seguintes dados:

% de alunos que conhecem a história do patrono

da escola

91%

2%

7%

Não conhecem

Conhecem

Não entenderam a

pergunta

Fonte: elaborada pela autora.

A partir do gráfico acima, percebemos que a maioria dos alunos (91%) não

conhecem a história ou a biografia do patrono que dá nome à escola. Sendo assim,

a ação traçada para reverter essa situação foi a escolha de um texto sobre Emílio de

Menezes e suas produções poéticas. Esse texto foi trabalhado com os alunos de

todas as séries pela professora de Língua Portuguesa, justificando a escolha desse

poeta paranaense para ser o Patrono da Escola, informando aos alunos que essa

escolha ocorreu mediante um consenso entre professores da escola no ano de

1983.

Após o desenvolvimento das ações acerca da escolha do Patrono,

verificamos melhor compreensão por parte dos alunos, sendo sugerido, nessa

ocasião, que a data de nascimento do poeta Emílio de Menezes – 04 de julho – seria

comemorada também no Dia da Escola.

Interrogados sobre a “origem dos recursos financeiros para a aquisição de

bens patrimoniais da escola”,identificamos os seguintes dados:

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Grau de conhecimento sobre a origem dos recursos

financeiros para aquisição de bens patrimoniais da

escola

38%

25%

31%

2%

4%Governo

Impostos e festas

promovidas pela escola

Governo e rifas

Não souberam

Deixaram em branco

Fonte: elaborada pela autora.

A partir da análise do gráfico acima, percebemos que a maioria dos alunos

(74%) sabe de onde vêm os recursos financeiros que mantêm a escola. Esse é um

dado muito satisfatório para a escola, já que é resultado de um projeto de “educação

fiscal”, o qual a escola em questão participa.

Essa oficina levou ao entendimento de que o patrimônio escolar está

totalmente ligado à história da instituição e por isso precisa ser cuidado e

preservado.

Na questão “Quais ambientes da nossa escola são menos preservados pelos

alunos?”, identificamos os seguintes dados:

Lugares menos preservados na escola

20%

24%

19%

22%

11%

2%

2%

Banheiro e carteiras

Banheiro e salas de aula

Banheiro e pátio

Banheiro e paredes

Banheiros e cantina

Canteiros

Deixaram em branco

Fonte: elaborada pela autora.

Os resultados demonstraram que os ambientes menos preservados são os

banheiros, carteiras e o pátio da escola. A partir desse resultado, optamos pela

realização de uma entrevista buscando propostas de ações para a conservação

desses ambientes.

Ao serem inquiridos sobre “quais são suas ações diárias de cuidado com o

patrimônio escolar” e “que ações de preservação do patrimônio você considera que

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deveriam ser atribuídas aos alunos”, identificamos os seguintes dados:

Ações diárias dos alunos de cuidado com o patrimônio

36%

25%

12%

2%

21%

1%

3%Não rabisco a carteira

Não jogo lixo no chão

Não rabisco a parede

Não jogo merenda nos

outros

Não quebro nada

Não sabem

Deixaram em branco

Fonte: elaborada pela autora.

Opinião dos alunos sobre ações de preservação

do patrimônio que deveriam ser atribuídas aos

alunos

23%

29%16%

3%

13%

14%2%

Não jogar lixo no chão

Não rabiscar carteiras

Não riscar as paredes

Não jogar merenda

Manter a sala limpa e

organizada

Não sujar o banheiro

Não estragar os livros

Fonte: elaborada pela autora.

Com relação a essas questões, analisando os gráficos, notamos que as

ações de preservação diárias dos alunos, e as que deveriam ser atribuídas a eles,

são semelhantes.

A partir desses resultados, elaboramos um Programa de conscientização dos

alunos para a Preservação do Patrimônio Escolar, objetivando a conscientização dos

alunos para a preservação do Patrimônio Histórico Cultural, trabalhando textos sobre

Consciência Histórica e preservação da memória escolar e organizando um ciclo de

palestras relativas ao patrimônio e sua preservação, bem como uma gincana

interclasses, sendo que todas as classes participaram. A gincana realizou-se da

seguinte forma: em cada classe, foram selecionados os cinco alunos com melhor

desempenho, esses alunos foram denominados “fiscais da preservação”, e junto

com a sala, foram responsáveis pela fiscalização destas ações citadas nas

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respostas das duas perguntas, ilustradas com os gráficos. A classe vencedora

recebeu como prêmio uma tarde recreativa oferecida pela escola. Após essas

ações, com o intuito de estimular e reforçar nos alunos o sentimento de pertença

diante do Patrimônio Escolar, concluímos que é fundamental se conscientizarem

que o Patrimônio Escolar são bens pertencentes à comunidade escolar e que cada

um deles se torne agente, no sentido de valorizar e proteger esses bens, evitando

que os mesmos sejam violado ou danificados.

4.2 OFICINA PEDAGÓGICA COM ALUNOS SOBRE O HISTÓRICO DOS

DIRETORES E SÍMBOLOS PÁTRIOS

Essa oficina pedagógica objetivou conhecer e divulgar o histórico dos

diretores que atuaram na escola bem como o reconhecimento dos valores culturais e

símbolos pátrios, possibilitando o entendimento de que a escola é “lugar de

memória” em que pessoas estabelecem valores e significações.

Os ex-diretores e ex-alunos nos atenderam muito bem e prontificaram-se em

nos auxiliar para que pudéssemos desempenhar da melhor maneira possível a

oficina, que contou com a apresentação do histórico dos diretores (período de

atuação, ações desenvolvidas, obras realizadas), fotos, objetos e documentos

fornecidos por eles e que já permaneceriam na escola para a montagem do

documentário escolar apresentado posteriormente à comunidade. Nessa oficina,

contamos também com os préstimos do aluno Vinicius Antoniassi Bulla3. Esses

documentos tornaram-se fundamentação para o lançamento do Concurso para

Criação da Bandeira Escolar e seleção do melhor desenho representando a

bandeira da escola. Essa ação do Concurso da Criação da Bandeira Escolar,

mobilizou professores, alunos e comunidade, pois através de divulgação na rádio

local focalizamos a importância do concurso aberto à comunidade local, em que

todos os munícipes tiveram a oportunidade de participar, comprovando a importância

da valorização da identidade e Patrimônio Escolar, já que alunos e comunidade

atribuíram à ela a simbologia de pertencimento.

_____________

3. Aluno da 7ª série, responsável pela organização dos slides da história das bandeiras brasileiras.

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Os vencedores com melhor desenho e significado foram Amanda Carrasco e

Rodrigo Manoel Balestri Heleno4.

A justificativa para o desenho foi a cor azul, representando a criatividade e a

harmonia entre os alunos. O branco, os dois caminhos a serem percorridos para

encontrar a paz na escola e na família. A faixa vermelha: confiança em si mesmo,

coragem e determinação. Águia: assim como a águia, os alunos devem „voar‟ em

busca de seus objetivos, serem livres para escolher o caminho certo que tomarão,

pois a águia vê longe, símbolo da força, das artes e da inteligência.

4.3 OFICINA PEDAGÓGICA “MEMÓRIA E HISTÓRIA” PARA ALUNOS E COMUNIDADE COM A PARTICIPAÇÃO DE PIONEIROS, EX-DIRETORES, EX-PROFESSORES E EX-ALUNOS

Nessa ação, os alunos relataram sua participação na história do município e

na Escola Emilio de Menezes.

Essa atividade contribuiu para que os alunos e comunidade pudessem

conhecer melhor a história do município, da escola, da vida local e as mudanças que

ocorreram, de modo a perceber sua importância ou significado no presente, por meio

de relatos pessoais, fotos, documentos e testemunhos de vida dos ex-diretores e ex-

alunos.

A importância desse evento pôde ser comprovada posteriormente pelo

reconhecimento dos alunos diante dos testemunhos apresentados.

___________

4. Alunos da 8ª série, vencedores do concurso para escolha da bandeira da Escola Estadual Emilio de Menezes de Japurá, no contexto do desenvolvimento do Programa de Desenvolvimento Educacional do Paraná – PDE.

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Até então, estas pessoas eram anônimas na sociedade e a partir da Oficina

passaram a ser reconhecidas no contexto social, religioso e em diversos ambientes,

por representarem a expressão da história e memória do município, especialmente

da escola.

Paralelamente a essa oficina, e com sugestões dos cursistas do GTR sobre

fontes históricas, realizamos uma visita a uma propriedade particular que abriga um

minimuseu que hoje pertence à senhora Iracema Tertuliano Rodrigues5.

Na residência, a moradora guarda todas as fontes históricas da família e do

município, tais como ferramentas da agricultura, utilizadas no desbravamento do

município; objetos domésticos, fotos e documentos antigos preservados por ela e

expostos de forma que os visitantes sintam-se instigados a fazer questionamentos,

pois tamanha é a curiosidade despertada por tanta fonte de informação sobre a

memória da família e do município e também dos significados dessa preservação do

patrimônio para a cultura do município.

Segundo a moradora, ela tem muita honra e responsabilidade em guardar e

preservar essa herança deixada pelo pai, que é mais importante que a parte

econômica herdada, pois é história e memória viva. O conhecimento dessa memória

pela sua família, principalmente os seus netos e a comunidade que visita o local,

leva não somente a conhecê-los, mas a identificar-se com eles.

O conhecimento desse patrimônio permitiu identificar e valorizar o que é

particular em sua cultura, buscando novos elementos que venham a contribuir para

que esse patrimônio cultural seja preservado.

Esse aprendizado educacional realizado de forma prática, através dessa

visita, trouxe para os alunos um maior vínculo com sua identidade cultural e a

consciência de sua preservação.

Para registrar esse trabalho aproveitando os documentos, fotos e materiais

produzidos nas oficinas, demos início à criação do Documentário Patrimonial Escolar

sobre o Histórico da Instituição.

___________

5.Filha de um dos primeiros prefeitos do município de Japurá, moradora no município.

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Esse documentário buscou resgatar e preservar a história e memória da

instituição, com a colaboração dos participantes do projeto e dos materiais

utilizados nas oficinas pedagógicas, como fotos dos desbravadores do município,

primeiras escolas, objetos, documentos, fotos dos ex-diretores, ex-alunos, e

documentos e fotos da escola com todas as atividades desenvolvidas no decorrer

das décadas.

4.4 O PONTO CULMINANTE DA IMPLEMENTAÇÃO: A APRESENTAÇÃO DO

DOCUMENTÁRIO E BANDEIRA DA ESCOLA À COMUNIDADE ESCOLAR

A apresentação foi desenvolvida durante a Semana Cultural Recreativa e

Desportiva, que é uma atividade didático-pedagógica que objetiva apresentar à

comunidade escolar os projetos e/ou conteúdos das diferentes áreas trabalhadas

em sala de aula. Por ser uma atividade de integração e socialização, utilizamos

desse evento para apresentar a bandeira eleita por meio de concurso e as fotos do

documentário escolar, na Casa da Cultura, onde tudo foi documentado, fotografado,

com a coleta de assinatura de todos os participantes, e registro sequencial das

ações, observando-se significativo interesse e o pleno envolvimento da comunidade

local.

CONCLUSÃO

A partir da necessidade de ampliar a discussão e o estudo em torno das

relações que se podem estabelecer entre Gestão Escolar e Educação Patrimonial, e

considerando o papel da escola na preservação do Patrimônio Escolar, é possível

afirmar que o desenvolvimento desse projeto configurou-se como uma ação efetiva

para conscientizar e mobilizar a escola como um todo: professores, alunos,

funcionários em busca do resgate de valores e consciência histórica, capazes de

fortalecer atitudes em defesa da preservação do Patrimônio Histórico Cultural. O

sentimento de pertencimento traz novas posturas diante do patrimônio escolar, seja

no aspecto físico, histórico ou cultural.

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Além da pesquisa bibliográfica, que forneceu uma base conceitual para o

projeto, este ainda estendeu sua ação acrescentando a aplicação de questionários,

oficinas, visitas, palestras, concurso e documentário, realizados em ambiente

escolar, levando o conteúdo patrimonial diretamente para os alunos.

Sendo assim, um dos maiores objetivos do trabalho – a formação da

Consciência Histórica nos alunos – realizou-se de modo satisfatório, e a

Consciência Histórica é uma construção histórica que pode ser alterada pelo ensino

e aprendizagem.

Outro objetivo alcançado pelo trabalho foi quanto ao sentimento de

pertencimento dos alunos em relação à escola, que como identificado nos

questionários, há sim um sentimento de pertencimento dos alunos em relação ao

patrimônio escolar, porém ainda torna-se necessário intenso amadurecimento, e as

oficinas e o documentário colaboraram muito para que este se materializasse.

Finalmente, ao refletirmos sobre os resultados deste projeto, podemos

afirmar que houve significativa contribuição para com a preservação do patrimônio

histórico cultural, sendo a instituição escolar como mediadora desse processo.

Portanto, a concepção do projeto e a metodologia utilizada para sua

implementação mostraram-se relevantes e demonstraram a possibilidade de

continuidade para futuras ações.

Consideramos ainda que um estudo mais amplo e aprofundamento poderá ser

realizado ou ainda serem estabelecidos caminhos didádicos e pedagógicos para

que a Educação Patrimonial, que tem como um de seus objetivos a preservação do

Patrimônio Escolar que construa novos paradigmas, e que, junto com este esforço

inicial, forme noções de valor, responsabilidade e identidade do nosso patrimônio

cultural.

REFERENCIAS

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